UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU:
GESTÃO AMBIENTAL
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: CONCILIANDO
CAPITALISMO E SUSTENTABILIDADE
Por: Ticiana Mota Esteves
Orientador (a):
Maria Esther Araujo
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU:
GESTÃO AMBIENTAL
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: CONCILIANDO
CAPITALISMO E SUSTENTABILIDADE
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como
requisito parcial para obtenção do grau de especialista em
Gestão Ambiental
Por: TICIANA MOTA ESTEVES
RIO DE JANEIRO
2012
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RESUMO
Desde os anos 1970, quando a temática ambiental começou a ganhar mais
visibilidade, pressões sobre empresas com atividades consideradas
potencialmente poluidoras vêm aumentando vertiginosamente, a partir de
exigências voltadas à prevenção ou redução de impactos ambientais. Perante
este contexto, um número também crescente de empresas tem buscado inserir
a dimensão ambiental à sua gestão de negócios, através da certificação do
Sistema de Gestão Ambiental (SGA) nos moldes da NBR ISO 14001. Os
objetivos da adoção de um SGA estão relacionados não só a uma melhora no
desempenho ambiental da corporação, mas também a ganhos em
competitividade, melhora de imagem e principalmente benefícios econômicos.
Tendo isto como base, o presente trabalho pretende, através de pesquisa
bibliográfica e explicitação de estudos de casos descritos na literatura,
averiguar a importância da consideração da variável ambiental frente às novas
exigências de mercado, além de mostrar os benefícios que podem advir a partir
da adoção de um Sistema de Gestão Ambiental. A partir desta análise,
portanto, procurar-se-á verificar se o SGA e suas ferramentas podem atuar
como ponto-chave na conciliação de interesses capitalistas e questões
ambientais.
Palavras-chave: Sistema de Gestão Ambiental; ISO 14001; Competitividade
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METODOLOGIA
O desenvolvimento do presente trabalho se deu através de uma pesquisa
bibliográfica, tendo como base textos de caráter científico cujo tema central
tivesse relação com a Gestão Ambiental, Sistemas de Gestão Ambiental,
Impactos Ambientais, atividades de empresas sob o ponto de vista ambiental e
outros temas correlatos.
Inicialmente, procurou-se tratar do histórico do capitalismo e o surgimento das
discussões ambientais para balizar as discussões posteriores relacionadas a
mudanças de postura de empresas com relação às questões ambientais.
Optou-se também por apresentar três estudos de caso descritos em literatura
com o objetivo de analisar de forma crítica os temas abordados a partir de
exemplos concretos.
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SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................... 3
METODOLOGIA .......................................................................................... 4
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 6
Capítulo 1: Capitalismo, Desenvolvimento e Meio Ambiente: Um breve
histórico ................................................................................. 8
1.1. Desenvolvimento e as Discussões Ambientais ......................... 11
1.2. Legislação Ambiental Brasileira: Um apanhado geral ............... 16
Capítulo 2: Sistema de Gestão Ambiental: Conciliando Capitalismo e
Sustentabilidade..................................................................... 23
2.1. Sistemas de Gestão Ambiental e as Certificações.................... 24
2.2. Sistema de Gestão Ambiental: Benefícios de sua
Implementação.................................................................................. 28
Capítulo 3: Empresas Brasileiras e Implantação de Sistemas de Gestão
Ambiental – Alguns Exemplos ................................................ 35
3.1. Estudo de Caso 1: Empresa Construtora ................................... 35
3.2. Estudo de Caso 2: Alfa S.A ........................................................ 38
3.3. Estudo de Caso 3: Belgo Arcelor Brasil – Unidade Monlevade .. 39
Conclusão ................................................................................................... 42
Referências Bibliográficas ........................................................................ 44
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v INTRODUÇÃO
A relação homem x natureza sempre foi baseada na exploração, no
sentido de retirar do meio recursos para uso próprio. As primeiras populações
utilizavam os recursos naturais basicamente para sua subsistência, os
extraindo para fins de alimentação, medicinais, habitacionais, dentre outros. Tal
uso era guiado por critérios, provenientes da vivência das populações com a
natureza. Através da experiência, havia uma percepção dos ciclos naturais e
da necessidade de respeitá-los para garantir a perpetuação dos elementos do
meio através do tempo. Com o passar dos anos, o número de habitantes ao
redor do mundo sofreu aumentos consideráveis, o que levou à expansão
territorial e à expansão no uso de recursos. Um grande marco na história neste
sentido foi a Revolução Industrial (Século XVIII), cujos adventos trouxeram
mudanças significativas na escala de exploração do meio ambiente.
Neste cenário, a relação do homem com a natureza passa a tomar novas
configurações. Recursos naturais passaram a ser vistos como possibilidade de
lucro, visão que passou a sustentar a ideia de “desenvolvimento a qualquer
custo”. Nesta nova postura adotada, o meio ambiente era pensado como algo
inesgotável, passível de exploração direta e sem controle. Não se cogitava a
possibilidade de escassez proveniente do mau uso, e assim, este tipo de
exploração perdurou por muitos anos, até que as consequências começaram a
se tornar realidade. Quando os recursos passaram a se mostrar insuficientes,
percebeu-se que o modo de exploração adotado até então estava afetando
negativamente a disponibilidade dos mesmos. A partir daí, iniciam-se as
discussões sobre novos tipos de uso dos recursos e começa a surgir o conceito
de desenvolvimento sustentável.
E é basicamente a partir dos anos 1960 que a questão ambiental passa a
ser levada em consideração no cenário capitalista. Grandes encontros foram
promovidos por diversos países com o intuito de rever as atitudes vinculadas
ao tipo de desenvolvimento adotado até então e propor soluções eficazes para
tais questões. As principais discussões foram a Conferência das Noções
Unidas sobre Meio Ambiente Humano (Estocolmo), em 1972, Comissão de
Bruntland (Nairobi), em 1982, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
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Ambiente e Desenvolvimento ou Rio 92 (Rio de Janeiro) em 1992 e a Rio + 20,
prevista para junho de 2012.
A partir destas discussões, houve grande evolução ao redor do mundo
no que diz respeito às questões ambientais. Um amplo leque de legislações e
normas foi desenvolvido em muitos países, visando regular o uso de elementos
naturais. Diante deste novo contexto, exigências vêm sendo feitas às empresas
para que os impactos de suas atividades possam ser previstos e reduzidos ou
compensados, como uma tentativa de conciliar o desenvolvimento com
qualidade ambiental. Assim, cada vez mais empresas vêm buscando inserir a
variável ambiental à sua gestão de negócios, através da certificação do
Sistema de Gestão Ambiental (SGA), tendo como base a série ISO 14000,
mais especificamente a norma ISO 14001, que traz as diretrizes para tal. A
adoção de um SGA tem como objetivo não somente a melhora no desempenho
ambiental da empresa para atender às exigências legais, mas também um
ganho na competitividade no mercado, pois a adoção do SGA pode trazer
redução de custos, além de melhora na imagem da empresa diante dos
consumidores.
Deste modo, o presente trabalho pretende, através de uma pesquisa
bibliográfica, averiguar a importância da consideração da variável ambiental
diante das exigências de mercado, bem como a importância da implantação de
um SGA na redução de gastos e otimização da produção nas empresas,
verificando, com isso, se o SGA e suas ferramentas podem atuar como um
ponto chave na conciliação dos interesses capitalistas de empresas com as
questões ambientais.
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v CAPÍTULO 1:
Capitalismo, Desenvolvimento e Meio Ambiente: Um Breve Histórico
O sistema capitalista tem origem na transição da Idade Média para a
Idade Moderna. Na Idade Média, a sociedade era caracterizada pela estrutura
feudal, onde a posse da terra determinava as diferenças entre os grupos
sociais (CAMPOS & MIRANDA, 2005). Tal estrutura, portanto, definia uma
economia baseada no mundo rural, em fracas relações comerciais, sistemas de
produção baseados no feudalismo e uma sociedade hierarquizada
(http://www.suapesquisa.com/idademedia/, 2012).
A economia medieval era baseada na agricultura, cujas atividades eram
desenvolvidas nos feudos, lotes de terra pertencentes a senhores feudais. A
organização econômica típica da época era o senhorio ou domínio, que era
dividida em três setores: a reserva senhorial, os mansos servis e as terras
comunais. Na reserva senhorial estavam os principais terrenos cultiváveis,
moinhos e todos os componentes complementares à economia senhorial, além
dos castelos, que serviam de moradia para o senhor feudal e de proteção para
os servos. A produção deste setor era convertida integralmente ao dono do
domínio. O segundo setor eram os mansos servis, porção do domínio que era
dividida em pequenas unidades, destinadas a famílias de camponeses. Tal
concessão implicava em diversas obrigações aos camponeses para com seu
senhor de domínio, como trabalho na reserva senhorial e entrega de parte da
produção de seu manso servil. No terceiro setor de domínio estavam as terras
comunais, destinadas às pastagens e aos pequenos bosques, de onde se
obtinha lenha e caça. Este tipo de estrutura tendia à auto-suficiência, já que
nos feudos ou domínios eram produzidos artigos de alimentação, vestuário,
armamentos e utensílios (CAMPOS & MIRANDA, 2005). Apesar da citada
tendência à auto-suficiência, as atividades comerciais não eram ausentes. As
trocas eram realizadas em feiras instaladas em localidades nos arredores de
castelos, conhecidas como burgos. Neste sistema, cuja freqüência era
irregular, garantia-se o abastecimento de gêneros fundamentais que não eram
produzidos em todas as regiões (sal e metal, por exemplo), bem como os
artigos de luxo para a aristocracia (CAMPOS & MIRANDA, 2005)
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A partir do século XI, com o fim das invasões de vikings, húngaros e
muçulmanos, a Europa pôde experimentar um período de relativa estabilidade.
