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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012. Edifícios da(e) Repressão: a construção dos sentidos sociais através da patrimonialização – Maria Antônia, Arco Tiradentes, El Olimpo e Club Atlético Deborah Regina Leal NEVES * Este trabalho trata de casos de preservação e reconhecimento como patrimônio cultural de bens relacionados com os períodos de ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), preservados pelo órgão estadual de preservação de São Paulo (CONDEPHAAT) e na Argentina (1976-1983), preservados pelo órgão municipal de Buenos Aires (CPPHC – Comisión para la Preservación del Património Histórico Cultural). Embora tenham atuações em esferas distintas – uma estadual outra municipal – a aproximação das atividades é possível pela finalidade dos dois órgãos – o reconhecimento e a preservação – e pelos objetos analisados: locais emblemáticos dos períodos supracitados, transformados em lugares de memória. Temos acompanhado ao longo dos anos a ampliação da discussão acerca da preservação do patrimônio, e mais recentemente o retorno da mobilização popular pela preservação (ou não) de determinados bens. Para além de uma política exclusivamente de Estado, a sociedade demonstra que sua participação é fundamental e, com movimentos organizados, clama pelo atendimento de suas demandas face ao desordenamento da expansão do espaço urbano e a desarticulação entre estado e povo, no Brasil. Na Argentina não é diferente, já que o crescimento do país decorrente de uma relativa estabilidade econômica tem colocado a paisagem de Buenos Aires, especialmente a do micro-centro, em permanente situação de risco, seja pela ambição de construtoras seja pela substituição de atividades longevas por lojas modernas e desconexas da atividade original. A sociedade é composta por múltiplos grupos que se aglutinam em torno de afinidades comuns, e os pedidos de preservação são demonstrações dos interesses desses grupos, isoladamente. O patrimônio é fruto de uma construção social, cujo fator determinante é seu caráter simbólico, seu poder de representar simbolicamente uma identidade, um grupo. Pessoas atingidas diretamente pela ditadura constituem um dos grupos com interesses * Mestranda em História Social pela USP, especialista em Gestão do Patrimônio e Cultura pela UNIFAI, Bacharel e Licenciada em História pela FFLCH-USP. Historiadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico, vinculada ao CONDEPHAAT, Secretaria de Estado da Cultura, SP.

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Page 1: Edifícios da(e) Repressão: a construção dos sentidos ... · Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012. Inaugurado no ano de 1852 sob a

Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012.

Edifícios da(e) Repressão: a construção dos sentidos sociais através da

patrimonialização – Maria Antônia, Arco Tiradentes, El Olimpo e Club

Atlético

Deborah Regina Leal NEVES*

Este trabalho trata de casos de preservação e reconhecimento como patrimônio

cultural de bens relacionados com os períodos de ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985),

preservados pelo órgão estadual de preservação de São Paulo (CONDEPHAAT) e na

Argentina (1976-1983), preservados pelo órgão municipal de Buenos Aires (CPPHC –

Comisión para la Preservación del Património Histórico Cultural). Embora tenham atuações

em esferas distintas – uma estadual outra municipal – a aproximação das atividades é possível

pela finalidade dos dois órgãos – o reconhecimento e a preservação – e pelos objetos

analisados: locais emblemáticos dos períodos supracitados, transformados em lugares de

memória.

Temos acompanhado ao longo dos anos a ampliação da discussão acerca da

preservação do patrimônio, e mais recentemente o retorno da mobilização popular pela

preservação (ou não) de determinados bens. Para além de uma política exclusivamente de

Estado, a sociedade demonstra que sua participação é fundamental e, com movimentos

organizados, clama pelo atendimento de suas demandas face ao desordenamento da expansão

do espaço urbano e a desarticulação entre estado e povo, no Brasil. Na Argentina não é

diferente, já que o crescimento do país decorrente de uma relativa estabilidade econômica tem

colocado a paisagem de Buenos Aires, especialmente a do micro-centro, em permanente

situação de risco, seja pela ambição de construtoras seja pela substituição de atividades

longevas por lojas modernas e desconexas da atividade original.

