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EDUARDO JOS SCHEIBLER
RODRIGO HENRIQUES TOCANTIS
RESPONSABILIDADE CIVIL
PELO ASSDIO MORALTRABALHISTA
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EDUARDO JOS SCHEIBLER
RODRIGO HENRIQUES TOCANTINS
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ASSDIO MORAL TRABALHISTA
PORTO ALEGRE
APOIO CURSOS
2015
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SUMRIO
1 INTRODUO......................................................................................................... 4
2 ASSDIO MORAL NAS RELAES DO TRABALHO.......................................... 6
2.1 Evoluo histrica .............................................................................................. 6
2.2 Conceito ............................................................................................................... 7
2.3 Caracterizao do assdio moral.................................................................... 11
2.4 Distino com figuras assemelhadas e com dano moral.............................. 18
2.5 Espcies de assdio moral .............................................................................. 21
3 TUTELA JURDICA DO ASSDIO MORAL......................................................... 28
3.1 Assdio moral no direito comparado.............................................................. 28
3.2 Tutela constitucional ........................................................................................ 36
3.2.1 Principio da dignidade da pessoa humana ...................................................... 37
3.2.2 Princpio da igualdade ...................................................................................... 39
3.2.3 Dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa ......................................... 40
3.2.4 Direito fundamental integridade do ambiente de trabalho ............................. 41
3.3 Princpio da proteo do trabalhador............................................................. 41
3.4 Da consolidao das leis trabalhistas............................................................ 42
3.5 Legislao esparsa ........................................................................................... 46
3.6 Projetos de lei federal....................................................................................... 51
3.6 Jurisprudncia .................................................................................................. 54
4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO ASSDIO MORAL................................ 59
4.1 Da responsabilidade civil................................................................................. 59
4.2 Das espcies de responsabilidade civil.......................................................... 62
4.2.1 Da responsabilidade civil contratual e extracontratual ..................................... 62
4.2.2 Da responsabilidade civil subjetiva e objetiva .................................................. 63
4.3 Da responsabilidade civil pelo assdio moral................................................ 65
4.4 Das provas do assdio moral .......................................................................... 71
5 CONCLUSO ........................................................................................................ 78
REFERNCIAS ........................................................................................................ 81
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1 INTRODUO
O assdio moral nas relaes do trabalho um fenmeno to antigo quanto as prprias
relaes de trabalho, remontando sculos de histria. Contudo, a necessidade de tutela por
parte do Estado tornou-se imperiosa e inafastvel apenas nas ltimas dcadas, premidas pelos
avanos tecnolgicos e pela globalizao, que tornaram o mercado ainda mais competitivo,
onde os resultados, essenciais para a sobrevivncia das empresas, acabam inmeras vezes
por sobrepujar os direitos do trabalhador, afrontando mesmo sua dignidade.
Incitados pela necessidade premente, diversos estudiosos, tanto da rea mdica quanto
da rea jurdica, passaram a dispensar ateno especial ao instituto do assdio moral
trabalhista, estudos estes que vem se desenvolvendo incessantemente nas ltimas dcadas.
Por tratar-se de um instituto relativamente novo no mundo jurdico e em pleno
amadurecimento terico, diversas so as controvrsias que dele se subtraem, seja em funo
de seu conceito e abrangncia, seja em relao aos seus sujeitos, tutela e aplicao.
O presente trabalho de concluso de curso abordar o assdio moral trabalhista sob o
enfoque da responsabilidade civil, com o objetivo primordial de identificar o tipo de
responsabilidade aplicada ao agressor, direto ou indireto, especialmente face ao tratamentoprobatrio das diferentes espcies de responsabilidade.
Em se tratando o assdio moral ocorrido na relao trabalhista de uma pratica perversa
dirigida contra o trabalhador, com a degradao do ambiente de trabalho e capaz de ofender
sua dignidade e causar-lhe danos fsicos e psquicos, no h que olvidar-se que a
responsabilizao do agente causador primordial para reparao do dano sofrido.
Em decorrncia desta necessidade, imperioso o aprofundamento acerca da
responsabilidade civil, com a identificao da espcie de responsabilidade aplicada
respectivamente a cada tipo de assdio moral trabalhista.
A importncia da anlise pormenorizada sobre as espcies de responsabilidade civil
aplicveis ao assdio moral no trabalho assenta-se nas provas exigidas, que podero ser
potencialmente mais ou menos difceis de obteno por parte do ofendido.
