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DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL Apoio: Fundação Ford Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social Projeto de Governança Global Campanha CRIS - Communication Rights in the Information Society Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social •Base constitucional e legal •Implementação •O papel dos diferentes atores •Tendências atuais e futuras •Base constitucional e legal •Implementação •O papel dos diferentes atores •Tendências atuais e futuras

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Direito à Comunicação no Brasil: Base Constitucional e Legal, Implementação, o Papel dos Diferentes Atores e Tendências Atuais e Futuras Intervozes: Coletivo Brasil de Comunicação Social

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DIREITO À COMUNICAÇÃO

NO BRASIL

DIREITO À COMUNICAÇÃO

NO BRASIL

Apoio:

Fundação Ford

Intervozes - Coletivo Brasilde Comunicação Social

Projeto de Governança Global

Campanha CRIS - Communication Rightsin the Information Society

Intervozes - Coletivo Brasilde Comunicação Social

•Base constitucional e legal

•Implementação

•O papel dos diferentes atores

•Tendências atuais e futuras

•Base constitucional e legal

•Implementação

•O papel dos diferentes atores

•Tendências atuais e futuras

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Relatório da PesquisaDireito à ComunicaçãoDireito à ComunicaçãoDireito à ComunicaçãoDireito à ComunicaçãoDireito à Comunicação

no Brasilno Brasilno Brasilno Brasilno Brasil

TTTTTerceira Verceira Verceira Verceira Verceira VersãoersãoersãoersãoersãoJunho de 2005Junho de 2005Junho de 2005Junho de 2005Junho de 2005

Base constitucional e legal, implementação, o papelBase constitucional e legal, implementação, o papelBase constitucional e legal, implementação, o papelBase constitucional e legal, implementação, o papelBase constitucional e legal, implementação, o papeldos diferentes atores e tendências atuais e futurasdos diferentes atores e tendências atuais e futurasdos diferentes atores e tendências atuais e futurasdos diferentes atores e tendências atuais e futurasdos diferentes atores e tendências atuais e futuras

Projeto de Governança GlobalCampanha CRIS - Communication Rights in the Information Society

Apoio - Fundação Ford

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social

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ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndice

IntroduçãoQuadro genérico de referência

Pilar A: A esfera públicaA 1 - Liberdade de expressãoA 2 - Liberdade de imprensaA 3 - Acesso a informações públicas e governamentaisA 4 - Acesso a informações empresariaisA 5 - Diversidade, pluralidade e acessibilidadeA 6 - Participação efetiva da sociedade civil

Pilar B: Uso do conhecimento e domínio públicoB 1 - Por um regime balanceado do conhecimentoB 2 - Implementação deste regimeB 3 - Conhecimento financiado por recursos públicos para o

domínio públicoB 4 - Participação efetiva da sociedade civil

Pilar C: Liberdades civis na sociedade dainformaçãoC 1 - Privacidade de informação e proteção de dadosC 2 - Direito à privacidade na comunicaçãoC 3 - Ausência de censura eletrônicaC 4 - Liberdade de associaçãoC 5 - Participação efetiva da sociedade civil

Pilar D: Acesso eqüitativo a TICsD 1 - Acesso de todo o povo e suas comunidades a TICsD 2 - Disponibilidade de conteúdo para minoriasD 3 - Disseminação de competências e habilidadesD 4 - Participação efetiva da sociedade civil

ReferênciasCréditos

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Este é o relatório de pesquisa produzido comoresultado do Projeto de Governança Global daCampanha CRIS (Communication Rights in theInformation Society). Esse estudo pretende revelara situação atual no Brasil dos diversos elementosque formam, em conjunto, o direito à comunica-ção. São abordados temas como liberdade deexpressão, pluralidade dos meios, propriedadeintelectual, respeito à diversidade cultural,privacidade nas comunicações, acesso àsTecnologias de Informação e Comunicação (TICs)e participação da sociedade civil nas decisõessobre essas questões.

O objetivo de sua realização é, antes de tudo,materializar uma referência tão importante quan-to ampla: o direito à comunicação. Entender suasnuances, possibilidades, variações e interferênci-as. Além disso, esse estudo experimenta umQuadro de Referência Genérico, concebido em con-junto por pesquisadores de diversos países (Bra-sil, Colômbia, Quênia, Filipinas, Itália, Canadá, Ir-landa, Estados Unidos, Reino Unido, entre outros)a fim de que possa ser usado em estudos compa-rados, tanto entre países, como ao longo do tem-po.

Esse quadro de referência pretende identificar,com olhos de um novo século, qual a amplitude equais os limites do campo da comunicação. DesdeJean D’Arcy, no final dos anos 60, e da Nova OrdemMundial para Informação e Comunicação (NOMIC),nos anos 70, a questão do direito à comunicaçãoé uma referência fundamental nos estudos da área.Contudo, com a convergência tecnológica e aefetivação da globalização econômica, é precisoobservar quais são suas características, como elemuda e o que o define.

Em inglês, a opção foi substituir o termo rightto communicate por communication rights,ampliando o conceito. Embora em português hajaum debate sobre qual a melhor expressão a seutilizar, continua-se usando o mesmo termo, di-reito à comunicação, que se tomado literalmenteestá “localizado” entre as duas formulações ingle-sas. Independentemente da solução adotada, maisdo que uma questão semântica, está expressa nes-sa mudança uma alteração na abordagem. Dife-

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

rentemente dos anos 70, hoje busca-se tratar deuma série de direitos que devem ser consideradosem conjunto, entendidos a partir de suacomplementariedade e indivisibilidade. Na práti-ca, o que o quadro de referência tenta responderé de que direitos estamos falando, quais são seusatributos e que indicadores podem medir a suaefetivação.

Tendo esse quadro de referência (genericframework) como baliza, partimos para uma apli-cação dos indicadores nele definidos à realidadebrasileira. A orientação geral da pesquisa nos cin-co países em que ela está sendo feita (Brasil, Co-lômbia, Filipinas, Quênia e Itália – esta últimaavaliando a União Européia) foi trabalhar semprecom quatro parâmetros: a base legal, aimplantação dessa legislação, o papel dos atoresenvolvidos e as tendências para o futuro.

Essa abordagem evidencia que o que se bus-cou nessa pesquisa foram essencialmente as refe-rências de políticas públicas para os temas, maisdo que tentar entender tudo o que se passa nasesferas privada e não governamental. Tanto em-presas quanto entidades da sociedade civil têmpapel fundamental no atual quadro político, maspartiu-se da premissa de que processosregulatórios dependem de políticas públicas e,portanto, esse deveria ser o objeto da pesquisa.

A metodologia utilizada partiu do acesso a fon-tes primárias e secundárias, tais como legislação,documentos de governo, relatórios de instituições,entrevistas com especialistas, levantamentos deagências do governo etc. Mais do que precisãocientífica, buscamos aqui um levantamento fiel darealidade das políticas públicas e de seu estágiode implementação. Sem dúvida, há dificuldadesinerentes ao processo. A checagem dasinformações, por exemplo, é trabalhosa e por vezesimpossível de ser realizada com absoluto rigor.

Sempre que possível, buscamos índices e indi-cadores de fontes sabidamente confiáveis, que nospudessem servir de referência para análises maisaprofundadas. Inerente a um trabalho desse tipoé a sensação permanente de que poderíamos terido além. A cada mês, surgiam novas informações,novos dados, mudança nas políticas públicas.

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Temas como inclusão digital, acesso a informaçõespúblicas e política do audiovisual, por exemplo,estão em constante modificação, o que exige aatenção permanente dos interessados no debate.

Assim, mais do que um relato definitivo, estetrabalho é um retrato instantâneo do quadro dodireito à comunicação no Brasil. Ao mesmo tem-po que pode servir como referência importante,uma de suas características é ter que serconstantemente atualizado. Buscamos encarar issocomo um fato natural do processo, e não comolimitante.

VALIDAÇÃOVALIDAÇÃOVALIDAÇÃOVALIDAÇÃOVALIDAÇÃOEssa versão final da pesquisa já expressa mais

do que o trabalho realizado pelo Intervozes. Apósrealizada uma primeira versão, ela passou por umprocesso de validação, incluindo uma oficina emque especialistas das diversas áreas puderamopinar sobre o texto, sugerir fontes e avaliar aabordagem em cada pilar. A essas pessoas,agradecemos muitíssimo a contribuição eregistramos a importância desse olhar externocomo balizador de qualidade da pesquisa.

Algumas observações desse processo de vali-dação merecem destaque, especialmente aquelasque tivemos dificuldade de traduzir na pesquisa.A primeira delas é o desafio de expressar, em umtexto como esse, as realidades dos diversos Brasis.Grande parcela dos debates feitos ainda parte deuma visão urbana, especialmente dos grandescentros. No entanto, buscamos observar sempreque possível como as políticas públicas sematerializam nas diferentes regiões do país, epudemos notar uma recente preocupação emequalizar oportunidades. Contudo, essa preocu-pação é ainda marginal, o que fica evidente ao seanalisar, por exemplo, uma lei de rádios comuni-tárias que limita a 1 km de raio o alcance dasemissoras. Se isso já se conforma como limitaçãono meio urbano, o que se dirá no meio rural? Oque é 1 km na região amazônica? Qual realidadeo legislador teve como referência ao criar a lei?Ficou claro que esse é um debate a seraprofundado.

Outra questão importante que surgiu na ofici-na de validação foi a discussão de diversidade cul-tural, bem como os desafios de abordar as questõesétnico-raciais e de gênero. O próprio quadro dereferência trata desses pontos em alguns quesitos,mas não confere a eles um tratamento especial.No Brasil, é fundamental conseguirmos analisar,por exemplo, a presença do negro e da negra narealização da comunicação, como as mulheres sãoatingidas pela exclusão digital ou como os

indígenas têm garantido seu conhecimentotradicional. A escassez de dados desse tipo tambémtornou frágil a abordagem desse ponto. Aqui éimportante ressaltar que a versão do quadro dereferência utilizada na pesquisa foi a preliminar, eque versões mais recentes já consideram essaquestão com mais profundidade. O Intervozesprocurará disponibilizar em sua página na Internetas versões mais recentes do quadro de referência.

Por último, foi apontada a necessidade de ca-pítulos analíticos e conceituais, que pudessemexplicitar os termos com os quais trabalhamos, avisão de sociedade da informação adotada e osreferenciais teóricos. Aproveitamos essa observa-ção para esclarecer o caráter da pesquisa. Enten-demos que o quadro de referência buscaestabelecer indicadores a partir de definiçõesobjetivas das questões envolvidas e que em poucoscasos suscita dúvidas quanto a qual parâmetroideal está implícito. Assim, os próprios indicadores,por exemplo, respondem à definição dos conceitospresentes nos atributos. De qualquer forma, porser realizada concomitantemente por cinco equipesem diferentes partes do mundo, a pesquisaresponde a conceitos pactuados internacio-nalmente, que são explicitados no relatóriointernacional do Projeto de Governança Global.Portanto, não pode ser vista isolada de seucontexto e deve ser entendida como parte de umprojeto internacional mais amplo.

OBSEROBSEROBSEROBSEROBSERVVVVVAÇÕES SOBRE O PROCESAÇÕES SOBRE O PROCESAÇÕES SOBRE O PROCESAÇÕES SOBRE O PROCESAÇÕES SOBRE O PROCESSOSOSOSOSOÉ pertinente observarmos aqui algumas opções

feitas no processo de pesquisa.

PolitizaçãoPolitizaçãoPolitizaçãoPolitizaçãoPolitizaçãoPercebemos, de imediato, a necessidade de

definir o quanto se deveria ou não “politizar” asrespostas a esses indicadores. Em quase todos eles,era possível escolher um tom mais neutro ou umtom mais crítico. Como parte dos indicadores nãodefinia com precisão a resposta buscada (oparâmetro “ideal”), em alguns casos fizemos aopção a partir de convicções que expressamos nopróprio relatório de pesquisa. Na oficina devalidação, a indicação dos participantes foi a deque deveríamos optar por um tom crítico osuficiente para evidenciar o quadro real de cadauma das questões tratadas. Concordamos que nãovaleria optar por uma suposta neutralidade se issosignificasse uma resposta que não deixasse claroo real estado daquela questão no Brasil. Acabamosassumindo que, embora o relatório tenha o papelde ser o mais objetivo possível, ele parte de umaorientação política de defesa do direito à comuni-

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cação. Portanto, todas as violações a esse direitodeveriam ser tratadas como tal.

Amplitude e naturezaAmplitude e naturezaAmplitude e naturezaAmplitude e naturezaAmplitude e naturezaA amplitude que cada indicador alcança é muito

diferente. Há alguns que pediam respostas curtas,específicas sobre algum aspecto do direito àcomunicação. Há outros mais genéricos, em queeram necessárias respostas longas e que cobriamuma grande gama de assuntos, como no caso doA5. A natureza dos indicadores também eradiferente. Alguns se referiam à existência ou nãode legislação naquele sentido, outros, à suaimplementação ou a dados quantitativos. Emcertos momentos era impossível tratá-losseparadamente, por serem todos baseados namesma base legal e terem as mesmas característi-cas quanto à implementação. Isso fez com que emalguns momentos, como no Pilar B, tenhamosoptado por fazer uma abordagem por atributo,unindo indicadores.

AprofundamentoAprofundamentoAprofundamentoAprofundamentoAprofundamentoEsse quesito nos requereu uma opção desde o

primeiro momento. Havia a possibilidade de ado-tarmos uma visão mais superficial da pesquisa,simplificando as respostas e obtendo um resulta-do mais enxuto. No entanto, consideramos quedessa forma ficaria pouco clara a realidade de cadaum dos atributos e indicadores tratados. Preferi-mos, então, a opção de uma abordagem mais pro-funda na grande maioria dos temas tratados. Houvealguns sobre os quais foi muito difícil obter infor-mações, em virtude da ausência de fontes e atémesmo da não definição de políticas públicas. Emtodos os outros casos, foi possível uma aborda-gem completa.

Rigor da divisãoRigor da divisãoRigor da divisãoRigor da divisãoRigor da divisãoA proposta era tratarmos, para cada indicador,

a base legal, a implentação, os atores envolvidose as tendências futuras. No entanto, em algunsdos casos, essa divisão não tinha como ser preci-sa. Por vezes, por exemplo, a base legal e os ato-res envolvidos eram os mesmos para todos osindicadores. Foi difícil, portanto, escolher umpadrão único, e acabamos preferindo definir umpadrão específico para cada pilar.

RRRRRepetiçãoepetiçãoepetiçãoepetiçãoepetiçãoComo há assuntos que se cruzam entre os in-

dicadores, muitas vezes as respostas tendiam a serepetir. A escolha sobre como lidar com essa situ-ação dependia do tipo de leitura que se espera terdo relatório. Se a idéia é que a abordagem seja deleituras fragmentadas por indicadores, fazia totalsentido repetir as informações em cada indicador.Se a proposta é que se dê uma leitura contínua dotexto todo, então não fazia sentido a repetição detodas as informações. No nosso caso, fizemos aopção de manter a repetição, por preferir pecarpelo excesso do que pela falta. No entanto, ao in-vés de repetir todas as informações de maneiraigual, escolhemos abordagens diferentes do mes-mo tema para cada indicador. Um exemplo é oComitê Gestor da Internet no Brasil, citado em trêsdos quatro pilares. Em um dos pilares, o destaquesão aspectos como a democracia na escolha deseus membros; em outros pilares, o principal é aposição adotada pelo Comitê em relação adeterminada questão.

PesoPesoPesoPesoPesoAinda que todas as questões expressas no qua-

dro de referência sejam extremamente importan-tes, elas podem (ou até devem) ter pesos diferen-tes. No momento em que se reúnem em um sóatributo (A5) quase todas as grandes questões demídia, por exemplo, fica claro o peso maior dealguns atributos e indicadores em relação a ou-tros.

POR FIMPOR FIMPOR FIMPOR FIMPOR FIMAproveitamos para agradecer a revisão técnica

feita pelo pesquisador Gustavo Gindre, que mesmocontando com pouco tempo para a tarefacontribuiu com observações absolutamenterelevantes. Ressaltamos, no entanto, que nenhumadas falhas, erros ou ausências nessa versão finaldeve ser creditada a ele ou aos colaboradores,sendo de única responsabilidade da equiperealizadora.

Essa pesquisa não se encerra com sua publica-ção; ao contrário, o objetivo é que ela engendreações práticas a partir de seus resultados. Espera-mos que esse documento possa servir como refe-rência, ajudando na tarefa de compreender a situ-ação do direito à comunicação no Brasil e na ár-dua luta pela sua efetivação plena para toda apopulação.

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Quadro genérico de referênciaQuadro genérico de referênciaQuadro genérico de referênciaQuadro genérico de referênciaQuadro genérico de referênciado direito à comunicação:do direito à comunicação:do direito à comunicação:do direito à comunicação:do direito à comunicação:

Atributos e indicadores

Pilar A: A criação de espaços para ambientes democráticos:a esfera pública

Atributos do Direito àAtributos do Direito àAtributos do Direito àAtributos do Direito àAtributos do Direito àComunicaçãoComunicaçãoComunicaçãoComunicaçãoComunicação

A1: Liberdade de expressão, inclusi-ve uma atmosfera de abertura e odireito a criticar aqueles no poder.

A2: Liberdade de imprensa e mídia,inclusive para jornalistas realizaremseu trabalho e responsabilidadesrelacionadas.

A3: Acesso e pronta disponibilida-de de informações públicas e gover-namentais, de modo abrangente,útil e rápido, especialmente no queconcerne ao desenvolvimento eimplementação de políticas e ques-tões de interesse público, comosaúde, segurança etc.

Indicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propíciopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicação

A1.1 Provisão constitucional e leis que garantam a liberda-de de expressão.A1.2 A ausência de ações governamentais ou de empresasque restrinjam a liberdade de expressão e a garantia ativa documprimento das leis de liberdade de expressão.A1.3 Medidas ativas para a promoção de uma atmosfera deabertura e discussão ampla.

A2.1 Provisão constitucional e/ou leis que garantam aliberdade da imprensa e de todos os tipos de mídia, além deindependência editorial, com o mínimo de restrições, inclu-indo a proibição de monopólios em qualquer mídia.A2.2 Medidas para prevenir a violação de direitos humanosdos jornalistas na execução de seu trabalho, especialmenteem áreas de conflito.A2.3 Medidas para apoiar a liberdade editorial de jornalis-tas, inclusive segurança no emprego, sindicalização, direitosmorais de autor e resistência à coerção moral e outrasformas de coerção por parte de empregadores ou outrem.A2.4 Instrumentos independentes e medidas que assegu-rem o direito de resposta, que protejam o público contraprocessos difamatórios, protejam a privacidade e evitem oincitamento à violência, e outras provisões contidas emacordos internacionais.A2.5 Medidas para prevenir censura por parte de entidadescomerciais de material relevante para a esfera pública,inclusive de conteúdo eletrônico e para a internet – porparte, por exemplo, de provedores de acesso à internet,mecanismos de busca e provedores de banda (infra-estruturade internet, empresa de telefonia, internet a cabo ou viasatélite).

A3.1 Legislação sobre liberdade da informação, com amínima retenção por parte de órgãos públicos e governa-mentais, e com acesso máximo por parte do mais amplopúblico.A3.2: A implementação de tais leis que tornem tal informa-ção disponível de maneira acessível economicamente e emtempo correto para todos.

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A4: Acesso a informações empre-sariais, de modo abrangente erápido, quando relevantes para ointeresse público.

A5: Diversidade, pluralidade eacesso a mídias e conteúdo, assegu-rando um amplo espectro de visõespor parte de todos os setores dasociedade, inclusive minorias egrupos marginalizados, e a justarepresentação de todos os grupos,inclusive mulheres, minorias egrupos étnicos.

A3.3 Esforços ativos por parte dos setores público eestatal para expandir a abertura e a transparência, inclusiveatravés de meios como:- estruturas ou escritórios para reunir e divulgarinformações de forma apropriada;- a publicação de objetivos e planejamentos depolíticas e serviços públicos;- proteção para funcionários públicos que reveleminformação de e em prol do interesse público;- a transmissão das deliberações dos representanteseleitos e órgãos públicos;- transparência do processo decisório em questões deinteresse público, como decisões de gabinete.A3.4 Abertura e transparência governamental em negocia-ções e instituições internacionais relacionadas à mídia e àesfera pública.

A4.1: Legislação/regulamentação sobre quebra de sigilocorporativo, além das informações financeiras básicas, demodo a incluir informação disponível das corporações queterão influência sobre políticas públicas e o interesse públi-co.

A5.1 Legislação e medidas efetivas para impedir a concen-tração da propriedade na mídia ou controles por parte dequalquer interesse setorial, indivíduo ou entidade, incluin-do:- concentração da propriedade de um tipo de mídiaem particular;- propriedade cruzada entre mídias;- propriedade cruzada da produção, disseminação deconteúdo e componentes de infra-estrutura dos meios decomunicação;- propriedade excessiva por parte de estrangeiros eempresas não-ligadas ao setor de mídia.A5.2 Um quadro legal que ampare a emergência de umapluralidade de tipos de canais e empresas em nível nacionale, quando apropriado, em níveis regionais (internacional) elocal: canais e empresas públicas, comerciais e comunitárias/independentes, inclusive a alocação de modo transparente eigualitário do espectro de radiofreqüências e outros benspúblicos.A5.3 Medidas efetivas para assegurar que canais e empresaspúblicas tenham disponíveis financiamento e recursosadequados, especialmente em relação ao noticiário e aotrato de assuntos atuais, de forma completamente indepen-dente dos governos e não sujeita a interferências arbitrárias,e livre de regulamentações desnecessariamente pesadas.A5.4 Medidas efetivas que assegurem que empresas ecanais comunitários e sem fins lucrativos tenham recursosadequados, inclusive bens públicos como o espectro defreqüências; estejam livres de interferências arbitrárias;sejam transparentes, democráticos e participativos; e apóieme tenham participação de comunidades excluídas emarginalizadas.

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A6: Participação efetiva por partede todos os elementos da sociedadecivil na preparação, implementaçãoe avaliação de estruturas e políticasde governança da mídia.

A5.5 Obrigações regulatórias aplicáveis sobre empresas ecanais comerciais, inclusive difusores, quando apropriado,para assegurar o cumprimento dos requisitos da prestaçãode serviço público.A5.6 Medidas efetivas para assegurar acessibilidade, atémesmo econômica, às mídias relevantes (inclusive jornais etelevisão) e conteúdos, especialmente por parte de gruposculturais e lingüísticos marginalizados. Por exemplo, regi-mes de impostos diferenciados, difusão livre em TV aberta,obrigar os operadores de rede a aceitar os canais (must-carry) etc.A5.7 Medidas efetivas, de acordo com a necessidade, paraenfrentar a representação inadequada ou torpe de mulheres,grupos étnicos, grupos mais pobres e marginalizados porparte da mídia.A5.8 Apoio a medidas nas instituições e fóruns multilateraisque assegurem a proteção e o apoio a mídias nacionais,inclusive o direito a discriminar em favor de empresas ecanais locais, e a regulação de conteúdo estrangeiro.A5.9 Medidas efetivas para impedir que a propagandaexerça uma influência negativa sobre a esfera pública, porexemplo com a identificação ostensiva, limitação do volumede propaganda e de conteúdo político ou religioso. Osgastos públicos em propaganda também podem ser usadospara apoiar a esfera pública.

A6.1 Consultas públicas abertas e extensivas eparticipação no desenvolvimento de políticas para a mídia,inclusive em instituições e fóruns inter-governamentais.A6.2 Meios efetivos e dinâmicos que façam com que preo-cupações e reclamações públicas sejam ouvidas e atendidas,de acordo com as políticas de mídia.A6.3 Mecanismos permanentes para participação indepen-dente e direta do público na revisão e implementação depolíticas em curso, de modo descentralizado quando apro-priado – por exemplo, através de conselhos públicos econferências públicas periódicas, que contem com amplaparticipação da sociedade civil.A6.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança,desenvolvidos e utilizados pela sociedade civil, reconhecidosou não pelo governo.

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Pilar B: Retomando o uso do conhecimento e do domínio público

Atributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àcomunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicação

B1: Um regime equilibrado departilha do conhecimento queassegure que o conhecimentogerado ou disseminado por empre-sas, canais e setores decomunicação esteja disponível paratodos de modo igualitário eacessível financeiramente, e queencoraje a criatividade da formamais ampla possível por toda asociedade.

B2: Medidas práticas paraimplementar este regime.

Indicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propíciopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicação

B1.1 Uma estratégia nacional e uma orientação política comrelação a criação, disseminação e uso do conhecimento(especialmente copyright, incluindo materiais e softwareseducacionais publicados) cujos objetivos explícitos sejamenriquecer o domínio público, satisfazer as várias necessida-des de conhecimento e encorajar a criatividade de todos ossetores da sociedade. Isto pode ser expresso em termos deposições e políticas sobre Direitos de Propriedade Intelectual(IPR) em uma ‘sociedade da informação’, em mídia e outrasáreas, tanto em organizações nacionais como internacionais,acordos e tratados.

B.2.1 Políticas públicas e ações para encorajar e possibilitara mais ampla e difusa geração e comunicação do conheci-mento, que podem incluir:- modos de celebrar bons trabalhos por parte deprofissionais e do público;- incentivos públicos para pesquisa e criação local/nacional do conhecimento em áreas de reconhecida necessi-dade;- instrumentos públicos para facilitar o acesso aoconhecimento, inclusive uma política de disseminação deconteúdo de interesse público;- apoio público para software livre e de código aberto– por exemplo através de uma política pública de provisão –e para o desenvolvimento de especialistas nacionais;- currículos escolares que encorajem métodos críticose questionadores de aprendizado;- apoio prático ao desenvolvimento de abordagensvoltadas ao desenvolvimento e amistosas à comunidadepara a partilha do conhecimento, como copyleft, GeneralPublic License (GPL) etc.

B2.2 Uma interpretação ativa e a implementação, porparte de órgãos públicos e estatais, das leis e acordosnacionais e internacionais sobre copyright e patentesrelevantes, favorecendo uma partilha equilibrada do conheci-mento, ou seja:- apoio para o ‘uso justo’ de material sobre copyright,freqüentemente barrado por termos de licenciamento nãonegociáveis para material digital, como publicaçõesespecializadas;- reconhecimento e proteção dos ‘direitos morais’ dosautores;- restrições sobre o gerenciamento de direitos digitais,encriptação e mecanismos anti-burladores que inibam o usojusto de informação eletrônica;- esforços para formatar a propriedade intelectual deacordo com condições nacionais, o que freqüentemente irácontra tendências nos acordos internacionais;

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- esforços para formatar a propriedade intelectual emprodutos digitais que promovam novos modelos de negóci-os, baseados na partilha do conhecimento, e que coíbammedidas (como o patenteamento de software) que mante-nham monopólios ou oligopólios e inibam a inovação;- esforços para assegurar que expressões de folclorenão sejam registradas e exploradas por terceiras partes(incluindo o problema do ‘autor identificável’), ou seja, pelaincorporação da proteção folclórica na legislação nacional(casos de Bolívia, 1968, e Quênia, 1975).

B3.1 Políticas públicas e medidas práticas para assegurarque todo o conhecimento apoiado por fundos públicos setorne imediatamente parte do domínio público.B3.2 (Ver A3.3) O volume de informação mantida porórgãos públicos deve ser colocado sob domínio público.B3.3 Canais e empresas públicas devem colocar seusarquivos sob domínio público.

B4.1 Um processo participativo de desenvolvimento depolíticas, que inclua participação significativa da sociedadecivil e os recursos necessários para que todos os parceirosdêem contribuições efetivas.B4.2 Meios ativos e dinâmicos para que preocupaçõespúblicas com relação a governança e políticas sejam ouvidase atendidas.B4.3 Mecanismos permanentes para participação públicana revisão e implementação de políticas em curso, de mododescentralizado quando apropriado, inclusive em relaçãoaos acordos internacionais.B4.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança,desenvolvidos e utilizados pela sociedade civil, reconhecidosou não pelo governo.

B3: Todos os trabalhos financia-dos e produzidos de forma públicase tornam parte do domínio públi-co.

B4: Participação efetiva da socie-dade civil no processo degovernança, inclusive em sua formu-lação, preparação, regulação,implementação e revisão, além deapoio para participação em nívelinternacional.

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Pilar C: Liberdades civis e direitos políticos na Sociedade da Informação

Atributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àcomunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicação

C1: Privacidade de informação eproteção de dados, atendendo aodireito de saber, acessar, corrigir econtrolar o uso de toda informaçãopessoal mantida em forma digitalpor outrem.

C2: O direito à privacidade nacomunicação é um direito humano eé essencial para o desenvolvimentohumano auto-determinado, ematividades tanto cívicas, políticas,sociais e econômicas comoculturais.

C3: Ausência de censuraeletrônica. O direito de transmitirinformação eletrônica sem censuraou controle por parte de agentes doEstado, judiciais, comerciais,empregadores ou outrem.

Indicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propíciopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicação

C1.1 Leis que assegurem que dados pessoais são mantidospelo mínimo período necessário, bem como utilizadosapenas para os propósitos autorizados expressamente pelapessoa a qual se referem. Isto inclui dados pessoaisfornecidos a serviços (saúde, finanças, compras etc.),atividades de segurança pública ou privada, material devigilância em vídeo, informações inclusas em fichas deidentificação (em eventos ou pedidos de emprego) e dadosde funcionários mantidos por empregadores.C1.2 Garantia do cumprimento de tais leis de modo acessí-vel financeiramente, transparente e pró-ativo, e com odireito de revisão quando direitos tiverem sido violados.C1.3 Existência de uma cultura ampla e difundida de auto-regulação e códigos de conduta em termos de privacidade eproteção de dados, entre atores da sociedade civil, dogoverno e do setor privado.

C2.1 Leis e regulações que assegurem o direito à privacida-de na comunicação, seja através da internet, telefonia ououtros meios eletrônicos, com exceções apenas em circuns-tâncias extremas e claramente definidas, e que valham emambientes privados, públicos e comerciais.C2.2 Garantia do cumprimento de tais leis de modo trans-parente, não-partidário e pró-ativo, inclusive contraviolações praticadas pelos governos, e com o direito derevisão quando direitos tiverem sido violados.C2.3 Leis para controlar SPAM (mensagens comerciais decorreio eletrônico não solicitadas) e impedi-lo de inibir acapacidade geral de interação na internet.

C3.1 Leis de proteção contra censura na internet ououtros meios de publicação eletrônica, seja através de filtros,sites prescritos, sanções contra provedores de acesso ouconteúdo e a responsabilização dos provedores porconteúdo hospedado.C3.2 Leis ou regulações, inclusive auto-regulação porparte da indústria, que inclua obrigações para que operado-res comerciais de publicações e difusão eletrônicas (provedo-res de acesso, mecanismos de busca, provedores de banda[infra-estrutura de internet, empresa de telefonia, internet acabo ou via satélite]) ajam como operadores de rede(common carriers) para material judicialmente legal.C3.3 Garantia do cumprimento de tais leis de modo acessí-vel financeiramente, transparente e pró-ativo, e com odireito de revisão quando direitos tiverem sido violados.

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C4. Liberdade de associação nomeio eletrônico, para participar deprotestos públicos ou debatesonline.

C5. Participação efetiva da socie-dade civil no processo degovernança, incluindo sua formula-ção, projeto, regulação,implementação e avaliação.

C4.1 Leis que salvaguardem contra vigilância em vídeoexcessiva e seu possível efeito intimidante sobre a liberdadede associação.

C5.1 Um processo participativo de desenvolvimento depolíticas, que inclua participação significativa da sociedadecivil e os recursos necessários para que todos os parceirosdêem contribuições efetivas.C5.2 Meios ativos e dinâmicos para que preocupaçõespúblicas com relação a governança e políticas sejam ouvidase atendidas.C5.3 Mecanismos permanentes para participação públicana revisão e implementação de políticas em curso, de mododescentralizado quando apropriado, inclusive em relação aosacordos internacionais.C5.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança,desenvolvidos e utilizados pela sociedade civil, reconhecidosou não pelo governo. (ver C1.3 acima)

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Pilar D: Assegurando acesso eqüitativo e a preços razoáveis a TICsAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito àAtributos do direito à

comunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicaçãocomunicação

D1: Acesso a TICs, inclusive àtelefonia, à internet e a outrosserviços, de modo econômico,igualitário e apropriado para todo opovo e suas comunidades.

D2: Disponibilidade deconteúdo relevante para todas ascomunidades lingüísticas e gruposmarginalizados.

D3: Competências e habilidadesque permitam ao povo e a suascomunidades fazerem uso das TICspara atingir seus objetivos individu-ais e coletivos.

D4: Participação efetiva da socie-dade civil no processo degovernança, incluindo sua formula-ção, projeto, regulação,implementação e avaliação.

Indicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propícioIndicadores de um ambiente propíciopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicaçãopara o direito à comunicação

D1.1 Um quadro legal e regulatório que favoreça fortemen-te a extensão de modo universal dos serviços e do acesso aTICs como a prioridade para este setor.D1.2 Medidas políticas, convencionais e inovadoras, quevão além das abordagens mercadológicas e corporativas,para incluir, por exemplo, redes comunitárias, subsídioscruzados efetivos por parte de usuários mais ricos com finsde universalização do serviço, e assim por diante. Serãoentão considerados:- infra-estrutura fixa e telefonia;- telefonia móvel, inclusive em termos de custos;- telecentros comunitários;- licenciamento de provedores de acesso, portais deinternet e medidas de apoio à internet;- links de satélite Vsat e de dados.D1.3 Apoio ao desenvolvimento de indústrias locais aolongo dos setores relacionados a TICs, tais como incentivosespecíficos, períodos de transição para a criação de compa-nhias locais etc.D1.4 Estatísticas e indicadores que demonstrem que oefeito cumulativo das políticas implementadas está realmen-te reduzindo a exclusão em termos de acesso, disponibilida-de, acessibilidade econômica, acessibilidade e uso, e napromoção do bem-estar público.

D2.1 Ações de apoio para produção de conteúdo por e paratodas as comunidades lingüísticas.D2.2 Apoio ao desenvolvimento de softwares lingüísticostécnicos e interfaces de hardware.

D3.1 Apoio para desenvolvimentos de competências ehabilidades, como treinamentos, programas de intercâmbio,módulos curriculares formais etc., amplamente disponíveisem estabelecimentos de ensino comuns, como escolas,bibliotecas, centros comunitários etc.

D4.1 Um processo participativo e multilateral dedesenvolvimento de estratégias, que inclua participaçãosignificativa da sociedade civil e os recursos necessários paraque todos os participantes dêem contribuições efetivas. Istoinclui infra-estrutura (seja fixa, sem-fio ou outros) e serviços(como telefonia, celulares, transmissão de dados e internet);e a natureza da compreensão e planejamento estratégicospor parte de todos.D4.2 Meios ativos e dinâmicos para que preocupaçõespúblicas com relação a governança e políticas sejam ouvidase atendidas.

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D4.3 Mecanismos permanentes para participação públicana revisão e implementação de políticas em curso, de mododescentralizado quando apropriado, inclusive em relação aosacordos internacionais.D4.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança,desenvolvidos e utilizados pela sociedade civil, reconhecidosou não pelo governo.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALA base legal que sustenta o princípio da liber-

dade de expressão é bastante ampla e tem refe-rências nacionais e internacionais.

A Constituição Federal Brasileira de 1988, nocapítulo DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAISE COLETIVOS, determina no inciso IV do artigo 5ºque “é livre a manifestação do pensamento, sendovedado o anonimato”. No mesmo artigo, o incisoIX estabelece que “é livre a expressão da atividadeintelectual, artística, científica e de comunicação, in-dependentemente de censura ou licença”. Em outrocapítulo, DA COMUNICAÇÃO SOCIAL, o artigo 220diz que “a manifestação do pensamento, a criação, aexpressão e a informação, sob qualquer forma, processoou veículo não sofrerão qualquer restrição”. E o seuparágrafo 1º afirma que “nenhuma lei conterá dis-positivo que possa constituir embaraço à plena liber-dade de informação jornalística em qualquer veículode comunicação social”. O parágrafo 6º, que “apublicação de veículo impresso de comunicaçãoindepende de licença de autoridade”.

O Brasil também é signatário de alguns trata-dos internacionais que abordam essa questão. Sãoeles a Declaração Universal dos Direitos do Ho-mem, o Tratado Internacional de Chapultepec, aDeclaração Americana Sobre Direitos Humanos, a

Carta Democrática Interamericana e a Declaraçãode Princípios sobre Liberdade de Expressão.

Também existem leis no Brasil que, em dife-rentes níveis, interferem na liberdade de expres-são, mas que funcionam como proteção aos direi-tos individuais fundamentais: as chamadas leis decalúnia, injúria e difamação. No direito penalbrasileiro, estes dispositivos, também chamadosde crimes contra a honra, estão presentes aomesmo tempo no Código Penal e na Lei deImprensa. Alguns juristas afirmam que bastaria queestivessem no Código Penal para que a suaaplicação fosse feita sem com isso gerar nenhummecanismo restritivo à expressão livre dopensamento.

São situações em que a liberdade de expressãofica sujeita a outras aplicações legais:

1.1.1.1.1. Considera-se crime fazer propaganda deguerra, de processos violentos ou ilegais de alte-ração da ordem social ou política, ou de qualquerforma de preconceito (racial, religioso ou declasse). Disposições legais: a) artigo 22 da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional); b) artigo 20 da Lei7.716/89 (crimes resultantes do preconceito de raçaou cor); c) artigo 1°, parágrafo 1°, e artigo 14 daLei de Imprensa1.

2.2.2.2.2. Quando estiver em pauta a segurança naci-

Pilar APilar APilar APilar APilar AA criação de espaços paraA criação de espaços paraA criação de espaços paraA criação de espaços paraA criação de espaços paraambientes democráticos:ambientes democráticos:ambientes democráticos:ambientes democráticos:ambientes democráticos:a esfera públicaa esfera públicaa esfera públicaa esfera públicaa esfera pública

A1 – Liberdade de expressão, inclusive uma atmosfera deabertura e o direito a criticar aqueles no poder.

A1.1 - Provisão constitucional e leis que garantam a liberdade de expressão.A1.2 - A ausência de ações governamentais ou de empresas que restrinjam aliberdade de expressão e a garantia ativa do cumprimento das leis de liberdadede expressão.A1.3 - Medidas ativas para a promoção de uma atmosfera de abertura ediscussão ampla.

11111 Veja mais sobre a atual Lei de Imprensa e sobre o projeto para a nova lei em “Tendências Atuais e Futuras” do atributo A2.

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onal, a preparação interna ou externa do país, ehouver determinação prévia sobre o sigilo neces-sário, aquele que publicar ou divulgar segredo deEstado ou informação sigilosa (de acordo com odito no início) deverá ser punido. Isso é previstonos: a) artigo 15 da Lei de Imprensa; b) artigo 21da Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional).

3. 3. 3. 3. 3. Há normas que afirmam ser crime publicarou divulgar notícias falsas ou verdades truncadas(incompletas) que perturbem a ordem pública,incitem desconfiança sobre instituição financeiraou que abalem o sistema financeiro, em nível pes-soal (pessoa física) ou empresarial (pessoa jurídi-ca), havendo abalo de crédito, ou em nívelgovernamental, quando houver prejuízo ao crédi-to das esferas administrativas. As disposiçõesnormativas são: a) artigo 16 da Lei de Imprensa;b) artigo 3° da Lei 7.192/86 (crimes contra o siste-ma financeiro nacional).

4. 4. 4. 4. 4. Manipular a liberdade de expressão consis-te em fazer, em não fazer ou em impedir que sefaça publicação, transmissão ou distribuição danotícia, por quaisquer meios, utilizando comocausa a procura por dinheiro ou favores (vanta-gens). Sobre esse assunto, regem: a) artigo 18 daLei de Imprensa; b) artigo 158 do Código Penal.

5. 5. 5. 5. 5. É crime utilizar a liberdade de expressão afim de estimular a infração de leis, fazendo apolo-gia de ato criminoso ou do próprio criminoso.Pode-se analisar: a) artigo 19 da Lei de Imprensa;b) artigos 286 e 287 do Código Penal.

6. 6. 6. 6. 6. É crime ofender “a moral pública e os bonscostumes” (artigo 17 da Lei de Imprensa). Sãopuníveis a calúnia (imputação de fato criminoso aalguém, de forma falsa, equivocadamente), a difa-mação (imputação de fato ofensivo à reputaçãode alguém) e a injúria (ofensa, insulto), os trêsabusos ofendendo tanto pessoas físicas vivas quan-to a memória dos mortos. Em termos de legisla-ção:

- calúnia: a) artigo 20 da Lei de Imprensa; b)artigo 138 do Código Penal.

- difamação: a) artigo 139 do Código Penal; b)artigo 21 da Lei de Imprensa.

- injúria: a) artigo 140 do Código Penal; b) artigo22 da Lei de Imprensa.

Na Lei de Imprensa, dispõe o parágrafo únicodo artigo 22, que o juiz não poderá aplicar a penaquando o ofendido tiver provocado diretamentea injúria ou quando há retorsão imediata, queconsista em outra injúria. O caso de ofensa contraa memória dos mortos é regido pelo artigo 24 daLei de Imprensa.

Existem também os dispositivos que garantem

o direito de resposta. O intuito da lei é permitirque as ofensas veiculadas pela mídia – em qual-quer de suas modalidades – não fiquem impunese tenham, de fato, a oportunidade de resposta.Esse direito está expresso no inciso V do artigo 5ºda Constituição, prevendo que seja proporcionalao agravo, e no capítulo IV (artigos 29 a 36) da Lei5.250/67, que regula a liberdade de manifestaçãodo pensamento e de informação. Direito tambémexpresso no artigo 14 da Convenção Americana:“toda pessoa afetada por declarações falsas ouagravantes emitidas em seu prejuízo através de meiosde difusão legalmente regulamentados e que se dirijamao público em geral tem direito a realizar pelo mesmomeio de difusão sua retificação ou resposta nascondições que estabeleça a lei”.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOComparado a países em que o Estado exerce

forte repressão à liberdade de expressão, o Brasilmantém desde 1985, com o fim da ditadura mili-tar, um regime de tolerância. Não tem havido apli-cação, por exemplo, dos artigos autoritários daLei de Imprensa que possibilitam o recolhimentode material impresso, ou mesmo um uso excessi-vo das leis de injúria, calúnia e difamação queconfigurem censura na prática.

No entanto, a implementação das leis que ga-rantam essa liberdade esbarra em questões deordem prática e sofre muitas vezes os efeitos dopoderio econômico na comunicação. São entravesreais à liberdade de expressão na nação brasileira:

Censura implícita e velada - Uma democracia ple-na e irrestrita prevê o fim da censura de qualquertipo – sutil ou agressiva, tácita ou explícita, polí-tica ou econômica, social ou individual. A existên-cia de ações sutis de controle e de censura mere-cem grande reflexão no Brasil, pois podemos en-contrar ameaças veladas ou explícitas de demis-são de profissionais, censura a matériasjornalísticas e artigos que contrariam interessespolíticos ou empresariais, além de exposição apressões e constrangimentos variados. Essas sãopráticas correntes porque, embora a liberdade sejagarantida pelo direito positivado, não existem nopaís leis que explicitamente atinjam ações queatacam a plena liberdade de expressão, a não serquando há explicitamente ou dinheiro envolvidos.

Em visita feita ao Brasil em abril de 2004, oRelator Especial da Organização dos Estados Ame-ricanos (OEA), advogado argentino EduardoBertoni, informou que nos dois últimos relatóriosanuais (2002 e 2003) preparados pela Relatoria,ambos aprovados pela CIDH (Comissão Interame-

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ricana de Direitos Humanos), constam quatro as-sassinatos de jornalistas brasileiros como conse-qüência de seu trabalho, no ano de 2003. Porém,segundo o próprio Bertoni, a OEA tem recebidoinformações que demonstram o avanço das inves-tigações das autoridades para esclarecer esses fa-tos e coibir esse tipo de prática.

Ações de censura por meio do Poder Judiciário – ALei de Imprensa não prevê a possibilidade de pro-va da verdade pelo veículo que apresenta umadenúncia. Um caso recente de uso da força doJudiciário como forma de intimidação e censura àliberdade de expressão foi uma liminar sentencia-da contra o jornal Correio Braziliense, do DistritoFederal. Por meio de ação impetrada pela advoca-cia do governador Joaquim Roriz (acusado de estarenvolvido com a máfia da grilagem de terras noDistrito Federal), o jornal sofreu censura préviade possível matéria que relacionasse a ocorrênciacom o governador. Casos como esse ainda têmespaço por conta da vigência da Lei de Imprensada época da ditadura militar.

Concentração e oligopólio dos meios decomunicação – A forte concentração (horizontal,vertical e cruzada) da propriedade dos meios decomunicação no Brasil nas mãos de empresas pri-vadas implica potencial redução da liberdade deexpressão da sociedade brasileira. Quanto maiora concentração dos meios de comunicação, menora quantidade de grupos que se expressam atravésdesses meios. Atualmente, a oposição à liberdadede expressão não se dá mais pelo Estado - comoacontecia na época da ditadura militar - mas pelaspróprias empresas jornalísticas. Grosso modo,podemos dizer que existe a liberdade das novefamílias que detêm os oligopólios da mídia,controlando cerca de 85% da informação quecircula no país, contra cerca de 180 milhões debrasileiros que não têm acesso à produção de suaprópria comunicação. Além disso, restrições legais,dificuldade na liberação de outorgas e persegui-ção criminal aos veículos comunitários ajudam amanter essa situação de desigualdade no cenáriobrasileiro.

Falta de liberdade de manifestações públicas – Atu-almente, garantir a liberdade de expressão tam-bém através das manifestações públicas é funda-mental, já que estas se constituem, efetivamente,como ações de interesse público. Exemplos brasi-leiros são as manifestações sindicais, estudantis ede movimentos sociais como os sem-terra e ossem-teto, que todos os anos ocupam praças e ave-nidas de várias cidades do país. Essas manifesta-ções funcionam como canais de expressão forma-dos por opiniões contrárias às decisões tomadas

pelos governos. Apesar desse tipo de manifesta-ção ser permitido por lei, muitas vezes há o usode força policial para reprimi-las, com a alegaçãode subversão da ordem pública.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESA sociedade civil organizadaNo Brasil, os principais atores da sociedade ci-

vil organizada que lidam com o tema da liberda-de de expressão são: a Federação Nacional dosJornalistas (Fenaj), que reúne sindicatos de jorna-listas de todo o país; a Associação Brasileira deImprensa (ABI), tradicional órgão que reúne pro-fissionais de jornalismo em suas diversasmodalidades e tem por finalidade maior “a defesada ética, dos direitos humanos e da liberdade deinformação e expressão”; a Ordem dos Advoga-dos do Brasil (OAB), conselho profissional que con-trola e regulamenta o exercício da advocacia e temtradição na defesa da liberdade de expressão; e oMovimento Nacional de Direitos Humanos(MNDH), que congrega 316 entidades de defesados direitos humanos de todo o país.

Entre os órgãos com atuação internacional, háa Relatoria Especial para a Liberdade de Expres-são, criada em 1998 pela Comissão Interamericanade Direitos Humanos da OEA. Trata-se de um or-ganismo de caráter permanente, comindependência funcional e orçamento próprio, quemonitora e elabora informes anuais sobre a situa-ção da liberdade de expressão no paísesamericanos e também produz relatórios especiaissobre assuntos relacionados com esse direito. Há,ainda, a Rede Internacional para a Liberdade deExpressão (IFEX), grupo de organizações não-go-vernamentais e profissionais comprometido como alerta e a coordenação de ações contra ameaçasà liberdade de informação. O IFEX, que tem o apoioda Unesco, possui mais de 300 integrantes, em92 países (a maioria deles em desenvolvimento).

A grande mídiaA grande mídiaA grande mídiaA grande mídiaA grande mídiaNormalmente, quando algum abalo à liberda-

de de expressão (exceto aqueles de cunho implíci-to e velado) se manifesta nas entranhas do meiojornalístico, os grandes meios de comunicação doBrasil levantam-se para rechaçar atitudes dessecunho. São alguns exemplos recentes o caso TimLopes, jornalista investigativo da Rede Globo deTelevisão, assassinado enquanto produzia matériaem favela do Rio de Janeiro; e a morte duranteexercício profissional do repórter fotográfico darevista Época, Luís Antônio da Costa, assassinadopor assaltantes fugitivos enquanto fazia a

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cobertura de uma ocupação em um acampamen-to de trabalhadores sem-teto em São Bernardo doCampo (SP).

Também é comum os empresários da comuni-cação falarem em censura, em restrições à liber-dade de expressão e de imprensa a qualquer sinalde discussão sobre regulamentação das comuni-cações no Brasil, principalmente se o debate vierde fora do setor empresarial. Esse tipo de posturaconfigura uma clara estratégia de encerrar a dis-cussão sem efetivamente fazê-la, já que o debatepode gerar mudanças contrárias a seus interesses.O tratamento que se deu em 2004 aos projetosde criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ)e Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual(Ancinav) – sem qualquer avaliação de mérito –são exemplos contundentes dessa postura empre-sarial, que tenta classificar qualquer projeto deregulação como censura logo quando surge e, comisso, tenta encerrar, ou ao menos fragilizar, a dis-cussão de interesse público. O setor empresarialnormalmente age como se estivesse acima das leise se julga isento de toda e qualquer forma deregulação estatal e/ou pública.

Entre as entidades que representam os inte-resses dos empresários estão a Associação Nacio-nal de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Edi-tores de Revista (Aner), a Associação Brasileira deEmissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associ-ação Brasileira de Radiodifusores (Abra). Histori-camente, a Abert sempre foi uma entidade muitopoderosa e representativa, pois reunia a grandemaioria das emissoras de TV brasileiras. Porém,

ao verificarem que os interesses da Rede Globoestavam prevalecendo sobre os das demais, SBT,Record, Bandeirantes e RedeTV (as outras quatrograndes redes de TV) saíram da Abert e criaram,em março de 2002, a UneTV, transformada emnovembro de 2004 na Abra. Atualmente, a Abertreúne apenas a Globo e emissoras regionais.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASEstá no Congresso Nacional, há quase seis

anos, uma proposta que regula o direito depublicação pelo Ministério Público de informaçõesdas instâncias públicas sob investigação. O Projetode Lei da Câmara 65/99, apresentado pelaPresidência da República, “proíbe magistrados,membros do Ministério Público, integrantes doTribunal de Contas, bem como autoridades policiais eadministrativas de revelarem ou permitirem,indevidamente, que cheguem ao conhecimento deterceiro ou aos meios de comunicação fatos ouinformações de que tenha ciência em razão do cargo eque violem o sigilo legal, a intimidade, a vida privada,a imagem e a honra das pessoas (...)”.

Esse projeto foi considerado por vários órgãosde imprensa um atentado à liberdade de expressão.Ao não permitir a divulgação de informações cons-tantes de processos ainda não públicos, o projetoquestiona o fato de a liberdade de expressão serum conceito absoluto. Esse debate apresentanuances e revela a linha tênue entre a censura e aproteção à privacidade.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALA base legal que sustenta a liberdade de im-

prensa é, em sua maioria, a mesma que garante aliberdade de expressão, visto que os direitos es-tão diretamente conectados. Vale destacar o pará-grafo 6º do artigo 220 da Constituição, que prevêque “a publicação de veículo impresso de comunica-ção independe de licença de autoridade”.

Além destas, destaca-se na legislação brasilei-ra a Lei 5.250, a Lei da Imprensa, datada de 09/02/1967 (no período da ditadura militar), que re-gula a liberdade de manifestação do pensamentoe da informação. A atual regulamentação que tratade liberdade de imprensa é defasada, já que a Leide Imprensa de 1967 não foi incorporada pelaConstituição Federal de 1988 e até hoje ainda nãofoi definida uma nova lei, o que gera algunschoques de interpretação e prevalência. Contudo,mesmo sob fortes críticas de setores da áreajornalística, ela continua sendo aplicada peloPoder Judiciário, com a ressalva de que, em certos

casos, sofre aplicação com restrições e alteraçõesde penalidades. A lei em vigor prevê apreensãode jornais que incitem a subversão da ordem po-lítica e social. Prevê, também, que, em caso deprocesso por calúnia, injúria ou difamação, estedeve ser encaminhado contra o diretor ou editor,e não contra a empresa. Os órgãos de imprensapodem ser punidos por questionar o poder públi-co e não têm direito à prova da verdade contra oPresidente da República, o presidente do SenadoFederal, o presidente da Câmara dos Deputados,os ministros do Supremo Tribunal Federal, chefesde Estado ou de Governo estrangeiros, ou seusrepresentantes diplomáticos. Isto é, não podemprovar que a denúncia ou acusação é procedente.Em virtude de seu caráter autoritário, a lei há tem-pos não vem sendo aplicada em seus pormenorese foi criado um vácuo pela falta de outra que asubstitua.

Sobre a proposta de substituição da Lei de Im-prensa, veja em “Tendências Atuais Futuras”.

A 2 – Liberdade de imprensa e mídia, inclusive parajornalistas realizarem seu trabalho e responsabilidadesrelacionadasA 2.1 - Provisão constitucional e/ou leis que garantam a liberdade da imprensa ede todos os tipos de mídia, além de independência editorial, com o mínimo derestrições, incluindo a proibição de monopólios em qualquer mídia.

A 2.2 - Medidas para prevenir a violação de direitos humanos dos jornalistas naexecução de seu trabalho, especialmente em áreas de conflito.

A 2.3 - Medidas para apoiar a liberdade editorial de jornalistas, inclusivesegurança no emprego, sindicalização, direitos morais de autor e a resistência àcoerção moral e outras formas de coerção por parte de empregadores ououtrem.

A 2.4 - Instrumentos independentes e medidas que assegurem o direito deresposta, que protejam o público contra processos difamatórios, protejam aprivacidade e evitem o incitamento à violência, e outras provisões contidas emacordos internacionais.

A 2.5 - Medidas para prevenir censura por parte de entidades comerciais dematerial relevante para a esfera pública, inclusive de conteúdo eletrônico e para ainternet – por parte, por exemplo, de provedores de acesso à internet,mecanismos de busca, e provedores de banda (infra-estrutura de internet,empresa de telefonia, internet a cabo ou via satélite).

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IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAlguns impeditivos à liberdade de imprensa

surgem no cotidiano da atividade jornalística.Muitos deles se configuram como problemas deordem econômica e política.

A propriedade de veículos de comunicação porpolíticos de âmbito local, regional e nacional podese configurar como importante entrave à liberda-de de expressão e de imprensa, visto que, não ra-ramente, interesses entre as redações e os quedetêm o poder político e econômico tomam o lu-gar do interesse público. Muitas vezes, portanto,existe a liberdade para os donos de empresa, masnão para os jornalistas. Nesses casos, configura-se uma situação em que o interesse público é pre-judicado pelo interesse particular.

Outra questão de importância é a dependênciaque os veículos têm da publicidade. Dados de 2002da Associação Nacional de Jornais (ANJ) apontamque o Brasil tinha 523 jornais diários, comcirculação média de 6,97 milhões de cópias (numpaís de mais de 180 milhões de habitantes).Desses 523 jornais, pouco mais de cinco têmrelevância nacional. A importância dos anuncian-tes dentro dos veículos também se constitui comoum fator que diminui a real liberdade de expressãodos comunicadores, pois os veículos são cada vezmais dependentes do capital publicitário, o quetorna, na prática, difícil a divulgação de opiniõescontrárias aos interesses desses patrocinadores.Isso inclui a dependência também de anunciantesoficiais, como os governos federal, estaduais emunicipais. A dependência de propaganda,portanto, torna-se um limitador da liberdade deimprensa. Por outro lado, algumas vezes, a publi-cação de notícias negativas funciona como formade pressão a governos e empresas para que anun-ciem em seus veículos, configurando uma“chantagem velada” do veículo.

A atuação da Justiça nesse campo também podese constituir um problema, dependendo do tipode encaminhamento dado. Isso também se dá peloatual “limbo regulatório”, em que a Lei deImprensa vigente (que é de 1967) e o CódigoBrasileiro de Telecomunicações (de 1962) nãoacompanham o que diz a Constituição de 1988 enem são condizentes com as discussões atuais noque diz respeito à imprensa, aos meios decomunicação de maneira geral e particularmente

à liberdade de expressão. Um bom exemplo dessadificuldade da aplicabilidade da Lei de Imprensa éa falta de limitação para as multas referentes aoscrimes de imprensa. A decisão fica a cargo do juiz,que algumas vezes pode ter interesse particularem coibir uma ação jornalística através deintimidação jurídica. O valor da indenização dodano moral decorrente de ofensa praticada atravésda imprensa não está limitado ao disposto nosartigos 51 e 52 da Lei 5.250/67, que regula aliberdade de manifestação do pensamento e deinformação. Essa lei também determina em seuartigo 29 que “toda pessoa natural ou jurídica, órgãoou entidade pública, que for acusado ou ofendido empublicação feita em jornal ou periódico, ou emtransmissão de radiodifusão, ou a cujo respeito os meiosde informação e divulgação veicularem fato inverídicoou errôneo, tem direito a resposta ou retificação”.

Existem também os impeditivos de naturezaarbitrária e mesmo criminosa. Nos últimos anos,o Brasil registrou a ocorrência contra a imprensade ameaças, agressões, censuras, restrições, pres-sões, intimidações, prisões arbitrárias, danos aopatrimônio, apreensões de jornais, processos,condenações judiciais, seqüestro e assassinatos deprofissionais da imprensa, diretamente vinculadosao exercício do jornalismo. Segundo o RelatórioAnual sobre Liberdade de Imprensa no Brasil, or-ganizado pela ANJ – que abrange o período deagosto de 2002 a agosto de 2003 – foramregistradas sete agressões e duas ameaças a jor-nalistas. Três veículos impressos sofreram censu-ra prévia por mandado judicial, dois jornais im-pressos e uma emissora de TV sofreram processo.Além disso, dois jornalistas foram processados eum foi condenado à prisão2.

