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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS CACOAL DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS EM ÂMBITO MUNICIPAL FELIPE BERNARDINO DOS SANTOS CACOAL/RO 2008

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Page 1: EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS EM ÂMBITO MUNICIPAL‡ÃO DE MEDIDAS... · de Curso de Ciências Jurídicas, sobre o tema: Edição de Medidas Provisórias em Âmbito Municipal,

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS CACOAL

DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO

EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS EM ÂMBITO MUNICIPAL

FELIPE BERNARDINO DOS SANTOS

CACOAL/RO 2008

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FELIPE BERNARDINO DOS SANTOS

EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS EM ÂMBITO MUNICIPAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus Cacoal, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof. Silvério dos Santos Oliveira.

CACOAL/RO

2008

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FELIPE BERNARDINO DOS SANTOS

EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS EM ÂMBITO MUNICIPAL

AVALIADORES

____________________________________________________ _________ Nome do 1º Avaliador – Instituição ____________________________________________________ _________ Nome do 2º Avaliador – Instituição ____________________________________________________ __________ Nome do 3º Avaliador – Instituição

_________________ Média

Cacoal/2008

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PARECER DE ADMISSIBILIDADE DO PROFESSOR ORIENTADOR

O acadêmico Felipe Bernardino dos Santos, desenvolveu o Trabalho de Conclusão

de Curso de Ciências Jurídicas, sobre o tema: Edição de Medidas Provisórias em Âmbito

Municipal, obedecendo aos critérios do Projeto de Monografia do Departamento de Direito da

Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Campus de Cacoal/RO.

O acompanhamento foi efetivo por este Orientador e o desenvolvimento do trabalho

observou os prazos fixados pelo Departamento de Direito.

Assim, o acadêmico está apto à apresentação expositiva de sua Monografia junto à

Banca Examinadora.

Ji-Paraná, 13 de março de 2008.

SILVÉRIO DOS SANTOS OLIVEIRA

Professor Orientador

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................08

1. TEORIA POLÍTICA DO ESTADO E A SEPARAÇÃO DOS PODERES...........11 1.2 CONCEITO DE PODER.............................................................................................11 1.3 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.................................................................13

2. O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DO PODERES NO BRASIL..........................17 2.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SEPARAÇÃO DOS PODERES NA CONSTITUIÇÃO ATUAL................................................................................................17

2.3 O PRINCÍPIO REPUBLICANO..................................................................................22 3. TOPOGRAFIA NORMATIVA....................................................................................25

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA.........................................................................25 3.2 INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL A RESPEITO DA HIERARQUIA DAS NORMAS.............................................................................................................................32

4. AUTONOMIA MUNICIPAL......................................................................................37

4.1 ORGANIZAÇÃO POLÍTICA NACIONAL................................................................37 4.2 O MUNICÍPIO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988.........................................................38 4.3 AUTONOMIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS..................................................40 4.4 REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS REFERENTES AO MUNICÍPIO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.................................................................................42

5. MEDIDAS PROVISÓRIAS.NA SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988....................................................................................................45 5.1 HISTÓRICO.................................................................................................................45 5.1.2 O Decreto-lei.............................................................................................................46 5.1. As Medidas Provisórias e os Decreto-leggi................................................................47 6. TEORIA GERAL DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS...............................................50 6.1 CONCEITO ................................................................................................................50 6.2 NATUREZA JURÍDICA.............................................................................................51 6.3 PESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DAS MEDIDAS PROVISÓIRAS.....................53 6.3.1 Formais......................................................................................................................53 6.3.2 Materiais....................................................................................................................53 6.4 PROCESSO LEGISLATIVO DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS...............................54

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7. EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS PELOS CHEFES DO EXECUTIVO MUNICIPAL.....................................................................................................................57 7.1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO TEMA...........................................................57 7.2 MEDIDAS PROVISÓRIAS COMO ESPÉCIES NORMATIVAS ÍNSITAS AO ORDENAMENTO JURÍDICO MUNICIPAL...................................................................59 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................62 9. REFERÊNCIAS............................................................................................................64 10.ANEXOS.......................................................................................................................67

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RESUMO

SANTOS. Felipe Bernardino dos. Edição de Medidas Provisórias em Âmbito Municipal, 71 folhas, Trabalho de Conclusão de Curso. Fundação Universidade de Rondônia – Campus Cacoal, 2008.

O presente trabalho tem por objetivo sustentar a possibilidade de os Chefes do Executivo Municipal editarem Medidas Provisórias. Neste diapasão, o tema foi desenvolvido do contexto mais abrangente até o mais específico. Num primeiro momento, faz-se uma análise do Estado Brasileiro e o nível de maturidade política da sociedade, seguindo-se a análise dos princípios da separação dos poderes e da hierarquia normativa. Posto isto, analisa-se a posição jurídica dos Municípios na Federação brasileira, justificada pelo princípio da autonomia. Uma vez feitas tais considerações, expõe-se sobre o histórico das MP’s, e sobre como ocorre a elaboração das MP’s, cujas disposições também devem ser observadas pelos Municípios. Por fim, defende-se que as Medidas Provisórias são instrumentos ínsitos aos ordenamentos jurídicos municipais, desde que se respeitem as seguintes regras: a observância do mínimo constitucional, vale dizer, o artigo 62 e a Resolução nº 01/2002, e o disposto na Constituição Estadual do respectivo Estado. Palavras-chaves: Medidas Provisórias. Poder Executivo. Municípios. Princípios. Constituição.

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ABSTRACT

SANTOS. Felipe Bernardino dos. Edition of Provisory Law in Municipal Competence, 71 pages, Monography. Foundation Federal University of Rondônia - Cacoal Campus, 2008.

The present paper has the objective to prove the possibility that the Executive Chefs of the Counties edit “Provisory Laws”. Therefore, the theme was presented from the most wide context to the most specific one. In a first moment, an analyzes of the Brazilian State and the political maturity level of the society, and following up the analyzes of the Separation of the Power and the Law Hierarchy.After this, it is intended to be analyzed the juridical position of the Counties in the Brazilian Federation, justified by the Principle of the Autonomy. Once these considerations are explained, this paper brings historical aspects about the “Provisory Laws”, whose dispositions must also be observed by the Counties. At last, this paper defends that the Provisory Laws are instruments able to be used in the municipal ordainments, since the following rules: the observation of the constitutional minimum, that is, the article 62 (CF) and the Resolution nº 01/2002, and what is disposed in the State Constituition of the respective State.

Keywords: Provisory Law. Executive Power. Counties. Principals. Constitution.

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INTRODUÇÃO

As Medidas Provisórias são espécies normativas, cuja justificativa depreende-se do

inciso V do artigo 59 da Constituição Federal (CF). Na condição de espécie normativa, as

Medidas Provisórias prescindem de processo legislativo, no qual serão analisadas as

disposições do artigo 62 e dos seus incisos e parágrafos, bem como seus dois mais

importantes requisitos: a relevância e a urgência. As referidas espécies normativas constituem

o meio pelo qual o Chefe do Executivo exerce a função atípica de legislar, porém sem ferir o

princípio da separação dos poderes.

O exposto acima demonstra parcialmente uma característica maior do Estado

Brasileiro, insculpido inclusive no primeiro artigo da Carta Magna: ele se constitui em um

Estado Democrático de Direito cujo significado, sob a ótica moderna, é a realização do bem-

estar de seus cidadãos, uma vez que são eles que detêm a soberania, sendo tal assertiva visível

em diversas passagens do Texto Áureo. Assim, os representantes do povo devem agir de

modo a promover este bem-estar a quem lhes investiu de poder.

Quando se fala na divisão dos poderes, tem-se, de modo sucinto: o Legislativo elabora

as Leis, dotadas de abstração e generalidade, que passam pela sanção ou veto do Chefe do

Executivo; o Executivo, encarregado de executar as leis e de gerir a máquina estatal; e por

fim, o Judiciário, que tem por incumbência a aplicação da lei. Trata-se da divisão clássica.

Contudo, diante das exigências no que tange à gerência dos assuntos estatais, surgiu a

necessidade de que os Poderes exercessem funções típicas dos outros Poderes.

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Neste contexto, o Poder Executivo, além das funções de executar as leis e gerenciar a

máquina estatal, passa a exercer a função de legislar, por meio das medidas provisórias, nos

ditames do artigo 62 da CF.

Diante das considerações acerca das medidas provisórias em si, indaga-se a respeito da

possibilidade de os Municípios também editarem estes instrumentos.

No primeiro capítulo, faz-se uma abordagem do Estado Brasileiro, a perspectiva desta

entidade a respeito da função para a qual foi criada.

No segundo capítulo, encontram-se considerações sobre a separação dos poderes e

sobre o princípio republicano.

No terceiro capítulo, esboça-se sobre a hierarquia das normas à luz da teoria do

ordenamento jurídico, de Norberto Bobbio, cujo teor oferece lógica de como uma norma

municipal deve ser elaborada face à Constituição.

No quarto capítulo, trata-se da autonomia municipal, das competências e do caráter

legislativo municipal, que deve ser marcado pelo interesse local.

No quinto capítulo, verifica-se o histórico das medidas provisórias e a influência que o

instrumento recebeu do direito italiano.

No sexto capítulo, são feitas considerações a respeito da teoria geral das Medidas

Provisórias, seus requisitos e processo legislativo.

Por fim, no sétimo capítulo, explana-se sobre a possibilidade de os Municípios

preverem Medidas Provisórias em seus ordenamentos jurídicos, tendo por base os princípios

da separação dos poderes, da simetria, da autonomia dos entes políticos, além da interpretação

das normas constitucionais quanto a esta possibilidade.

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1.TEORIA POLÍTICA DO ESTADO E A SEPARAÇÃO DOS PODERES 1.2 CONCEITO DE PODER

Como poder, pode-se entender que se trata de uma obrigação imposta aos integrantes

de um determinado grupo com o fim de impelir o cumprimento das imposições por parte de

todos, posto que isto se dá em virtude de um estabelecimento de uma ordem geral construída e

aceita pela coletividade integrante.

O poder é um elemento inerente à natureza humana. Nas palavras de Azambuja1, “a

essencialidade do poder nos grupos humanos é um fato. Homem, sociedade e poder são um

trinômio indestrutível. Sempre existiu e existirá sempre. Se viverem sobre a Terra sociedade

onde não haja poder desaparecem sem deixar vestígios.”

É uma condição psicológica que o ser humano traz consigo. Trata-se dos sentimentos

que ele experimenta quando participa de grupos sociais. Exemplos de tais sentimentos são o

amor, a piedade, a amizade e a simpatia, tidos como saudáveis e são sempre incentivados, ao

passo que este mesmo homo sapiens sapiens pode ser acometido de raiva, ódio, egoísmo e

vaidade excessiva, constituindo o lado oposto da exteriorização das emoções.

Apesar de o homem possuir sua porção biológica, que corresponde aos seus impulsos

das mais diversas ordens, traduzindo-se nos sentimentos descritos acima, o ser humano é um

ser social que deve observar as regras de conduta de seu grupo. Para o direito, obviamente, a

observância dirige-se às normas de direito que, sob a ótica da teoria positivista que o Estado 1 AZAMBUJA Darcy, Introdução à Ciência Política, Editora Globo, 14ª Edição, p. 48

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Brasileiro adotou parcialmente, partem da Instituição máxima em um território que concentra

um povo detentor de hábitos e cultura comuns: o Estado.

O poder institucionalizado constitui-se a partir do momento que uma estrutura

organizada é criada para realizar a função social, sempre submetida a um grupo de regras

estabelecidas previamente. Nas palavras de Lapierre2:

o poder é um fenômeno sócio-cultural. Quer isto dizer que é fato da vida social. Pertencer a um grupo social é reconhecer que ele pode exigir certos atos, uma conduta conforme com os fins perseguidos; é admitir que pode nos impor certos esforços custosos, certos sacrifícios; que pode fixar, aos desejos, certos limites e prescrever, às nossas atividades, certas normas.

Sobre o exposto acima, segundo Silva3, que leciona magistralmente:

“O Estado detém poder sobre todas as outras instituições que possivelmente faça parte da vida das pessoas. A sociedade estatal compreende diferenciados grupos e indivíduos, aos quais o poder político tem que coordenar e impor regras e limites em função dos fins globais que a todos os outros poderes sociais, os quais reconhece, rege e domina, visando a ordenar as relações entre estes grupos e os indivíduos entre si e reciprocamente, de maneira que a manter um mínino de ordem e estimular um máximo de progresso à vista do bem comum.”

A superioridade que possui o Estado lhe confere a soberania, que é a defesa em

relação aos poderes externos, caracterizados por outros Estados também detentores de

Soberania. Esta mesma superioridade também lhe confere supremacia sobre todos os poderes

inferiores à mesma sociedade estatal.

Portanto, conforme o exposto acima, o Estado concentra o poder máximo. E qual seria

o fim do Estado? Certamente se trata do desenvolvimento humano, destinatário final da

criação da entidade estatal.

2 LAPIERRE, Jean-William, A Política do Povo, apud AZAMBUJA Darcy, Introdução à Ciência Política, Editora Globo, 14ª Edição, p. 50. 3 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16ª ed., São Paulo: Malheiros, 1999, p. 108.

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1.3 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

As sociedades modernas, tendo em vista as que já se encontram em níveis de

complexidade maior no que diz respeito à convivência social, têm como entidade máxima o

Estado. Sendo uma criação abstrata, para a gerência de interesses plurissubjetivos, deve, antes

de mais nada, ser fundado na vontade de quem o investiu de autoridade, ou seja, o corpo

social, primando pela inserção de todos os cidadãos na realidade estatal.

É cediço que a natureza humana é social, que os seres humanos vivem em sociedade e

nela realizam suas aspirações, seus talentos, aprimorando de forma contínua a evolução que

de longa data ocorre. Em se tratando de evolução, a forma de dizer o direito passou a ter

fundamento legal, ou seja, é função de um órgão competente para tal, com poder delegado de

seu povo e para este mesmo povo, com o intuito de promover o bem estar dos cidadãos. São

princípios lançados alguns séculos atrás, com a Revolução Francesa, evento este que viu a

Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, o objetivo primordial do Estado é de

manter a harmonia em seu meio, tendo por base modelos de conduta surgidos na necessidade

da própria sociedade se perpetuar.

Uma análise brilhante sobre a perspectiva do Estado é dada por Miguel Reale,

acentuando que a Teoria Geral do Estado pressupõe a Filosofia do Direito e do Estado, mas

não se confunde com ela. Focaliza amplamente o Estado nos seus três aspectos – material,

formal e teológico – ao mesmo tempo em que analisa o fenômeno do poder como realidade

social, política e jurídica. Assim o ilustre e póstumo professor define a Teoria Tridimensional

do Direito, que reúne as verdades parciais numa verdade integral, oferecendo um conceito

amplo e exato da Teoria Geral do Estado.

É o Estado o realizador da oportunidade que o povo detém de tomar parte no processo

de desenvolvimento de suas potencialidades. A razão pela qual o Estado é criado, assim, é a

satisfação das necessidades de seus membros para que eles possam alcançar um melhor bem-

estar social, educacional e econômico.

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Com estas palavras, de maneira breve, delineia-se os contornos do Estado Social de

Direito que, em oposição ao Estado Liberal, deixou de ser neutro, formal e individualista para

se transformar em Estado material de Direito, enquanto adota uma dogmática que pretende

realizar a justiça social. Caracteriza-se pela tentativa de compatibilizar dois elementos: o

capitalismo, como forma de produção, e a consecução do bem-estar social geral.

