eco umberto como se faz uma tese livro pdf

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universidade  hoje N a  presente  ob'á.  dirigida  a  todos  o s  estudantes  «em situação cüíicil, conseqüência de discriminações  remotas ou  recentes-, Umberto Eco  expõecqueseentendepor tese.  come  escolher  o  tema  e  organizar  o  tempo  d e trabalho,  como  conduzir  u ma  investigação bibliográfica, como organizar  o  material seleccionado  e,  finalmente, como dispor  a redacçãp do  trabalho.  E  sugere  qu e se aproveite  -a ocasião da  tese  para recuperar  o  sentido positivo  e  progressivo  d o  estudo, entendido como aquisição de  uma capacidade para identificar  o s  pro blemas, encara-los  com método e expõ-fqs  segundo certas  técnicas de comunicação*. Um  livro sempre actual e ind isoensávet. COMO  SE FAZ U M A  TESE EM CIÊNCIAS HUMANAS ? 3  EDITORIAL  PRESENÇA

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universidade hoje

N a   p resente   ob 'á.  d ir ig ida  a  todos  o s   es tudantes   « em

situação cüíicil, conseqüência de discriminações  remotas

ou   recentes- , Umberto Eco  e x p õ e c qu e s e e n t e n d e p o r

t ese .  c o m e   escolher  o  t ema   e   o r g a n i z a r o   t empo  d e

trabalho, c om o  conduz i r u m a   investigação bibliográfica,

como organ i zar o   material seleccionado  e,   finalmente,

como dispor a r edacçãp do   trabalho. E  sugere q u e s e

aproveite  - a oca s ião da  t e s e   para recuperar o   sent ido

pos i t i vo  e   p r og r e s s i vo  d o  e s t u d o , e n t e n d i d o c om o

aquis ição d e  uma capa c idade para ident i fi car o s   pro

b lemas, encara- los   c om método e expõ- fqs  s e g u n d o

c e r t a s  técn icas de comunicação*. U m  l ivro s empr e

actual e ind isoensávet.

C O M O   S E FAZ

U M A  T E S EE M C I Ê N C I A S H U M A N A S

?3 EDITORIAL PRESENÇA

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E D I T O R I A L Uá P R E S E N Ç A

f i ali liti P^li—lfis,  J  • üi-Ju/ In

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  OMO  S E F A Z

U M A   T E S EE M   CIÊNCIAS  H U M A N A S

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Umberto  Eco

C O M O  S E FAZ

U M A  T E S EE M  CIÊNCIAS  H U M A N A S

Prefácio deHamilton Costa

T r a d u ç ã o d e A n a F a l c ã o  B a s t o s  e L u í s L e i t ã o

E D I T O R I A L  T2   P R E S E N Ç A

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KIÇHA TfiCNICA

Título ortglml: Cnmn S i ha Una  Te ti l)i iaureaAulor:  Umhert t t  flo0Copyright O 1977 hy C H Kditricc V slcniino Bompiani Aí ( .,   MilioTradução O kditnnal Prewnça. 1997Tradução: Ana  taltâo HatMí e IJI :<  tetiãnCapa: Catar ina   Stauetra   tiatirasCompoúçio. impfcv«an c seibimento:  Xlutoitipn - Ari (Irâficat.   Ida.I. ediçio. liÉMB,  Janeira 198(11?  edição. I.Wlf, Janeiro. 19X23.'  edição. Lisboa. Janeiro. 1984*.' edição. Lisboa. Janeiro. 19885. * ediçio. Lisboa. I-everciro, 19916.  ediçio. Lisboa. Janeiro. 19957.4 ediçio. Lisboa. Janeiro, 19988.* ediçio. Lisboa. Abril, 20019.* ediçio. Lisboa. AM I, 20Q210.  editai). Lisboa. Fevereiro. 2003II. ediçSu. Lisboa. Junho. 2IXM

12.' ediçio. Lisboa. Sclemhro. 200513.  ediçio. Lisboa, Fevereiro. 2007Depú-iio lenal n." 253 273707

Reservados todos  o\ direitospara  a linpua ponupuexa ãE D I T O R I A L P R E S E N Ç A

Estrada da» Palmeiras. 59Ouclui dc  Baixo2730 132 DARCARENAEioail: infoí prekenca.pl  Internet hllp:A*v.w.prrkcnca.pl

Í N D I C E

PREFÁCIO À  2." KDICÂO P O R T U G U E S A  11

INTRODUÇÃO 23

I.  Ú Q U B  K UM A TESE H P A R A Q U E S E R V E   271.1. Por que se deve fa^cT uma  tese c o que 6  271.2.  A quem inicressa este livro  301.3-  De que  modo uma  tese serve também para   depois da licencia-

lura  _ 31I. 4. Quatro  regras óbvias 33

n .  A  E S C O L H A  DO  TOMA  35II. 1 Tese monogrillca  ou (esc panorâmica? 35

11.2. Tese histórica ou lese leórica? 3911.3. Tennis  amigos  ou  (emas contemporâneos? 4211.4. Qminto (empo c preciso para  fazer  unia  tese?  43H.5.  É necessário  saber línguas estrangeiras?  47H.6. Tese «científica»  ou  tese política? 51H.7.  Como  evitar deixar-se explorar   pelo orientador  66

UL A  P R O C U R A  DO M A T E R I A L  _ 69

111.1. A  acessibilidade da   fontes  „ _ 69III. 2. A inveslijjaçao bibliográfica • . 77

IV . O P L A N O D E T R A B A L H O   E A ELABORAÇÃO DH F ICHAS  125IV . 1,0 índice como hipótese de trabalho  125IV.2.Fichas c apontamentos  132

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V .  A RF.DACÇÃO 161V .I  A   quem  D O S  dirigimosV.2 .  Como  se  fala  163V A  A * citações 171V.4.  A s  notas  de rodapé 182V.5 .  Advertências, ratoeiras, costumes  194V. 6.  O  orgulho  cicniífico 198

V I.   A RF.DACÇÂO  DF.F1NIT1VA  202VI. l .Cr i icr ios gráficos 202VI.2. A   bibliografia final  222VI.3. Os Hpèndices 22 5V1.4.0  índice 22 7

VII. CONCLUSÕES 233

BIBL IOGRAFIA SELECTTVA  237

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Í N D I C E  D E   Q U A D R O S

Q U A D R O   IResumo das  regras  para a  citação bibliográfica 101

Q U A D R O  2Exemplo  de  ficha bibliográfica 103

Q U A D R O  3<>•-•.- gerais   sobre   o   Barroco Italiano identificadas, atrases d<>exame  de três  elementos de   consulta  _ 111

Q U A D R O  4Obras particulares  sobre   tratadistas italianos do século  xvu identificadas   através do  exame d c três  elementos  d e  consulta  112

Q U A D R O  5Fichas de citação 138

Q U A D R O   6Ficha  de ligação 140

Q U A D R O  7-14Fiehus  d c leitura 144-156

Q U A D R O  1 5Exemplo de análise  continuada d e  um  mesmo tèxtp 179

Q U A D R O   16Exemplo  de  unia   página  com  o   sistema citação-nota 1X7

Q U A D R O  17Exemplo  dc bibliografia  standard  correspondente  188

Q U A D R O  1 8A mesma   página   do quadro 16 reformulada com o  sistema autor-

-data   _ 192Q U A D R O  1 9

Exemplo  dc  bibliografia correspondente  com o  sistema autor

-daia  - 193

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Q U A D R O  20Corrta iransiiterar alfabetos não  latinos  2 1 2

Q U A D R O  21Abreviaturas mais usuais para  utilizar eni notn ou n o  texto  216

Q U A D R O  22Modelos de índice 22 9

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P R E F Á C I O   À 2 . A  E D I Ç Ã O P O R T U G U E S A

A  publ icação em por tuguês deste liv ro de U mber to Eco  permite   ve r o con junto d e p roblemas que a metodolog ia da investi gação actua l  levanta   e faz compreender a impor tância das   suastendências no avanço d a c iênc ia e na conservação do saber .Encarada  à luz das  suas  mutações teór icas, ou   estudada   n a suacomplexa   estrutura ção, ou, finalmente, na sistema tização dos seusmodos  de opera r ,  essa   reflexão é um contr ibuto importante   parareformular muitas at i tudes acomodadas   d o fazer  a ciência, que secomprazem   na eternização d o já feito-

A  cr iação científica é um a  act iv idad e  e uma insti tu ição. Com oacliv idade, designa   o processo de investigação que   leva   a investigador  a  produzir  a obra  cientifica.  Com o instituição, ê um a estrutura   constituída por I res elementos: o sujeito, o ohjec. l i>  e o me io .Ao longo dos tempos, estes aspectos foram evolu indo,  designandoct  assoc iação ou a d issoc iação quer dos mesm os, quer de   algumasd as   suas  par tes ,  d iversos  movime ntos da investigação científica.

Caso   no s a tenhamos e xclusivamente  à evolução que  s e  p rocessou

na s ciências  humanas,  e a  resir ingirmo-nos  ao nosso sécu lo, pode m os   distinguir  t rês mov imentos impor tantes : um que se   polarizouem torno do su je i to da invest igação, ou tro que   gira   em torno doobjecto  invest igado  e  finalme nte  um te rce iro que p re tende mante rum jus to   equil íbr io no processo d a cr iação científica e ntre o sujeitoe o seu objecto . Tod os e les   revelam   p reocupações teór icas di fe ren tes,  mas convergem na inqu ie tação comum de tornar possíve l a c iên cia   a t ravés da e laboração e aper fe içoamento dos métodos .

Existem,  com efeito, três movime ntos  distintos  na evolução dametodologia   da invest igação. O pr ime i ro , que tem como teor izado-

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res Sertil langes, Ghe llinck e Guitton'. so hreva loriza o papel doSujei to "a estrutura da   criação científica  em detr imento da  meto

dologia da   investigação.  A  questão fundamental torna-se. assim,'ü da   existência*  de um c l ima espir i tual que preexisle e determinaa   criação  " que o sujei to d eve aspirar. Daí que o decisivo seja estaaspiração  manifestada sob a forma de  vocação  intelectual, uma vezque i dela e do  esforço  que ela pode virtualmente despender na con

quista   de um campo de trabalho, onde a cul tura geral fecunda aespecial idade,   na   construção  du m   tempo  inter ior ao abrigo dosassaltos   da s preocupações  d ispersivas, de que depende a  revelaçãodo talento e dô   gênio,  nos momentos dc plenitude duma vida consagrada  ao trabalho  científico. O talento do investigador e o seu naturalintuicionismo fazem relegar os  métodos de trabalho para um planomenor, secundário  e reduzido, pois, para   além das superiores capac idades intelectuais, ele pode d ispor de  vários meios  práticos  {desdeos  seminários práticos até ao  convívio esmerada mente seleccionado) ,que ensinam a trabalhar ensinando  como  se fazem as coisas.

Neste  contexto,  a obra surgia,  como  a obra-prima medieval nasu a  perfeição  magistral , a coroar um   longo  percurso, no qual estavam envolvidas m uitas horas de trabalho de  investigação  essencial,que só uma  instituição  d e  tipo  t radic ional poderia patroc inar, umavez que ela   ex ige   agentes humanos al tamente qual i ficados e  condi ções  object ivas de estudo extremamente complexif icadas.

Por ser o sujei to da   investigação indispensável pu ra o desen volvimento da   ciência,  não é meno r  a  importância  do seu   ohjecto,

O conhec imento das   condições  da sua   existência  e dos modos dasu a   abordagem tanto asseguram boa parte da sua acessibi lidade,como  determinam as regras da sua  reconstntçáo  teórica.

Ora já nos ambientes  científicos atrás  descri tos a obra d eGhel l inck chamara a  atenção  pa ra a  importância  dec isiva da ela

boração  de   certos   t rabalhos  práticos (recensões críticas)  qu e  fornecessem ao estudante um conjunto de regras práticas  de trabalho,anunciando  desta  forma o f im dum impressionismo  responsável  portantas verdades apressadas e  pouco  amadurec idas. Mas foram, semdúvida, a s  D i r ec t i v e s  p p u r  Ia confect ion   d ' u n c  n i o no g rap h i e   s c i en -

' Antonino Dalmácio Serüllangcs. A  vida  intelectual . F.tptrtro. condições, mttv-dnt. C oimbra. Armênio Amado VA . Soe.. 1957: J . dc  Gh ellinck. ts s exercices prat ique* d u  - Mmiitairc- cn  théologie, 4 .*cd., Paris. Deselcc du Broimcr et  Cie..  1948e   Jcun Guiiton, Le truvail intellemtel conseili à céus t/ui  êiudient s r à ecux  quiccriveni.  Paris. cd.  Montaígne.  1951.

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l i f i quc  de Fernand Van Steenherghen 2  que inauguraram o segundomovimento da metodologia da  investigação  soh o signo do  objecto.

Co m   efeito,  a obra de Van Steenberghen centra-se exc lusivamente  no estudo analítico  e sistemático d a composição  duma  mono

grafia   cientifica no  âmbito  da f i losof ia med ieval . D est inando-se asenir de  iniciação  ã  investigação  de um   objecto  del imitado, descreve os passos essenciais que permitem, no  contexto  d a investigação,

descobrir a verdade e enuncia as regras fundamentais que ajudam,no   contexto   da  exposição,  a transmiti r as descobertas.

A   metodologia da investigação  de Van Steenberghen  contrapõe-

se por dois modos à  concepção  anterior. Em primeiro lugar, pelaimportância  que confere ao  objecto  da pesquisa nu m duplo sent ido,o da sua dependência duma esfe ra científica  part icular e o da indis-

pensabi l idade  de  métodos pa ra o ap reender e  expor  teoricamente.Em segundo lugar, pela  concepção  de investigador que comporta,pois trata-se de um espec ial ista em  formação  que deve apetrechar--se com uma ferramenta intelectual — os modos de operar — pararesolver problemas inscri tos num   território  concretamente def in idoa desbravar planif icada e metodicamente.

Ê d a  redução  e  unilateralização  desta fase  metodológica  quevivem os  S t y l e   M a n u a i s  a n d   C u i d e  americanos' . Preocupados emresolver os vários t ipos de trabalho  científico  e encarando-os dc umaforma mera mente atomista, os autores americanos deram-lhesu ma  solução  quase  receituário  de   todos  os elementos que entramna  composição  duma monograf ia determinada. Entra-se. assim, numperíodo  em que se perde de vista a metodologia   ge ra r* para   mer

gulhar nu m atomismo de metodologia espec ial izada. Todavia, algumasdestas obras t iveram o  mérito  de. pela sua profunda espec ial ização, resolver e uniformizar alguns pwblemas intr incados referentes à bibliografia, ã tipologia da fichagem o u ao estilo  gráfico,

dando forma de  dicionário  às fórmulas  encontradas.

Se é verdade que da   delimitação  da metodologia à  iniciação

científica  decorreram aspectos importantes e até dec isivos para o

:  3.«  ed.. [jwsuin/Paris. cd.   Bcatricc Naw clacn. 1901.' Willíam Gües Canvphcll. Stcphcn Vaughan Bailou. Form  and  Stvte.  Theses .

Repor .*.  Te m  paper* .  5." cd„  Boston. Houghton  Mitll in  Company.  1979.* Wo.nl  Gray e t ai . Hinor ian 's Handbook : A Key to thc  S ludy  a nd  Writ ing o f

Hisiory.  Boston, Noughinn M ifflin  Company. 1964 c Dcmar Irvins. Writ inx abimimus ic : A m te   btmk for  Reportt and Theses . Sca nk. Lnivcrsiry of  Wa shington  Pfe*s.1968.

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progresso   da c iência , dos seus excessos sa í ram   algumas  desvantagens  que se  c i rcunscrevem   no empobrec imento da teor ização gera le espec ia l . Não há metodolog ia dc invest igação como f im em s i .divorciada   da metodolog ia espec ia l e ge ra l .

E com isto   passamos  naturalmente  ao te rce iro mov imento dametodologia   da investigação, que   visa   equilibrar  os e lementos sub-jectivos   e objeci ivos no processo da cr iação e da investigação cientificas.  Autores como Ast i  Vera , Armando  Zubizarre ia   e ÂngeloDomingos   Salvador*  v isam   na s  suas  propostas teór icas  reavaliar  aestrutura  e o processo d a cr iação científica   insialando-a  no coraçãoda   cr iação cultura l, a fim d e,  harmonizando  a teor ia com a p rática,  o estudo com a investigação,  cr iarem   os  pressupostos  do t ra balho   científico  numa   concepção nova da formação universitár iaque deve  processar-se  como um todo contínuo e progressivo, pois"a   estudar , a escrever ou a   investigar  só se  ap rende  no exercíciodessas   ta re fas»6.

Entre   as séries de Textos em que se  revelaram   os três movime ntosda   metodolog ia da invest igação,  t omadas  globalmente, há não sóevolução, como mudança de te r r eno e  preocupações  novas.  Twuxenwspara  p r ime i ro p lano os aspectos d e mudança que const i tuem as   l inhasd e  força das  actuais  tendências.  Todavia,  agora , impor ta de te rmo--tios  ma is a ten tamente no úl timo desses mov imentos, para   lhe de te r minarmos  a  estrutura   comum e as cor ren tes  particulares.

Pode   af i rmar-se   que a  estrutura   comum da actua l metodolog iada   investigação  assenta   em do is p r incíp ios gera is : o da   un idadeindissoc iáve l da metodolog ia da invest igação com a metodolog iagera l  e o da  globalidad e   do p rocesso  d e  formação  cientifica.  Ambosos pr incípios   assentam   na revisão d os  fundam entos  da cr iação cientifica   s egun do  tuna   óptica   totalizante.

O princípio da   un idade   da metodolog ia da invest igação com a

metodologia   ge ra l  af i rma   a dependência tan to no ponto d e   part idacomo no ponto de   chegada   da investigação em relação à ciência,enquanto  instância teór ica, núcleo   essencial  qu e   determina   a con veniência dos actos   daque la   (descr ição, classificação, etc. ) às le is

* Asti Vera. Metodologia  d e  Io investigacióii, Madrid. cd. CinccL 1972: ArmandoF. Zuh i/arrcta G. . l-a aventura  de i t rabaio intelectual tcomo esrudiar y como invés-tigarj , Bogotá, Fondo Educativo Imcramcricano. 1969 c Ângelo  Domingos Salvador.Métodos e  técnicas ãe. pesquisa  bibliográfica.  Elsboração  e relatório  d e  estudoscientíficos, 2.' ed.. Parlo Alegre, Liv.  Sulina  Ed.,  1971.

''Armando  F. Zu lii/arreta G .. op. cit., p. V7I.

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do pensamento . Exprime  a constante p reocupação d e  definir  a val idade   dos métodos de invest igação, em re lação aos  pressupostoscientíficos   espec iais  e ge ra is .

O pr incípio da  globalidade   do p rocesso  da  formação científicaconfirma   a   cont inuidade  en tre o método de ens ino e o método dainvestigação,  postulando uma  formação acadêmica  faseada  lógico--cronologlcamente,  d e forma   a p romover no  estudante  a s  indispensáveis competências  investigativas.

Sobre  este segundo pr incípio,  assumido  na   su a forma concretad e   r e lação da formação gera l com a espec ia l ização, no se io datotalidade   do ens ino super ior , se  d ividem   as op in iões, pode ndo dis tinguir-se   duas posições  particulares  que se opõem,  Para   ArmandoZubizarreta,  deve se r   privilegiada   a formação geral, que   abrange

a s  formas   t radicionais  de estudo ( exame, apontamentos ) , bemcomo  a s formas  actuais  ma is  diversificadas  ( r esumo de l ivros, r ese nh a   cr ít ica, com unicad o científico, resu mo de  assuntos,  ensa io ) queimplicam   um   t rabalho  pessoa l , mas sob a ópt ica   recapitulativa,deixando   para   segundo plano a espec ia l ização,  Este  t ipo de p r io r idade assenta   na concepção d e formação universitár ia progressiva,  em que s en do a me ta   f inal  o  t rabalho  monográfico, não  de ixad e  o   mediat izar  por metas  med ia i as .  estando  e le p resente em  form a s  menos complexas desde o início até ao fim  d a  formação. ÂngeloDomingos   Salvador,  pelo contrár io,  privilegia   a especia l izaçãoreduzindo toda s as  formas  mediat izadas  d o t rabalho  científico, atrásenunc iadas ,  à dúpf ice ca tegoria de estudos   recapitulativos  e estu d os  originais,  acumulando-as  no  f inal d a  formação gera l e no decursoda   especial ização.

Em   r esumo, ã evolução da metodolog ia da invest igação impôsa   un idade   da formação gera l com a e spec ia l ização, a s ín tese dosaber estudar  com o  saber  investigar,  admit indo  fó rmulas de do-

seamento  vár io. Forjou,  assim,  um melo — o ens ino un ive rs i tár io —apto   a  fazer  p rogredi r a c iênc ia se m atra içoar a conservação e atransmissão do saber .

Cr iada   esta base   indispensáve l para   o r egu la r desenvolv imentoda  ciência, vejamos então como s e  organiza   a actua l metodologia dainvestigação.

A  metodolog ia da invest igação  estrutura-se  em do is momentosdiferenc iados  e   interdependentes.  O p r ime i ro é o da  descoberta   d averdade ,  qu e   agrupa   todos os actos   intelectuais  indispe nsáveis àformulação e r eso lução do p roblema   estudado,  enquanto o segundo

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di z  r espe i to à t ransmissão da   ve rdade  de scober ta , com todos osproblemas   que o s istema  d a composição  levanta. Ambos os  montemosimplicam   não só operações cognitivas  especificas,  como  designamu ma   ordem cronológ ica de  abordagens  que lhes garante   a   validadecientífica.

Dois   são os contex tos em que se  desdobra   o p r ime i ro momento dainvestigação — o contexto da  descoberta   e o contexto d a  justif icação.

O contexto da  descoberta   é o caminho que  s e .  inicia   com a  formulação do p roblema e se encer ra com a invest igação d as so lu ções. Abre-se,  assim,  com a a r te de pôr p roblemas, que r equer umlongo convívio com os objectos e camp os teór icos da s   disciplinasqu e   professamos,  pois e la é a intuição  acl imatada   no terr itór io dosmodos  de ve r o  semelhante  nas di fe renças.  Desenvolve-se  depo is

a través das vár ias operações que se r eúnem sob a d es ignação dainvestigação da s soluções e que   agrupam   a   leitura   e a técnicad e  registo, A   le i tura,  qu e   durante  mu i to tempo  havia passado  de s percebida,  tornou-se. com a s investigações recentes, o  lugar  pr ivilegiado  da invest igação das so luções, E ev idente que se e la seencontra   na  base   da apree nsão do mater ial bibl iográfico, exige, emconseqüência, uma competência   diversificada   e  apro fundada,  e con diciona   todas as operações  intelectuais  u l te r iores . Sem uma   leituraadequada   e r igorosa, não se encontram   reunidos  os  pressupostos  d oregisto,  qu e   caminha para  uma c la r if icação e padron ização  indispensáve is à formação de um   clima   d e   objectividade   e   ser iedadeintelectual  num pa ís de   reduzida  tra dição científica. E, fina/men te,realiza-se   como  um  programa   que tem como l imite a perícia  d e formular  p roblemas e a competênc ia de  acumular  soluções,  resul tadod e  adequado  e progressivo   adest ramento,  ao nível dos estudos r eca -pitulativos,  que foi a través de estratégias   calculadas  c judicio-samente  d is t r ibu ídas sobre o tempo da formação gera l ,  reduzindoos factores da   incerteza   qu e   pai ravam   sobre a compreensão dosproblemas,   asfonnas  de le r e as técn icas de r eg ista r .

Recolhidos  os  dados,  importa  aprec iar  a sua  validad e.  E com istoen t ramos  no contexto  da  justif icação, que de fine dois tipos de tarefa s  opostas . Há que ev i ta r as fa lácias que se  fazem   passar  porexp l icações — e is em que   consiste  a pe rsegu ição ao e r ro . E temosd e   a p u r a r ,  classificar,  justificar  e p rovar os  dados,  o s factos, asaf i rmações de ta l modo que os que forem re t idos  sejam   aque lesqu e  at ravessaram   posit ivamente  estes fi l tros lógico-racionais. Toda sestas capac idades  intelectuais  ex igem uma longa maturação e uma

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formação lógica e fi losófica   profunda   para   pe rmit i r ao  estudantedistinguir   na   tessitura   d o  d iscurso  da a rgumentação onde o n íve ld o   d iscurso  polemico  acaba para   d a r  lugar  ao n íve l do  d iscursológ  ico-cien  tífico,

A  expressão, segundo mome nto da metodolog ia da investigação,é o esforço de s íntese d ia léctica da idé ia com os m e ios da rep re sentação. Foi Othon   Moacyr  Garcia   quem   insistiu   nesta   caracter ística específica da transmissão da   ve rdade , chamando  a a tençãopara   ofacto de o acto de escrever não poder   realizar-se  se m   o concurso   do acto de pensar .

Essa  in te rdependência obr iga a percor re r um longo caminhoque .  iniciado  por um tex to-base , aper fe içoado a través d as  revisões,termina   num tex to  definitivo  onde a adequa ção en tre o comet ido

e a forma se encontram pe lo menos ao n íve l sa t is fa tó r io. E uma eoutro   designam   um campo teór ico de   abordagens  sobre os ingredientes  fundamentais  da expos ição,

Na verdade ,  o p roblema   essencial  d a reda cção científica consiste  em  adequar  ao quadro, que   resulta   da un i ficação teór ica dadescoberta   d a   ve rdade ,  uma expressão lingüíst ica coe ren te quepermita   transmitir  a  ve rdade  d e  u ma  forma   intel igível . Importa   pri

mei ramente  r eso lve r , no p lano do pensamento, o p roblema da m ul tiplicidade   dos factos  através duma rigorosa  unificação do conteúdo,d e  t a l forma   que as genera l izações científicas   subsumam   os   dadosconcretos.  Depois de   cr iada  a   estrutura   de conteúdo, u rge encontrar  a  forma   coe ren te e  adequada   en tre os vár ios me ios de  expressãopela   de te rminação d o âmbito .semânt ico da  palavra  e  pela   r espectiva   subordinação ã  monossemia.

Na  encruzi lhada   d o encontra  d a palavra  com a  idéia su rge  e c imenta-se   a   unidad e expressiva  d a   l inguagem  cientifica.  Un idade  queregula   a  função d o se u  uso, determina   a s  suas caracter ísticas gerais,estabelece   a condição indispensável do seu exercício. A   l inguagemcientífica é  informativa,  pois o  se u  u so  destina-a   a   transmitir  a  ver

d a d e .  Por força   desse uso e la deve  tornar-se objectivada.   precisa   edesambigutzada:   p re fe r indo o sent ido denota t ivo. deve de te rmi ná- lo no âmbito da ex tensão e da compreensão. A   clareza   é acondição da sua ex istênc ia , po is pe rmite   t raduzir  a   complexidaded as   relações   causais  nos seus  d iversos  níveis. A   l inguagem   científica, em  suma.  tendo por objecto a  ve rdade  intel igível, deve   criaros   mecanismos  e   dispositivos  lingísticos  capazes  d e   transmitircom a máx ima   inteligibilidade.

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Para realizar  os objeci ivos a lrãs de scr itos, a redacção   cientí

fica  possu i  um  s istema  d e composição que   abrange  t rês campos dis tintos  e d e  progressiva   complexificação: o da constelação  d as   idéias,o da estrutura ção das seqüências e o do esti lo científico.

O campo da conste lação  d as   idé ias de f ine as operações  tendentesà dete rminação do sent ido  d a s palavras  em s i e no contex to em quesã o   usadas  e à inserção da  palavra   em   un idades  l ingüísticas  ma isvastas.  Imp l ica o desenvolv imento da  capac idade  ana lítica atravésda   escolha   d a  palavra apropr iada para   o conceito objectivo,  obri

gando   a uma constante depuração das  palavras  p roven ien tes dehorizontes  vocabulares  d i fe ren tes (desde o léxico comum até aoléxico científico  espec ial izado) af im  d e a  decantar  da   ambigüidadeem que um uso imprópr io a envolveu . A lém  d isso,  o p rocesso dainserção da  palavra  em  un idades  como  a  f rase  ou o parágra fo ex ige

operações analíticas e sintéticas   bastante   desenvolv idas  pa ra .  s emcomprometer   o seu sent ido denota tivo  inicialmente isolado   forado contexto, a tornar u m veículo a pto à express ão da s  clivagens  d opensamento  quer nas  suas  idé ias  essenciais, pr incipais  e secundár ias,  quer nas re lações d e sucessão,  paralel ismo  e oposição   aden t ro do de senvolvimento de  cada   parágrafo.

Interessa  realçar, part icularmente,  a impor tância do parágra focomo  unidade significativa   d e expressão e lançar   a s l inhas ge ra is dasu a   de f in ição. De acordo com Othon Moacvr  Garcia,  «o parágrafoê uma   un idade   de composição consti tu ída por um ou  ma is  d e u mper íodo, e m que se de senvolve ou se  explana   determinada   idé ia cen tral, a  que gera lmente  se  ag regam out ras, secundárias  mas int imamentere lacionadas   pe lo sen t ido»7.   Torna-se. po is .  a  forma   de expressão deu m a   capacidade  excepc iona l para   tingir  u m a  idé ia ou um rac iocín ioa   u m a  un idade   facilmente   a/uilisável.  A su a composição ad mite , v iad e   regra, três partes: um tópico f rasal ,  em que se   expressa   a idé iagera l ; um dese nvolv imento no qua l se  desdobram   e   especificam   a s

tdeias enunc iadas :  è um a  conclusão em que  se  reaf i rma   o sent ido geral .

Por sua vez , o campo da estru tu ração  da s seqüências comportoa s   normas gera is que permitem tanto  ordenar  as idé ias longi tudi nalmente   num esquema quer ge ra l , quer   part icular  (o capítulo),seguindo   o  dispositivo  or ien tador dos  lugares  estratégicos do texto{introdução, de senvolvimento e conclusão), como regular as rela-

' Olhou Moacyr Garcia. Comu n icação em  p rosa moderna . Aprender a esc rever ,aprendendo a  pensar , 2.' cd.. Ri o de  Janeiro. Fundação Geuílio  Vargas. 1962. p. 185.

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ções en tre as idé ias ve r t ica lmente , d e  maneira   a tornar no espaçodiscursivo   r econhecíve is os conteúdos semânt icos e o seu tipo derelac ionismo.  For um lado, o  desdobrar  das idé ias no desenvolv i mento obedece a r eg ras   associativas,  opositivas  ou   silogtsticas.conforme   as opções consent idas  pelo  plano  esco lh ido e pe lo  assuntoa   expor ,  de te rm inando,  em conseqüência , a estra tég ia da   escrita   aseguir   na  estrutura   part icular  que é o cap ítu lo , devendo em ambosos   casos  p rocura r  incansavelmente  a  diversidade   d e  fó rmulas . Poroutro lado, o  d iscurso  científico exige,  para assegurar  a sua   clarezaespecífica, que a s r ed es noc ionais  em que e le se  constd/stancia a ssentem em re lações   causais,  c laramente presas  a idé ias e factos, d eforma   a   reduzir  ao mín imo o ca racte r   paradoxal  de que se r evestea   transmiss ão do conhecime nto científico, devid o à infi ltração insi-diosa  do sent ido conota t ivo nos seus   enunciados.

O esti lo científico ocupa   f inalmente  as exper iênc ias da expressiv idade  em ordem a confe r i r -lhe um cunho espec ia l. O campo defundo  em que se de ve mover é o cognoscitívo. pois em  nenhuma   da ssuas combinações  da s formas  particulares  da expressão pode com-prometer   o objectivo  essencial  d a   l inguagem   científica. Há  assimum   esti lo acadêm ico, um esti lo fi losófico, que não pode rá  infringiras fronteiras  que a t radição d a s ciências e o bom  senso de te rminam.

E com isto  passamos  a os  dispositivos  semióticos que permitem ,por uma   acertada   dosagem, r e forçar a e f icác ia da comun icação,científica. Entre os inúmeros códigos a que se pode recorrer, nasdiversificadas   r ea l izações do   d iscurso  científico (de sde o  d iscursoheurístico até ao   d iscurso  da vulgar ização), há dois tipos de códigos a nor tea r   a s possibilidades  de opções: o lingüístico e o icõnico.Neste   inc luem-se  todos os esquema s e i lustrações que , r e forçandoa   clareza   dos tex tos, comprometem por  vezes o sen t ido d e r igor. D emais  vasta   uti l ização são os códigos l ingüísticos que pe rmitemexpressar, nas formas  de análise, síntese, citações, notas de rodapé,

e tc . , todas as idé ias que uma comun icação c ien tí fica compona .

Ora   todas as operações  intelectuais  qu e  ac ima  desc revemos r ep re sentam   o l imite   da  formação universitár ia.   Para   atingir  o g rau decompetência que   elas pressupõem, adentro da concepção a ctua l dametodologia   d a investigação, afonna ção ge ra universitár ia   devei iaserfaseada   de ta l modo que a p rática da  escrita nela   se   inscrevesseem todas a s  suas fo rmas  (análise, resumo , síntese, comentár io, dissertação, etc. )  para   apetrechar  o  estudante  com as técn icas deexpressão escri ta mais   importantes.

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O discurso  científico,  por isso, exprime a luta pela  expressãocoerente e adequada da verdade   inteligível,  tendência  virtual doencontro da palavra com a   idéia, na encruzi lhada do  rigor.

Aclaradas  as l inhas de  força  d a actual metodologia da invest i gação  pela  convergência  d a dúplice óptica  evolutiva e sistemáticaem que foram esquema ticamente tratadas, importa indagar qual éo lugar que a presente obra de Umbe no Eco vem ocupar.

Embora elaborada num   contexto   muito concreto e visando darresposta à necessidade   deformação  de professores na Itália  do pós--guerra. essa obra   teve   o mérito  de se tomar o manua l dos modosde opera r da   investigação,  sisietnal izando-os e c lar i ficando-os nassuas  formas fundamentais.

Essa inovação poderá  vet if icar-se em espec ial no que toca à téc

nica de registo e, em menor grau, ao levantamento   bibliográfico,pelo   que nos l imitaremos a comentar a lgumas d as suas   caracterís

t icas que se dest inam a orientar os le i tores da obra,

Na abordagem do levantamento  bibliográfico  usa -se a  estraté

gia de expor primeiro teoricamente o assunto, para de pois o e x em pl i ficar prat icamente, a f im d e ensinar aos estudantes coitu) se usam,com   eficácia, os documentos impressos. Numa primeira parte (pp. 69--100) esc larecem-se as noçõesfitndamentais d a biblioteconomia  (como

se organiza e funciona a biblioteca) e da bibl iograf ia (a  descriçãoe classificação  dos livros e dos impressos) , para , em seguida, ensina r  como se elabora uma bibliograf ia, ut i l izando num   tempo mínimoesse me i o  e esses documentos; enquanto na segunda parte (pp. 100--124).   se retoma o problema concreto da  elaboração  de uma bibliografia   sobre o «conceito  de  metáfora n a tratadística banxica  italiana»na   biblioteca de Alexandria para mostrar todos os passos concretos a dar quando se tem de elaborar um trabalho deste   gênero.

O encadeamento  lógico  da s tarefas, a exemplaridad e dos processos, a  racionalização  dos tempos tomam, de fado, o levantamento

bibliográfico,  descri to  pe lo autor , u ma  prática  invest igat iva a seguirpor todos os que aspiram a reunir com   segurança  e objectividade(atente-se no papel do controlo cruzado da bibliograf ia) , os mater iais  para resolverem os problemas que se propõem  estudar.

Quanto à técnica  de registo, a obra em  apreço  não só  realça  anecessidade   de d isc iplinar o trabalho da   investigação  como  também  propõe  uma t ipologia de  fíchagem operatôria  e eficaz. Disciplinaque se material iza na   unificação  do processo geral da   confecçãodas f ichas, que exige u m adestramento na recolha das   idéias, pe lo

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desenvolvimento da   análise,  do resumo e da   síntese,  mas que secompleta pela   diversificação  dos t ipos de f ichas (f ichas de le i tura,fichas  temáticas, f ichas de   au tor ,  f ichas de   citação,  f ichas de trabalho) , que permitem c ingir de mais   perto  a plurid imensional idadeem que se expressa a  documentação.  E embora todos estes  recur

so s técnicos  venham exempl i ficados, privi legia-se um deles, a fichade lei tura que pretende ser uma espécie  de registo global , no qualse fundem as técnicas analíticas  americanas —ficha  bibliográfica,

f icha de resumo e f icha de   citação  —, com as técnicas européiast radicionais,  em part icular — o apontamento.  Essa  técnica  ter iauma dupla f inal idade de controlar as microiei luras   através da suainserção na macrolei tura, func ionando, assim, como critério  d e veri

ficação  dos dados recolhidos quanto aos contextos d e que foramisolados, mas não privados. Ad verte, desta maneira, o autor para

os perigos da mitologia da f icha, chamando a   atenção,  sobretudoao   nível  d a justificação  e d a expressão,  para os l imites do seu usoe as miragens a que pode dar or igem.

Part indo das preocupações  da actual metodologia da invest igação, as soluções posit ivas de Eco, a o  nível  do registo, prolongam aeficácia da s a té então usada s e superam -nas na operatoriedade, poisembora elas tenham , há muito, entrevisto aquelas formas concretas,jamais lhe deram   corpo  real com tanta luc idez e igual rac ional idade.

Sendo assim, podemos concluir que a actual metodologia dainvestigação,  consagrando a unidad e do saber investigar com osaber estudar, promove a   uniformização  d a s  técnicas  de trabalhode molde a des imped i r o caminho da   criação científica  da pesadaherança que o intuic ionismo e a improvisação  impuseram à práticacientífica  portuguesa. Mas para que esses caminhos fruti f iquem, éimperioso reformular as  condições  ohject ivas e os meios inst i tuc ionais que enquadra m a  produção  científica,  sem o que prolongaremos a u top ia da  renovação  da vida num "reino   cadaveroso».

A   presente  edição foi atentamente revista sobretudo no que  r espeita ao  vocabulário técnico  da espec ial idade e à disposição  dasvozes (primeira pessoa do singular e primeira e segunda pessoa sdo plural ) no inter ior d o  texto,  a f im de lhe conferi r o indispensável  r igor e resti tuir a   caracteriz.ação sintáclica  original.

Além  d isso, juntou-se-lhe uma bibliograf ia select iva que visaprolongar a ut i l idade e eficácia  d o próprio  texto.

Hami l ton Cos t a

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I N T R O D U Ç Ã O

L   Houve  tempo cm que a universidade era uma universidade deesco i  A ela só t inham acesso os f i lhos dos d iplomados. Salvo rarasexcepçòes, quem estudava t inha  todo o   tempo à sua  disposição-  A uni-versidaile   era concebida para ser reqüentada ranqüilamente,  reservando um  certo tempo para   o estudo e ou tro pa ra os «sãos»  divertimentosgol iardescos ou para act ividade em organismos representat ivos.

As   lições  e ram  conferências  prest igiosas; depois, os estudantesmais interessados ret i ravam-se com os professores e assistentes emlongos  seminários  de dez ou quinze pessoas no  máximo.

Ainda  hoje,  em muitas universidades americanas, um curso nuncaultrapassa   os dez ou vinte estudantes (que pagam bem caro e têmo direi to de  «usar»  o professor tanto quanto quiserem para d iscut ircom ele}. Numa universidade   como  Oxfo rd ,  há um professor or ientador ,  que se ocupa da tese de  investigação  de um   grupo   reduzidíssimo  de estudantes  (pode  suceder que tenha a seu  cargo   apenasum ou dois por ano) e acompanha diariamente o seu trabalho.

Se a  situação  actual em   Itália  fosse semelhante, não haveria

necessidade   de escrever este l ivro —   ainda  que alguns conselhosnele expressos pudessem senir  também ao estudante  «ideal» atrássugerido.

Mas a universidade   italiana   é  hoje  um a   u n i v e r s i d ad e d e  massas. A ela chegam estudantes de todas as classes, provenientes detodos  os t ipos de escola   secundária,  podendo mesm o inscrever-seem f i losof ia ou em l iteraturas  clássicas  vindos de um institutotécnico  onde nunca t iveram   grego  nem lat im. E se é verdade queo latim de  pouco  scn>e para muitos t ipos de actividade, é de grandeut i l idade  para quem f izer f i losof ia ou fei ras.

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Certos cursos têm milhares de inscri tos. Destes, o professorconhece, melhor ou  pior,  uma t r intena que acompanha as au las commaior  freqüência  e, com a ajuda dos seus colaboradores (bolseiros,contratados, agregados ao professorad o) , consegue   fazer  trabalharcom uma certa   assiduidade  uma centena. Entre estes, há muitos quecresceram numa   família  abastada  e cul ta, em contado com umambiente cul tural vivo. que podem permit i r-se viagens de estudo,vão a os fest ivais  artísticos  e teatrais e visi tam  países  estrangeiros.Depois há  os   outros.  Estudantes que provavelmente trabalham epassam   lodo o d ia no registo c ivi l de uma pequena c idade de dezmil habitantes onde só existem papelarias . Estudantes que, d esi lud idos da un ivers idade , escolheram a ac tiv idade   política  e pretend em   outro tipo  d e formação,  mas que , ma is ta rde ou ma is  cedo.terão  de submeter -se à obrigação  da tese. Estudantes muito pobres

que. tendo de escolher um exame, calculam o preço  d os  vários textos obrigatórios  e d izem que " este é um exame de doze m i l  Uras»,

optando entre dois opc ionais p or aque le que custa menos. Estudantesque por vezes vêm à aula e têm dificuldade em encontrar um lugarnuma   sala   apinha da: e no f im queriam falar com o professor, mashá uma  fila   de tr inta pessoas e têm de ir apanh ar o comboio, poisnão podem f icar num  hotel. Estudantes a quem nunca  ninguém d i ssecomo procurar um l ivro na bibl ioteca e em que bibl ioteca:  freqüen

temente nem sequer sabem que poderiam encontrar esses l ivros nabiblioteca da c idad e onde vivem ou ignoram  como  se a r rcmja umcartão pa ra   empréstimo.

Os conselhos deste l ivro seivem part icularmente para e stes. Sãotambém úteis pa ra o estudante da escola  secundária que se p reparapara   a un ivers idade e quer compreender  como func iona a alquimiada   tese.

A   todos eles a obra pretende su geri r pelo me nos duas coisas:

— Pode fazer-se uma tese  d i g n a mesmo que se este ja numa s i tua ção  difícil, conseqüência d e discriminações remotas ou recentes;

— Pode aprove i ta r -se a  ocasião da t ese (mesmo se o resto do  cur

so  universitário foi de cepcionante ou frustrante) para recuperar o sent ido positivo e progressivo do estudo, não entendidocomo  reco lha de  noções, m a s como elaboração crítica  d e u m aexperiência, como  aquisição  d e u m a  competência  (boa pa raa vida futura) para ident i f icar os problema s,  encará-los  commétodo  e expô-los  segundo certas  técnicas  d e  comunicação.

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2 .  Dito isto, esc larece-se qu e a obra não pretende e xpl icar   «comose faz  investigação científica»  nem const i tui um a  discussão  teó-

r ico-cr i tica sobre o valor do estudo. Trata-se apenas de uma  séried e  considerações  sobre   como  conseguir aprese ntar a um  júri  u m

objecto físico,  prescri to pela le i , e composto de um  certo  númerod e páginas dad i lografadas, que se supõe  ter qualquer  relação  com

a   disciplina  da l icenc iatura e que não mergulhe o or ientador num

estado de d ol orosa   estupefacção.

É c laro que o l ivro não  poderá  d izer-vos o que devem escrever

na   tese. Isso ê tarefa vossa. Ele   dir-vos-á:  (1) o que se entende por

tese: (2)  como  escolher o lema e organizar o  tempo  de trabalho;

(3 )  como  conduzir uma   investigação  bibliográfica;  (4)   como  orga

nizar  o material selecc ionado: (5)  como  d ispor fisicamente a redac-

ção do trabalho,  hí a parte mais prec isa é justamente a  última,  quepode parecer a menos importante, porque é a   única  pa ra a qua l

existem regras bastante prec isas.

J .  0  t ipo  de t ese a que se faz  referência  neste l ivro é o que seefectua nas  faculdad es  de estudos hutnanísticos. Dado que a m inhaexperiência  se relaciona com as faculdades de letras e f i losof ia,é natu ra l que a ma ior par t e dos exemplos se re fi ra a l emas que seestudam   naquelas faculdades. Todavia, dentro dos l imites que estelivro se  propõe,  os  critérios  que aconselho a daptam -se igualme nteàs teses normais de   ciências  polít icas,  magistério  (*)  e   j u r i s p r u

dência.  Sé se tratar de teses históricas  ou de teoria geral , e nãoexperimentais e apl icadas, o mode lo  deverá serxir igualmente paraarquitec iura, economia,  comércio  e para a lgumas  faculdades  c ientíficas.  Mas nestes casos é necessário  alguma   prudência.

4. Quand o este livro for a imprimir, estará e m  discussão a re fonna

universitária  (**) , E fala-se de dois ou  três níveis  d e  graduaçãouniversitária, Podem os perguntar-nos se esta reforma   alterará  rad i

calmente o próprio  conceito de tese.

Ora. se t ivermos vários níveis d e título universitário e se o mode lo

for o ut i lizado na maioria dos  países  estrangeiros,  verificar-se-á

(*)  Existe em  Itália a  Faculdade do  Magistério qu e  confere  um  titulo universitário em   letras, pedagogia ou  línguas estrangeiras   para o ensino nas es colasmédias.  f iVD

(••)  Bem  entendido, o autor refere-.se ã edição italiana. fATI

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um a   situação  semelhante  á descrita   no   primeiro  capitulo  (LI).  Isto

é, te remos teses de   licenciatura   ( ou de   primeiro  nível ) e teses dedouto ramento  ( ou de   segundo  nível).

Os conselhos  qu e   damos  neste livro  dizem   r espe i to a   ambas  e ,no   caso  d e  existirem   d i fe renças en tre uma e  out ra,  e las  se rão  clarif icadas.

Deste   modo ,  pensamos  que tudo o que se d iz nas pág inas que seseguem  s e  aplica igualmen te  no âmbito da  re forma   e , sobretudo,  noâmbito de uma  longa   transição  para   a concre t ização de uma even tua l  r e forma.

5.   Cesare  Segre leu o tex to dactüogra fado e deu -me   algumassugestões.  Dado  que tome i  muitas  em cons ide ração, mas,   relativa

mente   a   ou t ras,  obstinei-me  na s minhas  po sições, ele não é responsável pelo produto final.   Evidentemente,  agradeço- lhe de todoo coração.

6. U ma úl t ima adver tência . O   discurso  que se segue diz  obviament e  r espe i to a   estudantes  d e  ambos  os   sexos  ( s tudent i  e  s t u d e n -tesse) (*),  bem como a   professores  e a  professoras. Dado   que nalíngua   italiana  nã o  existem   expressões  neutras  vál idas para   ambosos   sexos  (o s   amer icanos ut i l izam cada   ve z mais  o te rmo   « pe r s on » ,mas ser ia   r idículo  dizer  «a   pessoa   estudante »  ( l a  person a studente)

ou a «pessoa candidata »  ( a   p ersona cand idata ) ,  l imito-me a   falarsempre  d e  es tudante , can d idato, p rofessor  e  or i entador , sem que esteuso gramat ical  encer re uma discr iminação  sexista'.

'(*)  Evidentemente, a  ressalva  não é válida  em  português  para  o  leniiu  «estudante*, que é  um substantivo comum de dois gêneros. íffl'}

' Poderão perguntar-me por que motivo não  utilizei sempre a  estudante,  a professora,  etc. A explicação  reside no facto de ter trabalhado na base dc recordaçõese experiências  pessoais, tendo-me assim identificado melhor.

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T.  O Q U E É U M A  T E S E  E P A R A Q U E  S E R V E

1.1. P o r q u e s e d e ve   fa z e r u m a   t ese   e o qu e é?

U ma   icsc é  um trabalho dacti lografado,  d e   g randeza med ia ,  variável entre a s c e m e a s  quatrocentas  páginas , em que o   estudante  t rataum   problema respettante   à área de   estudos   em que se   quer formar.Segundo  a  l ei   i ta l iana,  e la é indispensável. Após ter  terminado todosos exames  obrigatórios, o   estudante apresenta   a  t ese   perante um júrique ouve a informação do  orientador ( o   professor eom quem  « s e f a z »a  t e s e ) e do ou dos  a rguentes .  os  qua is l evantam  objecções ao   c a n d idato; da i nasce uma  discussão n a  qual  tomam parte  o s   outros membros   do jú r i . D a s   pa lavras  d os   dois a rguentes ,  qu e   abonam sobrea  qua l idade  ( ou os de f e i tos ) do   trabalho escrito, e   capac idade  que ocand idato demonst ra   n a  defesa   das opin iões  expressas  p o r  escrito,nasce  o   parecer  do júr i .  C a l c u l a n d o  a inda  a média   g e r a l  d a s   notasobtidas  n os  exames,  o júr i  atribui  uma nota   à  tese.  qu e  pode  i r  dura

mínimo de   sessenta   e   seis a té um máximo de   cento  e d e z . louvor  emenção  h on r os a .  Esta   é  pelo menos   a   r eg ra segu ida   n a  quase  total i dade   d a s  f acu ldades  de  estudos   humanísticos.

U m a   ve z   d escr i t as  as carac te r ís t icas «exte rna s » d o   t exto  e or i t u a l  e m qu e s e  insere , não se   d i sse  a inda  muito sobre  a  n a t u r e za

da   tese.  E m  p r ime i ro lugar , po r qu e   motivo  a s  un ivers idades  i l a l i a -

nas exigem, como  condição de   l i cenci a tura ,  uma tese?

R e p a r e - s e  qu e  este  critério não é  segu ido na maior par te das  un i

vers idades es t range i ras . Na lgu tnas exis t em   vár ios n íve is de   g rausacadêmicos qu e  p od e m  se r   obtidos sem tese; noutras existe um  p r i

m e i r o  n íve l , correspondente  g rosso modo   à  nossa   l i cenci a tura , qu enão dá d i re i to ao t í tu lo de «dou tor » e que  pode  se r  obtido quer c o m

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íi  s imp les  sér ie de  exames, quer  c o m u m  i raba lho escr i to  de  p re tensões  mais modestas; noutras existem diversos  níveis de   doutoramentoque exigem trabalhos  de  di  ferenle complexida de.. .  Porém, gera lmente,a  t ese   p ropr iamente  d i t a   é  r eservada   a u m a e s péc ie d e  s u p e r l i c e n -

ci a tura ,  o  doutoramento,  a o   qu a l  se propõem   apenas aque les   qu equerem  aperfeiçoar-se e   espec ia l i zar - se como inves t i gadores  c ientíf icos. Este t ipo  de  doutoramento  tem vários   nomes,  mas indicá- Io-- emos daqu i  e m  d iante  p o r  uma s ig la   anglo-saxónica de uso  quasei n t e rnac iona l ,  P h D ( qu e   s i g n i f i c a   Phi losophy  Doctor.  D ou t o r  e mFi loso f i a ,   ma s qu e   designa todos   os   l i pos  d e   doutores  em matériashumanísticas,  desde  o soc iólogo a té ao  professor  de g r e go ; n as  matérias  não humànísticas sào  ut i l izadas outras sig las, como. p or exe mplo.M D ,  Medicine  Doctor),

Por sua  v e z , a o  P h D   contrapõe-se   a lgo mui to a f im   à  nossa   l i cen -c ia lu ra   e qu e   ind icaremos doravante   p o r   l i cenc ia tura .

A  l i cenci a tura , nas suas várias   formas, dest ina-se  ao exerc íc io  d aprofissão; p e lo  contrário, o   PhD des t ina- sc  à  ac t iv idade  acadêmica,o qu e   quer d i ze r  qu e  quem  obtém u m P h D  segue qua se sempre   acarre ira   universitária.

Nas un ivers idades des te t ipo.  a   t ese   é  sempre   d e   P h D .  t ese  dedoutoramento,  e   constitui um trabalho originai  de inves t igação, como   qua l o   cand idato d e v e  d emonst rar s er  um es tud ioso capaz   de   fazerp rogred i r   a  d i s c i p l i n a   a q u e se  d e d i c a . E e fee t ivãmente não se faz .como  a  nossa  tese  d e   l i cenci a tura ,  a os  v inte  e   dois anos. mas   numai dade mais  avançada, por vezes   mesmo  a os  quarenta   ou cinqüentaanos (a inda que . obviamente ha j a PhD mu i to j ovens ) .   Porquê  tantotempo? Porque  se   t ra ta p rec i samente  de inves t igação  originai,  e mqu e  é necessário  saber  com segurança   a qu i l o  qu e  d i sseram sobre  omesmo a ssunto out ros es tud iosos ,  ma s e m qu e é  preciso sobretudo« de s c ob r i r »  qua lquer coisa   que os   ou t ros a inda   não  t enham d i to.Q u a n d o s e  fala   de «descober ta » ,  especialmente  n o domínio dos es tu

do s   humanísticos, não  estamos   a  p ensar e m  inventos  revolucionárioscomo  a   descoberta   d a div isão do átomo, a   t eor ia   d a   r e la t i v idade

ou  um medicamento que cure  o  cancro : podem ser descobertas modes tas,  sendo  também   cons iderado  u m  r esu l tado  « c i e n t í f i c o » u m   novomodo  d e l e r c  compreender  u m  texto  clássico, a caracter ização deum   m a n u s c r i t o  que lança uma  n ov a   lu z   sobre  a  b i og r a f i a   d e u mautor ,  u ma r e o r ga n i z a ç ão e u ma  r e l e i t u r a   d c  es ludos anter ioresconducentes   a o  amadurec imento  e s is lemat ização das idé ias que seencontravam dispersas noutros textos.  K m  todo  o   caso,  o  estudioso

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deve   p r od u z i r  u m  t raba lho q u e , e m   teoria,  o s   outros estudiosos   d oramo  não   d ever iam ignorar , porque   d i z   a l g o  de   novo  (e f.  11.6.1.).

A  t e s e   à   i t a l i a n a   será do   m e s m o t i p o?   N ão   necessar iamente .E f e e t i vãmente, dado  qu e  na maior par te d os  casos  é   elaborada entreos v in te  e   dois e os  v inte  e  quat ro anos , enquanto a inda  s e  f azem  osexames   u niversitários, nào  pode representar a  conclusão de u m  longoe   r e f l ec t ido t raba lho,  a   p r ov a   d c u m   amadu rec imento comple to.No entanto, sucede   que há   teses  d e   l i cenc ia tura  ( f e i tas  p o r   es tudantes par t icu larmente dotados )  que são   verdadeiras teses   d e P h D eoutras   que nào   a t ingem esse   n ív e l . N e m a   un ivers idade  o  pretendea   todo  o   cus lo : pode haver uma  b oa  t ese  que não  seja   t ese  d e   inves t igação, mas  lese   de compilação.

N u m a   lese  de compilação, o  es tudante demonst ra s imp lesmente

te r examinado cr i t i camente  a   maior parte   da « l i te r a tu r a »  existente(ou seja.  o s   trabalhos publicados sobre  o   assunto)  e te r   s ido capazd e expô- la de  modo c la ro, p rocurando re lac ionar  os vários  pontos  d evi s t a , o fe recendo ass im uma in te li g ente   panorâmica,  p rovave lmenteútil do  ponto  d e   v i s ta in format ivo mesmo para   u m  espec ia l i s ta   d oramo, que, sobre aquele problema  p a r t i cula r , j ama is t enha e f ec tuadoes ludos ap rofundados .

E i s ,  pois . uma p r ime i ra   advertência: p ode  fazer-se  uma t e se decompilação ou  u ma   lese de investigação;  u ma  tese de «L icenc ia tura»ou   u m a   tese   d e « P h D » .

U m a   tese  de investigação é  sempre mais longa, fal iganie   c  absorvente : uma  t ese  de compilação  pode i gua lmente  s er  longa   e faügante( ex i s t em t raba lhos  de compilação que   l evaram anos  c  a n o s ) m a s ,geralmente, pode  se r  fe i ta   e m  menos tempo  e c om  meno r risco.

Também não se   p re tende d i ze r  qu e  qu e m  f a z u ma  t ese  d e   c om pilação t enha f echado  o caminh o da investigação: a compilação   podeconst i tuir u m acto  d e  se r i edade por par te d o  j ovem inves t i gador que .

antes   de começar   p ropr iamente  a inves t igação, pretende esclarecera lgumas   idé ias  documentando-se  b e m.

E m  cont rapar t ida , ex i s t em leses  qu e   p re tendem  se r de   i n v e s t i gação e que . p e lo  contrário, são   feitas  à  p r e s s a ;  são más   teses  qu ei r r i t a m  qu e m  as lê e que de   modo nenhum servem quem  as fe z .

A s s i m ,  a   escolha en i rc  tese   dc compilação e   tese   d e   inves t i ga ção está  l i g ada   à  matur idade   e à   capac idade   d e   t raba lho  d o c a n d i dato. Mu i tas v e z e s —   in f e l i zmente   — está também   l i g a d a  a   factorese c on ômic os , u ma v e z qu e u m  es tuda nte - t raba lhador  te rá com  ce r teza menos tempo, menos energia  e freqüentemente   menos d inhe i ro

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para   se   d ed icar  a   longas   inves t igações (que   mui tas   vezes  i m p l i c a ma  a quisição de  l ivros raros  e  d ispendiosos, viagens   a  centros o u  bibl iotecas estrangeiros  e   a s s i m p o r   d iante).

In f e l i zmente ,  n ão   podemos  d a r  nes te l i v ro conse lhos  d e   ordemeconômica. Até há   pouco t empo,  n o   mundo in te i ro, inves t i gar e r apr iv i lég io dos  estudantes r icos.  Também nào se   pode d i ze r   qu e   hojeem   d i a a   s imp les  existência de   bolsas  d e  es tudo, bolsas  d e   v i ageme subsídios   para es tad ias   e m   un ivers idades es t range i ras resolva   aquestão a   contento  de   todos.  O   i d ea l  é o de u ma  soc iedade maisjus t a  e m q u e   es tudar se j a   u m  t raba lho  p a g o  p e l o E s t a d o ,  e m qu eseja   p a g o quem quer que tenha uma verdadeira  vocação  para  o   estudoe e m qu e n ào   seja   necessário ter a   todo  o   cus to  o « c a n u do»  paraconsegu i r emprego, obter   u m a pr omoção ou   p a s s a r  à   frente  d o soutros num concurso.

M a s  o   ens ino super ior i t a l i ano, e a  soc iedade  qu e e l e   rerlecte.  épor agora aqu i lo  que é ; só nos  resta fazer votos pa ra  qu e os  es tu dantes  d e   todas   a s  classes possa m  frequentá-Io sem se  su j e i t a rem asacrifíc ios  angust i antes , e  p a s s a r  a   exp l icar  de  quantas mane i ras  sepode fazer  u m a  t ese   d i gna , ca lcu lando  o   t empo  e a s   energ ias d i s poníveis e também a vocação de   cada um.

1.2.  A   qu e m i n t e r e s s a   e s t e   l i v r o

Nes tas   condições, devemos pensar que h á muitos estudantes obri

gados  a  fazer uma tese, para poderem l icenciar-se  à  p ressa  e a lcançarprovave lmente  o   estatuto  qu e  t i n h a m  e m   v i s ta quanto  se   inscreve ra m  n a  un ivers idade . Algu ns des tes es tudantes chegam  a te r  qu a renta   anos . Es tes   pre tenderão,  p o i s ,  instruções   sobre como fazer

u ma   t ese   n u m mê s, de   m od o  a   poderem  t e r u ma  nota qua lquer  ede ixar   a  un ivers idade . Devemos d i ze r sem  rebuço que  este   l i v ro  nãoé  para e l es .  S e   estas  sào as   suas necess idades ,  se são v í t imas deu ma   leg is lação   p a r a d oxa l  qu e os   obr iga   a   d ip lomar- se para resol ver dolorosas   questões econômicas, é preferível   op l a r e m  p o r u m adas segu intes v ias :  (1 )  inves t i r  u m  montante  r azoáve l  para encomendar  a   t ese   a a lguém; (2 )  cop iar  u m a  t ese  j á  fe i ta alguns anosantes nout ra un ivers idade   (não convém   cop iar  u m a  obra   já   p u b l i

ca d a ,  mesmo numa   língua   es t range i ra , dado  qu e o  docente ,  se  es t i ver min imamente in formado,  já deverá  saber da sua  ex is tênc ia ; ma sc op i a r  e m M i l ã o u m a  t ese   fe i ta   n a  C a lu n i a   o fe rece  razoáve is pos -

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s ib i l i dades de êxi to ;  na tura lmente , c ne cessário  in formar- se p r ime i rose  o  orientador da lese, antes d e  ens inar em M ilão, não terá   ens inadona   Catânia ; e , por   i sso mesmo, cop iar   u rna   t ese   i m p l i c a  u m   i n t e l i

gente   t raba lho de inves t iga ção) .

Ev identemente ,   os  dois conse lhos   que acabámos de da r são  i l e ga i s . Ser ia   o   mesmo  qu e  d i z e r  « s e t e   apresentares ferido  n o   postode socorros e o médico não  qu iser examinar - t e , aponta- lhe uma facaà g a r g a n t a ». E m   ambos  os   casos, trata-se   d e   actos  d e   d esespero.O nosso conse lho  fo i  d a d o  a título   paradoxa l , para   reforçar o   factode   este   l i v r o  não   pretender resolver graves problemas  d e  estrutura

soci a l  e d e  ordenamento  ju r ídico   existente.

Es t e  l i v ro d i r i g e - se . por tanto,  àque les que   ( mesmo  s e m   se remmil ionár ios ne m  terem  à  s u a  d ispos ição d ez   anos para   se  d i p l om a

re m  após   t e rem v ia j ado  p o r  todo  o  mundo)  têm   u ma   r azoáve l  pos s ib i l i dade  d e  d ed ica i " a lgumas horas  p or  di a  a o  es tudo  e  querem pre para r  u m a  t ese  qu e  lhes dê também  u ma cer ta satisfação  in te l ec tua lc lhes s i rva depois  d a  l i cenci a tura .  E  que , por tanto, t ixados o s   l i m i

tes, mesmo modestos,  do s e u   p ro j ecto, qu e i ram fazer   u m  t raba lhosério. Até u m a r e c o lh a   de   cromos pode fazer-se   d e u m  modo  sé r io :basta   f i x a r  o   t ema   d a  r ecolha ,  os cr itér ios de catalogação e os   l imi

tes   históricos da  r ecolha . Se se  d ec ide  n ão  r emontar  a lém de   1960,ópt imo, porque desde 196U  até  hoje existem todos   o s  c romos. Haverásempre uma  diferença   entre esta recolha  e o   M u s e u  d o  l..ouvrc,  m a sé pre fe r íve l , em vez de um  museu pouco  sér io,  fazer  u m a  r ecolhaséria de   c romos  d e  j ogadores   d e  fu tebol  d e   1 9 6 0  a 1 9 7 0 -

Es t e  cr itér io é  i gua lmente  válido   p a r a u m a  t ese   d e  l i cenc ia tura .

1.3.  D e q u e  m o d o  u m a  t e s e   s e r v e  t a mb é m   p a r a d e p o i s

d a l i c e n c i a t u r a

H á duas maneiras  d c  fazer uma  tese qu e  s i r v a  também   para depois

da l i cenci a tura .  A   p r i m e i r a  6  fazer  d a  t ese  o in íc io de   uma inves t i

gação   mais ampla   que prosseguirá nos   anos seguintes   se .  ev idente

mente , houver  a  opor tun idade   e a   vontade para tal.

M a s  ex i s t e a inda  urna  segunda mane i ra , segundo  a  qua l um d i rec -

tor  d e  um organ ismo  d e  tu r i smo loca l  será  a judado na sua  p rofissão

pelo facto  de  t e r e laborado u ma  tese   sobre  Do «Fer ino a Lúcia» aos«Promessi Sposi» .  E fee t i vãmente,  faze r uma  tese   s i gn i f i ca : ( 1 )  esco

l h e r  u m  t ema p rec iso;   (2 )  r ecolher documentos sobre esse l ema;

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( 3 ) pôr em  ordem esses documentos :  (4)   r e e xa m i n a r  o t ema  c m  p r i

mei ra   mão . á lu z dos  documentos re colh idos ;   ( 5 ) d a r u m a   formaorgânica a   todas as reflexões  p recedentes ;  (6 )  p roceder  de  modo quequ e m  lê   perceba   o que se   quer d i ze r  e   fique  em condições , se fornecessário, de  vol tar  a os  mesmos documentos para retomar  o   temapor sua conta .

Fa/cr  u m a  tese   s i gn i f i ca , pois . ap render  a pôr   o r d e m  n a s p ró p r i a s  idé ias e a   o r d e n a r d a d os :  é u ma e xpe r i ê n c i a de   t r a b a l h ome tód ic o ;  quer d i ze r , const ru i r  u m «ob j e c to » qu e , e m pr in c íp io ,s irva   também   para out ros . E   deste modo  nõ o  importa   tan to o temada   tese quanto a exper iênc ia de   trabalho  que e la compor ta .  Q u e msoube documcniar-se sobre   a  dupla redacção do romance  de  M a n z on i .saberá   d epois  também   r ecolher  com método os   dados  qu e lh e  ser

virão  para   o   o r g a n i s m o  turístico.  Quem escreve   j á   p u b l i c ou   u m ad e ze n a   d e   l ivros sobre temas diversos,   ma s s e   consegu iu f azer  o súltimos   nove   é  porque aprove i tou sobre tudo  a exper iênc ia do   p r i

meiro, qu e e r a  u ma  reclaboração d a  t ese  d e   l i c e n c i a t u r a  Se m  aquelep r ime i ro t raba lho,  n ão   ler ia  ap rend ido  a   fazer  os   ou t ros .  E .  tantonos aspec tos pos i t i vos como  n os   negat ivos ,  os   outros ref lectema inda   0   modo como  se fe z o  p r i m e i r o .  C o m o  lempo tornamo-nosprovave lmente mais maduros , conhecemos mais  a s   co i sas ,  ma s amane i r a como t raba lhamos nas coisas  qu e  sabemos  dependerá  s e m pr e   d o  modo como  estudámos   in ic ia lmente mui tas coisas   que nãosabíamos.

E m  última análise,  f aze r  u m a  lese   é  como exerc i t ar  a me mór ia . Temos u ma  boa memór ia cm   ve lhos quando  a  mant ivemos  e mexerc íc io  d esde mu i to j ovens .   E não   i m p or t a   s e e l a s e   exerc i toua p r e n d e n d o  de cor a compos ição de   todas   a s   equ ipas   d a  P r i m e i r aDiv isão, as  poes ias  d e   C a r d u cc i  ou a sér ie de  imperadores roman os  d c A u g u s t o a Rórnulo  Au g u s t o .  B e m   entend ido, já qu e se  exer c i ta   a memór ia ,  mais va le ap render coisas   qu e n os   in te ressam o uque venham  a  s e r v i r - n os ;  m a s . p o r   v e z e s ,  mesmo aprender coisasinúteis   c on s t i t u i u ma b oa g in ás t ic a . E , ass im, embora se j a m elhorfazer uma lese sobre  u m  tema   qu e n os  ag rade ,  o   tema   é secundár i o  r e la t i vamente  ao método de   t raba lho  e à exper iênc ia que   d e lese   t ira.

E   i s to  também   p o r qu e ,  se se   t r a b a l h a r b e m . n ão h á  n e n h u m

tema   qu e   se j a verdade i ra mente   es túp ido: a   t r a b a l h a r b e m   t i r a m -

- « conc lusões úte is   m e s m o  d c u m   t ema aparentemente remoto

ou   pe r i fé r ico.  M a r x  nào fe z a   t ese   sobre economia   pol í t ica , mas

sobre dois  f i l ó s o fos g r e gos  c om o E p i c u r o   e De mócr i to. H não se

t r a tou  d e u m  a c i d e n t e . M a r x   fo i   t a lvez capaz  de   a n a l i s a r  o s   p r o

b l e m a s  d a h i s tó r i a c da   e c o n o m i a   c o m a   e n e r g i a   t e ó r i c a qu e

sabemos p rec isamente porque aprendeu   a   r e f l ec t i r sobre   os   seus

f i lósofos   g r e g o s .  Perante t antos es tudantes   qu e c ome ç a m c om

u ma   t ese a mbic ios íss ima   s ob r e M a r x  e   a c a b a m  na secção de   p es

s o a l d a s g r a n d e s e m p r e s a s c a p i t a l i s t a s ,  c necessário   r ever  o s  c on

ce i tos  que se têm   sobre  a   u t i l i d a d e ,  a   a c i u a l i d a d e   e o   in te resse

dos t emas   d a s   teses.

1.4. Q u a t r o r e g r a s   óbv ias

H á  casos  e m qu e o  cand idato  f a z a  t ese   sobre  u m  lema impostopelo docente. Tais casos devem evitar-se.

N ào   es tamos   a   r e f e r i r -nos . ev identemente ,  a os   casos   e m qu e o

c a n d i d a t o  p ed e   conse lho  a o  docente ,  ma s s im àqu e l es e m qu e a

culpa   é d o  professor  ( ve r   11.7.. « C o m o   ev i t a r de ixar - se exp lorar pe lo

or ienta dor » ) ou àque les em que a  cu lpa   é d o   cand idato, des in te res

sado  d e   tudo  e   d i spos to  a   a l inhavar qua lquer coisa para   se   d espa

ch a r  d epressa .

Ocupar -nos- emos, pe lo contrário, dos  casos e m que se pressupõe

a  ex is tênc ia de um  c a n d i d a l o m ov i d o  p o r u m  interesse qua lquer   e

de   u m  docente disposto   a  in te rp re tar  a s  suas  exigências.

Nestes casos ,  a s  regras para   a  escolha   d o   tema   são  quat ro :

1 )  Que o   lema corresponda   a os   interesses  d o  candidata   (quere s t e j a r e l a c i on a d o  c o m o   l i p o  d e   exames f e i tos ,  c om a ssua*;  l e i t u r a s ,  c o m o s e u  m u n d o  po l í t i c o ,  c u l t u r a l  o u   r e l i

g i o s o ) :

2 )  Que  a s fontes  a que r ecor re   sejam  acessíveis, o  que quer d i ze rque estejam  a o   a lcance mater ia l  d o   cand ida lo;

3 )  Que   as fontes a que recorre   sejam manitsedveis.  o que   querd i z e r  qu e  estejam  a o  a lcance   cu l tu ra d o   cand idato;

4 )  Que o  quadro  m etodo lógico d a investigação  esteja  a o  alcance

da   exper iênc ia do  candidato.

Expressas   d es ta man e i ra , es tas quat ro regras pa recem bana is  e

resumir -se na norma segu inte : quem quer f aze r uma  tese  de v e   fa/er

u ma   t ese  qu e   seja capaz  d e   l aze r . Pois  b e m. é  mesmo ass im,  c há

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casos   d e   leses   d rama   i  ca  m cri   e f a lhadas jus tamente porque  não se

soube  pôr o  p rob lema   in ic ia l  nestes termos  tão óbv ios 1.

O s capítulos que se  seguem  tentarão  fornecer a lgumas   sugestões

para   qu e a   t ese  a   fazer seja   u m a  t ese   qu e s e   s a i b a   e   possa fazer.

1 Poderíamos  a crescentar unia  quinta regia:  que o   professor seja   o indicado.Efeeti vãmente, há candidatos que. por  razões  de simpatia ou de  preguiça, queremfazer com  o  docente  da matéria A   uma tese  que, na verdade, é da matéria   B . Odocente aceita   ipur simpatia, vaidade ou  dcsatençâol e  depois  nào está  em condições d e  acompanhar  u  tese.

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I I . A   E S C O L H A  D O   T E M A

I I . l .  T e s e mon ogr á f l c a ou   t ese  pa n or âmic a ?

A p r i m e i r a   tentação do   es tudante  é  fazer uma   t ese   qu e   fale  d emui tas   c o i s a s .  Se e le se   in te ressa   p o r   l i t e r a t u r a , o seu   p r i m e i r oi m p u l s o  é  f aze r uma  tese d o gê n e ro A   literatura  hoje, t endo  de  r es

t r ing i r  o   t ema.  quererá   escolher  A   l i teratura i taliana desde   o pós--guerra   a té aos   anos  60.

Es tas  teses  são perigosíssimas. Trata-se   d c temas  qu e   fazem tremer estudiosos  b e m  mais maduros. Para um estudante  d e   v inte anos,é um desaf io  impossível.  O u  fará  um a resenha  monótona de  nomes  ede   opin iões   correntes,  ou dará à sua  obra   u m  car i z or i g ina l  e serásempre acusado  de omissões imperdoáve is . O   g rande   cr ítico   c o n temporâneo  G i a n f r a n c o  C o n t i n i  publ icou  e m 1 9 5 7 u m a  Le t í e ra tumItal iana-Ottocento-Novecento  ÍSansoni  Accademia ) . Pois bem, se setratasse  d e u m a  tese  d e   l icencia tura , teria f icado reprovado, apesardas suas 47 2 pág in a s . C o m  efeito, te ria sido   atr ibuído a negligênciaou   ignorância o   facto  de não ter   c itado alguns nomes  que a  maior iadas pessoas considera m muito importantes, ou de  ter dedicado capítulosinteiros a  aulores ditos  «me n or e s » e  breves notas  de rodapé a  autoresconsiderados   «ma io r e s » .  Evidentemente, tratando-se d e  um estudiosocuja  preparação histórica e   agudeza  cr ítica são bem  conhecidas, todaa gente  compreendeu   qu e  estas  exclusões e desproporções  eram voluntárias, e que  u ma   ausência era   cri t icamente muito mais  e loqüente d oque uma  página   d emol idora . M a s se a  mesma   graça for   feita   p o r  umestudante d e  v inte e   dois anos. quem garante  que por detrás do silênci o  não está   mui ta   as túe ia e qu e as omissões   subst i tuem  páginascríticas  escritas noutro lado  — ou qu e o  autor saberia escrever?

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E m  teses deste  g ênero, o es tudante acaba gera lmente  p o r  acusaros membros  do júri de não o   t e rem compreend ido,  m a s  estes   nãopod iam  compreendê- lo e . por tanto, uma  t ese  d e m a s i a d o  panorâmicaconst i tui  sempre   u m  acto  de  o r g u l h o . N ã o q u e o   orgu lho in te lec tua l—   n u m a  tese —   seja   d e   re je i tar  a pr ior i .  Pode mesmo dizer-se  qu eD a n t e  e r a u m  mau poe ta : mas  é  p rec i so d izê - lo após   pelo menos trezentas  páginas d e análise  detalhada  do s   textos dantescos. Estas demonstrações,  numa  t ese  pan orâmica, nào  podem fazer - se . E is porque ser i aentão  me lhor que o  es tudante , e m v e z d e  A   l i teratura i tal iana desdeo pós-guer ra a té aos   anos  60 ,  escolhesse   u m título  mais modesto.

K  posso d i ze r já  qua l se r ia  o  i d e a l : nã o O s romances  de Fenog l io .ma s  A s  diversas  r edacçòes de " ti  panigiano  Jolmny».  E n f a d on h o?F i   poss íve l , mas  corno desa f io  é  mais in te ressante .

Sobre tudo, se se  pensar bem, trata-se  d e  um ac to de as túc ia . C omu ma   tese  p anorâmica   sobre   a   l i t e ra tura  d e   quat ro décadas , o   es tu dante expõe-se a   todas   as contestações possíveis.  Como pode res i s

ti r  o   or i entador  ou o  s imp les membro  do júri à tentação de   f aze rsaber que conhece um autor menor que   o  es tudante  n ào  c i tou?   Bastaque qualquer membro d o júri. consu l tando o índice, aponte   três  omis sões, e o  es tudante   será  a lvo  d e  urna   ra j ada   de acusações que farãoqu e a  s u a  t ese  pareça  u ma  l i s ta   de  d esaparec idos . Sc , pe lo contrário,o  es tudante t raba lhou ser iamente num terna mui to p rec iso, consegue domina r um mater ia l desconhec ido para  a  maior par le   d os  m e m bros d o júr i . Não   estou   a  suger i r um t ruquez i to  d c dois   vinténs: seráu m  Iruque. ma s nào de  d o i s  v inténs, pois  ex ig e es forço. Su c e d e   s im

p lesmente  qu e o   c a n d i d a t o  se   ap resenta como  « P e r i to »  d iante  d cum a  platéia   menos per i t a  do qu e e le . e , já qu e teve o  t raba lho de set o rna r p er i to,  é j u s t o  qu e goze a s   vantagens dessa  s ituação.

Ent re  os  dois extremos da  tese  pan orâmica  sobre quarenta anos  d cliteratura  e d a  tese   rigidamente   monográfica   sobre   a s  variantes   de u m

texto curto, h á   muitos   esládios intermédios. Poderão   assim apontar--se temas como  A   neovanguarda  l iterár ia dos  anos 60,  ou  A   imagemdas Langhe   em  Pavese  e Fenoglio.  ou  a i n d a  Af inidad es  e d i fe rençasent re  três escri tores  «fantásticos»:  Savinio, Buzzaii  e   Landolft.

Passando  a s  f acu ldades   e ieniíficas. n u m li v r o c o m o  mesmo temaqu e  n os  p ropomos   dá-se um  conse lho  aplicável a  todas a s matérias:

O tema   Geologia,  p or  exemplo,  é  demasiado vasto.  A   Vulcanologia.como ramo  da  geologia,  c  ainda demasiado lato.  Os vulcões no Méxicopoderia ser desen volvido  nu m exercício bom mas  um  tanto superficial. Uma

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limitação subsequente   daria  origem  a  uni estudo üc  maior valor:  A históri a  d o Popocatepetl (que foi escalado provavelmente por  un i dos conquistadores  de  Corte?  em  1519. e qu e só em  1702  leve  um a  erupção  violenta}.Úm  lema mais  limitado, que diz respeito a um menor mi  mero d e  anos. seriaO  na scimento e u mor te  aparente  d o Paricutin  (d c 20  dc Fevereiro  de 1943

SI 4  dc M arço de   1952)'.

E u   a c on s e l h a r i a  o último  t e m a .  C om a c on d ição de qu e .  nessa

a l tu ra ,  o  c a n d i d a t o d i g a t u d o o qu e há a   d i ze r sobre aque le amald i

çoado vu lcão.

