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UM PAÍS SEM RUMO Recessão, inflação em alta, desemprego, queda da renda. Esse é o retrato da realidade vivida pelos brasileiros Visão APSEF A revista que acompanha você TRIBUNAL GARANTE ISONOMIA AOS APOSENTADOS DO DNER CIENTISTA POLÍTICO DEFENDE NOVA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL NEVE ATRAI MULTIDÕES DE TURISTAS A SÃO JOAQUIM Edição Nº 25 - Julho de 2015

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UM PAÍS SEM RUMORecessão, inflação em alta, desemprego, queda da renda. Esse é o retrato da realidade vivida pelos brasileiros

Visão APSEFA revista que acompanha você

TRIBUNAL GARANTE ISONOMIAAOS APOSENTADOS DO DNER

CIENTISTA POLÍTICO DEFENDENOVA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

NEVE ATRAI MULTIDÕES DETURISTAS A SÃO JOAQUIM

Edição Nº 25 - Julho de 2015

NESTA EDIÇÃO

04

36

20

10

Uma publicação da

PresidenteMaria Cecília Soares da Silva Landim

Vice-Presidente de Administração, Finanças e PatrimônioMargarida Maria Gonzaga Pereira

Vice-Presidente de Assuntos JurídicosPriscila Maria Lima Hipólito

Vice-Presidente de Assuntos AssistenciaisLuiz Soares

Conselho FiscalTerezinha da Assunção Gomes Alves

Maria Alves Figueiredo

Maria Eduvirgem Simas Pereira

Endereço:

SCN Qd. 01, Bloco F, Nº 79,Salas 1211/1213Edifício América Office Tower Brasília / DF CEP: 70.711-905

Telefone:

0800 602 7171

E-mail: [email protected]

Site: www.apsef.org.br

Revista Visão APSEF

Diretor de redaçãoFrancisco Amorim

Editor-chefe:Washington Sidney

Subeditora: Carla Lisboa

Editor de arte/finalização:Elton Mark

Conselho Editorial:Maria Cecília LandimEdson TeramatsuFrancisco AmorimWashington SidneyLuiz Soares

Impressão:Qualytá Gráfica e Editora

Nº 25 | Julho de 2015

Associação Nacional dos Servidores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal

3 EDITORIALUm governo e um país atolados na crise

04 ENTREVISTA“O Brasil vive uma tempestade perfeita”

09 ARTIGOChegou a hora de aproveitar as oportunidades

10 ESPECIALA crise que jogou o Brasil no buraco

15 ARTIGOBrasil – a pátria desonrada

16 COMPORTAMENTOSexo não tem idade

20 SAÚDEO inimigo está no ar

24 SERVIÇO PÚBLICOAções judiciais

29 LAZERA Bariloche brasileira

32 FIQUE LIGADOEmpréstimos consignados sob suspeita

Novo alerta sobre golpes

Portaria 73 restringe o direito do aposentado ao seu contracheque

Um governo e um país atolados na crise Diz o adágio popular que a mentira tem pernas curtas.

Nada mais sábio. Bastaram uns poucos meses do primeiro ano de seu novo mandato para os brasileiros se darem conta da triste realidade camuflada pela presidente Dilma Rousseff durante a campanha à reeleição: nossa economia se esfarelou. As contas públicas estão desequilibradas, a inflação já beira os dois dígitos, o crescimento do país caiu, o desemprego atingiu níveis elevados e a dívida pública sobe a cada aumento da taxa básica de juros. Retrocedemos no tempo com a desestabili-zação da economia.

Sem alternativa diante dos descalabros que cometeu em quatro anos, Dilma resolveu colocar em prática exatamente aquilo que acusava os adversários de pretenderem fazer, se fossem eleitos: um ajuste fiscal baseado na quebra de direitos trabalhistas e previdenciários. Como sempre, a corda rebentou do lado mais fraco e a sociedade passou a conviver com uma recessão profunda que, segundo os economistas, deverá durar pelos próximos dois anos. Especialistas condenam o ajuste proposto pelo governo e citam iniciativas que poderiam ser tomadas para garantir mais receitas sem, necessariamente, aumentar impostos e sacrificar os cidadãos, como a taxação das grandes fortunas e o enxugamento da máquina pública.

Esse é um dos temas desta nova edição de nossa revista. Em reportagem especial, mostramos como a presidente fragi-lizou-se politicamente, vítima de seus próprios erros, a ponto de se tornar refém das forças políticas com as quais seu partido se aliou. Aos poucos, o Congresso Nacional criou novas des-pesas para o Estado e desfigurou totalmente o ajuste fiscal, debilitando ainda mais as finanças do Estado. As desavenças políticas com a base aliada dificultam a capacidade do Brasil de reagir à crise. Investidores fogem e empresários e consu-midores perdem a confiança no país. Tudo isso, associado à crise ética que veio à tona com a Operação Lava Jato, deixou a sociedade atordoada e descrente.

Nada escapa aos tentáculos da maior quadrilha de ladrões de dinheiro público de que já tivemos notícia na história deste país. Para nossa surpresa e frustração, até mesmo os empréstimos consignados – essa arapuca que armaram para os servidores públicos da ativa, aposentados e pensionistas – podem ter sido usados para pagamento de propina a políticos do PT e ao financiamento de campanhas do partido. O novo escândalo veio à tona com a 18ª fase da Operação Lava Jato

e envolve a Consist, empresa que assumiu a gestão dos con-signados e de outros descontos em folha dos servidores, e os acordos firmados pelo Ministério do Planejamento com os bancos e entidades de previdência privada. É o que mostramos em outra reportagem.

Nesta edição, transcrevemos na íntegra o texto da polêmica Portaria 73, a qual estabelece que os comprovantes de rendi-mento de servidores ativos, aposentados e pensionistas da União serão disponibilizados exclusivamente por meio digital (internet), iniciativa que fere a Constituição e o Estatuto do Idoso. E orientamos nossos associados sobre o que devem fazer para se proteger dessa arbitrariedade.

A boa notícia é que o Tribunal Federal de Recursos da 1ª Região/DF deu provimento ao recurso de apelação da APSEF, garantindo aos associados originários do extinto DNER o pagamento de seus proventos e pensões com base nas tabelas do Plano Especial de Cargos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), criado pela Lei nº 11.171/2005.

Também mostramos aos nossos leitores, nesta edição da revista, que não existe idade para o sexo. Pessoas da terceira idade estão vencendo o preconceito, redescobrindo o prazer e os efeitos do amor na qualidade de vida delas. Abordamos, em outra matéria, as doenças respiratórias e cardiovasculares pro-vocadas pela poluição atmosférica. Só no Brasil essas doenças matarão 250 mil pessoas nos próximos 15 anos, 25% delas na capital paulista. É preciso muito cuidado para evitar que o ar poluído pelas fábricas e automóveis e até pela poeira possa abreviar nossas vidas.

Por fim, convidamos os leitores a uma viagem fantástica pela Bariloche brasileira, a cidade de São Joaquim, localizada a 227 quilômetros de Florianópolis, local ideal para quem gosta de curtir as férias agasalhado, tomando aquele vinho delicioso em contato com a natureza. Durante o inverno, a cidade se cobre de neve, proporcionando ao grande número de turistas que chegam uma grande quantidade de atrações, especial-mente os bonecos de neve, a preferida de todas as idades.

Boa leitura!

Maria Cecília Soares LandimPresidente da APSEF

EDITORIAL

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 3

ENTREVISTA JOSÉ MATIAS-PEREIRA

“O Brasil vive uma tempestade perfeita”

O cientista político e professor de Finanças Públicas Matias-Pereira diz que o país enfrenta uma crise político-

policial e aposta na saída da presidente Dilma X Washington Sidney

Divu

lgaç

ão

4 VISÃO APSEF - Julho de 2015

ENTREVISTA

S ó há um jeito para o Brasil sair da grave e preocupante crise econômica, política e moral em que se encontra: uma nova eleição para a Presidência da República. Esse é o ponto de vista do cientista político e professor de Administração e Finanças Públicas José Matias-Pereira. Aos 64 anos, ele classifica o segundo mandato da

presidente Dilma Rousseff de um “grande fiasco” e não acredita que ela tenha condições de reverter o quadro de difi-culdades econômicas e políticas. Ele define a situação que o país atravessa de “crise político-policial” e afirma que hoje o país vive um clima de institucionalização da corrupção na administração pública.

Tivemos duas décadas de estabilidade econômica e hoje vivemos uma recessão. O que deu errado?

MATIAS-PEREIRA – Muita coisa vem do nosso pas-sado autoritário. Nesses últimos 13 anos, nos governos petistas, o modelo patrimonialista foi implantado de forma exacerbada. Esse modelo, como veio nessas últi-mas gestões, criou um cenário de desconforto, porque nivelou por baixo o aparelhamento do Estado politica-mente, ideologicamente, com pessoas com perfil político. Ou por indicação política. E esqueceram a meritocra-cia e a postura ética. Quando se trouxe esse modelo patrimonialista para den-tro da administração pública, a forma de gestão, e se calibrou isso com o que chamamos de coalisão presidencial, que é entregar ministérios para os aliados de porteira fechada, esses governos, já de antemão, iriam fracassar. Porque a ques-tão toda é a seguinte: o Estado não pode tudo. A essência dos governos petistas é gastar aquilo que o Estado não produz. E achar que existe almoço grátis. Não, alguém está pagando.

Qual a essência dos governos petistas?MATIAS-PEREIRA – O Brasil sofre por falta de matu-

ridade política da população – e isso tem muito que ver com a questão da educação e da construção de cida-dania, que vem lá de trás. Os políticos nunca tiveram o interesse de educar a população. Isso levou à eleição, primeiramente, de um presidente semianalfabeto, uma pessoa que chegou ao poder completamente desprepa-rada. E todo indivíduo despreparado se cerca de pessoas despreparadas. Muitas vezes mal intencionadas. E o

desdobramento desse governo foi também uma indica-ção – é o que consta do livro do Mujica, lá do Uruguai. Ele (Lula) indica a Dilma para continuar no poder. Assim, temos aí, na verdade, uma situação muito clara: ninguém dá aquilo que não tem. Esperar que o Lula seja um estadista, com a formação que ele teve... Ele é um sin-dicalista, o limite dele era o sindicato.

Mas a Dilma é economista...MATIAS-PEREIRA – Mas teve uma formação acadê-

mica ruim. E com a postura autoritária, arrogante com que ela se comporta, tal-vez, inclusive, até como uma autodefesa. Porque o que ocorreu com a Dilma, estamos fazendo uma análise mais pro-funda disso, é que hoje se constrói um líder, um fantoche, de faz de conta, com marketing. Só que tem uma coisa importante: ninguém consegue gover-nar um país democrático e complexo como o nosso, com uma população que está amadurecendo politicamente de maneira muito rápida, com engodo,

mentira, astúcia e malandragem.

Isso ficou claro na campanha eleitoral, não é?MATIAS-PEREIRA – O maior erro é um candidato

imaginar que, na medida em que desconstrói a imagem de seus oponentes, fazendo promessas falsas e mentindo, vai conseguir governar. Ela criou as bases para que o governo dela se tornasse inviável. Os governos petistas chegaram nesse ponto não foi por obra da oposição e nem de ninguém. Algumas coisas ficam claras nesse governo. É a questão da incompetência, do outro lado a questão

“ O Brasil sofre por falta de maturidade política da população – e isso tem muito que ver com a questão da educação e da construção de cidadania, que vem lá de trás”

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 5

JOSÉ MATIAS-PEREIRA

da arrogância. E imaginar que pode impor políticas eco-nômicas que nascem da sua ideia e trazendo para dentro conteúdos ideológicos, como essa nova matriz macroe-conômica que ela e o Mantega inventaram, esquecendo os fundamentos do Plano Real.

Mas então o que aconteceu?MATIAS-PEREIRA – Quando você tem uma situa-

ção como essa de governantes que não estão preparados – porque um estadista é forjado no dia a dia, ao longo do tempo. Nenhum estadista se revelou estadista sendo guerrilheira, operário, sindicalista ou empresária de loja de R$ 1,99. O limite da presidente Dilma eram as lojas de R$ 1,99, mas, segundo consta, as lojas dela foram à falência. Por aí você imagina! Aí, está se pedindo a essas pessoas para darem coisas que elas não têm. Se eu fosse religioso – imagino que ela não acredita em Deus –, esta-ria dando a indulgência e dizendo: “Olha, você fez isso porque não sabia o que estava fazendo”.

