ecolagoa (tereza cristina barbosa)

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Um breve documento sobre a Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição Tereza Cristina Pereira Barbosa

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Page 1: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

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Um breve documento sobre a Ecologiada Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

Tereza Cristina Pereira Barbosa

Page 2: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

2 - Ecolagoa

2003ECOLAGOA - Um breve documento sobre a Ecologia

da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

AutoraTereza Cristina Pereira Barbosa

ColaboraçãoAna Cristina José

Juliana Rezende Torres

OrganizaçãoAntoninha Santiago

RevisãoTereza Cristina Barbosa e Antoninha Santiago

Projeto Gráfico e EditoraçãoMadu Madureira – engenhoD Design

[email protected]

IlustraçõesMapas do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis – IPUF e da CASAN

Fotos aéreas: Charles Cesconetto da Silva e Tereza Cristina P. BarbosaFotos terrestres: Tereza Cristina P. Barbosa

EstagiáriosAlessandra P. Bento

Isabela P. BentoAlexandre Douglas Paro

Armando Fiúza Jr.Simone Isabel Ventura

Agda Cristina Pereira dos SantosViviane Gonçalves

Márcio SaviBequi Barros Behar

PatrocínioMMA - Ministério do Meio Ambiente

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Editora Gráfica Pallotti

Catalogação na Publicação: Ilma Flôres CRB 14/794

B238 Barbosa, Tereza Cristina PereiraEcologia: um breve documento / Ana Cristina José, Juliana

Rezende Torres. - - Florianópolis : Editora Gráfica Pallotti, 2003.86p. : il., fots.

Inclui bibliografia.

1.Ecologia das lagoas - Florianópolis, SC. 2. Bacias hidrográficas - Lagoa da Con-ceição (Ilha de Santa Catarina, SC). 3. Lagoa da Conceição (Ilha de Santa Catarina, SC) -aspectos ambientais. I. Título

CDU: 556.51(816.4)

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Agradecimentos especiais

Ademir Reis, Alésio dos Passos Santos, AlessandraBento, Beatriz Siedler, Edson Wolf, Grover Alvarado,

Isabela P. Bento, Jair Sartoratto, Jeffrey Hoff,Lurdes José, Marisa Rolim de Moura, Marisis

Kallfelz, Paula Brügger e Vera Lícia Arruda

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Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9

CAPÍTULO IEcologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

O Ambiente Lagunar ........................................................................................... 11A Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição ..................................................... 12As águas doces .................................................................................................. 12As águas salgadas ............................................................................................. 13O corpo lagunar .................................................................................................. 13

A dinâmica da Lagoa da ConceiçãoDinâmica Físico-Química das Águas .................................................................. 14Dinâmica da Biota Lagunar ................................................................................. 17A Produtividade Pesqueira da Lagoa ................................................................... 18

CAPÍTULO IIDinâmica Humana na Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

Povos dos sambaquis ......................................................................................... 21Povos Itararés ..................................................................................................... 22Povos Carijós ...................................................................................................... 23Os Açorianos ...................................................................................................... 23Pesca e turismo ................................................................................................. 25Habitantes atuais ................................................................................................ 26

CAPÍTULO IIIProblemas do Corpo Lagunar ............................................................... 27

Poluição por esgotos domésticos ....................................................................... 29Poluição por gorduras ......................................................................................... 30Poluição por embarcações.................................................................................. 31Poluição por Motores .......................................................................................... 32Poluição por agrotóxicos .................................................................................... 32Poluição por Sedimentos - Assoreamento .......................................................... 33Acidificação ........................................................................................................ 33

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6 - Ecolagoa

CAPÍTULO IVAs Leis que Protegem a Lagoa da Conceição ..................................... 35

Reserva Ecológica .............................................................................................. 36Área de Relevante Interesse Ecológico ............................................................... 37Área de Preservação Permanente (APP) ............................................................ 37Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86 ................................................................ 37Área de Interesse Turístico ................................................................................. 37Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro ........................................................ 37Sistema Nacional de Unidades de Conservação ................................................. 38Lei Federal 9.433/97 ........................................................................................... 38A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98) ............................................. 38Decreto Estadual 14250/81 e Lei Estadual 5793/80 ............................................ 39Lei Estadual 6.063/82 ......................................................................................... 39Decreto Estadual 14250/81 e Lei Estadual 5793/80............................................ 39Área de Proteção dos Parques e Reservas (Lei Municipal 5.055/97) .................. 39Decreto Estadual 2.006/62 ................................................................................. 39Decreto Municipal 1.261/75 ................................................................................ 39Decreto Municipal 213/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 214/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 231/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 247/86 ................................................................................... 40Lei Municipal 3.455/90 ........................................................................................ 40Decreto Municipal 4.605/95 ................................................................................ 40Lei Municipal 2.193/85 - ...................................................................................... 40Lei Complementar Municipal Nº 099/02 .............................................................. 41Acordo entre o município de Florianópolis, Casan, Celesc (2002) ...................... 41Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Gerenciamento da

Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/01/2002) .................................... 42

CAPÍTULO VDistrito da Lagoa ..................................................................................... 43

Abastecimento de água ...................................................................................... 46Saneamento ....................................................................................................... 46

Centrinho ................................................................................................. 47Abastecimento ................................................................................................... 48Animais domésticos ........................................................................................... 48Lixo ..................................................................................................................... 48Saúde ................................................................................................................. 48Problemas locais ................................................................................................ 49

Canto dos Araçás .................................................................................... 49Economia ............................................................................................................ 50Abastecimento ................................................................................................... 50Saneamento ....................................................................................................... 50Animais domésticos ........................................................................................... 51Lixo ..................................................................................................................... 51

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Canto da Lagoa ....................................................................................... 51Av. Vereador Osni Ortiga ..................................................................................... 52

Porto da Lagoa ....................................................................................... 53Abastecimento ................................................................................................... 53Saneamento ....................................................................................................... 54Lixo ..................................................................................................................... 55Animais Domésticos .......................................................................................... 55Ajuda médica ...................................................................................................... 55Características atuais e problemas recorrentes .................................................. 55

CAPÍTULO VICosta da Lagoa

Economia e história ............................................................................................ 57Abastecimento de água ...................................................................................... 59Saneamento ....................................................................................................... 59Animais domésticos ........................................................................................... 60Lixo ..................................................................................................................... 60Recursos médicos .............................................................................................. 60Transporte .......................................................................................................... 61Características atuais e problemas recorrentes .................................................. 61

CAPÍTULO VIIBarra da Lagoa - UEP 70 ........................................................................ 63

Economia e história ........................................................................................... 64Abastecimento de água ...................................................................................... 66Saneamento ...................................................................................................... 67Animais domésticos .......................................................................................... 68Lixo ..................................................................................................................... 68Recursos Médicos .............................................................................................. 68Características atuais e problemas recorrentes ................................................. 69

CAPÍTULO VIIISão João do Rio Vermelho – zona rural ............................................... 71

Economia e história ............................................................................................ 73Abastecimento de Água...................................................................................... 74Saneamento ....................................................................................................... 74Animais domésticos ........................................................................................... 75Lixo .................................................................................................................... 75Características atuais e problemas recorrentes .................................................. 75Recursos médicos .............................................................................................. 75

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CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................... 79

FOTOS, MAPAS E FOLDERSPáginas centrais

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Introdução

Por que falar do ecossistema da Bacia da Lagoa da Conceição? Esta publicação,Ecolagoa, aborda a ecologia com a intenção de encontrar um eco que se traduza namudança de atitude pela sociedade. No decorrer deste trabalho há um pouco dehistória, um capítulo dedicado à legislação ambiental e suas violações, e muito doshábitos dos próprios habitantes atuais. Também são apresentadas as diversas formasde poluições hídricas e, principalmente, a questão da preocupante ocupação pelaconstrução civil.

Esta mesma Lagoa da Conceição que atrai visitantes e moradores de diferentescantos do planeta, também inspirou mais de 400 trabalhos acadêmicos. Neles, sãoabordados desde histórias fantásticas até a degradação ambiental que, apesar dessesestudos, continua vitimando o maior cartão postal da cidade. Feliz ou infelizmente,este tema é pauta quase diária dos jornais da capital, que também serviram de fontepara muitas informações aqui compiladas.

Assim, este documento surgiu da necessidade de unir as informações disponíveisnuma rede que inclui técnicos da Universidade Federal de Santa Catarina, FundaçãoLagoa, Instituto Sócio-Ambiental Campeche, Associação dos Moradores da Lagoa(Amola), Associação Comercial e Industrial da Lagoa (Acif), Sociedade Animal, Fó-rum da Cidade, Comitê da Bacia da Lagoa, entre outros, e os próprios moradorescomo depoentes da realidade ambiental em que vivem.

Foram dez alunos bolsistas de diferentes cursos da UFSC (Geografia, Biologia,Serviço Social, Desenho Gráfico e Engenharia Sanitária) que trabalharam numa pes-quisa corpo-a-corpo num universo de 528 residências e 2064 entrevistados. Aqui, éimportante explicar que a meta era entrevistar 2.845 moradores, que configurariam10% dos habitantes da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição, segundo dadosdo IBGE de 2000.

Infelizmente, barreiras burocráticas e administrativas impediram que se atingisseeste número de entrevistas. O mesmo motivo levou à ausência, neste documento,

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de um detalhamento maior sobre a situação da Praia Mole, Praia da Joaquina eRetiro da Lagoa, embora façam parte da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Concei-ção. Apesar disso, acreditamos que os dados até aqui levantados estejam muitopróximos da realidade.

Foram apuradas informações recentes das localidades do Rio Vermelho, Barra daLagoa, Costa da Lagoa e Centrinho da Lagoa (que abrange Av. das Rendeiras, parteda Av. Vereador Osni Ortiga, Village I e II, Saulo Ramos, Canto da Lagoa, Canto dosAraçás e Porto da Lagoa). Entre março e dezembro de 2002, todos estes lugaresreceberam visitas pessoais dos alunos entrevistadores. Este longo período tambémnão foi programado, mas resultado dos mesmos problemas burocráticos e adminis-trativos que limitaram os objetivos do Ecolagoa.

Após a coleta de dados, os entrevistadores apresentaram seminários junto às co-munidades-alvo, para expor os problemas levantados e soluções possíveis a curto emédio prazos.

Entre as soluções propostas, estão as instruções para instalação de sistemas deesgotamento sanitário individual que atendam as normas técnicas brasileiras. Foramsugeridos também o controle populacional de animais domésticos e o descarte ade-quado para resíduos sólidos. Todas estas informações estão detalhadas em foldersdistribuídos gratuita e separadamente nas diferentes comunidades da Bacia Hidrográ-fica, e que fazem parte deste projeto de educação ambiental. Estes mesmos folders seencontram no encarte colorido desta publicação.

As informações aqui contidas estão abertas a contribuições, atualizações e novasconsiderações. Apesar das deficiências, acreditamos que este trabalho poderá servircomo subsídio para o planejamento do bairro e da cidade, assim como base educaci-onal nas escolas da região.

Não podemos deixar de considerar que, nos últimos dois anos, a ocupação eo fluxo turístico foram os maiores da história da Lagoa. Estes números precisosnão estão aqui.

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1 Muehe e Caruso Gomes Jr,, 1999; Hauff, 1996; José, 1998.2 Odebrecht e Caruso Gomes Jr, 1999.3 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999; Klingebiel e Sierra de Ledo, 1997; José, 1998; Torres, 1999.

CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1

Ecologia da Bacia Hidrográficada Lagoa da Conceição

O Ambiente Lagunar

A Lagoa da Conceição, na ilha de Santa Catarina, é na realidade uma laguna ligadaao mar pelo Canal da Barra da Lagoa. Mas no Brasil, todos os corpos d’água costei-ros ou de interiores são chamados de lagoa. Assim, na zona costeira, as lagoas tantopodem ser lagunas (ligadas com o mar) ou lagos costeiros (isolados do mar).

As lagunas, como a da Conceição, são ecossistemas localizados na interface oce-ano/terra e, por isto, complexos e altamente produtivos.

A forma alongada da Lagoa da Conceição (13,5 km no sentido Norte/Sul), emparalelo à linha costeira, é irregular e recortada por dunas e morros que formam trêssubsistemas popularmente conhecidos como Lagoa Central, do Norte e do Sul ousimplesmente Lagoa do Meio, de Cima e de Baixo1 (Figura 1).

O corpo lagunar ou espelho d’água com 19,2 km2, é contornado por relevosgraníticos ao Norte e à Oeste, e por dunas e praias ao Leste e Sul. Durante avançose recuos do mar, no Período Holoceno, os sedimentos trazidos pelos ventos e on-das formaram barreiras que isolaram o corpo lagunar do oceano2 (Figura 2). À me-dida que isto acontecia, as águas que desciam dos morros e caíam com as chuvaseram aprisionadas formando o corpo lagunar ou a Lagoa propriamente dita. O Ca-nal da Barra3, única ligação com o mar, localizado ao Leste da Lagoa e protegidopelo morro da Praia da Galheta, não foi soterrado pelos sedimentos. Este canal nabase do morro da Galheta, com 2,5 km de extensão, estreito e sinuoso, permaneceuligando a Lagoa ao oceano.

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A Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (BHLC)

Uma bacia é uma estrutura côncava que permite o armazenamento de água, mas-sas e resíduos, entre outros. Uma Bacia Hidrográfica é uma concavidade ou depres-são geológica que recebe ou acumula as águas do entorno. Todos os rios e águassubterrâneas que preenchem a bacia hidrográfica são chamados de contribuintes. Váriosribeirões, riachos, rios, o Canal da Barra e águas subterrâneas desembocam na Lagoada Conceição. Este conjunto de contribuintes e o corpo lagunar receptor (lagoa) for-mam a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição,4 e todos eles influenciam na qua-lidade da água.

Fazem parte da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição as seguintes comuni-dades: Barra da Lagoa, Canto da Lagoa, Canto dos Araçás, Costa da Lagoa, Portoda Lagoa, Retiro da Lagoa e Rio Vermelho, praias da Joaquina, Mole e Galheta.

Todas estas comunidades que vivem na BHLC têm atividades que causam impac-tos nas águas da Lagoa, através do uso do solo, lançamento de rejeitos, esgotos “innatura”, uso náutico, etc.

As águas doces

Aproximadamente 35 afluentes5 e dois canais de drenagem desembocam no cor-po lagunar (Figura 3), provenientes, em sua maioria, dos morros que contornam ascomunidades ao Oeste (Costa da Lagoa, Canto dos Araçás, Canto da Lagoa, Maci-ço da Costeira). Todos os ribeirões, riachos e drenagens pluvial e subterrânea6 contri-buem com as águas doces no corpo lagunar.

Na Lagoa de Cima deságuam os maiores contribuintes de águas doces, os riosVermelho e João Gualberto ao Norte, o rio Cachoeira à Oeste e, ao Leste, os canaisde drenagens e as águas subterrâneas do Parque do Rio Vermelho.

Na Lagoa do Meio deságuam afluentes do Canto dos Araçás a Oeste e do morroda Praia Mole ao Leste.

Na Lagoa de Baixo deságuam pequenos riachos, muitos deles comprometidoscom a poluição, como é o caso do riacho da Igreja Nossa Senhora da Conceição,além de olhos d’água e águas subterrâneas das dunas da Joaquina.

4 Atlas de Santa Catarina, 1986; José, 1998; José & Barbosa, 1998; Torres,1999.5 D’Aquino Rosa e Barbosa, 1998.6 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999.

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As águas salgadas

O canal contribui com as águas salgadas trazidas das praias da Barra da Lagoa eMoçambique pelas marés, lançando-as na Lagoa do Meio (Figura 4).

A profundidade máxima do canal é 2,5 metros e a largura máxima de 40m. A partirdo molhe (Figura 5) construído em 1982, até 250 m dentro do canal, o leito (por ondeas águas correm) é rochoso. A partir da primeira curva até sua desembocadura naLagoa do Meio, predomina solo arenoso. Suas margens são fixadas por uma franjalitorânea de vegetação intermarés (marismas), constituída principalmente de gramíne-as Spartina densiflora, Spartina loisleur (Figura 6); juncos e mangues (Avicenniaschaueriana, Laguncularia racemosa)7. Grande parte das margens do canal estáocupada por residências.

A maré rica em sais e sedimentos entra pelo canal e perde 90% de sua força àmedida que avança em direção à Lagoa (Figura 7). Nesta perda de energia, os sedi-mentos se depositam nos meandros e obstáculos encontrados, assoreando lentamen-te o canal e favorecendo a instalação da vegetação litorânea. As correntes de marécom volume reduzido ingressam no corpo lagunar na área central expandindo-se parao centro e, com menor intensidade, para o Norte e para o Sul. O refluxo das massasde água durante a maré vazante é superficial e converge para o canal.

Embora apenas 10% da energia de maré se propague na Lagoa8, o canal ainda é omaior contribuinte da Bacia Hidrográfica, influenciando na salinidade em maior inten-sidade na Lagoa do Meio, e menor nas Lagoas de Cima e de Baixo.

O corpo lagunar

O solo da Lagoa é arenoso com sedimentos finos, siltosos e matéria orgânica(lodo) nas partes fundas e abrigadas dos ventos, bem como nas desembocaduras derios9. As maiores profundidades ocorrem na Lagoa do Meio (8,7 m) e também emfrente às bases graníticas ou morros a Oeste (8 m) mas, em todas as direções, sãofreqüentes as praias e bancos de areia com profundidades inferiores a 1 m10 (Figura 8).

7 Soriano- Sierra, 1999a.8 Odebrecht e Caruso Gomes Jr. 1987 in José, 1998.9 Caruso Gomes Jr.1987; Muehe & Caruso Gomes Jr, 1989; Dutra,1991; Bresciani, 1998 e Koch et al., 1997ª.10 Muehe e Caruso Gomes Jr, 1989; Dutra 1991; Hauff, 1996.

Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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A dinâmica da Lagoa da Conceição:

Dinâmica Físico-Química das Águas

A salinidade, oxigenação, circulação e renovação das águas na Lagoa são deter-minadas pelos ventos, marés, precipitação e topografia da região.

A salinidade é a concentração de sais cloreto de sódio (NaCl) dissolvidos na água.Para exemplificar, as águas do mar apresentam uma salinidade que varia entre 30 e 38partes por mil e são consideradas salgadas. No Canal da Barra, ela varia entre salo-bra e salgada (entre 15 e 38 partes por mil), de acordo com as marés - enchentes ouvazantes. Nas marés vazantes predominam as águas salobras e, nas marés enchentes,as águas salgadas11.

Cerca de 90% do impacto ou energia das marés se perde nas curvas do canal esomente 10% atingem a Lagoa da Conceição12 proporcionando-lhe também salinida-des que variam entre salgadas (33 partes por mil) e salobras (0,5 até 29 partes pormil13). De acordo com as marés que entram pelo Canal da Barra, elas variam nos trêssubsistemas (Lagoas de Cima, do Meio e de Baixo) segundo a proximidade, força edinâmica das marés e do aporte de águas doces (rios, drenagens, chuvas, etc.).

Na Lagoa do Meio, onde desemboca o canal, as águas têm características quasemarinhas (33 partes por mil) 14. Na Lagoa de Baixo, a passagem da água salgada élimitada pelo estrangulamento sob a ponte da Avenida das Rendeiras (Figura 9). Alémdisso, ali deságuam vários contribuintes de águas doces (rede pluvial, riachos e águassubterrâneas do lençol freático sob as dunas da Joaquina) que influenciam significati-vamente na variação da salinidade (15 até 26 partes por mil15).

Quanto mais distante do canal e maior o número de aportes de águas dos rios edrenagens, mais baixas e variáveis são as salinidades (desde 0,5 a 26 partes pormil16). Nas desembocaduras dos rios e riachos das lagoas de Baixo e de Cima, asalinidade é zero.

Também o grau de obstrução do canal influencia na salinidade dos três subsistemas.Antes de 1982, o Canal periodicamente fechava e abria a cada seis meses e, nestaépoca, a salinidade da Lagoa era bem menor (15 a 18 partes por mil17). Porém, neste

11 Torres, 1999; Souza, 2002; Souza & Freire a e b, 2002.12 Odebrecht e Caruso Gomes Jr.13 Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.14 Panitz, 1998 in José, 1998; Gomes & Freire, 2002.15 Barbosa observação pessoal, 2002.16 Assumpção et al., 1981; Souza-Sierra et al., 1999; , Barbosa (obs. Pessoal), Rosa D’Aquino

(com.pessoal).17 Rosa D’Aquino (dados não publicados)

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mesmo ano a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina(CIDASC) modificou o leito e a vazão com a abertura, drenagem e construção de ummolhe na entrada do Canal, (visualizado nas figuras 4 e 5), o que interferiu na ecologia detodo o sistema lagunar. Isto aconteceu a pedido dos pescadores que queriam acesso aomar e à Lagoa permanentemente. Porém, a alteração começou pela salinidade da Lagoa,que passou de 18 para 33 partes por mil - e influenciou na modificação de espécies defauna salobra para, predominantemente, fauna marinha18. Após 20 anos, o ecossistemalagunar está retornando à condição de salobra, abrigando a fauna dos dois ambientes.

O potencial hidrogeniônico (pH) numa escala de 1 a 14, mede o grau de acidez(que varia de 1 a 6) ou o grau de alcalinidade (que varia de 8 a 14), sendo o valor 7considerado neutro. As águas salgadas apresentam um pH igual a 8, ou seja, alcali-no19. No Canal e na Lagoa do Meio, o pH pode variar conforme a maré, salinidade eaporte das águas doces atingindo valores entre 5,8 e 8,3 20.

Vital à vida aquática, todos os animais ou vegetais, com exceção de algumas bac-térias anaeróbias, precisam de oxigênio para sobreviver. A quantidade de oxigêniodissolvido na água é considerada baixa quando os valores são inferiores a 5 miligra-mas por litro (mg/L) e ótima, quando os valores são superiores a 10 mg/L.

A oxigenação de um corpo d’água resulta da agitação causada pelos ventos queaumentam o contato com o oxigênio atmosférico 21. A retenção do oxigênio varia coma temperatura do ar e da própria água. No verão, quando a temperatura é mais alta,os gases como o oxigênio (O2) e o gás carbônico (CO2) ficam mais leves e se des-prendem facilmente da água. No inverno, quando as águas estão mais frias, a retençãoé facilitada e a quantidade de oxigênio é maior.

