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1 Assedasse à Estrela Vale de Ferreiros Cacho Vinhos & Companhia Cacho Edição 4 | Portugal | www.cacho.pt O Brasileiro, o Abanico e a Passarella

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Assedasse à EstrelaVale de Ferreiros

CachoVinhos & Companhia

CachoEdição 4 | Portugal | www.cacho.pt

O Brasileiro, o Abanicoe a Passarella

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Saca-Rolhas

Bom tempoA Primavera anuncia-se neste mês de Março em que o Cacho já está podado, loteado e avança agora para novas sementeiras.O caminho tem sido frutuoso, profícuo e de extrema satisfação. Temos procurado mostrar um Portugal positivo, saboroso, trabalhoso mas feliz. E, o que encaixa que nem mel em figos secos, iniciativas, produtos e empresários que alavancam a economia. E como todos sabemos tem sido o Turismo a alavancar a economia do país sem esquecer, que estando na mesa sob o mote da gastronomia, os produtos regionais que mostram que a dimensão não é entrave a que o melhor que esta imensa Nação produz seja saboreado e provado. Há ainda um longo caminho a percorrer, a começar pelo crescimento dos preços de certos acepipes, mesmo sabendo que a ideia nos provoca frieiras. Mas como os transalpinos mostram o que é bom tem de ser valorizado. Como sucede no azeite, que lhe contamos nesta edição. São propostas de um caminho nem sempre isento de esbulhos mas que se torna imperioso fazer.Nós cumprimos o nosso papel que é deixar ampla liberdade de escolha mas com uma certeza. Não nos coibimos de nos fazer ao caminho, calcar o terreno com as botas, sorver o ar matinal, puxar o repasto para a jornada e dar-lhe impressões. Fomos, ouvimos e provávamos. É isso que lhe contamos nesta edição e, diariamente, na plataforma da internet. Aventure-se e deixe-se seduzir. i

CachoDesign Raul Moita ([email protected]) | Jornalismo Amadeu Araújo ([email protected]) | Comunicação Pedro Costa ([email protected])www.cacho.pt | [email protected] | www.facebook.com/cachodigital | www.youtube.com/cachodigitalRedação e departamento comercial Rua Alexandre Herculano, 129, C. C. Ícaro, loja 33, 3510-036 Viseu | +351 232 435 384

Arte de Carlose Xana Lima

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Primavera recebida com floresno mercado de Mangualde 20

Azeite bom, mas pouco 25

Barro preto de volta à cozinhae às mesas da restauração 22

Opinião do EnólogoLuís Oliveira 19

O Brasileiro, o Abanicoe a Passarela 17

Vale de Ferreiros 13

ÍndiceAssedasse à Estrela 7

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Rua Cabo de Vila, n.º 63570-011 Aguiar da Beira

232 687 223 | 964 846 630 | 965 525 696

E-mail: [email protected]://paulapireseventos.com/

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Assedasse à Estrela

“a Serra da Estrela continue a ser o paraíso da altitude, da biodiversidade e, mais que tudo, do ar puro.”

Com o Inverno a dobrar a esquina da meteorologia mas sem que a Primavera se anuncie a Serra da Estrela continue a ser o paraíso da altitude, da biodiversidade e, mais que tu-do, do ar puro. Sobretudo se quisermos rasgar as entranhas dos Montes Hermínios e subir pela senhora do Assedasse.

A tranquilidade, o verde, o branco e o castanho mostram, à saciedade, que para quem vive a meia-encosta, encolhi-do pelo frio e tingido pela sageza de viver na montanha; há outros encantos. Os serranos são uns estoicos e extraordi-nários humanos que me deram o prazer de jornadar. E que sabem amassar o leite das cornudas, bordaleiras, brancas e pretas. Ovelhas e queijo é com eles. A mim, em sorte do-mingueira e à laia de recompensa pelo regresso aos meus, coube o da machada, que não tinha pelo que abri o dos cornos com uma naifa. Rasgada a bordadura entalei o aço nos peitos lácteos e rijos do velho e estripei-o como quem corta um queijo curado pelos 120 dias a dormir na tábua. Assaquei-lhe os taninos; devidamente ausculta-do pelo encontro vespertino com o meu dou-tor das maleitas, que é rei entre vides e a quem recomendei vivamente as vistas da urdidura, e abalancei-me. Precisei do pão, das bolachas e da aguardente para devorar os apetites da me-sa e embalar a tecedura, feita urdidura.

