editorial carta ao leitor - faperj · de dezembro, a criação do instituto virtual de...

12

Upload: others

Post on 25-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Rio terá novo instituto virtual

O Conselho Superior daFAPERJ aprovou, no dia 6de dezembro, a criação doInstituto Virtual de Pa-leontologia (IVP). Trata-se de uma ini-ciativa pioneira nessa área, que noestado do Rio de Janeiro reúne insti-tuições e pesquisadores de excelênciae reconhecimento nacional e interna-cional.

O IVP é uma rede de pesquisa quereunirá especialistas da Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro

(Uerj), do Museu Nacional daUniversidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), do Depar-tamento de Geociências daUFRJ e da Universidade doRio de Janeiro (UNIRIO). Comessa composição, o institutoabrangerá todas as linhas depesquisa na área de paleon-tologia.

A criação do instituto é o reconheci-mento de investimentos contínuos aolongo da última década, com resulta-

dos excelentes.Até aqui, essasiniciativas esta-vam dispersasnos diferentesgrupos e insti-tuições. Com oIVP, esse traba-lho terá um for-mato mais coo-perativo. A mé-dia de investi-mento nos insti-

tutos virtuais é de R$ 200 mil.

Drops

Carta ao leitor

Adolpho Lutz, um dos mais reno-mados cientistas brasileiros,deixou uma expressiva con-tribuição à humanidade. Algunslivros do sanitarista, entretanto,estão esgotados desde 1955, anoem que foi comemorado o cen-tenário de seu nascimento. Emsua primeira edição de 2003, oFAPERJ Notícias antecipa na

reportagem de capa uma boa notí-cia: o lançamento do primeiro doscinco volumes da obra completade Adolpho Lutz, que conta,ainda, com sua correspondência euma biografia com textos analí-ticos assinados por outrospesquisadores.

Ainda em destaque nesta edição,a reportagem que revela os resul-tados da pesquisa realizada naUFF com a alga Laurencia obtusa,

que possui uma ampla ação anti-incrustante, capaz de livrar cascosde embarcações da bioincrus-tação, e a matéria sobre a reestru-turação do Centro de Pesquisa daEscola de Música Villa-Lobos, quecompletou 50 anos.

Os editores

2

FAPERJ notícias

Editorial

Diretor-presidente: Epitácio BrunetDiretora de Administração e Finanças: Maria Carolina Pinto Ribeiro

Conselho Superior da FAPERJReinaldo Felippe Nery Guimarães (Presidente), Jésus Alvarenga Bastos (Vice-presidente), Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, César Camacho, Eduardo EugênioGouveia Vieira, Ivo Barbieri, Jesus Hortal Sanchez, Oswaldo A. Pedrosa Junior, Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho, Paulo de Alcântara Gomes e Walter Araújo Zin.

FAPERJ Notícias – ano II – nº 4Edição: Dominique Ribeiro - Edição de texto: Marcos Patricio - Redação: Edna Ferreira, Erika Franziska, Luci Braga, Marcos Patricio, Marina Lemle e Mario Nicoll - Designgráfico: Bia Alves Pinto - Revisão: Marcelo Bessa - Fotografia: Lewy Moraes - Mala-Direta : Lucas Marinho - Distribuição: Alfredo Ulm e Eduardo Castro

Núcleo de Difusão Científica e Tecnológica Coordenação Acadêmica: Erika Franziska Werneck - Coordenação Executiva: Dominique Ribeiro - Jornalismo: Edna Ferreira, Erika Franziska, Marcos Patricio, Marina Lemle eMario Nicoll - Designer: Bia Alves Pinto - Webdesigner: Eduardo Ariel e Mirian Dias - Produção Executiva: Kay Bartucci, Alfredo Ulm, Joseph Lynch, Luzimar Valetim eEduardo Castro - Secretária Executiva: Viviane Lacerda

Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ – Avenida Erasmo Braga, 118/6º andar– Centro – Rio de Janeiro – CEP.: 20.020-000 – Tel.: 3231-2929 – Fax: 2533-4453 – Gráfica: Lisboa & Barros – Tiragem: 12.000 – visite nossa homepage: http://www.faperj.br

Expediente

Desde o dia 1o de janeiro, aFAPERJ tem nova direto-ria. O cargo de diretor-

presidente da fundação agora éocupado pelo professor EpitácioJosé Brunet Paes. A Diretoria deAdministração e Finanças voltoua ter como titular a psicólogaMaria Carolina Pinto Ribeiro.Nesta entrevista, o professorEpitácio Brunet fala sobre suagestão e as perspectivas para o fu-turo.