H á   a lgum tempo  v e i o  te r  c om i g o  u m  es tudan ie q u e   quer ia f aze r

a   tese  sobre   O símbolo no  pensamento  con temporâneo.  E r a u ma  tese

impossível.   Pe lo menos , eu não  s a b i a  o q u e  qu e r i a d i z e r  « s ímb o lo » ;

efect ivamente, trata-se  d e  um termo q u e  muda  dc  s ignif icado segundo

os au tores  e , po r  v e z e s , e m   dois au tores d i fe rentes quer d i z e r duas

coisas absolu tamente opostas . Repa re - se   qu e por « s ímb o lo » os lóg i

cos formais  ou os matemáticos   entendem  expressões sem  s i g n i f i

c a d o  qu e  oc u p a m  u m   lugar de f in ido  c o m   urna   função   p r e c i s a n u m

d a d o  cálculo   f o r m a l i z a d o  ( c omo os  a  e os  h  ou os  x  e os  y  d a s   fór

m u l a s  a lgébr icas ) .  enquanto out ros au tores entendem   u m a   forma

rep le ta  d e   s i g n i f i c a d os   ambíguos ,  como sucede   n a s   imagens  qu e

ocorrem nos sonhos , q u e  pode m referir-se   a  u m a  árvore, a  u m órgão

sexua l ,  a o   d e s e j o  d e   c resc imento  e   a s s i m  p or  d iante . Co mo fazer

então uma  t ese  c o m  este   título?   Se r i a  necessário   a na l i sar todas  a s

acepções do s ímbolo em   toda  a   cultura   contemporânea, catalogá-las

dc modo  a   ev idenc iar   as semelhanças e as diferenças, ver se  s u b j a

cente   às diferenças há um  conce i to  unitário  fundamenta l  qu e  a p a

reça em   todos   o s   au tores   e   todas   a s   t eor ias ,  se as diferenças não

t o rnam  en f im  incompatíveis   entre si a s  teorias  em questão. Pois  b e m.

u ma   obra des las nenhum   f ilósofo, lingüista ou   p s icana l i s ta contem

porâneo   c on s e g u i u a i n d a   r e a li zá - la d e u m a  m a n e i r a   satisfatória.

C om o p od e r i a c on s e g u i - l o  u m   es tud ioso novato  q u e ,  mesmo pre

coce, não tem alrãs de si mais d e  se i s  o u  sete   anos  d e   l e i tu ras  adu l

t as? Poder ia l ambem fazer uma  dissertação in te l i g entemente   pa rc i a l ,

n i a s ca ir íamos de  n ov o  n a história d a   l i t e ra tura  i t a l iana   de   C o n t i n i .

O u  poder ia p ropor uma teor ia pessoa l  do s ímbolo,  pondo  d e   parte

tudo quanto hav iam d i to  o s   ou t ros au tores : ma s a té qu e   ponto esta

' C . W . Cooper c E.   J .  Robins, tlie  Temi Paper  A  Manual and  Mode l . Stanford.Stanford Un iversiiy Press, 4.' cri..  1967, p. 3 .

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escolha seria   discutível  d i- lo-emos  no parágrafo  11.2. C o m o  e s t u dante  cm tjuestão   d i scut iu - se u m  pouco. Teria pod ido fazer-se  u m alese sobre  o s ímbolo em   F r e u d  e   J u n g .  n ào   cons iderando todas   a soutras  acepções, e   confrontando apenas   a s  destes doi s autores. M a sdescobriu-se  qu e o  estudante   nã o  sabia  alemão (c  falaremos sobre   oproblema   d o  conhec imento  das línguas no parágrafo   TT.5). D e c i d i u --s e  então que ele se debruçaria   sobre  o   lema   O conceito de símboloem Pe i r ce ,  Frye  e  Jung.  A   tese   t e r i a examinado  as diferenças   entretrês  conce i tos  homônimos em três   autores diferentes,  um f i lósofo,u m  cr ítico e  u m ps icólogo;  ler ia mostrado como  e m  mui tas  análisese m qu e sào   considerados estes   três  autores s e  cometem muitos  equívocos ,  u ma v e z qu e s e   atribui  a u m o   s i gn i f i cado  q u e é  usado po routro. Só no   final,  a título de conclusão hipotética, o  cand idato t e r iap rocurado ext ra i r  u m  r esu ltado para most rar  s e   ex i s t i am ana log ias ,

e   qutds.  entre aqueles conceitos  homônimos, aludind o ain da aos outrosautores d c quem  l inha   conhecimento mas  d e  quem. por  explícita   l imi

tação d o  tema. n ão  quer ia nem podia ocupar-se. N inguém   ter ia podidod i ze r - lhe qu e não t inha  cons iderado o   autor K , porque   a  tese  e ra  sobre

X , Y e Z , n e m qu e  t inha   c i t ado o  autor J apenas  em tradução,  porqueter-se- ia tratado  d e  u m a  referência   marg ina l , em conclusão, e a  tesepretendia estudar por extenso  e n o  orig inal apenas os três  autores  re fer idos  no título.

E i s  c om o  u m a  t ese   pa norâmica , se m se   tornar r igorosamentemonográíica. se   r e d u z i a  a u m  meio termo,  aceitável por   todos.

Por outro lado. s em dúvida o   termo  «monográf ico»  pode  te r  umaacepção mais vasta  d o que a que utilizámos aqui . U ma monogra f i a  é otratatamento  de u m só lema  e   como tal  opòe-sc a  u ma  «história de», au m  manual , a  um a  enciclopédia.  Pelo  qu e  um tema como  O t ema do«mundo às wessas» nos escri tores medievais  também é monográfico.Analisa m-se muitos escri lores. mas apenas  d o  ponto dc vista de  u m  tema

específico (o u  se j a . da hipótese imaginária   proposta  a título de   exemplo, d c  paradoxo  ou de fábula, dc que os   peixes voem  n o a r, a s   avesnadem na  á gu a e t c ) . Se s e  fizesse bem  este  tra balho, obter-se-ia u maóptima   monogra f i a Contud o, para o   fazer bem, é   preciso t e r  presentetodos os escritores que  trataram o  tema, especialmente os menores, aqueles   d e  quem  ninguém se  lembra. Ass im, esta  tese  é   classif icada comomonogràTico-panorâmica e é  muito difíc il: exig e  uma inf inidade de   le itu

ras. Se se  quisesse mesmo  fazê-la. seria preciso restr ingir  o seu campo.O  tema  do «mundo às wessas» n os  poetas carolíngios. O  campo  restrin

ge-se, sabendo-se  o  qu e  s e  le m d e  dominar c o que se deve pôr  de parte.

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Ev identemente ,  é  mais excitante fazer   a   tese   panorâmica,  pois .a lém do   mais. parece fast id ioso ocuparmo-nos durante um. dois  o umais anos sempre  d o mesmo autor. M a s  repare-se  qu e  faze r u ma  teser igorosamente   monográíica nào  s i gn i f i ca  d e  modo nen hum perder d evista  o  contexto. Fazer uma  tese   sobre  a  nar ra t iva  d e   Fenog l io s i gn i fica ter presente  o   r ea l i smo i t a l i ano, le r também Pavese  ou  V k o r i n i .

bem como ana l i sar  o s   escritores americanos   qu e   Fenog l io  l i a e   t ra

duz i a . Só  inserind o um autor nu m contexto o   compreendemos  e  e xp l i camos. Todavia, uma coisa  é   u t i l i z ar o  panorama como fundo, e  outrafazer u m quadro  pa norâmico. U ma coisa  é p in tar o  re iralo d e  um cavalheiro sobre urn fundo  d c campo c om u m r io, e  ou t ra p in la r campos,va les  e   rios.  T e m d c  mudar a  técnica, tem de  mudar, e m  termos fotográficos, a   focagem. Par l indo   de u m s ó  autor,  o   contexto pode  s e rtambém um  pouco desfocado, incompleto  o u d e   segunda  mão.

Para  conc lu i r , r ecordemos  este  pr inc ípio   fundamenta l ;  quantomais  se   restringe  o campo, me lhor se   trabalha   e com   maio r  segurança .  U m a  tese   monogrãfica c preferível a uma  tese   panorâmica.É   m e l h or q u e a   tese   se   assemelhe mais  a u m  ensa io  do qu e a u mahistória ou a   u ma   enciclopédia.

IT.2. T e s e h i s tó r i ca o u   t ese  t e ó r i c a ?

Esta   alternat iva  só  tem sentido para ceitas   matérias. Efeet i vãmente,em   matérias  como  história d a matemática,  filologia   românica ou  h i s

tória d a   l i teratura  alemã, u ma  t ese  s ó   pode  ser histórica. E em matér ias como  composição arquitectónica. fís ica do   reactor nuclear  o uana tomia   comparada, g e ra lmente  só se   fazem teses  teóricas ou  e xp e rimentais.  M a s  há   outras  matérias,  com o filosofia  teórica,  soc iolog i a ,  ant ropolog ia   cu l tu ra l ,  estética,  filosofia   d o   d i re i to, pedagog ia

ou   d i re i to in te rnac iona l , e m qu e s e   podem fazer teses  d e   dois t ipos.U m a   t ese  teórica é  u ma  t ese  qu e se propõe encarar um prob lema

abstracto  q u e  pode   já te r  s ido ou n ão  objecto  d e  outras r e f lexões ; ana ture za  d a   vontade human a, o   conce i to  d e   l iberdade ,  a noção defunção   soc ia l , a existência d e  D e u s . o código gen ét ico. E n u m e r a d os

ass im,  estes temas fazem imediatamente sorrir, pois pensamos naqueles t ipos  de   a b or d a g e m  a qu e ür a ms c i  c h a m a v a   « n oç õe s   brevessobre   o universo» , E . no   entanto, ins ignes pensadores   se debruçara m  sobre estes temas. .Vias. c o m  poucas   cxccpçõcs,  fizeram-no  n aconclusão de um  t raba lho  de meditação dc várias décadas.

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N a s  mãos de  um estudante com uma  experiência científica   necessar iamente l im i tada , estes   temas podem dar origem  a  duas   soluções.A pr ime i ra   (que c   a i n d a  a   menos   t rágica )  l eva   a   f aze r  a   tese   d e f i nida   (no parágrafo   anterior) como  «panorâmica" . Trata-se  o   conceitoil e  função  socia l ,  ma s  numa série de  autores. E  a  este  respeito apl icam--8 c as observações já   fe i tas.  A   segunda   solução é  mais preocupante,dado qu e o   candidato presume poder resolver,  e m  poucas  páginas, oproblema   de  D e u s e d a de f in ição d e  l iberdade . A   m i n h a  experiênciad i z - m e  qu e os   estudantes  qu e   escolheram temas  do gê n e r o   quasesempre f izeram  teses   muito curtas, s e m  grande  organ ização  interna,mais semelhantes  a u m  poema   l í rico do que a um  es tudo  c ientífico.E ,  g e ra lmente , quando  se   objecta   a o   cand idato  que a expos ição édemas iado persona l i zada , genérica, in formal , sem comprovações  h i s -toriográficas   n e m c itações, ele  responde  que nào se compreendeu  qu ea   su a  t ese   é  muito mais intel igente  do qu e  muitos outros   exercíciosd e b a n a l  compilação.  Po d e   dar-se  o   caso  de s e r   verdade, mas, maisum a   vez. a experiência   e n s i n a  q u e   geralmente esta resposta   é  dadap or   u m  cand idato c om as idé ias  confusas ,  s e m  humi ldade   científicanem capac idade comunica l iva . O qu e s e de v e   entender  p o r   humil

dade   c ientífica (que não c uma  v irtude para fracos mas. pelo contrário, uma  v irtude   d a s   pessoas orgu lhosas )  ver-sc-á no parágrafoTV.2.4. i t  certo que   não se  pode  exc lu i r que o   candidato seja um gên ioque, apenas  c o m   v in te  c  dois anos, tenha compreendido tudo.  e éevidente   qu e  estou  a  ad mi t i r es ta  hipótese  sem sombra  d c  i ron ia . M a sa   r ea l idade  é  que. quando sobre   a   crosta terrestre aparece   um gêniode tal qualidade, a  humanidade leva mu ito tempo  a  aperceber-se disso,e a  sua obra  é  l id a   e  d i g e r id a durante um cer to número de   anos antesqu e  se   ap reenda   a   s u a g r a n d e za . C om o  se   pode   pretender  q u e u mjúri que está a   examinar ,  nã o  u m a .  m a s   muitas teses, apreenda   deehoíre a  grand eza deste corredor   solitário?

M a s  ponhamos a h ipótese de o   estudante estar consciente   dc te rc om p r e e n d i d o  u m  p rob lema impor tante ; dado   qu e   nada nasce   d on a d a .  e le te rá   e l a b or a d o  o s   seus pensamentos   s ob a in f luênc iade outro autor qualquer. Transformou   então a sua  tese.  de teór icaem   historiográfica. ou   se j a .  n ão   tratou   o  p rob lema   d o ser. a n oçãod e l i b e r d a d e  o u o   c on c e i t o  de acção   s o c i a l ,  m a s   d e s e n v o l v e utemas como  o  problema   do se r no jovew   Heidegger ,  a noção del iberdade  em   Kant  ou  o conceito de acção  soc ial  em   Parsons.  Sele m  idé ias  or i g in a i s , e las   emergirão no  conf ronto  c om a s i déi a s doautor t ra tado; podem d i ze r - se mui tas coisas novas sobre   a   l iberdade

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es tudando   o   modo como out ra pessoa f a lou   d a   l iberdade .  E se sequis e r ,  aque la   qu e  d e v i a   s e r a s u a  t ese   teórica   torna-se  o capítulofinal  da   s u a  lese   historiográfica. O   r esu l tado  será que   todos poderão  ve r i f i car aqu i lo q u e  d i z . dado  qu e  ( re fer idos a  um pensador ante rior) os conceitos  que põe em jog o se rão pu bl icamente   ver ificáveis.É difíc il  movermo-nos  n o v a g o e  estabelecer uma  expos ição  ab in i-tio.   P rec i samos d e  encont rar um ponto  d e  apoio, espec ia lmente paraprob lemas  tã o  v ag o s   como  a noção de se r ou de   l iberdade . Me smoqu a n d o  se é gên io, e   espec ia lmente quando  se é gênio, nào   s i gn i fica   u ma   humilhação   part ir-se  d e   outro autor. C o m  e fe i to , p a r t i r d cu m  au tor anter ior  nã o  s i gn i f i ca p res tar - lhe cu l to, adorá- lo ou   repro

d u z i r  sem crí t ica a s  suas  a f i rmações ;  p o d e   l ambem par t i r - se  d e u mautor  para demonst rar  os   seus erros  e os   seus l imites.  M a s   tem-seum   ponto  de   apoio.  O s   homens med ieva is ,  qu e   t inham u m   respeito

ex ag e rad o   pela autoridade   d os  au tores an t i gos , d i z i am  que os   modernos, embora   ao seu  l ado fossem  « a n õe s » ,  apoiando-sc n e les tornavam-se   «anões às  costas  de g i ga n te s » e ,  deste modo. viam mais  alémdo   que os   seus predecessores.

Todas estas   observações não são válidas   para   as matérias   a p l i

cadas   e   exper imenta i s .  Sc se   ap resentar uma  t ese   e m   p s icolog ia , aalternat iva  não é en l rc O  problema   da percepção em P iaget  e   O problema   da percepção   (a inda  q u e  um imprudente pudesse querer p roporu m  tema   tã o  g ener icamenie  p e r i g o so ) .  A   a l t e rnat iva   à  t ese   h i s t o r iográfica é  antes  a   l ese exper imenta l :  .4  pe rcepção das cores numgrupo   de cr ianças  def ic ientes.  A q u i  o   d i scurso muda , dado   que set em d i re i to  a  encarar d c  forma exper imenta l uma  questão, contantoqu e   se   s i ga   um método de inves t igação e se  possa t raba lhar e mcondições raz oáve is , no que   respeita  a labora tór ios e c om a  d e v i d aass is lénc ia . M a s um bom  inves t i gador exper imen ta l  nào começa acont rolar  a s r eacções dos   seus pac ientes   s e m  antes  te r   feito  pelomenos   u m  t raba lho panorâmico ( exam e dos  estudos  a nálogos já r ea

l i zados ) , pois  d e   ou t ro modo ar r i scar - se - i a a  d escobr i r  o chapéu dcch u va ,  a   d emonst rar qua lquer coisa  qu e j á   hav ia s ido amplamentedemonst rada ,  o u a  a p l i c a r métodos que já se  Un ham reve lado  errôneos   ( s e bem que   possa  s e r  objecto  de investigação o   no vo  controlode   um método que não   t enha a inda dado resu l tados   satisfatórios) .Portanto, uma  t ese   d e   carac te r exper imenta l  nã o   pode  s er  fe i ta   e mcasa . n em o método  pode s e r  in v e n t a d o . M a i s u m a  ve/. se de ve   parti r d o p r inc ípio de qu e . se se  é  u m a n ão  in te l i g ente ,  é  me lhor  sub ir

aos ombros  d e  um gigante qualquer, mesmo  se for de  altura   modesta:

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ou   mesmo  d c ou t ro  anão.  De pois lemos sempre temp o para traba

lha r  soz inhos .

I Í .3 . l e m a s a n t i g os   o u  t e m a s  c on te mpor ân e os ?

E n ca r a r esta  questão   pode parecer querer voltar   à amiga   querel ledes anciens  e t des modernes . . . E . d e  f ac to, para mui las d i sc ip l inasa  ques tão não se põe ( se be m que  u m a  t ese  de h is tór ia da   l i t e ra iurala t ina   possa t ra tar  tão bem de H orác io   como  da s i tuação dos  es tu dos horac ianos  no último v in lén io) .  Inversamente ,  é lógico que . senos l i cenc iamos  em história da   l i t e ra tura i t a l i ana   contemporânea,n ão  ha j a a l t e rna t iva .

T o d a v i a   não é  ra ro  o   c a s o  de ura  estudante  q u e . perante  o   conse lho  d o   professor  d e   l i t e ra iura i t a l i ana para   se   l i cenc ia r sobre u mpetrarquista   qu inhent i s ta  o u   sobre   um árcade ,  pref ira temas comoP a v es e , Ba s s a n i . Sa n g u i n e t i . M u i l a s   vezes a   escolha nasce   d e  umavocação autêntica e é d ifíc il contestá-la.  O u t r a s v e z e s  nasce d a  falsaidé ia d e que  um autor  contemporâneo c m a i s  fácil e  m a i s  a gradáve l .

Digamos desde já que o  autor contemporâneo é   sempre  rnais difí

ci l  É   certo  qu e  geralmente  a  b ib l iog ra f i a   c  mais reduzida , o s   textossão de  mais  fácil  acesso,  a  p r ime i ra  documentação pode  s er   c on s u l tada  à  beira-mar. c o m  um bom romance nas  mãos , em ve z de   fechado

numa b i b l i o t e ca . M a s . o u   queremos fazer uma  tese   r emendada, repe t indo s imp lesmente   o que  d i sseram out ros   cr íticos e então nào hámais nada  a   d i z e r  (e . se  quiser mos, podemos fa/cr   u m a   lese aindamais  remendada sobre um petrarquista  do s é cu lo xv i ) . ou   queremosd i ze r a lgo  d e   novo.  e en ião   apercebemo-nos  de qu e   sobre   o   autoranligo existem pelo menos chaves interpretat ivas seguras   às   qua isnos podemos referir, enquanto para  o  au tor moderno  as opiniões sãoa inda  vagas  e  d i scordantes , a  nossa capac idade   crítica é  falseada pela

falta  d e  p erspec t iva ,  e   tudo  se   toma demas iado  difíc il.

E   indubitáve l que o  au tor an l i go  impõe u ma  l e i tu ra mais  futi-

gante , uma pesqu isa  bibliográfica   mais atenta   (mas os títulos estãomenos dispersos  e   ex i s t em  repertórios bibliográficos já   comple ios ) ;ma s  se se   entende  a   tese   como  ocasião  para ap render  a   f aze r u m ainves t igação, o  a u t o r a n t i g o  p õe   m a i s p r ob l e m a s   de preparação.

Se . além  d i sso,  o estudante  se  sent i r inc l inado para  a crítica  contemporânea, a   tese   pode  ser a última ocasião de   abordar  a   l i teramrado passado, para exercitar   o s eu  gosto e   capacidade   de   l e i tu ra . Ass im.

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ser ia bom aprove i i a r es la opor tun idade . Mu i tos  d os  grandes escritorescontemporâneos, mesmo de vanguarda, n ão   fizeram leses sobre Montaleou  Pound . mas sobre Da ntc o u  Foscolo. E  claro que não  existem regrasprec i s as : u m b om  invest igador pode con duz ir uma análise histórica ouestilística  sobre um autor  contemporâneo co m a   mesma profundidadee precisão filológica com que  trabalha sobre  u m   antigo.

Além   d i s s o , o   p rob lema var ia   d e  d i s c i p l i n a p a ra  d i s c i p l i n a . E mf i losofi a t a lvez pon ha mais p rob lemas  u m a  t ese   sobre I lusser l  d oque uma  t ese   sobre Descartes   e a r e lação ent re  « f a c i l i da de » e « l e g i b i l i da de »  inver te - se :  lê-se   me lhor Pasca l d o q u e  C a m a p .

Des te modo.  o único   conse lho  qu e   verdadeira mente pode rei  d a ré o   segu inte :  t rabalhai  sobre um contemporâneo como  se fosse  umantigo  e sobre um ant igo como se  fosse  um contemporâneo-  S e r -

-vos-á   mais  agradável e   fareis   u m  t raba lho mais  sério.

I T . 4 . Q u a n t o t e m p o  é  p r e c i s o p a r a f a z e r   u m a  tese?

D igamo- lo desde logo:  nã o mais  de três  anos ,  n em men os de   seis

meses , N ão   mais  de t rês anos ,  porque   se em três  anos   de   i raba lho

não se   consegu iu c i rcunscrever o   tema   e   encont rar  a documentação

necessária,  i sso  só   pode s i gn i f i car  três  co i sas :

1)   escolheu-se uma  t ese   e r rada , super ior   às   nossas   forças;

2) é -se um   eterno descontente  qu e   quer d i ze r tudo,  e   cont inua-

-s e  a  t raba lhar  n a  tese   durante v in te anos enquanto   u m   es tu

d i os o hábi l deve se r  capaz  d e  f i xar a s i mesmo l imi tes , mesmo

modestos,  e   p rod uzi r a lgo  de  d e f in i t i vo dent ro desses l im i tes ;

3) teve in íc io a neurose da tese. e l a é  abandonad a, re tomada, sen

t imo-nos falhados, entramos   n u m   es tado  de depressão,   u t i l i

za m os  a   tese   como  álibi de   mui tas cobard ias . nunca v i remos

a   l i cenc iar -nos .

Não men os de   seis  meses ,  porque mesmo  qu e s e  que i ra f aze r   o

equ iva lente  a u m b o m  a r t i go  d e   r ev i s ta , que não  t enha mais  d e   ses

senta  páginas , entre   o  es tudo  d a organização do  t raba lho, a  p rocura

de b ib l iog ra f i a ,  a elaboração de   f ichas   e a r edacção do   texto pas

sa m  faci lmente seis meses.  E   c l a r o q u e u m  es tud ioso mais maduro

escreve um ensa io  e m   menos tempo: mas t em atrás de  s i anos e   anos

de le ituras, d e   f ichas  e d e   apontamentos ,  qu e o  es ludante   ao invés

deve   f aze r  a  p a r t i r d o   zero.

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Q u a n d o  se   f a la   de   seis meses   ou (rês   anos . pensa- se . ev idente mente , não no  t empo  da r edacção d e f i n i t i v a , qu e  pode l evar um  mêsou   qu inze d ias . consoante  o método co m que se   t ra ba lhou : pensa-se   n o l a p s o d e  t empo  qu e  mede ia ent re a formação da p r ime i ra  idéiada   t ese   e a   ent rega   f ina l  d o   t raba lho.  A s s i m ,  pode haver  u m  estudante  q u e  trabalha efect ivameme na  tese  apenas durante um  a n o ma saprove i tando  as idé ias e as  l e i tu ras  qu e . s e m  saber aonde chegar ia ,t inha  a c u m u l a d o n os  dois anos p recedentes .

O i d e a l , n a  minha op inião, é escolher  a  tese  (e t>  respect ivo orie nt ad o r )  m a i s   ou menos no  f inal  d o  segundo  an o da   universidade.N e s t a  altura   está-se já   f a m i l i a r i z a d o com as várias ma térias,   conhe-cendo-se  o conteúdo, a   d i f i cu ldade e a s i tuação das  d i s c i p l i n a s  e mqu e a i n d a   não se fez   e xa m e .  U m a  e s c o l h a   tã o  t e m p c s l i v a   não é

nem comprometedora   ne m ir remediáve l .  Tem-se a inda lodo  u m a n opara   compreender  que a idé ia e ra  e r rada   e   m u d a r o   t e m a .  o  o r i e n tador   ou   mesmo  a   d i s c i p l i n a .  Repare - se   qu e   mesmo  que se   passeu m  a n o a  t raba lhar numa  tese  d e  l i t e ra tura g rega para depois  se  v e r i ficar que   se   p re fe re uma  t ese   cm história contemporânea,  i s s o  nãofoi   d e   modo nenh um tempo perd ido: pe lo menos aprendeu-se   a   forma r uma b ib l iog ra f i a  p r e l imina r , como  pô r  um texto  e m   ficha, comoelaborar  um sumár io.  Recorde- se  o qu e  d i ssemos  no parágrafo I .3.:u ma   tese   se rve sobre tudo para ap render a  coordenar  as idé ias , i n d e pendentemente  d o s e u  t ema.

E s c o l h e n d o a s s i m a  t ese  p o r  a l tu ras  do f im do   segundo ano. têm--se   três verínrs  para ded icar  à investigação c, na  m e d i d a   do possível,a  v i agens   de   es tudo; podem escolher - se   os  p r og r a m a s   de   examesperspect ivando-os para   a tese , E   c l a r o que sc se   f izer uma  t ese  d ep s i c o l og i a  e x p e r i m e n t a l ,  é difíc il  p erspec t ivar nesse sent ido u mexame  de   l i tera iura  la t ina ; m a s  c o m  mui tas out ras  matérias de carác-le r  f ilosófico e socioló gico   pode chegar-se   a  a c o r d o  c om o  docente

sobre a lguns t extos , t a lvez   em subst i tu ição d os obr iga tór ios , quefaçam   inser i r a matéria d o  exame  n o âmbito d o  nosso interesse dominante . Qu ando i s to é possível  sem espec iosa   v iolentação ou  truquespuer is ,  um docente intel igen te prefere sempre  q u e  um es tudante p re pare um exame   «mot i v a do » e   or i entado, e não um  e xa m e   a o   acaso,forçado,  p reparado  sem pa ixão, só  para u l t rapassar  u m  e s c o l h o qu enão sc pode e l iminar .

E s co l h e r  a   t ese  n o f i m d o   segundo  a n o  s i g n i f i c a   te r   t empo  atéO u t u br o  d o quar to  a n o  para  a   l i cenc ia tura dent ro d os  l im i tes idea i s ,com dois anos comple tos   à disposição.

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N a d a   impede  que se  e s c o l h a  a  t ese  antes d i sso. Nada impede  qu ei s so  aconteça   d e p o i s ,  se se   ace i t a r   a idé ia de   ent rar  já no per íodoposter ior a o  curso . Tudo desaconse lha a  escolhê-la  d emas ia do tarde .

At é  porque   u m a b o a  t ese   de v e s e r  d i scut ida passo  a  p a s s o c o mo  or i entador ,  n a   med ida   do poss íve l . E   isto  nã o   tanto para   mit i f i

ca r  o   docente ,  ma s  porque escrever u ma  t ese   é  como escrever   u ml i v r o ,  c u m exercício de comun icação que pressupõe a existênciade um público — c o  or i entador é a única  amost ra  de público   competente   d c qu e o   es tudante  d i s põe n o d e c u r s o  do s e u  t raba lho.  U m atese   fciia  à última   hora obr iga   o   or i entador   a  p ercorre r rap idamenteos diversos   capítulos ou   m e s m o  o   t raba lho j á   fe i to.  Se for   este   ocaso.  c se o   or i entador  n ào   f i car sa t i s f e i to c o m o   r esu l tado, atacaráo   cand idato peran lc  o júr i , com   r esu l tados  desagrad áve is ,  mesmo

para s i própr io, que   nunca   d ever ia ap resentar - se   c o m  u ma   tese  qu enão lhe  a g r a d e :  é u ma  d er rota   também   para   e le . Se   p ensar  que ocand idato   nã o   consegue engrenar   n o  t raba lho, d e v e  d i ze r - lho antes ,aconse lhando-o   a   f aze r uma out ra  tese  o u a  esperar um pou co mais .

Sc   d epois   o   c a n d i d a l o . não  obs tante es tes conse lhos ,  ins is t i r e m qu eo   or i entador  não tem razão ou que  p a r a  e l e o   factor tempo  é  fun

damenta l ,  enfrentará   i gua lmente   o   risco  de uma discussão  tempes

tuosa ,  m a s a o   menos   fá-lo-á com  p l e n a   consciência da situação.

De todas estas   observações se   d e d u z  qu e a   tese   de   seis meses,embora   se  admi ta como mal menor , n ão  r ep resenta   o  i d e a l ( a   menosque. como  se   d i sse ,  o  t e m a e s c o l h i d o  nos últimos   seis meses per

mita   ap rove i tar  experiências  e f ec tuadas  n os  anos anter iores ) .

Todavia , pode haver casos d e  necessidade em que seja preciso resolver tudo e m  seis meses. Trata-se  então de  encontrar um tema  q u e  possaser abordado  de   modo d igno  e sério  naquele  p e r íodo dc ( empo. Nàogostaria q u e   toda esta  exposição   fosse tomada num sentido demasiado«comerc ia l " ,  como  se estivéssemos a   vender  «teses de   seis   meses» e

«teses d e três anos », a preços d iversos e  para todos o s   tipos  d c cl iente.M a s  a  verdade  é  qu e  pode h aver   também  um a boa   tese  d e  seis meses.

Os requ is i tos d a  tese   de   seis meses   são os   segu intes :

1 ) o   t ema   de v e s e r   c i r cunscr i t o :

2 ) o   t ema   de v e s e r   t anto quanto  possível contemporâneo,  p a r anão te r de se   p rocurar uma b ib l iog ra f i a   qu e  remonte   a os   g re gos :   o u então deve se r um  t ema marg ina l , sobre   o   q u a l  set enha  escr i to mui to pouco;

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3) os  documentos  d c  i odos  os   t ipos devem encont rar - se d i sponíveis n u m a  área  restrita e  poderem  se r  faci lmente cons ultados.

Va m os  d a r   alguns exemplos.  Se   escolher como tema   A   igreja   d eSanta Maria   d o  Castelo  d e  Alexandr ia,  posso esperar encontrar tudoo   que  m e  s i rva para  reconst i tuir a  su a  história e  as vicissitudes dos seusres tauros  n a  b i b l i ot e c a m u n i c i p a l d e  A l e x a n d r i a   e nos  a rqu ivos d ac idade . D igo  «posso esperar » porque estou  a  formular uma  hipótese eme coloco nas condições d e  um estudante que procura u ma  tese  d c seismeses.  M a s  terei  d e   informar-me sobre isso antes   de  a r rancar com oprojecto, para veri f icar s e a  minha hipótese é válida. A lém  d isso, tereide   se r  um estudante q u e  reside   na provínc ia d e  A l e x a n d r i a ; se  residocm Caltanisset ta. t ive uma  péssima id éia. Além  disso, existe um «ma s » .Se alguns documentos fossem acessíveis, mas se se tratassem de manuscritos medievais jama is pu bl icados, ter ia de saber  a l guma coisa de paleo-graf ia, ou seja, de dominar uma  técnica de  leitura e decifração de manuscr i t os . E e i s qu e  e s t e   terna, q u e  p a r e c i a   tão fácil, se   torna   d i f íc i l .Se, pelo  contrário, veri f ico  que eslã   tudo publ i cado,  pelo menos desdeo século  XTX para  cá ,  movimento-mc  e m   terreno seguro.

O u t r o  exemplo. Ra f f ae le  L a   C a p r i a  c u m  escr i tor  contemporân eo  qu e s ó  escreveu   três   romances  c u m  l i v ro d e   ensa ios , Foram to dos publ icados pe lo mesmo ed i tor , Bompia n i . Imag inemos uma  teseco m o título A sor te de  Raffaelle  lu i ( .'apr ia na cr ítica   italiana   contemporânea ,  C o m o  d e u m a  mane i ra gera l  os  ed i tores   lêm nos  seusarqu ivos  o s  recortes  d e   imprensa  d e  todos  os  ensa ios  cr ílicos e   art i

gos publ icados sobre   o s   seus autores,  c o m u m a  serie   d e   v i s i t as  àsede   d a  ed i tora  e m M i l ão posso esperar   pôr em   f ichas   a  quase total idade  d os   textos   qu e me   in te ressam. Além   d i sso, ò   a u t o r está   v ivoe   posso escrever- lhe  ou ir entrevistá-lo,  colhendo out ras  ind icaçõesbibliográficas c. quase   d e  ce r t eza ,  fotocópias de   textos   q u e m e  in te r e s sam.  N a t u r a l m e n t e ,  u m  dado ensa io   cr ítico remeter-mc-á   para

outros autores a qu e L a  C a p r i a  é  comparado ou contraposto. O   campoalarga- se  u m  pouco,  m a s d c u m  modo  r a zoáve l . E . d e p o i s ,  sc  escol h i   L a   C a p r i a  é   porque   já   l enho a lgum inte resse pe la l i t e ra tura   ita

l i a n a  contemporânea, de   ou t ro modo  a dec isão  t e r i a s ido tomadac in icamente ,  a  f r io .  c a o  mesmo tempo imprud enteme nte.

Out ra   t ese   de   seis meses:  A in te rp re tação da   Segunda Gue r raMundia l  no s   manuais  de H istó r ia  para  a s   escolas  secundár ias doúltimo qüinqüênio.   E   t a lvez  u m  pouco compl icado de tec tar todosos manuais dc H is tór ia cm c ircu lação, mas as  editoras e scolares   não

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são  tantas como isso. U ma   ve z  na posse   d os  textos   ou  das suas fotocópias, vê-se qu e  estes assuntos ocupam poucas  páginas c o   trabalhode  comparação  pode ser feito,  e  bem. e m  pouco tempo. E videntemente,não sc pode ava l i a r a forma como um manual f a la da Segun da  Gue r raM u n d i a l sc não  compararmos esle tratamento  específico  c om  o   quadrohistórico   geral que esse manual o ferece ;  e.  portanto, tem   de   trabalhar--se   u m  pouco  e m  p rofund idade .  Também não se  pode   começar semler admit ido como  parâmetro   uma meia   dúzia de histórias   ac red i ta da s d a  Se g u n d a G u e r r a  M u n d i a l .  É  c la ro que  se eliminássemos   todasestas forma s  de  cont rolo c r i t i co, a   tese   poderia fazer-se   não em  seismeses   ma s  nu ma semana, e então não se r i a uma  tese  d e   l i cenc ia tura ,ma s  u m  a r t i go  de   jornal, talvez, arguto  e   b r i lhante , m a s  incapaz  d edocumentar   a  capac idade  d e inves t igação do  can d idato.

Se   se   qu iser f aze r  a   lese  d e   se i s meses ,  ma s   t raba lhando ne laa ma  h o r a p o r  d i a . então 6  inútil c on t i n u a r a   falar. V oltemos   a os  c on selhos dados  no parágrafo 1.2:  cop iem  u m a  tese   qua lquer e   pronto.

11.5.  E necessár io   s a b e r  l ín gu a s   e s t r a n g e i r a s ?

Es t e parágrafo n ão se d ir ige àqueles que  p reparam uma  tese  n u m al íngua ou  l i t e r a t u r a e s t r a n g e i r a .  E , d e   facto.  dese jáve l que   estesconheçam a língua   sobre   a   qual  vã o  ap resentar  a   tese.  O u  melhor,ser ia  desejável  que. se se  ap resentasse u ma  t ese  sobre um autor francês, esta fosse escrita   em francês . E o que se faz em   mui las  un i

vers idades es t range i ras ,  e é jus to.

M a s ponhamos  o  p rob lema daque les   qu e  f azem uma  tese  c m   f i loso f i a ,  e m  s oc i o l og i a ,  em jurisprudência, em ciências políticas, emhistória ou era ciências n a tura i s . Surge sempre  a  necess idade  de le rum   l i v ro escr i to numa  língua   es t range i ra mesmo  se a  t ese   fo r   sobre

história  i t a l i ana , seja   e la  sobre Da nte  o u  sobre  o  Renasc imento, dadoque i lustres especia l istas   de   D a n t e  e d o  Renasc imento escreveramem   inglês ou alemão.

Habi tua lmcn le , nestes casos a proveita-se   a oportunidade d a tese  paracomeçar a ler  numa  língua qu e não se conhece. Mot ivado s pelo temae  com um pequeno  esforço, começa-se a   compreender qualquer coisa.

Mu i t a s   vezes  urna   língua   aprende-se ass im. Gera lmente depois   não seconsegue  falá-la mas   pode-se  lê-la. E  melhor que nada.

Se sobre um dado tema existe   só  um l ivro e m alemão e não se   sabeesta   língua,  pode resolver-se   o  p rob lema ped indo  a alguém  para l e r o s

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capítulos considerados mais importantes; haverá o  pudor de nào  basear

demas iado  o   trabalho naquele l ivro mas, pelo menos,  poder-se-á   l eg i

t imamente   integrá-lo   na bibliograf ia, uma  vez que fo i  consultado.

M a s  todos estes problemas   são secundários. O   p rob lema   p r inc i

pa l  é o   segu inte :  preciso  d e   escolher  uma tese que não  implique  oconhecimento   de l ínguas que não se i ou que não estou  disposto  aaprender .   E por v e z e s  escolhemos uma  t ese   s e m  saber o s   riscos  qu e

i r emos corre r . Ent re tanto, ana l i semos a lgun s casos  impresc indíve is :

1 )  Não se pode   fazer  uma tese sobre um auto r  estrangeiro  sees te auto r   não for  l ido  no   originai  A   coisa parece evidente  se se  t ra

ta r d e u m  poeta,  m a s  mui tos pensam  qu e  para uma  tese   sobre Kant .sobre Freud o u   sobre Adam  S m i lh   esla   precaução não é necessária.

Pelo contrário, é-o p or  duas r azões ;  antes d e  m a i s , n e m  sempre  estãot r aduz idas   todas   as   obras daque le au lor   c , po r  v e z e s ,  a ignorânciad e  u m  texto menor pode comprometer   a compreensão do seu  p ensamento o u d a  su a  formação   in te l ec tua l ; c m  segun do luga r, dado umautor,  a   maior par te   d a   l i teratura sobre   c ie está  g e ra lmente  na l íng u a   e m q u e   escreveu ,  e se o   au tor  está  t r a d u z i d o ,  n e m  sempre  oestão os  seus intérpretes;  finalmente, nem sempre as  traduções   reproduzem f i e lmente   o   p ensamento  d o   autor, enquanto fazer uma   t eses i gn i f i ca   jus tamente redescobr i r   o   seu pensamento or i g ina l p rec i sa mente onde  o   f a l searam a s traduções ou d ivu lgações de vár ios gêneros;  fazer uma   tese  s i g n i f i c a  i r a lém d as fórmulas   d i fund idas pe losm a n u a i s escolares , d o   t ipo  «Foscolo é clássico e   L e op a r d i é românt ico» o u «P la tão é  i d ea l i s ta  e Ar is tóte les r ea l is ta » ou , a i n d a ,  «Pasca lé  p e lo  coração e   Descar tes pe la   r a zão » .

2 )  Não se pode  fazer  uma tese sobre um tema se as   obras maisimportantes   sobre ele estão  escritas numa   l íngua que não conhe

cemos.   U m  es tudante  qu e   soubesse op t imamente   o alemão c nãosoubesse   f r ancês , não   p o d e r i a   na prát ica   f a z e r  u m a  t e s e   sobreN i e t z s c h e . qu e .  n o  entanto, escreveu  e m a lemão: e   isto porque  de hádez anos para  cá   algumas das mais importantes  análises dc   N i e t zscheforam escritas em francês, ü  m e s m o  se  pode d i z e r para   F rcud : se r i adifíc il  reler  o  mestre vienense   s e m l e r e m   conta   o qu e  nele leramos rev i s ion is tas amer icanos   c os  estrutura listas  franceses.

3 )  Não se  pode  fazer  u m a  lese  sobre um  auto r  ou sobre um temal endo  apenas  a s  obras escritas  nas l ínguas que conhecemos,  Q u e m

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n os   d i z q u e a obra dec is iva   não está escr i t a  na única língua que nàoconhecemos?  É  certo  qu e  esta ordem  de considerações   pode condu

z ir   à  neurose ,  e é necessário   proceder  c o m b o m  senso.  H á  regras  d ehones t idade  científica   segundo  a s  qua is  é lícito, se   sobre   u m  autoringlês   t iver sido escrito algo  e m ja pon ê s ,  observar qu e se  conhece  aexistência   desse estudo  mas que não se  pode   lê-lo.  Esta   « l icença dei gn or a r »  abarca gera lmente  as línguas nào  oc identa i s  e as l ínguases lavas ,  d c modo  que há  estudos extremamente  sérios   sobre Marxque admi tem  não ter   t ido conhec imento  d a s  obras  e m   russo.  M a snestes casos  o   es tud ioso  sér io   pode sempre saber   (e   mostrar saber ío qu e  d i sseram em síntese  aque las obras , dado qu e s e  podem en contrar recensões ou  extractos com resumos. Geralmente as revistas científicas soviéticas, búlgaras, checas, eslovacas. israe l i tas, e t c , forneceme m  rodapé r esumos  d os  art igos  e m inglês ou francês . M as se se  t ra

ba lha r  sobre  u m  autor  francês,  pode  ser líc ito não   saber russo,  ma sé indispensável ler   pelo menos   inglês   para contornar   o obstáculo.

A s s i m ,  antes  de  estabelecer  o   tema  d e   uma tese, é n ecessário tera prudênc ia d e  dar uma vista  d e  o lhos pe la b ib l iog ra f i a ex is t ente parater   a   certeza   de que não há  d i f i cu ldades  lingüísticas   s i gn i f i ca t ivas .

Cer tos casos s ão  a p r ior i   ev identes .  E imposs íve l  ap resentar umatese  e m   filologia grega   s e m   saber  a lemão,  dado  qu e  nesta   línguaexistem muitos estudos importantes   na matéria.

E m  qua lquer caso.  a   t ese   se rve para obter umas   noções   t e rmi -nológicas  gerais sobre todas   as línguas   oc identa i s ,  u m a v e z q u e .mesmo  que não se   le ia russo, é necessário   estar pelo menos   e m  c on dições de   reconhecer  os   caracteres  c ir ílicos e   p erceber  s e u m  l i v rocitado trata  de  arte ou de c iência . Le r o  c irf l ico aprende-se num  serãoe   basta confrontar alguns  títulos  para compreender que  iskusstvo  s i g

n i f i ca  arte  e   nauha   s i g n i f i c a   c iência. E   p rec i so  não nos   d e ixarmosater ror i zar :  a  lese   de v e s e r  entend ida como uma  ocasião única  parafazermos   u m exercíc io que nos se rvirá  pela vida fora.

Todas estas observações não têm em  conta  o   facto  dc qu e a  melhorcoisa   a  fazer,  se sc  qu iser abordar uma b ib l iog ra f i a es t range i ra ,  é i rpassa r  a lgum tempo  no pa ís e m ques tão: mas  i s to  é um a soluçãoca ra .  e   a qu i p rocuramos da r conse lhos   qu e   s i rvam  também   para   osestudantes  que não têm   es tas poss ib i l idades .

M a s  a d m i t a m os   u m a ú lt ima h ipó te s e , a   m a i s c on c i l i a d o r a .Su p on h a m os  qu e h á u m  estudante   qu e s c  interessa pelo problemada   pe rcepção   v isua l  ap l i cada   à temática das   artes. Este estudante

nã o   sabe  l ínguas   estrangeiras  e não tem tempo para  a s   aprender

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(o u   le m   bloqueios  psicológicos: há  p essoas   qu e   ap rendem  o   sueconuma  semana   e   outras  qu e e m  dc/ anos  n ào   conseguem fa lar razoavelmente   o francês) . Além   d i s s o ,  l e m de   ap resentar ,  p or   motivoseconômicos , uma  lese  e m   seis meses. Todavia,  está   s incerameniein te ressado  n o s e u   l ema. quer t e rminar   a   un ivers idade para t rabalhar,  m a s  d epois t enc iona re tomar  o  t ema escolh ido  e aprofundá-locom mais ca lma. Temos lambem  d e   pensar nele.

B o m . este   estudante pode encara r um tema   d o  l i po  Os   problemasda   percepção  v isual  na s  suas  r e lações com as  a r t es f igurativas  cmalguns  au tores  con temporâneos .  Será opor tuno  traçar, antes d e  mais ,u m  quadro  da problemática psicológica no  tema,  e   sobre isto existe

um a  sér ie de  obras t raduzidas  e m  i tal iano, desde  o  Occhio e   cervel lode Gregory   a té aos   textos maiores  d a  p s icolog ia   d a   forma   e d a  p s i

colog ia t ransacc iona l . E m  seguid a, pode focar-se   a temática de trêsautores , d igamos Arn he im, para  a   abordagem ges ia l t i s ta . Go mbr ichpara   a semiológico-informacional e   Panofsky para  o s  ensaios sobrea  perspectiva   d o  ponto  d e  v ista  iconológico.  Nes tes  três  autores  d i s

cute-se, corn base   em três  pontos  d e  v i s ta d i f e rentes ,  a relação   entrena tura l i dade e «cu ltura l idad e » da percepção das imagens . Para  s i tuarestes  três  au tores n um panorama  d e   fundo, h á  a lgumas obras d e  conj u n t o ,  p o r  exemplo,  os   l i v ros   d e   G i l l o  Dor f l es .  U m a v e z t r aç ada scsias  três  p erspec t ivas , o  estudante  poderá   ainda tentar reler  os  dadosproblemáticos  obtidos  ã l u z d e u m a  obra   de   arte part icular, reformulando  eventualmente uma  interpretação clássica (p or   exemplo,  omodo como Longhi  anal isa  P i e ro de l i a  Francescaí e   comple tando-aco m  os  dados mais  «contemporâneos» que  Tecolheu. O   produto  f inal

não terá  nada  d e  o r i g i n a l ,  ficará a   me io caminh o ent re  a   tese  p a n o râmica c a   tese mon ográfica. ma s terá  s ido  possível elaborá-lo combase em traduções   i ta l ianas. O   estudante  não será  censurado  por nàoter l ido  todo   o   Panofsky . mesmo  o que   existe apenas e m a lemão ouinglês,  porque   não se tratará de uma  tese   sobre   Panofsky ,  m a s d i urna  tese   sobre  u m  p rob lema, e rn que só se  recorre  a  Panofsky para

u m  determinado aspecto, como  referência a   a lgumas questões.

C o m o  já se  d i sse  no parágra fo   I I .1, este  t ipo d e   lese   não é o  maisaconselhável,   dado  que se   corre   o  risco  de s e r   incomple to  e genér ico: f ique claro  que se   trata   d e u m  exemplo  d e  t ese   d e   seis mesespara   estudantes urgentemente interessados   e m   acumular dados p re l imina res  sobre   u m  p rob lema pe lo qua l s in ta m uma atracçào  espe

c ia l .  Trata-se  d e u m  exped iente ,  m a s  pode  se r  r esolv ido pe lo menosde uma mane i ra d igna .

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De qua lquer modo.  se não se  sabe   línguas  es t range i ras  c se não

se pode aproveitar  a  preciosa  ocasião  da  tese  para  começar a a preudê-

-las, a solução  mais razoável é a  lese sobre um lema especif icamente

i t a l i ano e m que as r e fe rênc ias à  l i t e ra tura es t range i ra possam ser   e l i

m i n a d a s  ou   r e s o l v i d a s r e c o r r e n d o  a   a lguns t extos   j á  t r a d u z i d os .

Ass im,  quem quisesse fazer  u m a  tese   sobre  Mode los  d o  romancehistór ico nas   obras narra tivas  d e   Gar ibaldi .  d e v e r i a   te r   a lgumas

noções básicas  sobre  a s  or i g ens  d o romance  histórico e   sobre Walter

Scot t ( a lém  d a   polêmica   o i locent i s i a  i t a l iana   sobre  o  mesmo assunto,

ev identemente ) ,  m a s  poder ia encont rar a lgumas obras  d e   consu l ta

n a   nossa  língua e   ter ia  a  p os s i b i li d a d e  de l e r e m   i tal iano pelo menos

as obras mais importantes d c Wa l t e r Scot t . sobre tudo p rocurand o na

bibl ioteca   as   traduções   oitocentistas. E  a ind a menos p rob lemas por ia

um   t ema como  A   influência de   Guerrazzi  na   cultura   d o  ressurgimento  italiano.  I s to. ev iden iemente ,  s e m   nunca   par t i r de u m op í i-

mismo preconcebido:  e valerá a  p ena   consulta i1 b e m a s  b ib l iog ra f i as ,

para   ve r se   houve au lores es t range i ros ,  e   qu a i s , qu e   tenham abor

dado  este   assunto.

11.6. Tese  « c i e n t í f i c a » ou  t e s e   pol í t ica?

Após a conies iação  es tudant i l d e   1968 . mani f es tou-se  a opin ião

de   que não se dever iam fazer teses  de   temas   «cu ltura is » ou  l i v res -

eos.  m a s s i m  l i g adas  a  d e te rminados in te resses   políticos e   soc ia i s .

Se   é  es la   a questão, então o título do   presente   capítulo é   p r ov oc a -

tório e   enganador , porque   fa z   p ensar qu e u ma  lese  «p ol í t ica » não é

« c i e n t í f ic a » . O r a , n a  un ivers idade f a la - se  freqüentemente d a ciên

c ia ,  d e   c i ent i f i c idade . d e inves t igação c ient íf ica , d o  va lor  c ientífico

de   u m   trabalho, e  este   termo pode  d a r  lugar quer a equívocos   i n v o

luntários,   quer  a mis t i f icações ou a   suspe i tas   i líc itas de   e m b a l s a -mamemo  d a   cultura.

IT.6.1. Que é a   cientif icidade?

Para  a l g u n s , a ciência   i d ent i f i ca - se  com as c iênc ias   na tura i s ou

co m  a inves tigação em  bases quant i t a t i vas : uma   investigação não é

científica se não   p rocede  através de fórmulas e   d iag ramas. Nes ta

acepção,  por tanto,  n ão   se r i a  c ientífico  ura estudo sobre  a  mora l e m

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Aristóteles, mas também não o   se r i a   u m   estudo sobre   consciênciade c lasse  e   r evol tas camponesas durante   a   r e forma p rotes tante .Ev identemente ,  nào é este  o  sent ido  que se dá ao  termo  «c ient í f ico»na  un ivers idad e . Procuremos, pois . de f in i r  a que t í tu lo um  trabalhopode d i ze r - se  c ientífico em   sentido lato.

O modelo pode muito bem ser  o  d as  ciências   naturais como foramapresentadas desde  o in ício da   i dade moderna. U ma pesqu isa  é  c i e n tífica   quando responde   a os  segu intes requ is i tos :

1 ) A   pesquisa   debruça-se   sobre   u m  objecto reconhe cível e definido  de ta l modo que   seja igualmente  reconhe cível pelos outros,O termo objecto  não  tem necessariamente um s ignif icado  físico. A  ra i zquadrada também é  um objecto. embora   nunca  ninguém a  tenha visto.

A classe social é u m objecto  de  estudo, ainda  que alguém  possa contesta r qu e s e  conhecem apenas   indivíduos ou m édias estatísticas c nãoc lasses p ropr iamente d i t as . M as .  então, também não   ter ia real idadefísica a  classe d e  todos  os números   inteiros superiores  a  3 7 2 5 , dc qu eser ia  muito na tu ra l q u e  u m matemático se  ocupasse . De f in i r o   objectos i g n i f i c a  ass im, de f in i r as  condições em qu e  podemos falar dele base-ando-nos   c m   algumas regras   qu e  esta belecemos  ou qu e  outros estabeleceram antes de nós . Se   f ixarmos  as   regras segundo  a s  qua is urnnúmero   in te i ro super ior  a  3725 possa   s er  reconhecido onde quer  qu ese encontre, teremos estabelecido  a s   regras  d e   r econhec imento  d onosso objecto. Surgem evidentemente problemas   s e , po r   exemplo,temos d e  falar d e  um ser fabuloso cuja inexistência é  geralmente reconhecida , como  o  centauro. Neste caso, temos   três  p oss ib i lidades .  E mprimeiro lugar, podemos decidir falar   d os   centauros tais como  sãoapresentados na mitologia   clássica e,  ass im, o  nosso objecto torna-sepubHeamente  reconh ecível e identificável, dado que trabalhamos  c o mtextos (verbais  ou  v i sua is ) e m  qu e  se  fala  d e  centauros. Trala-se entãode d i ze r qua is as carac te r ís t icas qu e deve te r um ser de qu e   fala   a

mitolog ia  clássica   para  q u e  seja   reconhecível  como centauro.

E m  segundo lugar, podemos ainda decidir levar   a   cabo uma   i n d a

gação hipolética   sobre  as características que  deveria   te r  u ma   criatura

que vivesse num mundo possível (que não é o real)  para poder ser umcentauro. Temos  então de  d e f in i r  as condições de subsistência   destemundo possível, sub l inhand o qu e  todo  o  nosso estudo  se  processa  n oâmbito  desta  h ipótese. Se   nos mantivermos rigorosamente  f ié is ao  p res suposto  in ic ia l ,  podemos dizer  qu e   falamos   de  u m  «ob jec to» que lemu ma   certa possibi l idade  de s e r  objecto  de investigação científica.

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E m  terceiro lugar, pode mos de cidir   q u e  t emos p rovas su f ic i en

tes para demonstrar qu e os  centauros exis t em,  d e   facto. Neste caso.

para   const i tu i r u m  objecto sobre  o   qu a l  se   possa trabalhar, teremos

de pro duz ir provas (esqueletos, restos d e  ossos,  impressões em  l avas

vulcânicas,   fotograf ias efectuadas   c o m   raios infravermelhos nos bos

ques   da Gréc ia ou  ou t ra coisa qua lquer ) ,  d e   modo  a qu e os  outros

possam admi t i r o  facto  d e , seja   a  nossa  h ipótese   correcta   ou  e r rada ,

haver algo sobre   qu e se   pode  discut ir .

É   c l a r o  qu e  este   exemplo  é  p a r a d oxa l  e não  c re io  que a lguém

que i r a   fazer teses sobre centauros, sobretudo  n o q u e s e  r e f e r e   à

t e r c e i r a a l t e r n a t i v a ,  m a s   p e r m i t i u - m e m os l r a r c om o,  e m   c e n a s

condições , se   pode sempre const i tu i r  u m  objecto  de inves t igação

publ icamente  reconhecível. E se se  pode  fazê - lo com os centauros .

mesmo  se poderá   d i z e r  de noções   como comportamento mora l ,desejos, valores  ou a idéia d o   progresso  histórico.

2 ) A   p esqu isa  de v e  d izer sobre esle objecio   coisas  qu e  não  tenhamjá   s ido di tas  ou  rever  c o m  u ma  óptica   d i fcrcnie coisas que  j á   foramditas. U m trabalho matematicamenle exacio   qu e  servisse para demonst rar  pelos   métodos   t rad ic iona is  o   leorcma   dc Pitágoras não   seria   u mtrabalho  c ient íf ico, u ma vez que não  acrescentaria nada   a os   nossosconhecimentos. Seria, quando muito, u m b om  t raba lho  d e   d i v u l g a ção, como um manu al  qu e  ens inasse a  construir uma casota para  cãout i l i zando madeira, pregos,  p l a ina , serra  e  mar te lo. Com o j á d i ssemosem   I.I.. também  uma lese d c compilação pode ser cienti f icamente útilna   medida   em que o   compi lador  reun iu   e   r e lac ionou   de   uma formaorgânica   as  opiniões já  expressas p or outros sobre  o   mesmo tema. D amesma maneira, um manual dc instruções  sobre como fazer u ma casota

para  cão não c   trabalho c ientífico, m as a uma obra   qu e  confronte  ediscuta  todos  os métodos  conhec idos para f azer uma casota para  cãopode  j á   atr ibuir-se uma modesta   pretensão de   c i ent i f i cidade .

Há só que te r   presente  u m a  c o i s a : u m a  obra   de compilação sótem uti l idade científica se não  ex i s t i r a inda nada  de   semelhante nessec a m p o .  S c ex i s t em  já   obras comparat ivas sobre sistemas para caso-ta s  dc cão.  f aze r uma i gua l  é  p erda   d e   t empo  (ou plágio ) .

3 ) A   pesquisa  deve  ser úti l ao s outros.  E út i l um  art igo  qu e  apresente uma nova descoberta sobre   o  comportamento das  pa rtículas   elementares.  E útil um  art igo  qu e   conte como  fo i  descoberta uma cartainédita d e  Leopard i e a  transcreva  p or  inteiro. U m trabalho é científico

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sc   (observados   os   requisitos expressos   n os  ponlos   I e 2 )  acrescentai'alguma   coisa  àquilo que a  comunidade  já  sabia  c se  iodos  os  tnibalhosfuturos sobre o   mesmo tema  o  t iverem, pelo menos cm   icor ia. d e  tomarem   consideração.  Evidentemente, a importância científica é   proporcio

na l  a o  g r a u   dc indispcnsabüidade que o   contributo exibe.  H á  cont r ibutos após os  quais  os  estudiosos, se nào os t iverem  e m  conta, não  podemdizer nada  d e   posit ivo.  E há  outros  que os  estudiosos  não f a r i am malem ter em conta mas, sc não o  fizerem,  não  vem mal nenhum  ao  mundo.Recentemente, foram publicada s cartas  qu e   James Joycc escrev ia   ãmulhe r  sobre escaldantes problemas sexuais. E   claro que alguém queamanhã estude a gênese da  p ersonagem de Mol l y B loom  no  Ulisses  deJoyce. poderá  ser ajudado pelo  faelo de saber que. na vida privada, Joyceatribuía à  mulher uma sexualidade viva  e  desenvolvida com o a  d c M o l l y ;i ra ia-se.  portanto, d e u m úti l  conlribulo c ientífico. Po r  outro lado. há

admiráveis interpretações d c  Ulisses  e m qu e a   p ersonagem M ol ly   éfocada   de  uma maneira corrccia mesmo  s e m se  terem  e m  conta aqueles dados; trata-se. portanto, dc u m  contributo  dispensável.  Pe lo contrário, quando f o i  publicado S tephen He iv .  a  pr imeira versão do  romancejoyc iano Retra to do  artista  quando jovem,  todos est iveram  d e   acordoque   e ra  essenc ia l lê-lo e m consideração para compreender  a evoluçãodo escritor  irlandês. Era um contributo  científico indispensável.

O r a . qualqu er um poderia revelar um desses documen tos que, freqüentemente, são   objecto  d e   i ron ia   a propósito dos r igorosíssimosfilólogos alemães, que se   chamam  «contas da lavade ira » , e que sãoefect ivamente textos  d e   va lor  ín f imo, em que   talvez  o  autor tenhaanotado as despesas  a   fazer naquele d ia. P o r  vezes, dados deste  gênerolambem   são úteis,  pois podem conferir um tom d c h u m a n i d a d e a  u m

artista   qu e  todos   s u p u n h a m i s o l a d o d o  m u n d o , o u  r eve lar  qu e  nesseper íodo e le  v iv i a assaz pobremente . Out ras  vezes, p e lo  contrário, nãoacrescentam nada   àquilo que já se  sab ia , sã o  p equenas cur ios idadesbiográficas e não têm  qua lquer va lor  c ientífico,  embora haja pessoasque ar ran jam fama   de   inves t i gadores  incansáveis   r eve lando semelhantes  inépc ias . Não que sc  deva desen corajar quem   se   d iverte  afazer semelhantes  investigações, ma s não se pode   f a la r d e   progressodo conhec imento humano e  se r i a mui to mais  útil. se não d o  ponto  d evista   c ientífico  pelo menos  d o pe da góg ico ,  escrever  u m b om   l i v r i -

n h o de divu lgação que  contasse  a  v ida  e  r esumisse a s  obras  d o autor.

4 ) A   pesquisa  deve fo rnecer  os e lementos para   a conf i rmação epara   a reje ição d as h ipóteses que  apresenta  c.  portanto, de v e   fornecer

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os elementos para uma  possível continuação pública. Este é  u m r e qu i sito fundamental. Eu posso querer demonstrar  q u e  existem centaurosno Pe loponeso.  ma s de v o   f aze r quat ro coisas p rec isas :  a )  p r od u z i rprovas  ( como  se  disse, pelo menos um osso  caudal ) ;b)  d izer como proced i para enconl rar o   achado; c )  d i ze r como  se   deveria proceder paraencontrar outros; d ) d i ze r poss ive lmente  qu e  t ipo d c osso ( ou de  outroachado),  n o  di a  e m q u e  fosse   encontrado, destruir ia  a  minha hipótese.

Deste modo,  não só   forneci  a s   p rovas   d a  minha  h ipótese , masproced i  d e  modo a qu e  ou t ros possam cont inu ar  a  procurar, seja pa raa  conf i rmar se j a para  a pôr em  causa .

O mesmo sucede   co m   qualquer outro tema. Admitamos   que façou ma   tese  para demonst rar   qu e  num mov imento ext rapar lamentar d e

1969 havia duas componentes, u ma  len in ista c  outra  t rotskista, emborase considere geralmente   que e le e ra homogêneo. T e n h o  d e   apresentardocumentos (panfletos, reg istos  dc assemblé ias ,  a r t i gos , e tc . )  p a r ademons l rar q u e  lenho  razão;  terei  de  d izer como procedi pa ra encon lrar  aquele material  e   onde  o   encont re i , d e  modo  qu e  outros poss amcont inuar  a   invest igar naquela  direcção; e   terei  de  d i ze r segundo  qu ecritério atribuí o   material d e  p rova  a  membros desse gru po. P o r  exemplo, sc  o grupo se  dissolveu  em   1970 , tenho de dize r se considero expressão do  grupo apenas  o   material teórico  produzido pelos seus membrosat é t a l da ta (mas ,  então, terei  d e  d izer quais  os cr itér ios qu e me   levama conside rar certas pessoas membros  d o  grupo:  inscrição, participaçãona s assembléias, suposições d a polícia? ) : ou se  considero a inda textosproduzidos p or  ex-membros  d o  g rupo após a  su a  dissolução, part indod o  pr incípio de  que .  s e   expressaram depois aquelas   idéias, isso  s i gn i fica que  já  as cult ivava m, talvez  e m  su rd ina , durante  o per íodo de  ac t i

vidade  d o grupo. S ó  desse modo  forneço aos  outros  a  possibi l idade  d efazer novas  investigações e de   mostrar,  p or  exemplo,  que as  m inhasobservações  estavam erradas porque, d igamos, nào se  pod ia cons ide

ra r membro  d o  grupo um fulano q u e  fazia parte  dele  segundo a políciama s   qu e  nunca   fo i  reconhecido como  t a l pelos outros membros, pelomenos   a  ava l i a r pe los documentos  de qu e se dispõe . Apresentámosass im u ma  hipótese, provas  e  processos d e confirmação e de reje ição.

Esco lh i p ropositadamente temas muito diferentes, justamente parademonst rar   qu e os  r equ is i tos   d e   ci ent i f i c idade podem a p l icar - se aqualquer t ipo  de investigação.

T u d o  o que  acabe i  de   d i z e r  re fere-se  ã opos ição   art i f icia l  entretese  «c ient í f ica » e   lese  « po l í t i c a » .  P ode   fazer-se  um a   lese  polít ica

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observando   Iodas a s  regras  d e  cientif icidad e  necessárias. Pode també m  haver uma  tese  q u e  r e la t e uma  experiência de informação   a l t e r na t i va  med iante s i s t emas aud iov isua is n u m a  c om u n i d a d e  operária:el a   será científica na  med ida  e m q u e  documentar  de   modo  públicoe controlável a  minha  experiência e  p ermi t i r a alguém refa zê-la   quer

para   obter  os  mesmos resu l tados , quer para descobr i r  qu e os   meushavi am s ido casua is  e nào  era m efect ivamente devid os  à  m i n h a  intervenção, mas a  outros factores  que nào  cons idere i .

0 aspec to pos i t i vo  dc u m método c ient í f ico é qu e e le  nunca   f a zperder t empo  a os  ou t ros : mesmo t raba lhar n a  es t e i ra   d e  u m a  h ipótese c ientífica, pa ra depois descobr i r que é necessário refutá-la.  s i g

n i f i ca  ter fe i to qualquer coisa  d c útil sob o   impulso d e  uma p ropostaanterior. S e a  minha  t ese  se rv iu para es t imular alguém a   fazer outras

exper iênc ias d e contra - in formação  entre  operários   ( m e s m o  se osmeus pressupostos eram  ingênuos ) ,  consegu i a lguma coisa   de útil.

Neste sent ido,  vê-se que não há oposição   entre   tese   c ientífica etese  pol í t ica . Por  um lado, pode d i ze r - se  qu e   todo  o   t raba lho c i entífico, na med ida  e m qu e  contr ibui  para  o d esenvolv imento  d o  conhec imento a lhe io,  te m   sempre  u m   va lor  pol í t ico   pos i t i vo  ( t e m   va lorpolítico   negat ivo toda   a acção que  t enda   a  b loquear  o   p rocesso  d econhec imento) , ma s . por out ro, d e v e  d i ze r - se  c o m   toda   a segurançaque qua lquer empreend imento  político  com poss ib i l idade d c sucessode v e t e r  uma base   de   seriedade  c ientífica.

E ,  como v i ra m, pode f azer -se uma  tese  «c ient í f ica »  mesmo  s e mu t i l i z a r  os   logar i tmos  o u a s   provetas.

II.6.2.  Temas h islór ico-teór icos ou exper iências «cfuentes »?

Nesta   a l tu ra , p orém, o  nosso problema   i n i c i a l  apresenta-se refor

mulado  d e  outro modo:  se rá mais  úii l fazer  uma tese de e rudição ouuma   tese   ligada   a exper iências práticas, a  empenlia mentos sociaisdirectos?  P o r   outras palavras,  será   mais   útil  fazer uma  tese  em quese fale  d c  autores célebres ou de   textos a ntigos,  ou  u ma  t ese  que meimponha   um a inte rvenção  d i rec ta   n a  eontempora neidad e. se ja estaintervenção d c ordem  teórica (por  exemplo:  o  conceito  de exploraçãon a   ideologia ncocapital ista) ou de   ordem  prática (por   exemplo: pes

quisa  da s condições dos  habitantes d e  barracas na peri feria   de   Roma)?

Só por  s i .   a  pergunta  é  oc iosa . Cada um  f a z   aqu i lo que lhe  agrada,e. se  um  estudante passou quatro anos a  estudar f i lo log ia   românica, n i n -

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guém  pode pretender que s e  ocupe dos habitantes das barracas,  tal comoseria  a bsurdo pretender u m acto d e «humildade acadêmica» da parte dequem passou quatro anos com Da nilo  D o l c i . pedindo-lhe uma  tese  sobreos  Reis  de França .

M a s  suponhamos   qu e a   p ergunta   é  fe i ta   p o r u m   estudante  e mcr i s e ,  qu e  pergunta   a s i  mesmo pa ra  qu e lh e  servem  os  estudos   un i

versitários e. espec ia lmente , a exper iênc ia da  l ese . Suponh amos  qu eeste   estudante tem interesses  p olíticos e  socia is acentuados  e qu e  t emet ra ir  a  s u a  vocação   d ed icando-se  a   temas   « l iv reseos » .

O r a , s e  e l e j a   se  encont ra mergu lhado  numa  experiência político--soc i a l  q u e l h e  d e ixa ent rever  a   poss ib i l idade d e d a í ext ra i r um  d i s

curso  conc lus ivo, se rá bom que  encare   o  p rob lema   d c  como tratarc i ent i f i camente  a   su a   experiência.

M a s  se  esta   experiência nào foi  fe i ta,  enlào  parece-me  qu e 3   pergun ta  exprime apenas  numa inquietação  nobre, mas  ingênua. D issemosjá qu e a experiência de investigação  imposta  p o r  um a  tese   serve sempre para  a  nossa vida   futura (p rof i ss iona l ou política) , c não tanto pelotema que se escolher quanto pela  preparação  que isso impõe , pela escoladc rigor, pela capacidade  d e organização do  material que e la  requer.

Paradoxa lmente , poderemos ass im d i ze r q u e u m  estudante  c o minteresses  políticos não os trairá se   f ize r uma  tese   sobre a recorrênci a   d o s   p r on om e s d e m on s t r a t i v os   n u m  e s c r i t o r  de botânica doé c u l o x v m . O u  sobre   a   teoria   d o impetus  n a ciência p ré-galilaica.

O u  sobre  a s  g eometr ias  nã o  e u c l i d i a n a s . O u  sobre  o  nasc imento  d od i re i to eclesiástico. Ou sobre   a  sei la  mística  dos hes icas tas 2. O u sobrea   m e d i c i n a   árabe   med ieva l .  O u  sobre  o   a r t i go  do cód i go de   d i re i topena l  r e la t i vo à agitação   na s  praças públicas.

Podem cu l t i var - se in te resses   pol í t icos , por  e xe m p l o s i n d i c a i s ,mesmo fazendo uma  b oa  tese  histórica  sobre   os   movimentos  operár ios do século passado. Podem compreender-se   as exigências   contem

porâneas de contra-informação jun to das classes subalternas estudandoo  est i lo, a difusão, as  modalidades produtivas das xi lograf ias popularesn o  pe r íodo do   r ena sc imento.

E .  para  s e r polêmico,  aconse lhare i  a o  estudante  que a té  hoje   sót enha  t ido ac t iv idade  política e  soc ia l , jus tamente uma des las l eses .

:  llesicasia  monge grego  dc uma seiia (sécs. xt-xiv) cujo fim  era o  dc viverdc acordo com as regras d c solidão  para atingir  a tranqüilidade cspiritti.il. Bascia--sc na  doutrina da  transfiguração  emanada da divindade, modificando  o aseeiismosinaita  c o  misticismo dc Simeãu. (NR)

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e não o   r e la to  d a s  suas experiências  d i rec tas , pois  é  evidente  qu e otrabalho d c lese será a última  oportunidade qu e terá para obter conhec imentos h istér icos, leóricos e técnicos c  para ap render s i s t emas d edocumentação (além de   ref lect ir  a   par t i r  d e u m a  base mais amplasobre   os  pressupostos teóricos ou históricos do  seu trabalho político) .

Evidentemente, esia  é  apenas a  minha opin ião. E p or  respeitar unia

opinião  diferente  qu e  me coloco no ponto de vista de quem. mergulhadonuma act ividade  política  queira  util izar a  tese  ern vista  d o  seu trabalhoc as suas  experiências d c trabalho político  para  a redacção  da tese.

Isto  é possível e   pode fazer-se   u m ópt imo  t raba lho;  ma s  de v od i z e r ,  c o m   toda   a   c la reza   c  sever idade , uma   sé rie d e  co i sas , p rec i samente  e m  defesa   d a  r espe i t ab i lidade   d e  uma in ic ia t i va deste t ipo.

Sücctíe po r vezes  qu e o  estudante atamanca uma centena de  páginas

qu e   reúnem   panfletos, reg istos  d e   debates,  descrições de   act ividadese estatísticas   eventualmente tornadas   de empréstimo dc um  trabalhoprecedente,  e   apresenta   o seu  trabalho como  t ese   «pol í t ica » . E  a c on

tece   p or  ve/cs  que o júri de  tese. por preguiça,  demagogia   ou  incompetência,   considera   o  trabalho bom. Trata-se, pelo   contrário, de umapalhaçada e não apenas relat ivamente  a os critérios universitários, masmesmo relat ivamente  aos cr itérios políticos. Há u m  modo  sér io e ummodo  irresponsável de  fazer  política. U m político que  d e c ida um p lanode desenvolvimento  sem ter informações   suf icientes sobre  a situaçãoda   sociedade  é,   quando  não um   criminoso, pelo menos   um pa lhaço.E   podemos  prestai' um  p éssimo serviço ao nosso part ido político  fazendo

u ma   tese  política destituída d e  requisitos  científicos.

Dissemos   e m   IT.6.1. quais  sã o   estes requisitos   e   como eles  sàoessenc ia i s para uma  intervenção política  séria.  U ma  v e z . v i u m   es tu dante q u e   fazia um exame sobre problemas   dc comunicação de  massas a f i rmar  qu e  hav ia f e i to  um « inquér i to» ao públ ico da te levisãoj u n t o d os  t raba lhadores d e  u m a d a d a zon a . N a  r ea l idade ,  t inha   inter

rogado,  d e   g ravador  e m  punho, uma  dúz ia d e   habitantes  do s subúrbios durante duas v iagens   de   comboio. Er a  na tu ra l qu e o qu e se  r e t i rava desta  transcrição de op iniões não  fosse um inquérito. E não  apenasporque  nã o  t inha   o s  r equ is i tos   d c  ve r i f i cab i l idade  d e u m inquér itodigno desse nome,  ma s também porque  os   resultados q u e  da i s e  t i r a

vam eram coisas  qu e podíamos   muito bem imaginar sem fazer  inquér i tos.  Para  d a r  um exem plo, pode pre ver-se. mesmo f icando sentadoà secretária, qu e, de   d o z e   p essoas ,  a   maior ia d iga   qu e  gosta   de ve ras  transmissões  d i rec tas dos  j o g o s d e   futebol.  A s s i m , ap resentar umpseudo-inquérito de   tr inta   páginas  para chegar  a  este   belo resultado

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é  u m a   palhaçada. E é o  es tudante qu e s e e n g a n a  a e le própr io  p ens a n d o t e r  obt ido dados  « ob j e e t i v os » ,  qu a n d o s e   l imitou  a  conf i rmarde uma forma aproximada   a s  s u a s opin iões .

O r a .  o  r isco da superf ic ial idade apresenta-se   e m  espec ia l  ãs   tesesde caracter  pol í t ico, por  duas  r azões : a )  porque  n u m a  tese h istóricaou   filológica   ex i s t em  métodos   t rad ic iona is  de inves t igação a que oinves t i gador   não se   pode subtra ir, enqua nto para trabalhos sobrefenômenos   soe ia i s  c m evolução   mui tas  vezes o m étodo tem dc se rinventado  ( p o r  este  mot ivo,  freqüentemente   u ma  b oa  t ese   política émais   d i f íc i l do que  u m a   tranqüila   t ese  h is tór ica );  b )  porque   muitametodologia da  investigação  s oc i a l «à amer icana» observou  os método s  estalístico-quantitativos,  p roduzindo es ludos enormes   que nãocon t r ibuem  para   a compreensão d os fenômenos   r ea i s  e , po r  conseqüência,  mui tos j ovens pol i t i zad os assumem  u m a  a t i tude  d e   d es confiança   r e la t i vamente   a  es ta soc iolog ia que , quando mui to, é  uma«soc iometr ia » ,  acusando-a  de   servir pura  e   s implesmente  o  s istema  deque const i tu i a  cober tura   ideológica :  contudo, para reag i r   a  este   t ipode  inves t igação  tende-se  p or  v e z e s a não   fazer  investigação a l g u m a ,t rans formando  a  tese   numa  seqüência dc  pa nf l e tos ,  d e  ape los  o u d easserções   meramente  teóricas.

C o m o  se  escapa  a  este   risco?   D e  muilas maneiras: analisando estudos   « sé r ios »  sobre temas semelhanles, não s c lançando  n um trabalhode   investigação   soc ia l  s e . p e lo menos ,  não sc  acompanhou   a  a c t i v i dade   de  um g rupo  já com  a lguma  experiência,  munindo-se d e   algunsmétodos d e  recolha  e análise do s  dados , n ão  contando fazer  e m  poucassemanas trabalhos de  investigação  que h abitualmente são  longos e difíceis. .. Ma s como  os  problemas variam segund o  os  campos,  os  temas  ea  preparação do  estudante — e não sc  podem da r conselhos  genéricos—   l imitar-me-ei a  um exemplo. Es colherei um tema «nov íss imo» , parao  qual parece   não  exist irem precedentes  de investigação, u m  tema  d eactualidade escaldante, de  indubi laveis  conotações políticas, ideológicas

c práticas — e que  muitos professores tra dicionalistas def iniram como«meramente orn alístico»: o fenômeno da s  estações  de rádio  independentes.

II.6.3.  C omo  Transformar  um   assunto  d a   actualidade  em   tema

científico

É   sab ido  qu e n a s  g randes c idad es su rg i ram dezenas  e   d ezenas

destas   estações, que há  d u a s .  três e   quatro mesmo  e m   centros   d e

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u ma   centena   d e   m i lhar d c ha b i tantes , q u e  e las aparecem  e m   toda   apar te . Q u e s ão d e   na tureza   política ou de  n a t u r e za c om e r c ia l . Q u etêm   p rob lemas l ega i s ,  mas que a leg is lação é ambígua c es tá emevolução, e   ent re  o   momento  e m qu e  e sc r evo  (ou faço a tese ) e omomento  e m q u e  este   l i v r o  fo r   publ icado  ( ou a   t ese   fo r   d i scut ida )a  situação ler-se-á já  alterado.

Terei pois. antes  d e  m a i s . d e  d e f in i r com  exactidão o âmbito geográfico e  t empora l  d o  meu es tudo. Poderá ser  apenas As rádios   livresde   1975 a 1976, mas terá de se r  comple to.  Se   d ec id i r ana l i sar ape na s  as rádios   m i lanesas . sej am  as rádios   m i lanesas , ma s  toda*;. D eoutro modo.  o m e u  es tudo  será   incomple to, uma   v e z qu e  pode  d a r --s e  o   caso  de t e r  d escurado  a rádio   mais s i gn i f i ea l i va quanto a   programas, índice d c audiência, composição   cultural d os  seus responsáveisou   loca l ização   (peri feria, bairros, centro).

