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Tu s Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno no prevalecero contra ela. (Mateus 16,18)
RESPOSTA AO LIVRO
A HISTRIA
NO CONTADA DE PEDRO
LUZ DAS SAGRADAS
ESCRITURAS E DA TRADIO CRIST
CATLICA
Gledson Meireles
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Apresentao
A presente resposta considera cada argumento no livro A
Histria No Contada de Pedro, e tem como objetivo preparar melhor
os cristos catlicos, e todos aqueles que buscam a verdade, para
que cresam na f.
O autor do livro "sempre busca ser impecvel e imparcial
quando se trata de heresias" (p. 4), como diz o prefaciador. E sobre o
livro: "Este livro rene muito mais do que ele j escreveu e falou
sobre o assunto." Que bom! Ter-se- bastante trabalho para
responder a cada argumento que o livro apresenta de modo
exaustivo contra o primado jurisdicional de So Pedro.
O autor expressa sinceridade, vontade de analisar e combater
aquilo que em sua viso uma heresia, e esfora-se grandemente
para isso. Sendo assim, espera-se que considerar essa resposta.
Que Deus abenoe este trabalho em Cristo. Amm.
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Obs.: Doravante o livro A Histria No Contada de Pedro ser
referido na maioria das vezes como o livro.
esperado que o livro analise a doutrina catlica. Durante o
estudo, o leitor poder conhecer a fora da verdade. Verdade essa
que o prprio Cristo na Sua Igreja.
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Captulo 1
O Pedro de Roma e o Pedro da Galileia
Nessa resposta os argumentos que o livro prope sero
analisados devidamente. No decorrer do texto, as linhas em preto e
azul so partes da resposta, enquanto que as verdes so oriundas do
livro em anlise.
O livro reconhece que os discpulos so verdadeiros
embaixadores de Cristo. (p. 6) Essa doutrina do Evangelho deve nos
inspirar nessa considerao, de que somos representantes de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e que os lderes da Igreja, como os apstolos,
realizam a evangelizao como verdadeiros embaixadores do Senhor
Jesus.
O foco do livro um dos doze apstolos, o apstolo Simo
Pedro. De carter irresoluto, mas fiel, firme na f, de grande amor
pelo Salvador, era rude nas palavras e nos atos, cheio de zelo e de
entusiasmo. Bem, a f crist catlica tem o fato de que Pedro morreu
em Roma, e essa a fundao histrica para a primazia de Roma.
[cf. Enciclopdia Catlica]
Essa informao de extrema importncia, e isso ficar mais
claro quando for tratado o tema em captulo especfico. A Igreja no
tem outros detalhes histricos constitutivos da vida do apstolo Pedro
como base histrica para a afirmao da primazia da Igreja de Roma,
mas o seu martrio. Por ter vivido algum tempo, e morrido, em Roma,
aquela Igreja guardou a f do apstolo e primeiro bispo daquela
Igreja.
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O livro tenta fundamentar as menes especiais a Pedro, por
parte de Jesus, como fruto natural, e nico, de sua personalidade,
que era de muita iniciativa, pois era um apstolo participativo, o que
levava-o a acertar e tambm a errar, muitas vezes. E faz comparao
com a maioria dos discpulos hoje.
Ento, passa a mostrar as premissas que orientaram sua
comparao com o papa: No somos perfeitos. Pedro no era
perfeito. No somos infalveis. Pedro no era infalvel. Reconhecemo-
nos como pecadores (Lc.5:8), choramos amargamente quando
cometemos um pecado (Lc.22:62). (p. 7)
Essa insinuao de que Pedro no era infalvel diz respeito ao
objetivo de criticar a infalibilidade do Papa, que o sucessor de
Pedro. No entanto, o livro comete um erro inicial: ao afirmar a
infalibilidade do papa nenhum cristo catlico cr que o papa
impecvel. A infalibilidade no implica em sua impecabilidade.
Sabemos que o papa mesmo confessa ser pecador, assim como Pedro
(cf. Lc 5,8). Portanto, o que o livro traz nessas linhas incuo.
Ainda: Infelizmente, com o passar do tempo, esse Pedro
humano, pecador e falvel como todos ns, foi substitudo por um
outro Pedro, algum que a Igreja de Roma quer passar a ideia de
um ser infalvel, chefe de todos os cristos, o supra-sumo da
cristandade, a prpria rocha sobre a qual a Igreja (todos ns) est
edificada. Ao invs de Pedro ser um cristo igual a ns, fomos
obrigados a crer que no apenas ns, mas tambm todos os
apstolos, profetas, e pasme: o prprio Senhor Jesus Cristo(!), esto
todos edificados sobre uma pedra humana, falvel e pecadora.
O livro tenta fazer um contraste imaginrio entre a verdadeira
biografia e imagem do apstolo so Pedro e uma suposta lenda e
falsa imagem que teria sido passada pela Igreja na figura do papa.
E, ento, ensina ao leitor que a Igreja Catlica professa a f de que
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Jesus e todos os cristos esto edificados sobre Pedro. Obviamente,
no faz citao de nenhuma fonte, apenas conclui daquilo que
entendeu. Mas, seu entendimento falho, pois a Igreja Catlica cr
que a fundao da mesma Jesus Cristo, e que so Pedro tem sua
fora proveniente do mesmo Senhor Jesus Cristo.
Somente no sentido de governo, de uma liderana visvel, que
a Igreja Catlica cr que Pedro a pedra fundamental. E essa
verdade coloca Pedro sobre o fundamento de Cristo, pois o papa no
teria autoridade se essa no lhe fosse dada por Jesus. O Catecismo
no nmero 424 mostra que a Igreja est fundada sobre Jesus,
afirmando que a confisso de Pedro a pedra de fundamento. Eis um
exemplo do documento oficial explicando o sentido de Mateus 16,18
de forma espiritual, com foco em Jesus Cristo como fundamento da
Igreja. Portanto, o que o livro afirmou acima no verdade.
Em continuao, o livro afirma: Um Pedro infalvel, que manda
e que desmanda, que cria dogmas e que ai de quem vai contra ele ou
ousa questionar a sua autoridade! (p. 7)
Deve-se saber que o papa segue a tradio crist e no pode
criar dogmas, nem tem qualquer autoridade seno pela verdade. O
que o livro coloca acima uma crtica vazia, e um julgamento
errneo da f catlica.
O objetivo do autor desmistificar o que considera o mito
sobre o apstolo so Pedro, de ser o fundamento da Igreja, de sua
primazia, de sua infalibilidade, de ser o nico vigrio de Jesus, de sua
autoridade mxima, de ser bispo de Roma, portanto, de ser papa, de
usar o ttulo de Sumo Pontfice, dos papas serem sucessores de so
Pedro, e de Roma ter a primazia entre as igrejas. Ento, deseja que
ao terminar o livro o leitor no creia em nada mais do que aponta
numa lista, que inclui o que foi citado acima, e termina o captulo
com as palavras: Pedros que no sejam o original sero
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desmascarados. E um povo sbio e consistente na Palavra de Deus
ser erguido. (p. 8)
Uma das afirmaes que o livro prope para criticar : Pedro
era o nico vigrio ou representante de Deus na terra. (p. 8) Para
entender essa questo deve-se saber o que a Igreja ensina:
No servio eclesial do ministro ordenado, o prprio Cristo
que est presente sua Igreja, como Cabea do seu corpo, Pastor do
seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifcio redentor, mestre da
verdade. o que a Igreja exprime quando diz que o padre, em
virtude do sacramento da Ordem, age in persona Christi Capitis na
pessoa de Cristo Cabea: (Catecismo da Igreja Catlica, 1548).
[nfase do original]
A Igreja ensina que Jesus Cristo o Cabea da Igreja, que o
Pastor, o Sumo-Sacerdote, que o padre age em Seu Nome, em Sua
Pessoa. Isso equivale a dizer que o padre o Seu representante.
Esta presena de Cristo no seu ministro no deve ser
entendida como se este estivesse premunido contra todas as
fraquezas humanas, contra o af de domnio, contra os erros, isto ,
contra o pecado. (Catecismo, 1550).
O cristo catlico deve professar a f de que todos somos
pecadores, mesmo os ministros santos de Deus. Isso inclui o papa.
Cada bispo tem, como vigrio de Cristo, o encargo pastoral da
Igreja particular que lhe foi confiada. (Catecismo, 1560).
Temos, ento, que o papa possui o primado que Jesus deu ao
apstolo so Pedro, judeu, pescador da Galileia, e que foi testemunha
de Jesus, primeiro dos apstolos, pregador do Evangelho em Roma, e
que vivendo nessa cidade por algum tempo, sofreu nela o martrio.
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Ainda, que assim como so Pedro, o papa um homem falvel e
pecador, em virtude do cargo fundamento e sinal de unidade na
Igreja. Por seu cargo o papa infalvel.
Nesse nmero, 1560, o Catecismo ensina que todo bispo
Vigrio de Nosso Senhor. Sendo assim, temos muitos vigrios. O
papa no o nico Vigrio. Portanto, a ideia que o livro ataca no
existe.
Pelo que o livro trouxe at o momento, fica claro que seu
entendimento bsico da doutrina catlica sobre o primado de Pedro
defeituoso. O autor no o compreende e julga uma concepo no
catlica da mencionada doutrina.
Com intuito de auxiliar nessa reflexo, leiamos o que nos
informa o grande historiador da Igreja, Eusbio de Cesaria:
Logo depois, sob o reinado de Cludio, pela benigna e graciosa
providncia de Deus, o grande e poderoso Pedro que, por sua
coragem era o lder de todos os outros, foi conduzido a Roma...
Essa linguagem bastante crist catlica, e no parece em
nada com o modo de entender do Protestantismo. De fato, um
protestante dificilmente se referiria a Pedro como o grande e
poderoso Pedro. Talvez, ainda no o considerariam como o lder de
todos os outros apstolos. Mas, a f crist justamente essa, que a
Histria Eclesistica testemunha nesse registro.
Assim, o que Eusbio escreve a traz pelo menos duas
informaes importantes: de que Pedro o lder dos apstolos, e que
foi levado a Roma pela Divina Providncia.
Mas uma grande luz de piedade iluminou a mente dos ouvintes
de Pedro, de modo que no lhes era suficiente ouvir uma vez nem
receber o ensino no escrito da proclamao divina, mas com todo
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tipo de exortao suplicaram a Marcos, cujo Evangelho temos, que,
como companheiro de Pedro, lhes deixasse um registro escrito do
ensino que lhes fora dado verbalmente.
Essa atestao da pregao de Pedro em Roma inequvoca. O
Evangelho Segundo So Marcos foi escrito tendo por referncia as
pregaes de so Pedro em Roma.
