UniSALESIANO LINS
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM
CURSO DE DIREITO
RAWANE MIKAELA MIRANDA
REFORMA AGRÁRIA E O ASSENTAMENTO REUNIDAS: a necessidade da
modernização na legislação agrária
LINS/SP
2019
RAWANE MIKAELA MIRANDA
REFORMA AGRÁRIA E O ASSENTAMENTO REUNIDAS: a necessidade da
modernização na legislação agrária
Monografia apresentada ao curso de Direito do
UniSALESIANO, Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium, sob a orientação do Professor
Mestre Vinicius Roberto Prioli de Souza como um
dos requisitos para obtenção do título de bacharel
em Direito.
LINS/SP
2019
NOME DO(A) ALUNO(A)
TÍTULO: Subtítulo (se houver)
Miranda, Rawane Mikaela
REFORMA AGRÁRIA E O ASSENTAMENTO REUNIDAS: a necessidade da modernização na legislação agrária / Rawane Mikaela Miranda – Lins, 2019.
87p. il. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Direito, 2019.
Orientador: Vinicius Roberto Prioli de Souza.
1. Reforma Agrária. 2. Assentamento Reunidas (Promissão/SP). 3. Modernização Legislação Agrária. 4. Luta pela Terra 5. Desenvolvimento Rural. I Título.
CDU 34
M639r
g
RAWANE MIKAELA MIRANDA
REFORMA AGRÁRIA E O ASSENTAMENTO REUNIDAS: a necessidade da
modernização na legislação agrária
Monografia apresentada ao curso de Direito do
UniSALESIANO, Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium, sob a orientação do Professor
Doutor Vinicius Roberto Prioli de Souza como um
dos requisitos para obtenção do título de bacharel
em Direito.
Lins, junho, 2019.
Professor Doutor Vinicius Roberto Prioli de Souza (orientador)
Professora Meire Cristina Queiroz Sato.
Professor Mestre Cristian de Sales Von Rondow.
Dedico este trabalho aos meus avos Videlina e Lauripes que sempre me apoiaram e acima de tudo acreditaram e embarcaram neste meu sonho. A vocês dois, o meu profundo e eterno agradecimento. Ao meu filho Enzo Gabriel, que apesar de muito novinho foi essencial para que eu lutasse com garra a cada dia pelo meu sonho. Difíceis foram os dias longe de você, difícil foi encarar essa distância que a correria do dia a dia colocou entre nós, mas como sempre você foi um filho incrível e me ensinou cada dia mais ser uma pessoa melhor. Tudo isso é por você meu filho. Obrigada por tudo, mesmo sem entender, sempre foi uma criança doce, carinhoso e muito compreensivo, obrigada por ter sido um bom filho, e um bom neto. Você é a minha força, a minha motivação, minha maior felicidade. Mamãe te ama.
AGRADECIMENTOS
A força superior a nós com quem converso nas noites de aflição, presente em
muitas crenças e religiões. Uma luz, uma força, um auxilio, um Mestre, um Deus;
Meu Pensamento.
Agradeço a minha avó Videlina Miranda e ao meu avô Lauripes Miranda, que
com seu amor infinito e apoio incondicional são responsáveis por minha base
pessoal, emocional e educacional. Sempre me fizeram entender que o futuro é feito
a partir da constante dedicação no presente! Obrigada por suas capacidades de
amar, cuidar, respeitar e compreender. Agradeço a calma, a paciência, o abraço
espontâneo e tão necessário, o ombro que eu choro, a proteção, o coração repleto
de amor que vocês sempre dedicam a mim. Amo vocês!
Ao Fábio Corassa que me auxilia nas horas difíceis e me alimenta a cada dia
mais de certezas, esperança, força, amor e alegria. Obrigada pela paciência, pelo
sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava. Esta
caminhada não seria a mesma sem você ao meu lado. Amo você!
As minhas amigas, Sabrina Dias Alves, Caroline Morales e Amanda
Scaramussa por todo amor, carinho, paciência, compreensão, confiança, pela
torcida, por vibrarem com as minhas conquistas. Obrigada por serem minhas
companhias nos meus momentos de desespero, por fazerem parte da minha vida,
esta que seria muito sem graça se eu não tivesse crescido ao lado de vocês.
Obrigada também pela forma especial que me dão força e coragem nos momentos
de maior franqueza, onde só mesmo o amor poderia me colocar nos trilhos
novamente.
A todos os meus familiares, que estiveram presentes nessa minha
caminhada. Agradeço as orações, as palavras de apoio, os abraços, o aconchego
daqueles que sempre se mostraram unidos pelo acontecimento dessa conquista.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Vinicius Roberto Prioli, que acima de tudo
acreditou em mim, me ouviu pacientemente, compartilhou comigo as suas idéias,
conhecimento e experiências. Agradeço pelas lições de humildade, amor ao
próximo, respeito pela diversidade, lições de vida, amizade e pela forma humana
que conduziu minha orientação na graduação.
Ao Assentamento Reunidas que mesmo nas dificuldades da luta me
acolheram e me ajudaram a compreender um pouco melhor sobre a dura realidade
da luta pela terra, a qual tenho o orgulho de fazer parte dessa grande família
assentada.
Finalizo deixando registrado minha gratidão aos professores, e aos
companheiros de turma que trilharam essa caminhada comigo, trincheira por
trincheira, rumo ao cumprimento de mais uma etapa importante. Gratidão!
Reforma agrária, sim!
Direito a uma casa, sim!
Invasão, JAMAIS!
Vitorio Furussho
RESUMO
Na presente monografia analisa-se alguns aspectos da questão agrária brasileira com o intuito de compreender à luta pela terra, os movimentos sociais e os assentamentos de reforma agrária, em consonância com as mudanças sociais. A partir desta reflexão inicial, destaca-se como tema desta pesquisa o modo em que a reforma agrária poderá ocorrer, tendo como foco principal o assentamento Reunidas localizado no município de Promissã/SP e as principais problemáticas relacionadas ao tema. Para consolidar esta compreensão realiza-se a presente pesquisa sobre a reforma agrária nos dias atuais, relatando a trajétoria do assentamento Reunidas para chegar ao status de assentamento modelo. Deste modo, faz-se o explanação da breve história do assentamento Reunidas, evidenciando-se os fatos relacionados com a realidade atual das famílias que lutam pelas suas terras, trabalham no campo e assim como qualquer um possuem seus projetos de vida e sonhos. Ademais, discuti-se a importância da modernização da reforma agrária Brasileira, visando uma conquista pelas terras de maneira mais acessível e menos burocrática. Palavras-chave: REFORMA AGRÁRIA. ASSENTAMENTO REUNIDAS (PROMISSÃO/SP). MODERNIZAÇÃO LEGISLAÇÃO AGRÁRIA. LUTA PELA TERRA. DESENVOLVIMENTO RURAL.
ABSTRACT
This monograph analyzes some aspects of the Brazilian agrarian question in order to understand the struggle for land, social movements and agrarian reform settlements, in line with social changes. From this initial reflection, it is highlighted as the theme of this research the way in which agrarian reform can occur, having as main focus the Reunidas settlement located in the municipality of Promissã / SP and the main problems related to the theme. To consolidate this understanding is carried out the present research on agrarian reform in the present day, reporting the trajétoria of the settlement Reunidas to reach the status of model settlement. In this way, the brief history of the Reunited settlement is made, evidencing the facts related to the current reality of the families that fight for their lands, work in the field and just like anyone have their projects of life and dreams. It was discussed the importance of the modernization of the Brazilian agrarian reform, aiming a conquest by the lands in a more accessible and less bureaucratic way Keywords: LAND REFORM. SEALING REUNIDAS (PROMISSÃO/SP). AGRICULTURAL LEGISLATION MODERNIZATION. FIGHT FOR EARTH. RURAL DEVELOPMENT.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 DA PROPRIEDADE ............................................................................................... 15
2.1 História rural e termo de propriedade ............................................................. 15
2.2 Função social de propriedade .......................................................................... 19
2.2.1 A justificatova da desapropriação ................................................................ 25
2.3 Concepção e política da reforma agrária ........................................................ 26
3 REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL: EVOLUÇÃO E ASPECTOS JURÍDICOS .... 30
3.1 Política agrícola e fundiária .............................................................................. 36
3.1.1 Imóveis rurais nos termos da legislação agrária......................................... 37
3.2 Políticas públicas de assentamentos rurais no brasil ................................... 40
3.3 Dificuldades dos assentamentos rurais contemporâneos ............................ 50
4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A LUTA PELA TERRA: O SURGIMENTO DO
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA ............................. 53
4.1 Promissao: da luta pela terra à formação do assentamento reunidas/SP ... 59
4.1.1 O início do assentamento reunidas .............................................................. 60
4.1.2 A divisão das famílias para a formação de agrovilas e demarcações dos
lotes .......................................................................................................................... 63
4.2 Políticas públicas utilizadas no assentamento reunidas de 1989 a 2010 ..... 64
4.3 Frutos colhidos através de muita luta pelo assentamento ............................ 67
4.4 A modernização na legislação agrária: à Lei nº 13.465/2017... ...................... 71
4.4.1 Da obtenção de terras .................................................................................... 73
4.4.2 Seleção de candidatos ................................................................................... 74
4.4.3 Permanência na parcela ................................................................................ 75
4.4.4 Regularização fundiária ................................................................................. 76
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 78
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82
11
1 INTRODUÇÃO
A Reforma Agrária no Brasil vem sendo realizada basicamente por formação
de Assentamentos Rurais, embora fossem criados como medida governamental
para atenuar conflitos sociais referentes à concentração fundiária. Hoje, os
assentamentos, podem se estabelecer como meio para aplicação de políticas
públicas que buscam geração de emprego e distribuição de renda, via acesso à terra
e à políticas agrícolas voltadas ao desenvolvimento rural e urbano.
O objetivo do presente trabalho é identificar, estudar e analisar os fatores
internos e externos que determinam o desenvolvimento de um Assentamento,
baseando-se na experiência do Assentamento Reunidas, localizado no município de
Promissão, interior do Estado de São Paulo. Esse Assentamento teve sua
consolidação a partir da ocupação da Fazenda Reunidas realizada em 1.987. Hoje,
são 629 famílias assentadas ocupando uma área com mais de 17.138 hectares. A
produção e a renda estão baseadas principalmente na agropecuária: feijão, milho ,
hortaliças e pecuária leiteira.
A forma de organização do trabalho varia desde cooperativas coletivas até
trabalho individual. A comercialização é realizada basicamente por ‘atravessadores’,
porém, atualmente existem programas sociais juntamente com as prefeituras das
regiões na qual as familias tem a oportunidade de distribuição direta ao mercado
consumidor.
O Assentamento Reunidas foi reiteradas vezes mencionado na imprensa e
em trabalho acadêmicos, como uma experiência bem sucedida e com elementos
suficientes para avaliação da capacidade dos trabalhadores rurais em dinamizar o
desenvolvimento econômico de uma região.
O Assentamento Reunidas tem cerca de 5 mil pessoas residentes,
aproxidamente 15% da população total do município, e se encontra entre os três
maiores arrecadadores de ICMS da cidade. Dada a sua importância para o
dinamismo econômico e desenvolvimento local, busca-se através do conhecimento
12
da sua trajetória identificar os problemas e as oportunidades para melhorar a função
social e econômica. Considerando principalmente a qualidade de vida das famílias
assentadas.
Essa pesquisa busca identificar, estudar e analisar a história do
Assentamento Reunidas desde o inicio, ou seja, da ocupação até os dias atuais.
Não sendo o objetivo deste trabalho fazer qualquer tipo de comparação do
Assentamento Reunidas a outro assentamento existente no Brasil, mas a titulo de
curiosidade tem o primeiro maior assentamento do país, sendo esse o Itamarati,
territorio onde vive 17 mil camponeses. O complexo formado por três
assentamentos, criados a partir de 2003, fica localizado próximo á cidade fronteiriça
de Ponta Porã (324 km da capital Campo Grande).
Esse assentamento abriga cinco escolas públicas que atendem mais de 3100
estudantes filhos e filhas de assentados. A área de 57 hectares já chegou á posição
de maior produtor de soja do país entre as décadas de 70 e 80.
Nesse sentido, o primeiro capítulo abordado, será apresentado conceitos, as
diretrizes e as noções gerais de termos da história rural e o termo propriedade,
noções da teoria da função social da propriedade e como a Constituição Federal
trata daes questão, a concepção e Politica de Reforma Agrária, abordando conceitos
e seguridade pela Constituição Federal, bem como pelo orgão do INCRA.
No segundo capítulo, será analisado todas as questões da Reforma Agrária
Brasileira, politicas públicas e orgãos competentes para regulamentar a Reforma
Agrária nos assentamentos rurais brasileiroS, bem como as dificuldades ainda
existentes, como por exemplo, a dificuldade ou inexistência organizativa dos
assentados é outro fator restritivo ao desenvolvimento dos assentamentos. Essa
debilidade revela-se na falta de organização política, que resulta em baixa
capacidade de interlocução com os diversos órgãos públicos, como também na falta
de organização produtiva, que poderia permitir uma utilização mais racional dos
investimentos e a potencialização dos sistemas produtivos. Na maioria das vezes
não existe (por parte dos assentados, suas lideranças e pelos técnicos locais) a
compreensão das possibilidades de avanços na obtenção de renda, caso optem
13
pela formação de organizações produtivas, o que demonstra uma falta generalizada
de capacitação dos assentados, técnicos e das lideranças locais.
Contudo, os créditos e a infra-estrutura básica vinculados à formação do
assentamento com relação ao não acesso ao crédito ou a demora da liberação para
aos assentados o resultado foi restritivo ao desenvolvimento social e produtivo do
assentamento.
Por fim, no terceiro capítulo é abordado o surgimento do movimentos sociais
dando ênfase no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo
este um processo de formação o qual inicia-se na década de 80, quando
trabalhadores rurais passam a se reunir em diversas experiências de ocupações de
terras. A gênese do MST aconteceu no interior dessas lutas de resistência dos
trabalhadores contra a expropriação. De 1979 a 1984 aconteceu o processo de
gestação do MST. E em 1984, ocorreu o nascimento do MST sendo fundado
oficialmente em seu Primeiro Encontro Nacional, que foi realizado de 21 a 24 de
janeiro, em Cascavel, no Estado do Paraná.
É abordado também história do assentamento Reunidas e toda a sua
trajetória, o qual é o principal foco desde trabalho. Importante esclarecer que a
autora dessa monografia é neta de assentados, nasceu e mora até nos dias atuais
no Assentamento reunidas e é parte integrante da história e trajetória do estudo de
caso em questão. Tentou-se, com o máximo esforço, garantir a imparcialidade e a
distância necessária para a qualidade do trabalho.
Foram apontados as dificuldades que o Assentamento ainda enfrenta, mesmo
após 33 (trinta e três) anos de existência, bem como as conquistas e melhorias que
se encontram dentro e fora do Assentamento Reunidas.
Ademais, foi questionado a necessidade da modernização da legislação
agrária, o fato de não haver leis eficafezes que assegure um processo de Reforma
Agrária mais acessivel, rápido e eficaz.
A metodológia utilizada no presente trabalho, foi a a experiência própria da
autora da monografia, bem como trabalhos academicos realizados abordandos tema
relacionado a Reforma Agrária. Também foi utilizados fontes de publicações
14
realizadas pelos orgãos competente da Reforma Agrária, como por exemplo o
INCRA.
Este é um trabalho que relata a história de um assentamento localizado no
municipio de Promissão, que teve uma Reforma Agrária bem sucedida e hoje se
consolidou como sendo o segundo maior assentamento do País e o maior
assentamento do Estado de São Paulo.
15
2 DA PROPRIEDADE
2.1 História rural e termo de propriedade
No Brasil, a formação da propriedade rural começou com a colonização de
Portugal, pois anteriormente os portugueses perceberam a ausência de separação
territorial, considerando as terras públicas à Coroa Portuguesa.
O processo de privatização das terras se iniciou em 1532, implementado por
Dom João III, por meio de diversas cartas régias. Foi distribuído o território em
quinze capitanias hereditárias, divididas para somente doze donatários, sendo
proibida a acumulação, e com registro nas Cartas das Sesmarias. Todavia, o poder
administrativo era concentrado na Coroa, para que está não perdesse a força.
Esse pensamento surgiu por meio do sistema das sesmarias, o qual era
utilizado na época. Tinha como objetivo a efetivação da conquista do Brasil e impedir
o ataque dos piratas da França. As capitanias possuíam grandes extensões,
originando assim uma sociedade de latifúndios.
Neste momento é muito importante explicar o objetivo das Sesmarias em
Portugal, que era totalmente contrário ao povo brasileiro. Nas terras portuguesas,
por meio das sesmarias, fez a chamada Reforma Agrária, modificando o domínio
das terras, as quais eram negligenciadas por meio dos seus possuidores.
Por um outro lado, no Brasil, não existia o propósito de Reforma Agrária, no
entanto as principais finalidades da sesmaria foram atingidas, quais sejam, tinha a
garantia da propriedade nas mãos dos portugueses e o retorno financeiro da
exploração proveniente do Pau-Brasil e posteriormente a cana-de-açúcar. Sobre a
sesmaria brasileira, se faz muito importante a colaboração dos ensinamentos de Ana
Paula Gularte Liberato:
16
Talvez o ponto mais importante a se considerar sobre o período sesmarial seja a implementação de um sistema marcado pela monocultura extrativista e predatória, com a valorização de detentor de grandes extensões de terra ainda que improdutivas, da formação de uma cultura latifundiária, onde se cultua o senhor, o proprietário, que nunca poderia trabalhar manualmente e se descrimina o trabalho, paga-se pouco por ele, às vezes nada, mantendo um abismo social presente até os dias atuais. Como consequência, houve a implementação de um verdadeiro sistema semifeudal, fora da Europa e em uma época onde este já se havia desintegrado. Os senhores eram verdadeiros semideuses, tendo o poder de vida e de morte sobre os habitantes do sesmo, possuíam engenho, as terras e os escravos. (LIBERATO, 2008, p. 37).
