drogas, mÍdia e opiniÃo - uma representaÇÃo social dos usuÁrios de drogas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL Clarissa de Barros Lacerda Luiza Cristina de Barros Santos Rafaela Theodosio Ferreira DROGAS, MÍDIA E OPINIÃO - UMA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS USUÁRIOS DE DROGAS Recife 2013

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Page 1: DROGAS, MÍDIA E OPINIÃO - UMA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS USUÁRIOS DE DROGAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

Clarissa de Barros Lacerda Luiza Cristina de Barros Santos

Rafaela Theodosio Ferreira

DROGAS, MÍDIA E OPINIÃO - UMA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS USUÁRIOS DE DROGAS

Recife 2013

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CLARISSA DE BARROS LACERDA LUIZA CRISTINA DE BARROS SANTOS

RAFAELA THEODOSIO FERREIRA

DROGAS, MÍDIA E OPINIÃO - UMA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS USUÁRIOS DE DROGAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Roberta Uchôa

Recife 2013

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"[...] eu solto as minhas amarras: mato o que me perturba e o bom e o ruim me perturbam, e vou definitivamente ao encontro de um mundo que está dentro de mim, eu que escrevo para me livrar da carga difícil de uma pessoa ser ela mesma."

Clarice Lispector

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus por ter nos presenteado com mais essa conquista.

Agradecemos também a todos que contribuíram direta e indiretamente para a

consolidação deste trabalho, como nossos pais, amigos e companheiros.

Em especial agradecemos a paciência da nossa querida professora Roberta Uchôa,

que apesar de ser rubro-negra, auxiliou no nosso processo de formação intelectual e

profissional desde o nosso primeiro ano acadêmico.

Obrigada a todos!

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RESUMO

Intrínseca à vida em sociedade, as drogas vem adquirindo diferentes formas de consumo e razões para sua utilização nos mais variados grupos sociais. Na contemporaneidade, o uso de drogas vem extrapolando seu caráter cultural e ritualístico, inserindo-se na sociedade capitalista como mais uma mercadoria de consumo, uma nova necessidade, com diferentes formas de supri-la. Contudo, mesmo que histórica, a relação entre homem e as drogas nem sempre se dáda melhor forma, fazendo com que o consumo destas substâncias, em determinadas situações, possa exceder de um uso controlado para um uso nocivo e por fim levar à dependência. Diante dessa problemática, opiniões são cotidianamente criadas, postas para a sociedade e por fim naturalizadas, tornando comum algo antes desconhecido e formulando um universo de representações sociais em torno dos usuários. A mídia, nesse contexto, contribui significativamente, uma vez que desempenha a função social de responder simultaneamente pela transmissão de informações, disseminação de ideologias e formação da opinião pública. Dito isto, o presente trabalho visa conhecer qual a opinião das pessoas que utilizam redes sociais, em relação aos usuários de drogas que frequentam os Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas do Recife (CAPs AD) e efetuar uma comparação entre esta opinião e a realidade. Para esta análise utilizaremos como referencial teórico a Teoria das Representações Sociais, de Serge Moscovici. Palavras-chaves: Drogas, Mídia, Opinião, Teoria das Representações Sociais.

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RÉSUMÉ

Intrinsèques à la vie en société, les drogues subissentplusieursformes de consommationet de raisons justifiantleurutilisationdans les plus variésgroupessociaux. De nosjours, l’acte de consommer des drogues dépassel’aspectcultureletrituel, s'insérantdans la sociétécapitalistecomme un autreproduit de base, un nouveau besoin, qui a plusieursfaçons d’être satisfait. Cependant, mêmehistoriquement, la relation entre l'homme et les drogues ne se passe pas toujours de la meilleurefaçon possible, de sorteque la consommation de ces substances, danscertainscas, peutévoluerd’uneutilisationcontrôlée pour un usage nocif et finalementconduire à la dépendance. Face à cette question, chaque jour on émet de nouvelles opinions, qui sontexposées à la sociétéet qui finalementdeviennentnaturelles. Celadonne um aspect banal à quelque chose qui étaitauparavantinconnue et crée un univers de représentationssocialesautour des personnes qui en font usage: Danscecontexte les médiascontribuent de manièresignificative pour cela, car ellesjouent un rôle social étantchargéessimultanément de la transmission d’informations, de la diffusion d'idéologies et du façonnement de l'opinionpublique. Celadit, cetteétude se propose à savoir quelleestl'opinion des personnes qui utilisent les réseauxsociaux par rapport aux toxicomanes qui fréquentent les centres de soinspsychosociauxsurl'alcool et les autres drogues de Recife (CAP AD) et aussi à établirunecomparaison entre ces points de vue et la réalité. Afin de rendrecetteanalyse possible, nous utilisonscomme cadre théorique la théorie des représentationssociales de Serge Moscovici.

Mots-clés: Drogues, Médias, Opinion, Théorie des ReprésentationsSociales.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAPs AD - Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas

CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CID-10 - Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde

DSM-IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4º ed.

FACEPE- Fundo de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco

GEAD - Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas

LSD - Ácido Lisérgico

OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas

PNAD - Política Nacional sobre Drogas

SENAD - Secretaria Nacional de Política sobre Drogas

SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

TDPM - Transtorno Disfórico Pré-Menstrual

TOC - Transtorno Obsessivo-Compulsivo

TPM - Tensão Pré-Menstrual

TRS - Teoria das Representações Sociais

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo

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LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1 - Ranking do uso de drogas: Opinião pública e Pesquisa GEAD Gráfico 1 - Comparação entre os dados do GEAD e da opinião pública em relação à droga que mais tem levado os usuários a tratamento nos CAPs AD do Recife Gráfico 2 - Perfil dos usuários de drogas de acordo com os dados do GEAD Gráfico 3 - Perfil dos usuários de drogas a partir dos dados da pesquisa no Facebook

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SUMÁRIO

RESUMO

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ABSTRACT 6 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 7 LISTA DE TABELAS 8 APRESENTAÇÃO 10 1. HISTÓRIA DO USO DE DROGAS NA SOCIEDADE: DO USO RITUALÍSTICO AO PROIBICIONISMO 12 1.1. DROGAS: DO SURGIMENTO À ATUALIDADE 12 1.2. USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS 15 1.3. DROGAS E POLÍTICAS PÚBLICAS: LEGISLAÇÕES ACERCA DO TEMA 18 2. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, DROGAS E MÍDIA 23 2.1. BREVE INTRODUÇÃO À TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAS DE SERGE MOSCOVICI 23 2.2. AS REPERCUSSÕES DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAS PARA OS USUÁRIOS DE DROGAS E O PAPEL DA MÍDIA 26 3. METODOLOGIA 32 4. ANÁLISE DE DADOS: ENTRE O MITO E A VERDADE 35 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 44 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46 ANEXO 52 APÊNDICE

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APRESENTAÇÃO

Inerente à sociabilidade humana as drogas perpassam a história desde os

primórdios. Seja por mudanças de paradigmas, que variam em cada cultura, pela

imposição de leis ou até do mercado existente, a cada momento estas substâncias são

encaradas e utilizadas pela sociedade de formas distintas.

Nos novos e diferentes espaços da nossa sociabilidade humana, desenvolvemos

uma rede de comunicação capaz de difundir informações de maneira cada vez mais

inovadora e acelerada. Tempo e espaço não são mais obstáculos na disseminação de

conteúdo e conhecimento, visto que uma extensa gama de recursos e serviços passa a

responder em tempo real pelo que acontece no cenário mundial.

Todavia essa resposta nem sempre se dá de maneira neutra e imparcial, pois

detentores do poder e dos meios de comunicação podem monopolizar o repasse de

informações e distorcer situações e temáticas relevantes para a sociedade. Devido a

esse controle da informação, opiniões, conceitos e estereótipos são criados, fazendo-

nos perceber o quão relevante é pesquisar a respeito da influência dessas formulações

nas concepções acerca dos usuários de drogas.

Tomando como ponto de partida a Teoria das Representações Sociais, de Serge

Moscovici, a presente pesquisa tem por objetivo traçar o perfil dos usuários de drogas

que buscam tratamento nos CAPs AD da cidade do Recife, a partir da opinião das

pessoas que acessam as redes sociais.

Para alcançarmos nosso objetivo, comparamos dados de duas pesquisas, uma

realizada por nós e outra pelo Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas, da

Universidade Federal de Pernambuco (GEAD/UFPE), e as analisamos com base na

teoria de Moscovici. Através dessa comparação, tentamos identificar quais são os

fatores que interferem na formulação de opiniões, estigmas e preconceitos sobre

usuários de drogas.

O presente trabalho foi divido em quatro capítulos, onde, no primeiro deles foi

realizado um apanhando histórico sobre as drogas, desde os primórdios, perpassando

pelo uso religioso, seu papel na contemporaneidade e por fim às sanções que lhes são

impostas na atualidade.

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Durante o segundo capitulo, trabalhamos com a história e definição da Teoria

das Representações Sociais. Nesta parte do trabalho, mostramos como essa teoria se

apresenta no nosso cotidiano e sua relação com a temática das drogas e da mídia, bem

como contribui para a produção e a reprodução de construções simbólicas associadas

aos usuários de drogas na cena contemporânea.

No decorrer do terceiro capítulo apresentamos a metodologia utilizada no nosso

trabalho. Nesta parte detalhamos todo o percurso que seguimos, desde a escolha do

tema até os meios que utilizamos para consolidar a nossa pesquisa. E ao final, no

quarto e último capítulo, os dados obtidos nas duas pesquisas de referência foram

analisados e comparados. Desta forma pudemos apresentar os principais pontos de

divergências e aproximações que existem entre ambas.

Longe de tentar esgotar o debate sobre a influência das representações sociais

na temática das drogas, o nosso trabalho se deu em prol de ampliar os horizontes a

respeito daquilo que tem sido colocado sobre substâncias psicoativas em nossa

sociedade e pontuar as diferenças entre dados da realidade e o que o público visualiza

mediante as inúmeras influências existentes com relação aos usuários de drogas.

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1. HISTÓRIA DO USO DE DROGAS NA SOCIEDADE: DO USO RITUALÍSTICO AO PROIBICIONISMO

1.1 DROGAS: DO SURGIMENTO À ATUALIDADE

Como meio de alimentar as necessidades subjetivas da humanidade, desde os

primórdios, é possível observar a busca pelo uso de substâncias capazes de alterar o

estado de consciência e percepção. Esse comportamento, agregado a outros aspectos

inerentes a condição humana, tal como a linguagem, o trabalho e os modelos de

produção existentes, sempre esteve presente nas mais diversas circunstâncias que

cercam a vida do homem.