Ad m i t a - s e  qu e  d ec id i t raba lhar sobre  urna   amost ra nac iona l d ctrinta   rádios : t e re i  d c  estabelecer  o s cr itér ios de  escolha   d a  amostrac,  se a  r ea l idade n ac iona l   é que  p a r a c a d a c i n c o  rádios políticas hátrês  comerc ia i s  (o u  para c inco  de  esquerda uma  d e   ext rema -d i re i t a ) .nã o  d evere i escolher  u m a  amost ra   d e   t r in ta   rádios em que   v in te  enove   se j am  pol í t icas e de   esquerda   ( ou   v ice-vers a), porque dessemodo  a  i m a g e m  qu e  do u  do fenômeno será à  med ida  d os   meus desejo s  o u d o s  meus temores   e não à  med ida  d a s i tuação  r ea l .

Podere i a inda dec id i r  (e   voltamos  à   t ese   sobre  a existência decentauros num mundo  poss íve l )  r enunc iar a o  es tudo  das rádios ta lcomo  são e.  pelo  contrário,  propor um projecto  d e rádio  l ivre ideal.M a s  neste caso, p o r u m  l a d o , o   projecto  tem de se r orgânico e  r ea l i s ta  (não   posso pressupor   a existência d e   apare lhos   que nào   ex i s te m  ou que não são acessíveis a   um pequeno g rupo p r ivado)   e . poroutro,  n ão   posso e laborar  u m  projecto id eal   s e m t e r e m   conta   a sl inhas  t endenc ia i s  do fenômeno   r ea l , pe lo  q u e . a in da nes te caso.  éindispensável um  es tudo p re l imina r sobre  as rádios   existentes.

E m  segu ida , devere i tomar   públicos os parâmetros de definiçãode   « rádio l iv re » , isto é . tornar publicamente   identificável o  objecto d cpesqui sa .

E n t e n d o po r rádio  l i v re apenas uma   rádio de  esquerda?   O u  umarádio  f e i t a   p o r u m  p equeno g rupo  em situação   s e m i l e g a l  e m   terr itór io  nac iona l ? O u u m a   rádio nào  d ependente  d o monop ól io, a i n d aque porventura  s e  trate d e  u ma  rede  a r t i cu lada  co m propós i tos m e r a mente comerc ia i s?   O u  d e v o  te r   presente  o parâmetro   t e r r i tor i a l  econs iderar  rádio   l i v re apenas uma   rádio de S. M a r i n o ou de   M on t e

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C a r i o ?   Se j a como  for,  terei  d e   expor  o s   meus  cr itér ios e   exp l icarp or   q u e   exc luo cer tos  f e n ôme n os do   c a m p o  de in v e s t i ga ç ão ,Obv iamente ,   os cr itér ios deverão ser razoáveis, ou os   termos  q u eu t i l i z o  te rão de se r  d e f in idos  d e u m a  forma   não equívoca :   possod e c i d i r  q u e . p a r a m i m .  só são rádios   l i v res aque las   qu e   expr imem

u ma  p os ição de  ext rema-esquerda .  mas então  l enho de t e r e m  contaque geralmente  com a des ignação « rádio l iv re » se  referem lambemoutras rádios e não  posso enganar  o s  meus leitores fazcnd o-lhes crer

ou  q u e  f a lo  também  d e las o u q u e  e las n ão  ex i s t em.  N es t e  caso, tereide espec i f i car  qu e  contesto a des ignação « rádio l iv re »  para  as rádiosqu e  nã o   quero examinar   (ma s a exc lusão deverá  se r jus t i f i cada )   o uescolher para  as rádios de qu e me   ocupo uma   denominação genérica

C h e g a d o  a  este   ponto, deverei descrever  a  estrutura  d e  u ma  rádiol ivre   s ob o   aspec to organ i za t ivo.  econômico c jur ídico. Se   n a l g u -

mas de las t raba lham prof i ss iona is   a   tempo inteiro  c  nout ras t rabalham  mil i tantes rotat ivamente, terei  d e  const ru i r uma t ipolog ia orga-

n i z a t i v a . D e v e r e i  ve r se  todos  estes   t ipos  têm características  comunsque s i rva m para de f in i r um mode lo abs t rac to de rádio  independente,ou   se a expressão « rádio l iv re »   cobre uma  série   mult i forme   de   exper iências   mui to d i f e rentes .  E   eompreendere i s imed ia tamente comoo   r i g o r  c ientífico  dcs la   análise também é útil  para  e fe i tos  práticos,um a   v e z qu e . s e   qu isesse const i tu i r u ma r ád io   l i v re , t e r i a   d e   saberqua i s  são as condições õptimas   p a r a   o seu   func ionamento.

Para   const ru i r uma t ipolog ia   qu e s e   possa tomar  e m   cons idera-,  podere i , p o r  exemp lo, proceder   à elaboração de  um quadro qu e

inclua   todas  as características p ossíveis em função  da s  várias rádiosque es lou   a  ana l i sa r ,  tendo na vert ical as características d e  uma dadarádio e na   hor i zonta l  a freqüência estatística de   uma dada carac te rística.   Apresentamos   a   segu i r  u m  exemplo puramente or i entador  cde   dimensões reduzidíssimas, r espe i t ante  a  quat ro  parâmetros — apresença de   operadores p rof i ss iona is ,  a proporção música-palavra,a   presença de   publ ic idade  e a carac te r ização ideológica —   a p l i c a do s   a   sete   rádios imaginárias.

U m  quadro des te  gênero   d i r - m e - i a ,  p o r   exemplo,  q u e a R ád ioPo p   é  fe i ta   p o r u m  g rupo  nã o  p r o f i s s ion a l , c o m  u ma  caracter izaçãoideológica expl íci ta , que  t ransmi te mais  música d o que intervençõesf a ladas  e qu e  ace it a publ ic idade . E . s imul taneamente , d i r -me- ia  qu ea  presença  da publicidade ou o predomínio  d a  música  sobre o   elementofalado n ão são  necessariamente opostos  à caracter ização ideológ ica,d a d o  qu e   encont ramos pe lo menos duas   rádios   nestas  condições .

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e n qu a n t o s ó  u m a   única com caracter ização ideológica c predomínio

do e lemento f a lado sobre   a música. Por  ou t ro lado. não há   nenhuma

se m  caracter ização ideológica que não   t enha publ ic idade e e m qu e

prevaleça o e l emento f a lado,  E  ass im por d iante . Es te quadro é  p u r a

mente   hipotético e   cons idera poucos   parâmetros e   poucas  rádios;

por tanto,  nã o p ermi te  t i rar  conclusões estatísticas   d i gnas  d e   c on s i

deração.   T ra tava- se apenas  d c  u ma  sugestão.

M a s  como obter esles dados?   A s   fontes   são três:  dados of ic i a i s ,

dec larações d os  in te ressados   c  protocolos  de audição.

Dados of ic iais:  são  sempre  os  mais seguros , m a s  sobre  as rádios

independentes exis t em mui to poucos . Normalmente ,  h á u m  r eg i s to

na s  au tor idades  de segurança públ ica . E m   segu ida , dever ia haver

n um   notário o   ac to const i tu t ivo  d a  soc iedade   o u  qua lquer coisa   d o

gênero, mas nào se   sabe   se é possível vê-lo. Se se   c h e g a r  a u m a

regulamentação   m a i s p r e c i s a ,  poderão   encont rar - se out ros dados ,

'a s  de   momento  nào há   mais nada. Lembremos, todav ia , qu e dos

dados of ic i a i s f azem par te  o  n om e , a  b a n d a  de transmissão e as  horas

de ac t iv idade .  U m a  t ese  qu e   fornecesse pelo menos esles   três   e l e

mentos para todas   as rádios  cons t i tu i r i a  j á u m  cont r ibuto útil.

As   dec la rações dos  interessados.  P a r a  o e fe i to   in te r rogam-se  o s

responsáve is da s rádios . O que  d i s s e r e m c on s t i t u i u m  dado ob j ec -

üvo, desde   qu e   se j a ev idente ,  qu e s e   t ra ta   daqui lo  que e les  d is

seram   e   d esde   que os c r i té r ios de   r ecolha   d a s   ent rev i s tas se j am

homogêneos . T ra ta - se  d c e laborar   um ques t ionário, dc  modo  a q u e

todos respondam  a   todos  os   t emas  qu e   cons ideramos impor tantes ,

e qu e a   r ecusa   d e   r esponder sobre   u m  d e te rminad o p rob lema se j a

reg i s tada . N ão é obr iga tór io que o ques t ionár io  seja   s eco e  c on c i s o ,

para   s e r  r e s p on d i d o  c o m u m s i m o u u m n à o. S e   todos  os  d i r e c t o -

res f i ze rem uma   declaração programática. o  r eg i s to  d c  todas estas

dec larações poderá  c on s t i t u i r u m  documento  útil.  E n t e n d a m o- n os

bem sobre   a noção de «dado ob jec t ivo»   num caso des te t ipo.  Se o

d i rec tor d i z « n ós n ão  t emos ob j ec t ivos  pol í t icos e não somos   f i n a n

c iados  po r n in gu é m» ,  i s to n ão  s i g n i f i c a  qu e e l e  d i g a  a  ve rdade : m a s

é  u m   dado  ohjectivo  o   f ac to  de a   emissora   se   ap resentar  publ i ca

mente  c o m   esse  a s p e c t o. Q u a n d o m u i l o , poderá   refutar-se esta af ir

mação através de um a análise crítica d o conteúdo d os   p rog ramas

t r ansmi t idos  p or  aque la  rádio. C o m o qu e  chegamos   à   terceira   fonte

de   informação.

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Protocolos  de aud ição.  É o   aspecto  d a  t ese  em qu e poderá  ass i

nalar-se   a d i fe rença   entre   o   t raba lho ser io  e o   t raba lho d i l e tante .C on h e c e r   a  a c t i vi d a d e   de u m a r ád io   independente s i gn i f i ca   tê-laacompanhado durante a lguns d ias . d igamos  u m a  s e m a n a , h o r a   ahora .  e laborando uma   espécie de  g re lha   qu e   mostra  o que   transmitee   quando, qua l  a duração das   rubricas, tempo  dc mús ica e do   e le mento falado, quem part icipa  n os  debates,  s c e x i s t e m  e   sobre  quetemas,  e   a s s i m  p o r  d iante .  N a   t ese   nã o  poderemos   inc lu i r  tudo  oque t ra nsmi t i ram durante   a   semana,  m a s  poderemos referir   os   e le mentos s i gn i f i ca t ivos  (comentários a canções, compassos   d e  espen idurante  u m  debate, m odos   de da r u ma n o t íci a ) dos   quais ressalteu m  p er f i l  artístico, lingüístico e ideológico da  emissora  e m questão.

E x i s t e m  mode los   de  p r otocolos  de audição da rádio e da   televi

sã o   e laborados durante a lguns anos pe la   A R O I  d c  Bo l on h a , on d eforam cronometradas  a extensão da s notícias, a recorrência d e cer-los termos  e   ass im por d iante . Um a   ve z  f e i to este  es tudo para  váriasrádios,  poderemos proceder   às comparações : por  exemplo, como  amesma   canção ou a   mesma   notícia de   ac tua l idade  fo i  apresentadapor duas o u  mais  estações   d i ferentes.

Poder íamos a i n d a c omp a r a r   os  p rog ramas   da rádio de monopóli o  com os da s rádios  independentes :  proporção música-clcmcntof a lado,  proporções   entre  notícias e   passatempos,  proporções   entrep rogramas  e  p u b l i ci d a d e , proporções  enlre  música clássica e músical ige ira,  entre  música  i t a l iana   e música  estrangeira, entre  música  l igeira

t r ad i c iona l  e música   l i g e i r a   « jovem™, etc. C o m o  se vê. a   par t i r d eu ma   audição sistemática,  munidos   d c u m   g ravador  e de u m lápis ,podem t i rar - se mui tas  conclusões que  p rovave lmente  não se   man i festariam   n a s  ent rev i s tas  aos responsáveis.

Po r  vezes, a  s imp les comparação  entre d iversos comitentes   pub l i

citários (proporções   entre restaurantes, cinemas, editoras, etc.)  pode

d ize r -nos a lguma coisa sobre   a s   fontes   d e   f inanc iamento  (d e   outromodo ocu l tas )  d e  u m a d a d a  rádio.

A  única condição é que não   in l roduzamos   impressões ou   indu

ções   a r r i scadas   d o   t ipo  « s e a o   me io-d ia   t ransmit iu  música   po p   epubl i c idade  d a  Pan Amer ica n, i sso s i gn i f i ca que é  u ma  rádio   america-n ó f i l a » .  u ma  v e z qu e é  preciso saber  também o que foi   t ran smi t idoà  u m a . às  d u a s . às três e à   segunda- f e i ra ,  à terça e à   quarta.

Se  a s rádios são m u i t a s , só   t emos dois camin hos :  o u   ouvir todasao mesmo tempo, const i tu indo u m  g r u p o  de audição com   tantosreg i s i adorvs quantas  as rádios (é a solução  m a i s  séria,  pois permi te

M

comparar  as várias   emissoras  numa  mesma semana )  ou  ouv i r u m apor semana. Porém, neste   último  caso. te rá de se  trabalhar constantemente,  de  modo  a   fazer  o s   reg istos uns   a  segu i r a os  outros   s e m  torn ar  heterogêneo o período de audição, que não   pode   cobrir  o espaçode seis meses   ou de u m  ano, dado  qu e  neste sector  as mutações sãorápidas e freqüentes e não   t e r i a sent ido comparar  os   programas  d aRádio   B e t a   e m   Jane i ro  c om os da R ád io   A u r o r a   e m   Agos to, pois ,nesse intervalo, quem sabe   o que  t e r i a a contec ido  à R ád io  Bela.

Ad m i t i n d o q u e  todo este  trabalho tenha sido bem feito,  o que  restafazer ainda?   U m a  quantidade  d c outras coisas. Enumeremos a lgumas:

—   Es tabe lecer  índices de audiência; nào há  dados of ic i a i s   c nàopodemos f iar-nos apenas nas  declarações dos responsáveis; a

única   a l t e rnat iva  é  u m a  sondagem  c om o mé todo do  t e le fo nema   a o   acaso  ( «que rádio está a   ouvir neste   mome n to? » ) .E   o método   seguido pela   R A I .   ma s ex ige  u ma  organização   específica, um tanto  d i spend iosa .  Ma is va le renunc iar a  este  inquérito do  qu e   reg istar  impressões   p essoa is  d o   t ipo  «a   maior iadas pessoas   ouve   R ád io D e l t a » s ó   porque c inco amigos nossos dec lararam ouv i - la . O   problema   dos índices de audiênciamostra-nos como  s e  pode  t raba lhar c i ent i fi camente num fenômeno  tão contemporâneo e   actua l ,  ma s  como  é difíc il fa zê-- l o ;  é  me lhor uma   tese   de história   r om a n a , é   mais   fácil.

—   Reg i s tar  a polêmica na  imprensa  c a s  eventuais  opiniões   sobreas d iversas   rádios.

—   Fazer uma recolha   e u m comentár io orgânico das   le is relat iva s  a  esta  questão, de   modo  a   exp l icar como  as várias   e m i s soras   a s  i l u d e m ou a s  c u m p r e m , c que  p rob lemas  da í advêm.

—   D oc u m e n t a r as p os ições   r e la t i vas   dos vários   part idos. Tentares tabe lecer t abe las compara t ivas   d os   cus tos  publ ic i tár ios .

Talvez  os responsáveis da s várias rádios não  no- lo d igam, ounos min tam, ruas sc a Rádio   D e l t a   fa z   publ ic idade  a o  r es taurante  A i  P i n i .  poderia   ser fácil  obter,  d o  r espec t ivo p ropr i e tário, o   d a d o  que nos   interessa.

—   F i x a r  u m  a contee imento-amost ra   (e m  J u n h o  d c  1976  a s  e l e i ções políticas   t e r i am s ido  u m   assunto exemplar )  e   r eg i s tarcomo  fo i  t ra tado  p or  d u a s .  três ou  m a i s   rádios.

—   Ana l i s a r o estilo  lingüístico  tias várias rádios (imitação d os  locuti>-re s  da RAI. imitação dos  disc-jockey  americanos,  u s o de   terminologias   de   grupos   políticos, adesão a  modelos diale ciais. e t c ) .

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—   A n a l i s a r  o   modo como cer tas   t r ansmissões da   R A I   foram

i n f luenci adas  (quanto  à  escolha  d os  p rog ramas  c aos  usos   l i n

güís t icos ) p e las  em issões da s rádios  l i v res .

-   R e c o l h a   orgânica de opiniões   sobre   as rádios   l ivres  d a  parte

dc   jur i s t a s ,  líderes p olíticos, etc. Três opiniões   apenas fazem

u m  a r t i go  de  j o r n a l , cem opin iões   fa/cm  um inquérito.

—   R e c o l h a  d e  toda  a   bibl iograf ia existente sobre  o  assun to, desde

l iv ros   e   art igos sobre   experiências   semelhantes nout ros  paí

ses,  até aos  art igos  d os   mais remotos jornais  de prov ínc ia ou

de pequenas rev i s tas ,  de   mane i ra  a   r ecolher  a documentação

mais completa   possível.

É  claro que nào é necessário   fazer todas estas  coisas. U m a  s ó.  desde

qu e   be m  feita   e  completa, constitui já um tema para uma tese. N e m s edisse qu e  estas s ão  as  únicas  coisas  a  fazer. Limitei-me a  a l inhar algunsexemplos para mostrar como. mesmo sobre   u m  tema   tão   pouco  «erudi to» e  sobre  o  qual não há   literatura  crítica, se  pode   fazer u m trabalhocientífico, útil aos  outros, que se  pode   integrar numa  investigação  maisvasta,  indispensável  para quem que i ra ap rofundar   o   assunto, e s e mimpress ion i smos .  observações ao   acaso  ou extrapolações   arr iscadas.

Por tanto, para conc lu i r :  tese   c ientífica ou   t ese   política'.'  Fa lsa

questão. É tão científico   f aze r uma  t ese   sobre   a  d ou t r i n a  da s idéiase m  Platão   como sobre  a p ol ít ica da  Lot ta   C o n t i n u a  d e   1974   a 1 9 7 6 .Se   é u m a  p essoa   qu e   quer t raba lhar se r i amente ,  rc f l ic ia   antes  d eescolher, porque  a   segunda   tese  é   indub i tave lmente mais   difíc il doqu e  a   p r i m e i r a   e e x i ge   maior matur idade   c ientífica.  Q u a n t o m a i sn ão   seja. porque  não terá  b ib l iotecas e m q u e s c  apoiar ,  ma s   antes

u ma   b ib l ioteca para organ i zar .

Pode .  ass im,  fazer-se  d e  uma forma  científica  uma lese   qu e  omrosde f in i r i am,  quanlo  a o  l ema. como puramente   « jorna l ís t ica » . E  pode

fazer-se  d e u m  modo puramente   jornalístico   u ma  t ese   que . a   ava l i a rpe lo  título,  ter ia todos   os   atr ibutos para parecer  c ientífica.

T T.7 . C o m o e v i t a r d e i xa r - s e e xp l o r a r p e l o o r i e n t a d or

Po r  v e z e s , o   estudante escolhe   u m  t ema   d e   acordo  c om os   seusinteresses. Outras  v e z e s ,  p e lo  contrário,  ace i t a   a suges tão do   professor   a  qu e m  pede   qu e  oriente  a   tese.

Ao suger i rem temas,  os  p rofessores podem segu i r dois  critériosd i f e rentes : ind icar  u m  t ema   que conheçam   m u i t o  b e m c n o  qua l

6 6

poderão  f ac i lmente segu i r  o   a l u n o ,  ou   i n d i c a r  u m   tema   que nãoconheçam  suf icientemente  b e m e   sobre  o  qua l quereriam saber ma is .

Diga-se desde j á  qu e. contrariamente   a o  que   se  possa pensar ã  p r i

mei ra v i s ta , o segundo critério é o mais honesto  e  generoso.  O   docenteconsidera   que. a o acompanha r essa tese, e le p róprio será levado  a  a la r ga r o s  seus horizontes, pois  s e  quiser aval iar bem  o  candidato e ajud á-lodurante  o  trabalho, terá de debruçar-se  sobre  a lgo d e  novo. G eralmente,quando o   docente escolhe esta segunda  v i a é  porque confia  n o  c a n d i dato. E  normalmente diz- lhe explicitamente que o  tema  também é novopara   e le e que lhe  inieressa   aprofundá-lo. Há. por  outro lado. d ocentes   qu e s e   r ecusam  a  p ropor  t eses   sobre campos  já   muito bat idos,embora   a situação   ac tua l  d a  un ivers idade  d c massas conu ibu a paramoderar   o   r i gor  d c  muitos  e   para  o s   tornar mais compreensivos.

Há. porém, casos  espec í f icos em que o docenle   está a  f aze r u mt raba lho  de   g r a n d e  fô lego   p a r a   o  qu a l  te m  necess idade  d e   mui tosdados , e   decide   u t i l i z ar  o s  cand idatos como par t ic ipantes d e u m  tra

balho  d e   e q u i p a .  O u   seja. durante  u m  d a d o  número de   a n os .  e l eorienta   a s  t eses   num dete rminado sen t ido.

Se   f o r u m  economis ta in te ressado  na situação d a indústr ia  numcerto  período, or ientará  teses   r e la t i vas  a   sectores part iculares,  c o mo ob j ec t ivo  de   estabelecer um quadro completo da  ques tão. O ra  estecritér io é não só legítimo   como c ient i f i camente  útil: o   t raba lho  detese  cont r ibu i para uma   investigação de  a lcance mais amplo n o  in te resse colect ivo.  E   i sso  é útil  mesmo  d o  ponto  de   v ista   didáctico.pois  o  cand idato poderá  servir-se  d os  conse lhos d e  um docente mu itoinformado sobre  o   assunto e poderá   u t i l i z ar  como mater ia l d e   fundoe de comparação as  t eses  já   e laboradas   p o r  outros estudantes sobrelemas correlarivos  e limítrofes. Se , depois , o  cand idato f i ze r um b o mt rabalho,  poderá  esperar uma   publicação,  p e lo menos   pa rc i a l ,  d o sseus resultados, eventualmente  n o âmb ito de u m a  obra colee t iva .

Há. porém,  a lguns inconven ientes   poss íve is :

1. O   docente  está   mui to l i gado  a o s e u  l ema   e força o   c a n d i d a l o•. p or  seu lado. não  te m n enhum interesse naquela  direcção. O  estu

dante torna-se  então um  aguade i ro.  qu e s e   l imi ta   a   r ecolher a fad i -gadamente mater ia l  qu e  d epois out ros  irão  in te rp re tar . Como  a  s u atese será u m a  tese  modesta, sucede   qu e  depois   p  docente,  a o  e laboraro   es tudo de f in i t i vo,  poderá  u t i l i z a r  uma parte  d o  mater ia l r ecolh ido,ma s   não citará o   es tudante ,  a té   porque  não se lhe   p o d e   a i r ibu ir

nenhuma  idéia  p rec i sa .

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2.   Ü   docente   c d esones to,  fa z   t raba lhar  os   estudantes, l iceneia--o s  e   u t i l i z a   desabusadamente   o seu   trabalho como  s c  fosse   dele.Po r  v e z e s , trata-se  d e  uma desonest idade   quase  dc boa-fé: o   docenteacompanhou   a  t ese   apa ixonadamente , suger iu mui tas  idéias e,  passado um certo tempo,  já nào  d i s t ingue  as  i d c i a s q u e  suger iu  da s qu eforam trazidas pelo estudante, assim como depois  de   uma apa ixonada discussão   colect iva sobre  u m   assunto qualquer,  já não   consegu imos l embrar -nos  d e  qua is as idé ias com qu e hav íamos começadoe   qua is a s qu e  adqu i r imos  po r es t ímulo  alheio.

Como ev i tar  estes  inconven ientes?   O   estudante,  a o   abordar u mdeterminado docente ,  já terá  ouv ido f a lar d e l e  a os  seus amigos ,  terácontactado l icenciados anteriores   e terá   f e i to  u ma   i dé ia d a  su a   c o r -reeção. Terá   l ido l ivros seus   e terá   r eparado  se e le   c ita   freqüente

mente  o s   seus colaboradores  ou não.  Q u a n t o  a o  r es to,  intervémfaelores   imponderáve is de  es t ima   e confiança.

" lambem   é  p rec i so  nã o  ca i r  n a  at i tude  neurótica de   s ina l  contrár io e   considera r mo-nos pla giados sempre  que a lguém  fala   d e   temassemelhantes   a o s d a   nossa tese. Quem  f e z u ma  tese. d igamos , sobreas   relações   entre  o  d a r w i n i s m o e o  l a m a r c k i s m o.  teve   opor tun idadede   ve r .  acompanhando  a   l i teratura   crítica,  quantas pessoas falaramjá   desse tema   e   como  há   tantas  idéias   comuns  a   todos  o s   estudiosos. Deste modo,  nào vejo razão  para   se   sentir um  gê n io  expol i adose. algum tempo depois, d   docente, um seu assistente  o u  um colega   seocuparem  d o   mesmo tema.

Por roubo  d e   trabalho  c ientífico   entende-sc , s im. a u t i l i zação dedados exper imenta i s  qu e só p od i a m  te r  s ido recolh idos f azendo essadada   experiência: a apropriação da transcrição de   manuscritos rarosqu e  nunca   t ivessem sido transcritos antes   d o  nosso t raba lho: a   u t i

l i zação d c dados  estatísticos que ninguém   tenha recolhido antes   d enós,  e só  n a  condição de a  fonte   nã o  se r c i t ada (pois , uma  v e z a  tese

t o rnada   pública,  toda  a g e n te t e m o  d i re i to  de a  c i t a r ) :  a utilizaçãode   traduções,  fe i tas  po r n ós . de   textos  qu e  nunca   tenham sido  tra

d u z i d os  ou o   t enham s ido  d e   forma diferente.

De qua lquer modo.  e s e m  d esenvolver  s índromas paranóicos, oestudante   d e v e   ve r i f i car se .  a o   aceitar um tema   d e   tese. fica   ou nãoin t eg rado  n u m   trabalho colect ivo.  e   p ensar  se   vale  a   p ena   fazê-lo.

I I I . A   P R O C U R A  D O   M A T E R I A L

[11.1   A   a c e s s i b i l i d a d e  d a s   fontes

111.1.1.  Quais  sã o a s fon tes de um   trabalho  científico

U ma   tese  estuda  um objecto  ut i l iza ndo determinados  instrumentos.Mu i t a s vezes o  objecto é  um l ivro c os  instrumentos sã o  outros livros.É o   caso.  p or  exemplo,  de   u ma   tese   sobre  O pensamento  econômicode Adam   Sm i th , cujo objecto é constituído  pelos l ivros de Ad am   Smith,

enquanto os instrumentos  são  outros l ivros sobre Ad am   Smith. D i remosentão  que, neste caso.  os  escritos  d c Ad a m  Smith  constituem as  fontespr imár ias  e os   l ivros sobre Adam  Smith  constituem as  fontes  secundárias ou  a  literaiura  crítica. Evidentemente, sc o  assunto fosse  As  fontes  do  pensamento econômico  de  Adam  Smith. as fontes  primárias  seriamos livros ou os  escritos  e m qu e  este   autor  sc   inspirou.  É   certo  que asfontes   d e  um autor lambem podem ser acontecimentos   históricos (det er-minados debates  qu e   t iveram lugar   n a  su a   época em   tomo  de   certosfenômenos   concretos), mas estes  acontecimentos  são  sempre  acessíveissob   a   forma   d c  material escrito, isto é, de   outros textos.

Nout ros casos , pe lo  contrário, o   objecto é um fenômeno  r ea l ;  éo que   acontece com  a s  leses sobre   os  mov imentos  migratórios   internos na I tália   actua l . sobre  o  comportamento  d e u m  g rupo  d e   c r i a n

ça s  def ic ientes  o u  sobre a s opin iões do públ ico  relat ivamente  a u mprograma   de te lev isão a se r   transmit ido actualmente.  A q u i ,  a s   fontes   nào   ex i s t em a inda   sob a   forma   d e   textos escritos,  m a s   devemtornar-se   o s   textos  que virão a   integrar-se  n a  t ese   como documentos: dados  estatísticos, transcrições dc   entrevistas,  po r v e z e s   fotograf ias   ou  mesmo  documentação  a u d i ov i s u a l . P o r  s ua  v e z . n o qu e

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7/22/2019 Eco Umberto Como Se Faz Uma Tese Livro PDF

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respeita  à  l i teratura  cr ítica, as  coisas  nà o  variam muito relat ivamenteao caso anterior. Se não   forem l ivros e   art igos  de  r ev i s tas ,  serão  art i

go s  d e  j o r n a l  ou  documentos  de vários   t ipos.

D e v e  manter-se  b e m  presente  a distinção  entre  a s  fontes  e a   l i teratura   cr ítica,  uma vez. qu e a   l i teratura  crítica   re fere   freqüentementetrechos das vossas fontes, mas  —   como  veremos  n o parágrafo   seguinte— estas  são  fontes  d e  segunda   mão.  Além   d i sso,  u m  estudo apres

sado  c  d esordenado  p o d e   levar faci lmente   a   confund i r  o   d i scursosobre  a s   fontes  c o m o   d iscurso sobre  a   l i teratura   cr ítica. Sc   t iverescolhido como tema   O  pensamento  econômico de  Adam Smith  eme   d e r  conta  d e  que , à  med ida  qu e o   trabalho  avança, passo  a   maiorparte  d o   t empo  a   d i s cut i r a s in te rpre tações de u m   certo autor, de s -curando  a   le i tura d i rec ta   d e  S m i t h .  posso fazer duas coisas:   ou  vol

ta r à  fonte,  ou  d ec id i r mudar o  tema para.4.?   interpretações de   AdamSmith   no  pensamento  liberal  inglês contemporâne o.   Es ta  última nãome   ex imirá de  saber  o que  d i sse  este   autor, ma s é  c la ro  qu e  nessaa l tu ra  interessar-me-á   menos  d i s cut i r  o que e le  d i sse  d o qu e o qu eoutros disseram inspirando-se nele. E ób v io ,  todav ia ,  qu e . s e  qu isercr i t i ca r d e  uma forma a profundada  o s  seus intérpretes, t e re i  de   comp a r a r  as  suas in te rpre tações co m o  t exto or i g ina l .

Poder ia ,  n o   entanto, tratar-se   d e u m  caso  e m qu e o   pensamentoor i g ina l  me   interessasse muito pouco. Admitamos  qu e   comecei umatese  sobre  o  p ensamento  2©D n a tradição j aponesa .  E  c la ro q u e   tenhode saber  le r japonês c qu e não  posso confiar   n a s  poucas  traduçõesocidentais   de qu e  d i sponho. Suponhamos,  porém. que . ao   examinara  l i teratura   crítica,  f iquei interessado  na u t i l ização que fe z do Ze nu ma   ce r ta vanguarda   literária c artística   a m e r i c a n a   n os   anos  5 0 .Evidentemente, nesta   a l tu ra   já não   estou interessado  c m  saber c o mabsoluta   exactidão teológica e filológica   qual seria   o   sentido  d o p e n samento Ze n, mas sim saber de qu e  modo  idéias originárias do  Orientese tomaram elementos   d e u m a  i d eolog ia   artística   oc identa l . O   tema

da   tese  tomar-se-á então O u so de sugestões Zen na «San   FranciscoRena issance » dos  anos  50  e a s  minhas fontes   passarão a ser os  textos   d c K crouac . G insberg . Fer l inghe t t i , e tc. Es tas  são as  fontes sobreas quais terei  d e   trabalhar, enquanto  no que se   refere   a o Z e n   poderão ser  suf icientes a lguns l ivros seguros   e   algumas boas  traduções.A d m i t i n d o , evidentemente,  que nào pretenda demonstrar  que os  ca l i -

fornianos tenham compreendido  ma l o Z e n  o r i g i n a l ,  o que  tornariaobrigatório a comparação com os   textos japon eses.  M a s s e m e   l imi

ta r  a  p ressupor  qu e   eles  se terão ins p i rado l i v remente  cm traduções

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d o  j aponês , o que me   interessa   é  aqu i lo  qu e   eles   fizeram  d o Z e n enão   aqu i lo  q u e o Z e n e r a n a  origem.

Tudo isto para dizer   qu e é  muito importante def inir  logo  o   verdade i ro  objecto  d a   tese,  um a vez que se te rá de  enfrentar,  l ogo deinício, o p rob lema   d a  acess ib i l idade  d a s   fontes.

N o  parágrafo  IU.2.4, en contrar-se-á  um exemplo  de  como  se  podepart ir quase  d o zero, para des cobrir  numa pequena biblioteca   as   fontesadequailas a o  nosso trabalho. M as trata-se dc um caso-limite. Ge ralmente,aceita-se  o  tema sem s c saber se se está em condições  dc aceder às fontes  e é preciso saber:  (1 ) onde elas   se  podem en contrar: (2) se são  facil

mente  acessíveis; (3) se   estou   em condições dc   trabalhar c o m   elas.

C o m e fe i to ,  posso aceitar imprudentemente uma  t ese   sobre certosmanuscr i t os  de  J oy c e  s e m  saber qu e s e  encont ram  n a  U n i v e r s id a d e

de   Búfa lo. ou   sabendo mui to  b e m qu e  nunca   poderei  lá  i r . Podereiaceitar entusiast icamente trabalhar numa  sér ie de   documentos pertencentes   a  u ma   família dos   arredores, para depois descobrir que  e l aé  mui to c iosa de les  e só os   mostra   a  es tud iosos  d e   gran de fa ma.Podere i ace i t a r t raba lhar  e m   ce r tos documentos med ieva is aces s íve is , mas sem  p ensar  q u e  nunca   f i z um  curso  qu e me   preparassepara   a   leitura  de   manuscritos antigos.

M a s  se m  querer pr ocurar exemplos   tã o  sof ist icados, poderei aceita r  trabalhar num autor   s e m  saber  qu e os   seus textos orig inais   sãorar íss imos e que   terei  d e   v iajar como  u m do ído de  b ib l ioteca   e mbiblioteca   e de p a ís em pa ís . Ou  p e n s a r  que é fácil  obter  o s   m icrofilmes dc todas  a s  suas obras, s e m me   lembrar  d e q u e n o  me u   i n s t i

tuto universitário não  existe um leitor  de  m icrof i lmes ,  o u q u e   sofrode eon junl iv i t e  e não   posso suportar  u m   trabalho  tão   desgastante.

E   inútil qu e c u . fanático do  c inema, m e  proponha trabalhar uma  tesesobre uma obra menor d e  um real izador dos anos 20 para depois descobrir que  só  existe uma  cópia  desta  obra  nos Film Archives de Washington.

U ma   v e z   r esolv ido  o   problema   d a s  fontes,  a s   mesmas  questõessurgem para  a   l i teratura  crítica,  Poderei escolher uma lese sobre  u mautor menor  do século   xv in porque   n a  b ib l ioteca   d a  minha  c idadese encont ra , p o r  acaso,  a  p r ime i ra  edição da  sua obra. para  me   aper ceber depois  de qu e o   me lhor  d a  l i t e ra tura  crítica   sobre  este   autor-ó é acessível à   custa  de   pesad os encar gos financeiros.

N ào s e   podem resolver   estes   problemas contentando-se  c o m   tra

ba lha r apenas  n o qu e s e  tem. porque   d a  l i teratura  cr ítica se deve ler .se   nã o   tudo, pelo menos tudo aquilo  qu e é   importante,  e é  necessário  abordar  as   fontes directamente   (ver o parágrafo   seguinte).

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E m  v e z de   cometer  negl igênc ias imperdoáve is , é  melhor escolher  outra lese segundo  os cr itér ios   expostos  no capítulo  11.

A  título d c orientação, e is  a lgumas  teses a  cuja  discussão   assisti

recentemente, nas quais  a s  fontes foram iden tificadas , d e  uma maneiramui to p rec isa , s e  l i m i t a v a m  a u m âmbito ver ificável e  es tavam  c la

ramente   a o   alcance  d os   cand idatos ,  qu e   sab iam como  ulilizá-las.A pr ime i ra  tese  e r a  sobre  A exper iência   clerical  moderada   na  adm i nistração   comuna d e   Modena   (1889-1910) .  O   c a n d i d a t o ,  ou odocente , t inham l imi tado  c o m  muita  exaclidão a  ampl i tude  d o i r a -balho.  O   cand idato  e r a d e   M o d e n a   e .  portanto, trabalhava  in   loco.

A b ib l iog ra f i a constava   d e u m a  b ib l iog ra f i a g e ra l  e d c  outra sobreM od e n a . P e n s o  qu e , n o qu e  respeita   à  segunda,  terá  s ido  possívelt r aba lha r  nas bibliotecas da cidade. Para  a  p r i m e i r a , terá  s ido necessár io uma  su r t ida   a   outros lugares. Quanto  às   fontes propria mente

ditas,  elas d ividem-se   e m   fontes  de   a rqu ivo  c  fontes  jornalísticas.O cand idato  t inha   v isto tudo  e   folheado todos   os  j o r n a i s  da época.

A segunda lese  e ra   sobre  A polít ica   educativa  do P C I desde  ocentro-esquerda   até à contestação  estudantil.  Também   a qu i  se  podever como  o   terna   fo i  d e l imi tado,  com exact idão e .   d i r e i ,  c o m   pru

dênc ia : após   6 8 . o   estudo ter-sc- ia tornado desordenado.  A s   fontese r a m :  a   imprensa of ic i a l  d o PC . a s   actas parlamentares,  o s   arquivosdo Par t ido  e a   imprensa geral. Posso imaginar que.   p or   mais exactaqu e  fosse   a investigação,  tenham escapado muitas coisas  d a  i m p r e n sa   g e ra l ,  m a s  tratava-se in dubitavelmente   d e u m a  fonte   secundáriad a  qu a l s e  pod iam recolher opin iões e críticas.  Q u a n t o a o  resto, parade f in i r  a política   educat iva   d o PC , bas tavam  as declarações   o f i c i a i s .Repare-se   qu e a   coisa teria sido muito diferente   s e a   tese   d issesserespeito  à política  edu cat iva da DC . i s to é. de  u m par t ido d o  g o ve rn o .Is to porque,  p o r  um lado. ha veria as  declarações   of ic iais   e. por  outro,os actos  e fect ivos   d o  g o v e r n o  qu e   eventualmente  a s   cont rad i z i am:o   es tudo t e r i a assumido  dimensões dramálicas.  Veja-se  só que , se o

per íodo   fosse   a lém de   1968 . ent re  a s  fontes   de opin ião não   of ic iais,t e r i am  d c  classif icar-se todas   as publ icações do s   g rupos exl rapar la -mentares  qu e  daque le  a n o c m  d iante  começaram a   p rol i f e rar . Ma is

u ma   vez. estaríamos   perante  u m  trabalho  be m  mais duro. Para conc lu ir ,  i m a g i n o qu e o   candidato t ivesse t ido  a  poss ib i l idade d e  trabal h a r  e m   R o m a ,  o u d e   p ed i r  qu e lh e   fossem enviadas  fotocópias dctodo  o  mater ia l  de qu e   necessitava.

A terceira lese   era de história   med ieva l  e , aos  o lhos  d os   le igos,parec i a  mui to mais   difíc il.  D i z i a   respeito  às   v ic i ss i tudes  d os   bens

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da  abad ia  de S . Z c n o , e m  Vcrona . na   B a i x a   I d ad e  M édia . O núc leo dot raba lho cons is t i a n a  transcrição, que  nunca t inha   s ido feita,  de  a lgumas folhas  d o  reg isto  d a  abad ia  d e S . Z c n o , t io século  Xlf l .  E r a e v i dentemente   necessário que o   cand idato t i vesse   noções de   pa leo-graf ia, isto  é,   soubesse como  se lêem c   segundo  que c r i lé r ios setranscrevem  os  manuscri tos ant i gos . Todav i a uma  v e z dc posse destatécnica,  tratava-se apenas   de   executar  o  trabalho  d e u m  modo  sér ioe d e   comentar  o   r esu l tado d a transcrição. N o  entanto,  a   t ese   apresentava   em rodapé   uma b ib l iog ra f i a   d e   tr inta   obras ,  s ina l  d e qu e oproblema   específico   t inha   s ido enquadrado h is tor icamente   n a  baseda   l i teratura precedente. Imagin o  qu e o   cand idato  fosse   de   Vcronae   t i vesse escolh ido  u m   t raba lho  qu e   pudesse f azer  s e m   p rec i sarde viajar.

A quarta  tese  era sobre  Teatro experimental  em  prosa  no Trentino.O   cand idato,  qu e   v iv i a naque la   r eg ião,  s a b i a   qu e   t inha   a í  h a v i d ou m  número  l im i tado  de   companhias exper imenta i s ,  e   empreendeuo  trabalho  de a s  r econst i tu i r a través d a  consu l ta  de anuários   j ornalísticos,  a r qu i v os m u n i c i p a i s   e   l evantamentos  estatísticos   sobre  afreqüência do público. Não   muito diferente   é o   caso  d a  quinta tese.Aspectos  da política   cultural  em  Budr io,  co m   particular  referênciaà  actividade  d a   biblioteca  munic ipal .  Sã o   dois exemplos  de   t esescom fontes  de fácil ver ificação e. no   entanto, muito  úteis, pois  dãougar  a  um a   documentação eslatíslico-sociológica utilizável por  inves

t igadores subsequentes.

U m a   sexta   tese  const i tui , pelo contrário, o  exemplo  d e  uma inves t igação  fe i ta   c o m   uma cer ta d i spon ib i l idade   d e   tempo  e d e   meios,mostrando simultaneamente como sc p o d e  desenvolver  c o m  u m b o mnível científico um  tema   qu e . à   p r ime i ra   v i s i a ,  apenas parece  sus

ceptível de  u ma  compilação  hones ta . O título  era ,4  p roblemát ica doactorna  obra   d e  Adolphe  Àppia.  T ra la - se  d c um autor muito conhe

cido, abundantemente estudado pelos historiadores  e teóricos do  teatro, e   sobre  o   qual parece   j á  nada haver  de  or i g ina l para d i ze r . M a so  cand idato empreendeu   u m  paciente e studo  n os  a rqu ivos  suíços,correu muitas bibliotecas,  nã o  d e ixou por exp lora i - nenhum d os  locaisem   qu e   App ia t raba lhou   e   consegu iu e laborar uma b ib l iog ra f i a   dostextos deste autor (compreenden do art igos menores jamais l idos)   edos textos sobre  e l e . de t a l  modo  qu e pôde   examinar  o   tema   c o mu ma  ampl i tude  e precisão   que. segundo disse  o relator, fazia   d a  t eseu m cont r ibuto dec is ivo. T inha , pois . superado  a  mera   compilação erevelado fontes  até aí inacessíveis.

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I I I . 1.2. Fontes  d e   primeira   e d e  segunda  mão

Q u a n d o  se   t raba lha sobre l i v ros ,  u m a  fonte  d e   p r i m e i r a  mào cu ma   edição   o r i g i n a l o u  u ma   edição crítica da  obra   em questão.

U ma   t radução não é   uma   fonte:  é uma prótese ,  como  a   dentad u r a  o u os óculos , um  me io  d e   a t ing i r  d e   uma forma l imi tada a lgoqu e   s e   encontra fora   d o  meu a lcan ce .

Uma antologia   não é u ma  fonte:  é u m  a p a n h a d o d e   fontes; podese r  útil  como pr ime i ra  aproximação, ma s   l aze r uma   tese   sobre u mautor s i gn i f i ca p ressupor  q u e  verei n ele coisas  q u e  outros  não  v i ram,c  u m a  antolog ia fomece-mc apenas aqu i lo  q u e   ou t ra pessoa  v i u .

As resenhas efectuadas  por ou tros au to res,  mesmo  completadaspelas mais amplas  citações, não são   um a  fonte:  são   quando mui to

fontes  de   segunda   mão.U ma   fonte pode  s e r de   segunda   rnâo dc várias  mane i ras . S e   qu i

ser f aze r  u m a  lese sobre   o s   d i scursos par lamentares  de   Pa lmiro,Togl i a t l i .  os   d iscursos publicados pelo  Un i tà  constituem  urna   fontede segunda  mão. N inguém me d iz que o  redactor  nã o   lenha feito corte s  ou   cometido erros. Pelo  contrário, as   actas parlamentares   serãofontes  de  p r ime i ra  mão. Se  conseguisse encontrar  o  texto escrito direitamente  p or  Togl iat t i , ter ia uma fonte  de primeiríssima mão. Se   qui

ser estudar a  declaração de independência  dos Es tados Unidos , a únicafonte   de   p r ime i ra  mão é o  documento  autênt ico. M a s  posso  tambémconsiderar  d e   p r ime i ra  mã o  u ma  boa fotocópia. E  posso a inda cons i derar  de   p r ime i ra  mão o   texto elaborado crit icamente  p or  qualquerhisloriógrafo de  seriedade  indiscutível ( « indiscutível» quer aqui d izerqu e n u n c a   fo i   pos ta   e m   c a u s a p e l a l i t e r a t u r a   crítica   ex i s t ente ) ,Compreende-se   então que o conceito  de «pr ime ira » e «segunda mão»depende   d a  perspectiva   que se der à   tese.  Se a  tese   pretender  d iscu

ti r a s edições críticas   cx i s l en les . é necessário   recorrer  a os  or i g ina i s .Se   e la   p re tender d i scut i r  o   sent ido  político da declaração de   inde

pendência,   u ma   boa edição crítica scr-mc-á  mais   do que  suf iciente.

Se quiser fazer uma  tese  sobre  Fstntntras narra tivas nos  «P romess iSpos i » .  bastar-me-á  u ma  edição  qualquer das obras   de  M a n z o n i .  Sc .pe lo  contrário, o meu  object ivo  fo r  d i seu l i r p roblemas   lingüísticos(d i gamos.  Manzoni  entre Milão e Florença),  então   l e re i  d e   d isporde boas  ed ições críticas da s várias redacções da   obra manzoniana.

D igamos   enlão. que. n os  limites fixados  pelo objeclo da  minha  pesquisa,  a s   fontes d evem   se r  sempre  de  primeira  mão. A única  coisa  que

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não  posso fazer é  c itar o meu autor  através  da  citação  feita por outro.  E micor ia. u m  trabalho científico sério nunca  deveria citar a  partir d c umacitação, mesmo que  não se  trate  d o  autor de que  nos ocupamos directa-mente. N o  entanto, há excepções ra zoáveis,  especialmente  para uma   tese.

Se  s e  escolher,  p or  exemplo.  O   problema  d a   t ranscendemalidaded o  Belo  na «Summa theo log iae » de  5 . Tomás de  Aquino,  a  fonte  p r i

mária será a  Su i/ima  de São Tomás, c  d i gamos  que a edição M a r i e t t iactualmente   n o  mercado bas ta , a  menos   qu e sc venha   a  suspe i tar dequ e  trai  o   or i g ina l , caso e m que se te rá de  r ecorre r  a  outras   edições(mas. nessa   a l tu ra ,  a  t ese   tornar-se-á de  carac te r  f i lo lógico. em vezde   t e r u m  carac te r  es té t ico- f i losófico) . E m  s e g u i d a ,  descobrir-se-áqu e   o  p rob lema   d a  t r anscenden ta l  d a d e   d o   B e l o  é a f lorado  tambémp or  Sào Tomás n o Comentár io a o D e   Divinis Nominibus   d o  P s e u d o -

-D ionís io. e   apesar d o t í tu lo  r es t r i t i vo  d o  t raba lho, ler-se-á   l ambemde   ve r   d irectamente esta  última  obra . F ina lmente , ver ificar-se-á qu eSão Tomás   r e tomava aque le t ema   d e   toda   u ma tradição teológicaanter ior  e qu e  d escobr i r todas   a s   fontes orig inais representa   o   tra

balho  d e u m a   v ida e rud i ta . Todav ia ,  ver-se-á que  este   t raba lho  jáexis t e  e q u e f o i  fe i to  p o r  D o m H e n r y P o u i l l o n . qu e n o s e u  ex i ensotrabalho   re fere   amplos fragmentos   de   todos   o s  au tores  qu e   coment a ram  o Pseudo-Dionís io.  s u b l i n h a n d o  relações, der ivações c   c on tradições.  F, certo  qu e n os  l im i tes  d a  t ese   se poderá   usar o  mater ia l

colh ido  p o r  Pou i l lon sempre   qu e s e d ese j ar f aze r um a   referênciaa   A l e xa n d r e   de   H a l c s  ou a H i ldu íno. Se se   chegar  à conclusão dcqu e  o  texto  d c  A l e xa n d r e  d e   H a l e s  é  essenc ia l para  o   d esenvolv i mento d a expos ição, é  me lhor p rocurar  consultá-lo d i rec tamente n aedição da  Q u a r a c c h i m a s ; se se   trata  d e   remeter para qualquer brevecitação, bastará  declarar que se teve  acesso  ã  fonte  aüavés de  Pou i l lon.Ninguém dirá que sc  a g i u  c om incúr ia ,  u ma  v e z qu e   Pou i l lon  é u mes tud ioso sér io c qu e o  texto  que se fo i  buscar a este  au tor nã o  c on s tituía o   objecto directo  d a   lese.

A  única  co i sa que não deverão   fazer  é c itar uma fonte   de  segundamão   f ing indo  te r   v isto  o   o r i g i n a l .  E   i s to  n ão   apenas   po r r a zõe s deética   p rof i ss iona l : pensem  n o qu e   acontecer ia   se a lguém vos   perguntasse como conseguiram  ve r  d irectamenle um determinado manus

cr i to,  quando  é  sab ido  qu e o   mesmo  f o i de s tr u ído e m 1 94 4

N ã o s e  d evera ,  porém, c a i r  n a  neurose  d a  p r ime i ra  mão. O   factoc  N a po le ão t e r   morr ido  e m   5   d c  M a i o  d c 1 8 2 1 é  c on h e c i d o  d e

todos, geralmente  através de  fontes  d c s e g u n d a   mã o   ( l ivros   de   h is

tória   escr i los  c o m   base noutros l ivros  de h is tór ia ) . Sc a lguém qu i-

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sesse estudar  a  data   d a  morte   de N a po le ão ,  ter ia   de i r  p rocurar documentos   da époc a . Ma s s e s c qu iser f a la r   da influência da   mortede   N a po le ão n a  p s i c o l og i a   d os   j ovens l ibera i s europeus , pode- seconf ia r num l iv ro d c história  qua lquer c  cons iderar a  data como boa.O p rob lema, quando s c recorre   a  fontes  d e  segunda  m ão   (d ec larando--o) , é  ve r i f i ca i ' mais   d e  u m a   e ve r se  uma cer ta   c itação, ou a   re ferênc ia a u m  facto  o u a  u m a  opinião, são  conf i rmados   p o r   d i ferentesautores .  D e   ou t ro modo.  é  p rec i so  te r  c u i d a d o : ou s e   decide evitarrecorrer   àquele   d a d o ,  ou  va i - se  ve r i f icá- lo nas  or i g ens .

Por exemplo,  j á qu e s e de u u m  exemplo sobre  o   p ensamentoestético de São Tomás,  d i r - vos- e i q u e  alguns textos  contemporâneosque d iscutem este   problema partem d o  pressuposto de que São Tomásd isse  qu e  puichrum   est id quod   visum   p/ocet. E u . que f iz a   tese  d e

l i cenci a tura  sobre  este   tema. andei  a  p rocurar nos t extos or i g ina is  eapercebi-me   de que São Tomás  minca   t a l hav ia d i to. T inha d i to, s im.pulchra dicuntur  quae ,  visa  placent  e nào  p re tendo exp l icar agorapor que mol ivo  a s  d u a s formulações   podem levar a conclusões   inter-prctal ivas muito diferentes.  O q u e  l inha  acontecido' . ' A   p r i m e i r a  fórmula  l inha  s ido p roposta   há  mui tos anos pe lo  f ilósofo   M a r i t a i n . qu epensava rcprodu/. i r d c  modo f iel  o   p ensamento  de São Tomás, cdesde então os  outros   intérpretes  t inham-se remet ido  àquela fórmula(extra ída de uma  fonte   d e   s e g u n d a   mão) sem sc  p reocuparem  c mrecorrer   à  fonte  de   p r ime i ra  mão.

Põe-se o   mesmo problema para  as citações bibliográficas.  Tendode t enn inar a  tese  à  p ressa , u m  a luno qua lquer dec ide   pôr na   b ib l iograf ia coisas que não  l eu , o u   mesmo falar destas obras   e m  notas  d erodapé (ou. o que é   a inda p ior ,  n o   t ex to ) ,  u t i l i z a n d o  informaçõesrecolhidas noutras obras. Poderia acontecer fazerem uma  t ese   sobreo   Barroco, t endo i ido  o   a r t i go  d e   L u c i a n o A n c e s c h i  «Ba c on e t i aR i n a s c i m cn i o  e B a r oc c o ». i n  Da   Bacone   a   Kant  (B o l on h a . M u l i n o .1972 ) . Depois  de o   c i l a rem e  para fazer boa f igura, tendo en contradodete rminadas notas  n u m  ou t ro t exto, a crescentar iam  « P a r a   outrasobservações  pert inentes  e  est imulantes sobre   o  mesmo tema, ve r . domesmo autor,  " U e s tét i c a d i   B a c o n e "  in   Uestetica deWe mpirismoinglese,  B o l o n h a A l fa ,  1959 » . Faricis uma Ir iste f igura quan do alguémvos chamasse   a atenção   para   o   facio  dc s c   tratar d o  mesmo ensaioqu e   t inha  s ido pu bl icado hav ia treze anos  e qu e  da p r ime i ra  v e z   t inha

aparec ido numa  edição universitária d e   t i ragem mais l im i tada .

Tudo o que se  d isse sobre   a s  fontes   d e   primeira  mão é   igualmenteválido no  caso d e o   objeclo da vossa   tese  não ser  um a  série d e   textos,

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ma s u m fenômeno cm  curso. S e  quiser falar das  reacções dos  camponeses  d a  R om a g n a   às transmissões do   tele jomal.  é  fonte  de  p r ime i ramão o inquérito  que tiver feito  n o local, entrevistando segundo as rearas

um a a mostra signif icat iva  e suficiente de camponeses , üu. quand o muito ,"i m inquérito análogo que  acabou  d e  se r publ icado p or  uma fonte fide-' i gna .  M a s se m e  l imitasse a  c itai '  dados  de   uma pesquisa  de há deznos.  é c la ro  qu e  estava   a  ag ir  de   uma forma incorrccia. quanto mais

nã o  fosse porqu e desde   essa  altura  mudara m tanto os  camponeses comoas   transmissões de televisão. Seri a d iferente  sc fí/esse   um a  tese   sobreAs pesquisas  sobre  a relação  ent re  público e televisão nos  anos 60.

0 T . 2 .  À inves t iga ção b ib l iográf ica

II  1.2.1.  C omo  utilizar  a   biblioteca

Como fazer  u ma in v es t i ga ç ão   p r e l i m i n a r  n a  b ib l ioteca?   Sc scdispõe já de  uma b ib l iog ra f i a segura , va i - se obv iamente  ao catálogopor autores  c vê-se o qu e a   bibl ioteca   em questão   pode fornecer--nos . Em segu ida , passa- se a  uma out ra b ib l ioteca e  as s im por d iante .M a s  este  método pressupõe   uma b ib l iog ra f i a  j á  fe i ta   (e o   acesso  au ma   sér ie dc b ib l iotecas , eventua lmente uma  e m  R o m a   e   ou t ra  e mLondres ) . Ev identemente ,  este   caso não se  ap l i ca  a os  meus leitores.N e m  se   pense  que sc   ap l i ca   a os   es tud iosos p rof i ss iona is .  O   e s t u d ioso  poderá i r por  v e z e s  a  uma b ib l ioteca p rocurar um l iv ro  d e q u ejá   conhece  a existência, ma s freqüentemente va i à   bibl ioteca   nãoco m  a   b ib l iog ra f i a ,  ma s  para  fazer  uma b ib l iog ra f i a .

F a z e r  u m a  b i b l i og r a f i a s i g n i f i c a p r oc u r a r a qu i l o  de qu e n ãose conhece a inda   a exis tênc ia . O bom   inves t i gador  c  aquele  que écapaz  d e   ent rar numa b ib l ioteca  sem te r a mín ima idé ia   sobre  u m

t ema  e   sa i r de lá  sabendo  u m  pouco ma is sobre   e le .O catálogo   —   Para p rocurar aqu i lo  de qu e  a inda  se  i gnora  a  e x i s

tência, a  b ib l ioteca p roporciona-nos a lgumas fac i lidades . A   p r ime i raé,  ev identemente ,  o ca tálogo por  assuntos . O catálogo alfabético   porautores   é útil para quem j á   sabe  o q u e  quer . Para quem a in da  não osabe.  há o ca tálogo por  assuntos . E a í qu e u ma boa   bibl ioteca  rncd i z  tudo  o qu e   posso encont rar   n a s  suas sa las ,  p or  exemp lo, sobrea  queda   do Impér io   R o m a n o  d o   Oc idente .

M a s  o ca tálogo por   assuntos e x i ge  que se  sa iba como  o  c on s u l tar,  E   c l a r o  que não encontrará uma  e n t r a d a   «Q u e da do I mpé r io

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R oma n o» n a  letra   Q (a   menos   qu e s e  trate  d e   uma b ib l ioteca  c omu m  f icheiro mu ito sof ist ica do).  E necessário   p rocurar e m « I mpé r ioR oma n o» , e m  seguida  e m « R o m a » e depois  em «His tór ia (de Rom a) » .E   se   t rouxermos   já   a l g u m a s  in formações   p r e l i m i n a r e s   d a   escolabásica,  l e remos  o   c u i d a d o  de   p rocurar  e m «R ómu lo Au gu s to » ou«Au gu s to ( R ómu lo ) » . «O e s t e s » . «Üd oa c r o » . «Bá r b a r os » e «R oma n o--Bárbaros (R e in os ) » . Os  p rob lemas, porém, não  acabam a q u i . E   istoporque  e m  mui las b ib l iotecas   há  dois  ca tálogos por  autores  e   doiscatálogos por  assuntos, isto  é. um  velho,  que se de tém   numa  c e n ada ta , e u m  novo,  qu e e stá a s e r comple tado  e que um dia inclu irá ove lho, m as não por  agora .  E não  quer d i ze r qu e a Q u e d a   do Impér ioR o m a n o  se   encontre  no ca tálogo  v e l h o  só   pelo facto  dc te r  ocorr idohá   tantos anos:  e feet i vãmente, poder ia ex is t i r um l iv ro publ icado  hádois anos qu e s ó  constasse  d o ca tálogo  novo.  E m  certas bibliotecas

há  a i n d a  catálogos   separados ,  qu e  d i ze m respe i to  a  ent idades  p a r t i

cula r e s .  N ou t r a s  p o d e   suceder  qu e   assuntos  c  autores estejam  e mcon junto. Nout ras a inda, há catálogos   separados para l i v ros  e  r ev i s tas (d iv id idos  p o r   assuntos  e   autores).  E m  r esumo,  é  p re c i so es tu da r o   func ionamento  d a  b ib l ioteca  e m qu e s e  t raba lha  e  d e c i d i r e mconformidade .  Poderá   a inda acontecer  qu e se  encont re uma b ib l ioteca   qu e l e m os  l i v ros  n o   p r ime i ro p i so  e a s   revistas   n o   segundo.

É também necessário uma cer ta  intuição. Se o catálogo   ve lho  formuito  ve lho  e   eu p rocurar  «Re tó r ica » , se rá me lhor que   dê  uma v i s tade olhos  também cm «Rcthor ica » : quem sabe  se não  houve um a rqu i -

vi s t a   d i l i g ente   qu e a í  tenha colocado todos  os títulos   mais ant i gosque ostentavam  o « th » .

N o t e - s e   e m   segu ida   qu e o c a tá logo po r   autores  é  sempre maisseguro  d o que o ca tálogo p or  assuntos , dado  qu e a  su a  compilaçãonã o  d epende  da interpretação do bibliotecário, que já  in f lu i n o catálogo por   assuntos .  C o m  e fe i to ,  se a   b ib l ioteca t i ve r   u m  l i v r o  de

G i u s e p p e R os s i . é inevitável qu e  este  s c  encontre  no ca tálogo po rautores . Ma s  se üiuseppe  Ros si t iver escrito um art igo sobre   « O  papelde Odoacro  n a  qu e d a   do Impér io   R o m a n o  d o   Oc idente   c o  estabel ec imento  d os  r e inos  romano-bárbaros», o bibliotecário   p o d e  tê-loregistado nos assuntos «R oma ( H i s tó r ia d e ) » ou «O doa c r o » ,  enquantose anda   a   p rocurar e m « I mpé r io do O c ide n te » .

Pode .  porém, dar-se  o   caso  de o catálogo não me  da r  as  in formações que  procuro. Terei  então de   part ir d e   uma base mais elementar.E m  qualquer biblioteca  há  u ma  secção ou  u ma  sala   de  obras  d e  re ferência, que integra as  enciclopédias, h istórias  gerais e repertórios  bibl io-

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gráficos. Se  procurar a lgo sobre  o Império  R om a n o  d o  Ocidente , tereientão de ver o que  encontro cm  matéria de h istória de  Rom a. e laborarum a   bibl iograf ia-base part indo d os  volumes de referência que  encon

t rar e  p rossegu i r a  part ir daí. veri f icand o  o ca tálogo por  au tores.

Os   repertór ios bibl iográficos  — São os   mais seguros para quem

tenha já   u ma   idéia   clara  sobre  o   tema  q u e   pretende tratar. Paia certas

di sc ip l inas  ex i s t em manua is  cé lebres cm qu e se   encontram todas  as

informações bibliográficas necessárias. Para  outras, existe a  publicação

continuamente aclual izada  de r ep er tór ios ou  mesmo  de   revistas dedi

cadas  só à  bibl iograf ia dessa  matéria. Para outras  a inda , h á revistas que

têm em  cada  número u m apêndice   informativo sobre  as publicações

mais recentes.  A   consulta  dos repertórios bibliográficos —   na med ida

em que est iverem actua lizados  — é essencial para completar a pesquisano  ca tálogo. C om  ele ito,  a  bibl ioteca   pode   estar muito be m  fornecida

no  q u e  respeita   a  obras mais a ntigas  e não ter  obras actuais. O u  pode

proporcionar-nos  histórias ou  manua is d a  d isc ip l ina  c m questão  da ta

do s  —   d i gamos   - de   1960, e m qu e   podem encontrar-se   utilíssimas

indicações bibliográficas, sem que. porém, se  possa saber se  saiu a lguma

coisa   de  interessante c m  1975  (e   talvez  a  bibl ioteca possua estas obras

recentes,  mas as  tenha classif icad o num assunto em qu e não sc  tenha

pensado). O ra . um  repertório bibliográfico   ac tua l i zado dá-nos  cxac la -

mente estas   informações   sobre os últimos  contributos na  matéria.

O modo mais  cômodo  para ident i f i car os repertórios bibliográficos

é, em  primeiro lugar, perguntar  o   seu t i tulo a o  orientador da tese. E m

segunda  instância,  podemos dir ig ir-nos  ao bibliotecário (ou a o  empre

g a d o d o  departamento  de  obras de referência) , o   qual provavelmente

nos indicará a  sala  o u  a estante  e m  qu e estes repertórios estão à  d i spo

sição. N ão s e  podem dar a qui outros conselhos sobre  este  ponto, pois,

como  se  d i sse , o   p rob lema var ia mui to d e   d isc ip l ina   pa ia   d isc ip l ina .

O bibl iotecár io   — E   p rec i so superar  a   t i m i d e z . M u i t a s  vezes

o b ib l iotecár io da r -vos -á  conse lhos seguros , fazendo-vos ganh ar

m u i t o t e m p o . D e v e i s p e n s a r   qu e   ( s a l v o  o   c a s o  d e   d i rec tores

excess ivamente ocupados  ou n eurót icos ) um  d i rec tor  d e  b ib l ioteca ,

espec ia lmente  s e f o r   p equena,  ficará   contente   se   puder demonst rar

d u a s  c o i s a s :  a   qu a l i d a d e  da s u a memóri a c da s u a e r u d ição , e a

riqueza   d a sua b ib l ioteca . Quanto mais   longe  d o  cent ro  c menos fre

qüentada for a  b ib l ioteca , mais   e le se   p reocupa   po r e l a s e r   desco

nhecida . E . n a tura lmente, regozijar-se-á   por uma pessoa ped i r a juda.

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É  c l a ro que, se. por um l ado , se deve  con ta r mui to com a a s s i s

tência do bibliotecário, por out ro , não é aconselhável  con f i a r cega

mente nele .  Ouçam-sc os  s eus conse lhos ,  mas  depo i s procure -s e

oul ras  co i s as por con ta própria. O bibliotecário não é  um pe r i t o  un i

ve rsa l  e,  a l e m d i s s o ,  não  sabe  que  f o rma p a r t i cula r que re i s  dar à

vossa p esqui sa . Provave lmen te , cons ide ra fundamenta l uma obra que

vo s servirá  mui to pouco, e não  out ra que vos será,  pe lo conlrário.

uiilíssima. Até  porque não ex i s t e , a priori.  u m a h i e r a r q u i a de  obras

úteis e  impor t an t e s . Pa ra os  object ivos  da  vossa  investigação  p o d e

s e r d e c i s i v a u m a  idéia  con t ida quase  por  e n g a n o  numa  página de

u m  l i v r o , q u a n t o  ao  resto  inútil <e  cons ide rad o pouco impor t an t e

pe l a gene ra l i dade das  p e s so as ) e esta página  l e r e i s de ser vós a  des

cobr i - la  co m o  vosso f a ro (e com u m p o u co de  sorte ) , pois ninguém

vo- l a  virá  o ferecer   numa   bande ja de  p ra t a .

Consultas interbibliotecas,  catálogos computor izadas  e empréstimos

de   outras  bibliotecas  —  M u i l a s  b i b l i o t e ca s p u b l i c a m repertórios

actua l i zados  das suas aquisições: d es te   m o d o ,  cm certas bibl iote case  p a r a d e t e r m in a d a s d i s c i p l i n a s c possível  co n s u l t a r catálogos que

i n formam  sobre  o que se  encon t ra nout ras b ibl i o t ecas i t a l i anas e

es t r ange i r as . Também a este   respe i to  á aconselhável  ped i r in formações ao bibliotecário. Há  ce r t a s b ibl i o t ecas e spec i a l i zadas l i gadaspor computador a memórias  cen t ra i s , que podem d i ze r -vos  em p o u

cos s egundos se um de t e rminado l i vro se encon t ra em qua lque r l adoe  o n d e .  Po r  e x e m p l o ,  fo i  c r i a d o j u n t o  da  B i e n a l  de  V e n e z a u m

A r q u i v o  Histórico das  A r t e s Contemporâneas com um  o rdenadorelectrónico   l i gado ao a rquivo  B ib l i o da B i b l i o t e ca N a c i o n a l de R o m a .

O o p e r a d o r co m u n i ca à máquina o título do  l i vro que se  p r o cu r a e

passados a l gun s ins t an t e s apa rece no ecrã a  f icha  (ou as  f ichas)  do

l i v r o em questão. A  pe squi sa   pode  ser fe i ta por n o m e s  de  autores,títulos de  l i vros , l ema . colecção,  edi tor, ano de publicação, etc.

K  Taro encontrar,  numa   b ib l i o t eca   i t a l iana   norma l , e s l a s   f ac i l i

dades ,  mas c  me lhor in formarem-se s empre cu idadosamente , po i s

nunca s c  sabe.

U m a  vez  i den t i f i cado  o l i vro n out ra b ibl i o t eca i t a l iana ou  e s t r an

ge i r a , ter-se-á presente que  geralmente uma bibl ioteca  pode   asseguraru m  serviço de empréstimo  interbibliotecas.  n a c i o n a l ou  i n t e rnac io

n a l . I s t o ex i g e   a l gu m t empo, mas se se t r a t a de  l i vros mui to difíceis

de encontrar, vale  a  pena t en ta r. Depend e  se a b ib l i o t eca a quem se

di r i ge  o  ped ido empres t a   esse   l i vro (a l gumas  só empres t am  cópias)

8 0

m a i s uma vez, deverão  examinar -s e  as  poss ib i l i dades pa ra cada

caso , se possível com o  co n s e l h o  do  docen t e .  De  qua lque r f o rma ,

será bom  r e corda r -vos  que  mui t as vezes as os serviços  ex i s t em  e

qu e só não  f uncionam porque não o  r e c l amamos .

T e n d e   presente, por exemplo, que pa ra s abe r que l i vros sc e n co n

t r am nout ras b ibli o t ecas i t a l i an as , pode i s d i r i g i r -vos ao

C e n t r o N a z i o n a l e  di  In formaz ione r l ib l i ogra f i che —  B i b l i o t e ca

N a z i o n a l e C e n t r a l e , V i t t o r i o E m a n u e l e 1 1. 0 0 1 8 6 R O M A

ou  ao

C o n s i g l i o N a z i o n a l e d e l l e R i c e r c h c  —  C e n t r o N a z i o n a l e

D o cu m e n t a z i o n e S c i e n t i f i c a —  P i a z z a l c d e l le S c i e n z e , R O M A

( t e l . 4 9 0 1 5 1 ) . *

R e co r d e m - s e .  além d i s s o , que mu i l a s b ibl i o tecas têm u m a  l is ta de

novas aquisições, is to é. das obras adqu ir idas recentemente e que a i n d a

não  fa zem pa r t e do catálogo.  F ina lmen te , é  p r ec i so não  esquecer que.

se  se está a  fa ze r um t raba lho sério no q u a l o  vosso or ientador está

interessado, ta lvez  se  possa convence r  a  vossa f aculdade  a adqui r i r

certos textos imp ortantes a que, de outro modo. não se pode  ter acesso.

111.2.2. Como  abordar  a  bibliografia:  o  f icheiro

Eviden t emen te , pa ra f a ze r uma bibl i ogra f i a  de base é  p r ec i so ver

i t os l i vros . E c m mui t as b ibl i o t ecas só dão um ou  do i s d c  c a d ave z . r e smungam  sc  l o g o  a  s e gu i r  se  p r o cu r a irocá-lo c  fazem per

de r uma quan t idade de  tempo entre  um l i vro  e  outro.

Por es ie mot ivo, é aconselhável que. das pr imeiras  vezes, não se tente

logo ler i odos os l ivros que se encontram, mas nos l imitemos a  fazer a

bibl iograf ia  de base. N e s t e   sent ido, a  consulta pre l iminar dos catálogospermitirá fazer os pedidos quando já se  dispõe da   lista. Masalistaexuaída

do s catálogos pode não d i ze r n a d a . e f icamos sem saber  qua l o l i vro que

devemos pedir pr imeiro. Por esse  mot ivo, a  consulta  d os catálogos deverá

se r acompanhada de u m exame  pre l iminar dos l ivros  da sa la  de  consulta.

*  Para Poriuyal: Biblioteca Nacional — Ca mpo Grande, 83 —  1749-081 Lisboa.217 082  000. Pesquisa bibliográfica  cm  linha dc iodas as obras existentes nasias bibliotecas cooperantes  (BiN/1'orbasc). Obras digitalizadas disponíveis cm

iha. wAvw.bn.pL (,\'R>

SI

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Q u a n d o  se  encontrar um capítulo  sobre  o   tema   em questão, cora  a  respect iva bibliograf ia , pode-sc  percorrê-lo rapidamente  (voltar-sc-á a elemais larde). mas  de v e  passar-sc imediatamente à bibliograf ia c copiá-latoda.  Ao fazê-lo. entre  o capítulo  consultado  e a s  eventuais  anotaçõesque acompanham  a  b ib l iog ra f i a   sc for   organizada racionalmente, far--se-á  um a  idé ia de  qua is são os   l ivros, d e  entre  os  enumerados, que oautor considera  básicos, e  pode começar-sc por ped ir esses. Além  d isso,se  s e  examinar n ào  u ma  mas várias  obras d e referência, far-se-á   aindau m controlo cruzado das bibliograf ias  e ver-se-ã  quais as obras que todas

citam. F ica  as sim estabelecida uma primeira hierarquia . Es ta  hierarquiaserá provavelmente posta  e m  causa pelo trabalho subsequente, mas poragora constitui uma base  de  part ida.

Objectar-se-á   que, se há dez  obras  de   consulla, é   um pouco demo

rado estar a copiar  a bibl iograf ia de todas: efeci i vãmente, po r vezes  comeste método  arr iscamo-nos a reunir muitas centenas d e  l i v ros , a inda queo  controlo cruzado permita el imina r os repel idos ( s e se  puser por ordemalfabética a   primeira bibl iograf ia,  o  controlo das seguintes   tornar-sc-ámais  fácil). M as . actualmente, em qualquer biblioteca digna desse nome.existe uma  máquina d c fotocópias e   cada   cópia  s a i  a  u m preço razoável.  U m a  bibl iograf ia   específica   numa obra   de   consulta, salvo casosexcepcionais, ocupa poucas páginas. C om u m a  módica  quantia  será  possível  fotocopiar u ma  sér ie de  bibl iograf ias que depois   poderão   ordenar--se calmamente,  e m  casa . S ó   quando terminada  a  bibl iograf ia   se   voltara  à bibl ioieca para ver o  que realmente se  pode  encontrar. Nesta  altura,

será muito útil ler  uma ficha para cada livro, porque   poderá   escrever-seem cada uma delas  a  s ig la d a biblioteca e a  cota  d o  l ivro (uma   só   fichapoderá  comer muilas sig las  e a ind icação  de muitos locais, o  que s i gn i f icará  qu e o  l i v ro está disp onível em muitos lugares; mas também haveráfichas sem siglas  e   isso será  u ma  desgraça, vossa ou  d a  vossa   lese).

Ao procurar  u m a  b ib l iog ra f i a , sempre  qu e   encont ro  u m   l i v ro

t e n h o  tendência   p a r a   o  a s s i n a l a r  n u m  p equeno cader no. D epois ,quando  fo r  ve r i f i car  n o   f icheiro  p o r  autores, se os   l i v ros ident i f i ca do s  n a  b ib l iog ra f i a   es tão disponíve is ,  in   loco,  e sc r evo  a o   l ado  d otítulo o   local onde   s e  encont ra . Todav ia ,  se   t iver an otado muitos   título s  (e   numa pr ime i ra pesqu isa sobre   u m  tema faci lmente   se   chegaà  centena   - a  menos  qu e  depois  s e  d ec ida   qu e  muitos  são  para  pôrde pane ) ,  a  dada   a l tu ra   já não  cons igo  encontrá-los.

Ponanto,   o   s istema mais  cômodo é o de  uma pequena   caixa  comfichas.  A   c a d a l i v r o  qu e   i d ent i f i co ded ico  u m a   f icha. Quando descubro qu e o   l i v ro exis ic numa dada b ib l ioteca , ass ina lo  esse   facio.

8 2

As ca ixas des te t ipo  são  baratas  c en cont ram-se  e m  qualqu er papela r ia .  O u  podem mesmo fazer-se.  C e m o u  duzenta s f ichas ocupa mp ou c o espa ço e   podem levar-se   n a  pasta sempre  que se   lb r à  b ib l iot eca . F ina lmente ,  ic r -se -á um a idé ia   c la ra daqu i lo  que se deveráencontrar  e  daquilo que já se   encontrou. E m pouco tempo tudo estaráordenado alfabcticamente  e será de fácil   acesso.  S e s c quiser,  podeorgan i zar - se  a   f icha   d e t a l  modo  qu e s e   t enha   a o   a l io ,  à  d i r e i t a ,  alocalização na   bibl ioteca   e a o   a l to,  ã  esquerda ,  u m a  s i g la convenc i o n a l  qu e  d i g a   s c o   l ivro nos interessa como  referência   g e ra l , comofonte   para   um capítu lo p a n i c u l a r e   ass im p o r  d iante .

E   claro que se não se  tiver p aciência  para  s e   ter um ficheiro. poderárecorrer-se   a o   caderno.  M a s os   inconvenientes  são   evidentes:  na tu

ralmente,  anotar-se-ão na  p r ime i ra   página os  autores  que começam

po r  A . n a  segunda   os que começam por B e ,   chegada   ao f im a   p r i mei ra  página, já não se saberá  onde  pô r u m  a r t i go  de   A z z i m on t i ,Federieo ou  d c Abbat i . G i a n Saver io. Me lh or se r i a então  arranjar umaagenda   te lefônica. N ão se  f icaria com Abbati antes  d e  Azz imon t i . master-se- iam  o s  dois  n a s  quatro  páginas   reservadas   ao A. O método dacaixa   co m   fichas  é o  melhor, podendo servir   também   para qualquertrabalho posterior  ã   tese   (bastará completá-lo) ou   para emprestar   aa l gu é m qu e   mais tarde venha   a   t raba lhar  e m   temas se melhante s.

N o  capítulo IV   falaremos  d e   outros t ipos   d e   ficheiros.  como  of icheiro  de leitura,  o  f icheiro  de idé ias o u  o f icheiro  de citações  (eve r emo s  também em que   casos  é necessária   es ta   prol i fe ração dcf i chas ) . Devemos aqu i subl inhar  qu e o   f i che i ro  bibliográfico nãodeverá ser  i d ent i f i cado  c o m o   f i che i ro  de   l e i tu ra , pe lo  qu e  antec i pamos desde  já   a lgumas  idéias   sobre  este  último.

O   f icheiro  d e   leitura  compreende f icha s, eventualmente   de for-to grande, dedicadas   a  l ivros  (o u  ar t igos ) que se  tenham  e feet i v a -

mente l ido : nestas f ichas   anotar-se-ão  resumos, opin iões , e i iaçõcs , em

suma. tudo aquilo que puder s ervir para referir o  l ivro, l ido no momentoda  redacção  da lese (quando  já não  est iver  à  nossa  disposição) e  paraa  redacção da  bibliografia  final.  N ão é  um f icheiro para trazer c o n -nosco. pelo  qu e por ve z e s  pode   igualmente  s er  feito e m   folhas muitograndes (embora   e m   forma   d e  ficha s seja sempre ma is manuseável) .

O   f icheiro  bibliográfico   já é  d i ferente:  registará   todos  os   l ivrosque se deverão  procurar ,  e não  apenas  o s qu e s c tenham enconttadoe   l i do.  Po d e   ter-se um ficheiro  b ib liográf ico dc de z  m i l t í tu los e u mf icheiro  d e   le i tura  de dez títulos   embora esta   s ituação dê a idéia dcum a  tese  começada   demasiado bern   e   acabada demas iado mal .

