ebook ceia senhor ryle

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    A Ceia do SenhorCaptulo extrado do livro Knots untied, de

    John Charles Ryle

    1 Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em LiverpoolPublicado em 1877, republicado em 1900.

    O Sacramento da Ceia do Senhor um assunto da religio crist queexige um tratamento muito cuidadoso. Eu o abordo com reverncia, temore tremor. No posso me esquecer de que estou pisando em solo muitodelicado. H muita coisa ligada ao assunto, que ao mesmo tempo difcil,doloroso e suscita humildade.

    dolorosopensar que uma ordenana estabelecida por Cristo para onosso benefcio tenha sido profanada pelo alarido e fumaa da polmicateolgica. inegvel que nenhuma outra ordenana tenha provocadotamanha polarizao e discrdia, e tenha se tornado o motivo de contendaentre os telogos polmicos. Tamanha a corrupo do homem cado queaquilo que foi ordenado para a nossa paz tenha se tornado pedra detropeo.

    Provoca humildade lembrar que homens de opinies opostas escre-veram volumosos compndios sobre a Ceia do Senhor sem produzir o

    menor efeito nas opinies de seus adversrios. Livros suficientes paraencher carroas e mais carroas foram publicados durante os ltimos trssculos e despejados sobre o abismo que separa os contendedores, emvo. Como o Pntano do Desnimo no Peregrino, ainda um enormecanyon. No levanto maior prova de que a queda de Ado tenha afetado oentendimento, assim como a vontade do homem, do que o atual estadodividido da cristandade acerca da Ceia do Senhor.

    difcil saber como lidar com tal assunto sem esgotar a pacinciados leitores. difcil saber o que dizer, e o que deixar por dizer. O campofoi to completamente esgotado pelas obras de vrios mestres em Israel,que literalmente impossvel trazer a lume algo que seja novo. O mximoque posso esperar conseguir condensar alguns antigos argumentos. Seeu puder sintetizar algumas coisas antigas e apresenta-las aos meusleitores em um formato acessvel e compacto, dou-me por satisfeito.

    No presente trabalho deverei contentar-me com dois argumentos, edois somente:

    I demonstrarei a inteno original da Ceia do Senhor.II demonstrarei a posio que a Ceia do Senhor deveria ocupar.

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    De qualquer forma, uma coisa me bem clara: impossvel superes-timar a importncia do assunto. Eu tenho uma forte e crescente con-vico de que o erro acerca da Ceia do Senhor um dos erros maiscomuns e perigosos do tempo presente. Suspeito que mal saibamos doquanto opinies malss deste Sacramento prevaleam, tanto entre o

    laicato como entre o clero. Elas so a raiz oculta de 90% do ritualismoextravagante que, como uma neblina, tem se espalhado em nossa Igreja.Ao menos aqui, todos os ministros cristos devem ser zelosos pelo SenhorDeus dos Exrcitos. Nosso testemunho deve ser claro, distinto e incon-fundvel. Nossas trombetas no devem dar som incerto. Os filisteus estosobre ns. A arca de Deus est em perigo. Se amamos a verdade porresidir ela em Jesus, se amamos a Igreja da Inglaterra, devemos lutarvalorosamente pela f uma vez entregue aos santos, no tocante Ceia doSenhor.

    I Em primeiro lugar, qual era a inteno original da Ceia do Senhor?

    Esta questo no pode receber uma melhor resposta geral do queaquela de nosso bem conhecido Catecismo da Igreja. Falta simplicidade aeste famoso formulrio, infelizmente repleto de palavras difceis e termosmetafsicos da Escolstica, embora permanea digno de toda a honra porsuas declaraes acerca dos Sacramentos. Nossos professores de EscolaDominical podem no compreender corretamente o Catecismo, ereclamar, com razo, que preciso outro catecismo para explic-lo! Nofinal das contas, porm, suas definies possuem uma preciso lgica eexatido doutrinria que todo telogo bem instrudo deve reconhecer e

    apreciar. Corretamente empregado, eu sustento que o Catecismo da Igreja uma arma eficaz contra o semi-romanismo. Interpretado honestamente,ele subverte totalmente o sistema dos ritualistas.

    A primeirssima pergunta do Catecismo sobre a Ceia do Senhor as-sim segue: Por que foi ordenado o Sacramento da Ceia do Senhor? Aresposta fornecida a seguinte: Para a memria continuada do sacrifcioda morte de Cristo, e dos benefcios que dela recebemos. Este um textosadio, que no pode ser condenado. Fundamentado na linguagem diretadas Sagradas Escrituras, contm a verdade, toda a verdade e nada maisque a verdade (Lc. 22.19; I Co. 11.24).

    a inteno do Senhor Jesus Cristo que a Ceia do Senhor seja umalembrana1 contnua pela Igreja de sua morte expiatria sobre a Cruz. Opo, partido, dado e comido, deveria lembrar os cristos de Seu corpo

    1 Permita-me o leitor recordar que a doutrina da Liturgia da Comunho est em precisa harmonia com ade nosso Catecismo. Destaquemos as seguintes expresses:De modo que devemos sempre recordaro imenso amor de nosso Mestre e nico Salvador Jesus Cris-to, que assim morreu por ns, e os inumerveis benefcios que pelo verter de seu sangue ele obteve emnosso favor: Ele instituiu e ordenou santos mistrios como penhores de seu amor, e para memriaperptua de sua morte, e para nosso incessante consolo. Ele instituiu, e em seu Santo Evangelho nos

    ordena a continuar um memorial perptuo de sua preciosa morte at a sua volta. Tomai e comei, emrecordao de que Cristo morreu por vs. Bebei, em recordao de que o sangue de Cristo foi ver-

    tido por vs.

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    dado por nossos pecados. O vinho, derramado e bebido, deveria lembraros cristos de Seu sangue vertido por nossos pecados.

    O Senhor Jesus sabia o que havia com o homem. Ele sabia bem daescurido, lentido, frieza, dureza, estupidez, orgulho, auto-engano,

    preguia e pretenso de donos da verdade, da natureza humana emassuntos espirituais. Assim, ele cuidou para que sua morte pelos pe-cadores no fosse apenas registrada por escrito na Bblia (ou ela poderia,assim, ser trancafiada em bibliotecas) ou deixada para os ministrosproclamarem do plpito (pois assim poderia ser detida por falsos mes-tres), mas ela deveria ser exibida em sinais e emblemas visveis, no po eno vinho em uma ordenana especial. A Ceia do Senhor era uma garantiacontra a memria fraca do homem. Enquanto permanecer o mundo emsua ordem atual, aquilo que feito Mesa do Senhor proclama a suamorte at que ele venha (I Co. 11.26).

    O Senhor Jesus Cristo bem sabia da inenarrvel importncia de suaprpria morte pelo pecado como pedra fundamental da religio escri-turstica. Ele sabia que sua prpria satisfao pelo pecado como nossosubstituto Seu sofrimento pelo pecado, o Justo pelos injustos, Seupagamento de nossa enorme dvida em Sua prpria pessoa, Sua completaredeno de ns outros pelo Seu sangueEle sabia que essa era de fato araiz do cristianismo, capaz de salvar e satisfazer as almas. Sem isto Elesabia que Sua encarnao, milagres, ensinamentos, exemplo e ascensono poderiam fazer qualquer bem ao homem; sem isto ele sabia que nohaveria justificao, nem reconciliao, nem esperana, nem paz entre

    Deus e os homens. Sabendo de tudo isto, ele cuidou que sua morte, aomenos, no deveria ser esquecida. Ele cuidadosamente estabeleceu umaordenana, pela qual, por figuras vivas, seu sacrifcio na cruz fossemantido em memria perptua.