Kelsen teorizava que, do ponto de vista da ciência jurídica, direito e Estado se

confundem.4 O direito seria um conjunto de normas, uma ordem coativa, que impõe

prescrição aos comportamentos dos subordinados a esta ordem jurídica. E o Estado, neste

sentido, nada mais é senão um conjunto das normas que prescrevem uma sanção de forma

mais organizada.

Contudo, o Estado não é somente uma realidade formal, sustentada por lei, é acima disto a

entidade responsável pela concretização do ideal social para a sociedade. Para Silva5, o

Direito, e conseqüentemente o Estado, não pode se confundir com um mero enunciado formal

de lei, destituído de qualquer conteúdo, sem compromisso com a realidade política, social e

econômica, porque se assim o for, esta doutrina converte o Estado de Direito em mero Estado

Legal de Direito.

Portanto, o Estado deve promover o processo de convivência em uma sociedade livre

e justa, na qual o poder emana do povo e deve ser exercida em prol deste, concretizando,

desta forma, a participação crescente do povo, induzindo-o à participação do diálogo social, a

fim de que por a sociedade possa expor o que deve ser melhorado para o bem-estar social.

Frise-se: apenas neste dia, quando o povo tomar consciência de seu papel político, haverá

mudanças consideráveis na estrutura social de um qualquer sociedade que ainda careça de

solidez de suas instituições constitucionais.

O Estado do Bem-Estar funda-se no respeito aos direitos e garantias individuais,

construindo suas bases e princípios sobre este alicerce.

4 Kelsen, Hans. Teoria Pura do Direito, p. 411. 5 SILVA, José Afonso da. Ob. Cit.

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Analisando-se os fundamentos trazidos na Constituição Brasileira, perceber-se-á que o

Estado Brasileiro instituiu certos fundamentos, quais sejam, a soberania, a cidadania, a

dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo

político. Tais fundamentos, uma vez herdados da Revolução Francesa, que instituiu o Estado

Liberal, na nova ordem constitucional brasileira adquiriram uma nova acepção, a de velar pela

realização do bem-estar social.

Particularmente no caso do Brasil, muitas foram as vezes que estes fundamentos

foram depreciados em favor de grupos dominantes. Desde os primórdios coloniais, quando

vigoravam as Ordenações Reais, estatuto jurídico da metrópole portuguesa aplicado ao Brasil,

baseado nos cânones romanos, germânicos e no direito Justiniano, passando pelo período

imperial, quando vigorava o voto censitário para a escolha dos representantes, pelas ditaduras

de 1930 até 1945, e a que durou de 1964 até as Diretas Já de 1984, verifica-se que o poder

político está primeiramente empenhado na realização de interesses de uma minoria, a classe

da elite.

Os brasileiros afirmam viver em uma democracia, depois de concluída uma fase de

autoritarismo. Por democracia entendem a existência de eleições, de partidos políticos e da

divisão republicana dos três poderes, além da liberdade de pensamento e de expressão. Por

autoritarismo, entendem um regime de governo no qual o Estado é ocupado por meio de um

golpe de Estado (em geral militar ou com o apoio militar), não há eleições nem partidos

políticos, o Poder Executivo domina o Poder Legislativo e o Judiciário, há censura do

pensamento e da expressão e prisão (por vezes com tortura e morte) dos inimigos políticos.

Em suma, democracia e autoritarismo são vistos como algo que se realiza na esfera do Estado

e este é identificado com o modo de governo.

Esta visão é cega para algo profundo na sociedade brasileira: o autoritarismo social.

Nossa sociedade é autoritária porque é hierárquica, pois divide as pessoas, em qualquer

circunstâncias, em inferiores, que devem obedecer, e em superiores, que devem mandar. Não

há percepção nem prática da igualdade como um direito. Nossa sociedade também é

autoritária porque é violenta (nos termos em que, no estudo da ética, definimos a violência):

nela vigoram racismo, machismo, discriminação religiosa e de classe social, desigualdades

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econômicas das maiores do mundo, exclusões culturais e políticas. Não há percepção nem

prática do direito à liberdade.

O povo, a cada pleito eleitoral, é tratado como um cliente, como alguém cuja relação

é apenas passageira, uma vez que a “prestação de serviço” não será permanente. Mediante a

compra de votos ou de favores, os representantes satisfazem interesses particulares, e em

lugar de eles cumprirem o mandato em prol do povo, submete-o a este ciclo vicioso: ciclo de

“clientes eleitores” que se favorecem dos favores dos mandantes.

Desta forma, o Brasil é um país que clama por justiça, desde o seu surgimento, quando

se iniciou o processo de aculturação segundo os padrões europeus. E não raro, há urgência e

relevância, exigindo do poder público, e até da sociedade como um todo, uma medida mais

célere, mais eficaz, pois a espera e a cautela, mesmo sendo virtudes, não são capazes de

assegurar o que o povo, fundador primeiro da ordem estatal, urge em sanar. Exige-se mais, e

em face de certas situações, faz-se necessário comandos normativos que assegurem a defesa

dos direitos do cidadão, sempre pautados nos fundamentos da realidade estatal, quais sejam, o

escopo do desenvolvimento, em níveis sociais, educacionais e econômicos dos indivíduos.

O documento que de fato instaura a ordem estatal, e conjuntamente seus órgãos,

poderes, limites e competências, é a Constituição Federal. Resultado de um fenômeno

histórico e cultural, constitui o sistema normativo supremo do Estado brasileiro.

Deve esta Carta Magna ser encarada não unilateralmente, mas como um todo, como

um receptáculo do somatório de normas fundamentais, contendo o complexo de normas que

delineiam a organização e a Constituição do Estado.

A Constituição representa a legitimidade do Estado, porém não se pode olvidar a

função social que deve ter a interpretação da realidade estatal, e conseqüentemente a realidade

jurídica, pois o Estado é constituído pela vontade popular, conferindo-lhe assim soberania. O

certo é que a Constituição Brasileira de 1988 oferece-se para concretizar as exigências de um

Estado de Justiça Social, fundado na dignidade da pessoa humana. Para melhor desempenhar

tal escopo, o de gerenciar uma nação, existem fundamentos que norteiam o Estado.

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2. O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES 2.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SEPARAÇÃO DOS PODERES NA CONSTITUIÇÃO ATUAL Este é o princípio geral do Direito Constitucional que a Carta Magna brasileira

inscreve como fundamental. Consta em seu artigo 2º, que são poderes da União,

independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Poder

Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário são expressões de duplo sentido. Exprimem,

a um tempo, as funções legislativa, executiva e jurisdicional e indicam os respectivos órgãos,

conforme descrição e discriminação estabelecidas no título da organização dos poderes

(respectivamente nos artigos 44 a 75,76 a 91 e 92 a 135).

Cumpre por ora, explanação para que não se confunda distinção de funções do poder

com divisão ou separação de poderes, embora entre ambas haja uma conexão necessária.

A distinção de funções constitui especialização de tarefas governamentais à vista de

sua natureza.

A divisão de poderes, por sua vez, à luz do entendimento de Silva6 fundamenta-se

em dois elementos: a) especialização funcional, significando que cada órgão é especializado

no exercício de uma função; assim, às Assembléias (Congresso, Câmaras e Parlamento) se

atribui a função de legislar; ao Executivo, a função executiva; ao Judiciário, a função

jurisdicional; b) independência orgânica, significando que, além da especialização funcional,

6 SILVA, José Afonso da. Ob. Cit.

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é necessário que cada órgão seja efetivamente independente um do outro, o que postula

ausência de meios e subordinação.

Sobre a independência dos poderes, ainda deve-se acrescentar que a investidura e

permanência das pessoas em um órgão do governo não dependem da confiança, e tampouco

da vontade dos outros. Não há necessidade de consultar os outros poderes, nem de requisitar

autorização. Na organização dos respectivos serviços cada um é livre, observadas apenas as

disposições constitucionais e legais; assim é que cabe ao Presidente da República prover e

extinguir cargos públicos da Administração Pública, por exemplo.

Já a harmonia entre os poderes, verifica-se primeiramente pelas normas de cortesias

no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm

direito.

A origem da Teoria da Separação dos Poderes foi uma construção dialética feita ao

longo da História. Aristóteles7, em sua obra Política, chegou a esboçar a tríplice divisão do

poder em “legislativo, executivo e administrativo”. Esboçou o Estagirita, em sua obra

Política, que a organização do Estado deve se estabelecer na seguinte divisão: a primeira

classe é a da assembléia dos cidadãos, a parcela que teria o poder de deliberação; a segunda, a

da magistratura, que seria incumbida de realizar certas funções para as quais os magistrados

seriam designados; e a terceira, a classe correspondente ao corpo judiciário.

Na antiga república romana, o consulado, a questura, a pretura e as magistraturas

menores, todas elas, eram exercidas por dois magistrados com poderes iguais, o que

constituiu, de certo modo, um sistema prático de limitação do poder pelo poder: dualidade de

magistrados com poderes iguais, cabendo a cada um, qualquer deles, em iguais condições, a

totalidade do poder. O direito de veto de um magistrado contra a decisão de seu par

correspondia, embora de maneira empírica, ao moderno processo constitucional.8

Continuando as elucubrações dos filósofos gregos, John Locke tratou do assunto com

relativa amplitude, aconselhando a divisão do poder em quatro funções. Locke é o primeiro 7 ARISTÓTELES. Política, IV, 1298ª. 8 MALUF, Sahid, Teoria Geral do Estado, Editora Saraiva, 22ª Edição, p.205-206.

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escritor que realmente elabora uma teoria da divisão dos poderes. Inspirado na Constituição

inglesa, diz ele em seus Ensaios que é necessário que as funções do Estado sejam exercidas

por órgãos diferentes.9

Contudo, somente no século XVIII, Montesquieu10, autor da famosa obra O Espírito

das Leis, de 1748, sistematizou o princípio com profunda intuição. Coube a ele elaborar a

teoria completa da separação dos poderes. Segundo ele:

Há três espécies de poderes, o Poder Legislativo, o Poder Executivo das coisas que dependem do Direito das gentes, e o Poder Executivo das que dependem do Direito Civil. Pelo primeiro o príncipe ou magistrado faz leis para algum tempo ou para sempre, e corrige ou ab-roga as que estão feitas. Pelo segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia e recebe embaixadas, estabelece a ordem, prevê as invasões. Pelo terceiro, pune os crimes e julga os dissídios dos particulares. Chama-se a última o poder da julgar e a outra simplesmente o Poder Executivo do Estado.

Assim, a idéia básica da separação dos poderes, em três deles, foi a essência da

doutrina exposta no Federalismo norte-americano, sendo este país o primeiro a adotar

constitucionalmente tal conceito.

Não se deve olvidar, entretanto, que a eclosão da Independência norte-americana,

pautada em ideais republicanos, democráticos e progressistas, teve origem na França, mais

especificamente em um período de grande fervor cultural: o Iluminismo. Desta forma, a

Revolução Francesa proclamou o princípio nos seguintes termos: “Toda sociedade na qual a

garantia dos direitos não estiver assegurada, nem determinada a separação dos poderes não

tem Constituição”.

Ente nós, sempre houve a separação dos poderes, desde a Constituição de 1824, ainda

na fase imperial.

Em verdade, esta separação dos poderes não pode ser entendida de maneira absoluta

como pretendiam os teóricos do “presidencialismo puro”. A divisão é formal, não substancial.

O poder é um só: o que se triparte em órgãos é o seu exercício. 9 AZAMBUJA. Darcy. Ob. Cit. 10 MONTESQUIEU, O Espírito das Leis, livro XI, cap. VI.

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O que vigora na ordem constitucional brasileira é o mecanismo dos freios e

contrapesos, caracterizador da harmonia entre os poderes. Tudo isso demonstra que os

trabalhos do Legislativo e do Executivo, especialmente, mas também do Judiciário, só se

desenvolverão a bom termo, se estes órgãos se subordinarem ao princípio da harmonia, que

não significa nem o domínio de um pelo outro nem a usurpação de atribuições, mas a

verificação de que, entre eles, há de haver consciente colaboração e controle recíproco, para

se evitar distorções e desmandos.

A independência recíproca dos poderes – os organismos incumbidos do exercício de

cada uma das três funções do Estado – não significa a inexistência de pontos de contato entre

eles, no desempenho de suas tarefas. Ela não exclui que os poderes, no desempenho

harmônico de suas funções específicas, colaborarem entre si relativamente ao exercício de

uma delas, bem como não impede que eles, secundariamente, pratiquem certos atos que em

teoria não pertenceriam à sua esfera de competência. Implica apenas uma principalidade.

Cada poder desempenha principalmente uma função, sem que lhe seja absolutamente proibido

a imisção noutra.

A separação de poderes, atribuindo cada uma das funções do Estado a órgãos

independentes, tem por objetivo fazer com que se estabeleça uma contenção recíproca a estes

órgãos, de tal modo que o poder freie o poder. Isto pode nos levar a pensar em uma possível

incompatibilidade do exercício da atividade legislativa pelo Poder Executivo, e que a

legislação deve ser domínio exclusivo do Poder Legislativo, sob pena de ensejar a perigosa

concentração de poderes.

A separação de poderes, atribuindo cada uma das funções do Estado a órgãos

independentes, tem por objetivo fazer com que se estabeleça uma contenção recíproca a estes

órgãos, de tal modo que o poder freie o poder. Isto pode nos levar a pensar em uma possível

incompatibilidade do exercício da atividade legislativa pelo Poder Executivo, e que a

legislação deve ser domínio exclusivo do Poder Legislativo, sob pena de ensejar a perigosa

concentração de poderes.

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Não obstante o exposto, em diversos ordenamentos jurídicos de outros países, o Poder

Executivo tem recebido aberta ou disfarçadamente o poder de legislar, em que pese a

resistência política e doutrinária que esse fato invariavelmente desperta.

Dessa forma, deve-se aferir o sentido do princípio da separação de poderes em relação

à função legislativa, observando que o exercício da função legislativa pelo Poder Executivo é

decorrência natural da evolução do Estado, sendo necessariamente compatível com a

democracia e a separação dos poderes, com essa competência manifestando-se por várias

formas no Estado de Direito contemporâneo.

O Chefe do Poder Executivo não pode prescindir de um instrumento legislativo

excepcional eficaz para a resolução de problemas urgentes e imediatos. Nos tempos atuais,

muitas vezes é necessário tomar medidas urgentes sob pena de, em caso de omissão ou

retardamento, provocar grandes prejuízos ao Estado e a paz social. Fortalecidos os

mecanismos de controle político e jurídico, a atividade normativa extraordinária do Poder

Executivo não é incompatível com os postulados democráticos.

Nesse sentido, muitos autores contemporâneos têm realizado estudos a fim de

compreender e, por que não dizer, justificar a existência e utilização tão constante de

mecanismos que possibilitem ao Poder Executivo agir imediatamente, sem ter de aguardar o

demorado processo legislativo, quer seja no procedimento legislativo ordinário, quer seja no

procedimento legislativo sumário.

O que não se pode admitir é o desmedido fortalecimento do Executivo, especialmente

sem a previsão de eficazes instrumentos de censura ou contraste de sua atividade.

