ebook - interatividade nas tics

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Atualmente, o termo interatividade é amplamente utilizado na comunicação, seja associado as tecnologiasou a publicidade, como argumento de venda. O desafio está em definir um conceito que expresse o que é ainteratividade. Ao longo de três décadas, diversos autores buscaram esta definição. Este estudo tem comoproposta apresentar a abordagem de três autores sobre o termo interatividade: Sheizaf Rafaeli, Jens FrederikJensen e o brasileiro Alex Primo, amplamente referenciados no campo da comunicação.

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  • http://www.pimentacultural.com

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  • expediente

    Copyright Pimenta Cultural, alguns direitos reservados.

    Patricia BiegingRaul Incio Busarello

    Direo Editorial

    Raul Incio BusarelloCapa e Projeto Grfico

    Patricia BiegingEditora Executiva

    Autores e OrganizadoresReviso

    Prof Dra. Ldia Oliveira (Universidade de Aveiro, Portugal)Prof Dra. Vania Ribas Ulbricht (UFSC)Prof. Dr. Vania Baldi (Universidade de Aveiro, Portugal)Prof. Dr. Victor Aquino (USP)

    Comit Editorial

    Dileuza Baiocchi (Unioeste)Avaliao por pares

    Inara Vieira Willerding (UFSC)

    Leila Patrcia Dantas (IFPI)

    Patricia Bieging (USP)

    Raimunda Belini (IFPI)

    Raul Incio Busarello (UFSC)

    Patricia BiegingOrganizadores

    Raul Incio Busarello

  • expedienteDados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    I611 Interatividade nas TICs: abordagens sobre mdias digitais e aprendizagem / Patricia Bieging, Raul Incio Busarello, organizadores. - So Paulo: Pimenta Cultural, 2014. 253p.

    Inclui bibliografiaISBN: 978-85-66832-14-3 (PDF)

    1. Tecnologias da Informao e Comunicao. 2. Interatividade. 3. Convergncia de mdias. 4. Comunicao Digital. 5. Aprendizagem. 6. EaD. I. Bieging, Patricia. II. Busarello, Raul Incio. III. Ttulo.

    CDU: 300 CDD: 370

    Esta obra licenciada por uma Licena Creative Commons: Atribuio Uso No Comercial No a Obras Derivadas (by-nc-nd). Os termos desta licena esto disponveis em: . Direitos para esta edio cedidos Pimenta Cultural pelos autores, conforme as normas do edital da chamada pblica de trabalhos realizada em 2014 para esta obra. Qualquer parte ou a totalidade do contedo desta publicao pode ser reproduzida ou compartilhada. Obra sem fins lucrativos, distribuda gratuitamente. O contedo dos artigos publicados de inteira responsabilidade de seus autores, no representando a posio oficial da Pimenta Cultural.

    PIMENTA COMUNICAO E PROJETOS CULTURAIS LTDA MESo Paulo SP Telefones: +55 (11) 96766-2200 (11) 96777-4132E-mail: [email protected]

    2014

    mailto:livro%40pimentacultural.com?subject=http://www.pimentacultural.com

  • 004

    sumrio PrefcioInteratividade nas TICs: prticas que mudam as relaes ........................................................ 7Patricia Bieging e Raul Incio Busarello

    Captulo 1

    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens ......................................................... 10Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    Captulo 2

    Ciberdiaristas surdos: possibilidades de emisso, interaoe compreenso no ciberespao ......................................................................................................... 28Simone Lorena Silva Pereira

    Captulo 3

    O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento ................................................... 49Daniele Cristine Rodrigues

    Captulo 4

    Indicadores de convergncia visual no design grfico de jornais: o projeto grfico como estratgia de adaptao frente s transformaes miditicas .............................................................................................................. 68Sabrina Bleicher, Ana Isabel Veloso,Berenice Santos Gonalves e Tarcsio Vanzin

  • 005

    sumrio Captulo 5A linguagem de universitrios nas redes sociais atravs do ponto de vista sociolingustico ........................................................................................................... 88Hliton Diego Lau

    Captulo 6

    Comunicao na Educao a Distncia: uma leitura a partir das bibliotecas ................... 105Andreza Regina Lopes da Silva, Marcelo Ladislau da Silva e Julio da Silva Dias

    Captulo 7

    Tecnologias da informao e comunicao: a prtica docente na educao profissional de jovens e adultos do Colgio Estadual Lencio Correia, em Curitiba ......................................................................126Adilson Claudio Muzi e Nanci Stancki da Luz

    Captulo 8

    A interatividade docente como operao potencializadora deensino-aprendizagem mediado por tecnologias em rede ...................................................... 147Elena Maria Mallmann, Anna Helena Silveira Sonego, Juliana Sales Jacques, Sabrina Bagetti e Iris Cristina Datsch Toebe

    Captulo 9

    Contribuio da Comunicao Digital na Educao a Distncia: um mapeamento bibliomtrico .........................................................................................................169Andreza Regina Lopes da Silva, Andria de Bem Machado e Araci Hack Catapan

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    sumrio Captulo 10Servio Busque Tecnologia UTFPR: um mecanismo de interao universidade-empresa via web ................................................190Thyago Medeiros de Oliveira, Dcio Estevo do Nascimento e Wilson Horstmeyer Bogado

    Captulo 11

    Levantamento de estilos de aprendizagem dos alunosformandos do curso tcnico de informtica do Centro Federal de Educao Tecnologia de Minas Gerais .........................................................212Marcos Prado Amaral e Ismar Frango Silveira

    Sobre os Autores ......................................................................................................................................236

  • sumrio

    007

    Prefcio

    INTERATIVIDADE NAS TICS: PRTICAS QUE MUDAM AS RELAES

    A forma com que os indivduos estabelecem suas relaes com o mundo tem mudado constantemente. As Novas Mdias e as Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC) proporcionam maneiras diferenciadas no que diz respeito s prticas destes indivduos, sejam essas em momentos de lazer, de estudo ou de trabalho. Os ambientes virtuais, atravs das mdias interativas, possibilitam a conexo de diferentes reas do conhecimento e a convergncia dos meios na potencializao dos mais variados campos, especialmente a partir da internet. Hoje em dia no basta apenas a disposio de plataformas como forma de repositrio de contedos. A interatividade o ponto chave nesta nova era, focando, principalmente, a participao ativa dos usurios. Esta conexo entre professores e alunos, entre produtores e usurios das mdias inaugura um tempo em que a imerso e a participao so essenciais na gerao das informaes e na construo do conhecimento.

    Considerando este cenrio, os captulos que compem este eBook trazem reflexes importantes para o momento atual em que a convergncia das mdias e as novas tecnologias tm gerado desafios antes impensados, tanto para o campo da comunicao quanto para o da educao. A superao nas diversas reas em que se refletem acerca de formatos diferenciados para que se estabeleam novas prticas sociais e culturais uma constante no somente para os profissionais em formao, mas para os usurios vidos por novidades e na expectativa por serem inseridos neste mundo cada vez mais tecnolgico, interativo e participativo. nesse sentido que esta obra apresenta em suas pginas estudos e anlises que vo alm da fronteira do tradicional, incentivando aes inovadoras a partir dos dispositivos tecnolgicos com os quais somos todos os dias confrontados.

    No primeiro captulo Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens os autores Miranda, Cavenaghi, Biagiotti, Baldessar e Bastos abrem a obra com uma essencial reflexo a respeito do conceito de interatividade, muito utilizado atualmente. A partir dos tericos Rafaeli, Jensen e Primo pontuam as diferenas e similaridades em relao ao conceito e aos seus usos ao longo de trs dcadas.

    Na sequncia Simone Lorena Silva Pereira aborda no texto Ciberdiaristas surdos: possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao, as contribuies do ciberdirio (blog) como agente construtor de um ambiente motivador aos ciberdiaristas surdos, favorecendo sua emisso, interao e compresso

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    No captulo trs O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento, Rodrigues parte para o campo da comunicao e da convergncia miditica, realizando uma anlise sobre o 86 edio do AcademyAwards, especialmente, sobre a produo de sentidos estabelecida pela televiso e pela internet na transmisso do evento.

    Bleicher, Veloso, Gonalves e Vanzin abordam no captulo quatro os Indicadores de convergncia visual no design grfico de jornais: o projeto grfico como estratgia de adaptao frente s transformaes miditicas. Fruto da pesquisa de mestrado de Sabrina Bleicher, o estudo discute as mudanas geradas pelos sistemas de comunicao digitais e suas influncias no que diz respeito s caractersticas nos projetos grficos de jornais impressos da atualidade.

    A linguagem de universitrios nas redes sociais atravs do ponto de vista sociolingustico apresentada no captulo cinco por Lau. Seu estudo tem como objetivo analisar as prticas de escrita de estudantes universitrios sobre a greve das universidades no ano de 2012 em um ambiente de rede social, tendo como foco as abreviaes das palavras.

    Percebendo a mudana nos processos de comunicao o captulo Comunicao na Educao a Distncia: uma leitura a partir das bibliotecas, escrito por Silva, Ladislau da Silva e Dias analisa como as bibliotecas divulgam os seus servios em cursos de Educao a Distncia de ensino superior. Um dos pontos observados a necessidade de as bibliotecas se adequarem a este novo cenrio para conseguir manter uma comunicao eficaz com os seus usurios.

    No captulo sete Muzi e Luz apresentam o texto Tecnologias da informao e comunicao: a prtica docente na educao profissional de jovens e adultos do Colgio Estadual Lencio Correia, em Curitiba. O estudo aborda a apropriao das TICs por professores e os benefcios da utilizao destas mdias no processo de ensino-aprendizagem. Um dos achados da pesquisa mostra que os professores ainda possuem resistncia no uso de tecnologias em sala de aula, porm reconhecem o grande interesse dos alunos quanto criao de contedos.

    Mallmann, Sonego, Jacques, Bagetti e Toebe realizaram uma pesquisa-ao tendo como objetivo analisar como os professores compreendem a plataforma do Moodle como forma de ampliar e gerar uma prtica pedaggica mais efetiva e eficaz, considerando os recursos em rede. O estudo apresentado no captulo

  • sumrio

    009

    oito: A interatividade docente como operao potencializadora de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias em rede.

