editorial c sumário · 2017-12-04 · dificuldade: conseguir inverter a lógica da educação...

12
1 Entrevista: Entrevista: Entrevista: Entrevista: Entrevista: Capa Capa Capa Capa Aconteceu nas ETSUS Aconteceu nas ETSUS Aconteceu nas ETSUS Aconteceu nas ETSUS Destaques e Destaques e Destaques e Destaques e Lançamentos Lançamentos Lançamentos Lançamentos Construindo o SUS Construindo o SUS Construindo o SUS Construindo o SUS Simone Machado “Esperamos que as ETSUS coloquem a Educação Profissional em pauta” 2 Capa Agente Comunitário de Saúde: Quem é esse profissional que você quer formar técnico 4 Aconteceu nas ETSUS Escolas investem na pós-graduação para professores 8 Destaques e Lançamentos 11 Construindo o SUS Você sabe o que é o SUS? 12 Sumário Editorial C omo podemos sair do isolamento e melhorar a educação profissional em saúde no Brasil? Como as Escolas Técnicas do SUS podem se fortalecer mutuamente? Como interagir e trocar informações e experiências entre si? Por fim, como se tornar formuladores e sujeitos ativos na educação e na saúde? Uma das respostas pode estar aqui, na Revista da RET-SUS, que pretende ser um espaço para divulgar o que acontece nas Escolas e problematizar e discutir temas relacionados ao dia-a-dia do trabalho de vocês. Este é apenas o primeiro número. Daqui pra frente, esta revista deve ser construída coletivamente, por cada uma das 37 Escolas Técnicas que formam para o Sistema Único de Saúde. A Secretaria Técnica executa, mas para que a RET- SUS funcione de fato como uma rede, no mundo do trabalho, da educação, da saúde e da vida, é preciso que cada um dos professores, alunos, coordenadores e diretores das Escolas se reconheçam como elos dessa rede. E o que ganhamos com isso? Transformamos esforços isolados em movimentos articulados de colaboração e troca. Nesta edição, publicamos algumas notícias do que acontece nas Escolas — com a participação de todos nós, vamos ter muito mais coisa a dizer. A matéria de capa deste primeiro número é sobre o desafio de formar técnicos em Agente Comunitário de Saúde. Você se reconhece nela? Esta revista dá concretude à RET-SUS. Aqui você pode pedir e oferecer coisas — orientações, referências, consultoria; sugerir pautas; apresentar experiências. Aqui vamos nos encontrar uma vez por mês e lembrar que no Brasil inteiro tem gente passando por problemas parecidos, buscando soluções semelhantes, precisando das mesmas coisas. Renata Reis Secretaria Técnica da Rede de Escolas Técnicas do SUS

Upload: others

Post on 30-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Entrevista: Entrevista: Entrevista: Entrevista: Entrevista:

CapaCapaCapaCapa

Aconteceu nas ETSUSAconteceu nas ETSUSAconteceu nas ETSUSAconteceu nas ETSUS

Destaques eDestaques eDestaques eDestaques eLançamentos Lançamentos Lançamentos Lançamentos

Construindo o SUSConstruindo o SUSConstruindo o SUSConstruindo o SUS

Simone Machado

“Esperamos que as ETSUS coloquem a Educação

Profissional em pauta” 2

CapaAgente Comunitário de Saúde: Quem é esseprofissional que você quer

formar técnico 4

Aconteceu nas ETSUSEscolas investem na pós-graduação

para professores 8

Destaques eLançamentos 11

Construindo o SUSVocê sabe o que é o SUS? 12

Sumário

Editorial

Como podemos sair do isolamento e melhorar a

educação profissional em saúde no Brasil? Como

as Escolas Técnicas do SUS podem se

fortalecer mutuamente? Como interagir e trocar

informações e experiências entre si? Por fim, como se tornar

formuladores e sujeitos ativos na educação e na saúde?

Uma das respostas pode estar aqui, na Revista da

RET-SUS, que pretende ser um espaço para divulgar o

que acontece nas Escolas e problematizar e discutir temas

relacionados ao dia-a-dia do trabalho de vocês. Este é

apenas o primeiro número. Daqui pra frente, esta revista

deve ser construída coletivamente, por cada uma das 37

Escolas Técnicas que formam para o Sistema Único de

Saúde. A Secretaria Técnica executa, mas para que a RET-

SUS funcione de fato como uma rede, no mundo do

trabalho, da educação, da saúde e da vida, é preciso que

cada um dos professores, alunos, coordenadores e diretores

das Escolas se reconheçam como elos dessa rede. E o que

ganhamos com isso? Transformamos esforços isolados em

movimentos articulados de colaboração e troca.

Nesta edição, publicamos algumas notícias do que

acontece nas Escolas — com a participação de todos nós,

vamos ter muito mais coisa a dizer. A matéria de capa

deste primeiro número é sobre o desafio de formar técnicos

em Agente Comunitário de Saúde. Você se reconhece

nela?

Esta revista dá concretude à RET-SUS. Aqui você

pode pedir e oferecer coisas — orientações, referências,

consultoria; sugerir pautas; apresentar experiências. Aqui

vamos nos encontrar uma vez por mês e lembrar que no

Brasil inteiro tem gente passando por problemas parecidos,

buscando soluções semelhantes, precisando das mesmas

coisas.

Renata ReisSecretaria Técnica da Rede

de Escolas Técnicas do SUS

2

Entrevista Simone Machado

‘Esperamos que as ETSUS c Educação Profissional em pCoordenadora de Ações Técnicas do Ministério da Saúde fala sobre

SSSSSimone Machado é coordenadora de Ações Técnicas do Departamento deimone Machado é coordenadora de Ações Técnicas do Departamento deimone Machado é coordenadora de Ações Técnicas do Departamento deimone Machado é coordenadora de Ações Técnicas do Departamento de

TTTTrabalho e da Educação na Saúde – SGrabalho e da Educação na Saúde – SGrabalho e da Educação na Saúde – SGrabalho e da Educação na Saúde – SGTES. Enfermeira, especialista e mestreTES. Enfermeira, especialista e mestreTES. Enfermeira, especialista e mestreTES. Enfermeira, especialista e mestreem educação, ela foi coordenadora da área de educação profissional da Escola deem educação, ela foi coordenadora da área de educação profissional da Escola deem educação, ela foi coordenadora da área de educação profissional da Escola deem educação, ela foi coordenadora da área de educação profissional da Escola deSaúde Pública do Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, quando foi compor a equipe doSaúde Pública do Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, quando foi compor a equipe doSaúde Pública do Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, quando foi compor a equipe doSaúde Pública do Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, quando foi compor a equipe doMinistério da Saúde. Nesta entrevista, ela apresenta as bases da política de educaçãoMinistério da Saúde. Nesta entrevista, ela apresenta as bases da política de educaçãoMinistério da Saúde. Nesta entrevista, ela apresenta as bases da política de educaçãoMinistério da Saúde. Nesta entrevista, ela apresenta as bases da política de educaçãoprofissional e destaca a importância da articulação das ETSUS.profissional e destaca a importância da articulação das ETSUS.profissional e destaca a importância da articulação das ETSUS.profissional e destaca a importância da articulação das ETSUS.