De acordo com o novo diretor-presidente da FAPERJ, a principalmeta para o primeiro semestre de2003 será o pagamento de despe-sas autorizadas e não pagas pelaadminitração passada, entre elasas dos auxílios à pesquisa.“Vamos estabelecer um planopara honrar os compromissosfinanceiros já assumidos, o quevai implicar um controle dasdespesas. Isso terá de ser feitosem prejuízo das demandas e seminterrupção das atividades defomento. Ao contrário do queacontece em outras instituiçõespúblicas que não têm comofinaidade o fomento, a ausênciade recursos compromete seria-mente as funções de uma fudaçãode amparo à pesquisa”, explicaEpitácio Brunet. O plano levaráem conta critérios como pre-cedência, valores e prioridades.

Tão logo a situação financeira dogoverno do estado seja equaciona-da, a FAPERJ deverá retomar apolítica de investimentos no setorde ciência e tecnologia que carac-terizou o governo Anthony Garo-tinho. “Durante o período compre-endido entre janeiro de 1999 e abrilde 2002, a FAPERJ aplicou no setorcerca de R$ 240 milhões. Um vol-ume de recursos bem superior aoque foi investido em toda a exis-

tência da fundação. Portanto, aFAPERJ é credora moral da comu-nidade científica. Entretanto, te-mos de solucionar todas as dificul-dades, pois não podemos dispordesse crédito indefinidamente”,afirmou.

Para o professor Epitácio Brunet,as perspectivas para o futuro sãoanimadoras. O novo diretor reit-era sua confiança na gestão doministro Roberto Amaral e nosconvênios a serem firmados como Ministério da Ciência e Tecno-logia (MCT). “Acredito que essaparceria trará recursos para que aFAPERJ possa ampliar suas ativi-dades”, afirmou. O MCT já ace-nou com a intenção de arcar com50% dos recursos necessários aopagamento do edital do progra-ma de pesquisa na área médica.

O lançamento de editais em con-junto com o MCT, anunciado pelosecretário executivo do Minis-tério, professor Wanderley deSouza, também é visto por

Epitácio Brunet como uma formade aumentar os recursos dispo-níveis e ampliar o atendimentoda demanda e o potencial dosprogramas da FAPERJ. “O lança-mento conjunto vai evitar a su-perposição de editais, permitindoum maior foco nas áreas que sepretende estimular”, concluiu.

Administrador públicoCarioca, 50 anos, Epitácio JoséBrunet Paes vem se dedicando àadministração pública há váriosanos. De janeiro de 1999 a abril de2002, ocupou o cargo de presi-dente da Fundação Centro de In-formações e Dados do Estado doRio de Janeiro (Cide). Anterior-mente, foi analista de projetos doIplanRio (atual Instituto PereiraPassos); responsável pelo Ar-quivo Geral da Cidade e pelas 21bibliotecas públicas; coordenadorda Comissão de Educação, Cul-tura e Meio Ambiente da CâmaraMunicipal do Rio; e diretor-geraldo Planetário do Rio de Janeiro.Na Secretaria Municipal deCultura do Rio, foi presidente doConselho Editorial e diretor-geraldo Departamento Geral deDocumentação e InformaçãoCultural.

Com formação acadêmica na áreade História, Epitácio Brunet foi,durante 14 anos, professor uni-versitário das cadeiras HistóriaEconômica da América Latina eFormação Econômica do Brasil.Entre as décadas de 70 e 80, dedi-cou-se ao cinema: foi diretor deprodução de A lira do delírio eassistente de direção de Chico Rei,ambos dirigidos por Walter LimaJr., além de ter produzido docu-mentários para o MEC.

Veja a matéria completa no sitewww.faperj.br

3

Rio de Janeiro, janeiro de 2003

Voltar a crescerNovo presidente anuncia plano para pagar despesas pendentes e

afirma que FAPERJ retomará investimentos

Epitácio Brunet, presidente da FAPERJ

AEscola de Música Villa-Lobos está comemo-rando meio século deexistência com novos

acordes em sua história de for-mação de pro-fissionais damúsica. O cin-qüentenário temcomo destaquea reestruturaçãodo Centro dePesquisa e Do-c u m e n t a ç ã o ,que, totalmentereformulado,passou a ofere-cer mais servi-ços a alunos epesquisadores.O local tambémfoi rebatizado eagora se chamaEspaço MaestroAlceo Bocchino.É uma home-nagem ao gran-de maestro eprofessor da es-cola, cuja contribuição para ahistória da música brasileira foimuito importante.

