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e Culturas Infantis Crianças Infâncias Profa. Dra. Ordália Alves Almeida [email protected] UFMS FACULDADE DE EDUCAÇÃO/UFBA

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e Culturas Infantis

Crianças

Infâncias

Profa. Dra. Ordália Alves Almeida

[email protected] UFMS

FACULDADE DE

EDUCAÇÃO/UFBA

Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno como uma casinha de vidro na floresta em cima do alfinete, disse a criança. É lá que eu guardei a minha pena da cara de todos. Esta criança vai deixar de sorrir, disse o medidor de crianças (...) Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno Como o ovo azul do bicho da seda, disse a criança. É lá que eu guardei o meu amigo. Esta criança vai deixar de falar, disse o medidor de crianças (...)

Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno Como a pedra de açúcar que a mosca leva para seus filhinhos partirem e fazem espelho, disse a criança. É lá que eu guardei a minha mãe. Esta criança morreu, disse o medidor de crianças. Há um lugar, um pequeno lugar, tão pequeno Como a bolha de sumo dentro do gomo da tangerina, disse a criança. É lá que eu me guardei e comi-o e passou para dentro do dentro do mais pequeno dos buracos do meu coração. Esta criança acabou, disse o medidor de crianças. É preciso fazer outra. (Costa, Maria Velho. “O lugar comum”, Desescrita)

INFÂNCIA

CATEGORIA SOCIAL

Natureza paradoxal –

Diferentes imagens,

diferentes concepcões

Construção social

INFÂNCIA:

Construção social, elaborada para e pelas

crianças, em um conjunto ativamente

negociado de relações sociais;

Contextualizada em relação ao tempo, ao

local e à cultura, variando segundo a classe,

o gênero e outras condições

socioeconômicas.

INFÂNCIA:

Passa a ser vista não mais como um tempo de

“preparação para…”, mas como um tempo em si,

tempo de brincar, jogar sorrir, chorar, sonhar,

desenhar, colorir, escrever, contar… Ou seja um

tempo que incorpora tudo o que a criança é e faz

nesse período de sua vida, um tempo em que a

criança é e vive como sujeito de direitos.

A infância NÃO É UMA SÓ e é definida de

acordo com o tempo histórico, social e

econômico que marca a sociedade humana.

CRIANÇAS

Atores sociais

de pleno direito

Grupo etário de 0 a +12 anos

Referentes empíricos

Reconhecer a cidadania das crianças é hoje um

desafio à mudança das estruturas políticas e

sociais, à transformação das instituições e à

renovação cultural, no sentido de garantir:

• As condições estruturais para a inclusão social

plena de todas as crianças;

• Instituições respeitadoras do melhor interesse

das crianças;

• Aceitação da voz das crianças como expressão

legítima de participação nas Instituições

Educativas e na cidade.

O que desejam as crianças?

Viver de forma lúdica a sua infância.

Através da brincadeira a criança traduz e

recria as imagens daquilo que ela vive a

partir das suas interações com o mundo.

(Gilles Brougère)

A criança organiza os elementos retirados da

realidade, estabelecendo novas combinações

e produzindo novos significados, ou seja, a

própria brincadeira.

As crianças podem dar outros

significados àquilo que os adultos só

vêem com seus olhos, limitados pelos

sentidos que eles já elaboraram para os

diferentes acontecimentos do seu

cotidiano.

As crianças constroem culturas a partir

dos significados que elas conferem às

suas ações, nas relações que

estabelecem com o seu meio. Na

produção de culturas lúdicas, as

crianças vão se socializando e

compartilhando suas brincadeiras.

As culturas infantis, se pensarmos

junto com Florestan Fernandes, ou a

cultura lúdica, como aprendemos com

o Gilles Brougère, é constituída por

elementos da cultura do adulto que são

ressignificados pelas crianças e por

dados elaborados pelas próprias

crianças.

O que o/a professor (a) você tem

valorizado na prática pedagógica da

Educação Infantil?

Que espaço as crianças têm encontrado

para viver e criar culturas?

Há um espaço privilegiado para a

brincadeira como elemento fundamental

nesse processo?

Brincar é uma forma privilegiada

de as crianças pequenas

conhecerem, compreenderem e se

expressarem no mundo, de

produzirem novas culturas.

PATRIMÔNIO DAS CULTURAS INFANTIS

Conjunto estável de atividades ou rotinas,

artefatos, valores ou preocupações que crianças

produzem e compartilham em interação com

pares". (Corsaro, 1997)

Identidade própria, lugar em que vivem, o que

fazem etc.

Processos de significação do mundo social

vividos pela criança.

CULTURAS INFANTIS

Ling. oral: interações

verbais

Jogos

Brinquedos Brincadeiras

Histórias

Contos causos

Poesias

Desenhos e pinturas:

singularidade do olhar infantil

Ling. Escrita: singularidades do discurso

infantil Recursos

Midiáticos

Músicas

Danças

Folclore

Natureza e sociedade

Conh. matemático

As culturas da infância vivem do vai-vém das

representações do mundo feitas pelas crianças

em interacção com as representações “adultas”

dominantes.

As duas culturas – a especificamente infantil e

as da sociedade – que se conjugam na

construção das culturas da infância, na

variedade, pluralidade e até contradição que

internamente enforma uma e outra, referenciam

o mundo de vida das crianças e enquadram a

sua acção concreta. (Sarmento, 2006)

Esta convergência ocorre na acção concreta de

cada criança, nas condições sociais (estruturais

e simbólicas) que produzem a possibilidade da

sua constituição como sujeito e actor social.

