SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, campus de Jacarezinho
ARTIGO /PDE AUTORA: Profª Rosicley Soares Silva ORIENTADORA: Profª Janete Leiko Tanno NRE: Cornélio Procópio ESCOLA: Colégio Estadual Juvenal Mesquita – Ensino Fundamental e Médio DISCIPLINA: História TÍTULO: A ASCENSÃO DA MULHER NEGRA NO MERCADO DE TRABALHO NO SÉCULO XX.
BANDEIRANTES – PR 2012
A ASCENSÃO DA MULHER NEGRA NO MERCADO DE TRABALHO NO
SÉCULO XX
Rosicley Soares Silva1
Janete Leiko Tanno2
Este artigo aborda a questão da ascensão da mulher negra no mercado de trabalho brasileiro ao longo do século XX e presta uma contribuição acadêmica no cumprimento da Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003, que tornou obrigatório o ensino dos conteúdos de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no Ensino Fundamental e Médio das escolas oficiais e particulares. Considerando que o público discente do Colégio Estadual Juvenal Mesquita é constituído na maioria, de afrodescendentes, a apresentação do tema em sala de aula, despertou o interesse pela História e principalmente, em conhecer a condição da mulher negra no mercado de trabalho, analisando inclusive, a própria história de vida de familiares dos alunos, como avós e mães. Este estudo averiguou até que ponto, a inserção da mulher negra no mercado de trabalho corresponde à ascensão social da mesma. Não obstante, o Brasil ter uma participação considerável de mulheres no mercado de trabalho e no poder constituído, quando se trata da mulher negra, faz-se notar a discriminação racial, sexual e social. Assim, tecendo o conhecimento na linha do tempo, este artigo resulta de uma pesquisa do tipo bibliográfica, de natureza descritiva que
1 Professora da Rede Estadual de Educação, Núcleo Regional de Educação de Cornélio Procópio. E-mail: [email protected] 2 Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, campus de Jacarezinho. E-mail: [email protected]
foi também, objeto de unidade didática discutida em sala de aula presencial e virtual e que cumpriu eficazmente, como requisito de conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, promovido pelo governo do Estado do Paraná e gerenciado pela Secretaria de Estado da Educação – SEED.
Palavras-chave: Mulher negra. Mercado de trabalho. Ascensão social e poder.
1. Introdução
Este artigo aborda um tema pouco discutido no currículo escolar do
Estado do Paraná, que é a ascensão social da mulher negra a partir de sua
inserção no mercado de trabalho. Em geral, os conteúdos apresentam de
forma generalizada a escravidão no Brasil, passando a falsa imagem de um
“país multirracial e democrático” , após a abolição da escravidão em 1888.
Neste sentido, o Brasil assim como outros países latino-americanos,
conheceu um longo período de escravidão de pessoas nativas da África e seus
descendentes, vítimas do tráfico praticado por interesses dos colonizadores
portugueses e desde então, tem-se observado no país a desigualdade e
preconceito racial sob a tutela da “democracia racial” ou do “racismo cordial”.
Ultimamente, muitas mulheres negras no Brasil vêm conquistando
melhores cargos no mercado de trabalho, mas para isso despendem um
esforço muito maior que os membros de outros setores da sociedade, algumas
até pagam preço muito alto pela conquista, muitas vezes tendo que renunciar
ao lazer, a realização do namoro, casamento e maternidade. Além de
comprovar a competência profissional, tem que lidar com o preconceito e a
discriminação racial que lhes impõem maiores sacrifícios para a conquista do
ideal pretendido.
Este artigo é parte de um trabalho mais amplo que foi realizado no
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, ao longo do segundo
semestre de 2011, constando de uma unidade didática com uma coletânea de
textos abordando a questão, que foi utilizado na implementação do estudo em
sala de aula presencial com os alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio
Estadual Juvenal Mesquita de Bandeirantes, e em sistema de Educação a
Distância – EAD, com docentes da Disciplina de História de todas as regiões
do Estado do Paraná.
O sistema EAD foi motivador e muito interessante sob o ponto de
vista de interagir com os docentes, compartilhar informações e debater os
temas com ampla liberdade, sem receios de expor opinião própria, dar e
receber feedbacks. A experiência foi muito válida, sobretudo pela socialização
das informações e certamente, pela transformação destas em conhecimento.
2. A mulher negra e a sua inserção no mercado de trabalho
Paul Singer (1998, p. 32) afirma que “à medida que a mulher negra
ascende, aumentam as dificuldades especialmente devido à concorrência em
serviços domésticos que não representam prestígio”. Trabalham geralmente
em ocupações menos qualificadas e recebem os mais baixos salários.