imone Machado é coordenadora de Ações Técnicas do Departamento deGestão da Educação na Saúde – Deges, da Secretaria de Gestão doGestão da Educação na Saúde – Deges, da Secretaria de Gestão doGestão da Educação na Saúde – Deges, da Secretaria de Gestão doGestão da Educação na Saúde – Deges, da Secretaria de Gestão doGestão da Educação na Saúde – Deges, da Secretaria de Gestão doTrabalho e da Educação na Saúde – SGTES. Enfermeira, especialista e mestre

em educação, ela foi coordenadora da área de educação profissional da Escola deSaúde Pública do Rio Grande do Sul de 1999 a 2002, quando foi compor a equipe doMinistério da Saúde. Nesta entrevista, ela apresenta as bases da política de educaçãoprofissional e destaca a importância da articulação das ETSUS.

serviços. Não queremos mais saberapenas qual a possibilidade da Escola,mas sim qual a necessidade daquelaregião e, a partir daí, construirprocessos de afirmação na área deeducação profissional.

Existe alguma estratégia parafortalecer as Escolas e facilitar aparticipação nos pólos?

O Larga Escala e o Profae são processosque vêm acontecendo há muito tempono Brasil para desenvolver a educaçãoprofissional, com o objetivo principalde fortalecer as Escolas Técnicas. Elesinvestiram nas ETSUS para que elasnão sofressem da fragilidade depertencer a uma mantenedora ousupervisora das secretarias estaduais,a mercê da vontade política. Mas nósachamos que esse fortalecimento setraduziu muito mais em recursosfinanceiros. Pagou-se consultoria paraque as ETSUS elaborassem seusplanos de curso e criassem sua missãoinstitucional. Mas nunca se fez umtrabalho de ativação política para queelas pudessem ser, como diz o EmersonMehry, ‘cartógrafas’, ‘portadoras defuturo’, para que suas equipes setornassem mais sustentáveis. Ainda

Como a educação profissional seinsere na política de educaçãopermanente proposta pela SGTES/MS?

No início, foi difícil entrar nesseprocesso devido a várias lógicas jáconstruídas em relação à educaçãoprofissional nos últimos tempos. OProfae foi um projeto interessante quedesbravou muitas coisas e colocou aeducação profissional em outro cenário.Mas ele não fez a opção por pactosarticulados a partir das necessidadesdos serviços de saúde de cada uma dasregiões. O Profae tratou basicamentede conversar com as escolas deformação, muitas delas privadas, ecom o trabalhador. Por tudo isso,tivemos dificuldade de colocar aeducação profissional na construção dapolítica de educação permanente. AsEscolas Técnicas normalmenteassumiam a linha de frente desseprocesso. Diziam, por exemplo, quepodiam criar 20 turmas para formarTHD, mas nunca perguntavam aogestor e à secretaria de saúde se essaera a demanda. Essa foi umadificuldade: conseguir inverter a lógicada educação profissional, para que elapartisse também das necessidades dos

não conseguimos desenvolver umprocesso de fortalecimento político.Temos muitos problemas em relaçãoa isso: a cada troca de gestão, a equipese desconstitui, começa tudo de novo,às vezes assumem pessoas que não têmacúmulo na educação profissional.Estamos fechando um ciclo dedesenvolvimento das ETSUS — elaspassaram por um conjunto de oficinase debates, que acreditamos ser ocaminho para um trabalho mais debase — e iniciando um outro processoque visa reuni-las cada vez mais eincentivá-las a ser um ator maispolítico nesse cenário. Temos quetentar ativar um canal que chame odocente para essa interlocução. Forampensadas algumas estratégias, comodesenvolver um mestrado profissionalna área de educação com o nome danossa Secretaria, ‘Gestão do Trabalhoe Educação na Saúde’.

Qual o papel das Escolas Técnicasna atual política de educaçãoprofissional?

Esperamos que as Escolas Técnicassejam articuladoras do processo deformação profissional nas suas regiões.Que elas consigam sair do lugar deexecutoras para serem formuladoras.

3

Se, numa determinada região, aETSUS não puder assumir a execuçãode todo o processo de formação de umacategoria de trabalhadores, outraescola pode fazer isso, inclusive se forprivada. O importante é que a ETSUSse relacione com essa outra escola,consiga estabelecer um debate sobreeducação profissional, traga para ocenário das outras instituições deformação a questão do processo dotrabalho, faça oficinas, seminários,enfim, coloque a educação profissionalna pauta. Sabemos que as Escolas têmdificuldades de recursos, mas épossível fazer algumas coisas. Elaspodem, por exemplo, montar reuniõeslocais para ativar relações com asescolas de educação profissional quetenham compromisso com o SUS.Queremos que as ETSUS sejam esseinterlocutor, que se preocupem emsaber quantas escolas técnicas existemna região, quantas falam para o SUS,quem pode atender melhor o quê, comopodemos criar um debate em tornodisso. Elas devem ser capazes dequestionar, propor e formular anecessidade de formação na educaçãoprofissional para sua região e para oSUS.

E como a articulação em rede — aRET-SUS — pode contribuir comoestratégia?

Eu acho que, em primeiro lugar, asETSUS precisam se reconhecer comoatores desse processo. A partir disso,conseguiremos abrir várias outraspossibilidades. Estar na rede é sereconhecer como um participanteativo. As escolas têm um pouco essadificuldade. Quando se reconhecerem

dessa forma, nós abriremos umleque de possibilidades e a redeé uma delas. Na RET-SUS,podemos ter uma interlocuçãoentre essas Escolas e gerar umdebate sobre a educaçãoprofissional. A rede é um lugarfundamental para que essainterlocução macropolítica epotente aconteça.

O Profae incentivou cursos deauxiliar e técnico de enfermagem.Há outras prioridades na formaçãohoje?