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O f icheiro  bibliográfico deve   acompanhar-nos sempre   qu e   vamosa  uma biblioteca. A s   suas fichas registam apertas   os   dados essenciaisdo l ivro em questão, c a  s ua   localização  na s bibliotecas   qu e   tenhamosexp lorado.  Poderá  quan do mu ito acrescentar-se  à  f icha qua lquer outraanotação do  tipo  «muito   importante segundo  o   autor X » , ou « e ss e n c ia l encontrá-lo», ou ainda  «fulano  disse que esta obra  não  tinha  qualquerinteresse», ou  mesmo  « c ompr a r » . M a s  chega .  U m a  f i cha   d e  le i turapode  se r múltipla (um  l ivro  pode  dar or i g em  a várias   fichas   de  apontamentos), enquanto uma ficha   bibliográfica é   u ma  e   um a  só.

Quanto mais bem e laborado fo r o  f icheiro  bibliográfico, mais serásusceptível de ser   conservado  e   comple tado  p o r   p esqu isas subsequentes, e d e  se r empres tado  (o u  mesmo vend ido) . Va le , pois , a  penafazê - lo bem e de   m od o  legíve l . Não é aconse lháve l   gara tu j ar u mtítulo.  poiTentura errado, c m  caracteres eslenográficos. Freqüentemente,

o   f icheiro  bibliográfico  inicial  ( após   terem sido assinalad os nas f ichasos l i v ros encont rados , l idos   c  c lass i f i cados  n o   f i che i ro  de   le i tura)pode   constituir  a   base para  a r edacção d a  b ib l iog ra f i a   f inal.

Sã o  es tas , pois , a s   nossas   instruções   para  o   reg isto correcto  doslílulos, ou  se j a .  a s  normas  para  citação bibl iográfica.   Es tas normassão válidas   para :

1 )  A   ficha   bibl iográfica2 )  A   f icha   d e   leitura

3 )  A citação dos   l ivros  na s notas  de r odap é4 )  A r edacção da   bibliografia  final.

Portanto, deverão se r  recordadas nos   vários capítu los em qu e nosocuparmos destas fases   d o   t raba lho. Mas são aqu i  f ixadas  uma vezpo r   t odas.  Trata-se  de   normas mui to impor tantes   c o m a s  qua is  o sestudantes  te rão dc te r a pac iênc ia de se  f ami l i a r i zar . Repare - se   quesão   sobretudo normas  funcionais,  urna   vez que  p ermi tem quer  a vós .quer  a os  vossos l e i tores , ident i f i car   o   l i v r o de qu e s e   f a la .  M a s sã o

também   normas,  p o r  ass im d i ze r ,  d c et iqueta   erudi ta:  a   sua observância  r eve la  qu e a  pessoa  está  f a m i l i a r i z a d a c om  a  d i s c i p l i n a ,  a  suaviolação   I ra i  o parvenu   c ient í fico c , por   v e z e s ,  lança   uma sombrade   descrédito   sobre   u m   Irabalho. noutros aspectos  be m   fe i to,  N ã osão, pois, normas  vãs, que não  passam d e  puras f r i vol idade s  d e  e r u di to .  O   mesmo sucede  n o   desporto,  n a   f i l a t e l i a . n o  bi lhar, n a  v idapolílica: se alguém  u t i l i z a   ma l  expressões-chave, é  o lhado  c o m  d es confiança,  como  a l gu ém qu e v e m de   fora .  qu e não é «dos nossos» .E   preciso estar dentro   da s  regras   d o   g rupo  e m qu e s e   quer entrar,pois  «quem não   mija  e m  c om p a n h i a  ou é ladrão ou é esp ião» .

8 4

At é  porque para v io lar regras  ou  para  s e   lhes opor  é necessário

começar por  conhecê- las   e . eventua lmente , demonst rar a  sua incon

sistência ou a  s ua  função  meramente rep ress iva .  M a s  an les  d e   d i ze r

qu e n ão é necessário  sub l inhar o t í tu lo dc u m  l i v ro, é   p rec i so saber

qu e   e le se   sub l inha   e porquê.

I I I .2 .3 . A citação bibl iográfica

Livros  — E i s u m  exemplo  de citação bibliográfica   e r rada :

Wilson.  ].. «Philosophy   and  rcligkm». O xford. 1961-

A  c itação está  e r rada pe las segu intes  r azões :

1 ) D á   apenas  a   i n i c i a l  d o   nome  própr io do autor.  A   i n i c i a l  nãobas ta , e m   primeiro lugar, porque quero saber  o   nome  e o  ape l ido  d cu ma   pessoa  e , d epois , porque  p o d e   haver dois autores  c o m o   mesmoa p e l i d o  e   a  mesma   i n i c i a l .  Sc l e r qu e o   au tor  d o   l i v r o  Clavis  un i -versalis  é P.   R os s i , n ão   f icarei  a  saber  se se  t ra ta  d o filósofo  Paolo

R o s s i  d a  Un i v e r s i d a d e d e F lorença, ou d o f i lósofo   P i e t ro Ross i d aUn i v e r s i d a d e   d e  T u r i m . Q u e m ,  é J . C oh e n V   O   c r i t i co  e es te tólogofrancês   J e a n C oh e n   ou o filósofo inglês  J on a t h a n C oh e n ?

2 )  Se j a como  for que se   apresente  o t ítu lo de um   l i v ro, nunca  énecessário pô-lo   entre aspas, dado  que é um hábito quase un iversa lreferir entre aspas   os títulos  das rev i s tas   ou os t ítu los d os  a r t i gos  d erev i s tas .  E m   t o d o  o   c a s o ,  no t í tu lo em ques tão, e ra   m e l h or  pôrReligion   co m maiúscula, pois os títulos anglo-saxónicos têm os  substantivos, adject ivos  e   verbos  com maiúsculas , d e ixando apenas c o mminúsculas os  a r t i gos ,  partículas, preposições e advérbios   ( s a l vo  seconstituírem a última   pa lavra  d o t í tu lo: The Lóg ica Use   oflf),

3) Não es tá   certo dizer  onde   u m  l i v r o  f o i  publ icado  e nào   d i ze r

por quem.   Suponhamos  que tínhamos   enconi rado  u m  l i v ro  qu e n os

parec i a  importante,  que o queríamos   comprar  e qu e   v inha ind icado« M i l ã o . 1 9 7 5 » . M a s d e q u e  c d i l o r a ? M on d a d or i , R i z z o ü . R u s c on i ,

Bompian i .   Eclirinelli. Va l l a r d i ? C om o é  qu e o  l i v re i ro hav ia  de  nos  aju

dar?  E se  est ivesse mar cado  «Par is . 1976» . para onde   iríamos   escrever?   Só   podemos l imitar-nos  à  c idade quan do  se  trata  d e   l ivros   a n t i

go s  ( «Ame s te r dão . 1678 » ) qu e s ó s e  podem en cont rar numa b ib l ioteca   ou n u m c ír c u lo  r es t r i to  de ant iquár ios . Se num  l i v ro es t ive rescrito  «C a mb r idge » , de qu e  c idade  se  trata?  D a d e  Inglaterra   o u d ados Es tados Unidos?  H á   muitos autores importantes   qu e  referem  osl ivros apenas c o m a  c idade ,  A   menos  qu e s e  trate  d e  art igos  d e  e n c i -

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clopédia (onde  existem  critérios de  brevidade para economizar  espaço)decerto  s e   trata   de   autores snobes  qu e  d e s p r e z a m  o seu público.

4 ) D e   qualquer forma, nesta  c itação. «Oxford» está   errado. Este

l i vro  nào fo i   edi tado  e m   O x f o r d ,  m a s ,  como  se diz no frontispício.pe la Oxford Un ive r s i t y Pre ss , que é uma editora com  sede e m  Londres(bem corno  e m  N o v a   Iorque   e  Toronto).  Além   d i s so ,  fo i   impresso e mG l a s g o w .  m a s  re fere-se   sempre  o   luga r  da edição   e   não o  lugar  d aimpressão ( com exeepção dos  l ivros ant igos,  onde o s   dois locais coincidem, dado que se  tratava d e  impressores-editores-livTeiros). E ncon trei

numa tese   um l ivro indicado  como «Bomp iani , Far ig l iano» porque po racaso  esse   l i vro  t inha   s ido impresso  ( c omo s e   in fer ia  da referência«acabado de impr imir » ) em   Fa r i g l i ano . Quem  fa z   coisas destas  dá aimpressão d e  nunca t er  vis to  u m  li vro na su a v ida . Pa ra te r a   certeza,

é preferível não se  l imi t a r a  p rocura r o s   dados edi tor ia is  no frontispí

cio. mas também  n a página  seguinte,  onde  está o  copyr ight. .Aí se  podeencontrar  o   local real  da edição, bem  como  a   sua data  c número.

Se   n os  l imi t a rmos  ao frontispício,   p o d e r emo s   i ncor r e r  c m   erros

g raves , co mo  pa ra l i vros publ icados pe l a Ya l e Un ive r s i t y Pre ss , pe l a

C o r n e i U n i v e r s i ty P re s s  o u  pe l a Ha rva rd Un ive r s i t y Pre ss , ind ica rco mo  locais  de publ icação   Y a l e . H a r va r d  e   C o r n e l l ,  que não sãonomes  d c  l oca l i dades ,  mas de cé lebres  un ive r s idades pr i vadas .  O srespect ivos locais  s ã o N e w   I J a ve n , C a m br i d g e ( Ma s s a ch u s c t t s )  cI thaca. Ser ia  o   mesmo  q u e u m  estrange iro encontra r  u m   li vro ed i tado pela   Univcrsitã   C a t t o l i c a  e indicá-lo  co mo  p u b l i c a d o n a a l e g r ecidadez inha ba tuca r d a  costa   do Adr iát ico.

Ult ima  advertência: é  bom costume citar sempre  a  cidade d e ediçãona  (íngua  original .  E . portanto. Londo n e não Londres, Berl i ne não  Ber l im.

5 )  Q u a n t o  à da t a , está bem p or  acaso.  N e m  sempre  a   data re fer ida

no   frontispício é a   verdadeira data  d o   l i vro . Po d e  ser a da última  ed i ção.  Só na página do cvpyright  poderemos   encontrar  a  data  d a   p r i

meira  edição (e   poss ive lmente descobriremos  qu e a   p r ime i r a  ediçãofoi publ icada  p or  outro edi tor ) .  A diferença é por  vezes  mui to impor tante. Suponhamos  qu e s e   encontra uma c itação  co mo  esta :

Searle.   J . ,  Speich   Acrs,  Cambridge, 1974.

A parte  a s   outras  incorrecções,  ve r i f i cando  o  copyriglu   desco

bre-se qu e a   p r ime i r a edição é de   1 9 6 9 . O r a   pode   t ratar-se,  n a  vossa

lese.  d e   p r ec i s a r  se   Scarlc fa lou  d os  speech acrs an t e s  ou  depo i s  d e

outros autores  e.   portanto,  a  data   d a  p r i m e i r a  edição é   f undamenta l .

8 6

Alé m   d i s so , se se le r bem o pre fácio d o  l ivro, d escobrir-se-á que asu a   tese   f undamenta l  fo i  apresentada  co mo  d isse r tação dc PhD emOxford   e m   1959 (por tan to  d e z   anos  an t e s ) e q u e .  entretanto,  váriaspartes  d o   l ivro foram publ icad as   c m   revistas  f ilosóficas.

N ão  passa r i a pe l a cabeça dc ninguém  c i t a r uma obra  deste   modo:

Man zoni. Alessandra, I pwmessi spoSí,  Mol le i ia ,  1976

só  porque  l e m n a mão u ma  edição  recente   publ icada  e m  M o l f e t ta .

O r a , quan do sc trabalha sobre u m autor. Searle  eqüivale  a M a n z o n i : não

podemos  d i fund i r  idéias  erradas sobre o  seu trabalho, e m  nenhum caso.

E  s c,  a o  es tudar -se M an zon i . Sea r le ou W i l son , s e  t iver t rabalhado c o m

um a   edição   posterior, revista   e  aumentada ,  deverá  especi ficar-se quer

a  data  d a  p r ime i r a  edição   que r  a da edição da  qua l  se faz a citação.

A g o r a  qu e j á  vimos  co mo  não se deve   c i t a r  u m  l i vro , examine

mo s  a  s e gu i r c inco mane i r as  d e   ci tar correctamenie  o s   dois l ivros  de

qu e  falámos. Esclareçamos que há   outros  cr itér ios e que   qua lque r

d e l e s   pode r i a   se r vál ido  d e sd e  q u e  pe rmi t i s s e :  a )  d i s t ingui r os   l ivros

dos art igos  ou d os capítu los de  out ros l i vros ; b)   ident i f icar sem equ í

vocos  quer  o   nome  d o  autor quer o títu lo: c)  ident i f icar local d c  pub l i

cação,  edi tor e edição: d)   ident i f icar eventualmente  o número dc pági

na s  ou a dimensão do   l i vro . Des t e modo.  o s   c inco exemplos  q u e

apresentamos  são  todos   bons numa medida  var iável,  embora  demos

preferência, p or vários  mol i vos .  a o   p r ime i ro :

Speech  Acts  —   .AH  Essay in  lh e  Phi losophy o f Langaage,I>   ed.. Cambridge. Cambridge University Press. 1969( .Ve iL ,  1974), pp. VU1-204.Phi losophy  and  Religion — The  Logic of Rel ig ious Belief,London. Òxíord   University Press. 1961, p p.   V1II-120.Speech Acrs  (Cambridge: Cambridge, 1969).1'hi losophy  a nd  Religion (London : Oxford. 1961).

Speech Acis. Cambridge, Cambridge University Press.l.'etl-. 1969.(5-." ed..,  1974), pp, V11I-204.Philosophy and Religion, lx>ndon, Oxford University Press.1961. pp.V i r i -120 . "

Speech Acts. London: Cambridge University Press. 1969.Philosophy and Religion. London: O xford University Press,1961.

1. Searle.  John R..

Wilson. John,

2. Searle. John R..Wilson. John.

3.  Sear l e ,  John /?..

Wilson. John.

4. Searle. John R..Wilson. John.

S i   SEARLE. John  R .1969 Speech Acrs — An  Essay i n l h e  Phi losophy of lu inguage.

Cambridge. Cambridge Universily Press  (5.* ed.. 1 974),pp .  VIII-204.

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W I L SO N . John

1961   Philosophy tmd Rpligitm  —  Th e I-ogit: ofRel ig ious Rel iej .London. Oxford University Press. pp. VIT1-I20.

Ev identemente ,  há soluções   m is tas :  n o  e xe m p l o  1 o   nome  d oautor pod ia es tar   cm maiúsculas   como  e m 5 ; n o   exemplo  4   podeencontrar-se   o subtítulo   como  n o   p r ime i ro  e n o  qu i n t o .  E .  comoveremos,  há  s i s t emas a inda mais compl icados   qu e   inc luem tambémo título da colecção.

D e qualquer forma, aval iemos  estes  c inco exemplos, iodos  eles válidos. Deixemos  p or  agora  d e  lado o  exemplo  número  c inco. Trata-se  d eu m caso d e  bibliograf ia especial izad a (s istema dc referência   autor-data)de   qu e  falaremos mais adiante, a p ropósito das notas  c  da bibliograf ia

final.  O segundo  é  t ip icamente americano, sendo mais ut i l izado  n a snotas de rodapé do  que na bibliograf ia   f inai. O   terceiro, tipicamente alemão, tornou-se raro e . a  meu ver.  não apresenta qualquer vantagem.  Aquarta  forma  é  muito ut i l izada nos Estados Un idos , e  considero-a muitoantipática, pois n ão  permite d ist ing uir imediatamente   o título da  obra.O sistema   número   1 d iz-nos tudo aquilo que nos  serve, di/.-nos claramente  qu e se  traia  d e  um l iv ro e dá-nos  u ma  idé ia d o seu volume.

Revistas  —   Para   ve r de   imed ia to  a   comodida de deste sistema ,

procuremos c i t a r  de três   formas diferentes   u m   a r t i go  de   r ev i s ta :

Anceschi,  Luciano.  «Orizzonte  delia  poesia», // V e r r i I (NS) . Fevereiro 1962'6-21.

Anceschi.  Luciano.  «Orizzoiue  delia  poesia». // Ve r r i I (NS) . pp.   6-21Anceschi,  Luciano,  Orizzonte  delia poesia, in «II V erti», Fevereiro  I % 2 . pp.  f>

-21.

Ha ver ia a inda out ros s i s t emas,  ma s  ve jamos   desde  já o   primeiro

e o  terceiro. O   p r ime i ro põe o  art igo entre aspas  c a  revista  e m itálico,o   lereciro, o   art igo e m itálico e a  revista entre a spas. Por que motivo   cpreferível o  primeiro? Porque permite   c o m  um simples olha r compreender que «O r i z zon tc d e l i a  poesia » não é um livro ruas um texto curto.Os art igos  d c  revista entram assim  n a  mesma categoria   ( c omo  veremos)  dos capítulos dos  l ivros e  das actas  d os  congressos.  E  c la ro queo   segundo exemplo  é  urna   var iação do   p r ime i ro : l im i ta - se  a   omit ira  referência  ao mês  d e publicação. Porém, o primeiro exemplo informa--m c  também   sobre  a  data  d o  art igo  e o   segundo,  não. pelo qu e é def i-ciente. Teria sido melhor   pôr ao   menos: //  Ve r t i  1.   1962 . N o t e - s e  qu e

8 8

foi posta   a indicação (NS ) ou «N ova Sér ie » .  Isto é   muito importante

porque // Ve r r i teve  uma p r ime i ra  sér ie também com o n úmero I , que

é de   1956. Sendo preciso citar aquele   número (que  obviamente  não

podia   te r a indicação «ant iga s ér ie » ) , seria correcta   a   seguinte forma:

Ciorlicr. Cláudio. «UApocalisse d i  Dylan   Tliomas». // Ve r r i 1. 1. Outono1956, pp. 39-46

onde, como  se vê, além d o número, está  especif icado  o  ano. E  ass imqu e  a  ou t ra  c itação  pod ia   se r  r e formulada   d a  seguinte ma neira:

Anceschi. Luciano.  «Orizzunte deli» puesia», I I Ve r r i VI I , 1. 1962, pp. 6-21.

s c nã o  fosse o  facto  de a  nova  sér ie não  i n d i c a r o a n o . N o t e - s e   a inda

que certas revistas nume ram os  fascículos   progressivamente  a o   longod o  a n o l o u  n u m e r a m p o r  volume:  e   n um   a n o podem  s e r  publ icados

vários   volumes ) . Por tanto, querendo,  nã o  s e r i a   necessário pôr o

número do fascículo.  bas tar i a reg i s tar  o a no e a página .  E xe m p l o :

Guglielmi. Guido. xTccnica c lelleratura», Língua esi i fe. 1966, pp. 323-340.

Se procurar  a  r ev i s ta   n a   bibl ioteca, veri f icarei  qu e a págin a 32 3

se encontra   n o   terceiro volume  d o  p r ime i ro  a n o . M a s n ão v e j o por

que hei-de sujeitar  o  meu leitor a esta  ginástica   (embora certos auto

re s  o façam)  quando seria muito mais   cômodo   escrever:

Guglielmi. Guido.  «Técnica e leiteratura», Ungua  e st/te.   I . 1. 1966

e   nessa   a l tu ra , embora   não forneça a página, o   art igo  é  muito mais

acess íve l. Alé m   d i sso,  se   quisesse encomendar  a   revista   a o  ed i tor

como  número   atrasado,  não me   in te ressar ia saber  a página ma s o

número d o   volume. Todav ia ,  a ind icação das páginas   in ic ia l  e   final

serve-me  para saber s c s c  trata  d e u m  a r t i go longo  o u d e  u ma   brevenota  e.   portanto,  são informações   sempre  aconselháveis.

Aurores   vár ios e   organizado  po r  —   Passamos agora   aos capítu

lo s  de   obras mais vastas, sejam elas recolhas   d e   ensaios  d o   mesmo

autor ou colectâncas   m is tas . E is  u m  exemp lo simples :

Morpurgo-Tagliabuc. Guido.  «Arislolelisnío e líarocco» i n A A W .  Rerorica eRuroeco .  Atti  dcl   ITI Congresso Inluma/ionale  d i  -StudiUmanistici. Vene/ia. 15-18  Junho  1954. organizado porEnrico CastelU. Roma. Bocea. pp. 119-196.

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O   qu e me d i z u m a in d ica ç ão  d es te i ipo? Tudo aqu i lo  d c quenecessito, isto  é:

a )  Trata-se   de  um texto integrado nu ma recolha d e  outros textos   e.portanlo, o de  M orpurgo-Tag li abue não é  um l ivr o, embora  d o númerodc  páginas (77 ) se  conc lua  s er  um estudo bastante consistente.

b)   A   r ecolha   é u m  volume  c om o título  Retór ica e  Barocco  qu ereúne   textos  d c au tores  vá ri os ( A A W o u   A A . V V . ) .

c)   Es ta  recolha  const i tui a documentação das acias  d e  um encontro.

E   importante  sabê-lo porque  e m  certas bibliograf ias poderei descobrir

qu e  o   volume  está  catalogado  e m «Acta s de  encontros   e congressos».

d )  Q u e é  organ i zado por Enr i co Cas t e lU . E  um dado mui to impor

tante, não só porque   c m  qualquer biblioteca poderei encontrar a reco

lh a  n o  nome   «Ca s tc l l i , Enr ico» , mas também  porque , segundo  o  usoanglo-saxónico. os  nomes   d os  au tores vários não vêm  r eg i s tados e m

A (Au t o r e s  V á r i o s ) m a s n o   nome  d o   organ i za dor . Por tanto,  este

volume, numa b ib l iog ra f i a i t a l i an a , aparecer ia des ta forma:

A A W ,  Retórica e  Barocco. Roma. B occa. 1955. pp. 256. 20  i l .

mas numa b ib l iog ra f i a amer icana tomar ia   a   segu inte forma:

Castclli. Enrico, (ed.), Returiai e  Barocco, etc.

onde  « e d . »  s i gn i f i ca  « o r ga n i z a dor » ou « or ga n i z a do p or » ( c om « e d s . "a  organ ização   pertenceu   a  m a i s  de u m indiv íduo) .

Po r  imitação do  cos tume amer ican o, ho j e  e m  d ia  este  l i v ro pod iaser registado como:

Castclli.  Enrico (organizado por). Retórica  e  Barocco, etc.

Sã o   co i sas   que se   d evem saber para ident i f i car   u m  l i v r o n u mcatálogo d e  b ib l ioteca   ou  nout ra b ib l iog ra f i a .

C o m o  v e r emo s   no parágra fo I I I .2.4. a propós i lo de   uma exper iência   concre ta   d e   p esqu isa   bibliográfica, a   p r ime i ra  c i tação queencont rare i des te ar t i go,  n a  Storia delia Lettcratura  Ital iano  deG a r z a n t i ,  f a l a r i a   d o  ensa io  d c  M or p u r g o - T a g l i a b u e  n os   seguintestermos:

ter p reseiiie...  A miscelãnea   Retór ica  tf  Barocco,  Au i de i I II  CongressoInternazionale d i Studi  Uihanistict Milano, 1955. e em particular o importanteensaio de ( i .  Morpurgo-Tagliabue,  «Arisiolelismo c Barocco».

9 0

Trata-se   d e  u m a   péssima indicação bibliográfica,  dado q u e :

á)   n ão d i z o  nome  própr io do   autor.  /;)  leva   a   c re r  q u e o c o n -

•rresso  se   r ea l i zou   e m M i lão ou qu e o  ed i tor  é de Mi lão ( e   ambas

as a l t e rnat ivas  estão   e r radas ) ,  c)   n ão d i z  qu e m  é o  editor,  d )  não

i n d i c a  a d imensão do   e n s a i o ,  e )  n ão d i z po r  quem  é  o r g a n i z a d a   a

misce lãnea .  embora   com a expressão   ant iquada   «m is c e lãn e a » s e

i n d i q u e  que é  uma recolha  d e   textos  de vários   autores.

A i  de nós se procedêssemos  a s s i m n a  nossa f icha  bibliográfica.

D e v e m os r e d i g i r  a   f i cha  d e  modo  a  d e i xa r espaço  l i v re para  a s  i n d i

cações qu e  por enquanto nos falta m. Deste modo, anotaremos   o   l ivro

d a   seguinte forma:

Morpurgo-Tagliabue. G...«Aristotclismo  c Ba rocco»,  in  A A W . Retórica e Barocco —  AUi  ciei 111 CongressoInterna/ionale di Studi  Umanistici  organizado por .... M i l a n o— 1955. pp ....

de modo  que nos espaços em   branco possamos depois   i n t r o d u z i r o s

dados  qu e  f a l t am, quand o  os   t i ve rmos encont rado nout ra b ib l iog ra

f ia ,  no ca tálogo da  b ib l ioteca   o u  mesmo  no própr io   l ivro.

Mui tos autores   e  nenhum   organizador—   Suponhamos agora  qu e

queremos reg i s tar um ensa io publ icado nu m l iv ro  que é obra  d e  qu a

tro autores diferentes,  s e m q u e   nenhum de les   se   apresen te como

organ i zador . Tenho,  p o r  exemplo,  à  m in ha f rente ,  u m  l i v ro  a lemão

com quat ro ensa ios , respec tivamente  de T . A . v a n  D jik . .Tens  I hw e ,

Janos  S. Petõfi e   Hannes R ieser .  P o r   comod idade ,  n u m   caso deste

t i po .  ind ica- se apenas   o   p r ime i ro au tor segu ido  de  e t a i ,  qu e  s i g n i

fica   e t  alii;

Djik  T . A. van  et  al.. Z u r Best immung  narraliver Strukntren. etc.

Passemos agora   a u m  caso ma is compl icado . Tra ta - se  d c u m

longo ar t i go  qu e  aparece   n o  torno terceiro  d o  volume  duodéc imo de

u ma   obra colec t iva .  e m qu e   cada volume  tem um t í tu lo   d i ferente

d o  d a  obra g loba l ;

Hymcs, Dell, «Anthropology   and  Sociology», in  Sebeok. Thomas   A., org.,Curren t Tremi*  ia  IJngutstics. vol. XII. Linguisiirs and  AdjacemArts and  Sc iences, t. 3,TheH ague,   Mouton. 1974. pp. 1445-1475.

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-   Is to p a r a c i t a r  o   a r t i g o  de   D e l l  H y m c s . S e . p e lo  contrário,  t iverde c i t a r a   obra comple ta , a in formação q ue o   l e i tor espera   já não 6em que   vo lume   se  encont ra   D e l i  H y m e s ,  m a s p o r  quantos  volumesé  composta   a  obra :

Sebcok. Thomas A . org.. Cur ren t Trends  in Lingüista: \; T h e  Hague. M tmton.1967-1976.  l 2vols .

Q u a n d o t e n ho d c c i t a r um ensa io cont ido num volume  d e  ensa iosdo mesmo autor ,  o método a   adop tar n ão   d i fere   d o  c a s o  d e   AutoresVár ios ,  s a l v o  qu e  om i t o  o  n om e  d o au tor antes  d o  l i v ro :

Rossi-Landi. Ferruccio.  «Ideologia  come  progeitazionc sociale». in  //  l ingUu$-

gi o  come lavoro e come mercato ,  M i lano. Rômpiani,1968. pp. 193-224.

Ter-se-á notado que , g e ra lmente ,  o título de   ut n  capítulo é  i n  u m

dado l i v ro , enquanto   o   a r t i go  de   r ev i s ta  não é  i n   a  r ev i s ta  e o   nome

des ta  segue-se   imed ia tamente  a o t ítu lo do   a r t i go.

A  .sér ie  — U m  s i s t ema   de citação   mais per f e i to aconse lha  qu eanotemos   também a eolccção em que o  l i v r o  é  publ icado. Tra ta - sede   um a in formação, que , na  m i n h a  opinião, não c indispensável,u ma  v e z qu e a   obra f i ca su f ic i entemente ident i f i cada conhecend o  oautor,  título, ed i tor  e an o de publ icação. N o  entanto, c m  certas   d isc i

pl inas ,  a eolccção   pode   const i tu i r  u m a  g a r a n t i a  ou um a indicaçãod c u m a c e n a   tendência científica. A eolccção   re fere-se   entre aspasdepois  d o t í tu lo e  inc lu i  o número de  o r d e m  d o  volume:

Rossi-l.andi.  Ferruccio,  li   l inguaggio come lavoro e  come  m e  reato . «Nuov:

Saggi  lüiüani 2», M ilano. Bompian i. 1968. p . 242 .

Anôn imo, Pseudôn imo, e tc . — H á   a i n d a  os  casos d e  autores  anôn imos ,  de u t i l i zação de pseudônimos e de   a r t i gos   de enciclopédiaprov idos   d e   in ic ia is .

No p r ime i ro caso. bas ta  píir n o  l u g a r d o  nome  d o  au tor a   i n d i c a

ç ão « A n ô n i m o » . N o  segundo, basta fazer suceder   ao pseudônimo,entre  pa rênteses, o  nome verdadeiro  (se for   conhecido), eventualmentesegu ido  d c u m  ponto  d e interrogação se for uma hipótese   bastanteprovável. Se se   trata  d e  um autor reconhec ido como ta l pe la   tradição.

9 2

mas cu ja f i gura   histórica   l enha s ido pos ta  e m  causa pe la   crítica   mais

recente,  registá-lo-emos   como  « P s e u do» . E xe m p l o :

Longino (Pseudo), D e l Subl ime.

N o te rce i ro caso. uma  v e z qu e o   a r t i go «Se c e n t i s mo» da  Encic lo

pédia   T r e c c a n i  t e m a s  i n i c i a i s  « M . P r . »,  p rocura- se   n o in íc io do

volume   a   l ista  d a s  i n i c i a i s ,  on d e  s c  ve r i f i ca   qu e se   trata   d c  M a r i o

Pr a z .  e   escreve - se :

ario)  PrCaz). «Scccnlismo». Enciclopédia I tal iana,  X X X I .

U so   d o  i n  — H á  a inda obras  que são agora   acessíveis  nu m volume

ensaios  d o  mesmo autor  o u  numa  antologia  dc utilização  gera l, masqu e  começaram  por ser publ icadas e m  revistas. Sc se  trata d e uma  refe

rência   marginal relat ivamente   a o   tema   d a   lese.  pode   c itar-se  a   fonte

mais  acessível, ma s sc sc trata de obras sobre as quais a  tese se debruça

especif icamente,  o s   dados  d a  primeira   publicação são   essenciais po r

razões d e exa ctidào histórica.  Nada impede   que se use a edição  mais

acessível, mas sc a   antologia   ou  volume   d c  ensaios forem   be m   feitos

deve  encontrar-se neles   a referência à  p r ime i ra  edição d o   trabalho c m

questão. Part in do destas   indicações, poder-se-ão então organ i zar  re fe

rências bibliográficas   deste t ipo:

Kai/.  .letrold   J . e  Fodor. Jerry  A., «The   Structurc o f a   Seraantic  Thcory».Language.   3 9 . 1963, pp. 170-210 (agora  inFodor, Jerry A . c Kalz, Jerrold   J . .  orgs.,  77 IÍ

Structurc  of   language,  Englcwood Cli f fs;Preniice-Ilall. 1964. pp. 479-5IH).

Q u a n d o  s e   u t i l i z a   a  b i b l i og r a f i a e s p e c i a l iz a d a  d o  t ipo au tor -data

( de que  f a la remos   e m  V .4 .3 . ).  d e v e   ind icar - se  e m  d es tacado  a  d a t a

da   p r i m e i r a  pu blicação:

Kat/, Jerrold   J .  e  Fodor. Jerry  A.1963   «The  Structure of  a Scmantic Theory». Language 3 9  (agora

in  Fodor. J .  A . G  Kat/.  J . J . .  orgs., V ic  Structure  o f Language,Engkwood Cli f fs.  Prcnticc-Hall. 1964, pp. 479 -518).

Citações   de jornais  — As   c itações de diários c semanários   f u n

c i o n a m  c om o  as ci tações das   r ev i s tas , sa lvo  qu e é   m a i s c on v e n i -

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eme (para mais   fácil  acesso)  pôr a   data   de preferência ao número.Ao c i t a r d e   passagem  u m  a r t i go  não é es t r i t amente   necessário   ind i

ca r  também a página   ( embora se j a sempre   út i l ;  n e m .  n o   caso  dosj o r n a i s  d iár ios ,  i n d i c a r a   c o l u n a . M a s se s e  f i ze r  u m  estudo específico   sobre  a   i m p r e n s a ,  então   estas  indicações   tornam-se quaseindispensáveis:

Nascimbem. G tulio,  «Come   ('Italiano santo e navigatore é divcnlato bipo aro>..Corriere  del ia Sera. 25.6.1976. p.  1.  col.  9 .

Para  os  j o r n a i s  que não  l enham  um a di fusão  n a c i on a l  o u   internaciona l  (ao contrário do que  acontece  c o m   The Times, l .e   Mondeou   o  Corr iere   delia   Se rá) ,  é  conven iente espec i f i car  a  c i d a d e ;  cf.

Ga-zeilino  ( V e n e z i a ) .  7 .7 .1975 .

Citações de  documentos  oficiais  ou de   obras monumenta is  —Para  os   documentos of ic iais existem abreviaturas  e  s i g las  q u e  var i amd e d i s c i p l i n a p a r a   d i s c i p l i n a ,  la l como exis t em a brev ia turas  típicaspara   t raba lhos sobre manuscr i tos ant i gos . Aqu i   só   podemos remete r  o  l e i t o r p a r a   a   l i t e r a t u r a   esp ec í f ica , cm que se inspirará.Recordemos apenas q ue . no âmbito de  u m a d a d a   d i s c i p l i n a ,  c e n a sabrev ia turas s ão de u s o  t r a d i c i on a l , não   sendo  vó s   obr igados  a d a routros esc larec imentos . Para  u m  estudo sobre  a s  ac tas par lamcn la-res amer icanas ,  u m  m a n u a l d o s  E s l a d os Un i d os a c on s e lh a   c itaçõesdo t ipo:

S. Rcs. 21K, 83d Cong.. 2 d  Sess.. 100 Cong. R ec. 2972  ( 1954)

qu e  o s   e s p e c i a l i s t a s  e s tão e m c on d iç õe s de l e r   a s s i m :  «Se n a tc

R e s o l u t i o n n umber 21 8 adop ted a t the  second sess ion  o f  l h e E i g h l v -- T h i r d  C o n g r e s s ,  1 9 5 4 . a n d   r e c o r d e d   in   v o l u m e  1 0 0 o f l h eCongressional   Record   b e g i n n i n g  on pa ge 2972 » .

D a   mesma forma, num estudo sobre   a  f ilosof i a med ieva l , quandose indica r um texto como  su sceptível de ser  encont rado  in  P . I . . 17 5.9 4 8   ( ou   H L. C L X X V .  c o l . 9 4 8 ) , qualque r pes soa   compreenderá quenos estamos  a  r e f e r i r  à   c o l u n a   9 4 8 d o  volume   1 7 5 d a   Patrologic.latina   de   M i g n e ,  u m a  r ecolha   clássica de   textos lat inos   d a   IdadeM édia c r is tã. M as se se  es t i ve r  a  e laborar  ex novo   uma b ib l iog ra f i aem f ichas ,  será   conven iente  qu e . da  p r i m e i r a   v e z . s e  anole  a   re fe-

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rência   completa   d a  obra , at é porque na b ib l iog ra f i a g e ra l   será  me lhor

citá-la por   extenso:

Patroiosiae Cargas   Completas,  Series Latina, organizador   J .  P.  Migne,  Pari*.Gurnier.  1844-1866. 22 2 võls. (•iSuppíemenlitm,  Turnhout. Brep ol*. 1972).

Ierr

Citações de clássicos   —   Para c i t a r obras   clássicas, há   convenções   quase un iversa i s ,  d o   t ipo  tífulo-livro-capítulo. ou parle-pará-g ra f o o u   canto-verso. Certas obras foram agora subdivid idas segundocritér ios que  r emontam  à ant igüidade :  quando organ i zadores moder nos lhes sobrepõem   outras  subdivisões,  g e ra lmente conse rvam também a referência   t ra d ic iona l . Des te modo,   s e   qu isermos c i t a r  d a

Metafísica   de Ar is tóte les a d e f in ição d o pr inc ípio da nào  c on t r a d i ção,  a citação será:  Me l .  T V , 3 .   1005  b , 18 .

U m  t r echo  d os  Col lected   Papers  de   C h a r l e s  S .  Pe i rec c i t a - sehab i tua lmente :  ÇP ,  2 .127 .

U m  vers ículo da Bíblia citar-se-á  como  1  Som ,  14 :6 -9 .A s  comédias c as tragédias c láss icas (mas também as   m od e r -

s)   c i t a m - s e c o l oc a n d o  o  ac to  em números   r om a n os ,  a   c e n ae m  números árabes e,  e v e n t u a l m e n t e ,  o   ve rso  o u os   ve rsos :  Fera,I V , 2 : 5 0 - 5 1 .  O s a n g l o - s a x õ e s p o r   v e z e s   p r e f e r e m :  S h r ew .  I V .i i ,   5 0 - 5 1 .

Ev identemente , i s to  e x i ge  qu e o   l e i lor  d a   tese   sa iba   qu e   Feraquer d i ze r  A  fera   amansada,  d e   Shakespeare .  Se a   t ese  f o r   sobreteatro isabelino. não há  p rob lema. Ma s se a referência intervém   comodivagação   e l e g an t e   e   douta numa   t ese   d c p s i c o l og i a ,  será   me lhorfazer uma  c itação  mais extensa.

O p r i n c i p a l cr itér io   d ever ia   se r a   func iona l idade   e a fácil  compreensão: se me  r e f e r i r  a u m  ve rso  d e   Dan te como 11 .27 .40.  pode

log icamente deduzi r - se  que se eslá a   f a la r  do quadragés imo   versodo canto 2 7 d a  segunda par te . M a s u m  espec ia l i s ta  d e   Dante p re fe riria  Pu r g .  X X V I I , 4 0 .  e é  conven iente conformarmo-nos   a os   costumes  d isc ipünares — qu e  cons l i tucm u m  segundo, mas  n ão   menosimportante , cr itér io.

Ev identemente ,  é  preciso estar atento,  a os  casos  am bíguos . Porexemplo,   o s   Pensamentos  d c P a s c a l  sã o   referidos  com um númerodiferente, consoante   n os  r epor tamos   à edição de  B r u n s c h v i cg  o u aoutra,  p o i s  são   ordenados   de   forma d iversa .  E   isto  sã o  co i sas q u ese ap rendem lendo  a  l i t e ra tura  crítica   sobre  o  lema.

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Citações de   obras  inédi tas e de  documentos  pr ivados  —   Teses

de   l i cenci a tura ,  manuscr i tos e  documentos semelhantes   sào   espec i

f i cados como ta l . Ve j amos dois exemp los :

íià  Porta, Andréa,  Aspeni di u na   lenria  deWesecuzione ne l linguaggiu  ntiiurate . Tese  discutida  na  Faculdade d e  Letras e  Filosofia.Bologna, A . A . 1975-76.

Valesio. Paulo.  Npvantiqua; liheiorics  a s a   Comem porary LingnisiicTheory .  texto dactilografado em curso de  p ublicação  ipo;gentil cedância do  autor).

De i gua l modo  sc   podem c i tar car tas p r ivadas   e comunicações

pessoais. S e são de importância secundária, basta   mencioná-las  numanota . M a s s e tê m  u ma  imp ortância   d ec i s iva para  a   nossa tese, f igu

rarão também na  b ib l iog ra f i a ;

-Smiih, John. C ana pessoal a o  autor (5.1.1976).

C o m o  se verá  a i n d a  e m  V .3 . , para  este   t ipo de citações   deveremoste r  a   d e l i cadeza   d c  p ed i r  autorização a   quem  nos fe z a   comunicação p e s so a ] e . se e la   t iver sido oral. mostrar- lhe   a  nossa   transcriçãopara   aprovação.

Originais  e t raduções —   E m r i gor,  u m   l ivro deveria   s e r  c on s u l -lado  e   c i t ado  na l íngua   o r i g i n a l . M a s a  r ea l idade  é b e m   d i ferente.Sobretudo porque existem  l ínguas que . por   consenso gera l ,  não c  

indispensáve l saber (corno  o búlgaro) e  outras que nào se é   obrigadoa saber (parte-se   do princípio de que   todos sabem um pouco  de francévc  dc inglês , um  pouco menos  de a lemão, que um  i tal ia no pode compreender  o  espanhol  e o português   mesmo  s e m  saber estas  línguas,

embora isso  nã o passe  de   urna   i lusão, e que   r egra ge ra l  não se   percebe   o   russo  ou o   sueco) .  E m  segund o luga r, porque certos l ivrospodem mui to b e m s e r  l i dos  cm iraduçòes. Se se   f izer uma  tese   sobreMoliè re . seria bastante g r ave  t e r  l ido este  autor em ita l iano, mas numatese   sobre  a história do   Ressurg imento  não há   grande problema   sese   le r a  Histór ia de I tál ia  d e   D e n i s M a c k Sm it h  n a tradução  i t a l i anap u b l i c a d a  p e l a L a t e r za .  E   se r i a hones to c i t a r   o   l i v r o  c m   i t a l i ano.

T od a v i a ,  a ind icação bibliográfica poderá v ir a ser útil a ou t roN

que que i ram ut i l i zar a edição  o r i g i n a l e .  portanto,  será   conveniente

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ar   uma indicação   d u p l a . O   mesmo sucede   se se   t i ve r l ido  o   l ivro

sm   inglês. Está certo c itá-lo cm inglês, mas  por que  n ão  ajudar outros

leitores  qu e   que i ram saber  se há um a tradução   i t a l i a n a  e   qu e m  a

publ i cou? D es te modo. para ambos  os  casos , a  forma ma is adequada

é a   segu inte :

Mack  Smith, Denis. ftaly.  A  M od em  Mistory,  An n   Arbor, Th e  University  ofMichigan  Press, 1959 (tr. i t.  de Alben o Acquaronc, Storiad'ltalia — D a l 1851 a l 195S,  Bari, Laier/.a, 1959).

Há excepções?  A l g u m a s . P o r  exemplo,  s c a  tese  não for em grego

e   suceder c i t a r - se  (o que  pode acontecer numa   dissertação   sobre

temas  ju r ídicos )  A República,  de Pla tão, bastará citá-la em  i t a l i ano,

desde   qu e s c  especif ique  a tradução c a edição a que se faz   r e f e rência.

Do mesmo modo.  se se   f i ze r uma   tese d c ant ropolog ia   cu l tu ra l ,

sc   t i ve r  de  c i t a r  o   segu inte l i v ro :

_ounan, J u .   M . e  Uspcnskij. B  A .. Tipologia delia cultura, M i lano. Rompiam,1975

poderemos sent i r -nos au tor i zados   a  c i t a r apenas  a tradu ção i t a l i ana ,

e   isto  p or   duas boas   r azões : é improváve l que os   nossos le itores

a r d a m  de  d e s e j o  dc i r  ve r i f i car  n o  o r i g i n a l r u s s o ,  c não  ex i s t e  u m

l i v ro or i g ina l , dado  qu e s c  trata   d e u m a  r ecolha   d c  ensa ios  pub l i

cados  e m várias  r ev i s tas , col i g idos pe lo organ i zador i t a l i ano . Q u a n d o

mui to poder ia ind icar - se   a   s e g u i r  ao título:   o r g a n i z a d o  p or   R e m o

F a cca n i  e   M a r z i o M a r z a d u r i. M a s s e a  tese   fosse sobre   a s ituação

actual  d os  estudos se mióticos, então   deveria proceder-se   c o m  maior

exactidão.  A d m i t i n d o qu e não se es tá em condições de le r o  russo

(e   p ressupondo qu e a  t ese  não  seja sobre  semiótica soviética) , é  pos s íve l que nào nos  r e f i ramos  a   esta recolha   e m  g e r a l ,  m a s q u e  este

j amos   a   d i scut i r , p or  exemplo,  o sétimo   ensa io  d a  r ecolha . E então

será  in te ressante saber quando  f o i  publ icado, pe la p r ime i ra   vez c

onde : tudo indicações que o   organ i zador  terá  d a d o e m  nota  ao título.

Ass im,  registar-sc-á o   e n s a i o  d a   segu inte mane i ra :

J u r i  M ..  "O   ponjatii g eografíceskogo   prostranslvu  v  russkich srcdnc-vekovych   tckstach». Trúdy p p   znakavym   sistemem   I I . 1965.pp.  210-216  (tr. tL de  Remo  Faccani.  «I I  conceito  d i spazio

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geográfico  nci testi medievali russi». in  Lotman. J u .   M . e   Uspenskij,  B. A. .Tipologia  del ia cultura, organizado  po r  Reino Faccani c  Marz io Marzadurí.Milano, Bompiani. 1975).

Des te modo.  n ão  es taremos  a  f ing i r t e r l ido o   texto  o r i g i n a l , poisass ina lou-se  a   lbnte   i t a l i ana ,  ma s  forneceram-se  a o  le i tor todas   asindicações qu e  eventua lmente  lh e   possam servir.

Para  obras e m l ínguas   pouco conhec idas , quando  não   existe  t ra

dução e se  quer a s s ina l a r a sua  existência, é habi tua l pfir entre   parênteses   a  s e g u i r  ao título  u ma   tradução na  nossa   língua.

Examinemos f ina lmente  u m  caso  qu e . à   p r ime i ra v i s ta , parecemui to compl icad o e   cuja  solução «per fe i ta »  parece demas iado  minu

ciosa .  E   v e r emo s   c om o m e s m o  as soluções   podem  s e r  doseadas .

D a v i d  E f r on   é  u m j u d e u a r g e n t i n o,  qu e e m 1941   publ icou  eminglês , na  A m e r i c a ,  u m  es tudo sobre   a ges tuaüdade dos  j u d e u s   edos i t a l i anos  de  No va Iorque , co m o t í tu lo Gesture   and tò tv i ronmem.S ó  e m  1 9 7 0 a p a r e c e n a A r g e n t i n a u m a  tradução  e s p a n h o l a , co m u mtítulo   d i f e rente :  Gesto,  raza   y cultura.  E m   1 9 7 2 , é   p u b l i c a d a   u m areedição   ing lesa , na  H o la n d a , c om o t í tu lo ( s emelhante  a o   espanhol )Gesture, Race   and  Culture .  Des ta  ed ição, fo i   fe i ta   a tradução   i t a l i

a n a , Gesto,  raza   e  cultura,  c m   1 9 7 4 . C om o c i t a r  este   l i v ro?

C om e c e m os   p o r v e r   casos ext remos,  ü   p r i m e i r o  d i z   r espe i toa  u m a  t ese   s o br e D a v i d  E f r o n :  nes le caso,  a  b i b l i o g r a f i a  f i n a l  teráu ma   secção  d e d i c a d a  às  obras  d o  au tor , e  todas es tas  edições serãoc i tadas   p o r   o r d e m  d e   da tas como out ros tantos l i v ros ,  e c o m aespec i f icação, em  c a d a  c i tação, dc que é   u m a  r e e d i ç ão d o   p r e c e d e n t e . Supõe-se qu e o  cand idato t enha v i s to todas  a s e d i ç õe s , poisd e v e   c om p r ov a r  se  h ou v e   modi f icações ou  cor tes . O   segundo casor e f e r e - s e   a u m a  t e s e   d e   e c o n o m i a ,  dc c iênc ias pol í t icas o u des oc i o l og i a ,   qu e  trate   de  p r ob l e m a s  d a e mig r a ç ão e e m qu e o  l i v rod e E f r on   só é  c i t a d o p o r qu e  contém   a l g u m a s   informações úteis

sobre aspec tos marg ina is : nes te caso,  poderá   e i l a r - se apenas   a  e d i çã o   i t a l i ana .

Ve jamos agora   u m  caso  intermédio: a citação é  m a r g i n a l ,  mas é

impor tante saber q u e o   estudo  é de 1941 e não de há  poucos anos

atrás. A   m e l h or  solução  se r i a :

Efron.  David, Gesntre  an d  Ei iv i ronment, New York, K ing 's Crown  Press,  1 9 4  

(tr. ít. de  M tchelangclo Spada. Gesto,  ruzza  e cultura.  Milano.Rompiam.  1974).

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D á-s e ,  t o d a v i a ,  o  c a s o  de a e d i ç ão   i t a l i a n a   i n d i c a r , n o Copyr ight,  q u e a   p r i m e i r a   e d i ç ão é de 1941 e da   r e s p on s a b i l i d e   d a

K i n g ' s   C r o w n , mas não  i n d i c a r o título  o r i g i n a l ,  r e f e r i n d o - s e  po r

e x t e n s o  à edição   h o l a n d e s a  d e   1 9 7 2 . E   u m a  n e g l i gê n ci a   g r a v e   (e

p os s o  d i z ê - lo  p o r qu e   s o u e u q u e  o r g a n i z o  a c o le c ç ão e m qu e fo i

p u b l i c a d o  o  l i v r o  d e  E f r o n ) . d a d o  q u e u m  e s tu d a n t e p od e r i a c i t a r

a  e d i ç ão dc 1941   c om o  Gesture, Race   and   Culture .  E i s  p o r qu e

é  s e m p r e   necessár io  v e r i f i c a r  as r e fe rênc ias b ib l iográf icas em

mais   d e   urna   fonte .  U m   e s tu d a n t e m a i s a g u e r r i d o  qu e   qu isesse

d a r  também   u m a  in formação   s u f i c i e n t e s ob re   o  d e s t i n o  de   E f r on

e os   ritmos  d a su a  r edescober ta   p o r  p a r t e   d os   e s t u d i os os , p od e

ri a  d i s p o r d c d a d os  qu e lh e  p erm i t i sse m fornecer uma f i cha as s im

c on c e b i d a :

Efron. David. Gesture  and F.nvironmeni, N ew  York. K ing's Crown Press. 1941(2 .fi  ed.. Gestu re .  Race  and Culture, The  Hague. Mowon , 1972;tr.   i l .   dc  Michelangelo,  Sparia. Gesto,  razza e cultura.  Milano.Rompiani, 1974).

Po r  aqui  s e  pode  ver. e m conclusão, que o  caracter mais ou   menoscomple to  d a in formação a  fornecer depende  d o   t ipo  d e   t ese   e dopape l  qu e o  l i v r o  em questão   d esempenha   n o  d i s c u r s o g l ob a l  (seconst i tui   fonte   pr imária,  fonte   secundária,  fonte   cola te ra l  e   a c e s sór ia , e tc ) .

N a   base des tas   i n d i c a ç õe s , os   e s t u d a n t e s   es tarão   a g o r a   e mcondições de   e l a b or a r u m a b i b l i og r a f i a   f i n a l  p a r a  a  sua t ese . M a svol taremos   a e l a n o C a p í t u l o V I . T a l  c om o  nos parágra fos   V . 4 . 2 .e   V . 4 . 3 . ,  a p r opós i to de   dois s i s t emas d i f e rentes   de r e fe rênc iasb ib l iográf icas e de r e lações   e n t r e n o t a s   e   b i b l i o g r a f i a , e n c o n t r a m - s e e x e m p l i f i c a d a s d u a s   p á g i n a s   i n t e i r a s   d e   b i b l i o g r a f i a

( Q u a d r o s  1 6 e 1 7 ) .  Ve jam-se ,  portanto,  estas  páginas   para   umresumo  d efinitivo  do que fo i d i to .  P o r   agora , in te ressava-nos saberc om o  s e faz u ma boa c i tação b ib l iográf ica  p a r a p od e r m os e l a borar  a s   nossas f i chas   b ib l iográf icas . As indicações   f o r n e c i d a ssã o  m a i s   d o q u e   s u f i c ie n t e s p a r a  s e   p od e r c on s t i t u i r  u m   ficheirocorrec to.

Para  conc lu i r , ap resentamos  n o  Q u a d r o  2 u m  e xe m p l o  d e   f i chapara   um f iche i ro  bibliográfico.  C o m o  se vê . no  d ecurso  d a  p esqu isabibliográfica comecei por identi f icar a  tradução   i t a l iana   Seguidamente,encontrei   o   l i v r o  n a  b ib l ioteca   e   a s s i n a l e i  a o  a l to,  à d i r e i t a , a  s i g l a

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d a   b ib l ioteca   e os   dados para  a loca l ização do   volume. Finalmente,

encont re i  o   volume  e  r e t i r e i  da pág ina do  eppyrigkt  o título e o  ed i

tor or i g ina i s .  N ão   h a v i a  indicações de  da tas ,  m a s  encontrei uma   n a

ba n d a  in te r ior  d a   capa   e   an ote i -a   c o m  reservas. In diquei de pois  o

motivo  po r qu e o  l i v ro  de v e s e r  t ido  e m   conta.

I IL2 .4 .  A   biblioteca   d e  Alexandr ia:  uma exper iência

Poderão,  todavia, objeetar  qu e os  conse lhos  qu e  d ou  estão  muitobem para  u m  es tud ioso espec ia l i zado,  ma s qu e  um jovem  s e m  preparação específica que se  cand idata   à   t ese   encontra muitas   d i f icu l

dades;

— não tem à dispos ição uma  b ib l ioteca   b e m  fornecida porquenatura lmente  v i v e   numa  loca l idade pequena :

- lem idé ias  mui to v ag as   sobre aquilo que procura  e n e m  sequer

sabe  p o r  onde começar n o ca tálogo por  assuntos, porque  nào

recebeu  instruções   suf icientes  d o  professor:

— não   p o d e   deslocar-se  d e u m a  b ib l ioteca pa ra out ra   ( porque

não tem  d i n h e i r o , não tem  tempo.  6 doente,  e t c ) .

P r oc u r e m os  então   i m a g i n a r u m a   s i tuação- l imite .  Imag inemosu m  e s t u d a n t e - t r a b a lh a d or  qu e  d u r a n t e  os   p r ime i ros quat ro a nosd o c u r s o  f o i  m u i t o p ou c a s  v e z e s  à u n i v e r s i d a d e .  T e v e   contac tose s por ád ic os c om u m s ó   p rofessor ,  p o r   e xe m p l o ,  o   p r o f e s s o r  d eHsté t ica ou de H is tór ia da   L i t e r a t u r a I t a l i a n a .  Já um  pou co a t ra s a d o p a r a f a z e r   a   t ese .  t e m à s u a d i s pos i ção o úh imo a n o   a c a d ê m i c o . E m  Se t e m b r o c on s e g u i u a b or d a r  o   p rofessor  o u u m s e uass i s t ente ,  m a s  c om o  se  es tava   e m pe r íodo de  e xa m e s ,  a  c on v e r s a

fo i mui to  rápida . O   p r o f e s s o r d i s s e - l h e :  « P o r q u e n ã o fa z u m at e s e   sobre  o   c on c e i t o  de me tá fo r a n os   t ra tad is tas  d o   bar roco  i t a

l i a n o ? » . E o   e s t u d a n t e v o l t ou p a r a   o seu   p e qu e n o m e i o .  u m al oc a l i d a d e   d c m i l  hab i tantes  s e m   b ib l ioteca   m u n i c i p a l .  A   local idade mais impor tante (noventa mi l hab i tantes )  está a   me ia horad e v i a g e m .  H á a í u m a  b ib l iote ca , aber ta   de manhã e à   t a rde .Tra ta - se  d e ,  a p r ov e i t a n d o  o s   dois me ios d ias  de tole rânc ia not r a ba l h o ,  v e r s e   consegue encont rar   lá   a l g o  c o m q u e   possa for ma r  urna   p r i m e i r a   i dé i a da  t e s e  e .  p r ov a v e lm e n t e , f a z e r  t o d o  o

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Q U A D R O  1

R E S U M O   D A S  R E G R A SP A R A  A C I T A Ç Ã O B I B L I O G R Á F I C A

N o  final  desta longa resenha   de   usos  bibliográficos,  procure

mos recapitular enumerando todas   as indicações que d eve te r

u ma  b oa citação bibliográfica. Sublinhámos (n a impressão virá

em   i tá l ico)  aqu i lo  qu e de v e s e r  s u b l i n h a d o  e   pusemos entre

aspas tudo  o qu e de v e   aparecer entre aspas.  H á um a v írgu la

onde queremos uma   vírgula c um parêntese   onde queremos   o

parêntese.

O   que está  ass ina lado  c o m u m   as t e r i sco const i tu i  indicaçãoessenc ia l  qu e   nunca  d e v e s e r  om i t i d a .  A s   outras  indicações

sã o   facultat ivas  e  d ependem  d o   t ipo  d e   tese.

L I V R O S

* 1 . A p e l i d o  e   nome  d e   au tor  ( ou dos   autores,  o u d o  o r g a n i

zador ,  c o m  eventua is  indicações   sobre  pseudônimos ou

falsas  atr ibuições) ,

* 2 .  Título e subtítulo da   obra,

3 .  ( « C o l e c ç ão » ) ,

4 .  N úmero da edição ( se   houver  vár ias ) ,

* 5 . L o c a l de ed ição: se no  l i v ro  não  consta, escrever   s.l. ( s e m

local ),

* 6 .  E d i t o r : s e n o   l i v ro  não   consta, omit i- lo,

* 7 . D a t a  de edição: se no  l i v r o  não  consta, escrever   s .d. ( s e mdata).

8. Dados eventuais sobre   a edição   mais recente.

9 . N úmero de páginas e  eventua l  número de   volumes   de qu e

a  obra  se compõe .

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10 .  (Tradução: sc o título está cm língua   es t range i ra   e   existeum a   tradução  portuguesa, espcciMea-se nome  d o  tradutor, títuloportuguês,   loca l  de e d i ç ão ,  editor, dala   dc edição,  eventua l mente  o número de páginas ) .

A R T I G O S  D E  R E V T S T A S

* 1.   Ap e l i d o  c  nome   d o  autor.

* 2. «T ítu lo do   a r t i go  ou capítu lo» ,

* 3 .  Título da   revista,

* 4 .  Volume  e número do fascículo   (eventuais   indicações dc

N ov a   Sér ie ) ,

5.  M ê s e a n o .

6.   Páginas em que  aparece   o   art igo.

C A P Í TU L O S D E   L I V R O S , A C T A S  D E   C O N G R E S S O S .E N S A I O S  E M  O B R A S C O L E C T f V A S

* I.   A p e l i d o  e   nome   d o   autor.

* 2. «T ítu lo do capítu lo ou do ensa io» .

* 3 . in

* 4 . Eventua l nome   d o  organ i zador da obra colec t iva   o u A A W .

* 5 .  Título da  obra   colectiva,

6.   (Eventua l nome   d o   organ i zador  se se pôs   A A V V ) ,

* 7 .  E v e n t u a l número do   volume   d a  obra  e m qu e s e encont rao   ensa io c i t ado.

* 8 .  Loca l , ed i tor , da la . número de páginas   como  n o caso dosl i v ros  de u m só   autor.

102

Q U A D R O   2

E X E M P L O  D E  F I C H A  B I BL I O G R ÁF I C A

í3s   .  C O V A  .

e 2t7b

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trabalho  s e m  outro recu rso. Está excluída a hipótese de   poder comprar  l ivros caros o u d e   pedir microf i lmes noutro lado. Quando muito,poderá i r ao centro  universitário (com as   suas bibliotecas mais beir,fornecidas) duas ou ü"ês  vezes  entre Janeiro c A b r i l . M a s  d e   momentoterá de   arranjar-se  in   loco.  Se fo r   mesmo  necessário, poderá   com

pra r alguns l ivros recentes, edições econômicas, gastando  no máximoumas vinte  m i l  l iras.

Este  é o  qu a d r o  hipotético. P rocure i  então   colocar-me  n a s  condições em que se  encont ra   este  estudante, pondo-me   a  escrever estas

l i nhas  numa a lde ia   d o  A l t o M on f e r ra t o ,  a   v inte  e três quilômetrosde Alexandr ia (noventa   m i l ha b i tantes ,  u m a  b ib lioteca mun ic ipa l—   p inacoteca   —   museu ) .  O   centro  universitário   mais  próximo  éGênova   (uma hora  d e  v i a g em) , m as  e m  hora  c  meia chega-se a Turim

ou   a  P a v i a . E m três horas  a  B o l o n h a .  E   j á  um a  s ituação  p r iv i l eg iada ,ma s  não  vamos entrar  e m   l i n h a   d e   conta   c o m os   cent ros un ivers i tários.  T raba lharemos  s ó e m  A l e xa n d r i a .

E m se gundo lugar, procurei um tema sobre  o  qua l nunca t inha  feitoestudos   específicos, e  para   o   qua l m e   encontro muito  m a l preparado.Trata-se. pois, d o conceito  de metáfora  n a  tratad ística  barroca i tal iana.E   óbv io que não   sou completamente virgem  n o  assunto, uma  vez quejá me  ocupe i  de estética e dc retórica:  sei . por exemplo, que. e m Itália,na s últimas décadas saíram   livros sobre  o Ba r r oc o d c G iovanni Ge t to.Luciano Ancesch i e  E z i o R a i m on d i . Sei que existe um tratado do séculox v u   que é // cannocchiale  aristotelico  de  Ema nue lc Tcsauro, n o  qualestes  conceitos s ão  largamente  discut idos. Mas i s to é também o mínimoqu e   o  nosso estudante deveria saber, uma v e z qu e n o fmal  d o   terceiroa no  já terá  f e i to alguns exames c, s e  leve   contactos com  o   professor  deque   se  falou, é  porque  terá  l i do a l g o da sua autoria  e m qu e s e f a z  referência a  esles assuntos. D e  qualquer forma, para tornar  a experiênciamais r igorosa, parto d o pr incípio de que  nào se i  nada daqu i lo q u e  sei .Limit o-mc aos meus conhecimentos da escola  média  superior: sei que

o  Ba r r oc o é  a l g o  que tem a v e r  com   a  arte  c a  l i teratura  do s é cu lo xv ue qu e a metáfora c  uma f igura  de retórica. E é  tudo.

Dec ido ded icar  à p esqu isa p re l imina r três  tardes, das  três as  seis.Tenho  nove   horas  à   m inha   d ispos ição. E m  nove   horas   não se lêeml ivros,  m a s  pode   fazer-se  u m a  p r ime i ra   investigação bibliográfica.T u d o  o qu e v ou   relatar  n a s  p r ime i ras  páginas qu e se  seguem  fo ife i lo  c m  n o v e   horas .  N ão   pretendo fornecer  o  mode lo  d e u m   trabalho completo  e b e m  fe i to,  ma s o   modelo  d e u m   trabalho  de   encaminhamento  qu e de v e   servir para tomar outras   decisões.

104

Ao ent rar  n a   bibl ioteca, encontro-me,  d e   acordo  c om o qu e s e

d isse  e m   111.2.1., per an te   três   poss ib i l idades :

1) Começar a  e xa m i n a r  o ca tálogo por   assuntos: posso procurar

nos art igos seguintes:  « I ta l iana ( l i te ra tura ) » , «L i te ra tura ( i ta l iana ) » ,

« E s t é t i c a » , « S éc u l o x v u » , « B a r r o c o » , « M e t á f o r a » . « R e t ó r i c a » .

«Tra tadis tas » , «Poét icas » 1 . A  bibl ioteca tem dois  catálogos, um antigo

e u m  ae tua l i zado, ambos d iv id idos   p o r   assuntos  e   au tores . Como

a i n d a  não estão   integrados, preciso  d c p rocurar  e m  ambos. Poderei

f aze r   um cálcu lo   imprudente :  s c  p rocuro uma obra   do século   X I X

el a   estará com   certeza   no ca tálogo   ant i go. Engano.  Se a  b ib l ioteca

a  comprou   há  u m a n o a  u m antiquário, estará n o catálog o   moderno.

A  única   co i sa   d e q u e   posso estar certo  é que , se p rocuro  u m   l ivro

saído na última década, só   pode   es tar  no ca tálogo   moderno.2) Começar a  procurar na sala  d c obras de referência em  enc ic lo

pédias e histórias  da   literatura. N as histórias da l i teratura  ( ou  da  estéti

ca )  deverei procurar o capítulo sobre o século xv u  ou sobre   o   Barroco.

N a s  enciclopédias   poderei procurar Século   X VU , Ba r r oc o ,  Me táfora ,

Poética, Estética, etc. tal  como farei  no ca tálogo por  assun tos.

3) Começar a   fazer perguntas   ao bibliotecário.  Afas to imed ia ta

mente esta possibi l idade,  não só   porque  é a  mais   fácil, ma s também

para   n ão   f icar numa   s i luação de pr iv i lég io. Co m  e fe i to ,  conheço o

bibliotecário, e. quando lhe disse o que  estava a fazer, começou a  selec-

cionar-me uma   série dc títulos de repertórios bibliográficos que  pos

suía,  alguns mesmo  em a lemão e em inglês .  Teria assim  começado

logo a   explorar um íílão   especial izado, pelo  que não   tive  e m  conta  a s

suas   sugestões, üfereceu-mc   ain da faci l idades para poder requisitar

muitos l ivros  de uma só vez , mas  recusei-a s cortesmente. tendo-me

apenas  e  sempre d i r i g ido a os contínuos. Tenho  d c controlar tempos  e

dif iculdades,   ta l como  u m  estudante comum teria  de o   fazer.

D e c i d i ,  a ss im, par t i r   do ca tálogo por  assuntos  e f i z   mal. porquetive uma sorte excepciona l. Em  «Me tá fo r a »  eslava registado: Giuseppe

C on t e .  La metáfora  harocea  —   Saggio  snlle. poe tiche de i Se icen to,

1 Enquanto procurar «Século xv u». «Barroco" o» «F.siéiica» me  parece bastante óbvio, a  ideia   de ir ver cm  "Poética»  parece um pouco mais   subtil. E is  omotivo:  não  podemos imaginar um estudante que chegue a esle tema partindo d o2ero: nem teria conseguido  formulá-lo:  portanto, ou  d e  um professor, ou d c  umamigo ou  dc uma leiiura  preliminar, a sugestão veio-lhe de algum lado. Deste modo,terá  ouvido falar das  «poéticas d o Ba rroco» ou das poéticas (ou programas dc ane)

geral. Partimos, pois do p rincípio  dc que  o  estudante está de posse dcslc dado.

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M i l a n o .  M u r s i a .  1 9 7 2 . E r a  prat icamente   a  m inh a t ese.  Se f o r   desonesto, posso l imitar-me  a copiá-la. mas ser i a  também estúpido, poisé  mui to  provável que o   meu or i entador   também conheça   este   l ivro.Se quiser fazer uma  b oa  tese  o r i g i n a l , este   l i v ro põe -me  n u m a  s itua

ção difíc il,  d a d o  q u e o u  cons igo d i ze r qua lquer coisa mais  e   d i ferente,  o u   es tou   a   p erder  o me u   t empo.  M a s s e  qu iser f aze r u m ahonesta   t ese   de compilação, e le  pode const i tu i r  u m b o m  ponto  d epar t i da .  Podere i , pois ,  começar por e le s em  mais p rob lemas.

ü   l i v r o t e m o d e f e i to  de não possiür  uma b ib l iog ra f i a   final,  ma stem densas notas   n o f im de   cada   capítulo,  onde  os   l i v ros , a lém deci l ados .  sã o  mui tas v e z e s  d escr i tos  e   ap rec iados . Cons igo se lecc io-

n a r  ap roximadamente   un s cinqüenta títulos,  mesmo depois   de te rver i f i cado  qu e o au tor  faz freqüentes referências a  obras d e estética

c  de semiótica contemporânea que não têm   p ropr iamente   qu e ve rco m  o   meu t ema, m a s q u e  a c l a r a m a s  suas r e lações com os   problema s  d e  hoje. N este caso, estas  indicações  podem serv i r -me para imag inar uma   tese u m  pouco diferen te, orienta da para  as r e lações   entreBa r r oc o  e estética contemporânea,  como veremos dep ois.

C o m  os cinqüenta títulos «históricos»  as sim reu nidos , ficarei  jáco m  u m   f i che i ro p re l iminar , para exp lorar depois   o ca tálogo porautores.

Ma s   dec id i  renunciar lambem  a este cam inho.  O   g o lp e  d c  sortet inha  s ido demas iado  s ingular.  Deste modo. procedi como   s c a  bibl ioteca   n ão  t i vesse   o   l i v r o  d e  C o n t e  (o u   como  se não o   t ivesse registado  n os   assuntos c m ques tão) .

Para  tornar o  t raba lho mais metódico, d ec id i passar  à v ia númerod o i s :  f u i , a s s i m ,  ã   s a l a   de   obras   de r e fe rênc ia e   comece i p e loslextos gerais, mais precisamente pela   Enciclopédia Treccani.

N ào  encontrei «Ba r r oc o » : e m  contrapart ida, hav ia   «Barroca, arte»,in t e i ramente ded icado  às   a r t es f i gura t ivas .  O   volume  d a  l e t ra   B é

dc I93 U. pe lo qu e o   f ac to fi ca exp l icado: a ind a  nào se  t inha   in ic iadona altura   a reabilitação do   Ba r r oc o ,  em I tá lia .  Pense i  então em irprocura r «Se i s c e n t i s mo» .  termo  qu e  durante mui lo t empo  teve  umaconotação um  t anto deprec ia t iva ,  ma s qu e cr u  1 9 3 0 . n u m a   cultura

bastante in f luenc iada pe la   desconfiança   c roe iana re la t i vamente   a oBar roco , p od i a   te r  i n s p i r a d o a formação d a  t e rminolog ia . E  aqu i t i veu ma   g rande surpresa : u m  belo ar t igo, extenso, aberto   a   todos  o s  prob lemas  da é poca ,  d esde  os teóricos e   poetas  d o   Barroco i t a l i anoc om o M a r i n o o u  Tcsauro. até às manifestações d o  bar roqu ismo noutros  pa íses (Grac ián.  l . i l y . G on g or a , C r a s h a w .  e t c ) .  B o a s  c itações.

106

u ma   b ib l iog ra f i a   substancial .  V e j o  a  data   d o   volume   e   ve r i f i co  qu eé tlc  1 9 3 6 ;  v e j o a s  i n i c i a i s e   ve r i f i co  que são dc   M a r i o P r a z . T u d oo que se   p od i a   te r de  m e l h or n a qu e l a   época (c em   muitos aspectos

a i n d a  h o j e) . M a s  admi tamos  qu e o   nosso estudante   nã o  s a b i a   quãog rande  e   subtil cr ítico é  P r a z : ver ificará,  todav ia , que o   a r t i go  é es t i mulante e decidirá pô-lo em   ficha,  c o m  tempo, mais tarde. P o r  agora ,

passa   à   b ib l iog ra f i a   e vê que  e s t e   P r a z .  qu e  d esenvolve  o s   a r t i gostã o   bem, escreveu dois l ivros sobre   o  assunto:  Secenüsmo e mar i -n ismo  in  Inghilterra,  d e   1925 . c S tud i sul concettismo,  de   1 9 3 4 . Faráass im uma f icha para cada um destes l ivro s. Dep ois  encontrará  algunstítulos  i t a l i a n os , d e  C r o c c  a  D ' A n c o n a , q u e  anota : de tec ta uma  re ferênc ia a u m  poeta   cr ítico contemporâneo   como  T . S. E l i o t e .  f i n a l

mente , depara- se - lhe  u ma sé ri e dc  obras  em inglês e em a lemão.Toma obv iamente nota de las todas , mesmo  se não   souber estas   lín

guas   ( d ep o i s  se ve rá) , mas  ve r i f i ca   qu e  P raz f a lava   d o  se i scent i smoem ger a l , enquanto  e le  p rocura coisas mais especi f i camente cent ra d a s  na s i tuação  i t a l i a n a . A situação no  es t range i ro  será   ev idente mente  de t e r e m   conta como pa no  de   fundo,  m a s  t a lvez  não se  d evacomeçar por aí.

Ve jamos a inda   a   T reccan i  c m «P oé t i c a »  ( n a d a .  o   l e i tor  é  r emet ido para   « R e t ó r i c a » . « E s t é t i c a » e « F i l o l o g i a » » ) , « R e t ó r i c a » e«Es té t ica » .

A  retórica é  tratada  c o m   uma cer ta ampl i tude ,  há um parágrafosobre  o s é cu lo xv u , a   rever,  m a s  n e n h u m a  indicação bibliográficaespecífica.

A  estética é d a  autor ia d c Gu id o Ca logero, mas . como suced ia  nosanos  t r in ta , é  entend ida como  d isc ip l ina  eminentemente  f ilosófica Láestá  V i c o . ma s nào os   tratadistas barrocos.  Isto  p ermi te -me v i s lumbrar  u m  c a m i n h o  a  segu i r :  se  p rocuro mater ia l i t a l i ano,  encontrá-lo--e i  mais faci lmente entre  a crítica literária e a história da   l i teratura,  enão  n a  história d a  f i losof ia   ( pe lo  menos, como depois   se verá. até asépocas  mais recentes).  E m «Es té t ic a »  encontro, todavia, uma  sér ie detítulos d e histórias clássicas da estética qu e poderão   d i ze r -me qua l quer coisa   — são  quase todas  e m a lemão ou inglês c  muito antigas:

Z i m m e r m a n ,  d c  1 8 5 8 . o   Schlasler. de   1 8 7 2 , o  Bos a n qu c u  de   1895 .seguidamente  Saintsbury, M e n e n d e z  y   Pelayo, Xnight c, f inalmente,

" roce . D i re i desde  já que .  sa lvo  o d e   Croce, nenhum destes textosxiste  n a  bibl ioteca   de   A l e xa n d r i a . D e   qualquer forma,  são   r eg i s ta

dos, pois mais tarde  ou   mais cedo poderei precisar d e   lhes dar umavista  d e   olhos, depende  d o  caminho qu e a  tese   tomar.

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P r oc u r o  o  Grande Diz ionar io  Enciclopédico  Utet,  porque  melembro d e qu e t inha   art igos muito desenvolvidos   e actuaüzados  sobre«Poét ica » e   outras coisas  qu e me são úte is, mas não há. V ou entãofolhear a Enciclopédia Filosófica  d e  Sa n s on i . D e   interessante encontro   «Me tá fo r a » e «Ba r r oc o » , ü  p r ime i ro t e rmo  não me dá  ind icações bibliográficas úteis, mas  d i z -me  (e   vou-me apercebendo cadavez melhor da  imp ortância  desta   adver tênc ia ) que  tudo começa coma  teoria  d a metáfora d e Ar is tóte les . O   segundo  re fere   a lguns l i v rosque encontrarei depois   e m  obras d e  consulta mais especif icas   (Croee.V e n t u r i ,  G e t t o . R ou s s e t , An c e s c h i . R a i m on d i )   e faço bem   anotartodos ; c o m   e fe i to , d escobr i re i mais l a rde  qu e está  a qu i reg i s tado umestudo muito importante d c R oc c o M on t a n o . qu e a s  fontes   qu e  v i r ia

a consu l tar depois   nã o   referiam, quase sempre   p o r  serem anteriores.

N e s t a  a l tu ra   p ense i  qu e  talvez,  fosse  mais p r odut ivo abordar umaobra   de referência   mais ap rofundada   e   mais recente ,  e   p rocuro nSíor ia   delia Letierala ra Italiana   organ i zada   p o r  C e c c h i e   Sapegno.publ i cada  p e l a G a r za n t i .

Além de u ma sér ie de capítu los de   autores  vários   sobre  a   poes i a ,  a   p r os a ,  o  t ea t ro,  o s   v i a j antes ,  e t c ,  encont ro  um capítu lo deFranco  C r o c e ,  «C r i t i c a e   t ra t ta t i s t i ca  de i B a r oc c o » ( de  umas   c in

qüenta página s ) . L imi to-me apenas   a  este. Percorro-o mu ito à  pressa(não  estou   a le r  textos,  ma s a  e laborar uma b ib l iog ra f i a )  e ve jo quea   discussão crítica se   in ic ia   c o m  Tasson i  ( sobre   Pe t rarca ) , cont inuaco m  u m a s é r ie de   a u t o r e s  qu e   f a la m sobre   o  Adone   d e   M a r i n o( S t i g l i a n i ,  E r r i c o ,  Ap r os i o , A l e a n d r i . V l l l a n i .  e t c ) ,  passa pelos t r a -tadistas   a q u e   Cr oce chama barroco-modera dos (Pcrcg rin i, Sfor/.aP a l l a v i c i n o )  e   pelo texto base  d e  Tesauro. q u e  const i tu i o  ve rdade i rot ra tado e m  defesa   d o engenho  e perspicácia  barrocos  ( « t a l v e z a  obramais exemplar d e   todo o preceituário   barroco mesmo  a o n íve l  europe u » ) e   t e rmina   com a c r í t ica dos   finais  do século   XVt t (F rugoni .

L u br a n o .  B o s c h i n i .  M a l v a s i a , B e l l o r i  e   outros).  V e j o  qu e o  essen

c ia l d o qu e  pretendo  de v e  centrar-se  e m  Sforza Pa l lav ic ino . Pereg r in ie   Tesauro.  e   passo  à   b ib l iog ra f i a   qu e   compreende uma centena  detítulos.   E s t a   está   o r g a n i z a d a   p o r  assuntos  e não por  o r d e m  alfabét ica. T e n h o d e  ser eu  a p ô- los cm  ordem através  das f ichas. Observou--se   qu e  F r a n c o C r oc e   se  ocupa   de vários críticos,  d esde Tasson i aF r u g o n i , e e m b oa  ve rdade ser i a conven iente f aze r  a  f i cha   d e   todasas  referências bibliográficas que ele   i n d i c a . Pode   acontecer que, paraa   tese. apenas sirvam as obras sobre  os  tratadistas moderados   e   sobreTesauro.  m a s  para   a introdução e   p a i a  a s   notas  p o d e  ser útil  f aze r

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E X E M P L O   D E   F I C H A A   C O M P L E T A R , R E D I G I D A C O M   B A S F

N U M A  P R I M E I R A F O N T E   B I BL I O G R ÁF I C A   C O M L A C U N A S

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referência a  outras  análises do período.  Lembre-se  qu e   esia bibl iograf ia  in ic ia l  deveria   s er  discuiida  pelo menos uma  v e z . quando est ivesse   p ronta , c o m o  orientador.  E le deverá   conhecer b e m o   tema   c,portanto,  poderá   d izer desde  l o g o  aqu i lo  qu e  podemos  pôr dc   parlee   aqu i lo  qu e   temos absolutamente   d c l e r . Quan do  o   f icheiro est iverc m  cond ições , poderão   ambos  percorrê-lo   numa hora . D e   qualquerforma,  c  para   a   nossa   experiência,  l imito-me às  obras  gerais  sobreo   Barroco  e à bibliografia espe cifica  sobre os  tratadistas.