Como a água, límpida e serena, que há uma estrela na serra, é inverno, os montes estão bran-cos como o leite que nos aquece a alma, que o frio quer-se coalhado, ungido e tudo cura.

As maleitas, os queijos e a lã que a Borda-leira é uma curativa que sustenta, empurra, As-

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“As maleitas, os queijos e a lã que a Bordaleira é uma curativa que sustenta, empurra, Assedasse acima, Rossim abaixo.”

sedasse acima, Rossim abaixo. Talvez este novo caminho; uma estrada de montanha devidamente sinalizada e segura; que liga Gouveia a Manteigas e ao Rossim, onde sempre po-de pernoitar numa tenda, seja o que melhor define a serra.

À Gaudela, ao Calvário, à Cabeça do Velho, à Pedra do Equilíbrio. Tecelagem, bordados, mantas e farrapos. Cami-solas, meias e casacos. Trapos, tanoeiros e carvão que vai a Melo, mas não volta a Folgosinho. A serra, as mãos que es-premem o coalho, a vida que canta que se me escapa o mi-rante e o Mondego que corre veloz, a espreitar o Caramulo e o Montemuro e abala-se ao mar.

Gente boa, que vive, desconfiada mas atenta ao percalço que desalinha, feliz e assestada. A mim, co-mo de costume diria a minha barriga não fora isso alardear ain-da mais a pesporrên-cia que me sacode o pipo, saíram-me os

bons. O To Zé que eu crismei de Pedro na Ponte dos Cava-leiros que cruza a ribeira dos celtas, e onde poderá aprender a conhecer a feitura do queijo. Tem Albertino, de mesa pos-ta e os transístores do senhor António, colocados em mu-seu em Vila Nova de Tazem.

De novo há o projeto Agro Turístico Madre D’Agua, in-vestimento qualificado, que engloba hotel, queijaria, redil e vinho. O hotel rural tem lareira para os dias frios, água para os dias quentes e haverá de ter casa de granito para guar-dar taninos que mo disse o arquiteto que desenhou para os meus ouvidos o futuro.

Os novelos de lã Beiroa são feitos da lã das ovelhas da Serra da Estrela, as mesmas de cujo leite se faz a maravi-lha da cozinha, da mesa, conduto de conversas e sabores, quentura do corpo, aconchego da alma.

Ainda há têxtil hoje em dia com as mãos, modernas mas presas na tradição, do burel do Luis Nogueira, que faz peças únicas e com nome cravado na moda.

Em Gouveia está o Museu da Miniatura que deve a sua existência ao colecionador Fernando Taborsa. O edifício nasceu de propósito e mostra a extraordinária evolução do mundo automóvel.

Gouveia, o queijo, os sonhos e a lã, as pessoas, a gas-tronomia e a vida que ecoa da serra, a existência que do-mestica a montanha. Os judeus, que andaram pelo bairro da Biqueira, construíram sinagoga na Rua Nova, e deixaram las-tro, são outro contento para a alma ávida de conhecimen-

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“Os judeus, que andaram pelo bairro da Biqueira, construíram sinagoga na Rua Nova, e deixaram lastro, são outro contento para a alma ávida de conhecimento”

to. No Solar dos Condes de Vinhó e Almedina, casa setecentista onde outrora se promoviam as artes e se patrocinava quem merecia, está a coleção de Abel Manta.

Ar puro, horizontes vastos, lago-as e rios, encosta e vales. Gouveia é Aparição, Manta que destapa, colo-rido verde, vermelho, azul, doirado e castanho. Branco que ainda é in-vernia, queijo, requeijão, azeite, pão, centeio e milho, fumeiro e cabrito. E medronho. Gouveia são as velhas geografias e os novos azimutes, demanda, viagem antiga, futuro risonho, que se namora, borda, corta e costura.

