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Menina ou menino. Existe uma tendência à predileção de determinado sexo na parturição no Brasil?
Cristiane Alessandra Domingos de Araújo
Palavras-chave: Preferência por filho. Seleção de sexo. Brasil.
Resumo:O desejo de se escolher o sexo dos filhos remonta da antiguidade, estando presente nas escrituras Bíblicas e na literatura antiga, as quais descrevem práticas para aumentar as chances de conceber uma criança do sexo predileto. A preferência por filho do sexo masculino era óbvia. Alguns pais recorriam (ou recorrem) ao infanticídio ou a negligência em relação à criança do sexo preterido. As razões pessoais, culturais, sociais que envolvem estas situações podem ocultar a discriminação em relação a um sexo, a priori o sexo feminino. As consequências de tais motivos incluem o risco de disparidade de indicadores masculino/feminino - tendo em vista a preferência pelo sexo masculino -, o custo do sexismo, o perigo do reforço de comportamento sexual estereotipado nas crianças selecionadas, e o receio imprevisível em relação à criação dos bebês “projetados”. O Brasil, tradicionalmente e culturalmente, ao contrário de países como Índia e China que consideram filhos homens prêmios e a mulher como sexo inferior, não há indícios de preferência a determinado sexo. Neste contexto, e buscando elementos para tal assertiva, este breve trabalho foi elaborado, utilizando para isto, os microdados dos Censos demográficos brasileiros 1991 e 2010, disponibilizados pelo site do Integrated Public Use Microdata Series (IPUMS). A metodologia utilizada abrange análise descritiva e demográfica (Razão de sexo ao nascer). Em uma análise inicial e superficial verificou-se uma inexistência por determinado sexo do filho, mesmo a mãe (ou o casal) tendo filhos do mesmo sexo ou do sexo contrário. Espera-se que este breve estudo possibilite realizar trabalhos mais aprofundados que permitam inferir com mais propriedade a falta de tendência por sexo específico para a concepção da criança, no Brasil. Assim como, realizar investigações sobre esta tendência no cenário onde as mães ou casais tivessem a possibilidade de escolher o sexo do filho.
Trabalho apresentado no VI Congresso da Associação Latino Americana de População, ALAP, realizado em Lima, Peru de 12 a 15 de agosto de 2014.Doutoranda em Demografia CEDEPLAR/UFMG; Mestre em Demografia PPGDEM/UFRN, Estatística/UFRN e Graduanda em Ciências atuariais/UFRN, [email protected].
Menina ou menino. Existe uma tendência à predileção de determinado sexo na parturição no Brasil?
Cristiane Alessandra Domingos de Araújo
Introdução:
O anseio de escolher o sexo do filho remonta de tempos antigos. A Bíblia menciona
práticas (ou crenças) para conceber a criança de determinado sexo (Badalotti, 2004). “ [...] se
a mulher emite seu sêmen primeiro, ela dá a luz a uma criança do sexo feminino [...]”
(Levítico, 12:2). Do mesmo modo, os povos gregos julgavam que extirpando o testículo
direito se concebia meninos. Além disso, a literatura antiga e moderna também descreve
práticas sexuais e procedimentos para intensificar a chance de ser ter filho do sexo preferido.
Todos estes relatos comprovam que o ser humano tende a querer selecionar o sexo do filho,
ou seja, uma predileção por determinado sexo para o filho, recorrendo inclusive a infanticídio
e negligência ao filho do sexo preterido (Badalotti, 2004).
Os motivos por vezes podem ser complexos, porém, segundo Badalotti (2004), a
escolha do sexo do bebê, basicamente passa por três motivos: a) para evitar doenças genéticas
ligadas ao sexo; b) para fazer um “equilíbrio” familiar e; c) por um mix de motivos culturais,
sociais, econômicas e pessoais, que levam a preferir um dos sexos em relação ao outro.
O primeiro motivo diz respeito, a algumas doenças que são inerentes a determinado
sexo, já comprovado cientificamente. Alguns autores descrevem mais de 200 doenças
hereditárias associadas ao sexo, cita-se como exemplo, a hemofilia – predominante em
pessoas do sexo masculino. A seleção de sexo do nascimento dos filhos, adotada por alguns
países, é alicerçada neste motivo - Ex. Bélgica (Badalotti, 2004).