    O Senhor Jesus Cristo bem sabia da fraqueza e enfermidade mesmodo mais santo dos crentes. Ele sabia da absoluta necessidade de mant-los em ntima comunho com Seu sacrifcio vicrio, como Fonte de Suavida interior e espiritual. Assim, Ele no apenas deixou para eles promes-sas nas quais suas memrias se alimentassem, e palavras que pudessemtrazer mente; Ele misericordiosamente providenciou uma ordenanapela qual a verdadeira f pudesse ser desperta, pela contemplao dosvivos emblemas de Seu Corpo e Sangue, e por cujo uso os crentes pu-dessem ser fortalecidos e renovados. O fortalecimento da f dos eleitos deDeus na expiao um grande propsito da Ceia do Senhor.

    Agora volto-me do lado positivo para o lado negativo da questo, emverdadeira dor e relutncia. Mas meu claro dever faz-lo. Os ministros,como os mdicos, devem estudar a doena, assim como a sade, edemonstrar o erro assim como a verdade. Permitam-me, ento, tentardemonstrar quais noso os objetivos da Ceia do Senhor.

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    1. Jamais foi a inteno que ela fosse considerada um sacrifcio.Jamais foi a inteno que ns crssemos que qualquer transformaoocorre com os elementos do po e do vinho, ou que haja qualquer presenacorprea de Cristo no Sacramento. Tais coisas no podem, jamais, serjusta e honestamente extradas das Escrituras. Sejam examinadas

    imparcialmente as trs narrativas evanglicas da Instituio, em Mateus,Marcos e Lucas, e aquela dada por Paulo aos Corntios, e no tenhodvidas quanto ao resultado. Elas ensinam que no h sacrifcio, no haltar, no h mudana na substncia dos elementos: o po aps aconsagrao ainda , literal e verdadeiramente, po; o vinho, aps aconsagrao, verdadeira e literalmente vinho. Em parte nenhuma doNovo Testamento vemos o ministro cristo chamado de sacerdote, e emparte nenhuma encontramos qualquer meno a sacrifcio, seno aos deorao, de louvor e de boas obras. O ltimo sacrifcio literal, somosrepetidamente informados na Epstola aos Hebreus, aquele sacrifcioconsumado, de uma vez por todas, por Cristo na Cruz.

    Sem dvida, agrada a tais polemistas como o finado Cardeal Wise-man tomar textos como Este meu corpo e Este meu sangue comoprovas de que a Ceia do Senhor um sacrifcio. Contudo, algum que sesatisfaa com isso algum fcil de satisfazer, de fato! O citar de umafrase isolada um meio de argumentao que serviria a legitimar at oarianismo ou o socinianismo. O contexto dessas famosas frases mostraclaramente que aqueles que as ouviram empregadas as compreenderamcomo Isto representa meu corpo e Isto representa meu sangue. Aanalogia com outras passagens demonstra que ser com frequnciasignifica representar nas Escrituras. Paulo, ao escrever sobre o Sacra-

    mento, chama expressamente o po consagrado de po, e no de Corpode Cristo, nada menos do que trs vezes (I Co. 11.26, 27, 28). Acima detudo, permanece o irretorquvel argumento de que, se Nosso Senhorestava de fato segurando Seu Corpo em suas mos quando disse do poEste meu corpo, Seu corpo deve ter sido bem diferente daquele doshomens comuns. claro, se Seu corpo no era como o nosso, Sua prpriae real humanidade se encerram. Nesse compasso, a bendita e consoladoradoutrina da total identificao de Cristo com Seu povo, como verdadeirohomem, estaria completamente subvertida, e cairia por terra.2

    Mais uma vez, pode agradar a alguns considerar o captulo 6 de Jo-o, onde Nosso Senhor fala de comer sua carne e beber o seu sanguecomo prova de que h uma presena corprea literal de Cristo no po e novinho na Ceia do Senhor. Porm, h uma total ausncia de provas con-clusivas de que este captulo de fato se refere Ceia do Senhor. Aqueleque sustentar que ele de fato se refere Ceia do Senhor encontrar-se-envolvido em consequncias bastante constrangedoras. Ele condena morte eterna todos quantos no recebem a Ceia do Senhor. Ele eleva vida eterna todos quantos a recebem. Basta dizer que a maioria doscomentaristas protestantes nega de todo que o captulo se refira Ceia do

    2 Que o corpo de Nosso Senhor no seria um corpo real como o nosso era a doutrina favorita doshereges chamados apolinrios, na Igreja antiga.

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    Senhor, e que mesmo alguns comentaristas romanistas concordam comeles neste ponto.3

    2. Passo a outra viso negativa do assunto. A Ceia do Senhor jamaispretendeu conferir benefcios aos comungantes ex opere operato, ou seja,

    por virtude da mera recepo formal da ordenana.4 No deveramos crerque ela produz qualquer bem a qualquer um, seno aos que a recebemcom f e entendimento. No se trata de um remdio ou simpatia quefunciona mecanicamente, independentemente do estado mental em que recebido. No pode, por si mesma, conferir graa, onde graa j noexistir antes. Ela no converte, justifica ou comunica bnos ao coraode um descrente. No uma ordenana para os mortos, mas para osvivos; no para os descrentes, mas para os que creem; no para o pecadorimpenitente, mas para o santo. Quase que me envergonha ter de gastartempo escrevendo declaraes to batidas e bem-sabidas como estas. APalavra de Deus testifica claramente que algum pode achegar-se Mesado Senhor e comer e beber indignamente, e assim comer e beber juzopara si (I Co. 11.27, 29). A tal testemunho, eu no acrescentarei uma spalavra.

    2. Eu s farei meno a mais um ponto do lado negativo do assunto.Jamais foi a inteno que a Ceia do Senhor fosse uma mera festividadesocial que indicasse o amor que deveria existir entre os crentes. Jamaisdeveramos considera-la sob esta fria e parca luz. A noo do autor deEcce Homo5, que a comunidade crist um jantar de clube social no apenas degradante, mas tambm no pode ser reconciliada com as

    palavras de seu Fundador, no momento de sua instituio. Alimentar-sedo carter de Cristo (cito o famoso livro) uma ideia que pode satisfazerum sociniano, ou qualquer um que rejeite a doutrina da expiao. Mas overdadeiro cristo, que se alimenta especialmente da morte vicria deCristo, e no de seu carter, contemplar aquela morte proeminen-temente exibida na Ceia do Senhor, e ver sua f naquela morte fortifica-da pela participao no Sacramento. A inteno era transportar suamente de volta ao sacrifcio uma vez feito no Calvrio, e no meramente encarnao; e nada menos que isso satisfar o corao de um verdadeirocristo.

    Ora, acabo de afirmar qual a posio que, creio, devemos manteracerca do Sacramento da Ceia do Senhor. Negativamente, ela no deveriaser uma mera reunio social, nem ainda um sacrifcio, nem tampoucouma ordenana que confira graa ex opere operato. Positivamente, ainteno que ela seja uma lembrana contnua do sacrifcio da morte deCristo e um fortificante e restaurador dos verdadeiros crentes. Estaposio pode parecer simplria a alguns, to simples que fique aqum da

    3 Aqui, ouso encaminhar meus leitores a meu Comentrios no Evangelho de Joo, onde encontraroum sumrio condensado de minhas opinies, nas notas ao captulo 6.4

    Convm lembrar que estas trs palavras latinas ex opere operatosignificam simplesmente em razoda obra realizada.5 Friedrich Nietzche [N.T.].

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    verdade. Que seja: no me envergonho dela. Quer os homens a ouam,quer a ignorem, estou convicto de que esta a nica postura que seharmoniza com as Escrituras e com os formulrios da Igreja da Inglater-ra.

    Eu concedo com liberdade que uma grande e crescente escola dentrode nossa prpria Igreja discorde da posio que afirmei acerca da Ceia doSenhor. Centenas de membros do Alto e do Baixo clero consideram queno somente h uma real presena de Cristo na Ceia do Senhor, a qualsustento to fortemente quanto eles, mas tambm que haja uma presenareal de Cristo nos elementos do po e do vinho aps a consagrao6, o queeu nego de todo.

