A V E R D A D E

PELA ULTIMA VE2 EM CAMPO

CONTRA

0 MODESTO MANOEL FELIZARDO CARVALHO E ALMEIDA?

E O SIMPLES JOSE' GOMES FERREIRA.

ORRE-SE hoje de todas as partes para 0 tribunal da opiniao publ ica , e os mais per versos procurao chama-la ao seu partido, d i -rigindo a esta Senhora libellos escandalosos, e justificacoes feitas a candeia em noites de trovoada* E u conheco os caprixos da opiniao publica ; hoje esta a barlavento , e amanhS a sotavento \ vamos corntudo fazer-lhe tambem o nosso cortejo, levando sempre a cer* teza de que a nao procuramos para nos servir de capa de velha* cos. Nao insultarei o meu r i v a l , nao gri tarei com elle pela Santa Liberdade da Imprensa para o enxovalhar * sei o que he esta L i * berdade tao mal entendida, e que so tern servido para descomJ)OS* tura dos homens honrados * que ordinariamente fogem de dar satis-facoes^ sendo certa a maxima de que homens de mao caracter nem dao, nem tirao honra, embora consumao resmas de papel. A p -pareceo ha dias nesta Corte huma reposta dada , oU supposta, oa verdadeiramente dada a Verdade em campo. Havendo iia questao de que se trata a influencia dos partidos , sempre ficara indeciso o p r o , ou o contra, e o mais astuto , o mais habil no arranjo dos sofismas ficara triunfante. O meu contendor me considera coino hum fanftirrao , e eu o ju lgo hum sugeito modesto, veja o publico como din ere m os juizos dos homens ; o meu contender estende-se em medidas de braeas, enche a folha com algarismos ; e eu nao pertendo examinar se elie se enganou nas medicoes geometricas, ou se tern por si a evidencia mathematica : o meu contendor quer fa-zer ve* ao publico que elle tern boa Logica , e talvez obriga-lo a crer que em falta d' homens poderia ser Mestre de Filosofia. O meu contendor em fim me considera como hum velhaco , e eu a elle como hum bom homem* Comtudo para que conserve o seu bom nome , espero que me de modestamente licenca para lhe fa-zer alguns quesitos. = Podera huma caza arruinada' por ma admi-nisiraeao, por^m firme sobre bens de ra iz , e outros amoviveis er* guer-se novamente, cahindo nas maos de hum habil Administra-dor ? Sera l ivre a huma Senhora proprietaria t i ra r a administra­t e d' hum Prociirador para outro , sentindo-se lesada ? Podera* retractar huma escriptura de perfiliacao , feita em beneficio de huma pessoa extranha , havendo para este distracto motivos justos , como o mao tratamento para com a perfiliadora , e a immoralidade do adoptado $ Eu creio que o Sr. modesto Felizardo nao podera com a sua boa Logica • negar o zz sim zz a estas questoes. Posta esta preliminar, escuso-me de reproduzir segunda vez as circunstaneias, em que estava a dita Senhora v i u v a , e falecida, quando me cha-

h/iou para enirar Ha adimnistraeao dos setts bens', nem as razees que teve para me constituir no lugar do men antecessor , como Procura tor , e herdeiro da sua meaeao. O Sr. simples Jose Gomes Fer re i ra , que nao quer hir com o abaixo assignado para o Ceo , por nao se misturar com diabos com botas, mudaria de Iingoa-gem , se soubesso que tenho na minha mao huma carta dirigida pe-lo Reverendo Vigario do Engenho Velho a Senhora Proteetora da viuva , em que elie expoem com verdade, e com moderacao as qneixas , que lhe fez a offendida viuva inaltratada- pelo seu filho adoptive; a carta foi feita em 12 de Setcmbro de 1818 , esta re-conhecida pelo Tabelliao PerdigSo , e nella se achaV estas linbafl fielmente exaradas ~ a viuva soltando hum rio de lagrimas, mats com solucos do que com vozes j me pratestou que naquclle dm nem dez rcis fiaviao para comprar hum pan , para refazer hum corpo cheio de annos, e ainda mais de afliceoes , e vituperios. Se houve iu -jus t ica , ou in t r iga , ou qualquer outra pertencao sinistra da patio do novo Procurador, • influmdo para a desperfifiacao de Jose Gomes Ferre i ra , julgue o publico. Pensou o Sr. Felizardo que tinha venci-do a questao por dizer que o fanfarrao Pimentel nao fo i ter com a viuva no large de S. R i t a , porem s im, no beco de 8. Rita. Ora da-se apegadilho mais fraco do que este ? Se dicesse que a v iu ­va estnva no beco de S. Rita , e que o Procurador fo i a Gamboa tallar com a viuva, teria lugar o parentesis inserido no eontexto da sua resposfca. He mui escrupulosa a Logica do Sr. Felizardo, mas nao destroe o facto de que a viuva se vio obrigada a abun-dorfyr a sua caza , e a v i r refugiar-se na Cidade. Temos ainda ou­tre bice d'obra. zz Avalia o Sr. Felizardo, como huma violcncia feita ao publico , mandar levantar cancellas no terreno de que era Procurador, allegando que impedia o transito, e posse, em que es~ tavao os moradores do Campo Grande , e que fora Pimentel intima-do pelo Alcaide da Poiicia, para as deitar abaixo. Eutretanto, hoje todo o mundo ve estas cancellas erguidas pelo Sri Felizardo, no mesmo lugar, onde postas por Pimentel impediao o transito , e pos­se dos moradores do Campo Grande. E que tai £ He digno de no-tar-se que sendo a principal questao da Verdade em Campo as tergiversacoes , c expertezas do Sr. Felizardo $ com os herdeiros de Antonio Gomes Ferre i ra , he comtudo esta a menos elucidada no seu papeluxo. O Sr. Felizardo passa nesta altura tao encapotado , <pie as vistas da opiniao publica nao o podem conhecer. JUas HatJ importa , elle se salvou no principio da reposta , dizendo. que a sua con due fa civil era hem conhecida nesta Capital , e em divcrsas prartts das Provinoias do Brasil. Permitta o Ceo que a decisao do ac­tual Li t ig io ainda *o faca mais conhecido. Em respeito ao publico, * deixo de hir apoz do meu modesto contender, em todo o artefacto da sua sn.pposta justificacao, contra a Verdade em Campo, mas n iaiao pdb meu direito no lugar em que elle diz que Pimentel, por her hum Adminisirador doloso, nada tern na hevanca da viuva. Aq»V elamo , e clamarei zz alto la Sr. modesto Fel izardo, a senten-vn por mim ohtida foi fundada no meu direito , ou na liberdade da Testadora , que sem constrangimento , do que e contrario mmca se podera provar , me instituio herdeiro da sua meaeao , depois de justamenle , e debaixo da proteccao das Leis, desperfilhar hum i n -g»ato , que a maltratava , abrindo-lhe diariamente a sepultura pa­ra aeabar de estragar os bens com lesao dos herdeiros de Portu­gal, ver-se-ha a resolueao a final; nao dobre os sinos o Sr. modes-i o Felizardo , porque ainda nao chegou o defunto. Em concjusao