A diminuição no número de conflitos teve como consequência direta a redução
no número de mortes, o que significou maior disponibilidade de mão-de-obra
para as atividades agrícolas. Além disso, a produção agrícola foi também
favorecida pelo surgimento de inovações tecnológicas, o que levou a um
aumento geral de produção. Diante destas mudanças, as condições de vida da
sociedade européia da Idade Média foram modificadas. Transações
comerciais, anteriormente irregulares, tornaram-se mais constantes, o que
acabou por transformar determinados pontos de encontro e feiras em locais
específicos e permanentes para este fim: as cidades, muitas das quais com
origem nos burgos. As cidades não eram apenas aglomerações de
comerciantes. Havia também atividades de artesanato e diversos serviços
voltados ao recebimento e alojamento de negociantes (CAMPOS & MIRANDA,
2005). Este renascimento urbano e comercial culminou em transformações
sociais, econômicas e políticas. Neste contexto, surge uma nova classe social:
a burguesia, cujas atividades baseavam-se na circulação de dinheiro. Esta
nova estrutura trouxe ideais primitivos do sistema capitalista: lucro, acúmulo de
riquezas, controle dos sistemas de produção e expansão de negócios
(http://www.suapesquisa.com/capitalismo/, 2012).
A prosperidade proveniente do comércio nas cidades perpetuou-se por
algum tempo. No século XIV, no entanto, emerge uma crise, como resultado de
“más colheitas, fome, declínio populacional, pestes, estagnação da produção,
desemprego, inflação, guerras devastadoras, abandono de aldeias e rebeliões
violentas nas cidades e no campo” (CAMPOS & MIRANDA, 2005:129). O mau
uso do solo pela falta de conhecimentos e pelo uso limitado de adubos levou à
queda na produção agrícola. A limitação técnica também levou à escassez de
prata, o que gerou desvalorização da moeda e consequente inflação, com
aumento exorbitante nos preços dos produtos manufaturados. Aliado a tais
acontecimentos, a Europa medieval foi assolada pela peste negra, que teve
como resultados milhões de mortes e, consequentemente, a redução na
produção de alimentos e mercadorias (CAMPOS & MIRANDA, 2005).
10
Em meio à crise, a burguesia mercante passa a procurar riquezas em
terras além-europa. É neste período que o capitalismo começa a se
estabelecer, com o inicio das Expansões Marítimas e das Grandes
Navegações. Tal período é conhecido como a primeira fase do capitalismo: o
Capitalismo Comercial ou Pré-Capitalismo. Comerciantes europeus,
financiados por reis e nobres, buscavam novos territórios para iniciar ciclos de
exploração, com o intuito de enriquecimento e acúmulo de capital. Nesta
primeira fase, podem-se identificar alguns atributos capitalistas, como busca de
lucro, mão-de-obra assalariada, sistema de compra usando moeda (em
oposição às trocas), relações bancárias, fortalecimento da burguesia e
desigualdades sociais (http://www.suapesquisa.com/capitalismo/, 2012).
A segunda fase do capitalismo, o Capitalismo Industrial, emerge no
século XVIII, a partir da Revolução Industrial. Esta teve início na Inglaterra e
resultou no fortalecimento do sistema capitalista. A Revolução trouxe
mudanças substanciais no sistema de produção, na medida em que introduziu
máquinas capazes de exercer o trabalho anteriormente desempenhado por
artesãos em maior escala e menor tempo, o que significou maior lucro para os
donos de fábricas. Entretanto, apesar de representar novo fôlego para a
burguesia, a Revolução trouxe também desvantagens socioeconômicas.
Desemprego, exploração do trabalhador - com baixos salários e terríveis
condições de trabalho e poluição do ar e de rios foram algumas das
adversidades provenientes desta nova fase. As indústrias, com suas máquinas
a vapor, expandiram-se rapidamente pela Europa, dando ao capitalismo novos
contornos. A exploração de outros continentes (neocolonialismo) passou a
fazer parte deste novo sistema: populações foram dominadas à força e todo o
tipo de matérias-primas e riquezas foram extensamente extraídas. Além do
trabalho compulsório, os colonos eram obrigados a consumir produtos
industrializados trazidos pelos navios da metrópole
(http://www.suapesquisa.com/capitalismo/, 2012).
A terceira fase do capitalismo, o Capitalismo Monopolista-financeiro,
teve início no século XX e dura até os dias de hoje. Esta fase tem seu
desenvolvimento baseado no sistema bancário, nas grandes corporações
financeiras e no mercado globalizado. O grande diferencial desta fase é o
11
alcance global dos mercados, fator este que permitiu que as grandes
corporações distribuíssem sua produção em diversas partes do mundo
buscando a redução de custos. Esta nova estrutura permite um comércio ativo
de grandes proporções e, consequentemente, uma margem de lucro elevada
(http://www.suapesquisa.com/capitalismo/, 2012). Nesta nova lógica de expansão
mercadológica ultrapassando limites geográficos, a exploração de recursos
naturais também teve aumento significativo de limites. Para atender a um
mercado tão amplo, explorações de produtos como petróleo, minérios e
diversos outros precisam se expandir cada vez mais, o que nem sempre é feito
com a responsabilidade devida. Sendo assim, a crise ambiental se tornou cada
vez mais presente, atingindo hoje níveis críticos.
1.1. Desenvolvimento e as Discussões Ambientais
Séculos de exploração extensiva e descuido no uso dos recursos naturais
fizeram com que o meio ambiente começasse a dar sinais de exaustão. A partir
dos anos 1960, crescem as preocupações a respeito dos efeitos devastadores
do desenvolvimento econômico, particularmente no que diz respeito à
qualidade do meio ambiente (JUSTI, s/d). De acordo com Nobre et al. (2002):
“O surgimento da problemática ambiental na década de 1960
tem a sua especificidade: a ideia de que, no caso da utilização
dos recursos naturais, perseguir egoisticamente os próprios
interesses não conduz à utopia liberal do crescimento
incessante da riqueza nacional, mas sim à catástrofe sem volta
da destruição do planeta.” (NOBRE et al, 2002:27)
Nesta época, algumas publicações contribuíram bastante para o início
das discussões que trataram da problemática ambiental. Uma delas foi o livro
Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, que versava sobre as ações
antrópicas que interferiam negativamente sobre o meio ambiente,
comprometendo as condições de vida das gerações futuras (IAMAMOTO, 2005
apud JUSTI, s/d). Um pouco mais adiante, na década de 1970, foi criado na
Itália o Clube de Roma. Este grupo era formado por cientistas e industriais que
12
demonstravam apreensão quanto aos impactos provenientes do
desenvolvimento econômico, além das questões relativas à disponibilidade dos
recursos naturais. Dentre os estudos realizados pelo Clube de Roma, um
relatório em especial marcou o início das discussões que faziam relação direta
entre economia e meio ambiente: The Limits to Growth (Os Limites para o
Crescimento), realizado por Dennis Meadows, Jay Forrester e colaboradores
(CORAL, 2002 apud JUSTI, s/d). Esta publicação pautou substancialmente as
discussões da década de 1970 pela nova visão que trouxe. De acordo com
relatos descritos no livro de Peter Moll a respeito do Clube de Roma, The Limits
to Growth mudou a forma de ver o mundo ao tornar claro que “temos que
começar a colocar novas questões sobre a natureza e a validade do
crescimento e da industrialização” (Moll, 1991:121 apud NOBRE et al,
2002:28). O estudo tratou de cinco variáveis simultaneamente, todas
relacionadas à industrialização e ao meio ambiente. A partir desta análise,
Meadows e seus colaboradores concluíram que, caso as tendências de
crescimento das variáveis se mantivessem, os limites ao crescimento do
planeta seriam atingidos em um período relativamente curto (100 anos).
Com isso, o relatório popularizou a questão ambiental como nunca antes
feito. Tais estudos trouxeram discussões importantes, responsáveis por iniciar
um pensamento embrionário daquilo que mais tarde viria a se concretizar como
o conceito de Desenvolvimento Sustentável (NOBRE et al, 2002). Uma
passagem de Limits to Growht, inclusive, demonstra um surgimento primitivo
destas ideias: “É possível alterar essas tendências de crescimento [das
variáveis de estudo] e estabelecer uma condição de estabilidade ecológica e
econômica que se seja sustentável no futuro” (MEADOWS et al, 1972:24 apud
NOBRE et al, 2002:32). O início das discussões ambientais, portanto, foi
influenciada pelas novas ideias trazidas pioneiramente por Meadows et al, em
1972. No mesmo ano, o recém-criado Programa Ambiental das Nações Unidas
(Unep) organizou, em Estocolmo (Suécia), a primeira grande conferência
voltada para a problemática ambiental, a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferência de
Estocolmo.
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O debate ambiental na década de 70 foi pautado na natureza da relação
entre desenvolvimento e meio ambiente. De acordo com Nobre et al (2002), a
posição tradicional – representada pelos economistas do mainstream – era
simplesmente a de que não havia qualquer problema. De acordo com suas
justificativas, a problemática ambiental frente o desenvolvimento crescente era
uma questão ideológica apenas. Sollow (1974) apud Nobre et al (2002:33)
afirmou que “a matéria-prima pode ser substituída por outros fatores de
produção, particularmente por meio do trabalho e do capital reprodutível”.
Representantes de posição contrária, por sua vez, com publicações como The
Limits to Growht (1972) e o Relatório da Fundação Dag-Hammarskjöld (1975),
afirmavam a relação contraditória entre desenvolvimento e meio ambiente. Os
países do Terceiro Mundo eram resistentes a esta discussão, já que a ideia de
impor limitações ao crescimento econômico significaria para eles um atraso
ainda maior para sua economia. Estas diversas visões, portanto, dificultavam
qualquer acordo internacional consistente, já que as discussões iam muito além
do cunho ambiental, tendo também vertentes políticas, sociais e econômicas
(NOBRE et al, 2002).
