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“É PROIBIDO PROIBIR: O QUE CONTAM OS LIVROS DIDÁTICOS UTILIZADOS

PELOS SUPERVISORES DO PIBID/HISTÓRIA/UEL SOBRE A DITADURA1 MILITAR BRASILEIRA”

Elizabete Cristina de Souza Tomazini

PIBID/História /UEL Sirlene Angélica Silva Brandino

PIBID/História/UEL

Resumo: Isabel Barca afirma que uma das “maiores potencialidades da História é a consciência da profundidade que ela proporciona a quem procura compreender o mundo” (BARCA, 2012). Por isso, superar o ensino dos fatos históricos, sem a problematização e que não priorize a análise de diferentes ângulos é hoje um dos grandes desafios propostos ao professor da disciplina. Portanto, nesta apresentação pretendemos abordar esta questão tendo como objeto de análise dos capítulos das narrativas dos livros didáticos sobre a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985) adotados pelas escolas onde atuam os professores supervisores do PIBID/História/UEL. Partindo da análise destes manuais, percebemos modificações na forma de abordagem dos conteúdos históricos e também na questão da ditadura militar no Brasil. Nos anos iniciais da redemocratização do país ainda havia resquícios da corrente positivista que marcou o ensino da História durante boa parte do século XX. Já na década de 1990, os livros didáticos seguiam a linha marxista, enfatizando a luta de classes e colocando a ditadura como a dominação do capitalismo sobre o comunismo. A partir do século XXI os livros didáticos começaram a demonstrar mais empenho em trabalhar as posições dos governos militares, dos próprios opositores, das micro- histórias, das abordagens culturais, ou seja, articular a relação entre as histórias pessoais e a estrutura. Porém, as análises que os autores dos livros didáticos fazem ainda são fragmentadas, rápidas e parecem querer apresentar fatos como “verdades únicas”. O referencial teórico para análise das narrativas dos livros terá como suporte os estudos da Educação Histórica sobre os manuais didáticos e as propostas de ensino de Jorn Rüsen (1987) e Isabel Barca (2004).

Palavras-chave: Ditadura Militar; Manuais didáticos; Educação Histórica

Financiamento: Capes

1 Sobre a orientação dos coordenadores do PIBID/UEL subprojeto História (2014-2016) Professora

Doutora Marlene R. Cainelli e Professor Doutor Marcio Santana

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Introdução

O ano de 2014 marca os 50 anos do golpe militar que implantou a ditadura no

Brasil e que perdurou até 1985. O presente artigo pretende fazer uma reflexão na

forma como a ditadura militar é abordada no Ensino da História no Ensino

Fundamental, tendo como ponto de partida os livros didáticos adotados pela Rede

Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Por ser uma análise muito abrangente,

vamos investigar de forma mais específica apenas os livros trabalhados pelos

UEL.

PIBID é a sigla para Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência.

Este programa do Ministério da Educação foi criado com a finalidade de valorizar o

magistério e apoiar estudantes de licenciatura plena, das instituições municipais

públicas e comunitárias, sem fins econômicos, de educação superior. Tem como um

dos objetivos elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial

de professores nos cursos de licenciatura das instituições de educação superior,

promovendo a integração entre educação superior e educação básica por meio da

inserção dos licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação

básica. O programa visa também proporcionar aos futuros professores participação

em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter

inovador e interdisciplinar e que busquem a superação de problemas identificados

no processo de ensino-aprendizagem. Além de incentivar as escolas públicas de

educação básica a tornarem-se protagonistas nos processos formativos dos

estudantes das licenciaturas, mobilizando seus professores como co-formadores dos

futuros professores. Tanto os professores da escola básica como os licenciandos

recebem bolsas para a execução das atividades concernentes ao programa. O sub-

projeto da História da UEL atende as seguintes escolas pertencentes à rede

Estadual de Ensino Básico do Paraná : Gabriel Martins, Hugo Simas, IEEL, Tsuro

Oguido, Barão do Rio Branco, Vicente Rijo e Ubedulha Correia de Oliveira e conta

com 3 coordenadores, 9 supervisores de campo e 60 bolsistas da graduação.

Possibilitando assim uma análise dos livros didáticos pautada em diferentes

realidades, uma vez que estas instituições estão inseridas em diversas localidades e

realidades do município de Londrina.

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A escolha e distribuição de livros didáticos no Brasil se tornou um dos

maiores programas2 de governo da atualidade , envolve a participação de editoras,

consultorias que a cada triênio, encaminham para as escolas títulos que

contemplam o que se espera que o aluno aprenda durante sua permanência nos

bancos escolares, cabendo ao profissional de cada área de conhecimento a escolha

da opção que mais se adeque à realidade onde ele atua. No estado do Paraná é

premissa que o professor observe e leve em conta ao fazer suas escolhas as

Diretrizes Curriculares, que norteiam os conteúdos para cada ano do Ensino

Fundamental e Médio.