Como assinalamos, um Poder não pode delegar atribuições ao outro, exceções

somente a Constituição pode estipular. Sendo assim, podemos interpretar o tratamento da

medida provisória pela Constituição de 1988 de maneira restritiva ou ampliativa?

Deve-se privilegiar a nova abordagem que o princípio da separação dos poderes

proclama, já que no Estado contemporâneo, diante do crescimento das demandas políticas,

sociais e econômicas, não se pode ignorar que é imprescindível a legislação de emergência,

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ou seja, é necessário reconhecer que o decreto-lei não era e a lei delegada não é,

necessariamente, incompatíveis com os postulados do Estado Democrático de Direito, assim

como a medida provisória adotada pela Constituição de 1988, plenamente coerente com a

evolução do direito constitucional ocidental.

2.2 O PRINCÍPIO REPUBLICANO

No artigo 1º da Constituição Brasileira está posto que a forma de governo do

Brasil dá-se pela República. Tal palavra em latim, res publica, tinha o significado de coisa

pública, denotando que esta forma de governo deve ter seu nascimento no seio do povo.

O termo República tem sido empregado no sentido de forma de governo

contraposta à Monarquia. No entanto, ela significa mais do que isto. Ademais, não deveria

ser a República conhecida como forma de governo, e sim como forma de instituição do

Estado, pois a escolha desta forma implica uma determinada relação entre governantes e

governados, qual seja, a mais importante, de que todos são iguais no corpo social, e a

todos é garantida a participação, na forma da lei.

O princípio republicano não pode ser encarado do ponto de vista puramente

formal, como algo que vale por sua oposição à forma monárquica. Barbosa11 já dizia que

o que discrimina a forma republicana não é apenas a coexistência dos três poderes,

indispensáveis em todos os governos constitucionais, mas sim a condição de que, sobre

existirem os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os dois primeiros derivem,

realmente, de eleições populares.

Destarte, é condição essencial que o povo participe da escolha de seus

representantes do Legislativo, bem como dos representantes do Poder Executivo, uma vez

que estes são os dois Poderes que se envolvem na criação de comandos normativos.

A participação popular, no regime democrático, é essencial. No caso do Brasil,

adotou-se a República Democrática, cujo poder emana do povo. Contudo, em face da 11 Comentários à Constituição Brasileira, v. I/165.

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magnitude do contingente populacional do Brasil, foi adotado o princípio da

representação, que se consubstancia no poder concentrado nas mãos de magistrados

eletivos, com investidura temporária e atribuições predeterminadas.

Significa dizer que o povo exerce sua força participativa por meio de seus

representantes, sendo o voto, o direito político de escolher os representantes. Contudo,

indo além das palavras ilustres de Ruy Barbosa, apenas o voto, apenas a escolha dos

membros do Legislativo e do Executivo, não firma o princípio democrático em Estado

algum. Faz-se necessária a consciência política para bem escolher, por parte dos

governados, e de bem governar, de maneira ética e em prol do povo, por parte dos

governantes.

Um regime republicano, por si só, não faz de um Estado uma entidade

democrática. Já dizia Aristóteles que a forma de governo é normal ou anormal quando se

afere seu critério ético, ou seja, se tal instituição atender ao interesse geral, a forma de

governo é normal. Assim, Aristóteles não afirma categoricamente que há apenas uma

forma de governo correta ou mais adequada, mas aquele Estado, independente da forma

de governo que possuir, for empenhado em concretizar o interesse geral, pautado nos

ditames modernos de dignidade da pessoa humana, de seus direitos sociais, individuais,

coletivos e difusos, encontra-se mais próximo do ideal democrático.

Assim, todo e qualquer Estado necessita de ética, e no caso da democracia

representativa, mais do que idoneidade moral, a preocupação com a coisa pública, tal como

sugere a origem etimológica da palavra República. Se assim não for, haverá apenas divisão de

poderes, e o preenchimento das vagas dos Poderes Legislativo e Executivo não será mais que

apenas uma disciplina técnica de escolha de representantes do povo. Neste contexto sombrio,

as eleições transformam-se em um instrumento pelo qual o povo adere a uma política

governamental e confere seu consentimento, e, por conseqüência, legitimidade, às autoridades

governamentais.

No caso do Brasil, vive-se uma República aliada ao sistema presidencialista.

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O que caracteriza este sistema, de forma sucinta, é a unipessoalidade do chefe do

Poder Executivo e a participação efetiva dele no processo de elaboração de lei.

Tal sistema encontra-se presente em quase todas as Repúblicas surgidas no continente

americano, porém surgindo entre os norte-americanos, na Convenção de Filadélfia, e

posteriormente consubstanciando-se na Constituição Federal dos Estados Unido no ano de

1787.

Críticas à parte, no que diz respeito ao excessivo poder que detém o chefe do

Executivo, mostrou-se muito eficaz nos Estados Unidos. Contudo, as razões são óbvias, mas

conquistadas apenas às duras penas ou por tradição político-cultural : grande conscientização

política do povo norte-americano.

O Brasil, por sua vez, ainda vê seus governantes como senhores do bem e do mal.

Como maiores do que realmente são. Não se condena o poder em si, uma vez que se requer a

existência de agentes detentores de autoridade para atos de gerência no Estado. O que se

condena, entretanto, é a postura malfadada e antiética de utilizar o cargo político de modo tão

egoísta, a ponto de só governar com o cetro sobre o ombro do povo e os olhos fixos no

próprio umbigo, bem ao sabor das antigas monarquias absolutistas.

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3.TOPOGRAFIA NORMATIVA 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA O estudo do tema ora apresentado, à luz da competência legislativa municipal,

prescinde de noções propedêuticas quanto à estrutura do ordenamento jurídico. Esta

discussão, obviamente, trata da possibilidade jurídica de adoção de medidas provisórias como

instrumento normativo da administração municipal, editadas pelos Chefes do Executivo deste

Ente Político.

Muito já se discutiu acerca da existência do Direito, sobre sua origem, criação,

necessidade, utilidade e legitimidade. Desde os tempos mais remotos, os jusfilósofos se

preocupavam em responder tais questões. Máximas como “o homem é um ser social” uniram-

se ubi jus ibi societas (onde está o direito, está a sociedade), evoluindo para ubi societas ibi

jus (onde está a sociedade está o direito).

Por outro lado, ainda que caracterizada a necessidade de o homem viver em

sociedade, as pessoas têm demandas pessoais, que requerem cultura e informação para a

satisfação de tais necessidades, e sendo tais exigências existentes em escala finita e limitada,

inevitável concluir que, no processo de realização destas exigências descritas acima, surjam

inúmeras desavenças entre os indivíduos, uma vez que se trata de conflito de forças e

interesses, ambos revestidos por um viés no qual predomina o aspecto particular de analisar as

conjecturas. As desavenças, desta forma, proporcionarão intermináveis conflitos que podem

culminar na destruição da possibilidade humana de viver em sociedade.

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Tal caótica situação não ocorre. E justamente porque a sociedade, de maneira

coletiva, estabelece soluções para os conflitos que se verificam em seu meio. Estas soluções

assumem a feição de modelos de conduta impostos pela sociedade. Tais modelos de conduta,

surgidos pela necessidade da própria sociedade de se perpetuar, compõem a célula primária

das normas jurídicas, de imposição à totalidade dos integrantes do grande complexo social em

que vivem todos e cada um dos indivíduos, os quais são compelidos a aceitá-las e

conduzirem-se de acordo com seus preceitos, sob pena de, violando-as, sujeitarem-se à

execução coativa (quando possível) ou ao sancionamento da conduta anti-social.

Consoante a ilustre consideração de Bobbio12 quanto o que venha a ser a norma que

regula o comportamento interpessoal, ou seja, o comportamento que um indivíduo tem para

com o outro, ele define norma jurídica como aquela cuja execução é garantida por uma sanção

externa e institucionalizada. Esse conceito leva necessariamente à concepção do direito como

ordenamento, pois ao definir o direito através da noção de sanção organizada e

institucionalizada, pressupõe um complexo orgânico de normas – e não apenas um elemento

individual da norma.

Temos, pois, de forma simplificada, a demonstração lógica do antigo brocardo ubi

societas ibi ius, pelo que a própria sociedade, como instrumento da sobrevivência dos seus

integrantes, utiliza-se das regras jurídicas - o Direito - de molde a promover sua perpetuação

e, com isso, assegurar a existência da vida social dos seus componentes. Aparecem as normas

jurídicas, assim, como elemento indispensável da sociedade e, sendo a própria vida em

sociedade como da essência da natureza humana, impossível concluir de forma diversa de que

as normas são elemento imprescindível ao homem em sua luta, como indivíduo, como

coletividade e como espécie humana, pelo desenvolvimento, evolução e perenização.

Até o presente momento, ante o exposto sobre norma jurídica para Norberto Bobbio,

pode-se concluir que uma norma integrante do Direito deve ter um conteúdo cujo teor

imponha uma conduta a seu receptor e que demonstre estar em consonância com um grupo

maior de normas, um sistema, dando a entender que a norma jurídica possui um ordenamento

como pressuposto. 12 BOBBIO Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico, 6º Edição, Editora Unb., pag. 27.

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Espécie de lei do dever-ser, ou seja, norma jurídica, evoluiu para a especialidade nos

ordenamentos jurídicos modernos, pois com o desenvolvimento da organização social,

surgiram direitos individuais, coletivos, difusos, sociais, políticos, patrimoniais, pessoais,

públicos, privados, etc. Algumas normas se limitam a introduzir, no seio da comunidade, uma

faculdade ou uma obrigação. Outras, por sua vez, especificam e dão detalhes minuciosos dos

direitos e deveres.

Por esta razão, o ordenamento jurídico tem natureza complexa, porque o termo Direito

implica em um tipo de sistema que não é elaborado por uma norma apenas, faz-se necessária a

definição da norma jurídica a partir do ordenamento. Não existem ordenamentos porque há

normas jurídicas, mas existem normas jurídicas porque há ordenamento. Esse é o principal

argumento da teoria do ordenamento jurídico proposta por Norberto Bobbio.

Neste ínterim, uma vez constituído o ordenamento jurídico, deve se verificar se as

normas são hierarquicamente classificadas segundo o critério de fonte de validade. Frise-se: o

ordenamento jurídico, no caso o brasileiro, como um todo deve se espelhar na Constituição,

sendo sua fonte de validade.

É a própria Constituição, portanto, que estabelece, implícita ou explicitamente, a

modalidade normativa a ser utilizada. Assim é, por exemplo, quando ela deixa claro que tal

matéria deve ser trazida ao mundo jurídico por meio de lei complementar, ao passo que em

face do silêncio eloqüente, exige-se, no mínimo, lei ordinária.

Todo este esboço para lançar a análise da estrutura do ordenamento jurídico brasileiro,

que se apóia sobre a escala vertical da topografia normativa.

3.1 TOPOGRAFIA NORMATIVA EM ESCALA VERTICAL

Como se afirmou anteriormente, a Constituição é o Diploma criador do Estado

brasileiro.

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Uma vez que a Norma Fundamental é estabelecida pela sociedade num ato de

soberano poder político (por meio de uma Assembléia Nacional Constituinte), a qual constitui

os chamados Poderes do Estado que, por tal motivo, são chamados poderes constituídos (em

contraposição ao Poder Constituinte), e sendo as demais normas fruto de tal Poder

constituído, teríamos a inevitável incongruência de que o Poder Constituído sobrepujasse o

Poder Constituinte se fosse permitido ao produto legislado contrariar e suprimir disposições

estabelecidas na citada norma fundante.

Sendo assim, todas as normas jurídicas de hierarquia inferior buscam seu fundamento

de validade na norma fundamental (hierarquicamente superior a todas as normas oriundas do

Poder Constituído).

Mas o acervo normativo não pode se findar em apenas nestes dois degraus.

Outras, mais particularizantes, poderão surgir a partir dos mesmos ou de outros órgãos

legiferantes, as quais deverão obediência lógica e haverão de ter compatibilidade com as

normas superiores (em que buscam seu fundamento de validade e, em última escala, com a

norma fundamental. A pirâmide normativa acima traçada apresenta tal norma fundamental

(dita Constituição) no ápice, e os demais singelos atos administrativos de efeitos normativos

(ou não na base).

A topografia normativa se apresenta caracterizada como a regra lógico-jurídica de

compatibilidade vertical entre as diversas normas existentes no acervo normativo de um

Estado. A avaliação quanto à correta localização topográfica de um dado preceito normativo

dir-nos-á o grau de obrigatoriedade que possui tal norma em face de outras que eventualmente

venham conflitar, pendendo o resultado do confronto entre as mais diversas normas que se

digladiam em uma incompatibilidade vertical sempre em favor das normas de hierarquia

superior.

Em outras palavras, pode-se dizer que existe compatibilidade vertical quando as

normas hierarquicamente inferiores (na pirâmide normativa) não dispõem contrariamente, em

nenhum aspecto, às normas superiores, nem tampouco foram originadas por processo em que

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se subverteram regras de modificações ou inovações colacionadas por outras normas

superiores.

No ordenamento jurídico brasileiro, a norma de grau hierárquico máximo é a

Constituição da República Federativa do Brasil, prevendo esta, como normas

infraconstitucionais (portanto, imediatamente inferiores à Constituição, as leis

complementares, leis ordinárias, leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos

legislativos e as resoluções (artigo 59 da CF).

Fundamentando o exposto acima, Norberto Bobbio13 aceita a teoria apresentada por

Kelsen, porém as normas não estão no mesmo plano, pois há normas inferiores e superiores.

As inferiores dependem das superiores. Subindo em direção às normas que se encontram

acima na pirâmide hipotética do ordenamento jurídico, chega-se a uma norma suprema, que

não depende de nenhuma outra norma. Esta norma suprema é a norma fundamental.

Assim, tal como foi exposto, o ordenamento detém compatibilidade vertical, o que

foi chamado por Bobbio de construção escalonada do ordenamento jurídico. Segundo este

renomado jurista, tal fenômeno ocorre em decorrência da natureza das normas, sejam elas

hierarquicamente superiores ou inferiores em relação umas às outras, de produzirem ou

executarem efeitos jurídicos. Explica-se: chama-se ato executivo o ato de alguém que executa

um contrato, enquanto o ato produtivo, por assim dizer, diz respeito às normas que regulam o

ato de execução de um contrato14. Portanto, o critério para a localização de uma norma em um

ordenamento jurídico, sob a ótica de Bobbio, prescinde de sua natureza produtiva ou

executiva.

Esmiuçando-se a construção escalonada do ordenamento jurídico, o grau mais baixo

é constituído pelos atos executivos: estes atos são meramente executivos e não produtivos. O

grau mais alto é ocupado pela norma fundamental, esta é apenas produtiva e não executiva. 15

13 BOBBIO,Norberto. Ob. Cit. 14 Idem. 15 Idem.

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Normalmente representa-se o ordenamento jurídico por meio de uma pirâmide, donde

se falar também de uma construção em pirâmide do ordenamento jurídico. Nesta pirâmide, o

vértice é ocupado pela norma fundamental; a base é constituída pelos atos executivos. Se a

olharmos de cima para baixo, veremos uma série de produção de normas jurídicas; se a

olharmos de baixo para cima, ao contrário, veremos uma série de execuções de normas

jurídicas. Nos graus intermediários, estão juntas a produção e a execução. Nos graus

extremos, ou só produção (norma fundamental) ou só execução (atos executivos).16

Somente para frisar, um contrato, fazendo jus ao brocardo pacta sund servanda, tem

caráter executivo, porque antes de mais nada, para celebrá-lo, os contraentes devem observar

o disposto na lei ordinária (Código Civil), representando, no presente exemplo, o ato

executivo. O Diploma Civil, por sua vez, deve se ater ao disposto na Constituição, sendo tal

Lei o Ápice da realidade jurídica de nosso ordenamento.