A mulher negra tem que dispor de uma grande energia para superar as
dificuldades que se impõem na busca de sua cidadania. Poucas mulheres
negras conseguem ascender socialmente3 e estas, conquistaram status social
devido a oportunidade de acesso à educação. Contudo, cabe ressaltar a
experiência de mulheres negras na luta pela superação do preconceito e
discriminação no ingresso ao mercado de trabalho. Algumas mulheres atribuem
a conquista do emprego e do sucesso profissional a um espírito de luta e de
coragem, fruto de muito esforço pessoal e outras ainda, ao apoio de entidades
do Movimento Negro.
No Brasil ainda há grande dificuldade da sociedade brasileira em
assumir a questão racial como um problema que precisa ser enfrentado e
enquanto esse enfrentamento não acontecer, as desigualdades sociais
baseadas na discriminação racial continuarão e com tendência ao acirramento,
sobretudo pela luta em prol da igualdade de oportunidade em todos os setores
de atividades da sociedade.
3 Mulheres negras de destaque no Brasil: Zezé Mota (atriz, cantora, militante do movimento negro); Lea Garcia (atriz, premiada internacionalmente); Thais Araújo (atriz e jornalista); Glória Maria (jornalista da TV Globo, uma das mais respeitadas do meio do telejornalismo). In: Revista Raça, 2010,
Assim, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008) para o
ensino de História preconiza como finalidade “a busca da superação das
carências humanas, fundamentada por meio de um conhecimento constituído
por interpretações históricas”. É preciso interpretar essas teorias e diagnosticar
“as necessidades dos sujeitos históricos” e propor ações que levem os sujeitos
à construção do conhecimento, baseados na formação de um pensamento
histórico.
Revisitando a história constata-se que uma das consequências das I e
II Guerras Mundiais foi a expulsão da mulher da posição de “rainha do lar” para
assumir o posto até então, ocupado por homens no mercado de trabalho.
A evolução da mulher no mercado de trabalho deu-se com o fim das
guerras (1914-1918 e 1939-1945) quando por uma razão e outra, os homens
não podiam dar continuidade ao gerenciamento dos negócios da família e
coube então, à mulher ocupar esse espaço.
Nesse período, destaca-se importante avanço no Brasil obtido com a
Constituição Federal de 1932 que beneficiou as mulheres, conforme escreve
Carneiro (2003, p. 67):
[...] sem distinção de sexo, a todo trabalho igual corresponde salário igual; veda-se o trabalho feminino das 22 horas às 5 horas da manhã; é proibido o trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mulher grávida pelo simples fato da gravidez.
Relata Carneiro (2003, p. 72) que “o mercado de trabalho brasileiro e
em particular do Estado do Paraná, é por natureza histórica excludente,
evidenciando as desigualdades sociais e principalmente de acesso que as
mulheres negras enfrentam quando tentam ingressar no mercado formal”.
O racismo, portanto, sempre agregou inferioridade social aos
segmentos negros da população, em particular, às mulheres negras.
Avanço significativo foi registrado com a Constituição Federal de 1988,
que preconiza como “objetivo fundamental o de promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, sexo, raça, cor, idade e qualquer outra forma de
discriminação “. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DA REPÚBLICA, 1988).
De acordo com Sacristán (1999, p. 37) “o homem é capaz de
transformar a sociedade tendo como base a história de sua própria civilização,
seu desenvolvimento, contradições e identidade cultural”. Assim, cabe a
escola perceber o aluno como centro do processo educativo. Pensamentos
estereotipados devem dar lugar a outro caminho, permeado pela tolerância,
que possibilite o reconhecimento do outro na construção do conhecimento.
Contribuindo com o tema, assim se expressa Carneiro (2003, p. 64)
[...] a luta das mulheres negras contra a opressão de gênero e
de raça vem moldando novos contornos para a ação política
[...] enriquecendo tanto a discussão da questão racial como a
questão de gênero na sociedade brasileira.
Pesquisa divulgada pelo DIEESE/SEADE (2001-2002) revelam que as
mulheres negras estão cada vez mais tendo de assumir o provimento da
família e além disso, as empresas tendem a manter barreiras à contratação ou
à ascensão na carreira da mulher casada e com filhos e aquelas consideradas
“chefes de família” enfrentam mais intensamente o mercado provavelmente
pela necessidade de proverem sozinhas o sustento da família.