    Ouamos como o Arcediago Denison, autoridade de relevo, afirmasua posio. Ele diz: O corpo e o sangue de Cristo esto presentes naSagrada Eucaristia, sob a forma de po e vinho, a saber, coisas presentes,embora presentes de uma maneira inefvel, incompreensvel ao homem eincognoscvel pelos sentidos. A real presena de Cristo na Eucaristia no, portanto (como creio que ela seja geralmente considerada) a presenade uma influncia que emana de algo ausente, mas a presena invisvel esobrenatural de algo presente; de Seu corpo e Seu sangue presentes sobas formas de po e vinho.7 (Sermo II, p. 80). Ouamo-lo de novo:Adorao devida real, embora invisvel e sobrenatural presena docorpo e do sangue de Cristo na Sagrada Eucaristia, sob as formas de poe vinho (Sermo II, p. 81). Ouamo-lo uma vez mais: O ato daconsagrao torna a presena real. Oh! Sacerdotes da Igreja de Deus! A

    ns nos dado sermos canais e agentes, pelos quais o Esprito Santo comefeito torna o corpo e sangue de Cristo verdadeiramente presentes, aindaque de maneira invisvel e sobrenatural. A ns nos dado distribuir deseu corpo e sangue a seu povo. Oh! Sacerdotes e povo da Igreja de Deus!A ns nos dado tomar e comer, sob a forma de po e vinho, na Ceia doSenhor, o corpo e o sangue de Cristo. (Sermo II, p. 107).

    Ora, no multiplicarei citaes como estas. Seria fcil demonstrarque a doutrina exposta pelo Arcediago Denison a doutrina de uma

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    extremamente difcil fazer com que certas pessoas vejam a enorme importncia da estrita precisoao definir termos nesta infeliz polmica acerca da Ceia do Senhor. O ponto em debate no se h umapresena real de Cristo na Ceia do Senhor. Nisto todos cremos. O ponto no se a presena de Cristo espiritual. Mesmo Harding, o bem conhecido antagonista de Jewel, admite que o corpo de Cristo estpresente no de uma forma corprea, carnal ou natural, mas de maneira invisvel, inefvel, miraculosa,

    sobrenatural, espiritual, divina, s conhecida por Ele.Hardings reply to Jewel. O verdadeiro ponto se o corpo e o sangue reais de Cristo esto realmente presentes nos elementos do po e do vinho, tologo sejam consagrados na Ceia do Senhor, e independentemente da f daquele que a recebe. Romanis-tas e semi-romanistas dizem que eles se fazem presentes desta forma. Ns asseveramos que no.7 O antagonismo entre estas frases do Arcediago Denison e as opinies do Bispo Ridley sobre o mesmoassunto so to singularmente fortes, que peo ao leitor no passar adiante sem tomar nota dele. OBispo Ridley, em sua Disputation at Oxf ord, diz da doutrina romanista da presena real: Ela destri eremove a Instituio da Ceia do Senhor, que foi ordenada para ser empregada e continuada at que o

    Senhor retorne. Se, porm, Ele estiver realmente presente no corpo de sua carne, ento deve cessar aCeia, pois uma recordao no de algo presente, mas de algo passado e ausente. E, como um dos Paisdisse, Uma figura v quando a coisa figurada est presente. Cf. Foxes Martys, in loco.

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    grande e crescente parcela da Igreja da Inglaterra.8 Seria no menos fcildemonstrar que a doutrina substancialmente uma e a mesma que a daIgreja de Roma, e que por recusar essa mesma doutrina, nossos Reforma-dores, martirizados, entregaram suas vidas. O tempo, porm, no mepermitiria faz-lo. Contento-me em tentar demonstrar que a doutrina do

    Arcediago Denison e sua escola no pode ser reconciliada com os formu-lrios autorizados da Igreja da Inglaterra, e que a mais simples e, comoalguns a chamam, mais baixa posio acerca da inteno da Ceia doSenhor harmoniza-se inteiramente com eles.

    Permitam-me primeiro voltar-me aos Trinta e Nove Artigos. No temosdireito de invocar qualquer formulrio antes deles. A Confisso de F daIgreja seu primeiro smbolo de doutrina. O Artigo 28 dispe o seguinte:

    A Ceia do Senhor no somente um sinal do amor que osCristos devem ter entre si um com o outro; antes, umSacramento de nossa Redeno pela morte de Cristo; tan-to o que, a tantos quantos correta e dignamente, e comf, dela recebem, o Po que partimos comunho do Cor-po de Cristo, e igualmente o Clice que abenoamos acomunho do Sangue de Cristo.A transubstanciao (ou mudana da substncia do po edo vinho) na Ceia do Senhor, no pode ser provada pelaSagrada Escritura, mas repugna diretamente a suas pa-lavras, subverte a natureza do Sacramento e tem dadoocasio a muitas supersties.

    O Corpo de Cristo dado, tomado e comido, na Ceia,apenas e to-somente de uma maneira celestial e espir-itual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo recebido af.O Sacramento da Ceia do Senhor no , pela ordenanarecebida de Cristo, levantado, carregado em procisses oucultuado.

    8 Em uma obra devocional recentemente publicada pela Church Press Company, intitulada The littl ePrayer-book, intended for beginners in devotion, revised and corr ected by three Pri ests, as seguintes

    passagens podem ser encontradas: Quando entrar na igreja, antes de se dirigir ao seu lugar, curve-sereverentemente ao santo altar, pois o trono de Cristo, e a parte mais sagrada da igreja. Curve-sereverentemente ao altar, antes de deix-lo. Naspalavras este meu corpo, este meu sangue, vocdeve crer que o po e o vinho se tornam o verdadeiro corpo e sangue, com a alma e a divindade deJesus Cristo. Curve seu corao e corpo na mais profunda adorao quando o sacerdote disser estasreverendas palavras, e adore o seu Salvador ali, presente de fato e de verdade ali, em seu altar.Em um Catechism on the Offi ce of the Holy Communion, editado por Uma comisso de clrigos,encontraremos a seguinte declarao: A Santa Comunho um sacrifcio, uma oferenda feita sobreum altar a Deus. Oferecemos po e vinho, os quais, depois, se tornam o corpo e o sangue de Cristo.Apenas o Senhor Jesus Cristo em pessoa, como nosso Sumo Sacerdote, e os sacerdotes de sua Igreja, aquem nomeou aqui na terra, tm autoridade para oferecer este sacrifcio. O sacrifcio o verdadeirocorpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e apresentado como uma oferta pelos pecados, paraobter perdo pelas nossas transgresses. O corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus C risto esto real e

    verdadeiramente presentes no altar sob as formas de po e vinho, e o sacerdote oferece o sacrifcio aDeus, o Pai. Ns devemos cultuar Nosso Senhor, presente em seu Sacramento, como o deveramos se

    o pudssemos ver corporalmente.

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    No comentarei estas palavras. Peo to somente aos membros daIgreja que as ponham lado a lado com as declaraes do partido da HighChurch9 acerca da Ceia do Senhor, e que observem a absoluta contrarie-dade que existe entre elas. Apelo ao bom senso de todos os ingleses

    imparciais e livres de preconceitos. Sejam eles os juzes. Se uma posioest correta, a outra est errada. Se o teor do Artigo 28 pode ser reconcil-iado com a doutrina do Arcediago Denison e sua escola, s posso dizerque essas palavras no tm significado nenhum.