Durante o verão, aumentam o uso de equipamentos náuticos, os poluentes dasembarcações e a quantidade de esgotos na Lagoa, estimulando o crescimento demicroorganismos decompositores (bactérias, fungos, protozoários) que, por sua vez,precisam de oxigênio para degradar estes poluentes 22. Assim, a crítica quantidade deoxigênio na água é agravada e causa anoxia no verão.

Em um ano de estudo (julho de 1998 a junho de 1999), nas águas do Canal da Barraa quantidade de oxigênio dissolvido variou de 4,7 a 13,9 mg/L, sendo que os valoresmais baixos ocorreram no verão, quando as temperaturas do ar e da água aumentam 23.

Nas águas da Lagoa a temperatura média anual é de 21,5ºC (com o máximo de

18 Assumpção et al. 1981, Barbosa, 1991.19 Cerutti, 1997.20 Torres, 1999; Gomes & Freire, 2002.21 Branco, 1986.22 Pelczar, 1981.23 Torres, 1999.

Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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30,5ºC no verão e o mínimo de 11ºC no inverno)24. Ali, a oxigenação deve-se aosventos e correntes das marés provenientes do Canal da Barra 25. Ambos, a sua manei-ra, agitam, revolvem e aumentam o atrito das águas com o ar, facilitando a solubiliza-ção do oxigênio atmosférico.

Na superfície da Lagoa predominam os ventos Sul e Nordeste que, além de pro-mover a oxigenação26, misturam as águas doces e salgadas.

No percurso do canal até a Avenida das Rendeiras, na Lagoa do Meio, as corren-tes de marés mais salgadas, densas e pesadas revolvem e empurram as águas dofundo para a superfície, oxigenando-as melhor. Estas correntes perdem força à medi-da que se distanciam da desembocadura do canal. Assim, nas lagoas de Cima e deBaixo, mais distantes, a deficiência (déficit) em oxigênio é crônica. Nestes subsiste-mas, a oxigenação depende principalmente dos ventos.

Na Lagoa de Baixo, a situação é ainda mais crítica, pois a entrada da maré édificultada pelo contorno na Ponta da Areia e pelo estrangulamento sob a ponte naAvenida das Rendeiras (Figura 9). O volume de água salgada que adentra pelo canalcontribui com uma taxa de renovação de 4% na Lagoa27.

Além disso, em todos os subsistemas, parte dos resíduos que entra pelo canal outributários fica retida, pois não existe uma força propulsora contrária como a da maré,que impulsione os detritos para fora do corpo lagunar 28. A configuração da Lagoaimpõe naturalmente um estresse, onde a circulação deficitária e a falta de oxigênio nofundo limitam o desenvolvimento de espécies bentônicas, ou animais associados aofundo da Lagoa. Algumas vezes, quando as águas desprovidas de oxigênio ascendemà superfície, pode ocorrer mortandade massiva de peixes29.

Na Lagoa de Baixo, ambiente quase fechado, a ocupação do Canto da Lagoa,Village, Saulo Ramos, Osni Ortiga e Porto da Lagoa avançou sobre as margens etributários trazendo enormes quantidades de esgotos domésticos e sedimentos.

Em algumas regiões urbanizadas do Centrinho da Lagoa e da Avenida das Rendei-ras, o oxigênio também atinge níveis baixíssimos e o mau cheiro ocorre devido à baixacirculação hídrica e à entrada de esgotos domésticos.

Os parâmetros físico-químicos da Lagoa da Conceição como salinidade, oxigêniodissolvido, pH, circulação das águas e temperatura, são altamente dependentes doúnico canal de ligação com o mar. Esta dinâmica confirma que a Lagoa respira através

24 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1991 in José, 1998.25 Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.26 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999.27 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1999b.28 EIA/RIMA Porto da Barra, 1995.29 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1999.

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do canal30, daí estes ecossistemas - com um único canal - serem denominados “lagu-nas sufocadas ou estranguladas” 31.

Dinâmica da Biota Lagunar

A mesma maré, tão importante na definição dos aspectos físico-químicos laguna-res, provoca a circulação das partículas orgânicas marinhas para dentro do corpolagunar32, bem como a entrada de uma diversificada fauna marinha que se utiliza daLagoa como “berçário”.

Águas pacíficas, mornas (21,5°C), salobras e ricas em alimentos como as da La-guna da Conceição, longe da predação dos oceanos, atraem espécies da fauna que seprotegem e se alimentam entre as franjas de gramíneas (Spartina densiflora, Sparti-na loisleur), juncos (Juncus sp.), Ciperáceas (Scirpus maritimus, S. californicus eHeleocharis sp) e mangues (Avicennia schaueriana, Laguncularia racemosa)33.

Esta vegetação impede a erosão das margens frente à força das marés e constitui aproteção necessária para as larvas e juvenis de peixes e crustáceos marinhos 34 (Figura

10). Antigos pescadores consideram o canal como o “cordão umbilical” exatamentepor ser caminho da maioria das espécies vivas da Lagoa35. Algumas formas adultas dehabitat oceânico desovam na zona costeira próxima ao canal e as larvas livre natan-tes adentram pelo canal para aí crescerem. A presença abundante de larvas e juvenisde tainhas, siris e camarões entre as marismas do canal e Lagoa do Meio, confirmamseu habitat estuarino com hábitos migratórios.

Esta dinâmica da biota lagunar faz com que a Lagoa da Conceição seja protegidapor diversas leis36como habitat imprescindível e criadouro natural destas espécies aquáti-cas. Sem lagunas e mangues, estes organismos ficam ameaçados de desaparecimento37 .

A fauna de fundo (bentônica), livre-natante (nectônica) e de superfície (planctôni-ca) da bacia lagunar é abundante e diversificada. Foram identificadas 74 espécies depeixes38 (xeréu, xerelete, graivira, peixe galo, semambiguara, pampo, peixe-rei, sardi-nha, cocoroca, papa-terra, corvina, carapeba, carapicú, emborê, maria-da-toca, cor-

30 Odebrecht & Gomes Jr., 1987; Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.31 Odebrecht & Gomes Jr., 1987; Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.32 Odebrecht (1988).33 Soriano Sierra, 1999ª .

34 Soriano Sierra 1999a; Garcia, 1999; Ribeiro et al.,1997.35 Garcia, 1999.36 Barbosa & José, 1998.37 Soriano-Sierra, 1990a; Soriano-Sierra , 1990b; Sierra de Ledo, 1990; Filomeno et al. 199?; Sierra de

Ledo et al. 1993; Cunningham et al. 1994a e b; Hostim 1994; Ribeiro et al. 1997; Aguiar et al. 1995;Hostim-Silva, 1994.

38 Ribeiro & Hostim-Silva, 1999.

Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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vina, manjuba, parati, tainha entre outros); além dos crustáceos39 como os siris (seteespécies) e camarões (duas espécies); e moluscos (marisquinho e berbigão).

Desta fauna, algumas espécies têm o ciclo de vida inteiro na Lagoa, enquantooutras são migratórias e aí permanecem apenas parte do ciclo. Dentre os peixes, háos que ocorrem somente nas proximidades do canal (peixe trombeta e língua-de-sogra) onde predominam as águas salgadas. Outros vivem nas proximidades daságuas doces, nas desembocadura de riachos e córregos como barrigudinhos e ca-rás. Além destes, existem os de águas salobras que ocorrem na Lagoa inteira (cara-peba, carapicú e peixe-rei)40.

Crustáceos como os siris têm um ciclo de vida muito peculiar, que depende quaseque exclusivamente de ambientes estuarinos (afetados pelos oceanos). Eles vivem namaior parte do tempo dentro da Lagoa e, durante as grandes vazantes nas luas cheiae nova, migram em direção ao oceano41.

As fêmeas ovadas dos siris (Callinectes danae) sobem à superfície do canal e, nopercurso em direção ao mar, “coçam” o ventre para liberarem suas ovas. Um estudorevelou que, num único dia, 707 fêmeas desovaram neste percurso. Acredita-se queas ovas, uma vez eclodidas sob a forma de larvas (megalopas), retornam ao ecossis-tema lagunar abrigando-se entre as marismas, e, neste processo, se desenvolve todauma cadeia alimentar. Sardinhas, peixes-porco e peixes-rei vêm ao canal para alimen-tar-se das ovas e megalopas, servindo de alimento aos peixes-espada e às lontras.Isto ocorre durante o ano inteiro, acentuando-se nas marés vazantes nas luas cheia enova42. Este estudo constatou também que apenas 109 fêmeas, das 707 que saíram,retornaram ao corpo lagunar.

A Produtividade Pesqueira da Lagoa

A produtividade inicia com a desova dos peixes, crustáceos e moluscos na zonacosteira próxima às entradas de marés, desembocaduras de canais, rios e lagoas.

A pesca de peixes e crustáceos na Lagoa tem relevância socio-econômica para aregião e, dela, subsistiam muitas famílias moradoras da bacia lagunar. A média anualde pesca entre 1964-1984 era de 168 toneladas. Mas, antes de 1982, quando aLagoa se fechava, os peixes ainda eram capturados com a mão43.

39 Branco et al. , 1999.40 Ribeiro & Hostim-Silva, 1999.41 Gomes, 2002; Souza & Freire, 2002a e b.42 Souza e Freire, 2002a e b; Souza, 2002.43 Alessio dos Passos e Aurélio Tertuliano de Oliveira, comunicação pessoal

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Entretanto, de 1985 à 1997 a produção de pescados foi reduzida drasticamen-te para 40 toneladas ao ano devido à intervenção humana no ecossistema lagunar (aber-tura do canal, pesca predatória, poluição, ocupação das margens da Lagoa e tributáriosetc). De lá para cá, cada vez mais declina a atividade pesqueira, conforme tabela abaixo44. Considera-se que tainhas e camarões são a base da pesca artesanal da Lagoa 45.

44 José, 1998,45 Ribeiro et al. 1997.

Tabela 01 – Produção pesqueira na Lagoa da Conceição (em Kg) de 1964 a 1997.

Ano Peixes Crustáceos Total em Kg1964 326.0001969 287.0411971 109.7851972 71.047 9.846 80.8931973 102.819 5.888 108.7071974 117.855 20.962 138.8171975 131.492 15.302 146.7941976 112.301 30.138 142.4391977 183.729 23.647 207.3761978 211.331 38.163 249.4941979 114.288 31.616 145.9041980 119.038 16.726 135.7641981 114.775 8.800 123.5751982 127.101 18.188 145.2891983 113.690 25.931 139.6211984 181.881 29.232 211.1131985 52.018 19.582 71.6001989* 44.660 47.173 91.8331990* 58.816 26.017 84.8431991* 10.571 4.291 14.86219931995 7.256 23.7741996 12.472 3.505 16.0371997 13.333 5.604 18.937

Dados obtidos do IBAMA e elaborados por José (in José,1998).* destacado como pesca artesanal.• Considerar que os pescados capturados fora de época casualmente não são computados.

Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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21Ecologia da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

1 CECCA, 1997.2 CECCA, 1997.3 CECCA, 1999.4 Martins, 2002

CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2

Dinâmica Humana na BaciaHidrográfica da Lagoa da Conceição

Povos dos sambaquis

A ilha de Santa Catarina é rica em sítios arqueológicos como sambaquis, oficinaslíticas, inscrições rupestres e sítios cerâmicos. Dos 131 sítios arqueológicos registra-dos pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Arqueológico Nacional) emFlorianópolis, 37 estão na Bacia da Lagoa – 28,2% do total1.

A palavra sambaqui, de origem guarani, significa monte de conchas e, por isso,este tipo de sítio arqueológico é também conhecido como casqueiro, cernambi, con-cheiro, ostreiro ou berbigueiro 2. Acredita-se que os povos dos sambaquis foram osprimeiros moradores da Ilha e que consumiam principalmente frutos e animais terres-tres e marinhos, deixando as cascas e ossos como vestígios. A partir destes ossos,eles produziam ferramentas, armas e enfeites que, até hoje, surpreendem pela sensibi-lidade artística 3.

A quantidade de sambaquis nas margens da Bacia da Lagoa evidencia a passagemdestes povos há cerca de 5.000 anos, pois aí foram registrados 22 destes sítios4: Seteno Rio Vermelho, quatro no Rio Tavares, dois no Canto da Lagoa, um na freguesia doCanto, dois na Fortaleza da Barra, um em Moçambique, dois na Joaquina, um noCampo do Casqueiro, um no Canto dos Araçás e um na Ponta das Almas.

Este último (Figura 11), com seis metros de altura, pode ser considerado o maiordeles e contém um cemitério indígena, um sambaqui e uma oficina lítica. No PlanoDiretor dos Balneários de 1985, o local consta como AVL (área verde de lazer) (Figu-

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ras 20 e 24). Esta área, que pertencia à Associação do DNER, foi vendida para parti-culares em maio 2002. Vale lembrar que a comunidade, para preservar este patrimô-nio arqueológico, cultural e paisagístico, além de entrar com denúncia no MinistérioPúblico, realizou manifestações como o abraço simbólico ao sambaqui no dia 28 desetembro de 2002, e tentou acordos e parcerias que viabilizassem o uso e visitaçãopública como previsto no Plano Diretor. Mas muitos outros sambaquis hoje estãoperdidos sob casas e estradas, como o sambaqui do Canto dos Araçás.

Na comunidade da Barra da Lagoa, nas margens do canal, existem cinco sítiosarqueológicos, sendo duas oficinas líticas e três sambaquis: Sítio da Igreja da Barra daLagoa, Sítio da Ponta da Vigia, Sítio Rio da Lagoa I, II e III 5.

Encontradas geralmente nos cantos das praias, as oficinas líticas são grandes ro-chas que antigamente eram utilizadas para o polimento dos objetos de pedra6. E, naBacia da Lagoa existem nove oficinas líticas: Uma no Morro do Gravatá, uma noMoçambique, duas na Galheta, uma na Joaquina, três na Barra e uma na Prainha daBarra 7.

Há ainda na Bacia da Lagoa três inscrições rupestres, uma na Ponta da Galheta eduas no Morro do Gravatá, bem como quatro sítios cerâmicos, um no Rio Tavares,dois na Lagoa e um na Ponta da Galheta 8.

Povos Itararés

Acredita-se que os Itararés vieram logo após os povos dos sambaquis e, mesmocom poucas informações sobre eles, sabe-se que foram os primeiros a produziremvasilhas de cerâmica e urnas funerárias9.

Sinais da presença dos Itararés em algumas camadas dos sambaquis demonstrammudanças significativas de hábitos em relação aos primeiros habitantes, como a redu-ção de moluscos na dieta alimentar, a produção de objetos de cerâmica e uma supos-ta prática de agricultura. Contudo, não foram encontrados vestígios de vegetais culti-vados para comprovar a teoria 10.

Sabe-se, no entanto, que os Itararés eram guerreiros e combatiam inimigos quepoderiam ser os Guaranis, pois esqueletos com perfurações de flechas foram encon-trados em suas sepulturas.

5 Torres, 1999.6 CECCA, 19997 Martins,2002.8 Martins,2002.9 CECCA, 1997.10 CECCA, 1997.

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O processo de transição dos Itararés para o terceiro grupo de habitantes da Ilhano século XIV – os Carijós ou Tupis-guaranis – é também pouco conhecido11. NaIlha existem vários sítios cerâmicos destes povos, e a evidência arqueológica maisantiga deles, de aproximadamente mil anos atrás, encontra-se na Praia da Tapera12.

Povos Carijós

Estes povos ocuparam mais densamente a Ilha, com aldeias que abrigavam detrinta a oitenta habitações. Algumas destas tribos viveram na Bacia da Lagoa, maisprecisamente na Lagoa da Conceição e Rio Tavares. Geralmente ocupavam terrenosarenosos e com dunas para o plantio da mandioca, que se adaptou muito bem a essetipo de solo. Cultivavam também milho, inhame, algodão, amendoim, pimenta, tabacoe cabaça13. Eles coletavam frutas e sementes, caçavam nas florestas e tinham habilida-des manuais para fazer vasilhas de cerâmica, urnas funerárias e cestarias de fibrasnaturais de gravatá, cipó e bambu 14.

A partir da segunda metade do século XVI, a vida tribal dos Carijós em todo o Sul doBrasil foi comprometida pelos missionários jesuítas e bandeirantes. Eles afugentaram osCarijós da Ilha depois de quase trezentos anos de ocupação. Os índios fugiam para esca-par da escravidão imposta pelos portugueses que chegavam com freqüência e em númerocada vez maior 15. Entretanto, como há relatos do século XVIII de que índios serviam aosportugueses, é possível que alguns carijós dispersos tenham permanecido na Ilha.

Os Açorianos

Entre 1748 e 1756 desembarcaram em Santa Catarina cerca de seis mil imigrantesdas ilhas dos Açores e Madeira, predominantemente açorianos (90%), que foraminstalados em pequenas propriedades ao longo do litoral catarinense 16.

Sempre em torno da igreja, a estruturação e fixação das comunidades originaramas freguesias que recebiam nomes de santos e santas da igreja católica, como SantoAntonio de Lisboa, Nossa Senhora do Desterro da Ilha de SC, Nossa Senhora dasNecessidades, Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, entre outros. À medida emque se adensavam, estes povoados eram desmembrados em novas freguesias. Em

11 CECCA, 1997.12 CECCA, 1997.13 CECCA, 1997.14 CECCA, 1999a e b.15 CECCA, 1997.16 SDE e IBGE, 1997 in José,1998.

Dinâmica Humana na Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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1754, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa foi uma das primeiras aserem fundadas na Ilha de Santa Catarina17.

Entretanto, estes açorianos pastores e plantadores de trigo e linho na sua terra deorigem, não tinham aqui as mesmas possibilidades. O solo da Ilha de SC não ofereciaa fertilidade da terra vulcânica da Ilha da Madeira. Assim, embora tenham iniciado astradicionais culturas de trigo e linho, eles foram aos poucos absorvendo as técnicasindígenas do cultivo da mandioca, confecção de canoas em pau de garapuvú, capturade tainhas, armadilhas, salgamento e defumação de pescados, produção de farinhaetc 18. Tanto que a farinha de mandioca se tornou o principal produto de exportaçãoda Ilha de Santa Catarina no século XIX.

Na Freguesia da Lagoa, na encosta do morro, os agricultores mais abastadosviviam em casas bem edificadas, térreas, caiadas (pintadas com cal), assobradadas ecom vidros. A cal da pintura das casas era obtida através da exploração de sambaquisou concheiros na região, daí o nome caieira. Em volta da Lagoa, ficavam as habita-ções mais simples e os engenhos, contornados por roças de plantação de milho, fei-jão, cana e amendoim19.

Em meados do século XIX, a Lagoa já contava com cerca de 3.450 habitantesque subsistiam do cultivo do café, uva, algodão e linho; além do fabrico de cachaça,farinha, açúcar e melado, e plantio de alho, cebola, amendoim e gengibre para comer-cializar na capital20.

Entre os séculos XIX e XX o linho era plantado em larga escala e ali mesmo, emteares rudimentares, eram tecidos o linho de algodão que permitia a produção delindas toalhas, guardanapos e colchas de crivo, as rendas etc21.

Apesar das dificuldades, estes açorianos mantinham uma economia de subsistên-cia sustentável. Toda a família trabalhava na plantação e no processamento dos pro-dutos agrícolas. Os engenhos eram movidos à tração animal e o transporte feito porcarros de bois (Figura 12) ou canoas. O gado de tração, ao envelhecer, era sacrificadoem pequenos açougues locais, onde predominava a troca de mercadorias22.

Entretanto, o solo das planícies e de encostas da Ilha de SC não era apropriado aocultivo anual, sem rotatividade e sem repouso. Como os açorianos desconheciam estefato, a conseqüência foi o empobrecimento total do próprio solo e da população quedele vivia23 após 200 anos de exploração. Estas dificuldades nas produções agrícolas

17 CECCA, 1997; JOSÉ, 1998.18Borges & Schaefer, 1995.19 Várzea, 1900 in CECCA, 1997.20 José, 1998.21 Várzea, 1900 in A Notícia Especial, 29/03/2002.22 Jornal Fala Campeche nº 11 e 12.23 Caruso, 1983.

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levaram os açorianos a investirem em outras atividades, como a pesca e a produção deartesanatos24. E assim, eles alternavam entre a roça e a pesca. No outono e invernopescavam tainhas, anchovas e camarões, e na primavera e verão, colhiam produtosagrícolas. Hoje raros na Ilha, os engenhos de farinha funcionaram até 1963.

Pesca e turismo

No século XX, a pesca na Ilha de Santa Catarina deixa de ser uma atividadeacessória e passa a ser, além de alimento, produto gerador de renda. Seu períodoáureo foi nas décadas 70 e 80, quando a atividade ocupou os primeiros lugares naprodução de pescado no Brasil. Entre 1970 e 1981, a média foi de 335,2 ton/ano.Após um declínio para 219 ton/ano, em 1984 a pesca atingiu seu auge, chegando a8.000 ton/ano25.

Neste período, a pesca artesanal, juntamente com as atividades ligadas ao turismo,consiste num dos principais usos dos sistemas naturais e recursos da Ilha.

Após o período de abundância, o declínio da pesca foi conseqüência de umasoma de fatores gerada pelo desconhecimento dos pescadores e da comunidade emgeral. Aí se destacam a prática da pesca no período de desova, a captura de indivídu-os imaturos, a pesca industrial sem critérios e sem fiscalização, a destruição e aterra-mento das áreas de procriação (manguezais e lagoas) e a poluição por esgotos do-mésticos como os principais responsáveis.

Na Bacia da Lagoa “onde se pegava o peixe com a mão”, o declínio da pesca seintensificou com a abertura permanente do Canal da Barra, em 198226.

Desde então, nas comunidades da Barra da Lagoa27, Costa da Lagoa e Cen-tro da Lagoa, a economia se alterna entre a atividade pesqueira, o turismo e aprestação de serviços.

Durante o inverno, as comunidades da Costa e da Barra da Lagoa são pacatascolônias de pescadores mas, no verão, o turismo muda completamente o aspectotranqüilo destas localidades e predomina como atividade econômica. No centro daLagoa, ao longo do ano, o turismo, a construção civil e a prestação de serviços pre-dominam como atividade econômica.

