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EAE – 115 Introdução aos Clássicos do Pensamento Econômico

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EAE – 115 Introdução aos Clássicos do Pensamento Econômico

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EAE – 115 Introdução aos Clássicos do Pensamento Econômico

Alguns autores são considerados clássicos pela originalidade da análise econômica que desenvolveram em suas obras, ou seja, pela forma como forjaram conceitos e modelos com o intuito de explicar as relações econômicas.

Em torno destes autores, criam-se escolas de pensamento que propagam o impacto de seus estudos e conclusões além do período de sua formação, influenciando a evolução da teoria econômica.

Esta disciplina buscará apresentar as principais escolas do pensamento econômico a partir dos primeiros escritos mercantilistas, até o surgimento da economia Neoclássica e Keynesiana.

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Índice

Parte I Programa da disciplina............................................................................................4Objetivos do Curso......................................................................................................5Conteúdo Temático.....................................................................................................6Guia de leituras e bibliografia...................................................................................11Bibliografia...............................................................................................................12

Parte II Material de aula..................................................................................................13Apresentação da Homepage(WEBCT).....................................................................14Introdução ao estudo da ciência econômica..............................................................17 O mercantilismo........................................................................................................26 A fisiocracia..............................................................................................................32 Adam Smith..............................................................................................................39 Thomas Robert Malthus............................................................................................49 David Ricardo...........................................................................................................56 Bentham, Say e Senior..............................................................................................68 Karl Marx..................................................................................................................74 Algumas questões teóricas em Marx.........................................................................81Jonh Stuart Mill.........................................................................................................89 Jevons, Menger, Walras............................................................................................97 Alfred Marshall.......................................................................................................103 John Maynard Keynes.............................................................................................112

Parte III Coletânea de exercícios.....................................................................................120Apêndice HistóricoApêndice Diagramático

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Parte I Programa da disciplina

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Objetivos do curso "Introdução aos Clássicos do Pensamento Econômico"

Alguns autores são considerados clássicos pela originalidade da análise econômica que desenvolveram em suas obras, ou seja, pela forma como forjaram conceitos e modelos com o intuito de explicar as relações econômicas. Em torno destes autores, criam-se escolas de pensamento que propagam o impacto de seus estudos e conclusões além do período de sua formação, influenciando a evolução da teoria econômica.

Esta disciplina buscará apresentar as principais escolas do pensamento econômico a partir dos primeiros escritos mercantilistas, até o surgimento da economia Neoclássica e Keynesiana. Ao longo do curso serão discutidos os principais conceitos formulados por diversos autores, destacando, sempre que possível, sua relação com a moderna teoria econômica.

A multiplicidade de interpretações, ou visões, é uma das principais características da ciência Econômica, mesmo em tempos atuais. A presente disciplina procura enfatizar a constituição de conceitos e modelos básicos que estão na origem desta multiplicidade, onde muitas questões objetivas encontram diferentes respostas, dependendo do autor e do período considerado.

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Conteúdo temático 

1. Introdução ao estudo da ciência econômica

Economia como ciência

Meios e fins da economia

Objetivo e Objeto da Ciência Econômica

As três questões fundamentais

Importância dos modelos econômicos

Economia e modo de produção capitalista

Economia em debate

Ligações entre autores do pensamento econômico

2.O mercantilismo

Os Mercantilistas e seu tempo

A Moeda

Políticas econômicas mercantilistas

3.A fisiocracia

Os fisiocratas e seu tempo

A ordem da natureza

A Sociedade tripartida

Repartição do produto

Tributação e política governamental

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4.Adam Smith

Smith e seu tempo

Biografia

A divisão do trabalho

O valor

Os preços

Os salários

Os lucros

Natureza, acumulação e emprego do capital

Livre comércio e tributação

Crítica à teoria do valor de Smith

5.Thomas Robert Malthus

Malthus e seu tempo

A perspectiva social de Malthus

A teoria da população

Controles populacionais e nível de vida

A teoria da renda

A teoria da superprodução

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6.David Ricardo

Ricardo e seu tempo

A teoria da renda e do lucro

A teoria do valor

A solução de Ricardo para o problema da transformação de valores em preços

Fundamento econômico dos conflitos de classe

Livre comércio e suas vantagens

Bibliografia

7.Bentham, Say e Senior

Jeremy Bentham

William Nassau Senior

Jean-Baptiste Say

8.Karl Marx

O método de Marx

Algumas questões teóricas em Marx

A crítica de Marx à economia clássica

A mercadoria

O caráter social da produção de mercadorias

Fetichismo

Acumulação capitalista

A transformação de valores em preços:

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9.Jonh Stuart Mill

Mill e seu tempo

A obra Principles of Political economy

Produção

Distribuição

Salários, lucros e renda

A teoria do valor e os valores internacionais

Sociedade e reforma

10.Jevons, Menger, Walras

O marginalismo e seu tempo

A importância do marginalismo

Willian Stanley Jevons

Carl Menger

Leon Walras

11. Alfred Marshall

A obra Principles of economy

A teoria da utilidade

A demanda

O lado da oferta

Os custos na formação da curva de oferta

Os mercados

Equilíbrio e formação de preços

Curto e longo prazo

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12.John Maynard Keynes

Keynes e seu tempo

A euforia econômica do início do século XX nos EUA

A grande depressão

A saída da crise

A teoria de Keynes

Demanda efetiva

Crises de demanda efetiva

O legado de Keynes

 

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Guia de leituras e bibliografia

TEMA

 

BIBLIOGRAFIA

BÁSICA

BIBLIOGRAFIA

COMPLEMENTAR

Introdução à Economia

e Contexto Histórico

H cap1 G cap1

Mercantilistas H cap2 Feijó cap3(até pg.74)  

G cap1

Fisiocratas H cap2 Feijó cap4(pg.105- pg.114)

G cap1

Adam Smith

e a filosofia do egoísmo

H cap3 N cap3 Smith (E)

G cap1

Malthus H cap4 Malthus(E)

G cap1 F cap6 até pg.66

Ricardo H cap 5 N cap 4

Ricardo(E)

F cap 6 pg166-176

G cap1

Marx H cap9,10 e apêndice

N cap 4

Marx(E)

D cap 6

Sw-caps 1-7

Bentham, Say e Senior H cap 6

Say (E)

 

Mill H cap 8

Mill(E)

D cap 5

  Jevons e Menger H cap 11

Jevons (E)

D cap 7

Walras H cap 11

Walras(E)

 

Marshall H cap 12

F Marshall(E)

G cap7

Keynes H cap 16

Keynes(E)

G cap7

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 Bibliografia

  Sigla  Obra

BIBLIOGRAFIA BÁSICA –Intérpretes

H HUNT, E. K – História do Pensamento Econômico, Editora Campus (1982)

N NAPOLEONI, C. – Smith, Ricardo e Marx Editora Graal (1983)

F FEIJÓ -História do pensamento econômico : de Lao tse a Robert Lucas.  

X(E), em que X=Nome do autor

Apresentações das obras originais, publicadas pela editora Abril , na coleção Os Economistas.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

G GALBRAITH,J.K.-A era da incerteza(1998)

S SWEEZY, (1973). Teoria do Desenvolvimento Capitalista, Editora Zahar

D DOBB, Teorias de valor e distribuição desde A.Smith

Bibliografia (geral)

DOBB, M.Teorias de valor e distribuição desde A.Smith.Portugal: Ed Presenca, 1973FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert Lucas.São Paulo : Atlas, 2001GALBRAITH,J.K. A era da incerteza. São Paulo : Pioneira, 1998 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 JEVONS, W.S.Teoria da Economia Política.São Paulo: Abril Cultural, 1983 KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Abril Cultural, 1983MARSHALL, A. Princípios de Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1983 MARX, K.O Capital.São Paulo: Abril Cultural, 1983 MARX, K.Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983 MARX, K.Salário, Preço e Lucro. São Paulo: Abril Cultural, 1983 MILL, J. S.Principios de economia política :com algumas de suas aplicações à filosofia social.São Paulo: Abril Cultural, 1983 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação.São Paulo: Abril Cultural, 1983 SAY, J.B.Tratado de Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983 SMITH, A. A riqueza das nações:investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983 SWEEZY, P.M.Teoria do Desenvolvimento Capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1982WALRAS, L.Compendio dos Elementos de Economia Política Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1983

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Parte II Material de aula

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Apresentação da homepage

Caros Alunos, Bem vindos ao site da disciplina EAE – 115 Introdução aos Clássicos do

Pensamento Econômico. A criação deste site é uma iniciativa que tem como objetivo complementar as aulas presenciais oferecendo aos alunos um conteúdo de apoio e aprofundamento.

Além de tornar mais atrativo e efetivo o aprendizado, o site preparará os alunos para uma nova realidade que, em um futuro não muito distante, fará parte da vida de qualquer profissional: ensinar e aprender á distância.

Este site não é um mero reservatório de conteúdo, tão pouco um substituto para as aulas presenciais.

O site conta com algumas ferramentas de interatividade tais como: fórum de discussão (para temas relacionados á disciplina), salas de chat , e-mails do professor e monitores. Também estarão disponíveis agenda de atividades, listas de exercícios, gabaritos e links com sites de interesse, bem como as notas dos alunos.

A participação dos alunos fará o curso mais dinâmico e completo, e com sua colaboração o site poderá ser continuamente aprimorado.

Contamos com a participação de todosMilton Campanário

Ícones presentes na Homepage

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Esta seção vai apresentar os links/ícones da Homepage do site. Através deles os alunos têm acesso ao conteúdo.

Link “Programa da Disciplina“

Acessando o link Programa o aluno encontrará o programa do curso. Para dar uma visão da estrutura do curso é bom citar alguns de seus elementos constitutivos.

Parte 1.Introdução ao estudo da ciência econômica A Parte 1, será dedicada à apresentação e discussão do curso de Introdução aos

Clássicos e de seu programa do curso – sua estrutura, seus elementos temáticos e constitutivos. Também será discutido o objetivo e o objeto da ciência econômica.

Mostrar-se-á, a partir de uma ótica contemporânea, que os problemas econômicos encontram-se relacionados a resolução de três questões fundamentais:

(i) o que produzir?(ii) como produzir?(iii) para quem produzir?

Estas questões serão tratadas de forma a evidenciar as relações entre economia e ciência econômica, bem como trazer à tona a influência do legado histórico(fatos e idéias)sobre o pensamento econômico.

Parte 2 e 3-Mercantilistas e Fisiocratas Inicialmente são apresentados e discutidos os precursores da teoria econômica: os

Mercantilistas e os Fisiocratas. Parte 4-Adam Smith

Aqui são apresentados e discutidos os conceitos e contribuições de Adam Smith. Pode-se dizer que este autor buscou, através do uso de categorias analíticas, desvendar e enunciar as leis(ou procedimentos) que estimulam, movem e limitam a produção e distribuição de tudo aquilo a que se atribuiu valor.

Parte 5, 6 e 9-Malthus, Ricardo e Mill Este bloco é dedicado aos autores que compõe a chamada “Economia Clássica

Inglesa”: Thomas Malthus, David Ricardo e John Stuart Mill. Muitos dos escritos desses autores referenciam alguns dos problemas específicos enfrentados pelas economias de mercado (na fase do capitalismo industrial) e os conflitos distributivos na Europa do final do século XVIII e início do século XIX. Grande parte do trabalho desses autores é fruto das discussões em torno da Lei dos Cereais e sobre o padrão monetário inglês. Durante a exposição, tentará-se mostrar a riqueza conceitual e analítica presente em suas obras.

Parte 7-O utilitarismo Nesta parte a filosofia utilitarista de Bentham é apresentada juntamente com as

principais idéias de Say e Senior. Parte 8-Karl Marx

A Parte 4, apresenta e discute a crítica marxista. Inicialmente, é colocado o método de investigação de Marx: materialismo dialético e materialismo histórico. Em seguida, são apresentados os conceitos de modo de produção e relações de produção.

Parte 10-A revolução marginalista

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Os principais autores marginalistas- Jevons, Menger, Walras e Marshall- são abordados aqui.

É discutida então a origem da teoria econômica moderna, mais precisamente, da teoria neoclássica.

Parte 11-John Maynard Keynes Finalmente, na Parte 11 procurar-se-á introduzir alguns dos principais conceitos do

pensamento keynesiano. Como os demais autores apresentados no curso, Keynes forjou uma infinidade de categorias analíticas e conceituais. Estas serão apresentadas e discutidas de acordo com um texto de L. Pasinetti.

Link “Material de Aula”

No link Material de Aula os alunos encontraram as notas de aula. Essas notas não são meras resenhas do conteúdo apresentado durante as aulas presenciais; mas consistem em leituras de outros textos e autores, e incluem recursos didáticos como diagramas, gráficos e formulações algébricas.O objetivo do material de aula é trazer novos pontos de vista para os alunos,estimulando-os à uma interpretação mais profunda e crítica dos clássicos do pensamento econômico.

A estrutura dos textos foi padronizada de forma a reforçar a carga didática. Todos os textos contextualizam historicamente o tema a ser apresentado em sua introdução; a partir daí, seguem-se tópicos que apresentam e discutem os conceitos teóricos relevantes.Lembramos que as notas não substituem as leituras obrigatórias nem funcionarão como um “xerox high-tec”! Elas complementarão as aulas presenciais.

Link “Exercícios de Fixação”

Aqui os alunos encontrarão questões relacionadas aos conceitos e temas apresentados e discutidos nas aulas presenciais.

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Introdução ao estudo da ciência econômica

Economia como ciência

Definição de ciência Para compreender a economia como uma ciência, deve-se definir primeiramente

ciência. Schumpeter nos diz que: "Uma ciência é qualquer espécie de conhecimento que seja

o objeto de esforços conscientes para aperfeiçoá-lo." Tais esforços fazem-se em "técnicas" e métodos.1

Definição de ciência econômica "Chamaremos economia (científica) à soma total das técnicas teóricas, históricas e

estatísticas[como descritas no item II.Meios e fins da economia](...) juntamente com os resultados que elas ajudaram a produzir." 2

O termo ciência econômica, como descrito por Schumpeter é introduzido por A. Marshall em sua obra Princípios de economia(1890).

Definição de pensamento econômico Pensamento pode ser definido como "A soma total de todas opiniões e desejos

referentes a assuntos econômicos, especialmente relativos à política governamental que, em determinado tempo e lugar, pertencem ao espírito público." 3

O espírito público pode ser entendido como conjunto de idéias que se sobrepõem às demais e portanto acabam definindo uma sociedade. Refletem, tais idéias, a "estrutura de classe da sociedade correspondente e o espírito ou atitudes dos grupos que se formam nela." 4

" A história do pensamento econômico começa com os registros das teocracias nacionais da antiguidade, cujas economias apresentavam fenômenos não totalmente diferentes dos apresentados pela nossa própria, e os problemas que tratavam dentro de um espírito que, no fundamental, também não era muito diferente." 5

O nascimento da economia, ou período clássico : "O lento processo por intermédio do qual a economia, como a entendemos

presentemente, teve sua existência reconhecida inicia-se entre meados do século XVII e fins do século XVIII." 6

"Uma situação clássica aparece pela primeira vez na segunda metade do século XVIII. Aproveitando-nos deste fato, podemos admitir que este período se inicia entre 1750 e 1800, talvez com o máximo sucesso da época, Wealth of Nations(1776), de A.Smith." 7

1 SCHUMPETER, J. A. - História da Análise Econômica.p.28 2Idem p.443Idem p.64 4Idem p.655Idem p.80 6Idem p.79 7Idem p.79

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O termo situação clássica tem o significado de "consolidação de obra estimulante e original." 8

Meios e fins da economia

Técnicas da economia científica Schumpeter coloca que, o economista científico é aquele que domina as técnicas da

história econômica, da estatística e da teoria econômica. Este corpo de conhecimentos forma a análise econômica.

A história econômica possibilita a compreensão do "complexo econômico " sendo esse o resultado de fatos históricos. A economia e o economista são resultados das épocas precedentes. No dizer de Schumpeter: " A economia é um processo histórico único"9

É ainda o mesmo autor que diz:" A economia de diferentes épocas trata de diferentes conjuntos de fatos e problemas." 10 Daí depreende-se que a investigação histórica de cada uma destas épocas é vital para a compreensão acurada das idéias econômicas que surgiram e desenvolveram-se em cada uma delas.

A estatística é essencial para a manipulação consciente de dados. Sua relação com os assuntos econômicos data, pelo menos, dos séculos XVII ou XVIII, quando servia aos estudos dos chamados "aritméticos políticos". Para desenvolver uma análise estatística acurada, não basta apenas dominar técnicas, mais do que isso, para interpretar satisfatoriamente os dados estatísticos, deve-se conhecer o processo que os gerou.

A teoria econômica baseia-se na formação de hipóteses a partir da construção de modelos. Os modelos são abstrações da realidade. Um economista não dispõe de um laboratório, como os Químicos para testar suas hipóteses e extrair princípios.

Como coloca Schumpeter "a teoria econômica é uma caixa de instrumentos" 11 em que os instrumentos principais são as hipóteses (que visam estabelecer resultados interessantes), os conceitos , as relações que são feitas entre os conceitos e os métodos de uso dessas relações.

A teoria econômica retira sua estrutura dos estudos de história econômica, mas, grande parte desta estrutura está apoiada sobre fatos sociais como a instituição da propriedade privada, a atuação governamental,etc. A natureza destes fatos sociais introduz na teoria econômica a preocupação com as razões e motivos que orientam o comportamento das pessoas, face à determinada conjuntura. Sem o que Schumpeter chama de "Sociologia econômica" a ciência econômica restringiria suas preocupações apenas às "questões referentes a como as pessoas se comportam em qualquer tempo(...)"12, sem ocupar-se da natureza e das causas deste comportamento.

Campos de aplicação: O curso de economia A economia científica, para ser estudada, é divida em diversos campos ou

especialidades.

8Idem p.101 9SCHUMPETER, J. A. - História da Análise Econômica p3510Idem p.26 11Idem p.37 12Idem p.43

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Esta separação dá origem à estrutura organizacional do curso universitário de economia, que compreende uma série de disciplinas dispostas de acordo com:

1. O entendimento do que vem a ser economia científica pelos organizadores do curso2. A importância atribuída aos conteúdos relacionados à economia científica como

entendida. 3. A importância atribuída á estes conteúdos para a formação do economista científico.4. Os graus de complexidade destes conteúdos

Por exemplo, têm-se disciplinas fundamentais como História Econômica, Estatística e Teoria Econômica(Microeconomia e Macroeconomia); logo depois aspectos que constituem parcelas(terminologia usada por Schumpeter) da Economia Geral como Moedas e Bancos, e Comércio Internacional, por exemplo. Cursos como Contabilidade, Finanças , Tecnologia Industrial e outros são exemplos dos demais campos de estudo.

Estas especialidades não podem ser classificadas dentro de divisões definidas e fixas do tipo Campos de Primeira Importância, Campos de Segunda Importância, e assim sucessivamente. Isto pois a ordem em que se relacionam não é lógica, e está sempre em mudança. Além disso, todos estes campos ou disciplinas são combinações das quatro técnicas fundamentais,e é impossível dissociá-los delas.

Objetivo e Objeto da Ciência Econômica

A Economia é uma entre as várias perspectivas de estudo da sociedade. A partir do século XVIII, devido ao desenvolvimento do modo de produção capitalista, os fenômenos ligados à produção, circulação e distribuição passaram a constituir uma esfera autônoma e passível de ser estudada separadamente.

Esse fenômeno conduziu a adoção de métodos e técnicas analíticas próprias que se destinavam ao entendimento dos aspectos quantitativos e qualitativos da vida econômica. Dessa forma, a Economia, que possuía uma raiz comum em relação às demais ‘Ciências Sociais’, autonomizou-se e desenvolveu, paulatinamente, métodos de investigação próprios.

A Ciência Econômica estuda aspectos inerentes à produção, circulação e distribuição do produto. Aqui, o termo produto é entendido como o total de bens e serviços produzidos por uma economia durante determinado período de tempo.

De um ponto de vista contemporâneo pode-se dizer que o objeto de investigação da Ciência Econômica é a (re) produção da vida material. Nesse contexto e de acordo com a corrente de pensamento que hoje a domina, o objetivo central da Ciência Econômica é definir como a sociedade deve utilizar os recursos escassos (recursos naturais, trabalho, capital, etc.) para satisfazer as necessidades “ilimitadas” dos agentes econômicos.

As três questões fundamentais

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Modernamente a ciência econômica busca responder três questões básicas:

1. O que produzir? 2. Como produzir? 3. Para quem produzir?

A resposta a estas questões está intimamente relacionada. Se observarmos atentamente, notaremos que decidindo “o que” e “como produzir” indiretamente responde-se a terceira questão: “para quem produzir?”.

Com base nestas constatações o economista Paul Samuelson, laureado com o prêmio Nobel em 1970, afirma: “A Economia é uma ciência social que estuda a administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins competitivos”

Ao longo deste curso veremos que os economistas sempre estão preocupados em “resolver” estas questões básicas – embora sob diferentes ênfases e enfoques.

Para alguns economistas o livre funcionamento do mercado conduz à melhor alocação dos recursos. Outros propõem novos arranjos e postulam uma radical reorganização da produção, circulação e distribuição.

Importância dos Modelos Econômicos

A realidade econômica de um país (ou de uma região) é extremamente complexa. Com o objetivo de simplificar o estudo e a análise desse aspecto da realidade social, os economistas desenvolvem modelos.

Os modelos econômicos são abstrações da realidade que tem como finalidade isolar e simplificar o estudo de determinado fenômeno. Em geral, os modelos econômicos procuram, através de representações matemáticas, estabelecer relações funcionais entre as variáveis econômicas.

Por exemplo: o consumo é uma função da renda disponível. Formalmente:

C = f ( Y - T )

Onde C = Consumo, Y = renda e T = (Transferências – Impostos)

O uso de modelos permite “entender as variáveis básicas, suas inter-relações e sua evolução ao longo do tempo” (Mankiw, 1997)

Quando atuam, economistas, administradores e “políticos” utilizam modelos econômicos. O uso de modelos adequados permite explicar e prever a conjuntura econômica, bem como elaborar procedimentos para modificá-la. Os modelos permitem fazer afirmações ex-ante sobre determinado aspecto da vida econômica: eles possibilitam o acompanhamento da evolução das variáveis econômicas de interesse.

A preocupação dos economistas é identificar as variáveis econômicas relevantes e suas inter-relações; explicar o que determina o volume de produção; verificar os determinantes do crescimento econômico; verificar como o produto circula e como a renda se distribui entre diversos agentes, etc.

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Economia e modo de produção capitalista

Origens

A autonomia da esfera econômica sobre as demais esferas da vida social se deu com o surgimento e a evolução do modo de produção capitalista.

Nos modos de produção anteriores (antigo, asiático e feudal) a produção e apropriação do excedente não se davam de forma autônoma.

Durante a idade média, por exemplo, o feudo era a unidade básica de produção. Em tais condições, as atividades produtivas eram desenvolvidas pelos servos. O senhor feudal – agente que possuía o direito sobre o uso da terra – extraía o excedente(em espécie, em moeda, ou em dias trabalhados) impondo obrigações: o senhor feudal vivia do trabalho dos servos e em troca dava-lhes proteção.

Nesse período os trabalhadores, ou seja, os servos controlavam os meios de produção (exceto a terra) e também possuíam controle sobre o processo de trabalho.

Modo de Produção e Relações Sociais de Produção Os elementos que caracterizam um modo de produção são o grau de desenvolvimento

das forças produtivas e as relações sociais de produção. A produção da base material da existência dos homens é obtida de forma indireta. Os

bens (alimentos, vestuário, moradias, maquinaria, etc.) são produzidos á partir de outros bens (instrumentos, matérias primas, energia, terra, etc.) e segundo uma dada tecnologia produtiva. A forma e a intensidade com a qual os homens utilizam(dominam) a natureza é que define as forças produtivas.

Na produção material os homens organizam-se segundo intrincadas relações sociais. De fato, as relações sociais de produção (“triviais”) observadas na atualidade são resultado de um longo processo evolutivo que se configurou e se cristalizou ao longo do tempo. É precisamente esse processo que define essas relações.

Modo de Produção Capitalista

Os modos de produção possuem certos elementos que o definem. O capitalismo é caracterizado, fundamentalmente, por:

1. produção de mercadorias2. propriedade privada dos meios de produção;3. força de trabalho livre.

O modo de produção capitalista, enquanto forma de apropriação do excedente por uma classe social, exige:

1. a concentração dos meios de produção nas mãos de uma pequena parcela da população2. a conversão da força de trabalho em mercadoria.

A especificidade histórica do capitalismo representa “...a extensão, a todos os produtos, da forma de mercadoria no único modo em que isso é possível, ou seja, através da redução do trabalho a uma simples mercadoria.” (Napoleoni, 1983).

De fato, a força de trabalho é livre em um duplo sentido:1. Livre porque encontra-se despossuída dos meios e dos objetos de trabalho;2. E livre (juridicamente) para vender sua força de trabalho no mercado.

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Economia em debate

Ideologia e economia: o marxismo de E.K. Hunt Schumpeter coloca que muitas vezes a teoria econômica é utilizada para "apoiar" ou

legitimar posições políticas dos teóricos. Dessa forma, a ciência passa a ser hostilizada por todos aqueles que possuem crenças políticas diversas das defendidas. Ao fazer isso, os teóricos "oferecem-se como filósofos da vida econômica, e em assim procedendo embaraçam-se ao estabelecer explicitamente os julgamentos de valor que introduzem em seus raciocínios."13

As preferências ou valores dos autores afetam seus trabalhos,ou seja, não existe uma ciência econômica neutra, ou desprovida de posicionamento político.

Esta é a tese central do livro texto do curso de Introdução aos clássicos do pensamento econômico, de E.K. Hunt14.

A força desta tese revela-se no fato do próprio autor não conseguir(ou decididamente não desejar) se desvencilhar de sua formação teórica e credo político ao expor as teorias econômicas que desaprova, como as de Malthus, Say, Senior, Walras, entre outros.

Hunt é um marxista, e como tal condena a visão da sociedade como um todo em harmonia, presente nas idéias destes teóricos.

Para o marxismo, as sociedades humanas movem-se por contradições internas, patentes na existência de classes diferenciadas e opostas por natureza.

Estas contradições afloram na esfera da produção da riqueza, ponto de vista do qual os marxistas analisam as relações econômicas. Desta esfera, o trabalho surge como força motora do homem através da história, sendo a medida do valor que agregam à natureza.

Já, para os teóricos que Hunt ataca, as classes não existem, pois a economia desenvolve-se na esfera da troca, e não da produção, o que faz dos indivíduos meros portadores de moeda. Para estes teóricos é o desejo de obter prazer e renunciar à dor que move o homem, levando-o a agir racionalmente maximizando a utilidade extraída da natureza e de sua manipulação.

A economia sempre foi palco de debates acalorados como este, entre os utilitaristas e os marxistas, que são duas das múltiplas correntes(ou escolas) do pensamento econômico.

Ligações dos autores do pensamento econômico

13 SCHUMPETER, J. A. - História da Análise Econômica p.4214A discussão deste tema aparece em todo o livro História do Pensamento Econômico sendo retomada e ampliada na seção "Comentário sobre a perspectiva social implícita neste livro" do capítulo 19.

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Adaptado de LEVINE, Donald- Visões da tradição sociológica-p.124

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O diagrama acima nos mostra as influências recíprocas e demais ligações intelectuais e pessoais entre os grandes autores das ciências sociais, e mais especificamente, da ciência econômica.

Temos aí “um esboço genealógico da tradição britânica de teoria social.” Trata-se da descrição de “uma rede de participantes de um diálogo transgeracional que constituiu uma tradição real em virtude das documentadas relações recíprocas.”15

15 LEVINE, Donald-pg.122

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O mercantilismo

Os Mercantilistas e seu tempoSignificado e origem do mercantilismo

A expressão "mercantilismo" foi forjada em 1763 por Victor de Riqueti, o Marquês de Mirabeau.

Através dela Mirabeau procurou caracterizar uma série de autores que em seus escritos apresentavam a supremacia comercial como caminho único para a prosperidade econômica nacional.

O principal axioma mercantilista diz que a riqueza das nações faz-se de lucro monetário entesourado

Os autores ditos "mercantilistas" tentaram desvendar as razões das práticas econômicas de uma Europa que tinha a navegação e o comércio como atividades mais lucrativas.

Seus principais expoentes foram Thomas Mum (1571-1641), Cantillon(1680?-1734), Sir William Petty (1623-1687), Jonh Law(1671-1729), Jonh Locke(1632-1704), entre outros.

Contexto histórico Em meados do séc. XVI, período de que datam os primeiros escritos ditos

mercantilistas, a Europa encontrava-se em expansão marítimo-comercial, com a conquista de domínios extra-continentais, como as Américas, a Índia e a África. O comércio era o motor da ascenção econômica vivida então.

Os Estados absolutistas garantiam às cidades européias a propriedade dos lucros de suas atividades e o apoio militar para buscá-lo em outras terras.

A retomada dos valores greco-romanos na filosofia, nas ciências naturais, e nas artes - o "Renascimento"- significou o repúdio ao período medieval que foi, por contraste, chamado de "Idade das trevas".

Vivia-se um período de inovações tecnológicas na construção naval, transportes terrestres, agricultura, sistema financeiro, bancário, etc.

Algumas instituições medievais mantiveram-se incólumes até o séc. XVIII como o feudalismo16, a Igreja, e as corporações de ofício17.

O período "mercantil" inicia-se então com a expansão marítimo-comercial européia, no início de século XVI, momento em que tornam-se aparentes as contradições da estrutura político-econômica medieval

O mercantilismo é politicamente derrotado quando suas práticas restritivas passam a ser vistas como entrave à expansão econômica européia. Isto se dá com a eclosão da revolução francesa(1789) e industrial(1790), face à difusão comercial e manufatureira no séc XVII-XVIII.

16Consultar Apêndice Histórico pg.ii17Idem

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A Moeda

A moeda é fonte de riqueza A fonte de riqueza para os mercantilistas era a moeda (ouro,dinheiro), doutrina esta

que leva o nome de bulionismo ou metalismo. Capturar e reter moeda levaria então á prosperidade econômica, e conseqüentemente ao fortalecimento do estado nacional no cenário mundial.

Para estes autores, o valor intrínseco das mercadorias era fielmente descrito pela quantidade de moeda necessária para aquirí-la. O preço representava o valor, sendo fixado pelo mercado, de acordo com a utilidade dos produtos.

Acumulação de moeda Os mercantilistas acreditavam que toda a moeda, ou recursos transformáveis em

moeda, existentes no mundo formavam uma reserva finita e estanque. Assim, a entrada de moeda em uma nação representava a saída de moeda de outras nações.

A riqueza de uma nação fazia-se às custas do empobrecimento das outras. O comércio era um jogo de soma zero, pois o acréscimo de moeda assimilado por uma nação era igual em sua magnitude, ao decréscimo sofrido pela nação fornecedora.

Para uma nação enriquecer ela deveria capturar e reter moeda, entesourando-a18. A partir deste preceito, as produções agrícola, manufatureira e extrativa passaram a

visar, além da subsistência, a obtenção de mais moeda do que era necessário para movê-las.

Isto, de acordo com os mercantilistas só poderia se realizado através do comércio.

A moeda alimenta a atividade econômica Segundo alguns dos mais ilustres mercantilistas " a moeda estimula o comércio",

sendo propriamente "a vida do comércio" 19. Tais afirmações baseavam-se no seguinte raciocínio: Vendendo os produtos por um preço maior do que aquele pelo qual foram obtidos, obtém-se mais moeda do que a disponível inicialmente.Com esta quantidade maior de moeda, pode-se mover nova onda de transações, mais volumosa do que a primeira, gerando mais moeda excedente, e assim reinicia-se o ciclo. Esquematicamente:

É importante observar que a atividade econômica é estimulada com a entrada de moeda excedente, o que está representado pela diferença de magnitude da mercadoria 2 em relação à mercadoria 1, no seguinte sentido:

18 Consultar Apêndice Diagramático item 1.19Bacon, citado por Blaug em Historia do pensamento economico pg.45

Moeda inicial Compra Vende Moeda

finalExcedente parcial

Excedente total

Ciclo 1 X Mercadoria 1 por X

Mercadoria 1 por X+Y X+Y Y Y

Ciclo 2 X+Y Mercadoria por X+Y

Mercadoria 2 por X+Y+Z X+Y+Z Z Y+Z

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O preço atribuído a segunda supera ao atribuído à primeira em Y de moeda, e, de posse de maior quantidade de moeda a pode-se, por exemplo, contratar mais trabalhadores, comprar de mais insumos, etc. . Têm-se aí um processo que se auto alimenta, um ciclo virtuoso que aponta no

sentido do domínio crescente do mercado mundial pela nação que o praticar.

A teoria do juro Segundo alguns escritos que podem ser classificados como mercantilistas, o juro é o

preço que se paga para obter dinheiro emprestado. Quanto maior a facilidade de fazê-lo, isto é, quanto maior a quantidade de dinheiro disponível, menor o juro. Locke, Petty e Law foram os proponentes dessa teoria.

Posteriormente foi formulada uma teoria do juro(3)20 que levava em conta o caráter real dos juros, relativo ao preço das mercadorias. Ela propunha que nem sempre que estiver disponível grande quantidade de moeda os juros serão baixos. Isto pois o valor dos juros dependem de como a moeda será utilizada: para consumo, ou para investimento. Esta teoria foi inspirada nos trabalhos de Cantillon.

Políticas econômicas mercantilistas

Balança comercial favorável Para os mercantilistas as nações podiam ser vistas como empreendedores

individuais, com suas exportações representando a injeção de moeda na economia, e as importações a expulsão de moeda da economia. A diferença de magnitude destes dois fluxos de sentido contrário determinariam se e em quanto a nação estaria enriquecendo ou empobrecendo.

Pode-se perceber que a nação acaba tomando a forma de um indivíduo racional no manejo do dinheiro, e daí surge a concepção de balança comercial favorável, que é a mesma idéia de excedente do mercador aplicada para o Estado Nacional.

A balança comercial favorável consiste, portanto, no seguinte princípio: Para absorver moeda uma nação deveria exportar uma quantidade de bens tal que o preço total pelo qual fossem vendidos ultrapassasse o preço total dos bens importados adquiridos, tudo isto no mesmo período. Assim, garantia-se a entrada de moeda excedentária, exatamente o necessário para produzir um impulso maior do que o anterior no setor produtivo/extrativo/comercial, o que no próximo período reabriria novo ciclo exportativo.

Protecionismo O protecionismo é o nome que levam as política que visam restringir ou mesmo

proibir a circulação de determinados bens , em relação à sua quantidade ou qualidade.

20 Blaug, Historia do pensamento economico pg.59

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A restrição quantitativa dá-se através da fixação de um número máximo de unidades para a circulação, em certo intervalo de tempo, relativamente a determinada área de comercialização.

A restrição qualitativa é baseada no controle da produção através do estabelecimento de padrões para os atributos das peças, como tamanho, cores, etc.

O protecionismo é estabelecido com o intuito de proteger determinado produtor da concorrência dos demais, eliminando ou reduzindo a influência destes no mercado.

A soberania nacional e a fragilidade de determinado setor são os argumentos utilizados para atribuir sentido a tais atos. Os mercantilistas utilizavam-nos largamente, com o intuito de garantir uma balança favorável através do bloqueio à entrada da produção estrangeira.

As corporações de ofício trabalhavam a seu favor, impondo normas produtivas e a padronização dos produtos, excluindo do mercado aqueles que fugissem às mais intrincadas especificações técnicas impostas às manufaturas.

O monopólio Através do monopólio, os estados mercantilistas concediam à um produtor(ou

grupo) exclusividade na comercialização de suas manufaturas com as colônias, o que garantia-lhe liberdade para fixar o preço de seu produto.

Através da força das armas, a demanda das colônias era regulada pelas metrópoles.Estas obrigavam àquelas a comprar seus produtos a preços exorbitantes.

A oferta das colônias também era regulada: Deviam vender sua produção a preços que as metrópoles determinavam.

Estas práticas de controle revelaram-se de extrema valia para aqueles que dela se beneficiaram, pelos grandes lucros que proporcionavam. Exatamente por este fato, a colonização monopolística foi levada á cabo por tantas nações européias, de forma tão ampla e exaustiva.

O monopólio recebe a designação de exclusivo metropolitano, quando refere-se à relação que se estabelece entre uma nação e suas colônias, geralmente pela força das armas.

Crítica à literatura mercantilista

O ataque clássico A teoria monetária

A teoria de que o dinheiro constitui-se em fonte de riqueza é contestada por Smith21, que coloca que a moeda existe simplesmente para transforma-se em mercadorias, sendo a capacidade de produzí-las verdadeiro indicador de riqueza. Este mesmo autor coloca ainda que uma nação nunca pereceria por faltar moeda àqueles que necessitam, argumentando: "A queixa geral de escassez de moeda só significa dificuldade em conseguir crédito"22. Balança comercial favorável:

21 SMITH, Adam- A riqueza das nações livro 4 capítulos 1-8 Smith dedicou os capítulos 1-8 do livro 4 de sua obra A riqueza das nações à crítica do sistema mercantilista. É portanto recomendada a leitura deste estudo.22 Idem nota 6. pg731

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A impossibilidade da balança comercial favorável é refutada através do seguinte raciocínio: Com o aumento da quantidade de moeda, esta desvaloriza-se. O aumento dos preços internos reduz as exportações desequilibrando a balança desfavoravelmente, pois os produtos externos tornam-se mais baratos. Pode-se concluir daí que todas as balanças comerciais tendem ao equilíbrio, exatamente pois a entrada de moeda estimula as importações, o que traduz-se em saída de moeda. Faz-se aí operante a tendência à "distribuição natural de moeda metálica"23, de que falavam Hume e Cantillon. Mecanismos de captação de excedente(Políticas econômicas mercantilistas): Protecionismo: Segundo Adam Smith24, o contrabando de ouro e prata, dado o reduzido volume e alto valor destes metais, e as grandes possibilidades de lucro com a importação de produtos estrangeiros, são estímulos mais do que suficientes para tornar as restrições incapazes de cumprir seus objetivos. Este autor propõe a exportação de manufaturas como forma de capturar divisas no contexto do livre comércio e repudia veementemente as restrições, que para ele são custos que impedem a otimização da produção interna e dos lucros comerciais. Monopólio: Adam Smith25 condena o monopólio como uma das maiores violências ao princípio da liberdade de comércio e produção, que tanto defendia em seus escritos. Isto pois, com a submissão de umas nações ao poder coercitivo de outras nações , no plano das decisões produtivas, o mercado nunca poderia funcionar adequadamente, o que resulta no aproveitamento insuficiente das potencialidades de ambas.Ainda segundo sua argumentação, a nação monopolizadora acabaria por arcar em custos de proteção e colonização gerais, muitas vezes maiores do que todo o lucro que poderia obter com isso.

A interpretação relativista Os teóricos que sucederam os mercantilistas, de posse de raciocínios mais

elaborados, em relação ao fluxo de moeda e ao equilíbrio comercial atacaram-nos, desclassificando grande parte de suas contribuições .

Mas, com o surgimento da Escola Histórica Alemã26 uma interpretação relativista do mercantilismo(levando em conta a época e a realidade vigente) atribuiu coerência racional à muitos dos princípios mercantilistas.

A racionalidade encontrada baseava-se principalmente nas deduções teóricas que tinham como ponto de partida o axioma de que a riqueza de uma nação era constituída às custas das outas nações.

23Citado por Blaug em Historia do pensamento economico pg.46 24Idem nota 7 25 Idem26Essa escola de pensamento econômico, fundada no final do séc.XIX , sinteticamente, pregou a necessidade de interpretar as modificações econômicas como resultado de movimentos históricos e sociais.Compreendeu autores como Roscher, Schmoller, Cunnigham e Ashley.

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Keynes, retomando a filosofia mercantilista em sua Teoria Geral27 ,avaliou a balança comercial favorável como um mecanismo funcional de estímulo ao investimento. Através de sua própria doutrina, Keynes propôs que, dado que o pleno emprego é inalcançável, uma das formas de otimizar o uso dos recursos é derrubando os juros através do influxo de moeda28, já que a política monetária e o investimento público inexistiam nos séc.XVI-XVII. A teoria monetária mercantilista ainda revela outros pontos em comum com a Keynesiana29.

Ainda, segundo Blaug, Wilson30, entre outros, a teoria mercantil buscou sua fonte na realidade vigente, o que contraria a crítica clássica.

Numa época em que a produção manufatureira não era suficientemente difundida, o único elemento de troca poderia ser a moeda, quando descobriu-se as especiarias orientais, e outros tesouros do oriente.

O mercado interno era então ínfimo e altamente restrito se comparado ao externo,e , numa época em que o crescimento populacional e produtivo eram lentos, a busca por ganhos comerciais, através do predatismo nas trocas era a única forma de prosperar.

Bibliografia Básica

BLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991SCHUMPETER, J. A. Fundamentos do pensamento econômico. Rio de Janeiro : Zahar, 1968 SMITH, A. A riqueza das nações:investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983

27KEYNES, J. M. (1982). A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, Abril Cultural-comentado por Blaug em Historia do pensamento econômico pg.48-4928Para Keynes o juro tem como um de seus determinantes a preferência pela moeda frente às todas possíveis formas de investimento. 29Blaug pg 48-50 30Idem pg 50-52

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A fisiocracia

Os fisiocratas e seu tempo

Iluminismo O iluminismo foi um movimento intelectual de reação à repressão promovida pela

igreja e pelo absolutismo que manifestou-se no ocidente europeu no século XVIII, dando sustentação à movimentos como a revolução francesa1.No plano econômico voltou-se contra as práticas restritivas do mercantilismo.

Os autores iluministas viam na racionalidade e na ciência empírica o antídoto para os dogmas religiosos e políticos. Utilizaram a lógica, a matemática e a observação analítica da natureza como ferramentas de crítica e contestação.

O livre-cambismo e a liberdade política e social foram os principais estandartes políticos empunhados pelos iluministas.