Desde a independência do Brasil até o ano de 1850 aconteceu a ocupação da
terra por meio da posse sem nenhum título, as terras eram doadas com o objetivo de
basicamente colonização e a produtividade. Na metade do século XIX, o Estado
Imperial realizou a primeira legislação agrária. Posteriormente, surgiu o Regime de
Posses, sendo regularizado pela Lei nº 601 em 18 de setembro de 1850, com o
objetivo de dar continuidade ao sistema das sesmarias.
Conhecida como a Lei das Terras de 1850, com o objetivo de promover o
ordenamento jurídico da propriedade da terra, pois, essa situação confusa herdada
do período colonial tornava não dispensável naquele momento.
A Lei de Terras tinha como objetivo regulamentar as posses já existentes, e
tornava pública a declaração de transferência de terras, tendo a natureza
considerada declaratória, ou seja, não tinha a finalidade de fazer a transferência da
propriedade. Seu objetivo fundamental era a promessa de conceder as terras as
pessoas que as fizesse produzir, e a oportunidade de adquirir as terras do Estado.
Os bens que não eram considerados particulares eram para serem devolutos, ou
seja, as terras sem ocupação eram pertencentes ao Estado.
Terras sem ocupação. Todas aquelas que não se enquadrassem nas categorias anteriores eram consideradas sem ocupação, mesmo que alguém ali estivesse e dela tirasse seu sustento e vida. Entre estas terras se encontravam as ocupações por povos indígenas, por escravos fugidos, formando ou não quilombos, libertos e homens livres que passaram a sobreviver da natureza, como populações ribeirinhas, pescadores, caboclos, caçadores, caiçaras, posseiros, bugres e outros ocupantes. Estas terras foram consideradas devolutas pela Lei Imperial e disponíveis para serem transferidas ao patrimônio privado. As terras indígenas, já anteriormente reconhecidas, tem na Lei 601/1850 sua reaconfirmação com o nome de Reservas Indígenas.
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Terras devolutas, portanto, estavam definidas, e estão até hoje, por sua negação, quer dizer, devolutas são as terras que não são aplicadas a algum uso público, nacional, provincial ou municipal, não se achem no domínio particular, nem tivessem sido havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta de cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura, não tivessem sido concedidas em sesmaria ou outros atos do Governo Geral que, apesar de incursas em comisso, foram revalidadas pela Lei 601, não se achem ocupadas por posses que, apesar de não se fundarem em título legal, foram legitimadas pela lei”. (MARÉS, 2003, p. 69-73).
Então, as terras devolutas para o Estado não foram exploradas, porque elas
não tinham título de propriedade emitido pelo Poder Público; todavia, elas não eram
legitimas e onerosas. O governo retirava o trabalhador da terra e somente voltava
através de pagamentos exorbitantes.
As terras, a partir desse momento, eram propriedade do trabalhador,
conseguidas por meio de compra e venda de um título justo. Os trabalhadores, que
adquiriam essa terra, eram considerados escravos da elite, porque, apesar de terem
acesso a atividade, pagavam por elas, ou seja, tinha a mão de obra escrava por um
viés de trabalho livre. E consequentemente, se iniciou a composição dos
movimentos sociais agrários e começaram pelo conflito, a requererem suas
propriedades que foram expropriadas.
Em 1889, aconteceu a Promulgação da República, consequentemente, no
ano de 1916, o Código Civil instituiu o direito de propriedade como algo absoluto e
intangível. Assim, pode se observar os artigos 524 e 525 apresentados
respectivamente:
A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente o possua. (BRASIL, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, 2002). É plena a propriedade, quando todos os seus direitos elementares se acham reunidos no do proprietário, limitada, quando tem ônus real ou é resolúvel. (BRASIL, Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, 2002).
Uma pessoa que possuía terras era considerada com status e poder, e
perante o não contentamento das massas tiveram muitas manifestações que
provocaram diversas mortes de mulheres, homens e crianças.
18
A partir de 1824, a qual é o ano que foi implantada a Constituição do Império,
garantiu se a propriedade privada de maneira absoluta. O proprietário tinha total
direito de usar, fruir e dispor da terra conforme desejasse.
E desta maneira, se recepcionou novas Constituições do Brasil, que
aperfeiçoaram o termo propriedade, desapropriação e indenização, modificando algo
que era considerado um direito absoluto em social, fazendo a relativização dos seus
limites.
A propriedade tem que atender o interesse social, bem-estar da sociedade e o
bem comum. Aconteceu durante o período, uma enorme preocupação com os
interesses da pessoa e o seu exercício de direito. Na Constituição de 1967, a função
social de propriedade passou a ser reconhecida como um princípio de ordem
econômica e social.
A Carta Magna de 1988 do Brasil, considerou a propriedade como um direito
fundamental e não individual, começando a ser percebida como uma instituição de
ordem econômica, consequentemente, ela não poderia ser considerada absoluta e
pleno do direito da pessoa, objetivando a garantia a todos uma vida digna e diferente
das Constituições que a precederam, indo além, insere o direito de propriedade no
rol dos direitos fundamentais.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. (BRASIL, 1988)
Conclui-se, que a Constituição de 1988 faz a limitação do direito de
propriedade garantindo em seu artigo 5º, inciso XXIII. Essa possível restrição é vista
por meio dos requisitos dispostos em lei e, consequente, alcance a sua função
social.
19
2.2 Função social de propriedade
No início do século XX, surge a primeira noção de função social da
propriedade, sendo concebida por León Duguit, tendo influência pela filosofia
positivista de Augusto Conte. Por um outro viés, às doutrinas individualistas
apresentadas até essa data, o autor defendeu a propriedade desta maneira: “é uma
instituição jurídica que, como qualquer outra, formou-se para responder a uma
necessidade econômica e, neste ensejo, evoluiu de acordo com tais necessidades”
(DUGUIT, 1975, p. 235).
Neste mesmo diapasão, o autor lecionou uma crítica pesada ao pensamento
individualista da propriedade, especialmente, sobre o pensamento de que “somente
concedendo ao possuidor um direito subjetivo absoluto sobre o bem é que poder-se-
ia garantir a plenitude de sua autonomia individual” (DUGUIT, 1975, p. 237).
Ao contrário, Duguit não aceitava o pensamento da propriedade como um
direito subjetivo, atribuindo-lhe a característica de função, ou seja, a ser usada pela
coletividade. Por este pensamento, a função da propriedade não possuía o caráter
absoluto e intangível, e o proprietário somente pode ser considerado um possuidor
de um bem, por sua vez pertencente a sociedade.
A função social da propriedade se alterou no decorrer do tempo, passando de
um direito absoluto para ter um cunho social. Esse pensamento aparece quando a
pessoa tem a noção de fazer uma contribuição para o bem-estar da sociedade em
que vive, subjugando os interesses individuais. Nesta esfera, tem-se a teoria da
função social: “Todo indivíduo tem o dever social de desempenhar determinada
atividade, de desenvolver da melhor forma possível sua individualidade física, moral
e intelectual, para com isso cumprir sua função social da melhor maneira”.
(FIGUEIREDO, 2008, p. 83).
Zavascki (2002, p. 844) menciona que, há de se compreender por função
social da propriedade o princípio referente à utilização dos bens, e não se refere a
titularidade jurídica.
20
Os bens e as propriedades é que estão submetidos a uma possível
destinação social, e não o direito de propriedade. Assim, a sua função social realiza-
se ou não, perante atos concretos, de parte de quem realmente tem a
disponibilidade dos bens, ou seja, do detentor, portanto, considerado no sentido
mais amplo, seja ele titular ou não direito de propriedade, possuidor ou não do título
jurídico para mostrar a sua posse.
Esse pensamento se difere totalmente na visão individual trazida pelo Direito
Romano. Nela, tem a valorização da ideia do trabalho em equipe, em prol do bem
comum, mas respeitando os direitos individuais e de terceiros, e também, fazendo a
imposição ao exercício da propriedade.
Figueiredo leciona o durame da questão, quando afirma que: “o modo mais
eficaz de assegurar a felicidade privada, segundo Comte, é pela procura ativa do
bem público, a qual exige, necessariamente, a repressão permanente dos impulsos
pessoais que possam suscitar conflitos contínuos”. (2008, p. 83), ou seja, garantindo
a paz e o bem-estar social tem que restringir características da liberdade humana,
até mesmo se isso fazer a inclusão dos direitos fundamentais. A partir deste
momento, vigorou a compreensão de que a propriedade é um direito subjetivo,
cumprindo uma função social, ao passo que, “de todo modo, a propriedade passa a
ser vista como instrumento de apoio à consecução dos fins sociais, cuja essência é
o seu serviço à coletividade” (DERANI, 1997, p. 239).
A Constituição de 1988 positivou a União não associável entre a propriedade
e a sua função social, enquanto tem o dever imposto a cada pessoa de direito,
sendo essa pública ou particular. Neste contexto, o ordenamento constitucional do
Brasil, conforme Carrera afirma: “retira literalmente a faculdade de ‘não uso’, que o
proprietário exercia quando investido no domínio de seu imóvel” (2005, p. 100).
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] II – Propriedade privada; III – função social da propriedade. (BRASIL, 1988)
21
Ao analisar o artigo 170 da Constituição Federal, a ordem econômica se
apresenta como um fundamento na valorização do trabalho da pessoa e na livre
iniciativa, e tem por finalidade garantir a todos uma existência digna, de acordo os
ditames da justiça social, vistos, dentre os princípios, o da propriedade privada e a
sua função social.
Mello (1987, p. 41) argumenta que, mesmo a propriedade que não realize a
sua função social também garantiu a sua proteção, como é a situação da
desapropriação por utilidade social, por causa da não produtividade do latifúndio. O
autor garante que se de fato a propriedade forma a função social, e não um direito
subjetivo, não tendo sentido a cobrança da relativa indenização.
Os requisitos indispensáveis para caracterizar a função social da propriedade
urbana e rural estão apresentados nos artigos 182 e 186 na Constituição Federal,
eis, abaixo, o teor dos referidos dispositivos:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. §1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. §2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. §3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. §4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, 1988) Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – Aproveitamento racional e adequado;
22
II – Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. (BRASIL, 1988)
A função social forma um princípio basilar da propriedade, que começa a ter
composição: uso, gozo, disposição e função social, com o objetivo de harmonizar
com a disposição da Constituição, adquirindo, assim, a tutela legal.
O titular do direito de propriedade, portanto, na medida em que sua autonomia
não mais mostra o livre arbítrio do uso não discriminado, dando a ele o dever de
compreender os requisitos impostos pelos artigos 182 e 186.
O Princípio da Isonomia é apresentado no caput do artigo 5º da Constituição
Federal, segundo o qual garante “todos são iguais perante a lei”, todavia, não
significa que todos terão tratamento igual pelas leis brasileiras, no entanto que
possuíram abordagem diferenciados na proporção das suas diferenças. A
Constituição ordena que as diferenças apresentadas sejam justificáveis por meio
dos objetivos que se pretende alcançar pela legislação.
A Constituição Federal surgiu como um direito fundamental e garantia do
direito de propriedade, no seu artigo 5º, inciso XXII, o qual garante toda e qualquer
propriedade, desde a imobiliária até a intelectual e de marcar, seguida pelo fato de
determinar de que a propriedade tem que cumprir sua função social (artigo 5º, XXIII),
modificando, assim, a essência da função social de um elemento inerente a
possibilidade de exercer a propriedade. Para observar se uma propriedade cumpre a
sua função social, aquela tem que atender determinados requisitos, os quais estão
dispostos no Estatuto da Terra, conforme a transcrição abaixo:
Art. 2º É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta lei. §1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem. (BRASIL, 1964).
23
A função social como é apresentada na Constituição Federal de 1988, além
de ser considerado um princípio predominante da ordem econômica, está mostrada
no contexto dos direitos e garantias fundamentais. Por tais características é uma
cláusula pétrea de efeito imediato, não tendo autorização para ser alterada ou
revogada.
A Carta Magna de 1988 traz uma novidade ao ampliar a função social à
propriedade urbana, tendo como finalidade o desenvolvimento social e o bem-estar
das pessoas das cidades, apresenta ainda os artigos versando sobre a função social
da propriedade urbana e rural, como os artigos 153, §4º, 156, §1º, 170, III, 182, §2º,
184, 185, parágrafo único, 186.
A função social da propriedade é considerada uma matéria de ordem
constitucional, tendo muita importância desse caráter social oferecido à propriedade
apresenta também no dever do proprietário de oferecer à sua propriedade uma
função de cunho social, que tenha a destinação ao interesse coletivo e não somente
ao individual.
Conforme Bastos e Martins (2002, p. 124), a Carta Magna atual ao
apresentar, ordenadamente, a propriedade em um inciso próprio e exclusivo como
direito fundamental, teve a intenção de repelir a ideia de verificar a propriedade
modificada em função social, ou seja, descontruindo o pensamento de propriedade e
inserindo em um inciso próprio e exclusivo como um direito fundamental, intencionou
a repelir o pensamento de analisar a propriedade modificada por causa da função
social, ou seja, a desconstrução dessa visão como uma mera decorrência de uma
possível função realizada pelo proprietário.
A doutrina tem os seguintes ensinamentos sobre o tema, Athias (1997, p.
132) afirmou que: “mesmo com todas as limitações e encargos criados no novo
texto, foi clara a opção pela manutenção do status quo da propriedade”. Ribeiro
(LIBERATO, 2003, p. 58) proporciona a seguinte noção: "Assim, a função social
torna-se princípio ético jurídico voltado à ordenação da propriedade privada,
incidente no próprio conteúdo do direito de propriedade, dando-lhe um novo
conceito”.
24
A propriedade é, assim, reconhecida como uma função social, pela qual a sociedade prove e garante a subsistência dos seus membros. Atribuindo a propriedade a alguém, o Estado não pode fazê-lo em detrimento de outrem, sob pena de descaracterizar-se como instituição a serviço da sociedade. (LIBERATO, 2003)
Com efeito, de acordo com os ensinamentos Peters “o direito de propriedade
é condição sem a qual não se garante o direito maior à vida” (2006, p. 125).
Neste mesmo diapasão, por se referirem a bens afetados à manutenção da
vida humana, ou seja, da pessoa em sociedade, depreende-se que essa
propriedade tem que ter acesso o mais facilitado possível aos indivíduos, Silva
ensina o seguinte sobre o tema: “o que justifica até a intervenção do Estado no
domínio da sua distribuição, de modo a propiciar a realização ampla de sua função
social” (SILVA, 2002, p. 789).
Portanto, o desenvolvimento das atividades econômicas precisa da utilização
de bens de produção privados, os quais, todavia, não podem ser usados para fins
meramente particulares.
Na realidade, a propriedade tem que atender o interesse público de maneira a
propiciar a existência digna a todos, de acordo com o ordenamento jurídico pela
Constituição Federal, para tanto, “buscando um equilíbrio entre o lucro privado e o
proveito social” (DERANI, 1997, p. 238).
Em suma, o princípio da função social não tem a permissão de realizar a
suprimir o direito de propriedade, no entanto, ela tem que servir de vetor para que o
proprietário destine o imóvel para ele ser útil, com o objetivo de que ela atenda e
beneficie a coletividade.
25
2.2.1 A justificativa da desapropriação
Todavia, tem um maior destaque a desapropriação sendo fundamental no uso
social do imóvel, ou seja, o que se espera é uma correta destinação da função social
de áreas rurais. A utilização do imóvel tem legitimidade quando não estiver inserido
na sociedade, porquanto, tem-se em variações da posse em usurpação. Pensando
com os ensinamentos do seguinte escritor quando elenca que:
Na ditadura militar, o próprio Estatuto da Terra, ao definir a categoria de latifúndio e estabelecer-lhe restrições que o tornam passível de desapropriação por interesse social, estendeu ao solo uma parcela de domínio regulamentar por parte da União, num certo sentido próximo do regime empresarial. “Mais recentemente, na própria Constituição de 1988, o reconhecimento do direito de posse às terras dos antigos quilombos por parte das comunidades negras” (MARTINS, 2000, p. 122).
Toda base de regimento está direcionada nas descrições de leis já citadas,
todavia, faz-se preciso um destaque especial a desapropriação-sanção, a qual tem
um direcionamento para os imóveis rurais. Tem-se como base legal a Constituição
de 1.988 que aconteceu a consolidação para todos os ordenamentos que cuidam
sobre esse tema, sobre o assentimento e corroborações (JÚNIOR, 2002, p. 75).
É importante lembrar com o saudosismo que mostra a época em que as
grandes produções agrícolas eram responsáveis pelo crescimento financeiro e
econômico do País, e depois aconteceu a Revolução Industrial.
Entretanto, lembrar-se desses dados históricos por causa do direito à
propriedade, referentes às mega gigantes construções arquitetônicas como também
às memoráveis fazendas produtoras de café, ou seja, todas com funções sociais
definidas e de imenso valor para a sociedade, de maneira que, quando não são
atingidas essas destinações propostas pela Constituição brasileira, afetando o
interesse social começando a questionar o direito de posse do privado (JÚNIOR,
2002, p. 75).
