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Dra Glria pelo que como pessoa e pelo sabe ser como orientadora

INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA

MESTRADO EM PSICOLOGIA EDUCACIONAL

emprego apoiado e satisfao

A perspectiva de pessoas integradas em mercado competitivo de trabalho

Dissertao Elaborada por:Maria Manuel Genelioux

Orientadora:Professora Doutora Glria Ramalho

Lisboa 2002

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer queles que me vm acompanhando na vida e, como tal, na realizao deste trabalho. Ao Jochen pela serenidade e segurana que foi capaz de trazer no passar dos dias da vida que vamos partilhando.Aos meus pais que em tudo tm sabido estar sempre ao meu lado.Para o meu filho....

Contudo sem a colaborao de muitos outros, amigos, colegas de trabalho, parceiros de aprendizagens, que me levaram a descobrir novos caminhos e reflectir sobre outros, este trabalho no teria sido possvel.

Assim, um agradecimento muito especial

Ao Jlio que esteve ao meu lado, com infinita pacincia e sempre com uma palavra de apoio e incentivo, pela forma como se tornou indispensvel na realizao deste trabalho;

mas tambm Isabel, ao Pedro, Lena, Lina, ao Paulo, Teresae a outros que me tm acompanhado e se tem tornados significativos no meu percurso pessoal e profissional

RUMO, pelo que significa o trabalho que realiza,pelos valores que defende,pelo que significaram as pessoas que l conheci e que colaboraram no decorrer deste trabalho,Em particular o Augusto e a Isabel,o grupo de pessoas envolvidas na recolha de dados, mas, em especial, a todos os que amavelmente responderam ao questionrio.

Por ltimo, mas no em ltimo, Professora Doutora Glria Ramalhopelo que como pessoa, pela disponibilidade,pelo profissionalismo que pe em tudo o que vi fazer,que viabilizou a realizao deste trabalho.

Muito obrigadoMaria Manuel

RESUMO

Neste estudo pretendeu-se analisar os resultados de um programa de emprego apoiado, desenvolvido em Portugal, partindo da perspectiva de pessoas com deficincia. Para tal, foram analisados os nveis de satisfao com o trabalho, com o servio que recebem e com o nvel de envolvimento que percepcionam nas decises tomadas no que respeita ao seu enquadramento profissional. Foi utilizado um Questionrio de Satisfao desenvolvido por Wendy Parent no mbito do trabalho que realizou no Rehabilitation Research & Training Center da Universidade de Virgnia e que adaptmos para a realidade portuguesa. Este questionrio foi administrado a uma amostra composta por 84 sujeitos com diferentes tipos de deficincia, com idades compreendidas entre os 17 e os 36 anos, atravs de entrevistas individuais. Os resultados indicam que a maioria dos sujeitos gosta do seu trabalho, sente-se satisfeita com o servio e programa de emprego apoiado em que esto inseridos e voltaria a usar este servio se pretendesse mudar de emprego. Os resultados sugerem, igualmente, a necessidade de aumentar o envolvimento das pessoas em percurso de incluso em todas as fases de desenvolvimento do modelo de emprego apoiado. So, ainda, abordadas algumas estratgias para assegurar uma maior participao e satisfao das pessoas envolvidas em programas de emprego apoiado, bem como formas para responder s suas necessidades.

6PREFCIO

Em 2000 havamos definido Emprego Apoiado Supported Employment como emprego em mercado aberto de trabalho, com o apoio necessrio e adequado a cada indivduo.O movimento de Emprego Apoiado surgiu nos Estados Unidos da Amrica nos primeiros anos da dcada de 80.O envolvimento de Portugal neste movimento deu-se h alguns anos, atravs do Programa Integrado de Formao Profissional e Emprego para Jovens com Deficincia, um programa promovido pelo Instituto de Emprego e Formao Profissional (IEFP), atravs da Direco de Servios de Reabilitao, com incidncia em trs regies do Pas: zona Oeste (Prooeste), Setbal (Proiset) e Norte (Promindo).O Programa Integrado constitua-se como uma Actividade Modelo Local (AML) do Programa Helios I Sector de Integrao Econmica. Era considerado portanto como uma experincia inovadora com contributos a dar insero social e profissional de pessoas com deficincia, ao nvel europeu.Em Janeiro de 1991 tivemos a oportunidade de, coordenando uma delegao do Proiset, participar num Seminrio Europeu do Programa Helios em Belfast.Esta delegao integrou entre outros, tcnicos de emprego de Centros de Emprego da Pennsula de Setbal.Durante esse Seminrio tivemos oportunidade de relatar os primeiros passos e a perspectiva de formao profissional e emprego para o pblico alvo referenciado acima, que estvamos desenvolvendo atravs da Cooperativa Rumo e do Proiset.Particularmente acentumos as experincias de formao profissional em empresa, quando naquele tempo as experincias vigentes na generalidade dos pases, incluindo Portugal, se situavam num modelo de formao em centros de formao / reabilitao, com pouco ou nenhum contacto com o meio empresarial.Chisty Lynch, de St Michaels House, Dublin, Irlanda, foi tambm convidado para o Seminrio, tal como Michael Kamp, dos Pases Baixos e Patrick Lynch, de APT, Tullamore, Irlanda.Nesse Seminrio percebemos todos como estvamos prximos na forma de entender e trabalhar para a incluso profissional e social das pessoas com deficincia.Inicimos a discusso preliminar acerca da importncia de promover um novo projecto transnacional com o objectivo de desenvolver um modelo de formao em empresa.Algumas semanas mais tarde Christy Lynch, promotor do projecto OPEN ROAD (considerado como o primeiro projecto de emprego apoiado na Europa), atravs de St Michaels House, Dublin, veio a Portugal para visitar o Programa Integrado e teve tambm oportunidade de se encontrar com a Direco de Servios de Reabilitao do IEFP.Em Maro de 1991, voltmos a Dublin com o acordo da Direco de Servios de Reabilitao para uma reunio com Christy Lynch, Michael Kamp, Patrick Lynch, Joe Carlton (da Training and Employment Agency Irlanda do Norte) e alguns outros colegas.Iniciou-se nessa altura o desenho do PROJECTO AGORA, um projecto que efectivamente arrancou em Maro de 1992, no mbito do Programa Horizon, com o objectivo de desenvolver um modelo de formao profissional em empresa para pessoas em situao de desvantagem.Por iniciativa da parceria que estava desenvolvendo o projecto AGORA uma delegao de tcnicos europeus deste projecto visitou projectos de Supported Employment nos EUA em Outubro de 1992, tais como People First e The Employment Network Center on Human Development (Oregon University, Eugene), City Education and Employment Services (Los Angeles) e Rehabilitation Research and Training Center, Virginia Commonwealth University, Richmond, Virgnia.Tivemos a oportunidade de participar no mbito desta mesma visita no Symposium Building Partnerships That Lead to Supported Employment (7 conferncia anual de emprego apoiado nos EUA), nos dias 14 a 16 de Outubro de 1992.E foi durante esta visita que o Projecto Agora decidiu dar origem EUSE - European Union of Supported Employment , uma ONG europeia que representa o movimento de emprego apoiado em mercado aberto na Europa, com ligaes em diferentes pases (20 pases na Europa), Estados Unidos, Japo, Austrlia, frica do Sul, e alguns outros.A EUSE iniciou actividade em 1993, tendo promovido at ao momento seis conferncias europeias de emprego apoiado e desencadeado muitos projectos.Entretanto, uma outra ligao de Portugal ao movimento de Emprego Apoiado tinha vindo a estabelecer-se, atravs do Dr. Jos Ornelas e da Associao para o Estudo e Integrao Psicossocial (AEIPS), particularmente a partir da Universidade de Boston, EUA.Em 1993, promovida pela AEIPS, com a colaborao da RUMO, realizou-se a primeira Conferncia de Emprego Apoiado em Portugal, na FIL, Junqueira, com a participao de inmeras representaes de diversos pases europeus e dos EUA.Foram-se iniciando outros projectos com ligao ao movimento internacional de emprego apoiado, de que destacamos:Projecto SMEA (1992-1994 - Horizon) construo de um modelo de acompanhamento ps-contratao;Projecto Youthin (1995-1997 - Youthstart) promoo da transio de jovens com necessidades educativas especiais de escolas regulares da Pennsula de Setbal, para a insero social e profissional;Projecto ProAct (1998 1999 Youthstart) - promoo da transio de jovens com necessidades educativas especiais de escolas regulares para a insero social e profissional;Projecto Collabora/Networks (1 fase - 1995-1997 e 2 fase 1998-2001 - Horizon) promoo do desenvolvimento de redes sociais de colaborao entre empresrios, organizaes representantes de pessoas com deficincia, organizaes de reabilitao, Centros de Emprego e desenvolvimento de Diploma em Emprego Apoiado, com o objectivo de promover a formao de tcnicos em emprego apoiado.

Os projectos SMEA, Youthin e Networks foram promovidos pela RUMO.O projecto ProAct teve dimenso nacional. Foi promovido pelo Departamento de Educao Bsica do Ministrio da Educao com a colaborao das cinco Direces Regionais de Educao do Continente.Em 2001, a Rumo, a Associao Cultural Moinho da Juventude, Associao para o Estudo e Integrao Social, Associao de Mulheres contra a Violncia e Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, em colaborao com outras entidades como a AIP, AERLIS, Cmaras Municipais e constituindo uma Parceria de Desenvolvimento (PD), iniciaram a preparao de um projecto, no mbito da Iniciativa Comunitria EQUAL.A misso deste projecto que foi designado EMPREGO APOIADO a generalizao do modelo de Emprego Apoiado, incrementando o acesso ao mercado aberto de trabalho de pessoas em situao de desvantagemEste projecto um passo decisivo para a afirmao do movimento de emprego apoiado em Portugal, tendo j promovido a fundao da Associao Portuguesa de Emprego Apoiado APEA, em Maro de 2004, que o congrega e representa, com uma relao privilegiada com a European Union of Supported Emplyment e todo o movimento internacional de Emprego Apoiado.As breves notas para a compreenso do movimento de emprego apoiado em Portugal, que acima se registam, so fruto da persistncia da Mestre Maria Manuel Genelioux.Conheci a Maria Manuel atravs da colaborao que prestou no projecto Networks para a estabilizao do Diploma em Emprego Apoiado e na promoo da transio de jovens estudantes do Concelho de Loures para a vida activa / adulta, em parceria com a Direco Regional de Educao de Lisboa.A Maria Manuel tem insistido que a afirmao do movimento de emprego apoiado se realiza com bons projectos no terreno, mas tambm com investigao e com registo das pequenas e grandes histrias.A pesquisa sobre satisfao de pessoas empregadas atravs do emprego apoiado, que a Maria Manuel realizou, que agora se publica, um estudo pioneiro em Portugal.Para alm da riqueza da investigao, dos resultados que explicita, em conformidade com estudos equivalentes de Wendy Parent, nos EUA, vem contribuir para o incio do estudo do emprego apoiado em Portugal., por isso, um marco no movimento de emprego apoiado em Portugal e como tal deve ser considerado.Outros estudos foram entretanto surgindo, com particular relevncia para as contribuies do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e Centro de Investigao e Estudos Sociais (CIES) do ISCTE.Obrigado, Maria Manuel.