No mesmo raciocínio relata Julio (2002, p. 39) que “as mulheres sofrem
mais do que os homens com o estresse da carreira, pois as pressões do
trabalho fora de casa se duplicam” e as mulheres se dedicam tanto ao
trabalho quanto os homens e quando retornam para casa, dedicam-se com a
mesma intensidade aos serviços da casa. Comenta o pesquisador:
[..] recordo-me de uma palestra de Tom Peters em 2000. Perguntaram-lhe: se o senhor tivesse uma grande empresa e fosse se aposentar, o que faria? Sem titubear ele respondeu que contrataria para o mais alto cargo executivo uma mulher dinâmica e inteligente, recrutada em uma boa escola. Em seguida, selecionaria 100 jovens talentosos, já familiarizados com instrumentos e ambientes da era digital e os colocaria sob as ordens dessa líder. Segundo ele, essa seria a fórmula ideal para garantir a longevidade da empresa, com elevados padrões de qualidade e competitividade. Exageros à parte, concordo que a proposta de Peters aponta para modelos corretos de reivindicação das organizações. As mulheres, sem dúvida, têm se adaptado mais rapidamente a essa realidade competitiva dos novos tempos, complementa (JULIO, 2002, p. 135).
Pouco a pouco as mulheres vão ampliando seu espaço na economia
nacional; o fenômeno é lento, porém, gradativo. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE / Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicílios – PNAD (1999) a mulher no mercado de trabalho representa 41,4%
o que representa aproximadamente 33 milhões. Escreve Julio (2002, p. 132) “
que a história da mulher no mercado de trabalho está sendo escrita com base
em dois quesitos: a queda da taxa de fecundidade e o aumento no nível de
escolaridade da população feminina”.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Domicílios – PNAD
(2005) a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho no Brasil
apresenta uma síntese da dupla discriminação de sexo e de cor: mais pobres,
em situação de trabalho mais precárias, com menores rendimentos e as mais
altas taxas de desemprego. A pesquisa demonstrou que a proporção de
mulheres negras com idade igual ou superior a 10 anos de idade na População
Economicamente Ativa em comparação com mulheres não negras, é
substancialmente maior. Relata ainda, que a vivência das afrodescendentes
no mercado de trabalho tem sido sistematicamente frustrada por elevadas
taxas de desemprego.
Em relação às condições de trabalho, a pesquisa pontua também que,
mais de um terço da população das seis regiões pesquisadas (Belo Horizonte,
Distrito Federal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) encontram-se em
situação vulnerável de trabalho, isto é, são assalariados sem carteira assinada,
autônomos que trabalham para o público, trabalhadores familiares não-
remunerados, empregados domésticos. A pesquisa reiterou também, que entre
os trabalhadores negros é maior a proporção de ocupados em situação
vulnerável, variando de 43,2% em Salvador a 32,8% no Distrito Federal e entre
os não-negros, esses patamares ficam entre 35.6% em Recife e 23,9% no
Distrito Federal. No entanto, é significativamente maior a presença das
mulheres negras no mercado de trabalho menos protegidas, chegando
ultrapassar o percentual de 50% no mesmo período.
Quanto à remuneração, a pesquisa detectou que os ganhos por hora
dos trabalhadores tornam mais evidente a desigualdade por cor do que pelo
rendimento mensal, pois, sobre a remuneração mensal menor recebida pelos
negros, incide uma jornada de trabalho maior. Em todas as regiões analisadas,
persiste o rendimento da mulher menor que o do homem.
Revela Ramos e Torres (2000) que embora a mulher tenha conseguido
ingressar no mercado de trabalho, somente 10% destas, ocupam cargos de
chefia, mas esse quadro vai mudar, porque é uma tendência mundial para este
século.
Os estudos de Giselle Pinto (2006, p. 48), revelam que “é crescente a
taxa de participação da mulher negra no mercado de trabalho, mas estas ainda
sofrem uma série de desigualdades como, por exemplo, quando analisadas as
taxas de rendimento por cor e sexo, estas ficam abaixo de todos os outros
grupos dos homens negros”. Portanto, percebemos que a inserção da mulher
negra no mercado de trabalho nem sempre é sinônimo de ascenção social da
mesma e que muito anda deve ser feito nesse sentido.
Com essas e outras inquietações esta pesquisa se propôs a conduzir os
estudos tendo a comunidade escolar como participantes para ajudar a
desenhar os contornos da participação da mulher negra no mercado de
trabalho na esfera municipal, contribuindo dessa forma, para a discussão da
questão da igualdade social, de gênero e também racial em nossa sociedade.