Um dos grandes problemas que o Profaeenfrentou desde o início era serdestinado a apenas uma categoriaprofissional. Nesse tempo, a realidadedo Brasil era muito diferente. Comoíamos desenvolver o Profae no RioGrande do Sul, por exemplo, se lá amaioria já era auxiliar de enfermagem?Quando assumimos essa gestão,tínhamos como meta transformar issonuma política da educaçãoprofissional, dando conta de atenderao conjunto de necessidades que osistema de saúde tem em relação aesse segmento. Isso já vem agregado àpolítica de educação permanente.Além do Profae, a enfermagem temuma hegemonia muito forte naeducação profissional e, em algunsmomentos, é difícil romper essa lógicacom as ETSUS. Para isso, é importanteque as pessoas que estão à frente dessasEscolas entendam o que é o SUS.Vamos continuar formando essesprofissionais, que são de ponta. Mas,hoje, todos os trabalhadores do ensinomédio precisam estar à frente dosistema de saúde. O ACS vai ser um

Wan

drei

San

ches

grande exercício para as EscolasTécnicas. Quem faz a formação dosACS? Não é só o enfermeiro, nem só odentista. As Escolas estão preparadaspara lidar com a diversidade dedocentes que vai aparecer? É umaruptura. Esse é o momento deconseguir se desprender e pensar napolítica de educação profissional emáreas temáticas, trabalhando de umaforma integrada, até com possibilidadede núcleos comuns entre as profissões.

Como está a relação do Ministérioda Saúde com o MEC?

Estamos tendo uma relação ótima . Opessoal que trabalha na área deeducação profissional, a SETEC, temuma disposição muito forte deentender o campo saúde e reconhecera especificidade das ETSUS.Conseguimos construir uma parcerialegal na formulação do referencial doACS. Eles se propuseram inclusive arever o referencial curricular da áreaprofissional de saúde. Como algunsconceitos relativos à competência sãodivergentes dentro do próprio MEC,eles estão querendo rever tudo, fazerum debate mais ampliado, coletivo ese propuseram a começar essadiscussão pela área do profissional desaúde, o que, para nós, é muitointeressante.

cpe

oloquem aauta’

o papel de formuladoras das ETSUS

Capa

4

A formação de mais de 180 milagentes comunitários de saúde (ACS) que atuam no Brasil

vem sendo apontada como priori-dade da política nacional e dasnecessidades de muitos municípios.Mais do que qualificar essestrabalhadores, o Ministério da Saúdeestá propondo a criação de umitinerário de formação que possibilitesua profissionalização, chegando atéo nível técnico. E quem vai conduziresse processo são as Escolas Técnicase os Centros Formadores do SUS(ETSUS).

A situação atual do agentecomunitário de saúde é um exemplotípico da necessidade que, nopassado, motivou a criação dasETSUS: garantir que os trabalha-dores já inseridos nos serviçostenham acesso à educação e possamdesenvolver melhor suas funções,mais comprometidos com osprincípios e diretrizes do SUS. OsACS e as ETSUS, aliás, têm emcomum o fato de serem, respectiva-mente, trabalhadores e instituiçõesde ensino que existem exclusiva-mente em função do SUS.

As ETSUS estão sendo ascondutoras do processo, mas terãoque construir o projeto junto comoutros atores, discutindo enegociando nos pólos de educaçãopermanente. Segundo a orientaçãodo Ministério da Saúde, conduzirsignifica, nesse caso, articular comos gestores municipais para definiruma estratégia de formaçãodescentralizada; discutir e definirprioridades; construir e pactuar umaagenda de execução; montarestratégias de formação docente;elaborar material didático; eacompanhar as atividades técnicas

e pedagógicas. Tanto o Ministérioquanto as escolas sabem que, emalguns estados, as ETSUS, sozinhas,não vão dar conta de formar todo ocontingente de agentes comuni-tários de saúde. Nesse caso, asETSUS podem convidar outrasinstituições de ensino, públicas ouprivadas, para participar da execuçãodo curso, seguindo o plano, aestratégia e o material preparadospor elas.

A proposta do Ministério daSaúde, já aprovada pelo ConselhoNacional de Educação - CNE pormeio do parecer 19/2004 — queainda não foi homologado pelo MEC— é que seja adotado o acessouniversal à primeira parte do curso.Isso significa que, para iniciar oitinerário, os ACS não precisam terqualquer escolaridade. Já as etapasformativas seguintes terão como pré-requisito a conclusão dos módulosanteriores e do ensino médio ouequivalente. Ao todo, o itineráriocompleto deverá ter carga horária de1200 horas. A lei que cria a profissãodo agente comunitário de saúdeestabelece que esse profissional deveter concluído o ensino fundamentale passado por uma qualificaçãobásica. Quando o Programa deAgente Comunitários de Saúde(PACS) foi criado, em 1991, exigia-se apenas que esse trabalhador

soubesse ler e escrever. Daí aimportância do acesso universal, paragarantir a formação de alguns ACSque ainda não concluíram ofundamental. A coordenadora deelaboração dos referenciais curricularesfoi Claudia Marques.

Agente com habilitação técnica?

A necessidade de umaformação para o ACS já vinha sendo,portanto, negociada com as ETSUSe outros atores. Mas o Ministério daSaúde surpreendeu todos e causoumuita polêmica com a proposta detransformar o ACS num técnico.

Em primeiro lugar, diz o MS,essa iniciativa acompanha astendências da educação profissionaldo MEC, que busca o aumento daescolaridade dos trabalhadores. Eparece que os números ajudam.Segundo as estatísticas apresentadaspelo Departamento de Gestão daEducação na Saúde, da Secretaria deGestão do Trabalho e da Educação naSaúde – Deges/SGTES/MS, 60% dosACS em serviço no Brasil hoje têmensino médio completo, 18% possuemtodo o ensino fundamental e apenas22% ainda não concluíram esseprimeiro segmento. Esses percentuaisforam utilizados como argumento paradefender que já há meio caminhoandado na direção da habilitação

Curso técnico de Agente ComComo formar agentes de cidaPolítica nacional impõe desafio para as Escolas Técnicas do SUS

5

técnica. Não tem sentido, diz oMinistério, apenas qualificar pessoasque já cursaram o ensino médio. Ecomo os outros são minoria, vale a penainvestir na ampliação da escolaridadedesses trabalhadores negociandolocalmente com as secretarias deeducação. Além de tudo isso, quandoo MS disponibilizou o perfilprofissional do ACS para consultapública pela internet, cerca de 7 milpessoas acessaram a página e 500deram sugestões. Dentre elas, surgiu anecessidade de tornar esse trabalhadortécnico.

No encontro em que esse projetofoi apresentado pela primeira vez paradiscussão com representantes dasETSUS, dos gestores e dos pólos deeducação permanente, o debatepedagógico perdeu lugar parareivindicações sobre questões relativasà regulação do trabalho.