24 Borges & Schaefer, 1995 in José, 199825 José, 1998.26 Comunicação pessoal de nativos da Bacia.27 Kremer, 1990.

Dinâmica Humana na Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição

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28 ABES, 2000.29 IBGE, 2000 .30 Frank, 2002.31 Frank, 2002.

Habitantes atuais

O declínio do ciclo da pesca coincide com a descoberta das belezas naturais epaisagísticas da Lagoa da Conceição. Ali, até o final dos anos 70, além de pescado-res, rendeiras e alguns restaurantes, predominavam as residências secundárias demoradores do centro da cidade. Com o crescimento de Florianópolis (em especialcom a UFSC e a Eletrosul) e o melhoramento de acessos (SCs 404 e 406), o proces-so da ocupação da Bacia Hidrográfica da Lagoa foi facilitado, trazendo levas deturistas e imigrantes, principalmente gaúchos e paulistas. A Lagoa ganhou status debairro e as casas de veraneio deram lugar a residências de moradores fixos.

Assim, atualmente a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição é habitada tantopela comunidade nativa como por grupos de diferentes regiões do País e do exterior.A população fixa de 7.897 em 198028 saltou para 23.929 habitantes em 200029 e,além disso, estima-se uma população flutuante de 9.408 pessoas. Nos últimos doisanos, entretanto, a vinda de imigrantes, em especial de São Paulo, e de estudantes dediferentes partes do Estado e do Brasil, alteraram substancialmente o ritmo de vida daregião. Embora não existam números precisos, percebe-se a violenta queda na quali-dade de vida tanto em indicadores ambientais, como no trânsito, na falta de água, faltade segurança, transportes públicos e muitos outros.

Estes problemas se agravam ainda mais na alta temporada de verão. Estimativas emabril de 200230 sugerem que, nesta época, a população atinge a marca de 40 mil habitan-tes. São números tímidos se comparados ao volume de turistas que passou pela região natemporada de verão 2002/2003.

Hoje, esta população eclética ocupa as diferentes localidades da Bacia, como osDistritos da Lagoa da Conceição, Costa da Lagoa, Barra da Lagoa e o Distrito de SãoJoão do Rio Vermelho. Embora o turismo seja considerado a base da economia daLagoa, há outras atividades não uniformemente distribuídas nas diversas urbanizaçõesda Bacia. No Centrinho, concentram-se o comércio e os serviços; na Barra da Lagoa,a pesca de alto mar e região costeira; na Costa da Lagoa, a pesca artesanal intralagunare serviços, principalmente de restaurantes. Os núcleos mais pobres, entretanto, encon-tram-se na periferia do Centrinho, no Rio Vermelho e na Barra da Lagoa31.

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CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3

Problemas do Corpo Lagunar

As belezas que atraem pessoas à Lagoa da Conceição são as mesmas destruídaspela ocupação desordenada que acelera a sua descaracterização ambiental. Muitasvezes, quem procura a propalada qualidade de vida da região não percebe o efeito dasua ação sobre o meio ambiente. Isto no que diz respeito ao descarte do lixo, à constru-ção da fossa, à supressão da Mata Atlântica nativa ou impermeabilização do solo - quenão permite a infiltração das águas das chuvas. Outro problema é o mau planejamentodo uso do solo e ocupação “ordenada” do Instituto de Planejamento Urbano, que nãoconsidera as potencialidades, fragilidades, limitações e especificidades locais.

Nas diferentes regiões da Bacia Hidrográfica, a ocupação prevista nos planosespecíficos apenas alteram o zoneamento e transformam áreas verdes e de preserva-ção limitada em áreas residenciais e turísticas, além de aumentar o gabarito das edifi-cações. Estas ocupações ocorrem em áreas privilegiadas da Lagoa, como as margense as encostas. Ali são construídas edificações verticais multifamiliares como pousadas,hotéis, residências, condomínios e loteamentos de grande porte. Por um lado, estasconstruções monopolizam a área e privatizam a vista panorâmica em detrimento demoradores e visitantes. Por outro, estes empreendimentos expõem a Lagoa ao au-mento progressivo de resíduos domésticos (lixos e esgotos) e conseqüente poluição,e ao aumento do consumo de água.

No entanto, o uso do solo é responsabilidade também da população que, muitasvezes, segue suas próprias regras em desacordo com a preservação e legislação.Assim, na Lagoa salta aos olhos a triste discrepância de uma paisagem paradisíaca,em que a poluição das águas se percebe no mau cheiro do cartão postal da cidade: “obelo sujo”. Também as áreas de preservação, de mata nativa e de lazer do ecossiste-ma lagunar - de tamanha importância ecológica e econômica -, são descaracterizadosdiariamente por atitudes isoladas. Entre essas ações é comum a retirada de mata ciliardas margens da Lagoa e dos rios que nela desembocam. Apesar de protegidas por lei

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por evitar o assoreamento e abrigarem uma fauna diversificada, elas são as primeirasvítimas das construções de marinas, hotéis e até residências particulares (Figura 13).

No estágio em que estamos, com quase 93% da Mata Atlântica1 do paísdestruída, o cuidado individual com a vegetação passa longe da demagogia ecológica.Com uma das maiores biodiversidades do planeta2, não por acaso a Mata Atlântica éconsiderada reserva da biosfera e, na Ilha, boa parte desta reserva está sob a responsabi-lidade de particulares em seus lotes de terra e empreendimentos imobiliários ou turísticos.Se cada proprietário fizer a sua parte, estará contribuindo para o equilíbrio e o desenvolvi-mento sustentável da cidade, do bairro e de toda a Bacia Hidrográfica da Lagoa.

Muitas alterações no ecossistema lagunar são conseqüências do desconhecimentodo seu funcionamento ou ainda da falta de consideração com este “santuário ecológi-co”3. As atividades relacionadas à ocupação e ao turismo geram problemas de gravese grandes impactos, tanto na porção aquática como terrestre. Um exemplo é, maisuma vez, a Mata Atlântica, cuja fauna atrai turistas de todo o mundo e, exatamenteeste habitat, é exposto à exploração e especulação imobiliária sem nenhum planeja-mento particular ou governamental. A vegetação é a primeira a ser suprimida nosloteamentos (Figura 14) e empreendimentos para dar lugar ao asfalto e edificações.Com isto vão-se as áreas de reprodução e alimentação de muitos animais que acabampor desaparecer da região4. Por isso, é fundamental planejar considerando o uso esustentabilidade destes recursos naturais, com limites claros onde prevaleçam o inte-resse coletivo e o cumprimento das leis ambientais para garantir as economias futuras.

Como dito anteriormente, a Bacia da Lagoa da Conceição forma um grande ecos-sistema, onde as pessoas têm contato com sítios arqueológicos, dunas, restingas, flo-restas, montanhas, rios, lagunas e praias. Isto diversifica as atividades de uso5 eminteresses variados (lazer, comércio, construção civil, empregos, etc). Soma-se a istoa falta de participação da sociedade no estabelecimento de limites, definições e res-ponsabilidades quanto aos diferentes problemas da região. Se isto já é estabelecidopor lei6, faltam ecos na administração e na legislatura da cidade para efetivamenteengajar a população.

A qualidade das águas vem sendo comprometida desde a década de 707. Artigosde jornais de 1976 e 1978 associavam as construções e obras à redução de peixes ecrustáceos. Os protestos da população seguiram-se nas décadas de 80 e 90, sempre1 Schäffer & Prochnow, 20022 Schaffer & Prochnow.2002; Naka & Rodrigues, 2000.3 Aurélio Tertuliano de Oliveira (Lelo) - Amola4 Lei do Porto da Lagoa n 4604/95.5 Fiúza Jr., 20026 SNUC, Lei 9985/00; Lei Federal 10.257/01.7 José, 1998.

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contra a descaracterização lagunar pela poluição das águas por esgotos domésticos erestaurantes, pela falta de tratamento de esgotos, pela ocupação de áreas de preser-vação permanente, pelo adensamento populacional sem infra-estrutura e pela propo-sição de projetos de grande impacto ambiental8.

Estes gritos de socorro continuam até hoje, com o apoio de ONGs (Associação deMoradores da Lagoa - AMOLA; Fundação Lagoa; ACIF Lagoa; Sociedade Amigosda Lagoa - SAL; Sociedade Animal; SOS Praia Mole, entre outras), da mídia, doComitê de Bacia da Lagoa da Conceição e do Ministério Público Federal embora semreflexos no planejamento do uso do solo e das águas.

Poluição por esgotos domésticos

O esgoto doméstico contém componentes como fezes, urina, detergentes, gordu-ras, sabões e restos alimentares, entre outros. Este conjunto contamina e gera umapoluição que pode ser visual, odorífera e físico-química e, lamentavelmente, inviabilizao uso das águas para contato primário como banhos, esportes aquáticos, e limita aqualidade e quantidade dos pescados9.

Esta contaminação das águas é um problema de saúde pública, pois os esgotosliberados contêm bactérias, fungos, protozoários e ovos de vermes que causam doen-ças como hepatite, pólio, tifo, cólera, micoses e parasitoses. As portas de entradapara estas enfermidades são o contato direto com a água ou sua ingestão ocasional.

Além da carga fecal, os detergentes e a urina contêm nutrientes (fosfatos e nitratos)de grande importância para o crescimento vegetal. Quando em excesso, estes ele-mentos provocam o crescimento de algas (eutrofização), principalmente nas áreas deremanso, inatingidas pela circulação dos ventos e das marés como na Lagoa de Baixo(Sul). Ali crescem com grande vigor algas Enteromorpha sp 10 (Figura 15).

Nestas águas pouco oxigenadas, o mau cheiro dos gases sulfídrico e metano resul-tam da decomposição em anaerobiose. Pois o oxigênio tanto é vital para a fauna eflora do corpo lagunar, como para o próprio processo de degradação dos poluentes.

A situação se agrava na primavera e no verão pois, nesta época, assim como naterra, a vegetação aquática floresce. A morte das algas e a sua decomposição nofundo da Lagoa provocam o mau cheiro, infelizmente comum na avenida Osni Ortigae no Centrinho da Lagoa.

8 Jornal o Estado 02/07/76; Porto da Barra, 1995, Hotel Lumak, 2002.9 José, 1998; Garcia, 199910 Jornal da Lagoa,2000; Comitê da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição, 2001.

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Também as coletas para amostragem de coliformes fecais realizadas pela FAT-MA durante os anos de 1992 e 1997 evidenciaram uma deterioração flagrantenas águas próximas ao córrego da Av. das Rendeiras e no embarcadouro dostransportes urbanos. Outras pesquisas11 em alguns pontos específicos da Lagoada Conceição evidenciaram ainda mais a má qualidade das águas, coincidente-mente nos períodos de novembro a fevereiro (alta temporada de turismo na Ilha),com picos que ultrapassaram mais de 24 vezes o valor permitido, que é de 1.000coliformes fecais/100 ml. Estes índices inviabilizam a balneabilidade12 e constitu-em uma ameaça à saúde pública, apesar de algumas áreas atingidas serem atendi-das pela rede de tratamento de esgoto.

O aumento da contaminação bacteriana está relacionado ao aumento da popula-ção residente que, em 1980 era de 7.897 habitantes e, em 1991, foi para 14.784, eem 2000 atingiu a marca de 23.929 habitantes13, estabelecendo na Lagoa uma taxaanual de crescimento de 5,95%.

Além dos esgotos domésticos, de restaurantes e hotéis, a mão humana contribui deforma mais simples para a poluição visual e das águas. Antigos hábitos como o de limparpeixes na praia e lançar as vísceras e escamas na água, ainda são comuns na região.

Poluição por gorduras

A gordura (azeite, óleo, banha, etc) não se dissolve e nem se mistura à água.Forma uma camada densa na superfície que impede as trocas gasosas e a oxigena-ção. Suas moléculas de cadeias longas são de difícil degradação e problemáticaspara o ecossistema aquático dada a demanda de oxigênio necessária a sua degra-dação. As gorduras interferem de maneira negativa no funcionamento das fossas etratamento dos esgotos, sendo comum a obstrução de tubulações e drenagens quefavorecem a infiltração de esgotos no solo, lençol freático e superfície. Como tam-bém reduzem o tempo de uso das fossas, as caixas são necessárias e muito impor-tantes. Hoje, entretanto, a maioria dos restautrantes no entorno da Lagoa felizmenteparticipa do programa da ACIF – Lagoa, que repassa as gorduras usadas paratransformá-las em sabão. Novas propostas de tranformação do oléo de cozinha embiodiesel estão em estudos por ONGs da Bacia.

11 José, 1998; Jornal A Noticia Capital, 28/01/03.12 Ternes, 200013 ABES, 2000

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Poluição por embarcações

Além de ruídos e acidentes, as embarcações que circulam na Lagoa têm efeitosdanosos ao ambiente aquático, como o das tintas antincrustrantes e do combustíveldos motores. Isto porque as tintas de uso naval, utilizadas nos portos e embarcaçõestêm efeito biocida para evitar a fixação de organismos marinhos nas estruturas sub-mersas das edificações e cascos de barcos. Elas são ricas em metais pesados e, comoa maioria das tintas, solúveis na água 14.

As substâncias antiincrustantes como tribultitin (TBT); dibutiltin (DBT), trifeniltin(TPT), e algicidas como a triazina e Irgarol 1051 causam danos incalculáveis ao ecos-sistema lagunar e à biodiversidade15. Elas contaminam a água e os sedimentos mari-nhos, acumulando-se na flora e fauna de maneira lenta. Também contribuem para istoos derramamentos acidentais durante a manutenção dos barcos16. Substâncias comoo TBT, em concentrações mínimas (duas partes por trilhão), atrofiam e causam amorte de moluscos bivalves (ostras), gastrópodes (litorina) e microalgas (fitoplânc-ton). Os efeitos vão desde a redução das populações, deformações da concha eesterilidade, até a mortalidade massiva de ostras como aconteceu na baía de Arca-chon, França17, com perdas econômicas da ordem de 147 milhões de dólares.

Um estudo de 199918 apurou que a quantidade de metais pesados como zinco,níquel, cobre e chumbo encontrada nos sedimentos de fundo na Costa da Lagoa,Canto da Lagoa e no trapiche do Centrinho já eram preocupantes e relacionadas àstintas dos barcos. Curiosamente, 61% dos usuários deste tipo de tinta desconhece osperigos que causam ao meio ambiente. Esta circulação de embarcações, bem comoas marinas, trapiches e garagens particulares da infra-estrutura de apoio aumentamsignificativamente na Lagoa. Além da poluição causada pelos barcos, há o desconfor-to para práticas como natação, caiaque, wind-surf, entre outros. Ou seja, o lazer depoucos proprietários de lanchas e similares compromete o lazer de uma maioria. Douso irresponsável deste tipo de embarcações já foram registradas vítimas fatais emdiferentes pontos da Lagoa da Conceição. Este mesmo estudo contabilizou um totalde sete marinas que abrigavam 450 embarcações na Lagoa da Conceição em 1999,excluídas as embarcações de transportes e turismo.

14 Barbosa, 1996 ACP 970000001-0 MPF; Panitz e Porto Filho, 1997; Garcia, 199915 Clark, 1977; Barbosa, 1997; Sócio Ambiental 1997; Garcia, 199916 Panitz e Porto Filho, PBA, 1997.17 Gibs et al. 1990; Chagot et al. 1990; Stephenson, 1991; Matthiessen Et Al. 1991; Stroben Et Al. 1992;

Gehlmann Et Al. 1993; Redman et al.1993; Tolosa, 1996;18 Garcia, 1999

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Poluição por Motores

Outra importante fonte de poluentes que causa danos incalculáveis à água, à florae à fauna é o motor das embarcações. Quando em funcionamento, os motores depopa de lanchas, veleiros, baleeiras, iates e jet skis de dois ou quatro tempos, lançamuma média de 25% a 30% do combustível bruto na água19. Infelizmente, os motoresde dois tempos são os mais utilizados para lazer (voadeiras, lanchas e jet skis) e,também, os mais poluentes. Além disso, a lavação com detergentes, sabões e solven-tes para as desincrustações e lixamentos dos barcos são atividades de rotina nasdependências das marinas à margem da Lagoa.

Os óleos lubrificantes e combustíveis como gasolina, diesel, ou a mistura gasolina-diesel, contém longas e cíclicas cadeias de hidrocarbonetos difíceis de degradar. Sãoeles o tolueno, benzeno, xileno, naftaleno, indano, fenóis, formaldeído e também metaispesados de efeito cumulativo, mutagênico e cancerígeno. Estes poluentes dissolvidos naágua causam danos aos organismos nos níveis celular (DNA, atividade enzimática),metabólico e fisiológico, além de lhes conferirem sabor e odor característicos20.

A falta de oxigênio causa a mortalidade geral dos organismos aquáticos, pois, comexceção de poucos microrganismos anaeróbios presentes na coluna de água, todosos outros necessitam de oxigênio. O desaparecimento deste elemento elimina a vidalocal e aumenta o mau cheiro e a toxicidade da água.

Com o aumento do fluxo de marés21, os poluentes lançados no canal se dispersam naLagoa quando a maré sobe, e para o mar quando ela desce. Mas a descarga de poluen-tes fica retida dentro do sistema lagunar22, onde a diluição ocorre com menor intensida-de porque as velocidades de escoamento da Lagoa em direção ao mar são baixas.

Poluição por agrotóxicos

A água pode ser contaminada pelos agrotóxicos utilizados no combate aos ratos,cupins, baratas e ervas daninhas. Alguns, conforme a fórmula química, são mais oumenos solúveis na água, e podem persistir ou não no ambiente aquático. Herbicidasutilizados na capina das ruas para reduzir o crescimento de gramíneas variam de fór-mula e podem permanecer pouco ou muito tempo na água. Entre os efeitos danosos

19 Tahoe Research Group, 1970; Barbosa, 1996; PBA, 1997; Garcia, 1999;20 Balk et al. 1994; Tahoe Research group; Juttner, 1994;Jüttner et al. 1995; Jüttner et al.1995 ), (EIA/RIMA

-vol I pág. 82).21 Panitz & Porto Filho, PBA, 199722 EIA RIMA Porto da Barra, 1994

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está a redução da capacidade de reprodução de algumas espécies de animais, a des-truição da flora aquática, alteração da cadeia alimentar, a modificação dos níveis deoxigênio e o desaparecimento de algumas espécies de organismos zooplanctônicossensíveis23.

Há relatos de moradores e funcionários da Comcap que combatem ervas dani-nhas, insetos e ratos com herbicidas, inseticidas e raticidas respectivamente, no Cen-tro, na Costa e na Barra da Lagoa. O problema é que estes biocidas acabam atingin-do as galerias pluviais e, por aí, a Lagoa. A ação destes venenos é diversa, existemaqueles que são de rápida absorção pelos vegetais e animais aquáticos e outros quevão se acumulando no curso do tempo. Mas todos têm ao final um dano sério comocancerígenos e mutagênico.

Poluição por Sedimentos - Assoreamento

O desmatamento das margens dos rios e da Lagoa deixa o solo à mercê daschuvas. Sem raízes e capins, a força das águas desagrega o solo, que é levado paradentro da Lagoa, o chamado assoreamento. Para uma chuva de 165mm e uma co-bertura vegetal de 60% a 70%, somente 2% de água da chuva escorre para o corpolagunar, o resto se infiltra no solo. Neste mesmo processo, esses 2% de água carre-gam apenas 0,12 toneladas de solo por hectare. Porém, se a cobertura vegetal é deapenas 10%, ocorre uma perda de 73% da água em escorrentio e perde-se 13 tone-ladas de solo por hectare24. A quantidade de sedimentos que entra na Lagoa diminui aprofundidade e a navegabilidade, principalmente nas áreas de remanso e nas desem-bocaduras de riachos e rios da Lagoa.

Acidificação

A vegetação de Pinus do Parque do Rio Vermelho produz uma resina solúvel,altamente tóxica e de baixo pH (entre 2,5 e 5,0) que é drenada de dentro do parquepara a Lagoa. Estas toxinas, além de cor forte e aspecto ferruginoso (Figura 16), geramproblemas à flora e à fauna aquática25. Porém as informações sobre este tipo depoluição são ainda pouco estudadas.

23 Hanazato & Kasai, 1995; Vega, 198524 Stocker & Seager, 1981.25 Baptista et al, 2002

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CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4

As Leis que Protegema Lagoa da Conceição

Diversas leis protegem a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição. Os dotes dolugar a enquadram como criadouro natural, área de relevante beleza cênica, área deuso científico e de contato primário e lazer, além de recurso natural pesqueiro e turís-tico de relevante papel na geração de emprego e renda.

Estas características impõem um planejamento estratégico e sustentável que ga-ranta a qualidade de vida e a biodiversidade da Lagoa da Conceição para as geraçõesfuturas, pois sua importância social e econômica é inegável para todo um conjuntourbano. E, neste planejamento, há espaço para todos num fórum relativamente novo,mas que assegura a participação comunitária nas decisões sobre o futuro do bairro oucidade: O Estatuto da Cidade.

Resultado de 12 anos de luta pela garantia da função social da propriedade, a leique criou o Estatuto da Cidade em 2001 prevê a participação da Câmara de Vereado-res, da Prefeitura e da sociedade civil organizada, incluindo o empresariado e outrasentidades comunitárias. Por esta lei, qualquer plano diretor urbano que seja aprovadosem a efetiva participação da sociedade, não terá validade. Portanto, é de vital impor-tância o conhecimento das leis e da ecologia do lugar em que se vive para poder defen-der, opinar e legitimar um processo de planejamento e ocupação do bairro ou cidade.

Desta forma pode-se evitar o que, infelizmente, acontece com freqüência em Flo-rianópolis: a criação de leis municipais que desrespeitam as legislações ambientaisestaduais e federais e, em última análise, o próprio cidadão. É assim, sem considerara capacidade estabelecida pelos limites ambientais e até mesmo a legislação vigente,que os empreendimentos imobiliários e turísticos aumentam de forma vertiginosa emtoda a região, ignorando os interesses coletivos.

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Uma breve descrição do conteúdo das leis e decretos federais, estaduais e munici-pais, relacionados com a importância sócio-econômica da Lagoa da Conceição paraa cidade, ajudam a ver e estabelecer o status lagunar, seu enquadramento legal e asresponsabilidades 1.