Intrínseca à vida em sociedade, as drogas vem adquirindo diferentes formas de

consumo e razões para sua utilização nos mais variados grupos sociais. Como afirma

Uchôa (2007, p.15) “todas as sociedades foram consumidoras de drogas, variando de

acordo com a época, lugar e cultura”.

Ao falar em drogas tratamos de quaisquer substâncias que possam provocar

alterações no funcionamento do organismo e que não são produzidas por este. Tais

substâncias, devido a sua capacidade de repercutir em mudanças no psiquismo, são

também denominadas de drogas psicotrópicas ou de substâncias psicoativas

(LARANJEIRA; NICASTRI, 1996).

O uso do ópio, da maconha e da coca, por exemplo, datam de centenas de anos

antes de Cristo. Seus respectivos usos vão desde a utilização como moeda de troca ao

uso medicinal (MARTINS, 2007). Segundo Nunes (2010, p.17) já na antiguidade “os

Incas consideravam a folha da coca um rico presente 'acima do ouro e da prata', e os

Citas, inebriavam-se com os vapores da maconha”. No transcorrer dos séculos, novas

substâncias foram se incorporando ao cotidiano das várias civilizações existentes, seja

por motivos religiosos, seja de cura ou relaxamento, sendo, portanto, um elemento de

relevância o uso de substâncias psicoativas na vida da humanidade.

A utilização de bebidas alcoólicas nas cerimonias religiosas, a exemplo do vinho

na Igreja Católica, demonstra como as drogas eram - e ainda são - utilizadas como

forma de aproximação do homem temporal com o mundo do divino, atemporal. A

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ayahuasca, por exemplo, tradicionalmente utilizada em rituais de cura de povos

indígenas da Amazônia, é considerada como bebida de cunho sagrado que desenvolve

não só aspectos mentais, como espirituais, de experiências místicas e outras

sensações (LABATE; ARAÚJO, 2004).

Manipular, produzir e fazer uso de elementos que alteram o estado de

consciência são práticas marcadas por elementos de ordem cultural e histórica. Durante

o início do século XX a história do consumo de drogas passou por transformações,

nesse período o proibicionismo das drogas passou a ser legitimado, sobretudo, para

atender às necessidades do modelo capitalista de produção e às exigências de

governos totalitários1que se instauravam e passaram a tratar as drogas com políticas

repressoras e criminalizadoras. Para Carneiro (2002, p. 115) foi neste período que

“esse consumo alcançou a sua maior extensão mercantil, por um lado, e o maior

proibicionismo oficial, por outro”.

A partir daí, a “guerra às drogas” passou a se configurar como uma preocupação

das sociedades modernas, sendo na contemporaneidade um tema recorrente nas

agendas públicas. De acordo com Queiroz foi em meados de 1940, durante o pós-

guerra que,

[...] as drogas irrompem no mundo como endemia. Fatores como a derrocada dos valores sociais estabelecidos, nascimento do movimento hippie, o desenvolvimento da indústria farmacêutica, as contestações por parte dos jovens e o surgimento de novas espécies de drogas são tidos como causadores da disseminação do uso das drogas psicoativas (2008, p. 34).

Na contemporaneidade o uso de drogas vem extrapolando seu caráter cultural e

ritualístico, inserindo-se na sociedade capitalista como mais uma mercadoria de

consumo (UCHÔA, 2007). Assim surgem novas necessidades, e um ciclo de criação de

doenças da modernidade, como a depressão, e de uma lucrativa cura destasatravés de

drogas que “permitem a modulação dos humores e a aceitação feliz das mesmas

situações a estarem na origem da depressão” (CARNEIRO, 2008, p.80).

Com a rápida expansão da indústria farmacêutica no pós 2º Guerra Mundial,

novas drogas foram desenvolvidas pelos grandes laboratórios, que passaram a

1 São governos que “[...] tem sua vertebração fundada na eficácia da manipulaçãoracional da irracionalidade das massas” (BOMENY, 1999, p. 146).

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monopolizar este mercado extremamente lucrativo. Neste momento ocorreu uma

verdadeira exacerbação do consumo dos fármacos industriais (Carneiro, 2011).

O uso de drogas seja este casual, social ou até mesmo diário, relaciona-se com

o contexto histórico no qual se encontra. Na visão de Simões (2008, p.17), “uma

determinada substância química se torna uma ‘droga’ em um determinado contexto de

relações entre atividades simbólicas e o ambiente, em que operam saberes e poderes”.

Permeada por questões moralistas e com foco na segregação a “lógica da

criminalização” (NUNES, 2010, p.16) passa a ser a resposta ao uso de substâncias

psicoativas consideradas ilícitas.

Presentes desde o início das políticas de proibição no território estadunidense, os estereótipos morais e médicos, apresentavam um alvo muito bem escolhido e seleto, que associava o consumo de substâncias perigosas às classes tidas como perigosas pela elite branca. Colocando desta maneira, sob suspeita toda uma fatia da população que, por seus hábitos e sua pobreza, já tem por costume ser vigiada e controlada pelos aparatos repressivos do Estado. (QUEIROZ, 2008, p. 38).

Juntamente com a criminalização, o fim único da abstinência passa a ser

almejado pelas sociedades contemporâneas. Estas últimas enquadraram as drogas de

caráter ilícito em um espaço de caos, onde a sua existência tornou-se pressuposto para

explicar inúmeras mazelas sociais vigentes, hora isentando o Estado de sua

responsabilidade social, hora legitimando-o nos espaços de politicas de cunho

repressor, como a força policial, as internações compulsórias e os presídios. Excluindo,

desta forma, o debate de questões como mercado produtor, lucratividade, religiosidade,

subjetividades, entre outros aspectos relevantes no trato com a utilização de drogas.

Como trata Gil e Ferreira,

Longe de se limitar a um vinculo com o problema da violência ou da criminalidade social, o consumo de “drogas”, desde sempre, remeteu a várias esferas da vida humana, ligando-se a fenômenos religiosos, movimentos de construção (ou reconstrução) de identidades de minorias sociais, étnicas, geracionais, de gênero, ou ainda a produções estéticas (2008, p. 11).

A utilização de substâncias psicoativas é um tema amplo, não reduzível a uma

visão unilateral de criminalização. Logo, o debate acerca do uso de substâncias

psicoativas torna-se necessário no intuito de se desenvolver a consciência sobre as

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diferentes formas de uso em suas diversas circunstâncias e culturas, bem como os

benefícios e consequências na sociedade como um todo.

1.2 USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE DROGAS

Apesar da presença constante de determinadas drogas no cotidiano dos

indivíduos e sua utilização como algo historicamente aceito, a relação entre homem e

droga nem sempre se dá da melhor forma. Variando de contexto em contexto, ao

iniciarem contato com o álcool e/ou outras drogas, os indivíduos que as utilizam

passam a estar sujeitos a efeitos que podem ir muito além do prazer desejado. Em

outras palavras, o consumo destas substâncias, em determinadas situações, pode

exceder de um uso controlado para um uso nocivo e por fim levar à dependência.

De acordo com Laranjeira e Nicastri (1996), uso, abuso e dependência são três

diferentes níveis relacionados ao consumo de drogas. Para os autores o uso diz

respeito, como a palavra já explicita, à utilização de qualquer substância,

correspondendo a um uso experimental, eventual ou recreativo. Abuso ou uso nocivo

reflete um consumo que já apresenta algum dano ao indivíduo e seu convívio, porém

sem ainda caracterizar uma dependência. E por último a dependência é classificada

como um uso descontrolado de drogas que na maioria das vezes acarreta em sérias

consequências para o usuário e a terceiros.

Levando-se em conta os referidos níveis de consumo, os autores asseguram que

o desenvolvimento gradual destes nos fornece uma percepção de continuum, visto que

"os indivíduos passariam inicialmente por uma fase de uso, alguns deles evoluiriam

posteriormente para o estágio de abuso e, finalmente, alguns destes últimos tornar-se-

iam dependentes" (LARANJEIRA; NICASTRI, 1996, p.83).

Atualmente as definições dos padrões de uso de substâncias psicoativas,

determinadas conforme suas consequências, são fruto da 10ª Revisão da Classificação

Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (CID-10) e da 4ª edição do

Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica

Americana (DSM-IV). De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre

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Drogas(OBID), a tipificação tanto do CID-10 quanto do DSM-IV em relação à utilização

de drogas "não se constitui a partir de um transtorno ou doença, e está baseada na

forma de uso e na relação que o indivíduo estabelece com a substância e suas

consequências negativas” (OBID, 2013).

Consoante o CID-10 e o DSM-IV, existem os seguintes padrões de utilização de

psicotrópicos: a) Uso experimental, recreativo, controlado e social (exemplificados de

diferentes formas, porém enquadrando-se como uso) e; b) Uso nocivo/abuso e

dependência. Nesse sentido, o uso abusivo de drogas, segundo o CID-10 e o DSM-IV é

compreendido como uma categoria residual, uma vez que a dependência química ainda

não foi totalmente sinalizada. Ou seja, o abuso faz parte da progressão envolvendo o

consumo de drogas, contudo sem se configurar como uma dependência, mas sim um

estágio para se chegar à mesma (OBID, 2013).

Isto posto, pode-se afirmar que nem todo uso de drogas pode ser considerado

como problemático e muito menos causador de uma futura dependência. Para Bucher,

por exemplo,

Falar [...] em "abuso de drogas", implica em que possa haver um "uso" que não seja necessariamente "abuso", isto é, criador de dependência patológica. E de fato, constata-se que, apesar da evolução deste consumo no sentido indicado, há também cada vez mais usuários que conseguem fazer um "compromisso social" com a droga: necessita-se dela, mas não totalmente, sendo seu uso controlado, a nível de uma "dependência negociada" que não coloca em cheque a inserção social ou profissional (1986, p. 135).

Levando-se em conta a regularidade do uso dessas substâncias e sua virulência

como algo fundamental na definição de uma dependência, é necessário

compreendermos que um uso eventual não pode ser definido como uma dependência

de drogas. Pois, como afirma Uchôa (2011, p.57) "a síndrome de dependência constitui-

se em um grupo inter-relacionado de sinais e sintomas cognitivos, comportamentais e

fisiológicos de diferentes graus, fases e variações e caracterizam uma disfunção entre o

indivíduo e a droga".