O segundo motivo, de acordo com Wong e Ho (2001), se relaciona com o equilíbrio
entre os sexos dos filhos, por exemplo, caso se tenha dois filhos do mesmo sexo, a chance de
ocorrer outra gestação é maior, objetivando conceber um filho do outro sexo. Wertz e Fletcher
(1989) mencionam que o desejo de equilibrar os sexos na família é moralmente aceitável para
que os filhos aprendam desde pequenos a respeitar as diferenças entre os sexos, e ainda, que a
motivação é justificável, por que não é baseada em razões sexistas. De outra forma, Junges
Trabalho apresentado no VI Congresso da Associação Latino Americana de População, ALAP, realizado em Lima, Peru de 12 a 15 de agosto de 2014. Doutoranda em Demografia CEDEPLAR/UFMG; Mestre em Demografia PPGDEM/UFRN, Estatística/UFRN e Graduanda em Ciências atuariais/UFRN,[email protected].
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(2004) salienta que somente o equilíbrio dos sexos na família não garante o respeito à
diferença entre eles, pois também depende do contexto cultural onde a família se insere.
Badalotti (2004) ressalta que o terceiro motivo – razões pessoais, culturais e sociais -,
pode ocultar a discriminação em relação a um sexo, a priori o sexo feminino. O contexto
cultural e social de um povo pode influenciar sobremaneira a preferência por determinado
sexo para a concepção.
Existem discussões, em alguns países, sobre a adoção da seleção de sexo do filho, os
motivos antes mencionados fundamentam as discussões. A seleção de sexo compreende a
utilização de tecnologia médica (procedimentos, técnicas ou intervenções) para determinar o
sexo do filho, objetivando a maximização da possibilidade da concepção, gestação e
nascimento de uma criança de um sexo em relação ao outro (HFEA, 2003).
Warren (1999) enfatiza uma condição preocupante de métodos de seleção (ou
preferência) de sexo, o extermínio do sexo preterido socialmente, na maioria dos casos, o sexo
feminino. China e Índia são exemplos claros, onde o desequilíbrio na razão de sexos é um dos
maiores do mundo, constituindo sérios problemas demográficos. Em alguns países do sul da
Ásia e do norte da África, os pais que tendem a preferir crianças do sexo masculino, as tratam
melhor do que as filhas, ofertando mais e melhor alimentação e cuidados médicos a estas, ao
passo que as meninas são negligenciadas, maltratadas e até mesmo assassinadas, ficando em
segundo plano em termos educacionais e do mercado de trabalho (Clotet, 2004).
Todavia, o sexismo opera também no lado contrário, pois nos países ocidentais, de
maioria branca, existem indícios de predileção por nascimentos de meninas, o que pode estar
associado ao papel da mulher como cuidadora dos pais idosos, pois esta cria um laço afetivo
mais forte na idade adulta com os pais (Brettell; Sargent, 1977; Ginsburg; Rapp, 1995).
Neste entendimento, entra o conceito de gênero, que, de uma forma geral, é à
construção social da identidade e dos papéis atribuídos a homens e mulheres na sociedade
(Nascimento, 2006). Moreira Neto (2000) ressalta que este conceito não é unânime e nem
consensual em estudos das relações sociais entre os sexos. Ele acrescenta que o conceito de
gênero pode ser visto também num contexto histórico.
Seja como representação das relações sociais, políticas, econômicas e culturais que definem, historicamente, o ser homem e o ser mulher, seja como elemento necessário e primeiro da constituição e significação das relações de poder, o gênero somente pode adquirir a postulação de uma “categoria útil de análise histórica” quando investido do movimento de tensão, de contradição, de multiplicidade e heteronomia presente no seio as relações humanas (Moreira Neto, 2000, p. 143).
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Nascimento (2006) complementa mencionando que a definição anterior nos ajuda a
compreender as relações entre os sexos ao longo da história, suas transformações e dinâmica.
Associado as concepções de gênero vemos o da família. A família é base e o início
dessas concepções, pois é nela que se estabelece as relações de afeto, sexualidade, de força e
de poder, que fundamentam os papéis do homem e da mulher na sociedade (Nascimento,
2006).
[...] a família é também o lugar associal e simbólico em que a diferença, especialmente a diferença sexual, é assumida como fundamento e ao mesmo tempo construída como tal. É o lugar em que o facto de se pertencer a um sexo se torna e é experienciado como colocação social: como gênero [...] (Saraceno e Naldini, 2003, p. 21).
A estrutura familiar considerando a questão de gênero, diz respeito à responsabilidade
associada à maternidade e a paternidade (Nascimento, 2006). Romaneli (1998) verifica que
“as relações entre pais e filhos são mediadas pela percepção que os genitores têm de sua
posição na sociedade e do que desejam para a prole. [...] Ao pensarem a posição dos filhos na
família, os pais pensam também na posição que eles ocuparão na sociedade” (Romaneli,
1998, p.129).