A sociedade é composta por múltiplos grupos que se aglutinam em torno de afinidades

comuns, e os pedidos de preservação são demonstrações dos interesses desses grupos,

isoladamente. O patrimônio é fruto de uma construção social, cujo fator determinante é seu

caráter simbólico, seu poder de representar simbolicamente uma identidade, um grupo.

Pessoas atingidas diretamente pela ditadura constituem um dos grupos com interesses

* Mestranda em História Social pela USP, especialista em Gestão do Patrimônio e Cultura pela UNIFAI, Bacharel e Licenciada em História pela FFLCH-USP. Historiadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico, vinculada ao CONDEPHAAT, Secretaria de Estado da Cultura, SP.

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comuns, e também levaram suas demandas até os órgãos de preservação, por entenderem que

a identidade ou o laço que une pessoas não está relacionado apenas com sentimentos, mas

também com formas externas de expressão. E é justamente porque distintos grupos

constituintes da sociedade buscam essa externalização identitária que o patrimônio é, por

origem, um campo de confronto, de disputas seja sobre os símbolos, seja sobre as memórias.

O mais importante dessa discussão é que o interesse, até então considerado como de

um grupo particular, quando reconhecido como patrimônio cultural pelo estado em suas

diferentes esferas, torna-se público. Essa é uma das formas encontradas para preservar a

memória do período, mas principalmente levar a discussão ao foro público, suscitando a

discussão da relevância social do local então tornado patrimônio. O patrimônio tem a

capacidade de tornar pública uma discussão que, até então, parecia de âmbito privado. A

privatização do debate foi uma forma eficiente que imprensa, estado e defensores do regime

encontraram para desmobilizar e desinformar a população sobre a abrangência e as

consequências dos regimes; criou-se a falsa ideia que a discussão sobre o período deveria

estar restrita apenas a quem foi preso ou a quem perdeu familiares, e não à sociedade como

um todo.

Temos aqui duas situações distintas: na Argentina o debate público acerca do que

ocorreu foi iniciado imediatamente após a saída dos militares do poder, desgastados pelo

fracasso na Guerra das Malvinas e da política econômica, além de acuados diante da

quantidade de desaparecidos e mortos durante o regime. Já no Brasil, a discussão somente

agora o tema deixa a esfera privada, partindo para a pública, devido ao movimento incansável

dos familiares de desaparecidos ou mortos e de sobreviventes do período, seja através da

moção de ações declaratórias na Justiça brasileira, de processo contra a União na Corte

Interamericana de Direitos Humanos, seja pela cobrança sobre o Executivo e o Legislativo

para apurar os acontecimentos do período. Essa mobilização levou à criação (ou à intenção de

criação) da Comissão da Verdade, além de espaços simbólicos pontuais em cidades como São

Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Natal, Belo Horizonte.

Se o Brasil está atrasado em relação à Argentina na ampliação da discussão, na

criminalização dos responsáveis, o mesmo não se pode afirmar sobre o reconhecimento

cultural de locais relacionados ao regime. Os casos que ora são apresentados demonstram um

movimento quase que imediato no Brasil pelo reconhecimento de locais como símbolos de

resistência ao regime, enquanto que na Argentina essa ação tem ocorrido recentemente.

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O primeiro caso é do edifício da antiga Faculdade de Ciências e Letras da USP

(FFCL), conhecido como “Maria Antonia”, cujo pedido de tombamento foi iniciado em

01/04/19851 no CONDEPHAAT, através do aceite da solicitação apresentada pela Diretora do

Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) do município de São Paulo, Suzanna Cruz

Sampaio. Data emblemática, já que no dia da abertura do estudo completavam-se exatos 21

anos do Golpe Civil-Militar que deu origem ao período da mais recente ditadura no Brasil.

Embora sua ocupação original tenha sido feita pelo Colégio Rio Branco, a partir de

1949 a FFCL preencheu as salas do edifício que se tornou símbolo do confronto travado em 3

de outubro de 1968 entre estudantes da USP e estudantes do Mackenzie –, alguns integrantes

de uma organização batizada de “Comando de Caça aos Comunistas” (CCC). O confronto

ficou conhecido como “A Batalha da Maria Antônia”, em referência à rua que abriga os dois

edifícios – Mackenzie e FFCL-USP. Entretanto, após o conflito, a sede da Faculdade foi

transferida e o prédio, destruído, foi vendido em 1970 para a Secretaria da Fazenda, que ali

ficou instalada por 31 anos; devolvido à USP em 1991, apenas em 1993 é que atividades

relacionadas à USP foram reativadas no local, dando origem ao Centro Universitário Maria

Antônia, que realiza exposições de arte, cursos de extensão universitária e outros eventos.