Com a modernização, os usuáriosdo centro de pesquisa podem con-tar com sessões de vídeo; audiçãoe gravação de CDs, na nova salade áudio; e acesso ao banco dedados da instituição e à Internet,por meio de dois terminais de

computadores. Os equipamentosforam adquiridos com recursos daFAPERJ. O resultado da reestrutu-ração pode ser avaliado peloaumento da demanda. No

primeiro mês de funcionamentodo novo centro, o número deatendimentos, que antes da refor-ma girava em torno de 400, saltoupara mais de 1.500.

Para o diretor da Escola deMúsica Villa-Lobos, professor

José Maria Braga, a inauguraçãodo Espaço Maestro Alceo Bocchinoestá beneficiando alunos, usuáriose profissionais que lá trabalham.“Além de mostrar o caminho, é

preciso ter asferramentaspara transfor-má-lo. É as-sim em todosos campos daciência, e amúsica nãofoge à regra.Tenho a cer-teza de queainda temosmuito tra-balho. Diga-mos que ocentro éapenas ump e q u e n omotivo mu-sical queprecisa serdesenvolvi-do comengenhosi-

dade, para que se transformenuma grande obra e ecoe aos qua-tro cantos, levando conhecimen-to”, observa José Maria Braga, quenão esconde o orgulho de ser ex-aluno da casa.

Mais de 13.500 obrasO Centro de Pesquisa eDocumentação reúne mais de13.500 obras oriundas de diversas

FAPERJ notícias

Novo tom para a Villa-LobosEm seu cinqüentenário, escola de

música se moderniza e oferece mais serviços

O acervo do Centro reúne diversasobras raras.

Rio de Janeiro, janeiro de 2003

partes do Brasil e do exterior. Sãomais de 3.500 partituras bra-sileiras, todas catalogadas e in-seridas em um banco de dados,dividido por título, autor e edição.O material de língua estrangeira,todo classificado, está sendopreparado paratambém ser in-serido no banco.

O acervo é re-cheado de itensraros, como aobra de AlbertoNepomuceno –primeiro diretorda Escola Nacio-nal de Música daUniversidade Fe-deral do Rio deJaneiro (UFRJ) –,que saiu em umaedição fac-símile, ampliandoainda mais o universo de atuaçãodo espaço, que ora atua como umcentro de pesquisa, ora como pro-dutor de publicações.

O Espaço Maestro Alceo Bocchinopermite aos interessados voltar aoséculo XIX por meio de partiturasdos mais variados gêneros musi-cais. Entre elas, está a da polca“Vou dar banho em minha sogra”, deChiquinha Gonzaga. As coleçõesde partituras, batizadas pelasorganizadoras do centro comoálbuns de família, são todasencadernadas e, às vezes, atéautografadas pelos autores.

“Essa prática era utilizada pelaclasse média e pela burguesia daépoca como forma de preservar efacilitar a leitura dessas partiturasque elas mesmas selecionavam,servindo, também, como registrodo que se tocava na época”, expli-

ca a professora Rosa MariaFigueira, coordenadora docentro. Segundo ela, essafoi a principal forma dedifusão da música naque-la época.

Discos e livros rarosO material fonográfico do centrode estudos é de fazer inveja aqualquer pesquisador de música.Dele fazem parte discos em 78rotações de Arturo Toscanini; umaedição especial de aniversário deseus 75 anos, que traz a “SinfoniaNo1 em dó menor” de Brahms; e,ainda, uma raridade: o Repertóriode Concerto Pianístico, editado naRússia por mestre José Siqueira,em 1964. Esse material será trans-formado em CD e colocado àdiposição dos alunos epesquisadores.

A escola possui, ainda, em seuacervo, livros raríssimos comouma edição francesa de 1895, quefala sobre a ópera Tristão e Isolda,de Richard Wagner; manuscritoscomo o de O Mano de Minas, umaopereta de Verdi de Carvalho,apresentada, em 1924, no Teatro

João Caetano; Storia Della MusicaNel Brasileira (1926), de VicenteCernichiaro; e a primeira ediçãodos Estudos de Folclore (1934), deLuciano Gallet.