26
Todavia, as destinações dos imóveis que não têm serventia e sem função
social vão para as demandas do direito à moradia, disciplinados pela Constituição
Federal de 1.988, no artigo 6º, Caput, e pela Emenda Constitucional nº 26 de 2.000,
que destaca que a necessidade de mudar o direito de posse para os cidadãos que
precisam de moradia. Vale trazer à baila sobre a função social o autor a seguir:
A ação agrária deve ser integrada, regionalizada, descentralizada e participativa. Deve considerar a função social da terra, relações de trabalho justas e as condições de sustentabilidade da atividade agropecuária. A descentralização da reforma agrária deve ocorrer no contexto de uma política agrária nacional, apoiada num sistema nacional de reforma agrária e executada a partir de um plano nacional de reforma agrária que seja o somatório com a compatibilização dos planos estaduais de reforma agrária” (LEITE, 2000, p. 147).
Referente à posse da propriedade rural, há regulamentos provenientes do
artigo 186, do inciso II, da Constituição Federal de 1988, que apresentam como os
proprietários de imóveis rurais, aqueles que atendam, simultaneamente, segundos
critérios de exigência, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação ambiental auferidos no artigo 225 (JÚNIOR, 2002, p. 76).
2.3 Concepção e política da reforma agrária
A Reforma Agrária aparece com o objetivo de destinar a terra para ser
utilizada de maneira correta, corrigindo problemas fundiários, pois devido ao mau
uso da propriedade ou a sua exploração é feita ineficazmente e também modos
errôneos de apossamento ou concentração fundiária, a sociedade sofre
consequências desastrosas sob diversos aspectos como o econômico, social,
tecnológico e político.
Conforme o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, conhecido
pela sigla INCRA, o problema fundiário do Brasil tem origem em 1530, com a criação
das capitanias hereditárias e as sesmarias, pois eram grandes glebas distribuídas
27
por Portugal, a quem se quisesse cultivá-la proporcionando em troca um sexto da
produção. Conforme Costa (2014, p. 74):
A palavra reforma é originária do latim re (prefixo que indica movimento de volta para trás, repetição), mais forma (forma, aspectos exteriores, que caracterizam um objeto) construindo reformare, que significa dar outra vez a primeira forma, dar nova forma, refazer, corrigir.
Em 1964, foi feito o Estatuto da Terra por meio da Lei Ordinária 4504 e
apresenta no seu artigo 1º, parágrafo primeiro da seguinte forma: “Considera-se
Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição
de terra, mediante modificações em sua posse e uso, a fim de atender os princípios
da justiça social e aumento da produtividade”.
Conforme o INCRA, a Reforma Agrária é o conjunto de medidas para realizar
a promoção da correta distribuição da terra perante alterações no regime de posse e
uso, com o objetivo de atender aos princípios de justiça social, desenvolver rural
sustentável e aumentar a produção.
A Reforma Agrária na prática proporciona diversos benefícios para a
sociedade, como por exemplo a desconcentração e democratização da estrutura
fundiária; produção de alimentos essenciais; geração de ocupação e renda; combate
à fome e a miséria, entre outros. Para o direito, a sua grande finalidade é o
cumprimento da função social da propriedade rural. Pelos pensamentos de Pereira
(1993, p. 29).
A reforma agrária surge a partir da constatação de que o uso inadequado da terra entreva o desenvolvimento social e econômico do país, impedido o bem-estar da comunidade. Logo, toda reforma agrária parte da reestruturação da propriedade rural a fim de que a terra, mediante a exploração racional, obtenha uma maior produtividade, e assim possa proporcionar melhoria de condição de vida e bem-estar à sociedade como um todo.
A Carta Magna de 1988 apresenta em seu texto um capítulo destinado ao
problema agrário, o que não aconteceu nas outras Constituições. O Título VII,
28
Capítulo III, refere0se a Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, tendo
destinado do artigo 184 a 191. O instituto da Reforma Agrária tenta modificar a
estrutura vigentes, onde os não proprietários pede do Estado acesso à terra.
Ferreira afirma que (2002, p. 240):
Reforma Agrária é, pois, na acepção etimológica a mudança do estado agrário vigente. Mas uma mudança tem de operar-se em determinado sentido. Procura-se mudar o estado atual da situação agrária. Esse estado que se procura modificar é o feudalismo agrário e da grande concentração agrária em benefício das massas trabalhadoras do campo. Por consequência, as leis de reforma agrária se opõem a um estado anterior de estrutura agrária que se procura modificar.
Um dos grandes problemas para fazer a reforma agrária no Brasil está no fato
de não aplicar o princípio da função social da propriedade, ou seja, até hoje ele não
tem a correta eficácia. A sua defesa absoluta continua prevalecendo nas decisões
judiciais, prevalecendo os critérios como o aproveitamento racional e adequado dos
recursos naturais, a preservação do meio ambiente e a disposições sobre as
relações de trabalho, conforme apresenta o artigo 16:
Art. 16. A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio. Parágrafo único. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será o órgão competente para promover e coordenar a execução dessa reforma, observadas as normas gerais da presente Lei e do seu regulamento. (BRASIL, 1964).
O governo e a resistência do Congresso contribuíram para os grandes
números negativos nos índices de produtividade, vale destacar que estes números
estão desatualizados. Uma terra não fica sempre em produção. Conforme a Lei de
Terras de 1993, esse índice tem que ser ajustado periodicamente:
Art. 11. Os parâmetros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados, periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento
29
regional, pelos Ministros de Estado do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura e do Abastecimento, ouvido o Conselho Nacional de Política Agrícola. (BRASIL, 1993).
Mas a inoperância do governo federal e a resistência do Congresso mantêm
esse índice sem atualização. O cumprimento do princípio constitucional tem a
função social da propriedade é fundamental para fazer a reforma agrária brasileira.
30
3 REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL: EVOLUÇÃO E ASPECTOS JURÍDICOS
Conforme o §1º, do artigo. 1º, da Lei N.º 4.504, de 30 de novembro de 1964,
conhecido como o Estatuto da Terra, “considera-se reforma agrária o conjunto de
medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações
no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao
aumento de produtividade”. (BRASIL, 1964).
Dessa maneira, a reforma agrária pode ser compreendida como o conjunto de
anotações e planejamentos estatais perante intervenção do Estado na economia
agrícola, objetivando a ascensão e distribuição da propriedade e renda fundiária.
O artigo 184 da Constituição Federal de 1988 determina que a
desapropriação por interesse social, com o objetivo da reforma agrária, através de
antecedente e justa pagamento a título de indenização em títulos da dívida agrária,
levando-se em conta sua preservação como consequência de valor real, sendo
possível ser resgatável no prazo de até 20 (vinte) anos, a partir do segundo ano,
com um percentual proporcional ao prazo, conforme os critérios definidos nos
incisos I a V, §3º, do art. 5º da Lei nº. 8.629/93. Todavia, as benfeitorias úteis e
necessárias poderão ser pagas em dinheiro. (BRASIL, 1993)
O Decreto que declara o imóvel rural como de interesse social, para a reforma
agrária, autoriza a União, sendo esse de competência exclusiva para a propositura
da ação de desapropriação. As transferências de imóveis desapropriados com
objetivo de reforma agrária, como a mudança ao favorecido do programa serão
desobrigadas do pagamento de impostos federais, estaduais e municipais, conforme
o artigo 26 Lei Nº 8.629/93 e §5º, do artigo 184, da Constituição Federal de 1988.
(BRASIL, 1988)
Para não acontecer a modificação dos objetivos da reforma agrária, o artigo
189 da Constituição Federal de 1988 estabelece que “os beneficiários da distribuição
de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão
de uso, inegociáveis pelo prazo de 10 anos”. (BRASIL, 1988)
31
A Constituição do Brasil apresenta como requisitos da desapropriação, a
necessidade e utilidade pública, além do interesse social, conforme Seabra
Fagundes (1984) destaca abaixo:
Ocorre interesse social quando o Estado esteja diante dos chamados interesses sociais, isto é, daqueles diretamente atinentes às camadas mais pobres da população e à massa do povo em geral, concernentes à melhoria nas condições de vida, à mais equitativa distribuição de riqueza, à atenuação das desigualdades em sociedade.
O orçamento da União terá que determinar, anualmente, o volume de títulos
da dívida agrária e dos recursos destinados no exercício para atender o Programa
de Reforma Agrária. Assim, constando que estes recursos do orçamento do
Ministério responsável, sejam implementados ao órgão que executa a política de
colonizar e realizar a reforma agrária, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA).
De acordo com o artigo 185 da Constituição Federal de 1988, não podem
sofrer a desapropriação com o objetivo de reforma agrária a pequena e média
propriedade rural, desde que seu proprietário não tenha outra e que seja produtiva.
(BRASIL, 1988).
O dispositivo constitucional supracitado demonstra a justificativa, pois nada
adiantará fazer a desapropriação de uma pequena ou média propriedade para uma
pessoa, porque não resolverá o problema agrário do país e provocará um desgaste
político considerável.
Por outro viés, não resolve, e nem é correto, retirar a grande propriedade
daquela pessoa que produz, só porque suas terras têm dimensões maiores, e
passar para outra que, talvez, nunca tenha feito nenhuma produção e nem tenha
conhecimento para tal atividade.
A Administração Pública não tem como definir o que seja propriedade rural,
pequena, produtiva, e nem as situações em que se consideram atendidos os pré-
requisitos da função social da propriedade. Esses conceitos estão contidos na Lei
32
N.º 8.629/93, a qual apresenta a regulamentação dos dispositivos constitucionais
sobre a reforma agrária, previstos na Constituição brasileira. (BRASIL, 1993).
A desapropriação não é efetivada somente de acordo com o artigo 184 da
Constituição Federal de 1988, também há a previsão constitucional no artigo 5º,
inciso XXIV, o qual prevê que “a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro”. (BRASIL, 1988).
Dessa maneira, as proibições inseridas no art. 185 da Constituição de 1988
se referem ao processo de reforma agrária presente do art. 184, e não a
desapropriação do art. 5º, XXIV, em si. (BRASIL, 1988).
Em suma, pode-se afirmar que, com o objetivo de necessidade, utilidade
pública, interesse social, desde que não esteja atrelado à reforma agrária, qualquer
imóvel, produtivo ou improdutivo, rural ou urbano, pequeno, grande ou médio, com
único ou muitos proprietários, pode sofrer desapropriação, todavia a indenização
tem que ser paga em dinheiro e em uma única vez.
Se, todavia, a desapropriação se atrelar com interesse social, com o objetivo
de reforma agrária, não há incidência sobre qualquer propriedade produtiva, e nem
tampouco a pequena e a média, produtiva ou não. No entanto, não pode ser a única
propriedade produtiva que o proprietário disponha.
Sobre as pequenas e médias propriedades, vale destacar que o Supremo
Tribunal Federal (STF) autorizou o mandado de segurança contra decreto da
Presidência que apresentou o interesse social para a reforma agrária, um imóvel
rural que se modificou em média-propriedade somente após vistoria para ser
expropriado.
O STF estabeleceu lícita a argumentação de referir-se de média propriedade
e, em suma, não sendo possível a reforma agrária. O tribunal compreendeu ser
direito do proprietário do imóvel a divisão da sua propriedade, mesmo depois da
vistoria do imóvel para a reforma agrária, tendo que em caso fraude ser examinada
em ação própria e nunca por meio de mandado de segurança (Informativo STF nº.
33
80 – MS nº. 22.591 – Rel. Min. Moreira Alves, 20-8-97; tendo sido citados os
seguintes precedentes: MS nº. 21.010 e MS nº. 22.645).
Desta forma, caracteriza-se a Reforma Agrária como um complexo de
medidas, as quais objetivam a melhora das condições do homem rural, utilizando-se
assim mais racional da terra. Além dos objetivos políticos e sociais, como a
permissão do acesso à propriedade da terra aos que trabalham, realizando a
eliminação de grandes desigualdades e podendo impedir o êxodo rural, e os
objetivos econômicos: desconcentração da renda e elevação da produção na
agricultura.
As medidas abaixo apresentam quatro setores diferentes e cada uma constitui
uma reforma parcial. Ao conjunto dessas pequenas reformas é que se denomina
reforma agrária.
A primeira delas é a reforma fundiária, a qual se refere ao processo de
redistribuição da propriedade fundiária feito pelo Estado, especialmente em áreas de
agricultura tradicional e considerada pouco produtiva. Essa nova distribuição dos
direitos de propriedade é realizada através da expropriação ou desapropriação e
repartição dos latifúndios e enormes fazendas consideradas não produtivas,
entregando os títulos de propriedade aos arrendatários, parceiros e posseiros.
Essa medida tem como objetivo uma distribuição correta da propriedade do
solo, portanto, o governo tem que fazer a inclusão nessa operação das terras e
devem incluir as terras devolutas, terras da Federação, dos Estados e Municípios.
As terras devolutas são domínios considerados de natureza dominical, ou
seja, fazem parte do patrimônio de pessoa jurídica de direito público, mesmo que
não seja para uso público e nem concedidas a particulares, portanto, são
consideradas terras vagas, sem aproveitamento, as quais podem ser alienadas ou
serem concedidas a particulares. O autor Adroaldo Furtado Fabrício (1981, p. 649)
leciona que:
34
Com pertinência às terras devolutas, outra dificuldade se apresenta: a relativa ao ônus da prova de o serem ou de o não serem. É praticamente impossível fixar-se uma conceituação jurídica positiva de terras devolutas, a partir da legislação existente: a definição só se pode fazer por exclusão, e a sua característica é a da inexistência de titulação.
As terras devolutas são consideradas bens públicos patrimoniais ainda não
usados pelos proprietários, sendo que esse conceito é oferecido pela Lei Imperial
601, de 18/9/1850 e tem sido aceito uniformemente pelos civilistas. (BRASIL, 1850).
A segunda reforma é a reforma agrícola, a qual compreende um conjunto de
medidas destinadas a ter um aumento da produtividade de terras e mão-de-obra
agrícola, tais como a utilização de técnicas avançadas de cultivo e auxílio técnico;
crédito fácil e com maior acessibilidade; a posse de maiores facilidades para a
distribuição dos produtos a preços compensatórios; e educação e serviços de saúde
locais.
A terceira é considerada a reforma rural, sendo essa compreendida como a
reforma da empresa rural. Há um levantamento que nem 10% dos trabalhadores no
campo são proprietários das terras que cuidam, a grande maioria das pessoas
trabalham com salários, parceiros ou arrendatários.
Para determinadas culturas extensivas, a empresa rural de grande porte pode
proporcionar condições e melhorias para usar a terra, pelas suas grandes
possibilidades de alcançar determinados mercados e de proporcionar a renovação
dos seus métodos e equipamentos. Todavia, a pequena propriedade rural, que
proporciona a garantia de um teor de vida digno e se junta nas pessoas do operário
e do proprietário, sendo possível considerá-la a mais sólida base agrícola de um
país.
A implantação de um novo sistema de produção, integrando essas
propriedades como cooperativas, pode ser uma alternativa ao regime rural ideal,
pois alcança e combina as vantagens econômicas da grande empresa com sociais.
A quarta é o regime das relações de poder, o qual os trabalhadores rurais
precisam, comparando com os proprietários urbanos, de mecanismos de defesa
legal. Realizar as reformas das relações de poder é realizar a conferência do
35
trabalhador rural com os recursos legais para fazer a reivindicação dos seus direitos.
Esses recursos são a organização do sindicalismo rural e da justiça agrária.
A Reforma Agrária no Brasil tem sido feita em sua grande parte por
assentamentos rurais, os quais embora fossem tidos como medida governamental
para acentuar conflitos sociais inerentes a concentração fundiária. Atualmente, estes
assentamentos podem se organizar para aplicar políticas públicas que visam de
certa forma gerar emprego e distribuição de renda, através do acesso às terras e as
normas de políticas agrícolas dirigidas ao desenvolvimento rural e urbano. No
entendimento de Norder (2004, p. 288), “as políticas de assentamentos têm efeitos
multifuncionais, uma vez que representam, simultaneamente, uma política
habitacional e de fortalecimento da segurança alimentar e de desenvolvimento local
e regional”. Ainda, neste mesmo entendimento complementa Leite e Medeiros:
A ausência de uma clara definição da política agrária pelas agências governamentais fez com que a implementação de assentamentos rurais [...] na grande maioria dos casos, tenha sido uma decorrência das contundentes ações políticas dos trabalhadores rurais sem terra organizados pelos movimentos sociais, e não por organismos governamentais (LEITE e MEDEIROS, 1999, p. 115-118).
Os Assentamentos de Reforma Agrária já existentes há mais de dez anos
contam com um grande passivo no que concerne à infraestrutura, com o
desenvolvimento de tecnologias apropriadas, sistemas de crédito, preservação e
produtividade nas terras, capacitação das famílias e meios de comercialização.
Trazendo assim diversos problemas aos trabalhadores assentados, como por
exemplo, na escala de produção, gerenciamento da produção, altos custos de
produção e aos baixos preços oferecidos por seus produtos e o cumprindo de papel
específico de fornecedores, em matéria-prima barata para abastecimento interno da
população.
36
3.1 Política agrícola e fundiária
A Reforma Agrária é diferente da política agrícola. Pois, a política agrícola é
responsável por fazer a orientação por meio da legislação, planos e programas
governamentais sobre a economia rural, a agropecuária, delimitando planos, com o
objetivo de fazer a harmonização com as indústrias do país e de se tornar mais
eficiente a utilização da terra, com a implementação da produção, a utilização da
mão-de-obra rural e a ocupação correta das terras.
A política agrícola pode ser entendida como sendo essencialmente do Poder
Público. É formada na escolha de caminhos mais convenientes para influenciarem
toda atividade agrária, com o objetivo de conseguir um ordenamento satisfatório das
pessoas participantes ou a que ela se vincularem, com base de alcançar o
desenvolvimento agrário.
Essa política tem que ser planejada e realizada conforme a lei, exigindo a
participação total do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores
rurais, como também o comércio, armazenamento e transporte.