Bordaleiras, lãs e buréis, um extraordinário ecossistema é o que é que Gouveia é a nossa estrela e eu cá enamorei--me dela…

Eu cá Estrela e Assedasse é Gaudelia que me sopra o ventusgo e mesa que acresce barriguinha. Enfim vida que apaga a basófia. A mim calhou-me em sorte um curador. E já que não me pude sentar na poltrona onde o Vergílio fu-mava enquanto escrevinhava, pintei a Manta e bebi dos gla-ciares. E olvidei as bravas e senhoras mãos que espremem

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“Os serranos são uns estoicos e extraordinários humanos que me deram o prazer de jornadar. E que sabem amassar o leite das cornudas, bordaleiras, brancas e pretas. Ovelhas e queijo é com eles. ”

Alfrocheiro Pretoum enigma original...

em segundas núpcias o leite da churra que essa, também, é uma mondegueira. Gente boa que não me deu a macha-da para esfandegar os 120 dias de cura mas que mos me-teu no alforge. Extraordinária a jornada. Pois foi.

Traga alforge que eu portei-me que nem um homem, comi as chouriças, as morcelas, as farinheiras, o leitão mailo ensopado. Roí o javali e traguei os feijões, babei-me com a vitela e trinchei as massas, que é o nosso pernil que na alti-tude tem outro batismo e sabor. Recusei o requeijão e o do-ce, entalei os queijos e, afoito, bebi dois cafés e outras tantas aguardentes de bestojos. Molhei as lábias na água gelada e abalei para a cama. Nanei que nem um turdulo.

Assedasse e bem hajam. i

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Alfrocheiro Pretoum enigma original...

Tinta se espalha, escrevendo esta tinta casta que tem a graça de Alfrocheiro Preto, ela é Tinta Francesa de Viseu, que pinta a tinto o corpo e a alma. Permanece cravada por terras do Dão que lhe dão sabor, o seu berço nos vinhedos de cepas esguias alimentando os cachos, sossegando à sombra do sol exaltado que lhe tinge os bagos. As primeiras referências ao Alfrocheiro davam-lhe, em pleno século XIX, uma cor menos tinta aos bagos. Talvez mais dourada. Só no século XX Alfrocheiro Preto se torna a graça definitiva desta casta, graças a enigmáticas vontades alquímicas das gentes de muitas enxertias, calejadas de podas e vindimas, desengaces e pisas, fermentações e estágios.E assim vai maturando o que há-de ser mosto, com muitos cuidados porque o sol vai alto mas sem grandes pressas porque os dias são longos e a casta quer-se no ponto e pintada a rigor. Rubi ou púrpura. Ou talvez um tinto retinto persistente e intenso.Alfrocheiro Preto tem na sua génese um conjunto de virtudes que fazem desta uma das mais acarinhadas castas no Dão, mas também noutras paisagens por este Portugal vinhateiro. De uma versatilidade

que não conhece limite e de produção que não é de modéstias, Alfrocheiro Preto é fértil em bagos que muitos e viçosos se transformarão em néctar dos deuses, não no Olimpo mas na Terra, capaz de aquecer os corpos mais dados a invernias. Mas com nova fermentação e os remuages necessários também pode refrescar os mais propensos a verões escaldantes, assim que o espumante for servido. Alfrocheiro Preto emana saúde que lhe baste para que alcance a velhice com boa cara, maduro mas firme, evoluído e mais robusto que nos tempos de meninice em que o seu carácter era menos complexo. Com os anos se vai tornando encantado e agora decantado se o silêncio e o repouso na escuridão do vácuo a isso o aconselharem. Jovem ou envelhecido, o vinho de Alfrocheiro Preto será sempre capaz de tornar em crianças de espírito os menos jovens em idade, que perdem o norte ao sul e ao centro, tornando-se no centro das atenções daqueles que, por infelicidade, ou por falta de sede, ainda não decifraram esse enigma original, que no final oferece um agradável aroma de boca. Saúde, sem moderação! Saúde é saúde! i

Texto de João Pedro Costa

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Vale de Ferreiros, com olho no Tejo e hori-zonte que namora o Alentejo, é uma ex-traordinária proprieda-de onde as manhãs se querem lentas, serenas e de ouvidos bem abertos. É a na-tureza que chama por nós, num ambiente onde se preo-cupam com a chegada, a estadia e, infelizmente, a abalada que nada dura para sempre. Mas enquanto dormimos nos quartos, todos batizados com excelentes nomes e dois de-les com varanda ao Tejo, podemos efetivamente esquecer as maleitas da existência ou as pressas desta vida. Ideal para o romance ou para a família, devido à tipologia das habita-ções e dos quartos, o Turismo de Aldeia “Vale de Ferreiros” fica ao fundo do Pego, em Abrantes, com o Tejo à vista e um Alentejo que se adivinha.