Logo, se o indivíduo consegue estabelecer uma relação com a droga sem

ocasionar em prejuízos para si mesmo e para terceiros, suas chances de desenvolver

uma futura patologia devido a esse uso são menores. Contudo, tal afirmação não nega

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a possibilidade de um uso esporádico torna-se mais constante ao ponto de se

transfigurar num problema de saúde pública.

A partir de dados do II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas no Brasil (CEBRID, 2007)2 foi comprovado que 76,4% da população

entrevistada já fez uso de álcool pelo menos uma vez na vida. Já no quesito

dependência apenas 12,3% das pessoas foram classificadas com este problema. No

que diz respeito ao tabaco, segunda droga mais utilizada de acordo com a pesquisa, os

valores mostram que 44% do público em caso já fez uso na vida e que 10,1% do total

entrevistado eram dependentes. A maconha, por sua vez, foi consumida pelo menos

uma vez na vida por 8,8% dos entrevistados, levando à dependência 1,2% dos

indivíduos que participaram da pesquisa.

Além da especificação das diferentes formas de consumir drogas, para se

realizar um debate coerente em torno desta temática e suas consequências no

cotidiano dos indivíduos, precisamos igualmente levar em conta a classificação das

mesmas.

As drogas podem ser determinadas tanto em relação a sua licitude, quanto em

relação aos seus efeitos no sistema nervoso central. A primeira definição diz respeito à

legalidade das drogas, a qual define-as como lícitas e ilícitas. Ou seja, drogas que têm

seu uso como algo legítimo na sociedade e aquelas que sua utilização é compreendida

como um crime, um desrespeito à lei. Essa definição, por sua vez, não tem grande

utilidade na classificação de uso, abuso e dependência de drogas, mas sim no que diz

respeito aos trâmites legais da utilização de drogas e seu papel financeiro e lucrativo no

comércio mundial.

No tocante aos efeitos que se sucedem no organismo dos usuários devido a

utilização de drogas é válido ressaltar três tipos diferentes de drogas: depressoras,

estimulantes e perturbadoras. Segundo Masur e Carline (1989) as drogas depressoras

são compostas pelo álcool, heroína e solventes ou inalantes. Já o efeito contrário, ou

seja, a sensação estimulante, fica a cargo de substâncias como a cocaína, nicotina e

2 Pesquisa realizada com residentes de 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes e na faixa etária entre 12 e 65 anos.

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cafeína. E os responsáveis por deixar a percepção perturbada são a maconha e seus

derivados, o ácido lisérgico (LSD) e o ecstasy.

Qualquer droga, seja ela legal ou não, tem potencial de proporcionar prazer e/ou

causar danos ao usuário. Contudo, tais danos variarão de acordo com o tipo de droga e

sua frequência de uso (VIEIRA; CAVALCANTI, 2011). Ou melhor, a problemática da

dependência de drogas como um problema de saúde pública envolve questões que

dizem respeito não só ao usuário, mas também a regularidade desse consumo, o tipo

de substância que está sendo utilizada e seu contexto psicológico e social, como

pontuado foram no tópico anterior.

1.3 DROGAS E POLÍTICAS PÚBLICAS: LEGISLAÇÕES ACERCA DO TEMA

O fenômeno do consumo e a regulamentação das drogas foram abordados de

maneira diferenciada nos variados estágios de desenvolvimento da sociedade. O juízo

valorativo de caráter moral ou legal dessa manifestação humana e cultural relaciona-se

ao tempo, localidade e, principalmente, aos interesses políticos, econômicos e sociais

historicamente determinados.

A exacerbação e popularização do uso das drogas provocaram impactos

prejudicialmente significativos à saúde física e psíquica de seus usuários com tamanha

intensidade que a referida problemática se transfigurou como uma questão de saúde

pública. Sendo assim, o consumo de drogas, no começo século XIX, passou a ser

considerado causador de comorbidades, merecendo ações de saúde como qualquer

outra doença (ESPÍNDOLA, 2011).

Essa nova realidade instituída culminou na criação de políticas públicas

referentes ao uso de drogas, as quais desde o seu surgimento apontavam um

enfrentamento de caráter proibicionista aos prejuízos produzidos pela massificação

desse consumo. Destarte, o início do século XX foi marcado pela adoção da proibição

como estratégia de combate às substâncias psicoativas ilícitas e, por conseguinte, a

criminalização dos seus respectivos usuários.

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No Brasil, a questão das drogas passou a ser alvo de uma política proibicionista

a partir do momento em que o consumo dessas substâncias foi disseminado entre as

camadas sociais menos abastadas, as quais eram consideradas perigosas à

manutenção da ordem vigente. Diante dessa conjuntura, em 1921 foi elaborada a

primeira regulamentação de controle governamental ao uso de entorpecentes, o

Decreto nº 4.264 que através da punição restringia o uso de ópio, morfina, heroína e

cocaína em território brasileiro. Estas substâncias, antes toleradas pelos componentes

da elite oligárquica, continuaram a sofrer ferrenhas repressões legais, sendo atingidas

ainda em 1938 pela Lei de Fiscalização de Entorpecentes, decreto nº 891, o qual anos

mais tarde foi incorporado ao Código Penal (REVISTA DIALÓGOS, 2009).

Todavia, é apenas no início da década de 1970, ao embasar-se na política de

drogas dos Estados Unidos da América, que as produções oficiais do governo brasileiro

visando o combate ao uso de drogas erigiram alicerces ideológicos mais bem

fundamentados. A referida política norte americana teve como proposta principal inibir o

uso de drogas que não fossem para fins clínicos, uma vez que tomava como respaldo o

pensamento cristão ocidental

[...] que historicamente condenou o consumo de drogas por serem ligadas aos rituais pagãos, e a psiquiatria, que ao passo que descobria a capacidade de algumas substâncias de levar a dependência, passaram a atribuir o uso abusivo de drogas a uma degradação moral do indivíduo (ESPÍNDOLA, 2011, p.16).

Assim, numa estrutura marcada historicamente como “anos de chumbo”, o

território brasileiro, palco de um governo militar ditatorial, promoveu um terreno fértil

para propagação de uma política de drogas concebida como instrumento de controle

social.

Durante a ditadura militar prevaleciam intervenções que no seu cerne revelavam

uma posição repressiva, autoritária, numa visão unidimensional inapropriada para o

trato do fenômeno das substâncias psicoativas em toda a sua complexidade, ou seja,

uma visão que oculta a questão social que corresponde aos fenômenos de uso, abuso

e dependência de drogas, conferindo-lhes, apenas, um caráter simplista (GOMES;

SILVA, M; SILVA, R, 2005).

Diante dessa realidade política, durante o mandado presidencial de Ernesto

Geisel, em outubro de 1976, foi promulgada a Lei 6.368/76. Esta legislação dispôs

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sobre medidas de prevenção e repressão ao uso indevido e ao tráfico ilícito de

substâncias psicoativas causadoras de algum tipo de dependência, seja ela psíquica ou

física (MORAES; PIMENTEL; UCHÔA, 2011).

Como resposta do Estado à problemática das drogas, essa nova lei abarcou em

seu corpo normativo regras no tocante a prevenção, tratamento e recuperação, crimes

e penas e sobre o procedimento criminal. Segundo Espíndola,

A lei em questão estabelecia as obrigações e as condições às quais o usuário deveria ficar sujeito. Reafirmava o senso-comum do usuário como dependente e criminoso, com isso imputando sanções legais indiscriminadamente para consumidores e produtores. Do modo como a dependência era tratada, o usuário era reconhecido como perigo à segurança pública, devendo por isso ser isolado do convívio com a sociedade (2011, p.20).

Torna-se imprescindível destacar que o caráter criminalizante imposto pela lei de

entorpecentes era determinado não pelo potencial ofensivo das drogas, mas sim pela

sua condição de ilicitude na sociedade da época. Concomitante a oficialização desse

movimento proibicionista, o mercado de produção e comercialização de drogas lícitas

(tabaco e bebidas alcóolicas) acompanhou a expansão industrial do século XX,

tornando-se, dessa forma, uma área cuja rentabilidade econômica atingia patamares

cada vez mais elevados.

Foi no final da década de 1990, com a criação da Secretaria Nacional Antidrogas

(SENAD)3, que a questão das drogas ganhou impulso nos debates contemporâneos e

novas configurações no cenário político brasileiro. A SENAD, instituída no governo

presidencial de Fernando Henrique Cardoso, estabeleceu medidas no tocante à

prevenção do uso indevido, atenção, reinserção e recuperação social de usuários de

drogas psicotrópicas. Coube, ainda, a esse órgão executivo de articulação e integração

entre governo e sociedade civil a produção, assessoria, orientação, acompanhamento,

implantação e avaliação de uma Política Nacional Antidrogas (PNAD)4.

A PNAD, somente aprovada em 2001, foi resultado de um processo participativo que recebeu contribuições de propostas da sociedade brasileira, levantadas durante o I Fórum Nacional Antidrogas, realizado em novembro de

3 Através da Lei 11.754 de 23 de julho de 2008 passou a se chamar Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. (BRASIL, 2008). 4 A qual veio a se chamar de Política Nacional sobre Drogas em 2005 através da Resolução Nº3/GSIPR/CH/CONAD (BRASIL, 2005).

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1998 (BRASIL, 2001a). Como para o então presidente Fernando Henrique Cardoso, era preciso colocar o combate às drogas no alto das prioridades do Governo Brasileiro, a Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD, órgão responsável pela coordenação da PNAD, foi vinculada à Presidência da República (MORAES; PIMENTEL; UCHÔA, 2011, p.181).

Data também de 2001 a criação do Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD),

instituído através da Medida provisória 2.225-45 que modifica a lei 6.368/76. No ano

seguinte, ocorre a promulgação da Lei nº 10.409, que dispõe a respeito tanto da

prevenção quanto do tratamento, fiscalização, controle e repressão à produção, entre

outros. A referida lei, embora alvo de um número expressivo de vetos presidenciais,

promoveu avanços no tratamento aos usuários de psicoativos, pois estabelecia em seu

texto o fim da prisionalização dos mesmos (JÚNIOR; MELO; LUCENA, 2004).

A moderna ordem mundial estabelecia, assim, a diferenciação do tratamento dispensado ao usuário vítima, demonstrando forte tendência à descriminalização. Dessa forma, a lei de 2002 prevê ao usuário medidas profiláticas e educativas, além de um tratamento mais benigno ao portador de substância tóxica para uso próprio (VENTURA, 2011, p.556).

