dunker lacan pensava a psicanálise como uma experiência dialética
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8/17/2019 Dunker Lacan Pensava a Psicanálise Como Uma Experiência Dialética
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Lacan pensava a Psicanálise como uma experiência dialética
O psicanalista Christian Dunker estuda a relação do ser humano com os muros, nãosomente no sentido de separação e delimitação de espaço, mas no que se refere às formas
de vida cercadas e os sofrimentos causados, como ressentimento social, esvaziamento de si e artificialidade de relacionamentos
Uma abordagemoriginal a respeito do mal-estar, sofrimento e o sintoma na sociedade brasileira, unindo teoria
social e Psicanálise, e concluindo que a privatização do espaço público transforma a própriavida em formas de condomínio, com regulamentos, síndicos, gestores e muros !stes são ostemas centrais do livro mais recente de "#ristian $un%er, psicanalista e professor do &nstitutode Psicologia da Universidade de 'ão Paulo (U' P), que recebeu o título *al-estar,'ofrimento e 'intoma+ a Psicopatologia do rasil entre *uros (!ditora oitempo)
!le acredita que os son#os de se morar em um condomínio fec#ado produzem monstros"om suas estratgias de nomeação e controle de todo tipo de mal-estar, o .novo espírito docapitalismo. impede as pessoas de recon#ecer a aspiração de liberdade presente em toda aformação de sintoma /azendo um paralelo com a vida em forma de condomínio, opsicanalista apresenta um novo sintoma social brasileiro, que sofre do mal que pretendeerradicar
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0igado 1 tradição lacaniana, $un%er formado pela Universidade de 'ão Paulo, onde obteveseus títulos de graduação, mestrado e doutorado Possui, tambm, pós-doutoradopela Manchester Metropolitan University "oordena, em con2unto com 3ladimir 'afatle e4elson da 'ilva 5r, o 0aboratório de !studos em 6eoria 'ocial, /ilosofia e Psicanálise !m7897, recebeu o pr:mio literário 5abuti de mel#or livro na categoria Psicologia e Psicanálise,pela publicação ampliada de sua tese de livre doc:ncia, strutura e Constituição da Cl!nica"sicanal!tica#
No livro Mal-estar, Sofrimento e Sintoma: a Psicopatologia do Brasil entre Muros vocêfala em privatização do espaço público, a partir de reflexões sobre a Psicanálise davida em condomínios. Pode aprofundar o tema
"#ristian $un%er+ ; rasil não teve feitorias, como na colonização portuguesa na costa da pansãodos sintomas propriamente ditos, associados com essa forma de vida, mas os tiposespecíficos de sofrimento (ressentimento social, esvaziamento de si, artificialidade derelaç?es) e o tipo de negação do mal-estar que se pode localizar nessa forma de vidaPortanto, não estou falando apenas deste ou daquele condomínio, mas de uma estrutura queadmite tr:s covari@ncias fundamentais+ a prisão, a favela e o s#opping center
Se todo conflito fica reduzido à oposição entre o que podemos ou não podemos fazer,
se em vez da palavra fluente só restam contratos e instituiçes !que funcionam como
muros", nos restarão o medo como afeto pol#tico e a viol$ncia como fantasia de nossolaço com o outro
!ia"nosticar os problemas atuais, se"undo você, # definir um pe$ueno estado de sítio,uma anomalia, uma desordem, $ue deve ser ob%eto de ações clínica e biopolítica. &$ue são essas ações
$un%er+ 6emos dois processos cruzados no capitalismo brazilianizado (com .z. de zebramesmo) Por um lado, #á a e>pansão da racionalidade diagnóstica, de tal forma que para seinscrever como cidadão e ser atendido por políticas públicas voc: deve ser .diagnosticado.,1s vezes por autodeclaração, 1s vezes por critrio de inclusão ou de e>clusão, vemos que aspolíticas públicas aprenderam a administrar a anomia, in2etando o que se pode c#amar deatitude cínico-2udicialista ;u se2a, não estamos mais preocupados com saúde, mas com a