A seção de livros e periódicospode ser acessada por meio dearquivos em Word. O aluno temas listas que são divididas em blo-cos temáticos. Outro ponto queestá sendo trabalhado para facili-tar ainda mais a pesquisa é aindexação dos periódicos por con-teúdo, o que, segundo a professo-ra Rosa Figueira, vai ajudar muitoos estudantes.

Apoio: FAPERJModalidade: Auxílio à Pesquisa –(APQ1)Valor: R$ 94.882,00Ano: 2001

A partitura de uma polca deChiquinha Gonzaga pode ser con-

sultada no Centro de Pesquisa.

Um projeto há muitoaguardado pela comu-nidade científica final-mente começará a ser

concretizado em 2003. Por iniciati-va de pesquisadores da Casa deOswaldo Cruz (COC) da Fun-dação Oswaldo Cruz (Fiocruz),está sendo lançado o primeirodos cinco volumes com aobra completade AdolphoLutz. Um dosmais expressivoscientistas brasi-leiros, Lutz foi pio-neiro em várias áreasdo conhecimento. Ovolume inicial vai tra-zer os primeiros traba-lhos de Lutz no campoda bacteriologia.

Foi necessário esperar quase50 anos para tornar real esseprojeto. Já em 1955, porocasião do centenário de nasci-mento de Adopho Lutz, o go-verno federal manifestava aintenção de reeditar os livros docientista, então esgotados. A ini-ciativa, porém, não saiu do papel.Agora, a obra completa será pu-blicada, assim como a corres-pondência de Lutz e umabiografia com textos analíticos depesquisadores que trabalham nasáreas em que ele atuou.

A tarefa de resgatar a obra deAdolpho Lutz está a cargo deMagali Romero Sá, doutora emHistória da Ciência e vice-coorde-nadora do curso de História dasCiências da Saúde, da COC/Fiocruz, e de Jaime LarryBenchimol, também doutor emHistória da Ciência, editor da

revista História, ciências, saúde –Manguinhos e pesquisador daCOC. Ambos iniciaram o projetoem 1998, quando a Fiocruz firmouconvênio com o MuseuNacional da

Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), para recuperartoda documentação de Lutz, queestava guardada no antigo labo-ratório de Berta Lutz, sua filha,também pesquisadora.

Cinco mil manuscritosAtualmente, um pequeno espaçodo depósito do Museu Nacionalestá sendo ocupado pela reduzidaequipe que trabalha no projeto,embora ela reúna especialistas devárias áreas, que foram sendocontratados como autônomos.Isso consome uma grande partedos recursos obtidos do ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq),da FAPERJ, da própria Casa deOswaldo Cruz e da Fiocruz. “Maseles são absolutamente indispen-sáveis para um projeto tãoabrangente, baseado em docu-mentação primária”, explicaMagali Romero Sá.

Para reeditar a obra, foinecessário higienizar os 5mil documentos manus-critos deixados porAdolpho Lutz. São re-latórios, cartas e ano-tações. As cartas fo-ram escritas em ale-mão gótico, o queexige conhecedo-res no assunto.“Eles as tradu-

zem, e, depois, en-viamos as traduções a especia-

listas, que conferem os conteúdos,uma vez que tratam de assuntoscientíficos”, explica MagaliRomero Sá. O projeto conta,ainda, com um revisor e um edi-tor de texto.

Compreensão de doençasA pesquisadora lembra que serãocinco volumes, com um detalhe:toda publicação será bilíngüe, emportuguês e alemão. “Com cer-teza, isso terá grande repercussãonos centros europeus e nos Estados

6

FAPERJ notícias

Adolpho Lutz finalmente reeditadoDepois de quase 50 anos de espera,

obra completa do cientista será resgatada

A obrareproduz

documentos e correspondências escritas em

alemão

Unidos, projetando o nome deAdolpho Lutz e de outros cientistasque atuaram com ele nos estudosmédicos e biomédicos no Brasil”,afirma. Os originais que se encon-tram em inglês, francês e italianonão serão traduzidos, porque, naopinião dos organizadores da obra,são línguas de mais fácil compreen-são nas comunidades científicas.

Os responsáveis pela obra espe-ram que, além de recuperar amemória de Adolpho Lutz e detrazer dados novos para a históriada medicina tropical no Brasil, elatraga informações novas que pos-sam auxiliar na compreensão dedeterminadas doenças que, atéhoje, afetam diversas populaçõesbrasileiras.