Acerca do pedido de tombamento, a professora Maria Auxiliadora Guzzo de Decca, à

época técnica do CONDEPHAAT apresentou parecer com a qualificação do edifício e

destacou sua importância não como exemplar de arquitetura notável – reflexo de uma

mudança na concepção de bens culturais por parte dos órgãos de preservação. De Decca

ressaltou que se tratava de local símbolo de resistência à ditadura civil-militar; não o fez

abertamente, já que o período de elaboração de seu estudo ainda não era de democracia

consolidada. Segundo seu parecer,

O valor do edifício Ruy Barbosa é muito mais de caráter histórico-cultural que

arquitetônico, entretanto. Tendo abrigado durante duas décadas a Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras da USP, tornou-se um ponto de referência marcante na

cidade durante os anos cinquenta e sessenta, notabilizando, inclusive, a rua Maria

1 Um bem para ser tombado passa por duas etapas: Dossiê Preliminar e Estudo de Tombamento. Na fase de Dossiê Preliminar, há um estudo mais simples acerca da pertinência da possibilidade de tombamento; este estudo é elaborado pelos técnicos e encaminhado para a deliberação do Conselho. No CONDEPHAAT pode ser tomada uma de duas decisões: arquivamento do pedido ou abertura do Estudo de Tombamento. Caso aberto o Estudo de Tombamento, o bem passa a contar com uma proteção prévia, onde alterações são permitidas seguindo diretrizes estabelecidas pela área técnica e demolições são proibidas. É somente após a conclusão do Estudo de Tombamento, deliberada em sessão do CONDEPHAAT, que um bem é definitivamente tombado ou não.

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Antônia, conhecida então como rua boêmia, estudantil, ponto de encontro de

intelectuais e local de manifestações políticas. (GUZZO DE DECCA,1985:54).

Com a manifestação da área técnica, a então conselheira do CONDEPHAAT Profª

Maria Luiza Tucci Carneiro elabora seu parecer, onde defende o tombamento do edifício “por

ter sido palco de intenso movimento estudantil do asno 60, simbolizando a atividade

oposicionista ao regime político que então se militarizava (...) sede da resistência ao

autoritarismo e arbítrio, assumindo perfil do nosso 'Quartier latin', do ponto de vista da

memória política”, e mais, que o complexo de edifícios da Maria Antônia “(...) simbolizam a

luta pela causa democrática ali defendida com entusiasmo por professores do gabarito de

Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, Eurípedes Simões de Paula e Antônio Cândido”.

(CARNEIRO, 1986:204). Passados exatos vinte anos da “Batalha da Maria Antônia”, através

da Resolução SC-53 de 3 de outubro de 1988 – mesma data de promulgação da nova

Constituição Federal, conhecida como “Constituição Cidadã”, o edifício da antiga FFCL foi

tombado, com a assinatura da então Secretária da Cultura Elisabete Mendes de Oliveira, a

Bete Mendes, que foi aluna de Artes Cênicas e Sociologia por aquela escola, foi presa pelo

DOI-CODI e participou da constituinte como Deputada Federal.

Figura 1 - Fachada do prédio Maria Antônia. Foto:

http://www.artecamargo.com.br/wp-

content/uploads/2012/02/Centro-Maria-Antonia-

200x200.jpg

Figura 2 - Imagem do Arco Tiradentes; em frente, o

Quartel da Rota. Foto: Eli Hayasaka.

Alguns dias depois da abertura de estudo de tombamento da Maria Antônia, em

11/04/1985, um novo pedido de tombamento foi acatado, com caráter e justificativa

semelhantes àquele edifício; tratava-se do único remanescente físico do edifício que abrigou

por 120 anos o Presídio Tiradentes, um arco de pedra, que compunha o muro da detenção; o

pedido foi feito pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.