Em meio a este cenário, o ano de 1980 trouxe consigo um marco para a
discussão ambiental: a publicação World Conservation Strategy (WCS),
desenvolvida pela Internacional Union for Conservation of Nature and Natural
Resources (IUCN). É a partir dela que o conceito de desenvolvimento
sustentável adquire proeminência, com sua pretensão “de alcançar o
desenvolvimento sustentável por meio da conservação dos recursos vivos”
(LELÉ, 1991:610 apud NOBRE et al, 2002: 38). Inicialmente, a WCS recebeu
críticas por não fazer menção às dimensões políticas, social e econômica.
Nobre et al (2002), trazendo uma citação presente em Lelé (1991) mostra a
natureza dessas críticas:
“restringiu-se [a publicação] aos recursos vivos, centrando o
foco principalmente na necessidade de manter a diversidade
genética e processos ecológicos (...). Incapaz de lidar
adequadamente com questões controversas e delicadas –
aquelas referentes à ordem política e econômica mundial,
14
guerra e armamento, população e urbanização” (LELÉ,1991
apud NOBRE et al, 2002: 38)
Entretanto, ao se focar as discussões nas questões ambientais, pôde-se
afastar estas outras questões que dificultavam o andamento até um acordo
internacional. Deste modo, a estratégia foi primeiramente discutir e concretizar
uma visão da necessidade de preservação e conservação dos recursos
naturais. Com estas ideias já estabelecidas, as posteriores discussões
políticas, sociais e econômicas poderiam ter inicio sob um novo olhar, baseado
na conservação/preservação, o que abriria caminhos para acordos pautados no
desenvolvimento sustentável (NOBRE et al, 2002). Este posicionamento foi
responsável pela mudança de atitude dos países do Terceiro Mundo frente à
problemática ambiental na sessão especial do Unep de 1982, em Nairobi
(Quênia). Sendo assim, a rejeição a qualquer tipo de intervenção que tivesse
impactos em seu crescimento econômico – posição tomada anteriormente com
relação às discussões ambientais – foi substituída por um acordo, apoiado
pelos países em desenvolvimento, que trazia um novo conceito de
desenvolvimento, levando mais a sério as questões ambientais. Nesta sessão
especial da Unep os participantes decidiram propor à Assembléia Geral da
ONU o estabelecimento da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (WCED), conhecida como Comissão de Bruntland. Cinco
anos depois, em 1987, foi apresentado o Relatório de Bruntland, também
conhecido como Our Common Future. Este documento foi, antes de tudo, um
documento político. Porém, apesar de se poder concluir que não trouxe tantas
soluções com relação às questões ambientais, o relatório teve grande
importância na institucionalização da problemática ambiental e na formação de
alianças com países em desenvolvimento, já que fez uma relação entre
questões ambientais e problemas de desigualdade, pobreza e política de
comércio internacional (NOBRE et al,2002).
Nobre et al (2002) mostra que a ideia da presidente da Comissão, Gro
Harlem Bruntland, era a de que o projeto da institucionalização da temática
ambiental se encaminharia em duas etapas. A primeira delas seria levar ao
topo da agenda política internacional a ideia de sustentabilidade e as questões
15
relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Cumprida a primeira etapa,
a segunda seria “(...) integrar considerações ambientais no planejamento e nas
tomadas de decisão econômicas em todos os níveis” (Environmental Policy and
Law, 1987:222 apud NOBRE et al, 2002: 40). A partir do relatório, houve um
grande avanço nas discussões relativas ao desenvolvimento sustentável. Em
1992, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento no Rio de Janeiro, a Rio 92, evento este que mostrou o
compromisso com o cumprimento da primeira etapa do projeto. A partir desta
Conferência, foi firmada a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que
"estabeleceu um novo regime global e um novo código de conduta
internacional relativamente à conservação dos recursos genéticos e biológicos”
(ALBAGLI, 2006:113). A partir daí, iniciou-se a consolidação da segunda etapa
proposta por Bruntland. Prova disto é o papel que a CDB tomou no cenário
internacional, sendo hoje a principal referência internacional em debates na
área ambiental e nos desdobramentos práticos nas diferentes escalas, atuando
como instrumento incentivador de novas iniciativas e posturas relativas ao meio
ambiente (ALBAGLI, 2006).
Neste ano de 2012 será realizada no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22
de junho a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio +20), encontro este que marca os vinte anos de realização da
Rio 92. O site oficial do evento traz o principal objetivo da Conferência, qual
seja:
“a renovação do compromisso político com o desenvolvimento
sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas
na implementação das decisões adotadas pelas principais
cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e
emergentes” (www.rio20.gov.br, 2012: online).
Deste modo, a Rio +20 pretende definir uma agenda do desenvolvimento
sustentável para as próximas décadas, como uma tentativa de conter o extenso
estado de devastação em que se encontra o planeta.
16
1.2. Legislação Ambiental Brasileira: Um Apanhado Geral
De acordo com pesquisas na área da história ambiental, discussões
relacionadas aos impactos ambientais negativos gerados por determinadas
ações humanas aconteciam no Brasil desde o século XVIII (PÁDUA, 2000 apud
NEVES, 2006). A história nos mostra algumas ações isoladas voltadas à
proteção de áreas ou recursos, porém estas não eram suficientemente
consistentes para formar um arcabouço jurídico institucional. O objetivo maior
de tais ações, na maior parte das vezes, estava relacionado à garantia de
manejo de recursos específicos para fins econômicos. Um exemplo
emblemático disto foi a Carta Régia, de 13 de março de 1797, ainda no período
colonial. Seu texto mostra o interesse em manter determinados recursos para
garantir a exploração, ao afirmar “ser necessário tomar as precauções para a
conservação das matas no Estado do Brasil, e evitar que elas se arruínem e
destruam” (CARVALHO, 1967 apud DIEGUES, 2001 apud MEDEIROS,
2003:84).
Ao longo de séculos os problemas ambientais foram completamente
desconsiderados no cenário político-econômico frente aos fartos frutos do
desenvolvimento, decorrentes da Revolução Industrial. A visão que se tinha era
a de que os impactos ambientais provenientes das atividades eram um “mal
necessário” diante dos diversos benefícios que as mesmas proporcionavam.
No Brasil, a elaboração de uma política ambiental mais consistente ocorreu de
forma tardia, a partir de movimentos sociais locais e pressões internacionais.
Não havia uma política ambiental propriamente dita, mas várias políticas que
resultaram nela (SOUSA, 2005). Assim, até o início da década de 1930 não
havia no Brasil dispositivos que tratassem das questões ambientais de forma
específica. Como mostra Medeiros (2003), o que havia era apenas um conjunto
de normas que tratava sobre diferentes aspectos particulares, dando ênfase a
recursos específicos.
Considera-se o Código Penal de 1890 como sendo a primeira norma
brasileira de caráter ambiental, por tratar como crime a poluição de fontes de
água para consumo – crime este designado “envenenamento” (CARVALHO,
2003 a, p.2 apud NEVES, 2006). À época, havia algumas outras normas
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disciplinadoras relativas aos conflitos ambientais. O Código Civil trouxe
timidamente tais questões ao elucidar “sobre o direito de vizinhança de modo a
proteger o sossego, a segurança e a saúde, fazendo também menção a
construções capazes de poluir ou inutilizar a água de poço ou fonte alheia”
(NEVES, 2006:36). No período entre 1930 e o final da década de 1960,
diversas iniciativas do poder público foram tomadas, no âmbito da regulação
ambiental, definindo condições para a exploração econômica dos bens
naturais. O objetivo principal destas iniciativas era a expansão do controle
territorial pelo Estado central (NEDER, 2002 apud NEVES, 2006). Uma boa
parcela dessas ações pode ser associada ao período de governo de Getúlio
Vargas, entre 1930 e 1945. Em 1934, foram instituídos o Código de Águas
(Decreto 24.643 de 10 de julho de 1934), que regulava o uso industrial das
águas, e o Código Florestal (Decreto 23.793 de 23 de janeiro de 1934),
responsável pela criação do primeiro instrumento para a proteção de grandes
áreas de interesse ambiental (os Parques), explicitando o caráter de florestas
como bens de interesse público. Em 1938 aprovou-se a criação do Código de
Pesca, cujo objetivo era disciplinar as atividades pesqueiras. Como mostra
Neves (2006), na década de 1960 alguns outros marcos legais foram
instituídos:
Código Florestal (Lei 4.771 de 29 de junho1965), cujo texto estabeleceu
limites ao uso da propriedade, sendo este condicionado ao tipo de
vegetação presente na área;
Estatuto da Terra (Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964), que tratou do
tema da reforma agrária ao determinar que propriedades que fizessem
uso adequado de recursos naturais e preservassem o meio ambiente
não poderiam ser desapropriadas para fins da referida reforma;
Código de Caça (Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967), que designou a
fauna silvestre terrestre como propriedade da União;
Política Nacional de Saneamento Básico (Lei 5.318 de 26 de setembro de
1967), que criou um programa de saneamento nacional através do uso
de recursos federais, passíveis de transferência para os governos
estaduais.