A preferência por determinado sexo de filho é tema de alguns estudos, incluindo
alguns países adeptos de mecanismos tecnológicos para a seleção de sexo. Por outro lado, no
Brasil, a literatura é escassa, assim como, os estudos sobre o tema.
Segundo Dahl et al. (2003a, 2003b) estudos realizados na Alemanha e Inglaterra
revelaram que mesmo sendo a favor de seleção de sexo, nestes países, os homens preferem ter
meninos e as mulheres preferem ter meninas. Por outro lado, China e Índia, como já
mencionados, são países notadamente famosos pela preferência pelo sexo masculino de seus
filhos, influenciado sobremaneira o equilíbrio de sexo na população. Estas culturas são
patriarcais, onde os filhos homens são tidos como prêmios, desfavorecendo assim a
concepção de filhas – tida como punição por erros passados. Práticas como aborto,
infanticídio, negligência, menos e piores cuidados médicos, alimentação nutricional e recursos
são utilizadas para fortalecer tal cultura (Oomman; Ganatra, 2002; Office of the Registrar
General, 2002). Neste sentido, ver-se que, a preferência por determinado sexo do filho pode
impactar nos níveis de fecundidade e mortalidade infantil dos países.
Pesquisas realizadas na África subsaariana, sudeste da Ásia, América Latina e Caribe
mostraram que o desejo de ter filho ou filha pouco afeta os níveis de fecundidade. Por outro
lado, no Oriente Médio, no norte da África e em partes do sul da Ásia, a preferência por
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crianças do sexo masculino, pressiona o aumento dos níveis de fecundidade, tendo em vista
que, muitos casais continuam a ter mais filhos até nascer um filho do sexo masculino
(Bibliomed, 2006).
Algumas formas de mensuração da intensidade da preferência por filhos varões podem
ser encontradas na literatura. Uma alternativa pode ser obtida através da proporção de pais
que respondem que preferem que o próximo filho seja homem em relação à quantidade de
pais que deseja que a criança seja menina. Outra maneira é através da razão de sexo ao nascer,
indicador que aponta a diferença quantitativa entre os nascimentos masculinos e femininos. E
ainda, pode ser a partir do questionamento sobre o desejo de ter mais filhos entre mulheres
que já tenham filhos e filhas vivos.
A proporção de pais que disseram que preferem que o próximo filho seja homem em
relação ao número de pais que preferem que a criança seja mulher, em alguns países
pesquisados, Bangladesh, Jordânia, Nepal, Paquistão, Coreia do Sul e Síria mostraram forte
preferência por filhos homens (índices superiores a 1,6), do mesmo modo, República
Dominicana, Egito, México, Senegal, Sudão, Turquia, Nigéria, Tunísia e Iêmen mostraram
preferência moderada por filhos homens (índices entre 1,2 a 1,5). Por outro lado, Colômbia,
Gana e Indonésia, não apresentaram predileção por nenhum dos sexos. Enquanto, Jamaica e
Venezuela, mostraram uma leve preferência por filhas (Bibliomed, 2006). No Brasil,
infelizmente não há indícios empíricos sobre a preferência por filhas ou filhos. Além do que,
o Censo demográfico não contempla tais questionamentos. Porém, reza a cultura popular a
inexistência de tendência a predileção por algum dos dois sexos, ou seja, a cultura “que venha
com saúde e que tenha o sexo que Deus permitir”.
Diante dessa realidade, e do impacto que as preferências reprodutivas podem ter na
dinâmica demográfica de uma população - seu crescimento e a estrutura etária principalmente,
o presente estudo tem como objetivos: detectar a inexistência de preferência de sexo do
nascimento do filho no Brasil; calcular a razão de sexo ao nascer (RSN) brasileira nos anos de
1991 e 2010; e comparar as RSN dos anos pesquisados com o Vietnã, país notadamente com
preferência por filhos do sexo masculino.
Esperamos com este breve trabalho, despertar a importância sobre o tema - tendo em
vista a escassez de referências no Brasil, incentivando pesquisas que possibilitem realizar
comparações, assim como, analisar as consequências e simular outros cenários.
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I. Material e métodos:
O estudo foi baseado nos microdados dos Censos demográficos brasileiros de 1991 e
2010 e do Censo do Vietnã de 2009, disponibilizados no site do Integrated Public Use
Microdata Series (IPUMS).