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Inaugurado no ano de 1852 sob a denominação “Casa de Correição”, foi criada a fim

de instituir um local para o cumprimento de longas penas e “corrigir” os transgressores de

regra morais – arruaceiros – e escravos fugitivos. A necessidade deu-se porque a cidade de

São Paulo contava apenas com uma cadeia pública, com pouca capacidade de abrigar

detentos, cujo número estava em ascensão decorrente do crescimento da cidade impulsionado

pela chegada de imigrantes europeus, industrialização, e adiante, a abolição da escravidão. O

ambiente agora era de diferenciação e injustiça social, por conseguinte, aumento de crimes.

Naquele local inicialmente eram detidos os indesejáveis, mas durante o Estado Novo o

caráter tem uma sensível alteração: para lá passaram a ser encaminhados presos políticos;

Monteiro Lobato parece ter inaugurado a lista de célebres opositores de governos a serem

encarcerados ali. Entre o início da ditadura civil-militar e o fim da trajetória do Tiradentes –

já que ele foi demolido em 1972 – manteve em seu cárcere os presos encaminhados pelo

DEOPS e DOI-CODI. Para lá, por exemplo, foram levados os estudantes presos no Congresso

da UNE em Ibiúna, em 1968, considerados os primeiros presos políticos do período.

Sobre o cárcere no presídio, a ex-detida Rioco Kaiano declara que “chegar ao

Tiradentes significava um alívio, quase uma vitória por ter sobrevivido às torturas, ao

desaparecimento, à morte.” (KAIANO, 1997:337). Isso porque, de acordo com Alípio Freire,

jornalista que também ficou detido no Tiradentes, quando alguém era preso pela Operação

Bandeirante, mais tarde convertida em DOI CODI, “(...) passava por uma tortura oficiosa, era

remetido ao DOPS para um depoimento formal onde feita a auditoria se fazia a denúncia e o

enquadramento. Passadas essas 'instâncias' o preso era conduzido ao Presídio Tiradentes.”

(FREIRE, 1985:33).

Em seu depoimento para o processo de tombamento, Freire justificava que o

tombamento serviria como uma forma de lembrar a repressão do estado durante as diferentes

fases que o presídio atravessou, além de ser um marco da resistência civil contra a opressão e

a exploração. Ademais, era uma forma de manter latente a memória desta mesma resistência,

que frequentemente é apagada, como ocorreu com a demolição do edifício para a construção

da Estação Tiradentes do metrô.

Com parecer datado de 01/04/1985, mesma data de abertura do processo de

tombamento da Maria Antônia, o Conselheiro Lucio Félix Frederico Kowarick, professor do

Departamento de Ciências Políticas da USP (FFLCH-USP) diz:

Considerando o valor histórico do ARCO DA PEDRA enquanto símbolo da luta

contra o arbítrio e a violência, é meu parecer que ele deva ser tombado e

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posteriormente transformado em monumento público. Sendo arco, é forçosamente

uma passagem, que simboliza o esforço atual para a plena redemocratização do

país. (sic) (KOWARICK, 1985:14)

Alguns meses depois, em 25 de outubro de 1985, a decisão foi pelo tombamento do

arco, regulamentada através da Resolução SC-59, do então secretário Jorge Cunha Lima.

Embora em momentos distintos, os tombamentos representaram a intenção de registrar na

história a necessidade de manter a memória atividade e em discussão.

Na Argentina, o reconhecimento de locais relacionados com a atividade de repressão

do Estado iniciou-se mais tardiamente que no Brasil. Os Centros Clandestinos de Detención y

Tortura (CCDyT) El Olimpo e Club Atlético foram reconhecidos pela municipalidade como

Sítios Históricos (análogo ao nosso tombamento) pela Ley 1197 de 27/11/2003 e Ley 1794 de

22/09/2005, respectivamente. Para a Comisión, Sitios ou lugares Históricos, são aqueles

vinculados com acontecimentos do passado, de destacado valor histórico, antropológico,

arquitetônico, urbanístico ou social.