    A partir dos adventos tecnolgicos as possibilidades de desenvolvimento no campo da educao tm se mostrado cada vez mais promissor. Pensando em um novo formato de fazer educao o captulo Contribuio da Comunicao Digital na Educao a Distncia: um mapeamento bibliomtrico, dos autores Silva, Machado e Catapan, traz um mapeamento acerca da relao da comunicao digital com a prtica da educao a distncia (p. 170).

    O captulo dez, Servio Busque Tecnologia UTFPR: um mecanismo de interao universidade-empresa via web, dos autores Oliveira, Nascimento e Bogado, tem como objetivo apresentar caractersticas de uma aplicao web destinada gesto de um novo mecanismo de interao entre a UTFPR e as empresas (p. 191).

    Amaral e Silveira no captulo Levantamento de estilos de aprendizagem dos alunos formandos do curso tcnico de informtica do Centro Federal de Educao Tecnologia de Minas Gerais apresentam uma pesquisa que teve como objetivo mapear os estilos de aprendizagem de alunos do 3 ano do curso tcnico em informtica. Um dos achados da pesquisa mostra que possvel identificar em qual rea o aluno tem mais facilidade em aprender e, a partir disso, tornar possvel a formao de grupos de trabalho com diferentes estilos de aprendizagem, resultando na potencializao e desenvolvimento dos seus pontos fortes e fracos.

    A diversidade das abordagens que buscam analisar a convergncia dos adventos tecnolgicos, da internet e dos diversos campos educacionais e profissionais que apresentada nesta obra mostra a riqueza das pesquisas e dos avanos acadmicos atualmente no Brasil. importante estudar as novas mdias e o que elas podem contribuir, tanto para a educao quanto para o processo de comunicao frente s novas prticas sociais e culturais das quais vivemos. No menos importante fazer com que estas contribuies extrapolem as fronteiras das universidades e cheguem aos leitores de forma aberta e democrtica. Esta obra tem a misso no somente de compartilhar o conhecimento gerado pelos pesquisadores aqui presentes, mas, acima de tudo, fazer com que possamos continuar avanando na busca pela melhoria e aperfeioamento dos nossos processos nas diversas reas do conhecimento.

    Patricia Bieging e Raul Incio Busarello

  • INTERATIVIDADE:UM CONCEITO, TRS DIFERENTES ABORDAGENS

    INTERACTIVITY: A CONCEPT, THREE DIFFERENT APPROACHES

    INTERACTIVIDAD: UN CONCEPTO, TRES ENFOQUES DISTINTOS

    Cristiane Fontinha MirandaBeatriz CavenaghiBreno BiagiottiMaria Jos BaldessarRogrio Cid Bastos

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    01sumrio

    Resumo:Atualmente, o termo interatividade amplamente utilizado na comunicao, seja associado as tecnologias ou a publicidade, como argumento de venda. O desafio est em definir um conceito que expresse o que a interatividade. Ao longo de trs dcadas, diversos autores buscaram esta definio. Este estudo tem como proposta apresentar a abordagem de trs autores sobre o termo interatividade: Sheizaf Rafaeli, Jens Frederik Jensen e o brasileiro Alex Primo, amplamente referenciados no campo da comunicao.

    Palavras-chave:interatividade; comunicao; interao.

    Abstract:Currently, the term interactivity that is widely used in communication - is very often associated to new technological development or advertising, as a selling argument. The challenge is to define the concept that expresses the meaning of the term interactivity. Over three decades, many authors have attempted to define it. This paper approach the definition of interactivity proposed by three authors: Sheizaf Rafaeli, Jens Frederik Jensen and the Brazilian Alex Primo, widely referenced in the communication field.

    Keywords:interactivity; communication; interaction.

    Resumen: En la actualidad, el trmino interactividad - ampliamente utilizado en la comunicacin - est asociado a las nuevas tecnologas o la publicidad, como un argumento de venta. El reto consiste en definir un concepto que expresa lo que es la interactividad. Durante tres dcadas, muchos autores han intentado este ajuste. Este estudio tiene como objetivo presentar las propuestas de tres autores en el trmino interactividad: Sheizaf Rafaeli, Jens Frederik Jensen y el brasileo Alex Primo, ampliamente referido en la comunicacin

    Palabras-clave: interactividad; comunicacin; interaccin.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    01sumrio

    INTRODUO

    Conceituar interatividade tem sido uma tarefa rdua. Diversos pesquisadores e estudiosos, das mais variadas reas acadmicas e perspectivas profissionais, vm elaborando suas teorias h mais de trs dcadas e mesmo assim no h unanimidade quanto ao conceito. O tema, por sua natureza interdisciplinar, envolve muitas variveis que contribuem para essa elevada gama de conceitos e pontos de vista.

    No campo de estudo das cincias da computao, diversos autores definiram interatividade, em geral a partir de um ponto de vista tecnicista que mantm o foco na relao homem-mquina ou na comunicao entre homens mediada por computadores. J na rea das cincias sociais, a inte-ratividade pode ser analisada sob diferentes perspectivas, que passam pela sociologia, filosofia, comunicao e educao.

    Na perspectiva sociolgica, a interatividade vista como um fenmeno relacionado relao rec-proca entre duas ou mais pessoas. Na educao, o enfoque recai sobre a coparticipao dos usurios na criao de contedos. No contexto da comunicao, o feedback aparece como uma caracterstica fundamental do processo. Essa habilidade da troca de informaes entre emissor e receptor foi o cerne de muitas teorias ao longo dos anos, desde o clssico modelo de comunicao proposto, em 1949, por Shannon e Weaver (KIOUSIS, 2002). Entretanto, a comunicao de duas vias no a nica que proporciona feedback. As novas mdias vm desenvolvendo caractersticas mais abrangentes e complexas onde o fluxo de informaes, anteriormente resumido entre emissor-receptor, passa a ser tambm de um para muitos e at mesmo muitos para muitos.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    01sumrio

    Spiro Kiousis (2002), em um panorama das abordagens sobre o tema nas ltimas dcadas, verifi-cou a recorrncia de vertentes de estudos sobre interatividade e props trs categorias para estes estudos: uma com o enfoque tecnolgico, uma segunda baseada no contexto comunicacional e por fim uma abrangendo as percepes do usurio. Tal diviso em categorias proposta pelo autor ajuda a compreender a complexidade do conceito, mas tambm demonstra a diversidade de enfoques e as possveis confuses que podem surgir nos estudos relacionados ao tema.

    Entre os estudiosos da interatividade, recorrente a percepo de que muito se fala e muito se escreve, mas pouco se sabe, efetivamente, sobre o tema. Interatividade tornou-se uma buzzword (JENSEN, 1998, p. 189), ou seja, uma palavra da moda que causa certo alarido mesmo que no haja necessariamente uma definio para ela.

    Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo produzir uma viso de conjunto de trs abor-dagens que guiam os trabalhos contemporneos sobre interatividade no campo da comunicao. Sero apresentados os trabalhos de Sheizaf Rafaeli (1988, 1997), Jens Jensen (1998) e Alex Primo (2008), buscando detalhar seus pontos de vista e suas contribuies para os estudos sobre o tema.

    Sheizaf Rafaeli israelense, professor na Universidade de Haifa, colunista do The Journal of Com-puter Mediated Communication (JCMC) e fundador do Center for Internet Research. Nos ltimos 25 anos, tem publicado dezenas de artigos com foco na comunicao e colaborao mediada por computador, anlise de redes sociais e implicaes sociais das novas tecnologias de comunicao. Sua obra de destaque no contexto dos estudos da interatividade Interactivity: From New Media to Communication, de 1988.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    01sumrio

    Jens Frederik Jensen professor na Universidade de Aalborg, na Dinamarca. Nos ltimos 20 anos tem se debruado sobre o tema interatividade, com dezenas de artigos publicados sobre o tema. Neste artigo, apresenta-se seu trabalho de destaque, Interactivity: tracking a new concept in media and communication studies, publicado em 1998.

    Alex Primo brasileiro, pesquisador cibercultura e mdias sociais, professor do Programa de Ps--Graduao em Comunicao e Informao da UFRGS. Em sua obra Interao Mediada por Com-putador, Primo faz uma reviso das principais teorias propostas sobre interatividade e discute o conceito, adotando uma perspectiva relacional das interaes que acontecem na web, a partir da observao de quem so seus atores e quais relaes so estabelecidas entre eles.

    Os trs autores so amplamente citados em estudos na rea da comunicao, em especial no Brasil, mas se situam historicamente em pocas diferentes no contexto dos estudos da interati-vidade. Rafaeli considerado um dos precursores dos estudos sobre o tema, ainda na dcada de 80, quando era possvel apenas vislumbrar as possibilidades interativas a partir das tecnologias existentes. Jensen, cujos trabalhos iniciam na dcada de 90, parte de uma gama de estudos que o precedem, entre eles o de Rafaeli, para avanar na definio do conceito. Alex Primo, por fim, re-presenta uma viso mais contempornea, j inserida no contexto das novas mdias impulsionadas pela popularizao do acesso Internet.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    1 RAFAELI E A INTERATIVIDADE COMUNICATIVA

    Sheizaf Rafaeli foi um dos primeiros pesquisadores que se props a estudar a interatividade. Sua teoria foi desenvolvida em 1988, mas ainda serve como base para muitos autores em estudos atuais. O prprio autor voltou a escrever sobre o tema quase uma dcada depois, em 1997, junta-mente com Fay Sudweeks, e concluiu que ainda estamos longe de uma teoria da interatividade (RAFAELI; SUDWEEKS, 1997, n.p.).

    Seus estudos so focados no campo da comunicao e inovao tecnolgica nos sistemas de comu-nicao com uma variedade de nveis de interao. Para o autor, a interatividade uma varivel, que pode ser aplicada no somente na comunicao face a face, mas em qualquer sistema de co-municao mediada (RAFAELI; SUDWEEKS, 1997). Ou seja, h interatividade tambm em comunica-o homem-mquina e homem-homem via mquinas, mas isto no significa que ela dependa exclusivamente de tecnologia para ocorrer.

    Rafaeli destaca que, se a internet e os avanos tecnolgicos facilitam a interatividade, eles no podem ser confundidos com o aumento da interatividade, ao contrrio do que apontam muitos autores, principalmente da rea da computao. Para eles, quanto mais tecnolgicos os canais, mais interativos eles so. Portanto, a interatividade, para o autor, uma qualidade do processo de comunicao e no uma caracterstica do meio do qual ele derivado, sendo conceituada como: a expresso da extenso que, em uma determinada srie de trocas comunicativas, relaciona qual-quer transmisso (ou mensagem) terceira (ou posterior) com o grau de referncia s trocas prvias, mesmo em transmisses anteriores (RAFAELI, 1988, p. 111).