O ambiente intelectual criado pelo iluminismo na França é vivido pelos autores fisiocratas, influenciando-os, o que pode ser depreendido do liberalismo defendido em seus escritos.

Significado e origem da fisiocracia A palavra Fisiocracia significa "governo da natureza". Os fisiocratas formaram a primeira escola de pensamento econômico: "Constituíram

de fato uma seita empenhada(...) em difundir uma teoria sobre o uso e a produção da riqueza"2

François Quesnay foi o mentor da fisiocracia, e seus principais pensamentos estão no artigo "Tableu Économique"(1759)

Os fisiocratas são vistos como reação ao mercantilismo, personalizado por Colbert, ministro de Luís XIV.

As políticas protecionistas de Colbert beneficiaram a produção manufatureira, em detrimento da agrícola.

Lançando mão de um tributo fundiário progressivo, o governo francês à época de Luís XIV cobriu os gastos da guerra de sucessão espanhola e sustentou a luxúria da corte de Versalhes. A crise no campo foi intensificada no reinado de Luís XV, com a "guerra dos sete anos" movida contra a Inglaterra.

Os fisiocratas vislumbravam uma agricultura francesa nos moldes da inglesa, ou seja, altamente produtiva e convertida à exploração capitalista. Esta foi a grande reforma que tentaram justificar com seus escritos.

1 Consultar Apêndice Histórico pg.viii2KUNTZ, R.N.-Capitalismo e natureza pg11

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Adam Smith em viagem à França em 1765 conhece Quesnay , Turgot e os preceitos fisiocráticos. Estes influenciariam Smith ao redigir sua obra A Riqueza das Nações, o que está patente na defesa ao livre-comércio, e na doutrina da superioridade da produção agrícola.

A ordem da natureza

A filosofia da ordem natural Os fisiocratas acreditavam na existência de uma ordem natural, absoluta e imutável

que regia o universo. Esta ordem manifestava-se no sistema econômico, e deveria ser respeitada para que

ele funcionasse corretamente, gerando o máximo de produto líquido possível. As intervenções estatais restritivas e regulatórias das atividades econômicas

violavam a ordem natural, que só poderia se manifestar em total estado de liberdade.

Quaisquer intervenções deveriam ser então evitadas, pois atentavam contra a geração do produto líquido, que nutria a vida produtiva.

Este raciocínio reaparece na analogia de Quesnay que expõe o corpo político como um organismo, assim como o corpo humano. Neste contexto, a ação intervencionista toma a forma de uma patologia.

O produto líquido Segundo a tese fisiocrática, toda a riqueza advém da fertilidade da terra. Deriva deste fato que somente o "setor agrícola" é capaz de gerar determinado

volume de excedente (produto líquido) sobre a riqueza inicialmente empregada para movê-lo.

Nos demais setores ocorre a reprodução dos valores inicialmente empregados. Com essa concepção de excedente, os fisiocratas deslocam a origem do produto

líquido da esfera da circulação (ponto de vista mercantilista) para a esfera da produção (agricultura).

A Sociedade tripartida

Classe Função desempenhada na estrutura produtiva

Classe Produtiva

Grandes produtores agrícolas que empregam a terra em atividades como a agricultura e mineração; estes agentes não são os donos da terra; necessitam, outrossim, da terra para

exercer suas atividades; a partir do trabalho aplicado sobre a terra é obtido o produto líquido ou excedente; este é definido como a parte do produto que resta após os

adiantamentos serem repostos para um novo ciclo de produção, ou seja, parte do que é produzido é consumido internamente (sementes, instrumentos, alimentos dos

trabalhadores agrícolas, viveres, fundo destinado para repor a depreciação, etc.) e parte é destinado a aquisições de bens junto a classe estéril (vestuário, ferramentas, serviços,

etc.); o excedente destina-se a remuneração da classe proprietária;

Classe Proprietária

A classe proprietária se apropria do excedente porque concentra a posse da terra; sendo proprietários da fonte de riqueza (terra) podem viver sem trabalhar; são a classe

independente; com o excedente adquirem alimentos e bens/serviços da classe estéril.Classe Estéril. Classe ligada às atividades manufatureiras e comerciais; esta classe adquire parte da

produção da classe produtiva destinando-a ao consumo e a produção(matéria-prima);

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segundo os Fisiocratas essas atividades não geram o excedente.

A estrutura social fisiocrática e suas implicações O conceito de produtividade do trabalho agrícola consiste em dois fatores: (i)A

formação do produto líquido e; (ii)o fato de que os produtos agrícolas tem a propriedade de satisfazer as necessidades humanas imediatas(subsistência).

Os artesãos e mercadores dependem do setor agrícola para sobreviver. Apesar disso os primeiros são vitais para a existência deste setor. Isto pois: (i)Produzem ou importam itens que, se fossem produzidos pelos agricultores, acabariam por tomar-lhes parte do tempo que seria dedicado à suas atividades originais, reduzindo-se assim a produção total dos campos. Além disso, devido a falta de habilidade na produção manufatureira, os camponeses acabariam produzindo artigos de qualidade inferior;(ii)a produção manufatureira e o comércio colocam itens no mercado, que acabam sendo adquirido às custas do trabalho agrícola, servindo de estímulo à este.

Os proprietários não podem ser definidos nem como produtivos nem com estéreis, sendo a única classe livre para decidir como gastar suas posses(renda).

Os proprietários devem cumprir dois deveres: 1. Cuidar para que a terra sempre se encontre em condições de ser cultivada; 2. Despender sua renda nos setores produtivo e improdutivo, de forma a otimizar a

produção nacional." De sua sabedoria no uso do produto líquido acaba dependendo a capacidade nacional de produzir maior ou menor excedente nos períodos seguintes"1

Os fisiocratas queriam se fazer ouvir aos proprietários, especialmente àqueles mais próximos do poder, pois acreditavam que seria através da atuação racional destes que a agricultura na França seria recuperada. " O herói de Quesnay não é o proprietário, mas o empresário rural. O que ele parece não conceber, em nenhum momento, é a possibilidade de realizar a grande reforma(agrícola) (...) sem procurar, portanto, a colaboração dos proprietários e da Coroa."2

O lucro não pode ser visto como excedente, pois é utilizado para cobrir os custos de manutenção do patrão, sendo consumido por ele. Trata-se de uma recompensa pelos adiantamentos de capital e salários que possibilitaram mover a produção.

A respeito do lucro, a investigação de Kuntz (na literatura fisiocrática) é reveladora: 1. "de modo geral, Quesnay se refere à indústria e ao comércio como universos

formados por pequenos agentes-artesãos e pequenos mercadores-dedicados a ganhar apenas a subsistência

2. o lucro, quando é citado, aparece ou como resultante de situação excepcional ou como simples remuneração do empresário-uma espécie de salário superior, destinado a cobrir seu risco e esforço na condução do negócio;

1

?KUNTZ, R.N.-Capitalismo e natureza pg 482Idem pg 52

33

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3. a situação excepcional(privilégio, vantagem transitória ou qualidade singular do produto) tende a ser excluída, simplesmente, das representações dos fisiocratas. Sua concepção do mundo econômico toma a concorrência como situação ‘natural’(...)"3

O comércio reproduz o valor dos objetos que transaciona, pois, segundo Quesnay: "Toda compra é venda , e toda venda é compra".4

Repartição do produto

Circulação econômica: Os fisiocratas descobriram o ciclo econômico. "Abriram a brecha decisiva por onde

passaria todo o progresso teórico subseqüente." 5 Antes deles a economia tomava a forma de questões pontuais, sem constituir um

corpo teórico definido. Os fisiocratas vêem a circulação como uma cadeia de transmissão de bens, capaz de

revelar a natureza social das relações econômicas, que segundo estes autores são relações de dependência mútua.

Quesnay introduz o conceito de "bom prix", que é o preço ideal pelo qual devem ser vendidos os itens da produção nacional, de forma que o setor agrícola possa gerar um produto líquido de pelo menos 100% sobre seu adiantamento anual.

O Tableu Économique- significado e funcionamento:

Os recursos necessários para cada colocar a produção de cada setor em movimento são chamados por Quesnay de adiantamentos, podendo ser de três tipos: 1.Primitivos: Ferramentas, edifícios, alimentos para os trabalhadores, alimentos para o gado etc; 2. Fundiários: Melhorias nas terras, pontes, etc; 3. Anuais: Salários, sementes e outras despesas com a mesma periodicidade.

Quesnay construiu um diagrama6, O Tableu Économique, que representa a distribuição dos adiantamentos através dos setores econômicos, revelando a interdependência destes, e as diversas fases pelos quais a receita inicial passa até dar-se sua reprodução e a formação do produto líquido. Tudo isso no período de um ano.

Esquematicamente o Tableu funciona da seguinte forma: 1. De posse dos adiantamentos anuais (receita guardada do período precedente), cada

setor adquire o necessário para começar a operar: Os agricultores compram sementes, e os artesãos matéria-prima.

2. A parte dos adiantamentos anuais utilizada para comprar a produção dos outros setores passa a ser chamada pelo setor que a recebe de adiantamento primitivo.

3 Idem pg 444Idem pg 1175Schumpeter-Fundamentos do pensamento econômico pg.486Para detalhes do Quadro Econômico consultar Apêndice Diagramático itens 2, 3 e 4

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3. De posse dos adiantamentos primitivos, cada setor adquire o resto dos recursos necessários para produzir: Os agricultores compram ferramentas e os artesãos alimento.

4. Cada setor retém uma parte de sua produção para consumo próprio: Os agricultores consomem parte da colheita e os artesãos usam as ferramentas que produzem.

5. O restante da produção é distribuído entre os setores, sendo que somente para o setor produtivo sobra o excedente, com o qual é paga a renda aos proprietários.

O Tableau aparece na literatura fisiocrática em três versões: O diagrama de ziguezague1 (em 1758-59), em forma de X2 na Filosofia Rural de 1764, e em sua versão final em 17663 no livro Forma Aritmética do Quadro Econômico.

Tributação e política governamental

O imposto único Os fisiocratas defendiam a criação de um imposto único que incidisse por sobre a

renda dos proprietários. O imposto único visava desonerar os demais setores e acabar com a excessiva carga

tributária imposta pelos governos mercantilistas, que incidia múltiplas vezes sobre o setor agrícola, reduzindo sua capacidade de gerar o produto líquido.

Assim obteria-se um sistema de impostos capaz de capturar uma receita satisfatória, de forma simples e livre de qualquer complicação que pudesse comprometer o funcionamento do mercado.

Liberalismo, comércio externo e o papel do Estado: Para a fisiocracia, o estado tem um papel definido e importantíssimo na busca pela

prosperidade econômica. É o "interlocutor ideal de Quesnay", cabendo a ele: " dar uma grande atenção ao trabalho do arrendatário, zelar pelo cumprimento dos contratos entre agricultores e donos da terra, evitar a opressão dos habitantes do campo(por exemplo não onerando suas atividades com tributos) ".4

Para que os empresários agrícolas(fermiers) desempenhem adequadamente suas atividades, o governo tem de:

1. Garantir a liberdade de comércio; 2. Manter as vias de transporte em bom estado; 3. "Garantir a segurança nos mares"1 com uma marinha militar capaz de fazer frente às

dos outros países europeus. Segundo Quesnay: "(...) os interesses dos particulares não se prestam à visão do

bem geral. Não se pode esperar tais vantagens senão da sabedoria do governo." 2 Em relação ao comércio internacional, Quesnay coloca que este "não é um jogo de

soma zero, mas um processo que pode beneficiar todos os participantes" Parte deste

1 Apêndice Diagramático item 22 Idem item 33 Idem item 44 KUNTZ, R.N.-Capitalismo e natureza pg 95

1 Idem pg. 952Idem pg 110

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benefício advém do fato de que "do ponto de vista de uma nação agrícola, o acesso aos mercados estrangeiros tende a ser uma garantia do bom prix para os produtos da terra." 3

Crítica Smith defende a classe improdutiva argumentando que a produção desta acrescenta

valor à produção total, pelo fato de dar-se através do trabalho reprodutor das despesas nele gastas, cristalizado em "mercadorias vendíveis". Smith argumenta que um país manufatureiro alcança maior riqueza que um país totalmente agrícola, pelo fato mesmo de que, com pequena parte do rendimento do primeiro é possível adquirir grande parte da produção agrícola de outra nação. De acordo com este autor, a manufatura e o comércio permitem a uma nação dispor de produtos além do que a capacidade de suas terras poderiam oferecer-lhe.

Smith aponta que, os sistemas que impõe restrições ideológicas às manufaturas, desestimulando-as em proveito da agricultura acabam por desestimular a agricultura, sendo mais "inconscientes" do que o sistema mercantil. Isto se dá porque uma forma de estimular a agricultura é através da produção para a troca por manufaturas, e, existindo estas em abundância em um país, ou dispondo-se de meios para obtê-las, seus preços não estarão acima da média internacional, podendo até estar abaixo, o que valoriza a produção agrícola que visa-se trocar por tais manufaturas.

Fatores que limitam o liberalismo de Quesnay: (i)A supervalorização da agricultura conduz à sub-valorização dos demais setores. " Os économistes apenas reagiram simetricamente ao mercantilismo" 4;(ii)Percepção de que a lógica do interesse comum dificilmente orienta as motivações do interesse particular. Ou seja, a ação individualista nem sempre se reverte em benefício para todos os indivíduos.

A respeito desse fatores, coloca Kuntz: "Defensor(Quesnay) do livre mercado, propõe o tabelamento de juros. Pregador do comércio vê nas exportadores uma república internacional, de interesses opostos ao de cada pátria."5

BibliografiaHUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro: Graal, 1991SMITH, A. A riqueza das nações:investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983 KUNTZ, R.N.Capitalismo e natureza. São Paulo: Brasiliense, 1982 ELTIS, W.A.The Classical theory of economic growth. New York : St. Martin's Press, 1984

3 Idem pg 1174SMITH, Adam- A riqueza das nações Volume II pg.249 5KUNTZ, R.N.-Capitalismo e natureza pg.100

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Adam Smith

Smith e seu tempo

Significado e origem da obra "A riqueza das nações" O tema principal da Riqueza das Nações é o desenvolvimento econômico. A riqueza para Smith assume a forma do rendimento nacional produzido durante um

intervalo de tempo, têm a forma de fluxo, e não de reserva estanque. Segundo Blaug, Smith não profetizou a revolução industrial, exatamente por não

viver o aumento produtivo manufatureiro que marcou o início deste processo, em 1790.

Smith via com ressalva o investimento nos "dinâmicos empreendimentos" dos "visionários"1 e deixou de registrar em seu livro as grandes invenções de seu tempo2.

"Isto ajuda a esclarecer(...) a convicção [de Adam Smith], que ele realmente nunca abandonou, de que a agricultura e não a indústria era a principal fonte de riqueza da Grã-Bretanha." 3

Contexto histórico e intelectual4 A concepção de individualismo, presente na obra de Smith foi inspirada na filosofia

de Thomas Hobbes, David Hume, John Locke e Bernard de Mandeville5, que estava em voga no século XVII-XVIII.

Destes, Hume e Hutcheson foram os autores mais decisivos para formação da visão do ser humano que Adam Smith desenvolve na Riqueza das Nações.

Cada homem é descrito nesta obra como um ser naturalmente egoísta, que ao levar à cabo suas intenções e desejos beneficia todos os homens.

A idéia do egoísmo natural, ou hedonismo provém de Hume e a extrapolação deste egoísmo em benevolência é o mecanismo que Smith elabora para chegar à idéia de benevolência natural de Hutcheson.

Adam Smith vive o período final do mercantilismo, exatamente quando as políticas restritivas deste passam a ser vistas como sufocantes para a produção manufatureira em expansão.

No século XVIII, o processo produtivo sofre grandes transformações em sua estrutura, principalmente com a divisão das tarefas e a introdução das primeiras

1 Esta seção foi inspirada na seção Adam Smith e a revolução industrial do capítulo 2 do livro Historia do pensamento economico de Mark Blaug.2Para as principais invenções consulte a seção V.A Revolução industrial-Invenções principais(clique aqui).3BLAUG, Mark- Historia do pensamento economicopg.75 4Para maiores detalhes consultar o item contexto histórico(clique aqui) 5Consultar Apêndice Histórico pgs. v-viii

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máquinas.O aumento da capacidade produtiva que resulta então é um dos efeitos que fascinam Adam Smith.

Em viagem à França em 1765 Smith conhece Quesnay e Turgot e um sistema de economia política que muito influenciaria seu pensamento e obra.

A divisão do trabalhoComo a divisão do trabalho atua sobre o processo produtivo

Para Smith " o sistema econômico é, na sua essência, uma vasta rede de inter-relações entre produtores especializados fundamentada na ‘propensão à troca, ao intercâmbio e à transação.’ "6

A fonte de toda riqueza está na capacidade de produzir bens e serviços que tornam a vida humana mais agradável.Essa capacidade é potencializada pela divisão do trabalho.

A divisão do trabalho nasce da propensão à troca que todo ser humano manifesta naturalmente.

Esta propensão leva o indivíduo a apelar ao egoísmo dos outros, convencendo-os a lhe darem o que sozinho não pode obter ou produzir.

A habilidade individual, ou as condições favoráveis que se possui relativamente à execução de determinado trabalho, levam o indivíduo a obter grandes resultados quando aplica-se a este trabalho.

Quando a propensão á troca atua sobre ele, leva-o a perceber que, tendo que realizar todas as atividades necessárias para prover-se da subsistência, não obteria, em qualquer uma delas o mesmo êxito do que naquela pela qual nutre maior desenvoltura.

Isto pois (i)sacrificará a dedicação à esta em função das demais e (ii)não poderá obter, nestas, o mesmo resultado obtido por aqueles que possuem a habilidade ou condições favoráveis para a sua execução.

Assim sendo prevalece a facilidade e capacidade individual na delegação de tarefas, como melhor forma de organizar-se o trabalho de uma sociedade.

Se a divisão do trabalho for estabelecida de acordo com o princípio de ocupar cada trabalhador com a tarefa que lhe é fácil ou agradável, o crescimento produtivo dará-se em todo sistema, e níveis superiores de prosperidade poderão ser alcançados.

O aumento produtivo por trabalhador, proporcionado pela divisão do trabalho deve-se a:

1. O aumento da destreza em cada trabalhador;2. A possibilidade de poupar o decorrido na passagem de uma modalidade de trabalho

à outra, anteriormente perdido.3. A invenção de grande número de máquinas que facilitam e reduzem o trabalho,

permitindo a um homem produzir por muitos.

Como a divisão do trabalho contribui para a prosperidade econômica: A divisão do trabalho leva ao aumento da produtividade, e, portanto do volume da

produção.A vida das pessoas é positivamente afetada pela relativa abundância de produtos, e conseqüente redução de seus preços.

6Blaug-pg 76

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Além disso, a divisão do processo produtivo presume o emprego de mais trabalhadores, o que significa a remuneração de mais pessoas.

Mas a divisão do trabalho só se dá quando os trabalhadores podem encontrar no mercado o que não produzem.

Vejamos como a divisão do trabalho se auto alimenta.Com a entrada de mais trabalhadores, o processo produtivo segmenta-se em novos e mais estágios, cada vez mais específicos.

Daí vem o ganho de produtividade, e conseqüentemente o produto da indústria aumenta mais do que proporcionalmente aos custos que se incorre com a contratação de mão-de-obra suplementar.

Este ganho estimula nova contratação, e o processo repete-se sempre que a capacidade do mercado de absorver a produção aumenta.

Apesar da aparência virtuosa deste ciclo, Smith observou que a divisão e especialização levavam o trabalhador à limitar-se cada vez mais à procedimentos simples e repetitivos, o que faria de sua vida uma experiência tortuosa e destruidora do intelecto.

Fatores limitantes na divisão do trabalho O desenvolvimento da divisão do trabalho é determinado, como colocado acima,

pela dimensão do mercado. Conclusivamente o mercado leva á divisão do trabalho, não sendo a recíproca

válida. A divisão social do trabalho manifesta-se mais intensamente na indústria

manufatureira do que na produção agrícola.

O valor

Definição e formas do valor Para Smith, o valor das mercadorias é dado pelo trabalho de produzí-las. Este trabalho que pertence ao passado, é chamado de trabalho incorporado O trabalho pelo qual pode-se trocar a mercadoria é chamado de trabalho

comandado, trabalho que pode ser contratado. O valor pode assumir dois significados: valor de uso e valor de troca. O valor de uso é a "utilidade total de um conjunto de mercadorias. "Sendo a

utilidade o poder de satisfazer uma necessidade biológica ou social generalizada."7 O valor de troca equivale à quantidade de trabalho que determinada mercadoria

pode comandar e é atribuído à esta pelo fato de possuir utilidade, ou valor de uso.

O paradoxo da água e do diamante Para demonstrar que a relação entre valor de troca e valor de uso não é direta, Smith

traz à tona o paradoxo da água e do diamante. O enunciado deste diz fundamentalmente que a água, indispensável à vida humana,

portanto de imenso valor de uso, existe sem que para isso tivesse ou tenha de ser realizado qualquer trabalho.Ou seja seu valor de troca é nulo; contrariamente o

7BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico-pg.79

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diamante, de valor de uso ínfimo quando comparado a água, possui enorme valor de troca.

O fundamento do paradoxo está na idéia de que, se uma mercadoria possui valor de troca, ou seja, é possível trocá-la por outra,isto se deve ao fato de que ela é capaz de satisfazer a pessoa que têm intenção de adquiri-la.

Assim sendo, quanto maior for a capacidade desta mercadoria de satisfazer aquele que a deseja, maior será seu valor de uso, o que pode nos levar á falsa conclusão de que seu valor de troca também será maior.

A falsidade desta conclusão é exatamente o que Smith procura denunciar com o paradoxo,pois se a mercadoria mencionada for a água, apesar de seu valor de uso ser imenso, seu valor de troca é nulo. A idéia é a mesma para o diamante, com a proporção entre valores invertida.

Medidas de valor Como a divisão do trabalho ocorre pois cada um deseja abster- se de determinada

tarefa, delegando-a a outros, a riqueza é também medida da capacidade de comandar trabalho. Ou seja, do valor em trabalho de tudo o que se possui.

Em uma digressão, Smith coloca que, quando não existia o trabalho assalariado, o produto do trabalho era possuído pelo trabalhador, e sua riqueza era diretamente medida pelo esforço que pudesse mover. Aí, o trabalho comandado era igual ao trabalho incorporado. Mas, com a propriedade privada da terra, o valor em trabalho comandado de um produto, excede o trabalho incorporado, por um montante de lucros e rendas.

Nessa situação, dada a subjetividade do valor atribuído ao trabalho, e dada as diversas formas que esse pode assumir, é difícil encontrar um padrão para o valor ou bem-estar.

Smith elege então como medida de valor o trabalho comandado, apesar de encontrar dificuldades para explicar como este valor determina os preços.8

Os preços

Definição e determinação dos preços O preço é a expressão do valor em termos de um padrão, por exemplo moedas ou

grãos. Os preços são constituídos pelos salários do trabalho, os lucros do capital e as

rendas da terra. Os preços assumem duas formas : real e nominal, e são determinados com base em

dois critérios: o mercado e as necessidades humanas. O preço real é o preço em mercadorias ou poder de compra, não sendo afetado pelas

variações do valor da moeda. O preço nominal é dado em termos de moeda.

Oferta e demanda na determinação dos preços

8 Uma discussão detalhada das dificuldades encontradas por Smith é feita na exposição da teoria de Ricardo, a frente.

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A vontade individual de comprar à um dado preço(demanda) e a vontade individual de vender à um dado preço, conjugam-se para determinar o preço de mercado.

Esse preço oscila através de um nível mínimo para o qual está garantida a subsistência do trabalhador. Este nível é chamado de preço natural.

Com base nisso Smith argumenta: Quando a quantidade ofertada é insuficiente para suprir a demanda por um bem, à determinado nível de preço, dá-se o aumento do preço unitário deste bem além de seu preço natural.Quando a quantidade ofertada de bem é mais do que suficiente para suprir a demanda de um bem, à determinado nível de preço, dá-se a redução do preço unitário deste bem abaixo de seu preço natural.Com o passar do tempo, a quantidade ofertada de um bem tende a igualar-se à quantidade demandada deste mesmo bem, ocorrendo a equivalência do preço de mercado com o preço natural

Os salários

Partindo do estágio da sociedade em que o produto do trabalho era integralmente possuído pelo trabalhador " com a apropriação da terra e do capital"9 este produto sofre primeiramente a dedução da renda e secundariamente a dedução do lucro. O salário não é uma dedução, mas um adiantamento.

Definição e medida dos salários Os salários são adiantamentos concedido aos trabalhadores para que possam se

sustentar durante o período de produção. Os salários assumem duas formas: A real e a a nominal. Quando expressa-se o salário em termos de artigos de subsistência que com ele

pode-se adquirir, têm-se a forma real. Quando a moeda é o padrão , têm-se a forma nominal. Os salários são deteminados através da interação entre " a procura daqueles que

vivem de salários", que podemos ver como a oferta de trabalho e "os fundos destinados ao pagamento de salários", que podemos ver como a demanda por trabalho.

Os melhores padrões para medir o salário são, diz Smith a prata no curto prazo, e os cereais no longo prazo.

O grande postulado da teoria dos salários de Smith é que os salários nominais tendem ao nível mínimo estabelecido pela quantidade dos artigos de subsistência necessários à vida que com ele pode-se adquirir.

Determinantes dos salários Smith fixa os seguintes determinantes do preço dos salários:

1. Caráter mais ou menos agradável das diferentes atividades;

9 BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico-pg.79

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2. Custo de aprendizagem; 3. Grau de regularidade ou segurança do emprego; 4. Confiança e responsabilidade depositadas no trabalhador; 5. Probabilidades de êxito dada a incerteza de sucesso em alguns tipos de

emprego. O poder de fixar os salários nunca está nas mãos dos empregados, mas sim nas

mãos dos empregadores, que são capazes de resistir por mais tempo, se organizam mais facilmente por serem menos numerosos, e além disso são favorecidos pela lei.

O lucro e a renda

O Lucro O lucro é a parte do preço de venda de um produto que resta depois de deduzir-se o

necessário para repor os gastos de sua produção. Esta parte cabe àquele que incorreu nestes gastos, exatamente por que o fez esperando obter com a venda do produto mais do que possuía inicialmente.

Os lucros não são salários(pagos pela) inspeção e direção do processo produtivo.São um excedente líquido sobre o investido.

São determinados pelo volume de capital empregado.

Como varia a taxa de lucro

" As subidas e descidas dos lucros do capital dependem(...) do estado de prosperidade ou decadência da riqueza da sociedade."1

" A taxa de lucro tende a baixar no decurso do processo de desenvolvimento econômico"2. Isto pois, com o aumento do volume de capital acumulado, a concorrência entre seus detentores intensifica-se baixando os lucros individuais.

A "dificuldade crescente em encontrar oportunidades de investimento lucrativo"3 atua de forma determinante aí.

De acordo com Smith o juro fornece uma previsão do comportamento dos lucros, isto pois: " Onde quer que possa ganhar-se muito pelo uso do dinheiro, muito se pagará pela sua utilização; e onde possa ganhar-se pouco, pouco se pagará"4

Esse raciocínio baseia-se na concepção de que o lucro e o juro são recompensas pela aplicação ou não, respectivamente, do capital.

Renda A renda é "o preço pago pela utilização da terra"5 e varia conforme a fertilidade das

terras e " diferenças de localização"6.

1 SMITH, Adam- A riqueza das nações pg2112BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico-pg.863 Idem. pg.864 SMITH, Adam- A riqueza das nações pg216

5 BLAUG, Mark- Historia do pensamento econômico-pg 89 6Idem pg 89

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Para Smith, a renda é determinada pelos preços: " Elevados salários são causas de elevados preços, baixos salários e lucros são causas de baixo preço; uma renda elevada ou baixa é sua conseqüência." 7

Smith coloca que: " o progresso econômico tende a elevar as rendas nominais, as rendas reais e tende ainda a proporcionar uma maior participação das rendas no rendimento nacional." 8

Portanto o interesse dos proprietários de terra está inseparavelmente ligado ao interesse geral da sociedade, enquanto o interesse dos mercadores e dos mestres da manufatura é sempre contrário, dado que a taxa de lucro baixa a medida que a riqueza aumenta.

Natureza, acumulação e emprego do capitalA natureza do capital

Smith define o capital como sendo toda e qualquer reserva de valor utilizada para mover a produção, ou seja, financiar os custo de sua execução.O capital consiste portanto em um fundo de "adiantamentos".

Quando a totalidade do produto pertence ao trabalhador, sendo ele livre para consumi-lo ou permutá-lo, não existe estímulo para o armazenamento deste valor. Isto pois, sempre que for necessário, ele pode criar novo valor apenas despendendo trabalho.

Com a divisão do trabalho, a atividade de cada homem é insuficiente para lhe proporcionar a subsistência e mesmo os meios para produzir. Exatamente porque o objeto desta atividade não é o sustento daquele que a desenvolve, sendo esta somente parte de um processo maior dirigido pela vontade do patrão.

Para manter-se ativo o trabalhador precisa então receber adiantamentos de salário e meios de produção, pois não é mais livre para desfrutar de todo o valor que produz, e isto agora presume a intermediação do mercado.Ou seja, o produto deve estar pronto e vendido para que seja possível desfrutar dele.

Assim sendo, o capital que permite sustentar o processo produtivo até que se dê a venda deverá existir antes da divisão do trabalho.Conforme esta evolui o capital acumulará-se mais e mais. A "acumulação de capital é o motor do progresso econômico"9

Formas e aplicações produtivas ou improdutivas do capital: Segundo Smith, o capital assume duas formas, de acordo com a sua aplicação: a

forma fixa e a circulante. O capital fixo é aquele empregado para produzir rendimentos sem que para isso

tenha de ser vendido.Inclui máquinas, instrumentos e construções, bem como o capital humano. Este último é " o valor das capacidades adquiridas e úteis de todos os habitantes ou membros da sociedade."10

7Idem pg 89 8Idem pg 909 BLAUG, Mark- Historia do pensamento econômico-pg.95

10Citado em BLAUG, Mark- Historia do pensamento econômico-p95

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O capital circulante produz rendimentos que presumem a sua venda por dinheiro. Constitui-se dos produtos transacionados pelos mercadores.

Smith define trabalho produtivo como trabalho que acrescenta valor sobre o que age;trabalho que " fixa-se e corporiza-se em qualquer objeto particular ou mercadoria vendável."11 Este trabalho é por exemplo atribuído aos artesãos, manufaturadores e agricultores.

O trabalho improdutivo é todo e qualquer trabalho que não possui nenhuma destas duas características, e seus serviços "deixam, em geral, de existir no próprio instante em que são prestados." 12 De tal natureza são os serviços de criados, médicos e professores.

Quando uma nação emprega parte de seu produto na manutenção de serviços improdutivos, ela perde esta parte.

Se, por outro lado fosse esta parte aplicada em trabalho produtivo, ela garantiria um estímulo ao processo de acumulação de capital, de forma a reproduzir com um acréscimo o aplicado13.

Prodigalidade e frugalidade Smith advoga a importância de investir nos serviços produtivos, atrelando esta

prática à prosperidade nacional, e a omissão dela em favor dos improdutivos, à miséria.

Pode-se inferir do raciocínio de Smith que a poupança gera poder de compra, e acaba equivalendo ao investimento, pois o " entesouramento" é um evento raro.

Depreende-se daí que para Smith, a função da moeda é servir como meio de troca, pois " os homens não desejam o dinheiro em si mesmo, mas sim aquilo que podem adquirir com ele"14

A prodigalidade e frugalidade são apontadas por Smith como comportamentos padrão, que, regulados pelo desejo de ascensão individual, acabam sendo determinantes para o sucesso econômico nacional.

O indivíduo frugal gasta racionalmente seus rendimentos em serviços produtivos, e sempre reserva certo estoque de poupança, que é revertido posteriormente em investimento. Assim colabora duplamente para o aumento do capital nacional;

O pródigo acaba por contratar muitos serviços produtivos e nunca poupa.

Livre comércio e tributação

Como o egoísmo faz-se em benefício coletivo: O homem, quando, através de suas próprias forças, busca obter a satisfação máxima

das atividades que desempenha e não encontra obstáculos para isso, apesar de

11Idem pg 9712 Idem pg 9713 Para compreender como isso se dá, consulte o Apêndice Diagramático item 6.14 Idem pg 99

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considerar unicamente seu engrandecimento pessoal, é conduzido por uma "mão invisível" à mover a sociedade à que pertence na direção da prosperidade15.

Ou seja, supondo que o ser humano seja movido por uma força interna que o leva a maximizar a lucratividade de seu trabalho, na totalidade de uma sociedade todas as forças internas serão somadas, de forma que a sociedade atinja o nível máximo de bem-estar geral.

" A mão invisível não é mais do que o mecanismo de equilíbrio automático do mercado concorrencial."16

Mecanismos que conduzem ao funcionamento ótimo do mercado A liberdade de comércio e de produção são defendidas por Smith como alternativa

às políticas restritivas mercantilistas. Estas acabam por serem pesarosas e corrosivas à riqueza nacional, portanto servido

à ruína do edifício que visam levantar. Para que o mercado seja capaz de funcionar corretamente, fazendo do egoísmo

bem-estar social, o Estado tem de garantir três deveres de grande importância: 1. A manutenção da segurança militar 2. A administração da justiça 3. O dever de criar e preservar certos serviços públicos onerosos demais para

que o indivíduo, pois nunca reproduziriam o investido com lucro proporcional.

Incidência tributária Segundo Smith todos impostos são pagos sobre a renda, o lucros e os salários. A tributação deve obedecer à quatro máximas:

1. "Todos súditos devem contribuir para a manutenção do governo, tanto quanto possível, em proporção das respectivas capacidades, isto é, em proporção do rédito que usufruem sob a proteção do Estado"; 1

2. O imposto a ser pago deve estar claramente definido quanto ao valor, o período em que incidirá, e o modo de pagamento.

3. "Todo imposto deve ser lançado no tempo ou modo mais provável de ser conveniente para o contribuinte o pagar";1

4. Os impostos não devem onerar o súdito de forma a obstá-lo na realização da atividade que o sustenta, e nem mesmo retirar uma quantia considerável do contribuinte além do que arrecadam os cofres públicos.

" A conclusão da sua teoria (de Smith) da incidência fiscal é que todos os impostos recaem em última análise sobre os proprietários fundiários, em virtude de possuírem um recurso que é fixo, imóvel." 1

Inspirado pelos fisiocratas, Smith defende o imposto sobre a renda da terra.

Crítica à teoria do valor-trabalho de Smith 15 Esse resultado é apresentado de forma detalhada no Apêndice Diagramático, item 5.16 BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico-pg.1001SMITH, Adam- A riqueza das nações pg.486 1 Idem pg.487

1 BLAUG, Mark- Historia do pensamento econômico-pg.102

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Smith não propõe uma teoria do valor-trabalho, e sim propõe teorias que visam determinar o "bem-estar subjetivo", os preços e os preços-relativos em função do trabalho2.

A teoria do valor de Smith é confusa exatamente porque este autor utiliza múltiplas teorias do valor(duas essencialmente).

Quando encontra dificuldades para determinar os preços a partir do trabalho incorporado, opta por outra teoria do valor-trabalho, a teoria do trabalho comandado.

Nesta, Smith coloca que o valor das mercadorias é dado pela quantidade de trabalho que elas podem colocar em movimento,ou seja, a quantidade do trabalho pela qual podem ser trocadas.

Mas, para estabelecer este valor, que é propriamente um valor de troca, a mercadoria deve ser trocada (por trabalho).

Ou seja, a troca antecede a determinação do valor de troca da mercadoria, sendo que este deve ser conhecido antes da troca, para que se estabeleça a correta proporção entre o valor da mercadoria de que se dispõe e a mercadoria que se deseja.

Aí a teoria do trabalho comandado de Smith revela-se tautológica, pois as relações de troca que determinam o valor que deseja-se obter são por sua vez determinadas pela quantidade de trabalho que pode-se trocar pela mercadoria em posse.3

Mas, a teoria de formação dos preços utilizada em toda extensão da Riqueza da Nações não compreende a noção de trabalho como determinante dos preços.

Smith utiliza uma teoria dos preços que descreve-os como soma dos custos de produção, que são sempre de três espécies: Gastos com o capital(investimento);Gastos com a renda;gastos salariais.

Esta teoria é também tautológica pois explica o preço dos produtos através dos preços da renda, do capital e do salário.

BibliografiaBLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991SMITH, A. A riqueza das nações:investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983

2BLAUG, Mark- Historia do pensamento econômico -pg.94 3Ricardo foi o primeiro a perceber a natureza tautológica da teoria de Smith

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Thomas Robert Malthus

Malthus e seu tempo

Malthus viveu o período em que a Revolução industrial transformava a sociedade humana consolidando o sistema capitalista de produção.

Os proprietários do capital expandiam sua influência econômica em função dos novos hábitos de consumo induzidos pela produção manufatureira.

Toda a riqueza que puderam acumular foi gerada às custas da exploração dos trabalhadores, submetidos as mais baixas e sórdidas condições de vida.

Após intensa guerra, as colônias americanas tornam-se independentes em 1776. O rápido crescimento populacional e os costumes destes povoados são estudados

por Malthus em seu Essay on the priciples of population(1798). A partir de 1793 a França de Napoleão passa a disputar com a Inglaterra o domínio

econômico e político da Europa. Entre 1809-1811 o bloqueio continental é imposto à Inglaterra, com o intuito de

destruir seus setores produtivo. A indústria inglesa em intensa marcha expansiva passa por períodos forçados de depressão.

Em 1813 Prússia, Aústria, Suíça e Inglaterra mobilizam seus exércitos contra Napoleão. Os exércitos franceses são derrotados e, em 1815 a Inglaterra torna-se a nação mais rica e poderosa do mundo.

A perspectiva social de Malthus

Lutas de classe Na literatura malthusiana estão registradas muitas das convulsões sociais que se

manifestaram no período que vai do final do século XVIII até o início do século XIX.

Malthus, ao observar as disputas que davam-se em seu tempo, percebeu que haviam dois conflitos principais: o conflito entre proprietários de terra e os proprietários de capital; e o conflito entre estes proprietários e os despossuídos(assalariados).

Com a difusão do comércio e indústria a classe capitalista passa a ampliar sua esfera de influência no parlamento inglês1, casa ocupada tradicionalmente pelos barões donos de terra.

A soberania dos barões é então ameaçada, e conseqüentemente seu controle do poder político e econômico da Inglaterra.

A lei do cereal, estabelecida em 1815 foi a principal disputa entre os proprietários e terra e os proprietários de capital.

1 Consultar Apêndice Histórico pgs. iii e iv

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Esta lei visava à proteção da produção interna de grãos, e resultava no aumento das rendas pagas por esta produção.

Os capitalistas eram prejudicados pela lei, pois a restrição das importações aumentava o preço dos cereais internamente, o que encarecia os custos de sua produção.

No conflito entre os proprietários e os assalariados, o que estava em questão era a intensidade da exploração do trabalho dos segundos.

Portanto reaparece nesta disputa uma da forças que move a primeira, qual seja o desejo de acumulação de capital.

A intransitoriedade da estrutura capitalista Malthus vê a divisão do mundo entre proprietários ricos e trabalhadores

despossuídos como insuperável e inerente à sociedade humana. O sofrimento e a pobreza são realidades às quais parte das pessoas está condenada,

e isso é indisputável pois trata-se de mera conseqüência da lei natural. Políticas como a "lei dos pobres" e medidas de saneamento básico e saúde pública

são ingênuas e longe de serem benéficas são extremamente nocivas ao todo social. Isto pois são implementadas às custas de recursos que poderiam servir aos setores

produtivos, e acabam servindo à causa perdida da miséria e decadência.

Esfera da troca e harmonia social Malthus tentou compreender as relações econômicas da esfera da troca,

argumentando que toda classe possui um só tipo de mercadoria e deve " ser remunerada para dar permissão para o uso de sua mercadoria na produção. Assim os preços são formados por restituição de cada uma destas três partes."2

De acordo com este ponto de vista concebeu a sociedade como um todo que tende à harmonia, apesar dos conflitos de classe.

Para que a harmonia seja feita o ser humano deve, primeiramente, alcançar plena consciência das leis que regem a produção e a distribuição.

Isto envolvia principalmente o entendimento de que a "propriedade é natural e inevitável"3 e o reconhecimento de que somente a classe dos proprietários era comprometida com bem-estar geral.

Depreende-se daí que a solução dos conflitos estaria na subordinação dos desejos individuais dos trabalhadores e mestres-manufatureiros aos interesses imediatos dos proprietários rurais.

A teoria da população

2 Hunt, E. K. História do Pensamento Econômico pg1003 Idem-pg100

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Proposições fundamentais A teoria da população de Malthus consiste em duas proposições fundamentais. A primeira delas decorre da interpretação de dados sobre a população dos Estados

Unidos da América do século XVIII.4 Nesta nação em que Malthus acreditava que a reserva de alimentos era maior , as

maneiras mais sóbrias, e o número de casamentos menor, do que qualquer nação européia, o número de habitantes parecia dobrar a cada vinte e cinco anos.

Esta taxa de crescimento, apesar de ser das menores que a humanidade poderia produzir, de acordo com dados referentes à época, foi tomada por Malthus como regra.

Ele passou a afirmar então que a população, quando não encontra obstáculos, dobraria a cada vinte e cinco anos, ou aumentaria em progressão geométrica.

A segunda proposição nasce da observação de Malthus de que a disponibilidade de terras apropriadas para o cultivo era limitada.

Malthus assumiu que, com o mais eficiente cultivo, realizado através dos maiores investimentos de capital e a maior extensão territorial, a produção dobraria em vinte e cinco anos.

Com as mesmas condições produtivas, nos próximos vinte e cinco anos, seria contrário ao "conhecimento que temos das características do solo"5 supor que a produção seria quadruplicada em relação à inicial.