No relatório da Federação Internacional de Jor-nalistas (FIJ) de 2004, foram apontados seis jorna-listas mortos no Brasil no exercício da profissão, oque coloca o país no 4º lugar do ranking mundial,atrás de Filipinas, Índia e Iraque. A maioria delesfoi assassinada por motivo de denúncias políticasou relacionadas ao crime organizado.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESDuas entidades que freqüentemente têm de-

batido as questões da liberdade de imprensa sãoa ANJ e a Associação Brasileira de Jornalismo

2.2.2.2.2. O relatório não se posiciona a respeito, mas nem todas as acusações e processos emitidos foram equivocados ou emitidos pelaJustiça como uma retaliação qualquer. Algumas funcionam como medidas cabíveis no sentido de se garantir a defesa das partesque se sentiram difamadas pelos jornais e jornalistas. Está correta a imprensa quando afirma que ninguém deve impor-lhe censuraprévia, mas a mídia e os jornalistas não têm imunidades. Depois de publicada a notícia, os cidadãos que se sentirem lesadosdevem ter o direito de contestar e cobrar retificações e reparações que acharem necessárias.

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Investigativo (Abraji). A ANJ defende os interessesdos empresários donos de jornais e, portanto, fazgrandes esforços para garantir a plena liberdadede acesso e publicação de informaçõesjornalísticas, incluindo polêmicas governamentaise outras. Já a Abraji tem, no que concerne ao acessoa informações governamentais e públicas, umgrande interesse em defender a liberdade deexpressão e de imprensa, pois são direitos chavespara a execução do trabalho de seus associados.Outras entidades como a Associação Brasileira deImprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB) têm desempenhado papéis importantes nosdebates sobre liberdade de imprensa, principal-mente em casos de repercussão pública.

Outros atores importantes são os sindicatos dejornalismo e a Federação Nacional dos Jornalistas(Fenaj), que buscam defender os interesses dosjornalistas em relação às pressões das empresas.Uma das principais questões a partir da qual elesse inserem no debate da liberdade de imprensa éa obrigatoriedade do diploma do curso universi-tário de jornalismo para o exercício da profissãode jornalista, como tentativa de garantir a quali-dade do trabalho e a não precarização da profis-são3. Recentemente, duas liminares diferentes daJustiça brasileira deram pareceres favoráveis à nãoobrigatoriedade do diploma, baseando-se para talno artigo 5º da Constituição Federal. Com isso,muitos brasileiros sem formação universitária emjornalismo puderam obter nas DelegaciasRegionais de Trabalho seus registros comojornalistas profissionais. Contudo, a decisão finalainda não foi tomada pelas instâncias superioresda Justiça brasileira e não tem prazo para ser

proferida. Em agosto de 2004, a Fenaj propôs acriação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) eencaminhou projeto de lei ao Congresso Nacionalpor meio do Palácio do Planalto (a quem cabia aprerrogativa legal). Essa proposta causou bastantepolêmica, já que a criação desse órgão poderiamudar as relações trabalhistas na área da produçãojornalística, tocando em questões centrais comoa emissão dos registros (que passaria a ter controlenacional e unificado), a fiscalização do exercícioprofissional e, indiretamente, a obrigatoriedadedo diploma de jornalista. O projeto foi rejeitadono Congresso.

Em termos de acompanhamento da situaçãoda liberdade de imprensa, duas organizações so-ciais fazem relatórios com rankings mundiais. Aorganização não-governamental Freedom Housepublica anualmente um ranking de liberdade deimprensa4. O Brasil está na 80ª posição, juntamen-te com México, Mongólia e Cabo Verde; recebeunota 36 e é considerado parcialmente livre noquesito liberdade de imprensa. No topo da listado ano de 2004 (que reflete o estágio de liberda-de no ano de 2003), encontramos Dinamarca, Is-lândia e Suécia, com nota 8, seguidas por Bélgica,Noruega e Suíça, com nota 9.

Em outra classificação mundial de liberdade deimprensa – publicada pela organização Repórteressem Fronteiras (RSF) – o Brasil ocupa o 66º lugarno ranking5 (que vale para o período 2003-2004),uma melhoria de cinco posições em relação ao re-latório anterior, publicado em outubro de 2002.Segundo o ranking atual, em que foram avaliados167 países, o Brasil aparece avaliado com nota16,50. No ano anterior o Brasil teve nota 16,75.

3.3.3.3.3. Segundo estimativa da Fenaj, publicada em setembro de 2004, com base em dados do Ministério do Trabalho e levantamentojunto aos sindicatos, existem aproximadamente 100 mil registros profissionais expedidos desde 1969: 20 mil jornalistas quetrabalham em redações (rádio, tv, jornais, revistas, Internet); 20 mil jornalistas em assessorias (setor público e privado), universi-dades e free lancer; 10 mil jornalistas desempregados; 50 mil não exercem a profissão por motivo de falecimento, aposentadoriaou mudança de atividade profissional.

4.4.4.4.4. Tal ranking é construído a partir das informações obtidas pela instituição acerca de três conjuntos de critérios: legais (leis eregulamentações que garantem ou obstruem a liberdade de expressão); políticos (formas políticas de se controlar a liberdade deexpressão, como censura) e econômicos (como o sistema de propriedade do setor). A partir da coleta das informações sãoatribuídas notas aos critérios e, ao final, os países podem ter uma pontuação global entre 0 e 100 pontos, sendo a nota 0 umindicador de total liberdade de imprensa e a nota 100, de total restrição. A instituição trabalha com três grandes categorias depaíses: países com médias que variem entre 0 e 30 pontos são considerados livres, entre 31 e 60 temos os países parcialmentelivres e, entre 61 e 100, os países não livres.

5.5.5.5.5. O ranking foi constituído a partir de entrevistas com mais de 100 correspondentes ao redor do mundo, representantes de 14organizações de liberdade de expressão nos cinco continentes, jornalistas, pesquisadores, juristas e ativistas de direitoshumanos. Eles responderam 52 perguntas relativas ao conjunto dos atentados contra a liberdade de imprensa (assassinatos ouameaças de jornalistas, censura, prisões, monopólio do Estado em determinados aspectos, sanções para os delitos de imprensa,regulação dos meios de comunicação etc.) que ajudaram a indicar o estado de liberdade de imprensa nos 167 países relacionados.Os países que ocupam o primeiro lugar no ranking são Dinamarca, Finlândia, Islândia, Irlanda, Holanda, Noruega, Eslováquia eSuíça, todos com nota 0,50. Já os piores classificados são a Coréia do Norte, em último lugar, com nota 107,50; Cuba, em 166ºlugar, com nota 106,83; e Myanmar (ex-Birmânia), em 165º, com nota 103,63.

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Outra iniciativa de acompanhamento do temaé a Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa,iniciativa conjunta da Organização das NaçõesUnidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(Unesco) e da ANJ. Foi criado um sítio web(www.liberdadedeimprensa.org.br) com o intuitode ser um meio de acesso aos assuntosrelacionados à liberdade de imprensa no Brasil eoferecer ampla informação sobre a ocorrência defatos atentatórios, restritivos ou contrários ao livreexercício do jornalismo. No entanto, por serpromovida pelo setor patronal, ela se mostraextremamente limitada, já tendo dado exemplosde que não pretende tocar em questões queafrontem qualquer dos jornais associados à ANJ.No Pará, por exemplo, houve uma agressão deRômulo Maiorana, dono de um dos principaisjornais do estado, a Lúcio Flávio Pinto, jornalistaque havia escrito uma matéria que denunciava ocomprovado abuso de poder da família Maiorana.A rede silenciou sobre o tema. Também não houvenenhuma citação sobre o processo que JaimeCâmara, principal empresário de mídia de Goiás,moveu contra o jornalista Jorge Kajuru por contadas denúncias sobre o envolvimento do empresárioem um esquema montado pelo governo do estadopara o Campeonato Goiano de Futebol.Especialmente por contar com o apoio da Unesco,a iniciativa motivou diversas manifestaçõescontrárias por parte da sociedade civil organizada,denunciando a postura de defesa empresarialassumida pela Rede.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASO país tem assistido a exemplos que revelam a

dificuldade em lidar com casos em que a liberda-de de imprensa é utilizada para divulgação dedenúncias supostamente caluniosas. Um recenteexemplo foi o caso “Lula - The New York Times”.Depois que o jornal publicou uma matéria dorepórter Larry Rohter sobre os hábitos de consumode álcool do presidente Luiz Inácio Lula da Silva euma suposta preocupação nacional sobre o fatopoder afetar a administração do governo brasileiro,o presidente decidiu cancelar o visto do repórteramericano. Um dos pontos mais graves desse epi-sódio é a falta de elementos para julgar um casodesses. Grosso modo, o presidente Lula agiu comojuiz num caso em que ele era a vítima. Mais gravedo que o visto ser cancelado ou não, é isso nãoter sido feito pelo Judiciário, mas pelo Presidenteda República diretamente. No final, o jornalista eo presidente entraram em um acordo de descul-pas e o pedido de cancelamento foi suspenso. Tal

caso mostra uma tentativa clara de intimidaçãopelo uso da força legal.

Esse caso levantou um amplo debate no Brasilsobre liberdade de expressão e de imprensa,embora a matéria não tenha sido originalmentepublicada por um órgão brasileiro.

As tendências relacionadas à liberdade de im-prensa no Brasil podem, muitas vezes, seridentificadas a partir de exemplos pontuais. Umcaso atual e que envolve a aplicabilidade da Leida Imprensa é o fato do Supremo Tribunal Federal(STF) ter julgado inconstitucional o artigo da leiatual que fixa em três meses o prazo para a pes-soa que se sentir ofendida por uma reportagemmover ação de indenização por dano moral con-tra a empresa jornalística. O Supremo examinouno dia 1º de junho de 2004 um recurso do jornalO Dia, do Rio de Janeiro, contra o pagamento deindenização ao médico Carlos Alberto de Oliveira,autor de uma ação pela qual acusa a empresa dedanos morais. Os ministros consideraram que aConstituição de 1988 não “recepcionou” o artigo56 da Lei de Imprensa, que trata do prazo parapropor ação de indenização por dano moral. Issosignifica que, no entendimento dos ministros doSupremo, a norma da lei é incompatível com onovo texto da Constituição, porque o prazo detrês meses se confrontaria com a parte que tratados direitos individuais do cidadão (artigo 5º), es-pecialmente os direitos de resposta e de indeni-zação por dano material, moral ou à imagem. Esseexemplo mostra a carência de um alicerce legalsólido para o entendimento da liberdade de im-prensa no Brasil. Enquanto essa base jurídica nãofor satisfatoriamente resolvida, a tendência é deque permaneça um cenário instável, variando deacordo com a interpretação dos juízes.

Nesse sentido, existe um substitutivo da Leide Imprensa (Projeto de Lei 3.232/92) que está emtrâmite no Congresso Nacional. Os pontos princi-pais previstos no projeto são: a obrigação de pu-blicar qualquer matéria paga, desde que não sig-nifique afronta à pessoa humana ou à ordem de-mocrática; definição de responsabilidades, no casode processos, ao autor (se este não for vinculadoao órgão) e solidariamente à empresa, ao autor eao editor, no caso de matéria assinada por funcio-nário da empresa jornalística. O projeto prevê tam-bém que o autor possa se negar a assinar a maté-ria se tiver sofrido modificações que o façam nãoassumir o que está escrito. Fica garantido o direi-to de sigilo da fonte, o que não exclui as respon-sabilidades civis e penais e nem o ônus da prova.Regulamenta o direito de resposta, impedindo aempresa de publicar qualquer outro texto falado

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ou impresso em conjunto com a resposta que secaracterize como tréplica (o que implica, no caso,mais um direito de resposta). O capítulo maispolêmico, no entanto, é o das sanções, que nãoestabelece valor máximo para multas e indeniza-ções. Não é possível prever quando haverá a apre-ciação do projeto, ainda que ele seja resultado dacompilação de um grande número de projetos emtramitação no início da década de 90.

Esse debate sobre a constituição da nova Leide Imprensa é conflituoso e sintomático. A partedo projeto que se refere à idéia de não limitaçãomáxima para multas e indenizações, por exemplo,gerou uma forte campanha contra por parte dosempresários, que consideram que a ausência dedefinições é uma censura implícita. Eles afirmamque as empresas não publicariam qualquer polê-mica com medo de serem acionadas por indeniza-

ções milionárias e acreditam que é preciso esta-belecer valores máximos na lei para que não sefortaleça no Brasil a “indústria de indenizações pordano moral”, como eles dizem acontecer nos EUA.As empresas justificam ainda que uma nova Leide Imprensa significaria a possibilidade de serempunidas por acusações inverossímeis ou seremobrigadas a conceder direito de resposta a qual-quer um. Da maneira como está definido hoje, odireito de resposta pode ser publicado juntamen-te a outra resposta do veículo (prática comum nosmeios impressos), o que configura uma tréplica eacaba desconfigurando a garantia do direito. Pelofato do mercado ser, na prática, desregulamentado,a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio eTelevisão (Abert) defende a simples revogação dalei atual, ação que deixaria todas essas questõessomente sob as esferas penal e cível.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALÉ importante notar que a Constituição Federal

acolheu tanto a liberdade pública de informarquanto o direito ao acesso à informação. Aponta,ainda, o fato de que o direito de acesso à informa-ção é colocado, nesse documento, expressamentecomo um direito coletivo, assegurado a todos etodas. Outra questão fundamental prevista naConstituição é o princípio da publicidade dos atosadministrativos, extensiva a toda organização daadministração pública. O artigo 37 aponta que “aadministração pública direta, indireta ou fundacional,de qualquer dos poderes da União, dos estados, doDistrito Federal e dos municípios obedecerá aosprincípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade”.

No Brasil, o direito à informação encontra-seconsagrado na Constituição Federal de 1988 pormeio dos incisos XIV e XXXIII do artigo 5º:

XIV — é assegurado a todos o acesso à informa-ção e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá-rio ao exercício profissional;

XXXIII — todos têm direito a receber dos órgãospúblicos informações de seu interesse particular, ou deinteresse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazoda lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aque-las cujo sigilo seja imprescindível à segurança da soci-edade e do Estado.

Também podem ser considerados instrumen-tos para a garantia do direito ao acesso àinformação – e do direito à informação – a ação

A 3 - Acesso e pronta disponibilidade de informaçõespúblicas e governamentais, de modo abrangente, útil e rápido,especialmente no que concerne ao desenvolvimento eimplementação de políticas e questões de interesse público, comosaúde, segurança etc.

A 3.1 - Legislação sobre liberdade da informação, com a mínima retenção porparte de órgãos públicos e governamentais, e com acesso máximo por parte domais amplo público.

A 3.2 - A implementação de tais leis que tornem tal informação disponível demaneira acessível economicamente e em tempo correto para todos.

A 3.3 - Esforços ativos por parte dos setores público e estatal para expandir aabertura e a transparência, inclusive através de meios como:

estruturas ou escritórios para reunir e divulgar informações de formaapropriada;

a publicação de objetivos e planejamentos de políticas e serviços públicos;proteção para funcionários públicos que revelem informação de e em prol

do interesse público;a transmissão das deliberações dos representantes eleitos e órgãos

públicos;transparência do processo decisório em questões de interesse público,

como decisões de gabinete.

A 3.4 - Abertura e transparência governamental em negociações e instituiçõesinternacionais relacionadas à mídia e à esfera pública.

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civil pública (cuja disciplina consta da Lei 7.347/85), a ação popular (Lei 4.717/65) e o mandadode segurança (Lei 1.533/51), que disciplinam asações coletivas e individuais destinadas àsuperação de situações de ilegalidade provocadaspor autoridades públicas.

Especialmente em relação à legislaçãoinfraconstitucional, há que se ressaltar a Lei 9.507/97, que regula o direito de acesso à informaçãoconstante de registro ou banco de dados de cará-ter público e o procedimento do habeas data, con-sistente na ação judicial cabível: I — para assegu-rar o conhecimento de informações relativas àpessoa do impetrante, constante de registro oubanco de dados de entidades governamentais oude caráter público; II — para retificação de dados,quando não se puder fazê-lo por processo sigilo-so, judicial ou administrativo; III — para a anota-ção nos assentamentos do interessado, da con-testação ou explicação sobre dado verdadeiro, masjustificável, e que esteja sob pendência judicial ouamigável.

Existe, ainda, a Lei 8.159/91, que estabeleceas diretrizes da política nacional de arquivos pú-blicos e privados, assegurando a todos o direitode acesso pleno a quaisquer documentos públi-cos. São considerados públicos “os conjuntos dedocumentos produzidos e recebidos, no exercício desuas atividades, por órgãos públicos de âmbito fede-ral, estadual, do Distrito Federal e municipal em de-corrência de suas funções administrativas, legislativase judiciárias” (art. 7o, caput). A tais documentosassegura-se o direito de acesso pleno (art. 22), comexceção daqueles de caráter sigiloso, “cuja divul-gação ponha em risco a segurança da sociedade e doEstado” ou exponha indevidamente a intimidade,a vida privada ou a imagem das pessoas (art. 23,caput e § 1o). A mesma lei atribui à legislação es-tadual e municipal a gestão do acesso aos respec-tivos documentos, mas com a obrigação de aten-derem aos dispositivos constitucionais e às nor-mas gerais de acesso nela previstas (art. 21).

Na última década, algumas leis foram criadaspelo governo brasileiro para tentar por em práti-ca a efetividade do direito à informação de caráterpúblico. A Lei 9.755, de 16 de dezembro de 1998,dispõe sobre a criação de homepage na internetpelo Tribunal de Contas da União(www.contaspublicas.gov.br), para divulgação dosdados e informações que especifica. A referida leiconsidera que os dados e informações de que tra-ta o TCU devem ser divulgados pelos órgãosresponsáveis em atendimento ao princípio dapublicidade, consagrado no art. 37 da Constitui-ção Federal. Segundo o art. 2º da lei, todos os

órgãos e entidades de todos os níveis da federação(União, estados, Distrito Federal e municípios), noâmbito dos poderes Executivo, Legislativo eJudiciário, estão incumbidos de manter disponíveisem seus sites na Internet dados e informações aliespecificados. As informações contidas nahomepage não são abertas ao público em geral epara ter acesso a esses dados é necessário o pre-enchimento de um formulário para a identifica-ção do órgão responsável, do nível de governo(municípios e estados) e dos endereços eletrôni-cos na Internet (links) que permitirão tal acesso àspáginas específicas contendo os referidos dados einformações.

Outro instrumento virtual criado nesse senti-do é o Interlegis. Um programa desenvolvido peloCongresso Nacional brasileiro, em parceria com oBanco Interamericano de Desenvolvimento (BID),de integração do Poder Legislativo nos seus ní-veis federal, estadual e municipal através de co-munidade virtual. Dessa forma, os parlamentarese casas legislativas cadastradas no portal podemtrocar informações e ter acesso a documentos enotícias do Poder Legislativo. No entanto, o pú-blico em geral somente tem acesso aos dados pu-blicados no portal Interlegis.

Implantado em janeiro de 1987, pela Secreta-ria do Tesouro Nacional, ligada ao Ministério daFazenda, o Sistema Integrado de AdministraçãoFinanceira (Siafi) é anunciado pelo governo comoum importante instrumento utilizado para regis-tro, acompanhamento e controle da execução or-çamentária, financeira e patrimonial do governofederal. É um sistema informatizado que processae controla, por meio de terminais instalados emterritório nacional, a execução orçamentária,financeira, patrimonial e contábil dos órgãos daAdministração Pública Direta federal, dasautarquias, fundações e empresas públicas fede-rais e das sociedades de economia mista que esti-verem contempladas no Orçamento Fiscal e/ou noOrçamento da Seguridade Social da União. Entreseus objetivos, o Siafi destina-se a permitir que acontabilidade pública seja fonte segura de infor-mações gerenciais destinadas a todos os níveis daAdministração Pública Federal; permitir o acom-panhamento e a avaliação do uso dos recursospúblicos e proporcionar a transparência dos gas-tos do governo federal. A utilização do sistema éfeita exclusivamente por operadores vinculados àadministração pública e o acesso às informaçõessobre as despesas do governo federal é restrito. Opúblico em geral não tem acesso direto às infor-mações, somente através de consultas pelos sitesdo Serviço Federal de Processamento de Dados

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(Serpro), da Receita Federal ou do próprio Siafi.Apesar de alguns esforços governamentais po-

sitivos, decretos presidenciais recentes foram cri-ados no sentido contrário à livre obtenção de da-dos públicos. Um bom exemplo é o Decreto 4553/02, editado no final do mandato do ex-presidenteFernando Henrique Cardoso, que limita o livreacesso a informações governamentais e altera osprazos para divulgação de documentos do gover-no. Pela nova legislação, os documentos “reserva-dos” podem permanecer fora do acesso públicopor 10 anos, renováveis por mais 10. Os docu-mentos “confidenciais”, por 20 anos, prorrogáveispor igual período. Já os documentos “secretos”por 30 anos, renováveis por mais 30. Por fim, osdocumentos “ultra-secretos” serão indisponíveispor 50 anos, podendo ser este período renovávelindefinidamente, ficando, para sempre, fora doacesso público. Esta situação é tida comoinconstitucional, porque a Lei dos Arquivos (8.159/91), constitucionalmente superior a um decretopresidencial, estabelece o prazo limite de 30 anos,renováveis por um único igual período, e em ne-nhum momento menciona que qualquer docu-mento pode ficar eternamente sob sigilo. Essa si-tuação dificulta o acesso de pesquisadores a do-cumentos históricos, especialmente àquelesrelacionados ao período da ditadura militar. Noinício de dezembro de 2004, o decreto foi revoga-do e substituído por uma medida provisória e umdecreto que reduzem os prazos de sigilo das dife-rentes classificações. Se, por um lado, essas medi-das acabaram com a renovação indefinida da clas-sificação ultra-secreta, por outro, elas criaram umconselho governamental, vinculado à Casa Civilda Presidência, que define se e quando renovar aclassificação de documentos públicos, instituindona prática a possibilidade de sigilo eterno decre-tado pela Presidência, para documentos de qual-quer classificação, não apenas ultra-secretos.

Sobre a questão das negociações e instituiçõesinternacionais relacionadas à mídia e à esfera pú-blica, prevista no indicador A3.4, não há base le-gal específica atualmente em vigor.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOA realidade para aqueles que buscam o acesso

a informações públicas revela algumas dificulda-des impostas pelo poder público. O caso do Siafimostra isso, com as informações sendo restritas aparlamentares e gestores públicos. Há alguns si-nais de maior abertura, embora tímidos. Em de-zembro de 2004, o Senado inaugurou o portal SigaBrasil, que promete ter um amplo banco de dados

com informações até então restritas aparlamentares (incluindo as do Siafi). Técnicos doCongresso e jornalistas terão acesso a esse siste-ma. Contudo, segundo Cláudio Weber Abramo,diretor da Transparência Brasil, a implantação dosite é um avanço muito pequeno. “O acesso aindaé restrito a poucos, mesmo com a inclusão dejornalistas. A informação não chega à sociedadecomo um todo”, aponta.

Segundo o relatório Caminhos da Transparên-cia, realizado pela Transparência Brasil sobre oacesso às informações públicas e governamentais,em muitos casos de requisição de informações pelopúblico, é possível perceber um interesse maiornas informações pessoais do que um uso maior eamplo do direito à informação. “Isso parece decor-rer do contexto de origem dessas legislações, que pro-curavam demarcar limites para o segredo governamen-tal pela garantia do direito à privacidade e do direitode ‘saber’ das pessoas. No caso brasileiro, seria umatentativa de controlar as agências de segurança doregime militar, preservadas nos acordos da transiçãoconservadora. Todavia, este caráter reativo e restritotende a mudar, permanecendo o habeas data comouma garantia central para a cidadania”. O habeasdata aparece como um dos principais instrumen-tos jurídicos para obrigar legalmente os respon-sáveis a cederem informações requisitadas segun-do a legislação em vigor. “Em muitos países latino-americanos (por exemplo, Argentina, Brasil e Peru) edo Leste Europeu (como Bulgária, Hungria e Repúbli-ca Tcheca), o direito de habeas data foi adotado prin-cipalmente pela necessidade de garantir aos indivídu-os o acesso e a correção de informações pessoais ar-mazenadas nos arquivos dos serviços de segurança dosantigos regimes autoritários”, aponta o documento.O fato é que a aplicação do sistema legal queassegura e regula o direito à informação no Brasilencontra algumas resistências e dificuldades.Primeiramente, devido ao quase desconhecimen-to acerca do próprio conteúdo dessa legislação,que é muito pouco divulgada. Em segundo lugar,surge a dificuldade de compreensão legal que opúblico leigo tem. E, por último, mas nem porisso menos importante, estão os limites adminis-trativos das instâncias governamentais. Segundoo mesmo relatório, “a inconsistência do direito àinformação no Brasil resulta de um círculo vicioso emque a desorganização e a precariedade dos registrosarquivísticos, computacionais e outros, sob a guardados diversos órgãos da administração pública, reforçama opacidade governamental e impõem limites políti-cos e administrativos adicionais à incompletude dalegislação”. O relatório faz ainda um alerta, nor-malmente não tão evidente, sobre essa dificulda-

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de em se entender as informações públicasdisponibilizadas ao público, tal qual acontece noBrasil com o Siafi e o Interlegis: “Um aspecto im-portante refere-se à opacidade informacional da selvaburocrática, que impossibilita ao cidadão chegar semmaiores problemas às informações requisitadas. Emgeral, ninguém fora do governo compreende o funcio-namento e a complexidade da gestão das informaçõesnos órgãos públicos. Por isso, é indispensável que asadministrações coloquem à disposição do público osíndices internos e os catálogos que informam o cidadãosobre qual departamento é responsável por o que, qualdepartamento deve dispor de que tipo de informaçãoreferente a certo assunto, para que o cidadão possaencaminhar seus pedidos de forma mais eficiente.” Aobstrução deliberada de funcionários tambémpode, segundo o relatório, ser considerada umgrave entrave ao acesso informacional público. “Emgeral, os órgãos públicos temem discussões abertas coma população e a sociedade civil organizada. Os servi-dores públicos inibem a livre circulação de informa-ções – por exemplo, a publicação de relatórios deprojetos ou programas – porque temem críticas eobstrução a seus projetos (...) Porém é preciso salientarque uma cultura aberta e transparente não surge emambientes nos quais não existe uma legislação clarareferente ao acesso à informação”.

Segundo Cláudio Weber Abramo, secretáriogeral da Organização Transparência Brasil, algu-mas ações do governo atual vão contra o direitoàs informações públicas porque as tratam comopublicidade. Como exemplo do que ele consideraum retrocesso em termos de disponibilização deinformação, o jornalista lembrou que, no gover-no Fernando Henrique Cardoso, os ministros eramobrigados a informar a sua agenda de trabalho; ogoverno Lula revogou a decisão. Apesar disso, elelembrou que o volume de informação que o Brasildisponibiliza na Internet é bem maior do que oresto da América Latina. Abramo afirmou aindaque a precariedade dos jornais – como no casodas pequenas publicações do interior, que geral-mente são ligadas a grupos políticos ouempresariais – é um dos principais fatores que hojedificultam o fluxo de informação.

Um dos exemplos das dificuldades impostaspelo próprio poder público no acesso a informa-ções é a ausência de uma listagem pública dosdonos de emissoras de rádio e TV que têm con-cessões públicas. Em 2004, o Ministério das Co-municações divulgou na Internet a lista com ossócios das emissoras pela primeira vez na históriado país. No entanto, as pressões políticas fizeram,pouco tempo depois, o Ministério retirar asinformações do ar.

Em relação à negociação de questões inter-nacionais relacionadas à mídia, o governo fede-ral tem mantido uma postura pouco clara. Osprocessos de tomada de decisão para questõescomo a Cúpula Mundial sobre a Sociedade daInformação (CMSI), por exemplo, acontecem noâmbito do Ministério das Relações Exteriores,embora haja uma comissão interministerial paratratar do assunto. A participação da sociedadecivil é limitada, ainda que tenha havido convitea algumas instituições (sem nenhum critério cla-ro) para participar do processo de diálogo so-bre a Cúpula. Não se pode dizer que há um obs-curantismo por parte do governo, mas ao mes-mo tempo não existe nenhuma busca por trans-parência e pela definição de critérios para parti-cipação e para as decisões.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESAs principais entidades da sociedade civil or-

ganizada que têm debatido a questão são aAssociação Brasileira de Jornalismo Investigativo(Abraji) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ).Para o jornalista Fernando Rodrigues, da Abraji, ocidadão brasileiro precisa lutar para obter acessoà informação pública. “É preciso chamar atenção dasociedade para esse debate. Como não existe lei a res-peito, todos os cidadãos ficam à mercê de um ou ou-tro governante, mais ou menos liberal, que lhe forneçaas informações”, alertou. Um importante projetode lei, o PL 219/03, em tramitação na Câmara, dodeputado Reginaldo Lopes (PT-MG), é consideradobastante completo nessa área. Fernando Rodriguesainda chama atenção para o fato de autoridadeslocais decidirem sobre a liberação de informaçõesde acordo com suas próprias conveniências. Eletambém admite, no entanto, que há saídas palia-tivas para resolver o problema, como o uso depetições à Justiça – que servem principalmente ajornalistas, mas que dificilmente podem ser usa-das por cidadãos comuns devido à necessidadede contratação de advogados.

Há também outras organizações não gover-namentais que lidam com o tema. A Transparên-cia Brasil tem produzido relatórios que expõemo quadro do acesso a dados e informações go-vernamentais (ver o item anterior,ImplementaçãoImplementaçãoImplementaçãoImplementaçãoImplementação). O Instituto de EstudosSócioeconômicos (Inesc), que realiza periodica-mente estudos de análise do orçamento e sobreos indicadores socioeconômicos nacionais, temsido uma das entidades que mais veementemen-te defende uma maior abertura das informaçõespúblicas. Também a Ordem dos Advogados do

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Brasil (OAB) atua na defesa de ampliar o acesso.Existem ainda alguns órgãos públicos que têm

entre suas atribuições a operacionalização de gran-de volume de informações de interesse geral. OConselho Nacional de Arquivos (Conarq) é umórgão colegiado, vinculado ao Arquivo Nacionalda Casa Civil da Presidência da República, que tempor finalidade definir a política nacional de arqui-vos públicos e privados, como órgão central deum Sistema Nacional de Arquivos, bem como exer-cer orientação normativa visando à gestão docu-mental e à proteção especial aos documentos dearquivo. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin),órgão auxiliar à Presidência da República, tementre suas atribuições a responsabilidade de umagrande coleta de informações individuais, empre-sariais e públicas que funcionam como auxílio nasdecisões do Presidente da República. Para tanto, aAbin se utiliza de vários métodos obscuros, comoescutas telefônicas, infiltração em reuniões e ma-nifestações. Legalmente, porém, a agência é proi-bida de fazer escuta telefônica, pois a Lei 9.296/96, que regulamenta o dispositivo constitucional,art. 5º, inciso XII, estabelece quais os órgãoscompetentes para executar, com autorizaçãojudicial, a interceptação telefônica, e a ABIN nãose enquadra nessa determinação legal.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASA partir de iniciativa da Abraji e com a partici-

pação de representantes da OAB, AssociaçãoBrasileira de ONGs (Abong), Fenaj, OrganizaçãoTransparência Brasil, ANJ e Projeto SOS Imprensa,foi realizado em Brasília nos dias 29 e 30 de se-tembro de 2003 o Seminário Internacional sobreDireito de Acesso a Informações Públicas. Uma dasresoluções do seminário foi a proposta de consti-tuição de um fórum permanente para discussão eencaminhamento de propostas relativas ao direi-to de acesso a informações públicas e sobre te-mas correlatos, como alterações na lei de arqui-vos públicos. Esse fórum foi criado na reunião pro-movida pela Abraji no dia 25 de novembro de 2004,em Brasília. O Fórum do Direito de Acesso a Infor-mações Públicas reúne 18 entidades da sociedadecivil em torno da proposta de encorajar o gover-no a tomar medidas de abertura dos arquivos “daditadura, da democracia e da monarquia”, comodiscutido em seu fórum de discussões na internet.

Algumas das atividades desse fórum permanentesão: levantamento de todas as leis federais, esta-duais e municipais e das regulamentações dos trêspoderes que tratem do direito de acesso a infor-mações públicas; levantamento de leis que conte-nham artigos relativos à transparência ou à publi-cidade, como a Lei de Licitações e a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal; levantamento das sentençasdos casos de recursos à Justiça; levantamento detodos os projetos de lei em tramitação na Câmarados Deputados, no Senado e nas AssembléiasLegislativas que digam respeito ao direito deacesso a informações públicas; estudo das leisexistentes e dos projetos de lei em tramitação,com o objetivo de traçar uma estratégia paramodificá-los, apoiá-los ou apresentar outra pro-posta de Lei de Transparência; manter contato como grupo de congressistas que esteve presente aoseminário para debater o encaminhamento – eeventual unificação – das propostas sobre uma leide direito de acesso. Durante o seminário foramressaltados alguns projetos já em tramitação noCongresso Nacional: o do já citado deputadoReginaldo Lopes (PT-MG); o projeto Transparêncianas Contas Públicas, do senador João Capiberibe(PSB-AP) e da deputada federal Janete Capiberibe(PSB-AP), que tramita simultaneamente no Senadoe na Câmara; e o da deputada Denise Frossard(PSDB-RJ), que obriga o governo a democratizar oacesso ao Siafi. Uma das primeiras atividades pro-postas para o Fórum de Direito de Acesso a Infor-mações Públicas foi fazer um levantamento sobretodos os itens legais que atentam contra a aber-tura prevista pela Constituição, mover uma AçãoDireta de Inconstitucionalidade para derrubar es-ses itens e então encorajar os congressistas a subs-tituir esse vácuo legal por legislações mais afinsdo direito de acesso.

O importante estudo feito pela OrganizaçãoTransparência Brasil salienta as dificuldades queainda restam no campo da legislação referente aoacesso a informações públicas e governamentaisno Brasil: “Nos últimos dez anos, avançou-se mais naregulamentação do segredo governamental e dos pro-cedimentos de segurança de informações (principal-mente graças aos Decretos6 2.134/97 e 2.910/98) doque na regulamentação do direito à informação e doacesso aos registros governamentais. Por isso, é precisoreconhecer que ainda temos um longo caminho pelafrente se quisermos garantir o direito dos cidadãos à

6.6.6.6.6. O decreto 2.134, de 27.1.97 (Documentos Públicos Sigilosos) regulamenta o art. 23 da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991,que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles e dá outras providências. Já o decreto 2.910 de29.12.98 (Normas para Salvaguarda de Documentos, Materiais, Comunicações e Sistemas) estabelece normas para a salvaguardade documentos, materiais, áreas, comunicações e sistemas de informação de natureza sigilosa e dá outras providências.

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informação no Brasil”.Ainda segundo o relatório, a apropriação de

papéis historicamente públicos por algumas em-presas privadas tende a complicar um pouco oacesso às informações de interesse público: “A re-cente tendência à privatização de muitas funçõespúblicas trouxe outras complicações. Enquantoantigamente as responsabilidades referentes àprestação de contas (accountability) eram claramentedelineadas e determinadas, hoje em dia muitas funçõesda administração pública são exercidas por entidades,sobretudo empresas privadas, que não sentemnecessidade de prestar contas ao público geral. Elas sejulgam meros clientes do governo. Dessa maneira, mui-tas informações são retidas sob o pretexto de se tratarde informações comerciais e, portanto, confidenciais”.

Em outubro de 2004, a polêmica sobre as ima-gens que supostamente mostrariam as últimashoras de vida do jornalista Vladimir Herzog, mortoem 1975 no DOI-CODI (órgão de repressão daditadura militar), reabriu na sociedade e naimprensa o debate sobre a abertura dos arquivosda ditadura militar. Foram realizados ao final de2004 dois encontros, promovidos pela Abraji, noRio e em Brasília, para debater o acesso a infor-

mações públicas e encaminhar propostas a con-gressistas interessados no assunto. A publicaçãode três fotografias antigas de um homem calvoem situação vexatória fez com que importantesentidades da sociedade civil, como o movimentoTortura Nunca Mais e a OAB, reclamassem a aber-tura dos arquivos da ditadura. Como não há leiclara sobre acesso a documentos, não é possívelsaber exatamente o que continua vedado ao aces-so da população – sejam documentos da ditaduraou de outros períodos. Uma nota do governo reti-ficando a identidade do homem retratado (o pa-dre canadense Leopold D’Astous), porém, deixoua entender que há muitos arquivos ainda desco-nhecidos. Gradualmente, foram surgindo informa-ções e condições políticas que levaram o governoa admitir a existência de arquivos da ditadura e aalterar o Decreto 4.553/02, criando uma comissãopresidencial de análise dos documentos. Ainda nãoé exatamente um aceno quanto a uma lei de direi-to de acesso – o debate ainda está muito centradona abertura de documentos sobre abusos ocorri-dos no período da ditadura. Mas existe um “caldode cultura” que permite a gradual ampliação dodebate.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Lei 6.404, de 1976, que regula as companhi-as e sociedades anônimas, prevê a publicação deseus balanços anuais no Diário Oficial do estadono qual têm sede e num jornal de grandecirculação. Além disso, a lei prevê outrasobrigações de transparências, como no parágrafo4º de seu artigo 157: “os administradores dacompanhia aberta são obrigados a comunicar imedi-atamente à bolsa de valores e a divulgar pela imprensaqualquer deliberação da assembléia-geral ou dos órgãosde administração da companhia, ou fato relevanteocorrido nos seus negócios, que possa influir, de modoponderável, na decisão dos investidores do mercadode vender ou comprar valores mobiliários emitidos pelacompanhia”.

As sociedades limitadas, no entanto, estão foradessas regras, e essa tem sido uma estratégia parafugir da obrigação de transparência. No entanto,o novo Código Civil brasileiro, em vigor desde2003, consagra a figura da empresa comoirradiadora de direitos e obrigações, independen-temente de ser sociedade anônima ou limitada.

É importante notar que o Código de Defesa doConsumidor (Lei 8.078/90), ao impor uma políticanacional das relações de consumo pautada pelosprincípios da transparência e da harmonia,determina aos fabricantes e fornecedores o deverde garantir ao consumidor as informaçõesdesejadas. Esse artifício configura-se comoinstrumento de acesso a informações empresari-ais de interesse público. Também as novas práti-cas da chamada “governança corporativa” pare-cem acrescentar elementos de transparência, em-bora careçam de base legal constituída.

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Como já dito, as grandes empresas limitadasnão têm a obrigação da publicação de seu balan-ço, o que torna extremamente árdua a tarefa deconseguir informações a seu respeito. Já no to-cante às sociedades anônimas, a publicação é fei-ta, mas muitas vezes é incompreensível para o

A 4 - Acesso a informações empresariais, de modo abrangentee rápido, quando relevantes para o interesse público.

A 4.1 - Legislação/regulamentação sobre quebra de sigilo corporativo, além dasinformações financeiras básicas, de modo a incluir informação disponível dascorporações que terão influência sobre políticas públicas e o interesse público.

público leigo, fazendo com que a publicação nãopasse, por vezes, de formalidade. Além disso, éprática comum hoje no Brasil o uso de empresasoffshore para a realização de transações, deixan-do-as sujeitas a legislações de paraísos fiscais ousimplesmente desreguladas.

PPPPPAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

As Imprensas Oficiais têm aparecido como ato-res destacados no cenário de defesa da transpa-rência das informações corporativas.Recentemente, a Associação Brasileira de Impren-sas Oficiais se manifestou favoravelmente à apro-vação do Projeto de Lei 3.741 (ver abaixo, em TTTTTen-en-en-en-en-dências Atuais e Futurasdências Atuais e Futurasdências Atuais e Futurasdências Atuais e Futurasdências Atuais e Futuras) tal como está, reforçandoa importância das sociedades limitadas estaremtambém sujeitas a obrigação da publicação dosbalanços.

O Instituto Ethos de Responsabilidade Empre-sarial reúne centenas de grandes empresas, bus-cando criar marcos e indicadores de responsabili-dade empresarial. No ano de 2003, seus associa-dos tiveram que responder às seguintes questões:

Com relação à elaboração de relatório sobre osaspectos econômicos, sociais e ambientais de suasatividades, a empresa:

- Elabora sem regularidade definida relatório cominformações sobre suas ações sociais e ambientais.

- Elabora um relatório anualmente, descrevendosuas ações sociais e ambientais e incorporando aspectosquantitativos.

- Produz um balanço social que aborda aspectossociais, ambientais e econômicos de suas atividades,contendo exclusivamente resultados favoráveis e sendofacilmente acessível.

- Produz um balanço social que integra as dimen-sões sociais, ambientais e econômicas de suasatividades, elaborado com amplo envolvimento internoe de stakeholders externos, e facilmente acessível.

- Não havíamos tratado antes deste assunto.- Não vemos aplicação disto em nossa empresa.

(Justifique.)Além dessa questão, existem mais cinco outras

para as quais os empresários tiveram que respon-

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der sim ou não:1. Ao publicar informações sobre aspectos soci-

ais e ambientais de seu desempenho, a empresa incluidados desfavoráveis e discute pendências?

2. As informações sobre a situação econômico-financeira das atividades da empresa são auditadaspor terceiros?

3. As informações sobre aspectos sociais eambientais das atividades da empresa são auditadaspor terceiros?

4. No processo de elaboração e/ou lançamentodo balanço social, a empresa envolve pelo menos trêsdos seguintes stakeholders: comunidade, público in-terno, consumidores e clientes, fornecedores, governoe sociedade em geral (por exemplo, por meio de orga-nizações de defesa do meio ambiente, sindicatos,organizações voltadas para a saúde pública ou defesados direitos humanos etc.)?

5. A empresa disponibiliza dados sobre aspectoseconômico-financeiros, sociais e ambientais de suasatividades na internet?

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O Projeto de Lei 3.741, encaminhado peloExecutivo em 1997, busca estender a obrigaçãode publicação dos balanços às limitadas de gran-de porte. O projeto prevê ainda a uniformizaçãodas regras de elaboração de balanços de acordocom padrões nacionais e internacionais dacontabilidade, tornando mais claras ecompreensíveis as demonstrações financeiras dasempresas. No entanto, existem diversas emendaspropostas ao texto (que está em tramitação) quese aprovadas desfigurariam o seu objetivooriginal.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

O inciso 5º do artigo 220 da Constituição esta-belece que “os meios de comunicação social nãopodem, direta o indiretamente, ser objeto demonopólio ou oligopólio”. No entanto, não há leiregulamentando este artigo. O que existe na le-gislação brasileira são limitações presentes emoutras normas. O artigo 12 do Decreto Lei 236/67, que alterou a Lei 4.117/62 (Código Brasileirode Telecomunicações), estabelece o limite de pro-priedade para cada entidade de: (a) quatro emis-soras de ondas médias e seis de freqüência modu-lada para radiodifusão de sons em nível local; trêsemissoras de ondas médias e ondas tropicais emnível regional, sendo no máximo duas por cadaestado; e duas emissoras de ondas médias de on-das curtas em nível nacional. (b) para radiodifu-são de sons e imagens: dez emissoras em todoterritório nacional, podendo ser o máximo de cin-co em VHF e duas por estado.

Em relação ao controle da propriedade dosmeios de comunicação por capital nacional, a Lei4.117/62 estabeleceu que apenas brasileiros natosou naturalizados há pelo menos dez anos poderi-am ser donos de uma concessão. Tal limitação semanteve na Constituição Federal de 1988, mas aEmenda Constitucional 36, de 2002, alterou oartigo 222 da Constituição permitindo a entrada

de pessoas jurídicas e a abertura de um percentualde até 30% para acionistas de capital não nacional."Art. 2º - A participação de estrangeiros ou debrasileiros naturalizados há menos de dez anos nocapital social de empresas jornalísticas e deradiodifusão não poderá exceder a trinta por cento docapital total e do capital votante dessas empresas esomente se dará de forma indireta, por intermédio depessoa jurídica constituída sob as leis brasileiras e quetenha sede no País”, disciplina a Lei 10.610/02, queregulamentou a emenda.

A abertura foi veementemente contestada porgrande parte da sociedade civil organizada e,como contrapartida, os parlamentares que aaprovaram inseriram algumas chamadas“garantias” para proteger a mídia nacional, comoa nova redação para o artigo 38 da Lei 4.117/62,que passa a estabelecer que “os administradores ougerentes que detenham poder de gestão e derepresentação civil e judicial serão brasileiros natosou naturalizados há mais de dez anos”, e que “a alte-ração dos objetivos sociais, a modificação do quadrodiretivo, a alteração do controle societário dasempresas e a transferência da concessão, da permis-são ou da autorização dependem, para sua validade,de prévia anuência do órgão competente do PoderExecutivo”.

A restrição em relação a capital estrangeiro estátambém nas normas que regulam a difusão de

A 5 - Diversidade, pluralidade e acesso a mídias econteúdo, assegurando um amplo espectro de visões porparte de todos os setores da sociedade, inclusive minoriase grupos marginalizados, e a justa representação de todosos grupos, inclusive mulheres, minorias e grupos étnicos.

A5.1- Legislação e medidas efetivas para impedir a concentração da propriedadena mídia ou controles por parte de qualquer interesse setorial, indivíduo ouentidade, incluindo:

concentração da propriedade de um tipo de mídia em particular;propriedade cruzada entre mídias;propriedade cruzada da produção, disseminação de conteúdo e

componentes de infra-estrutura dos meios de comunicação;propriedade excessiva por parte de estrangeiros e empresas não-ligadas

ao setor de mídia.

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sons e imagens por cabo no Brasil. A Lei 8.977/95, que trata da cabodifusão no Brasil, estabele-ceu que a concessão para distribuidoras de con-teúdo audiovisual via cabo só poderá ser dada apessoa jurídica de direito privado que tenha “I -sede no Brasil; II - pelo menos cinqüenta e um porcento do capital social, com direito a voto, pertencen-te a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dezanos ou a sociedade sediada no País, cujo controlepertença a brasileiros natos ou naturalizados há maisde dez anos". Entretanto, as regulamentações dossistemas de microondas (MMDS) e satélite (DTH)não se deram por meio de lei e não contêmrestrição alguma à propriedade por estrangeiros.

Para ambos os casos, é importante destacar quetais limitações à presença de capital estrangeirosão facilmente manipuladas, especialmente porquea mesma emenda constitucional permite que asempresas se tornem sociedades anônimas (o queantes era proibido). Isso faz com que haja espaço,por exemplo, para que empresas brasileiras co-muns detenham as emissoras na cota do “capitalnacional”. A questão é que essas empresas podemtambém ter participação estrangeira, o que confi-gura o controle delas pelo capital estrangeiro.

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Apesar do monopólio e do oligopólio seremproibidos pela Constituição Federal, a concentra-ção de propriedade dos meios de comunicação érealidade no Brasil. Ela acontece atingindoprioritariamente três esferas: a propriedade, aaudiência e a distribuição da verba publicitária.

A maioria absoluta do sistema de mídia no Bra-sil é controlada por oito grupos (Globo, RBS, Abril,Bandeirantes, SBT, Record, Folha, Estado). Destes,o Grupo Globo é o melhor exemplo do monopóliono país. Segundo dados apresentados pelo jorna-lista Samuel Possebom7 em sua dissertação demestrado, atualmente a Rede Globo chega a maisde 99,8% do território e da população brasileiros.São ao todo cinco emissoras próprias (com sedenas cidades de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro,Belo Horizonte e Recife) e mais 108 emissoras afi-liadas.

Em relação à audiência, dados divulgados pelaGlobopar8 revelaram que a TV Globo detinha, em

2001, pouco mais de 50% da audiência de TV aber-ta. Se somada à audiência da emissora SBT (Siste-ma Brasileiro de Televisão), de quase 24%, nota-seque apenas duas redes controlam 75% da audiên-cia de televisão aberta no Brasil. Em relação à dis-tribuição de verba publicitária, por exemplo, dadosdo Projeto Inter-Meios9 mostram que a Rede Glo-bo, principal grupo de mídia do país, faturou, em2004, 79% do mercado publicitário brasileiro, con-siderando os investimentos em TV aberta, o quecorrespondeu naquele ano a R$ 8,2 bilhões defaturamento bruto. No mesmo ano, chegaram aR$ 13,5 bilhões as verbas publicitárias dosveículos que participam do Inter-Meios (querepresentam cerca de 90% do faturamento totalda mídia brasileira).

Os dados acima apresentados se referem ape-nas à concentração de propriedade horizontal (deapenas uma mídia). O próprio exemplo do GrupoGlobo demonstra como esta concentração se dátambém de forma vertical e cruzada. Hoje o gru-po possui emissoras de TV, jornais (que geraramde receita líquida, em 2002, de R$ 159,5 milhões),15 emissoras de rádio, participação nos gruposde televisão por assinatura Net e Sky, uma editoracom 11 títulos de revistas, um portal eletrônico eduas gravadoras (Som Livre e RGE). No caso desua atuação na cabodifusão, o grupo detémempresas que produzem conteúdo (como os canaisSporTV, GNT, Multishow e GloboNews) e que odistribuem (a operadora Net Brasil), além departicipação acionária na empresa que controlatoda a rede de cabos e infra-estrutura (Net Servi-ços). Todo este complexo vem sendo usado tam-bém pelo grupo para oferecer outros serviços,como Internet de banda larga (o novo serviçoVirtua).

Outros exemplos podem ser tirados desde oNorte (a TV e o jornal A crítica no Amazonas) até oSul do país (o grupo RBS é o segundo maior emfaturamento do Brasil e possui a maior TV e o maiorjornal da região, além de jornais menores, rádiose um portal na internet). Na maioria dos estados,há grupos afiliados às principais cabeças-de-redeque detêm emissoras de TV e rádio, jornal e por-tal de internet, como é o caso dos grupos RedeAmazônica (região Norte), Edson Queiroz (Ceará)e Jaime Câmara (Goiás). Na grande maioria doscasos, os grupos que controlam regionalmente a

7.7.7.7.7. POSSEBOM, Samuel Lamoglia. Globo e Abril diante de um novo paradigma comunicacional: a internet. Dissertação paraobtenção de título de mestrado no Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília, Brasília, 2002. Além do estudo, ojornalista tem longa experiência no tema por conta do trabalho a frente de publicações especializadas sobre comunicação.8.8.8.8.8. Holding do grupo Globo9.9.9.9.9. O Projeto Inter-Meios é uma iniciativa do veículo Meio e Mensagem que atua no levantamento de dados referentes ao investi-mento publicitário no país. Seu endereço na internet é www.projetointermeios.com.br

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mídia estão diretamente ligados às oligarquiasregionais. Este é um fenômeno que vem da for-mação do Brasil, com grupos familiares detendoo poder em determinadas regiões e o exercendoem suas diferentes formas. A política foi a primei-ra e mais evidente. Os meios de comunicação sãooutra dessas formas, reforçada com a expansãodas redes durante a década de 70.

A legislação e a realidade brasileiras se apre-sentam como dois elementos quasediametralmente opostos. Apesar da proibição domonopólio e da formação de redes, elas existem eapresentam crescimento sempre centrado nas ca-beças, que produzem o conteúdo e formulam asbases de gestão. Ao mesmo tempo em que há oprincípio constitucional, não existe e nunca hou-ve uma política de controle da concentração depropriedade nos meios de comunicação. As cabe-ças produzem quase a totalidade do conteúdotransmitido pelas retransmissoras, formando re-des com base em uma brecha da lei, mas mesmoassim constituindo formação de monopólio indi-reto, o que contraria a constituição. O pesquisa-dor Venício Artur de Lima10 explica:

“Apesar do artigo 12 do Decreto Lei 236/67estabelecer que ‘cada entidade só poderá ter con-cessão ou permissão para executar serviço de ra-diodifusão, em todo o país, dentro dos seguinteslimites: (...) II - estações radiodifusoras de som eimagem - 10 (dez) em todo o território nacional,sendo no máximo 5 (cinco) em VHF e 2 (duas) porestado; (...) § 7º - As empresas concessionárias oupermissionárias de serviço de radiodifusão nãopoderão estar subordinadas a outras entidades quese constituem com a finalidade de estabelecer di-reção ou orientação única, através de cadeias ouassociações de qualquer espécie’ a norma legal setorna inócua porque, contrário a toda a evidên-cia, o Ministério das Comunicações considera‘entidade’ como significando ‘pessoa física’, nãolevando em conta o parentesco, e não consideraas ‘redes’ formadas com a ‘afiliação’ contratual deemissoras como constituindo subordinação ‘coma finalidade de estabelecer direção ou orientaçãoúnica’”.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

A discussão sobre o monopólio dos meios decomunicação do Brasil já vem de longa data, e

esteve sempre na pauta da sociedade civilorganizada da área da comunicação. A partir dadécada de 80, houve mobilizações que resultaramna criação da Frente Nacional por PolíticasDemocráticas de Comunicação e na articulaçãoque apresentou as propostas da sociedade civilno processo de elaboração da Constituição Federalem 88. Atualmente, existem inúmeras iniciativas,mas que apresentam articulação frágil entre si.

Uma delas é o Fórum Nacional pela Democrati-zação da Comunicação (FNDC), organização quereúne diversas entidades representativas. O FNDCjá teve papel central como interlocutor da socie-dade civil para os assuntos da área, especialmen-te na primeira metade dos anos 90. A atuaçãodestes atores na garantia de restrições ao mono-pólio teve sua maior efervescência, nos últimosanos, em 2002, quando foi aprovada a Lei 10.610/02 (sobre capital estrangeiro, já citada anterior-mente), e chegou a ser proposta uma novalegislação para a radiodifusão brasileira.

Há também iniciativas de enfrentamento diretoque concebem o combate ao monopólio, como oato de fazer crescer a mídia alternativa eindependente, caso do Centro de MídiaIndependente (www.midiaindependente.org) edos movimentos de rádios livres e comunitáriasem todo o Brasil.

A manutenção da contradição entre a legisla-ção e a realidade existe também pela forte organi-zação e presença do empresariado de comunica-ção na definição das políticas do setor. Capitanea-do pela Associação Brasileira de Emissoras de Rá-dio e Televisão (Abert), que representa cerca deduas mil das 3.232 emissoras de radiodifusão nopaís11, o setor continua forte, mas vem sefragmentando e não atuando com a mesmaunidade, comum nos anos anteriores. Outrascabeças-de-rede, como Bandeirantes, SBT, RedeTVe Record, se desligaram da Abert e, após umperíodo de indefinições, formaram a AssociaçãoBrasileira de Radiodifusores (Abra). O objetivo danova entidade é representar as emissoras sem ahegemonia da Rede Globo. Embora ocupe espaçosinstitucionais diversos, o empresariado sempre seunifica para manter a estratégia de promover egarantir a falta de políticas e regulação na área daradiodifusão.

Não tem havido por parte do Estado nenhumaação concreta no sentido de dirimir o problemada concentração de propriedade, embora haja um

10.10.10.10.10. Professor aposentado da Universidade de Brasília e escritor de obras como “Mídia: Teoria e Política”, publicada pela FundaçãoPerseu Abramo.11.11.11.11.11. Segundo dados de seu sítio, www.abert.org.br

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sistema de defesa da concorrência instalado, comtrês órgãos (Secretaria de Acompanhamento Eco-nômico, ligada ao Ministério da Fazenda, a Secre-taria de Direito Econômico, ligada ao Ministérioda Justiça, e o Conselho Administrativo de DefesaEconômica). Esses órgãos não têm, contudo, atu-ado no enfrentamento à concentração de proprie-dade, embora contem com todas as condições paraisso.

Há também um outro empecilho ao fortaleci-mento da legislação para controle de proprieda-de, advindo do fato de que há vários parlamenta-res que são sócios de veículos de radiodifusão. Nocaso do Senado, estima-se que esse número che-gue a 29 dos 81 senadores, embora seja difícil umdado preciso por conta da existência de registrossocietários em nome de parentes. Assim, configu-ra-se claro conflito de interesses, com os deputa-dos e senadores legislando, muitas vezes, em cau-sa própria.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O ano de 2005 poderá trazer novos elementospara esse quadro. Foi anunciada, no final de 2004,a fusão da Sky com a DirecTV para operações naAmérica Latina, que, se concretizada, deixará 96%do mercado de TV por assinatura por satélite (DTH)

nas mãos de um só grupo. O processo ainda temque ser analisado pela Anatel e pelo Cade (Conse-lho Administrativo de Defesa Econômica), que re-ceberam do Conselho de Comunicação Social (CCS)um relatório recomendando a não aceitação dafusão.

No mês de janeiro de 2005, o governo federalanunciou a intenção de elaborar durante o anouma Lei Geral de Comunicação de Massa. Ela seriainstrumento regulatório de toda a comunicaçãoeletrônica (rádio, TV aberta e TV paga) no Brasil,incluindo mídias públicas, comunitárias e privadas.No entanto, no decreto publicado em abril quecria o Grupo de Trabalho Interministerial queelaborará o projeto, constam como objeto da leiapenas os artigos 221 e 222 da Constituição, oque significa que as limitações ao monopólio e aooligopólio, presentes no artigo 220, podem ficarde fora.

Também deverá ganhar corpo esse ano o pro-cesso de digitalização da comunicação eletrônica,que inclui TV e rádio, e apresenta possibilidadesde reorganização do espectro e de ampliação donúmero de canais. O assunto será tratado commais detalhes no indicador seguinte.

Até o momento, contudo, não há, em nenhu-ma dessas iniciativas, indícios de medidas quevenham incidir sobre o quadro de concentraçãoapontado anteriormente.