Há várias unidades de alojamento, todas diferenciadas, que prometem descanso, privacidade e conforto em plena natureza. Os preços variam entre os 40€ e os 120€, com pequeno-almoço onde há bom pão, centeio e milho, do-

ces e chás sem esquecer as outras mo-dernidades. Mas nós estamos na aldeia do Pego onde há “Casas de Campo”, compos-tas por duas casas térreas T1 de arquitetu-ra tradicional. Estão disponíveis a “Casa do Equitador” e a “Casa do Ferreiro”. Ambas equipadas com uma kitchenette, sala de estar com sofá-cama, TV LCD, um quarto e casa de banho. Ideal para quem tem filhos

Vale de Ferreiros

“dormimos nos quartos, todos batizados com excelentes nomes e dois deles com varanda ao Tejo”

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e procura natureza com segurança.Eu optei por ficar na “Casa das Ja-

nelas Verdes”, onde pernoitei por du-as noites, esquecido do mundo e dos afazeres. Aqui há o Quarto Tejo, Quarto Castelo, Quarto Aldeia, Quarto do Fei-tor e Quarto Prado. Na “casa das Jane-las verdes” os quartos são diferenciados pelas cores que transmitem sentimen-tos como a serenidade e a calma. O Quarto Tejo e o Quarto Castelo têm ba-nheira de hidromassagem e uma casa de banho que têm vista para o quarto e para a paisagem através de um vi-dro. O Quarto do Feitor está pensado para quem tem mobilidade reduzida. O Quarto Prado é o único indepen-dente, com acesso pelo exterior mas

disponde de vista privilegiada sobre os prados. Todos os quartos na casa das “Janelas Verdes” es-tão equipados com roupeiro, cómoda, ar condicionado e TV LCD. Há wireless e no meu, decora-do em tons verdes, sobrava espaço na cama, confortável e reparadora, inunda-

da de almofadas. Apreciei, particular-mente, a cadeira do corredor onde li e imaginei os vapores que outrora cru-zavam o Tejo.

“Turismo de Aldeia”, que permite o convívio com as pessoas e a boa hos-pitalidade ribatejana.

Para além da conversa, paisagem e vistas sobra muito que fazer, seja pas-seios a cavalo ou de bicicleta, caminha-das à beira Tejo ou, para os mais afoitos, karting de que se pode usufruir a escas-sos 3 quilómetros.

Para mim, que me alojei em ple-na época da lampreia e do sável, aba-lancei-me noutros azeites e noutras sestas. i

“conversa, paisagem e vistas sobra muito que fazer, seja passeios a cavalo ou de bicicleta, caminhadas à beira Tejo”

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A 15 km de Viseu, no concelhode Penalva do Castelo, Freguesia de Pindo, situa-se a Adega da Corga.Poderá visitar-nos e degustaros nossos néctares selecionados.

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O Brasileiro, o Abanico e a Passarella

Santo Amaro nos valha e ala a Lagarinhos, que se me dá o Abanico. Vamos à Passarella, casa antiga, prenhe de vinhas em altitude, num planalto a meio caminho entre o sopé e a serra. Aqui bate o sol, há trevos plantados por entre as vi-des e para além da Touriga abundam o Roriz, mais o Jaen e o Alfrocheiro, que para mim é perfume de vinho, assente no terrunho, caracterizado pela mineralidade.

Dizem os fundadores, e o enólogo, que aqui é “onde a história é escrita com vinho”.

A Casa da Passarella exibe um granito restaurado que guarda os 70 hectares da propriedade, mais de metade plan-tados com cepas que recolhem a fotossíntese da altitude, a 500 metros, virada a Sul e a Oeste.