    Contento-me em citar o comentrio do Bispo Beveridge acerca desteArtigo, e seguirei adiante. Diz ele: Se o po no se transforma realmenteno corpo de Cristo, ento o corpo de Cristo no est realmente presente; ese no est realmente presente, impossvel que ele seja realmentetomado e recebido em nossos corpos, como o o po. Novamente, ele diz:No posso ver como se pode negar que Cristo comeu do po do qual disseEste meu corpo, e se dele comeu, e o comeu corporeamente (a saber,comeu Seu corpo como ns comemos po), ento ele comeu a si mesmo, efez de um corpo dois, e ento os reuniu novamente em um, recebendo seucorpo em seu corpo, sim, todo o seu corpo para dentro de parte do seucorpo, seu estmago. E assim, devemos considerar que ele no apenastenha dois corpos, mas dois corpos um dentro do outro; sim, para queseja um devorado pelo outro; o absurdo desta e de semelhantes asser-tivas, qualquer um com meia vista capaz de facilmente discernir. Demodo que devemos considerar que foi de uma forma espiritual que oSacramento foi institudo, e por consequncia, de uma forma espiritual

    que o Sacramento deve ser recebido.10

    A Liturgia da Igreja da Inglaterraa esse respeito de inteiro acordocom os Artigos. A palavra altar no encontrada nenhuma vez em nossoLivro de Orao. A ideia de um sacrifcio cuidadosamente excluda denossa Liturgia da Comunho. No importa o quanto os homens consigamtorcer e distorcer as palavras da Liturgia do Batismo, no conseguemfazer nada com o Culto de Comunho para provar os pontos de vistaromanistas. Mesmo o famoso non juror11, Dr. Brett, foi obrigado a con-fessar que no sabia de qualquer forma de reconciliar a Orao deConsagrao da atual Liturgia oficial com a [doutrina da] presena real;pois aquela faz uma clara distino entre o po e o vinho e o corpo e osangue de nosso Salvador, ao dizer Concede que ns, ao recebermosestas tuas criaturas, po e vinho, sejamos partcipes do Corpo e do

    9 O partido ou movimentoHigh Church, embora tenha defendido outras bandeiras em outros tempos nahistria do anglicanismo, nos tempos de Ryle era identificado com o ritualismo promovido pelo Mo-vimento de Oxford, que desembocou no anglo-catolicismo (adoo no apenas do ritual, mas tambmde outras prticas e doutrinas mais afeitas ao catolicismo do que ao protestantismo) e, afinal, no anglo-papismo (submisso ao papado e militncia pela reunio formal entre a Igreja da Inglaterra e a IgrejaCatlica Apostlica Romana). [N.T.]10Beveridge on the Articles. Ed. Oxford, 1846, pp. 482-48611

    Non-jurors foram clrigos da Igreja da Inglaterra que, quando da ascenso de Guilherme de Orange esua esposa Maria ao trono ingls, no puderam, por objeo de conscincia, jurar lealdade a eles, porconsiderarem-se presos ao voto feito ao rei anterior, Jaime II. [N.T.]

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    Sangue de Cristo, o que manifestamente implica que o po e o vinhosejam coisas distintas e diferentes do corpo e do sangue.12

    Contudo, a rubrica ao final do Culto de Comunho torna mera perdade tempo dizer qualquer outra coisa a respeito da posio do Livro de

    Orao acerca da Ceia do Senhor. Diz ela, Conquanto seja determinadonesta Liturgia para Administrao da Ceia do Senhor que os comungantesrecebam-na de joelhos (ordem de boa inteno, pois significa nosso humildee grato reconhecimento dos benefcios de Cristo nela concedidos aos quedignamente a recebem; e para evitar a profanao e desordem que doutrasorte poderiam acometer a Santa Comunho), para que tal ato de ajoelhar-se no seja mal interpretado ou deturpado por qualquer pessoa, quer porignorncia ou fraqueza, quer por malcia ou obstinao, declara-se quenenhuma adorao pretendida, nem se deve dar, quer ao po sacramen-tal ou o vinho corporalmente recebido, nem a qualquer presena corpreado corpo e sangue naturais de Cristo. Pois o po e o vinho sacramentaispermanecem em suas veras substncias naturais, e no devem, portanto,ser adorados (pois isto seria idolatria, a ser abominada por todos oscristos fieis); e o corpo e sangue naturais de nosso Salvador Cristo estono cu, no aqui, sendo contra a veracidade do corpo natural de Cristoestar em mais de um lugar ao mesmo tempo.Se esta rubrica no condenade forma direta o ensinamento do Arcediago Denison e sua escola acercada presena de Cristo no Sacramento, sob as formas do po e do vinho,estou certo de que as palavras no tm mais significado nenhum.13

    O Catecismo da Igreja da Inglaterraest em direto acordo com os Ar-

    tigos e a Liturgia. Embora ele afirme claramente que o corpo e o sanguede Cristo so, de fato e de verdade, tomados e recebidos pelos fieis naCeia do Senhor, ele cuidadosamente evita proferir qualquer palavra quesancione a ideia de que o corpo e o sangue estejam localmente presentesnos elementos consagrados do po e do vinho. De fato, uma presenaespiritual de Cristo na Ceia do Senhor a cada fiel comungante, sem pormqualquer presena corprea fsica no po e no vinho para qualquercomungante, evidentemente a doutrina uniforme da Igreja da Inglaterra.

    Contudo, no irei adiante sem citar a interpretao de Waterland arespeito da doutrina do Catecismo. Diz ele: As palavras de fato e deverdade tomados e recebidos pelos fiis so corretamente interpretadoscomo uma participao real nos benefcios adquiridos pela morte deCristo. O corpo e o sangue de Cristo so tomados e recebidos pelos fieis,

    12Bretts discourse on discerning the Lords Body in the Communion. Londres, 1720, pref., pp. 19-2013 A rubrica ao final da Comunho dos Enfermos outra forte evidncia das posies daqueles queprepararam nosso Livro de Orao em sua atual forma. Ela diz: Se algum, em virtude da severidadede sua doena, ou por falta de aviso tempestivo ao ministro, ou por falta de companhia para recebercom ele, ou por qualquer outro justo impedimento, no puder receber o Sacramento do corpo e dosangue de Cristo, o ministro o instruir que, se ele verdadeiramente se arrepender de seus pecados, efirmemente crer que Jesus Cristo sofreu a morte na cruz por ele, e derramou seu sangue para a sua

    remisso, encarecidamente recordando os benefcios que disto recebe, e rendendo-lhe por isto sincerasgraas, ele de fato come e bebe o corpo e o sangue de nosso Salvador Cristo para benefcio da sade

    de sua alma, ainda que no receba o Sacramento com sua boca.

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    Ora, seria fcil multiplicar as citaes em favor da posio acerca daCeia do Senhor que eu advogo, dos principais telogos da Igreja daInglaterra, mas disto abrirei mo. O tempo precioso nestes dias depressa, comoo e excitao. Citaes so cansativas, e mui fre-quentemente nem lidas. Quantos desejam aprofundar-se no assunto

    devem estudar o irretorquvel, ainda que mui negligenciado livro do DeoGoode acerca da Eucaristia. Apenas duas citaes darei, de dois homensde no pouca autoridade, embora divirjam largamente em alguns pontos.

    O primeiro o bem conhecido Jeremy Taylor. Em seu livro The RealPresenceele diz: Afirmamos que o corpo de Cristo est no Sacramento demaneira real, porm espiritual. Os catlicos romanos dizem que ele estl de maneira real, mas espiritual. Assim, Belarmino afirma com con-vico que a palavra deve ser permitida nesta questo. Ora, onde estar adiferena? Aqui, por espiritual, eles significam espiritual maneira de umesprito. Ns, por espiritual, significamos presente a nosso espritoapenas. Eles dizem que o corpo de Cristo est to verdadeiramentepresente ali quanto como estava na Cruz, mas no como todos ouqualquer um se faz presente, mas da maneira que um anjo se fazpresente em um lugar. Isso o que querem dizer com espiritualmente.Ns, porm, pela real presena espiritual de Cristo, compreendemos queCristo est presente, como o Esprito de Deus est presente, nos coraesdos fieis por bno e graa; e isto tudo o que significamos para alm dapresena figurativa.

    O outro telogo que citarei foi um gigante na teologia, e notvel tanto

    por sua solidez na f quanto por sua prodigiosa erudio. Falo do Arce-bispo Usher. Em seu sermo perante a Cmara dos Comuns, ele disse:No sacramento da Ceia do Senhor, o po e o vinho no so transforma-dos em sua substncia, no deixam de ser os mesmos que se serve emmesas comuns; mas quanto ao santo uso para o qual so consagrados,tamanha mudana se opera que agora tanto diferem do po e vinhocomuns quanto o cu difere da terra. Tampouco devem ser consideradosmeramente simblicos, mas verdadeiramente exibem os elementos celes-tiais com os quais so relacionados; sendo determinados por Deus paraservirem de veculo para comunic-los a ns, e constituindo-nos em suaposse. De modo que, ao empregarmos esta santa ordenana, to verdadei-ramente quanto o homem, com sua mo e boca fsicas recebe as criaturasterrenas do po e do vinho, assim verdadeiramente, com sua mo e bocaespirituais, se os possuir, recebe o corpo e o sangue de Cristo. E esta areal e substancial presena que afirmamos haver na parte interior destaao sagrada.