Alguns representantes dasSecretarias Estaduais e Municipais deSaúde presentes marcaram o encontrocom a seguinte interrogação: quempaga a conta? A maior preocupação,por trás dessa pergunta é que aampliação da escolaridade do ACSsignifique, necessariamente, umaumento salarial, que pesa no bolsodos gestores. Outra questão é que,hoje, em cada município o ACS écontratado de uma forma, com critériose vínculos não padronizados e, na maior

parte das vezes, frágeis.Estão em embate, nessa

discussão da Saúde, os campos doTrabalho e da Educação. A perguntaimplícita nessa polêmica é se arealidade do mundo do trabalho —precarização, dificuldade depagamento — pode pautar ou impediriniciativas no lado da formação. MariseRamos, coordenadora de cooperaçãointernacional da Escola Politécnica deSaúde Joaquim Venâncio, fomenta adiscussão, explicando a lógica dositinerários: “A realidade, cheia dedificuldades, às vezes nos obriga aoferecer apenas uma formaçãosimples. Mas como queremos mudaressa realidade, a qualificação básicaentra num itinerário formativo, que vainos levar até o técnico e a ampliaçãode escolaridade desse trabalhador”.

De um lado da polêmica, épreciso lembrar que as ETSUS sãoligadas às Secretarias Estaduais ouMunicipais de Saúde, o que as tornadependentes das secretarias. Alémdisso, a profissiona-lização do ACS sóocorrerá de fato nos municípios em queos gestores “comprarem a idéia”. Porfim, há quem defenda que a Escola nãopode fugir do compromisso social coma inserção ou manutenção dosprofissionais que ela forma no SUS. Poroutro lado, a realidade tem mostrado

que aprecarizaçãodo trabalhoatinge todas ascategorias detrabalhadores dasaúde e nem por isso osserviços deixam de contratar médicos,enfermeiros e outros profissionais.

Mas o que o usuário e o sistemade saúde ganham se o ACS se tornartécnico e ampliar sua escolaridade?“Trabalhamos essencialmente cominformação, para repassar e paraembasar nossas ações. Se temos ainformação certa no momento certopodemos garantir atendimentoprecoce, prevenção e promoção dasaúde. Como técnicos, isso fica muitomais fácil”, responde Thereza deSouza, presidente da ConfederaçãoNacional dos Agentes Comunitáriosde Saúde. Para Marise Ramos, ganhama gestão, os serviços, o sistema e,principalmente, a população. “Na basedo trabalho do ACS estão as relaçõessociais, que criam uma dimensão doimprevisível. Com mais escolaridade,ele é capaz de criar soluções melhorese mais rápidas. Criatividade somada aconhecimento gera pessoas capazes depropor e implementar soluções e,inclusive, diminuir custos”, diz, ecompleta: “Mas tudo isso só fazsentido como mediação para amelhoria da qualidade de vida daspessoas”.

No funcionamento ‘ideal’ dospólos de educação permanente, baseda atual política de formação, talvezesteja a resposta que articula essasposições. Isso porque a idéia dos pólosé exatamente a de que a formação não

Paul

o Ca

stig

lioni

ma

unitário de Saúde:dania?

6Como se forma um agente de cidadania?

“Priorizando a capacidade das pessoas de compreender como o mundo e as relaçõessociais se organizam. Fazendo da formação um caminho para que elas vejam o mundocomo dinâmico, a realidade como algo que pode ser transformado e o ser humano comosujeito da história. Como resultado, elas se tornam capazes de agir diante das situações ede permanecer curiosas em relação ao mundo”

Marise Ramos

pode se dar sem o diálogo e a pactuaçãoentre todos os atores — educadores,estudantes, gestores e controle social— envolvidos localmente no tripéSaúde, Educação, Trabalho. Masnegociar, nesse caso, significa elegercaminhos e prioridades de acordo coma realidade local, respeitando-se opapel formulador e executor de cadainstituição participante. Parafinanciamento do Ministério da Saúde,os projetos — planos de curso do ACS,infra-estrutura e rede de parceiros —devem antes ser debatidos e aprovadospelos pólos e pela ComissãoIntergestora Bipartite (CIB). Alémdisso, eles precisam dar conta doitinerário completo ou apontar aintenção de concluir o percurso.

ACS e auxiliar de enfermagem:qual a diferença?

Um obstáculo à pactuação emrelação a esse curso em alguns estadostem sido a clássica dúvida sobre asfronteiras das funções do ACS e doauxiliar de enfermagem. Nos pólos ouno próprio interior das Escolas, algunsatores questionam se o agentecomunitário de saúde não estáocupando o lugar que vinha sendo doauxiliar ou do técnico de enfermagem.

Em diversos estados, boa partedos ACS são auxiliares de enfermagemformados pelo Profae. Se essa é arealidade da sua região, tanto o planode curso quanto o trabalho dosprofessores deve levar em conta essaformação, prevendo, inclusive,aproveitamento de estudos. Mas,atenção: o Deges não está aceitandoprojetos que sejam apenas umaadaptação do plano do curso deenfermagem, sem levar em conta operfil profissional do ACS.

Uma primeira especificidade doACS é o fato de ele ser um trabalhadorexclusivo do SUS. Independen-

temente da sua formação, um agentecomunitário de saúde só poderá atuarno PACS ou no PSF. Segundo o relatóriofinal do Profae sobre o perfil de açõesdo auxiliar de enfermagem, publicadoem 2001, as ações do auxiliar deenfermagem dividem-se em trêsgrandes blocos: promoção da saúde eprevenção de agravos; recuperação ereabilitação da saúde; e planejamentoe gestão. Traçando um paralelo, no‘referencial curricular para cursotécnico do agente comunitário desaúde’, publicado em conjunto pelosMinistérios da Saúde e da Educaçãoeste ano, as atribuições do ACScompõem também três grandesblocos: mobilização social, integraçãoentre a população e as equipes de saúdee planejamento das ações; promoçãoda saúde e prevenção de doenças,dirigidas a indivíduos, gruposespecíficos e a doenças prevalentes;promoção, prevenção emonitoramento das situações de riscoambiental e sanitário. Tanto no casodo ACS quanto do auxiliar deenfermagem, são apontadas açõesespecíficas para cada um dessesconjuntos. Mas, e no dia-a-dia dosserviços, como se dá, de fato, a fronteirado trabalho desses profissionais?

Thereza, agente comunitárioque hoje preside a ConfederaçãoNacional dos ACS, destaca o papel dearticulador. Segundo ela, todo oaspecto curativo está centrado notrabalho do auxiliar de enfermagem.A responsabilidade do ACS é mobilizaras pessoas, prevenir doenças epromover saúde, nunca tratar. “O ACSé, sobretudo, um educador. Não vejo,por exemplo, o auxiliar de enfermagemjuntando o povo para melhorar osaneamento básico local”, compara.