lance o publico os olhos para essa soberba, e insultante caza com miran te , que o Sr. modesto , e desinteressado Felizardo fez de-' pois que foi inventariante dos herdeiros de Portugal; veja esse mu-r o de pedra , e c a l , estehdido pelas margens do rTo 5 pergunto quan­go se fazerao as cazas ? com que dinheiro 5 quaes forao os Off i -ciaes ; h SCO Sr. modesto tiver a humildade de se col lar , as mes-iuas pedras dirao que forao arraneadas da chacara da v i u v a ; que o dinheiro sahio das economias Prdcuratoriaes, que os Officiaes fo­rao os escravos da viuva. Ninguem a faz mais i impa; isto he ar­gument*) rie peora , e ca l , tire-lhe quern quizer a consequericia , e a, prova. bis-a qui o homem que per ten de infamar a Pimentel , antigo Procurador das prioeipaes cazas desta Capi ta l , Agente do Banco, por eujas maos tern passado avuitadissimas sommas de dinheiro' sem o menor desfalque. =±= Miguel , Miguel, diz 0 proverbio, abelhas nao tens, e vendes me) ? Terminarei a minha ultima resposta, trans-crevemto alguns artigos de cartas, que me mandava o simples Jose* Gomes Ferreira. zz hou a sens pes explicar-lhe a mini id desgravada mda, que me custa got as de sanguc dizer similhdnte coisa « por dm a naeicidade sendo grande, obrigd a fur tar j quanto mais 0 homem rc-meaiar-se por aquillo, que tern, eu cheguei pela minha mizeria a em-penhar a prata do men uniforme por 15 patacas , e 0 sugeito adon-de c ipenhei,; como anno fui buscar a tempo, bendeu'a prata, e re-meteu-me o resto 3 mil e tdntos rets * he 0 que chegd a minha des-grueia. . . . . set v. m\ por quern lie me emprestasse dinheiro para me apromptar para Domingo fazia-me hum fab or muito grande : — em outra zz pero-lhe por quern he me faca a esmolla de ma mandur hgm bocado de came seen , e huma migalka de toucinho para hir me remc-diando , que eu nao teiiho a quern peeu nada i zz em outra zz reevrro aos setis pes por meio desia ate 0 fazer pessoalmente , e the peco que haja de me perdoar toda a espandola que tern de mim ; peco-lhe por quern he que me balha, porque nao teiiho hum lint em , nao fen ho para oade corra ; meu Irmao esta, cseandalizado comigo , e eu nao tenho hum bintem para comprar hum pao para comer ; eu nao salia 0 que era 0 mundo , &c. eu pelos mdos conselhos tenho fagido de o procurar* Outras mais cartas eonservo deste Sr. simples, todas reeo-nhecidas em publica forma , e todas as roes mas choradeiras. Eis-aqui o homem, que nao quer hir comigo para o Ceo, porque sou diabo com bolus: nessa epoca elle me achou prompto a lhe valer , hoje he o mesmo que me insulta em huma foi ha publica. Sao os homens da to00a, monstros de ingratidao, e por isso indignofj de serem es-cutados na sociedade, Julgue-se pelo que ultimamente ex poo ho so-bre os mens dous insultadores , c a vista diga o povo qua! he o ho­mem de bem. Ouiros papeis tenho em minha m&o, que appanece-iao emju i zo , bem como huma carta, que vem inserta na Procuracao bast ante que tenho ; carta mandada pelo S i . Feiizardo a Antonio Joaquim Pereira , negociante da Cidade do Porto , cm que lhe d i -zia que visse se comprava a heranea dos herdeiros de Por tuga l , e que depois interessariao ambos na mesma heranca, que era de t r i n -ta m i l oruzados.

Com esta me despeco dos Srs. Felizardo , e Gomes Ferreira:' podem escrever o que quizerem , eu nao pertendo dar mais satisfa-* eoes, porque conheco bem as intencoes de metis rivaes. zz Jose Joa­quim PimenteL

RIO DE JANEIRO NA 1MPRENSA N A C I O N A L . I82S.