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Rumo a um bem comum mundial?
Repensar a Educao
EdiesUNESCO
Organizaodas Naes Unidas
para a Educao,a Cincia e a Cultura
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Rumo a um bem comum mundial?
Repensar aEducao
Braslia
UNESCO
2016
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Publicado em 2016 pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura, 7,Place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana e Representao da UNESCO no Brasil.
UNESCO 2016
Esta publicao est disponvel em acesso livre ao abrigo da licena Atribuio-Partilha 3.0 IGO (CC-BY-SA 3.0IGO) (http://creativecommons. org/licenses/by-sa/3.0/igo/). Ao utilizar o contedo da presente publicao, osusurios aceitam os termos de uso do Repositrio UNESCO de acesso livre (http://unesco.org/open-access/terms-use-ccbysa-en).
Ttulo original: Rethinking education: towards a global common good?Publicado em 2015 pela Organizao dasNaes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura, 7, Place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, Frana.
As indicaes de nomes e a apresentao do material ao longo deste livro no implicam a manifestao dequalquer opinio por parte da UNESCO a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade,regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites.
Os membros do Grupo Snior de Especialistas so responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidos napublicao e pelas opinies expresses nela. Essas no so necessariamente as da UNESCO e no comprometema Organizao.
Repensar a educao : rumo a um bem comum mundial?. Braslia : UNESCO Brasil, 2016. 91 p., il..
Ttulo original: Rethinking education: towards a global common good? Incl. bilb. ISBN: 978-85-7652-208-9
1. Tendncias educacionais 2. Educao para o desenvolvimento sustentvel3. Educao internacional
4. Poltica educacional 5. Bens pblicos mundiais I. UNESCO
As ideias e opinies expressas nesta publicao so as dos autores e no refletem obrigatoriamente as daUNESCO nem comprometem a Organizao.
Crditos da verso original:Design grfico: UNESCOCrdito da foto na capa: Shutterstock / Arthimedes
Crditos da verso em portugus:Coordenao: Setor de Educao da Representao da UNESCO no BrasilTraduo: Rita BrossardReviso tcnica: Maria Rebeca Otero Gomes, Thas Guerra e Andreza Trentino, Setor de Educao daRepresentao da UNESCO no BrasilReviso gramatical, editorial e diagramao: Unidade de Comunicao, Informao Pblica e Publicaes daRepresentao da UNESCO no Brasil
Impresso pela UNESCOImpresso no Brasil
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Rumo a um bem comum mundial?
Repensar aEducao
Braslia
UNESCO
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Agradecimentos
um prazer para mim ver essa publicao no presente momento, em que a
comunidade internacional de educao e desenvolvimento avana rumo ao marco
global de Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel (ODS). Esta publicao fruto
de minhas discusses iniciais com Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, durante
seu primeiro mandato. Forte defensora da reviso do Relatrio Delors, com vistas
a identificar futuras orientaes para a educao mundial, ela sabiamente desejava
demonstrar que, alm de seu papel tcnico na liderana do movimento Educao para
Todos, a UNESCO tambm exerce um importante papel de liderana intelectual na
educao internacional.
Com essa perspectiva, a diretora-geral da UNESCO estabeleceu um grupo deespecialistas de alto nvel para repensar a educao em um mundo em mudana. Esse
grupo de especialistas internacionais recebeu a tarefa de elaborar um documento
sucinto, com indicao de questes que provavelmente afetariam a organizao da
aprendizagem e estimulassem o debate para definir uma viso da educao. O grupo
foi copresidido por Amina J. Mohammed, assessora especial do secretrio-geral da
ONU para o Planejamento do Desenvolvimento Ps-2015 e secretria-geral adjunta, e
pelo professor W. John Morgan, catedrtico UNESCO na Universidade de Nottingham,
no Reino Unido. O grupo de especialistas foi composto por: Peter Ronald DeSouza,
professor no Centro para o Estudo das Sociedades em Desenvolvimento, Nova
Dli, ndia; Georges Haddad, professor na Universidade Paris 1 Panthon-Sorbonne,
Frana; Fadia Kiwan, diretora emrita do Instituto de Cincias Polticas da Universidade
Saint-Joseph em Beirute, Lbano; Fred van Leeuwen, secretrio-geral da Education
International; Teiichi Sato, professor da Universidade Internacional de Sade e
Bem-Estar, Japo; e Sylvia Schmelkes, presidente do Instituto Nacional para a Avaliao
da Educao, Mxico.
Desde o incio, a diretora-geral deu forte apoio a essa iniciativa do Setor de Educao da
UNESCO. Coordenado pela Equipe de Pesquisa e Previso em Educao, o grupo reuniu-se
em Paris em fevereiro de 2013, fevereiro e dezembro de 2014, a fim de desenvolver suasideias e debater verses sucessivas do texto. Gostaria de aproveitar essa oportunidade
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para apresentar meus sinceros agradecimentos a todos os membros do grupo de
especialistas por sua inestimvel contribuio a esse importante esforo coletivo. O Setor
de Educao da UNESCO muito grato por seus esforos e seu comprometimento.
Esta publicao no teria sido possvel sem a contribuio de numerosas pessoas,
tanto especialistas externos quanto colegas da UNESCO. Gostaria de reconhecer eagradecer o apoio de: Abdeljalil Akkari (Universidade de Genebra), Massimo Amadio
(Bureau Internacional de Educao da UNESCO), David Atchoarena (Diviso de Polticas
e Sistemas de Aprendizagem ao Longo da Vida da UNESCO), Sylvain Aubry (Global
Initiative for Economic, Social and Cultural Rights), Njib Ayed (Organizao rabe para
a Educao, a Cultura e a Cincia), Aaron Benavot (Relatrio de Monitoramento de
Educao para Todos), Mark Bray (Universidade de Hong Kong), Arne Carlsen (Instituto
para a Aprendizagem ao Longo da Vida da UENSCO), Michel Carton (Network for
International Policies and Cooperation in Education and Training); Borhne Chakroun
(Seo de Jovens, Alfabetizao e Desenvolvimento de Habilidades da UNESCO);Kai-ming Cheng (Universidade de Hong Kong), Maren Elfert (Universidade da Colmbia
Britnica), Paulin J. Hountondji (Conselho Nacional de Educao, Benin), Klaus Hfner
(Freie Universitt Berlin), Ruth Kagia (Results for Development), Taeyoung Kang
(POSCO Research Institute, Seul), Maria Khan (Associao da sia e Pacfico Sul
para a Educao Bsica e de Adultos), Valrie Liechti (Agncia Sua de Cooperao e
Desenvolvimento), Candy Lugas (Instituto Internacional de Planejamento Educacional
da UNESCO), Ian Macpherson (Open Society Foundations), Rolla Moumne Beulque
(Seo de Poltica Educacional da UNESCO), Renato Opertti (Bureau Internacional
de Educao da UNESCO), Svein Osttveit (Diviso executiva, Setor de Educao da
UNESCO), David Post (Relatrio de Monitoramento de Educao para Todos), Sheldon
Shaeffer (Especialista em governana e educao infantil), Dennis Sinyolo (Education
International) e Rosa-Maria Torres (Instituto Fronesis, Quito).
Para finalizar, agradeo equipe de Pesquisa e Previso em Educao da UNESCO por
ter levado esse projeto a termo. Iniciado por Georges Haddad, ex-diretor da equipe,
o processo de redao foi liderado e coordenado por Sobhi Tawil, especialista snior
de programas, assessorado por Rita Locatelli e Luca Solesin, da Ctedra UNESCO de
Direitos Humanos e tica da Cooperao Internacional, Universidade de Brgamo,
Itlia, e por Huong Le Thu, especialista da rea programtica da UNESCO. Outrosassistentes de pesquisa foram Marie Cougoureux, Jiawen Li, Giorgiana Maciuca,
Guillermo Nino Valdehita, Victor Nouis, Marion Poutrel, Hlne Verrue e Shan Yin.
Prof. Dr. Qian TangDiretor-geral-assistente para Educao
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Lista de quadros
1. Grande desigualdade de renda na Amrica Latina apesar de forte crescimento econmico 27
2. A encruzilhada de diferentes sistemas de conhecimento 34
3. Sumak kawsay: uma viso alternativa de desenvolvimento 35
4. Promoo do desenvolvimento sustentvel por meio da educao 36
5. Habilidades bsicas, transferveis e tcnicas e profissionais 44
6. Crianas com deficincia so frequentemente esquecidas 47
7. Ouvir a voz das meninas privadas de educao 48
8. Senegal: a experincia Case des Tout-Petits 49
9. Universidades interculturais no Mxico 51
10. A experincia Buraco na parede 53
11. Alfabetizao por celular para meninas no Paquisto 55
12. Rumo a formas ps-tradicionais de ensino superior 56
13. Na Finlndia, professores altamente qualificados e respeitados 59
14. Reforar a promoo de oportunidades de emprego para jovens 64
15. Migrao inversa para Bangalore e Hyderabad 67
16. Aulas particulares prejudicam as oportunidades educacionais dos pobres no Egito 81
17. Respeitar, cumprir e proteger o direito educao 82
18. Criao, controle, aquisio, validao e uso do conhecimento 86
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Resumo executivo
As mudanas no mundo, atualmente, hoje caracterizam-se por novos nveis de
complexidade e contradio. A educao deve preparar indivduos e comunidades
para as tenses geradas por tais mudanas, tornando-os capazes de se adaptar e
de responder a elas. A presente publicao contribui para repensar a educao e a
aprendizagem nesse contexto. Contribui para uma das principais tarefas da UNESCO,
como observatrio mundial de transformaes sociais, com o objetivo de estimular o
debate sobre polticas pblicas.
um chamado ao dilogo dirigido a todas as partes interessadas. Inspira-se em
uma viso humanista da educao e do desenvolvimento, com base nos princpios
de respeito pela vida e dignidade humanas, igualdade de direitos, justia social,diversidade cultural, solidariedade internacional e responsabilidade compartilhada,
com vistas a construir um futuro sustentvel. Esses so os aspectos fundamentais
de nossa humanidade comum. O presente livro refora a viso de duas publicaes
histricas da UNESCO, Aprendendo a ser: o mundo da educao hoje e amanh
(1972), conhecida como Relatrio Faure, e Educao: um tesouro a descobrir (1996),
o Relatrio Delors.
Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central
Para alcanar o desenvolvimento sustentvel a que aspiramos, preciso resolverproblemas e tenses comuns e explorar novos horizontes. O crescimento econmico
e a criao de riquezas reduziram as taxas globais de pobreza, mas a vulnerabilidade,
a desigualdade, a excluso e a violncia aumentaram dentro das sociedades e entre
diferentes sociedades em todo o mundo. Padres insustentveis de produo
econmica e consumo contribuem para o aquecimento global, a degradao
ambiental e um aumento sbito de desastres naturais. Alm disso, enquanto os
marcos internacionais de direitos humanos foram fortalecidos nas ltimas dcadas,
sua implementao e proteo continuam a ser um desafio. Por exemplo, apesar
do empoderamento progressivo de mulheres, graas ao maior acesso educao,elas continuam a sofrer discriminao na vida pblica e no trabalho. A violncia
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contra mulheres e crianas, particularmente meninas, continua a enfraquecer seus
direitos. Mais uma vez, embora o desenvolvimento tecnolgico contribua para maior
interconectividade e oferea novos caminhos para trocas, cooperao e solidariedade,
assistimos paralelamente a um aumento da intolerncia cultural e religiosa, da
mobilizao poltica e de conflitos identitrios.
A educao deve encontrar maneiras de responder a esses desafios, levando em
conta mltiplas vises de mundo e outros sistemas de conhecimentos, alm de
novas fronteiras em cincia e tecnologia, como os progressos em neurocincias e os
avanos na tecnologia digital. Repensar o propsito da educao e a organizao da
aprendizagem nunca foi to urgente.
Reafirmao de uma abordagem humanista educao
Isoladamente, a educao no pode esperar resolver todos os desafios relacionados
ao desenvolvimento, mas uma abordagem humanista e holstica da educao pode edeve contribuir para alcanar um novo modelo de desenvolvimento. Nesse modelo,
o crescimento econmico deve ser orientado por uma gesto ambiental responsvel
e pela preocupao com paz, incluso e justia social. Os princpios ticos e morais
de uma abordagem humanista ao desenvolvimento levantam-se contra a violncia,
a intolerncia, a discriminao e a excluso. No que se refere educao e
aprendizagem, significa ir alm da estreita viso utilitarista e economista, buscando
integrar as mltiplas dimenses da existncia humana. Essa abordagem enfatiza a
incluso de pessoas frequentemente discriminadas mulheres e meninas, povos
indgenas, pessoas com deficincia, migrantes, idosos e pessoas que vivem em pasesafetados por conflitos. Ela requer uma abordagem aberta e flexvel aprendizagem,
tanto ao longo da vida quanto em todos os seus aspectos: uma abordagem que
oferea a todos a oportunidade de concretizar seu potencial para construir um futuro
sustentvel e uma vida digna. Essa abordagem humanista possui implicaes para a
definio de contedo de aprendizagem e as pedagogias utilizadas, bem como para
o papel de professores e outros educadores. Esse quadro cada vez mais relevante,
dado o rpido desenvolvimento de novas tecnologias, em particular as digitais.
Formulao local e global de polticas em um mundo complexo
Os nveis cada vez maiores de complexidade social e econmica apresentam vrios
desafios para a formulao de polticas educacionais no mundo globalizado. A
intensificao da globalizao econmica tem produzido padres de baixo crescimento
de emprego, aumento do desemprego entre jovens e vulnerabilidade de empregos.
Embora as tendncias indiquem uma crescente desconexo entre a educao e o
mundo do trabalho em rpida transformao, tambm representam uma oportunidade
de reconsiderar o vnculo entre educao e desenvolvimento social. Alm disso, a
maior mobilidade de estudantes e trabalhadores atravs de fronteiras e os novos
padres de conhecimento e habilidades exigem novas formas para reconhecer, validare avaliar a aprendizagem. Com relao cidadania, o desafio para sistemas nacionais
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de educao consiste em criar identidades e favorecer a conscincia do outro, bem
como um senso de responsabilidade com os outros, em um mundo cada vez mais
interconectado e interdependente.
A expanso do acesso educao em todo o mundo nas ltimas dcadas aumenta a
presso sobre o financiamento pblico. Adicionalmente, nos ltimos anos aumentoua demanda por participao em assuntos pblicos e pelo envolvimento de atores no
estatais na educao, tanto em nvel nacional quanto global. Essa diversificao de
parcerias dilui os limites entre pblico e privado e dificulta a governana democrtica da
educao. Em resumo, h uma crescente necessidade de reconciliar as contribuies
e as demandas dos trs reguladores do comportamento social: sociedade, Estado e
mercado.
Recontextualizao da educao e do conhecimento como benscomuns mundiais
luz dessa realidade em rpida transformao, precisamos repensar os princpios
normativos que regem a governana educacional, em particular o direito educao
e a noo de educao como bem pblico. De fato, no discurso internacional sobre
educao, frequentemente nos referimos a ela como um direito humano e um bem
pblico. Entretanto, embora esses princpios sejam relativamente incontestados
no que se refere educao bsica, no h unanimidade sobre sua aplicabilidade
educao e a formao alm dos nveis bsicos. Em que grau o direito educao e
o princpio do bem pblico tambm se aplicam educao no formal e informal, que
so menos ou nada institucionalizadas? Portanto, a preocupao com o conhecimento compreendido como o conjunto de informaes, compreenso, habilidades, valores
e atitudes adquiridos por meio da aprendizagem essencial para qualquer discusso
sobre o propsito da educao.
Os autores propem que tanto conhecimento quanto educao sejam considerados
bens comuns. Isso implica que a criao de conhecimento, sua aquisio, sua
validao e sua utilizao so comuns a todas as pessoas, como parte de um esforo
coletivo da sociedade. A noo de bem comum nos permite ir alm da influncia da
teoria socioeconmica individualista inerente noo de bem pblico. Ela enfatiza a
importncia de um processo participativo na definio do que um bem comum, queleva em considerao a diversidade de contextos, conceitos de bem-estar e ambientes
de conhecimento. O conhecimento uma parte inerente do patrimnio comum da
humanidade. Portanto, ao considerar a necessidade de assegurar o desenvolvimento
sustentvel em um mundo cada vez mais interdependente, educao e conhecimento
deveriam ser vistos como bens comuns mundiais. Inspirado pelo valor de solidariedade,
com suas razes em nossa humanidade comum, o princpio de conhecimento e educao
como bens comuns mundiais tem implicaes para os papis e as responsabilidades
das diversas partes interessadas. Isso vale para organizaes internacionais como a
UNESCO, uma vez que suas funes normativas e de observatrio global a qualificampara promover e orientar o debate global sobre polticas pblicas.
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Consideraes para o futuro
Com o intento de conciliar o propsito e a organizao da aprendizagem como um
esforo coletivo da sociedade, as questes a seguir podem servir como primeiros
passos para o debate. Embora os quatro pilares da educao aprender a conhecer,
a fazer, a ser e a viver juntos continuem a ser relevantes, esto ameaados pelaglobalizao e pelo ressurgimento de polticas identitrias. De que forma podem ser
fortalecidos e renovados? De que forma a educao pode responder aos desafios
de alcanar a sustentabilidade econmica, social e ambiental? Como conciliar uma
pluralidade de vises de mundo em uma abordagem humanista educao? Como
concretizar tal abordagem humanista por meio de polticas e prticas educacionais?
Quais as implicaes da globalizao para polticas e decises nacionais sobre
educao? De que forma deve-se financiar a educao? Quais so as implicaes
especficas para a educao, a formao, o desenvolvimento e o apoio a professores?
Quais as implicaes da distino entre os conceitos de bem privado, bem pblico ebem comum para a educao?
Devemos congregar representantes de diversas partes interessadas, com perspectivas
mltiplas, para, assim, compartilhar resultados de pesquisa e articular princpios
normativos na orientao de polticas. A UNESCO, na qualidade de agncia e think
tankde reflexo intelectual, pode fornecer a plataforma para debate e dilogo, para
aperfeioar nossa compreenso de novas abordagens poltica e ao fornecimento
educacional, com o objetivo de apoiar a humanidade e seu bem-estar comum.
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Sumrio
Prefcio 15
Introduo 17
1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 23Desafios e tenses 24Novos horizontes de conhecimento 30
Explorar abordagens alternativas 33
2. Reafirmao de uma abordagem humanista 39Uma abordagem humanista educao 41
Assegurar uma educao mais inclusiva 46
A transformao do panorama educacional 51
O papel de educadores na sociedade de conhecimento 58
3. Formulao de polticas educacionais em um mundo complexo 61O aumento da lacuna entre educao e emprego 62
Reconhecer e validar a aprendizagem em um mundo mvel 66
Repensar a educao para a cidadania em um mundo plural e interconectado 69
Governana mundial da educao e formulao de polticas nacionais 72
4. Educao como um bem comum? 77O princpio da educao como um bem pblico sob tenso 78
Educao e conhecimento como bens comuns mundiais 84
Consideraes para o caminho a seguir 89
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15Prefcio
Prefcio
De qual educao precisamos para o sculo XXI? Qual o propsito da educao no atual
contexto de grandes transformaes da sociedade? Como organizar a aprendizagem?
Tais questes inspiraram as ideias aqui apresentadas.
No mesmo esprito de duas publicaes histricas da UNESCO, Aprendendo a ser:
o mundo da educao hoje e amanh (1972), conhecido como Relatrio Faure, e
Educao: um tesouro a descobrir (1996), ou Relatrio Delors, estou convencida
de que, na atualidade, precisamos pensar novamente sobre educao em termos
ambiciosos.
Pois estamos vivendo tempos turbulentos. O mundo est se tornando mais jovem e
crescem as aspiraes a direitos humanos e a dignidade. As sociedades esto mais
conectadas do que nunca, mas intolerncias e conflitos persistem. Surgem novas
potncias, mas as desigualdades se aprofundam e h grande presso sobre o planeta.
H vastas oportunidades de desenvolvimento sustentvel e inclusivo, mas tambm
grandes e complexos desafios.
O mundo est em mudana a educao tambm precisa mudar. Em todo o planeta, as
sociedades sofrem profundas transformaes e isso exige novas formas educacionais
que promovam as competncias necessrias para sociedades e economias, agora e
no futuro. De maneira concreta, isso significa ir alm da alfabetizao e de habilidadesbsicas em matemtica para focar em ambientes de aprendizagem e novas abordagens
aprendizagem, em busca de mais justia, equidade social e solidariedade mundial.