produção de números de diabticos atendidos, ou de cirurgias realizadas, ou de #ospitaisconstruídos, na forma de lei 3oc: pode dizer, mas #ospitais e cirurgias são meios pelosquais a saúde se e>erce e se realiza $igo que sim, desde sempre foi assim *as se voc:ol#ar de perto, desde que implantamos o nosso neoliberalismo 1 brasileira, desde que o.negócio. da gestão de cirurgias posto na ponta do lápis, quando ele se separa daspessoas que fazem saúde e posto nas mãos de pessoas que trabal#am na distribuição derepasses de verbas públicas, gerenciamento de compra e venda de material cirúrgico ounúmeros atuariais, a saúde se torna gerida como um condomínio 6alvez essa forma se2a pior ou mel#or do que a anterior, mas o fato que a partir de então temos que sofrer de outramaneira, temos que sofrer como .usuários. e não mais como .pacientes. ! isso voc: podereaplicar para a educação, para o terceiro setor, para a assist:ncia social e assim por diante = segunda lin#a de força desse estado de sítio generalizado que /reud c#amaria desintoma secundário ou se2a, o sintoma que aparece porque o primeiro não consegue elaborar
simbolicamente o conflito e portanto reaparece em uma nova formação de angústia 'ão as 2ustamente c#amadas .mural#as. fóbicas, ou se2a, não apenas o medo de cavalos, mas a
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evitação ou o impedimento de ir 1 rua, porque lá encontramos cavalos 4o rasil oequivalente disso a nossa #ipernomeação do mal-estar como viol:ncia "laro, se todoconflito fica reduzido 1 oposição entre o que podemos ou não podemos fazer, se em vez dapalavra fluente só restam contratos e instituiç?es (que funcionam como muros), nos restarãoo medo como afeto político e a viol:ncia como fantasia de nosso laço com o outro
Na apresentação da obra, afirma'se $ue o formato dos condomínios, nos dias de (o%e,com re"ulamentos, síndicos, "estores e muros, representa um novo sintoma socialbrasileiro, $ue sofre do mal $ue pretende erradicar. !efina esses sintomas e $ual # omal a $ue se refere
!un)er* $e modo sinttico, nos mudamos para um condomínio para poder ficar maispró>imos da natureza, mas aí enfrentamos congestionamentos brutais na entrada de 'ãoPaulo, onde a nossa vida natural transforma-se em uma vida nessa casa móvel que ocarro 4os mudamos para um condomínio para termos profissionalização dos serviços econsequentemente aumento de sua funcionalidade, e o que se obtm são dificuldades com asubstituição impessoal de funcionários, e>tensão de processos administrativos e as mesmas.facilidades. que uma central de call center ou um 'erviço de =tendimento ao "onsumidor de
uma grande compan#ia de telefonia ou de televisão a cabo 4os mudamos para umcondomínio para termos segurança e proteção 7A #oras por dia e o que encontramos airrupção de novas formas de viol:ncia e intoler@ncia entre condBminos e o aumentoe>ponencial da preocupação imaginária com viol:ncia 4os mudamos para um condomíniocom a e>pectativa de que neste .neo-mundo. poderemos ser, de novo, sen#ores em nossaprópria morada, e o que acontece que nos sentimos subalternos de um síndico e seuregulamento sádico
Dunker a$orda o desenvolvimento de formas de vida li%adas ao condom!nio, pensado comouma estrutura& '( ideia ) estudar essa formação como um sintoma, no sentido psicanal!tico
do termo'
+ual o papel do capitalismo nesse processo de controle
Dunker: O capitalismo não se apresenta mais na figura voraz de um grande Leviatã controlador de
vidas e almas em uma grande linha de montagem. Ele descobriu que poderia nos fazer nossos pr óprioscontroladores, e depois disso nos faz sonhar com uma coisa diferente de mais dinheiro, fama e sucesso.
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Ele nos convida a coisas bem mais intricadas e dif í ceis de controlar, como a felicidade e a qualidade de
experiências. Pergunte-se afinal o que vem a ser uma vida plenamente realizada, à altura de nossa
época. As respostas e os modelos são incrivelmente pobres. E isso nós sabemos. Mesmo que queiramos
brincar de não saber, mesmo que queiramos adiar o problema, dizendo, por exemplo, que enquanto não
sei o que quero vou trabalhando e ganhando dinheiro, quando conseguir de repente, como que num
passe de mágica, daí eu saberei. Como se a posse dos meios me garantisse saber quais s ãos os fins
envolvidos. Não dá certo. Esta conta não fecha, e o que sobra são vidas que se percebem coarruinadas,cronicamente inviáveis ou meramente fracassadas.