12.12.12.12.12. Sobre o CCS, ver item 6.3.

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A 5.2 - Um quadro legal que ampare a emergência de uma pluralidade de tiposde canais e empresas em nível nacional e, quando apropriado, em níveis regionais(internacional) e local: canais e empresas públicas, comerciais e comunitárias/independentes, inclusive a alocação de modo transparente e igualitário doespectro de radiofreqüências e outros bens públicos.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Não há quadro legal que ampare a pluralidadenos meios de comunicação social. Há um modelode radiodifusão que supostamente deveria serconstituído de forma complementar entre siste-mas público, estatal e privado, mas que apresen-ta grandes contradições em seu marco regulatórioe na aplicação das leis decorrentes deste. O artigo220 da Constituição Federal afirma que "a mani-festação do pensamento, a criação, a expressão e ainformação, sob qualquer forma, processo ou veículo,não sofrerão qualquer restrição".

Um dos elementos para garantir a pluralidade,o impedimento ao monopólio, já foi abordado noindicador anterior (A 5.1). A área de radiodifusãocomunitária será abordada no item A 5.4. Resta-nos uma pequena exposição sobre a legislação emgeral e as educativas. O artigo 223 da Constitui-ção Federal estabelece que "compete ao PoderExecutivo outorgar e renovar concessão, permis-são e autorização para o serviço de radiodifusãosonora e de sons e imagens, observado o princí-pio da complementaridade dos sistemas privado,público e estatal", mas esta norma nunca foi regu-lamentada, deixando o conceito de sistema públi-co como uma expressão que não se concretiza.

Na Lei 4.117/62, está prevista a concessão deemissoras educativas, que devem ser dadas prefe-rencialmente a fundações de direito público.Diferentemente das comerciais, as educativasrecebem permissões (e não concessões) doExecutivo. O governo federal utilizou as emissoraseducativas para criar uma rede de emissoras esta-tais, com uma cabeça-de-rede (a TV Nacional, ligadaao sistema de comunicação do governo, chamadoRadiobrás), e uma emissora por estado. O capítuloda mesma legislação ainda coloca como princípioda programação das emissoras de rádio e televi-são a produção audiovisual regionalizada: "art.221. A produção e a programação das emissoras derádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:III - regionalização da produção cultural, artística ejornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei".

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Há até hoje divergências entre teóricos e enti-dades representativas do setor sobre o que seri-am veículos públicos no país. Há um grupo deemissoras estatais, algumas com gestão mista (pormeio de conselhos) que se reivindicam comopúblicas, como a TV Cultura de São Paulo e a TVEducativa do Rio Grande do Sul. Todas elas, entre-tanto, dependem de verbas dos governos estadu-ais para funcionar. O sistema privado é tãoconsolidado que na disputa por estas concessõeshá apenas empresas. Esta realidade é reforçadapelo fator econômico presente na disputa, com osistema de leilões sendo utilizado para a defini-ção da entidade destinatária de canal oufreqüência, onde as condições técnicas e financeirasdas pleiteantes aparecem como critério prioritário.

O incentivo, no entanto, não é somente à apro-priação das concessões por empresas, mas à ma-nutenção destas à frente de cada um dos espaçosno espectro magnético. O inciso 3 do artigo 33 daLei 4.117/62 estipula que “os prazos de concessão eautorização serão de 10 anos para o serviço deradiodifusão sonora e de 15 anos para o de televisão,podendo ser renovados por períodos sucessivos e iguaisse os concessionários houverem cumprido todas asobrigações legais e contratuais, mantido a mesmaidoneidade técnica, financeira e moral, e atendido ointeresse público”. A condição para a não renova-ção, colocada na mesma lei, é a desaprovação de3/5 do Congresso Nacional por meio de votaçãonominal, um critério que dificulta por demaisqualquer mudança, já que, além de condicionar amudança a um quorum alto, obriga amanifestação pública por parte dos parlamentares.

Mesmo com todas estas amarras e facilidadespara os grandes grupos de mídia, o Executivo bra-sileiro, principalmente durante a gestão FernandoHenrique Cardoso, utilizou como moeda de trocade favores políticos as retransmissoras (RTVs), queeram habilitadas para a produção de conteúdo masdependiam apenas de uma permissão do Executi-vo. Em dezembro de 1996, pouco tempo antes da

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votação da emenda que permitia a reeleição doPresidente da República no Congresso Nacional,foram distribuídas quase 400. Esta “facilidade” sófoi proibida no Decreto 3.965, de 2001.

Outro nó é a descentralização da produção deconteúdo nas diversas regiões do país. Apesar deestar prevista na Constituição Federal aregionalização da produção artística, cultural ejornalística como princípio para a programaçãodas emissoras, o Projeto de Lei para regulamentaro artigo tramita no Congresso Federal há 14 anos,e vem sendo alvo de diversos ataques deparlamentares ligados aos interesses doempresariado da área de comunicação (sobre esseprojeto, ver “Regionalização da produçãoaudiovisual”, a seguir). Outro ponto novamentecontraditório em relação à Constituição Federal éo fato desta prever o sistema público de radiodi-fusão e não existir norma complementar algumaque o regule.

Há um elemento importante a ser menciona-do. Um avanço foi obtido na lei que regulou acabodifusão com a criação dos canais de uso pú-blico: Universitário, Comunitário, TV Câmara, TVSenado. No entanto, a abertura destes canais, quedão voz a representações importantes dasociedade e transparência a outros setores doEstado hoje sem espaço na televisão aberta brasi-leira, ficou restrita a uma determinada faixa dapopulação com poder aquisitivo para poder dis-por de um serviço de televisão a cabo. Esses ca-nais, de caráter extremamente relevante, estãodisponíveis para menos de cinco milhões de pes-soas (3% da população), já que mesmo dentro dosistema de TV por assinatura eles só constam dasTVs a cabo, não sendo as TVs por satélites ouMMDS obrigadas a retransmiti-los. Além desteproblema, a alocação das emissoras mantidas comrecursos públicos em um sistema de difusão pagoconfigura bitributação para o cidadão brasileiro,que é obrigado a pagar se quiser ter acesso a essasemissoras (TV Câmara, TV Senado, TVs dasassembléias legislativas estaduais e dos órgãos doJudiciário).

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

A briga pelo processo de democratização dosistema de mídia nacional se apresenta em diver-sas vertentes (já citadas no ponto anterior e tam-bém a seguir no ponto A 5.4, que trata especifica-mente dos veículos comunitários). No caso espe-

cífico abordado neste capítulo, destaca-se a Asso-ciação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativase Culturais (Abepec). Esta entidade reúne grandeparte das emissoras “educativas-estatais”13 do paíse de emissoras auto-denominadas “públicas”.Como já explicado anteriormente, o termo é evo-cado por algumas destas (como a TV Cultura deSão Paulo e a TVE do Rio Grande do Sul) por haverum modelo de gestão que, apesar de subordina-do ao Estado, tem como principal instância umconselho com representantes da sociedade. AAbepec tem como grande mérito a organizaçãodas emissoras para a formulação de diretrizes doque seria uma comunicação pública, que estão emconstante debate e atualização e partem da cartade princípios de cunho humanista elaborada pelaentidade14.

Alguns atores da sociedade civil, como setoresorganizados dentro do campo sindical dos jorna-listas, vêm defendendo a inserção destes canaisde uso público na televisão aberta. O movimentode audiovisual (capitaneado principalmente peloCongresso Brasileiro de Cinema, entidade quereúne produtores independentes, cineastas etrabalhadores do setor cinematográfico) tem semobilizado de forma incisiva para garantir a apro-vação do projeto que regulamenta a regionalizaçãoda produção audiovisual (ver “Regionalização daprodução audiovisual”, ainda neste capítulo).

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Digitalização da comunicação social eletrônica Digitalização da comunicação social eletrônica Digitalização da comunicação social eletrônica Digitalização da comunicação social eletrônica Digitalização da comunicação social eletrônicaApesar de ser de interesse dos empresários que

o sistema de mídia nacional não seja modificado,a convergência tecnológica apresenta um cenárioque pode gerar profundas mudanças no modelodas comunicações. No caso do Brasil, este proces-so passa pela discussão sobre a digitalização damídia eletrônica (TV e rádio). Mesmo no meio deum fogo cruzado de pressões dos três maiorespadrões do mundo (o norte-americano ATSC, oeuropeu DVB e o japonês ISDB), o governobrasileiro optou por pesquisar a possibilidade deum “sistema” nacional (que pode, ou não, incluira confecção de um padrão de transmissão). Alémda questão tecnológica, a discussão sobre o Siste-ma Brasileiro de TV Digital (SBTV) passa por ou-tras esferas, como a política industrial inerente,as parcerias internacionais, as mudançasregulatórias necessárias e os modelos de negóci-os e de uso.

13.13.13.13.13. Utiliza-se este termo para designar aquelas que são educativas mas têm vinculação direta com o Estado.14. 14. 14. 14. 14. Ver mais em www.abepec.org.br

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Em relação a este último ponto (o modelo deuso), o governo federal sinaliza que a prioridadedo SBTVD é promover inclusão social, no sentidode estender serviços online e interatividade a umavasta camada da população. O problema está nofato de esta definição ainda estar colocada em ter-mos muitos genéricos.

A mudança da TV digital traz a possibilidadede se efetivar um modelo de comunicação quecaminhe no sentido da democratização, desde quehaja um canal de retorno que permita atransmissão de grande quantidade de dados semaltos custos. Com a possibilidade de compressãodos dados transmitidos, é possível ter um maiornúmero de canais dentro do espectroeletromagnético, o que abre espaço para que sealtere a distribuição de poder na radiodifusãonacional. A implantação desse novo modelopoderia criar um momento favorável para discutira regulação das telecomunicações e a produçãode conteúdo no país, mas isso não tem acontecidoaté o momento. Nada impede, por exemplo, queessa compressão dos dados seja utilizada não paraa ampliação do número de canais (e conseqüentedemocratização), mas seja cedida para as mesmasemissoras atuais transmitirem em alta definiçãoou em diferentes canais (como vários ângulos deum mesmo jogo de futebol).

Há também outras questões estratégicas quepermanecem sem definição: (1) Haverá uma polí-tica de estímulo e capacitação para a produção deconteúdo digital, especialmente para emissorasnão-comerciais? Haverá uma política de investi-mentos para equipar efortalecer TVs educativas euniversitárias? (2) Haverá um novo marcoregulatório que inclua as diversas plataformastecnológicas (TV aberta, TV por assinatura, radio-difusão sonora, operadoras de telefonia fixa emóvel e Internet)? (3) Haverá garantias de que osserviços interativos oferecidos sejam de utilidadepública (como governo eletrônico) e não sirvamapenas como ferramentas de consumo? (4) Serágarantido o equilíbrio de condições dos sistemaspúblico, estatal e privado quando houver a trans-ferência tecnológica? (5) Com um modelo nacio-nal, haverá uma política de fomento à produçãode sistemas, aparelhos e componentes para estemercado? Em que termos serão negociados osacordos internacionais e a transferênciatecnológica com outros países?

Para definir o SBTVD, foram criadas três instân-cias de formulação sobre o tema: Comitê de De-senvolvimento, Comitê Consultivo e Grupo Gestor.O Comitê de desenvolvimento – formado por 10

ministérios – tem como função estabelecer as di-retrizes para a implementação da TV digital, acom-panhar as pesquisas, tomar decisões sobre ques-tões como o padrão tecnológico e supervisionaro Grupo Gestor. O Grupo Gestor – formado porsete ministérios, além do Instituto Nacional deTecnologia da Informação (ITI) e Agência Nacionalde Telecomunicações (Anatel) – deve executar asações estabelecidas pelo Comitê de Desenvolvi-mento. Cabe ao Grupo Gestor definir prazos, pri-oridades de pesquisa e o montante de recursos aser investido. Estão previstos investimentos decerca de 65 milhões de reais do Fundo de PesquisaTecnológica em Telecomunicações (Funttel). Cercade 80 universidades foram habilitadas paradesenvolver o sistema brasileiro e 19 projetosforam aprovados. As áreas de pesquisa são trans-missão e recepção, codificação de canal e modula-ção; camada de transporte; canal de interatividade;codificação de sinais fonte; middleware; serviços eaplicações e conteúdo. O prazo para entrega dosresultados pelas universidades é dezembro de2005, para que as decisões sobre a SBTVD sejamtomadas no início de 2006.

O Comitê Consultivo tem como função ser umespaço da sociedade civil e do setor privado parapropor diretrizes, avaliar e dar mais transparênciaao processo. Ele é formado por 23 instituiçõesrepresentantes do setor produtivo – telecomuni-cações, eletroeletrônica, software –, de trabalha-dores e da sociedade civil. Para fazer a compara-ção entre os modelos, o Comitê pretende avaliara questão econômica, a questão tecnológica e osusos da TV digital. Cabe a ele também analisar omarco regulatório e identificar necessidades demudanças na legislação, adaptando-a à realidadedigital da TV.

Em relação às escolhas de padrão que aindaprecisam ser feitas para a definição do modelo deTV digital no Brasil, há duas opções distintas. Umadelas é a transmissão de conteúdo em alta defini-ção (HDTV). Nesse caso, não há otimização do es-pectro – cada canal que atualmente é ocupado poruma estação analógica passará a ser destinado auma estação digital. Esse tem sido o modelo ado-tado, por exemplo, nos Estados Unidos. A outraopção é a transmissão em qualidade standard(SDTV) ou enhanced (EDTV). Cada canal atual po-derá ser transformado em até cinco, além de umcanal extra de retorno, para utilização de serviçosinterativos. Essa opção tem sido a utilizada namaior parte da Europa e, ao que tudo indica, tam-bém deve ser a adotada no Brasil.

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Digitalização no rádio Digitalização no rádio Digitalização no rádio Digitalização no rádio Digitalização no rádioEmbora esteja em uma etapa ainda embrioná-

ria, a discussão sobre a digitalização do rádio temo mesmo foco do debate sobre o SBTVD: qual opadrão tecnológico a ser adotado. Órgãos dogoverno, universidades e entidades representantesdo setor produtivo já estão estudando os padrõesexistentes hoje, o norte-americano Iboc (In Bandon Channel), o europeu Eureka e o japonês da ISDB-Tsb. O primeiro trabalha com a transição para adifusão digitalizada dentro do espectro atual. Osegundo prevê a criação de uma nova faixa noespectro onde todas as emissoras transmitem deapenas uma antena e possuem alcance igual. Já opadrão japonês aproveita a sinergia com a TVdigital, de forma a criar um novo universo decomunicação.

O rádio digital terá qualidade sonora melhor,principalmente na faixa de ondas médias (emis-soras AM), e possibilitará a transmissão, além dosom, de informações textuais e outros tipos dedados. A recepção digital exige adaptação do equi-pamento transmissor e, portanto, investimentodas emissoras de rádio. Considerando que, no Bra-sil, este veículo tem uma economia razoavelmen-te frágil, já que compete com a televisão em volu-me de verba publicitária, pesquisadores do temanão acreditam que a digitalização venha a acon-tecer em pouco tempo no Brasil.

Murilo César Ramos15 avalia que as vantagensna qualidade da transmissão podem fazer com queo rádio digital seja mais interessante para trans-missões na freqüência AM do que para a FM. Umdos fatores limitantes da AM é a baixa qualidadedo som. Com a digitalização, será possível trans-mitir em estéreo e com maior qualidade. Assim,esta faixa de freqüência – que tem como caracte-rística um alcance maior do que a FM – poderiaaumentar a penetração no público, transforman-do seu modelo de negócio.

Apesar da previsão de um processo demoradopor especialistas e estudiosos, os empresários dacomunicação já vêm se preparando para o deba-te. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádioe Televisão (Abert) e a Sociedade Brasileira de

Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET)já realizaram estudos comparativos e optaram pelopadrão Iboc. É cedo ainda para apontar qual dospadrões é melhor, mas é possível e necessárioproblematizar as motivações de cada grupo noprocesso. É esperado que os radiodifusores defen-dam o padrão norte-americano, pois ele não mexena disposição atual das concessões e é mais bara-to. A adoção do Eureka significaria um processode escolha de novas emissoras para a faixa queseria criada e geraria uma demanda de divulgaçãodo novo meio que é difícil de ser assumida poralguma das partes (empresários ou Estado).

Regionalização da produção audiovisual Regionalização da produção audiovisual Regionalização da produção audiovisual Regionalização da produção audiovisual Regionalização da produção audiovisualEm relação à regionalização do conteúdo vei-

culado por radiodifusão de sons e imagens, há 14anos tramita no Congresso Nacional o Projeto deLei da deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), hojeidentificado como PLC (Projeto de Lei da Câmarados Deputados) 59/03, que regulamenta o incisoIII do artigo 221 da Constituição Federal. Inicial-mente o PL propunha 30% de programação regio-nal por dia entre as 7h e 24h. Depois das negoci-ações durante a tramitação e de aprovação damatéria na Câmara, o projeto foi alterado profun-damente, perdendo muito de seu espírito inicial.

Segundo informações contidas no parecer darelatora Berenice Mendes sobre o PLC para o Con-selho de Comunicação Social16, o tempo de pro-dução regional da proposta atual foi reduzido de30% da programação diária das redes para 22 ho-ras semanais para emissoras que atendam áreascom mais de 1,5 milhão de domicílios com televi-sores, 17 horas semanais para aquelas com menosde um 1,5 milhão e 10 horas semanais para aslocalidades com menos de 500 mil domicílios. "Ouseja, a exigência de 30% da programação diáriaregional foi reduzida para, de modo aproximado,respectivamente 12%, 10% e 7% semanal", afirmao parecer. O projeto irá agora para votação noSenado Federal, ainda sob resistência dos empre-sários do ramo da comunicação social, que alegamser tal norma uma imposição.

15.15.15.15.15. Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e estudioso das políticas de comunicação no Brasil.16.16.16.16.16. Órgão consultivo do Senado para assuntos relativos à área, que será analisado de forma mais aprofundada no indicador A6.

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Como mencionado anteriormente, não existede forma regulamentada a figura jurídica do queseriam emissoras públicas. As que se auto-deno-minam como tal são legalmente educativas liga-das aos governos estaduais geridas por fundaçõesde direito privado. A forma de financiamento édiferenciada e geralmente dentro do orçamentode cada unidade da Federação, não existindo casode vinculação direta a algum imposto ou outrafonte de renda vinculada. As medidas efetivas paragarantir o financiamento não existem; ao contrá-rio, o que há são restrições às educativas, comoproibição do uso da publicidade como forma definanciamento.

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Esse cenário vem causando intenso debate den-tro do setor de emissoras “públicas”. Vários semi-nários e fóruns já foram realizados nos últimosanos para discutir os rumos da radiodifusão pú-blica, com grande ênfase na questão do financia-mento. A falta destas medidas se torna ainda maiscrítica diante do quadro de crise financeira quevem tomando conta dessas emissoras. Uma dassaídas é a utilização da outras fontes de financia-mento, principalmente a publicidade, o que jáacontece em alguns casos. Como exemplo dosucateamento das emissoras, estima-se17 que, em2004, o montante de recursos oriundos de receitaprópria18 da TV Cultura (maior emissora estatal/educativa do país) some R$ 38,4 milhões, mais de30% do orçamento do veículo previsto para o ano,que pode chegar a de R$ 125 milhões. Uma alter-nativa já proposta para o caso da TV Cultura foi ainclusão de uma taxa na conta de luz da popula-ção do estado. A iniciativa encontrou grande re-jeição por se tratar de uma medida que atingeigualmente pessoas em situações muito dísparesde renda.

A falta de independência das emissoraseducativas/estatais não se dá somente no âmbitodo financiamento. Já foram feitas denúncias de

ingerência na linha editorial de emissoras em vá-rios estados, como em Minas Gerais (RedeMinas)e no Mato Grosso do Sul (TVE MS).

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

A discussão sobre alternativas de financiamen-to das emissoras “públicas” tem acontecido den-tro da Associação Brasileira de Emissoras Públicas,Educativas e Culturais (Abepec). É esta entidadeque promove seminários e se constitui comointerlocutora destas emissoras em debates ereivindicações institucionais como as expostasabaixo. As próprias emissoras têm travado intensadisputa em seus estados com os executivos dasunidades da federação, no sentido de aumentarsua receita, solicitação que até agora não alcançousucesso nem mesmo no Estado de São Paulo, ondea TV Cultura tem tradição e reconhecimento.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Foi realizado na cidade do Rio de Janeiro emjunho de 2003 um seminário que discutiu os ru-mos das TVs públicas. Uma das pautas centrais foio problema do financiamento. Há setores dentrodo movimento de TVs públicas que atuam paracriar alternativas de financiamento que vão desdea permissão e aumento da publicidade, passandopela prestação de serviços, até a adoção do mo-delo inglês de contribuição direta da população.No entanto, apesar de ter sido constituída no Con-gresso Nacional uma Frente Nacional em Defesada TV Pública, ainda não há iniciativa conjuntasistematizada para propor normas que apontemnovas formas de financiamento.

Desde 2004 vem sendo discutido dentro doBanco Nacional para o Desenvolvimento Social(BNDES) uma linha de financiamento para dívidasde curto prazo das empresas de comunicação, com-pra de papel para a imprensa e aquisição de equi-pamentos. A Abepec se movimentou e apresentoupedido de linha específica para esse tipo de difusora,solicitação para a qual o banco ainda não haviadado resposta.

A 5.3 - Medidas efetivas para assegurar que canais e empresas públicas tenhamdisponíveis financiamento e recursos adequados, especialmente em relação aonoticiário e ao trato de assuntos atuais, de forma completamente independentedos governos e não sujeita a interferências arbitrárias, e livre de regulamentaçõesdesnecessariamente pesadas.

17.17.17.17.17. De acordo com informação publicada pelo jornalista Daniel Castro no jornal Folha de S. Paulo no dia 19 de abril de 2004.18.18.18.18.18. Que incluem prestação de serviços, convênios, leis de incentivos fiscais e publicidade.

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A 5.4 - Medidas efetivas que assegurem que empresas e canais comunitários esem fins lucrativos tenham recursos adequados, inclusive bens públicos como oespectro de freqüências; estejam livres de interferências arbitrárias; sejamtransparentes, democráticos e participativos; e apóiem e tenham participação decomunidades excluídas e marginalizadas.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A radiodifusão comunitária é regulada por duasleis no Brasil. A primeira é a Lei 9.612/98, quedispõe sobre o serviço de radiodifusão de sons(rádio) comunitário e a segunda é a Lei 8.977/95(que disciplina a atividade de cabodifusão no país),que versa sobre a radiodifusão de sons e imagens(televisão) tratando de alguns aspectos da TV co-munitária. A rigor, não há uma legislação para re-gular TVs comunitárias. O movimento de rádioscomunitárias e livres tem posição bastante críticaem relação à legislação que atinge a radiodifusãocomunitária. O primeiro problema diz respeito àspunições previstas na legislação. O CódigoBrasileiro de Telecomunicações estabelece, em seuartigo 70, pena de um a dois anos de detençãopara a transmissão de conteúdo por meio doespectro eletromagnético sem permissão. Já a LeiGeral de Telecomunicações (9.472/97) estabelece,em seu artigo 183, pena de dois a quatro anospara quem “desenvolver clandestinamenteatividade de telecomunicação”.

A Lei 9.612 materializa a concepção repressorada legislação sobre o tema. Ela é extremamentelimitada e comprometida com a manutenção dahegemonia do sistema comercial na radiodifusãobrasileira19. A norma, em conjunto com o decretoque a regulamenta, estabelece a potência de 25Wpara os transmissores das rádios e restringe a “co-bertura” (área protegida da transmissão) a apenas1 km de raio, definição restritiva, muito difícil deser cumprida até mesmo com transmissores fun-cionando na potência baixa definida.

A lei apresenta outros problemas centrais. Umdeles é a relação desigual com as emissoras co-merciais estabelecida por meio da determinaçãode que a interferência de uma rádio comunitáriaem uma comercial significa falta grave passível defechamento, enquanto o inverso não constituiqualquer problema. Outro é a limitação dos mei-os de sobrevivência estrutural e financeira da emis-sora. A rádio não pode veicular publicidade, so-brando como instrumento apenas um apoio de-nominado “cultural” e somente de estabelecimen-

tos que tenham sede na comunidade em questão.Tal instrução restringe extremamente os instrumen-tos de geração de recursos das emissoras, impe-dindo seu crescimento e sustentabilidade.

Há outros pontos que também merecem aten-ção, como a proibição da formação de redes, prá-tica disseminada nos meios comerciais eeducativos, e a definição para as rádios comunitá-rias de um só canal por município, que se localizaem ponto na extremidade do dial. O Decreto2.615/98, que regulamentou a Lei 9.612/98, temmedidas mais restritivas ainda. Ele condiciona apossibilidade de participação no conselho degestão do veículo à moradia dentro desta área decobertura, além de definir quase 30 puniçõesextremamente rigorosas referentes às normasinfringidas por uma emissora.

No bojo das discussões sobre a Lei 9.612, op-tou-se por retirar a radiodifusão de sons e ima-gens desta norma e restringi-la aos canais deacesso público presentes na Lei 8.977/95, queregula os serviços de televisão a cabo. Foi definidoque as operadoras do serviço de cabodifusãodevem deixar um canal para fins da operação deradiodifusão de sons e imagens de carátercomunitário. Não houve nenhuma regulamenta-ção para a transmissão da TV comunitária emsistema aberto, que poderia ser pensada pelautilização do UHF, que comporta 66 canais e nãoé aproveitado.

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No caso da radiodifusão comunitária, o pro-blema já está na própria legislação. A lei 9.612 foiconstruída com perfil restritivo, como já indica-do, o que engendra uma aplicação rigorosa da le-gislação, principalmente no que diz respeito àapreensão de todo e qualquer equipamento deuma rádio fechada e à condenação dos seus ope-radores.

Há também uma armadilha no fato de que aestrutura hoje disponível para a operação dosprocessos de pedidos de autorização (no âmbito

19.19.19.19.19. Ver alguns artigos no sítio da Rede Brasileira de Comunicação Cidadã, www.rbc.org.br/artigos.htm

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do Ministério das Comunicações) não temcondição de encaminhá-los, incentivando ailegalidade. Ou seja, o Estado fecha as rádios semdiscutir que grande parte delas pode estar “ilegal”pela própria morosidade do órgão responsávelpela análise dos processos. Hoje, existem quase10 mil pedidos no Ministério das Comunicações,que declarou publicamente ter condições de ex-pedir apenas 1.500 liberações por ano. Essa situ-ação cria um contingente de rádios que podempassar mais de cinco anos na “ilegalidade” porculpa do Executivo Federal e provavelmente se-rão fechadas se forem descobertas pelo órgão res-ponsável pela fiscalização, a Agência Nacional deTelecomunicações (Anatel). A gravidade da situa-ção se expressa na comparação do número derádios legalizadas com o número de rádios fecha-das. Enquanto há cerca de 2.300 rádios20 já auto-rizadas desde o início do processo de legalização,em 1998, segundo a Associação Mundial de Radi-odifusão Comunitária (Amarc), o número de rádi-os fechadas pela fiscalização entre o início de 2002e março de 2004 chegava a 8.474.

Em 2003, foi montada uma força tarefa paraagilizar a análise dos processos. Esta ação teveresultados positivos, mas não gerou a conseqüê-ncia mais necessária para a resolução do proble-ma: a ampliação da estrutura responsável pelo trâ-mite dos processos. Outro ponto que atrapalha adinamização dos processos é o fato de cada pedi-do de concessão ter de passar pelas comissões deComunicação da Câmara dos Deputados e de Edu-cação do Senado Federal. O trâmite dos processosincha a pauta das comissões e, ao mesmo tempo,é pouco célere por depender delas. Um dos nósda aplicação da já restritiva Lei 9.612 é a alocaçãode freqüências para as rádios comunitárias. Até2004, ainda não havia sido definido um canal paraas rádios comunitárias de São Paulo, municípiocom mais rádios no país. Portanto, além da legis-lação repressiva, há o problema de indefiniçõespor parte do poder público acerca de regulamen-tações específicas.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIEFERENTES AAPEL DOS DIEFERENTES AAPEL DOS DIEFERENTES AAPEL DOS DIEFERENTES AAPEL DOS DIEFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

A situação precária da radiodifusão comunitá-ria ainda é amplificada pela fragmentação das or-ganizações que atuam neste campo. Atualmente,há uma entidade que se reivindica representantedas rádios comunitárias em nível nacional, a As-sociação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abra-

ço). Além dela, ainda no âmbito nacional, existemoutras entidades como: o Fórum Democracia naComunicação, a Rede Brasil de Comunicação Cida-dã (RBC), a Associação Nacional das Rádios Comu-nitárias Católicas (Ancarc) e a representação brasi-leira da Associação Mundial de Comunicação Co-munitária (Amarc). Na área de televisão comunitá-ria, constituiu-se recentemente uma entidade na-cional denominada Associação Brasileira de TVsComunitárias (Abracom).

Esse quadro com variadas entidades foiprovocado por sucessivos desentendimentos po-líticos dentro do movimento de radiodifusão co-munitária. No último ano, as diferentes frentes domovimento retomaram o diálogo conjunto, emvirtude da possibilidade anunciada pelo governode uma Conferência Nacional de Radiodifusão Co-munitária (ver ainda neste capítulo).

As rádios comunitárias vêm sendo usadas tam-bém para potencializar a ação dos movimentossociais. O caso mais exemplar é do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), quepossui uma rede de aproximadamente 30 rádiosespalhadas em seus assentamentos em todo o país.Segundo informações da coordenação domovimento, as rádios do MST “são uma ferramentapara fazer o debate com a sociedade e com a nossabase sobre o modelo de desenvolvimento para ocampo e também divulgar as conquistas dareforma agrária”. Cada coletivo da rádio organizaseus temas de trabalho de acordo com as linhasgerais do MST.

No campo empresarial, é importante destacara Associação Brasileira de Empresas de Rádio eTelevisão (Abert). A entidade representava até bempouco tempo, como visto anteriormente, grandeparte das empresas de comunicação do país. Elateve papel determinante na elaboração da Lei9.612/98, assumindo a função de interlocutora tan-to com o Executivo quanto com os deputados esenadores, apresentando as posições dos empre-sários que formam o sistema comercial, posiçõesestas que, analisando o resultado, foram vitorio-sas na discussão sobre a regulamentação da radi-odifusão comunitária. A Abert tem trabalhado coma denúncia das rádios que funcionam sem autori-zação legal, chegando a encaminhar cerca de 50casos por mês à Anatel.

No âmbito do Estado, o Ministério das Comu-nicações, nas últimas gestões, tem tomado pou-cas medidas em relação à falta de celeridade noandamento dos processos de abertura de rádios.Foi criada, no entanto, uma força-tarefa por meio

20.20.20.20.20. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações.

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de um Grupo de Trabalho Interministerial paratentar encaminhar a questão. O prazo para essegrupo encaminhar as sugestões de mudanças nosprocessos e na legislação é agosto de 2005. Já aAgência Nacional de Telecomunicações (Anatel),vem, pelo contrário, sendo extremamente eficien-te no fechamento das rádios “ilegais”, processono qual conta com a ajuda da Polícia Federal, quepromove apreensões e fechamentos de rádios.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Há, atualmente, no Congresso Nacional, cercade 900 ações (propostas de emendas, substitutivosetc.) que têm como objetivo algum tipo de altera-ção na Lei 9.612. No entanto, não há perspectivade sistematização de todas estas propostas de for-ma a fomentar um debate mais amplo sobre estanorma e seu impacto na radiodifusão comunitá-ria. Há também o Projeto de Lei 2701/97, dodeputado Fernando Ferro (PT-PE), que propõe aveiculação em sistema aberto dos canaiscomunitários de televisão.

Do ponto de vista da organização da sociedadecivil, é importante ressaltar as discussões acercada construção de uma Conferência Nacional de Co-municação Comunitária. A proposta ainda estásendo debatida por apenas parte das entidadesque compõem o movimento de rádios comunitáriase está sendo articulada em parceria com o Bancodo Brasil, como órgão financiador. Os objetivosdeste fórum ainda não foram definidos e não háclareza sobre o que pode acontecer em relação aele.

Assim como no resto do mundo, o processo deconvergência tecnológica está na pauta dos ato-res envolvidos na área de radiodifusão comunitá-

ria. A presença da Internet, que se apresenta comoalternativa ao problema do limite físico do espec-tro eletromagnético, vem crescendo dentro dasrádios comunitárias tanto para a troca de infor-mações quanto para ser um meio de divulgaçãopara fora do seu raio de alcance. Ainda no seiodessa discussão, a digitalização da comunicaçãosocial eletrônica vem ganhando espaço no Brasil,mas principalmente ainda no âmbito da televisão.

Em relação ao financiamento destes veículos,tramita na Câmara dos Deputados o Projeto deLei 3.269/04, do deputado Edson Duarte (PV-BA),que institui Fundo de Apoio à Radiodifusão Co-munitária. O fundo seria constituído de recursosdo Fundo de Fiscalização das Telecomunicações(Fistel), de doações e dotações orçamentárias. Eleteria como objetivo financiar a manutenção e aqui-sição de equipamentos; implantação e moderni-zação de sistemas de transmissão; construção,aparelhamento e reforma de estúdios e laborató-rios destinados à produção de programas evinhetas da emissora; programas de bolsas paraformação de profissionais e consultoria técnicaespecializada; e treinamento técnico.

O deputado Edson Duarte também apresentouum projeto de lei que revoga o artigo 183 da LeiGeral de Telecomunicações (9.472/97).Indevidamente, o artigo é usado pela Anatel ePolícia Federal nas ações de repressão às rádioscomunitárias. Cerca de mil pessoas já foramindiciadas em inquérito policial por causa dessedispositivo. Na opinião de alguns juristas, o arti-go 183 não se aplica às emissoras comunitáriaspor ser serviço de radiodifusão, e não de teleco-municações. "Existe, porém, uma vontade políti-ca de reprimir um direito sagrado do povo, que éo de se comunicar. Temos aqui uma agressão àliberdade de expressão", diz o deputado.

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A 5.5 - Obrigações regulatórias aplicáveis sobre empresas e canais comerciais,inclusive difusores, quando apropriado, para assegurar o cumprimento dosrequisitos da prestação de serviço público.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Há pouquíssimo ou quase nada estabelecidono que se refere a disposições nas normas quedefinam as obrigações para assegurar ocumprimento dos requisitos da prestação deserviço público. O público, na legislação brasileira,aparece muito mais como premissa genérica doque como conceito que se materialize nas taisobrigações. Desta forma, a análise sobre aveiculação de conteúdo de interesse público passaa ser pouco objetiva e depende muito dosinstrumentos de análise e controle dos meios decomunicação (que serão melhor abordados noatributo A6), que também são praticamenteinexistentes.

Se analisadas as finalidades dos meios, regula-das na prática através do estabelecimento de por-centagem em relação à totalidade da programa-ção, vemos que a própria legislação aponta para anão realização da prestação de serviço público. ODecreto 52.795/63, que regulamentou o CódigoBrasileiro de Telecomunicações, coloca a possibi-lidade de publicidade na programação em umpercentual cinco vezes maior do que a exigênciade conteúdo educativo e noticioso. “Art. 28 - Asconcessionárias - permissionárias de serviços deradiodifusão, além de outros que o Governo julgueconvenientes aos interesses nacionais, estão sujeitasaos seguintes preceitos e obrigações: 12 - naorganização da programação: c) destinar um mínimode 5% (cinco por cento) do horário de sua programaçãodiária à transmissão de serviço noticioso; d) limitarao máximo de 25% (vinte e cinco por cento) do horárioda sua programação diária o tempo destinado àpublicidade comercial; e) reservar 5 (cinco) horassemanais para a transmissão de programaseducacionais”.

A lei que regula o sistema de TV a cabo (8.977/95) prevê a normatização ou determinação peloPoder Executivo dos seguintes elementos: “I - osparâmetros técnicos de qualidade e desempenho daexecução e exploração do serviço; II - os requisitospara a integração, efetiva ou potencial, ao SistemaNacional de Telecomunicações, do serviço de TV a Caboe das redes capacitadas para o transporte de sinais de

TV; III- a fiscalização do serviço, em todo o territórionacional; IV - a resolução, em primeira instância, dasdúvidas e conflitos que surgirem em decorrência dainterpretação desta Lei e de sua regulamentação. V -os critérios legais que coíbam os abusos de podereconômico no serviço de TV a Cabo ; VI - odesenvolvimento do serviço de TV a Cabo em regimede livre concorrência; VII - o estabelecimento dediretrizes para a prestação do serviço de TV a Caboestimulem e incentivem o desenvolvimento da indústriacinematográfica nacional e da produção de filmes,desenhos animados, vídeo e multimídia no País”.

No entanto, não há, para o sistema aberto,nenhum mecanismo de controle ou qualquer ór-gão a que o cidadão possa se remeter para apon-tar irregularidades. No caso da TV a cabo, previu-se em lei que todas as regulamentações e posteri-ores mudanças teriam antes que ser submetidasao parecer consultivo do Conselho de Comunica-ção Social (analisado no atributo A6). Isso nãogarante, todavia, nenhum espaço para o aponta-mento de irregularidades.

Como única alternativa para denúncias públi-cas está o Ministério Público, tornado indepen-dente do sistema judiciário em 1988, que acolheas denúncias dos cidadãos e trabalha pela promo-toria dos direitos.

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O contra-senso da legislação citada (sobre arelação entre publicidade permitida e programaçãoeducacional e noticiosa exigida) é ainda maisexplorado pelas grandes emissoras. Omerchandising já é prática comum em todas asemissoras comerciais e está em quase todos osprogramas de entretenimento (novelas, shows deauditório etc.), não tendo sido computado comopublicidade para efeito do controle estabelecidopela lei. Já os programas educacionais sãotransmitidos sempre em horários de poucaaudiência, como a madrugada e o início do dia.

Um dos poucos recursos para protestar contrao conteúdo de baixa qualidade é o Ministério Pú-blico, órgão do sistema de Justiça e segurança

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pública formado pela Procuradoria Geral da Repú-blica e por escritórios estaduais. O Ministério Pú-blico recebe denúncias que, conforme sua validadejurídica, são encaminhadas via ação civil públicaaos tribunais. Por meio dele, várias ações de exa-geros e mau uso do espaço de veiculação em ca-nais de emissoras já foram movidas contra asempresas de mídia. É o caso da falsa entrevistacom um grupo pertencente à organização crimi-nosa denominada PCC (Primeiro Comando da Ca-pital) forjada pelo programa de entretenimento“Programa do Gugu”, onde a farsa foi descoberta.O programa foi punido com suspensão temporá-ria de exibição e o apresentador, multado. Outrainiciativa é a reação do MP em apoio à campanha“Quem financia a baixaria é contra a cidadania”(que será abordada mais à frente) de propor acordoscom as emissoras para que estas retirem do arprogramas policiais de cunho apelativo. Noentanto, estes casos são raros devido à precarie-dade da legislação que os embasaria.

Um dos avanços no cumprimento do serviçopúblico dos meios vem sendo a nova política daRadiobrás, empresa estatal de comunicação doExecutivo. Na gestão atual do governo federal, soba presidência do jornalista e pesquisador EugênioBucci, a Radiobrás e seus veículos têm desenvol-vido uma comunicação que vem se aproximandomais do caráter público. Embora faça umacomunicação estatal, o processo de “publicização”da Radiobrás tem se manifestado tanto no con-teúdo editorial quanto na formulação deste, queem alguns casos tem se utilizado de conselhospara dar maior permeabilidade à sociedade nadefinição das pautas. Em diversos momentos, aempresa pratica um jornalismo não vinculado aoEstado, apresentado olhares críticos econtrapontos em relação às versões do governo.A TV Nacional, emissora estatal aberta, apresen-tou, em 2005, nova programação baseada naveiculação do conteúdo produzido nas emissorasestatais-educativas de todos os estados, priman-do pela diversidade. Mas mesmo dentro dosistema de emissoras estatais-educativas sematerializa o poder político e cultural de São Paulo,representado na TV Cultura como cabeça-de-rededas emissoras deste tipo.

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Uma ação que vem mostrando resultados na

luta pela garantia do cumprimento do serviçopúblico é a campanha “Quem financia a baixaria écontra a cidadania” (www.eticanatv.org.br), umainiciativa da Comissão de Direitos Humanos daCâmara dos Deputados. A campanha funciona pormeio de uma articulação de entidades (que já estáem 17 estados) e de uma coordenação que recebee sistematiza denúncias de abusos na programaçãoveiculada, divulgando periodicamente “rankingsda baixaria” e atuando junto aos anunciantes parapropor a retirada de apoio aos programasconsiderados abusivos. Com dois anos defuncionamento, a campanha já conseguiu criar umdebate público sobre a qualidade da programação.

A campanha tem pressionado o parlamentopara a aprovação de Projeto de Lei 1.600/03 deautoria do coordenador da iniciativa, o deputadoOrlando Fantazzini (PT-SP), que institui um códi-go de ética para a programação televisiva, comprincípios como isenção, exatidão e respeito aosdireitos humanos. Apesar da campanha ser umainiciativa que tem conseguido minimamentecapilarizar o debate sobre o controle público dosmeios, ela constrói seus parâmetros a partir dedenúncias do público que não dependem de crité-rio algum, muitas vezes se baseando numa inter-pretação moral subjetiva.

A Radiobrás, empresa ligada à Secretaria deComunicação e Gestão Estratégica do GovernoFederal (Secom), opera cinco estações de rádio,dois canais de televisão, uma agência de notícias,uma radioagência e um serviço radiofônico viasatélite. Sua agência e sua radioagência, que tra-balham no sistema copyleft (o conteúdo pode serreproduzido com a citação da fonte) atingem umnúmero muito grande21 de veículos, principalmen-te no interior do país. Assim como ela, as já cita-das emissoras estatais-educativas reunidas naAssociação Brasileira de Emissoras Públicas,Educativas e Culturais (Abepec) também vêmatuando para garantir a prestação de serviçopúblico.

No campo da comunicação universitária, des-de 2000, as emissoras ligadas a estas instituiçõesse organizam por meio da Associação Brasileirade Televisão Universitária (ABTU). Segundo dadosda entidade, existem 49 canais22 controlados porinstituições de ensino superior e mais de 100universidades produzindo algum tipo de conteú-do em vídeo. Embora seja possível comemorar orápido crescimento do setor de TVs universitárias,é importante registrar a crítica que já é feita há

21.21.21.21.21. Não há dados que comprovem o número exato de veículos que usam o conteúdo produzido pela Radiobrás.22.22.22.22.22. Estes canais não são apenas os previstos na Lei da Cabodifusão. Há casos de canais de TV aberta, como a TV Universitária deRecife (PE).

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anos principalmente pela Executiva Nacional dosEstudantes de Comunicação Social (Enecos) de queestas TVs têm realizado um tipo de comunicaçãomais institucional do que pública.

No âmbito do Judiciário, a atuação do Ministé-rio Público tem sido articulada principalmente emtorno das Procuradorias Federal e Regionais dosDireitos do Cidadão (PFDC e PRDCs). Está sendocriado um grupo dentro deste órgão no intuito deunificar a atuação do MP nos casos de abusos nosmeios de comunicação. Este grupo já estáestabelecendo diálogo com emissoras com oobjetivo de tirar programas policiais do ar.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS FUTURASTUAIS FUTURASTUAIS FUTURASTUAIS FUTURASTUAIS FUTURAS

O Ministério da Cultura apresentou, em 2004,um projeto de lei para o Audiovisual. A propostatem o objetivo de fazer a regulação do conteúdoindependente do meio de comunicação, além deestipular taxas sobre cópias de produçõesestrangeiras e anunciantes de publicidade, comintuito de criar um fundo para o desenvolvimentode todo o setor. Ela define um sistema deregulação que é operado por um conselho comparticipação da sociedade civil, do setor produtivo,da Agência Nacional do Audiovisual (Ancinav) eórgãos do Estado (Ministérios da Cultura e dasComunicações). O projeto vem sendo alvo deintensos debates, com o empresariado criticandoqualquer regulação de um lado e o movimento deaudiovisual defendendo regras e incentivos àprodução do outro.

O processo demonstra o Ministério da Culturacomo órgão do governo que mais se aproxima dadefesa da concepção da comunicação como direitoe bem público e, conseqüentemente, como alvode políticas públicas e regulação.

No entanto, no início de 2005, o governoanunciou a intenção de não incluir o processo de

regulação no projeto a ser encaminhado ao Con-gresso, mantendo apenas a idéia de uma agên-cia de fomento. Foi anunciada, então, a propos-ta de que o processo de regulação seja tratadonuma Lei Geral da Comunicação de Massa, quecobriria não apenas a produção de conteúdoaudiovisual, mas todas as etapas relacionadas àprodução, distribuição e infra-estrutura de todaa comunicação de massa no país. O projeto ori-ginal da Lei do Audiovisual não fazia menção àradiodifusão sonora e à televisão pública e aca-bava mantendo a separação entre conteúdo, dis-tribuição e estrutura.

O debate da Lei do Audiovisual evidenciou aforça dos empresários (não somente osradiodifusores, mas também os exibidores), queintensificaram as críticas com o objetivo de dimi-nuir toda a taxação e punição para os abusos eco-nômicos. Esta pressão já teve resultado, provo-cando alterações na proposta do governo federal,como a diminuição da taxação sobre a publicida-de de 4% para 3% e sobre filmes com mais de 300cópias de R$ 600 mil para R$ 50 mil, além daalteração do valor máximo das multas, que che-gou à redução do teto para uma das infrações deR$ 5 milhões para R$ 100 mil.

Do outro lado, as entidades progressistas dasociedade civil têm manifestado apoio à propos-ta com abaixo-assinados e dentro do ConselhoSuperior de Cinema, espaço institucional ondeesta vem sendo analisada pelo conjunto da soci-edade representado no órgão. A divisão nas vi-sões sobre o tema está inclusive causando umareorganização nas entidades, como é o caso doCongresso Brasileiro de Cinema (CBC), quevivenciou a saída das organizações ligadas aosexibidores e empresários. Essas organizações seuniram para criar o Fórum do Audiovisual e doCinema (FAC), uma nova entidade que congregaagentes conservadores do setor.

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A 5.6 - Medidas efetivas para assegurar acessibilidade, até mesmo econômica, àsmídias relevantes (inclusive jornais e televisão) e conteúdos, especialmente porparte de grupos culturais e lingüísticos marginalizados. Por exemplo, regimes deimpostos diferenciados, difusão livre em TV aberta, obrigar os operadores derede a aceitar os canais (must-carry) etc.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Não há garantia nenhuma na legislação brasi-leira de acesso plural da população a mídias rele-vantes.

A única lei que contém elementos nesse senti-do é a 8.977/95 (cabodifusão), que estabeleceu aobrigatoriedade das operadoras de TV a cabo de,na sua área de prestação de serviço, reservaremseis canais básicos de utilização gratuita: 1) canalcomunitário aberto para utilização livre por enti-dades governamentais e sem fins lucrativos; 2)Senado; 3) Câmara Federal; 4) canal do Legislativomunicipal/estadual (para ser compartilhado entreas duas assembléias); 5) canal universitário; e 6)canal educativo-cultural, para ser utilizado pelosórgãos do governo que tratam de educação e cul-tura em âmbito municipal, estadual e federal. Pos-teriormente, foi acrescentado o canal da Justiça.

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Em relação aos canais de caráter público quecada distribuidora de serviços de TV a cabo deveveicular, há ainda muitos espaços ociosos em to-dos eles. No entanto, não existem estudos ou pes-quisas que apresentem um quadro nacional dasemissoras e que avaliem o aproveitamento destescanais, já que as operadoras colocam obstáculosou se recusam a transmiti-los. Destes canais, osdois ligados ao parlamento (TV Câmara e TVSenado) vêm desempenhando papel importantede socialização do processo legislativo para apopulação. As sessões em plenário são filmadas etransmitidas ao vivo, bem como reunião decomissões temáticas das duas casas. Além disso,os canais realizam um trabalho de desmistificaçãodo legislativo para a população, explicando alegislação e seus impactos. Todavia, é importantelembrar que estes canais ficam restritos apenas àaudiência das operadoras de TV a cabo, sem falarno problema da bitributação, já analisadoanteriormente.

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As TVs Câmara e Senado foram criadas a partirda aprovação da Lei da Cabodifusão e desde en-tão estão em atividade. No plano nacional, elastêm conseguido desenvolver relativa independên-cia das influências políticas do parlamento, econstruído uma linha editorial mais próxima dareflexão e da problematização das pautas doparlamento.

Como já dito, o Ministério da Cultura tem as-sumido papel importante na disputa interna dogoverno federal sobre as políticas de comunica-ção. Com um olhar voltado para a compreensãoda comunicação e da cultura como direitos, eletem desenvolvido ações e proposto normas (comoos Pontos de Cultura e a Lei do Audiovisual) com-prometidas com a efetivação desses conceitos. Ainiciativa da criação da Agência Nacional do Ci-nema e do Audiovisual (Ancinav) era muito im-portante, mesmo com as concessões que o Mi-nistério vinha fazendo para os empresários du-rante a formatação da proposta que iria ao Con-gresso Nacional (antes da decisão do governo detransformá-la em simples agência de fomento).

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Em relação ao governo federal, há hoje doisprojetos que trabalham com a lógica da necessi-dade de garantir à população de baixa renda e/oumarginalizada acesso a mídias relevantes. Umdeles é uma proposta do Ministério da IntegraçãoNacional, em parceria com a Radiobrás, de insta-lação de sete rádios na região do Alto Solimões(na Amazônia), onde a ocorrência de meios decomunicação é extremamente baixa. A iniciativanão trabalha somente com a idéia de acesso à in-formação, mas também à produção dela. Ela pre-vê a gestão e a elaboração do conteúdo destasrádios com participação da comunidade por meiodo sistema de conselhos e tem como objetivo cons-tituir uma real rede de rádios públicas na região.

Outro projeto é chamado Pontos de Cultura. Ainiciativa do Ministério da Cultura visa instalar

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centros de produção de conteúdo em todo o paíspor meio do fornecimento de estruturas e equipa-mentos como computadores, câmeras, gravado-res e editores. Inicialmente, 65 pontos estão emprocesso de implantação através de parcerias comentidades da sociedade civil (podem chegar a 100).Dentro do governo federal, estuda-se um projetoque amplia o Ponto de Cultura e os telecentros23

que estão em implantação em projetos de diver-sos órgãos do Estado24 e cria Casas Brasil. Estesespaços congregariam um telecentro, um Pontode Cultura, pontos de bancarização e de presençado governo federal. Este projeto será melhor ex-plicado e analisado no Pilar D.

As políticas e medidas de promoção do aces-

so aos meios de comunicação e informação pos-suem hoje foco mais centrado nas Tecnologiasda Informação e da Comunicação (que serão abor-dadas no pilar D) e não nas mídias escritas e querecebem radiodifusão de sons e imagens. No en-tanto, o projeto Casa Brasil, se concretizado econsolidado dentro do governo federal, podeapontar para a criação de centrais comunitáriasde comunicação, com produção de conteúdo paraser veiculado por estruturas de telecomunicações,radiodifusão, imprensa e exibição direta. Aindaassim, ele corre o risco de esbarrar no tratamen-to dado às rádios comunitárias já descrito e ana-lisado no item A5.4.

23.23.23.23.23. Espaços públicos de acesso comunitário à internet24.24.24.24.24. Hoje no governo, como será abordado no Pilar D, existe uma série de iniciativas de instalação de telecentros em projetosque vão desde empresas estatais (como a Petrobrás e o Banco do Brasil) até os próprios ministérios.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Lei 7.716/89, em seu artigo 20º, estipula penade um a três anos para quem “praticar, induzir ouincitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,etnia, religião ou procedência nacional”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA -Lei 8.069/90) define em seu artigo 247 como in-fração administrativa, passível de pena de três avinte salários, o ato de “divulgar, total ou parcial-mente, sem autorização devida, por qualquer meio decomunicação, nome, ato ou documento de procedi-mento policial, administrativo ou judicial relativo àcriança ou adolescente a que se atribua atoinfracional”. Da mesma forma, o Estatuto do Idoso(Lei 10.741/03) define, em seu artigo 105, comocrime “exibir ou veicular, por qualquer meio decomunicação, informações ou imagens depreciativasou injuriosas à pessoa do idoso”, podendo ocondenado pegar até três anos de pena.

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Durante a pesquisa, foi notada a escassez dematerial sobre a efetividade dessas leis. A maioriados instrumentos legais que visam ao combateou à diminuição da representação distorcida degrupos marginalizados tem apresentado poucosresultados práticos. Além disso, nestes poucosinstrumentos, não há uma preocupação explícitacom a contribuição dos meios de comunicação paraa discriminação dos grupos sociais protegidos porcada instrumento.

O maior movimento de denúncia e combateaos preconceitos e violações dos direitos de seg-mentos marginalizados da sociedade dissemina-dos pela mídia é a já citada campanha “Quem fi-nancia a baixaria é contra a baixaria”. Diversasações civis têm acionado a Justiça brasileira comrelação a casos de disseminação de preconceitose discriminação de etnia, cor, gênero, religião eoutros tipos.

Um exemplo é a condenação por parte do Mi-nistério Público do Rio Grande do Norte, no pri-meiro semestre de 2003, da concessionária ViaCosteira e da agência de publicidade Lúmina porutilizarem a banalização da violência contra a mu-lher para vender serviços oferecidos pela empresaautomotiva. O anúncio, publicado no jornal Tri-

buna do Norte no dia 29 de abril, apresenta o rostode uma mulher espancada com a chamada “Mecâ-nica, funilaria e pintura Via Costeira. Tá na caraque precisa”.

No dia 14 de junho de 2003, o Ministério Pú-blico do Rio Grande do Norte emitiu um termode ajustamento de conduta que obrigou a con-cessionária Via Costeira e a agência Lúmina a pro-moverem um evento sobre a violência contra amulher, cabendo à concessionária cobrir a partefinanceira, particularmente a locação do auditó-rio e o pagamento do material de divulgação,produzido pela Lúmina. Além disso, o procura-dor de Justiça Eduardo Cavalcanti, que elaborouo termo, determinou que este fosse publicadoem um espaço correspondente a um quarto depágina do jornal que veiculou a mensagem pu-blicitária, sob responsabilidade da Via Costeira,e no Diário Oficial do Estado. A repercussão na-cional e internacional do caso foi tão grande quemotivou um cidadão da Alemanha a escrever umacarta à matriz da Volkswagen pedindo um pro-nunciamento sobre o comportamento da sua con-cessionária em Natal.

Há outros exemplos como esse de sentençasoriundas de denúncias feitas por movimentos so-ciais que trabalham contra a discriminação de gê-nero, raça ou identidade sexual. Recentemente, aJustiça concedeu direito de resposta coletivo aospraticantes de religiões afro-brasileiras, vítimas depreconceito em programas da TV Record e RedeMulher. A ação civil pública que originou acondenação havia sido interposta pelaProcuradoria Regional dos Direitos do Cidadão deSão Paulo em novembro de 2004.

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Os principais atores contra a representação ina-dequada têm sido os movimentos sociais ligadosa estas categorias, como o Instituto Patrícia Galvão,a Marcha Mundial de Mulheres, o Movimento Ne-gro Unificado e a Associação Brasileira de Gays,Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. Suas denún-cias têm colocado na pauta a discussão sobre aforma discriminatória como a mídia, principalmen-te os programas de entretenimento e as peçaspublicitárias, vem tratando os marginalizados. Em2003, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

A5.7. Medidas efetivas, de acordo com a necessidade, para enfrentar arepresentação inadequada ou torpe de mulheres, grupos étnicos, grupos maispobres e marginalizados por parte da mídia.

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Terra (MST) adensou o debate com a iniciativa deuma jornada pela Democratização da Mídia, queteve no mês de novembro atos em grandes cidadesdo país, mas acabou não tendo continuidade.

No campo da comunicação, destaca-se a já ci-tada campanha pela ética na TV. Há uma série deorganizações, principalmente ONGs, que já de-senvolveram ações no monitoramento da mídiaem relação ao tratamento de marginalizados. Éo caso da Agência de Notícias dos Direitos daInfância (Andi), que desenvolve periodicamentepesquisas sobre o tratamento dado pelos gran-des meios à cobertura de questões envolvendocrianças e adolescentes.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O Projeto de Lei que propõe o Estatuto daMulher (PL 1.399/03) assegura, em seu artigo 4ºque “nenhuma mulher será submetida a tortura nema tratamento desumano ou degradante, discrimina-ção, exploração, violência, crueldade e opressão,

punido na forma das leis específicas”.O projeto de lei que trata da criação do Estatu-

to da Igualdade Racial (PLS 213/03) em seu artigo4º, parágrafo VIII, prevê que "VII – implementaçãode programas de ação afirmativa destinados aoenfrentamento das desigualdades raciais nas esferasda educação, cultura, esporte e lazer, saúde, trabalho,mídia, terras de quilombos, acesso à justiça,financiamentos públicos, contratação pública deserviços e obras e outras”. Na mídia, o projeto propõecotas de, no mínimo, 20% para atores afro-descendentes em programas de televisão e peçaspublicitárias.

A melhor perspectiva de ampliação das denún-cias de conteúdos discriminatórios veiculados emmeios de comunicação é através da campanha“Quem financia a baixaria é contra a cidadania”.Os rankings periodicamente divulgados e pauta-dos na própria mídia têm gerado um debate pú-blico, ainda que tímido, sobre os programas e adiscriminação em questão. A atuação do Ministé-rio Público, também já citada, é outro elementoimportante para esta luta.

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A 5.8 - Apoio a medidas nas instituições e fóruns multilaterais que assegurem aproteção e o apoio a mídias nacionais, inclusive, por exemplo, o direito adiscriminar em favor empresas e canais locais, e para regular conteúdooriginário de fora.

O principal fórum internacional na área da Co-municação é a Cúpula Mundial sobre a Sociedadeda Informação (CMSI). A posição do governo federalvem sendo elaborada em três eixos: gestão doconhecimento e software livre, governança naInternet e solidariedade digital. No primeiro, noBrasil é hegemônica a posição de defesa dosoftware livre e do compartilhamento do conheci-mento como condição para o desenvolvimentosocial dos países, principalmente os periféricos. Ogoverno faz dura crítica às regras de propriedadeintelectual que só beneficiam a produção de co-nhecimento que está basicamente nos países ricose que instituem uma lógica de subordinação doconhecimento.