Ela conta que, no início, aproposta do técnico de ACS dividiu acategoria, exatamente porque,formados pelo Profae, alguns

profissionais queriam seguir na área deenfermagem. “Mas muitos de nósquerem continuar sendo ACS. E têm odireito de se profissionalizar. Por issoprevaleceu o apoio ao curso técnico”,conta. Do lado da política, a propostade criar um itinerário próprio para oACS — e não promover sua formaçãoem outra área já existente — tem porobjetivo manter e potencializar asespecificidades de um profissional queé diferente de todos os outros dosistema de saúde. Nas palavras do MS,isso significa que, mais do queconhecimentos técnicos, deve-sefortalecer, na formação do ACS, seucaráter de agente de cidadaniaagente de cidadaniaagente de cidadaniaagente de cidadaniaagente de cidadania.

Anamaria Corbo, professora daEPSJV que já coordenou equipes desaúde da família, explica que, naprática, as atribuições do ACS variammuito de acordo com as necessidadese recursos de cada lugar. Idealmente,pelo projeto de trabalho do PSF, o ACSatua principalmente na comunidade,visitando a casa das pessoas,cadastrando todos da sua microárea efazendo a integração da equipe com acomunidade. Já o auxiliar e o técnicode enfermagem têm o trabalho maislocalizado na unidade e sãoresponsáveis por procedimentos como,por exemplo, pré e pós-consulta,curativo, medição de pressão arterial.Também auxiliam na triagem dospacientes e na marcação de consulta.Ir ao domicílio das pessoas é atribuiçãodo ACS. Os outros profissionais daequipe também podem visitar casas,mas com objetivo direcionado, namaioria das vezes por situaçõesapontadas pelo agente comunitário.

Quem é o profissional que você vaiformar?

Agente de cidadania, mediadorsocial, elo entre os serviços de saúde ea população. Esse vem sendo o papeldesempenhado pelo agente comuni-tário de saúde, personagem-chave dareordenação da atenção à saúde noBrasil e que foi um dos pontos departida para a criação do Programa deSaúde da Família – PSF. E o que seespera do profissional que você,professor das ETSUS, vai agora formarcomo técnico?

7

Parte dessa resposta está noperfil profissional e nos referenciaiscurriculares elaborados peloMinistério da Saúde e pelo MEC.Márcia Valéria Morosini, professora epesquisadora da EPSJV que colaborounos referenciais curriculares do curso,chama atenção para um passo anteriorà sala de aula. Ela lembra que asETSUS que demorarem a continuar oitinerário devem ficar atentas na horade montar o plano de curso. Segundoela, a etapa formativa 1 dos referenciaisdo MS dá conta do papel do ACS naequipe e nas casas e famílias; a etapa2 foca o trabalho com o coletivo, emgrupos específicos; e o módulo 3 évoltado para o meio ambiente. Por isso,o módulo 1 não corresponde pedagogi-camente à qualificação básica. “Quemcursar apenas a primeira parte nãoestará qualificado para o trabalho”,explica.

Antes de mais nada, a formaçãotécnica deve valorizar a capacidade deliderança que marca o trabalho que seespera do ACS. Esse deve continuarsendo, inclusive, critério de

contratação do agente, comple-mentado e não substituído peloconhecimento técnico-científico. Parafacilitar essa inserção, a lei queregulamenta a profissão exige que oACS more na comunidade onde vaiatuar. Outro ponto orientador tanto doplano de curso quanto do currículo edo trabalho em sala de aula do ACS ede todos os profissionais do PSF é acapacidade de atuar em equipemultiprofissional.

Para que isso se reflita naformação, é preciso antes compreendera inserção do agente comunitário noPrograma de Saúde da Família e aimportância dessa estratégia comopolítica pública de saúde. O PSF, naverdade, tem origem no Programa deAgentes Comunitário de Saúde –PACS, em 1991. Só três anos depois,em 1994, foram montadas asprimeiras equipes de saúde da família,das quais o ACS faz parte. Nodesenvolvimento do SUS, o PSF foiadotado como principal estratégia parapôr em prática uma visão mais ampla

de saúde, que leva em conta ascondições de vida da população evaloriza, portanto, o vínculo e a escuta.Além disso, o bom funcionamento doPSF depende de um trabalho emequipe, com integração entre osdiversos profissionais. Entre eles, oACS, que agora você vai formar técnico.

Anamaria lembra que uma dasprincipais atribuições do ACS éidentificar problemas ou situações derisco no local e orientar a população ea equipe. “A maior efetividade da açãodo ACS se dá quando a equipe constróie privilegia espaços de comunicaçãona organização do serviço para que asinformações trazidas por ele ouqualquer outro do grupo alterem o seuprocesso de trabalho. Se sabemos queos sintomas da Dona Mariaapareceram depois que o marido delaficou desempregado, temos que usarisso para reformular nossasestratégias”, analisa. E você —professor, coordenador e diretor dasETSUS — como vai repensar suasestratégias de ensino para formar essetrabalhador do SUS?

Aconteceu nas ETSUS

8

Cefor de Goiás criabiblioteca móvel paracursos descentralizados

O Centro Formador de Goiáscriou uma biblioteca móvel paraatender aos alunos da área de enfer-magem, que não têm acesso à bi-blioteca da sede da Escola. A van,que foi doada pelo Ministério dosTransportes, transportará 60 títulosque ficarão à disposição dos alunosde cada um dos 17 municípios emque o Cefor oferece cursos descen-tralizado durante duas semanas.

Lula inaugura o novo prédioda EPSJV

A nova sede da Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio foiinaugurada no dia 5 de agosto deste ano,com a presença do Presidente LuizInácio Lula da Silva, dos ministros daEducação, Tarso Genro, da Saúde,Humberto Costa, de Ciência eTecnologia, Eduardo Campos e daprimeira-dama, Marisa da Silva. A obrafoi financiada com recursos do Programade Expansão da Educação Profissional(Proep). Na mesma ocasião, comemorou-se também a nomeação da escola comoCentro Colaborador da OMS para aeducação de técnicos em saúde.

Escolas lançam novos cursos

O Centro Formador de RH deGoiás oferece, pela primeira vez, o Cursode Técnico em Higiene Dental (THD) parauma turma piloto formada por 35 alunosde diversos municípios do estado. Ocurso começou no dia 2 de agosto, teráduração de 15 meses e é dividido emtrês módulos.

O técnico em THD está sendolançado também pela ETSUS dePernambuco, com turmas na Faculdadede Odontologia de Pernambuco e naFaculdade de Odontologia de Caruarupara 80 profissionais do SUS quepossuem o Ensino Médio completo. Acoordenação pedagógica está a cargo daEscola Técnica de Pernambuco.

Já a Escola Técnica de Saúde deBlumenau está aderindo ao Programa deFormação de Agentes Locais deVigilância em Saúde (Proformar). Asaulas contam com a presença de 30alunos, começaram no dia 9 de agosto eterão quatro meses de duração. Ao finaldo curso, os participantes devemelaborar um projeto de aplicabilidadepara o seu local de trabalho.