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    Por este ponto de vista, a interatividade s existe no processo de comunicao quando a ltima res-posta refere-se s mensagens anteriores, ou seja, quando h uma mudana no contedo da men-sagem baseado nas transaes anteriores. uma teoria que traz a ideia de construo de contedo ao longo da conversa e recursividade em relao aos contedos de mensagens anteriores. Portanto, o autor considera que, alm do feedback principal caracterstica da interatividade segundo a pers-pectiva comunicativa outros seis fatores tambm esto presentes: bidirecionalidade1, resposta rpida, banda larga, controle do usurio, presena social e inteligncia artificial.

    importante observar que, ao citar o fator banda larga, Rafaeli no estava se referindo Internet banda larga, inexistente em 1988, e sim capacidade estrutural do canal (meio) de suportar a troca recproca de informaes entre emissor e receptor. Quanto ao controle do usurio, o autor ressalta a importncia do usurio poder receber e emitir informaes simultaneamente, assim como poder deixar a conversa a qualquer momento.

    Rafaeli e Sudweeks (1997) tambm apresentam algumas vantagens e desvantagens que a interativi-dade pode oferecer. Para eles, a comunicao apresenta maior satisfao e aceitao quando ela interativa, pois estimula o senso de diverso e a sociabilidade. A interatividade aumentaria tambm o grau de ateno, aprendizagem e fixao de contedos dos alunos e por isso os autores sugerem seu uso na pedagogia, apontando, porm, uma avaliao do custo-benefcio j que mais caro elaborar ferramentas interativas. Segundo Rafaeli, a comunicao interativa tambm mais lenta e pesada em comparao comunicao tradicional, uma vez que envolve mais esforo e ateno das partes envolvidas.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    2 JENS JENSEN E O CUBO DA INTERATIVIDADE

    O dinamarqus Jens Frederik Jensen tem se empenhado, em diversos trabalhos publicados nos ltimos 20 anos, em descrever e compreender a interatividade no contexto miditico. Sua obra mais relevante sobre o tema foi publicada em 1998, quando props uma tipologia com quatro padres de interativi-dade. Uma grande contribuio do autor neste trabalho, alm da tipologia proposta, a anlise que aponta contribuies e fragilidades dos diversos estudos realizados sobre o tema at ento.

    Entre as abordagens que ele considera pouco esclarecedoras, esto aquelas que listam diversas mdias consideradas interativas, mas no indicam as marcas que caracterizam a interatividade. Para Jensen, o estudo do conceito deve partir de uma busca por aquilo que torna a mdia interativa, independente do tipo de tecnologia empregada. Alm disso, o autor critica as teorias que sugerem que as mdias mais interativas so aquelas que se parecem com a comunicao interpessoal, ou seja, de uma viso sociolgica de interao. Por esse ponto de vista, as mdias seriam mais interativas na medida em que se aproximassem ao mximo do padro face a face, simplificando demasiadamente o conceito.

    Os quatro padres de interatividade propostos por Jensen sugerem a necessidade de novas formas de pensar as mdias, de acordo com o contexto de mudanas e inovaes tecnolgicas que per-meiam a comunicao contempornea:

    Estas novas mdias, que abrem possibilidades para novas formas de entrada e fluxo de informao do consumidor para o sistema, dificilmente podem ser descritas a partir dos modelos e das terminologias tradicionais de uma nica via. Pode-se afirmar que, com o processo de desenvolvimento, as teorias de mdia existentes sero cada vez menos teis para explicar o fenmeno de mdia atual (JENSEN, 1998, p. 187).

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    O raciocnio de Jensen para a elaborao de uma tipologia comea com os padres de comunicao cunhados por Bordewijk & Kaam (1986 apud JENSEN, 1998, p. 186). Para esses autores, possvel compreender o trfego de informaes a partir de dois aspectos bsicos: quem detm (ou cria) a informao e quem a distribui. A partir da, quatro padres de comunicao podem ser observados. O padro de transmisso caracterizado pelos meios de comunicao de massa, onde um veculo central responsvel tanto pela produo quanto pela distribuio da informao. O extremo oposto o padro de conversao, quando a informao deixa de ser concentrada em uma central informativa e passa a ser produzida e distribuda pelos prprios consumidores. O padro de consul-ta caracterizado por um modelo onde a informao produzida por um servidor, mas distribuda pelo consumidor, como, por exemplo, os bancos de dados ou os servios de TV on demand, onde o consumidor quem define o tipo de informao, a hora de acesso e a quantidade de contedo que deseja. Nos casos em que a informao produzida pelo usurio, mas distribuda por uma central, observar-se o padro de registro.

    Jensen considera que, assim como existem quatro diferentes padres de comunicao, existem diferentes mdias interativas que no podem ser comparadas ou compreendidas a partir da mesma frmula. Por exemplo, a interatividade entendida como escolhas que o usurio faz a partir do con-tedo informativo disponvel diferente da interatividade enquanto produo de informaes do usurio para o sistema (ou para a mdia) e da interatividade como a habilidade do sistema em se adaptar e responder ao usurio. Nessa perspectiva, Jensen define interatividade como: uma medida da habilidade potencial da mdia em deixar o usurio exercer influncia sobre o contedo e/ou as formas de comunicao mediada (JENSEN, 1998, p. 201). A partir da, o conceito assumiria quatro dimenses:

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    Interatividade transmissional a medida da habilidade potencial da mdia em oferecer ao usurio a possibilidade de fazer escolhas a partir de um fluxo de informaes disponveis em sistemas de mdia unilaterais que no contam com um canal de retorno. Os exemplos mais caractersticos seriam os veculos de comunicao tradicionais, como o rdio e a televiso.

    Interatividade Consultacional a medida da habilidade potencial da mdia em oferecer ao usurio a possibilidade de escolher, mediante pedido, a partir de um conjunto de informaes disponveis em um sistema de mdia bilateral. Como exemplos, o autor cita as enciclopdias em DVD ou a oferta de vdeos On Demand.

    Interatividade Conversacional a medida da habilidade potencial da mdia em oferecer ao usurio a possibilidade de produzir e enviar seus prprios contedos em um sistema de mdia bilateral. Isso pode ocorrer em tempo real, como no caso de uma videoconferncia, ou com diferentes tempora-lidades, como no caso do envio e do recebimento de e-mails.

    Interatividade Registracional a medida da habilidade potencial da mdia em registrar informao e por meio dela, responder s necessidades e aes do usurio, seja pelas escolhas feitas pelo usurio, seja pela capacidade do sistema em sentir e adaptar-se. Aqui, o autor cita como exemplos as interfaces ou sistemas de segurana com inteligncia artificial incorporada.

    Relacionando esses quatros sub-conceitos, Jensen esboa um cubo de trs dimenses onde podem ser classificados os diferentes tipos de mdias interativas.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    Figura: O cubo da interatividade (JENSEN, 1998).

    A linha horizontal localiza a mdia de acordo com seu nvel de interatividade transmissional/consul-tacional. Para projetar o cubo, Jensen agrupou esses dois fatores em uma mesma dimenso, consi-derando que ambos tratam das possibilidades de escolha do usurio - com ou sem pedido (1998, p. 201). A linha vertical localiza a mdia de acordo com o grau de interatividade conversacional e a linha que representa a profundidade do cubo situa a mdia de acordo com o grau de interatividade registracional. Dessa forma, Jensen consegue localizar pelo menos 12 tipos de mdias interativas,

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

    01sumrio

    situando-as nos diferentes quadrantes do cubo, a partir da recorrncia dos tipos de interatividade com os quais funcionam.

    Jensen no chega a detalhar a descrio do cubo, afirmando que esta seria uma tentativa tempor-ria de sintetizar o conceito de interatividade: no se trata de um beco sem sada, mas tambm no representa a soluo completa para a busca do conceito (1998, p. 202).

    3 ALEX PRIMO E O ASPECTO COGNITIVO DA INTERAO MEDIADA POR COMPUTADOR

    Para o autor da pesquisa sobre Interao Mediada por Computador, Alex Primo, o termo interati-vidade escorregadio, usado como argumento de venda e slogan de campanha publicitria, tanto para a indstria como na academia. Com essa preocupao, Primo foca seus estudos na interao mediada digitalmente e volta-se etimologia da palavra interatividade para justificar essa aborda-gem. Quanto interao mediada por computador, o autor concentra-se em analisar o que acontece entre o emissor e o receptor, entre o homem e a mquina. Enfim, entre os internautas na rede, adotando assim uma viso relacional que questiona como acontece a interao no ciberespao.

    Neste percurso, o autor recorre ao cabedal mecanicista da teoria informacional, que descreve a importante relao entre o funcionamento do computador e o processo cognitivo humano. O pen-samento do pesquisador est calcado em uma viso sistmica, de complexidade. Para ele, a ci-bercultura deve ser estudada e compreendida dentro de um contexto, do momento em que hoje

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

    Cristiane Fontinha Miranda, Beatriz Cavenaghi, Breno Biagiotti, Maria Jos Baldessar e Rogrio Cid Bastos

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    vivemos, de autopoiese. Como seres cognitivos, a autotransformao uma caracterstica humana. Ele observa que vivemos numa espiral e no h como voltarmos ao incio da mudana.

    Primo analisa no apenas as relaes com as mquinas ou entre as mquinas, mas relaes in-terpessoais mediadas pelo computador e acredita que a interao no fruto do meio, mas um processo que acontece entre interagentes. Por isso, o autor critica algumas abordagens recorrentes sobre interatividade, entre elas, os modelos elaborados por Jensen e Rafaeli.

    Sobre o cubo da interatividade proposto por Jensen, aponta: peca ao centrar-se especificamente nas caractersticas do canal, isto , o cubo de Jensen parte do potencial tcnico dos diferentes meios e no do estudo da relao entre os interagentes e da evoluo desse relacionamento (PRIMO, 2008, p. 38).

    O autor tambm critica as pesquisas de enfoque transmissionista, que trabalham a interao mediada por computador como a emisso de uma mensagem de um polo (emissor/webdesigner) a outro (receptor/usurio), (2008, p. 226) e conclui que o conceito de bidirecionalidade, to pouco ajuda, se pensado com foco na tecnologia, desconsiderando o relacionamento dos agentes com o contedo em questo.