Vale destacar que tem que se considerar os instrumentos de créditos fiscais;
os preços coerentes com os custos de produzir e garantira comercialização;
incentivara pesquisa e a tecnologia; o auxilio técnico e a extensão rural; o seguro da
agricultura; o cooperativismo; a eletrificação e a irrigação rural; e a habitação para o
trabalhador rural.
A Lei Nº 8.171/91 apresenta sobre a política agrícola a seguinte
regulamentação que “entende-se por atividade agrícola a produção, o
processamento e a comercialização dos produtos, subprodutos e derivados, serviços
e insumos agrícolas, pecuários, pesqueiros e florestais”. (BRASIL, 1991).
O art. 8° da Lei N°. 8.171/91, dispõe que o ato de planejar a política agrícola,
será realizada em conformidade com a disposição do art. 174 da Constituição
Federal de 1988, de maneira democrática e participativa, por meio de planos
nacionais para desenvolver a política agrícola plurianuais, planos de safras e
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operativos anuais, observando as definições inseridas na referida lei. (BRASIL,
1991).
A política fundiária tem uma diferenciação da política agrícola, pois há um
disciplinamento sobre a posse da terra e de seu uso adequado, ou seja, a função
social da propriedade. Nessa situação, a política fundiária deve priorizar e realizar a
promoção do acesso à terra das pessoas que tenham a capacidade de produzir,
inserido de uma sistemática moderna, definida como especializada e
profissionalizada.
No entanto, a Constituição brasileira, nos ensinamentos de José Afonso da
Silva (2003, p. 799), deu um amparo maior à política agrícola do que a reforma
agrária. “Enquanto a esta se opuseram inúmeros obstáculos, àquela tudo ocorre liso
e natural, porque aí o beneficiário é a classe dominante no campo”.
A Constituição Federal de 1988 criou o termo do chamado “usucapião
constitucional” ou “pro labore”, favorecendo aquele que, não sendo proprietário de
imóvel urbano ou rural, tenha como sendo sua a terra, por cinco anos ininterruptos,
sem oposição, em zona rural, não excedendo a 50 hectares, tornando-a produtiva
através do seu trabalho ou da sua família e fazendo dela sua moradia, terá adquirido
sua propriedade. Por outro viés, não possibilitou qualquer alternativa de usucapião
em imóveis públicos. (BRASIL, 1988).
3.1.1 Imóveis rurais nos termos da legislação agrária
Ao se tratar de imóvel rural, pode-se compreender este como uma área
formada de uma ou mais matrículas de terras contínuas, do mesmo proprietário,
localizando-se tanto na zona rural quanto na zona urbana do referido município. O
que define o imóvel rural para a legislação agrária é a sua “destinação agrícola,
pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial.” (BRASIL, 1993).
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A expressão “áreas contínuas” retrata as áreas do mesmo detentor, sendo
consideradas como um único imóvel, mesmo que cada uma tenha seu próprio
Registro/Matrícula, ou que haja interrupções físicas como estradas e rodovias, até
mesmo cursos d’água, desde que o tipo de exploração seja o mesmo.
Quando aparece um imóvel rural, o qual o proprietário não está respeitando e
seguindo os critérios definidos pelo ordenamento jurídico brasileiro para o uso dos
imóveis rurais, demonstrado pela Emenda Constitucional nº 10 de 09 de novembro
de 1.964 a qual disciplina essa atitude, utiliza-se a desapropriação, com o objetivo
de que se processe a retificação do cuidado errado da propriedade rural, tentando
demonstrar corretamente a utilização, visando ter direcionamento para o uso de uma
função social. Conquanto, o Brasil não se retira o ato de indenizar dinheiro previsto
em Lei, em forma de títulos especiais da dívida pública (JÚNIOR, 2002, p. 74).
A estrutura fundiária rural no Brasil tem sofrido muitas transformações ao
longo do tempo, e um dos pontos mais relevantes é o conhecimento do território
nacional, quando se viu a necessidade de uma forma para gerir e colher as
informações para a elaboração de uma estrutura de dados georreferenciados sobre
este território. Com isso, com o aprimoramento de técnicas e a facilidade de
disseminação de informações, instituiu-se a Lei nº 10.267/2001, de 28 de agosto de
2001, que apresenta o georreferenciamento de imóveis rurais e a criação do
Cadastro Nacional de Imóveis Rural (CNIR), como instrumento do Estado para
controle organizacional do meio rural brasileiro. (BRASIL, 2001).
Com a instituição da Lei nº 10.267/01, o Instituto Nacional de Reforma Agrária
(INCRA) ficou incumbido de patrocinar a criação desse cadastro, tendo ainda a
função de associar as bases de dados da Receita Federal, IBAMA e Funai, bem
como o papel de integrar este aos demais sistemas do INCRA, como o Sistema de
Informações de Processos Jurídicos (SIJUR) e o Sistema de Assentados da
Reforma Agrária (SIPRA), além de elaborar atos normativos próprios. (BRASIL,
2001).
Para melhor entendimento, pode-se dizer que o Certificado de Cadastro de
Imóvel Rural (CCIR) é o documento remetido pelo INCRA que demonstra a
regularidade cadastral do imóvel rural. Este certificado contém informações sobre o
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proprietário, a área, a localidade, o tipo de exploração e a classificação fundiária do
imóvel rural. Produzindo-se assim dados declaratórios e exclusivamente cadastrais,
não regularizando direito de domínio ou posse.
O CCIR é imprescindível para legitimar em cartório a transferência, o
arrendamento, a hipoteca, o desmembramento, o desmembramento e a partilha de
qualquer imóvel rural, sendo também necessário para a cessão de crédito agrícola,
tendo em vistas que estes requisitos são exigidos por bancos e agentes financeiros.
Para emitir o CCIR, faz-se indispensável que o imóvel rural já esteja devidamente
cadastrado no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). (BRASIL, 2001).
Dispõe a lei que todos os proprietários, titulares de domínio útil ou
possuidores de qualquer título de imóveis rurais, devem obrigatoriamente prestar
declaração de cadastro, e quando efetuado o cadastro do imóvel, o INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) expedirá o CCIR, e caso o proprietário
não o possua, estará impedido de desmembrar, arrendar, hipotecar, vender ou
prometer em venda seu imóvel rural, até mesmo, em caso de sucessão causa
mortis, partilha amigável ou judicial, poderá ser homologada sob pena de nulidade,
conforme estabelecido no artigo 22 da Lei nº 4.947, de 6/4/1966. (BRASIL, 1966).
Nas escrituras públicas, o tabelião fica obrigado a mencionar os seguintes
dados constantes do CCIR: o código do imóvel, o nome e a nacionalidade do
detentor (ou seja, o nome da pessoa que figura no CCIR como sendo o proprietário
do imóvel), a denominação do imóvel (mesmo que esteja diferente do nome
constante da matrícula) e a sua localização (§6º do artigo 22 da Lei nº 4.947/1966),
lembrando que o CCIR, em nenhuma hipótese, faz comprovação de propriedade ou
de direitos a ela relativos, responsabilizando de forma criminal àquele que utilizar
esse documento com essa finalidade, estando sujeito à pena de reclusão de 2 a 6
anos. (BRASIL, 1966).
No Registro de Imóveis, o código do imóvel e os elementos constantes do
CCIR são condições da matrícula (Lei nº 6.015/73, artigo 176, §1º, inciso II, nº 3,
alínea "a"). Havendo alterações na matrícula do imóvel rural, como por exemplo
mudança de titularidade, desmembramento, loteamento, conglobação de área,
alinhamento de área, instituição de reserva legal e particular do patrimônio natural e
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outras exceções de caráter ambiental, fica o Oficial de Registro obrigado a
comunicá-las ao INCRA. (BRASIL, 1966).
No que lhe concerne, o INCRA encaminhará ao registro de imóveis
competente, nos casos de composição de um novo imóvel rural, será utilizado o
código do cadastro do imóvel no SNCR, para fins de averbamento (§8º do artigo 22
da Lei nº 4.947/66). Para as finalidades de cadastro do INCRA, aplica-se, a
denominação de agrário de imóvel rural, podendo este ser composto por uma ou
mais matrículas/inscrições. Desta forma, dispõe o §3º do artigo 46 do Estatuto da
Terra (Lei nº 4.504, de 30/11/1964) que:
Os cadastros terão em vista a possibilidade de garantir a classificação, a identificação e o grupamento dos vários imóveis rurais que pertençam a um único proprietário, ainda que situados em municípios distintos, sendo fornecido ao proprietário o certificado do cadastro na forma indicada na regulamentação desta Lei. (BRASIL, 1964)
Poderá ainda o INCRA por meio de ato normativo próprio exigir do
proprietário o cadastramento de todas as áreas rurais que tenha domínio e que
sejam juntas umas às outras, visando que se constitua um único cadastro dessas
áreas rurais, aplicando-se o conceito agrário para relacioná-las como um único
imóvel rural, atribuindo-lhe um código no SNCR.
Nessa hipótese, nada impede que por meio de suas normas internas, o
INCRA imponha o georreferenciamento do conjunto destas áreas no momento do
cadastramento ou no ato de atualização cadastral.
3.2 Políticas públicas de assentamentos rurais no Brasil
Atualmente com a grande massa de desemprego e a baixa nas oportunidades
de trabalho os assentamentos apresentam-se como uma boa alternativa de
emprego, este possibilita a criação de pelo menos três ocupações por unidade
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familiar no próprio estabelecimento, abarcando os serviços desenvolvidos fora do
lote. Os projetos de Reforma Agrária também é um grande gerador de trabalho a
terceiros sendo pertinentes aos investimentos em infraestrutura econômica e social,
quanto à contratação de força de trabalho temporário.
Para Raimundo Pires, superintendente do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária de São Paulo – INCRA/SP:
Os assentamentos rurais possuem um valor estratégico no campo do desenvolvimento com justiça social, pois se constituem numa área reformada que possibilitam moradia, comida, emprego, lazer e cidadania a um contingente significativo de trabalhadores que tem pouca ou nenhuma perspectiva de inserção produtiva na sociedade urbana moderna. Os assentamentos rurais, além da melhoria de qualidade de vida da população marginalizada, nas diversas formas de integração com o local onde se situam, vêm abrindo novas perspectivas de desenvolvimento do meio rural e do seu entorno urbano (2003, p. 165).
Alguns requisitos são indispensáveis para praticar uma política pública que
vise a reforma agrária, dentre eles estão: reorganização da propriedade das terras
próximas às cidades, buscando o abastecimento de baixo custo e o acesso à
infraestrutura social fundamental ou a sua construção; controle pelo Estado e pelos
assentados da extração de madeiras e outros recursos advindos da natureza, para
benefício do sistema (ecológico e humano), desempenhando novas tecnologias,
conservando e reavendo os recursos naturais, como um exemplo de
desenvolvimento agrícola autossustentável (surgindo-se o novo conceito de
agroecologia); ter garantia de que a produção agropecuária esteja voltada para a
proteção alimentar e ao desdobramento econômico e social dos assentados; apoio à
produção familiar e cooperativada, com preços justos, créditos acessíveis e seguro
agrícola. (ALY JR E FERRANTE, 2005, p. 102).
O termo ‘assentamento rural’ foi criado no âmbito de políticas públicas para nomear um determinado tipo de intervenção fundiária, unifica e, muitas vezes, encobre uma extensa gama de ações, tais como, compra de terra, desapropriação de imóveis rurais ou mesmo utilização de terras públicas. A constituição de um assentamento (em diversos casos, de mais de um assentamento no âmbito de um mesmo município ou região) acarreta a introdução de novos elementos e agentes que ocasionam alterações nas
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relações de poder. Acontece, com isso, alteração nas relações locais, visto que ela envolve graus diferenciados de negociação com o proprietário que pode ou não ser membro da elite local, mas que, de qualquer forma, resulta em cunha que se insere nas relações até então prevalecentes. Diversas agências públicas, estatais ou não, voltadas à implantação e viabilização dos assentamentos, passaram a atuar na região. Grande parte dos assentamentos foi resultado de um processo de luta pela terra, o que implicou num certo nível de organização e constituição de lideranças e organizações e/ou entidade de representação que, não raro, acabaram por participar dos processos políticos locais após o assentamento, tornando-se porta-vozes do grupo e de suas demandas (LEITE E MEDEIROS, 2004, p. 230-234).
Os incidentes e disputas fundiárias tiveram seu início a partir dos anos 80,
sendo recriada a organização dos populares que se fixam ao longo da história
agrária brasileira, mostrando que os assentamentos foram feitos mais como uma
resposta governamental ao acirramento dos conflitos sociais, à pressão das
organizações sindicais e movimentos sociais do que como um deliberado programa
estratégico de estado visando o aperfeiçoamento das condições de vida e de
trabalho no campo. Assim, conforme expõe Delgado (2005, p. 75):
O cenário macroeconômico neste período era baseado numa política de saldos comerciais expressivos, cativos ao serviço da dívida que apresentava uma curiosa trajetória produtiva-distributiva, fomentando setores produtivos com baixas demandas de importações, especialmente o setor primário.
Os familiares que adentram os assentamentos buscam desenvolver formas
de habitação por sua força de trabalho, visando sempre o aperfeiçoamento de suas
condições de moradia, sociais e comunitárias, procurando assim, reconstruir uma
localidade no meio rural. Expressando um rompimento com as demais relações de
exploração desenvolvido nas vastas propriedades rurais e também com a trajetória
de migração para os centros urbanos.
A volta ao campo retrata em sua maioria a criação de novas oportunidades de
emprego em municípios com baixo índice econômico, favorecendo-os além de tudo
pelo afastamento em relação às condições urbanas. Os assentamentos rurais têm
sido uma alternativa não apenas para a população rural, mas também para
trabalhadores urbanos com origem rural. As políticas de distribuição e repartição
fundiária podem ser interpretadas como políticas que almejam a mudança do
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mercado de trabalho, na medida em que colaboram, ainda que moderadamente,
para reduzir a oferta de mão-de-obra disponível nos centros urbanos e no meio rural,
reduzindo, por exemplo, a pressão sobre os salários.
Esta pode ser considerada uma das mais impactantes medidas políticas de
reforma agrária no Brasil: promovendo uma desmercantilização da força de trabalho
e proporcionando melhores condições sociais de vida, quanto à habitação e à
alimentação. Nessa perspectiva, Norder (2004, p. 38) ressalta que:
Os conflitos sociais visando a criação de assentamentos exprimem a determinação de parte dos trabalhadores no sentido de reduzir sua dependência para com as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho, de reconstruir espaços habitáveis no meio rural e de estabelecer uma nova relação política com o Estado. Modifica-se a dinâmica entre terra, trabalho e poder.
As políticas públicas voltadas para assentamentos rurais são marcadas pela
elaboração do primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária, de 1985, coordenado
por José Gomes da Silva, no governo de Sarney. Esse plano foi uma tentativa legal
de recuperar as normas de Reforma Agrária no Brasil, um dos privilégios desse
plano era a desapropriação de terras que não cumprissem sua função social ou que
estivessem introduzidas em zonas de conflitos sociais, reforçando o Estatuto da
Terra de 1964. (BRASIL, 1964).
No entanto, o que se verificou na década de 1980 foi uma separação da
estrutura pública voltada para matéria agrária, mais especificamente para a Reforma
Agrária, ressalta-se nesse período a desestruturação do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
Dessa maneira, as políticas públicas inseridas e focadas nos assentamentos
rurais constituíam-se basicamente de políticas de governos Estaduais e não
estavam estabelecidas num programa de desenvolvimento nacional, mas sim
estremada sob pressões e divergências estaduais, por exemplo, o caso de São
Paulo, no governo Franco Montoro.
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Nos primeiros anos da década 1990, acentuaram-se [acentuou-se] uma situação paradoxal da questão agrária: enquanto o Estado não demonstrava qualquer interesse em concluir os projetos de Reforma Agrária em andamento, ou mesmo cumprir as metas de assentamento apresentadas em programas eleitorais do Governo Collor, os movimentos sociais ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e à Central Única dos Trabalhadores – CUT – começavam a ganhar espaço no meio rural e indicavam que somente através de grandes ocupações de terras é que a Reforma Agrária poderia conhecer algum avanço (NORDER, 2004, p. 69).
Considerando a conjuntura macroeconômica, entre 1994 e 1999, segundo
Delgado (2005, p. 42):
Produziu-se um gigantesco passivo externo, materializado em um déficit em Conta Corrente cumulativo ao redor de 3, 5% do PIB ao ano. Esse movimento de ‘ajuste ultraliberal’ teve consequências fortemente desvalorizadoras sobre a renda fundiária e a abertura comercial ao exterior promoveu a queda generalizada na renda agrícola.
Esse procedimento ocasionou a redução do preço da terra, levando em
consideração que ao se baratear o custo da terra, geram-se condições que
simplificam a sua incorporação para fins de reforma agrária, considerando dessa
forma, desvalorizar o preço da terra pode ser tido como uma desvalorização do
poder econômico dos latifúndios. Por outro lado, a retrocessão e o absentismo do
estado na política agrícola impedem a construção de uma política alternativa de
desenvolvimento rural, em que o papel do Estado teria que ser acessório.
O Governo Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro mandato (1995-
1998), avaliava o problema agrário como um grande gerador de problemas políticos.
Tornando a Reforma Agrária um dos assuntos mais conturbados dos compromissos
políticos do Governo Federal diante, especialmente, da sociedade civil e dos
movimentos sociais.
Com o decorrer dos tempos, em meados dos anos 90, o Estado demonstrou a
necessidade de se atuar na questão fundiária de forma mais decisiva e ampla que
os governos anteriores, ocasionando a desapropriação de áreas não produtivas e na
implementação de assentamentos rurais, o que acarretava investimentos
governamentais para o pagamento de áreas desapropriadas, para instalação da
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infraestrutura social e custeamento da produção agropecuária das famílias
assentadas.
