edição antiga do cosmopolítico #01

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Em 1876, o abolicionista Joaquim Nabuco, em carta para um amigo, relata que foi abordado, aos berros, por uma figura proeminente do Império, que exigia saber quem ele pensava que era, por “tentar acabar com uma prática histórica, consolidada e importante” para a sociedade brasileira: a escravidão. A combinação de organização civil e da famigerada Bill Aberdeen Law, da Inglaterra, (“ei, tive u- ma idéia, que tal se afundarmos os negros nos navios ao invés de deixar que eles se tornem escravos?”), ajudou a encerrar a prática no Brasil e, menos de 200 anos depois (período irrisório para a análise de um historiador, comparável a influência Construtivista nas RI atualmente) é de concordância geral, dentro do país – e do Sistema Internacional – que utilizar seres humanos como mercadoria é algo hedi- ondo e vil – apesar da prática ainda se manter bastante viva em alguns recôncavos. A grande questão, dentro dessa análise, é entender que ações hipócritas serão sempre um dos grandes motores das movimentações humanas, principal- mente dentro das Relações Internacionais. A Inglaterra possuía interesses merca- dológicos na abolição da escravatura? Com certeza. Isso faz desse movimento algo ruim? Não necessariamente. Em abril desse ano, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma Zona de Exclusão Aérea na Líbia – alegando que Kahdafi, notório badernista, estava ma- tando civil a torto e direito. A maioria dos analistas – corretamente, a meu ver – foi rápida em apontar os motivos geopolíticos, geoestratégicos e geointeresseiros para a intervenção. Petróleo, refugiados e efeito “Bad Neighborhood” foram rapida- mente citados (até tentaram empurrar um R2P, mas não convenceu). Algumas semanas depois, atuando em um Campo de Refugiados nessa bu- cólica província no Norte da África, tive a chance de analisar os fatos mais de perto. Como o único detentor de um laptop com internet, era visitado pela mais diferente trupe para acessar a querida rede: pessoas querendo ver e-mail, notícias e mesmo resultados da Fórmula 1. Dentre desse grupo, me chamou a atenção uma menina, nos seus 12 anos, que sempre aparecia por lá para ouvir músicas da Lady Gaga, sabendo as coreografias, letras, hinos satânicos – e tudo mais que a loira canta no Youtube. Euforias Keoheanísticas a parte, logo descobri que ela tinha familiares na Inglaterra e nos Estados Unidos, que já mobilizavam uma forte rede transnacional para levantar verbas para refugiados e – pasmem – um tio lobbista que começou a mover pauzinhos para aprovar uma lei especial para refugiados dentro do Reino Unido. Voltando ao ponto inicial: a intervenção na Líbia é gerada principalmente por interesses escusos e hipócritas? Provavelmente. Pode ser que ela indique a ponta do Iceberg para, em algumas décadas, termos ferramentas normativas para se “tentar acabar com uma prática histórica, consolidada e importante”, que é em- pregar “’Soberania’ para se justificar qualquer atitude de lideranças irresponsáveis? Tomara. Países fora do Eixo de poder não possuem capacidade de resolver seus problemas internos? Possivelmente possuem, e resolveriam, dentro de algum perío- do temporal – mas prefiro (cof cof, Khmer Vermelho), por agora, não descobrir. ¹ É jornalista (o que justifica os erros no texto). A Hipocrisia irá salvar os Direitos Humanos (e Lady Gaga a Líbia) Por: Fernando L.¹ Pérolas Pérolas Pérolas Pérolas 29/06: Seminário “O Livro Branco de Defesa” @ Escola de Guerra Naval. 29/06: José Luís Fiori: Mudanças na Economia Política Internacio- nal Após o 11 de Setembro de 2001 @ UFF. 30/06 e 01/07: Seminário Internacional: Diálogo Sobre a Violência Urbana no Rio de Janeiro e Caracas @ UERJ. 02/07: I Arraiá do Barão @ Pendoti- ba. 20 a 22/07: 3º Encontro Nacional ABRI @ USP. 8 a 10/08: V ENABED @ Fortaleza - CE. Todas as atividades acima encontram-se especificadas no site www.uff.br/ri Calendário RI . UFF RI . UFF RI . UFF RI . UFF Julho/2011 Julho/2011 Julho/2011 Julho/2011 Arraiá do Barão Estrada Caetano Monteiro, 2835 Rua F - Sede 02/07 - 13h “F*deu, vou estar nessa sessão toda edição” - Aluna do 5º período, sobre as pérolas. “Talvez em outros mundos astrais as coisas sejam mais bacanas” - Professor, filosofando. “Você é muito mau!” - Aluna do 1º período in- dignada com os preceitos realistas do professor. “Onde se ganha o pão, não se come a carne” - Deus “Eu acho, inclusive, que o caráter político do governo FHC só foi possível porque não existia facebook” - Professora refle- tindo sobre o poder da rede social.