Ora, Pedro menciona Marcos em sua primeira epstola, que
teria composto na mesma cidade de Roma, coisa que, segundo
dizem, ele mesmo indica, referindo-se cidade metaforicamente
como Babilnia, com as palavras: a eleita na Babilnia vos sada e
tambm Marcos, meu filho (1 Pe 5,13). [Histria Eclesistica, II,
14.15]
Essa outra informao importante afirma que os cristos
antigos entendiam que Pedro refere-se a Roma quando escreve
Babilnia, usando um termo metafrico. Essa uma prova da
antiguidade dessa interpretao de 1 Pd 5,13.
Quanto s atenes especiais a so Pedro, essas so sinais da
sua primazia. Ainda nos momentos em que sua personalidade no
evidenciada, e que o mesmo esteja em situao idntica a dos
demais, o Senhor Jesus o destaca como lder.
Ao encontrar os apstolos dormindo, quando deviam vigiar, o
Senhor disse a Pedro: E, voltando para os seus discpulos,
achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Ento nem uma hora
pudeste velar comigo? (Mateus 26,40)
No foi o apstolo sozinho quem dormiu, mas todos
adormeceram. No entanto, a especial ateno, e exortao, vai ao
lder.
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Noutro momento, temos que o Diabo pede para perseguir os
apstolos, mas o Senhor diz a Simo Pedro: Disse tambm o
Senhor: Simo, Simo, eis que Satans vos pediu para vos
cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua f
no desfalea; e tu, quando te converteres, confirma teus
irmos. (Lucas 22,31-32)
Essas so provas da liderana do apstolo So Pedro sobre os
demais apstolos, e essa promessa foi feita antes da revelao de
que o apstolo iria negar o Mestre.
Penso que essas palavras j so suficientes para afirmar que o
apstolo Pedro, que nasceu na Galileia, aquele mesmo Pedro que
foi martirizado em Roma, o qual tem por sucessores os bispos de
Roma, os papas da santa Igreja Catlica.
Vai, realmente, valer a pena ler o livro at o fim, e responder a
seus erros, e fazer cair os mitos em Nome de Jesus Cristo.
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Captulo 2
Quem Pedro?
O livro procura esclarecer biblicamente quem era Pedro,
citando escritores cristos, expondo sua biografia, antes de fazer uma
exposio teolgica sobre ele. [nfase no original]
Quando Jesus chama Simo para segui-lo, j inicia-se seu
preparo para que fosse o lder. A pesca em Genesar revela um
exemplo disso:
E, entrando num dos barcos, que era o de Simo... (Lucas
5,3).
No verso 10 est escrito: E, de igual modo, tambm de
Tiago e Joo, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de
Simo. E disse Jesus a Simo: No temas; de agora em diante
sers pescador de homens.
Essa passagem evidencia o tratamento diferenciado de Jesus
para com Simo. Havia naquele momento trs homens pescadores:
Pedro, Tiago e Joo. A ateno especial sempre caiu em Pedro: o
Senhor escolhe sua barca; manda a ele que lance as redes, e aps a
pesca milagrosa afirma que o mesmo ser pescador de homens. Em
Marcos 1,17 est escrito: E Jesus lhes disse: Vinde aps mim, e
eu farei que sejais pescadores de homens. As palavras de Jesus
fazem dos apstolos pescadores de homens. Mas, do texto de so
Lucas tem-se a revelao a respeito de quem, de maneira mais
especfica, o Senhor referiu-se diretamente. No momento no refere-
se aos demais discpulos, mas apenas a Simo. Entretanto, a
promessa parte de Simo e envolve seu irmo Andr tambm. Em
Pedro, como chefe, os outros so pescadores, pessoal e
verdadeiramente, mas em unio com Pedro.
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A mudana de nome, ou seu acrscimo, como prefere o autor
do livro, um dos sinais da misso especial do apstolo Pedro. No
entanto, a tese do simples acrscimo ser refutada em lugar
apropriado. So Pedro foi o nico dos doze que recebeu,
individualmente, um novo nome. E os nomes trazem um significado
da ao de Deus por aquela pessoa que o recebeu. Assim, sendo que
Pedro quer dizer pedra [Petros=Petra], esperado que o sentido de
seu nome seja explicado nas pginas da Bblia, pelo prprio Senhor
Jesus.
E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu
s Simo, filho de Jonas; tu sers chamado Cefas (que quer
dizer Pedro). (Joo 1,42)
Esse o primeiro momento em que Simo encontra-se com
Jesus. Logo que o v afirma que Simo ser chamado Cefas. No
obsta que muitos continuem a trat-lo de Simo (Ato 10,32; Lucas
24,34), s vezes. O importante seu novo nome dado pelo Senhor,
com objetivo providencialmente definido.
Mas, o livro apresenta a seguinte informao: Portanto,
diferentemente de outros personagens bblicos (como Abrao, Sara,
Jac e outros) que tiveram os seus nomes trocados, no caso de Pedro
apenas foi adicionado um sobrenome. Como explicado no livro, aos
serem citados os versos Atos 11,18 e 10,38. Mas:
Em Gnesis 32,28 (ou 29) est escrito: Ento disse: No te
chamars mais Jac, mas Israel; pois como prncipe lutaste
com Deus e com os homens, e prevaleceste.
Essa passagem no significa que Jac no fosse mais chamado
por seu nome antigo, mas que tambm seria denominado Israel,
como se v no prximo verso (Gn 32,30) e em outras passagens
bblicas.
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A Bblia usa ambos os nomes numa mesma passagem: E
falou Deus a Israel em vises de noite, e disse: Jac, Jac! E
ele disse: Eis-me aqui. (Gn 46,2)
Portanto, o que o livro afirmou anteriormente est incorreto. Da
mesma forma que Simo, que mais tarde foi chamado Pedro, ou
Simo Pedro, ou at mesmo somente Simo, assim tambm Jac era
chamado Israel, e em outras circunstncias Jac, tendo igualmente
ambos os nomes no mesmo verso bblico.
Ento, sendo um novo nome, ou apenas um acrscimo de
nome, como um sobrenome, ao apstolo Simo, no muda a questo
fundamental, que a sua misso expressa no significado do seu novo
nome. Contudo, a tese do sobrenome caiu. E, sabendo que Pedro
significa Pedra, a Bblia mostra o motivo dessa mudana de nome.
[refiro-me para comparao com o caso semelhante de Jac.]
O livro expe o contraste entre Simo e Pedro, no mesmo
indivduo. Isso nada mais que a verdade crist catlica, como
explica o professor Orlando Fedeli, ao tratar da infalibilidade do papa:
Isto , que Pedro, sempre que falasse, sobre f e moral, para
toda a Igreja, como o poder que Cristo lhe concedera, seria infalvel.
Essa promessa dava a Pedro o dom da infalibilidade, nas
condies expostas acima. No se concedeu a Pedro o dom
da impecabilidade. Pedro era infalvel,
mas Simo continuava pecvel. Tanto que logo depois de receber o
dom da infalibilidade como chefe da Igreja e Vigrio de Cristo, Simo
errou de tal modo que Cristo o chamou de Satans. Mais tarde,
negou trs vezes o Mestre. Nos Papas preciso distinguir, ento, o
homem e o Papa. O homem pode ser at criminoso --como Alexandre
VI -- mas o Papa continua infalvel, porque o dom de Cristo
incontaminvel. [nfases no original. Disponvel em:
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04 Fev.
2014]
Essas distines da verdadeira doutrina devem ser sempre
levadas em considerao, para uma anlise doutrinal justa e correta.
Ao ressaltar a f de Pedro, o livro afirma: teve a sua f
ressaltada como uma firme rocha (Mt.16:16-18) (p. 11), adiantando
a defesa que far de ser esse o significado nico do texto de Mateus
16,16-18.
Do texto de Marcos 10,42 o livro afirma que no haver
liderana na Igreja, como h entre as naes. Todos sero iguais.
reconhecido que so Pedro teve importncia, mas no aceito, pelo
autor, que tenha tido a primazia. E o motivo que aponta que, sendo
os sinais positivos, em relao a Pedro, a base para estabelecer a
primazia, os negativos serviriam igualmente para demov-lo desse
posto. Ento, afirma: Os catlicos tero que usar de critrio aqui: ou
as experincias pessoais de Pedro no o fundamentam como o lder
mximo, ou, ento, os seus fracassos tambm podem ser utilizados
como um contra-argumento.
Pelo exposto antes, j possvel notar que no so as
experincias positivas, ou os mritos de Pedro, que o fizeram ser o
primeiro dos apstolos. Antes, essa prerrogativa veio-lhe
diretamente, e antes de tudo, de Jesus. Prova-se isso pelos textos
apresentados, de que ainda no momento inicial de encontro de Jesus
com Andr e Pedro, o Senhor Jesus escolhe a Pedro, por dar-lhe novo
nome, fazer-lhe promessa diretamente, e enfim, por dar-lhe
tratamento que evidencia sua misso especfica na Igreja.
O autor ainda afirma: Porm, o meu objetivo aqui de forma
alguma denegrir a imagem de Pedro ou dizer que ele era o menor
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de todos os apstolos. Dos seus exemplos dos demritos de Pedro, e
de seu objetivo de apenas enfatizar sua personalidade, o autor acaba
por fazer aquilo que afirma no ser objetivo seu, pois em muitos
argumentos est embutida ideia de que Pedro era, certamente, o
menor.
O livro afirma que Pedro era somente o que mais se destacava.
Por tentar analisar as verdades que envolvem o primado, a
recorrncia personalidade de Pedro no ajudou muito, pois pode
resultar no pensamento de que as figuras que se destacaram na
Bblia somente o foram por ser de personalidade expressiva.
Por outro lado, ao pensar nas qualidades que um lder precisa
ter, aquelas que expressa o apstolo Pedro indicam a escolha to
apropriada de Jesus.
Nos argumentos catlicos os demritos de Pedro no so
desconsiderados, como ficou patente na citao acima sobre a
infalibilidade do papa. Portanto, pensar isso algo vazio. Ainda, o
texto de Marcos 10,42 no argumento contra o primado, como
tambm no contrrio a autoridade alguma, mas apenas ao mau
uso da mesma.
O item 3 do livro idntico ao item 1, por ter em foco o
argumento baseado no mrito, e j foi respondido, e devidamente
refutado.
Na citao de Ansio Renato de Andrade, que contem as
palavras: Os registros dos erros de Pedro so bastante oportunos,
pois, alm de evidenciarem a sinceridade dos escritores bblicos,
servem para derrubar a tese de uma suposta infalibilidade apregoada
por alguns., nota-se que no h compreenso da verdadeira
doutrina catlica, como mostrado acima. A citao aponta que os
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erros de Pedro esto contra a tese da infalibilidade por entender,
de forma incorreta, que a doutrina mencionada negasse ser o papa
um homem sujeito a erros. Essa falha j foi referida anteriormente.
