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JORNAL DA
18MAI12
SOCIAIS: NOVA SEÇÃO MOSTRA FOTOS DE PERSONALIDADES NO INSTAGRAM pág. 19
Seca Para Todos Sem atenção adequada do governo, que falhou na prevenção, 238 dos 417 municípios baianos sofrem com a
pior seca dos últimos 47 anos. E mais: mesmo sem água, ainda há quem planeje o São João. Págs. 3 a 5
Salvador, 18 de maio de 20124
RetroescavadeirasDurante a Marcha, Dilma afirmou que as cidades com até 50 mil habitantes receberão uma retroescavadeira e uma motoniveladora. Mas as máquinas só chegarão em dezembro, após licitação. E após as eleições.
Marcha a BrasíliaEntre 15 e 17/5, prefeitos de mais de 100 cidades baianas foram a Brasília participar da Marcha em Defesa dos Municípios. Eles pediram à presidente Dilma Rousseff agilidade na liberação dos recursos.
Municípios sofrem com escassez de água e recursos do governo. Enquanto isso, há quem planeje o São João
A SECA parece mesmo ser a sina do nordesti-no. Chão rachado, escassez de água, animais morrendo por falta de alimento, sertanejos mi-grando do campo para as grandes cidades: o cenário encontrado no semiárido faz parte das cenas narradas em obras como ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos, e ‘Os Sertões’, de Euclides da Cunha, do início do século passado.
A imagem, entretanto, não ficou resguardada aos livros. Diante da inoperância histórica dos go-vernos em relação ao assunto e da contínua apa-tia da administração Jaques Wagner (PT), a Bahia enfrenta a seca mais rigorosa dos últimos 47 anos: entre janeiro e março, houve locais em que não cho-veu um dia sequer. Enquanto a população amarga meses sem chuva e com a mínima ajuda financeira, o dinheiro público teve outra aplicação: uma cam-panha publicitária pedindo que o povo economize água. O disparate não acaba aí: em meio à crise, que inclui a greve dos professores, o governador viajou ao exterior, deixando a população sem perspectivas.
Sem grandes ações para conter os danos da seca, 238 dos 417 municípios baianos já decretaram estado de emergência. Em mais da metade do esta-do, 2,4 milhões de pessoas foram atingidas pela es-tiagem e metade (1,2 milhão) vive em insegurança alimentar grave.
A perda da safra por conta da baixa precipita-ção — o acumulado de abril está abaixo de 25 mm, quando a média é de 100 mm a 200 mm — já causa prejuízos de R$ 550 milhões no Nordeste. Na Bahia, a transferência de recursos já é uma realidade. As festas de São João já foram canceladas em 26 muni-cípios e reduzidas em outros 21.
Texto Clarissa [email protected]
Seca de preocupaçãoAGÊNCIA A TARDE
No sertão baiano, comunidades andam quilômetros em busca de
água e alimento para o próprio sustento e para os animais
Salvador, 18 de maio de 2012 5
Clemência Divina...O secretário de Administração de Senhor do Bonfim, Cláudio Nunes, reconhece a dificuldade em captar recursos para a seca, já que a cidade mantém o São João. “É uma festa tradicional, movimenta a cidade. O jeito é pedir a clemência de Deus”, disse.
São João cancelado
Água Para Todos: que ironia
‘Governo foi imprevidente’
Em ano eleitoral, quando as
festas são um chamariz de votos,
os alcaides de quase 50 cidades
tiveram que cancelar ou reduzir a
quantidade de dias do São João.
Mas onde o volume de turistas
é grande, o investimento não foi
suspenso. É o caso de Senhor
do Bonfim, que deve gastar R$
580 mil com a festa, Jequié, que
tem São João orçado em R$ 1,2
milhão, e Amargosa, que deve
desembolsar R$ 1,5 milhão. A Pe-
trobras, que costuma patrocinar
as festas, ainda analisa a situa-
ção. O secretário estadual de Tu-
rismo, Domingos Leonelli (PSB),
pediu aos prefeitos cautela antes
de cancelar a festa. “Claro que
se a cidade tiver R$ 1 mil e ficar
entre um carro-pipa e o São João,
o carro-pipa é prioridade. Mas al-
gumas festas não podem deixar
de ser feitas”, disse a um portal
de notícias de Salvador.
Na União dos Municípios da
Bahia (UPB), a orientação é que a
decisão seja tomada junto com a
população. Para o presidente da
organização, Luiz Caetano (PT),
“os prefeitos deverão discutir
com a comunidade qual o melhor
desenho. Os que fizeram contra-
to de bandas, que diminuam os
dias. Quem não fez, que reduza
ou suspenda”, explicou. Até o iní-
cio da semana, 20 haviam cance-
lado a festa e outros 17 reduziram
o número de dias.
Em Miguel Calmon, a 360 km
da capital, o maior problema é a
falta de água para os animais. “Não
chove desde dezembro e os ani-
mais estão fracos, não andam mais
para buscar água. Como a previsão
de chuva é para novembro, estima-
-se que 60% do rebanho saia da ci-
dade ou morra”, afirmou o prefeito
José Ricardo Requião (PT).
Segundo ele, Miguel Calmon,
Piritiba e Mundo Novo são abas-
tecidas pela Barragem do França,
que deve secar em outubro. Até o
momento, foram captados somen-
te R$ 80 mil, além de cestas básicas.