    No posso deixar esta parte do assunto sem registrar meu indignadoprotesto contra o muitas vezes repetido insulto de que a erudio, oraciocnio e a pesquisa no so encontrados entre os apoiadores da alaevanglica da Igreja da Inglaterra! A obra do Deo Goode acerca da

    natureza da presena de Cristo na Eucaristia, contendo 986 pginas deargumentao magistral em defesa de slidas posies protestantes

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    acerca da Ceia do Senhor, j est h muitos anos perante o pblico. Elatem estado, desde ento, irrespondida e irrespondvel. Onde est ahonestidade, onde a justia, em negligenciar a refutao deste livro, sepuder ser refutado, e ainda se agarrar obstinadamente a posies que eletriunfantemente solapa? Recomendo este livro, sem hesitar, ao paciente e

    diligente estudo de todos os meus irmos mais novos no ministrio, sedesejam ter suas opinies formadas e confirmadas acerca do Sacramentoda Ceia do Senhor. Leiam-no cuidadosamente, e creio que consideraroimpossvel chegar a qualquer outra, seno uma concluso, a de que aIgreja da Inglaterra sustenta que no h sacrifcio na Ceia do Senhor,nem oblao, nem altar, nem presena corprea de Cristo no po e novinho; e que a verdadeira inteno da Ceia do Senhor to-somenteaquela que o Catecismo afirma, nem mais, nem menos: Foi ordenadapara a contnua memria do sacrifcio da morte de Cristo, e dos benefciosque por ela recebemos.

    II A segunda questo que eu me proponho a abordar neste trabalho to inteiramente ligada primeira, que no me delongarei nela. Aqueleque puder responder a pergunta Qual a verdadeira inteno da Ceia doSenhor?no encontrar dificuldades em discernir Qual sua posio dedireito na Igreja de Cristo.

    Como a arca de Deus no Antigo Testamento, este bendito Sacramen-to tem lugar e posio prprios entre as ordenanas crists e, assim comoa arca de Deus, pode facilmente ser colocada no lugar errado. A histriadaquela arca prontamente recorre em nossas mentes. Colocada no lugar

    de Deus, e tratada como um dolo, ela no fez bem nenhum aos israelitas.Nos dias de Eli, ela no os pde salvar das mos dos filisteus. Seusexrcitos foram derrotados, e a prpria arca, tomada, profanada e deson-rada ao ser posta no templo de um dolo, foi ela causa do recair da ira deDeus sobre toda uma nao, at que os filisteus disseram, a uma voz,Mandem-na embora daqui!. Tratada com descuido e leviandade, trouxeo julgamento de Deus sobre os homens de Bete-Semes, e sobre Uz.Tratada com reverncia e respeito, trouxe bnos a Obede-Edom e toda asua casa. O mesmo se d com a Ceia do Senhor. Posta no seu lugar dedireito, ela uma ordenana geradora de bnos. A grande questo a serresolvida : Que posio esta?

    1. A Ceia do Senhor no est em seu devido lugar quando tornada oprimeiro, maior, principal e mais importante elemento do culto cristo. Queisto acontece em muitos lugares, todos devemos saber. As bem conhecid-as missas da Igreja Romana, o aumento da importncia atribuda SantaComunho, como chamada, por muitos em nossa prpria Igreja, soprovas claras do que quero dizer. O sermo, o modo de conduzir a orao,a leitura das Sagradas Escrituras, em muitas igrejas so tornadossecundrios diante da administrao da Ceia do Senhor. Bem podemosperguntar, Que fundamento h nas Escrituras para esta honra extrava-

    gante?, mas no ouviremos resposta. H no mximo cinco livros em todoo cnone do Novo Testamento nos quais a Ceia do Senhor ao menos

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    mencionada. Acerca da graa, da f e da redeno; da obra de Cristo; daobra do Esprito e do amor do Pai; da runa do homem, de sua fraqueza emisria espiritual; da justificao, santificao e retido de vida; de todosesses portentosos assuntos encontramos os autores inspirados dando-noslinhas e mais linhas, e preceitos e mais preceitos. Acerca da Ceia do

    Senhor, pelo contrrio, podemos observar na maior parte do Novo Testa-mento um silncio eloquente. Mesmo as Epstolas a Timteo e Tito, quecontm muita instruo acerca dos deveres do ministro, no contm umas palavra a respeito. Este fato, apenas, j fala por volumes inteiros!Deslocar a Ceia do Senhor para o centro at que ela sobrepuje e se tornedesproporcionalmente maior do que tudo o mais na f dar a ela umaposio para a qual no h autoridade na Palavra de Deus.16

    2. Uma vez mais, a Ceia do Senhor no estar em seu devido lugarquando administrada com um grau extravagante de cerimnia e veneraoexterior. Ao dizer isto, sinto muito por ser mal compreendido. Deus melivre de propor qualquer desleixo ou irreverncia no emprego de qualquerdas ordenanas de Cristo. Em absoluto, a quem honra, honra demos.Contudo, pergunto a todos quantos leem este trabalho: no h algodolorosamente suspeito quanto enorme quantidade de pompa ereverncia fsica com que a Ceia do Senhor atualmente celebrada emmuitas de nossas igrejas? O tratamento ostensivo da Mesa da Comunhocomo um altar as luzes, ornamentos, flores, as mincias decorativas,gestos, posturas, reverncias, persignaes, incensaes, procisses,todos ligados ao assim chamado altar a misteriosa e obsequiosa ven-erao com que o po e o vinho so consagrados, dados, tomados e

    recebidoso que tudo isso significa?17 Onde est, em tudo isso, a simpli-cidade da primeira instituio, como a encontramos registrada na Bblia?Onde a simplicidade que nossos reformadores protestantes pregaram epraticaram? Onde a simplicidade que qualquer leitor desarmado do Livrode Orao ingls pode justamente esperar? Bem podemos perguntar:onde? A verdadeira Ceia do Senhor no est mais ali. A coisa toda re-cende a romanismo. Um leitor direto s pode ver nisso uma tentativa deintroduzir em nosso culto a doutrina do sacrifcio, a fbula blasfema e operigoso engano da missa, da presena real papista e da transubstan-

    16

    Aproveito a ocasio para dizer que vejo com desgosto a prtica moderna de se substituir o sermopor uma celebrao da Ceia do Senhor nas visitas episcopais e arcediagais. Sem dvida ela poupaBispos e Arcediagos de muito trabalho. Poupa-os da responsabilidade individual de selecionar umpregador. Mas a coisa toda tem uma aparncia suspeita e insatisfatria. Pregar a Palavra, a meu ver, uma ordenana bem mais importante do que a Ceia do Senhor.17 verdadeiramente lamentvel observar quantos rapazes e moas, de quem se poderia esperar mais,caem hoje em um semi-romanismo, pela atrao de um cerimonial altamente ornamentado e sensorial.Flores, crucifixos, procisses, estandartes, incenso, paramentos esplendorosos e outros que-tais jamaisfalham em atrair os jovens, assim como moscas ao mel. No insultarei o bom senso dos que consid-eram tais coisas interessantes, perguntando-lhes se de fato acreditam que podem disso obter qualqueralimento para o corao, conscincia e alma. Mas gostaria que considerassem seriamente o que taiscoisas significam. Eles sabem, verdadeiramente, que as doutrinas da missa e da transubstanciao estona raiz de todo o sistema? Esto preparados para engolir todas essas horrendas heresias? Suspeito que

    muitos esto brincando com o ritualismo sem a menor idia do que ele encobre. Enxergam uma iscaatraente, mas no veem o anzol.