O máximo que Malthus conseguiu conceber foi um aumento para o segundo período de vinte e cinco anos igual ao do primeiro período, e igual ao total produzido na situação inicial.

Malthus tomou esta taxa de crescimento da produção como regra, afirmando que os meios de subsistência aumentariam em progressão aritmética.

Implicações das proposições fundamentais Das duas proposições fundamentais podemos concluir que, em algum ponto no

tempo, a taxa de produção de alimentos será ultrapassada pela taxa de aumento populacional.

Isto resultará em uma queda na proporção de alimentos por pessoa, ou seja, o consumo individual diminuirá.

Esta implicação imediata está registrada nas três séries de dados abaixo6 que representam os números esperados de acordo com as taxas de crescimento da lei de Malthus(não se tratam de dados verídicos):

Com uma produção inicial de Y toneladas de alimentos obtemos:

Produção máxima de alimentos1798 1823 1848 1873 1898 1923 1948Y 2Y 3Y 4Y 5Y 6Y 7Y

4Esta análise da lei da população de Malthus é inspirada no capítulo 4 do livro The Classical theory of economic growth de W.A ELTIS. 5Citado por W.A ELTIS em The Classical theory of economic growth pg.108 6Quadros retirados do livro The Classical theory of economic growth pg108

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Com uma população inicial de N habitantes, e sem que existam obstáculos para a sua reprodução, obtemos:

População mínima1798 1823 1848 1873 1898 1923 1948N 2N 4N 8N 16N 32N 64NDe acordo com os números obtidos, as proporções de toneladas de alimento por pessoa serão:

População mínima1798 1823 1848 1873 1898 1923 1948Y/N Y/N 0,75Y/N 0,5Y/N 0,31Y/N 0,19Y/N 0,11Y/NAs proporções de toneladas de alimento por pessoa reduzem-se conforme avança o tempo, o que comprova o afirmado acima.

Controles populacionais e nível de vida

Controles positivos e preventivos A capacidade de produzir alimentos é o principal fator limitante da reprodução

humana. Assim sendo grandes aumentos populacionais fatalmente implicam grandes fomes.

Malthus concebeu outros fatores limitantes ou impeditivos á expansão populacional, classificado-os como preventivos e positivos

Os preventivos são controles que operam através da redução da taxa de natalidade, e dividem-se em restrição moral (Práticas de auto-controle, por exemplo aquelas inspiradas pela religião e pela frugalidade) e vício.

Atuam de forma a inibir a manifestação de uma expansão populacional. Os efeitos destes controles fazem-se sentir na época presente e conseqüentemente nas próximas gerações.

Os preventivos são controles que operam através do aumento da taxa de mortalidade, e dividem-se em vício e miséria.

Atuam de forma a conter uma expansão populacional em manifestação.Os efeitos deste controle fazem-se sentir somente nas próximas gerações.

O quadro abaixo ilustra a relação entre os controles controles positivos e preventivos7:

Os controles populacionais e o fundo de salários

7 Quadro retirado de Blaug, Mark -Historia do pensamento economico pg.113

Capacidade de crescimento

Obstáculos ao crescimento

Instintos de reprodução

Preventivos:Redução dos nascimentos

Positivos:Aumento do número de óbitos

Constrangimento moral

Vício Vício Miséria

Escassez de meios de subsistência

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Malthus argumenta que o nível de vida de uma família e os salários que o sustentam dependem tanto do controle da expansão populacional como da capacidade de produzir alimentos que são a expressão real dos salários.

O controle populacional permite manter o número de habitantes da região dentro do necessário para que se tenha uma proporção de recursos per capita suficiente.

Mas a capacidade de aumentar a produção dos bens, predominantemente alimentos, que sustentam os trabalhadores, ou seja, a taxa de expansão do fundo de salários é o determinante principal dos salários.

O fundo de salários é uma reserva de capital destinada à contratação de trabalho. Os salários são dados pela divisão do valor total do fundo pelo número de trabalhadores dispostos á ser contratados.

Assim sendo, mantendo-se fixa a população, se a capacidade de produzir itens de subsistência aumentar, o valor dos salários também subirão pois terá-se mais alimentos para o mesmo número de pessoas.

Deduz-se daí que os salários variam proporcionalmente com a capacidade de produzir alimentos8.

A teoria da renda

A renda é estabelecida com base na fertilidade das terras, " qualidade inteiramente inestimável do solo que Deus concedeu ao homem"9 relativamente ao nível de ocupação destas.

As rendas surgem então como excedente sobre as despesas de produção, nas terras mais férteis, pois nestas produz-se a menores custos do que nas terras menos férteis.

Para compensar o maior emprego do trabalho nestas últimas, os preços teriam de ser elevados de forma a cobrir os maiores custos(salários e lucros).

Assim, subindo-se o nível geral de preços, os produtos das terras mais férteis gerariam, quando vendidos, um excedente sobre os custos (menores do que nas menos férteis). É a este excedente que se dá o nome de renda.

A renda surge da diferença de fertilidade das terras, determinada pela natureza e intensificada pelos melhoramentos introduzidos pelos proprietários. Não se trata portanto de uma receita obtida através da monopolização de uma área, sem que tenha-se trabalhado para obtê-la.

A renda deriva da capacidade que o solo tem de alimentar aqueles que não trabalham nele. Isto pois só com o trabalho dos agricultores sua produção sustenta as três classes.

Um aumento populacional e a possibilidade de altos lucros estimulam maior produção agrícola, o que leva à conquista de terras de menor fertilidade, e,conseqüentemente, ao aumento do valor da renda.

Se definirmos prosperidade como crescimento do consumo social provocado pela maior produção, a renda poderá ser vista como um indicador de prosperidade, e seu aumento como conseqüência desta.

8 Este raciocínio é desenvolvido graficamente no Apêndice Diagramático item 7.9Hunt, E. K – História do Pensamento Econômico pg.102

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A teoria da superprodução

A possibilidade da superprodução Smith e aqueles que o precederam acreditavam que a soma das vontades individuais

para a compra de bens e serviços igualaria-se à soma das vontades individuais para a venda de bens e serviços.

Isto aconteceria pois toda receita não gasta com consumo seria acumulada. Esta poupança seria ou utilizada para mover a produção de bens e serviços, ou

poderia ser emprestada para que um terceiro o fizesse, em troca de juros. Mas, as depressões causadas por uma procura agregada insuficiente(crises de

superprodução) manifestavam-se já na época de Malthus10, contrariando esta lei dos clássicos.

Malthus tentou desvendar as razões da superprodução observando como cada classe gastava sua renda.

Os trabalhadores gastavam tudo em subsistência, os proprietários em consumo e "serviços pessoais" . Os capitalistas auferiam lucros que muitas vezes não encontravam possibilidade de gastar.

A origem do problema estava exatamente nesta última classe, que, por não gastar tanto quanto produz gera o fenômeno da superprodução.

Malthus então admite que é grande a possibilidade de repetição continuada desse fenômeno na produção manufatureira.

Apesar disso a produção de alimentos não estava sujeita a tais ocorrências pois a oferta de produtos agrícolas gera sua própria demanda, ou seja, a superprodução de alimentos é impossível.

A causa e a solução da superprodução Quando os capitalista auferem um lucro transformavam-no em capital, utilizando-o

para mover uma produção maior do que a anterior. Mas isso só é possível se existirem fatores suficientes para serem adquiridos: máquinas e trabalhadores.

Neste sentido, nem sempre os capitalistas poderiam contratar mais trabalhadores e auferir lucros maiores, o que contraria o dito por Smith.

Existem duas razões para isso: (i) A oferta de trabalho não seria capaz de suprir a demanda dos capitalistas11 e;(ii) As inovações tecnológicas dispensariam a mão-de-obra. Esta, sem receber salários deixaria de consumir, e assim sobrariam produtos no mercado.

Para acabar com as crises Malthus sugeriu a transferência de parte da receita dos capitalistas para os proprietários fundiários, garantindo que estes gastariam-na totalmente em consumo e serviços, e não a utilizariam para mover qualquer produção.

Isto aumentaria a demanda agregada tanto quanto a oferta agregada fora aumentada pela produção dos manufaturados que geraram a receita dos capitalistas.

10 Por exemplo em 1818 uma grande depressão ocorreu na Inglaterra.

11Para compreender porque isso ocorre, consulte o Apêndice Diagramático item 8.

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Quanto a possibilidade de transferência para a classe dos trabalhadores, Malthus argumentou que isto levaria ao prejuízo da indústria produtiva, através da redução de seus lucros(provavelmente por pressão do aumento dos salários).

Bibliografia

BLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991ELTIS, W.A.The Classical theory of economic growth. New York : St. Martin's Press, 1984

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David Ricardo

David Ricardo e seu tempo

Revolução industrial David Ricardo viveu as perturbações profundas da estrutura econômica inglesa, que

definiram o fenômeno conhecido como revolução industrial1. Revolvida por estas perturbações, a produção deixa de ser uma função da destreza ou

habilidade dos trabalhadores para ser coordenada pela produtividade das máquinas. Os ganhos de produtividade alcançados nesta nova relação fazem da indústria do

algodão, de importância já reconhecida, principal frente exportadora da Grã-Bretanha. No campo as transformações se dão através dos enclosures, ou cercamentos. Através

deles, o setor agrícola é dividido em unidades especializadas, controladas por proprietários de capital.A obtenção de lucro passa a ser, portanto, o principal estímulo à produção nestas regiões.

No plano político, este processo representa a supressão dos barões fundiários e a consolidação do poder dos capitalistas, mediante, é claro acirrada disputa entre as classes.

Ricardo tomou parte nesta disputa sempre defendendo, através de suas formulações teóricas, os interesses dos proprietários de capital contra os interesses dos proprietários de terra.

A lei dos cereais

Durante o período de 1793-1815 a Inglaterra é impossibilitada de comerciar com outras nações européias, devido à guerra que move contra a França Napoleônica. Neste contexto, o preço dos artigos da produção interna sobem, principalmente os agrícolas, como o trigo e os cereais que compunham a subsistência dos trabalhadores.

Com o fim da guerra, é reaberta a possibilidade de importar tais bens, o que é visto como fim dos lucros extraordinários obtidos por seus produtores internos.Estes pressionam o parlamento2 para impedir a entrada dos cereais mais baratos, o que resulta na promulgação das leis dos cereais (Corn laws), que impõem um preço mínimo para a entrada destes artigos no país.

A implicação desta lei, a mais imediata, é a manutenção dos salários em um alto nível, enquanto, paralelamente, a indústria mais importante da Grã-Bretanha, a algodoeira, necessita de cortar seus gastos para recuperar a margem de lucro em processo de retração.

As Corn Laws determinam, portanto, a oposição direta dos capitalista industriais aos proprietários no que diz respeito aos rendimentos de cada um.

1 Consultar o Apêndice Histórico pgs.viii-x2Idem pgs. v-viii

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“ O sistema de Ricardo emergiu diretamente e espontaneamente do grande debate sobre as Corn Laws em 1814-16” 3

“ (...)por motivos analíticos Ricardo sempre emprega ‘cereal’ como um termo representativo para os salários. Fazendo isso, ele concentrou seu aparato teórico nas repercussões econômicas das Corn Laws.” 4

Ricardo e a controvérsia bulionista

A Inglaterra, no final do século XVIII envolveu-se em uma série de guerras que consumiram grandes investimentos bélicos, pago com a transferência de ouro inglês, às frentes de batalha alocadas em outros países.

Dessa forma, a utilização do ouro para cobrir gastos imediatos, levou à redução das reservas de metais. O banco inglês agiu então, em 1797, impondo a circulação de papel-moeda, em substituição ao ouro.O papel-moeda sofreu desvalorizações sucessivas, passando a possuir um poder de compra cada vez menor. Ou seja, a inflação manifestou-se em um aumento dos preços.

Ricardo atribuía esta inflação à emissão excessiva de moeda, efetuada pelo banco da Inglaterra. Como solução propôs a redução da moeda circulante numa magnitude equivalente ao aumento dos preços que desejava-se corrigir.

Isto é, deveria-se impor a redução da quantidade de moeda até que cada uma delas atingisse o valor de cunhagem, correspondendo à quantidade de ouro inicialmente estabelecida.

O iluminismo e a emancipação da economia

A revolução francesa em fins do século XVIII faz do liberalismo filosófico força política e realidade social.Suas repercussões são sentidas à época, com os movimentos anti-absolutistas ilustrados em todo o mundo.

O impacto do iluminismo- doutrina que tem no racionalismo científico e na observação empírica sua perspectiva interpretativa e seu método analítico- surgiu como contestação dos dogmas pregados pela Igreja.

Esta nova forma de construir o conhecimento humano, deu origem à especialização intelectual, e à divisão do processo de produção do conhecimento em estágios independentes.

Da filosofia, ciência mestra, emancipam-se campos de estudo que passam a dispor do status de ciências independentes, como a economia. Esta ciência nascente tem seu campo de estudo definido num primeiro momento quando Adam Smith publica A Riqueza das Nações.

O conjunto de problemas que tal obra traz á tona, tratados como evidências reveladas por um sistema de investigação, apresenta ao homem um conjunto de impasses que só poderiam ser resolvidos através do uso de ferramentas específicas, e não mais adaptações dos mecanismos da filosofia.

3 BLAUG, Ricardian economics pg. 64Idem pg. 6

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Ricardo foi muito influenciado pela obra de Smith. Tanto que podemos afirmar que é da leitura desta que formou-se boa parte de seu interesse pela consideração teórica das questões econômicas

A teoria da renda e do lucro5

Significado da teoria da renda e do lucro

Ricardo, ao estudar a produção focaliza a “determinação do valor e da evolução da taxa de lucro.”6

A teoria da renda de Ricardo foi elaborada para dar consistência à sua teoria dos lucros. Ela nasce inspirada no trabalho de Mathus, An Inquiry into the nature and causes of Rent, de 1815.

Dobb nos diz que “ A sua teoria dos lucros (de Ricardo) foi em muitos aspectos mais importante [do que a teoria da renda] para a estrutura essencial da sua doutrina.” 7

A renda surge no sistema de Ricardo como diferença entre os produtos brutos obtidos no cultivo de terras de diversos graus de fertilidade. Trata-se, portanto, de uma renda diferencial.

Para analisar como a renda afeta a taxa de lucro, Ricardo parte inicialmente de um modelo simples no qual o único produto é o cereal.

O capital investido é reduzido a cereal, bem como o produto final e o lucro. A partir disso é colocado que “A taxa de lucro e juro deve depender da proporção de

produção destinada ao consumo necessário para essa produção.” 8

Isto é, os lucros são determinados pela proporção entre cereal produzido(produto bruto) e cereal consumido(salários) na agricultura.

Dedução da teoria da renda

As terras de uma região são limitadas tanto em sua quantidade como em sua fertilidade. Em relação a este último parâmetro, existe uma margem intensiva e uma margem extensiva.

A margem intensiva diz respeito à intensidade do cultivo em determinada terra. Indica, portanto, a quantidade de trabalho-e-capital empregada a partir da qual uma determinada terra passa a gerar produtos brutos cada vez menores.

A margem extensiva diz respeito à extensão do cultivo por diversas terras. É o limite de expansão territorial a partir do qual o produto bruto, obtido nas novas terras, passa a ser cada vez menor.

No início do processo de ocupação, a produção das terras de maior grau de fertilidade é suficiente para proporcionar a subsistência dos habitantes. Com o aumento populacional terras de grau inferior têm de ser ocupadas.

5 Esse assunto é discutido com maior profundidade no Apêndice Diagramático itens 9 e 10.6 NAPOLEONI, C. – Smith, Ricardo e Marx – Editora Graal (1983)pg877DOBB Teorias de valor e distribuição desde A.Smith p 93 8Idem p 93

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Aplicando-se a mesma intensidade de trabalho em todas as terras, de acordo com o grau de fertilidade, obterá-se mais ou menos produto bruto.

A quantidade de produto bruto obtido é diretamente proporcional à fertilidade. Portanto, como a ocupação dá-se do maior para o menor grau de fertilidade, o número de terras utilizadas é inversamente proporcional ao produto bruto adicionado a cada avanço do processo de ocupação.

De acordo com o corolário mathusiano o salário conserva-se no nível de subsistência (independente das condições de cada terra). Desta forma, o produto líquido diminui proporcionalmente à redução do produto bruto.

É importante perceber que a renda não participa da formação dos preços, ela é determinada pelos preços.

Nas palavras de Ricardo:“O cereal não é caro porque paga-se a renda, mas paga-se a renda porque o cereal é caro.” 9

Análise da teoria da renda e do lucro

Implicações da teoria do lucro e da renda

A queda do lucro na economia representa decadência para Ricardo, pois implica em menor acumulação e posterior produção.

Este raciocínio fundamenta a contestação que Ricardo promoveu contra a Lei dos Cereais, votada e colocada em vigor pelo parlamento inglês.

Esta lei impedia a entrada de cereais na Inglaterra, o tinha o efeito de sobrecarregar a produção interna, elevando a margem de cultivo e portanto levando à redução dos lucros.

Com isso Ricardo prevê que as nações tendem ao estado estacionário(steady state), no qual os lucros inexistem.

Como Ricardo acreditava que o lucro é a motivação única da acumulação, no estado estacionário a acumulação simplesmente não ocorrerá.

O estado estacionário aproxima-se a cada extensão da margem de cultivo. Isto pois cada passo neste sentido implica em nova redução dos lucros.

A grande conclusão de Ricardo é que : “ Se os salários subirem os lucros terão, necessariamente, de cair.” Daí deriva a relação antagônica existente entre os interesses dos capitalistas e dos trabalhadores.

Problemas na teoria do lucro

A dedução apresentada mostra-se problemática quando são levados em conta os movimentos dos preços, cotados em moeda.

A conclusão de que os lucros agrícolas determinam os lucros do sistema mostra-se falsa quando fazemos o seguinte raciocínio:

O aumento do preço do produto bruto gerado em cada terra -e portando da receita captada pelo capitalista- é possivelmente capaz de compensar o aumento do custo em

9 Blaug, M. Ricardian economics(1989) pg. 13

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salários, fazendo com que os lucros se conservem. Isso pois os salários são pagos com a produção da terra, o cereal, que é tanto o produto como o insumo. Ou seja, com o aumento do valor nominal do cereal, eleva-se tanto o salário como a receita que será utilizada para pagá-los no período precedente.

Assim os lucros não se reduziriam na agricultura e sim na indústria, dado que somente os salários dos trabalhadores que contrata consistem em cereal. Neste setor a subida dos salários não é acompanhada pela subida dos preços- seus produtos são manufaturas e não cereais- e isto resulta numa queda nos lucros auferidos.

Dessa forma, “é a taxa de lucro industrial que regula a taxa de lucro agrícola, e não o inverso.”

Para facilitar a compreensão deste crucial encadeamento de efeitos, um pouco de álgebra será introduzida.

O preço do produto da terra mais fértil é dado por Xp, ou seja produto bruto em quilos de cereal (X) multiplicado pelo preço do quilo de cereal(p).

O preço do produto da terra menos fértil é dado por X(p+p), devido ao maior investimento que tem de se fazer nesta terra para obter a mesma quantidade X de cereal.

Como o maior preço é o que valerá, pois nenhum capitalista deixará de desfrutar da possibilidade de lucro extra, o preço do quilo cereal será agora (p+p).

Para produzir cereal é necessário investir cereal, na forma de salário.Então teremos um aumento tanto dos custos da produção como da receita da produção.

Ou seja, quando somente a primeira terra é cultivada, os salários serão dados por (wT)p, ou seja, a quantidade em quilos de cereal(w) consumida por cada trabalhador multiplicada pelo número de trabalhadores(T) e multiplicada pelo preço do quilo do cereal, em moeda.

A taxa de lucro será então

De onde tiramos que o preço do quilo de cereal realmente não influi na taxa de lucro,e mesmo com sua elevação, esta última conservará-se .

Já na indústria a situação será diferente.Supondo que salários, consistindo em cereal, são pagos no valor de w’T’p, e que a receita de um dado setor é de X’p’,a taxa de lucro será dada por

Mas, com o aumento do preço do cereal, advindo da agricultura, de p para p+Dp, a nova taxa de lucro será de

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Concluímos então, que, com o aumento do preço do cereal, provocado pela maior dificuldade de obtê-lo, a taxa de lucro é reduzida somente na indústria,conservando-se na agricultura a mesma taxa de lucro.

A teoria do lucro modificada10

Para tornar rigorosa a teoria Ricardiana do lucro, adaptaremos suas premissas originais, excluindo a influência do preço.

Isso será feito expressando-se todos os preços fisicamente como quantidades de cereal. O lucro passa a ser a quantidade excedente de cereal sobre os salários(também em cereal).

Com isso em mente, a “nova” teoria será introduzida na forma de exemplo. Um capitalista contrata T trabalhadores, pagando a cada um deles w kg de cereal, para

que cultivem suas terras que são , no momento, as de pior qualidade possível. No final do ano, X kg de cereais são produzidos. Com isso o lucro será de X- wT (1). Sendo r a taxa de lucro, ela será dada por:

Se chamarmos de “a” a quantidade de cereal produzida por cada trabalhador, teremos que:

Levando (3) em (2):

Observado esta equação percebemos que r aproxima-se de 0 quando a aproxima-se de w ; ou seja, quando o produto por trabalhador for totalmente gasto em salários não haverá lucro.

Quando a margem de cultivo se estender a uma terra da qual poderá-se retirar um produto bruto suficiente apenas para cobrir os gastos salariais, o produto por trabalhador “a” será exatamente igual ao gasto para manter este trabalhador. Então, nas condições deste modelo, quanto mais terras são cultivadas, menor será a taxa de lucro agrícola. Devemos agora atrelar este raciocínio ao aumento da renda. Supomos então que: Na terra de fertilidade imediatamente superior à primeira a produção por trabalhador é de a’ kg, sendo T’ a quantidade de trabalhadores contratados. Assim sendo, como a concorrência nivela as taxas de lucro em r, o lucro obtido aí será de:

10 Esta reestruturação da teoria de Ricardo foi extraída do livro de Napoleoni.

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A renda obtida deduzindo-se do produto bruto a’T’ o lucro (5) e os salários(wT’):

De (6) e (4) retiramos que com a conquista de terras de menor fertilidade, a (produto por trabalhador da terra menos fértil) reduzirá-se progressivamente. De onde concluímos que a renda total aumentará em (6) na mesma velocidade que o lucro cairá em (4).

É exatamente por recorrer aos preços que Ricardo encontrou dificuldades. Se tivesse expressado todos os parâmetros fisicamente (em quantidades de cereal), principalmente o lucro, não teria necessidade de buscar uma explicação para as variações de preço.

Portanto Ricardo “ teve de introduzir uma teoria do valor para demonstrar como os preços daqueles outros bens(industriais) se alteravam quando o custo do cereal aumentava.”11

A teoria do valor-trabalho

O valor de troca das mercadorias é determinado pela sua escassez e pela quantidade de trabalho despendido na sua produção.

A utilidade é um atributo de cada uma das mercadorias, mas não um determinante do valor destas.

A escassez é um determinante do valor das mercadorias que não podem ser livremente produzidas, como obras de arte. Todas aquelas não submetidas à esta restrição estão nas condições da teoria do valor-trabalho.

O princípio geral da teoria de Ricardo é o de que o valor de troca é estritamente proporcional ao trabalho incorporado.

Com este princípio Ricardo observou que a produção de mercadorias pode ser reduzida a incorporações sucessivas de trabalho à matéria original. Ou seja, as próprias ferramentas que auxiliam o trabalho são compostas por trabalho passado.

Smith abandonou a teoria do valor como trabalho incorporado quando percebeu que ela não poderia explicar a formação dos preços em uma situação na qual os setores produtivos tivessem diferentes composições de capital e trabalho(relação entre os gastos em salários e os gastos em máquinas).

Esta constatação de Smith deu origem aquele que ficou conhecido como o problema da transformação de valores em preços, que reaparece em Ricardo e Marx.

Ricardo foi o primeiro a estudar a fundo este problema.Mas sua maior contribuição não foi a solução que apresentou para ele, e sim a formulação rigorosa e clara que deu à esta questão, pois trata-se de um problema realmente complexo.

Para que possamos compreender com precisão o nó por trás do problema da transformação de valores em preços, dois exemplos explicativos serão desenvolvidos.

11 Dobb, Teorias de valor e distribuição desde A.Smith pg104

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A solução de Ricardo para o problema da transformação de valores em preços12

Como Smith e Ricardo observaram, a teoria do valor-trabalho não se aplica às situações em que a composição entre capital e trabalho tomam diversas formas nos setores produtivos.Nessas situações, ocorrem distorções nos preços não controladas pela quantidade de trabalho incorporado.

Ricardo estudou os efeitos de variações nos salários sobre os preços de mercadorias com diferentes composições de capital e trabalho, e concluiu:

1. Aquelas mercadorias que são produzidas mediante maior investimento em capital (máquinas) do que em trabalho, apresentando uma composição capital/trabalho maior do que a média social, terão seus preços aumentados com a queda dos salários. O que se deve ao fato de que, dado que a queda dos salários significa aumento dos lucros, tendo estes uma maior participação na formação dos preços de produtos capital-intensivos do que os salários, os preços de tais produtos terão de subir;Pelo mesmo motivo, se os salários aumentarem, os referidos preços cairão.

2. Aquelas mercadorias que possuem uma composição de capital e trabalho equivalente á composição média de uma economia, não terão seus preços alterados quando os salários e os lucros oscilarem.

3. Todas as mercadorias com a composição capital/trabalho inferior à composição média, produzidas mediante maior investimento em salários do que em capital, terão seus preços diminuídos com a queda dos salários e acrescido com o aumento destes.

Percebendo que estes desvios realmente manifestam-se, Ricardo chegou à conclusão que, quando somados dentro de uma economia acabam cancelando-se mutuamente. Como estava preocupado com a totalidade do sistema, tomou tais desvios como desprezíveis na elaboração de sua teoria da distribuição e acumulação, por acreditar que fossem meras distorções de pequena monta.

A medida invariável de valor

Ao abandonar seu modelo de uma só mercadoria, o grão, Ricardo percebeu que para expressar os salários e os produtos líquidos, deveria fazê-lo através de muitas mercadorias.

Para isso precisava de um padrão invariável, uma mercadoria que fosse produzida sempre com a mesma quantidade de trabalho.

Sabia que esta mercadoria só poderia ser aquela que tivesse uma composição capital/trabalho igual à média, pois dessa forma não estaria sujeita às flutuações dos salários e lucros.

Ricardo não pôde encontrar tal mercadoria, e sua teoria do valor permaneceu incapaz de descrever os preços com exatidão.

Foi em 1960 que Piero Sraffa resolveu o problema da medida invariável de valor proposto por Ricardo, considerando a mercadoria procurada como qualquer uma que fosse insumo de sua própria produção, como por exemplo o cereal de Ricardo.

12 Para entender o problema da transformação, acompanhe os itens 11 e 12 do Apêndice Diagramático.

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Fundamento econômico dos conflitos de classe

Proprietários de terra X capitalistas

A teoria do lucro demonstra uma relação de oposição entre estas duas classes, ao introduzir a noção de que, sempre que os bens agrícolas sofrerem acréscimo de preços, os salários, por consistirem em grande parte destes, acabarão subindo, o que, simultaneamente, eleva a renda e derruba os lucros.

Daí depreende-se que é interesse dos proprietários fundiários defender e implementar políticas para o aumento dos salários.

Contrariamente, os capitalistas farão o possível para conter ou derrubar esses preços. Nesta contraposição de interesses funda-se a base para o conflito entre tais classes. O trabalhador não participa deste conflito, dado que seu consumo é invariavelmente

determinado pelo nível de subsistência. Dessa forma, com o aumento ou diminuição dos salários nominais, ele comprará a mesma quantidade de cereais.

Capitalistas X trabalhadores

Ricardo reconheceu que Malthus tinha certa razão ao questionar a capacidade das forças do mercado na alocação dos recursos. Ao estudar a introdução de novas máquinas na produção percebeu que este evento expulsaria parte da mão-de-obra antes ocupada.

Mais precisamente, removeria-a dos setores produtores dos meios de subsistência para as indústrias de maquinários.

Isto causaria menor produção de artigos de subsistência, o que repercutiria em menor capacidade de contratação de trabalho.

Portanto, quando deslocados pela máquina, nem sempre os trabalhadores encontrariam novas ocupações.

Com isso concluiu que algumas vezes os empregadores tinham interesses contrários aos trabalhadores.

Para tomar mais claro como dá-se o desemprego, vamos a um exemplo: No ano 1 um capitalista contrata T trabalhadores, ao custo individual de uma unidade

monetária e paga c para o uso de máquinas. No fim deste ano obtém c + T+ ( c + T), auferindo ( c + T) de lucro e consumindo-

o. No ano 2 contrata T- T trabalhadores, a uma unidade monetária de custo, utilizando

c+T em máquinas. No final do ano 2 obtém (T-T) + (c+T) + [(T-T) + (c+T)], ou seja, T+ c+ ( c + T), o mesmo obtido no ano 1, com o mesmo lucro. No ano 3 ele contratará T-T trabalhadores, e aqueles T que despediu no ano 2 não

poderão ser contratados pois T do capital que possuía no ano 1 está mobilizado em máquinas. Conclusivamente, as máquinas desalojaram T trabalhadores, que não podem mais reaver seus empregos antigos.

Impossibilidade da superprodução

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A superprodução que Malthus via como o irromper de uma crise geral do sistema econômico era impossível segundo Ricardo. Segundo ele, a demanda efetiva nunca seria menor do que a oferta.

Isto pois cada mercadoria é produzida para o consumo ou venda, obrigatoriamente. E, se for vendida, o será com o objetivo de comprar outra mercadoria de igual preço.

Cada intenção de oferta revela-se intenção de procura, conseqüentemente de consumo. Desta forma, produtos são comprados por produtos, nunca restando mercadorias não

adquiridas.Este raciocínio é idêntico ao postulado da Lei de Say, que á época despontava na teoria econômica.

A lei de Say aparece em Ricardo, portanto, confirmando ou tornando eminente a aproximação do estado estacionário. A demanda, por ser insaciável, estimula mais e mais a produção, induzindo a acumulação de capital e levando à conquista de novas terras, ou uso externo dos fatores disponíveis. Os retornos tornam-se cada vez menores, e a velocidade com que aproxima-se do estado estacionário maior.

A superprodução não se manifesta e com isso o sistema econômico mantem-se a caminho do fim inevitável a um ritmo progressivo.Se tal convulsão ocorresse ,parte do capital excessivo seria destruído, provocando-se o decréscimo do lucro.Então, a impossibilidade da superprodução é mais um desdobramento que acaba por assegurar a consistência do sistema teórico de Ricardo.

A crise, neste autor, é sempre fruto de uma oferta insuficiente de alimentos. A demanda nunca aparece em seus escritos como ameaça à capacidade produtiva.

Livre comércio e suas vantagens

Vantagens absolutas

Segundo A .Smith para que o comércio entre dois países seja mutuamente benéfico, cada um deles deverá possuir vantagem absoluta na produção de uma mercadoria.

A vantagem absoluta de que fala Smith, e sua importância podem ser apresentadas através do seguinte raciocínio:

Dadas duas mercadorias, supostas idênticas, A e B, produzidas nos países 1 e 2, pode-se avaliar se um dos países ocupa mais ou menos sua força de trabalho na produção de cada uma delas, sendo mais ou menos custoso tal processo em cada um deles.

Se o país 1 precisar de menos trabalho para produzir A do que o país 2, diz-se que o primeiro tem uma vantagem absoluta na produção de A em relação ao segundo, e que o segundo possui uma vantagem absoluta na produção de B, em relação ao primeiro, se empregar menos mão-de-obra para produzi-la.

Desta forma cada um deles pode se especializar na produção da mercadoria que produz mais facilmente, trocando-a por quantidades daquela que o outro país produz mais facilmente. Ambos serão assim beneficiados pois cada um obterá as duas mercadorias mediante menor emprego de trabalho, como se um ganho de produtividade fosse alcançado.

Ricardo elaborou um mecanismo mais aprimorado e de maior alcance para a operação do comércio internacional, que torna possível mesmo para os países que possuem desvantagens absolutas em todos seus setores produtivos colher benefícios de participação, alcançando um nível de produção superior àquele que possuem fechados.

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O sistema do comércio internacional de Ricardo baseia-se nas diferenças entre as quantidades de trabalho empregadas em cada setor de um dado país, relativamente à outro, assim como o sistema de Smith, mas a inovação de Ricardo está em como ele relaciona estas diferenças.

De acordo com este sistema, a vantagens absoluta é uma condição suficiente, mas não necessária para que a transação seja benéfica para aquele que a possui. A condição necessária na interpretação de Ricardo é a vantagem comparativa.

Teoria das vantagens comparativas13

Comparando a razão dada pelas quantidades de trabalho despendidas na produção de duas mercadorias em um dado país com a razão obtida na produção das duas mesmas mercadorias em outro país, pode-se dizer se o comércio entre eles será capaz de torná-los mais prósperos.

Se um dos países apresentar uma razão entre os custos menores do que o outro, diz-se que ele tem uma vantagem comparativa na produção da mercadoria cujo custo em trabalho ocupa o numerador da razão.

Algebricamente teremos:

onde R é a razão de cada um dos países 1 e 2, respectivamente; T (A) e T (B) são as horas de trabalho necessárias para produzir A e B no país 1; e T*(A) e T *(B) são as horas de trabalho necessárias para produzir A e B no país 2.

Como dissemos acima, se obtivermos R(1)<R(2), o país 1 tem uma vantagem comparativa na produção de A e desvantagem comparativa na produção de B.

Isto pode ser visualizado se tomarmos R(1) e R(2) como a expressão do preço da mercadoria A em termos da mercadoria B em cada um dos países.

Podemos falar aí em custo de oportunidade de A em termos de B, ou seja, quanto de B deixa-se de produzir para cada unidade de A produzida.

Se R(1) <R(2), para obter-se A no país 1 tem de se abrir mão de menos unidades de B, do que seria necessário para obtê-la com as condições produtivas do país 2, ou seja, A é mais barata em termos de B em 1 do que em 2.

Isto se deve exatamente ao fato de que no primeiro país emprega-se menos trabalho na produção de A do que na de B .

Se A é mais barata em 1 do que em 2, então B será mais barata em 2 do que em 1.

Vejamos:

13 Para uma melhor compreensão dessa teoria, consulte o Apêndice Diagramático item 13.

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Sai daí que cada se país produzir somente a mercadoria que precisa de menos trabalho para ser feita, relativamente á outra que produz, cada um deles poderá trocar com o outro unidades daquela que produz mais facilmente por unidades da que este produz mais facilmente. Assim ambos obterão as duas mercadorias mediante o emprego de menos trabalho.

Ou, alternativamente, obterão mais quantidades de cada produto com o mesmo emprego de trabalho.

É importante perceber que as trocas serão lucrativas mesmo que não existam vantagens absolutas.

BibliografiaBLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 NAPOLEONI, C.Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro : Graal, 1991ELTIS, W.A.The Classical theory of economic growth. New York : St. Martin's Press, 1984Blaug, M.Ricardian economics. New Haven : Yale University Press, 1958 DOBB, M.Teorias de valor e distribuição desde A.Smith.Portugal: Ed Presenca, 1973FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert Lucas.São Paulo : Atlas, 2001RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação.São Paulo: Abril Cultural, 1983

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Bentham, Say e Senior

Jeremy Bentham

A ciência de Bentham

“A Riqueza das Nações foi a bíblia de Bentham e ele a assimilou de tal forma que passou a pensar em seus termos e falar a sua linguagem.”1 Para Bentham a ciência deveria se voltar para o mundo real, já que é feita exatamente “ para beneficiar a raça humana”. Nesse sentido, acreditava que as leis econômicas teriam de ser obtidas empiricamente, de forma indutiva e não dedutiva.

Se todo o conhecimento visa à felicidade e à satisfação dos seres humanos, para construí-lo deve-se determinar os meios que proporcionam a felicidade e a satisfação.

Dessa forma a utilidade, ou mais precisamente, a capacidade de satisfazer os desejos humanos é a propriedade das coisas mundanas que deve ser tratada primeiramente.

O princípio da utilidade

Bentham coloca no centro de seu foco o indivíduo e sua percepção de felicidade, o utilidade. Ele é “ levado para uma concepção atomística da vida social.” 2

Esta percepção de felicidade toma a forma, em Bentham, de um cálculo de dor e prazer, feito mentalmente por todos os homens.

Este autor acreditava que levando em conta o prazer obtido ou esperado com determinada ação, seria possível descrever com precisão o comportamento humano.

“É óbvio que Bentham acreditava veementemente na forma quantitativa das experiências mentais: para ele, prazeres e dores são simplesmente magnitudes.” 3

De tudo isso parte que a riqueza é composta por todos os objetos que satisfazem as necessidades humanas, ao que podemos acrescentar que a riqueza de uma sociedade é a soma da riqueza de todos seus membros.

Mas a relação entre riqueza e felicidade pode ser modificada, pois aqueles que são muito ricos extraem menos prazer dela do que aqueles que nada possuem.A partir desse raciocínio Bentham propôs a redistribuição de renda dos ricos para os pobres.

Principais escritos econômicos de Bentham A primeira obra econômica de Bentham leva o nome de Defence of Usury e é uma

crítica aos escritos de Smith.” 4

1Introdução á obra J.Bentham´s economic Writings p.14 2Idem p.19 3Idem p.20 4Hutchinson in El Pensamiento Econômico de Aristóteles a Marshall- p.348

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Em 1793 Bentham publica o “Manual of Political Economy”, no qual afirma que: “A economia política pode ser considerada tanto como uma ciência quanto como uma arte5.”

Referindo-se a Smith, ele acrescenta: “Seu objetivo era a ciência, o meu é a arte.”6 Bentham foi um livre-cambista , mas acreditava na atuação do governo, e mais ainda,

acreditava que esta precisava ser organizada e planejada. Por isso dedicou parte de sua obra “ Manual of Political Economy” à discussão de como

o Estado deveria agir e auxiliar os setores produtivos e comercial. Em 1801 Bentham escreve “ The True Alarm” sobre as conseqüências de um processo

inflacionário.” 7 William Nassau Senior

As proposições de Senior

Senior foi o primeiro professor de Economia Política da Universidade de Oxford. Suas maiores contribuições para o desenvolvimento da economia foram: A teoria da

abstinência como explicação para os lucros; A teoria do valor-utilidade; Sua interpretação à Lei dos Pobres e a discussão metodológica que trouxe à tona.

Senior acreditava que a Economia Política deve tratar essencialmente da produção de riqueza e nunca do bem-estar social ou “felicidade”. Sempre que se arrisca discutir tais temas, o economista político é obrigado a lançar mão da ética e da moral, defendendo determinada porção da sociedade contra o restante.É assim que a ciência se degenera em mero debate ideológico.

Para alcançar-se o rigor científico, ou ausência de juízos subjetivos, deve-se buscar na produção de riquezas leis gerais que a regulam.A partir destas, a ciência econômica poderá construir seu instrumental analítico.

Pensando de tal maneira, Senior postulou cinco princípios nos quais acreditava que a economia política deveria fundar suas bases, são eles8:

1. “A riqueza consiste de todas aquelas coisas, e somente daquelas coisas, que são transferíveis, limitadas em quantidade, e as quais, direta ou indiretamente produzem prazer ou permitem que se evite a dor ou, para usar uma expressão equivalente, aquelas que podem ser trocadas; ou, para usar um terceiro termo equivalente, aquelas que têm valor.”

2. “Que toda pessoa deseja obter , com o mínimo sacrifício possível, tantos artigos de valor quanto forem possíveis.”

3. “Que a produtividade do trabalho, e de todos outros instrumentos que produzem riqueza, podem ser indefinidamente aumentados pelo uso de seus produtos, como meios de nova produção.”

5Idem nota 1 pg.223 6Idem pg.224 7Idem pg.353 8Estes princípios foram retirados da introdução à obra Collected works of Nassau Senior, organizada por Donald Rutherford.

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4. “Que, com a produtividade agrícola mantida constante, o trabalho adicional empregado na terra em uma dada região, produz um retorno menos do que proprocional. ”

5. “ Que a população de uma dada região é limitada pelos costumes e por maus de natureza física, ou pela deficiência dos meios utilizados para obter artigos de valor, ou, em outras palavras, o que é indispensável, ou minimamente necessário e até mesmo aquilo que está além das necessidades (luxuries), e o que os costumes dos indivíduos de cada classe de habitantes daquela região os leva a adquirir.”

A impossibilidade da satisfação

“A utilidade não é uma qualidade intrínseca às coisas que dizemos úteis; ela meramente expressa a relação destas com as dores e os prazeres da humanidade.”9

Para Senior o valor é dado pela utilidade, permutabilidade e intensidade da oferta, “ Sendo esta última aquela que tem maior influência no valor, pois determina o valor

relativo.”10

O comportamento do ser humano é dirigido para a obtenção do máximo de prazer(utilidade) com o mínimo esforço ou dor. A satisfação nunca é alcançada por aqueles que desenvolvem este comportamento pois sempre existirão novas necessidades ou níveis mais altos de prazer a serem atingidos.

Daí decorre que, sendo as necessidades subjetivas e não comparáveis, um indivíduo, mesmo possuidor de grande riqueza, tem fortes motivos para buscar mais riqueza. Assim a produção de mercadorias nunca poderia exceder a busca pela satisfação das necessidades individuais. A superprodução é impossível.

Salário, renda e lucro

“ A preocupação central de Senior em suas discussões sobre os salários foi uma exposição da doutrina do fundo de salários.”11

Esta doutrina compreende o salário como determinado pela quantidade de bens-salário disponíveis e o número de trabalhadores que estão dispostos a trabalhar.

Outro fator que regularia a magnitude do salário seria os controles populacionais. Segundo Senior, os controles mais eficazes consistiam em manter os pobres sempre sob o “ constante e extremo medo da escassez.” 12.Para este autor, o sofrimento destes é parte do preço que se paga pela prosperidade do resto da sociedade.