Por conclusão, a hierarquia das normas está ancorada no grau de produção ou

execução que ocupa na escala vertical, fato totalmente relativo, pois o grau de produção ou

execução depende de que ponto do ordenamento a norma é analisada: quanto se considera a

Constituição Federal com outras normas, estas terão sempre o critério de executoras, ao passo

que se o ordenamento for analisado a partir de normas ordinárias, regulamentos do Poder

Executivo ou até mesmo as medidas provisórias em face da Constituição, esta terá caráter

produtivo perante as demais.

Em síntese, somente a Constituição Federal está fora do âmbito de ser classificada

como norma de execução, uma vez que é ela o norte para as demais normas que compõem o

ordenamento. A Constituição Federal, a respeito do processo legislativo, produz o modelo que

deve ser adotado pelas pessoas políticas a ela subordinados quando exercem o poder de

legislar ou de aplicar a lei.

Isto quer dizer que o processo legislativo dos Estados-Membros, Municípios e Distrito

Federal necessitam observar as disposições da Constituição sob pena de carecer de validade, o

que poderá ser devidamente discutido em âmbito judicial. Mas no momento, o que de fato 16 BOBBIO,Norberto. Ob. Cit.

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chama a atenção é que a Constituição, segundo Bobbio17, é “ a norma fundamental, o critério

supremo que permite estabelecer se uma norma pertence a um ordenamento jurídico”. Se os

municípios, por garantia constitucional do artigo 29 e seus incisos, podem estabelecer suas

Leis Orgânicas, atendendo aos princípios consagrados na CF e na Constituição do respectivo

Estado, estão autorizados, do mesmo modo, a estabelecerem o processo legislativo que irá

dispor sobre as normas reguladoras de suas vidas sociais, uma vez que, assim como os

Estados e o Distrito Federal, são Entes Políticos.

Decorrente do que foi explanado acerca da natureza produtiva da Constituição e da

natureza executiva de todas as outras normas, não restam dúvidas de que o processo

legislativo municipal é autônomo, pois nenhum outro Ente Político deve interferir em sua

elaboração. Porém, como norma executiva em relação à Constituição, deve sempre ter por

base o processo legislativo previsto constitucionalmente. Até porque, pretende-se alcançar a

unidade do ordenamento jurídico, tal como afirma Bobbio18: “[...] se se pressupõe como base

do ordenamento jurídico uma norma fundamental com a qual se possam, direta ou

indiretamente, relacionar todas as normas do ordenamento.”

Corroborando tal entendimento, veja-se a lição do eminente constitucionalista

Moraes19:

[...] O Supremo Tribunal Federal considera as regras básicas de processo legislativo previstas na Constituição Federal como modelos obrigatórios às Constituições Estaduais. Tal entendimento, que igualmente se aplica às Leis Orgânicas dos Municípios, acaba por permitir que no âmbito estadual e municipal haja previsão de medidas provisórias a serem editadas, respectivamente, pelo Governador do Estado ou Prefeito Municipal e analisadas pelo Poder Legislativo local, desde que, no primeiro caso, exista previsão expressa na Constituição Estadual e no segundo, previsão nessa e na respectiva Lei Orgânica do Município. Além disto, será obrigatória a observância do modelo básico da Constituição Federal.

Ainda sobre este assunto Szklarowsky20 leciona:

17 BOBBIO Norberto. Ob. Cit. 18 Idem. 19 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2003. Pag. 559. 20 SZKLAROWSKY Leon Fredja. Medidas Provisórias, Instrumento de Governabilidade, Editora NDJ, 2003, pag. 160-161

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“Uma dúvida assalta o espírito do jurista, com relação a Municípios que tenham previsto, no processo legislativo, as medidas provisórias, conquanto o Estado tenha se omitido.Não vemos por que não possa o Município legislar,através do alcaide, por medidas provisórias, desde que previstas na Lei Orgânica, nos casos expressos de urgência e relevância, segundo o figurino da Constituição Federal.”

Ademais, considerando que dois são os requisitos para a edição da medida provisória,

quais sejam, relevância e urgência. Por simetria, aplica-se ao presente caso o princípio da

predominância do interesse, que informou o Constituinte de 1988, na repartição de

competências. Com efeito, pode-se admitir que o governo regional (CF, arts. 25 e 32) e local

(CF, art. 30, I e 32) atendendo a suas características geográficas, sociais e históricas, bem

como aos desejos e aptidões do povo que nele habita, possa decidir sobre as prioridades

dentro de sua esfera de competência, em obediência aos ditames da Lei Maior, definindo, por

conseguinte, o que seria relevante e urgente em seu âmbito de atuação.21

Por fim, diante de todas as considerações tecidas, não se deve olvidar que, apesar de a

Constituição ser a Lei Suprema em nosso ordenamento, seu entendimento e posterior

aplicação não devem se apartar da interpretação de seu conteúdo. Não se desprezam os

métodos de interpretação já existentes. Contudo, no que tange às medidas provisórias em

âmbito municipal, faz-se necessária a interpretação da CF quanto ao princípio da igualdade

das pessoas políticas, aliada à teoria do escalonamento do ordenamento jurídico.

3.2 INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

A constitucionalização dos princípios e preceitos básicos norteadores da

Administração Pública pela Constituição de 1988 acarretou o surgimento de uma verdadeira

Teoria Geral do Direito Constitucional, balizada pelos métodos interpretativos constitucionais

e caracterizado pelo aumento da ingerência do Poder Judiciário – e, em especial, pelo

Supremo Tribunal Federal, em face de seu papel de guardião da Constituição – nos negócios

da Administração Pública, com a finalidade de probidade e efetividade, principalmente, dos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, probidade, razoabilidade, publicidade e

de eficiência.

21 CAMPOS. Aléssia Barroso Lima Brito de.A Adoção de Medidas Provisórias pelos Governadores e Prefeitos: Possibilidades e Limites. Revista da Faculdade de Direito de Sete Lagoas, nº 2, pag.13, sem. 2003

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Para tratar de interpretação, não se podem olvidar considerações sobre a

Hermenêutica. O termo hermenêutica provém do latim hermeneúe, e na área jurídica tem por

finalidade o estudo, definição e sistematização dos métodos aplicáveis para determinar o

sentido das expressões contidas nas normas jurídicas.

Usualmente, a hermenêutica designa uma ciência que se ocupa da compreensão e

interpretação de determinados textos, sendo considerada uma ciência do espírito que abarca o

estudo da atividade humana de interpretar.

A hermenêutica jurídica, por sua vez, como salientado por Maximiliano22, “tem por

objetivo o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o

alcance das expressões do Direito”, para concluir que a interpretação jurídica é a aplicação da

hermenêutica, pois “a primeira descobre e fixa os princípios que regem a segunda. A

hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar”.

Corroborando tal entendimento, Ráo23leciona da seguinte maneira:

“A hermenêutica tem por objetivo investigar e coordenar por modo sistemático os princípios científicos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, do sentido e dos fins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para efeito de sua aplicação e interpretação; por meio de regras e processos especiais procura realizar , praticamente, estes princípios e estas leis científicas; a aplicação das normas jurídicas consiste na técnica de adaptação dos preceitos nelas contidos assim interpretados, às situações de fato que se lhes subordinar”.

A interpretação constitucional, especificamente, constitui um ponto especial dentro da

interpretação jurídica, em face da supremacia constitucional e do singular papel jurídico e

político do texto magno no ordenamento jurídico.

Embora não se desprezem os métodos de interpretação já existentes, quais sejam, os

métodos histórico, gramatical, lógico, teleológico e sistemático, tais métodos tradicionais são

22 MAXIMILIANO, Carlos, Hermenêutica e aplicação do Direito. Rio de Janeiro, Editora Forense, 1998 23 RAÓ, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos . São Paulo: Max Limonad, 1952, v. 2, p. 542.

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insuficientes para a interpretação constitucional que se depara, freqüentemente, com normas

do tipo geral, abertas, enunciadoras de princípios básicos (verdadeiros Standards).24

Ante o exposto, conclui-se que a Constituição deve sempre ser interpretada, pois

somente por meio da conjugação da letra do texto com as características históricas, políticas,

ideológicas do momento encontrar-se-á o melhor sentido da norma jurídica, em confronto

com a realidade sociopolítico-econômico e almejando sua plena eficácia. 25

Destarte, no que tange às medidas provisórias, e a edição destas espécies normativas

pelos Chefes do Executivo Municipal, à luz da Hermenêutica, a Carta Magna necessita de

uma interpretação conjunta de seus elementos.

Viu-se até aqui que a República Federativa do Brasil estabeleceu-se em um trinômio

integrado, pois além do Governo Central e dos Estados-membros, também, em um terceiro

nível, trouxe os Municípios.

Conquanto ocupe um terceiro nível na escala constitucional federativa, estabelece a

Constituição plena igualdade entre os entes federados, não se permitindo falar em supremacia

de um sobre qualquer dos outros, pois todos dispõem de autonomia, e limitados aos ditames

vicejados pela Carta Magna.

Sundfeld26 trata tal assunto como o princípio da igualdade das pessoas políticas

asseverando que o Estado brasileiro não é unitário, já que suas atribuições são

descentralizadas entre os entes – União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios,

sendo estes absolutamente iguais entre si, pois são criaturas da Constituição, que outorgou a

cada qual uma esfera irredutível e impenetrável de competências, exercidas com toda

independência

24 COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997, p. 25. 25 FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do direito. São Paulo, Malheiros, 1996. P. 149. 26 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de direito público. 4ª ed. rev. aum. e atual., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 185.

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Nos limites constitucionais, portanto, os Municípios merecem idêntico tratamento aos

dos Estados-membros e à União, aplicando-se àqueles, salvo disposição constitucional em

contrário, todos os princípios e normas da Carta Maior que a estes se dirigem.

Surge assim, em decorrência do princípio federativo e da igualdade constitucional dos

entes, o princípio da simetria constitucional, pelo que, ressalvadas as exceções

constitucionais, as mesmas regras e princípios aplicáveis à União, como ente federado, serão

observadas necessariamente pelos demais entes, desde que não haja razão jurídica ou política

para discriminar.

Oportuno clarear que as normas trazidas pelo art. 59 da CF, que definem quais as

espécies normativas existentes no ordenamento jurídico constitucional, são de caráter

nacional, aplicáveis a todas as esferas estatais.

O tema já foi abordado incisivamente por Moraes27:

A questão da observância compulsória, pelos Estados membros e pelos Municípios, dos princípios do processo legislativo previstos na Constituição Federal, também relaciona-se dialeticamente com a feição federativa do estado brasileiro.

Moraes noticia o entendimento do STF que considera as regras básicas de processo

legislativo previstas na CF como modelos obrigatórios às Constituições estaduais, por

declarar o modelo estruturador do processo legislativo28, para logo em seguida concluir que

idêntico tratamento se aplica às Leis Orgânicas Municipais.

Pode-se afirmar então que embora se deva interpretar as disposições relativas à medida

provisória de forma restritiva, por se tratar de exceção ao princípio da tripartição de poderes,

não se pode frustrar a autonomia dos entes da Federação, mormente dos Municípios, sob pena

de ruir o princípio republicano e o da federação – princípios político-constitucionais29, assim

como o princípio da simetria constitucional.

Situações relevantes e urgentes não são exclusivas da União, podendo ocorrer também

nos Municípios, o que permite assim, com estribo na autonomia que lhes é própria, valerem-

27 MORAIS. Germana de Oliveira. O Controle Jurisdicional da Constitucionalidade do processo legislativo. São Paulo, Dialética, 1998, pag. 64. 28 MORAIS. Alexandre de. Ob. Cit. 29 SILVA, José Afonso da. Ob. Cit.

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se dos instrumentos normativos que julgarem apropriados, inclusive das medidas provisórias,

observando, todavia, os contornos da Carta Federal.

Sintetizando o exposto acima, Meirelles30 ensina que “a capacidade de auto-

organização vem expressa no artigo 29, caput, da CF, com a permissão de o Município

elaborar sua própria Lei Orgânica. Desta forma, o Município atinge o ponto mais alto de sua

autonomia política, devendo submissão apenas aos dispositivos constitucionais.” [grifo

nosso].

Por fim, deve-se frisar, uma vez mais, que a interpretação constitucional concernente à

aplicação do processo legislativo aplica-se expressamente à União e, implicitamente, por

força dos princípios da simetria constitucional, do princípio da autonomia e do princípio do

federalismo, aos Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal.31 Além disto, a obediência

do legislador municipal aos ditames da Constituição Federal traduz a realidade explicada por

Norberto Bobbio quando trata do escalonamento do ordenamento jurídico, uma vez que, em

suas palavras de sapiência, “[a Constituição] é o fundamento de validade de todas as normas

do sistema.”32

30 MEIRELES. Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 8º Edição, Editora Malheiros, pag. 87. 31: ABREU. Rogério Roberto Gonçalves de. Competência Legislativa Municipal. Revista de Direito Constitucional e Internacional, 47, ano 12, abril-junho de 2004, Editora Revista dos Tribunais, pag.265. 32 Bobbio Norberto. Ob. Cit.

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4. AUTONOMIA MUNICIPAL 4.1.ORGANIZAÇÃO POLÍTICA NACIONAL

No limiar deste capítulo, permitimo-nos relembrar algumas idéias básicas sobre

formas de Estado e sistemas de governo para que o conceito de autonomia municipal possa

ser situado na organização política nacional.

A Constituição da República , em seu art. 1º, declara:

“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito em tem como fundamentos: “I- a soberania; “II- a cidadania; “III- a dignidade da pessoa humana; “IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; “V – o pluralismo político. “Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

E, em seu artigo 18, reafirma: “A organização político-administrativa da República

Federativa do Brasil, compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,

todos autônomos nos termos desta Constituição.”

Isto significa que, quanto à estrutura do Estado (nação) o Brasil é uma Federação;

quanto à forma de governo, é uma República; quanto à forma de investidura dos governantes,

adota o sistema eletivo direto.

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Destarte, entende Meirelles33 que Federação é o Estado Soberano constituído de

Estados-Membros autônomos, vinculados definitivamente à União, que realiza o governo

nacional e descentraliza a Administração entre as unidades federadas.

Contudo, antes de adentrarmos na explicação do conceito de Soberania em relação às

partes componentes do corpo estatal, vamos analisar, brevemente, a posição do município

brasileiro face à Constituição Federal.

4.1. O MUNICÍPIO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

De início, a Constituição de 1988, corrigindo falhas da anteriores, integrou o

Município na Federação como entidade de terceiro grau ( arts. 1º e 18º).

A característica fundamental da atual Carta Política é a ampliação da autonomia

municipal, no tríplice aspecto político administrativo e financeiro, conforme estabelecido nos

artigos 29 a 31, 156, 158 e 159, outorgando-lhe, inclusive, o poder de elaborar sua Lei

Orgânica.