Augusto SousaCoordenador tcnico da Rumo e do projecto Emprego Apoiado (Iniciativa Comunitria EQUAL)Membro fundador da European Union of Supported Employment e Associao Portuguesa de Emprego ApoiadoNDICE TERICO

PARTE I INTRODUO

PARTE II ENQUADRAMENTO TERICOCaptulo1. DA EXCLUSO INCLUSO: O CAMINHO PERCORRIDOViso Breve e Geral da Evoluo das Concepes, Atitudes e Atendimento face s Pessoas com Deficincia

Evoluo Histrica. A Evoluo em Portugal. Evoluo dos Conceitos

Captulo 2. SUPPORTED EMPLOYMENT EMPREGO APOIADO: UM NOVO OLHAR...O Modelo do Supported Employment

2.Emergncia, Crescimento e Impacto do Modelo de Supported Employment2.1. Nos Estados Unidos2.2. Na Europa3.Caractersticas do Modelo de Supported Employment3.1. Supported Employment: Em que consiste?3.2. Supported Employment: Que metodologias prope?3.3. Supported Employment: Que resultados?3.4. Supported Employment: Que perspectivas para o futuro?Captulo 3. SATISFAO NO TRABALHO: IMPLICAES AO NVEL DO MODELO DE EMPREGO APOIADOSatisfao no Trabalho: Implicaes ao nvel do Modelo de Emprego ApoiadoConceito de satisfao no trabalhoSatisfao no trabalhoSatisfao no trabalho: Pessoas com Deficincia

Salrios e Satisfao no TrabalhoCaractersticas das Tarefas e Satisfao no TrabalhoAmbiente de Trabalho e SatisfaoSatisfao no trabalho e Qualidade de Vida

PARTE III OBJECTIVOS DO ESTUDO E QUESTES DE INVESTIGAO

PARTE IV METODOLOGIASUJEITOS

PopulaoAmostraPROCEDIMENTO

INSTRUMENTOS

Employee Satisfaction Survey (ESS)Construo e Desenvolvimento do ESSAdaptao do ESS para a Lngua PortuguesaCaracterizao do InstrumentoCotao do InstrumentoQuestes sobre Atribuio CausalANLISE DE DADOS

PARTE V RESULTADOSCARACTERIZAO DA AMOSTRA

CARACTERIZAO DO INSTRUMENTO: RESULTADOS PARA A POPULAO PORTUGUESA

Qualidades MtricasSensibilidadeFiabilidadeANLISE DE RESULTADOS

Questionrio de Satisfao Perguntas FechadasAnlise DescritivaAnlise CorrelacionalAnlise ComparativaQuestes sobre Atribuio causalAnlise DescritivaAnlise de VarinciaQuestionrio de Satisfao Perguntas AbertasAnlise Descritiva das Respostas s Perguntas AbertasSntese Reflexiva da Anlise das Respostas s Perguntas AbertasQuestionrio de Satisfao Sntese das Perguntas Abertas Perguntas Fechadas

PARTE VI Discusso

PARTE VII CONCLUSO

PARTE VIII BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

NDICE DE QUADROS, GRFICOS E TABELAS

Quadro 1 Crescimento e emergncia do Emprego Apoiado (Supported Employment)

Figura 1 Metodologias do modelo de emprego apoiado

Grfico 1 - Distribuio dos sujeitos relativamente ao sexoGrfico 2 Distribuio dos sujeitos relativamente idadeGrfico 3 Distribuio dos sujeitos relativamente ao tipo de deficinciaGrfico 4 - Distribuio dos sujeitos relativamente situao profissionalGrfico 5 - Distribuio dos sujeitos relativamente ao tempo de trabalhoGrfico 6 - Distribuio dos sujeitos relativamente ao horrio de trabalho semanal

Grfico 7 - Distribuio dos sujeitos relativamente ao sector de actividadeGrfico 8 - Distribuio dos sujeitos relativamente actividade profissional

Grfico 9 - Distribuio dos sujeitos relativamente sua situao anterior

Tabela 1 - Mdias e desvios-padro por perguntas Escala - Satisfao no Trabalho

Tabela 2 - Distribuio dos scores obtidos na Escala de Satisfao no Trabalho

Tabela 3 Valores dos nveis de satisfao na escala e subescalasTabela 4 - Mdias e desvios-padro por pergunta Escala - Possibilidade de Escolha do Utente

Tabela 5 - Distribuio dos scores obtidos na Escala de Possibilidade de Escolha

Tabela 6 - Mdias e desvios-padro por pergunta Escala - Satisfao com o Servio de Apoio

Tabela 7 - Distribuio dos scores obtidos na Escala de Satisfao com o Servio de Apoio

Tabela 8 - Distribuio dos scores obtidos na totalidade dos itens do questionrio

Tabela 9 Coeficientes de correlao de Pearson da escala e subescalas

Tabela 10 Coeficientes de correlao de Pearson entre escalas, suficincia e quantidade de dinheiro

Tabela 11 Coeficientes de correlao de Pearson entre escalas, situao profissional e tempo de trabalho

Tabela 12 Coeficientes de correlao de Pearson entre escalas e idade

Tabela 13 Mdias e Desvios-padro dos grupos formados em funo do sexo

Tabela 14 Mdias e Desvios-padro dos grupos formados em funo da situao profissional

Tabela 15 Mdias e Desvios-padro dos grupos formados em funo do tempo de trabalhoTabela 16 Mdias e Desvios-padro dos grupos formados em funo da idadeTabela 17 Mdias e percentagens Questo 1Tabela 18 Mdias e percentagens Questo 2Tabela 19 - Grelha comparativa das respostas s questes 4, 5, 38a, 38bTabela 20 - Grelha comparativa das respostas s questes 59 c e 59 aTabela 21 - Grelha das respostas questo 52Tabela 22 - Grelha comparativa das respostas s questes 39 e 40cTabela 23 - Grelha comparativa das respostas s questes 12 e 13Tabela 24 - Grelha comparativa das respostas s questes 45 e 46