O senhor acha que a Dilma fez papel de vítima?MATIAS-PEREIRA – Tudo que ela fez foi nessa direção.

Esse papel de vítima é um grande erro que ela comete. Na verdade, não teria por que assumir papel de vítima, porque foi inventada pelo Lula, pela esperteza, pela malandra-gem política. E chegou completamente despreparada. O

que faltou à presidente Dilma foi ter vindo de frente com a sociedade e ter pedido perdão à sociedade pelos erros, pela forma que ela se portou, pelos erros que cometeu na economia. Mas a arrogância dela, a estrutura dela não per-mite que faça, porque, se tivesse assumido o erro, a gente deixaria que o próprio país fizesse o julgamento se ela fica-ria ou não. Mas ela mesma implodiu as pontes atrás e hoje a empatia dela e mesmo a do Lula é praticamente zero. Estamos vivendo nesse cenário.

Isso explica por que o país se encontra hoje em recessão?MATIAS-PEREIRA – Essa é a somatória de governos

despreparados. Eu fiz essa abordagem para mostrar que eles chegaram a isso em função dessa incapacidade deles. Quer dizer, você imaginar que um governante que busca a proximidade, do ponto de vista ideológico, com o que tem de mais autoritário não só na América Latina e no Caribe, mas na África... Todos caminham na contramão da História. Nosso grande parceiro historicamente sem-pre foram os Estados Unidos e esse governo vira as costas para um país porque quer levar benefícios e se aproximar para buscar construir essa grande nação latino-americana.

O senhor chama de “crise político-policial” o que estamos vivendo. Isso tem que ver com a Petrobras?

MATIAS-PEREIRA – Assistimos a institucionalização da corrupção na administração pública, em que o Estado, os dirigentes políticos e os partidos, juntamente com emprei-teiros, destruíram uma empresa que era o símbolo do Brasil. Mais que isso: uma empresa importante para o crescimento do país. Destruir por quê? Porque havia um objetivo muito claro: arrecadar recursos para se construir um projeto de poder e permanecer no poder a qualquer custo. O que assistimos foi um sistema montado politica-mente, que age muito mais como uma facção criminosa.

Como acha que essa situação será resolvida?MATIAS-PEREIRA – Espero que seja resolvida poli-

ticamente, de maneira institucionalizada, usando os mecanismos institucionais que temos para encontrar uma solução. Porque o nível da perda de credibilidade, hoje,

Divulgação

6 VISÃO APSEF - Julho de 2015

ENTREVISTA

da governante e dos líderes políticos, principalmente do seu partido, é tal que eles perderam a legitimidade. Mesmo ela vindo a público pedir perdão – o que ela não vai fazer porque não é da natureza dela, devido a esse perfil arrogante – não terá legitimidade. Acho também que a chegada de Michel Temer ao poder, caso ocorra um impeachment dela, não vai resolver, porque vai arras-tar com ele toda essa força política comprometida. Não sou dono da verdade. Sou um pesquisador. Mas acho que a melhor alternativa num contexto como esse é a cassa-ção da chapa e uma outra eleição. E fazer nova eleição é uma forma de descomprimir esse caldeirão.

De fato, as pesquisas mostram que há um caldeirão em ebulição...

MATIAS-PEREIRA – O nível de insa-tisfação e intolerância da população com a governante, com os políticos, já ultrapassou aquele limite dos países em que assistimos a Primavera Árabe. O Brasil é um caldeirão próximo ou pres-tes a explodir se não forem encontrados mecanismos institucionais, políticos, para fazer esse processo de mudança. Se isso não for feito de uma maneira com-petente, será feito de qualquer jeito e para nós a pior coisa que poderia haver é termos algum tipo de intervenção com viés autoritário. Justamente nós, que viemos de um passado e passamos por isso, vimos que essa não é a saída. Governantes com viés autoritário tendem a não só enfraquecer um povo que nós construímos do ponto de vista democrático, mas enfraquecer também o tecido social.

Que desfecho o senhor acha que teremos?MATIAS-PEREIRA – Quando se tem uma conjunção

de crise econômica e política, essa crise deságua numa renovação. Porque, como economia e política caminham juntas, se a economia vai bem, as pessoas não têm inte-resse de trocar os governantes. Agora, quando vai mal e se tem uma situação agravada como esta, pelo quadro da

corrupção que foi instalada no país – e nem é propria-mente a questão da corrupção em si, mas da corrupção evidenciada: hoje temos todo esse desdobramento, desde o mensalão, e agora o Petrolão – fica muito claro como os governantes se apropriaram do Estado brasileiro para atingir os propósitos políticos deles sem levar em consi-deração os interesses do país e da sociedade. O objetivo era a conquista do poder pelo poder. Assim, quando se soma essa crise com essa outra, que é a que mais me pre-ocupa, que é a crise social, em que o número de pessoas desempregadas vai ganhar uma velocidade bem maior, a queda das vendas e o nível de insatisfação vai piorar, esse

é um cenário que não tem volta. Quer dizer, o que o Brasil precisa se prepa-rar é para encontrar mecanismos, o quanto mais rápido possível, para con-ter essa queda livre da economia. Nós não precisamos chegar no fundo do poço.

Mas e o ajuste fiscal?MATIAS-PEREIRA – Ele é um

remendo do ponto de vista econômico e não resolve os problemas. O que o governo fez foi encontrar alguém que pudesse utilizar para dizer o seguinte: “olha, estou tentando organizar as

contas públicas”. Só que tem um detalhe e o TCU está evidenciando cada vez mais isto: ela destruiu as contas públicas de tal forma que deixou o país como terra arra-sada. O governo usou uma série de mecanismos para camuflar dados. São ações criminosas e todos que estão por trás disso precisam responder, inclusive a mandatá-ria. Até porque não tem como dizer, como o Lula fez em 2006, que não sabia de nada. O que fez o Lula escapar, em 2006, de um impeachment foi que naquele momento a economia estava num céu de brigadeiro. Mas se tivés-semos vivendo um momento de crise econômica, o Lula talvez tivesse tido muita dificuldade de continuar, por-que as evidências que vieram à tona no julgamento do Mensalão deixaram tudo muito claro. Não se tem como

“ Assistimos a institucionalização da corrupção na administração pública, em que o Estado, os dirigentes políticos e os partidos, juntamente com empreiteiros, destruíram uma empresa que era o símbolo do Brasil”

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 7

JOSÉ MATIAS-PEREIRA

isentar o chefe de Estado num contexto como aquele, em que o primeiro ministro fazia de tudo e o chefe não sabia de nada. Agora não, eu chamo a situação que esta-mos vivendo hoje de “tempestade perfeita”. Você tem um cenário em que a economia afunda, uma inflação que o governo não é capaz de controlar; taxas de juros elevadas que são usadas para conter a inflação e já não está mais resolvendo. Com isso, nosso endividamento interno e externo, a emissão de títulos, está disparando para pata-mares preocupantes e a sociedade é que está pagando por isso. De outro lado esse cenário de perda de con-fiança. Há um pessimismo generalizado e instalado. As pesquisas recentes da CNI mostram que os empresários estão temerosos em investir e, de outro, o consumidor com medo de consumir. E a economia em queda livre. Esse cenário mostra uma situação explosiva, de crise de governabilidade.

O senhor não está sendo muito pessimista?MATIAS-PEREIRA – O país vai parar. Essa crise de

governabilidade vai travar todo o cenário: economia, administração pública, etc. Quando se tem uma crise de governabilidade, não há como você falar que esse governo pode continuar. E aí tem um detalhe. A presi-dente Dilma não tem perfil de estadista. Se tivesse, ao se deparar com uma crise como esta e que ela sabe que está colocando o país em risco, sua postura seria dizer o seguinte: “Olha, eu cumpri o meu papel e agora vou cola-borar como eleitor de fora para ajudar”. O que estamos assistindo hoje é um país que está em risco e que pre-cisa retomar a trilha. Num cenário como este não existe outra alternativa que não seja a renovação dos governan-tes, daí a importância de se discutir o parlamentarismo. Se tivéssemos o parlamentarismo, Lula teria caído em 2006 e ela não teria chegado ao poder. Mas mesmo que ela tivesse chegado ao poder, teria caído porque a crise, a soma desta tempestade perfeita, é muito grave e não per-mite que continue no governo.

Que impacto essa crise econômica, moral e político-policial do atual governo federal poderá causar

a curto, médio e longo prazo para os aposentados e pen-sionistas do serviço público federal?

MATIAS-PEREIRA – Uma parte visível dessa crise pode ser mensurada pelo nível de endividamento dos brasileiros. Quando um quarto da população do Brasil, ou seja, 56,5 milhões de pessoas, consta em cadastros de devedores inadimplentes, entre os quais uma par-cela de aposentados, isso mostra a dimensão da tragédia que se abateu sobre a população. Nesse sentido, é impor-tante que aposentados e pensionistas do serviço público federal adotem uma postura cautelosa para se proteger da crise, pois irão enfrentar tempos difíceis. Do ponto de vista da gestão das finanças pessoais, devem procu-rar evitar se endividar a qualquer custo. Se já estiverem envidados, procurem ajuda dos órgãos de defesa do con-sumidor para renegociar suas dívidas. Devem evitar assumir compromissos de financiamentos de compras de imóveis e outros bens duráveis, de médio e longo prazo. Aguardem o desfecho da crise para tomar essas decisões, visto que os governantes tentarão repassar as contas dos seus erros para a população e, em especial, para os apo-sentados. n

Divulgação

8 VISÃO APSEF - Julho de 2015

ENTREVISTA

ARTIGO

Chegou a hora de aproveitar as oportunidades

X Gustavo Cerbasi

O enfraquecimento da economia extrapolou as conversas de bares. A crise está estampada nos indicadores econômicos, nos números de

queda do emprego, de alta dos juros, de queda do valor do real e de fechamento de fábricas e do comércio. O Brasil engatou a marcha à ré.

Esse é o discurso da maioria das pessoas. Mas, para uma minoria, o que chegou foi o período de oportunidades. Perceba:• Por causa da crise, muitos estão perdendo empregos.

Pela mesma razão, aqueles capazes de realizar múltiplas tarefas ou de reduzir custos estão sendo contratados.

• Por causa da crise, os juros subiram, tor-nando os financiamentos quase inviáveis. Porém, a alta dos juros está fazendo a festa dos que possuem recursos inves-tidos, mesmo com perfil conservador.

• A crise está levando ao desespero constru-toras e incorporadoras. O mesmo ocorre com montadoras e lojas de veículos. Neste instante, quem está capitalizado para boas compras conseguirá ótimas negociações.

• Alguns vendem imóveis em desespero, a preços baixos, para dar fôlego ao orça-mento de seus negócios ou de sua família. Esse é o cenário em que o sonho da casa própria ocorre a preços menores do que há dois anos.

• Com o dólar alto, famílias cancelam suas viagens à Disney. No mesmo instante, cidades do interior do Brasil celebram a safra recorde com o dólar melhor para eles.

A palavra crise é inadequada. Deveríamos chamar de tempos de ajuste os períodos de economia recessiva, resul-tantes de erros cometidos em tempos de bonança. A crise ocorreu lá atrás, na forma de fazer escolhas.

Em tempos de bonança, de economia a todo vapor, o otimismo faz com que pessoas saiam de casa para comprar um automóvel de R$ 30 mil e voltem para casa

com um de R$ 40 mil. “Dá para pagar, vale o sacrifício!”, é o que dizem. Então, a boa compra se transforma em uso do cheque especial e empréstimos para pagar o custo de vida que aumentou. Com dificuldades, quem comprou mal deixou de consumir, sumiu das lojas, afundou em problemas e fomentou a crise.