O papel do capitalista é tão vital e presume um sacrifício tão grande como o do trabalhador.Isso pois é somente quando aquele se abstém do consumo que cria os meios da nova produção.

9 Idem10 Idem11Idem 12 Hunt pg.164

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A abstenção é um custo, uma desutilidade, e é exatamente esta sua natureza que legitima a apropriação do lucro. A abstinência é a “ fonte mais importante de prosperidade de uma nação.” 13

A renda é uma remuneração pela posse de uma propriedade ou habilidade extraordinária, capaz de dar origem a mais riqueza do que os demais meios: “Era um retorno de qualquer propriedade que tivesse poder de monopólio, porque o objeto possuído não podia ser livremente produzido.” 14

Desta forma, o lucro obtido com a exploração de um capital herdado pode ser chamado de renda, assim como o “ talento fora do comum” de um trabalhador.

Com isso, a remuneração como diferencial de cada uma das três classes definidas pelos clássicos perde sua razão de ser. Daí a concepção de Senior de que a sociedade é um todo em harmonia.

Jean-Baptiste Say O Tratado de Say

Quanto à grande obra de Say, o Tratado de Política Econômica, nos é dito que: “O Tratado foi, na verdade, ‘o primeiro livro que ofereceu uma exposição didática, seguindo um plano rigoroso, do conjunto da ciência econômica.’Ele tem as qualidades e defeitos de uma manual, um bom manual.”15

Neste livro, o foco analítico de Say se coloca sobre a produção.Para determinar o objeto de tal estudo, Say define a Economia Política de forma a restringi-la, eliminando a formalização matemática e estatística, bem como quaisquer considerações de natureza política. Para Say “ A economia política só se transformou numa Ciência quando se tornou uma ciência de observação.” 16

Valor e produção

O determinante do valor das mercadorias é a utilidade, o que deriva diretamente do fato de que “ pouco importam as enormes dificuldades que tenhamos que vencer para produzir um objeto inútil: Ninguém vai querer pagá-lo.” 17

Para Say, a produção é, essencialmente, a geração de utilidade.Os indivíduos esforçam-se para extrair o máximo de utilidade possível de suas relações com o mundo.

Daí deriva a divisão do trabalho e a organização produtiva em si. No centro deste sistema está o empresário, intermediário entre consumo e produção.Sua

função é fazer com que esta se adapte às necessidades daquele. Em seu Tratado, Say, nos revela que a produção organizada levaria a humanidade a

alcançar, de forma sucessiva, graus de prosperidade mais altos, não existindo obstáculos a esta evolução.

13 Idem p. 16614Idem p.167 15Prefácio ao Tratado(edição Os economistas) pg.7 16Idem pg.9 17Idem p.10

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A lei dos mercados18

O enunciado geral da lei dos mercados de Say (como consta no Tratado, cap.XV) é o que segue: “É a produção que cria mercados para os produtos”; ou ainda, como coloca em uma de suas cartas endereçadas a Malthus: “Só se pode comprar produtos com outros produtos.”

O raciocínio que fundamenta este enunciado é o seguinte: A produção de um lado presume a remuneração de fatores, e de outro implica na oferta de mercadorias. Ou seja, a produção faz-se tanto de custos como de receitas, sendo que parte de seus custos são, por sua vez, a receita dos trabalhadores, com a qual adquirem mercadorias.

Mas, posta nesse termos, a Lei de Say não é mais do que uma identidade contábil. Para além disso,seu autor desejava com tal lei determinar como as “ ‘condutas racionais’ desenvolvidas pelos diversos agentes econômicos que procuram satisfazer o seu interesse pessoal” seriam suficientes para levar ao equilíbrio o sistema econômico.19

Nesse sentido, temos aí algo mais abrangente e ambicioso do que uma identidade.A grande decorrência desta lei, é, quando vista desta maneira, a seguinte: “...desequilíbrios parciais e temporários, em certos mercados, são sempre possíveis; porém, uma superprodução geral é impossível. A lei de Say expressa a tendência do sistema capitalista ao equilíbrio dinâmico de períodos longos.” 20

Tal Lei está apoiada em algumas hipóteses fundamentais, que devem ser reveladas: “A oferta de moeda ajusta-se, automaticamente, à procura de moeda.”A moeda aí só

desempenha sua função de meio de troca. Os mercados não têm barreiras à entrada; O progresso técnico aumentaria sempre a produção, gerando mais empregos; “A natureza dos produtos adapta-se sempre, naturalmente, às necessidades da

sociedade.” 21 O empresário possui racionalidade plena. Desta lei, surgem algumas implicações imediatas: Todos os recursos produtivos( principalmente trabalho e capital) são totalmente

utilizados; A concorrência (alimentada pela racionalidade) atribuída aos agentes econômicos faz

com que os mercados, quando se desequilibrarem, voltem rapidamente ao equilíbrio. “O progresso técnico aumenta a renda real de todos os agentes econômicos.” O principal resultado de tudo isso é então que: “Não existem obstáculos insuperáveis

para o desenvolvimento. Não existem limites para enriquecimento de uma nação. O bem estar de um país depende da sua população ativa, do progresso técnico, do dinamismo de seus empresários. Essa é a verdadeira mensagem de Jean-Baptiste Say.” 22

18 A lei dos mercados é detalhada no item 14 do Apêndice Diagramático.19 Idem p.21 20Idem p.15 21Idem p.16 22 Idem p31

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BibliografiaBENTHAM, J.Jeremy Bentham's economic writings.London:Published for the Royal Economic Society by Allen & Unwin, 1952-54 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 Madrid : Tecnos, 1971SAY, J.B.Tratado de Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983 SENIOR, N.Selected writings on economics. New York : A. M. Kelley, 1966 SPENGLER, J. J.El pensamiento económico de Aristóteles a Marshall:Ensayos.

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Karl Marx

Marx e seu tempo(1818-83)

        A época de Marx foi marcada por perturbações sociais violentas, movimentos revolucionários- levantes da classe trabalhadora1 -e pela transformação da estrutura política.

        Tudo isso resultava diretamente da miséria e do sofrimento a que estava submetido o proletariado, esmagado pela insalubridade de seu trabalho.

        “Em 1840, segundo cálculos de Arnold Toynbee, o salário de um trabalhador comum era de 8 xelins por semana, enquanto as necessidades de sua família montavam 14 xelins.Ele conseguia a diferença esmolando, roubando, mandando os filhos trabalhar, ou simplesmente apertando o cinto.” 2

        Soma-se a isso a instabilidade política produzida de um lado pela inépcia e despotismo de Estados em que prevalecia o ideário absolutista, e, de outro, pela desagregação sócio-política de uma Itália e uma Alemanha não unificadas. Essa combinação de fatores fez-se em uma mistura explosiva.

        Os levantes eram puramente explosões do ódio desesperado e cego dos oprimidos, desprovidos de qualquer direção ou objetivos maiores não puderam modificar profundamente as estruturas políticas contra as quais se lançaram.

  O comunismo científico

        O Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels, lança as bases filosóficas do comunismo científico, convocando o proletariado a unir-se pela derrubada do capitalismo.

        A revolução era inevitável, pois mera decorrência das contradições internas àquele modo de produção. Era apenas um acontecimento que se daria como resultado de toda a evolução histórica da humanidade-“ A marca deixada por ele[Marx] na História foi a previsão de que o capitalismo deve inevitavelmente desaparecer. Sobre esse previsão, esse prognóstico ‘científico’, o comunismo levantou seu edifício.”

1Consultar Apêndice Histórico pg.xi2Heilbroner, R. Introdução à História das Idéias Econômicas p.153

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        Marx criticou os socialistas que o precederam, Fourier, Owen, Saint-Simon3, condenando o idealismo e o sentimentalismo com que sustentavam seus argumentos contra o capitalismo.Por tudo isso, chamou-os utópicos.

        Este autor valeu-se então da pesquisa científica, do profundo estudo da história humana, e da abstração dedutiva para chegar à conclusão de que o capitalismo não era a etapa final da evolução humana, mas somente aquela que precedia a derradeira, o comunismo.

A dialética e o método de Marx

Fundamentos

A doutrina marxista consiste em duas disciplinas : “ O materialismo histórico, ou ciência da história, e o materialismo dialético, ou filosofia marxista.”4

O materialismo histórico é propriamente o estudo “ dos modos de produção, sua constituição, funcionamento e suas transformações.” 5

“O objeto do materialismo dialético está constituído pelo que Engels chama ‘ a história do pensamento’, ou o que Lênin denomina ‘ a história da transição da ignorância ao conhecimento, podemos designar este objeto com mais precisão como a história da produção dos conhecimentos enquanto conhecimentos, definição que abrange e resume outras definições possíveis: a diferença histórica entre ciência e ideologia, a teoria da história e da cientificidade, etc. Todos esses problemas ocupam em geral o campo chamado na filosofia clássica: ‘teoria do conhecimento’” 6

A origem da dialética

“ Dialética é a doutrina que trata da conexão universal e do desenvolvimento do mundo.” 7

“ A dialética é a ciência das leis gerais do movimento tanto do mundo exterior como do pensamento humano” 8

Este movimento não é linear ou cronológico como querem as doutrinas ortodoxas em que se apóia, por exemplo, a corrente dominante da história, da economia.

Este movimento faz-se de choques, revoluções, “ provocadas pela contradição9 que age sobre todos os objetos e os fazem produto mesmo desta contradição e de todos os fenômenos determinados pelas contradições que fazem-se vivas nos demais objetos.

Na dialética todos os aspectos de um fenômeno estão íntima e indissoluvelmente ligados. A relação entre os fatos ou objetos não é de causalidade simples, na qual um deles é totalmente explicado por somente outro, ou por um grupo de outros objetos.

3 Consultar Apêndice Histórico x e xi4 Materialismo histórico e materialismo dialético- Badiou e Althusser Pg 37 5Idem pg.37 6Idem pg.48 7Shajnazarov, citado em Fundamentos do materialismo dialético, de Nelson Werneck Sodré pg.80 8Marx, citado em Fundamentos do materialismo dialético, de Nelson Werneck Sodré pg.80 9 Lênin, idem pg. 82

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Na dialética cada objeto é explicado por todos os objetos, e mais ainda, pelas relações que mantêm com esta totalidade.

Segundo Marx, a tendência intrínseca à matéria, a essencial, é a transformação, o movimento.

A lógica e as leis da dialética

A lógica da dialética

1. A dialética é primeiramente uma lógica da relação. Cada coisa se define por todas as coisas que são diferentes ou iguais à primeira. Define-se uma coisa portanto através da relação estabelecida entre ela e as demais coisas: “ a identidade não existe nas coisas, mas apenas no pensamento que a confronta com a diferença e a diversidade; na realidade, cada um dos termos não existe a não ser por seu contrário, e não separadamente.”10 “Os dois termos que, ao nível da aparência eram simplesmente distintos, estão ao mesmo tempo em relação indissolúvel: cada uma reflete-se no outro; ele o excluí e, ao mesmo tempo, o implica, e é a fonte interna de seu movimento” 11

2. A dialética é uma lógica do conflito: “As coisas, limitando-se mutuamente, delimitando sua expansão respectiva, encontram-se em relação de afrontamento, às vezes mesmo de antagonismo.”12 “Cada realidade finita encontra-se assim contida, ou antes, rechaçada em seus limites, por outra realidade, pelo conjunto das outras realidades que a impede de ser o todo” 13

3. A dialética é lógica do movimento: O estado normal das coisas é o movimento,a transição, a transformação: “ Para um olhar que abarcasse, em poucos instantes, centenas de milênios, as montanhas levantar-se-iam e desapareceriam como ondas.” 14

4. A dialética é uma lógica da vida: A vida de um ente é propriamente composta pelo movimento deste ente, ao longo do tempo: “a finalidade das coisas é, precisamente, esse movimento que elas trazem em si, essa tendência, nascida da contradição entre sua natureza é o que as conduz para além delas mesmas, em direção do infinito.” 15 “O próprio de um ser finito é mover-se em direção ao seu fim” 16

10Fundamentos do materialismo dialético-Nelson Werneck Sodré pg.84 11Idem 12Idem pg.85 13Idem 14Idem pg.80 15Idem pg.85 16Idem

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As leis da dialética

“ As leis da dialética abstraem-se, portanto, da história da natureza e da história da sociedade humana. Ditas leis não são, com efeito, outra coisa que as leis mais gerais dessas duas fases do desenvolvimento histórico e do próprio pensamento. E reduzem-se, no fundamental, a três: [1]lei da transformação da quantidade em qualidade, e vice-versa;[2] lei da unidade e luta dos contrários;[3] lei da negação da negação.”17

Tais leis “ não dependem da vontade nem da consciência dos homens(...) a lei expressa a relação universal, necessária, objetiva e relativamente constante entre os fenômenos e objetos do mundo existente.” 18 1. As mudanças quantitativas progressivas de dado conteúdo se transformam,

finalmente, em diferenças qualitativas. Os momentos dessa reversão são momentos de salto.” 19 Se a magnitude de tais mudanças ultrapassar determinado limite, poderão gerar a transformação mesma dos objetos sobre os quais agem: “ basta que elevemos a temperatura até o ponto de fusão para que a matéria se converta em líquido e, se prosseguirmos aquecendo-a até o ponto de ebulição, se converterá em gás.” 20

2. “(...) a unidade dos contrários consiste em que eles se acham indissoluvelmente ligados entre si e formam juntos um processo contraditório único.”É exatamente por unirem-se para formar cada uma das coisas do mundo, que os contrários fazem-se no movimento que é a própria vida. Cada coisa se define pelo oposto de tudo o que significa. “ Em determinadas condições, os contrários se transformam um no outro.” 21 A relação entre os contrários é uma relação de luta, em que um tenta superar o outro: “O choque de aspirações contrárias denomina-se luta entre elas. E como cada coisa e cada processo constam desses aspectos contraditórios ( pelo princípio da unidade dos contrários), é fácil convencer-se de que , entre eles, há sempre colisões, luta.”

3. “Tomemos, por exemplo, um grão de cevada.Bilhões de grãos de cevada são moídos, cozidos e logo consumidos.Mas, em circunstâncias normais e propícias, esse grão, plantado em terra conveniente, sob a influência do calor e da umidade, experimenta uma transformação específica: germina; o grão como grão, se extingue, é negado,e ,em seu lugar, brota a planta, que nasce dele, a negação do grão. E qual é a marcha normal da vida dessa planta? A planta cresce, floresce, fecunda-se e produz, por último, novos grãos de cevada e, tão logo estes amadurecem, morre a espiga, nega-se por sua vez. E, como fruto dessa negação, encontramos outra vez o grão de cevada inicial, mas não já na forma simples, mas em número de dez, vinte, trinta vezes maior. Como as espécies de cereais se modificam com extraordinária lentidão, a cevada de hoje é quase igual à de cem anos. Tomemos, em seu lugar, a uma orquídea; tratemos a semente e a planta que dela brota, respeitando as artes da jardinagem, e logo obteremos como resultado desse processo da negação da

17Fundamentos do materialismo dialético-Nelson Werneck Sodré pg.112 18Idem 19Idem 121 20Idem 122 21Idem130

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negação, somente mais sementes, senão flores qualitativamente melhores, que nos darão flores mais belas, e cada repetição desse processo, cada nova negação da negação, representará um grau mais alto nessa escala de aperfeiçoamento.” 22 É importante perceber então que a negação da negação não é a afirmação mas, simplesmente, o encadeamento de transformações, ou seja, a transformação da transformação.

Materialismo X Idealismo

O materialismo de Marx, através do qual fez sua dialética representou a quebra dos dogmas que mantinham as potencialidades do método dialético aprisionadas. Estes dogmas derivavam da concepção hegeliana de que os conceitos estão formados, e eles é que forjam as coisas.

Marx acreditava que é preciso “ modelar modestamente nossos conceitos a partir das coisas”

A contradição toma o primeiro plano: “ Não é o universal que é primeiro e se limita a si mesmo, mas o particular que se supera necessariamente por que não traz em si suas condições de existência23

“Se nos detemos a pensar sobre a natureza, ou sobre a história humana, ou sobre nossa própria atividade espiritual, encontramo-nos, de primeira intenção, com a imagem de uma trama infinita de concatenações e mútuas influências, em que nada permanece o que era, nem como e onde era, mas que tudo se move e muda, nasce e caduca.” 24. Segundo Lênin: “ O mundo é a matéria em movimento” 25

“Marx rompeu com o dogmatismo hegeliano, passando do idealismo ao materialismo pelo caminho da prática.” 26; como ele próprio coloca: “Não haveria sentido em haver filosofia acabada em uma mundo não acabado.”

Marx, lançando mão do materialismo contra o idealismo, pôde inverter o método hegeliano, fazendo-o partir da matéria, da prática e não mais da idéia, ou teoria. “ O materialismo permite que se saia dela (da prisão da idéia), isto é, permite não apenas reinvertê-la, mais rompê-la e penetrar no mundo real” 27

“Marx chamou a atenção(...) para o fato de que as idéias nunca podem, por si mesmas, superar um determinado estado de coisas. Idéias superam idéias e não, automaticamente, situações materiais.”

“As idéias nunca podem realizar nada -assinalou Marx- pois para a realização das idéias é preciso que os homens ponham em ação uma força prática.” 28

22 Idem pg. 117-118 23 Fundamentos do materialismo dialético-Nelson Werneck Sodré pg188 24Idem 94 25Idem 103 26Idem 83 27Idem 28 Marx, vida e obra- Leandro Konder pg.102

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“ Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessário pô-la de cabeça para cima, afim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico.” 29

A transformação, a transição de uma forma para outra é o que Marx busca em suas investigações: “Marx observa o movimento social como um processo histórico-natural, governado por leis independentes da vontade, da consciência e das intenções dos seres humanos, e que, ao contrário determinam a vontade, a consciência e as intenções...” 30

“ O que lhe pode servir(à investigação crítica da civilização humana) de ponto de partida, portanto, não é a idéia, mas, exclusivamente, o fenômeno externo.” 31

“Mas, dir-se-á, as leis econômicas são sempre as mesmas, sejam elas utilizadas no presente ou no passado. É isso que Marx contesta. Não existem, segundo ele, essas leis abstratas.Ao contrário, cada período histórico, na sua opinião, possui suas próprias leis. Outras leis começam a reger a vida quando ela passa de uma estágio para outro, depois de ter vencido determinada etapa do desenvolvimento.” 32

Da abstração à luta de classes: A questão central do sistema de Marx33

Marx utilizou a abstração como forma de estudar a realidade, deduzindo fenômenos complexos a partir de categorias simples, visando resultados concretos.

“Marx move-se do abstrato para o concreto”, o que é conhecido como “método das aproximações sucessivas”34.

Parte-se da mais simples situação, digamos aquela em que têm-se apenas duas variáveis, uma condicionadora e outro condicionada e, acrescentando-se mais e mais variáveis, sucessivamente, aproxima-se da realidade.

O objeto que Marx visa é “ revelar as leis econômicas que regulam o movimento da sociedade moderna.”

O uso da abstração não é uma inovação do trabalho de Marx, pois Ricardo já o havia consagrado como método.O que atribui peculiaridade a seus estudos é a forma como Marx soube transportar sua análise do plano abstrato mais elevado ao nível mais próximo do solo.

Sweezy nos diz que: “Trazer o essencial à tona e tornar possível sua análise, é isso que a abstração busca realizar.” 35

Não existem regras fixas que definem o que é essencial para determinada investigação.O que o cientista faz é observar o fenômeno que o fascina, em sua ocorrência natural, e fazer hipóteses sobre possíveis explicações deste fenômeno.

Para entender os resultados alcançados por Marx, devemos então descobrir qual é a hipótese central de que partem seus estudos.

29Engels- posfácio à segunda edição alemã de O Capital pg 17 30 Idem pg.15 31Idem pg.16 32 Idem pg.16 33 Esta seção é integralmente baseada no argumento de P.Sweezy, esboçado na seção “O método de Marx” de seu livro A Teoria do desenvolvimento capitalista 34Sweezy-A teoria do desenvolvimento capitalista pg.11 35Idem 13

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Quando Marx dedicou-se a estudar economia política, bem como outros muitos e mais gerais temas como a história dos povos, pôde chegar à conclusão de que as leis que regem a vida material condicionam uma organização específica da produção, que é propriamente a infraestrutura sobre a qual se ergue a superestrutura que permite a organização de todas as demais esferas da vida, como a política, as relações sociais, a espiritualidade, etc.

As “ forças materiais de produção”, que são por exemplo a produtividade de determinada máquina, quando entram em conflito com as “relações de produção”, que são por exemplo o sistema de trabalho doméstico, têm-se o início do processo de desmonte do modo de produção por elas caracterizado.

No caso,quando a produtividade de uma máquina aumenta além do que um dos membros da família pode ser coagido por esta a trabalhar, o trabalho assalariado surge como solução do conflito e negação das relações de produção familiares.

Marx percebe então que a produção, tudo o que diz respeito à sua materialidade, deverá ser o campo de sua investigação.Ao focar este campo, analisa-o com os olhos da dialética, buscando em seu interior as contradições internas que caracterizam-no, que o fazem existir, portanto o transformam.

Encontra então, olhando para a forma como a sociedade se organiza com base nas posições ocupadas no processo de produção, os contrários, que determinam esta contradição.

Esses são essencialmente as classes nas quais distribuem-se os indivíduos, as classes sociais. A relação de conflito, que chamou de luta de classes, é o motor da sociedade e hipótese central sob a qual Marx analisará o mundo.

Múltiplos conflitos de classe caracterizam as sociedades ao longo do tempo. Na sociedade moderna, industrial, Marx reconheceu que o conflito essencial é aquele entre capital e trabalho, isso pois “ o capital é o todo-dominante poder da sociedade burguesa”.

O conflito central que deveria ser então isolado através da abstração, é o conflito entre capitalistas e trabalhadores, que dá o movimento à sociedade sob a lupa de Marx.

Bibliografia

BADIOU & ALTHUSSER. Materialismo historico y materialismo dialectico. Cordoba : Pasado Y Presente, 1969 KONDER,Leandro-Marx, vida e obra. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1983 MARX &ENGELS-Obras escolhidas #1-Rio de Janeiro, Editora Vitória 1961MARX, K.O Capital.São Paulo: Abril Cultural, 1983 MARX,K.Posfácio à segunda edição alemã de O Capital In MARX, K.O Capital.São Paulo: Abril Cultural, 1983 SODRÉ,N. W. Fundamentos do materialismo dialético.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1968 SWEEZY, P.M.Teoria do Desenvolvimento Capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1982

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Algumas questões teóricas em Marx

A crítica de Marx à economia clássica Marx concebeu um sistema amplo e integrado de interpretação da realidade. Seus

escritos versavam sobre a sociedade humana, seu processo de construção, bem como se propunham a discutir metodologia científica. A visão da história como um processo dinâmico é latente em Marx.

Será discutida aqui a contribuição de Marx à economia política e, por extensão, ao pensamento econômico. Levaremos em conta duas obras (entre as tantas que Marx escreveu): “Para a Crítica da Economia Política(1859), também conhecida como Contribuição à Crítica da Economia Política; e “O capital-Crítica da Economia política(1867)”.

Estas duas obras constituem a crítica de Marx à economia teórica consagrada a sua época.

Marx olha para autores como Smith, Ricardo, Mill, Senior, Say, Bastiat e Bentham e vê grandes distorções em suas interpretações. Para Marx, eles não conseguiam ver além do capitalismo, tomando este como a melhor solução possível para a organização da atividade produtiva. Interpretaram o passado, com os olhos do presente, vendo-o como uma ordem de coisas que caminhava para a construção do capitalismo.

A incapacidade de ver o capitalismo como um todo em transformação, de ver o presente como um processo dinâmico em si, marca a economia política sobre a qual lança-se a crítica de Marx. Não que tais autores fossem incapazes de perceber a transitoriedade das coisas, mas-e é aí que repousa o ataque de Marx- só a percebiam quando olhavam para as sociedades anteriores. Ao olhar para seu tempo, tudo o que viam era uma conjuntura imutável.

Quanto a isso é providencial que atentemos à nota 35 do primeiro capítulo do Capital, onde Marx coloca, entre outras coisas, que:

“ Os economistas têm uma forma singular de proceder. Para eles, existem dois tipos de instituições, as artificiais e as naturais. A instituições do feudalismo são instituições artificiais, enquanto as instituições da burguesia são naturais.Equiparam-se, assim, aos teólogos, que classificam as religiões em duas espécies. Toda religião que não for a sua é uma invenção dos homens; a sua é uma revelação de Deus. Desse modo havia história, mas, agora, não há mais.”(...). Minha visão é que cada determinado modo de produção, e as relações de produção correspondentes a ele em cada dado momento, em suma, ‘a estruturas econômica da sociedade’, é a ‘base real’, da qual surge a ‘superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas definidas de consciência social’, e que ‘ o modo de produção da vida material condiciona o processo geral da vida social, política e intelectual.”36

36 Tradução livre de O Capital- Vol. 1 edição inglesa 1976 pg.175

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Retiramos disto tudo que a concepção de Marx é radicalmente oposta à dos economistas clássicos, essencialmente porque via o mundo como um todo em transição, identificando as sociedades com modos de produção específicos e portanto mutáveis.

Como coloca Sweezy, “Existe um movimento contínuo de crescimento das forças produtivas, de destruição das relações sociais, de formação de idéias(...).”37

Portanto a vida material, e mais ainda, a estrutura material que possibilita aos homens o suprimento de suas necessidades materiais é, de fato, a via analítica que Marx propõe.

Para realizar a vida material, tanto a produção como a distribuição desta são fundamentais.Assim Marx fala sempre em duas esferas- ou campos nas quais se desenvolve a vida material :A esfera da produção, em que se dá a geração do valor e a incorporação do trabalho; E a esfera da circulação, que se contrapõe àquela e a complementa, representando a transmissão das mercadorias, a alienação da produção.

A esfera da circulação é a perspectiva analítica explorada pelos autores clássicos, e é exatamente tudo que os impede de perceber a diferença entre as características comuns de todos os modos de produção e suas características específicas.

A divisão da sociedade em classes é latente quando olhamos através da esfera da produção. A partir desta, cada ser humano tem uma participação definida e específica.A forma com que cada um participa da produção determina a classe que lhe abrigará.

Já, da perspectiva da troca todos são iguais e formam um todo em harmonia. “Cada um é um trocador, isto é, cada um tem com o outro a mesma relação social que o outro tem com ele” 38

É exatamente contra este paradigma, e seu uso, que Marx vai se bater. Sinteticamente a crítica de Marx consiste na demonstração da impropriedade da esfera da circulação como base analítica para a investigação das relações econômicas,que são relações sociais e materiais. Propõe, portanto, que a esfera da produção deve ser o ponto de partida da economia política.

A mercadoria A relação entre o capital e o trabalho é, quando levada em conta somente sua forma e

não sua essência , uma relação de troca.39 O estudo desta relação, e por extensão do modo de produção que a define como tal,

deve então começar pela investigação do fenômeno da troca. Marx inicia sua obra “Para a crítica da economia política”, apresentando a categoria

central da troca, a mercadoria: “À primeira vista, a riqueza burguesa aparece como uma enorme acumulação de

mercadorias, e a mercadoria isolada como seu modo de ser elementar.Mas toda mercadoria se apresenta sob o duplo ponto de vista de valor de uso e valor de troca.” 40

Tudo o que é produzido para o consumo e para a troca é uma mercadoria.Esta é uma “unidade imediata do valor de uso e valor de troca; ao mesmo tempo ela é mercadoria somente relacionada com outras mercadorias.” 41

37 Sweezy pg.2038Hunt p.221 39 A afirmação é feita por Sweezy pg.17 40 Para a Crítica da Economia Política pg.3141 Idem pg40

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O valor de uso é conteúdo da riqueza, portanto tem existência física, e ‘não expressa nenhuma relação social de produção’.Ao que Marx acrescenta: ‘ Esse modo de ser da mercadoria como valor de uso coincide com sua existência natural palpável.’

O valor de uso pode ser determinado tanto qualitativamente: resmas de papel, diamante, varas de tecido, etc; quanto quantitativamente: 2 resmas de papel, 1/80 de diamante, ½ vara de tecido, etc.

A categoria “valor de uso” apresenta uma relação entre homens e coisas, portanto, para Marx, sua investigação não pertence ao escopo da economia política que se deve preocupar com as relações existentes entre os homens.

A rigor, o valor de uso está associado a um trabalho específico, concreto, que exige habilidades para ser executado pois somente o trabalho qualificado é capaz de produzir valores qualitativos para o consumo.

“O valor de uso é diretamente a base material onde se apresenta uma relação econômica determinada- o valor de troca.” 42

“ O valor de troca aparece primeiramente como relação quantitativa em que valores de uso são trocáveis entre si.” 43

Quando valores de uso são comparados, a relação de troca que surge entre eles é chamada de valor de troca.

“Como encarnação do trabalho social, todas as mercadorias são cristalizações da mesma unidade” Esta unidade é o “ trabalho que se apresenta no valor de troca”. 44

“Trabalho que põe valor de troca é, (...), trabalho abstratamente geral.” 45 Os valores de troca diferenciam-se somente pela magnitude do trabalho abstrato que

constitui sua substância. Tal magnitude é medida levando-se em conta o tempo em que tal trabalho se desenvolveu.

“Como valor de troca todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho coagulado.” 46

A determinação da magnitude do valor de troca através do tempo de trabalho resulta na redução de todo trabalho correspondente a cada valor de troca à forma de trabalho abstrato, simples e social.

Quando reduzido a esta forma geral, o trabalho cristalizado em mercadorias é qualitativamente indiferenciado.Assim podemos comparar as mercadorias enquanto valores de troca. Neste ato de comparação está implícita a hipótese de que o trabalho contido em uma mercadoria “ é o tempo de trabalho necessário para a sua produção, ou seja, o tempo de trabalho requerido para produzir um novo exemplar da mesma mercadoria, sob condições de produção gerais dadas.” 47

Pode-se portanto comparar diversos trabalhos, tendo-se um padrão. Quando o trabalho é visto de acordo com a especificidade do processo à que serve, ou seja, quando podemos distinguir os trabalhos realizados em setores produtivos diversos, estamos vendo o trabalho tomar formas diversas.

42Idem p32 43Idem 44Idem 45Idem 46 Idem 47 Idem pg.37 Idem

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Isso nos leva à percepção de que tal trabalho serve a processos produtivos diferenciados, exatamente pelos resultados que proporciona.Ou seja, os produtos de trabalho diversos são diversos, o que os faz mais ou menos indicados para satisfazer mais ou menos o consumidor, segundo suas necessidades.

Nesta forma o trabalho é chamado concreto, e é tão peculiar quanto o trabalho do tecelão, do padeiro, etc.

Se o trabalho é visto como idêntico, pois se trata apenas de esforço plasmado, isso nos leva a ver por extensão, como idênticos os produtos do trabalho, ou seja, esta abstração reduz tudo a uma só coisa: a mercadoria, que surge como resultado do trabalho, em todas suas aplicações possíveis.

Nesta forma o trabalho é chamado abstrato, e é somente uma expressão quantitativa do esforço despendido.

“Enquanto o trabalho que põe valor de troca é um trabalho abstratamente geral e igual, o trabalho que põe valor de uso é trabalho concreto e particular, que se subdivide em infinitos modos de trabalho diferentes, segundo a sua forma e sua matéria.” 48

O caráter social da produção de mercadorias49

É propriamente o valor de troca que faz das mercadorias o que elas são: “ a relação, quantitativa entre as coisas, a qual chamamos valor de troca, é na realidade somente a aparência externa da relação social entre os donos das mercadorias, ou produtores.”50

Todo trabalho levado a cabo na produção de mercadorias é caracteristicamente social, mesmo sendo realizado por indivíduos com objetivos individuais.

Essa característica social revela-se ou vêm à tona quando se dá a troca entre os produtos de trabalho.

O valor é um conceito que expressa a relação entre mercadorias, é intrínseco á um conjunto de mercadorias e não a cada uma mercadoria.

A mercadoria, individualmente, possui “ uma qualidade social que se manifesta quantitativamente no valor de troca.” 51

Assim Marx usa a palavra valor para referir-se à mercadoria em sua forma única, individual: “Uma mercadoria é um valor de uso ou um objeto útil, e um valor.” 52

É exatamente como valor que a mercadoria torna-se peça fundamental do modo de produção capitalista.

A natureza social das mercadorias deve-se à sua origem, propriamente ao fato de serem produtos do trabalho humano.

Se olharmos para o trabalho como esforço despendido em aplicações diversas, isto é, se tivermos em mente as particularidades de cada atividade produtiva, o trabalho nos aparecerá como todo o esforço que resulta na criação de mercadorias que servem às diversas necessidades humanas.

Ou seja, tomamos assim o trabalho como produtor de valores de uso. Mas, se nos permitirmos alcançar um nível de abstração superior, no qual todo trabalho aparecerá

48Idem pg.37 49 Essa caráter social é explorado no Apêndice Diagramático item 15.50 Sweezy-pg.27 51Idem 52Idem

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como idêntico nos resultados que gera e nas forças pelas quais se materializa, isto é, se simplesmente pusermos de lado de lado as particularidades de cada um dos ofícios, teremos o trabalho em sua forma geral, social, ou homogênea.Essencialmente o trabalho que gera valor, o trabalho que é esforço.

E temos aí o trabalho que se materializa na mercadoria considerada como valor, na sua individualidade: “ Assim, o que o valor de uso é para o valor na mercadoria, o trabalho útil é para o trabalho abstrato na atividade produtiva.” 53

As relações entre as mercadorias não são meramente questão de valor de troca, mas propriamente da magnitude do valor que cada uma possui.

Essa magnitude é determinada pela proporção em que se ocupa a capacidade produtiva total para produzir tais mercadorias.

Ou seja, a proporção em que duas mercadorias são trocadas é dada pela fração do trabalho total da sociedade que cada uma delas consome.

A magnitude do valor é uma questão quantitativa, que se refere à forma em que a sociedade se organiza para produzir.

Assim, a relação entre duas mercadorias não é determinada pela forma como se trocam, mas pela intensidade com que absorvem a reserva de trabalho abstrato da sociedade que as produz.

Fetichismo

Quando se perde a visão de que são as relações sociais que regem a produção de mercadorias, sendo estas mesmas produtos de uma estrutura social específica e historicamente diferente, passa-se a ver os fenômenos econômicos como meras ocorrências espontâneas e resultados da produção de mercadorias em si, como se as mercadorias fossem um fim em si mesmo, e determinassem, inversamente, as relações sociais.

“(...) os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantêm relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo das mercadorias.Chamo a isto de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias.”54

O fetichismo é a incapacidade de perceber que o indivíduo é produto de um todo social. É tomar as mercadorias como reservatório de valor de troca, e não como valores, ou expressão das relações sociais de produção.

A névoa que impede a percepção das relações sociais de produção, leva os homens a enxergarem-nas como relações entre coisas.”

“Esta reificação das relações sociais é o coração e o núcleo da doutrina do fetichismo de Marx.” 55

A névoa a que nos referimos obscurece a visão até mesmo daqueles que procuraram decifrar os mecanismos que movem a produção.

53Idem pg.29 54O capital-pg.81 55Sweezy-pg.35

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“ A economia política analisou, de fato, embora de maneira incompleta o valor e sua magnitude, e descobriu o conteúdo que ocultam.Mas nunca se perguntou por que ocultam esse conteúdo, por que o trabalho é representado pelo valor do produto de trabalho e a duração do tempo de trabalho pela magnitude desse valor(...) uma parte dos economistas está iludida pelo fetichismo dominante no mundo das mercadorias ou pela aparência material que encobre as características sociais do trabalho.” 56

A forma impessoal que tomam as relações produtivas é uma característica da produção de mercadorias que no capitalismo alcança um desenvolvimento grande o suficiente para dominar a vida da sociedade.

Esta crítica pode ser estendida à economia moderna, mostrando que o fetichismo é mesmo um vício que faz com que a análise econômica não possa ir além da “racionalidade” que atribui aos seres humanos.Aí a economia aparece como um todo em harmonia, em que cada participante busca obter alguma mercadoria contra a que possui, de forma a alcançar um “resultado ótimo”.

Esta visão nega as diferenças que marcam os sistemas econômicos que puderam estabelecer-se em diversos períodos, pois para interpretar o passado lança-se mão de categorias próprias do sistema atual, perdendo-se de vista que estas são fruto de uma situação diversa.

“ Que a economia moderna tem conscientemente perseguido este caminho [a negação da história] é a melhor evidência de sua subordinação ao fetichismo inerente à produção de mercadorias” 57

Acumulação capitalista: Reprodução simples e ampliada

A reprodução simples

A situação hipotética em que o sistema produtivo reproduz suas condições iniciais, ou seja, a receita de cada setor é totalmente investida em fatores de produção que irão repor, sem ampliar, a capacidade produtiva, é chamada de reprodução simples.

Aí é conservada a produtividade, bem como o volume de capital fixo e variável.Isto pois qualquer alteração do estoque inicial de recursos deverá ser suficiente apenas para repor seu volume inicial.

Assim, a massa de mais-valia obtida deverá ser totalmente gasta dentro do sistema produtivo, servindo de receita para outro setor.A reprodução simples abstrai a força motora do sistema capitalista, ignorando todo estímulo que o capitalista tem para comportar-se como tal.

Mais propriamente, na reprodução simples, a motivação que define o capitalista não encontra meios para se desenvolver.

Esta motivação é a expansão progressiva do capital, como forma de expandir progressivamente o lucro.

Com o esquema de reprodução simples Marx visa, assim como Quesnay em seu Tableu, pôr às claras o mecanismo regedor da circulação, despindo-o de maiores. complicações.

A reprodução ampliada e sua negação

56O capital.pg.89-9157Sweezy.pg.38

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Quando dá-se a acumulação de capital, ou expansão das condições produtivas, têm-se a situação que Marx chamou “Reprodução ampliada”.

Nesta situação surge o capitalista como caracterizado, e este desenvolve então a atividade que o caracteriza.

Como a mais-valia por ele captada é mais do que necessária para repor o capital, o excedente será então empregado na formação de novo capital.

Este poderá ser tanto fixo como variável, e é lógico esperar-se o investimento em combinações dos dois.

A demanda por mão-de-obra é expandida, o que leva de pronto à elevação dos salários. Terá-se então que estes serão maiores do que o valor da força de trabalho, dado pelo

trabalho incorporado a ela, que não muda. Assim seria possível que o pago ao trabalhador poderia aumentar a ponto de coincidir

com o produzido por ele. Ou seja, os salários poderiam aumentar o suficiente para fazer a mais-valia ser reduzida

à zero, o que revela uma contradição: A expansão do capital produzida com o investimento da mais-valia geraria, no período seguinte, um aumento no salário capaz de eliminar a fonte desta expansão.

Assim a acumulação induz efeito contrário ao esperado.É óbvio que o capitalista não teria, neste caso, motivação para acumular, pois isto o levaria à destruir tudo o que o guia: A expansão do lucro.

O exército industrial de reserva

Marx então nos revelou como a acumulação, ao expandir-se, leva a negação de tudo que a possibilita. Mas quanto a isso argumentou que, um aumento dos salários “ nunca poderá alcançar um nível suficiente para ameaçar o sistema”58

A inevitabilidade desta proposição decorre da existência do exército de reserva de trabalho. Trata-se da reunião de todos aqueles dispostos a trabalhar que não puderam encontrar emprego algum. Portanto o desemprego involuntário é uma possibilidade e mais do que isso, uma implicação direta do modo de produção capitalista.

Isto se deve ao fato de que as máquinas permitem a redução do capital variável. Quando se generaliza esta atitude, o desemprego surge como resultado.

Assim sendo, “ o exército de reserva é recrutado primariamente entre aqueles que foram deslocados pelo maquinário.” 59

O exército de reserva pressiona os salários para baixo e compensa o efeito do aumento da mão-de-obra, de forma a restringir “o campo de ação desta lei (a lei da oferta e demanda por trabalho) aos limites absolutamente convenientes para a atividade de exploração( da mão de obra) e para a dominação do capital” 60

Isto garante que a demanda por trabalho é sempre menor do que a oferta e assim, um aumento da primeira nunca será suficiente para levá-la à ultrapassar a segunda, o que torna o aumento dos salários impossível.

58 SWEEZY- Teoria do desenvolvimento capitalista pg.87 59Idem pg.88 60Idem pg.87

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Ou seja, a mais-valia conservará seu valor original, no mínimo, através do processo de acumulação .

Conclusivamente o capitalismo encontra meios para reproduzir-se de forma ampliada, que se originam em seu interior.

Marx delineou o capitalismo como um sistema cuja expansão produtiva não poderia ser obstada por nenhuma força externa, como o aumento populacional, assim como queriam os clássicos.

A lei da população de Malthus é então totalmente solapada pela teoria do exército de reserva em Marx.

BibliografiaMARX, K.O Capital.São Paulo: Abril Cultural, 1983 MARX, K.Para a Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983 SWEEZY, P.M.Teoria do Desenvolvimento Capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1982

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Jonh Stuart Mill

Mill e seu tempo

As influências que pesaram sobre Mill O utilitarismo de Bentham foi de grande peso para a formação intelectual de Mill. As idéias desse autor foram transmitidas à Mill por seu pai, um dos maiores

propagandistas do Bethamismo. Toda a influência de Bentham em Mill pode ser, de forma muito simplificada, reduzida ao princípio de que “ As ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade.”61

Entre as obras de Bentham reverenciadas por Mill, destaca-se o tratado sobre legislação, pois proporcionou-lhe “ um credo, uma doutrina, uma filosofia... uma religião.” 62

“Das influências que contribuíram para moldar sua economia(a de Mill), as de seu pai e do próprio Ricardo vêm, naturalmente, em primeiro lugar. Da leitura da obra retirou princípios e talvez raciocínios que surgem em suas idéias econômicas como fundamentos.” 63 A teoria da renda e dos lucros é um exemplo.

Os princípios de Ricardo serviram ao propósito de introduzir Mill aos estudos de economia política, quando ele tinha 13 anos.