Se o livro ensinasse a verdade, desenvolvendo o argumento em
que mostra os exemplos de so Pedro para os cristos de hoje,
tambm poderia entender sua primazia no colgio apostlico como
vontade de Jesus. Como isso no ocorre, o mesmo atesta sua
inaptido em apresentar a doutrina catlica verdadeiramente, e no
pode refutar a verdade do primado de Pedro.
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Captulo 3
Seria Pedro um presbtero superior aos
demais presbteros?
Nesse captulo o livro passa a tecer uma considerao teolgica
de Pedro, e afirma: Porm, ao olharmos a Escritura especialmente
os escritos de Pedro no encontramos qualquer afirmao (direta
ou indireta) que qualifique Pedro como um apstolo em nvel superior
aos demais ou como um presbtero em nvel superior aos outros. (p.
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Inicia com a citao de 1 Pedro 5,1-3. Nessa passagem So
Pedro exorta outros presbteros, e apresenta-se como presbtero
como eles. Por essa afirmao, o livro argumenta que uma vez que
Pedro igualou-se no presbiterato aos demais membros desse, no
pode ser o primeiro dos bispos, e assim a tese do papado estaria
incorreta.
A especial primazia, e jurisdio, apostlica, como provado nos
captulos anteriores, desfaz essa interpretao inicial do captulo 3 do
livro. O texto bblico em apreo seguido por ensinamentos
importantes, e que devem ser considerados para melhor
entendimento do papel de Pedro nesse contexto. Um deles a
humildade, no v. 5: Semelhantemente vs jovens, sede
sujeitos aos ancios; e sede todos sujeitos uns aos outros, e
revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos,
mas d graa aos humildes.
Da mesma forma que So Paulo, ao afirmar ser o menor dos
apstolos no se torna pequeno em autoridade, assim tambm So
Pedro ao mostrar-se como presbtero.
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So Paulo escreve: Porque eu sou o menor dos apstolos,
que no sou digno de ser chamado apstolo, pois que persegui
a igreja de Deus. (1 Cor 15,10) e: A mim, o mnimo de todos
os santos... (Ef 3,8)
Ao afirmar que no possua dignidade de ser chamado apstolo,
sua atitude humilde no desobriga de cham-lo assim, e muito
menos ensina a no consider-lo um dos apstolos do Senhor Jesus,
e dos maiores. Assim, ao afirmar ser presbtero como os demais,
isso no significa que o primado de Pedro tenha sido negado pelo
mesmo, ou que no seja ensino das Escrituras. Contrrio a isso, tem-
se na Bblia abundante prova do primado de Pedro.
Os ttulos que a Igreja reconhece ter os significados do primado
de Pedro no necessitam ter sido escritos por ele mesmo, nem
significa que ele tenha se esquecido de registr-los, mas que o
sentido dos ttulos cristos a So Pedro o mesmo sentido bblico,
segundo a doutrina geral das Escrituras do Novo Testamento sobre o
primado.
Naqueles tempos os ttulos muitas vezes referidos ao chefe da
Igreja no existiam, ou no estavam em uso nesse sentido. Dessa
forma, a doutrina que os ttulos expressam deve ser ressaltada e
crida, no a existncia dos mesmos nomes indicadores do cargo.
Bastar lembrar que so Pedro foi o primeiro a anunciar o Evangelho,
no dia de Pentecostes, a todos os judeus presentes, e foi o escolhido
igualmente a pregar a Boa Nova aos gentios, por ocasio que
resultou do batismo de Cornlio e sua famlia. Essa verdade est em
Atos 15,7: E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e
disse-lhes: Homens irmos, bem sabeis que j h muito tempo
Deus me elegeu dentre ns, para que os gentios ouvissem da
minha boca a palavra do evangelho, e cressem.
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Assim, outra vez, tem-se a iniciativa de Deus em eleger Pedro
como chefe, ao ser o primeiro a anunciar a salvao a todos, judeus e
pagos, e o motivo da Escritura claramente definido. No foi a
personalidade de Pedro que o fez agir primeiramente no dia de
Pentecostes, nem com relao aos pagos, mas o plano segundo a
Vontade de Deus. Assim, temos mais provas bblicas do primado
desse grande apstolo.
O livro afirma: Esta segunda linha de raciocnio tambm
muito importante, pois aqui que vemos melhor que Pedro no
ocupava um cargo superior aos demais lderes cristos de sua poca,
mas sim um cargo de igualdade com eles. (p. 20).
Em primeiro lugar preciso chamar a ateno para o fato de
que o papa no recebe outro sacramento, e que est em igualdade
hierrquica com os demais bispos. Apenas, eleito a um cargo
superior, como bispo de Roma. Ele, portanto, ocupa um cargo
superior, assim como Pedro, que sendo apstolo possua as
prerrogativas do primado.
Mas, Algum catlico poderia objetar dizendo que Pedro poderia
ser apstolo superior mesmo sem ter se chamado assim. (p. 21).
Realmente j foi feito isso nas linhas acima, e com respaldo bblico, e
do bom senso. O que poderia ser dito em contrrio? O livro afirma
que so Pedro costumava usar os ttulos apropriados, como faz com
relao ao Senhor: E, quando aparecer o Sumo Pastor,
alcanareis a incorruptvel coroa da glria. (1 Pd 5,4)
Ento, explica: O sentido precisamente o mesmo. Pedro
estava identificando Jesus no como um pastor no mesmo nvel dos
demais pastores, mas sim como um pastor em nvel superior um
sumo (ou supremo) Pastor. Se Pedro identificasse Cristo somente
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como pastor, ele poderia estar no mesmo nvel dos demais
pastores. [nfase no original] (p. 21)
Essa explicao falha pelo seguinte fato: na mesma epstola
os ttulos de pastor e bispo so aplicados a Jesus sem quaisquer
prefixos. Assim est escrito: Porque reis como ovelhas
desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das
vossas almas. (1 Pd 2,25)
O texto inspirado no usou de qualquer diferenciao, no
aplicando o prefixo que indicasse supremacia [arch], o que, segundo
a argumentao do livro, teria feito Jesus um pastor no mesmo nvel
dos demais pastores, e um bispo como os outros bispos. Sendo essa
alternativa incorreta, e que provem da premissa mostrada no livro,
tem-se que o argumento do mesmo carece de qualquer base na
Bblia, e empregado contra o primado petrino de forma gratuita.
Ento, continua o autor: Porm, ao longo de toda a Escritura
vemos Jesus sendo chamado de Sumo Sacerdote (Hb.5:10; 4:14;
8:1; 3:1; 5:1; 5:5; 10:21; 6:20; 4:15; 9:11; 2:17; 7:26) e de
Sumo Pastor (1Pe.5:4).
Essa comparao fora de propsito. A doutrina catlica ensina
que Jesus o nico Sumo Sacerdote. Jesus o nico que possui o
Sacerdcio do Novo Testamento, sendo somente Ele o Sacerdote.
Assim, todos os cristos, e os ministros ordenados [incluindo o papa]
so participantes do Sacerdcio de Jesus Cristo. O uso do ttulo Sumo
Sacerdote no sentido bblico no contrasta com o uso relativo ao
papa, pois o papa apenas aquele representante do Senhor na
Igreja, como lder.
Quanto afirmao seguinte, de que: O sumo sempre
apontado para algum que detm uma posio superior nunca
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ignorado ou esquecido! (p. 21) [nfase no original], isso foi desfeito
acima, com fundamento na Palavra de Deus. Nem sempre o prefixo
sumo usado para diferenciar o chefe, e indicar a supremacia. (cf. 1
Pd 2,25)
Tambm, o texto de Mateus 10,24-25 certamente no tem o
intuito de ensinar que o servo ser, possivelmente, igual ao mestre
em autoridade, mas em qualquer outro sentido. Uma vez que um
servo torna-se como o senhor em autoridade, e jurisdio, no h
mais senhor e servo, mas certamente dois senhores, ou dois servos.
Imagine onde todos so senhores, onde estaro os servos? E onde
todos so servos, onde estar o senhor por tal contra-senso que
se prova a impossibilidade da inteno de interpretar a passagem
acima nesse sentido.
A passagem de Mateus 10,24-25 tem o sentido de que o
tratamento do discpulo ser tambm aquele que o Mestre recebeu.
Assim como perseguem o Senhor, o mesmo ocorrer com seus
servos. Essa verdade bblica cumpre-se na pessoa do papa de
maneira clarssima: Jesus foi chamado de Belzebul, e seus
domsticos, os cristos podem assim ser acusados igualmente. No
entanto, a histria registra que os hereges acusaram, e acusam, o
papa de ser o Anticristo, cumprindo Mateus 10,25.
Dessa forma, o uso do como nesse verso, com o intuito de
provar que o mesmo denota igualdade, no merece reprovao. Mas,
para atacar o primado de Pedro no cumpre seu propsito, por ser
fruto de uma interpretao incorreta.
Ao tentar fundamentar o ataque ao papado [primado de Pedro,
primazia de Roma, etc.] pela explicao: Quando o como no texto
uma conjuno (como o caso de 1Pe.5:1), ele significa
basicamente do mesmo modo que, da mesma forma que, no
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23
grau de. [nfase no original], o autor no previa que a mesma
lgica poderia levar um cristo a afirmar ser como Jesus, do mesmo
modo que, da mesma forma que, no mesmo grau, em autoridade do,
Senhor, e portanto ter a mesma autoridade de Deus! O uso absoluto
desse princpio a elencado resulta em absurdo. Isso seria blasfmia,
e refuta radicalmente a interpretao do livro.
Assim como Jesus no estava enganando quando disse que o
discpulo pode igualar-se ao mestre, Pedro igualou-se aos outros
presbteros, verdadeiramente, e humildemente, mas nenhum dos
casos indica igualdade em autoridade e jurisdio, tratando-se de
caso diverso, de igualdade moral, como j explicado.
E, quando trata-se da questo geral afirma o livro: Isso
mesmo: no somente em 1 Pedro 5:1, mas tambm em todo o
restante da Escritura, os adjetivos de liderana so sempre omitidos
quando com relao a Pedro. [nfase acrescentada] Isso significa
que a omisso de qualquer termo com o prefixo indicador de
superioridade referente a Pedro resulta em negao do primado.
Portanto, o argumento do silncio fortemente empregado nesse
particular, contra todo testemunho bblico do primado petrino, e junto
s falhas argumentativas j expostas na presente resposta.
Na tentativa de fortalecer sua posio, o autor ainda registra o
seguinte: Nas poucas vezes em que o primeiro mencionado
tratando-se de Pedro, a palavra utilizada no grego protos, que,
diferentemente de arche, no significa primeiro no sentido de
autoridade superior ou liderana, mas sim em alguma sucesso de
coisas ou pessoas. [nfase no original. A nota 18 afirma: De acordo
com o lxico da Concordncia de Strong, 4413.] Esquece-se ainda de
indicar o sentido de primazia, embutido no termo protos.