El Club Atlético – cujo nome é uma referência às inciais de seu nome real Centro Anti-

Subversivo (ZARANKIN, NIRO, 2008:198) – é próximo a outro Club Atlético, o Boca

Juniors, que fica a cerca de 2,5km de distância; funcionou por apenas 11 meses do ano de

1977, no turístico bairro de San Telmo. Classificado como um Centro Clandestino de

Detención esteve instalado em um edifício de três andares, onde estava localizado o “Servicio

de Aprovisionamiento y Talleres de la División Administrativa de la Policía Federal”. Possuía

41 celas – todas no porão –, três salas de tortura, enfermaria, cozinha, lavanderia, chuveiros;

Figura 3 - Imagem da elevação do ex-CCDyT Club Atlético. Foto:http://www.exccdytclubatletico.com.ar/images/Foto_pag1_JPG.jpg

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chegou a abrigar 200 pessoas e mais de 1500 passaram por aquele local, das quais grande

parte continua desaparecida.

Figura 4 - Croqui das dependências internas do Club

Atlético; a área mais escura é a região que foi

localizada com a escavação. Fonte: Nunca Más. Figura 5 - escavação do Club Atlético. Foto: Deborah

Neves

A cerca de 12 km do Club Atlético, no bairro de Vélez Sarsfield, outro popular time de

futebol da Argentina, está localizado “El Olimpo”, mais um Centro Clandestino de Detención

que teve curta duração – funcionou entre agosto de 1978 e fevereiro de 1979, apenas 6 meses.

O edifício que abrigou El Olimpo foi uma estação de bonde, cuja linha era bastante

utilizada para o transporte de passageiros e de carne, já que a região abrigava um grande

número de matadouros e frigoríficos desde o final do século XIX. O edifício passou para a

posse da Polícia Federal em 1978 e iniciaram-se obras de adaptação para abrigar o novo

Centro de Detenção que substituiria o Club Atlético por conta de sua desativação. Parte do

material resultante da demolição serviu de base para que policiais terminassem as obras civis

e finalmente transferissem os presos que ficaram temporariamente detidos em um centro

provisório instalado no edifício de um banco, razão pela qual ficou conhecido como El Banco.

O lugar tinha capacidade de abrigar 150 pessoas, e durante sua existência, 500 pessoas

passaram e ficaram detidas. O campo tinha duas seções de celas separadas por um pátio. Uma

dessas seções contava com quatro fileiras de 10 celas separadas entre si por alas; cada fileira

contava com apenas dois vasos sanitários. Em um dos corredores se situavam os chuveiros e a

lavanderia. Em outra, denominada “Sector de Incomunicados”, estavam situadas seis celas e

uma sala de tortura. Num terceiro setor estavam a cozinha, sala de internação, enfermaria,

refeitório, laboratório de fotografia, oficina de eletrônica, capela, outra sala de tortura, uma

sala de inteligência e um Gabinete do Grupo de Tarefas e de agentes repressivos.

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A instalação dos CCDyT na Argentina era discreta e ocorria em edifícios já existentes,

não havia a construção de novos prédios justamente para não chamar a atenção; era uma das

táticas para evitar que a sociedade não tivesse pleno conhecimento do que ocorria, e corrobora

com a recente afirmação de Videla em depoimento ao jornalista Ceferino Reato:

(...) Estábamos de acuerdo en que era el precio a pagar para ganar la guerra y

necesitábamos que no fuera evidente para que la sociedad no se diera cuenta. Por

eso, para no provocar protestas dentro y fuera del país, sobre la marcha se llegó a

la decisión de que esa gente desapareciera; cada desaparición puede ser entendida

ciertamente como el enmascaramiento, el disimulo, de una muerte.2

A intenção de não deixar rastros era evidente, ainda durante a vigência das ditaduras.

Observe-se o fato de dois centros de detenção representativos da violência do Estado, tanto cá

quanto lá, terem sido demolidos em nome do progresso, em um espaço temporal bastante

próximo. O edifício do Club Atlético foi demolido para a construção da Autopista 25 de

marzo no ano de 1977, inserida dentro de um plano de expansão de vias urbanas rápidas. O

presídio Tiradentes foi demolido em 1972 para dar lugar a uma estação de metrô, também

inserido num plano de expansão deste meio de transporte em São Paulo. Resta um pergunta,

talvez retórica: por que ali? Eram os únicos lugares para concretizar tais construções?

As demolições, as tentativas de ocultação do que aconteceu foram as razões por que há

uma distância temporal de mais de 15 anos entre a patrimonialização no Brasil e na Argentina.