    A to conhecida frmula emissor mensagem meio receptor acaba sendo atualizada no seguinte modelo: webdesigner site Internet usurio. Os termos so outros, foram modernizados, mas trata-se da mesma e caduca epistemologia. A diferena que se destaca que no apenas se recebe o que o plo emissor transmite, mas tambm se pode buscar a informao que se quer. O novo modelo, ento, seria: webdesigner site Internet usurio. Essa seria a frmula da chamada interatividade (PRIMO, 2008, p. 11).

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    Sobre a proposta de Rafaeli, aponta falhas na aplicao da tipologia na anlise da interao ho-mem-mquina. Tal mensurao classificaria como interatividade a interao entre um rob e uma pessoa, que no pode ser comparada a um dilogo entre duas pessoas. Apesar de apontar dificul-dade terica em diferenciar a interao humana da interao homem-mquina, o estudioso reco-nhece o valor da discusso de Rafaeli ao criticar o ideal conversacional, que compara a inteligncia artificial inteligncia humana.

    Com foco nas relaes que acontecem entre os interagentes, Primo prope, ento, a existncia de dois tipos de interao mediada por computador. O primeiro a interao mtua, quando os inte-ragentes renem-se motivados pela resoluo de algum problema e o relacionamento entre eles definido a partir do evento em questo. Ela se caracteriza pelo ir e vir de aes e no pela soma das aes individuais de determinado agente, podendo ser afetadas positivamente ou negativamente. Cada agente apresenta sua viso, esta pode ser modificada ao longo do dilogo ou modificada no processo da construo uma nova proposta, resultado reflexes originais deste agente associada a outras. A interao mtua no individual, construda relacionalmente. Como as relaes pro-postas so motivadas por um conflito, so temporais e construdas por perodos mais longos ou de curta durao.

    J as interaes reativas se determinam a partir das condies iniciais, com base nas relaes de estmulo e resposta. Enquanto as interaes mtuas se desenvolvem em virtude da negociao durante o processo, as interaes reativas dependem da previsibilidade e da automatizao nas trocas (PRIMO, 2008, p. 149). Contudo, o pesquisador salienta que, nas interaes reativas, mesmo que haja um interagente mediador na relao homem-mquina, ela caracterizada por reaes

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    especificadas, que seguem um script, dentro do padro estmulo resposta (input-output). O autor salienta que as duas formas de interao podem acontecer ao mesmo tempo, sendo a interao mtua fundamental em certas relaes, como na educao a distncia.

    CONSIDERAES FINAIS

    A aparente confuso que cerca a ideia de interatividade pode ser explicada, como se pode observar nos trabalhos destacados neste artigo, pela diversidade de enfoques que guiam os pesquisadores interessados no assunto. Cada abordagem parte de um ponto de vista e avana em determinado aspecto do conceito, deixando de lado tantos outros possveis e, assim, fragmentando e particulari-zando o conhecimento acerca das mdias interativas.

    A teoria proposta por Rafaeli deixa de lado as caractersticas da mdia e no se preocupa com o canal (meio) entre emissores e receptores, mas contribui para a compreenso da interatividade enquanto uma construo, atravs do feedback, de um contedo colaborativo originado pela troca de informaes entre as partes. Para ele, a interatividade uma caracterstica presente em muitos sistemas de comunicao, desde o face a face at a comunicao mediada por computadores.

    O autor lista as principais caractersticas, vantagens e desvantagens dos sistemas interativos e con-tribui ao sugerir, ainda na dcada de 80, uma ponte com o campo da pedagogia. Atualmente o foco de seus trabalhos so as implicaes sociais das novas tecnologias de comunicao.

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    Em uma abordagem claramente estruturalista, Jens Jensen preocupa-se com as caractersticas da mdia que a tornam interativa. Ao sugerir que as mdias sejam situadas nos diferentes quadrantes do cubo da interatividade, o autor parece resolver, em partes, um impasse verificado nas abordagens an-teriores: ao invs classificar as mdias entre interativas ou no interativas, Jensen verifica quais ca-ractersticas interativas cada mdia apresenta, afastando-se das classificaes dualistas e excludentes.

    Apesar disso, diversos estudos do campo da comunicao, ao citar o trabalho de Jensen, parecem ignorar o pensamento do autor, apenas utilizando as quatro dimenses de interatividade como ca-tegorias, sem relacion-las com a funo do cubo proposta pelo autor. Assim, deixam de lado o que parece ser a grande contribuio do autor. a partir do momento em que a mdia situa-se no cubo, em que se pode observ-la sob as trs dimenses de interatividade (transmissional/consultacional, conversacional, registracional) que a teoria de Jensen passa a fazer sentido.

    O brasileiro Alex Primo no se prope a definir o que a interatividade, mas opta por estudar o que acontece entre o emissor e o receptor, na interao mediada por computador. Para isso, se aprofunda nas teorias de autores que o antecederam, descrevendo seus principais avanos e fazendo consideraes pontuais s tipologias elaboradas. Ao contextualizar o estudo da interao mediada por computador, Primo utiliza uma abordagem sistmico-relacional. Para ele no se pode desassociar o processo cognitivo humano do processo interativo, nem reduzir a cognio cpia de uma realidade ou a interao apenas transmisso de informaes. O processo de interao mais complexo e deve ser analisado dentro de um contexto.

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    Por fim, elabora a proposta de dois grupos de interao mediada por computador: as interaes mtuas e interaes reativas, que se estabelecem em resposta a um estmulo. Mesmo no defen-dendo as interaes mtuas, onde o dilogo construdo pelas partes, Primo afirma serem seus processos dialgicos e negociados, como um processo que garante relaes amistosas e igualit-rias, resoluo necessria de conflitos, melhor entendimento e produtividade ou qualquer outra viso de processo idealizado (PRIMO, 2008, p. 231).

    Quadro 1: Conceito de interatividades segundo os autores citados.

    Autores Abordagem Interatividade

    Rafaeli Comunicativa.No est preocupado com o canal.

    Ocorre por meio do dilogo e do feedback.Contedo colaborativo.

    Jensen Estruturalista.Tem como foco as caractersticas das mdias.

    Caractersticas interativas das mdiasDescreve trs dimenses de interatividade.

    Primo Sistmico-relacional.Estuda o que acontece entre emissor e receptor, a interao mediada por computador.

    Prope dois tipos e interaes mediadas por computador: Interao mtua e a reativa.

    Fonte: Autoria prpria.

    Longe de detalhar os inmeros argumentos apresentados por cada autor, este artigo procurou de-monstrar as trs vertentes de estudos, assinalando suas principais contribuies para o estudo das mdias. Destaca-se a importncia de uma contextualizao cuidadosa que anteceda o uso do concei-to de interatividade, uma vez que ele vai tomar diferentes propores e diferentes caractersticas, de acordo com a linha de pensamento que o origina. E isso faz toda a diferena para a compreenso das trocas interativas enquanto fenmenos comunicacionais.

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    Interatividade: um conceito, trs diferentes abordagens

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    NOTA

    1. No contexto comunicativo contemporneo, pode-se falar tambm em multi-direcionalidade, ou seja, a multiplicidade de fontes e construo colaborativa de contedo que caracterizam o Conectivismo. Essa teoria, proposta por George Siemens em 2005, est baseada na interatividade entre alunos em ambientes mediados por computador. voltar

    REFERNCIAS

    JENSEN, J. F. Interactivity: tracking a new concept in media and communication studies. Nordicom Review, Gothenburg, v. 19, n. 1, 1998. Disponvel em: . Acesso em: 12 de maio de 2014.

    KIOUSIS, S. Interactivity: a concept explication. New Media & Society, 2002. Disponvel em: . Acesso em: 29 de maio de 2014.

    PRIMO, Alex. Interao mediada por computador: comunicao, cibercultura, cognio. Porto Alegre: Sulina, 2008.

    RAFAELI, Sheizaf. Interactivity: From New Media to Communication. In: HAWKINS, Robert; WIEMAN, John; PINGREE Suzanne (org.). Advancing Communication Science: Merging Mass and Interpersonal Processes. 1988. Disponvel em: . Acesso em: 12 de maio de 2014.

    RAFAELI, Sheizaf; SUDWEEKS, Fay. Networked Interactivity. Journal of Computer Mediated Communication. 1997. Disponvel em: . Acesso em: 28 de maio de 2014.

    ROST, Alejandro. La interactividad en el peridico digital. 2006. Tese. Universidade Autnoma de Barcelona. Disponvel em: . Acesso em: 22 de maio de 2014.

    http://www.nordicom.gu.se/common/%20publ_pdf/38_jensen.pdfhttp://nms.sagepub.com/content/4/3/355.abstract%23cited-byhttp://nms.sagepub.com/content/4/3/355.abstract%23cited-byhttp://gsb.haifa.ac.il/~sheizaf/interactivity/http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1083-6101.1997.tb00201.x/fullhttp://red-accion.uncoma.edu.ar/Libros/Lainteractividad.pdf

  • CIBERDIARISTAS SURDOS: POSSIBILIDADES DE EMISSO, INTERAO E COMPREENSO NO CIBERESPAOCIBERDIARISTAS DEAF: ISSUANCE POSSIBILITIES, INTERACTION AND COMPREHENSION IN CYBERSPACE

    CIBERDIARISTAS SORDOS: POSIBILIDADES DE EMISIN, INTERACCIN Y ENTENDIMIENTO EN EL CIBERESPACIO

    Simone Lorena Silva Pereira

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

    Simone Lorena Silva Pereira

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    Resumo: O presente estudo teve como objetivo conhecer as contribuies do ciberdirio, no caso o Blog, para a cons-truo de um espao motivador para a emisso, a interao e a compreenso dos ciberdiaristas surdos. E identificar, ainda, as influncias do ciberespao e da cibercultura para a mudana de comportamentos dos usurios e para a produo dos ciberenunciados. Desta forma, observou-se que, o ciberdirio (Blog) pode possibilitar a efetivao de um espao conversacional em que compartilha-se significados, ideias, informa-es, emoes atravs dos diversos recursos miditicos disponveis possibilitando que o surdo sinta-se livre para ser e estar no mundo.

    Palavras-chave: ciberdirio; cibercultura; ciberespao; surdo; socializao.