Apoio: FAPERJ/CNPq/Casa deOswaldo Cruz/FIOCRUZTítulo: Adolpho Lutz e a Históriada Medicina Tropical no BrasilModalidade: Auxílio à Pesquisa(APQ1)Valor: R$ 10.249,00Ano: 2000

7

Rio de Janeiro, janeiro de 2003

Vocação revelada ainda na infânciaPioneiro em várias áreas do conhecimento, como bacteriologia, entomologia, malacologia, protozoologia e helmintologia,aos 5 anos Adolpho Lutz já falava que dedicaria sua vida inteira ao estudo da natureza. Aos 13 anos, leu A origem das espé-cies, que Darwin publicara em 1859, quatro anos depois do nascimento de Lutz. Carioca, filho de pais suíços, AdolphoLutz estudou na Suíça, onde se formou em medicina, tendo realizado pesquisas em várias cidades da Europa. Voltou aoBrasil em 1882, onde seu diploma foi revalidado para que pudesse exercer sua profissão.

Desde o início de sua atividade, Adolpho Lutz publicava trabalhos, nos quais descrevia suas observações clínicas e biológicas.Durante dez anos, exerceu a clínica médica, mas voltou à Europa durante esse período, para realizar pesquisas sobre o microor-ganismo da lepra, no conhecido serviço dermatológico do dr. Unna, em Hamburgo. E foi lá que Lutz descreveu o baciloCoccothrix leprae. Mais tarde, o cientista foi convidado para dirigir serviços de lepra e fazer ensaios terapêuticos no Havaí.

Campanha de oposiçãoMas foi no Brasil que Adolpho Lutz se consolidou na vanguarda da luta contra as doenças epidêmicas e endêmicas queassolavam o estado de São Paulo. Dirigiu o Instituto Bacteriológico do Estado, onde trabalhou durante 14 anos e que, hoje,leva seu nome. Nas campanhas sanitárias, enfrentou oposição por preconceitos e interesses e chegou a ser ridicularizadonos carros alegóricos do carnaval, quando se empenhou nas medidas que tomou contra a cólera, como a interdição doporto de Santos. O povo, atiçado pelo comércio da praça, acabou promovendo uma rebelião contra as autoridades sa-nitárias. Combateu a febre tifóide, a peste bubônica, descobriu a malária das florestas serranas e reconheceu as primeirasepidemias de febre amarela silvestre.

Em 1908, foi convidado por Oswaldo Cruz para trabalhar no então Instituto de Manguinhos, hoje Instituto Oswaldo Cruz,da Fiocruz. Tem início sua dedicação exclusiva à pesquisa, continuando a publicar trabalhos no Brasil e no exterior. Forammais de 200 ao longo dos 61 anos de sua vida profissional. A seu respeito Oswaldo Cruz disse: “Tenho a mais profundaveneração por Lutz, porque não conheço ninguém mais reto, mais nobre e menos egoísta”.

8

FAPERJ notícias

Alíngua é a mesma, masnão há entendimento.Por que a comunicaçãoentre clientes e centrais

de atendimento – os call centers, nalíngua do marketing – é tão difí-cil? Para responder a essa pergun-ta, três pesquisadoras doDepartamento de Letras da PUC-Rio desenvolveram o projeto“Interações de atendimento – Umestudo de relações, linguagem etrabalho”, apoiado pela FAPERJ epelo Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq). No trabalho,Maria das Graças Dias Pereira,Maria do Carmo Leite de Oliveirae Liliana Cabral Bastos estudaram

o atendimento telefônico de umaempresa de plano de saúde degrande porte, com atuação emdiversas regiões do Brasil.

As pesquisadoras focaram aforma de introdução do assunto,os mal-entendidos nas interaçõese a construção de identidades nessecontexto. Segundo Maria dasGraças, as dificuldades começamno início do telefonema, quando ocliente quer logo expor seu pro-blema, mas o atendente está pre-ocupado em saber seu número deinscrição. “Os atendentes insistemem seguir um script de atendimentode padrão impessoal, mas ocliente não consegue se ver como

um número. E, sem o número, elenão é atendido. As diferentes ex-pectativas em relação ao fun-cionamento do serviço o tornamextremamente problemático”,explica.

Os principais objetivos das análi-ses foram mostrar como a línguaconstrói a identidade de pessoasque utilizam diferentes modos deinteração e como o cruzamento dediferentes discursos e expectati-vas de relacionamento com ooutro podem gerar mal-entendi-dos, prejudicando a eficácia dacomunicação e a percepção que ocliente tem da qualidade doatendimento.