18
Apesar deste pequeno passo em direção à constituição de uma política
ambiental sólida, “ainda não havia uma ação coordenada do governo ou uma
entidade gestora da questão” (SOUSA, 2005: online). As ações até então
tomadas estavam vinculadas ao caráter desenvolvimentista dos governos
militares, que tinham como principal objetivo o crescimento econômico. Sendo
assim, a legislação ambiental relativa a tal período focava principalmente no
controle do uso de recursos naturais, visando um melhor aproveitamento
destes para o desenvolvimento do país. A partir do final da década de 60, no
entanto, começam a surgir iniciativas de cunho mais conservacionista. Pela
primeira vez, as questões ambientais passaram a ser vistas não apenas como
parte de um problema econômico, iniciando-se uma preocupação com a
contaminação proveniente de atividades industriais e com a proteção de
grandes áreas. Tais iniciativas foram um reflexo do cenário internacional da
época, onde se debatia a relação entre crescimento econômico e finitude dos
recursos naturais (NEVES,2006).
Nos anos 1970, são criadas as primeiras organizações públicas voltadas
para a defesa ambiental. A Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) foi
criada em 1973, com a finalidade de trazer avanços à legislação e a assuntos
de âmbito federal, como “a produção de detergentes biodegradáveis, a
poluição por veículos, a demarcação de áreas críticas de poluição e a criação
de unidades nacionais de conservação” (SOUSA, 2005: online). Assim, novas
normas surgiram para tratar a poluição industrial, determinando consequências
legais à poluição gerada por embarcações e terminais marítimos, além de
trazer o controle da poluição industrial vinculado a conceitos de zoneamento e
licenciamento ambiental (NEVES,2006). Neste período foram criadas duas
novas categoriais de áreas protegidas: as Áreas de Proteção Ambiental
(APA’s) e as Estações Ecológicas. Em 1979 foi criada a primeira norma
nacional voltada ao parcelamento do solo urbano (Lei Lehmann), trazendo-se
uma vinculação de problemas ambientais à expansão territorial das cidades.
Deste modo, o modelo de política ambiental presente no país baseava-se no
controle da poluição e na criação de Unidades de Conservação, unicamente.
Questões como crescimento populacional e saneamento não foram incluídas
no “quadro geral”, ficando reservadas a políticas próprias, não articuladas às
19
questões ambientais, fato este que deixa claro o desenvolvimento isolado do
setor ambiental (SOUSA, 2005). A atuação da Sema ocorria de forma
descentralizada através de órgãos estaduais de meio ambiente em estados
mais desenvolvidos, como Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com Sousa
(2005), a estruturação de uma política de controle de poluição nesses estados
nasceu a partir de críticas feitas aos órgãos ambientais estaduais até então
atuantes – em especial a Companhia Estadual de São Paulo e o Instituto de
Engenharia Sanitária (IES). De acordo com os críticos, a atuação destes
órgãos era falha, na medida em que não consideravam o meio ambiente de
forma integrada e abrangente – suas medidas tinham caráter unicamente
corretivo/ repressivo, não trazendo uma visão de prevenção. Neste contexto, foi
criada no Rio de Janeiro a Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (Feema). (CARVALHO, 1987 apud SOUSA, 2005).
Segundo Neves (2006:38), a década de 1980 pode ser considerada como
“palco das mudanças decisivas para a institucionalização da política ambiental
no Brasil, inaugurando a abordagem sistêmica da ação estatal no campo
ambiental”. Agências de proteção ambiental implantadas nas décadas
anteriores, como as dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais,
serviram de modelo e passaram a fazer programas de capacitação de quadros
técnicos para agências ambientais dos demais estados. A atuação destas
agências baseou-se em cinco prioridades: controle de poluição atmosférica e
hídrica, licenciamento ambiental, proteção de mananciais urbanos e regionais,
áreas protegidas e licenciamento para parcelamento do solo em áreas de
restrição ambiental. A organização das agências em torno destas prioridades
estava diretamente relacionada à expansão do movimento ambientalista
brasileiro, bem como ao aumento de pressões relativas aos sérios problemas
ambientais provenientes do modelo de desenvolvimento adotado até então
(NEVES, 2006). Em agosto de 1981 é sancionada a Lei 6.938, que “dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências” (BRASIL,2011:895). Esta foi
uma das primeiras leis no país de caráter prioritariamente ambiental. O artigo
2° desta lei traz os objetivos da mesma:
20
“A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança e
à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes
princípios (...)” (BRASIL, 2011:895).
Um dos grandes avanços trazidos pela Política Nacional do Meio
Ambiente foi a apresentação de instrumentos para o cumprimento de seus
objetivos, quais sejam: a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) e o
Licenciamento Ambiental e revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras. Além de trazer as disposições relativas à Política Nacional do Meio
Ambiente, a lei 6938/81 também criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA), integrado por seu órgão colegiado – o Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA). A composição deste colegiado era feita por
representantes de ministérios e entidades setoriais da Administração Federal
ligadas ao setor ambiental, órgãos ambientais estaduais e municipais e
entidades de classe e de organizações não governamentais (SOUSA, 2005).
Alguns anos após a criação do Sisnama, o presidente José Sarney (1985-
1989) estabeleceu uma redefinição da política ambiental do país. Para tanto, foi
criado um programa denominado “Nossa Natureza”, cujo objetivo era realizar
uma reestruturação dos órgãos públicos responsáveis pela questão ambiental.
Com isso, o programa unificou o Sudespe (ligado ao setor de pesca), o
Sudhevea (setor de borracha), o IBDF (desenvolvimento florestal) e a Sema
(Secretaria do meio ambiente) ao redor de um único órgão federal: o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) (SOUSA, 2005).
No cenário internacional, as discussões ambientais passam a girar em
torno das ações preventivas. Este novo foco de ação passou a tratar a
Avaliação de Impacto Ambiental como um mecanismo fundamental na
concessão de licenças para implantação de empreendimentos potencialmente
impactantes ao meio ambiente. Este novo cenário teve seus reflexos no Brasil,
na Constituição Federal de 1988, cujo texto trazia um capítulo voltado ao meio
21
ambiente (SOUSA, 2005). Em seu artigo 225, parágrafo 1°, inciso IV, o texto
deixa clara a exigência de licenciamento prévio concedido por órgão estadual
integrante do Sisnama para construção, instalação, ampliação e funcionamento
de empreendimentos e atividades que façam uso de recursos naturais,
considerados efetivos ou potencialmente poluidores (BRASIL, 2011). A
passagem de Neves (2006) mostra a nova posição ocupada pelo tema
ambiental na política brasileira, a partir das disposições trazidas pela
Constituição de 1988 e pela Política Nacional de Meio Ambiente:
“Todas as inovações institucionais relativas ao meio ambiente
instituídas no início da década [1980] foram incorporadas ao texto
constitucional – o tema ambiental foi vinculado ao
desenvolvimento econômico e social; foi reafirmado o papel do
Ministério Público como guardião do meio ambiente e demais
interesses difusos; e é consagrada a distribuição de competências
ambientais estabelecidas em 1981, instituindo o que se pode
chamar de federalismo ambiental brasileiro”. (NEVES, 2006:39).
Desde a guinada inicial para a defesa ambiental, portanto, a política
ambiental brasileira vem dando passos expressivos, trazendo diversos
instrumentos legais voltados a garantir qualidade ambiental. Alguns dos mais
importantes são citados a seguir.
- Política Nacional de Recursos Hídricos
Instituída pela Lei 9.433/97, que cria também o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Seu objetivo principal é assegurar a
disponibilidade de água à geração atual e às futuras, através do uso regulado e
controlado.
- Lei de Crimes Ambientais
Lei 6.905/98, que determina a punição civil, administrativa e criminal a
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente.
22
- Política Nacional de Educação Ambiental
Instituída pela Lei 9.795/ 99, traz a definição de educação ambiental, seus
objetivos e sua aplicação.
- Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
Instituído pela Lei 9985/00, determina critérios e normas para criação,
implantação e gestão de Unidades de Conservação.
- Lei de Saneamento Básico
Lei 11.445/07, estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico e
para a política federal de saneamento básico.
- Política Nacional de Resíduos Sólidos
Instituída pela Lei 12.305/10, dispõe sobre os princípios, objetivos e
instrumentos, além das diretrizes para a gestão integrada e ao gerenciamento
de resíduos sólidos.
Passados aproximadamente quarenta anos desde as primeiras
articulações em direção à criação de uma política ambiental consistente, pode-
se apontar um grande avanço no tratamento das questões ambientais no país.
A criação de um Ministério próprio (Ministério do Meio Ambiente), de um órgão
ambiental federal e dos estaduais, do próprio Sisnama e do Conama, além dos
diversos instrumentos trazidos pela legislação possibilitou uma organização da
temática ambiental. Esta nova organização aliada ao arcabouço legal trouxe
novas perspectivas para empresas públicas e privadas. A existência de leis que
regulam atividades e empreendimentos potencialmente poluidores traz, agora,
novas obrigações. Desta forma, para que empresas se adéqüem a nova
realidade, devem seguir os procedimentos determinados legalmente, estando
sujeitas a punições previstas em lei caso não cumpram o determinado pelas
mesmas. Isto pode ser interpretado como um reflexo dos avanços acima
citados, já que representa um maior controle de atividades nocivas ao meio
ambiente.
23
v CAPÍTULO 2:
Sistemas de Gestão Ambiental: Conciliando Capitalismo e
Sustentabilidade
A década de 1980 pode ser caracterizada como um período marcante nas
relações comerciais do mundo. A abertura de mercado ocorrida à época criou
um novo panorama econômico, trazendo um caráter mais dinâmico e uma
maior integração às relações. Neste novo cenário, a competitividade passou a
ter papel decisivo para a permanência de empresas no mercado (CALLADO et
al, 2007). Assim sendo, a imagem das corporações passou a desempenhar
papel estratégico na busca pela competitividade. Neste contexto, empresas
com atividades consideradas potencialmente poluidoras tiveram suas imagens
abaladas, principalmente após grandes acidentes ambientais ocorridos na
década, como o vazamento de pesticidas letais em Bophal (Índia), ocorrido em
1984, provocado pela empresa Union Carbide, ou o vazamento de óleo
causado pela Exxon em 1989 no Alaska (EUA) (CERUTI et al, 2009).