I INTRODUO

1.I - Introduo

14

1. INTRODUO: PROBLEMTICAS E QUESTES ORIENTADORAS

Historicamente as pessoas com deficincia nunca chegavam a ter a possibilidade de desenvolverem a vertente profissional no seu percurso de vida. Quando chegava o tempo de sarem da escola, eram, habitualmente, mandadas para uma Instituio onde desenvolviam algumas actividades parecidas com aquelas com que os outros cidados se tornavam seres integrantes de uma sociedade e, desta forma, social e economicamente produtivos. Durante as ltimas dcadas, muitos pases desenvolveram tendncias que conduziram a um maior reconhecimento dos direitos do homem, entre os quais os das pessoas com deficincias. Este reconhecimento resultou na preconizao de uma srie de medidas tendentes a promover a insero na sociedade dos indivduos com deficincia. A partir da, constituiu-se um movimento internacional para a integrao a vrios nveis - social, escolar e profissional.Assim, semelhana do que aconteceu noutros pases da Europa e nos Estados Unidos, tem-se assistido em Portugal a uma mudana na forma como se desenvolve o processo de incluso, educativa, social e profissional de pessoas com deficincia. Na dcada de 80 comemos a assistir, no nosso pas, a uma modificao progressiva do panorama da integrao escolar e educativa de alunos com problemas de aprendizagem e/ou com deficincia. Actualmente, e aps a publicao do Dec.-Lei 319/91, Portugal encontra-se numa linha de pases, cuja legislao preconiza a integrao escolar para todas as crianas com necessidades educativas especiais. As crianas com deficincia frequentam actualmente as escolas regulares e longe vai o tempo em esse acesso lhes estava vedado. Mais recentemente, a publicao do Despacho 105/97 abriu novas perspectivas para a criao de uma escola inclusiva a que todos os alunos tm acesso, independentemente da problemtica que apresentem. Contudo, em termos profissionais, a incluso continua a mostrar-se problemtica, constatando-se que uma larga maioria das pessoas com deficincia no tem, ainda, acesso ao mercado competitivo de trabalho e que muitas Instituies que prestam servios na rea da reabilitao profissional ainda concebem o percurso profissional de pessoas com deficincia em contextos segregados, tanto ao nvel do despiste vocacional como ao nvel da formao profissional, sendo a colocao em contexto real de trabalho algo que se atinge muito raramente.No entanto, promover a normalizao das experincias profissionais e integrao scio-profissional de indivduos com deficincia tem vindo a ser um aspecto cada vez mais enfatizado, quer em termos da defesa dos direitos de cidadania, quer em termos do trabalho realizado internacionalmente nesta rea.O modelo de supported employment (emprego apoiado) tem mostrado ser um modelo com grande potencial na reabilitao profissional de pessoas com deficincia. O emprego apoiado constitui uma alternativa aos servios de reabilitao tradicionais para adultos com deficincias profundas. Este mtodo foi definido no Developmental Disabilities Act Amendments, de 1987, nos Estados Unidos, como uma forma de trabalho competitivo em contextos regulares destinado a pessoas com deficincias que nunca tenham trabalhado neste tipo de condies ou que apenas o tenham feito de forma irregular ou intermitente e que necessitem de apoio continuado no exerccio de uma actividade profissional (Moseley, 1988). De acordo com Parent, Kregel e Johnson (1996) o emprego apoiado tem sido o veculo atravs do qual pessoas com deficincia tm demonstrado a sua capacidade para desempenhar e manter um emprego com significado, ou seja, em mercado aberto de trabalho. Atravs da implementao de programas de emprego apoiado tem sido possvel que pessoas com deficincia tenham oportunidade de aceder a opes de emprego que tradicionalmente lhes estariam vedadas. Atravs do modelo de emprego apoiado pessoas com deficincia tm tido a oportunidade de ocupar locais de trabalho em contexto real, trabalhando ao lado de pessoas sem deficincia, recebendo ordenado, pois tiveram acesso a um apoio continuado que os ajudou a ter sucesso no seu trabalho e, assim, manter o seu emprego. O crescimento e impacto deste modelo tem sido elevado na ltima dcada. Em menos de uma dcada o nmero de pessoas abrangidas por programas de emprego apoiado nos Estados Unidos cresceu de 9 800 para 140 000 (Wehman, Revell, & Kregel, 1996, cit. p. Wehman & Bricout, 2001). Numerosos estudos tm documentado o sucesso do modelo de emprego apoiado na viabilizao do acesso ao mercado competitivo de trabalho de pessoas com deficincia. Trabalho esse com um horrio normal, com um salrio justo e com as mesmas regalias dos trabalhadores no deficientes (entre outros, Krause & MacEachron, 1982; Sowers, Thompson & Connis, 1979; Wehman, 1986; Wehman & Kregel, 1985, cit. p. Moseley, 1988); (Revell, Wehman, Kregel, West, & Rayfield, 1994, Rusch, 1990, cit. p. Parent, Kregel & Johnson, 1996). Outras linhas de investigao desenvolvidas, tm-se centrado na anlise de estratgias de formao destinadas ao desenvolvimento de aptides especficas (Boles, Bellamy, Horner & Mank, 1984; Brown et al., 1986; Rusch, Weithers, Menchetti & Schutz, 1980; Schutz, Jostes, Rusch & Lamson, 1980; Wacker & Berg, 1986, cit. p. Moseley, 1988) e em questes como estratgias de criao de emprego, coordenao de recursos e formao de estruturas administrativas de apoio (Hill et al., 1985; Revell, Wehman & Arnold, 1985, cit. p. Moseley, 1988). Os estudos realizados sobre emprego apoiado tm focado a sua ateno, como j foi referido, principalmente na anlise da eficcia de estratgias de formao e no desenvolvimento de estruturas administrativas e sistemas de financiamento. Contudo, para que seja possvel apoiar as pessoas com deficincia a atingir cada vez mais sucesso e satisfao na sua integrao profissional, ser importante que a sua opinio seja igualmente estudada. Embora tenha sido desenvolvida alguma pesquisa ao nvel do salrio e significado do trabalho (Bellamy et al., 1984; Brown et al., 1984, cit. p. Moseley, 1988), a literatura sobre emprego apoiado tem focado principalmente a transio dos trabalhadores com deficincias profundas de contextos de reabilitao segregados para locais de trabalho integrados e inseridos na comunidade. Pouca ateno tem sido dispensada aos aspectos do emprego que possam ter um efeito significativo ao nvel da satisfao profissional destes trabalhadores (Moseley, 1988).Este trabalho pretende analisar as opinies dos trabalhadores inseridos num programa de emprego apoiado, promovido por uma Instituio, a RUMO, cujo objectivo a incluso educativa e scio-profissional de pessoas em situao de desfavorecimento. A RUMO uma Instituio ligada actividade formativa que apoia o processo de transio para o mundo do trabalho, visando a incluso em mercado normal de trabalho de pessoas deficientes ou pertencentes a outros grupos desfavorecidos. No pretende tratar-se de um estudo exaustivo que equacione um conjunto variado de questes sobre a reabilitao em geral e, particularmente, sobre a implementao de programas de emprego apoiado em Portugal. A opo de formar a amostra a partir da populao abrangida pela RUMO, baseou-se no facto de esta instituio ter sido uma das protagonistas da implementao de programas de emprego apoiado em Portugal. Considerando que muito embora se enfatize cada vez mais, que o sucesso dos programas de emprego apoiado depende em grande parte do envolvimento objectivo dos utentes na tomada de deciso relativamente s escolhas feitas, os programas desenvolvidos tm muitas vezes negligenciado o contributo dessas pessoas ao avaliarem em que medida e quo efectivamente esto a satisfazer as suas necessidades. Paralelamente, os instrumentos desenvolvidos para avaliar o nvel de satisfao no se encontram adaptados para pessoas com deficincia, no sendo assim uma opo vivel e significativa para recolher a opinio das pessoas que participam nos programas de emprego apoiado (Parent, Kregel & Johnson, 1996). Neste estudo foi utilizado um instrumento desenvolvido para pessoas com deficincia, tendo este sido adaptado realidade portuguesa. No presente estudo pretende-se analisar e descrever quais os factores do trabalho que originam satisfao partindo do que dizem as pessoas integradas em mercado competitivo de trabalho atravs de um programa de emprego apoiado. Ouvir e conhecer o que dizem, tentar perceber o que sentem e pensam sobre a sua situao profissional, o que gostam e no gostam no trabalho e na forma como os colegas e chefes falam com eles, o que representa para eles o salrio que recebem, se esto satisfeitos com o tipo de trabalho que tm ou se preferiam ter um outro tipo de trabalho, se sentem que foram ouvidos e que tiveram um papel activo no processo de colocao em posto de trabalho, se consideram til o trabalho do tcnico que os tem acompanhado e, por fim, se se sentem felizes com o programa de emprego apoiado, so algumas das questes que orientaram este estudo.Pretendemos, em ltima anlise, avaliar a eficcia do modelo de emprego apoiado percepcionada pelas pessoas com deficincia integradas em mercado competitivo de trabalho, partindo da sua perspectiva e do nvel de satisfao que expressam, tentando perceber:-o que pensam sobre o vencimento e regalias que tm no seu trabalho.-como consideram a forma como se relacionam com as chefias e com os colegas de trabalho.-se esto satisfeitas com as condies de trabalho que tm e com o trabalho em si.-como percepcionam o seu envolvimento no processo de tomada de deciso ao longo do processo de incluso em mercado competitivo de trabalho.-o que sentem relativamente ao papel que o tcnico de incluso/acompanhamento tem desempenhado no seu processo de incluso profissional.-como se sentem relativamente ao programa de emprego apoiado em que esto inseridos.Para tal foi passado, atravs de entrevistas individuais, um questionrio de satisfao desenvolvido para este tipo de populao, ao qual se juntaram duas questes referentes ao estilo atribucional a uma amostra composta por 84 sujeitos em situao de desfavorecimento (com deficincia), que se encontram includos em mercado competitivo de trabalho inseridos num programa de emprego apoiado. Este trabalho desenvolvido em sete captulos:-No primeiro captulo apresentada a problemtica e objectivos do nosso estudo, sendo feitas algumas referncias breves a questes relacionadas com o modelo de emprego apoiado e dos estudos feitos nesta rea. -No segundo captulo feito o enquadramento terico das problemticas relacionadas com o estudo. Este subdivide-se em trs partes. Na primeira percorreremos, de forma breve, a histria da educao especial e da incluso profissional, tentando equacionar os conceitos actuais do tema.Na segunda abordaremos a filosofia do movimento de emprego apoiado, a sua evoluo e implementao nos Estados Unidos e na Europa, bem como os princpios a partir do qual se desenvolveu, a metodologia que utiliza e os resultados que atinge. Na terceira sero abordados aspectos relacionados com a satisfao no trabalho, equacionando-se alguns modelos tericos de satisfao existentes na literatura sobre pessoas no deficientes e analisando as suas implicaes no desenvolvimento de programas de emprego apoiado, nomeadamente a satisfao no trabalho, o salrio, as caractersticas das tarefas e a influncia do ambiente de trabalho ao nvel do comportamento dos trabalhadores.

-No terceiro captulo so equacionadas as questes de investigao que conduziram o nosso estudo e orientaram as opes metodolgicas efectuadas.

-No quarto captulo so apresentadas as opes metodolgicas que fizemos e a sua fundamentao em termos do procedimento utilizado, da amostra que seleccionmos, dos instrumentos de recolha de dados por que optmos e da forma como sero tratados os resultados.

-O captulo cinco dedicado apresentao dos resultados sendo abordada a forma como estes foram tratados em termos quantitativos e qualitativos e interpretados os resultados que obtivemos no tratamento que utilizmos.

-No captulo seis so discutidos os resultados que obtivemos, tentando analis-los em funo de outros trabalhos realizados e equacion-los teoricamente com base no conhecimento existente nesta matria.

-Por fim, no stimo captulo so apresentadas as concluses e implicaes do nosso estudo.

II ENQUADRAMENTOTERICO

II Enquadramento Terico 80

1DA EXCLUSO INCLUSO:O CAMINHO PERCORRIDO

II Enquadramento Terico

1. Da Excluso Incluso: o Caminho Percorrido

1. - VISO BREVE E GERAL DA EVOLUO DAS CONCEPES, ATITUDES E ATENDIMENTO FACE S PESSOAS COM DEFICINCIA

If you think you are handicapped you might as well stay indoors.If you think you are a person, come out and tell the world.Raymond Loomis( Ward & Keith, 1996, p. 5)