Mesmo pautada num discurso proibicionista, esse rearranjo legislativo incidiu

diretamente no alinhamento da política de drogas à garantia dos direitos humanos e

liberdades individuais assentados na Constituição Federal de 1988. A pressão política

da sociedade civil, seja por militantes ou profissionais, agregada aos acordos

internacionais firmados pelo governo brasileiro, contribuiu para o desenvolvimento de

uma ação pautada na redução de oferta, de demandas e de danos. É nessa conjuntura

que as ações de redução de danos sociais foram assinaladas pela primeira vez nas leis

brasileiras sobre drogas, cabendo ao Ministério da Saúde a sua regulamentação.

Por fim, no ano de 2006, o Congresso Nacional por meio da aprovação da Lei nº

11.343 invalidou as Leis nº 6.368/76 e 10.409/02 e fundou o Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD). Esse texto normativo trouxe inovações

expressivas no que tange às ações direcionadas aos usuários de drogas, uma vez que

foram priorizadas atividades na esfera da saúde pública em prol da prevenção, atenção

e reinserção social em detrimento das medidas meramente sancionatórias.

Esta apresenta um avanço significativo no trato ao usuário. O salto qualitativo a que nos referimos reside no fato de que o usuário, mesmo ainda sob o status de

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criminoso por fazer uso de droga, não pode ser preso pelo consumo. Com a nova lei a pena cabível pelo uso de drogas consiste em medida socioeducativa de comparecimento a programa ou curso educativo, ficando ainda a cargo da jurisprudência o encaminhamento para tratamento obrigatório de dependência química (ESPÍNDOLA, 2011, p.20).

Outros pontos a serem destacados sobre a lei de 2006 é que a mesma focalizou

não mais na substância em si, mas sim o sujeito que a utiliza; diferenciou os

usuários/dependentes de drogas dos traficantes; prescreveu medidas para prevenção

do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

estabeleceu normas para a repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de

drogas; definiu crimes, entre outras providências (BRASIL, 2006).

É notório que grandes mudanças e avanços ocorreram gradativamente na

política de drogas no Brasil. Como exemplo desses avanços temos em 2003 a inserção

da estratégia de redução de danos como uma alternativa legal no tratamento de

usuários de drogas, independente da licitude destas.

Embora sejam visíveis as contribuições positivas inseridas nas atuais legislações,

o caráter conservador ainda se faz bastante presente. Pois concomitante as evoluções

da atual Política Nacional sobre Drogas, esta ainda busca uma sociedade protegida do

uso indevido de drogas, uma vez que afirma como pressuposto da política "buscar,

incessantemente, atingir o ideal de construção de uma sociedade protegida do uso de

drogas ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas" (BRASIL, 2006), negando assim o

caráter intrínseco dessa atividade na história.

Ou seja, mesmo existindo melhoramentos na forma de enfrentar a problemática

em tela, as limitações ainda presentes precisam ser sempre pontuadas, visando um

aprimoramento contínuo dessas políticas, as quais não podem permanecer estáticas no

tempo, necessitando de renovações periódicas de acordo com o fluxo societário.

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2. TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, DROGAS E MÍDIA

2.1. BREVE INTRODUÇÃO À TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERGE MOSCOVICI

A disseminação de produções mentais, que inseridas numa determinada

dinâmica social transformam-se num pensamento representacional do senso-comum,

produz inflexões relevantes no que tange ao papel das drogas no debate

contemporâneo. O embasamento teórico que será utilizado durante a explanação da

referida temática será a Teoria de Representações Sociais (TRS), categoria analítica

formulada na década de 1960 pelo psicólogo social romeno, naturalizado francês,

Serge Moscovici.

O referencial acima descrito é fruto de uma construção conceitual com bases

sociológicas diversas, influenciado por autores como Marcel Mauss, Max Weber e até

Karl Marx. No entanto, é na Teoria das Representações Coletivas de Durkheim que

Moscovici estabelece a estrutura para pensar em uma teoria que pudesse abranger a

realidade das sociedades mais modernas, promovendo a produção de conhecimentos a

partir de uma outra compreensão das transformações sociais (HOROCHOVSKI, 2004).

Na diferenciação radical desenvolvida, em 1898, por Durkheim entre a sociologia

e a psicologia, bem como a constatação, em seus estudos, que o mundo é composto

por consciências coletivas e individuais, o termo “representação” desponta no âmbito

sociológico. Para ele, há dois tipos de representação, a individual que não é capaz de

interpretar a sociedade (a qual ele afirmou ser domínio da psicologia) e as

representações coletivas (segundo tal pensador, competência da sociologia), sendo

estas as únicas detentoras da “maneira pela qual o grupo enxerga a si mesmo nas

relações com os objetos que o afetam” (DURKHEIM, 1987, p. XXVI).

Com a passagem do século XIX para o XX, as Ciências Sociais deixaram o

estudo das representações em suspenso, ressurgindo apenas em pesquisas da área do

estudo da subjetividade humana e seus desdobramentos: na psicologia social, que teve

como seu principal representante Serge Moscovici.

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O psicólogo social em tela, na década de 1960, ao produzir o texto “La

Psychanalyse: son image et son public” inaugura sua análise acerca do tema, com

uma mudança na terminologia de representação coletiva para representação social.

Essa modificação conceitual adveio de uma releitura crítica da teoria funcional

durkheiniana, na qual se constatou que as representações coletivas fornecem um

campo cuja amplitude impossibilita o alcance de um estudo que abarque toda produção

de pensamentos produzidos socialmente.

Portanto, se Moscovici apresenta Durkheim como ponto de partida para suas reflexões em torno do tema das representações, o faz mediante a constatação de que os seus objetivos se diferenciam dos de seu autor inspirador. De fato, para Durkheim interessava a estabilidade das representações coletivas e seu conseqüente poder de coerção social, capaz de integrar a sociedade em um todo homogêneo. Moscovici, por seu turno, se preocupa com o estudo da diversidade de representações e idéias coletivas, características da heterogeneidade das sociedades modernas, dada a existência de diversos grupos sociais em constante negociação de forças (BRIVIO apud DUVEEN, p.109, 2011).

Segundo Farr (2008), Moscovici observou em seus estudos acerca das

representações sociais, atitudes e opiniões de pessoas com relação ao tema da

psicanálise, utilizando para isto questionários, pesquisas de opinião, assim como

também coletou amostras sobre como os meios de comunicação em massa tratavam o

tema.

No que diz respeito à relação individuo – sociedade, tratada por Moscovici na

TRS, Jovchelovith (2008, p. 63) nos traz que a supracitada teoria “nasceu -e cresceu-

sob a égide de interrogações radicais, que repõe contradições e dilemas que ainda hoje

precisamos responder. Talvez a principal dessas contradições seja a relação individuo-

sociedade e como esta relação se constrói”. Para a autora as representações sociais

“enquanto fenômeno psicossocial, estão necessariamente radicadas no espaço público

e nos processos através dos quais o ser humano desenvolve uma identidade, cria

símbolos e se abre para a diversidade de um mundo de outros” (JOVCHELOVITCH,

2008, p. 65).

Compreendida como "uma forma sociológica de Psicologia Social" (FARR, 2008,

p. 33) a Teoria das Representações Sociais exerce forte articulação com as formas de

comportamento dos indivíduos e suas comunicações. Tendo, segundo Moscovici (2003,

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p. 54), "a finalidade [...] de tornar familiar algo não-familiar, ou a própria não-

familiaridade", tal teoria introduz nas sociedades definições acerca de questões

aprioristicamente desconhecidas.

Em outras palavras, as representações sociais são de fato as representações

que temos de determinados objetos e situações cotidianas, os quais, por não terem

anteriormente uma definição ou nome, eram tidos como estranhos. Ao serem advindas

de toda e qualquer interação humana, seja ela entre um grupo de pessoas ou até

mesmo entre duas pessoas (sempre de forma coletiva, nunca individual), as

representações sociais são responsáveis pelo sentimento de pertencimento humano

em uma totalidade, a partir do momento que torna habitual situações que não faziam

parte do conhecimento comum. Logo, as representações sociais estão presentes,

[...] sempre e em todo lugar, quando nós encontramos pessoas ou coisas e nos familiarizamos com elas [...]. A informação que recebemos, e à qual tentamos dar um significado, está sob seu controle e não possui outro sentido para nós além do que elas [as representações sociais] dão a eles (MOSCOVICI, 2003, p.40).

Todos nós, de forma individual ou coletiva, encontramo-nos cercados de

informações, imagens, palavras e ideias, as quais, mesmo que não sejam percebidas,

constroem o nosso cotidiano e influenciam na nossa forma de pensar. Para entender as

representações sociais, é necessário levar em conta que nenhuma mente age de forma

imparcial, o que faz com que as representações estejam carregadas de culturas,

linguagens e concepções.

Desta forma, ao aceitarmos a existência de certa autonomia e condicionamento

em cada meio social, as representações sociais, segundo Moscovici (2003) terão duas

funções: a de tornar convencional "os objetos, pessoas ou acontecimentos que

encontram" (ibidem, p.34), trazendo à tona uma realidade desconhecida e; de impor o

que deve ser pensado por nós, o que se dá de forma irresistível, comprovando o caráter

prescritivo das representações.

Contudo, ao afirmar a forte influência das representações sociais no desenvolver

das sociedades, Moscovici não nega a capacidade cognitiva dos indivíduos e suas

habilidades para desenvolver opinião acerca de variados temas, pois para ele,

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[...] pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si mesmos, produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas representações e soluções às questões que eles mesmos colocam. Nas ruas, bares, escritórios, hospitais, laboratórios, etc. as pessoas analisam, comentam, formulam "filosofias" espontâneas, não oficiais, que têm um impacto decisivo em suas relações sociais, em suas escolhas, na maneira como eles educam seus filhos, como planejam seu futuro, etc. (MOSCOVICI, 2003, p. 45, grifo nosso).

Desta forma fica claro que, as representações são fruto da interação coletiva e

exercem uma forte e invisível influência nas relações societárias, sendo ela resultado

de uma construção coletiva baseada em trocas, pois cada indivíduo, por ser pensante e

viver numa sociedade também pensante, é possuidor de crenças e ideologias. Logo,

[...] as representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar [...]. Elas ocupam, com efeito, uma posição curiosa, em algum ponto entre conceitos, que têm como seu objetivo abstrair sentido do mundo de uma forma significativa (MOSCOVICI, 2003, p. 46).

2.2. AS REPERCUSSÕES DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS PARA OS USUÁRIOS DE DROGAS E O PAPEL DA MÍDIA

Para dar materialidade a construção das representações sociais, formulações

inscritas na fronteira entre o psicológico e o social, onde "palavras não-familiares, ideias

ou seres [transformam-se] em palavras usuais, próximas e atuais" (MOSCOVICI, 2003,

p.60) dois mecanismos são essenciais para gerar tais representações. São eles a

ancoragem e a objetivação.