A educao deve tratar de aprender a viver em um planeta sob presso. Deve
visar alfabetizao cultural, baseada no respeito e na igual dignidade para todos,
contribuindo para tecer em conjunto as dimenses sociais, econmicas e ambientais
do desenvolvimento sustentvel.
Essa uma viso humanista da educao como um bem comum essencial. Acredito
que ela retome a inspirao da Carta da UNESCO, aprovada h 70 anos, ao mesmo
tempo em que reflete novos tempos e novas exigncias.
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16 Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?
A educao essencial para um marco mundial integrado de objetivos de
desenvolvimento sustentvel. Ela est no cerne de nossos esforos tanto de
adaptao s mudanas quanto de transformao do mundo no qual vivemos. Uma
educao bsica de qualidade constitui o alicerce indispensvel para a aprendizagem
ao longo da vida em um mundo complexo e em rpida transformao.
Em todo o mundo, constatamos grandes progressos na expanso de oportunidades
de aprendizagem para todos. Entretanto, devemos extrair as lies certas, a fim de
mapear uma nova rota para nossa rota futura. Somente acesso no suficiente;
precisamos de um novo enfoque na qualidade da educao e na relevncia da
aprendizagem, por meio do qual crianas, jovens e adultos realmente aprendam. A
escolarizao e a educao formal so essenciais, mas precisamos ampliar nosso
ngulo de viso a fim de estimular a aprendizagem ao longo da vida. Fazer com que as
meninas frequentem a educao primria vital, mas precisamos ajud-las em todo
o caminho para a educao secundria e alm dela. Precisamos de um enfoque aindamais forte em professores e educadores como agentes de transformao em todos
os nveis.
No existe fora transformadora mais poderosa do que a educao para promover
dignidade e direitos humanos, para erradicar a pobreza e aprofundar a sustentabilidade,
bem como para construir um futuro melhor para todos, com base em igualdade de
direitos e justia social, respeito pela diversidade cultural, solidariedade internacional
e responsabilidade compartilhada: aspectos fundamentais de nossa humanidade
comum.
por isso que precisamos novamente pensar em grande escala e repensar a educao
em um mundo em mudana. Para isso, necessitamos de debate e dilogo em ampla
escala e esse o objetivo desta publicao: formular aspiraes e ser uma fonte de
inspirao, falar para novos tempos.
Irina BokovaDiretora-geral da UNESCO
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Introduo
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18 Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?
Introduo
Educao gera confiana. Confiana gera esperana. Esperanagera pazConfcio, filsofo chins (551 a.C.-479 a.C.).Um chamado ao dilogo
Este documento visa a contribuir para uma nova viso da educao em um mundo em
mudana, em continuidade a uma das principais tarefas da UNESCO como observatrio
global de transformaes sociais. Seu propsito estimular o debate sobre polticaspblicas, com foco especificamente na educao em um mundo em evoluo.
um chamado ao dilogo, inspirado por uma viso humanista de educao e do
desenvolvimento, com base em princpios de respeito pela vida e dignidade humanas,
igualdade de direitos ejustia social, respeito pela diversidade cultural, solidariedade
internacional e responsabilidade compartilhada, todos aspectos fundamentais de
nossa humanidade comum. Visa a ser tanto uma aspirao quanto uma inspirao,
dirigindo-se aos novos tempos e a todas as pessoas do mundo interessadas em
educao. Foi redigido no mesmo esprito de duas publicaes histricas da UNESCO:
Aprendendo a ser: o mundo da educao hoje e amanh, o Relatrio Faure, de 1972;e Educao: um tesouro a descobrir, o Relatrio Delors, de 1996.
Olhar para trs para ver frente1
Ao procurar uma nova viso sobre educao e aprendizagem no mundo do futuro,
devemos nos embasar no legado de anlises anteriores. Por exemplo, o Relatrio
Faure, de 1972, estabeleceu as duas noes inter-relacionadas de sociedade
de aprendizagem e educao ao longo da vida em uma poca em que sistemas
1 Adaptado de MORGAN, W. J.; WHITE, I. Looking backward to see ahead: The Faure and Delors reportsand the post-2015 development agenda. Zeitschrift Weiterbildung, n. 4, p. 40-43, 2013.
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19Introduo
educacionais tradicionais eram muito questionados. Segundo o relatrio, com a
acelerao do progresso tecnolgico e das transformaes sociais, ningum poderia
esperar que a educao inicial de um indivduo fosse ser adequada por toda a vida.
Embora a escola permanecesse o meio essencial para transmitir conhecimentos
organizados, ela deveria ser complementada por outros aspectos da vida social
instituies sociais, ambiente de trabalho e lazer, a mdia. O relatrio advogava odireito e a necessidade de cada indivduo de aprender para o prprio desenvolvimento
pessoal, social, econmico, poltico e cultural. Afirmou que a educao ao longo da
vida era a pedra angular das polticas educacionais, tanto em pases desenvolvidos
quanto em pases em desenvolvimento.2
Em 1996, o Relatrio Delors props uma viso integrada da educao baseada em
dois conceitos chave: aprendizagem ao longo da vidae os quatro pilares da educao
(aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos). No era, intrinsicamente, um
modelo para a reforma educacional, mas uma base de reflexo e debate sobre quaisdeveriam ser as escolhas para a formulao de polticas. O relatrio argumentava que
as escolhas sobre educao eram determinadas por escolhas sobre o tipo de sociedade
em que queramos viver. Alm da funcionalidade imediata da educao, considerava
a formao da pessoa como um todo, como elemento essencial do propsito da
educao.3O Relatrio Delors estava diretamente alinhado com os princpios morais e
intelectuais subjacentes UNESCO e, portanto, suas anlises e recomendaes eram
mais humanistas e menos instrumentais e condicionadas pelo mercado do que outros
estudos de reforma educacional da poca.4
Sem qualquer dvida, os relatrios Faure e Delors inspiraram polticas educacionaisno mundo inteiro,5mas devemos reconhecer que o atual contexto global passou por
transformaes significativas em seu panorama intelectual e material desde a dcada de
1970, assim como desde os anos 1990. Esta segunda dcada do sculo XXI marca um
novo momento histrico, que traz consigo diferentes desafios e novas oportunidades
para a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Estamos ingressando em uma nova
fase histrica, caracterizada pela interconectividade e interdependncia das sociedades
e por nveis inditos de complexidade, incerteza e tenso.
A emergncia de um contexto global para a aprendizagem
A situao do mundo atual caracteriza-se por vrios paradoxos. Embora a intensificao
da globalizao econmica tenha reduzido a pobreza global, tambm tem produzido
2 MEDEL-AONUEVO, C.; OSHAKO, T.; MAUCH, W. Revisiting lifelong learning for the 21st century.Hamburg: UNESCO Institute for Education, 2001.
3 POWER, C. N. Learning: a means or an end? A look at the Delors Report and its implications foreducational renewal. Prospects, v. 27, n. 2, p. 118, 1997.
4 Idem.5 Para uma discusso sobre o assunto, veja, por exemplo, TAWIL, S.; COUGOUREUX, M. 2013. Revisiting
Learning: The treasure within Assessing the influence of the 1996 Delors report. Paris: UNESCO
Education Research and Foresight, 2013. (erf occasional papers, 4); ELFERT, M. UNESCO, the Faurereport, the Delors report, and the political utopia of lifelong learning. European Journal of Education,v. 50. n. 1, p. 88-100, 2015.
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20 Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?
padres de baixo crescimento do emprego, aumento do desemprego entre jovens
e vulnerabilidade de empregos. Alm disso, a globalizao econmica agrava
desigualdades, tanto entre pases quanto dentro de um mesmo pas. Sistemas
educacionais acentuam essas desigualdades ao ignorar as necessidades educacionais
de alunos em desvantagens e que vivem em pases pobres, ao mesmo tempo
em que concentram oportunidades educacionais entre os ricos, tornando, assim,muito exclusivas a formao e a educao de alta qualidade. Os padres atuais de
crescimento econmico, acoplados ao crescimento demogrfico e urbanizao,
esgotam recursos naturais no renovveis, poluem o meio ambiente, bem como
causam danos ecolgicos irreversveis e mudana climtica. Alm disso, juntamente
com o crescente reconhecimento da diversidade cultural (seja historicamente inerente
aos Estados-nao ou resultantes de maior migrao e mobilidade), tambm notamos
um aumento dramtico no chauvinismo cultural e religioso e na mobilizao poltica e
violncia associadas a aspectos identitrios. O terrorismo, a violncia ligada s drogas,
as guerras, conflitos internos e mesmo a violncia familiar e escolar esto aumentando.Esses padres de violncia suscitam questes sobre a capacidade da educao para
forjar valores e atitudes para a convivncia. Adicionalmente, como resultado de tais
conflitos e crises, quase 30 milhes de crianas so privadas de seu direito educao
bsica, o que cria geraes de futuros adultos no educados, com grande frequncia
ignorados em polticas de desenvolvimento. Essas questes so desafios fundamentais
para a compreenso humana da alteridade e para a coeso social em todo o planeta.
Ao mesmo tempo, testemunhamos maior demanda por participao em assuntos
pblicos em um contexto de transformao da governana local e global. O progresso
espetacular na conectividade pela internet, em tecnologias mveis e em outras
mdias digitais, combinado com a democratizao do acesso educao pblica e
ao desenvolvimento de diferentes formas de educao privada, tem modificado
padres de engajamento social, cvico e poltico. Alm disso, a maior mobilidade
de trabalhadores e estudantes entre pases, entre empregos e entre espaos de
aprendizagem intensifica a necessidade de reconsiderar a forma como aprendizagem
e competncias so reconhecidas, validadas e avaliadas.
As transformaes que esto ocorrendo tm implicaes para a educao e assinalam
a emergncia de um novo contexto global para a aprendizagem. Nem todas essasmudanas exigem respostas via polticas educacionais, porm, de qualquer forma,
forjam novas condies. Exigem no apenas novas prticas, mas tambm novas
perspectivas, a partir das quais podemos compreender a natureza da aprendizagem
e o papel do conhecimento e da educao no desenvolvimento humano. Esse
novo contexto de transformaes sociais requer que reexaminemos o propsito da
educao e a organizao da aprendizagem.