No segundo eixo, tem mais força a posição delevar a gestão mundial da Internet para um orga-nismo multilateral como a União Internacional deTelecomunicações (UIT) (ou a criação de um novoórgão específico no interior da Organização dasNações Unidas). A idéia é tirar o domínio dadefinição das políticas da Internet Corporation forAssigned Names and Numbers (ICANN), entidadeprivada sediada nos EUA.

No terceiro eixo, o Governo trabalha com aproposição de fundos de solidariedade digital paraincluir digitalmente os países mais pobres deforma a garantir sua independência tecnológicaou incentivá-la por meio da produção deconhecimento baseado em software livre e nacapacitação de programadores e desenvolvedores

para operar essa formulação.O Brasil (Estado e sociedade civil) se prepara

também para a intervenção no processo interna-cional de debate sobre a diversidade cultural, quetem como horizonte próximo a aprovação de umaconvenção sobre o tema no âmbito da Unesco(Organização das Nações Unidas para a Educação,a Ciência e a Cultura) em outubro de 2005.

As posições do Brasil durante a reuniãointergovernamental de fevereiro de 2005 privile-giaram, de maneira geral, os aspectos culturaisem relação aos econômicos e mereceram elogiosde representantes de organizações não governa-mentais que estiveram presentes. O fato é bastan-te positivo porque, até o momento, o governobrasileiro era acusado de ter uma postura dúbia arespeito da Convenção.

Por um lado, o Ministério da Cultura é vistocomo defensor de um texto mais avançado e cominstrumentos concretos que garantam a implan-tação de políticas de diversidade cultural. De ou-tro lado, os Ministérios da Fazenda, Indústria eComércio e Agricultura tendem a priorizar a atua-ção brasileira na Organização Mundial doComércio (OMC) e garantir que a cultura se adeqüeàs regras do comércio internacional. Também aGlobo, exportadora de audiovisual e compradorade diversos programas norte-americanos, temfuncionado como instrumento de pressão contrauma posição mais avançada do Brasil.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Em diversos artigos, a Constituição Federalcoloca a proibição de peças publicitárias que exer-çam influência negativa na esfera pública. O artigo5º, inciso XLI, afirma que “a lei punirá qualquer dis-criminação atentatória dos direitos e liberdades fun-damentais”. O artigo 220, § 3º, inciso II, diz serpapel do Estado Brasileiro “estabelecer os meioslegais que garantam à pessoa e à família a possibilidadede se defenderem de programas ou programações derádio e televisão que contrariem o disposto no art.221, bem como da propaganda de produtos, práticase serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meioambiente”.

O artigo 220, § 4º, estabelece que “a propagan-da comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeitaa restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafoanterior, e conterá, sempre que necessário, advertên-cia sobre os malefícios decorrentes de seu uso”. O artigo227 afirma ser “dever da família, da sociedade e doEstado assegurar à criança e ao adolescente, comabsoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, àalimentação, à educação, ao lazer, àprofissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,à liberdade e à convivência familiar e comunitária,além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade eopressão”.

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A publicidade de cigarros foi limitada a displaysnos pontos de venda, tendo sido proibidos osanúncios em rádios, jornais e TV. Para bebidas emedicamentos, foi instituída a obrigatoriedade daveiculação de advertências em relação ao risco parasaúde.

Em função da autonomia plena do ConselhoNacional de Auto-regulamentação Publicitária(Conar)25, a publicidade comercial não é objeto,na prática, de nenhum dispositivo de controle

público e/ou social. A base legal da Constituiçãonão tem funcionado como instrumento de defesado público em relação aos abusos da publicidadecomercial. O casuísmo é muitas vezes utilizadopara adequar ou contornar os preceitos legaisdiante da indústria da publicidade e seus parceiros.Exemplo disso foi a Medida Provisória editada pelogoverno (em abril de 2003, por ocasião do GrandePrêmio de Fórmula 1 realizado em São Paulo) queadiou para 2005 a entrada em vigor da lei federalque proíbe a propaganda de cigarros em eventosesportivos.

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Os atores da luta contra as influências prejudi-ciais que a propaganda pode exercer na sociedadesão os mesmos relatados anteriormente que con-testam o tratamento discriminatório dado aos mar-ginalizados pela mídia. A propaganda é uma facedo preconceito manifesto na programação dosmeios de comunicação.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Há uma movimentação no interior da campa-nha “Quem financia a baixaria é contra a cidada-nia” para incluir a publicidade nas análises, dadasua influência na sociedade. No Congresso Nacio-nal tramita o Projeto de Lei 5.921/01, de autoriado deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR),que proíbe a propaganda de produtos infantis. Jáfoi aprovada na Comissão de Defesa do Consumi-dor e segue a tramitação na Câmara. A propostavisa estabelecer o impedimento já existente emoutros países. Na Suécia, foi proibida qualquer pro-paganda dirigida ao público infantil ou mesmoprotagonizada por crianças. Em Portugal, estásendo realizado estudo a respeito. Quandopresidiu a União Européia, a Suécia propôs estaproibição para todo o bloco, mas teve a propostarejeitada.

A5.9. Medidas efetivas para impedir que a propaganda exerça uma influêncianegativa sobre a esfera pública, por exemplo com a identificação ostensiva,limitação do volume de propaganda e de conteúdo político ou religioso. Os gastospúblicos em propaganda também podem ser usados para apoiar a esfera pública.

25.25.25.25.25. Ver item 6.4

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Existe uma temática em relação a este indica-dor (A5) que entendemos ser transversal e não estartotalmente contemplada pelo recorte dos novesub-indicadores definidos, que é a situação dosetor cinematográfico no país.

O setor cinematográfico brasileiro vem se re-cuperando depois de um período crítico no iníciodos anos 90, durante o governo Fernando Collorde Melo, quando foram extintos incentivos fiscaispara a área cultural bem como os órgãos que fi-nanciavam a produção, distribuição e exibição defilmes nacionais, como o Ministério da Cultura, aFundação do Cinema Brasileiro, o ConselhoNacional de Cinema (Concine) e a Embrafilme. Osmecanismos que rearticularam tais processos foramfrutos da luta posterior dos cineastas. Hoje aregulação e a definição de políticas para setor estãosob a responsabilidade da Agência Nacional deCinema (Ancine), instituída pela na Medida Provi-sória 2.228-1, de 6 de setembro de 2001. Suasprincipais tarefas junto ao Ministério da Cultura(MinC) são a análise, a aprovação e o acompanha-mento dos projetos cinematográficos, relativos aosbenefícios das Leis 8.313/91 e 8.685/93.

Criado pela Medida Provisória 2.228-1, oConselho Superior de Cinema (CSC) é um órgãodeliberativo e consultivo ligado à Casa Civil daPresidência da República. Ele é formado por noveministros de Estado, seis especialistas do setor (eseus suplentes) e três representantes da socieda-de civil (e seus suplentes). Entre suas atribuiçõesestá formular a política nacional do cinema. Tra-ta-se de um interlocutor qualificado, pois congre-ga Estado e entidades civis para analisar as políti-cas públicas de audiovisual.

A Lei de Incentivo à Cultura, ou Lei Rouanet(Lei 8.313/91), institui o Programa Nacional deApoio à Cultura (Pronac), cuja finalidade é acaptação e canalização de recursos para os diversossetores culturais, para facilitar o acesso, produçãoe difusão pública das fontes da cultura. Já a Lei doAudiovisual (Lei 8.685/93) cria mecanismos espe-cíficos de incentivo fiscal para a atividadeaudiovisual. Permite que os investimentos reali-zados na produção de obras audiovisuais cinema-tográficas brasileiras de produção independentesejam deduzidos do imposto de renda, e que se-jam viabilizados, pelos mesmos incentivos fiscais,projetos de exibição, distribuição e infra-estrutu-

ra técnica, específicos da área audiovisual, sendovedada, entretanto, a aquisição, reforma ou cons-trução de imóveis para tais fins cinematográficos.No entanto, as duas leis estão baseadas na idéiade renúncia fiscal, que pode chegar a 124%. Osinvestidores escolhem, entre as dezenas de proje-tos certificados pelo Ministério da Cultura, aqueleem que querem investir, e deduzem o valor inte-gral (ou mais, no caso dos 124% citados acima) deseu imposto de renda. Assim, a lei, na prática,permite que as empresas guiem as políticas cultu-rais que são feitas inteiramente com recursos pú-blicos, e ainda se beneficiem da publicidade de-las.

A criação de escritórios regionais da Ancine pelopaís está prevista na Medida Provisória 2228-1,mas existem dificuldades operacionais para isto.A descentralização da Ancine com a criação dosescritórios regionais cria expectativa na fiscaliza-ção da legislação dos mercados regionais e natransparência das atividades da agência junto àsociedade civil.

O conjunto desses instrumentos constitui apolítica brasileira na área, sinalizando uma consi-derável presença estatal, incentivando direta (porempresas estatais) ou indiretamente (porincentivos fiscais a instituições privadas) tais obras.

Seguindo o padrão brasileiro das leis deincentivo à cultura, até agora as leis de cinematrabalharam exclusivamente sobre a produção, nãosobre a distribuição. “Hoje, no Brasil, 80% do queé veiculado nas salas de cinema são filmesproduzidos nos Estados Unidos. Na TV, esse índicechega a 90%. A TV atinge 41,5 milhões dedomicílios. Exatamente o veículo que permitiriao acesso da população ao cinema nacionalrestringe mais do que as próprias salas de cinema.Existe aqui apenas uma sala de cinema para cada110 mil brasileiros. Essas salas de cinema estãoconcentradas em apenas 7% dos municípios e ofilme brasileiro é exibido, no máximo, em 1% denossas cidades. O mercado brasileiro de vídeo eDVD, significativo para o cinema americano, équase inexistente para as produções nacionais”26.Nessa conjuntura, se destaca o atual papel dosfestivais que ocorrem no Brasil, como substitutodo mercado, pois é uma das raras oportunidadesde se ver filmes brasileiros. Se por um lado talisfilmes atingem, de uma só vez, um número

Tema transversal: O setor cinematográfico

26.26.26.26.26. Ideli Salvatti, senadora (PT-SC), em artigo publicado em O Globo em 30/08/2004.

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considerável de pessoas, esta vitrine não tem umaseqüência comercial em grande parte dos casos.

Outro fator desarticulador de espaços para fil-mes brasileiros é o desaparecimento de salas deexibição em cidades do interior, onde o cinemanacional tinha mais público (sendo substituídopela TV). Além disso, também influencia para essadesarticulação a subseqüente construção decinemas multiplex, que são geralmente vincula-dos a grandes redes de distribuidores de cinema ea grandes shoppings centers. A perspectiva detransformar o setor cinematográfico,descentralizando a produção e distribuição, estána disputa pela aprovação do projeto do Ministérioda Cultura que cria a Ancinav, já analisado nesteestudo.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

O Decreto 2.338/97, que aprova o Regulamentoda Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),afirma, em seu artigo 16, que “à Agência competeadotar as medidas necessárias para o atendimento dointeresse público e para o desenvolvimento dastelecomunicações brasileiras, e especialmente: (...) III– elaborar e propor ao Presidente da República, porintermédio do Ministro de Estado das Comunicações,a adoção das medidas (...) submetendo previamente aconsulta pública às relativas aos incisos I a III”. Omesmo decreto ainda estipula em seu artigo 67que “as minutas de atos normativos serão submeti-das a consulta pública, formalizada por publicação noDiário Oficial da União, devendo as críticas e sugestõesmerecer exame e permanecer à disposição do públicona Biblioteca, nos termos do Regimento Interno”.

O Regimento Interno27, em seu artigo 3º, ca-racteriza a consulta pública como “procedimentoadministrativo que submete documento ou assunto [etambém atos normativos, como explicita o artigo 47do referido documento] a comentários e sugestões dopúblico em geral”, sendo responsabilidade doConselho Relator encaminhar as sugestões colhidasao Conselho Diretor, que julgará a medida ou atoem instância final. O parágrafo único do artigo 49obriga o Conselho Diretor a, antes de editar aresolução, analisar as sugestões encaminhadas,“devendo expor em documento próprio as razões paraa adoção ou não das medidas, que será arquivado naBiblioteca, ficando à disposição de todos osinteressados”.

O Regimento Interno do Ministério das Comu-nicações28, em seu artigo 237, define como incum-bência do Secretário de Serviços de ComunicaçãoEletrônica “planejar, dirigir, coordenar, orientar, acom-panhar e avaliar a execução das atividades dasunidades que integram sua Secretaria e, especifica-

mente: III – propor a realização de consultas públicas,visando propiciar a efetiva participação dos diversossegmentos da sociedade na proposição de políticas,diretrizes, objetivos e metas referentes aos serviços deradiodifusão, seus ancilares e auxiliares”.

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Em nível nacional, é comum a realização deconsultas públicas, para sugestões e comentáriosacerca de normas, projetos técnicos e projetos delei, através da internet. Estas consultas são reali-zadas tanto pelos órgãos do Poder Executivoquanto por agências reguladoras (como a Anatele a Agência Nacional de Cinema). No entanto, esteinstrumento é muito limitado, pois é apenas umlevantamento de posições da sociedade semqualquer garantia de que estas se façam ouvidas.As propostas em consulta recebem comentários econtribuições, mas esta forma de suposto diálogotem tido mais serventia para justificar um discursode participação social que na verdade não seefetiva. A limitação já se exprime na forma em queé feito, por meio da internet, serviço decomunicação a que menos de 15% da populaçãodispõe de acesso.

Há também o instrumento das audiências pú-blicas, seminários e eventos similares. Porém, elesgeralmente funcionam como a consulta, com po-der limitado de intervenção da sociedade, ocor-rem em espaços restritos (fisicamente), com divul-gação pequena (voltada unicamente aos principaisatores políticos do setor), e quase sempre aconte-cem apenas na capital federal. Em geral, são con-vocados pelo legislativo no momento do debatesobre propostas em tramitação nas casas (Câmarados Deputados e Senado Federal).

A 6 - Participação efetiva por parte de todos os elementos dasociedade civil na preparação, implementação e avaliação deestruturas e políticas de governança da mídia.

A 6.1 - Consultas públicas abertas e extensivas e participação nodesenvolvimento de políticas para a mídia, inclusive em instituições e fóruns inter-governamentais.

27.27.27.27.27. Anexo da Resolução Anatel 270/0128.28.28.28.28. Anexo à Portaria 313, de 23/06/03

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Em sua maioria, os movimentos sociais e asorganizações civis do campo da comunicação nãopossuem propostas estratégicas nem discutemregularmente a respeito da existência de instru-mentos de participação na formulação e avaliaçãode políticas da área de comunicação. Há uma for-mulação encontrada notadamente no programado Fórum Nacional pela Democratização daComunicação (FNDC), que trata de controle públi-co e de espaços e instrumentos para que isso ocor-ra. Porém, não há iniciativas concretas (com exce-ção da luta pela instalação do Conselho de Comu-nicação Social, que será tratada no item A 6.3) nemreivindicações por espaços e instrumentos quetenham ganhado a pauta dos movimentos sociaise do Estado. Geralmente, os movimentos sociaise as entidades atuam em questões pontuais eparticipam destes espaços com suas contribuições,mas sem a garantia de que suas opiniõesprovocarão mudanças efetivas ou serão, pelomenos, levadas em consideração.

O ouvidor da Anatel, em palestra proferida noConselho de Comunicação Social do Congresso,lembrou que as contribuições feitas às consultaspúblicas realizadas pela agência são origináriasem grande medida dos “setores econômicos” dacomunicação. No entanto, a participação nasconsultas não é o meio principal de atuação dessessetores, e sim o lobby no Congresso Nacional enas esferas políticas em que determinada pautaestá sendo encaminhada. Dois exemplos são aatuação das grandes empresas de telefonia juntoao ministro da Fazenda brasileiro, Antônio Palocci,em 2003, para evitar que o então ministro dasComunicações, Miro Teixeira, suspendesse oreajuste das tarifas de telefonia por parte da Anatel;e as constantes demonstrações, visitas e reuniõesfeitas por representantes dos modelos de TV digitaldos EUA (ATSC), da Europa (DVB) e do Japão (ISDB)junto a dirigentes do Executivo envolvidos nadefinição do Sistema Brasileiro de Televisão Digi-tal.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

A reflexão acerca da criação de instrumentosque reforcem o sentido “público” das políticas paraa área da comunicação ganhou novamente a pau-ta da sociedade com as propostas de Lei doAudiovisual, do Conselho Federal de Jornalismo edo Sistema Brasileiro de Televisão Digital, játratadas anteriormente. Com o debate pautadosobre a cultura, a informação e a difusão destescomo elementos estratégicos, as discussõesreacenderam a divergência entre, de um lado, osmovimentos sociais e as entidades de classe ecomprometidas com o direito à comunicação e,de outro lado, o empresariado de comunicação.Enquanto os representantes do empresariadousam seus veículos para defender seu modelo demercado desregulado e concentrador, osmovimentos sociais pedem espaços de debatemais abertos e participativos.

Essas pressões produziram resultado, mesmoque limitado, em algumas destas pautas. No casoda proposta de Lei do Audiovisual, como já foiapontado, o Ministério da Cultura colocou oprojeto em consulta pública na Internet (lembran-do do caráter excludente deste meio), mas não selimitou a isso, realizando audiências em váriospólos de produção audiovisual para debater coma sociedade, além de promover ampla discussãono Conselho Superior de Cinema, instância doExecutivo com representação da sociedade civilorganizada da área do audiovisual.

A discussão acerca do Sistema Brasileiro de Te-levisão Digital vinha sendo feita basicamente emâmbito estatal, antes na esfera da Anatel e não doMinistério das Comunicações. Várias entidadesprotestaram reivindicando a ampliação do debatepor meio da criação de espaços institucionaisparticipativos e ações como a realização deaudiências públicas nas Assembléias Legislativasde todas as unidades da Federação. Foi criado umComitê Consultivo que, embora limitado – comotodos os instrumentos consultivos (como jáexplicitado acima) –, passou a ser um espaço ondeo Executivo tem de prestar contas sobre o processoe tem de ouvir as entidades do setor.

29.29.29.29.29. www.fndc.org.br/doc_historico/data/programa.doc30. www.senado.gov.br/web/comissoes/ccs/palestra.asp

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A6.2. Meios efetivos e dinâmicos que façam com que preocupações ereclamações públicas sejam ouvidas e atendidas, de acordo com as políticas demídia.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Lei Geral das Telecomunicações (9.472/97)prevê como parte da estrutura da Agência Nacio-nal de Telecomunicações (Anatel) uma ouvidoriaque tem como função dar mais transparência aoórgão e aproximar a agência da sociedade. Amesma norma estipula que o ouvidor será indicadopelo Presidente da República para um mandatode dois anos.

Ele tem acesso a todos os assuntos e conta como apoio administrativo que lhe for necessário,“competindo-lhe produzir, semestralmente ouquando oportuno, apreciações críticas sobre a atu-ação da Agência, encaminhando-as ao ConselhoDiretor, ao Conselho Consultivo, ao Ministério dasComunicações, a outros órgãos do Poder Executi-vo e ao Congresso Nacional, fazendo publicá-laspara conhecimento geral” . A norma garante tam-bém ao ouvidor independência e estabilidade nocargo, não o submetendo hierarquicamente a ne-nhuma das instâncias da agência.

A resolução 107/99 da ANATEL cria o Comitêde Defesa dos Usuários de Serviços de Telecomu-nicações, uma instância da agência que visa re-presentar os interesses dos usuários, especialmen-te nas modalidades Serviço de Telefone FixoComutado (STFC) e Serviço Móvel Pessoal (SMP), etem como finalidade “assessorar e subsidiar o Con-selho Diretor da Anatel no exercício de suas com-petências legais em matéria de controle, prevençãoe repressão das infrações dos direitos dos usuári-os de Serviços de Telecomunicações”.

É papel do comitê apresentar ao Conselho Di-retor diretrizes para a avaliação, controle e acom-panhamento dos serviços por parte dos usuários,além de medidas e métodos de resoluções de pro-blemas, insatisfações e denúncias. Ele é compos-to de membros da Anatel e de representantes deusuários dos serviços fiscalizados pela agência.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

A Ouvidoria da Anatel, ainda que seja restritaao âmbito das telecomunicações, tem se mostra-do bastante atuante. Apresenta relatórios regula-

res, normalmente semestrais, com grande densi-dade; participa de debates públicos; sugere pro-cedimentos e cobra medidas do Conselho Diretorpara que os objetivos da Agência sejam atingidos.A Anatel possui ainda um serviço de atendimentopor telefone gratuito que se coloca como canal deacesso da população à agência. Só em 2004começou a ter efeito a fiscalização da Anatel, queapertou o cerco contra as operadoras móveis. AAgência tem publicado um ranking dasoperadoras com mais reclamações e daquelas quemais dão encaminhamento às reclamaçõesrecebidas. Em 2005, a Anatel anunciou a intençãode praticar o mesmo rigor em relação àsoperadoras de telefonia fixa. Contudo, este direitodo usuário muitas vezes serve para legitimar apolítica da Anatel, como o número 0800 33 2001,pelo qual o cidadão pode denunciar rádios nãolegalizadas (apontadas como “clandestinas”)32.

O Comitê de Defesa dos Usuários de Serviçosde Telecomunicações ainda não se consolidou defato. A última reunião ocorreu em dezembro de2000. Depois disso, ficou cerca de dois anos es-quecido pela direção da Anatel e somente apóscobrança do ouvidor foi colocado em processo dereativação, estado em que se encontra até hoje.Existe ainda um projeto de lei (PL 110/95), de au-toria do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que pro-põe a criação de um serviço de ouvidoria (deno-minado “serviço de atendimento ao público”) nasemissoras de rádio e TV do país. Entretanto, o PLfoi arquivado em 1999. Atualmente, a Folha deS.Paulo é um dos poucos veículos que conta comum ombudsman, com mandato fixo, estabilidadeno emprego e independência em relação à linhaeditorial do jornal.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

Nos últimos anos, houve um enfraquecimentoda atuação da sociedade civil na área detelecomunicações, que após a privatização ficouprincipalmente a cargo do movimento sindical, nocaso a Federação dos Trabalhadores em Empresasde Telecomunicações (Fittel). É relativa a análisesobre um possível abrandamento da atuação da

31.31.31.31.31. Lei 9.472/97, artigo 4532.32.32.32.32. O papel da Anatel na repressão às rádios livres e comunitárias não-legalizadas já foi abordado no item A5.

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Fittel em relação ao governo federal, mas é possí-vel dizer que suas relações com o Executivo ga-nharam força na gestão de Luiz Inácio Lula da Sil-va, quando a federação indicou o primeiro Secre-tário-Executivo do Ministério das Comunicações,José Guimarães Palácios, e o presidente da Anatelnaquele exercício, Pedro Jaime Ziller, além do pró-prio ouvidor da agência, Aristóteles dos Santos.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Todas as iniciativas que vão no sentido de efe-tivar as reivindicações dos movimentos sociais,sejam da área de comunicação ou não, já foramrelatadas em outros atributos e indicadores. Elespassam pela campanha “Quem financia a baixariaé contra a cidadania”, pela reivindicação de umConselho de Comunicação Social (CCS) com poderde definição de políticas e pelos processosdecisórios da área de comunicação.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Constituição Federal, em seu artigo 224, pre-vê que o Congresso Nacional instituirá, “como seuórgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Soci-al”. Sua regulamentação aconteceu por meio daLei 8.389/91, que definiu como suas atribuições arealização de estudos, pareceres, recomendaçõessolicitadas pelo Congresso Nacional a respeito detemas como: “a) liberdade de manifestação dopensamento, da criação, da expressão e da informa-ção; (...) d) produção e programação das emissoras derádio e televisão; e) monopólio ou oligopólio dos meiosde comunicação social; (...) g) promoção da culturanacional e regional, e estímulo à produção indepen-dente e à regionalização da produção cultural, artísticae jornalística; (...) j) propriedade de empresajornalística e de radiodifusão sonora e de sons eimagens”, entre outros. Ele é composto de repre-sentantes dos trabalhadores, empresários e demembros da sociedade civil, que têm mandatosde dois anos, com direito à recondução.

Existem também experiências de conselhos deabrangência não nacional no Brasil, cada um de-les com atribuições diferentes. Há conselhos ematividade no Estado de Alagoas e em algunsmunicípios, como Porto Alegre (RS), Goiânia (GO)e São Gonçalo (RJ).

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Apesar de ter sido incluído na Constituição Fe-deral de 1988, a materialização efetiva do Conse-lho de Comunicação Social só ocorreu catorze anosdepois, em junho de 2002, quando foram nomea-dos e empossados os conselheiros titulares e su-plentes para a primeira gestão. É importante res-saltar que o CCS só foi instalado como fruto debarganha política33. No final de 2001, após passarmais de cinco anos parada no Congresso Nacio-nal, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC)que permitia a entrada de capital estrangeiro na

mídia nacional foi rapidamente colocada como pri-oridade na pauta do parlamento, por conta da cri-se financeira que assolou as empresas de comuni-cação de capital nacional. Em poucos meses, foiaprovada na Câmara e no Senado.

A instalação do CCS foi uma contrapartidaexigida pelos partidos de oposição para que estesaceitassem a aprovação da PEC. Esta negociaçãotambém incluiu a composição do Conselho. Ao fi-nal, sua formatação foi muito ruim para os inte-resses da sociedade civil organizada, com a eleiçãode um ex-advogado do jornal O Estado de S. Paulo,o empresário da RBS Jayme Sirotsky e notáveis quenão representavam ninguém senão eles mesmosnas vagas da sociedade civil. No final de 2004,foram indicados os nomes para a segunda gestãodo CCS. A composição ficou ainda pior para asociedade civil, com as vagas desse campo sendoocupadas por empresários da comunicação,setores ligados à Igreja Católica, um advogado demilitância reconhecidamente conservadora e umex-jornalista com ligações históricas com gruposde mídia privada.

Hoje, decorridos dois anos de sua existência, oConselho de Comunicação Social sofre inúmerosquestionamentos, inclusive internos, por parte dealguns conselheiros. As principais críticas se diri-gem às limitações regimentais do órgão. Sendomeramente uma instância consultiva, nada garanteque as posições do Conselho sejam acatadas peloparlamento. Além disso, a composição do órgão érestrita (4 representantes do empresariado, 4 re-presentantes dos trabalhadores e 5 da sociedadecivil), ficando longe de representar minimamentea diversidade cultural e política dos segmentosda sociedade brasileira e até mesmo do campo dacomunicação.

O único benefício percebido pela maioria dosatores políticos que analisam o CCS é a inserçãodos debates da área na esfera do Estado. O Conse-lho opera através de reuniões presenciais ordiná-rias, sessões extras, audiências públicas econgêneres. A regra geral das reuniões é a polari-

A6.3. Mecanismos permanentes para participação independente e direta dopúblico na revisão e implementação de políticas em curso, de mododescentralizado quando apropriado – por exemplo, através de conselhos públicose conferências públicas periódicas, que contem com ampla participação dasociedade civil.

33.33.33.33.33. As teses que mostram as posições em relação a este processo pelos atores podem ser vistas no sítio do Fórum Nacional pelaDemocratização da Comunicação, www.fndc.org.br/IX_plenaria/data/Lista_de_Teses.html

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zação do debate entre os representantes doempresariado da mídia e a “bancada” das catego-rias de trabalhadores presentes no Conselho.

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Os atores que atuam nesse campo são os mes-mos citados nos indicadores anteriores: FNDC (es-pecialmente Federação Nacional dos Jornalistas eFederação Interestadual de Trabalhadores em Rá-dio e Televisão) e Congresso Brasileiro de Cinema,no campo da sociedade civil. Pelo empresariado,a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio eTelevisão (Abert) e a Associação Brasileira deRadiodifusores (Abra) e outras entidades patronais.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Sabe-se que estão aumentando, por parte dasociedade, em várias localidades do país, as açõesde pressão em prol da criação de conselhos muni-cipais e estaduais de comunicação. Movimentos

neste sentido existem nos estados do Acre, MinasGerais (cuja Constituição Estadual prevê o órgão,desde 1989), Pará, Paraíba, Paraná, Piauí, Rio deJaneiro, Rio Grande do Sul, São Paulo (através dosmovimentos de direitos humanos) e Roraima.

Em Porto Alegre também ocorreu uma Confe-rência Municipal de Comunicação, onde foramdeliberadas propostas que, caso fossem acatadase implementadas pelo poder público local (comoo aperfeiçoamento do Conselho Municipal de Co-municação), poderiam alterar bastante o quadroda comunicação local.

Em 2004, teve início também um movimentoem busca da realização da primeira edição de umaConferência Nacional das Comunicações. Em outroscampos, como Meio Ambiente, Direitos Humanosetc., conferências nacionais, precedidas de etapasestaduais e municipais, vem acontecendo, commais intensidade, desde 2003. Apesar de inúmerosproblemas verificados em vários momentos doprocesso, as conferências têm servido paramobilizar e organizar a sociedade, assim comocapilarizar as discussões relacionadas às políticaspúblicas de cada setor.

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A6.4. Mecanismos e instrumentos de auto-governança, desenvolvidos e utilizadospela sociedade civil, reconhecidos ou não pelo governo.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Como mecanismo de auto-governança, existeo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIBr),criado pela Portaria Interministerial 147, de 31/05/95, e alterado por inúmeras normas até a atualforma, dada pelo Decreto 4.829/03. Originalmen-te, o Comitê foi vinculado aos Ministérios dasComunicações (MC) e de Ciência e Tecnologia(MCT), mas com o último decreto ele assumiu per-sonalidade jurídica própria. Sua função é coorde-nar e implementar todas as atividades necessári-as à gestão eficiente e qualificada dos serviços deInternet. Isso significa operar desde a atribuiçãode endereços IP e registro de nomes de domíniosaté a recomendação de padrões e procedimentostécnicos para o desenvolvimento do setor, entremuitas outras tarefas.

Ele é formado por representantes do PoderPúblico (Ministérios, Executivos Estaduais, Anatele Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico); de empresários (provedoresde conteúdo e infra-estrutura, indústrias de ele-trônicos e empresas usuárias); do terceiro setor eum de notório saber no tema. A eleição das cadei-ras do terceiro setor é feita de forma democráticaentre as entidades que atendam às exigências dalegislação e que se cadastrem em determinadoprazo antes da eleição.

O CGIBr é a primeira experiência mundial deum órgão nacional de governança da internet ater representantes eleitos.

Na área da publicidade, foi instituído em 1980o Conselho Nacional de Auto-RegulamentaçãoPublicitária (Conar). Ele é a organização que enca-minha e opera o Código de Auto-RegulamentaçãoPublicitária, uma resposta das entidades e empre-sas da área a uma lei que estava sendo elaboradapelo governo federal no final da década de 70,durante a ditadura militar, que instituía uma cen-sura prévia para a publicidade. A finalidade doConar, de acordo com o artigo 5º de seu EstatutoSocial, é “zelar pela comunicação comercial, sobtodas as formas de propaganda, fazendo obser-var as normas do Código Brasileiro de Auto-Regu-lamentação Publicitária, que prevalecerão sobrequaisquer outras”.

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Em julho de 2004, foi realizada a eleição dosintegrantes do CGIBr. A composição do Comitê visacontemplar diversos setores da comunidade bra-sileira intrinsecamente relacionada à internet:quatro representantes do setor empresarial (pro-vedores de acesso, conteúdo, infra-estrutura, in-dústria de telemática e usuários empresariais) eseus respectivos suplentes; quatro representantesdo terceiro setor e seus respectivos suplentes etrês representantes da comunidade científica etecnológica e seus respectivos suplentes. Além dedez membros indicados pelo Poder Público.

Já o Conar trabalha sob demanda, ou seja, sóatua quando há formulação de denúncia sobre"quebra da ética publicitária", formulada por seusassociados, por seus integrantes ou por outrosatores da sociedade. Ao longo de 24 anos defuncionamento, julgou mais de 4 mil casos. Em2003, instaurou 368 processos.

Apesar disso, é explícito, hoje, o abismo entrea "ética publicitária" e a realidade da propagandacomercial. Diariamente é possível constatar osabusos cometidos através da difusão de estereóti-pos que estimulam a discriminação e o preconcei-to dos mais variados tipos, atentando assim con-tra os direitos humanos, especialmente de seg-mentos marginalizados e minorizados. O fato deo Conar ser uma entidade de "pares julgando pares"torna sua eficácia questionável.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

Embora o Brasil seja um dos países que tevecrescimento mais rápido em relação ao númerode usuários conectados à rede mundial de com-putadores, o debate sobre a governança naInternet ainda caminha a passos lentos dentro dasentidades e organizações que historicamente dis-cutem a comunicação. Na parte da sociedade ci-vil, a entidade com maior conhecimento na área éa Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits),que possui um dos membros da sociedade civilno CGIBr. Outro ator que se destaca na sociedadecivil é o Projeto Software Livre Brasil, que elegeu

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um dos conselheiros e tem grande força internaci-onal, já tendo realizado uma série de fóruns noBrasil, mais especificamente na cidade de PortoAlegre, e conseguindo pautar setores do governobrasileiro para a questão do software livre, comoo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação(ITI). O ITI tem sido uma das principais vozes nodebate interno do governo federal, defendendo ouso do conhecimento compartilhado e, em rela-ção à internet, trabalhando para construir a visãono CGIBr da defesa em âmbito internacional daproposta de transferir a gestão da rede mundialpara um organismo ligado à ONU.

O Conar é formado por um Conselho Superiore um Conselho de Ética, que julga os casos e pos-sui 132 conselheiros. Ele trabalha com violaçõescomo propaganda comparativa, responsabilidadesocial, ferimento do direito autoral, apresentaçãoinverídica do produto, omissão de frase de adver-tência e falta de adequação às leis. O Conar pos-sui grande legitimidade dentro do setor publici-tário pela sua composição, que reúne as maioresagências do país, e pela sua gênese, pois foi umasaída para evitar a intervenção da ditadura militarno conteúdo das propagandas veiculadas no finalda década de 70.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O Comitê Gestor da Internet no Brasil tem umárduo desafio pela frente. O primeiro é ganhar le-gitimidade e navegar em um terreno semprecendentes no país (o de uma instituição deauto-governança); o segundo é de conseguir or-ganizar as políticas de gestão da internet no Bra-sil; o terceiro é o de se posicionar em relação aosprocessos internacionais. Estão na pauta do co-mitê, em âmbito interno, o debate sobre a políti-ca de universalização dos serviços de telecomuni-cações com recursos do Fundo de Universalizaçãodos Serviços de Telecomunicações (Fust), criadopara financiar este processo, e o Serviço deComunicação Digital, proposta feita pelo governofederal para utilização desses recursos. Em âmbitoexterno, a discussão sobre a governança na rede,sobre a qual o Brasil tem construído posição jáexplicitada neste estudo de defender a gestão dainternet por um organismo ou fórum ligado à ONU,garantindo um processo transparente, multilaterale com participantes dos diversos setores (multi-stakeholder).

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No Brasil, qualquer análise sobre as possibili-dades de acesso ao conhecimento deve conside-rar a extrema desigualdade da estrutura social eeconômica nacional. Parcela significativa da po-pulação não tem acesso a bens materiais que re-produzem o conhecimento gerado pelos diferen-tes segmentos da sociedade, no Brasil e no mun-do. As reflexões sobre um regime que propicie acirculação da informação e da cultura no país de-vem considerar que, enquanto não for radicalmen-te superado esse quadro de desigualdades, nãoserá possível alcançar um regime equilibrado departilha e acesso igualitário às obras e criações.

Pilar BPilar BPilar BPilar BPilar BRetomando o Retomando o Retomando o Retomando o Retomando o uuuuuso do so do so do so do so do ccccconhecimentoonhecimentoonhecimentoonhecimentoonhecimentoe do domínio públicoe do domínio públicoe do domínio públicoe do domínio públicoe do domínio público

É indispensável, portanto, considerar a reali-dade socioeconômica do país não somente paraavaliar as atuais regras que regem o uso do co-nhecimento, como também para considerar asações dos poderes públicos e dos diversos atoresda sociedade civil. Como veremos, o atual forma-to das leis que regem a propriedade intelectualno Brasil – assim como no restante do mundo –não é o mais apropriado para o estímulo dacriatividade e para o desenvolvimento cultural,social e econômico dos indivíduos e dos grupossociais.

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B1: Um regime equilibrado de partilha do conhecimentoque assegure que o conhecimento gerado ou disseminado porempresas, canais e setores de comunicação esteja disponível paratodos de modo igualitário e acessível financeiramente, e queencoraje a criatividade da forma mais ampla possível por toda asociedade.

B1.1 Uma estratégia nacional e uma orientação política com relação a criação,disseminação e uso do conhecimento (especialmente copyright e incluindomateriais e softwares educacionais publicados e transmitidos) cujos objetivosexplícitos sejam enriquecer o domínio público, satisfazer as várias necessidadespor conhecimento, e encorajar a criatividade de todos os setores da sociedade.Isto pode ser expresso em termos de posições e políticas sobre Direitos dePropriedade Intelectual (IPR), em uma ‘sociedade da informação’ ou uma“economia do conhecimento”, em mídia e outras áreas, tanto nacionalmentecomo em organizações, acordos e tratados internacionais.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Constituição FederalConstituição FederalConstituição FederalConstituição FederalConstituição FederalArt. 5º. Todos são iguais perante a lei sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no país ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igual-dade, à segurança e à propriedade, nos termosseguintes:

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo deutilização, publicação ou reprodução de suas obras,transmissível aos herdeiros pelo tempo que a leifixa;

XXVIII - são assegurados nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obrascoletivas e à reprodução de imagens e voz huma-nas, inclusive nas atividades desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô-mico das obras que criarem ou de que participa-rem aos criadores, aos intérpretes, e às respecti-vas representações sindicais e associativas;

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos in-dustriais privilégios temporários para sua utiliza-ção, bem como proteção às criações industriais, àpropriedade das marcas, aos nomes de empresase a outros signos distintivos, tendo em vista o inte-resse social e o desenvolvimento tecnológico e eco-nômico do país;

Para a construção de um regime equilibradode partilha do conhecimento, o direito garantidono artigo 5º da Constituição Federal – deexploração comercial das obras pelos autores oupor aqueles cujo direito foi cedido pelo autor –deve ser balanceado com outros direitos humanosigualmente positivados na Constituição, como odireito à educação e à cultura. Como todo direito,o direito autoral não é absoluto. As legislaçõescomplementares sobre direito autoral – para quenão haja abuso deste direito – ao serem formuladase debatidas (especialmente nas questões relativasaos limites do direito autoral), devem considerara existência de outros direitos, em especial os con-tidos no Capítulo III da Constituição:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Es-tado e da família, será promovida e incentivada coma colaboração da sociedade, visando ao pleno de-senvolvimento da pessoa, seu preparo para o exer-cício da cidadania e sua qualificação para o traba-lho.

Art.215. O Estado garantirá a todos o pleno exercíciodos direitos culturais e acesso às fontes da culturanacional, e apoiará e incentivará a valorização edifusão das manifestações culturais.

O Brasil no ordenamento jurídico internacional O Brasil no ordenamento jurídico internacional O Brasil no ordenamento jurídico internacional O Brasil no ordenamento jurídico internacional O Brasil no ordenamento jurídico internacionalNo plano internacional, o Brasil é signatário

das principais convenções e tratados sobre pro-priedade intelectual. Entre os acordos sobre direi-

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tos autorais e conexos estão a Convenção de Ber-na relativa à Proteção das Obras Literárias e Artís-ticas, de 1886; a Convenção sobre Direito de Au-tor; a Convenção Internacional de Roma para aProteção aos Artistas Intérpretes ou Executantes,aos Produtores de Fonogramas e aos Organismosde Radiodifusão, de 1961; a Convenção de Gene-bra para a Proteção de Produtores de FonogramasContra a Reprodução não Autorizada de seusFonogramas, de 1971; e o Tratado sobre o Regis-tro Internacional de Obras Audiovisuais (TratadoSobre Registro de Filmes), de 1989.

No âmbito da Organização dos EstadosAmericanos (OEA), o Brasil ratificou a ConvençãoInteramericana sobre os Direitos de Autor emObras Literárias, Científicas e Artísticas.

O Brasil também ratificou, em 1995, o Acordosobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Inte-lectual Relacionados ao Comércio (TRIPS1), queintegra o Acordo Constitutivo da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), assinado pelo Bra-sil em 19942. O Acordo TRIPS, apesar de ter en-trado em vigor em 1995, tornou-se eficaz no Brasilapenas no início do ano 2000. Após longoslobbies dos EUA – com a colaboração da Europae do Japão – o tema da propriedade intelectualpassou a ser tratado eminentemente como umbem econômico.

Nesse sentido, o TRIPS significou uma grandevitória dos países industrializados e detentoresda maior parcela de direitos de propriedade in-telectual. Em termos práticos, o TRIPS trouxe doisresultados:

a) um amplo e forte patamar mínimo de pro-teção a diversos direitos de propriedade inte-lectual;

b) uma direta responsabilidade legal para ma-nutenção e promoção dos direitos de proprieda-de intelectual a ser observada por todos os mem-bros signatários do TRIPS, já que passou a serpossível aplicar sanções a países que não respei-tem o disposto no acordo.

Lei 9.610/98: adequação ao Acordo TRIPS Lei 9.610/98: adequação ao Acordo TRIPS Lei 9.610/98: adequação ao Acordo TRIPS Lei 9.610/98: adequação ao Acordo TRIPS Lei 9.610/98: adequação ao Acordo TRIPSEm 1998, foi aprovada no Congresso Nacional

e sancionada pelo presidente da República, à épo-ca Fernando Henrique Cardoso, a Lei 9.610, quealterou, atualizou e consolidou a legislação ante-rior sobre direitos autorais, datada de 1973. A Lei

9.610/98, a principal sobre direito autoral no Bra-sil, procurou responder às transformações impos-tas pelo desenvolvimento das novas tecnologiase às possibilidades de armazenamento e reprodu-ção de cópias de produções artísticas em suportesdigitais. A intenção dos legisladores foi, claramen-te, a de conciliar a legislação brasileira com asnormas estabelecidas no Acordo TRIPS.

Em alguns casos, apesar de o TRIPS não exi-gir proteção extrema, a legislação brasileira, deforma equívoca – tendo em vista o estágio dedesenvolvimento deste país ao tempo da criaçãoda legislação pertinente – concedeu direitos maisamplos aos detentores de propriedade intelectu-al, numa clara pressão exercida pela indústria es-trangeira.

Logo após o TRIPS, vale ressaltar, o Brasil tam-bém aprovou a Lei de Propriedade Industrial3, em1996, e, em 1997, a Lei de Cultivares4. Somadas àlei sobre direito autoral e à que versa sobre osprogramas de computador (Lei 9.609/98), consti-tuem as principais regras jurídicas que adequa-ram o ordenamento brasileiro ao TRIPS.

A Lei de Direitos Autorais de 1998 define osdireitos morais dos autores (artigos 24 a 27), comoo direito ou prerrogativa que tem aquele que criouuma obra intelectual de defendê-la como atributode sua própria personalidade. Todavia, vale res-saltar que o TRIPS, por tratar-se de um acordo comfins comerciais, não obriga os países signatários apreverem estes direitos em seus ordenamentosjurídicos internos. Tal entendimento provém datradição anglo-saxã, liderada pelos EUA e basea-da no common law, em que os direitos são funda-mentados nos costumes e na tradição, e não emleis codificadas. Segundo esta concepção, não exis-te proteção aos direitos morais. Por outro lado, aexistência de um direito eminentemente econô-mico, chamado de “direito de cópia”, ou“copyright”, constituiu-se num dos pilares do ca-pitalismo, ao transformar conhecimento em mer-cadoria.

Nos artigos 28 a 45, a Lei de Direitos Autoraisdefine os chamados direitos patrimoniais do au-tor, garantindo ao titular ou ao cessionário do di-reito autoral o monopólio da exploração materialdas obras (art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivode utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística oucientífica), conferindo ao autor da obra intelectual

1.1.1.1.1. Na maioria dos países de língua latina o TRIPS (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) é conhecido como ADPIC.Entretanto, por ser comumente empregado no Brasil, usaremos neste relatório a sigla em inglês.2.2.2.2.2. O TRIPS passou a se aplicado no Brasil a partir do Decreto Legislativo 30, de 15/12/1994 e do Decreto Federal 1.355, de 30/12/1994.3.3.3.3.3. Lei 9.279/96. Também faz parte da legislação sobre propriedade industrial o Decreto 2.553/98.4.4.4.4.4. Lei 9.456/97

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5.5.5.5.5. Conhecidas popularmente como “gatos”, as ligações clandestinas de TV a cabo são prática comum tanto em favelas como emcondomínios de classe média.

a prerrogativa de auferir vantagens pecuniáriascom a utilização da obra e ser remunerado porsua exploração econômica. Tal exploração podeser realizada pelo próprio autor ou por pessoaautorizada por ele(a), conforme ficar estipuladoem contratos nos quais artistas cedem os direitosa terceiros (artigos 49 a 67).

Há que se destacar, também, a existência dos“direitos conexos” (artigos 89 a 96), ou seja, a leiassume que o produtor do fonograma, do livroou da obra audiovisual, por exemplo, detém algu-ma interferência no resultado autoral das obrasque promove. Neste caso, o direito autoral se con-funde, quase que em definitivo, com a lógica daprodução industrial. Confusão esta que só aumentapor ser o Brasil o único país que possui apenasum órgão para arrecadar tanto os direitos auto-rais quanto os direitos conexos.

Por fim, a lei versa sobre as sanções civis aosvioladores dos direitos autorais (artigos 102 a110), que serão, também, objeto do Código Civil(artigos 186 e 927).

A Lei 5.988 de 1973 – anterior à atual – quandoda promulgação da atual Lei de Direitos Autorais(Lei 9.610), não foi completamente revogada.Manteve-se o artigo 17 (§ 1º e 2º), que possibilitao registro das obras pelos autores em instituiçõesmantidas pelo Estado brasileiro, como a BibliotecaNacional, a Escola de Música e a Escola de BelasArtes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, oInstituto Nacional do Cinema e o Conselho Federalde Engenharia, Arquitetura e Agronomia. As regraspara o registro são estabelecidas por cada umadessas entidades.

Lei 10.695/03 (Lei Anti-pirataria) Lei 10.695/03 (Lei Anti-pirataria) Lei 10.695/03 (Lei Anti-pirataria) Lei 10.695/03 (Lei Anti-pirataria) Lei 10.695/03 (Lei Anti-pirataria)A Lei 10.695 de 2003, mais conhecida como

Lei Anti-Pirataria, alterou o Código Penal e o Códi-go de Processo Penal, elevando as penas e os ti-pos penais para os violadores de direitos auto-rais. A pena mínima para a prática de contrafaçãocom o intuito de lucro, a partir de 2003, passoude um para dois anos.

Código PenalCódigo PenalCódigo PenalCódigo PenalCódigo PenalArt. 184 - Violar direitos de autor e os que lhe são

conexos:Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou

multa.

§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ouparcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por

qualquer meio ou processo, de obra intelectual,interpretação, execução ou fonograma, sem auto-rização expressa do autor, do artista intérprete ouexecutante, do produtor, conforme o caso, ou dequem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-ta.

§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com ointuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende,expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire,oculta, tem em depósito, original ou cópia de obraintelectual ou fonograma reproduzido com viola-ção do direito de autor, do direito de artista intér-prete ou executante ou do direito do produtor defonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia deobra intelectual ou fonograma, sem a expressaautorização dos titulares dos direitos ou de quemos represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao públi-co, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ouqualquer outro sistema que permita ao usuário re-alizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determina-dos por quem formula a demanda, com intuito delucro, direto ou indireto, sem autorização expres-sa, conforme o caso, do autor, do artista intérpreteou executante, do produtor de fonograma, ou dequem os represente:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-ta.

§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quandose tratar de exceção ou limitação ao direito de autorou os que lhe são conexos, em conformidade como previsto na Lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de1998, nem a cópia de obra intelectual oufonograma, em um só exemplar, para uso privadodo copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

No parágrafo 3º, evidencia-se a intenção doslegisladores de incluir a prática de contrafação pelainternet, assim como das ligações clandestinas deTV a cabo5, tipificando como crime o oferecimen-to de arquivos digitalizados a terceiros.

Já o último parágrafo, apesar de estabelecerque não incorre nas penas dos parágrafosanteriores a prática sem fins lucrativos, dá margempara que as reproduções para uso próprio sejamenquadradas pelo caput do artigo, que prevê a penade três meses a um ano de detenção. Estainterpretação é freqüentemente utilizada nostribunais pelos advogados da indústria do direitode autor.

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Nesse sentido, deve-se questionar com veemên-cia o fato da legislação estabelecer, mesmo emcasos de reprodução sem fins lucrativos defonogramas, videogramas e obras literárias, umarelação com a esfera do Direito Penal, com penasrestritivas de liberdade. Pelo princípio da interven-ção mínima, não se deve encarcerar um ser huma-no por um ano, ou mesmo três meses, pela viola-ção de um direito autoral.

Além disso, a Lei Anti-pirataria alterou o Códi-go de Processo Penal, facilitando a busca e apre-ensão dos materiais reproduzidos ilegalmente,assim como os equipamentos utilizados paraviabilizar as reproduções. Da mesma forma, a novaredação do Código de Processo Penal atribuiu aostitulares de direito de autor a condição de fiéisdepositários de todos os bens apreendidos. Porfim, as alterações deram ao Judiciário o poder dedeterminar a destruição dos bens ilicitamente pro-duzidos ou reproduzidos e às associações de titu-lares de direitos de autor a possibilidade de funci-onar como assistente da acusação nos crimes pre-vistos no artigo 184 do Código Penal, quando pra-ticado em detrimento de qualquer de seus associ-ados6.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOO PAPEL DOS DIFERENTES AO PAPEL DOS DIFERENTES AO PAPEL DOS DIFERENTES AO PAPEL DOS DIFERENTES AO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESTENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O regime de partilha do conhecimento O regime de partilha do conhecimento O regime de partilha do conhecimento O regime de partilha do conhecimento O regime de partilha do conhecimentoA intenção dos legisladores, em 1998, foi con-

ciliar o ordenamento jurídico do período anterioràs normas estabelecidas no Acordo TRIPS. Ao mes-mo tempo em que procura dar proteção ao direi-to moral dos autores, a lei brasileira também visagarantir a integralidade do direito autoralpatrimonial e a respectiva proteção às reprodu-ções não autorizadas das obras. Na prática, pro-curam preservar o modelo desenvolvido no sécu-lo XX, com as indústrias audiovisual, fonográficae editorial mantendo o monopólio da difusão dacultura e do conhecimento. A substituição da Con-venção de Paris7 pelo TRIPS demonstra que entra-mos numa nova fase – especialmente radicalizada

pela revolução digital – de apropriação da infor-mação pela lógica da mercadoria.

Ao longo do século XX, o centro do capitalis-mo passou da produção industrial para o sistemafinanceiro. A racionalidade deste novo modelo deacumulação capitalista pressupõe que as leis queprotegem a propriedade estendam-se para alémdo produto e passem a incorporar os processosde criação, ou seja, passem a proteger o conheci-mento empregado nestes processos8. Este (o co-nhecimento), por sua vez, revela-se a nova basedo capitalismo e, para garantir o lucro dos deten-tores da informação, foi preciso impor barreirasao acesso deste bem e torná-lo um bem escasso.

As conseqüências mais visíveis desse processo,além da convergência tecnológica, são a progres-siva concentração da propriedade e a emergênciade um reduzido número de corporaçõestransnacionais de comunicação, assim como a fe-roz pressão da indústria do direito autoral sobreos governos nacionais. As recentes fusões dascorporações de comunicação são sintoma desseprocesso. Ao mesmo tempo em que se concen-tram os grupos com capital para financiar a pro-dução de informação e cultura, cresce a necessi-dade de controle da circulação dessa produçãopara garantir que o fluxo desses bens seja exclusi-vamente marcado por uma relação capitalista eque os lucros auferidos por essas companhias se-jam cada vez maiores9. O fato da propriedade in-telectual, e mais especificamente do direito auto-ral, passar a ser regido por um acordo de negoci-ações comerciais multilaterais da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) é símbolo dessatransformação. Vincular o tema da propriedadeintelectual ao comércio internacional foi, de fato,uma necessidade imposta para garantir aexploração comercial dos bens materiais esimbólicos produzidos nos países desenvolvidose exportados para os países em desenvolvimento,assim como os bens produzidos nos países emdesenvolvimento cujos direitos de exploração per-tencem a companhias transnacionais.

A universalização do neoliberalismo nas últi-mas décadas requereu, contraditoriamente, queos Estados se tornassem guardiões dessa relação

6.6.6.6.6. Para ver o texto completo da Lei 10.695/03, ver legislação consolidada em www.planalto.gov.br7.7.7.7.7. A Convenção Internacional para a proteção do Direito do Autor, revista em Paris a 24 de julho de 1971 foi ratificada no Brasilpela Lei 76.905 de 24/12/75.8.8.8.8.8. Um outro fator importante para o incremento da lógica da propriedade intelectual foi o crescimento exponencial do “trabalhomorto”, de caráter repetitivo, realizado pelo maquinário (cada vez mais sofisticado). Assim, o valor acrescido na mercadoria cadavez mais se deslocou para o campo do trabalho imaterial.9.9.9.9.9. A própria natureza intrínseca da informação tende a “facilitar” a sua reprodução. A informação tem custo de reprodução zero(ainda mais com a digitalização de seu suporte material) e não sofre (ao contrário de todas as demais mercadorias) a depreciaçãonatural do tempo (entropia).

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10.10.10.10.10. Termo bastante difundido no Brasil, a “pirataria” refere-se à reprodução não autorizada de produtos protegidos pelo direitoautoral com a clara finalidade de geração de lucro. Normalmente, esses produtos são reproduzidos em grande escala e depoisrepassados para o comércio informal.11.11.11.11.11. Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD)12.12.12.12.12. Os CDs de música piratas são vendidos, em média, por um preço cinco vezes menor. É imprecisa, entretanto, a afirmação deque a pirataria é a única ou principal causa das dificuldades atuais das majors. Porém, tal interferência existe e não pode serdesconsiderada. O relatório anual da ABPD, que congrega as cinco maiores gravadoras estrangeiras, ou majors (EMI, Sony, BMG,Universal e Warner), aponta uma queda de 17% em valores e de 25% no que diz respeito a unidades vendidas em 2003 em relaçãoa 2002.13.13.13.13.13. Isso se justifica porque a compra de um CD não autorizado não pode ser computada como uma possível compra de um CD“legal”, exatamente porque o que viabiliza o acesso aos produtos pela população é seu preço mais baixo. Fosse o valor dosprodutos ilegais semelhante ao praticado pela indústria, aí sim se poderia estabelecer uma relação direta entre um CD “pirata”comprado e um CD “legal” não comprado.14.14.14.14.14. Nesse sentido, o aumento do número de selos independentes – e de artistas de renome que a eles aderem – também pode,em certa medida, ser considerado uma das causas da queda nas vendas das majors.15.15.15.15.15. No Brasil, a despeito do crescente número de selos independentes, as cinco maiores gravadoras permanecem as majors.

comercial e passassem a regular a circulação dainformação e da cultura para atender a interessesprivados. A legislação autoral brasileira, ao prote-ger mais o direito daqueles que exercem a ativi-dade industrial de reprodução do suporte materi-al onde a obra está contida (direitos conexos) doque o criador propriamente, evidencia que o co-nhecimento, ou a cultura, transformou-se em mer-cadoria, passível de uma única forma de regulação:a que tenha como objetivo garantir o lucro da in-dústria do direito autoral. Dessa forma, protege-se não a criação, mas apenas a distribuição de umproduto.

O sistema de proteção da propriedade intelec-tual vigente, portanto, transforma os direitos doautor em “direitos da indústria” e, conseqüente-mente, o alto custo da aquisição de obras em di-ferentes suportes, num país com as característicasdo Brasil, torna inviável seu consumo pela maio-ria da população. As baixas vendagens das obras/produtos, em função do alto preço e do baixopoder aquisitivo da população, acabam por servircomo justificativa para o aumento dos preçosdessas mercadorias para que o lucro por unidadecompense o pequeno poder aquisitivo da maioriados indivíduos. Os altos preços desestimulamainda mais os consumidores, que vêem nosprodutos pirateados10 uma possibilidade legítimade ter acesso à informação e à cultura.

Segmento Musical Segmento Musical Segmento Musical Segmento Musical Segmento MusicalEssa realidade é evidente na indústria

fonográfica, onde os produtos piratas respondempor 63%11 das vendagens e têm sido, segundo exe-cutivos das grandes companhias, um dos diver-sos fatores de desestruturação das principais gra-vadoras12. Contudo, os diferentes números apre-sentados pelas empresas, entidades de gestão dedireitos autorais e órgãos de combate à piratarianão possibilitam estimar com precisão os “prejuí-zos” reais da indústria fonográfica e a sonegação

de impostos relacionados à venda de cópias nãoautorizadas13. Porém, o alto índice de pirataria,combinação do pequeno poder aquisitivo da po-pulação e da ausência histórica de políticas dedemocratização do acesso aos bens culturais, aca-ba por criar – e isso não se pode negar – umaindústria ilegal que possui vínculos estreitos como crime organizado. Tal relação tende a legitimaro discurso repressor da indústria do direito autorale dificulta o debate público sobre a necessidadeda reformulação do marco regulatório.

A lista dos 20 CDs e DVDs mais vendidos noBrasil em 2004 mostra a predominância decantores e cantoras nacionais no gosto doconsumidor. Os únicos nomes internacionaispresentes entre os CDs são o grupo U2 e acoletânea “Malhação Internacional 2004”. Entreos DVDs, 16 dos 20 títulos são de artistasnacionais. Quem lucra com isso, no entanto, nãoé o Brasil. As majors internacionais Universal, BMG,Sony, EMI e Warner são responsáveis por 14 dos20 CDs mais vendidos. No campo dos DVDs, oquadro se repete, com 15 entre os 20 maisvendidos sendo das transnacionais.