Apesar dos métodos governamentais cautelosos para esta delicada questão
política, e de uma expansão do número de famílias assentadas por ano, houve uma
imposição dos limites orçamentários à reforma agrária e assentamentos rurais
durante todo o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (NORDER, 2004,
p. 100).
No entendimento do INCRA, a formação de um Assentamento é um
procedimento que necessita ser normatizado e com métodos bem definidos. Para
Leite (2004, p. 258-259), a criação dos assentamentos:
Implicou alguma redistribuição fundiária e viabilizou o acesso à terra a uma população de trabalhadores rurais em geral já residentes na própria região, mas não alterou radicalmente o quadro de concentração fundiária no nível estadual, motivo pelo qual não se pode considerar a política de assentamentos rurais como um profundo processo de reforma agrária. No entanto, no nível local (dos municípios e dos estratos de tamanho de estabelecimentos) as alterações na estrutura agrária são mais visíveis e chegam a ser bastante significativas. A experiência de luta pela terra, a existência do assentamento como espaço de referência para políticas públicas, a precariedade da infraestrutura, entre outros fatores, fazem com que os assentamentos tornem-se ponto de partida de demandas, levando à afirmação de novas identidades e interesses, ao surgimento de formas organizadas internas (e também mais amplas) e à busca de lugares onde se façam ouvir. A presença dos assentamentos (e das políticas públicas a eles associadas que, embora precariamente, viabilizam a implantação de alguma infraestrutura) também atua como fator gerador de postos de trabalho não agrícola (construção de casas, estradas, escolas, contratação de professores, surgimento de transporte alternativo, etc.) e como dinamizador do comércio local nos municípios onde se inserem, fato que se acentua nos casos de elevada concentração de assentados.
Não obstante, na inconsistência das políticas governamentais para os
assentamentos a pequeno e a médios prazos, a obtenção da terra possibilita a
reorganização social das famílias de trabalhadores rurais por dois importantes
fatores: primeiramente, o acesso à um espaço para a construção habitacional e
segundo, a expansão de disponibilidade familiar na produção de alimentos por
intermédio da prática do autoconsumo. No entanto, é notório que a renda monetária
gerada através do investimento e trabalho no assentamento tem como principal
propósito o sustento dessas famílias, permitindo que famílias atinjam um padrão de
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vida que as coloque em uma situação de não-pobreza sendo assim, a geração da
renda agropecuária.
De acordo com o estudo de Leite (2004), o perfil da família assentada
composta pelo titular do lote, em 90% dos casos, caracteriza por homem com média
40 anos, com estudo primário e sua família sendo composta geralmente da esposa e
mais três filhos. Norder (2004, p. 71) afirma que:
Os projetos de assentamento implementados no Brasil nas últimas duas décadas resultam da aplicação de diversas políticas fundiárias: a desapropriação de grandes propriedades rurais com base na legislação sobre reforma agrária; a redefinição da forma de ocupação de áreas públicas; a criação de reservas extrativistas em áreas florestais; o reassentamento de populações atingidas por barragens. De qualquer forma, os assentamentos se caracterizam por uma intervenção estatal com a finalidade de promover a distribuição de terras para grupos de trabalhadores.
No final de 1998, a crise de liquidez internacional atinge a economia
brasileira, causando grande perda de capital e forçando a mudança do regime
cambial. Assim, a política do ajuste externo se altera, novamente, da mesma
maneira que ocorrerá na primeira crise da dívida em 1981, afetando os setores
primário-exportadores, fazendo com que sejam escalados para gerar saldo
comercial. Neste ínterim, a agricultura capitalista – autodenominada de agronegócio,
retoma sua função de prioridade na agenda política macroeconômica externa e da
política agrícola interna. Ocorrendo logo após a forte desmontagem dos materiais de
fomento agrícola no período precedente que incluiu: crédito, preços de garantia,
investimento em pesquisa e investimento em infraestrutura comercial.
Observe-se que agronegócio na acepção brasileira do termo é uma associação do grande capital agroindustrial com a grande propriedade fundiária, essa associação realiza uma estratégia econômica de capital financeiro, perseguindo o lucro e a renda da terra, sob o patrocínio de políticas de estado (DELGADO, 2005, p. 46-47).
Finalmente nos anos 90, o Governo Federal desenvolveu ações inerentes ao
Mercado de Terras com o apoio do Banco Mundial e com amparo legal, através da
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Lei Complementar nº 93/98, que criou o Banco da Terra. Reydon e Cornélio,
compreendem tal ocorrido:
No mercado de terras, representado como a conjunção dos planos dos compradores e dos vendedores de terras, manifestam-se apenas aqueles compradores que têm a possibilidade de sustentar economicamente sua demanda aos diferentes preços. Porém, o preço resultante dessas negociações exclui demandantes de terras que não têm condições econômicas para sustentar a demanda a esse preço. Os mercados de terras brasileiros são caracterizados por profundas desigualdades estruturais, com uma grande área de terras, oferta fixa, concentrada em poucos proprietários que exigem preços altos para se desfazerem de suas propriedades. Por outro lado, a demanda efetiva de terras está formada apenas pelos agentes econômicos que podem banca-la economicamente, tais agricultores que produzem para o mercado, especuladores e o Estado, que compram para os projetos de reforma agrária. (Reydon e Cornélio, 2006, p. 33-34).
A iniciar 1999 teve-se o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso,
havendo uma alteração nas políticas agrárias e agrícolas do Governo Federal. A
mais considerável diretriz dessa reestruturação institucional foi a de incorporar as
políticas de reforma agrária com as políticas de fortalecimento da agricultura familiar
em geral.
O segundo governo Cardoso iniciou o relançamento do agronegócio, senão como política estruturada, mas com algumas iniciativas que ao final convergiram: 1) um programa prioritário de investimento em infraestrutura territorial com ‘eixos de desenvolvimento’, visando a criação de economias externas que incorporassem novos territórios, meios de transporte e corredores comerciais ao agronegócio; 2) um explícito direcionamento do sistema público de pesquisa agropecuária, por exemplo, a Embrapa, a operar em perfeita sincronia com empresas multinacionais do agronegócio; 3) uma regulação frouxa do mercado de terras de sorte a deixar fora do controle as ‘terras devolutas’, mas aquelas que declaradamente não cumprem a função social, além de boa parte das autodeclaradas produtivas; 4) a mudança na política cambial, que ao eliminar a sobrevalorização tornaria o agronegócio competitivo junto ao comércio internacional e funcional para estratégia do ‘ajustamento constrangido. (DELGADO, 2005, p. 47-48).
Deste modo, encerra-se a década de 90 com as políticas de desenvolvimento
para os assentamentos quase que desativadas. Essas políticas governamentais de
assentamentos e as políticas de financiamento da produção, no momento que se
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desdobra da primeira metade dos anos 80 até o fim dos anos 90, foram
marcadamente inconstantes, ficando sujeitas às diversas regulamentações e
rupturas administrativas e programáticas.
A diversidade e heterogeneidade das condições históricas de implementação
dos assentamentos, em conjunto com outros fatores, relembram a importância da
investigação histórica de cada caso local específico e sua relação no contexto
nacional, devido ao cumprimento das políticas públicas ainda existentes.
A segunda parte do programa governamental de redefinição do modelo de
reforma agrária versava de uniformidade nos assentados aos “sistemas de
agricultura familiar”. Questionava-se que o Estado havia conferido aos assentados,
ao longo dos anos 90, créditos ‘altamente subsidiados por tempo indefinido’, no caso
o Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária – PROCERA, quando na
realidade, essa linha de crédito era específica para assentamentos de Reforma
Agrária constituída, sendo que em sua maioria era este o único capital para
investimento inicial na terra. Desta forma, o assentado que acabará de apropriar-se
da terra possuía apenas a sua força de trabalho e a terra então conquistada.
O acesso ao recurso do PROCERA foi essencial, principalmente a partir de
1994, sendo este um crédito de investimento no período equivalente a R$ 7.500, 00
e se os assentados ficassem organizados em cooperativas, também poderiam ter
acesso ao chamado ‘teto II’ do Procera, que representava mais R$ 7.500, 00. Este
último na maioria das vezes era investido na eletrificação rural, pois, por volta da
década de 90, os assentamentos ainda não possuíam energia elétrica, dificultando a
implantação dos sistemas produtivos para a aprovação dos projetos técnicos
permitidos para produção. Verdadeiramente, o que deliberava o modelo de produção
agropecuária eram as linhas de créditos permitidas para os assentados.
Com o fechamento do crédito PROCERA, em 1999, as políticas de
desenvolvimento para os assentamentos acabaram por ser desmontadas. “Ao fazer
a transição PROCERA/ PRONAF, o governo passa a atender as duas categorias:
assentado e agricultor familiar com uma mesma política, dificultando o acesso ao
crédito pelos assentados.” (BERGAMASCO e NORDER, 2003, p. 87).
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A estrutura basilar da reformulação institucional no segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso foi o de liquefazer as políticas de reforma agrária com
as políticas de fortalecimento da agricultura familiar de modo geral. Os princípios
norteadores de arrefecimento do aparato burocrático descentralização administrativa
e separação entre formulação e execução de políticas públicas calharam a orientar
as ações federais com relação à reforma agrária, sobre tudo a partir do ano de 1999.
Os programas existentes de reforma agrária deram-se por conclusos com a
averiguação de três condições: o cumprimento de serviços topográficos; a adoção
de infraestrutura viária e a existência de condições habitacionais adequadas. O
Banco Mundial constituiu-se como interlocutor principal na administração da questão
agrária brasileira pelo governo federal.
O destino do financiamento para a implementação do programa Cédula da
Terra, alterado posteriormente no Banco da Terra, foi um dos mais claros realces
neste sentido. Reydon e Cornélio (2006, p. 42) comenta que “outro programa é a
Reforma Agrária por Meio do Mercado de Terras. Este projeto procura outorgar um
subsídio parcial e um crédito de longo prazo a beneficiários de baixa renda que
adquiram a terra no mercado”. Para Norder (2004, p. 96), no final dos anos 1990:
As políticas fundiárias exibiam os contornos de um financiamento independentemente de sua origem (desapropriação, crédito fundiário ou ocupação de áreas públicas), visando apenas oferecer as condições mínimas para que seus integrantes viessem posteriormente a produzir comercialmente. Agricultores familiares e assentados precisariam se organizar politicamente visando a negociação das condições do Pronaf, que, no final dos anos 90, estava atendendo a apenas uma pequena parcela da agricultura familiar, notadamente os produtores familiares integrados contratualmente ao setor agroindustrial. A ampliação no acesso ao Pronaf para outros segmentos da agricultura familiar e para os assentamentos exigia uma nova organização institucional, sobretudo naquilo que se refere às atribuições do sistema bancário na oferta de financiamentos, e uma redefinição do formato e do conteúdo das políticas sociais para o setor. As políticas governamentais para os assentamentos, bem como as políticas de financiamento da produção, no período que se estende da primeira metade dos anos 80 até o final dos anos 90, foram marcadamente instáveis e ficaram sujeitas as diferentes regulamentações e rupturas administrativas e programáticas. Assim, a diversidade e heterogeneidade das condições históricas de implementação dos assentamentos em conjunção com outros fatores reafirmaram a importância da análise histórica de cada situação local específica e sua relação com o contexto nacional.
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A propositura da descentralização do sistema de gestão da implementação
dos assentamentos rurais e do e da fortificação da agricultura familiar foi proposta
pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, em março do ano de 1999, e tida de
forma documental a fim de se orientar as discussões a respeito da reorganização da
atuação do Estado diante da tese agrária.
A aproximação entre as políticas de assentamento e as esferas locais de deliberação política, nas décadas de 80 e 90, é um dos produtos da forma de organização social da luta pela terra no Brasil. Ainda que a agricultura familiar e a reforma agrária tenham sido consideradas, a princípio, como prioridade para as políticas de desenvolvimento rural, o que certamente rompia com pressupostos anteriores, a consideração de que a superação da pobreza no campo seria não mais que uma consequência da produção comercial limita a eficácia e a abrangência das políticas públicas tanto para a redução da pobreza quanto para a ampliação da integração comercial da agricultura familiar” (BERGAMASCO E NORDER, 2003, p. 94-140).
Sustenta-se que as políticas de assentamentos rurais retornaram do período
de 1985 até os dias atuais para resolução de problemas conjunturais e sobretudo,
para reduzir os conflitos sociais no campo. A priori, os assentamentos formados até
o momento não pertenceram a um plano nacional de desenvolvimento para o Brasil,
por esse motivo, a maioria dos assentamentos com mais de 10 anos possuem um
vasto passivo.
3.3 Dificuldades dos assentamentos rurais contemporâneos
As dificuldades e obstáculos presentes nos assentamentos rurais no Brasil
estão diretamente relacionados às políticas de assentamentos e com os ‘passivos’
existentes. Castilhos (1998, p. 50-57) demonstrou uma breve síntese dos aspectos
restritivos que induzem o desenvolvimento dos Projetos de Assentamentos Rurais,
estabelecendo assim uma ordem de dimensão, teve-se como limitativo ao
desenvolvimento dos sistemas produtivos dos assentamentos:
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O quadro natural, a infraestrutura deficiente (principalmente em relação à falta ou precariedade das estradas internas e de acesso), a falta de assistência técnica e a inexistência de organização produtiva e política entre os assentados. A falta e/ou demora no acesso aos créditos e a infraestrutura básica relacionada à reforma agrária (Procera, saúde, educação, habitação e energia elétrica) interferiram negativamente tanto na perspectiva de obtenção de renda como na qualidade de vida dos assentados. O quadro natural foi considerado um dos principais fatores restritivos ao desenvolvimento dos assentamentos. (CASTILHOS, 1998, P. 50-57)
Grande parte destes assentamentos possuem notáveis limitações de recursos
naturais, os quais limitam a sua possibilidade e capacidade de evolução produtiva,
considerando-se que a produção familiar se baseia em diversas explorações e
utilizam-se de mão-de-obra intensiva.
As limitações são diversas e relacionadas à capacidade de utilização dos solos, seja por infertilidade (causada por composição arenosa, portanto de difícil ou impossível correção pela adubação, como pelo relevo acidentado (que impede a produção de grãos, dada à forte erosão que estão sujeitos estes solos). Como o desenvolvimento destes assentamentos não é acompanhado por nenhum plano que permita a produção de alternativas adaptadas a estas limitações edáficas, como a implantação de culturas permanentes ou de pecuária intensiva, conclui-se que a maioria destas áreas são inviáveis do ponto de vista produtivo. De uma forma crítica, ocorre em alguns assentamentos a falta de água, tanto para consumo humano quanto para os animais de criação. (CASTILHOS, 1998, p. 15-18).
A escassez e/ou a precariedade das estradas internas e de acesso aos
assentamentos foram também levadas em consideração como elementos restritivos
relevantes ao progresso dos assentamentos. Em sua maioria as estradas não se
ampararam, mas acabou por dificultar a comunicação com os mercados locais,
impossibilitaram o cultivo e comercialização agrícola, compelindo a restrição quase
que exclusivamente à agricultura de subsistência. Quanto a assistência técnica e
sua falta, deve ser associada aos limites do quadro natural, está também impediu o
desenvolvimento dos assentamentos. Assim, alguns não possuíram assistência
técnica, e outros que a tiveram sofreram por problemas ligados à falta de
acompanhamento eficaz dos técnicos, ocorrendo então sérios equívocos na
coordenação de projetos de investimento produtivo.
A organização dos assentados é outro elemento restritivo ao desenvolvimento
dos assentamentos, restando-se demonstrado a falta de organização política, que
52
procede em baixa capacidade de comunicação com os diversos órgãos públicos, da
mesma forma a falta de coordenação produtiva, o qual poderia admitir o uso mais
coerente dos investimentos e a potencialização dos sistemas produtivos. Na maioria
das vezes inexiste (por parte dos assentados, suas lideranças e pelos técnicos
locais) o entendimento das probabilidades de melhorias na obtenção de renda, caso
optem pela constituição de organizações produtivas, o que demonstra uma ausência
generalizada de habilidades e capacitação dos assentados, especialistas e dos
comandos locais.
Por fim, os créditos e a infraestrutura básica vinculados à formação do
assentamento, em se tratando do não acesso ao crédito ou a delonga na liberação
para aos assentados a determinação foi restritiva ao desenvolvimento geral e
frutífero do assentamento.
Consoante ao estudo de Sparovek (2003, p. 96-115), a condição dos
assentamentos de Reforma Agrária pode ser averiguada por intermédio da
apreciação dos seguintes índices: a) eficácia da reorganização fundiária; b)
qualidade de vida; c) articulação e organização social; d) preservação ambiental; e)
ação operacional dos agentes do Estado; e f) da renda auferida pelos assentados.
A visão principal ao desenvolvimento dos projetos de assentamentos é
plenamente a busca pela a cidadania e primordialmente a boa qualidade de vida a
todos em condições equânimes e aprimores na renda familiar, crendo que a
qualidade de vida e o desenvolvimento social dos assentados sejam melhores e
mais esperançosas do que as de labutadores rurais assalariados ou diaristas da
região.
O gozo da terra e dos meios de produção, as benfeitorias indiretas (estradas,
eletrificação, crédito habitação), o acesso a oportunidades de créditos para
financiamento da produção, maior capacidade reivindicatória e política da
associação de projetos e a firmação definitiva das famílias numa região são
proveitos adicionais que necessitariam ser analisadas.
