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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ- REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” É BRINCANDO QUE SE APRENDE RAQUEL DOS REIS FRICKS COLODETE ORIENTADOR; PROF. FABIANE MUNIZ RIO DE JANEIRO FEVEREIRO/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

É BRINCANDO QUE SE APRENDE

RAQUEL DOS REIS FRICKS COLODETE

ORIENTADOR;

PROF. FABIANE MUNIZ

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

É BRINCANDO QUE SE APRENDE

RAQUEL DOS REIS FRICKS COLODETE

Trabalho mográfico apresentado

como requisito parcial para a obtenção do

Grau de Especialista em

Psicomotricidade.

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO/2003

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Para minha mãe, meu irmão e

meu marido que auxiliaram nos

cuidados com o meu filho, para que eu

pudesse realizar o meu curso com

tranqüilidade e sucesso.

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Dedico este trabalho de pesquisa a

todos aqueles que estão envolvidos

nos ideais da educação.

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“Cantar, cantar, cantar

Cantar me enche de prazer

Brincar, brincar, brincar

Fazemos tudo com você...”

Sidney Mattos

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RESUMO

Em virtude de mudanças tecnológicas, invenções cada vez mais

modernas, como DVD’S, jogos eletrônicos, bonecas de falam e andam, etc. O

movimento do corpo através das brincadeiras tem se tornado uma realidade

distante de nossa nova geração.

A Psicomotricidade é o período de maturação psicológica durante a qual a

sensoriomotricidade, o tônus e os afetos ( que são as emoções ), estão unidas as

representações originárias ( que são as imagens de uma atividade sensório

motora vivida pela criança em relação ao mundo externo ) constituitivas do

nascimento do psiquismo.

Na Prática Educativa Psicomotora é importante que o educador incentive

e acompanhe o desenvolvimento de cada criança a partir de suas próprias

possibilidades e capacidades, observando o seu comportamento através do

brincar, pois é por intermédio da brincadeira que a criança vai dar sentido a essas

representações, como que o seu mundo interior precisasse ficar mais claro e real.

A criança precisa brincar livremente para fazer suas representações por meio dos

movimentos. Na brincadeira livre a criança pode decidir sobre a função dos

objetos ( uma almofada pode se transformar num volante de carro ). Já com um

brinquedo é diferente o brincar, pois o brinquedo impõe condições, o joguinho de

encaixe as regras estão impostas, a não ser que a criança invente um outro

significado para ele.

O objetivo principal é mostrar que a Psicomotricidade pode estar presente

em nossa prática educativa nos ajuda a compreender melhor as etapas

essenciais para o desenvolvimento do corpo e da mente, ou seja, constrói-se o

intelecto a partir do exercício físico.

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................ 07

Capitulo I – Psicomotricidade .............................................................................. 10

1.1 – Que é Psicomotricidade na visão de alguns autores ....................... 10

Capitulo II – Elementos básicos da Psicomotricidade ......................................... 14

2.1 - A formação do EU ............................................................................. 14

2.1.1 - O conceito de Self ............................................................... 14

2.1.2 – A primeira Etapa: O Self Subjetivo ..................................... 14

2.1.3 – A Segunda Etapa: O Self Objetivo ..................................... 15

2.2 - Esquema Corporal ............................................................................ 14

2.3 - A lateralidade .................................................................................... 17

2.4 - A estruturação espacial .................................................................... 18

2.5 - A orientação temporal ..................................................................... 19

Capítulo III - A importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil ........ 21

3.1 - A importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil .......... 23

3.2 - A Educação Infantil e os jogos tradicionais infantis ......................... 27

Capítulo IV– A Psicomotricidade como ponto integrador de disciplinas no currículo

de Educação Infantil ........................................................................................... 30

Conclusão ........................................................................................................... 36

Referência Bibliográfica ...................................................................................... 39

Anexos

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INTRODUÇÃO

Diante de todo o processo e evolução tecnológico, nós educadores

temos visto e vivenciando através da nossa prática que o brincar para as crianças

dos dias atuais, se resume em jogos eletrónicos, computadores, atrativos

shopping, desenhos japoneses que estimulam a competição e a luta corporal.

Preocupada com o comportamento de meus alunos que a cada ano

vem apresentando características com menos concentração, dificuldade de

movimentos básicos e outras questões que envolvem o desenvolvimento da parte

motora do corpo e até cognitiva, senti necessidade de desenvolver este projeto

de pesquisa tendo como finalidade apresentar importância dos conhecimentos

sobre a psicomotricidade e o brincar para o melhor desenvolvimento na fase da

educação Infantil, proporcionando condições favoráveis para que se promova a

construção do conhecimento integral do educando, levando em conta seus

interesses, suas necessidades e o prazer de ser sujeito ativo desta construção.

Acreditando que a psicomotricidade irá capacitar melhor nossas

crianças no sentido de oferecer melhor desenvolvimento intelectual e motor.

É unanimidade nas teorias interacionistas de Desenvolvimento Infantil,

a construção do conhecimento e consequentemente da personalidade através

das relações entre objetos (pessoas ou não) e a criança, através das interações

sociais com o meio em que vive.

Tanto para Piaget (1975) quanto para Vygotsky (1988) os primeiros 3-4

anos da criança são de experimentação, isto é, conhecer o mundo nesta idade

implica em percepção, locomoção, coordenação, noções espaciais, temporais,

socialização, enfim, movimentos que levam a ações, que levam a assimilação de

vivências, experiências, sensações, sentimentos e conceitos, possibilitando a

adaptação da criança ao mundo que está conhecendo.

As ações e movimentos iniciados no Período Sensório-Motor (Piaget –

1975) permitirão à criança desenvolver a função simbólica, caracterizando-a

então como um sujeito que fala e pensa!

Hoje, a partir de estudos e pesquisas realizadas por teóricos como

Piaget (1975), Vygotsky (1990), Wallon (1992), Le Boulch (1990), De Marco

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(1995), entre outros, sabe-se da importância da integração mente-corpo para que

este desenvolvimento se deflagra.

Contudo, as escolas parecem estar presas a uma máquina do tempo

que insiste em mantê-las fora da realidade social, estimulando a dissociação

mente/corpo, criando e formando agentes repetidores de conhecimentos e valores

pré-estabelecidos.

Às vésperas do 3º milênio, com “internautas” navegando no espaço

informativo internacional, as crianças iniciam o convívio escolar cada dia mais

cedo.

Por tudo isso, a Educação Infantil deixou de ser Pré- escola; ganhou

Status e reconhecimento, assumindo esta identidade até no nome escolhido para

designar este segmento, fundamental para o Desenvolvimento Infantil.

O segmento da Educação Infantil, como a criança que acolhe,

esperneia, mostra vontade própria e acende o fogo da Educação para se

desvencilhar desta prisão e partir rumo ao futuro, ou melhor, ao presente, pois

como bem diz o Mestre Paulo Freire: “O futuro não é uma coisa escondida na

esquina. O futuro a gente constrói no presente.”