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Em Atos 28,7 est escrito: E ali, prximo daquele lugar,
havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha, por
nome Pblio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente
por trs dias. A traduo principal da Ilha, onde principal vem do
grego protos, indica o sentido de governo, no em termos de
sucesso. Pblio no foi o primeiro a morar na ilha, mas o primeiro
em distino na ilha.
Nos Dicionrios de Palavras Hebraicas e Gregas, da
Concordncia Exaustiva de Strong, por James Strong, S. T. D.,
LL. D., 1890, define-se protos como: 4413 protos {pro'-tos}
superlativo contrado de 4253; principal (no tempo, lugar, ordem ou
importncia):--antes, incio, melhor, chefe, primeiro (de todos),
anterior. [Disponvel
em: 05
Fev. 2014.] Portanto, protos igualmente significa o primeiro em
importncia, o chefe.
De igual modo, afirma Tim Staples que: A palavra grega
protos, primeiro, frequentemente denota uma primazia em
autoridade, no necessariamente no tempo. Pode ser traduzida como
chefe. [nfase no original] [Disponvel em:
05
Fev. 2014.]
Esse fato contraria o que o livro explica para o termo protos,
supondo como, talvez, o nico sentido do mesmo, relativo ao tempo,
sucesso das coisas apenas, contrapondo-o com arche, quando na
verdade protos igualmente pode denotar chefia, liderana. Assim,
mais um argumento do livro est refutado. Pedro o primeiro
[protos] dos apstolos, o chefe deles.
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Ainda, no livro est afirmado: A clareza da informao bblica
nos deixa to esclarecidos que so precisos verdadeiros
malabarismos teolgicos para negar tal fato. Essa afirmao no
verdadeira. No h necessidade de qualquer malabarismo para
provar o primado de Pedro, com j foi provado acima. O fato de So
Pedro, em 1 Pd 5,1, no afirmar sua superioridade em relao aos
presbteros no de forma alguma uma prova de que sua autoridade
fosse igual a dos demais, ou de que apstolos e presbteros fossem,
como grupo, a autoridade da Igreja. Deve-se lembrar, como ensina a
Bblia e a Igreja Catlica, que o papa s tem autoridade quando est
em harmonia com a verdade, ensinando o que ensina a tradio
crist.
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Captulo 4
Pedro era a cabea dos apstolos?
Negando que Pedro fosse cabea dos apstolos, o livro afirma:
Isso entra em flagrante contradio com a afirmao paulina, de que
a cabea da Igreja Cristo: Antes, seguindo a verdade em amor,
cresamos em tudo naquele que a cabea, Cristo (Efsios 4:15).
(p. 31)
No necessrio afirmar novamente, com citao, o que est
escrito no prprio Catecismo, nmero 1548, que Cristo o Cabea da
Sua Igreja. Basta conferir. Essa a f catlica. Por ser a f bblica,
tambm a f catlica.
Igualmente, no preciso recorrer as muitas palavras, nesse
momento, para afirmar que Pedro o cabea da Igreja em sentido de
governo ou chefe visvel da mesma, institudo por Jesus Cristo. J
est provado.
Tentando enfraquecer o primado, o livro cita Atos 24,5 onde ,
em algumas tradues, dito que Paulo era o chefe da seita dos
nazarenos.
A traduo Almeida Corrigida Fiel assim traduz: Temos
achado que este homem uma peste, e promotor de sedies
entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal
defensor da seita dos nazarenos.
Por tratar-se de traduo protestante, que no tem o intuito de
promover a doutrina do primado, a expresso o principal defensor
enfraquece ainda mais a posio defendida no livro, de que so Paulo
tinha tamanha reputao, que seria contrria primazia de Pedro.
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E, ainda, a Bblia do Rei Tiago [King James Version] pe um
artigo indefinido antes do termo traduzido pela Almeida Corrigida Fiel
por defensor. Portanto, essa passagem no depe contra o primado
petrino.
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Captulo 5
Qual discpulo era o maior?
Por tratar-se de traduo protestante, que no tem o intuito de
promover a doutrina do primado, a expresso o principal defensor
enfraquece ainda mais a posio defendida no livro, de que so Paulo
tinha tamanha reputao, que seria contrria primazia de Pedro.
E, ainda, a Verso do Rei Tiago [King James Version] pe um
artigo indefinido antes do termo traduzido pela Almeida Corrigida Fiel
por defensor. Portanto, essa passagem no depe contra o primado
petrino.
Para entender a questo preciso usar o bom senso. O livro
tentou faz-lo, mas deslizou em alguns arrazoados. Ao pensar que a
discusso sobre a identidade do maior entre os discpulos, o livro
conclui que no havia tal superioridade, pois do contrrio seria dito,
se Jesus fosse o Cristo catlico, seria dito que Pedro era a pedra e
pronto!
Esse argumento um tanto pueril, visto que apela para a
clareza da doutrina em questo, ensinada por Cristo, como fator
impossibilitador do surgimento de qualquer discusso a respeito de
quem seria o maior no Reino dos Cus.
Uma vez que se aplica a razo nessa questo, v-se que se
Jesus tivesse ensinado a inexistncia de superioridade de uns sobre
os outros no Reino dos Cus no haveria disputa sobre a existncia
do maior, pois todos estariam convencidos de que a igualdade
imperava entre eles. Portanto, est refutado o argumento do livro.
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Outro fator incorreto a afirmao de que algo claro ensinado
por Cristo seria inconsistente com o fato da discusso sobre esse
mesmo ensinamento, julgando serem os homens to dceis e
facilmente convencidos das palavras que ouviam, de forma a no
surgir qualquer dvida a respeito das Palavras do Senhor. Essa
interpretao assaz ingnua. Ela nega a razo e os dados da
Escritura, que revelam tantas vezes os discpulos no
compreendendo, discutindo e mesmo descrendo das verdades que
ouviam.
O texto de Marcos 10,42 muitas vezes apresentado como
negando que na Igreja haveria algum detendo autoridade sobre os
demais. Uma vez que todas as instituies so governadas por
lderes, no deveria ser diferente da Igreja catlica, fundada por
Jesus Cristo, o Filho de Deus.
No entanto, como entender que na Igreja crist no dever
haver lder, se nela h o papa, que o chefe dos cristos? Para
responder essa questo de forma a expor a verdade que est nessa
passagem, necessrio l o contexto.
Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os
que julgam ser prncipes dos gentios, deles se assenhoreiam,
e os seus grandes usam de autoridade sobre eles. Mas entre
vs no ser assim; antes, qualquer que entre vs quiser ser
grande, ser vosso servial; e qualquer que dentre vs quiser
ser o primeiro, ser servo de todos. Porque o Filho do homem
tambm no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate de muitos.
Assim, o tema do servio aos outros o foco dessa passagem:
qualquer que entre vs quiser ser grande, ser vosso
servial. O primeiro deve ser o servo, aquele que mais tem
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oportunidade para servir. Ento, o modelo Jesus, que no veio ser
servido, mas para servir.
Se Cristo o exemplo, de fato o , ento a passagem no
est contrariando a existncia de governantes, lderes, chefes,
autoridades, mas a forma com que a autoridade deve ser buscada, e
realizada, que atravs do servio ao prximo. Jesus possui toda
autoridade, e isso ficou revelado ainda mais, de forma categrica,
aps a ressurreio dos mortos. (Mt 28,18-20) Uma vez que Ele
sempre manteve autoridade, e ainda mostrou-Se como Servo,
servindo aos demais, no pode-se inferir dessa passagem que na
Igreja no poder haver lder, como sinal de unidade. Por isso, o
papa o servo dos servos de Deus, nesse princpio evanglico.
O livro afirma que as duas coisas proibidas em Marcos 10,42
[archo e katakurieuo] no deveriam existir na Igreja. A resposta
simples: realmente no existe. Nenhum papa governa a Igreja como
os governantes do mundo fazem com relao aos habitantes do
territrio que governam.
Se Jesus fosse favorvel ao domnio que o papa exerce sobre
os demais (tanto clrigos como leigos), ele obviamente teria dito
exatamente o contrrio, isto , que Pedro exerceria liderana na
Igreja, assim como os governantes das naes exerciam liderana
sobre as naes. No seria uma anttese, mas uma analogia. (p. 37)
Portanto, essa afirmao acima imprecisa. Jesus fez uma
anttese por ser os governos mundanos aquilo que contrariam o
Evangelho, e o esprito de servio. Dessa forma, a Igreja no realiza
o mesmo que as naes polticas, e no possui lder com poder
idntico aos seus governantes.
O prprio fato de os discpulos terem disputado entre si acerca
de qual eles era o maior nos mostra que no existia a ideia de
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primado entre eles, pois se eles cressem que Pedro era papa no
estariam discutindo quem era o maior, mas no mximo estariam
disputando o segundo lugar. (p. 37). De fato, essa pressuposio
no exclui a ideia do primado, mas certamente mostra a
incompreenso sobre a mesma. Se Cristo pregasse uma igualdade,
absoluta, entre os cristos, isso seria ainda mais incompatvel com a
discusso sobre o maior. Esse argumento j foi tratado acima.
Como crianas, os apstolos expressaram cimes. Imagine
crianas percebendo que um adulto faz elogios, presenteia e dirige-se
mais frequentemente a uma entre elas. Possivelmente alguma delas
perguntar de quem mais essa pessoa adulta mais gosta entre eles.
Essa uma cena bastante importante para entendermos a psicologia
humana e auxiliar na compreenso do que ocorreu entre os
apstolos. por perceber o tratamento que Jesus fazia com relao a
Pedro, instituindo-o como chefe, que os discpulos sentiram cimes e
quiseram ser o maior no Reino. Jesus explica que o maior aquele
que serve, ensinando tambm a Pedro como deveria ser seu governo,
no como aquele dos povos, mas um governo espiritual, em prol da
salvao das almas, alimentando o povo com a Palavra de Deus,
ajudando-o a ser guiado pelo Supremo Pastor Jesus Cristo. Essa
verdade bblica bastante clara.
Mas, o livro continua: Finalmente, tambm importante
destacar a afirmao clara de Cristo, de que havia um s Chefe e
todos os demais eram irmos: Mas vs no queirais ser
chamados mestres; porque s um vosso mestre, e todos vs sois
irmos (Mateus 23:8) (p. 37) Essa passagem mostra que Jesus o
Chefe, sobre toda a Igreja. No exclui que os ministros sejam Seus
embaixadores, e representantes, e que Pedro o seja de modo
especial.
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A ironia do livro nessa passagem no depe contra o primado,
mas mostra incompreenso da doutrina da Igreja: Se Cristo fosse
catlico romano, teria dito que ele seria o guia espiritual, lder e
mestre da f no Cu, mas que aqui na terra deixaria Pedro e os
pontfices romanos assumindo tal posto. (p. 37)
Cristo no o Supremo Pastor apenas no Cu, mas tambm na
Terra, e em todo lugar. O que difere o governo de Cristo e do papa
justamente o papa ser Seu servo, e agir conforme Sua Vontade
santa. Esse elemento do Evangelho no pode ignorado.
