e o mar ali tão longe

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Tiragem: 101375 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Lazer Pág: 91 Cores: Cor Área: 23,50 x 29,70 cm² Corte: 1 de 3 ID: 60313208 25-07-2015 | Revista E E 91 E o mar ali tão longe Algarve é quase sempre sinónimo de praia, bolas de Berlim e diversão noturna. Mas quem se aventura pelo interior da região mais a sul descobre vilas, montes, serras, barragens e museus. Roteiro de atividades para fazer em família, a dois ou sozinho TEXTOS CAROLINA REIS FOTOGRAFIAS LUÍS COELHO vícios “PESSOAS SEM VÍCIOS TÊM POUCAS VIRTUDES” Especial Algarve Interior

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Artigo sobre o Algarve publicado na revista «E» do semanário «Expresso».

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Page 1: E o mar ali tão longe

Tiragem: 101375

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 91

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 1 de 3ID: 60313208 25-07-2015 | Revista E

E 91

E o mar ali tão longe

Algarve é quase sempre sinónimo de praia, bolas de Berlim e diversão noturna. Mas quem se aventura

pelo interior da região mais a sul descobre vilas, montes, serras, barragens e museus. Roteiro de atividades

para fazer em família, a dois ou sozinhoTEXTOS CAROLINA REIS FOTOGRAFIAS LUÍS COELHO

vícios“ P E S S OA S S E M V Í C I O S T Ê M P O U C A S V I RT U D E S ”

EspecialAlgarveInterior

Page 2: E o mar ali tão longe

Tiragem: 101375

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

Pág: 92

Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Corte: 2 de 3ID: 60313208 25-07-2015 | Revista E

Uma viagem ao passadoA moda também pode ser uma forma de contar a história de um país. Os vestidos negros com gola branca bordada expostos na segunda sala do Museu do Trajo, em São Brás de Alportel, refletem o modo de viver austero e conservador das mulheres da região. O saiote de arame está à vista na sala que abre a exposição “Sombras e Luz, o Algarve no Século XIX”. Uma visita a este museu — instalado numa casa construída por um negociante de cortiça e que chegou a ser sede de um banco que faliu na sequência do crash de 1929 — é um passeio pelo passado do Algarve. A maioria das 16 mil peças do museu foi doada pela família Pestana Girão. A um mês do fim da atual mostra já se constroem as trincheiras da I Guerra Mundial para a próxima, em setembro. As antigas cavalariças es-tão ocupadas com cortiça, outra forma de explicar a história de um país. O pátio do museu permite fazer uma chegada diferente: de charrete. E dali seguir no mesmo veículo para descobrir o resto da terra. O centro hípico faz passeios (a partir de €20) pela cidade e pela serra.

MUSEU DO TRAJO Rua Dr. José Dias Sancho, 61, São Brás de Alportel. Entrada: €2 CENTRO HÍPICO Tel. 916 354 930

Pelos caminhos da águaAs semanas de Reinaldo Alves são passadas na Câ-mara Municipal de Monchique a tratar de burocracias. Para fugir à rotina, começou a organizar, aos fins de semana, passeios na serra que tem o nome da vila, levando aventureiros para longe do rebuliço das cida-des. Conhece de cor os caminhos, atalhos e rasteiras que a terra deslizante e as rochas da serra escon-dem. No percurso da Malhada Quente e do Moinho da Rocha (€25, tudo incluído), inserido na Rota da Água, leva os caminhantes a descobrir riachos, termas antigas, fontes e casas desabitadas. O passeio pela mata da Picota, o segundo ponto mais alto da serra de Monchique, tem uma surpresa que não faz mal revelar. Mais ou menos a meio do percurso de 10 quilómetros, há uma paragem numa padaria tradicional — a Branco Quente, que abastece várias cidades algarvias — para uma tiborna à Monchique (feita de azeite e muito sal). O pão, claro, é partido “como deve ser, com as mãos”. Os minutos de pausa são a desculpa perfeita para conviver com os habitantes e conhecer a maneira de viver serrana. Calma e tranquila.

PASSEIOS NA SERRA Tel. 962 543 217

O EXPRESSO VIAJOU A CONVITE DO TURISMO

DO ALGARVE

Passar a fronteira numa cordaA linha não se vê, mas está lá, algures a meio do rio. O cabo mal se vê, mas está lá, algures por cima do rio. De Alcoutim a Sanlúcar do Guadiana, de Portugal a Espanha, são três minutos de barco. Ou escassos segundos de adrenalina. O slide que atravessa o Guadiana é uma das viagem trans-fronteiriças mais originais (€17). Mal se aterra em Espanha, o mundo parece diferente. “Nota-se logo, aqui já não há calçada portuguesa”, diz José Cavaco, que, com colegas espanhóis e portu-gueses, se dedica ao turismo radical. O cabo que atravessa o ar para cruzar a fronteira é forte e seguro, por muito que as pernas teimem em dizer o contrário e tremam ao chegar aos 770 metros de altura. À medida que se aproxima o momento de se ficar suspenso no ar, a energia com que se foi fazendo o caminho até ao ponto mais alto dá lugar à adrenalina. Falta pouco para os pés ficarem suspensos. Um, dois e... três.