Observa-se, ainda, que, além da competência privativa do Município para algumas

matérias (art. 30), a Constituição deu-lhe competência comum com a União, os Estados e o

Distrito Federal para outras que especifica em seu art. 23. E dentro de sua competência

privativa está a de “legislar sobre assuntos de interesse local” art. 30 I, em substituição à

tradicional expressão “peculiar interesse”, consagrada nas Constituições anteriores.

A atual posição dos municípios brasileiros é bem diversa da que ocuparam nos regimes

anteriores. São dotados de renda própria para prover serviços locais, elegem livremente seus

vereadores, seus prefeito e vice-prefeitos e realizam o self-government, de acordo com a

orientação política e administrativa de seus órgão de governo. Deliberam e executam tudo

quanto respeite ao interesse local, sem consulta ou aprovação do governo federal ou estadual.

Decidem da conveniência ou da inconveniência de todas as medidas de seu interesse.

Constituem órgãos partidários e realizam convenções deliberativas e suas Câmaras cassam

33 MEIRELES. Hely Lopes. Ob. Cit.

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mandatos de vereadores e prefeitos no uso regular de suas atribuições de controle político e

administrativo do governo local.

Em face destas atribuições, já não se pode sustentar, como sustentavam alguns

publicistas, ser o Município uma entidade meramente administrativa.34Diante de atribuições

tão eminentemente políticas e de um largo poder de autogoverno, a sua posição atual, no seio

da Federação, é de entidade político-administrativa como bem salientava os comentadores da

Constituição. No dizer de Carlos Maximiliano, “às autoridades locais incubem a direção

administrativa e a supremacia política nos limites do território do Município, nada

embaraçada pelos Poderes mais fortes e estranhos, do Estado ou das circunstâncias

vizinhas”.35 No mesmo sentido é a interpretação de Cavalcanti36, ao afirmar que, “depois de

ter assegurado a autonomia política, garantiu a Constituição a autonomia administrativa, pela

administração própria e estribada de um lado na autonomia financeira e de outro na

organização dos serviços próprios às finalidades institucionais do Município”.

A Federação Brasileira não dispensa nem prescinde do Município na sua organização

constitucional. Segue-se, daí, que o Município brasileiro é entidade político-administrativa de

terceiro grau, na ordem decrescente da nossa Federação: União – Estados – Municípios.

Nesta linha de idéias, sustenta Miranda37 que “o Município (brasileiro) é entidade

intra-estatal rígida, como a União e o Estado-Membro”. E remata com esta advertência:

“Fujamos à busca do direito norte-americano, porque a concepção brasileira de autonomia

municipal é diferente”

No mesmo sentido expressa-se Melo38 ao afirmar que o Município de hoje “constitui

uma ordem política e administrativa inerente ao sistema federal brasileiro, inclusive porque a

Constituição estabeleceu, entre outros pertinentes à matéria, o princípio da intervenção federal

34 CASTRO, Nunes. Do Estado Federado e sua Organização Municipal, 1920, Alcides Cruz, Direito Administrativo Brasileiro, 1914, pag. 122 35 MAXIMILIANO, Carlos. Comentários à Constituição Brasileira, I/245, Rio, 1948. 36 CAVALCANTI Thermístoles. A Constituição Federal Comentada, I535, Rio, 1948. 37 MIRANDA. Pontes de, Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda nº 1 de 1969, II/345, São Paulo, 1970. 38 MELO. Diogo Lordelo de. A Moderna Administração Municipal, Rio, 1960, pag. 62.

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nos Estados para a defesa da autonomia municipal.” E, em substanciosa tese, Ribeiro39

conclui, com inteiro acerto que “o Município tem posição eminente na Federação Brasileira. É

uma peça essencial.”

4.2 AUTONOMIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Autonomia é prerrogativa política outorgada pela Constituição a entidades estatais

internas (Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios) para compor o seu governo e

prover a sua Administração segundo o Ordenamento Jurídico (art. 18, CF). É a administração

própria daquilo que lhe é próprio. Daí por que a Constituição assegura a autonomia do

Município pela composição de seu governo e pela administração própria no que concerne ao

seu interesse local (art. 30, I).40

Evidencia-se, desta conceituação, que os Estados-Membros, o Distrito Federal e o

Município não têm Soberania, mas sim Autonomia para imprimir direção própria nos

negócios que lhes são próprios.

Portanto, os Estados-Membros participam da Soberania Nacional mas não dispõem

deste poder, que é inerente à União e exclusivo dela.41 A nação sim, é soberana, porque

decide do seu destino sem limitações à sua vontade; organiza a sua Constituição e fá-la

respeitar pela força, se necessário for. Para frisar, apenas, pode-se afirmar categoricamente

que se trata de autonomia e não de soberania na medida em que a soberania é um dos

fundamentos da República Federativa do Brasil.42

A soberania só se opõe a mesma Soberania, no respeito `as Constituição, que é a

concretização da vontade nacional emanada da Assembléia Constituinte, fonte e origem de

todo o poder da Nação.

39 RIBEIRO. Manoel, O Município na Federação. Bahia, 1959, pag. 101. 40 MEIRELES. Hely Lopes. Ob. Cit. 41 PORCHAT, Reynalso. Posição Jurídica dos Estados Federados perante o Estado Federal. Revista da Faculdade de Direito de São Paulo XV/61. 42 LENZA, Pedro. Ob. Cit.

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A autonomia não é poder originário. É prerrogativa política concedida e limitada pela

Constituição Federal.43. Tanto os Estados-Membros , o Distrito Federal como os Municípios

têm a sua autonomia garantida constitucionalmente, não como um poder de auto-governo

decorrente da Soberania Nacional, mas como um direito público subjetivo de organizar o seu

governo e prover a sua Administração, nos limites que a Lei Máxima lhe traça. É mais que

delegação; é faculdade política, reconhecida na própria Constituição da República. Há pois,

um mínimo e autonomia constitucional assegurado ao município, e para cuja utilização não

depende a Comuna de qualquer delegação do Estado-Membro.44 O que pode ocorrer, por

parte do Estado-Membro em relação ao Município, é uma delegação daquele em favor deste

para ampliarem as franquias municipais, desde que não se despoje os poderes que são

privativos dos Estados-Membros, por se referirem a interesses regionais e não locais.

Há que se distinguir, pois, duas ordens de atribuições, que se entendem com a sua

autonomia: uma, de origem constitucional federal, e que representa o direito mínimo do

Município em relação ao Estado-Membro e à própria União; outra, de concessão estadual, e

que representa o direito máximo do Município em relação ao Estado-Membro a que pertence.

Quanto às primeiras, são imutáveis e irredutíveis por qualquer lei ou poder; as segundas

poderão ser reduzidas, ampliadas ou retiradas pelo Estado-Membro, por lei idêntica à que as

delegou ao Município.

Na utilização destes direitos não há prevalência da lei federal ou estadual sobre a

municipal. O governo local é que provê a Administração em tudo quanto respeite ao interesse

local do Município, repelindo, por inconstitucional, qualquer intromissão de outro órgão,

autoridade ou poder. Só há hierarquia entre as leis quando, por inexistir exclusividade de

Administração,as três entidades (União – Estados-Membros e Municípios) regularem

concorrentemente a mesma matéria, caso em que a lei municipal cede à estadual e esta à

federal. Impropriamente se diz que o Município está subordinado à União e ao Estado-

Membro. Não ocorre tal subordinação. O que existe são esferas de atuação governamental,

que descrevem gradativamente da União, para o Estado-Membro e do Estado-Membro para o

Município. Não há, pois, submissão do Município ao Estado-Membro ou à União, porque

43 SILVA, Carlos Medeiros, parecer in RDA 48/474. 44 MEIRELLES. Hely Lopes. Ob. Cit.

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nenhuma destas entidades pode substituir o governo local na solução de casos afetos à

Administração municipal. O que há é o respeito recíproco pela atribuições privativas de cada

qual. Destes princípios é que dinama o cânon constitucional da independência e harmonia dos

Poderes.

4.3 REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS REFERENTES AO MUNICÍPIO NA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Para a exata compreensão e delimitação das atribuições do Município, necessário se

torna um exame sumário do nosso sistema constitucional no que se refere à repartição das

competências entre as entidades estatais.

A Constituição vigente, como as anteriores, desde a proclamação da República, adotou

o sistema de competências ou poderes reservados ou enumerados para a União e para os

Municípios, ficando ou remanescendo com os Estados. Este sistema está consubstanciado no

artigo § 1º do artigo 25 da CF, que dispõe: “São reservados aos Estados as competências que

não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”

Poderes reservados são os enumerados na Constituição como pertencentes à União ou

aos Municípios, e também os que estão ínsitos naqueles e nos princípios constitucionais

adotados. Daí a existência de poderes explícitos e de poderes implícitos, constituindo as

denominadas reservas da Constituição. Poderes explícitos são aqueles que estão literalmente

expressos no texto constitucional, como os dos 21 e 22, para a União, e os do artigo 30, para

os Municípios.

Poderes implícitos são os que resultam como conseqüência lógica e necessária de um

poder explícito, ou dos princípios adotados pela Constituição. Exemplo da primeira hipótese:

do poder explícito de instituir um tributo resulta o poder implícito de arrecadá-lo. Exemplo da

segunda hipótese: do princípio federativo resulta para a União o poder de dividir o território

nacional em Estados autônomos.

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Como se vê, a teoria dos poderes implícitos está constitucionalmente adotada no

sistema jurídico brasileiro, como norma interpretativa de observância obrigatória na partilha

da competência entre a União, os Estados-Membros e os Municípios. O referido princípio foi

herdado da Constituição Norte-Americana (Emenda X), com a diferença de que no

ordenamento jurídico do nosso país a vedação é positiva, desenvolvendo-se a competência a

favor da União somente quando já houver princípio expresso de onde defluam implícita ou

explicitamente seus poderes, ao passo que no sistema norte-americano é negativa, no sentido

de que, não havendo vedação expressa à União ou aos Estados, se entende destes.45

No direito brasileiro, portanto, remanescem para os Estados-Membros todos os

poderes que não estão reservados expressa ou implicitamente à União e aos Municípios. Por

isso se diz, e com inteiro acerto, que a competência do Estado-Membro é residual, por

recolher os poderes e atribuições que restam da reserva da União e dos Municípios.

Para a solução de tais casos, pode-se enumerar algumas regras que, se não afastam de

todo a possibilidade de conflitos e incertezas, facilitam a distinção das três órbitas de ação

governamental.

Firmando o princípio de que nossa Constituição Federal estabeleceu três esferas de

competência e não deixou para os Municípios poderes remanescentes, como aos Estados-

Membros, segue-se que as Comunas só têm poderes enumerados e mais os que defluirem

destes, de maneira implícita, à semelhança do que ocorre com a União.

Leal46 esquematizou quatro regras com o intuito de sistematizar a distribuição de

competência presente na CF, fazendo perceber, inclusive, a autonomia municipal e sua ação.

A primeira regra esclarece que a competência municipal expressa e exclusiva,

como,por exemplo, a organização dos serviços públicos locais (CF, art. 30, V), afasta

qualquer outra competência sobre o assunto, seja ela federal ou estadual. A manifestação

45 MEIRELLES. Hely Lopes. Ob. Cit 46 LEAL. Víctor Nunes, Alguns Problemas Municipais em face da Constituição, in Estudos sobre a Constituição Brasileira, Rio, 1954, 129-145.

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expressa e privativa da competência do Município repele a de qualquer outra entidade estatal,

poder, órgão ou autarquia. Qualquer ingerência estranha na competência municipal será

inconstitucional e afastável por via judicial.

A segunda regra objetiva a competência implícita do Município, sobre a qual

prevalecem a competência estadual expressa e também a competência federal expressa ou

implícita.

A terceira regra estabelece, em conexidade com a anterior, que, com relação aos

poderes remanescentes do Estado, prevalece sempre a competência implícita e explícita do

Município. Isto porque a CF declara, em seu artigo 25, § 1º, que aos Estados se reservam

todas as competências que não lhes sejam vedadas. Ora, os poderes que a Constituição

confere aos Municípios, de modo implícito ou explícito, estão vedados ao Estado. Logo, a

competência remanescente do Estado cede diante da do Município.

A quarta e última regra dirige-se aos poderes concorrentes, em que as três esferas –

federal, estadual e municipal – disputam a mesma competência. Neste caso, e somente neste,

prevalece o princípio da primazia da União sobre os Estados e do Estado sobre o Município,

com decorrência lógica de que os interesses nacionais devam prevalecer sobre os locais.

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5. AS MEDIDAS PROVISÓRIAS NA SISTEMÁTICA POLÍTICA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 5.1 HISTÓRICO Hodiernamente tem-se verificado que a clássica doutrina da rígida separação dos

poderes, formulada por Montesquieu, enfrenta algumas dificuldades diante da transição do

Estado Liberal, em que a mesma foi originalmente concebida, para o chamado “Welfare

State”, traduzido para a nossa língua como o Estado de Bem Estar Social.

O Estado de Bem Estar Social, abraçou como responsabilidade suas tarefas e objetivos

que não eram assim reconhecidos pelo Estado Libera, sendo que os paradigmas deste já não

mais atendiam as necessidades daquele novo modelo. Diante destas novas responsabilidades,

muitas das quais reclamando providência urgente e atuação imediata do poder estatal,

passaram algumas considerações, em maior ou menor graus, a admitir que o Poder Executivo

exerça a função legislativa dentro das hipóteses e limites previamente estabelecidos.

Assim sendo, esta atividade atípica do Poder Executivo será sempre uma exceção, e

nunca a regra, valendo dizer que o Executivo não está autorizado a legislar ordinariamente, o

que atentaria contra o princípio da separação dos poderes, estando sua legitimidade legislativa

adstrita às situações excepcionais expressamente previstas no texto constitucional. Vale aqui a

lição de Marioti47:

”Cumpre sublinhar que, a menos que se prescinda inteiramente da separação dos poderes como princípio constitucional, a Produção pelo Poder Executivo de atos

47 MARIOTTI, Alexandre. Medidas Provisórias. São Paulo, Saraiva, 1999. p.25.

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normativos equiparados à lei de origem parlamentar sempre será exceção, nunca a regra.”

Conforme lição do citado autor, a produção de normas primárias pelo Executivo se dá

por competência legislativa de urgência, sendo condicionada à verificação de determinados

pressupostos de fato e sujeita à ratificação pelo poder legislativo.

A par das considerações sobre a separação dos poderes,o constituinte de 1988 buscou

inspiração no modelo italiano ao disciplinar o instituto das medidas provisórias.

Substitutas do decreto-lei da ordem constitucional pretérita vinham elas credenciadas

pela aderência ao modelo do decreto-legge da Constituição italiana, reconhecidamente

democrática e fiel aos princípios do Estado de Direito.

Verifica-se assim que as medidas provisórias integram originariamente o sistema

parlamentarista de governo, podendo, entretanto, proporcionar obstáculos à harmonia entre os

Poderes no sistema presidencialista, de marcada independência de cada qual das funções

estatais.

A medida provisória veio substituir o decreto-lei dos idos da ditadura. A eliminação do

decreto-lei e a adoção da medida provisória, aliada a outros fatores, trazia a sensação de

restabelecimento da ordem democrática plena. Contudo, o que se verificou posteriormente é

que o instituto da medida provisória tornou-se uma arma muito mais poderosa nas mãos do

Poder Executivo do que o antigo decreto-lei.