Podemos dizer $ue essa realidade tem como uma de suas conse$uências a violêncianos espaços públicos
Dunker: Agora você convocou o nome do antí doto à nossa vida em forma de condomí nio: o espaço
público. Nossos modelos polí ticos ainda são prisioneiros de uma imagem de espaço público como
a polis grega ou a civitas latina. A vida digital ainda não se fez apresentar como potente no espaço
público. Seria preciso abordar isso com mais humildade. Pertenço a uma geração que fez seu mestrado
em uma máquina de escrever e que viu a internet realmente funcionar com mais de 30 anos. Isso é uma
nova forma de vida. O impacto disso não será percebido pelos que estão no "meio da onda" e nós,
mesmo depois de toneladas de especulação, não sabemos onde isso vai dar, ou seja, onde isso vai seestabilizar. Ora, quando o espaço público é sentido, ele mesmo como indeterminado, isso cria um
campo f értil para discursos regressivos. Discursos que querem substituir a indeterminação pela
reedição de uma determinação prévia. Isso é o solo f értil para a unificação de todas as formas de
violência em uma espécie de "grande mal" (em nome do qual o verdadeiro mal será realizado, é claro).
%os mudamos para um condom#nio para termos segurança &' (oras por dia e o que
encontramos ) a irrupção de novas formas de viol$ncia entre cond*minos+ riamos a
epectativa de que poderemos ser sen(ores em nossa própria morada, e o que
acontece ) que nos sentimos su.alternos de um s#ndico e seu regulamento s/dico
m sua visão, $ual a função da Psicanálise (o%e, numa #poca em $ue não (á
privacidade, onde todos estão expostos totalmente, principalmente, por meio dasredes sociais
!un)er* = Psicanálise tão múltipla quanto as formas de sofrimento que a tornam possível4ossa oposição simples entre vida privada e vida pública deve ser suplementada por modalizaç?es, níveis intermediários e espaços definidos por outras mtricas 4o fundo aPsicanálise está em boa posição, porque ela nunca se adaptou muito bem a essa distinção; inconsciente público ou privadoC = pulsão pública ou privadaC 4ão funciona 4emmesmo a redução boba da Psicanálise ao consultório privado, enquanto prática laboralliberal, funciona mais
Para 0acan, Mar inventou o sintoma, ou se1a, ele usou o m)todo dial)tico para
mostrar como aquilo que ) negado por uma determinada forma de vida reaparece, demaneira modificada e ainda que não recon(ecida em seus sintomas
-uitos dizem $ue o marxismo está fora de moda. m sua opinião, $uais os limites darelação entre dial#tica e Psicanálise, uma vez $ue são duas maneiras de pensar $uetêm persona"ens em comum, como acan
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Dunker: Sim, o marxismo está fora de moda. Ainda
bem. Agora podemos pensá-lo como uma teoria séria que tem pressupostos diferentes da teoria liberal
convencional. E podemos fazer isso sem o risco de imediatamente estarmos defendendo Cuba, os
Gulags russos e todas essas formas de opressão que historicamente se apoiaram nas ideias de Marxpara fazer uma espécie de ideologia de Estado. Marx não inventou a dialética, cuja forma moderna foi
dada por Hegel, este sim um autor muito importante para Lacan. Para Lacan, Marx inventou o sintoma,
ou seja, ele usou o método dialético para mostrar como aquilo que é negado por uma determinada
forma de vida reaparece, de maneira modificada e ainda que não reconhecida em seus sintomas. Marx
inventou o sintoma ao mostrar que ele depende de uma estrutura e de uma dialética. O que tentei
arriscar em meu livro é dizer que Hegel inventou o diagnóstico. Não o diagnóstico clí nico, apesar dele
ter sido um grande leitor de Pinel, esse criador do alienismo. Hegel era um mestre da arte diagn óstica,
porque seu método dialético exige que pratiquemos duas atitudes opostas. Primeiro é preciso ver as
coisas exatamente como elas nos parecem, sem antecipações e preconceitos, ou melhor, incluindo
radicalmente esses fatores no próprio objeto que eu estou percebendo, na sua fenomenologia. Em
seguida, é preciso perguntar: o que é preciso negar para que o mundo se me apresente exatamente
como estou vendo ele agora? Ora, se tem que ficar de fora para que as coisas adquiram essa apar ênciade unidade, coerência e consistência. A primeira atitude nos faz entender que tipo de estrutura de ficção
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está em jogo em uma determinada forma de sofrimento; a segunda atitude nos faz indagar qual é o real
que está excluí do nessa forma de vida. O que chamamos de realidade, a qual estamos sempre mais
adaptados e conformes do que imaginamos, é esta combinação entre uma verdade, enunciada desde
uma perspectiva, e o real, que é a negação de todas as perspectivas.