Estas são as metas da Educação hoje. Tornar a escola local de prazer

para alunos e educadores, ao mesmo tempo que proporciona a troca e o

aprendizado de informações, valores e conhecimento.

Mas, onde fica a Psicomotricidade nisto tudo?

Fica na possibilidade de construir a ponte entre todos esses “espaços”;

entre mente e corpo, entre movimento e pensamento, entre brincadeira e

conhecimento. E se torna uma disciplina fundamental no currículo Interdisciplinar

da Educação Infantil.

A Psicomotricidade deixa de preencher janelas de grade curricular e

passa a fazer parte da construção de agentes/cidadãos. Sujeitos de sua ação,

pensar e expressão.

Mediante a isto esta monografia irá relatar o movimento corporal

através de brincadeiras diversas e prazerosas que auxiliam na construção do

pensamento, na formação da identidade, na autonomia, no pensamento crítico, na

socialização, na compreensão de regras e combinados, ou seja, na formação de

um cidadão, dando a sua devida importância a todo este aspecto.

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Abordando assuntos como a recuperação de antigas tradições de brincar,

esquecidas pelo crescimento das cidades e pelo avanço do progresso que

consequentemente trouxe também mais inseguranças e fazendo de nossas casas

grandes fortalezas.

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CAPÍTULO I – PSICOMOTRICIDADE.

1.1 - QUE É O PSICOMOTRICIDADE NA VISÃO DE ALGUNS AUTORES.

“O estudo da Psicomotricidade é recente; ainda no início deste

século abordava-se o assunto apenas excepcionalmente .

Afirmou-se pouco a pouco e evoluiu em diversos aspectos que

atualmente voltam a se agrupar.

Em uma primeira fase a pesquisa teórica fixou-se sobretudo no

desenvolvimento motor da criança. Depois estudou a relação

entre o atraso no desenvolvimento da habilidade manual e

aptidões motoras em função da idade.

Hoje em dia o estudo ultrapassa os problemas motores: pesquisa

também as ligações com lateralidade , a estruturação espacial e

orientação temporal por um lado e , por outro , as dificuldades

escolares de crianças de inteligência normal. Faz também com

que se tome consciência das relações existentes entre o gesto e a

afetividade, como no seguinte caso: uma criança segura de si

caminha de forma muito diferente de uma criança tímida.” (Meur e

Staes,1989,p.5)

“Psicomotricidade é uma ciência psicopedagógica que visa o

estudo do homem , seu corpo em movimento , do entendimento

desse indivíduo , na sua organização e na sua relação de

adaptação com o meio”. (Lúria, 1973/Vigotsky,1962)

Segundo Jacques Chazud, a Psicomotricidade consiste na unidade

dinâmica das atividades , dos gestos, das atitudes e posturas, enquanto sistema

expressivo, realizador e representativo do “ser–em-ação” e da “coexistência”com

outrem”.

Através das pesquisas que realizei , concluí que a Psicomotricidade é uma

técnica que se dirige , pelo exercício do corpo e do movimento, considerando o

ser em sua totalidade ,procurando educar o movimento do corpo desenvolvendo

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as funções da inteligência , ou seja, constrói-se o intelecto a partir do exercício

físico , que tem com importância no desenvolvimento, não só do corpo , como

também da mente e da emotividade, permitindo à criança ; estimulação das

atividades respiratórias e circulatórias, exploração do ambiente externo e

descoberta do espaço físico.

A Psicomotricidade, como ciência da educação, enfoca esta unidade

educando o movimento ao mesmo tempo que põe em jogo as funções

intelectivas, como já citei no parágrafo acima.

As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são as

manifestações motoras. Até os 3 anos a inteligência é a função imediata do

desenvolvimento neuromuscular. Mais tarde, a inteligência e a motricidade se

tornam independentes.

A coordenação geral necessita de uma perfeita harmonia de jogo muscular,

em repouso e em movimento, não alcançando o seu desenvolvimento definitivo

senão aos 15 anos.

Segundo Helen Bee as habilidades motoras do bebê recém – nascido, não

são muito impressionantes, ele não consegue segurar a cabeça; ainda não

consegue coordenar o olhar e o movimento ; não consegue rolar nem

sentar,sendo bastante restritas. Porém essas habilidades surgem muito

gradualmente nas primeiras semanas e consequentemente aumentam mês a

mês.

Uma das características notáveis dos movimentos do bebê é a repetição

da gama de habilidades limitadas que ele apresenta. Eles chutam , se batem,

esfregam, arranham, gesticulam, de modo repetido e rítmico. Poderemos

acompanhar melhor esta seqüência do desenvolvimento através do exemplo

dessa tabela:

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SEQUÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE VÁRIAS HABILIDADES

MOTORAS

Idade Habilidades de Movimento e Manipulação

1 Mês Ergue a cabeça , segura objetos se colocados em sua mão.

4-6 Meses Senta com apoio.

Mantém a cabeça ereta numa posição sentada.

Estende o braço para pegar objetos e os agarra.

7-9 Meses Senta sem apoio. Roda sobre si mesmo. Fica em pé usando

os móveis . Transfere objetos de uma mão para outra.

10-12 Meses Engatinha. Caminha usando os móveis, Caminha sem

ajuda (12-13 Meses)

13-18 Meses Caminha para trás e para os lados. Empilha dois blocos.

Coloca objetos em pequenos recipientes e os esvazia.

3-4 Anos Sobe escadas colocando um pé em cada degrau.

Pedalando e dirige um triciclo.

Agarra bolas grandes.

Corta papel com tesouras.

Segura o lápis entre o polegar e os primeiros dois dedos.

(Helen Bee - A criança em desenvolvimento)

A coordenação Geral apresenta dois aspectos importantes:

· Coordenação Estática:

Resulta do equilíbrio entre a ação dos grupos musculares antagonistas,

que se estabelece em função do tônus e permite a conservação

voluntária das atividades.

· Coordenação Dinâmica, que pode ser:

- Geral

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Quando se refere a ação nas quais somente intervêm membros

superiores: correr, saltar, arremessar bolas, levar objetos, etc.

- Manual

Quando estabelece o jogo de movimentos de ambas as mãos.

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CAPÍTULO II - ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE

2.1 - A FORMAÇÃO DO EU

Sabendo-se que se a criança não tem conhecimento do seu eu, ou seja,

conhecimento de self, fica praticamente impossível o melhor desenvolvimento

motor e reconhecimento do seu próprio corpo.

Pensando nisso, achei conveniente reservar um capítulo inteiro que fale

da formação do eu, construção da personalidade, caminho para o conhecimento

do seu corpo.

Nosso pensamento sobre o restrito senso de self da criança foi

fortemente influenciado por Freud e Piaget, sendo que ambos acreditavam que o

bebê começa a vida sem nenhum senso de ser separado.

2.1.1 – O conceito de Self:

Segundo Freud e Piaget, o bebê começa sua vida sem nenhum senso

de ser separado da mãe, ou seja, ele e a mãe são um só, de acordo com os

estudos de Freud o bebê não percebe que é separado da mãe, relacionamento

simbótico, os dois se unem como se fossem um só.