A influência de Comte manifesta-se em Mill de forma definida quando este toma contato com o segundo volume da obra “Filosofia Positiva” de 1837.

Mill vê em Comte “ a maior autoridade viva sobre métodos científicos em geral” 64 Comte tomou para si a missão de criar uma ciência social, ou “ corpo de doutrinas que

cobrisse a vida da sociedade humana em todos seus aspectos”, para isso deveria utilizar três métodos: “a observação propriamente dita, a experimentação e a comparação.” 65

A concepção de ciência social de Comte fascinou Mill, que tentou desenvolvê-la em seus escritos, colocando a Economia política como apenas um dos pontos de vista, entre todos as possibilidades reveladas pelos fatos sociais.

Apesar disso Mill defendeu a separação da economia política do corpo da ciência social, argumentando que tal fração do conhecimento humano possuía preocupações específicas demais, e portando separáveis das preocupações da grande ciência.

As revoltas66em que se lançaram os trabalhadores, muito impressionaram Mill, que mostrou-se inclusive partidário do socialismo utópico67.

61Jonh Stuart Mill, Os economistas Ed. Abril-Apresentação R.Ekerman pg.1162Idem pg.11 63Jonh Stuart Mill, Os economistas Ed. Abril-Introdução E.Cannan pg.664Idem pg.8 65 Idem pg.9 66Consultar Apêndice Histórico pgs.xi-xiii67Idem pgs. x e xi

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A obra Principles of Political economy(1848)

Como afirma Blaug68: “Durante toda a segunda metade do séc XIX, os Principles of Political economy(1848)

de Mill foram considerados, indiscutivelmente, a bíblia dos economistas(...)até 1900, os estudos de Mill ainda eram os textos básicos dos cursos elementares de Economia das universidades inglesas e americanas.A extraordinária influência duradoura de um tal livro ficou a dever-se, em larga medida, ao notável doseamento de elementos clássicos e anticlássicos.”

Mill, com esta obra, tentou integrar a teoria do valor-trabalho e a teoria do valor-utilidade, dizendo-se discípulo de Bentham e Ricardo.

Em seu livro, Mill concebe a separação das esferas da produção e distribuição. A produção é regida por leis que “têm o caráter de verdades físicas” e a distribuição

“depende das leis e dos costumes da sociedade” 69

Assim sendo, o estágio atual da produção é determinado pela extensão do domínio do homem sobre a natureza. Consiste, portanto no acúmulo de habilidades técnicas.

A distribuição surge como evolução histórica, desenvolvimento social alcançado pelo homem.

Produção

As leis da produção As leis da produção são dadas pela natureza e são imutáveis. Quanto a isso, Mill é

enfático: “Todo trabalho, em última análise, é feito pela natureza.”70

A produção presume “condições necessárias” proporcionadas pela natureza da matéria e do trabalho. Para que se tenha produção deve ter-se trabalho e objetos a serem trabalhados.

O trabalho consiste em pôr a matéria em movimento, posicionando-a de forma a possibilitar que a ação da natureza sobre ela se dê. No dizer de Mill: “A essência do trabalho humano é movimentar coisas.”

“O que estabelece a variabilidade é o trabalho humano” 71 Mill separa as leis da produção-determinadas por um conjunto de habilidades

desenvolvidas pelo homem/trabalhador-das leis da circulação- dadas pela estrutura social vigente, pelas “instituições humanas.”

As leis da produção são então condicionadas pela natureza, como “verdades físicas”. O homem apenas pode apreendê-las, nunca alterá-las.

As leis da distribuição são convenções humanas, tão efêmeras quanto as causas e visões que as estabeleceram.É com base nas leis que regem a propriedade privada que o sistema capitalista distribui os recursos.

68BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico pg.245 69Idem pg.24570 Citado por BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico pg.25271Jonh Stuart Mill, Os economistas Ed. Abril-Apresentação R.Ekermanpág 18.

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Trabalho e consumo produtivo

Mill utiliza o conceito de Smith para definir trabalho produtivo.Porém acaba por transformar a definição original, ao afirmar que o trabalho intelectual e a defesa da propriedade privada são trabalhos produtivos.

Consumo produtivo é todo consumo que permite manter ou criar os meios de produção e a força de trabalho, desde que esses fatores sejam empregados no trabalho produtivo.

O consumo improdutivo é todo aquele consumo que não é produtivo, devendo-se destacar que os meios de subsistência e quaisquer outros fatores consumidos pelos trabalhadores improdutivos são objetos de consumo improdutivo. Inversamente, o consumo de objetos de luxo por parte dos trabalhadores produtivos é também considerado consumo improdutivo.

Distribuição

A investigação da formação de um sistema de distribuição é por demais complexo pois exige o estudo da evolução histórica, cultural, intelectual e social do homem.

A economia política deve-se preocupar com as conseqüências de dada forma de distribuição, que são mais ou menos definidas e fixas.

Algumas dessas conseqüências, relativas ao capitalismo, são as que seguem. A economia de mercado é orientada para a troca que se dá por valores equivalentes,

sendo regulada pelo mercado. As relações econômicas, mediadas pelo mercado, levam ao progresso ou prosperidade. O capital e a doutrina do fundo de salários Mill via o capital como um “stock previamente acumulado, de produtos do trabalho

passado.”72

Mill apresenta quatro “proposições fundamentais respeitantes ao capital” 73:O setor industrial tem sua capacidade produtiva limitada pela formação de capital.

1. “ O capital é resultado da poupança”, propriamente do ato de abster-se do consumo de determinada reserva.

2. “O capital, embora resultante da poupança, é consumido.”Isto implica que todas as reservas, se não consumidas de imediato o serão em breve, de forma que a demanda agregada sempre se iguale à oferta agregada.

3. “A procura de mercadorias não é procura de trabalho.”Blaug interpreta esta frase como significando que, dado que o emprego de forças produtivas na indústria é determinado pela quantidade de capital acumulado, o efeito causado pela procura de mercadorias desse setor não é “ em primeira instância” determinante.Isto pois, com a receita obtida através da absorção de produtos pela demanda, o capitalista terá de decidir quanto poupará.A quantidade não consumida pelos capitalistas, cuja magnitude é definida por suas preferências subjetivas, é que determinará o emprego no período subseqüente.

72BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico pg.25273Idem pg. 252,253,254.

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Mill coloca que os salários são determinados pelo volume do fundo destinado à pagá-los(oferta) e pelo número de trabalhadores dispostos a recebê-los(demanda).

De forma que a taxa salarial é obtida através da razão entre o fundo e o número de pessoas dispostas à trabalhar.

O fundo de salários é propriamente a fonte dos adiantamentos necessários à manutenção dos trabalhadores e à movimentação do processo produtivo.

Os adiantamentos distribuem-se por intervalos de tempo que, quando somados, resultam no impulso total dado ao processo produtivo.

O capital surge então como adiantamentos que projetam-se no tempo, alimentado pela realização da venda por um preço superior à somatória de todos os adiantamentos.

Esta teoria, conhecida como doutrina do fundo de salários “assume implicitamente que o capital deve ser entendido em termos de um intervalo de tempo entre a produção e o consumo.”

Em 1869, influenciado por Thornton, Mill conclui que os salários são dados pela disputa entre os interesses dos trabalhadores e de seus contratantes, deixando de lado a doutrina do fundo de salários.

O aumento dos salários poderia então ser visto como uma transferência de renda dos capitalistas para os trabalhadores.

Tal transferência era portanto resultado da confluência de condições políticas e sociais.

Salários, lucros e rendaSaláriosA doutrina do fundo de salários, de que Mill lança mão assevera que “O salário depende da população e do capital”74.Quanto mais baixo estiver o salário, maior será o número de trabalhadores que poderão ser contratados, pois o fundo destinado a mantê-los poderá ser dividido entre mais pessoas, desde que recebam uma fração menor deste fundo.O custo do trabalho consiste na cesta de subsistência necessária para mantê-lo.Tal relação é regulada pelo fato de que “(...)o custo do trabalho está freqüentemente em seu máximo quando os salários estão em seu mínimo.” 75 A derrubada da barreira à entrada de cereais, imposta pela “lei dos cereais”, tão defendida por Ricardo é analisada friamente por Mill: Ele coloca que, com a entrada de cereais no país, o poder de compra dos salários(valor real) aumentaria somente enquanto os trabalhadores não aumentassem seu padrão de consumo.Quando se desse esta alteração, o valor real dos salários não mais cresceria.

Lucro O lucro é a contrapartida da espera decorrida desde o primeiro adiantamento, (que põe a

produção em movimento), até a venda do produto no mercado. O lucro é visto por Mill como “fruto da troca”, sendo a “remuneração, (...), da

abstinência, do risco e do esforço.”

74Jonh Stuart Mill, Os economistas Ed. Abril-Apresentação R.Ekerman pg.2075Idem pg.21

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“A causa do lucro é que o trabalho produz mais do que é necessário para sua subsistência.” 76

Os lucros são medidos através “ da taxa de juros corrente sobre as aplicações mais seguras.”

Mill concordava com a teoria do lucro de Ricardo, aceitando sobretudo a tendência decrescente que ela aponta.

Apesar disso expôs algumas situações em que tal tendência poderia ser contrariada, das quais destacam-se duas:1. Quando acumula-se capital em um país, acima da quantidade máxima que seu setor

produtivo pode empregar de forma a gerar um lucro proporcional ao volume de capital que dispõe-se, uma queda geral da taxa de lucro se manifesta.Se for possível transferir o capital excedente à outro país, aplicando-o lucrativamente, a queda do lucro interno será evitada.Assim, para Mill, nos casos em que a exportação de capital é possível, um acúmulo interno deste fator não implica lucros decrescentes.

2. Quando transforma-se capital em mercadorias ou capital fixo(edifícios, máquinas,etc.) num montante acima do aceitável pelo mercado ou quando a especulação desmedida atua desviando o capital de empregos lucrativos, este fator é desperdiçado77. Estes desperdícios destroem o capital excedente, impedindo “os lucros de descerem ao ponto mínimo.”

Tais crises ou “ reviravoltas são mais ou menos periódicas78, o que põe em questão a lei de Say e seu postulado da impossibilidade das depressões econômicas.

De acordo com a defesa da Lei de Say feita por Mill, tal contestação é meramente aparente, pois ele acreditava que o pleno emprego seria alcançado no longo prazo, sendo as crises periódicas meras perturbações de curto prazo.

Se tais perturbações destruidoras de capital não se manifestassem de forma a conter a acumulação deste, os lucros seriam progressivamente reduzidos, até que o estado estacionário fosse alcançado.

Para Mill o advento de tal estado seria de certa forma benéfico para a humanidade. Isto pois todos poderiam conviver em harmonia de interesses, já que a acumulação não seria possível. Assim as pessoas não teriam estímulos para ganhar à custa de outras pessoas.

Renda A renda é um lucro de monopólio, o que dá ao proprietário de terras a capacidade de

exigir um pagamento pelo uso de suas posses é propriamente o fato de que ele as monopoliza.

Sua terra é uma mercadoria que só ele pode ofertar. Para Mill a teoria da renda de Ricardo define com precisão as relações econômicas que

possibilitam a existência de renda.

A teoria do juro baseada na abstinência Mill nos diz que: “A taxa de juro é determinada pela procura e pela oferta de fundos

disponíveis para empréstimo.”

76 BLAUG, Mark- Historia do pensamento economico 26177Idem nota 4 pg.241 78Idem pg.242

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A oferta de fundos é fruto da decisão de não consumir o capital de que se dispõe, parcial ou integralmente. A esta decisão dá –se o nome de abstinência.

Este não-consumo é motivado pela esperança de um consumo futuro maior do que o possível no presente.

O juro é um indicador da diferença entre o consumo futuro e o presente, ou como Mill nos diz: A taxa de juro mede “o valor comparativo que numa dada sociedade se dá ao presente e ao futuro.”

Esta teoria, visa explicar a “escassez do capital”, através da seguinte questão: Porque o capital não aumenta infinitamente, já que é sempre possível obter um juro sobre o que se poupa?

Como resposta nos é colocado que a acumulação de capital é limitada pelo custo social de reproduzi-la, qual seja o desvio de parte da reserva disponível do consumo para o investimento. Este custo é representado pela “espera” que deriva da postergação do consumo.

Senior e Mill admitem ainda a atuação de outros fatores na criação da poupança, como o costume, a doutrina que poupar é crescer, e o desejo de legar valores aos parentes.

A Teoria do Valor e os valores internacionais

A teoria do valor A riqueza é definida como sendo a somatória de todos os bens comprados e vendidos

no mercado. A riqueza em Mill aparece como estoque de entes materiais que têm valor dado pelo

mercado. O trabalho não é o único determinante do valor, é somente o mais importante. Para Mill, a teoria do valor-trabalho só é válida quando todos os produtos de todos os

setores econômicos tiverem a mesma composição de capital e trabalho. Fora desta condição, tal teoria não se aplica.

Mill recorre então ao cômputo dos custos produtivos para explicar os preços relativos. Tais custos dividem-se em três modalidades, de acordo com sua natureza: preço da

terra, preço do trabalho e preço do capital. Para ele, assim como para Ricardo, os preços de curto prazo são dados pela oferta e

procura, e os de longo prazo pelos custos de produção. A procura é definida por Mill como desejo de adquirir combinado com a capacidade

para fazê-lo. Já a oferta seria determinada pela quantidade de mercadorias disponíveis para a venda. Quando estas duas forças se igualam em magnitude, o preço da mercadoria sobre a qual

atuam é determinado.

Teoria dos valores internacionais O que orienta a atuação das nações no comércio internacional é a busca pelo equilíbrio

da balança comercial. Os preços internacionais são a expressão nominal(em dinheiro) da razão entre a

quantidade de um bem que deseja-se exportar e a quantidade de um bem deseja-se importar.

A oferta de exportações e demanda por importações ao coincidirem, estabelecem quantidade e preço para os quais cada país coloca sua balança comercial no equilíbrio.

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Segundo Mill, o benefício obtido com o comércio externo não é somente uma função das vantagens comparativas existentes entre os países, é, além disso, função do desejo interno de aquisição dos bens pelos quais dá-se o comércio.

Mill introduz a idéia de demanda relativa, ou recíproca, que expressa a quantidade do bem que uma nação deseja adquirir em função da quantidade ofertada de outro bem pelo qual a mesma nação deseja trocar o primeiro.

A procura recíproca determina quanto do bem, em que uma nação tem vantagem comparativa está disposta a dar em troca, por dada quantidade do bem em que possui desvantagem comparativa e quer adquirir.

Sociedade e reforma

A propriedade privada é muitas vezes adquirida de forma justa ou através de esforço próprio. Mas algumas vezes a força e a violência são os instrumentos utilizados para apropriar-se dos meios de produção.

A existência de um grupo de pessoas ociosas detentoras do poder de extrair dos trabalhadores recursos com os quais alimentavam suas extravagâncias era condenado por Mill.Acreditava que a estrutura social que possibilitava a existência de tal grau de exploração era peculiar do capitalismo e, portanto, não duraria para sempre.

Via no socialismo uma evolução das relações sociais humanas. Mas, enquanto a humanidade não alcançasse um maior nível de consciência moral, tal sistema cooperativo não poderia ser estabelecido.Até lá, a “luta por riquezas” seria a lei.

“Emocionalmente o socialismo o atraía [Mill] (...) Ele tinha pouco gosto pela sociedade em que vivia e muita simpatia pelas massas trabalhadoras.”79

Mill acreditava que o governo tinha um papel que ia além da garantia de direitos de propriedade.Este deveria atuar de forma a corrigir os efeitos negativos que certas frações sociais impunham ao todo. Assim, em relação à exploração que condenava os trabalhadores à miséria e ao esgotamento, o Estado deveria atuar educando os marginalizados e erradicando suas más condições de vida.

Isto seria completado através do controle dos poderes da classe ociosa exploradora, com, por exemplo,a regulação dos monopólios e de seus lucros.

Mill defendeu a formação de sindicatos e propôs leis de regulamentação das condições de trabalho que versavam, por exemplo, sobre a jornada diária e o trabalho infantil, etc.

Colocou a obrigação do governo de fornecer subsistência aos impedidos de trabalhar, justificando a filosofia da Lei dos Pobres de 1834.

O governo deve cumprir tarefas que só ele pode cumprir, atuando de forma a restringir ao mínimo a liberdade individual. A liberdade de comprar e vender deve ser preservada a qualquer custo.

Sobre a atuação do governo, Mill nos diz que: “(...)em resumo, o laisser-faire deveria ser regra geral, qualquer desvio desta regra, a menos que seja imprescindível para um bem, é certamente um mal. 80”

79SCHUMPETER, J.A-“A historia da análise econômica” pg.194 VII

80Jonh Stuart Mill, Os economistas Ed. Abril-Apresentação R.Ekerman pg.16

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BibliografiaBLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert Lucas.São Paulo : Atlas, 2001HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 MILL, J. S.Principios de economia política :com algumas de suas aplicações à filosofia social.São Paulo: Abril Cultural, 1983

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Jevons, Menger, Walras

O marginalismo e seu tempo

O mundo vitoriano No final do século XIX a Inglaterra viveu um período de prosperidade e bem-estar

econômico geral, o que se refletiu inclusive em maiores salários reais e menores jornadas de trabalho.

Grande parte dessa prosperidade deveu-se á corrida imperialista1 promovida por esses países na África e na Ásia.

Nesse período “ A Alemanha e os Estados Unidos adquiriram a posição de poderes industriais de primeira linha(...) em outras partes, como, por exemplo na Áustria, Itália, Japão e Rússia, a industrialização desenvolveu-se a uma taxa (embora não, decerto, em termo absolutos) que não era menos notável.” 2

“Os salários reais ingleses, por pessoa ocupada, aumentaram de cerca de 50%.Isto criou um padrão de vida inteiramente novo para as massas.” 3

Nas asas desta prosperidade “ a economia havia deixado de ser a proliferação de interpretações do mundo que, ora nas mãos dos filósofos, de um corretor, de um revolucionário, pareciam iluminar o caminho pelo qual trilhava a sociedade. Ao invés disso, transformara-se num setor especial dos professores, cujas sondagens se assemelhavam mais ao estudo de minúncias do que às amplas pesquisas realizadas pelos primeiros economistas.” 4

Não desejava-se mais questionar as razões da prosperidade como fizeram os antigos, mas sim formular leis técnincas ou teorias gerais que enunciavam o funcionamento do sistema capitalista.

“Por isso , a prosperidade vitoriana deu origem a grande número de elucidadores, homens que examinavam o funcionamento do sistema em todos os detalhes, sem no entanto formular questões penetrantes quanto aos seus méritos básicos ou lançar dúvidas perturbadoras sobre seu destino. Nesse novo domínio dos professores, homens como Alfred Marshall, Stanley Jevons, Jonh Bates Clark, Leon Walras, Taussig, Menger-todo um grupo de economistas-tomaram a si a principal linha do pensamento econômico. Usas contribuições foram importantes, talvez mesmo vitais, mas na melhor das hipóteses eram simplesmente técnicas. Os lobos já não rondavam o mundo-havia apenas ovelhas obedientes, mesmo quando imaginárias.” 5

1 Consultar Apêndice Histórico pgs. xiii-xv.2 SCHUMPETER, Joseph A-História da Análise Econômica-p.19 3Idem 4HEILBRONER, Robert L.-Introdução á História da Idéias Econômicas-p. 154 5 Idem

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A importância do marginalismo “A Theory of Political Economy de Jevons foi publicada em 1871, e os Grundsätze de

Menger vieram a lume no mesmo ano; os Elements de Walras apareceram em 1874.”6 Dos escritos de Jevons, Menger e Walras um sistema de economia política, de

estruturas e conteúdo inovadores, pôde ser construído. Duas foram, segundo Dobb, as principais modificações que tal sistema trouxe àquilo

que à época definia-se como ciência econômica: 1. A utilidade, ou satisfação proporcionada pelo consumo ou uso das mercadorias

ganha, com esses autores, o centro da discussão sobre valor, preço e aparece como solução para o equilíbrio dos mercados. A alteração mencionada no excerto acima diz respeito a como o enfoque da teoria clássica (de Smith e Ricardo, entre outros), que está sobre os custo de produção, o trabalho, é substituído pela subjetividade explícita no conceito de utilidade.Para isso foi determinante o raciocínio marginal, a mais notória contribuição de Jevons, Menger e Walras.

2. No sistema destes autores, o mercado toma tal importância fundamental e vital, que surge como solução para todas as questões de ordem econômica.A esfera da troca é a perspectiva adotada. Neste ponto, a relação entre distribuição e troca é profundamente modificada. Em Ricardo e Marx a distribuição antecede a troca, sendo determinada pelas condições de produção.

Na nova análise, a distribuição resolve-se pela fixação de preços( de bens e fatores) do mercado. A “estrutura e intensidade da procura dos consumidores” passam a coordenar todos os processos. 7

Willian Stanley Jevons

Os cálculos de Prazer e dor Para Jevons, a economia deve-se ocupar de cálculos de prazer e dor. Estabelece então uma forma de quantificação da utilidade quando fala de seu “grau

final de utilidade”, que corresponde hoje à noção de utilidade marginal(Umg).É a partir do prazer adicional derivado do consumo de pequenas quantidades de dada mercadoria que se pode avaliar o quanto esta contribui para a satisfação do consumidor.

A troca se dá por meio da comparação da dor provocada pelo ato de desfazer-se do dinheiro com o prazer (utilidade) proporcionado pelo consumo.

A utilidade total é função da quantidade consumida. A partir de certa quantidade para a qual a satisfação fosse alcançada, a utilidade adicional passaria a decrescer.

Ao adquirir mercadorias, um indivíduo compara a razão Umg/preço de cada uma delas, da seguinte forma:

Supondo que temos duas mercadorias X eY .Quando Umx/Px > UMy/Py, deriva-se maior utilidade por unidade monetária que se abre mão, da mercadoria x.Portanto,dado que utilidade marginal é decrescente, esta será adquirida até que Umx/Px = UMy/Py.

Assim deixa-se de consumir o que proporciona menos utilidade (no caso y) para obter o que proporciona mais utilidade(x).

6Dobb, Teorias de valor e distribuição desde A.Smith-p.212 7Idem p.225

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“A natureza da riqueza e do valor é explicada pela consideração de quantidades infinitamente pequenas de prazer e de dor.”8

Jevons concebe o lucro como resultado das despesas e riscos em que incorrem os capitalistas para moverem a produção, sendo, além disso, fonte de formação do capital, que moverá nova produção.

Os salários ao oscilarem não afetam os lucros, pois cada um desses é determinado pela contribuição dada a produção por cada um daqueles que os recebem.

A abordagem de Jevons Jevons compara a metodologia que propõe à economia com a da mecânica estática.Esta

analogia é dita “profética” por Dobb9, pois a análise econômica passou (depois de Jevons) a preocupar-se com situações de equilíbrio em condições de concorrência.”O que está evidenciado na moderna teoria econômica.

Nesta, as relações sociais que regem a vida daqueles que atuam nos mercados é dissolvida pela concepção “atomística” de tais autores, que faz dos seres humanos agentes econômicos desprovidos de quaisquer motivos senão o da maximização da utilidade extraída do consumo.O uso intenso de matemática possibilitou “ uma maior precisão e rigor de análise.” 10

Carl Menger

A utilidade em Menger

Menger repudiava a formulação matemática dos raciocínios econômicos.Procurou outras formas de expressar seu pensamento, como a argumentação precisa, e até mesmo tabelas numéricas, com as quais ilustrou seu princípio da utilidade marginal.

Através da tabelas numéricas , Menger coloca que a quantidade de mercadoria que cada indivíduo consome é determinada pelo grau de utilidade marginal que ele é capaz de extrair dela.

Uma decisão ótima de quanto e o que consumir é aquela para a qual todos os bens proporcionam a mesma utilidade marginal aos consumidores.

“O princípio fundamental da utilidade marginal era de sua própria autoria[de Menger]-subjetivamente- embora Jevons tenha, sem dúvida, a prioridade na redescoberta.”11

Oferta e demanda A oferta e a demanda são reguladas pela utilidade marginal A procura é dada pela relação entre utilidade marginal e preço.De tal forma que,

mantendo fixa a utilidade marginal para cada uma das mercadorias, conforme o preço aumenta, a relação UMg/P cai, o que reduz a procura.

Assim a quantidade procurada está inversamente relacionada com o preço.

8Dobb, Teorias de valor e distribuição desde A.Smith p.282 9Idem p. 219 10Idem p. 224 11 SCHUMPETER, J. A.- História da Análise Econômica pg.100

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A oferta é determinada pela comparação da utilidade marginal do dinheiro obtido pelo vendedor com a utilidade marginal da mercadoria de que se abre mão.

Um consumidor compra um bem até que a razão UMg/P deste se equipare à razão UMg/P de todos os demais bens disponíveis.

Para Menger, o valor dos fatores de produção(máquinas, edifícios,etc.) era determinado pelos bens de consumo que são necessários à sua produção.

Ele propõe então uma inversão do preceito da teoria do valor-trabalho, que postula que os fatores de produção (essencialmente trabalho incorporado) são os determinantes de todos os valores das mercadorias.

Com isso, tal autor nos diz que o valor dos insumos é dado por sua contribuição no processo produtivo. Ou seja, o preço final dos bens corresponderia à soma dos preços de cada insumo.

Sendo o capital e a terra insumos, não seria formado excedente depois que se deduzisse o montante necessário para repor os custos de produção da receita.

Assim os lucros e rendas são conseqüências necessárias do processo de produção, assim como as remunerações de fatores produtivos.

Leon Walras

A contribuição de Walras De início é mister atentarmos á seguinte afirmação de Schumpeter:

“… no que respeita à economia pura , Walras é, na minha opinião, o maior de todos os economistas.Seu sistema de equilíbrio econômico, unindo a qualidade de sua criação revolucionária com a qualidade de sua síntese clássica, é a única obra de um economista que pode ser comparada com as realizações da física teórica.Em comparação com a sua obra, a maioria dos trabalhos teóricos do período, e fora dele, apesar de seu valor próprio e não obstante quão originais possam ser subjetivamente, assemelha-se a uma série de botes ao lado de um transatlântico, ou tentativas inadequadas de atingir algum aspecto particular da verdade walrasiana.

A obra de Walras é o marco principal no caminho seguido pela economia rumo ao status de uma ciência exata e, embora hoje obsoleta, constitui o alicerce de boa parte do melhor trabalho teórico contemporâneo.”12

Dobb nos diz que:“A síntese dos vários aspectos da nova abordagem de um sistema matemático de dependência mútua é seguramente a sua mais importante contribuição-mais do que novidade de ênfase ou de exposição.” 13

A teoria do equilíbrio econômico geral Walras coloca que: “(...) a oferta não passa de uma conseqüência da demanda.” 14

Com isto quer dizer que, um indivíduo só abre mão do que possui, oferecendo-o no mercado, por que deseja obter o que não possui.

Partindo disso, Walras explica a troca como uma relação entre oferta e demanda.Estas forças são faces da mesma moeda, pois uma implica outra.

12SCHUMPETER, J. A. (1954)- História da Análise Econômica pg.10013Dobb, Teorias de valor e distribuição desde A.Smith p.225 14Feijó , Ricardo- História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert Lucas.pg. 348

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É deste princípio que deriva o equilíbrio dos mercados, ou seja da interação entre oferta e demanda, como definidas acima15.

É importante frisar que o equilíbrio ocorre no agregado, ou seja, na soma de todas as forças de oferta e demanda.

Isto pois o desequilíbrio de um mercado significa desequilíbrio em outro mercado, da mesma magnitude.Por exemplo, sempre que em um mercado houver excesso de demanda, terá de ocorrer excesso de oferta em outro mercado qualquer.

A teoria de Walras visa descrever as relações entre os mercados, no que diz respeito ao equilíbrio de cada um deles.

Cada mercado individual é regido pela oferta e procura do bem que o caracteriza. A influência dos demais mercados em cada um deles é dada pelo fato de que a demanda depende não somente da razão entre utilidade marginal(a qual Walras chamou rareté) e preço deste bem, mas da comparação desta razão com todas as razões dos demais bens.

Assim, a procura de cada bem, em cada um dos mercados é função dos preços dos demais bens, nos demais mercados.Como é exatamente a interação desta procura com a oferta que determina os preços , todos os preços devem ser determinados simultaneamente.A lei de Walras estabelece um princípio para que isto se dê.

A teoria de Walras toma como base três fatores institucionais : 1. A propriedade privada ,como estabelecida e distribuída no capitalismo, era aceita

como justa e invariável. 2. A concorrência perfeita na qual cada firma é pequena e incapaz de influenciar o

mercado é a relação dominante no sistema walrasiano. 3. As escolhas dos agentes são determinadas racionalmente por seus “desejos

subjetivos” ou tabelas de utilidades marginais.No horizonte sob análise, estas tabelas se manteriam fixas.

O leiloeiro walrasiano

Walras propôs que os preços são anunciados por um leiloeiro, antes de darem-se as transações.

Quando este preços não correspondessem àqueles capazes de maximizar as utilidades de ambos os lados de cada um dos mercados, este entrariam em desequilíbrio. Ou seja a quantidade demandada diferiria daquela ofertada.

Numa tentativa de reverter o desequilíbrio, novos preços seriam então estabelecidos. Caso o desequilíbrio se manifestasse de novo, seriam dados novos preços, e assim

sucessivamente, num processo de “tateamento” o equilíbrio poderia ser alcançado. O leiloeiro então coordena as intenções de oferta e procura, de acordo com os preços

dados ao acaso. Nos mercados em que houver excesso de oferta ou demanda, nas próximas tentativas de

transação(tentativas pois Walras coloca que as trocas verdadeiras só ocorrem quando os mercados estão em equlíbrio), os preços anunciados pelo leiloeiro serão maiores ou menores, até que em todos os mercados se equilibre a intensidade destas forças.É um processo de tentativa e erro.

15 A Lei de Walras é explanada no item 16 do Apêndice Diagramático.

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BibliografiaBLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989 FEIJÓ, R. História do pensamento econômico: de Lao tse a Robert Lucas.São Paulo : Atlas, 2001HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 MILL, J. S.Principios de economia política :com algumas de suas aplicações à filosofia social.São Paulo: Abril Cultural, 1983 SCHUMPETER, J. A. História da Análise Econômica.Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1954.

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Alfred Marshall

A obra Principles of economy

Importância e projeção da obra Temos em Principles of economy a obra-prima de Marshall. Trata-se de um sistema

teórico completo, coeso, no qual cada uma das partes guarda uma ligação lógica com o todo, atribuindo-lhe sentido.

Nela podemos encontrar grande parte das soluções que o autor elaborou para problemas tanto teóricos- colocados por autores que o precederam- como para problemas práticos, que tomavam lugar na época em que escrevia.

Marshall buscou, com seu livro, apresentar a economia como uma ciência, fazendo-a teoricamente rigorosa. Para isso utilizou uma linguagem clara e precisa, mas nem por isso enfadonha ou excessivamente complexa.

Uma das virtudes da obra é exatamente a didática com que os raciocínios são apresentados, o que se deve ao desejo do autor de tornar a ciência econômica atrativa e interessante aos olhos da sociedade.

As leis econômicas e o papel do economista As principais idéias que formam as bases do raciocínio econômico, e derivam da

observação dos fatos do mundo real, são chamadas por Marshall de leis econômicas. “Leis econômicas, ou postulados de tendências econômicas, são leis sociais que se

referem aos ramos da conduta, na qual a força dos motivos mais em jogo pode ser medida por um preço em dinheiro”

“(...)uma Lei social, é uma apresentação de tendências sociais, isto é, uma indicação de que se pode esperar um certo curso de ação, de parte de membros de um grupo social, sob certas condições.”1

“A ciência econômica não é senão o esforço do senso comum ajudado pelos procedimentos organizados da análise e do raciocínio abstrato; graças a eles, chega-se mais facilmente a reunir, a dispor os fatos particulares e deles tirar as conseqüências.” 2

“(...) toda a concepção de Marshall da natureza da transformação econômica está marcada por o que pode ser chamado de abordagem biológica. Para ele, o desenvolvimento econômico não pode ser nunca interpretado em termos de uma mera expansão mecânica ou movimento dinâmico; é essencialmente um processo de “crescimento orgânico”, e os métodos científicos devem ser adaptados corretamente3.”

Logo no início do livro, são colocados quais devem ser os objetivos e metas que os economistas têm de buscar alcançar.Marshall acreditava que o economista deveria se preocupar com o bem-estar social, ocupando-se de questões como a pobreza, a exclusão

1 MARSHALL, Alfred- Princípios de economia- Livro I,Cap 3 2Idem, Livro I cap 4 3SPENGLER& ALLEN - El pensamiento económico de Aristóteles a Marshall : artigo de G.F.Shove

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social, a distribuição de renda, e ainda, com os motivos e razões que levam os homens a negociarem e interagirem comercialmente.

O indivíduo, o agente econômico, não aparece em Marshall como um elemento disperso, independente, mas sim como parte de um todo, o todo social.

A teoria da utilidade4

Marshall coloca que deve ser elucidado primeiramente como os agentes conjugam suas necessidades com as possibilidades de satisfação, ao tomarem suas decisões de consumo, para que depois se trate da oferta e da procura.

Com isto posto, devemos então nos voltar, de início, para a teoria da utilidade, que nos diz como os agentes fazem seus cálculos de dor e prazer.

Para obter uma teoria da utilidade coerente e rigorosa, Marshall teve de resolver três questões que se colocaram a Jevons, Menger e Walras, abalando a concepção de utilidade que consagraram.

Tais questões são as que seguem: 1. A utilidade pode ser medida? 2. A utilidade que indivíduos diferentes derivam do consumo de um mesmo bem ou

serviço pode ser comparada? 3. A utilidade extraída de um bem independe do consumo de outros bens?

[1] Em relação à primeira questão, Marshall afirmava que o dinheiro de que se abre mão para obter um bem ou serviço, ou para evitar um mal ou dano, seria uma medida adequada do prazer que se pode retirar do bem ou serviço, ou da dor infligida pelo dano.

Este autor então acreditava que a utilidade pode ser medida, mas somente de forma indireta.Isto é, os prazeres ou dores não se comparam diretamente, mas através da intensidade com que os homens buscam deles desfrutar, ou se afastar. “ O dinheiro permite medir de forma razoável as forças motrizes de uma grande parte das motivações pelas quais as vidas humanas são conduzidas.”5

Com isso posto podemos dizer que na análise de Marshall, a utilidade é cardinal, isto é, ele usa o valor da utilidade como parâmetro.

Contrariamente, a moderna teoria microeconômica leva em conta a ordinalidade da utilidade, ou seja, a ordem em que as utilidades extraídas dos bens podem ser dispostas, de acordo com a estrutura de preferência que o consumidor revela ao escolher entre todos os bens disponíveis.

Isto que dizer que, para traçar o comportamento dos consumidores, basta apenas saber se a utilidade obtida no consumo de determinado bem é maior ou menor do que aquela obtida para outro bem.

Leva-se em conta apenas a relação de tamanho, ou ordem, entre as utilidades extraídas, e não seu valor absoluto. Esta abordagem moderna é grandemente inspirada nos trabalhos de Edgeworth.

[2]Para a segunda questão, a resposta de Marshall, é: o prazer e a dor obtidos atingem intensidades diferentes para indivíduos diferentes, e também variam para o mesmo

4 No item 17 do Apêndice Diagramático temos um diagrama que descreve a estrutura do mercado de acordo com a teoria da utilidade.5 Blaug, Mark- Historia do pensamento econômico.pg138

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indivíduo ao longo do tempo.Logo as utilidades extraídas dos bens só podem ser comparadas para o mesmo indivíduo, em um intervalo de tempo fixo.

[3] Menger, Jevons e Walras utilizaram em seus trabalhos o conceito de funções de utilidade aditivas.Trata-se da concepção de que a utilidade total que um indivíduo pode obter, é dada pela soma das utilidades que extrai de cada um dos bens que consome, individualmente.

O ponto nevrálgico aí está no fato de que as utilidades extraídas de cada bem são funções somente da quantidade adquirida deste.Ou seja, a utilidade extraída de um bem independe de quanto se consome de outros bens.

Marshall adotou em sua obra as funções de utilidade aditiva, a partir das quais construiu a curva de demanda.

A demanda O princípio da utilidade marginal decrescente

A lei da demanda surge da relação entre utilidade extraída de uma unidade adicional de um bem e a utilidade extraída de uma unidade monetária, com a qual compra-se o bem.

Marshall deduz que a utilidade marginal obtida de um bem decresce conforme aumenta seu consumo, do princípio- que enuncia como fato-de que as necessidades dos seres humanas são saciáveis.

Por isso as curvas de demanda são negativamente inclinadas pois, com o consumo de unidades sucessivas, o preço que o consumidor está disposto a pagar diminui, já que ele retira menos utilidade de cada unidade adicional.

A demanda de mercado é construída a partir da soma das quantidades demandadas por cada um dos agentes, para cada preço dado.Como Marshall nos diz: “ O regulador último de toda a procura é, portanto, a procura dos consumidores.”6

Dedução da curva de demanda 1. Partimos da idéia de que o indivíduo distribui sua renda entre todos os bens que

consome, de forma a extrair o máximo de utilidade de cada um, obtendo, assim, utilidade total máxima.

2. Supondo que temos dois bens 1 e 2, cujas quantidades serão representadas por x1 e x2 , e cujos preços serão p1 e p2 .Sendo m o rendimento ou fluxo de renda, que se possui em determinado intervalo de tempo, m a utilidade da moeda, e ui = f(xi), i={1,2} a utilidade extraída do consumo de x unidades do bem i; teremos que, para extrair a utilidade máxima de cada um dos bens, duas condições têm de ser satisfeitas simultaneamente:

Manipulando-as, obtemos:

O que nos diz que a utilidade extraída do consumo de uma unidade adicional do bem 1, dividida pela soma de dinheiro que tem de se dar para obtê-la, deve ser igual à utilidade

6 MARSHALL, Alfred- Princípios de economia- Livro I, cap. III

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extraída de uma unidade adicional do bem 2, dividida por seu preço.Essa é a condição de equilíbrio marginal, para os bens 1 e 2.

3. Tendo tal condição em mente, se olharmos para somente uma das condições iniciais, por exemplo, a (i), teremos uma relação fixa entre utilidade marginal extraída do bem 1, o preço desta, e utilidade marginal do rendimento.Vejamos o que ela nos diz:

Simplesmente reescrevemos a relação, ressaltando o fato de que ela está fixa( em C), pois a condição (iii), que estabelece o equilíbrio entre o consumo do bem 1 e do bem 2, nos diz que a utilidade extraída destes bens é máxima, se e somente se (i) e (ii) valerem simultaneamente.

4. Se chamarmos du1/dx1 de Um1, dp1/dx1 de p1 e du/dm de Um, teremos:

Assim, podemos fazer a seguinte análise: Se p1 diminuir, Um1 deverá diminuir também, para que a igualdade continue válida. Isto se dará porque, assim que p1 diminui, o agente será estimulado a comprar mais de 1, o que, pela lei da utilidade decrescente, leva Um1 a cair. Assim, alterando um dos parâmetros Um1 ou p1, podemos construir uma curva de demanda negativamente inclinada, raciocinando da forma colocada.

5. Devemos ainda considerar outro movimento: Com a queda de p1, o poder de compra da moeda aumenta, o que leva a Um a cair, resultando, portanto, na compra de mais do bem 1, o que restabelece a igualdade.Isto só ocorre depois que as oscilações nas quantidades adquiridas, provocadas por uma mudança do preço, cessam. Este movimento nos revela que existe então uma relação positiva entre renda real(ou poder de compra) e demanda por bens.

Excedente do consumidor A magnitude em que o preço que o consumidor está disposto a pagar excede o preço

que ele efetivamente paga por certa quantidade de um bem, é chamado de excedente do consumidor. O excedente total do consumidor é a soma dos excedentes que este obtém para cada uma das quantidades.

“Esse excedente de satisfação mede-se economicamente pela diferença entre o preço que o comprador consentiria em pagar para não se privar da coisa e o preço que pagou na realidade.” 1

O lado da oferta

1Idem, cap.VI

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Os três fatores de produção A produção de bens é levada a cabo na presença de três fatores que Marshall chamou de

‘agentes de produção’. São eles, a terra, a o trabalho e o capital. A terra não é somente o solo que se cultiva, mas, além disso, representa a contribuição

das forças naturais à produção. O trabalho é o esforço humano, e o capital consiste em todos recursos, toda

capacitação(conhecimento), toda a capacidade de organização e direção, acumulados para servir ao processo produtivo.

“O capital e a organização são resultado do trabalho do homem ajudado pela natureza, e dirigido pelo seu poder de prever o porvir e sua vontade de fazer provisão para ele.”2

Marshall nos diz, assim como Ricardo e Mill, que o produto retirado da terra diminui conforme é aumentada a intensidade do cultivo, ou exploração. Ou seja, esse fator tem sua produtividade regulada pela chamada “lei dos rendimentos decrescentes”

O enunciado desta, em Marshall, aparece na seguinte forma: “Um aumento do capital e do trabalho aplicados no cultivo da terra causa em geral um aumento abaixo do proporcional no montante do produto obtido, a não ser que coincida com a melhoria nas artes da agricultura.” 3

Assim, diz-se que o fator terra apresenta rendimentos decrescentes, o que o autor estende para todos os fatores, como o trabalho e o capital.Isso o leva a concluir que tanto a produção agrícola, como a industrial podem apresentar rendimentos decrescentes.

A origem da oferta

A relação entre a desutilidade marginal do esforço produtivo e a utilidade marginal do dinheiro que se pode obter com o produto deste esforço, define o que chamamos de oferta.

A oferta, em Marshall, é, portanto, como a demanda, um ato que visa à satisfação de quem o promove.Ambas são tratadas como escolhas entre a utilidade que pode ser obtida contra a utilidade de que se abre mão para obtê-la.

A obtenção da maior utilidade, em todas as aplicações possíveis, é a força que orienta tanto o consumidor quanto o produtor(ou vendedor).