Qual o significado de conhecimento, aprendizagem e educao?
Conhecimento um aspecto central de qualquer discusso sobre aprendizagem e podeser compreendido como o modo por meio do qual indivduos e sociedades atribuem
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21Introduo
significado a suas experincias. Portanto, pode ser visto, de forma ampla, como o
conjunto de informaes, compreenso, habilidades, valores e atitudes adquiridos por
meio da aprendizagem. Como tal, o conhecimento est inextrincavelmente vinculado
aos contextos cultural, social, ambiental e institucional onde criado e reproduzido.6
Entende-se aqui aprendizagemcomo o processo de adquirir tal conhecimento. tantoum processo quanto seu resultado; um meio, bem como um fim; uma prtica
individual, bem como um esforo coletivo. uma realidade multifacetada definida pelo
contexto. Que tipo de conhecimento adquirido e por que, onde, quando e como
utilizado so questes fundamentais para o desenvolvimento tanto de indivduos
quanto de sociedades.
Educao entendida aqui como a aprendizagem deliberada, intencional, com um
fim determinado e organizada. Oportunidades educacionais formais e no formais
pressupem certo grau de institucionalizao. Entretanto, boa parte da aprendizagem
muito menos institucionalizada, se que chega a s-lo, mesmo quando intencional
e deliberada. Essa educao informal, menos organizada e estruturada do que a
educao formal ou no formal, pode incluir atividades de aprendizagem que ocorrem
no local de trabalho (como estgios), na comunidade local e na vida diria, em uma
base autodirecionada, direcionada famlia ou direcionada sociedade.7
Finalmente, importante notar que muito do que apren-
demos na vida no nem deliberado nem intencional.
Essa aprendizagem informal inerente a todas as ex-
perincias de socializao. A discusso a seguir, entretan-to, restringe-se aprendizagem intencional e organizada.
Organizao da publicao
Inspirada por uma preocupao central com o desenvol-
vimento humano e social sustentvel, a primeira seo
traa algumas tendncias, tenses e contradies no
atual processo de transformaes sociais globais, bem
como os novos horizontes de conhecimento que ofere-
cem. Ao mesmo tempo, a seo ressalta a necessidadede explorar outras abordagens para o bem-estar humano, incluindo um reconheci-
mento da diversidade de vises de mundo e de sistemas de conhecimento, alm da
necessidade de apoi-los.
A segunda seo reafirma uma abordagem humanista e enfatiza a necessidade de uma
abordagem integrada educao, com base em alicerces ticos e morais renovados.
Requer um processo educacional inclusivo e que no se limite simplesmente a
6 EUROPEAN SCIENCE FOUNDATION. Responses to Environmental and Societal Challenges for our
Unstable Earth (RESCUE):ESF forward look ESF-COST Frontier of Science joint initiative. Strasbourg;Brussels: European Science Foundation/European Cooperation in Science and Technology, 2011.
7 Idem.
Que tipo de conhecimento adquirido e por que,onde, quando e como utilizado so questesfundamentais para odesenvolvimento tantode indivduos quanto desociedades.
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Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?22
reproduzir desigualdades. No panorama global da educao que atualmente se
encontra em transformao , o papel de professores e outros educadores vital para
o desenvolvimento de um pensamento crtico e um julgamento independente, e no
uma conformidade sem reflexo.
A seo seguinte examina questes referentes formulao de polticas educacionaisem um mundo complexo, incluindo os desafios de reconhecer e responder lacuna
entre educao formal e emprego; de reconhecer e validar a aprendizagem em
um mundo de mobilidade cada vez maior entre fronteiras, ocupaes profissionais
e espaos de aprendizagem; alm de repensar a educao para a cidadania em
um mundo cada vez mais globalizado, buscando o equilbrio entre o respeito pela
pluralidade, os valores universais e a preocupao com nossa humanidade comum.
Finalmente, consideram-se as complexidades da formulao de polticas nacionais de
educao no contexto de formas potenciais de governana global.
A quarta seo explora a necessidade de recontextualizar princpios-base para a
governana da educao, particularmente o direito educao e o princpio da
educao como um bem pblico. Prope que a poltica educacional d maior ateno
ao conhecimento e s formas como ele criado, acessado, adquirido, validado e
utilizado. Tambm sugere a necessidade de recontextualizar os princpios fundadores
que governam a organizao da educao, em particular o princpio da educao
como bem pblico. Prope que considerar a educao e o conhecimento como
bens comunsmundiais pode oferecer uma maneira til de conciliar o propsito e a
organizao da aprendizagem como um esforo coletivo da sociedade em um mundo
em transformao. A concluso resume as ideias principais e apresenta questesvisando a continuar o debate.
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1. Desenvolvimentosustentvel: uma
preocupaocentral
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Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?24
1. Desenvolvimento
sustentvel: umapreocupao central
Deveramos imaginar que somos uma das folhas de umarvore e que a rvore a humanidade inteira.No podemos viver sem os outros, sem a rvore
Pablo Casals, violoncelista e maestro espanhol.
Ao reexaminar o propsito da educao, nossa viso orientada por uma preocupao
central com o desenvolvimento humano e social sustentveis. Entende-se por
sustentabilidade a ao responsvel de indivduos e sociedades rumo a um futuro
melhor para todos, local e globalmente um futuro em que justia social e gesto
ambiental cuidadosa orientem o desenvolvimento socioeconmico. As mudanas
no mundo interconectado e interdependente de hoje promovem nveis inditos de
complexidade, tenses e paradoxos, bem como novos horizontes de conhecimentoque precisamos levar em considerao. Tais padres de mudana exigem esforos
para explorar outras abordagens do progresso e do bem-estar humano.
Desafios e tenses
O Relatrio Delors identificou uma srie de tenses geradas por mudanas tecnolgicas,
econmicas e sociais, incluindo tenses entre o global e o local, o universal e o
particular, a tradio e a modernidade, o espiritual e o material, o curto e o longo prazo,
a necessidade de competio e o ideal de igualdade de oportunidades, assim comoa expanso do conhecimento e nossa capacidade de assimil-lo. Essas sete tenses
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1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 25
constituem perspectivas teis para analisar a dinmica atual das transformaes sociais.
Algumas assumem novos significados e tenses mais recentes emergem, incluindo
padres de crescimento econmico caracterizados por crescente vulnerabilidade,
aumento da desigualdade, mais tenses ecolgicas e aumento da intolerncia e da
violncia. Finalmente, embora tenhamos tido progressos em matria de direitos
humanos, a implementao de normas muitas vezes continua a ser um desafio.
Tenses ecolgicas e padres insustentveis de produoe consumo econmico
H muito tempo j entendamos que assegurar o
crescimento o propsito do desenvolvimento, com
base na premissa de que o crescimento econmico
gera efeitos positivos que eventualmente garantem
maior bem-estar para todos. Entretanto, padres
insustentveis de produo e consumo apontam para
contradies fundamentais em um modelo dominante de
desenvolvimento centrado no crescimento econmico.
Em consequncia de um crescimento desenfreado e da
superexplorao de reas naturais, a mudana climtica
tem produzido um aumento de catstrofes naturais, que
ameaam particularmente os pases pobres. Na verdade,
a sustentabilidade tornou-se uma preocupao central de
desenvolvimento, em funo da mudana climtica, da
degradao de recursos naturais vitais, como a gua, eda perda de biodiversidade.
Na ltima parte do sculo XX (1960-2000), o consumo de gua duplicou, a produo e o
consumo de alimentos aumentaram 2,5 vezes e o consumo de madeira triplicou. Todos
esses aumentos foram impulsionados pelo crescimento demogrfico. A populao
mundial praticamente triplicou na segunda metade do sculo XX, passando de cerca
de 2,5 bilhes, em 1950, a mais de 7 bilhes em 2013, esperando-se que chegue a
8 bilhes em 2025.8Estima-se que, at 2030, a demanda por alimentos ter um aumento
de pelo menos 35%, a demanda por gua 40% e a demanda por energia 50%.9
Alm disso, pela primeira vez, mais da metade da populao mundial vive em
reas urbanas. At 2050, esse valor subir para dois teros, ou mais de 6 bilhes
de pessoas.10Nesse momento, estima-se que 80% da populao urbana do planeta
8 UN DESA. World Population Prospects: the 2012 revision.New York, 2013. A maior parte dessecrescimento ocorreu e continuar a ocorrer nos pases do Sul. A proporo da populao mundial nospases do Sul cresceu de 66%, em 1950, para 82%, em 2010. Espera-se que aumente ainda mais para86% at 2050 e 88% at 2100.
9 NATIONAL INTELLIGENCE COUNCIL. Global Trends 2030: alternative worlds. Washington, DC: NationalIntelligence Council, 2012.
10 UN DESA. World Urbanization Prospects: the 2011 revision. New York, 2012.
As mudanas nomundo interconectadoe interdependente
de hoje levam anveis inditos decomplexidade, tensese paradoxos, bem comoa novos horizontesde conhecimento queprecisamos levar em
considerao.
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Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?26
estar concentrada em cidades dos pases do Sul global.11O crescimento da populao
urbana, combinado com a expanso de estilos de vida e padres de produo e
consumo da classe mdia, tem um impacto negativo sobre o meio ambiente e a
mudana climtica, e tambm aumentam o risco de catstrofes naturais em todo o
mundo.12Esses problemas so uma grave ameaa vida, aos meios de vida e sade
pblica em todo o mundo. A urbanizao no planejada ou mal planejada cada vezmais vulnervel a calamidades naturais e a condies climticas extremas. A taxa sem
precedentes de expanso urbana estabelece tendncias sociais, polticas, culturais
e ambientais mundiais; consequentemente, a urbanizao sustentvel tornou-se um
dos desafios mais prementes que a comunidade global deve enfrentar no sculo XXI.13
Esses padres de crescimento demogrfico e de urbanizao tambm tm importantes
implicaes para os arranjos institucionais e parcerias necessrias para assegurar
oportunidades educacionais relevantes e flexveis, em uma perspectiva de aprendizagem
ao longo da vida. Projees indicam que a proporo de idosos na populao emgeral dever dobrar at 205014e que haver tambm aumento da demanda por maior
diversificao na educao e na formao de adultos. Assegurar que o aumento
projetado da populao em idade ativa na frica se traduza em dividendo demogrfico15
exigir a oferta de oportunidades relevantes de educao e formao ao longo da vida.