Piaget já enfatiza que o bebê tem adquirido o conceito básico de

permanência do objeto no qual é o percursor para que a criança chegue a

autopermanência, um senso de si mesmo como uma entidade estável, constante.

Esses dois aspectos do desenvolvimento inicial do self reaparecem em

descrições atuais da emergência do senso de self. Michael Lewis (1990;1991;

Lewis e Biooks- Grenn, 1979), onde se divide este processo em duas etapas

principais.

2.1.2 – A primeira Etapa: O Self subjetivo.

Lewis coloca que a primeira tarefa da criança é compreender que ela é

separada dos outros e que esse self persiste através do tempo e do espaço.

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Atribui esse processo de autoconceito de Self subjetivo, ou de Self existencial,

porque a consciência essencial parece ser que “eu existo”.

Segundo Helen Bee (1996), o início desse entendimento acontece nos

primeiros dois ou três meses de vida, nessa época o bebê percebe a distinção

básica entre o Self e tudo o mais, pois suas interações cotidianas com os objetos

e pessoas de seu mundo favorece e oportuniza essa compreensão. Por exemplo,

quando ele toca no móbile, este se move, quando chora alguém responde;

através desse processo contínuo de trocas o bebê separa o Self de tudo e tem

início a um senso de EU. Porém só quando compreender o conceito de

permanência do objeto, e isto acontece por volta dos 9 aos 12 meses, é que

podemos dizer que realmente adquiriu um senso de Self Subjetivo.

2.1.3 – A Segunda Etapa: O Self Objetivo.

Para um Self completo, não é necessário somente compreender-se

como um agente no mundo, a criança pequena também precisa compreender-se

como um objeto no mundo. Assim como um carro tem propriedades – ter quatro

rodas, ter capacidade para atingir alta velocidade, também o Self tem qualidades

ou propriedades, como gênero, tamanho, um nome, timidez, ousadia,

coordenação e etc. È esta consciência do Self que se inicia a Segunda fase do

desenvolvimento da identidade. Lewis se refere a este como o Self Objetivo ou

Self Ategórico, pois uma vez que a criança compreende e alcança a auto

consciência o processo de definir o Self envolve colocar-se numa série completa

de alegorias.

Não é fácil determinar quando uma criança desenvolve esta

autoconsciência. Lewis desenvolveu um processo de estudos e testes para

perceber a reação da criança em relação a ela mesma. Por exemplo foi colocado

alguns bebês de frente para o espelho e permitindo livre exploração por algum

tempo. A maioria dos bebês entre 9 e 12 meses olhou para a sua imagem no

espelho, fez caretas, bateu com a mãozinha tentando atingir a sua imagem

interagindo com o espelho a sua maneira. Logo após o experimentador, finge

limpar o rosto do bebê com uma toalha e coloca uma mancha no seu nariz, e

depois deixa que olhe no espelho novamente. O objeto do teste de

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autoconsciência e observar se o bebê também já adquiriu o auto-reconhecimento,

estendendo a mão para a mancha no seu próprio nariz e não pra o nariz do rosto

que reflete no espelho. Esse teste resultou em nenhuma das crianças nesta faixa

etária, tocarem no próprio nariz. Já com o mesmo teste feito com crianças com

21 meses, três quartos manifestaram esse nível de auto-conhecimento.

Segundo (Bullock e Lütkenhaus: in Bee, 1990) os investigadores desse

assunto, o desenvolvimento da autoconsciência e do auto-conhecimento num

espelho, acontece juntos por volta da metade do segundo ano de vida da criança.

A autoconsciência pode ser observada em outros comportamentos

como em emoções, orgulho ou vergonha, todas as emoções que envolvem algum

aspecto de auto-avaliação (Lewis, Allesandri e Sullivan: in Bee, 1992). É também

nesse momento que as crianças começam a insistir em fazer as coisas sozinhas

e manifestam uma nova atitude de proprietárias em relação aos brinquedos

(“Meul”).

Atingindo essa autoconsciência inicial, a criança em idade pré - escolar

começa a definir “quem sou eu”, ao conhecer seus objetivos e papéis sociais, de

forma mais concreta em vários aspectos como em características visíveis, como

sua aparência, onde mora, o que sabe fazer bem ou não. Este padrão combina

com o que observamos no desenvolvimento cognitivo nesta idade. Nesta mesma

época a criança já começa a apresentar uma maior concentração por suas

propriedades constantes.

Ela também já compreende de forma gradativa seu lugar na rede de

papéis familiares, que constituem em grandes avanços no entendimento da

criança quanto ao seu eu.

O conceito da self para a criança é tão importante que o ajudará na

construção e compreensão não só do seu eu como também no entendimento do

mundo ao redor, fazendo dessa criança um ser mais seguro e capaz de

definições externas fora no seu próprio corpo.

Como exemplo, achei importante registrar um fato verídico de uma

criança com várias limitações neurológicas, emocionais, motoras e inclusive sem

conhecimento do seu sendo de self, que foi encaminhado a terapeuta.

Neste registro observaremos o comportamento da criança logo no

início e no final deste trabalho desenvolvido ao decorrer da terapia.

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2.2 - ESQUEMA CORPORAL

O corpo é uma forma de expressão da individualidade. O homem vive

num mundo de significações, os gestos querem dizer alguma coisa, o corpo tem

um sentido que ele mesmo pode sempre interpretar e traduzir.

A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de

seu próprio corpo, ou seja, se ela tiver conhecimento do seu corpo, terá maior

habilidade para diferenciar e sentir diferenças externas e internas.

O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação do seu

corpo com os objetos de seu meio com as pessoas com quem convive e com o

mundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais.

O esquema corporal é o elemento básico indispensável para a formação

da personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica e

diferenciada que a criança tem do seu próprio corpo. Em virtude disso, sua

personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência

do seu corpo, de seu ser, de suas possibilidade de transformar o mundo a sua

volta.

As etapas são:

* O corpo vivido - a criança será capaz de dominar seus movimentos

e perceber seu corpo através de jogos livres como ele em relação aos seus

brinquedos.

* Conhecimento das partes do corpo - a criança deve ser capaz de

unificar todas as partes do corpo de forma a encontrar a imagem corporal (o

espelho, o outro, uma figura).

Lacan (in Ajuriaguerra, 1980, p. 340) foi um dos pioneiros a salientar o

estágio do espelho como fundamental para o desenvolvimento do esquema

corporal. Para ele, a criança até mais ou menos seis meses de idade, possui uma

visão do corpo fragmentada, retalhando, e com a imagem especular começa a ver

de forma integrada, organizada, como um todo.

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* Orientação espaço corporal

A noção e consciência de que o corpo pode tomar diferentes posições

não em movimento.

* Organização espaço corporal

A criança poderá exercitar todas as possibilidades corporais,

conhecendo as partes do corpo, a disposição e as posições.

Portanto, vai se movimentar de forma:

* Analítica - chegará a um domínio corporal através de exercícios de

coordenação, equilíbrio, inibição, destreza;

* Sintética - expressando por intermédio do seu corpo uma ação, um

sentimento, uma emoção.