Em tempos de bonança, outros pre-feriram criar reservas financeiras. Não assumiram gastos maiores do que podiam pagar. Começaram 2015, que prometia ser difícil, com dinheiro no banco. Con-

fiaram na segurança da renda fixa, já que os juros vinham subindo. Agora, começam a socorrer aqueles que fizeram más escolhas, dar liquidez em troca de boas oportunidades. Assim se constrói riqueza. Apro-veitando as vacas gordas, para acumular reservas que darão saltos de valor nas próximas crises. Qual é sua estratégia? Aproveitar o momento? Ou lamentar e esperar o fim da crise para voltar a errar? n

Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e autor de Casais inteligentes enriquecem jun-tos, Investimentos inteligentes e Adeus, aposentadoria, todos pela Editora Sextante.

Publicado originalmente na Revista Época em 11/07/2015. Artigo protegido por direitos autorais. Reprodução autorizada desde que citada a fonte www.maisdinheiro.com.br.

A palavra crise é inadequada. Deveríamos chamar de tempos de ajuste os períodos de economia recessiva, resultantes de erros cometidos em tempos de bonança

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 9

ESPECIAL

A crise que jogou o Brasil no buraco

Receita do governo para tirar o país da crise sacrifica a sociedade com recessão e desemprego e eleva a

dívida pública. Especialistas cobram enxugamento da máquina e taxação das grandes fortunas

X Washington Sidney

10 VISÃO APSEF - Julho de 2015

O s brasileiros estão sentindo na pele o tombo que o primeiro governo da presidente Dilma Rousseff deu no país: a inflação beira

os dois dígitos, a atividade econômica recuou quase um ponto percentual no primeiro trimestre do ano e o índice de desemprego saltou de 7% para 8,1%. Falta dinheiro para educação, saúde e investimentos públicos. Sem reajuste, servidores ameaçam entrar em greve. Para piorar o quadro, as denúncias de corrupção envolvendo governo e partidos políticos da base aliada alimentam a desconfiança dos empresários e afastam os investidores. A crise está instalada e as perspectivas não são nada animadoras.

Levada ao extremo para garantir o projeto de poder do PT, a gastança de dinheiro público corroeu as finanças do Estado, desestabilizou a economia e revelou a verdadeira natureza do governo Dilma Rousseff. Com a necessidade de cortar gastos para fazer frente ao déficit de R$ 18,3 bilhões de 2014 – o maior da história do país –, a presidente jogou a conta da crise nas costas da sociedade. Com as MPs 664 e 665, restringiu o acesso à pensão por morte, ao auxílio-doença e ao seguro desemprego. E enviou ao Congresso projeto que aumenta a alíquota da contribuição previden-ciária dos empregadores. Ao atingir as áreas sociais, o contingencia-mento de R$ 70 bilhões do Orçamento completou o pacote de maldades.

Pano de fundo de uma política perversa que paralisa a economia e contraria o discurso oficial da inclusão social, o ajuste fiscal coleciona críticas. O economista Antônio Corrêa de Lacerda, da Ponti-fícia Universidade Católica de São Paulo, condena a retirada de direitos dos trabalhadores e o corte de benefícios sociais e sugere uma reforma tributária para resolver os problemas de caixa que Dilma criou

para o Estado. “Deveríamos ter a tributação de grandes fortunas e de heranças, e não dos trabalha-dores. Arrecadamos muito pouco de Imposto de Renda na fonte das pessoas mais ricas. Uma reforma tributária para valer teria de cuidar destas grandes questões”, disse, durante recente seminário sobre política econômica.

Amir Khair, mestre em Finanças Públicas e ex-secretário de Finanças na gestão da ex-prefeita Luiza Erundina em São Paulo, também

defende a taxação das grandes fortunas. Segundo ele, isso poderia render R$ 100 bilhões por ano se aplicada sobre valores superiores a um milhão de reais.

“Quando você tem uma sociedade com má distri-buição de riqueza, tem uma atividade econômica mais frágil. O imposto sobre grandes fortunas teria arre-cadação semelhante àquela da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Por-tanto bem acima até do ajuste fiscal pretendido pelo governo”, disse, em entrevista para a Carta Capital.

“ Deveríamos ter a tributação de grandes fortunas e de heranças, e não dos trabalhadores. Arrecadamos muito pouco de Imposto de Renda na fonte das pessoas mais ricas”Antônio Corrêa de Lacerda, economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 11

ESPECIAL

MÁQUINA INCHADAOutro ponto bastante criticado do ajuste fiscal é a

falta de contrapartida do governo. O cientista político Paulo Kramer observa que a primeira coisa a ser feita para melhorar a gestão macroeconômica é o Estado racionalizar suas despesas. “Enquanto o Estado con-tinuar gastando mais do que arrecada, não vai dar. A conta não fecha. Essa é a condição: colocar as finanças do governo em ordem. Depois disso poderemos embarcar numa segunda etapa de reformas traba-lhista, tributária, etc.”, ressalta.

Com 39 ministérios, 128 autarquias e 141 estatais, a União mantém, segundo o Ministério do Plane-jamento, Orçamento e Gestão, 757.158 servidores efetivos, 113.869 comissionados, 20.922 com con-trato de trabalho temporário e 23.008 cargos de confiança vinculados à Presidência da República.

SINAIS DE ALERTA PARA O GOVERNO DILMA

X Priscylla Damasceno

Depois de desequilibrar as contas públicas, o governo Dil-ma Rousseff começou a fazer, desde o ano passado, manobras contábeis que ficaram conhecidas como ‘pedaladas fiscais’. Sem dinheiro, o Tesouro Nacional não repassava os recursos que deveriam ser pagos aos programas do governo, como o seguro-desemprego, o Minha Casa Minha Vida, o crédito agríco-la e o Programa de Sustentação de Investimento (PSI).

Apesar disso, os beneficiários receberam os valores, pois os bancos públicos – Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES – assumiram com recursos próprios o repasse das verbas. Com isso, o governo manteve os programas em funcio-namento, medida essencial para a reeleição da presidente Dil-ma Rousseff, e registrou um alívio temporário em suas contas, mas aumentou sua dívida com os bancos.

Esse procedimento é proibido pela Lei de Responsabilidade

Fiscal (LRF), pois é como se os bancos federais fizessem em-préstimos para o Tesouro. Esse é o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU). Ao proibir essa prática, a lei protege a saúde financeira dessas instituições e ajuda a controlar os gastos e o nível de endividamento público do Estado.

Em abril o TCU deixou claro que houve operações finan-ceiras irregulares, embora o tribunal ainda tenha de decidir se considera esse motivo suficiente para rejeitar as contas do governo. Se houver a rejeição, o Congresso Nacional pode abrir um processo de impeachment da presidente. No dia 17 de junho, o TCU adiou a votação do relatório prévio que analisa as contas de 2014 do governo para dar uma "oportunidade" à presidente de se justificar. É a primeira vez que o TCU convoca um presidente para se explicar. A decisão foi unânime.

Depois que a análise do TCU for concluída, o Congresso

Os consumidores estão sentindo a alta da inflação nas compras nos supermercados e começam a perceber que a estabilidade econômica foi comprometida pelo governo Dilma

12 VISÃO APSEF - Julho de 2015

“A credibilidade do governo está no fundo do poço e é impossível imaginar a sociedade acreditando no ajuste fiscal sem que sejam tomadas medidas radicais para reduzir o tamanho da máquina. Sem cortar na própria carne, o governo não tem autoridade para pedir sacrifícios ou falar em ajuste fiscal”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Por outro lado, além de travar a economia, a política cambial do governo inviabiliza os sacrifícios impostos à sociedade. Por causa da elevação mensal da Selic, que já chegou à casa dos 14,75%, já foram transferidos para os rentistas, de janeiro a junho deste ano, R$ 150 bilhões. A conta não pode fechar. De acordo com o jurômetro, site criado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), só de juros da dívida pública o Brasil pagou este ano, até as 18 horas do dia 13 de julho, R$ 271.815.503.681

Nacional deve dar a palavra final sobre a decisão. A conclusão dos deputados e senadores, contudo, pode levar anos. De qual-quer forma, as repercussões políticas cresceriam ainda mais e um processo de impeachment contra a presidenta Dilma ficaria próximo de se tornar real. Na opinião dos economistas, uma rejeição nas contas do governo poderia ser catastrófica, pois também ampliaria a desconfiança de agências de classificação de risco e dos investidores internacionais sobre as contas pú-blicas brasileiras.

O economista José Matias-Pereira, professor da Univer-sidade de Brasília (UnB), acredita que as crises econômica e política podem derrubar a presidente Dilma. “Economia e polí-tica caminham juntas. Se a economia vai bem, há um controle maior. Mas nesse caso o governante está mal e a economia também e, junto a isso, há uma crise ética onde ‘o rei ficou nu’. Todas as investigações [sobre a Operação Lava Jato] vêm demostrando que esse governo tem um nível elevado de cor-rupção”, destaca. Para ele, configura-se uma “tempestade

perfeita” para Dilma cair, pois também está se formando uma crise social. Esses indicativos demonstram a existência de um processo em que o governante está perdendo o controle, ob-serva. “A máquina pública vai entrando em colapso”, resume.

Sem dinheiro, o Tesouro Nacional não repassava os recursos que deveriam ser pagos aos programas do governo, como o seguro-desemprego, o Minha Casa Minha Vida, o crédito agrícola e o Programa de Sustentação de Investimento (PSI

Só de juros da dívida pública o Brasil pagou este ano, até as 18 horas do dia 13 de julho, R$ 271.815.503.681

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– quatro vezes o valor contingenciado do orçamento deste ano para fazer o ajuste fiscal. Os valores registrados pelo jurô-metro variam a cada segundo (veja no site www.jurometro.com.br).

Além de penalizar a sociedade, o ajuste fiscal não tem ajudado a capitalizar o Estado. Com a queda da atividade eco-nômica, junto com o nível de emprego caiu também a arrecadação do governo. De janeiro a maio deste ano, a receita tribu-tária federal teve perda real (descontada a inflação) de 2,95% em relação a igual período de 2014, apesar do aumento de impostos. Ou seja, estamos diante de um círculo vicioso que fragiliza o Estado e empobrece a sociedade.

FRAGILIDADE POLÍTICAPoliticamente fragilizada pela perda de popula-

ridade, a presidente Dilma Rousseff tornou-se vítima de seus próprios erros e refém das forças políticas com

as quais o PT se aliou desde o primeiro mandato do ex-presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado não poderia ser outro: aos poucos, o Congresso Nacional criou novas receitas para o Estado e dissolveu o ajuste fiscal, debilitando finan-ceiramente o governo.

Só no primeiro semestre deste ano, Senado e Câmara dos Deputados aprovaram seis medidas que, em seu conjunto, representam gastos extras da ordem de R$ 82,43 bilhões para os cofres do Tesouro. As ini-ciativas atenderam desde as demandas de estados e muni-cípios até as de aposentados

e servidores do judiciário. Rompido politicamente com o governo, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tornou-se um dos maiores crítico do ajuste fiscal dentro da base aliada. No encerra-mento do primeiro semestre legislativo, ele expôs suas razões.

“O ajuste é tacanho. Até aqui quem pagou a conta foi

o andar de baixo. Esse ajuste sem crescimento eco-nômico é cachorro correndo atrás do rabo. Não sai do lugar. É preciso cortar ministérios, cortar cargos comissionados, enxugar a máquina pública, fazer a reforma do Estado e ultrapassar, de uma vez por todas, a prática superada da boquinha e do apadrinhamento. O Congresso, majoritariamente, é refratário a aprovar novos tributos ou aumentar impostos. A sociedade já está no seu limite suportável. Não vamos concordar com a asfixia da sociedade”. n

No primeiro ano de governo, o índice de desemprego saltou de 7% para 8,1%.

Além de penalizar a sociedade, o ajuste fiscal não tem ajudado a capitalizar o Estado. Com a queda da atividade econômica, junto com o nível de emprego caiu também a arrecadação do governo

ESPECIAL

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ARTIGO

Brasil – a pátria desonrada X Luiz Soares das Terras Nordestinas

Comecei a me envolver na política partidária nos anos 1960, por influência direta da minha saudosa mãe Djanira, uma ferrenha guerreira em todos os

sentidos. Sempre acreditei que política se faz com since-ridade, transparência e uma vontade infinita de ser útil aos mais necessitados, porque não dizer aos excluídos, desen-volvimento harmônico, da ocupação, da geração de renda e emancipação, forma incorrigível para se sonhar com a democracia plena e irrestrita.

