economia - cidadania & cultura – conquista de … ganhamos, maior anotaque da-mos...

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Economia mente conforme a renda aumenta. Quan- to mais ganhamos, maior a nota que da- mos à nossa "ida - o que não quer dizer que nos tornamos mais felizes. Con- cluem os amores do estudo: "Ter uma renda elevada não lhe trará felicidade, mas lhe dará uma vida que você imagina ser melhor". A percepção do efeito da renda na felicidade é, assim, uma ideia relativa. FELICIDADE RELATIVA Para Kahneman (acima), dinheiro compra apenas satisfação; segundo Oswald (ao lado), nossa felicidade depende do .salârio que IlOSSO colega de trabalho ganha Nossa satisfação depende da prosperidade de nossos parentes e conhecidos. Pes- quisas de Andrew Oswald mostraram justamente is- so. A avaliação que faze- mos de nosso salário é ~ influenciada pelo. rendi- ~ mente de nossos colegas. 3 "Queremos ter um BMW 'reluzeme na garagem e desejamos que nossos colegas rodem numa lata-velha", diz Oswald. A análi- se parece validar o dito do ensaísta americano H.L. Mencken (.1880-1956), segundo o qual "um homem rico é aquele que ganha 100 dólares a mais por ano que o marido da irmã de sua mulher". Em outras palavras, feliz é aquele que ganha uns tostões a mais do que o seu concunhado. _ 96115 DE SETENffiRO. 20lO I veja recebem 10000, mas aque- les que ganham 5 milhões são tão felizes quanto os que ganham 100000. Isso significa que o pa- drão de vida não aumenta- rá se a renda anual não su- bir para além de 75000 dólares? Negativo, afir-: mam Kahneman e Deaton. Mas para ganhar mais, di- zem eles, as pessoas assu- mem atividades mais es- tressantes e dedicam me- nos tempo livre a ativida- des que mais lhes dão pra- . zer ~ sair para tomar uma~- cerveja com amigos, pas- sear com os filhos, assistir aos seriados favoritos na TV ou mesmo entregar-se ao dolce far nienie. A aná- lise corrobora um estudo anterior, do economista Andrew Oswald, da Uni- versidade de warwíck, na Inglaterra. Segundo ele, ter uma vida mais sociável produz uma sensação de bem-estar supe- rior à obtida por um aumento salarial de lOOO libras (algo em tomo de 2700 reais). Abrir mão por completo da vida. social, diz Oswald, requereria uma com- pensação anual de 230000 libras. Para entenderem melhor como o di- nheiro se relaciona com a satisfação pes- soal, Kahneman e Deaton propuseram a análise em separado de dois aspectos. O primeiro é o bem-estar emocional coti- diano (a frequência com que sorrimos, nos entristecemos ou nos sentimos es- tressados). O outro ponto seria a avalia- ção que fazemos da nossa própria vida (quão contentes estamos conosco mes- mos, em uma perspectiva mais abran- gente e de longo prazo). Segundo os pes- quisadores, é sobre o bem-estar emocio-· nal do dia a dia que o dinheiro surte efeitos restritos. Os 75 000 dólares anuais (em valores médios, e sem levar em con- . sideração a diferença no custo de vida entre as cidades americanas) devem ser entendidos como uma quantia suficiente para atender às necessidades básicas de uma família de classe média (uma casa confortável, um carro novo, a educação dos filhos). Já a avaliação que as pessoas fazem da própria vida cresce constante-

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Economia

mente conforme a renda aumenta. Quan-to mais ganhamos, maior a nota que da-mos à nossa "ida - o que não quer dizerque nos tornamos mais felizes. Con-cluem os amores do estudo: "Ter umarenda elevada não lhe trará felicidade,mas lhe dará uma vida que você imaginaser melhor".

A percepção do efeito da renda nafelicidade é, assim, uma ideia relativa.

FELICIDADE RELATIVAPara Kahneman (acima),dinheiro compra apenassatisfação; segundoOswald (ao lado), nossafelicidade depende do.salârio que IlOSSO colegade trabalho ganha

Nossa satisfação dependeda prosperidade de nossosparentes e conhecidos. Pes-quisas de Andrew Oswaldmostraram justamente is-so. A avaliação que faze-mos de nosso salário é

~ influenciada pelo. rendi-~ mente de nossos colegas.3 "Queremos ter um BMW'reluzeme na garagem e

desejamos que nossos colegas rodemnuma lata-velha", diz Oswald. A análi-se parece validar o dito do ensaístaamericano H.L. Mencken (.1880-1956),segundo o qual "um homem rico éaquele que ganha 100 dólares a maispor ano que o marido da irmã de suamulher". Em outras palavras, feliz éaquele que ganha uns tostões a mais doque o seu concunhado. _

96115 DE SETENffiRO. 20lO I veja

recebem 10000, mas aque-les que ganham 5 milhõessão tão felizes quanto osque ganham 100000.

Isso significa que o pa-drão de vida não aumenta-rá se a renda anual não su-bir para além de 75 000dólares? Negativo, afir-:mam Kahneman e Deaton.Mas para ganhar mais, di-zem eles, as pessoas assu-mem atividades mais es-tressantes e dedicam me-nos tempo livre a ativida-des que mais lhes dão pra-. zer ~ sair para tomar uma~-cerveja com amigos, pas-sear com os filhos, assistiraos seriados favoritos naTV ou mesmo entregar-seao dolce far nienie. A aná-lise corrobora um estudoanterior, do economistaAndrew Oswald, da Uni-versidade de warwíck, naInglaterra. Segundo ele, teruma vida mais sociávelproduz uma sensação de bem-estar supe-rior à obtida por um aumento salarial delOOO libras (algo em tomo de 2700reais). Abrir mão por completo da vida.social, diz Oswald, requereria uma com-pensação anual de 230000 libras.

Para entenderem melhor como o di-nheiro se relaciona com a satisfação pes-soal, Kahneman e Deaton propuseram aanálise em separado de dois aspectos. Oprimeiro é o bem-estar emocional coti-diano (a frequência com que sorrimos,nos entristecemos ou nos sentimos es-tressados). O outro ponto seria a avalia-ção que fazemos da nossa própria vida(quão contentes estamos conosco mes-mos, em uma perspectiva mais abran-gente e de longo prazo). Segundo os pes-quisadores, é sobre o bem-estar emocio-·nal do dia a dia que o dinheiro surteefeitos restritos. Os 75 000 dólares anuais(em valores médios, e sem levar em con-

. sideração a diferença no custo de vidaentre as cidades americanas) devem serentendidos como uma quantia suficientepara atender às necessidades básicas deuma família de classe média (uma casaconfortável, um carro novo, a educaçãodos filhos). Já a avaliação que as pessoasfazem da própria vida cresce constante-