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Captulo 6
Quem liderou o Conclio de Jerusalm?
Do Conclio o livro ensina que foi um momento onde todos
discutiram, em igualdade, dando seu parecer, sem existncia de um
papa. Haveria um espao democrtico na Igreja antiga, conforma
interpreta o autor. Tudo no intuito de negar a presidncia de so
Pedro no Conclio de Jerusalm.
Sabe-se que so Tiago era bispo daquela Igreja, e que era uma
das personalidades mais influentes da Igreja Catlica, sendo
considerado uma das colunas, junto com Pedro e Joo.
Dessa forma, no estranho que no momento do Conclio sua
posio seja destaca. No entanto, no pode-se afirmar que o mesmo
liderou o Conclio.
Os critrios que o livro aponta para dirimir a questo da
autoridade do conclio em Jerusalm no so satisfatrias uma vez
que se analise o contexto.
Iremos analisar cada um dos pontos apresentados acima. Se o
leitor tiver pacincia e estiver com a mente aberta verdade, ver
que necessrio um verdadeiro assassinato e sepultamento da lgica
para no colocar Tiago no papel de liderana do Conclio da Igreja, o
que desmonta com a pretenso romanista de que Pedro era o papa e
que foi aquele que liderou tal Conclio. (p. 40)
Dessa forma, no pode-se esperar, naturalmente, que o autor
seja convencido pela presente resposta, uma vez que est convicto
de ter apresentado toda a verdade sobre o assunto. Para quem no
est fechado ao estudo, e como afirma o prprio livro, que estiver
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com a mente aberta verdade, importante que leia e raciocine
sobre cada ponto, e abrace o verdadeiro. Que o autor do livro esteja
entre esses, pois para Deus nada impossvel. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Isso pode-se esperar, se o autor ler a presente resposta e a
estude com afinco.
Uma das razes que o livro aponta para a supremacia de Tiago
no Conclio que a pessoa mais importante discursa por ltimo,
porque aquela que d a palavra final, a decisiva, a irrefutvel. (p.
40)
E explica: No caso de Atos 15, vemos que Pedro j havia
discursado nos versos 7 a 11, mas mesmo assim a questo ainda
no havia sido decidida e nem a discusso dada como
encerrada: Depois de muita discusso, Pedro levantou-se e dirigiu-
se a eles (...) Toda a assemblia ficou em silncio, enquanto ouvia
Barnab e Paulo falando de todos os sinais e maravilhas que, por
meio deles, Deus fizera entre os gentios (...) Quando terminaram de
falar, Tiago tomou a palavra e disse: Irmos, ouam-me... (Atos
15:7,12,13) [nfase do autor]
No entanto, deve-se ter em mente que a questo foi decidida
no verso 7: E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-
lhes: Homens irmos, bem sabeis que j h muito tempo Deus me
elegeu dentre ns, para que os gentios ouvissem da minha boca a
palavra do evangelho, e cressem.
Assim, Ento toda a multido se calou... Desse silncio no
houve mais discusso, no ouviu-se nenhum barulho, mas apenas as
narraes de Barnab e Paulo, e depois Tiago: E, havendo-se eles
calado, tomou Tiago a palavra, dizendo
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Que ponto fundamental foi decisivo? A eleio de Pedro como
aquele que abriu as portas do Evangelho da salvao aos gentios:
Homens irmos, bem sabeis que j h muito tempo Deus me elegeu
dentre ns, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra
do evangelho, e cressem. (v. 7) E, ainda, que Deus no fez
diferena alguma entre eles e ns, purificando os seus coraes pela
f. (v. 9)
Essas palavras so retomadas por so Tiago, no como quem
as aprova e lidera a reunio, mas como concordncia, seguida pela
mesma opinio de todos os presentes: Simo relatou como
primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo
para o seu nome. (v. 14)
Por isso julgo que no se deve perturbar aqueles, dentre os
gentios, que se convertem a Deus. (v. 19)
Portanto, questionando sobre que palavras dirimiram a questo,
no se pode afirma outra coisa que no a sentena dos vv. 7 e 9. O
mesmo ensino foi acatado por so Tiago, em plena concordncia, e
sumariado na Epstola Conciliar.
v. 7: E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e
disse-lhes: Homens irmos, bem sabeis que j h muito tempo
Deus me elegeu dentre ns, para que os gentios ouvissem da
minha boca a palavra do evangelho, e cressem.
v. 8: E Deus, que conhece os coraes, lhes deu
testemunho, dando-lhes o Esprito Santo, assim como tambm
a ns;
V. 9: E no fez diferena alguma entre eles e ns,
purificando os seus coraes pela f.
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V. 10: Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a
cerviz dos discpulos um jugo que nem nossos pais nem ns
pudemos suportar?
V. 11: Mas cremos que seremos salvos pela graa do
Senhor Jesus Cristo, como eles tambm.
V. 19: Por isso julgo que no se deve perturbar aqueles,
dentre os gentios, que se convertem a Deus.
v. 28: Na verdade pareceu bem ao Esprito Santo e a
ns, no vos impor mais encargo algum...
So Pedro falou autoritativamente: por que tentais a Deus,
contra os judaizantes naquele Conclio. Suas palavras eram
confirmadas pelas Escrituras. O verso 28 confirma o que est nos vv.
7 a 10, e que havia sido concordado por so Tiago no v. 19.
Assim, as palavras fundamentais que resolveram a questo: os
gentios convertidos devem ser circuncidados [e observar a Lei
Mosaica] para serem salvos?
A resposta foi negativa, e so Pedro afirmou que seria tentar a
Deus impor a Lei sobre os pagos. So Tiago concorda e cita as
Escrituras no mesmo sentido. O verso 28 [e 29] conclui o mesmo que
foi pregado pelo chefe dos apstolos. Obviamente, o conclio define
de modo infalvel, por ser guiado pelo Esprito Santo. E com Pedro
todos os presentes, em comunho, anunciam a Palavra de Deus.
O livro afirma incorretamente: Porm, vemos que depois de Pedro ainda
houve debate na assembleia (v.12), e foi somente quando Tiago tomou a palavra que a
questo foi decidida. [nfase no original.] Mas, que debate houve aps o
v. 12? Uma leitura objetiva no pode encontrar debate aps esse
verso.
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Aps o v. 11 no houve debate. Paulo e Barnab narram suas
experincias no v. 12. Tiago fala do v. 13 ao 21, apenas confirmando
o que havia sido dito por Pedro.
Contudo, onde houve discusso? Antes de chegarem a
Jerusalm, os apstolos Paulo e Barnab discutiam com os
judaizantes: Tendo tido Paulo e Barnab no pequena discusso e
contenda contra eles (v. 2)
O verso 3 revela que so Paulo e so Barnab narraram a
salvao dos gentios diante dos apstolos, dos ancios e demais
cristos em Jerusalm.
Foram ouvidos? Leia o v. 4: Alguns, porm, da seita dos
fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era
mister circuncid-los e mandar-lhes que guardassem a lei de
Moiss. Portanto, nem mesmo os testemunhos desses grandes
apstolos intimidaram os judeus cristos de Jerusalm. Tiveram que
reunir em conclio para definir a questo. (v. 5)
E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-
lhes (v. 7)
Assim, somente aps muita contenda no Conclio que Pedro
falou. Aps isso, no houve mais discusso. Pelo contrrio, Paulo e
Barnab puderem contar novamente o que tinham dito antes do
Conclio, e agora sem problemas. So Tiago refora o que foi dito por
Pedro, e sugere medidas eclesisticas conforme a deciso. Por isso,
foram escrita na Carta Conciliar.
Se fosse Pedro o lder e Tiago fosse seu subordinado, ento
Pedro no precisaria ter esperado Tiago dar a deciso final, ainda
mais sendo a opinio de Tiago to semelhante de Pedro! (p. 41).
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O que est escrito na p. 41 do livro [citao acima] est
incorreto. Primeiro, Pedro no esperou Tiago falar e decidir. O texto
no afirma isso. Afirma apenas que Tiago falou aps Paulo e Barnab.
A opinio de Tiago foi a mesma de Pedro, no alguma outra
semelhante: ele concordou com Pedro.
Ainda: Note tambm que, aps Tiago ter concludo seu
discurso, ningum mais ousou discordar dele e nem sequer
levantar qualquer tipo de oposio! Ou ainda: Depois que Pedro
falou, a questo ainda teve que passar por Paulo e Barnab, para
depois chegar ao veredicto de Tiago e s ento ser encerrada com
a palavra de Tiago, e no de Pedro! [nfase no original] No se sabe
onde o autor l isso no texto. Est claro que aps o v. 7 no houve
discusso, e no aps Tiago falar. Quando so Tiago falou a discusso
havia terminado, com o silncio seguido pelo discurso de so Pedro,
indicando fim de debate. Na verdade, Pedro falou, questo decidida.
Paulo e Barnab no acrescentaram nada, apenas contaram suas
misses entre os gentios.
O livro aponta as sugestes de so Tiago escritas na carta
conciliar como provo de que as palavras de Tiago tiveram maior peso
que as de Pedro. Isso bastante pueril.
A questo j havia sido decidida, mas ficaram sugestes
importantes, concordantes com a definio de que os gentios no
deviam ser circuncidados. Como saberiam dessas sugestes se no
fossem escritas? Por isso, so elencadas na carta, como algo
acidental, no essencial, pois a essncia foi dita por Pedro.
A semelhana irrefutvel e mostra que a carta enviada s
igrejas de Antioquia, da Sria e da Ciclia inteiramente baseada
no discurso de Tiago, e no no de Pedro! Alis, deve-se notar que
o discurso de Pedro nem sequer consta na carta enviada s igrejas!
(p. 42) O discurso de Tiago no est na carta, mas suas sugestes. O
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39
que Pedro falou est na carta, pois a resposta questo principal.
J foi demonstrado acima. Essa afirmao, portanto, est refutada.
Se Tiago estivesse somente relatando uma opinio particular
como fez Pedro poderamos no levar isso to em considerao.
(p. 45) Para o livro Pedro fez apenas uma considerao pessoal, uma
opinio particular. No isso que a Bblia ensina, pois ele mostra
que Deus o elegeu para pregar aos pagos, e isso foi de
importncia fundamental para resolver a questo e evitar toda
ulterior discusso (v. 12)
Mas quando vemos que as palavras de Tiago foram adotadas
como as palavras do conclio, isto , como a palavra do corpo
apostlico, vemos que Tiago teve o poder de falar por todo o corpo
de apstolos, o que cremos que no seria possvel se ele no
passasse de uma sombra de Pedro! (p. 45) Assim, o livro
apresenta Tiago falando em nome de todos. No parece uma leitura
objetiva, mas uma suposio. luz do que foi provado antes, essa
suposio est refutada.