A Constituição Federal de 1988 estabelece no Art.23 a competência da União,Estados e Distrito Federal e Municípios na proteção das paisagens naturais notáveis edo meio ambiente, além de combater a poluição e proteger a fauna e a flora.

Os Artigos 182 e 183 da política urbana estabelecem a obrigatoriedade de umplano diretor para as cidades com mais de 20.000 habitantes. O instrumento básicodesta política urbana é a Lei Federal 10.257/01 - Estatuto da Cidade, que deter-mina a gestão democrática. A população deve participar na formulação, execução eacompanhamento de planos, projetos e programas de desenvolvimento urbano atra-vés de associações representativas dos vários segmentos da comunidade.

Também o Art. 225 assegura direito de todo cidadão a um meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida. Esteartigo impõe ao poder público e à coletividade o dever de defesa e preservação domeio ambiente para as gerações presente e futura, estabelecendo que qualquer ativi-dade nociva estará sujeita a estudos de impactos ambientais (EIA).

Nos Arts. 215 e 216, ficam garantidos os direitos culturais e o acesso às fontes dacultura nacional, definindo como patrimônio cultural brasileiro os bens materiais ouimateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à iden-tidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,entre os quais os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,arqueológico, ecológico e científico.

Ou seja, um ecossistema lagunar como a Lagoa da Conceição tem característicasque justificam sua preservação total ou, no mínimo, o uso racional monitorado e fisca-lizado. Pelas características da Lagoa da Conceição ela deve ser considerada como:

Reserva EcológicaReserva EcológicaReserva EcológicaReserva EcológicaReserva Ecológica - Neste sentido são necessárias regras e condições espe-cíficas de usos. Interferências que causem alterações ao ecossistema estarão sujeitasa Estudo e Relatório de Impactos Ambientais - EIA/RIMA e deverão atender asnormas estabelecidas nas seguintes Leis e Resoluções do CONAMA (Lei 6938/81;Lei 7804/89; Decreto 89336/84; Resoluções 004/85 e 001/86, 002/88, 012/89, 261/99, 303/02). Não se trata de um estudo de impacto ambiental para uma única obra,mas de estudos prévios que considerem o ecossistema lagunar (solo, águas, subsolo,

1 Barbosa e José, 1998; José e Barbosa, 1998; José, 1998; Matthiensen, 2002

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restingas, cultura, história etc), antes das alterações de zoneamento efetuadas peloLegislativo e Executivo Municipais e órgãos de planejamento.

Área de Relevante Interesse EcológicoÁrea de Relevante Interesse EcológicoÁrea de Relevante Interesse EcológicoÁrea de Relevante Interesse EcológicoÁrea de Relevante Interesse Ecológico (Lei Fed. 6938/81; Código daságuas, Dec. Fed. 89.336/84; Resolução CONAMA 12/88) - O interesse ecológico quesustenta a vida e a continuidade da subsistência da vida, prevalece aos interesses imobiliários,menos duradouros e de curto prazo. Nestas leis e decreto ficam proibidas quaisquer atividadesque ponham em risco a integridade do ecossistema e é reiterada a necessidade de EIA/RIMA.

Área de PÁrea de PÁrea de PÁrea de PÁrea de Preservação Preservação Preservação Preservação Preservação Permanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP) - Institui o Código Florestal(Leis Fed. 4771/65; 5.197/67; 6902/81; 6938/81; 7803/89 e resolução CONA-MA 303/02) e estabelece que as florestas ou outras formas de vegetação fixadorasou estabilizadoras dos ecossistemas (dunas móveis, fixas e semi-fixas, praias, lago-as, restingas, encostas e topos de morros) que abrigam exemplares de fauna ouflora e criadouros naturais de quaisquer espécies ameaçadas durante sua fase dedesenvolvimento, devem ser preservados. Em áreas de elementos hídricos, quandopermitida, a construção deverá obdecer o afastamento das edificações a partir de33,00m (trinta e três metros) do limite do elemento hídrico.

Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86Classe 7 - Resolução CONAMA 20/86 – Uso para recreação,contato primário, criadouro natural, que inviabiliza o lançamento de efluentes,portos, marinas e navegação nas águas.

Área de Interesse TÁrea de Interesse TÁrea de Interesse TÁrea de Interesse TÁrea de Interesse Turísticourísticourísticourísticourístico (Lei Federal 6.513/77 e Decreto 86176/81)- Reservas ecológicas; paisagens notáveis; locais adequados ao repouso e à práticade atividades recreativas, desportivas e de lazer devem ter um desenvolvimentoturístico que assegure a preservação do ecossistema. Prevê penalidades para a mo-dificação, desfiguração da feição original das áreas especiais de interesse turistico.Para que esta potencialidade seja explorada são necessárias condições mínimascomo sistema de tratamento de esgoto, água potável, vias de acesso, entre outros,que assegurem a sua preservação;

Plano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC I, II e LeiFed. 7.661/88, CIRM 01/90, CIRM 05/97) - Prevê zoneamentos de usos e ati-vidades ao longo da zona costeira, priorizando a conservação dos sistemas fluvi-ais, estuarinos e lagunares, praias, promontórios (costões), restingas, dunas, ve-redas, florestas litorâneas e manguezais.

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A Constituição Estadual, considerando a necessidade do ordenamento e ge-renciamento Costeiro, estabelece em seu Art. 25 das Disposições Transitórias,que não poderão ser alterados o uso do solo para usos menos restritivos até apromulgação do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. A zona costeira brasi-leira é Patrimônio Nacional (art.50, 4o, CF/88) e, como tal, é patrimônio público esocial2, o que não pressupõe a transferência dos bens privados ou públicos à União,mas que a propriedade deve ser exercida com cautelas especiais em benefício detoda a coletividade3.

Sistema Nacional de Unidades de ConservaçãoSistema Nacional de Unidades de ConservaçãoSistema Nacional de Unidades de ConservaçãoSistema Nacional de Unidades de ConservaçãoSistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei9985/00). Identifica a Lagoa da Conceição como um patrimônio nacional ecológico ecosteiro, que está contornado por cinco Unidades de Conservação (Parque do RioVermelho, Maciço da Costeira, Parque das Dunas, Galheta, Área de PreservaçãoCultural da Costa) e, “quando existir um conjunto de Unidades de Conservação (UCs)de diferentes categorias ou não, próximas, justapostas, ou sobrepostas e outras áreasprotegidas, públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto de-verá ser de forma integrada” (Art.26o). O Plano de Manejo destas UCs, deve abran-ger a área da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos. Isto incluimedidas para promover a integração à vida econômica e social das comunidadesvizinhas. Uma das diretrizes do SNUC é o apoio e a cooperação da sociedade civilorganizada (ONGs, Associações de Moradores, etc), organizações privadas e pes-soas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de edu-cação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico (Art. 27o).

Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97 – Cria o sistema de gerenciamento de recursos hídri-cos. Estabelece que a água é um bem limitado e de domínio público e que cabe aoPoder Público, em conjunto com as associações civis regionais, comunitárias e usuá-rias, gerenciar, fiscalizar e promover a integração da gestão ambiental sob a forma doComitê de Bacia Hidrográfica. O objetivo é assegurar às gerações atuais e futuras adisponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos usos.

A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98) - Protegeespécies da fauna silvestre, nativa ou de rota migratória sob todos os aspectos, bemcomo seus habitats naturais sujeitos à devastação e deterioração, ficando o infrator

2 Matthiensen,2002.3 Bacias Hidrográficas de Santa Catarina. SDM, 1997 Matthiensen, 2002

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sujeito a penas e multas. Também considera de preservação permanente a vegeta-ção natural situada ao longo de rios, ao redor de lagoas, lagos, entre outros.

Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82 (parcelamento do solo) - Não é permitido o parce-lamento do solo em áreas de proteção especial definidas na legislação, e naquelasonde o parcelamento do solo causar danos relevantes à flora e à fauna e outros recur-sos naturais. Estabelece condições topográficas e geológicas mínimas a serem respei-tadas para coibir os abusos praticados impunemente, tais como loteamentos em terre-nos baixos e alagadiços e sujeitos a inundação. Os municípios, em consideração àscaracterísticas locais, poderão estabelecer supletivamente outras limitações desde quenão conflitem com a disposição desta lei. Ao longo das águas correntes e dormentes edas faixas de domínio público (rodovias, ductos, ferrovias) deverão ser observadas asdeterminações do Código florestal (4.771/75; 7803/89).

Decreto EstadualDecreto EstadualDecreto EstadualDecreto EstadualDecreto Estadual 14250/8114250/8114250/8114250/8114250/81 e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80 - Garantem aproteção e a melhoria da qualidade ambiental de mananciais de água, bacias hidrográ-ficas, restingas, praias, nascentes, lagunas, entre outros, de maneira a compatibilizar odesenvolvimento econômico - social com a preservação e proteção da qualidadeambiental. Cabe à FATMA manter os serviços permanentes de segurança e preven-ção de acidentes danosos ao meio ambiente, através de educação ambiental em todosos níveis de ensino, inclusive na comunidade.

Área de PÁrea de PÁrea de PÁrea de PÁrea de Proteção dos Proteção dos Proteção dos Proteção dos Proteção dos Parques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Lei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/97)97)97)97)97) - Proíbe a retirada de vegetação de faixas marginas aos corpos d’água, o lança-mento de efluente não tratado, o uso de pesticidas, inseticidas e herbicidas e cortes,aterros ou depósitos de resíduos sólidos. Nestas áreas, os primeiros 15,00m (quinzemetros) da faixa marginal dos rios e lagoas destinam-se ao trânsito dos agentes da Ad-ministração para desobstrução e limpeza das águas e para outras obras e serviços públi-cos. É livre a circulação e passagem da comunidade para pesca, navegação e recrea-ção, sendo vedada a construção de muros ou cercas de qualquer espécie;

Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62 - Cria o Parque Estadual do Rio Vermelhocom o objetivo de experimentar espécies de Pinus5 adaptáveis à região catarinense;

Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 - Cria o Parque das Dunas da Lagoa daConceição.

As Leis que protegem a Lagoa da Conceição

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Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79 - Amplia a área do parque aos limites da Ave-nida das Rendeiras, Estrada Geral da Joaquina e Rua Vereador Osni Ortiga.

Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79 – Contraditoriamente, este decreto autoriza aconstrução de residências unifamiliares e edificações comerciais, de até um pavimen-to, em parte do Parque das Dunas.

Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 - Propõe o aproveitamento da paisagem natu-ral para atividades educativas, de lazer e recreação do Parque das Dunas e proíbeoutras atividades ou edificações.

Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86 - Tomba a Região da Costa da Lagoa daConceição como patrimônio histórico e natural de Florianópolis. A área abran-ge o Caminho da Costa, a vegetação e as edificações de interesse histórico eartístico existentes na região.

Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90 (regulamenta o Decreto 698/94) - Cria o ParqueMunicipal da Galheta, classificando-o como área de preservação permanente. Tempor objetivo fundamental a preservação da paisagem natural da Praia da Galheta, dosCostões e das vertentes a Leste do conjunto montanhoso que se prolonga em direçãoNordeste (Art 1º). A área do Parque Municipal da Galheta é de Preservação Perma-nente desde o Leste, pela linha do oceano, partindo da Ponta do Vigia até a Ponta doMeio. Ao Sul, por linha seca que parte da Ponta do Meio até o ponto mais alto domorro da cota de 147 m. A Oeste segue pela linha de cumeada ao longo dos morrosem direção ao Norte até o oceano na Ponta do Vigia (APP).

Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95 - Cria o Parque Municipal Maciço da Cos-teira (regulamentado Decreto 154/95) de área APP, excluindo-se aquela destinadaà exploração de jazida (Pedrita S.A.). Esta lei tem como objetivos a preservação dafauna, flora e paisagem, bem como dos mananciais hídricos com nascente no maci-ço; o desenvolvimento de atividades educativas, de lazer e recreação; a recupera-ção da cobertura vegetal típica da região e introdução de espécies da fauna repre-sentativa da área. No local são permitidos os estudos científicos, as atividades delazer e de recreação e a administração do parque.

Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85 - Esta lei dispõe sobre o zoneamento, uso eocupação do solo nos balneários da Ilha de Santa Catarina, declarando-os área

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especial de interesse turístico. É a principal legislação que regula o uso do solo daIlha de SC – conhecida como Plano Diretor dos Balneários. Nela, as águas po-dem ser utilizadas para recreação, navegação, preservação da fauna, da flora eda paisagem, respeitada a classificação das águas instituída pelos órgãos federaise estaduais competentes. O lançamento de efluentes é limitado pela legislaçãofederal e estadual (ex. Resolução CONAMA 20/86 – classe 7). Nas áreas deelementos hídricos (AEH) - água, leito e margem - não é permitido aterramento,lançamentos de resíduos sólidos e edificações, salvo para obras públicas previstas emplano de desenvolvimento urbano e que dependem de prévia licença ambiental. Estabe-lece como áreas de proteção permanente (APP) os topos de morro e encostas, asdunas móveis, fixas e semi-fixas, mananciais desde as nascentes até as áreas de capta-ção para abastecimento, praias e restingas. As áreas de preservação com uso limita-do (APL) incluem o sopé do morro até declividade de 46,6% e limitam em 10% o usopara edificações. São vedadas nestas áreas a supressão de florestas e demais formas devegetação, a exploração, e o depósito de resíduos sólidos. Em área revestida por vege-tação arbustiva ou floresta, devem os proprietários destinar parte dela como de preser-vação permanente. Sendo a área desflorestada, os proprietários devem reflorestá-lacom espécies nativas e também destiná-la à preservação permanente. Em Florianópolis,a Câmara de Vereadores ilegalmente alterou o zoneamento estabelecido por esta leipara permitir a ocupação das margens do canal da Lagoa além das encostas da região.

Lei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar Municipal Nº 099/02Nº 099/02Nº 099/02Nº 099/02Nº 099/02 - Revoga a Lei n° 4.765/95 e limita a construção de prédios em até dois pavimentos, proibindo outrosincentivos como pavimentos garagens, pilotis ou qualquer outro tipo de incenti-vo nas Áreas de Usos Urbanos, localizadas nas Unidades Espaciais de Planeja-mento - UEP 66, UEP 67 e UEP 68, na região da Lagoa da Conceição. A taxade impermeabilização máxima dos imóveis nas Unidades Espaciais de Planeja-mento - UEP mencionadas no artigo anterior não poderá ultrapassar 70% (se-tenta por cento).

Acordo entre o munic íp io de F lor ianópol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic íp io de F lor ianópol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic íp io de F lor ianópol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic íp io de F lor ianópol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic íp io de F lor ianópol is , Casan, Ce-lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002) -Proíbe a ligação de água e luz em obras sem alvará de cons-trução. Esta medida, ao livre arbítrio da prefeitura, por um lado impediu ocrescimento de obras irregulares individuais, mas não o avanço das cons-truções de obras multifamiliares de grande impacto ambiental na zona cos-teira protegida por lei.

As Leis que protegem a Lagoa da Conceição

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Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Ge-Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Ge-Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Ge-Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Ge-Acordo Judicial do Ministério Público Federal e Comitê de Ge-renciamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/renciamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/renciamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/renciamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/renciamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição (10/01/2002)01/2002)01/2002)01/2002)01/2002) - Assinado pelo Município de Florianópolis, FATMA e CASAN, o do-cumento estipula um prazo de seis meses para a recuperação do sistema de tratamen-to de esgoto; levantamento de construções irregulares com adoção de medidas judi-ciais e extrajudiciais para a sua alteração ou demolição; exigência de estudo prévio deimpacto ambiental para todas as construções multifamiliares; e recuperação ambientalda Lagoa, com o retorno de suas águas aos índices legalmente estabelecidos; a cessa-ção da emissão de novas licenças para construção até a recuperação ou ampliação dosistema de tratamento de esgoto.

O acordo estabelece a exigência, até a aprovação dos planos de uso do solo e derecursos hídricos da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição, de Estudo de Im-pacto Ambiental e respectivo Relatório (EIA/RIMA) para as construções multifamili-ares com vinte unidades ou mais, bem como para a construção de hotéis e pousadascom capacidade para cem hóspedes ou mais (cláusula segunda); e, finalmente, para aconstrução de novas marinas e trapiches (cláusula terceira). Também exige, para con-cessão de alvará para construção, que o projeto hidro-sanitário apresente, no míni-mo, 90% de eficiência quanto ao impedimento de emissão de efluentes poluentes nareferida Lagoa (cláusula quarta). Esta medida afasta de vez o simples uso de tanquessépticos como sistema adequado de tratamento individual de esgoto.

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1 IBGE, 2000.2 IBGE,2000.3 Naka & Rodrigues, 2000.4 Muehe & Caruso Gomes Jr., 1983; Garcia, 1999; Schaffer & Prochnow, 2002.5 D’Aquino Rosa e Barbosa, 1998.

CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5

Distrito da Lagoa

O distrito da Lagoa da Conceição abrange as localidades da Costa da Lagoa,Canto dos Araçás, Praia e Parque da Galheta, Praia Mole, Praia da Joaquina, Lagoada Conceição (centro), Canto da Lagoa, Retiro da Lagoa, e Porto da Lagoa (Figura

17). O principal acesso ao bairro é a SC 404 via Itacorubi. Já pelo Rio Tavares, a SC406 (Sul) e pelos Ingleses (Norte), a SC 401 são acessos secundários.

O Centrinho da Lagoa é uma área de grande influência para a qualidade das águasdas Lagoas do Meio e de Baixo. Ali a população é de 11. 237 habitantes1, incluindoo Canto dos Araçás, Centrinho e Canto da Lagoa. Isto significa quase 50% de toda apopulação da bacia hidrográfica, com 23. 209 habitantes2.

A conformação litorânea entre o mar e a terra da Laguna da Conceição formou solo,vegetação e fauna mesclados entre floresta e restinga de Mata Atlântica. No lado Oesteocorrem os morros com solo argiloso, muitas rochas e a floresta. Nos lados Leste e Sulestão as planícies de solo arenoso com os ecossistemas de restingas e o Morro da Mole.Em ambos, a fauna associada aos dois ecossistemas é diversificada e de beleza ímpar3.

As regiões a Oeste, como a Costa, Canto dos Araçás, Centro antigo, Sudoeste doCanto da Lagoa e parte do Porto da Lagoa estão sobre rochas graníticas e escarpa-das que formam elevações cristalinas de até 400 m de altitude. E é nesses morros e regiõesaltas, de solo mais consistente e argiloso, que cresce a floresta de Mata Atlântica4. Alitambém nascem dois terços das nascentes dos rios e riachos que desembocam na Lagoa5.

Nas regiões planas, que envolvem o Centrinho, Village e Saulo Ramos (Figura 18),Av. das Rendeiras, Retiro, Av. Osni Ortiga e Porto da Lagoa, o solo é arenoso ealtamente permeável. Com exceção do Centrinho, Saulo Ramos e Village, todas as

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áreas planas urbanizadas estão a Leste e são adjacentes às dunas. Ecossistemas ins-táveis, as dunas são altamente susceptíveis às ações dos ventos, e só resistem à ero-são eólica graças à cobertura vegetal. Seguras pela vegetação, as dunas são classifi-cadas como fixas ou semifixas. As nuas, à mercê dos ventos ou sem vegetação decobertura, são dunas móveis, com por exemplo as dunas nuas da Av. das Rendeiras.Quando venta Sul, os sedimentos são empurrados para dentro da Lagoa e, quando éNordeste, menos intenso, para dentro das dunas.

Limite entre a terra e oceano, as dunas têm importante função ecológica comofiltro retentor das águas das chuvas no subsolo. É comum, após chuvas intensas, olençol freático aflorar na superfície das dunas como pequenos lagos (Figura 19). Ape-sar da vida curta, estes lagos de água doce são base de procriação de uma rica e belafauna regional e migratória. Sem a água e sem a flora local, estas espécies não sobre-viveriam às condições inóspitas (insolação, ventos intensos e salitre) da região6.

A cobertura vegetal herbácea, arbustiva e arbórea que se desenvolve respectiva-mente nas antedunas, dunas e planícies arenosas é conhecida como vegetação derestinga, o mesmo nome dado aos ecossistemas banhados ou secos da região7. Comamplas raízes que formam redes em cabeleira, as plantas de restinga seguram as areiase aumentam a capacidade de retenção de águas no subsolo. É o espaço ocupado poresta água armazenada sob areias que impede o avanço das águas marinhas para den-tro do lençol freático. Não por acaso, as dunas são consideradas áreas de recarga dolençol freático e protegidas por leis federais, estaduais e municipais8, e a restinga tam-bém é parte da Mata Atlântica.

O esporão sedimentar que vai do Centrinho da Lagoa até o condomínio Saulo Ra-mos, no Canto, corresponde à Unidade Espacial de Planejamento – UEP 68 da Lagoada Conceição (Figuras 8, 18 e 29). Definida como área de urbanização específica pelaLei Municipal 4765/95, ali a ocupação é regulada por normas setoriais de urbanizaçãosob aprovação do Legislativo. Entretanto, as características deste esporão enquadrari-am a região como área de elementos hídricos (AEH) e de preservação limitada (APL).Estas duas opções poderiam ser somadas à urbanização específica.

Por esta mesma lei, os terrenos situados nestas áreas específicas poderão ter pla-nos de massa para harmonia da paisagem, ruas ou praças, sob aprovação do execu-tivo. Além disso, pelo plano de urbanização dessa UEP, que vai da Ponta das Almasaté o Saulo Ramos, foram criadas Áreas Residenciais Predominantes (ARP), Área

6 Bresolin (1979) in Naka & Rodrigues, 2000.7 Resol.261/99 - CONAMA.8 Barbosa & José, 1998; José & Barbosa, 1998.

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Turística Residencial (ATR-1), Área Mista Comercial (AMC), Área Turística Exclusi-va (ATE), Área Residencial Exclusiva (ARE) e, na beira da Lagoa, Área Verde deLazer (AVL), além de algumas vias (Figura 20).

Este tipo de zoneamento viabilizou, até recentemente, residências multifamiliaresverticalizadas, teoricamente com dois pavimentos, indicados na linguagem dos gabi-netes como “2*”. Na realidade, este 2* simboliza edificações de cinco pavimentos,incluindo dois pisos, ático, pilotis, e mais meia cobertura no último piso, além dascaixas d’água (Leis Complementares 003/97 e 68/00). (Figura 21).