Vivi o máximo da influência de pessoas, naturalmente formadoras de opinião, quase sempre alcunhadas de cabos eleitorais. Essa figura, geralmente, tinha uma profissão definida, pessoa de sucesso empresarial; e que praticava a caridade, na expressão da palavra, tal qual um sacer-dócio. Essa denominação também representava passe livre, quando necessário fosse, para se pleitear benefícios para um bairro ou comunidade. O seu prestígio era apenas o status.

No mais, vivi o auge da renúncia do Jango. Acompanhei a projeção de João Goulart e as peripécias de um Leonel Brizola. Recebi como um golpe o dia em que o regime dita-torial se implantou no país. As ruas foram tomadas de fardas verdes, os carros blindados, os tanques e os fuzis eram os destaques; além, é claro, do toque de recolher. Acompanhei, mesmo via notícias, o sonho de um Juscelino virar rea-lidade, quando do início da construção de Brasília.

Em época mais recente, cronologicamente falando, vi surgir a evolução gradativa de uma “esquerda” lastreada num modelo de compor e juntar via sindicatos, como forma de manipulação, usando como bandeira a necessidade dos “opri-midos”. O modus operandi foi milimetricamente copiado de um período vivido pelo povo americano, quando da insta-lação de grandes corporações, com ramificações da Itália, como a que ficou conhecida como Cosa Nostra.

Essa corporação vai se multiplicando, especialmente nas portas das fábricas. Exigiam condições de trabalho, melhores salários e remunerações. Em contrapartida, os cofres dos sindicatos iam ficando abarrotados de dinheiro. A origem era da “contribuição” num volume praticamente irrisório; mas o grosso era advindo das grandes chantagens com grupos sólidos empresariais.

Num determinado momento, já se notava o poder da mobilização. As greves se transformaram em demonstra-tivos de poder. E o Estado cada dia mais ia se tornando

refém dessas mobilizações. Num passo orquestrado, cla-mavam por honestidade, ética e transparência. As cartilhas eram instrumentos de divulgação da força do proletariado. E assim o país vai cedendo a esses caprichos e se entrega, como num passe de mágica, a esse canto abstrato.

Nos dias atuais, o país acordou, o país ficou indignado, o país se sentiu refém de uma organização que abandonou o seu discurso, o seu lema, a sua capacidade de mobilização, para tão somente pensar em emprego – sem trabalho – e juntar fortunas, à custa da depredação do patrimônio finan-ceiro da nação.

Não se sabe mais em que organização direta ou indireta não venha a existir algo vergonhoso. O primeiro foi o Men-salão e, mesmo com os resultados, a sanha monetária mais se avolumou. Veio a operação Lava-Jato. Finalmente já começa a ser aberto o esgoto tenebroso do BNDES, já se vislumbra algo no setor energético, na Casa da Moeda, no sistema de apostas da Mega-Sena. E, pasmem!, a venda de dólares falsificados pelo Banco do Brasil. Sem contar o que ainda virá à tona nos fundos de pensão.

A economia já está em recessão. Somente o pagamento dos juros da dívida interna já beira o patamar dos R$ 180 bilhões. O superávit cada dia mais deficitário, antevendo um rombo de R$ 125 bilhões. Neste momento não se sabe se o pagamento dos 50% do adiantamento do 13º será pago aos aposentados e pensionistas do INSS. O calote ronda e se pre-nuncia como uma forma de agouro, antevendo o apocalipse. O pior é que, segundo alguns especialistas, ainda falta muito para que cheguemos a conhecer o real tamanho do iceberg.

Luiz Soares é professor aposentado da ESAM, engenheiro agrônomo, poeta e asso-ciado da APSEF.

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COMPORTAMENTO

Sexo não tem idadeIdosos superam o preconceito e buscam o

prazer com mais naturalidade. O que não falta a eles é tempo para serem felizes. Mas idosas

ainda precisam vencer a cultura machista X Priscylla Damasceno

16 VISÃO APSEF - Julho de 2015

O sexo na terceira idade deixou de ser tabu. É verdade que alguns idosos ainda sentem culpa e vergonha diante da possibilidade do

prazer da libido. Mas a maioria deles está vencendo o preconceito e descobrindo que a atividade sexual não desaparece com o passar dos anos. Como tudo na vida, ela se transforma. E não é segredo para ninguém que o sexo faz bem à saúde física e mental e melhora a qua-lidade de vida das pessoas.

A sexóloga Edna Cassiano diz que a palavra prazer tem várias conotações “e chega a ser mesmo impronunciável por alguns, como se estivesse ligada exclusivamente ao mau e sujo, a práticas indignas para as pessoas de bem”. Segundo ela, idosos entrevistados para um estudo recente feito pela Sociedade Britânica de Gerontologia se dividiram: uns admitiram ter inape-tência sexual. Outros disseram não abrir mão do prazer.

A sexóloga lembra que o desenvolvimento da tecno-logia e da medicina permitiu uma crescente melhoria da qualidade de vida das pessoas, especialmente dos idosos. Ela acredita que o envelhecimento não acaba com a sexualidade. “As pessoas mais velhas devem ser vistas em sua totalidade e não através de estereótipos que ainda perduram em nossa sociedade. Esse tipo de postura afeta a todos, independentemente da idade que temos. Eliminar a pulsão é eliminar a vida. Enquanto houver sopro de vida, a pulsão estará lá. Deixemos que cada um escolha como expressá-la, segundo suas próprias convicções, não como uma concessão”.

NOIVAÂngela Andrade Mattar, professora

aposentada, psicanalista clínica, ficou noiva pela segunda vez aos 80 anos. Ela foi apresentada ao noivo por um amigo em comum: “Ambos está-vamos sozinhos. Portanto, disponíveis.

Não havia para nós expectativas, ilusões ou ansiedade quanto a isso. Saímos algumas vezes para dançar e uma noite, após a seresta, decidi levá-lo para minha casa. Ele me pediu em casamento no dia em que o nosso namoro fez dez meses”, lembra.

A professora foi casada durante 42 anos. Após a morte do marido, não praticou mais sexo, apesar de se manter solteira por 20 anos. A justificativa é a de que valoriza o sexo no casamento. “O sexo é uma fonte de prazer em nossas vidas. Sabemos que não temos todo o tempo do mundo para sermos felizes e temos de buscar esta feli-cidade agora. Temos, portanto, maior disponibilidade e amadurecimento para curtirmos o sexo, desde que este-jamos saudáveis, podendo deixar fluir toda emoção e energia nos momentos de intimidade. Nosso limite deve ser a nossa consciência, os nossos valores”, enfatiza.

Almir Soares, engenheiro civil aposentado, 76 anos, solteiro, também acha que o sexo melhora a vida. “E ser idoso não diminui isso. Afinal, agora é que tenho mais tempo disponível para o prazer. Mas sempre procuro me prevenir das doenças transmissíveis”, pondera, com um sorriso maroto. Almir faz caminhadas diariamente e procura comer alimentos saudáveis para manter a saúde do corpo. “Isso fortalece na hora do sexo”, reco-menda. Ele admite que recorre a alguns artifícios para melhorar o desempenho: “Tomo viagra, catuaba e como amendoim para manter o apetite sexual”. Diz que tem duas parceiras fixas e com frequência participa do forró

da quadra onde mora, no Gama. Mas não pensa em namorar e nem em casar. Viúvo há 27 anos, só quer curtir a vida.

PESQUISAPesquisa coordenada por Carmita

Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Univesidade de São Paulo (USP) e coordenadora do ProSex (Pro-grama de Estudos em Sexualidade da USP), revela que homens e mulheres de diferentes faixas etárias são sexual-mente ativos. Segundo o estudo, feito

A professora aposentada e psicanalista clínica Ângela ficou noiva pela segunda vez aos 80 anos

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 17

a partir de entrevistas com mais de oito mil pessoas, mulheres acima dos 61 anos são menos ativas que os homens da mesma idade.

Os motivos são diversos: perda da libido, dogmas e religião, morte do marido e a falta de vontade de conhecer novos parceiros por causa de uma visão romântica do amor. É o caso da aposentada Raimunda Fernandes de Sousa, 69 anos. “Para mim, homem foi só um. Fui casada com ele por 20 anos e depois que morreu (há 14 anos) nunca mais tive ninguém e nem quero. Minha vida agora é ajudar a cuidar do meu neto”, conta.

O geriatra Salo Buksman, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, diz que um dos motivos que levam à redução da atividade sexual entre os idosos é a perda de libido, “que pode ocorrer devido à diminuição

da produção hormonal masculina e feminina”. O que não é um problema irremediável. Segundo ele, a sociedade incutiu na cabeça das pessoas que o sexo na terceira idade é inadequado e colocou para os idosos uma barreira psicológica, principalmente para a mulher. “Ela pensa que já passou dessa fase, que é uma avó e tem que se dar o respeito”, justifica.

CUIDADOSA possibilidade da prática sexual na terceira idade

não exclui os cuidados que os praticantes devem ter para preservar a saúde. E muitos idosos têm se des-cuidado. Dados do Ministério da Saúde revelam que a presença do vírus HIV na terceira idade cresceu mais de 80% nos últimos 12 anos. Com tímidas ações do Estado no combate à doença, o Brasil corre risco de ter um crescimento significativo da doença nos próximos anos.

IDOSA LANÇA LIVRO DE CONTOS ERÓTICOS

Aos 89 anos, a escritora Maria Lygia Rodrigues Faria lan-çou, no fim de junho deste ano, em Brasília, o 13º livro de sua carreira literária, intitulado Triunfos do Amor – uma coletânea de 13 contos românticos carregados de erotismo. Para a escri-tora, que foi casada por 44 anos, “sexo é a coisa mais linda do mundo”.

Maria Lygia perdeu o marido há quase 30 anos e o filho tam-bém, em janeiro deste ano. Ela diz que, depois dessas perdas, escrever, ler e pintar são as coisas que ainda alegram sua vida. Assuntos polêmicos como sexo na terceira idade, inseminação artificial, romance entre freiras e padres e entre tio e sobrinhas

são temas do novo livro. A escritora diz estar preparada para a reação dos críticos, aos quais chama de “caretas”.

O livro foi escrito com personagens fictícios, mas as histó-rias são inspiradas em fatos reais. Lygia conta que mergulhou na memória para descrever algumas cenas, principalmente as mais “prazerosas”. Um dos contos favoritos da escritora, do qual diz ter sentido mais dificuldade para encontrar um des-fecho, acontece no Rio de Janeiro, sua cidade natal, e gira em torno de um casal de idosos.

“A gente não esquece os detalhes, ainda mais quando fo-ram bem prazerosos. A gente vai esquecer? Seria um engano

“ Para mim, homem foi só um. Fui casada com ele por 20 anos e depois que morreu (há 14 anos) nunca mais tive ninguém e nem quero. Minha vida agora é ajudar a cuidar do meu neto”Raimunda Fernandes, aposentada

COMPORTAMENTO

18 VISÃO APSEF - Julho de 2015

De acordo com o Boletim Epidemiológico DST-Aids do Ministério da Saúde, a taxa de detecção do vírus HIV nos últimos dez anos entre as mulheres apresenta tendência significativa de crescimento entre aquelas com 55 a 59 anos e 60 anos ou mais, sendo o aumento de 24,8% e 40,4% de 2004 para 2013, res-pectivamente. Mas, em qualquer idade, o sexo exige proteção. “É preciso alertar para o aumento no índice de doenças sexualmente transmissíveis em idosos, incluindo o HIV. Os mais velhos raramente usam preservativos, mas também devem evitar o compor-tamento de risco, usando camisinha para evitar essas doenças”, alerta Buksman.

VIAGRA FEMININOA descoberta do Viagra, medicamento para a dis-

função erétil, em 1998, provocou uma revolução na vida sexual dos idosos do sexo masculino. Com a novidade, muitos se sentiram dispostos a procurar suas mulheres novamente, que nem sempre estavam preparadas para recomeçar uma vida sexual ativa. Depois do Viagra, o sexo ganhou espaço nos consultórios de ginecologistas, nos bares, festinhas sociais, etc.