2.3 - LATERALIDADE

Segundo Gislene de Campos, a lateralidade é a proporção que o ser

humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o

outro em três níveis: mão, olho e pés. Isto significa que existe um predomínio

motor de um dos lados.

Se uma pessoa tiver a mesma dominância neste níveis - mão, olho e pé

- do lado direito, diremos que é destra homogênea; e canhota ou sinástra

homogênea, se for o lado esquerdo, mas se ela possuir domínio espontâneo nos

dois lados do corpo, é camada de ambidestra.

2.4 - ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL

É a orientação e a estruturação do mundo referindo-se primeiro ao seu

referencial, depois a outros ou pessoas em posição estática ou em movimento,

ou seja, a estruturação Espacial e a consciência que a criança tem relação ao

seu corpo em meio ao ambiente e das coisas entre si.

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2.5 - ORIENTAÇÃO TEMPORAL

É a capacidade de situar-se em função da sucessão dos

acontecimentos ( antes, após, durante).

O tempo é a coordenação dos movimentos.

Enfim, tentei colocar resumidamente algumas definições importantes dos

elementos básicos da Psicomotricidade. É claro que este assunto é muito mais

amplo e abrangente; e seria necessário outras pesquisas para entendermos

melhor a Psicomotricidade.

Porém não seria coerente falar do brincar sem o alicerce de

informações que tivemos anteriormente.

O que me levou a ter o interesse em redigir minha monografia baseada

no brincar, foram experiências vivenciadas no meu trabalho. Há 12 anos trabalho

com Educação Infantil e durante este período venho observando que o

comportamento das crianças em relação as brincadeiras vem mudando bastante,

conseqüentemente o seu relacionamento com as pessoas, com a escola, com a

família, enfim tudo tem sofrido muitas mudanças.

No meu tempo, quando se falava em brincar, logo vinha em nossa

mente um pique-pega, pique parede, bonecas, comidinha, subir em árvores,

esconde-esconde e outros. Até parece que foi ontem... quando minha mãe

deixava eu brincar na rua com meus amigos. Era um momento de felicidade, de

liberdade do corpo, de expressão, afinal eu estava com pessoas iguais a mim,

com a mesma vontade de brincar e se divertir.

Essas lembranças são recordações de um tempo em que a criança

brincava e criava através de vivências, experiências, trocas com o outro. A

facilidade para aprender era maior, pois a criança já chegava na escola com uma

bagagem de vida muito rica pra contar e pra usar em sua lógica matemática, em

sua linguagem muito mais desenvolvida, a destreza em manusear os objetos, os

jogos de encaixe, a noção de espaço já adquirida e até mesmo o seu

relacionamento com os outros acontecia de forma respeitadora e positiva.

Porém os tempo são outros, e vários fatores contribuíram para tão

grande transformação na sociedade e principalmente na educação de nossas

crianças.

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Um dos predominantes foi o aumento da violência nas grandes cidades.

Segundo as estatísticas, cada vez mais o brasileiro tenta se proteger, as casas

viraram verdadeiras fortalezas com alarmes, grades por todo lado, seguranças e

cães bem treinados e preparados para atacar, os condomínios cada vez mais

fechados, liberdade e segurança cada vez mais distante de ser verdade em nosso

país.

Outro fator importante e que leva nossas crianças para longe das

brincadeiras livres, foi o avanço da tecnologia, enfatizado todos os dias na mídia,

onde dita regras, valores e novos conceitos a serem seguidos.

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CAPÍTULO III - A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

Retornando a definição de Psicomotricidade, referimos ao termo psicologia da criança e ao seu desenvolvimento. A psicomtricidade é um período da maturação psicológica, onde a sensóriomotricidade, o tônus e os afetos, estão interagidos as representações originárias constituitivas do nascimento do psiquismo.

Quando uma criança é gerada, existem fantasias incinscientes ou não de seus familiares mais íntimos ( será que vai seu lourinho, ou vai ter olhos da verdes como do vovô, etc. ), e depois quando cuidada, há toda uma sensação de como foi tocada, olhada e segurada. A maneira portanto, como o bebê, foi recebido e acolhido desde o resultado positivo do exame, o período pré-natal até os sete anos, se transforma em imagens que vão sendo arquivadas e que vão representar toda a atividade sensóriomotora. CAPÍTULO III - A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

À época da civilização greco-romana, Aristóteles e Platão (400 a. C.) já

falavam da importância do brinquedo na educação infantil. Diziam que a criança

tinha que aprender brincando e que brincando de imitar, por exemplo, ela estava

se preparando para as atividades do mundo adulto.

As brincadeiras infantis se perpetuam, através dos tempos, sendo

transmitidas de uma geração para outra, e são revogadas a cada geração. Brincar

de amarelinha ou jogar “pedinchas” já existia na época greco-romana. O que, ao

longo do tempo vai evoluindo e modificando é o material, pois o que eles faziam

com ossinhos, passou a ser feito com pedrinhas e, atualmente, até com

chapinhas são usadas.

Sendo uma característica marcante da infância, o ato de brincar requer

total participação da criança, em termos de movimentação física, envolvimento

emocional, ação da mente, comportamentos espontâneos e improvisados, além

de favorecer o desenvolvimento da criatividade e a tomada de decisões. Brincar

é uma atividade na qual a satisfação, a brincadeira, é encontrada no próprio

processo.

O brinquedo, na perspectiva vygotshyana, aparece como uma atividade

que satisfaz as necessidades relativas àquilo que a motiva para agir e, também,

como uma atividade que proporciona prazer, sendo ele, para a criança, uma

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maneira ilusória, imaginária de realizar desejos impossíveis de serem

concretizados na prática. Diz Vygotsky (1989):

“... É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera

cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das

motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos

pelos objetivos externos (...) os objetos ditam à criança o que ela

tem que fazer: uma porta solicita que abram e fechem, uma

escada que subam....”(p.109, 110)

Numa conferência dirigida a educadores de educação infantil, em

1959, dizia o professor Lourenço Filho:

“(...) Se quisermos bem praticar a educação pré-primária, na

concepção em que originalmente ela se definiu, havemos de

saber propor e conduzir as atividades de brinquedo, atividades

lúdicas, organizando escolas, que ainda não sejam ... escolas.

Por quê será assim? ... Porque, como hoje observam grandes

filósofos, a cultura humana brota do jogo, e nele, e só por ele,

vem a desenvolver-se. Pelo menos, o jogo é anterior a qualquer

construção da cultura, o que se manifestam as forças criadoras do

homem”.

No brinquedo, a criança se comporta, além do seu comportamento

diário como se ela fosse maior do que na realidade.

Ao brincar, criam situações imaginárias que vão surgindo a partir do

conhecimento que possuem do mundo, no qual os adultos agem e em que elas

precisam viver. Vivendo assim, num mundo de gigantes, inventam para si um

mundo próprio, o mundo de sua fantasias. Dessa forma, cada criança, pode

conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte de suas emoções,

aprendendo a dominar suas angústias e seus medos.