O Programa Água para Todos
(PAT), alardeado pelo governo es-
tadual como grande intervenção
para ampliar a oferta e o acesso
à água e que, segundo o governo,
atingiu 388 municípios e 3,7 mi-
lhões de pessoas, não foi capaz
de conter a emergência. Também
não foram construídos reservató-
rios de grande e médio porte, nem
barragens no último governo. Com
obras em execução, três adutoras
ainda não têm data para começar a
funcionar. A obra de transposição
da Barragem de Pedras Altas, que
atenderia à região sisaleira, está
praticamente parada.
Para o ex-governador Paulo
Souto (DEM), as ações do Estado
para atenuar o problema do perío-
-do de estiagem foram descuida-
das. “Temos uma situação grave.
É um problema climático, mas o
governo, em muitos casos, foi im-
previdente”, declara o político. “As
ações emergenciais poderiam ter
sido antecipadas. Essas popula-
ções não poderiam ter sofrido tan-
to”, continua.
Ele ainda criticou a interrupção
do planejamento do Estado para o
uso racional dos recursos hídricos,
criado na década de 1990, e a len-
tidão nas obras de construção de
várias barragens. “O governo tem
recebido transferências do gover-
no federal. Ou a utilização não foi
bem planejada, ou as obras estão
sendo feitas bem lentamente, ou
não estão sendo feitas”, comenta.
A recente campanha publicitá-
ria do governo para economia de
água também foi comentada por
Souto. “É mais o governo tentando
se desculpar do que propriamente
uma coisa séria, que venha a con-
tribuir para que a população tome
uma atitude com relação a essa difi-
culdade que a Bahia atravessa.”
Prejuízo da seca já alcança R$ 550
milhões no Nordeste Estado de calamidade atinge boa parte da região da Chapada Diamantina
No sertão de Feira de Santana, palma é alternativa para oferecer ao gado
de preocupação
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DIVULGAÇÃO
AGÊNCIA A TARDE
AGÊNCIA A TARDE
Salvador, 18 de maio de 20126
48 horasO crédito emergencial do Banco do Nordeste aos agricultores é aprovado em até 48h. Produtores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) precisam aderir até dezembro.
Carros-pipaAinda sofrendo com a falta de auxílio federal e estadual, os municípios usam recursos próprios para a contratação de carros-pipa. Os veículos levam água para a zona rural, onde a situação é mais grave.
Além dos problemas para os
agricultores que plantam para o
próprio sustento e para as vendas
locais, a seca também mexe com o
bolso de quem comercializa com o
grande mercado. Com a estiagem
de quase cinco meses, a saca do
milho na Bahia alcançou, na sema-
na passada, o preço mais alto den-
tre as cotações brasileiras. Enquan-
to o Mato Grosso vendia o produto
por R$ 14,40, Adustina, no norte da
Bahia, fazia o mesmo por R$ 32.
Segundo o presidente da Em-
presa Baiana de Desenvolvimento
Agrícola (EBDA), Elionaldo Teles,
ainda não há estimativa do preju-
ízo vegetal, mas a perda animal já
chega à marca dos R$ 100 milhões.
Para auxiliar os atingidos pela seca,
está sendo feita uma parceria com
a Companhia Nacional de Abaste-
cimento (Conab) para a venda de
50 mil toneladas de milho para a
Bahia, que deverão ajudar os pe-
quenos agricultores a alimentar os
animais. Outros programas tam-
bém estão sendo desenvolvidos
para reduzir os danos e foi liberada
uma linha de crédito para peque-
nos produtores entre R$ 2,5 mil e
R$ 12 mil, com juros de 1% ao ano.
“São ações bastante significativas
para capitalizar aquele que está
sem condições de alimentar o seu
animal ou de recomeçar”, afirmou.
Prejuízo a longo prazoPara o presidente da UPB, os re-
cursos, doados por empresários e
liberados pelos governos estadual e
federal, são escassos. “O que precisa
é de recursos, água, comida. E re-
cursos desburocratizados, porque é
uma burocracia enorme para liberar
essa ajuda”, explicou.
A seca deve se prolongar até no-
vembro e dezembro e, por isso, a UPB
fará um seminário em 24/5 com es-
pecialistas a fim de tentar amenizar a
crise. Até agora, foram conveniados
R$ 80 milhões, vindos dos ministé-
rios do Desenvolvimento Agrário e
da Integração Nacional. Cada cida-
de em situação de emergência deve
receber a mísera ajuda de R$ 50 mil.
Sem granaNÚMEROS DA SECA NA BAHIA
Municípios em estado de emergência
Municípios que cancelaram a festa
Municípios que reduziram os dias de festa
Pindobaçu, Casa Nova, Tapiramutá, Filadélfia, Miguel Calmon, Nova
Fátima, Mirante, Várzea do Poço, Nova Itarana, Iramaia, Sítio do Quinto,
Canudos, Boa Vista do Tupim, Pedro Alexandre, Lagoa Real, Presidente
Dutra, Santa Terezinha, Muquém de São Francisco, Várzea Nova, Bar-
rocas, Tucano, Caem, Mundo Novo, Serrolândia e Riachão do Jacuípe
Senhor do Bonfim, Lençóis, Mucugê, Paulo Afonso, Piritiba, Amar-
gosa, Jequié, Euclides da Cunha, Valente, Marcionílio Souza, Irecê,
Campo Formoso, Santa Inês, Mortugaba, Botuporã, Boquira, Ma-
caúbas, Caculé, Camaçari, Oliveira dos Brejinhos e Acajutiba
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