Segundo o autor, ancorar significa classificar e nomear alguma coisa que

anteriormente não possuía uma identificação, pois o que não é compreendido como

familiar para nós, nos causa estranheza e por conseguinte medo. Desta forma a

ancoragem é a responsável por "transformar algo estranho e perturbador, que nos

intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de

uma categoria que nós pensamos ser apropriada" (MOSCOVICI, 2003, p.61). Em suma,

ancorar simboliza a rotulação de algo por meio de um nome conhecido, ocasionando,

muitas vezes, em estigmas e definições pré-estabelecidas.

Um bom exemplo para ilustrar o processo de ancoragem é a atual situação dos

usuários de drogas ilícitas, os quais, ao serem denominados coloquialmente de

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"viciados"5, carregam uma imagem negativa perante a sociedade, contudo sem causar

estranheza quando tal assunto é abordado tanto em situações casuais/cotidianas,

quanto de forma científica.

No tocante à objetivação, processo bem mais ativo que a ancoragem, Moscovici

explana ser ela a responsável por unificar "a ideia de não-familiaridade com a de

realidade, [tornando-se] a verdadeira essência da realidade" (Ibidem, p.71). Logo,

objetivar constitui-se em uma "ação" voltada para os indivíduos, onde conceitos e

imagens juntam-se e são reproduzidos no mundo exterior, tornando as coisas

conhecidas a partir do que já é visto como algo familiar (MOSCOVICI, 2003).

Usando o mesmo exemplo supracitado, a objetivação é a responsável por

atribuir aos usuários de drogas ilícitas imagens que os definem e trazem para o

cotidiano essa representação de forma objetiva. Desta forma, qualquer indivíduo, ao ver

um usuário de crack, por exemplo, será capaz de rotulá-lo de "viciado", assim

expressando seu pensamento a respeito dessa representação.

O mencionado termo carrega em seu cerne um estigma relacionado ao uso de

drogas ilícitas que vai muito além do mero ato de usar drogas. Questões como a classe

social, raça, idade e nível de instrução dos indivíduos envolvidos nessa prática são

parte integrante para construção de representações sociais, como é o caso daquelas

relacionadas aos usuários de crack. Estes usuários, que além de sofrerem as

consequências patológicas decorrentes do uso abusivo seguido de uma dependência e

da falta de estrutura física e humana dos serviços públicos de saúde, sofrem também

com as representações que são disseminadas cotidianamente a seu respeito através

dos diversos veículos de informação.

Na visão de Mora (2002), ao fazer referência ao pensamento de Farr, "quando os

indivíduos debatem temas de interesse mútuo ou quando existe o eco dos

acontecimentos selecionados como significativos ou dignos de interesse por quem tem

o controle dos meios de comunicação" (ibidem, p.7, tradução nossa) eis que surgem as

representações sociais.

5 Utilizamos aspas no termo "viciado" por considerá-lo pejorativo e não científico, pois os dependentes de drogas, longe de terem chegado à um estado de dependência por desvio de caráter ou vontade própria, são indivíduos que possuem uma patologia e necessitam de acolhimento e tratamento.

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Ao desempenhar uma função social de responder simultaneamente pela

transmissão de informações, disseminação de ideologias e formação da opinião

pública, os recursos midiáticos colaboram significativamente na construção das

representações sociais direcionadas aos usuários de substâncias psicoativas.

Mediante o exposto, a construção da realidade fica a cargo dos detentores do

poder, a exemplo dos meios de comunicação de massa - como os canais de televisão,

jornais, revistas e programas de rádio. A edificação do real se realiza a partir da seleção

do que é transmitido e do que deve apontar como objeto de discussão da sociedade,

dimensionando valorativamente as informações, além de produzir uma difusão sem

nenhum teor crítico-reflexivo (COSTA; SILVA; SANTOS, 2009).

Assim, a transmissão de ideias e formas de pensamentos que circundam o

nosso cotidiano acaba se configurando, devido as expressões da sociedade capitalista,

como mais uma mercadoria dessa lógica. Onde tal sociedade investe, por meio da

comunicação e midiatização, na naturalização dos sistemas de significação6 e lança

mão da produção, reprodução e disseminação, em larga escala, de uma visão simplista

da realidade em prol de interesses voltados a manutenção e legitimação da ordem

social vigente.

A mercantilização das construções simbólicas interfere diretamente em nossa

leitura e compreensão do real. A mesma pode vir a acarretar a banalização dos

sentidos, a criação de estereótipos, reprodução de preconceitos, alienação cultural,

naturalização e ocultação de problemas societários, entre tantos outros fenômenos que

impedem a interpretação, de maneira totalizante e crítica, da problemática que nos é

proposta para análise (CAMPOS, 2006).

No que se refere a abordagem midiática frente aos fenômenos relacionados ao

uso de drogas, constata-se um “bombardeio” de noticias que abarcam múltiplas

6 “Sendo signo tudo o que representa ou está no lugar de alguma coisa, entende-se por processo de significação a relação signo-referente-interpretante. Existem três tipos de signo: ícone (ex: fotos, estátuas), índice (ex: nuvem indicando chuva; catavento, indicando vento) e símbolo (palavras); e cada signo dá origem a um tipo de consciência. Tem-se, portanto, a consciência icônica, que está baseada nos órgãos do sentido e nos sentimentos – é a consciência da contemplação; a consciência inicial, que está baseada na constatação e na formação de juízos que levem a uma ação; e a consciência simbólica, baseada em argumentos lógicos, que procura estabelecer leis e normas para compreender o porquê das coisas” (COSTA; SILVA; SANTOS, 2009, p.106).

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vertentes dessa temática, perpassando desde aspectos de ordem biológica aos de

caráter moral, do individual ao coletivo.

Questões que vão além da saúde, como, por exemplo, tráfico, violência, delinqüência, aspectos morais, entre outros[...]. Um evidente descompasso diz respeito ao conjunto de informações sobre “drogas ilícitas” (maconha, cocaína, entre outras) em comparação às “lícitas” (álcool e tabaco). De um lado, a população recebe uma série de informações sobre a violência relacionada ao tráfico e sobre os “perigos das drogas” e, de outro, é alvo de sofisticadas propagandas para estímulo da venda de bebidas alcoólicas e de cigarro (NOTO et al., 2003, p.70).

Diante dessa constatação, deparamo-nos com uma diferenciação no tratamento

das diferentes substâncias psicoativas existentes. Esse trato, na ótica midiática, é

regido não pelas características farmacológicas e/ou devido ao potencial ofensivo das

drogas, mas sim pela condição de licitude destas e seu lugar na lógica mercantil. Tais

posturas adotadas por essa indústria cultural vão de encontro aos debates e produções

técnicos científicos na área de saúde que circunscrevem essa temática

Considerando, ainda, que para Moscovici, segundo Marcos Alexandre, (2001,

p.123) “a mídia, integrada por um grupo de especialistas formadores e sobretudo

difusores de representações sociais, é responsável pela estruturação de sistemas de

comunicação que visam comunicar, difundir ou propagar determinadas

representações”, trazemos à tona exemplos para enriquecer o debate sobre o papel da

mídia na disseminação de opiniões acerca do uso de drogas.

Nosso primeiro exemplo trata de uma pesquisa realizada por Ronzani et al.

(2009) na qual foram analisados alguns dados epidemiológicos sobre o uso de drogas

no Brasil e os mesmos foram comparados às informações publicadas pela mídia. De

acordo com tal pesquisa entre os anos de 1999 e 2003 as principais substâncias

utilizadas pela população não foram necessariamente as mais debatidas nos meios de

comunicação em massa, ou seja, estas substâncias não foram evidenciadas nos

espaços privilegiados de formação da opinião pública, mas sim apenas aquelas que

interessavam aos detentores do poder e da informação.

No final da década de 1970, a mídia brasileira deu destaque ao aumento entre

os estudantes do uso de drogas ilícitas, como maconha, cocaína, LSD e heroína.

Estudos epidemiológicos constataram que o quantitativo de usuários dessas

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substâncias ilícitas era ínfimo; todavia, anos mais tarde, notou-se um relevante

aumento no quantitativo de usuários de drogas ilícitas, dando suporte a atitudes mais

alarmistas diante dessa nova realidade que se instaurou.

O fato de a imprensa ter alardeado um aumento do uso de alguns psicotrópicos anos antes de acontecer poderia ser encarado de várias maneiras: a mídia como indutora do uso (incentivando o uso pelo excesso de informações);a mídia como indicador epidemiológico (teria sido capaz de detectar um fenômeno antes que este fosse mensurado pela epidemiologia); e poderia se tratar de um mero acaso, com fatos relativamente independentes (sem relação direta de causa-efeito), entre outras possibilidades (NOTO et al., 2003, p.70).

Outro ponto para análise, referenciado pelas produções da mídia, é a

estigmatização social do usuário de drogas na esfera pública e privada. Por meio de

pesquisa realizada com profissionais da área de segurança pública e de saúde e do

exame de reportagens veiculadas sobre o tema do crack, o sociólogo Gilson Antunes

levanta questões sobre a “demonização” e a responsabilização das referidas

substâncias, em especial as consideradas ilícitas, pelo aumento dos males sociais no

imaginário da população (ANTUNES, 2010).

Os preconceitos que permeiam a relação da população com o uso de drogas

desencadeia uma série de marcas físicas e sociais que produzem

[...] um amplo descrédito na vida do sujeito; em situações extremas, é nomeado como "defeito", "falha" ou desvantagem em relação ao outro; isso constitui uma discrepância entre a identidade social virtual e a identidade real. Para os estigmatizados, a sociedade reduz as oportunidades, esforços e movimentos, não atribui valor, impõe a perda da identidade social e determina uma imagem deteriorada, de acordo com o modelo que convém à sociedade (MELO, 1999, p.2).

Ao estigmatizar os usuários de drogas consideradas ilícitas, compromete-se o

acesso destes usuários estereotipados aos direitos sociais e garantias legais que lhe

são destinados, sobretudo, o direito à saúde, mas também à moradia, educação,

emprego, lazer, dentre outros. Essa associação interfere, em especial, na qualidade

das ações de prevenção e tratamento dos usuários, uma vez que os mesmos além de

sofrerem consequências físicas, psíquicas e sociais, acabam se distanciando da rede

de assistência na tentativa de evitar uma experiência discriminatória (RONZANI;

FURTADO, 2010).