Com as crescentes discussões a respeito da temática ambiental, os
mercados consumidores ao redor do mundo se tornaram mais atentos à
postura produtiva de indústrias e seus impactos no ambiente. A partir desta
visão mais crítica e rígida de clientes, um novo contexto econômico surgiu com
o acréscimo de um aspecto à competitividade no mercado: a responsabilidade
ambiental. Diante disto, a qualidade ambiental tem recebido crescente
destaque no mundo empresarial. Pressões para uma boa atuação neste campo
são impostas por diversos stakeholders, que cobram um alto preço por
impactos gerados ao meio ambiente, sejam eles acidentais ou não. Neste
grupo de stakeholders podem-se citar acionistas, investidores, empregados,
fornecedores, consumidores, concorrentes, órgãos de governo responsáveis
pelo controle ambiental, ONG’s, dentre outros (ALBERTON et al, 2007).
A introdução das responsabilidades ambiental e social nas empresas
pode representar grandes vantagens competitivas às mesmas, principalmente
no que diz respeito à sua imagem perante os clientes e à comunidade.
Segundo Tachizawa (2002) apud Callado et al (2007), as organizações devem
seguir a tendência de ações ambientalmente coerentes, já que decisões
24
estratégicas relativas à sua postura ambiental se refletem em vantagens
competitivas, bem como em redução de custos e aumento em lucros a médio e
longo prazo. Este crescente aumento das preocupações com questões
ambientais pode ser visto também na área política. Os governos vêm
desempenhando papel fundamental na fiscalização de empresas cujas
atividades sejam potencialmente prejudiciais ao meio ambiente. Diversas
normativas legais vêm sendo implementadas com o objetivo de regulamentar
os processos de produção, o que gera grande quantidade de conjuntos de
normas “organizados de maneira particular em alguns países, e revestidos por
determinadas conveniências”. (CALLADO et al, 2007:4). Com estas novas
regulamentações, o mercado passou a impor barreiras ambientais à entrada de
produtos que não se enquadrem nos critérios determinados pelas normas,
exigindo das empresas uma normalização de seus processos e especificações
tais que tragam qualidade a seus produtos (PIRES, 1998 apud CALLADO et al,
2007). Com isso, normas internacionais e regionais voltadas para o campo
ambiental começaram a surgir. Inglaterra e Canadá, por exemplo, já tem suas
próprias normas. Estados Unidos, Alemanha e Japão inseriram Programas de
Rotulagem Ambiental, disponibilizando informações sobre seu desempenho
nesta área (CERUTI et al, 2009).
2.1. Sistemas de Gestão Ambiental e as Certificações
A Internacional Standardization Organization (ISO), criada em 1947, é
uma instituição-base quando se trata de certificações. Trata-se de uma
organização mundial não-governamental cujo objetivo é elaborar e disseminar
normas de aplicação voluntária. A formulação de tais normas é realizada a
partir de contribuições técnico-científicas e empíricas de membros do governo,
dos setores produtivos e de quaisquer outros segmentos interessados, sendo
estas normas aceitas internacionalmente na maior parte das atividades,
estando excluído deste grupo o campo eletro-eletrônico, já que este está sob a
responsabilidade da Internacional Eletrotechnical Commission (IEC). Ao redor
do mundo, cada país possui uma entidade representativa junto à ISO. No
25
Brasil, tal órgão é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
responsável, portanto, pela normalização técnica no país (CERUTI et al, 2009).
Dentre as diversas Séries de Normas apresentadas pela ISO, a série
9.000 serviu como base para o desenvolvimento de uma certificação voltada
especificamente para a área ambiental (CALLADO et al, 2007). A ISO 9001
traz requisitos voltados à adoção de um sistema de gestão de qualidade. Ela
não inclui requisitos específicos a outros tipos de sistema de gestão, como o
sistema de gestão ambiental, mas possibilita que uma corporação alinhe ou
integre seu sistema de gestão de qualidade com outros requisitos de sistema
de gestão (ABNT NBR ISO 9001:2000). Assim, seguindo os moldes da série
ISO 9000, criou-se um conjunto de normas voltadas à certificação ambiental: a
série ISO 14.000. Cavalcanti (1996) apud Callado et al (2007) destaca que a
principal motivação para a criação desta série foram as barreiras ambientais
que passaram a se fazer presentes a partir das múltiplas certificações
desenvolvidas por diferentes países. Empresas com sede em mais de um país
passaram a sofrer um aumento nos custos de sua produção e perder
competitividade ao tentar atingir às exigências particulares de cada país. Frente
a estas dificuldades, a série ISO 14000 surge como uma tentativa de regular
aquelas múltiplas certificações exigidas pelos diversos países (CALLADO et al,
2007).
De acordo com Pires (1998) apud Callado et al (2007), a origem da série
ISO 14000 foi bastante influenciada pela Norma Britânica de Gestão Ambiental
BS 7750, cujo objetivo é:
“implementação de sistemas de gerenciamento ambiental, política
ambiental, organização e pessoal, efeitos ambientais, objetivos
ambientais e metas, programa de gerenciamento ambiental,
manual de gerenciamento ambiental e documentação, controle
operacional, registro de gerenciamento ambiental, auditorias de
gerenciamento ambiental e revisões de gerenciamento ambiental”
(CALLADO et al, 2007:5).
26
A série ISO 14000 é formada por seis conjuntos de normas que atuam
como instrumentos na implementação da gestão ambiental em empresas. Os
componentes da série podem ser divididos como mostra a figura 1:
Figura 1: Estrutura da ISO 14.000 (Adaptado de Souza,2000 apud Callado et al, 2007)
O primeiro grupo (esquerda) relacionado na Figura 1 refere-se aos padrões da
organização que podem ser usados na execução e avaliação do Sistema de
Gestão Ambiental de uma empresa. Já o segundo grupo (direita) faz referência
aos padrões de produtos que podem ser utilizados na avaliação dos impactos
ambientais dos produtos e processos da empresa (CERUTI et al, 2009).
As normas relacionadas ao Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – tema
central do presente trabalho – são ISO 14001 e 14004. A norma ISO 14001
traz o conjunto de regras que uma empresa deve cumprir para obter
certificação perante terceiros. Já a ISO 14004 é uma norma de apoio e de uso
exclusivo da empresa. Ela pode auxiliar a mesma a obter sua certificação
através de exemplos, coordenando o SGA com os outros de seus sistemas
gerenciais (CALLADO et al, 2007).
De acordo com Peixe et al (2011), a ISO 14001 não é apenas uma
norma de produto ou de desempenho, mas uma norma de processo de
gerenciamento das diversas atividades de uma empresa que possam gerar
algum impacto negativo ao meio ambiente. Na implantação de um Sistema de
GESTÃO AMBIENTAL
Sistema de Gestão Ambiental
(SGA)
Avaliação de Desempenho Ambiental (ADA)
Auditoria Ambiental
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)
Rotulagem Ambiental (RA)
Aspectos Ambientais em Normas e Produtos (AANP)
27
Gestão Ambiental baseada na certificação ISO 14001, tal norma deve tornar-se
de conhecimento de todos os membros da organização, participando todos os
stakeholders (MARTINS, LAUGENI, 2006 apud PEIXE et al, 2011).
A norma NBR ISO 14.001 determina os requisitos para implantação de
um Sistema de Gestão Ambiental, com vistas a permitir que empresas
desenvolvam e implementem uma política e objetivos que considerem
requisitos legais e outros requisitos por ela subscritos, além de informações
relativas aos aspectos ambientais significativos. Ainda de acordo com o
estabelecido pela referida norma, seus requisitos devem ser aplicados aos
aspectos ambientais sobre os quais a empresa possa exercer algum controle e
aqueles que possa influenciar. Não estabelece, em si, critérios específicos de
desempenho ambiental (ABNT NBR ISO 14001:2004). Assim sendo, a norma
ISO 14001 age como uma orientação para que empresas insiram a variável
ambiental em seu sistema de gestão de negócios, tornando tal variável parte
de sua política, de suas formulações estratégicas, de seus objetivos e metas,
de suas opções tecnológicas e de sua rotina operacional (ALBERTON et al,
2007).
Visto isso, a norma se aplicará a qualquer organização que tenha como
objetivos:
“a) estabelecer, implementar, manter e aprimorar um sistema da
gestão ambiental;
b) assegurar-se da conformidade com sua política ambiental,
definida;
c)demonstrar conformidade com esta norma [ISO 14001] ao:
1) fazer uma auto-avaliação ou auto-declaração,ou
2)buscar confirmação de sua conformidade por partes
que tenham interesse na organização, tais como clientes, ou
3)buscar confirmação de sua auto-declaração por meio
de uma organização externa, ou
4)buscar certificação/ registro de seu sistema da gestão
ambiental por uma organização externa.” (ABNT NBR ISO
14001:2004, p.9).
28
Segundo Goldschmidt Junior et al (1997) apud Ceruti et al (2009), a
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental, de acordo com a ISO
14001, pode ser dividida em cinco etapas:
1- Comprometimento e definição da política ambiental;
2- Elaboração de um plano de gestão, abordando os aspectos e impactos
ambientais associados, os requisitos legais e corporativos, os objetivos e
metas e os planos de ação e programas de gestão ambiental;
3- Implantação e operacionalização (alocação de recursos, estrutura e
responsabilidade, conscientização e treinamento, comunicações,
documentação do sistema de gestão, controle operacional – programas de
gestão específicos e respostas às emergências);
4- Avaliação periódica (monitoramento, ações corretivas e preventivas,
registros e auditorias do sistema de sistema de gestão);
5- Revisão do Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
A implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, com a adoção da
norma NBR ISO 14.001, portanto, permite que o processo produtivo sofra
contínuas reavaliações, buscando procedimentos, mecanismos e padrões de
ação menos prejudiciais ao meio ambiente, na medida em que o Sistema de
Gestão Ambiental proporciona um gerenciamento e controle das ações de uma
empresa sobre o mesmo (CAMPOS et al, 2006).