1. Evoluo Histrica

As sociedades tm, ao longo dos tempos, desenvolvido prticas e conceitos diversos face ao diferente. A forma como as pessoas diferentes tm sido encaradas em diversos momentos histricos traduz, de alguma forma, factores de ordem social, cultural, religiosa e econmica, prprios das diversas pocas (Pereira, 1999). Polticas extremas de excluso da sociedade remontam aos confins da histria. Lembremos o exemplo de Esparta na antiga Grcia ou de Roma, quando crianas deficientes eram abandonadas nas montanhas ou atiradas ao rio. Mais tarde, na Idade Mdia, seres humanos, fsica ou mentalmente diferentes, eram associados imagem do diabo e a actos de feitiaria, para passarem a ser vistos, no decorrer do sc. XVIII, como produtos de transgresses morais, at serem tratadas (scs. XVIII e XIX) como criminosas ou loucas e internadas em hospcios (Bairro et al., 1998). Para Correia (1997) aps a mudana operada pela filosofia de Locke e Rousseau, com maior cariz humanista, que emerge uma nova forma de olhar para a criana deficiente. Assiste-se assim, no incio do sculo XIX, tentativa de recuperao ou remoldagem da criana diferente, atravs de um processo de socializao concebido para a ajustar sociedade atravs da eliminao dos seus atributos negativos. Foi tambm durante o sc. XIX que mdicos e outros homens de cincia se dedicaram ao estudo dessas pessoas ditas diferentes, chamadas, na altura, de deficientes. J no incio do sc. XX, com o advir de novos saberes (como a teoria psicanaltica de Freud e os testes de Galton para a medio da capacidade intelectual a partir do desempenho de tarefas sensrio-motoras), o conhecimento torna-se mais abrangente, dando lugar a uma nova abertura na forma de olhar seres humanos fsica ou psiquicamente diferentes. Como se viu, a evoluo das ideias face s pessoas com deficincia foi lenta at ao princpio do sculo XX. Jimnez (1991) e Baptista (1993) distinguem trs grandes pocas na evoluo histrica destas concepes. A primeira, que se pode considerar como pr-histrica, assume uma perspectiva essencialmente asilar. A segunda, caracterizada por uma perspectiva primordialmente assistencial, a que se juntam algumas preocupaes de ordem educativa, concebe a educao especial como ateno assistencial, separada da educao regular, defendendo que o atendimento de pessoas com deficincia dever decorrer em ambientes segregados. A terceira etapa, e a mais recente, emerge com tendncias inovadoras, apresentando uma nova abordagem do conceito e da prtica da educao especial. Esta caracterizada por uma perspectiva de participao que defende a integrao dos deficientes em contextos regulares que possibilitem a interaco com os seus iguais.A primeira poca vai at ao final do sculo XVIII e caracteriza-se essencialmente pela ignorncia, rejeio ou, em algumas sociedades, pelo temor ou mesmo venerao face ao diferente, de que exemplo a postura, j descrita, existente na Idade Mdia. A noo de que a deficincia algo de irrecupervel d forma s primeiras instituies, os chamados asilos, que so criadas assumindo caractersticas assistenciais. Contudo, ser de referir que, at ao final do sculo XVIII, surgem algumas experincias que ficam clebres por constiturem as primeiras tentativas educativas e pedaggicas, ligadas educao de pessoas com deficincias sensoriais: Ponce de Lon (1509/1584) cria o mtodo oral para a educao de crianas surdas mudas; L Epe (1712/1789) cria em Paris uma escola pblica para surdos mudos; Hay (1745/1822) cria, tambm em Paris, a primeira escola para cegos; Louis Braille (1806/1852) inventa o alfabeto tctil para cegos. A segunda poca caracteriza-se pelo aparecimento de instituies especializadas no atendimento a pessoas com deficincia. Estas instituies, em que so colocadas muitas crianas e jovens rotulados e segregados em funo da sua deficincia, tm como misso principal proteger, proporcionar cuidados e, paralelamente, separar da sociedade o indivduo com deficincia. A poltica global consiste agora em separar e isolar a pessoa com deficincia do grupo principal e maioritrio da sociedade. Se a poltica de excluso elimina as crianas da sociedade de que devem ser parte integrante, o procedimento de as colocar com estatuto desviante segrega-as: excludas dos programas de educao pblicos, impedidas de interaces benficas para o seu desenvolvimento, crescem em ambientes interpessoais ridos e, muitas vezes, hostis, no existindo servios que as ajudem ou s suas famlias na tarefa educativa (Correia, 1997, p. 14).At meados do sculo XX, a educao de pessoas deficientes caracterizou-se pelo ensino ministrado em escolas especiais. O conceito de idade mental e os testes de inteligncia de Binet e Simon, que originam a identificao de crianas mentalmente atrasadas, e logo, segundo a filosofia vigente na poca, sem acesso a uma situao educativa normal, contribuem para uma forte segregao de crianas com deficincia e proliferao de escolas e classes especiais. A nfase na avaliao e definio de deficincia vai exercer, durante muito tempo, uma forte influncia, tendo-se afirmado como um dos principais critrios na criao de respostas e concepo de estratgias face s situaes de deficincia. De acordo com a noo de deficincia dominante na poca como sendo uma caracterstica inaltervel profundamente marcada pelo modelo mdico-pedaggico, fortaleceu-se a convico de que a educao/formao deveria ser realizada num sistema separado, veiculando uma poltica claramente segregativa, baseada na rotulagem, que preconiza o isolamento e a separao como estratgia de recuperao. A integrao a caracterstica dominante da terceira poca, que comea a surgir na segunda metade do sculo XX, profundamente marcada pela expanso de conceitos como justia, liberdade e igualdade, bem como pelo desenvolvimento cientfico no campo da filosofia, da medicina, da tecnologia, da psicologia e da educao. Assiste-se assim emergncia de novos conceitos sobre as causas do comportamento e das determinantes do desenvolvimento, fazendo com que as noes de normalidade ou desvio se afastem definitivamente de conceitos como predeterminao e fatalismo. A normalizao, movimento que se baseia na crena de que as oportunidades e condies de vida das pessoas com deficincia se devem aproximar s das pessoas ditas normais, influenciou fortemente, na segunda metade do sculo, a perspectiva de educao e reabilitao das pessoas com deficincia. No campo da educao o impacto destes princpios conduziu integrao e resultou na sada de muitas crianas com deficincia das instituies onde recebiam atendimento (Corman & Gottlieb, 1978, cit. p. Fink & Friend, 1985). O movimento para a integrao que teve incio nos anos 60, com grande impacto nos anos 70, tem evoludo ao longo dos ltimos trinta anos e conduziu ao reconhecimento dos direitos das pessoas com deficincia, pondo em causa o sistema tradicional de educao especial em particular e da reabilitao em geral (Evans, 1993; Hegarty, 1993).A educao especial passa, segundo Correia (1997), por grandes reformulaes no sculo XX, resultantes de uma reviso gradual da teoria educativa e de uma srie de decises legais histricas que se baseiam no pressuposto de que a escola est disposio de todas as crianas em igualdade de condies e obrigao da comunidade proporcionar-lhes um programa pblico e gratuito de educao adequado s suas necessidades. Para Hegarty (1993), os factores que mais contriburam para que a integrao se encontre no primeiro plano do debate sobre a insero da pessoa deficiente foram: os novos conceitos sobre deficincia, que colocam a tnica no meio envolvente e nos factores ambientais como geradores de dificuldades; as reaces contra a categorizao e mecanismos de segregao que lhe esto associados, j referidos por Fish (1985), que salienta a importncia da pesquisa em Cincias Sociais na identificao dos efeitos perversos e redutores da categorizao, etiquetagem e segregao; a reorganizao das escolas regulares; a preocupao crescente com os direitos humanos e estatutos das minorias; os exemplos e prticas em pases como os Estados Unidos, a Dinamarca e a Sucia e a subsequente difuso dessa informao.

Marchesi e Martin (1990) apontam ainda como determinantes das mudanas operadas os seguintes aspectos: o desenvolvimento da psicologia da aprendizagem e didcticas especficas, que contriburam para o entendimento de que os alunos com deficincia so crianas com processos de aprendizagem especiais; o desenvolvimento de mtodos de avaliao, bem como as criticas e factores negativos apontados s provas quantitativas de avaliao; a existncia de um maior nmero de professores com formao especializada que se questionam e debatem as funes de cada sistema, regular e especial; a crescente sensibilidade social para o direito da criana com deficincia a uma educao integradora.Actualmente parece ser aceite, na maior parte dos pases, que os ambientes no segregados so o lugar mais apropriado para a educao e reabilitao de pessoas com deficincia, verificando-se que vrios pases, incluindo Portugal, apoiaram, atravs de legislao, esta tendncia de normalizao.Em Inglaterra o Education Act de 1970 atribui a responsabilidade da educao de crianas com deficincia s autoridades locais. Nos Estados Unidos, em 1973, o Rehabilitation Act, foi um dos primeiros actos legislativos ancorado numa perspectiva que preconiza a mudana do estatuto de pessoas com deficincia, defendendo a sua no discriminao; pouco mais tarde, em 1975, a Public Law 94-142 garante a educao pblica para todas as crianas num meio o menos restritivo possvel, independentemente do seu grau de deficincia (Hadadian & Malone, 1994). Na Noruega, tambm em 1975, so abolidas as categorias e dado o direito de educao nas escolas regulares.A crena na igualdade de direitos no acesso educao e integrao scio-profissional , actualmente, comum a muitos pases, verificando-se que esta mudana de atitudes tem sido secundada por legislao que regulamenta esse acesso. Contudo, certo que, em muitos pases, a educao e formao de crianas e jovens com deficincia continua a ser feita em estruturas segregadas, o que indicia uma forte discrepncia entre teoria e prtica. Hegarty (1993) refere que, muito embora no se possa desvalorizar as enormes mudanas operadas nas atitudes face deficincia, se podem identificar inmeros factores que esto na origem dessas discrepncias, tais como: limitaes de ordem pedaggica, inrcia dos sistemas educativos, recursos limitados, e ainda, a to requerida aceitao da pessoa com deficincia, que nem sempre uma realidade.

1. 2. A Evoluo em Portugal

A evoluo das ideias e das prticas face s pessoas deficientes teve, em Portugal, comparativamente ao que se verificou em outros pases, uma evoluo mais lenta.Segundo a diviso histrica proposta pelos peritos da OCDE em 1984 (Bairro et al. 1998), no nosso pas a evoluo da organizao dos recursos para crianas e jovens deficientes divide-se em trs fases. A primeira fase, na segunda metade do sculo XIX, caracterizada pela criao de institutos e asilos para cegos e surdos com caractersticas mais assistenciais do que educativas, geralmente de iniciativa privada, com muito pouco financiamento por parte do Estado. tambm nesta fase inicial que o Dr. Antnio Aurlio da Costa Ferreira fundou, em 1916, um Instituto que passaria a ter o seu nome, destinado observao e ensino de crianas que apresentavam deficincia mental ou perturbaes de linguagem. Uns anos mais tarde, o Instituto passou para a tutela da Secretaria Geral do Ministrio da Instruo (S.N.R.,1983).Segundo Niza (1981), indispensvel lembrar o servio prestado pelo Instituto Mdico-Pedaggico da Casa Pia de Lisboa, dirigido pelo Dr. Antnio Aurlio da Costa Ferreira, pela decisiva importncia que teve no nosso pas o seu modelo terico-prtico de inspirao neuro-psiquitrica e mdico-pedaggica. Pode-se considerar a criao deste Instituto como o primeiro passo, tanto no sentido de melhorar as respostas educativas existentes, como de se encontrar solues institucionais para crianas deficientes mentais. O seu regulamento, que aprovado em 1926, j sob a tutela do Ministrio da Instruo, caracteriza-o como:-Centro orientador e coordenador de servios, particularmente consagrado seleco e distribuio das crianas fsica e mentalmente anormais pelas diferentes instituies apropriadas, orientando e fiscalizando a sua educao.

-Centro de Estudos e preparao de pessoal docente e auxiliar dessas instituies.

-Escola para o ensino a defeituosos da fala e anormais suficientemente educveis (cit. p. Costa, 1989, p. 10).