/omo acan lidava com a dial#tica 0 verdade $ue ele considerava $ue a pr1priaPsicanálise # uma dial#tica
!un)er* $o início ao f im de seu ensino, 0acan pensava a Psicanálise como umae>peri:ncia dialtica 4ão invenção ou interpretação, basta ir aos te>tos *ostrar que #áum su2eito em 2ogo na Psicanálise e que esta uma e>peri:ncia dialtica o programateórico e clínico que traz 0acan da Psiquiatria para a Psicanálise Dá consenso doscomentadores sobre isso ; que muda seu próprio entendimento de dialtica, que 1s vezesse apro>ima muito do que alguns pensadores, como =dorno e Dorc%#eimer, c#amam dedialtica negativaPor $ue diz $ue a relação entre dial#tica e Psicanálise ainda não foi explorada em todasua extensão e implicações
Dunker: Ocorre que isso torna as coisas mais complicadas, cria muitos pressupostos, sugere
compromissos e, inclusive, leva Lacan a certos impasses que são os da tradição hegeliana. Por isso, é
comum encontrarmos uma atitude tí pica de "condomí nio" no interior da própria Psicanálise, dizendo
que Hegel foi um pecado lacaniano de juventude, que o próprio Freud foi um acidente na trajetória de
Lacan, que há uma primeira clí nica e depois uma segunda, "pós-hegeliana", sem outro, monológica e
assim por diante. Maneiras de inventar uma novidade ausente e de territorializar o caráter universalista
do pensamento de Lacan.
2s ideias lacanianas, de al"uma forma, a%udam a entender a ideolo"ia nos tempos de(o%e, principalmente em função da li"ação entre ideolo"ia e a produção dos dese%os
Dunker: Sim. Pensadores como Zizek, Badiou, Laclau, Parker e entre nós Vladimir Safatle têm
mostrado exatamente como a Psicanálise pode nos ajudar a entender articulações ideológicas da
produção de desejos. Mas aqui há uma ressalva importante. Para fazer isso é preciso deixar o terreno no
qual a clí nica é soberana, e onde devemos satisfações éticas e epistemológicas à nossa longa tradição
de cuidado de pacientes, e pensar que a Psicanálise torna-se apenas uma voz entre outras, junto comteorias crí ticas de todo tipo, junto com estruturalismos e pós- -estruturalismos, junto com marxistas e
dialéticos, junto com feministas e teóricos da cultura ou da complexidade, junto com o que se faz de
mais avançado em termos de teoria do cinema e de crí tica da cultura, junto com todas as demais formas
de pensamento que eu colocaria e definiria simplesmente como o pensamento da indignação.
Indignação com os princí pios de conformidade, adequação, produção e identidade que dão as cartas,
hoje, na organização do mundo.