Com a maior ocupação e número de edificações9, na UEP 68 – Centro da Lagoaquase não existe mais ecossistema de restinga. São os restaurantes, marinas, aterra-mentos, piscinas e as ruas que, em geral, fazem o limite da margem da Lagoa. Alitambém funciona um clube privado de lazer. Felizmente, ainda resiste um remanescen-te de mata primária de restinga10 entre o Centrinho e o “Village”. Esta parcela doesporão que abriga uma vegetação raríssima sobrevive à especulação imobiliária, àindustria da Construção Civil e aos desmatamentos de áreas planas para novos em-preendimentos (Figuras 8, 18 e 20).

Apesar de protegida por leis federais e estaduais e pela Constituição Estadual (art.25 ADTC) esta parcela de restinga está com os dias contados. Isto porque, poucosmoradores sabem, ela foi zoneada com duas vias (SCI 12 e SCI 18) e uma ÁreaTurística Exclusiva – ATE, destinada a hotéis e pousadas. Reservas naturais de biodi-versidade, a conservação de remanescentes como estes é importante para as gera-ções futuras, em especial como área verde de lazer.

As encostas de morros onde há remanescentes de Mata Atlântica Ombrófila e áreas emregeneração, até a cota 100 (ou declvidade de 46%) são considerados Área de Preserva-ção com uso Limitado (APL). Acima disso são Áreas de Preservação Permanente (APP).

Nas áreas APL, o solo não pode ser parcelado e a vegetação não pode ser altera-da, mas é possível usar 10% da área para edificações. Nas APPs é proibido qualquertipo de intervenção, principalmente as que vêm ocorrendo nos últimos dez anos11.

Mesmo que a ocupação tenha iniciado no entorno da igreja, no morro, a expan-são foi maior nas áreas planas. Nos últimos cinco anos, a vista panorâmica e a faltade terrenos planos aceleraram a ocupação nas encostas, Áreas de Preservaçãocom uso Limitado (APL).

Aí, na maior parte dos casos a vegetação é suprimida para dar lugar a lugarloteamentos de classe média alta. Pequenos lotes são ocupados com grandes

9 Santiago et al. 2000.10 Mônica Gomes – TCC em biologia - comunica-

ção pessoal, 2002

11 Fiúza Jr., 2002.* ver Abastecimento da Barra da Lagoa

Centro da Lagoa

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construções, muitas vezes sem espaço para nenhum tipo de vegetação. Espéciesnativas? Nem pensar!

Assim, a economia da região volta-se para a prestação de serviços, principal-mente para o turismo e a gastronomia, além de um comércio varejista de esportesnáuticos, roupas de praia, animais domésticos e construção civil. Raros se dedicamà agricultura e à pesca como subsistência.

Abastecimento de águaAté o ano 2000, o abastecimento de água do Canto da Lagoa, Porto da Lagoa,

Centrinho e Canto dos Araçás, vinha do sistema de poços artesianos localizado entrea Lagoa e a Planície do Campeche. Hoje, o abastecimento vem da ETA (Estação deTratamento de Água) na Lagoa do Peri.

Algumas residências do Canto da Lagoa e Canto dos Araçás, além do abasteci-mento da CASAN, captam água das nascentes e do lençol freático através das cha-madas ponteiras12. Esta é uma alternativa muitas vezes indispensável, considerandoque a água da CASAN, não tem força para chegar nas regiões mais altas. Apesardisso, há uma redução sensível no volume de água das nascentes tendo em vista oaumento da demanda com as novas construções. No verão, o consumo de águapotável aumenta em torno de 49%13.

Saneamento“Os primeiros sistemas sanitários na Lagoa da Conceição ficavam no meio do

mato, no tempo que se usava a palha de bananeira no lugar do papel higiênico. Depoisvieram as patentes de madeira, erguidas sobre buracos usados até ficar cheios, quan-do eram tapados e substituídos por outros. Na década de 70 começaram aparecer osprimeiros sistemas de fossas e sumidouros, muitos dos quais permanecem em uso”14.

A situação se manteve assim até 1988, com a inauguração da Estação de Trata-mento de Esgotos (ETE) da Lagoa da Conceição (Figuras 22 e 23). Planejada paraatender quatro mil habitantes, desde então esta ETE apresenta problemas, provavel-mente pela falta de Estudos e Relatório de Impacto Ambiental – EIA RIMA. Eramcomuns os entupimentos da tubulação por gorduras, extravasamento dos valos e osistema de aeração era inadequado. Em vista disso, a estação passou e passa desde1990 por adaptações que vão da construção de caixa de gordura, decantador, seca-dor de lodos e lançamento do efluente tratado na lagoa natural nas dunas (Figura 23).

12 Fiúza Jr, 2002.13 Paro, 2002.14 Santos in Martins 2002.

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Próxima à Avenida das Rendeiras, entre as dunas fixas e restingas, a ETE ficaaproximadamente a 300 metros da margem da Lagoa. O solo do entorno da Estaçãoé inundável com uma vegetação semi-aquática15. Ao Sul e a Leste da ETE estão asdunas fixas, cobertas de restinga arbórea e arbustiva rica em bromélias, orquídeas,samambaias, canela da praia etc.

O esgoto que vem da rede passa por um gradeamento e uma caixa para retiradade sólidos e gorduras, e é tratado biologicamente em dois valos de oxidação, sobcontínua aeração. O lodo produzido, rico em microorganismos que “digerem” o esgo-to, e o efluente “digerido”, saem dos valos para o decantador. Dali, parte dos lodos édispensada nos leitos de secagem para desidratação e parte retorna ao sistema. Oefluente tratado é bombeado para a lagoinha natural, nas dunas. Esta lagoa faz o papelde tratamento terciário reduzindo a carga bacteriana e retirando os sais dissolvidos16.

Com 5 km de extensão, a rede coletora abrange aproximadamente um terço dacomunidade ou os residentes no Centrinho da Lagoa, Avenida das Rendeiras einício da Av. Osni Ortiga, até a primeira curva17. Apesar do sistema existir desde1988, em 1996, apenas 800 residências estavam ligadas à rede de esgoto. Atual-mente, sua capacidade limite já foi extrapolada e atende aproximadamente dez milhabitantes. Em fase de ampliação, apenas para atender o atual contingente, a previ-são é, no futuro, chegar a 16 mil. Nenhum desses projetos têm EIA-RIMA, masforam aprovados pela FATMA.

Centrinho

De 1117 pessoas de 264 residências abordadas pela pesquisa, 82% afirmam estarligados à rede de esgoto da CASAN. Somente 12% dizem utilizar sistemas individu-ais como fossa séptica e sumidouros sem fundo (fossas negras). Destes, mais da me-tade usam o caminhão limpa fossa. No Centrinho da Lagoa 6% desconhecem o siste-ma de tratamento, mas sabe-se que muitos ligam o esgoto na rede pluvial, razão domau cheiro no sistema e nas desembocaduras na Lagoa. Porém, a maior parte resideno bairro há menos seis anos18 e, por isso diz desconhecer o sistema.

15 Barbosa e Arruda, 1998.16 Barbosa e Arruda, 1998.17 Hauff, 1996; Jornal Zero – UFSC - 12/97; ABES, 2000.18 Bento & Bento, 2003 – Relatório Ecolagoa

Centro da Lagoa

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AbastecimentoNo Centrinho da Lagoa 85% da população utilizam as águas da CASAN, 12% do

lençol freático e 3% utilizam as duas alternativas.

Animais domésticosEm 61% das residências pesquisadas existem animais domésticos, principalmente

cães e gatos. A média é de quase um animal por residência. Destes, 64% são cães,22% são gatos e 14% são pássaros e outros como coelhos, galinhas etc.

Apesar de ser obrigatório por lei o recolhimento e descarte em sanitários, é graveo problema das fezes de animais nas calçadas, ruas e trilhas na região. Com as chuvas,tudo percola para a Lagoa. Também comum por parte dos proprietários de cães, é odescarte da água de lavação dos canis na rede pluvial.

Quanto à proliferação animal, 30% manifestaram interesse na esterilização, 10%utilizam anticoncepcionais, 10% prendem a fêmea, 30% já esterilizaram e outros 20%não responderam. Quanto ao destino final aos filhotes 34% doam e 53% vendem.

LixoPela pesquisa, 70% das residências possuem lixeira particular, mas há muitas re-

clamações de uso por terceiros, como se fossem coletivas. Outros 20% dispõem o lixona rua, penduram na cerca, muros ou árvores, o que facilita a ação dos animais espa-lhando-o pelas vias, calçadas e terrenos baldios. 10% dispõem de lixeiras coletivas nasruas por onde passa o caminhão de coleta. Entretanto, muitas vezes estas lixeiras cole-tivas são problemas para os moradores das proximidades por gerarem roedores e ba-ratas. Daí a importância da separação de restos de alimentos e resíduos secos.

Outra reclamação recorrente é sobre a periodicidade da coleta seletiva, de apenasum dia por semana. Para não acumularem garrafas, papéis e plásticos em casa, osmoradores acabam descartando estes resíduos mesmo fora do calendário da coleta.O mesmo ocorre com o lixo orgânico, maior gerador de ratos e baratas. A produçãode resíduos aumenta em 97%19 no verão.

SaúdeA comunidade da Lagoa conta com um Posto de Saúde e clínicas médicas

particulares. Não dispõe de hospitais na região, e o tipo de ajuda médica utilizadapelos moradores do Centrinho é variado, em vista também da diversidade doshabitantes. 27% utilizam os Postos de Saúde, 33% procuram médico particular,

19 Bento & Bento, 2002.

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28% utilizam os dois, e 12% utilizam hospitais do centro de Florianópolis e oPosto de Saúde.

Problemas locais48% reclamam de ratos, insetos, mau cheiro, animais de rua e fezes de animais

nas calçadas. Moradores mais antigos queixam-se de não avistar mais a Lagoa, docrescimento excessivo do número de automóveis e do ruído. Alguns reclamam doengarrafamento crônico na Av. Afonso Delambert em vista do número de bares erestaurantes nesta via de escoamento.

São raras as opções culturais no bairro, com apenas uma pequena sala de cinema,sem biblioteca ou teatro e muitos bares e restaurantes.

Falta também um bom sistema de transporte coletivo, com flexibilidade de horários eônibus de boa qualidade. Segundo os depoimentos, as melhorias para o bairro em or-dem de prioridade são: Rede de esgoto; áreas de lazer; coleta de lixo; iluminação públi-ca; segurança e pavimentação.

Canto dos Araçás

Praticamente na encosta do morro, na parte Oeste da Lagoa e ao Norte do Cen-trinho, está o Canto dos Araçás, onde vivem cerca de 408 habitantes. A pesquisaconsiderou 12 residências e um total de 42 habitantes, ou 10% da população fixa20.

Acima da única via de acesso, a região tem declive acentuado e atinge abrupta-mente 40m de altitude em alguns lugares. O solo argiloso e rochoso tem uma cobertu-ra vegetal primária e vegetação secundária em avançado estado de regeneração (ca-poeirão). Ali se encontram Garapuvus, Embaúba e uma rica fauna com macacos,tucanos, gralhas azuis etc.

Com muitas nascentes, pelo potencial hídrico da região é necessário um planeja-mento que respeite sua condição de área de elementos hídricos (AEH) e de preser-vação limitada (APL). Apesar disso, o crescimento do número de residências au-menta a cada dia, pois a região vem sendo loteada e ocupada como área residencialexclusiva (ARE) e área turística residencial (ATR) (Figura 24).

Servido por um único sistema viário, que passa entre o morro e a margem daLagoa, no Canto dos Araçás o crescimento ocorre tanto em direção à água comopara a encosta. Predominam as residências de classe média alta e, em alguns lugares,tanto o acesso à margem como a vista da Lagoa estão privatizados.20 Santos & Ventura, 2002.

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Sem harmonia e adaptação às características hídricas e naturais locais, variadosestilos arquitetônicos muitas vezes suprimem toda a vegetação nativa descaracterizan-do a paisagem. Esta ocupação se estende em direção à nascente do Rio Valagão.Apesar da falta de infra-estrutura viária, estacionamento ou retorno para automóveis,a ocupação por residências é crescente.

EconomiaQuase não há comércio. A economia gira em torno das atividades do Centrinho da

Lagoa e centro da cidade. No universo questionado os moradores têm um perfil de boaescolaridade: 17% têm 3° grau completo, 58% têm 2° grau e 20% têm apenas 1° grau21.

AbastecimentoAlgumas residências do Canto dos Araçás, além do abastecimento da CASAN, cap-

tam água das nascentes e do lençol freático através das chamadas ponteiras22. Na região65% utilizam a água da CASAN, 17% utilizam exclusivamente as nascentes e outros 17%servem-se das duas fontes. É comum encontrar grande numero de mangueiras de capta-ção para residências isoladas nessas nascentes. Do conjunto de pessoas entrevistadas,33% bebem a água direto da torneira, 37% fervem e 30% filtram antes do consumo.Somente 17% vêm problemas no gosto, sabor ou cheiro da água.

SaneamentoA rede coletora de esgoto não atende a localidade e a fossa séptica ainda é a mais

usada, embora muitas delas construídas e utilizadas inadequadamente. Pelo forte cheirode esgotos em inúmeros riachos, se pressupõe que há ligações diretas das fossas narede pluvial e na própria Lagoa. Também há muitas denúncias de moradores sobreligações à rede pluvial e a pequenos riachos da região.

Embora tenham suas margens ocupadas em menor proporção que o Canto da La-goa, os efeitos da contaminação dos riachos do Canto dos Araçás se dispersam emtoda Lagoa do Meio, onde a circulação das águas é relativamente boa devido à entradadas marés pelo canal e pelos ventos.

Pela pesquisa, nesta região 64% têm caixa de gordura, fossa e sumidouro, 8% sósumidouro e 24% dizem estar ligados à rede da CASAN. Porém, como esta região nãoé servida pela rede da CASAN, pressupõe-se que estas pessoas estejam com as fossasligadas à rede pluvial, ou desconheçam totalmente o sistema sanitário que utilizam.

21 Santos & Ventura , 2002.22 Fiúza Jr, 2002.

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Questionados sobre a manutenção das fossas, 50% dizem já ter limpado pelomenos uma vez. Porém 100% desconhecem se a empresa de limpeza tem licença daFATMA para operar no descarte dos resíduos e efluente.

Animais domésticosTodas as residências abordadas pela pesquisa no Canto dos Araçás possuem ani-

mais domésticos, 79% são cães e 21% são gatos. Quanto ao controle de população,33% esterilizaram, 9% prendem e 58% não responderam.

LixoTodos entrevistados utilizam a coleta convencional e 92% dizem separar para com-

postagem e reciclagem. 42% admitem que não têm lixeiras e colocam o lixo em frenteà casa. Os outros 58% possuem lixeira particular.

Canto da Lagoa

Com influência na Lagoa de Baixo, a UEP 66 ou Canto da Lagoa tem 980 habitan-tes23. A região do Canto tem um eixo viário único, a rua Laurindo Januário da Silveira.Na parte baixa, às margens da Lagoa o solo é arenoso. Na mais alta, nas encostas doMorro Padre Doutor, o solo é mais argiloso e rochoso recoberto por Mata Atlânticaem regeneração avançada, com capoeirões e remanescentes de mata primária.

Espremido entre a Lagoa e o morro, este recanto passa por um processo intensode ocupação. Como nas proximidades, o turismo trouxe um súbito crescimento derestaurantes, pousadas, hotéis, residências fixas e de veraneio24.

Nas margens da Lagoa, com exceção do Morro do Badejo e seu contorno, a matanativa é praticamente inexistente, e predomina a ocupação por residências de classemédia alta uni e multifamiliares, hotéis e alguns restaurantes. Este conjunto de casas eempreendimentos forma um paredão que inviabiliza a vista e o acesso à Lagoa, apesarda área ser, por lei municipal, Área Verde de Lazer. Em muitos lugares, houve aterra-mento das margens para construção de piscinas, marinas e/ou trapiches.

Como nas outras localidades da região, no Canto as alterações de zoneamentonunca foram acompanhadas de infra-estrutura sanitária e viária. Tampouco houve umaavaliação ambiental do potencial hídrico para abastecimento local e uso lagunar. Pre-valecem os interesses de empresários do turismo e da construção civil favorecidos23 IBGE, 2000.24 Bento & Bento, 2003.

Centro da Lagoa

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pelas alterações da Lei Municipal 2193/85 (Plano Diretor dos Balneários) (Figura 25).Este “filet mignon” entre a montanha e a Lagoa é considerado por estes setores comoáreas turísticas e áreas residenciais.

Apesar da mobilização comunitária, os anos 90 foram marcados por significativasinconstitucionalidades exatamente pelas alterações nesta Lei 2.193/85. Este artifíciolegislativo e jurídico favoreceu a ocupação e permitiu a supressão da vegetação (res-tinga, floresta em regeneração) para loteamentos, casas, hotéis e pousadas que, emgeral, pouco se preocupam com a adequação do sistema sanitário ao tipo de solo.

A pesquisa no Canto da Lagoa considerou parte do Porto da Lagoa e parte daAvenida Osni Ortiga. Todos com influência na Lagoa de Baixo.

Av. Vereador Osni Ortiga À Leste da Lagoa de Baixo, a Avenida Osni Ortiga limita-se com as dunas e a

Lagoa. No lado das dunas é freqüente a presença de Pinus sp. e Eucaliptus. Estasespécies podem ser resultado da dispersão das sementes desde o parque do RioVermelho (Nordeste). Porém entre os anos 60 e 70 estas espécies exóticas tiveram asimpatia da população em vista do crescimento rápido e absorção de água do solo, emuitos nativos as plantavam em suas terras.

Considerando o comprometimento da biodiversidade imposta por estas espécies,em 1998 alguns pesquisadores da UFSC, Polícia Ambiental e Ministério Público reti-raram mais de 1000 pés de Pinus sp da região.

Segundo a Lei Municipal 3865, apenas no seu início esta avenida é Área TurísticaResidencial (ATR-3). O restante é Área Verde de Lazer (AVL) e Área de PreservaçãoPermanente (APP), na região das dunas. Entretanto no limite com as dunas em direção aoPorto da Lagoa, é comum a presença de construções em toda a avenida. Paulatinamenteocupada como área turística e residencial com caráter uni e multifamiliares, ali ocorremresidências, pousadas, condomínios e casas de veraneio. Fato grave é que vários veiosd’água que nascem nas dunas e deságuam na rede pluvial e na própria Lagoa apresentammau cheiro e cor negra, sintomas claros de contaminação por esgotos.

Sem resquícios da cultura açoriana, como residências antigas ou engenhos, exis-tem nesta área várias trilhas de acesso ao Parque das Dunas da Lagoa da Concei-ção25. Algumas trilhas são em dunas móveis e, conforme os ventos, areias atingem aavenida em diversos pontos.

25 José, 1998; ABES, 2000.

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Porto da Lagoa

No limite Sul da Lagoa da Conceição, entre a avenida Osni Ortiga, Canto daLagoa e a planície do Campeche, fica o Porto da Lagoa. Com diferentes característi-cas de solo, na área plana, entre o Morro do Badejo, Maciço da Costeira e a SC406, o solo é arenoso. Na encosta dos morros é argiloso e rochoso com coberturavegetal em regeneração (capoeirão) e Mata Atlântica primária.

Na área da planície, após a SC 406, existem dunas fixas, semi-fixas e móveis,banhados e uma vegetação de restinga típica associada. Esta região sofre forte pres-são de ocupação com constantes aterramentos para urbanização26.

Especialmente na margem da Lagoa, entre o Morro do Badejo e a SC 406 (ATR-1), a ocupação é rápida. Pequenas ruas saem do sistema viário principal e é grandeo número de condomínios, resorts e residências uni e multifamiliares. Com solo are-noso e inundável, ali também deságuam os pequenos riachos nascentes no Morro daCosteira, sempre com características de contaminação por esgotos domésticos.

Boa parte do Porto da Lagoa é área turística residencial (ATR) e área residencialexclusiva (ARE). Nas margens da Lagoa somente o contorno do Morro do Badejo éárea verde de lazer (AVL). As encostas são área de preservação com uso limitado(APL) inclusive o Morro do Badejo27 (Figura 26).

Nesta pesquisa realizada na parte Sul da Lagoa foram aplicadas um total de 115entrevistas em diferentes ruas. O trabalho abrangeu 572 pessoas (uma média de 4,97pessoas/domicílio). Entre nativos, novos moradores e estudantes de outras partes doEstado e do país, constatou-se um bom perfil de escolaridade: 31% têm 3° grau, 39%têm segundo grau, 29% primeiro grau, e 1% é analfabeto. 45% vivem há menos de 10anos e os outros 55% vivem há mais tempo no lugar. Quanto às moradias, 75% sãopróprias e 25% são alugadas.

AbastecimentoAté 2000, o abastecimento público de grande parte da população era realizado

pela CASAN através do sistema de poços profundos Costa Leste (incluindo poçosno Canto, Rio Tavares e Campeche*) e barragem (Rio Valagão)28. Atualmente á águada CASAN vem da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Lagoa do Peri.

Centro da Lagoa

26 Abrahão, 2001.27 Fiúza Jr.,2002.* Ver abastecimento da Barra da Lagoa.28 Fiúza Jr., 2002

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Nesta região, 83% dos entrevistados utilizam só água da CASAN, 4% usam águade nascente, 5% usam ponteiras e 8% revezam entre CASAN e Superficial ou CA-SAN e Lençol Freático. 29% filtram a água para beber; 30% bebem direto da tornei-ra, 36% compram e 5% a fervem antes de beber. 29% reclamam do excesso decloro, cheiro, odor ou sabor na água da CASAN. Pois como a água que vem da ETAda Lagoa do Peri tem excesso de algas, o problema é solucionado com o uso de cloroe sulfato de alumínio. Outra reclamação é a freqüente falta d’água, mencionada por9% dos entrevistados. No verão, com o turismo e estiagens, a situação é mais grave.