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Quando brinca, a criança, vai, pouco a pouco organizando suas

relações emocionais, aprendendo a se conhecer melhor e a conhecer e aceita a

existência dos outros.

Brincando de faz-de-conta imitam os comportamentos dos adultos.

Essa imitação faz com que antecipem vivências de um mundo que, ainda , não é

o seu. Agindo assim como se fossem mais velhas do que são, avançam em seus

conhecimentos do mundo social e cultural e conquistam novas etapas.

As brincadeiras infantis são maravilhosas e, no meio da natureza e

diante de tantas descobertas, elas acabam sendo telúricas.

A criança possui necessidade de se auto-afirmar, o que consegue

através de suas diferentes experiências e sendo ativa na construção do seu

brincar.

Para a criança, brincar é algo de muito sério em sua vida, tornando-se

a alavanca que vai ajudá-la a conhecer-se a si mesma e o mundo que a cerca,

sendo a ligação entre o seu autoconhecimento, o conhecimento do outro e o

conhecimento da vida. O brincar não se esgota e vai auxiliar a criança a tomar

consciência do seu próprio corpo e do seu “eu” , a dominar a linguagem e o

conhecimento acumulado da sociedade, levando-a à construção do seu próprio

conhecimento.

3.1 - IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Os primeiros registros sobre educação de crianças pequeninas são

encontrados em documentos deixados por Platão (400 a. C.), Roma. E àquela

época, o objetivo da educação infantil era preparar as crianças para o exercício

futuro da cidadania e o conhecimento a cerca do currículo que faria ao ingressar

na escola, sendo realizada no lar. Não há referências, portanto, das

características e necessidades da primeira infância.

Séculos se passam e só muito mais tarde, no século XVII, Comenius

(1592-1670) reconhece a infância como sendo um período normal do

desenvolvimento do homem, indo além, ao valorizar as experiências afetivas e os

interesses infantis como requisitos que precisariam ser levados em consideração

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no planejamento de um currículo para as crianças de pouca idade. Os princípios

encontrados em sua obra “Escola da Infância”, na época, não foram bem aceitos.

Em meados do século XVIII, o sistema educacional vigente era

revolucionado por Rousseau (1712-1778), na França, sendo ele quem primeiro

insistiu na necessidade de se conhecer, com mais profundidade, as

características da criança, durante os seis primeiros anos de vida, a fim de melhor

educá-la.

Na Suíça, surge Pestalozzi (1746-1827), introduzindo o uso de material

concreto, objetivando estimular a criança a “sentir os objetos” ao invés de “ouvir

falar deles”, acreditando que assim, o ensino tornar-se-ia mais interessante.

Divulgou idéias revolucionárias para a sua época. Defendia a educação, dada

pela mãe, no lar. Apesar de usa experiência, como professor, ser com crianças

mais velhas, influenciou bastante Fröebel.

Na França, Oberlin, em 1774, criou a primeira escola para crianças de

2 a 6 anos, onde elas poderiam cantar, brincar e observar a natureza, mas seu

trabalho não foi adiante por faltar uma Filosofia que o alicerçasse.

No início do século XIX, Robert Owen, revoltado com as injustiças

sociais e indignado com a miséria tanto física quanto moral de adultos e crianças,

proveniente da expansão industrial na Inglaterra, cria a primeira escola destinada

aos filhos de trabalhadores de suas fábricas, em 1816, em New Lanark. Nela, as

crianças conviviam num ambiente alegre, onde praticavam exercícios e jogos,

fazendo caminhadas, quando o tempo permitia. Seu pensamento revolucionário

não tinha aprovação do clero nem das classes dominantes, porém marcaram o

início da educação infantil.

Frederico Augusto Guilherme Fröebel (1782-1852), fundou em

Bllankeburg, Alemanha, em 1937, o primeiro Jardim de Infância (Kindergartem)

para crianças de 3 a 6 anos, onde considerava as crianças como plantinhas e o

professor como jardineiro. Daí, advém o termo Jardineira atribuído às professoras

que trabalham com crianças em idade da educação infantil, no Jardim de Infância.

Foi ele o primeiro educador a valorizar o brinquedo, a atividade lúdica e

atividades envolvendo ritmo e movimento por achar que o primeiro passo para a

criança se conhecer seria ter a sua atenção voltada para os membros do seu

próprio corpo.

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Sua metodologia era baseada na linguagem oral-afetiva, em técnicas

de brinquedos e atividades lúdicas, partindo das atividades mais simples para as

mais complexas. Enfatizava que “O brinquedo é um processo essencial da

educação inicial”. (in Rapapport, 1981,p.52)

Na Alemanha, porém seu trabalho durou pouco tempo porque o

autoritarismo da época fez com que todos os jardins de infâncias fossem

fechados, temendo que difundissem as idéias de livre expressão do pensamento,

que contrariavam as idéias políticas dos governantes.

A Filosofia de Educação de Fröebel, todavia, não morre, pelo contrário,

vai encontrar solo fértil ao chegar na Inglaterra, pelas mãos da baronesa Berta

Von Marenholtz, 1851, e aos Estados Unidos, através de Elizabete Peabody em

1860, onde os anseios de liberdade e respeito aos direitos humanos

predominavam, fincando suas raízes e frutificando.

Desse modo, só se pode aceitar a evolução da História da Educação

Infantil associada à Fröebel e aos movimentos político-liberais do antigo e novo

continente no período que compreende os séculos XVIII e XIX, ressaltando que o

século XVII foi de fundamental importância para a educação infantil porque, a

partir dele, a infância passa a ser vista como um período importante do ser

humano, terminando por provocar mudanças radicais nas teorias da época.

A implantação da Educação Infantil teve grande repercussão,

culminando em mudanças radicais nas teorias educacionais e, no início do século

XX, surgia como escola progressista, escola nova, escola ativa, recebendo ainda,

vários outros nomes.

No início desse século, alguns teóricos centralizavam suas propostas

pedagógicas na criança, em sua atividade e no uso de materiais concretos e, em

especial, nos jogos. Entre eles, pode-se citar Dewey, Claparède, Montessori e

Decroly.

Dewey (início do século XX), considerando a infância como período de

crescimento e desenvolvimento, estimulou a prática do jogo livre como maneira

de atender necessidades e interesses infantis. As idéias de Fröebel têm

continuidade em Dewey e Alice Temple e são divulgadas, no Brasil, por Anísio

Teixeira, Lourenço Filho e Heloísa Marinho, introdutores da Escola Nova em

nosso país.

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Claparède declara que os jogos são, por sua essência educativos e

que, ao se intervir num jogo livre, deve-se fazê-lo com muita habilidade visto ser

inoportuno fazê-lo.

Decroly (1871-1932), Bélgica, seguiu os ensinamentos de Dewey, cuja

base de ensino é dar à criança consciência das coisas que a cercam. Criou jogos,

destinados ao desenvolvimento intelectual e motor, nos quais a criança explorava,

primeiramente, o ambiente para, em seguida, expressá-lo e, por fim, se divertir no

jogo de fixação de conteúdos, que não é o fim visado, todavia o eixo que leva a

um determinado conteúdo didático.