5.1.2 O Decreto-lei

O decreto-lei, retirado da ordem jurídica instalada em 1988, constituía ato legislativo,

editado pelo Chefe do Executivo, com força de lei, nos casos enumerados na Constituição

(arts. 55 da EC nº 1/69 e 58 da CF/67).

Sua primeira introdução no ordenamento jurídico brasileiro ocorreu em 1937, no

artigo 180 da Constituição daquele ano. Permitia ao Chefe do Executivo expedi-lo como lei

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ordinária, sobre qualquer matéria legislativa da União, desde que o Parlamento não se

reunisse.

Na Carta de 1967, o Chefe do Executivo poderia expedir decretos sobre segurança

nacional e finanças públicas. Entretanto, quanto a estas últimas, a utilização do decreto-lei

apenas poderia ocorrer em duas situações: na hipóteses de criação de impostos extraordinários

de guerra e na hipótese de empréstimos compulsórios de emergência (guerra, sua iminência e

calamidade pública).

A Constituição de 1969 (Emenda nº 1/69) repetiu a de 1967; não obstante, a Emenda

nº 11 de 1978 impôs ao Chefe do Executivo a obrigação de submetê-lo ao Congresso

Nacional para que este no prazo de sessenta dias o aprovasse ou rejeitasse, sob pena de set

tido por aprovado. O prazo contava-se a parti de seu recebimento pelo Parlamento.

Tanto a Constituição de 1967 quanto a Emenda nº 1/69 exigiam a ocorrência da

urgência ou o interesse público relevante e desde que não resultasse em aumento de

despesa.48

O interesse público é ato discricionário, sendo matéria de conveniência e

oportunidade. Já a urgência era caracterizada pelo fato de o Chefe do Executivo não poder

esperar o prazo de quarenta e cinco dias para utilizar-se de um projeto de lei com caráter de

urgência. O interesse público, por sua vez, deveria ser incomum, com aspectos relevantes e

urgentes para a sociedade de um modo geral.

5.1.3 As Medidas Provisórias e os Decreto-Leggi

A Medida Provisória (MP) prevista no ordenamento jurídico brasileiro é inspirada no

decreto-legge, do direito italiano. Naquele país, a adoção do decreto-legge é atribuída ao

governo, tal como a responsabilidade política por sua utilização.

48 SZKLAROWSKY, Leon Fredja. Medidas Provisórias, Instrumento de Governabilidade, Editora NDJ, 2003, pag.32.

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48

O decreto-legge na Constituição Italiana está previsto no artigo 77, dispondo que: “ O

Governo não pode, sem delegação das Câmaras promulgar decretos que tenham valor de lei

ordinária, exceto os casos extraordinários de necessidade e urgência, em que o Governo

pode adotar, sob pena de responsabilidade, Medidas Provisórias com força de lei, devendo

apresentá-las no mesmo dia para conversão, às Câmaras que, mesmo dissolvidas, devem ser

convocadas para reunirem no prazo de 5 (cinco) dias. Os Decretos perdem a sua eficácia

desde o início se não forem convertidos em lei no prazo de 60 (sessenta) dias a partir da sua

publicação. As Câmaras podem, todavia, regulamentar com as leis as relações jurídicas

surgidas com base no decreto.”

Pode-se observar que no direito italiano a medida provisória tem como veículo de

edição os decretos, e por isso são chamadas de decreto-legge, podendo estes últimos ainda

veicular outros atos normativos, sem jamais se confundirem. Destarte, no direito italiano, a

medida provisória não existe como espécie normativa autônoma, tal como existe no

ordenamento jurídico brasileiro.

A par destas considerações, os institutos no direito italiano e brasileiros guardam

semelhanças, mas também diferenças. A mais salutar delas, e é sobre a qual será esboçada no

presente trabalho diz respeito à responsabilidade política.

O decreto-legge é coberto de responsabilidade dos ministros frente às Câmaras.

Ademais,vale lembrar que o regime de governo adotado na Itália é o Parlamentarismo, no

qual o Presidente da República é eleito pelo Parlamento, posto que a validade de seus atos é

submetida à apreciação dos Ministros de Estado, ou seja, faz-se necessária a confiança do

governo nas duas Câmaras, uma vez que é responsável pela política adotada.

Decorrente do exposto acima, o governo constitui-se uma delegação do partido

majoritário ou resultado da coalizão de partidos da maioria. Assim, existe no governo italiano

a influência dos partidos na eleição do governo e na prerrogativa de retirar-lhe o poder, não

podendo, em virtude de respeito ao princípio democrático, ser o decreto-legge adotado por

apenas um ministro ou alguns deles. Deve ser adotado pelo governo, em total oposição à

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medida provisória do direito brasileiro, que se constitui em um instrumento unitário do

exercício da atividade político-legislativa.

Em um sistema de governo no qual sequer existe a responsabilidade política, a

utilização das medidas provisórias pode se tornar perigosa. No direito italiano, nas palavras de

Temer49, “o Governo cai” se o decreto-legge não for aprovado pelo Parlamento, diferente da

nossa Constituição que “(...) não prevê a responsabilidade política do Presidente da República

no caso de não aprovação da medida provisória.”

Diante de todas as considerações tecidas, deve-se ressaltar a mais sensata: apesar dos

“desmandos” referentes à MP, ela é um instrumento valioso, de grande valia, se devidamente

utilizado nos moldes dos propósitos para os quais foi criada: para aliviar situações que não

podem esperar um trâmite legislativo, caracterizadas pelos requisitos de edição das medidas

provisórias: relevância e urgência.

49 TEMER. Michel. Elementos de Direito Constitucional. p. 151-152, apud Leon Fredja. Szklarowsky. Medidas Provisórias, Instrumento de Governabilidade, Editora NDJ, 2003, pag.32.

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6. TEORIA GERAL DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS 6.1 CONCEITO

As medidas provisórias são objeto de numerosos estudos, quer no campo doutrinário,

como no jurisprudencial e também no direito comparado e direito parlamentar. Apesar disto,

poucos doutrinadores se preocupam em defini-la, uma vez que outros aspectos, como o

alcance material, a usurpação de competência legislativa ou a possibilidade de reedições

despertam um maior interesse por parte destes estudiosos.

No presente estudo, um possível conceito acerca do que venha a ser as medidas

provisória parte do punho de Barros50, que assim define esta espécie normativa:

Medidas Provisórias são os atos extraordinários adotados pelo Chefe do Executivo da União, com fundamentos no artigo 62 da Constituição Brasileira, sempre que ocorram os pressupostos habilitadores para a sua emissão, que são a urgência e a relevância da matéria veiculada.

Ampliando os horizontes a respeito da matéria em análise, Domingues51 leciona o

seguinte sobre medidas provisórias:

50 SOUSA, Leomar Barros Amorim de. A Produção Normativa do Poder Executivo. Brasília: Brasília Jurídica, 1999, p. 88. 51 CONCEIÇÃO, Márcia Dominguez Nigro. Conceitos Indeterminados na Constituição: Requisitos da relevância e urgência (art. 62 da CF). São Paulo: elos Bastos Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999 p. 92.

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Medida Provisória é uma espécie privilegiada e excepcional de ato normativo, que se manifesta no desenvolvimento de atividade político-administrativa com a finalidade de melhor gerir os interesses do Estado-Sociedade, em razão da maleabilidade dos pressupostos de relevância e urgência.

A medida provisória foi inserida na Carta Magna em substituição ao decreto-lei. A

princípio, o molde das medidas provisórias se assemelhavam com o antigo instrumento, mas

isto não encontrou respaldo.

6.2 NATUREZA JURÍDICA

Antes de mais nada, a medida provisória possui natureza jurídico-constitucional, em

virtude de ter sido enumerada como uma das espécies normativas passíveis de processo

legislativo no artigo 59 da CF.

Contudo, não se pode olvidar o fato de que os atos do Poder Executivo são cobertos de

forte conteúdo político, e como não seria diferente, a medida provisória é incluída neste rol.

Esta atividade política, legitimada pela ordem constitucional, tem como pano de fundo

a oportunidade e a conveniência, pois, em face de situações relevantes e urgentes, o Chefe do

Executivo faz uso deste instrumento quando os demais não satisfazem a urgência demandada.

Os atos do Poder Executivo, especificamente do Chefe, podem ser distinguidos,

basicamente, em dois tipos: atos administrativos e atos de governo. Aclare-se que são atos

tipicamente de suas funções. Chamam-se atos de governo os que são emitidos pelo Poder

Executivo, com o objetivo de conduzir a política de execução das normas superiores do

Estado, diretamente emanadas da Constituição. Dentre eles, têm-se o veto, a sanção, a

nomeação dos ocupantes de cargos de confiança, a iniciativa do processo legislativo, o

decretos de intervenção, de estado de sítio ou de defesa, e a edição de medida provisória.

A par destas considerações, que claramente levam à conclusão de que a medida

provisória serve como instrumento político, a natureza jurídica deste instrumento, por outro

lado, na doutrina nacional, não encontra muito consenso. Contudo, muitas teses são

levantadas: medidas provisórias como projeto de lei, lei em strictu sensu, ato normativo, ato

governamental, ato político ou ato executivo com força de lei.

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Medida Provisória como lei. A medida provisória é exercitada pelo Chefe do

Executivo, constituindo uma exteriorização da atribuição legislativa. Assim, a edição de

medidas provisórias diz respeito a um poder primário, decorrente diretamente da Constituição.

Conforme Raul Machado Horta52, a medida provisória é uma espécie de “legislação direta e

autônoma do Executivo.” A medida provisória é lei em sentido formal, uma vez que provem

do Congresso Nacional.

Medida Provisória como ato administrativo. Nas lições de Greco53, poder-se-ia

afirmar que, por a medida provisória ser editada pelo Poder Executivo, a origem do ato seria

administrativa.

Medida Provisória como projeto de lei. Esta é a tese defendida por diversos

professores, especialmente aqueles que estudam o controle de constitucionalidade da medida

provisória. Resume-se ao fato de a medida não passar de projeto de lei com força de lei, pois

tramita, ainda que de forma sumária, do mesmo modo que tramitam os projetos de lei. Assim,

pode-se entender que a medida provisória é um projeto de lei para o Congresso e “lei

provisória” para os demais.

Medida Provisória como ato político-normativo. A medida provisória tem cunho

político, desde que ela seja encarada como um ato. Destarte, a natureza político-normativa

deste instrumento lhe é conferida graças aos seus pressupostos tidos como políticos por esta

corrente, quais sejam, a urgência e a relevância (o interesse público).

Medida Provisória segundo o Supremo Tribunal Federal. O conceito do excelso

Pretório advém da manifestação do Ministro Relator Celso de Mello no trâmite da ação direta

de inconstitucionalidade nº 293/DF:

As medidas provisórias configuram espécies normativas de natureza infraconstitucionais, dotadas de força e eficácia legais. Não se confundem, porém, com a lei, embora transitoriamente se achem investidas de igual autoridade. A

52 HORTA. Raul Machado. Estudos de Direito Constitucional. Medida provisória. Belo Horizonte. Del Rey, 1995, p.562-563. 53 GRECO. Marco Aurélio. Medidas Provisórias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. P.9-16.

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cláusula ‘com força de lei empresta às medidas provisórias o sentido de equivalência constitucional com as leis.

Por fim, pode-se entender que as medidas provisórias funcionem como um projeto de

lei com eficácia antecipada, circunstância esta que impõe, em caráter inafastável, a

necessidade de pronunciamento parlamentar.54 Ademais, a própria Constituição de 1988

estabelece que as medidas provisórias serão editadas com força de lei, sendo suscetíveis,

inclusive, de sofrerem controle de constitucionalidade.

6.3 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DA MEDIDA PROVISÓRIA

6.3.1 Formais

De acordo com o disposto no artigo 62, caput, e artigo 84, inciso XXVI da CF, a

competência para editar Medidas Provisórias em nível federal é privativa do Presidente da

República, constituindo-se tal fato como o pressuposto formas para a existência das medidas

provisórias. Outras autoridades não estão investidas desta competência. Ainda que algumas

hipóteses do artigo 84 da CF sejam passíveis de delegação para outros agentes, a hipótese do

inciso XXVI é indelegável.

6.3.2 Materiais

Tratam-se dos seus dois requisitos: a relevância e a urgência. As medidas provisórias

só podem ser editadas ante situações graves, de notória importância, perante interesses

invulgarmente importantes, justificáveis apenas em caos excepcionais e/ou muito graves.

Servem para suprir situações que demandem providências que, se não tomadas com urgência,

podem causar danos irreparáveis à sociedade

A relevância, para o aspecto da vida pública, é a que predomina o interesse público, e

mais especificamente o de caráter imediato.

54 JÚNIOR. José Levi Mello do Amaral. Medida Provisória e sua Conversão em Lei, RT. 2004, p.122

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Contribuindo para a definição jurídica do pressuposto da relevância, Clève55 assim se

posiciona:

Possui relevância aquilo que é importante, proeminente, essencial, exigível, fundamental ou indispensável. Quanto às medidas provisórias, a relevância demandante de sua adoção não comporta satisfação de interesses outros que não os da sociedade. A relevância há, portanto, de vincular-se unicamente à realização do interesse público.

Para que se configure a competência do Presidente da República para editar medidas

provisórias é necessário que a atuação do Poder Executivo seja indispensável, inadiável e

imediatamente necessária sob pena de não ser considerada urgente.

A situação de fato, que funciona como pressuposto para a edição das medidas

provisórias, acaba condicionando, também, seu conteúdo. Isto ocorre porque a medida

provisória deve ser pertinente à situação de fato que lhe serve de fundamento, no sentido de

ter seu conteúdo adequado a ela.

Vale frisar que a urgência deve ser sempre caracterizada pelo aspecto da

temporariedade, ou seja, refere-se a uma situação passageira.

6.4 PROCESSO LEGISLATIVO DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS

O trâmite das medidas provisórias no Congresso Nacional é regulamentado pela

Resolução nº 1, de 08/05/2002.

É cediço que após a publicação da medida provisória, ela deve ser submetida de

imediato ao Congresso. Entretanto, existe uma fase pré-congressual.

O texto da medida provisória, em via de regra, é redigido pelos ministros de Estado.

Após esta elaboração, o texto é submetido à Casa Civil da Presidência da República,

conforme o decreto nº 4.176/2002, em seus artigos 39 e 40. Para análise dos pressupostos de

55 CLÈVE, Clemerson Merlin. Medidas Provisórias. 2ª Edição. São Paulo: Editora Max Limonad, 1999.

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relevância e urgência, o projeto deverá ir acompanhado da Exposição de Motivos que

demonstrará objetivamente a ocorrência de pressupostos.

O próximo passo é o envio do texto da medida provisória ao Congresso Nacional para

passar pela análise de uma Comissão Mista, que é composta por doze senadores e doze

deputados, devendo ser instalada até vinte e quatro horas após a apresentação da MP, havendo

a possibilidade de serem apresentadas emendas no prazo de seis dias.

A comissão só dará início quando houver 1/3 (um terço) dos membros de cada Casa

Parlamentar. As deliberações sobre a matéria, por sua vez, dar-se-á por maioria dos votos. A

apreciação por esta Comissão Mista deve ocorrer em 14 (quatorze) dias, quando após este

lapso temporal a Comissão deverá emitir parecer que possa aprovar total ou parcialmente a

medida, bem como analisar o aspecto orçamentário e financeiro.