Descendo de Gouveia, a caminho do Mondego, encon-tra Lagarinhos e a adega onde o ofício é do enólogo Paulo

Nunes. As garrafas têm rótulos em formato poesia e para além do Aba-nico há também o Brazileiro.

Nunca saberemos se foi o cli-ma, a terra ou as mãos do enólogo mas os vinhos, que aqui se fazem desde o século XIX, bebem-se e são de uma agradável atenção pa-ra com a carteira. O anonimato, se é que assim se pode falar, foi abafa-do pelo sucesso e conjugado com os simpáticos preços que escon-dem, quase sempre, uma qualida-de calibrada e atenta aos desígnios

“mas os vinhos, que aqui se fazem desde o século XIX, bebem-se e são de uma agradável atenção para com a carteira”

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dos novos bebedores e, mais que tudo, cultores do vinho.A Touriga Nacional tem namorado o Alfrocheiro e pis-

cado o olho ao Jaen. Juntos costumam passar temporadas em carvalho francês e americano. Barricas que os amaciam, vivificam e mostram-se surpresos com o final. Entram fres-cos e deixam recordatório porque temos a nova moderni-dade do Dão, sem esquecer a origem de uma casa que leva quase 200 anos, feita entre os muros da aldeia que noutros tempos viu chegarem resistentes e judeus que por alturas da Segunda Grande Guerra aqui encontraram refúgio. Tu-do é visitável, há uma loja de vinhos e um talhão com vi-nhas velhas.

Sobra a dúvida sobre se estes são vinhos de altitude ou de montanha. A acidez está nos vinhos e com ela taninos diferentes e elegantes. Com alcoolémia quanto baste e a exigir comida reforçada. Certo é que a altitude dá, por altu-ras da maturação, amplitude térmica e como beneficiam da frescura da madrugada são aptos a guardar ou a beber no imediato. E apesar da exposição a Oeste o xisto e o granito do terrunho travam as aventuras dos ares marítimos e per-mitem seguir a natureza.

É o que fazem na Casa da Passarella onde o Vinhas Velhas é elegante, colorido e cheio de aromas. A colheita de 2009 foi distinguida pela Wine Enthusiast e o Abanico 2010 venceu a “Grande Medalha de Ouro” no XIII Concurso Internacional de Vinhos “La Selezione del Sindaco”. “Selezione del Sinda-co” é o único concurso de vinhos internacional que prevê a participação conjunta do produtor e do município de prove-niência das produções e tem como elemento diferenciador dos outros concursos, a missão de valorizar as produções, fruto da tradição e de um território distinto. Precisamente o que distingue a Casa da Passarella que nunca deixou de fa-zer vinhos em Gouveia mas para o mundo. i

“a altitude dá, por alturas da

maturação, amplitude

térmica e como beneficiam da

frescura da madrugada são aptos a guardar

ou a beber no imediato”

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Opinião do EnólogoQuinta do Carvalhão Torto

Luis Oliveira

A Quinta do Carvalhão Torto fica situada no concelho de Nelas, centro geográfico

da Região Demarcada dos vinhos do Dão. A sua história tem um passado indelevelmente ligado à produção de vinho do Dão, sendo propriedade de uma família ancestralmente ligada ao precioso néctar, herdeira deste “saber fazer”. As suas vinhas estão implantadas a uma altitude média de 440 metros em solos granítico quartzíticos. Enológicamente somos adeptos das características endógenas, da genuinidade dos vinhos produzidos, reveladores da especificidade das castas e do “Terroir” local, produzindo aqueles que são considerados por alguns críticos, os vinhos que melhor representam o “Dão Clássico”.Exemplo disso é o nosso ”Quinta do Carvalhão Torto de 2005” elaborado com as castas Jaen e Alfrocheiro. Ambas fazem parte do lote de castas tintas típicas da região, todavia, não queremos deixar de referir que a

implantação do Jaen em Portugal está confinada à Região Demarcada do Dão. Esta combinação

singular associada a um processo de fermentação e estágio que em tudo respeita a tradição, sem

intervenção de madeira, permite produzir vinhos, com grande longevidade, elegantes, com excelente estrutura e complexidade, e aromas bastante frescos. A produção deste tipo de vinho não é feita todos os anos, e a sua comercialização só ocorre quando consideramos que está apto a ser consumido. i