Paralelamente, a ausência de um modelo denegócio que se adapte às condiçõessocioeconômicas brasileiras, aliadas às transfor-mações tecnológicas atuais, tem criado as condi-ções para que, cada vez mais, compositores e in-térpretes abandonem as grandes gravadoras parase tornarem "independentes", voltando a contro-lar a publicação e comercialização das edições deseus trabalhos. Dessa forma, ao mesmo tempo emque não cedem seus direitos a terceiros, criamcondições de reformalização das relações comer-ciais que hoje aparecem como antagônicas aosdireitos autorais14.

É preciso reafirmar que a indústria do direitoautoral do segmento musical tem contribuídodecisivamente para o desvirtuamento das funçõespúblicas dos veículos de radiodifusão. As grandes

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gravadoras15 utilizam-se ininterruptamente de uminstrumento popularmente conhecido como“jabaculê”, ou “jabá”. Na prática, trata-se da com-pra pelas gravadoras de espaço nos veículos deradiodifusão para a inserção dos artistas cujos di-reitos de exploração das obras foram a ela cedi-dos. No rádio, em especial nos grandes e médioscentros urbanos, é o “jabá” que determina a gra-de de programação da maioria das rádios comer-ciais (e que possuem maior audiência). Na televi-são, a realidade não difere: parcela significativados programas musicais e “de auditório” determi-na os artistas que farão parte da programação emfunção das verbas que recebem das majors.

Atualmente, apesar de as grandes corporaçõesdo setor musical serem responsáveis por apenas16% dos discos de música brasileira lançados, seus“produtos” ocupam 97% da radiodifusão pública16.Por certo, o principal papel cumprido pelasmultinacionais tem sido o de impedir que o pú-blico tenha acesso à maior parcela do se produzmusicalmente no país. Mais do que um meio imo-ral e ilegal de promover as vendas, o jabá conver-teu-se numa forma intolerável de censura à pro-dução/distribuição cultural nacional, comprome-tendo a radiodifusão como um espaço de autênti-ca troca cultural.

O dispêndio das gravadoras com a compra ile-gal de espaço no rádio e na televisão pode serconsiderado, em conjunto com altos preços dosprodutos, uma das principais causas da progressi-va desestruturação financeira das majors no Brasile foi, assumidamente, a causa da falência daprincipal tentativa recente de criação de umagrande gravadora de capital nacional17.

Programas de computador Programas de computador Programas de computador Programas de computador Programas de computadorAs cópias não autorizadas de softwares propri-

etários (cujos valores no mercado informal podemser até 50 vezes mais baixos do que a licença deuso de um software proprietário) respondem pormais da metade do mercado brasileiro de progra-mas de computador. Para preservar seus lucros e

coibir a cópia de produtos não licenciados, as gran-des empresas de softwares de código fechado fi-nanciam intensas campanhas publicitárias em rá-dio, televisão, salas de cinema, internet e periódi-cos diários e semanais.

Tais campanhas, que promovem a relação sim-bólica entre o usuário de cópias ilegais e o crimeorganizado, somadas às multas aplicadas a umnúmero significativo de empresas que utilizavamsoftwares copiados ilegalmente, reduziram sensi-velmente a porcentagem de softwares piratas noscomputadores brasileiros. De 1994 a 2002, o ín-dice de softwares copiados sem autorização noBrasil passou de 77% para 55%. Devido ao cresci-mento de número de computadores no mesmoperíodo, tal redução, porém, não significou umdecréscimo em números absolutos de computa-dores com softwares copiados ilegalmente18.

Livros e bibliotecas públicas Livros e bibliotecas públicas Livros e bibliotecas públicas Livros e bibliotecas públicas Livros e bibliotecas públicasNo caso das fotocópias de livros, em especial

no uso relacionado à educação, houve, a partir de1998, uma pressão crescente das organizações deeditores, em especial da Associação Brasileira deDireitos Reprográficos (ABDR), para que os cen-tros de fotocópias de universidades passassem aser fiscalizados e impedissem a cópia de obrasacadêmicas e literárias.

O objetivo das pressões era reduzir as repro-duções completas ou de grandes trechos de livros.A influência coercitiva, na prática, dilui-se com otempo. Diante da impossibilidade de aquisição delivros pela maioria dos estudantes e da dificuldadena definição de “pequenos trechos”, como constana Lei 9.610, os centros de fotocópia continuam aser a principal fonte de material educacional im-presso19. Segundo pesquisa, estima-se que entre20 e 28 bilhões de páginas sejam copiadas porano nas universidades, ou seja, se o cálculo forfeito a partir do número de páginas, para cadalivro vendido, quatro são copiados20. Porém, comonão há uma definição possível para “pequenos tre-chos”, como consta na Lei 9.610/98, é impossível

16.16.16.16.16. Fonte: pesquisa de Sérgio Rubens de Araújo Torres, disponível em www.horadopovo.com.br/2004/julho/16-07-2004/pag8a.htm17.17.17.17.17. A Abril Music, que pertencia ao Grupo Abril, encerrou suas atividades em 2002. Alguns de seus executivos admitirampublicamente que a empresa não estava suportando financeiramente o custeio das “verbas de promoção”, novo rótulo para aprática do jabá.18.18.18.18.18. Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes)19.19.19.19.19. Há, entretanto, a continuidade de uma série de ações repressivas. Em todo o país, segundo a ABDR, mais de 90 ações forampromovidas só em 2004. Exemplos de outras ações já realizadas são: em outubro de 2002, foram apreendidas em copiadoras naUERJ cópias de 140 obras. Em outubro de 2003, uma ação policial no campus da UFRJ resultou na apreensão de 300 cópias deobras. Em abril de 2003, mais de 200 cópias de livros foram apreendidas na UNB. Em novembro de 2003, na cidade de Goiânia,foram apreendias 350 livros em copiadoras.20.20.20.20.20. Fonte: RIBEIRO, Ana Cláudia da Silva Paiva. Academia e Pirataria - O livro na Universidade. UFRJ, 2002. Segundo a ABDR, acópia de livros propicia perdas anuais de R$ 400 milhões às editoras. Entretanto, assim como no setor musical, não é possívelconsiderar que uma cópia de livro corresponderia à compra de outro. O baixo custo da cópia é que proporciona o acesso aoconteúdo pelos estudantes. Fosse a cópia impossível, assim como na música, a maioria não teria condições de comprar os livros.

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dizer quantas dessas cópias seriam “ilegais” se-gundo o ordenamento jurídico atual.

De fato, não há, pelo menos de maneira gene-ralizada, um entendimento por parte deprofessores, pesquisadores e alunos de que a cópiade livros constitui-se ato ilícito. Os docentes,inclusive, estimulam a prática com as chamadas“pastas de professor”, em que os docentesselecionam textos de diversas procedências paracompor a bibliografia de uma determinadadisciplina e deixam nas copiadoras de suasunidades de ensino.

A busca pelo controle das fotocópias nas esco-las e universidades, em parte, se explica pela somado restrito hábito de leitura e da dificuldade naaquisição de livros pela maioria da população.Entre os membros da classe A, 50% têm o hábitode ler; na B, 37%; na C, 27%, e na classe D, 21%. Asporcentagens são igualmente proporcionais aonível de escolaridade: grau superior, 55%; ensinomédio, 29%; 5ª a 8ª séries, 15%; 1ª a 4ª séries,10%21. O “desinteresse” pela leitura está ligado,portanto, não somente a razões econômicas, mastambém culturais/educacionais, visto que não po-demos atribuir o pouco hábito de leitura exclusi-vamente à impossibilidade de aquisição de livros.Como mostram os números, as classes A e B tam-bém não lêem como suas equivalentes em outrospaises do mundo, como a Argentina e o México.

Segundo aponta pesquisa recente, apenas 26milhões dos brasileiros leram ao menos um livronos últimos três meses, o que corresponde a 30%da população adulta alfabetizada. O mercado con-sumidor é ainda menor: 17,2 milhões de pessoasalfabetizadas acima de 14 anos compraram pelomenos um livro no ano de 200022. Somentemetade (53%) dos brasileiros alfabetizados possuimais de dez livros em casa.

A concentração do poder aquisitivo, sintomade uma sociedade desigual como a brasileira, re-flete também a desigualdade do poder de comprade livros. No Brasil, 16% da população concentram73% dos livros adquiridos por pessoas físicas. Emseis estados das regiões Sul e Sudeste concentram-se mais da metade dos compradores (58%). Segun-do revela a mesma pesquisa23, metade dos livroslidos atualmente não são comprados. Ou seja, sãoemprestados ou doados.

A tabela acima, que relaciona a venda de livrosacadêmicos/universitários e a evolução dasmatrículas no ensino superior, ajuda a dimensionaressa relação. Enquanto cresceram as matrículas,diminuíram as vendas. Por certo, o principal motorda expansão do ensino superior foi o crescimentodas instituições privadas de ensino que,contraditoriamente, têm como principal públicoestudantes de baixa renda. Portanto, há umaevidente relação entre a aquisição de livros e opoder aquisitivo dos estudantes que, de 1998 a2002, foi especialmente afetado pela crise econô-mica que atingiu o país24.

As bibliotecas públicas, que poderiam demo-cratizar o acesso ao conhecimento, não atingemparcela significativa da população. Segundo da-dos do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), 20% dos municípios brasileirosnão possuem bibliotecas públicas. Mesmo entreaqueles municípios que têm o equipamento, 69%possuem apenas uma biblioteca.

Ainda em relação à democratização do conhe-cimento na área educacional, é importante desta-car que o Estado brasileiro despende anualmenteaproximadamente R$ 580 milhões na compra delivros didáticos para a distribuição aos alunos darede pública. Os custos dos 124 milhões de volu-mes comprados por ano incluem o pagamento deroyalties aos autores (aproximadamente 10% dospreços de venda dos livros25). Caso seja necessá-rio adquirir mais unidades dos mesmos livros, oEstado brasileiro deve arcar novamente não so-mente com os royalties – já que os conteúdos doslivros não passam a fazer parte do domínio públi-co e não podem ser reproduzidos livremente, mes-mo que resguardos os direitos morais dos auto-

21.21.21.21.21. Fonte: Câmara Brasil do Livro.22.22.22.22.22. Idem.23.23.23.23.23. Fonte: Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 200224.24.24.24.24. Segundo dados do IBGE, a renda média do brasileiro caiu 25% de 1997 a 2002.25.25.25.25.25. Fonte: ABDR e Associação Brasileira de Escritores(ABE)26.26.26.26.26. Fonte: Ministério da Educação - wwwwwwwwwwwwwww.mec.gov.mec.gov.mec.gov.mec.gov.mec.gov.br.br.br.br.br27.27.27.27.27. Idem.

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res – mas deve proceder nova compra sob mes-mas regras de mercado26. Em função disso, a com-pra governamental de livros didáticos é responsá-vel pelo lucro de parcela significativa de editorase resulta em pressões permanentes dessas empre-sas sobre as comissões avaliadoras dos livros, res-ponsáveis pela escolha dos livros.

É preciso especial atenção a essa questão, prin-cipalmente pelo fato do governo brasileiro ser omaior comprador de livros do Brasil e do mundo,tendo adquirido, em 2002, 162,2 milhões deexemplares para seus programas de ensinobásico27.

Em relação a copias de obras em suporte depapel, especialistas e juristas brasileiros com atu-ação no campo do direito autoral – e que não ad-vogam para empresas ou associações gestoras dedireitos autorais – são unânimes em afirmar que,no Brasil, é fundamental forjar uma definição am-pla do conceito de “uso pessoal”, para que a cir-culação do conhecimento produzido não sejaobstruída pelas necessidades de mercado impos-tas pelas editoras.

As restrições previstas na legislação brasileira,que só autoriza cópia de “pequenos trechos”, “emum só exemplar”, “para uso privado do copista”,quando referidas ao mundo digital, tornam a si-tuação ainda mais complexa. Considerando que aLei 9.610/98 controla, dentre outros elementos,os direitos de “cópia”, o direito autoral, como co-locado no ordenamento brasileiro, passa a serhegemônico no ambiente digital. Em termos prá-ticos, representa barreiras muito altas de acesso àinformação, ao conhecimento e, portanto, àefetivação de direitos humanos, em especial o di-reito à educação e à cultura.

Impõe-se, assim, um ciclo vicioso. A ausênciade condições materiais impossibilita que o regi-

me de direitos autorais idealizado pelos legisla-dores seja colocado em prática. Inversamente, abusca pela efetivação do regime proposto pelalegislação acaba por criar mais obstáculos ao de-senvolvimento da sociedade brasileira, na medi-da em que restringe a livre circulação de informa-ções.

O direito autoral na multimídia O direito autoral na multimídia O direito autoral na multimídia O direito autoral na multimídia O direito autoral na multimídiaSegundo apontam autores mais recentes, as Leis

9.610/98 e 9.609/98, apesar de ambientar a legis-lação brasileira ao TRIPS, já podem ser considera-das defasadas em relação à atual realidadetecnológica, pois transferem para as obras digi-tais os mesmo princípios das obras analógicas. Talraciocínio aplica-se especialmente às criações emmultimídia, onde duas ou mais formasdigitalizadas de expressão artística são transmiti-das através de um software.

Ao contrário da Europa e dos EUA, o Brasil ain-da não possui qualquer lei específica sobre a ma-téria. A concepção individualista que impera naregulamentação do direito de autor nas obrasanalógicas pode tornar-se um entrave à criaçãono ambiente digital, na medida em que o criadorda obra multimídia deve necessariamente obterpermissão dos autores das obras que vão comporo multimídia. Na medida em que não pode utilizarcomponentes de obras de terceiros (característicafundamental do multimídia) para a criação dessanova obra, o autor encontra um sério obstáculoao desenvolvimento dos produtos. Como conse-qüência, o criador da obra multimídia, em parcelasignificativa dos casos, acaba optando entre vio-lar o direito autoral (utilizando o material semautorização), desistir do projeto ou utilizar somen-te material próprio ou de domínio público, limi-tando a concepção original da obra.

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B 2: Medidas práticas para implementar esse regime.

B 2.1 - Políticas públicas e ações para encorajar e possibilitar a mais ampla edifusa geração e comunicação do conhecimento, que podem incluir:

- modos de celebrar bons trabalhos por parte de profissionais e do público;- incentivos públicos para pesquisa e criação local/nacional do conhecimentoem áreas de reconhecida necessidade;- instrumentos públicos para facilitar o acesso ao conhecimento, inclusiveuma política de disseminação de conteúdo de interesse público;- apoio público para software livre e de código aberto – por exemploatravés de uma política pública de provisão – e para o desenvolvimento deespecialistas nacionais;- currículos escolares que encorajem métodos críticos e questionadores deaprendizado;- apoio prático ao desenvolvimento de abordagens voltadas aodesenvolvimento e amistosas à comunidade para a partilha do conhecimento,como copyleft, General Public License (GPL) etc.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Lei 9.609/98, publicada simultaneamente àLei de Direitos Autorais (9.610), dispõe sobre aproteção da propriedade intelectual de programasde computador e sua comercialização no país.

Art. 2º. O regime de proteção à propriedade intelec-tual de programa de computador é o conferido àsobras literárias pela legislação de direitos autoraise conexos vigente no País.

§ 1º Não se aplicam ao programa de computador asdisposições relativas aos direitos morais,ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autorde reivindicar a paternidade do programa decomputador e o direito do autor de opor-se aalterações não-autorizadas, quando estasimpliquem deformação, mutilação ou outramodificação do programa de computador, queprejudiquem a sua honra ou a sua reputação.

§ 2º Fica assegurada a tutela dos direitos relativos aprograma de computador pelo prazo de 50 anos,contados a partir de 1º de janeiro do ano subse-qüente ao da sua publicação ou, na ausência des-ta, da sua criação.

Apesar de facultativa aos titulares do direito –os empregadores, conforme estabelece o artigo4º – a regulamentação sobre o registro dosprogramas foi estabelecida pelo DecretoPresidencial 2.556, também de 1998.

Ao tratar o software com o mesmo status quea obra literária, a legislação brasileira não só ga-rante sua proteção pela Lei 9.610/98 como tam-bém propicia o entendimento de que a criação dosoftware é exclusivamente individual (ou de umgrupo de pessoas) e, portanto, passível de prote-ção28. Não há na principal lei brasileira sobre oassunto qualquer menção expressa à possibilida-de de criação colaborativa de softwares, como é ocaso do software livre. Tal entendimento estende-se a toda produção científico-tecnológica atualque, de fato, pode ser considerada de caráter co-letivo, mas que é tratada na legislação como frutoexclusivo de elaboração individual.

Os softwares, por ficção jurídica, apesar de se-rem tratados como obras literárias, em princípionão precisam ser registrados para obter proteçãolegal. Todavia, para que a proteção possa “produzirefeitos em relação a terceiros”29, ou seja, para que

28.28.28.28.28. Por outro lado, toda a política de fomento aos softwares nacionais, desenvolvida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia epelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, trata os programas de computador como produtos industriais e, porisso, coletivos.29.29.29.29.29. Lei 9.609/98, Art. 11º

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os direitos possam ser exercidos contra alguémque porventura venha a violar os direitos do titu-lar, o software precisa ser registrados no InstitutoNacional de Propriedade Industrial (Inpi).

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOO PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESTENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Pressões da Indústria do direito autoral Pressões da Indústria do direito autoral Pressões da Indústria do direito autoral Pressões da Indústria do direito autoral Pressões da Indústria do direito autoralA ineficácia das políticas governamentais para

impedir a pirataria tem sido motivo de sucessivaspressões internacionais sobre o Brasil, especial-mente do governo norte-americano e das organi-zações que representam a indústria de direitos deautor nos Estados Unidos e possuem escritóriosno Brasil. Em junho de 2004, por exemplo, os Es-tados Unidos anunciaram que o Brasil poderiaperder o acesso a um regime especial de tarifascaso não apresentasse “melhoras” na proteção àpropriedade intelectual. Um mês antes, em 20 demaio, a International Intellectual Property Allianceenviou correspondência oficial ao Escritório deRepresentação Comercial dos EUA indicando queo Brasil não “cumpria suas obrigações” no que sereferia à proteção da propriedade intelectual.

Para responder às pressões da indústria dedireito autoral nacional e internacional, o Congres-so Nacional aprovou em 2003 a Lei 10.695, maisconhecida como Lei Anti-pirataria, aumentando aspunições para a prática de contrafação. Os setemil processos por “pirataria audiovisual” abertosno Brasil, entretanto, resultaram em apenas 16condenações e nenhuma prisão30. A relação nu-mérica revela que uma realidade socialmenteinjusta como a do Brasil gera dificuldades no meiojurídico em determinar a linha divisória entre olegal e o legítimo. Mais ainda, evidencia que nãohá qualquer ambiente para a punição de usuáriosde cópias reproduzidas para uso pessoal sem pa-gamento de royalties.

Também em 2003, o Congresso Nacional ins-talou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)da Pirataria31 com o objetivo de investigar e pro-cessar os grandes capitalistas das falsificações ecópias ilegais32. A CPI, que finalizou seus trabalhosem junho de 2004 e sugeriu o indiciamento de 80

pessoas, encaminhou ao Ministério da Justiça re-latório em que propõe a adoção de uma série demedidas para combater a pirataria no Brasil. A maisimportante das propostas é a criação do PlanoNacional de Combate à Pirataria, que articulariadiversos setores do governo para diminuir a eva-são fiscal e os “delitos” contra a propriedade inte-lectual.

As recomendações do relatório da CPI, a per-manente pressão da indústria do direito autoral ea crescente prática de contrafação motivaram acriação, em 2004, do Conselho Nacional deCombate à Pirataria e Delitos contra a PropriedadeIntelectual. Trata-se de um órgão colegiadoconsultivo vinculado ao Ministério da Justiça e quetem como função justamente elaborar as diretrizespara a formulação e proposição do Plano Nacionalde Combate à Pirataria. O conselho,principalmente pelas pressões que motivaram suacriação, tende a tornar-se um espaço institucionalocupado majoritariamente por representantes dosinteresses das grandes corporações.

Outro sinal evidente das movimentações daindústria está no desenvolvimento e uso detecnologias restritivas. No final de 2002, a grava-dora EMI lançou os primeiros CDs musicais comum dispositivo "antipirataria" desenvolvido pelaMicrosoft, que impede que um CD musical, legiti-mamente adquirido, seja copiado para o compu-tador do consumidor e, conseqüentemente, gra-vado em outro CD ou transmitido pela internet.Como assume a própria Philips, detentora datecnologia dos Compact Discs, os novos discosantipirataria não poderiam ser chamados de CDs,porque eles usam técnicas de gravação diferentesdo CD comum, reduzindo a qualidade do som e adurabilidade das mídias33.

Contudo, a adoção de mecanismos que impe-dem a cópia de um CD musical – como bem frisamas provocações encaminhadas por advogados aoMinistério Público – é uma ação que extrapola osdireitos patrimoniais do autor e afronta o atualordenamento jurídico brasileiro. Por impedir o li-vre acesso à informação e à cultura, inalienáveis eindisponíveis direitos de todos os indivíduos, aEMI e as outras majors travam atualmente umadisputa nos tribunais para legitimar a novaecnologia, ainda não generalizada no país34.

30.30.30.30.30. Fonte: Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (Adepi)31.31.31.31.31. www.camara.gov.br32.32.32.32.32. Os pequenos comerciantes de produtos ilegais são, por enquanto, poupados das ações policiais. Quando flagrados, costuma-se somente apreender os produtos, apesar da legislação também criminalizar os comerciantes de produtos copiados ilegalmente.33.33.33.33.33. Fonte: Consultor Jurídico – www.conjur.uol.com.br34.34.34.34.34. Nos EUA, os maiores selos de música do mundo estão sendo processados por inúmeros consumidores por causa de CDs anti-pirataria, projetados para evitar a troca ilegal de músicas pela internet.

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A gestão coletiva no setor musicalA gestão coletiva no setor musicalA gestão coletiva no setor musicalA gestão coletiva no setor musicalA gestão coletiva no setor musicalNa outra ponta do direito autoral estão entida-

des representativas dos autores, que estabelecemregras para o recolhimento da arrecadação e dis-tribuição dos royalties. A Lei 9.610/98 estabeleceem seu artigo 97 que “para o exercício e defesa deseus direitos, podem os autores e os titulares dedireitos conexos associar-se sem o intuito de lucro”e mantém o Escritório Central de Arrecadação eDistribuição (Ecad)35, criação da lei de 1973. Oórgão é o responsável por coordenar a fiscaliza-ção, arrecadação e distribuição dos valores prove-nientes das execuções de obras musicais, repas-sando 82% dos valores relativos à arrecadação paraassociações de músicos que, por sua vez, repas-sam os valores, descontados mais 6%, aos compo-sitores a elas filiados.

No segmento musical, as práticas do Ecad sãocontestadas por músicos e produtores. Entre asquestões mais relevantes estão a ausência de cri-térios na cobrança de usuários, o cerceamento àrealização de eventos populares sem fins lucrati-vos, os mecanismos pouco claros de distribuiçãode royalties e a apropriação de valores relativos aorecolhimento sobre composições cujos autores nãosão filiados a associações.

Há, além disso, uma falsa liberdade associativa.Segundo a legislação (artigos 98 e 99 da Lei9.610), o compositor pode optar entre fazer a ar-recadação por si ou mediante associação, nãohavendo, portanto, obrigatoriedade de associação.Entretanto, caso o compositor não se associe auma entidade filiada, o Ecad recolhe os royaltiesrelativos à exibição pública de suas obras, masnão repassa ao autor36.

No Brasil, diferentemente de países como aFrança, a Inglaterra e os EUA, não há qualquercontrole governamental sobre as entidadesgestoras coletivas de direitos autorais37, seja oEcad, sejam as associações. Tal falta de controle,muitas vezes, faz com que a prerrogativa do mo-nopólio de gestão dos direitos autorais sejaexercida abusivamente. A cobrança de altos valorespara a execução de obras musicais pode, por exem-

plo, inviabilizar o desenvolvimento de atividadeseconômicas no mesmo e em outros segmentos,assim como impedir o funcionamento de espaçospúblicos culturais e de entretenimento que nãotenham fins lucrativos.

A mesma política de arrecadação proposta pelalegislação não diferencia os “tipos” de mídia, comoas rádios comunitárias. Em sua maioria, tais veí-culos não têm qualquer mecanismo de geraçãode renda (dada, em grande parte, a legislação re-pressiva para o setor), não podendo arcar comcustos relativos ao pagamento de royalties. Atual-mente, devido à evidente penúria financeira dasrádios, a pressão do Ecad sobre os veículos comu-nitários diminuiu. Porém, tal fato é mais uma evi-dência da necessidade do desenvolvimento de umalegislação de direitos autorais que diferencie nãosó os tipos de mídia como também os espaços deexecução pública das obras musicais.

A gestão dos direitos autorais dos autores de A gestão dos direitos autorais dos autores de A gestão dos direitos autorais dos autores de A gestão dos direitos autorais dos autores de A gestão dos direitos autorais dos autores delivros, artes visuais e teatrolivros, artes visuais e teatrolivros, artes visuais e teatrolivros, artes visuais e teatrolivros, artes visuais e teatro

Não há, no Brasil, a gestão coletiva dos direi-tos dos autores de livros. O repasse dos royaltiesprovenientes da exploração comercial das obras éfeito diretamente pelas editoras aos autores. En-tretanto, diversas entidades procuram organizaros autores de livros. Entre elas estão a AssociaçãoBrasileira de Escritores (ABE), entidade nacionalpara a “defesa dos direitos autorais e demaisdireitos dos escritores”, e Associação Brasileira dosAutores de Livros Educativos (Abrale).

Na área de teatro/artes cênicas, os direitos au-torais podem ser recolhidos pela SociedadeBrasileira de Autores Teatrais (SBAT), entidadefundada em 1917 e que atualmente se encontrabastante desarticulada.

Em 2004, foi criada a Associação Brasileira dosDireitos de Autores Visuais (AUTVIS), a primeiracom finalidade de administrar os direitos autoraisdos criadores visuais e possibilitar o intercâmbiomundial das obras por meio das sociedadesinternacionais de administração de direitosautorais38.

35.35.35.35.35. Lei 9.610/98 - Art. 99. As associações manterão um único escritório central para a arrecadação e distribuição, em comum, dosdireitos relativos à execução pública das obras musicais e lítero-musicais e de fonogramas, inclusive por meio da radiodifusão etransmissão por qualquer modalidade, e da exibição de obras audiovisuais36.36.36.36.36. Diversos compositores e produtores de eventos musicais relatam experiências em que foram obrigados a arcar com os custosimpostos pelo Ecad, mesmo com os autores não sendo filiados a nenhuma associação. Procurado, o Ecad não quis se pronunciarsobre a questão.37.37.37.37.37. Fonte: Ministério da Cultura – www.cultura.gov.br38.38.38.38.38. Para saber mais sobre a atuação das entidades consultar: www.abe.org.br, www.abrale.org,br, www.autvis.org.br ewww.sbat.org.br

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B 2.2 - Uma interpretação ativa e a implementação, por parte de órgãos públicos eestatais, das leis e acordos nacionais e internacionais sobre copyright e patentesrelevantes, favorecendo uma partilha equilibrada do conhecimento, ou seja:

- apoio para o ‘uso justo’ de material sobre copyright, freqüentementebarrado por termos de licenciamento não negociáveis para material digital, comopublicações especializadas;- reconhecimento e proteção dos ‘direitos morais’ dos autores;- restrições sobre o gerenciamento de direitos digitais, encriptação emecanismos anti-burladores que inibam o uso justo de informação eletrônica;- esforços para formatar a propriedade intelectual de acordo com condiçõesnacionais, o que freqüentemente irá contra tendências nos acordosinternacionais;- esforços para formatar a propriedade intelectual em produtos digitais quepromovam novos modelos de negócios, baseados na partilha do conhecimento, eque coíbam medidas (como o patenteamento de software) que mantenhammonopólios ou oligopólios e inibam a inovação;- esforços para assegurar que expressões de folclore não sejam registradase exploradas por terceiras partes (incluindo o problema do ‘autor identificável’),ou seja, pela incorporação da proteção folclórica na legislação nacional (casos deBolívia, 1968, e Quênia, 1975).

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Limitações do direito de autor Limitações do direito de autor Limitações do direito de autor Limitações do direito de autor Limitações do direito de autorNo artigo 46, a Lei de Direitos Autorais (9.610/

98) estabelece as limitações aos direitos autorais.Define que não constitui ofensa ao autor a “re-produção, em um só exemplar de pequenos tre-chos, para uso privado do copista, desde que sejafeita por este, sem intuito de lucro”. Este trechoda legislação, por sua imprecisão ao definir “pe-quenos trechos” de obras artísticas, literárias ecientíficas, e por ter relação direta na efetivaçãodos direitos à educação e à cultura, ambos garan-tias constitucionais e direitos fundamentais, é umdos mais controversos e importantes artigos dalei. Entretanto, essa definição, que autoriza a có-pia de "pequenos trechos", "em um só exemplar","para uso privado do copista", como apontam di-versos estudos de legislação comparada, pode serconsiderada uma das mais restritas do mundo.

Na Alemanha, por exemplo, é possível se fazercópia integral, para uso privado e pessoal, se aedição de uma obra literária estiver esgotada hápelo menos dois anos. Como justificativa, a com-preensão de que não há qualquer sentido a exis-tência de um direito exclusivo, por exemplo, se o

público nem sequer pode ter acesso à obra, porestar fora de catálogo ou esgotada.

Mesmo nos EUA, a legislação prevê o chamado“fair use”, que poderia ser traduzido como “usojusto”. Na prática, o "fair use", por se inscrever comoum princípio e não detalhar as formas permitidasde sua utilização, abre espaço, na tradição dacommon law, para a criação de jurisprudências tra-tando de novos usos. No caso da educação, porexemplo, é legítimo o uso de obra protegida porcopyright se utilizada para o ensino (inclusivemúltiplas cópias para uso em sala de aula).

Além disso, não são passíveis de proteção as“idéias, procedimentos normativos, sistemas, mé-todos, projetos ou conceitos matemáticos comotais”, assim como os “esquemas, planos ou regraspara realizar atos mentais, jogos ou negócios”, os“formulários em branco para serem preenchidospor qualquer tipo de informação, científica ou não,e suas instruções”, os “textos de tratados ou con-venções, leis, decretos, regulamentos, decisõesjudiciais e demais atos oficiais”, as “informaçõesde uso comum tais como calendários, agendas,cadastros ou legendas”, os “nomes e títulos isola-dos” e o “aproveitamento industrial ou comercialdas idéias contidas nas obras”39.

39.39.39.39.39. Lei 9.610/98 – incisos I à VII do artigo 8º

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40.40.40.40.40. Decreto 3.511/0041.41.41.41.41. É preciso deixar claro que a postura do governo brasileiro nos fóruns internacionais reflete-se de maneira bastante tímida noplano interno. São, portanto, iniciativas que devem ser analisadas separadamente. Tal constatação, entretanto, não desmerece osméritos da postura adotada internacionalmente.42.42.42.42.42. Para saber mais sobre a Alca e sua relação com a comunicação ver IP Justice – www.ipjustice.org

Proteção ao conhecimento dos povos tradicionaisProteção ao conhecimento dos povos tradicionaisProteção ao conhecimento dos povos tradicionaisProteção ao conhecimento dos povos tradicionaisProteção ao conhecimento dos povos tradicionaisA Constituição Federal também procura asse-

gurar a defesa das expressões dos povos tradicio-nais e do folclore brasileiro, impondo ao Estado aresponsabilidade de garantir os direitos relativosà cultura, seja em relação à preservação, seja emrelação à produção e à difusão:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercíciodos direitos culturais e acesso às fontes da culturanacional, e apoiará e incentivará a valorização edifusão das manifestações culturais.

§ 1º O Estado protegerá as manifestações das cultu-ras populares, indígenas e afro-brasileiras, e dasde outros grupos participantes do processocivilizatório nacional.

Não há, contudo, qualquer legislação específi-ca que regulamente esses princípios constitucio-nais, a não ser a instituição do registro de bensculturais de natureza imaterial e a criação do Pla-no Nacional do Patrimônio Imaterial40 que, comoveremos, nunca se tornou realidade.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Com a desativação do Conselho Nacional deDireito Autoral, em 1990, a formulação de umapolítica para área do direito autoral foi abandona-da pelo governo brasileiro. Os oito anos da admi-nistração de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) consolidaram a hegemonia neoliberal nopaís e com ela germinou o entendimento de queo Estado não seria responsável pela mediação dasquestões relacionadas à área autoral e que os con-flitos daí derivados deveriam ser resolvidos medi-ante acordos contratuais diretos entre autores eusuários. Ou seja, que deveriam ser regidas exclu-sivamente pelas regras de mercado.

A partir de 2003, o governo brasileiro redefiniualgumas premissas que regiam os trabalhos so-bre a questão da propriedade intelectual. Aredefinição dos aspectos relacionados à tutelaadministrativa dos direitos autorais, com atribui-ção de novas competências, começou a ocuparrelativo espaço na agenda governamental e o Es-tado passou a reivindicar algum protagonismo naformulação de estratégias de desenvolvimentorelacionadas à propriedade intelectual.

A mudança de postura do governo brasileironas questões relativas à propriedade intelectualcolocou em movimento o debate sobre o fluxo eo uso do conhecimento na sociedade da informa-ção. Porém, conclusões sobre a eficácia da estra-tégia governamental atual e os rumos do direitoautoral no Brasil tendem a ser imprecisas. As aná-lises devem considerar que tal processo está atu-almente em curso e pode ser interrompido emcurto prazo de tempo. Além disso, é importanteressaltar a existência de contradições internas nagestão das políticas de governo, reflexo das di-vergências político-ideológicas dos membros daadministração federal e principal explicação paraas diferenças entre o discurso de seus membros ea prática da máquina estatal. De qualquer forma,podemos afirmar que o atual sentido do discursogovernamental aponta para a possibilidade de umadisputa conceitual sobre o regime de direitos au-torais no Brasil.

Se é correto afirmar que há avanços, deve-seregistrar, porém, que o ímpeto brasileiro na defe-sa de um regime de partilha do conhecimento maisjusto no plano internacional não encontra a mes-ma força no plano interno. Muitas vezes, o discur-so ou a divulgação de uma determinada vontadepolítica não corresponde necessariamente a umarealização concreta.

A atuação brasileira no plano internacional A atuação brasileira no plano internacional A atuação brasileira no plano internacional A atuação brasileira no plano internacional A atuação brasileira no plano internacionalO governo brasileiro, especialmente a partir de

2003, tem defendido nos fóruns internacionais41

um regime de partilha do conhecimento que pri-vilegie o desenvolvimento de tecnologias e recur-sos humanos locais, buscando regras claras na cir-culação de produtos audiovisuais que permitam asobrevivência das identidades, artistas, cientistase produtores nacionais.

Nas negociações da Área de Livre Comércio dasAméricas (Alca), a diplomacia brasileira tem reite-rado sua disposição em abandonar por completoo capítulo que versa sobre propriedadeintelectual42. Entre outras providências, o governobrasileiro posiciona-se contra a ampliação dos pro-cedimentos criminais nas violações da propriedadeintelectual, assim como também rechaça as novas– e restritivas – definições dos termos “usohonesto”, “uso pessoal”, e do “acesso parapropósitos educacionais” propostas pelos norte-americanos. Esse mesmo capítulo propõe que

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43.43.43.43.43. Em inglês, o tratado é conhecido como WIPO Copyright Treaty4444444444. Conexões ponto-a-ponto, diretamente entre usuários.45.45.45.45.45. Tal orientação explica-se pela forte presença de representantes do agro-negócio dentro do governo brasileiro, que possuemgrande interesse na abertura do mercado europeu aos produtos agrícolas do Brasil.46.46.46.46.46. Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia

todas as disputas sobre domínios de internet sejamresolvidas pela Internet Corporation for AssignedNames and Numbers (Icann), uma associação privadacom sede nos EUA e vínculos com o governo norte-americano, hoje responsável pela governança dainternet.

Nas recentes rodadas da Organização Mundialda Propriedade Intelectual (OMPI), em que algunspaíses têm insistido na introdução de um tratadopara expandir o direito sui generis europeu sobrebancos de dados para o mundo, o Brasil, com oapoio da Índia, Rússia, China e associações civisinternacionais tem insistido que a proposta nãopode prosperar. Por este novo “direito”, tudoaquilo que é inserido em um banco de dados,mesmo que faça parte do domínio público, passaa ser de propriedade do criador do banco de dados.

O Brasil também tem recusado o estabelecimen-to de compromissos adicionais ao Acordo TRIPSna Organização Mundial do Comércio (OMC),conhecidos como TRIPS-plus. Se a recusa de al-guns governos, entre eles o brasileiro, tem difi-cultado o estabelecimento multilateral do TRIPS-plus, tal prática tem ocorrido por meio de acordosde comércio bilaterais e regionais, em particularos feitos pelos Estados Unidos.

Além disso, o Brasil não assinou o tratado daOMPI de Direitos Autorais43, de 1996, que propõemedidas tecnológicas para obras protegidas pelodireito autoral (que os EUA adotaram por meio doDigital Millennium Copyright Act e pelos mecanis-mos de Digital Rights Management e anti-circunvention). Segundo a proposta, o atual sistemade compra de um exemplar de um livro, de um CDde música ou de um DVD seria substituído pelomodelo já adotado no software, de licença de uso.A legislação também tem implicações sobre alegalidade da troca de arquivos em redes e vaiobrigar provedores de acesso a retirar conteúdodo ar caso sejam solicitados a isso por alguémque alegue ter tido seus direitos autorais violados.Na Bélgica, por exemplo, em recentes casosenvolvendo a troca de arquivos P2P (peer-to-peer)44,servidores de acesso foram obrigados a cortar aconexão dos usuários acusados de trocar arquivosatravés desta tecnologia. Além disso, os titularesde direitos autorais poderão intimar os provedoresde acesso para obter informações pessoais sobreusuários suspeitos, transformando pessoas comunsem potenciais criminosos.

Na reunião anual da OMPI, em setembro eoutubro de 2004, o governo brasileiro, emconjunto com os governos argentino e boliviano,apresentou um documento sugerindo a negocia-ção de um tratado para promover o acesso dospaíses em desenvolvimento ao conhecimento e àtecnologia, assim como a adoção de mecanismoscolaborativos de compartilhamento de informaçãopara estimular a inovação. O documento tambémpropunha uma emenda à constituição da OMPI,salientando a necessidade de se considerar osinteresses dos países menos desenvolvidos naelaboração das normas internacionais depropriedade intelectual, bem como a participaçãode ONGs e da sociedade civil nos fóruns de discus-são, como representantes do interesse público.

A firme posição brasileira em relação à Alca e àOMPI contrasta com as negociações do Mercosul– lideradas pelo Brasil – com a União Européia,em que o governo brasileiro negocia regras maisbrandas – e ainda pouco claras – no mercadobrasileiro para o setor audiovisual europeu comomoeda de troca para uma possível abertura daEuropa aos produtos agrícolas do Mercosul45.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESTENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

O incentivo à difusão do software livre O incentivo à difusão do software livre O incentivo à difusão do software livre O incentivo à difusão do software livre O incentivo à difusão do software livreUm dos esforços mais claros do governo brasi-

leiro em relação à partilha do conhecimento estárelacionado à implementação de políticas de in-centivo à adoção e produção de softwares livres.Segundo o governo federal, o desenvolvimentode softwares tem como objetivo a redução dopagamento de direitos autorais e o envio de divi-sas para o exterior – por ano, US$ 1 bilhão éremetido como pagamento de royalties46 –; odesenvolvimento da inteligência coletiva do paíse a criação de uma indústria nacional de tecnologiada informação, com a promoção de novos mode-los de negócios; e a viabilização dos programasde inclusão digital, já que o orçamento públiconão seria suficiente para os projetos caso fossemutilizados sistemas proprietários.

Alguns estados brasileiros já haviam buscadoimplementar políticas de incentivo ao softwarelivre. O Rio Grande do Sul, caso mais emblemático,aprovou uma lei estadual em 2002 tornando pre-

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ferencial a adoção de softwares livres nas reparti-ções públicas. A lei foi contestada na Justiça pelaMicrosoft, e o Supremo Tribunal Federal conce-deu liminar impedindo que ela entrasse em vigor47.O governo federal, em 2003, optou por utilizar osprecedentes da legislação atual (como a necessi-dade de promover o desenvolvimento nacional ede gerir os recursos públicos de maneira respon-sável) para implementar as políticas de incentivoao software livre. Tal estratégia tem sidoreproduzida por diferentes governos estaduais emunicipais. Como resultado, o Brasil acabou setornando o país pioneiro a ter uma política públicavoltada ao software livre que buscasse superar oimpasse jurídico surgido a partir da impossibili-dade contratual de tradução da licença GNU-GPL48

(caracterizada por assegurar o direito de executar,estudar, aperfeiçoar e modificar o programa, as-sim como de redistribuir cópias do mesmo).

Em 2003, o Executivo federal criou o ComitêTécnico de Implementação do Software Livre, ór-gão composto por diversos ministérios e coorde-nado pelo Instituto Nacional de Tecnologia daInformação (ITI). O fato de o ITI ser ligado à CasaCivil da Presidência da República pode, em parte,ser considerado um sintoma importante doengajamento do governo federal com aimplementação do software livre. Na prática, talengajamento consiste no incentivo à adoção desistemas abertos pelo poder público, empresas ecidadãos, à formação de recursos humanos, àdisponibilização de verbas públicas para pesquisaem universidades e instituições e à concessão decrédito para a formação e desenvolvimento demicro e pequenas empresas de softwares.

Entretanto, dos quatro pontos apresentados,somente o primeiro (e somente em relação aopoder público) e o segundo (formação de recursoshumanos) apresentavam resultados concretos (oupelo menos iniciativas concretas) até o fechamentodeste relatório49.

Atualmente, seis ministérios (Minas e Energia,Comunicações, Ciência e Tecnologia, Cidades, Edu-cação e Cultura) estão migrando para sistemas

operacionais de código aberto. A Secretaria Geralda Presidência e a Radiobrás também estão emfase de migração.

Outras iniciativas importantes promovidas peloITI foram a realização de encontros de capacitaçãoem software livre e a confecção de diferentes pu-blicações que incluem amostras de plataformas decódigo aberto. Tais produtos procuram apresen-tar o software livre aos cidadãos e reverter a im-pressão generalizada de que os softwares não pro-prietários são incompatíveis com os arquivos ge-rados nos softwares da Microsoft.

Simultaneamente, tramita na Comissão de Ci-ência e Tecnologia, Comunicação e Informática daCâmara dos Deputados um projeto de lei (PL 3.280/04) do deputado Luiz Couto (PT-PB) que determinaa utilização de software livre em todas as escolaspúblicas do país.

As iniciativas do Ministério da Cultura As iniciativas do Ministério da Cultura As iniciativas do Ministério da Cultura As iniciativas do Ministério da Cultura As iniciativas do Ministério da CulturaO Ministério da Cultura (MinC) é fonte das ou-

tras principais iniciativas relacionadas à proprie-dade intelectual desenvolvidas pelo Executivo. Emmaio de 2004, o Ministério lançou o Programa deInformação e Difusão de Direitos Autorais, cujosobjetivos principais são facilitar o acesso eintercâmbio de informação em matéria depropriedade intelectual, condição primeira para secriar uma massa crítica sobre como este sistemaestá consolidado; criar mecanismos legais quefacilitem o acesso da maioria da população àsobras intelectuais protegidas, de forma compatívelcom o estágio de desenvolvimento econômico esocial do país; fomentar a cultura da propriedadeintelectual, em particular o ensino da propriedadeintelectual nas universidades e outros centros deeducação (o Concurso Nacional de Monografiassobre Direitos Autorais, em curso atualmente,procura responder a esse objetivo); produzireventos divulgadores dos princípios fundamentaisda propriedade intelectual e publicaçõesespecializadas para distribuição gratuita junto aosistema de bibliotecas públicas.

47.47.47.47.47. A alegação da companhia, aceita pelo Tribunal, foi a de que nenhuma legislação pode regulamentar os tipos de produto aserem comprados pelo poder público.48.48.48.48.48. Fonte: www.softwarelivre.gov.br: dia 2 de dezembro de 2003, foi anunciado, durante a II Rodada de Compartilhamento deSoftware Livre, a criação das licenças CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL, (Licença Pública Geral GNU - Creative Commons e LicençaPública Geral Menor do GNU - Creative Commons), unindo assim as entidades Free Software Foundation (www.fsf.org) e a CreativeCommons (http://creativecommons.org). A união inédita das duas licenças e entidades deveu-se à iniciativa do governo brasileiroem adotar o uso e o desenvolvimento de software livre. "Trata-se de um momento histórico. As licenças CC-GNU GPL e CC-GNULGPL são produtos genuinamente brasileiros. O Brasil ensina assim a todos nós uma lição importante e útil", comentou LawrenceLessig, professor de Direito da Universidade de Standford e presidente da Creative Commons.49.49.49.49.49. Para saber mais sobre a disponibilização de verbas públicas para pesquisa e a concessão de crédito para a formação e desen-volvimento das micro e pequenas empresas, consultar o Pilar D deste relatório.

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O incentivo ao Creative Commons O incentivo ao Creative Commons O incentivo ao Creative Commons O incentivo ao Creative Commons O incentivo ao Creative CommonsEm junho de 2004, o governo federal oficiali-

zou apoio ao Creative Commons50. A estratégiarevela que, diante da maneira pela qual a revolu-ção digital afeta a realidade de todos os bens in-telectuais, é preciso disponibilizar licenças jurídi-cas que permitam o acesso às obras pelo públicosob condições mais flexíveis.

Na prática, além da criação de um instrumentolegal, busca-se a sensibilização dos titulares dodireito autoral (os autores) para a necessidade decirculação das criações. Substancialmente, procu-ra-se um incremento do significado da função so-cial do direito de autor e a criação de instrumen-tos legais para possibilitar a realização dessa “novacultura”.

O Creative Commons não contradiz a legisla-ção existente e conviverá em harmonia com a le-gislação que regula os direitos autorais no Brasil.Entretanto, as ações que buscarão incentivar osautores a colocar suas obras sob o novo formatode licença de uso, apesar das declarações públicasdo ministro da Cultura, ainda não se concretiza-ram.

Outra proposta em gestação é o projeto CantoLivre, que prevê a criação de um novo modelo delicenciamento musical para troca de músicas nainternet. A iniciativa envolve o Ministério da Cul-tura, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o GrupoCESAR (Centro de Estudos Avançados do Recife), aUniversidade de Stanford e o Berkman Center (daUniversidade de Havard), entre outros. Atualmen-te, a FGV está desenvolvendo o software do proje-to com recursos do Fundo Setorial de Tecnologiada Informação51.

Desoneração de livros e implantação de bibli- Desoneração de livros e implantação de bibli- Desoneração de livros e implantação de bibli- Desoneração de livros e implantação de bibli- Desoneração de livros e implantação de bibli-otecas públicasotecas públicasotecas públicasotecas públicasotecas públicas

Em novembro de 2004, o governo federal en-viou para aprovação no Congresso Nacional umprojeto para regulamentar a lei que instituiu a Po-lítica Nacional do Livro (Lei 10.753/03), com oobjetivo de desonerar a produção de livros. Coma medida, que deve ser aprovada pelo Legislativo,os livros de toda natureza deixam de pagar con-tribuições como o PIS, Pasep e Cofins. Tais impos-tos representam juntos uma carga de 9,25% sobreo faturamento das editoras. A expectativa, segun-do editoras e governo, é de que haja uma reduçãode 10% sobre o preço do livro para o consumidorem um prazo de até quatro anos. Além disso, oprojeto enviado ao Congresso prevê que as edito-

ras repassem 1% do valor de venda para a criaçãode um Fundo Pró-Leitura.

O Ministério da Cultura (MinC) planeja tambémimplantar 1,3 mil bibliotecas públicas até 2006.O número representa o total de municípios brasi-leiros que não possuem bibliotecas públicas. Pormeio do Projeto Fome de Livro, coordenado pelaFundação Biblioteca Nacional, o governo federalvai celebrar convênios com prefeituras e entida-des da sociedade civil para garantir que todos osmunicípios – mesmo aqueles com menos de cincomil habitantes –, possuam pelo menos umabiblioteca pública. Apesar das formas deimplantação do projeto ainda permanecerem emdiscussão no âmbito do MinC, os responsáveispelo projeto sustentam que a meta será cumprida.

Povos tradicionais Povos tradicionais Povos tradicionais Povos tradicionais Povos tradicionaisO patrimônio cultural dos povos tradicionais,

como danças, músicas, narrativas, grafismos e ar-tesanato, apesar de possuir garantia constitucio-nal, ainda não virou objeto de legislação específi-ca. Entidades indígenas, principalmente nosúltimos anos, têm defendido que este conheci-mento faça parte dos mecanismos de proteção dapropriedade intelectual, para que o patrimônio dospovos tradicionais não seja fruto da exploraçãoeconômica predatória. A busca das entidades, emespecial do Instituto Indígena Brasileiro daPropriedade Intelectual (Inbrapi), não é cercear oacesso ao patrimônio intelectual indígena e dospovos tradicionais, mas garantir a integridade mo-ral dos povos e reconhecimento por sua produçãoimaterial.

A discussão sobre a proteção às manifestaçõese expressões dos povos tradicionais e do folclorebrasileiro tem crescido dentro do Ministério daCultura, mas ainda é tímida sua inserção na agen-da governamental. Dois grandes eventos promo-vidos pelo governo em 2004 discutiram formatosde legislação que garantam e zelem pelos direi-tos coletivos relativos aos saberes e modos de fa-zer das culturas populares. A implementação doPrograma Nacional de Patrimônio Imaterial, insti-tuído em 2000, mas que nunca saiu do papel, temsido objeto de pressão de entidades da sociedadecivil e esteve presente nos debates promovidospelo Ministério da Cultura.

Estas iniciativas, porém, não se traduzem emesforços do governo para a aprovação do Projetode Lei 2.057/91, que dispõe especificamente sobreos direitos autorais coletivos e tem como objetivo

50.50.50.50.50. Para saber mais sobre o Creative Commons no Brasil acesse www.direitorio.fgv.br/cts51. 51. 51. 51. 51. Fonte: Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia

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preservar a cultura indígena e evitar suaapropriação por terceiros. Entretanto, o mesmoprojeto, cuja aprovação é reivindicada pela Inbrapi,procura garantir os direitos de exploração econô-mica dos bens culturais dos povos tradicionais nosmoldes da Lei 9.610/98. Nesse sentido, evitar aapropriação por terceiros, questão urgente e ne-cessária, tende a criar mecanismos igualmenteperversos que cerceiam o acesso aos bensimateriais dos povos tradicionais, seja para o co-nhecimento público, seja para releituras criativasdas obras. Assim como nos outros campos do co-nhecimento e da cultura, deve-se procurar formasde proteção ao patrimônio imaterial que sejameficazes, mas que evitem transformar tal conheci-mento em mercadoria, mesmo que coletiva.

Lei Geral do Audiovisual Lei Geral do Audiovisual Lei Geral do Audiovisual Lei Geral do Audiovisual Lei Geral do AudiovisualA proposta de Lei Geral do Audiovisual52, atu-

almente em discussão pelo governo brasileiro, pre-

52.52.52.52.52. Para consultar as minutas do projeto e as contribuições da sociedade civil ver www.cultura.gov.br

tendia, segundo as suas primeiras versões, alteraralguns dispositivos da Lei 9.610/98.

Uma das mudanças mais importantes ligadasà questão do direito autoral era a transferência deresponsabilidade sobre a regulamentação da ar-recadação de direitos autorais sobre obrasaudiovisuais. Pela proposta, a regulamentação fi-caria a cargo da Agência Nacional Cinema e doAudiovisual (Ancinav), e não mais sujeita ao Escri-tório Central de Arrecadação (Ecad).

Além disso, a proposta de Lei Geral deAudiovisual definia que os bens culturais produ-zidos com recursos públicos tornar-se-iam passí-veis de uso após oito anos, sem autorização dotitular do direito, por canais públicos e estataisde radiodifusão, assim como em estabelecimen-tos públicos de ensino.

Essas propostas foram suprimidas quando aabrangência da Ancinav foi consideravelmente re-duzida nas últimas versões tornadas públicas.

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B 3: Todos os trabalhos financiados e produzidos de formapública se tornam parte do domínio público.

B 3.1 - Políticas públicas e medidas práticas para assegurar que todo oconhecimento apoiado por fundos públicos se torne imediatamente parte dodomínio público.

B 3.2 - (Ver A.3.3) O volume de informação mantida por órgãos públicos deveser colocado sob domínio público.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Domínio público Domínio público Domínio público Domínio público Domínio públicoDo ponto de vista legal, hoje só existem três

circunstâncias pelas quais determinado conheci-mento se torna de domínio público:

• Vencimento dos prazos de proteção aos di-reitos patrimoniais (estendidos para até 70 anosapós a morte do autor); no caso das obrasaudiovisuais, o prazo de proteção é de 70 anoscontados após o 1º de janeiro seguinte ao lança-mento da obra53; e, no caso de obras fotográficas,a partir de 1º de janeiro do ano seguinte à publi-cação;

• Falecimento do autor, sem deixar herdeiroreconhecido;

• Autoria desconhecida, ressalvado quando setratar de conhecimento popular, folclórico ou na-tivo (de forma a proteger os povos tradicionais).

Usos alternativos têm de ser autorizados54 peloautor, de maneira explícita – caso contrário, a leiassume que “todos os direitos estão reservados”e qualquer uso (como cópia e adaptação sem ex-pressa autorização do titular do direto, por exem-plo) decorre em infração do direito autoral, res-salvados os poucos, e restritos, casos previstos emlei que permitem o uso lícito sem expressa autori-zação do titular.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Não há, no Brasil, qualquer dispositivo legalque garanta, ou pelo menos incentive, que o co-

nhecimento – cultural e científico – produzido como apoio de recursos públicos, se torne parte dodomínio público. A já citada proposta da Lei Geraldo Audiovisual, se aprovada, viria a se tornar oúnico instrumento legal com essa perspectiva e,mesmo assim, garantiria um uso limitado dasobras audiovisuais financiadas por verbas públi-cas somente após oito anos de sua primeiraveiculação.

A única menção sobre este tema na legislaçãobrasileira atual refere-se à propriedade estatal (enão ao domínio público) das obras produzidas comverbas públicas e vai na direção contrária àabertura. Nesse sentido, a Lei 9.610, em seu artigo6º, afirma que “não serão de domínio da União,dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípi-os as obras por eles subvencionadas”.

As instituições de fomento à pesquisa maisimportantes no Brasil, o Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado deSão Paulo (Fapesp), não mantêm esforços organi-zados para compartilhar o conhecimento produ-zido com seus recursos. Ao contrário, ambas asinstituições mantêm departamentos que auxiliamos pesquisadores a registrarem seus inventos eobras para garantir sua exploração comercial.

Entretanto, alguns aspectos das políticas definanciamento de pesquisas são de caráter essen-cialmente público e têm como fundamento a pro-dução de conhecimento que auxilie o poder públicoa efetivar direitos humanos. Um bom exemplodessas linhas de financiamento são as pesquisasque visam ao aprimoramento da produção de cis-ternas, tecnologia de baixo custo que propicia o

53.53.53.53.53. Para que uma criação se torne de domínio público no Brasil, portanto, são necessários 20 anos a mais do que impõe o TRIPS,que estabelece que o tempo mínimo de proteção dos direitos do autor é de 50 anos. Na legislação aprovada em 1973, queantecedeu a Lei 9.610/98, o Brasil também garantia os direitos patrimoniais por 70 anos, 20 a mais do que prevê a Convenção deBerna.54.54.54.54.54. Como veremos, algumas licenças como a GNU e a Creative Commons procuram flexibilizar as regras da Lei 9.610/98.

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armazenamento de água no semi-árido brasilei-ro. Na área da Comunicação, o incentivo ao de-senvolvimento do software livre é a mais clarainiciativa nesse sentido. Porém, o pequeno aportede recursos para a pesquisa acadêmica e científicapelos sucessivos governos55, por melhores que se-jam as intenções dos gestores das verbas, preju-dica a promoção em grande escala desse perfil definanciamento.

Portanto, não há uma tradição, nem uma dire-

55.55.55.55.55. Fontes oficiais afirmam que o Brasil investe atualmente 1,05% do PIB em pesquisa. Desse montante, segundo a Fapesp, 63%têm origem estatal (o que corresponde a 0,66% do PIB). Entretanto, outras fontes ligadas ao próprio governo contestam essesnúmeros, afirmando que parcela significativa desses valores é “contingenciada”, ou seja, consta nos orçamentos, mas não é defato executada.56.56.56.56.56. Sobre acesso a informações públicas e governamentais, consultar o Pilar A deste relatório.

B 3.3 - Canais e empresas públicas devem colocar seus arquivos sob domíniopúblico.

triz de governo atual, que aponte para que o co-nhecimento financiado por órgãos públicos sejacolocado sob domínio público. Contudo, é possí-vel afirmar que há uma tendência do poder públi-co em disponibilizar para consulta56 e reprodução(resguardada a citação da fonte), as informaçõesmantidas sob seu domínio. O pequeno númerode pessoas incluídas digitalmente é, por certo,uma limitação a essa intenção de tornar acessí-veis essas informações ao conjunto da população.

Comunicação pública Comunicação pública Comunicação pública Comunicação pública Comunicação públicaOs serviços públicos de comunicação no Brasil

têm políticas distintas em relação ao uso de seusarquivos. A Fundação Padre Anchieta, entidade dedireito privado mantenedora da TV Cultura, maiortelevisão de caráter público do país, nãodisponibiliza a totalidade de seus documentos aopúblico e a maior parcela da programação é pro-tegida por direitos autorais “convencionais”. Alémdisso, para ter acesso a cópias de programas épreciso pagar taxas que visam, além de cobrir ocusto das cópias, financiar a manutenção da emis-sora.