Uma vez passada pela Comissão Mista de Parlamentares, a MP seguirá para a Câmara

dos Deputados. O prazo de apreciação será de também de 14 (quatorze) dias. Caso a

Comissão Mista não tenha emitindo parecer, caberá à Câmara dos Deputados fazê-lo, em se

Plenário, até o final deste prazo, atentando-se para os pressupostos de relevância e urgência,

de mérito, de adequação financeira e orçamentária.

Aprovada na Câmara dos Deputados, a matéria será encaminhada ao Senado Federal

para sua apreciação até o 42º dia (porque são quatorze dias de apreciação na Comissão Mista,

quatorze dias na Câmara dos Deputados e, por fim, mais quatorze dias no Senado, totalizando

quarenta e dois dias).

Havendo modificações no Senado, ainda que decorrentes de restabelecimento de

matéria ou emenda rejeitada na Câmara dos Deputados, ou de Destaque supressivo, será esta

encaminhada para exame na casa iniciadora, sob forma de emenda, a ser apreciada em turno

único, vedadas quaisquer novas alterações. A Câmara terá o prazo de 3 (três) dias para

apreciar as modificações do Senado Federal.

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Sendo a Medida Provisória aprovada pelo Senado, terá o seu processo devolvido a

Câmara dos Deputados que deliberará sobre ela ou sobre o projeto de lei de conversão

oferecido a essa pelo Senado Federal.

Durante a apreciação nos Plenários de cada Casa, os Parlamentares devem analisar a

existência do pressupostos de relevância e urgência. Se uma das Casas decidir que a medida

provisória não possui um ou nenhum destes pressupostos, ela será arquivada.

À luz da Emenda Constitucional nº 32/2001, trouxe uma inovação: haverá

trancamento de pauta se, dentro de 45 (quarenta e cinco) dias, a MP não for apreciada. É o

chamado estado de urgência da medida provisória, restando sobrestadas, até que se ponha fim

à votação da MP neste regime, todas as demais deliberações parlamentares.

A prorrogação é autorizada por igual período, por uma só vez, se no prazo de sessenta

dias a MP não tiver encerrada sua votação nas duas Casas do Congresso. Por outro lado, se a

MP for aprovada, seu texto será encaminhado ao Presidente da República para sanção ou

veto, restando ao Congresso Nacional, em caso de sanção, regulamentar as relações jurídicas

decorrentes da medida provisória não abrangidas pelo projeto de lei de conversão por meio de

decreto legislativo.

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7. EDIÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS PELOS CHEFES DO EXECUTIVO MUNICIPAL 7.1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO TEMA

Não se pode olvidar a polêmica que a possibilidade de edição de MP’s pelos Chefes

do Executivo Municipal traz à baila na seara jurídica. Há autores que a defendem como um

instrumento jurídico válido também para os Municípios. Entre eles, encontram-se Leon Fredja

Szklarowsky e Alexandre de Moraes. Por outro lado, há aqueles que não toleram a

possibilidade de os Prefeitos lançarem mão das MP’s. Neste grupo, pode-se citar Michel

Temer, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e José Afonso da Silva.

A celeuma a respeito da possibilidade das medidas provisórias em âmbito diferente do

federal teve início durante o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 425-5

(ADIN 425-5), que foi ajuizada pelo PMDB. O requerimento consistia na suspensão da

eficácia das Medidas Provisórias 62, 63, 64 e 65, todas editadas pelo Governador do Estado

de Tocantins no ano de 1990, posto que as MP’s foram convertidas, respectivamente, nas leis

nº 219, 220, 215 e 218. O julgamento foi parcialmente improcedente, pois apenas a Lei nº 215

foi declarada inconstitucional, ao contrário das demais, atestando assim o Egrégio Supremo

Tribunal Federal que os Governadores possuem competência para editar MP’s.

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A atual constituição, ao contrário da Carta de 1967, que proibia expressamente a

adoção do decreto-lei pelos Estados-membros e, conseqüentemente, pelos Municípios, não

traz em seu texto idêntica vedação, verificando-se assim uma lacuna do legislador constituinte

e não um silêncio propositado. Poletti56 entende que se a Constituição não proíbe

expressamente, a interpretação há de ser extensiva e não restritiva.

Ao dispor que "o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias" (art. 62,

caput CF) o legislador constituinte implicitamente ofertou a faculdade para que esta

modalidade normativa também fosse adotada em âmbito diferente do federal.

A possibilidade de os Prefeitos editarem medidas provisórias encontra sustentáculos

em diversas teorias presentes no ordenamento jurídico brasileiro, que inclusive já foram

anteriormente mencionadas neste presente trabalho: a separação dos poderes, o princípio da

simetria, a hierarquia normativa e a autonomia municipal.

A edição de medidas provisórias em âmbito municipal em nada diminui o princípio da

separação dos Poderes, já que a competência para legislar permanece com o Legislativo,

constituindo a medida provisória uma exceção, tal como ocorre no governo federal. Uma vez

os Prefeitos utilizando-se do referido instrumento conforme as limitações impostas, e nada

ferem o princípio da separação dos poderes.

Carraza57 também não observa nenhum óbice, entendendo de forma direta que:

Nada impede que, exercitando seus poderes constituintes decorrentes, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal prevejam a edição de medidas provisórias, respectivamente, estaduais, municipais e distritais. A elas, mutatis mutandis, devem ser aplicados os princípios e limitações que cercam as medidas provisórias federais.

Conforme a hierarquia das normas presente no ordenamento jurídico brasileiro, as

normas produzidas pelos municípios devem estrita obediência ao conteúdo da Carta Magna.

Tal afirmação decorre de teoria explicada pelo ilustríssimo jurista Norberto Bobbio em sua

obra Teoria do Ordenamento Jurídico, que trata do caráter ora produtivo, ora executivo das 56 POLETTI, Ronaldo. Controle da constitucionalidade das leis. 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 116. 57 CARRAZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 9ª ed., São Paulo: Malheiros, 1997, p. 186.

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normas em qualquer ordenamento. De modo sumário, posto que a Constituição detém

natureza apenas executiva. Desta forma, a Lei Orgânica Municipal que dispor sobre a

possibilidade de edição de MP pelo Prefeito deve ater-se aos moldes da CF, executando

implicitamente comandos da Lei Máxima.

Vige o princípio da igualdade das pessoas políticas. Nos limites constitucionais,

portanto, os Municípios merecem idêntico tratamento aos dos Estados-membros e à União,

aplicando-se àqueles, salvo disposição constitucional em contrário, todos os princípios e

normas da Carta Maior que a estes se dirigem.

Greco58 responde claramente a questão quanto à possibilidade de edição de MP por

governadores e prefeitos da seguinte forma:

A meu ver, esta questão deverá ser solucionada pelas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais. Se estas contiverem previsão expressa com os contornos da CF, em princípio, cabe a criação da figura.

7.2 MEDIDAS PROVISÓRIAS COMO ESPÉCIES NORMATIVAS ÍNSITAS AO ORDENAMENTO JURÍDICO MUNICIPAL Os princípios da simetria, da separação dos Poderes, em sua acepção moderna, e o da

hierarquia das normas já seriam suficientes para sustentar a tese de os Prefeitos editarem

medidas provisórias.

Contudo, o argumento principal dos opositores desta tese assenta-se sobre o

entendimento de que a competência para editar medidas provisórias é restrita e exclusiva do

Presidente da República. Afirmam que, à luz da CF, em seu artigo 62, apenas o Chefe do

Executivo Federal teria competência constitucional para expedição de MP’s.

Os opositores da tese da MP no município sustentam-se no simples fato de a

Constituição fazer menção expressa apenas ao Presidente da República e ao Congresso

Nacional, sendo inválida qualquer possibilidade de as MP’s serem utilizadas em outros níveis

federativos que não sejam a União. Tais argumentos não são suficientes. Nesta oportunidade,

58 GRECO, Marco Aurélio. Medidas provisórias. São Paulo: RT, 1991, p.11.

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faz-se necessária a distinção entre normas de caráter federal e normas de caráter nacional. As

primeiras dizem respeito à União, e as segundas, à República Federativa do Brasil.

A análise estrutural do texto constitucional conduz à idéia de que a Subseção III, da

Seção VIII, do Capítulo I, do Título IV, intitulada Das Leis, concentra apenas normas

constitucionais de caráter federal, posto que seu conteúdo dirige-se ao ente político União

Federal, e não à República Federativa do Brasil. Portanto, são normas estabelecidas para

reger a vida política, legislativa e administrativa da União como um ente federado, da mesma

maneira que os Municípios se estruturam e se organizam por meio de suas Leis Orgânicas.

Tratando-se de normas dirigidas expressamente à União, não é possível que este ente

federativo lance disposições aplicáveis diretamente aos Municípios. Tudo isto porque, dado o

princípio da autonomia (política e organizacional) garante-lhes sua auto-organização mediante

elaboração de Leis Orgânicas, enquanto o princípio da simetria lhes concede o direito de

elaborarem suas normas conforme às federais, incluindo-as em seus textos, e o dever de não

violar o mínimo constitucional exigido em tais normas federais.

Tais normas de caráter federal são normas constitucionais federais de repetição

obrigatória pelos Municípios. Ou em outras palavras, é o mínimo que eles devem observar.

Contudo, é facultado aos Municípios que incluam especificidades, consistindo no interesse

local, no que tange à elaboração de normas que lhes são ínsitas, desde que não afrontem

princípios e normas constitucionais federais.

Posto isto, pode-se concluir que as normas sobre o processo legislativo ordinário,

disposto na CF, são de caráter eminentemente federal, e não nacionais, e por este motivo não

vinculam diretamente os outros entes políticos, entre eles os Municípios. Decorrente deste

fato, os entes políticos do terceiro nível federativo podem estabelecer outras exigências para

suas produções legislativas e administrativas.

É por este motivo que o Poder Constituinte, no ato de elaboração da Constituição

Federal, não julgou necessário apontar a medida provisória municipal porque tal disposição

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deve ser incluída na Lei Orgânica do Município que decidir adotá-la. Mais uma vez, o alicerce

encontra-se nos princípios da autonomia e da simetria constitucional.

De outro giro, vale questionar se a previsão de medidas provisórias em âmbito

municipal prescinde de previsão desta espécie normativa também na Constituição Estadual

(CE) do respectivo Estado-Membro.

Szklarowsky59 entende que é possível um Município adotar MP’s em seu processo

legislativo ainda que o Estado ao qual o Município pertença tenha se omitido a tal respeito:

À primeira vista poderia parecer que somente poderiam [os Municípios] utilizar-se das medidas provisórias se também estivessem previstas expressamente na Carta do Estado, mas esta não é a melhor exegese, pois os Municípios regem-se por documento próprio que é a Lei Orgânica, a qual não se pode contrariar, em nenhuma hipótese, as Cartas Federal e do Estado. Contudo, nem a Carta Maior da República proíbe, muito ao contrário, permite, nem a ausência de previsão na Estadual constitui empecilho. O artigo 29 da Lei Magna Federal quer que os Municípios atendam aos princípios estabelecidos nos dois Textos Maiores; entretanto, isto não significa que os Municípios não possam fazer o que não esteja previsto expressamente na Lei Maior do respectivo Estado, desde que não as contrariem e encontrem suporte na Lei Máxima Federal, como é o caso, e na sua Lei Orgânica.

Para exemplificar, deve-se tomar como exemplo o Estado de Rondônia e o município

de Cacoal. A Constituição do Estado dispõe sobre o processo legislativo em seu artigo 37 e

enumera, do inciso I ao VI, as seguintes espécies normativas, respectivamente: emendas à

Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos e

resoluções. Denota-se que não há previsão expressa de edição de MP’s pelo Governador do

Estado, em contraposição ao município de Cacoal, que prevê esta possibilidade, tendo

inclusive editado uma medida provisória. Portanto, é plenamente possível para o município

prever MP’s em seu processo legislativo, ainda que a Constituição do Estado não o faça.

Vale frisar: tal possibilidade é válida apenas quando a Constituição Estadual for

omissa, pois em face de uma expressa vedação da CE, o município deve respeitá-la, sob pena

de infringir o conteúdo do artigo 29 da Constituição Federal, in verbis:

59 SZKLAROWSKY, Leon Fredja. Ob. Cit.

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“Art. 29: O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos (...)”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentou-se, neste trabalho, a defesa da inserção das medidas provisórias nos

processos legislativos dos Municípios. E tais instrumentos constituem exceções no que tange

à atividade legislativa, que decorre especialmente da complexidade moderna e globalizada,

que sempre exige uma atuação por parte da Administração Pública para amenizar problemas

sociais.

Como na União, as medidas provisórias nos municípios, em virtude de sua natureza de

exceção, devem sempre ser utilizadas com parcimônia, ante a possível confusão dos

argumentos de aplicação das normas e o risco à integridade do sistema jurídico, decorrente de

déficit de legitimidade. Além disto, a observância do processo legislativo (art. 62, CF), da

Resolução nº 01/2002 e dos requisitos de relevância e urgência constituem o mínimo exigido

pelas normas de caráter federal, sob pena de invalidade e até mesmo de inconstitucionalidade.

Contudo, o que se verifica é o oposto: o Chefe do Executivo tem uma produção

legislativa imensa devido à relativa restrição imposta pela Constituição, somando-se isto ao

fato de que pode haver, na sessão legislativa seguinte, reedição de medida provisória que foi

rejeitada, o que parece ser a sua maior mácula.

No campo prático, argumenta-se que o poder de editar medidas provisórias seria

perigosa, especialmente em municípios menores, posto que o envolvimento político e

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participação efetiva na vida política por parte dos cidadãos não oferecem condições para o

exercício da democracia. Haveria um risco ao equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo.

Tais informações não podem ser omitidas. Entretanto, a própria Constituição Federal

dispõe de meios de repressivos a tais abusos, e em casos extremos, intervenções do Estado no

município, face ao desrespeito aos princípios sensíveis constitucionais, e Controle

Concentrado de Constitucionalidade são cabíveis.

A par de todas as considerações acima apontadas, conclui-se que a possibilidade das

medidas provisórias nos municípios é válida. Trata-se de uma prerrogativa dos municípios,

que lhes confere tratamento igualitário entre os diversos entes estatais. Se bem utilizadas,

farão jus ao objetivo para o qual foram instituídas. Conciliadas aos princípios da simetria

constitucional e da autonomia dos entes federativos, as medidas provisórias constituem

instrumentos ínsitos também em âmbito municipal. Os Municípios podem utilizá-las da

maneira que suas conveniências demandarem, configurando o interesse local, desde que

observem as disposições do processo legislativo federal para as MP’s, ou seja, o mínimo

constitucional.

Por fim, os municípios podem inserir as MP’s no seio de suas respectivas atividades

legislativas sem que haja previsão deste instrumento na CE do respectivo Estado, tudo isto

porque, mais uma vez, o disposto na CE é o mínimo que o Município deve observar.

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REFERÊNCIAS

ABREU. Rogério Roberto Gonçalves de. Competência Legislativa Municipal. Revista de Direito Constitucional e Internacional, 47, ano 12, abril-junho de 2004, Editora Revista dos Tribunais, pag.265. Bobbio Norberto. Ob. Cit.

AZAMBUJA Darcy, Introdução à Ciência Política, Editora Globo, 14ª Edição, p. 48.

BOBBIO Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico, 6º Edição, Editora Unb., pag. 27.