Curso de Atenção ao Idoso

Auxiliares de enfermagem, agentes

comunitários de saúde e acompanhantes

de idosos fizeram, em agosto, o Curso de

Atenção ao Idoso, promovido pelo Cefor

de Natal. O curso foi uma solicitação da

Secretaria Municipal de Saúde de Natal

e enfocou temas como Política Nacional

do Idoso, Distúrbios mais comuns na

Terceira Idade e Processo de

Envelhecimento. Uma promotora

discutiu com os alunos os termos do

Estatuto do IdosoEstatuto do IdosoEstatuto do IdosoEstatuto do IdosoEstatuto do Idoso. “Achamos que

nossos profissionais deveriam conhecer

melhor os processos de saúde e doença

na 3ª idade, além da nova legislação”,

explica Vera Lucia Ferreira, diretora do

Cefor do Rio Grande do Norte.

Curso de Atualização em Atenção a Saúde Mental

O Centro de Formação Pessoal para os Serviços de Saúde Doutor Manoel daCosta Souza, do Rio Grande do Norte, vai realizar em outubro deste ano o Curso deAtualização em Atenção à Saúde Mental para auxiliares de enfermagem do estado.O curso tem como objetivo preparar os profissionais do SUS para lidar com otranstorno mental, compreender o sofrimento psíquico e identificar as necessidadese especificidades do paciente.

O curso será realizado em dois módulos com carga horária total de 80 horas. Osprofessores são psicólogos, assistentes sociais e médicos psiquiatras. Alguns dosassuntos abordados são: representação social da loucura, reforma sanitária e reformapsiquiátrica, atenção básica, psicopatologia e saúde mental, intervençõesterapêuticas, entre outros.

O que diz o Estatuto do Idoso?

Segundo o estatuto, o idoso tem direito a atendimento domiciliar, a recebermedicamentos gratuitos e a optar pelo tratamento que lhe for mais favorável.Casoo idoso precise de acompanhante, os profissionais do SUS devem concederautorização. Além disso, o artigo 18 determina que “as instituições de saúde devematender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso,promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientaçãoa cuidadores familiares e grupos de ajuda”.

9

Escolas Técnicas investem na especialização de seus professoresCresce o número de escolas que oferecem pós-graduação para docentes

As Escolas Técnicas do SUS têm uma nova preocupação, que vai além dos cursos técnicos

voltados para os serviços: a formaçãodos seus professores. Foi-se o tempo daboa, velha e simples capacitaçãopedagógica: agora, as ETSUS estãocomeçando a oferecer cursos de pós-graduação para seu corpo docente. OCentro Formador de Pessoal para aSaúde de Araraquara (SP), a EscolaTécnica de Saúde de Blumenau (SC)e a Escola Politécnica de SaúdeJoaquim Venâncio (RJ) já têm turmasem andamento. O Centro Formador deGoiás aguarda a aprovação para lançarum curso de pós-graduação emDocência na área da Saúde. E aUnimontes (MG) já ofereceu o mesmocurso que hoje acontece na EPSJV.

Em Araraquara, as aulas do Cursode Especialização na Área Pedagógicacomeçaram no final de 2003 e sãoministradas por professores daFaculdade de Enfermagem daUniversidade de São Paulo (USP)Ribeirão Preto. Os 60 alunos da pós —todos enfermeiros — são tambémprofessores do Cefor de Araraquara.

A ETSUS de Blumenau, emparceria com a Fundação UniversidadeRegional de Blumenau, estáoferecendo aos seus professores a pós-graduação em Planejamento,Desenvolvimento e Gestão de Projetos emSaúde. O curso, que foi idealizado peladiretora da ETSUS, TerezinhaCarneiro, com recursos do componente2 do Profae, visa ao desenvolvimentoda Escola Técnica. “Eles seaprofundam em questões comopolíticas públicas em saúde,metodologia e pesquisa. Queremosque todos tenham uma visão maisampla e intersetorial de saúde. Nossoobjetivo maior, porém, é habilitar essesprofissionais para o desenvolvimentode planos, estratégias e gestões emsaúde”, explica.

Participam das aulas 12professores da Escola Técnica e 18profissionais da Secretaria Municipalde Saúde. As aulas começaram emsetembro de 2003 e a apresentação dasmonografias acontecerá em dezembrodeste ano. “A turma é formada porpessoas de profissões diferentes, o quefacilita nossa troca de experiências”,diz Terezinha, que também é alunado curso.

E essa iniciativa pode gerar,inclusive, produtos imediatos para asEscolas. Márcia Cristina de Carvalho,coordenadora e professora do curso deTécnico de Higiene Dental da ETSUSBlumenau, por exemplo, faz parte deum grupo que escolheu o tema‘Diagnóstico estratégico sobrenecessidades de formação de cursostécnicos oferecidos pela EscolaTécnica de Saúde para a região do Valedo Itajaí’ para o projeto experimental.Os alunos, todos professores daETSUS, estão fazendo o levantamentodas necessidades da Escola para,posteriormente, desenvolveremprojetos que melhorem ainda mais aqualidade do ensino.

Na Joaquim Venâncio, a seleçãopara a Especialização em EducaçãoProfissional foi aberta ao público, mas

16 alunos são professores da Escola. Aprimeira turma começou em marçodeste ano e encerra em dezembro. Dãoaula no curso alguns dos maisreconhecidos nomes da educaçãoprofissional no Brasil, como GaudêncioFrigotto e Maria Ciavatta. “Um doseixos centrais da formação detrabalhadores é a formação dosprofessores porque eles não vão apenasdar aula, mas também elaborar cursose discutir políticas nessa área”, dizIsabel Brasil, vice-diretora de ensinoda Escola e uma das coordenadoras daespecialização. Ela explica que aescola resolveu montar essa pós porqueacredita que, além de estudarem suaspróprias áreas, os professores precisamentender sobre educação profissional,o que envolve conceitos de educação,trabalho, relações sociais, políticaspúblicas e muitos outros. “Muitos dosnossos professores já têmespecialização, mestrado e atédoutorado nas suas áreas. Com essecurso, queremos que eles adquiramfundamentos teóricos para pensar suaprática. E isso certamente vale para asoutras ETSUS, já que são escolas cujosprofessores têm o perfil dos serviços”,conclui.

Professores da ETSUS Blumenau cursam pós-graduação: visão mais ampla de Saúde

10

Decreto muda ensino médio e qualificação profissionalInstituições de ensino devem ser socialmente responsáveis

Relação entre ensino médio etécnico e qualificação para o trabalhosão o foco do decreto 5.154, que foiassinado pelo Presidente Lula, no dia23 de julho deste ano. Segundo o novodocumento, a partir de 2005 asescolas terão autonomia paraarticular e até integrar os ensinosmédio e técnico, de acordo com suasnecessidades e objetivos.