53
4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A LUTA PELA TERRA: O SURGIMENTO DO
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA
O movimento social refere-se à ação coletiva de determinado grupo
organizado que visa obter mudanças sociais por meio do embate político na
sociedade em um contexto peculiar. Participam dos movimentos sociais: os
movimentos populares, sindicais e as organizações não governamentais.
Encerrando os governos autoritários e acontecendo a expansão da
democratização em meados dos anos 80, diversos lugares políticos começaram a se
abrir e surgiram novas formas de atuação política. O próprio Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é fruto desse processo, nascendo como
resposta às condições políticas, sociais e econômicas que incidiam no Brasil no
período.
As origens imediatas do MST estão ligadas à amarga luta pela sobrevivência frente às políticas agrícolas implementadas pelo regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Os trabalhadores rurais sem terra no estado brasileiro do Rio Grande do Sul começaram a organizar-se para reivindicar no começo dos anos 80. Outras pessoas sem-terra adotaram suas reivindicações nos estados vizinhos do Paraná e Santa Catarina. Eles se apoiaram em uma longa tradição de resistência rural e rebelião que remonta ao estabelecimento de quilombos (grandes assentamentos de escravos fugitivos no interior) e à famosa rebelião dos pobres camponeses de Canudos na década de 1980. Em tempos mais recentes, tal tradição inclui as famosas Ligas Camponesas do empobrecido Nordeste brasileiro, nos anos 50 e início dos 60 e a Revolta do Capim no Rio Grande do Sul e outros nos anos 70. (VANDEN, 2011, p. 164).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é um dos mais formidáveis
movimentos socio territoriais do país, no período em que o Brasil passava pela
reabertura da política nacional. Este é oficialmente estabelecido durante o Primeiro
Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Cascavel, no Paraná,
tendo como objetivo debater e movimentar a população em torno da concretização
da Reforma Agrária. No início da década de 80 abancaram ocorrendo ocupações de
forma expansiva e todas as batalhas que vinham acontecendo isoladamente pelo
país passaram a se articular juntamente com o MST. (VANDEN, 2011, p. 164).
54
De tal modo, esta história está marcada por lutas travadas por trabalhadores
rurais sem terra da região sul do Brasil, e também sob a histórica luta do Movimento
dos Agricultores Sem Terra – MASTER ocorrida no Rio Grande do Sul na década de
60. O MST surgiu sob intenso apoio da Comissão Pastoral da Terra – CPT e outros
setores progressistas da igreja. (OLIVEIRA, 1999).
O método de composição do MST iniciou-se na década de 80, no momento
em que trabalhadores rurais passaram a se agrupar em distintas experiências de
ocupações de terras. A gênese do MST ocorreu no interior dessas batalhas e lutas
de resistência dos trabalhadores em oposição a expropriação. De 1979 a 1984
adveio o processo de gestação do MST. E em 1984, ocorreu o surgimento do MST
sendo baseado oficialmente em seu Primeiro Encontro Nacional, que foi executado
de 21 a 24 de janeiro, em Cascavel, no Estado do Paraná (FERNANDES, 2000).
De 29 até 31 de janeiro do ano de 1985, os sem-terra fizeram o primeiro
Congresso Nacional onde arquitetaram os lemas “Terra para quem nela trabalha” e
“Ocupação é a Única Solução”, reunindo para tanto 1.500 delegados, criando-se a
Coordenação Nacional do MST, com representantes de 23 Estados do Brasil.
Constituíram nesse congresso as bases para o desenvolvimento do Movimento,
traçando seus objetivos, os quais seriam fundamentais para a expansividade que o
MST passaria a ganhar. Nesse primeiro Congresso ficou fundamentado:
Que a terra só esteja nas mãos de quem nela trabalha; lutar por uma sociedade sem exploradores e sem explorados; organizar os trabalhadores rurais na base; dedicar-se à formação de lideranças e construir uma direção política dos trabalhadores; articular-se com os trabalhadores da cidade e com os camponeses da América Latina; entre outros. (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA, 2014).
Surgindo assim a redemocratização do país em 1985, e proposta para a
elaboração do primeiro Plano Nacional da Reforma Agrária. (MOVIMENTO DOS
TRABALHADORES SEM TERRA, 2014).
O MST surgiu dos conflitos existentes junto ao método de modernização
conservadora: “[...] nasceu em um processo de enfrentamento e resistência contra a
55
política de desenvolvimento agropecuário, implantada durante o regime militar”
(FERNANDES, 2000, p. 16).
Os militares levaram o progresso do campo apoiado pelo capital estrangeiro.
Este progresso fornecia crédito rural subsidiado somente para os grandes
proprietários e apresentava as terras públicas as grandes empresas.
Tais fatores fizeram com que um contingente cada vez maior de
trabalhadores, esses que eram meeiros, arrendatários e posseiros, fossem excluídos
do acesso à terra. “O MST é parte de um movimento histórico da luta camponesa do
Brasil. Desde Canudos, Contestado, Porecatu, Trombas e Formoso, os camponeses
brasileiros vêm lutando pelo direito à terra”. (FERNANDES, 2000, p. 16).
Fernandes (2000) aponta em seu livro “A formação do MST no Brasil” (2000),
que o MST nasceu da ocupação da terra, e passou a ter nessa ação seu principal
modo de luta contra a concentração fundiária e em discordância com o próprio
Estado. Esta forma de luta acontece pelo fato de não ter ocorrido a reforma agrária,
sendo que por meio das ocupações esses trabalhadores energizam suas lutas e
ganham visibilidade.
A intensificação das ocupações é resultado da territorialização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que em contínua territorialização, organizou-se em 24 estados, em 1997, formando uma rede nacional de luta e resistência. Essa rede é formada por um conjunto de ocupações, de assentamentos, de secretarias e de cooperativas implantadas em vários municípios brasileiros. As ocupações acontecem nos processos de espacialização e territorialização do MST. (FERNANDES, 2000, p. 33).
Pode-se chamar o MST como um movimento socio territorial pela existência
de sua atividade na luta pela terra, na aquisição de frações do território. Uma das
bandeiras históricas do movimento é pela efetivação da Reforma Agrária
(FERNANDES, 2005).
Vale ressaltar que existem outros Movimentos de Luta pela Terra no Brasil,
como, por exemplo, Movimento Social de Luta Pela Terra e Pela Reforma Agrária
(MOSLUTRA), Movimentos dos Agricultores Sem Terra (MAST), Movimento dos
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Trabalhadores Sem Terra (MTST), Movimento Terra Brasil (MTB), Movimento de
Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Brasil (MTRSTB), Movimento Dos Trabalhadores Brasileiros Sem Terra (MTBST), e
outros, sendo que esses não serão contemplados diretamente em nosso estudo.
Portanto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortalece
constituindo um movimento de extensão, que busca pela reforma agrária diante ao
Estado e suas ações que tentam reduzir os movimentos que se erguem contra o
mesmo. Em forma de luta o MST continua a pressionar o Governo com suas ações
eficazes para a distribuição das terras no país, a fim de que estas desempenhem
seu papel social, e as terras improdutivas sejam desapropriadas e transformadas em
terras para a realização da Reforma Agrária. Alcançando assim o legado
constitucional que pronuncia que a terra tem que cumprir sua função social.
A Constituição Federal de 1988 manteve a propriedade e a sua função social
como:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I- Propriedade privada; II- Função social da propriedade. (BRASIL, 1988).
A função social da propriedade rural para cumprir perfeitamente a sua função
social, deve atender simultaneamente aos requisitos do art. 186 da CF/88:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I- Aproveitamento racional e adequado; II- Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV- Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. (BRASIL, 1988)
57
A Constituição Federal demonstrada abertamente às condições ao
cumprimento da função social da terra. Contudo, o descumprimento das condições
descritas acima, admite que o Estado por meio da desapropriação retire
compulsoriamente a propriedade rural do domínio do particular, na forma do art. 184
da CF/88:
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. §1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. §2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. §3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. §4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. §5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. (BRASIL, 1988).
Assim, as ações realizadas pelo MST e pelos demais movimentos são feitios
de luta eficaz que procuram dar visibilidade às injustiças sociais apuradas no campo
brasileiro, onde acontece a inaplicabilidade da Constituição Federal, no que diz
respeito à função social da propriedade.
Segundo Oliveira (2001):
Está é a razão principal quanto à necessidade urgente de se compreender a luta camponesa pela terra, no interior da qual, é inegável que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocupa lugar de destaque. O MST, como o movimento social rural mais organizado neste final de século, representa, no conjunto da história recente deste país, mais um passo na Longa Marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra. Essa luta camponesa revela a todos os interessados na questão agrária um lado novo e moderno. Não se está diante de um processo de luta para não deixar a terra, mas diante de um processo de luta para entrar na terra. Terra que tem sido mantida improdutiva e apropriada privadamente para servir de reserva de valor e/ou reserva patrimonial às classes dominantes. Trata-se, pois, de uma luta de expropriados que, na maioria das vezes, experimentaram a proletarização urbana ou rural, mas resolveram construir
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o futuro baseado na negação do presente. Não se trata, portanto, de uma luta que apenas revela uma nova opção de vida para esta parcela pobre da sociedade brasileira, mas, muito mais, revela uma estratégia de luta acreditando ser possível, hoje, a construção de uma nova sociedade. Uma nova sociedade dotada de justiça, dignidade e cidadania. (OLIVEIRA, 2001, p. 194-195).
Sabe-se que o MST possui uma ampla visão, seja de enfoque nacional ou
internacional, onde anseiam por uma reforma agrária que seja abarcante, onde se
transforme de fato as estruturas de produção agrícola do país. Entende-se que é
impossível expandir um país sem fortalecer uma sociedade democrática, sendo
possível somente abolir com as desigualdades sociais no campo, se acabar também
com o latifúndio. O MST defende que “[...] a Reforma Agrária só será viável se for
parte de um projeto popular que transforme as estruturas sociais e econômicas do
Brasil” (VANDEN, 2011, p. 165).
Porém havia um problema que se refletia ligeiramente no alcance em que se
foi conquistando um grande número de assentamentos e de famílias assentadas,
desconhecendo formas de organizar a produção nessas áreas conquistadas,
viabilizando-as economicamente.
Até mesmo a palavra de ordem [...] ‘ocupar, resistir e produzir’ denotava essa preocupação no Movimento com relação aos resultados práticos e econômicos dos assentamentos conquistados, ou seja, havia necessidade de se mostrar que era possível a viabilização das novas áreas aos setores contrários aos processos de Reforma Agrária, que questionavam a eficiência socioeconômica da distribuição de terras. (LOPES, 2011, p. 173)
Conforme entendimento de Bergamasco e Norder (1996, p. 07):
De maneira genérica, os assentamentos rurais podem ser definidos como a criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra.
Entretanto, não é apenas através da distribuição de terras que se fará a
Reforma Agrária e acabará com as desigualdades sociais, mas ainda por meio de
59
um plano amplo que transforme esse modelo agrícola e viabilize os assentamentos
rurais, através de políticas públicas designadas para esses setores específicos.
De tal modo Bergamasco e Norder (1996) compreende que a Reforma
Agrária ainda está para ser realizada, sendo esses assentamentos instalados
somente como representações de vitórias parciais, dentro da imensidão que é o
latifúndio no Brasil. Ainda que parcialmente, a batalha desses trabalhadores resulta
na reterritorização de diversas famílias nos assentamentos rurais.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais foi o principal movimento de luta pela
Reforma Agrária que ocorreu no Estado de São Paulo, o grupo teve participação
ativa na luta pela terra na Fazenda Reunidas, hoje denominada como Assentamento
Reunidas, qual é o segundo maior assentamento no Estado de São Paulo,
localizado no município de Promissão/SP.
É sobre estas construções conquistadas com muita luta e suor pela Reforma
Agrária dentro do Assentamento Reunidas, que iremos tratar abaixo.
4.1 Promissão: da luta pela terra à formação do assentamento Reunidas/SP
Neste capítulo será apresentado uma análise de como acontecem os
embates e os conflitos na região de Promissão/SP, que desembocaram na
demarcação e na consolidação do Assentamento Reunidas em 1987. Aborda-se,
especificamente, o surgimento dos Assentamentos no Estado de São Paulo, a
questão agrária e o poder local na cidade de Promissão, o processo de
acampamento e de regularização do assentamento Reunidas.
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FIGURA 1 - O acampamento e sua bandeira.
Fonte: próprio autor.
Esta imagem retrata bem como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
foi um marco na luta pela terra no Assentamento reunidas, a bandeira sempre
esteve presente nos acampamentos, bem como no atual assentamento, sempre no
intuito de demonstrar que a terra foi conquistada através de muita luta.
4.1.1 O início do assentamento reunidas
A Fazenda Reunidas possui uma área total de 22.782 hectares. Este imóvel
foi considerado pela equipe técnica do Ministério da Reforma Agrária e do
Desenvolvimento Agrário (MIRAD) e Secretaria Estadual de Assuntos Fundiários
(SEAF), latifúndio por exploração que era pertencente a José Ferreira Ribas, hoje
falecido.
61
Reavendo os arquivos que registram a propriedade da terra, em nome do
então espólio, vê-se pelas velhas escrituras em cartórios da região que a
constituição desse gigantesco latifúndio foi resultante da obtenção de inúmeras
pequenas propriedades, contraídas a partir da década de 1930.
Não obstante as reclamações dos sitiantes aos órgãos judiciais e policiais, o fato é que, em virtude da força e do medo impostos pelo fazendeiro, muitos sitiantes foram forçados a vender suas terras a preços mínimos, enquanto outros as abandonaram e fugiram da região. A pesquisa desenvolvida por Stela Lemos Borges recolheu vários depoimentos de pessoas que sofreram esse processo de tomada de terras dos sitiantes, sendo que alguns deles, nos finais da década de 1980, voltaram à fazenda. Ela estava sendo desapropriada por ter sido cadastrada como improdutiva, e eles, na condição de demandantes de terra, foram finalmente assentados lá. Os relatos acerca dessas estratégias, do medo, da destruição de plantações e moradias pelo fogo e das ameaças de assassinato atestam a violência utilizada naquela região. (SILVA, 2004, p. 30).
A Fazenda Reunidas encontra-se localizada na cidade de Promissão, na
região Noroeste do Estado de São Paulo, a 505 km da capital do Estado, foi
desapropriada pelo Governo Federal em Junho de 1986 com objetivos de reforma
agrária, logo após ser efetuada uma vistoria técnica que avaliou a área como um
latifúndio desprovido de produção, caracterizando assim o primeiro Plano Nacional
de Reforma Agrária.
Meados dos anos de 1985, ao longo das reformulações do primeiro Plano
Nacional de Reforma Agrária (PNRA), os debates locais com temática de reforma
agrária e democracia resultaram na criação de uma ação concreta: a desapropriação
da Fazenda Reunidas.
Em 30 de março de 1986, o jornal “O Estado de São Paulo” anunciou a
inserção de Promissão dentre os “municípios que sofreram desapropriação a curto
prazo” e em 11 de junho do mesmo ano a “Folha de São Paulo” divulgou a relação
dos imóveis que poderiam ser considerados prioritários para Reforma Agrária e a
Fazenda Reunidas estava na lista.
Na data de 30 de junho de 1986 foi firmado pelo Presidente Sarney o
decreto-Lei nº 92.876 desapropriando para fins de reforma agrária, a Fazenda
62
Reunidas. Tal feitio baseou-se no Plano Nacional de Reforma Agrária que previa a
desapropriação de latifúndios por exploração e abertamente estava vinculada à
questão da sua função social.
O Assentamento Reunidas é marcado pela heterogeneidade desde sua formação. Sua constituição apresenta três momentos. O primeiro é fruto da ação organizada dos trabalhadores da região de Promissão, cuja orientação foi mediada pela Comissão Pastoral da Terra – CPT, quando 44 famílias iniciaram no ano de 1986, um acampamento à beira da Fazenda Reunidas, objetivando pressionar o governo para desapropriação da área. No momento seguinte, em 02 de novembro de 1987, após a imissão de posse da Fazenda em nome da União (29 de outubro de 1987), trezentos e cinquenta famílias advindas da região de Campinas/SP chegaram à Fazenda Reunidas, à beira da BR 153, e formaram outro acampamento, chamado Padre Josimo Moraes de Tavares. Essas famílias estavam desde 1985 sendo organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e por um grupo das Comunidades Eclesiais de Bases – CEBs da região. E o último momento, em julho de 1988, são assentadas, pelo Governo Federal, as famílias selecionadas pela comissão de seleção, que foram organizadas nas cidades da região (PACCOLA, 1995, p. 133).
Compreende-se claramente a forma em que se deu o processo de formação
do Assentamento Reunidas por intermédio da Tese de Doutorado de Mirian Claudia
Lourenção Simonetti intitulada “A Longa Caminhada: A (re)construção do território
camponês em Promissão”, de acordo com a autora:
Em 30 de julho de 1986 o governo desapropriou 17.138 hectares da Fazenda Reunidas, através do decreto número 92.876, baseado no Plano Nacional de Reforma Agrária do Governo Federal. No dia 22 de agosto de 1987, as 44 famílias que estavam acampadas na BR 153 ocuparam a Fazenda Reunidas, objetivando forçar a emissão de posse sem a qual não seria possível a sua entrada na terra e implantação do assentamento. [...] No dia 02 de novembro de 1987, o grupo IV, com 350 famílias, ocupou uma área na rodovia BR 153, a Transbrasiliana, que corta uma grande extensão da Fazenda Reunidas, onde participaram do processo de (re)construção do território camponês na região. (SIMONETI, 1999, p. 94).