E a trajetória histórica de ambos os países em relação ao tratamento dado pelos respectivos

2 REATO, Ceferino. Videla: La Confesión. La Nación, Buenos Aires, 15 abr 2012. Disponível em http://www.lanacion.com.ar/1464752-videla-la-confesion, acessado em 14 mai 2012. Grifo nosso.

Figura 6 - Imagem atual do ex-CCDyT El Olimpo.

Foto: http://www.agenciacta.org/local/cache-

vignettes/L400xH300/olimpo_20_7335445-429af.jpg

Figura 7 - Croqui desenhado por ex-detidos.

Fonte: Nunca Más.

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estados com relação a apuração de crimes cometidos durante a vigência das suas ditaduras

civis-militares teve importância crucial para a determinação de lugares históricos em tempos

tão diferentes.

A Argentina iniciou a transição para a democracia com a abertura de Juicio a las Juntas

imediatamente após a saída dos militares do poder. Julgamentos com testemunhos,

apresentação de queixas de familiares, o relatório da CONADEP – Nunca Más – trouxeram à

tona as atrocidades cometidas nas detenções clandestinas e, por conseguinte, a punição com

prisão aos envolvidos. Os processos de responsabilização, no entanto, foram cessados pelas

Leis de Punto Final e de Obediencia Devida, impedindo qualquer nova ação contra militares

após 10 de dezembro de 1983 e de não punição a militares de patentes mais baixas na

hierarquia militar sob o argumento de que estavam apenas cumprindo ordens de seus

superiores hierárquicos.

Carlos Ménem, presidente da Argentina entre 1989 e 1999 revogou todas as prisões de

militares efetuadas durante o governo de Raul Afonsín e lhes concedeu anistia. Durante seu

governo, em 1998, declarou a intenção de demolir o espaço que a Escuela Superior de

Mecánica de La Armada (ESMA) ocupava a fim de criar li um parque da “reconciliação da

nação”. Foi no momento em que a sociedade argentina percebeu primeiro um retrocesso,

seguido de estagnação no intento de levar adiante condenações da justiça e depois a ameça

física aos locais de repressão, que se iniciaram os pedidos de preservação dos edifícios

relacionados com a ditadura; antes mesmo da formalização da preservação, tais locais eram

identificados com pixação como locais de detenção e tortura.

Figura 8 - Jefatura de Policia, em Tucumán. Foto:

http://1.bp.blogspot.com/_hEa-

AIsFuZ0/TAWmQA3Z4sI/AAAAAAAAAMk/_GJ96TMrI

vQ/s400/13312_107273985979485_10000090653342

2_59463_1114367_n.jpg

Figura 9 - foto:

http://www.desaparecidos.org/arg/centros/orletti/or

lettic.jpg

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A sociedade paulista também se mobilizou no momento em que ficou claro que o

Estado brasileiro não iria tratar imediatamente (e talvez nunca) dos acontecimentos da

ditadura; esse momento iniciou com a Lei de Anistia, de 1979 e depois com o fracasso da

intenção de se realizar eleições diretas em 1983, com a rejeição da Emenda Dante. Restava

então a busca por outras formas de denunciar os crimes ocultados pelos envolvidos, pela

proibição de acesso a arquivos, pela imposição da Lei de Anistia. Os pedidos de tombamento

foram a maneira que a sociedade encontrou de não deixar a ferida cicatrizar sem antes ampliar

o debate, sem tornar público, ainda que fisicamente no espaço público, o que aconteceu

naqueles locais e porquê. É o que justifica o lapso temporal entre sociedades; a memória, no

caso do Brasil, substituiu o papel da justiça, o que é inaceitável.

Desde o fim do período do regime, sobreviventes e familiares de mortos ou

desaparecidos do Club Atlético exigiam uma investigação no local. Em 2002, iniciaram-se as

escavações no local, e foi possível identificar as estruturas do edifício, a localização de parte

das celas e inscrições nas paredes, além de objetos que comprovam a existência de detenção

naquele local. A arqueologia tem sido fundamental neste e em outros locais para validar o

testemunho de sobreviventes, além de ser prova material do cárcere; no outro lado da avenida,

criou-se um memorial a céu aberto explicando o que era o local e evocando a memória dos

detidos-desaparecidos.