A chegada do ‘Viagra feminino’ promete trazer uma nova revolução. O medicamento, chamado Flibanserin,

ainda está em estudo e destina-se a mulheres que ainda não chegaram à menopausa, mas apresentam baixo desejo sexual. No início de junho, um conselho con-sultivo da FDA (agência federal dos Estados Unidos que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios) sugeriu, por 18 votos a seis, que a droga para tratar a falta de desejo sexual feminino seja aprovada.

O uso do Flibanserin foi aprovado com a ressalva de que sejam realizados procedimentos rigorosos para assegurar que as pacientes estejam plenamente conscientes dos riscos do medicamento, que incluem diminuição da pressão arterial, desmaios, sonolência, náuseas e tonturas. Ainda como pré-requisito os con-sultores exigiram que as farmácias sejam obrigadas a verificar se o médico que receitou o medicamento possui certificado que o autoriza a fazê-lo. O registro de pacientes que usarem a droga também está entre as recomendações dos consultores.

O Flibanserin funciona de maneira diferente do Viagra. A pílula feminina deve ser tomada diaria-mente e requer semanas de uso antes de surtir efeito. É um medicamento que age no cérebro, sobre as substâncias químicas ligadas ao humor e ao apetite. Já o Viagra trabalha sobre o fluxo sanguíneo para os órgãos genitais. n

dizer que sou santa. Digo isso para meus netos. Não me olhem como santa, me olhem como uma mulher, que tem direito a tudo na vida, que teve bons momentos, maus momentos, mas que curtiu todos os momentos da vida e que devem ser curtidos por todo mundo, principalmente pelos idosos”, ressalta.

Lygia fala de sexo com muita naturalidade no livro: “Sei que muitas pessoas vão achar tabu, principalmente pela minha idade – uma mulher beirando os 90 anos falar de sexo como falo no livro”, diz. “Acho caretice. O sexo não existe? Não foi feito para o homem e para a mulher? Não foi feito para amar? Então por que vou fazer disso um tabu? Tem que ser tudo com muita naturalida-de. Não com sem-vergonhice, não com imoralidade. Mas contar o sexo como é não é vergonha. É natural”, justifica.

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SAÚDE

O inimigo está no arMilhares de brasileiros morrem todo ano

de doenças respiratórias e cardiovasculares causadas pela poluição atmosférica

X Priscylla Damasceno

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N inguém está livre de respirar a fumaça liberada pelos carros, indústrias, queimadas, além da poeira das obras. Essa é a realidade

das cidades. Mas as consequências são dramáticas: são mais de oito milhões de pessoas mortas por ano no mundo. É o que revela um documento aprovado em Bruxelas, em maio, durante a 68ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a poluição do ar matará 250 mil pessoas nos próximos 15 anos, 25% delas na capital paulista.

O documento mostra as graves consequências da poluição atmosférica para a saúde pública e a eco-nomia, especialmente no caso dos países mais pobres. Os números são alarmantes: cerca de 3,7 milhões de mortes são atribuídas à contaminação lançada ao ar livre, enquanto 4,3 milhões de óbitos são resultado da poluição dentro de locais fechados.

Artigo publicado por Evangelina Vormittag, especia-lista em Patologia Clínica e Microbiologia e presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade de São Paulo, alerta que a poluição atmosférica é líder ambiental para riscos à saúde e mortes. Ela lembra que um em cada oito óbitos no mundo resulta da exposição ao ar contaminado. “Os números pedem medidas emergen-ciais de controle efetivo desse mal e seus efeitos para a saúde”, afirma. Ela explica que a poluição ao ar livre, advinda da fumaça dos veículos e das indústrias, causa não só doenças respiratórias, mas também as cardiovasculares, infarto, derrame cerebral, pneumonias, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer de pulmão.

Menos lembrada, mas responsável por mais mortes ainda, a poluição do ar dentro de casas e prédios também preocupa. Fogões e lareiras utilizados para cozinhar e aquecer poluem o ar com a queima de bio-massa – madeira, esterco animal, resíduos vegetais e carvão. A fumaça e o poluente material particulado podem atingir níveis até cem vezes maiores que o aceitável dentro das casas. Em algumas regiões do

Nordeste do Brasil, há fogões à lenha em mais de 60% das casas.

Por ficarem mais tempo em casa, idosos, mulheres e crianças são as maiores vítimas da poluição do ar em domicílios. Dados da OMS revelam que esse tipo de contaminação é a quarta causa de mortalidade em

crianças em países em desenvolvi-mento, atrás da desnutrição, sexo inseguro e falta de água potável e saneamento básico.

Quase metade das mortes de crianças menores de cinco anos devido às infecções agudas do trato respiratório inferior decorre da ina-

lação de material particulado de origem da queima de biomassa intradomiciliar. E mulheres expostas à poluição no interior das casas são três vezes mais pro-pensas a desenvolver bronquite crônica do que as que usam fogões de tecnologia mais limpa.

Há evidências de que a contaminação do ar dentro de casa aumenta também o risco de doenças como asma, otite média e outras infecções do trato respira-tório superior, como tuberculose, câncer nasofaríngeo e laríngeo, além de outros problemas como catarata, doença cardiovascular, recém-nascidos de baixo peso e mortalidade perinatal.

No Brasil, a poluição do ar matará 250 mil pessoas nos próximos 15 anos, 25% delas na capital paulista

Menos lembrada, mas responsável por mais mortes ainda, a poluição do ar dentro de casas e prédios também preocupa

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ASMANascida no interior de Paracatu (MG), Amaraldina

Antunes, professora aposentada, 84 anos, morou em casas com fogão de lenha durante metade da vida. Ainda criança adquiriu asma. “Sofri muito com a asma. Somente aos 43 anos foi diagnosticada a cura. Acredito que tenha sido a fé em Deus”, conta. Ele mora há muitos anos em Brasília, mas não se adaptou ao clima seco. “Graças a Deus não tenho mais asma, mas ainda sofro com tosses e garganta inflamada sempre que o tempo esfria. Aqui não tem umidade. E, para completar, a poluição do ar nos faz muito mal, com certeza”, afirma a aposentada.

O otorrinolaringologista Andre Sampaio, professor da Universidade de Brasília (UnB), diz que o ar das ruas sofre contaminação por agentes químicos – por exemplo, o monóxido de carbono que sai na fumaça dos carros –, mas também por agentes vivos, como micro-organismos, vírus e bactérias. Por meio desses poluidores é que surgem as doenças do aparelho res-piratório superior.

“A idade é um fator predisponente e os idosos são mais vulneráveis”, alerta o otorrino. Ele explica que a baixa umidade do ar faz com que o filtro respiratório (nariz) não funcione bem. “Pacientes que ficam mais confinados em casa e o convívio de uma pessoa junto com a outra faz com que as infecções respiratórias se propaguem com mais facilidade”.

O tempo mais frio, segundo ele, é a época de ataque das “ites” em Brasília: sinusites, amigdalites, rinites, etc. “Até porque a baixa umidade traz muito mais poeira e ácaro, que causam irritação e alergias. A temperatura mais fria faz com que a nossa defesa não funcione corretamente”. Para prevenir esses pro-blemas, alguns cuidados mínimos devem ser tomados, sugere o médico: “Ao frequentar banheiros, usar álcool gel; hidratar muito as vias aéreas superiores, usando soro fisiológico diariamente; tentar evitar ambientes de confinamento”.

FIBROSE PULMONARArgemiro Ribeiro da Silva, 66, servidor da Terracap

(GDF), há muito tempo não tem os pulmões cem por cento saudáveis. “Trabalhava numa fábrica de pias, era muito novo, tinha 16 anos, lixava um material que fazia muita poeira e adquiri fibrose pulmonar. Na época, o médico me alertou para cuidar, mas eu era jovem, tinha de trabalhar e não dei muita atenção. Hoje sinto as consequências. E ela (a fibrose) veio com toda força pra me matar”, conta Argemiro. Ele toma remédios e sente muita falta de ar.

Para piorar o quadro, Argemiro fumou durante 15 anos: “Se puder dar um conselho aos jovens, digo para

“ Pacientes que ficam mais confinados em casa e o convívio de uma pessoa junto com a outra faz com que as infecções respiratórias se propaguem com mais facilidade”

Andre Sampaio, otorrinolaringologista e professor da Universidade de Brasília (UnB)

SAÚDE

22 VISÃO APSEF - Julho de 2015

terem uma vida saudável, longe dos vícios. Cuidem da saúde. O pulmão é precioso. Sempre que esfria a temperatura há uma considerável queda da minha ati-vidade pulmonar, muita tosse e falta de ar. Além disso, tenho pneumonia frequentemente”, relata.

A fibrose pulmonar é uma doença respiratória crônica e progressiva caracterizada pela formação de excessivo tecido conectivo (fibrose), que engrossa as paredes dos tecidos pulmonares. Ocorre quando o tecido pulmonar é danificado e forma cicatrizes, endu-recendo e prejudicando a elasticidade e a troca gasosa. É mais comum depois dos 55 anos, um pouco mais frequente em homens e em geral causada pelo taba-gismo e exposição prolongada a gases tóxicos e poeira inorgânica no ambiente de trabalho.

O pneumologista Ricardo Martins, do Hospital Universitário de Brasília (HuB), explica que as doenças respiratórias e cardiovasculares têm aumentado muito por causa da poluição atmosférica. “As principais doenças causadas pela contaminação do ar são bron-quite, enfisema pulmonar, câncer de pulmão, infarto agudo do miocárdio, infecções respiratórias e alergias. Há um agravo nos extremos de idade: crianças abaixo de dois anos e idosos”, enfatiza.

Os carros, na avaliação do médico, são os principais poluidores do ar. Ele diz que as pessoas devem evitar circular na rua em horário de grande fluxo de veículos.

“Nós devemos continuar lutando para que tenham políticas de transporte coletivo com menos poluentes. A solução é ter menos carros circulando na rua. Então, o transporte público precisa ter qualidade. E os com-bustíveis têm que ser menos poluentes”, destaca.

Ele acha que os governantes devem tomar medidas drásticas para reduzir o nível de poluição: “Pessoas que nunca fumaram estão desenvolvendo câncer de pulmão”. E desmistifica: “pneumonias podem levar à morte. Nos idosos é uma das principais causas de morte”. Alerta ainda que pessoas de todas as idades devem ter o cartão de vacina atualizado, pois existem vacinas para prevenir quadros, não só de gripe, mas também de pneumonias. “Cartão de vacinação não deve ser só da criança”, lembra. n

DICAS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL

• Abolir o cigarro.• Optar pela alimentação balanceada à base de verduras,

frutas e legumes.• Evitar o excesso de sal.• Uso social da bebida alcoólica: um a dois cálices de vi-

nho por dia, no máximo.• Fazer atividade física de preferência fora do horário de

pico de veículos circulando na rua ou, se possível, em parques e locais arborizados.

• Consultar os médicos pelo menos duas vezes por ano.

“ As principais doenças causadas pela contaminação do ar são bronquite, enfisema pulmonar, câncer de pulmão, infarto agudo do miocárdio, infecções respiratórias e alergias. Há um agravo nos extremos de idade: crianças abaixo de dois anos e idosos”Ricardo Martins, pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HuB)

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 23

AÇÃO REFERENTE AOS ASSOCIADOS DO EXTINTO DNER TEVE JULGAMENTO FAVORÁVEL

AÇÃO COLETIVA – PROCESSO Nº 2006.34.00.011658-3 - APÓS SETE ANOS DE ESPERA, EM 29/07/2015, O TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS DA 1ª REGIÃO/DF DEU PRO-VIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO DA APSEF, GARANTINDO AOS SEUS ASSO-CIADOS, ORIGINÁRIOS DO EXTINTO DNER, O PAGAMENTO DE SEUS PROVENTOS E PENSÕES COM BASE NAS TABELAS DO PLANO ESPECIAL DE CARGOS DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES - DNIT, CRIADO PELA LEI Nº 11.171/2005.