Para o desenvolvimento do presente trabalho bibliogrfico, utilizar-se- de consultas a
livros de disciplinas diversas, tais como de Direito Trabalhista, Direito Penal, Direito
Constitucional e Direito Civil, bem como de artigos e stios eletrnicos sobre o tema.
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Assim, pretende-se, sem a pretenso de esgotar o assunto, mesmo pelo fato de que
muita discusso ainda deve ser realizada at seu amadurecimento definitivo em solo ptrio,
averiguar qual a responsabilidade civil aplicvel ao assdio moral trabalhista e quais as provas
necessrias para ter-se a responsabilizao do agressor.
Todavia, para alcanar o objetivo cerne do presente trabalho de concluso de curso,
inicialmente imprescindvel situar o assdio moral trabalhista em seu contexto histrico,
verificando ainda as definies adotadas pelas mais modernas doutrinas que abordam o tema,
quais as caractersticas do assdio moral, bem como distingui-lo de figuras assemelhadas e
tratar das espcies de assdio moral trabalhista possveis.
Ainda, por tratar-se de fenmeno de interesse jurdico, essencial uma viso geral acerca
do tratamento legal dispensado ao assdio moral, incursionando-se assim pelo direito
comparado e pelas organizaes internacionais, culminando na tutela jurdica do assdio moral
no Brasil, constitucional, infraconstitucional e jurisprudencial.
Superadas as digresses essncias para o desenvolvimento do tema, pretende-se trazer
luz respostas acerca da responsabilidade civil pela prtica do assdio moral e das provas
dela decorrentes.
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2 ASSDIO MORAL NAS RELAES DO TRABALHO
Para a compreenso de qualquer tema acadmico, em especial quando oriundo do ramo
do direito, tem-se que essencial a noo acerca de suas origens, conceito, caractersticas e
classificaes, bem como no presente caso o conhecimento das formas em que se manifesta o
instituto pesquisado.
Somente quando superadas essas questes iniciais possibilita-se o aprofundamento na
seara normativo legal, razo pela qual nesse captulo sero abordadas essas questes
basilares, a comear pelas origens do assdio moral nas relaes do trabalho.
2.1 Evoluo histrica
As relaes de trabalho remontam sculos de histria, contudo o Direito do Trabalho tem
sua origem na segunda metade do sculo XIX, reflexo da Revoluo Industriali.
A referida revoluo trouxe consigo possibilidades dantes inexistentes em funo do
autoritarismo, sendo propulsora de movimentos sociais, tais como o marxismo, que conduziram
a Europa criao de leis especficas para proteo do trabalhador, assim,
Estava criado o Novo Direito. Um direito eminentemente tutelar que buscava, como jdito, proteger uma coletividade de pessoas, agora conhecidas como empregados, em
face dos abusos que eram cometidos por seus empregadores. ii
Contudo profundas modificaes ocorreram a partir de ento, consolidando na virada do
sculo XX os direitos trabalhistas, com a agregao da tutela de aspectos de integridade
fsica, psicolgica e econmica do trabalhador.iii
Como as relaes sociais so dinmicas e o mundo, desde a solidificao dos direitos
trabalhistas evoluiu, primordialmente por fora da evoluo tecnolgica e da globalizao, tem-
se, por consequncia, um mercado muito mais competitivo e a necessidade de reflexo sobre
os direitos trabalhistas existentes, dentre os quais a proteo contra o assdio moral.
Neste contexto como expe Robson Zanetti, surgem os primeiros estudos acerca desta
violncia que permeia as relaes de trabalho desde a antiguidade: O estudo cientfico e sua
teorizao so novos, porm o problema do assdio no, existem histrias desde os tempos da
bblia.iv
Embora o termo mobbingtenha sido utilizado inicialmente pelo etlogo Lorenz em 1961,
em estudo realizado sobre o comportamento de animais, e por Heinemann em 1972, ao
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analisar um grupo de crianas que atentava contra outra criana isolada v, o primeiro estudo
cientfico sobre o assdio moral nas relaes do trabalho foi publicado em 1984, resultado de
pesquisa realizada pelo cientista sueco e doutor em psicologia do trabalho Heinz Leymann,
demonstrando os efeitos desta violncia na sade do trabalhadorvi.