As admisses nos asilos, em 1942, por determinao do subsecretrio da Assistncia Social, que tutelava este tipo de instituies, passam a ser obrigatoriamente precedidas de uma inspeco da responsabilidade do Instituto Antnio Aurlio da Costa Ferreira. Na dcada de 40, a responsabilidade de observao e orientao de menores com anomalias mentais, de formao de tcnicos e de investigao mdico-pedaggica, atribuda ao Dispensrio de Higiene Mental Infantil (Dec.-Lei 35401 de 27 de Dezembro de 1945). Em 1946 criada uma nova figura administrativa, a classe especial. Estas iro funcionar junto de algumas escolas primrias. A Liga Portuguesa de Profilaxia da Cegueira e a Liga Portuguesa de Deficientes Motores iniciam a sua actividade, respectivamente, em 1955 e 1956. Verifica-se, nesta primeira fase, em que Portugal se regia por um regime poltico conservador e fascista, uma preocupao dominante com as deficincias sensoriais e a organizao das respostas em torno de um tipo de deficincia, sendo o modelo de interveno mdico/pedaggico/assistencial (Conceio & Dantas, 1996)A segunda fase, j na dcada de 60, caracteriza-se por uma interveno de natureza marcadamente pblica, liderada pela Assistncia Social, cuja tutela transita do Ministrio do Interior para o Ministrio da Sade e Assistncia. Neste perodo so criados servios responsveis pela organizao de meios educativos para crianas com deficincia. So, assim, criados internatos e semi-internatos, centros de educao especial e centros de observao. Regista-se, ento, uma diversificao do atendimento s crianas deficientes, aparecendo vrias novas iniciativas. Destas, parece-nos importante referir a criao, em 1960, do Centro de Paralisia Cerebral em Lisboa, e posteriormente a criao de Centros em Coimbra, Porto e Beja; o aparecimento da Associao de Pais e Amigos das Crianas Mongolides, mais tarde denominada por da Associao de Pais e Amigos das Crianas Deficientes Mentais, conhecida hoje como Associao de Pais e Amigos do Cidado Deficiente, cujo primeiro Centro criado em 1965. Deste modo, verifica-se que devido escassez de recursos, grupos de pais comeam a organizar-se em associaes com carcter no lucrativo (S.N.R.,1983).O Instituto de Assistncia a Menores, na dependncia directa da Direco Geral de Assistncia, cria, em 1964, o Servio de Educao de Deficientes, no sentido de organizar, em todo o pas, respostas educativas para crianas e jovens com deficincia. Tal aco desenvolve-se, quer atravs da criao de estabelecimentos prprios, quer atravs da remodelao dos privados j existentes, com os quais se estabelecem protocolos de cooperao. Em 1967, criado o Centro de Observao Mdico-Pedaggico, que ser o servio centralizado de diagnstico para apoio rede de reeducao planeada para todo o pas. O nmero de classes especiais cresce durante esta dcada, aumentando o nmero de alunos que so excludos da classe regular, por apresentarem dificuldades em acompanhar o ritmo de aprendizagem e disciplina impostos na sala regular. So tambm realizados os primeiros programas de formao especializada de professores. Por outro lado, no campo da insero profissional, tambm na dcada de 60 que criado o Servio de Reabilitao Profissional, no mbito do Fundo de Desenvolvimento da Mo de Obra com a competncia exclusiva de resoluo do problema premente dos trabalhadores que se encontram incapacitados para o trabalho por diminuio fsica e carncia de meios sua readaptao profissional (Conceio & Dantas, 1996, p. 63). Este servio estava vinculado por lei a utilizar, sempre que possvel, as estruturas regulares existentes para o geral dos trabalhadores, quer em termos da formao profissional quer da colocao, o que leva a que, passados trs anos, aps a sua extino, as funes que lhe competiam no campo da reinsero profissional fiquem disseminadas pelos servios regulares de formao e de emprego. Assim, sem um organismo prprio e organizado que defendesse as questes especficas de formao e emprego de pessoas deficientes, e face a um sistema organizado para a populao em geral, a problemtica da insero profissional de pessoas deficientes deixa de ser equacionada pelos servios (Conceio & Dantas, 1996). Assim, no campo da reabilitao profissional a situao da pessoa deficiente em idade de trabalho apresentava-se dramtica. Existiam lacunas graves tanto em termos legislativos como em termos das respostas. Ao nvel da formao profissional, as dificuldades de acesso ao sistema regular e a inexistncia de programas especficos inviabilizam o desenvolvimento de competncias indispensveis para o confronto com o mercado de trabalho. Por outro lado, a ausncia de programas especficos e de incentivos que viabilizem o acesso ao emprego faz com que seja praticamente invivel para a pessoa o exerccio de uma profisso. De facto, se analisarmos a Lei 6/71, que para Conceio e Dantas (1996) percursora da actual Lei de Bases da Preveno e da Reabilitao e Integrao das Pessoas com Deficincia, verifica-se que, muito embora j esboce uma perspectiva de integrao profissional, apresenta uma formulao restritiva no que se refere populao que pretende abranger pois exclui as pessoas com deficincias severas, considerando que devido sua deficincia existem indivduos no susceptveis de colocao profissional e encara a reabilitao como um conjunto de medidas (reabilitao mdica, educao especial) a serem tomadas junto da pessoa deficiente, no equacionando a interveno comunitria e favorecendo uma interveno de carcter assistencial.Verifica-se que esta segunda fase, caracterizada por um modelo de interveno pedaggica/assistencial, marcada por um certo alargamento de respostas: aparece algum envolvimento da sociedade atravs da criao de associaes; h maior envolvimento do Estado no processo de educao de crianas e jovens deficientes, quer com a criao das classes especiais por parte do Ministrio da Educao, quer com a criao de Centros de Educao Especial na dependncia da Direco Geral de Assistncia; surge pela primeira vez a preocupao com a formao/ readaptao profissional (Conceio & Dantas, 1996). A terceira fase tem incio com a Reforma do Ensino, nos anos 70, e foi profundamente marcada pela interveno do Ministrio da Educao, que passa a considerar as crianas com deficincia, tornando o ensino regular extensvel a estes alunos (Bairro, 1981). Com a reforma de 1973 foram criadas as Divises de Ensino Especial do Ensino Bsico e Secundrio, abrindo assim caminho para a integrao escolar (S.N.R.,1983). O 25 de Abril deu origem a um conjunto de condies sociais e polticas que criaram as condies para modernizao da educao especial e foram um marco significativo no desenvolvimento da reabilitao em Portugal. A constituio de 1976 consagra o direito ao ensino e igualdade de oportunidades para todos os cidados, especificando no artigo 71 o direito das pessoas deficientes .... plena participao na vida social e igualdade de direitos e deveres com os demais cidados, sem quaisquer limites que no sejam os decorrentes da natureza e extenso da deficincia. O Estado fica assim obrigado a desenvolver uma poltica de que resulte a integrao das pessoas com deficincia. De facto, assiste-se a uma tomada de conscincia colectiva de situaes de injustia e organizao dos cidados no sentido de serem encontradas respostas para os problemas sentidos. Neste mbito, a organizao de grupos de e para pessoas deficientes d origem ao surgimento de diversas associaes, que iro assumir um papel determinante na definio e desenvolvimento futuro das respostas neste campo. A quase inexistncia de respostas oficiais nesta rea, conduz a que, por um lado, se assista proliferao de cooperativas de ensino que procuram dar respostas educativas para as crianas com deficincia e que, por outro lado, as famlias recorram cada vez mais a estruturas privadas de ensino especial (Felgueiras, 1994).Criam-se novas estruturas de atendimento a crianas e jovens deficientes, alargando a rea coberta atravs da abertura de novos centros em zonas at ento no abrangidas e emerge um novo tipo de organizao, com um modelo cooperativo, em que insere se a Cooperativa de Educao e Reabilitao de Crianas Inadaptadas em Lisboa, criada em 1975, e que mais tarde d origem ao movimento CERCI, pois conduz ao aparecimento de iniciativas similares por todo o pas. Este movimento, muito embora cada um dos centros abertos rena um conjunto de especificidades determinantes da sua identidade, origina a partilha por todos os centros de um conjunto de aspectos que do forma ao que representam no seu conjunto: os motivos que esto na origem da sua criao, os princpios que defendem e as finalidades a que se propem; os principais intervenientes no processo; o enquadramento jurdico legal em que se inserem. Com o apoio da Segurana Social e com acordos com o Ministrio da Educao, as CERCIS iniciam a sua actividade estruturando um conjunto de respostas educativas, face incapacidade do sistema regular de ensino no sentido de proporcionar um enquadramento educativo para todas as crianas, particularmente para aquelas que pela especificidade das suas caractersticas prprias ou circunstanciais (deficincia; dificuldades de aprendizagem; alteraes comportamentais) no se adaptavam aos padres impostos pela escola regular (Conceio & Dantas, 1996).A criao das Equipas de Educao Especial, implementadas em 1975/76, foi a primeira medida oficial e concreta, no sentido de criar condies, para que crianas com deficincia frequentassem o ensino regular. Todavia, s em 1988, as Equipas de Educao Especial, vieram a ser legalmente reconhecidas (Bairro et al.,1998). Em funo da indefinio existente no que respeitava responsabilidade do atendimento s crianas com necessidades educativas especiais, isto , ao espartilhamento do atendimento educativo por estruturas tuteladas por vrios Ministrios, publicado em 1976 o Dec.-Lei N. 666, em que se define a articulao entre o Ministrio dos Assuntos Sociais e o Ministrio da Educao, o qual no entanto seria suspenso passados alguns meses (Conceio & Dantas, 1996).A criao do ensino bsico obrigatrio em 1979 (Dec.-Lei 538/79) determina que ser assegurada a educao de crianas com deficincia, para o que se promover o desenvolvimento das condies indispensveis. Contudo, as experincias de integrao de crianas com deficincia nas estruturas regulares de ensino faz crescer a conscincia de que o sistema de educao especial necessita de alteraes profundas, tendo surgido em 1979 a Lei sobre educao especial (Lei 66/79), que define os princpios orientadores da educao especial (S.N.R.,1983).A legislao emanada pelo Ministrio de Educao evoluiu no sentido da integrao, contudo no existiu, durante muito tempo, uma definio institucional clara, nem se avanou na criao de medidas que facilitassem a operacionalizao da prtica da integrao (Felgueiras, 1994). No campo da insero scio-profissional criado em 1977, o Secretariado Nacional de Reabilitao, pelo Dec.-Lei 346/77 (Conceio & Dantas, 1996), que vem a constituir-se como orgo consultivo destinado a implementar uma poltica nacional de habilitao, reabilitao e integrao social dos deficientes, assente na planificao e coordenao das aces que concorrem neste domnio, em ordem a concretizar o que vem disposto na Constituio.Face situao de ento ao nvel da reabilitao, caracterizada pela falta de planeamento, coordenao e complementariedade decorrentes da ausncia de articulao entre os servios, a interveno do Secretariado Nacional de Reabilitao vai-se pautar, segundo Conceio e Dantas (1996) pelo esforo de colaborao com os diversos departamentos governativos intervenientes na reabilitao no sentido de promover o dilogo, que leve clarificao de competncias e ao assegurar de coerncia e articulao das vrias polticas, programas e medidas sectoriais (p. 68).No mbito da criao e evoluo de estruturas oficiais cujo funcionamento tem impacto ao nvel das respostas surgidas em termos da reabilitao, parece-nos que ser de referir: a criao do Conselho Nacional de Reabilitao, no mbito do Secretariado, no qual se garante a participao da pessoa deficiente na apresentao e discusso de propostas de legislao relativas poltica de reabilitao, pois nele tm assento, para alm de representantes do Governo, representantes de associaes de e para pessoas deficientes; a criao, em 1979, do Instituto de Emprego e Formao Profissional, que pelos objectivos definidos em termos da poltica global de emprego, vem criar novas expectativas no que respeita formao, reabilitao e integrao profissional da pessoa com deficincia; a publicao do Despacho Normativo 388/79, que viabiliza a estruturao de respostas de pr-profissionalizao e define o apoio oficial s instituies privadas que desenvolvam programas de formao pr-profissional; o mesmo Despacho define a necessidade de estruturar respostas de continuidade ao nvel da formao e sadas profissionais, quer por via do emprego protegido, quer atravs da integrao em mercado normal de trabalho, ficando as mesmas sob a responsabilidade do Ministrio do Trabalho. Este despacho responsabiliza tambm o ento Ministrio da Sade e Assistncia pela criao das estruturas necessrias e pelo apoio s de iniciativa privada j existentes, no sentido de ser realizado o encaminhamento de jovens para os sistemas de apoio pelo trabalho (Conceio & Dantas, 1996). No campo da educao, a Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 consagra de novo, como modelo, a integrao da educao especial no sistema regular de ensino, definindo a educao especial como uma modalidade integrada no sistema geral de educao, devendo reger-se por disposies especiais, embora estas se mantenham pouco explcitas, apesar de se proceder, em 1988, ao reconhecimento legal das Equipas de Educao Especial (Bairro et al., 1998). No incio dos anos 90, a publicao do Dec.-Lei 319/91, do Ministrio da Educao, actualiza a legislao existente e preconiza, pela primeira vez, um conjunto de conceitos importantes que originam um conjunto de medidas a aplicar, fundamentadas no princpio de que a educao de alunos com deficincia/necessidades educativas especiais se deve processar num meio o menos restritivo possvel. Esta nova filosofia aqui veiculada obriga adequao das prticas e mudana de atitudes dos intervenientes no processo educativo (Felgueiras, 1994). Para Correia (1997) o Dec.-Lei 319/91 actualiza, alarga e precisa o campo de aco da educao especial, dotando as escolas de um suporte legal para organizar o seu funcionamento no atendimento a crianas com necessidades educativas especiais. O desenvolvimento ocorrido no campo da reabilitao a partir do Despacho 388/79, atrs referido, lento e pouco expressivo, muito embora, com base nele, as cooperativas e associaes tenham desenvolvido programas de pr-profissionalizao que davam a possibilidade do percurso educativo realizado ter continuidade e, assim, foram-se abrindo novos caminhos para a insero na vida activa de jovens com necessidades educativas especiais.Contudo as respostas de continuidade previstas no mesmo Despacho s assumem forma para o final dos anos 80, princpio dos anos 90, pois a legislao que institucionaliza o regime de emprego protegido publicada em 1983 e s vir a ser regulamentada em 1985, sendo que, somente em 86/87 so desencadeados os meios que permitiriam o desenvolvimento de programas de formao profissional para pessoas em situao de desfavorecimento. Relativamente integrao de pessoas deficientes em mercado aberto de trabalho, o incentivo previsto igualmente tardio, pois at 1989 mantm-se em vigor o Desp. Norm. 52/82, cujo contedo se mostra claramente desadequado s necessidades da populao que pretende abranger (Conceio & Dantas, 1996). S em 1989 publicado o Dec.-Lei 247/89, em que reconhecida a obrigao do Estado de definir as medidas de poltica e de promover os programas que permitam concretizar o objectivo primordial da reabilitao, que a integrao scio-profissional da pessoa deficiente. Este diploma regulamenta o tipo de programas, que se podero desenvolver, com vista reabilitao profissional da pessoa deficiente, bem como o apoio tcnico e financeiro da responsabilidade do Estado. Verifica-se que esta terceira fase, caracterizada por um modelo de interveno eco-social/integrativo, marcada por: reforo de interveno da sociedade, atravs da criao de cooperativas e associaes; reforo da interveno do Ministrio da Educao na criao de respostas educativas diferenciadas; clarificao e diferenciao do enquadramento institucional das respostas, em conformidade com as atribuies de cada um dos Departamentos de Estado; estruturao de novas respostas para as pessoas com deficincia, nomeadamente no campo da reabilitao profissional (Conceio & Dantas, 1996).As diferentes fases referidas descrevem as grandes linhas do desenvolvimento das estruturas organizacionais para as pessoas com deficincia, ao longo do tempo, em Portugal. Bairro (1998) enuncia essa evoluo da seguinte forma: da perspectiva assistencial e de proteco perspectiva educacional; da iniciativa privada pblica; da segregao integrao. Esta evoluo das estruturas organizacionais, que reflectem a evoluo dos conceitos face s pessoas com deficincia , em Portugal, semelhante, muito embora mais tardia e dispondo de menos recursos, evoluo ocorrida na maioria dos pases do mundo ocidental. 1.3. Evoluo dos Conceitos