Em 2005, com a edição da Lei nº 11.171, de 02/09/2005, foram criadas no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), as carreiras de Infraestrutura de Transportes, composta de cargos de Analista em Infraestrutura de Transportes, de nível

superior; Suporte à Infraestrutura de Transportes, composta de cargos de Técnico de Suporte em Infra-estrutura de Transportes, de nível intermediário; de Analista Administrativo, composta de cargos de Ana-lista Administrativo, de nível superior; e de Técnico Administrativo, composta de cargos de Técnico Admi-nistrativo, de nível intermediário, bem como o Plano Especial de Cargos do DNIT, a partir de 1º de janeiro de 2005, composto pelos cargos de provimento efetivo do Plano de Classificação de Cargos (PCC), instituído pela Lei nº 5.645, de 10 de dezembro de 1970, ou de planos correlatos das autarquias e fundações públicas não integrantes de carreiras estruturadas, regidos pela Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, perten-centes ao Quadro de Pessoal do DNIT, nele lotados em 1º de outubro de 2004, ou que venham a ser para ele redistribuídos, desde que as respectivas redistribuições tenham sido requeridas até 31 de julho de 2004.

AÇÕES JUDICIAIS

SERVIÇO PÚBLICO

24 VISÃO APSEF - Julho de 2015

Em 2006, os aposentados e pensionistas oriundos do extinto DNER, então vinculados ao Ministério dos Transportes, por força das disposições do artigo 117, da Lei 10.233/2001, passaram a perceber seus proventos e pensões com base no Plano Geral de Cargos do Poder Executivo, de que trata a Lei nº 11.357, de 19 de outubro de 2006, situação que per-siste até o momento.

Inconformada com a situação de seus associados do extinto DNER, e fundamentada nos princípios constitucionais, a APSEF pleiteou tratamento iso-nômico para os seus associados oriundos do referido DNER, por meio do Processo 2006.34.00.011658-3, impetrado junto à Justiça Federal/DF, com o objetivo de garantir-lhes o enquadramento no Plano Especial de Cargos do DNIT, com a consequente percepção de todas as vantagens pecuniárias do referido plano e o pagamento dos atrasados, correspondentes à diferença entre o que deveriam ter recebido e o que efetivamente receberam, desde a edição da Lei nº 11.171/2006.

Apesar do profundo embasamento nos precedentes legais que garantem a isonomia de tratamento, o pedido foi julgado improcedente em 2007, levando--nos a ingressar com Recurso de Apelação junto ao TFR da 1ª Região, onde aguardava julgamento desde 2008, apesar dos inúmeros esforços da APSEF, através de seus advogados constituídos, visando a agilizar o julgamento com base no Estatuto dos Idosos, aliado ao fato de que percebem baixos proventos.

Não obstante, somente em 29 de julho de 2015, após transcorridos sete anos, o TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS DA 1ª REGIÃO (TFR-1ª Região/DF) julgou favoravelmente o Recurso de Apelação da APSEF, assegurando, assim, o direito à paridade entre os servidores ativos do DNIT e os aposentados do extinto DNER, ou seja, garantindo o pagamento dos proventos e pensões dos associados-beneficiários da Ação nos mesmos valores e condições daqueles pagos aos servidores do DNIT.

Em face do entendimento dos advogados da APSEF, esperamos que a ação seja encerrada em definitivo no

próprio TRF, visto que foi aplicada a jurisprudência firmada em sede de Repercussão Geral no STF e em sede de recursos repetitivos do STJ.

Finalmente, registramos que, até o fechamento desta Edição, ainda não tinha sido publicado o Acórdão, cujo teor, uma vez conhecido, poderá ensejar outras informações aos associados beneficiados.

AÇÕES EM EXECUÇÃOAção da GDATA e GDASST – A 16ª Vara Federal

efetivou a autuação de 33 processos de execução com vistas à habilitação ao pagamento da diferença devida, objeto do Processo Nº 2003.34.00.027405-9, relativamente à GDASST, assegurada aos associados vinculados aos Ministérios da Saúde, da Previdência e do Trabalho, que atualmente percebem proventos e pensões relativos à Carreira PST.

Com a autuação dos processos de execução, serão beneficiados 33 grupos, cada um integrado por 20 nomes, correspondendo a um total de 660 associados, conforme discriminado na próxima página.

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 25

SERVIÇO PÚBLICO

GRUPO Nº Processo de Execução GRUPO Nº Processo de Execução

01 0010957-55.2015.4.01.3400 18 0010997-37.2015.4.01.340002 0010981-83.2015.4.01.3400 19 0010998-22.2015.4.01.340003 0010982-68.2015.4.01.3400 20 0010999-07.2015.4.01.340004 0010983-53.2015.4.01.3400 21 0011000-89.2015.4.01.340005 0010984-38.2015.4.01.3400 22 0011001-74.2015.4.01.340006 0010985-38.2015.4.01.3400 23 0011002-59.2015.4.01.340007 0010986-08.2015.4.01.3400 24 0011003-44.2015.4.01.340008 0010987-90.2015.4.01.3400 25 0011004-29.2015.4.01.340009 0010988-75.2015.4.01.3400 26 0011005-14.2015.4.01.340010 0010989-60.2015.4.01.3400 27 0011006-96.2015.4.01.340011 0010990-45.2015.4.01.3400 28 0011007-81.2015.4.01.340012 0010991-30.2015.4.01.3400 29 0011008-66.2015.4.01.340013 0010992-15.2015.4.01.3400 30 0011009-51.2015.4.01.340014 0010993-97.2015.4.01.3400 31 0011010-36.2015.4.01.340015 0010994-82.2015.4.01.3400 32 0011011-21.2015.4.01.340016 0010995-67.2015.4.01.3400 33 0011018-13.2015.4.01.340017 0010996-52.2015.4.01.3400

Como a totalidade dos grupos é de 36, espera-se que, no curto prazo, os três últimos grupos (abran-gendo 60 associados) também venham a ser autuados.

Por oportuno, cabe-nos ressaltar que não divul-gamos os nomes dos beneficiários de cada processo para evitar a possibilidade de “algum golpe” por estelionatários.

Indicamos, a seguir, as etapas a serem cumpridas em cada processo de execução pela Justiça Federal:

a) conferência dos dados dos associados e dos cál-culos apresentados pela APSEF;

b) remessa de cada processo à Advocacia-Geral da União, que procederá ao exame da situação de cada associado, bem como dos critérios de elaboração dos cálculos apresentados;

c) caso discorde, a AGU apresentará Embargos de Execução, o que sempre ocorre, ensejando recursos da APSEF;

d) somente após a decisão final proferida pelo Juiz Federal a respeito dos cálculos, será autorizada pela Justiça Federal a expedição das respectivas RPVs (Requisições de Pequeno Valor – até 60 salários mínimos) para permitir o pagamento aos beneficiados pela Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil.

Para esse efeito, quando disponibilizados os valores devidos, será dado conhecimento aos beneficiários exclusivamente por correspondência específica, res-guardando a identidade de cada um. Assim, é muito importante que os associados mantenham seus ende-reços atualizados.

Não obstante, tão logo tenhamos conhecimento do andamento dos processos, será remetida corres-pondência para todos os beneficiados a respeito da situação de cada um.

Ação GDATA – Processo nº 2004.34.00.029140-1 – Restabelecimento da tramitação dos processos de execução com perspectivas de liberações de RPVs e do pagamento dos valores devidos

Na Edição 24 da revista Visão APSEF, apresentamos a situação dos 67 Processos de Execução, autuados em 2012, com vistas ao pagamento dos valores da GDATA reconhecido pela Justiça Federal, dos quais apenas 17 haviam sido pagos.

Nos últimos três meses, houve significativo avanço, uma vez que em 29 processos já foi retomado o trâmite judicial para propiciar o pagamento aos beneficiados, conforme situações a seguir descritas.

Grupo 1. Processo nº 0037332-64.2013.4.01.3400

26 VISÃO APSEF - Julho de 2015

Grupo 2. Processo nº 0033224-89.2013.4.01.3400Grupo 66. Processo nº 0012636-95.2012.4.01.3400

NOVA SITUAÇÃO: A União já se manifestou com relação aos cálculos da Contadoria Judicial e apresentou recurso (Agravo Retido) quanto aos parâ-metros de cálculo estabelecidos pelo Juiz. Logo deverá ser intimada a APSEF para apresentar resposta ao recurso, com vista sobre os cálculos.__________________________________________

Grupo 3. Processo nº 0033221-37.2013.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: A APSEF e a União já se

manifestaram com relação aos cálculos da Contadoria Judicial. Agora o Juiz avaliará as manifestações e pro-ferirá sentença.__________________________________________

Grupo 5. Processo nº 0033222-22.2013.4.01.3400Grupo 13. Processo nº 0027138-39.2012.4.01.3400Grupo 24. Processo nº 0033209-23.2013.4.01.3400Grupo 63. Processo nº 0049914-33.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Os Embargos à Execução

retornaram da Contadoria Judicial. Logo o Juiz intimará a União e a APSEF para se manifestarem em relação aos cálculos judiciais.__________________________________________

Grupo 6. Processo nº 0033220-52.2013.4.01.3400Grupo 61. Processo nº 0016314-84.2013.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: O Juiz já sentenciou os

Embargos à Execução. A União interpôs Recurso de Apelação que será remetido ao TRF para julgamento.__________________________________________

Grupo 7. Processo nº 0033228-29.2013.4.01.3400Grupo 17. Processo nº 0033208-38-2013.4.01.3400Grupo 18. Processo nº 0033226-59.2013.4.01.3400Grupo 21. Processo nº 0033202-31.2013.4.01.3400Grupo 23. Processo nº 0033203-16.2013.4.01.3400Grupo 25. Processo nº 0027135-84.2012.4.01.3400Grupo 36. Processo nº 0033225-74.2013.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: A APSEF e a União já se

manifestaram com relação aos cálculos da Conta-doria Judicial. Agora o Juiz avaliará as manifestações e decidirá os parâmetros de cálculo.__________________________________________

Grupo 14. Processo nº 0027141-91.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: A União já se manifestou

com relação aos cálculos da Contadoria Judicial e apresentou recurso (Agravo Retido) quanto aos parâ-metros de cálculo estabelecidos pelo Juiz. A APSEF já apresentou resposta ao Agravo Retido e se manifestou

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 27

SERVIÇO PÚBLICO

com relação aos cálculos da Contadoria. Os autos estão com o juiz para proferir decisão.__________________________________________

Grupo 12. Processo nº 0027140-09.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Os Embargos estão com a

União para manifestação quanto aos cálculos da Con-tadoria Judicial.__________________________________________

Grupo 26. Processo nº 0027139-24.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Os Embargos estão com a

APSEF para manifestação quanto aos cálculos da Contadoria Judicial.__________________________________________

Grupo 27. Processo nº 0027137-54.2012.4.01.3400

NOVA SITUAÇÃO: O Juiz sentenciou os Embargos, rejeitando os pedidos da União, que recorreu da sen-tença, por meio de Embargos de Declaração. A APSEF deverá ser intimada para apresentar resposta.__________________________________________

Grupo 28. Processo nº 0037028-02.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Nos Embargos à Execução, o

recurso (Embargos de Declaração) da União contra a sentença foi rejeitado. A União ainda pode interpor o chamado Recurso de Apelação.__________________________________________

Grupo 37. Processo nº 0027129-77.2012.4.01.3400Grupo 49. Processo nº 0016317-39.2013.4.01.3400Grupo 55. Processo nº 0012639-50.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Nos Embargos, a APSEF

recorreu da sentença (Embargos de Declaração). A União apresentou resposta (Contrarrazões). Os autos estão com o Juiz para decisão.__________________________________________

Grupo 46. Processo nº 0033214-45.2013.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: O Juiz já sentenciou os

Embargos à Execução. A APSEF e a União já tiveram vista da sentença. Os Embargos serão arquivados e restaurado o trâmite da Execução.__________________________________________

Grupo 60. Processo nº 0033207-53.2013.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: Nos Embargos, a União

recorreu da sentença (Embargos de Declaração). A APSEF apresentou resposta (Contrarrazões). Os autos estão com o Juiz para decisão.__________________________________________

Grupo 65. Processo nº 0012638-65.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: A União interpôs Recurso de

Apelação que será remetido ao TRF para julgamento.__________________________________________

Grupo 66. Processo nº 0012638-65.2012.4.01.3400NOVA SITUAÇÃO: A União já se manifestou

com relação aos cálculos da Contadoria Judicial e apresentou recurso (Agravo Retido) quanto aos parâ-metros de cálculo. n

28 VISÃO APSEF - Julho de 2015

LAZER

A Bariloche brasileiraTransformada em atração turística pela neve, São Joaquim, a cidade mais fria do país, atrai

visitantes de todas as partes no inverno. E o que não falta é lazer na capital da maçã e do vinho

X Carla Lisboa

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 29

LAZER

E ngana-se quem pensa que o turismo brasileiro vive só de praias e de sol. Tempera-

turas baixas, chuva e neve também atraem visitantes de todas as partes do país e até de fora. E convenhamos: ninguém precisa sair do país para curtir as atrações do inverno. Consi-derada a capital da neve no Brasil, a cidade catarinense de São Joaquim, localizada a 227 quilômetros de Flo-rianópolis, é o local ideal para quem gosta de curtir as férias agasalhado, tomando aquele vinho delicioso em contato com a natureza.