Figura 10 - Memorial embaixo da Autopista 25 de Marzo. Foto: Deborah Neves

Do presídio Tiradentes, resta apenas um arco, que um dia, teve uma placa de bronze,

furtada por ser um material nobre e de grande valor de venda em ferros velhos – uma

metáfora da injustiça social que continua a acometer o país. Sobre o dia em que a placa foi

afixada no local, Alípio Freire afirma o seguinte:

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Certamente eu lembrava de todo o processo de tombamento do arco, cuja

‘inauguração’ aconteceu no 25 de outubro de 1985, marcando os dez anos do

assassinato de Vladimir Herzog, com sua placa de bronze assentada no chão, na

manhã da véspera, e onde se lia: "Em memória de todos os homens e mulheres que,

no Brasil, ao longo da história, lutaram contra a opressão e a exploração - pela

liberdade" (ou algo muito próximo disto). Essa placa seria roubada poucos anos

depois, e jamais substituída. 3

O sentimento de passar pela Estação Tiradentes do metrô, que ocupou o espaço do

antigo Presídio, não poderia ser indiferente. Sobre o assunto, Rioco Kaiano diz o seguinte:

(…) em São Paulo, o símbolo do 'milagre' prometido pela ditadura era o metrô. Vai

daí que o presídio Tiradentes ser substituído pela estação Tiradentes parece, mais

que uma ironia, um marco simbólico. (…) nas poucas vezes em que ando de metrô e

passo pela estação Tiradentes, fico minhocando no fundo da minha memória que

esse lugar tem a ver comigo, sim, e com os sonhos que povoaram minha juventude.

E tem a ver com um pedaço marcante e dolorido da História desse país. (KAIANO,

1997:336, 341)

Já o edifício que abrigou El Olimpo está vivendo um impasse recente: local que abriga

diversos movimentos sociais populares do bairro de Floresta, o local tem sua ação limitada

nos últimos dias. No mês de abril o Prefeito de Buenos Aires Macri mandou cessar o serviço

de segurança noturna, impedindo que o edifício fique aberto para além das 17h. O serviço da

rádio comunitária, por exemplo, ficou prejudicado. Outras atividades como a Biblioteca

Popular e de organismos de defesa dos direitos humanos também ficaram prejudicados. A

população, que colabora com a reconstrução do cotidiano do bairro que tinha uma detenção

clandestina em suas ruas, não aceita essa ação de redução de vigilância no local e

empreendem passeatas contra a postura do Prefeito. Prova de que a construção da memória é

um exercício diário.

Em movimento contrário ao que desejavam os militares, os bens quando protegidos e

cujas razões para essa proteção são tornadas de conhecimento público frustram a tentativa de

impedir que a sociedade tome conhecimento dos fatos. Mas, de que forma, em São Paulo,

Maria Antônia e Arco do Presídio Tiradentes cumprem com essa função? Se em Buenos Aires

os locais identificados como relacionados à repressão levam marcas que os identificam como

tal, o mesmo não se repete nos lugares paulistanos. Como Alípio Freire afirma, a placa que

3 FREIRE, Alípio. Depoimento pessoal enviado por e-mail. Acervo pessoal.

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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012.

evocava o passado do presídio foi furtada, e na Maria Antônia, há uma placa apenas no

saguão interno do prédio. A fruição pública está sendo cumprida pelos órgãos de preservação

e pelos proprietários dos imóveis no caso de São Paulo?

Club Atlético e El Olimpo, em conjunto com o CCDyT “Banco”, constituíram um

circuito macabro, da morte, conhecido como “Circuito ABO”, em referência às iniciais de

cada local. Ora, sabemos hoje que DEOPS, DOI-CODI e Presídio Tiradentes eram locais

obrigatórios de passagem a todos os detidos por subversão; por que não pensá-los também

como um “Circuito do Terror de Estado”, à semelhança de Buenos Aires?

Não se trata aqui de vitimizar aqueles que foram detidos, mas de denunciar as práticas

empreendidas pelos aparelhos de repressão dispostos a cometer quaisquer atrocidades em

nome de um bem maior, como numa obrigação de um destino manifesto. Recentemente, em

um livro-depoimento, Jorge Rafael Videla, presidente da Argentina entre 1976 e 1982

declarou “(...)Pongamos que eran siete mil u ocho mil las personas que debían morir para

ganar la guerra contra la subversión(...)”. Os resultados dessas ações estão sendo conhecidos

aos poucos pelo depoimento de sobreviventes, por documentos revelados, e por edifícios

denunciados.