Dissemos   já   como  s e de v e   fazer  as   f ichas  d os   l i v ros quando  anossa  fonte  bibliográfica é  incompleta: n a  f icha reproduzida na  página109 de ixe i  espaço   para escrever  o   nome  própr io do   autor (Ernesto.E p a m i n o n d a , Evar i s to ou El io? )  e o  nome  d o  ed i tor (Sansoni . Nu ovaI tália ou  N e r b i n i ? ) .  A   segu i r  à  da ta f i ca   espaço  para outras ind ica

ções. A   s i g la   a o  a l to,  só a   acrescentei , evidentemente, depois   de ater veri f icado  no ca tálogo por  autores  de  A lexand r ia (BCA:  BibliotecaCívica di Alessandr ia,  fo i a  s i g l a  q u e  escolh i )  e te r  v isto qu e o  l ivrod e R a i m on d i  ( E z i o ü ) t e m a  cota   « C o D 1 1 9 » .

E   ass im fare i  c o m  todos  o s   outros l ivros. Nas   páginas   seguintes,porém,  procederei  d c  modo mais  rápido,  c itando autores  e título*sem outras  indicações.

Resumindo, at é agora consultei a  Treccani e a  Grand e EnctcloffediaFilosófica   (e   decidi reg istar apenas   as  obras sobre  a   tratadist ica   ita

l i ana )  e o   ensaio  d e   F ranco Croce .  N o s  quadros  3 c 4   encontra-se  aenumeração de   tudo  o que fo i   posto  e r a   f ichas.  (ATtNÇÀo: a   cada

um a   d a s  m i n h a s  indicações   sucintas de v e  corresponder  u m a  f ichacompleta   e ana l í tica com os espaços em  branco para   as informaçõesqu e  me   fa l tam )

Os   títulos   antecedidos  de um «s im» são os que   existem   no catálogo  por au tores da   Biblioteca  áe  Alexandr ia.  E fee t i vãmente,  acabada   es ta p r ime i ra   fase   de elaboração de   f ichas,  c  para   m e  d i s t ra i ru m

  pouco, folheei  o catálogo. F ique i ass im a   saber que outros l ivrosposso consu l tar para comple tar  a  m inha b ib l iog ra f i a .

C o m o  poderão ver . de   tr inta   e   oito obras f ichadas, encontreivinte   e   c inco.  C h e gámos   quase  a os   setenta   p or  cento.  Inc lu í  t ambém  obras  de qu e n ào f i z  ficha   ma s qu e  foram escritas  p or   autoresf ichados   (a o  p rocurar uma obra encont re i  também, ou em vez   d e la .

um a   outra).

D i s s e  qu e  t inha   l im i tado  a  m inha escolha apenas   aos lítulos quesc   referem  a os   tratadistas. Deste modo.  a o p resc ind i r d c reg istar textos sobre outros críticos, não  anotei , p or  exemplo,  a  Idea  d c P u n ok k y .

110 111

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iNjQ L A D R O   4

OIÍKAS PARTICULARES SÜURli TRATADIStAS ITALIANO S DO  SÉCULO XVII  IDRXTIFICADAS ATRAVÉS DO  EXAME DE TRRSt£LI:MENTOS  Pl i CONSULTA (Trcixani, Gramk Enciclopédia  Eilosuliira. Slorifl deliu U lk-ialiiia  Italiana  liarvaiili)

r.Miiii.li:» ':.-.

114  IMMlilliVll

Obras encontradas no caiálugo[:<it iiuinivs

ubins  du mesmo aulorencontradas no  catalogo

sim . .

sim . .

.sim .

sim

MU I . .

sim  . .

sim  . .

Biondolillo. F.. «íylailçO  Pcrcgrini c   il  scccniismo».Rainioiidi, E.. La   letiemiura  baroeca

. . . .  .AAVV, SUu/ i « pcnhlemi Ji  critica lestualvMamcco, C„ S/'or;a  1'ullavU' i iuy precursora  tli>l 'e$ti'iiciiVolpe, L., Le  id ee estnirfu- d e i Cará]  Sforw  PatiavxcinaCi>nsi«ii)/o. M ,  Du U o Sa il igcro ul QtiúãrtoCope,   J . .  «The  1654  Exliiion oí  Emwmclc Tçsauro s // cannoch lale

itr islolel ivo»Po/./.Í. C . «Noie prelusíve alio a tile dd caimucchiale»Dcihcll. S. L.. "Graciúri, Tcxaurò and  llic Nalmv bf Mciaphysical Wii»Mn//co.   J .  A., «Mctaphysiutl Poeiiy  and lhe  Puclíus «tf Convspundcncc»Mcn.ip.icc lí risca, 1.., "L'<irmi(a  c iiigcgnosa  clocu/ionc»Viisoii. (.*.,  Imprcsc dc\ Tcsuuro»

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(inicián. Iloilciiu»

Ilucke. G. R.. M c W<<lt ais Labirm ilt.  ;Hacke, G. R.. Manierísmus in  d e r  Llteratu r.  .SchlosMcr Magnimi,  J . , t.<t tctleratara artística

Ulivi, F-, (iaiicria  i li sirümri á"arie

Mithnn, IX.  S iu. l ics i n  60D,Art ttná Tlieóry

. « I V C M C Ü C I I dclEmiiuncsimtio dcl  r iBascímcnlo»

. «L'Ilidia. Ia  Spagmt e IaIriiiHi.i nullo sviluppo dcll>arocca  Idlcnirín»

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preender qua is são as dimensões do  p rob lema   n a  cu l tu ra   européia,e m  E s p a n h a ,  e m   I n g l a t e r r a ,  em França e na   A l e m a n h a . Vo l t o  ae n c on t r a r n om e s a p e n a s a f l o r a d os   n o   a r t i g o  d e   M a r i o P r a z  t iaTreccani   e   ou t r os ,  d e   B a c o n   a   L i l y  e   S i d n c y ,  Grac ián.  G on g or a .O p i t z .  a s  t eor ias  d o  w i r , d a  agudeza,  d o  engenho.  Po d e   acontecerqu e  a   m i n h a  t ese   n ão   tome   em cons ideração o   bar roco europeumas estas  noções  d eve m serv i r -me   de   pano  d e   fundo.  D e  qu a l qu e rforma, terei de t e r  uma b ib l iog ra f i a comple ta sobre todas es tas coi sas. O  texto  d e  Ances ch i forneceu-me cerca d e  2 5 0   títulos. Encont roa  p r i m e i r a   l is la  d e   l i v ros anter iores   a 1 9 4 6 e , e m  s e g u i d a , u m abibl i ogra f i a   d i v i d i d a   p o r  a n os ,  d e 1 9 4 6 a   1 9 5 8 . N a   p r i m e i r a  s e c -ção volto  a  conf i rmar a importância d os  estudos d e  G c t l o c  Hat z f e ld .do volume  Retór ica e  Barocco  (e   aqu i ver i f i co  qu e fo i  o r g a n i z a d op or E n r i c o C a s t e l U ) . e n qu a n t o  j á o   texto  me   hav ia remet ido para

a  obra   de W õ l f fl i n ,  C r o c e   ( Be n e de t to ) e   D * O r s .  N a   s e g u n d a  s e c -çã o   encont ro  um a sér ie de t í tu los que —   s u b l i n h e - s e  — nào fu iprocura r  todos  n o c a tá logo por   au tores , dado  qu e a   m i n h a  exper iênc ia s e   l imitou  a três  t a rdes . D e   qua lquer modo. ver i f i co  que háa lguns au tores es t range i ros  qu e  t ra taram o   p rob lema  de vários  p o n to s   d e   v i s t a   e q u e   t e re i obr iga tor iamente   d e   p r oc u r a r :  C u r t i u s .

W e l l e k , I l a u s e r  e T a p ié ;   r eenconoro Hocke .  s ou  r emet ido pa ra  u mRinascimento  e   Barocco  de Eu gê n io  B a t t i s t i .  p a r a  a s r e lações comas  p oé t icas ar t ís t icas ,  volto  a  ve r i f i car a impor tânc ia d e   M o r p u r g o -- T a g l i a b u e .  e   dou-me conta  d e q u e   l e re i  também de ver o   t raba lhode De l i a Volpe sobre   o s   comentadores renascent i s tas  da Poét icaaristotélica.

Esta  poss ib i l idad e dever ia convencer -me  a ver também   ( a i n d a  n ov o l u m e M a r zo r a t i , q u e   t enho  n a mão ) o   extenso ensa io  d e   Cesare

Vaso l i  sobre  a es té tica do  H u m a n i s m o e d o  R e n a s c i m e n t o.  Já   t inha

encont rado  o   nome   d e  V asol i na b ib l iog ra f i a   de  F ranco Croce . Pe los

art igos   de enc ic lopédia   examinados sobre   a metáfora, já me   t inhadado conta ,  c  d e v e r e i  tê-lo   r eg i s tado,  qu e o  p rob lema surge  j á n aPoética  e   na  Retór ica   de Ar is tóte les : e   agora ap rendo  e m  V a s o l i qu eno   s é cu l o X V I  houve  u m a s é ri e de   comentadores  d a  Poética   e d aRetór ica;  e   isto não é   tudo. pois   ve jo que  entre esles comentadorese   tratadistas barrocos   se  encont ram os teór icos do  M a n e i r i s m o.  qu ejá  t ra tam  o  p rob lema   d o   engenho  e d a idé ia , que também já   t inha

v is lo a f lorar  nas páginas   sobre   o   bar roco  qu e   t inha   l i do  p o r   alto.Dever ia impress iona r -me. ent re out ras coisas , a recorrência de   c ita

ções   semelhantes   e d e  nomes com o Schlosser.

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Será que a   m i n h a  t ese  começa a   c o r r e r  o  r i s c o  de s e   t om a rdemas iado vas ta?   N ã o .  t e re i s imp lesmente  d c d e l i m i t a r m u i t o b e mo   cerne  d o m e u  in te resse  c  t raba lha r num aspec to  espec í f ico,  poisde out ro modo t e r i a mesmo  dc v e r   tudo;  m a s , p o r  ou t ro lado,  nãodevere i perder  de   v i s ta   o  p a n or a m a g l ob a l , p e l o  qu e  t e re i  d e   e x a m i n a r  muitos destes textos, pelo menos para   te r in formações des e g u n d a  mão.

ü   extenso texto  d c  Ancesch i l eva-me   a ve r também as   outrasobras deste a utor sobre  o  tema. Registarei sucessivamente   Da   Baconea   Kant ,  idea   d e i  Rarocco  e u m  art ig o sobre   «G u s to e gê n io de iB a r l o li » . E m   A lexandr ia encont rare i apenas  este   último   a r t i go  e ol i v r o  Da   Bacone  a   Kant.

N e s t a   a l tu ra   consu l to  o   es tudo  d e   R oc c o M on t a n o .  «L 'es té t ica

d e i  rinascimento  c de i barocco» . no  volume  X I d a   Grande  antologia   filosófica   Marzorati,  d ed icado  a o  Pensiero  d ei   Rinascimento  edelia  Riforma.

Apercebo-me imed ia tamente  de que não se   t ra ta apenas  d e u mestudo, mas d c uma antolog ia  d e  trechos, muitos  d os  qua is d e  g randeut i l i dade p a r a  o  meu t raba lho. E v e j o  mais uma  v e z  como  sã o  estreitas  as relações  entre estudiosos renascentistas d a  Poética,  maneir istase   t ra tad is tas barrocos . Encont ro a inda uma   r e fe rênc ia a uma  antolog ia   d a  I .atcrza   e m  dois volumes,  Trauatisti  d'arte tra   Manier ismoe   Controrifonna.  E n q u a n t o p r o c u r o  e s t e  t í tu lo no ca tálogo deA l e x a n d r i a ,  fo lheando aqu i  e   a l i , ve r i f i co  qu e   nesta bibl ioteca   háa i n d a  uma out ra antolog ia publ icada pe la Late rza :   Trattati  di poética   c. retór ica d ei 600. N ão s e i se   t e re i  de   recorrer  a informaçõesdc p r ime i ra  mão sobre  este   tema. mas. po r prudência, faço   uma f ichado Hv fo. Agora   s e i qu e   existe.

Vo l t a n d o a  M o n t a n o e à  sua b ib liog ra f i a , t enho  d e  fazer um certot raba lho  de reconstituição,  porque  as indicações es tão  espa lhadas

p or   vários capímios.  Vol to  a  encont rar mui tos  d os  nomes j á  conhec i d os ,  v e j o qu e  t e r e i  de   p r oc u r a r a l g u m a s  h is tór ias c láss icas daestética   como  a s   obras  d e   Bosanquet . Sa intsbury . G i l b e r i  c  K u h n .

Dou-me conta  d e q u e  para saber mui tas coisas sobre  o  bar roco espa

nhol  terei  d e   encontrai"  a   imensa  Historia   de I a s  ideas  estéticas enEspana,  d e  M a r c e l in o M e n e n d e z  y   Pe layo.

An o t o ,  por prudência, os  nomes  d os   comentadores quinhentistas

d a   Poética   (Robor te l lo, Ca s te lve t ro, Sca l i g e ro, Segn i , Ca va lcan t i .M a g g i ,  V a r c h i .  V e t t o r i , Sp e r on i , M i n t u m o, P i c c o l om i n i .   G i r a l d i ,

C i n z i o .  e t c ) .  Vere i depois  qu e  a l g u n s   estão  r eun idos  e m   antolog ia

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pelo próprio  M o n l a n o, OUtrOS por  Del ia Volpe , outros ainda  n o  volumeantológico da   l . a l e rza .

Vcjo-mc remetido para  o  Ma ne i r i smo. Emerge agora   d c um modomui to s i gn i f i ca t ivo  a referência à Idea   de   P a n o fs k y . M a i s   u m a v e za  obra   d c  Morpurgo-Tag l i abue . Pergunto-me  se não sc   d ev ia sabera l guma   coisa mais sobre  o s   tratadistas maneiristas —   Scr l io , Dolce .

Zu cca r i .  L o r n a z zo , Va s a r i — ma s   isso levar-me- ia   às   artes f igurat ivas  e à  a rqui t ectura . e   talvez sejam suficientes alguns textos   histór icos  como  Wó l f f l i n ,  Panofsky . Schlosser  o u . mais recentemente.B a t t i s t i .  N ão   posso de ixar   d e  r eg i s tar  a importância de   autores   nãoi t a l i anos  como Sidney , Shakespeare . Cervantes . . .

Vol to  a   encontrar, c itados como autores fundamentais.   Curt ius .

Schlosser. H auser . i t a l i anos como  Ca lca t e r ra . Ge t to. Ances ch i , Praz ,

U l i v i .  M a r z o t  e   R a i m o n d i .  O círculo   aperta-se. Certos nomes   sãoc i tados  p o r   todos.

Para  tomar alento, torno  a  fo lhear  o catálogo por  au tores :  ve joqu e  o célebre   l i v r o  d e   C u r t i u s  sobre  a   l i teratura  européia e a   I d ad eM é d i a   La t ina exis t e   em tradução  f rancesa , e m v e z de e m a l e mão : aLetterarura   artística   d e   Schlosser j á   v imos  que há.  Enquanto p rocuro  a  Stòfia   sociale deli 'arte   de   A r a o l d H a u s e r ( e é  es t ranho quenão  ha j a . dado  qu e  ex i s t e  também em edição de   bolso), encontro  d omesmo autor  a tradução   i t a l i a n a   d a   obra fun damen ta l sobre  oM a n e i r i s m o  c  a i n d a , p a r a   nã o  s a i r  d o   t ema.  a   Idea   d e   Panofsky .

E n co n t r o  La Poét ica de i 500 d c D e l i a Vo l p e . // secenrisino nellacritica  de  Santangelo. o  art igo  «Rinascimento. aristotelismo e   barocco^d e Z o n t a .  A t r a v é s do   nome  d c  H e l m u t h H a i z l e l d . e n c on t r o u m aobra   de vários  au tores , p rec iosa  c m   muitos outros aspectos   La   cri

tica   stüistica e i l barocco   letteraria,  A t t i  de i M  Congress o in te rna-z iona le   d i  studi italiani.  F i renze , 1957 . A s   minhas expectat ivas f icamf rus t r adas   r e l a t i v a m e n t e  a u m a  ob r a ,  qu e   parece impor tan te ,  deC a r m i n e  J a n n a c o . o   volume   Seicenio  d a história literária  Va l la rd i .

os l ivros  d e  P r a z . o s  estudos d e  Rousset e Ta pié, o já referido  Retór icoe   Barocco  c o m o e n s a i o d e   Morpurgo-Tag l i abue . a s  obras d e EugênioD ' O r s . d e  M e n e n d e z  y  Pe layo.  E m  resumo, a  bibl ioteca  d c A lexandr ianão é a   B i b l i o t e c a   d o   C o n g r e s s o  d e   W a s h i n g t o n ,  n e m   sequera  B r a i d c n s c de M i lão , ma s o   facto  é que já  consegu i  trinta   e   c incolivros certos,  o que não é   nada   m a u  para   começar. E a   co i sa   nãoacaba  aqu i .

C o m  e fe i to ,  p or  vezes  bas ta encont rar um só   texto para resolvertoda   uma sér ie de  p r ob l e ma s . C on t i n u a n d o a   e xa m i n a r  o catálogo

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por au tores , dec ido  d a r  u m a v i s t a   d e   olhos   ( u ma v e z qu e h á e qu eme parece um a obra  d e  consu l ta  bás ica ) à «L a   polemica   sul   barocco»d e G i ov a n n i G e t t o ,  i n  A A V V .  Letteratura italiana   —   IM correnti,vo l .  1,   M i l a n o . M a r z o r a t i .  195Ó. E vejo que se   t ra ta   d e u m   estudode quase  c e m pág in a s e de   e xc e p c i on a l  impor tância . Co m  e fe i to ,ve m  a í  r e la tada   a   polemica sobre  o   bar roqu ismo desde   então a téhoje. Ver i f ico que todos  discut iram o  bar roco, desde G rav i na Mu rator i .Ti rabosch i . Be t t in e l l i . Ba re t t i . A l f i e r i . C e s a r o t t i. Cantü, G i ob e r t i , D eSanct is . M a n z o n i . M a z z i n i . Le o p a r d i e  C a r d u cc i  at é C u r z i o M a l a p a r t ee aos  au tores  qu e e u j á  t inha   r eg i s tado.  E   Getto apresenta extensostrechos   d a  mai or parte destes autores,  de t a l modo qu e me  surge u mp r ob l e m a .  Se v ou   ap resentar  u m a  t ese   sobre   a polêmica históricasobre  o   barroco, terei  de   procurar todos   estes   au tores :  ma s s e  t ra

ba lha r   sobre textos   da época, ou   sobre  interpretações contemporâ

n e a s , n inguém m e exig irá que faça   um t raba lho t ão  vas to (qu e , a lémdi s so ,  já fo i   f e i to  e  m u i t o b e m: a  menos   qu e  que i ra f aze r u ma   t esed c  alia   o r i g i n a l i d a d e   c ientífica, que me tomará  muitos anos   d e   t ra

ba l h o ,  mesmo para demonst rar  qu e a  p esqu isa   de   G e t t o  é  insu f ic i

en t e o u m a l pers pectiva da; mas , gera lmente, trabalhos deste  gênerorequerem maior  e xpe r i ê n c i a ) . E , a s s i m , o   t raba lho  d e   Ge t to se rve --rne para obter uma   documentação   suf iciente sobre tudo aquilo qu enão virá a   const i tu i r l ema   espec í f ico da   m inha l ese . m a s qu e n ãopoderá   d e i xa r d c s e r  a f lorado. As s im , t raba lhos des te   gênero   d eve rão dar   lugar a u m a s é ri e dc   f i chas ,  ou  se j a ,  v ou  f aze r  u m a  sobre

Mu r a t o r i .  ou t ra sobre C esar ot t i , ou t ra sobre I - copard i .   e   a s s i m po rd iante , anotando  a   obra   c m qu e   t enham dado  a   su a  opinião   sobre   oBa r r oc o  c c op i a n d o ,  c m   cada f icha,  o   resu mo respe ctivo fornecidopor Get to,  com a s ci tações ( s ub l inhando, ev identemente ,  cm rodapéqu e   o   mater ia l  fo i   ret irado deste ensaio  de   Ge t to ) .  S e  d epois   u t i l i

za i ' este   mater ia l  n a  tese. u ma  vez que sc tratará d c in formações d cs e g u n d a mão. d evere i sempre  a s s ina l a r e m  nota  « c i t . in  G e t t o . e tc . » :e   isto não só por  hones t idade ,  mas também por prudência, u m a  v e z

qu e   não fu i  ve r i f i car  as citações e,   portanto,  não   se re i  responsávelpor uma sua eventua l  imper fe ição:  referirei lealmente  qu e a s  ret ireide   u m  ou t ro es tud ioso, nã o  es tare i  a   f ing i r  qu e  ve r i f ique i  cu própr iotudo  e   f i care i  tranqüilo.  Ev identemente , mesmo quando conf iamos

n u m  estudo precedente deste t ipo.  o  i d ea l se r i a vol tar   a  ve r i f i car n osor ig ina is   a s  d iversas   c itações   u t i l i z a d a s , m a s .  vol tamos  a recordá--lo. es tamos apenas a   fornecer um modelo  de inves t igação  fe i ta  c o mpoucos me ios  e e m  pouco tempo.

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N es t e caso. porém, a única coisa  que nào  posso pennit ir-me  é   ignora r  os   autores originais sobre   os  qua is  vo u  fazer  a   tese. Terei agorade   i r  p rocurar  os   autores barrocos, pois, como dissemos   e m  U i .2 .2 . .

u ma   tese   também deve ter  material d c p r ime i ra  mão. Não  posso falardos tratadistas se não os  ler. Posso  não  l er  os teóricos  maneir istas dasartes figurativas  c  basear-me  c m  estudos  c r ít icos , uma vez que nãoconsl i tucm  o  cerne  d a  minha pesquisa mas n ão   posso ignorar Tesauro.

Nes ta med ida , como  s e i qu e , dc   qualquer modo, terei   de l e r aRetór ica   c a   Poética   dc Ar is tóte les , do u uma  v ista   d c  olhos  a  estear t i go.  E  t enho  a  surp resa  de   encontrar umas  15 edições  ant i gas d aRetór ica,  entre 1515  e   1837. com comentár ios d c R r m o l a o  Bárbaro,a  tradução de   Bernardo Segn i ,  com a paráfrase dc Avcr róis e deP i cco l o m i n i ; a lém d a edição  ing lesa Loeb  qu e   inclui  o   texto  grego.Fal ta   a e d i ç ão   i t a l i ana  d a   La te rza . Quanto  à

  Poética,  há também

aqui  várias ed ições, com comentários dc  Ca s tc lvct ro  c  Robor i e l l . aedição   L oe b  c om o   texto  g r e go e as  duas  traduções   modernas  i t a l i

anas  d e  R os t a g n i  e  Va l g i m i g l i . C h e g a   e  sobra , dc t a l modo  qu e medá  vontade  d e   faze r uma   tese  sobre  u m comentário  renascentista   àPoética.  M a s n ão  d ivaguemos.

E m  várias referências dos  textos consultados veri f iquei   qu e  também  se r i am úteis  para  o  meu estudo algumas observações dc M i  l i / i a .

d e M u r a t o r i  e d e   F racas toro,  e ve jo que em   A l e xa n d r i a   há   i gua l mente   edições   ant igas destes autores.

M a s  passemos  a os   tratadistas barrocos. Antes  de   mais, temos   aantologia da Rjcciardi. Trattatisti  e  narratori  de i 600  d e Ez i o Ra imond i .co m ce m páginas do  Cannoechiale  aristotelico,  sessenta  páginas dePereg r in i  c  sessenta   d e   Sforza Pa l lav ic ino. Se não   t ivesse  d c  fazer

u ma   tese,  m a s u m  ensa io  de   umas  tr inta   páginas   para   u m   exame,ser ia   mais   d o q u e   suf iciente.

Porém,  interessam-me  também os   textos inteiros   e .  entre estes,

pe lo menos : E manue lc Tesauro. //  Cannoechiale  aristotelico.  N i c o l aPereg r in i . Del le Ácutezze e   Ifimti  delf ingegno  r id otti a arte:  C a r d i n a lS f o r za P a l l a v i c i n o .  Del ttene   c  Trattato del lo  stile  e de i  dialogo.

V ou  v e r o ca tálogo por  autores, secção ant i ga , e  encontro duas edições d o  Cannoechiale :  u ma  d c  1670 c   outra  d e   1685 . É  pena  qu e nãoha ja  a  p r ime i ra  edição de  1654 , tanto mais q u e   entretanto l i e m  qu a l quer lado  qu e  houve aditamentos  d c u ma  edição  para outra. Encontroduas  edições   oitocentistas  de   todas  a s   obras  d e   Sforza Pa l lav ic ino.N ão   encontro Peregrini  íé u ma maçada, mas  consola-me  o   facto  deter uma antologia   d e   oitenta   páginas   deste autor n o  Ra imond i ) .

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D i g a - s e   d e   passagem  qu e   encont re i a qu i  e   a l i . n os   textos  cr íticos ,  ves t íg ios dc  A g o s ti n o M a s c a r d i  e do s e u  De 1 'a r te istorica.  d e1 6 3 6 .  uma obra   c o m  mui tas observações   sobre  a s   artes  q u e , todavi a , não é  cons iderada ent re  os   i tens d a tratadística bar roca : aqu i e mA l e x a n d r i a   há   c inco  ed ições , três do século x v u e  duas  do séculox t x .  Conv ir -me-á   f aze r uma   t ese   s ob r e M a s c a r d i ? E m b o a  verdade,não c uma  p ergunta pereg r ina .  S e u m a  pessoa   nã o   p o d e   d es locar -

-sc,  d e v e   t raba lhar apenas c o m o   m a t e r i a l q u e h á i n  loco.

U m a   v e z , u m  professor  d e   filosofia disse-me   qu e   t inha   escritou m  l ivro sobre certo  f ilósofo a lemão só  porque  o  seu ins t i tu to adqu i rira a  nova  e d i ç ão da s   suas obras completas.  S e não, t e r i a es tudadooutro autor. N ã o é u m b o m  e xe m p l o  d e  a rdente  vocação científica,mas sucede.

Procuremos agora fazer   o  ponto  da s i tuação, ü que é que f iz emAlexandr ia? Reuni uma b ib l iog ra f i a   q u e , sem exagerar, compreendepelo menos trezentos   títulos,  registando todas as indicações qu e  encon

t r e i .  Destes trezentos   títulos   encont re i aqu i b e m  un s  tr inta, a lém dost extos or i g ina is d e   pelo menos dois   d os  autores  qu e   poderei estudar,Tesauro  c  Sforza Pa l lav ic ino.  N ã o é m a u  para uma pequena ca pitald c p rov ínc ia . M a s se rá o  suf iciente para   a   minha tese?

Fa lemos c laro. S e  quisesse faze r uma   t ese  de três  meses, toda   des e g u n d a  mão, bas tar i a . O s  l i v ros qu e não encont re i  vê m   c itados n o sque encontrei e , se  e laborar bem  a  m inh a resenha, podere i  da í extrairu m  d i s c u r s o  ace i táve l .  T a l v e z  n ão   m u i t o o r i g i n a l ,  m a s   correc to.O p rob lema ser ia , contudo, a b ib l iog ra f i a - Co m  e fe i to , s e   ponho apenas aqu i lo  qu e   realmente  v i , o  or i entador poder ia a tacar   c o m   base

n u m  t exto fundamenta l  qu e   d e s c u r e i .  E se faço   balota. vimos   j ácomo  este   procedimento  é a o  mesmo tempo incorrecto  e   imprudente.

Porém,  uma coisa  é   certa:  n os  p r ime i ros  Ires   meses posso traba

l h a r  tranqüilamente  s em   me  d es locar  d os  arredores, entre  sessões na

bib l ioteca   e empréstimos.  D e v o  te r  presente  que as  obras   d c  re ferência e os   l i v ros ant i gos   nã o  podem  s e r  emprestados,  b e m   comoos ana is d e  r ev i s tas  ( ma s  para  o s  art igos posso tra balhar com  fotocóp ias ) . M as out ros l i v ros podem.  Se   consegu i r p lan i f i car uma  sessãointensiva  n o  centro universitário para  o s  meses seguintes, d c  Setembroa  Dezembro podere i t raba lhar   tranqüilamente no  P icmonte examin a n d o  u ma sér ie de  co i sas .  Além   d i sso, podere i  le r  toda   a   obra   d eTesauro  e d e  S f o r za .  O u  melhor, pergu nto  a   mim mesmo  se não se r i aconven iente or i entar tudo para   u m s ó   destes autores, trabalhandodirectamente sobre  o   texto orig inal  e   u t i l i z a n d o  o   mater ia l b ib l io-

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gráfico   encont rado para e laborar   u m  panorama   d e   fundo. Depoisvere i qua is  são os   l ivros  que nào   posso de ixar   d c  consu l tar  c  irei

procurá-los a   T u r i m  ou a üén ov a . C om u m  pouco  d c  sorte encon

t rare i  tudo  o que é  p rec i so. G r a ça s a o   l ema i t a l i ano, evi t a re i  te r deir ,  quem sabe,  a   Par i s  ou a   Oxford .

Todav ia ,   são dec isões di f íce is de   tomar.  O   melhor  é . u ma v e zfe i ta   a   b ib l iog ra f i a ,  i r v e r o   professor  a  quem apresentarei  a  t ese   emostrar- lhe aquilo  qu e   tenho.  E l e pode rá  aconse lhar -me uma   so lu

ção cômoda qu e me  p ermi ta res t r ing i r o   quadro  e   d i ze r -me qua is o sl i v ros q u e e m   absoluto terei d c v er . N o qu e  respeita   a  estes últimos,se houver faltas   e m  A lexan dr ia , posso a inda fa lar com o bibliotecáriopara   ve r se é poss íve l  p ed i - los empres tados   a   outras bibliotecas.N u m  d i a n o   centTo  universitário   podere i  t er   id ent i f i cado um a   série

de l ivros  e  a r t i gos   sem te r  l ido tempo pa ra  o s   ler. Para   os   art igos, abib l ioteca  d e   A lexandr ia poder ia escrever   a   p ed i r  fotocópias . U mar t i go impor tante  d e   v inte  páginas  cus tar -me- ia duas  m i l li ras maisas despesas postais.

E m  t e o r i a , p od e r e i a i n d a t om a r  u m a d e c i sã o  d i f e rente .  E mA l e x a n d r i a   tenho  o s  textos  de   dois au tores p r inc ipa is e u m númerosuficiente   de   textos  cr íticos. Su f ic i ente para compreender   estes   doisautores,  não   suf iciente para dizer   a l g o  d e   no vo  n o   p lano h is tor io-gráfico ou filológico (se,  pelo menos, houvesse   a   p r ime i ra   ediçãode Tesauro. poderia fazer uma   comparação de três edições   seiscen-t istas). Supoiúiamos   agora   que a lguém me  sugere  debruçar-me   apenas sobre quatro  ou   c inco l i v ros e m qu e s e  exponham leor ias  contemporâneas   da metáfora . E u  aconse lhare i :  Ensaios  de l ingüísticagera l  d e  Jakobson . a  Retór ica   Gera l  d o  G r u p o de L i è ge e  Meton ímiue Metáfora   de  Albert H enry. Tenho elementos pa ra  esboçar  u ma   teori a   estrulural is ta  d a metáfora . E são  tudo l ivros   qu e s c   encontramno  comérc io e em   conjunto custam, quando muito, d e z  m i l  l i ras .  e .além   d i sso,  estão   t raduzidos  e m  i t a l i ano.

Podere i l ambem comparar  a s   teorias modernas  c o m a s   teoriasbarrocas. Para um trabalho deste t ipo.  c om os   textos  de Aristóteles.Tesauro  e  uma t r in tena  d e   estudos sobre Tesauro,  be m  como  os trêsl ivros   contemporâneos de referência,   terei  a   poss ib i l idade  de   const ru i r u m a  tese   intel igente,  c o m  a lguma or ig ina l idade   e  nenhuma pre tensão de   descoberta   f ilológica (ma s co m a pretensão de exactidáon o  qu e   r espe i t a   às r e fe rênc ias ao   B a r r o c o ).  E   t u d o  s e m   s a i r  deA l e x a n d r i a ,  excep lo para p rocurar  e m   T u r i m  ou Gênova nào   maisde dois  ou três   l ivros fundamentais  qu e   faltavam  c m   A l e xa n d r i a .

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M a s  tudo isto  são hipóteses.  Poderia mesmo dar-se   o   caso  dc ,f asc inado pe la  m i n h a  p esqu isa , descobr ir  qu e  quero d edicar,  n ão  u mma s  três   anos  a o  es tudo  d o  Barroco, end iv idar -me   ou  p e d i r u m abolsa   de  es tudo para inves t i gar à  minha  vontade,  e t c . e t c N ã o   espe rem pois  qu e  este   l i v r o  vo s   d i g a   o que  d evere i s  pô r n a  vossa   t eseou   o que  devereis fazer   d a   vossa vida.

O   que quer íamos   demonstrar  (e   p ensamos  te r  consegu ido)  é quese   p ode   chegar  a u m a   biblioteca  de p rov ínc ia sem  saber nada   ouquase nada   sobre   u m   tema   e ter , em três  ta rdes,  idé ias  suficientement e  claras  e   completas.  Isto  s i g n i f i c a   que não é ace i táve l  d i ze r«es tou na prov ínc ia , não   lenho l ivros, n ão s e i po r  onde  começar en inguém me a juda» .

Ev identemente ,   é necessário   escolher t emas  qu e s e   p res tem  a

este   p roced imento. Suponhamos  qu e   quer ia f aze r   u m a  lese sobrea  l óg i c a dos  mundos   poss íve is em   K r i p k e  e   H i n l i k k a .  F i z t amb émes ta p rova   e   p erd i mui to pouco l empo. Uma pr ime i ra   inspecção doc a tá logo por  assuntos  ( t e rmo  « L ó g i c a » )  revelou-me  qu e a   b i b l i o teca   t e m  p e lo menos   u m a  qu i n ze n a   d e   l ivros muito conhecidos  d elógica   formai (Tarsk i . Lukas icwicz, Qu ine , a lguns manua is , es tudosde   C a s a r i ,  W i i l g e n s t e i n , S t r a w s on , c l c ) . m a s  nada , ev identemente ,sobre a s lógicas  moda is mais recentes , mater ia l   qu e se  encont ra , namaior par te  d os  casos ,  c m  r ev i s tas  espec ia l izadíss imas c que   m u i

ta s v e z e s   nem sequer ex is t em na lgumas b ib l iotecas  d c  inst i tutos dcfilosofia.

M a s escolh i  de propós i to  um tema   que n inguém  aborda  no últimoano,  s e m   saber nada  d o  assunto c   sem ter   já cm  casa textos  d c base.N ão   estou   a  d i z e r  qu e   seja uma  t ese   para estudantes r icos.  C on h e ç ou m  es tudante  qu e n ão   6  r i co  c  ap resentou   u m a  tese   sobre temassemelhantes hospeda ndo-sc num pensiona to rel ig i oso  e   comprandopouquíssimos   l i v r os . M a s   e r a  uma pessoa   qu e  t inha  d ec id ido empenhar-se   a   tempo inteir o, fazend o certamente  sacr i f íc ios , mas semqu e  u ma di f íc i l s i tuação  f ami l i a r  o   obrigasse  a  t raba lhar .  Não háteses qu e , po r  si  própr ias ,  sejam pa ia estudantes r icos, pois mesmoescolhendo  A s var iações da  moda   balnear  em  Acapulco  no   decursode   cinco  anos .  pode   sempre encontrar-se  um a fundação  d i spos ta   afinanciai-  o  estudo.  M a s é ób v io qu e   certas  t eses   não poderão serfe i tas  se se   est iver  em situações   par t i cu larmente   d i f íce is . E é pori s so  qu e  a qu i  também se   p rocura   ve r  como  se   podem fazer t rabalhos d ignos ,  se não  p ropr iamente  com aves -do-para íso, pelo menossem gralhas.

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ÍTI.2.5. E os   livros  devem   ler-se? Epor  que ordem?

O   capítulo   sobre   a  p esqu isa na b ib l ioteca   e o  exemplo  d e   inves t igação  ab ovo  qu e   ap resente i l eva m  a   p ensar  qu e   f aze r  u m a  teses i gn i f i ca  r eun i r uma g rande quant idade   d e   l i v ros .

M a s  u m a  t ese   faz-se sempre,  e só.  sobre l ivros  e c o m   l i v ros ' 'V i m o s  já que há também   t eses exper imenta i s ,  e m q u e se   reg istamestudos  n o   t e r reno, t a lvez conduzidos observan do du rante meses  cmeses   o   comportamento  d e u m  c a s a l  d e   ratos  n u m  l ab i r in to.  O r a .sobre  este   l i po  d e   tese  n ào  posso  d a r  conse lhos p rec isos ,  u m a v e zqu e  o método   d epende  d o  t ipo  d c  d i s c i p l i n a , c  quem empreendeestudos deste  gênero  v i v e  já n o laboratório, cm  contacto  c o m  outrosinves t i gadores ,  e nào   tem necessidade deste l ivro. A única  co i sa  qu e

se i ,  como  já   d i sse ,  é que  mesmo neste  gênero dc  teses  a exper iênci a   de v e s e r  e n qu a d r a d a n u m a  discussão da   l i teratura   científica   p re cedente  c.  por tanto,  também   nestes casos   sc terá dc   t raba lhar c o ml ivros.

O mesmo  acontecerá com  urna   lese   d c  soc iolog ia , para  a  qu a l  ocandidato passe muito tempo  c m  contacto  com situações  r ea i s . A inda

aqui  terá  necessidade   de  l i v ros , quanto mais  nã o   seja para  v e r   comoforam feitos estudos semelhantes.

H á  teses   qu e se   f azem folheando jorna is ,  ou   ac tas par lamentares, mas também   e las ex igem uma l i t e ra tura  de   base.

F i n a l m e n t e , h á  teses qu e se  fazem apenas falando  d e   l ivros, comoas teses  d e  l i t e ra tu ra , f i losof i a ,  história d a ciência,   d i re i to  canónicoou   lógica   formal .  E n a   un ivers idade i t a l i ana , par t icu larmente n a sf acu ldades  de ciências  h u m a n a s , são a  m a i o r i a . At é  porque um estudante amer icano  qu e  es tude ant ropolog ia   cu l tu ra l  tem os índios emcasa   ou   c on s e g u e d i n h e i r o p a r a fa z e r   i n v e s t i ga ç õe s n o   C o n g o ,enquanto, g e ra lmente ,  o   es tudante i t a l i ano  se   r es i gna   a   f aze r umatese  sobre  o  p ensamento  d e   F r a n z Boa s . H á,   ev identemente,  e   cadavez mais, boas leses   de   etnologia, fe i las indo estudar  a  r ea l idade  d onosso pa ís , mas mesmo nestes casos há  sempre um trabalho d e  b ib l ioteca, quanto mais  n ão  se j a para p rocurar  repertórios   folcloristas anteriores.

D i g a m o s ,  de   qua lquer forma,  qu e  e s t e   l i v ro inc ide ,  por razõescompreens íve is , sobre   a  g rande ma ior ia das leses f e i l as sobre l i v rose   u t i l i za ndo exc lus ivamente l i v ros .

A  este   propósito   d eve .  porém, r ecordar - se  qu e  g e ra lmente  u m atese   sobre l ivros recorre   a  dois t ipos :   os   l i v ros de qu e   se   f a la   e os

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l iv ros  com o aux í l io d os  quais  s c  fala. For outras palavras, há os tex-tos-objcelo   c há a   l i teratura sobre esses textos.  N o  exemplo  do parág ra f o  ante r ior ,  t ínhamos, por um  l ado,  os   tratadistas  d o   bar roco  c,por outro, todos aqueles   qu e  escrevera m sobre   o s   tratadistas d o  bar roco. Temos, portanto,  de   d i s t i n g u i r o s   textos  d a  l i t e ra tura   crítica.

Deste modo, a ques tão que se põe é a  segu inte :  é necessário  abor d ar   d c  imed ia to  os  textos  o u  passar p r ime i ro pe la l i t e ra tura  cr ítica?A  questão  pode  se r  d e s p r ov i d a   d e   sent ido, p o r  duas  r azões : a )  por qu e   a dec isão d epende  da s i tuação do  es tudante , qu e  pode j á   conhece r b e m o s e u  autor e  d e c i d i r  aprofundá-lo ou  d eparar pe la p r ime i rave z  c o m u m  au tor mui to  difíc il e à   p r ime i ra v i s ta   incompreensível;b)   o círculo, por s i só, é  v ic ioso, dado  qu e  sem l i t e ra tura  crítica   p re

l imina r  o   texto pode   s e r i le g í v e l , ma s s e m o  conhec imento  d o   texto

é difíc il  a v a l i a r a   l i t e ra tura  crítica.Porém,  acaba  p o r t er  uma cer ta   r azão de se r  quando  é  fe i ta   po r

u m  estudante desorientado, como. por exemplo,  o   nosso sujeito hipotético que  aborda pe la p r ime i ra  v e z os   tratadistas barrocos. Este pod einterrogar-se   se deve começar  logo a l e r  Tesauro  ou   f ami l i a r i zar - sep r i m e i r o  c o m  G e t t o , An c e s c h i , R a i m on d i  e   a s s i m p o r  d iante.

A resposta mais sensata parece-me   a  segu inte : abordar   logo  doisou   três  textos  cr íticos dos  mais ge ra i s ,  o  suf iciente para  t er  uma ide iado t e r reno e m qu e  nos movemos ; depois a tacar d irec tamente  o  au tor

o r i g i n a l ,  p rocurando compreender   o qu e d i z ;  segu idamente exam in ar   a  restante   cr ítica;  f ina lmente , vol la r  a  a n a l i s a r o  au tor à lu z da snovas  idéias  adqui r i das . M a s is t o é   um conse lho muito  t e ó r ic o . C o mefeito, cada pessoa estuda segundo ritmos   d c desejos  próprios e   m u i

ta s  vezes não se   pode d i z e r   qu e « c ome r » dc u ma  forma desordenada  faça   mal. Pode proceder-se   e m   ziguezague, alternar  os   objectivos,desde  qu e  uma aper tada rede   de anotações   p essoa is , poss ive lmenteso b  a   forma   d e   f i chas ,  dc consistência ao  r esu l tado des tes mov i mentos   « a v e n tu r os os » .  N a t u r a l m e n t e , t u d o d e p e n d e   também daestrutura  ps icológica do   inves t igador .  Há indivíduos monocrónicose indiv íduos pol ic rónieos . Os monocrónicos só   t raba lham b e m s ecomeçarem e   acabarem uma coisa  d e   cada   v e z . N ão   conseguem  l e renquanto ouvem  música, não   podem inte r romper  u m   romance parale r  outro, pois   de   outro modo per dem   o f io à   meada   e . nos   casos

l imi t e ,  n e m   sequer podem responder  a   p erguntas quando  estão afazer  a  barba  o u a  maqu i lhar - se .

O s  policrónieos são o contrário. Só   t raba lham b e m s e  c u l t i v a r e m  vários   interesses  a o   mesmo tempo  e sc sc  d ed icarem  a  u ma   só

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co i sa ,  deixara-se vencer pelo  lálio. Os monocrónieos são   mais meló

d icos , mas f r eqüentemente tem  pouca f antas ia : os p olicrónicos   pare

cem mais criat ivos, mas muitas veze s são trapalhões e volúveis.  Mas.

se formos ana l i sar   a   b iog ra f i a   d os  g randes h omens, encont ramos

policrónicos c monocrómcos.

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I V .  O   P L A N O   D E   T R A B A L H O J i A E L A B O R A Ç Ã O D E

F T C H A S

r v . 1 .  O índice   como  h ipó t e s e de   t r a b a l h o

U ma   c ias prime iras coisas   a  fazer para  começar  a  t raba lhar numalese  ú  escrever  o lílulo. a introdução e o índice   f i n a l  — ou   seja.cxac iarnenle  a s   coisas   qu e   qualquer autor  fará  no fim.  Es te conselho parece paradoxa l :  começar   p e lo f im?   M a s  quem disse  que oíndice  v inha   n o   fim?   R rn   eerios l ivros   vem no pr inc ípio, de   modoqu e  o  le i tor possa fazer  l ogo  um a   idéia  d a qu i l o qu e irá   encontrar na

l e i tura .  P o r  ou tras pa lavras , red ig i r   iogo o índice   como  h ipótese det raba lho  serve   para de f in i r imed ia tamente   o âmbito da   tese.

Poderá objectar-se que . à  medida que o   trabalho avançar, este  índicehipotético terá de s er  reestruturado várias vezes e   talvez mesmo  assu

m ir   uma forma totalmente diversa. Certamente,  m a s  essa reestruturação far-se-á   melhor  se se   tiver  u m  ponto  d e  part ida  a  reeslruiurar.

Imaginemos  qu e  temos  de   fazer uma viagem   de automóvel de ummi lha r d e quilômetros,  para  o que  d ispomos  de   uma semana. Mesmoestando de férias, não  iremos sair  d e  casa   às  cegas   tomando  a  primeira

direcçào  que nos apa reça. Faríamos  um plano geral.  Pensaríamos   tomara   estrada  de M üao-Nápoles  (Auto-estrada   d o So l ),  fazendo desvios   e mFlorença, Siena  e Arezzo, u ma paragem mais longa em Roma  e uma vis i taa  Mon tecassino. Se. depois, a o  longo da viagem, veri f icarmos que Sien anos lomou mais tempo d o que o   previsto ou que. além de  Siena. val ia  apena  vis i iar San Giminiano. decidiremos e l iminar Montecassino. Chegadosa  ÀrezzO, poderia vir-nos à cabeça  tomar a   direcçào  leste, ao contrário doprevisto,  e  v is i tar Urbino. Perugia. Assis   e  Gubbio. Islo quer dizer  que—   po r  razões  perfeitamente  válidas alterámos o nosso trajecto a meioda  v i agem. Ma s fo i esse  trajecto que  modificámos, e não nenhum  trajecto.

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O mesmo  se  passa  em relação à  tese.  Estabeleçamos   u m plano  d eTrabalho.  Es te p lano assumirá a  forma   de  u m índice provisório. A i n d amelhor se este  índice for  um  sumário, onde ,  para cada capítulo, se esboceum  breve resu mo. Procedendo deste m odo. tornamos mais claro, mesmopara   nós, aqu i lo q u e  queremos fazer.  E m  segundo lugar, apresentaremos ao orientad or um   projecto compreen sível. E m te rce i ro lugar,  assimpoderemos   ve r se as nossas idéias já estão suf icientemente   claras.  H;íprojectos   qu e  parecem mu ito claros enquanto pens ados, mas. quandose  começa  a escrever, tudo se  esboroa entre  a s mãos. Pode ter-se idéia*claras sobre  o   ponto d e  par t ida  e d e  chegada, ma s   veri f icar que  n ào sesabe muito b em  como  se chegará de um ao  outro  e o que haverá nomeio. Um a tese, tal como u ma  part ida d e xadrez, compõe-se de  muitosmovimentos, salvo que desde  o início  teremos  d e  se r capazes  d e  preveros movimentos que faremos   para dar xeque ao adversário, po i s . de outromodo. nunca  o   conseguiremos.

Para sermos mais precisos, o p lano d e  trabalho compreende   o r indo,o índice   e a  in i rodução.  U m  bo m título é já u m  projecto.  N ão   falo d otitulo  que fo i  entregue  n a   secretaria muitos meses a nies. e que  quasesempre  é tão genérico que   permite inf initas  var iações:  falo  do título«secre to» da   vossa tese, aquele   qu e  habitualmente surge como  subtítulo.  U m a  tese   pode   te r  como  título «público»  O   atentado  a Tógliattie a rádio , m as o seu subtítulo (e  verdadeiro  lema) será:  A nál ise deconteúdo que  ambiciona   a  revelar  a uti l ização feita   da v i tó r ia de  GinoHartali  no  Tourde   France para dist rai r  a atenção da opinião públicadofacto  polít ico emergente. Isto s i gn i f i ca que . após se te r  d e l imi tadoa área temática, se  decidiu tratar só  um ponto  específico   desta. A   formulação deste ponto constitui  também  u ma  espécie  de  pergunta:  houve

um a u tilização específica p or  parte  da rádio da vitór ia de  G i n o Bar ta l i

de modo a  revelar o  projecto de desviar a  atenção do público do  atentadocontra Tog l i a t t i ?   E  este   projecto  poderá ser  relevado  p or  u ma  análisede   conteúdo das notícias radiofônicas?   E i s como  o « t í tu lo»  (transfor

mado e m   p ergunta i s e   toma parte essencial d o p lano d e  trabalho.

Imed ia tamente  após te r   e laborado es ta pergunta , devemos es ta belecer etapas   de   t raba lho, que corresponderão a  outros tantos capítulos  do índice . Por   exemplo:

1.  Literatura sobre o  tema2.  O   acontecimeniu3.  A s notícias da  rádio

4 . Análise   quantitativa d a * notícias c  da  sua  localização horária

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5.  Análise de conteúdo das  notícias6.  Conclusões

O u  pode p rever - se  u m  d esen volv imento des te t ip o:

1. O  acontecimento: síntese  das  várias  fontes  de informação2.  As notícias radiofônicas  desde  o  alentado ate à vitória d c Bartali3.  A s notícias radiofônicas desde a  vitória  de Bartali até  ao terceiro dia  seguinte4 . Comparação  quan titativa das duas series  dc notícias5.  Análise   comparada  de conteúdo  das duas  séries de notícias6. Avaliação sociopolítica

Ser i a   d e   desejar  que o índice ,  como  se   d i sse , fosse mui to mais

analítico. Podemos, por exemplo,  escrevê-lo  numa g rande fo lha  c om

quadrados   a   t inta   onde   s e   i n s c r e v e m  os títulos a lápis, que se vãoprogress ivamente e l iminando  o u  s u b s t i t u i n d o p or  ou t ros ,  de   modo

a  cont rolar as várias   fases  d a reestruturação.

Um a outra maneira  de fazer  o índ ice-hipótese é a  estrutura em  árvore:

1. Descrição do   acontecimento

2.  A s notícias radiofônicasDo atentado a te  BartaliDe  Bartali  em   diante

3.  etc.

que permi te acrescentar   vár ias ramif icações . E m  d e f i n i t i v o ,  u m

índice-hipótese deverá ter a  segu inte es t ru tura :

1. Posição d o  problema2. Os estudos precedentes3.  A  nossa  hipótese

4. Os  daüos  que estamos cm  condições d e  apresentar5.  A s ua  análise6.   Demonstração da  hipótese7.  Conclusões e indicações  para trabalho posterior

A terceira fase   d o  p l a n o  d c t raba lho 6  um esboço de introdução.

Esta  não é   mais  do que o comentário analítico do índice: «C om   este

trabalho  propomo-nos demon strar uma determinada tese.  O s  estudos

precedentes deixaram e m  aberto muitos problemas  e o s  dados recolh i

do s sã o a inda insuf icientes.  N o  p r ime i ro capítulo   tentaremos e stabele

ce r o   ponto x ; n o   segundo abordaremos   o  p rob lema  y . E m conclusão.

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tentaremos demonstra r isto e aqu i lo. Deve  ter-se presenie  q u e  n os  fixámos determinados l imites  precisos, isto é,  ta is cia is . D entro destes   l imi

tes, o método que  seguiremos   é o  segu inte... E  ass im p or diante . »

A  função   desta  introdução fictícia (fictícia   porque será  refeita   uniu

série de   vezes   antes   d e a  t ese   es tar t e rminada )  é  p ermi t i r -nos f ixaridé ias a o   longo  d e u m a  l inha   d i rec t r i z  que só será   a l t e rada  à   custade uma  reestruturação  consc iente  do índice . A s s i m , podere i s cont ro

la r  os   vossos desv ios   e   i m p u l s os . Es ta   introdução   se rve a inda paramost rar  a o  or i entador  o que se  pretende  fazer.  M a s  sen 'e s obretudo

para   ve r se já se tem  as idé ias em orde m.   C o m  efeito,  o   estudanteprovém   geralmente   d a  escola   média   superior, onde   se   presume quetenha a p r e n d i d o a  escrever, dado qu e teve de  f aze r uma g rande quant idade   de compos ições .  Dep ois passa quat ro, c inco   ou   seis anos naunivers idade , onde reg ra gera l  já n inguém lhe   pede   para escrever,

e   chega   a o   momento  d a   tese   s e m  es tar min imamente e xerc i t ad o ' .Será um  g rande choque  e u m  fracasso tentai" readquir ir essa práticano momento  da red acção. É necessário começar a   escrever  l ogo  dein íc io c  mais vale escrever   a s próprias hipótese de   trabalho.

Estejamos atentos, pois. enquanto  nã o   formos capazes   de   escrever um índice c   um a  introdu ção, não estaremos seguros  de s e r   aquelaa  nossa tese. S c não  consegu i rmos escrever o pre fácio, i ss o s i gn i f i caqu e  não   t emos a ind a  idéias   claras sobre como começar. Se as  temos,é  porque podemos pe lo menos   « suspe i tar » de   aonde chegaremos.E   é  p rec i samente baseados nes ta suspe i ta q u e  devemos escrever   aintrodução, como  se  fosse um resumo d o   trabalho já   feito.  N ão   receemo s  avançar  d emas ia do. Es taremos sempre  a   l empo  d e   vol tar atrás.

Vemos agora claramente que introdução e índice serão reescri tos con  -t inuamente à  med ida  que o t rabalho  avança. E  ass im que se faz. O índicee a introdução   f inais  (que aparecerão no  trabalho dactüograíado) serãodiferentes dos in ic ia is . E  normal. Se  não  fosse ass im, isso sigriif icaria quetoda a  investigação  fe i ta  nã o  t inha  t raz ido nenhuma idéia  nova . Seríamosprovavelmente pessoas d e  caracter, mas s eria  inútil  fazer uma tese.

O   qu e  d i s t i n g u e   a  p r i m e i r a   e a última redacção da introdução?O fac to dc , na última, se  p rometer mui to menos   do qu e n a   p r ime i ra .

1 0 mesmo não acomccc noutros países, como nus Estadas Unidos, onde o estudante em ve/. dos exame s orais, escreve papers . ou en saios, ou pequenas teses dedez ou vinte páginas  para cada   disciplina  em  que se  lenha  inscrito. É  um  sisieimmuito útil que  uimhém já tem sido adoptado enire nÓS (dada que os regulamentosdc modo nenhum o  excluem c a forma  «oral-sebencisia» do exame 6 apenas  um dosmétodos  permitidos  ao  docente para a valiar as  aptidões d o  estudante).

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e   se rmos mais p rudentes . O   object ivo  da in trodução d e f i n i t i v a   seráa judar   o   l e i tor  a   penetrar  n a  tese:  ma s  n a d a  de lh e   p rometer aqu i loque depois   não lhe  d a r e m os .  O   ob j ec t ivo  dc u ma boa introduçãod e f i n i t i v a  é que o   le i tor  se   contente   c o m   c i a , compreenda tudo e ján ão   l e i a   o  resto.  E u m  p a r a d oxo ,  m a s  muitas   vezes   u m a b oa   i n t r o dução,  num l iv ro  publ i cado, d á u m a  idéia   exacta  ao crítico,  l evando--o (ou a  outros)  a  falar d o  l i v ro como  o au tor gos tar i a . Ma s , sc  d epoiso   or i entador le r a   tese  e   ve r i f i ca i ' que se  a n u n c i a r a m n a in troduçãoresu l tados  que não se   obt iveram?   E i s a r a zão por qu e  esta   últimade v e s e r  p rudente  e   p rometer apenas aqu i lo qu e a  tese  dará.

A  introdução   serve   também   para es tabe lecer qua l  é o  centro   cqua l  a  p er i f e r i a  d a  tese.  Distinção esta  qu e é  mu i to impor tante , c nãoa p e n a s  p or razões de método.  E - n os e x i g i d o  qu e   se j amos exaust i

vos mui to mais pa ia aqu i lo qu e s e  d e f in iu como cent ro d o qu e  parao que se   d e f in iu como per i f e r i a .  Se   numa  tese   sobre  o   conf l i to  d cgue r r i lhas   n o   Monfer ra to es tabe lecermos   qu e o  cent ro são os   mov i mentos das  formações  b a d og l i a n a s . ser-nos-á   p erdoada qua lquer ine -xactidão relat ivamente à s  brigadas  ga r iba ld inas . m as  ser-nos-á  ex ig ida

u ma  informação  exa ust iva sobre as formações de  F ranch i  e de  M a u r i .

E v i d e n t e m e n t e ,  o   i n v e r s o  também é  ve rdade i ro.

Para d e c i d i r qu a l será o  cent ro d a  tese. deve mos saber algo sobreo  m a t e r i a l de que  d i spomos. Es ta   é a razão por que o t ítu lo «secre to» ,a   introdução fictícia e o índice-hipótese são d a s pr imeiras coisas  afazer   ma s n ào a   pr imeira,

A p r i m e i r a c oi s a  a  f aze r  é a investigação bibliográfica (e   v imos

cm 1U.2.4. que se  pode f azer em menos d e  uma semana, mesmo   numapequena c idade ) . Vol t emos à experiência de  A l e x a n d r i a : e m três d iases tar íamos e m condições de  e l a b or a r  um índice a ce i táve l .

Q u a l deverá se r a lógica qu e  p res ide  ã construção do índ ice-hipót ese?  A   escolha depende  d o   t ipo d e   t e s e. N u m a  t ese  histórica   pode

remos  t e r  u m p l a n o crono lógico   ( p o r   exemplo: As persegu ições dosValdenses  em Itál ia)  o u u m  p l a n o d e  causa  e efeito  ( po r   exemplo,A s  causas  do confl ito israeh -árabe).  Pode haver um p lano   espacial(A d ist r ibu ição das  bibliotecas it inerantes  no   canavesano)  o u  com-parativo-contrastante (Nacionalismo  e   populismo  na   literaturaitaliana  do per íodo da  Grande  Guerra ) .  N u m a l es e  d e  carac te r experimental   ter-sc-á um  p l a n o  indutivo  d e   a lgumas p rovas   até à  p r o

pos ta  de  u m a t e o r i a :   numa  t ese  d c  carac te r  lóg ico-maiemãtico, ump l a n o  d e   t ipo  dedut ivo,  p r i m e i r o  a   p roposta   d a   t eor ia   e   d epois  a ssuas   possíveis aplicações e   exemplos concre tos . . .  D i r e i  qu e a  l i t e -

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ratura  cr ítica a qu e nos  lemos referido pode oferecer bons exemplosde p lanos   d e  t raba lho, para  o que  basta  utilizá-la   c r i l i camen le comparando  os vários   autores  c  vendo quem responde melhor   ãs   e x i gênc ias do   p rob lema formulado  n o t í tu lo «secre to» d a   tese.

O   índice   estabelece desde   logo  qua l  será a subdivisão lógica datese e m cap ítulos, parágrafos e subparágrafos. Sobre   a s   modalidadesdesta   subdivisão, ve ja-se  V I. 1.3. e V Í.4 . Também  aqui u ma boa  subd i

visão de d is junção   b inar ia  n os  permite fazer acrescemos   s e m  alterardemasiado a ordem  in ic ia l . Por exemplo,  se   tivermos  o seguinte  índice:

1. Problema central1.1. Subproblema  principal1.2. Subproblema  secundário

2. Desenvolvimento  do problema centra

2.1. Primeira  ramificação2.2. Segunda  ramificação

es ta es t ru tura   poderá ser  representada   p o r u m  d iag rama   em árvore

onde   os traços   i n d i c a m sub-ram ificações   sucess ivas   que poderão

i n t roduz i r -s e  s e m  p er turbar a organ ização   g e ra l  d o t raba lho:

P R O B L E M A C E N T R A L

PC

S U B PR O B L E MA

PRINCIPAL

SP

S U B PR O B L E MA

SECUNDÁRIO

SS

D E S E N V O L V I M E N T O

D O  P R O B L E M A

C E N TR A L

DPC

PRIMEIRA

RAMIFICAÇÃO

PR

S E G U N D ARAMIFICAÇÃO

SR

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As s i g l a s a s s i n a l a d a s  s ob   c a d a   subdivisão   es tabe lecem  a   c o r relação  entre  índice e   f i cha  d e   trabalho, e serão exp l icadas e m   IV .2 . I .

U m a   v e z   d i spos to  o índice   como  h ipótese de   t raba lho,  deveráreferir-se  sempre  os vários pontos do índice,  as f ichas   e outros tiposde  documentação.  R s i a s  referências   d evem  se r  cla ras desde O  in íc ioe   expressas  c o m   n i t i d e z  através de   s i g las   e/ou   cores.  C o m   ele ito,e las  servir-nos-ão   para organ i zar  as referências   internas.

O   qu e   á uma re fe rênc ia  interna,  v imo- lo  também   oeste   l i v ro.M u i t a s v e z e s ,  fala-se   d c qua lquer coisa  qu e j á f o i  t ra tada num capítulo  ante r ior c   remete-se   o  le i tor, entre   parênteses, para  os númerosdo respec t ivo  capítulo, parágrafo ou subparágrafo. As referênciasinternas  dest inam-se a não r epe l i r demas iadas vezes  as mesmas coisasmas servem  também   para most rar  a c oe s ão de   toda   a   tese.  U m a

referência   interna pode sign if icar que um mesmo conceito  6 válido dedois pontos d c v ista d iversos, q u e  um mesmo exemp lo demonstra doisargumentos d i f e rentes ,  qu e  tudo o  q u e  se  d i sse c o m   um sentido geralse ap l ica   também à análise de u m  d e te rminad o ponto,   e m  p a r t i cular,  e   a s s i m  p o r  d iante .

U m a   t ese  b e m  organ i zada dev ia es tar che ia  de referências   inter

nas .  S e   estas  n ão   ex i s t em, i sso s i gn i f i ca   qu e  c a d a   capítulo avançapor conta   própria,  como  se   tudo aqu i lo  qu e fo i   d i to  nos capítulosanter iores  de   nada serv i sse . Ora ,  é indubitável q ue há  certos t iposde teses  ( po r  exemp lo, recolhas  d e  documentos)  qu e  podem funcionar

ass im,  mas. pelo menos na  altura  d e  t i ra r as conclusões, d ever ia sent ir-se   a   necess idade  das r e fe rênc ias  i n t e r n a s .  Um índice -h ipótesebe m  construído é a   r ede numerada  qu e n os  p ermi te ap l icar a s   re ferências  in te rnas  s e m   andar sempre   a   ve r i f i car ent re fo lhas   e   fo lh i n h a s onde  se  f a lou  d e   d e te rminada cois a . Co mo pensa is qu e f i z  p a r aescrever   o  l i v r o  qu e  estais   a   ler?

Para  r e í lec t i r a  es t ru tura  l óg i ca da  t ese   (cent ro  e   p er i f e r i a , t ema

ce n t r a l  e   s u a s  r a mi f i c a ç õe s , e t c ) , o ín d ic e de v e s e r   a r t i c u l a d oem   capítulos, parágrafos   e  subparágrafos .  Para ev i t a r longas exp l i cações , poderá   ver-se   o índice   d es ta obra .  E l a é  rica   em parágrafos   e subparágrafos (e.   p or  v e z e s , em subdivisões   a inda mais pequena s   que o índice não   r e fe re : ve j a - se .  p o r   e xe m p l o ,  e m   111.2.3.).U m a   .subdivisão   m u i t o  analítica   p ermi te  a compreensão lógica d odi scurso .

A  organ ização lógica deve  ref lect ir-se  no índice . Is to eq üiva le <id ize r   qu e s e   1.3.4. d esen volve  u m corolário de 1.3..  isso  d e v e s e rgra í icamente  ev idente   no índice , la l  como  s e  passa   a   exempl i f i car :

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ÍN D T C E

I. A SUBDIVISÃO  DO TEXTO

I. 1. Os capítulos1.1.1. Espaçamento1.1.2. Inicio  dos períodos após  um ponto  parágrafo

I.  2,  O s parágrafos1.2.1. Diver sos tipos  de títulos1.2.2. Even tual  subdivisão em subparágrafos

II. A KEUACÇÀO  FINAI.II. 1. Trabalho dact i lografado  po r u m prof issional  ou pelo própr io11.2. Preço d a máquina  d e   escrever

III. A RNCADHRNAÇÃO

Es t e e xe m p l o  de subdivisão  mostra-nos  também que não é  necessár io que   todos  os capítulos   estejam sujeitos   ã  m e s m a   subdivisãoanalítica. Exigências do   d i scurso podem requerer   que um capítu loseja d ivid id o num certo número de subparágTafos.  enquanto outro podeencerrar  u m d i s c u r s o contínuo sob u m t í tu lo  g e ra l .

H á   leses   que não  ex igem tantas   divisões c  onde . pe lo contrário,um a   subdivisão d e m a s i a d o minuciosa quebra  o f io do  d i scurso (pensamos, por exemplo,  numa  reconstituição biográfica) . M a s , de  q u a l

quer modo.  d e v e   ter-se presente   que a subdivisão   m i nuc ios a a judaa   d om i n a r  a matéria e a   segu i r  o  d i s c u r s o . Se v i r qu e u ma  observação está   c on t i d a  n o subparágra fo   1 .2.2.. saberei imediatamentequ e   s e   trata   d e   a l g o  que se   re fere   ã ramificação 2 . d o capítulo I .e que tem a   mesma   importância da observação  1.2.1.

U m a   última advertência:  quando t i ve rdes   u m ín d ice « d e   ferro",podeis r^rmit ir-vos não começar  pelo  princípio. Gera lmente, neste cas o.começa-se por  desenvolver  a  parte   em que nos   sentimos ma is docu

mentados   e   seguros.  M a s  isto  só é possível se se   t iver como base  umesquema   de or ien tação,  o u  seja.  o índice   como  hipótese de  trabalho.

Í V . 2 . F i c h a s   e   a p o n t a m e n t o s

1V.2 .1 .  Vár ios t ipos de   f icha: para   qu e   servem

À   m e d i d a   qu e a   nossa b ib l iog ra f i a   v a i a u m e n t a n d o ,  começa-se

a   le r o   m a t e r i a l . E   puramente   teórico   p ensar f aze r uma be la b ib l io-

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gra f i a comple ta   e só   d epois  começar a le r . D e   facto,  após   termosr e u n i d o  u m a  p r i m e i r a   l i s ta   dc títulos,  passaremos  a debruçar-nossobre   o s  p r i m e i r os  q u e  e n c on t r a r m os . O u t r a s v e z e s , p e l o  contrário,começa-sc a le r  um l iv r o, par t indo d a í p a r a   a formação da  p r i m e i r abibl i ogra f i a .   D e   qua lquer forma,  à m e d i d a  que se vão  l endo l i v rose  art igos, as  referências  adensam-se c   aumenta  o f icheiro  bibliográfico.

A  s ituação   i d ea l para uma  t ese   seria  l e r e m  casa todos   o s   l i v rosnecessários, quer fossem novos  o u  ant i gos  (e ter  um a  b o a  b ib l iotecapessoa l ,  be m   como  u m a  sa la   d e   t raba lho  cômoda e espaçosa , emqu e  se  pudesse d i spor  n u m a sér ie de  mesas  o s   l ivros a  qu e  n os  report a m os d i v i d i d os  cm várias   p i l h a s ) . M a s  estas  condições   i d ea i s   sãobastante raras , mesmo para   u m  e s t u d i os o  de profissão.

Ponhamos, todav ia , a h ipótese de sc  t e r pod id o encont rar e   com

pra r  todos  os   l ivros necessários. E m princípio, não são necessáriasoutras f i chas para  além  da s  b ib l iográf icas de que se  f a lou  e m  TTT.2.2.P r e p a r a d o  u m  p l a n o (ou índice h ipoté t ico, of ,  1V.1. ) c om os capítulo s   b e m   numerados ,  à   m e d i d a   que vão   sendo l idos   o s   l i v r os   i rc is

s u b l i n h a n d o  c  escrevendo  à  m a r g e m  a s  s i g las correspondentes   aoscapítu los do   p lano. Para le lamente , pore i s junto  aos capítu los dop lano  a  s i g la correspondente   a u m  dado l i v ro  c o número da página ,e   ass im sabere i s aonde   i r  p rocurar , n o  momento  da r e da cç ão. u m ad a d a   idé ia ou  u m a d e t e r mi n a d a  c itação.  Imag inemos uma lese sobre

A  idé ia dos   mundos  possíveis na ficção científica   amer icana   e qu ea  subdivisão  4 .5 .6 .  d o   p l a n o  é «D ob r a s do   t empo como passagementre mundos  poss íve is » . Ao   l e rmos  Scambio Mentale (Mindswaplde Rober t Sheck ley , vemos  no capítu lo  X X I .  página 137 da ediçãoO m n i b u s  M o n d a d o r i ,  qu e o l i o de   M a r v i n .  M a x , qu a n d o j og a v agolfe, tropeçou  n u m a dobra  d o  tempo  qu e s e encontrava  n o campo d oF a i r h a ve n  C l u b  C o u n t r y   C l u b  d c  Stanhope  e fo i   a r remessado parao   p lane ta  C l e s i u s .  Assinalar-se-á à   margem n a pág in a 137 do l i v r o :

. (4.5-6.) dobra temporal

o que s ign i f icará que a   nota   s c re fere   ã Tese  (poderá   u t i l i zar - se  omesmo l i v ro d e z  anos ma is t a rde  a o   lomar notas para um out ro  tra

ba lho,  e é  bom saber  a qu e  t raba lho s e  re fere   u m  d e te rminado  sub l i

n h a d o )  c àquela subdivisão em   par t i cu lar . D e   i gua l modo.  n o  p lanode t raba lho  assinalar-se-á j u n t o  ao parágrafo 4.5.ó.:

cf.  Sbccklcy. Mindswap.  137

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nu m  espaço em que haverá referências a  Loucura  no   Universo,  deB r o w n  e  A a   Por ia para   o Verão,  de  H e i n l e i n .

Es t e  p roced imento,  porém, pressupõe  a lgumas coisas : ( a ) qu e set enha  o  l i v r o  e m  c a s a ; (b )  qu e s e  possa  sublinhá-lo; (ç ) que o   p lanode trabalho esteja   j á  formulado  de   modo de f in i t i vo. Suponhamosqu e  não se tem o   l i v ro, porque   ú  ra ro  e só se   encont ra   n a  b ib l iot eca ; que e le é  emprestado mas  que não se  pode  sublinhá-lo   (poderiaaté se r  vosso,  ma s   tratar-se  d e  u m incunábulo de   va lor  inestimável)ou   qu e s e t e m de i r  r ees t ru turando  o   p lano  de   t raba lho,  c e is quef i camos   n u m a  s i tuação di f íc i l . O últ imo   c a s o  é o  mais normal .À   med ida  qu e avança is com o  t raba lho, o  p lano enr iquece-se  e   rees-t rutura-se,  c não   podereis andar constantemente   a  m u d a r  a s   anotações à  margem. Por tanto, es tas  anotações têm de ser genéricas, dot i po : «mundos pos s íve is » . Como obv iar   a  esta   imprecisão?  Fazend o,por exemplo,  u m f icheiro  de idé ias : ter-se-á  u ma  sér ie dc f ichas c o mtítulos  como  Dobras  do tempo,  Paraie l ismos  entre   mundos  possí

veis.   Contradição. Var iações de  est rutura,  etc . e assinalar-se-á areferência   r e la t i va   a  Sh e c k l e y   n a  p r ime i ra f i cha . Todas   as referênci as   às   dobras  d o   t empo  poderão,  a s s i m ,  se r  colocada s nu m dadoponto  d o  p lano de f in i t i vo, ma s a  f i cha pode   s e r  d es locada, fund idacom outras, posta anles   ou  d epois   d e  ou t ra .

E i s ,  pois . que se  d esenha   a existência de um  p r ime i ro f i che i ro.  oda s  f ichas  temáticas,  qu e  é  pei fe i tamente adequado, por exemplo, para

u ma   tese  d e história d as idéias. Se o  trabalho sobre  os   mundos possíveis na ficção científica   amer icana  s e   desenvolver enumerando  qsvários  modos como  os  d iversos problemas  lógico-cosmológicos   foramencarados  p o r  d i ferentes autores,   o f icheiro  temático  será o   i d ea l .

M a s suponhamos que se  d ec id iu organ i zar a  t ese  d e   modo diverso,ou   se j a . p o r  retratos:  u m capítulo introdutório   sobre   o tema  e   depoisu m capítulo  sobre cada um d os  au tores p r inc ipa is (Sheck ley , He in le in .

A s i m ov , B r o w n . e tc . ) ou   mesmo  um a série de capítulos  d ed icadoscada   u m a  um romance-mode lo. N es te ca so, mais do qu e u m   ficheirotemático, é necessário  u m f icheiro  po r  auto res .  N a   f icha Shecklevter-se-ão   todas   as r e fe rênc ias que nos  p ermi tam encont rar   a s   pas sagens  d os  seus l ivros e m qu e s e fala  d os  mundos  possíveis. E . event u a l m e n t e ,  a   f i c h a   estará  s u b d i v i d i d a   e m   Dobras  do tempo.Paraie l ismos,  Contradições,  e tc .

Suponhamos agora   qu e a  tese   encara   o   p rob lema   d e u m   modomais   teórico,  u t i l i z a n d o a ficção científica   como ponto  de referênci a   m a s  d i s c u t i n d o de  facto  a lóg i ca dos  mundos p oss íve is . As   refe-

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rências à ficção científica serão  mais casua is   e servir-nos-ão   p a r ai n t roduz i r  c itações   t extua is , essenc ia lmente  i lustrat ivas.  Então   p re c i saremos   de   u m  f icheiro  de citações  e m q u e n a   ficha   Dobras  d otempo  se registará  uma frase  d e  Sheckley part icularmente signif ica t ivae n a   ficha sobre  Paraie l ismos  se registará a descrição de  B r o w n   dedois un iversos absolu tamente  idênticos e m que a única diferençasão os  a tacadores  d os  sapatos  d o  p rotagon is ta ,  e   a s s i m  p or  d iante .

M a s  podemos   também   supor qu e o   l i v ro  d e   Sh e c k l e y   não estáem nosso poder  e qu e o  l emos  e m  casa  d e u m  amigo nout ra c idade ,muito tempo antes  d e   t e rmos pensado num p lano  d e   t raba lho qu econs iderasse  o s   temas  d a s  dobras  d o  t empo  e d o  para le l i smo. Será.ass im,  necessário   e laborar  u m   f icheiro  d e   leitura   c o m u m a  f i c h ar e l a t i va  a  Mindswap,  os  d a d os  bibliográficos   deste l ivro, o   r esumo

gera l , uma   sér ie de apreciações   sobre  a  s u a   importância e   u m a  sér iede   c itações   t extua is  qu e n os  pareceram  l ogo pa r t i cu larmente   s i gn i ficativas.

Acrescentemos   a s   f ichas  d e   trabalho,  qu e  p od e m  se r de vár iost i pos ,  fichas  de l igação   ent re  idéias e   partes  d o   p lano, f i chas p roblemáticas , ( com o   abordar um dado p rob lema) , f i chas de suges tões(que recolhem  idé ias   fornec idas  p o r  ou t r e m .  sugestões de   d esenvolv imentos  pos s ív e is ) , e t c , e l e .  Es tas f ichas de ver iam  te r  um a  c o rd i f e rente para cada   sér ie e   conter  n o   topo  d a  margem d i re i t a s i g lasqu e  a s  r e lac ionassem c o m a s  f ichas  de  outra cor e   co m o  p lano gera l .U m a   co i sa   e m   g rande .

Por tanto:  começámos, no parágra fo   ante r ior ,  p o r   supor  a   e x i s tência de um  f i che i ro  bibliográfico   (pequenas f ichas   c o m  s imp lesdados  bibliográficos de   todos  os  l i v ros  úte is de qu e se tem notíc ia )e   agora cons ideramos   a exis tênc ia d e   toda   u m a s é ri e de   ficheiroscomplementares :

a)  fichas de  leitura  dc  livros ou artigosb)  fichas temáticasc)  fichas dc autord ) fichas  de citaçõese)  fichas  de  trabalho

M a s  teremos mesmo  d e   fazer todas eslas f ichas? Evid ente mente ,

não. Pode ter-se   u m   s imp les f i che i ro  d e   le i tura  e  r e u n i r t od a s  a s

outras   idéias em   cadernos : podemos l imi tar -nos  ã s   f ichas  d e   c i ta

ções se a   t ese   ( qu e , po r  exemplo,  é  sobre  a   I magem da  mu lher  naliteratura feminina   d os   anos  40 )  par t i r j á de u m  p lano, mui to p r e -

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c i s o ,  t iver pouca l i teratura  crítica a  examinar  e   necessitar apenas darecolha   d e u m  abundante mater ia l narra t ivo  a  c i t a r . Co mo  se vê, onúmero e a   na tureza   d os   f icheiros  são   suger idos pe la natureza  d atese.

A  única  coisa  q u e  posso sugerir é que  um da do ficheiro s eja com pleto  e  unif icado. Por exemplo, suponhamos  q u e  sobre  o   vosso assuntotendes  e m   casa   os   l i v ros   d e   S m i t h , d e   R o s s i .  d e   B r a u n  c de D cG om e r a , e  que, na biblioteca, haveis l ido o s  l ivros d e  D upont . Lupescue   N a g a s a k i .  Se  elaborardes apenas f ichas  dos últimos três e n o querespeita  a os  outros quatro coníiardes  n a  memória (be m  como na segurança que vos dá tê-los à mão),   como fareis  n o  momento  d a   redac-ção?  T raba lhare i s  e m  parte  c o m  l ivros   e e m  parte  c o m   f ichas?   B setivésseis de   reestruturar  o   p lano  de   t raba lho,  qu e  mater ia l  ter íe is àdisposição?   Livros, f ichas, cadernos, folhetos?   Será  mais  útil  fazerf ichas desenvolvidas  e c om  abundantes c itações de  Dup ont , Lupeseue  Nagasak y , mas f azer  também  f ichas ma is sucintas para Smith . Rossi.B r a u n   e D e   Gomera , t a lvez sem cop iar a s citações  importantes, masl im i tando-vos  a  ass ina lar as páginas em que  estas  se  podem encontrar.  Pelo menos a ssim trabalhareis   c o m   material  homogêneo,  faci lmente   transportável e manuseável. K bastará uma  s imples vista  d eolhos para   se  saber o que se leu e o que  resta consultar.