Quando chega o inverno, a pacata São Joaquim, com seus pouco mais de 23 mil habitantes, ganha as manchetes dos jornais de todo o país. A 1.353 metros de altitude, registra temperaturas que chegam a dez graus negativos nos meses de junho e julho. Junto com frio, chegam os flocos branquinhos de neve e, com eles, turistas de toda parte. Trata-se de uma ótima

opção de passeio no inverno para quem aprecia esse fenômeno climático.

E quando a neve cai pra valer, até os adultos e idosos se somam às crianças para brincar na neve. É a hora de trazer para a realidade as brincadeiras na neve vistas nos filmes e documentários de TV importados dos países frios. Nessa época do ano, são comuns na cidade as brincadeiras como as guerras de bolas de neve e a construção de bonecos de neve gorduchos. Para enfrentar o frio, as pessoas se vestem de luvas e cachecóis para degustar um bom vinho e curtir um bate-papo perto da lareira ou do fogão a lenha.

Os mais animados partem para o turismo eco-lógico. E não faltam lagos e cachoeiras na região, que chegam a congelar nessa época do ano. Uma boa opção de passeio é o Snow Valley, com suas trilhas ladeadas de xaxins gigantes. As caminhadas nesse local levam a uma típica floresta serrana, rica em fauna e flora.

Lá, os visitantes encontrarão cascatas de até seis andares de altura, como a Cascata dos Piratas, pontes rústicas e um ar puro e saudável. Fica às margens da SC-438, distante 10 Km da cidade, em direção à Serra do Rio do Rastro.

Belas paisagens podem ser obser-vadas também na Serra do Rio do Rastro. Seguindo para Bom Jesus da Serra, são 15 quilômetros de viagem pelas curvas sinuosas da SC-438. A estrada é repleta de mirantes nos quais é possível estacionar com segurança. Se o tempo estiver aberto, vale à pena

contemplar a vista do ponto mais alto, a 1.460 m de altitude.

FRUTICULTURASão Joaquim também é conhecido pela produção

de maçã. O cultivo da fruta é a principal atividade econômica da cidade. É possível ver, nos arredores do município, pelas estradas vicinais da região, pequenas plantações da fruta ao lado das casas simples dos

E quando a neve cai pra valer, até os adultos e idosos se somam às crianças para brincar na neve. É a hora de trazer para a realidade as brincadeiras na neve vistas nos filmes e documentários de TV importados dos países frios

30 VISÃO APSEF - Julho de 2015

fruticultores. Uma das atrações da cidade é o Parque Nacional da Maçã, a dois quilômetros do centro. Com 214 m², possui áreas para camping, cancha de laço, pavilhões de exposições e palco para show. No local acontecem feiras e leilões agropecuários e a tradi-cional Festa Nacional da Maçã.

Em abril, época da colheita, a cidade se enfeita durante dez dias para a festa, com direito a shows e à venda de delícias à base de maçã, como strudel, tortas, bolos, compotas, licores, geleias, chás e bombons, tudo feito com a fruta. O fato é que o clima frio transformou o município na região produtora da melhor maçã do Brasil. Ao redor da cidade há grandes plantações do tipo fuji e gala, que dominam o cenário. O ano todo barraquinhas nas ruas vendem as frutas, enormes e docinhas.

É também considerada a terra do bom vinho. Uma delícia esquentar o corpo saboreando o vinho das vinícolas locais, como a Villa Francioni e a Casa do Vinho. Considerada uma das mais bonitas do país, Villa Francioni oferece visita guiada, com duração de uma hora e meia. Durante o passeio, são explicadas

as etapas de produção do vinho e há degustação das bebidas produzidas no próprio local. Quem estiver disposto a caminhar pode conhecer a produção de vinho da Vinícola Villaggio Bassetti. Ou, se pre-ferir o contato com a natureza, a atração é o Parque Nacional da Uva.

Quem gosta de conhecer em detalhes a cidade que está visitando, recomenda-se um pulo no Museu His-tórico Municipal São Joaquim Chateaubriand, que conta um pouco da história da cidade, da região e de seus habitantes e costumes. Trata-se de um museu com um belo acervo histórico e com exposições temáticas que resgatam a memória do município, abrangendo o ciclo madeireiro, colonizadores e tropeirismo.

São Joaquim oferece aos visitantes hotéis e pou-sadas de excelência, como o Fogo Eterno (Pousada de Altitude), o Hotel Incomol, Hotel Pousada Branca De Neve, Pousada Monte Carlo e o São Joaquim Park Hotel. Os restaurantes também não deixam a desejar. As melhores opções são o Restaurante Pequeno Bosque, o Rosário, o Divino Grão, o La Fondue Cristal de Gelo, o Boulevard Café Colonial e o Vento Minuano Grill. n

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 31

FIQUE LIGADO

Empréstimos consignados sob suspeita

Lobista confessa ao MPF, em delação premiada, que a

Consist repassava dinheiro para a sua

empresa, a Jamp, a qual financiava políticos e campanhas do PT

X Washington Sidney

32 VISÃO APSEF - Julho de 2015

O s empréstimos consignados podem ter sido usados para pagamento de propina a polí-ticos do PT e financiado campanhas do

partido. Foi o que anunciou o juiz Sérgio Moro, ao ordenar a prisão do ex-vereador Alexandre Corrêa Romano (PT-SP), de Americana, durante a 18ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o juiz, Romano é suspeito de ser um dos operadores do pagamento de propinas por meio de contrato assinado pelo Minis-tério do Planejamento. A suspeita se baseia em depoimento do lobista Milton Pascowitch ao Minis-tério Público Federal, em acordo de delação premiada.

A Polícia Federal apurou que, por intermédio do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, pelo menos R$ 52 milhões foram desviados e “esquentados” por empresas de fachada e escritórios de advocacia que prestavam serviços fictícios para a Consist, empresa de informática que gere o sistema de pagamentos con-signados no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, segundo documentos obtidos por um jornal carioca.

Acusado de manter empresas de fachada para intermediar o pagamento de propina a políticos, Pascowitch, segundo divulgado, recebeu milhões da Consist por meio de uma de suas empresas, a Jamp, que teve as contas devassadas pela Receita Federal, efetivando repasses que ocorreram a partir de 2011 – depois que o ministério firmou acordo com entidades bancária e de previdência para que a Consist acessasse dados de dois milhões de servidores federais – até junho deste ano. Bancos remuneram a Consist para informar a eles a margem para empréstimo aos servidores do governo federal. A empresa também recebe por cada registro de valor descontado em folha.

Milton Pascowitch contou ao MPF que os con-tatos com a Consist se dariam com o presidente da empresa, Pablo Alejandro Kipersmit, preso na

17ª fase da Operação Lava Jato e já em liberdade, e com o diretor jurídico Valter Silverio Pereira. O juiz Sergio Moro afirmou, em sua decisão, que Pascowitch teria intermediado a transferência de valores da Consist, com denomi-nação alterada posteriormente para SWR Informática, para o PT por intermédio do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

SUSPEITASO acordo de cooperação que deu à Consist acesso

à folha de pagamento de servidores foi celebrado pelo governo federal com a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp), em 2010. No mesmo ano, o Instituto Brasileiro de Licitações Públicas (IBL) denunciou ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria Geral da União (CGU) que o acordo

A suspeita se baseia em depoimento do lobista Milton Pascowitch ao Ministério Público Federal, em acordo de delação premiada.

Milton Pascowitch contou ao MPF que os contatos com a Consist se dariam com o presidente da empresa, Pablo Alejandro Kipersmit, preso na 17ª fase da Operação Lava Jato e já em liberdade, e com o diretor jurídico Valter Silverio Pereira

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 33

FIQUE LIGADO

com as entidades teve como objetivo apenas permitir à Consist uma oportunidade de negócio sem participar de processo licitatório.

O IBL também considerou o acordo prejudicial ao governo – que antes recebia R$ 1,50 por registro de empréstimo em folha e, com a chegada da Consist, passou a receber R$ 0,95. O IBL alertou que o mesmo serviço poderia ser oferecido pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que desenvolvia ferramenta com função similar. O TCU confirmou que o Serpro deixou de desen-volver a solução em 2009 “por decisão política da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento”. E criticou o fato de o assunto não ter sido submetido ao exame da consultoria jurídica do ministério, mas entendeu, por fim, que a União não deveria ser “intermediária em relações privadas”.

A divulgação das investigações da 18ª fase da Operação Lava Jato e do envolvimento da Consist

em esquema de pagamento de propinas reforçou as suspeitas dos servidores públicos ativos, apo-sentados e pensionistas sobre as fraudes que eles vêm denunciando nos empréstimos consig-nados. Muitos servidores têm recebido descontos em seus contracheques sem nunca terem feito qualquer tipo de operação desse gênero.

“Lendo reportagem em O Globo, chega-se à conclusão de que, para permitir a trambicagem, o Ministério do Planejamento enfraqueceu o SERPRO, pois este sempre foi responsável pelo processamento da folha do SIAPE e, por con-sequência, das consignações, sem que houvesse tanta consignação-fantasma no nosso contra-cheque”, desabafou uma associada da APSEF, que pediu para não ser identificada, com receio de algum tipo de constrangimento.

Em correspondência anterior à Associação, ela alega que sofreu descontos de um empréstimo não contraído. “Sofri durante três meses para que fosse retirado o desconto, mas com relação aos valores des-contados indevidamente, fiquei no prejuízo...”

A associada também critica a suspensão da emissão dos con-tracheques para aposentados e pensionistas sob a alegação de eco-nomia (Portaria 73, de abril de 2015, expedida pela Secretaria de Gestão do Ministério do Plane-

jamento), e ainda impõe a obrigação de que todos devem informar um email pessoal para esse fim. “Ora, a grande maioria dos aposentados não conhece nem acessa a internet, e agora se vê obrigada a pedir auxílio a algum parente para ter o simples direito de consultar o próprio contracheque. Absurdo! Nós contribuímos com a economia de recursos e agora sabemos que o dinheiro beneficia uma empresa alvo da Lava Jato”, criticou.

“ A grande maioria dos aposentados não conhece nem acessa a internet, e agora se vê obrigada a pedir auxílio a algum parente para ter o simples direito de consultar o próprio contracheque. Absurdo!”

34 VISÃO APSEF - Julho de 2015

Novo alerta sobre golpesA APSEF mais uma vez alerta

os seus associados sobre golpes que vêm sendo aplicados por entidades que, dizendo-se representantes de servidores públicos, têm oferecido o ingresso de ações judiciais plei-teando a revisão dos seus proventos de aposentadoria ou de pensão.

Nesses contatos, essas entidades informam que o aposentado ou o beneficiário de pensão tem direito ao recebimento dos proventos em valor maior que o atual, enganando os desprevenidos com a ilusão de que também receberão os valores atrasados, o que pode resultar em cifras consideráveis. De imediato, já solicitam o pagamento das custas processuais decorrentes do ingresso da ação jurídica, bem como o pre-enchimento de documentação, que dá origem à filiação e ao desconto da mensalidade nos contracheques.