Ainda: Pedro s foi comear a falar depois de muita
discusso (At.15:7). A sua fala, ainda que importante, no foi
decisiva. Precisou de Paulo e de Barnab discursarem depois, com
toda a assembleia em silncio absoluto diante deles (At.15:12),
(nfase no original). O livro s no explicou porque a assembleia
estava em silncia diante de Paulo e Barnab. J mostado acima, mas
repetindo aqui: porque Pedro havia discursado com tanta autoridade,
mostrando sua eleio para decidir o assunto, e mostrando que quem
pensa diferente estava tentando a Deus, somente aps isso houve
silncio.
Nenhuma das posies levantadas por Pedro foram adotadas
nas prescries da carta enviada s igrejas e ele no foi o que mais
discursou. (p. 45)
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O livro afirma diversas vezes que a Epstola Conciliar no teve
qualquer palavra de Pedro, mas afirma que: Mas os apstolos, em
comum acordo, decidiram no escrever na carta nenhuma palavra
dita por Pedro e ainda por cima colocaram exatamente as mesmas
palavras proferidas por Tiago. (p. 44)
Parte do ponto fundamental no discurso de so Pedro: Ento,
por que agora vocs esto querendo tentar a Deus, impondo
sobre os discpulos um jugo que nem ns nem nossos
antepassados conseguimos suportar?
Ponto fundamental no discurso de so Tiago: Portanto, julgo
que no devemos pr dificuldades aos gentios que esto se
convertendo a Deus.
Ponto fundamental da carta: Pareceu bem ao Esprito
Santo e a ns no impor a vocs nada alm das seguintes
exigncias necessrias...
As sugestes de Tiago deviam ser claramente escritas, pois
doutro modo no seriam conhecidas, se a carta do conclio apenas
afirmasse o fundamental, de que os gentios no tinham nada a seguir
da Lei Mosaica para serem salvos.
Ainda volta a fazer a acusao de que a Igreja tenha criado
lendas e mitos sobre Pedro: A figura quase mitolgica de Pedro
tomou o lugar da figura real do Pedro bblico, que no liderava
conclios e que muitas vezes era colocado em segundo plano ou
praticamente ignorado. (p. 47)
Quem l a Bblia e a Patrstica e documentos histricos em geral
fica convencido de que so Pedro figura maior entre os apstolos,
de forma alguma diminudo, muito menos sendo ignorado.
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41
Ainda, o livro argumenta que so Tiago julgou as palavras de
todos, sumariou, aprovou, e definiu fazendo a proclamao final,
porque disse: julgo [krino] que...
O Comentrio da Bblia Matthew Henry explica que Tiago deu
sua opinio, seu parecer, no tendo autoridade sobre o resto (Atos
15,19). A expresso ego krino [julgo] pode ser traduzida como
apenas opinio. O verbo krino pode ter o sentido que o livro
apresenta, mas no necessariamente. O autor interpreta de outra
forma: Este julgo no est ali no sentido de acho que, mas sim
no sentido de exercer juzo [veredicto] sobre um determinado
tema. [...] Se Tiago estivesse somente dizendo eu acho isso, a
sua opinio no teria maior valor que a dos outros e a discusso no
iria se dar por terminada. [nfase no original](p. 47)
Da Homilia que So Joo Crisstomo, sobre Atos 15, realizou a
respeito do assunto, pode-se aprender que So Tiago era bispo de
Jerusalm, por isso falou por ltimo, para ser mais uma testemunha
do que havia sido proclamado por so Pedro. Da passagem de Atos
15,19 so Joo admite que trata-se da autoridade de So Tiago, mas
como sabemos, sendo Pedro cabea dos apstolos, a autoridade de
Tiago ali era inferior de Pedro.
Portanto, o que o livro afirma no se impe absolutamente:
No h dvidas de que Pedro tambm teve o seu papel no conclio, assim como Tiago e
Barnab tambm tiveram, mas no chegou nem perto da importncia daquilo que foi o
discurso de Tiago. (p. 48) Pelo contrrio, so Tiago teve importncia, e
autoridade, naquele momento, mas no comparado ao papel de
Pedro, pois o discurso de Pedro dirimiu a questo fundamental pela
qual se deu o primeiro Conclio da Igreja Catlica.
Pedro, porm, foi sombra de Tiago no conclio. Tiago estava longe de ser um
papa, mas tinha autoridade suficiente para deixar Pedro em segundo plano em um
debate. Dever-se-ia ter mais calma ao pensar em escrever tamanha
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42
inexatido. Essa afirmao acima no fruto de exegese, nem do
contexto de Atos 15, mas do pressuposto de que Pedro no exercia a
primazia na Igreja. Percebe-se que das argumentaes fica sempre
abaixo da superfcie dos argumentos a figura de Pedro como de
menor importncia e autoridade nas ocasies tratadas, tudo contrrio
ao texto bblico. claro o papel proeminente de Pedro, embora o livro
tente vir-lo contorn-lo e faz-lo parecer o oposto. O que no
conseguiu.
Pode-se perceber das argumentaes em torno do papel de
Tiago naquele momento, algo como que uma transposio dos
modelos de reunies modernas para os tempos antigos, da
antiguidade das Escrituras do Novo Testamento, que podem ser
distintos em pormenores. Sendo assim, como saber das especficas
partes que desenrolaram-se no Conclio de Jerusalm, se as mesmas
no esto claramente expostas?
No importa, para o caso, visto que as linhas gerais so
delineadas com clareza. Ao comear o Conclio o assunto
apresentado, e h debates com os cristos judeus ali presentes,
sendo ocasio inicial para discusses acirradas em torno da questo.
Aps esse momento, levantou-se Pedro. O fato de falar em p
no significa em si mesmo autoridade sobre os demais, mas essa
atitude um sinal de autoridade, segundo as circunstncias.
Ademais, ao falar Pedro lembra sua escolha para anunciar a salvao
aos gentios, que Deus no faz acepo de pessoas, e mostra que a
salvao pela graa.
Por isso, afirmo mais uma vez, com a Bblia, a tradio crist, a
histria e o bom senso, que Tiago no apresentou a resposta
questo do conclio, no resolveu nada, como tentou apresentar o
livro. O que o livro deixou claro foi apenas o papal de autoridade de
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so Tiago no Conclio, como bispo da Igreja de Jerusalm, no sua
autoridade sobre so Pedro.
Deve-se lembrar que todos os apstolos estavam cheios do
Esprito Santo, e ainda que fossem fracos, como todo homem, tinham
o dom da infalibilidade para pregar e escrever a Bblia. Nessas
circunstncias entende-se que so Pedro no necessitava de exercer
seu poder jurisdicional sobre os apstolos, embora tinha esse poder.
O que se verifica, porm, seu primado entre os apstolos,
pressupondo j o seu direito jurisdicional.
Quanto a Glatas 2,9 h variantes no original, como mostra a
Bblia de Jerusalm. Os Padres da Igreja usualmente tambm citam
Pedro em primeiro lugar, seguido por Tiago e Joo. Ns cdices
originais, h vezes em que Pedro citado primeiro, outras vezes ele
no aparece como coluna, mas apenas Joo e Tiago. Mostraria assim,
pelo menos, que no havia preocupao em colocar algum desses,
nesse verso, como o primeiro, por se tratar de epstola, e do assunto
em questo, e o mesmo no tocar a questo da liderana da Igreja
em todo o mundo. No entanto, considerando a defesa de so Paulo
do seu apostolado, frente aos judeus cristos, parece a citao de so
Tiago em primeiro lugar dever-se ao fato de ser uma figura destaque
em Jerusalm, local de onde os judaizantes saram. Como atribuam
suas atitudes autoridade de Tiago, so Paulo mostra que o mesmo
Tiago est em comunho doutrinal com ele, assim como Pedro e
Joo. Apenas para fins de informao. A doutrina do primado est
estabelecida.
Cristo Jesus o nosso nico Senhor, Salvador, Mestre, Pastor,
Pontfice, Pedra da Igreja. por ele que Pedro exerceu seu primado,
e pelo mesmo motivo que o faz os papas.
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Captulo 7
Paulo contra Pedro em Antioquia
O captulo iniciado assim: Na epstola de Paulo aos glatas,
vemos o conflito que ele teve com Pedro em Antioquia, que tambm
nos ajuda a compreender que Pedro no era uma espcie de
autoridade infalvel, mas um homem no mesmo patamar de
autoridade de Paulo, sujeito s mais duras crticas e repreenses....
(p. 50)
E questiona: Qual catlico nos dias atuais seria corajoso o
suficiente para dizer que viu o papa face a face e lhe resistiu na cara
porque o papa repreensvel? (p. 50). E ainda: Toda essa
repreenso de Paulo frente a Pedro seria um completo disparate caso
este assumisse algum cargo muito superior ao do prprio Paulo, pois
seria Pedro que deveria repreender Paulo por insubmisso e desacato
a autoridade, e no Paulo a Pedro por no estar andando de acordo
com a verdade do evangelho (v.14). [nfase no original] Essa
questo revela o quo distante da verdadeira doutrina crist catlica
est o autor do livro. Parece afirmar que o catlico no est no direito
de repreender o papa, ou um superior, com caridade, se este estiver
errado. Ainda, pela argumentao verifica-se um erro primrio, ao
indicar que os subalternos so intrinsecamente inapropriados a
resistir seus superiores quando esses merecem reprovao.
O primeiro erro consiste no desconhecimento da doutrina
catlica, o segundo na deficincia em identificar o verdadeiro princpio
racional para a questo. Nunca o agir, o fazer algo, corretamente,
seria um disparate. Tal fraqueza de raciocnio est evidenciada
nesse ponto.
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Como no satisfeito, o autor insinua o medo de so Pedro,
que seria inferior em autoridade a so Tiago, bispo de Jerusalm.
Notando que so Pedro est em Antioquia, seria afirmar que sua
autoridade no era apenas relativa igreja em Jerusalm, mas
mesmo fora dela, pois Pedro o temia. E o livro afirma isso: Isso nos
deixa claro que Pedro temia a liderana de Tiago.... (p. 52)
A informao seguinte no se encontra na Bblia. Alis, est
contrria a ela: e mesmo assim Pedro ficou com tanto medo que
censurou aqueles incircuncisos com quem antes comia to
amigavelmente.... So Pedro, afirma a Escritura, apenas deixou de
comer com os gentios, no os censurou, no pregou nada! Suas
atitudes foram negativas para a ocasio, no sua doutrina, que era
infalvel, e exposta no Conclio de Jerusalm, como provado acima.
O autor questiona: Onde foi parar a infalibilidade papal?
Novamente nota-se a falta de compreenso da verdade crist catlica
quanto infalibilidade.