A conquista das terras da Fazenda Reunidas que se transformou no
Assentamento Reunidas se deu de duas formas, via acampamento, como foi
destacado acima, pelo grupo dos 44 e pelo grupo de Campinas; e também via
cadastro junto aos sindicatos e as prefeituras da região. Assim, o Assentamento
Reunidas possui uma diversidade muito grande, na medida em que cada grupo que
63
foi assentado nessas terras possuía suas próprias características, pois vieram de
várias cidades do Estado de São Paulo e também obtiveram a conquista dessa terra
de forma diferenciada, tendo aqueles que permaneceram acampados organizados
pelo MST, e por outros grupos; e aqueles que tinham realizado cadastro pelo
governo para ter acesso a esta terra.
4.1.2 A divisão das famílias para a formação de agrovilas e demarcações dos
lotes
A Fazenda Reunidas conglomera pouco mais da metade do município de
Promissão. Em seus limites localizam-se: ao sul a ferrovia FEPASA e áreas urbanas
da cidade de Promissão, ao leste o Rio Dourado e várias propriedades particulares,
ao oeste Rio dos Patos; ao norte a Usina Hidrelétrica de Promissão e parte de seu
reservatório. O imóvel é separado na direção norte-sul pela Rodovia Transbrasiliana
BR 153 que dá acesso às cidades de Lins, Araçatuba, Marília, Bauru, São José do
Rio Preto.
A constituição do Assentamento Fazenda Reunidas é consequência de uma
política de assentamentos nacional, por este motivo, o órgão governamental
incumbido de sua organização econômica e social foi o MIRAD e hoje em dia é o
Instituto Nacional de Reforma Agrária – INCRA.
Alguns engenheiros agrônomos foram enviados pela SEAF para coordenar e
acompanhar o Projeto de Assentamento Fazenda Reunidas, chegando no local em
1987. No início viram dois deles: um da Gleba 15 do Pontal do Paranapanema e
outro da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). Naquele tempo foi
consolidado um convênio entre a SEAF e Companhia Energética de São Paulo
(CESP), esta última cedeu ao assentamento quatro técnicos agrícolas para auxiliar
na sua organização.
Os primeiros a serem assentados na Fazenda Reunidas foram as quarenta e
quatro famílias que se encontravam alojadas em acampamentos na área desde
64
1986 e as doze famílias ligadas ao Assentamento da CESP ou Promissão I. Estes
grupos foram os únicos que não passaram pelo processo de seleção, pois já se
encontravam na área.
A alicerce da organização social do assentamento são as agrovilas, sendo
estas comparadas aos bairros dos centros urbanos, e são divididas conforme a
cidade de origem da família assentada.
Em junho do ano de 1988, algumas famílias selecionadas passaram a ser
assentadas, sendo unidas por municípios de origem. Nesse tempo, muitas famílias
recém assentadas edificaram seus barracos de lona ou pau-a-pique divididos em
agrovilas, maneira encontrada para organizar de forma social o assentamento. Estas
agrovilas eram organizadas por região de origem dos trabalhadores, de tal modo
que a distribuição das famílias ficou da seguinte forma: 78 famílias à Agrovila Birigui;
101 famílias pertencentes à Agrovila dos 44; 80 famílias à Agrovila José Bonifácio;
98 à Agrovila Lins ou Central; 12 famílias pertencentes ao Grupos dos Doze; 74 à
Agrovila de Campinas; 83 à Agrovila Penápolis; 30 à Agrovila São João; 31 famílias
localizadas na agrovila do Cintra; e finalmente 42 famílias pertencentes à Agrovila
São Pedro. Totalizando assim, 629 famílias espalhadas em 8 agrovilas, cada família
foi assentada em 19, 36 hectares, menos a Agrovila de Campinas, pelo processo de
ocupação da terra, cada família teve direito a 17 hectares de terra em média.
4.2 Políticas públicas utilizadas no assentamento reunidas de 1989 a 2010
A trajetória do Assentamento pode ser dividida em três fases distintas. A
primeira, de 1989 a 1993, é a que demarca o processo de implementação e
execução das políticas de apoio à formação do assentamento e a aplicação de
recursos de fomento, custeio e abertura de estradas. Nesta primeira fase, as
implementações destas políticas só foram concretizadas através da resistência e da
luta exercida pelos assentados através de mobilizações em busca de financiamento
agrícola e infraestrutura de saúde, educação e transporte. Mesmo com todas as
dificuldades o assentamento provocou mudanças significativas no município de
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Promissão e seu entorno, a primeira delas foi a distribuição demográfica do território;
houve uma reversão na dinâmica demográfica rural, que estava em queda em toda a
sociedade brasileira, passando de 32, 4% para 26, 1% entre 1980 e 1991, mas que
no município apresentou aumento em mais de 35%, passando de 4.345 para 5.888
indivíduos (ARBAROTTI, 2018; SANTOS, 2007).
Com relação à estrutura fundiária pode-se observar, segundo Arbarotti (2018)
que houveram mudanças a partir da divisão da fazenda Reunidas, dos 17.138, 26
hectares, 629 lotes com 18 hectares cada foram distribuídos para 629 famílias, o
que representa em torno de 20%de todo o território do município de Promissão /SP.
A territorialização do assentamento e os impactos no município puderam ser
notados pelo aumento da produção agropecuária da região, que, até a criação do
assentamento, estava voltada para a monocultura da produção da cana de açúcar
(baseada no trabalho volante e no uso de tecnologias agrícolas) e que a partir dos
anos 1990 passou a ser diversificada e representada pela grande produção de
hortaliças, frutas, legumes e leite.
Para Arbarotti (2014, p. 71) “[...] isto se deu graças ao acesso a terras que
essas famílias que eram assalariadas e que moravam precariamente nas periferias
das cidades puderam proporcionar”
A segunda fase, de 1994 a 1999, pode ser caracterizada pela fase que as
políticas públicas para assentamentos estavam voltadas para o objetivo de cumprir
metas sociais. Segundo Arbarotti (2014) houve algumas tentativas de produção em
formato de cooperativa, que no assentamento Reunidas foi representada pela
experiência desenvolvida e articulada pelo MST, a Cooperativa de Produção
Agrícola Pe. Josímo Tavares (COPAJOTA), localizada na agrovila Campinas,
agrovila, que neste momento, possuía assentados com inserção no MST. Ela iniciou
sua atividade no final de fevereiro de 1992 e contava com 36 associados. Ela
possuía uma experiência de coletividade total que ia desde a divisão do trabalho até
refeições comunitárias, mas, como todas as outras tentativas de produção
cooperada, não tiveram êxito e hoje encontra-se desativada.
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Segundo Santos (ARBAROTTI, 2014, p. 71), “o grande desafio para as
experiências cooperativistas é a falta de cultura cooperativista, o excesso de força
de trabalho, escassez de capital e capacitação técnica para gerenciamento da
produção e financeira”
No início do Assentamento a formação de Agrovilas ainda era coesa e a
maioria dos assentados morava nesse formato, saindo todos os dias para trabalhar
em seu lote, neste momento, devido ao tamanho do assentamento, a maioria dos
assentados optou em construir e morar em seu próprio lote o que favorecia a
locomoção até a terra de trabalho. Mesmo frente a essa reconfiguração não foi
abandonada a tradição de ajuda mutua e a solidariedade característica específicas
das famílias e do universo camponês. (WOORTMANN, 1997, p. 52).
Na terceira fase, Santos (2007) nos mostra que entre os anos de 2000 a
2006, pautada pelo IIPNRA, a reforma agrária inseriu-se no mercado e extinguiu
linhas de crédito. Concorda-se com Arbarotti (2014), que nos mostra essa fase como
a que prevalece até os dias de hoje onde o assentamento busca inserir os produtos
de sua produção no mercado. O autor aponta os dados presentes na caderneta do
Itesp referente à safra 2010/2011 no qual a região aparece com grande diversidade
produtiva nas áreas, vegetal, leiteira, animal, florestal e derivados, ultrapassando os
24 milhões de reais comercializados.
Percebe-se que a criação do assentamento alterou profundamente a
configuração territorial da cidade de Promissão e que permitiu a criação de espaços
produtivos no lugar da monocultura. Para além da produção, também considera-se o
Assentamento enquanto um território de reprodução da família que camponesa, hoje
ele apresenta sujeitos, vozes, movimento e história onde antes imperava o silencio e
a repetição da monocultura. Arbarotti (2014) nos fala sobre essa reconfiguração
territorial:
É possível perceber que o Assentamento realmente proporcionou uma reconfiguração na localidade. A mudança, no entanto, vai além da estrutura fundiária e abrange elementos econômicos, sociais e culturais. Homens e mulheres que se encontravam marginalizados e explorados tiveram a oportunidade de serem protagonistas e agora essa responsabilidade é passada para a segunda geração. A terra que foi banhada com o sangue
67
dos índios Caiagang, que foi palco da violência contra pequenos proprietários, que foi marcada por medo e destruição, agora é novamente revigorada em uma localidade onde histórias, trajetórias, vividos sonhos e esperanças reflorescem. (ARBAROTTI, 2014, p. 73).
Considera-se, portanto, que a discussão acerca dos Assentamentos de
Reforma Agrária e as especificidades do Assentamento Reunidas, como busca-se
apresentar e demonstrar anteriormente, não decorreu de uma política de
desenvolvimento voltada para o atendimento das demandas da população rural, mas
sim em uma tentativa de diminuir os conflitos rurais no campo, uma resposta às
pressões dos movimentos sociais e dos grupos organizados, principalmente a partir
dos anos 80. Portanto, nesta perspectiva, obter terra através dos assentamentos
não significou e não significa necessariamente acessar a infraestrutura social (saúde
educação, transporte) e produtiva (terras férteis, assistência técnica, eletricidade e
apoio a créditos) necessários para o desenvolvimento com sucesso dos projetos de
vida dos assentados que conquistaram suas terras.
A partir da conquista e do assentamento, iniciou-se uma nova batalha, a luta
pela obtenção de condições socioeconômicas que propiciem uma melhor
consolidação desses assentados enquanto produtores rurais.
O intuito desta discussão é colaborar para o aprimoramento das políticas
públicas para a Juventude Rural e para o entendimento acerca da realidade dos
assentamentos de reforma agrária e do Assentamento Reunidas, criando
possibilidades e novos caminhos para a realização de pesquisas nesses territórios,
possibilitando a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos que são filhos dos
assentados e que acreditam na possibilidade de dar continuidade a esse projeto de
resistência.
4.3 Frutos colhidos através de muita luta pelo assentamento
Depois de muitos anos de luta e perseverança, o Assentamento Reunidas se
consolidou como sendo a maior experiência de Reforma Agrária no Estado de São
68
Paulo, e considerado segundo maior assentamento do Brasil. Portanto, pode-se
verificar com maior destaque a prática e resultados das políticas de assentamentos
federais e estaduais.
Nos dias atuais o Assentamento Reunidas é dividido em sete grandes
agrovilas: Agrovila São Pedro, , Agrovila Central, Agrovila de Penápolis, Agrovila de
José Bonifácio, Agrovila de Birigui, Agrovila do Cintra, Agrovila de Campinas e
Agrovila dos quarenta e quatro e mais cinco pequenas agrovilas, conhecidas como:
Agrovila de Santa Luzia, Promissãozinha, Agrovila de São Bento e Agrovila dos 12,
somando um número de 639 (seiscentos e trinta e nove) famílias, agregando um
número igual ao máximo cadastrados, totalizando 5000 mil (cinco mil) pessoas
aproximadamente.
Conforme os moradores e líderes do movimento desde seu princípio, o
trabalho inicial de plantação foi muito complicado pois a fazenda era coberta por
cerrado, conta em testemunho um dos moradores que: "Como não tínhamos
nenhum maquinário, arranca-se os arbustos com as mãos". Os primeiros
aparelhamentos agrícolas chegaram por meio de doações e campanhas agenciadas
pelos próprios moradores. A partir deste momento, foram se preparando em
pequenos grupos, até a formação das atuais agrovilas.
Compreende-se que a organização fértil do assentamento é um dos pontos
que interfere de forma direta no desenvolvimento do Assentamento Reunidas, tendo
em vista que são 839 (oitocentas e trinta e nove) famílias, comprando insumos,
sementes, implementos, equipamentos e maquinários para a produção individual e
no final comercializando sua plantação primária também de forma individual.
Hoje o assentamento Reunidas tem 33 anos de conquista pela terra, depois
de muita luta o assentamento cresceu muito, saindo dos barracos de lona para
casas de alvenaria, escolas, jovens com acesso à universidade, transporte escolar,
entre outros. A fim de se compreender a dimensão da realidade vivida pelos
assentados, são aproximadamente 700 km de estradas de terra. Nos assentamentos
existem 5 grandes escolas e o transporte escolar percorre em torno de 11.500 km
por dia.
69
São 60 linhas de kombis e 10 linhas de ônibus, transportando mais de 1.200 alunos todos os. Há também 02 postos de saúde, que recebem visitas semanais de médicos e dentistas. A Prefeitura de Promissão finaliza a construção de 2 novas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Uma na Agrovila Central e outra na Agrovila Floresta. (dados coletados pelo IBS, 2015).
O Assentamento tem passando por um desenvolvimento, ocorrendo a
implantação de pequenas Agroindústrias de Processamento de alimentos, a fim de
se gerar mais renda aos agricultores.
Todas as famílias tem seu próprio lote de mais ou menos de 8 hectares. A
grande parte comercializa sua produção, tendo seus próprios compradores.
Diariamente chegam caminhões vindos de cidades próximas como Lins, Bauru,
Marília, São José do Rio Preto, entre outras cidades, para levarem a produção.
Algumas famílias preferem vender seu cultivo na feira livre de Promissão.
O assentamento hoje possui seis associações, Associação de Comunicação,
Cultura, Esporte e Produção do Assentamento Reunidas (ACCEPAR), Associação
dos Produtores Rurais da Agrovila Birigui (APRAB), Associação dos Pequenos
Produtores Rurais de Legumes, Frutas e Verduras do Município de Promissão
(APROLEV), Associação União dos Produtores Rurais das Agrovilas Penápolis e
Cintra (AUPRAPECI), Associação dos Produtores Rurais da Agrovila 44 (APRA) e
Associação dos Produtores Rurais Unidos pelo Amanhã (APRUPAM) e duas
cooperativas Cooperativa de Produtores do Projeto Agrário Reunidas (COOPAR) e
Cooperativa dos Produtores Familiares de Leite da Região Noroeste (COOPLENOR)
(dados coletados pelo IBS, 2015).
Essas Associações são lideradas e representadas por moradores do próprio
Assentamento, sendo que todas as agrovilas tem um grupo que formaram uma
assembleia que tomam todas as decisões e que correm atrás de verbas para manter
essas associações.
Atualmente no Assentamento Reunidas, tem projetos com o Governo e
convênios com as prefeituras da região para que os produtores rurais, entreguem
70
seus alimentos produzidos na pequena propriedade rural para as escolas, entidades,
fundações em toda região dos municípios.
Esses projetos garantem que os produtores rurais tenham para quem
fornecerem seus produtos a um preço justo, tendo em vista que os produtos até
então era comercializados para atravessadores, os quais nem sempre pagaram um
preço justo pela mercadoria.
No assentamento também, aumentou consideravelmente o número de jovens
que estão cursando o ensino superior, atualmente temos médicos, professores,
advogados, administradores todos filhos/netos de assentados, o qual muitos
pagaram as mensalidades da faculdade com o cultivo da agricultura. Hoje, com o
auxílio da Prefeitura Municipal de Promissão esse sonho se tornou mais fácil, já que
foram concedidos ônibus, micro-ônibus e kombis para fazer o transporte dos
universitários.
Em 2017 INCRA entregou 1.042 Contratos de Concessão de Uso (CCU) a
famílias de assentamentos que residem nas regiões de Promissão e Araçatuba,
interiores do Estado de São Paulo. As reuniões para assinatura de documentos,
transferem de forma provisória parte do imóvel rural aos favorecidos da reforma
agrária, ocorreu em novembro de 2017, com o comparecimento do presidente da
autarquia, Leonardo Góes Silva, e do superintendente regional do INCRA em São
Paulo, Alexandre Pereira da Silva.(dados coletados pelo INCRA,2017).
O CCU garante às famílias acesso as terras onde vivem, a créditos e a outros
programas do Governo Federal de apoio à agricultura familiar. O acordo possui
exigências como o compromisso de residir no lote e explorá-lo economicamente,
conforme estabelecido no Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA).
Em Promissão, foi entregue o maior número de contratos, em benfeitoria de
800 (oitocentas) famílias dos assentamentos Dandara e Reunidas. O CCU
antepassa o título determinante de domínio, que ocorrem posteriormente a
verificação de que o núcleo familiar cumpriu todas as cláusulas previstas. Além da
segurança jurídica, o documento também contribui para conscientizar os assentados
sobre seus direitos e deveres junto ao INCRA.
71
4.4 A modernização na legislação agrária: à Lei nº 13.465/2017
No ano de 2017 o INCRA restabeleceu a titulação das famílias assentadas
que conquistaram segurança jurídica e, por conseguinte, a chance de acessar outras
linhas de crédito de auxílio à agricultura familiar. O instituto emitiu 123.553 títulos
temporários e definitivos para assentados de norte a sul do Brasil. Foram
aproximadamente 26.523 Títulos de Domínio (TD) e 97.030 Contratos de Concessão
de Uso (CCU). Com relação à titulação definitiva das famílias assentadas, as
finalidades alcançadas em 2017 extrapolaram a totalização dos números contraídos
nos últimos nove anos pela autarquia.(dados coletados no site do INCRA, 2018)
O CCU é o principal documento emitido pelo INCRA para a família
beneficiada. Este documento garante o direito de exploração do lote no
assentamento, de forma temporária, e o acesso às políticas da agricultura familiar,
como crédito e assistência técnica. Tem validade de 5 (cinco) anos e podendo ser
prorrogado pelo mesmo período.