“(...) e assim, de qualquer ponto de vista, o homem é o centro do problema da produção como do de consumo; e também desse outro problema das relações entre os dois, que toma o nome de distribuição e troca.” 4

“ A oferta se baseia sobretudo na superação da repugnância de suportar incômodos.”5

Trata-se do ato de produzir, ou deixar de consumir algo que se possui, para oferecer-lhe no mercado, em troca de moeda.

Sempre que a utilidade extraída de uma unidade adicional de moeda for maior do que a desutilidade obtida com o esforço ou abstinência, o ato de ofertar será a melhor opção.

Custos e oferta

2 MARSHALL, Alfred- Princípios de economia- Livro IV, cap. I 3 Idem, Livro IV capIII 4 Idem, Livro V 5Idem

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Os custos na formação da curva de oferta É natural que nos coloquemos a seguinte pergunta: Como os produtores determinam

quais quantidades de seus produtos levarão ao mercado, e a quais preços? A resposta está nos custos de produção, que expressam a intensidade com que são

utilizados os três fatores. As despesas, ou custos de produção são “ os preços que devem ser pagos afim de provocar uma oferta suficiente dos necessários esforços ou esperas para a produção da mercadoria, ou, em outras palavras, o preço de oferta da mercadoria produzida.”6

O preço de oferta surge então como a soma de todos os custos de produção em que se incorre para levar ao mercado o produto. Assim, os produtores tomam a decisão de quanto levar e a que preços, observando quanto têm de gastar para produzir, confrontando os gastos totais com os recursos que dispõem para isso.E visando, dessa forma, obter uma utilidade marginal na moeda que recebem, maior do que a da moeda que abrem mão para mover a produção.

Marshall desenhou então a curva de oferta, levando em conta os custos de produção, como colocada abaixo:

A curva s1(inferior) representa quanto podemos obter do insumo 1, pagando determinado preço por ele. Ou seja, nos dá o seu preço de oferta.

Se, por exemplo, queremos produzir Q unidades de mercadoria, teremos de gastar, para isso, p1unidades monetárias com o insumo 1.Mas, além de comprar o insumo, incorremos em outras despesas, quais sejam: despesas com a deterioração das máquinas, representadas por p1p2; aluguel das instalações, dado por p2p3; e, gastos salariais, de p3P.

A curva S nos dá, então, o preço final do produto, como soma de seus custos de produção.É o que chamamos de curva de oferta.

A curva s3, por exemplo, nos dá, então, o valor total dos gastos com insumo, depreciação e aluguel, que temos de incorrer para produzir cada quantidade de mercadoria.

Economias internas e externas

6 Livro V cap IX

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As economias ou reduções de custos produtivos provocadas pelo aumento da escala de produção (volume) que dependem do desenvolvimento geral da indústria ( ou setor produtivo agregado) foram chamadas de economias externas, por Marshall.

Já aquelas que dependem “ dos recursos( próprios) das empresas que se empenham na produção, individualmente, quanto à organização e produtividade de sua gerência.” 7, levam o nome de economias internas.

Um exemplo das primeiras são as economias causadas pela localização próxima de muitas indústrias, o que reduz, por exemplo,o custo de substituição.Neste caso, “ alguma empresa está a prestar um serviço a outras empresas, sem que receba para isso.” 8

Os mercados

Estrutura dos mercados

Marshall analisa os mercados, individualmente, como composições de duas forças: A oferta e a demanda. Demonstra então como essas se equilibram, de modo a estabelecer os preços e quantidades ótimas. Para isso utiliza a análise parcial, na qual somente um dos parâmetros é alterado(por exemplo, o preço) enquanto todos os outros são mantidos constantes.

A relação entre procura e oferta é definida por Marshall como “ o mais simples balanço de forças.” A interação entre tais forças tem como resultado a formação do valor, ou preço, que regula a atividade econômica.

Por isso devemos estudar como os mercados se estruturam. Eles não são exatamente um lugar em que mercadorias são vendidas ou compradas, mas representam basicamente as transações em si, expressando a interação entre oferta e demanda.Os mercados definem-se, portanto, tanto no tempo, como no espaço.

As transações que tomam lugar nos mercados dão-se entre os vendedores, que se dispõem a vender certa quantidade de um bem por um preço, e entre os compradores, que, do outro lado, se dispõem a adquirir, por certos preços, determinadas quantidades.

É uma negociação na qual os compradores tentam pagar os menores preços para cada dada quantidade, enquanto os vendedores, tentam fazer valer os maiores preços.

Os interesses de cada um desses lados entram em choque, levando os preços a oscilar em torno de um preço médio, que Marshall chamou de preço de equilíbrio.

Equilíbrio e formação de preços

O equilíbrio dos mercados é dito estável, se as forças que nele atuam sempre tenderem a equiparar-se.

Vejamos como isso se dá. No gráfico 1 abaixo, os produtores/vendedores recebem por determinada quantidade, um preço(Pd) maior do que o custo total (dado preço de oferta Ps).Assim sendo, passarão a oferecer uma quantidade maior, pelo mesmo

7Livro V 8Blaug, Mark- Historia do pensamento econômico-pg.121

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preço, até que não possam mais aumentar sua receita.Isso se dá quando a quantidade produzida se iguala à quantidade de equilíbrio(gráfico 3).

Se o preço que os vendedores recebem(Pd) é menor do que o custo total(Ps)(gráfico 2), oferecerão cada vez menos, de forma a tornar sua receita igual aos custos totais. Isso ocorre quando sua produção é a de equilíbrio(gráfico 3)

Quando o preço de procura se iguala ao preço de oferta, num ponto em que a quantidade que se deseja vender é a mesma que se deseja comprar, a transação acontece. Diz-se então que o equilíbrio foi atingido(gráfico 3).

Marshall coloca que, assim como são as duas lâminas da tesoura que cortam o papel, tanto o custo de produção, do lado da oferta, como a utilidade que se retira de um bem (do lado da procura), conjugam-se para determinar o preço de mercado.

A este respeito, o autor observa que, no longo prazo é a oferta que determina os preços, e no curto prazo a demanda.

“Podemos assim concluir que, em regra geral, quanto mais curto o período que consideramos, maior a quota de atenção que devemos dar à influência da procura no valor; e quanto maior o período, mais importante será a influência sobre ele do custo de produção.”9

Curto e longo prazo “Quando ele (Marshall) fazia a distinção entre períodos longos e curtos, não estava

usando o tempo do relógio como critério, mas o tempo “operacional”, em termos das forças econômicas em ação(...) tempo operacional então, é um lapso hipotético de tempo criado pela mente dos economistas(independente do tempo do calendário ou do relógio) em que uma situação hipotética( na qual as forças econômicas estão em funcionamento) é analisado.”10

O curto prazo é o período no qual a capacidade produtiva não pôde se ajustar, corretamente, à intensidade da procura.

Tem-se, dessa forma, uma estrutura produtiva que não corresponde exatamente à capacidade de assimilação da demanda. Para que os produtores não percam a oportunidade de obter ganhos mínimos, adaptam sua oferta às condições da demanda, modificando seus preços.

9Idem Livro V,cap 3 10On the notion of short and long run-Hamouda

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“ De um lado não há materialmente tempo para se adaptar inteiramente à procura, e assim os produtores têm que ajustar a sua oferta à procura, da melhor maneira possível, com o aparelhamento já a disposição.” 11

Já no longo prazo a capacidade produtiva, as instalações fabris e sua produtividade podem ser alteradas para que se tenha uma produção correspondente à demanda.

É o período em que a capacidade produtiva é flexível o bastante para ajustar-se perfeitamente à capacidade de assimilação da demanda, sem que esse ajuste seja induzido por flutuações de preços.

“ Em longos períodos, por outro lado, todas as aplicações de capital e de esforço no preparo da instalação material e da organização da empresa, e na aquisição de conhecimentos e de habilidade especializado para o negócio, têm tempo para se ajustar às receitas que se espera retirar delas. E a avaliação destas receitas governa, pois, diretamente, a oferta, e é o verdadeiro preço de oferta de longo período para as mercadorias produzidas.” 12

Bibliografia

MARSHALL, A. Princípios de Economia. São Paulo: Abril Cultural, 1983 SHOVE, G.F In SPENGLER, J. J.El pensamiento económico de Aristóteles a Marshall:Ensayos. BLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989

 

11MARSHALL, Alfred- Princípios de economia- Livro V, cap 6 12Idem

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John Maynard Keynes

A euforia econômica do início do século XX nos EUA

Ao longo de todo início do século XX, até 1929, os EUA cresceram vertiginosamente, aumentando sua capacidade produtiva e o produto nacional consideravelmente. Vejamos alguns dados:

“ A população americana cresceu de 76 milhões em 1960 para 121 milhões, enquanto a expectativa de vida ao nascer foi aumentada em 10 anos(...) foram construídas duas cidades com capacidade para abrigar 1 milhão de pessoas, cinco cidades para 500 mil pessoas.Para isso gastou-se 75 bilhões em casas, 9 bilhões em estrutura produtiva agrícola, e mais de 30 bilhões em equipamento industrial novo(...)Além disso, os empregados viram sua jornada de trabalho semanal média cair de 60 para 44 horas. O salário médio por hora cresceu de US$ 0,20 para US$ 0,56, enquanto que os preços dos bens de consumo ficaram suficientemente para trás, para permitir um aumento nos salários reais de 10 ou 20 %.”1

O ambiente era de grande otimismo econômico, e as operações financeiras, principalmente o mercado de ações, tornaram-se uma prática que se popularizou grandemente no período.

A filosofia do enriquecimento rápido ganhou as pessoas, que aderiram à especulação abandonando os negócios e a atividade produtiva.Basicamente, a atividade especulativa consiste na compra e venda de ações por valores artificiais, que se movimentam não de acordo com a lucratividade da empresa, mas sim com a euforia do mercado.

Como as ações não são nada mais do que o direito adquirido de participação nos lucros de uma empresa, muitos investidores criaram empresas fictícias(fantasma), e passaram a vender suas ações, que nada valiam, por altos preços.

"Por exemplo, a empresa Georgia Power & Light era controlada pela Seaboard Public Service Corporation, que era controlada pela Middle West Utilities, que era controlada pela Insull Utility Investiments, Inc., que era controlada pela companhia de seguros de Chicago(a qual era controlada, por sua vez, pela Insull utility investiments, que ela presumivelmente controlava).Dessas empresas, somente uma-Georgia Power- realmente produzia eletricidade.O resto produzia somente lucros e oportunidades especulativas.” 2

A especulação atingiu patamares incríveis.Era como se, para ficar rico, só bastasse tomar emprestado algum dinheiro, aplicá-lo no mercado de ações, e esperar.

Então a grande bolha especulativa foi violentamente estourada.Em 29/10 de 1929, num dia que ficou conhecido como a quinta-feira negra, “uma avalanche de vendas esmagou as transações”. Não havia ofertas de compra, todos queriam vender suas ações, pois não mais acreditavam em sua lucratividade.

1HEILBRONER, Robert L.-The Making of Economic Society-pg.1272Idem p.130

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“Algumas semanas depois, $30 milhões de ‘riqueza’ haviam sumido no ar.Milhões de pessoas que contavam seus papéis(ações) acreditando que estavam em uma boa situação descobriram estar verdadeiramente pobres.” 3

A crise abateu-se ferozmente por sobre a economia americana.O PIB caiu de US$ 104 bilhões em 1929 para US$ 56 bilhões em 1933.Em 1929 o número de desempregados era de 1,5 milhões. Em 1933 tinha aumentado 8 vezes, até que uma de quatro pessoas pertencentes à força de trabalho estava desempregada.

O desespero e a miséria generalizaram-se com a queda dos salários e a extrema dificuldade de arrumar emprego.

A grande depressão A especulação, por mais irracional e desmedida que fosse, não causaria por si só a

depressão que tomou não só a economia americana, mas o mundo, em 1929.Esta depressão foi um processo que pôde encontrar sua causa na estrutura desta economia, e mais ainda no movimento de expansão desta estrutura. Vejamos como isso se deu.

Se olharmos para o setor agrícola perceberemos que todo o crescimento econômico que precedeu os anos de 1930 não encontrou meios para se reproduzir aí.

Os fazendeiros tiveram, ao invés disso, sua qualidade de vida depreciada e perderam grande parte de seu poder econômico ao longo do início do século XX, com exceção do período da I guerra mundial, situação na qual a produção e receita do setor cresceu(voltando logo a cair quando os produtores europeus retomaram suas atividades).

O crescimento dos setores não-agrícolas, que era de grande proporção, estava limitado pela queda do poder aquisitivo dos trabalhadores agrícolas e seus empregadores, pois este último movimento significava redução da demanda por produtos do primeiro setor.

Havia então um descompasso entre o crescimento do poder de compra e a produção nacional.Mas a estrutura produtiva industrial em expansão também apresentava problemas.

O principal deles era causado pela introdução de novas tecnologias que aumentavam a produtividade de uma indústria, sem aumentar-pelo menos proporcionalmente-a demanda por seus produtos.

O resultado imediato de tais inovações era a substituição do homem pela máquina, o que acabava redundando em desemprego, já que a capacidade das outras indústrias para empregar não havia se alterado.

Assim, apesar do emprego estar crescendo em termos agregados, ele estava se reduzindo ou mesmo atingindo valores negativos, nos setores em que as tecnologias poupadoras de mão-de-obra eram introduzidas.

Mas como a economia estava em crescimento, a mão-de-obra liberada pelas indústrias logo era assimilada por outras. O importante é que existia uma tendência para o desemprego.

Além disso os ganhos do aumento de produtividade eram repassados em maior proporção aos capitalistas, na forma de lucros, do que aos trabalhadores.

Se juntarmos a perda do poder de compra dos fazendeiros com o crescimento não proporcional à produção dos salários reais, deduziremos que a maior proporção da

3Idem p.128

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renda estava sendo acumulada por aqueles que não se viam obrigados a gastá-la totalmente, de imediato.

O que acontecia, conforme a produção era aumentada, é que a renda concentrava-se, ficando retida até que surgisse, diante dos olhos dos capitalistas, uma possibilidade de aplicação satisfatoriamente lucrativa.

Assim percebemos que os investimentos se realizam somente quando o lucro que se espera obter com eles é suficientemente grande em magnitude e relativamente seguro, quanto ao risco que representa ao investidor.

Desse modo em um ambiente de grande incerteza e caos econômico, como aquele criado pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, o resultado só poderia ser uma contração do investimento.

Daí a depressão que se seguiu ao estouro da bolha especulativa. “Assim a grande depressão pode ser caracterizada essencialmente como um tremendo e duradouro colapso na taxa de formação do capital.”4

Esta explicação da crise, que Keynes definiu como sendo uma crise de demanda efetiva, é inspirada em grande medida na obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada por aquele autor em(1936). Este livro “chegava a uma conclusão surpreendente e desanimadora: não havia nenhum mecanismo de segurança!(..) A depressão, em outras palavras, podia não curar-se, e a economia ficaria indefinidamente parada, como um navio em meio à calmaria.” 5

A saída da crise

Para reverter o processo de depressão, o governo americano lançou um programa de políticas econômicas ao qual chamou “New Deal”.

Basicamente buscou-se fomentar o consumo, realizando obras públicas- e portanto não motivadas pelo lucro-que empregassem grande proporção da mão-de-obra, munindo-a de poder de compra. Era exatamente esta a política que Keynes recomendava em seu livro, que seria lançado posteriormente.

Em certos casos, o governo atuou controlando diretamente empresas e indústrias, impondo certas normas ou limites à suas atividades, e em muitos casos investiu recursos diretamente em sua recuperação.

A intervenção organizacional e regulatória foi a principal proposta levada a cabo pelo pacote do “New Deal”.Com isso construiu-se uma nova perspectiva do Estado, diametralmente oposta á que pregava o liberalismo econômico.

A II guerra mundial, e todos os gastos bélicos que demandou, fez-se em forte impulso para a recuperação da economia.

“Em 1945, nosso (dos EUA) produto nacional bruto tinha aumentado de 70% em termos reais em relação a 1939, e o desemprego reduziu-se a ponto de sumir.”6 Tais sucessos, resultantes do grande esforço de guerra, vieram a tornar o governo um importante agente econômico, aos olhos do público.

4HEILBRONER, Robert L.-The Making of Economic Society-pg.1375Idem6 HEILBRONER, Robert L.-The Making of Economic Society-p.149

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“O debate interior ao capitalismo não era mais se o governo deveria ou não tomar para si a responsabilidade de fazer funcionar o mercado; somente os meios apropriados eram questionados: qual a melhor forma de atingir-se aquele fim.” 7

O New Deal, apesar de render resultados positivos, não foi suficiente para colocar a economia americana no pleno emprego, e acabou se revertendo, durante a II Guerra, em exageros bélicos, que se fizeram em um apoio do qual a economia mais pôde se livrar.

Além disso o papel do governo, uma vez aumentado, tornou-se ameaçador para boa parte da iniciativa privada, que se viu obrigada a cooperar com sindicatos, remodelando sua tradicional lógica de atuação.

Tudo isso, e mais outros fatores, contribuíram para impedir o sucesso completo das políticas defendidas por Keynes.

A teoria de Keynes

Demanda efetiva: Conceito e importância na dinâmica capitalista8

Origens do conceito de demanda efetiva A discussão da demanda efetiva, em Keynes, foi inspirada em debates levados a cabo

por Malthus e Ricardo. O primeiro destes autores argumentava que a poupança excessiva poderia resultar na

destruição do motivo da produção. Se todos poupassem demasiadamente, o consumo seria portanto insuficiente para

assimilar a produção. Como solução à esta retenção generalizada de recursos, Malthus propôs o consumo improdutivo (gastos com bens de luxo) dos proprietários de terra.

Ricardo tomou tal raciocínio como inválido, uma vez que acreditava que a poupança era um fundo de investimento, que seria convertido, pelos capitalistas, em capacidade produtiva.

Em sua concepção a poupança e o investimento não poderiam ser separados.O argumento de Malthus, por não estar apoiado em uma análise rigorosa, fez-se em obscuridade teórica, só sendo retomado e então desenvolvido com sucesso por Keynes.

O princípio da demanda efetiva A demanda efetiva é a quantidade de produto para a qual a expectativa de demanda dos

produtores é igual em magnitude à demanda que estes encontram no mercado. É propriamente a demanda realizada, feita em renda. Vejamos como a demanda efetiva influencia a produção.

Numa sociedade agrícola cada produtor produz o máximo que sua capacidade produtiva lhe permitir. Levando sua produção ao mercado, ele a vende pelo preço que for estabelecido neste.

Já em uma sociedade industrial, a decisão de produção é tomada com base na demanda esperada. Os produtores ajustam a quantidade produzida de forma a fazê-la idêntica em magnitude à demanda que esperam encontrar.

7Idem 8 Esta seção traz uma síntese de parte do texto The economics of effective demand de Pasinetti, que pode ser encontrado no livro Growth and Income Distribution(1974).

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A margem de manobra é limitada pela capacidade instalada e, uma vez que a demanda efetiva excede esta, o ajuste passa a se dar pelos preços.

O importante aí é que, conforme muda a expectativa de demanda dos produtores, mudará a intensidade com que os recursos são empregados, isto é, o desemprego e a capacidade ociosa são resultados diretos do ajuste da produção à demanda efetiva, servindo ao propósito de maximização dos lucros capitalistas.

Determinação da demanda efetiva Seja De demanda efetiva. Existem dois tipos de agentes: os consumidores e os

produtores, assim: De C + I; Como a demanda efetiva é aquela que gera receita, então: Y De C + I (1). Precisamos determinar o comportamento de C e I. Segundo Keynes, o consumo é função da renda, ou seja, C= F(Y) (2), onde f’ propensão marginal ao consumo, e a seguinte condição é válida:

O investimento é determinado pela “lucratividade esperada de todos projetos de investimento possíveis” 9 e também pela taxa de juros.

Ou seja, os empresários escolhem o investimento mais lucrativo daqueles que se espera um lucro igual ou maior do que o juro que se pode obter do mercado financeiro.Assim, I=f(E,i) (3).

A taxa de juro é, por sua vez, uma função da preferência pela liquidez (demanda de moeda) e da quantidade de moeda em circulação (emitida pelo Banco Central).

Estas duas forças, nomeadamente demanda e oferta de moeda, determinarão a taxa de juros, tratando-se, portanto, de uma questão monetária.

Temos então que i=y(L,M0) (4), onde L demanda por moeda e M0oferta de moeda, fixada pelo Banco Central.

Com tudo isso, está determinada a relação que define a demanda efetiva, pois sabemos agora como as decisões de consumo e investimento são tomadas pelos indivíduos.

A produção (Y) é igual, em magnitude, à demanda efetiva, relação que está representada no gráfico abaixo pela reta identidade (s).

Tal gráfico representa o equilíbrio do mercado de bens. No eixo horizontal temos a renda, ou produção total, e no eixo vertical a demanda efetiva.

A reta s, como já foi dito, representa a oferta de bens. A reta C=f(Y), o consumo em função da renda, supondo que temos aí uma relação linear do tipo C= A +aY.Quando o consumo é somado ao investimento obtemos a demanda agregada.

9 Idem p.37

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Esta cruza s em A (s=De), ponto no qual a produção é de Y’. Sendo Y0 a produção para a qual toda a capacidade instalada é utilizada, inferimos da situação representada que o equilíbrio entre produção e demanda efetiva pode se dar sob um emprego menos do que pleno.

Deste modo, a diferença Y0-Y’ representa a magnitude da capacidade ociosa ou do desemprego. “Este é o tipo de desemprego (devido à insuficiência da demanda efetiva), que ficou conhecido atualmente como desemprego ‘Keynesiano’.” 10

Mas, se a reta De’ pudesse ser alcançada, a economia seria colocada em pleno emprego(ponto B).Como fazer isso? Vejamos, precisamos aumentar a demanda efetiva sem investir em capacidade produtiva, pois assim o nível máximo de produção seria expandido, para além de Y0.

A questão é então gerar o pleno emprego da capacidade que temos e não aumentá-la, por isso o investimento em bens de capital não é a solução. Já que a relação entre consumo e renda está fixa, sendo dada por uma reta, como colocado no gráfico, a demanda agregada não poderá ser aumentada pelo consumo, pois este é máximo para cada valor de renda.

Assim a resposta que buscamos não está nas variáveis C e I, de (2) e (3), respectivamente. A resposta está em uma variável não considerada até agora, os gastos governamentais. Se o governo gerasse gastos de magnitude suficiente, a demanda efetiva se moveria da curva De para a curva De’, com a qual se atinge a produção de pleno emprego Y0 .

Crises de demanda efetiva

Keynes propõe com a Teoria Geral um estudo das “flutuações nos níveis de produto e emprego.”11

Para isso ele parte da definição de demanda e oferta agregadas, focando a primeira e subdividindo-a em demanda por bens de consumo e demanda por bens de investimento.

A demanda por consumo é função da renda corrente e da taxa de juros, relação esta que podemos entender como estável.Mas o mesmo não pode ser dito da demanda por investimento, que é função do lucro esperado.

O termo ‘esperado’ aí indica o caráter incerto ou instável de tal variável, que por isso pode ser vista como responsável por certas perturbações que se manifestam na demanda agregada.

Tais perturbações decorrem da dificuldade de prever com precisão, primeiro como o mercado reagirá á produção que nele será lançada, e segundo quais serão as condições (salários, preço dos insumos, etc.) que o empreendedor enfrentará.

Como este último toma sua decisão de investimento estimando o lucro a ser auferido e comparando-o com o retorno que pode obter em aplicações financeiras(juros, por exemplo), tal decisão é diretamente influenciada tanto por “flutuações nas expectativas empresariais quanto ao lucro futuro”, como pelo “comportamento da taxa de juros” 12

10Idem pg.3911 Apresentação de Adroaldo Moura à Teoria Geral de Keynes in KEYNES, J. M.-A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda,Ed.Abril- pg.XIV

12 Idem pg.XV

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Daí advém as crises econômicas.A expectativa de lucro e a taxa de juros são calculadas de forma racional pelos capitalistas, e eles sabem que o investimento implica “iliquidez”, pois os recursos possuídos ficam engessados no empreendimento.

Por trás da decisão de investimento está, portanto, a escolha por ativos líquidos, como moeda e ativos “ de liquidez específica”, como um empreendimento.

Como a oferta agregada se determina pelo comportamento esperado do mercado e pelos preços dos fatores fixados pela produtividade marginal destes, temos então o sistema consolidado, pois já sabemos como se comportam os dois lados do mercado.

Agora podemos então perguntar:Como as crises se manifestam?A resposta depende da idéia de eficiência marginal do capital(EMgK), que nos diz quanto cada unidade de capital contribui para a formação dos lucros.

Keynes define a EmgK da seguinte forma: “ A relação entre a renda esperada de um bem de capital e seu preço de oferta ou custo de reposição, isto é, a relação entre a renda esperada de uma unidade adicional daquele tipo de capital e seu custo de produção dá-nos a eficiência marginal do capital desse tipo.Mais precisamente defino a eficiência marginal do capital como sendo a taxa de desconto que tornaria o valor presente do fluxo de anuidades das rendas esperadas desse capital, durante toda a sua existência, exatamente igual ao seu preço de oferta.Isto nos dá as eficiências marginais dos diferentes tipos de bens de capital. A mais alta destas eficiências marginais pode, então, ser considerada como a eficiência marginal do capital em geral.” 13

Quando o capitalista recebe sinais de que a EMgK cairá, ele age de forma a minimizar o impacto negativo de tal queda sobre seu patrimônio. Isto muitas vezes significa redução da capacidade instalada e demissão de funcionários, o que repercute em queda da renda e da demanda. Este fenômeno se difunde por outros setores produtivos, e é como se a previsão do capitalista se auto-realizasse.

O capitalista se protegeu liquidando seus ativos, transformando-os em moeda. Esse comportamento, motivado por aquilo que Keynes chamou preferência pela liquidez, demonstra que o interesse individual é muitas vezes inconciliável com o bem-estar social.

Isto pois ao primeiro sinal de perda de lucro, o capitalista reduz sua capacidade, dispensando fatores, inclusive a mão-de-obra, o que redunda em desemprego.

Para reverter o processo da redução sucessiva da demanda efetiva e, portanto, a recessão, Keynes colocou que o Estado deveria atuar capturando o excesso de reservas imobilizadas (poupança, moeda retida) e revertendo-o em gastos produtivos capazes de estimular a demanda efetiva (esse mecanismo foi explicado acima).

Para isso o governo deveria entrar em déficit orçamentário e vender títulos de sua dívida.Aí temos uma saída para a crise de insuficiência de demanda efetiva, como proposta por Keynes.

É importante retomar a idéia registrada acima, para que fique claro que em Keynes está aberta a possibilidade de desemprego involuntário, o que contradiz a ortodoxia.

Ele fundamenta essa possibilidade apresentando como fato que os contratos não refletem as modificações do mercado de trabalho, sendo por demais rígidos e duradouros; e além disso o nível de emprego é determinado pela demanda efetiva, que está sujeita às flutuações discutidas.

13Idem p.101

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O legado de Keynes Keynes reabilitou o Estado a atuar como “agente” econômico, o que a ortodoxia tanto

repudiava.O papel que atribuía a este, determinante para a reversão de uma recessão, passou a ser grandemente considerado no período pós-crise de 1929.

A grande contribuição de Keynes para a ciência econômica, segundo Pasinetti14, foi o princípio da demanda efetiva. Mas a forma como expôs tal descoberta, através de uma análise precisa e inovadora, foi o que tornou Keynes um autor consagrado.

Este autor buscou sempre deixar claro quais variáveis deveriam ser observadas, ou seja, soube selecionar entre todas as inter-relações dos parâmetros econômicos, aquelas capazes de representar melhor como o sistema se move. Tal focalização atribui precisão ao raciocínio de Keynes.

A crítica de Keynes à teoria econômica neoclássica(ortodoxa) de Marshall consistiu em raciocínios que puderam mostrar que, contrariamente ao que esse autor colocava, o comportamento individualista pode gerar resultados negativos para a sociedade.

Ou seja, o mecanismo da mão-invisível nem sempre encontra meios de funcionar, de acordo com a lógica de Keynes. Isto acaba trazendo à tona a observação de que “ O sistema capitalista tem um caráter intrinsecamente instável” 15.

Temos aí, portanto, a contestação do princípio de que as forças de mercado tendem, em sua interação, ao equilíbrio.

BibliografiaHEILBRONER, R. L.Introdução à História das Idéias Econômicas:Grandes economistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1965 HEILBRONER, R. L.The Making of Economic Society.Rio de Janeiro: Zahar, 1964 HUNT, E. K.História do Pensamento Econômico.Rio de Janeiro : Campus, 1987 KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Abril Cultural, 1983PASINETTI, L. Growth and Income Distribution. London, New York: Cambrigde University Press, 1974. Cap.II.

14PASINETTI, L. -Growth and Income Distribution , p.4115KEYNES, J. M.-A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (Ed.Abril) Apresentação p.XIII

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Parte III Coletânea de exercícios

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Mercantilistas e fisiocratas

1) Qual o conceito de riqueza, segundo os mercantilistas? E para os fisiocratas?

2) Segundo o contexto mercantilista, qual é a relação entre o comércio exterior e a oferta interna da moeda?

3) Descreva o “Tabelau Economique” de Quesnay, identificando seus propostos e sua função.Qual o esquema proposto por ele na circulação da riqueza? Qual a razão apontada pelo autor de que somente a agricultura produz riqueza, sendo as outras atividades consideradas “estéreis”?

4)

A moeda é fonte de riqueza

Toda riqueza existente forma uma reserva fixa, estanque.

A partir destes dois axiomas, deduza utilizando a doutrina mercantilista, como uma nação gera riqueza, praticando as seguintes políticas:

a)Protecionismo

b)Monopólio

5) Através da leitura e interpretação do Quadro Econômico dos fisiocratas, descreva como se dá a repartição do produto pelas três classes sociais, seguindo o roteiro:

6) Apresente as definições mercantilista e fisiocrática para o conceito de excedente, discutindo as questões:

a)Qual é a origem do excedente?

b) Como o excedente é obtido?

c) Quem manipula o excedente?

d) Como o excedente gera mais excedente, estimulando a produção?

7) Os fisiocratas foram os primeiros a formular uma teoria coerente sobre o sistema capitalista de produção.Quais foram as três maiores contribuições desta doutrina?

Adam Smith

Parte A

A.1) Por que a divisão do trabalho estava, para Smith, na base da prosperidade e opulência de uma nação?(Explique)

A.2) Smith afirma: “Em toda sociedade desenvolvida, o agricultor é apenas agricultor, e o operário somente isso.”Por outro lado diz que também o trabalho que é necessário para fabricar um produto completo quase sempre é dividido entre grande número de

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operários”( um exemplo que ele dá disso é a fábrica de alfinetes).Existe alguma diferença no tipo do trabalho que se dá nos dois casos?(justificar a resposta)

A.3) Como devemos entender a afirmação de Smith que a divisão do trabalho é consequência da propensão à trocar?

A.4) Por que a extensão da divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado?

A.5) Explique o conceito de divisão do trabalho para Adam Smith, mostre seu limite e a sua importância para a questão do crescimento econômico.

A.6) Por que para Smith a existência de um estoque tem de anteceder a ampla divisão de trabalho? E como o aumento do estoque estimula um aumento na divisão do trabalho?

A.7) Em relação à ação individual Adam Smith diz: “Em geral, na realidade, ele [o indivíduo] não tenciona promover o interesse público e nem sabe em que medida o está promovendo (...) perseguindo o seu próprio auto-interesse o indivíduo freqüentemente promove o interesse da sociedade de um modo mais eficaz do que quando realmente tenciona fazê-lo.”(A Riqueza das Nações)Enumere alguns casos onde “este plano não planejado” aparece na obra de Smith.

A.8) Como, de acordo com Smith, o comportamento egoísta acaba por promover a prosperidade social? Busque em sua resposta explicar o mecanismo de funcionamento do mercado.

A.9) A partir do axioma central da Riqueza das Nações,qual seja o homem tem uma propensão natural à troca; deduza:

a) A origem da divisão do trabalho

b) A forma pela qual a divisão do trabalho expande a riqueza das nações

A.10) Com a seguinte passagem em mente:

“Nessa situação( estágio mais primitivo da civilização), todo o produto do trabalho pertence ao trabalhador; e a quantidade de trabalho normalmente empregada em adquirir ou produzir uma mercadoria é a única circunstância capaz de regular ou determinar a quantidade de trabalho que ela normalmente deve comprar, comandar ou pela qual deve ser trocada.”

(A Riqueza das Nações pg.77)

Discuta:

a)Como Smith explica a proporções pelas quais são trocados os bens

b)O significado do paradoxo da água e do diamante

c)Como a relação existente entre trabalho incorporado e trabalho comandado

se modifica na transição do estágio mais primitivo para aquele em que capital e terra tornam-se propriedades privadas.

Parte B

B.1) Por que para Adam Smith a dinâmica populacional é um indicador do ritmo de crescimento da economia?

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B.2) Comente a seguinte afirmação: “Supondo que a economia tenha 2 atividades( aA e B) e que o salário pago na atividade A seja igual a US$1000 e na atividade B seja igual a US$1500.Podemos afirmar, com base na teoria de Adam Smith, que os trabalhadores empregados na atividade B se encontram em uma situação melhor do que os trabalhadores empregados na atividade A. Sendo assim, os trabalhadores de A se retirarão deste emprego e ofertarão o seu trabalho para a atividade B.Este processo seguirá até que os salários pagos nas duas atividades se igualem.”

B.3) Adam Smith diz que os salários naturais tendem a ser mais elevados em um país onde está ocorrendo acumulação de capital do que naqueles em que a economia estagnada ou declinante.Sabemos também que um dos componentes do preço natural das mercadorias é a taxa natural de salário. Sendo assim, teremos necessariamente uma elevação dos preços das mercadorias deste país e uma conseqüente perda de competitividade no mercado externo?

B.4) Por que a discussão sobre trabalho produtivo e trabalho improdutivo é importante para Smith?

B.5) Para Smith uma economia em que ano após ano, os lucros e a renda da terra são integralmente gastos no sustento de trabalhadores improdutivos, estará crescendo, estagnada ou declinando? Justifique.

B.6) O que diferencia o trabalho produtivo do trabalho improdutivo? A produção de um bolo seria um trabalho produtivo ou improdutivo?

B.7) Vocês acham que, para Smith, todo trabalho improdutivo deveria ser eliminado? Pessoas que se ocupam destas atividades merecem, segundo ele, receber uma remuneração?(Justifique)

B.8) Por que a questão do trabalho produtivo vs improdutivo é fundamental para Smith?

B.9) Por que Adam Smith considera aquele que poupa (ou é parcimonioso) um benfeitor?

B.10) Existe algum vestígio nestes capítulos( Livro II(caps 2 e 3))do otimismo que Smith apresenta em relação à natureza do homem e do sistema, nos capítulos anteriores?

B.11) Com base em sua leitura da obra “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith estabeleça um sistema de relações causa-conseqüência, que permita deduzir como uma nação desenvolve-se economicamente, de acordo com os pressupostos gerais estabelecidos pelo autor. Utilize para isso, as seguintes palavras-chave:

1. Riqueza

2. Produção

3. Capital

4. Investimento

5. Trabalho produtivo e improdutivo

6. Prosperidade

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Parte C

C.1) O que regula as taxas pelas quais os bens se trocam em um estado rude e primitivo(onde não existe capital e nem apropriação privada da terra) ? Qual é a relação entre trabalho que uma mercadoria comanda e o trabalho necessário para produzí-la? Explique.

C.2) Em que categorias o estoque da sociedade se divide?(explicar cada uma)

C.3) A natureza do lucro seria a mesma para Smith e para os fisiocratas, isto é, um pagamento pelo trabalho do empresário?Explique.

C.4) O que muda quando a produção se á com a ajuda do capital e posteriormente com a apropriação privada da terra? Como será a composição do preço da mercadoria? C.5)

Como fica neste caso a relação entre trabalho comandado e necessário para a produção da mercadoria?

C.6) O que é o preço natural de uma mercadoria para Adam Smith?

C.7) O que é e o que determina o preço de mercado?

C.8) Por qual mecanismo o preço de mercado é levado a gravitar em trono do preço natural?

C.9) Que fatores podem impedir que o preço de mercado tenda ao preço natural?

C.10) Em que sentido podemos dizer que este mecanismo funciona em benefício dos indivíduos da sociedade?

C.11) O que é preço natural? E preço de mercado? Mostre a relação entre ambos, utilizando os conceitos e equilíbrio de curto e longo prazo.Por qual mecanismo o preço de mercado é levado a gravitar em torno do preço natural?

C.12) Ao analisar os capítulos 6 e 7 do livro I da Riqueza das Nações Blaug que “... o nível de procura(eficaz) determina a quantidade produzida de um bem, mas não tem de fato qualquer influência sobre o preço(natural).”Explique e comente.

Utilitarismo1. Para Walras a oferta é uma decorrência da demanda, pois o ato de venda pressupõe

o desejo de compra.Será esse raciocínio somente uma interpretação da lei de Say?

2. O princípio da utilidade marginal é um dos conceitos mais recorrentes na teoria econômica atual.Explique como os agentes maximizam sua utilidade.Tome como referência os escritos de Jevons, Menger e Walras.

3. Mill trata separadamente da produção e da distribuição, pois acredita que tais processos são regulados por leis de natureza diferente.Discorra sobre as peculiaridades de cada um destes processos, como aparecem em Mill.

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4. Em que pontos a teoria do valor-trabalho e a teoria do valor-utilidade se mostram divergentes?Responda levando em conta as seguintes palavras-chave:

a. Esferas da produção e circulação b. Harmonia social e sociedade de classes c. Prazer e dor d. Valor de troca e valor de uso

Malthus e Ricardo

Parte A

A.1) Explique o surgimento da renda terra, segunda David Ricardo.

A.2) Suponha que existam três tipos de terra (com diferentes fertilidades).E que quando colocadas em uso, são cultivadas sob as seguintes condições:

1 terra 2 terra 3 terra

K=200 K=500 K=300

PL=100 PL=200 PL=60

[Onde K representa o total de gastos feitos com o cultivo (salários e sementes) e PL representa o produto líquidp obtido com a aplicação deste capital]

(i)Calcule a renda total que será paga e o lucro total que será obtido nos seguintes casos: (a) quando somente a 1 está sendo cultivada;(b) quando a segunda terra entra em cultivo;(c) quando as três terras estão sendo utilizadas.

(ii)Explicite o raciocínio econômico quês está por trás dos cálculo executados.

A.3) Considerando o modelo do setor produtivo único(cereal) de Pasinetti, e analisando o seguinte gráfico:

(a)Explique em palavras o que está representado pela curva f´(N). Por que esta curva tem este formato?

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(b) Mostre graficamente como o produto irá se distribuir entre as três classes que para Ricardo compões a sociedade (no ponto A) e justifique o por que destas parcelas.

(c)Descreva o processo que levaria a economia a se movimentar de A para B.

(d)Qual seria o limite deste processo? Por que?

(e) E se ocorrer uma tragédia que reduza repentinamente o capital e portanto a população do país, sem alterar o estado da terra? O que ocorre com a taxa de lucro, renda e o montante pago em salários.

A.4) Por que Ricardo diz que a renda é sempre a diferença entre o produto obtido pelo emprego de iguais quantidades de capital e trabalho? Por que ele surge quando terras de qualidades diferentes são utilizadas?

Parte B

B.1) Suponha que existam na economia três atividades diferentes: produção de alimentos, produção de manufaturas e produção de ouro. Além disso suponha que nestas três atividades as características dos capitais sejam idênticas (mesma razão de capital fixo e capital circulante), mesma durabilidade, mesmo período de rotação), e que a mercadoria ouro nunca tenha a sua dificuldade de produção alterada (sendo neste caso uma medida invariável de valor).

A produção de uma tonelada de produtos manufaturados requer 100 horas de trabalho. Para a produção de alimentos existem três qualidades distintas de terra. Se a produção se dá na melhor terra, a produção de uma tonelada de alimentos requer 100 horas de trabalho. Na segunda uma tonelada de alimentos requer 150 horas de trabalho.Na terceira terra, a mesma tonelada de alimentos requer 200 horas de trabalho.

Quando somente a primeira quantidade de terra é utilizada, o valor do alimento (1 ton) contado em ouro é de 1000 unidades. Com bases nestas hipóteses, responda:

(a) Qual será neste caso a taxa de troca entre alimentos e manufaturados? Qual será o valor em ouro de 1 ton. De manufaturados?

(b) No caso em que uma segunda terra é posta em cultivo, qual será o valor em ouro do produto da 1 terra?E o da 2 terra? Qual é a taxa de troca agora entre alimentos e manufaturados?

(c) Repita o raciocínio para o caso em que as três estão sendo cultivadas.

(d) A renda da terra que passa a ser paga ao se utilizar terras de diferentes qualidades é para Ricardo a causa do aumento do valor relativo de alimento? Justifique.

(e) O que ocorre com a taxa de troca manufatura/alimentos, e com o valor da manufatura cotado em ouro, se ocorre uma inovação que possibilite que uma ton, de manufatura seja produzida com 50 horas de trabalho.

B.3) Como Ricardo fundamenta a sua visão quanto à inevitabilidade do Estado Estacionário?[explicar o que caracteriza o Estado Estacionário, e qual seria o processo pelo

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qual a economia tenderia a atingi-lo].Cite algumas circunstâncias que poderiam retardar a sua chegada.

B.4) Por que o tratamento dado no “ensaio” (1815) à questão da tendência à queda da taxa de lucro foi considerado insatisfatório, e por que Ricardo precisou encarar a questão da determinação dos valores de troca das mercadorias logo no início dos Princípios?

B.5-a) Comente a seguinte afirmativa: “Na visão Ricardiana, a lei de proteção aos cereais leva, necessariamente, ao desenvolvimento econômico.”