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Primavera recebida com flores no mercado

de Mangualde

As flores, que sempre repartiram o lugar na praça com as hortícolas, dão as boas vindas à Primavera e assinalam mais uma campanha de promoção que tem mantido animado o recuperado mercado de Mangualde. O Mercado reabriu há um ano, depois de um profundo lifting que reanimou edi-fício histórico da cidade. Mais arejado e funcional o Merca-do de Mangualde não esqueceu a história do concelho mas passou a ostentar peixaria, charcutaria, talho, legumes, pro-dutos regionais, pão, flores e fruta.

Artesanato, bordados, antiguidades, joalharia, doces, mel, licores e legumes e fruta são alguns dos produtos que aqui poderá encontrar. A chancela “regional” garante a qualida-

“Mangualde não esqueceu a história do concelho mas passou a ostentar peixaria, charcutaria, talho, legumes, produtos regionais, pão, flores e fruta”

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“aberto de segunda a

sábado e além das lojas

de comércio tradicional junta

a presença das pastelarias que produzem

a afamada doçaria

mangualdense”

de do mercado que todos os meses recebe uma campanha para “Sentir os Produtos da Terra”. A iniciativa acontece todos os meses e surge no sentido de dar a conhecer a diversida-de de cores e sabores que se pode encontrar no mercado municipal, este mês rendido às flores. Comprar mais perto, já se sabe, traz vantagens ao consumidor, e mostra como variedade e preços baixos são possíveis com sustentabili-dade ambiental. Este mercado de bairro além de permitir comprar produtos mais frescos e em menores quantidades ajuda os pequenos produtores e comerciantes.

Localizado no núcleo histórico da cidade de Mangual-de, o mercado está inserido numa zona marcada pelo co-mércio tradicional e garante todas as condições de acesso e utilização a utentes com mobilidade condicionada.

Está aberto de segunda a sábado e além das lojas de co-mércio tradicional junta a presença das pastelarias que pro-duzem a afamada doçaria mangualdense. Aventure-se pois pela tradição e não se preocupe com as andanças. Há no mercado quem venda aqueles carrinhos, práticos e prag-máticos, com rodinhas e aptos a levar até à sua dispensa o melhor da beira. i

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Barro preto de volta à cozinha e às mesas

da restauração

O barro preto, extraído da longa falha que percorre o noro-este peninsular desde a Galiza até à Beira, está de regres-

so às mesas e cozinhas da restauração. Produzido ao longo desta falha é Mo-lelos, no sopé do Caramulo, onde está o manancial e a sabedoria da cozedu-ra que lhe dá o tom preto.

Mas antes, o barro, utilizado desde sempre para conservar azeite e fumei-ro ou para cozinhar, tem que ser sova-

do, areado, arejado e cozido. Uma epopeia que começa nas mãos que o amassam até aos dedos que o temperam. An-tónio Marques é um do punhado de oleiros que resistiu há debandada de uma profissão ensinada por avós e que teve a continuidade nos netos.

Ainda em Molelos há um casal de ceramistas que se de-dica a experimentar o barro ne-gro com outras formulações e que está a despontar o interesse dos novos e premiados cozinhei-ros. Hans Neuner, do Ocean; Mi-guel Laffan, do L’and Vineyards; João Rodrigues, do Feitoria e Diogo Rocha, do Mesa de Le-mos, estão entre os que procu-ram a louça preta para a cozinha e para o empratamento. Carlos e Xana Lima são talvez dos maiores resgatadores da tradição e aque-les que procuram ajustar a louça

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às especificidades da gastronomia. Miguel Laffan lembra que a louça de barro, também conhecida em toda a Europa co-mo terra cotta, “é um dos mais antigos utensílios cerâmicos usados na preparação de alimentos”. Diogo Rocha acrescen-ta que a louça de barro pode ainda ajudar a “emprestar ao empratamento o requinte e classe que a comida merece”.