Outra afirmao no comprovada pela Bblia e pela Histria est
aqui: Alm do fato de que se Pedro fosse bispo em Roma ele seria
dos incircuncisos (gentios), tambm temos a indiscutvel constatao
de que ele no exercia uma jurisdio universal, mas apenas um
ministrio local no mesmo nvel de Paulo (Gl.2:6-8). Sabe-se que
em Roma havia grande nmero de judeus no primeiro sculo, ao
tempo da pregao de Pedro l. Ainda que, sendo regio pag, a
colnia judaica em Roma era bastante prspera. Dessa forma, so
Pedro teve muitos judeus cristos em sua sede romana.
Ento, o captulo termina do seguinte modo: Essa evidncia
ainda mais importante porque ela no est relacionada apenas a uma
ordem cronolgica ou sucesso de nomes como vemos vrias vezes
ocorrendo ao longo da Escritura onde o nome de Pedro colocado por
primeiro, mas se refere a uma posio hierrquica na Igreja, uma vez
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sendo que essas colunas representam autoridade. Paulo est
simplesmente dizendo que Pedro no era a nica autoridade, mas
que havia pelo menos outras duas autoridades alm dele, no mesmo
patamar, e se pensasse mesmo que dentre elas se destacava Pedro
teria obviamente colocado seu nome por primeiro, o que ele no fez.
(p. 54)
A falta de concatenao das ideias revelada aps anlise. O
livro afirma que nas vezes em que Pedro citado primeiro explica-se
por tratar-se de ordem cronolgica ou de sucesso de nomes. Em
primeiro lugar, se a cronologia logicamente relativa ao tempo,
temos que so Pedro no foi o primeiro [protos] (Mt 10,2) por ter
sido o primeiro cronologicamente a ser chamado, se fosse o caso.
Esse posto do seu irmo Andr. Tem-se a o primeiro erro. O
segundo supe que se trata de apenas sucesso de nomes. No
entanto, se se verifica uma ordem rgida, poucas vezes quebrada,
isso indica algum critrio para aquela sucesso. Sabe-se que a
primazia de Pedro explica ser ele o primeiro citado na maioria das
vezes. De fato, os Evangelhos citam-no todas as vezes como o
primeiro, na colgio dos apstolos.
Depois, o livro afirma quem em Gl 2,9 referida posio de
hierarquia, por representarem autoridade, ao mesmo tempo em que
ensina que ensina Pedro no ser nico em autoridade, e que havia
mais autoridades com ele no mesmo patamar. Como!? Se h
hierarquia, e o texto argumenta como sendo Tiago o primeiro,
proeminente, mencionado nessa lista de autoridade, como explicar
que eram idnticas, ocupando mesmo nvel, mesmo patamar? Trata-
se de uma contradio evidente na argumentao. Est falida em si
mesma.
Mas, se o livro apenas deseja destacar que h uma nica
autoridade, e que no importa a colocao dos nomes, temos que so
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Tiago ocupou primeiro lugar por pura coincidncia. Est refutada a
posio do autor. Contudo, para maior elucidao da questo
necessrio uma contextualizao e fechamento da mesma.
Na cidade de Antioquia estavam os dois grandes apstolos,
Pedro, o prncipe dos apstolos, e Paulo o doutor das naes, como
conhecido em toda a Igreja.
Estavam em paz, pregando o Evangelho, e convivendo com
judeus e pagos convertidos ao Cristianismo. Porm, ao chegarem
judeus cristos de Jerusalm, da parte de so Tiago, o
comportamento de so Pedro comeou a mudar.
Entende-se que suas intenes no eram errneas em si, mas
por motivos circunstanciais tornaram-se inaceitveis. Para no
escandalizar os judeus cristos, so Pedro passou a evitar as
refeies com os gentios convertidos, o que levou grande parte dos
cristos a adotarem suas atitudes. At mesmo Barnab, companheiro
de So Paulo nas misses, e to acostumado com a evangelizao
entre os gentios, mesmo ele imitou a so Pedro.
Essa atitude de Pedro seria um empecilho para a misso aos
pagos, e so Paulo teve que adverti-lo em pblico. (Gl 2,14) Nessa
atitude no h nada contrrio ao primado de Pedro. Como apstolo, e
em verdade, so Paulo teve autoridade para confrontar so Pedro, e
esse com certeza ajustou sua atitude.
Ao invs de ver nesse momento um sinal de negao da
primazia petrina, v-se nele um exemplo da mesma. Nota-se que a
pregao e o exemplo de so Paulo no puderam conter a influncia
do comportamento de so Pedro. Como chefe, ele tinha tamanha
influncia, que at mesmo Barnab quis tomar seus exemplos para
si. A nica via seria uma contestao pblica, diante da Igreja, contra
aquela atitude do lder. E foi assim que so Paulo agiu.
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O texto sagrado possui uma palavra importante, como aquela
que o livro explicou, ao tentar mostrar a superioridade de so Tiago
no conclio de Jerusalm [krino], e essa palavra : obriga. So Paulo
afirma que So Pedro estava obrigando os cristos a judaizarem
pelo seu exemplo. Que poderoso exemplo aquele, contra o qual as
palavras e vida de so Paulo no puderam conter, restando somente
uma reprovao pblica. Com humilde aprovao de so Pedro,
estava desfeita aquela ocasio, que, doutro modo, poderia ser
negativa para o crescimento da santa Igreja. Uma vez aprovado pelo
prncipe dos apstolos, o apostolado entre os gentios tinha mais uma
comprovao. Santo Agostinho, em sua Epstola 82,22 comenta essa
sagrada passagem das Escrituras, mostrando os exemplos dos
inferiores, e mais jovens, corrigindo os superiores, e mais velhos. A
traduo superior, inferior parece mais de acordo com a passagem.
Para a questo do apostolado de Pedro aos judeus e de Paulo
aos gentios: Jesus veio para a casa de Israel. Em toda Sua vida
pblica no procurou os gentios para anunciar-lhes o Evangelho, e
afirmou categoricamente, no uma nica vez, que Seu envio no foi
aos pagos, mas s ovelhas perdidas do povo judeu.
Dessa verdade, algum poderia fazer surgir um princpio do
qual a misso de Cristo no era universal, mas parcial, e que por isso
no poderia ter autoridade sobre toda Igreja, mas apenas aos
cristos de origem judaica. Essa heresia blasfema poderia ser
cogitada por considerao arbitrria de passagens do Evangelho, sem
a devida compreenso de sua mensagem geral.
Do mesmo modo, ao afirmar que Cefas recebeu o apostolado
especial entre os pagos, e que Paulo foi feito pregador dos gentios,
no se pode tirar da que a primazia de Pedro no existia, por ter sua
autoridade apenas relativa aos judeu-cristos. Nada mais falso. Essa
leitura tpica desconsidera as Escrituras, e usa de um literalismo
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errneo, por esquecer-se de outras passagens igualmente claras que
compreendem, juntamente com essas outras, toda a doutrina.
So Pedro pregou primeiramente aos judeus (cf. Atos 2), e
tambm foi o primeiro a converter, por fora do Esprito Santo, os
pagos (cf. Atos 10). O mesmo ocorreu com so Paulo, que dirigiu
em primeiro lugar aos compatriotas judeus, e somente aps
renegado, em geral, pelos mesmos, passa a atuar entre os gentios
(cf. Atos 13,14).
digno de nota que o apostolado coordenado entre os judeus
ficou principalmente sob responsabilidade de Pedro, Tiago e Joo. No
entanto, ao falar dessa especificidade de evangelizao, Paulo cita
somente a Pedro, comparando seu apostolado entre os pagos com o
de Cefas entre os filhos de Israel. (cf. Gl 2,6-8) Ao afirmar que no
era inferior aos demais apstolos (2 Cor 11,5), so Paulo no trata de
jurisdio, mas de condio de apstolo, que est em nvel de
igualdade com os outros. Comparando, no entanto, seu apostolado
com o de Pedro, isso no indica igualdade jurisdicional, mas salienta
o papel relevante de Pedro. Sabendo da primazia de Pedro, tem-se
nesse particular mais um sinal da mesma, expresso pelo grande
apstolo so Paulo.
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Pedro em Roma: Romanos 15,20: fundao de outro
homem. [fundamento alheio] Pode ser aluso a Pedro. Em Rm
13,2-6 so Paulo no se refere uma nica vez a Csar Nero, mas
apenas s potestades superiores, aos magistrados, chamando-o
ministro de Deus. Por no ser nomeado, uma nica vez, o
imperador, no se pode afirmar que o mesmo no tinha
proeminncia, nem que no estava em Roma, ou que no existia
imperador nessa poca. Se a Bblia fala em termos gerais, usando
magistrados e no o Imperador, disso pode-se inferir uma razo
importante. Se dessa omisso direta do nome do principal governante
indicasse que o mesmo no existia, e fosse interpretao correta,
como feita com relao a Pedro, algum deveria pelo menos
duvidar de que havia imperador em Roma, seno afirm-lo contra
toda a histria e a prpria Bblia. Deve-se ter cuidado ao interpretar o
texto sagrado para no cair nesses problemas.
So Paulo fala que sua visita a Roma ser apenas de
passagem: Quando partir para Espanha irei ter convosco; pois
espero que de passagem vos verei. (v. 24) A expresso para
outro lugar explica que a Escritura no deseja fazer conhecido o
paradeiro de so Pedro nessa poca, por causa da perseguio. (Atos
12,17) So Pedro no espera so Tiago, mas pede que os cristos
contem a ele o milagre de sua libertao: E, saindo, partiu para
outro lugar. Nesse contexto possvel que a designao
Babilnia em 1 Pedro 5,13 refira-se a Roma, como atesta a histria
antiga. De fato, outro lugar, fundamento alheio e Babilnia so
expresses ter termos bastante indiretos. Taylor Marshall afirma que
Rm 15,20 pode ser referncia a Pedro.
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Captulo 8
O papa o Sumo Pontfice?
O Catecismo [65] citado. O livro objeta que o ttulo de Sumo
Pontfice no citado em Efsios 4,11-12. Sendo assim, no existiria.
Na verdade, o cargo no necessita do ttulo para sua existncia, mas
o ltimo lhe derivado. Se no havia o ttulo na poca em que so
Paulo escreveu, pouco importa, pois o cargo existia.
Mas, afirmar que o cargo inexistia, pois inveno da Igreja,
tal afirmao descabida, e a Bblia a refuta. A esta altura, a
resposta acima j provou o primado petrino, sendo essa mais uma
afirmao incua.
O ttulo de Sumo Pontfice e Pontifex Maximus eram aplicados
ao Sumo Sacerdote do Antigo Testamento. Os imperadores romanos
tambm eram chamados Pontifex Maximus. O ttulo foi usado para o
papa, de modo exclusivo, a partir, e somente a partir, do sculo 11.
Portanto, um ttulo histrico, mas de sentido teolgico. O papa o
representante, e participa do Sacerdcio, de Jesus. Por isso, no h
motivo para exigir que o mesmo aparea em Ef 4,11-12.