2.2. Sistema de Gestão Ambiental: Benefícios de sua Implementação
Apesar de o movimento ambiental já existir há bastante tempo, apenas a
partir dos anos 70 começou a ganhar mais força e visibilidade, se difundindo
por todo o mundo. Os crescentes avanços tecnológicos observados nas últimas
décadas passaram a voltar o foco cada vez mais para os assuntos ambientais.
Neste cenário, a gestão ambiental começou a despontar como importante
ferramenta de adaptação e competitividade de empresas às novas exigências
de mercado. Diante disto, iniciou-se uma corrida em busca de resultados que
associassem lucratividade e cuidados com o ecossistema. Com isso, a
demanda por um Sistema de Gestão Ambiental para otimizar o gerenciamento
29
e controle de ações das empresas aumentou, levando a uma busca por
adequação das mesmas como forma de se destacarem em um mercado onde
a competitividade tem papel crucial (CAMPOS et al, 2006). Pressões
regulatórias, sociais e ambientais impostas pelos principais stakeholders, além
da busca por uma boa reputação no mercado fizeram com que a qualidade
ambiental passasse a ter um papel de destaque no mundo empresarial. Neste
contexto, o desempenho ambiental das organizações passou a ir muito além de
questões puramente relacionadas à conservação de recursos naturais.
(ALBERTON et al, 2007). As práticas ambientais assumiram um caráter muito
mais voltado às questões de “estratégia competitiva, de marketing, finanças,
relações humanas, eficiência operacional e desenvolvimento de produtos
(ALBERTON et al, 2007:154). O novo panorama trazido pelo surgimento de
Sistemas de Gestão de Qualidade, pelo desenvolvimento de normas de
padronização, pelo destaque negativo relacionado aos grandes acidentes
ambientais, por pressões impostas por ONG’s e por um quadro geral de maior
conscientização ambiental levou as empresas a incluírem a gestão ambiental a
sua gestão administrativa. A partir destes ajustes, surge o Sistema de Gestão
Ambiental (ALBERTON et al, 2007). O SGA nasce, portanto, como forma de
aliar a problemática ambiental ao planejamento estratégico de corporações, já
que proporciona uma integração dos diversos setores da empresa às questões
ambientais através de políticas e metas para ajuste de seus processos e
estratégias (ROWLAND-JONES, PRYDE; CESSER, 2005 apud OLIVEIRA et
al, 2010). Layrargues (2000) apud Alberton et al (2007) traz o papel do SGA,
qual seja:
“(...) estratégia empresarial para a identificação, por meio de
planos e programas de caráter preventivo, das possíveis
melhorias a serem realizadas com o intuito de conciliar
definitivamente a lucratividade empresarial com a proteção
ambiental, versando tanto sobre os produtos como sobre os
processos” (LAYRARGUES, 2000 apud ALBERTON et al,
2007:155).
A norma ISO 14001 baseia a implantação do SGA na metodologia
conhecida como PDCA, utilizada para a prática de melhoria contínua do
30
referido Sistema. Tal procedimento deve ser aplicado de acordo com seus
princípios (OLIVEIRA et al, 2010; ABNT NBR ISO 14001:2004):
Planejar (Plan): estabelecimento de objetivos e processos necessários
para o alcance de resultados definidos pela política ambiental da
organização. Relaciona-se, portanto, às políticas, às metas e aos
impactos relacionados;
Executar (Do): implementação dos processos. Relaciona-se às
atividades e à documentação ambientais;
Verificar (Check): monitoramento e medição dos processos de acordo
com o estabelecido pela política da empresa e pelos requisitos legais,
bem como relato de resultados. Relaciona-se às auditorias e avaliação
do desempenho ambiental;
Agir (Act): ações para promoção de melhorias contínuas do
desempenho ambiental. Relaciona-se aos treinamentos e à
comunicação quanto aos aspectos ambientais (MATTHEWS, 2003 apud
OLIVEIRA et al, 2010).
A metodologia PDCA pode ser ilustrada como na figura abaixo (figura 2).
Figura 2: Esquema representando o ciclo PDCA. Fonte: OLIVEIRA et al, 2010)
31
Assim, diante das diversas exigências impostas sobre as corporações, o
SGA se destaca como importante instrumento de gestão ambiental sob o ponto
de vista estratégico, na medida em que pode conciliar melhoria na produção
(processos e produtos) e conservação de recursos naturais. Para tanto,
empresas podem determinar metas de produção relacionadas ao desempenho
ambiental, visando uso mais racional daqueles recursos e levando em conta os
impactos ambientais gerados na cadeia produtiva, além da regulamentação
ambiental. Ao alterar os componentes de produção a partir da gestão
ambiental, portanto, a empresa tem seu desempenho financeiro afetado no que
diz respeito à redução de custos e também em ganhos de mercado devido à
mudança de imagem associada a tal postura (ALBERTON et al, 2007).
Segundo Reis (2002) apud Alberton et al (2007), o desempenho
ambiental se relaciona de forma direta com o desempenho financeiro, já que a
estruturação de um SGA se reflete na redução de custos a partir da redução ou
erradicação de desperdícios. Além disso, pode também haver um aumento nas
receitas devido à melhoria da imagem da empresa no mercado e,
consequentemente, uma aceitação maior de seus produtos. Esta adequação
ambiental permite que empresas se mantenham em consonância com as
exigências de legislações internacionais, o que lhes permite exportar seus
produtos com poucas restrições mercadológicas (CALLADO et al, 2007).
Assim, tanto os investimentos quanto os custos e receitas gerados ou
reduzidos a partir do processo de certificação e implantação de um Sistema de
Gestão Ambiental podem afetar indicadores de rentabilidade das corporações.
Este retorno financeiro proveniente da adoção do SGA pode, além de aumentar
os lucros da empresa, servir como uma espécie de fundo de manutenção do
próprio SGA, gerando melhorias contínuas no desempenho ambiental da
organização. Scherer (1998) apud Alberton et al (2007) aponta a importância
do desenvolvimento de instrumentos de gestão como o SGA tanto sob o
aspecto operacional, visando um desempenho satisfatório e o atendimento às
pressões de stakeholders, quanto sob o ponto de vista estratégico, aliando
“visões, estratégias de investimento e gestão de custos” (SCHERER, 1998
apud ALBERTON et al, 2007:156). As vantagens financeiras advindas da
implementação de um SGA refletem-se tanto em ganhos de curto prazo, como
32
discutido acima, como em longo prazo. A adoção deste instrumento de gestão
ambiental traz uma postura preventiva aos processos produtivos, podendo-se
evitar futuros acidentes ambientais, bem como minimizar custos com
desperdício de material e com processos ineficientes (ALBERTON et al, 2007).
Karkotli (2004) apud Callado (2007) destaca alguns benefícios
provenientes da certificação de um Sistema de Gestão Ambiental:
“demonstração para clientes, acionistas, empregados,
seguradoras, meios de comunicação, autoridades, legisladores e
ONG’s do compromisso ambiental da empresa, levando a
melhoria de sua imagem; existência de mecanismos estruturados
para gerenciar aspectos ambientais e para promover melhoria
contínua do sistema; acesso a legislação ambiental e suas
aplicações; controle mais eficiente das matérias-primas; redução
do consumo de energia e recursos naturais; aproveitamento e
minimização de resíduos; melhoria das relações, proporcionando,
inclusive, abertura de novos mercados, em especial os
estrangeiros; evidência, por entidade independente, da
competência ambiental da empresa; eliminação de erros, que
favorecem a crescente evolução da empresa por meio de
auditorias ambientais.” (KARKOTLI, 2004 apud CALLADO,
2007:3)
North (1992) apud Callado (2007) divide os benefícios da gestão
ambiental em dois grupos: benefícios econômicos e estratégicos. O primeiro
grupo refere-se à redução de custos a partir da adoção de políticas voltadas ao
uso eficiente de recursos, bem como ao aumento de receitas propiciado pelo
aumento de demanda e pela participação de mercado, com consequentes
incrementos marginais de receita. O grupo dos benefícios estratégicos
relaciona-se ao aspecto de competitividade, ao buscar longevidade da empresa
no mercado a partir de atitude pró-ativa baseada na adoção de uma política de
gestão ambiental, que tem como conseqüência a melhora de sua imagem,
renovação de seu portfólio de produtos e o alcance de novos mercados. O
quadro abaixo (quadro 1) resume alguns destes benefícios:
33
BENEFÍCIOS ECONÔMICOS BENEFÍCIOS ESTRATÉGICOS
Economia de Custo
- Economia a partir da redução do
consumo de água e outros insumos;
-Economia devido à reciclagem, venda e
aproveitamento de resíduos e diminuição
de efluentes;
- Redução de multas e penalidades por
poluição;
Incremento de Receitas
- Aumento da contribuição marginal de
produtos verdes, que podem ser vendidos
a preços mais altos;
- Aumento de participação no mercado, a
partir da inovação de produtos e
diminuição de concorrência;
- Linhas de novos produtos para novos
mercados;
- Aumento da demanda para produtos que
contribuam para diminuição de poluição.