Observamos, que apesar de não ser o ideal, o livro didático na rede pública é

muitas vezes o único instrumento de trabalho do professor. Por isso, é de suma

importância que ele tenha familiaridade com a produção historiográfica, bem como

com os pressupostos teóricos e metodológicos da mesma, até mesmo pra se fazer

adaptações necessárias para o melhor ensino-aprendizagem. Segundo Reis e Prado

(2012), Rüsen assevera que:

um dos princípios constitutivos da didática da História é o de ordem teórica, por dizer respeito às orientações e discussões sobre as condições, finalidades e objetivos do ensino de História e, ainda, envolver questões como “ para que serve ensinar História?” , “por que trabalhar História na escola?” “ e que significado tem a História para alunos e professores?”(1987)

Para Thompson (1981) “a História é o estudo da experiência humana no

tempo e que estas não dependem única e exclusivamente de um sujeito e sim de

um conjunto de pessoas”. Sendo assim, um dos critérios para a seleção do livro

didático de história é aquele que possa contribuir para a formação de consciências

individuais e coletivas numa perspectiva crítica. Mesmo sendo o livro didático mais

uma fonte de estudo do cotidiano e não um objeto estudo aprofundado para fins de

estudo e pesquisa.

Batista (2000) considera que o livro didático “trata-se de um livro efêmero

que se desatualiza com muita velocidade”. Aí estaria a explicação para este

instrumento ser desprestigiado e restrito ao ambiente escolar. Apesar desta crítica e

de trazerem um saber sistematizado, o livro didático cumpre o seu papel, que é de

informar de forma didática.

2 PNLD é a sigla que identifica o Programa nacional de distribuição de Livros Didáticos.

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Mesmo seguindo os parâmetros curriculares do MEC, cada autor elenca os

temas e a forma como serão abordados, ou seja, os livros didáticos são materiais

carregados de ideologias e pensamentos específicos de cada autor. Portanto,

nosso objetivo com este estudo foi analisar os livros adotados pelos professores e

como a presença do PIBID pode contribuir para uma leitura mais consistente dos

mesmos, deixando de lado o caráter de manual, mas explorando-os como uma

fonte histórica.

Análise dos livros didáticos

Isabel Barca afirma que uma das “maiores potencialidades da História é a

consciência da profundidade que ela proporciona a quem procura compreender o

mundo” (BARCA, 2012). Sabendo-se que o livro didático é o principal instrumento

de trabalho do professor e o meio mais acessível de informação ao aluno, iremos

analisar quatro títulos utilizados pelas escolas atendidas pelo PIBID, observando

como os mesmos trabalham o tema ditadura militar. Os livros analisados são:

História – Sociedade & Cidadania – Edição reformulada – de Alfredo Boulos Júnior;

Nova História Crítica, de Mario Schmidt; Projeto Araribá da Editora Moderna e

História em Documentos de Joelza. Esther Domingues Rodrigues, todos para o

Ensino Fundamental.

Os livros analisados seguem a cronologia linear, onde os acontecimentos do

Brasil e do Mundo aparecem de forma integrada. Tem também uma inspiração

eurocêntrica uma vez que é a História europeia que norteia a presença dos outros

povos e eventos. BARCA critica esta maneira de apresentar os temas, porque dão a

impressão aos jovens de que a História é uma sucessão de fatos , com ligações,

onde um acontecimento desencadeia o outro. Na concepção de Barca o ensino de

História deveria ser orientado para:

O desenvolvimento de instrumentalização essencial (trato com a fonte, concepções, vestígios, tempo e recorte espaço temporal) – específicas (próprias da disciplina) e articuladas (o que transita entre as disciplinas [...] ser instrumentalizado em História passa por uma compreensão contextualizada do passado, com base na evidência disponível, e pelo desenvolvimento de uma orientação temporal que se traduza na interiorização de relações entre o passado compreendido, o presente problematizado e o futuro perspectivado. (BARCA, 2004. p. 134)

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Seguindo esta premissa, de um conhecimento histórico apresentado de forma

linear e eurocêntrica, nas quatro coleções o tema Ditadura Militar é apresentado no

4º volume, normalmente destinado ao 9º ano. Percebe-se com isso uma

desarticulação do conceito substantivo Ditadura de outros temas que seriam

pertinentes como por exemplo Democracia, Teocracia, Oligarquia, ou seja , ao aluno

apresenta-se este regime de governo como uma criação do mundo contemporâneo.