O Catecismo da Igreja Catlica ensina que Jesus o nico
sacerdote verdadeiro (Hb 5,10; 6,20; 7,16; 10,14), os demais so
Seus ministros (1545). Ensina ainda que:
Cristo Cabea do Seu Corpo [Igreja]
Pastor do Seu rebanho
Sumo Sacerdote do sacrifcio redentor
Portanto, o sacerdote representa Jesus Cristo. [cf. 1548]
Cristo o chefe da Igreja [cf. 1549]
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H somente um sacerdcio, o de Jesus [cf. 1551]
Cristo o Cabea da Igreja, e os sacerdotes apenas o
representam. [cf. 1552]
Cristo Mestre, Pastor e Pontfice. [cf. 1558]
Os bispos so mestres da f, pontfices e pastores. [cf. 1558]
Cada bispo pastor de sua igreja local, mas responsvel por
toda a Igreja. Em outras palavras, cada um bispo universal. [cf.
1560]
Cristo o Bom Pastor e Cabea de Sua Igreja. [cf. 1561]
Cristo o Sumo e Eterno Sacerdote. [cf. 1564]
Pode-se lembrar do ensino que est nos santos Padres. Se o
livro ensinar verdade no estar inovando. No entanto, o mesmo
afirma que o ttulo Sumo Sacerdote somente aplicado a Jesus, no
a nenhum homem na terra.
Como mostrado, o ttulo aplicado aos homens santos,
sacerdotes no Antigo Testamento. Era uma prefigurao de Jesus, o
Verdadeiro e nico sacerdote. No Novo Testamento o sentido do
termo continua no ministrio ordenado. No entanto, a f crist
catlica tem Jesus como nico Sumo Sacerdote, como est claro no
Catecismo.
Ao tratar do cumprimento da figura do Sumo Sacerdcio da
Antiga Aliana, o livro ensina: Antes, pensem comigo: se existiu um
momento perfeito para algum dizer que o sumo sacerdcio humano
da Antiga Aliana foi transferido para outro sumo sacerdcio humano
na Nova Aliana, era esse. (p. 58)
Esse mais um atestado de incompreenso da doutrina crist
catlica. Pelo exposto acima, os catlicos deveriam crer que o papa
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fosse o sumo sacerdote em cumprimento das profecias antigas. Nada
mais incorreto.
Uma vez que a Bblia contrasta o sacerdcio do Antigo
Testamento com o Novo, mostrando que o Sumo Sacerdote antigo
deveria oferecer sacrifcios contnuos, por si mesmo e pelos outros, e
era mortal, portanto, no poderia cumprir infinitamente seu
sacerdcio. Para aplicar o cumprimento dessa figura em um homem
mortal no Novo Testamento seria exposta outra doutrina, que no a
da Bblia. Portanto, em momento algum o sumo sacerdote da antiga
aliana seria equiparado, em termo de cumprimento, ao sumo
sacerdote, o papa. E a doutrina crist catlica nunca foi assim.
No existem dois pontfices, um celestial e um terreno, mas
apenas um. O papa humildemente detm o ttulo como vigrio
(representante) no substituto de Jesus. Essa premissa bblica.
Ao tratar dessa questo, o autor de Hebreus no contrasta o
sacerdcio do Antigo Testamento com o sacerdcio do Novo
Testamento, de todos os fieis. Esse no era o assunto em questo.
Assim, no trata da posio de primazia de Pedro, nem de qualquer
outro cargo na Igreja, embora existentes. Assim, constitui um
argumento ex silencio.
A doutrina catlica no equipara o Sumo Sacerdcio de Jesus
Cristo com o sacerdcio ministerial, nem com a posio do papa.
Como provado, a Igreja ensina que o papa apenas um servo,
ministro de Jesus. O ttulo que usa possui esse sentido.
A acusao: Quando os catlicos dizem que o papa o Sumo
Pontfice, eles esto simplesmente blasfemando contra a obra de
Cristo. (p. 61) e O Sumo Pontfice romano no uma autoridade
que provm de Deus, uma usurpao de Satans... (p. 62). Essa
acusao expressa um anti-catolicismo radical, capaz de cegar a
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mente e impedir o entendimento da verdade. O demnio serve-se do
dio. Porm, em Nome de Jesus Cristo os leitores da presente
resposta sejam libertados de todo preconceito e dio instituio
crist catlica, para que compreendam a verdade que liberta e
possam ajudar outros a conhecerem Jesus Cristo.
O papa no usurpa o lugar de Cristo, no substitui o Senhor,
mas O representa na sua forma de governo, como cada cristo
representa o Senhor no seu estado de vida pessoal. Esse o conceito
da Bblia Sagrada. O Catolicismo Romano vem de Jesus Cristo, Seu
Fundador, Seu Criador, e em Seu Nome que todo erro cai, toda
heresia refutada, e o povo de Deus iluminado com Sua Luz, com
Sua graa.
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Captulo 9
Nenhum enviado maior do que aquele
que o enviou
Partindo de um princpio que estaria em Joo 13,16, o livro
tenta refutar o papado por afirmar que sendo Pedro enviado em Atos
8,14 pela Igreja, no poderia ser o chefe, pois estaria contrariando o
princpio universal exposto em Joo 13,16.
O livro assevera: Como vemos, no era Pedro que dava ordens
na Igreja primitiva enviando seus liderados aos outros lugares do
mundo, mas ele prprio que recebia ordens dos demais e era
enviado a outros lugares! Isso destri a tese do primado
petrino... [nfase no original] (p. 64). Afirma que Pedro no era o
mandatrio, e que no poderia ser o maior, mas no mximo igual,
luz de Joo 13,16.
Aps maiores explicaes, conclui: Portanto, de acordo com a
regra imposta aqui (que o enviado-apostolos no pode ser maior do
que aquele que o enviou), Pedro no poderia ser maior do que os
apstolos que enviaram ele e Joo a Samaria, o que aniquila a tese
do primado universal de Pedro como o chefe dos apstolos.
[nfase no original] (p. 65)
correto que os subalternos no passam ordens aos
superiores. No entanto, o verbo grego enviar no dar ordens,
como apresentado acima. Nesse caso, os superiores podem ser
enviados por outros, seus inferiores em autoridade.
So Pedro foi enviado por concordar na misso, no por receber
ordens. Ainda que nos cnones do pensamento do livro, que arvora-
se na defesa da igualdade entre todos os cristos, entre todos os
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apstolos, so Pedro seria igual em autoridade aos outros que o
enviaram. Sendo assim, do texto no se infere inferioridade de so
Pedro com relao aos demais.
No entanto, o princpio que o livro apresenta no est correto.
Raciocinando segundo o texto bblico temos outro ensinamento.
Nosso Senhor no afirma que o servo ser igual em autoridade ao
seu Senhor. Se isso ocorre, j no haveria mais senhor e servo, mas
dois senhores. Se caso ocorresse sempre, os servos desapareceriam.
O livro cita os textos de Mateus 10,24-25 e Lucas 6,40, em
apoio sua interpretao de Joo 13,16. A correta exegese mostrar
que o livro est equivocado por completo.
Jesus afirma que aquele que quiser ser o primeiro que torne-se
o ltimo, servidor de todos. Ensina assim para endireitar os coraes
orgulhosos e altivos.Ensina igualdade? Onde? Em lugar nenhum. Se
assim o fosse, no concordaria na ideia de primeiro e ltimo.
Onde h tal gradao no existe igualdade em autoridade, e no reino
dos cus no h tal realidade.
O prprio Senhor Jesus coloca-Se como o Maior, e ainda assim
mostra que veio para servir, no para ser servido. E, servindo a todos
continua sendo o Maior. Pensar que o discpulo um dia ser igual em
autoridade a Cristo blasfmia, e o princpio universal (p. 63) que
o livro supe ver em Joo 13,16 permite essa concluso. Est assim
refutado.
Para melhor afirmao e prova, deve-se ler diretamente as
Escrituras:
Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que
julgam ser prncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus
grandes usam de autoridade sobre eles; Mas entre vs no ser
assim; antes, qualquer que entre vs quiser ser grande, ser vosso
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servial; E qualquer que dentre vs quiser ser o primeiro, ser servo
de todos. Porque o Filho do homem tambm no veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.
A questo no negao da autoridade, mas o ensino de Jesus
sobre a verdadeira autoridade, que o servio. Os prncipes da Igreja
devem servir, no ser iguais aos outros em autoridade, mas no usar
do seu poder para assenhorear-se ou para dominar.
Nosso Senhor afirma que h maior e menor na Igreja, e o texto
de so Lucas claro nesse sentido: Mas no sereis vs assim;
antes o maior entre vs seja como o menor; e quem governa
como quem serve. H, portanto, o maior, h aquele que governa.
O sentido novo do Evangelho que o maior, o governador, deve
servir. O livro tentou passar a ideia de que na Igreja no h maior,
mas igualdade, o que est absolutamente errado. contrrio ao
Evangelho.
Jesus mostra-SE como o Maior, e como Servidor: Pois qual
maior: quem est mesa, ou quem serve? Porventura no
quem est mesa? Eu, porm, entre vs sou como aquele que
serve. Se o texto denotasse qualquer coisa contrria ao primado de
jurisdio, estaria negando a autoridade do Senhor tambm, o que
implica em absurdo e blasfmia.
Sendo desse jeito, Atos 8,14 ao afirmar o envio de so Pedro
no supe o sentido de mandar ou dar ordens a algum, mas
somente o de enviar-lhe. E o significado do envio s pode ser
entendido contextualmente.
A Bblia revela que os superiores podem ser enviados nesse
sentido, sem se tornarem iguais e muito menos inferiores, em Josu
22,13-14 e Atos 15,2.
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E enviaram os filhos de Israel, aos filhos de Rben, e aos filhos
de Gade, e meia tribo de Manasss, na terra de Gileade, a Finias,
filho de Eleazar, o sacerdote, e a dez prncipes com ele, de cada casa
paterna um prncipe, de todas as tribos de Israel; e cada um era
cabea da casa de seus pais entre os milhares de Israel.
...resolveu-se que Paulo e Barnab, e alguns dentre eles,
subissem a Jerusalm, aos apstolos e aos ancios, sobre aquela
questo.
O sacerdote Fineias e os prncipes foram enviados pelos filhos
de Israel, e no Antigo Testamento est clara a rgida hierarquia. So
Paulo e so Barnab foram igualmente enviados, e eram lderes de
suas igrejas. Portanto, So Pedro foi enviado, obviamente de comum
acordo, pois aquela misso era de importncia tal que o lder da
Igreja a efetuaria de forma mais apropriada.
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Captulo 10
Paulo reconhecia Pedro como o Sumo
Pontfice?
Se um cristo afirma que no nada inferior ao papa, estar
sendo, pela expresso dita, negando a autoridade do papa? Talvez
no. As