Este processo é criativo tanto quanto

reprodutivo.

As crianças são competentes e têm capacidade

de formularem interpretações da sociedade, dos

outros e de si próprios, da natureza, dos

pensamentos e dos sentimentos, de o fazerem

de modo distinto e de o usarem para lidarem

com tudo o que as rodeia. (Sarmento, 2006)

INTERATIVIDADE

REITERAÇÃO

LUDICIDADE

FANTASIA

PILARES DAS CULTURAS INFANTIS

(SARMENTO, 2004)

-

As culturas infantis são, pois, produção e

criação. As crianças produzem culturas e são

produzidas na cultura em que se inserem (em

seu espaço) e que lhes é contemporânea (em

seu tempo).

- Quantos de nós, trabalhando nos projetos

educacionais e nas práticas pedagógicas

cotidianas, garantimos espaço para esse tipo

de ação e interação das crianças?

-

LINGUAGENS PLÁSTICAS

PINTURA

DESENHO

ESCULTURA

MODELAGEM

DOBRADURA

CONSTRUÇÃO

JOGOS, BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS

BRINQUEDO EDUCATIVO

SONHO

BRINCADEIRA TRADICIONAL

PENSAMENTO

BRINCADEIRA FAZ DE CONTA

IMAGINAÇÃO

BRINCADEIRA DE

CONSTRUÇÃO

SÍMBOLO

Andar, correr, pular, saltar, escorregar, subir,

descer, empurrar, puxar, pendurar, rolar,

engatinhar, deitar, sentar, cair, espiar, trepar,

rastejar, pegar, lançar, dançar,... Logo depois, tudo

de novo...

A vida na IEI é marcada pelo movimento;

Movimentar-se para as crianças é comunicar-se,

expressar-se, interagir com o mundo; é uma forma

de linguagem; é explorar e conhecer o mundo e o

próprio corpo, seus limites e possibilidades.

A BRINCADEIRA

Ação que a criança desempenha ao concretizar

as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica.

É o lúdico da ação.

“O homem só brinca enquanto é homem no

pleno sentido da palavra, e só é homem

enquanto brinca.”

Friedrich Schiller

"Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter meninos sem escola, mas mais triste é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação humana".

Carlos Drummond de Andrade

LINGUAGENS E CÓDIGOS

POESIA

POEMA LIT.

INFANTIL

LIVROS

CONTOS/ CAUSOS

FILMES

DIÁLOGOS

PARLENDAS

TRAVA-LINGUAS

PEÇAS TEATRAIS

DRAMATIZAÇÃO

A criança constrói sua linguagem a

partir das interações que vivencia em

seu meio social. É na interação com os

outros que os significados das

palavras vão se construindo: quanto

mais ricas as possibilidades de

interação que a criança tiver, maiores

suas possibilidades de construir

conhecimentos sobre o mundo que a

cerca.

As culturas infantis não nascem no universo

simbólico exclusivo da infância, este universo não

está fechado – muito pelo contrário, é mais que

qualquer outro, extremamente permeável – tão

pouco está distante do reflexo social global.

A interpretação das culturas infantis, em síntese,

não pode realizar-se no vazio social, e necessita

sustentar-se na análise das condições sociais nas

quais as crianças vivem, interagem e dão sentido

ao que fazem. (PINTO E SARMENTO, 1997, P. 22)

Os seres humanos são os únicos seres produtores de cultura e produzidos na cultura. Mais do que aprender sobre a cultura, o que destacamos é a possibilidade de aprendermos com a cultura. Cultura como espaço de significação e ressignificação de valores, crenças, daquilo que produzimos e daquilo que nos produz, da possibilidade de repensar o lugar da cultura e o lugar de cada um de nós.

CULTURAS DA MÍDIA

TV

CINEMA

RÁDIO

ALBUNS DE

FIGURINHA

REVISTAS

GIBIS

COMPUTADOR

PLAYSTATION

Sarmento enfatiza que os conceitos de culturas da

infância geram conseqüências pedagógicas como

pensar o trabalho pedagógico a partir das crianças

e não como adultos, como atores sociais e não

como alunos.

Neste quadro, as manifestações de resistência das

crianças podem ser entendidas a partir das

dimensões culturais que “surgem e se

desenvolvem como um resultado das tentativas

das crianças para fazer sentido e, até certo ponto,

para resistir ao mundo adulto” (Corsaro, 1997, p.

96).

Somente assim:

Poderão as crianças assumir a curto,

médio e longo prazo o protagonismo

indispensável para não submergir e/ou

diluir-se no processo de globalização.

Reivindicando, para efeito, espaços,

valores e atitudes que compõem a

heterogeneidade dos seus mundos

sociais e culturais. (Soares & Tomás,

2004)

REFERÊNCIAS:

BENJAMIN, Walter Reflexões sobre a criança, o brinquedo e

a educação- São Paulo: Ed. 24, 2002.

BRASIL-MEC. PROINFANTIL. Mód. II – Vol. II, unid. 6.

CARVALHO, Alexandre Filordi de: MULLER, Fernanda. Ética

nas pesquisas com crianças:uma problematização

necessária. In. Infância em perspectiva:políticas, pesquisas e

instituições. São Paulo: Cortez, 2010.

SARMENTO, Manuel Jacinto. As culturas da Infância nas

encruzilhadas da segunda modernidade. In SARMENTO,

Manuel, CERIZARA, Ana Beatriz. Crianças e

Miúdos:perspectivas sociopedagogicas da infância e da

educação. Porto: Asa, 2004.