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Deste modo, a adoção, pela indústria midiática, de uma postura que se distancia

da neutralidade acaba por instigar, disseminar e por vezes chega a legitimar inúmeras

representações sociais sobre usuários de drogas. Estas acabam por influenciar nos

direcionamentos dados na elaboração e execução de políticas públicas na área de

drogas, em especial no que tange a distorções e criação de obstáculos frente às

estratégias de prevenção ou promoção da saúde dessa população em vulnerabilidade

social (RONZANI et al., 2009).

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3. METODOLOGIA

A princípio o presente Trabalho de Conclusão de Curso teria como cerne o

debate sobre Justiça Terapêutica 7 e as determinações judiciais de tratamentos

compulsórios a serem realizados nos CAPs AD da cidade do Recife. No entanto, ao

tratarmos deste assunto nos deparamos com grande parte das produções voltadas para

os operadores do direito e guiadas por perspectivas não condizentes com aquilo que

referencia o projeto profissional do Serviço Social8.

Ainda que não concordando com o que é tratado essencialmente no debate da

Justiça Terapêutica, este tema se tornou a mola propulsora para chegarmos ao estudo

das drogas e ao referencial que consolidou a base teórica do nosso trabalho, a Teoria

das Representações Sociais, de Serge Moscovici. Pois, ao realizarmos levantamentos

bibliográficos acerca do uso de drogas e a relação com a Justiça, percebemos que o

assunto, muitas vezes, é tratado por visões de caráter moralista, tomando como base o

fim do uso de drogas, o tratamento compulsório, além da estigmatização atribuída aos

usuários de drogas ilícitas mesmo sem serem réus nos tribunais de justiça.

A partir da percepção das representações cravadas na sociedade com relação

àquilo que faz referência ao uso de drogas, devido ao estigma que é imposto aos

usuários em razão do moralismo da sociedade, notou-se o quão rico seria o debate do

porque e como certas representações foram e continuam se incorporando ao cotidiano

até a sua naturalização.

A realização de estágio curricular obrigatório nas áreas de saúde mental e no

Poder Judiciário serviram também como suporte para nossas reflexões. A referida

experiência prática, além de promover a reflexão a partir do confronto entre trabalho

intelectual e práxis profissional, incitou-nos a ponderações acerca daquilo que é

difundido por determinados grupos sociais e midiáticos em relação aos usuários de 7 “A Justiça Terapêutica é um programa judicial para atendimento integral do indivíduo, adolescente ou maior, envolvido com drogas lícitas ou ilícitas para evitar a imposição de penas privativas de liberdade ou até mesmo penas de multa - que, no caso, podem se mostrar ineficientes -, deslocando o foco da punição pura e simples para a recuperação biopsicossocial do agente” (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 2013). 8 Pois o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) "manifesta repúdio a todas as formas de intervenção arbitrária e violenta que, 'em nome da saúde e da segurança', violam direitos humanos e a autonomia dos indivíduos sociais que, por motivações diversas e determinações complexas, fazem uso de drogas hoje consideradas ilícitas" (CFESS, 2012).

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drogas. E foi neste intercâmbio entre experiências práticas e conhecimento teórico que

as primeiras indagações sobre a distorção existente entre realidade e entendimento

público começaram a tomar forma. E foi neste processo que nossas primeiras

hipóteses foram elaboradas, ou seja, como sugere Minayo (2007), foram construídas as

primeiras “afirmações provisórias a respeito de determinado fenômeno em estudo”

(Ibidem, p. 179).

Considerando nosso objetivo geral de identificar as representações sociais de

usuários de redes sociais sobre o perfil dos usuários de drogas que buscam tratamento

nos CAPs AD da cidade do Recife, realizamos uma pesquisa a partir da rede social

Facebook 9 para a coleta dos dados empíricos(questionário da pesquisa via em

Apêndice A). Posteriormente, estes dados foram comparados com os dados da

pesquisa “Entre pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de consumo e impacto

social do uso do crack”10, realizada pelo Grupo de Estudos sobre Álcool e outras

Drogas (GEAD), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (questionário da

pesquisa via em anexo A). Após a descrição dos dados dessas duas pesquisas, foram

realizadas análises comparativas entre eles, à luz da TRS de Moscovici, buscando

identificar quais os fatores que interferem na formulação do perfil elaborado pelos

usuários da rede social Facebook. Neste sentido, a pesquisa utilizou-se tanto de dados

primários como secundários.

Para a coleta de dados na rede social Facebook, foi construído um questionário

eletrônico estruturado por meio do aplicativo "Google Docs",intitulado "Pesquisa sobre

uso de drogas", que continha as seguintes quatro questões:

9 Criado em 2004 por Mark Zuckerberg, o Facebook é o maior um website de relacionamentos do mundo. É por meio de redes sociais como esta que segundo Marteleto (2001) "um conjunto de participantes autônomos, unem ideias e recursos em torno de valores e interesses partilhados". 10Esta pesquisa foi financiada pelo Fundo de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE) e teve como objetivo "investigar o uso de drogas na cidade do Recife, ressaltando o perfil sócio demográfico e econômico dos usuários; o padrão, as formas e as estratégias de consumo; bem como, a história e as consequências sócio econômicas do uso de drogas. Para a coleta de dados foram utilizadas técnicas quantitativas e qualitativas e a amostra incluiu todos os usuários que procuraram tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas (CAPs AD) da cidade do Recife, no período de julho/2010 a junho/2011" (GEAD, 2013).

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1. Entre julho de 2010 e junho de 2011, qual droga você acredita que mais levou

usuários a procurarem tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e

outras Drogas da cidade do Recife - CAPs AD?

2. Na sua opinião, com que frequência esses usuários estariam utilizando esta droga

até chegarem ao tratamento?

3. A qual faixa etária você acredita que esses usuários pertencem?

4. Qual nível de escolaridade você acredita que esses usuários possuem?

A amostra da pesquisa primária foi aleatória, uma vez que não foi traçado

previamente o perfil de quem responderia ao questionário disponibilizado. Optou-se por

lançar o questionário casualmente sem qualquer exigência ou distinção e deixá-lo

disponível na rede social Facebook por cerca de dois meses (20/01 a 05/03/2013).

Os dados coletados foram então analisados a partir do programa Microsoft Excel

2010 para obtenção das porcentagens e tabulação dos dados. Com o mesmo programa

foram realizadas as comparações com os dados da pesquisa realizada pelo GEAD,

quando foram produzidos os gráficos e as tabelas, que serão posteriormente

apresentadas. Concomitante a análise quantitativa dos dados, continuamos com a

apropriação de conhecimentos, de maneira contínua e sistemática, através de leitura de

títulos bibliográficos relacionados à temática das drogas, representações sociais e

mídia, pois como afirma Minayo, a pesquisa “é uma atividade de aproximação

sucessiva da realidade que nunca se esgota” (2007, p. 47).

Por fim, destacamos que não foram poupados esforços para que este TCC fosse

fruto de uma produção intelectual embasada não apenas na averiguação de dados

empíricos obtidos através de pesquisas quantitativas, mas também embasado em um

arcabouço teórico metodológico, operativo e ético político, adquirido ao longo de nossa

formação acadêmica. Compreendemos que sem este enfoque a reflexão sobre a

influência da mídia na construção da opinião pública no que diz respeito aos

dependentes de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas não seria adequada.

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4. ANÁLISE DE DADOS: ENTRE O MITO E A VERDADE

O questionário disponibilizado no Facebook foi respondido por 167 pessoas, que

consideraram o crack como a droga que mais motiva tratamento, seguida do álcool,

cocaína, maconha e por último o tabaco.

Tabela 1 – Resultados da pesquisa sobre drogas no Facebook (N=167) (%)

Como pode ser verificado na tabela 1, a grande maioria das pessoas que

responderam à pesquisa na internet, pensa que a frequência de uso de qualquer das

drogas pesquisadas (crack, álcool, cocaína, maconha e tabaco) é diária; que são os

jovens na faixa etária entre 19 e 24 anos que mais usam as drogas consideradas ilícitas

(crack, cocaína e maconha) e que são os mais velhos na faixa etária entre 37 e 59 anos

que mais usam as drogas consideradas lícitas (álcool e tabaco); e por fim, que os

usuários de drogas, sejam, lícitas ou ilícitas, têm baixa escolaridade. Na comparação

desses com os do GEAD, percebemos algumas diferenças entre a opinião dos

internautas e a realidade dos CAPs AD do Recife, particularmente, no que ser refere às

drogas que mais motivam tratamento, como visto no Gráfico 1:

Crack Álcool Cocaína Maconha Tabaco

Droga que mais motiva tratamento 52 40 5 2 1

Frequência de uso

Abstinência 3,4 1 12,5 0 0 Diário 93,1 99 75 100 100 Semanal 3,4 0 12,5 0 0 Eventual 0 0 0 0 0

Faixa etária

12 a 18: 20,7 0 0 33,3 50 19 a 24: 58,6 15 62,5 66,7 0 25 a 30: 19,5 21 12,5 0 0 31 a 36: 1,1 16 12,5 0 0 37 a 59: 0 48 12,5 0, 50 60 e mais 0 0 0 0 0

Escolaridade

Não sabe ler 6,9 1,5 0 0 0 Só sabe ler e escrever 18,4 3 0 33,3 0

Fund. Incompleto 40,2 31,3 12,5 33,3 50 Fund. Completo 16,1 23,9 12,5 0 0 Ens. Médio 18,4 37,3 50 33,3 50 Superior 0 3 25 0 0

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Gráfico 1 - Comparação entre os dados do GEAD e pesquisa no Facebook em relação à droga que mais tem levado os usuários a tratamento nos CAPs AD do Recife

Enquanto o crack aparece com 52% entre os internautas, os dados da pesquisa

do GEAD evidenciamo álcool (70%) como a droga que efetivamente mais motivou

tratamento, seguida pelo tabaco (48%), pela maconha (43%) e pelo crack (42%). É

importante também destacar, que o tabaco, que aparece como a segunda droga que

mais levou usuários a tratamento nos CAPS AD do Recife, apareceu entre os

internautas em último lugar.