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    ciao. impossvel evitar a sensao de que uma heresia mortal subjazneste cerimonial pomposo e que no estamos lidando apenas com umamor infantil pelo espetculo e pela forma, mas com um desgnio arraiga-do de trazer de volta o papado Igreja da Inglaterra e subverter o Evan-gelho de Cristo. De qualquer forma, uma coisa me bem clara: o Sacra-

    mento da Ceia do Senhor, administrado como atualmente em muitoslugares, no est em sua posio de direito. Encontra-se to disfarado,pintado, maquiado, aparelhado e inchado, e to mudado por este novotratamento, que mal posso ver nele, de fato, qualquer Ceia do Senhor.

    3. Uma vez mais, a Ceia do Senhor no est em sua posio dedireito quando forada a todos os presentes ao culto, indiscriminadamente,como um meio de graa de que todos, indistintamente, devem fazer uso.Uma vez mais, peo que ningum me interprete mal. Tenho uma con-vico to forte quanto qualquer outro, de que ir igreja como um adora-dor e no se fazer comungante ser um cristo dos mais inconsistentes, eque no ser apto Mesa do Senhor no ser apto para a morte. Umacoisa, porm, ensinar isto, e outra, instar a todos os homens para querecebam do Sacramento mecanicamente, quer estejam qualificados paraisto, quer no. No tenho a inteno de levantar uma acusao falsa. Nempor um momento suponha-se que qualquer ministro da linha High Churchrecomende, de forma direta, que pessoas mpias participem da Ceia doSenhor para que se tornem pias. Mas no posso esquecer que, de muitosplpitos, pessoas so constantemente ensinadas que so nascidas denovo e receberam graa em virtude de seu Batismo; e que se queremavivar a graa em si, e receber maior f, devem fazer uso de todos os

    meios de graa, e especialmente da Ceia do Senhor! E no posso deixar detemer que milhares, no presente, esto substituindo o arrependimento, af e a unio vital com Cristo pela participao na Ceia do Senhor, eenganando-se a si mesmos, que quanto mais receberem o Sacramento,mais se tornaro justificados, e mais prontos estaro para a morte. Minhafirme convico pessoal de que a Ceia do Senhor no deve, de formanenhuma, ser colocada antes de Cristo, e que os homens devem sempreser ensinados a achegar-se a Cristo pela f antesde se achegarem Mesado Senhor. Creio que esta ordem no pode jamais ser invertida sem que ainverso traga consigo grosseira superstio, e cause imenso mal salmas dos homens. Aquelas partes da cristandade onde se faz da missatoda a vida crist, e a Palavra de Deus raramente pregada, so precis-amente os lugares onde h a mais completa ausncia de um cristianismovioso. Quisera eu dizer que no h temor de que cheguemos a esteestado de coisas em nossa prpria terra. Contudo, quando ouvimos falarde centenas lotando a Mesa do Senhor aos domingos, e ento chafurdan-do em toda sorte de dissolues durante a semana, h grave motivo parasuspeitar que a Ceia do Senhor est sendo aplicada s congregaes deuma maneira totalmente destituda de lastro nas Escrituras.

    Perguntar algum agora: qual o devido lugar da Ceia do Senhor?Re-

    spondo esta pergunta sem qualquer hesitao. Creio que seu lugar dedireito, como o da santidade, entre a graa e a glria; entre a justificao

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    e o cu; entre a f e o paraso; entre a converso e o descanso final; entrePorta Estreitae a Cidade Celestial. Ela no Cristo, ela no a converso,ela no um passaporte para o cu. Ela para o fortalecimento e restau-rao daqueles que j vieram a Cristo, que sabem algo acerca da con-verso, que j esto no caminho estreito e j fugiram da cidade da destru-

    io.

    Bem sei que no somos capazes de ler coraes. No devemos serrgidos e exclusivos demais quanto aos requisitos para a Comunho, etornar infelizes aqueles que Deus no fez infelizes. Contudo, no devemosjamais nos furtar de dizer aos inconversos e aos descrentes que, em suacondio atual, no esto aptos a achegar-se Mesa do Senhor. Umclrigo fiel, de qualquer modo, jamais deve se envergonhar de defender aposio estabelecida pelo Catecismo da Igreja. A ltima pergunta dessebem conhecido formulrio reza: Que exigido dos que se achegam Ceiado Senhor? A resposta a esta pergunta substanciosa e cheia de signifi-cado. Aqueles que vm Ceia do Senhor devem examinar a si mesmos,arrepender-se verdadeiramente de seus pecados passados, firmementepropondo-se a viver uma nova vida; ter f viva na misericrdia de Deuspor Cristo e uma grata memria por Sua morte; e viver em caridade paracom todos os homens. Algum tem tais sentimentos em seu prpriocorao? Ento podemos dizer com intrepidez que a Ceia do Senhor estposta diante de si por um Salvador misericordioso, para auxili-lo a correra carreira que tem diante de si. No devemos colocar esta ordenana maisalto do que isto. No se espera do comungante que seja um anjo, mas umpecador ciente de seus pecados e confiante em seu Salvador. Mais baixo

    do que isto no temos o direito de pr esta ordenana. Encorajar aspessoas a achegarem-se Mesa sem conhecimento, f, arrependimentoou graa ativamente causar-lhes mal, promover a superstio e de-sagradar o Mestre da festa. Ele deseja ver em Sua mesa no convivasmortos, mas vivos; no o culto morto do comer e beber por formalidade,mas o sacrifcio espiritual de coraes sensveis e amorosos.

    Fao aqui uma pausa. Creio ter dito o bastante para esclarecer asposies que sustento a respeito da verdadeira inteno e da posio dedireito do Sacramento da Ceia do Senhor. Se, ao expor minhas opinies,tiver dito qualquer coisa que atrite com os sentimentos de qualquer dosleitores, posso assegur-los que lamento sinceramente. Nada poderiaestar mais distante do meu desejo do que ferir os sentimentos de umirmo.

    Porm, minha firme convico que o estado da Igreja da Inglaterraexige grande clareza no falar e distino nas declaraes acerca dosSacramentos. Estou convencido de que no h nada que os tempos toimperativamente exijam dos membros evanglicos da Igreja quantoafirmaes diretas, valorosas e explcitas dos grandes princpios mantidospor nossos ancestrais, e especialmente acerca do Batismo e da Ceia do

    Senhor. Se desejamos fortalecer as coisas que permanecem, que estoprestes a morrer, devemos voltar resolutamente s veredas antigas, e

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    sustentar as antigas verdades do jeito antigo. Devemos abrir mo da videia de que podemos tornar a Cruz de Cristo aceitvel ao pol-la, en-verniz-la, pint-la, banh-la a ouro e serrar seus cantos. Devemos pararde supor que podemos atrair os homens a se tornarem evanglicosadotando um mtodo diminudo, contemporizador, diludo, meio-a-meio,

    de expor as doutrinas do Evangelho; ou pelo vestir plumas emprestadas eflertar com o movimento High Church, ou por proclamar em alta voz queno somos partidaristas, ou por deixar de lado as claras expresses dasEscrituras e louvar o entusiasmo, ou por habilidosamente abster-se deproferir verdades sujeitas a ofender. Esse plano pura iluso. No ganhanenhum inimigo e bem pode afastar os verdadeiros amigos. Causa odesprezo do espectador mundano e o enche de escrnio. Podemos nosassegurar de que a mais sbia e correta linha para os evanglicos denossa igreja seguirem a de aderir com firmeza ao velho plano depreservar a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade, como em Jesus, e especialmente a verdade acerca dos dois Sacramentos, oBatismo e a Ceia do Senhor. Sejamos corteses, amigveis, caridosos,afveis e tenhamos considerao pelos sentimentos alheios, sim, comcerteza, mas que nenhuma considerao nos faa ocultar qualquer parteda verdade de Deus.

