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Curso:
História e Cultura Afro-Brasileira
Módulo 1
Maria José Caldas
GPEC – Educação a Distância www.gpeconline.com.br
Historia e Cultura Afro-Brasileira
Módulo 1
Uma história que precisa ser valorizada
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Uma história que precisa ser valorizada A Lei federal 10.693/03 abriu caminhos para implantação de uma educação anti-racista. O
desafio agora é mobilizar educadores para fazer valer a medida.
Existem leis que já nascem mortas no Brasil, outras, demoram a emplacar. A legislação
que torna obrigatório o ensino sobre a história e a cultura afro-brasileiras em todas as
escolas parece que sofre dessa contradição. A lei 10.639/03, sancionada pelo presidente
Lula há mais de quatro anos, pretendia ser um importante instrumento na luta contra o
racismo. No entanto, colocá-la em prática é ainda um grande desafio. Essa lei foi criada
para atender a uma antiga reivindicação dos movimentos negros e anti-racistas. Esses
grupos sempre lutaram contra a ocultação da história africana nos currículos escolares do
ensino fundamental e médio, público e particular. A medida reconhece que não há como
falar da formação da sociedade brasileira sem destacar o continente africano como matriz
da identidade nacional. Se fosse efetivamente aplicada, a lei em questão também poderia
contribuir para a luta contra o desrespeito às religiões afro-brasileiras. Historicamente, elas
nunca foram compreendidas como manifestações legítimas da comunidade negra. Isso
acaba se refletindo no ambiente escolar. Muitas vezes, o aluno é praticante desses rituais
religiosos, mas não se identifica como tal para não ser chamado de macumbeiro pelos
colegas.
No entanto, a resistência das escolas em adotar a história dos africanos e afro-brasileiros
em seus projetos pedagógicos é uma das maiores dificuldades que a lei enfrenta. A
exigência não agrada a alguns dirigentes de ensino, que consideram a medida autoritária.
Além disso, existe um problema em como integrar esse conteúdo ao da grade curricular. A
legislação indica que ele deve ser ministrado especialmente nas áreas de Educação
Artística e de Literatura e História Brasileira.
Um erro evidente da lei é que a obrigatoriedade sobre o ensino da história e cultura afro-
brasileiras não foi estendida aos cursos de graduação, especialmente os de licenciatura.
Dessa forma, os professores chegam às salas de aula sem a formação específica para
trabalhar com a temática africana. Isso inviabiliza a efetivação da medida, afinal, como
esses educadores poderão ensinar algo do qual desconhecem?
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Mas, antes de aplicar a lei, é preciso transformar os espaços em que o racismo é
disseminado, como na sala de aula. O educador não pode permitir atitudes
preconceituosas, por isso, precisa construir práticas pedagógicas que promovam a
igualdade racial entre os educandos. O professor também deve combater expressões que
legitimam a discriminação no ambiente escolar como ‘lista negra’, ‘a situação está ficando
preta’, ‘amanhã é dia de branco’, entre outros absurdos.
Com relação aos livros didáticos, o educador também precisa ter cuidado. A literatura
brasileira já produziu obras com um forte apelo racista e discriminatório, como algumas do
escritor Monteiro Lobato. É verdade que foram escritas há mais de meio século e refletiam
a mentalidade da época, mas precisam ser trabalhadas hoje de forma crítica e não apenas
reproduzidas para os educando.
Os quilombos e a trajetória do líder negro Zumbi dos Palmares são sagas que merecem
ser mais exploradas na sala de aula. Porém, parece que para os currículos escolares só
existiram herois brancos na história do Brasil. O continente africano também é relegado
nos atlas e livros de geografia geral. Geralmente, esse tema sempre é colocado no final
das publicações e com um espaço bem restrito.
Diante da complexidade na aplicação da lei 10.639/03, a Seppir (Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial), juntamente com os movimentos da
comunidade negra, poderia cobrar mais empenho das secretarias estaduais e municipais
de educação, para que a medida se torne realidade. Sem dúvida, para que exista de fato
uma educação anti-racista é preciso ensinar sobre a história da África e de sua influência
para o povo brasileiro. Se não, a escola continuará reproduzindo o preconceito incrustado
na sociedade.