SaneamentoO Porto da Lagoa não possui sistema de coleta e tratamento de esgoto coletivo,

apenas parte da Avenida Osni Ortiga (11% dos entrevistados eram desta região) éatendida pela rede de coleta e tratamento de Esgoto. A ETE operada pela CASANabrange o Centrinho da Lagoa, Avenida das Rendeiras e Avenida Osni Ortiga (atéaltura da casa nº 629)29.

No restante das residências o esgotamento sanitário é feito através de sistemasindividuais, com fossas sanitárias ou tanques sépticos próprios de cada casa. Comona maior parte dos casos tais sistemas não são construídos e operados corretamente,na verdade a pesquisa constatou que 32% são fossas negras (tanques sem fundos),que não têm função de tratamento, mas apenas de disposição do efluente no solo.Num futuro próximo, tal prática coloca em risco os lençóis d’água utilizados para oabastecimento de algumas residências e a Lagoa, como também são grandes os riscosde saúde da população.

Grande parte dos moradores faz a limpeza de seus sistemas, inclusive em novos, oque comprova a ineficiência das fossas da região. Apenas 5% dos moradores relata-ram ter perguntado se a empresa prestadora de serviço de limpeza de fossas tinha aLicença Ambiental (L.A.) para efetuar o serviço, o que indica preocupação com omeio ambiente.

Da população questionada, além dos 11% da Osni Ortiga que estão ligados àrede de esgotos da CASAN; 14% têm fossas; 7% têm fossa e sumidouro; 18%têm caixa de gordura e sumidouro e 43% dizem ter caixa de gordura, fossa esumidouro. Outros 4% têm estação de tratamento particular (condomínios) e 4%não sabem como é o sistema.

29 Fiúza Jr., 2002.

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LixoA coleta de Lixo convencional é realizada pela COMCAP em três dias da semana

(3ª feira, 5ª feira e Sábado). A coleta seletiva é feita apenas uma vez na semana (2ªfeira) e utilizada por 21% dos entrevistados. A periodicidade semanal desestimula aseparação e armazenamento do lixo nas residências.

Neste aspecto, outro problema é que muitos não sabem usar a coleta seletiva.Embora separem o lixo, todo o material é entregue na coleta convencional, o que nãoadianta nada. Daí se deduz a necessidade de divulgação e educação ambiental porparte da COMCAP.

Quanto ao destino dos resíduos sólidos 14% separam, 3% enterram; 3% fazemcompostagem e 21% levam para a coleta seletiva. Todos estes utilizam a coleta con-vencional. Destes, 52% têm lixeira particular; 35% usam lixeira coletiva e 13% dis-põem os resíduos na rua.

Animais DomésticosCerca de 59 % da população possuem algum tipo de animal doméstico, predomi-

nantemente cachorros (52%); gato (20%); pássaros (3%) e outros (hamster, coelhos,galinhas) 2%. A média é de um cachorro para cada residência, ou um para cada cincohabitantes, e um gato para cada três residências. Isto, sem levar em conta a enormequantidade de animais abandonados que vivem nas ruas.

Quanto ao destino dos filhotes, 75% doam; 10% criam e 15% vendem. Quanto aocontrole de população, 28% têm interesse em esterilizar seu animal; 44% não, e ou-tros 28% não se manifestaram. Para evitar a procriação 5% prendem; 30% usamanticoncepcional e 45% já esterilizaram o animal e outros não se manifestaram.

Ajuda médica44% procuram o Posto de Saúde; 25% recorrem a hospitais de Florianópolis e

55% consultam médico particular, o que indica moradores com bom poder aquisitivo.

Características atuais e problemas recorrentesNos último três anos, o Porto da Lagoa vem sofrendo grandes transformações

com sérios problemas urbanísticos e sanitários. Entre estes problemas recorrentes nobairro, a população entrevistada listou a presença de insetos, ratos, mau cheiro, inun-dação e outros.

A falta de áreas de lazer apropriadas, policiamento e limpeza do bairro tambémforam levantados como pontos de evidente “abandono” por parte da prefeitura muni-cipal. Para o lazer, 33% dos entrevistados usam a praia, 21% fazem caminhadas na

Centro da Lagoa

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beira da Lagoa, 1% toma banho na Lagoa; 26% praticam esportes e 1% se diverteindo a bares. Outros 27% praticam passeios, vela, vão à igreja, ficam em casa etc, e18% afirmam não ter nenhum tipo de lazer.

A deficiência do transporte coletivo e espaçamento nos horários de ônibus foioutro problema apontado por grande parte dos entrevistados. Outra constatação foi acarência de rede de esgoto, citada como responsável pela poluição da Lagoa. Asquestões ligadas à educação no trânsito foram mencionadas por 36% da população,incluindo pavimentação de ruas, calçadas, ciclovias e problemas de trânsito em geral.

Para melhorar o bairro, por ordem de prioridade, 50% dos moradores pesquisa-dos apontaram a necessidade de rede de esgoto; 21% a pavimentação de vias; 19%melhoria nos transportes coletivos; 10% a construção de calçadas para pedestres.Outros problemas citados pelos moradores dizem respeito ao trânsito; segurança;áreas de lazer; limpeza; criação de ciclovias; serviços de saúde e escolas.

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1 CECCA, 1997.

CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6

Costa da Lagoa

Com uma área de 9,67 km2, a Costa da Lagoa situa-se na margem Oeste daLagoa da Conceição. Em declive no Morro da Canela, a região influencia as Lagoasde Cima e do Meio. O relevo acidentado é drenado por importantes mananciais quedeságuam na Lagoa, como Cachoeira, Valagão, João Gualberto, entre outros. Estapaisagem, com grandes rochas ou matacões que terminam abruptamente na Lagoa, éintercalada por pequenas praias protegidas.

Hoje a Mata Atlântica secundária cobre vastas áreas antes ocupadas pelas ativida-des agrícolas. Esta vegetação, em vários estágios sucessionais, apresenta em sua por-ção mais íngreme jacatirão, garapuvus, embaúbas e aroeiras. Na porção mais baixaencontra-se Vassouras e capoeiras ricas em epífitas coloridas e variadas (bromeliáce-as e orquídeas), além de porções de floresta primária onde houve extração seletiva demadeira. Ocorre aí uma fauna abundante que é alvo de caça clandestina1.

Em pequenos núcleos ao longo dos morros nas margens da Lagoa, a população daCosta está distribuída nas localidades de Vila Seca, Praia Seca, Vila, Baixada, Praiado Sul e Canto.

Economia e históriaDescendente de açorianos, esta comunidade vivia da agricultura chamada patri-

arcal, em que toda a família trabalhava para a subsistência doméstica. Apesar dastécnicas primitivas e sem interesse comercial, a Costa chegou a ter uma rica produ-ção agrícola calcada na mandioca, cana-de-açúcar, feijão e banana. Em pequenos en-genhos familiares, ali eram processados o açúcar, o café, a farinha e a cachaça. Estesprodutos eram transportados por carros de bois ou cavalos de selão em estradas rústi-cas ou via canoa para abastecer a comunidade local e parte do Distrito da Lagoa.

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Destas estradas, historicamente importantes como via de escoamento de produ-ção, hoje resta uma precária trilha que sai do Canto dos Araçás e é a única via terres-tre para a Costa. Ou seja, se não fosse o transporte lacustre, a comunidade estariaisolada2. Esta característica permitiu a preservação de parte dos costumes e hábitosculturais. Persistem na localidade, por exemplo, festas católicas que mobilizam toda acomunidade para a decoração da igreja e seus caminhos de acesso. Este foi um dosargumentos para o tombamento da Costa em 1986.

Aos poucos, a agricultura de subsistência foi substituída pela pesca, atividade maisatrativa financeiramente. Tanto que, dentre os nativos, é comum os que partiram paragrandes empresas de pesca e pesqueiros do RS e que, após juntarem algum dinheiro,regressaram para estabelecer restaurantes ou casas de aluguel.

Isto porque o atendimento ao turismo de visitação com gastronomia regional é,atualmente, a maior fonte de renda da comunidade da Costa. Com isto, a região sofreuma ocupação desordenada tanto por novos moradores de outras cidades, como porparte dos mais antigos que desejam mudar seu status.

Assim, espremidas entre a encosta do morro e a Lagoa, sem qualquer harmonia oucritério de planejamento com a paisagem, surgem residências de pequeno, médio egrande portes. Por outro lado, as residências mais velhas passam por modificaçõesestruturais com “puxados” para ampliação de terraços, banheiros, salas, etc para abri-gar restaurantes ou comércio (Figura 27). Estas ações descaracterizam a paisagem edesencadeiam problemas sanitários tanto para a Lagoa como para a água de abasteci-mento, apesar do tombamento municipal em 1986 como patrimônio histórico e cultural.

Esta área tombada pelo Decreto Municipal 247/86 compreende quase toda a en-costa da porção Norte da Lagoa da Conceição, desde o cume dos morros até aLagoa, abrangendo cerca de 967,5 ha. A área mais habitada é considerada pelo planodiretor dos balneários como área residencial predominante (Figura 28) - UEP 69. Ouso do solo pode ser partilhado entre comércio e residências. Qualquer projeto deabertura de estrada ameaçaria seriamente este local, culturalmente dos mais preserva-dos da Ilha. Nesse aspecto é importante lembrar que a preservação do patrimôniohistórico (Figura 29) e natural da região não só incentivaria o potencial turístico daCosta como também a sua sustentabilidade3.

Na população de 850 habitantes4 predominam nativos que viviam da pesca e dalavoura. Hoje, eles subsistem da prestação de serviços de transportes e restaurantesde alimentação regional (peixes e frutos do mar).

2 Gimeno, 1992; Pilmann (1989) in Muniz, 1996.3 CECCA, 1997.4 IBGE, 2000.

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Com acesso aos bens de consumo modernos, as novas gerações têm maiores laçoscom a cidade e menos com os costumes dos antepassados em detrimento de traçosculturais açorianos que poderiam ser a marca registrada do lugar (Figura 30). Trata-se deum processo de aculturação e perda de identidade que compromete o futuro e a quali-dade do turismo como atividade econômica.

Além disso, embora a economia local tenha sobrevivido um longo tempo dapesca, os produtos do mar oferecidos na região já não são totalmente produzidosna Lagoa como até 10 anos atrás 5.

Abastecimento de águaO rio Cachoeira que abastece a comunidade nasce sob a vegetação no morro da

Canela, percola sobre grandes rochas graníticas e cria uma bela paisagem com pequenascachoeiras e poções que servem ao lazer da comunidade local e turistas. Vários acidentescausados por escorregões ocorreram nas rochas lisas do lugar, inclusive com mortes.

O abastecimento de água da comunidade é 100% da nascente do Rio Cachoeira(água superficial), pois não há distribuição pela CASAN na Costa da Lagoa. A qua-lidade é considerada boa, exceto pelas fortes chuvas que turvam a água com barro eareia. Daí a importância da educação ambiental na região para preservar a mata ciliare a nascente bem como a qualidade e a quantidade de água de abastecimento para asgerações futuras.

Quanto ao consumo, 72% não vêm problemas de gosto, cheiro, ou sabor. 14%dos entrevistados filtram ou fervem antes de beber, e 82% bebem direto da torneira.

SaneamentoA situação sanitária da região é grave. Em alguns casos a água das pias e do banho

vai direto para a Lagoa. Cem por cento da população têm fossas negras. Construídaem tijolo ou em anel de cimento, com o fundo em brita e em contato com o solo, tudocertamente percola para a Lagoa.

Não existe limpa-fossas na região e, por isso, os próprios moradores (46%) fazema limpeza retirando os resíduos e enterrando em outro local. Alguns nunca limpam(27%) ou não sabem responder (27%).

As obras (rede coletora, linhas de recalque e elevatória) para o esgotamento sani-tário da Costa da Lagoa6 já estão concluídas para atender 200 ligações. Resta fazer atubulação subaquática para ligar à estação de tratamento (ETE) da Barra, quando

5 Muniz, 1999.6 Rampinelli , Casan in Paro,2002.

Costa da Lagoa

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estiver concluída. Este transporte será feito através de um emissário subaquático queconsiste em um tubo de polietileno de alta densidade com 18cm de diâmetro. Esteemissário é composto por tubos fundidos uns aos outros formando um sistema contínuode 1.800 metros de comprimento, tudo na superfície da água. Depois de pronto, injeta-se ar no interior para que ele afunde e possa ser fixado no fundo da Lagoa.

Animais domésticos50% dos moradores possuem animais domésticos como cachorro, gato, pássaros,

galinhas e coelhos. Destes, apenas 18% têm interesse em esterilizar os animais comoforma de controle populacional, porém muitos não o fazem devido ao alto custo dacirurgia. É comum a utilização de métodos anticoncepcionais como injeções ou prisãodos animais durante o cio (18%) a fim de evitarem a procriação, porém 64% nãoresponderam.

LixoA coleta de lixo convencional é o destino final dos resíduos sólidos de 100% dos

entrevistados na Costa da Lagoa. Quanto ao lixo orgânico de cozinha, um dado inte-ressante é que 41% conciliam a compostagem com o aproveitamento para alimenta-ção de animais.

Quanto à disposição e coleta do lixo convencional, todos o entregam para osbarcos que fazem o transporte deste material. Algumas pessoas reclamaram da pre-sença de ratos e baratas no entorno das residências (18%), mas iscas de venenocolocadas pela Comcap amenizaram o problema.

Recursos médicosO único posto de saúde da região apresenta deficiências que comprometem o

atendimento à população em vista de problemas de infra-estrutura. De madeira, aedificação sofre ataques de cupins e é sistematicamente dedetizado. Mesmo assim,90% da população servem-se da infra-estrutura do posto ou procuram o Hospital eapenas 10% recorrem a médico particular. Na região não foi constatada incidência dedoenças contagiosas associadas ao consumo de água e apenas 14% revelaram apre-sentar distúrbios gastrointestinais ou infecções cutâneas, nos olhos e aparelho urinário,contra 86% que não apresenta nenhuma das outras doenças citadas.

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7 Gimeno, 1992.

TransporteO transporte para a Costa da Lagoa é feito através de barcos, e iniciou formal-

mente em 1986. Desde 1993, o serviço é de responsabilidade da Cooperbarco, umacooperativa de pescadores da comunidade. Os embarques são feitos no Centrinhoda Lagoa, para uma viagem ou passeio de aproximadamente uma hora até a Costa, eno trapiche no Parque do Rio Vermelho, de onde se chega à Costa em 15 minutos. Aabertura deste último acesso intensificou o turismo de visitação na região. Mas aqui,vale lembrar que precisamente esta dificuldade de acesso reduziu os impactos depressão populacional externa. Isto permitiu uma maior preservação da natureza e doscostumes da região, se comparada a outras localidades da Lagoa 7.

Outro problema em ascendência é a circulação de lanchas e jet-skis, responsá-vel por acidentes com mortes e pela poluição com metais pesados e hidrocarbone-tos (associados aos derivados de petróleo).

Características atuais e problemas recorrentesDos 85 habitantes ou 10% da população questionada no bairro, 95% eram pro-

prietários das residências e 5% alugavam. Desta população, 73% vivem na Costa hámais de 40 anos e apenas 9% vieram morar na região nos últimos 10 anos, outros18% ali residem há mais de 15 anos.

Quanto ao grau de escolaridade dos proprietários, 87% têm o primeiro e segundograus, 0,95% têm o terceiro grau e 2% são analfabetos.

Na região não existem áreas culturais ou de lazer como praça, biblioteca ou sala defilmes. 50% se limitam a assistir TV por falta de opção. Alguns frenqüentam o salãode festa da Igreja ou tomam banho na Lagoa. As crianças brincam no pátio da escola.

Para melhorar o bairro 90% das pessoas entrevistadas acham que é preciso apri-morar o atendimento do Posto de Saúde (dentistas, médicos), concluir o sistema detratamento de esgoto; ligação da linha telefônica; melhorar o fornecimento da energiaelétrica; melhorias na escola; áreas de lazer; ampliar ofertas de horários de barcos ebaixar o preço da passagem. Somente 1% acha importante ter rua para chegar decarro à Costa.

Quanto à participação nas atividades comunitárias, mutirões ou de associações,somente 27%, acham importante e teriam interesse em participar.

Costa da Lagoa

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1 CECCA, 1997.2 Martins, 2002.3 Torres, 1999.

CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7

Barra da Lagoa - UEP 70

No Leste da Ilha de Santa Catarina, entre os bairros São João do Rio Vermelho eLagoa da Conceição, está o Distrito da Barra da Lagoa. Com uma área 4,75 km2, aBarra da Lagoa foi desmembrada da Lagoa da Conceição em 1995, e hoje, “inde-pendente”, o distrito criado pela Lei Municipal 4806/96 engloba a Fortaleza da Barrae o Balneário. O nome Fortaleza da Barra vem da Fortaleza da Nossa Senhora daConceição, construída em 1786 como parte de um sistema estratégico de defesa dacosta da Ilha de Santa Catarina1. A localização do forte é pouco conhecida, masprovavelmente seus alicerces estão aterrados perto da ponte da Barra 2.

Estas duas regiões da Barra, separadas pelo canal, têm diferentes conformaçõesgeológicas. O Balneário é a continuidade da planície sedimentar litorânea do RioVermelho e Moçambique, cujo solo é predominantemente arenoso e altamente poro-so. Já a Fortaleza apresenta um pequeno terraço sedimentar (Figura 4) seguido por umrelevo montanhoso que funciona como escudo atlântico do canal, a encosta Norte doMorro da Galheta. Rica em rochas graníticas (matacões) com solo argiloso em decli-ve, nesta encosta ocorrem pequenas nascentes que desembocam no canal.

Por ser elo de ligação entre a Lagoa e o Oceano, o Canal da Barra é um impor-tante elemento da bacia hidrográfica. Entretanto, precisamente a beleza bucólica eserena das suas margens provocou a grande ocupação desordenada, que levou àsupressão da vegetação e desaparecimento de inúmeras espécies da fauna aquáticae terrestre3.

A encosta do morro, a partir do limite do Parque Municipal da Galheta até asproximidades das áreas urbanizadas nas margens do canal, apresenta ilhas de vegeta-ção secundária nos estágios sucessionais de capoeira e capoeirão (Vassouras, Gara-

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puvus, Embaúba, Aroeira entre outras) que abriga e alimenta uma fauna terrestre ricaem aves e répteis hoje expostos a alterações pela proximidade com o Parque Flores-tal do Rio Vermelho. Isto porque as sementes de Pinus sp originárias do Parque, defácil e rápida proliferação, começam a colonizar a encosta. Na Barra, tanto a declivi-dade como o solo poroso, rico em águas subterrâneas, transformaram o canal numreceptor de resíduos e poluentes (fossas, esgotos, lixos, detritos de pescados, etc).

Economia e históriaConsiderada maior reduto de pescadores da Ilha de Santa Catarina4, em 1997 a

Barra da Lagoa contava com cerca de 78 embarcações que, no outono, partiam embusca da tainha. Mas hoje, a transição sócio-econômica que atravessa a Barra daLagoa desvia a população tradicional das atividades histórico-culturais para o turismoe prestação de serviços. Embora persista, a pesca é articulada à oferta de serviçoscom pouca qualificação e baixa remuneração.

No que tange o mercado imobiliário, os preços dos terrenos aumentam com amínima infraestrutura (privada ou pública) e percebe-se a mudança no padrão dedemanda turística, direcionado para um público de renda alta e média. Assim, surgeuma incipiente infraestrutura com comércio voltado para construção civil, pousadas,mercados e, principalmente, restaurantes.

Apesar das mudanças sociais e econômicas, a Barra da Lagoa ainda preservafestas populares ligadas à cultura religiosa como a Festa do Divino Espírito Santo oua Farra do Boi, na Páscoa.

Este processo de transição de núcleo pesqueiro para pólo turístico pode ser com-preendido através das alterações de zoneamento da Lei Municipal 2.193/85 - PlanoDiretor dos Balneários para o interesse turístico de Florianópolis. A partir de 1976,o incremento nas vias de acesso aos balneários e a falta de fiscalização ou planeja-mento, permitiram a proliferação de loteamentos e construções ilegais, algumas coma concordância do município. Com a expansão rodoviária, foi ampliada e melhora-da a velha ponte (de 18475) sobre o canal da Lagoa para passagem de automóveis,aumentando a especulação imobiliária, o crescimento populacional e o turismo naregião Norte da Bacia.

Já em 1991, um significativo aumento de edificações deu início aos aluguéis - paraturistas no verão e estudantes durante o ano – como alternativa de renda6. Entre 1992 e1995, foram feitas alterações do Plano Diretor dos Balneários (Lei Municipal 2.193/85)

4 Martins, 2002.5 Agenda 21, 2000; Martins, 2002.6 Torres, 1999.

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para um Plano de Urbanização Específico da Barra da Lagoa (Lei 3.711/92; Lei 4.314/94; Lei 034/95) estabelecendo a região como Unidade Espacial de Planejamento 70(Figura 31). Estas alterações transformaram algumas áreas verdes de lazer (AVL) em áre-as residenciais predominantes e exclusivas (ARP e ARE), além de aumentarem os índicesde ocupação bem como os gabaritos das edificações locais. Estas mudanças permitiram osurgimento da “Cidade da Barra”, um loteamento com prédios próximos à orla maríti-ma e também contribuíu para aumentar a ocupação das margens do Canal da Barra.

Neste aspecto, é importante lembrar que a redução de restrições de ocupação dosolo na zona costeira é inconstitucional e ilegal, pois fere o artigo 25 das DisposiçõesTransitórias da Constituição Estadual, além de várias leis ambientais federais e estadu-ais7. No caso da Barra, estas alterações motivaram uma Ação de Inconstitucionalida-de pela OAB-SC8.

Entretanto, estas duas leis abriram precedente para implantação do empreendi-mento de lazer “Porto da Barra”, cujo processo de licenciamento da LAP (LicençaAmbiental Prévia) e LAI (Licença Ambiental Implantação)9 pela FATMA foi alvo deuma Ação Civil Pública10pelo Ministério Público Federal, impedindo a sua implanta-ção até o momento.

O empreendimento de lazer “Porto da Barra”11 seria na margem Norte do Canalda Barra em um terreno com 600 metros de frente para o canal, com um acessonáutico principal (100 m de largura) e canais artificiais (3200 m) formando um “arqui-pélago” com sete ilhas12. A obra ocuparia uma área total de 129.278,27 m2, em terrasalodiais (105.122,395 m2) e de Marinha (24.155,875 m2) e teria caráter náutico ehabitacional de interesse privado.