O estudo elaborado por LeymIann conquistou adeptos, como o doutor Klaus Niedl, a
mdica Marie-France Hirigoyen, o italiano Harald Ege e o alemo DieterZapfvii, exemplosde
expoentes no assunto.
Apesar do sensvel aprofundamento sofrido pelo assdio moral nas dcadas de 80 e 90,
somente na virada do sculo XXI este recebeu tratamento jurdico quer por meio da doutrina,
da legislao, quer por meio da jurisprudncia, embora se afirme que j havia trabalhos sobre o
assunto desde os anos 70, sem, contudo, definir o assdio moral e estudando-o com o
estresse e a sade laboral.viii
No Brasil, constam diversos projetos de lei sobre o assdio moral desde os anos 90,
todavia o tema ganhou especial repercusso em 2000, com a pesquisa realizada pela Dra.
Margarida Barreto, intitulada de Uma jornada de humilhaes, na qual foi constatado que num
universo de 2.072 trabalhadores entrevistados, 870 j haviam vivenciado situaes
humilhantesix
.
Ainda, to relevante para o amadurecimento da questo em solo ptrio quanto a pesquisa
da Dra. Margarida Barreto, foi a traduo do livro L harclement moral: la violence perverse
au quotidien de Marie-France Hirigoyen, no mesmo ano, doutrinariamente a primeira
publicao traduzida voltada ao tema.x
Em decorrncia destes estudos, da relevncia social e da necessidade de soluo dos
conflitos, a expresso assdio moral passa a ter significado de maus-tratos aos indivduos emseus locais de trabalho, caracterizada por praticas e condutas, estas passiveis de reparao.
2.2 Conceito
O assdio moral, como j verificado, um fenmeno antigo, que mesmo tendo sido
abordado anteriormente por especialistas de reas diversas, somente ganhou espao no
mundo jurdico na ltima virada de sculo.
Esse mesmo fenmeno reconhecido por diversas denominaes, como p. ex.: mobbing
na Itlia;terrorismo psicolgico ou assdio moral em Portugal; harclementemoral na Frana;
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bullying na Inglaterra; harassment nos Estados Unidos e; ijime no Japo, entre outros. No
Brasil ainda no h estabelecimento de denominao especfica, sendo assdio moral o termo
mais comumxi.
Thome identifica ainda outras denominaes, como: violnciahorizontal, usura mental,
work or employee abuse, mistreatment, emotional abuse, bossing, victimisation, intimidatio,
acoso moral, maltrato psicolgico, psychological terror at the workplace, hostile behaviours at
work, workplace trauma, stalking, incivility, psychological aggression e emotional violence.xii
O interesse social e jurdico deste incio de sculo pelo tema compreensvel, tendo em
vista que a presso exercida pelas empresas sobre seus empregados crescente em um
mercado globalizado, cada vez mais dinmico e competitivo.
Tambm inquestionvel que a busca por resultados ser sempre o objetivo daqueles
que exercem atividades empresariais, e que a mo-de-obra elemento bsico para que as
metas sejam atingidas.
No entanto, no se pode permitir que a competitividade e a cobrana por resultados
estabeleam um ambiente de trabalho fundado no terror psicolgico, atentando contra a
dignidade humana.
Outrossim, situaes triviais como desentendimentos pontuais ou mero estresse, que
fazem parte da vida de todos, tambm no podem ser consideradas para efeitos jurdicos, sob
pena de tornar invivel o convvio social e mesmo as atividades empresariais.
Da a importncia de ter-se uma definio clara e objetiva quanto ao assdio moral,
evitando que situaes confusas ou pessoas de m-f faam uso inadequado deste importante
instituto jurdico de defesa dos trabalhadores.
em virtude de sua importncia que estudos cientficos vm se desenvolvendo e
aprimorando no decorrer do tempo.