Mais riquezas, mas tambm aumento da vulnerabilidade e dedesigualdades
As taxas globais de pobreza caram pela metade entre 1990 e 2010. Essa queda
resulta em grande parte de taxas robustas de crescimento econmico em economiasemergentes e em muitos pases africanos, apesar da crise econmica e financeira
global de 2008. Espera-se que as classes mdias nos pases em desenvolvimento
continuem a se expandir substancialmente nos prximos 15 a 20 anos, com parte
do crescimento mais rpido ocorrendo na China e na ndia.16Entretanto, persistem
disparidades significativas em todo o mundo e h considervel variao nas taxas de
pobreza entre as diferentes regies do planeta.17
Padres de forte crescimento do produto interno bruto (PIB) nem sempre geram os
nveis de emprego exigidos, nem o tipo de emprego desejado. No tem havido uma
expanso suficiente em oportunidades de emprego para absorver o aumento na fora
11 Idem.12 SPREAD SUSTAINABLE LIFESTYLE 2050. Sustainable Lifestyle: Todays facts and Tomorrows trends.
Amsterdam, 2011.13 UN-HABITAT. United Nations Human Settlement Programme. Disponvel em: . Acesso em: fev. 2015.14 UN DESA.World Population Prospects:the 2012 revision. New York, 2013.15 DRUMMOND, P.; THAKOOR, V.; YU, S. Africa Rising: harnessing the demographic dividend. International
Monetary Fund, 2014. (IMF working paper, 14/43).16 NATIONAL INTELLIGENCE COUNCIL. Global Trends 2030:alternative worlds. Washington, DC, 2012.17 Enquanto a taxa de pobreza no Extremo Oriente e Pacfico era estimada em 12,5% em 2010, era de
mais de 30% na sia Meridional e de quase 50% na frica Subsaariana. IMF; WORLD BANK. GlobalMonitoring Report 2013:rural-urban dynamics and the millennium development goals. Washington, DC:International Bank for Reconstruction and Development, the World Bank, 2013.
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1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 27
de trabalho. Em 2013, mais de 200 milhes de pessoas em todo o mundo estavam
desempregadas, e o desemprego global deve aumentar ainda mais. As regies que
concentram o maior volume do aumento no desemprego, como Extremo Oriente, sia
Meridional e frica Subsaariana, tambm sofreram queda na qualidade dos empregos.
No momento, empregos vulnerveis representam quase a metade do nmero total
de empregos, o que contribui para o aumento do nmero de trabalhadores vivendoabaixo ou muito prximo da linha da pobreza. Pessoas em empregos vulnerveis tm
muito mais probabilidade de apresentar acesso limitado ou inexistente a seguridade
social ou renda segura do que trabalhadores assalariados.18
A ausncia de proteo social bsica na maioria dos pases exacerba esses problemas
e contribui para o aumento da desigualdade, tanto entre pases quanto dentro dos
prprios pases do Norte global, bem como nos pases do Sul.19Nos ltimos 25 anos,
houve uma concentrao ainda maior de riquezas nas mos de um nmero mais restrito
de pessoas.20
A riqueza do mundo est dividida da seguinte forma: quase metade parao 1% mais rico, a outra metade para os outros 99%.21Esse rpido alargamento na
desigualdade de renda contribui para a excluso social e o enfraquecimento da coeso
social. Em todas as sociedades, desigualdades extremas so uma fonte de tenso
social e um catalizador potencial de instabilidade poltica e conflitos violentos.
Quadro 1.Grande desigualdade de renda na Amrica Latina apesar de forte crescimento econmico
A regio da Amrica Latina e Caribe continua a ser uma das regies com os mais acentuados nveis de
desigualdade de renda, apesar do forte crescimento econmico e da melhoria nos indicadores sociaisobservados na ltima dcada. O relatrio observou que: A queda na proporo salarial foi atribuda
ao impacto de mudanas tecnolgicas que diminuem o uso de mo de obra e a um enfraquecimento
geral de instituies e de regulamentaes do mercado de trabalho. provvel que essa queda afete
desproporcionalmente indivduos que esto na mdia ou na base da distribuio de renda, uma vez que
dependem principalmente da renda de seu trabalho. Alm disso, o relatrio assinalou que a distribuio
fundiria extremamente desigual gerou tenses sociais e polticas e uma fonte de ineficincia econmica,
pois pequenos proprietrios frequentemente no tm acesso a crdito e a outros recursos para aumentar
a produtividade, enquanto grandes proprietrios nem sempre tm incentivos suficientes para faz-lo.
Fonte: UN DESA. Inequality Matters: report of the world social situation2013. New York, 2013.
18 INTERNATIONAL LABOUR OFFICE. Global Employment Trends 2014. Geneva, 2014.19 UN DESA. Inequality Matters:report on the world social situation 2013. New York, 2013.20 Ver WORLD ECONOMIC FORUM. Outlook on the Global Agenda 2015.Global Agenda Councils. 2014. p. 8-10.21 OXFAM. Working for the Few:political capture and economic inequality. Oxford, 2014. (Oxfam briefing
paper, 178).
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Interconectividade crescente, mas aumento da intolerncia
e da violncia
O desenvolvimento de novas tecnologias digitais resultou em um crescimento
exponencial no volume de informaes e conhecimentos disponveis, o que os
tornou mais facilmente acessveis a mais pessoas em todo o mundo. Dessa forma,tecnologias de informao e comunicao (TIC) podem exercer um papel essencial
no compartilhamento de conhecimentos e expertisea servio do desenvolvimento
sustentvel e com um esprito de solidariedade. Ainda assim, na opinio de muitos
observadores, o mundo tem testemunhado um aumento dos nveis de intolerncia
tnica, cultural e religiosa, e para isso se usa, muitas vezes, as mesmas tecnologias de
comunicao para a mobilizao ideolgica e poltica, para promover vises de mundo
exclusivistas. Essa mobilizao frequentemente leva a mais violncia criminosa e
poltica, bem como a conflitos armados.
A violncia contra meninas e mulheres tende a aumentar em tempos de crise
e instabilidade, tanto durante quanto depois de perodos de convulso social e
deslocamentos causados por conflitos armados. Em tais situaes, a violncia contra
mulheres generalizada e pode ser sistemtica, quando grupos armados usam o
estupro, a prostituio forada ou o trfico sexual como ttica de guerra.22As mulheres
tambm esto mais expostas a deslocamentos internos e essa condio leva a maus
resultados educacionais e de sade,23 que tambm tm um efeito direto sobre o
tratamento e a condio de famlias e crianas.
A violncia incluindo violncia criminal ligada produo e ao trfico de drogas(problemas extremos em certas zonas, como a Amrica Central), instabilidade poltica
e conflitos armados continua a ameaar vidas e a impedir o desenvolvimento social
e econmico.24Estima-se que cerca de 500 milhes de pessoas vivam em pases
em risco de instabilidade e conflito.25O impacto econmico de conter e lidar com as
consequncias da violncia global foi estimado em cerca de US$ 10 trilhes: mais de
11% do PIB global ou o dobro do PIB dos pases africanos em 2013. 26Alm disso, a
22 UN WOMEN. A Transformative Stand-alone Goal on Achieving Gender Equality, Womens Rights andWomens Empowerment.New York, 2013.
23 WORLD BANK. World Development Report 2011: conflict, security and development. Washington, DC, 2011.24 Os mercados de drogas encontram-se principalmente no mundo desenvolvido, mas so pases do
mundo em desenvolvimento que esto envolvidos em sua produo, transformao e trfico. O mercado grande e em expanso e, consequentemente, o mesmo ocorre com a indstria da droga. A indstria acompanhada pela violncia, sobretudo porque grupos rivais lutam por territrios. A indstria da drogausa o trabalho de forma intensiva, pois necessita de pessoal no treinado para realizar muitas de suasatividades. Em muitos pases, so principalmente meninos que entram para o trfico, o que implicaabandonar a escola e colocar suas vidas em constante perigo em troca de pagamentos atraentes. Aproduo de droga envolve a ocupao de territrios extensos e a dominao da populao residente. Otrfico de drogas tambm leva a outros crimes extorso, trfico de seres humanos e escravido sexual,sequestro etc. , que, em geral, aumentam os riscos de segurana pessoal em muitos locais. Pasesda Amrica Central, Mxico, Colmbia e alguns pases na sia Ocidental so vtimas desse flagelo, umproblema para o qual ainda no foi encontrada uma soluo.
25 GLOBAL PEACE INDEX; INSTITUTE FOR ECONOMICS AND PEACE. Global Peace Index 2014. New York:Institute for Economics and Peace, 2014.
26 Idem.
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1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 29
proporo de oramentos pblicos investida em despesas militares e de segurana
desvia um volume significativo de recursos do desenvolvimento. Gastos militares
globais continuaram a crescer desde 2000, atingindo US$ 1,742 bilhes em todo o
mundo em 2012,27e vrios pases dedicam uma frao maior de seu PIB a despesas
militares do que educao.
Tudo isso tem importantes implicaes para a concepo e a implementao de
polticas educacionais sensveis a conflitos. Ambas, formulao e implementao,
devem ser inclusivas para que a educao no reproduza simplesmente desigualdades
e tenses sociais que podem ser catalisadoras de violncia e de instabilidade poltica.
A educao em direitos humanos tem um papel importante a exercer no aumento da
conscientizao sobre as questes que levam a conflitos e os meios para sua resoluo
de forma justa. crucial para promover o princpio essencial da no discriminao e da
proteo da vida e da dignidade humana de todos em tempos de violncia e crise. Isso
requer a garantia de ambientes de aprendizagem seguros, no violentos, inclusivos eefetivos para todos.
Direitos humanos: progressos e desafios
Direitos humanos universais so uma aspirao coletiva rumo a um ideal comum, de
acordo com o qual a dignidade dos seres humanos respeitada independentemente
de outras diferenas e distines e so oferecidas amplas oportunidades para seu
total desenvolvimento.28Entretanto, a lacuna observada entre a adoo de marcos
normativos internacionais e sua implementao representa uma tenso crescente
entre a dinmica do poder e o Estado de direito codificado na lei. Em muitas instncias,a aspirao de estabelecer o Estado de direito e justia, tanto internacional quanto
nacionalmente, frustrada pela hegemonia de poderosos grupos de interesse. O
desafio consiste em como assegurar direitos humanos universais por meio do Estado
de direito e de normas sociais, culturais e ticas.