SLIDE TRANSFRONTEIRIÇO Alcoutim

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Tiragem: 101375

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Lazer

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Cores: Cor

Área: 23,50 x 29,70 cm²

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Oásis na cortiçaQuem atravessa o deserto sonha com oásis. Quem anda por vales e montes, a admirar sobreiros e a ver como se extrai a cor-tiça, acaba por ceder ao calor e tem de parar para se refrescar. A barragem que abre os caminhos até à serra do Caldeirão, co-nhecida como Cova da Muda, é esse oásis. As águas límpidas são relativamente seguras para tomar um banho depois de passar pelo Miradouro do Alto da Ameixeira e antes de seguir viagem

serra acima. “Há cada vez mais americanos que vêm cá para fazer a rota da cortiça, para ver

como se extrai e o que se produz com ela. Dessas rotas fazem sempre parte estas

caminhadas pelos sobreiros”, diz Sofia Carrusca, uma jovem da terra que es-colheu ficar no interior para mostrar ao mundo o potencial da cortiça.

ALTO DA AMEIXEIRA São Brás de Alportel www.algarverotas.com

Na casa da abelhaHá pouco tempo, uma equipa da RTL, te-levisão pública alemã, esteve uma semana a viver com o apicultor António Nunes Valério para lhe seguir todos os passos. Na sua destilaria e melaria produzem-se dois dos produtos mais emblemáticos da região e fundamentais para a subsistência desta população. Num ambiente caseiro, Antó-nio explica como se faz o medronho, desde a apanha do fruto até à destilação, feita num alambique típico da região e que não se encontra noutra zona do país. As regras da ASAE estão todas cá. Mas a produção é feita à moda antiga. Por entre histórias e peripécias, há provas de mel e brindes com medronho e meloso, uma mistura dos dois produtos. É o lugar ideal para descansar depois de percorrer a serra.

PORTELA DAS EIRAS Tel. 962 048 417

Chegar ao cumeO topo é o lugar onde a dificuldade convive com o desejo. Para chegar lá acima é preciso estar preparado, ser persistente e aliar coragem com estratégia. Há milhares de anos que os humanos lutam por alcançá-lo em busca de uma recompensa. Seja profissional ou pessoal. A Foia, o ponto mais alto da serra de Monchique, o topo do Algarve, não é muito diferente. Deste cume, cuja vista se estende até ao litoral alentejano, partem três rotas pedestres: a das Cascatas, a da Geologia e o Passeio da Foia, que entroncam na via Algarviana, que cobre todo o Algarve. Chegar ao cimo destes 902 metros é enquadrar-se numa imagem de postal, bem diferente daquelas que popularizaram a região como uma zona de (boa) praia e pouco mais. Aqui, no ponto mais alto da região, aglomerados de pedra que requerem boas pernas para serem escalados esperam os que não desistiram. Um pequeno exemplo de resistência para os caminhos, todos devidamente marcados, que se dali se podem escolher e que levam ao interior da região. Quem quiser pode apenas ficar a admirar a vista, a meditar ou a relaxar.

Todo o terrenoOs desportos radicais desta vila raiana, que no século XIX pertenceu ao Alentejo, con-trastam com a pacatez dos seus cerca de 600 habitantes. Mas todos convivem pacificamente. Em buggies (€35) pode per-correr-se a Várzea da Lourinhã — quem não está habituado ao campo pensa tratar-se de uma serra... O caminho até à parte mais alta da zona passa por sil-vas, pedras e poeira, num misto de velocidade e conforto. No ponto mais alto, veem-se casas antigas abandonadas, que são mais do que isso. Contam uma parte importante da história da região. Estes antigos postos da Guarda Fiscal foram colocados para vigiar os contrabandistas, uma ‘profissão’ que o Estado Novo tentou controlar. Tal como noutras comunidades raianas, o contrabando de subsistência — que assentava em produtos como ovos, trigo, galinhas — foi fundamental para a sobrevi-vência da população, que vivia da pastorícia e da agricultura. Salazar mandou instalar 27 postos entre Vila Real de Santo António e Mértola, coloca-dos de modo a que de cada um se pudesse ver o seguinte. Olhando a partir da Lourinhã, é possível ver que, do outro lado da fronteira, Franco não teve a mesma preocupação.

FUN RIVER Tel. 926 682 605

Entre duas margensQuem vem, tem de atravessar o rio. Não vale ir a Alcoutim, subir ao ponto mais alto, passar a fronteira de slide e não fazer a travessia de barco. Há várias opções, mas talvez a mais agradável seja conjugar o passeio com a hora de almoço e fazer o caminho da vila até ao monte da Laranjeira. São 45 minutos de viagem relaxante entre o verde da serra e o esverdeado da água, pintada com as muitas cores dos barcos que se vão encontrando. Em qualquer momento pode ser que um deles pare e as pessoas metam conversa. No final, a cozinheira do Cantarinha do Guadiana está à espera com os pratos mais típicos do Sotavento.

FUN RIVER Tel. 926 682 605