O livro de autoria de Boulos dá maior ênfase à história política e do passado

público, visando desenvolver a consciência crítica do aluno, orientando sua prática

como cidadão transformador da sua realidade. Isso se evidencia quando o autor

afirma que:

a consciência de que o passado se perpetua no presente é fundamental para o nosso sentido de identidade. Saber o que fomos ajuda-nos a compreender o que somos; o diálogo com outros tempos aumenta a nossa compreensão do tempo presente. (Boulos, 2012. P. 6)

Este autor pauta-se em referenciais teóricos da História Nova e da História

Social Inglesa, ou seja, vê a História como um conhecimento em permanente

construção e analisando a ação de diferentes grupos sociais nos acontecimentos.

Até porque as pesquisas desenvolvidas pelos neomarxistas ingleses nem sempre se

opõem às realizadas pelos integrantes dos Annales e seus continuadores da História

Nova. Tanto que Boulos trabalha com documentos, sabendo que o passado não

pode ser recuperado totalmente, e que sua investigação só pode ser feita a partir

dos problemas colocados pelo presente. A obra do referido autor aborda alguns

conceitos, objetivando a consolidação ou aprofundamento dos mesmos, os quais

são necessários ao entendimento da disciplina de História.

Um ponto positivo para este autor é que sua coleção prima pelo trabalho com

imagens. Dentro desta linha, trabalha-se com charges, que muitas vezes fazem a

crítica ou usam de ironia para analisar um fato.

No caso específico da ditadura militar, Boulos utiliza-se de todos os

elementos citados anteriormente, entendendo o golpe e a ditadura implantada pós-

golpe como uma junção de fatores, tais como, os choques entre grupos de esquerda

e direita, política desenvolvimentista da década de 1950 e como fruto de uma

conspiração, inclusive com a participação ativa dos Estados Unidos.

Esta visão diferencia-se da apresentada nos livros didáticos da década de

80, que apontavam a renúncia de Jânio Quadros e a instabilidade política advinda

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deste fato, como determinantes para o golpe. Já na década seguinte, os livros

didáticos apontam que as agitações políticas no governo de João Goulart e a sua

inabilidade no governo, poderiam ter contribuído para o golpe.

Na coleção Projeto Araribá, que aparece como uma obra coletiva concebida,

desenvolvida e produzida pela editora Moderna, o tema Ditadura Militar está

inserido dentro da Unidade sete ( o mesmo tem oito unidades), nomeada “

Democracia e ditadura no Brasil”. Em sua abertura são feitos questionamentos que

visam mostrar ao professor os conhecimentos prévios que os alunos possuem sobre

o tema: O que foi a ditadura militar e o movimento “Diretas Já”. São questionadas

também, a partir de das charges de Laílson Holanda, Henfil e Ziraldo, o que eles

sabem sobre Censura, Diretas Já, e o esporte (Copa do Mundo de 1970) usado

como propaganda pelos militares. Porém, num universo de 27 páginas, o tema é

trabalhado em apenas quatro. A ditadura militar é apresentada como “um regime

autoritário instituído em 1964 que durou 21 anos. Nesse regime a escolha dos

governantes era feita pelos chefes militares.” (ARARIBÁ, 2010, P. 254) Nota-se

ausência de sujeitos ou referência a grupos apoiadores ao regime. Movimentos

culturais são apresentados como a principal forma de resistência. Pede-se ao aluno

que analise a Lei de Anistia, sem apresentar evidências sobre a tortura, repressão

ou os grupos de guerrilha e resistência. As principais fontes são as charges, letras

de músicas e fotografias que parecem mais ilustrativas do que parte de uma

proposta de análise pelos alunos.

Na obra “História em Documentos” da Professora Mestre Joelza Ester

Domingues de Rodrigues, no manual do professor3 ela defende que a escolha em

trabalhar a História de maneira cronológica deu-se porque a autora entende que

esta “ ajusta-se melhor ao desenvolvimento psicocognitivo do aluno, adequando-se,

de forma natural, à compreensão do jovem sobre temas históricos”. (RODRIGUES,

2012, p.4) Nessa linha de pensamento a autora ainda defende que isto permitiria

criar uma “escala” de complexidade dos conceitos trabalhos indo dos mais

“simples”, como Monarquia, República, entre outros para os mais complexos como

feudalismo, Capitalismo, totalitarismo, entre outros. Observa-se aqui que a

Educação Histórica refuta tal pensamento , pois para Barca, Rüsen e Peter Lee

3 É parte do livro didático destinado ao professor um manual onde o autor da obra expõe as teorias

que embasaram a narrativa da coleção, bem como a correção das atividades propostas e, às vezes, outras sugestões de leituras ou atividades.