A forma como vista a pessoa deficiente prende-se a um conjunto de ideias, crenas, preconceitos ancorados em noes de diferena, dependncia e proteco, que originam a excluso, a qual, segundo Rodrigues (2000), no derivada da diferena mas uma construo social, um colocar parte, o assumir de uma autoridade sobre o direito igualdade. Como construo social, a noo de diferente encontra-se assim ligada, no dizer de Bairro (1998), a um complexo mundo representacional que passa a regular as diferenas, institucionalizando-as, Assim, a histria de vida dessas pessoas diferentes poder ser contada como uma histria vivida num mundo ao lado, em tudo semelhante, mas passada em lugares tambm diferentes. Para que assim no seja, ser necessrio que se percorra um longo caminho, que se operem mudanas nas representaes, que se passe a encarar a pessoa deficiente como algum com necessidades especficas de apoio em determinadas reas, mas que, se tiver acesso a esse apoio, poder ter uma vida em tudo igual s pessoas ditas normais, na educao, no emprego e na sociedade.O movimento para a colocao e integrao de crianas com necessidades educativas especiais no ensino regular uma tendncia que surge, em primeiro lugar, nos pases nrdicos a partir dos anos 60, sucede de forma radical na Itlia a partir dos anos 70 e 80, enquanto que em pases como Holanda e Alemanha se processa de forma gradual (Bairro et al., 1998). A evoluo dos conceitos e dos recursos face deficincia teve nos Estados Unidos, tal como na Europa, um percurso paradigmtico, tendo culminado com a publicao da Public Law 94-142, The Education for All Handicapped Children Act, aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos da Amrica em 1975. Esta legislao, que veicula direitos iguais para todos os cidados no campo da educao, vai ter repercusses a nvel mundial, sendo apresentada por Goodman (1976), citado em Heward e Orlansky (1988), como a lei que provavelmente ser conhecida como a de maior impacto na histria da educao.Bairro (1998) salienta os seguintes aspectos na viragem operada a partir da publicao desta lei. O novo paradigma em educao assenta, do ponto de vista poltico e social, na concepo de que todos os cidados, mesmo os deficientes, tm os mesmos direitos, logo, devero ter acesso ao ensino regular e gratuito que se dever adaptar s suas necessidades; em termos cientficos, contestado o papel exclusivo do diagnstico mdico e psicolgico para a educao e recuperao dos deficientes, valorizando-se a educao como forma de mudana e a integrao como forma de normalizao; o diagnstico passa a estar ligado interveno e valoriza-se a interveno precoce; destaca-se o papel dos pais e a sua colaborao no processo educativo que se dever processar num meio o menos restritivo possvel.