0/ fora eu perce.i como a Psican/lise .rasileira era alguma coisa+ omo o duro que
d/vamos para ac(ar os tetos, para atender pacientes, para estar nas instituiçes,
para nos digladiarmos nas universidades ou na m#dia só podia significar uma coisa:
estamos vivos+ 2/ se disse que o Brasil produz pouca ci$ncia e muita consci$ncia
!urante seu p1s'doutorado na 3n"laterra, você teve contato com pessoas de váriospaíses. 2 partir daí, o $ue mudou no seu entendimento do lu"ar social da Psicanálise e$uais as diferenças da Psicanálise no 4rasil em relação aos conceitos e práticas deoutros lu"ares
!un)er* $e certa forma, esse novo livro foi gerado como consequ:ncia dessa e>peri:ncia0á fora eu percebi como a Psicanálise brasileira era alguma coisa "omo o duro quedávamos por aqui para ac#ar os te>tos, para atender pacientes, para estar nas instituiç?es,para nos digladiarmos nas universidades ou na mídia só podia significar uma coisa+ estamosvivos 5á se disse que o rasil produz pouca ci:ncia e muita consci:ncia ! isso serviria parainterpretar o fato de que #á, proporcionalmente, muitas pessoas em ci:ncias #umanas e
poucas nas ci:ncias e>atas =qui vem sempre o eco da "oreia ou do 5apão, onde asengen#arias dão o tom da conversa 6alvez isso possa se ligar ao incrível e>perimento dediferença social, opressão e inequidade que o rasil "laro, isso pode ser lido como um
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dficit em relação a certo ideal de desenvolvimento, e verdade *as min#a perspectiva viualgo um pouco diferente !ntendi que por meio dessa tra2etória nos tornamos um país cu2aforma de vida a crise, cu2a precariedade sempre nos colocou em íntima relação com acontradição, cu2o destino oscila entre o cronicamente inviável e a glorificação ufanista ;ra,sempre digo que a pu2ança da Psicanálise no rasil não se deve ao fato de sermosban#ados pelo rio =queronte (onde /reud disse que ia se dirigir para escrever a
&nterpretação dos 'on#os), mas pelo fato de que temos, comparativamente, muitospsicanalistas, temos uma cultura muito psicologizada, e isso se deve aos piores e mel#oresmotivos, como tento mostrar em meu livrom outros trabal(os, você abordou a $uestão prática da atuação clínica. m suaavaliação, $uais são as relações entre clínica, cura e Psicoterapia 2liás, como sepode entender a noção de cura na Psicanálise
!un)er* !sse o problema central de meu livro anterior, !strutura e "onstituição da "línicaPsicanalítica $e fato, se #á uma ligação entre os dois livros ela remonta ao fato de quequando /reud começou a sua pesquisa sobre o inconsciente, ele partiu muito precisamentede um mtodo, o mtodo clínico, no qual ele se formou ao dissecar enguias e tambm aoestudar com "#arcot, em Paris ; mtodo clínico uma disciplina, que emerge no interior da*edicina, em fins do sculo E3&&& ; que não está claro que ele não tem, em si, nen#uma
pretensão intrínseca de cura !le o que /reud c#ama, na própria definição da Psicanálise,de um .mtodo de investigação. = problemática do sofrimento c#ega a /reud por outrasvias 3em dos práticos, dos terapeutas, dos aconsel#adores de almas, dos retóricos e detodos estes que se especializaram durante sculos na cura pela palavra *as ocorre queaqui mudamos de novo a c#ave ; que os psicoterapeutas, no sentido antigo da palavra, t:mem comum são as suas tcnicas de transformação, seus efeitos de influ:ncia, seus mane2osespont@neos da transfer:ncia, para o bem e para o mal = cura outra coisa = cura ocampo, no qual o mtodo de análise dos sintomas e a tcnica de transformação dosofrimento pela palavra se cruzam em uma e>tensa área de refle>ão e de prática tica =cura o que faz a noção de verdade em Psicanálise ter algum sentido, o que faz 0acandizer que a Psicanálise tem uma tica trágica, o que fez /reud recon#ecer os limites de suaambição terap:utica diante de algo muito maior, que seu mtodo não podia enfrentar comtantas pretens?es =lgo que ele c#amou de mal- -estar (Unbe#agen) ; que caracteriza o