Discursos em linha cruzadaPesquisa da PUC-Rio investiga as deficiências

da comunicação entre clientes e call center

Diferenças regionaisAs pesquisadoras fizeram umamicroanálise do discurso paraobservar como o uso da línguaconstrói e mantém a identidadesocial. Segundo o lingüista eantropólogo John J. Gumperz, cri-ador da sociolingüística intera-cional, a comunicação deve seranalisada em termos de seusefeitos na vida das pessoas. Eledestaca o impacto da diversidadeétnica e cultural no processocomunicativo da sociedade mo-derna e mostra que a sociedademoderna pós-industrial urbana écaracterizada pela burocratizaçãodas instituições públicas e peloaumento dessas instituições navida das pessoas. A seu ver, aespecialização tecnológica tornoua vida mais complexa de váriasformas.

Maria das Graças comenta que acolocação do propósito no inícioou no final da situação relatadapelo cliente e a composição dessasituação de forma específica ouvaga mostraram-se relevantespara o entendimento. De acordocom a pesquisa, esses elementoscombinaram-se de formas vari-adas. A comunicação com especi-ficidade e clareza de propósitorevela pessoas convictas, enquan-to a falta desses elementos indicaindecisão, obrigando o atendentea pedir informações comple-mentares para que se componha asituação. Segundo Maria dasGraças, vários pontos ficaram emaberto em relação à introdução doassunto, como a influência defatores culturais. É preciso distin-guir características e variaçõesapresentadas por clientes dasdiversas regiões do país, que têmestilos conversacionais próprios, eos diferentes backgrounds lingüísti-cos e culturais.

A professora identificou dois tiposde mal-entendidos: problemas dereferência e de má comunicação.Os de referência ocorrem em

função dos esquemas de conheci-mento distintos em que os interlo-cutores se encontram: o cliente noplano pessoal e o atendente noplano institucional. Nesses casos, omal-entendido é provocado pelocliente, detectado pelo atendentee corrigido. O cliente compreendee o mal-entendido é desfeito.

Conflitos de interessesQuando o problema é de mácomunicação, não adianta nego-ciar o significado referencial,porque os conflitos são fruto dosobjetivos e interesses diferentesdos planos individual e institu-cional. Ao se ater à regra institu-cional de funcionamento doserviço, o atendente recusa oplano individual do cliente, semflexibilidade. O cliente, por suavez, busca vencer a resistência doatendente, tentando fazer comque sua voz seja ouvida. Mas aconversa não evolui para um des-fecho satisfatório.

As pesquisadoras perceberam queos atendentes tendem a manifestaridentidades impessoais e de autori-dade, representando a voz daempresa. Já o cliente constrói iden-tidades pessoais e profissionais aorelatar sua situação e seu posi-cionamento em relação a si mesmoe à empresa. No âmbito pessoal, eleapresenta seu papel familiar – mãe,filho, mulher grávida etc. A identi-dade profissional surge na relaçãocom o serviço, ao reivindicar seusdireitos. Alguns clientes se posi-cionam em tom de súplica erespeito, outros de indignação erevolta ou denúncia. Segundo asespecialistas, existe o cliente comvoz própria e o sem voz própria.As identidades não são fixas, vari-am em função dos sentimentospessoais. O ‘cliente vítima’ se colo-ca impotente no domínio da situ-ação. O ‘cliente reivindicador’ sesente no direito de reivindicar.

A pesquisa, encerrada em setem-bro, concluiu que os clientes reve-

lam diferentes concepções decomo conduzir uma conversaprofissional, com característicashíbridas entre a fala espontânea ea institucional. Para melhorar oentendimento, as empresasdevem formular novas formas decomunicação que levem em contaa expectativa e a fala do cliente. Épreciso considerar, também, ainclusão da clientela de classessociais populares, excluída dosprocessos de modernização tec-nológica e ainda menos acostuma-da a rotinas padronizadas deatendimento.