- Melhoria da imagem institucional;
- Renovação do portfólio de produtos;
- Aumento da produtividade;
- Alto comprometimento do pessoal;
- Melhoria nas relações de trabalho
- Melhoria e criatividade para novos
desafios;
- Melhoria das relações com os órgãos
governamentais, comunidade e grupos
ambientalistas;
- Acesso assegurado ao mercado externo;
- Melhor adequação aos padrões
ambientais.
Quadro 1: Benefícios da Gestão Ambiental. Adaptado de Callado (2007)
A partir do exposto acima, pode-se afirmar que a adoção de um Sistema
de Gestão Ambiental por empresas, em especial aquelas consideradas
potencialmente poluidoras, caracteriza-se como importante estratégia de
negócio, na medida em que possibilita uma contínua identificação de
oportunidades de melhorias visando redução de impactos das atividades de
produção da organização, o que consequentemente reflete-se na forma de
conquista de mercado e lucratividade (VOGT et al, s/d). É importante ressaltar
também os benefícios indiretos da implementação do SGA. Além dos ganhos
diretos referentes aos aspectos econômicos e ambientais, pode-se relacionar
benefícios que surgem secundariamente, como a melhoria da imagem,
vantagem competitiva, aumento da satisfação de clientes, bom relacionamento
com a comunidade e organizações não governamentais, maiores
34
possibilidades de acesso a financiamentos, melhor relacionamento com órgãos
do Governo, dentre outras (VOGT et al, s/d).
Esta busca por melhoria contínua pode acabar funcionando como um
benchmarking (1), o que é bastante benéfico para o mercado e para o meio
ambiente, já que empresas passam a adotar medidas preventivas como forma
de competir no mercado. Visto isso, percebe-se que a certificação da ISO
14001 traduz-se como estratégia essencial para adequação das corporações a
requisitos para uma conduta ambiental coerente, além de propiciar vantagem
competitiva (OLIVEIRA et al,2010).
Silva (2001:7) cita ainda um artigo de Porter e Van der Linde (1995),
onde é destacada a importância de processos de gestão ambiental
socioambientalmente eficazes. Segundo os autores, tais processos podem ser
considerados os “futuros definidores das organizações eficazes e de destaque
no ambiente competitivo”, pois serão capazes de abarcar as necessidades e
expectativas de seus stakeholders. Realçam também o papel das soluções
técnicas associadas aos SGA’s, as quais provêm, na maior parte das vezes,
ganhos em produtividade de recursos, gerando lucros extraordinários
(PORTER & VAN DER LINDE, 1995 apud SILVA, 2001).
(1) Benchmarking: busca de melhores práticas na indústria que conduzem a um desempenho superior.
Visto como processo positivo e pró-ativo, através do qual uma empresa examina como outra realiza
determinada função a fim de melhorar a realização da mesma função ou semelhante.
35
v CAPÍTULO 3
Empresas Brasileiras e Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental –
Alguns Exemplos
Os capítulos anteriores apresentaram uma perspectiva geral quanto à
relação do homem com o meio ambiente ao longo do tempo, à maneira como
tal relação levou à situação crítica em que a humanidade se encontra nos dias
atuais e às alternativas que surgiram diante do novo contexto. O presente
capítulo trará três estudos de caso a respeito da implantação de Sistemas de
Gestão Ambiental em empresas de diferentes ramos, visando ilustrar, a partir
de exemplos concretos, as possibilidades que podem surgir a partir da
implementação de um SGA.
O primeiro estudo de caso mostra o processo de implantação de um
Sistema de Gestão Ambiental em uma empresa de construção civil localizada
na cidade de Goiânia (GO). O segundo estudo de caso mostra o Sistema de
Gestão Ambiental de uma empresa de Ponta Grossa (PR) do ramo de
metalurgia. Por fim, o terceiro estudo mostra as principais mudanças
relacionadas à adoção de um Sistema de Gestão Ambiental em uma empresa
de siderurgia e trefilaria localizada na cidade de João Monlevade (MG), na
região conhecida como vale do aço.
3.1. Estudo de Caso 1: Empresa Construtora (Mendes, 2009)
Em seu trabalho, Mendes (2009) traz um estudo de caso que descreve o
processo de implantação do Sistema de Gestão Ambiental em uma empresa
do ramo de construção civil, de pequeno porte, localizada em Goiânia (GO).
Por questões não esclarecidas, o autor preferiu tratar a referida empresa por
um nome fictício (RWB), deixando claro, no entanto, que os processos
descritos são integralmente verídicos.
A RWB é uma empresa de pequeno porte e atua no ramo de construção
civil na cidade de Goiânia, tendo como foco as edificações residenciais
voltadas às classes A e B do mercado imobiliário. Suas atividades estão
voltadas ao desenvolvimento de projetos de arquitetura, ficando as demais
36
especialidades sob responsabilidade de empresas subcontratadas. Dentre tais
atividades, estão a realização de processo de incorporação, construção,
assistência técnica pós venda e coordenação de vendas realizadas por equipes
terceirizadas. Fundada em 1986 por dois sócios (pai e filho), a empresa possui
caráter familiar. Desde então, vem se destacando no setor imobiliário goiano
por sua solidez financeira e cuidados com as técnicas de execução. Sua boa
postura quanto às questões de responsabilidades social e ambiental vêm lhe
rendendo premiações por entidades de classe e meios de comunicação, um
reconhecimento importantíssimo para o sucesso de uma empresa (MENDES,
2009).
A decisão da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental surgiu
no ano de 2008, com o objetivo de ampliar o Sistema de Gestão já existente,
incluindo os temas Ambiental, Saúde e Segurança Ocupacional e
Responsabilidade Social. Por já haver adotado o Sistema de Gestão de
Qualidade com base na norma NBR ISO 9001, parte das definições teve apoio
nas experiências pretéritas, utilizando, portanto, a abordagem de tal norma no
desenvolvimento, implementação e melhoria do sistema de gestão de
qualidade. A adoção do SGA deveria seguir as etapas determinadas na fase de
planejamento. São elas:
“a) determinação das necessidades e expectativas dos clientes e
de outras partes interessadas;
b) estabelecimento da política da qualidade e dos objetivos da
qualidade da organização;
c) determinação dos processos e responsabilidades necessários
para atingir os objetivos da qualidade;
d) determinação e fornecimento dos recursos necessários para
atingir os objetivos da qualidade;
e) estabelecimento de métodos para medir a eficácia e a
eficiência de cada processo;
f) aplicação dessas medidas para determinar a eficácia e a
eficiência de cada processo;
g) determinação dos meios para prevenir não-conformidades e
eliminar suas causas;
37
h) estabelecimento e aplicação de um processo para melhoria
contínua do sistema de gestão de qualidade” (MENDES, 2009:87)
A empresa se baseou nestas etapas, portanto, para implementar seu
SGA. Inicialmente, identificou o estágio da empresa quanto à Gestão Ambiental
analisando programas, projetos ou ações já planejados ou implementados. A
etapa seguinte foi o estabelecimento de uma metodologia padrão para
identificação de aspectos e avaliação de impactos ambientais contínuos. Além
de estabelecer os aspectos ambientais significativos, aspectos legais foram
também considerados na metodologia proposta. Após tomar conhecimento de
sua atuação quanto ao aspecto ambiental, observando o nível de significação
alcançado pelos diversos aspectos levantados, a empresa elaborou sua
Política Ambiental. A partir daí, portanto, passou à fase de definição de planos
de ação voltados à redução ou eliminação de seus impactos sobre o meio
ambiente, bem como a determinação da necessidade de auditorias constantes
visando o melhoramento contínuo proposto pelas diretrizes relativas a um
Sistema de Gestão Ambiental.
Mendes (2009) traz alguns resultados obtidos a partir da adoção do SGA
na empresa RWB, resultados estes que podem exemplificar as possíveis
vantagens de tal postura. O principal benefício destacado pelo autor foi a
vantagem competitiva, já que a empresa foi pioneira na região quanto à adoção
de “práticas verdes”. O marketing gerado por essas práticas, especialmente em
um momento em que atitudes chamadas “ecofriendly” estão em alta, deu à
RWB um diferencial em relação à concorrência. É importante citar também a
mudança social atrelada à implementação do SGA na RWB. Com vistas à
sensibilização de seu pessoal para o alcance de bons resultados, a empresa
investiu na qualificação de sua equipe, através de programas educacionais.
O autor traz também algumas dificuldades encontradas pela empresa, o
que está provavelmente relacionado ao seu pequeno porte. Alguns destaques
são a dificuldade ao acesso a tecnologias limpas por seu elevado custo;
ausência de linhas de crédito específicas; falta de compromisso de
fornecedores, com relação ao cumprimento das exigências ambientais
propostas; baixo poder de influência sobre os demais atores da cadeia
38
produtiva; alto custo na obtenção de informações relativas à gestão ambiental;
aceitação ainda um pouco confusa de clientes, que valorizam porém não se
dispõem a pagar pelo diferencial do produto.
3.2. Estudo de Caso 2: Alfa S.A (RODRIGUES et al, 2008)
O estudo de caso realizado por Rodrigues e colaboradores (2008) trata da
empresa Alfa S.A., localizada na cidade de Ponta Grossa (PR). É uma
organização com mais de 50 anos de existência que atua na área de
metalurgia, provendo embalagens de aço para os principais fabricantes de
alimentos do país. Desde a data de sua fundação (1948), a empresa vem
trazendo inovações ao seu parque fabril, com a incorporação de novos
equipamentos, o que trouxe crescimento expressivo na capacidade de
produção.