Os associados devem se pre-caver em caso de contatos dessas entidades, uma vez que as ações jurídicas propostas nesses termos não têm qualquer legitimidade perante o Poder Judiciário, considerando-se que, em caso de incorreção nos proventos, deve ser acionada a Unidade de Pagamento do órgão ao qual está vin-culado o associado para os acertos decorrentes, com pagamento de atrasados, caso seja devido.

No caso dos aposentados e dos pensionistas, somente são interpostas ações judiciais, pela

APSEF, quando há o descumprimento de dispo-sições da Constituição Federal, principalmente no que se refere à igualdade de tratamento com os ser-vidores ativos, o que não se configura no presente caso. Portanto, mantenham-se vigilantes e evitem acreditar em pessoas estranhas, com promessas absurdas, por meio de correspondências ou até mesmo através de ligações telefônicas. n

Os associados devem se precaver em caso de contatos dessas entidades, uma vez que as ações jurídicas propostas nesses termos não têm qualquer legitimidade perante o Poder Judiciário, considerando-se que, em caso de incorreção nos proventos, deve ser acionada a Unidade de Pagamento do órgão ao qual está vinculado o associado para os acertos decorrentes

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 35

Portaria 73 restringe o direito do aposentado ao seu contrachequeA Secretaria de Gestão Pública (SEGEP), do

Ministério do Planejamento, expediu, no dia 6 de abril deste ano, a portaria SEGEP/MPOG nº 73/2015, a qual estabelece que os comprovantes de rendimento de servidores ativos, aposentados e pensionistas da União serão disponibilizados exclusivamente por meio digital (internet).

Atendendo a solicitação de muitos associados, transcrevemos o conteúdo da referida Por-taria para conhecimento geral, em face da pouca divulgação dada pelo MP e considerando que as novas regras terão aplicação quase imediata, o que, consequentemente, acarretará grande e pre-judicial repercussão sobre importante parcela dos servidores públicos: os aposen-tados e os beneficiários de pensão, visto que a maioria tem pouco ou nenhum acesso a computadores e à internet.

É bem possível ou quase certo, jus-tamente pelo pouco ou nenhum acesso aos meios eletrônicos, que fiquem impossibilitados de terem acesso a seus contracheques. Além disso, a iniciativa demonstra uma total e incompreen-sível postura ditatorial, visto que as regras estabelecidas não levam em consideração os princípios emanados rela-tivamente ao tratamento ao idoso constantes do Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº 10.741/2003, e nem as dificuldades que devem enfrentar. Senão vejamos:

a) em se tratando de acesso ao contracheque, por-tanto de caráter estritamente individual, exige-se email de uso pessoal para ser informado ao órgão de recursos humanos a que esteja vinculado, a quem compete a infor-mação e atualização no SIAPE;

b) o órgão de recursos humanos está exigindo a presença do apo-sentado ou pensionista, não aceitando o fornecimento por familiar ou pro-curador constituído, nos casos de impossibilidade de locomoção, sobretudo quando residem no interior do país, onde sequer existe Unidade Local de Recursos Humanos, ense-jando a necessidade de deslocamento

para outros municípios;c) o completo desconhecimento do acesso de aposen-

tados e pensionistas ao SIAPE, pois, no caso da APSEF, por exemplo, apenas 5% dos associados têm email pessoal, em virtude de não terem acesso a computador ou à internet.

d) no recadastramento anual de 2015, a partir de maio, as agências do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica não solicitam qualquer informação sobre o email pessoal, apenas apresentam o formulário para confirmação dos

É bem possível ou quase certo, pelo pouco ou nenhum acesso aos meios eletrônicos, que os idosos fiquem impossibilitados de terem acesso a seus contracheques

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36 VISÃO APSEF - Julho de 2015

dados existentes, demonstrando, dessa forma, a omissão da SEGEP para viabi-lizar a implementação da Portaria 73.

Por outro lado, merecem destaque algumas constatações que enfraquecem e causam perplexidade a fundamentação da SEGEP para expedir a tão falada Por-taria 73 , quais sejam:

“a constante busca da eficiência e da economicidade no processamento da Folha de Pagamento do Poder Executivo federal”, visto que:

1º – o procedimento do próprio Ministério do Planejamento tornado público recentemente, que transferiu para uma empresa privada o proces-samento das consignações, a qual, segundo o noticiário nacional, está implicada na Operação Lava Jato, de conhecimento geral. Nesse con-texto, segundo a mídia, o presidente da CONSIST declarou que o MP dis-ponibilizou os dados cadastrais e financeiros de todos os servidores públicos federais (além daqueles previstos na Lei de Transparência), permitindo que ficássemos à mercê das financeiras e da rede bancária para oferecimento de seus produtos, prin-cipalmente o empréstimo consignado, mediante emails, cartas e telefonemas, quando informam a margem con-signável de cada um. A empresa passou a ser remunerada por cada consignação;

2º – recentemente, a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, integrante da estrutura do Ministério da Justiça, constituiu grupo de trabalho interministerial para discutir projeto visando a acabar com as brechas legais e assegurar formas de proteger os dados pessoais dispo-níveis na web, ou seja, o próprio governo, mesmo ainda buscando preservar dados dos cidadãos, pretende usar a internet como único meio de os servidores acessarem seus comprovantes de rendimentos, os quais circulam,

sem qualquer respaldo legal, através de convênio firmado pela própria Pasta ministerial.

Diante desse contexto, foi solicitada nota jurídica a respeito da expe-dição da referida Portaria 73, a qual subsidiou a divulgação do seguinte entendimento a respeito da disponibi-lização dos nossos contracheques:

1. qualquer motivo que impeça o acesso ao contracheque unicamente

pela internet (aposentado que resida em uma região com acesso restrito à rede mundial de computadores ou com pouca familiaridade com as ferramentas digitais) fere o art. 5º, XXXIII da Constituição, ou seja, embora não haja uma lei contrária à prática instituída pela Portaria SEGEP/MPOG nº 73/2015, o princípio da publicidade fica mitigado com a limitação do acesso aos contra-cheques somente por meio eletrônico;

2. o Estatuto do Idoso aprovado por lei tem o objetivo de oferecer garantias à população idosa e protegê-la de arbitrariedades, de forma a capacitar e a incentivar a sua autossuficiência e independência. A situação que a Portaria SEGEP/MPOG nº 73 criou vai obrigar muitos aposentados a terem que solicitar ajuda a outra pessoa para terem acesso a seus contracheques;

O Estatuto do Idoso aprovado por lei tem o objetivo de oferecer garantias à população idosa e protegê-la de arbitrariedades, de forma a capacitar e a incentivar a sua autossuficiência e independência

Julho de 2015 - VISÃO APSEF 37

3. idênticas dificuldades podem ser enfrentadas por qualquer servidor que não tenha amplo acesso a computadores, a quem a Lei de Acesso à Informação garante a disponibilização de informações;

4. considerando que a Portaria 73 não atentou para essas especificidades passíveis de serem encontradas dentro do Serviço Público Federal que ela regula, o aposentado ou pensionista que se sinta preju-dicado com a disponibilização do documento apenas por meio eletrônico deverá requerer à Unidade de Recursos Humanos a que esteja vinculado a conti-nuidade do recebimento do seu contracheque em sua residência, fundamentando seu pedido justamente na Lei de Acesso à Informação, no Estatuto do Idoso e no art. 5º, XXXIII, da CF/88, tão logo cesse o rece-bimento do mesmo.

5. na hipótese de recusa do Ministério do Planeja-mento em manter a remessa mensal do contracheque e, portanto, de informações públicas, deverá ser

comunicada a recusa à APSEF para a adoção de medidas pertinentes para que o princípio da publi-cidade dos atos públicos seja aplicado pela SEGEP em toda a sua extensão aos seus associados, assegurando àqueles prejudicados a garantia da disponibilização do contracheque por meio físico em sua residência.

Finalmente, oportuno observar que o art. 4º da Portaria 73 estabelece que “os comprovantes de ren-dimentos deixarão de ser emitidos e enviados pelos Correios a partir do mês seguinte ao cadastramento do endereço de correio eletrônico (e-mail), para os aposentados, pensionistas e dos anistiados políticos civis, de que trata a Lei nº 10.559, de 2002.

Portanto, caso o associado não proceda ao cadastramento do email por não possuí-lo, nos termos do acima previsto, deverá permanecer rece-bendo seu contracheque e, se for suspenso o envio pelos Correios, deverá proceder na forma indicada nos itens 4 e 5.

Caso o associado não proceda ao cadastramento do email por não possuí-lo, nos termos do acima previsto, deverá permanecer recebendo seu contracheque e, se for suspenso o envio pelos Correios, deverá proceder na forma indicada nos itens 4 e 5

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SECRETARIA DE GESTÃO PÚBLICA – PORTARIA Nº 73, DE 6 DE ABRIL DE 2015

Dispõe sobre o acesso por meio do Portal aos comprovan-tes de rendimentos dos servidores, aposentados, pensionistas e empregados públicos da Administração Pública Federal dire-ta, das autarquias e das fundações públicas vinculadas ao Po-der Executivo Federal, acerca da obrigatoriedade de informa-ção do endereço eletrônico (e-mail), e dá outras providências.

O SECRETÁRIO DE GESTÃO PÚBLICA, no uso das atribui-ções que lhe conferem os incisos II, III e IX do art. 26 do Ane-xo I ao Decreto nº 8.189, de 21 de janeiro de 2014, conside-rando a constante busca da eficiência e da economicidade no processamento da Folha de Pagamento do Poder Executivo Federal, resolve:

Art. 1º Os comprovantes de rendimento dos servidores, aposentados, pensionistas e empregados públicos da Admi-nistração Pública Federal direta, das autarquias e das funda-ções públicas vinculadas ao Poder Executivo Federal somente poderão ser acessados por meio de autenticação, por senha individual, no Portal do Servidor.

Parágrafo único. O disposto no caput também se aplica:I – aos militares oriundos dos ex-territórios federais;II – aos anistiados políticos de que trata a Lei nº 10.559, de

13 de novembro de 2002; eIII – ao pessoal contratado com fundamento na Lei nº

6.932, de 07 de julho de 1981, na Lei nº 8.745, de 09 de dezem-bro de 1993, e na Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008.

Art. 2º É obrigatória a informação no Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (SIAPE) do endereço de correio eletrônico (e-mail) de uso pessoal, o qual será con-siderado como meio principal de comunicação, para os fins desta Portaria, com os servidores, aposentados, pensionistas, empregados públicos e aqueles indicados no parágrafo único do art. 1º desta Portaria.

Art. 3º As unidades de Recursos Humanos deverão manter atualizado no SIAPE o endereço de correio eletrônico (email) dos servidores, aposentados, beneficiários de pensão, empre-gados públicos e daqueles indicados no parágrafo único do art. 1º desta Portaria.

Parágrafo único. A atualização do endereço de correio

eletrônico (e-mail) dos servido- res aposentados e pen-sionistas da Administração Pública Federal que recebem seus proventos pelo SIAPE e dos anistiados políticos civis, de que trata a Lei nº 10.559, de 2002, será realizada anualmente no processo de atualização cadastral, sempre no mês de aniver-sário, observada a Orientação Normativa nº 1, de 10 de janeiro de 2013.

Art. 4º Os comprovantes de rendimentos deixarão de ser emitidos e enviados pelos Correios a partir:

I – da folha de pagamento referente ao mês de maio, para os servidores ativos;

II – da folha de pagamento referente ao mês de junho, para os aposentados e beneficiários de pensão, e daqueles indicados no parágrafo único do art. 1º, item II desta Portaria, que tenham endereço de correio eletrônico (email) cadastrado no SIAPE; e

III – do mês seguinte ao cadastramento do endereço de correio eletrônico (e-mail) para os aposentados, pensionistas e os anistiados políticos civis, de que trata a Lei nº 10.559, de 2002.

Art. 5º Esta Portaria entra em vigor na data de sua pu-blicação.

Publicada no DOU de 07/04/2015.

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