Tradicionalmente, o gnero tem sido um elemento-chave na discriminao. Os direitos das
mulheres foram fortalecidos nas ltimas dcadas, notadamente graas a esforos para
expandir a aplicao da Conveno sobre a eliminao de todas as formas de discriminao
contra as mulheres (Convention to Elimination of All Forms of Discrimination Against
Women CEDAW), de 1979, e a implementao da Plataforma de Ao da Conferncia
Mundial sobre a Mulher, ocorrida em Pequim (1995). Entretanto, embora tenham ocorrido
progressos considerveis para assegurar maior igualdade de gnero no acesso sade
e educao, houve muito menos progressos na potencializao da expresso e na
27 As cifras so em preos em dlares americanos e taxas de cmbio constantes (2011). SIPRI Database.Disponvel em: . Acesso em: fev. 2015.
28 A universalidade dos direitos humanos foi afirmada pela primeira vez em 1948, na Declarao Universal,e, posteriormente, pela Carta de Direitos Humanos, composta por sucessivas convenes adotadaspelas Naes Unidas e ratificadas pelos governos.
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Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?30
participao de mulheres na vida social, econmica e poltica.29A maioria das pessoas que
vivem em extrema pobreza so mulheres.30Elas tambm constituem a maioria dos jovens
e adultos analfabetos no mundo.31Alm disso, mulheres ocupam menos de 20% das
cadeiras parlamentares em todo o mundo.32A situao inicialmente frgil de mulheres no
mercado de trabalho, particularmente no setor informal, tem se tornado mais precria em
face da brutal competio por empregos resultante da diminuio de vagas e do impactode sucessivas crises econmicas e financeiras. Atualmente, metade das mulheres na
fora de trabalho tem empregos vulnerveis, sem nenhuma segurana no emprego e
sem proteo contra choques econmicos.33Isso se soma aos padres de discriminao
existentes contra mulheres no que se refere a salrios e perspectivas de carreira.
Novos horizontes de conhecimento
O cibermundo
Um dos aspectos que definem o desenvolvimento atualmente a emergncia e a
expanso do cibermundo, estimuladas pelo espetacular crescimento na conectividade
por internet e no alcance da telefonia celular.34 Vivemos em um mundo conectado.
Estima-se que, atualmente, 40% da populao mundial use a internet, e esse nmero
cresce a uma velocidade excepcional.35Embora existam variaes significativas entre
pases e regies no que se refere conectividade por internet, o nmero de lares com
essas conexes nos pases do Sul j ultrapassou o dos pases do Norte. Alm disso, mais
de 70% das assinaturas de telefone celular no mundo esto atualmente nos pases do
Sul.36Espera-se que, nos prximos 20 anos, 5 bilhes de pessoas no conectadas passempara a conectividade plena.37Entretanto, ainda subsistem diferenas significativas entre
pases e regies, por exemplo entre reas urbanas e rurais. Limitaes na velocidade da
banda larga e falta de conectividade tolhem o acesso ao conhecimento, a participao
na sociedade e o desenvolvimento econmico.
A internet transformou a maneira como as pessoas acessam informaes e
conhecimento, o modo como interagem e as prticas da gesto pblica e empresarial.
A conectividade digital promete muitos ganhos em sade, educao, comunicao,
lazer e bem-estar.38 Avanos em inteligncia artificial, impressoras 3D, recreao
29 UNITED NATIONS. A New Global Partnership: eradicate poverty and transform economies throughsustainable development, Report of the High-level Panel of eminent persons on the post-2015development agenda. New York, 2013.
30 Idem.31 UNESCO.Teaching and Learning: achieving quality for all. EFA Global Monitoring Report 2013-2014. Paris, 2014.32 UN WOMEN. Progress of the Worlds Women: in pursuit of justice.New York, 2011.33 ILO. Global Employment Trends for Women. Geneva, 2012.34 ITU. Trends in Telecommunication Reform: transnational aspects of regulation in a networked society.
Geneva, 2013.35 ITU. The world in 2014: fact and figures. Geneva, 2013.36 ITU. Trends in Telecommunication Reform: Fourth-generation regulation.4.ed. Geneva, 2014.37 SCHMIDT, E.; COHEN, J. The New Digital Age: reshaping the future of people, nations and business.
New York: Knopf, 2013.38 Idem.
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1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 31
hologrfica, transcrio instantnea e programas de reconhecimento vocal e gestual
so apenas alguns exemplos do que est sendo testado. Tecnologias digitais tm
reorganizado a atividade humana, desde a vida cotidiana at as relaes internacionais,
do trabalho ao lazer, redefinindo mltiplos aspectos de nossa vida pblica e privada.
Tais tecnologias expandiram as oportunidades de liberdade de expresso e demobilizao social, cvica e poltica, mas tambm suscitam preocupaes importantes.
A disponibilidade de informaes pessoais no cibermundo, por exemplo, envolve
questes significativas de privacidade e segurana. Novos espaos de comunicao
e socializao tm transformado a noo de social e exigem salvaguardas legais
obrigatrias e de outros tipos, a fim de impedir seu uso excessivo, abuso e mau
uso.39Exemplos de mau uso da internet, tecnologia celular e redes sociais variam de
ciberbullying atividade criminosa, at mesmo terrorista. Nesse novo cibermundo,
os educadores devem preparar melhor as novas geraes de nativos digitais40para
lidarem com as dimenses ticas e sociais, no somente das tecnologias digitais jexistentes, mas tambm daquelas a serem inventadas no futuro.
Progressos em neurocincias
Avanos recentes em neurocincias atraem cada vez mais o interesse da comunidade
de educao, que deseja compreender melhor as interaes entre os processos
biolgicos e a aprendizagem humana. Embora ainda possa ser prematuro para que
tais evolues sejam capazes de subsidiar polticas educacionais, seu potencial para
aperfeioar prticas de ensino e aprendizagem muito promissor. Por exemplo, as
descobertas mais recentes sobre o desenvolvimento e o funcionamento do crebroem diferentes estgios da vida contribuem para nossa compreenso de como e
quando aprendemos.
Algumas das descobertas mais significativas envolvem os perodos sensveis de
atividades de aprendizagem,41e indicam que o pico da aquisio da linguagem ocorre
nos primeiros anos. Isso sublinha a importncia da educao infantil e o potencial de
aprendizagem de mltiplas lnguas nos primeiros anos. Outras descobertas apontam
para a plasticidade do crebro e sua capacidade de mudar em resposta a demandas
ambientais ao longo da vida,42argumentos em favor da aprendizagem ao longo da vida e
de oportunidades apropriadas de aprendizagem para todos, independentemente de idade.
Alm disso, devemos reconhecer o impacto de fatores ambientais, como nutrio, sono,
esporte e recreao sobre um timo funcionamento cerebral. Igualmente importante,
devemos reconhecer a necessidade de abordagens holsticas que reconheam a
estreita interdependncia do bem-estar fsico e intelectual, bem como as interaes
emocionais e cognitivas, analticas e criativas do crebro. As novas linhas de pesquisa
39 HART, A. D.; HART FREJD, S. The Digital Invasion: how technology is shaping you and your relationships.Ada, MI: Baker Books, 2013.
40 PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. On the horizon. MCB University Press, v. 9, n. 5, 2001.41 OECD. Understanding the brain: the birth of a learning science.Paris: EDUCERI-OECD, 2007.42 Idem.
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em neurocincias aumentaro nossa compreenso da relao entre natureza e criao
e, dessa forma, podero nos ajudar a tornar as iniciativas educacionais mais afinadas.
Mudana climtica e fontes alternativas de energia
A mudana climtica um dos desafios definidores deste sculo, tanto em termosdas respostas exigidas para abord-la quanto dos meios necessrios para enfrentar
seus impactos adversos. Os esforos de mitigao exigem um engajamento conjunto
para conter emisses e impedir maiores consequncias drsticas sobre o planeta; a
adaptao envolve reduzir vulnerabilidades e desenvolver resilincia a seus impactos. A
educao exerce um papel primordial na conscientizao e na promoo de mudanas
comportamentais tanto para a mitigao quanto a adaptao mudana climtica. 43
A educao um fator essencial para promover e facilitar a transio coletiva para o uso de
fontes alternativas renovveis que no tenham como base o carbono, o que pode atenuar
o impacto adverso da mudana climtica. A fim de passar de fontes energticas baseadasem carbono para fontes no dependentes de carbono, precisamos mudar crenas e
percepes, alm de fomentar uma mudana de mentalidades que facilite a transio. De
maneira isolada, a infraestrutura energtica sozinha no resultar nas mudanas apropriadas.
Ao mesmo tempo, a educao representa um componente essencial de nossa capacidade
adaptativa, uma vez que os conhecimentos, as habilidades e os comportamentos
necessrios para adaptar vidas e meios de subsistncia s realidades ecolgicas, sociais e
econmicas de um ambiente em transformao devem ser transmitidos atual e s futuras
geraes. A Declarao Ministerial de Lima sobre Educao e Conscientizao, de 2014,
encoraja governos a desenvolver estratgias de educao que incorporem a questo da
mudana climtica nos currculos e a incluir a sensibilizao sobre a mudana climtica na
concepo e na implementao de estratgias e polticas nacionais de desenvolvimento e
mudana climtica, alinhadas com suas prioridades e suas competncias nacionais.
Criatividade, inovao cultural e juventude
Novas formas de expresso cultural e artstica emergiram nos ltimos anos, em resultado
da aculturao impelida pela expanso da conectividade e do intercmbio cultural em mbito
mundial. O processo , em grande parte, impulsionado por jovens. Vemos uma nova estticapblica ser expressa, rica em sua inerente pluralidade, e encontramos uma nova disposio
de inovar as formas em cada um dos campos nos quais os jovens esto presentes, da moda
comida, msica e s relaes pessoais. Hoje, existe mais de 1 bilho de jovens com
idades entre 15 e 24 anos no mundo e nunca houve uma gerao mais informada, ativa,
conectada e mvel.44Estima-se que, atualmente, mais de 90% dos jovens entre 18 e 24 anos
43 LUTZ, W.; MUTTARAK, R.; STRIESSNIG, E. Universal education is key to enhanced climate adaptation.Science. v. 346, n. 6213 28 Nov. 2014. IIASA. Education is key to climate adaptation. 27 nov. 2014.Disponvel: . Acesso em: fev. 2015.