O projeto prevê alteração no leito e margens do canal (derrocagens, dinamites emuros de contenção) para ancoragem, apoio de navegação, serviços e facilidadesportuárias (manutenção, abastecimento, consertos, reformas etc) para 300 embarca-ções (iates, veleiros, lanchas etc.), além de edificações de usos misto e coletivo comohotel, espaços comerciais e 12 edifícios de apartamentos geminados13 com habita-ções multifamiliares.

Os danos ou impactos sócio-ambientais dos portos de lazer são de ordem diver-sa14 e o “Porto da Barra”, em vista da localização (canal umbilical da lagoa) e do porte

7 Jornal FALA CAMPECHE , ano 5. Edição Especial, set/2000.8 Hauff, 1996; Torres, 1999.9 LAP 077/96 e LAI 052/97.10 Barbosa, 1996.11 Porto da Barra, LAP 077/96; Jornal a Noticia, 2/10/96.12 Porto da Barra, LAI 052/97; Panitz & Porto Filho, PBA. 1997.13 Porto da Barra,LAP 077/96 e LAI 052/97.14 Clark, 1977; Barbosa, 1997; Panitz & Porto Filho, 1996; Garcia, 1999.

Barra da Lagoa

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da obra15, causaria enorme dano ao ecossistema lagunar durante a implantação eoperação do porto16.

Uma proposta alternativa foi elaborada por alunos e professores da UFSC em199617. A sugestão era a criação de um Parque Atlântida com três centros turísticos:Científico (museus do mar, da terra e da floresta atlântica), cultural (cinemas, teatros,museu açoriano e do homem), lazer e entretenimento (alimentações de diversos locaisdo mundo, lazer infantil, comércio, centro de convenções e hotel). Não houve interes-se do empresário.

Abastecimento de águaAté dezembro do ano 2000, as casas dos 4.331 habitantes da Barra da Lagoa

eram abastecidas por ponteiras individuais e por uma bateria de poços artesianosoperada pela CASAN18. Nesta época, a qualidade da água era questionada pelaprópria comunidade pela sua coloração e sabor. É possível que estes poços estives-sem contaminados pelos esgotos das fossas negras (sem fundo, só com brita), comopela resina ácida e tóxica19 dos Pinus sp. do Parque Florestal do Rio Vermelho, quese infiltra no lençol freático.

Em 1999, com a construção da rede de abastecimento Campeche – Lagoa –Barra, a água passou a vir do Sistema Integrado de Poços de Abastecimento daCosta Leste e Sul – SIPALS, explorado pela CASAN de 1983 até dezembro de2000. O Aqüífero Campeche-Joaquina, localizado na Planície Costeira do Campe-che, tinha onze poços tubulares profundos e fornecia uma vazão total de 150 L/s(540.000 L/h) ou 12.960.000 L/dia com um volume estimado de 105.000.000 m3

(150 bilhões de litros). Este aqüífero abastecia 14.363 residências entre a Lagoa daConceição, Campeche, Carianos, Ribeirão da Ilha e Barra da Lagoa. A CASANutilizava somente 35% da água da recarga do aqüífero20.

Com a construção da Estação de Tratamento de Água de Abastecimento (ETA)da Lagoa do Peri, sob a responsabilidade da CASAN, os postos foram desativadosem dezembro de 2000 e a ETA começou a responder pelo serviço. Construída comverbas do Banco Mundial, esta ETA absorveu US$ 11.000.000 em 1999 para abas-tecer a Costa Leste - Sul da Ilha de Santa Catarina em lugar dos poços integrados etem uma capacidade limite de abastecimento de 147.161 habitantes21, desde a Arma-15 Barbosa, 1998a.16 EIA/RIMA porto da Barra, 1990; Barbosa in ACP, 1996, 1998, 2000, 2002.17 Jornal A Notícia 13/12/96; Ação Civil Pública 97000001-0.18 Santos & Ventura, 2002a.19 Baptista et al. 2002; Cruz jr. & Soares, 2002; Soares, comun.pessoal. BQA- UFSC. 2003.20 Macagnan, 2000; ABAS, 2000.21 CASAN, 1997 - Oficio CT/D 1050 in Dossiê Campeche.

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ção, Campeche, Rio Tavares, Lagoa da Conceição e Barra da Lagoa. Lamentavel-mente, este projeto sem Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) não con-siderou que a qualidade da água da Lagoa do Peri era inferior à dos poços integrados. .

Enquanto a água dos poços, que utilizava apenas 35% do potencial subterrâneo,é de excelente qualidade e baixo custo, pois necessita apenas de bombeamento epequena cloração22, o excesso de algas (clorofíceas, cianofíceas, entre outras23) emsuspensão na Lagoa do Peri impõe o uso de mais de 100kg/dia de cloro e sulfato dealumínio AlSO4. Estes produtos servem para eliminar as bactérias e aglutinar e de-cantar as algas24, mas gera sabor e odor e um potencial cumulativo do alumínio nosorganismos vivos.

O atual abastecimento atinge 98,2% dos moradores da Barra25. Desta populaçãoatendida, 48,57% consomem a água diretamente da torneira, sem filtração ou fervura,e 18% reclamam do excesso de cloro e do sabor.

SaneamentoNa região, as fossas negras predominam em 70% das residências. Os outros 30%

são fossas com sumidouros, mas não há garantias de que atendam às normas técnicas.Através do levantamento deste trabalho, constatou-se que 45,71% fazem a limpezada fossa, mas destes, 85% não sabem se a empresa contratada possui licença daFATMA (Fundação de Amparo à Tecnologia e ao Meio Ambiente) para o descarteadequado em estações de tratamento de esgotos.

Esta falta de atendimento às normas técnicas de impermeabilização e tratamentocompleto é a responsável pela contaminação do lençol freático e, indiretamente, daLagoa da Conceição através do Canal da Barra. Outro dado preocupante é a ligaçãodireta dos sanitários no próprio Canal, prática bastante comum por pedreiros locais, esem controle por parte das autoridades. Além disso, são inúmeras as ligações dos sani-tários e descarte de lixos na rede de escoamento das águas das chuvas (rede pluvial).Neste item é importante lembrar que muitas pessoas, ao ligarem seus sanitários à redepluvial, acreditam estarem ligando a uma rede de esgotos. Isto, além da contaminação,causa entupimentos que provocam esporádicas inundações nos períodos de chuva.

Apesar do crescimento populacional da região e da extrema fragilidade do ecos-sistema local, até hoje a Barra da Lagoa não dispõe de sistema de tratamento deesgoto sanitário. Entretanto, está em construção uma Estação de Tratamento de

Barra da Lagoa

22 ABAS, 2000.; Barbosa, 1998; Macagnan, 2000; Celso Martins, 2002.23 Soriano in Martins, 1999; Matthiensen, 2001.24 ETA25 Bento & Bento, 2002.

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Esgoto (ETE) na Reserva Florestal do Rio Vermelho (Figura 32), que deverá atender30 mil pessoas entre a Barra da Lagoa e a Costa da Lagoa. A rede coletora está prontae a previsão de concluir a ETE é para julho de 2003. O assustador disso tudo é que estaobra, mesmo sendo dentro do parque do Rio Vermelho, não teve nenhum tipo de estudode impacto ambiental e, apesar disso, obteve licença da FATMA.

Animais domésticosA média de animais domésticos (cães, gatos, pássaros e outros) na Barra da La-

goa é de um para cada residência, excluídos os abandonados, que já constituem umgrave problema de saúde pública na bacia lagunar. Outro agravante é que a maioria dapopulação deixa seus animais, em especial cães e gatos, soltos nas ruas. Questiona-dos sobre a reprodução, a proliferação e o destino dos filhotes dos animais domésti-cos, apenas 17,65% utilizam anticoncepcional; 23,53% castram e 58,82% prendemas fêmeas. No universo de entrevistados entre março e agosto de 2002, 35,42% têminteresse em esterilizar as fêmeas; 56,25% não têm interesse em tomar nenhum tipo deprecaução e 8,33% afirmam que já esterilizaram seus animais. Quanto aos filhotes:9% abandonam; 12% criam; 59% doam; 18 % vendem e 2% matam os filhotes.

LixoQuanto aos resíduos sólidos, 95% dos entrevistados utilizam a coleta convencional

da Comcap - três dias por semana no decorrer do ano e diariamente no verão - eapenas 3,81% separam e fazem compostagem com os resíduos orgânicos. No con-junto, 10,5% separam o lixo orgânico do reciclável, mas não esperam a coleta seletivapara o descarte. Outros (1,9%) separam e queimam o lixo. Dentre os questionados,52% descarta o lixo nas ruas, 24% em lixeiras particulares e 21% os colocam emlixeiras coletivas.

O problema maior desta postura é a quantidade de lixo nas ruas, já que os sacos epacotes são abertos pelos animais que espalham os detritos pelas calçadas, ruas,bueiros, riachos e no próprio Canal.

Também é comum a reclamação de moradores que têm suas lixeiras particulares toma-das pelos descartes de outros. Este hábito, além de falta de educação e do incômodo parao dono da lixeira, traz sérios inconvenientes, como mau cheiro, baratas, ratos, etc.

Recursos médicosNa região não há atendimento hospitalar e, em caso de doença, 45,7% recor-

rem ao posto de saúde; 9,52% buscam ajuda médica em hospitais do centro eSão José; 20% procuram médico particular; 0,95% procuram hospital e médico

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26 Santos e Ventura, 2002.

particular; 14,3% utilizam posto de saúde e hospital e 5,70% recorrem tanto aoposto de saúde como ao médico particular. Outros 3,81% optam tratamentoscaseiros e alternativos.

Características atuais e problemas recorrentesPelos dados apurados na pesquisa que envolveu 389 entrevistados, 89% das mo-

radias são próprias e apenas 11% são alugadas, sendo que a média de moradores porcasa é de 3,7 pessoas.

Do total de 389 pessoas pesquisadas, o perfil de escolaridade aponta 81,9% comprimeiro e segundo graus completos, e 0,95% de analfabetos. Na comunidade pre-dominam nativos e estudantes de outras partes do Estado e do país e também foiapurado que a região carece de uma escola de ensino médio que qualifique a mão deobra para atender as demandas locais.

Entre os problemas recorrentes, a população abordada apontou como preocupa-ções principais a incidência de insetos (26%), as inundações (14%); o mau cheiro(12%); incidência de moluscos e animais de rua, etc (7%); ratos (3%) e, para 47,62%dos entrevistados, não há problemas a serem listados.

Quanto ao lazer familiar, a falta de opções se percebe por 90% apontarem atelevisão; 12, 5 % se dedicam a algum tipo de esporte e 8,65% fazem caminhadas.Os banhos na Lagoa são apontados por apenas 0,96% e, a praia, por 9,62%.24,04% dos entrevistados afirmam ter outras formas de diversão e 10,58% nãodesfrutam de nenhum tipo de lazer na Barra da Lagoa. Já os parques são apontadospor 3,85% como locais de lazer26.

Barra da Lagoa

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1 Dutra, 1991.2 Maia Neto, 19973 Dutra,1991

CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8

São João do Rio Vermelho – zona rural

Na parte Nordeste da Ilha de Santa Catarina, o Distrito de São João do RioVermelho ocupa uma área cerca de 31km2. Limita-se a Leste com o Oceano, na praiaconhecida como Praia Grande ou Moçambique, com 13,5 km de extensão; ao Nortecom o Distrito dos Ingleses do Rio Vermelho, e a Oeste com uma cadeia de morrosdos Distritos de Ratones e Cachoeira do Bom Jesus. O nome Rio Vermelho deve-seao rio que corta a planície até desembocar na Lagoa de Cima. A região está zoneadacomo área rural (Lei Municipal 2.193/85). (Figuras 32 e 33).

Esta planície costeira onde se encontra o Distrito do Rio Vermelho é constituída desedimentos depositados com os avanços e recuos do mar durante o Quaternário – noperíodo Holoceno1. O solo arenoso das dunas e restingas é ideal para acumular águasformando aqüíferos ou lagos subterrâneos, que são constantemente abastecidos pelainfiltração da água das chuvas (Figura 33). O tamanho, aspecto e qualidade do lençolfreático variam com a geologia, o solo2 e a ocupação. Da mesma forma, o volume deágua acumulado depende da pluviosidade regional (média de 1.521 mm/ano3), dacobertura vegetal e da taxa de impermeabilização do solo.

A vegetação aumenta a retenção da água das chuvas, pois as folhas, arbustos ecapins enriquecem o solo e amortecem gradualmente os pingos, atuando como umaesponja. Além disto, as raízes em cabeleira das plantas de restinga e de dunas sãocomo canais que facilitam a infiltração da água no solo. A qualidade química de umaqüífero varia com a composição mineralógica local, pois a água é um solvente univer-sal que dissolve os elementos do solo e do ar.

Já a potabilidade das águas subterrâneas é excelente e seu uso para abasteci-mento público é o mais barato do planeta. Isto porque as águas filtradas e armaze-

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nadas naturalmente não apresentam material particulado ou matéria orgânica, e nãonecessitam floculação e decantação (com sulfato de alumínio - AlSO4). Assim, osmaiores gastos se restringem à prospecção do solo, correção de pH, cloração,bombeamento e distribuição. Além disso, a recarga dos aqüíferos é asseguradainfinitamente com a preservação e planejamento sustentável das restingas, dunas ebanhados.

Atualmente explorado pela CASAN, o aqüífero Ingleses – Rio Vermelho tem 17poços tubulares profundos e uma vazão total de 340 L/s (1.224.000 L/h) ou 29.376.000L/dia. O volume total é estimado em de 286.804.000m3 ou 286 bilhões de litros. Esteaqüífero abastece 21.974 residências nas localidades de Ingleses, Santinho, Canasvi-eiras, Ponta das Canas, Cachoeira do Bom Jesus, Rio Vermelho, Jurerê, Daniela eVargem Grande4. (Figura 34).

Na região do Rio Vermelho, os afloramentos do lençol freático formam banhadose lagoas ricos em vegetação aquática5 que serve para nidificação, berçário e abrigo degrande diversidade animal e belíssima avifauna local e visitante6. Nos anos 60, eracomum encontrar espécies de aves hoje raras como o Colhereiro, o Macuco, a gaivo-ta Maria Velha, o Canário do Brejo, Tico-tico do Banhado, Cardeal do Banhadoentre outras, além de répteis (jacarés) e anfíbios (sapos e rãs) nestas áreas.

Maior contribuinte de água doce na Lagoa da Conceição, o Rio João Gualberto,ou rio Capivaras, nasce de uma zona alagada de escoamento superficial, assumindocaracterísticas de rio intermitente nas estações chuvosas. São 19 os contribuintes quelançam águas no baixo curso na planície sedimentar que, antigamente, servia de abas-tecimento para a população do Rio Vermelho. Entretanto, hoje as margens estão qua-se desprovidas de cobertura vegetal e é crescente a ocupação humana, ferindo oCódigo Florestal (Lei Federal 7.511/86). Esta Lei estabelece que rios com 10 a 50metros de largura (o rio João Gualberto tem 37 metros de largura) devem ter margenscom 50 metros de floresta (mata ciliar). Isto impediria a erosão, o assoreamento eseguraria as margens reduzindo a poluição direta. Em alguns locais, foram construídaspequenas represas (lagos) para criação de peixes e camarões de água doce, ou paraabastecimento de gado e cavalos. Já em 1991, a quantidade de lixo nas margens e acontaminação da água por coliformes fecais acusavam a poluição humana e o desper-dício desta fonte de abastecimento e lazer.

4 ABAS, 2000; Macagnan, 2000.5 CONAMA, Resolução 261/99.6 Rosário, 1996; Naka e Rodrigues, 2000.7 CECCA, 1997.

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Economia e históriaA Freguesia de São João do Rio Vermelho (Figura 35), surgiu em 1834, a partir

do desmembramento da Freguesia da Lagoa. Nesta época, o povoado tinha comocaracterística os “arruados de laranjeiras” em um terreno fértil com plantações demandioca e amendoim7. Originalmente ocupado por fazendas, o lugar concentravagrande número de engenhos de farinha, pois esta era a região de maior cultivo demandioca na Ilha. Hoje, os engenhos são muito raros 8. Por volta de 1930, o esgo-tamento dos solos fez com que população alternasse a subsistência entre a agricul-tura e a pesca em alto mar9.

Mas foi em 1962 que a paisagem sofreu sua primeira grande alteração. A restingada região, constituída principalmente de áreas alagadiças, foi substituída por uma plan-tação de Pinus sp, na tentativa de testar o crescimento e desenvolvimento dessasespécies no local (Parque do Rio Vermelho) (Figura 36). A partir daí, esta vegetaçãoexótica se disseminou invadindo dunas e áreas da Mata Atlântica, ameaçando a biodi-versidade destes ecossistemas, assim como a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Con-ceição. A resina produzida pelo Pinus é rica em substâncias húmicas, polifenóis etanino que afetam o pH e qualidade das águas e sedimentos10. Hoje percebe-se quede 900 espécies da flora de restinga, apenas 18 crescem sob a plantação de Pinus noParque do Rio Vermelho. Estas plantas, entretanto, não florescem ou dão frutos, sãoestéreis11. Em função disso, é também baixa a diversidade animal nos limites e proxi-midade desta floresta de Pinus, povoada principalmente por rolinhas, gralhas e gavi-ões, que não dependem unicamente deste ecossistema12.

Apesar de feições rurais ainda bem marcadas, há um processo de mudança deidentidade da população deste bairro. Aos poucos, a área que era quase que exclusi-vamente rural foi sendo parcelada e as antigas fazendas foram transformadas em síti-os, principalmente de aposentados do setor público. Também nos últimos anos foienorme a procura por terrenos, exatamente por ser uma área pouco fiscalizada edevido à conclusão da estrada que corta o distrito, ligando Ingleses à Barra da Lagoa.Isto acelerou rapidamente a valorização dos terrenos e as transformações nesta loca-lidade. Hoje, o Distrito de São João do Rio Vermelho possui uma população aproxi-mada de 6.791 mil habitantes.

8 Lago 1996 in Santos & Ventura, 20029 LUPI,1987 in Santos & Ventura, 2002.10 Hinckel & Panitz in Garcia, 1999; Baptista et al. 2002; Cruz Jr. & Soares, C.H., 2002.11 Bechara 2003; Ademir Reis com.pessoal, 2003.12 Reis Ademir, 2003.

São João do Rio Vermelho - Zona Rural

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Abastecimento de ÁguaA água da comunidade do Rio Vermelho provém do aqüífero Ingleses – Rio Ver-

melho13. Um sistema de tubulação em anel interliga os poços Dunas Verdes, Areal,Ciro e Moçambique (Figura 34) com os outros poços de Ingleses14 para abastecercem mil habitantes do Norte da lha.

Pela pesquisa Ecolagoa, que abrangeu 242 residências e 862 moradores, ou 12,7%da população do Rio Vermelho, quanto ao consumo de água pela comunidade, 92%utilizam a rede da CASAN, 5% captam a água através de ponteiras e 3% dispõemdas duas fontes. A qualidade razoável da água subterrânea faz com que o consumodireto da torneira, sem filtragem, seja utilizado por 68% da população, enquanto 14%filtram ou fervem antes de bebê-la, e apenas 4% optem pela compra de água mineral.Apesar disso, há algumas reclamações de falta d’água e do sabor e cheiro de cloro.

É enorme a preocupação de alguns técnicos da CASAN15 quanto ao comprome-timento deste aqüífero pela ocupação desordenada e crescente em torno dos poçosde captação nos últimos dois anos16. Isto porque, além de inviabilizar o lençol freático,coloca em risco o Norte da Lagoa da Conceição.

SaneamentoÉ grave a falta de saneamento na região do Rio Vermelho. Apesar da qualidade da

água ser acima da média se comparada a outras localidades da Ilha, ali também orisco de contaminação é maior pela porosidade do solo e altura do lençol freático.São freqüentes as reclamações de fossas cheias durante chuvas intensas. Isto significaque as águas do lençol freático sobem e enchem as fossas que têm apenas uma cama-da de brita sobre o solo.

Como 94% dos tratamentos individuais das residências são fossas negras (semfundo) e um sumidouro, é evidente que os esgotos se misturam com o lençol freático.Estas águas subterrâneas por infiltração também interferem na qualidade da água daprópria Lagoa da Conceição. Além disso, os pequenos rios e riachos da região sãoreceptores de fossas domésticas e deságuam diretamente na Lagoa, contribuindo coma poluição da bacia hidrográfica. Outros 5% da população local desconhecem seutilizam qualquer tipo de fossa ou mesmo se dispõem de tratamento sanitário naspropriedades.

13 CASAN, 2002.14 CASAN, 2001; Guedes Jr, 2000.15 CASAN, Grover Alvarado, 2001.16 CASAN, 2002.

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Animais domésticosNo Rio vermelho, 69% das residências pesquisadas possuem animais domésticos,

com alta incidência de cães - numa proporção de um cachorro para cada três habitan-tes, seguida pela de gatos - com um animal para cada dez habitantes. Por ser um distritoque mantém ainda características rurais, ali são comuns criações de galinhas, gansos,passarinhos de gaiola, bois e cavalos.

Apesar do elevado número de animais, apenas 7% dos entrevistados já esterilizaramalgum bicho de estimação; 23% afirmam ter interesse em esterilizar e 70% não se inte-ressam pelo assunto. Quanto ao destino dos filhotes, 13% disseram doar, 4% criam, 5%vendem e 78% optaram por “outras soluções”, ou seja, principalmente matam. Entre osmétodos utilizados para controle da população animal, 5% esterilizam, 11% ministramanticoncepcional, 12% prendem as fêmeas no período do cio e 72% não responde-ram17 ou optam por outras formas não explicitadas na pesquisa.

LixoQuanto ao destino dos resíduos sólidos, 100% utilizam a coleta convencional, três

dias por semana na baixa estação e diariamente no verão. 71% afirmam que separamo lixo orgânico do reciclável, 19% enterram o lixo orgânico e 8% o queimam. Contra-ditoriamente, 52% admitem que não dispõem de lixeiras para abrigar o lixo antes dacoleta. Os sacos são simplesmente depositados em frente às residências, na rua outerrenos baldios por onde passa o caminhão de coleta. Somente 31% têm lixeiraparticular, a salvo de animais, do vento e das chuvas que podem levar os resíduos aentupir bueiros e sujar ruas, córregos e calçadas.