A separação entre ensino médioe técnico, que vigora atualmente, foiinstaurada pelo Decreto 2.208, de1997, e segue na contramão da Leide Diretrizes e Bases - LDB. Agora,ficam valendo três níveis de ensino:formação inicial e continuada detrabalhadores, educação profissionalde nível médio e educaçãoprofissional tecnológica de graduaçãoe pós-graduação.

O decreto também trazmudanças sobre qualificaçãoprofissional, área que diz respeito

mais diretamente ao trabalho dasETSUS. Agora, os cursos iniciais,chamados de ‘livres’ ou de ‘qualifica-ção básica’, podem ser aproveitadoscomo parte de itinerários formativosque sigam até cursos técnicos denível médio ou de graduação.

Segundo Marise Ramos,coordenadora de cooperaçãointernacional da EPSJV, no Rio deJaneiro, que foi diretora de ensinomédio da então Secretaria deEducação Média e Tecnológica –SEMTEC (atual SETEC) do MEC eajudou a elaborar o documento, aintenção do decreto é fazer com queas instituições se sintam socialmenteresponsáveis ao elaborarem o planode qualquer curso. Ela explicatambém que a idéia de qualificaçãosem vinculação com escolaridadeaparece pela primeira vez nalegislação educacional com o decreto2.208, esse que acaba de ser revogado.

A idéia da nova lei é, então, pôr ordemna bagunça que se criou e valorizar aqualificação básica como parte de umitinerário. “Por trás dessa explosão decursos básicos, muitos elaborados dequalquer maneira, está um discursoideológico que diz que você precisase atualizar para sair do desemprego.O trabalhador faz um monte de cursosque nada têm a ver com sua formaçãoe inserção no trabalho e continuadesempregado”, analisa, ressaltandoque, nesse contexto, o auxiliar deenfermagem foi, entre todas asprofissões de nível básico dentro e forada saúde, o único que adquiriu statuse se consolidou de fato comoocupação no processo de trabalho emsaúde. Qual vai ser o cenário a partirde agora? “Esse decreto pode nãovaler nada se não for apropriado deforma adequada pelas instituições deensino e pelos responsáveis pelapolítica”, responde Marise.

Mudanças nagraduação em saúde

O Departamento de Gestão daEducação na Saúde – Deges/SGTES,do Ministério da Saúde, lançou oAprenderSUS, política específicapara mudar os cursos de graduação naárea da saúde. O objetivo do MS é queos futuros profissionais de saúde sejamformados para atender os usuários doSUS. O seminário de lançamento dapolítica, que aconteceu nos dias 21de julho, 16 e 17 de agosto, contoucom a presença dos ministrosHumberto Costa e Tarso Genro, daEducação.

Curso de Facilitadores de EducaçãoPermanente em Saúde

O Ministério da Saúde pretendeformar 12 mil facilitadores para ospólos de educação permanente – 6mil em outubro de 2004 e o restanteem meados de 2005 – em um curso àdistância, com duração de quatromeses e dividido em quatrounidades: integração, educaçãopermanente, análise de situação eprocessos individuais e coletivos.Cada facilitador poderá escolher,junto com seu tutor, a ordem em queestudará os módulos.

Os facilitadores devem serpessoas ativas, indicadas pelospróprios pólos. No final do curso, queserá ministrado por tutores tambémformados à distância, eles devem sercapazes de mobilizar os atores dospólos em torno das questõeseducacionais que possam surgir e departicipar dos processos deintervenção. E como vai aparticipação da sua escola no pólo?Você já sabe quem serão osfacilitadores?

Geral

11

Destaques e lançamentos

I Congresso de Economia daSaúde da América Latina e

CaribeVII Encontro Nacional daAssociação Brasileira de

Economia da Saúde

O evento, que acontece de 30 denovembro a 3 de dezembro, no Hotel Sofitel,no Rio de Janeiro, é uma organização daAssociação Brasileira de Economia da Saúde(ABRES) e a Asociación de Economia de laSalud (AES) da Argentina. Na ocasião,profissionais de diversas áreas vão divulgarseus projetos na área de Economia da Saúdenos países de América Latina e Caribe. Aseleção dos trabalhos será realizada atravésdos resumos apresentados. O tema centraldo Congresso é: “A Contribuição daEconomia da Saúde para o alcance daEquidade e a Eficiência nos Sistemas eServiços de Saúde”.TTTTTaxa de inscrição:axa de inscrição:axa de inscrição:axa de inscrição:

Inscrições:Inscrições:Inscrições:Inscrições:

TTTTaxa de Inscrição:axa de Inscrição:axa de Inscrição:axa de Inscrição:

Inscrições:Inscrições:Inscrições:Inscrições:

axa de inscrição: até 30 desetembro, R$ 160, de 31 de setembro a20 de novembro, R$ 240 e no dia doevento, R$ 300. Estudantes pagam R$ 60,R$ 90 e R$ 120.Inscrições: preencher a ficha de inscriçãoon-line no site – www.abres.cict.fiocruz.br/congresso.

Simpósio Internacional sobre aJuventude Brasileira

O evento é promovido pelo NúcleoInterdisciplinar da Pesquisa e Intercâmbiopara a Infância e a Adolescência (NIPIAC)e pelo Instituto de Psicologia daUniversidade Federal do Rio de Janeiro. Osimpósio será realizado na UFRJ – CampusPraia Vermelha, nos dias 20, 21 e 22 deoutubro. Os servidores da Rede Pública deEducação e Saúde do Município e do Estadodo Rio de Janeiro.Taxa de Inscrição: até dia 30 desetembro, R$ 240; de 1º de outubro atéo dia do evento, R$ 270. Estudantespagam R$ 120 e R$ 150.Inscrições: www.jubra.ufrj.br.

II Simpósio Brasileiro deVigilância Sanitária

I Simpósio Pan-Americano deVigilância Sanitária

O Grupo Temático de VigilânciaSanitária da Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva – Abrascorealiza em Caldas Novas, Goiás, o II SimpósioBrasileiro de Vigilância Sanitária, de 21 a24 de novembro, 17 anos depois do acidentecom Césio 137, em Goiânia. Os trabalhosdevem ser inscritos até o dia 10 de setembro(correio) ou até dia 12 de setembro (viaeletrônica). A participação no evento nãoestá condicionada a apresentação detrabalho.

TTTTTaxa de inscrição:axa de inscrição:axa de inscrição:axa de inscrição:

Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições:

TTTTaxa de Inscrição:axa de Inscrição:axa de Inscrição:axa de Inscrição:

Estudantes:Estudantes:Estudantes:Estudantes:

Acompanhantes:Acompanhantes:Acompanhantes:Acompanhantes: Inscrições:Inscrições:Inscrições:Inscrições:

Data:Data:Data:Data:

LLLLocal:ocal:ocal:ocal:

TTTTaxas de Inscrição:axas de Inscrição:axas de Inscrição:

Incrições:Incrições:Incrições:Incrições:

axa de inscrição: até dia 30 desetembro, R$ 235; de 1º de outubro a dia10 de novembro, R$ 285; no dia do evento,R$ 335. Estudantes pagam R$ 70, R$ 90 eR$ 110.