Maria Montessori (1870-1952), médica e pedagoga italiana, criou o

importante método educacional que leva seu nome, aplicando-o,

experimentalmente, em Roma, a crianças carentes. Valorizou o jogo como ação

livre e afirmou: “ É necessário que a escola permita o livre desenvolvimento da

criança para que a pedagogia científica nela possa surgir.”. (1965, p.16)

Embora houvesse entre os educadores diferentes concepções em

relação à natureza e ao papel do jogo na educação, todos aqueles, que

estudaram a criança, abordaram a importância do brincar. Kramer declara: “Os

educadores não mais ignoram que o jogo é o meio por excelência, não só de

expressão e adaptação, mas também de aquisição, isto é, de aprendizagem”.

(1992, p.72)

No Brasil, dentro os escolanovistas que valorizam o papel dos jogos

infantis, tendo a recreação como uma de suas metas, destacam-se Fernando de

Azevedo, Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Hortência Pereira Barreto, Almeida

Júnior, Celina Nina Airlie, Maria Pompéia Junqueira e o grupo ligado ao

Movimento dos Pioneiros da Educação Nova.

A educação brasileira, através de Helena Antipoff, teve oportunidade

de conhecer o trabalho de consagrados representantes da Psicologia que

colaboraram para a difusão de novos estudos na área da Psicologia Infantil e para

a divulgação dos jogos infantis. Entre eles, Mira e Lopes, Claparède, André Reys,

Pierre Janet, Pierre Bovet, Pieron, Kilpatrick e Helena Antipoff que, também, dá

sua contribuição às Escolas Brasileiras de Formação de Professores, adotando

princípios de Claparède e expandido sua experiência adquirida junto a grandes

personalidades do escolanovismo europeu, entre elas Piaget.

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Ao longo do tempo, porém, a educação infantil foi limitando o jogo livre

proposto por Fröebel, ao criar o Jardim de Infância, favorecendo a existência dos

jogos didáticos e educativos com objetivos definidos. E esses jogos, aliados ao

trabalho escolar, visando a aquisição de aprendizagens específicas, foram

tomando, pouco a pouco, o espaço dos jogos livres e dando uma nova forma ao

jogo na classe de educação infantil. Daí, advém a importância de se resgatar os

jogos infantis na educação infantil.

3.2 - A EDUCAÇÃO INFANTIL E OS JOGOS TRADICIONAIS INFANTIS

Dentre as diferentes modalidades de jogos, destaca-se o jogo

tradicional infantil, considerado como parte da cultura popular. Guardando a

produção espiritual de um determinado período histórico, desenvolvido,

principalmente, de forma oral, através do tempo e sendo transmitido de geração a

geração. A sua origem é desconhecida, pois seus criadores são anônimos.

Da sua origem se conhece, apenas, que são provenientes de práticas

abandonadas por adultos, de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais

religiosos. Sabe-se que diferentes e antigos povos da Grécia e Oriente já

brincavam de amarelinhas, empinavam papagaios, jogavam ossinhos e que,

ainda hoje, as crianças o fazem de forma semelhante.

Vários jogos mantém sua estrutura inicial enquanto outros se

modificam e recebem novas formas. Esses jogos, transmitidos através das

gerações por meio de conhecimentos empíricos, continuam na memória infantil.

No Brasil, os jogos foram trazidos pelo colonizador português e, ao

longo do tempo, a miscigenação em nosso território nos colocou em contato com

as culturas européia, asiática e africana, além da interação com a cultura nativa.

Vários versos, adivinhações, cantigas de ninar, jogos, danças,

parlendas, lendas, superstições, histórias, contos e folclore que fazem parte das

diferentes brincadeiras infantis trazidas para cá foram incorporadas ao nosso

cotidiano, ao longo do tempo.

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Dentre os jogos tradicionais infantis, destacamos as brincadeiras

trazidas pelos primeiros portugueses, podendo citar também, a pipa, de

procedência oriental, cuja invenção é atribuída ao famoso general chinês Hau-sin,

que viveu no século 206 a . C. Conhecida entre nós como papagaio, curica, cafifa,

pandorga, arraia, quadrado e raia era designada pelo colonizador como estrela,

raia, arrais, papagaio, bacalhau e gaivotão. Podemos perceber a influência dos

nomes portuguesas que, ainda, permanecem entre nós: papagaio, arraia e raia.

Legaram-nos, ainda, as brincadeiras de pique (provavelmente originadas das

histórias de bruxa, que deviam ser pegadores), jogos de bolinha de gude (talvez

uma variante do folclore do papão, comedor de criancinhas, capaz de matar todos

com apenas um toque), amarelinha, jogo de saquinhos com ossos (usamos

pedrinhas, chamando-o de jogo de nentes), jogo de botão e pião (de origem

remota, pois já se falava de um pião que se fazia virar com um chicote, em 579 a .

C., entre os gregos e romanos), tiro ao alvo, gamão, jogo de fio (aqui conhecido

como cama-de-gato), jogos de trilha. Apesar de trazidos pelos portugueses, esses

jogos carregaram uma tradição européia e alguns datam da antigüidade.

A influência africana, trazida pelo negro para cá, é mais difícil de se

constatar porque se desconhece os brinquedos dos negros anteriores ao século

XIX. Fica difícil saber se, com os pais escravizados, as crianças repetiram as

brincadeiras de continente ou se aceitavam as brincadeiras locais de seus

sinhozinhos brancos. O que se sabe é que a mãe preta passou seus contos,

lendas e mitos da cultura africana a seus filhos e tais elementos continuaram

presentes em nossas brincadeiras infantis.

Pela influência africana, as tradições portuguesas, trazidas pelos

primeiros colonizadores, foram alteradas e enriquecidas, misturando-se às

tradições indígenas.

Dos nativos, sabemos que as mães indígenas faziam brinquedos para

os filhos, utilizando barro cozido e representavam, assim, figuras de animais e

pessoas. A tradição indígena das bonecas de barro não foi transferida para a

nossa cultura, prevalecendo, entre nós, a boneca de pano, talvez de origem

africana. Entretanto, o gosto pelas figuras de animais permanece, até hoje, junto

às nossas crianças. Ficou, também , na cultura brasileira, o gosto pelas danças,

jogos e brincadeiras de imitação de animais, além de jogos em que o pegador é o

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lobo ou outro animal. Alguns estudiosos dizem que a peteca é de origem,

genuinamente brasileira, sendo oriunda de tribos tupis e que, a partir de 1985, foi

considerada como esporte oficial. Confeccionada, a princípio, em palha de milho

ou areia, atualmente com serragem e penas de galinha, já sofre variações.

Compreender as brincadeiras e recuperar seu sentido vai depender do

modo de vida de cada povo, surgindo, então, a imagem que se faz da criança, de

seus costumes, valores e brincadeiras.

Partindo das teorias pedagógicas que dão suporte ao jogo, podemos

compreender sua importância na educação infantil.

Antiga é a tendência para a inovação pedagógica, podendo ser citados

Sócrates (na Grécia Antiga), Erasmos, Vives e Montaigne (na Renascença),

Pestalozzi e Fröebel (nos séculos XVIII e XIX), que foram educadores e que são

exemplos dessa tendência.