Apoio: FAPERJ/CNPqTítulo: Interações de atendimento– Um estudo de relações, lin-guagem e trabalho.Modalidade: Auxílio à Pesquisa(APQ1)/BBP (Cientista Jovem doNosso Estado)Valor: R$ 17.778, 00Ano: 2001

9

Rio de Janeiro, janeiro de 2003

Encontrei hoje em ruas, separada-mente, dois amigos meus que sehaviam zangado. Cada um me con-tou a narrativa de por que se haviamzangado. Cada um me disse a ver-dade. Cada um me contou as suasrazões. Ambos tinham razão. Ambostinham toda a razão. Não era que umvia uma coisa e outro outra, ou umvia um lado das coisas e outro umlado diferente. Não: cada um via ascoisas exatamente como se haviampassado, cada um as via com umcritério idêntico ao do outro. Mascada um via uma coisa diferente, ecada um, portanto, tinha razão.Fiquei confuso desta dupla existên-cia da verdade.

Fernando Pessoa (notas soltas)

Imagine livrar cascos deembarcações das cracas e deoutros inquilinos indesejáv-eis, sem agredir o meio ambi-

ente marinho. A solução está nu-ma alga encontrada em toda acosta brasileira, a Laurencia obtusa,que contém uma substância anti-incrustante de amplo espectro,altamente eficiente. A descobertafoi feita pelo biólogo Renato CrespoPereira, coordenador do Progra-

ma de Pós-Graduação em BiologiaMarinha da Universidade FederalFluminense (UFF), que busca subs-tituir o TBT (tributil – estanho), umagente antiincrustante extrema-mente tóxico à vida marinha. A pes-quisa é apoiada pela FAPERJ e con-ta com a participação do Institutode Estudos do Mar Almirante PauloMoreira (IEAPM), da Marinha, quefica em Arraial do Cabo, onde sãorealizados os testes de campo.

A bioincrustação é o desenvolvi-mento de uma camada de bac-térias, algas e invertebrados nocasco de embarcações, em pla-taformas para exploração de pe-tróleo, em bóias para auxílio ànavegação e em tubulações deusinas nucleares. Seu aparecimen-to provoca danos nessas estru-turas submersas e causa prejuízoseconômicos, porque eleva o con-sumo de combustível no caso das

10

FAPERJ notícias

Pesquisadores da UFF estudam algapara combater a bioincrustaçãoLaurencia obtusa contém substância com ampla ação antiincrustante

O casco de uma embarcação tomado pela bioincrustação: possibilidade de danos e prejuízos.

embarcações. A incrustação tornairregular e rugosa a superfície doscascos, aumentando o arrasto ereduzindo a velocidade. Num dosmaiores navios do mundo, oQueen Elizabeth, os gastos comcombustível durante uma viagempodem chegar a US$ 17 milhões.Mas, com a bioincrustação, o con-sumo de combustível podeaumentar em até 1%, o que sig-nifica mais US$ 170 mil.

Produção em larga escalaSegundo o biólogo RenatoCrespo, desde que as tintas con-tendo TBT começaram a ser uti-lizadas em larga escala, no inícioda década de 1970, pensou-se queessa seria a solução para o antigoe oneroso problema da bioincrus-tação. “No entanto, nessa época,surgiram evidências de efeitosprejudiciais em muitas outras for-mas de vida marinha além dosorganismos incrustantes, incluin-do espécies economicamente im-

portantes como as ostras. O tri-butil - estanho causa mudança desexo nos moluscos, um fenômenodenominado ‘imposex’, que al-

tera a proporçãodesses organismosno meio ambien-te”, revelou.

Em seu trabalho depesquisa, Crespoconstatou que a al-ga Laurencia obtusafaz parte de umgrupo de organis-mos marinhos li-vres de epibiontes(espécies que sealojam sobre outrosseres). A substânciaencontrada nessaalga tem um amploespectro de inibi-ção de incrustantes.“O mais freqüenteé se obter uma subs-tância que age so-bre um determina-do organismo in-crustante. Daí avantagem dessaalga, já que esti-ma-se a existência

de cerca de 2 mil espécies deincrustantes”, explica o biólogo.

A equipe de biólogos – que conta,também, com Bernardo Perez daGama e Valeria LaneuvilleTeixeira, da UFF, e com RicardoCoutinho, do IEAPM – trabalhaagora na etapa de síntese da subs-tância extraída da alga, para pro-dução em larga escala. Os examesecotoxicológicos não apontaramnenhum problema, e os testes decampo são promissores. Foi obser-vado que, após seis semanas deexposição submersa, a substânciase manteve ativa mesmo com 18%da concentração original. “Tãologo a síntese esteja completa, ini-ciaremos os testes de incorpo-ração da substância em tintas.Nossa previsão é entrarmos nessaetapa no início de 2003”, anima-seCrespo.