Estes dados sugerem que, talvez devido a grande aceitação do uso do álcool em

nossa sociedade, pelo seu caráter lícito e pelo estimulo ao consumo, sobretudo, através

de ostensiva propaganda em todas as mídias, não é percebido como uma droga que

pode causar danos à saúde. O moralismo de diferentes setores da sociedade no que

concerne ao uso de determinadas drogas ilegais e sua permissividade em relação às

drogas lícitas, como o álcool, acaba repercutindo, por um lado, em preconceitos, e por

outro, na desinformação e na ausência de cuidados. De acordo com o II Levantamento

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Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, o tabaco é a segunda droga

mais consumida em território nacional, perdendo posição apenas para o álcool

(CEBRID, 2007). As referidas drogas que lideram o topo dessa lista têm seu consumo

legalmente autorizado pelo poder público, que implementa algumas ressalvas no que

tange ao consumo, oferta e demanda dessas substâncias11.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é o segundo maior

causador de mortes que poderiam ser evitadas no mundo.O consumo frequente do

tabaco está relacionado a vários problemas de saúde, tais como:

[...] aumento significativo de risco e mortalidade prematuras, limitações físicas por câncer, doença coronariana, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, bronquite, enfisema, infecções respiratórias agudas e pneumonia, baixa densidade óssea e fraturas de quadril em mulheres e úlcera péptica (US Departmentof Health andHuman Services apud FIGUEIREDO, 2007, p.04).

Ainda que o tabaco contribua para o desencadeamento de mais de cinquenta

tipos de doenças distintas,o mesmo ainda não é visualizado pela população como uma

droga de elevado potencial ofensivo, que responde por inúmeros danos à saúde tanto

do fumante ativo, quanto de todos os integrantes do seu círculo de convivência, os

intitulados fumantes passivos.

Apesar do caráter legal, lícito ou ilícito, ter pouca relevância do ponto de vista da

saúde, uma vez que não é esse que determina o quão virulenta é uma droga e quais

suas repercussões no organismo dos indivíduos, é esta compreensão moralista que

predomina na opinião pública.

A partir da formulação das representações sociais em torno das drogas lícitas, o

uso abusivo destas torna-se constante, e isto se dá sem que, na maioria das vezes, as

pessoas percebam, pois a transição do beber socialmente aceito para o problemático

ocorre de forma lenta e pode levar vários anos, dado que o hábito de beber se tornou

“parte da nossa maneira de ser social” (ANDRADE; ESPINHEIRA, 2006).

Segundo Laranjeira e Nicastri, existe uma "relativa dificuldade de dependentes

de substâncias de uso lícito [...] reconhecerem seu estado como uma condição

11Como a adoção de iniciativas com relação ao controle da oferta de tabaco em nosso país, a exemplo da Lei nº 12.546 de 15 de dezembro de 2011 queproíbe o uso de cigarros e similares em ambientes fechados, veda a exibição de propagandas comerciais e define o aumento de cargas tributárias às industrias de cigarro (BRASIL, 2011).

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patológica, merecedora de tratamento, mesmo apresentando sintomas de abstinência e

dificuldades de interromper o seu consumo" (1996, p. 83). Apesar dessa dificuldade, é o

consumo de drogas lícitas, neste caso o álcool e o tabaco que mais têm ocasionado

procura de tratamento nos CAPS AD do Recife.

Esse consumo socialmente aceito ganha reforço do marketing da indústria de

bebidas alcoólicas, o qual responde pela veiculação de propagandas que incentivam o

uso. Conforme análise do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica, da

Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP), anúncios publicitários influenciam de

maneira positiva no consumo de cerveja por adolescentes, pois os expõe a similaridade

entre as propagandas e suas vidas, bem como os fazem crer em sua veracidade.

Nessa pesquisa,

Variáveis ligadas diretamente às propagandas estiveram associadas ao consumo de cerveja nos últimos 30 dias. A crença de que os comerciais de bebidas alcoólicas falam a verdade mostrou associação com o consumo (OR = 2,122; p = 0,000), assim como a percepção de similaridade entre os comerciais e a vida real dos estudantes, definida por “as festas que eu freqüento parecem com as dos comerciais” (OR = 1,712; p = 0,009). Prestar atenção aos comerciais ofereceu risco aumentado de consumo de bebidas (OR = 1,563, p = 0,028), mas a associação mais forte foi observada em ter uma marca preferida de bebida alcoólica (OR = 5,150; p = 0,000) (FARIA et al., 2011, p. 444).

Neste sentido, podemos afirmar que é necessário retomar o debate acerca da

regulamentação/restrição da veiculação de propaganda de bebidas alcoólicas, em

especial, no que tange ao seu conteúdo e horário. O Ministério da Saúde, através da

ANVISA, devem envidar esforços no sentido criar campanhas de conscientização

alternativas às campanhas desenvolvidas pela indústria de bebidas alcoólicas e meios

de comunicação, que atuam no sentido de não sofrerem restrições a seus interesses

econômicos.

Enquanto não forem criadas políticas públicas que responda a essa problemática,

as promoções de medidas educativas surtem pouco efeito. Como revela Faria et al. é

indispensável a diminuição dos efeitos danosos das propagandas na vida das crianças,

dos adolescentes e dos jovens, que são sujeitos em desenvolvimento:

A educação para a mídia visa compreender como as propagandas moldam o entendimento dos jovens sobre seu ambiente. O objetivo é fazer com que o receptor da mensagem – o adolescente – desenvolva uma visão distante e

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crítica, que o capacite a formar julgamentos a tomar decisões próprias. [...] o oferecimento de atividades direcionadas a essas questões pelas escolas poderia abrir espaço para discussão e orientação (2011, p.446).

Nessa perspectiva, torna-se possível identificar que a classificação quanto a

licitude além de alargar a tolerância da sociedade ante as drogas lícitas e, por

consequência, contribuir para ampliação e estímulo ao seu consumo, ainda responde

por uma gama de danos físicos, psíquicos e sociais aos seus usuários, dependentes e

sua respectivas famílias.

Já no universo das drogas ilícitas, particularmente, o crack e a maconha, faz-se

necessário um aprofundamento sobre as representações sociais sobre estas drogas no

cenário atual. Verifica-se que em relação à maconha está havendo uma mudança de

paradigma gradativamente na opinião pública. Mesmo representando 43% dos

dependentes químicos de acordo com os dados do GEAD, a maconha somente

aparece com 2% entre os internautas.

Embora o alarde negativo em torno da droga e o preconceito em relação aos

usuários seja de longa data, a maconha vem ocupando paulatinamente um espaço de

maior aceitação na sociedade. As descobertas de seus inúmeros potenciais

terapêuticos associados ao seu baixo potencial ofensivo de causar dependência

comparada a outras drogas ilícitas, como a cocaína e o crack, e a quase que total

atenção midiática voltada à questão do crack, podem estar levando a uma nova

representação social da maconha mais aceita, menos estigmatizada em nossa

sociedade.

O crack vem nos últimos anos centralizando o debate em torno da questão do

uso abusivo de substâncias psicoativas no país, com grande destaque em todas as

mídias, sobretudo, associado às violências de todas as ordens associadas a essa droga.

Talvez por isto, o crack tenha aparecido entre os internautas como a droga que mais

motiva tratamento nos CAPS Ad do Recife.

No que se refere ao perfil dos usuários de drogas traçado pelos participantes da

pesquisa na internet, o que apareceu foram jovens, entre 19 a 24 anos e de baixa

escolaridade, particularmente, os usuários de crack; enquanto na pesquisa do GEAD o

perfil é de adultos, na faixa etária entre 39 e 59 anos e também de baixa escolaridade,

como demonstra o gráfico 2 e 3.

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Gráfico 2 - Perfil dos usuários de drogas de acordo com os dados do GEAD.

Gráfico 3 - Perfil dos usuários de drogas a partir dos dados da pesquisa no Facebook.

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Como pudemos perceber, em ambas as pesquisas a baixa escolaridade é uma

constante entre os dependentes químicos, o Ensino Fundamental Incompleto

prevaleceu como sendo o nível de escolaridade dos usuários. De acordo com o

Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre Crianças e Adolescentes em

Situação de Rua, atestou-se que "a ausência de vínculo escolar foi um fator que se

apresentou associado ao consumo de drogas em situação de rua [...] em praticamente

todas as capitais pesquisadas" (CEBRID, 2003). Entre os estudantes que estavam

fazendo uso de drogas, 42,1% ainda frequentavam a escola contra 81,7% que nunca

haviam estudado e 83,8% que abandonaram os estudos (Idem).

Especificamente sobre o uso do álcool, de acordo com o V Levantamento

Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino

Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino, 11,7% dos estudantes que

participaram da pesquisa já faziam uso frequente desta droga e 65,2% já haviam

consumido a droga pelo menos uma vez na vida (CEBRID, 2004). Logo percebe-se que

o primeiro contato com o álcool se inicia ainda na fase da adolescência, num período de

formação e consequentemente de grande vulnerabilidade para os jovens, uma vez que

estes ainda estão em estágio de desenvolvimento.

A partir da faixa etária apresentada no gráfico 2, percebemos que existe uma

relação temporal para que o álcool desencadeie uma dependência a ponto dos

indivíduos irem em busca de tratamento. Diferente de drogas como a cocaína e o crack,

segundo dados do GEAD, a procura de tratamento já ocorre em idades mais jovens,

entre 25 e 30 anos, a dependência do álcool, além de tardar para ser compreendida

como uma patologia, também leva tempo para se caracterizar como tal e apresentar os

sintomas necessário para classificá-la12, dado que é

[...] pouco provável de se instalar em adultos-jovens, uma vez que do ponto de vista clínico e psiquiátrico, a pessoa não tem ainda uma história de bebida suficiente longa e/ou distúrbios de personalidade que sirvam de facilitadores

12 Segundo Laranjeira e Nicastri (1996), para que a Síndrome de Dependência do Álcool (SDA) seja identificada é preciso levar em conta sete importantes elementos que descrevem essa síndrome, os quais não necessariamente aparecem em conjunto e de maneira muito clara. São eles: 1. Estreitamento do repertório do beber; 2. Saliência do comportamento de busca do álcool; 3. Aumento da tolerância do álcool; 4. Sintomas repetidos de abstinência; 5. Alívio ou evitação dos sintomas de abstinência pelo beber; 6. Sensação subjetiva de necessidade de beber; e 7. Reinstalação da síndrome após a abstinência.

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para o estabelecimento da síndrome da dependência do álcool (UCHÔA, 2011, p.57).

Em relação ao perfil descrito pelos internautas, supomos quea escolha do crack

deve-se ao rápido poder de debilitação física e psíquica que advém do seu uso,

fazendo com que os olhares se voltem para os seus usuários, tomando para si as

atenções e exacerbando os medos que já existem sobre o universo das drogas ilícitas.