    Abstract: The present study aimed at knowing the contributions of ciberdirio in case the blog, to build a motivating space for the emission, interaction and the understanding of deaf ciberdiaristas. And also to identify the influences of cyberspace and cyberculture for the change of user behaviors and for the production of cibe-renunciados. In this way, it was observed that the ciberdirio (Blog) may enable the effectuation of a conver-sational space in which it shares meanings, ideas, information, emotions through various media resources available allowing the deaf feel free to be and be in the world.

    Keywords: ciberdirio; cyberculture; cyberspace; deaf; socialization.

    Resumo: El presente estudio tuvo como objetivo evaluar las contribuciones del ciberdirio, en este caso el blog, para construir un espacio motivador para la emisin, la interaccin y la comprensin de ciberdiaristas sordos. Tambin buscamos identificar las influencias del ciberespacio y cibercultura para cambiar los comportamien-tos de los usuarios y para la produccin de ciberenunciados. As, se observ que el ciberdirio (blog) puede

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

    Simone Lorena Silva Pereira

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    permitir la efectividad de un espacio de conversacin en que se puedan compartir significados, ideas, infor-macin, emociones travs de distintos recursos de los medios disponibles, permitiendo a los sordos la liber-dad para ser y estar en el mundo.

    Palavras-chave: ciberdirio; cibercultura; ciberespacio; sordos; socializacin.

    O surdo tem na Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) a sua principal forma de comunicao, sendo reconhecida pela Lei 10.436/02 como a lngua natural da comunidade surda. Apesar dessa conquis-ta, as dificuldades de comunicao do surdo ainda persistem, pois ocorre a ausncia de uma lngua plenamente constituda e a sua disposio o que dificulta a comunicao, a formao de opinio e a independncia. Desta forma, torna-se necessrio levar em considerao a pluralidade de sujeitos que coexistem em nossa realidade plural e desigual.

    Frana (2010, p. 53) chama a ateno para a necessidade de pensar conjuntamente a tecnologia em relao ao seu meio, cultura e relaes que se estabelecem, pois ela integra e ajuda a costurar o tecido social reorganizando e reordenando diferentes esferas da vida. Diante disso, a autora cita Castells (2004) para destacar a Internet que, desde o sculo XX tem gerado significativas transfor-maes nos modos de comunicar e de criar vnculos profissionais, sociais e afetivos.

    Assim, importante compreender as contribuies do ciberdirio, no caso o Blog, como um im-portante espao de socializao para os surdos que, de acordo com as literaturas, possibilita a po-tencializao da liberdade de emisso, motivando o surdo a ser livre para ser e estar no mundo. O

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    ciberdirio proporciona, desta forma, o contato com a chamada cultura do acesso, que segundo Santaella (2003b, p. 28) essa formao cultural est nos colocando no s no seio de uma revolu-o tcnica, mas tambm de uma sublevao cultural cuja propenso se alastrar tendo em vista que a tecnologia dos computadores tende a ficar cada vez mais barata.

    Vale ressaltar que, essa ferramenta evidencia o carter subjetivo e interativo em que a relao de alteridade fator imprescindvel permitindo assim, o compartilhamento de ideias, emoes, sentimentos e atitudes. E com a expanso das tecnologias mveis pontecializa-se a atuao dos ciberdiaristas que podero produzir os seus dirios virtuais em tempo real produzindo um novo tipo de interao atravs de Moblogs (aparelhos celulares e palmtops, por exemplo). Desta forma, aps pontuar algumas questes importantes sobre a cibercultura, o ciberespao e os ciberdirios refletir sobre as possveis contribuies dos blogs para uma postura mais crtica, autnoma e aprendente do surdo.

    1 CIBERESPAO, CIBERCULTURA E CIBERSOCIALIDADE

    Schroeder (2011, p. 33) afirma que, a generalizao do uso das Tecnologias da Informao e Comu-nicao em todos os mbitos da sociedade delineia novos contornos que esto constituindo uma gerao interativa. Pois, de acordo com Kenski (2012, p. 20) a tecnologia - alm adensar a memria - possibilita o bem-estar e, principalmente, altera comportamentos, pois o homem transita cultu-ralmente mediado pelas tecnologias que lhes so contemporneas. Elas transformam sua maneira de pensar, sentir, agir (KENSKI, 2012, p. 21).

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    Sobre as novas tecnologias de informao Lemos (2002a, p. 73) afirma que devem ser considera-das em funo da comunicao bidirecional entre grupos e indivduos, escapando da difuso cen-tralizada da informao massiva. Segundo ele, essas novas tecnologias surgem em 1975 quando houve a passagem do mass media (em que a distribuio e difuso da informao era centralizada resultando em receptores passivos) para as formas de comunicao individualizadas (produo, difuso e estoque de informaes), ou seja, aconteceu a fuso entre o analgico e a informtica. Desta forma, no ciberespao1, a circulao das informaes segue a multiplicidade de todos-todos, que rompe com o sentido nico, sendo um lugar desterritorializado e semitico.

    E os novos medias eletrnicos (instrumentos de simulao atravs de tcnicas que podem alterar o tempo e o espao) so vistos como tecnologias da liberdade, pois como argumenta Lemos (2002a, p. 75), com os hipertextos, a liberdade de navegao do usurio desestabiliza distines clssicas entre leitor e autor. Ele apresenta a tecnologia digital com um instrumento de novas formas de socializao e de vnculos comunitrios e associativos.

    Desta forma, a socialidade contempornea2 vai ser chamada de cibersocialidade que a siner-gia entre a socialidade contempornea e as novas tecnologias do ciberespao (LEMOS, 2002a, p. 87). Sendo essa socialidade baseada na multiplicidade de experincias coletivas, de formas hete-rogneas em que o indivduo desempenha papis e usa mscaras. Colocando nfase naquilo que realmente o presente. O autor cita Michel Maffesoli para dizer que a cibercultura se constitui como uma cibersocialidade, ou seja, uma esttica social alimentada pelo que poderamos chamar de tecnologias do ciberespao (redes informticas, realidade virtual, multimdia) (2002a, p. 95).

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    Vale ressaltar que, segundo Santaella (2003a, p. 104) a cibercultura no se limita a quando os usu-rios ligam o computador, pois a fonte fundamental dela est no processador. Duas consequncias que se destacam na cibercultura so as comunidades virtuais (novas comunidades, intercmbio de mensagens e documentos em linguagem eletrnica hbrida, ligando-se pelo desktop e outros meios portteis) e a inteligncia coletiva (SANTAELLA, 2003a, p. 105). Assim, a cibercultura mostra que a socialidade uma prtica da tecnologia. Estas tecnologias que coexistem e convivem simultanea-mente na contemporaneidade.

    Assim, quando um usurio humano liga-se ao sistema e ao computador torna-se interativo conec-tando mundos interdependentes. Santaella (2003a, p. 92) comenta que as as interfaces so zonas fronteirias sensveis de negociao entre o humano e o maqunico. Essa interao acontece em meio a uma nova linguagem a-linear construda entre as conexes sendo chamada de hipertextos e hipermdia3.

    Santaella (2003a, p. 122) trata da comunidade virtual que composta por grupos de pessoas que trocam mensagens, ideias por meio das redes de computador, podendo ou no se encontrarem pessoalmente. Diante disso, percebe-se que as comunidades virtuais possibilitam novas formas de socializao, de forma flexvel e fluda, atravs dos fios da rede de computadores.

    [...] as redes nos dotam com o poder de virtualmente atravessar o planeta de ponta a ponta em fraes de segundos, de outro lado, na medida mesma em que as conexes se multiplicam, as comunidades que se criam correm o risco de tornarem cada vez mais areas, frgeis e efmeras [...] tende a se intensificar ainda mais nas configuraes recentes que o ciberespao vem adquirindo atravs da multiplicao das pequenas janelas digitais. (SANTAELLA, 2003a, p. 123)

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    De acordo com Lemos (2002a, p. 128) no pode-se deixar de destacar que o ciberespao educacio-nal cresce de forma significativa. E ainda para a importncia da convergncia de todas as linguagens pr-existentes que afeta a constituio dos sujeitos culturais e da construo dos laos sociais.

    2 O CIBERDIRIO (BLOG) E SUAS FORMAS DE SOCIALIZAO NO CIBERESPAO

    Mximo (2006, p. 14-15) afirma que, os blogs possuem relao com a liberdade de expresso e de colaborao em rede, e destaca-se por ser um espao de expresso do eu cotidiano na internet. Para Rocha (2003, p. 76) o blog pode ser visto como um dirio pessoal, uma homepage ou um site personalizado, dinmico e interativo, atualizado frequentemente, quando o blogueiro quiser ou puder que exige do usurio apenas os conhecimentos bsicos de informtica.

    Os weblogs so tambm organizados em torno de redes. Cada blog traz em si a idia de um indivduo, o blogueiro, aquele que se manifesta atravs do blog. Em cada um desses blogs comum encontrarmos uma lista de outros blogs que aquele blogueiro l e recomenda a leitura. Quase como uma vizinhana no ciberespao. Alm disso, a ferramenta de comentrios pemite que o weblog seja um espao de discusso, de interao mtua, capaz de gerar laos sociais e, tambm, comunidades. (RECUERO, 2004, p. 6)

    Alm de permitir que se possa externar a viso que tem de si e das coisas, a internet desinibe os discursos pessoais, diferentemente do que acontecia com os mass media sendo ainda uma forma de revitalizar prticas antigas como os dirios pessoais.

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    Os weblogs, enquanto pginas pessoais, so extenses da prpria percepo de si dos blogueiros, quase uma extenso tambm de seus sentidos, como diria McLuhan (1968) e possuem uma relao ntima com a prpria idia de si dessas pessoas. Entendemos que os weblogs funcionam como uma presena do eu no ciberespao. o que Sibilia (2003) chama de imperativo da visibilidade da nossa sociedade atual. Esse imperativo, decorrente da interseco entre o pblico e o privado, para ser uma conseqncia direta do fenmeno globalizante, que exacerba o individualismo. preciso ser visto para existir no espao dos fluxos. preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede, apropriando-se do ciberespao e constituindo um eu ali. (RECUERO, p. 2004, p. 3)

    Lemos (2002b, p. 1) ressalta que, tanto os fenmenos das webcams quanto dos dirios pessoais na Internet so meios de expresso individuais que so construdas atravs de tecnologias de design de hipertextos (sites) e de emisso de imagens (cmeras). Segundo o autor, os dirios pessoais de-monstram o espetculo da tecnologia como forma de esttica social de contato. Lemos (2002b, p. 2) cita Erickson (1996) para dizer que O ciberespao , aqui, utilizado como um hipertexto social chamado de uma forma de aisthanesthai, que possibilita a construo identitria e coletiva, reve-lando mais uma particularidade da cibersocialidade.