mal-estar que ele não tem cura, ele uma certa posição trágica no mundo, do qual nãopodemos sair e no qual estamos todos comum-pertencendo F a angústia e>istencial, como aafirmou Gier%egaard, o ser para a morte de Deidegger, a náusea de 'artre, o real quenão cessa de não se inscrever, em 0acan Dipócrates, ao fundar a *edicina, estabeleceuuma regra de ouro+ curar o que pode ser curado, reduzir o sofrimento que pode ser reduzidoe 2amais tentar curar o que não pode ser curado !sse incurável o que está em 2ogo nomal-estar, e que nós, como profissão impossível, tentamos curar (não no sentido de eliminar,mas no sentido de destinar) Portanto+ curar o mal-estar, mitigar o sofrimento e tratar osintoma, eis as tr:s dimens?es que constituem a prá>is da Psicanálise+ual a diferença entre clínica na Psicanálise e clínica na Psi$uiatria
3un4er: * uma diferença que est+ se avolumando rapidamente e que começou a fazer +%ua
lo%o aps a -e%unda .uerra Mundial# est+ se avolumando desde que a "siquiatria est+dei/ando de ser uma cl!nica da palavra e passando a ser uma t)cnica de controle desensaç0es e redução de desprazer# Como qu!mica do conforto su$1etivo, a "siquiatriacontempor2nea est+ mais para uma tecnoci3ncia do que para uma cl!nica propriamente dita,ou se1a, certa relação unificada da e/peri3ncia do sofrimento, concernida à relação entredia%nstica, semiolo%ia, etiolo%ia e terap3utica# Curiosamente esse afastamento est+fazendo '$em para a relação'# Como um casal que esteve 1unto durante um lon%o e penosocasamento, e que decide se separar, faz a partilha e começa a reconsiderar os m)ritosrespectivos, a partir da realidade $+sica de que 'somos muito diferentes'# Claro que o ci4medos filhos ainda perdurar+ por muito tempo, mas ho1e estamos em uma divisão de tarefasmais clara& uns falam, outros prescrevem# -e a quei/a se estende muito e tende a ficar
complicada, saindo dos sintomas mais simples, enviamos ou para um educador ou para um psicanalista# Mas aqui, falando de um dos lados do conflito, posso provocar um pouco ao
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dizer que ns ainda fazemos cl!nica, os novos psiquiatras se esqueceram de como issofunciona#
5 Psican/lise ) tão m6ltipla quanto as formas de sofrimento que a tornam poss#vel+
%ossa oposição simples entre vida privada e vida p6.lica deve ser suplementada por n#veis intermedi/rios e espaços definidos por outras m)tricas+ %o fundo a Psican/lise
est/ em .oa posição, porque ela nunca se adaptou muito .em a essa distinção
7 sofrimento est/ mais ligado a causas f#sicas ou à perda da eperi$ncia de
li.erdade8
3un4er: Diria que o sofrimento ) uma e/peri3ncia moral# Mas posso usar o tema da dor oudo adoecimento or%2nico para e/plic+5lo# 6uando temos um ente querido que fica doente,ele imediatamente começa a sofrer, e seu sofrimento est+, %eralmente, li%ado aos efeitos dasua condição# 'Condição' quer dizer limite, cerceamento ou redução de pot3ncia# stas
limitaç0es, como, por e/emplo, não poder andar, não poder comer, não poder sair dohospital, ou inversamente condiç0es compulsrias como ter que ficar na cama, ter que tomar rem)dios, ter que esperar resultados de e/ames, constituem a %ram+tica de nossosofrimento# "or isso, ele tem a ver com a interpretação da perda de li$erdade# (li+s, osfilsofos anti%os, como ti)nne de la 7oetie, a$ordavam assim o pro$lema da li$erdade& elas se torna um pro$lema quando se a perde# Mas h+ uma se%unda diferença# 6uandoal%u)m fica doente ) s aquele al%u)m que est+ tomado por um mau funcionamento de seucorpo# Mesmo que se1a uma doença conta%iosa, ela se individualizar+ como e/peri3ncia emcada um dos doentes# O sofrimento ) transitivista# -e seu ami%o est+ sofrendo porque est+doente, voc3 sofre com ele# le sofre de novo com voc3, porque não queria preocup+5 5lo, porque não queria trazer esse inconveniente, porque o est+ vendo sofrer com o sofrimento
dele# assim a cadeia de sofrimento se universaliza# 8odos os outros que estimam aqueleque sofre sofrem um pouco com ele, e ele sofre de volta, um pouquinho mais com o prpriosofrimento e com o que isso causa ao outro# O sofrimento ) esta m+quina infernal detransmissão, mas tam$)m de formação de uma e/peri3ncia compartilhada# Creio que ) esteum dos motivos pelos quais nossa cultura cultiva e cultua a posição da v!tima# la funcionacomo um ponto de universalização do sofrimento, pelo reconhecimento comum entre osenvolvidos#