Como tratado no ttulo anterior, o cientista sueco Heinz Leymann foi quem primeiro
preocupou-se com o tema, elaborando um conceito para o assdio moral nas relaes do
trabalho, como sendo:
A deliberada degradao das condies de trabalho atravs do estabelecimento decomunicaes no ticas (abusivas), que se caracterizam pela repetio, por longo
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tempo, de um comportamento hostil de um superior ou colega(s) contra um indivduo que
apresenta, como reao, um quadro de misria fsica, psicolgica e social duradoura.xiii
Mais recentemente, a psicloga francesa Marie-France Hirigoyen definiu como assdio
moral, como:
[...] qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por
sua repetio ou sistematizao, contra a dignidade ou a integridade psquica ou fsica
de uma pessoa, ameaando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. xiv
No Brasil, o primeiro estudo cientifico acerca deste fenmeno atribudo Dra. Margarida
Barreto, que considera assdio moral:
[...] a exposio dos trabalhadores e trabalhadoras a situaes humilhantes econstrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exerccio
de suas funes, sendo mais comuns em relaes hierrquicas autoritrias e
assimtricas, em que predominam condutas negativas, relaes desumanas e aticas de
longa durao, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),
desestabilizando a relao da vtima com o ambiente de trabalho e a organizao,
forando-o a desistir do emprego.xv
Jurisprudencialmente, Frota cita que o conceito adotado de afronta dignidade da
pessoa humana e em consequncia, integridade fsica, psquica e moral do trabalhador,realizada pelo empregador ou por colegas de trabalho, ao expor a vtima a situaes
humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no
exerccio de suas funesxvi.
A Organizao Internacional do Trabalho (OIT), acompanhando a necessidade social,
define o dano moral no trabalhoconsequncia do assdio moral - como uma conduta abusiva
de natureza psicolgica que atenta contra a dignidade psquica do trabalhadorxvii.
Em recente trabalho, Mrcia Novaes Guedes trata o assdio moral como:
Todos aqueles atos comissivos ou omissivos, atitudes, gestos e comportamentos do
patro, da direo da empresa, do gerente, chefe, superior hierrquico ou dos colegas,
que traduzem uma atitude contnua e ostensiva perseguio que possa acarretar danos
relevantes s condies fsica, psquicas, morais e existenciais da vtima.xviii
Como visto, a tarefa de conceituar o assdio moral no trabalho tem sido rdua, tanto na
rea da psicologia quanto no Direito, e ainda em maturao, o que impede que qualquer
formulao seja tida como definitiva.
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No entanto, pela sua abrangncia e ousadia, opta-se pela definio a seguir:
O assdio moral no trabalho se caracteriza por qualquer tipo de atitude hostil, individual
ou coletiva, dirigida contra trabalhador por seu superior hierrquico (ou cliente do qual
dependa economicamente), por colega do mesmo nvel, subalterno ou por terceirorelacionado com a empregadora, que provoque uma degradao da atmosfera de
trabalho, capaz de ofender sua dignidade ou de causar-lhe danos fsicos ou psicolgicos,
bem como de induzi-lo a pratica de atitudes contrarias a prpria tica, que possam
exclu-lo ou prejudic-lo no progresso em sua carreira.xix
Interessante verificar que Marcelo Rodrigues Prata explicita, e mesmo inova, em seu
conceito, quando elenca: a) como agressores: o cliente do qual haja dependncia econmica, o
terceiro relacionado com a empresa e o subalterno; b) como violncia: a induo a prticas
antiticas que possam excluir ou prejudicar a vtima em sua carreiraxx.
Inegvel que este ltimo conceito abrange os demais expostos e os extrapola, permitindo
uma viso ampla do tema e trazendo consigo tendncias naturais do instituto, razo para
adot-lo como norte no presente momento evolucionrio do assdio moral.
Quanto sua natureza jurdica, pode-se dizer que: 1) no mbito trabalhista trata-se de
falta grave, entendimento do art. 493 da CLT, Constitui falta grave a prtica de qualquer dos
fatos a que se refere o art. 482, quando por sua repetio ou natureza representem sria
violao dos deveres e obrigaes do empregado.; 2) naadministrao pblica federal uma
quebra de deveres do servidor pblico, conforme Lei n 8.112/90; 3) Na esfera cvel constitui-se
de um ato ilcito, nos termos dos art. 186 e 187 do Cdigo Civil Brasileiro de 2002 e; 4) no
contexto penal pode ser um crime contra a liberdade pessoal, conforme art. 146 do Cdigo
Penal, ou ainda uma excludente de culpabilidade enquanto considerado como coao
irresistvel, de acordo do art. 22 do mesmo diploma legal.
Veja-se que a referncia ao art. 493 da CLT, realizada por Prata, construo doutrinaria
para identificao da natureza jurdica do assdio moral trabalhista, pois para efeitos concretos
no teria aplicabilidade direta ao instituto, uma vez que faz referncia as faltas graves do
empregado, no do empregador.