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CAPÍTULO IV– A PSICOMOTRICIDADE COMO PONTO INTEGRADOR DE DISCIPLINAS NO CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Segundo Vygotsky, o brincar é instrumento fundamental para a

aquisição de conhecimento.

“É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera

cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das

motivações e tendências interna, e não dos incentivos fornecidos

pelos objetos externos. O brinquedo fornece um estágio de

transição entre a ação concreta e a ação imaginária.”

(VYGOTSKY – 1988)

Para que a criança desenvolva a função simbólica e possa entrar no

mundo do pensamento, é fundamental que conheça o mundo em que vive; isto é,

que conheça os objetos, pessoas que estão a sua volta e principalmente a si

mesma.

E à caminho da função simbólica e da construção do pensamento e do

conhecimento, encontra-se a ação e o movimento, através do brincar, da

ludicidade, da espontaneidade e da criatividade.

Através da ação e do movimento, a criança aprende a “manipular o

conhecimento”, como nos diz Piaget (1975).

É através da ação e do movimento (motor) que a criança desenvolve

sua capacidade simbólica e cognitiva (psico).

A Psicomotricidade pode, de maneira efetiva, contribuir para o

desenvolvimento das relações:

De que forma?

O conhecimento de si mesmo, dos objetos que compõem o meio em

que vive, sua localização e orientação no espaço e no tempo, lateralidade,

grafismo, são conceitos(ou seriam ações/movimento?) introduzidos pela

psicomotricidade, mas fundamentais: para a formação da

personalidade/individualidade; para a construção de conceitos lógicos-

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matemáticos; para o desenvolvimento da linguagem e para a compreensão das

relações e papéis sociais.

Em qualquer projeto curricular de Educação Infantil, determinadas

áreas de conhecimento são consideradas básicas e norteadoras dos objetivos a

serem alcançados e integrados aos planejamentos diários de sala de aula. São

elas:

- Autonomia;

- Linguagem;

- Conhecimento Lógico-Matemático;

- Estudos Sociais;

- Ciências.

A questão é como essas áreas são desenvolvidas no dia-a-dia e sob

que concepção de Educação. Numa concepção sócio-interacionista, esses

conhecimentos deverão ser desenvolvidos, de forma integrada e em acordo com

o entendimento sócio-histórico e cultural ao qual vivemos e sobretudo no respeito

à criança:

“Respeitar a criança não é limitar suas oportunidade de

descoberta, é conhecê-la verdadeiramente para proporcionar-

lhe experiências de vida ricas e desafiadoras, é procurar não

fazer por ela, auxiliando-a a encontrar meios de fazer o que

quer, é deixá-la ser criança. Respeitá-la é oferecer-lhe um

ambiente livre de tensões, de pressões, de limites às suas

manifestações, deixando-a expressar-se da maneira que lhe

convém e buscando entender o significado de todas as suas

ações.”(HOFFMANN E SILVA – 1995)

O primeiro passo nesta direção e na busca da autonomia é deixar a

criança se movimentar livremente, à vontade. É da exploração do meio e

sobretudo a execução de movimentos globais e precisos:

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- o arrastar no chão, o engatinhar – passar por baixo de mesas,

cadeiras, cordas, ...

- o rolar de lado, no pátio, na sala, no gramado,...

- o andar (normal, devagar, depressa, de quatro, de joelhos, nas pontas

dos pés), desviando obstáculos, em linha reta, em ziguezague,...

- saltar obstáculos, degraus, distâncias,...

- brincar de trem, de mãos dadas, de mãos nos ombros, enfileirados,...

- jogos de equilíbrio; jogos com bola;

- jogos de inibição (estátua, parar ao soar um apito, ou diante de um

obstáculo;

- amassar papel;

- vestir boneco;

- fazer embrulhos;

- rolar bola;

- rodar carrinhos;

- enfiagem,...

São atividades que a psicomotricidade chama de corpo vivido, e que

envolvem noções corporais, espaciais, temporais e sociais e desenvolvimento de

linguagem. O conhecimento das partes do corpo, além de ajudar as noções

descritas acima, desenvolverá percepção e sobretudo a abstração, passo

fundamental para o acesso à função simbólica.

As atividades de conhecimento corporal podem ser mais criativas do

que tem feito até então nossos educadores, que parecem só conhecer a

nomeação das partes do corpo:

- brincar de carrinho (mãos e braços);

- pedalar (pernas);

- aplaudir (mãos);

- fazer buracos na areia com os dedos;

- bater com os cotovelos na mesa;

- imitar os olhos do chinês;

- arregalar os olhos;

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- tapar os ouvidos;

- estalar a língua;

- fazer caretas;

- gritar; morder uma maçã e observar as marcas dos dentes,...

Construindo estas relações, outras podem ser desenvolvidas, como

perceber as orientações e posições que cada parte do corpo pode tomar,

associando-as aos objetos da vida cotidiana e apurando os sentidos.

São atividades que contribuem para a conquista da autonomia,

lançando mão ao mesmo tempo do conhecimento e compreensão do meio

externo e das relações sociais.

Para isso, as atividades de reconhecimento tátil, olfativo, auditivo,

gustativo e de discriminação visual são importantes:

- reconhecer pelo olfato: sabão, café, flor, perfume,...

- reconhecer pelo paladar: açúcar, sal, café, limão, biscoito,...

- reconhecer pela audição,

- brincar de cabra cega,...

- reconhecimento tátil,...

- associar objetos da vida cotidiana à partes do corpo, como por

exemplo: pente, sapato, anel, blusa, short, brinco,...

- reproduzir várias posições corporais: jogo de estátua, pintura no

espelho, brincar de espelho,...

- desenvolver a discriminação visual com o próprio corpo, com o corpo

do colega e com desenhos ou gravuras de livros, revistas, jornais, fotos,...

A autonomia conquistada através do conhecimento corporal e da

experiência do corpo vivido, contribui para a ampliação da própria autonomia

através do acesso à função simbólica, pelo desenvolvimento da aquisição da

linguagem, da organização espaço-corporal e consequentemente do pensamento.

A função simbólica começa a ser delineada quando a criança a partir

de um domínio corporal, consegue adaptar seus movimentos e exprimir-se

através de personagens, compreendendo e dominando o diálogo corporal. Todas

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essas aquisições integradas culminam no “faz de conta” onde a criança exercita

a função simbólica, integrando ação e pensamento.

A partir de então os chamados conteúdos pedagógicos tornam-se parte

importante do desenvolvimento infantil e consequentemente do processo ensino-

aprendizagem. Mas isto implica em que atividade lúdicas e motoras devam ser

abolidas e esquecidas.

A precisão psicomotora precisa ainda ser aprimorada e além disso, o

desenvolvimento cognitivo acontece de forma prazerosa e com grande facilidade

quando em parceria com atividades lúdicas e motoras.