Num outro contexto histrico, social e poltico, publicado no Reino Unido, em 1978, o Warnock Report, que apresenta um racional semelhante, preconizando uma nova concepo de educao especial e introduzindo o conceito de necessidades educativas especiais. Este documento apresenta um conjunto de propostas que mais tarde influenciam a legislao inglesa. Bairro (1998) salienta as seguintes propostas, pela suas consequncias no campo cientfico e no domnio da interveno. Um modelo conceptual de educao especial que reconhece a deficincia como um contnuo de necessidades educativas especiais, erradicando o diagnstico do modelo mdico tradicional; a apresentao de uma nova metodologia na identificao e avaliao das crianas com necessidades educativas especiais, responsabilizando a escola na deteco e definio de procedimentos adequados s necessidades de cada aluno; o encorajamento do processo de integrao, atribuindo deveres s autoridades de educao, tendo em conta que as crianas e jovens deficientes tm os mesmos direitos que os seus pares no deficientes; o reconhecimento do direito dos pais informao e ao desempenho de um papel activo na tomada de decises, na avaliao e na concretizao das medidas educativas para os seus filhos.Para Zucman (1991) a formalizao de conceitos, proposta pela Organizao Mundial de Sade, contribui para uma identificao individualizada e pluridimensional da pessoa com deficincia, ao desdobrar o conceito global de handicap em trs conceitos que se articulam entre si: deficincia, incapacidade e desvantagem ou handicap. A deficincia definida como uma alterao durvel ou transitria, ou perda de uma estrutura ou de uma funo psicolgica, fisiolgica ou anatmica; a incapacidade definida como a reduo parcial ou total da capacidade de realizar uma tarefa, no caracterizando, assim, o sujeito em si, mas sim a sua actividade; a desvantagem ou handicap refere-se a uma desvantagem social, um prejuzo que a pessoa pode experimentar devido sua deficincia ou incapacidade, dizendo, assim, respeito adaptao do sujeito e sua interaco com o meio. A distino entre deficincia e handicap crucial para a compreenso de necessidade educativa especial e para a consequente definio de medidas e procedimentos a adoptar. Para Fish (1985), esta distino envolve uma interaco dinmica entre o indivduo e o meio, reconhecendo que os efeitos da desvantagem de uma deficincia podem variar da infncia para a idade adulta, devido s diferentes formas de interveno, assim como de situao para situao. Ter presente este conceito dinmico de deficincia fundamental se se pretende minimizar o seu efeito na educao e insero scio-profissional. A evoluo dos conceitos induziu mudanas nas concepes e prticas ao nvel das estruturas especializadas de atendimento s pessoas com deficincia. No campo da reabilitao o indivduo deixa de ser encarado como objecto da reabilitao e a deficincia deixa de ser considerada como atributo individual, cuja superao condio para a sua integrao social e profissional. No campo da educao o conceito de necessidades educativas especiais torna-se um conceito chave com consequncias determinantes no processo integrao de alunos diferentes em contextos regulares de ensino, pois, segundo Bairro (1998), conduziu a uma mudana de enfoque no processo de abordagem da problemtica das crianas e dos alunos que se tornou paradigmtica nos anos 70 e 80. Considera-se que uma criana tem necessidades educativas especiais quando apresenta alguma dificuldade na aprendizagem, ao longo da sua escolarizao, que requeira uma medida educativa especial, exija uma ateno mais especfica e maiores recursos educativos que os colegas da mesma idade (Marchesi & Martin, 1990).Estes autores salientam duas noes fundamentais nesta definio: a de problemas de aprendizagem e a de recursos educativos, pois permitem colocar a tnica na escola e nas respostas educativas, evitando a linguagem da deficincia, bem como realando a importncia do sistema educativo ser dotado dos recursos necessrios para responder s necessidades especficas dos seus alunos.Ainda segundo Marchesi e Martin (1990), muito embora as crticas que se possam fazer ao conceito de necessidades educativas especiais por ser vago e demasiado amplo, no permitindo diferenciar problemas que so da responsabilidade directa do sistema educativo, de problemas sociais ou familiares e ainda dar uma viso excessivamente optimista da educao especial, importante reconhecer o seu valor histrico, que permitiu colocar a tnica nas possibilidades da escola e mostrar com mais clareza os objectivos da integrao escolar.Ao nvel da reabilitao, a mudana de enfoque na abordagem da problemtica de atendimento aos jovens que so encaminhados para os sistemas de insero scio-profissional levou a que os conceitos de deficincia e de reabilitao evoluam de uma perspectiva centrada exclusivamente na pessoa deficiente para uma perspectiva que encara a reabilitao como um processo e que o resultado de uma interaco pessoa/meio, exigindo, por isso, diferentes tcnicas e metodologias de interveno e diferentes formas de organizao do sistema de reabilitao (Conceio & Dantas, 1996).O conceito de incluso nasce pela mo de Madeleine Will, cujo discurso enquanto Secretria de Estado para a Educao Especial d origem ao movimento chamado de Regular Education Iniciative (REI) em que Will (1986) defende a adaptao da classe regular de modo a tornar possvel ao aluno aprendizagem nesse ambiente e encoraja os servios de educao especial e outros servios especializados a associarem-se ao ensino regular. Deste modo, emerge a necessidade de uma co-responsabilizao por parte dos servios de educao especial e do ensino regular para que em conjunto definam respostas eficazes face s necessidades especiais de educao do aluno (Correia, 1997). Em 1990, depois de ter sido vrias vezes rectificada, sem contudo terem sido alterados os seus fundamentos bsicos, The Education for All Handicapped Children Act emendada para Individuals with Disabilities Education Act (IDEA), que refora e alarga o seu contedo, incluindo novas categorias e servios e define que as escolas pblicas devem providenciar educao pblica apropriada para todas as crianas, incluindo as que tm deficincias significativas. No mesmo ano publicada a Public Law 101-336 Americans with Disabilities Act (ADA), que sublinha o princpio da incluso e previne a discriminao (Hadadian & Malone, 1994).Segundo Thompson, Kenneth e Fernandez (1994), um dos objectivos da ADA ser eliminar as barreiras estruturais e atitudinais, no sentido de desenvolver nos americanos atitudes e comportamentos de maior apoio face s pessoas com deficincia. O discurso feito pelo presidente Bush na cerimnia de publicao da ADA salienta um dos seus aspectos de maior significado, ao referir o desejo de que o vergonhoso muro da excluso seja finalmente derrubado (West, 1991, cit. p. Thompson, Kenneth & Fernandez, 1994, p. 110). Assim, com a publicao da ADA, o compromisso de providenciar os servios necessrios e de impedir a discriminao transfere-se para o sector pblico, representando esta legislao um compromisso vitalcio no sentido de apoiar e possibilitar o acesso aos servios para todas as pessoas com deficincia (Turnbull, 1993, ref. p. Hadadian & Malone, 1994), afirmando-se novamente o princpio da incluso, mas desta vez alargando as suas implicaes para todas as reas da reabilitao, desde a educao at insero scio-profissional.Os movimentos que consagram o princpio da incluso deram origem a alguma controvrsia entre investigadores e educadores, recebendo apoio por parte de alguns e crticas por parte de outros. Muito embora a controvrsia gerada, a influncia do princpio da incluso estende-se a vrios pases, particularmente depois da Conferncia mundial sobre necessidades educativas especiais: Acesso e qualidade, efectuada em Salamanca, em Junho de 1994. Segundo Mayor (UNESCO, 1994), a Conferncia, ao adoptar a Declarao de Salamanca, inspirou-se no princpio da incluso e no reconhecimento da necessidade de actuar no sentido de conseguir atingir o objectivo de edificar escolas para todos, isto , instituies que incluam todas as pessoas, aceitem as diferenas, apoiem a aprendizagem e respondam s necessidades individuais. Precisando o conceito, uma escola inclusiva ser o local onde todos os alunos aprendem juntos, sempre que possvel, independentemente das dificuldades e diferenas que apresentem (UNESCO, 1994). Verifica-se, assim, que o conceito de incluso amplo e abrangente e implica, no contexto da educao, que as escolas definam estratgias educativas adequadas, possibilitando o acesso educao a todos os alunos, incluindo aqueles que apresentam necessidades educativas especiais, independentemente do seu grau ou severidade. A incluso representa, assim, uma profunda e efectiva alterao nos valores e prticas da escola, implica uma mudana de paradigma, e constitui um desafio radical escola tal como ela se encontra organizada (Rodrigues, 2000).Segundo Wehman e Kregel (1992) a incluso educativa de crianas e jovens com deficincia nas classes regulares, a que se assistiu nos anos 80 e 90, foi um marco determinante, cuja filosofia originou que se virasse as costas segregao e criou a oportunidade de acesso realizao de actividades profissionais em ambientes no estigmatizados, observando-se a extenso do princpio da incluso a outros contextos, nomeadamente ao contexto profissional.De facto, o princpio da incluso no pode comear e acabar na escola, mas dever estar presente ao longo de todo o percurso das pessoas em situao de desfavorecimento. Para tal, ser necessrio que as instituies que prestam servios na rea da reabilitao disponham, por um lado, dos meios e recursos necessrios, mas por outro, persigam este princpio nas opes feitas e metodologias adoptadas no campo da orientao vocacional, formao profissional e insero profissional, para que este percurso seja percorrido em meios o menos restritivos possveis e de preferncia em ambientes normalizados, e no segregados, que facilitem a interaco com situaes reais de formao e de trabalho. Pensamos que, assim, as pessoas em situao de desfavorecimento podero dispor dos meios necessrios para a construo de um projecto de vida que lhes abra o caminho para uma plena insero profissional e social.Como se viu, pela breve panormica traada, no campo da educao, onde se podem identificar aspectos de natureza societal mais vasta, que se esboam as primeiras tentativas formais no sentido de encontrar respostas que visem a resoluo do problema dos ditos diferentes, sendo igualmente no contexto da educao que se tem observado, em primeiro lugar, a mudana de prticas que traduzem uma mudana de perspectivas, atitudes e conceitos face s pessoas com deficincia. De facto, o objectivo da educao integrar o indivduo na sociedade. Como se poder alcanar esse objectivo se se permitir que as crianas se desenvolvam em ambientes segregados? evidente que no se poder pretender que um indivduo esteja integrado na idade adulta, se se manteve em ambientes segregados durante todo o seu desenvolvimento. Para Soder (1980), imprescindvel que a criana com necessidades educativas especiais seja educada junto dos seus iguais, na mesma sala de aula, para que esta possa usufruir de todas as vantagens que as interaces com as outras crianas, ditas normais, proporcionam e possa, mais tarde, vir a desfrutar de uma integrao plena e societal.Contudo, para que tal acontea, o processo de incluso no pode terminar com o final da escolaridade. O percurso de transio da escola para o mundo de trabalho ter que ser devidamente apoiado, para que continue a usufruir de todas as vantagens da interaco com ambientes normalizados, no desenvolvimento de competncias profissionais para uma futura incluso scio-profissional, atingindo, assim, o pleno direito de cidadania, no emprego, no casamento ou na interveno social. II Enquadramento Terico

2

SUPPORTED EMPLOYMENT

EMPREGO APOIADO: UM NOVO OLHAR...

1.II Enquadramento Terico

2 Supported Employment Emprego Apoiado: Um Novo Olhar...

1. O MODELO DO SUPPORTED EMPLOYMENT

Toda a gente capaz de trabalhar.(Rui Pedro Sousa Rocha, 32 anos)

O conceito de incluso social frequentemente referido quando se aborda a problemtica dos grupos em situao de desfavorecimento. A criao de uma sociedade inclusiva tem sido declarada como um objectivo poltico que est ligado regenerao e promoo das comunidades e economias locais (Gosling & Cotterill, 2000). No Plano Nacional de Aco para a Incluso (Resoluo do Conselho de Ministros n. 91/2001) refere-se que este ... concorre para a promoo da participao de todos na actividade produtiva ..., e considera-se que promover a participao no emprego e o acesso de todos aos recursos, aos direitos, aos bens e aos servios um dos seus quatro grandes objectivos comuns. Actualmente , cada vez mais, consensual que uma das principais vias para a promoo da incluso social o acesso a oportunidades de emprego, sendo este um dos caminhos mais potentes na conquista da independncia, muito especialmente quando se fala na incluso social de pessoas com deficincia. Contudo, e apesar da importncia que a sociedade coloca na necessidade de os seus membros desenvolverem uma actividade profissional, o emprego tem sido reconhecido como uma das mais importantes reas de vida que se mantm inacessvel a pessoas com deficincia (Beyer, 1995). Walsh e Linehan (1997) entendem que, muito embora seja internacionalmente defendido por organizaes como a ILSMH (1994) que o emprego em mercado aberto dever ser uma das primeiras opes para adultos com deficincia mental ou outro tipo de deficincia, somente uma minoria de pessoas com deficincia tm acesso a um emprego pago em contexto real de trabalho.O modelo do "SUPPORTED EMPLOYMENT", expresso que Sousa (2000) traduz para portugus pela designao de emprego apoiado em mercado aberto, surgiu nos Estados Unidos da Amrica nos primeiros anos da dcada de 80 e visa proporcionar o apoio necessrio para que pessoas com deficincia possam encontrar e manter um emprego em mercado aberto de trabalho.