H á  casos em que é cômod o e útil pôr   tudo em fichas. Pense-se numatese literária e m que se terá de  encontrar  e   comentar muitas  c itaçõessignif icat iva s dc autores diversos sobre um mesmo tema. Suponha mosqu e s e  te m d e   fazer uma  tese  sobre O conce i to de  vida como ar te ent reo   romantismo  e o   decadentismo.  E is  n o  Q u a d r o 5  um exemplo  de  quatro fichas  que reúnem citações a  ut i l izar.

C o m o  se vê, a   f icha  t e m a o   alto a   s i g la  e r r  (para   a  d i s t i n g u i r deoutros eventuais t ipos   de   f icha)  e . em  s e g u i d a ,  o   tema   « V i d a   comoa r t e » . P or qu e   mot ivo espec i f i co aqu i  o   t ema.  u ma v e z qu e já o

conheço?   Porque  a   t ese   poder ia desenvolver - se  d e t a l  modo  qu e« V i d a   como  a r t e »  v iesse  a   tornar-se apenas uma parte   d o   trabalho;porque  este   f i che i ro  poderá  ainda ser-me  útil  depois  d a  tese  e   integrar-se num f icheiro  de citações   sobre outros temas; e   porque podere i  encontrar estas f ichas vinte anos mais tarde   e   f icar  s e m  saber aque d iabo  se  r e f e r i am.  E m  terceiro lugar, anotei   o   au tor da citação.B a s t a  o   ape l ido,  uma vez qu e se supõe qu e se têm já  sobre este^autores fichas  biográficas, ou que a   lese  j á s e   t inha   Tcferiilo  a   e lesno   início. O   corpo  d a   f icha integra depois  a citação,  quer  e l a   sejabreve  o u  longa   ( pod e i r de  u ma  a   tr inta   l inhas ) .

136

Ve j amos  a   l icha   sobre Whis t l e r :  há   urna   c itação em portuguêssegu ida   d e u m  ponto  de in te r rogação.  I s t o  s i gn i f i ca   qu e   encontreipe la p r ime i ra   vez, a   frase noutro l ivro,  ma s não se i donde  e la   p rovém, se está   correcta   n e m  como  é em inglês .  Ma is t a rde, aconte -ceu-me encont rar  o   t exto or i g ina l  e   anote i -o  com as re fe rênc iasnecessárias.  Agora posso u t i l i zar a   f i cha para uma  c itação   correcta.

Examinemos   a   f icha sobre Vi l l iers  d e   T ls l e Adam. Tenho  a  c i t a

ção em português, sei de que  obra  provém, m as  o s  dados estão  incompletos. Trata-se. pois. d e  uma f i cha  a   completar.  A   ficha   d e  G a u t h i e restá  igualmente incompleta.  A de Wüde é satisfatória, se o   t ipo  detese  m e   permit ir  c itações em português. Se a   tese fosse   de estética,el a   ser-me- ia suf iciente.  Se  fosse d e  l i teratura inglesa  ou de  l i teraturacomparada, teria  d e a  completar  com a c i tação or i g ina l .

O r a .  poder ia   te r  encont rado  a c i tação de   W i l d e n u m a  cópia quel enho  e m  casa . mas . se não  t ivesse  f e i to  a   f i cha , no f im do   trabalhoj á n e m me   l embrar ia de la . Ser ia   também   incorrecto  se me   t ivessel imi tado  a   escrever  n a  f i cha   «v . pág. 16» sem  t ran screver  a   frase,d a d o  q u e n o  momento  da r edacção a  colagem  de citações se faz  comtodos  os   textos  à  v i s ta . Ass im , apesar  de se   perder tempo  a   fazer  af i cha ,  acaba-se  por se  g a n h a r  muitíssimo no fim.

U m ou tro t ipo de f ichas   são  as  d e  trabalho.  N o  Q u a d r o 6  temos umexemplo  d e   f icha  de l igação   para   a   lese   de que falámos cm  IIT.2.4.,sobre   a metáfora nos  tratadistas do século  X V I I .  Anotei aqui  U G  e a s s inale i um tema  a  aprofundar. Passagem  do tácti l ao   visual.  A i n d a  nãose i  se  isto v irá a ser  um  capítulo, um pequeno  parágrafo, uma simplesnota de  rodapé ou  (porque  não?) o  tema central da tese. Anotei  idéias qu er eco lh i  d a  le i tura  d e u m  autor, indica ndo l ivros   a  consu l tar  e idéiasa desen volver.  U m a v ez o  trabalho ult imad o, folheando   o  f icheiro  detrabalho poderei veri f icar ter omit ido uma ideia que. todavia,  era  importante,  e   tomar algumas  decisões:  r eorgan i zar  a  tese  d e   modo  a  inserir

essa ideia  o u  decid ir que  não  vale  a  pena referi- la: introdu zir uma notapara  mostrar que t ive esta id eia presente, mas qu e não   considerei oportuno desenvolvê-la   nesse contexto. Tal como poderei decidir, uma  veza  tese concluída e  entregue, dedicar àquele   tema os meus trabalhos posteriores.  U m   ficheiro, recordemo-lo.  é u m  invest imento  qu e s e fa z n aocasião  da tese, mas que.  se  pensamos  cont inuai ' a  estudar, nos  servirápara   os  anos seguintes, p or  vezes à d istância de décadas.

N ão  podemos,  porém, alargar-nos demasiado sobre  o s vários   tiposde f i cha . L imi tamo-nos . pois .  a   falar  d a   l i chagem  d a s   fontes  p r i

már ias e das  f ichas  d e   l e i tu ra  d a s  fontes  secundárias.

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CXT

V i d a  como  a r t e  HW h i s t l c r

" H a b i t u a l m e n t e  a   n a t u r e z a eu tá   e r r a d a 1 '

t

CIT

V i d a  como  a r t e  N

V i l l i c r s   dc  l 'X 3 lc Adam

"V ive r? N ioao pensam  os   noaaos  c r i a

dos  p or nõs."

( C a a t a l l o  d i  A x a l . * .

O r i g i n a l

" M a t u r e  i a   u sua l l y w ro ng "

J . A .  M c N e i l l W h i s t l c r ,

T l i e gent l c  a r t q f  making

enemies,  1090

CIT

Vída   como  a r t e Th. G a u t h i e r

" R e g r a g e r a l ,  uma  c o i s a   que sc   t o rna

ú t i l  d e i x a   de s e r   b e l a "

(Pré  face   dc.t  premiSrea

p o c a i ç » .   1 8 3 2 . . .  >

CIT

Vida   como  arte. N

Oscar Wi ldc

'Podemo.i purdoar  a o »  liouiera   que façauma  c o i a a   ú t i l  s imulando  que a   admi

ra ?   A única   d e sc u l pa pa r a f a zo r  umac o i a a   u t i l  I qu e e l a   se j a admirada

i n f i n i t a m e n t e .

Toda   a   a r t e  c  comple tanentc  i nút i l . "

(P ro fác io aI I   r l t r a t t o  d i  D . Gra y ,

1   g r a n d i s c r i c t o r i

a t r a n i e r i  l íTKT, pag.16)

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Q U A D R O  6

F I C H A  D l i L I G A Ç Ã O

L i g . N .

Passagem   d o t á c t i l a o  v i s u a l

C f . E a u s e r , S t o r i a s o c i a l e d e l l ' a r t e

I I , 2 6 7   onde  e   c i t a d o W o l f f l i n s o br e  a

passagem   d o t á c t i l a o   v i s u a l e n t r e   o  R e -

n a s c .  e o  B a r r o c o  : l ín s a r v s . p i c t Ó r i c o ,

s u p e r f .  v s .  p r o f u n d i d a d e , f e c h a d o  v s .  a b e r t o ,

c l a r e z a a b s o l u t a   v s .  cl a r e z a r e l a t i v a ,

m u l t i p l i c i d a d e  v s .  u n i d a d e .

E s t a s  i d é i a s   e n c o n t r a a - s e  e n  R a i m on d i

I I  romanzo  sen2a  i d i l l i o l i g a d a s   a s r e

c e n t e s t e o r i a s  d e   M c L u h a n (G a l s x i a

Çutemfaer^) e   W a l t h e r  O n g .

140

IV.2 .2 .  Fichagem das  fontes  p r imár ias

As f ichas d e  le i tura dest inam-se  à  l i teratura  cr ítica. Não as  u t i l i z a

re i - o u  pelo menos,  não  ut i l i zare i  o   mesmo t ipo d e   f icha para  a s   fontes

primárias. Por   outras palavras,  se  p reparar uma  tese  s obr e M a n zon i .

é  na tura l que faça a  f i cha   de  todos   o s  l i v ros  e   a r t i gos sobre Manzo

n i   qu e  consegu i r encontrar , m a s  seria estranho fazer  a  t i cha  d e   I pro-mess i spos i o u d e  Carmagnola,  E o   mesmo aconteceria   se se   f izesse

u ma   tese  sobre a lguns art igos t i o C ód i go de  D i r e i t o C i v i l  ou  um a  tese

de   história da matemática   sobre   o   P rog rama   d e   E r l a n g e n   de   K l e i n .

O idea l , para   a s   fontes p r imar ia s , é lê-las à mão. O q ue não é

difíc il, se se  trata  d e  um autor  clássico de que   existem boas   edições

cr ít icas , ou de u m  autor moder no cu jas obras   se   podem encont rar

na s  l i vr a r i a s . Trata-se sempre   d e  u m inves t imento indispensáve l. U ml i v ro  ou  u m a  sér ie de   l i v ros nossos podem   se r  sub l inhados , mesmo

a   várias   cores .  E   ve jamos   para  q u e   serve   isso.

O s  sublinhados personalizam   o l ivro.  Ass ina lam as p is tas do  nosso

interesse. Permitem-nos vollar a o mesm o l ivro muito tempo dep ois,

de tec tando imed ia tamenle aqu i lo  qu e n os  hav ia in te ressado.  M a s   6prec iso  subl inhar co m cr i té r io. Há  pessoas   qu e  subl inham  t u d o . É o

mesmo  qu e nào   sub l inhar nada.  P o r  ou t ro lado.  p o d e   dar-se  o   caso

de . na mesma   página, haver in formações qu e nos  interessam a   d iver

s os   n íve is .  Trata-se  então dc d i f e renc iar  o s  sub l inhados .

Devem   utilizar-se  cores,  fcltros  d c  ponta f ina . At r ibu i - se  a  c a d a

cor um assunto: essas cores   serão  r eg i s tadas  n o  p lano  d e  t raba lho e

na s  várias   fichas.  Isso  servirá na  fase   de redacção,  p o i s  saber-se-á

imed ia tamente   qu e o  ve rmelho  se  re fere  a os  trechos relevantes p ara

o   p r ime i ro capítulo c o   verde  a os  trechos relevantes para  o   segundo.

Devem   associar-se   as cores a   siglas  (o u  podem u t i l i zar - se s i g las

em vc/. d c  cores ) . Vol tan do  a o  nosso t ema   d o s  mundos p oss íve is na

ficção científica,  ass ina le - se  c o m D T  tudo  o qu e  d i sser respe i to  às

dobras temporais  e  co m  C  tudo o que se  referir  às contradições   entre

mundos a l t e rnat ivos .  Se a  tese  d i sser respe i to  a vários   autores,  a t r i

bui -s e  uma s ig la   a  cada au tor .

Devem   utilizar-se siglas para su blinhar   a impor tância d as in for mações .  U m  s ina l  vert ical  à  margem  com a a notação  IMP, dir-nos-á

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que   se   t ra ia   d e u m  trecho mu ilo importan te  e,   a s s i m ,  nã o   teremos

necessidade   de  su b l inhar iodas   a s  l i n h a s . C IT poderá   s i gn i f i car que

se trata   d e u m  trecho  a  c itar in tegralmente. CtT/rjT  s ignificará que é

u ma   c itação   i d ea l para exp l icar  o   p rob lema   d a s  dobras temporais.

Devem   assinalar-se  os pontos a que se irá voltar . N u m a p r i m e i ra

le i tura, d e te rminadas  páginas   pareceram-nos obscuras. Poderá então

ass inalar-se   à margem  e a o alto  u m  g rande  R ( r ever ) . Ass im, saber -

-sc-á que se deverá  voltar  a   es ta passagem  n a   fase  d e   ap rofunda

mento, quando  a  le i tura  de  l ivros ulteriores t iver esclarecido  as idéias.

Quando  não se deve  sublinhar?  Q u a n d o  o l i v r o não é  nosso, evi

dentemente,  ou s e s e  trata  d e  um a  edição  ra ra  de   grande valor comer

c i a l , q u e  quaisquer sublinha dos  ou a notações  desva lorizaria m. Nestescasos, mais vale fotocopiar  as páginas   importantes  e sublinhá-las

em segu ida .  O u e n tão  pode   arranjar-se  u m  caderno onde   se  trans

crevem   os   trechos  de   maior rea lce in te rca lados   com comentários.

O u  a inda e laborar  u m  f icheiro expressamen te cria do para   a s   fontes

primárias, mas  i sso é   muito fat igante, dado q ue se terá  prat icamente

de f ichar página p or página . Se a  t ese f o r  sobre L e   grand   Meaulnes,

ópt imo,  porque  se   trata   d e u m  l i v ro pequeno:   ma s s e f o r   u ma   t ese

sobre  a Ciência da Lógica   d e   H e g e l ?   E s e .  vol tando  ã   nossa expe

r iência  d a  bibl ioteca  d e  Ale xan dri a (111.2.4. ),  fo r   preciso fazer f ichas

da   edição  se i scen l i s ta   d o  Cannoccli iale Aiistotelico  d e  Tesauro?   Só

restam  a s fotocópias e o  caderno  de  apontamentos,  (ambém  este  c om

subl inhados  a  cores  e  s i g las .

Devem   completar-se   os  sublinhados  co m   separadores.  anotando

na   margem sal iente sig las   e   cores.

Atenção ao ál ibi  da s fotocópias As fotocópias são um  ins t ru mento  indispensável,  quer para podermos   te r  connosco  u m  l exlo  já

l ido na biblioteca, quer para levar para casa  u m  texto  qu e  a inda  não

t enhamos l ido.  M a s   muitas  vezes as fotocópias   funcionam como

álibi.   U ma pessoa l eva para casa centenas  dc páginas de fotocópias

e a a cção  m a n u a l qu e  exerceu  n o  l ivro fotocopiado  dá-lhe a  impres

são de o   possuir.  A   posse  da fotocópia   substitui  a   l e i tu ra : é u ma

co i sa   qu e  acontece  a  mui ta  g en t e . U m a  espéc ie de   vert igem  d a  acu

mulação, um  neocap i la l i smo  da in formação.  C u i d a d o c o m a s   foto

cópias :   u ma   v e z e m   posse de las , devem  s e r   imed ia tamente l idas   e

142

anotadas . S e o tempo  n ão  urge,  não se deve   fotocopiar nada  d e  no vo

antes  de se   te r possu ído   ( i s to  é.   l i do  e   ano t ad o ) a fotocópia   prece

dente .  H á  muitos casos e m q u e não se i  por que fotocopiei um deter

minado lexlo: f iquei talvez mais tranqüilo, tal como  se o   t ivesse l ido.

Sc . o l ivro é   vosso  e não tem   valor  de ant igüidad e , não se devehesitar   em anotá- lo,  N ão   d eve i s  da r crédito àqueles que  d i z e m  q u e

os l ivros são intocáveis. Os  l ivros respeitam-se usando-os   e não  d e i

xando-os qu ie tos . Mesmo  se os vendêssemos a  um a l f a r rab is ta . não

nos dar iam mais  d o q u e  a lguns  tostões,  pelo  qu e  mais vale de ixar

neles  os   s ina i s  d a   nossa posse.

É necessário  ana l isar todas estas coisas antes d e  escolher  o  lema da

tese.  Sc e le nos  obrigar  a  u t i l i zar l i v ros  inacessíveis, de   milhares  d e

páginas , sem  poss ib i l idade  de os  fotocopiar  e não   tendo tempo paratranscrever cadernos  e   cadernos, essa   tese   de v e s e r  posta   d e   lado.

TV.2 .3 . A s   f ichas  d e   leitura

E n t r e  todos  o s   t ipos  d e   fichas,  as   mais correntes  e , no f im decontas ,  a s  indispensáve is , são a s   fichas  d e   l e i tu ra : o u  seja, a quelase m  qu e s e  anotam  com prec isão  todas  as referências bibliográficasrelat ivas   a u m   l i v ro  o u a u m  a r t i go,  se   escreve  o seu  r esumo,  set r a n s c r e v e a l g u m a s  c i tações -chave , se   e l a b or a   u m a a pr e c i a ç ãoe s e   acrescenta uma   sér ie de observações.

E m  resumo,  a  f icha   d e   le i tura contribui para   o aperfeiçomento daf icha  bibliográfica   descrita  em I I I .2.2. Ks ta  última contém  apenas  ind i

cações úteis  para encontrar o   l ivr o, enquanto  a   ficha   de  le i tura  contémtodas   as informações   sobre  o   l ivro  ou o   art igo  e,  portanto,  deve se rmuito   ma ior .  Poderão  usar-se formatos normalizados  ou fazê-las o

próprio,  ma s e m  g e ra l  deverão  t er  o   tamanho d e  uma folha   d e   cademona   hor i zonta l o u d e   meia folha   d e   pape l  de máquina. É   convenienteque sejam  de cartão  para poderem  s er  consultadas n o  ficheiro  o u  r eu n idas e m maços   l igados  p or  um  e lástico;  devem permit ir a utilizaçãode  esferográficas   ou caneta  d e  tinta   permanente, sem borrar e   deixandoa  caneta desl izar   c o m  f ac i l idade .  A s u a  estrutura   de v e s e r  mais o umenos   a d a s   f ichas exemplif icai vas apresentadas   na s  Q u a d r os 7 - 1 4 .

Nada obsta . e até é aconselhável, que  para  o s   l ivros imporlanlesse preencham muitas f ichas, devidamente numeradas e   comendo cadauma, n o  anvenso,  indicações  abrev iadas  d o l i v r o o u   art igo  e m   exame.

143

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Croc e ,  Benedetto Th . Gen. (r>

Recensão a Mcl son Sei Ia , Es tét i ca e iua ica le in S . T . d 'A . (v . f i ch a )

La   c r i t i c a ,  1931, p-71

Realça o cuid ado e a nindorn : : de con vicç ões es té ti c as com que SoLlrt aborda o tema.Haa re lat ivamente a ST, Croco a f i rma:

" . . . o fac to e que as suaa t<I«ian nobre o be lo e a art e nao aõo já f al s as , mas c ul to

pjera i s , e por i s so pode-ao i iempro, num ce rto se nt i do , a c e l ta - la a ou adop ta- l as . Como

as que atrtbuea   a   pu l c r l tu do ou be l eza a i n teg r i d ade , per f e i çã o , ou ron »o i i nnc ia , c a

i•  l . i r i T . i ,  i í i iu c , a ni ti de z das c oro s. Ou como essa outra acp.imdo a  nt in l ,  o bolo d iz

res pe ito ao puder cognoac i t tvo; o mesmo a doutr ina para a qua l a bele za da c ri at ur a

é s eae lhança da be l eza d i v in a presente oas co i s a s . 0 ponto e s se nc i a l c que os pro b l e -

aa« estét i c os aão const i tu íam ob jecto de ua verdad ei ro int eres se nca para <  Idade  Mé

d i a  ea ge ra l , m a ••= pa rt i cu la r para S . Tonas , cu jo e s pír i to estava preocupada coa

outras co i s as : daí eatarea condenados ã genera l idad e. £ por i s so os trab a lhos ea to r

no do es tét i ca dc S . Toaãu e de t rca f i l ó so fos aed iev a i s pouco frutuos oa e l eea-6e

coa   enfado , quando não são (o l ia bi tua la cn te não são) tratad os coa a circun spec ção ca  e legânc ia com que So l l a escrovou o s eu . "

[A rofutaçS o de ata teae podo íiorvir-m e como tema in trod utÕ rlo • As pa lav ras   c o n c l u -

iitvna  como h ipoteca ,

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5

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S t .  Ccn. (r )B i o n d o l i l l o ,  Francesco

"A   ootétic a c o gosto na  Idado  Med ia" , Capítu lo I I de

B ravo a tor i a dc l su s to e de i pann ioro e s té t i co , H esa ina , P r i n c i pn to , 192 4, pa8 .29

U i o n d o l i l l o  ou do gen t i l ian i rimo raíopo

Passamos por  c i n a  da introdução, vu lg ar izaçã o para a lmas jovena do verbo gen t i l i an o.

Vejamos o ca pít ulo sobre a   Idade  Med i a : ST f i c a l i qu i dado en IB l i nhas . " Ha  Idade  H e-

d l a ,  coa o predominar da teo l og i a da qua l a f i l o s o f i a fo i cons i derada se rva . . . o pro

b lema art ís t i co perdeu  m  importância  a  que  t i nha  as cendido eapec ía laente por obra . de

Ar i s tó te l e s e de P l ot l n o" [Carênc i a c u l tu ra l ou a í - f é l Cu lpa su a ou da e s co l a? ) Con -

t ínu eaos :  Isto  e, estaaoa coa o Dante da idade eadura que, no Co nvív io  (11,1)  a t r i

buía a arte quatro s ign i f i c ad os [ expÕc  a  te or ia doa quatro se ntid os ignorando que j aBoda a repetia; não  sabe  mesmo  nada ) . . .  E est e s ig ni f ic ad o quádruplo pensavata Dante

o os outros que sc encontrasse na Di vin a C . . que, pe lo c on trár io , só tem va lor ar t í s

t i c o  quBndo, e só enquanto. 5 express ão pura c des int eres sa da de um mundo i n te ri o r

pró pri o, e Dante ' 'abandona^i ;^ complotanonto ã sua vi s ão " .

[Pobre  I t á l i a E pobre Dante, toda um.i v id a dc cao sei rao a procurar sup ra- se nt id os

i'   cete d iz que os nao havia , mas que "acred i tava . . . se enco ntraosu" o a f in a l nao. A c i t ar

como t e r a t o l o g i a h i s t o r i o g r á f i c a » ]

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C l u n s ,  l l . l t . 

P ie L i t e r a r a s the t i f c  des  e u r o p S í s c h e n M i t t v l a l t o r » .

Bochuo-Langendreec, Poppinghaus,  1937, pp. 606

Th .  Ccn. Lett.(r,b )

A   s e n s i b i l i d a d e e s t é ti c a e x i s t i a  na Idade  Media  a 5 ã sua luz que devem  ser  v i s t a »  no

obras  dos  pootac med ieva is .  0  centro  da  inve s t i ga ção  ê* a  c ons c iênc ia  que o  poeta podia

ter então .da aua  a r t e .

V i s lumbra - s e  una  evolução  do  gos to m edieva l :

oec .  VII e VII I - as  d o u tr i n a s c r i s t a s  oao  reduzidas  às  formas vazias  do  c l a s a i c i s mo .

s ec .  IX o X

s éc .  XI sog.

séc .  XII

s dc .  XIV

-  as  fábu las ant igas  são  u t i l i z a d a * na  pe r s pec t iva  da  Ó t i c a c r i a t ã .

- aparece  o  c thos c r iotao propr iamente d ito  (obras  l i t ü r g i c a s , v i d a s

de Bentos , pará frases  da  B íb l i a , predomínio  do  a lem) .

-  o  ncop l atonieao leva  a uma v i sã o c a i s humana  do  mundo: tudo  r c f l c c t c

Dfíua  n  seu  modo  (amor,  a c t i v i d a d e s p r o f i a s i o n a i a , n a t u re z a ).

De s envo lvc - c e  a  c o r r ente a legór i c a  (de  AlcuTno  aos  V i c t o r i n o u e ou

t r o s ) .

- Embora continuando  ao  s e rv iço  de  Deus ,  n  poe s i a a o ra l t o rna - s e

e s t e t i e n .  Tn l  como Deus  se "exprime  na  c r i a ção , a s s im  o  poeta  se ex

prime  a ai  mesmo, pensamentos, sentioenCoa  (Inglaterra,  D n n t e . e t c ) .

0  l i v r o  c uma recensao  de De  Bruyne  in  Rc .nc ogc .de  p h i l ,  1938? diz que  d i v i d i r  etn épo cas   a  evolução  não é  nu ito seguro porque  as  vár i a s corren tes es tão sempre s im ultan ea

mente presentes  fê  u nua  t e s e  dos Ktudes :  pÔe cm causa es ta carênc i a  de  s e n ti d o h i s t ó

r i c o ;  ele  acredita demasiado  na  Phi los ophía Pcrennit ; }  a  c i v i l i z a ç ã o a r t í s t i c a m e d ie

v a l  v  p o l í l ú n i c a .

Clu i i i  2

De Bruyne  c r i t i c a  Glunz  por não se ter  f ic udu peto prazer forma l  da  p o e s i a :  os  medie

va is t inham dis so  um sen tido m uito viv o, basta pensar  nas  a r t e s poét i c a s .  E  depois

uma e s t é t i c a l i t e r á r i a f a z i a pa r t e  de uma v i sã o e s tét i ca ma is gera l  que  Cl un z n e g l i

g e n c i a r i a , e s t é t i c a  em que  convergiam  a  t e o r i a p i t a g o r i c a  das  proporções ,  a  e s t é t i c o

q u a l i t a t i v a  ag06t in iana (modus , apec iea ,  oedo)  a  a  d i o n i s i a n e ( c l a r i t a s ,  lux).  Tudo

i s to a po ia do pe la p s i c o log ia  dos  v i c t o r i n o s  e  pe la v i s ão c r i s t ã  do  u n i v e r s o .

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H a t i t a t n ,  Jacquos

"Signo cc syabo ie "

Rc vwe Thos i s t c ,  A b r i l ,  1938, p.299

3 h .  S Í . (v)

H.i  expe c tati va de uma inv esti gaç ão aprof indada sobre u tema (desde  a I . H .o t é ho je ) ,p ro -

pÕe-so aLudir a : te or i a f i l os ó f ic a do nig . a o re f lexões sabre o H iano nÜgico .

[ in su portá vel como eemprei r. i iderniza sen faz er f i l o l o g i a : por exemplo, não ae refe te a

ST,   mas a João dc São T on as ]

Desenvolve a te or ia deste último (ver mtnha f ic ho):" Si gn um ett id quod repraese ntat

a l i u d  a se potent iao cognoscent l "  (Log.II.P,  2 1 , 1 ) .

i . .- -i ..i  c s s e n t i a l i t e r c o n s i a t i t i n o r d i n e ad a i g n a tu a "

Mas o •igno não é seepre a imagem a vic e- ve rs a (o  F i l h o  £ iaagc a « não eigno do P a i , o

gr it o £ s igno e não imagem da dor) . João acre sc enta:

"Rat io ergo im aginis c on s i s t i t in hoc quod procedac ab a l io ut a pr in c ip io , et ia

s l a l l i tud La ea e jus , ut docet S . Thomae, I , 35 e  X C X l I l "  (?7T)

D iz  então H ar i ta i n quo o s ímbolo 5 ua e igno- imagen: "que lquc choae de acna ib le a i a n i -

tJant  un ob jet en ra is on d 'un« rã la t i on pregupposcc d 'an a lo g i a "  (303)•

Isto deu-me a ideia do   voif^t De V e r . V l I I , 5 « C G . 1 1 1 . 4 9 .

H a r i t a i n   de s envo lve a inda idé ia s nob re o s i gno fo rma l , in s t rumenta l , p r a t i c o , e t c . e

sobre o aigno como acto ijo mngia  (parto  documentadíasima)*

Quase não se refere   5   art e fmaa ja *c en con tran aqui a lgumaa rofarÕncian aa raí ze sinc ons cie ntes e profunda» do arte que encontraremos depois cm Cre ati ve In tu it io n ]

Para uca interprctação tomiata S intc rc s s aote o seguin te  M W W   " -  I 1  i.  i l ' oeu vre

O

>nm

•o>

3

d ' ar t se rencon t ient le s igno spec u lat í f (1 'oeuv re mani fes te autra chose qu *e l le ) c t

1c   s igne poet ique (e l l c coaimunique un ord rr , un app e l ) ; non q u 'e l l c so it formel lement

ni^no  prat iq ue , mata c ' c « t un o igne apí ru l at i f qu i par ourabondance e » t vJ r tue l le me nt

pra t ique : e c eLle-même. s ana l e l o u l o i r , e t a c on d i t io n de na pus l e vou lo i r , e i i

J U S S Í  une sorte de s ign r . «H Íque  (elle  s é d u i e , e l l e e n a o r c e l l e ) " ( J 2 9 ) .

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Q U A D R O   11

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C u r t i u s ,  Ernst Robert  T B   . gan

Europaiachc   L i t o t a t u r  un 4  1 a t g i n i« c h c s H i t t e l a l t a r . B e rn a , T r a n c e , 1 948

e a p a r t i c u l a r C 1 2 , a s e . 3

í.ivro  grande. Por  a g o r a   sõ me serv e a pãg. 228.

Pretende d enonatrar que um co nc eito de poes ia em Coda a sua di gn id ad e (  capac idade ro -

vc la do ra e aprofundamento da verdade, era desc onhecid o dos eic o1 í « t ícos , enquanto es

tava vi vo cm Dance e noa autores do sé cu lo XIV  C a q u i   tem razão -) .

Em  Al be rto Magno, por exemplo, o método c ie nt íf le o  ,(aodus  d e f i n i c i o n i a , d i v i e i v u s ,

c o l l e c t iv us ) opõe -s e ao método poét i c o da B í b l i a ( h i s t ó r i a s , pa r ábo la s , metá fo r a » ) .

0  aodus poct ic ua como o mais fraco doa modos f i lo s óf ic os .

(Há qualquer coisa do gênero ea   S T i r v e r i f i c a r l í ]

E f ec t iv aae ntd Curt ius remete a S T ( I , 1 ,9 a 1 ) a ã d is t inç ão da posa ia coao  intima

d o u t r i n a i  ( ve r f i c h a ) .

En  resumo, a esc o lã s t i ca nunca se interes sou pe la poes ia e nunca produi tu nenhuaa

poética I is to é verdade para a es c ol ãs t ic a , mas não para a  Idade  HÍdiaJ  e nenhuma

teor i a da ar te £ n * o • vardadej '. Es tarmos a incomodar -nos a ex tra ir da l una e s t e t i -

ca   da l i te ra tu ra e da » a r tes p lá s t i ca s nao tem, por i s s o , qua lquer s ent ido nem ob-

j e c t i v o •

A  condenação é profer ida  no   n. l da pãg. 229: "0 homea moderno aob rc va lo r i ra sem me

dida a ar te porque perdeu o sent id o da be leza in te l ig íve l que o neoplaton isao e aI .H . t inha s bea c l a ro . Se ro te a a a r i , Pu l c hr i tudo ta a a nt iqna e t t a a nova, d i z Agos

t inho  a Deus (Con t . . X , 27, 18) . Fa la - s e  a q a l   da uaa ba le ia

ariX

DO

Cu rt iu s   2

de qoe a estét ica não  sabe  nada £ po is , mas o problema da part ic ipa ção do Belo di vin o

nos   seres?}.  Quando a es co lãs t ic a fa la da bo ls za , c ia é pensada coao ua atr ib uta de

D S ) B I  "a meta fís ic a do Bel o (ver P lo t in o) c a teo ri a da art e não têm nada a ver uma

com  a out r a "  C ê  vorda de, mas enco ntram-aa no terre no neu tro de uma te or ia da forma ]

[Atenção , es te autor não é como B io n d ol l i l o t Nao conhece ce rtos textos f i lo só f i c os

de ligação mas  sabe  ao c o i sa s . A re futa r com c ircuns pecção . ]

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Q U A D R O   13

F I C H A D E L E I T U R A

Q U A D R O   13   (Continuação)

T "49 ,

V d R |4• r l a 1 D X o r4 •ri «1 «i d d d 41 r. d >

M •r •d Pi P> a » 41 141 e v B • a ri •ri -ri• • -0  0 d 4> r a k> do 41 a  u O a H n • r i

4 R M •B B a H r4 > S P>i i CO d •r i  O O w PH O d U  IB CJ a d B 9 d 3

u *• •ri   U* > •ri O •d •d O«i r-i   a o •ri V* * o

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Q U A D R O 14

F I C H A DE L E I T U R A

156

As f ichas dc l ei  1 ura  servem para a l i teratura crílica. Não são acon

selháveis  l l chus de  le i tura para as  fontes primárias,  c om o  se  disse

n o  parágrafo  anter ior.

M u i t a s são as maneiras de  f ichar um l ivro. I sso depende da memó

ria de   c a d a u m . Há pessoas que têm dc escrever  tudo e  pessoas para

quem  um rápido  apontamento  é  suf i c i en t e . D i gamos que o método

standard  6 o  seguinte :

a)  indicações bibliográficas  precisas,  poss ive lmente mais comple

tas  que as da f icha  bibliográfica;  esta servia para procurar o  l ivro, a

ficha de leitura  serve   para   falar  de le e  para o  ci tar c om o deve ser na

bibl iograf ia f inal : quando se faz a ficha de le i tura, tem-se o livro na mão.

e,  portanto, podem l irar-se iodas  as indicações possíveis,  la is  como

número de páginas, edições,  dados sobre o  organizador da edição, etc :

b) informações sobre o autor,  q u a n d o  não é  au lor idade mui to

conhecida :

cf breve tou longo í resumo do livro ou do artigo;

d) citações ex t ensas ,  entre aspas, dos trechos que se considera  d ever

c i tar ( ou  mesmo  dc  a lguns mais ) , com indicação  p r ec i s a da . ou das.

páginas: atenção a confusão entre citações e paráfrases (ver  V.3.2. ) ;

e) comentários  pessoais,  no  final,  no início c a me io do  resumo:para  não se  correr  o  r i s co  de os  con fundi r depo i s  com a  obra  do

autor, é  melhor po-los entre  parênteses  rectos  a  cores ;

f)  co loca r  ao  a l to da  f i cha uma  s ig la ou u ma  c or que a remeta à

parte respect iva  do  p l ano  dc  tTabalho: se se refere a várias  partes,

pôr várias  s i g l a s :  se se  re fer ir  à  t ese . no seu con jun to ,  assinale-sei s so de uma maneira qualquer.

P a r a   não  con t inuar c om  conselhos  teóricos, será  melhor forne

cer a lguns exemplos práticos. Nos Qua dros 7-14 encontram-se a lguns

exemplos  de  f ichas. Para não  inventar temas  e métodos, fui busca r

as f i chas  da m i n h a  tese de  l i cenci a tura , que em  sobre o  Problemaestético em S. Tomás de Aquino.  Não  p r e t endo a f i rmar que o meu

método dc  f ichagem  fosse  o  melhor,  mas estas f ichas  dão  exem

p lo dc um método que con t emplava  diversos  t ipos de  f i cha . Ver-se-á

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qu e  não fui tão   p rec i so qua nto es tou  a aconselhá-lo   agora . Fa l tam

mui tas  indicações e   outras  s ão  excess ivamente  e lípticas. São   coisas

que aprend i depois .  M a s  i sso  n ão  quer d i ze r   qu e   devam cometer   o s

mesmos erros. N ão  alterei nem o  est i lo nem as ingenu idade» .  Tomem-

-s e o s  exemplos por aqu i lo q u e  va i em.  N o t e   a inda  qu e   escolhi f ichas

breves  e não   apresento exemplos   de   f i chas qu e s e   r e f e r i am  a  obras

que depois foram fundamentais para   o me u  t raba lho. Es tas ocupa

va m  d e z  f ichas cada.  Observemo- las uma  p o r  uma:

F ic h a  Croce   —   T ra tava- se  d e  u ma  breve  recensào, importante porcausa  d o  autor. U m a ve z q u e já   t inha   encont rado  o  l i v ro  c m   questão, transcrevi apenas   u m a op in ião  mui to s i gn i f i ca t iva . Repare - sen os   parênteses   rectos f inais:  f iz   cfect ivamente isso dois anos depois.

F icha Biondotillo  —  F i c h a   polêmica, com  toda  a irr itação do neó-f í to que vê  d esprezado  a  seu t ema. Er a  útil anotá-la  a ss im para inse ri r  eventua lmente uma nota   polêmica no   trabalho.

F i c h a  Glitnz  — U m  volumoso l i v r o, consu l tado rap idamente   e mcon junto c o m u m  a m i g o  a lemão, para compreender  b e m do qu e tra

t ava . N ão   t inha   u m a  imp ortância   imed ia ta para  o  meu t raba lho,  ma sva l i a  t a lvez  a   pena   c itá-lo em  nota.

F icha  Mar í ia in  — U m  au tor d e   quem conhec ia  já a  obra fundamenta l  Ar t e t  Scolastique,  m a s e m   quem conf iava pouco. Ass in a le in o  f im não   aee i l a r  a s  suas c i tações sem u m  contr olo ulterior .

F i c h a  Chei iu  — U m  cur to ensa io  de  um es tud ioso  sér io sobre umassun to  bastante importante para   o m e u  t raba lho. T i re i  de le todo  osumo possível. N o t e - s e qu e s e  tratava  d e  um caso  clássico de   referen-c iação de   fontes  d c s e g u n d a   mão.  Anote i aonde poder ia   ir ver ificá-- l a s  e m   p r ime i ra   mão. M a i s  d o qu e   uma ficha   de   le i tura,  tratava-sede   u m  complemento  bibliográfico.

F ic h a  Curt ius  —   L iv ro impor tante , de qu e s ó   p rec i sava reg i s tar

um   parágrafo.  T inha p ressa  e   l im i te i -me  a   p ercorre r rap idamente  oresto.  L i - o  depois  d a  t ese   e p o r  outros m otivos .

Ficha  Marc  —   Ar t i go in te ressante  de que extra í o  sumo.

F ic h a  Segond  —   F i c h a   de exc lusão.  Bas tava-me saber  qu e o   tra

b a l h o  não me   se rv ia para nada.

Ao a l to  e à d i re i t a   vêem-se as   s i g las . Qu and o pus l e tras  minúsculas  entre   parênteses,  i sso s i gn i f i cava   qu e   hav ia pontos  a   cores.N ão   vale  a   p ena es tar   a   exp l icar  a qu e s e   r e f e r i am  a s   s i g las   e àscores ,  o  impor tante   é que lá   es tavam.

158

IV.2 .4 . A   humi ldade   científica

N ão   d evem de ixar - se impress ionar pe lo  título  deste   parágrafo.N ã o s e   trata  d e  u ma   dissertação ética, ma s d c métodos de   le i tura  edc fichagem.

Nos exemplos  de  f i chas q u e   forneci, v imos um e m q u e  eu .  j oveminves t i gador , escarnec ia   d e u m  au tor , l iqu idan do-o e m  poucas pa la v r a s . A i n d a e s t ou c on v e n c i d o  de qu e   t inha   razão e, de   qua lquerforma, pod ia permi t i r -me   fazê - lo   d a d o  qu e e l e   h a v i a li qu i d a d o  e mdezoi to l inhas u m  assunto  tã o  impor tante .  M a s  i s to  e r a u m  c a s o -- l imi t e .  Se j a como  for. fiz a   f i cha respec t iva   e   tomei  e m   cons ide ração a  su a  opin ião. E   isto não só  porque é necessário  reg istar todasas   opin iões   expressas sobre   o  nosso t ema. mas  também  porque  nãoé  evidente   que as  melhores  idé ias venham   d os  au tores  mais  impor tantes.  E . a propós i to, vou   con iar -vos   a h is tór ia do   abade V allet.

Pa r a  compreender  be m a história   se r i a  necessário   d izer-vos qualer a  o   problema da   minha  tese  e o   escolho interpretat ivo n o  qua l  t inha

encalhado havia cerca   d e u m  a n o . C om o  o  problema  n ão   interessa  atoda   a  gente ,  d igamos sucintamente  q u e  para   a estética contemporân ea  o   momento da  percepção do  belo  é geralmente u m momento   in tu i

t i vo,  mas em S. Tomás a   ca tegor ia   da intuição não   ex i s t e . Mu i tosintérpretes contemporâneos esforçaram-se por  demonstrar qu e e l e decerto modo  t inha   f a lado  dc intuição, o que era  estar a d e turpá-lo. Poroutro lado, o  momento  da percepção dos  objectos   em . em S. Tomás,tão rápido e instantâneo que não  exp l icava  o  desfrutar das qualidadesestéticas, que são   mui to complexas ,  jog os d e proporções , r elaçõesentre a essência d a  co i sa  e o   modo como  e l a  organ i za   a matéria, etc.A  solução  estava   (e   chegue i a e l a  um  m ês   antes  de   acabar a tese ) emdescobrir  que a contemplação estética se   inser ia  n o  acto,  b e m  maiscomplexo,  d o juízo.  M a s S . T omás n ão  d i z i a  i s to exp l ic i t amente .E .  todav ia ,  d a  mane i ra como fa lava   da contemplação estética, só se

podia   chegar  àquela conclusão.  M a s  o  objeci ivo  d e  u ma  investigaçãointerpretai va  é   muitas vezes  precisamente esie: levar um autor  a  d i ze rexp l ic i t amente aqu i lo  que não   d i sse , mas que não   pod ia de ixar  d ed i z e r se lhe  fosse   feita   a  pergunta. Por outras palavras: mostrar com o.comparando  várias afirmações, deve   emergir,  n os  termos  d o   p ensamento estudado, essa resposta. Talvez   o   autor não o   t ivesse dito porqu e  lh e  parecesse   ó bvio, ou  porque  —   como  n o  caso  de S. Tomás —jama is t ivesse tratado organicamente   o  problema  estético, falando  delesempre incidentalmente  e  d a n d o  o  assunto como  implícito.

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Tinha, pois , u ra p rob lema. E  nenhum do s  autores que l i me  ajudavaa  resolvê-lo (e se na   rainha   tese   hav ia   a l g o  de   or i g ina l , e ra  p rec i sa mente essa  questão, co m a  resposta  q u e  t inha   de  descobrir ).  E  quandoanda va de um lado para  o  outro à procura d e   textos que rne ajudassem,encontrei um d ia . nu m alfarrabista de  Par is , um pequeno l ivro que  começou por me   chamar a atenção   pela sua bela   encadernação.  Abro-o  cveri f ico tratar-se de um livro d e  um certo abade V allet, L idée d u  Beaudans la phi losophie  d e  Sa in t  Thomas d Aqu i t t  (Louva in . 1877 ) . Não ot inha  encontrado  e m  nenhuma bibliograf ia. Tratava-se   d a  obra   dc u mautor  menor d o século  XTX. C o m o é   evidente, compro-o  (e  nem sequeifoi curo),  começo a lê-lo e   veri f ico  que o   abade Vallet  e r a   um pobred iabo, que  se  l im i tava a repe l i r  idéias  recebidas,  não  descobrindo nadade novo. S e  cont inue i a lê-lo não foi por «humildad e científica »  (a indanão a  c on h e c i a , s ó a  ap rend i  ao le r  aquele l ivr o, o   abade Vallet  fo i o

meu grande mestre), mas por  pura  obstinação e  paia recuperar  o dinheiroque havia despendido. Con t inuo a  le r e.  a dada  altura, quase entre  parênteses, d ito provavelmente   por desatenção. s em  qu e o   abade  se   t ivessedado conta   d o   alcance   d a  s ua  afirmação,  encontro  u ma referência ãteoria  d o j u ízo  c m Ligação com  a da be lc/a . E u r e ca Tinha encont radoa  solução E  fora  o  pobre abade Va llet que ma  l inha   fornecido. Ele. qu ejá   l inha   morr ido hav ia cera anos .  d e  qu e m  já ninguém se   ocupavae  que. n o  entanto, t inha   a lgo a  ens inar a  quem  se  d i spusesse  a  ouvi- lo.

É   isto  a  h u m i l d a d e c ientífica.  Qua lquer pessoa   pode   ensinar-nosalguma coisa. Ou talvez se jamos nós que somos tão esforçados  que conseguimos aprender alguma coisa com quem  não o em tanto como nós. O uentão,  quem parece   não  valer grande coisa   te m  qua l idades ocu l tas .O u .  a inda , quem  n ão é bom  para Fu lano pode se r bom  para B e l t rano.As   razões são  muitas. O   faeto  é que é necessário  ouv i r  co m   respeitotoda   a  gente , s em  q u e  isso nos dispense  d e  p ronunc iar juízos d e  valorou   d e  saber que um determinado au tor pensa  d e   modo muito diferentee   ideologicamente  está muito longe  de  nós. M e s m o o  mais encarniçado

do s adversários  pode  sugerir-nos   idéias. Isso pode  d epender  d o   tempo,d a  estação, ou d a  hora  d o  d ia . Natura lmente ,  s e   t ivesse l ido  o   abadeVa l l e t u m a no  antes,  não   ter ia aproveitado  a sugestão.  F. que m sabequantos melhores d o  que eu  não o terão  l ido sem encontrar nada de interessante? M a s . co m  este  episódio, aprendi que. se se  quiser fa/cr investigação, não se  pode   desprezar nenhuma  fonte e   isto  por princípio. E aisso q u e  chamo humi ldade  científica.  Talvez seja uma  definição   hipe^crila. na  med ida  e m qu e  oculta muito orgulho, mas  n ão  ponhamos problemas morais: quer seja   p or  orgulho o u  hu mi ldade , pr. i t iquem-na.

160

V .  A R E D A C Ç Ã O

V . l .  A   q u e m  n os   d i r i g i m os

A quem  n os  d i r i g imos  nós ao   escrever uma tese?   A o  or i entador?A todos  o s  estudantes ou estudiosos  que terão  opor tun idade  d e a  con

sultar  d e p o i s ?   A o   vas to  público dos não   espec ia l i zados?   Deve - s econsiderá-la  como um l iv ro que andará  n as  mãos de  m i lhares d e  p es soas   ou  como uma  comunicação   e rud i ta  a  uma academia   c ientífica?

Sã o  p rob lemas impor tantes ,  n a  med ida  e m q u e  d ize m sobretud orespe i to  a  expos ição a dar ao   t raba lho, m as têm também a ver coma  nível de   c la reza in te rna  que se   pretende conseguir.

El iminemos   desde já um equívoco. Há  quem pense  q u e u m   textodc   divulgação, onde  a s  coisas s ão  exp l icadas d e  modo que todos compreendam,  ex ige   menos  apt idões do que  u ma   comunicação científicaespec ia l i zada  que se   expresse inteiramente  p or fórmulas só  compreensíveis   para  u m  p u n h a d o d e   p r iv i l eg iados .  Isso d e   modo nenhum  éverdade. Certamente,  a  descoberta   da equação de   E ins te in . E = m c J .exig iu mu ito mais engenho  d o que  qua lquer br i lhante manual d e Física.Porém, habitualmente  os  textos que  n ão  exp l icam com grande f ami l i a -ridade os termos   qu e  usam (preferindo  referências rápidas)  ref lectemautores muito mais inseguros  d o q u e   aqueles  e m qu e o  autor tornaexplícitas  todas as  referências e  passagen s. Se  se  lerem os grandes cien tistas  ou   os  g randes críticos, verificar-se-á   que, salvo raras excepções.sào  sempre muito claros  c não têm  vergonha de e xplicar bem as coisas.

D i g a m os  então que um a  tese  è  u m  t raba lho  que . por razões domomento,  é  apenas dir ig ido a o orientador o u   co-orientador. mas  que defaeto pressupõe vi r a ser  l i d o e  consu l tado p or  muitas outras pessoas,

i n c l u i n d o  estudiosos   nã o  d irectamente versados naquela   d isc ip l ina .

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A s s i m ,  numa  t ese  d e   filosofia, decerto  não será necessário   começ a r por  exp l icar o qu e é a  f i losof i a ,  n e m  numa  t ese  d e   v u l c a n o l og i ao que são os vu lcões , mas  imed ia tamente a ba ixo des lc  nível de   ev i dência, será   sempre eonveniente fornecer  a o   l e i lor iodas   a s   informações n ecessárias.

An t e s  de  m a i s .  definem-se  os te rmos que se   utilizam,  a   menosque sejam lermos consagrados  e indiscutíveis  n a  d i s c i p l i n a   e m  ques tão, Nu ma lese  de lógica   formal  nã o p rec i sare i  d e   d e f in i r  u m  termocomo  « impl i c a ç ão » ( ma s  n u m a   tese   sobre   a impl icação   es t r i t a   deL e w i s , l e re i  de  d e f in i r a diferença   enlre  implicação  mater ia l e   im p l i

cação estr i ta). Numa  tese  de linguíslica. não lerci d c d e f in i r a noção defonerna   ( m a s   tecei  de fazê - lo se o   a s s u n i o  d a   t ese  for a definiçãodc fonerna   e m  J a k ob s on t . Porém,  nes ta mesma   tese  de lingüística,

sc   uiili/.ar a  pa lavra   « s i gn o » s e rá   conven iente de f in i - l a . já qu e se dáo   c a s o  d e e l a s e  r e f e r i r  a   ent idades d i f e rentes consoante  o   autor.Des te modo. t e remos como reg ra gera l :   definir  todos os te rmos  téc

nicos  utilizados  como  categorias-chave   d o  nosso  discurso.

E m  segundo lugar , nào é necessário   par t i r do pr inc ípio de que ole i tor tenha feito  o  t raba lho  qu e nós própr ios   f i zemos.  Se se  t iverfeito  u m a  tese   sobre Cavour . 6   possível que o   l e i tor  também   saibaqu e m  é C a v o u r . ma s s e f o r sobre   Feüce   C a v a l l o t t i será   convenienterecordar, embora sobriamente. quando é que  este  autor viveu, quandonasceu  e   como morr eu . Tenho  à   m inha f rente duas t eses   d e u m af acu ldade   d c  letras,  u m a  s obr e G i ov a n Ba t t i s t a An d r e i n i   c  outrasobre   P Í C T T C  R é mon d de  Sa in te -AIb ine . Es tou p ronto  a  j u r a r  que , d ecem professores   universitários,  mesmo sendo todos   d e   letras   e   filoso f i a , s ó uma pequena percentagem te r i a uma   idéia   clara sobre estesdois au tores menores . Ora . a  p r i m e i r a  t ese  c ome ça ( ma l ) c om :

A história  dos estudos sobre Gio van  Baltisla  Andreini inicia-se cnm uma enume

ração das suas obras efectuada   por  Leone  Aliacci. teólogo c erudito d c origemgrega (Quilos 1586 Roma 1669) que  contribuiu para a  história  do teatro... etc

Podeis imaginar  o   desapontamento  de   qualquer pessoa   qu e   fossein formada d c u m modo tã o  preciso sobre A l iacc i . que estudou  Andre in i . enão  sobre o próprio   Andre in i . M a s —   podem dizer  o  a u l o r — An d r e i n ié o herói   da minha tese Justamente, se é o herói, a  p r ime i ra coisa  a f a ze r é torná-lo  f ami l i a r a  quem quer que vá lê-la. c não  basla  o  facto  deO  orientador saber quem cie é. O  qu e s e  escreveu  não foi  uma cana  parti

cular ao orientador, mas um livro potencialmente dir ig ido à humanidade.

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A segunda t ese , mais adequadamente ,  começa  a s s i m :

O objecto  do  nosso estudo é u m  texto publicado cm França, em  1747, escritopor  uni  autor que. além deste, deixou muito jwucos  vestígios  dele  próprio. 1'ierreRémond d e  Sa inte-AIbine...

a  segu i r a o que se começa a   exp l icar  de qu e  texto  se  t ra ta  e   qua l asu a   importância.  Es te   in íc io  parece -me correc to.  S e i q u e  Sa i n t c -- A l b i n e  v iveu  n o século XVTII, c  que as poucas   idéias que  tenho sobreel e  são  just i f icada s pelo facto  de o  aulor ter deixad o poucos   vestígios.

V . 2 .  C o m o  s e   f a l a

U r n a  ve z  d e c i d i d o  para  quem   se   escreve (para   a  h u m a n i d a d e  enã o  para  o  or i entador ) ,  é necessário  d ec id i r como  se  escreve.  E  t r a t a --se   d e u m  p rob lema mui to  d i f íc i l : sc   houvesse reg ras exaust ivas ,seríamos  todos grandes escritores. Pode recomendar-sc qu e se   escrevaa  tese  mui tas vezes, ou qu e s e escrevam outras coisas antes d e   empree n d e r  a   tese. pois escrever  é também u ma ques tão de prát ica . D equalquer forma,  sào possíveis   a lguns conse lhos mui to gera i s .

Não   imitem   P roust ,  N a d a   de per íodos   longos .  Se vos   acontecerfa/.â-Ios,  d i v i d a m - n os d e p o i s .  N ão   r ece i em repe t i r duas   vezes os u j e i to . E l i m i n e m o   excesso  d e   p ronomes  e de orações  s u b or d i n a

das .  N ão   escrevam:

O   pianista Wittgenstein, que  era irmão do  conhecido  filósofo que  escreveu   oTraciatus Lvgico-Philosophicus  qu e  hoje   cm dia   muitos consideram  a   ohra--prima da filosofia  contemporânea, teve  a ventura  de  Ravel ter escrito para  eleo  concerto paru  a mão  esquerda, dado  que  tinha   perdido  a  direita  n a   guerra.

mas escrevam, quando mui to :

O  pianista Wittgenstein   era irmão r oi l ó s o f o   .udwig. Como  era  mutilado damão  direita. Ravel escreveu para  ele o  concerto para  a mão esquerda.

O u  então:

O pianista Witigenstein   era irmão do filósofo  a utor do célebre  Tractaius. Estepianista  tinha  perdido a mão  direita. Por  esse motivo, Ravel escreveu-lhe umconcerto paia  a mão  esquerda.

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N ão   escrevam:

O escritor irlandês  renunciou  à família, à pátria e  a igreja   e  manteve-se fiel  aoseu  desígnio. D aí não se pode  concluir que fosse  ura  escritor empenhado, emborahaja quem tenha falado  a  seu respeito de tendências   labianas e «socialistas».Quando deflagra   a  Segunda Guerra   Mundial,  cie  tende  a  ignorar deltberada-mente   o drama  que  cortvulsiona  a   Hurojia  e   preocupa-se unicamente  com aredaccão  <Ja  ma última  obra.

É   melhor escrever:

Joyce renunciou  a família, à pátria e à  igreja,  E   manteve-sc fiel  ao  seu  de sígnio. N ão se  pode  dizer que Joyce   fosse  um escritor  «empenhado», embora

haja  quem tenha querido falar   de  um Joyce fabiano  e «socialista». Quandodeflagra   a   Segunda Guerra  Mundial,  Joyce lende   a  ignorar dclibcradamcnteo  drama que convulsiona  a  Europa.  Joyce estava unicamente preocupado coma redaccão de  Finnegans  Wake .

Por favor,  não  escreva m, embora   pareça   mais  « l i t e r á r io » :

Quando Stoekhausen fala d c "grupos», não tem em mente a  série de Schoenbcrg,nem  tão-pouco a d e   Webern. O músico alemão,  posto perante   a exigência denão  repetir nenhuma  das   doze   notas antes d e a série estar terminada, não aaceitaria. É a própria noção de  duSíer que   c mais isenta estruturalmente quea de série.

Por outro lado. Wenern   também não  seguia  os p rincípios rígidos do  autor doSobrevivente  d e Varsovia.Ora. o  autor de  Munira   va i mais alem. E  quanto a o  primeiro é necessário  distinguir a s várias  fases da sua obra. Também  Herio afirma: não sc pode  considerar este  autor um serialisia  dogmático.

Ver i f i camos  qu e a   dada   altura   já não se   sabe  de qu em se  está afalar.  B  def inir um autor   p or  meio  de  u ma  d a s  suas obras  n ão é  log i -caincnie correcto.  E   ve rdade  que os críticos   menores, para   se   referirem  a  M a n z o n i  ( e com   m e d o  d e   r epe l i r em demas iadas  vezes onome,  o que  parece  s e r  altamente desaconselha do pelos ma nua is d ebe m  e sc r eve r ) ,  d i z e m  « o  au tor  d e /  Pmmessi  sposi» .  M a s o  autorde /  Pmmessi spos i  nã o é o  p ersonagem  biográfico   M a n z o n i  n a   suatotal idade:   e   tanto assim q u e  nu m certo contexto podemos dize r quehá  u ma  diferença sensível entre  o  autor d e / Promess i spos i  e o   autorde   Adelchi .  embora   biográfica e   an  agra r icamente fala ndo   s c  trate

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sempre  d o   mesmo personagem. Logo. passo  a  escrever ass im   o   tre

cho suprac i tado:

Quando Stockhausen fala de -grupos», não tem em  mente  nem a  serie d cSchoenbcrg nem a  de  W ebeni. Stockhausen, posto perante a exigência de nãorepetir nenhuma das  doze  notas antes d e a série  terminar, nao a  aceitaria. É aprópria noção dc  clusier qu e  é  estruturalmenlc mais isenta  do que  a de série.Por outro lado, Webcrn lambem não seguia os  princípios ígidos dc Schoenbcrg.Ora.  Stockhausen  v ai  mais além. F. quanto  a  Webcrn.  é preciso distinguir   asvárias   fases  da  sua obra. Também   Berio afirma  que não se  pode  pensar emWebern como um seríalisia dogmático.

N ão   pretendam   se r e . e .  cummings.  C u m m i n g s  e r a u m   poe ta

amer icano  q u e  a s s i n a v a   c o m a s  i n i c i a i s  minúsculas. B.  ev idente mente, usava   vírgulas e  pontos  c o m  mui ta  pa rc imônia ,  separava   o sversos ,  e m   suma, f az i a todas aque las coisas  q u e u m  poeta   d e   v a n g u a r d a   p o d e   fazer  e f a z   m u i t o b e m e m   fazer.  M a s v oc ês n ão s ãopoetas  d e   vanguarda ,  n e m a   vossa   t ese   é  sobre  a   poes ia   d e   v a n g u a r d a .  Sc s e   f izer uma   tese   s ob r e C a r a v a g g i o .  começar-se-á pori s so  a   p in tar?   Então, se se   fizer  u m a  tese   sobre  o  es t i lo  d os   futu

r is tas, não se  escreve  como um futurista, Es ta  recomendação é  importante porque muitos tendem  hoje   a   fazer  teses « d e r u p tu r a » e m qu enão são   respeitadas  as  r eg ras   d o   d i scurso c r í t i co . M a s a  l inguagemd a   t ese   é u m a  metai inguagem,  o u   se j a , uma lingua gem   qu e  f a la   deou t ra s l i n g u a g e n s .  U m   p s iqu ia t ra   q u e  d escreve doentes men ta i snão se  expr ime como  o s  doentes menta i s . N ào  d i g o  qu e  seja e rradoexpr imir - se como  os   chamados doentes menta i s .  Po d e   — e   r a zoa ve lmente  —   estar-se convicto  d e q u e   e les   são os únicos a   e xp r i mir-se como  d e v e  ser. M a s  nessa  a l tu ra   há  duas a l t e rnat ivas : ou nãof aze r uma   t ese   e  mani f es tar  o  d e s e j o  d e  rup tura   r ecusando  a  l i c e n -c ia iu ra   e começando, por  exemplo,  a   tocar gu i tar ra : ou  f aze r  a  tese.

ma s  então deve   exp l icar - se  a   toda   a g e n te por qu e  mot ivo  a   l i n g u a g e m  d os  doentes men tais   não é u m a l i n g u a g e m  « de do idos » , epara  t a l d e v e m o s   u t i l i z a r  u m a  m e t a l i n g u a g e m  crítica   c om p r e e n s íve l  para todos .  O   p seudopoeta   qu e f a z   u ma   t ese   er n  ve rso  é u mpobre d iabo  (c , p rovave lmente , um mau  p o e t a ) . D e s d e D a n t e  a   E l io i

e d e   E l i o t  a   Sa n g u i n e t i .  os   poetas  d e   vanguarda , quando quer iamfa lar  d a   sua poes ia , escrev iam  e m   p rosa   e c o m   c la reza .  E   quandoM a r x  quer ia f a la r  dos operários, nào   escrev ia como um  operár io dose u   t empo,  m a s  como  um f ilósofo.  Quando depois escreveu   c o m

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E n g e l s o Manifesto  de  1 8 4 8 , u t i l i zou  u m es t i l o jornalístico dc perío

d o s cu r t o s , muitíssimo  e f i ca z  e provocalório. Ma s não é o  e s t i l o dc

0  Capital  que se  d i r i g e  aos  e conomis t as e políticos. Não  v e n h a m

d i z e r que a violência poética vos «brola de dentro» e que não  podemsubmete r -s e  às exigências da  s i m p l e s  e  b a n a l m e t a l i n g u a g e m  da

crítica. Se são  poe t as , é preferível não se  l i c e n c i a r e m . Mo n t a l e não

é  l i c e n c i a d o e nào  d e i x a  por  i s s o de ser um g r a n d e p o e ta . G a d d a

( l i c e n c i a d o  em  engenh ar i a ) e screv i a com o escrev i a , tudo r e g iona

l i smos e r u p t u r a s estilísticas, mas , quand o teve de e l abora r um decá-

loffo  pa ra quem escrev i a notícias  pa ra a rádio, r e d i g i u um saboroso,

p e r s p i ca z  e  c l a r o preceituário com uma  p rosa s imples  e  compre ensível  pa ra t oda a gen t e . E  q u a n d o Mo n t a l e e s c re ve u m a r t i g o crí

t i co , fá-Io de m o d o que  todos o  en t endam, mesmo aque l e s que não

e n l e n d cm as  suas poes i a s .

Façam parágrafo com freqüência.  Q u a n d o f or necessário,  quandoa  p a u s a do  texto  o  ex i g i r , mas quan to ma i s  vezes  melhor.

Escrevam   tudo o que vos passar pela  cabeça, mas só no  rascunho.  D e p o i s descobrir-se-á que a ênfase nos dorn inou e  de sv iou do

cerne  do  t ema . Então e l i m i n a - s e as partes parentéticas e as  d i v a g a -

ções .  pondo-as  em  n o t a  ou em apêndice (ver). À  t ese   s e rve pa ra

demonstrar uma hipótese qu e se e laborou in icia lmenle. c não para most rar que se  sabe tudo.

Utilizem   o  or ientador  como  cobaia.  Façam p possível por que

o  o r i en t ador l e i a os p r i m e i r os capítulos  (depo i s , p rogre ss i vam ente ,

tudo  o resto)  mui to an t e s  da  e n t r e g a  do  t r a ba l h o . As  suas r eac-eões  p o d e m  ser de  g r a n d e u t i l i d a d e . Sc o  o r i e n t a d o r  for  u m a p e s

s o a m u i l o o cu p a d a  (ou preguiçosa),  r e co r r a m a um a m i g o. V e r i f i q u e m  se  q u a l q u e r p e s s o a co m p r e e n d e  o que  e s cr e v e m . N a d a  de

b r in c a r ao gênio solitário.

Não se obstinem   em começar iu> pr imeiro  capitulo.  Provavelmente

estarão  ma i s pr epa rados  e  documentados sobre  o  qua r to capítulo.D e ve m  começar por a í , c om a d e senvo l tura de quem já pôs em  ordem

os  capítulos  an t e r io r e s . Ganharão confiança.  Ev iden t emente , devem

ter  um pon to  a que se  a ga r ra r , e  este é-lhes  d a d o p e l o  índice  comohipótese que os g u i a d e s de o início (ver  IV . 1.).

Não  usem  reticências ou pontos de exclamação, não  expl iquemas ironias .  Pode fa lar-se  uma l i n guag em abso lutamente r e f e r enci a lou   uma l inguagem f igurada .  Por l i n guagem re f e r en ci a l en t endo umal i n g u a g e m em que  todas  as co i s a s são  chamadas pe los s eus nomes

ma is comuns , r econhecidos  por toda  a g en t e e que não se p r e s l a in

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a  equívocos. «O  co m bo i o  Veneza-Milão»  i n d i c a  de  modo r e f e r en

c i a l o que «A  f l e cha da laguna»  ind ica de modo f i gurado. M as esteexemplo mos t ra -nos  que  mesmo  na comunicação «quotidiana» sc

pode   u t i l i z ar uma l inguag em parcia lmente f igurada, üm ensa io crítico

ou  um lexto  científico  d e ve r i a m  ser e scr i t os em  li n gua gem re f e ren c i a l  (com  todos  os  termos bem de f in idos  e unívocos). mas também

p o d e  ser útil u t i l i z a r u m a  metáfora, uma i r o n i a ou uma l i totes. Eis

um   t ex to r e f e r enci a l s e gu ido  da sua transcrição cm  l e rmos r a zoa -

velmenle f igurados:

Versão  referencial —  Krasnapolsky não é um intérprete  muito perspicaz daobra de líanieli. A  sua  interpretação  extrai do texto do autor coisas que esteprovavelmente não pretendia dÍ7.er. A propósito do verso «C  ao crepúsculo fitar

as nuvens»,  Rilz entende-o como uma anotação paisagística  normal, enquantoKrasnapolsky vê aí u ma  expressão simbólica que alude à  actividade poética.

Não  devemos confiar na agudeza crítica de K it? , ma s de  igual modo devemosdesconfiar de Krasna polsky. Ililton observa que «sc Ritz pa rece  un i prospectoturístico,  Krasnapolsky parece  um sermão da Quaresma». E  acrescenta:«Verdadeiramente, dois críticos perfeitos.»

Versão figurada — Não estamos convencidos de que Krasnapolsky seja o maisperspicaz dos intérpretes de Danieli. Ao ler o seu  aulor. dá a  impressão de lhe

forçar a mão. A propósito do   verso «c ao crepúsculo  fitar as nuvens»; Ri tzentende-o como unia anotação paisagística normal,  enquanto Krasnapolsky carrega na lecla do simbólico e vê aí u ma alusão à actividade poética. Não c que

Ritz seja um prodígio de penetração crítica, mas Krasnapolsky também não é

brilhante. Como observa  Hilton. se líii?  parece  um prospeclo  turístico.

Krasnapolsky parece  um sermão da Q uaresma: dois modelos de perfeição crítica.

V i m o s que a versão  f igurada   u t i l i z a  vários artifícios retóricos.

E m  p r i m e i r o l u g a r , a  litotes:  d i z e r que não se está  co n ve n c i d o  de

que fulano se ja um intérprete  pe r sp ica z , que r d i ze r  que se está c o n v e n c i d o  de que ele não é um intérprete  p e r s p i ca z . D e p o i s , há as

metáforas;  forçar a mão,  ca r r ega r na t ec l a do simbólico. Ou a i n d a ,

d i z e r que R i t z . não c um prodígio de penetração  s i g n i f i c a que é um

modes to in t crpre i c i lho t e s ) . A referência ao p rospecto turístico e ao

sermão da qua resma são  duas comparações,  enquan to a observação

de  que os  do i s au tores são críticos  pe r f e i t os  é u m e x e m p l o  de  i r o n i a :  d i z - s e u m a co i s a p a r a s i g n i f i c a r o seu contrário.

O r a .  as  f iguras de retórica ou se  u s a m ou nào sc  u s a m . Se se

u s a m . é  porque  se p r e sume que o  nosso le i tor está em condições de

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as ap reender  e   porque  s e   cons idera   qu e   d esse modo  o   a rgumentotoma   u m a  forma mais inc is iva  e   conv incente .  Então não é   precisoenvergonharmo-nos  e não é necessário explicá-ias. Se se  cons ideraqu e  o  nosso l e i tor  é u m  i d i o t a , não sc usem f i guras   de retórica,  poisutilizá-las com explicação é estar a  chamar id iota  a o  l e i tor . Es te v in -gar-se-á   c h a m a n d o i d i o t a   a o   au tor . Ve j amos como  u m  es tudantetímido   f a r i a para neut ra l i zar c   d escu lpar a s  f i guras   qu e  u t i l i z a :

Versão i gurada  com reservas — Não  estamos convencidos dc que Kiasna polskyseja  o... mais perspicaz dos  intérpretes  de Danieli. A o ler  o seu autor, ele dá aimpressão  de...  lhe forçar a mão. A propósito d o  verso  «c ao crepúsculo fita;as  nuvens». R itz entende-o como  uma anulação «pa isagísiica» norma , enquantoKrasnapolsky  carrega  na... tecla do simbólico e vê aí a  alusão  à actividade  poética. Não c  que Rit z seja um... prodígio  dc  interpretação crítica, mas Krasnapolsky

lambem nao é... brilhante Como observa I lilion, se Ritz parece um... prospectoturístico, Krasnapolsky parece um... sermão da  Q uaresma, c define-os (mas ironicamente ) como dois modelos   de perfeição crítica. Or a, gracejos  à  parte,  averdade   é que... etc.

E s t o u  c on v e n c i d o  de que n inguém será tão   in te l ec tua lmentepequeno-burguês  para e laborar  u m  trecho  d e t a l modo  imbuído dehesitações e de  sor r i sos  d e   d escu lpa . Exagere i  (e   d es ta   v e z   d igo-oporque  é  d idac t icamente impor tante   qu e a  b r incade i ra se j a tomadacomo  t a l ). M a s  este   terceiro trecho  contém de   modo condensadomui tos maus hábitos do escr i tor d i le tante . Em pr ime i ro lugar , a   ut i

lização de  reticências  para av i sar «a tenção, que  agora   vo u  d i ze r umag r a ç a » . Puer i l . A s reticências só se u t i l i zam,  como veremos,  n o  corpode   u ma ci t a ç ão  p a r a a s s i n a l a r   o s   t r echos  qu e   foram omi t idos   e .quando   mu i to ,  n o f im de u m pe r íodo  para ass ina lar   qu e u ma   e n u meração não   t e rminou, q u e  haver ia a inda out ras coisas   a  d i ze r . E msegundo lugar , o  u so  d o ponto de exc lamação  p a r a d a r ênfase a  umaafirmação.   F ica   mal . pe lo menos num ensa io  cr ítico. Se   forem  v e r

be m  o   l i v r o que es tão a le r   neste momen to,  ver ificarão que não  ut il i z e i  o   ponto  de exc lamação   mais  d e  u m a   ou  duas  v e z e s .  U m a o ud u a s  v e z e s   a i n d a   vá. se se   tratar  de   abanai" o  l e i tor  n a su a  cade i raou   de   s u b l i n h a r um a a f i rmação  mui to v igorosa   d o  t ipo:  «a tenção,nunca   cometam  este  e r r o » . M a s é  me lhor f a lar  e m v o z   b a i x a . S ese d i sserem coisas impor tantes , conseguir-se-á   maior efeito. E m terceiro lugar,  o   au tor  do último  trecho desculpa-se   d e   recorrer  à  i roni a  ( m e s m o d e  ou t rem)  e   subl inha -a .  É  ee r lo  qu e s e n os  parecer quea  i r on i a   de I í i l ton é   d e m a s i a d o  subt i l .  se   pode escrever :  «H i l ton

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a f i rma ,  c o m  subtil  i r on i a , q u e  estamos perante dois   cr íticos   p er f e i tos » . M a s  a  i r on i a  terá de s er  verdadei ramente  subtil, N o  caso citado,depois   de Hüton te r   f a lado  d e   p rospec to  turístico e de sermão daQ u a r e s m a ,  a   i ron ia tornava- se ev idente   e nào   v a l i a   a   p ena es tar  aexpl icá- la co m  todas a s  letras. O  m e s m o  se  pode d i z e r para  o s « g r a cejos  à pa r t e ». P or   vezes,  pode  ser útil  para mudar bruscamenie   oto m  d o   d i scurso, ma s é necessár io  ler-se efecl ivame nie gracejad o.N o caso presente estava-se  a  i r on i z a r e a  meta for i zar ,  c  isto não sãogracejos,  ma s artifíc ios retóricos   m u i t o sér ios.

Poderão  observar que nesic meu l ivro expressei pelo menos duasv e z e s u m  p a r a d oxo ,  e   d epois adver t i  qu e se   tratava   d e   paradoxos .M a s nào o fiz  por pensa r que n ão o  t inham compreend ido. Pe lo contrário,  l i - lo porque l e in ia  q u e  t i vessem compreend ido demas iado  e

d a í d e d u z i s s e m  que não   d ev iam lo inar  e m   conta esses paradoxos.In s i s t i , p o i s , q u e  apesar da forma parad oxa l , a  m i n h a  afirmação   c o n t inha   u m a  ve rdade impor ia nte .  E   esc larec i  b e m a s  co i sas , pois   esteé u m  l i v ro didáctico em  que. ma is qu e a  be leza   d o  es t i lo , m e  impor taque todos compreendam  o qu e   quero dizer.  S e   t ivesse escrito u mensa io, l e r i a enunc iado  o   paradoxo  s e m o  d enunc iar depois .

Definam   sempre   um t e rmo   quando  o  introduzirem pela primeiravez,  Se não  sabem de f in i - lo. ev i t em-no.  Se é u m dos  termos   p r i n c i

pa is   d a   vossa   t ese   e não   consegu i rem de f in i - lo, abandonem tudo.E n g a n a r a m - s e  n a  tese   (ou na prof issão).

Não comecem a  explicar  on de é Roma para   depois  nà o  explicaronde   é Tombuciu .  Faz-nos ca la f r ios   le r  teses  c o m   frases  d o  t ipo:«O f i lósofo pante ís ta juda ico-holandés   E s p i n o s a   fo i   d e f in ido  p o rG u zzo . . . » . A l t o  lá O u es tão a  f aze r uma  tese   sobre Esp inosa  e entãoo   le i tor sabe quem  é  E s p i n o s a  e já lhe  d i sseram q u e  Augusto G u/.zoescreveu  u m   l i v ro sobre  e le . ou es tão a   c i t a r ocas iona lmente es taafirmação  n u m a  tese   sobre  física   nuc lear  c então não   d evem presu

mi r qu e o   le i tor n ão  saiba quem é   F-spinosa mas saiba que m é  G u z z o .O u  então,  trata-se  d e u m a  lese sobre   a   f i losof ia   pós -gent i l iana emItália e   toda   a g e n te   sabe quem  é  G u z z o .  m a s  nessa  a l tu ra   tambémsaberão  qu e m  é E s p i n o s a . N ão   d evem d i ze r ,  n e m  sequer nu ma  t esede   história «T. S.   E l i o t .  u m  poeta   i n g lê s » ( à   parte   o fae to de te rn a s c i d o  n a A m é r i ca ) .  Par le - se  do p r in c íp io de qu e T . S .   E l i o t  éuniversa lmente conhec ido. Quando mui to,  se   qu iserem subl inharqu e  fo i  m e s m o  u i n   poeta   inglês a   d i z e r u m a d a d a c o i s a ,  é  me lhore s c r e v e r e m  « f o i u m   poe ta   i n g lê s .  E l i o t , qu e m d i s s e   que . . . » .M a s  se   f i ze rem  u m a  tese   sobre El iot . t enham   a  h u m i l d a d e  dc for -

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necer todos   o s   dados . S c não no   texto, pelo menos numa nota   l ogon o  in íc io deve   ser-se suf icientemente honesto  e   p rec i so para condensar e m d e z   l inhas todos  o s  dados  biográficos n ecessários. N emiodo  o   le i tor,  p o r   mais espec ia l i zado  qu e   seja. sabe   de memór ia adala   d o nasc imento  de  E l i o t . E   tanto mais   se o   trabalho versar sobreu m  au tor secundário d e  u m século  passado. N ào  p resumam qu e   todossa ibam  quem se j a . D igam  l o g o  quem era . como  se  s i tua   e  a s s i m po rd iante .  M a s  mesmo  se o   autor  for Mol iè rc , que   custa   pô r   uma notacom duas datas? Nunca  s e   sabe.

Eu   ou nós?  N a te s e  d evem int roduzi r - se  as opin iões próprias napr ime i r a  p essoa?   D e v e   d izer-se   «penso que . . . » ?   A l g u n s p e n s a mqu e  é  mais hones to f azer a ss im  do qu e  u t i l i z a r o  p lu r a l  majestático.E u   nã o   d i r i a   i sso. D i z- se   « n ó s »  porque  se   p resume   que o que sc

a f i rma  possa ser par t i lhado pe los l e i tores . Escrever  é  u m ac to soc ia l :escrevo para  qu e tu que lês  aceites aquilo que te  p r op on h o . Q u a n d omuito pode procurar-se evitar pronomes pessoais recorrendo  a  expressões  mais impessoa is como:  « d e v e . portanto, concluir -se que: pa receentão indu bitável  que ; d e v e  nes ta  a l tu ra  d i ze r - se ; é poss íve l  que ; da idecorre, portanto, q u e . a o  e xa m i n a r  es te  texto  vô-sc que» , e tc . Nãoé necessário   d i z e r  « o   a r t i go  qu e   c i t e i  ante r iormente » ou «o   art igoqu e  c itámos anter iormente»,  bastando escrever   « o   art igo anteriormente  c i tado» . M a s d i r e i qu e s e  pode escrever  « o   art igo anteriormentec i tado demonst ra -nos q u e » , porque  expressões   deste t ipo n ão   im p l i

ca m  nenhuma  pe rsona l ização do  d i s c u r s o c ientífico.

N ão   ponham nunca  o artigo  antes  do nome p rópr io .  Não há razãopara   d i z e r  « o M a n zon i » ou « o S tc n dh a l » ou « o P a s c oü» . D e  qu a l quer forma,  s o a u m  pouco ant iquado. Imag inam um jorna l  a   escreve r  « o Be r l in gu e r » e « o L e on e » . a  menos  qu e  se ja para f azer i ron ia?Não ve jo p or que não se há-de  escrever  « c om o d i z D e  Sa n c i i s — » .

D u a s  excepções : quando o   nome  próprio  i n d i c a  u m  m a n u a l céle

bre, uma obra  d e  consu l ta  ou  u m  d icionár io ( «segun do o  Z i n g a r e l l i .como  d i z o   F l i c h e   c M a r t in » ) , e   quando numa resenha   cr ítica seci t am  es tud iosos   d e   segunda ordem  ou  pouco conhec idos   ( «comenta m  a  es le respe i to  o  C a p r a z z o p p a   e o Be l lot i i -B on» ) , mas tambémisto  faz.  sor r i r e   r ecorda   a s   falsas  c i tações de   G i o v a n n i M o s c a ,  eser ia me lhor d i ze r  « c omo  comenta Romua ldo  C a pr a z zoppa » .  fazendosegu i r  e m   nota   a referência bibliográfica.