O desenvolvimento de noções básicas para a aquisição de conceitos

matemáticos, geográficos, de ciências, de estudos sociais, da leiturização e da

escrita se dará de forma eficaz e consistente, se construindo a partir de vivências

envolvendo situações concretas, significativas para a criança.

Para que isto aconteça cabe ao Educador Infantil:

- oportunizar situações para que a criança seja o sujeito do processo

de aprendizagem (respeitando sempre seu ritmo);

- criar situações que dêem a criança uma maior autonomia, identidade

própria;

- aproveitar o saber sócio-cultural trazido intuitivamente pela criança

para desenvolver novos saberes;

- permitir uma interação entre a criança e o objeto, de forma dinâmica e

prazerosa, pois desta maneira se inicia a construção de novos conhecimentos;

- conhecer a criança, identificando os estágios de desenvolvimento

infantil que caracterizam suas etapas evolutivas principalmente em relação a

socialização, ao desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico, suas

percepções em relação ao tempo, espaço, a diversidade de estímulos visuais.

E como nos assinala Piaget (1975), os conhecimentos lógicos e

matemáticos surgem em seqüências previsíveis de desenvolvimento onde a

conquista de uma estrutura favorece a formação de outra mais elaborada.

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Portanto, partindo-se da Educação Psicomotora, alguns aspectos

precisam ser desenvolvidos na Educação Infantil para que dêem lugar a conceitos

mais elaborados como os adquiridos pelo conhecimento formal, tais como:

- noções de cor, forma, textura, som, peso, temperatura, consistência,

odor, sabor dos objetos, ...

- conhecimento sobre o corpo humano, o homem, os animais, plantas,

os colegas de turma, a família, a escola, a casa onde mora, a vizinhança, a

comunidade,...

- noções de classificação,

- noções de seriação e ordenação de objetos,

- conservação de quantidade,

- observação e exploração do espaço físico,

- seqüência temporal,

- noções de medida,

- representação – imitação; jogos simbólicos, desenho, expressão

verbal; imagem mental,

- leitura e escrita,

- coordenação motora,

- introdução ao conceito de número,...

Convém ressaltar mais uma vez que o conceito não se constrói de

forma compartimentalizada; todos esses aspectos visam a construção de todas as

áreas do conhecimento formal de forma integrada.

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CONCLUSÃO

Na atualidade, o grande avanço tecnológico faz com que as crianças

se voltem para um brincar que as faz ficar, cada vez mais, afastadas das

brincadeiras que envolvam atividades físicas. Dessa forma, as crianças acabam

perdendo a oportunidade de melhor se conhecer e brincar com o seu próprio

corpo.

Numa época em que o homem descobre e desenvolve, a cada dia, os

segredos da tecnologia e as crianças ficam espremidas no pouco espaço físico

dos apartamentos, elas são levadas, pelas circunstâncias, a se divertirem com

brincadeiras eletrônicas, além de ficarem durante horas seguidas, assistindo à

televisão. Com isso, perdem a oportunidade de se relacionarem, ludicamente,

com parceiros da mesma idade, em brincadeiras que lhes favoreçam os grandes

movimentos.

Na faixa etária que antecede os seis anos de idade, grande parte das

crianças já desfruta dos benefícios de creche ou escolas de educação infantil,

onde deverão ter a chance de se desenvolver cognitiva, afetiva e socialmente,

além da parte motora, dispondo de tempo para explorar atividades em que o

brincar com o seu corpo sejam oportunizadas.

De certa forma, o espaço para brincadeiras, que se encontra nas

escolas, não é propício para que se desenvolvam certas atividades físicas,

cabendo ao professor encontrar uma maneira adequada para que isso aconteça.

Abdicar do espaço aberto das brincadeiras é algo para nem ser

pensado. Deve, si, haver um equilíbrio no uso do espaço e do tempo a fim de

favorecer a criança da educação infantil com os jogos e brincadeiras ao ar livre,

cabendo a todos, que atuam nesse segmento, buscar alternativas para viabilizar

tais atividades.

É necessário ter em mente que a criança é o elemento mais importante

do processo educativo e que seu saber vai muito além do que lhe propõem na

pré-escola. Essencial se torna que ela se articule com a cultura dominante para

que possa influenciá-la e até modificá-la.

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Quando a criança participa de brincadeiras que envolvem jogos,

precisa lidar com disciplina e regras para aprender a lidar, também, com as regras

sociais. Isso é muito bom, pois lhe dá instrumentos para sua socialização.

Os jogos infantis conduzem o aluno ao levantamento de hipóteses e à

reflexão, o que é de grande relevância. Quando está brincando, a criança pensa,

age e sente emoções que a ajudarão a construir a sua história de vida.

De fundamental importância é o desenvolvimento motor que ocorre,

com a criança, durante a expansão dos movimentos, ao participar dos jogos.

Assim, a tarefa do professor da educação infantil é explorar os jogos

infantis, oferecendo à sua classe a oportunidade de, através deles desenvolverem

o esquema corporal e despertá-la para o raciocínio lógico, o que irá contribuir,

muito, para o desenvolvimento global de suas crianças.

Por tudo explanado até aqui, acreditamos que o papel da Educação é

criar desenvolvimento, mas para isso é necessário uma construção baseada em

um desenvolvimento já existente, ou já adquirido. Educar, é levar a criança além

do nível de desenvolvimento que já alcançou, promovendo atividades que lhe

permitam superar etapas.

Educar, é partir de onde se encontra a criança e ir progressivamente

estimulando seu acesso a novos níveis de competência e desenvolvimento; e a

função da educação consiste em mediar a interação do indivíduo com seu grupo

cultural.

Desenvolvimento e conhecimento não acontecem de forma estanque.

Construir conhecimento implica não só em partir do que a criança já adquiriu,

como também em promover atividades motoras, cognitivas, afetivas, de maneira

integrada.

As interações é que criam desenvolvimento, promovem evolução e

mudanças!

Torna-se a Educação promotora de desenvolvimento quando:

- Se permite que a criança avance a novos níveis de

desenvolvimento, partindo de uma maturidade psicomotora adequada.

- As interações forem capazes de promover o desenvolvimento tanto

em quantidade quanto em qualidade, levando-se em conta o ritmo de cada

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criança.

- As interações aconteceram continuamente, considerando-se que as

influências mais pertinente e estáveis são geralmente as de maior impacto sobre

o desenvolvimento;

- A criança estiver motivada, interessada, confiante tanto em suas

relações com as pessoas e objetos que a cercam como consigo mesma.

E educar pelo movimento é partir de uma concepção de criança como

totalidade em relação ao seu meio; é se apoiar na experiência corporal e mental

vivenciada pela criança, no seu confronto com o mundo dos objetos e das

pessoas.

O movimento como meio de Educação, torna-se um fio condutor em

torno do qual se molda a unidade corporal e mental da criança. O movimento é

tanto a expressividade da mímica, dos gestos e das atitudes que traduzem a

vivência afetiva quanto a ação eficaz em direção ao meio, de significado

adaptativo.

Se educar é sobretudo, promover interações, a interação corpo/mente,

ação/afeto/cognição torna-se essencial em seu processo!

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ANEXOS