B.5-b) Como é feita a divisão da riqueza na teoria de Ricardo?Sob este ponto de vista, diga por que é correto afirmar que a renda da terra inibe o lucro capitalista, relacionando este fato com o “estado estacionário”.

Parte C

Os enunciados abaixo destacam alguns dos pontos fundamentais do pensamento Ricardiano:

“(...)segundo Ricardo a Economia se ocupa com a distribuição do produto entre salários, lucros e renda fundiária.”(Napoleoni)

“O aspecto do processo produtivo considerado como o mais importante por Ricardo consiste, precisamente, na determinação do valor e da evolução da taxa de lucro, sobretudo em suas relações com a taxa de salário.”(Napoleoni)

“A taxa de lucro e juro deve depender da proporção de produção destinada ao consumo necessário para essa produção.” (Ricardo)

“(...)são os lucros do agricultor que regulam os lucros de todas as demais atividades” (Ricardo)

Ricardo “ teve de introduzir uma teoria do valor para demonstrar como os preços daqueles outros bens(industriais) se alteravam quando o custo do cereal aumentava.”(Dobb)

“O problema do valor, assinala Ricardo, é este: ‘Dois bens variam quanto a seu valor relativo, e queremos saber de que maneira se deu, realmente, esta variação’.” (Ricardo,citado por Blaug)

O sistema de Ricardo é uma construção teórica forjada a partir da análise abstrativa- dedutiva dos fenômenos reais. Partindo do pressuposto de que toda a economia produz somente um produto, o cereal, ele pôde demonstrar a tendência decrescente da taxa de lucro.Fixando esta questão,relacione estas três teorias de acordo com o roteiro sugerido pelos enunciados, deduzindo, passo a passo, cada uma delas.

Parte D (Malthus)

Utilize a teoria da população de Malthus para demonstrar que os salários oscilam em torno de um nível mínimo,o nível de subsistência. Descreva os mecanismos que regem esta oscilação.

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Karl Marx

Parte A

A.1) Leia a introdução de Jacob Gorender para o livro “Para a crítica da economia política” e o Prefácio à crítica da economia política.

Com base nesta leitura discuta:

“O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, política e cultural.”

A.2) Em que sentido Marx fez a crítica à economia política?

Parte B (Capítulo 4 de O capital)

B.1)Explique o que significa o “duplo caráter das mercadorias” na visão de Marx.

B.2)O que é a força de trabalho ou a capacidade de trabalho, o que a diferencia do trabalho?

B.3)Explique os dois sentidos em que o trabalhador precisa ser “livre” para que a força de trabalho se transforme em uma mercadoria.

B.4)Qual é, para Marx, o valor de uso da força de trabalho? Como se calcula o seu valor?

B.5)Por que a existência de força de trabalho como mercadoria é pré-condição para a existência do capital?

B.6)Em algum momento do processo descrito, é rompida a regra de a troca se dá entre equivalente (ou seja, entre mercadorias de mesmo valor)?

Parte C

C.1)Como se dá a transformação de dinheiro em capital, e em que o capital se diferencia do dinheiro meramente como dinheiro? Qual é, para Marx, o objetivo do capitalista?

C.2)Comente a seguinte afirmação: Para Marx a mais-valia decorre ou do fato dos vendedores venderem suas mercadorias acima de seus valores, ou do fato dos compradores comprarem as mercadorias por menos do que elas valem.De qualquer forma, o processo de criação de mais-valia ocorre na esfera da circulação de mercadorias.

C.3) “Para que ocorra a criação de mais-valia é necessário que a lei do valor (lei segundo a qual as mercadorias se trocam proporcionalmente ao tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção) seja rompida.”Comente e justifique a resposta explicitando o que está na base da formação da mais-valia.

Parte D

D.1) Interprete os dois esquemas abaixo, destacando suas diferenças e semelhanças:

a)M-D-M

b) D-M-D’.Qual a importância da magnitude D-D’?

D.2)Como se desenvolve o processo de simples trocas?

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D.3) Quais variáveis determinam a taxa de lucro e seu comportamento?Discuta como a taxa de lucro se comporta ao longo do processo de acumulação de capital.Quais são as influências que podem retardar ou reverter a tendência da taxa de lucro?

D.4) Com base nas reflexões feiras por Marx em O Capital:

(a)Compare a forma de obtenção de mais-valia absoluta com a de mais-valia relativa.

(b)Explique que incentivo o capitalista individual encontra para introduzir i inovações tecnológicas no sistema como um todo.

D.5) Explicar quais são as tendências da jornada de trabalho, da taxa de mais-valia e da taxa de lucro, segundo Marx.

D.6) Mostre o impacto sobre a taxa de mais-valia e sobre a taxa de lucro de:

i. Um aumento da produtividade no setor produtor de bens de subsistência;

ii. Uma redução da jornada de trabalho

D.7) Considerando:1.D-(C +V) ...P ...(C+V+M)-D’[O ciclo do capital]

2.p= m/(C + V)

3.p= m/V/(C + V)/V ou p = (m/V)/(C/V + 1)

Explique o significado de cada termo da função e as tendências de (p) previstas.

D.8)Em que o processo de “vender para comprar” é diferente do processo de “comprar para vender” ?

Marginalismo

1) O que é o conceito de utilidade marginal, por que ela é decrescente? Explique a importância da incorporação deste conceito à análise econômica, no final do século XIX.

2) Partindo do equilíbrio abaixo:

Tomando por base a teoria de Marshall, explique e represente graficamente o que ocorre, e a trajetória para o equilíbrio, nos seguintes casos:

D

S

E

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(a) quando o preço de um bem substituto aumenta.

(b) quando o bem em questão entra na moda

Jonh Maynard Keynes1)O equilíbrio do mercado agregado de bens, indica que a capacidade instalada está sendo utilizada a pleno emprego.Conteste este resultado da teoria econômica clássica, com base nos escritos de Keynes.

2)Como as expectativas dos capitalistas afetam o nível de produção e renda, criando ambiente propício à deflagração de crises? Responda reconstruindo o conceito de demanda efetiva em Keynes.

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Apêndice Diagramático

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1.Enriquecimento através do lucro comercial

Para entender como a captação de moeda excedente leva ao enriquecimento, vamos a um exemplo prático.

Digamos que, para mover a produção de seus artigos, um empreendedor gaste X, sendo que, para levá-los ao mercado, incorre em custos de transporte de valor Y. O total de suas despesas soma então X+Y. Se vender seu produto pelo exato valor de suas despesas, obterá exatamente X+Y , e terá à mão exatamente o que dispunha antes de iniciar a produção, voltando a situação inicial. Neste caso o empreendedor não enriqueceu pois ao final do processo obteve X+Y, o mesmo que tinha no início, ou seja é como se o processo não ocorresse de fato.

Daí tiramos que, para que o enriquecimento se dê não basta apenas trocar moeda por moeda, mais sim moeda(X+Y) por mais moeda(X+Y+Z), e é exatamente a diferença(Z) entre estas duas quantidades de moeda a que os mercantilistas chamaram "excedente".

No exemplo, para que o empreendedor pudesse gerar o excedente deveria, quando da venda da mercadoria, anunciá-la por um preço maior do que o montante de suas despesas, que somavam X+Y. Deveria então cobrar um preço X+Y+Z. Assim, no final, vendida a mercadoria, poderia fazer a seguinte conta:

O principal a ser observado é que: A riqueza deriva do ato de vender caro aquilo que pagou-se barato para obter. A diferença que surge entre os preços de compra e de venda, recebe o nome de excedente, valor que excede os custos de sua produção. A esfera da troca é portanto a fonte deste excedente, ou lucro comercial ordinário.

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2.O primeiro Tableau Economique

Trata-se do primeiro quadro econômico, que figurou no artigo homônimo de 1758-9.

Preceitos gerais O quadro é um diagrama que descreve como se dá a distribuição dos recursos

através dos setores econômicos, no período de um ano. Na economia esboçada só existem dois produtos: Os grãos produzidos no setor

agrícola e as manufaturas produzidas no setor estéril. Não ocorre o entesouramento, isto é, toda moeda recebida é prontamente gasta. As linhas representam o fluxo de moeda, podendo ser vistas como adiantamentos

primitivos. Cada registro nas colunas é o gasto em que incorre o setor referido no topo destas,

em determinado estágio da produção(exceto para a do meio).

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Esquema de funcionamento do quadro O processo inicia-se com toda moeda nas mãos dos proprietários(coluna do meio). Os proprietários então a distribuem (em troca de produtos), em duas partes iguais

entre as cada uma das outras duas classes,. Nas mãos de cada uma das classes, a moeda recebida leva o nome de "adiantamento

anual". A partir daí cada classe(estéril e produtiva) gasta metade do que recebe com a

produção de cada um dos dois setores(agrícola e manufatureiro). Este procedimento se repete até que cada uma das classes produtiva e estéril

despenda um total necessário para reproduzir o investido inicialmente na forma de adiantamento anual.

Interpretando o primeiro quadro1.A classe proprietária troca 500 em moeda por produtos da classe produtiva (grãos) e 500 em moeda por produtos da classe estéril(manufaturas). 2a).De posse dessa quantia, a classe produtiva troca metade dela por manufaturas da classe estéril e a outra metade por produção de seu próprio setor. No setor agrícola cada gasto é reproduzido e gera um produto líquido(registrado na coluna do meio) neste caso equivalente a 100% do despendido. 2b). De posse dessa quantia, a classe estéril troca metade dela por grãos da classe estéril e a outra metade por produção de seu próprio setor.No setor industrial/mercantil cada gasto é reproduzido não gerando produto líquido 3a).Ao receber 125 da classe estéril, a classe produtiva troca metade por mercadorias desta mesma classe e com a outra metade compra a produção de seu próprio setor.3b). Ao receber 125 da classe produtiva, a classe estéril troca metade por mercadorias desta mesma classe e com a outra metade compra a produção de seu próprio setor.4. Este procedimento de gasto da moeda recebida em produção de cada um dos setores, na mesma proporção, repete-se até que cada classe despenda 1000 em gastos para mover sua produção5.No final do ano, chega-se aos seguintes resultados:5a)A classe produtiva termina o ano de posse de 2000 em grãos.Levando sua produção ao mercado, adquire 1000 em moeda e 1000 em grãos. Com as moedas paga a renda aos proprietários, e utiliza os grãos para mover a produção do ano seguinte, como adiantamento anual.5b)A classe estéril termina o ano de posse de 1000 em manufaturas. Levando sua produção ao mercado adquire 1000 em moeda. Troca esta quantidade de moeda com a classe produtiva por grãos, dos quais metade consome prontamente e guarda a outra metade para mover a produção do ano seguinte, utilizando-a como adiantamento anual.

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3.O segundo Tableu Economique

Este Tableu apareceu pela primeira vez em 1763 na obra Filosofia rural(*).As setas azuis indicam o sentido do fluxo de moeda.

Quadro adaptado do livro The Classical theory of economic growth, de Walter Eltis-pg.29.

Mirabeau e Quesnay desejavam tornar o tableu flexível, fazendo-o capaz de produzir os resultados esperados para qualquer taxa de rendimento(porcentagem do produto líquido sobre o adiantamento anual necessário para produzí-lo).

Realizaram este avanço através da suposição de que, no caso em que a taxa de rendimento fosse diferente de 100%:

1. Os ricos fazendeiros, manufaturadores ou comerciantes poderiam gastar parte de sua receita como renda(consumo de luxo).

2. Os pobres fazendeiros, manufaturadores ou comerciantes poderiam gastar parte de sua receita como salário(consumo de necessidade).

Assim, o fluxo de moeda seria suficiente para possibilitar que os adiantamentos primitivos chegassem aos setores em que fossem necessários.

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4.O terceiro Tableu Economique

Esta última versão apareceu pela primeira vez em 1766 na obra " Análise da fórmula aritmética do Quadro Econômico. Sua principal inovação em relação aos outros foi a inclusão de juros pagos pelos agricultores pela reposição de seus meios de produção.

Quadro retirado do livro The Classical theory of economic growth, de Walter Eltis, pag.30. Interpretação adaptada da leitura de Marx extraída do livro de Rolf N. Kuntz, Capitalismo e Natureza, pag.62-63.

Interpretando o terceiro quadro 1.A classe produtiva paga em dinheiro, aos proprietários, os 1000 milhões do rendimento;2. os proprietários compram da agricultura 500 milhões em meios de subsistência, fazendo retornar à classe produtiva metade dos recursos em moeda.3. os proprietários adquirem da classe estéril mercadorias manufaturadas por 500 milhões, transferindo-lhe a outra metade da quantia recebida como rendimento.4.a classe estéril troca esses 500 milhões com a produtiva por meios de subsistência.

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5.novamente de posse dos 2 bilhões em dinheiro, os agricultores compram da classe estéril 500 milhões em mercadorias, para repor adiantamentos; assim, a classe estéril vende a segunda parte de sua produção, ficando com 1 bilhão em bens de consumo(agrícolas) e 1 bilhão em moeda.6. a classe estéril reconverte esses 500 milhões em moeda na outra metade de suas condições de produção-matérias primas.7.Retornado à situação inicial:a)Os agricultores recuperaram os 1000 milhões em dinheiro, que deve, ser novamente passado às mãos dos proprietários. Além disso, retomaram e aplicaram em manufaturados os 500 milhões correspondentes aos "juros" de seus adiantamentos primitivos. De sua produção, 1000 milhões não entraram na circulação interclasses, destinando-se a emprego no próprio setor como bens salariais e meios de produção;b)Os proprietários têm novamente direito aos1000 milhões, correspondentes ao produto líquido gerado pela agricultura;c)A classe estéril vendeu o que produziu e reconstituiu suas condições de produção, comprando da agricultura 5000 milhões em meios de subsistência e 5000 milhões em matérias-primas.

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5.Como funciona a mão invisível

O objetivo aqui é propor uma ilustração da forma pela qual a mão invisível funciona, de acordo com Adam Smith.

Inicialmente, vamos analisar como dois indivíduos, um produtor de cerveja, e outro de pães, trocam seus produtos.

A transação ocorre em um meio ideal, em que não existem obstáculos como a intervenção do governo, a tributação excessiva, e qualquer outra perturbação não econômica.

Encontram-se então, o padeiro e o cervejeiro, e cada um sabe somente quanto o outro possui em seu estoque.O padeiro tem Y unidades de pão e o cervejeiro X ml de cerveja. Então eles calculam mentalmente quanto desejam dar e receber:

O padeiro gostaria de obter o máximo de ml de cerveja(X ml) , tendo de dar o mínimo de pão em troca(1 unidade).

O cervejeiro gostaria de obter o máximo de ml de cerveja(Y unidades) , tendo de dar o cerveja em troca(1 ml).

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Tendo isso em mente, percebemos que, se cada quando um deles obtém a vantagem máxima, o outro obtém desvantagem máxima.Se a troca se der por qualquer uma das formas acima colocadas, a vantagem total obtida será nula.

Vamos supor então que eles negociem, até que o resultado ótimo para ambos seja atingido. Digamos que este seja então dado pela regra 1 pão por m ml de cerveja. Como foi dito, o resultado é ótimo para os dois, pois atingem o nível de satisfação máximo permitido pela transação.

Assim, considerando o benefício obtido por toda a sociedade como a soma dos benefícios individuais, ele atingirá seu máximo se todas as transações entre seus membros se derem sob as regras colocadas e seguirem o mecanismo descrito.

É assim que a mão invisível atua, transformando o esforço individual de obter a maior vantagem em bem-estar social.Ela é então nada mais do que a força que proporciona tal resultado.

O diagrama abaixo apresenta as forças que atuam sobre os indivíduos levando-nos a promover o bem-estar geral.

Segundo Adam Smith, estas forças são em três:F1. Propensão à troca;F2. Desejo de obter máxima vantagem;F3. A mão Invisível

Atuando sobre o indivíduo, estas forças produzem os seguintes resultados: R1.O mercado torna-se uma necessidade;R2. Os indivíduos obtém, com a troca, os melhores resultados que podem;R3. A sociedade prospera.

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6.O emprego produtivo da riqueza

Smith nos diz que, quanto maior for a fração da riqueza nacional aplicada produtivamente, mais rica e próspera será a nação, enquanto que, quanto maior for a fração aplicada em serviços improdutivos, mais rápido se aproximará a decadência.

Para entender o que está por trás deste raciocínio de Smith, observemos o diagrama abaixo.

Aí temos representado um ciclo produtivo que se dá nos seguintes estágios: a) Tem-se de início uma riqueza equivalente a $R1. b) Gasta-se $aR1 com serviços improdutivos e; c) Investe-se$(1-a)R1 em serviços produtivos.Se a=1 então não haverá produção, já que toda riqueza é gasta improdutivamente; se a=0, a riqueza será totalmente empregada na produção. d) Com um investimento $(1-a)R1 forma-se então um capital K1, que será utilizado para comprar máquinas e pagar salários. e) Com essa capacidade instalada, obtêm-se um produto P1. f) Ele é levado ao mercado e vendido,o que resulta uma receita R2. g) Inicia-se um novo ciclo quando $(1-a)R2 são investidos.Supondo que $(1-a)R2 > $(1-a)R1, poderá-se ampliar a capacidade de produção adquirindo somente mais máquinas, somente mais trabalhadores, ou combinações dos dois fatores. h) Com isso a produção será expandida, e teremos que p2>p1. i) Assim os ciclos produtivos prolongam-se, sucessivamente.

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7.O preço natural do salário

Observemos o gráfico abaixo1:

Neste gráfico temos duas curvas que podemos chamar de curva de distribuição dos salários. A superior indica níveis maiores de salários pois representa uma sociedade em que os controles preventivos são mais fortes.

Nesta sociedade a população será menor, exatamente porque a contenção é mais intensa, o que implica salários maiores para os trabalhadores.

A curva inferior, por representar uma sociedade em que os controles populacionais são menos efetivos, nos dá salários menores, pois o fundo é distribuído por mais pessoas.

Podemos depreender também que, conforme os salários aumentam a taxa de produção de alimentos decrescerá pois, para produzir estes alimentos passará-se a arcar com maiores custos, dados pelos maiores salários. Esta relação está ilustrada no gráfico abaixo2:

1 Os três gráficos foram retirados de ELTIS, W.A- The Classical theory of economic growth(1984)pg116-117.As análises são adaptações do apresentado pelo autor. 2 Idem

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Podemos chamar esta curva de curva de produção da subsistência. Ela nos mostra que, para níveis maiores de salário obterá-se níveis menores de crescimento da produção de alimentos.

As duas forças que coordenam o nível do salário(como mostradas nos dois gráficos acima) deverão se equilibrar de forma que fique estabelecido um nível ótimo de salários e aumento produtivo. Graficamente3:

Podemos inferir do gráfico que enquanto os salários oscilarem entre os valores w+ e w-, a taxa de crescimento oscilará entre os valores t- e t+.

No ponto A, a taxa de crescimento do fundo de subsistência está em t+, e, pela curva de distribuição dos salários, o valor de salário será w+.

Mas, pela curva de produção da subsistência, o valor de salário que poderá ser pago para que mantenha-se um nível de produção t+ deverá ser w-, o que nos leva ao ponto B.

A curva de distribuição de salário nos diz que, com o salário em w- a taxa de crescimento do fundo de subsistência é de t-, o que nos leva ao ponto C.

Mas, a queda dos salários levará a um aumento da produção de subsistência, pois os custos serão menores agora.

Estas flutuações repetirão-se em cadeia até que seja atingida a taxa de equilíbrio para o crescimento do fundo de subsistência e o salário de equilíbrio que Malthus chamou de salário de subsistência.

A questão do salário em Malthus é interessante pois os salários aparecem tanto como insumo para a produção da subsistência como expressão desta subsistência, pois, para produzir-se alimentos tem-se de empregar trabalhadores que consomem alimento.

3 Idem

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8.Reprodução do capital e oferta de trabalho

As hipóteses deste modelo são as seguintes : o preço do salário é fixo e é dado por S; para produzir o capitalista precisa somente de mão-de-obra.

No primeiro momento o capitalista dispõe de um capital [C(1)] igual à X. Com este capital ele move a produção [P(1)] pagando um total de X em salários, e

contratando X/S trabalhadores. Ao levar produtos ao mercado [M(1)], o capitalista os vende auferindo Y de

lucro[L(1)]. Agora o capitalista dispõe de um receita X+Y. Supondo que ele vai utilizá-la

integralmente para mover nova produção podemos dizer que ele dispõe de um capital[C(2)] de X+Y.

Investindo todo este capital, ele poderá mover uma produção[P(2)] pagando um total de X+Y em salários, e contratando (X+Y)/S trabalhadores.

Podemos observar então que a quantidade de trabalhadores demandada pelo capitalista aumentou, mas será que esta quantidade não excede o número de trabalhadores disponíveis no mercado?

Se a resposta for não, isto é, existe um número de trabalhadores no mercado igual a pelo menos (X+Y)/S, então obterá-se uma receita X+Y+Z que poderá ser novamente reinvestida[C(3)].

Se a resposta for sim, isto é:

onde Ot é a quantidade ofertada de trabalho e Dt é a quantidade demandada de trabalho, então o capitalista terá três opções:

6. A parcela adicional do capital Y/S ficará sem emprego, ociosa 7. O capitalista poderá pagar um salário maior para os trabalhadores, de, por exemplo

S+ S, tal que:

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8. O capitalista transformará Y/S em moeda, entesourando-a. Malthus acreditava que o capitalista escolheria a terceira opção, dando início à uma

crise de superprodução exatamente por produzir [P(1)] X+Y e consumir somente X. Explicando mais detalhadamente, o problema está no fato de que o capitalista

coloca no mercado[M(1)] um produto de preço de X+Y, e, para que ele seja adquirido alguém terá de despender X+Y em dinheiro, vendendo por sua vez outra mercadoria por um preço X+Y.

Existe portanto no mercado uma oferta total dada por OT=(X+Y)n, tal que n é o número de mercadorias ofertadas.

Dado que a mercadoria do capitalista é comprada, o dinheiro recebido(X+Y)n constituirá sua receita, sendo transformado em capital[C(2)].

Para que a demanda total DT seja igual à oferta total, todos os vendedores de mercadoria deverão gastar exatamente X+Y, que é o que recebem ao vender suas mercadorias.Assim teríamos DT=(X+Y)n

Mas, como o capitalista não encontra trabalhadores suficientes só gasta X em salários e entesoura Y, teremos DT=(X+Y)(n-1) +X ;e aí DT < OT .

Com isso, uma mercadoria de preço Y não será vendida, isto é o que chamamos de superprodução.

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9.Dedução da teoria do lucro

O esforço necessário para produzir o cereal é maior nas novas terras, pois estas são menos férteis do que as cultivadas inicialmente.

Isto quer dizer que, com o mesmo emprego de trabalho, o produto bruto extraído das novas terras deverá ser inferior àquele das terras de maior fertilidade.

A diferença entre o produto obtido na terra mais fértil e o obtido na menos fértil é a renda da terra de Ricardo. A renda então reduz o produto líquido da primeira terra, de forma a manter o lucro

de ambas no mesmo nível. Conseqüentemente, dado que o produto bruto da segunda é menor, para um mesmo gasto em salários, o lucro desta resulta menor e, por arbitragem, o lucro da primeira assume esse novo valor.

Conforme evolui a conquista de novas terras, menores serão os produtos líquidos adicionais.

Dai concluí-se que os lucros diminuirão na medida em que amplia-se a margem de cultivo.

A disputas dos capitalistas por fontes de lucro, levará os lucros industriais a igualarem-se aos agrícolas.

Assim os lucros de todo o sistema produtivo sofrerão um decréscimo. Como coloca Ricardo no Ensaio de 1815, a taxa de lucro geral depende da taxa de

lucro agrícola, dependendo esta, por sua vez, da renda fundiária. A dedução da teoria da renda pode ser acompanhada através dos gráficos que

seguem. De acordo com o diagrama as terras disponíveis em um certo país foram divididas

em três regiões,x1, x2 e x3.A flecha indica o sentido em que se dá a ocupação.

No gráfico abaixo, podemos perceber que a massa de produto bruto(PB) aumenta conforme dá-se o avanço do cultivo na direção da região x3,numa taxa cada vez menor.

Para chegar a esta conclusão é só observar que os segmentos PX1, P'G', P''G'' podem ser ordenados como segue PX1> P'O'> P''O''

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Os gráficos abaixo descrevem como variam as massas de lucro e renda quando terras cada vez menos férteis são ocupadas.

Temos em cada um deles, a curva de produto bruto adicionado(PBa), que nos diz quanto cada nova terra cultivada acrescenta à produção total, e a curva w que representa o nível de subsistência que determina os salários.

Perceba que a curva nos dá a taxa de variação do produto bruto para cada nível de ocupação.

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Quando a ocupação se dá até a margem da região x1, temos a situação representada pelo gráfico (a):A área A corresponde à massa de renda paga pelas terras que pertencem à x1,menos a última(x1-ésima)que não paga renda(marginal);a área B corresponde à massa de lucro paga pelas terras que pertencem à x1. A área C corresponde à massa de salário paga pelas terras que pertencem à x1.

Quando a ocupação se estende até a margem da região x2,que contém terras de menor fertilidade, o lucro pago por cada terra é reduzido como nos mostra o gráfico (b).Como A'>A, a massa de renda aumenta quando passamos de x1 para x2;apesar do lucro para cada terra ter diminuído num fator L-L', a massa de lucro pode ter sido aumentada;a massa salarial aumenta de C para C'.

Com a margem extensiva expandida até a região x3,que contém as terras menos férteis teremos o gráfico (c):Em x3, a produção das terras é suficiente somente para cobrir os salários, ou seja, o lucro é reduzido a zero,para todas as terras, de x1 à x3;a massa de renda passa a valer A'' e a massa de salários C''.

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10.Como a concorrência entre os capitalistas determina a renda: um exemplo.

Numa ilha, tem-se um solo propício ao cultivo de cereais. Podemos dividir o território em dois lotes de terra, de acordo com a fertilidade. O emprego de trabalho em cada uma delas produzirá os seguintes resultados:

Terra 1:Investindo 5 kg de cereal-salários obtêm-se um Produto bruto de 20 kgInvestindo 10 kg de cereal-salários obtêm-se um Produto bruto de 36 kgInvestindo 15 kg de cereal-salários obtêm-se um Produto bruto de 42 kg

Terrra 2:Investindo 5 kg de cereal-salários obtêm-se um Produto bruto de 15 kgChegam á ilha três fazendeiros, cada um deles portando um estoque de cereal.

Fazendeiro 1: Chega à ilha no início do primeiro ano. Possui um estoque de capital de 5 kg de cereal para contratar o trabalho nativo.

Fazendeiro 2: Chega à ilha no início do segundo ano. Possui 5 kg de cereal para contratar trabalho nativo.

Fazendeiro 3: Chega à ilha no início do terceiro ano. Possui 5 kg de cereal para contratar trabalho nativo.

Supondo que cada fazendeiro emprega sempre 5 kg de cereal-salários para mover a produção de cada ano, podemos traçar o seguinte esquema de acontecimentos

O fazendeiro 1 ocupa a terra 1 e contrata trabalhadores ao custo de 5 kg de cereal-salários. Ao fim do primeiro ano obtém 20 kg de produto bruto.

O fazendeiro 2 chega à ilha e tem duas escolhas:A)Ocupar a terra 2 e, despendendo 5 kg de cereal produzir 15 kg de produto bruto;B)Ocupar a terra 1 juntamente com o fazendeiro 1. Com cada um deles empregando 5 kg de cereal-salário obterão 36 kg de produto-bruto que , quando dividido dará 18 kg de produto para cada um.O fazendeiro 1 cultivando sozinho a terra 1 obterá 20 kg de produto, sendo, portanto, prejudicado com este cultivo conjunto. Para que ele aceite a entrada do fazendeiro 2 na terra que ocupou incialmente, este último pagará a ele 2,5 Kg de cereal.

A escolha mais racional é a B) pois nela cada um dos fazendeiros obterá mais produto bruto.

No final do segundo ano o fazendeiro 1 terminará com 20,5 kg de cereal, mais do que obteve no final do primeiro ano;o fazendeiro 2 terminará com 15,5 kg de cereal.

O fazendeiro 3 chega à ilha e tem três escolhas:A)Ocupar a terra 2 e, despendendo 5 kg de cereal produzir 15 kg de produto bruto;B)Ocupar a terra 1 juntamente com o fazendeiro 1 e com o fazendeiro 2 . Com cada um deles empregando 5 kg de cereal-salário obterão 42 kg de produto-bruto que dividido dará 14 kg de produto para cada um.

C)Pagar 2,6 kg de cereais para que fazendeiro 1 deixe-o cultivar a terra 1 no lugar do fazendeiro 2.

Se o fazendeiro 1 repetir o cultivo do ano passado obterá 20,5 kg de produto. Então, com as condições de cultivo em B) terá um prejuízo de 6,5 kg.O mesmo raciocínio vale para o fazendeiro 2, que incorrerá num prejuízo de 1,5 kg. Até o fazendeiro 3 sairá prejudicado com um produto de 14 kg, pois cultivando a terra 2 poderá obter 15 kg.

A escolha mais racional é a C) pois nela cada um dos fazendeiros 1 e 3 obterão mais produto bruto do que nas outras.

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Nessas novas condições, o fazendeiro 2 terá duas escolhas:A)Ocupar a terra 2 e, despendendo 5 kg de cereal produzir 15 kg de produto bruto;B)Oferecer 2,7 kg de cereal ao fazendeiro 1, para que esse não o dispense da terra 1. Como a escolha B) maximiza o produto das partes em questão, ela será posta em prática. Isto dará início a uma disputa entre os fazendeiros 2 e 3 pela terra 1, que levará a quantia recebida pelo fazendeiro 1 à 3 kg. Quando isso ocorrer, será indiferente para cada um destes fazendeiros ocupar a terra 1 ou a terra 2 , pois em cada uma delas obterão 15 kg de produto bruto.

Dessa forma fica estabelecida a renda diferencial de 3 kg de cereal paga ao fazendeiro 1 pelo uso da terra que inicialmente ocupa.Concluímos então que este fazendeiro só recebe renda porque, com o mesmo esforço, o produto bruto obtido na terra 1 é dado pelo produto bruto da terra 2 mais 3kg.

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11.O problema da transformação de valores em preços(exemplo 1)

Smith nos diz que os lucros não são salários pagos pela direção ou administração da produção, mas são retornos obtidos sobre o investimento de certa quantidade de capital investida. Um mesmo volume de capital, em qualquer setor deve render o mesmo lucro, pois a concorrência entre os capitalistas iguala as taxas de lucro.

Tomando como base este conceito podemos construir a seguinte situação hipotética. No setor produtivo A, o valor do produto é dado por:

Em que:w é o valor do salário(dado pelo trabalho incorporado à subsistência) pago aos trabalhadores;T11 é o número de trabalhadores contratados para produzir A;wT11é o valor do trabalho colocado em movimento;cA é o valor agregado à máquina utilizada em A;r é a taxa de lucro do sistema.

Podemos expressar cA através do trabalho incorporado à sua produção:

Em que:T12 é o número de trabalhadores contratados para produzir a máquinawT12 é o valor do trabalho colocado em movimento para produzir a máquinaFazendo (2) em (1), obtemos:

No setor produtivo B, o valor do produto é dado por:

Em que:wT21é o valor do trabalho colocado em movimentocb é o valor agregado à máquina utilizada em Br é a taxa de lucro do sistemaPodemos expressar cb através do trabalho incorporado à sua produção:

Em que:T22é o número de trabalhadores contratados para produzir a máquina utilizada em BWT22 é o valor do trabalho colocado em movimento para produzir a máquina utilizada em B

Fazendo (5) em (4), obtemos:

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A razão dos valores do produto A e do produto B é dada por:

Da equação 7 deduzimos que, somente com

Teremos

E assim é verificado o enunciado da teoria do valor trabalho, como formulado por Ricardo. Isto se dá pois a igualdade

deriva exatamente do fato de, sendo

O trabalho incorporado em A e B é o mesmo. Mas, se tivermos

de forma que seja válida a relação

obrigatoriamente

De onde concluímos que a equivalência de valores entre as mercadorias depende não só da equivalência dos trabalhos incorporados à elas, como assevera a teoria do valor-trabalho, mas também depende da equivalência das composições do trabalho incorporado em relação ao tempo.

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12.O problema da transformação de valores em preços(exemplo 1)

No setor produtivo A, o preço do produto é dado por:

Em que:s é o valor nominal(preço) total dos salários pagos aos trabalhadores é a taxa de lucro do sistemaNeste setor, o trabalho total incorporado é dado por T

No setor produtivo B, o preço do produto é dado por:

Em que c é o valor nominal(preço)da máquina utilizada em BAqui o capitalista aufere lucro sobre os salários que adianta e sobre a máquina que adquire. Neste setor, o trabalho total incorporado é dado por 2T(T na produção da máquina e T na manipulação da máquina)

Se supormos que:

Chegaremos a:

As razões de preço de A e B, e valor são as seguintes:

Temos então, que por (4), (5) e (6)

Agora, com os salários nominais aumentando e os lucros diminuindo, os novos preços serão:

As novas razões de preço e valor, entre A e B, são as seguintes:

Este exemplo consiste na transcrição algébrica do exemplo dado por Hunt na pg123

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Como a quantidade de trabalho incorporado é a mesma obtemos

Desenvolvendo (10) com o obtido em (4) teremos:

Assim, a proporção em valor não variou (11), enquanto a proporção em preço variou pois temos (12) ¹ (5). Isto mostra que o trabalho incorporado não é capaz de determinar os preços quando têm-se mercadorias com composições de capital diversa e alterações nominais manifestam-se no sistema.

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13.Mecanismo de operação do comércio exterior

Para explorar as possibilidades das vantagens comparativas mais amplamente, é proposta a seguinte situação hipotética:

Existem dois países, A e B, e cada um deles produz duas mercadorias, vinho(v) e tecido(t).As quantidades produzidas por cada um deles estão registradas na tabela abaixo:

Unidades de mercadorias

produzidas com emprego de T trabalhadores

País A País B

Vinho X+X YTecido X Y+Y

Tabela de conversão do país A

Tabela de conversão do país B

Supondo que Y+ Y < X , o país A terá vantagem absoluta na produção de vinho e tecido, tendo ainda vantagem comparativa na produção de vinho; o país B terá vantagem comparativa na produção de tecido.

Se o país A conseguir obter mais do que X/(X+X) unidades de tecido por unidade de vinho que exporta, estará sendo beneficiado pois quando fechado obtém no máximo esta quantidade de tecido por unidade de vinho.

Mas, a quantidade de tecido que poderá obter é limitada, ou atinge um número máximo de acordo com as condições produtivas de B, que, para cada unidade de vinho que produz pode obter, fechado, 1+Y/Y unidades de tecido.

Se B tiver dar em troca mais do que 1+Y/Y unidades de tecido para cada unidade de vinho estará sendo prejudicado em relação à situação que não comercia com o país A.

O mesmo raciocínio vale para o vinho. Se o país B puder obter mais do que Y/(Y+Y) unidades de vinho por cada unidade de tecido que exporta, será beneficiado.

Mas a quantidade máxima de vinho que A aceita dar em troca por unidade de tecido de B é 1+X/X.

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Com estas informações estabelecemos os limites de troca para cada mercadoria, dentro dos quais o comércio entre A e B se dará.

Esquematicamente, teremos:1.Limites de troca para uma unidade de tecido:

2.Limites de troca para uma unidade de vinho:

Com as trocas ocorrendo dentro destes limites, ambos os países serão beneficiados.Graficamente:

Qualquer ponto em cima da curva representa uma relação de troca entre tecido e vinho para a qual ambos os países obterão maior quantidade do produto em que tem desvantagem comparativa (em relação à situação em que não comerciam).

A curva representa todas relações de troca possíveis entre tecido e vinho. Fora da curva o comércio entre os dois países será prejudicial para um deles ou para os dois.

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14.O mecanismo da lei de Say

Para entender como a lei de Say funciona, vamos a um exemplo.Suponhamos uma economia simples, em que só existem dois setores, o produtor de bens-salário(setor 1) e o produtor de bens-capital(setor 2), e só dois personagens, o capitalista e o trabalhador.Cada setor tem seu mercado específico, o mercado de bens-salário e o mercado de bens de capital.

O diagrama abaixo ilustra a economia hipotética de que falamos. Nele estão explicitadas as transações que se dão nos mercados, e o fluxo de moeda que

destas decorre.Acompanhemos o sentido deste fluxo.

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O setor 1 lança no mercado 10 kg de bens-salário com valor total de 4.8 moedas de ouro.Vendendo-o recebe então uma receita com esse valor, a qual é dividida entre salários, 1.8 moedas de ouro, e lucros , 3 moedas de ouro.

O trabalhador 1 gasta então 1.8 moedas de ouro adquirindo bens-salário em seu próprio setor, repondo, de certa forma, o que lhe é pago.

O capitalista 1 gasta 3 moedas de ouro em bens de capital, com os quais colocará em movimento nova produção.Este gasto compõe parte da receita do setor 2, que é dividida entre salários, 3 moedas de ouro, e lucros, 5 moedas de ouro.

Como o capitalista 2 também precisa de bens de capital, adquire-os em seu próprio setor, gastando suas 5 moedas de ouro.O trabalhador 2 despenderá suas 3 moedas de ouro no setor 1.

Vejamos o resultado de tudo isso: No setor 1 a oferta equivale a 10kg de bens-salário, com valor total de 4.8 moedas.A demanda por bens-salário, composta pelos trabalhadores 1 e 2 soma exatamente este valor, em termos de moeda. Esse mercado está então em equilíbrio.

No mercado 2 a situação não é diferente: A magnitude da oferta tem um valor dado por 8 moedas, e a demanda, composta pelos capitalistas 1 e 2, soma também 8 moedas.Com isso, os dois mercados, e logo a economia como um todo, está em equilíbrio.

Mas porque isso acontece? A resposta para esta questão compreende toda lógica por trás da lei de Say. Tentemos então formulá-la.

Ao levar seu produto ao mercado, cada setor recebe uma receita que é dividida entre salários e lucros, que serão convertidos novamente em receita para o outro(ou para o próprio) setor.

Isto é, os mesmos agentes que compõe o lado da oferta em um dos mercados, comporão o lado da demanda no outro(ou no mesmo) mercado. Como a capacidade de comprar de cada um desse agentes é dada pela remuneração que recebem, dizemos, diretamente, que sua demanda deriva da oferta daquilo que produzem.

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Mas essa oferta é, por sua vez, determinada pela magnitude da demanda por seus bens, que permite acumular uma receita grande o bastante para mover uma produção cujo resultado é um valor exatamente idêntico á demanda por ela.

Dessa forma, não seria outro o resultado além daquele em que a magnitude da oferta coincide com a magnitude da demanda.Portanto, dentro de nossa pequena economia, a

lei de Say é verificada.

Formulação algébrica Nossa economia hipotética se baseia no seguinte sistema de equações:

Temos, portanto, um sistema de 6 equações e 8 incógnitas(S1 , S2 , D1 , D2, w1 , w2 , l1 , l2). No raciocínio apresentado acima, escolhemos valores arbitrários para duas das incógnitas, l2 e w2, 5 e 3, respectivamente. Com isso determinamos w1 ,a partir das seguintes relações: Levando (1a) e (2a) em (5), obtemos que w2 = l1(6).Se utilizarmos (6) em (4), chegaremos a : w1 = w2

2 . l2-1 (8).Esta última equação nos permite encontrar

w1 em função de w2 e l2. Pela forma como construímos o sistema de equações, para qualquer valor real positivo

de w2 e l2 ,a lei de Say será verificada.

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15.O caráter social da produção de mercadorias

O diagrama acima exibe as relações que existem entre cinco setores produtivos hipotéticos.

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Nele vemos que o produto de um setor é utilizado como meio de produção por outro setor.Acompanhemos como isso se dá:

1. O setor 1 produz máquinas que são utilizadas por 3 setores:o setor 5 (açougue) , o setor 2 que produz tecido, e o setor 3 que produz armas de caça. 2. As armas de caça são utilizadas pelos caçadores (setor 4) para capturar e matar animais selvagens. 3. As carcaças desses animais são vendidas para o açougue, que as prepara para o consumo. Temos aí então o processo de produção da carne comestível, que envolve os cinco

setores.Isso pois, apesar de não termos falado do setor 2(tecido), ele participa do processo, ainda que não diretamente, já que é dele que são feitas as roupas dos trabalhadores de cada setor.O mesmo se dá com a carne, que entra como insumo em sua própria produção, servindo de alimento para todos.

O importante aí é perceber que o trabalhador que consome a carne, comprando-a no mercado, já contribuiu para sua produção, com trabalho incorporado no passado( á sua atividade).

Por exemplo, o fabricante de armas proporciona ao caçador um instrumento que permite abater os animas, cuja carne serve de alimento tanto para o fabricante, como para o caçador.Assim, ao consumir a carne eles consomem seu próprio trabalho, morto, incorporado no passado.

Aí se revela o verdadeiro componente social da produção de mercadorias, qual seja, o fato de que tudo o que é produzido na sociedade é objeto do esforço conjunto de toda essa sociedade.

Formulação algébrica Pelo que vimos anteriormente, é possível reduzir o valor de cada um dos produtos dos

cinco setores a trabalho incorporado. Para fazer isso, vamos utilizar um pouco de álgebra. Seja o valor do bem i dado por wi=

vi+ci+ si, em que vi=capital variável empregado na produção do bem i, ci= capital constante empregado na produção do bem i e si= mais valia gerada na produção de i.

O setor 1, em que as máquinas são feitas, por suposição, só utiliza como insumo mão de obra (cujo custo de reprodução é de v1) e minérios de ferro(matéria-prima).Sendo o valor dos minérios dado pelo trabalho empregado em sua extração da natureza, dizemos que este é de v0. Com tudo isso, o valor das máquinas é dado por w1=v1+v0 +s1(1).