As variáveis selecionadas para as análises e cálculos foram: a) Sexo do último filho
tido vivo, e b) Número de filhos tidos vivos.
Inicialmente, realizou um cruzamento entre as variáveis acima mencionadas para
posteriormente calcular-se a proporção de nascimentos masculinos e a RSN para cada grupo
de filhos tidos vivos. A proporção de nascimentos masculinos foi calculada através da
expressão:
(1)
A RSN é definida como sendo o quociente entre nascimentos masculinos e femininos
em uma população.
(2)
Com base nas proporções de nascimentos masculinos e RSN calculadas, realizaram-se
comparações, na tentativa de identificar preferência de sexo do filho.
Para análise e organização dos dados foram utilizados os softwares MS Office (Excel
e Word) e a tabulação disponível no site do IPUMS.
II. Resultados:
No Brasil, notadamente, a relação natural de nascimentos entre homens e mulheres é
de 1,05 (RSN), ou seja, para cada 100 meninas nascidas vivas nascem vivos 105 meninos. As
variações a este padrão são pequenas no mundo, sendo a menor RSN em Ruanda (1,01) e a
maior em países asiáticos. Os nascimentos masculinos, comumentemente, maiores que os
femininos – cerca de 5%, são compensados depois do nascimento, devido à maior mortalidade
masculina nas faixas etárias iniciais – principalmente na infância, compensando assim, o
excedente nascido. Por outro lado, este indicador pode ser alterado “artificialmente” através
de práticas comportamentais (sociais), geralmente ligadas à cultura da sociedade.
Neste contexto, o RSN pode servir de parâmetro para identificar tendências de
preferência de sexo e realizar comparações entre países, sabidamente, tendenciosos em
relação a um determinado sexo. Outro indicador que pode revelar tendência por sexo é a
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𝑅𝑆𝑁= 𝑁º 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑙ℎ𝑜𝑠 𝑛𝑎𝑠𝑐𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑣𝑖𝑣𝑜𝑠𝑁º 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑛𝑎𝑠𝑐𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑣𝑖𝑣𝑎𝑠
𝑃𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜 𝑑𝑒 𝑛𝑎𝑠𝑐 𝑚𝑎𝑠𝑐𝑢𝑙𝑖𝑛𝑜𝑠= ൬𝑁º𝑑𝑒 𝑛𝑎𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑚𝑎𝑠𝑐𝑢𝑙𝑖𝑛𝑜𝑠 𝑣𝑖𝑣𝑜𝑠𝑁º𝑑𝑒 𝑛𝑎𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 ൰𝑥100
proporção de nascimentos masculinos. Ambos indicadores foram calculados no trabalho para
chegar aos objetivos propostos.
Na Tabela 1 consta o quantitativo por sexo da última criança nascida viva, no Brasil
em 1991 e 2010, e no Vietnã em 2009, de acordo com a quantidade de filhos tidos vivos.Os
resultados indicaram que, no Brasil, em 1991, havia uma maior diferença absoluta entre
nascimentos de meninos e meninas, quando comparado a 2010, percebe-se ainda que a
quantidade de filhos nascidos vivos de casais (ou mães) que não possuíam nenhum ou já
tinham dois filhos, aumentou em 2010. No Vietnã a diferença entre homens e mulheres foi
maior quando era o primeiro filho do casal (ou mãe) e quando já possuíam um filho, caindo
esta diferença a partir de três filhos tidos vivos.
Tabela1. Sexo do último filho tido vivo segundo a quantidade de filhos tidos vivos no Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).
Local - período Número de filhos tidos vivos1 2 3 4 5 6 7+
Sexo do último filho tido vivoBrasil – 1991
Homem 555.342 421.718 239.120 122.281 71.706 50.328 118.544Mulher 513.805 398.077 227.943 118.554 68.635 48.579 115.188
Brasil – 2010Homem 620.588 406.954 186.109 74.736 35.849 18.061 22.971Mulher 585.265 387.730 178.467 72.525 33.652 17.414 21.843
Vietnã- 2009Homem 365.403 291.530 87.339 25.902 8.503 3.905 3.618Mulher 331.512 267.312 74.917 22.194 7.310 3.722 3.693Fonte primária: IPUMS - Censos demográficos do Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).