44 Youth-support by Chernor Bah, Chair, Youth Advocacy Group for Global Education First Initiative (GEFI); Paneldiscussions: Enabling conditions for the delivery of quality global citizenship education: Where are we? Where dowe want to go? Global Citizenship Education: Enabling Conditions & Perspectives, 16 May 2014, UNESCO, Paris.
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no mundo fazem parte de alguma forma de rede social, como Facebook e Twitter. Passam
um tempo considervel em redes sociais explorando e compartilhando os resultados dessa
explorao. Isso gera um ambiente de maior conscientizao e compreenso em relao a
outras culturas e um engajamento em questes estticas de alcance mundial, o que leva
a um reconhecimento da importncia de outros sistemas de conhecimento. A diversidade
cultural tornou-se cada vez mais relevante como uma fonte de inveno e de inovao; naatualidade, ela um valioso recurso para o desenvolvimento humano sustentvel.45
Explorar abordagens alternativas
Reconhecer a diversidade de vises de mundo em um mundo plural
Ao nos confrontarmos com a complexidade dos atuais padres de desenvolvimento,
essencial explorar outras abordagens ao progresso e
bem-estar humanos. importante valorizar a diversidadedas sociedades, tanto nos pases do Norte quanto do Sul
globais. A diversidade cultural a maior fonte de criatividade
e riqueza da humanidade. Envolve maneiras diversas
de ver o mundo. Oferece diferentes abordagens para
resolver problemas que afetam a todos ns e para valorizar
aspectos fundamentais da vida: o ecossistema natural, a
comunidade, o indivduo, a religio e a espiritualidade.
preciso salientar a diversidade das realidades vividas
e, ao mesmo tempo, reafirmar um ncleo comum devalores universais. Como a diversidade dificulta o alcance de qualquer definio e
abordagem internacionais, perspectivas que vo alm dos indicadores tradicionais de
sade, educao e renda so muito benvindas. Infelizmente, as dimenses subjetiva
e contextual inerentes a essas concepes diversas de bem-estar humano continuam
a fazer com que muitas abordagens atuais de polticas sejam parciais e inadequadas.46
45 UNESCO. UNESCO World Report Investing in Cultural Diversity and Intercultural Dialogue. Paris, 2009.Disponvel em: . Acesso em: fev. 2015.
46 Embora no exista nenhum entendimento comum sobre o que a noo de bem-estar envolve nombito internacional, atualmente est bem estabelecido que o recurso aos indicadores socioeconmicostradicionais est longe de ser suficiente. Recentemente, o Programa das Naes Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) foi alm do ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), que integra indicadoresrelativos a renda, sade e situao educacional. A preocupao com o aumento da desigualdade e comquestes de gnero foram mais elaboradas em termos do ndice de Desenvolvimento Humano ajustadopara a Desigualdade (IHDI), o ndice de Desenvolvimento de Gnero (GDI) e o ndice de Desigualdadede Gnero (GII). Tentativas para ir alm dos indicadores inspirados por uma concepo muito estreita doprogresso humano incluem uma srie de iniciativas que exploram medidas de incluso e sustentabilidadeno contexto global. Um exemplo o ndice de Riqueza Inclusiva proposto pela Universidade das NaesUnidas. Outros so: Better Life Initiative(OECD); EDP: Environmentally Adjusted Net Domestic Product(UN SEEA93); EPI: Environmental Performance Index(Yale University); ESI: Environmental SustainabilityIndex(Yale University); GPI: Genuine Progress Indicators(Redefining Progress); Green Growth Indicators
(OECD); Genuine Savings(Pearce, Atkinson & Hamilton); HCI: Human Capital Index(World EconomicForum); ISEW: Index of Sustainable Economic Welfare(Cobb & Daly); NNW: Net National Welfare(governodo Japo); SDI: Sustainable Development Indicators(Unio Europeia, governo do Reino Unido).
preciso salientara diversidade dasrealidades vividas e, aomesmo tempo, reafirmarum ncleo comum devalores universais.
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Quadro 2.A encruzilhada de diferentes sistemas de conhecimento
A cultura europeia chegou a ns no somente com seu conhecimento, mas com sua velocidade. Embora
a tenhamos assimilado apenas de forma imperfeita e as consequentes aberraes sejam numerosas, ela
sacudiu nossa vida intelectual de sua inrcia de hbitos formais, acordando uma conscincia brilhante,
pela prpria contradio que oferece a nossas tradies mentais. Minha objeo disposio artificial
por meio da qual essa educao estrangeira tende a ocupar todo o espao de nosso esprito nacional,
matando ou tolhendo, dessa forma, as grandes oportunidades de criar um novo poder de pensamento, por
meio de uma nova combinao de verdades. isso que me faz insistir que todos os elementos em nossa
prpria cultura devem ser fortalecidos, no para resistir cultura ocidental, mas para aceit-la e assimil-la
verdadeiramente, e us-la como nosso alimento e no como nossa carga, para domin-la, no para viver nem
sua periferia como os retalhadores de textos e os devoradores da aprendizagem livresca.
Fonte: Tagore, R. 1996. The Centre of Indian Culture. Sisir Kumar Das (ed.), The English Writings of RabindranathTagore, Vol. 2, Plays, Stories, Essays. New Delhi, Sahitya Akademi, p. 486.
Integrar sistemas alternativos de conhecimento
preciso explorar alternativas ao modelo dominante de conhecimento. Sistemas
alternativos de conhecimento devem ser reconhecidos e devidamente levados em conta,
no relegados a uma situao inferior. Todas as sociedades
podem aprender muito umas com as outras, abrindo-se mais
descoberta e compreenso de outras vises de mundo.
H muito a aprender, por exemplo, de sociedades ruraisem todo o mundo, particularmente as indgenas, sobre a
relao entre a sociedade humana e o meio ambiente. Em
muitas culturas indgenas, a Terra considerada a me. Nem
ela nem qualquer um de seus produtos podem sofrer dano
sem uma razo vlida, na maioria das vezes, essas razes
esto relacionadas sobrevivncia. Em muitas culturas,
o ser humano considerado um membro da natureza,
portador de direitos iguais, e no superior aos outros seres vivos. Muitas sociedades
rurais possuem, ainda, concepes temporais circulares, e no lineares; vivem noritmo da produo agrcola, com a progresso das estaes e com festividades e
rituais que potencializam o bem-estar espiritual das comunidades. Da mesma maneira,
existem diferentes abordagens ao processo de tomada coletiva de decises. Algumas
sociedades recorrem democracia e ao voto para tomar decises coletivas, mesmo em
grupos pequenos; outras buscam o consenso, o que significa argumentao, discusso
e persuaso. Existe uma srie infindvel de diferentes vises de mundo disponveis
para enriquecimento de todos, caso estejamos dispostos a abandonar nossas certezas
e abrir nossas mentes para as possibilidades de diferentes explanaes da realidade.
essencial lembrar como fizeram pensadores como Frantz Fanon, Aim Csaire,Rabindranath Tagore e outros que, quando privilegiamos uma forma de conhecimento, na
Sistemas alternativos de
conhecimento devemser reconhecidos e
devidamente levadosem conta, no relegadosa uma situao inferior.
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1. Desenvolvimento sustentvel: uma preocupao central 35
verdade privilegiamos um sistema de poder. O futuro da educao e do desenvolvimento
no mundo atual requer a promoo de um dilogo entre diferentes vises de mundo,
com vistas a integrar sistemas de conhecimento originrios de realidades diversas e a
estabelecer nosso patrimnio comum. As vozes dos pases do Sul precisam ser ouvidas
em debates internacionais sobre educao. Por exemplo, em comunidades andinas na
Amrica Latina, a noo de desenvolvimento expressa por meio da noo de sumak
kawsay, a palavra quchua para bem viver. Com razes em culturas e vises de mundo
indgenas, sumak kawsay prope uma concepo alternativa do desenvolvimento e
foi incorporado nas constituies do Equador e da Bolvia. O conceito de curatela
de Mahatma Gandhi, segundo o qual recebemos o mundo e suas riquezas no como
proprietrios mas como curadores ou depositrios de todas as criaturas vivas e
das futuras geraes, tambm merece ser considerado.47
Quadro 3.Sumak kawsay: uma viso alternativa de desenvolvimento
O conceito de sumak kawsaytem razes na viso de mundo do povo andino quchua no Equador. Traduzido
como bem viver, o conceito de sumak kawsay indica um desenvolvimento coletivo harmonioso que
concebe o indivduo inserido no contexto das comunidades social e cultural e de seu meio ambiente.
Com razes no sistema de crenas autctones dos quchuas, o conceito incorpora crticas ocidentais de
modelos dominantes de desenvolvimento e oferece um paradigma alternativo baseado na harmonia entre
os seres humanos, bem como entre estes e seu meio ambiente natural.
O conceito inspirou a recente reviso da Constituio do Equador, que se refere a uma nova forma de
coexistncia cidad, na diversidade e em harmonia com a natureza, a fim de atingir o bem viver, osumak
kawsay.A Constituio se baseia no reconhecimento do direito da populao de viver em um ambiente
saudvel e ecologicamente equilibrado, que garanta a sustentabilidade e o bem viver (sumak kawsay).
A Constituio especifica, ainda, que o Estado responsvel por: Promover a gerao e a produo
de conhecimentos, fomentar a pesquisa cientfica e tecnolgica e valorizar os saberes ancestrais,
contribuindo, assim, para a realizao do bem viver (sumak kawsay).48
Uma nova viso da educao em um mundo plural
Devemos, portanto, reexaminar o propsito da educao luz de uma viso renovada
de desenvolvimento humano e social sustentvel, que seja tanto equitativo quanto
vivel. Essa viso de sustentabilidade deve levar em considerao as dimenses social,
ambiental e econmica do desenvolvimento humano, assim como as vrias maneiras
como essas dimenses se relacionam educao:Uma educao que empodera
47 GANDHI, M. K. Trusteeship. Ahemadabad, India: Jitendra T. Desai Navajivan Mudranalaya, 1960.48 Ver artigos 14 e 387 da Constituio do Equador: Art. 14 Se reconoce el derecho de la poblacin a vivir
en un ambiente sano y ecolgicamente equilibrado, que garantice la sostenibilidad y el buen vivir, sumak
kawsay; Art. 387 Ser responsabilidad del Estado: [] 2. Promover la generacin y produccin deconocimiento, fomentar la investigacin cientfica y tecnolgica, y potenciar los saberes ancestrales, para
as contribuir a la realizacion del buen vivir, al sumak kawsay.