Já a Radiobrás, vinculada ao governo federal,mantém, historicamente, todo seu conteúdodisponibilizado para uso do público e para repro-dução em outros veículos de comunicação, tendocomo única exigência a citação da fonte. Da mes-ma maneira procedem as agências, rádios e tele-visões dos poderes Legislativo e Judiciário nacio-nais, e as mídias estatais regionais e locais, comoas televisões dos Legislativos estaduais e munici-pais.

É importante ressaltar que juristas e pesquisa-dores sobre propriedade intelectual divergem so-bre a necessidade de colocar todas as “categori-as” de conhecimento financiadas pelo Estado ime-

diatamente sob domínio público. Há, entretanto,mesmo entre os defensores de políticas mais fle-xíveis de direitos autorais, uma tendência emapontar que a melhor solução seria a de assegu-rar que o conhecimento mantido por verbas pú-blicas fosse disponibilizado em regimes que pos-sibilitem a maior liberdade de acesso, como osregistros inspirados no Creative Commons.

Tal argumento sustenta-se na idéia de que umsistema que obrigasse que o conhecimento pro-duzido com apoio de verbas publicas se tornassede domínio público stricto sensu poderia tornar oregime de propriedade intelectual desequilibrado,desestimulando a criatividade e a produção deconhecimento. Isso ocorreria, inclusive, na áreacultural, onde boa parte das produções sãomantidas com verbas públicas, direta e indireta-mente, pelos mecanismos de renúncia fiscal. Por-tanto, a questão da colocação em domínio públi-co de todo o conhecimento produzido com verbapública deve estar subordinada à adoção de regis-tros inspirados em iniciativas como a do CreativeCommons e do GNU-GPL, a fim de evitar queempresas privadas e/ou governos de outros paísesse apropriem, na forma de propriedade intelectual,deste conhecimento.

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B4: Participação efetiva da sociedade civil no processo degovernança, inclusive em sua formulação, preparação,regulação, implementação e revisão, além de apoio paraparticipação em nível internacional.

B4.1 Um processo participativo de desenvolvimento de políticas, que incluaparticipação significativa da sociedade civil e os recursos necessários para quetodos os parceiros dêem contribuições efetivas.

B4.2 Meios ativos e dinâmicos para que preocupações públicas com relação agovernança e políticas sejam ouvidas e atendidas.

B4.3 Mecanismos permanentes para participação pública na revisão eimplementação de políticas em curso, de modo descentralizado quandoapropriado, inclusive em relação aos acordos internacionais.

B4.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança, desenvolvidos eutilizados pela sociedade civil, reconhecidos ou não pelo governo .

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

A participação da sociedade civil na formula-ção, implementação e revisão dos mecanismos departilha do conhecimento em espaçosinstitucionais praticamente inexiste57. Tampoucohá mecanismos de participação permanente narevisão e implementação das políticas e leis emcurso, nacional e internacionalmente. A decisãodo governo brasileiro de incorporar observadoresda sociedade civil na delegação que foi a Genebraparticipar da primeira fase da Cúpula Mundialsobre a Sociedade da Informação foi positiva, mas,pela forma como foi conduzida, a abertura não setraduziu numa efetiva participação da sociedadecivil. Foram realizadas poucas reuniões, sem umareal abertura do governo para construir sua posiçãoa partir desse diálogo. Essa participação não serefletiu, necessariamente, na incorporação de po-sições da sociedade por parte do governo.

Abertura circunstancial de espaços de interlocuçãoAbertura circunstancial de espaços de interlocuçãoAbertura circunstancial de espaços de interlocuçãoAbertura circunstancial de espaços de interlocuçãoAbertura circunstancial de espaços de interlocuçãoTodavia, a recente postura de setores do go-

verno brasileiro abriu canais de diálogo e

interlocução com a sociedade civil. Desde 2003, oMinistério da Cultura vem promovendo encontrostemáticos sobre direitos autorais e diversidadecultural para colher sugestões e apresentar suaspropostas à sociedade. Da mesma forma, o gover-no federal tem apoiado materialmente a realiza-ção de eventos capitaneados por organizações ci-vis. Foi exatamente num destes encontros, o 5ºFórum Internacional de Software Livre de PortoAlegre, que o governo anunciou seu apoio aoCreative Commons.

O Instituto Nacional de Tecnologia daInformação (ITI) tem promovido consultas públicaspara a confecção de materiais relacionados àdifusão do software livre. As consultas, porém, sãorealizadas pela internet e, mais uma vez, esbarramno acesso restrito da população brasileira às novastecnologias.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESTENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

A disponibilidade para o diálogo demonstra-da pelo governo que tomou posse em 2003, en-

57.57.57.57.57. Uma honrosa exceção é o Comitê Gestor da Internet no Brasil, criado pelo Decreto 4.829/03. Para saber mais, consultar osatributos A6, C5 e D4 deste relatório.58.58.58.58.58. Exceto, e mais uma vez demonstrando as contradições internas do governo, pela criação do já citado Conselho Nacional deCombate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, que reduz o tema à sua expressão penal.

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tretanto, não se traduz na institucionalização deespaços de formulação e deliberação dos aspec-tos relacionados à propriedade intelectual no Bra-sil58. Nessa perspectiva, o esforço governamen-tal corre sérios riscos de ser perdido se as forçaspolíticas presentes no governo forem substituí-das por outras, com setores menos favoráveis àparticipação civil.

É preciso reforçar que as entidades gestoras dedireitos autorais e, especialmente, a industria,permanecem atuando no campo político. Talatuação é marcada por lobbies permanentes noCongresso Nacional e pela constante presença depeças publicitárias na grande mídia que difundemo discurso do combate à pirataria e buscamcriminalizar o usuário de cópias não autorizadas.

Do outro lado, se o estudo da propriedade in-telectual é um dos temas centrais sobre o impac-to da revolução da internet na sociedade, há de sedestacar que ainda não há no conjunto da socie-dade a percepção de que a legislação e as políti-cas públicas relativas aos direitos autorais (que seinsere no tema da propriedade intelectual) sãofundamentais para o desenvolvimento social eeconômico do país. Sem medo de errar, podemosafirmar que ainda prevalece na sociedade a idéiade que a questão mais importante a ser resolvidanesse tema é a pirataria.

Entretanto, e isso é importante frisar, crescemos espaços de debate sobre propriedade intelec-tual, possibilitando o amadurecimento de umaarticulação da sociedade civil para a construçãode um regime de partilha de conhecimento maisjusto. Um dos quatro temas escolhidos para a atu-ação da CRIS Brasil – Articulação Nacional peloDireito à Comunicação é justamente o da

propriedade intelectual.Se muitos artistas (músicos e escritores, princi-

palmente) permanecem como porta-vozes da in-dústria do direito autoral, cobrando da popula-ção atitudes dentro da “legalidade”, um númerocada vez maior deles defende não só a livre circu-lação de suas obras pela internet como procuraencontrar meios para a produção de seus traba-lhos que não criem relação com a indústria do di-reito do autor, principalmente no segmento musi-cal. Nesse sentido, há que se ter como central opapel dos criadores. Somente uma valorização dafunção social das obras por parte daqueles quecedem os direitos patrimoniais de suas criações aterceiros é que pode tornar mais favorável a cor-relação de forças nas disputas sobre um regimemais flexível de partilha do conhecimento.

Por fim, vale ressaltar que as ações do ITI e doMinistério da Cultura, atualmente em curso – leia-se Software Livre e Creative Commons – são hojeuma política estatal, mas surgiram e foram for-muladas pela sociedade civil nacional e internaci-onal. Foi ela – a sociedade civil – que construiu ascomunidades de desenvolvimento e compartilha-mento, mostrando ser possível uma nova formade organização e produção econômica que bus-que o desenvolvimento das nações a partir da cir-culação do conhecimento. Foi também a socieda-de civil que desenvolveu as licenças que permi-tem a flexibilização dos direitos autorais. Portan-to, a apropriação dessas políticas pelo Estado sóé possível porque são sustentadas pela sociedadecivil. Sem o apoio efetivo da sociedade brasileira,iniciativas dessa natureza tendem a ser esmagadaspelos lobbies da indústria do direito autoral.

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A existência de uma zona de transição comlimites incertos entre o que é vida privada e o queé vida pública faz com que o conflito entre aliberdade de informação e o direito à privacidadeseja o principal mote estudado sob este pilar. Épossível depreender, a partir do quadro descrito aseguir, que não existe marco regulatórioconsolidado na área – resultado tanto daobsolescência da legislação quanto de uma opção

política pela desregulamentação do mercado comoforma de abertura e estímulo à competição. Ogoverno Lula não interferiu, até agora, de maneiramais sensível nessa área. A única exceção é areorganização do Comitê Gestor da Internet noBrasil, que passou a ter caráter mais democrático(com eleição direta pelos pares) e plural (comrepresentação da sociedade civil), assumindo umpapel mais ativo na gestão da rede no país.

Pilar CPilar CPilar CPilar CPilar CLiberdades civis e direitos políticosLiberdades civis e direitos políticosLiberdades civis e direitos políticosLiberdades civis e direitos políticosLiberdades civis e direitos políticosna Sociedade da Informaçãona Sociedade da Informaçãona Sociedade da Informaçãona Sociedade da Informaçãona Sociedade da Informação

C1: Privacidade de informação e proteção de dados,atendendo ao direito de saber, acessar, corrigir e controlar o uso detoda informação pessoal mantida em forma digital por outrem.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Toda a legislação sobre este atributo parte doartigo 5º da Constituição de 1988, referente àsgarantias civis. De maneira geral, o inciso X desseartigo descreve o direito à privacidade deinformação, ao determinar como “invioláveis a in-timidade, a vida privada, a honra e a imagem daspessoas, assegurado o direito à indenização pelodano material ou moral decorrente de suaviolação”.

No que tange ao acesso à informação, é impor-tante destacar o inciso XIV, que se refere especial-mente ao jornalismo e que assegura a todos oacesso à informação e resguarda o sigilo da fonte,

“quando necessário ao exercício profissional”.A Lei de Imprensa (5.250/67) também garante

liberdades civis (além da liberdade de expressão,já tratada nesta pesquisa sob o Pilar A), aodeterminar que “é livre a manifestação do pensamentoe a procura, o recebimento e a difusão de informaçõesou idéias, por qualquer meio, e sem dependência decensura, respondendo cada um, nos termos da lei, pelosabusos que cometer”. Porém, a mesma legislação,redigida durante o período da ditadura militar,apresenta tópicos que chegam próximos delegitimar práticas de censura. Por exemplo, oparágrafo 1° do artigo 1° define que “não serátolerada a propaganda de (...) processos desubversão da ordem política e social”1.

1.1.1.1.1. Na prática, o Judiciário não tem aplicado a Lei de Imprensa, dada a sua natureza discricionária. Mas a simples existência de umalegislação do período da ditadura militar para a regulamentação do funcionamento da imprensa segue sendo um problema.

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C 1.1 - Leis que assegurem que dados pessoais são mantidos pelo mínimoperíodo necessário, bem como utilizados apenas para os propósitos autorizadosexpressamente pela pessoa a qual se referem. Isto inclui dados pessoaisfornecidos a serviços (saúde, finanças, compras etc.), atividades de segurançapública ou privada, material de vigilância em vídeo, informações inclusas em fichasde identificação (em eventos ou pedidos de emprego), e dados de funcionáriosmantidos por empregadores.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

O artigo 5º da Constituição garante ao cidadãoou pessoa jurídica o pleno acesso a informaçõesde seu interesse e a gratuidade da emissão de taisinformações, inclusive em relação a certidões.

De outro lado, no que diz respeito a prazospara atendimento, a Lei 9.051/95 dispõe sobre aexpedição de certidões para a defesa de direitosou esclarecimentos de situações, estabelecendo 15dias como prazo improrrogável.

É interessante notar que este dispositivo é va-lido inclusive para a Agência Brasileira deInformações (Abin – o serviço secreto do governofederal). Se um cidadão quiser saber se existeminformações a seu respeito no banco de dados daAbin pode requerê-las, pois a Constituição de1988, em seu artigo 5º, inciso XXXIII, prevê aobtenção, em órgãos públicos, de certidões deregistros pessoais, constantes em banco de dados,para a defesa de direitos e esclarecimentos desituações de interesse próprio. Em cumprimentoà legislação que regula a matéria, têm sidoatendidas solicitações dessa natureza, desde que,para isso, o interessado envie um requerimentodirigido ao Ministro-Chefe do Gabinete deSegurança Institucional da Presidência da Repúblicacom dados pessoais (nome, filiação, identidade,CPF), anexando cópia da identidade. Essesdocumentos podem ser enviados para o endereçoda sede da Abin, em Brasília, e o modelo doRequerimento de Informações Pessoais estádisponibilizado na página da agência na internet.

O direito descrito no inciso XXXIII, citado acima,é regulamentado através de instrumentos jurídi-cos que visam à preservação da pessoa. A preser-vação de informações pessoais é comparada à pre-servação física da pessoa, através do instrumentojurídico do hábeas-data (análogo ao habeascorpus), previsto na Constituição Federal, que ga-rante à pessoa física ou jurídica o direito de acessare corrigir qualquer informação referente a si deposse de terceiros.

LXXII - conceder-se-á hábeas-data:a) para assegurar o conhecimento de informações

relativas à pessoa do impetrante, constantes deregistros ou bancos de dados de entidadesgovernamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefirafazê-lo por processo sigiloso, judicial ou adminis-trativo;

Apesar da redação referente ao setor público, alei que define o hábeas-data (Lei 9507/97), incluiuma abertura que lhe permite valer sobre bancosde dados privados, ao definir que “considera-se decaráter público todo registro ou banco de dadoscontendo informações que sejam ou que possam sertransmitidas a terceiros ou que não sejam de usoprivativo do órgão ou entidade produtora oudepositária das informações”.

Sempre que dada empresa repassa informaçõesde sua posse, mesmo que de forma autorizada,referentes a uma ou mais pessoas, configura-se atransmissão e, portanto, o caráter público dessasinformações. Note-se que tal transmissão, obvia-mente, só poderia ser feita mediante autorizaçãodessas pessoas. Caso contrário, já se figura a vio-lação da privacidade de informação.

Nenhum desses incisos, entretanto, é claro so-bre as particularidades do uso da informação comotratada no quadro de referência genérico desterelatório. Não se fala explicitamente de tempo deconservação, usos ou retransmissão. Nemtampouco este instrumento jurídico prevê sançõespor mau uso ou a remoção da informação.

Neste ponto, a Política Nacional de Arquivos(Lei 8.159/91) é a que se mais aproxima de umaespecificação do assunto:

Art. 2º - Consideram-se arquivos, para os fins destaLei, os conjuntos de documentos produzidos e re-cebidos por órgãos públicos, instituições de cará-ter público e entidades privadas, em decorrênciado exercício de atividades específicas, bem comopor pessoa física, qualquer que seja o suporte da

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informação ou a natureza dos documentos.

Art. 3º - Considera-se gestão de documentos o con-junto de procedimentos e operações técnicas refe-rentes à sua produção, tramitação, uso, avaliaçãoe arquivamento em fase corrente e intermediária,visando a sua eliminação ou recolhimento paraguarda permanente.

Nesta lei, vale ainda destacar o artigo 23:

Art. 23 - Decreto fixará as categorias de sigilo quedeverão ser obedecidas pelos órgãos públicos naclassificação dos documentos por eles produzidos.

§ 1º - Os documentos cuja divulgação ponha em riscoa segurança da sociedade e do Estado, bem comoaqueles necessários ao resguardo da inviolabilidadeda intimidade, da vida privada, da honra e da ima-gem das pessoas são originariamente sigilosos.

§ 2º - O acesso aos documentos sigilosos referentesà segurança da sociedade e do Estado será restritopor um prazo máximo de 30 (trinta) anos, a contarda data de sua produção, podendo esse prazo serprorrogado, por uma única vez, por igual período.

§ 3º - O acesso aos documentos sigilosos referentesà honra e à imagem das pessoas será restrito porum prazo máximo de 100 (cem) anos, a contar dadata de sua produção.

No apagar das luzes do governo FernandoHenrique Cardoso, foi editado o Decreto 4.553,de 27 de dezembro de 2002, que buscava regula-mentar o artigo acima da Lei 8.159/91. Nele, fica-va definido que determinados documentos, con-siderados “ultra-secretos”, poderiam permanecerassim indefinidamente (“sigilo eterno”).

Posteriormente, o governo Lula publicou oDecreto 5.301, de 9 de dezembro de 2004, quemodificou o Decreto 4.553 e redefiniu a regula-mentação para o artigo 23 da Lei 8.159/91. ODecreto retoma os prazos anteriores, mas abreuma possibilidade para a manutenção do “sigiloeterno”.

Art. 5º A autoridade competente para classificar odocumento público no mais alto grau de sigilo po-derá, após vencido o prazo ou sua prorrogação,previstos no § 2º do art. 23 da Lei nº 8.159, de 8 dejaneiro de 1991, provocar, de modo justificado, amanifestação da Comissão de Averiguação e Aná-lise de Informações Sigilosas para que avalie, pre-viamente a qualquer divulgação, se o acesso aodocumento acarretará dano à segurança da socie-dade e do Estado.

Também na Lei 8.159, da Política Nacional deArquivos, o texto é bastante específico quanto aodireito de todos ao acesso à informação de possede órgãos públicos. Define-se ali, contudo, umaressalva em relação “àquelas cujo sigilo seja im-prescindível à segurança da sociedade e do Esta-do, bem como à inviolabilidade da intimidade, davida privada, da honra e da imagem das pessoas”.

Os arquivos públicos estão claramente defini-dos nessa lei, com critérios de classificação dainformação, de acordo com acesso e necessidadede conservação, por exemplo. Já no caso dearquivos privados, a Política de Arquivos legislaao tratar de informação declarada “de interessepúblico e social”, passando a vigorar sobre estesuma regulação comparável àquela do arquivo pú-blico.

Os arquivos privados são tratados especifica-mente sob o Código de Proteção e Defesa doConsumidor (Lei 8.078/90). O código define que oconsumidor “terá acesso às informações existentesem cadastros, fichas, registros e dados pessoais ede consumo arquivados sobre ele, bem comosobre as suas respectivas fontes”. A lei prevê aindao direito de exigir imediata correção no caso deencontrar-se inexatidão nos dados. Também érelevante a definição prevista de que “os bancosde dados e cadastros relativos a consumidores, osserviços de proteção ao crédito e congêneres sãoconsiderados entidades de caráter público”.

Portanto, fica definido que quaisquer bancosde dados privados que contenham informaçõespessoais, colhidas com fins comerciais – seja umserviço ou uma compra de fato –, ganham caráterpúblico, e são objeto de hábeas-data.

O Código de Proteção e Defesa do Consumidorainda é complementado pela Portaria SDE nº 5,de 27 de agosto de 2002, da Secretaria de DireitoEconômico do Ministério da Justiça, que definecomo abusiva, nos contratos de fornecimento deprodutos e serviços, a cláusula que “autorize oenvio do nome do consumidor, e/ou seus garantes,a bancos de dados e cadastros de consumidores,sem comprovada notificação prévia”. A portariatambém considera abusiva cláusula que “imponhaao consumidor, nos contratos de adesão, a obri-gação de manifestar-se contra a transferência, one-rosa ou não, para terceiros, dos dados cadastraisconfiados ao fornecedor”.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

No que se refere a todas as garantias civis, édever do Ministério Público sua preservação, bemcomo das liberdades individuais e coletivas. O MPnão age apenas de maneira corretiva medianteação, mas pode pró-agir em assuntos que lhe fo-rem pertinentes. “O MP tanto pode agir por suaprópria iniciativa, sempre que considerar que osinteresses da sociedade estejam ameaçados, quan-to pode ser acionado por qualquer cidadão queconsiderar que algum direito ou princípio jurídi-co esteja sob ameaça” (página do MPF,www.mpf.gov.br).

Além disso, mesmo considerando-se a indepen-dência do MP, estabelecida pela Constituição de1988, trata-se de uma parte do sistema de Justiça.

C 1.2 - Garantia do cumprimento de tais leis de modo acessível financeiramente,transparente e pró-ativo, e com o direito de revisão quando direitos tiverem sidoviolados.

C 1.3 - Existência de uma cultura ampla e difundida de auto-regulação e códigosde conduta em termos de privacidade e proteção de dados, entre atores dasociedade civil, do governo e do setor privado.

A atuação da sociedade civil neste campo é bas-tante limitada. Dada a natureza corretiva dohábeas-data e o acesso mais restrito a umadvogado e mesmo ao MP, grande parte dapopulação fica excluída do acesso a estes direitos.Resta a opção de acionar o sistema de proteção aoconsumidor, por meio da Procuradoria de Defesado Consumidor (Procon), que existem em âmbitoestadual e municipal. Os Procons têm uma atuaçãoampla e muitas vezes eficiente, mas nem por issochegam a ser pró-ativos no que tange à privacidadede informações.

Há também a Delegacia de Meios Eletrônicos,uma divisão da Polícia Civil especializada na in-vestigação dos delitos cometidos especificamen-te através das tecnologias de informação ecomunicação (TICs).

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Não existe, hoje, código de conduta consolida-do entre provedores de acesso, provedores deinfra-estrutura e os diferentes atores que utilizama internet. Existem, sim, componentes comuns àsmais diversas políticas de privacidade, impostosprincipalmente por tendências internacionais. Porexemplo, a grande maioria dos sites informativos

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOC1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3

Há uma base legal relativamente frouxa acercada gestão da informação. A regulamentação doCódigo de Proteção e Defesa do Consumidorequiparou os dados mantidos por entidadesprivadas com aqueles mantidos por entidadespúblicas, expandindo o acesso e o controle que oindivíduo pode ter sobre suas informações pessoaismantidas por terceiros. Essa regulamentação,entretanto, não preenche alguns requesitos, entreeles a informação sobre o tempo de manutençãoe regras claras para a eventual eliminação dessa

informação. Na prática, fica em aberto apossibilidade da guarda permanente de qualquerinformação, por parte tanto de empresas quantode órgãos públicos.

Não existe, portanto, uma regulamentação ge-ral que discipline a coleta de informações. Existe,atualmente, uma tendência entre grandes empre-sas, ao colher dados na internet, de colocar emevidência sua política de privacidade, explicitandose repassam ou não os dados sem autorização.

O instrumento jurídico do hábeas-data é umaferramenta válida para resguardar a privacidadede informação, mas é uma ferramenta corretiva,não uma regra disciplinar da gestão da informa-

traz a informação sobre conteúdo com copyright,e quase todo site que coleta algum tipo de infor-mação inclui sua política de privacidade.

Estes componentes são sinais de que, apesarde não haver auto-regulação no sentido clássico,existe certa cultura comum, com princípios próxi-mos – muitas vezes baseados, ou mesmo vincula-dos, a referências externas, como leis norte-ame-ricanas e européias.

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ção. E também não prevê a definitiva remoção dainformação sob guarda das empresas.

Estes dispositivos constitucionais foram regu-lamentados e, portanto, especificados em sua apli-cação. É importante citar que nem todos os as-pectos necessários à garantia da privacidade deinformações estão aqui cobertos – especificamen-te, o tempo durante o qual uma informação podeser mantida, seja por ente público ou privado,restrições quanto à venda e duplicação de bancosde dados etc.

A aplicabilidade das leis em vigor fica especial-mente a cargo do Ministério Público, conformecitado sob o item C 1.2.

O PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESC1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3

O Estado brasileiro já instituiu uma série degrupos de trabalho, alguns inclusive em nívelinterministerial, para tratar do assunto privacida-de (em 1996, por exemplo). Não houve, entretan-to, lei, regulamentação ou decreto que atuassecomo base legal ampla para a área, além do Códi-go de Proteção e Defesa do Consumidor.

Entidades como o Instituto de Defesa doConsumidor (Idec) procuram desenvolver umamaior conscientização das pessoas, de forma acercear práticas de marketing agressivas, comocartões não-solicitados e propaganda direcionada.

Diversos atores têm se manifestado em favorda abertura dos arquivos da ditadura militar, quetêm sido mantidos em segredo pelo governo bra-sileiro. Entre eles estão o grupo Tortura NuncaMais, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos,o Fórum de ex-Presos Políticos e a Pastoral Operá-ria Nacional.

Além isso, o Congresso Nacional cuida da aná-lise de uma série de projetos de lei que procuramtratar mais especificamente da privacidade comrelação às TICs. Veja mais no item “TendênciasAtuais e Futuras”, abaixo.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASC1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3C1.1, C1.2 E C1.3

Privacidade e per Privacidade e per Privacidade e per Privacidade e per Privacidade e perfis de consumofis de consumofis de consumofis de consumofis de consumoEste pilar, na forma como tem sido tratado em

termos de políticas públicas, focou-se em um viésde direito do consumidor – portanto, assumindoque as informações pessoais, na prática, setransformaram-se em mercadorias, que têm preçocerto – e alto, em geral.

De um lado, existem os usos já consideradoscriminosos: estelionatos e fraudes, utilizando se-nhas e números de cartões de crédito roubados.De outro, a sofisticação da propaganda criou umanova técnica: a modelagem de comportamento dosconsumidores, que faz uso de questionários eferramentas estatísticas para direcionarpropagandas e outros tipos de ações de marketing.Este tipo de modelagem consegue prever, com boamargem de sucesso, o comportamento dosusuários – ou clientes – de determinada empresaou serviço. Isso permite às empresas direcionarpropagandas ou ações de marketing específicas.

Alimentam estes bancos de dados, inclusive,informações pessoais de ex-usuários destes siste-mas. Não é prática comum a eliminação das infor-mações após o término da contratação dos servi-ços, e esses dados acabam por continuar “sendoúteis” para as empresas.

O cruzamento de informações – e a conseqüen-te montagem de modelos e perfis – é uma ativi-dade de inteligência que chegou ao setor privadohá relativamente pouco tempo. Nenhuma legisla-ção regulamenta, hoje, o cruzamento de dados,que já parece abusivo em sua definição. Esse usomercantil, na prática, não tem encontrado limites.

Sigilo perpétuo Sigilo perpétuo Sigilo perpétuo Sigilo perpétuo Sigilo perpétuoO mecanismo de “sigilo eterno” contido no

Decreto 5.301 é um sério obstáculo ao esclareci-mento público, especialmente em um país comoo Brasil, que passou por mais de 20 anos de dita-dura militar. Coincidentemente, este tipo de sigi-lo ganhou notoriedade pública com a publicação,pelo jornal Correio Braziliense, de fotos que se su-punha serem do jornalista Vladimir Herzog, tor-turado e morto em 1975. A Abin e outras fontesconfirmaram, mais tarde, tratar-se de fotos dopadre canadense Leopold D’Astous.

Fotos como essas e outros documentos relaci-onados, entretanto, ainda são segredo militar, epoderiam muitas vezes ajudar a esclarecer o casode mortos e desaparecidos políticos. Contudo,existe um receio, por parte dos militaresespecialmente, de que a abertura desse tipo dearquivo possa exacerbar tensões que haviam sido“resolvidas” pela anistia, em 1979.

Uma forte crítica feita ao atual governo – o pró-prio presidente e muitos ministros foram presospolíticos – é a de que não houve uma política pararevelar fatos relacionados à ditadura militar.Diferentemente de países vizinhos, como Argen-tina e Chile, que também sofreram com ditaduras,mas onde está havendo um processo de investi-gação e cassação de anistias.

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Ministério PúblicoMinistério PúblicoMinistério PúblicoMinistério PúblicoMinistério PúblicoOcorre hoje uma forte discussão a cerca do

Ministério Público. A principal polêmica fica emtorno da autonomia do órgão, que se tornou in-dependente do Judiciário a partir da Constituiçãode 1988. De um lado, críticos consideram que aatuação do MP precisa de um mínimo de restri-ção, pois tem acabado por se prestar a usos políti-co-partidários. O caso Waldomiro Diniz é usadocomo exemplo, onde um Subprocurador da Repú-blica (José Roberto Santoro) “municiaria” a oposi-ção (PSDB) com documentos para desestabilizar ogoverno. De outro lado, o PSDB criticou inúmerasvezes o Procurador da República Luiz FranciscoFernandes de Souza por agir a favor do Partidodos Trabalhadores (PT). Ainda assim, os defenso-res do papel atual do MP garantem que a plenaautonomia é essencial para o Estado de Direito.

Está em tramitação no Senado o PL 65/99, apre-sentado pela Presidência da República, que “proíbemagistrados, membros do Ministério Público,integrantes do Tribunal de Contas, bem como autori-dades policiais e administrativas de revelarem oupermitirem, indevidamente, que cheguem aoconhecimento de terceiro ou aos meios de comunica-ção fatos ou informações de que tenha ciência em razãodo cargo e que violem o sigilo legal, a intimidade, avida privada, a imagem e a honra das pessoas (...)”.

Projetos de Lei Projetos de Lei Projetos de Lei Projetos de Lei Projetos de LeiEntre as propostas de lei que tratam de assun-

tos correlatos, além do PL 65/99, citado acima,destaca-se o PL 6.981/02, do deputado OrlandoFantazzini (PT-SP), que ”estabelece normas para aproteção e tratamento dos dados pessoais e dáoutras providências”. Primeiramente, ele define oque é “tratamento de dados pessoais”, abrangen-do todos os usos e campos hoje possíveis. Comisso, seja o recolhimento de informação atravésde robots, o preenchimento de um formulário oua transmissão através de rádio, IP ou meio físico,todos os mecanismos estão cobertos de maneiraabrangente. O projeto também proíbe ainterconexão de dados, entendida como o “relaci-onamento dos dados de um sistema com dadosarmazenados ou conservados com os dados deum outro sistema, mantido por outro ou outrosresponsáveis, contendo semelhantes ou diferen-tes finalidades”.

Esta particularidade ganha destaque, visto queuma das grandes possibilidades que empresasvêem nos seus cadastros de clientes se encontrano desenvolvimento de perfis, de modo a prevercomportamentos e definir públicos-alvos para de-terminadas campanhas de marketing ou outras

ações, não diretamente relacionadas ao serviçoque motivou a coleta original da informação.

Segundo a proposta, dados pessoais devem serrecolhidos para finalidade determinadas, explíci-tas e legítimas, não podendo ser posteriormentetratados de forma incompatível com essas finali-dades. Além disso, a proposta prevê a proibiçãodo tratamento de dados pessoais referentes a con-vicções filosóficas ou políticas, filiação partidáriaou sindical, fé religiosa, vida privada e origem ra-cial ou étnica, bem como o tratamento de dadosrelativos à saúde, à intimidade e à vida sexual,incluindo os dados genéticos.

Nesta proposta, o deputado procura ir além dalegislação atual e se aproximar de modelos euro-peus, como na Alemanha e na Inglaterra, onde jáexistem leis específicas sobre o tráfego de infor-mações, especificamente na internet. Este projeto,que se encontra desde 2002 sob exame na Comis-são de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmarados Deputados, vai ao encontro das idéiasdiscutidas no quadro de referência genérico desterelatório, e sua transformação em lei representariaum significativo avanço no trato das informaçõespessoais no Brasil de hoje.

O Projeto de Lei do Senado 95/03, propostopelo senador Valmir Amaral (PMDB-DF), procuragarantir a privacidade de informação da pessoafísica na internet. No projeto, entende-se porinformação pessoal “aquela, de qualquer natureza,pertinente à pessoa, tais como seus hábitos, seusinteresses, sua identificação, seus endereços físicose virtuais e seus meios financeiros”. Muito similaré o PL 3.360, de 2000, do deputado Nelson Proença(PPS-RS), que está na Comissão de Ciência eTecnologia da Câmara desde abril de 2003.

Existe ainda o PL 123/03, proposto pelo depu-tado Newton Lima (PTB-SP). Mais estreito noescopo, este apenas veda a retransmissão ou ces-são de informações pessoais. Este texto aguardaparecer do relator na Comissão de Constituição eJustiça da Câmara desde 2004.

Estes últimos projetos de lei citados se encon-tram englobados na proposta do deputadoFantazzini, ainda que de maneira bem maissimplificada. A vantagem do PL do deputadoFantazzini com relação aos demais é sua melhordefinição das áreas abrangidas e das respectivasresponsabilidades. O interessante dessas propos-tas, em separado do Código de Proteção e Defesado Consumidor e suas regulamentações, é que elasconsubstanciam a noção de que não é a relaçãocomercial que estabelece as condições detratamento dos dados, mas sim a inerência dodireito constitucional da privacidade.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

No Estado brasileiro, toda comunicaçãointerpessoal tem a privacidade protegida, comoexpresso no inciso XII do artigo 5º da ConstituiçãoFederal, que determina ser “inviolável o sigilo dacorrespondência e das comunicações telegráficas,de dados e das comunicações telefônicas, salvo,no último caso, por ordem judicial, nas hipótesese na forma que a lei estabelecer para fins deinvestigação criminal ou instrução processualpenal”.

Da mesma forma, a Lei Geral das Telecomuni-cações (9.427/97) define em seu artigo 3º o direito“à inviolabilidade e ao segredo de sua comunica-ção, salvo nas hipóteses e condições constitucio-nal e legalmente previstas”.

Uma das hipóteses de violação está na Lei doGrampo (9.296/96). Ela define as condições parainterceptação de comunicações telefônicas, de sis-temas de informática e telemática, para prova eminvestigação criminal e em instrução processualpenal. De acordo com o artigo 2º, não será admi-tida a interceptação de comunicações telefônicas

quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ouparticipação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meiosdisponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penalpunida, no máximo, com pena de detenção.

A partir do momento em que se autoriza a es-cuta, o Ministério Público pode acompanhar a açãoda autoridade policial.

É importante citar que, ainda que o correio ele-trônico possa ser entendido como “fluxo de co-municações em sistemas de informática”, aindanão há definição jurídica plena sobre este meio.“A natureza jurídica da mensagem eletrônica nãose encontra definida e por esse motivo reside umatendência a equipará-la à correspondência, querecebe proteção da inviolabilidade do sigilo”2.

No entanto, há diferenças técnicas que confor-mam diferentes tratamentos para correspondên-cia por correio ou por e-mail, e que devem serlevadas em conta na legislação3.

C 2: O direito à privacidade na comunicação é um direitohumano e é essencial para o desenvolvimento humano auto-determinado, em atividades tanto cívicas, políticas, sociais eeconômicas como culturais

C 2.1 - Leis e regulações que assegurem o direito à privacidade na comunicação,seja através da internet, telefonia ou outros meios eletrônicos, com exceçõesapenas em circunstâncias extremas e claramente definidas, e que valham emambientes privados, públicos e comerciais.

2. 2. 2. 2. 2. FERREIRA, Ana Amelia Menna Barreto de Castro, na página www.camara-e.net3.3.3.3.3. As características que diferenciam o e-mail da correspondência postal por natureza se encontram nos protocolos detransmissão de e-mail (IMAP, POP3 para armazenagem, SMTP para transmissão, etc.), que não garantem, por si, o sigilo damensagem. Uma analogia válida seria dizer que enviar um e-mail é como enviar um cartão postal; o conteúdo está à mostra, nãopode ser ocultado dos mecanismos que o transportarão do remetente ao destinatário. A única alternativa viável para garantir estesigilo, hoje, é o uso de softwares de criptografia – existem milhares de sistemas de criptografia, muitos inclusive em uso porparte de agências de inteligência, outros para fins comerciais. A Infra-Estrutura de Chaves Públicas (ICP-Brasil) é, hoje, o sistemade chaves criptográficas em uso por órgãos oficiais, como a Presidência da República e a Receita Federal.Outra diferença com relação à correspondência postal é que a transmissão e recepção de e-mails não é atividade mediada porconcessão ou empresa pública. Provedores de acesso ou empresas têm seus próprios servidores de mensagens, compatíveisentre si, mas com gerenciamento e controles diferentes e independentes.

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C 2.3 - Leis para controlar SPAM (mensagens comerciais de correio eletrôniconão solicitadas) e impedi-lo de inibir a capacidade geral de interação na internet.

C 2.2 - Garantia do cumprimento de tais leis de modo transparente, não-partidário e pró-ativo, inclusive contra violações praticadas pelos Estados, e com odireito de revisão quando direitos tiverem sido violados.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

O grampo, especificamente telefônico, é umadas grandes polêmicas da sociedade brasileira. Detempos em tempos, vazam para a imprensa o con-teúdo de gravações telefônicas ou surgem denún-cias de grampos realizados sem autorização judi-cial.

Aqui, fica evidente a fraqueza do Estado brasi-leiro quando se trata da fiscalização das próprias

políticas. O Ministério Público, especificamente aProcuradoria dos Direitos do Cidadão, tem o de-ver de apurar os abusos e fiscalizar o bom cumpri-mento das leis brasileiras. Segundo o artigo 127da Constituição, “o Ministério Público - MP é umainstituição permanente, essencial função jurisdicionaldo Estado, que tem como atribuição a defesa da ordemjurídica, do regime democrático e dos interesses sociaise individuais indisponíveis”.

Não existe, hoje, legislação em efeito sobre oSPAM. Existem, sim, diversos projetos de lei emtramitação no Congresso Nacional, que pretendemregular – ou ao menos prever sanções – neste se-tor.

Enquanto o Brasil é o quarto maior produtormundial de SPAMs, os Estados Unidos, primeirodo ranking, aprovaram em dezembro de 2003 aCAN-SPAM, lei que tem por intenção controlar oSPAM. É importante salientar que esta legislaçãoainda não teve efeito sensível.

Na falta de legislação específica, os SPAMs sãoencarados como violação dos direitos do consu-

midor, que são garantidos pelo inciso XXXII doartigo 5º da Constituição, e pelo Código deProteção e Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).

Em janeiro de 2005, o Comitê Gestor da Internetno Brasil criou um grupo de trabalho para tratardo tema. O objetivo inicial não é o de propor umalegislação específica para o assunto, mas de cons-truir um pacto de conduta que envolva diversossetores envolvidos, como provedores de acesso efornecedores de infra-estrutura de transmissão dedados (como as empresas de telecomunicações,por exemplo).

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOC 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3

A privacidade nos meios eletrônicos não é con-solidada no tratamento da informação por partede agentes privados. Empresas monitoram cons-tantemente os e-mails que criam para seus funci-onários. Algumas vezes, o propósito é coibir prá-ticas como acesso a pornografia ou manter a pro-dutividade no escritório, mas existem casos deinterceptação de mensagens que levaram a demis-sões por causas trabalhistas – por exemplo, umcaso em que houve perseguição a funcionáriosdevido a troca de mensagens organizando greve.

No caso das comunicações que circulam pelainternet, especialmente e-mail, a ferramenta maisutilizada para garantir privacidade nas comunica-ções é a certificação digital – e seu recurso decriptografia.

Certificação Digital Certificação Digital Certificação Digital Certificação Digital Certificação DigitalA certificação é o processo usado para garantir

a autenticidade e/ou a privacidade de uma mensa-gem ou documento eletrônico. No caso da auten-ticidade, esta é garantida através de assinaturadigital; já a privacidade é garantida através decriptografia.

A certificação digital é a ferramenta mais utili-zada atualmente para contrabalançar um aspectohistórico da internet: o anonimato. Através dosprocessos de autenticação e criptografia, é possí-vel dar validade jurídica a um documento, aomesmo tempo em que o mesmo continua privati-vo de poucas pessoas.

Como funcionaO processo consagrado no Brasil e na internet

em geral é o da dupla de chaves pública e priva-da. Todo usuário, seja pessoa física ou jurídica, ao

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conseguir a certificação digital, recebe dois códi-gos: um que deve ser mantido de posse da pessoae outro que pode ser divulgado livremente.

Estas “chaves” são criadas através de operaçõesmatemáticas complexas, e são utilizadas paracriptografar ou assinar uma mensagem ou docu-mento. São ligadas uma a outra, mas não é possí-vel deduzir uma a partir da outra4. Vale destacarque a criptografia garante a privacidade, não aautenticidade, assim como a assinatura garante aautenticidade, não a privacidade. São operaçõesdistintas e, caso necessárias, podem (e devem) serfeitas uma por vez.

Usos e aplicaçõesA certificação digital está crescendo no momen-

to. Toda vez que um usuário acessa um site de umbanco ou de compras – ou seja, sempre que seestabelece o chamado “ambiente seguro” –, já háum tipo de certificado digital sendo utilizado, deforma licenciada pelos bancos para seus softwaresde internet banking. Da mesma forma, órgãos comoa Receita Federal já aceitam operações em que osusuários se identifiquem utilizando certificaçãodigital – os chamados e-CPF e e-CNPJ, verdadeirascarteiras de identidade digitais que utilizamcertificação digital para garantir a autenticidade ea privacidade de comunicação entre seus usuários.

“A assinatura digital é uma das condições ne-cessárias para assegurar os direitos básicos de ci-dadania vinculados ao mundo virtual, como pri-vacidade, sigilo e confiabilidade das informaçõesque trafegam no ciberespaço”, comenta SérgioAmadeu, presidente do Instituto Nacional deTecnologia da Informação (ITI).

Vale destacar que o principal estímulo ao usodos e-CPF e e-CNPJ é de natureza econômica. Semutilizá-los, bancos têm sofrido fraudes, lojas sofreminadimplência e roubos de identidade têm ocorri-do com freqüência cada vez maior.

ICP-BrasilA ICP-Brasil, ou Infra-Estrutura de Chaves Pú-

blicas brasileira, é o sistema de certificação digi-tal oficial do país, responsável pelo e-CPF e e-CNPJ.

Vale a observação de que esta não é a únicaestrutura válida do ponto de vista jurídico no Bra-sil, visto que qualquer acordo entre partes, vali-dado em contrato, permite o uso de diferentesestruturas de certificação.

A ICP-Brasil é mantida pelo ITI, que é a Autori-dade Certificadora Raiz da ICP-Brasil. Em outraspalavras, é a partir das chaves do ITI que todas asoutras chaves da estrutura serão criadas. Esta li-gação garante a “legitimidade” das chaves, dadoque a ICP-Brasil é avalizada por uma infra-estrutu-ra oficial (o ITI é uma autarquia ligada à Casa Civilda Presidência da República), bem como umapolítica mínima comum de uso das chaves.

A ICP-Brasil é gerida pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil, composto por sete representantes de mi-nistérios (Casa Civil, Fazenda, Justiça, Desenvolvi-mento e Comércio Exterior, Planejamento, Ciênciae Tecnologia, e Segurança Institucional) e cincorepresentantes da sociedade civil, todos indicadospelo Presidente da República. A coordenação destecomitê fica a cargo do representante da Casa Civil.

Atualmente, a ICP-Brasil já é utilizada pela Pre-sidência da República, pelo Sistema de Pagamen-tos Brasileiro (SPB) e pela Receita Federal, além debancos e outras entidades.

O programa João de BarroToda a ICP-Brasil utiliza, hoje, tecnologia de

certificação digital importada. Ou seja, a cada parde chaves pública/privada criado, seja pelo ITI oupelas outras Autoridades de Certificação (AC) eAutoridades de Registro (AR), é necessário o paga-mento de royalties. O programa João de Barro,composto pela Marinha Brasileira (MB) e pelo ITIvisa criar uma tecnologia nacional alternativa, quesubstituirá aquela atualmente utilizada na ICP-Bra-sil, com a vantagem adicional de ser auditável.

De acordo com Paulo Sérgio Pagliusi, da Mari-nha Brasileira, o programa visa à “construção enacionalização de uma plataforma criptográficaaberta e auditável para a AC-Raiz da ICP-Brasil”.Ele explica: “A metodologia utilizada no Progra-ma ‘João-de-Barro’ prevê o desenvolvimento desistemas baseados em software livre, com códi-

4.4.4.4.4. O sistema funciona da seguinte maneira: suponha os usuários João e Maria. João possui seu par de chaves, assim como Maria, eambos querem trocar mensagens privadas, com a certeza de que ninguém poderá compreender o conteúdo, mesmo que a mesmaseja interceptada. Os dois enviam um para o outro suas chaves públicas. De posse dela, por exemplo, João cria uma mensagempara Maria e, antes de enviá-la, criptografa a mesma utilizando a chave pública de Maria. Agora, a única chave capaz de decodificara mensagem é a chave privada de Maria, que é de posse exclusiva dela. Dessa maneira, fica garantido que apenas Maria vaiconseguir ler aquela mensagem. Da mesma forma, para Maria mandar uma mensagem privada para João, é preciso usar a chavepública dele. Mesmo que esta mensagem seja interceptada, ela será ilegível sem a chave privada de João. Agora, caso João eMaria queiram trocar mensagens com 100% de certeza de que são eles mesmos os autores, o procedimento é o seguinte: aoenviar uma mensagem para João, Maria assina digitalmente a mensagem usando sua chave privada. Esta assinatura só pode serreconhecida com a chave pública do remetente.

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go-fonte aberto, para serem integrados na plata-forma criptográfica. É mandatório o uso de ambi-entes abertos (como o sistema Linux), evitando-se, assim, o desenvolvimento de softwares vincu-lados a ambientes fechados ou proprietários (‘cai-xas-pretas’). Além disto, todos os sistemas desen-volvidos em software poderão ter seus códigos-fonte publicados na internet, para a disseminaçãodos conhecimentos e busca de críticas e suges-tões da sociedade acadêmico-científica”. Essa ca-racterística da plataforma em software livre eauditável foi determinada pelo Comitê Gestor daICP-Brasil.

O projeto teve início em novembro de 2003,com a assinatura do convênio entre ITI e a Mari-nha Brasileira, e deve durar três anos. A expectati-va é de que a nova tecnologia tenha uma vida útilde cerca de dez anos.

Roubo de identidade e afins Roubo de identidade e afins Roubo de identidade e afins Roubo de identidade e afins Roubo de identidade e afinsTem ocorrido, com freqüência cada vez maior,

o chamado “roubo de identidade”, expressão cu-nhada nos EUA e que identifica o roubo e usoindevido de informações pessoais, sejam núme-ros de documentos, senhas pessoais, cartões decrédito etc.

Existem duas técnicas: uma delas é a invasãode bancos de dados de grandes empresas. A outraé o chamado phishing, na qual o usuário é induzi-do a inserir seus dados pessoais em sites falsos deempresas reconhecidas.

O PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESC 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3

Existe um crescente movimento de busca pelaregulamentação do tráfego de informações nainternet – ao menos no que tange ao SPAM. Enti-dades como o Grupo Brasil AntiSPAM(www.brasilantispam.org) e o MovimentoBrasileiro de Combate ao SPAM(www.antispam.org.br), formadas principalmentepor provedores de acesso e outras entidadesinteressadas no comércio eletrônico, procuramcoibir esse tipo de mensagem em benefício dascomerciais autorizadas e controladas. O SPAM vaicontra o interesse destas empresas, tanto poraumentar a desconfiança com o meio eletrônicoquanto por representar significativo incrementono tráfego de dados entre as diversas redes queintegram a internet.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior instalou, em 2004, o ComitêExecutivo de Comércio Eletrônico (http://ce.mdic.gov.br), com representação do setor

privado, da comunidade científica e outros gru-pos interessados. Cabe a ele “elaborar projetos erecomendações que, levadas aos órgãos compe-tentes, resultam em aperfeiçoamento de normase da legislação, na adoção de padrões técnicos etc.,além de manifestar-se sobre as proposições dopúblico em geral”.

Apesar do foco especificamente comercial, estegrupo deve ter impacto significativo sobre as for-mas de funcionamento da internet de maneirageral.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASC 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3C 2.1, C 2.2 E C 2.3

SP SP SP SP SPAMAMAMAMAMO SPAM tem sido o principal alvo de todas as

propostas de lei e regulamentações, no que tangeà comunicação eletrônica – tanto pelo seu poten-cial de problema técnico (“congestionando” ainternet, por assim dizer), quanto pela quebra daconfiança da rede como ambiente seguro paratransações comerciais – não só no Brasil, mas glo-balmente. Questiona-se, entretanto, a eficácia daslegislações já em vigor, como a americana CAN-SPAM, de dezembro de 2003. O volume de SPAM,inclusive nos EUA, continua a crescer. Um exem-plo de proposta de regulamentação é o Projeto deLei do Senado 21/04, proposto pelo senadorDuciomar Costa (PTB-PA), que incide apenas sobreas mensagens eletrônicas comerciais. Existetambém o PL 2.186/03, do deputado RonaldoVasconcelos (PTB-MG). Ambas as propostas usama sistemática OPT-OUT, na qual o destinatário damensagem é quem deve solicitar o não-recebimento de mensagens posteriores, umaprática pregada nos EUA e que não tem surtidoefeito.

Há ainda outros projetos de lei acerca do tema,como o PL 2.423/03, que dispõe sobreprocedimentos de invasão de computadores eenvio de mensagem eletrônica não solicitada; oPL 279/03, que dispõe sobre a prestação dosserviços de correio eletrônico; o PL 7.093/02, quedispõe sobre a correspondência eletrônicacomercial; e o PL 6.210/02, que limita o envio demensagem eletrônica não solicitada.

Arapongagem Arapongagem Arapongagem Arapongagem ArapongagemO governo federal está preparando a minuta

de um novo projeto de lei que supere a Lei doGrampo (9.296/96), e que impeça, entre outrascoisas, a divulgação de qualquer informaçãocaptada de modo ilegal, seja por uma escuta ouinterceptação de comunicações.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Ainda o artigo 5º da Constituição diz que “élivre a manifestação do pensamento, sendo veda-do o anonimato”. Cabe a observação de que ainternet, em geral, é um ambiente de anonimatopor definição. Os usuários não são, geralmente,obrigados a se identificar de acordo com registrosoficiais, como RG ou CPF, muito menos ao assinardocumentos, textos ou transmissões feitas nainternet.

Também o mesmo artigo diz que é livre a ex-pressão da atividade intelectual, artística, científi-ca e de comunicação, independentemente de cen-sura ou licença. Mais à frente, a não-existência de

censura é reafirmada no capítulo sobre Comuni-cação.

Art. 220 - A manifestação do pensamento, acriação, a expressão e a informação, sob qualquerforma, processo ou veículo, não sofrerão qualquerrestrição, observado o disposto nesta Constituição.

§1° - Nenhuma lei conterá dispositivo que possaconstituir embaraço à plena liberdade de informaçãojornalística em qualquer veículo de comunicaçãosocial, observado o disposto no art. 5°, IV, V, X, XIII eXIV;

§2° - É vedada toda e qualquer censura de nature-za política, ideológica e artística.

C 3: Ausência de censura eletrônica. O direito de transmitirinformação eletrônica sem censura ou controle por parte deagentes do Estado, judiciais, comerciais, empregadores ou outrem.

C 3.1 - Leis de proteção contra censura na internet ou outros meios depublicação eletrônica, seja através de filtros, sites prescritos, sanções contraprovedores de acesso ou conteúdo e a responsabilização dos provedores porconteúdo hospedado.

C 3.2 - Leis ou regulações, inclusive auto-regulação por parte da indústria, queinclua obrigações para que operadores comerciais de publicações e difusãoeletrônicas (provedores de acesso, mecanismos de busca, provedores de banda[infra-estrutura de internet, empresa de telefonia, internet a cabo ou via satélite])ajam como operadores de rede (common carriers) para material juridicamentelegal.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

A Lei Geral de Telecomunicações (9.472/97) fazmenção à prática do unbundling (obrigação deconcessionários de serviços públicos a ceder, oupartilhar, o uso de sua infra-estrutura instalada demodo a estimular a competição). Também a Leida TV a Cabo (8.977/95) estipula que as redesfísicas das operadoras de cabo, uma vez emfuncionamento, têm caráter público e podem serusadas para finalidades públicas (como, por exem-plo, a criação de uma intranet pública).

Contudo, nenhum dos dois dispositivos foi re-gulamentado posteriormente e ambos seguemsem serem aplicados.

Não há qualquer outro mecanismo que obri-gue provedores de acesso ou de infra-estrutura aoferecerem condições de transmissão para conteú-do que, na prática, não seja comercial. Sendo tra-tado do ponto de vista comercial, portanto, osprovedores podem negar a prestar determinadoserviço, mesmo que seja de disponibilização dematerial judicialmente legal.

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C 3.3 - Garantia do cumprimento de tais leis de modo acessível financeiramente,transparente e pró-ativo, e com o direito de revisão quando direitos tiverem sidoviolados.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Embora não haja legislação específica, cabe citaro Comitê Gestor da Internet no Brasil (mais

detalhado sob o atributo C5), que tem o potencialde influenciar positivamente esta área na criaçãode canais de interlocução e resolução de disputas,para garantir a liberdade de expressão na internet.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOC 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3

Hoje é a cobrada uma taxa de interconexão paraconectar um provedor de acesso ao backbone dainternet5. Essa é uma forma de estimular acompetição, pois poupa o investimento altíssimoda criação de uma infra-estrutura de cabos telefô-nicos, por exemplo, para as empresas-espelho detelefonia fixa6.

Apesar da Constituição prever a liberdade deexpressão e manifestação do pensamento, o fatode a internet depender de provedores privados fazcom que não haja garantia de hospedagem outransmissão de qualquer conteúdo.

No tocante à comunicação de massa, não existea visão de que provedores de acesso e infra-estrutura deveriam abrir canais que facilitassem aparticipação de grupos de diferentes formas deexpressão. O último movimento nesse sentido foia Lei da TV a Cabo, que criou os canais de utilizaçãogratuita, como os comunitários, universitários edos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Estes canais muitas vezes não são ocupadospela sociedade civil, por falta de condições técnicase/ou financeiras. Existem inclusive casos de ligaçãoentre canais “comunitários” e a grande mídia.

No caso da internet, diferentes grupos têm seapropriado da rede como espaço para livre expres-são. Esse uso, atualmente, não é organizado, oque pode ser entendido como um bom sinal, jáque significa, em princípio, ausência de restrições,ao menos em âmbito nacional7. É importante ci-tar que no Brasil, como país em que há um qua-dro de enorme exclusão social, usar TICs comomeio de expressão requer um passo anterior, que

é o acesso a tais tecnologias (ver Pilar D).

O PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESC 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3

A convergência tecnológica apresenta um ce-nário complexo, em constante mutação, que fazdas teles e dos provedores de TV por assinaturaconcorrentes em permanente disputa. No Brasil,o setor de telecomunicações encontra marcoregulatório mais definido entre os três citados, maspor enquanto não existe restrição à produção deconteúdo por parte dessas empresas, o que temprovocado disputas acirradas entre esses atores,já que, de sua parte, as TVs por assinatura têmque seguir regras estabelecidas. Como conseqüê-ncia disso, na reformulação do Comitê Gestor daInternet no Brasil, os provedores do setor de TVpor assinatura e os provedores do setor das telesdisputaram a vaga entre os provedores de infra-estrutura. O eleito é do setor de telecomunicações,tendo ficado o representante do setor da TV porassinatura com a suplência.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASC 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3C 3.1, C 3.2 E C 3.3

O governo anunciou no início de 2005 a inten-ção de elaborar uma Lei Geral de Comunicação deMassa, visando à regulamentação de todos os ser-viços ligados ao tema, incluindo infra-estrutura,distribuição e produção de conteúdo. Não está cla-ro ainda se a internet será incluída na Lei, mascertamente ela será afetada pela regulamentaçãogeral, já que a convergência tecnológica estabele-ce “comunicações” como um campo híbrido.

5.5.5.5.5. São as chamadas “teles fixas” que possuem a infra-estrutura de conexão da “última milha” que chega às casas dos assinantesresidenciais e das pequenas empresas (as grandes empresas dispõem de várias opções de conexão). Os provedores são obrigadosa pagar pelo uso desta infra-estrutura, mas o problema é que as teles fixas possuem seus próprios provedores, que terminam porauferir condições vantajosas do uso das redes, caracterizando concorrência desleal.6.6.6.6.6. Para racionalizar o tráfego de dados na internet, está sendo proposto o PTT-Metro, projeto do Comitê Gestor da Internet noBrasil que promove e cria a infra-estrutura necessária (Ponto de Troca de Tráfego - PTT) para a interconexão direta entre as redes("Autonomous Systems" - ASs) que compõem a internet brasileira. Dessa forma, racionalizam-se custos, uma vez que os balançosde tráfego são resolvidos direta e localmente e não através de redes de terceiros, muitas vezes fisicamente distantes.7.7.7.7.7. Existem diversas restrições, mas todas de caráter internacional, como o Carnivore, o Echelon e a própria estrutura de nomes,números IPs e roteamento da internet.

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C 4. Liberdade de associação no meio eletrônico, paraparticipar de protestos públicos ou debates online.

C4.1Leis que salvaguardem contra vigilância em vídeo excessiva e seu possívelefeito intimidante sobre a liberdade de associação.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

O artigo 5º da Constituição prevê:

XVII - é plena a liberdade de associação para finslícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, ade cooperativas independem de autorização, sen-do vedada a interferência estatal em seufuncionamento.

Não há nenhuma legislação específica emâmbito nacional sobre liberdade de associação nomeio eletrônico.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

A vigilância não é disciplinada de forma algu-ma, seja ela excessiva ou branda. Não há provisãolegal no Brasil que defina o que é legal, e o que éabuso, quem são os responsáveis e quais seusdeveres.

Assim, não há como dizer que não haja coibi-ção de práticas associativas devido aos sistemasde vigilância, quer em vídeo, quer em qualqueroutra mídia.

PAPEL DOS DIFERENTES APAPEL DOS DIFERENTES APAPEL DOS DIFERENTES APAPEL DOS DIFERENTES APAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

Não há atores que tratem diretamente dessaquestão, embora as entidades da sociedade civilque tratem do tema da internet (ver Pilar D) tam-bém lidem com esse ponto.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Grampos e V Grampos e V Grampos e V Grampos e V Grampos e Vigilância nãoigilância nãoigilância nãoigilância nãoigilância não-autorizada-autorizada-autorizada-autorizada-autorizadaComo citado anteriormente sob o atributo C2,

o uso de grampos, gravações em vídeo vazadas eoutras formas de controle são uma polêmica per-manente no Brasil.