Inscrições: www.simbravisa.com.br

IX Congreso Fe.Fa.S.(Federación Farmacéutica

Sudamericana)

O IX Congresso de Fe.Fa.S,organizado pelo Colégio Nacional deQuímicos e Farmacêuticos da Colômbia,acontecerá de 28 de outubro a 11 denovembro, em Bogotá.

Taxa de Inscrição:US$ 250.Estudantes: US$ 50 com cuponslimitados.Acompanhantes: US$ 100.

Inscrições: www.cnqfcolombia.org

IX Congresso Brasileiro deInformática em Saúde - CBIS 2004

Data: de 7 a 10 de novembro

Local: Ribeirão Preto, São Paulo

Taxas de Inscrição:axas de Inscrição: R$ 450; estudantesR$ 200.

Incrições: http://www.cbis.org.br

A saúde pelo avesso –R o b e r t oP a s s o sNogueira –S e m i n a r eEditoraR$ 39

A real-idade do PSF –Maria de Fátima de Sousa –Editora CEBES – RS 15

Juventude e Sociedade –Trabalho, Educação,Cultura e ParticipaçãoRegina Novaes e PauloV a n n u c h i(org.) – EditoraF u n d a ç ã oPerseu Abramo– R$ 30

Trabalhadores Técnicosem Saúde: formaçãoprofissional e mercadode trabalho – Renata Reis

(coord.) –Fu n d a ç ã oO s w a l d oCruz/MS –distribuiçãogratuita

Construindo o SUS

12

Você sabe o que é o SUS?A idéia de direito universal à saúde marca uma ruptura

F ilas nas portas dos hospitais, falta de profissionais e de equipamentos são o retrato da saúde públicabrasileira que a maioria da população conhece. Uma

imagem que está na televisão e nos jornais e que apresentaa saúde pública como um serviço para quem não pode pagarpor algo melhor. Mas será que isso resume o Sistema Únicode Saúde (SUS), aquele que, por exemplo, gerou e orientao trabalho das Escolas Técnicas?

Faz parte do desafio diário dos professores ecoordenadores das instituições de ensino mostrar aosalunos — principalmente quando eles já sãoprofissionais dos serviços, como acontece com a maiorparte das ETSUS — que o SUS é mais do que um planode saúde gratuito. E isso não significa ignorar osproblemas e dificuldades, mas sim recuperar a históriada Reforma Sanitária Brasileira e do sistema que elainstituiu.

O que diferencia o SUS de tudo que o antecedeué a idéia de que a saúde é um direito de todos e dever doEstado, garantido pela Constituição. Se parece pouco, ébom saber que isso é mais do que a boa parte dos paísesdo mundo tem. Se parece só discurso, distante darealidade da sua Escola ou do seu serviço, vale lembrarque já existem diversas experiências bem-sucedidas derespeito a esse direito — a política brasileira de combateà Aids, por exemplo, émodelo para o resto domundo. “As pessoasnaturalizaram o direito àsaúde e às vezes perdem anoção da ruptura que issosignifica”, lamenta MárciaValéria Morosini, professorada Escola Politécnica deSaúde Joaquim Venâncio,no Rio de Janeiro, quecoordena o curso SUS,voltado para profissionaisdos serviços.

ENREDANDOENREDANDOENREDANDOENREDANDOENREDANDO

A EPSJV – RJ oferece o Curso deA EPSJV – RJ oferece o Curso deA EPSJV – RJ oferece o Curso deA EPSJV – RJ oferece o Curso de

AAAAtualização sobre o Sistema Único detualização sobre o Sistema Único detualização sobre o Sistema Único detualização sobre o Sistema Único de

Saúde, destinado a trabalhadores deSaúde, destinado a trabalhadores deSaúde, destinado a trabalhadores deSaúde, destinado a trabalhadores de

nível médio do SUS. O curso énível médio do SUS. O curso énível médio do SUS. O curso énível médio do SUS. O curso é

presencial, tem carga horária de 56 horaspresencial, tem carga horária de 56 horaspresencial, tem carga horária de 56 horaspresencial, tem carga horária de 56 horas

e dura sete semanas. Pe dura sete semanas. Pe dura sete semanas. Pe dura sete semanas. Parte do conteúdoarte do conteúdoarte do conteúdoarte do conteúdo

desse curso é trabalhado em disciplinasdesse curso é trabalhado em disciplinasdesse curso é trabalhado em disciplinasdesse curso é trabalhado em disciplinas

dos cursos técnicos regulares da Escola.dos cursos técnicos regulares da Escola.dos cursos técnicos regulares da Escola.dos cursos técnicos regulares da Escola.

A EPSJV – RJ oferece o Curso de

Atualização sobre o Sistema Único de

Saúde, destinado a trabalhadores de

nível médio do SUS. O curso é

presencial, tem carga horária de 56 horas

e dura sete semanas. Parte do conteúdo

desse curso é trabalhado em disciplinas

dos cursos técnicos regulares da Escola.

O SUS é a conquista de um movimento que ficouconhecido como Reforma Sanitária e que se confunde,no tempo, com a luta pela redemocratização do Brasil.Contra o centralismo do regime militar, por exemplo, oSUS propôs a descentralização da saúde; contra acensura, o SUS pediu a participação popular na aplicaçãoda verba pública e criou o controle social. E esse foi só ocomeço.

Márcia conta que, na história do Brasil, o direitoà saúde foi instituído gradativamente, mas sempre

vinculado ao trabalho e, portanto, excluindo muita gente.Basta lembrar que, no antigo INAMPS (InstitutoNacional de Assistência Médica da Previdência Social),para ser atendido num hospital público, você tinha queapresentar “carteirinha do INAMPS”. O que mudou naprática? “Com o SUS, definimos que ser cidadão nãodepende de ser contribuinte”, explica Márcia.

Isso significa que você não está formando pessoasapenas para prestar um bom serviço, mas para fazer valer,na prática, o direito que foi garantido em lei. “Nãoqueremos só ensinar o SUS, mas transformar essesprofissionais em militantes do SUS”, resume MárciaValéria.

U n i v e r s a l i d a d e ,eqüidade, integralidade,descentralização e partici-pação popular são osprincípios que compõemesse sistema. Cada edição

desta revista vai passear porum deles e também poroutras idéias, processos einiciativas que se tornaramcruciais para a consolidaçãodo SUS, como controle

social e a própria noção dedireito. Até a próxima!