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O Cosmopolítico é um periódico do curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense. Criado em 2011, pelo Centro Acadêmico Sergio Vieira de Mello, teve como objetivo divulgar textos, acadêmicos ou literários, charges, entrevistas, pérolas, dentre outros diversos conteúdos para toda a comunidade acadêmica como um todo. Após um longo período sem publicações, pensou-se na transferência do jornal, para uma versão totalmente online.

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Em 1876, o abolicionista Joaquim Nabuco, em carta para um amigo, relata que foi abordado, aos berros, por uma figura proeminente do Império, que exigia saber quem ele pensava que era, por “tentar acabar com uma prática histórica, consolidada e importante” para a sociedade brasileira: a escravidão. A combinação de organização civil e da famigerada Bill Aberdeen Law, da Inglaterra, (“ei, tive u-ma idéia, que tal se afundarmos os negros nos navios ao invés de deixar que eles se tornem escravos?”), ajudou a encerrar a prática no Brasil e, menos de 200 anos depois (período irrisório para a análise de um historiador, comparável a influência Construtivista nas RI atualmente) é de concordância geral, dentro do país – e do Sistema Internacional – que utilizar seres humanos como mercadoria é algo hedi-ondo e vil – apesar da prática ainda se manter bastante viva em alguns recôncavos. A grande questão, dentro dessa análise, é entender que ações hipócritas serão sempre um dos grandes motores das movimentações humanas, principal-mente dentro das Relações Internacionais. A Inglaterra possuía interesses merca-dológicos na abolição da escravatura? Com certeza. Isso faz desse movimento algo ruim? Não necessariamente. Em abril desse ano, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma Zona de Exclusão Aérea na Líbia – alegando que Kahdafi, notório badernista, estava ma-tando civil a torto e direito. A maioria dos analistas – corretamente, a meu ver – foi rápida em apontar os motivos geopolíticos, geoestratégicos e geointeresseiros para a intervenção. Petróleo, refugiados e efeito “Bad Neighborhood” foram rapida-mente citados (até tentaram empurrar um R2P, mas não convenceu). Algumas semanas depois, atuando em um Campo de Refugiados nessa bu-cólica província no Norte da África, tive a chance de analisar os fatos mais de perto. Como o único detentor de um laptop com internet, era visitado pela mais diferente trupe para acessar a querida rede: pessoas querendo ver e-mail, notícias e mesmo resultados da Fórmula 1. Dentre desse grupo, me chamou a atenção uma menina, nos seus 12 anos, que sempre aparecia por lá para ouvir músicas da Lady Gaga, sabendo as coreografias, letras, hinos satânicos – e tudo mais que a loira canta no Youtube. Euforias Keoheanísticas a parte, logo descobri que ela tinha familiares na Inglaterra e nos Estados Unidos, que já mobilizavam uma forte rede transnacional para levantar verbas para refugiados e – pasmem – um tio lobbista que começou a mover pauzinhos para aprovar uma lei especial para refugiados dentro do Reino Unido. Voltando ao ponto inicial: a intervenção na Líbia é gerada principalmente por interesses escusos e hipócritas? Provavelmente. Pode ser que ela indique a ponta do Iceberg para, em algumas décadas, termos ferramentas normativas para se “tentar acabar com uma prática histórica, consolidada e importante”, que é em-pregar “’Soberania’ para se justificar qualquer atitude de lideranças irresponsáveis? Tomara. Países fora do Eixo de poder não possuem capacidade de resolver seus problemas internos? Possivelmente possuem, e resolveriam, dentro de algum perío-do temporal – mas prefiro (cof cof, Khmer Vermelho), por agora, não descobrir.

¹ É jornalista (o que justifica os erros no texto).

A Hipocrisia irá salvar os Direitos Humanos

(e Lady Gaga a Líbia) Por: Fernando L.¹

PérolasPérolasPérolasPérolas

29/06:

Seminário “O Livro Branco de Defesa” @ Escola de Guerra Naval.

29/06:

José Luís Fiori: Mudanças na Economia Política Internacio-nal Após o 11 de Setembro de 2001 @ UFF.

30/06 e 01/07:

Seminário Internacional: Diálogo Sobre a Violência Urbana no Rio de Janeiro e Caracas @ UERJ.

02/07:

I Arraiá do Barão @ Pendoti-ba.

20 a 22/07:

3º Encontro Nacional ABRI @ USP.

8 a 10/08:

V ENABED @ Fortaleza - CE.

Todas as atividades acima encontram-se especificadas

no site www.uff.br/ri

Calendário

RI . UFFRI . UFFRI . UFFRI . UFF Julho/2011Julho/2011Julho/2011Julho/2011

Arraiá do Barão

Estrada Caetano Monteiro,

2835

Rua F - Sede

02/07 - 13h

“F*deu, vou estar nessa sessão toda edição” - Aluna do 5º período, sobre as pérolas.

“Talvez em outros mundos astrais as coisas sejam mais bacanas” - Professor, filosofando.

“Você é muito mau!” - Aluna do 1º período in-

dignada com os preceitos realistas do professor.