    [...] as identidades dos blogueiros so constantemente construdas e negociadas, a partir de preferncias e entendimentos partilhados no interior dos contextos sociais especficos nos quais eles se inserem. Desta forma, o universo dos blogs provoca a tenso entre o local e o global em diferentes planos, tanto nos termos das relaes entre o eu e o grupo, quanto nos termos das relaes entre o grupo e a Rede, com suas mltiplas conexes e possibilidades. (MXIMO, 2006, p. 64).

    De acordo com Lemos (2002b, p. 2) os ciberdirios esto associados as novas possibilidades de li-berao do emissor que as tecnologias do ciberespao proporcionam. Liberdade esta que difere do

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    mass media que sempre buscavam o controle das modalidades comunicativas. A liberdade relativa do emissor - ampliada em comparao com os mass media - fortifica a exacerbao da informa-o assim como possibilita expresses livres e mltiplas. Em que, o atual excesso de informao permite, paradoxalmente, a pluralizao de vozes e, efetivamente o contato social.

    Lemos (2002b, p.4) apresenta algumas diferenas entre os ciberdirios e os antigos dirios pessoais: primeiro, um hipertexto eletrnico - permite a atualizao constante, em tempo real imediatista - e ainda de carter pblico. Porm, o dirio online e o dirio de papel compartilham um aspecto fundamental: a subjetividade do autor, pois o ciberdiarista que cria e mantm o blog, por exemplo, tem total liberdade de expresso, como pode-se comprovar pela frequncia diria das postagens.

    3 O CIBERDIRIO NO BRASIL

    Lemos (2002b, p.5) disserta que, a quantidade de ciberdiaristas no Brasil cresce, principalmente por meio do uso de weblogs em que existe uma comunidade chamada de vizinhana. O autor diz que este termo demonstra a prtica individual e coletiva o que refora, nos meios eletrnicos, formas de sociabilidade agregadoras e empticas (LEMOS, 2002b, p. 5). Segundo Mximo (2006, p. 55), os blogueiros brasileiros contribuem significativamente, inclusive, para que o Brasil ocupe uma posio central nos debates e aes em torno do software livre e do contedo-aberto.

    Schroeder (2011, p. 35) realizou em agosto de 2010 uma busca em que encontrou aproximadamen-te 11,17 bilhes de referncias ao termo BLOG e, ao restringir essa pesquisa no mbito brasileiro, deparou-se com cerca de 578 milhes enquanto que no perodo de 2006 os resultados eram de,

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    aproximadamente, 830 mil. O autor cita Sala e Chalezquer (2009) para demonstrar indicadores que - com relao aos usurios - referem 40% dos internautas dos pases Ibero-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Mxico, Peru e Venezuela) possuem ou criaram uma pgina prpria na inter-net seja um blog, fotoblog ou algum espao para divulgar seus vdeos. E ainda que, 15% no possui essa experincia, mas considera uma interessante opo para o futuro.

    Observou-se ainda que, a internet para os jovens brasileiros - alm de um meio de acesso a infor-maes - um importante canal de relacionamento em que, fazer parte de comunidades e utilizar os blogs torna-se uma prtica habitual. Assim, Schroeder (2011, p.36) argumenta que, Os blogs so sites de fcil construo e manuteno. Alm disso, possibilitam interatividade entre os seus usurios (construtores e visitantes). E que, devido ao seu carter individual so utilizados para di-ferentes atividades tanto para o uso pessoal, quanto comercial e at educacional. De acordo com Franco (2005, p. 3) existem alguns blogs e sites com o objetivo de difundir os blogs por assuntos em que o internauta pode pesquisar e ler aquele que mais convm aos seus interesses, como no blog Blogopdia (2004), ou no site BlogList (2004),exclusivo para blogs brasileiros, que oferece a busca por categorias como: pessoais e estilo de vida [...].

    Schroeder (2011, p. 38) comenta que os blogs, no decorrer do tempo, tornaram-se espao de disse-minao de ideias e informaes mais consistentes sendo hoje, uma das ferramentas de comunica-o mais populares da internet. E podem ser compreendidos ainda como ferramentas colaborativas em que as trocas de informaes e conhecimentos acontecem em conjunto.

    Serrano (2005) destaca ainda uma funcionalidade bastante significativa dos blogs, pois como o sistema organiza automaticamente as mensagens (posts) do usurio, bem mais fcil

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    acrescentar textos em um blog do que em um site tradicional. Sublinha-se, assim, que o que distingue o blog do site justamente a facilidade com que se pode fazer registros para a sua atualizao, o que o torna muito mais dinmico do que os sites, pois sua manuteno mais simples. (SCHROEDER, 2011, p. 38)

    Segundo Lemos (2002b, p. 6) os fenmenos dos ciberdirios fazem parte do dia-a-dia nas grandes metrpoles mundiais sendo uma forma de socializao e de expresso individual, os dirios online mostram uma forma de luta contra a desespacializao e o enfraquecimento da esfera pblica. Vemos que, no ciberespao ocorre a mistura daquilo que pblico e do privado, pois os usurios dispem da liberdade do plo da emisso que contribui para a construo de imagens identitrias transpondo assim, as barreiras entre eles. O que comprovado por Lemos (2002b, p.7) quando apresenta a pesquisa de Carvalho (2001) que analisou alguns diaristas e percebeu que sua principal caracterstica est na possibilidade da liberdade de emisso.

    Mximo (2006, p. 64) argumenta que, para a rede que o blogueiro se apresenta, desta forma, o compartilhamento uma caracterstica importante do blog em que os escritos devem obter a acei-tao e, principalmente, deve corresponder ao que o Outro quer ler (Schittine, op. cit.). Lemos (2002b, p.8) diz que, as pginas pessoais so formas de construo de uma imagem identitria, mesmo que esta seja sempre fragmentada e plural (LEMOS, 2002b, p. 8). E, finalmente, Lemos (2002b, p. 9) trata as home pages como mediadoras da relao entre o pblico e o privado e com base em Lvi-Strauss as vincula a noo de bricoleur, pois se apropria de materiais diversos como imagens, sons, textos e da prpria imagem.

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

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    Vimos at agora que, de fato, o ciberespao um grande hipertexto social com infindveis ns na rede caracterizando, desta forma, a internet como um espao de construo de identidade e de socializao em que os ciberdirios servem de suporte para as reflexes dirias e ntimas dos usu-rios. Assim, antes de adensar um pouco mais acerca do blog e as suas contribuies para a vida dos surdos interessante observar de que forma a internet est presente no cotidiano deste pblico e, por conseguinte, influencia em sua mudana de comportamento.

    Neves (2009, p. 7) realizou uma pesquisa com estudantes surdos do ensino mdio para conhecer quais as tecnologias com que tinham mais contato e como eram utilizadas no dia-a-dia. A autora constatou que, a internet a ferramenta mais utilizada pelos os alunos surdos sendo que, o tipo de contedo que mais acessam so os sites de relacionamentos. Os dados da pesquisa apontaram que, a necessidade de interao o que torna a internet mais atrativa para os informantes, pois o uso d-se muito mais pela possibilidade de conexo e de comunicao do que pela possibilidade de informao que ela proporciona (NEVES, 2009, p. 7).

    Uma outra questo interessante, apresentada pela autora, refere-se a interao entre os usu-rios surdos e ouvintes na internet. Os dados demonstraram que, 60% dos partcipes surdos tem contato com surdos e ouvintes de forma equivalente, 27% com surdos e 10% com ouvintes. Esse resultado comprova que, neste ambiente, a diferena entre a modalidade visual-espacial e oral--auditiva no uma barreira para a comunicao, pois possibilita a interao atravs dos diversos recursos miditicos disponveis.

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    Para Arcoverde (2006, p. 260), a internet permite ainda o contato entre surdos com diferentes es-tgios lingusticos (tanto em LIBRAS quanto em Lngua Portuguesa), tendo diversas experincias de vida e provenientes de outras regies e nacionalidades. Essa aproximao entre os pares contribui para o fortalecimento da cultura e da identidade surda. Rosa (2012, p. 22) destaca que a identidade surda est sempre em proximidade, em situao de necessidade do encontro com o outro igual, nesse caso, do contato surdo-surdo. Perlin e Reis (2012, p. 39) defendem que, o dilogo externo entre os surdos o processo de tornar-se e manter-se surdo de acordo com o agenciador totmico (em que ser surdo visto como algo natural indo de encontro a viso mdica em que a surdez vista como patologia). O momento em que o surdo se afirma como diferente, como construtor e como consumidor de uma cultura da qual se orgulha igualmente (PERLIN; REIS, 2012, p. 39). E no blog, Mximo (2006, p. 267) afirma que, o blogueiro apresenta uma imagem inacabada, em construo, que s existe na relao com o outro, num permanente processo de negociao.

    A noo de pessoa implicada na constituio do blogueiro , portanto, aquela de um eu-imagem que, como coloca Bruno (2004, p. 25), o efeito produzido na interface com o outro, pois nesta interface que ele ganha realidade ou esmaece, caso no encontre o olhar que o realiza. um eu que se constri intersubjetivamente, que se expressa em narrativas e em performances que pressupem a existncia do outro e se inscrevem dentro do campo de possibilidades em que o sujeito est inserido. O universo dos blogs se constitui, assim, como um espao de emergncia de identidades e subjetividades que devem se fazer ver e ser vistas para existirem, ou ainda, que no existem seno pelo e sob o olhar do outro. (MXIMO, 2006, p. 267)

    Sobre a cultura surda, Campos e Stumpf (2012, p. 177) afirmam que ela tem na sua lngua de sinais a mais forte conotao de identidade. Os surdos se reconhecem e so reconhecidos pelas suas lnguas de sinais. Diferentes entre si, correspondendo aos diversos pases aos quais pertencem, elas consti-tuem um fator poderoso de identificao entre as muitas culturas surdas por sua modalidade espao-

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    -visual. Observa-se assim, a importncia da lngua de sinais como lngua natural da comunidade surda e que a privao do uso dela a negao das possibilidades de se ser o que (ARCOVERDE, 2006, p. 260). E a internet atravs da maior liberdade de emisso - seja atravs da lngua de Sinais (tanto sinalizada quanto escrita Sign Writing) ou da Lngua Portuguesa - torna o ambiente mais envolvente para os surdos reforando que um espao virtual, no dimensionvel, torna-se o espao onde a iden-tidade e a cultura surdas transitam (ANDRIOLI; VIEIRA; CAMPOS, 2013, p. 1795).