Em uma de suas publicações Nappo explica que em apenas oito segundos o

crack tem o poder de chegar ao cérebro e a partir daí começa a produzir efeitos de

extremo prazer como euforia, ilusão de onipotência e grande autoconfiança, “esse

tempo curto entre a administração e o aparecimento dos efeitos faz do crack uma droga

muito ‘atraente’” (NAPPO, 2004, p.15). No entanto, esses efeitos duram pouco mais de

cinco minutos, mas a

[...] fissura, definida como vontade irresistível de usar a droga, acompanha o usuário por mesmo muito tempo após a parada definitiva do consumo da droga. A intensidade e o rápido início da euforia combinados com a forte compulsão de uso que se desenvolve fazem do crack uma droga com alto potencial de causar dependência (Ibidem, p.16).

Devido aos seus efeitos imediatos, seu alto poder de causar dependência e por

ser uma droga de baixo custo, o crack se expandiu nos últimos dez anos no país nas

classes menos favorecidas, fazendo com que o seu uso fosse relacionado a questões

como baixa condição socioeconômica e de padrão compulsivo de consumo.

O posicionamento do público em relação ao crack, pelo que pudemos observar,

provavelmente sofreu algum tipo de influência das informações diariamente exibidas

sobre o tema, seja pelos detentores dos meios de comunicação e dos gestores públicos.

A exemplo disto podemos citar as informações que transitaram nos jornais impressos

de maior circulação em Pernambuco durante a campanha eleitoral de 2010:

- “O crack é uma enfermidade que está assolando o Brasil e toda a América

Latina” (Eduardo Campos apud Diário de Pernambuco, 2010);

- “O crack mata, é muito barato e está entrando em toda a periferia e nas

pequenas cidades” (Dilma Rousseff apud Diário de Pernambuco, 2010).

Afirmações como estas reafirmam e legitimam uma cultura de pânico e

enfretamento através de repressão violenta a uma suposta epidemia de crack.

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A partir das análises do perfil estabelecido na pesquisa feita no Facebook e do

real perfil dos usuários do CAPs AD do Recife, apresentado pela pesquisa do GEAD,

entendemos que a capacidade degradante do álcool e seu potencial de causar

dependência foram questões pouco compreendidas na amostra de indivíduos que

responderam nossa pesquisa.

Tudo o que abordamos na presente avaliação incita-nos a presumir que o

controle midiático, a naturalização de um uso exagerado de drogas lícitas e a

construção de representações sociais em relação aos usuários de drogas ilícitas

banalizam os efeitos nocivos do álcool, dificultando a compreensão dessa substância

como causadora de dependência, ao mesmo tempo que cria um pânico em torno do

crack, que ao estigmatizar seus usuários, ocasiona no afastamento desses das políticas

públicas de assistência social e saúde.

Logo, essa distorção na interpretação da problemática obstaculiza a promoção

de respostas efetivas às reais demandas de usuários de substâncias psicoativas, uma

vez que interfere no acesso desses às políticas públicas, especificamente a rede de

Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas. Pois como pudemos perceber

há uma diversidade de visões e paradigmas na discussão sobre drogas, as quais são

capazes de promover tanto avanços, quanto retrocessos na construção, implementação

e articulação de políticas públicas envolvidas no processo de garantia de direitos

desses usuários.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de drogas, embora seja histórico e inerente à sociabilidade humana, nem

sempre repercute da forma desejada no cotidiano dos indivíduos. Uma vez mal

administrado, o consumo das substâncias que descrevemos pode levar à dependência

química, a qual não decorre apenas do ato de usar drogas, mas também de fatores

externos a este indivíduo, como as condições sociais, o nível de instrução e a cultura.

Com o intuito de solucionar essa problemática, legislações foram e continuam

sendo criadas pelo poder público, porém, ainda não são capazes de solver essas

questões como um todo, visto que ainda conservam um caráter moralista ao considerar

crime o uso de determinadas substâncias.

Uma vez que o uso de algumas drogas é proibido perante a lei, o indivíduo que

as consome passa a ser considerado um criminoso por ter infringido a legislação e,

consequentemente, passa a ser tachado pela sociedade. O estigma em torno dos

usuários de drogas ilícitas, não resulta apenas do cunho ilegal da droga, mas também

em razão do moralismo da sociedade que muitas vezes enxerga os dependentes

químicos não como indivíduos que necessitam de tratamento devido a uma patologia,

mas sim em virtude do seu caráter.

Diante da visão intolerante da sociedade quanto aos dependentes de drogas, em

especial os de drogas ilícitas, representações sociais começam a tomar forma e a

ganhar naturalidade. Sofrendo forte influência da mídia, essas representações

desempenham um importante papel na formação de opiniões e rótulos, que de tanto

serem reproduzidos no nosso cotidiano, passam a edificar o senso comum.

Através da pesquisa realizada na rede social Facebook, pudemos perceber que

há uma dissonância entre o que uma amostra de indivíduos pensa e o que de fato

ocorre no tocante ao uso de drogas. Levantando questões como qual droga mais leva

usuários a buscar tratamento e a faixa etária destes, pudemos concluir que a

problemática do crack nas grandes capitais brasileiras e a centralização da mídia nesta

droga em especial, exercem profunda influência na formulação de opiniões.

Depreendido como causador de inúmeros males sociais como a violência,

rompimento de laços familiares, evasão escolar e desigualdade social, o uso abusivo de

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drogas, como o crack, ainda é percebido como o motor para esses problemas. Contudo

o que nós percebemos é que tal uso não pode ser tachado como a causa dessas

mazelas, mas sim como fruto das expressões da questão social que se reproduzem

cotidianamente dentro da sociedade capitalista.

Perante esse cenário, onde o crack rouba a cena, drogas legais, porém nocivas,

como o álcool e o tabaco, ficam esquecidos pela população. A permissividade dada a

essas drogas e a indústria propagandista cada dia mais estratégica do álcool ofuscam a

visibilidade dessas substâncias como drogas que também levam à dependência. Desta

forma, o consumo do álcool e do tabaco é realizado de maneira abusiva, tornando as

duas drogas como as mais danosas à saúde e à sociedade e as que mais levam seus

usuários à tratamento especializado.

Para além da percepção indevida sobre os danos causados pelas drogas legais

e ilegais, pudemos também perceber através das comparações que realizamos entre a

pesquisa do Facebook e a do GEAD que o debate em torno do uso abusivo de drogas

ainda apresenta concepções moralistas e guiadas pela mídia. Com um direcionamento

tendencioso, é a indústria midiática quem determina quais serão os conteúdos, o modo

e a relevância que o tema drogas desempenhará na cena pública. Os meios de comunicação de massa são as ferramentas da mídia que

respondem pela propagação de representações sociais envoltas por tendências que

estigmatizam, criminalizam e marginalizam a população que faz uso de substâncias

que não são socialmente aceitas. E é esse mesmo grupo que legitima, naturaliza e

incentiva o uso de substâncias com alto potencial de virulência visando apenas os

interesses individuais, que na maioria das vezes, estão entrelaçados a lógica capitalista

de produção e lucratividade.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE, M. A. O saber popular e sua influência na construção das representações sociais. Comum 15. Rio de Janeiro, v.5, n. 15, p. 161-171, ago/dez 2000. ANDRADE, T. M. ; ESPINHEIRA, C. G. D. G. A presença de bebidas alcoólicas e outras substâncias na cultura Brasileira. Disponível em: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Veja_tambem/326817.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2013. ANTUNES, G. M. Crack, mídia e periferia: uma representação social das classes perigosas. Disponível em: <http://www.urbalpernambuco.org/adm/public/files/biblioteca/Artigo-Gilson-Antunes_Crack-midia-e-periferia_--20110511160022.pdf>. Acesso em 13 fev. 2013. AS TRANSFORMAÇÕES das politicas públicas brasileiras sobre álcool e outras drogas. Revista Diálogos – Psicologia. Brasília, v. 6, p. 11- 13, nov. 2009. BOMENY, H. M. B. Três decretos e um ministério: a propósito da educação no Estado Novo. In: PANDOLFI, D. (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. BRASIL. Lei Federal nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2006. _______. Lei nº 11.754, de 23 de julho de 2008, Acresce, altera e revoga dispositivos da Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, cria a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, cria cargos em comissão; revoga dispositivos das Leis no 10.869, de 13 de maio de 2004, e 11.204, de 5 de dezembro de 2005; e dá outras providências. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2008. _______. Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Institui o Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra); dispõe sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à indústria

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automotiva; altera a incidência das contribuições previdenciárias devidas pelas empresas que menciona; altera as Leis no 11.774, de 17 de setembro de 2008, no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, no 11.196, de 21 de novembro de 2005, no 10.865, de 30 de abril de 2004, no 11.508, de 20 de julho de 2007, no 7.291, de 19 de dezembro de 1984, no 11.491, de 20 de junho de 2007, no 9.782, de 26 de janeiro de 1999, e no 9.294, de 15 de julho de 1996, e a Medida Provisória no 2.199-14, de 24 de agosto de 2001; revoga o art. 1o da Lei no 11.529, de 22 de outubro de 2007, e o art. 6o do Decreto-Lei no 1.593, de 21 de dezembro de 1977, nos termos que especifica; e dá outras providências. Brasília. Distrito Federal, 2011. _______.Resolução Nº3/GSIPR/CH/CONAD, de 27 de outubro de 2005.Aprova a Política Nacional Sobre Drogas. Brasília: Conselho Nacional Antidrogas, 2005. BRIVIO, G. Representações Sociais: dimensão estruturada e estruturante dos processos de comunicação. Revista Espaço Acadêmico. Salvador. v. 10, n. 116, p. 108-155, jan. 2011. BUCHER. R. O consumo de drogas: evoluções e respostas recentes. Psicologia: teoria e pesquisa. Brasília. v. 2, n. 2. p. 132-144, mai./ago. 1986. CAMPOS, C. L. O. Mídia, discurso e referenciação: a construção do objeto discursivo guerra no Iraque. [Dissertação de Mestradro] Universidade Federal de São João del-Rei. São João del-Rei, 2006. CARNEIRO, H. As necessidades humanas e o proibicionismo das drogas no século XX. Revista Outubro. São Paulo. v. 6, n. 6, p.115-128, out. 2002. _______. Drogas: muito além da hipocrisia. Outras Palavras, São Paulo, 25 maio 2011. CEBRID. Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua nas 27 Capitais Brasileiras, Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, 2003. _______. V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino, Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, 2004.

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ANEXO ANEXO A – Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas (GEAD), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) intitulada “Entre pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de consumo e impacto social do uso do crack”.

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APÊNDICE APÊNDICE A - Pesquisa realizada a partir da rede social Facebook