3. Implementação do projeto na escola: ações e resultados
A pesquisa é de natureza descritiva baseada em bibliografia
pertinente. Na implementação do projeto na escola, o material didático que dá
suporte a este artigo foi apresentado em sala de aula durante o segundo
semestre do ano de 2011, para alunos da 3ª série do Ensino Médio, do Colégio
Estadual Juvenal Mesquita, localizado na Vila Macedo, na cidade de
Bandeirantes, Pr.
O assunto abordado – A ascensão da mulher negra no mercado de
trabalho no século XX , utilizou-se de recursos didáticos como: textos sobre a
questão racial e a discriminação; filmes e entrevistas realizadas no sistema
presencial e virtual com um grupo de oito professores, na modalidade Grupo de
Trabalho em Rede – GTR, feito no sistema Educação a Distância, on line.
Os textos trabalhados em sala de aula foram: 1) Mulheres negras
têm salários menores e menor acesso ao mercado de trabalho de autoria de
Mariane Jungmann, da Agência Brasil. Brasília: 15/08/2004. Esse texto gerou
ampla discussão em sala de aula e foi muito significativo para ajudar a
compreender essa questão salarial vivenciada por muitas das pessoas do
relacionamento dos alunos; 2) Uma das dez mulheres negras de sucesso no
Brasil. Publicado pelo site www.museudatv.com.br, que destaca a jornalista da
TV Globo, Glória Maria. O documento relata a vida da jornalista e o seu
exemplo de superação, cuja história serviu de estímulo aos alunos; 3) Mulher
negra enfrenta tripla discriminação no trabalho. Escrito por Rodrigo Zavala
(www.2uol.com.br) o documento é um convite à reflexão sobre a discriminação
racial e sexual da qual é vítima a mulher negra nesse país; 4) A mulher negra
no Brasil Contemporâneo. Este texto produzido por R.C. Quaresma, publicado
no site www.recantodasletras.com.br representou também, uma excelente
contribuição para o estudo investigativo da questão da ascensão da mulher
negra no mercado de trabalho e os mecanismos de superação dos obstáculos
de caráter social encontrados no percurso; 5) Diversidade racial nas empresas.
Texto de autoria do Jornal Gazeta Mercantil e publicado no site
www.gazetamercantil.com.br. A produção relata a movimentação social nas
empresas, privilegiando a diversidade racial, porém, é notório que a mulher
negra ainda é recrutada e selecionada para serviços gerais, principalmente, os
relacionados com a limpeza e higienização.
Os textos foram objetos de leituras, debates, reflexões, produções de
textos e em muito contribuíram para uma melhor compreensão pelos alunos da
temática proposta, que até o momento, nunca tinha sido tratado com
objetividade e clareza em sala de aula.
Os alunos demonstraram-se interessados em explorar o assunto e
reivindicar direitos constitucionais que expressa que “todos são iguais perante
a lei”, portanto, tem direito à isonomia salarial. A discussão foi muito intensa e
contou até com a colaboração de familiares, que em casa, ampliaram a
discussão com os filhos.
Outro ponto de fundamental importância pedagógica foi a exibição do
filme: “Kiriku e a Feiticeira” no qual os alunos se inspiraram para compor uma
peça de dramatização que foi exibida no encerramento do projeto na escola.
Como atividade complementar da pesquisa bibliográfica, foi realizada a
entrevista com pessoas da comunidade (pais e mães de alunos) que consistiu
em um formulário com sete perguntas, cujos resultados estão contidos nas
figuras abaixo:
O perfil do entrevistado foi constituído dos seguintes itens: sexo, grau de instrução, estado civil, cor, idade e atividade ocupacional.
Fig. 1- Sexo
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012).
Os resultados tem predominância do sexo feminino, inclusive compatível com o censo 2010 do município de Bandeirantes, que computa as mulheres como maioria da população.
Fig. 2 – Grau de instrução
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A figura demonstra a realidade brasileira – o distanciamento entre os níveis de ensino fundamental, médio e superior.
Fig. 3 – Estado civil
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa demonstrou que ainda predomina o casamento nas relações de homens e mulheres.
Fig. 4 - Cor
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa constata também, a predominância da cor negra (parda) sobre a branca, o que confirma que o Brasil é uma terra de negros e seus descendentes.
Fig. 5 - Idade
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A faixa etária dos entrevistados variou de mínima de 20 anos e acima de 30 anos, o que caracteriza pessoas adultas, com experiências de vida que podem opinar e enriquecer o presente estudo.