Não se devem  aportuguesar  os n omes de  ha pt ismo  d os   est rangei ros .  C e r t os t e x t os d i z e m   « J o ã o  P a u t o  Sa i t r e » ou « l .u dov ic oW i t t ge n s t e in » . o qu e s oa  bastante  r idículo.  Imag ina- se  u m  j orna l a

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escrever  «H e n r iqu e K i s s in ge r » ou «Va lé r io  G i s c a r d   d 'Es ta in g » ? eachar i am   b e m qu e u m   l i v ro espan hol escrevesse  «Be n i to C r oc e » ?T od a v i a ,  os  l i v ros d e  f i losof i a para  o s  l i ceus chegam  a  referir  «Be n toEs p in os a » e m v e z de «Ba r u c h Sp in oza » . O s   i s r a e l i ta s d e v e r i a mescrever  «Baruch Croce »?  Evidentemente  que se se escrevesse Ba conep or B a c on , d ir - s e - i a Fr a n c i s c o  e m v e z de   F rane is .  São   p ermi t idasexcepções . a  p r inc ip a l das qua is  6  a qu e s e r e fe r e a os  nomes  g r e gose   l a t inos : P la tão, V irgí l io , H orác io. . .

Só se devem  aportuguesar  os  apelidos  no caso de   isso  se r  sancionado pela   tradição.  Admi tem-se Lutero e   outros nomes num contexto normal. Maomc* pode dizer-se.  a   menos  qu e se   trate  d e u m atese  e m   f i lo log ia   árabe. Sc. porém, se  apor tuguesar  o   ape l ido, de v etambém   aportuguesar-se   o   nome:  Tomás  M o r o . M a s   numa t ese   espe

cífica deverá   u t i l i zar - se Thomas M ore .

V . 3 . A s c i t a çõe s

V.3 .1 .  Quando  e  como  se c ita : d ez  regras

Habi tua lmente , numa  t ese   c itam-se muitos textos   de vários  au to

res :   o  texto objecto  d o  t raba lho,  ou a   fonte p r imar ia , e a  l i t e ra tura

cr i t ica   sobre  o   assunto, ou a s  fontes   secundárias.

A s s i m , a s citações são   prat icamente  d e  dois t ipos : (a )  c ita-se u m

texto sobre   o  qua l depois  nos debruçamos  interpreta  ti  vãmente e (/?)

c i ta - se  u m  texto para apoio   d a  nossa   interpretação.

Ú difíc il  d i z e r  se se deve   c i t a r  com abundânc ia ou com  p a r c i

mônia . D e p e n d e   d o  t ipo  de   tese. Uma  análise crítica de  um escr i tor

requer obv iamente  qu e   g randes t rechos  d a s u a  obra se j am t rans

critos   e  ana l i sados . Nout ros casos ,  a citação  pode  s er  uma mani f es

tação de preguiça,  quando  o  c a n d i d a t o  n ão  quer  ou não é  capaz  der e sumi r uma de te rminada   sér ie de  dados   c prefere  qu e  sejam outros

a   fazê - lo.

Ve jamos, pois .  d e z   regras para  a citação.

Regra   1  — O s   trechos objecto  de análise in te rp re ta t iva   são   c i t a

do s   c o m  u ma   extensão razoável.

Regra   2 — O s  textos  d a   l i teratura  cr ítica só são  c i t ados quando,

co m  a s u a   au tor idade , corroboram  ou   c on f i r m a m  uma a f i rmação

nossa.

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Es tas  duas reg ras imp l icam a lguns   corolár ios óbv ios . E m   p r i

meiro lugar ,  se o   trecho  a   ana l i sar u l t rapassa   a   m e i a   página ,  issos i gn i f i ca  qu e   a l g o  nã o f u n c i on a : ou s e   tomou uma unidade de anál ise  d emas iado extensa ,  e.   portanto,  não  podemos   comentá-la   pontopor ponto,  ou não   es tamos  a   f a la r  d e u m   trecho  m a s d e u m   textoin te i ro e então,  m a i s q u e  u ma  análise, es tamos  a   fazer um  j u í zo   g lobal .  Nes tes casos ,  se o   texto  fo r   impor tante  m a s  d emas iado longo,é  me lhor  transcrevê-lo por  extenso  e m  apêndice   e   c i t a r n o   decursodos diversos  capítulos   apenas breves   períodos.

E m  segund o lugar, quand o  se   c i ta   a   l i teratura  cr ítica,  d evemo sestar certos d e que a c itação diz  a l g o d e  no vo o u q u e  conf i rma   o quese disse com  autor idade.  Vejamos, por exemplo, duas citações  inúteis:

As  comunicações de  massas constituem, como  d iz  McLuhan. «um dos fenômenos centrais do nosso tempo». K  preciso não esquecer que, só  no nosso país.seeundo Savoy, dois  indivíduos  cm cada  três passam um terço do dia em frenteda   televisão.

O   que é que há de  errado ou  de ingênuo  nestas duas  c itações?  E mpr ime i ro lugar , que a comunicação de  massas é   u m fenômeno   centraldo nosso tempo,  é u ma evidência qu e   qua lquer pessoa poder ia   terdi to .  Não se  exc lu i qu e também   M c L u h a n  a  t enha d i to  (não fu i  verif icar  e  invente i  a citação), ma s não é necessário invoca i ' a   autoridadede   alguém   para demonstrar  a l g o  tão   evidente.  E m  segund o lugar,   épossível que o   dado  qu e   referimos seguida mente sobre   a audiênciatelevisiva seja exacto,  m a s  Savoy   não ú  u ma  autor idade  ( é u m  nomeque inventei , um equivalente   d e   Fu lano) . Dever ia , e m v e z  d i sso,  ter--se citado uma   investigação sociológica  ass inada por estudiosos conhecidos  e  insus peitos, dados d o  Ins ti tu to Na c iona l dc Estatística, os  resul

tados d e  u m  inquérito  pessoal apoiados por quadros em apêndice . E mve z  de  c itar um Savoy qualquer, era p referível  ter-se dito  «facilmente

se presume  qu e  duas pessoas  e m  cada   t rês . e tc » .

Regra   3  — A citação pressupõe que se  par t i lha  a  i d e ia   d o  autorc i t ado,  a   menos  qu e o   trecho seja precedido  e   s e g u i d o  d e   expres sões críticas.

Regra   4  — D e   todas  as citações,  d e v e m  s e r  c la ramente reconhecíveis o  au tor  e a   fonte   impressa  o u  man uscr i t a . Es te reconhec imento  pode  te r   lugar  de várias   mane i ras :

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(7) c o m  c h a m a d a   e referência em   nota . espec ia lmente quan do s etrata   d e u m  au tor nomeado pe la p r ime i ra  v e z :

b)   c o m o   nome  d o  autor  e a   da ta   de publicação da   obra, entreparênteses, após a citação (ver a  este   respeito V.4.3 . ) ;

c)   c o m u m  s imp les   parêntese que   re fere   o número da página ,qu a n d o  todo  o capítulo ou  toda   a  t ese   versam sobre   a   mesma obrado mesmo autor. Veja-se. pois. n o  Quadr o 15 como  se  poder ia es t ru

turar  u ma   página de   tese  co m o t í tu lo  O  problema   d a   epifania  no«Portrait» de  James  Joyce,  n a  qu a l  a   obra sobre   qu e   versa   a   lese,u ma   v e z   d e f in ida   a edição a que no s  r e f e r imos  e   qu a n d o  se   t iverdec id ido u t i l i zar , por razões d e   comod idade ,  a tradução   i t a l i ana  d eCcsare Pavese ,  é  c i l ada   co m o número de página   entre   parêntesesno texto, enquanto  a   l i teratura   crítica é   c i t ada  e m   nota.

Regra   5 — As e i iações de  fontes  pr imárias são  f e i t as ,  n a  med idado   possível, com referência à edição crítica ou à edição  ma is reput a d a :  se r i a  dcsaconsclhável,  n u m a   tese   sobre B a lz ac , c i t a r as página s d a e d i ção  L i v r e s  d e   Poche: pelo menos, recorra-se  à   obra comple t a  da P lé iade .  Para autores antigos   e clássicos, em   geral basta

ci t a r p arágrafos, capítulos ou versículos, como  é  corrente fazer   {verT I I .2.3. ) . N o que se re fere  a  au tores  contemporâneos, referir,  se  pos sível, se há várias edições, ou a   p r ime i ra  ou a última   r ev i s ta   e   corr i g i d a ,  segundo  o s  casos . C i ta - se   d a  p r i m e i r a  se as  seguintes foremmeras  re imp ressões, da última se   es ta cont iver  r ev isões , a d i t a m e n tos  ou ac tua l izações . E m  qualque r caso, especif icar   qu e  existe u m ap r i m e i r a  e u ma e d iç ão  n   e   e xp l i c a r qu a l  se   c ita   ( ve r ,  sobre  esteaspec to.  I IL2 .3 . ) .

Regra   6  —   Q u a n d o  se   es tuda   u m   autor estrangeiro,  as c i taçõesd e v e m  se r na l íngua   o r i g i n a l .  E s t a   regra   é  t axat iva   se se   tratar  d e

obras   literárias.  Nes tes cas os ,  pode  s e r  m a i s  ou   menos  útil  fazerseguir, entre  parênteses ou em  nota . a tradu ção. P a r a  ta l . s i gam-se a sindicações d o  orientador. Se se  tratar d e  um autor de que  não se  anal isao   es t i lo  l i te rár io, ma s no  qu a l  a expressão  p rec i sa   d o  pensamento,em todos  os   seus mat i zes  l ingüís t icos , tem uma  certa   importância(por exemplo,  no comentár io dos  trechos   de u m f i l ós o fo) , é  conven iente t raba lhar c o m o  t exto es t range i ro or i g ina l , m a s  neste ca so  éa l tamente  aconselhável  acrescentar entre   p arênteses ou em   nota   atradução, pois i s so const i tu i lambem  um exerc íc io  in te rp re ta t ivo d avossa pane . F ina lmente , se sc  citar um autor estrangeiro a penas para

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colher  um a in formação,  dados  estatísticos ou históricos,  um   j u í zodc caracter gera , pode  ulili/.ar-sc apenas   urna  bo a tradução ou   mesmot r aduz i r  o  trecho, para   não   sujeitar  o   le i tor  a   constantes saltos  delíngua   p a r a   língua. B a s t a c i ta r  bem o título   o r i g i n a l  e   exp l icar qu etradução se   u t i l i z a .  P o d e   a i n d a s u c e d e r  qu e s e   fale   d e u m  au torestrangeiro, quer  este   seja   u m   poeta   o u u m   prosador,  mas que osseus textos sejam examinados,  nã o  tanto pelo se u est i lo quanto pelasidéias filosóficas que contêm. N e s t e   caso podemos  também   decidir,se  as citações   forem mui tas  e   constantes, recorrer  a  u ma  b oa   t raduçã o   para tornar  o   d i scurso mais f lu ido, l im i tando-nos a   inser i r cur tos trechos  n o  or i g ina l quando  se   qu iser subl inhar o u so espec í f icode   u m a  ce r ta pa lavra . É   este   o   caso  d o   exemplo sobre Joyce  qu ed a m os  n o Q u a d r o  1 5 . V e r  a i n d a  o   ponto  (c)   d a  r eg ra   4 .

Regro   7 — A referência a o   au tor  e à  obra   de v e s e r  c la ra . Para

sc   compreender aqu i lo  qu e  estamos   a  d i ze r , s i rva  o   segu inte exem

p lo   (errado):

Estamos d e  acordo com Vasquez quando defende  que «o   problema cm questão está longe  d c estar resolvido»1  c.  apesar da conhecida  opinião de   Braun :

paia quem «se fez  definitivamente  luz  sobre esta velha  questão»,  consideramoscom  o  nosso autor que  «falta  a inda percorrer u ni  longo caminho antes que  sechegue  a  um  estádio de  conhecimento sa tisfatório».

A pr ime i ra  citação é  certamente  d e  Vasquez  e a  segunda  d e  Braun.

ma s a  terceira  será  mesmo de Vasquez , como  o  contexto deixaria supor?

E   u ma  v e z qu e n a  nou i 1 reportámos a   primeira  citação de   Vasquez. à

página   16 0  t ia  sua obra. deveremos   supor que também a  terceira   c ita

ção é da  mesma   página do   mesmo l ivro?  E se a  terceira  citação   fosse

de Bra un? Ve j amos corno  o  mesmo rrecho deveria   te r   s ido redig ido:

Estamos d e  acordo com Vasquez quando defende  que   «o   problema cm ques

tão está  longe  d c estar resolvido»-' c. apesar da conhecida  opinião de   Braun.para quem  «se fez   definitivamente  lu z  sobre esta velha   questão»1, consideramos com o  nosso autor que  «falta   ainda percorrer um  longo caminho antes quesc  chegue a  um estádio de  conhecimento  satisfatório»1.

:  Roberto Vasquez. Fuzzy Ctmcepts, London. Fabcr,  1976. p. 160.:Richard  Braun. Logik und   Erkennmis,  Mimchcn. Hnk.  1968. p. 345.•'Roberto Vasquez. Fuzzy Concepts, London. Fabcr,  1976, p. 160.' Richard Braun. Logik u nd  Erkeiuunis. Munchcn. Fink.  196H.'Vasquez. op, e/r., p. 161.

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Repare - se   qu e n a  nota   2 s e   escreveu ; V asquez.   op. e it:  p . 1 6 1 .Se   a   frase  fosse   a i n d a   da página 16 0, te r íamos   pod id o es crever :Va s qu e z .  ibidem.  A i de n ós .  todav ia , se tivéssemos   pos to  « i ludem»sem espec i f i car  « V a s q u e z » . I s so querer i a d i ze r que  a   frase  se  e n c on t rava   n a p ág in a 3 4 5 d o  l i v r o  d e   B r a u n  c i t ado.  « lbidem->,  portanto,s i gn i f i ca   « n o   m e s m o  lugar » e só se   p o d e   u t i l i z a r qu a n d o  se   querrepe l i r   a c i tação da   nota precedente.  M a s s e , n o   texto,  c m v e z ded i z e r  «cons ideramos co m o  nosso  au tor » , t ivéssemos  d i to  «cons ideramos  com Va squez» e qu iséssemos  reportar-nos ainda   à página160 . ter íamos   pod ido u t i l i zar  em  nota um s imples   « ibidem».  Só c omurna   condição: que se   t enha f a lado  d e   Vasquez  e d a   sua obra a lgu mas l inhas antes   ou   pelo men os dentro   d a   mesma   página, ou nãomais tlc duas notas antes. Se. pelo   contrário. Vasquez t ivesse aparecidod e z  pág in a s   antes , se r i a melhor repe t i r   e m   nota   a indicação porin t e i ro  ou no mínimo «Vasquez,  op. CÍL,  p . 16 0 » .

Regra   <# —   Q u a n d o  uma c itação não  u l t rapassa  a s  duas o u trêsl inhas , pode   inscrir-se n o corpo d o parágra fo,  entre aspas r como estouagora   a   fazer  a o   c i t a r C a m p b e l l  e   B a i l o u ,  qu e  d i z e m  qu e « a s   c i ta

ções   d i rec tas  qu e n ào   u l t r a p a s s a m  as três   l i n h a s d a c t i l og r a f a d a sdevem  s e r   postas entre aspas   e   aparecer  no texto»* .  Q u a n d o  a   c i t a

ção é  mais longa ,  c  me lhor  colocá-la   recolhida  e a um e sp aço  ( s ea  t ese   fo r  dac t i log ra fada   a três espa ços, a citação poderá s er a   doisespaços ) . N e s t e  caso  não são necessárias a s  aspas , pois  d e v e  se r ev i dente   qu e   todos  o s   trechos recolhidos   c a um espaço são c i tações ;e   d evemo s   p rocurar  n ão   u t i l i z a r o   mesmo s i s t ema para   a s   nossasobservações ou  d esen volvimentos  secundários (que deverão ser  f e i to s  e m   nota ) . E i s  u m  exemplo  d e   dup la  c itação  r e c o l h i d a 7 :

Se uma  citação directa  c mais longa  do que três  linhas dactilografadas. eta

é colocada fora d o  texto num parágrafo ou em vários pa rágrafos separadamente, a  um  espaço...

6 W . U. Campbell e  S. V. Bailou. Form   im ã Sn/e, Boston. Hmighlon  Mifflin.1974. p. 40.

' Unia  vez  que a  página  que estão a  ler é uma  página  impressa  (c não  da clilo-gratads). cm vez de um espaço mais pequeno uliliza-se um corpo de letra menor (quea máquina d c escrevei  nu v tem). A evidência  da  utilização  deslc corpo menor  ctal  que. no resto do  livro, não foi necessário recolher as  citações, bastando isolar obloco em corpo mais pequeno, dan do-lhe  urna linha de espaço em cima e em baixo.Neste  caso  rccolhcu-sc a  citação  apenas para acentuar a  utilidade deste   artifício  napágina  dactilografada.

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A  subdivisão em  pa rágrafos  da  fome  original deve  ser mantida na  cilacão.Os  parágrafos que se  sucedem directamente   na  fonte   ficam separados  sópor  um espaço, tal como as diversas linhas d o parágrafo. Os  pa rágrafos  quesão  citados d e  duas fontes diversas e  que  não são separados por u ni   texiode  comentário, devem ser separados por dois  espaços8.

Quando sc pretende indicar as citações, rccolhcm-sc estas, especialmente quando existem numerosas citações de  vários tamanhos... Não se  utilizam aspas1.

Es t e método é  mui to cômodo  porque  fa z   imediatamente sobressairos textos citados , permite  saltá-los se a  l e i tu ra  fo r  t ransversa l , debruçar-se  exclusivamente sobre   eles   s c o   le i tor est iver mais interessadonos textos citados  d o qu e n o nosso comentário c.  f inalmente, permiteencontrá-los   rapidamente quando s e  p rocuram por razões de   consulta.

Regra   9  — A s c i tações d evem  ser fiéis, fim   primeiro lugar, devemtranscrever-se  a s  pa lavras  ta l como  estão (e.  para t a l , é  sempre conven iente ,  após a r edaccão da   lese. voltar  a   ve r i f i car  as c i tações noo r i g i n a l , pois  a o copiá-las. à mão ou à máquina,  podemos  te r   comet ido erros  ou omis s õe s) . Em  segund o lugar,   não sc deve   e l i m i n a rpartes  d o  texto  s e m qu e   i sso se j a ass ina lado: es ta   sinal ização   dee l ipses  faz -se   med iante  a inserção de reticências   para  a   par t e omi t ida . E m te rce i ro lugar , não se  d evem fazer  interpolações e  qua lquercomentário,  esc larec imento  ou especificação   nossos devem aparecer dentro  de parênteses   r ectos ou em ângu lo.  D e   i gua l modo.  ossubl inhados que nào são do   autor, m a s   nossos, devem  s e r  a s s i n a l a d os . E xe m p l o :  n o   texto citado  sã o   fornec idas reg ras l i g e i ramentediferentes  da s qu e e u  u t i l i zo para   as in te rpolações : mas   isto  servetambém   para compreender como  os critérios   podem  se r  d iversos ,desde  qu e a   su a  adopção  seja constante   e   coerente.

Dentro d acitação... podem verificar-se alguns problemas... Sempre que se omitaa  iranscrição  de uma pane  do  texto, isso será  assinalado pondo três pontos dentro de  parênteses  rectos |nós sugerimos a s reticências  sem os p arênteses]... Por

sua  \ci,  sempre  que sc acrescente uma palavra para  a compreensão d o   textotranscrito, e la  serd inserida emre  parênteses  em  ângulo (nào esqueçamos queestes autores  estão a  falar dc teses  dc  literatura  francesa, onde por vezes  podeser   necessário interpolar uma palavra  qu e  faltava  n o  manuscrito original  mascuja presença o ilósofo magina].

* Campbell c Bailou, op,  c/f., p.   40.°P .  C l.   Pcrrin, An  I ndex to  Kngfish. 4." ed.. Chicago. Scott. Foresman and Co..

1959. p.338.

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Recorde-se a necessidade dc evitar os erros de francês e  de escrever num  estiloco rreexo  e  c laro filálico   nosso]" 1.

Se   o  au tor q u e   c i t amos, embora d ign o  dc menção,  incorre r num

erro mani f es to,  d c  e s t i l o  ou de in fo r ma ç ão ,  d e v e m o s   r e s p e i t a r  o

seu   erro mas assinalá-lo ao le itor, quanto mais  não se j a com um  parên

tese   recto deste t ipo:  \sic\. D ir -se -á. por tanto, q u e  Savoy a f i rma  qu e

e m  1ÍS20 [sic]. após a   morte   de  B o n a p a r i e ,  a s ituação européia era

nebulosa» . Ma s se est ivesse no vosso luga r, eu ignora ria um tal Sa voy.

Regra   10  —   C i t a r é  como tes temunhar num processo.  Temo s d c

estar sempre  e m condições de  encontrar as testemunhas  e de   demons

trar  que são   d i gnas   de c rédi to. Por  este   mot ivo,  a referência devese r exacta   e  precisa   (não se  c i ta   u m  au tor sem d i ze r  e m qu e   l i v ro  e

em   que página   ocorre   a   passagem c i lada )  e de v e   poder  se r   controlável  p o r   todos . Como fazer  então, se  u ma   informação ou uma  op i

nião  impor tantes   n os  v i e rem  d e   u ma  comunicação   p essoa l ,  d c u m a

car ia o u d e  u m manu scrito'.' Pode  muito bem citar-se uma frase pon do

em nota uma  d a s  segu intes  expressões:

1. C omunicação  pessoal d o  autor ( 6 dc  Junho de   1975).2.  Ca na pessoal d o  autor (ó dc Junho de  1975),3.  Declaração registada  em 6 de  Junho dc 1975,4.  C . Smith, Asfomes da Edda de. Snorr i , ma nuscrito.5. C. Smith. Comunicação ao XI I  Congresso  dc Fisiotera pia, manuscrita  (no

prelo pela editora  M outon. Th e  Hague).

R e p a r e m  qu e , n o qu e  respeita   às   fontes   2 . 4 e 5   ex i s t em docu

mentos   que se poderão   ap resentar  c m  qua lquer momento- Para   a

fonte  3  estamos   n o v ag o . d a d o qu e o  termo  « r e g i s to » n ão n os d i z s e

se trata   de  r eg i s to  ma gnét ico ou dc um  a pontamento  estenográfico.Q u a t i i o  à  fonte   l . só o  a u tor poder ia desment i r - vos  ( ma s  p od e r i a  te r

morrido entretanto). Nestes casos extremos   é  sempre boa norma, após

ter-se dado forma def init iva  à citação, comunicá-la  por car ta  a o  au tor

c obter uma carta  d e   resposta  c m qu e e l e  d i g a  qu e s e  reconhece  nas

idéias que lhe atr ibuíram e vos  au tor i za  a  u t i l i zar a  c itação. Se se  t r a

tasse  d e  u ma  c itação m uitíssimo   importante e inédita   (uma nova   fór-

1 0 R. Campagnnli e A . V . Borsari. Cuida alia tes i d i laureu   in  li/igua   e  lette-ratiira francete,  líologna. Patron. 1971, p.  32.

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m u la . O r e sul t ado de  u ma   investigação  a inda secreta ) , ser ia aconse

lhável pôr em apêndice à t ese  u ma  cópia da carta de autorização. Nacondição, e v iden t emente ,  de o  autor da informação ser  uma conhe

c ida   autor idade  científica e nào um fulano qualquer.

Regras   secundárias — Se qu i s e rmos  ser exae ios ,  ao  i n s e r i r ums ina l  de  e l i ps e  (reticências co m ou sem parênteses  rectos ). proce

damos  do  s e gu in t e modo  com a pontuação:

Sc omitirmos uma parle pouco importante,.. .a  elipse deve  seguir-se à pontuaçãoda   parle completa. Se omitirmos uma  pane centra l..., a elipse precede a vírgula.

Q u a n d o se ci tarem versos, devem seguir-se   os  usos da  l i teraturacrítiea a que nos r e f e r imos .  Km  qua lque r caso ,  só um  verso  pode

vi r  c i t ado no t exto as s im: «Ia  donze l l e t t a v i en da l l a campagna». D o i sversos ptxlem ser ci tados  no  texto separados p or uma barra : «I cipress i

ch e a B o l g h e r i  a l t i e  schiet t i/van da Sa n C u i d o In d u p l i c e  filar». Sc.pe lo coitirário, se  t ratar de um t recho poético  ma i s l ongo ,  é  me lhor

recorrer  ao s i s t ema de um espaço e  r e co lh ido :

H  quando saremo sposati,saro ben felice con  le.Amo tanio la mia Kosie 0'Gradyc la  mia Rosie 0'Grady ama me.

Procederíamos do  mesmo modo penuite um verso só, que fosse o

objecto de uma longa análise subsequente, como no caso cm que se qui

sessem extrair os elementos fundamentais da poética de Ver la ine do verso

D c la musique avant loute chose.

Nestes casos, dire i que não é necessário sub l inhar o  verso, embora

este  seja em língua  estrange ira. Sobretudo se a tese for  sobre Verla ine :de out ro modo.  teríeis cen t enas  de páginas  t odas subl inhadas . Masescrever-se-á

De  la  musique avant toute choseCf pour vela  prefere l ' impairptus vague ct plus soluble dans l'air.sans rien en lni qui pese et qui pose.,.

e spec i f i cando  «sublinhado nosso», se o f u lcro da análise for a noçãod e  «disparidade»,

178

Q U A D R O  15

nXTíMPLO D E AN A LI SE C W H N U A D AD F  U M  .MESMO  TEXTO

O lexto do 1'ar i ral t è rico destes momentos de êxtase que já em  Stephèn He rotinham sido definidos corno epifânícos:

Cintilando e uenieluzindo trcmclurindo c alastrando, luz que rompia, flor que desabro-chava. a visão desdobrou-se  nu M A   incessante sucessãn dc si mesma rompendo uuni carmesim vivo. alastrando e- desvanecefido-SC  no rosa mais pálido, pétala a pétala, onda aonda  A:  luz, inundando todo o  iniiameiitocom 05  seus  doces fulgorcs. cada fuliror maisintenso que o primeiro {p. 219).

Todavia, vê-se imcdiatamenle que também a visão «submarina» sc transforma

imediatamente ern visão de chama, onde predominam lonalklades rubras e sensações de fulgor. Talvez o texto original expresse a inda melhor esta passagemcom  expressões como  «a  hrakin light» ou  «wave of  light by wave  o i' light» e«soíl flashes».

Ora,  sabemos que no Porimit as  metáforas do fogo reaparecem com freqüência: a palavra «fire»  aparece pelo menos 59 vezes e as diversas variações dc«flame»  aparecem 35  vezes (I).  Diremos então que a experiência da epifaniasc associa à do fogo, o que nos fornece  uma  chave para p rocurar relações entreo jovem Joyce c o  D*Annunzio de tf fuoco. Veja-sc então este   trecho:

Ou era porque, sendo ele tão fraco de vista como tímido dc esp írito, sentia menos prazer na refracção do ardente mundo sensível através do prisma  dc uma língua  mullicolore  ieamenie lustrada... (p. 2111.

onde é desconccnantc a evocação de um trecho do Fuoco d"annunziuno que di z:

auaída para aquela atmosfera a rden te como a  ambiente n'e. u m a  forja.

1 L- Hancock, A Word Iinlt'\  10  J. Joyee's Portrait of t ke  Ártist, Carboudalc,Southcm Illinois U niversity Press. 19~ó.

V . 3 . 2 .  Cilação, paráfrase e plágio

Quando f i ze ram  a  f icha de  l e i tura , r e sumi ra m em vários  pontos

o au tor que  vos i n i e r e s sa : i s t o é, f i z e r am paráfrases e r epe t i r am com

pa lavras  o  pensamento  do  autor. Noutros casos, t ranscreveram tre

chos inte iros entre aspas.

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Q u a n d o d e p o i s p a s s a r e m à redacção da tese. já nào terão o  i cx lo

a   frenle  e  p rovave lmen te cop i a r3o t r echos in t e i ros da  vossa f i cha .Deverão  ce r t i f i ca r -s e de que os  t rechos que co p i a m  são  ve rdade i r a

men te  paráfrases e não  citações sem  aspas.  C a s o  contrário, terão

comet ido um  plágio.

Esta   forma de plágio é  mui to comum nas teses. O  e s tudan t e f i ca

co m  a consciência tranqüila  porqu e d i/. . mais tarde   ou  ma i s ced o .numa   nota em rodapé, que eslá u re fer ir -sc  àquele  dado autor . Mas

o  l e i t o r que . po r acaso , se ape rceba de que a página não eslá a pa ra

frasear o  t exto o r i g i n a l , mas sim a copiá-lo  sem u t i l i za r a spas , f i cacom uma péssima impressão. E  isto náo di z  respe i to apenas ao o r i e n

tador, mas a  quem que r que depois ve ja essa lese. ou  p a r a a  publ i

ca r ou p a r a a va l i a r a competência de  quem a fez.

C o m o ter a ce r t e za  de que uma paráfrase nào é um plágio? Empr ime i ro luga r , se for  m u i t o m a i s  curta do que o  o r i g i n a l , é  claro.

M a s há casos em que o  autor, numa frase ou período  bastante breve,

d i z co i s as de g r a n d e  conteúdo, dc tal  modo  que a paráfrase tem de

se r mui to ma i s l onga , que o  t r echo or i g ina l . N e s t e   c a s o . não  devemos preocupar-nos doent iamente  com nunca pormos as mesmas pa la

vras, pois por vezes é inevitável ou  mesmo  útil que  certos termospermaneçam imutáveis. A  p rova ma i s  i r a n q u i l i z a d o ra   t em-se quando

sc  consegui r pa ra f r asea r  o  t exto sem o ler à  v i s t a .  I s s o  significará

qu e  nao só se c o p i o u , mas l ambem  sc co m p r e e n d e u .

Para   e sc l a r ece r me lhor  este   pon to , passo a  t r anscreve r — com D

número 1 — DIB  t r echo  de um  l i vro ( t r a t a -s e  de  N o r m a n C o h n .

Os  fanáticos Jo  Apocal ipse) .

N o  número 2 dou um e x e m p l o  de paráfrase razoável.

N o  número 3 dou um exemplo de falsa  paráfrase,  que  cons t i tu i

u m plágio.

N o  número 4 dou um e x e m p l o  dc paráfrase  i g u a l ao número 3.

mas onde  o plágio é  e v i t ado median t e o uso hones to de a spas .

/.  O texio or ig inal

A vinda (tu  Anticristo deu lugar a uma  tensão  ainda maior. Sucessivas gerações  viveram numa constante expectativa do demônio  destruidor, cujo reinoseria  efeeti vãmente uni  caos sem lei. uma  época consagrada à rapina e ao saque,a  tortura c oo massacre, mas também o prelúdio dc uma conclusão por que tc

ansiava, a  Segunda Vinda c o Re ino di »  Santos. Ãl  pessoas estavam semprealerta, atentas aos -sinais»  que. de acordo com a tradição profética,  anuncia-

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na m c  acompanhariam o último período dc desordens-: e  uma  YtZ que os

-sinais- incluíam maus goterrunlet. discórdia  civil, guerra, seca.  fome. peste,cometas, mortes imprevistas d c pessoas eminentes c um estado dc pecado generalizado, nunca  houve qualquer dificuldade em descohri-los.

2. Um a  paráfrase hones ta

Cohn 11 é muito explícito a  este   respeito. Debruça-se sobre a situação de tensão

típica  dcslc período, em que a expectativa do Anticristo é ao  mesmo tempoexpectativa do reino do demônio, inspirado na dor e na  desordem, e prelúdio d achamada Segunda V inda, a  Panísia. u  volta dc Cris to triunfante. E numa época

dominada por acontecimentos dolorosos, saques, rapinas, fomes e  pestes, nao

faltavam às pessoas os   -sinais- correspondentes aos sintomas que os textos pro

féticos  tinham sempre anunciado tomo característicos da vinda do  Anticristo.

3.  U ma falsa paráfrase

Segundo Cohn... |segue-se  uma  lista de opiniões expressas pelo autor noutroscapítulos]. Por outro lado. c necessário não esquecer que a vind a do  Anlicrisiodeu lugar a  uma  tensão ainda maior. As diversas gerações viviam em constanteexpectativa do demônio destruidor, cujo reino seria cfccüvamente um  caos semle i,  uma  época consagrada a  rapina e ao saque, à tortura e ao  massacre, mas

também o prelúdio da Segunda Vinda ou do Reino dos San tos. As pessoas estavam sempre alerta, alenta» aos sinais que, segundo os profetas, a nunciariam e

acompanhariam o último -período de desordens-: c u ma  vez que estes  sinaisincluíam os maus governantes, a discórdia  civil, a  guerra, a seca, a fome. as

pestes e os cometas, bem  como as mortes imprevistas de  pessoas importantes(alem dc um estado dc  pecado generalizadoI.  nunca houve qualquer  dificuldade em  descohri-kis.

4. Uma paráfrase  quase textual que evita o plágio

O mesmo Cohn já  citado recorda, por outro lado. que a vinda do Anticristodeu   lugar a u ma tensão tiindti maior». As diversas gerações  viviam em constante expectativa do demônio  destruidor «cujo  reino seria cfccttvamcnte um

caos sem  lei, uma epoca consagrada  à rapina c ao saque, a  turtura e ao massacre, mas tamhém o prelúdio de uma conclusão por que se ansiava, a SegundaVinda  e o Re ino dos  Santos-,

Vorman  Onhn. I fanattet d elVApocal iv*.  Mílano. Comunita. 1%?. p 125.

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As pessoas estavam sempre alerta  e  atentas aos sina is que, segundo  os  profetas, acompanhariam e a nunciariam o último «período  dc desordens». Ora. sublinha  C obri, dado que estes sinais  incluíam «maus  governantes,  discórdia  civil,guerra, seca, fome, peste, comeias, mortes imprevistas  de  pessoas eminentes  cum  estado dc pecado generalizado,   nunca  houve qualquer dificuldade cm descobri-los»12.

O r a   é  ev idente   q u e , p a r a   te r o   t r a b a l h o  d c  l a z e r  a paráfrasenúmero 4,  mais va l i a t ranscrever como c i tação o   t r echo comple to.M a s  p a r a i s s o  e r a n e c e ss á r io qu e n a  v os s a f i c h a  d c  l e i t u r a h ou vesse  j á o  t r echo t ranscr i to in teg ra lmente   o u um a paráfrase n ãos u s p e i t a .  C om o qu a n d o r e d i g i r e m   a   t e s e   já não sc lembrarão doqu e f i z e r a m  a o  e l a b or a r  a   ficha,  é necessár io que log o  d e s d e  o iníc io t enham proced ido  d e  modo correc to. De vem es tar seguros  d e

que.  s e n a   f i cha   não há  a s p a s ,  o qu e  e s c r e v e r a m  é  u ma   pa ráfrasee n ão u m p lág io .

V.4 . A s   n o t a s  d c ro d a p é

V.4 .1 .  Para  qu e   servem  a.s  notas

U m a   opin ião  bas tante d i fund ida p re tende   que não só as   teses,ma s   também os   l i v ros   c o m  mui tas notas , const i tuem  u m   exemplode snob ismo erud i to e freqüentemente   uma tentat iva  d e   deitar poeiranos olhos,  li   certo  que nào se deve   e xc l u i r qu e   muitos autores   nãopoupem notas   c o m o   ob j ec t ivo  d e   confer i r  u m t o m  impor tante  a ose u   t raba lho, n e m q u e  ou t ros encham a ind a  a s  notas  de informaçõessecundárias, p rovave lmente  subtraídas   sub- rep t icia rnente  d a  l i t e ra tura   crítica   e xa m i n a d a .  M a s  i sso  nã o  impede  q u e a s   notas, quandout i l i zadas   numa med ida conven iente , se j am  úteis. Q u a l  é a   med ida

conven iente ,  não se   pode d i ze r , pois depende   d o   t ipo  de   tese. M a sprocuremos   i lus t rar  os   casos   e m qu e a s   notas   são úteis, e   comodevem   s e r   fe i tas.

a ) As tíbias  servem para indicar a  fonte da s citações.  S e a   fonte

t ivesse  de s e r  i n d i c a d a  n o  t exto,  a  l e i tu ra  da página  s e r i a  difíc il. Há

evidentemente maneira  d e  fazer  referências  e v i t a n d o  a s  notas, como

'-' N.  Cobri. I' fanaiici de li 'Apocalissc.  Milano. Comunit», 1965, p. 128

182

no sistema autor-data  e m   V . 4 . 3 - M a s .  e m   g e ra l ,  a  nota serve mu itobem para  este  f im.  Q u a n d o s e  trata  d e  uma nota  d e referência   b ib l iográfica, é conven iente  qu e   venha  em r odap é  e não na fim   d o   l i v ro

ou   do capítu lo,  pois desse modo pode veri f icar-se imediata mente,com uma v is ta   d e  o lhos , d o que se es tá a   falar.

b ) As  notas servem para acrescentar outras  indicações bibl iográfica s d e r e forço a  um assunto discutido  no  texto: «sobre  este  assunto ver

a inda o   l ivro t al». Também  neste caso s ão  mais cômodas as de rodap é.

c)  A s notas  servem para   referências  externas  e   internas.  T ra tado

u m  assunto, pode   pôr-se em   nota   « c f . » ( qu e   quer d i ze r  «confron

tar » c que  remete quer p ara  u m  ou t ro l i v ro quer para out ro  capílulo

ou  parágra fo do  nosso trabalho). A s referências   internas podem também ser  feitas  n o  texto,  se   forem essenc ia i s ;  u m  exemplo d i s to  é o

l i v r o  que es tão a le r ,  onde  de v e z e m   qu a n d o  h á u ma  r e f e renc ia

a  ou t ro  parágrafo.

d )  As  notas  servem para introduzir  uma c i tação de re forço  qu eno texto  v i r i a   p er turbar a   l e i tu ra . O u  seja, faz-se uma   afirmação notexto  e  d epois , para  n ão  p erder  o f io ao  d i s curso ,  passa-se   à  a f i r m a ção   segu inte ,  mas após a  p r ime i ra remete -se para  a   nota  e m qu e s emostra  como u ma conhec ida au tor idade conf i rma a afirmação   f e i t a 13 .

e )  As  notas  ssrvem para ampliar  as a f i rmações que se   f izeram

no   texto1'  nes ta med ida   são úteis   porque permi tem  nã o   sobrecar

regar  o   texto  co m observações que . por   importantes   qu e  se j am,  são

acessórias r e la t i vamente   a o l ema   e se  l i m i t a m a  r epe t i r  d e  um ponto

de v i s ta d i f e rente aqu i lo que já se  d i sse  d e u m  modo essen c ia l .

f)  A s  notas  servem para   corrigir  as a f i rmações do   texto:  es ta i sseguros  d o qu e   a f i rmais mas , a o   mesmo tempo, conscientes  d e qu e

pode haver quem   não  esteja de a cordo, o u   considerais qu e de  um certo

'•' «Todas  as  afirmações  importantes  de  factos que não são matéria  dc conhecimento geral... Devem ser baseadas  numa prova da  sua validade. Isto pode ser feitonu  texto, na nota  de rodapé, ou em ambos» (Ca mpbell c  Bailou, op. cir., p. 50).

" A s  notas  de  vimteádii  podem ser  utilizadas para  discutir ou ampliar pomosdo lexlo. Por exemplo. Campbell e  Bailou iop.  ei*., p. 50) recordam que c  útil reme-ler  para a.s  nulas discussões  técnicas, comentários  casuais, corolários  e informaçõesadicionais.

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ponto  d e   v i s ta ,  s e   poder ia f aze r  um a ob jecção à   vossa   afirmação.Será iãntão  p rova  n ão só de  l ea ldade c i e nt i f i ca , mas  também dc espír i to  cr ítico  inser i r uma nota parc ia lmente redut iva 15 .

g )  A s  notas podam serv ir para   fornecer  a tr adução de uma  cila-

cã o  qu e e r a  essenc ia l ap resentar  em língua   es t range i ra ,  ou a  versãooriginal  de controlo  d e   u ma  c itação   que.  por exigênc ias de   fluide/.

do d i scurso, e r a  mais  cômodo  fazer  em iradução.

h ) As notas  servem para pagar as div idas.  C i t a r u m li v r o de qu e

se t irou   u m a  frase  é  p a g a r u m a  dív ida .  C i t a r u m  a u l o r  d e   qu e m  se

util izou   u ma  idéia o u  u ma  informação é   pagar uma  dív ida . Po r  vezes,

todavia, lambem  é  p rec i so pagar  dív idas   cu j a   documentação não é

fácil, e   pode  s e r  n o r m a   de correcção científica   adver t i r ,  p o r   e xe m plo, e m  n o t a , qu e  u ma  sér ie de idéias  o r i g i n a i s q u e  es tamos  a  expor

não   t e r i a pod ido surg i r   sem os estímulos   r eceb idos  d a   l e i tu ra  d a

obra   t a l , ou da s  conversas p ar t icu lares  c o m o   es tud ioso ta l .

E n q u a n t o  as  notas  d o   t ipo  a , b  e  c   são  m a i s  úteis em rodapé,as notas  d o  t ipo  d  e   h   podem  também ir  para  o f im d o capítu lo oup a r a  o f im da   tese. especialmente  se   forem mui to longas . Toda v ia ,d i remos  qu e  u m a  nota   nunca dever ia   se r   excessivamente  longa:  deouiro modo n ào será  u m a  no t a . m a s um apêndice , e.   como ta l , deveráser inscr i to  e   n u m e r a d o  n o f im do   t raba lho.  D e   qua lquer forma,é p rec i so s er  coerente:  ou   todas a s  notas em rodapé ou  todas as notase m  f im d c capítu lo, ou  breves notas  em pé-de-página e apêndicesn o  f im do   trabalho.

E   r ecorde- sc mais   u ma v e z qu e se s e  es t i ve r  a   a n a l i s a r  u m afonte  homogênea, a   obra  d e u m s ó  autor, as páginas d e um diár io,u ma   colecção de   manuscr i tos , car tas  ou  documentos , e t c . sc  pode

rã o  ev i t a r  a s  notas es tabe lecendo s imp lesmente  no in íc io do   traba-

"   F-fcciiv;imente, depois de termos di to que c útil fazer a s notas, queremos precisar que, como também  recordam C ampbell c Bailou top . cit.. P . 50). «o  uso dasnotas com vista â  elaboração do  trabalho exige  uma  certa  prudência. É necessárioter cuidado em  não  transferir para as notas informações  importantes  e  sign ificativas: as idéias  directamente relevantes e  as informações  essenciais devem aparecerno texto». Por nutro lado, como dizem os mesmos autores  (iWtfem). «qualquer  notaem rodapé deve  justificar praticamente a  sua existência». Nada mais irritante queas notas que aparecem inseridas sõ para fazer figura e que não dizem nada de importante para os fins  do  discurso cm questão.

184

lh o abrev ia luras para  a s  fontes  e  inser ind o ent re  parênteses no   texto,

para   qua lquer  c i tação ou re fe rênc ia , uma  s i g l a   com o número da

página o u  documento. Ve j a - se   o parágrafo   1II.2.3. sobre   as citações

de   clássicos e   s igam-se   a s  mesmas reg ras . Nu ma  t ese   sobre autores

med ieva is publ icados n a  Patrologia Latina  de   M i g n e ,  evitar-sc-ão

cenlenas  d e   notas in t roduzindo n o  texto  parênteses   deste t ipo: i P L .

3 0 ,  2 3 1 ) .  D e v e   proceder-se   d o   mesmo modo para referencias   a  qu a

d ros ,  tabelas   e   f i guras   n o   texto  ou em apêndice .

V . 4 . 2 .  O   sistema   citaç.ão-nota

Cons ideremos agora   o u s o d a  nota como meio para   a referên

ci a   bibliográfica: se no  texto  se   f a la r  de  um autor qua lquer  ou s e s ecitarem passagens dele.  a  nota correspondente   fornecerá a referênciabibliográfica  a dequada. Es te s i s tema  é  m u i l o cômodo, pois  s e a  nolafo r  em rodapé , o   le i tor  saberá   imed ia tamente  dc qu e  obra   se   Irala.

Este método imp õe, porém, u ma  duplicação: as  obras citada s  emnota deverão   d epois encont rar - se na b ib liog ra f i a f ina l (excep luandocasos raros , c m qu e a   nota   c ita   u m  au tor  qu e n ão t e m  n a d a   a ve rco m  a   b ib l iog ra f i a  espec í fica d a   tese, como,  p or  exemplo,  se  n u m atese  d e   as t ronomia qu isesse c i t a r  « o   A m o r  qu e  m o v e  o s o l e a soutras   es tre las » " ' : a  nota bas ta r i a ) .

C o m  efeito,  não se   pode d i ze r qu e s e a s  obras c it adas aparece r e m  já cm  nota . não será necessária a  b ib l iog ra f i a   final:  n a   verdade,a  b ib l iog ra f i a f ina l se rve para   se te r um a panorâmica do  mater ia lconsu l tado  c  para  d ar in formações  g lobais sobre  a   l i t e ra tura   re ferente   a o t ema. e   se r i a dese legante pa ra  c o m o  l e i tor  obrigá-lo a  pro

cura r  os  textos  página por página , nas  notas.

Além   d i s s o , a   b ib l iog ra f i a f ina l fornece , re la t i vamente  à nota ,

in formações  mais comple tas .  P o r   e xe m p l o ,  a o   c i t a r - se  u m  au torestrangeiro, pode dar-se   e m  nota apenas  o título na língua  o r i g i n a l ,enquanto  a  b ib l iog ra f i a   c itará também a existência de uma   t radução.  P o r   ou t ro lado,  n a  nota   é  cos tume c i t ar   o  autor pelo  nome éapelido,  enquanto  na   bibliografia   e le v irá por  ordem  alfabética   peloa p e l i d o  e   nome.  Além   d i sso,  s e de u m  a r t i go h ouver uma p r ime i raedição   n u m a r e v i s t a   e   d epois  u ma r e e d ição ,  mui to mais   fácil dcencont rar num volume colec t ivo.  a   nota   poderá   c i t a r  só a   segunda

n  Dante. r<ir.  X X X I 1 1 .  145.

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edição, com a página do   volume colect ivo, enquanto  a   b ib l iog ra f i adeverá  c itar sobretudo  a  p r ime i ra   e d i ç ão. U m a  nota   p o d e   abrev iarcertos dados, el iminar   o subtítulo, não  d i z e r  d e   quantas  páginas é ovolume, enquanto  a   b ib l iog ra f i a dever ia   d a r  estas  informações.

N o Q u a d r o  1 0   apresentamos  u m  e x e m p l o  de u ma págin a detese com várias  notas em rodapé e no  Q u a d r o  1 7  damos  a s   mesmasreferencias   bibliográficas   co mo  aparecera   n a  b ib l iog ra f i a   final,  d emo d o a q u e s e  possam notar  as diferenças.

Desde   já   adv i r to  qu e o   texto  proposto  co mo ex emp lo  fo i  c on ceb ido  a d h o t:  d c m o d o  a t e r  mui tas  referências de   t ipo diferentee,  por tanto,  não me   r esponsab i l i zo  p e l o  s e u   va lor  o u  c l a r e za  e o n -ceptual .

Adver t imos a inda que . p or razões de  s i m p l i c i d a d e , a  b ib l iog ra

fi a   f o i  l i m i t a d a   a os   dados essenciais, deseurando-se   as exigênc iasde   perfe ição e   g loba l idade enunc iadas  c m  111.2.3.

Aqu i l o q u e  no Qu adr o 17 chamamos bibliogra f ia standard   poderi a   a s sumi r  variadas formas;  os   autores poderiam estar  em maiúsculas ,  o s   l i v ros ass ina lados  c o m  AA V V p od e ri a m e st a r so b o  nomedo organ i zador ,  e tc .

Vemos  qu e a s  notas  sã o   menos precisas d o qu e a b ib l iog ra f i a ,não se  p reocupam  e m   c itar  a  p r ime i ra  edição e   dest inam-se apenasa  i d ent i f i car  o   t ex to  de qu e s e   fala. reservando para   a   b ib l iog ra f i aas   informações   completas: fornecem  o número das páginas só noscasos  indispensáveis, não  d i z e m  d e  quantas páginas é o   volume  quere f e rem  nem se es tá   t raduzido. Para i sso  há a   b ib l iog ra f i a   f ina l .

1S6

Q U A D R O  16

E X E M P L O D F. U M A  PÁGINA   C O M  O  SISTEMACITAÇÃO-NOTA

Chomsky 1,  embora admitindo o princípio d a semântica   interpretai va dcKatz  e  Fodor-. segundo o  qual o  significado do enunciado c  a soma dos si gnificados  dos   seus constituintes elementares,  não  renuncia, porém, a  reivindicar  em todos  os casos  o primado da  estrutura sintácttea  profunda  comodeterminante   do  significado'.

A partir destas primeiras   posições. Ctiomsky chegou   a  um a  posição  maisarticulada, prenunciada  também nas  suas primeiras obras  através de  discussões d e  que  dá conta no ensaio  "Deep  Stnicture, Sunace Structurc and

Semantic Interpretarion»'. colocando a  interpreta ção semântica a meio caminho entre  a  estrutura profunda   e a  estrutura  d e sup erfície. Outros autores,como, por exemplo. Lak ofF. tentam construir uma semântica  generativa emque  a  forma   lógico-semântica  gera a  própria  estrutura  sintáetica 6.

1 Para uma  panorâmica satisfatória   desta  tendência, ver   Nicolas Ruwet.Introdunian à  la x rummai re généraiive.  Paris. Ploi). 1967.

'  Jemild 3.  Kat2  e Jerry A.  Fodor, «The  Siruciure of  a  Semantic Thenry».fs/nguage 3 9.   1963.

1 Noam Chomsky. Aspecrs ofa  Theory níSyniax. Cambridgc. Mass., M.I.T..1 9 6 5 .  p. 162.

'N o volume Semamks. organizado por D. D . Steinberg  e  L, A .  Jakobnviis.Cambridge, Cambridge Univcrsity Press, 1971.

" «On  Generative Seniantics». i n A A W .  Semwii ics.  cit."N a   mesma  linha, ver  também: James M cCawley. «Whcrc do  noun  nhra-

ses  come  fnini?". in AAV V,  Semantic*, cit.

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Q U A D R O  17

E X E M P L O   D E B I B L I O G R A F I A  STANDARDCORRESPO.N DEN TE

A A W .  Semant i cs : An Interdisciplinary  Reai ier in  Phi losophv.  Linguislicsan d  Psycho logy .  organizado por Stcinberg, D. D. e Jakobovits, L.

A., Cambridge, Cambridge University Press. 1971, pp. X-604.Chonisky,   Noam. Aspects ofit Tl ieory o/Syi i tax,  Cambridge. Mass..  M.I.T.

Press, 1965, pp. X X - 2 5 2 (tr. i i . in Saggi Linguistici  2, Torino.Boringhicri.   1970).

» «De  quelqucs constantes de Ia thêoric linguistique», Diogène 51.

1965 (ir. it. in AA W, /problemi aiitiali delia  lingüística,  Mi lano.

Bompiani.  1968).*  «Deep  Slruciure. Suifácc  Slruclure and Scmanúc liuerpreiaiion».

in  A A W , Smdi es in   Or iental an d  Ge ne r a l  Unguisrics,  organizadopor  Jakobson, Rornan. Tóquio, THC Corporation for Language andEducaiional  Research, 1970, pp. 52-91: agora in AA W . S emant i cs(v.).  pp. 1S3-2I6.

Katz .  Jerrold J . e Fodor. Jerry A. . «The  Strucrure of  a Semantic Tlieory»,

Language   39. 1963  (agora  in  A A W , The  S t ruc ture  of language .organizado por Ka tz .  J . J . e Fodor. J .  A.. Englewood Cliffs. Prentice-

-Hal l .  1964, pp. 479-518).

Lakoff. Cieorgc, «On G eneraiive Semantics». in  A A W , Sem ant i cs ($.), pp.232-296.

McCawIey. James . «Where do noun phrases  come from?». in A A W .

Semant i cs (v.). pp. 217-231.

Ruwet. Nicolas. Int rodu ct i im  à Ia grammai re génératire. Paris. PInn, 1967.pp.   452.

Q u a i s  sào os  d e f e i tos des te   s i s t ema? Ve jamos ,  por  exemplo ,  a

nota   5.  D i z - n o s que o  a r t i go  de  L a k o f f  está no  vo lume  de A A W ,

Semant i cs ,  c i t . Onde é que ele foi  c i t ado? Por sor le na nota 4. R se

t i ve s se s ido c i t ado dez páginas atrás?  R e p e l e - s e , por comodidade , a

citação?  De ixa -s e que o  le i tor vá  ve r i fi ca r na b ibl i ogra f i a ? M as nesse

ca s o é ma i s cômodo o s i s t ema autor -da i a de que fa laremos  a  seguir .

V . 4 . 3 .  O  s is tema autor -dala

E m  mui t as d i sc ip l ina s (c  cada vez ma i s nos últimos  t emp o s ) u s a -

-s e  um  s is tema  que  pe rmit e e l im ina r t odas  as  notas  de referência

bibliográfica  conse rvando apenas as de discussão e as  r emiss i vas .

Es t e s i s l ema pressupõe que a  b ib l i ogra f i a f i na l s e ja  construída

p o n d o  em evidência o  n om e do  autor e  data  de publicação da  p r i

m e i r a   edição do  l i vro ou do  a r t i go .  A  b ib l i ogra f i a , a s sume ass im,

um a  das formas seguintes :

Corigliano. G iorgio1969   Marketing — St rategie  e tecniche,  M ilano. Etas Kompass. S.p.A.

<2. ed„  1973. Etas Kompass Libri). pp. 304.

CORioi.iAXO. G iorgio

1969   Marketing  Straiegie  e lecniche. M ilan o. Elas Kompass. S.p.A.(2 . aed . . 197 3. Elas Kompass Libri), pp. 304.

Corigliano.   Giorgio, 1969, Marketing  — St raiegie  c técniche,  M ilano. fitas

Kompass, S.p.A. <2.a  ed.. 1973, Elas Kompass Libri ), pp.  304.

ü que pe rmit e e s t a b ibl i ogra f i a ? Pe rmi t e , quando no t exto se tem

de fa lar d es te   l ivro, proceder  do s e gu in t e modo. ev i t ando a chamada ,

a   no la e a citação em rodapé:

Na s  investigações  sobre os  produtos existentes «as dimensões da amostra são

também função das exigências específicas da prova»  (Corigliano, 1969: 73).

M as   o  mesmo Corigliano advertira de que a definição da área constitui umadefinição dc comodidade (1969 : 71).

O   que faz o  le i tor?  Vai co n s u l t a r a  bibl iog raf ia f inal  e  compre

e n d e que a indicação «(Cori gliano. 1969:73)»  s i g n i f i ca  «página 73

do l i vro  Marketing  etc. etc» .

Es t e s i s l ema pe rmi t e s imp l i f i ca r mui to o  t exto e  e l imina r o i t en t a

por cen lo  das  notas. Além  d i s so , l e va -nos ,  ao  r ed i g i r ,  a  cop i a r  os

1 8 9

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dados  de  um l i vro  ( c dc mui tos l i vros , quando  a  b ib l i ogra f i a  é  muitog r a n d e )  u ma   só vez .

E ,  pois , um s istema part icularmente  recomendável  quando s e t e mde ci tar constantemente muitos l ivros  e o   mesmo l i vro  c o m   muitafreqüência,  evi tan do ass im fast idiosas pequenas notas  à  base  d e  ibi-dem,  d c  op. ar, ,  e tc . E   mesmo um sistema   indispensável  quando  s ef a z u ma r e senha ce r rada   d a  l i teratura re ferente a o   t ema . C om  e fe i to ,considere-se uma frase  co mo  esta :

o   problema fui amplamente tratado por Siumpf (1945: 88-lQOí, Rigabue  (1956).Azzimonti  (1957), Foriimpopoli (1967). Colacicchi (1968). Poggibonsi  (1972)e  (Vbiniewsky  (1975). enquanto é   totalmente ignorado por Barbapedana  (1950).Fugazza (1967 ) e   Ingrassia  (1970).

Se pa ra cad a uma des t as  c itações se  t ivesse  dc pôr   uma nota c o ma   indicação da  obra, ter-se-ia ench ido  a pág in a dc  uma mane i r a  i n a

creditável e, além   d i s so ,  o   le i tor  n a o  t e r i a  à  v i s t a d e   mo d o  tã o   e v i

dente   a seqüência   t empora l  e o   de senvo lv imen to  d o   interesse  p e l o

problema   em questão.

N o en tan to ,  este   s is tema   só   f unciona  e m  certas  condições :

a )  se se   tratar  d e   uma bibl i ogra f i a mui to  homogênea   e   espec ial izada,  de que os prováve is  leitores  d o   t rabalho es tão já ao   corrente.

Se   a   r e senha a c ima t r anscr i ta s e   referir,  p o r  exemplo ,  a o   compor t a

mento sexual  dos batráquios   ( t ema   mui to e spec i a l i zado ) , pr e sume--se  qu e o   le i tor  saberá  imediatamente  que « Ingrass ia , 1970»  s igni f ica

o  volume  A l im i tação de  nasc imentos  t ios batráquios  ( o u  p e l o  menosconcluirá que se   trata   d e u m d o s  estudos  d e   I n g r a s s i a  do últ imoper íodo e ,  portanto,  focado  diversamen te dos  j á   conhecidos estudosdo mesmo autor nos anos 50).  Se . p e l o contrário,  fizerem,  p or   exem

plo , uma   tese  sobre  a  cu l tu ra i ta l ia na   d a  p r ime i r a  me t ad e  do século,em   que se rão  ci tados romancistas, poetas,  políticos, filósofos e   eco

nomis t as ,  o   s is tema  já não   f unciona , po i s  ninguém está   habi tuado ar econhcee r  u m  l i vro pe l a da t a   e , se a lguém for   capaz d i s so n u mca m p o  específico, não o será em   todos;

b)   se se   tratar  de   uma bibl i ogra f i a   moderna ,  ou  p e l o  menos  dosúltimos   dois s é c u los . N u m   estudo  d e   filosofia   g r e g a  não é   costume

ci t a r  u m   l i v r o  de Ar is tóte les   p e l o  an o de p ubl icação (po r razõescompreens íve is ) ;

c)   s e s e   t ratar  d e   b ib l i ogra f i a   científico-erudita:  não é  costume

escrever   «Mor a v i a . 1929 »  pa ra ind ica r  Os   indiferentes.

190

Se   o   i rabalho sat is f izer estas  condições e   cor r e sponde r  a   estes

l imi t e s ,  então o  s is tema autor-data   é aconselhável.

N o Q u a d r o  18 vê -se a mesma   página do  Q u a d r o  1 6   re formuladasegundo  o   no vo  s is tema:  e   vemos, como  p r ime i ro r e sul t ado , q u e e l af ica mais  curta,  apenas  c o m u m a  n o t a .  e m v e z de   s e i s .  A   b ib l i o

gra f i a cor r e sponden t e (Qua dro  19 ) é u m  pouco mais extensa,  ma stambém   ma i s c l a ra .  A sucessão das  obras  d e u m  mesmo a utor sal taà   vis ta  (note -se que   quand o duas obras   d o   mesmo au tor apa recem

no mesmo ano, é  costume espe ci f icar a data acrescentand o-lhe le tras

por ordem  alfabética) , as referências   internas  à própria   b ib l i ogra f i asã o  m a i s  rápidas.

Repare -s e  qu e  nesta bibl iogra f ia foram a bol idos  os  A A V V ,  e os

l i vros co l ect i vos apa recem  sob o   nome  d o   o r gan i zador  ( e f e c t i v a -mente  « A A V V . 1 9 7 1 » n ã o  s igni f icar ia nada. pois podia re fer ir -se  amuitos l ivros ).

N o t e - s e   também qu e , a lém d c se   registarem a rt igos publ ica dos

nu m  vo lume co l ect i vo ,  p or vezes pôs-se também na b ibl i ogra f i a   s obo   nome  d o  o r gan i zador  o   volume colect ivo  d e   onde   f o ram  extra ídos ;  e   outras  vezes  o   vo lume co l ect i vo  só é  c i t ado  n o  ponto  que sere fere   a o  a r t i go .  A razão é  s i m p l e s .  U m   vo lume co l ect i vo  comoSte inbe rg  &   J a k o bo v it s , 1 9 7 1 . é   c i t ado  p o r  s i porque mu ilos art igos

( C h o m s k y , 1 9 7 1 ; L a k o f f , 1 9 7 1 : M cC a w l e y .  197 1 ) s e r e l e r em  a e l e .U m  vo lume  como  Th e  S tntcture   of   Language.  o r gan i zado  p o r   K a t z

e  F o d o r .  é,  p e l o contrário, c i t ado  n o  corpo  d o  pon to  q u e d i z   respe i to

ao a r t i go  « T h e   Structure o f a  Semant i c  T h e o r y » d o s  mesmos auto

res, porque  não há outros  textos  na b ibl i ogra f i a  qu e se   re f i ram  a e le .

N o t e - s e .  f inalmente,  qu e  este   s is tema permite  ve r   imed ia t amente

quando um  texto  fo i   publ i cado pe l a pr ime i r a   v e z , embora  este jamoshabi tuados  a conhecê-los através de reedições   sucess i vas .  P o r  este

mot ivo ,  o   s is tema autor-data   é útil nos  estudos  homogêneos   sobreu ma   d i s c i p l i n a   específica,  d a d o  qu e  ncs i e s d omínios é  muitas  vezesimportante saber quem pr imeiro apresentou  u m a  de t e rminada  t eori a   ou quem  f o i o   p r i m e i r o  a   f a z e r  u m a  dada pesqui sa  empír ica .

H á  u ma  última ra zão pe la   q u a l . se se  pude r , é aconselhável o   s is

tema autor-data. Suponha-se  que se  acabou   e se   dact i l ogra fou   u m atese  c o m   muitas notas  em rodapé , de ta l  mo d o  q u e . mesmo n ume-

rando-as  por capítu lo, se  chegava  à  nota  1 2 5 . Ape rcebemo-nos  d esúbito de qu e  no s  esquecemos d e   ci tar um autor importante, qu e nãopodíamos   pe rmi t i r -nos i gnora r :  e. além   d i s so ,  que dev íamos tê - lo

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Q U A D R O  18

A M E S M A  PÁGINA DO  Q U A D R O 16 R K F O R M U L A D AC O M  O SiSTfíM A   A U TO R - D A TA

Chomsky (1965a: 162). embora admitindo o princípio da semântica   interpretativa  d c Katz e   Fodor (Katz  &   Fodor. 1963), .segundo  o  qual o  significado  do  enunciado  c a  soma  dos  sign ificados  dos   seus constituintes elementares,  não  renuncia, porem, a reivind icar em iodos o s  casos o  primadoda  estrutura sinláctica   profunda  como determinante  do   significado'.A partir destas primeiras p osições,  Chomsky chegou  a  u ma  posição  maisarticulada, prenunciada também  nas suas primeiras obras (Ch omsky. 1965 a:163). através de   discussões  dc que dá conta  in  Chomsky. 1970, onde  colocaa inlerprclação semântica a  meio  caminho entre  a  estrulura profunda e aestrutura  d e sup erfície. Outros autores (por c\.. La koff. 1971) temam cons •Iniir uma  semântica  generativa em que a  forma   lógico-scmânüca do  enunciado gera   a própria  estrutura simdeiica  (ef. também   McC awley. 1971).

192

Para uma   panorâmica satisfatória   desta  tendência, ver   Kuwct. 1967

Q U A D R O   19E X E M P L O   D E B I B L I O G R A F IA C O R R E S P O N D E N T E

C O M   O  S ISTEMA AUTO R-D ATA

Chomsky, Noam

1965a  Aspecls of  a  Theory of  Synsax, C ambridgc. Mass.. M .I.T.Press,  pp -  X X - 2 5 2  <tr. i l . in   Chomsky, ,V.. St/ggi Lin-guistici  2, Torino. Boringhieri. 1970).

1965b  «D e   quelques constantes  de ia théorie linguistique»,Diogène 51  (Ir.  i l .   i n .  A A V V . /problemi  atrualidelia   l ingüística,  Milano, Bompiani, 1968).

1970   «Deep   Structure. Surface Structure   a n d   SemanticInterpretation». in  Jakobson. Roman. org. . S iudies inOriental  an d  Genera l Linguistics,  Tóquio. TE C  Cor poration  fo r  Language and E ducacional Research, pp. 52--91; agora ire Steinbcrg &   Jakobovils, 1971, pp. 183-216.

Ka t z . Jcrrold   J .  &  Fodor. Jerry  A .1963   «The   Structure o f a  Semantic  Theory»,  Language   3 9

(agora   i n  Ka t z .  J . J .  &  Fodor.  J .  A ..  T h e  Structure  of/jmguagr- ,  Englewood C liffs. Preutice-llall, 1964. pp. 479 --518).

Lakoff,  George1971   «O n  Generalive Semanlics". i n  Sletnberg  &   Jakobovils,

1971, pp. 232-296.

McCawley, James

1971   «Whcrc do  noun phrases  come  from?».  in  Slcinbcrg& Jakohovits, 1971, pp. 217-231 .

Ruw ei, NfCOlas1967   Introditction ò la  g rammai re générative.  Paris. Plon.

pp.452.

Stcinberg. D. D . &  J akobovils, L . A . , orgs.1971   Semaniics :  A n Interdisciplinary  Reader  in  fhi losophy,

Linguistics  and  Psychology,  Cambridgc. CambridgcUniversity Press. pp. X-604 .

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c i t a d o  logo n o in íc io do capítu lo. Ser ia  necessário  inse r i r uma n ova

nota  e   mudar todos   os números a té ao 1 2 5

C o m  o s i s t ema autor -da ia  nào há  esse  p rob lema: bas ta inser i r n otexto  u m  s imp les  parêntese com  nome  e   d a t a , e   depois acrescentara  referência à   b ib l iog ra f i a g e ra l  (a   t inta  o u  apenas vol tando  a   escreve r  [passar ]  u m a   página ) .

M a s  não é necessário   chegar  à   tese  já   dact i lografada: acrescentarnotas mesmo durante  a redacção põe  espinhosos problemas d c renume-ração. enquanto c om o  s istema autor-data  não haverá  aborrecimentos.

Embora   e le se  d es t ine   a   teses   b ib l iog ra f icamenie mui to homogêneas , a   b ib l iog ra f i a f ina l  p o d e   também  r ecorre r  a múltiplas   abreviaturas  n o qu e  r espe i t a   a  r ev i s tas , manua is  o u   actas.

Ve j amos dois exemplos   d e   duas b ib l iog ra f i as , uma   de c iênc ias

naturais  e   outra  d e  m e d i c i n a :

Mcsnil. F. 18%. Éiutles d e  motpho iog ie ex ierne. rhr.z  le s Annélides.  B u l i .  Sei.Franee B elg. 29: 110-237.

Adlcr. P .  I95H.  Studies o n  the Empiion  of  Itíé  Permanent Teerh .  Acta  ( ienet.et Statist. Meti;. 8:  78 :  94.

N ã o m e  p erguntem  o qu e   isto quer dizer. Parte-se   do pr inc ípiode   qu e  quem  lê  este   t ipo  de pu blicações já o  sabe.

V . 5 .  Adv e r tê n c i a s ,  r a t oe i r a s , c os t u m e s

São inúmeros os artifíc ios que se  u s a m  n u m  t raba lho  c ientíficoe inúmeras são as  ra toe i ras  e m qu e s e   pode   ca i r . Dent ro  d os   l i m i

tes deste  breve   es tudo, fornecemos apenas , numa ordem d ispersa ,

u ma   sér ie de advertências que não   esgotam  o «mar dos Sargaços»qu e  é necessário  a t ravessar  n a r e da cç ão de u ma  tese. E stas brevesadvertências servirão tâo-só   para tornar  o  le i tor consciente  d e u m aquant idade  d e   outros perigos   qu e   lera   de   d escobr i r  po r s i própr io.

Não   indicar  referências e fontes  para   noções de   conhecimentogeral.   N ào   passar ia pe la   cabeça de n inguém   escrever  «N a po le ãoque, como d isse Ludwig , morreu   e m  Santa   H e lena» mas . f reqüentemente, cometem-se ingenuidades deste   gênero. É fácil  d i z e r  « osteares   mecânicos que . como d isse Ma rx. ass ina laram  o   advento  d a

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revolução indu str ia l », qu a n d o s e  t ra ta  d e  u ma  noção  un iversa lmente

aceite, mesmo antes   d e   M a r x .

Não   atribuir  a um  auto r  um a   idé ia que e le  apresenta   como idé iade   ou trem.  N ão s ó   porque fariam f igura   d c quem  se   se rv iu inconsc i entemente  d e u m a  fonte   d e   segunda   m ão. mas também   porqueaque le au tor pode   ter referido essa  idéia  s em   p o r  isso a  aceitar.  N u mp e qu e n o m a n u a l  qu e  escre vi sobre   o   s igno, referi entre   as váriasclassificações possíveis,  aquela   qu e  d i v i d e  o s  s i gnos  c m  express ivose   c om u n i c a t i v os ,  e nu m exerc íc io un ivers i tár io  encont re i escr i to« s e gu n do   E c o ,  o s   s i gnos d iv idem-se   e m  express ivos  e  c om u n i c a t i v o s » ,  quando eu sempre recusei esta  subdivisão  por demas iado g ros se i r a :  c i t e i - a   p or  u m a   questão de  ob j ec t iv idade  mas não a  adop te i .

Não   acrescentar  ou   eliminar  notas  só   para   acertar  a   numera

ção.  Po d e   acontecer que, na  tese   passada  à máquina (ou  mesmo  s im

p lesmente red ig ida   d e u m a  forma   legíve l  p a r a   a dac t i lógra fa ) , se

t enha d e  e l im ina r uma nota qu e s e  ve r i f i cou es tar er rada  o u d e  ac res

centar out ra   a   todo  o   cus to.  N e s t e   caso. toda   a numeração   f i car i a

e r rada , m a s  tanto melh or se se  numerou  capítulo por capítulo e não

desde   o pr inc ípio a té ao f i m da  t ese   ( u m a  c o i s a   é  corr i g i r  d e u m a

d ez   e   ou t ra  d e u m a cento e c inqüenta ) .  Poderia ser-se tentado, para

ev i tar muda r todos  os números, a   inser i r uma nota pa ra encher , o u

e l i m i n a r  ou t r a .  É   h u m a n o .  M a s   nestes casos  é  m e l h or i n t r od u z i r

s ina i s  ad ic iona is como   w . +. + +. e   a s s i m p o r  d i a n t e . E   certo  qu e

i s to  te m  aspec to  prov isór io e   p o d e   d esag radar  a o  orienta dor, p elo

que, n a  med ida   do possível, é  me lhor acer tar  a nu meração.

Há um método  para   citar  de  fontes  d e  segunda  mão,  obsenwidoas   reg ras  de correcção científica.  É  sempre melhor  n ão  c i t a r de   f on

te s  d c s e g u n d a  rnão, mas po r vezes não se  p o d e  ev i iã- lo. Há   quemaconse lhe dois s i s t emas. Suponhamos   qu e   Sedane l l i  c i ta   d e   Smi tha   a f i rmação de qu e «a   l i n g u a g e m  d a s  abe lhas  é traduzível em   termo s   de gramática i r ans formac iona l» .   P r ime i ro caso: in te ressa-nosacentuar  o   facto  d e  Sedane l l i  a s sumi r e le própr io a  r esponsab i l idadedes ta  afirmação;  d i remos   então em   nota , co m u ma fórmula   poucoelegante:

1. C . Sedan elli. //  l ingitaggio delle  api .  Milano. Gastaldi.  1967. p. 45 (refere

C-   Smiih, Çhomsky  an d Bees ,  Chauan ooga. Vallcchiant Press. 1966.  p. 56) .

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Segundo caso: in te ressa-nos focar  o fa e to de a a f i rmação ser de

Smilta   e só   c i t a rmos Sedane l l i para f i carmos  de consciência   t ran

qüila, d a d o  qu e  estamos  a  u t i l i z ar uma fonte  d e  segunda   mão:  escre

veremos  então em  nota :

1.  C.  Smiih. Chomsky w u i Bees ,  Challanooga. V allcchiara Press. 1966. p . 56(citado por Sedan elli. //  linguiiggio delle api, M i lano. Gastaldi.  1967, p. 45}.

Da r  sempre   informações  precisas  sobre as edições cr íticas, recen-sões e   similares.  P rec i sar  sc uma edição é edição cr ít ica e  o r g a n i z a d a   p o r  quem. Prec isar  se   uma segunda   edição ou  ou t ra  é   r ev i s ta ,

ampl i ada  e  corr i g ida , pois d e   outro modo pode acontecer   qu e s e  a t r i

bu a m  a u m  autor  opin iões que e le  expressou   na edição   revista   e m

1 9 7 0  d e  uma obra escr i t a  e m   1940 como  s e e le a s   t ivesse expressoem 1 940, quando p rovave lmente de te rminadas descober tas a indan ão   t inham sido feitas.

Atenção   quando  se   cita  um  auto r  antigo  d e fontes  estrangeiras.Culturas  d iversas  dão   nomes diferentes   à  mesma personagem.  O s   franceses di/.cm Pierre d^spagne enquanto   nós não   di/.emos Pedro  d eE s p a n h a  m a s   Pe d r o H i s p a n o . D i z e m Sc o t  Er igòne c nós   d i zemosEscoto Er ígeno. Sc se  encont rar em inglês  N i c h o l a s o f  C u c s , trala-sed e N i c o l a u  d e   C u s a   ( ta l  como  saberão com  certeza re conhecer p ersonagens como Petrarque.  Pctrarch, M i c h e l A n g e ,  V i n c i  o u  B occace ) .Robert Grosseteste  6 entre  n ós  Roberto Grosseteste  e   A lber t L e  G r a n d

ou   A lber t  th e  G r e a t  sã o  A l b e r t o M a g n o .  U m   m is te r ioso Aqu inas  éSão Tomás de  Aquino. Aquele que para  os  ingleses e alemães é Anse lmde   (of, vòn) C a n t e r b u ry  é o   nosso Anse lmo  d e   Aos t a . N ã o  falem  dedois p intores  a propós ito de   Rogcr van   d e r  W e y d e n   e d e   Rog ie r d e l aPasiurc,  pois  são   u ma  e a   mesma pessoa.  E . na tura lmente . G iove  éJúpiter. Também é p rec i so  atenção  quando s e  transcrevem nomes   rus

sos  d e   uma fonte francesa antiquada: não haverá   problemas  n o   casode  Estaüne ou l-énine.  ma s  terão vontade  de  cop iar Ouspensky quandoactualmente  se  t rans l i te ra Uspen sk i j . O   mesmo  sc  pode d izer para  asc idades :  D e n  H a a g , T h e  H a g u e  e L a  H a y e  são  H a i a .

Como fazer para saber es tas coisas ,   que são   centenas  e   centen a s ?   Lendo sobre  o   mesmo tema   vários   textos   em várias línguas.Paz.endo parte  d o  c lube .  T a l  como qua lquer adolescente sabe  qu eSatchmo é Lou is Armsrrong e  qualquer le i tor de jornais sabe  q u e  Forte-bracc io  é  M a r i o M e l l o n i . Q u e m   nã o   sabe estas coisas   fa z   f i gura   de

196

novato  e d e  p r ov i n c i a n o ; n o  caso  d c uma tese.  ( c omo aque la  e m qu e

o   c a n d i d a t o , após te r   folheado uma fonte   secundária  qua lquer , ana

l isava  as relações   ent re Arouct e   Vol ta i re ) . e m v e z de « p r ov in c i a n o »

chama-se   « i gn or a n te » .

Decidir   como fo rmar  os  ad jectivos  a  partir  dos nomes p rópr iosestrangeiros.   Se   escreverem  «volta ir iano» te rão  l ambem  d e   escre

ve r  « r imb a u d ia n o » . Sc  escreverem  « v o l t e r i a n o » ,  escrevam  então,

« r imb od ia n o » ( ma s o  segundo uso é   a rca ico) .  Sã o  consent idas  s im

plificações   como  « n i t z i a n o » ,  para  n ão   escrever  «n ie tzscheano» .

Atenção aos números nos   livros ingleses.  Se   num l iv ro amer i

c a n o  está   escr i to 2 ,625 , i sso s i gn i f i ca dois   m i l seiscentos  e   v in te   e

c i n co ,  enquanto  2 . 25  s i gn i f i ca d ois  vírgula   v in te  e  c inco.

Os italianos  escrevem   sempre   Cinquecenlo,  Se ttecento ouNovecento  e não século  XVI,  xvm ou   XX . M a s se  n u m l i v r o  francêsou   inglês   aparece  «Quattrocento» em   i t a l i ano, i sso  re fere-se   a u mper íodo p rec i so d a  cultura italiana   e   g e ra lmente f lorent ina . Nad a  d eestabelecer   equivalências fáceis   entre termos   de l ínguas   d i ferentes.A  « r ena issance» e m inglês  cobre  u m pe r íodo  d i ferente  d o  r e n a s c i mento i t a l i an o, inc lu indo   também   au tores  do século   xv n . T e r m oscomo  «ma n n e r i s mo» ou «Ma n i e r i s mu s » s ão  enganadores ,  c não sereferem   àqu i lo que a h is tór ia da  a r te i t a l i ana chama  «manicr ismo».

Agradecimentos   —   Sc  alguém, além do  orientador, v os  ajudou, com

conselhos orais,  empréstimo de  l ivros raros ou   co m  apoio  d e  qualquer

outro gênero, é  costume inserir  no f im ou no in ício da  tese  uma nota

de agradecimento.  Isto serve  também  para mostrar  que o  autor d a  tese

se deu  a o trabalho d e  consultar d iversas pessoas,  o d e  ma u  gosto ag ra

decer   a o  orientador. Se vos   ajudou, não fez   mais  qu e o   seu dever.Poderia ocorrer-vos agradecer ou declarar a vossa  dívida  para com

u m estudioso que o  vosso orientador odeia, abomin a  e d espreza . Graveincidente   a c a dê mic o. M a s  seria   p o r   vossa cu lpa . O u têm conf iançano orientador e se e le  d i sse q u e  tal estudioso é u m  imbec i l , nào  d eve riam  consultá-lo. ou o  orientador  é  uma pessoa aberta  e   aceita  que oseu   a luno recorra  também a  fontes  dc que e le  d i scorda  e,  neste caso,j amais   fará  deste fa eto matéria d e discussão, quando da defesa   d a   tese.O u  então o   or i entador  é u m  ve lho man dar im   irascível,  inve joso  edogmático e não   deviam fazer   a  tese  c o m  u m indiv íduo  deste  gênero.