O Título de Domínio outorga o imóvel ao beneficiário da Reforma Agrária de
maneira terminante, sendo garantido pela Lei nº 8.629/1993, desde o instante em
que se averigua que o assentado cumpriu as cláusulas do Contrato de Concessão
de Uso, tem possibilidades de cultivar a terra e de saldar o Título de Domínio em
parcelas anuais.
Com o título definitivo, o agricultor se torna proprietário do imóvel e pode
acrescer a aquisição na terra, além do mais, ele poderá acessar linhas de crédito
mais robustas e ascender economicamente e socialmente. A titulação beneficia não
apenas os assentados, mas também a economia local dos Estados e municípios.
A fim de se assegurar maior transparência, celeridade e desburocratizar as
políticas de Reforma Agrária e de regularização fundiária, o Governo Federal
publicou em dezembro 2016, a Medida Provisória (MP) nº 759/2016, convertida em
julho de 2017 a Lei nº 13.465/2017, que atualiza a legislação agrária e trazendo
maior segurança jurídica ao campo. A Lei altera dispositivos das Leis nº 8.629/1993
72
e nº 13.001/2014, que abordam a Reforma Agrária, e Lei 11.952/2009, relativa à
regularização fundiária de áreas federais nos Estados da Amazônia Legal.
As medidas recomendadas pelo Governo Federal inovam e modernizam a
legislação agrária, desenvolvidas há mais de 20 anos, ajustando as normas à
realidade atual do Brasil, garantindo mais transparência, efetividade e menor
burocracia nas políticas de Reforma Agrária e regularização fundiária.
O novo padrão aperfeiçoa os métodos seguidos pelo INCRA para aquisição e
destinação de terras, cadastro e seleção de candidatos ao Programa Nacional de
Reforma Agrária (PNRA), requisitos de permanência dos beneficiários e, sobretudo,
simplifica a titulação de lotes em assentamentos e de posses em áreas rurais e
urbanas da União em todo o País.
No entendimento de Leonardo Góes, presidente do INCRA, as medidas
propostas são fundamentais, pois garantem agilidade, desburocratização e
transparência para as políticas de Reforma Agrária e de regularização fundiária. “A
medida provisória simplifica procedimentos, traz mais segurança jurídica, publicidade
e clareza nos processos de seleção e permanência dos agricultores familiares nos
assentamentos, sem abrir mão de exigências e controles.” Ele salienta ainda que os
feitos fortificam a atuação do INCRA e ajustam distorções da política. (INCRA,
2018).
Góes afirma também que a Lei nº 13.465/2017, incentiva o aperfeiçoamento
do campo, já que favorece os próximos beneficiários do PNRA, os agricultores
assentados e os posseiros que esperam a regularização de terras em áreas públicas
federais ao facilitar o acesso ao título de domínio e, por conseguinte, às políticas
públicas de incentivo à agricultura familiar.
A Lei nº 13.465/2017, dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana,
sobre a liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e
sobre a regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; instituiu mecanismos
para aprimorar a eficiência dos procedimentos de alienação dos imóveis da União;
altera as Leis nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 e 13.001, de 20 de junho de
2014.
73
A vigência da nova Lei, disciplina em seu titulo I, alterações ou inserções de
normas em outras leis, que cuidam da legislação fundiária rural. Assim, para se
buscar o trato normativo da regularização fundiária rural é necessário,sobretudo, ter
em conta duas leis: 1) a Lei nº 8.629/93 que dispõe sobre a reforma agrária; b) a Lei
nº 11.952/2009, que estabelece o Programa Terra Legal,e, então disciplina sobre a
regularização em terras da União, no âmbito da Amazônia Legal.
Nesse contexto, compreende-se a Lei nº 13.340/2016, que autoriza a
liquidação e a renegociação de dívidas de crédito rural, modificada em seus artigos
2º, 4º, 10º, 11 e 16, pela Lei nº 13.465/2017. E, ainda a Lei nº 12.512/2011, que
instituiu o Programa de Apoio à Conservação Ambiental e o Programa de Fomento
às Atividades Produtivas Rurais, alterada pontualmente em seus artigos 17 e 18,
pela nova Lei. Nesse mesmo foco, também se colhe a alteração da Lei de
Licitações, com previsão de dispensa de licitação em alienação e concessão de
direito real de uso de terras públicas rurais da União e do INCRA (art.17 da Lei n°
8.629/93, com nova redação da Lei nº 13.465/2017).
4.4.1 Da obtenção de terras
As alterações com a vigência da nova Lei, criam condições para antecipar as
desapropriações, ao abonar a compensação mais célere e efetividade aos
proprietários de imóveis rurais desapropriados nos fatos de acordo administrativo,
prevenindo assim, em diversos casos a judicialização de disputas e a incertezas no
campo.
Outra novidade é a concessão de prestação em dinheiro para a obtenção de
imóveis rurais nas modalidades de compra e venda, estabelecida pelo Decreto
433/1992, ou de arrematação judicial em leilões. As propostas mencionadas
aceleram a aquisição de terras para reforma agrária e permitem o acesso a mais
áreas em todo o país para assentamento de trabalhadores rurais.
74
4.4.2 Seleção de candidatos
As alterações causam mais transparência e publicidade para o processo de
seleção de candidatos ao Programa Nacional de Reforma Agrária, que serão agora
mediante declaração de preferência por projeto de assentamento em cada
município. Haverá uma listagem pública que seguirá de parâmetros para
classificação de cada área adquirida para reforma agrária, como lista de expectativa
com excedentes para permitir que, caso alguém deixe o assentamento, o substituto
tenha todos os requisitos definidos para aquela área.
Determina ainda a ordem de preferência na distribuição de lotes, analisando
por exemplo, os que trabalhavam no imóvel desapropriado, vítimas de trabalho em
situações similares à de escravo, cultivadores remanejados dos locais em razão de
demarcação de territórios indígenas e quilombolas ou de outras atividades de
interesse público, como de situação de insegurança social.
A escolha será feita com base em requisitos mais objetivos, como por
exemplo, o número de integrantes de cada família, o tempo de moradia no município
em que foi realizado o projeto do assentamento, membros de acampamento no
município do assentamento, famílias chefiadas por mulheres, crianças que sejam
filhos de assentados que morem em parcela de pais assentados na condição de
agregado e outros critérios a serem analisados de acordo com cada caso.
A nova Lei defende as proibições para o acesso no projeto de reforma agrária
de moradores de cargos, emprego ou função pública; dono de imóvel rural,
excetuando o desapropriado do imóvel e o agricultor na qual a propriedade não seja
suficiente para o próprio custeio de vida e o de sua família; proprietário, cotista ou
acionista de sociedade empresarial em atividade; ex-beneficiário dos programas de
reforma agrária, de regularização fundiária e de crédito fundiário; auferir renda
familiar advinda de atividade não agrária superior a três salários-mínimos mensais
ou superior a meio salário-mínimo por cabeça; ou menores de dezoito anos não
emancipados.
75
A proteção para a população de exerce cargo, emprego ou função pública
não será aplicado mais ao morador que preste serviços de interesse comunitário aos
assentamentos ou à vizinhança do projeto agrário, contanto que o exercício do
cargo, do emprego ou da função pública seja compatível com o aproveitamento da
parte pelo indivíduo ou pelo núcleo familiar beneficiado. A medida provisória
compreende que os serviços de interesse comunitário são as atividades prestadas
nas áreas de educação, saúde, assistência social, transporte e agrária. Esta regra
normaliza a situação de beneficiários que realizam serviços como agentes de saúde,
professores, assistentes sociais e outras funções nas suas comunidades
assentadas.
4.4.3 Permanência na parcela
Mais uma iniciativa de suma importância que causa segurança jurídica para
os beneficiários da Reforma Agrária, é a estadia na parte dos assentados, que em
seguida da escolha e a homologação, poderão tomar posse em cargos e empregos
públicos, obter renda familiar advinda de atividade não agrícola acima de três
salários-mínimos mensais, contanto que estas atividades sejam conciliáveis com a
exploração da parcela pelo beneficiário ou seu núcleo familiar e ainda ser
proprietários ou sócios de empresas.
Ademais, cria diferentes critérios para ganhar as terras daqueles
indispensáveis para nela permanecer. Assim, o assentado não perde o direito se ele
ou seu cônjuge começarem a exercer atividade no setor público, como por exemplo,
no caso em que a função é compatível com a exploração da terra pelo núcleo
familiar.
Em se tratando da titulação de lotes em assentamentos, a nova Lei altera, por
exemplo, a contagem de prazo de negociações do lote de dez anos a partir da data
da celebração do contrato de permissão de uso. Destaca-se a instituição de critérios
para normalização de ocupantes que estão em partes de assentamentos sem a
devida autorização do INCRA. Com a concepção de marco legal para regularizar a
76
situação dos agricultores familiares irregulares que estejam de acordo com as
normas de seleção da política de Reforma Agrária.
As alterações da mesma forma, ajustam parâmetros do Tribunal de Contas da
União (TCU), que em abril de 2018 constatou indícios de irregularidades em razão
de beneficiados da Reforma Agrária, promovendo a suspensão do programa em
todo o Brasil.
4.4.4 Regularização fundiária
As modificações estabelecidas pela Lei, desburocratizam os recursos de
regularização fundiária de terras rurais e urbanas da União em todo o País,
objetivando agilizar a titulação de posses e garantir segurança jurídica com a
emissão de títulos de domínio.
A Lei alterou dispositivos das Leis 6.383/1976 e 11.952/2009, que dispõem
sobre a regularização fundiária, nos 9 Estados da Amazônia Legal a regularização
de áreas Federais rurais e urbanas permanece com a Secretaria Especial de
Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, ao mesmo tempo que, nos
demais Estados a missão cabe ao INCRA e à Secretaria de Patrimônio da União.
(BRASIL, 2016)
As alterações trazem segurança jurídica e assertividade da política de
regularização fundiária, no caso do INCRA, as áreas rurais da União fora da
Amazônia Legal. Dentre as novidades salientam-se inalienabilidade dos títulos por
dez anos; prazo para pagamento de até 20 anos, sendo três de carência;
simplificação do cálculo do valor da terra; contratos antigos não pagos e com
cláusulas resolutivas que perderam seu valor legal e permite a negociação e
quitação de títulos. Conta-se que as atualizações vão solucionar mais de 100 mil
casos, seja por conta de títulos vencidos ou de novas titulações em áreas federais,
em que a legislação até o momento vigente não autorizava a regularização.
77
Por fim, pode-se dizer que a reforma agrária é um projeto o qual pode sim do
certo, desde que haja políticas públicas para tanto. O assentamento Reunidas segue
sendo a prova viva de que a reforma agrária funciona e beneficia famílias que
verdadeiramente precisam, bem como é um salto na economia do Brasil.
78
5 CONCLUSÃO
A monografia aqui apresentada não tem a pretensão de ser conclusiva com
relação às questões tão complexas relativas à Reforma Agrária Brasileira. Teve por
objetivo com alguns aspectos da análise de como a Reforma Agrária Brasileira
mesmo sendo tão pouca amparada, pode dar certo, sendo que o Assentamento
Reunidas é um modelo de reforma agrária.
O Assentamento Reunidas é o considerado o maior assentamento do Estado
de São Paulo e o segundo maior do Brasil, contudo, para chegar ao status de
assentamento modelo não foi uma trajetória fácil, baseada em muita luta e voz ativa
da comunidade assentada.
Percebe-se que existe na estrutura fundiária brasileira uma enorme
disparidade, que gera uma insatisfação de várias classes da sociedade
(trabalhadores rurais, políticos, sociólogos, entidades religiosas, entre outros), que
apoiam implantação da reforma agrária. Este pensamento está alicerçado em dois
principais pontos: o primeiro é o fator social e o segundo, o econômico.
O fator social está relacionado ao fato de que há milhares de famílias que
precisam de um pedaço de terra para cultivar seu alimento, o que de certa forma
torna-se um emprego. Já o fator econômico refere-se aos objetivos ligados à
produção de alimentos para o abastecimento interno, forçando a diminuição dos
seus preços, que recentemente foram inflacionados diante da crise mundial de
alimentos. Incluindo, ainda, que os pequenos produtores podem se tornar
exportadores para diversos países do mundo, o que contribuiria para a economia do
país.
A realização da Reforma Agrária no Brasil é lenta e enfrenta várias barreiras,
entre elas, pode-se elencas algumas como: A resistência de grandes proprietários
rurais (latifundiários), dificuldade jurídicas, além do elevado custo de manutenção de
famílias assentadas, pois essas famílias que recebem lotes de terras da Reforma
Agrária necessitam de financiamentos com juros baixos para a compra de
79
suplementos para o cultivo das terras, bem como a falta de infraestrutura que ainda
sofrem os assentamentos rurais no Brasil.
A burocracia é um grande problema na Reforma Agrária Brasileira, pois as
leis que regulamentam são ultrapassadas com a realidade brasileira dos dias atuais,
a maioria delas já estão em vigência há mais de 20 anos sem nenhuma atualização,
pode-se dar como exemplo o Estatuto da Terra.
A conquista da Reforma Agrária no Assentamento Reunidas teve uma espera
longa e cansativa. As famílias hoje assentadas tiveram que passar por um período
de ocupação, denominada como acampamento, na qual as famílias ficaram nas
margens da BR 153 aproximadamente cerca de um ano e seis meses debaixo de
barracos de lona, à luz de lampião sem nenhuma infraestrutura. Após esse período
as famílias saíram das margens da BR 153 e ingressam na própria Fazenda
Reunidas, onde por conta própria, dividiram pequenos pedaços de Terra para
cultivar o básico para o próprio sustento.
Nesse impasse se passaram 06 anos sem ter a demarcação dos lotes
definitivos. O INCRA alegava que toda essa demorava se deu por causa da
burocratização por parte do Governo Federal em analisar e aprovar toda a
documentação pertinente.
A Lei nº 13.465/2017é fruto do descaso de um Estado negligente por muitas
décadas com o uso da terra pelo seu povo. A proliferação de ocupações irregulares,
clandestinas, desorganizadas, em desprestígio com o ordenamento jurídico
(parcelamento do solo, incorporações imobiliárias, estatuto da terra e tantos outros
diplomas legais), que infelizmente se encontravam desatualizados pela legislação
brasileira.
São muitas as famílias que ainda aguardam a concretização da Reforma
Agrária para conquistar o tão sonhado pedaço de terra, famílias que em pleno ano
de 2019 se encontram na mesma situação a qual o Assentamento Reunidas passou
há 33 anos atrás, sem nenhuma infra-estrutura e sem respostas concretas.
O próprio Assentamento Reunidas mesmo após todas essas conquistas, que
foi na base de pressão em cima do Governo, com passeatas quilométricas,
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formação de líderes do acampamento para ir até Brasília manter contato direto com
os governantes, ocupação e resistência em uma área que já havia sido
desapropriada pelo governo federal, ainda não obteve o Título Definitivo das Terras,
tendo em mãos somente o Contrato de Concessão de Uso da Terra.
A Lei de nº 13.465/2017 é um enorme avanço para a modernização da
reforma agrária. Ela traz a esperança de quem ainda sonha com a conquista da
terra, e para aqueles que já possuem a esperança é ter as terras como suas, pois
com o título definitivo, o agricultor assentado se torna proprietário do lote e pode
ampliar o investimento na terra. Além disso, ele tem a possibilidade de acessar
linhas de crédito mais robustas e ascender econômica e socialmente. A titulação
beneficia não só os assentados, mas a economia local, dos municípios e do estado.
As famílias do Assentamento Reunidas muito se orgulham em fazerem parte
de uma luta tão bonita como foi a do Assentamento Reunidas, famílias que se
sentiram desamparados pelo governo. Porém, agora é um motivo de orgulho e
satisfação de ver quão grande se tornou o maior assentamento do Estado de São
Paulo.
Para os jovens, filhos e netos de assentados a trajetória do assentamento
reunidas é um marco importante na vida desses, pois apesar de toda dificuldade do
Assentamento o mesmo conseguiu se desenvolver em todos os sentidos, e para a
juventude que ali reside a conquista também foi grande. Muitos desses jovens
conseguiram ter acesso a uma boa educação escolar e oportunidades em ingressar
em universidades tanto públicas como particulares, tendo hoje o assentamento
jovens formados médicos, enfermeiros, educador físico, advogados, fisioterapeutas,
psicólogos entre outros.
Muitos desses jovens conseguiram se formar na universidade através da lida
na roça, ajudando os pais para conseguir através do cultivo da plantação pagar as
mensalidades do curso. A maioria dos pais desses jovens não tiverem as mesmas
oportunidades, muitos têm pouco grau de escolaridade e outra parte é analfabeto.
O principal objetivo desse trabalho, é mostrar o que poucas pessoas
conhecem, uma Reforma Agrária que deu muito certo e que apesar de estar
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localizada no município de Promissão/SP, são poucas as pessoas que sabem que o
Assentamento Reunidas faz parte de uma Reforma Agrária, que as terras ali
conquistadas tem uma história de luta e superação.
Pode-se alcançar com o presente estudo, que a reforma agrária é de extrema
importância no cenário brasileiro, proporcionando terra para a população trabalhar,
aumentando a produção agrícola, redução das desigualdades sociais,
democratização da estrutura fundiária, e que tanto a sociedade como o ordenamento
jurídico devem dá um novo olhar para essa causa.
Muito embora, tenha se criado a Lei nº 13.465/2017 tentando buscar uma
reforma agrária mais rápida e eficaz, ainda, é uma lei recente para verificar a sua
efetividade. Porém, é um início para o avanço na reforma agrária, visto que toda lei
deve estar em constante atualização conforme a necessidade que versa sobre o
assunto, como é o caso da reforma agrária.
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REFERÊNCIAS
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