    [] a Lngua de Sinais vem sendo o veculo lingustico usado pela comunidade surda no uso das diversas tecnologias s quais tm acesso. possvel perceber, em uma rpida pesquisa pela web, a presena massiva desse grupo lingustico minoritrio em diferentes perspectivas. Sejam elas para expressar opinies e posicionamentos, sejam para discusses, e, mais fortemente, para esclarecimentos de acontecimentos polticos e sociais, dos quais estavam distanciados at o advento da web (ANDRIOLI; VIEIRA; CAMPOS, 2013, p. 1794-1795)

    Andrioli, Vieira e Campos (2013, p. 1800) destacam que as tecnologias digitais facilitam a comuni-cao dos surdos com o mundo tirando-os do isolamento em que viveram durante tanto tempo. As autoras, realizaram uma pesquisa que tinha como pblico-alvo trs surdos usurios da Lngua Brasileira de Sinais, atuantes na comunidade surda, com formao no ensino superior.

    Os depoimentos mostram o quanto a tecnologia significou, ao longo do tempo, mais autonomia para o exerccio das atividades dirias, bem como acesso s informaes e participao social. Tambm foi destacada a importncia de haver mltiplos recursos, especialmente os que envolvem vdeo e texto como um recurso facilitador da comunicao de maneira clara e fluida (ANDRIOLI; VIEIRA; CAMPOS, 2013, p. 1801)

    Mximo (2006, p. 272) infere que, como o blog um espao de consenso/dissenso e sociabilidade evoca novas experincias, significados e transformaes dos sujeitos, pois expressam seus interesses,

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    lealdades e autoridades, os blogueiros se tornam atores dos seus prprios dramas, pensando e agindo sobre si mesmos e sobre suas redes de relaes sociais.

    [] as Tecnologias Digitais tem contribudo com a ampliao da cidadania de pessoas surdas, usurias da Lngua de Sinais, especialmente no caso de lideranas sociais. A evoluo e a crescente democratizao do acesso s Tecnologias Digitais, bem como o reconhecimento da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como segunda lngua oficial do Brasil, foram aspectos essenciais para ampliao da autonomia e participao social dos surdos [] Um fator importante observado foi a prpria percepo de cidadania pelos prprios surdos facilitada pelas tecnologias, a medida em que conseguiam conquistar mais autonomia para ter acesso a informaes importantes e de seu interesse e ao mesmo tempo podendo compartilh-las de diferentes maneiras, especialmente pelo uso de celulares e internet. (ANDRIOLI; VIEIRA; CAMPOS, 2013, p. 1802)

    De acordo com Bisol, Bremm e Valentini (2010, p. 293) as novas tecnologias tem influenciado tanto na vida de ouvintes quanto na vida de surdos. Segundo eles, essas tecnologias proporcionam um importante lugar de interao e troca de informaes podendo contribuir, inclusive, para o proces-so de aprendizagem da lngua portuguesa para os surdos, pois oportuniza a prtica da leitura e da escrita em contextos interativos, atravs de um espao motivador.

    Para os surdos, a internet pode trazer uma srie de benefcios, como o aumento de interaes entre membros da comunidade surda independente da distncia geogrfica, a aprendizagem e o uso da lngua de sinais escrita, o conhecimento da cultura da informtica e o acesso histria e cultura surda (Stumpf, 2000). Recursos como compartilhamento de vdeos on-line permitem ainda que a comunicao se d diretamente em lngua de sinais. (BISOL; BREMM; VALENTINI, 2010, p. 293).

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    Bisol, Bremm e Valentini (2010, p. 293) apresentam o blog como um recurso interativo que possi-bilita um lugar de emergncia da autoria, pois permite ao blogueiro narrar a si mesmo e acessar seus sentimentos e percepes.

    Uma experincia com o uso de blogs por adolescentes surdos foi realizada por Camargo, Valentini e Bisol (2005). Os jovens mostraram facilidade de se apropriar das ferramentas disponibilizadas em ambientes informatizados e curiosidade em conhecer as opes de ferramentas disponveis para formatao de posts e interface do blog. (BISOL; BREMM; VALENTINI, 2010, p. 293).

    Os autores ressaltam que, apesar das dificuldades na produo escrita em lngua portuguesa, os part-cipes surdos conseguiram juntar os elementos narrativos necessrios para construir e produzir sentido.

    O estudo da utilizao do blog como instrumento para o ensino e aprendizagem da lngua escrita, embora incipiente, mostra-se promissor. Acredita-se que possa proporcionar espaos conversacionais motivadores que contribuam para a insero dos jovens surdos na sociedade do conhecimento. (BISOL; BREMM; VALENTINI, 2010, p. 298).

    Gargalaka (2012, p. 83) analisou blogs criados para serem utilizados como recurso pedaggico para o ensino de LIBRAS. E observou que, o ciberdirio (Blog) pode ser um lugar no ciberespao que permite efetivamente a mediao de novas aprendizagens. Apesar de focar no ensino de LIBRAS para ouvintes, o interessante que a autora refora a importncia dos diversos recursos audiovi-suais que privilegiam o uso no apenas da Lngua Portuguesa, mas tambm da Lngua Brasileira de Sinais atravs de videos e imagens, por exemplo.

    As tecnologias digitais permitem aos surdos, assim como aos ouvintes, introduzirem-se, espontaneamente, na lngua que esto usando para se comunicar e, inscrevendo-se numa atividade enunciativo-discursiva, ressignificar sua escrita fazendo um uso social da linguagem.

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

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    Permitem que, num sentido amplo, tenham a oportunidade de interagir e aprender, independente de sua condio fsica. (ARCOVERDE, 2006, p. 257)

    De acordo com Gargalaka (2012, p. 94), um recurso bastante utilizado a interao entre os usurios blog em que, este espao - como lugar de conversao - efetivado quando uma postagem provoca o feedback de outros internautas. Primo e Smaniotto (2006, p. 7) ressaltam que, alm dessa interao dialgica o blog permite, inclusive, a conversao com o prprio self e com isso se referem a uma narrativa pessoal que tem impacto na articulao e organizao do pensamento prprio (p. 7).

    Finalmente, Perlin e Reis (2012, p. 43) defendem que, o espao digital vem se tornando um lugar no apenas para o compartilhamento de informaes, mas tambm um importante ambiente para o desenvolvimento da conscincia surda. E complementam, citando Silva (2004), que as tecnolo-gias digitais possibilitam a distribuio instantnea e global de ideias, que envolve mudanas sociais advindas de seus impactos como desenvolvimento de novas formas de cultura (p. 43) possibilitan-do, desta forma, que o ciberespao ganhe - cada vez mais - a fixao das marcas culturais surdas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Percebe-se que, os ciberdirios Blogs possuem um significativo potencial para contribuir para uma mudana de comportamento dos surdos no ciberespao. E a partir da liberdade de emisso e possibilidades de comunicao semitica - atravs dos diversos recursos miditicos - os ciberdia-ristas surdos alm de acesso a informao e ao conhecimento podem posicionar-se criticamente diante do enunciado.

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

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    Como recurso pedaggico torna-se atraente, dinmico e interativo sendo capaz de alcanar os alunos e facilitar sua aprendizagem atravs do uso de portflio de atividades, materiais didticos virtuais e como recurso de ensino a distncia. Porm, cabe ao professor estar aberto as possibili-dades de ensino-aprendizagem deste espao encontrando sua prpria maneira de adequar os re-cursos miditicos encontrados nas novas tecnologias aos contedos e objetivos de sua disciplina, transformando sua prtica pedaggica num ensino diferenciado.

    Apesar dos poucos vestgios encontrados enfocando os ciberdiaristas surdos, observou-se como este espao pode oportunizar a interao, as trocas de experincias, motivaes, ideias, informa-es e angstias atravs dos ciberenunciados. Contribuindo, desta forma, para a incluso virtual dos surdos e, nesse contexto, desmistificar o esteretipo da surdez como patologia e a incapacidade das pessoas surdas. Como este foi um trabalho inicial, faz-se importante, por fim, adensar pesquisas acerca do tema para compreender a amplitude das tessituras das conexes realizadas atravs de fios dialgicos dos ciberdirios promovendo assim, novos espaos de interao social para o surdo.

    NOTAS

    1. [] pode ser visto, assim, como mais um espao para os investimentos pessoais e interpessoais que se exprimem no cotidiano e nos colocam em relao com os outros, com os espaos, com os territrios, com as cidades. , enfim, mais um espao de realizao da dialtica entre as massas e as tribos, microgrupos e cristalizaes particulares em torno da qual a vida social se organiza num movimento sem fim. (MXIMO, 2006, p. 37) voltar

    2. A socialidade contempornea vai se estabelecer, ento, como um politesmo de valores em que o indivduo desempenha papis, produzindo mscaras dele mesmo, agindo numa verdadeira teatralidade contempornea. (LEMOS, 2002a, p. 84) voltar

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    Simone Lorena Silva Pereira

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    3. O termo hipertexto s foi cunhado por Theodor Nelson, nos anos 70, para descrever um sistema de escrita no se-quencial: um texto que se desmembra e que permite escolhas ao leitos (Santaella 2001: 393-94). Mais tarde, ele expan-diu a noo para hipermdia para descrever uma nova forma de mdia que utiliza o poder do computador para arquivar, recuperar e distribuir informao na forma de figuras grficas, texto, animao, udio, video, e mesmo mundos virtuais dinmicos (SANTAELLA, 2003a, p. 93). voltar

    REFERNCIAS

    ANDRIOLI, Mary Grace Pereira; VIEIRA, Claudia Regina; CAMPOS, Sandra R. L. Uso das tecnologias digitais pelas pessoas surdas como um meio de ampliao da cidadania. VII Encontro da Associao Brasileira de Pesquisadores em Educao Especial. Londrina de 05 a 07 de novembro de 2013.

    ARCOVERDE, Rossana Delmar de Lima. Tecnologias Digitais: novo espao interativo na produo escrita dos surdos. Cad. Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 251-267, maio/ago. 2006. Disponvel em: .