Para investigação a respeito do processo de implantação do Sistema de
Gestão Ambiental da empresa, os autores aplicaram um questionário
estruturado. As questões abordadas neste questionário procuraram investigar a
postura quanto às questões ambientais da empresa anteriormente à adoção do
SGA e após a mesma. O questionário também abordou a motivação da
empresa para implementar o Sistema. De acordo com as respostas obtidas, as
principais razões para certificação do SGA foram o atendimento às exigências
legais pertinentes às atividades da empresa e o destaque perante clientes e
mercado, que estão cada vez mais atentos à postura ambiental de empresas.
Na implementação do Sistema de Gestão Ambiental, a empresa seguiu o
modelo de etapas normalmente adotado pelas organizações. São elas:
Etapa 1: Elaboração de procedimentos estruturais; levantamento de aspectos e
impactos ambientais relacionados às atividades; levantamento dos requisitos
legais pertinentes.
Etapa 2: Determinação de controles operacionais; levantamento de registros a
serem controlados.
Etapa 3: Implementação e treinamento de colaboradores
Etapa 4: Auditoria interna e revisão
39
Etapa 5: Análise crítica; alimentação das não-conformidades.
Quanto aos resultados, os membros da empresa entrevistados relataram
que a maior dificuldade encontrada foi a quebra de paradigmas dos
colaboradores, já que uma mudança de comportamentos seria essencial para o
sucesso do SGA. Com relação aos benefícios, os entrevistados destacaram o
atendimento às normativas ambientais, a abertura de mercado e a
consolidação de parcerias com clientes. Também são mencionados “resultados
não-mensuráveis”, evidenciados na consolidação do processo produtivo. Tais
resultados trouxeram benefícios, segundo os entrevistados, na medida em que
influenciaram diretamente no desempenho e nos resultados da empresa. As
auditorias foram consideradas importantes no processo de crescimento da
organização, pois trazem uma avaliação do comprometimento de
colaboradores e da eficácia do atendimento aos requisitos normativos. As
principais mudanças relacionadas pelos entrevistados têm relação com o
comportamento dos colaboradores, com a internalização da preocupação
ambiental às atividades da empresa, com a abertura de mercado e com o
estreitamento de parcerias. As respostas não apontaram qualquer ponto
negativo proveniente da certificação do Sistema de Gestão Ambiental.
3.3. Estudo de Caso 3: Belgo Arcelor Brasil - Unidade Monlevade
(CORREIA, 2006)
O alvo do estudo de caso realizado por Correia (2006) foi o conglomerado
da organização Belgo Arcelor Brasil, com foco em sua Unidade Monlevade,
indústria localizada na cidade de João Monlevade (MG), na região conhecida
como Vale do Aço. A empresa foi fundada no país em 1921 e atualmente é
considerada como um dos maiores grupos privados no ramo de Siderurgia e
Trefilarias, contando com seis unidades ao longo do território, além de
instalações na Argentina. A empresa decidiu por adotar um Sistema de Gestão
Ambiental no fim dos anos 80, ao perceber a necessidade de tal postura diante
do crescimento da concorrência no mercado interno, além da pressão imposta
sobre empresas brasileiras a partir da globalização. O SGA surgiu como parte
40
de um Plano de Gestão de Qualidade, que foi responsável por trazer uma
cultura de qualidade para as empresas Belgo.
A pesquisa teve como foco o Sistema de Gestão Ambiental da empresa e
as mudanças trazidas pelo mesmo. Para tanto, foram realizadas entrevistas a
funcionários, trazendo questões relacionadas às perspectivas de mudanças
provenientes da implantação do SGA. De acordo com os resultados da
pesquisa, o Sistema de Gestão Ambiental trouxe significantes mudanças para
a empresa, tanto interna quanto externamente.
Uma das mudanças salientadas pelos entrevistados é relativa ao
comportamento. A partir da inclusão da temática ambiental à gestão estratégica
da empresa, foi claramente notada uma mudança de atitude dos
colaboradores, desde a alta administração até o nível operacional. A nova
postura baseou-se na consideração dos diferentes objetivos e inserção deles
no modelo de gestão, visando ao equilíbrio do ecossistema onde a organização
se insere. A conseqüência foi o maior envolvimento de todo o quadro de
funcionários com a estratégia ambiental que, por sua vez, levou à melhora na
comunicação (interna e externa) além de trazer melhorias também na
comunicação com a comunidade. A nova postura adotada a partir da
implantação do SGA, portanto, sensibilizou a participação de funcionários, na
medida em que cada um passou a perceber a importância de suas funções
para a empresa como um todo, trazendo o conceito de participação. O autor
cita um dos entrevistados para exemplificar tal mudança:
“Houve uma mudança grande, principalmente por parte da
liderança. Porque tinha-se reclamações de vizinhos e de
empregados, e não era tomada uma decisão em cima disso, em
função de que só pensava-se em produção. Hoje não, com a
implantação do SGA, foi possível a liderança ver a necessidade
de vizinhos, aceitar as reclamações dos vizinhos, de empregados
de uma forma que juntam-se ambas as partes para uma
satisfação melhor, melhor qualidade de vida. (Entrevistado 1)”
(CORREIA, 2006:77)
41
Outra mudança importante relacionada ao Sistema de Gestão Ambiental
na empresa Belgo foram aquelas provenientes da adoção de novas
tecnologias. Com o intuito de adequar-se às legislações pertinentes, a
organização investiu em inovações tecnológicas, o que implicou na redução de
custo da produção, na medida em que houve diminuição “do custo associado
ao tratamento de resíduos e efluentes, e em incremento de produtividade do
processo” (CORREIA, 2006:81).
De acordo com os entrevistados, a incorporação das questões
ambientais à cultura da empresa pode ser um diferencial para a
competitividade, já que corporações com atitudes ambientalmente coerentes
tendem a ter melhor imagem perante os consumidores, além de adquirirem
vantagem nos mercados internacionais.
Visto isto, percebe-se que a empresa buscou incluir o Sistema de
Gestão Ambiental à sua estratégia de gestão visando um melhoramento em
seu desempenho ambiental, tanto para atender as legislações vigentes como
para obter ganhos de mercado. Um dos entrevistados deixa isso claro em sua
fala:
“... a Belgo é tida como excelência na área de qualidade. O nível
de qualidade dos produtos é muito bom e muito elevado. Então
quando partiu para a área de meio ambiente, de gestão ambiental,
a gente viu que tinha um outro caminho pra ser trilhado e
desenvolvido. Então foi muito bom neste ponto, não é só
qualidade, o produto tem que ter um valor agregado na parte de
impacto ambiental, quanto menos impacto tiver mais
responsabilidade social a empresa tem na elaboração desse
produto. É lógico que tem a legislação que regula isso, mas a
Belgo saiu na frente, nós buscamos desenvolver esse lado até
antes mesmo da legislação ficar rigorosa. (Entrevistado 5)”
(CORREIA, 2006:91).
42
v CONCLUSÃO
A gestão ambiental tem ganhado cada vez maior destaque em empresas,
já que os stakeholders vêm voltando sua atenção de forma cada vez mais
expressiva à qualidade do desempenho ambiental das mesmas. Diante desta
situação, corporações vêm sistematizando processos de Gestão Ambiental
como forma de resposta às pressões impostas pelos clientes, órgãos
ambientais e sociedade. Donaire (1999:23) apud Conceição et al. (2011)
mostra isso em sua citação:
“A preocupação de muitas organizações com o problema de
poluição tem feito com que elas reavaliassem o processo
produtivo, buscando a obtenção de tecnologias limpas e o
reaproveitamento dos resíduos. Isso tem propiciado vultosas
economias, que não teriam sido obtidas se elas não tivessem
enfocado esse problema” (DONAIRE, 1999, p.23 apud
CONCEIÇÂO et al, 2011:6).
Frente a esta nova realidade, a dimensão ecológica vem se tornando
parte integrante na gestão de negócios de diversas organizações, não só como
forma de atender à legislação vigente, mas também motivadas pelos benefícios
estratégicos e econômicos trazidos por esta nova vertente (CONCEIÇÂO et al,
2011).
Os estudos de caso apresentados trouxeram resultados coerentes com a
literatura, explicitando o papel substancial que o Sistema de Gestão Ambiental
pode desempenhar para uma corporação, em aspectos legais, estratégicos e
financeiros. De acordo com os resultados das pesquisas realizadas nos
estudos de caso acima, as três empresas citadas obtiveram ganhos a partir da
implementação do SGA: ganho em competitividade, melhoria de imagem
perante stakeholders, redução de custos tanto em relação ao uso criterioso de
matéria-prima quanto em relação à diminuição de desperdícios, melhora no
relacionamento com órgãos ambientais, na medida em que se passou a ter
postura preventiva quanto aos possíveis acidentes ambientais, novas
possibilidades de crédito perante agentes fomentadores, dentre outros.
43
Diante do exposto acima, portanto, pode-se afirmar que a implementação
de um Sistema de Gestão Ambiental nos moldes da NBR ISO 14001 fornece
às empresas ferramentas de grande importância para o alcance de um sistema
produtivo sustentável, ou seja, um sistema capaz de agredir o meio ambiente
de forma cada vez mais controlada e, portanto, menos impactante, além de
garantir lucros à organização, através dos diversos benefícios advindos do
SGA. Tais benefícios podem ser de ordem econômica, como economias de
custo (redução no consumo de recursos; reciclagem,venda e aproveitamento
de resíduos, além de redução de efluentes; eliminação ou redução de multas
provenientes de acidentes ambientais) e incremento de receitas (aumento de
contribuição marginal com produtos com selo verde; maior competitividade
devido à inovação e eliminação de concorrência por causa do diferencial
ambiental; criação de novos produtos para novos mercados), ou ainda ter
caráter estratégico, com melhoria na qualidade da imagem da corporação,
aumento de produtividade, melhoria nas relações com órgãos ambientais e
comunidade, abertura para o mercado externo, dentre outros.
44
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