2. EMERGNCIA, CRESCIMENTO E IMPACTO DO MODELO DE SUPPORTED EMPLOYMENT

2. 1. Nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos os primeiros programas para adultos com deficincias significativas foram organizados essencialmente por pais e entidades sem fins lucrativos e procuraram oferecer cuidados, recreao, treino em competncias pessoais e terapia (Bellamy, Rhodes, Bourbeau, & Mank, 1986, cit. p. Joyce, 1995). 0 Governo Federal definia estes Work Activity Centers como um programa para "trabalhadores deficientes em relao aos quais as deficincias fsicas ou mentais so to severas que a sua capacidade de produo inconsequente" (29 CFR, parte 525, cit. p. Joyce, 1995). Foram tambm lanados alguns centros de emprego protegido Sheltered Workshops Programs para pessoas com deficincias menos severas, cujos programas eram mais orientados para o emprego.Nos anos 70, outros sistemas de servios foram lanados naquele pas, relativamente aos quais se esperava a colocao de pessoas com deficincia em contexto real de trabalho, corno consequncia ou resultado de programas de formao desenvolvidos nos centros de reabilitao profissional. Estes programas representaram um primeiro passo para a esperada criao de oportunidades de emprego reais na comunidade para este tipo de pessoas. Contudo, constatou-se que para as pessoas com deficincias mais profundas, o desenvolvimento deste sistema de servios, proporcionou poucas, seno nenhumas, oportunidades de integrao em contexto real de trabalho, que viabilizassem o acesso a trabalho pago em mercado aberto.Paralelamente foram incrementados mais fortemente os centros de emprego protegido, ento considerados como um sistema para preparar as pessoas para o emprego em mercado aberto de trabalho, mas muitas vezes reservados para pessoas com deficincias menos severas, cujo processo de integrao em mercado competitivo de trabalho era menos exigente, verificando-se que pouco faziam para apoiar pessoas com deficincias mais significativas (Joyce, 1995). Um estudo realizado por Bellamy et al. (1986, cit. p. Joyce, 1995), baseado no tempo mdio de permanncia em cada nvel do processo reabilitao deste tipo de servios, revelou que uma pessoa com deficincia mental poderia esperar ficar entre 47 e 58 anos para se considerar preparada para ingresso no mercado competitivo de trabalho.Entre 1968 e 1976, o nmero de pessoas com deficincia mental nos centros de dia e de emprego protegido quintuplicou. Em 1979, o Departamento de Emprego estimava que uma pessoa com deficincia mental nos Work Activity Centers recebia 29 dlares mensalmente, enquanto que em programas de emprego recebia, em mdia, 131 dlares (Joyce, 1995).Durante vrios anos a prpria comunidade de reabilitao criticou frequentemente o trabalho realizado pelos programas de reabilitao, pela falta de trabalho apropriado em termos de formao e futura integrao (Hansen, 1969; Brubeck, 1974; Greenleigh Associates, Inc., 1975; U.S. Department of Labor, 1977; Vash, 1977; DuRand & DuRand, 1978; DuRand & Neufeldt, 1980; cit. p. Coker, Osgood & Clouse, 1995). Foram propostos vrios mtodos para corrigir essas insuficincias no sentido de providenciar mais oportunidades de integrao e emprego para pessoas com deficincias significativas. Por exemplo, as equipas mveis (mobile work crew) e os enclaves (enclave models) foram alguns dos mtodos propostos no sentido de desenvolver programas de que resultassem mais diversidade de emprego, melhor formao e mais oportunidade de independncia e autonomia (Coker, Osgood & Clouse, 1995). Estes modelos, contudo, no originaram um aumento significativo no nmero de pessoas que conseguiram a integrao em contexto real de trabalho (Kiernan & Stark, 1986, cit. p. Coker Osgood & Clouse, 1995).Alguns investigadores desenvolveram entretanto estudos em que se provou que pessoas com deficincias assinalveis incluindo deficientes mentais profundos e multideficientes podiam no s aprender tarefas, como tambm podiam dominar o desempenho de tarefas profissionais, realizando-as de forma produtiva, desde que fosse feita uma detalhada anlise de funes e proporcionado treino comportamental adequado (Bellamy, Horner, & lnman, 1979; Bellamy, O'Connor, & Karan, 1979; Bellamy, Peterson, & Close, 1975; Gold, 1972, 1973, 1976; Rusch & Mithaug, 1980; cit. p. Joyce, 1995).Neste mbito, o trabalho de Marc Gold, da Universidade de Illinois, foi determinante, pois concebeu um sistema chamado Try Another Way, de que derivaram as tcnicas designadas como systematic nstructon, desenvolvidas especialmente para o ensino de pessoas com dificuldades de aprendizagem, e/ou com deficincias assinalveis (Sousa, 2000). 0 trabalho desenvolvido por Marc Gold e outros motivou o interesse pela demonstrao da capacidade produtiva das pessoas com deficincias graves. Tom Bellamy, Rob Horner e os seus colegas da Universidade de Oregon (p. ex., Bellarny et al., 1988; Paine, Bellamy, & Wilcox, 1984); o grupo de trabalho de Lou Brown na Universidade de Wisconsin (p. ex., Brown, 1973; Brown et al., 1984); e de Paul Wehman na Universidade de Virgnia - Virginia Commonwealth Universitys (VCU) Rehabilitation Research and Training Center (RRTC) - (p. ex. Wehman, 1981), foram alguns dos mais significativos, pois desenvolveram projectos de demonstrao muito ricos que tiveram repercusses assinalveis (Joyce, 1995).Nos primeiros anos da dcada de 80 assiste-se disseminao destas novas perspectivas, que originam novos modelos de reabilitao orientados para o trabalho, tais como: as equipas mveis (specialized training program's mobile crew), empregos apoiados (supported jobs), enclaves (enclave models) (p. ex., Mank, Rhodes & Bellamy, 1986; Rhodes & Valenta, 1985) e o modelo competitivo de emprego apoiado em mercado aberto (supported competitive employment model) desenvolvido na Universidade de Virgnia (p. ex., Wehman & Kregel, 1985) foram alguns dos novos modelos que testemunham o impacto do trabalho desenvolvido (Joyce, 1995).Segundo Wehman, Sale e Parent (1992) os anos 80 nos Estados Unidos foram tempos de inovao ao nvel da reabilitao vocacional para pessoas com deficincia. Os esforos feitos em termos de investigao produziram novas abordagens em termos da reabilitao, nomeadamente ao demonstrarem que pessoas consideradas como incapazes para trabalhar em ambientes no segregados podiam aprender a realizar um trabalho produtivo em contexto real de trabalho. Uma abordagem baseada na colocao e formao em posto de trabalho para indivduos para quem o emprego era uma iluso inatingvel teve origem nestes esforos pioneiros. Este tipo de abordagem que envolve a formao/colocao em contexto real de trabalho, foi denominada como supported employment (emprego apoiado), e foi desenvolvida para assegurar que pessoas com deficincias severas teriam acesso a um salrio pelo seu trabalho, a possibilidade de estarem integrados em contextos de trabalho com pessoas no deficientes, bem como o apoio necessrio para tal (Wehman et al. 1992).Segundo Coker, Osgood e Clouse (1995) o emprego apoiado (supported employment) oferece novas formas para atingir a insero em mercado de emprego competitivo, pois prev a colocao directa, com o apoio necessrio, em contexto real de trabalho. Este conceito de emprego apoiado, e o movimento a que deu origem, defende que o apoio dado em ambientes segregados, para se treinar a aprendizagem de uma actividade profissional, deve ser substitudo por apoio em posto real de trabalho (Bellamy, Rhodes, Mank, & Albin, 1988; Mank, Rhodes, & Bellamy, 1986; Gardner, Chapman, Donaldson, & Jacobson, 1988; Moon & Griffin, 1988; Wehman, 1988, cit. p. Coker, Osgood & Clouse, 1995). Substitui-se, assim, uma formao em contexto segregado, de que poder vir a resultar uma eventual colocao profissional, por um novo conceito de formao, que ir proporcionar a aprendizagem profissional necessria em posto real de trabalho. Esta aprendizagem realizada atravs do apoio sistemtico de um tcnico (job coach) que faz o acompanhamento do processo de insero/formao em posto de trabalho. Na segunda metade dos anos 80, diferentes tipos de iniciativas a nvel federal, estatal e local impulsionaram a implementao da metodologia do supported employment em praticamente todos os sistemas de reabilitao nos Estados Unidos. Em 1990 mais de 72 000 pessoas tinham recebido servios de supported employment criados por mais de 2 600 programas (Wehman,1991, cit. p. Wehman, Sale & Parent, 1992).No h dvidas, para Wehman e Kregel (1992), quando se observa a dcada de 80, que o supported employment pode ser considerado, nos Estados Unidos, um dos principais novos programas na rea da reabilitao e da educao especial. Atravs desta nova via de reabilitao abriu-se uma nova porta para milhares de pessoas com deficincias significativas e sem emprego, que faz antever diferentes oportunidades no campo da reabilitao. Com taxas de desemprego para pessoas com deficincia mental entre 80% e 90%, o supported employment revelou-se o nico veculo para o acesso ao emprego competitivo acessvel para essas pessoas (Wehman, Kregel & Seyfarth, 1985).Tem sido demonstrado de forma consistente (Wehman & Kregel, 1992) que o supported employment uma abordagem programtica que funciona, sendo o seu objectivo a colocao de pessoas com deficincia em mercado competitivo de trabalho, com um salrio e beneficiando da quantidade de apoio necessrio que assegure um desempenho ajustado s exigncias do posto de trabalho. Pensar que uma pessoa com um atraso mental elevado poderia trabalhar num emprego competitivo, era algo considerado altamente improvvel no final da dcada de 70, princpio dos anos 80. Contudo, durante a dcada de 90 esta percepo mudou significativamente. Para tal, como vimos, contribuiu fortemente o crescimento do modelo de supported employment, o qual, segundo Wehman e Kregel (1992) implica em primeiro lugar colocao na comunidade (apoio para colocao em emprego), seguida de treino (apoio na formao para aprendizagem de tarefas) e finalmente apoio continuado para manuteno do posto de trabalho. Ser absolutamente fundamental destacar o papel do tcnico de incluso/acompanhamento (job coach) no processo de acompanhamento da pessoa no local de trabalho e na comunidade.Para Sousa (2000) estes anos deram origem consolidao, em diversas zonas do mundo, de correntes muito fortes pela integrao das pessoas com deficincia, nomeadamente a integrao nas escolas regulares. Nos Estados Unidos foi aprovada legislao, j referida no captulo anterior, que mudou decisivamente os servios de educao para crianas com deficincia. Lembremos a Public Law 94142, o Education for All Handicapped Children Act, de 1975, com a emenda de 1990 (Individuals with Disabilities Education Act IDEA), que definia que as escolas pblicas deveriam providenciar educao pblica apropriada para todas as crianas, incluindo as que tm deficincias significativas. Tambm em 1990, o Congresso aprovou a Public Law 101-336, Americans with Disabilities Act (ADA), que refora as perspectivas de integrao e previne a discriminao, transferindo para o sector pblico a responsabilidade de providenciar os apoios necessrios que originem o acesso, para todas as pessoas com deficincia, a uma incluso social e profissional plena (Hadadian & Malone, 1994). Segundo Coker, Osgood e Clouse (1995) o modelo de emprego apoiado (supported employment) tem-se revelado eficaz na incluso scio-profissional de pessoas com deficincia pela inovao que traz em termos do processo de formao, que, luz deste modelo, deixa de se processar em estruturas intermdias e simuladas para ser realizado em posto real de trabalho, sustentando-se numa filosofia consistente com as abordagens mais recentes citadas na literatura, do princpio da normalizao e desinstitucionalizao (Flynn & Nitsch, 1980; Wolfensberger, 1980, cit. p. Coker, Osgood & Clouse, 1995). De facto, o modelo lanado pela Universidade de Virgnia emprego apoiado em mercado aberto (supported competitive employment model) , sob a direco de Paul Wehman, tem como objectivo a promoo do emprego de pessoas com deficincia em mercado aberto de trabalho - empresas e servios da comunidade -, com o apoio prximo de tcnicos que acompanham o processo de formao em posto de trabalho.O modelo do emprego apoiado em mercado aberto, e as contribuies dos outros projectos que estavam na mesma linha de orientao, tiveram grande impacto nos Estados Unidos e, em 1984, as autoridades (Federal Register, 1984; Presidents Commission on Employment for Individuals with Disabilities, cit. p. Joyce, 1995) lanaram a primeira definio de supported employment: "trabalho pago em meio competitivo de trabalho, com apoio continuado". Em 1987 "apoio continuado" (ongoing support) foi definido como: no mnimo duas visitas estruturadas por ms ao local de trabalho. No mesmo ano foi tambm definido um mnimo de 20 horas de trabalho semanal pago, em meio integrado, para ser considerado abrangido pelo modelo de emprego apoiado. "Meio integrado" foi definido como meio normal de trabalho em que no mais de oito pessoas com deficincia poderiam estar a trabalhar juntas" (Joyce, 1995).A partir de 1984, o Rehabilitation Services Administration (RSA) do Federal Office of Special Education and Rehabilitation Services (OSERS) comeou a apoiar e a financiar projectos de transio de pessoas com deficincia do emprego protegido e de centros de dia para o mercado aberto de trabalho, na perspectiva deste modelo (Joyce, 1995). Em 1984, havia projectos em 10 estados, em 1985 j se haviam estendido a 27 estados (Joyce, 1995). Em 1986 foi autorizado o financiamento para o desenvolvimento de programas de emprego apoiado em todos os 50 estados (Wehman & Kregel, 1992). Um estudo conduzido por Wehman e Kregel (1990) mostrou que o nmero de pessoas abrangidas por programas de emprego apoiado subiu de 9 876 em 1986 para 32 000 em 1988. Joyce (1995) considera que desde 1984 o crescimento deste modelo de emprego apoiado foi fenomenal, pois entre 1986 e 1988 estabeleceram-se mais de 1 423 organizaes a desenvolverem programas de emprego apoiado. Em 1995 existiam mais de 2 600 organizaes que se assumiam como promotoras do modelo de emprego apoiado e mais de 100 000 pessoas com deficincia a trabalhar em mercado aberto de trabalho (Sousa, 2000). Wehman e Bricout (2001) referem que em menos de uma dcada o nmero de pessoas que partici