Para todos os outros setores, o valor de seus produtos é dado por wi=vi+ci+si Vamos supor também que a cesta de bens-salário, para todos os trabalhadores, consiste

somente em dois bens: carne e tecido.Vejamos então como fica a decomposição dos produtos do setor 2:

Setor 2: w2=v2+c2+s2. Como c2 representa as máquinas adquiridas do setor 1, e sabemos que o valor dessas é dado por (1), então teremos: w2=v2+ w1+s2= v2+ (v1+v0 +s1)+s2(2); e assim obtemos o valor do tecido em termos de trabalho incorporado à sua produção.

Poderíamos parar a decomposição aqui, já que temos o valor expresso em trabalho.Mas como sabemos que o valor da força de trabalho(vi) é dado pelo trabalho incorporado a sua criação/reprodução, é possível continuar, decompondo este elemento.

A equação que temos é a seguinte: w2= v2+ (v1+v0 +s1)+s2(2).De acordo com o que sabemos, v2 é dado pelo valor da carne e do tecido, consumidos pelo trabalhador empregado na produção de tecido, e v1 pelo trabalhador empregado na indústria de

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máquinas. Então, sendo w5=v5+ c5+s5 o valor da carne, e o valor do tecido dado por (2), escrevemos: vi= w5+ w2= (v5+ c5+s5)+ v2+ (v1+v0 +s1)+s2(3).

Levando (3) em (2) obteremos: w2= v2+ (v1+v0 +s1)+s2= {Decompondo v1 e v2}= (w5+ w2)+ [(w5+ w2)+v0 +s1]+s2= [(v5+ c5+s5)+ v2+ (v1+v0 +s1)+s2]+{[(v5+ c5+s5)+ v2+ (v1+v0 +s1)+s2]+v0 +s1}+s2(4).

A equação 4 expressa o produto do setor 2 em termos do trabalho incorporado ao processo produtivo dos setores 1, 2 e 5.Poderíamos continuar a decompor a expressão, expandindo cada um dos termos que se referem a incorporações de trabalho.

Mas se tentássemos fazê-lo, nunca chegaríamos a uma expressão que não pudesse ser decomposta, já que cada um dos produtos dos cinco setores consistem no trabalho incorporado em todos os setores.

Assim, chegamos á mesma conclusão de antes: O valor de um produto é dado não só pelo trabalho empregado diretamente em sua produção, mas pelo esforço produtivo de toda a sociedade, desenvolvido por todos os trabalhadores que a compõe.

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16.Como se dá o equilíbrio geral em Walras

Walras divide a economia em n serviços produtivos e m bens de consumo, obtendo m+n variáveis desconhecidas que representam as quantidades disponíveis de todos eles.

Com isso existirão 2m+2n incógnitas, somando-se quantidades e preços. Para determiná-las Walras precisava de 2m+2n equações

representativas das relações econômicas que regem o mercado, vejamos como pôde chegar a elas.

No sistema de Walras existem dois tipos de mercados, o de serviços produtivos e o de bens de consumo. Temos então dois agentes: As firmas que oferecem bens e serviços e demandam serviços, e os consumidores que oferecem somente serviços produtivos e demandam apenas bens de consumo.

O equilíbrio é alcançado quando duas condições são cumpridas: 1. Cada agente maximiza sua utilidade, realizando as melhores transações que puder;2.Em cada mercado, a quantidade ofertada deve ser equivalente à quantidade demandada.

A partir disto, a mecânica é simples:1. Cada agente detentor de serviços produtivos oferece a quantidade exata que lhe permite

maximizar sua utilidade.Para isso observa os preços de todos os serviços e todos os bens de consumo, olhando para as condições de todos os mercados .Pode-se representar as quantidades ofertadas em cada um dos mercados como função de todos os preços de bens e serviços disponíveis:

Os1=Fs1(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm)Os2=Fs2(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm).

.

.Osn =Fsn(ps1,ps2,... psn, pb1,..., pbm)

Obtemos assim n equações que determinam as quantidades oferecidas. 2. A demanda por bens de consumo é a causa da oferta por serviços, como temos em 1.Cada

demandante leva em conta todos os preços dos bens, o que nos dá m equações, do tipo:Db1=Gb1(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm)Ds2 =Gs2(ps1,ps2,... psn, pb1,..., pbm).

.

.Dsm =Gsm(ps1,ps2,... psn, pb1,..., pbm)

3. As quantidades demandadas de cada serviço produtivo devem corresponder às quantidades ofertadas destes, como determinadas em 1. Assim obtemos mais n equações:

Ds1=Gs1(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm)=Os1 =Fs1(ps1, ps2,...psn, pb1,..., pbm)Ds2=Gs2(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm)=Os2 =Fs2(ps1, ps2,...psn, pb1,..., pbm).

.

.Dsn=Gsn(ps1, ps2,... psn, pb1,...,pbm)=Osn =Fsn(ps1, ps2,...psn, pb1,...,pbm)

4. Os preço de cada bem de consumo é equivalente aos custos de produção. Estes são dados pela soma dos preços de cada serviço produtivo empregado multiplicados pela intensidade

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do emprego(número de vezes que o serviço é utilizado na produção).Como temos m bens de consumo obtemos mais m equações:

Pb1= as1,b1.ps1 + as2,b1.ps2 + … + asn,b1.psn

Pb2= as1,b2.ps1 + as2,b2.ps2 + … + asn,b2.psn

.

.

.Pbm= as1,bm.ps1 + as2,bm.ps2 + … + asn,bm.psn

  Dessa forma obtemos 2m+2n equações, tantas quantas incógnitas tínhamos no início.O

sistema pode então ser resolvido. É importante perceber que tudo isso não é nada mais do que uma decorrência direta da

premissa inicial de que toda oferta é demanda. A idéia da lei de Walras do equilíbrio dos mercados é demonstrar que, somando cada

procura e oferta referentes aos mercados individuais, será obtida uma demanda agregada e uma oferta agregada de iguais magnitudes.Trata-se de uma identidade.

Walras, ao formalizar o equilíbrio geral como um sistema de equações, torna visível a interação entre os mercados.

Mais do que isso, Walras propôs um modelo que demonstrou a possibilidade teórica do equilíbrio global dos mercados, para uma economia simples construída com base nas hipóteses do modelo.

É importante frisar que a contribuição de Walras foi essencialmente mostrar que o problema poderia ser resolvido, e não como resolvê-lo.

Isto pois, ao encontrar tantas equações quanto incógnitas, não se garante a existência de uma solução para o sistema de equações, e nem se garante que se existir solução esta contenha somente resultados que têm sentido econômico(por exemplo não registrando preços negativos, o que seria uma violação das condições iniciais); e, ainda, nem mesmo garante que a solução seja única.

Percebendo a insuficiência de seus argumentos, Walras sugeriu que a solução(ou seja as quantidades e preços capazes de equilibrar todos os mercados) poderia ser alcançada através da atuação do leiloeiro.

Este, lançando mão do processo de “tateamento” levaria os mercados ao estabelecimento dos preços e quantidades ótimas para o equilíbrio.

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17.Estrutura do mercado segundo a teoria da utilidade

Temos abaixo um diagrama que descreve sinteticamente como a teoria da utilidade aparece, em Marshall, na construção do conceito de mercado, reaparecendo nas relações dinâmicas que o regem.Nele está esquematizado o processo pelo qual o agente, ao buscar o equilíbrio marginal, entra no mercado, integrando o lado da oferta ou da demanda.

Legenda P=Produto obtido(produzido ou adquirido) $=Rendimento(Salário ou lucro) DUMg= Desutilidade marginal do esforço produtivo(Inclui a utilidade da moeda de que se abre mão para pagar os custos de produção, o esforço do trabalho e de inspeção) Umg=Utilidade marginal extraída do consumo Umge=Utilidade marginal da moeda

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Apêndice Histórico

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A Estrutura feudal

No feudalismo as armas dos barões(senhores) era a lei, e a força com que eram manuseadas a garantia do cumprimento desta.

Por não possuírem armas, ou força para empunhá-las , aos camponeses cabia aceitar e cumprir a lei dos barões.

Isto significava sustentar com trabalhos forçados a ociosidade dos mais fortes. Sweezy1 define o feudalismo como o sistema de produção no qual a servidão é

dominante como relação de trabalho, e as atividades produtivas concentram-se nas propriedades senhoriais.

É um sistema de produção para o consumo caracterizado por técnicas rudimentares de produção, divisão do trabalho primitiva, fragmentação política e administrativa.

As corporações de ofício

As corporações de ofício possuiam a função de capacitar os aprendizes na execução de determinada atividade produtivas e concentravam-se mais intensamente nas cidades.

Eram compostas pelos mestres, que instruíam, supervisionavam e captavam os lucros;pelos aprendizes que tomavam as lições e trabalhavam efetivamente sem nada ganhar; e pelos os jornaleiros, trabalhadores capacitados que recebiam por peça feita ou dia trabalhado.

Cada uma das corporações de ofício possuía exclusividade sobre as manufaturas que produzia, sendo a produção destas por lei proibida aos demais setores produtivos nacionais (muitas vezes internacionais).

A proteção das atividades das corporações de ofício foi um dos grandes entraves à evolução das técnicas produtivas.

Com a expansão comercial as corporações transformam muitos de seus métodos produtivos, em função das novas possibilidades de lucro da produção manufatureira.

O declínio feudal

A expansão comercial deu força à atividade dos mercadores que passaram a desfrutar cada vez mais de maior parcela do poder econômico.

Eles passaram a ser conhecidos como burgueses, e os bens que traziam à Europa tornavam-se cada vez mais parte dos hábitos de consumo dos senhores e do rei.

Nas regiões em que os sistema feudal era relativamente novo, a necessidade de obter uma receita cada vez maior para adquirir as manufaturas levou os senhores feudais a exigirem obrigações maiores dos servos.Assim foi na Europa Oriental.

Onde os laços feudais já estavam a apodrecer, romperam-se de vez com a difusão comercial, abrindo espaço para o arrendamento de terras e trabalho assalariado.Isto deu-se predominantemente na Europa ocidental, manifestando-se portanto na Inglaterra.

As necessidades geradas pelo comércio, manifestadas na sociedade feudal, não poderiam ser supridas pelo modo de produção vigente, dada a insuficiência deste. A incapacidade do feudalismo de fazer frente ao comércio, provém de sua própria estrutura e determina seu colapso.

1 SWEEZY, M. A transição do feudalismo para o capitalismo

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O comércio não destruiu o feudalismo, apenas revelou suas fraquezas. A simultaneidade da decadência do segundo e da expansão do primeiro, gerou o quadro econômico ideal para que o capitalismo surgisse, como sistema capaz de fazer frente às necessidades emergentes.

O parlamento inglêsSurgimento do parlamento O rei Henrique II(1216-1272) utilizou algumas vezes o expediente de convocar uma

assembléia formada por cavaleiros e burgueses para negociar a aprovação de novos impostos com as cidades e condados.

Este expediente passou a ser adotado repetidas vezes pelos reis que o sucederam, sendo a denominação "Parlamento" dada na convocação de 1295, no reinado de Eduardo I(1272-1307)

Os cavaleiros e os burgueses, por perceberem que tinham interesses em comum fundam a "câmara dos comuns" em 1343.

Posteriormente, os barões e proprietários de terra formam a "câmara dos lordes". Inicialmente o parlamento não tinha uma organização definida nem mesmo suas

reuniões tinham uma periodicidade fixa, elas se davam apenas quando o rei desejava aprovar novos impostos.

Foi somente no século XVII "quando a nação definitivamente reconheceu sua obrigação de arcar com os custos de seu governo através de tributos, que o parlamento assumiu a direção da nação."2

Estrutura e fundamento do parlamento Em 1340 Eduardo III(1327-1377) declara que nenhum novo imposto entrará em vigor

sem a aprovação do parlamento. A partir daí faz uma série de concessões ao parlamento, dando-lhe poderes para votar

tributos, fazer apropriações definitivas e demitir os ministros corruptos e ineficientes. O poder do parlamento se consolida quando este se envolve na derrubada de Ricardo

II(1577-1399) e na eleição de Henrique IV(1399-1413). A partir daí, o parlamento passa a ser uma instituição de considerável influência na

esfera político-administrativa da Inglaterra. O parlamento teve importante papel no desenvolvimento do nacionalismo Inglês. Nele

passaram a encontrar-se homens de todas as regiões da Inglaterra, em uma época que a comunicação não era muito difundida. A troca de idéias que ocorria em suas reuniões, fomentou a criação de valores políticos que passaram a ser comuns às localidades e classes sociais.Tal fato foi essencial para o desenvolvimento de um pensamento unificado, nacional.

Os partidos Whig e Torie O parlamento passa a ser disputado por volta de 1679 por dois partidos: os Whigs,

seguidores de Earl de Shaftesbury, e os Tories, seus opositores.

2 DIETZ, F.C.Political and Social History of England pg.91

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Os Whigs proclamavam a necessidade de restringir o poder do rei através do aumento do poder do parlamento.Eram tolerantes quando a religião.Seu programa compreendia o liberalismo e a limitação governamental.

Os Tories defendiam a não-resistência à autoridade real. Seu programa era conservador e clamava por um governo forte.

A supremacia parlamentar O parlamento tem seu poder gradativamente diminuído no período do século XV ao

século XVII, processo que culmina com sua dissolução em 1629. Em 1640 o parlamento é reconvocado e revolta-se contra o rei Charles I, o que dá início

em 1642(Revolução puritana) à múltiplas batalhas pelo poder. Em 1649 o parlamento retoma sua influência sob o controle de Cromwell ,

consolidando-a em 1653 através da promulgação de uma constituição. Em 1689 o parlamento passa a governar efetivamente a Inglaterra, pelos poderes

ganhos com a aprovação do "Bill of Rights".

O Estado Nacional Inglês e suas convulsões A revolução puritana Através da centralização do poder a dinastia Tudor estabelece o Estado Nacional Inglês

nos moldes do absolutismo. Nesta nova situação, o parlamento passa a ser controlado pela força e vontade dos reis. Com a morte de Elizabeth(1558-1603),a dinastia Tudor é substituída no poder pela casa

dos Stuart. Charles I(1625-1649), aumenta seus poderes progressivamente, dissolvendo o

parlamento em 1629. Em 1640, este mesmo rei volta atrás e convoca o parlamento com o objetivo de levantar

recursos para pagar pesada indenização aos escoceses. A hostilidade contra o rei é grande.Os líderes parlamentares conspiram a sua deposição. Os puritanos que predominavam na casa dos comuns voltam-se abertamente contra o

rei. A câmara dos lordes fica ao lado do soberano. Inicia-se a revolução puritana em 1642 com manobras do exército constituído pelo

parlamento contra as forças de Charles I. Uma dissidência religiosa surge no parlamento opondo os presbiterianos àqueles que

denominavam-se independentes.Enquanto os primeiros passam a controlar a instituição, os segundos passam dirigir o exército.

O exército parlamentar é ampliado e reestruturado por líderes como Oliver Cromwell, sendo denominado "New Model Army".Ganhando cada vez mais batalhas, a força de seus líderes faz-se cada vez maior, alimentando suas pretensões, que passam a incluir a a derrubada da monarquia e o estabelecimento da república.

O commonwealth e o protetorado Em 1646, Charles I é capturado pelo parlamento e a guerra é dada por vencida. O New

Model Army é dissolvido, sem que seus membros recebam o pagamento por seus serviços.

O ódio ao parlamento irrompe de vez quando este inicia uma perseguição religiosa contra os independentes(religião de todos os membros do New Model Army).

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O exército então invade o parlamento, expulsando os presbiterianos que resolvem bater-se em novas batalhas.

Com a vitória do exército estabelece-se a república em 1649, num período que ficou conhecido como o CommonWealth.

Cromwell foi o grande articulador do período e tentou manter a coesão do império e a tolerância religiosa, controlando o parlamento.

Com a elaboração de uma constituição escrita e com sua aceitação por Cromwell, este passa a ser conhecido como o Lorde Protetor, no período que vai de 1653 a 1658.

A restauração e a revolução de 1688

Com a morte de Cromwell, a dinastia Stuart é recolocada no poder, na pele de Charles III (1660-1685).A monarquia é então restaurada.

Em 1688 dá-se a revolução gloriosa, que leva este nome pois nenhuma gota de sangue foi derramada para que os reis aceitassem a limitação de seus poderes.

A "Bill of Rights" de 1689 foi uma declaração escrita pelo parlamento que consistia em leis regulamentadoras do poder real.

Sua aceitação pela coalização real formada por William e Mary(688 a 1702) marca o fim do absolutismo inglês.

Política externa e principais conflitos(1697-1763)

Este período é marcado pelo reinado da dinastia Hanover, e pelo governo efetivo do parlamento.

O parlamento preocupou-se em fixar lei restritivas de cunho mercantilista aplicadas ao comércio exterior, visando a soberania econômica inglesa.

Em 1755 a Inglaterra declara guerra à França, em função de disputas territoriais na América e na Índia.É a chamada guerra dos 7 anos.

Em 1766 as colônias americanas declaram guerra à Inglaterra, pela sua liberdade. O estopim do conflito foi a pesada tributação a que estavam submetidos os produtos coloniais.

Os filósofos do egoísmo3

Para compreender a concepção de egoísmo, presente na visão de Adam Smith do ser humano, e , retomada em muitos dos autores posteriores, devemos conhecer a origem filosófica de tal idéia.

Esta origem pode ser buscada nos trabalhos de autores que repensaram a sociedade e o estado, no contexto de decadência do feudalismo.

Os autores mais influentes nesse sentido foram Thomas Hobbes, David Hume,John Locke, Francis Hutcheson e Bernard de Mandeville.

Thomas Hobbes, 1588-1679 Os homens são iguais o bastante para que a vontade de um deles nunca se sobreponha

totalmente à de outro qualquer.

3 Esta seção é uma adaptação do conteúdo do site History of Economic Thought da New School of Economics e do livro “Clássicos da Política” Vol.1, organizado por Francisco Weffort.

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Cada homem tem o "direito à natureza" ou liberdade para preservar sua vida. Este direito habilita-o a fazer o que julgar conveniente para sobreviver, ou seja leva-o a

agir de forma egoísta. O egoísmo presente em todo homem é, portanto, racional. A violência é a manifestação

deste egoísmo que atua por sobre os próprios homens Sem uma autoridade capaz de controlar a violência, sua generalização seria destrutiva

para todos. O estado em que tal autoridade inexiste é chamado de "estado natural". O estado natural é um estado de guerra "de todo homem contra todo homem". A negação deste estado ocorre com o estabelecimento da lei da natureza, que retira a

liberdade do homem de destruir-se. A lei da natureza passa a vigorar quando cada homem transfere o direito de governar a

si mesmo para o soberano, desde que todos os demais o façam. Todos os homens unem-se em uma só pessoa, formando o Estado, o Leviatã. O Leviatã recebe o monopólio da violência e da autoridade absoluta. Em troca deve

usar seu poder para manter o estado de paz. Como seu poder nasce do acordo estabelecido, o estado tem um incentivo para não

abusar dele, pois isso significaria o rompimento da legitimidade deste poder. Este conjunto de idéias que vê a origem do estado no egoísmo humano é chamado de

"selfish system".

David Hume, 1711-1776. Hume foi um dos mais ativos representantes do iluminismo escocês. Ele critica o selfish system de Hobbes argumentando que existe um "sentimento",

diferente do egoísmo e não-redutível a esse, que faz o homem desejar o que é "bom" para os demais homens.

Tal sentimento se opõe ao egoísmo e é designado por ele como benevolência, simpatia, ou "sentido de humanidade": constitui a fonte dos juízos morais;

Para Hume, o sentimento de humanidade faz com que cada homem reconheça, além da sua "utilidade" imediata, a "utilidade" dos demais homens(não considerada pelo selfish system).

Hume combateu as teses mercantilistas, propondo que a riqueza é dada pela produção manufatureira e não pela quantidade de moeda acumulada.

Utilizando sua teoria quantitativa da moeda demonstra a impossibilidade da balança comercial favorável4.

Hume não acreditava na existência de uma "ordem natural" nem mesmo em um "contrato social". Seus trabalhos são constuídos por vigoroso empirismo.

Sua teoria moral hedonista deu origem mais tarde ao utilitarismo. Amigo próximo de Smith, a influência de sua filosofia egoísta está presente nas duas

grandes obras deste.

John Locke, 1632-1704. O empirismo é o sustentáculo da filosofia de Locke e está expresso pela "Lei da tábula

rasa".

4 Esta demonstração é apresentada na discussão dos mercantilistas, seção "Crítica".

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Segundo esta lei a mente é um papel em branco preenchido pela experiência. Para Locke, antes da sociedade havia o indivíduo em estado natural. O estado natural é essencialmente pacífico, nele inexistindo quaisquer garantias à

propriedade ou mesmo à proteção. Locke coloca que , quando um homem agrega trabalho à determinado bem ou à terra,

este passa a pertencer à ele. Aí está o germe da teoria do valor-trabalho desenvolvida por Smith, Ricardo e Marx.

A racionalidade leva os homens a estabelecerem um contrato de formação da sociedade civil.

Esta é presidida pelo corpo político, que obtém sua legitimidade do consentimento de todos.

Os objetivos deste orgão é garantir a propriedade e proteger a comunidade. Temos aí a fundação do conceito de individualismo liberal (com a garantia da posse

privada), que permearia a literatura econômica vindoura. Esta visão do Estado está registrada na obra Dois tratados do governo civil. Locke também acreditava que a propriedade podia ser garantida através da compra com

moeda. A partir desse conceito estabeleceu alguns dos princípios fundamentais da teoria

quantitativa da moeda, utilizando-os para estudar os juros.

Francis Hutcheson, 1694-1746 Huctheson contesta o preceito hobbesiano de que os seres humanos agem de acordo

com a dor ou prazer que esperam obter. Para este autor nem todas as atitudes humanas são egoístas. Isto pois a benevolência (vontade de dar prazer aos outros seres) é natural ao ser

humano e manifesta-se em seus atos, inconscientemente. O prazer, desta forma, não é obtido como fim. Ele surge quando observa-se ou realiza-

se algo virtuoso, exatamente porque esta virtude inerente estimula a benevolência e o senso moral.

Huctheson concluí então que a felicidade é alcançada quando nossas ações distribuem prazer para o máximo de pessoas. Esta conclusão lançou as bases do utilitarismo.

Hutcheson influenciou grandemente A.Smith. Este último , com sua obra "Teoria dos sentimentos morais", mesclou os princípios de Hutcheson à doutrina hedonista de Hume.

Bernard de Mandeville, 1670-1733. A obra Fábula das abelhas é publicada em 1714 por Bernard Mandeville, médico

holandês. Nela o autor propõe a tese de que vícios como a luxúria, a ganância, a inveja, etc.

acabam traduzindo-se em benefícios públicos por estimularem os empreendimentos.Por exemplo:

"The Root of evil, Avarice,That damn'd ill-natur'd baneful Vice,

Was Slave to Prodigality,That Noble Sin; whilst Luxury

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Employ'd a Million of the Poor,And odious Pride a Million more."

Envy it self, and VanityWere Ministers of Industry"

(B. Mandeville, Grumbling Hive: p.34) Esta obra motivou uma série de críticas escritas por filósofos do egoísmo como

Hutchenson.A discussão que abriu contribuiu, portanto, para a fomação da filosofia individualista presente nos escritos econômico clássicos.

A revolução francesa Na França, em meados do século XVII o sistema feudal prevalecia ainda como lógica

produtiva. O estado absolutista detinha todo poder de que necessitava para usurpar as colheitas dos

caponeses com pesados tributos. Este tributos serviam ao sustento da nobreza feudal, que constituíam juntos a proporção

mais abastada da população. O Estado francês, devido extravagante política de controle e focalização de gastos

incorre em dívidas que adquirem porporções impagáveis. O aumento dos impostos não mais é capaz de proporcionar uma receita suficiente,

servindo somente à destruição gradual da capacidade produtiva dos camponeses, que com muita dificuldade produzem para subsistência.

Quando o soberano decide que não vai suprimir os privilégios dos ricos, o povo revolta-se tomando as ruas em uma milícia armada em 1792.

O rei acaba executado, e seu regime tem o mesmo fim. Napoleão Bonaparte, um dos dirigente do exército francês, empreende campanhas com

o intuito de ampliar o território da França. A partir de 1793 a França de Napoleão passa a disputar com a Inglaterra o domínio

econômico e político da Europa.

A Revolução industrial

Em meados de 1790 atinge grande proporção a industrialização e a difusão deste sistema produtivo, é o irromper da Revolução Industrial.

O aumento populacional do século XVIII A população inglesa cresceu de 17% a 18% no período que vai de 1700 a 1750 e de

52% de 1750 1800, quando atingiu 8.6000.000 de habitantes1.

Ampliação do mercado externo

1Dados extraídos de DIETZ, F.C.-Political and Social History of England pg.434

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A demanda por exportações foi um fator significativo para os negócios britânicos no século XVIII. A expansão do comércio ultramarino levou a valorização de muitos setores comerciais.

A maior parte do comércio era realizado com a Holanda e a Alemanha. Eram negócios muito lucrativos e davam-se através dos anos sem grandes mudanças.

O impulso realmente inovador e dinâmico, que acabou por desorganizar o sistema produtivo inglês, veio do comércio com Espanha e Portugal, Irlanda, Índias ocidentais, Índia, e com as colônias do Atlântico norte, como Pennsylvania, Massachusetts, e Nova Iorque.

As exportações para Espanha e Portugal dobraram no período de 1700 a 1780; As exportações para as Índias Ocidentais aumentaram 6 vezes; Para o leste da Índia, 7 vezes; Para as colônias americanas 7 vezes no total sendo que, somente para a Pennsylvania teve um aumento de 30 vezes;Para a Irlanda 9 ou 10 vezes2.

Esforços feitos para suprir a demanda externa A conseqüência desta expansão do mercado consumidor foi uma enorme pressão sobre

a produção manufatureira inglesa, no sentido de expansão da produção. O setor produtivo inglês, no século XVIII estava organizado na forma doméstica.Todo

processo produtivo era ainda, na maioria das vezes, realizado pelas mesmas fábricas. Na manufatura de tecidos de lã do oeste inglês, por exemplo3, o controle da produção

estava nas mão dos vendedores de tecido. Eles compravam a lã crua, lavavam-na e cardavam-na eles mesmos. Logo depois carregavam-na nas costas de seus cavalos através dos campos até as cabanas dos fiandeiros, que ficavam encarregados de fiar a lã. Mais tarde os fios de lã eram coletados pelo clothier, que os levava para as cabanas dos tecelões para serem transformadas em tecido.

Mas na maioria dos casos o sistema doméstico era capaz de estender sua capacidade, principalmente quando a necessidade para isso era imperativa.

É exatamente através da pressão desta necessidade sobre as especificidades dos setores produtivos de então, como o têxtil, que a divisão do trabalho e a introdução de máquinas puderam ocorrer gerando ganhos de produtividade progressivos.

Um exemplo de inovação revolucionária foi o motor a vapor de James Watt. Elaborado dentro de especificações técnicas precisas, ele se tornou a principal fonte de energia para o processo produtivo.

A energia a vapor permitiu a expansão territorial das fábricas, pois necessitava apenas do carvão vegetal para sua geração, recurso mais acessível do que as quedas d’água que antes moviam as máquinas.

Assim dá-se intensa difusão produtiva que resulta em melhores condições de vida para a população(relativamente), o que reverte-se em novas expansões populacionais.

Na Inglaterra, a divisão do trabalho torna-se então cada vez mais intensa, expandindo-se por todos os ramos produtivos.Como Smith enunciava, tal processo deu-se em função da expansão dos mercados.

Paralelamente, a especialização produtiva(divisão de tarefas) permitiu a introdução de máquinas capazes de reduzir o esforço do trabalhador por peça produzida.

2Idem pg.440 3Exemplo retirado de DIETZ, F.C.-Political and Social History of England pg.441

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Invenções principais4: Flying Shuttle(1784) de Jonh Kay : Lançadeira de máquina de costura, invenção que

muito aperfeiçoou a tecelagem. Spinning Jenny(1769) de James Hargreaves(1720-1778): Máquina de fiação com 8

fusos numa carreira ou fiada, movida à mão. Water Frame(1775) de Richard Arkwright(1752-1792): Uma armação para fiar movida

à água especialmente virada para a fiação do algodão. Spinning Mule de Samuel Compton(1753-1827):Máquina para a fiação de algodão,

automática, combinando as características da Spinning Jenny e da Water Frame. Motor à vapor(1769) de James Watt: Permite a alimentação das fábricas com energia a

vapor.

A revolução agrícola Nos séculos XVII e XVIII dois eventos referentes à agropecuária inglesa ocorrem:

Importantes progressos são alcançados na agricultura, com a introdução de inovadores métodos de cultivo;e a demanda externa por lã inglesa aumenta consideravelmente(A lã era a principal matéria-prima da produção têxtil).

Tais eventos levam os fazendeiros à cercarem terras no norte da Inglaterra no século XVII, limitando-as à produção das culturas que haviam-se tornado grandemente lucrativas, como a lã.

Com a instituição da propriedade privada os fazendeiros poderiam recolher os lucros da produção em sua totalidade.Isto os motivava a investir e produzir mais.

A redivisão das terras deveria acontecer mediante comum acordo e foi assim no século XVII. Mas, depois de 1760 o entendimento torna-se difícil, o que leva os fazendeiros mais ricos a pedir a intervenção do parlamento.

Coercitivamente, o parlamento realizou os cercamentos no sul da Inglaterra, expulsando os habitantes e destruíndo seus cultivos para estabelecer rebanhos de ovelha.

O socialismo utópico de Saint-Simon, Owen e Fourier

Entre 1830 e 1840 desenvolveram-se na França e na Inglaterra pensamentos revolucionários que questionaram o capitalismo industrial e sua estrutura produtiva e distributiva, propondo uma sociedade igualitária, em que cada um poderia desfrutar da produção de acordo com o esforço que empregasse individualmente para gerá-la.

Robert Owen funda uma fábrica em New Lanark, na Escócia em 1797, na qual as jornadas diárias eram mais curtas e os salários melhores, além de ser proibido o emprego de crianças com menos de 12 anos.

Atividades culturais e educativas faziam parte do cotidiano laborial. Com sua fábrica, Owen procurou desenvolver o modelo de organização produtiva que

via como alternativa às condições degradantes que tanto faziam os assalariados sofrer à época.

Acreditava que, proporcionando uma vida mais digna e decente aos trabalhadores, sua produtividade poderia ser até aumentada,e os capitalistas beneficiados.

Lançado à própria sorte, Owen teve grandes dificuldades em manter seus negócios, da forma inovadora como os tocava.A total falta de apoio à sua causa levou-o a perceber

4 Retirado de Blaug, Mark -Historia do pensamento economico(1989) pg 74-75

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Page 174: EAE – 115 Introdução aos Clássicos do … · Web viewO preço nominal é dado em termos de moeda. Oferta e demanda na determinação dos preços A vontade individual de comprar

que somente através da formação de cooperativas de trabalho, geridas pelos trabalhadores, poderia-se fazer frente à lógica exploratória da produção capitalista.

Tais cooperativas não teriam o lucro como motivação ou razão de ser, e suas estruturas e meios seriam utilizadas coletivamente, ou seja, a propriedade privada daria lugar, nelas, à posse comum.

As idéias de Owen influenciaram pensadores econômicos como Willian Thompson, Thomas Hodgskin, e Jonh Stuart Mill.

Saint-Simon foi outro grande defensor das cooperativas, vendo-as como superiores à organização industrial do século XIX. Ele atuou na revolução francesa e independência americana em prol da causa dos trabalhadores.

Fourier lutou na França em 1830 pela criação de frentes cooperativas que chamava de falanges, propondo-as como alternativa ao sistema de produção vigente.

Fourier criticou a sociedade burguesa estabelecida com a revolução francesa, contrapondo ao resultado deste movimento seu próprio lema :“liberdade, igualdade e fraternidade”. Ele acreditava que a distribuição da produção deveria se dar de acordo com a contribuição individual.

Proudhon condenou veementemente a propriedade como origem de todo o sofrimento incutido à classe trabalhadora.

Para ele o estado era um instrumento de imposição e controle da propriedade privada.Propunha então o desmonte do Estado e a abolição da propriedade.Assim fazendo-se, chegar-se-ia à uma sociedade em que todos seriam livres para viver de seu próprio trabalho.

O movimento trabalhista no século XIX e XX- As Revoltas dos trabalhadores

A insalubridade do ambiente de trabalho- insuficiente em sua capacidade e estrutura para possibilitar as mínimas necessidades (como a quantidade correta de metros cúbicos de ar respirável, iluminação e higiene)-, a divisão do trabalho em tarefas repetidas à exaustão, a remuneração muito inferior à produção per-capita, e o alto nível de desemprego, colidiram dentro de cada trabalhador formando uma angústia geral que fez-se em revolta.

O movimento dos trabalhadores na França-A revolução de 1848

O operariado francês não dispunha de qualquer defesa ou instrumento de barganha face os capitalistas, estava totalmente desprotegido.

Paris era o centro do poder político no país, e os grupos que pudessem tomá-la de assalto teriam autoridade nacional.

Para levar a cabo tal conquista, a ajuda dos trabalhadores mostrou-se indispensável à burguesia conspiradora. Em 1830 um levante foi deflagrado, outro em 1832.

Cada vez mais os que aspiravam ao poder sentiam a necessidade de ter o trabalhador ao seu lado, e passaram a agir para isso.

Paralelamente, o proletariado francês passa a tomar contato com as idéias socialistas, articulando-se para pô-las em prática.A oportunidade surge em 1848, com o movimento revolucionário, no qual o povo pega em armas entrincheirando-se pelas ruas de Paris.

“1848 foi um ano de terror para a velha ordem no continente. Havia um fervor revolucionário no ar e uma agitação subterrânea.”(HB-120)

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Um governo provisório é então estabelecido, e o revolucionário Louis Blanc tomou parte, fazendo ser cumpridas algumas das reivindicações do movimento. A luta prossegue, sangrenta, e com ela o movimento perde sua força, até definhar sem maiores conquistas.

Em 1871, um grupo de operários domina a capital francesa por alguns meses, hasteando a bandeira vermelha, num episódio que ficou conhecido como “A comuna de Paris”.

Em 1880 constitui-se um partido socialista de considerável expressão no país.Ele passa a disputar o poder com os conservadores burgueses, e chega a atingir sua projeção máxima em 1914.Depois degrada-se, sendo retomado com sucesso em 1936, mas dissolvido em 1938.

O movimento dos trabalhadores na Alemanha(A social-democracia) Ferdinando Lassale funda o movimento social democrata alemão, “despertando nas

classes operárias a consciência de sua força política.” Lassale e seu grupo eram fortes no norte do país, enquanto que no sul o socialismo de

Liebknecht e Babel dominavam. Com a unificação alemã, em 1871, os grupos se juntaram no partido socialista operário, mais tarde, partido social democrata alemão.

Bismarck- o artífice da unificação alemã e então regente- persegue o movimento, tornando o partido ilegal. Tais esforços não puderam conter os envolvidos, que chegam ao Reichstag (Parlamento alemão), dominando-o em 1912.

Em 1918, o partido dirige a revolução que acaba com o império, instituindo a República.É finalmente desmontado pelos nazistas em 1933.

O movimento dos trabalhadores na Inglaterra

O movimento Ludista, que ficou conhecido por promover quebras de máquinas, foi uma das mais violentas maneiras que os trabalhadores encontraram para extravasar seu ódio e desespero.Estas rebeliões destrutivas deram-se entre 1811 e 1848, sendo repelidas à duras punições do Estado.

Em 1837, um grupo que autodenominou-se “ A associação londrina dos trabalhadores”sob a liderança de W. Lovett, entre outros, entregou à casa dos comuns uma carta com seis pontos, que acreditavam ser de vital importância para a melhoria da situação de sua classe, devendo, portanto, ser implementados pelo parlamento.

Os pontos incluíam normas de representação igualitária para todos os distritos no parlamento, o sufrágio universal, entre outras medidas que visavam criar direitos políticos aos trabalhadores.

Esse movimento ficou conhecido como cartista, devido ao fato de comunicarem suas exigências por meio de cartas ao parlamento.

O parlamento não se mostrou aberto à negociações, o que levou os cartistas a revoltarem-se, promovendo o boicote às instituições que se beneficiavam às custas dos trabalhadores, como os bancos e o Estado.

Rejeitado pelo parlamento mais uma vez, o movimento cartista que já vinha perdendo suas forças não demorou para se extinguir.

Agitações que reuniram a classe média e os trabalhadores puderam conseguir o direito de voto aos trabalhadores urbanos, em 1867 e rurais em 1884.

Em 1888 é fundado o partido dos trabalhadores na Escócia, e em 1893 o partido trabalhador independente inglês, oposto aos judeus liberais.

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Os dirigentes desse percebem que o apoio dos sindicatos ou trade unions é valiosissímo no parlamento.Reunem-se então os sindicalistas de diversas tendências no Comitê de Representação Trabalhista.

Em 1918, o Partido Trabalhista(novo nome do comitê), é a tendência que mais elege representantes para o parlamento, superando o número de cargos de posse dos liberais, latifundiários, capitalistas. Com isso a causa trabalhista ganha projeção política suficiente para tornar-se oposição constituída contra o rei.

A internacional De acordo com Karl Marx, o capitalismo criava, em seus setores produtivos, aqueles

que o derrubariam, o proletariado.Para dar força a esses, Marx atuou em seu tempo como um dos maiores articuladores e profetas do movimento dos trabalhadores.

A liga comunista é formada quando o Manifesto do Partido Comunista é publicado, mas logo se desmonta.Em 1864, em Londres, é fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, que chegou a possuir sete milhões de membros.

“A Internacional” foi em grande parte produto dos esforços de Marx, consistindo na reunião de trabalhadores de todo o mundo em congressos, mobilizações, e até mesmo greves.

Mas as dissenções ideológicas internas eram uma constante, e quando a autoridade de Marx é posta em questão pelo anarquista Bakunin, os membros da internacional se dividem, enfraquecendo-a.Ao que é então dissolvida em 1876.

Em 1889 é formada a segunda internacional, tendo como base uma conferência em Paris que reuniu socialistas de todos os países. Com a I Guerra mundial, é desmontada.

A terceira internacional toma lugar na Rússia em 1919, com o nome de Terceira Internacional de Moscou, ou Komintern, sendo fundada por comunistas.Com a ascenção de Stálin ao poder, desfaz-se mais essa associação.

As revoltas em que se lançaram os trabalhadores, muito impressionaram Mill, que mostrou-se inclusive partidário do socialismo utópico.

O imperialismoImperialismo e guerra

No final do século XIX as principais economias européias iniciam uma corrida de dominação e subjugação de regiões da Ásia e África.

“Começara a era do imperialismo, e os fabricantes de mapa tinham muito trabalho com a mudança das cores que indicavam a propriedade dos continentes menos desenvolvidos.Entre 1870 e 1898, a Grã-Bretanha aumentou seu império com uma extensa área colonial de 88 milhões de pessoas. A França conquistou quase que a mesmo área de seu território metropolitano, com 40 milhões de almas. A Alemanha enriqueceu-se de 16 milhões de colonos; a Bélgica obteve extensa área e 30 milhões de pessoas, e até Portugal entrou na corrida com novas terras e 9 milhões de habitantes.”5

Como uma nova colonização, que retomou o espírito conquistador e predatório que do século XVII-XVIII dava força ao mercantilismo, essa corrida deu-se contra a liberdade

5 HEILBRONER, Robert L.Introdução á História da Idéias Econômicas.pg. 173-174

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Page 177: EAE – 115 Introdução aos Clássicos do … · Web viewO preço nominal é dado em termos de moeda. Oferta e demanda na determinação dos preços A vontade individual de comprar

e soberania das regiões em disputa, e só serviu aos cofres e á ganância dos empreendedores europeus.

Estes, valendo-se do nacionalismo e proclamando sua missão de civilizar os povos não-desenvolvidos, acabaram por levar tal disputa a limites que tornaram impossível a convivência pacífica entre os estados europeus.

“O imperialismo tornou-se a estrada da guerra-não uma estrada real ou uma estrada para a fortuna ou a desgraça, mas um processo sórdido no qual as nações capitalistas competiam em busca de um canteiro fresco para as sementes de sua riqueza não-empregada.” 6

A primeira guerra surge então como um conflito impulsionado, em grande medida, pelo imperialismo.

As razões econômicas do imperialismo

O economista inglês John A. Hobson, assim como os alemães Rosa Luxemburgo e Rodbertos, elaboraram uma explicação teórica para o imperialismo, que o descreveu como produto das contradições internas do capitalismo.

A desigualdade de renda nas economias capitalistas desenvolvidas havia chegado a um tal patamar em que as rendas dos pobres, ínfimas, eram insuficientes para permitir-lhes assimilar toda produção corrente; e dos ricos era tão grande que, se fosse gasta em bens de consumo, seria humanamente impossível para cada um deles consumi-los.

Assim os ricos teriam que poupar obrigatoriamente, e não porque desejavam. Isso pois, se revertessem a parte não-consumida de sua renda em investimentos produtivos, receberiam lucros menos do que proporcionais, já que a demanda era insuficiente em um nível menor de produção.

Se o rumo da evolução econômica não fosse mudado, a taxa de lucro teria de cair.Daí, se o problema era o saturamento do mercado, devia-se buscar novos investimentos capazes de retornar um lucro proporcional. As economias dos capitalistas deveriam ser escoadas para outras aplicações, pois seu acúmulo estava depreciando o retorno que se podia obter sobre elas nas atividades em que estavam sendo aplicadas.

“Que fazer então?A resposta era diabolicamente clara. As economias automáticas dos ricos poderiam ser empregadas sem provocar o aumento da produção internamente: poderiam ser empregadas no exterior.É esta a gênese do imperialismo” 7

Bibliografia

BLAUG, M.Historia do pensamento econômico. Lisboa : Dom Quixote, 1989

DIETZ, F.C.A political and social history of England.New York: The Macmilan Company, 1937

DOBB,M.A Evolução do capitalismo. São Paulo:Abril Cultural, 1983.

6HEILBRONER, Robert L.Introdução á História da Idéias Econômicas.pg.180 7Idem

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