Algumas impressões mencionadas anteriormente são confirmadas no Gráfico 1,
Proporção de nascimentos masculinos no Brasil e no Vietnã. No Brasil, as proporções
masculinas eram maiores em 1991 até três filhos tidos vivos, ao passo que, a partir de quatro
filhos tidos vivos as proporções foram maiores em 2010. Comparando as proporções do Brasil
com o Vietnã, observou-se que as estruturas das curvas são muito diferentes entre si.
Ademais, as proporções de nascimentos masculinos são muito superiores no Vietnã,
diminuindo somente quando o casal (ou a mãe) já possuía sete filhos e mais. Este fato pode
indicar uma preferência pelo sexo masculino, o qual reflete na quantidade de filhos tidos
vivos, aumentando-a, pois a concepção é prolongada até que se tenha o sexo desejado do filho
– no caso, o sexo masculino. Neste ponto, é percebível que, os dados do Brasil, não revelaram
esta tendência ao sexo masculino, como também, ao sexo feminino.
6
O
Gráfico 2 mostra as RSNs obtidas para o Brasil em 1991 e 2010, e Vietnã em 2009. Conforme
já revelado, a relação natural entre os sexos no nascimento é de 1,05. Pelos resultados temos
que, no Brasil, em 2010, quando se tem um ou dois filhos, os valores giram em torno deste
“padrão”, diminuindo à medida que se tem mais filhos – nascendo mais meninas do que
meninos. Em 1991, as razões de sexo ao nascer eram um pouco maiores do que em 2010,
porém não chegavam a patamares de países com preferência pelo sexo masculino, como o
caso do Vietnã.
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0,470 0,475 0,480 0,485 0,490 0,495 0,500 0,505 0,510 0,515 0,520 0,525 0,530 0,535 0,540 0,545
1 2 3 4 5 6 7+
Prop
orça
o de
nas
cim
ento
s m
ascu
linos
Nº de filhos tidos vivos
Brasil - 1991 Brasil - 2010 Vietnã - 2009
Gráfico 01. Proporção de nascimentos masculinos segundo a quantidade de filhos tidos vivos no Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).Fonte primária: IPUMS - Censos demográficos do Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).
0,850
0,900
0,950
1,000
1,050
1,100
1,150
1,200
1 2 3 4 5 6 7+
RSN
Nº de filhos tidos vivos
Brasil -1991Brasil -2010Vietnã - 2009
Gráfico 2. Razão de Sexo ao Nascer do Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).Fonte primária: IPUMS - Censos demográficos do Brasil (1991 e 2010) e Vietnã (2009).
Os resultados indicam que, no Brasil, não existe indícios de preferência por
determinado sexo no nascimento, seja masculino ou feminino. As RSNs, assim como as
proporções, se apresentam nos patamares “normais” determinados.
III. Considerações Finais:
A estrutura etária populacional depende, em uma população fechada, da fecundidade e
da mortalidade. Em condições naturais, sem a intervenção do homem, nascem mais homens
do que mulheres. Porém, por razões médicas, culturais, pessoais, e sociais este equilíbrio é
abalado. As preferências reprodutivas de um povo podem alterar significativamente a
equidade entre os sexos, causando elevados índices de masculinidade, na maioria dos casos
artificiais, ou feminilidade, podendo comprometer o crescimento populacional, assim como,
sua dinâmica demográfica.
A mudança nestas preferências, entre outras consequências, podem alterar o
espaçamento entre as concepções humanas, como também, a quantidade de filhos tidos,
causando uma série de desafios para a sociedade, em médio e longo prazo. O desequilíbrio
entre eles pode revelar questões mais profundas ligadas ao gênero preterido, como acontece
na China, Índia, Paquistão e Bangladesh.
Neste contexto, com base nos indicadores calculados, vemos que, pelo menos a partir
de 1991, não há indícios de predileção por algum sexo específico na concepção de filhos no
Brasil, seja masculino ou feminino. Pode-se inferir que há um equilíbrio entre os sexos nos
nascimentos no país. Salienta-se, no entanto, que tal condição, não implica na existência de
equidade entre os gêneros após o nascimento, na sociedade. Este pode ser resolvido por uma
melhoria na posição da mulher na sociedade, principalmente no setor econômico, e também,
aumentando seu nível educacional e cultural, entre outros. Espera-se que este breve estudo
tenha contribuído para despertar interesses mais profundos sobre o tema, possibilitando gerar
trabalhos em níveis territoriais menores, tendo em vista a enorme disparidade social e cultural
brasileira e em aspectos mais específicos.
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IV. Referências:Badalotti, M. Seleção de sexo: aspectos médicos e biológicos. In: Clotet, J.; Goldim, J. R.
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