    Permitam-me encerrar este trabalho com algumas sugestes prticas.Presumindo, por um momento, que tenhamos firmado nossa opinioacerca da inteno e posio de direito da Ceia do Senhor, consideremos oque os tempos demandam de nossas mos.

    1. Em primeiro lugarcultivemos uma santa simplicidadeem todas asnossas declaraes acerca da Ceia do Senhor, e um santo zelo em todasas nossas prticas com relao a ela.

    Se somos ministros, recordemos nosso povo com frequncia de queno h sacrifcio na Ceia do Senhor; no h presena real do corpo e dosangue de Cristo no po e no vinho; no h transformao nos elementos;no conferida graa ex opere operato; no h altar no extremo leste denossas igrejas18; no h sacerdcio sacrificante na Igreja da Inglaterra.Digamos a eles estas coisas, de novo, e de novo, e de novo, at que nossascongregaes as tenham gravadas em suas mentes e memrias e almas, erecomendemos-lhes que, tanto quanto amam a prpria vida, no asesqueam.

    Quer sejamos leigos, quer clrigos, estejamos alerta quanto a con-templar ou tolerar quaisquer prticas relativas Ceia do Senhor queexcedam ou contradigam as rubricas de nosso Livro de Orao e impli-quem qualquer crena em uma posio romanista deste Sacramento.Protestemos de todas as formas possveis contra qualquer venerao

    18Em arquitetura eclesistica, o extremo do templo oposto entrada principal considerado o leste

    litrgico, ainda que o templo no seja construdo voltado para o leste geogrfico (que a prtica hist-rica da orientao). No leste litrgico de um templo cristo tradicional ficam o plpito e a Mesa do

    Senhor, ou o altar nas igrejas catlicas. [N.T.]

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    extravagante da Mesa de Comunho e do po e do vinho, como se o corpoe o sangue de Cristo estivesse presente nesses elementos, ou na Mesa; ejamais nos esqueamos do que o Livro de Orao diz sobre a idolatria, aser abominada por todos os fieis cristos.

    No h como ser excessivamente insistente nestes pormenores. Ostempos mudaram. Coisas que poderamos tolerar no passado comoquestes indiferentes, e mincias desimportantes de cerimonial, no maispodemos tolerar. Alguns anos atrs, eu me voltaria para o leste durante arecitao do Credo em qualquer parquia, para no ofender os sentimen-tos do prximo. No o posso mais fazer, pois vejo grandes princpiospostos em jogo. Que nosso protesto nessas questes seja firme, decidido euniversal em todo o pas, e poderemos fazer muito bem.

    2. Em segundo lugar, no sejamos abalados ou atribulados com aacusao comum de que no somos membros da Igreja, porque noconcordamos com muitas das posies de nossos irmos a respeito dosSacramentos. Tais acusaes so feitas com facilidade, mas no tofacilmente provadas. Confio especialmente que meus irmos mais jovensas trataro com perfeita indiferena e despreocupao. No sei de que meadmirar mais, se da falta de vergonha ou da ignorncia dos que aslevantam.

    Os que friamente dizem que os membros do partido evanglico noso verdadeiros membros da Igreja supem que no sabemos ler? Imagi-nam que no podemos compreender o significado direto de um texto?

    Acaso acham que podem nos convencer de que nossas posiesdoutrinrias no podem ser encontradas nos Artigos, na Liturgia e nasHomilias, e nos escritos dos principais telogos de nossa Igreja, at osdias de Carlos I? Acaso imaginam, por exemplo, que no sabemos que aMesa da Comunho raramente era posta no extremo leste do templo atos dias de Laud, mas ficava no presbitrio, como uma mesa, e que Ridleya chamava especialmente de o Balco do Senhor19? Temo, porm, queeles presumam que possumos as tendncias iletradas de nosso tempo.Bem sabem que a leitura de muitos dos evanglicos raramente vai almde jornais e revistas.

    19 fato que a Mesa da Comunho na Catedral de Gloucester foi disposta como um altar, encostada parede leste do presbitrio, pelo prprio Laud, quando era Deo de Gloucester, em 1616. Tambm fato que o Bispo Miles Smith, ento Bispo de Gloucester, aborreceu-se tanto com a mudana quedeclarou que no tornaria a entrar na Catedral at que a Mesa fosse trazida de volta a sua posioanterior. E manteve sua palavra, no adentrando os muros da Catedral at que foi enterrado nela em1624.Observemos os termos empregados pelo Bispo Ridley em suas injunes ao clero da S de Londres.Ao enunciar razes para a remoo dos altares e sua substituio por mesas, ele diz: A serventia deum altar sacrificar sobre ele. O uso de uma mesa servir aos homens para que nela comam. Agora,quando nos achegamos Mesa do Senhor, para que vimos? Para tornar a sacrificar Cristo e crucific-lo novamente, ou para nos alimentar dele que foi uma vez crucificado e oferecido por ns? Se vimos

    nos alimentar dele, para espiritualmente comer seu corpo e espiritualmente beber seu sangue, que overdadeiro sentido da Ceia do Senhor, ento ningum pode negar que a forma de uma mesa maisadequada do que a forma de um altar. Cf. Foxes acts and mon., vol. VI, Seeleys Edition, p. 6.

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    Digo com intrepidez que, no que tange verdadeira, honesta e con-sciente membresia na Igreja da Inglaterra, o partido dos evanglicos noprecisa temer a comparao com qualquer outra seo do espectro denossa Igreja. Podemos seguramente desafiar qualquer justa investigao einqurito. Outros subscreveram os Trinta e Nove Artigos ex animo et bona

    fide20? Ns tambm. Outros declararam sua total concordncia com aLiturgia? Ns tambm. Outros empregam a Liturgia, nada acrescentandoou omitindo, com reverncia, solenemente e em voz audvel? Ns tambm.Os outros so obedientes a seus Bispos? Ns tambm. Trabalham osoutros pela prosperidade da Igreja da Inglaterra? Ns tambm. Os outrosvalorizam as prerrogativas da Igreja da Inglaterra e deploram separaesdesnecessrias? Ns tambm. Os outros honram a Ceia do Senhor erecomendam-na ateno de todos os ouvintes crentes? Ns tambm.Mas ns no admitiremos que um homem tem obrigao de seguir oArcebispo Laud e se tornar meio romanista para ser membro da Igreja.Somos ns os verdadeiros high churchmen, e no high churchmenroman-istas. E a melhor prova de nossa membresia na Igreja o fato de que,para cada um dos nossosque deixou a Igreja da Inglaterra para as igrejasDissidentes, podemos nomear dez do partido High Churchque deixaram aIgreja da Inglaterra e se foram para Roma.

    No! Os evanglicos da Igreja no precisam se comover com aacusao de que no so verdadeiros membros. Homens ignorantes edesavergonhados podem fazer tais acusaes, mas homem nenhum,seno os rasos e iletrados, crero neles. Quando aqueles que as levantamresponderem obra do Deo Goode sobre a Eucaristia, bem como s

    outras obras sobre o Batismo e a Regra de F, a ser tempo de pre-starmos ateno ao que dizem. At l, porm, podemos confiar no con-selho dado aos judeus por Ezequias a respeito das virulentas acusaesde Rabsaqu: no as respondais.

    3. Em ltimo lugar, permitam-me expressar uma sincera esperanade que ningum que leia este trabalho se deixe expulsar da Igreja daInglaterra pela ascenso da atual mar de ritualismo e pela aparentedecadncia do grupo evanglico. Lamento que deva haver necessidade deproferir este aviso, mas estou certo de que no desmotivado.

    Bem posso compreender os sentimentos que afetam muitosatualmente. Vivem, talvez, em uma parquia onde o Evangelho nunca pregado, onde doutrinas e prticas romanistas sobre a Ceia do Senhorenlevam todos sua volta; onde, de fato, esto sozinhos. Semana apssemana, ms aps ms, ano aps ano, nada ouvem seno a mesma batidaladainha sobre Santa Igreja, Santo Batismo, Santa Comunho, santossacerdotes, santos altares, santo sacrifcio, at que fiquem enjoados dapalavra santo e o domingo se torna um verdadeiro enfado para suasalmas. E ento vem o pensamento: por que no deixar a Igreja da Ingla-

    20De alma (sinceramente) e em boa-f (N.T.).