É comum surgir questões como: por que estes locais devem ser considerados bens

culturais? Ou por que tais locais devem ser preservados por sua importância política e social e

não pela arquitetônica? A função pública dos edifícios reconhecidos como bens culturais deve

ser um compromisso do Estado com a sociedade, a fim de não revalidar visões comuns e

antigas sobre o patrimônio, que só julgavam a monumentalidade, a excepcionalidade, o

Figura 11 - Placa afixada no saguão de entrada do Ed.

Maria Antônia. Foto: Deborah Neves

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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012.

sentimento de identificação com uma única ideia de nação, ou ainda, as práticas que por

limitações econômicas se restringiam a uma parte privilegiada da sociedade, e, portanto,

fugindo ao interesse comum e coletivo. Faz-se oportuno encerrar esse artigo com a citação da

historiadora Sheila Schvarzman, responsável pela instrução do processo do Arco Tiradentes,

muito pertinente para todos os casos de preservação de locais que se relacionam com os

períodos das ditaduras civis-militares, seja no Brasil, seja na Argentina:

O que este estudo nos traz de fundamentalmente novo é a visão do tombamento não

apenas como um instrumento de preservação da memória, da história, e como

guardião de bens culturais que se constituem em suporte de valores que formam

sentido em nossa sociedade, mas também como co-partícipe na identificação e

manutenção de um espaço de recordação e homenagem de uma realidade histórica

que muitos prefeririam negar, justamente porque o edifício não existe mais. Desta

forma, o tombamento do arco 'reconstitui' o bem, reconhece , lembra e homenageia

períodos da história e procedimentos que se gostaria enterrados e demolidos,

como as próprias paredes do presídio.” (SCHVARZMAN, 1985: 39)

Referências:

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Parecer. In: CONDEPHAAT. Processo 23384/85, São Paulo,

1986, p.202-205.

FREIRE, Alípio. O Presídio Tiradentes - Espaço de confinamento e resistência política: um

depoimento. APUD SCHVARZMAN, Sheila. O Presídio Tiradentes. In: CONDEPHAAT.

Processo 23345/85, São Paulo, 1985, p.32-37.

__________. Depoimento pessoal enviado por e-mail. Acervo pessoal.

GUGLIELMUCCI, Ana; CROCCIA, Mariana; MENDIZÁBAL, María Eugenia. Patrimonio

hostil: reflexiones sobre los proyectos de recuperacion de ex centros clandestinos de

detencion en la Ciudad de Buenos Aires. In: Actas del “Primer Seminario Internacional

Politicas de la Memoria”, Centro Cultural de la Memoria Haroldo Conti, Archivo Nacional

de la Memoria, Secretaria de Derechos Humanos de la Nacion. Buenos Aires, 2008, p.289-

304.

GUZZO DE DECCA, Maria Auxiliadora. Parecer Histórico - Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da USP. In: CONDEPHAAT. Processo 23384/85, São Paulo, 1985, p.31-59.

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KOWARICK, Lúcio Félix Frederico. Parecer. In: CONDEPHAAT. Processo 23345/85, São

Paulo, 1985, p.14.

REATO, Ceferino. Videla: La Confesión. La Nación, Buenos Aires, 15 abr 2012. Disponível

em <http://www.lanacion.com.ar/1464752-videla-la-confesion>, acessado em 14 mai. 2012.

SCHVARZMAN, Sheila. O Presídio Tiradentes. In: CONDEPHAAT. Processo 23345/85, São

Paulo, 1985, p.24-40

ZARANKIN, Andrès e NIRO, Claudio. A materialização do sadismo: arqueologia da

arquitetura dos centros clandestinos de detenção da ditadura militar argentina (1976-1983). In:

FUNARI, Pedro Paulo A.; ZARANKIM, Andrés; REIS, José Alberioni dos (orgs.).

Arqueologia da repressão e da resistência na América Latina na era das ditaduras (década de

1960-1980). São Paulo: Annablume, FAPESP, 2008.