    BISOL, Cludia Alquati; BREMM, Eduardo Scarantti; VALENTINI, Carla Beatris. Blog de adolescentes surdos: escrita e construo de sentidos. Revista Semestral da Associao Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 14, Nmero 2, Julho/Dezembro de 2010.

    CAMPOS, Dbora Wanderley; STUMPF, Marianne. Cultura surda: um patrimnio em contnua evoluo. In PERLIN, Gladis; STUMPF, Marianne (Orgs). Um olhar sobre ns surdos: Leituras contemporneas. Curitiba, PR: CRV, 2012.

    FRANCO. Maria de Ftima. Blog Educacional: ambiente de interao e escrita colaborativa in Simpsio Brasileiro de Informtica na Educao. Juiz de Fora: Minas Gerais, 2005.

    FRANA, Lilian Cristina Monteiro. As TIC como ferramentas de apoio no processo de ensino/aprendizagem in FRANA, Lilian Cristina Monteiro; FERRETE, Anne Alilma Souza; GOUY, Guilherme Borba. Educao a distncia: ambientes virtuais, TIC e universidade. Aracaju: Criao, 2010.

    GARGALAKA, Mnica Conforto. O uso do blog como recurso pedaggico no ensino de LIBRAS: as possibilidades das palavras nesse ciberespao in ALBRES, Neiva de Aquino (Org.). LIBRAS em estudo: ensino-aprendizagem. So Paulo: FENEIS, 2012.

    %3Chttp://www.cedes.unicamp.br

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

    Simone Lorena Silva Pereira

    02sumrio

    KENSKI, Vani Moreira. Educao e tecnologias: O novo ritmo da informao. 8 Ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

    LEMOS, Andr. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contempornea. Porto Alegre: Sulina, 2002a.

    LEMOS, Andr. A arte da vida: dirios pessoais e webcams na Internet. INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002b.

    MAXIMO, Maria Elisa. Blogs: o eu encena, o eu em rede. Cotidiano, performance e reciprocidade nas redes scio-tcni-cas. Tese de doutorado. Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social. Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.

    NEVES, Gabriele Vieira. Os surdos e as TICs: o ambiente virtual como espao de trocas interculturais e intersubjetivas. Artigo apresentado no VI Congresso Internacional de Educao Educao e tecnologias: Sujeitos (des)Conectados? Realizado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, de 17 a 19 de agosto de 2009.

    PERLIN, Gladis; REIS, Flaviane. Surdos: cultura e transformao contempornea In PERLIN, Gladis; STUMPF, Marianne (Orgs). Um olhar sobre ns surdos: Leituras contemporneas. Curitiba, PR: CRV, 2012.

    ROCHA, Paula Jung. Blogs: sentimentos em rede compartilhados na ps- modernidade. Revista FAMECOS. Porto Alegre, no 22, dezembro, 2003.

    ROSA, Emiliana Faria. Identidades Surdas: o identificar do surdo na sociedade In PERLIN, Gladis; STUMPF, Marianne (Orgs). Um olhar sobre ns surdos: Leituras contemporneas. Curitiba, PR: CRV, 2012.

    RECUERO, Raquel. Webrings: As Redes de Sociabilidade e os Weblogs. Sesses do imaginrio, Porto Alegre, v. 11, p. 19-27, 2004.

    SANTAELLA, Lucia. Cultura e artes do ps-humano: da cultura das mdias cibercultura. So Paulo: Paulus, 2003a.

    SANTAELLA, Lcia. Da cultura das mdias cibercultura: o advento do ps-humano. Revista FAMECOS. Porto Alegre, n 22, dezembro 2003b.

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    Ciberdiaristas surdos:possibilidades de emisso, interao e compreenso no ciberespao

    Simone Lorena Silva Pereira

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    SCHROEDER. Claudio de Werk. Postar, interagir e transformar: o blog potencializando a mediao de aprendizagens sig-nificativas. Dissertao de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Cincias: qumica da vida e sade. Universidade Federal do Rio Grande - FURG, 2011.

  • O CARNAVAL NO FOI PREO PARA O OSCAR 2014: SEGUNDA TELA GANHA ESPAO NAS ESTRATGIAS DE TRANSMISSES DE ENTRETENIMENTOTHE CARNIVAL WASNT MATCH FOR THE OSCAR 2014: SECOND SCREEN WINS STRATEGIES SPACE AT ENTERTAINMENT BROADCASTS

    EL CARNAVAL NO FUE RIVAL PARA EL OSCAR 2014: SEGUNDA PANTALLA GAA ESTRATEGIAS ESPACIALES PARA EMISIONES DE ENTRETENIMIENTO

    Daniele Cristine Rodrigues

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    O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento

    Daniele Cristine Rodrigues

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    Resumo:Discute a produo de sentido na convergncia entre televiso e redes sociais na transmisso da 86 edio do Academy Awards. Mais do que o aspecto tcnico da utilizao de TICs concomitante ao ato de assistir TV, aborda as implicaes na complementaridade dos sentidos com a participao do pblico imerso em um universo transmiditico. Ressalta ainda como o segmento entretenimento utiliza com maior eficincia e es-tratgia a extenso narrativa com a convergncia de devices.

    Palavras-chave:segunda tela; televiso; redes sociais; cultura da convergncia; Oscar.

    Abstract:Discusses the production of meaning in the convergence between television and social networks in the trans-mission of the 86th edition of the Academy Awards. More than the technical aspect, discusses the implica-tions of the complementarity of the senses with the participation of the audience immersed in a transmedia universe. Also highlights how the entertainments segment uses more efficiently the narrative strategy and extension with the convergence of devices.

    Keywords: second screen; Tv. Social networks; convergence culture; Oscar.

    Resumen:Discute la produccin de sentido en la convergencia entre las redes sociales y la televisin en la transmisin del Oscar. Adems del aspecto tcnico de la utilizacin concomitante de las TICs al acto de mirar la TV, discute implicaciones de la complementariedad de los sentidos con la participacin de la audiencia sumergida en un universo transmedia. Tambin habla como el entretenimiento utiliza de manera ms eficiente la estrategia narrativa y la extensin con la convergencia de dispositivos.

    Palabras-clave: segunda pantalla; televisin; redes sociales; cultura de la convergencia; Oscar.

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    O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento

    Daniele Cristine Rodrigues

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    Assistir televiso e, ao mesmo tempo, acessar plataformas digitais como o Twitter - por meio das TICs (Tecnologias de informao e comunicao) - em busca de informaes adicionais ou comple-mentares atrao um comportamento cada vez mais comum. No Brasil, esse cenrio fruto de aspectos como: popularizao dos dispositivos mobiles que chegam ao mercado com um preo mais acessvel; melhoria e reduo do preo da banda larga; e a incorporao das redes sociais digitais como ambientes de compartilhamento de vivncias e opinies. Em uma pesquisa do IBOPE Nielsen Online em 2012, 43% dos usurios brasileiros da web afirmaram usar a internet enquanto assistem TV. Esse acesso a plataformas adicionais para continuar a significao - entendida aqui como o processo de produo sentido - da experincia visualizada na televiso configura um fen-meno intitulado Segunda Tela.

    Segundo Jenkins (2009), esse comportamento compreensvel ao passo que a TV fornece assunto para a hora do cafezinho e para muitos essa conversa de corredor se transferiu para o mbito di-gital, onde possvel dividir conhecimentos e opinies para uma audincia amplificada e de nicho.

    Diante desse pblico mais vido por expressar comentrios e interessado em buscar informaes complementares sobre o qu esto assistindo, est se intensificando o uso de linguagens do mun-do virtual na programao da TV. Exemplo disso a utilizao de hashtags1 em comerciais e nos programas, recurso que colabora para a mensurao da audincia online e da repercusso. No por acaso, eventos de grande audincia emplacam Trending Topics2.

    As plataformas usadas pelas redes sociais digitais propiciam que a difuso de uma ideia atinja velocidade e alcance de propagao de alcance global em segundos. No caso do Twitter, quando um tema alcana nmero recorde de citaes, tende a se espalhar de maneira similar ao princpio

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    O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento

    Daniele Cristine Rodrigues

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    do contgio social. O Twitter amplifica o debate sobre a pauta, mas sua fora dependente de vrios fatores conjecturais. Para WU et. al. (2011), h outras variveis que interferem nesse al-cance como, por exemplo, a temtica, sendo que alguns contedos possuem maior potencial de repercusso e adeso.

    Mais do que o aumento da repercusso e da visibilidade dos acontecimentos, as redes digitais po-dem interferir ostensivamente na significao dos fatos, nos desdobramentos das narrativas e no sentimento de pertencimento ou excluso em determinas situaes. Essa compreenso pautada no conceito de tecnosociabilidade, de CASTELLS et. al. (2007), que considera as TICs no como ferramentas, mas como contextos, condies ambientais que tornam possvel novas maneiras de ser, novas cadeias de valores e novas sensibilidades sobre o tempo, espao e os acontecimen-tos culturais (p. 226, traduo nossa). Mais que um processo resultado da utilizao de aparatos tcnicos complementares, pressupe novas formas de consumir, interagir e se relacionar com os agentes sociais.

    Com a segunda tela adiciona-se mais uma perspectiva de observao e de significao, por conse-guinte, com novas possibilidades porque converge os universos off e online - consumo que pode ser um de cada vez ou simultaneamente. O filme se encerra na TV, mas se prolonga e ganha novo sentido nas redes sociais, nos blogs e nos extras gerados de modo coletivo entre representantes oficias da marca/produto e o pblico.

    Para entender a significao na convergncia de telas, o presente artigo analisa as estratgias de segunda tela adotadas pelo canal TNT, que detinha a exclusividade de transmisso da 86 edio do Academy Awards (mais conhecido como Oscar 2014), e a repercusso das mesmas nas redes

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    O Carnaval no foi preo para o Oscar 2014: segunda tela ganha espao nas estratgias de transmisses de entretenimento

    Daniele Cristine Rodrigues

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    sociais - especificamente Twitter e Facebook. Objetiva-se compreender se essas redes configuraram um ambiente de produo de sentido complementar. TICs, convergncia e cultura participativa so estruturais nesse estudo.

    Para dar conta da pesquisa proposta, faz-se necessria a combinao de metodologias. Tendo por base a perspectiva do Interacionismo Simblico, o estudo constr