São preocupantes, entretanto, proposiçõescomo o PL 700/03, do deputado Pompeo de Mattos(PDT-RS), que obriga estabelecimentos comerciaiscomo shoppings a instalarem sistemas devigilância por vídeo, mas não prevê formas deutilização deste material. Obrigatório ou não, aimplantação desse tipo de recurso precisa ser dis-ciplinada, definindo tempo de guarda, acessibili-dade por parte do público, legalidade e responsa-bilidade por uso e alteração. Não há, na lei brasi-leira, regra que cumpra essa função.

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BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

No que tange à internet, todo o campo deline-ado por estes indicadores devem ser vistos doponto de vista do Comitê Gestor da Internet noBrasil, existente desde 1995, mas reformulado peloDecreto 4.829/03. O comitê passou a ter asseguintes atribuições:

Art. 1o Fica criado o Comitê Gestor da Internet noBrasil - CGIbr, que terá as seguintes atribuições:

I - estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas aouso e desenvolvimento da Internet no Brasil;

II - estabelecer diretrizes para a organização das re-lações entre o Governo e a sociedade, na execuçãodo registro de Nomes de Domínio, na alocação deEndereço IP (Internet Protocol) e na administraçãopertinente ao Domínio de Primeiro Nível (ccTLD -country code Top Level Domain), ".br", no interes-se do desenvolvimento da Internet no País;

III - propor programas de pesquisa e desenvolvimen-to relacionados à Internet, que permitam a manu-tenção do nível de qualidade técnica e inovação nouso, bem como estimular a sua disseminação emtodo o território nacional, buscando oportunidadesconstantes de agregação de valor aos bens e ser-viços a ela vinculados;

IV - promover estudos e recomendar procedimentos,normas e padrões técnicos e operacionais, para asegurança das redes e serviços de Internet, bemassim para a sua crescente e adequada utilizaçãopela sociedade;

V - articular as ações relativas à proposição de nor-mas e procedimentos relativos à regulamentaçãodas atividades inerentes à Internet;

VI - ser representado nos fóruns técnicos nacionais einternacionais relativos à Internet;

VII - adotar os procedimentos administrativos eoperacionais necessários para que a gestão daInternet no Brasil se dê segundo os padrões inter-nacionais aceitos pelos órgãos de cúpula da Internet,podendo, para tanto, celebrar acordo, convênio,ajuste ou instrumento congênere;

VIII - deliberar sobre quaisquer questões a ele enca-minhadas, relativamente aos serviços de Internetno País.

O CGIBr é composto por 21 membros, sendooito representantes de ministérios e órgãosfederais, um representante do Fórum Nacional deSecretários Estaduais, um técnico especialista emassuntos relacionados à internet, quatro represen-tantes do setor empresarial, três representantesdo terceiro setor e três representantes da comuni-dade científica e tecnológica.

Os representantes do empresariado, do tercei-ro setor e da comunidade científica e tecnológicaforam escolhidos mediante um processo eleito-ral, no qual entidades votavam abertamente paraselecionar os conselheiros. Não há conhecimentode qualquer entidade do tipo, no mundo, queadote tal prática.

C 5. Participação efetiva da sociedade civil no processode governança, incluindo sua formulação, projeto, regulação,implementação e avaliação.

C 5.1 - Um processo participativo de desenvolvimento de políticas, que incluaparticipação significativa da sociedade civil e os recursos necessários para quetodos os parceiros dêem contribuições efetivas.

C 5.2 - Meios ativos e dinâmicos para que preocupações públicas com relação agovernança e políticas sejam ouvidas e atendidas.

C 5.3 - Mecanismos permanentes para participação pública na revisão eimplementação de políticas em curso, de modo descentralizado quandoapropriado, inclusive em relação aos acordos internacionais.

C 5.4 - Mecanismos e instrumentos de auto-governança, desenvolvidos eutilizados pela sociedade civil, reconhecidos ou não pelo governo (ver C1.3).

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IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

A primeira eleição para o órgão ocorreu emjulho de 2004. Os representantes da sociedadecivil eleitos vêm de setores progressistas, o quepode possibilitar a presença de vozes pelo direitoà comunicação no CGIBr.

O PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORESO PAPEL DOS DIFERENTES ATORES

O papel do CGIBR é descrito da seguinte forma:

O Comitê Gestor da Internet do Brasil foi criado a par-tir da necessidade de coordenar e integrar todasas iniciativas de serviços Internet no país e com oobjetivo de assegurar qualidade e eficiência dosserviços ofertados, assegurar justa e livre compe-tição entre provedores e garantir a manutenção deadequados padrões de conduta de usuários e pro-vedores.

O Comitê Gestor tem como atribuições principais:• fomentar o desenvolvimento de serviços Internet

no Brasil;• recomendar padrões e procedimentos técnicos e

operacionais para a Internet no Brasil;

• coordenar a atribuição de endereços Internet, oregistro de nomes de domínios, e a interconexãode espinhas dorsais;

• coletar, organizar e disseminar informações sobreos serviços Internet

(Site do CG-Br)

Até o momento, a abertura à participação dasociedade civil no comitê tem possibilitado odiálogo mais próximo em relação às questões dainternet no Brasil. No entanto, ainda se dá umtratamento eminentemente técnico a questões quesão, de fato, políticas.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

A reformulação do CGiBr mudou a lógica dosetor, mas ainda é necessário ver quais serão aconseqüências práticas dessa mudança. O CGiBr éum novo ator e, ao mesmo tempo, uma nova are-na de disputa – não só entre a representação dosempresários, mas entre os interesses dos diferen-tes atores ali representados. É importante notarque a mudança no CGiBr inseriu a sociedade civilem um debate até então reservado para especia-listas, empresários e o governo.

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Pilar DPilar DPilar DPilar DPilar DAssegurando acesso eqüitativo eAssegurando acesso eqüitativo eAssegurando acesso eqüitativo eAssegurando acesso eqüitativo eAssegurando acesso eqüitativo ea preços razoáveis a TICsa preços razoáveis a TICsa preços razoáveis a TICsa preços razoáveis a TICsa preços razoáveis a TICs

D1: Acesso a TICs, inclusive à telefonia, à internet e aoutros serviços, de modo econômico, igualitário eapropriado para todo o povo e suas comunidades.

D 1.1 - Um quadro legal e regulatório que favoreça fortemente a extensão demodo universal dos serviços e do acesso a TICs como a prioridade para estesetor.

D 1.2 - Medidas políticas, convencionais e inovadoras, que vão além dasabordagens mercadológicas e corporativas, para incluir, por exemplo, redescomunitárias, subsídios cruzados efetivos por parte de usuários mais ricos comfins de universalização do serviço, e assim por diante. Serão então considerados:- infra-estrutura fixa e telefonia;- telefonia móvel, inclusive em termos de custos;- telecentros comunitários;- licenciamento de provedores de acesso, portais de internet e medidas deapoio à internet;- links de satélite Vsat e de dados.

O acesso a tecnologias de informação e comu-nicação (TICs) no Brasil ainda é separado de formaestanque entre acesso às telecomunicações (no sen-tido clássico, de telefonia) e acesso à internet (bus-ca da inclusão digital). Apesar do processo de con-vergência tecnológica – e do fato de um influir no

outro –, os programas de universalização se dãode maneira isolada e os projetos que combinamas duas questões ainda estão no papel. Assim,neste capítulo, trataremos sempre desse debatelevando em conta tal realidade.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALD 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2

A discussão do acesso às TICs no Brasil passaessencialmente por dois vieses: o primeiro, as con-dições para o acesso, como indivíduo, às redes decomunicações, incluindo telefonia e internet, e aosequipamentos para utilização e desfrute da rede.O segundo, as políticas de apoio ao acesso uni-versal, tanto às redes de telecomunicações comode dados.

T T T T TelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaO Brasil passou por uma mudança na legisla-

ção e regulação do setor de telecomunicações apartir do ano de 1995. Naquele momento, pormeio da Emenda Constitucional nº8, quemodificou o artigo 21 da Constituição Federal,quebrou-se o monopólio estatal nastelecomunicações e previu-se a constituição de umórgão regulador para as telecomunicações. Maisdo que isso, a mudança já não previa comocompetência do Estado a exploração dos serviçosde telecomunicações.

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Após a alteração do artigo 21, o governo bra-sileiro aprovou a Lei Geral de Telecomunicações1

(Lei 9.472), em 16 de julho de 1997, que autori-zou o governo federal, na época dirigido pelopresidente Fernando Henrique Cardoso, a iniciaro programa de privatização (veja mais no item“Implementação”). A função da União já não se-ria mais a de controlar, mas sim a de organizar aexploração do setor. Essa organização passava aestar na mão de uma agência reguladora, forado Ministério das Comunicações, que ficou comfunção de regular e propor políticas para a radi-odifusão.

Com isso abriu-se espaço para a privatizaçãode todo o sistema Telebrás, que incluía uma ope-radora nacional, a Embratel, e diversos operado-res regionais, divididos por estados, além do Cen-tro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) daTelebrás, transformado em fundação privada. Essaoperação foi consumada em julho de 1998. Aocontrário da maioria dos países europeus, aprivatização brasileira significou a opção do paísem não controlar diretamente nenhuma porçãodas telecomunicações. Foi permitida ainda a en-trada de 100% de capital estrangeiro no setor. OBrasil foi dividido em três áreas, com concessõespara exploração comercial leiloadas para três gru-pos: Brasil Telecom, de propriedade doOpportunity (que administra recursos doCitibank), da Telecom Itália e de vários fundos depensão de estatais; Telefonica de España; eTelemar (capital nacional nas mãos de fundos depensão de estatais, Carlos Jereissati, Opportunitye mais uma série de empresas). Além disso, aoperadora nacional, incluindo toda a rede de fi-bras óticas da Embratel, foi para as mãos daempresa norte-americana WorldCom, depois MCI.Em 2004, a Embratel foi adquirida pela mexica-na Telmex. Além dessas quatro operações, oitooperadoras regionais de telefonia celular foramleiloadas. Também tivemos a privatização da es-tadual CRT pelo governo do Rio Grande do Sul eda municipal Ceterp pelo ex-prefeito de RibeirãoPreto, Antonio Palocci, hoje ministro da Fazen-da. Restou até hoje como estatal apenas a muni-cipal Sercomtel, que atua em Londrina.

Tanto no caso da telefonia fixa como no damóvel, previu-se a entrada de empresas espelhodepois de um ano, e a futura abertura completado mercado para a livre concorrência. As empresasespelho são: GVT (de propriedade de fundos deventure capital), Vésper (comprada pela Embratel)

e Intelig. Tivemos, também, a implantação dasespelinhos, atuando em áreas menores. Este mo-delo fracassou na sua intenção de criar concorrên-cia nas áreas de concessão, e as empresas espelhotêm se voltado essencialmente para o mercadocorporativo.

A Lei Geral previa funções importantes para opoder público:

Art. 2º O Poder Público tem o dever de:

I - garantir, a toda a população, o acesso às teleco-municações, a tarifas e preços razoáveis, em con-dições adequadas;

II - estimular a expansão do uso de redes e serviçosde telecomunicações pelos serviços de interessepúblico em benefício da população brasileira;

III - adotar medidas que promovam a competição e adiversidade dos serviços, incrementem sua ofertae propiciem padrões de qualidade compatíveis coma exigência dos usuários;

IV - fortalecer o papel regulador do Estado;V - criar oportunidades de investimento e estimular o

desenvolvimento tecnológico e industrial, em am-biente competitivo;

VI - criar condições para que o desenvolvimento dosetor seja harmônico com as metas de desenvolvi-mento social do País.

Além disso, determinava os direitos dos usuá-rios de serviços de telecomunicações em seu arti-go 3º, incluindo questões como “acesso aos ser-viços de telecomunicações, com padrões de quali-dade e regularidade adequados à sua natureza,em qualquer ponto do território nacional” e “ainviolabilidade e ao segredo de sua comunicação,salvo nas hipóteses e condições constitucional elegalmente previstas”.

A lei prevê, em seu artigo 5º, a observação, nadisciplina das relações econômicas, da redução dasdesigualdades regionais e sociais, entre outros.Nos artigos 6º e 7º, busca-se preservar a livre con-corrência, explicitando-se que haverá o controledo Conselho Administrativo de Defesa Econômica(Cade) para prezar pela livre competição e evitarconcentração econômica nos processos de fusãoou incorporação de empresas.

Dentro do programa de desestatização das te-lecomunicações, a Lei Geral das Telecomunicações(LGT) previa (artigo 17º, inciso V) que as empresasconcessionárias vencedoras dos leilões deveriamseguir “metas de progressiva universalização”,acompanhadas e fiscalizadas posteriormente pelaAgência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

1.1.1.1.1. Leia a redação original da Lei Geral de Telecomunicações e sua posterior alteração (www.anatel.gov.br/biblioteca/Leis/LeiGeral/leigeral.asp)

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Cerca de dois meses antes da privatização domonopólio brasileiro, que aconteceu em junho de1998, o governo aprovou o Decreto 2.592, queaprovava o Plano Geral de Metas paraUniversalização do Serviço Telefônico Fixo Comu-tado Prestado no Regime Público (PGMU)2. A reda-ção do PGMU define universalização no artigo 1º:

Art. 1º Para efeito deste Plano, entende-se poruniversalização o direito de acesso de toda pes-soa ou instituição, independentemente de sua lo-calização e condição sócio-econômica, ao ServiçoTelefônico Fixo Comutado destinado ao uso dopúblico em geral, prestado no regime público, con-forme definição do art. 1° do Plano Geral de Ou-torgas, aprovado pelo Decreto nº 2.534, de 2 deabril de 1998, bem como a utilização desse servi-ço de telecomunicações em serviços essenciais deinteresse público, nos termos do art. 79 da Lei nº9.472, de 16 de julho de 1997, e mediante o pa-gamento de tarifas estabelecidas na regulamen-tação específica.

O detalhamento dos mecanismos de aumentode tarifas ficou fora deste plano de metas. Ele tra-tou especificamente dos percentuais mínimos obri-gatórios de instalação de acessos individuais eterminais públicos para os anos seguintes, cujoscustos relacionados ao cumprimento das metasseriam suportados pelas concessionárias (excetoem localidades onde o custo para o cumprimentodas metas fosse superior ao retorno financeiro da“exploração eficiente do serviço”). Segundo a LGT,a Anatel destinaria, nesses casos, verbas da União,estados, municípios ou de um fundo específicopara essa finalidade.

O Programa de Recuperação e Ampliação doSistema de Telecomunicações e do Sistema Postal(Paste), na edição de 1997 (a primeira versão foianunciada ao final de 1985) previa:

- Nos próximos cinco anos, o número de linhastelefônicas fixas deverá ser aumentado dos atuais 17milhões para 40 milhões.

- Até 2005, toda localidade brasileira commais de 300 habitantes deverá, obrigatoriamen-te, ter rede telefônica. E toda localidade com mais

2. 2. 2. 2. 2. Leia a íntegra do decreto que aprova o Plano Geral de Metas para Universalização do Serviço Telefônico Fixo ComutadoPrestado no Regime Público (Pgmu), de 15/08/1998 (www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2592.htm)3.3.3.3.3. Leia a íntegra da lei que institui o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações(www.mc.gov.br/fust/l_9998_17082000.htm)4.4.4.4.4. Art. 6º Constituem receitas do Fundo:I - dotações designadas na lei orçamentária anual da União e seus créditos adicionais;II - cinqüenta por cento dos recursos a que se referem as alíneas c, d, e e j do art. 2º da Lei nº 5.070, de 7 de julho de 1966, com aredação dada pelo art. 51 da Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, até o limite máximo anual de setecentos milhões de reais;III - preço público cobrado pela Agência Nacional de Telecomunicações, como condição para a transferência de concessão, de permissãoou de autorização de serviço de telecomunicações ou de uso de radiofreqüência, a ser pago pela cessionária, na forma de quantia certa,em uma ou várias parcelas, ou de parcelas anuais, nos termos da regulamentação editada pela Agência;

de 100 habitantes deverá ter, ao menos, um tele-fone público.

- O número de telefones públicos deverátriplicar, nos próximos cinco anos, passando depouco mais de 500 mil para cerca de 1,5 milhão.

- A partir do próximo ano se iniciará a compe-tição entre as empresas; os usuários passarão a escolhera companhia telefônica que lhes ofereça menores preçoscom serviços cada vez melhores.

- Em até cinco anos, todo pedido de instalaçãode telefone terá que será atendido em, máximo, duassemanas.

- A partir de 1999, nas localidades com redetelefônica, todo bairro, quadra, conjunto residencial eáreas com população de baixo poder aquisitivo teráque ter, pelo menos, três telefones públicos para cadagrupo de mil habitantes.

- Em menos de dois anos, as instituições deensino e de saúde serão atendidas em uma semana,com linhas telefônicas que lhes permitam ter acesso àInternet.

- Em menos de dois anos, as empresas detelefonia deverão ter, à disposição de deficientesauditivos e da fala, centros de atendimento paraintermediar suas comunicações telefônicas.

- Em menos de dois anos, não será necessárioandar mais de 800 metros para encontrar um telefonepúblico; Em 2003, essa distância será de, no máximo,300 metros.

As sanções previstas podem ser uma advertên-cia, multa de até R$ 50 milhões ou até mesmo acassação da concessão.

A própria LGT, aprovada dentro da concepçãoconcorrencial pelo governo do então presidenteFernando Henrique Cardoso, prevê a criação deum fundo específico para garantir a universalizaçãodo serviço de telecomunicações para áreas não-lucrativas. Cerca de dois anos depois daprivatização do setor, o governo então criou, pelaLei 9.998/00, o Fundo de Universalização dos Ser-viços de Telecomunicações (Fust)3, cuja receitaprovém essencialmente de 1% sobre a receitaoperacional bruta da prestação de serviços emtelecomunicações, menos os impostos4. Esse mo-

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delo exclui claramente a responsabilidade dasoperadoras de telefonia em garantir inclusão agrandes parcelas da população.

A aplicação dos recursos do Fust contemplaria,entre outros objetivos: atendimento às localidadescom menos de cem habitantes, complementaçãopara atendimento de comunidades pobres,instalação de acessos individuais em escolas,bibliotecas e hospitais e implantação da telefoniarural. Além desses, está previsto o uso do Fustpara "complementação de metas estabelecidas noPlano Geral de Metas de Universalização paraatendimento de comunidades de baixo poderaquisitivo", o que evidencia a inversão de atribui-ções esperada de um serviço cuja concessão épública. A própria lei prevê que as concessionáriasnão cumprirão as metas estabelecidas e traz parao Estado a atribuição de cumpri-las.

O Fust foi criado com a intenção de cumprir afunção exercida pelo subsídio cruzado que existiaantes da privatização do sistema Telebrás. No Bra-sil, grande parte dos usuários não usa mais doque os pulsos mínimos já previstos na assinaturamensal, em virtude do alto preço fixo cobrado poressa assinatura. Sob controle da Telebrás, menosde 10% dos municípios geravam receitas maioresdo que as despesas de manutenção, o que ensejavauma política de subsídio cruzado.

Somente no início de 2004 surgiu uma pro-posta do governo brasileiro para utilização doFust, que já acumulou mais de R$ 3 bilhões (maisde US$ 1 bilhão). A sua aplicação se daria peloServiço de Comunicações Digitais (SCD), cujoprojeto ainda pode sofrer alterações após a con-sulta pública realizada em 2004 e o pedido devistas do Ministério das Comunicações. O planofuncionará, na verdade, para permitir o acesso aredes digitais, incluindo acesso à internet, a cercade 260 mil escolas de ensino médio, bem comoem instituições de ensino fundamental eprofissionalizante (públicas ou privadas), além deambulatórios, postos de saúde, hospitais, biblio-tecas e órgãos de segurança pública, instituiçõesde assistência a deficientes, deficientes carentes eregiões remotas e de fronteiras. Não existe previs-to um conselho do Fust. Mantidas as condiçõesprevistas, a sociedade civil não deve participar daaplicação desses recursos, exceto através deentidades de deficientes ou bibliotecas.

Está previsto para 2006 o primeiro ano de im-plantação do serviço, que inicialmente será pres-tado em regime público, condicionado à obriga-ção do cumprimento de metas. O plano divide opaís em 11 áreas, destinadas a apenas uma con-cessionária. Os candidatos mais visíveis são asprestadoras de Serviço de ComunicaçãoMultimídia, de TV por assinatura/cabo e provedo-res de informática estaduais. A partir de 2009, essaestrutura poderia ser utilizada pelas empresas paraexploração privada.

O plano do SCD prevê a utilização, pelaprestadora, das redes da concorrente, sendo fir-mado, portanto, na lógica de desagregação dasredes (unbundling).

Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digitalÀ parte as questões do Fust, que pode ser usa-

do para busca de universalização do acesso àinternet, não existe base legal específica para ocampo da inclusão digital. Isso não impede quehaja programas em vias de implementação, inclu-sive com dotação orçamentária própria, o que ve-remos nos itens seguintes.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOD1.1 E D1.2D1.1 E D1.2D1.1 E D1.2D1.1 E D1.2D1.1 E D1.2

T T T T TelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaA alteração do artigo 21 da Constituição gerou

uma separação entre telecomunicações e radiodi-fusão. Na época, essa foi a estratégia do governopara poder abrir o mercado da telefonia sem terque mexer no complicado quadro da radiodifusãono país. Isso, no entanto, gerou uma situação emque setores que não podem ser entendidosseparadamente passaram a estar sujeitos aregulações distintas. Enquanto a Lei Geral dasTeles passou a regular o setor das telecomunica-ções, a radiodifusão continuava a ser controladapelo que restou do Código Brasileiro deTelecomunicações (Lei 4.117/62). As conseqüênci-as têm influenciado os dois setores. Por um lado,a radiodifusão é uma área sem regulaçãoconsistente de limitações de propriedade e de todaa parte de controle e gestão; por outro, a área detelecomunicações não é legislada quanto à pro-dução de conteúdo.

IV - contribuição de um por cento sobre a receita operacional bruta, decorrente de prestação de serviços de telecomunicações nosregimes público e privado, excluindo-se o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviçosde Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Comunicações - ICMS, o Programa de Integração Social - PIS e a Contribuição para oFinanciamento da Seguridade Social - Cofins;V - doações;VI - outras que lhe vierem a ser destinadas.

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5.5.5.5.5. A tarifa de telefonia fixa foi a que mais subiu nos últimos dez anos (611,03%), seguida pelos aluguéis (544,1%). A inflação noperíodo acumulou alta de 145,01% entre julho de 1994, início do Plano Real, e junho de 2004. (Globo Online, 05/07/2004).

O processo de privatização das telecomunica-ções não priorizou, como veremos, o maior aces-so à população a preços razoáveis: os ganhos fi-nanceiros do governo brasileiro com o processosão questionáveis, o Estado não manteve umapresença mínima estratégica no setor e as tarifassubiram mais do que a inflação. Com relação aeste último, o aumento das tarifas da telefoniafixa foi de 611,03% nos últimos dez anos. Em 1994,a assinatura residencial custava R$ 0,69. Hoje elacusta na cidade de São Paulo R$ 34,29. Umaumento de quase 5.000%, bem maior que ainflação no período, de 145,01%5. Apenas entre1995 e 1997, no processo de preparação para asprivatizações, a assinatura subiu 2.172%.

Os argumentos do governo federal para aprivatização eram que, além da possibilidade dearrecadar recursos para um Estado endividado ecom metas econômicas acordadas com o FundoMonetário Internacional (FMI), o processoaumentaria a oferta de serviços e, com aconcorrência decorrente da fragmentação dosistema Telebrás, os preços seriam mais acessíveis.A parte da LGT relativa ao processo dedesestatização (artigo 186) citava os objetivosprimordiais do governo mencionados no artigo2º (ver acima): garantir acesso a todos por preçosrazoáveis, estimular a expansão do número deredes e serviços de telecomunicações e adotarmedidas que promovam a competição e a diversi-dade dos serviços.

Se analisarmos o que determinava o documen-to Paste e o Plano Geral de Metas para aUniversalização (PGMU), (citados em “BaseConstitucional e Legal”), veremos que parte dasmetas não tem sido cumprida. Já no final de 2004,o Tribunal de Contas da União (TCU) exigiu daAnatel um plano de reformulação de todos osprocessos de fiscalização das obrigações deuniversalização de telefonia fixa, a ser preparadono prazo de 180 dias. Segundo o TCU, a agênciavinha fazendo as análises por amostra, o quegeraria estimativas não confiáveis. Isso explicaria,por exemplo, as diferenças de avaliação que opróprio Conselho Consultivo já apontava emrelação às avaliações promovidas pela própriaAnatel. Além disso, no início de 2005, estavamem consulta pública os indicadores de qualidadepara telefonia fixa.

Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digitalPrograma Sociedade da Informação

Projeto ambicioso conduzido durante o gover-no Fernando Henrique Cardoso, o Programa Soci-edade da Informação (PSI) tinha como objetivo “in-tegrar, coordenar e fomentar ações para a utiliza-ção de tecnologias de informação e comunicação,de forma a contribuir para a inclusão social detodos os brasileiros na nova sociedade e, ao mes-mo tempo, contribuir para que a economia do paístenha condições de competir no mercado global”.

Coordenado por Tadao Takahashi, o programafoi desenvolvido pelo Ministério da Ciência eTecnologia e lançado em 15 de dezembro de 1999(pelo Decreto 3.294/99). O PSI contou inicialmentecom a participação de cerca de 150 especialistas,que se distribuíram em debates sobre os GruposTemáticos que compõem o programa.

Utilizando-se de uma metodologia internacio-nal, já aplicada em outros países – entre os quaisPortugal –, o programa Sociedade da Informaçãoiniciava-se com a publicação do Livro Verde (baseteórica) e avançaria para a elaboração do LivroBranco (operacional), no qual as metas – inclusiveorçamentárias – seriam estabelecidas. No plane-jamento original, essa etapa deveria ter se cum-prido em 2001.

O Livro Verde começou a ser distribuído à soci-edade em setembro de 2000. No horizonte dosorganizadores do PSI estava a perspectiva de cons-trução de um projeto que articulasse todas as ini-ciativas do campo de Sociedade da Informação eNova Economia, no qual todos os atores – setorprivado, governo, sociedade civil e universidade– estivessem contemplados. De acordo com o pla-nejamento original, a etapa de consolidação doprojeto estava prevista para ocorrer no segundosemestre de 2003.

A troca de governo ocorrida em 2003 resultouno fim do Programa Sociedade da Informação, semque mais informações fossem divulgadas pela novagestão do Ministério da Ciência e Tecnologia.

A política de inclusão digitalNão há como tratar das políticas públicas de

inclusão digital no Brasil sem fazer algumas op-ções. Principalmente no que se refere ao “comofazer”. Desde meados da década de 90, forammuitas as experiências que procuraram conter essenovo modelo de exclusão, agora digital, nascidono seio da Sociedade da Informação. Desdeprojetos que procuravam facilitar a aquisição decomputadores, passando pela possibilidade de asempresas de telefonia garantirem o acesso disca-

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6.6.6.6.6. Fonte: Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits)

do à internet com pulso único (i00), até chegar-mos ao modelo mais amplo e democrático de in-cluir digitalmente: o telecentro comunitário.

Um telecentro comunitário é um espaço quepermite a apropriação social das tecnologias dainformação e da comunicação pela populaçãomais carente. Portanto, não oferece apenasconectividade à rede mundial de computadores,mas também atua para promover a transforma-ção social, posto que se insere (alterando) as di-nâmicas de organização local e de ação comunitá-ria. Nesse sentido, busca oferecer cursos decapacitação, mecanismos que permitam aos usu-ários a geração de conteúdos próprios e técnicasque facilitem a apropriação da tecnologia pelapopulação. Destaca-se no Brasil a opção feita pelamaioria das iniciativas de inclusão digital de usodo software livre, com diversas vantagens em re-lação à adoção de softwares proprietários. A maisimediata é o não pagamento de licenças às em-presas proprietárias. Mas há outras. Ao utilizarsoftware livre, o usuário se familiariza com a lógi-ca dos programas, e não com uma formatação es-pecífica. Além disso, ao permitir a verificação e amodificação do código fonte, o modelo pode ga-rantir que homens e mulheres tornem-se, além deusuários, programadores; mais do que isso, quetrabalhem sob a lógica colaborativa.

A experiência pioneira nesse sentido foi o pro-grama Sampa.org, realizado pelo InstitutoFlorestan Fernandes (IFF), ligado ao Partido dosTrabalhadores (PT) a partir de abril de 2000. Noentanto, o programa, que serviu como piloto paraa ampla rede de telecentros que seria futuramenteconstruída pela prefeitura paulistana, utilizavasoftwares proprietários.

Há também que se destacar o trabalho desen-volvido pela prefeitura do PT na capital do RioGrande do Sul, com o projeto Telecentros de PortoAlegre. Em outubro de 2003, havia na capitalgaúcha 15 telecentros, com cerca de 12computadores cada. A opção foi a utilização dodual boot: o usuário tem a opção de escolher, assimque iniciada a máquina, se pretende utilizar osistema operacional proprietário (Windows) ou olivre (GNU/Linux).

No entanto, o principal projeto de política pú-blica de inclusão digital realizado no Brasil atéhoje é o Projeto Telecentros, da Prefeitura de SãoPaulo, construído a partir de 2001, com olançamento do Telecentro da Cidade Tiradentes(extrema Zona Leste de São Paulo). Hoje, oprograma possui 138 unidades6 e beneficia cerca

de 400 mil pessoas, em regiões de baixíssimo Ín-dice de Desenvolvimento Urbano (IDH) – periferi-as e favelas da capital paulista.

Uma pesquisa de amostragem realizada em deztelecentros pela Rede de Informações do TerceiroSetor (Rits), que abrangeu um universo de 46.134usuários cadastrados, mostra que o programa temampla aceitação da sociedade e promoveu, paracerca de 70% dos ouvidos, mudanças considerá-veis em suas vidas. O que se traduz no fato deque para um quarto da população estudada, a idaao telecentro é uma prática diária. O porcentualde pessoas que passaram a ter um e-mail apósfreqüentarem o telecentro é de 68,83%.

O número de usuários/as que têm até 19 anosde idade é muito próximo deste valor, um total de66,83%. Pessoas de terceira idade não aparecemcom relevância na estatística: o número derespondentes acima de 60 anos fica abaixo de umponto percentual. O número de homens emulheres usuários é praticamente o mesmo. “Comrelação à escolaridade, a maioria (47,32%) daspessoas está cursando ou completou o EnsinoMédio, o que é justificado em função da faixa etáriapredominante na amostra. Apesar de 31,68% daspessoas estarem na faixa etária de 20 a 49 anos,apenas 5,47% do universo total pesquisado têmnível superior e 16,06% se declaram ocupadas –categoria que inclui atividade no mercado detrabalho formal e/ou informal. Se formos definirum perfil majoritário no grupo pesquisado,estamos falando de homens adolescentes,estudantes, cursando o ensino médio. O perfilminoritário é composto por mulheres de terceiraidade, aposentadas”, aponta a pesquisa.

Esse modelo de inclusão digital – em que oacesso ao computador ocorre em espaços comu-nitários – não é contemplado pelo Mapa da Exclu-são Digital, elaborado pelo Comitê para a Demo-cratização da Informática (CDI) e o Centro de Polí-ticas Sociais (CPS/Ibre/FGV), com apoio da SunMicrosystems e da Usaid. Baseado em sua maiorparte em levantamentos realizados pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),principalmente a Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (PNAD), o mapa apresenta dadosnacionais sobre a exclusão digital levando emconta o volume da população que possuicomputador em suas residências.

Isso significa que os 400 mil usuários detelecentros comunitários da capital paulista e osem número de usuários de cybercafés e LAN housesnão foram computados pelo mapa entre os

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“incluídos digitalmente”. Segundo o estudo (da-dos de 2001), 16 milhões de brasileiros possuemacesso doméstico ao computador. Subtraindo ototal da população brasileira (cerca de 170 milhões)o volume de excluídos digitais chega a 153 milhõesde brasileiros. Esse estudo, que pretende ser omais abrangente do país, portanto, possuiproblemas sérios de concepção e por isso não serámais utilizado neste levantamento. É importantedestacar que, a partir de 2005, a PNAD, do IBGE,órgão oficial de pesquisas no Brasil, passará a con-tar com 20 perguntas específicas para definir oconceito de inclusão digital. E ainda que se trateda PNAD, os dados colhidos não dirão respeitoexclusivamente ao acesso residencial.

No âmbito federal, não há políticas de inclu-são digital que se destaquem como consolidadas.O que há é a profusão de diferentes projetos, emdiferentes espaços do governo, com diferentescaracterísticas. Muitos desses projetos obtiveramalgum tipo de resultado, os quais enumeraremose comentaremos sob o item “Tendências Atuais eFuturas”. No último ano, iniciou-se o esforço delevar à frente uma política integrada de inclusãodigital.

Iniciativas por parte de diferentes órgãos co-meçam a articular uma coordenação conjunta. Aestrutura do Governo Eletrônico brasileiro é cons-tituída por oito comitês técnicos, sendo um deleso Comitê Técnico de Inclusão Digital, coordenadopela Secretaria de Logística e Tecnologia da Infor-mação do Ministério do Planejamento (SLTI/MPOG).

Trata-se de uma estrutura política-administra-tiva que não está amparada por um marcoregulatório que defina qual setor do governo fe-deral é o responsável pela política pública de in-clusão digital. Mesmo com este esforço inicial,atualmente ainda persiste o cenário de diversasiniciativas diferentes, com metodologias diferen-tes e que chegarão a resultados diferentes quantoao que é, ou não, inclusão digital.

Algumas iniciativas em curso em âmbito fede-ral:

Programa Nacional de Informática na Educação -Proinfo (Ministério da Educação)

O Proinfo foi criado em 1997. De acordo como ministério, até 2002, ano de encerramento dogoverno Fernando Henrique Cardoso, o total in-vestido chegou a R$ 206 milhões. O número decomputadores instalados no programa ficou bemabaixo das metas estabelecidas pelo próprio go-verno: apenas 51% dos 105 mil que se esperavaatingir. Em relação à capacitação: nas 4.629 es-colas atendidas pelo programa, 137.911 profes-

sores foram capacitados, além de 10.087 técni-cos de suporte e 2.169 professores que atuamcomo multiplicadores. Segundo o MEC, de 1997a 2002, o programa atingiu seis milhões de alu-nos. O problema do Proinfo é que ele não estápreparado para lidar com ambientes escolares.Assim, os computadores que poderiam se trans-formar em telecentros comunitários nas própri-as escolas terminam sendo apenas laboratóriosde informática.

Pontos de Cultura (Ministério da Cultura)Os pontos fazem parte do Programa Nacional

de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva.Esses pontos serão criados em espaços jáexistentes, públicos ou privados. O ministério irárepassar R$ 155 mil para cada um deles, distribu-ídos em cinco semestres. A cada seis meses, terãoR$ 30 mil para colocar suas propostas em práticae no último semestre de 2006, R$ 35 mil. Cadaponto será equipado com um estúdio digital paragravação de CDs, um computador que funcionarácom software livre e uma câmera para gravaçõesaudiovisuais. O Ministério da Cultura e oMinistério das Comunicações assinaram em marçode 2005 uma parceria entre os Pontos de Culturae o Gesac (ver abaixo), de modo a viabilizar o acessoà internet em localidades remotas.

Gesac (MiniCom/Ministério da Educação)O Programa Governo Eletrônico - Serviço de

Atendimento ao Cidadão (Gesac), do governofederal, conta com 3.200 unidades instaladas,tendo como pontos de acesso especialmenteescolas públicas. Toda a conexão é feita porsatélite, possibilitando o alcance a regiões nãocabeadas. São beneficiadas prioritariamente ascomunidades que apresentam baixo Índice deDesenvolvimento Humano (IDH) e que estãolocalizadas em regiões onde as redes detelecomunicações tradicionais não oferecem acessolocal à internet em banda larga.

De acordo com a Secretaria de Educação àDistância do Ministério da Educação, das 178 milescolas públicas existentes no país, 20% possuemcomputadores e apenas 10% possuem conexãocom a internet. No ano passado, das antenasinstaladas pelo Gesac, 2.400 foram ligadas emescolas públicas.

Em 2004, os usuários do programa passarama ter acesso a oito novos serviços. Os usuáriosganharam ainda o direito de possuir o seu próprioe-mail e as comunidades, condições para criar suapágina na internet.

O programa havia sido planejado no governo

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anterior a partir da noção de totens de acesso,sem compreender necessariamente a noção detelecentros comunitários. Na revisão do progra-ma, o atual governo decidiu adotar essa noção,com gestão democrática e acesso público,instalando uma antena e cerca de dezcomputadores em cada ponto. Também a largurade banda aumentou, possibilitando plenacapacidade de transmissão e recepção de dadospor parte dos usuários. Para 2005, está prevista ainstalação de mais 1.200 telecentros Gesac.

Rede Floresta (Eletronorte/ITI)Projeto de inclusão digital para a Amazônia.

Perspectiva de construção de 20 unidades. Atéagora, foram inaugurados quatro telecentros naregião Norte. Nos moldes do projeto de telecentrosda Prefeitura de São Paulo.

CorreiosNeT (Correios)Pontos de acesso nas agências dos Correios,

com a proposta de que cada cidadão possa ter umendereço de e-mail.

Programa de Inclusão Digital de Pescadores (Se-cretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca)

Telecentros de Informações e Negócios (Ministériodo Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior)

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORESD 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2D 1.1 E D1.2

T T T T TelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaA Anatel, assim como o Conselho Administrati-

vo de Defesa Econômica (Cade), tem seus conse-lheiros nomeados pelo governo, sem direito à votoou veto da sociedade civil. O artigo 8º cria a Anatelcomo “entidade integrante da Administração Pú-blica Federal indireta, submetida a regimeautárquico especial e vinculada ao Ministério dasComunicações”. O Decreto 2.3387, assinado peloex-presidente Fernando Henrique Cardoso emoutubro de 1997, aprova o regulamento da Agên-cia e, no primeiro parágrafo do artigo 1º, diz quea autarquia especial terá “independência adminis-trativa, autonomia financeira, ausência de subor-

dinação hierárquica, bem como mandato fixo eestabilidade de seus dirigentes”, além de defini-ção no artigo 19º que institui a prevalência daAnatel sobre qualquer outro órgão de defesa doconsumidor8. Estes dispositivos deverão mudar apartir da confecção de um marco regulatório úni-co para todas as agências reguladoras, que estásendo preparado pela Casa Civil (ver em“Tendências Atuais e Futuras”).

A Anatel, como agência reguladora não subor-dinada a nenhum ministério, assume o papel prin-cipal na regulação e fiscalização do setor. É elaquem regula o setor, fiscalizando metas deuniversalização e concedendo ou não reajustes nastarifas das empresas que obtiveram as concessõesde exploração do setor após a privatização dosistema Telebrás, antigo monopólio estatal nas te-lecomunicações (veja mais no item“Implementação”). O Ministério das Comunicaçõestransferiu ainda, por contrato, a tarefa de tambémregular o setor de radiodifusão, aumentando asatribuições da agência.

Na Lei Geral das Telecomunicações, o artigo 19ºdefine que compete à Anatel “adotar as medidasnecessárias para o atendimento do interesse pú-blico e para o desenvolvimento das telecomuni-cações brasileiras, atuando com independência,imparcialidade, legalidade, impessoalidade e pu-blicidade”. O Decreto 2.338 especificou, entreoutras, as seguintes competências:

Art. 16º (...)I - implementar, em sua esfera de atribuições, a polí-

tica nacional de telecomunicações fixada na Lei enos decretos a que se refere o art. 18 da Lei no.9.472, de 1997;

(...)IV - rever, periodicamente, os planos geral de outor-

gas e de metas para universalização dos serviçosprestados no regime público, submetendo-os, porintermédio do Ministro de Estado das Comunica-ções, ao Presidente da República, para aprovação;

V - exercer o poder normativo relativamente às tele-comunicações;

VI - editar atos de outorga e extinção do direito deexploração de serviço no regime público;

VII - celebrar e gerenciar contratos de concessão e

7.7.7.7.7. Leia íntegra do decreto presidencial que aprova o regulamento da Anatel em 1997www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2338.htm8.8.8.8.8. Art. 19. A Agência articulará sua atuação com a do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, organizado pelo Decreto nº. 2.181,de 20 de março de 1997, visando à eficácia da proteção e defesa do consumidor dos serviços de telecomunicações, observado o dispostonas Leis nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990, e nº. 9.472, de 1997.Parágrafo único. A competência da Agência prevalecerá sobre a de outras entidades ou órgãos destinados à defesa dos interesses edireitos do consumidor, que atuarão de modo supletivo, cabendo-lhe com exclusividade a aplicação das sanções do art. 56, incisos VI,VII, IX, X e XI da Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990.

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fiscalizar a prestação do serviço no regime público,aplicando sanções e realizando intervenções;

VIII - controlar, acompanhar e proceder à revisão detarifas dos serviços prestados no regime público,podendo fixá-las nas condições previstas na Lei nº9.472, de 1997, bem como homologar reajustes;

(...)XIX - atuar na defesa e proteção dos direitos dos

usuários, reprimindo as infrações e compondo ouarbitrando conflitos de interesses, observado oart. 19.

Os recursos provenientes das taxas de fiscali-zação e funcionamento da Anatel, além dos pro-venientes do acompanhamento das concessões,serão destinados para o Fundo de Fiscalização dasTelecomunicações (Fistel), criado em 19669 parafiscalizar o setor e redirecionado pela LGT parasuprir os recursos da agência. Esse mecanismoconcede à Anatel independência financeira de qual-quer ministério ou outro órgão governamental.

O comando da Anatel é exercido pelo Conse-lho Diretor, composto de cinco membros commandato de cinco anos. A escolha dos conselhei-ros resulta da nomeação direta do Presidente daRepública, conforme artigo 23 da LGT. Tambémcabe exclusivamente ao Presidente a nomeação dopresidente deste conselho, que tem por funçãocomandar administrativamente a agência e presi-dir as sessões com os demais conselheiros. Há tam-bém na Anatel um Conselho Consultivo, que aca-ba recebendo mais empresários do setor do querepresentantes da sociedade civil (ver mais sobreo Conselho Consultivo no indicador D4).

Em relação aos atores da sociedade civil queinterferem no debate, o principal na área detelecomunicações é a Federação Interestadual dosTrabalhadores de Telecomunicações (Fittel). A suaproximidade com o atual governo fez com que oindicado, em 2003, para a presidência da Anatel,tenha sido Pedro Ziller, ex-dirigente da federação.

A sociedade civil e o movimento sindical daárea das telecomunicações têm se mobilizado des-de a época das privatizações para enfrentar o au-mento abusivo dos preços, a ocorrência massivade problemas técnicos e a necessidade dauniversalização. A Fittel questiona a ausência departicipação popular nas decisões dos critérios dasconcessões públicas e, sobretudo, quanto aoacompanhamento da agência reguladora do setor,a Anatel. A federação critica ainda o atual preçodas tarifas telefônicas no país e a legislação quepermite o reajuste regular dos preços. Diante disso,

a Fittel lembra que, mesmo com a expansão dosterminais instalados no país, houve redução donúmero de pulsos utilizados e o tempo de cadaligação também caiu.

No mesmo contexto econômico, o Instituto deDefesa do Consumidor (Idec) apóia o projeto dodeputado Marcelo Texeira (PMDB-CE), que prevê aextinção da assinatura básica do telefone.

Do lado do empresariado, as operadoras sereuniram na Associação Brasileira de Prestadorasde Serviço Telefônico Fixo Comutado. Em 2004, aentidade já cobrou do Ministério das Comunica-ções uma posição mais forte contra os projetosque pretendem cancelar a cobrança da assinaturamensal. Existem também associações de empre-sários em outros setores, como a Neotec para oMMDS (que, com o wimax, passam a ser operado-ras de telecomunicações, também), a AssociaçãoBrasileira de Indústria Elétrica e Eletrònica (Abinee),para o hardware, e a Associação Nacional dasOperadoras Celulares (Acel).

Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digitalA sociedade civil brasileira desempenhou pa-

pel fundamental na formulação e implementa-ção das políticas públicas de inclusão digital.Entre essas entidades, está a Rede de Informa-ções para o Terceiro Setor (Rits) e o Instituto Bra-sileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase),entidade pioneira no que se refere à internet bra-sileira. Além dela, há um sem fim de ONGs que,durante os anos 90 e, principalmente, no iníciodesta década, passaram a desenvolver atividadesde inclusão digital.

Outro ator de destaque é o PT, que em duas desuas principais administrações municipais nosúltimos anos (São Paulo e Rio Grande do Sul)assimilou as principais políticas públicasformuladas pela sociedade civil e as amplificouconsideravelmente (ver mais em “Implementa-ção”).

É preciso, no entanto, apontar algumas dife-renciações. Se a concepção de telecentro com aqual se trabalha aqui depender da adoção desoftwares e sistemas operacionais livres, o núme-ro de atores de destaque nos últimos anos reduz-se drasticamente.

Se foram importantes para a consolidação deum modelo de inclusão digital no país, entidadesbem intencionadas da sociedade civil também têmservido como abrigo para projetos apoiados porfabricantes de softwares. Esses projetos servem

9.9.9.9.9. Lei 5.070, de 16 de julho de 1966.

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aos interesses de monopólios internacionais aorealizar a formação de consumidores para softwareproprietário. Recentemente, por exemplo, iniciou-se um projeto conduzido pelas ONGs Sampa.orge Cemina para a instalação de 18 telecentros nopaís, financiados pela Microsoft. O programacustará R$ 145 mil e a Microsoft abriu mão dopagamento das licenças de uso de seus softwares.

Destaca-se também o Comitê para Democra-tização da Informática (CDI) que atua montandoEscolas de Informática e Cidadania (EICs) em par-ceria com associações e entidades locais. O CDIestá representado em comitês regionais em 35cidades em 20 estados brasileiros. Hoje, a RedeCDI inclui 863 EICs, contando com 1.726 educa-dores, mais de 635 mil educandos formados,mais de 4,3 mil computadores instalados e 1.036voluntários. O programa também conta com oapoio da Microsoft.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASD 1.1 E D 1.2D 1.1 E D 1.2D 1.1 E D 1.2D 1.1 E D 1.2D 1.1 E D 1.2

T T T T TelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaOs trabalhadores em telecomunicações ainda

pressionam o governo e a Anatel a renegociar aconcessão das operadoras de telefonia, reajustan-do valores e obrigações. Todas as outorgas conce-didas na época das privatizações findam em 2005e precisam ser renovadas para 2006. Esta é a opor-tunidade, segundo a Fittel, para alterar regras docontrato entre iniciativa privada e governo.

Além do Serviço de Comunicações Digitais(SCD), o governo federal acena com a idéia deutilizar os recursos do Fust para criar um novoserviço de telefonia fixa para as pessoas de baixarenda. A principal vantagem do serviço estariajustamente no preço acessível da assinatura básica.Existe, contudo, uma decisão do Tribunal deContas da União (TCU) que não é clara sobre apossibilidade de se criar um novo serviço queutilizasse, em sua implantação e manutenção, osrecursos do Fust. Além disso, os recursos do fundovêm sendo contingenciados pelo governo para finsde superávit primário.

Sobre o projeto do SCD, foi realizada umaconsulta pública pela Anatel. Embora haja avançosno que tange a conciliação de pacotes de outorgasenvolvendo regiões lucrativas e não lucrativas, aproposta do SCD contraria a própria LGT quandoprevê que as operadoras poderão fornecer a redee o acesso nas localidades em que não houver pro-vedores. Isso é proibido pela LGT, que impede asoperadoras de serem fornecedoras de serviços de

valor adicionado, como, por exemplo, a internet.Ainda que tenha sido apresentada a questão

do SCD como caminho para a utilização das ver-bas do Fust, o Ministério das Comunicações temdefendido uma mudança na lei, de forma a trans-ferir ao governo a gestão dos recursos do fundo,hoje a cargo da Anatel, garantindo ao Executivo anecessária liberdade para implantar uma políticade inclusão digital.

Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digital Internet e inclusão digitalO governo e o Estado brasileiro não possuem,

nesse momento, uma política unificada de inclu-são digital. O desafio de garantir o acesso àinternet aos milhões de brasileiros sem-computa-dor, no entanto, vem sendo enfrentado em diver-sas frentes, ainda que carentes de coordenação. Aprova dessa assertiva é o próprio movimento desetores do governo para garantir a formulação deuma política para a inclusão digital.

Há um forte movimento dentro do governopara a construção de uma política para o setor.Uma prova disso é o documento “ProgramaBrasileiro de Inclusão Digital e Estratégia deGoverno”, em sua versão preliminar de 26 de julhode 2004. Esse trabalho é resultado de uma síntesede outros seis documentos produzidos no âmbitodo governo federal, por ministérios e autarquiasque desenvolvem atividades de combate à exclusãodigital:

1) Política Estratégica de Governo Federal paraa Inclusão Digital (Ministério do Planejamento)

2) Sugestões para a qualificação das iniciativasde Inclusão Digital (Instituto Nacional deTecnologia da Informação)

3) Construindo um mapa conceitual para umprojeto nacional de infoinclusão (Ministério daEducação)

4) Programa Casa Brasil (Banco do Brasil)5) Inclusão Digital e Estratégia de Governo

(Ministério das Comunicações)6) Ata da 1ª reunião de integração dos proje-

tos de Inclusão Digital do Governo Federal, de 16de julho de 2004

Esse esforço converge para o projeto Casa Bra-sil.

Projeto Casa BrasilÉ carro chefe do Programa Brasileiro de Inclusão

Digital. Trata-se, na teoria, de um programa dearticulação dos serviços e informações oferecidospelo governo em meio digital. Cada Casa Brasil,no geral, terá:

1. Telecentro2. Rádio Comunitária

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115115115115115

3. Espaço Multimídia4. Centro de reparo de computadoresSerá, de acordo com o documento “um ponto

de convergência para as ações do governo de in-clusão digital, inclusão social, no mercado de tra-balho, desenvolvimento da cidadania, desenvol-vimento local e regional sustentável, geração deemprego e renda e a disseminação do softwarelivre”.

Programa Brasileiro de Inclusão DigitalPara a execução do PBID, serão criadas novas

estruturas de coordenação. Uma delas, a Coorde-nação Nacional do Programa de Inclusão Digital,sob responsabilidade da Casa Civil da Presidênciada República. Também serão criadas, em nível local,unidades de gestão, “com base nas diretrizes departicipação comunitária, sustentabilidade, acom-panhamento e avaliação”.

A política do governo para o setor prevê cincoações diferenciadas, que combinam a idéia de aces-so em espaços públicos e acesso domiciliar. A ava-liação do governo é de que essa política deve estarfocada especialmente nas classes D e E. Para a clas-se C, o governo identifica o preço do computadorcomo o maior empecilho para o acesso àstecnologias.

Para atingir esse público, o governo pretendetirar do papel este ano o programa PC Conectado,que vai permitir a aquisição de computadores parafamílias que ganham acima de cinco salários mí-nimos. Segundo Rogério Santanna, secretário deLogística e Tecnologia da Informação do Ministé-rio do Planejamento, a proposta é chegar a um PCque custe aproximadamente R$ 50 por mês e quepossa ser pago em um período de 24 meses, comjuros mais baixos e com subsídio governamentalno montante dos impostos envolvidos. Seria umamáquina em torno de R$ 1,2 mil para oconsumidor dessa classe.

Outra meta do governo seria construir milunidades das Casas Brasil em 2005, e para issoforam aprovados R$ 224 milhões no orçamen-to. No entanto, após o corte da equipe do Mi-nistério da Fazenda, sobraram apenas R$ 24milhões, que serão suficientes para construir

apenas 90 unidades.Além disso, há mais três ações previstas para

2005 dentro do PBID.- aumento de escolas públicas ligadas na

internet. Atualmente, das 173 mil escolas do en-sino fundamental, apenas 20 mil possuem com-putadores.

- massificação do acesso à internet em todo opaís, com ações do governo que permitam me-lhorar a infra-estrutura de telecomunicações nopaís.

- Centro de Reciclagem de Computadores (CRC).O governo federal descarta aproximadamente 200mil computadores por ano. A proposta é direcionartodos os computadores para vários centros dereciclagem de computadores e esses centrosrecolocarem esses computadores para uso dainclusão digital.

Também o grupo Internet Acess for Everyone(Acesso à Internet para Todos), que reúne empresasdo ramo de informática como a BMC Software,Global Learning Venture, Philipe Eletronics, Dell eIntel, escolheu o Brasil para desenvolver umaespécie de "ecossistema" de inclusão digital parafamílias que possuem renda inferior a três saláriosmínimos.

A meta prevista no Plano Plurianual 2004-2007é de chegar a sete mil telecentros no Brasil, até ofinal do período. De acordo com o boletim EmQuestão, produzido pela Secretaria de Comunica-ção e Gestão Estratégica do governo federal, “apartir de 2006, está prevista a abertura de trêsmil novos telecentros a cada doze meses, o queincluirá nove milhões de brasileiros das classes De E no mundo digital anualmente”. A perspectivado programa é dobrar, em 2007, o número deinternautas no Brasil (o programa utiliza comodado o Mapa da Exclusão Digital e estima que hojehaja 16 milhões de brasileiros incluídosdigitalmente10).

Vale destacar que todas essas questões apre-sentadas estão, por enquanto, apenas no papel.Apesar da declarada intenção, que também se re-flete na alocação de recursos no orçamento daUnião, ainda não há nada que garanta que essesplanos se consolidem na prática.

10.10.10.10.10. Como foi afirmado anteriormente, esse mapa de exclusão digital leva em conta apenas o acesso residencial, portanto équestionável do ponto de vista quantitativo, por não incluir os números dos telecentros de acesso público, dos locais de trabalho,ou mesmo de LAN houses e cybercafes.

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D 1.3 - Apoio ao desenvolvimento de indústrias locais ao longo dos setoresrelacionados a TICs, tais como incentivos específicos, períodos de transição para acriação de companhias locais etc.

BASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGALBASE CONSTITUCIONAL E LEGAL

Na Constituição Federal, o artigo 219 afirmaque o “mercado interno integra o patrimônio na-cional e será incentivado de modo a viabilizar odesenvolvimento cultural e sócio-econômico, obem-estar da população e a autonomia tecnológicado País, nos termos da lei federal”.

Há vinte anos, ainda durante o regime militarbrasileiro, foi lançado o Plano Nacional deInformática pela Lei 7.232/84. A legislação atribuíaao governo a responsabilidade de orientar,coordenar e estimular atividades de informática,seja na participação em conjunto ou substituiçãoà própria iniciativa privada ou na intervenção paraassegurar proteção à produção nacional. A políticaprevê a “proibição de situações monopolísticas,de direito ou de fato”.

A Lei 8.387, de 30 de dezembro de 1991, con-cede descontos tributários (IPI e IR) para os pro-dutos produzidos na Zona Franca de Manaus, in-cluindo bens para informática. Essa lei inverteu aprioridade do país no setor. Se o Plano Nacionalde Informática visava produzir ciência e tecnologiano país, a lei de 1991 acaba com isso, e propõeque empresas estrangeiras venham montar seusprodutos em território nacional.

Em 2004, o governo anunciou sua política in-dustrial, na qual aponta como opções estratégi-cas softwares, semi condutores, fármacos emedicamentos e bens de capital. Especialmente osetor de softwares, mas também o desemicondutores, tem influência direta no campoda comunicação.

Nos documentos que definem a política in-dustrial, estão previstos quatro focos: inovaçãoe desenvolvimento tecnológico; inserção exter-na; modernização industrial e capacidade e es-cala produtiva.

Para o campo da telefonia, no processo deprivatização não houve nenhum estímulo à ma-nutenção de uma operadora nacional, aindaque renovada. Diferentemente da Europa, nãohá no Brasil uma companhia equivalente àFrance Telecom, British Telecom, Telefonica deEspanha etc.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Os descontos tributários previstos para os pro-dutos fabricados na Zona Franca de Manaus ge-ram um quadro de atração de empresas estran-geiras que promovem a montagem dos produtospor lá, mas que desenvolvem toda sua tecnologiaem seus países de origem. Ainda que haja fabri-cantes nacionais de produtos e componentes ele-trônicos, de modo geral, ao Brasil é reservado opapel de mão-de-obra montadora na cadeia pro-dutiva, estando o desenvolvimento dos produtoslocados nos países de origem das transnacionais.Uma das políticas propostas pelo presidenteFernando Collor, consolidada na Lei 8.387, de1991, foi a substituição dos índices de nacionali-zação pelo Processo Produtivo Básico, que permi-te à indústria de eletro-eletrônicos importar CKD(kits desmontados) e/ou SKD (kits semi-desmon-tados) para usufruir de descontos na Zona Francade Manaus e apenas montar os itens aqui.

Em relação à política industrial no setor desoftware, a Agência de Promoção de Exportaçõesdo Brasil (Apex), órgão vinculado ao Ministério doDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,em conjunto com a Sociedade para a Promoçãoda Excelência de Software Brasileiro (Softex), vãoinvestir cerca de R$ 11,8 milhões no ProjetoSetorial Integrado para Exportação de Software eserviços correlatos. A meta é exportar US$ 16 mi-lhões em um ano.

A Apex e a Softex selecionaram setores de atu-ação, como gestão eletrônica de documentos eautomação bancária, telecomunicações, governoeletrônico, internet, saúde, gestão empresarial esegurança. Hoje qualquer empresa pode procurara Softex e passar por uma avaliação para partici-par do projeto, que envolve a capacitação, a gera-ção de contatos qualificados e prospecção de mer-cados.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

Da parte do governo, os principais atores parao desenvolvimento de indústrias locais são o Mi-nistério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior e o Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planeja-

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mento, ambos responsáveis pelo desenvolvimen-to da política industrial. Os dois atores citados, aApex e a Softex, têm, por sua vez, trabalhadojuntos pelo fortalecimento de uma política parasoftwares. Além deles, também atuam sobre aquestão o Ministério da Ciência e Tecnologia e oBanco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social (BNDES).