7 d)ficit de recon(ecimento, causado pelo ecesso de ordem e de adaptação, pode
transformar a forma de sofrer e, em contrapartida, causar apologia à desordem
eagerada8
3un4er: -im# Uma das diferenças importantes que tento esta$elecer nesse livro ) a que sed+ entre a simples anomia, como sentimento de que não conse%uimos interpretar as leis, ase/pectativas sociais e os ideais, da e/peri3ncia produtiva de indeterminação, que ) aquantidade e a qualidade de incerteza e de an%4stia, sem a qual nada de novo e deinteressante pode acontecer# Os sistemas mundiais de dia%nstico em psicopatolo%iainventaram esta ideia de disorder 9transtorno: para traduzir o fato de que as doenças mentaisnão são de fato doenças# Disorder ) fora da ordem, desordem# ;em da! a nossa ideiaintuitiva de que sa4de mental ) ordem, or%anização, m)todo, discriminação, identidade,disposição#
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simplesmente ar%umentar que e/istem sofrimentos $aseados na disorder e outrossofrimentos cu1a %ram+tica ) a order# /istem patolo%ias da deso$edi3ncia 9como osa%ressivos passivos:, mas e/istem patolo%ias da o$edi3ncia, da o$edi3ncia e/a%erada,como os 8D(= #
3o in#cio ao fim de seu ensino, 0acan pensava a Psican/lise como uma eperi$ncia
dial)tica+ %ão ) invenção ou interpretação, .asta ir aos tetos+ Mostrar que (/ um
su1eito em 1ogo na Psican/lise e que esta ) uma eperi$ncia dial)tica ) o programa
teórico e cl#nico que traz 0acan da Psiquiatria para a Psican/lise
2s novas formas de comunicação trazem al"umas conse$uências ne"ativas, como,por exemplo, a solidão, $ue (o%e virou patolo"ia, ou se%a, sin5nimo de fracasso. +uemestá sozin(o # por$ue não está conectado. sse excesso de sociabilidade pasteurizaas relações
O espaço p4$lico pode ser sentido como indeterminado, o que se transforma em solo f)rtil para a unificação das formas de viol3ncia em uma esp)cie de '%rande mal'
!un)er* !m matria de novidades .gozosas., e toda forma de novo laço social incluída nesta
categoria, sempre #á uma tend:ncia a localizar no novo um potencial e>cessivo ! no antigo,aquilo mesmo que .perdemos. ! isso tem um fundamento Heralmente, os quedescon#ecem os perigos de algo são os primeiros a serem levados pelos riscos 1s tentaç?esvenenosas *uita gente diz que essa sociabilidade digital não uma verdadeirasociabilidade Dá certas e>pectativas que essa forma de vida não atende $e fato, a recusada solidão pode ser tratada como uma ocupação, ou com o que 0acan c#amou de gadget, nomesmo sentido em que a depressão pode ser tratada, selvagemente, com pinga (o que nãosignifica que essa se2a uma pssima ideia) *as enquanto ignoramos que as pessoasinventam remdios para seus próprios males e que essas invenç?es são parte inarredável deuma forma de sofrimento estaremos son#ando com intervenç?es que ignoram o real em 2ogo, substituindo-o por um metodologismo condominial qualquer = solidão umae>peri:ncia muito importante, uma espcie de remdio natural para muitas coisas Perguntepara uma mul#er que deu 1 luz, digamos, #á tr:s ou quatro meses, e preste atenção como oseu son#o de consumo mudou abruptamente para+ I minutos .para mim. 4ão estamos mais
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na *acondo de Habriel Harcía *árquez, e seus "em =nos de 'olidão, mas nosincrivelmente cobiçados I *inutos de 'olidão Por outro lado, o que voc: c#ama depasteurização das relaç?es um curto- -circuito fec#ado de demandas e de circulação dedireitos, deveres e e>pectativas, que facilmente transformam um casamento ou uma pai>ãoem um empreendimento de administração e gestão de um condomínio (com eventuaisdisputas para ver quem o síndico) Pode ter parquin#o, área de segurança e todos osfuncionários em ordem mas vai terminar mal 3ai terminar no mal-estar
6onte+ Jevista Psique$isponível em+Khttp&>>portalcienciaevida#uol#com#$r>esps>dicoes>??@>arti%oABBE5?#aspLacesso em+ 89 2ul 789I
http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/114/artigo355829-1.asphttp://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/114/artigo355829-1.asp