Recursos médicosDos entrevistados durante a pesquisa no Rio Vermelho, 51% recorrem ao Posto

de Saúde da localidade, em casos graves 14% procuram hospitais de Florianópolis;14% recorrem primeiro ao postinho, se for necessário ao médico particular e, emúltimo caso, ao hospital. Apenas 13% consultam médicos particulares regularmente e8% procuram outros recursos em caso de doença. Neste aspecto, vale lembrar que87% dos entrevistados afirmaram não apresentar nenhuma doença das listadas pelapesquisa; 6% já apresentaram ou apresentam infecções cutâneas, nas vias urinárias enos olhos; 4% já tiveram hepatite e 3% já sofreram de distúrbios gastrointestinais.

Características atuais e problemas recorrentesDas pessoas abordadas pela pesquisa Ecolagoa, 87% eram proprietárias das resi-

dências em que viviam, 11% alugavam e 2% alegaram outros tipos de forma de uso.

São João do Rio Vermelho - Zona Rural

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Outro dado interessante é que 40% dos entrevistados afirmam que residem no RioVermelho há apenas um a cinco anos; 20% vivem no local há mais de 11 anos e 19%há menos de um ano.

Quanto ao grau de escolaridade, 52% têm o primeiro grau completo; 31% têm osegundo grau completo; 15% têm o terceiro grau e apenas 2% são analfabetos. Comuma renda familiar média na casa dos 4,3 salários, a pesquisa apurou que 76% dosentrevistados ganham de um a cinco salários; 18% recebem de cinco a dez saláriosmínimos mensais; 3% acima de dez salários e 3% não responderam.

Nesta região, 34% dos pesquisados apontaram como principais problemas recor-rentes a incidência de insetos; 4% o mau cheiro; 4% as inundações do bairro; 1% apresença de ratos e 8% reclamaram da conjugação destes problemas. Para 49% dosentrevistados, nenhum dos problemas citados chega a preocupar.

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Considerações finais

As conclusões deste trabalho talvez não sejam novidade, mas são importantespara reforçar a necessidade de ações de educação ambiental e o engajamento dascomunidades na defesa do ambiente e qualidade de vida da Bacia Hidrográfica daLagoa da Conceição. Como foi descrito aqui, a legislações brasileira, estadual e mu-nicipal no que tange às questões ambientais são muito boas, o problema é o nãocumprimento do que está escrito em lei. Ou pior: a alteração de leis municipais embenefício da iniciativa privada, mesmo em desacordo com as leis federais e estaduais.Daí a importância do papel da sociedade civil organizada na cobrança do cumprimen-to do Estatuto da Cidade e outras leis aqui citadas.

Para esta participação e cobrança é necessário conhecimento, o máximo de informa-ções sobre o ecossistema da região e os efeitos de políticas erradas para o lugar e paratoda a sociedade. Numa Ilha que está sendo mutilada pela especulação imobiliária, queprivatiza o público e belo em detrimento do bem estar da população, só uma articulaçãodas comunidades com os poderes públicos pode impedir a degradação que já se verifi-ca em diversos pontos do litoral catarinense.

Hoje, o que ocorre é a participação de representantes dos órgãos públicos, quan-do convidados pelas entidades comunitárias, porém sem o comprometimento de ga-rantir o cumprimento das decisões ali tomadas democraticamente. Para este engaja-mento é preciso boa vontade e atitude das duas partes. Só assim se evita a apropria-ção do discurso ambientalista por grupos políticos que, ao contrário das expectativas,fazem o jogo da especulação.

Sustentabilidade é um conceito concreto, não há margem para muita negociação.Os limites são impostos pela própria natureza e apoiados pelas leis. Resta seremcumpridas.

Mesmo com esta falta de entrosamento entre terceiro e primeiro setores, naLagoa, organizações não governamentais como a Fundação Lagoa, Associação deMoradores da Lagoa, Associação Comercial e Industrial da Lagoa (Acif- Lagoa),

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Fórum da Lagoa e SOS Praia Mole entre outras ONGs, conseguiram reduzir decinco para dois o número de pavimentos autorizados por lei na região e muitasoutras vitórias.

De sua parte, o Ministério Público Federal, graças ao acórdão do juiz JurandiBorges Pinheiro, exige estudo de impacto ambiental e impacto de vizinhança paraobras em toda a Bacia Hidrográfica. Também foi o Ministério Público Federal oresponsável pela não autorização de um mega empreendimento turístico no Canalda Barra que comprometeria todo o ecossistema lagunar e a qualidade de vida detoda a região.

Estes, entre outros felizes exemplos, são indicadores de que vale a pena participare contribuir em movimentos que agem pela preservação da natureza, pelos bens cul-turais e pela qualidade de vida das gerações atuais e futuras. É possível pensar e teruma cidade sem esgotar seus recursos naturais, basta saber gerenciá-los.

Para preservar a Lagoa da Conceição é importante garantir os usos da coletivida-de - banhos, competições de natação e outras atividades de contato primário - enunca restringir o uso a grupos de maior poder aquisitivo, sejam moradores ou turistasde outras regiões ou países.

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Fotos, Mapas e FoldersFotos, Mapas e FoldersFotos, Mapas e FoldersFotos, Mapas e FoldersFotos, Mapas e Folders

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88 - Ecolagoa

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Figura 1 - Lagoa da Conceição e sua subdivisões: Lagoa de Cima, Lagoa do Meio e Lagoa de Baixo

Lagoade Baixo

Lagoado Meio

Lagoado Cima

São João doRio Vermelho

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Figura 2 - Vista aérea das dunas que “avançam” em direção àLagoa trazidas pelos ventos Sul e Sudeste.

Figura 3 - Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição. Corpo Lagunar e contribuintes.

Barra da Lagoa

Galheta

Mole

Joaquina

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Figura 4 - Vista aérea da Barra da Lagoa e do Canal da Lagoa. Foto 1998.

Figura 5 - Vista aérea da praia da Barra da Lagoa e do Molheque reduz a entrada de areias para dentro do canal.

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Figura 6 - Vegetação às margens do Canal da Barra formando a franja litorânea e mata ciliar.

Figura 7 - Vista aérea das sinuosidades e desembocadura do canal na Lagoa da Conceição.Foto 1998.

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Figura 8 - As zonas profundas, mais escuras, e as zonas rasas,mais claras, se destacam claramente no corpo lagunar. Foto 1998.

Figura 9 - Estrangulamento sob a Ponte das Rendeiras separa a Lagoa do Meio da Lagoa de Baixo

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Figura 10 - Franja litorânea na margem central do Canal da Barra da Lagoa.

Figura 11 - Sambaqui da Ponta das Almas.

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Figura 12 - Carro de boi até hoje utilizado para transporte na região.

Figura 13 - Ocupação imobiliária nas margens do Canal da Barra.

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Figura 14 - No Porto da Lagoa exemplos de mau planejamento e a supressãoda vegetação de restinga para loteamentos imobiliários.

Figura 15 - Na Avenida Osni Ortiga, o crescimento de algas Enteromorpha sp, e a sua decomposiçãoprovoca mau cheiro.

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Figura 16 - Drenagem do Parque do Rio Vermelho para a Lagoa da Conceiçãocom aspecto ferruginoso na água possivelmente devido à drenagem da plantação de Pinus sp.

Figura 18 - UEP 68 - Zona mais densamente urbanizada da Lagoa da Conceição - Esporão arenoso.Foto 1998.

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Figura 17 - Plano Diretor dos Balneários (Lei Municipal 2193/85).

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

Canto daLagoa

Porto daLagoa

LagoaCentro

Barra daLagoa

Costa daLagoa

São João doRio Vermelho

PraiaMole

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Figura 19 - Chuvas e afloramento do lençol freático formam pequenoslagos nas dunas após as chuvas.

Figura 20 - Zoneamento de uso do solo do Centro e Canto da Lagoa (UEP 66 e 68 - Lei 2193/85)

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

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Figura 22 - Valos de oxidação, decantador e secadores de lodo da estação de tratamento de esgotos da Lagoa da Conceição.

Figura 21 - Residências multifamiliares do tipo 2* pavimentos na margem da Lagoa.

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Figura 23 - Lagoinha receptora dos efluentes tratados da estação de tratamento de esgotos da Lagoa.

Figura 24 - Zoneamento de uso do solo da Ponta das Almas e do Canto dos Araçás (Lei 2193/85).

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

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102 - Ecolagoa

Figura 25 - Para a construção civil, áreas como esta entre a montanha e a Lagoa,são consideradas “Filet Mignon”.

Page 103: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

103

Figura 26 - Zoneamento de uso do solo do Porto da Lagoa (Lei 2193/85)

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

Page 104: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

Figura 27 - Aspectos da ocupação da Costa da Lagoa

Figura 29 - Casa do início do século passado na antiga trilha de escoamento da produção agrícola

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Figura 28 - Mapa da Unidade Espacial de Planejamento (UEP 69) - Canto dos Araçás-Costa da Lagoa -Lei 2193/85

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

Costa daLagoa

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Figura 30 - Igreja da Costa da Lagoa ornamentada para festas populares

Figura 31 - Mapa do zoneamento e uso do solo na Barra da Lagoa (UEP 70). Lei 2193/85 (IPUF)

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

Page 107: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

Figura 32 -Vista de São João do Rio Vermelho - A característica rural começa a ser alterada pelaocupação por loteamentos

Figura 33 - Zoneamento de uso do solo da região do Rio Vermelho (Lei 2193/85)

AERárea de

exploraçãorural

LEGENDA

Prefeitura Municipal de FlorianópolisIPUF - Instituto de Planejamento

Urbano de Florianópolis

Page 108: Ecolagoa (tereza cristina barbosa)

Figura 35 - Igreja da Freguesia do São João do Rio Vermelho

Figura 36 - Experiência com Pinus SP no Parque do Rio Vermelho sobre dunas

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Figura 34 - Mapa da bacia da Lagoa. Em evidência os pontos vermelhosque são poços artesianos de abastecimento de água no Rio Vermelho e para o Norte da Ilha.

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ANIMAISANIMAISANIMAISANIMAISANIMAIS. . . . . VVVVVocê seocê seocê seocê seocê sepreocupa com eles?preocupa com eles?preocupa com eles?preocupa com eles?preocupa com eles?

Os animais nãoOs animais nãoOs animais nãoOs animais nãoOs animais nãopodem optarpodem optarpodem optarpodem optarpodem optar

por não terempor não terempor não terempor não terempor não teremmais filhotes...mais filhotes...mais filhotes...mais filhotes...mais filhotes...PPPPPense por eles!ense por eles!ense por eles!ense por eles!ense por eles!

• Nervosismo e fugas provocadas pelo cio (o que pode resultar em atropelamento);• Gestações indesejadas;• Superpopulação;• Eutanásia (extermínio);• Risco de infecção e trauma do coito;

• Complicações uterinas;• Perda de sangue durante o cio e namora-

dos indesejáveis no portão;• Estresse físico e emocional;• Tumor de mama e doenças transmitidas

Sexualmente.

Ao contrário do que se pensa, as fêmeas não precisam ter seu primeiro cio e cria.

A carrocinha não resolve. Além de cruel, ela trata vida como lixo e custa dinheiro quepoderia ser usado para prevenir o abandono.

Dentre outros inconvenientes, os animais de rua reviram o lixo (ocasionando mau cheiro,insetos e poluição visual), e seus excrementos percolam para as águas da Lagoa.

Informações: geocities.yahoo.com.br/gaar_campinas/porque_castrar.htmwww.eobichofloripa.hpg.ig.com.br

AO PASSEAR SEU ANIMAL, NÃO ESQUEÇA DECOLETAR AS FEZES E JOGAR NO SANITÁRIO.

A castração evita:A castração evita:A castração evita:A castração evita:A castração evita:

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Se você ama os animais não Se você ama os animais não Se você ama os animais não Se você ama os animais não Se você ama os animais nãodeixe que se procriem sem controle!deixe que se procriem sem controle!deixe que se procriem sem controle!deixe que se procriem sem controle!deixe que se procriem sem controle!

Sociedade Animal

Uma única gatinha em2 anos pode gerar até2000 descendentes.

Uma cadelinhaem 6 anos podegerar até 6000.

1 - As pessoas que moram com você estãode acordo?

2 - Sua casa/apto tem espaço suficientepara a espécie escolhida?

3 - Se você mora em apartamento, sabe seé permitido ter animais de estimação?

4 - O bicho escolhido é realmente um ani-mal doméstico, ou um animal silvestrede fauna brasileira?

PPPPPosse responsávelosse responsávelosse responsávelosse responsávelosse responsávelAntes de levar um animal para casa, pense...Antes de levar um animal para casa, pense...Antes de levar um animal para casa, pense...Antes de levar um animal para casa, pense...Antes de levar um animal para casa, pense...

5 - Você já considerou a adoção ao invésda compra?

6 - Não adote um animal pensando que éum brinquedo para as crianças.

7 - Você está disposto a cuidar do animaldurante toda a sua vida?

8 - Você pode custear alimentação e cui-dados veterinários?

A adoção pode ser uma boa opção! Antes de comprar seu animal, pense! Na adoção você coopera na redução do núme-

ro de animais de rua. Milhões de cães e gatos no mundo são sacrificados anualmen-te por estarem abandonados. Isto pode ser evitado com a sua iniciativa e atitudescoerentes da sociedade e autoridades competentes.

Informações: Sociedade Animal

QUANDO LAVAR O CANIL, JOGUE AS ÁGUAS NA REDEDE ESGOTO OU NA REDE SANITÁRIA DA SUA RESIDÊNCIA.

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LIXLIXLIXLIXLIXOOOOO. . . . . VVVVVocê seocê seocê seocê seocê sepreocupa com ele?preocupa com ele?preocupa com ele?preocupa com ele?preocupa com ele?

LIXÕES: Grandes aterros ou áreas ala-gadas a céu aberto, onde os resíduos sãodespejados. Não oferecem nenhuma van-tagem e colocam em risco a saúde da po-pulação, poluindo o solo, a água e o ar.

ATERROS SANITÁRIOS: Os resíduossão compactados e cobertos com terra.Existe tratamento dos gases e líquidos pro-duzidos pelo lixo e controle de animais trans-missores de doenças. É uma técnica confi-ável e de baixo custo operacional, mas quan-do mal administrados os aterros se trans-formam em depósitos de ratos e insetos.Não há reciclagem de vários materiais.

INCINERAÇÃO: Os resíduos são quei-mados em altas temperaturas e transfor-

PPPPPara onde vai o nosso lixara onde vai o nosso lixara onde vai o nosso lixara onde vai o nosso lixara onde vai o nosso lixo?o?o?o?o?mados em cinzas, reduzindo assim o volu-me. É higiênico, mas tem alto custo. Osdiferentes tipos de resíduos quando quei-mados podem causar danos à atmosfera.

COMPOSTAGEM: São lugares ondesobras de comida, podas de árvores, folhase estercos de animais são transformadosem adubo. Reduz o volume de resíduos e oproduto final é utilizado como adubo oucobertura de aterros sanitários.

RECICLAGEM: O material é reaprovei-tado passando por um processo de trans-formação e retornando ao ciclo produtivo.Diminui problemas ambientais (menos po-luição, menos gastos com água e energia),gera empregos e rendas.

VVVVVamos colaborar com esta mãe Lagoa queamos colaborar com esta mãe Lagoa queamos colaborar com esta mãe Lagoa queamos colaborar com esta mãe Lagoa queamos colaborar com esta mãe Lagoa quenos dá a pesca, o lazernos dá a pesca, o lazernos dá a pesca, o lazernos dá a pesca, o lazernos dá a pesca, o lazer, a beleza,, a beleza,, a beleza,, a beleza,, a beleza,

A VIDA!!!A VIDA!!!A VIDA!!!A VIDA!!!A VIDA!!!

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Já que é impossível não produzir lixo,vamos reduzí-lo, reutilizando sempre quepossível e separando os materiais reciclá-veis para a coleta seletiva.

Cada um de nós produz cerca de 300kg/ano de lixo. A solução deste problema exige areeducação e comprometimento do cidadão.

50% do material descartado como lixopode ser recuperado ou reutilizado na fa-bricação de um novo produto. Com criativi-dade a reutilização pode ajudar no orça-mento familiar.

Aviões feitosde garrafasplásticas.

Cestaria decanudos de

jornais erevistasvelhas.

COMO SEPCOMO SEPCOMO SEPCOMO SEPCOMO SEPARAR?ARAR?ARAR?ARAR?ARAR?• Coloque uma lixeirinha com tampa sobrea pia e deposite ali os restos de alimentosou lixo úmido (cascas, papel molhado, ervade chimarrão...), exceto carnes e ossos (dêpara os animais).

• Separe uma lixeira grande para colocar olixo seco (garrafas de refrigerante - pet,papel seco, papelão, vidro, metal, embala-gens longa vida, frascos de shampoo, etc),material seletivo.

Lixo úmido

Lixo Seco(seletivo)

LIXO ÚMIDO:

Vamos enterrá-los, ou fazer uma com-posteira.

Para fazer uma composteira é neces-sário ripas de madeira ou taquara. É cons-truída conforme a figura abaixo:

Coloque na composteira os restos defolhas e de podas. A cada dois dias enterreo lixo sob este material. O resultado seráum composto para utilizar como adubo.

LIXO SECO:

Leve-o para a coleta seletiva, ou dê paraalguém que vive disto.

E AGORA? O QUEE AGORA? O QUEE AGORA? O QUEE AGORA? O QUEE AGORA? O QUEFAZEMOS COM ELES?FAZEMOS COM ELES?FAZEMOS COM ELES?FAZEMOS COM ELES?FAZEMOS COM ELES?

Só leve o lixo para fora da sua casa no diae pouco antes da coleta. Siga os horários:

Coleta de LixoColeta de LixoColeta de LixoColeta de LixoColeta de Lixo

Coleta ConvencionalTodos os dias na temporada

Rio Vermelho, Lagoa Centro e Canto, Barra da Lagoa.

Coleta Seletiva Rio Vermelho - 4ª de tarde Lagoa Centro e Canto - 5ª de manhã Barra da Lagoa - 5ª de tarde

Comcap - 2445422

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SANEAMENTSANEAMENTSANEAMENTSANEAMENTSANEAMENTOOOOO.....VVVVVocê se preocupa com ele?ocê se preocupa com ele?ocê se preocupa com ele?ocê se preocupa com ele?ocê se preocupa com ele?

A rede de esgotos é aquela que coleta o esgoto do bairro e leva para a estação detratamento nas dunas (CASAN).

RRRRRedesedesedesedesedes

Esta rede é subterrânea, e não tem aber-turas. Na tampa de ferro está escrito: Es-goto Sanitário. Na Lagoa da Conceição sóhá rede de esgotos no Centrinho, Rendei-ras e parte da Osni Ortiga. Se você estivernesta área, contate a CASAN e ligue-se.

Rede deEsgotos

A rede pluvial é a rede que coleta as águasdas chuvas. Esta rede também é subterrânea,só que tem abertura (bocas de lobo, bueiros,etc) nas ruas e esquinas. As águas da chuvavão direto para a lagoa, portanto, não ligue seuesgoto nesta rede e não jogue lixo.

RedePluvial

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A fossa séptica é a alternativa para ca-sas localizadas onde

não existe sistema público de coleta etratamento de esgotos.

A bacia hidrográfica da Lagoa da Con-ceição tem um sistema de tratamento quenão pode suportar o crescimento das regi-ões. Portanto se ligue e ligue-se num bomsistema individual. Você também é respon-sável pela qualidade da água da Lagoa. Osistema de tratamento coletivo previsto pelaCASAN pode demorar para ser instalado eoperacionalizado, pois depende de verbasnão disponíveis no momento.

Faça a fossa séptica impermeável a fimde evitar a contaminação do lençol fre-ático e da lagoa. Siga o exemplo abai-xo.

Evite plantar árvores (de grande porte)perto do tanque séptico, as raízes po-dem quebrá-lo e o esgoto infiltrar-seno solo.

Preserve uma distância mínima de 15mentre o poço (ponteira) e a fossa.

Faça uma caixa de gordura para au-mentar o tempo de uso da fossa e evi-tar danos ao tratamento.

Na saída da fossa faça o filtrobiológico (tratº 2º)e um dos 3 sistemascomplementares (tratº 3º).

TTTTTratamento Pratamento Pratamento Pratamento Pratamento PrimáriorimáriorimáriorimáriorimárioRetira os sólidos em suspensão

Fossa SépticaFossa SépticaFossa SépticaFossa SépticaFossa Séptica

TTTTTratamento Secundárioratamento Secundárioratamento Secundárioratamento Secundárioratamento SecundárioRedução de quantidade de lodo

microrganismos.

Fossa SépticaFossa SépticaFossa SépticaFossa SépticaFossa SépticaO esgoto sai do tanque séptico e vai

para o filtro também impermeável, caindono fundo do tanque. Sobe por ascensãoatravés da brita, areia e brita, e vai para otratamento terciário.

TTTTTratamento ratamento ratamento ratamento ratamento TTTTTerciercierciercierciárioárioárioárioárioRetira a carga de nutrientese reduz a carga bacteriana

Alternativa 1:Alternativa 1:Alternativa 1:Alternativa 1:Alternativa 1:para solos não inundáveis

Sistema de RaízesSistema de RaízesSistema de RaízesSistema de RaízesSistema de RaízesO esgoto sai do tanque séptico e cai em

uma vala impermeabilizada onde crescemplantas (juncos), que tratam o esgoto.

Alternativa 2:Alternativa 2:Alternativa 2:Alternativa 2:Alternativa 2:VVVVVala da Infiltraçãoala da Infiltraçãoala da Infiltraçãoala da Infiltraçãoala da Infiltração

2 valas de 3metros e 60cm de profundi-dade cavadas no chão preenchidas combrita para onde escorre e se infiltra no soloo efluente.

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Alternativa 3: SumidouroAlternativa 3: SumidouroAlternativa 3: SumidouroAlternativa 3: SumidouroAlternativa 3: Sumidouro

Cada alternativa citada acima é apropriada para um tipo diferente de solo. Consulteum profissional habilitado.