“Onde se ganha o pão, não se come a carne” - Deus

“Eu acho, inclusive, que o caráter político do governo FHC só foi possível porque

não existia facebook” - Professora refle-tindo sobre o poder da rede social.

A Revista Eletrônica Ágora Global é uma iniciativa dos alunos do Curso de Graduação em RI da UFF, criada para publicação de trabalhos que enriqueçam o debate de temas da agenda internacional. Desde a sua criação em 2009, a Revista, sob orientação do Prof. Thiago Rodrigues, tem alcançado diversos objetivos, dentre eles o regis-tro internacional que individualiza o periódico (ISSN). Neste final de semestre, a nova edição da revista estará no ar, com artigos de estudan-tes não apenas da UFF, mas de outras universi-dades parceiras. Caso deseje publicar ou integrar a equipe da revista, envie e-mail para:

[email protected]

Também acesse o site: www.agoraglobal.com.br. Venha fazer parte deste projeto!

Thiago Costa Sub-editor

Ágora Global

Teste - por Rita Feodrippe

Situação: Um ônibus de passeio cheio, em que ninguém se conhece: são todos estranhos uns aos outros, sofre um aci-dente. Ao passar pelo ponto mais alto de uma ponte, o moto-rista desgoverna e atinge a mureta, estraçalhando-a. O ôni-bus fica dependurado e as pessoas se aglomeram em uma extremidade. O peso das pessoas equilibra o peso do ônibus, evitando que, mesmo bamba, ele caia na água, 500 metros abaixo. O equilíbrio está por um fio. Talvez uma corrente de vento decida a situação, talvez não. A única certeza que se tem é que, se uma pessoa abandonar o ônibus, ele cairá.

Pergunta: Você, que é a pessoa mais próxima à única saída possível do ônibus: safa-se da situação e sai do ônibus, sa-bendo que, ao fazer isso, você sobreviverá, mas todas as outras pessoas irão morrer; ou continua no ônibus, manten-do o equilíbrio precário até que a ajuda resgate (ou não) a todos vocês? Sem contar, é claro, a possibilidade de que al-guém, igualmente perto da saída, saia do ônibus antes que você tome uma decisão e então ponha tudo a perder...

Crônica:Crônica:Crônica:Crônica:

Nos dias 14 e 15 de junho houve a eleição para o CASViM e a chapa única recebeu 91,6% dos votos. A chapa formada por Ana Helena, Clarissa, Davi, Diana, Fernanda, Guilherme, Ja-naína, Joana, Juliane, Julio, Luis Fernando, Mariana, Rafael, Rita, Thais e Vivian se compro-meteu a cumprir todas as suas propostas e já esta dando sinais disso, vide o aumento do contato tanto por e-mail, como por facebook entre o CASViM e os alunos, além, é claro, deste jornal. Qualquer dúvida, sugestão ou reclamação envie um e-mail para

[email protected]

Eleições do CASViM e nova chapa:Eleições do CASViM e nova chapa:Eleições do CASViM e nova chapa:Eleições do CASViM e nova chapa: 23/06:

Juliane Bianchi

24/06: Fernanda Men-

donça

27/06: Gabriela Lacerda

29/06:

Carlos Rafaelli

01/07: Israel Fernandes

03/07:

Fernanda Mayumi

04/07: Melissa Solórzano

12/07:

Gisele Barros

16/07: Dani Larizzatti

20/07:

Rani Mello

21/07: Davi Daminelli;

Lígia Maia e Silva

22/07: Clarissa Farias

24/07:

Felipe Medeiros

26/07: Anna Beatriz

Oliveira

29/07: Gabriel Lucena

AniversáriosAniversáriosAniversáriosAniversários

Semana de CP e RI na UFFSemana de CP e RI na UFFSemana de CP e RI na UFFSemana de CP e RI na UFF

A I Semana de Ciência Política e Relações Internacionais do Rio de Janeiro, realizada entre os dias 30/05 e 02/06, na UFF, é parte de um projeto cuja proposta é integrar acadêmicos das diversas Universidades do estado do Rio de Janeiro que en-contram-se ligados às áreas de CP e RI. Nesse ponto a Semana foi um sucesso. Com a participação de cerca de 200 participantes, metade estudantes da UFF, metade alunos de outras Univer-sidade, como UNIRIO, UFRJ, UERJ, entre outras, o que se observou foram mesas de discussão abertas à pluralidade de opiniões, compostas por palestran-tes de diferentes Universidades.

Para saber mais acesse:

www.uff.br/redepolitri

Colaborou: Beatriz Alvarenga

Convocatória:

“O Cosmopolítico” gosta-

ria de informar que o espaço para novos cola-boradores está sempre

aberto. Àqueles interessados em enviar crônicas, peque-nos artigos de opinião,

pérolas, piadas engraça-das, ou simplesmente

queiram se pôr a disposi-ção para ajudar em pró-ximas edições, pedimos que enviem e-mail para:

[email protected]

A vencedora do con-curso para o nome

do jornal foi:

Fernanda Lázaro

A vodca será entre-gue na festa junina.

Ou não.

Colaborou: Davi Daminelli