Esta palamenta respira devido à sua porosidade e quando é aquecida, em plena gastronomia, aquece por igual. Além do acrescento palativo também os alimentos recebem a co-zedura ou assadura por eles todos. Nada que Maria Jesus, que oficia no restaurante Três Pipos, ignore.

Com o apreço pelo fogo lento em ampla adoração e com a procura cada vez mais intensa dos sabores tradicio-nais há uma nova demanda pela louça de Molelos, capaz de resgatar as memórias e os modos de vida das gentes ca-ramulanas.

Pelo que se recomenda que os oleiros preservem as foi-ces e os seixos, dêem grandes sovas ao barro e mantenham ocupadas as soengas ou os fornos. A vanguarda sempre par-tiu da retaguarda e a inovação está, como sempre esteve, em fazer diferente inovando. Mas o princípio, esse, é o mesmo. E felizes os convidados para a ceia dos oleiros. i

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O consumo de azeite continua a crescer e tem aliciado ca-da vez mais consumidores, jovens e informados mas a pro-dução portuguesa caiu este ano, devido à meteorologia, e o preço do óleo sagrado deverá subir cerca de 20%, estima a Casa do Azeite. Com menos quantidade o mercado ajusta-se pela qualidade e apesar de o país ser já autossuficiente, mui-to do ouro verde acaba exportado, onde é mais valorizado.

Atualmente os portugueses consomem 78 mil tonela-das por ano mas Portugal também exporta. E, apesar do au-mento significativo nos preços do azeite ao longo de 2013, as exportações, em volume, cresceram cerca de 24% no ano passado, face ao ano anterior, atingindo um valor na ordem

Azeite bom,mas pouco

“os portugueses consomem 78 mil toneladas por ano”

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“para Portugal continuar a crescer neste setor, até porque Portugal planta as variedades típicas, constantes no “Catálogo Mundial da Oliveira”, variando consoante as regiões”

das 134 mil toneladas, revela os números da Casa do Azeite que congrega a grande maioria dos operadores do azeite.

Em 2013 o volume de exportações foi de 108 mil to-neladas, tendo crescido para 134 mil toneladas em 2014. O provisório dos números não esconde que desde 2007 tem havido crescimento na leva de azeites.

O que faz com que em Portugal o preço do azeite pos-sa subir, acomodando a queda da produção nacional em 2014 e o inerente aumento do custo na origem, que elevou o preço da azeitona em quase 60%. E se desde o Verão que o preço do azeite vem em crescendo, à medida que se co-nhecem melhor os dados da última campanha de produ-ção, que apontam, em termos mundiais, para uma quebra muito significativa, os preços vão voltar a ajustar-se. Em alta.

O azeite tem sido um dos esteios do bom desempenho agricola da lavoura nacional, mostrando-se de primeiríssima qualidade e, quando comparamos o preço do azeite que ex-portamos e o preço do que importamos, verificamos que o nosso azeite tem um preço muito superior.

A quebra pontual da produção não põe em causa a tendência para Portugal continuar a crescer neste setor, até porque Portugal planta as variedades típicas, constantes no “Catálogo Mundial da Oliveira”, variando consoante as regi-ões. Tradicionalmente a variedade mais comum de azeito-na no nosso país é a Galega, existindo das Beiras para Sul. A Galega caracteriza-se por propiciar um azeite suave, doce, pouco amargo e pouco picante.

Para satisfazer a procura interna e as exportações, Por-tugal necessita, anualmente, de cerca de 125.000 toneladas de azeite. Se compararmos o consumo em Portugal com alguns países produtores europeus, com hábitos alimenta-res semelhantes aos nossos, como Espanha ou Itália, por exemplo, percebemos que o consu-mo per capita de azeite em Portugal é cerca de metade do consumo per ca-pita nesses países, o que demonstra o potencial de crescimento do consumo.

Nos quase 350 mil hectares de cul-tura do olival destaca-se o Alentejo e Trás-os-Montes como principais regi-ões produtoras, com alguma suprema-cia do Alentejo em termos de área. As regiões da Beira Interior e Ribatejo e Oeste posicionam-se na segunda li-nha da produção nacional

Enquanto no olival para azeite do-mina o Alentejo na azeitona de mesa a principal região produtora é Trás-os--Montes. i