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M a s  s c qu i s e r e m fazê-la   mesmo  c om e l e  porque , apesar  d os  seusdefeitos, lhes parece   u m b o m  protector.  então   sejam coerentementedesonestos   e não c i t em  o   outro, pois   terão  escolh ido  se r da raça dovosso mestre.

V.6 .  O   o r g u l h o  c ient í f ico

E m  IV .2 .4 .  fa lámos d a  h u m i l d a d e c ient íf ica , que d iz  r espe i to  a o

método de   p esqu isa   c  le i tura  d e   textos. Agora falamos   d o   orgu lho

c ient í f ico, que di z  r espe i to  à coragem  da r edacção.

N ão h á   nada mais i r r i t ante   d o q u e   aque las  t eses  ( e po r  vezes

acontece  o  mesmo  c o m  l i v ros publ icados )  e m qu e o au tor ap resenta

constantemente   excusaliones  no n  pel i tae.

Nào  sumos qualificados para abordar um  tal assunto, todavia, queremos  avan-çar  a  hipótese de...

O   que é  isso  de nào ser  qua l i f i cado? Ded ica ram meses  e   talvezanos  a o   l ema escolh ido, p resumive lmente l e ram tudo  o que  h a v i a  aler sobre isso. pensaram nele, tomaram apontamentos,   c  agora apercebem-se  dc que não süo   qua l i f i cados?   M a s o q u e é q u e   f izeramdurante   todo este   t empo?   Se não se  sent i am qual i f i cados ,  nã o   apresentassem  a   lese.  Se a  ap resentaram,  é  porque   se   sent i am preparado s  e.   seja como  for. não têm   d i re i lo  a   atenuantes. Portanto, u m avez expostas  as opin iões dos   outros,  u m a ve z  expressas  as   d i f icu l

dades ,  u m a v ez   esc larec ido  se   sobre  u m  dado t ema  são possíveisrespos tas a l t e rnat ivas ,  lancem-se para   a frente.  D i g a m ,  tranqüilamente:  « pe n s a mos qu e » ou « pode  cons iderar - se  q u e » . N o   momentoem   que estão a   falar,  são o   espec ia l i s ta .  Se s e   d escobr i r  que sãou m  f a l so espec ia l i s ta , t anto p ior para voe is ,  mas não têm o  d ireitode hesitar.  Vocês são o   representante  d a   humanidade   qu e   f a la  c m

nome   d a  colect ividad c sobre um determinado assu nto. Sejam modestos e   prudentes antes d e   abr i r a  boca . mas , quando  a   abrirem, sejamarrogantes   e  orgu lhosos .

Fazer uma  t ese   sobre  o   t ema   X   s i gn i f i ca p resumir  que até entãoninguém   t ivesse dito nada   de tão  comple to  n e m de tão  claro sobreo  assunto.  Todo este   l i v r o  vo s   ens inou   a   serem cautelosos   n a  esco

lh a   d o   t ema.  a   se rem su f ic i entemente persp icazes para   o   escolhermui to l im i tado, t a lvez mu i to  fácil,  t a lvez  ignóbi l monte sector ial.M a s sobre aquele  qu e   escolheram, nem q u e  l enha  p or líiulo  ariações

19S

na venda de jornais  d iár ios no quiosque   d a  esquina  d a V ia   Pisacane

com a Via  Gustavo Modena   de 24 a 28 de Agosto d e 1976.  sobre

esse  d evem  s er  a máx ima   autor idade v iva.

R   mesmo  qu e   t enham escolh ido  u m a  tese   de compilação que

resume tudo  o que fo i   d ito sobre   o   t ema   s e m   ac rescentar na da  d e

novo.  serão  uma autoridade sobre a quilo qu e fo i  d i to p or  outras auto

ridades.  N inguém deve   saber melhor  que vocês   tudo aqu i lo que fo i

d i i o  sobre  esse   assunto.

Ev identemente ,   deverão te r  t raba lhado  de   modo  a   ficarem  c o m

a  consciência tranqüila. M a s  isso é  ou t ra coisa . Aqu i es tamos  a   falar

de   questões de   es t i lo . N ã o  se j am lamechas  ne m embaraçados ,  por

que isso aborrece.

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Atenção: o capítulo se guinte não foi composto e m   tipografia,m a s   escr ito à máquina. Se rve  para   vos mostra r um mode lo de r edaccão   definitiva   da te se . H á  ainda  e r ros e correcções, po is nem eune m   vocês somos perfeitos.

A  r edaccão  definitiva   compor ta do is momentos: a r edaccão  finale   passar  à máqu ina .

Aparen temente ,  a r edaccão f ina i é uma  tarefa   que vos cabe e umproblema   conceptual, enqua nto a cópia diz respe ito à da cti lógrafae é uma   tarefa   manua l . Mas não é bem  assim.  Da r  forma   dacti lo-

grafada   a uma t e se  significa   também   algumas  opções de método.S e  a da cti lógrafa   as faz  em vosso lugar, seguindo os seus cr itér ios,isso   não imped e que a  vossa   tese  tenha   um método gráfico-exposi-iivo   que decor re também do seu conteúdo. Mas se , como é de espe ra r ,  estas escolhas  forem feitas por vocês,  seja   qua l for o t ipo deexposição   adaptado  (à mão, ã máqu ina só com um dedo ou —  hor

ror —   para   o gravador) e la deve já conter às instruções gráficaspara   a dacti lógrafa.

Eis   porque neste capítulo encontra rão instruções gráficas queimplicam   quer uma ordem conceptua l quer um «cunho comun ica -tivo»  da vossa  tese.

Até porque não   af i rmamos  que se  deva necessariamente  en tregara   tese a um a dact ilógra fa . Poderão se r vocês a passá- la , sobre tudose   se   t ratar  de um   t rabalho  que exija convenções gráficas pa rticulares.  Além   d isso,  p ode   ainda  dar-se   o caso de poderem passá- lauma primeira   vez, deixando apenas   à da cti lógrafa o  t rabalho  d e afazer  com perfeição e   asseio.

O problema é se  sabem   ou se conseguem   ap render  a escrever àmáqu ina : d e r esto, uma máqu ina por tát il pouco  mais custa   do quepagar   o  t rabalho  a uma d act i lóg ra fa .

201

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V I . A REDACÇÃO DEFXKXTIVA

V I . 1 .  Cr i tér ios grá f i cos

VI.1.1. Margens « espaços

Este  c apítulo in ic ia -s e coa o tít ul o, em MAIÚSCULAS, alinh ado à esquerda

(nas poderia também ser centrado a meio da página). 0 capítulo leva um núms

ro de ordem, neste caso eo números romanos (veremos depois as alternativas

p o s s í vç i » ) .

Seguidamente, deixando três ou quatro linhas ea branco, aparece alinhado

i   esquerda, s ublinhado , o títu lo do parágraf o, que tem o número ordin al do

capítulo • o número ca rdin al que o di fe renc ia. Vea depois o tí tulo do sub?a

r i g r s fo ,  duas lin has abaixo (ou  a   dois espaços): o título do subparigrafo

não é sublinhado, para o dis tin guir do do parágrafo. 0 texto ccoeça três l i

nbas abaixo do   t i t u l o ,  e a primeira palavra do parágrafo e rec olhida dc dois

espaços. Podo dec id ir- se proceder assin . apenas quando se  abre  parágrafo, co

mo estamos a fazer a qui .

Este  rec olhim ento quando se  abre  parágrafo í importan te porque permite co^

preender imediatamente que o parágrafo ant erio r terminou e que o dis cur so í

retomado depois de uaa pausa. Coco já vimos, í conveniente faz er parágrafo

com   freqüênc ia, mas não se deve fazê-l o ao acaso. Do parágrafo si gn if ic a que

um período contínuo, composto de várias fra se s, chegou organicasen te ao seu

termo e que se  i n i c i a  uma outra parte do discurso. E como se estivéssemos a

fa la r e nos interrompêssemos a dada altu ra para dii or:"E stã o a compreender?

Dc   acordo? Boa, entao pro3s igaa os." Ema vez que todos estão de acordo, fa *-

-s e pará grafo e prosse gue-s e, exactamente como estamos a fa2er agora .

Terminado  o parágrafo, deixar-sc-ão entre o fia do texto e o título do no

vo parágrafo ou aubparSgrafo outras três linhas (três espaços).

202

Esta  página está d aeti lografada a  tinis  espaços. H uitas teses sao a tres tfs_

-os, pois assim ficam mais leg íveis • s ais volumosas, sendo ao mesmo tempo

s f ác i l sub sti tuir uma página a refaxer. Ko caso de escr ita a trás espa

ços, a dis tan cia entre título d* capítulo, título de parágrafo c outros títu

tos   eventuais, aumenta uma  l inha.

Se a tese for passada por uma dac tilÕg rafa. ela  sabe  quais as margens que

í necessá rio deixar dos quatro lados . Se forem vocês a pas sá -la, pensem que

as páginas irão ser encadernadas de qualquer maneira c que terão de permane

ce r  l eg ív ei s do lado em que forem cola das . Recomenda-se também que se deixe

um   cerco espaço ã  d i r e i t a .

Este  capítulo s obre crité rio s grá fic os , como certamente já percebera^, nao

está ea caracteres t ipog ráfi cos , reproduzindo nas suas paginas, dentro do

formato desce  l i v r o ,  as páginas dacti log rafadas dc uma tese. T rata -sc , por

tanto,  dc un capítulo que, enquanto fala da vossa tes e, fa la também de s i

próprio. Sublinham-se aqui certos termos para existrar cooo e quando eles de

vem   ser sub linhad os, 'inserem-se notas para cost rs r como elas deven ser ins e

r idas ,   subdividea-se capítulos e parágrafos para nostrar o critério di subdi_

visão de cap ítulos , parágrafos e subparagrafos.

VI .1 . 2. Sublinhados e maiúsculas

A  máquina de escrever não possui o caracter itálico, mas apenas o redondo.

Por este motivo, aqui lo que nos l ivros está ea   i t i l i c o ,  numa tese  l i c e n -

iatura  deve ser sublinhado. Se a tese fosse ua trabalho dactilograíado pira

pub l i car ,  o tipograf o comporia en itá li co todas as palavras sublinhada ».

0   que se sublinha? Depende do tipo de tese, mas, ea geral, oe   c r i t e r i o *

os seguintes:

pal avr a* est rang eira s dc uso pouco comum (não se sublinV.am as que J a es

tão aportuguesadas ou sao d« uso c orr ent e: bar, s port , mas taabea boom ou

203

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crack;  numa tese «ob re astr onáuti ca, já nio sc s ublinham termos corrantcs

nesse domínio, coao aplash dovn);

b) BOMI cien tífic o coao fe li s catus, cuglena vir id ís . c lc rus apivorus;

c) termos téc nicos que se queiram acentuar: "o método dc carrotaeera nos pro

cessas de prospecção petrolífera. . . " ;

d) frases inteiras   (desde  que não sejas  demasiado  longas)  que con stituas o

enunciado  de uma tese ou a sua demonstração conclusiva: "queremos portão

to demonstrar que se processaram profundas rsodífiçaçõss na definição de

'doença menta l 1* 1;

e ) títulos de l ivro s (não os títulos dos capítulos ou dos ensaios de revis

tas) ;

f) títulos de poesias, obras teatra is, quadros c esculturas : "Lúcia Vaina-

-Pusca ref ere-s e a Knoyledftc and SeUe f da  Hintifcka  para demonstrar, no

«eu ensaio 'La theorie des mondes possibles dons 1'etudc des textes - Bav

d c l a i r e  lecteur de Brueghel', que a poesia Les aveugles de Baudclaire sc

i nspi ra  na Parábola dos Cegos de Brueghel";

g) t ítul os de diários e semanários: "ver o artig o "E depois das eleiçõ es? ",

publicado no L'Eipresso de 24 de   Junho dc 1976";

h) títulos de fi lmes, canções e Óperas líricas.

Atenção: nao sublinhar as citacoftS de outros autores, aos quais se   aplicai:

as regras enunciadas ço V. 3. ; ntm sublinhar trechos superiores a duas ou três

l i nha s :  sublinh ar demasiado acaba por ret ir ar toda a eficác ia a este meio.

Dn  sublinhado deve sempre corresponder a entoação especial que se daria ã

vo z  se se lesse o toxto, deve atr ai r a atenção do destinatá rio cesmo que, por

acaso, este sc tivesse distraído.

Em cultos l iv ros , a par dos itálic os  (isto  S, dos sublinhados) uti l iza-se

também o ve rs al et c que ê uma maiúscula de corpo menor do que a ut il iz ad a HO

i n i c i o  das fras es ou nomes próp rios . Como a maquina de es crever não tem este

2 0 4

caracter ,  podeis usa r*se (com muita pnrcimõnial) a maiúscula em palavras

isoladas de parti cul ar importância técnic a. Keste caso, es crever-se-ão ca

MIÜSCULAS as palavras-c have do trabalho c snblin har-se-ão as fras es, as pa

lavras estrangeiras ou os títulos. Vejamos um exemplo:

H jelmslev chama FUNÇÃO SÍGNIC& ã cor relaç ão es tab elec id a entte

os dois ÊinmvOS pertencentes aos dois planos, quanto ao resto

independentes,  da EXPBESSÀ0 e do C0NTEÜD0.   Esta  definição pÕe

etn  causa a noção de signo como entidade autônoma.

É cl aro que cada vez que se intro duzi r um temo técnico em versa lete (aai

i s to   ap li ca -s c também no caso de se usar o método do sublinh ado), o termo

introduzido  em ver sa let e deve s er de fin id o ou imediatamente antes ou imçdia,

tagente a  seguir.  Seo   u t i l i z c a  os versaletes por razões enfáticas  ( aquilo

que descobrimos parece-nos DECISIVO para os f in s do nosso dis cu rs o") . De uma

maneira  ge ra l, nao enfa tizem de modo nenhum, não usem pontos de exclamação

ou  reticências (a não ser para indi car a interrupção de un texto citad o).

Pontos de exclamação, reticênc ias c m aiúsculas util iz ad os eo termos não  tec

nícos são próprios dos escr itor es di leta nte s e sÕ aparecem em edições do

autor.

VI .1 .3 . Parágrafos

Um parágrafo pode ter subparágrafos, coso neste cap ítulo. Se o título do

parágrafo estiver sublinhado, o título do subparájrafo di ferenciar-se-á pornão o est ar, e iss o será o suf icie nte, mesmo que a dis tanc ia entre título o

texto  sej a sempre a mesma. Por outro la do, como se pode ve r, para di st in gu ir

o parágra fo do subparãgrafo intervém a numeração. 0 le it or compreende muito

bem que o número romano   indica  o capítulo, o primeiro número árabe  ind i ca  o

parágrafo e o segundo o sub parãgrafo.

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IV . 1 . 1 .  Parãp.rafos - R epete-se aq ui o títul o do subparãgrafo pata mostrar un

outro sistem a: o título faz parte do corpo do parágrafo e c sublinha do. Estç

aistcma  ê perfeitamente possível, mas impede-vos de  u t i l i z a r  o mesmo  a r t i f i

c io   pata uaa ul te ri or s ubdivisão dos subparãgrafos, o que por vezes ter. a

sua util ida de veremos oeste mesmo ca pítu lo).

Poderia usar -se um si ste aa de numeração sem títu lo s. Vejamos uaa maneira

como   o  subparágrafo que estão a ler poderia ter sido introduzido:

XV.1.1,.  0 texto teria começado imediatamente a seguir eos números e toda a

l inha  ficaria separada por duas l inhas do parágrafo anterior. Todavia, a pre

sença de títu los nao só ajuda o l ei to r, mas poo una exigência de  cocrcnci*

ao  auto r, porque o obriga a de fi ni r com um  t i tu lo  ( e , portanto , a ju st i f i car

com a relevância de uaa questão essenci al) o parágrafo ea causa. 0 títu lo

mostra   que o parágrafo   t inha  uaa razão de ser enquanto parágrafo.

Com   títulos ou sea e les , os números que assinalam os capítulos   e   paragrs-

fos podea ser de catureza div ers a. Remetemo-los ao parágrafo V I. 4. , "0 Índi

co"» onde encontrarão alguns modelos de numeração. Semetemo-los para o índi

ce porque a organização do índice dtve ref le ct ir com exactidão a o rgani ra;i»

do texto c vice-versa.

VI.1 .4. Aspas   e  outros sinais

As aspas uti l izam-se nos seguintes casos:

a) citação de frase ou curto período de outro autor no corpo do parágrafo,

como faremos a gora, recordando que, segundo Campbell e Ba il ou,   "a s  e i t i "

ções di recta s que não ultrapassarem as três linh as dactilo grafadas são *£

cerradas entre aspas c aparecem no texto"*;

1. tf.C. Campbell e S.V. Bai lou,   Form  and Style - Theses, Rgports. Tem

pers. 4 a  ed., Boston, Koughton M i l f l i n ,  1974, p.40.

20A

) c itações de palavra s iso lada s de outros autor es, como estamos a fazer ago

r a  ao recordar que segundo oa citados Campbell e Bailou, as nossas aspas

chamam-se "quo tati on marks" (mas como se t rat a de um termo estra nge iro po

deremos também escrever "quota tion ma rks"). Evidentemente, sc ac eit ar

mos a terminolo gia dos nossos autores e adoptaraos es te termo técn ico, já

não escreveremos "quot atio n m arks", mas quota tion m arks, ou mesmo, num

tratado sobre os costumes tipográficos anglo-saxónicos, QUOTATION  MARKS

(dado  que se tra ta aqui de um termo técnico que  const i tu i  uma das cat ego

rias do nosso estudo);

) termos de uso comum ou de outros autores a quem queiramos a tr ib ui r a cono

taçao de "assi m chamado". Ou seja, escreveremos que aquil o que a es téti ca

i d ea l i s t a  chamava "poesia" nao  tinha  a mesma extensão que o termo técnico

POESIA assume no catalogo de uma casa editora, enquanto oposto a TROSA

e  EKSAlSTICA.  Da mesma maneira diremos que a noção bjelm slevían a, dc FUNÇÃO

SlCSICA  pÕe ea causa a noção corrente de "signo". Não aconselhamos a usar

aspss para dar ênfase a um termo, como alguns pretendem, porque nesse c a

so recorre-se ao sublinhado ou às aspas 'simples*.

> citações dc falas dc obras dc teatro. £ certo que se pode dizer que Hamlet

pronuncia  a fala "Ser ou não ser? Eis a questão"» aas eu aconselharia, ao

transcrever um trecho teat ra l, a dis po-lo do seguinte sodo:

Hamlet - Ser ou não sar? Eis a questão,

a menos que a li ter atu ra c ríti ca específic a a que se recorre nao use  t r a

dicionalmente  outros sistemas.

Coco  fazer para  c i t a r ,  num texto aib eio entre aspas , om outro texto coe as

s?   Usam-se as aspas sim ples, como quando se d iz que, segundo  Smith,  " » ce -

re fal a 'ser ou nao ser'  constituiu  o cavalo de batalha de todos os intír

tes shakespeareonos".

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E   se  Saith  disse que Brovn disse que Kolfrso disse usa coisa? Ha quem resol^

va   este problema escrevendo que segundo a conhecida afirmação de  Smith  "todo*

aqueles que se referem a Brown quando afirma 'refutar o princípio de Volfraa

para quem^co ser e o nao ser   coincidem^',  incorrem num erro inj ust ifi cá vel. "

Mas se formos ver  V . 3 . 1 .  (regra  8), verificamos que, se a citação de  Smith

for colocada em corpo menor rec olhi do, consegue-se evi tar uma aposição de as

pas, podendo-nos assim   l imitar  a usar aspas simples c duplas.

Todavia,  no exemplo an ter io r encontrámos também as aspas chamadas <Jera angu

\c& ou de sargento ou ital ian as . Sao util izad as bastante raramente, até p or

que nao as há nas máquinas dc es crever. Num texto meu enc ortr ei-c e, todavi a,

na   necessidade de as   u t i l i z a r ,  pois tendo empregado as aspas dupl as para as

citações curtas e para as conotações de "assim chamado",   tinha  de di ferenciar

o uso de um termo enquanto significante  (pondo-o  /entre  barras/)  e o uso de

um  termo enquanto<Stitn£fiçado*. Disse assim que a palavra /cão/ si gn if ic a

«ar.imal carnívoro quadrúpede e t c ^ . Tr ata-s e de casos raros em que se deva to

mar uma decisão de acordo com a liter atur a crít ica a que se rec orre, uti li za o

do depois a caneta de feltro para corrigir a tesa jí dactilografada, tal cooo

f iz   nesta pagina.

Temas específ icos exigem outros s in ai s, nao cc podendo dar instruções de cr

dem geral. Para certas teses de lógica, de matemática ou de línguas não euro

péias , se não se tem uma dessas maquinas elêc triea s com alfabeto de esfera ms_

gnética  (onde  se pode in se ri r a es fera cem um dado  alfabeto)  só nos resta es

crever ã mão, o que indubitavelmente i mais c ans ativ o. Nos ca sos, porém, em

que se tem de esc rever uma formula (ou uma pal avr a  grega  ou russa)  una tgntur..

além de escrevê-la ã mão, existe ainda uma outra poss ibil idad e: no caso dos

alfabetos  grego  ou ci ríl ic o, pode-se trans iicerã -la segundo crité rios interna

cionais  (ver quadro 20), enquanto no caso da fórmula lõgico-matemática exi s

tem   freqüentemente grafimas alter nati vos que a máquina pode pr oduz ir. Deverão.

2 0 8

evidentemente, informar-se junto do ori entad or se podem efectuar esta s sub st itu i

ções, ou consultar a li ter at ura cobre o tema, mas vejamos, para dar um exem

p l o ,  uma sé rie de expressões lógi cas (à esquerda), que podem ser tra ns cri tas

cora  menos esforço na forma da   d i re i ta :

P 3 1 p as sa a p — q

P A q • p . q

p V q p y_ q

D ? •

O Pa y?

*>P «i •p(Vx ) •i (ÀX)

(3   x) ii (Ex)

As primeiras   cinco  substituiç ões seriam também aceitáveis para  imprimir;  as

ultimas   três são aceitáveis no âmbito de uma tese dactilog rafad a, fazendo-as

talvez anteceder de uma nota  i n i c i a l  que jus tif ique e torne explícita a vossa

decisão.

Poderá haver problemas semelhantes com teses de l ing üís tic a once um for.era

pode s er representado como £hj , mas também como / b/.

SoutroS tip os de formalizaçã o, sistemas de parênteses podem ser reduzidos a

seqüências de parênteses curvos, pelo que  a   expressão

{[ (p s q) A (q m> x)J=>  Cp 3 r) | pode tornar-se

< « p — » q ) . ( q — » r ) ) — * ( p — » r ) )Do mesmo modo, quem faz uma tese de l ing üís tic a tranaformacional  sabe  que

as disjunçõ es em arvore podem ser e tique tada s com parêntese s. Mas quem empreen

de trabalhos do gênero já  sabe  estas coisas.

VI,1 ,5. Sinais diacríticos e translitctações

Trans l i terar  si gni fic a transcrever um texto adoptando ua sistema alfab ético

2 0 9

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diferente do orig in ei. A trans literaçao nao ter: o objectiv o de dar uma inte r

pretação f onítica dc um texto, nas sim dc reproduzir o ori gi na l let ra por le_

tr a  de modo a que seja poss ível a qualquer pessoa r ec on st itu ir o texto na gra_

f i a  or ig in al mesmo conhecendo apenas os dois alf abe tos .

Recorre-se a transliteração para a maior parte dos nomes históricos e geo

gráf ico s e para palavra s que não têm correspondente em português.

Os sinais dj. içrí t icos  sao sinais acrescentados as letras normais do alfabe

to com o objectivo de lhes dar   um  valo r fonétíco partic ular.. As sim, sao tam

bém sina is di acríti cos os nossos acentos correntes (por exemplo, o acento  agu

do •' dá ao "e" no fi na l da palavra a pronuncia aberta dc J osé ). bem como

a cedilh a francesa "ç ", o ti l espanhol "H ", o trema alemão "I " c os sina is

menos conhecidos dc outros alf abe tos ; o  " 5 "  russo, o  "6 "  cortado dinamarquês,

o "Z" cortado polaco etc.

Huma  tese que não seja de literatura polaca, pode, por exemplo, eliminar-se

a harra no "1 ": em vez de escrever "Eodz", es crever-se-ã então "L odz"; c o

que fazem também os jornais. Mas, para as línguas latinas, geralmente  somos

mais exigentes. Vejamos alguns casos.

Respeitamos em qualquer l iv ro o uso de todos os si nai s parti cul ares do al

fabeto franc ês. Estes sin ais têm todos uma tecl a correspondente, para as mi

núscul as, nas máquinas de escrever co rren tes. Para as maiúsculas , escrevemos

C_a_ira,  mas escrevemos E col e, e não Ec ole, A l a re ch erch e.. ., e não A" la   r e -

cherche . . . .   porque en francê s, mesmo em ti po gr af ia , as maiúsculas  não  sc acen

cuam.

Sespeitamos sempre, quer para  as   minúsculas quer para as maiúsculas,   o  uso

de três sinais particulares do alfabeto alemão: a,   o,   ü, s escrevemos sempre

Ü ,   e não uc (Führer, «  TIÕO  F uchrer) .

Respeitamos eo qualquer li v ro , quer para as minúsculas quer  para a.-; :»aiús-

çu las ,   o  uso dos sinais particulares do alfabeto espanhol: 3s vogais com  seen

2 1 0

to  agudo  e o n  com   t i l : n. Para o t i l do n minúsculo pode  u sar -se   o s inal

dc   acento circunflexo:  5 .  Mas nao o farei numa tese de literatura espanhola.

Respeitamos em qualquer l i vr o, quer para as minúsculas, quer para as   mai

úsculas o uSo dos sinais particulares do alfabeto português: as vogais com

t i l  e a consoante ç.

Para. as outras línguas c necessário dec idi r caso a caso, e como sempre a

solução será diferente consoante sc cite una palavra isolada ou sc faça a te

sc   sobre essa língua específica. Para casos isolados,*pode recorrer-se ãs con

venções adoptadas pelos jornai s ou pelos l ivro s não científic os. A letra d i

namarquesa ã vem por vezes expressa com aa, o y checo t rans forc a-s e era y_, o

í  polaco torna-se 1_ e assim por diante.

Apresentamos no quadro 20 as regras dc transcrição di ac rl ti ca dos alfabetos

grego  (que pode vi r transliterado em teses dc fi los ofia ) e cirl Üc o (que se£

ve para o russo e outras línguas eslavas, evidentemente pata teses que nao

sejam dc eslavística) .

211

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Q U A D R O  20

C O M O   T R A N  S L1TIÍRAR   A L F A B E T O S  N ÃO   L A T I N O S

A L F A B E TO R U S S O

M/m Irontl. M m Tr un 1

A  • n B P

B  6 b pP r

B  B V c c •r  r g T T t

il   x d y r uE   c e o * rE   è | X X ch

)K  x 2 u :: c

3  3 z 1

H   K 1 UI • 1V I  * 3 m m 16K  x k u H y,1  JI 1 b •>

M  M m 3 a tH   R n IOO  o o •

212

Q U A D R O   2 0 (Conlinuaçãot

A L F A B E T O   GRfcüO  A N T I G O

MAIÚSCULAS MINÚSCULAS 1TRAN5LITEKAÇÃO

A a aB i br YA 5 dE e 1Z c zH •n 5e t h

I i IK X C

A X 1M mN V nB X

O 0 dn K Pp P rx sT t

Y U üO P b

X X c h

P *Q u 0

ObiÉfvo(Õo: •  Tf = ngh

t*  = ncYS  =  ncsYX - n c h

213

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VI.1.6. Pontuação, acentos, abreviaturas

Mesmo entre os grandes edi tores , ha diferenças na utilização dos s ina is de

pontuação e na forma de por as pas, notas e acentos . I)e uma tese exíg e-s e uma

precisão menor do que a um trabalho dactílografado pronto para a tipog rafi a.

De qualquer forma, a conveniente estar informado sobre estes critérios e aplí

ca -lo s na medida do pos síve l. A tit ul o da guia damos aqui as instruções fo r

necidas paio editor italiano que publicou este livro, advertindo que, para

alguns c rit éri os , outros editores procedem de maneira dife rence. Mas aqui lo

que conta nao é tanto o cr itér io quanto a constância na sua apli cação .

?cr.tc?   g vírgulas. Os rcr.tcs c as vírgulas, runr.de  sz  se^er s  cícaçoas en~r-":

aspas, ficam sempre dentro das aspas, desde   <]W  estas encerrem um discurso

completo.  Diremos assim que  Smith,  a propósito da teoria do Kolfram, sc i n

terroga sc devemos aceitar :i sua o?in;ão do que "0 ser ê idêntico ao não ser,

qualquer que seja o ponto de vista em que o consideremos," Como sc vê, o cen

to fi na l f ie ? den tro das aspas , poi s a cita ção de Vlolfram também termina cem

um ponto. Pelo con trari o, diremos que  Smith  nao está de acordo com Wolfram

quando afirma que "o ser c idêntico 30 nao ser". E poremos o ponto apôs a < j_

tação porque ci a  const i tu i  apenas um trecho do período ci tad o. O nesmo se fa.

rã para as vírgulas: diremos que   Smith,  depois de ter citado a opinião de Vo l

fram,  para quem "o ser e idêntico ao não ser", a refuta excelentemente. Mas

procederemos de forma dife rent e c ita ndo , por exemplo• uma fa la como es ta:

"Nao penso, 'dis se, * que is so s eja pos sí vel ." Recordamos ainda nua não se usam

vírg ula s anteB de parêntese. Deste modo, nao escreveríamos "amava as palavras

matizadas, os sons cheirosos, (ideia simbolista), as sensações aveludadas"

mas sim "amava as palavras matizadas, os soas cheirosos (ide ia sim bol ista ).

as sensações aveludadas".

Chocadas. A chamada coloca-se a seguir ao sinal de pontuação. Assim, escreve,

remos:

214

A resenha mais satis fató ria sobre o tema, depois da de Vul piu s, 1  e

a de Krahehenhuel. 2 Este último não sat isf az todas as exigências a

que Papper chama "limpidoz",^ mas é definido por Crumpz^ como um

"modelo de perfeição".

centos_  . No ital ia no, as vogais a, i , o, u , sc acentuadas no final da palavra

acento  grave  ( e x . a c c a d r ã ,  c o s i ,  pero, gioventu). Pelo contrari o a vo-

'1 ,  sempre que no fim da palavra, pede quase sempre o acento  agudo  (ex.: p er-

,  po ich i ,  trentatré, affinche, ne,  pote)  salvo algumas excepções : è,  c i o l ,

c a f f i ,  te, ahima, ohima, pie, diè , s tiê , scirapanzl; note-se todavia que serão

raves os acentos de todas as palavras derivadas do francês como :  g i l i ,  cana-

, lacche,  bebe,  b igne, alem dc nomes como Giosue, MOse, NoS c outro s. Em ca -

o dc duvida, consulte-se um bom dicionário de ital ian o.

Os acentos tônicos (súbito,   p r i n c l p i ,  meta, era, dei , scçta, d i i , dãnno,

l l i a , . c i n t in n io  ) nao sao usados, excepção feita para súbito c   p t inc ip i  em

rases verdadeiramente ambíguas :

Tra pr inc ip i  c  p r inc ip i incert i  fa l l i rono i  moti  dei 1821.

Note-se que o E maiúsculo  i n i c i a l  de uma pala vra francesa nunca c acentu a

do (Ecole, E tudiant, Editíon c não teole, Êtudiant, Êdition).

As palavra s espanholas têm so acentos agudos: H ernández, Garcia Lorc a, Ve~

rÕn.

1. Por exigências de precisão, fazemos corresponder a chamada a nota, Mas

trata -se dc um autor im aginário.

2. Autor imaginário

3 .  Autor imaginário

A .  Autor imaginário

215

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— Q U A D R O  2 1

A B R E V I A T U R A S   M A I S l . S U A I S P A R A U T I L IZ A R B M N O T A  O U N O   T E X T O

Anon. Anônimou r i artigo  (nflo pata artigos d c  jornal, mas |>ara  artigos d c leis  c  similares)

1. l ivro  (por exemplo,  vo l. 1, l , 1, 1. l icapitulo,  plural  capp. (p or ve/es também c .  ni;is  em   evitou casos c .  quer di/or coluna]

col. coluna,  plural coll.  (ou c.)C l confrunlar.  ve r   lambem, referir-se aecl. edlcHo (prime ira, segundo; mus cm bibliogra fias ing lesas   ed .  quer dfeer  organizador,

editor ,  plural  eds.le.f;. (nos icxlos  ingleses) exctnpll gràtla,  por exemplo(Mi por exemplol i , . figura,  plural  l igg.k l folha, lambem  foi., foll. ou  í.  e IT.ihitl. ou   lambem  i fr idrm,  no   mesmo lugar (isin c,   mesma obra   L   mesma   página; se for ;i

mesma obra mas  n ao a  mesma  página, enlilo é (»/>. < r f,   seguido da   pág.)i,e. (nos  (extos   ingleses) id  est,  isto  é.  quer dizerInfra ver abaixo

lltl  ( ll lugar cilad oM.N manuscrito,  plural M S SN B note Itemn. nula   ( C A . :  ve r  ou  cf. n . 3).MS Nova Serien * número (por vezes  lambem  n.). mas pode-se  eviin r escrevendo  só o númeroop, cii. obra jú   cilada anteriormente pelo mesmo autorpatim aqui  e a l i (quando  não nos  referimos  a  nina  página   precisa porque  o  conceitu  é   Iratado

pelo autor em  toda   a  ohra ).

p.  página, lambem  pág.. plural pp.par.  parágrafo tuimbém  §ípseud.  pseudônimo, quando a atribuição a  um au lor é d iscutível  cscrcvc-se pseudof. c  v.  frcnle  e   verso  (página ímpar c  página par»s.d.  se m  data   (dc edição), também  s/dS.I.  se m  lueal  (de edição), também  s/dseg. seguinte, lambem sg.. plural  sg .  (e x.: p. 34 sg.)scc.  sceçãosic   assim (escrilo ass im mesmo pelo autor qu e   estou   a  c itar; pode  usar-se quer como medida

de   prudência   quer como s ublinhado irônico n o caro  de  erro s ign ificaiivo)Ni lA  Nota   d o  autor (habitualmente eutte  parênteses rÒCtOSJ  lambem  N . A.)NdT Nota   d o  tradutor (habitualmente entre  parênteses   rectos;  também N . T.)Ni lO   Nota  d o organizad or (habitualnientc entre  parênteses   reetos:  também N . O.)

q. quadrotab.  tabelair .  tradução, lambem  irad.  (pode sei seguido  d o nome da língua, do tradu tor ou d e  ambos)V .  verV .  verso,  plural  vv (sc se  cilarem tmiitus versos,  (• melhor  não  uti l izar v.  para   ver. mus

si m  of.);  pode  lambem dizer-se  vs.,  plnni) vss., mas   atenção para  não confundirCIIIII  a  abreviatura seguinte.

r.v.  versus. em op osição a (e,x.:  branco vs. prelo, branco vs.  prelo, branco  vv. prelo; maspode-se  lambem escrever branco/prelo).

viz,  (nos  textos  ingleses)  videlicel.  quer dizer, e   precisamentevol. volume,  plural  vols.  (vol. sign ifica geralmente um dado volume  d c uma obra  e m vários

volumes, enquanto vols. significa  o número dc volumes  de que se compõe a  obrai

NI*. l :siac unia   listadas abreviaturas mais comuns. Temasespecíficus   (paleogr.ilia, filologia   clássica e   nnxlenia.( J  lógica, matemática, elc. l  têm series  de   ahieviaiiiras particulares que   poderão apa*i>der-se   lendo  a   literatura

^   critica   respectiva.

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v I, i . 7 . Alguns conselhos dispersos

Kao exagerem com as m aiúsc ulas. Ê cla ro que poderão es crever o Amor e o

Calo  se estiverem a anal isa r duas noções f ilo sóf ica s precis as de um autor âtt

t i go ,   mas, hoje em di a, um autor moderno que fa le do Culto da Fam ília, sõ   uti

l i z a  as maiúsculas em tom irúnic"-  t>um  discurso dc antropologia  cu l t u r a l ,  se

quiserem dis soc iar n vossa responsabilidad e de um conceito que atribuem a o :

trom,  o preferível escreverem o "cul to ca fam íli a". Pode escrever-s e o Ressur

gimento c c Terciãrio, mas nao  vejo  por que nao escrever o ressurgimento   v  o

terc iãr io .

Escrever - se - i  Banco do tr abalh o e não Banco do Trab alho , o Mercado comum

de preferencia a Mercado Comum.-

Ei s  alguns exemplos de maiúsculas habitualmente consentidas e outras a

evitar:

A America do Norte, a parte norte da América, o mar Negro,  o monte Branco,

o Banco da ag ric ultu ra, o Banco de Nápoles, a Capela  S i s t i na ,  o Palácio Ma-

dama, o H ospital maior, a Estação cen tral (se I uma estação específ ica que

se chama desça maneira: pelo que fal arei s da Estação c entra l de líil ão e da

estação central de Soma),  a Magoa Carta , a 3ula de oi ro , a igreja de Santa

Catarina  e as cartas de santa Catarina, o mosteiro de São Bento e a regra de

sao Bento, o senhor Teste, a senhora Verduri n. Os ita lia nos costumam diz er

praça Ga rib ald i e rua de Roma mas em cercas línguas di z- s e Pl ace Vcndõrae e

Square Gay-Lussac.

Os sub stanti vos comuns alemães escrevem-se com maiús cula, como se faz ne s

ta   l íngua ( Qstp olitik, Kulturgcsch ichte) .

Dev er-s e-a por em minúsc ulas tudo o que sc puder sem comprometer a compre

ensão do texto: os ital ian os , os congoleses, o bispo, o doutor, o coronel, 0

habitante de Vareso, o habitante de BÓrgamo, a 2* guerra mundial, a paz de

2 1 8

Viena,   o prêmio Strega, o presidente da republica, o santo padre, o sul e o

norte.

Para usos mais precisos e melhor seguir  a   l i te ratura da  d i s c i p l i na  que se

estuda, mas util iza nd o como modelo os textos pub licados nos últimos dez anos,

Quando abrirem  aspas  fechem-nss sempre. Parece uma recomendação  i d i o t a ,  mas

trat a-s e dc uma das negligências mais comuns num trabalho dac tilog rafa do. A

citação começa e depois ja não se   sabe  onde acaba.

Não escrevam demasiados números em algaris mos árab es. Evidentemente es ta

advertênc ia nao tem razão de ser sc sc fi ze r uma tese dc matemática ou de

est atís tic a, ou se se citarem dados e percentagens prec isa s, lías no decurso

de uma exposição corre nte digam que um dado ex erc ito   t i n h 3   cinqüenta mil (c

não 50.0 00) homens, que uma dada obr a  c  em três (e não 3) volum es, a menos

que estejam a fazer uma citação b ibliográf ica preci sa, ca tipo "3 vo ls ." . Di

gam que as perdas aumentaram dez por cento, que fulano morreu aos sessenta

anos, que a cidade distava   t r inta  quilômetros.

Uti l izem   os algarismos nas data s, que S sempre prefer ível serem por exten

so: 17 dc Maio de 1973 e não 17/5/73, mas podem abrev iar e diz er a guerra de

14-13.  E claro <iue,  quando tiverem-de datar toda uma série de documentos, de

paginas de diár io, e t c , deverão  u t i l i z a r  datas abreviadas.

Di re i s  que um determinado acontecimento ocorreu as onze e   t r i n ta ,  mas escre

crevereis que, no decurso da experiência, 3s 11,30 a água   tinha  subido 25 cm.

Di re i s   : a m atríc ula número 7535, a cas a no número 30 da Rua  F i o r i Ch i a r i ,  a

pagina 144 do l ivro tal.

Por sua vez, os números romanos devem ser ut ili zad os nos s ítio s próprios :

o século  XIII,  Pio XII, a VI armada: Nao ê necessário escrever "XIIÇ", pois

os números romanos exprimem sempre ordinais.

Sejam c oerentes com as s ig la s. Podem escrever U. S.A . ou USA, mas se começa.

2 1 9

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rçm com I'SA continuem cem PCI e com RAF, SOS, FBI.

Atenção ao citarem no texto titu lo» dc l ivro s e de jor nai s. Se quiserem di

ser que uma determinada id ei a, citação ou observação esta no li vr o  i n t i t u l a

do T promessi spos i, ha as s eguintes soluções:

a) Coao se diss e no I  pro-es<:  sposi . . .

b) Como se diss e -.os rromessi spos i . . .

c) Como se diss e em I pre -es si spos i •••

Num discurs o continuo de tipo jornalí stic o, pre£ere-se a forma (b ). A fo r

ma  (a) S um pouco antiquada. A forma (c) é co rrec ts, embora por vozes c ans a

t i va .  Di re i  que sc poderã usar a íorma (b) quando se estã a fa lar de un l i vro ja c itad o por extenso e a (c) quando o título aparece pela prim eira vez

e e importante saber se cem ou oão o ar ti go . De qualquer modo, uma vez es co

lhida  uma forma, sigam-na sempre.   Z,   no caso dos jo rnais ,  veja-se  se o  a r t i

go faz ou não parte do tít ulo . Díx-se II Giorno, nas o Corriere del ia Seta.

0  Tempo ê um semanário, enquanto U Terpo é ua di ár io .

Kao  exacerba cor: sublinhados i nútei s. Sublir.^cr- as palavras estran geiras

nao integradas pe lo português como splash-dovn ou Einfühlunp. mas não su bl i

nhes sport, bar, flipper,   f i lm .  Ouando a palavra nao estã sublinhada, não tem

plura l ;  o film e sobre ghost tovns . Nao sublin har nomes de marcas ou de monumen

tos célebres : "os S pit fi re voltejavam aobro o Coldea Gate". Geralmente os ter-

moi  filoa Síic os utiU ado s em língua estrang eira, mesmo sublinhados , não so pões

no plur al e muito menos se declinam: "a s Erlebnts de que fa la H uss erl" , "o uni

verso das varias Cestalt". Kas isto não estã multo correcto, sobretudo sc de

pois ,   usando termos latinos, estes se declinam: "oeupar-nos-emos portanto dt

todos cs subjecta e não do subjectua único sobre o eual versa a experiência

perceptiva".  í melhor evita r estas situações difícei s utilizan do o termo por

tuguês c orrespondente (geralmente us a-se o estrangeiro para fazer a larde de

cultura) ou construindo a frase dc outra maneira.

220

Uti l izem   com cri téri o a alternância de ptdinai s e cardin ais , de númpror. rg

nanos e árabes. Tradicionalmente o número romano   indica  a subdivisão mais im

portar.te. Uma indicação como

XIIX.3

indica  o volume décimo t erce iro , terc eira parte-, o canto décimo ter ceir o, ver

so 3; ou ano décimo ter ce iro , número trê s. Poderia também eserev er-ae 13.3

e geralmente sem perigo de confusão, mas se ria estranho esc rever 3 .X IH . Se

se escrever Kamiet III,ii,28,  eoeprecndcr-se-ã que sc trata do verso vint e e

o i to  da cena segunda do terceiro acto; pode também escrever-se Hamlct 111,2,

2B   ( O U   Hamlet  III.2.28),  mas não H anlct 3,II,XXVI11. As tabelas , quadros es

tatís tic os ou mapas indicam-se como fi g. 1 ou q. 4 ou como fig . I « q. IV,

mas, por favor, no índice dos quadrei <• das f iguras mantenham o mesmo c ri té

r i o .  Se ut il i z a re i a numeração romana para os quadros, usem os algarismos

árabes p ara as fi gur as . Deste modo ve r-s c- a imediatamente a que se estão a

re fe r i r .

Releiam   o trabalho dactil oRrafad o Nao so para co rri gi r os erros de  dact i -

log raf ia (especialmente as palavras estrangeiras e os cones própri os), mas

também para ve ri fi ca r se os números das notas correspondem, t al como as pa

ginas dos livros citados. Vejamos algumas coisas que deverão verificar   abso

latamente:

Páginas: estão numeradas por ordem?

Referências intern as: corretpondem ao capítulo ou ã pagina certos?

Citações: estão sempre  entr i  a spa» ,  no princípio e no fim? A utiliza ção ia s

elipses, parênteses rectos • recolhimentos c sempre coerente? Todas as   c i t a

çoes   têm  a sua referencia?

Notas : a chamada corresponde ao número da nora7 A cota estã visi velm ente se

parada de texto? As notas eatão numeradas eonsecutivamente ou há saltos?

221

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3ib1  iof.t.if  Ia: os nomes eStao por ordem alf abé tico ? fuscram em alguém o nome

próprio em vez do apelid o? H a todos os dados necessários para iden tif ic ar o

l i v ro?   U ti li zo u-s e para determinados liv ros um sistema mais ric o (por exem

plo, numero dc pagina ou titulo da   serie)  ê para outros não? Distinguem-se

os l ivros dos art igos do revi sta   c  dos capítulos de obras maiores? Todas as

ref eren ci as terminara com um  ponto?

V I. 2.   A b i b l i o g ra f i a  f i na l

0  capitul o sobro a bi bli ogra fia deveria ser muito extenso, muito preciso

c muito cuidadoso. Mas   já   tratamos deste ass unto pelo menos em dois cas os.

Zm III.2.3.   dissemos coco se regi sta n as informações r elati vas a uma obra,

C   em V .4. 2. e V, 4, 3. dissemos como se  c i ta  uma abra e como sc estabeleces as

relações entre a citaç ão cm not« <uu no  texto)  e « b ib l iograf ia  f i na l .  Se vo]_

tarem  a estes tr ês parágrafos encontrarão tudo aqui lo que vos poderã s erv ir

para fazer uma boa bibliografia   f i na l .

Digamos de qualquer f oraa , e eo primeiro lugar, oue uma tese deve ter uma

b i b l i o g ra f i a  f i n a l ,  por mais minuciosas c prec isas cue tenham sido as reíers-i

cias era nota. Não se pode obrigar o le it or a procurar plgina por pagina a i a

formação que lhe interessa.

Para certas teses a bib lio gra fia c um complemento út il mas não dec isi vo,

para outras (que consi stem, por exemplo, e— estudos sobre a li te ra tu ra num

dado sector ou sobre todas as obras editada s e inédita s de um dado  autor)  a

bi bl iog raf ia pode cons titu ir a parte mais interessante. Nao nos referimos,

pois , às teses exclusivamente bib liográ fic as do tipo Os estudos sobre o fas

cismo de 19^5 a 1950, onde obviamente a bibliografia   f i na l  nao e um me io, m.»*

um ponto de chegada.

sô nos res ta acres centa r algumas instruçõ es sobre cot» :-c deve estrutura r

urra  bi bl io gra fi a. Ponhamos como exemplo uaa tese sobre Sertrand Rus se ll . A

2 2 2

b ib l i cgraf  ia   sub div idi r-s e-c ezi Qbrsg ce Bertra^xt P.usscll  ç  Obra a  iofc-e  itu:

trand  R us ie ll (poderá evidentemente também haver uaa secçao m ais gera l rte

Obras sobre a histó ria da fi lo so fi a do século XX). As obras de Bcrtrand Rus

s c l l  serão enumeradas por ordem cronológica, enquanto as obras sobre Bertraod

Russell  es tarão por ordem al fa bé tic a. A menos que o assunto da tese fos se Os

estudos sob re Rus se ll de 1950 a 1960 ea Ingl ater ra, caso em que, então, tam

bém a bib liog rafi a sobre Russel l poderia beneficiar eco a uti l ização de una

ordem cronológica.

Se, pelo contrário, se fiz ess e uma tese sobre Os católicos e o Aveutino. a

bi bl io gra fi a poderia ter uma divis ão do gênero: documentos c actas parlamen

tares, artigos de jornais e revistas da imprensa católica, artigos e revista»

da imprensa fas cis ta," artigos e revis tas de outros sectores políti cos , obras

sobre o acontecimento (o talvez uma secção de obras gera is sobre a hií tcr ia

i ta l i ana  da época).

Como sc compreende, o problema v ar ia com o tipo de tese , e a questãn estã

em organizar uma bib liog rafi a que permita distinguir c id enti f ica r fontes p ri

r-arias e fontes secundárias, estudos rigorosos e material menos digno dc cz%

d i t o ,  e t c .

Ea   definitivo, e I luz de tudo o que se disse nos capítulos anteriores, os

objectivos de uaa bib liog rafi a são:  (a )  tornar reconhecível a obra   a   que vos

refer is; (b) f ac i l it ar a sua localização e (c) conoter famiüaridade coa os

usos da di sc ip li na era que- sc faz a tes e.

Demonstrar fam ili ar idade com a   d i s c ip l in a s ign i f i ca duas co i sas :  .nr.atrar

que Sc conhece toda a bib lio gra fia sobre o tema e seguir os usos bib liog rSíj .

cos da d is ci pl in a em questão. No que respeita a este segundo ponto, pode dar

-SC   o caso de os usos standard sugeridos neste livro não serem os melhores,

sendo por is so necessária tomar cena modelo a lit era tura   c r i t i ca  sobre o as

sunto.   No que toca ao segundo ponto, ó lcRÍtima   a   questão de  saber  sc numa

2 2 3

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bibliografia e necessário por so as obras que se consultarão) ou todas de que

se teve conhecimento.

A   resposta mais óbvia c que a bibliografia de uma tese deve conter apenas

a  l i s t a  das obras consultadas e qualquer outra solução seria desonesta. Mas

também aqui a coisa depende do tipo de tese. Pode haver uma tese cujo objecti

vo seja fazer luz sobre todos os textos esc rit os sobre um dado tema sem que

tenha   sido humanamente poss ível .ver todas as obra s. Ba st ari a então que o can_

didato advertisse claramente que não consultou codas as obras da bibliografia

c   assinalasse eventualmente com  um asterísco as que vi u.

Todavia,   este critério aplica-se a  um assunto sobre o qual não existam ain

da bi bli ogra fia s precedentes completas, pelo que o trabalho do candidato con

s i s t i r a  em reunir referências d ispers as. Sc por acaso ja exis te uma bi bl io

g r a f i a c omp le ta , é me lh o r r e me ter p a ra e l a e r e g i s t a r ap en as a s

ob ra s e f e c t i vame n te c on su l t adas .

Mu i t a s   ve ze s a c r e d i b i l i da de dc uma b i b l i o g r a f i a e dada p e l o

s eu t í t u l o . C i a p od e i n t i t u l a r - s e R e f e r ên c i a s ' B i b l i o g r á f i c a s ,

O b ra s C on su l t adas ou 3 i b l iop.r a f i a C eral sobre o Teaa X , c vê-s e

muito  bem como na.  base  do t í tu lo se lhe poem ex ig ênc ias que e la

de ve ra e s t a r e o c on d i çõ e s de s a t i s f a ze r ou s e r á a u to r i za da a n ao

s a t i s f a z e r . H a o s e p od er á i n t i t u l a r B i b l i o g r a f i a   aobre  a Segun

da Guerra Mundi a l uma magra rec o lh a de uma tr i nt en a de t í t u l os

cm  i t a l i an o . Escrevam Obras Consu l tadas e tenham conf iança em

De u s .

Po r ma i s p ob re q ue s e j a a vo s s a b i b l i o g ra f i a , p roc ure m p e lo

« c n o s p ô - l a c o r r e c tame n te p or orde m a l f ab é t i c a . Ha al gumas r e

g r a s : p a r t e - s e do ap e l i do ; o b v i ame n te , o s t í tu l o s mo b i l i á r i o s

como "de" ou "von" nao fazem parte do apelido, mas o mesmo não

ac on te c e com as p re p o s i çõ e s em ma i ú s c u l a s . A s s i m , e s c r e ve r - s c - ã

2 2 4

D ' A n u n z i o  em D, mas Ferdin and de Sauss ure v i rá como Saus sure ,

Fe r d i na nd   de . PÕ r - s e - a De  A m i c i s ,  D u B e l l a y , L a F o n t a i n e , mas

B e e th ove a , L u d v i g van . Também aq u i , p o re m, ve jam c omo f az a l i

t e r a t u ra c r í t i c a e s ig am a s su as n o rmas . Po r e x emp lo , p a ra o s

autor es an t ig os (e ac í ao séc u lo XIV ) c i t a- s e o nome e não aqu^

lo que parece o ap e l id o , mas que é o patronímic o ou a indic ação

do l o c a l de n as c i me n to .

Para c on c l u i r , uma di v i s ão stand ard para uma tese gené r ic a po_

d e r i a   s e r a s e g u i n t e :

FontesR e p e r t ó r i o s b i b l i o g r á f i c o s

Obras s obre o tema ou sobre o autor (eventualmente d iv id id as

em   l i v r o s e  artigos)

M a t e r i a i s a d i c i o n a i s ( e n t r e v i s t a s , d oc u m en t os , d e c l a r a ç õ e s ) .

V I . 3 . O s ap ên d i c e s

H a  te ses em que o , ou os , apêndi ces sao ind i s pen sá ve i s . Uma

te se de f i l o l o g i a q u e d i s c u ta um te x to r a ro q ue s e t en h a e n c on

t r ado e t r a n s c r i t o , t r a r á e s t e t e x to em ap ên d i c e e p ode su c e

de r q ue e s t e ap ên d i c e c on s t i tu a o c on t r i b u to mai s o r i g i n a l de

todo o trab al ho . Uma tese h i s tór ic a em que vos re fe r íase i s f r e

quentemente a um dado docum ento, mesmo j 5   p u b l i c a d o , p o d e r i a t r a

zer e s te documento cm apênd ice - Uma tese de d i r e i to que di s cu tauma   le i ou um corpo de l e i s dev era i ns er i r e s tas le i a em apên d L

ce (ae não f i z e rem parte dos códi gos de uso corre nte e a d i sp o

s i ç ão de todas a s   pessoas).

A p u b l i c ação de um dado mate r i a l e m ap ên d i c e e v i t a r - voa -a l on _

gas *e e n fadon h as c i t açõ e s n o t e x to , p e rm i t i n do r e fe r e n c i a s r ap i^

d a s .

2 2 5

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Ir<so  pura o apêndice quad ros , d iagramas e dados c st at í s   t i c o s ,

a  menos que se trat em de rápido s exemplos que podem ser   i n s e r i

dos no  í  cx  to  -

Em  ge ra l , põr -s c -a o em apêndice todos os dados e documentos

que tornem o texto pesado c d i f íc i l de l e r . Mas , por vezes , n a

da l i a de ma: s cans at i va que re fe rênc ias cons tantes em apêndice ,

q u e ob r i gam o l e i t o r a p a s s a r  a   todo o momento da página que cs

ta   a le r para o f im da te s e : e , nestes c as os , devemos ag i r com

bom se ns o, p elo menos fazendo tudo para nao torn ar o tex to he r

mét ic o , ins er in do breves c i taç ões que re sumem o conteúdo do pon

to do apêndice e que se estão   a   r e f e r i r .

Se cons iderarem oportuno desenvolv er um cer to ponto teór ic o e ,

n o e n tan to , ve r i f i c a re m q u e i s s o   i r i a  p e r tu rb ar o de se n vo l v i me n

to do voss o tema, na medida em que  c o n s t i t u i  uma rami f i cação

ac es só r ia , poderão por em apêndice a an al i s e desse ponto . Supo

nhamos que estão a fa zer uma tese sob re  a   Po ét ic a e a Retõr i ça

de A r i s t ó te l e s e a s su as i n f l u ên c i a s n o p en samen to r e n as c e n t i s

t a ,  e que desc obr i r am que , no nosso sé cu l o , 3 e s co l a de Ch icago

apresento u de moco ac tua l e ste s te xto s . Se   a s  observaç ões da cs

c o l a  d e C hi c a g o v os s e r v i r e m p a ra c l a r i f i c a r   a s  r e l açõ e s de A r i s

t o t e l e s com o pe ns a me nt o r e n a s c e n t i s t a , c i t á - l a s - ã o n o . t e x t o .

Mas pode suceder que se ja mai s i nte res sa nte f a l ar ne l as de uma

forma mais d i f u s a num apêndice independ ente , onde mostrarão atr a

ves des te exemplo como não so o Renasc ime nto, mas também o nosso

s é c u l o , p ro c ur o u r e v i t a l i z a r o s te x to s a r i s t o t c l i c o s .  A s s i m ,  po

de ra ac on te c e r -vo s f a ze r uma t e s e dc f i l o l o g i a r oman i c a s ob re

a personagem de Tr is tã o c dedica rem uO apênd ice ao uso que o Oe

c ade n t i smo  fez deste  m i t o ,  de  Wagner  a Thomas Mann. O tema não

2 2 6

1 e r i a   i mp or tân c i a i m e d i a ta p a ra o a s su n to f i l o l õ g i c o da vo s s a

tes e , mas poder iam querer demons trar que a inter pretaç ão vagne—

r i a n a  fornece também sugestões ao f i lÓ lo go , ou - pe lo con trár io

— q u e e l a r e p re s e n ta um modelo de má f i l o l o g i a , a c on se lh an do

e ve n tu a lme n te r e f l e x õ e s e p e sq u i s a s su b se q u e n te s . Não qu e e s t e

t i p o  de apêndice s e ja recomendáve l , na medida em que sc de st in a

sob retudo ao tr aba lho dc um estud ios o maduro que pode per mi t í r -

- s e d i g r e s s õ e s e r u d i t a s c c r í t i c a s d e v á r i o s g ê n e r os , m as s u g i

r o - o p o r r azoe s p s i c o l ó g i c a s . Po r ve ze s , n o e n tus i a smo da i n ve s _

t i ga ção , ab re m-se e s t r adas c omp leme n tares ou a l t e rn at i va s e n aose r e s i s t e ã t e n tação de f a l a r de s t a s i n tu i ç oe s . Re l e gan do -a s

p ara o ap ên d i c e , p ode rão s a t i s f az e r a vo s s a n e c e s s i dade de s e

e x p r i m i r e m ,  s e » comprometer o r i go r da te s e .

v i  . &  . 0 í n d i c e

O ín d i c e de ve r e g i s t a r t odo s o s c a p í tu l o s , s u b c ap í tu l o s e p £

rã gr af os do te xt o, com a mesma numeração, com as mesmas p agi na s

o com as mesmas palavras .  Isto  parece um cons e lho ób vio , mas an

te s de e n t re gar 3 t e s e ve r i f i q u e m ate n tame n te qu e e s t e s r e q u i

s i t o s  s ão s a t i s f e i t o s .

0  índic e e um ser viç o in di s pens áve l que se prest a quer ao le i ^

tor,  quer a nós pró pr i os . Perm ite encont rar rap idamente um de t e r m i n a d o a s s u n t o .

E l e  pode se r pos to r.o in íc io ou mo f i m .  Os l i v r o s i t a l i a n o s

c  f r an c e s e s c o l o c am-n o no f ím . O s l i v r o s em i n g l ê s e mu i to s l i _

vro s a lemães co locam—no no  i n i c i o .  Nos ú l t im os tempos a lguns

e d i t o r e s i t a l i a n o s a do pt ar ar a e s t e se gu nd o c r i t é r i o .

Na minha op in iã o, c mais cômodo que el e venha no  i n i c i o .  E n -

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c o n t ra   pa s s a nd o a l g u a a i pá g i n a s , i nq ua nt< pa r a o co n s u l t a r

n o / i a n e c e s s i t a m o s d e e x e r c e r u a t r a b a l h o f í s i c o o a i o r . H a s

i v  d e v e e s t a r no i n í c i o , q ue e s t e j a m esa o no i n í c i o . A l g u ns l i

V E 0 3  a n g l o - s a x o n i c o s c o l o c a m - n o d e p o i s d o p r e f á c i o e , f r e q ü e n

t em ent e , d epo i s d o p r e f a c i o , d a i n t r o d u ç ã o  ã  p r i a e i r a e d i ç ão c

d a i n t r o d u ç ã o a s e g u nd a ed i ç ã o . U a a ba r b a r i d a d e . E s t úp i d a s po r

es tup fd ez , também se pod ia po - lo no mei o .

Uma a l t e r n a t i v a c c o l o c a r n o i n í c i o   U B  í nd i ce p r o pr i a m ent e

d i t o  ( c i t a ç ã o a pena s d os c a p í t u l o s ) c no f i m um s u m á r io m u i t o

po r m en o r i z a d o , com o s a f a z em ce r t o s l i v r o s o nde a s s u bd i v i s õ e s

s ã o m u i to a n a l í t i c a s . P o r v e s e s , p o e - s e n o i n í c i o o í n d i c e d os

ca p í t u l o s e no f i a um í nd i c e a na l í t i co po r a s s u nt o s , q ue g e r a l

mente « acompanhado dt um índ i c e dc n oat s . Knaa tese i s to n ão é

n e c e s s á r i o . B a s t a um b o a i í n d J c e - s u m ã T Í o m u i t o a n a l í t i c o , d c p r e

f e t S nc í a na a be r t u r a da t e s e , l o g o a s e g u i r ao f r o - t e s p l e í o .

A o r g a n i z a ç ã o d o í nd i c e d ev e r e f l e e t i r a d o t ex t o , ne s a o em

s ent i d o e s p a c i a l . Qu er d i z e r , s e no t ex t o o pa r á g r a f o 1 . 2 . f o r

uma  su bd i v i s ão menor do c ap i t u l o 1 , i s to deve ser tanbêa ev ideo .

tc   em termos de a l in ha ae nt o . Par a compreendermos i s to mel hor ,

apresentamos no quadro 22 do i s modelo s dc índ i c e . Ko ent anto , a

nu m er aç ã o d o s ca p í t u l o s c pa r á g r a f o s po d e r i a s e r d e t i p o d i f e r en

t a ,  u t i l i z a n d o n úm er os r o c an o s , á r a b e s , l e t r a s a l f a b é t i c a s , e t c .

2 2 8

Q U A D R O  2 2

MODELOS DE  ÍNDICE: PRIMEIRO   EXEHPLO-

0   MUNDO DE   CHASLIE  BROVH

I n t r o d u ç ã o ? • 3

1.   CHARLIE  BROWN E A BANDA DESENH ADA AMERICANA

1 . 1 . D e Y e l l o v K i d a C h a r l i e B ro wn 71 .2 . A co rre nte da ave ntu ras e a co r ren te humor ís _t i c a  9

1 . 3 . 0 ca s o S ehu l z 10

2. BARDAS DE JORNAIS Dl X Rl OS E PAGINAS DOMINICAIS

2 . 1 .  D i f e r e n ç a s d e r i t m o n a r r a t i v o IB2 . 2 . D i f e r enç a s t em á t i ca s 21

3 .  OS CONTEÚDOS IDEOLÓG ICOS

3 . 1 .  A v i s ã o d a i n f â nc i a 33*3 . 2 . A v i s ã o i m p l í c i t a d a f a m í l i a 383 . 3 . A i d e n t i d a d e p e s s o a l 4 5

3 . 3 . 1 . Quem sou eu? 583 . 3 . 2 . Quem s ã o o s o u t r o s ? 6 53 . 3 . 3 . S e r p o p u l a r 78

3 . 6 . Neuros e e saúde 88

4. EVOLUÇÃO DO SIGNO  C R X F I C O  96

• C o nc l u s õ e s 16 0

Q u a dr o s e s t a t í s t i c o s : O s í n d i c e s d e l e i t u r a n a

Amér i ca 189

Apênd ice l í Os Peanuts noa desenhos animados 200

Apên dice 2 : As imi taçõ es dos Peanata 234B i b l i o g r a f i a : R e c o l h a a em v o lu m e 2 50

A r t i g o s , e n t r e v i s t a s , d e c l a ra ç õ esd e S ch u l t 2 6 0Es t u d o s s o b r e a o b r a de S ehu l z- nos Es tado s Unidos 276- nout ros pa í s ea 277- e s I t á l i a 2 78

2 2 9

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MODELOS  DE ISDICE: SEGUNDO   EXEMPLO

O  MUNDO DE   CHABLIE  BROTO

In t rodu ção p . 3

I. DE TELLDW KID A   CHARL1E  BROWN 7

BANDAS DE JORNAIS DlXRIOS E

PAGINAS DOMINICAIS 18

I I I . OS CONTEÚDOS IDEOLÓGICOS 45

IV . EVOLUÇÃO DO SIGNO GRAFICO 76

Cone Iusoes 90

230

O  mesmo índ ic e do quadro 22 pod ia se r numerado da seg u in te ma

ne   i   r a :

A .  PRIMEIRO CAPITULO

A . I P r i m e i r o p a r á g r a f o

A . I I Se gun do p arág ra fo

A . I I . l . P r i m e i r o s u b p a r ã g r a f o d o s e gu n do p a r á g r a f o

A.I I .2 .  Se gu n do su b p a rãg ra fo do s e gu ndo p ará g ra fo

o t c .

Ou  p od i a ap ra se n c ar - s e a i n da do s e gu i n te modo :

I. PRIMEIRO CAPÍTULO

1 . 1 . P r i m e i r o p a r á g r a f o

1 . 2 . Se gu n do p arág ra fo1 . 2 . 1 . P r i me i ro su b p a rãg ra fo do s e gun do p arág ra f o

e t c .

P o d i a e s c o l h e r o u t r o s c r i t é r i o s , d e s d e q ue p e r m i t i s s e m o s o « s -

mos   r e s u l t a d o s d e c l a r e z a e e v i d e n c i a i m e d i a t a .

Como se v i u , n ao e n e c e s s á r i o   c o n c l u i r  o s t í t u l o s c om um p on

to   f i n a l .  De i g u a l modo, s c r a b oa n orma a l i n h a r o s n ú meros   ã d±

r e i t a  e n ão 2 e sq u e rd a , i s t o á , a s s i m :

7 .

8.

9 .

10 .

e n ão a s s i m:

7 .8.

9 .

10 .

O  mesmo se ap l i c a aos números romanos . Requ in te? Não . apu ro .

Se t ive rem a g rava ta t or ta , en di re i ta m -na e nem mesmo a ut> h ipp y

ag rada t e r c ac a da p a s s a r i n h o n o omb ro .

231

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V I I .  C O N C L U S Õ E S

Q u e r i a   c on c l u i r c o m  duas  observações: fazer  uma t e se  significarecrear-se   e a tese é como o parco: não  de i ta nad a  fora.

Q u e m qu e r  que . sem prát ica de inves t igação,  atemoriza do p ela

lese  qu e n ão sabia como fazer, len ha l ido esle l ivro , pode   ficar ater

rorizado. Qua ntas regras   c  quantas instruções. Impossível  sa i r são e

salvo.. .

E .  todav ia , i sso n ão  á  verdade. Pa ra   se r  exaustivo, t ive   de   i m a g i

na r u m   le i tor totalmente desprovido  d e  tudo. mas qualquer  d e vocês ,

ao   l e r u m  l ivro qu alquer, teria   j á  adoptado muitas   das técnicas de

qu e  s e   f a lou .  O m e u   l ivro se rviu, quando mu ito, para  as   recordar

todas, para trazer para   o   p lano  da consciência   aqu i lo  qu e  muitos  já

t i n h a m  absorvido  s e m se   darem conta. Tombem  u m  au tomobi l i s ta ,

quando  é  levado  a  ref lcct ir sobre  os   seus gestos, veri f ica   qu e é u ma

máquina   prodig iosa   que em r íacçòes dc  segundo toma  dec isões de

importância   v ital sem s e  poder pe rmit ir um erro. R . n o   entanto, quase

toda  a g e n te  conduz e o número razoável de  pessoas  qu e  morrem  e m

ac identes  n a   estrada diz-nos  qu e a   grande maioria escapa   c o m  v ida .

O importante  c  fazer  as  coisas c o m  gosto.  B se  t iverem es colhidou m  tema   que vos  in te ressa , s e   t i ve rem dec id ido ded icar verdade i ra

mente  a   t ese  o per íodo,  mesmo curto,  qu e  previamente estabelece

ra m  ( t ínhamos   f ixado um limite   mín imo de   seis meses ) ,  ver ificarão

então que a  t ese pode   s er  v iv ida como um  j o g o .  como uma aposta,

como uma   caça ao   tesouro.

Há um a sa t is fação d e  d espor t i s ta   c m   andar  à caça de um   texto

qu e  não se  encont ra , h á   u ma   satisfação de  charad is ta  e m  encontrar,

depois   de se te r   r e l lce i ido mu i to,  a solução de um  p rob lema   q u e

p a r e c i a  insolúvel.

233

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Devem v iver  a   l ese como u m desa f io.  O   sujeito  d o   d esa f io  sãovocês:   in ic ia lmente , r i/e ram uma pergunta  a que não   sab iam a indaresponder. Trata-se  d c  encont rar  a solução n um número  finito  d emovimentos .  P o r  vezes,  a  tese  pode   s er  cons iderada como uma par t ida  a  d o i s : o  vosso au tor quer conf ia r -vos  o seu  s e g r ed o  e lerào deo assed iar ,  d e o   in te r rogar  c o m  d e l i c a d e za ,  de fazê - lo   d i/er aqu i loque   não  quer ia d i ze r mas  que te rá dc  revelar.  P o r  v e z e s , a  t ese  é  u m[mzzle:  tem-se todas a s peças , mas c  p rec i so  pô-las no  lugar.

Sc  j o g a r e m  a  par t ida  c o m   prazer agonfst ico.  farão   u m a  b oa   tese.Se part irem  já com • idé ia de qu e sc trata   d e u m  r i tua l  s em  i m p or tância e que não vos   in te ressa , estarão  d er rotados   à  par t ida . Nessaaltura,  já o   d i sse   n o   i n i c i o  (e não mo façam   repet ir porque   é que éi l ega l ) , encomendem-na. cop iem-na , mas  n ão  i tm i fnem  a  vossa v ida

e a d e  quem  vos irá  a judar  e ler.Se t iverem feito  a   tese   c o m  gosto,  terão  vontade  d e   continuar.

Gera lmente , quando  sc  t raba lha  n u m a  tese,  só se  p ensa  n o   momentoe m  que e la es tará  t e rminada : sonha-se  com as fé rias qu e se   segu i rão.  M a s s e o   t raba lho  for bem  fe i to, normalmen te, depois  d a   tese,verificar-se-ã a irrupção dc um g rande f renes im  d e  t raba lho. Dese j a -

-s c a p rofundar todos  o s  pontos  qu e   foram neg l i g enc iad os , persegu i ridé ias qu e nos  v i e r a m a o espír ito mas que  t i vemos  de   supr imi r , le routros l ivros, escrever en saios.  E   isto  é  s ina l d e qu e a  tese  v os  ac t i -

vo u   o   metabol i smo in te lec tua l , qu e fo i   u ma  experiência   p os i t i v a . Ea inda  s ina l  de que sào  agora   vítimas de   u ma   coaeçào   para inves t i gar ,  u m   pouco como  o   C h a p l i n  tios  Tempos Modernos,  qu e  cont i nuava a  apertar parafusos mesmo depois   d o  t raba lho: c   lento d e   fazeru m  esforço   para parar .

M a s  u m a   ve a   parados, pode acontecer   qu e  ve r i f iquem  te r   vocação  para  a inves t igação, que a  tese  não e ra  apenas   u m  ins t rumentopara   obter  a   l i cenci a i un i ,  e a   l i cenc ia tura  o   ins t rumento para   subir

dc categoria   n a função públicas ou  para contentar   os   p a i s .  H n e msequer dizemos  qu e   pretender continuar  a   inves t i gar s i gn i f ique enveredar pe la car re i ra   universitária,  esperar  u m   cont ra to, ren unc iar  au m  trabalho imediato. Pode dedicar-se   u m (emp o razoáve l à  inves t igação  mesmo tendo  uniu  profissão, sem   pretender  te r um   cargouniversitário.  M e s m o u m b om  p rof i ss iona l de v e  c on t i n u a r a  estudar.

Se .  de  qua lquer forma,  s c d e d i c a r e m  à investigação, ver ificarãoque uma  t ese   bem feita   é um produto de que se  ap rove i ta tudo. C omo

pr ime i r a  utilização, poderão com  base ne la f aze r um  ou vár ios   a r t i

go s  c ientíficos, t a lvez um l iv ro  ( com  alguns   aperfeiçoamentos) . C o m

234

o   a n d a r  d o  tempo,  ver ificarão as   respect ivas f ichas   d e   le i tura,  na tu

ra lmente ap rove i tando panes   que não   t inham ent rado  na redacçãofinal  do vosso p r ime i ro t raba lho;  a s qu e  e ram par les  secundárias datese a prescniar-se-ão   como  in íc io de   novos estudos.. . Pode mesmosuceder-vos voltar  à  tese   d e z   anos mais t a rde . A té  porque  terá   v idocomo  0  p r ime i ro amor . e ser-vos-á difíc il esqu ecê-la. N o   fundo,  terás ido  a   p r ime i ra  v e z qu e   fizeram  u m  t raba lho c ientífico sério e   r igor os o ,  c  i sso não é uma exper iênc ia dc   somenos   importância.

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I

B I B L I O G R A F I A  S E T . R C T 1 V A

Obras gerais

V i . R A .   As t i . Metodologia da la investi eación. M adr id . E d . C in t e i .  1 9 7 2 .   2 ( 1 2   pp.

ZUBIZ ARRETA. .Armando F.. L a aven tu ra  de i  (rabujn  inte lectual {como estuàiar

y  como investi guri. Bogotá, F o nd o Ed ucat ivo Imcramcricanu,  1 96 9, I p p .

SALVADOR. Anseio Domingos.  Métodos  e técnicas d e  pesquisa   bibliográfica.

Elaboração  ile   relatório d e  es tudos  c ientif icas .  2.'   c d . . Pa r l o  A le gre .

Llv. Sul ina Ed. . 1971 . 23 5 pp.

Métodos d e estudo

M I R A  v Lor*EZ.  Emílio. Como  estudiary como aprender ,  7 .D  ed..  Buenos Ai res .

Editor ia l Kaplue/,  1 9 7 3 .   III pp.

M A I M Í O X .  I l a r r y . Como  estudar .  5 .'   cd. . Por ia, L ivrar ia Civ i l Ed. .   1 9 H 0 . 3 4 0  pp.

L L RK IN .  P a u l .   Êtud/er ò  1'Vnive.rsiié,  s 'organiser pouf  apprendre .  Louvain ,

l . i l i .   l in ivers ita ire.  1 9 6 8 .   37 pp.

BRANDON. L. G.. History. A   G u i d e  to  Advanced  Stitdy.  London. Edward Araold

(PubUstó)  l.td., 1976, 60 pp.

investigação d as soluções

B L L L I Í N O I - Í K ,   l . ionel .  Lei   méthodes d e  lecture.  Par is.  PlT.  1 9 7 3 . 1 2 7  pp.

VtGNT.R.  Gérard. Lire: d u texte  ou sem,  e lenients p a a r u n  apprentissage  cr un

enseignemeni  de Ia lecture.  Pariç. Ci e International. 1979,   1 7 3   pp.

A l . M R R A S .  Jacqucs c Fúria. D an i e l . Méthodes de réflexion e tediniques d 'exprcssion, 4." ed.. Paris , I.ih.  A rma nd  Co l in .  1 9 7 3 .   461 pp.

M pRE AU , J ean A ..  La  contraction  et Io  synthèse d e  textes.  Paris. Ed. Fcrnand

Nathan.  19.8.1.  1 5 9 pp-

237

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Expressão

GA RCIA.  Oihun M oaçyr. Comunicação e m prosa moderna . Aprender a esc re-

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BARU-, Dcnis e  G ui l le t.  Jean. Techniques de  1'expression ér.rite et  o rate .  ParisEd .  Sirey. J972, 2  vols., 272 pp. - i- 281   pp.

A R T E T A . Agostín übieto, Como m  comenta um  texto Histórico, 2 .' ed.,  ZaraStítãAnma?. Ed.. 1976. 212 pp.  c  '

MonswiBR, R oland e  Huisinan, Dcnis. /. «r r  tfc  d issenathn h istor ique 3 >ed

Paris. SíiDES. 1965. 3K.1  pp.

C AM P IM Í L L  Wilüam  GifeS c  Bailou. Stephen Vaugh an. r > ™ W . ^ .Rçpffrts; TV/™ Páp cri,  5.- cd.. Boston, lloughton M iffHn Company, J979177 pp.

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..  Th e  Tenn Paper . A  Manua l andMode l .  4 .'   cd.. Siandford. Standford university Press. 1967, 33  pp.

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universidade  Q

1.  O Signo Umberto Eco

2.  O Pensamento de Nietzsche Michael Tanner

3.  Estratégias da Comun icação Adriano Duarte Rodrigues

4. Como Se Faz  Uma Tese. Umberto Eco

5.  O Pensamento de Platão R . H. Hare6.  As Regras do  Método Sociológico.  Émile   Durkheim

7. Sociologia Geral - A A c ç ã o Social.  Guy Rocher

S. Sociologia Geral - A O r g an ização  Social. Guy Rocher

9 .  Nó s - Uma Leitura de Cesár lo Verde. Helder Macedo

10.  Comun icação e Cultura Adriano Duarte Rodrigues

1 1 .  Capitalismo e Moderna Teoria Social Anthony Giddens

12.  Arte e Estética na Arte Medieval Umberto Eco

13.  Seis L ições  Sobre os Fundamentos da F ís ica Richard P. Feynman

14. Raça e  História. Claude Lévi-Strauss

1 5 .   L u ís de Camões - O  Épico.  Hernâni  Cidade

*ô.   Questões Preliminares sobre as Ciências Sociais A. Sedas   Nunes

17. O Suicídio  - Estudo S oc io lóg ico Émilo  Durkheim

1 8 . A  Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo. Max Weber

1 9 . A Economia em Vinte e Quatro  L ições.  Man o Murteira

20 . Frei  Luís de Sousa - Um Drama Ps ico lóg ico Maria Almira  Soares

2 1 

Breve  História do Urbanismo Fernando Chueca Goitia22 . Do Ocidente ao Oriente - Mitos Imagens Modelos. Álvaro Manuel

Machado

23 .  Luís  d e  Camõe s - O  L ír ico.  Hemâni Cidade

24 . O Rio com  Regresso - Ensaios Camilianos. Maria Alzira Seíxo

25 . Ensaios Sobre a Crise Cultural do S é culo  xvin. Hemâni  Cidade

26 . Trinta Leituras.  Helder Macedo

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7/22/2019 Eco Umberto Como Se Faz Uma Tese Livro PDF

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