CAMPOS. Aléssia Barroso Lima Brito de.A Adoção de Medidas Provisórias pelos Governadores e Prefeitos: Possibilidades e Limites. Revista da Faculdade de Direito de Sete Lagoas, nº 2, pag.13, sem. 2003

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ANEXOS

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ATOS DO CONGRESSO NACIONAL Publicado no DOU de 10.05.2002 Faço saber que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Ramez Tebet, Presidente do Senado Federal, nos termos do parágrafo único do art. 52 do Regimento Comum, promulgo a seguinte R E S O L U Ç Ã O Nº 1, DE 2002-CN(*) Dispõe sobre a apreciação, pelo Congresso Nacional, das Medidas Provisórias a que se refere o art. 62 da Constituição Federal, e dá outras providências.O Congresso Nacional resolve: Art. 1º Esta Resolução é parte integrante do Regimento Comum e dispõe sobre a apreciação, pelo Congresso Nacional, de Medidas Provisórias adotadas pelo Presidente da República, com força de lei, nos termos do art. 62 da Constituição Federal. Art. 2º Nas 48 (quarenta e oito) horas que se seguirem à publicação, no Diário Oficial da União, de Medida Provisória adotada pelo Presidente da República, a Presidência da Mesa do Congresso Nacional fará publicar e distribuir avulsos da matéria e designará Comissão Mista para emitir parecer sobre ela. § 1º No dia da publicação da Medida Provisória no Diário Oficial da União, o seu texto será enviado ao Congresso Nacional, acompanhado da respectiva Mensagem e de documento expondo a motivação do ato. § 3º O número de membros da Comissão Mista estabelecido no § 2º é acrescido de mais uma vaga na composição destinada a cada uma das Casas do Congresso Nacional, que será preenchida em rodízio, exclusivamente, pelas bancadas minoritárias que não alcancem, no cálculo da proporcionalidade partidária, número suficiente para participar da Comissão (Res. nº 2, de 2000-CN). § 5º Esgotado o prazo estabelecido no § 4, sem a indicação, o Presidente da Mesa do Congresso Nacional fará a designação dos integrantes do respectivo partido ou bloco, recaindo essa sobre o Líder e, se for o caso, os Vice-Líderes. § 6º Quando se tratar de Medida Provisória que abra crédito extraordinário à lei orçamentária anual, conforme os arts. 62 e 167, § 3, da Constituição Federal, o exame e o parecer serão realizados pela Comissão Mista prevista no art. 166, § 1, da Constituição, observando-se os prazos e o rito estabelecidos nesta Resolução. § 7º A constituição da Comissão Mista e a fixação do calendário de tramitação da matéria poderão ser comunicadas em sessão do Senado Federal ou conjunta do Congresso Nacional, sendo, no primeiro caso, dado conhecimento à Câmara dos Deputados, por ofício, ao seu Presidente. Art. 3º Uma vez designada, a Comissão terá o prazo de 24 (vinte e quatro) horas para sua instalação, quando serão eleitos o seu Presidente e o Vice-Presidente, bem como designados os Relatores para a matéria. § 1º Observar-se-á o critério de alternância entre as Casas para a Presidência das Comissões Mistas constituídas para apreciar Medidas Provisórias, devendo, em cada caso, o Relator ser designado pelo Presidente dentre os membros da Comissão pertencentes à Casa diversa da sua. § 2º O Presidente e o Vice-Presidente deverão pertencer a Casas diferentes. § 3º O Presidente designará também um Relator Revisor, pertencente à Casa diversa da do Relator e integrante, preferencialmente, do mesmo Partido deste. § 4º Compete ao Relator Revisor exercer as funções de relatoria na Casa diversa da do Relator da Medida Provisória. § 5º O Presidente designará outro membro da Comissão Mista para exercer a relatoria na hipótese de o Relator não oferecer o relatório no prazo estabelecido ou se ele não estiver presente à reunião programada para a discussão e votação do parecer, devendo a escolha recair sobre Parlamentar pertencente à mesma Casa do Relator e também ao mesmo Partido deste, se houver presente na reunião da Comissão outro integrante da mesma bancada partidária. § 6º Quando a Medida Provisória estiver tramitando na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, a substituição de Relator ou Relator Revisor, na hipótese de ausência, ou a designação desses, no caso de a Comissão Mista não haver exercido a prerrogativa de fazê-lo, será efetuada de acordo com as normas regimentais de cada Casa. Art. 4º Nos 6 (seis) primeiros dias que se seguirem à publicação da Medida Provisória no Diário Oficial da União, poderão a ela ser oferecidas emendas, que deverão ser protocolizadas na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. § 1º Somente poderão ser oferecidas emendas às Medidas Provisórias perante a Comissão Mista, na forma deste artigo.

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§ 2º No prazo de oferecimento de emendas, o autor de projeto sob exame de qualquer das Casas do Congresso Nacional poderá solicitar à Comissão que ele tramite, sob a forma de emenda, em conjunto com a Medida Provisória. § 3º O projeto que, nos termos do § 2, tramitar na forma de emenda à Medida Provisória, ao final da apreciação desta, será declarado prejudicado e arquivado, exceto se a Medida Provisória for rejeitada por ser inconstitucional, hipótese em que o projeto retornará ao seu curso normal. § 4º É vedada a apresentação de emendas que versem sobre matéria estranha àquela tratada na Medida Provisória, cabendo ao Presidente da Comissão o seu indeferimento liminar. § 5º O autor da emenda não aceita poderá recorrer, com o apoio de 3 (três) membros da Comissão, da decisão da Presidência para o Plenário desta, que decidirá, definitivamente, por maioria simples, sem discussão ou encaminhamento de votação. § 6º Os trabalhos da Comissão Mista serão iniciados com a presença, no mínimo, de 1/3 (um terço) dos membros de cada uma das Casas, aferida mediante assinatura no livro de presenças, e as deliberações serão tomadas por maioria de votos, presente a maioria absoluta dos membros de cada uma das Casas. Art. 5º A Comissão terá o prazo improrrogável de 14 (quatorze) dias, contado da publicação da Medida Provisória no Diário Oficial da União para emitir parecer único, manifestando-se sobre a matéria, em itens separados, quanto aos aspectos constitucional, inclusive sobre os pressupostos de relevância e urgência, de mérito, de adequação financeira e orçamentária e sobre o cumprimento da exigência prevista no § 1º do art. 2. § 2º Ainda que se manifeste pelo não atendimento dos requisitos constitucionais ou pela inadequação financeira ou orçamentária, a Comissão deverá pronunciar-se sobre o mérito da Medida Provisória. § 3º Havendo emenda saneadora da inconstitucionalidade ou injuridicidade e da inadequação ou incompatibilidade orçamentária ou financeira, a votação far-se-á primeiro sobre ela. § 4º Quanto ao mérito, a Comissão poderá emitir parecer pela aprovação total ou parcial ou alteração da Medida Provisória ou pela sua rejeição; e, ainda, pela aprovação ou rejeição de emenda a ela apresentada, devendo concluir, quando resolver por qualquer alteração de seu texto: I - pela apresentação de projeto de lei de conversão relativo à matéria; e II - pela apresentação de projeto de decreto legislativo, disciplinando as relações jurídicas decorrentes da vigência dos textos suprimidos ou alterados, o qual terá sua tramitação iniciada pela Câmara dos Deputados. Art. 6º A Câmara dos Deputados fará publicar em avulsos e no Diário da Câmara dos Deputados o parecer da Comissão Mista e, a seguir, dispensado o interstício de publicação, a Medida Provisória será examinada por aquela Casa, que, para concluir os seus trabalhos, terá até o 28º (vigésimo oitavo) dia de vigência da Medida Provisória, contado da sua publicação no Diário Oficial da União. § 1º Esgotado o prazo previsto no caput do art. 5, o processo será encaminhado à Câmara dos Deputados, que passará a examinar a Medida Provisória. § 2º Na hipótese do § 1, a Comissão Mista, se for o caso, proferirá, pelo Relator ou Relator Revisor designados, o parecer no Plenário da Câmara dos Deputados, podendo estes, se necessário, solicitar para isso prazo até a sessão ordinária seguinte. § 3º Na hipótese do § 2, se o parecer de Plenário concluir pela apresentação de Projeto de Lei de Conversão, poderá, mediante requerimento de Líder e independentemente de deliberação do Plenário, ser concedido prazo até a sessão ordinária seguinte para a votação da matéria. Art. 7º Aprovada na Câmara dos Deputados, a matéria será encaminhada ao Senado Federal, que, para apreciá-la, terá até o 42º (quadragésimo segundo) dia de vigência da Medida Provisória, contado da sua publicação no Diário Oficial da União. § 1º O texto aprovado pela Câmara dos Deputados será encaminhado ao Senado Federal em autógrafos, acompanhado do respectivo processo, que incluirá matéria eventualmente rejeitada naquela Casa. § 3º Havendo modificação no Senado Federal, ainda que decorrente de restabelecimento de matéria ou emenda rejeitada na Câmara dos Deputados, ou de destaque supressivo, será esta encaminhada para exame na Casa iniciadora, sob a forma de emenda, a ser apreciada em turno único, vedadas quaisquer novas alterações. § 4º O prazo para que a Câmara dos Deputados aprecie as modificações do Senado Federal é de 3 (três) dias. § 5º Aprovada pelo Senado Federal Medida Provisória, em decorrência de preferência sobre projeto de lei de conversão aprovado pela Câmara dos Deputados, o processo retornará à esta Casa, que deliberará, exclusivamente, sobre a Medida Provisória ou o projeto de lei de conversão oferecido a esta pelo Senado Federal. § 6º Aprovado pelo Senado Federal, com emendas, projeto de lei de conversão oferecido pela Câmara dos Deputados, o processo retornará à Câmara dos Deputados, que deliberará sobre as emendas, vedada, neste caso, a apresentação, pelo Senado Federal, de projeto de lei de conversão. § 7º Aplicam-se, no que couber, os demais procedimentos de votação previstos nos Regimentos Internos de cada Casa.

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Art. 8º O Plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional decidirá, em apreciação preliminar, o atendimento ou não dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência de Medida Provisória ou de sua inadequação financeira ou orçamentária, antes do exame de mérito, sem a necessidade de interposição de recurso, para, ato contínuo, se for o caso, deliberar sobre o mérito. Parágrafo único. Se o Plenário da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal decidir no sentido do não atendimento dos pressupostos constitucionais ou da inadequação financeira ou orçamentária da Medida Provisória, esta será arquivada. Art. 9º Se a Medida Provisória não for apreciada em até 45 (quarenta e cinco) dias contados de sua publicação no Diário Oficial da União, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas do Plenário da Casa em que estiver tramitando. § 1º A prorrogação do prazo de vigência de Medida Provisória será comunicada em Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional publicado no Diário Oficial da União. § 2º A prorrogação do prazo de vigência de Medida Provisória não restaura os prazos da Casa do Congresso Nacional que estiver em atraso, prevalecendo a seqüência e os prazos estabelecidos nos arts. 5, 6º e 7. Art 10º Se a Medida Provisória não tiver sua votação encerrada nas 2 (duas) Casas do Congresso Nacional, no prazo de 60 (sessenta) dias de sua publicação no Diário Oficial da União, estará automaticamente prorrogada uma única vez a sua vigência por igual período. § 1º A prorrogação do prazo de vigência de Medida Provisória será comunicada em Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional publicado no Diário Oficial da União. § 2º A prorrogação do prazo de vigência de Medida Provisória não restaura os prazos da Casa do Congresso Nacional que estiver em atraso, prevalecendo a seqüência e os prazos estabelecidos nos arts. 5º, 6º e 7º. Art. 11. Finalizado o prazo de vigência da Medida Provisória, inclusive o seu prazo de prorrogação, sem a conclusão da votação pelas 2 (duas) Casas do Congresso Nacional, ou aprovado projeto de lei de conversão com redação diferente da proposta pela Comissão Mista em seu parecer, ou ainda se a Medida Provisória for rejeitada, a Comissão Mista reunir-se-á para elaborar projeto de decreto legislativo que discipline as relações jurídicas decorrentes da vigência de Medida Provisória. § 2º Não editado o decreto legislativo até 60 (sessenta) dias após a rejeição ou a perda de eficácia de Medida Provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. Art. 12. Aprovada Medida Provisória, sem alteração de mérito, será o seu texto promulgado pelo Presidente da Mesa do Congresso Nacional para publicação, como Lei, no Diário Oficial da União Art. 13. Aprovado projeto de lei de conversão será ele enviado, pela Casa onde houver sido concluída a votação, à sanção do Presidente da República. Art. 14. Rejeitada Medida Provisória por qualquer das Casas, o Presidente da Casa que assim se pronunciar comunicará o fato imediatamente ao Presidente da República, fazendo publicar no Diário Oficial da União ato declaratório de rejeição de Medida Provisória. Parágrafo único. Quando expirar o prazo integral de vigência de Medida Provisória, incluída a prorrogação de que tratam os §§ 3º e 7º do art. 62 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001, o Presidente da Mesa do Congresso Nacional comunicará o fato ao Presidente da República, fazendo publicar no Diário Oficial da União ato declaratório de encerramento do prazo de vigência de Medida Provisória. Art. 15. A alternância prevista no § 1º do art. 3º terá início, na primeira Comissão a ser constituída, após a publicação desta Resolução, com a Presidência de Senador e Relatoria de Deputado. Art. 16. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal adaptarão os seus Regimentos Internos com vistas à apreciação de Medidas Provisórias pelos respectivos Plenários de acordo com as disposições e os prazos previstos nesta Resolução. Art. 17. Norma específica disporá sobre o funcionamento das Comissões Mistas de que tratam os arts. 2º a 5º desta Resolução. Art. 18. Os prazos previstos nesta Resolução serão suspensos durante o recesso do Congresso Nacional, sem prejuízo da plena eficácia de Medida Provisória. Parágrafo único. Se for editada Medida Provisória durante o período de recesso do Congresso Nacional, a contagem dos prazos ficará suspensa, iniciando-se no primeiro dia da sessão legislativa ordinária ou extraordinária que se seguir à publicação de Medida Provisória.

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Art. 19. O órgão de consultoria e assessoramento orçamentário da Casa a que pertencer o Relator de Medida Provisória encaminhará aos Relatores e à Comissão, no prazo de 5 (cinco) dias de sua publicação, nota técnica com subsídios acerca da adequação financeira e orçamentária de Medida Provisória. Art. 20. Às Medidas Provisórias em vigor na data da publicação da Emenda Constitucional nº 32, de 2001, aplicar-se-ão os procedimentos previstos na Resolução nº 1, de 1989-CN. § 1º São mantidas em pleno funcionamento as Comissões Mistas já constituídas, preservados os seus respectivos Presidentes, Vice-Presidentes e Relatores, e designados Relatores Revisores, resguardada aos Líderes a prerrogativa prevista no art. 5º do Regimento Comum. § 2º São convalidadas todas as emendas apresentadas às edições anteriores de Medida Provisória. § 3º São convalidados os pareceres já aprovados por Comissão Mista. Art. 21. Ao disposto nesta Resolução não se aplica o art. 142 do Regimento Comum. Congresso Nacional, em 8 de maio de 2002 SENADOR RAMEZ TEBET Presidente do Senado Federal (*)Republicado por ter sido publicado indevidamente com titulo de abertura - ATOS DO SENADO FEDERAL . ________________________________________ Serviço de Jurisprudência e Divulgação Última atualização em 02/09/2002