A coordenação e operacionalização da políticaindustrial será exercida por grupos de trabalho denatureza interministerial, que se reportarão acolegiado de ministros. Segundo o documento dogoverno “esses grupos vão acompanhar emonitorar mercados, empresas, setores, cadeias,arranjos produtivos, redes de empresas e firmasno cumprimento dos compromissos assumidos noâmbito dos programas”.

TENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURAS

Em relação a tendências, é possível apresentara expectativa em relação à inclusão desemicondutores e softwares como prioridades paraa política industrial. Os semicondutores sãocomponentes essenciais na composição deaparelhos eletrônicos, especialmente osrelacionados à informática. Nos anos 70, o paíscontava com um laboratório de classe mundial, eestava entre os países líderes na pesquisa edesenvolvimento de circuitos integrados. No finaldos anos 80, havia 23 empresas no Brasil; hoje,esse número está limitado a quatro. Quase todaselas trabalham no encapsulamento (ou back-end),a parte de menos valor agregado. Não há foundries(fabricantes de chips), e apenas a Motorola (fora

das universidades) trabalha em design de compo-nentes. A capacitação nessa área possibilitaria odesenvolvimento de componentes como os SOCs(system-on-chip), por exemplo, que integram váriossistemas num único chip, e, segundo o própriogoverno “tendem a ser um ponto crítico em novasáreas, como a TV digital”. Nesse campo, o foco dapolítica industrial é tanto atração de investimentoquanto desenvolvimento de competências eformação de pessoal qualificado.

Em relação a softwares, o Brasil tem hoje osétimo maior mercado do mundo, com vendas deUS$ 7,7 bilhões em 2001. Dados do governofederal apontam que as importações equivalem aUS$ 1 bilhão e as exportações estão em torno deUS$ 100 milhões. O setor de software é uma dasáreas prioritárias da política industrial do gover-no brasileiro. O ministério tem como meta expor-tar US$ 2 bilhões em 2007. As cifras indicam aintenção de crescimento da participação do Brasilnesse setor, mas não chegam a alcançar as depaíses como Israel, Irlanda e Índia. Esta últimachega a contabilizar, segundo dados do própriogoverno, receitas da ordem de US$ 8 bilhões coma venda de licenças, produtos embarcados eserviços para o exterior.

Segundo o documento de política industrial,a ausência de uma estratégia industrial focada, afalta de uma imagem do software brasileiro re-conhecida no mercado internacional e dificulda-des de financiamento são algumas das barreirasà aquisição de competitividade da indústria noplano internacional, conforme recente estudocomparativo entre os mercados brasileiro, india-no e chinês.

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Despesa* média mensal familiar do brasileiro (R$)Despesa* média mensal familiar do brasileiro (R$)Despesa* média mensal familiar do brasileiro (R$)Despesa* média mensal familiar do brasileiro (R$)Despesa* média mensal familiar do brasileiro (R$)

Classificação por rendimento mensal familiar em salários mínimos**Classificação por rendimento mensal familiar em salários mínimos**Classificação por rendimento mensal familiar em salários mínimos**Classificação por rendimento mensal familiar em salários mínimos**Classificação por rendimento mensal familiar em salários mínimos**TipoTipoTipoTipoTipo

TTTTTelefoneelefoneelefoneelefoneelefonefixo****fixo****fixo****fixo****fixo****TTTTTelefoneelefoneelefoneelefoneelefonecelularcelularcelularcelularcelularQuantidade deQuantidade deQuantidade deQuantidade deQuantidade defamíliasfamíliasfamíliasfamíliasfamíliasTTTTTamanhoamanhoamanhoamanhoamanhomédio da famíliamédio da famíliamédio da famíliamédio da famíliamédio da família

Até2***4,15

0,74

7.949.351

3,34

Entre2 e 39,31

1,30

6.747.421

3,53

Entre3 e 517,52

3,21

10.181.484

3,68

Entre5 e 626,68

4,63

3.528.908

3,73

Entre6 e 835,36

6,75

5.086.643

3,72

Entre8 e 1041,64

10,43

3.349.073

3,70

Entre10 e 1554,79

13,81

4.571.410

3,80

Entre15 e 2066,64

26,15

2.416.195

3,72

Entre20 e 3082,51

42,42

2.236.892

3,72

Maisde 30105,64

106,38

2.467.262

3,63

TTTTTotalotalotalotalotal

31,8631,8631,8631,8631,86

11,2911,2911,2911,2911,29

48.534.63848.534.63848.534.63848.534.63848.534.638

3,623,623,623,623,62

Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 (IBGE)* O coeficiente médio de variação da despesa total em relação à amostra da pesquisa é de 2% para telefone fixo e4,5% para telefone celular** Salário mínimo de R$ 200, vigente durante o período a realização da pesquisa do IBGE*** Inclusive os que não possuem rendimentos**** Não inclui gastos com telefone público

D1.4 Estatísticas e indicadores que demonstrem que o efeito cumulativo daspolíticas implementadas está realmente reduzindo a exclusão em termos deacesso, disponibilidade, acessibilidade econômica, acessibilidade e uso, e napromoção do bem-estar público.

Internet Internet Internet Internet InternetDados da Agência Nacional de Telecomunica-

ções (Anatel), de 2002, mostram que:

- 6,7% dos pulsos do serviço de tarifas fixascomutadas são utilizados para conexão a prove-dores de internet. A Anatel justifica esse dado pelofato de que o serviço telefônico fixo comutado(STFC) permite o acesso à internet por meio depulso único (ou seja, o internauta navega nainternet por tempo indeterminado e paga apenasum pulso telefônico)

- No Brasil, existem cerca de 1.241 provedoresde acesso à internet.

- Eles estão distribuídos em apenas 360 muni-cípios. Com isso, apenas 845 municípios (cerca de15% do total de cidades do país) conseguem queseus habitantes se conectem à internet pagandopulso local.

- 58% desses provedores concentram-se na re-gião Sudeste, a mais rica e industrializada. Entreos demais, 19% estão na região Sul; 11%, noNordeste; 7%, no Centro-oeste; e 5%, no Norte.

- Ainda assim, a concentração populacionalgarante que 62% da população brasileira sejam“cobertos” por provedores de internet.

Os dados de acesso residencial à internet nãodevem ser tomados como base da análise da in-clusão digital, por excluir os centros de acesso

público, o acesso dos locais de trabalho etc. Mes-mo assim, ajudam a identificar o quadro da reali-dade brasileira. De acordo com a PNAD 2003 doIBGE, 15,3% dos domicílios brasileiros têm com-putadores. 11,4% dos domicílios têm acesso àinternet. Esse número vem crescendo numa pro-porção próxima a 10% ao ano. O IBOPE Net Ratings,principal instituto de pesquisas brasileiro, avali-ando os usuários residenciais de internet, anun-ciou que o número de usuários domiciliares cres-ceu cerca de 20% em 2004 e chegou a 5,3 milhões,de um total de 18,6 milhões com acesso à internet.Assim, os usuários de banda larga representamcerca de 28,5% dos usuários domiciliares.

Já no tocante aos indicadores de políticas pú-blicas, faltam dados que permitam avaliar o im-pacto das políticas de inclusão digital tanto dasprefeituras quanto do governo federal.

No caso da internet, além da exclusão econô-mica, outros fatores contribuem para o baixoíndice de acesso. São questões culturais (como ausabilidade de computadores) e educacionais(como o grau de instrução), entre outras.

T T T T TelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaelefoniaImpacto no orçamento familiarO acesso aos serviços de telecomunicações está

diretamente ligado aos preços oferecidos e à ca-pacidade de consumo da população.

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No Brasil, em que grande parte da populaçãoestá abaixo da linha de pobreza, a situação tornanecessária a criação de medidas voltadas para asclasses mais desfavorecidas e, conseqüentemente,uma maior participação do Estado na garantia dauniversalização do acesso à telefonia.

A última pesquisa sobre os orçamentos famili-ares do IBGE aponta o impacto dos gastos da po-pulação com telefonia fixa e móvel (veja tabela napágina anterior). Os quase 120 milhões debrasileiros que recebem menos de oito saláriosmínimos – que, na época da pesquisa, era de R$200 – gastam, em média por mês, cerca de R$ 36com telefone fixo e menos de R$ 7 com celulares.

Os últimos anos mostram que o número detelefones celulares em funcionamento ultrapassouo número de linhas fixas. Desses, mais de 80% sãode telefones pré-pagos (ver mais dados abaixo).Isso evidencia a opção que vem sendo feita pormuitos consumidores de substituir a linha fixa pelotelefone pré-pago. A média de gastos, no entan-to, evidencia que os telefones ainda têm um pa-pel de recepção muito maior do que de ligações.O que faz com que ainda sejam os telefones pós-pagos os que sustentam as operadoras móveis.

Repetindo o que já foi apontado nos atributosD1.1 e D1.2, o processo de privatização das tele-comunicações não priorizou o maior acesso à po-pulação a preços razoáveis: os ganhos financeirosdo governo brasileiro com o processo sãoquestionáveis, o Estado não manteve uma presen-ça mínima estratégica no setor e as tarifas subi-ram a números superiores aos da inflação brasileira.Com relação a este último, o aumento das tarifasda telefonia fixa foi de 611,03% nos últimos 10anos. Em 1994, a assinatura residencial custavaR$0,69. Hoje ela custa na cidade de São Paulo R$34,29. Um aumento de quase 5.000%, bem maiorque a inflação no período: de 145,01%11. Apenasentre 1995 e 1997, a assinatura subiu 2.172%, noprocesso de preparação para as privatizações.

A assinatura básica acaba por ser um dos mai-ores limitadores do acesso e, ao mesmo tempo,uma grande fonte de receita para as operadorasde telefonia fixa. Cerca de 40% do faturamento dasempresas se baseiam na arrecadação desta taxamensal. Entretanto, a constitucionalidade da co-brança da assinatura básica é questionada naJustiça e nas instâncias legislativas do país. A con-tinuidade da cobrança seria abusiva, pois deveriacobrir essencialmente os custos de instalação.Existe ainda um custo de manutenção, tanto pre-

ventiva quanto de reparos, mas boa parte dos cus-tos da rede física já estão amortizados.

Algumas Câmaras Municipais e AssembléiasEstaduais já aprovaram projetos de lei que derru-bavam a cobrança a taxa. A argumentação era deque a Constituição brasileira, em seu artigo 24,permite uma competência corrente à União e aestados sobre a legislação de consumo e produ-ção, embora o artigo 22 diga que compete ape-nas à União legislar sobre telecomunicações. Todosos projetos foram derrubados após decisõesjudiciais.

Mapeamento do setor privado na árMapeamento do setor privado na árMapeamento do setor privado na árMapeamento do setor privado na árMapeamento do setor privado na área de telecoea de telecoea de telecoea de telecoea de teleco-----municaçõesmunicaçõesmunicaçõesmunicaçõesmunicações

Telefonia fixaDesde 2001, a média brasileira de

teledensidade (quantidade de acessos por cada 100mil habitantes) é praticamente a mesma. Em 2003,quando o último levantamento foi feito, esse ín-dice foi de 29%, exatamente o mesmo de 2002 eapenas dois pontos percentuais a mais do que oregistrado em 2001. Isso significa que, a despeitodo incentivo à competição de mercado almejadapelo processo de privatização das empresas detelecomunicação de meados dos anos 90, a utili-zação do serviço de telefonia fixa no Brasil estápraticamente estabilizada.

A Telemar é a maior operadora brasileira, comcerca de 17,4 milhões de linhas instaladas em2.975 localidades que cobrem 94,6 milhões debrasileiros e brasileiras. A Telefônica vem em se-guida com 14,8 milhões de linhas instaladas, em622 municípios (38 milhões de pessoas). Na se-qüência, aparece a Brasil Telecom com 10,7 mi-lhões de linhas instaladas em 1.798 cidades (po-pulação atendida de 40,8 milhões).

O serviço de telefonia chega praticamente atodos os 5,5 mil municípios do Brasil, mas o pata-mar da universalização dos serviços ainda estádistante. A utopia da plena concorrência que re-sultaria em um melhor atendimento dos cidadãosbrasileiros tampouco se concretizou. A competi-ção ainda está restrita às empresas, ao mercadocorporativo. No entanto, o mercado de telefoniaestá às vésperas de mudanças drásticas com a in-trodução da telefonia por Internet Protocol (IP) e ouso da tecnologia IEEE 802.16 (wi-max). Osimpactos atuais ainda são pequenos, mas as pers-pectivas são enormes.

As empresas-espelho, como a Vésper (compra-

11.11.11.11.11. A tarifa de telefonia fixa foi a que mais subiu nos últimos dez anos (611,03%), seguida pelos aluguéis (544,1%). A inflação noperíodo acumulou alta de 145,01% entre julho de 1994, início do Plano Real, e junho de 2004. (Globo Online, 05/07/2004).

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da pela Embratel) e a GVT, não cumprem a funçãode disponibilizar serviços concorrentes para loca-lidades com poder de consumo significativo, atépor não serem obrigadas por lei a cumprir o PlanoGeral de Metas de Universalização, e seguemcambaleantes.

Das cerca de 1 milhão de linhas instaladaspela GVT, 70% estão em serviço. Já a Vésper,apesar de ter o maior potencial de mercado, temcerca de seis milhões de linhas instaladas, masapenas 500 mil assinantes, número que não os-cila há anos. Ou seja, não basta potencial paracrescer. A sua compra pela Embratel indica aintenção desta em alcançar a última milha. Re-centemente, já tem sido anunciada pela empre-sa a possibilidade do consumidor adquirir umtelefone fixo sem assinatura básica. A Telmex,dona da Embratel, adquiriu também a NET Ser-viços, possibilitando o provimento de acessotelefônico domiciliar via cabo.

A experiência de maior fracasso no modelo bra-sileiro é a das espelhinhos, previstas para fortalecera concorrência em âmbito local. Apesar de ter au-torização para atuar em 344 municípios (jáchegaram a quase 600), poucas delas estão emoperação.

Telefonia móvelO número de linhas celulares em operação vem

crescendo em altas proporções. O ano de 2004fechou com 65.605.577 acessos em operação, umcrescimento de 41,47% em relação a 2003. Des-ses, 80,47% são linhas pré-pagas, que cresceramem participação em relação às linhas pós-pagas.

A teledensidade (número de celulares em ser-viço para cada 100 habitantes) do país subiu de26,22 (2003) para 36,63 (2004)

Nesse contexto, a tecnologia TDMA, emboramantenha 35,53% do mercado, vem perdendomarket share para a tecnologia GSM, sobretudo pelasua flexibilidade territorial e pela maior segurançaproporcionada, diminuindo os riscos de clonagem.Celulares GSM já representam 34,18% do mercado.Enquanto isso, a tecnologia CDMA, aindaconcentrada nos grandes conglomerados urbanos,mantém uma faixa de 29,67% do mercado.

O mercado de telefonia móvel praticamentedesistiu de expandir a sua cobertura com o intui-to de atingir uma quantidade maior de municípi-os. Cerca de três mil municípios brasileiros (25,8milhões de pessoas) não têm cobertura.

Existem, porém, 1.492 municípios em que háduas ou mais operadoras de telefonia móvel, masque representam 135,5 milhões de habitantes e

90% do Índice Potencial de Consumo (IPC),parâmetro calculado pela empresa Target quemede percentual que cada município tem no con-sumo nacional. Fica claro, portanto, que a compe-tição na telefonia móvel se dá dentro do imperati-vo da lógica de mercado.

Infra-estrutura de telecomunicações (fibras ópticas)A capacidade ociosa do setor de fibras ópticas

chega a 90% no país e não há novas demandas.Em 2001, por exemplo, foram vendidos no Brasil2,5 milhões de quilômetros de cabos; em 2003,esse número não passou de 100 mil. Também em2003, 250 mil quilômetros de fibras ópticas foraminstaladas. Em 2001, foram mais de 2 milhões dequilômetros. Na média mundial, a diferença de2001 para 2003 caiu de 90 para 50 milhões dequilômetros instalados.

A novidade no mercado foi o investimento pe-sado da Telmex, que comprou a AT&T LatinAmerica por US$ 205 milhões no final de 2003. Jáa Telemar e a Embratel, também em 2003,venceram a última grande licitação de terceirizaçãode rede do Banco do Brasil, com um lance de R$311 milhões e R$ 316 milhões, respectivamente.

SatélitesEste é outro setor em que a oferta hoje é mai-

or do que a demanda, em cerca de 20%. Os ope-radores de satélite esperam que as condiçõesnegativas do setor passem por mudanças a par-tir de 2008, quando a troca dos satélites hojeem órbita deve impor um ciclo dereestruturações e consolidações no mercado. Astransmissões de TVs abertas e por assinaturarepresentam mundialmente cerca de 70% da re-ceita dos satélites.

Banda largaHá cerca de 250 municípios onde o serviço é

disponibilizado. A tecnologia ADSL é a líder abso-luta do mercado no Brasil. Até o final de 2003, aTelefônica possuía 383 mil assinantes do Speedyconcentrados no Estado de São Paulo; a Telemartinha 217 mil assinantes do Velox e a BrasilTelecom, 195 mil assinantes do BRTurbo em di-versos estados (AC, DF, GO, MS, MT, PR, RO, RS, SCe TO). A tecnologia cable modem é operada pelaNET, com o Virtua, e pela TVA, com o Ajato.

No Brasil, como dito acima, no final de 2004 onúmero de usuários residenciais com banda largaera de 5,3 milhões, representando 28,5% dos 18,6milhões usuários domiciliares de internet.

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6) TV por assinaturaPelas redes de cabo ou MMDS, a TV chega hoje

a 508 municípios do Brasil. A negociação da Telmexcom a NET serviços, operadora de TV a cabo per-tencente ao conglomerado das Organizações Glo-bo, é a grande novidade do setor. Com a opera-ção, toda a rede de infra-estrutura da NET passa aser controlada pelo grupo mexicano. Na TV porsatélite, foi anunciada a fusão da Sky com a DirecTV,o que deixa 95% desse mercado (e cerca de 30% domercado total de TV por assinatura) na mão domesmo grupo.

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D2: Disponibilidade de conteúdo relevante para todas ascomunidades lingüísticas e grupos marginalizados

D2.1 Ações de apoio para produção de conteúdo por e para todas ascomunidades lingüísticas.

D2.2 Apoio ao desenvolvimento de software lingüísticos técnicos e interfaces dehardware.

É possível identificar dois tipos de comunida-des lingüísticas ou grupos marginalizados. O pri-meiro são os indígenas, sendo 235 povos no Bra-sil, segundo o Conselho Indigenista Missionário(Cimi). O total de indígenas de todos os povos,segundo o Censo 2000, são 734.131, vivendo em825 terras pelo país. Apenas 37% dessas terrastiveram seu procedimento de demarcaçãoconcluído.

Além do português, falado por alguns povos,180 línguas diferentes são faladas por essas co-munidades, muitas dessas línguas em processoacelerado de extinção. Todo o restante da popula-ção brasileira fala o português.

O outro grupo marginalizado são as pessoasportadoras de deficiência. Segundo estimativa daOrganização Mundial da Saúde (OMS), cerca de10% dos brasileiros – 18 milhões de habitantes –são portadores de algum tipo de deficiência. Se-gundo a Rede Saci, especializada na questão, “acre-dita-se que esse número possa ser ainda maior,uma vez que o Brasil é campeão em acidentes detrânsito e trabalho e tem índices crescentes deviolência urbana”. Segundo o censo realizado peloIBGE, em 2000, são 24,5 milhões de brasileiros,ou seja, 14,5% da população, com algum tipo dedeficiência.

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Tradicionalmente, as línguas indígenas não sãolevadas em conta na elaboração de políticas pú-blicas. A maior ameaça à cultura indígena, no en-tanto, está na ausência de políticas para demarca-ção de terras e nas condições políticas esocioeconômicas para sua sobrevivência. Segun-do o Cimi, “para garantir a diversidade cultural, énecessário garantir as condições de reproduçãodessa cultura”. A inexistência, portanto, de baselegal nesse sentido acaba prejudicando ascondições para produção de conteúdo por

comunidades lingüísticas marginalizadas. Mais doque isso, não existe nenhuma base legal quegaranta ou sustente ações para o desenvolvimentode conteúdos, hardware e software paracomunidades lingüísticas.

No tocante às pessoas portadora de deficiên-cia, a Lei 10.098, de 2000, estabelece:

Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação debarreiras na comunicação e estabelecerá mecanis-mos e alternativas técnicas que tornem acessíveisos sistemas de comunicação e sinalização às pes-soas portadoras de deficiência sensorial e com di-ficuldade de comunicação, para garantir-lhes o di-reito de acesso à informação, à comunicação, aotrabalho, à educação, ao transporte, à cultura, aoesporte e ao lazer.

Art. 18. O Poder Público implementará a formação deprofissionais intérpretes de escrita em braile, lin-guagem de sinais e de guias-intérpretes, para faci-litar qualquer tipo de comunicação direta à pessoaportadora de deficiência sensorial e com dificulda-de de comunicação.

Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sonse imagens adotarão plano de medidas técnicas como objetivo de permitir o uso da linguagem de sinaisou outra subtitulação, para garantir o direito deacesso à informação às pessoas portadoras dedeficiência auditiva, na forma e no prazo previstosem regulamento.

O Decreto 5.296, que regulamenta a lei, foi pu-blicado em 2004, e estabelece em seu capítulo VIuma série de obrigações para permitir acesso àinformação e comunicação por parte das pessoasportadoras de deficiência, entre elas:

- portais e sítios da administração pública nainternet com acessibilidade garantida;

- telecentros públicos devem possuir instala-ções plenamente acessíveis e, pelo menos, umcomputador com sistema de som instalado, parauso preferencial por pessoas portadoras de defici-

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ência visual;- as empresas de telefonia fixa devem instalar

telefones públicos adaptados e garantir a dispo-nibilidade de instalação de telefones para uso depessoas portadoras de deficiência auditiva, entreoutras ações;

- empresas de telefonia móvel devem garantirinteroperabilidade para possibilitar o envio demensagens de texto (SMS) entre celulares de dife-rentes empresas;

- deve haver incentivo da oferta de aparelhosde televisão equipados com recursos tecnológicosque permitam sua utilização de modo a garantiro direito de acesso à informação às pessoas porta-doras de deficiência auditiva ou visual, entre elaslegenda oculta (closed caption), tecla SAP e fonesde ouvido;

- as emissoras de TV ficam obrigadas a trans-mitir utilizando sistemas de reprodução das men-sagens veiculadas para as pessoas portadoras dedeficiência auditiva e visual, como legendas ocul-tas, janela com intérprete de Linguagem Brasileirade Sinais (Libras) e descrição e narração em vozde cenas e imagens;

- o projeto de desenvolvimento e implementa-ção da televisão digital no país deverá contem-plar obrigatoriamente os três tipos de sistema deacesso à informação citados acima.

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No caso da disponibilização de conteúdo emlínguas indígenas, não há nenhum exemplo nessesentido, até pela ampla maioria da população,inclusive parte dos indígenas, ter o portuguêscomo língua-mãe. Contudo, sem ações efetivaspara a reprodução da cultura indígena, não hánenhum estímulo à permanência dessas culturas,e já há várias línguas que desapareceram.

Na questão da acessibilidade, o decreto queregulamenta a lei ainda é muito recente, e torna-se difícil mensurar os efeitos de sua promulgação.A Universidade Federal do Rio de Janeiro se tor-nou referência mundial ao desenvolver o DOX VOX,um software para pessoas portadoras de deficiên-cia visual. No entanto, é possível notar que aindasão poucos os sítios acessíveis a portadores dessetipo de deficiência. Já no tocante aos telecentros,vários deles já contam com condições plenas deacessibilidade, até pelo envolvimento de atoresque lidam com essa questão, como a Rede Saci.

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O Cimi atua na luta pela garantia dos direitosdos povos indígenas. A entidade age para unificara ação missionária junto aos índios, “intervindonas ações do Executivo, Legislativo e Judiciário queatinjam os interesses dos índios e estimulando osdiversos setores sociais para que se solidarizemcom a causa indígena”. Assim, trabalha pelamanutenção e reprodução da cultura indígena.

Atuando na área da deficiência, a Rede Sacipartiu da Universidade de São Paulo (USP) e reúnediversas universidades para atuar comofacilitadores da comunicação e da difusão de in-formações sobre o tema. Segundo a sua páginaweb, suas principais ferramentas de trabalho sãoa internet e os Centros de Informação e Convivên-cia (CICs). “Por meio da internet, disponibiliza aosseus usuários endereço eletrônico, suporte técni-co, softwares adaptados para deficientes, além debases de dados, listas de discussão, agenda deeventos, entre outros serviços. Já os CICs são lo-cais de fácil acesso, abertos a portadores de defi-ciência, onde são ministrados cursos gratuitos decapacitação para o uso da internet e dainformática”.

A Rede Saci conta com cerca de três mil usuárioscadastrados, e atua também em parceria com opoder público, como no caso dos telecentros deSão Paulo. Outra entidade que lida com o tema éa Escola de Gente, com projetos e ações que colo-cam a comunicação a serviço da inclusão de gru-pos vulneráveis na sociedade, principalmente depessoas portadoras de deficiência.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

A ser mantida essa política de não reconheci-mento dos direitos dos índios, as 180 línguas ain-da existentes devem diminuir em quantidade, jáque os esforços em preservar as línguas têm par-tido apenas dos próprios indígenas.

Já no campo das pessoas portadoras dedeficiência, parece difícil descrever tendências. Porum lado, a legislação é muito evoluída, e garantea acessibilidade aos meios de comunicação, demassa ou não. Por outro, a plena acessibilidade,para além dos sítios do poder público, dependede disposição particular dos sítios em assumir ascondições para alcançar essa acessibilidade, o queparece impossível prever nesse momento.

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D3: Competências e habilidades disseminadas quepermitam ao povo e suas comunidades fazerem uso dasTICs para atingir seus objetivos individuais e coletivos.

D3.1 Apoio para desenvolvimento de competências e habilidades, comotreinamentos, programas de intercâmbio, módulos curriculares formais etc.,amplamente disponíveis em estabelecimentos de ensino comuns, como escolas,bibliotecas, centros comunitários etc.

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Não há base legal que sustente o apoio paradesenvolvimento de competências e habilidades.

IMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTIMPLEMENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Embora não esteja consagrada por lei, a idéiado desenvolvimento de competências e habilida-des para a população lidar e se apropriar dastecnologias de informação e comunicação (TICs)está presente em algumas políticas públicas.

Em alguns programas de inclusão digital, comoos telecentros da Prefeitura de São Paulo, o deba-te sobre acessibilidade tem sido feito buscandofortalecer a produção de conteúdo próprio pelosusuários. Um programa de oficinas de criação desites chegou a ser disponibilizado para os usuári-os em 2004.

Também o programa Governo Eletrônico -Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac) tembuscado fortalecer a produção de conteúdo própriopelos usuários. A homepage do Gesac mantém noar o seguinte chamado: “O Gesac lança um desafio!Convida a todos os usuários dos pontos depresença a produzirem sites das suas respectivascomunidades, divulgando sua cultura, seusnegócios, além da própria cidade. Participe!Organize-se em seu Centro Comunitário e publiqueseu website!”

Segundo o sítio, haveria a possibilidade dedesenvolver projetos como a construção de umapágina da comunidade na internet, a redação deum jornal eletrônico, a produção de áudioscomunitários locais (rádios e ilhas multimídias), atradução de softwares livres educacionais e amontagem de cursos educacionais à distância.

A terceira fase do programa Gesac é a que con-templa o treinamento dos multiplicadores. O ob-jetivo é que esses multiplicadores possam promo-ver o uso intensivo das TICs disponibilizadas e a

produção de conteúdos escritos e visuais sobretemas relevantes e atuais da sua própria comuni-dade.

Apesar de demonstrarem intenções relevantes,essas são iniciativas isoladas, não necessariamentefruto de política pública planejada. Dependempuramente, portanto, da boa vontade dos gestoresque as aplicam.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

O fato de nenhum dos programas de inclusãodigital por parte do poder público estar consoli-dado em bases legais torna frágeis as condiçõespara aprofundamentos, tais como o apoio a trei-namentos e educação.

Por parte do governo federal, o programaGesac, coordenado pelo Ministério das Comuni-cações, e as Casas Brasil (ver a seguir em“Tendências Atuais e Futuras”), coordenadas pelaCasa Civil da Presidência da República, são osprincipais espaços em potencial para a realizaçãodesse tipo de atividade. Também as escolas públi-cas de todo o país, a partir de políticas próprias ede sua integração ao Gesac, podem se tornar im-portantes agentes desse processo.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

As Casas Brasil têm sido previstas não apenascomo telecentros, mas como uma central públicaem que o cidadão poderá usufruir de diversos ser-viços e se apropriar de tecnologias nas suas diver-sas formas, como rádio comunitária e programa-ção de sítios. Assim, ela se mostra como o espaçoideal para o desenvolvimento de competências ehabilidades por parte da população.

Além disso, as discussões sobre diretrizescurriculares no Ministério da Educação (MEC) jábuscam opções para lidar com TICs no programa

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das escolas. No entanto, ainda há questões queantecedem ao desenvolvimento de capacidades.Segundo o próprio MEC, apenas 10% das escolaspúblicas têm acesso à internet e, em várias delas,há apenas um computador, vinculado à diretoria.As poucas escolas que possuem laboratório deinformática têm a oportunidade de oferecer trei-namentos específicos, mas falta também uma po-lítica que proponha metodologias e dinâmicaspara esse fim.

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D4. Participação efetiva da sociedade civil no processo degovernança, incluindo sua formulação, projeto, regulação,implementação e avaliação.

D4.1 Um processo participativo e multilateral de desenvolvimento de estratégias,que inclua participação significativa da sociedade civil e os recursos necessáriospara que todos os participantes dêem contribuições efetivas. Isto inclui infra-estrutura (seja fixa, sem-fio ou outros) e serviços (como telefonia, celulares,transmissão de dados e internet); e a natureza da compreensão e planejamentoestratégicos por parte de todos.

D4.2 Meios ativos e dinâmicos para que preocupações públicas com relação agovernança e políticas sejam ouvidas e atendidas.

D4.3 Mecanismos permanentes para participação pública na revisão eimplementação de políticas em curso, de modo descentralizado quandoapropriado, inclusive em relação aos acordos internacionais.

D4.4 Mecanismos e instrumentos de auto-governança, desenvolvidos e utilizadospela sociedade civil, reconhecidos ou não pelo governo.

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Repetindo o que já foi exposto em detalhes noatributo A6, o principal espaço de participação dasociedade civil nas questões de acesso às TICs éhoje o Comitê Gestor da Internet no Brasil.Inicialmente criado pela portaria interministerial147, de 31 de maio de 1995, o CGIBr foi alteradopor inúmeras normas até a atual forma, dada peloDecreto 4.829/03. Originalmente, o comitê foivinculado a dois ministérios: das Comunicaçõese de Ciência e Tecnologia. Hoje ele assumiupersonalidade jurídica própria, e tem na escolhademocrática de seus integrantes uma das marcasmais positivas.

Sua função é coordenar e implementar todasas atividades necessárias à gestão eficiente e qua-lificada dos serviços de internet. Isso significaoperar desde a atribuição de endereços e registrode nomes de domínios até a recomendação depadrões e procedimentos técnicos para o desen-volvimento do setor, entre muitas outras tarefas.

Em julho de 2004 foi realizada a primeiraeleição direta dos integrantes do CGIBr. A compo-sição do Comitê visa contemplar diversos setoresda comunidade brasileira intrinsecamente relaci-onada à internet: quatro representantes do setor

empresarial (provedores de acesso, conteúdo, infra-estrutura, indústria de telemática e usuários em-presariais) e seus respectivos suplentes; quatrorepresentantes do terceiro setor e seus respecti-vos suplentes e três representantes da comunida-de científica e tecnológica e seus respectivos su-plentes.

Já no campo da telefonia, a criação da AgênciaNacional de Telecomunicações (Anatel) não previua participação da sociedade civil no principalespaço de decisão da Agência, o Conselho Diretor.A Lei 9.472, intitulada Lei Geral de Telecomuni-cações (LGT) prevê que esse tipo de inserção se dáno Conselho Consultivo, como se vê abaixo.

Art 33. O Conselho Consultivo é o órgão de participa-ção institucionalizada da sociedade na Agência.

Art 34. O Conselho será integrado por representantesindicados pelo Senado Federal, pela Câmara dosDeputados, pelo Poder Executivo, pelas entidadesde classe das prestadoras de serviços de teleco-municações, por entidades representativas dos usu-ários e por entidades representativas da socieda-de, nos termos do regulamento.

Parágrafo único. O Presidente do Conselho Consultivoserá eleito pelos seus membros e terá mandato deum ano.

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Art 35. Cabe ao Conselho Consultivo:

I - opinar, antes de seu encaminhamento ao Ministé-rio das Comunicações, sobre o plano geral de ou-torgas, o plano geral de metas para universalizaçãode serviços prestados no regime público e demaispolíticas governamentais de telecomunicações;

II - aconselhar quanto à instituição ou eliminação daprestação de serviço no regime público;

III - apreciar os relatórios anuais do Conselho Diretor;IV - requerer informação e fazer proposição a respei-

to das ações referidas no art. 22.

Art 36. Os membros do Conselho Consultivo, que nãoserão remunerados, terão mandato de três anos,vedada a recondução.

§ 1º Os mandatos dos primeiros membros do Conse-lho serão de um, dois e três anos, na proporção deum terço para cada período.

§ 2º O Conselho será renovado anualmente em umterço.

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A falsa oposição entre “técnico” e “político” temmarcado o discurso que sustenta as agências re-guladoras no país. Até mesmo a indicação de umex-sindicalista para a presidência da Anatelprovocou reações na grande mídia, evidenciandoa dificuldade de se aceitar a proposta de controlepúblico para as comunicações. Da maneira comoestá hoje, o Conselho Consultivo, espaço em quehá participação da sociedade civil, acaba tendopouca interferência e visibilidade.

No caso do CGIBr, não é possível fazer julga-mento de sua eficácia com o novo modelo, já quesua instalação se deu ao final de 2004.

A realização de consultas públicas têm ocorri-do por vezes, ainda que não haja uma divulgaçãoampla nem um acompanhamento sistemático desuas decorrências para que se possa afirmar queelas são eficazes. No caso do Serviço de Comuni-cações Digitais, por exemplo, os documentos dePlano de Outorgas e de Metas de Universalizaçãoforam colocados em consulta. Se isso demonstrouuma disposição ao diálogo, reforçada pela marca-ção de uma agenda de audiências públicas em seiscapitais de estados brasileiros, por outro, o prazode 18 dias para a consulta dificultou manifesta-ções mais aprofundadas.

Há, portanto, uma propensão a mecanismosformais de diálogo, mas sem que haja participa-ção efetiva da sociedade civil na definição e acom-panhamento de políticas, com exceção do caso doComitê Gestor da Internet no Brasil.

O PO PO PO PO PAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES AAPEL DOS DIFERENTES ATORESTORESTORESTORESTORES

Tanto no campo da telefonia como da internet,são poucos os atores da sociedade civil que traba-lham ativamente pela participação nas decisõesdesses setores.

Em relação à telefonia, a Federação Interesta-dual de Trabalhadores em Telecomunicações(Fittel) atua buscando interferir nas decisões dosetor, por meio de espaços como o Conselho Con-sultivo da Anatel. Há também órgãos de defesado consumidor que trabalham para que as empre-sas cumpram as metas e parâmetros de qualida-de, encaminhando as queixas e cobrando soluçõespor parte das operadoras. Destacam-se especial-mente o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec)e a Procuradoria de Defesa do Consumidor(Procon). Da parte do Estado, o principal ator émesmo a Anatel, que, como foi apontado, regulae fiscaliza o setor.

Na questão da internet, duas instituiçõesda sociedade civil tiveram papel marcante naatuação para democratização do Comitê Gestorda Internet no Brasil. A Rede de Informaçõespara o Terceiro Setor (Rits) atuou junto com aRede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) paraque se determinasse a independência e se ado-tasse o modelo de eleição direta para o comi-tê. Outros atores, como o Projeto Software Li-vre Brasil, também têm buscado interferir nasdecisões desse campo, atuando pela amplia-ção da democratização.

Da parte do governo, destacam-se três ato-res. O primeiro é a própria Anatel, diretamenteresponsável pela regulação, já que a internet éserviço de valor adicionado. Em segundo lugar,o Instituto Nacional de Tecnologia da Informa-ção (ITI), Autoridade Certificadora Raiz da infra-estrutura de chaves públicas brasileira. O ITI éuma autarquia vinculada à Casa Civil da Presi-dência da República, responsável por estimular earticular projetos de pesquisa científica e de de-senvolvimento tecnológico voltados à ampliaçãoda cidadania digital. Há ainda o Serviço Federalde Processamento de Dados (Serpro), empresa pú-blica de prestação de serviços em tecnologia dainformação, responsável por boa parte dasinterfaces para e-gov, que também busca interfe-rir nas decisões do setor.

TENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATENDÊNCIAS ATUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURASTUAIS E FUTURAS

Está para ser votado no Congresso Nacional umprojeto de lei que modifica o papel das agências

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reguladoras e sua relação com o governo. A pro-posta foi apresentada pelo próprio governo (eagora tramita na forma de substitutivo), e dimi-nui a independência das agências tornando-as maisligadas ao governo. A proposta obriga a Anatel aassinar um contrato de gestão com o Ministériodas Comunicações e transfere a responsabilidadedas concessões do regulador para o Executivo.

O substitutivo da Lei das Agências amplia asujeição da agência, até então independente, aoExecutivo e ainda dá direito ao Ministério de edi-tar regulamentos. Além disso, tira da Anatel a res-ponsabilidade de instruir processos sobre condu-ta anticompetitiva no setor no Conselho Adminis-trativo de Defesa da Concorrência (Cade).

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ReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasLegislação e instrumentos regulatórios nacionais einternacionais

Toda a legislação nacional consultada foi obtida em:- Presidência da República – http://www.planalto.gov.br- Senado Federal – http://www.senado.gov.br

Destacam-se, entre outros, os seguintes textos:- Constituição Federal da República Federativa do Brasil, 1988;- Lei 4.117, de 1962 (Código Brasileiro de Telecomunicações);- Decreto Lei 236, de 1967, que regulamenta o Código Brasileiro de Telecomunicações;- Lei 8.977, de 1995, que trata da cabodifusão no Brasil;- Lei 9.472, de 1997, Lei Geral das Telecomunicações;- Lei 9.612, de 1998, que regula a radiodifusão de sons de caráter comunitário no Brasil;- Decreto 4.829, de 2003, que dispõe sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Os Projetos de Lei foram obtidos em:- Câmara dos Deputados – http://www.camara.gov.br- Senado Federal – http://www.senado.gov.br

Outros documentos e instrumentos regulatórios foram obtidos em páginas deinstituições do Estado na internet:- Agência Brasileira de Inteligência – http://www.abin.gov.br- Agência Nacional de Cinema – http://www.ancine.gov.br- Agência Nacional de Telecomunicações – http://www.anatel.gov.br- Comitê Executivo de Comércio Eletrônico – http://ce.mdic.gov.br- Comitê Gestor da Internet no Brasil – http://www.cg.org.br- Conselho de Comunicação Social – http://www.senado.gov.br/ccs- Conselho Nacional de Arquivos – http://www.arquivonacional.gov.br- Empresa Brasileira de Comunicação – http://www.radiobras.gov.br- Financiadora de Estudos e Projetos – http://www.finep.br- Fundação PROCON-SP – http://www.procon.sp.gov.br- Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac) – http://www.gesac.gov.br- ICP Brasil – http://www.icpbrasil.gov.br- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – http://www.ibge.gov.br- Instituto Nacional da Propriedade Industrial – http://www.inpi.gov.br- Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) – http://www.iti.br- Interlegis – Comunidade Virtual do Poder Legislativo – http://www.interlegis.gov.br- Ministério da Ciência e Tecnologia – http://www.mct.gov.br- Ministério da Cultura – http://www.cultura.gov.br- Ministério da Justiça – http://www.mj.gov.br- Ministério das Comunicações – http://www.mc.gov.br- Ministério Público Federal – http://www.mpf.gov.br- Ministério Público Federal – Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) –

http://www.pgr.mpf.gov.br/pfdc- Portal Software Livre – http://www.softwarelivre.gov.br- Presidência da República – http://www.presidencia.gov.br- Receita Federal – Ministério da Fazenda – http://www.receita.fazenda.gov.br- SERPRO – http://www.serpro.gov.br

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130130130130130

- Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi)http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/

- Tribunal de Contas da União – http://www.contaspublicas.gov.br

Fontes internacionais consultadas:- Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI) – http://www.cmsi.org.br- Organização das Nações Unidas – www.un.org- Organização Mundial do Comércio – http://www.wto.org- Organização Mundial de Propriedade Intelectual - www.wipo.org- UNESCO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Ciência, da Educação

e da Cultura – www.unesco.org

Entidades empresariais e da sociedade civil

PILPILPILPILPILAR AAR AAR AAR AAR A- ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais –

http://www.abong.org.br- Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) - http://www.andi.org.br- Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - http://www.abert.org.br- Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec) -

http://www.abepec.com.br- Associação Brasileira de Imprensa - http://www.abi.org.br- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – http://www.abraji.org.br- Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) - http://www.abraconet.org.br- Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) - http://www.abtu.org.br- Associação Brasileira de TVs Comunitárias (Abccom) - http://www.abccom.com.br- Associação Nacional de Editores de Revistas - http://www.aner.org.br- Associação Nacional de Jornais - http://www.anj.org.br- Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania - http://www.eticanatv.org.br- Centro de Mídia Independente (CMI) - http://www.midiaindependente.org- Congresso Brasileiro de Cinema (CBC) - http://www.congressocinema.com.br- Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) - http://www.conar.org.br- DireitoNet - http://www.direitonet.com.br- Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos) -

http://www.enecos.org.br- Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) -

http://www.fittel.org.br- Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) - http://www.fenaj.org.br- Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) – http://www.fndc.org.br- Freedom House - http://www.freedomhouse.org- Globopar, Holding do Grupo Globo de Comunicação – http://globopar.globo.com- Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) - http://www.inesc.org.br/pt/index.php- Informativo Eletrônico SETE PONTOS - http://www.comunicacao.pro.br/setepontos- Instituto Ethos http://www.ethos.org.br- Instituto Gutenberg http://www.igutenberg.org- Instituto da Sociedade Civil para o Controle da Administração Pública (Fisccal) -

http://www.fisccal.org.br- Jurista online http://www.juristaonline.com.br- Jus Navigandi http://www.jus.com.br- Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) http://www.mndh.org.br- Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – http://www.mst.org.br- Movimentos de Rádios Livres - http://www.radiolivre.org

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- Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br- Ordem dos Advogados do Brasil - http://www.oab.org.br- Parem as máquinas - http://www.paremasmaquinas.com.br- Rede Brasileira de Comunicação Cidadã (RBC) – http://www.rbc.org.br- Rede de informações para o Terceiro Setor (Rits) – http://www.rits.org.br- Rede Direitos Humanos e Cultura http://www.dhnet.org.br- Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa -

http://www.liberdadedeimprensa.org.br/- Revista Iberoamericana de Arbitraje y Mediación - http://www.servilex.com.pe/arbitraje- SOS Imprensa - http://www.unb.br/fac/sos- TV Cultura de São Paulo – http://www.tvcultura.gov.br- TV Educativa do Rio Grande do Sul – http://www.tve.com.br

PILPILPILPILPILAR BAR BAR BAR BAR B- Associação Brasileira de Autores, Compositores, Intérpretes e Músicos –

http://www.abrac.org.br- Associação Brasileira de Direitos Reprográficos – http://www.abdr.org.br- Associação Brasileira de Empresas de Software – http://www.abes.org.br- Associação Brasileira de Escritores – http://www.abe.org.br- Associação Brasileira de Música – http://www.abramus.org.br- Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos – http://www.abrale.org.br- Associação Brasileira dos Direitos de Autores Visuais – http://www.autvis.org.br- Associação Brasileira dos Produtores de Discos – http://www.abpd.org.br- Associação de Compositores e Intérpretes Musicais do Brasil – http://www.acimbra.org.br- Associação de Defesa da Propriedade Intelectual – http://www.adepi.org.br- Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes – http://www.amar.org.br- Associação Defensora de Direitos Autorais Fonomecânicos - http://www.addaf.org.br- Associação dos Titulares de Direitos Autorais – http://www.atida.org.br- Associação Nacional de Autores, Compositores, Intérpretes e Músicos –

http://www.anacim.org.br- Creative Commons – http://www.creativecommons.org- Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – http://www.ecad.org.br- Faculdade Getúlio Vargas – http://www.diretorio.fgv.br/cts- Instituto de Direito do Comércio Internacional e Desenvolvimento – http://www.idcid.org.br- Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual – http://www.inbrap.org.br- IP Justice – http://www.ipjustice.org.br- Projeto Inter-meios – http://www.projetointermeios.com.br- Projeto Software Livre Brasil – http://www.softwarelivre.org.br- Rede Brasileira pela Integração dos Povos – http://www.rebrip.org.br- Sociedade Administradora de Direitos de Execução Musical do Brasil - www.sadembra.org.br- Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais –

http://www.socimpro.org.br- Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música –

http://www.sbacem.org.br- Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais – http://www.sicam.org.br- The Free Software Foundation - http://www.fsf.org- União Brasileira de Compositores – www.ubc.org.br

PILPILPILPILPILAR CAR CAR CAR CAR C- Grupo Brasil AntiSPAM - http://www.brasilantispam.org/- Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) – http://www.idec.org.br- Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) –

http://www.indecs.org.br- Movimento Brasileiro de Combate ao SPAM - http://www.antispam.org.br- Privacy International – http://www.privacyinternational.org

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- The Coalition Against Unsolicited Commercial Email - http://www.cauce.org- The European Coalition Against Unsolicited Commercial Email -http://www.euro.cauce.org/

PILPILPILPILPILAR DAR DAR DAR DAR D- Cemina – http://www.cemina.org.br- Centro Indigenista Missionário (Cimi) – http://www.cimi.org.br- Comitê pela Democratização da Informática (CDI) – http://www.cdi.org.br- Federação Interestadual de Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) – http:///www.fittel.org.br- Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) – http://www.ibase.org.br- IBOPE Net Ratings – http://www.ibope.com.br- Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) – http://www.idec.org.br- Instituto Florestan Fernandes – http://www.iff.org.br- Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits) – http://www.rits.org.br- Rede Saci – http://www.redesaci.org.br- Sampa.org – http://www.sampa.org.br

Documentos, livros, notícias e artigos

FONTES GERAIS DE NOTÍCIASFONTES GERAIS DE NOTÍCIASFONTES GERAIS DE NOTÍCIASFONTES GERAIS DE NOTÍCIASFONTES GERAIS DE NOTÍCIASAgência Carta Maior - http://www.agenciacartamaior.com.br/Globo On line – http://www.globoonline.com.brJornal Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br/Portal dos Jornalistas http://www.jornalistas.com/Portal Terra – http://www.terra.com.brPrimeira Leitura – http://www.primeiraleitura.com.br/Folha online – http://www.folha.uol.com.br/IDG Now – http://www.idgnow.com.brTela Viva/Pay TV – http://www.paytv.com.br

PILPILPILPILPILAR AAR AAR AAR AAR A- Relatório Anual sobre Liberdade de Imprensa no Brasil, organizado pela ANJ - período de

agosto de 2002 a agosto de 2003- Relatório Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa – ano 2004 - Third Annual

Worldwide Press Freedom Index- Ranking 2004 de Liberdade de Imprensa publicado pela organização não governamental

Freedom House- Relatório Caminhos da Transparência, realizado pela Organização Transparência Brasil- Relatório final do Seminário Internacional sobre Direito de Acesso a Informações Públicas -

setembro de 2003- “Conselho Federal de Jornalismo – Ética e Liberdade” – Publicado pela Fenaj em setembro

de 2004- POSSEBOM, Samuel Lamoglia. Globo e Abril diante de um novo paradigma comunicacional:

a Internet. Dissertação para obtenção de título de mestrado no Programa de Pós-graduaçãoda Universidade de Brasília, Brasília, 2002.

- SALVATI, Ideli. A Tela é Nossa. Artigo publicado no jornal O Globo em 30 de agosto de 2004.Disponível em www.cultura.gov.br/projetoancinav/materia/materia.php?codigo=34.

- Palestra do Ouvidor da Anatel no Conselho de Comunicação Social. Disponível emwww.senado.gov.br/web/comissoes/ccs/palestra.asp

- Teses à IX Plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação sobre oprocesso de instalação do Conselho de Comunicação Social. Disponível em http://www.fndc.org.br/IX_plenaria/data/Lista_de_Teses.html.

- Conferência Municipal de Comunicação de Porto Alegre. Disponível emwww.portoalegre.rs.gov.br/conf_comunicacao/

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default.asp?proj=460&secao=1327&m1=11519.

PILPILPILPILPILAR BAR BAR BAR BAR B- BASSO, Maristela. O Direito Internacional da Propriedade Intelectual. Porto Alegre: Livraria

do Advogado Editora, 2000.- BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

1989.- CARBONI, Guilherme C. Direito de autor na multimídia. São Paulo , Quartier Latin, 2003.- CHAVES, Antonio. Nova Lei Brasileira de Direito de Autor: estudo comparativo com o projeto

que lhe deu origem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975.- CHAVES, Antonio. Obra criada no âmbito de um contrato de trabalho - obra sob encomenda.

in Revista dos Tribunais 491/11- DANTAS, Marcos. A Lógica do Capital Informação. Rio de Janeiro. 2002- GINDRE, Gustavo. Comunicação nas Sociedades em Crise. Rio e Janeiro. 2002- MANSO, Eduardo Vieira. Direito Autoral. São Paulo: José Bushasky, 1980- NETTO, José Carlos Costa. Direito Autoral no Brasil. São Paulo: FTD, 1998.- SOARES, Guido F.S. O tratamento da propriedade intelectual no sistema da organização

mundial do comércio: uma descrição geral do acordo "TRIPS". in Revista de Direito Civil 74/98, Revista dos Tribunais.

- SOUZA, Carlos Fernando Mathias de. Direito Autoral. Brasília:Brasília Jurídica,1998.

PILPILPILPILPILAR CAR CAR CAR CAR C- Brasil é o quarto no ranking mundial do spam, IDG Now!, 1/7/2004- Cartilha Anti-SPAM (http://www.brasilantispam.org/main/cartilha.htm)- Censura na Internet. Mário Antônio Lobato de Paiva. (http://www.mundojuridico.adv.br). 01/

7/2004- Certificação Digital: Entenda e use. ICP-Brasil.- Código de Ética AntiSPAM e Melhores Práticas de Uso de Mensagens Eletrônicas. Grupo

Brasil Anti-SPAM. (http://www.brasilantispam.org/main/codigo.htm)- Comissão de Justiça aprova "Lei da Mordaça". Jornal do Senado, 5/12/2002- Em manchete, ‘Lei da Mordaça’ acende nova polêmica no Senado, Agência Carta Maior, 6/12/

2002- Leis anti-SPAM ainda não surtiram efeito. IDG Now!, 21/5/2004- NIC BR Security Office. Cartilha de Segurança para Internet (http://www.nbso.nic.br/docs/

cartilha)- O que diz a lei brasileira sobre o spam. Giordani Rodrigues. Portal Terra (www.terra.com.br)

4/7/2004- Projetos de lei em andamento no Congresso Nacional, FERREIRA, Ana Amelia Menna Barreto

de Castro, Site http://www.camara-e.net/- Sociedade civil definirá gestão e políticas para Internet no Brasil, Bia Barbosa, Agência Carta

Maior, 13/04/2004- Tecnologia, democracia e liberdade em reciprocidade, Marcelo Thompson Mello Guimarães

(procurador-chefe do ITI)

PILPILPILPILPILAR DAR DAR DAR DAR D- Plano Plurianual 2003-2007, Governo Federal- Boletim Em Questão, Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica do Governo Federal- Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) 2003 – IBGE- Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 - IBGE

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Entrevistas e colaboração

PILPILPILPILPILAR AAR AAR AAR AAR A- Venício Artur de Lima - Professor aposentado da Universidade de Brasília- Murilo César Ramos - Professor da Universidade de Brasília- Edson Duarte – Deputado Federal - PV-BA- ONG Transparência Brasil

PILPILPILPILPILAR BAR BAR BAR BAR B- Alessandra Nilo - Gestos- Guilherme Alberto de Almeida - IDCID- Gustavo Gindre - Indecs- Pablo de Camargo Cerdeira - IDCID- Pedro de Paranaguá Moniz - CTS/FGV-RJ

PILPILPILPILPILAR CAR CAR CAR CAR C- Pablo de Camargo Cerdeira – IDCID- Marcelo Thompson – ITI

PILPILPILPILPILAR DAR DAR DAR DAR D- Sérgio Amadeu – presidente do ITI- Gustavo Gindre – INDECS- Paulo Lima – Rits- José Zunga – Fittel

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PPPPProjeto de Governança Globalrojeto de Governança Globalrojeto de Governança Globalrojeto de Governança Globalrojeto de Governança GlobalREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOCampanha CRIS – Communication Rights in the Information Society

COORDENAÇÃO INTERNACIONALCOORDENAÇÃO INTERNACIONALCOORDENAÇÃO INTERNACIONALCOORDENAÇÃO INTERNACIONALCOORDENAÇÃO INTERNACIONALSean O’Siochrú

O direito à comunicação no Brasil

REALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOREALIZAÇÃOIntervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

PESQUISADORESPESQUISADORESPESQUISADORESPESQUISADORESPESQUISADORESPilar APilar APilar APilar APilar AAdriano de ÂngelisJonas ValenteRogério TomazPilar BPilar BPilar BPilar BPilar BDiogo MoysésPilar CPilar CPilar CPilar CPilar CMarcio KameokaPilar DPilar DPilar DPilar DPilar DAloísio MilaniRodrigo Savazoni

COORDENAÇÃO DA PESQUISACOORDENAÇÃO DA PESQUISACOORDENAÇÃO DA PESQUISACOORDENAÇÃO DA PESQUISACOORDENAÇÃO DA PESQUISAJoão BrantMarcio Kameoka

REVISÃO TÉCNICAREVISÃO TÉCNICAREVISÃO TÉCNICAREVISÃO TÉCNICAREVISÃO TÉCNICAGustavo Gindre

REVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃOBia BarbosaOona Castro

DIAGRAMAÇÃODIAGRAMAÇÃODIAGRAMAÇÃODIAGRAMAÇÃODIAGRAMAÇÃOMarcio Kameoka

CCCCCAPAPAPAPAPAAAAARodrigo MurtinhoIlustração: Vicente Mendonça

PARPARPARPARPARTICIPTICIPTICIPTICIPTICIPANTES DO PROCESANTES DO PROCESANTES DO PROCESANTES DO PROCESANTES DO PROCESSO DESO DESO DESO DESO DEVVVVVALIDALIDALIDALIDALIDAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Adaucto Rodrigues – Federação das RádiosComunitárias do RJ (Farc)Adilson Cabral – Sete PontosAdriano de Angelis – IntervozesAlessandra Nilo – Gestos PE/Abong-NE1/FopecomAline Lucena – Sinos/FopecomAna Lúcia de Castro – Imagens e Vozes daEsperança (IVE)Ana Toni – Fundação FordBia Barbosa – IntervozesCarlos Moreira – Engenharia Social (3 setor)Corinto Meffe – Ministério do PlanejamentoCunca Bocayuva – FaseDiogo Moysés – IntervozesDouglas Soares Vieira – Criar BrasilEdgar Rebouças – Núcleo de Políticas e Estraté-gias da Intercom

Elisa Monteiro – Executiva Nacional dos Estu-dantes de Comunicação Social (Enecos)Eula Tavares Cabral – Sete PontosFausto Oliveira – FaseGraciela Selaimen – RitsIvan Moraes Filho – CCLF/MNDH-PE/FopecomJames Görgen – EpcomJoão Brant – IntervozesJonas Valente – IntervozesJosé Arnaldo de Oliveira – Rede GTA (Grupo deTrabalho Amazônico)Julia Hoffmann – Universidade de AmsterdamLuciana Peregrino – Grupo Origem/Abong NE1/FopecomLucio Pereira Mello – IntervozesMagaly Pazello – DAWN/SocidMarcia Correa e Castro – Bem TV

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Marcia Evangelista de Souza – Folha de Xerém/Associação dos Moradores de XerémMarcio Alexandre – RitsMarcus Aurelio – UnirrMarcus Azaziel – consultorMaria das Graças de O. Nascimento – MIR/ISER/IVEMauro Vianna – Jornal InvertaMichelle Prazeres – Ação Educativa – Observató-rio da EducaçãoNeuza Regina Carneiro – ImacNilza Iraci – GeledésOrlando Tavares - PPGCOM-UFFPablo Camargo Cerdeira – IDCID

Copyleft. Permitida a reprodução sem fins comerciais, desde que citada a fonte.Brasil. Junho de 2005

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social

Paulo Lima – RitsPriscila D. Carvalho – CimiRegina dos Santos – Dombali e FonacorRodrigo Murtinho – Comunicação UFFRodrigo Savazoni – IntervozesRosário de Pompéia – CCLF/Abong-NE1/FopecomTaís Ladeira – AmarcTiago Quiroga - UFRJTori Holmes – Open Knowledge NetworkVenicio A. De Lima – UnBViviane Brochardt – Articulação do Semi-áridoBrasileiro (ASA)Wallace Hermann – Ponto Com SaúdeWilliam Dias Braga – ECO/UFRJ e ULEPICC Brasil

Agradecimentos pelo apoio para a rAgradecimentos pelo apoio para a rAgradecimentos pelo apoio para a rAgradecimentos pelo apoio para a rAgradecimentos pelo apoio para a realização da OFICINA DE Vealização da OFICINA DE Vealização da OFICINA DE Vealização da OFICINA DE Vealização da OFICINA DE VALIDALIDALIDALIDALIDAÇÃO:AÇÃO:AÇÃO:AÇÃO:AÇÃO:

Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits)Associação Brasileira de Imprensa (ABI)Fundação Ford