Fig. 6 – Atividade ocupacional
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
De acordo com a revisão bibliográfica, a ocupação predominante da mulher negra é a de doméstica.
Fig. 7 – Faixa salarial
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A predominância é de 1 a 3 salários mínimos editados pelo governo federal, com valor do SM de R$ 622,00 (seiscentos e vinte e dois reais).
Fig. 8 – Discriminação racial
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa demonstra que embora exista uma crença de que no Brasil “
não se tem racismo”, observa-se que sob a cortina do multicolorido da
igualdade racial, o que de fato ocorre é uma falácia. O racismo é uma atitude
inaceitável e deve ser combatido dentro de casa, no seio da família porque ele
está incrustado no coração das pessoas, é como uma tatuagem e que aos
poucos precisa ser expurgada.
Fig. 9 – Mulher negra de destaque no Brasil e no mundo.
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
Interessante observar que 40% dos entrevistados desconhecem uma mulher negra de destaque no mundo e no Brasil, fato que demonstra a profunda falta de politização do povo brasileiro. Por conseguinte, aqueles que conhecem citam uma mulher negra americana – a primeira dama dos Estados Unidos ao lado da repórter brasileira (contratada da TV Globo) Glória Maria.
Fig. 10 – A mulher negra no mercado de trabalho
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa demonstra que o fator determinante da insersão da mulher negra no mercado de trabalho é a escolaridade. Somente a educação promove mudanças (FREIRE, 1999).
Fig. 11 – Ascensão da mulher negra no mercado de trabalho
90%
10%
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Sim Não
A educação é fator decisivo para a ascensão no mercado de trabalho?
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa pontua a realidade: a educação é fator decisivo para a insersão e ascensão da mulher (não só a negra) no mercado de trabalho. Educação promove mudanças na vida pessoal e na sociedade.
Fig. 12 – Cota racial na universidade.
85%
15%
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
Concordam Discordam
Você concorda com a cota racial nas universidades?
Fonte: entrevista realizada pela autora (2012)
A pesquisa demonstrou coerência com a receptividade do público brasileiro com a implantação das cotas raciais, hoje consideradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.4
Outra etapa importante na execução do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE foi a implementação pedagógica do estudo com um Grupo
de Trabalho em Rede (GTR) integrando oito professores de Bandeirantes e
de outros municípios, atuando no sistema de ensino à distância.
A ação constou da apresentação on line dos textos trabalhados em
sala de aula para os docentes, promovendo as intervenções complementares
sobre o tema e amplo debate desenvolvidos com a professora tutora e
interagindo também com pelo menos dois docentes do grupo, o que resultou
numa experiência pedagógica inovadora de “ensinar e aprender “ sem a
presença física de professor e aluno em sala de aula. Desse grupo, dois
docentes desistiram e seis concluíram a etapa com êxito.
4 O Ministro Levandoski do STF – apoiado nas intervenções do também Ministro Joaquim Barbosa, primeiro e único Ministro negro do Supremo Tribunal Federal, deu parecer favorável para as cotas nas universidades brasileiras. A informação é da repórter Bárbara Pombo (www.gov.br) em 26/04/2012.
Ao finalizar a implementação do projeto na escola, os alunos
selecionaram músicas, interpretadas por cantores negros : Mulheres - Martinho
da Vila; - Deixa a vida me Levar - Zeca Pagodinho; - Burguesinha - Seu Jorge;
Meu ébano – Alcione; Oceano – Djavan e Coração de Estudante – Milton
Nascimento. Com esse repertório foram encerradas as atividades em sala de
aula, com o evento denominado: Café Musical.
5- Considerações finais
O estudo sobre a ascensão da mulher negra no mercado de
trabalho no século XX no Brasil, mostrou-se produtivo e de especial
importância para a aprendizagem dos alunos sobre as transformações sociais
e as dificuldades enfrentadas pelas camadas menos favorecidas, sobretudo
pela discriminação racial e sexual.
A história de luta e coragem das mulheres negras nesse país tem
sido pouco considerada e passa até despercebida pelos historiadores, que se
preocupam mais em documentar a “história dos homens negros”.
No entanto, este estudo despertou os alunos para novos olhares
sobre a questão racial relacionada ao feminino, e de minha parte, como
docente de História há pouco menos de uma década, espero que este artigo
possa contribuir para a continuidade de novas pesquisas que tenham como
temas a história da mulher negra, pois ainda são poucos os autores que se
dedicam a essa questão.
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