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entre outros, é consenso que não há idade apara aprender História ou seus

conceitos, o que há são níveis de conhecimentos históricos que independem de

idade ou ano escolar. Porém, Rodrigues afirma saber das novas pesquisas acerca

do aprender e ensinar história, e alega ter diminuído a sisudez de uma história

linear, incorporando análises de documentos ou “dossiês” ao final de cada unidade,

que propunham fazer o aluno pensar a história nas suas permanências e

mudanças.

No livro da autora o tema Ditadura Civil Militar está inserido na Unidade 3 ( a

obra tem quatro unidades) cujo o titulo é “ O mundo dividido pela Guerra Fria” e a

autora destinou ao tema vinte e cincos páginas. É característica desta coleção a

utilização de trechos e fragmentos de obras literárias e cada capítulo inserido dentro

destas unidades maiores. Para introduzir o conteúdo Rodrigues trouxe o relato de

Marcelo Rubens Paiva, presente na sua obra autobiográfica Feliz ano Velho, sobre a

prisão e o desaparecimento do seu pai o Deputado Rubens Paiva4. Como análise da

leitura do texto, RODRIGUES propõe que os alunos identifiquem se houve

legalidade nas prisões dos familiares de Marcelo Paiva, que crime teria motivado e

finalmente se os alunos sabem o regime político que governava o Brasil. Assim

como no projeto ARARIBÁ, são utilizadas como fontes fotografias, trechos de

músicas e charges, sendo um elemento novo o uso de páginas de jornais. Contudo

nesta coleção as fontes são utilizadas e analisadas, não se configurando em meras

ilustrações como na obra anterior. O enfoque maior nos textos sobre o tema é a

economia, porém uma linha do tempo dá destaque às atividades culturais do período

de 1964-1969.

A última obra analisada é o livro Nova História Crítica de Mário Schmidt

(2001), que diferencia-se dos demais pela visão marxista, amparando-se na

questão da luta de classes, enfatizando os aspectos políticos e econômicos. Apesar

disto, Schmidt também utilizou elementos da Nova História cultural francesa, que

prega a análise mais ampla da pesquisa histórica e a necessidade de análise de

várias obras e de diferentes interpretações, mostrando que a História não é única e

verdadeira.

4 Neste ano a Família de Rubens Paiva foi ouvida pela comissão da Verdade , que busca investigar

as violações de direitos civis cometidas entre 1946-1985, que alega ter identificado os responsáveis pela morte e desaparecimento do corpo do ex-deputado.

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Em seu livro o autor privilegia a contextualização, além de mostrar o papel de

diferentes personagens, até então omitidos nos outros livros didáticos analisados.

Por fim, o livro Nova História Crítica de Mário Schmidt utilizou-se de dois capítulos

para abordar o tema ditadura militar no Brasil. No entanto, a década de 1970 foi

analisada em outros capítulos.

Talvez esta seja a obra mais crítica comparada as outras analisadas neste

artigo, já que dominados e dominantes tem o mesmo destaque. Mas, assim como os

demais livros segue a linha linear e cronológica.

Conclusão

A ditadura militar ainda é um tema delicado para a sociedade brasileira,

FICO (2004) destaca que houve avanços nas leituras e interpretações que fazemos

destes 21 anos. E é possível perceber isso nos livros didáticos analisados, que de

certa forma trazem embutidos um discurso de neutralidade e distanciamento nos

textos que apresentam aos alunos. As obras em questão foram bem avaliadas no

guia do PNLD e por isso foram escolhidas pelos professores nas escolas citadas no

início do artigo. Cabe aqui ressaltar que atualmente há uma grande preocupação em

incorporar novas pesquisas nos livros didáticos , porém nem sempre os autores são

tão ágeis assim.

Em nossas análises constatamos que em muitas escolas o livro didático

constitui-se no principal recurso utilizado pelo professor. Caminhos apontam para

novas possibilidades, como a Aula- oficina de Isabel Barca. Entretanto, ainda há

muito o que se fazer para que isso se efetive nas escolas paranaenses. Neste

sentido, a presença do PIBID possibilita aos professores observarem a aplicação

destas novas teorias, uma vez que os bolsistas se inserem no contexto escolar e

trazem estas leituras. Neste semestre os mesmos tiveram que trabalhar o tema

Ditadura Militar na Minha Cidade com os alunos da Educação Básica e o fizeram

utilizando as teorias de Barca (2004) e Rüsen (2007). Com isso “sementinhas” são

lançadas no sentido de melhorar as aulas dos supervisores de campo.

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