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aquela que constri os recursos humanos de que precisamos para sermos produtivos,
para continuar a aprender, para solucionar problemas, para sermos criativos e tambm
para vivermos juntos e com a natureza em paz e harmonia.Quando as naes asseguram
que uma educao desse tipo est acessvel a todos ao longo de suas vidas, pem em
marcha uma revoluo silenciosa: a educao se converte no motor do desenvolvimento
sustentvel e na chave para um mundo melhor.49A educao pode e deve contribuirpara uma nova viso de desenvolvimento sustentvel no planeta.
Quadro 4.Promoo do desenvolvimento sustentvel por meio da educao
O ensino, inclusive o ensino formal, a conscincia pblica e a formao devem ser reconhecidos
como processos pelos quais os seres humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas
potencialidades. O ensino tem fundamental importncia na promoo do desenvolvimento sustentvel e
para aumentar a capacidade da populao em abordar questes de meio ambiente e desenvolvimento.NAES UNIDAS.Agenda 21. 1992. Artigo 36, Pargrafo 3.
A Declarao de Aichi-Nagoya de 2014 sobre Educao para o Desenvolvimento Sustentvel convida os
governos a reforar a integrao da educao para o desenvolvimento sustentvel (EDS) nas polticas de
educao, formao e desenvolvimento sustentvel.
Todas as formas de aprendizagem estruturada podem ser
instrumentos tanto de adaptao quanto de transformao.
A educao bsica de boa qualidade, seguida de mais
aprendizagem e formao, essencial para permitir
que indivduos e comunidades se adaptem a mudanas
ambientais, sociais e econmicas nos mbitos local e
global. Mas a aprendizagem tambm crucial para o
empoderamento e o desenvolvimento de capacidades para
efetuar transformaes sociais. De fato, a educao pode
contribuir para a tarefa mais desafiadora: a de transformar
nossa mentalidade e nossa viso de mundo. A educao
essencial para desenvolver as capacidades necessriaspara expandir as oportunidades de as pessoas viverem
de maneira significativa e com respeito igualdade e
dignidade. Uma viso renovada da educao deve promover
o desenvolvimento de pensamento crtico, julgamento independente e debate.
Melhorar a qualidade da educao e a oferta de uma aprendizagem econmica e
socialmente relevante, conforme determinado por indivduos e comunidades, so
aspectos intrnsecos para a realizao dessas mudanas.
49 POWER, C. The power of education: education for all, development, globalisation and UNESCO. London:Springer, 2015.
Concepes utilitrias
dominantes deeducao devem admitir
a expresso de outrasformas de compreendero bem-estar humano e,assim, admitir tambm
um foco na relevncia
da educao comobem comum.
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O direito educao de qualidade o direito aprendizagem significativa e relevante.
Entretanto, em um mundo diverso, as necessidades de aprendizagem variam entre
as comunidades; assim, a aprendizagem relevante deve refletir o que cada cultura e
cada grupo humano definem como necessrio para viver com dignidade. Devemos
aceitar que existem muitos modos diferentes de definir qualidade de vida e, portanto,
maneiras muito diversas de definir o que precisa ser aprendido. Concepes utilitriasdominantes de educao devem admitir a expresso de outras formas de compreender
o bem-estar humano e, assim, admitir tambm um foco na relevncia da educao
como bem comum. Isso implica ouvir as vozes silenciosas daqueles que ainda no
foram ouvidos. A imensa riqueza representada por essa diversidade pode iluminar a
todos em nossa busca coletiva pelo bem-estar. Uma perspectiva humanista uma
base necessria para outras abordagens educao e ao bem-estar humano.
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2. Reafirmao de
uma abordagemhumanista
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2. Reafirmao de uma
abordagem humanista
Minha humanidade est ligada sua,pois s podemos ser humanos juntosDesmond Tutu, bispo e ativista de direitos sociais sul-africano.Apoiar e potencializar a dignidade, a capacidade e o bem-estar do ser humano, em
relao aos outros e natureza, deveria ser o propsito fundamental da educao nosculo XXI. Essa aspirao pode ser designada humanismo, que deveria ser a misso
a ser desenvolvida pela UNESCO, tanto na teoria quanto na prtica. O conceito de
humanismo tem uma longa tradio na UNESCO. J em 1953, foram publicados os
anais de uma mesa redonda internacional sobre Humanismo e Educao no Oriente
e no Ocidente convocada pela UNESCO em Nova Dli.50
O conceito de humanismo tambm tem uma longa tradio em diversas culturas
e tradies religiosas, assim como numerosas e divergentes interpretaes
filosficas. Por exemplo, uma importante interpretao de humanismo identifica-o
com o atesmo e o racionalismo secular. Isso foi estendido a outras filosofias, como
a fenomenologia ou o existencialismo, que veem uma diferena ontolgica entre a
humanidade e o restante do mundo natural. Entretanto, tambm existem poderosas
interpretaes religiosas de humanismo que veem as realizaes da humanidade
educacionais, culturais e cientficas como exemplos maduros de sua relao
com a natureza, o universo e um criador. No final do sculo XX e incio do sculo
XXI, o humanismo, tanto antropocntrico quanto teocntrico, recebeu crticas de
ps-modernistas, algumas feministas, ecologistas e, mais recentemente, daqueles
50 UNESCO. Unity and Diversity of Cultures. Humanism and education in East and West: an internationalround-table discussion. Paris, 1953.
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2. Reafirmao de uma abordagem humanista 41
que se veem como transumanistas ou mesmo ps-humanistas, com seus apelos
por seleo biolgica e por radicalizao.
Cada uma dessas interpretaes suscita questes morais e ticas fundamentais, que
so claramente temas de interesse educacional.
Uma abordagem humanista educao
A viso humanista reafirma um conjunto de princpios ticos universais que devem ser as
bases de uma abordagem integrada ao propsito e organizao da educao para todos. Tal
abordagem tem implicaes para a concepo de processos de aprendizagem que promovem
a aquisio de conhecimentos relevantes e o desenvolvimento de competncias a servio
de nossa humanidade comum. A abordagem humanista leva o dilogo sobre educao alm
de seu papel utilitrio no desenvolvimento econmico. Existe uma preocupao central com
a incluso e uma educao que no exclua nem marginalize. Serve, ainda, como um guiapara lidar com a transformao do panorama global da aprendizagem, em que o papel de
professores e outros educadores continua igualmente central para facilitar a aprendizagem
com vistas ao desenvolvimento sustentvel de todos.
Contraposio ao discurso dominante sobre desenvolvimento
medida que abordamos a questo maior dos fins e dos objetivos da educao e
do tipo de sociedade a que aspiramos, precisamos considerar dimenses culturais,
sociais, econmicas, ticas e cvicas. As funes econmicas da educao so
indubitavelmente importantes, mas precisamos ir alm da viso estritamente
utilitria e da abordagem de capital humano que caracteriza grande parte do discurso
internacional sobre o desenvolvimento.51 A educao no se limita aquisio de
habilidades, envolve tambm valores de respeito pela vida e pela dignidade humanas,
indispensveis para a harmonia social em um mundo diverso. Compreender que as
questes ticas so fundamentais para o processo de desenvolvimento pode servir
de contraponto ao atual discurso dominante. Essa compreenso potencializa o papel
da educao no desenvolvimento das capacidades necessrias para que as pessoas
tenham vidas mais significativas e dignas, alinhadas com a viso alternativa de
desenvolvimento proposta por Amartya Sen.52
Uma abordagem integrada fundada em bases ticas e morais slidas
Portanto, necessrio reafirmar uma abordagem humanista aprendizagem ao longo da
vida, com vistas ao desenvolvimento social, econmico e cultural. Naturalmente, pode
51 As duas pginas dedicadas educao no relatrio de 2013 do Painel de Alto Nvel sobre odesenvolvimento ps-2015, por exemplo, so redigidas na linguagem da abordagem de capital humano,referindo-se a retornos do investimento em educao e sua contribuio para a formao de cidados
produtivos.52 SEN, A. Development as freedom. New York: Random House, 1999; SEN, A. Commodities and
capabilities. New Delhi: Oxford University Press, 1999.
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Repensar a educaoRumo a um bem comum mundial?42
haver uma mudana do foco em determinadas dimenses, em diferentes contextos de
aprendizagem e em diferentes estgios da vida. Porm, ao reafirmar a relevncia da
aprendizagem ao longo da vida como o princpio organizador da educao, crucial integrar
as dimenses social, econmica e cultural.53Uma abordagem humanista educao vai
alm da noo de humanismo cientfico, proposta como princpio orientador da UNESCO
pelo seu primeiro diretor-geral, Julian Huxley, e retomadapelo Relatrio Faure em 1972.54Conforme j mencionado, o
conceito de humanismodeu origem a vrias interpretaes,
muitas vezes contraditrias, cada uma delas suscitando
questes morais e ticas fundamentais que so claramente
assuntos de interesse educacional. Pode-se argumentar que
preservar e promover a dignidade, as capacidades e o
bem-estar do ser humano, em relao aos outros e
natureza, deveriam ser o propsito fundamental da educao
no sculo XXI.55 Os valores humanistas que devem ser oalicerce e o propsito da educao incluem: respeito pelavida e dignidade humanas, igualdade de direitos e justia
social, diversidade social e cultural e um sentimento desolidariedade humana e responsabilidade compartilhada por
nosso futuro comum. necessria, ainda, uma abordagem
dialgica aprendizagem, conforme proposto, por exemplo, por Martin Buber56e Paulo
Freire.57Tambm precisamos rejeitar sistemas de aprendizagem que alienam os indivduos
e os tratam como mercadorias, assim como prticas sociais que dividem e desumanizam
as pessoas. Se quisermos alcanar a sustentabilidade e a paz, crucial educar dentro detais valores e princpios.
Ao expandir assim seu escopo, a educao pode ser transformadora e contribuir para
um futuro sustentvel para todos. Com base nesse alicerce tico, o pensamento crtico,
o julgamento independente, a resoluo de problemas e o domnio de habilidades de
informao e mdia so indispensveis para d