Apoio: FAPERJ / CNPq Modalidade: Auxílio à Pesquisa(APQ1) / PADCT III Valor: R$ 187 mil Ano: 2002

11

Rio de Janeiro, janeiro de 2003

Teste antiincrustante utilizando espécimes do mexilhão Perna perna colocadossobre papéis de filtro contendo substância (escuro) e controle (branco).

O biólogo Renato Crespo em seu laboratório: testescom substância antiincrustante

12

FAPERJ notícias

Imagine uma impressora co-nectada a um computador que,em vez de trabalhar com tinta,deposita cera, camada por ca-

mada, uma em cima da outra, debaixo para cima. Essa impressora tri-dimensional, a Modelmaker II, foiadquirida pelo Instituto Nacional deTecnologia (INT) para construir mo-delos de jóias a partir de arquivos 3D -o que tecnicamente chama-se prototi-pagem rápida. Único no Brasil, oequipamento traz diversas vantagenspara o setor de jóias, que, com a técni-ca, fica capacitado a produzir peças deexcelente qualidade, com maior rapi-dez, precisão dimensional e alto graude complexidade geométrica.

Apesar de ser capaz de aumentar acompetitividade nos mercados na-cional e internacional e de agregarvalor aos produtos por meio dodesign, a novidade ainda não foi to-talmente assimilada pelo setor pro-dutivo, acostumado a construir pe-ças pelo sistema de handering, ondeos desenhos das peças são feitos àmão. A nova tecnologia é um siste-ma complementar ao trabalho tradi-cional, que precisa se adaptar àmodernização proporcionada pelaModelmaker II.

“Ainda não estamos produzindoem escala industrial, por não havernúmero suficiente de designers dejóias acostumados a trabalhar com es-se sistema”, avalia a doutora em En-genharia de Produção Maria CristinaZamberlan, desenhista industrial doINT. Quando estiver sendo utilizadaem escala industrial, a prototipagemrápida vai diminuir os custos em cin-co vezes e reduzir o tempo da constru-ção de um protótipo em um quinto.

Processo mais ágilA produção de um anel, por exem-plo, leva hoje 14 dias. O processo

começa com o trabalho do dese-nhista, que demora cerca de umasemana para colocar a idéia nopapel. A partir do desenho, maissete dias são necessários para sair oprimeiro protótipo da jóia. Com ouso da Modelmaker II – que está àdisposição das indústrias no Centrode Prototipagem Rápida do INT –,o processo é mais ágil. Lançandomão da computação gráfica, o

designer leva cerca de oito horaspara desenhar a jóia, e a máquinagasta apenas um dia para construiro protótipo.

Para implementar o uso da máquinano setor joalheiro, a FAPERJ, o INT, oInstituto Brasileiro de Gemas e MetaisPreciosos e a Associação de Joalheirosdo Rio de Janeiro (Ajorio) uniramesforços na capacitação e na formaçãode pessoal para o mercado formal detrabalho, que gera cerca de 15 milempregos diretos e 30 mil informais.Com cem indústrias e 2 mil pontos devenda, o Rio de Janeiro é responsávelpor 25% das 30 toneladas de ouro tra-balhadas no Brasil.

Atualização profissionalDez empresas selecionadas pelaAjorio já estão utilizando a máqui-na em fase experimental. “Esse tra-balho é para somar conhecimentos.Com as respostas dessas empresas,pretendemos resolver eventuais pro-blemas, para que no fim de 2003 anova tecnologia esteja totalmenteassimilada pelo mercado de jóias”,planeja Jorge Lopes, chefe do Labo-ratório de Modelos Tridimensio-nais, do INT.

Com o objetivo de atualizar os profis-sionais no uso da nova ferramenta,cinco bolsistas da FAPERJ ensinamartesãos de diversas empresas a de-senhar jóias pela computação gráfica.Para consolidar as atividades doCentro de Prototipagem Rápida doINT, a FAPERJ também contribuiucom a compra de dois computadorese parte dos insumos.

Apoio: FAPERJTítulo: Centro de PrototipagemRápida para o setor de gemas,jóias, bijuterias e afinsModalidade: Auxílio à Pesquisa(APQ1)Valor: R$ 61.004,00Ano: 2001/2002

Jóias de cera que valem ouroCentro de Prototipagem Rápida do INT

agrega valor a peças por meio do design

A seqüência mostra o desenho tridi-mensional do anel impresso pela

Modelmaker II, um modelo em cerae um protótipo da jóia.