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    Igreja da Inglaterra pelo ritualismo atual. Lamento pelos muitos que sefizeram retirar em desgosto do plio de nossa Sio. Mas low churchmancomo sou, sou membro da Igreja21, e estou ansioso por que ningum sejainduzido a fazer coisas insensatas e apressadas por causa do proceder aque me referi. Enquanto tivermos verdade, liberdade e uma confisso de

    f inabalada na Igreja da Inglaterra, estarei convicto de que o caminho dapacincia muito melhor que o da secesso.

    Quando os Trinta e Nove Artigos forem alterados; quando o Livro deOrao for revisado com padres romanistas e entupido de papismos;quando a Bblia for retirada da estante de leitura; quando o plpito forfechado ao Evangelho; quando a missa for oficialmente restaurada emcada parquia por Ato do Parlamento; quando, de fato, nossa presenteordem de coisas na Igreja da Inglaterra for alterada por lei, e quando aRainha, os Lordes e os Comuns determinarem que nossas parquias seentreguem a procisses, incensos, cruzes, imagens, estandartes, flores,paramentos esplendentes, venerao idlatra do Sacramento da Ceia doSenhor, oraes murmuradas, leituras apcrifas, sermes curtos, secos esem substncia, gestos e posturas afetados, prostraes, persignaes ecoisas do tipo; quando estas coisas se derem por mando e autoridade dalei, ento ser o tempo de deixarmos todos a Igreja da Inglaterra. Entopoderemos nos levantar e dizer a uma voz: Vamos embora, porque Deusno est aqui.

    At esse dia, contudo (e Deus nos livre de que ele chegue; mas sechegar, haver muitos bons que partiro), fiquemos firmes, e lutemos pela

    verdade. No desertemos nossos postos para evitar aborrecimentos,saindo para o agrado de nossos adversrios e arruinando nossos planospara evitar uma batalha. No! Em nome de Deus, lutemos, ainda quesejamos como os 300 de Termpilas: poucos conosco, muitos contra ns etraidores de todos os lados. Prossigamos na luta, e batalhemos sincerospela f uma vez entregue aos santos.

    A boa nau da Igreja da Inglaterra pode ter algumas tbuas podres. Atripulao pode, muitos deles, ao menos, ser intil e amotinada, e indignade confiana. Mas ainda h fiis entre eles. Ainda h esperana para obom e velho vaso. O Grande Piloto ainda no a deixou. Portanto, per-maneamos a bordo.

    21 No original, churchman. [N.T.]

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    ANEXO

    As seguintes citaes podem interessar a alguns leitores:

    1. Arcebispo Cranmer, no Prefcio de sua Resposta a Gardiner, diz:Eles (os romanistas) dizem que Cristo est corporalmente presente

    sob ou na forma do po e do vinho; ns dizemos que Cristo no est ali,nem corporal, nem espiritualmente. Mas naqueles que dignamentecomem e bebem do po e do vinho, ele est espiritualmente, enquanto seucorpo permanece no cu. No digo com isto que Cristo esteja espir-itualmente presente, quer na Mesa, quer no po e no vinho sobre eladispostos, mas que ele se faz presente na ministrao e na recepo destaSanta Ceia, segundo sua prpria instituio e ordenana. (Cf. Goode onthe Eucharist, vol. II, p. 772).

    2. Bispo Ridley, em sua Disputation at Oxford, diz:

    As circunstncias das Escrituras, a analogia e proporo dos Sac-ramentos e o testemunho dos fiis Pais, deve nos dirigir quanto ao signifi-cado das Sagradas Escrituras, no que concerne os Sacramentos.

    Mas as palavras da Ceia do Senhor, as circunstncias das Escritu-ras, a analogia dos Sacramentos e os escritos dos Pais, da maneira maisefetiva e direta nos provam um discurso figurado nas palavras da Ceia doSenhor.

    Portanto, um sentido e um significado figurado devem ser especial-mente apreendidos nas palavras Isto o meu corpo. (Cf. Goode on theEucharist, vol. II, p. 766.

    3. Bispo Hooper, em sua Brief and clear confession of the Chris-tian faith, diz:

    Creio que todo este Sacramento consiste no seu uso; de modo quesem o uso correto, o po e o vinho em nada diferem do po e do vinho queso comumente utilizados; e, portanto, no creio que o corpo de Cristopossa ser contido, oculto ou incorporado ao po, sob o po ou com o po;nem o sangue no vinho, sob o vinho ou com o vinho. Mas creio e confessoque o nico corpo de Cristo est no cu, destra do Pai, e que sempre,todas as vezes que usamos deste po e deste vinho segundo a ordenanae instituio de Cristo, de fato e de verdade recebemos seu corpo esangue. (Cf. Hoopers Works.Parker Societys Edition, vol. II, p. 48.

    4. O Bispo Jewel diz:Examinemos que diferena h entre o corpo de Cristo e o sacramen-

    to de seu corpo.

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    A diferena esta: um sacramento uma figura ou emblema; o corpode Cristo figurado ou representado em emblema. O po sacramental po, no o corpo de Cristo; o corpo de Cristo carne, no po. O poest c abaixo, o corpo est acima. O po est na mesa, o corpo est nocu. O po est na boca, o corpo est no corao. O po alimenta o corpo;

    o corpo alimenta a alma. O po se desfar; o corpo e imortal e noperecer. O po vil; o corpo de Cristo glorioso. Tal a diferena entre opo que sacramento do corpo, e o corpo de Cristo propriamente dito. Osacramento comido tanto por mpios como por fiis. O corpo s recebido pelos fiis. O sacramento pode ser comido para juzo; o corpono pode ser comido seno para a salvao. Sem o Sacramento, podemosser salvos; mas sem o corpo de Cristo, no temos salvao, no podemosser salvos. Jewel on the Sacrament.Parker Societys Edition, vol. IV, p.1121.

    5. Richard Hooker, em sua Ecclesiastical polity, diz:A presena real do preciosssimo corpo e sangue no deve ser

    procurada no Sacramento, mas naquele que dignamente o recebe.

    E com isto, a prpria ordem das palavras de nosso Salvador concor-da. Primeiro, tomai e comei, ento isto meu corpo, que partido porvs. Primeiro, bebei dele todos, e em seguida este o meu sangue danova aliana, que derramado por muitos para a remisso dos pecados.No vejo de que modo se pode extrair das palavras de Cristo o quando ecomo seu po seja seu corpo, ou o vinho seu sangue, seno no prpriocorao e alma daquele que o recebe. Quanto aos Sacramentos, eles de

    fato exibem, mas de nada do que h escrito sobre eles podemos extrairque sejam ou contenham em si mesmos as graas que por eles, ou comeles, praza a Deus conceder. Hooker, Eccl. Pol., livro V, p. 67.

    6. Waterland diz:Os pais bem compreendem que, para fazer do corpo natural de Cris-

    to o real sacrifcio da Eucaristia no seria apenas absurdo razo, masaltamente presunoso e profano; e que fazer dos sinais externos umsacrifcio propriamente dito, um sacrifcio material, seria de todo contrrioaos princpios do Evangelho, degradando o sacrifcio cristo em umsacrifcio judaico, sim, e tornando-o muito mais baixo e mesquinho doque o judaico, tanto em valor quanto em dignidade. O modo correto,portanto, seria tornar o sacrifcio espiritual, e no poderia ser diferentenos princpios do Evangelho. Works, vol. IV, p. 762.

    Ningum tem autoridade de oferecer Cristo como sacrifcio, quer re-al, quer simbolicamente, seno o prprio Cristo; tal sacrifcio seu, e nonosso; oferecido em nosso favor, e no por ns, a Deus, o Pai. Works,vol. IV, p. 753.

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    _________________ORE PARA QUE O ESPRITO SANTO USE ESSE SERMO PARAEDIFICAO DE MUITOS E SALVAO DE PECADORES.

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