Contudo, a simples conceituao de assdio moral no soluo suficiente para sua
compreenso, sendo imprescindvel a anlise das caractersticas inerentes ao tema.
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2.3 Caracterizao do Assdio Moral
Inicialmente, vale notar que a conceituao do assdio moral segue uma lgica linear em
sua evoluo, ou seja, praticamente no existe discordncia entre os autores, ocorrendo
diferenas pontuais apenas em relao clareza e especificidade, fruto natural dos estudos
sobre a matria.
Diversa a situao encontrada na posio quanto aos elementos que caracterizam o
tema, obviamente porque esses tratam do desmembramento do conceito e atribuem diferentes
graus de valores e de necessidade para cada ponto daquele, bem como acrescem ou
subtraem caractersticas.
Contudo, os principais elementos tratados pela doutrina so o dano, a repetio, ainteno, a durao no tempo, a premeditao, a intensidade da violncia psicolgica e a
existncias de danos psquicosxxi.
No haveria de se falar em assdio moral sem dano, o qual ocorre pela existncia de ato
do agressor com consequente dano a dignidade do empregado. Para ser configurado basta a
degradao do ambiente de trabalho, logo no h necessidade de prova direta dele, mas dos
atos atentatrios, tendo em vista que o dano moral um dano in re ipsa, ou seja, decorre
automaticamente do ato ilcito.xxii
Em posio diametralmente oposta, Robson Zanetti considera essencial a prova do dano,
sendo que quando a vtima for mais resistente simplesmente ficar margem da justia, como
se observa a seguir:
importante que fique provado que o assediado foi atingido em sua sade, seja ela
fsica e/ou mental, pois vrios sintomas nascem do assdio.
[...]
Esta prova importante porque tem pessoas que sofrem atos de assdio mais no so
atingidas, trata-se, podemos dizer de uma imunidade psicolgica ao assdio. Se a
pessoa no foi contaminada, no existe prejuzo e quando se fala em responsabilidade
civil, no existe reparao sem prejuzo.xxiii
Se a posio de Zanetti fosse adotada como premissa para o assdio moral, certamente
um imprio de injustias avanariam sobre aqueles que at ento se mostram resistentes condutas atentatrias como as que caracterizam o assdio moral.
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Na necessidade da repetio identifica-se a maior convergncia de opinies, sendo
elemento reconhecido desde o principio pelos psiclogos e at ento tido como fundamental
para caracterizao do assdio moral.
Assim, considerada elemento intrnseco ao instituto, atos isolados e/ou espordicos no
configuram assdio moral, contudo pode caracterizar um dano moral, mas em esfera diversa
da abordada nessa monografiaxxiv.
No mesmo sentido, Maria Aparecida Alkimin refere que a conduta ensejadora do assdio
moral no pode se apresentar como fato isolado [...] devem ser praticados de forma reiterada
e sistemtica.xxv
Importa ainda salientar que a fixao de quantidade mnima de repeties acarretaria emprejuzo justia, uma vez que existem vrios tipos de assdio moral que podem causar danos
em maior ou menor espao de tempoxxvi.
Em casos excepcionais seria admissvel a configurao do assdio moral independente
da repetio, desde que as circunstncias da agresso revelem claramente que o objetivo do
ato seja a expulso da vtima do ambiente de trabalhoxxvii.
Em contrapartida repetio, o critrio de durao no tempo deveras nebuloso econtroverso entre os autores, enquanto que para alguns seria elemento intrnseco do assdio
moral, para outros no h necessidade de durao mnima.
Para Thome, diante da prpria ideia de assdio, tem-se que uma certa durao no tempo
faz-se necessria para sua configurao, mas o limite temporal ser determinado conforme o
caso concreto.xxviii
Com referncia a durao no tempo, Alkimin assevera que essa frequncia, no direito dotrabalho, usualmente tratada por habitualidade, e que para ser habitual no precisa acontecer
uma vez por semana ou por ms, importando sim que haja regularidade e repetio sistemtica
da condutaxxix.
Posio contrria apresenta Robson Zaneti, analisando a pesquisa de Leymann, tendo
como resultado a seguinte concluso:
Tais estudos cientficos no deixam dvidas, segundo dados estatsticos, que o assdiodeve ter frequncia de pelos menos uma vez por semana. Se no houver esta
frequncia mdia, no ser o que a nvel internacional se considerada assdio e sim
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uma nova teoria que de algum a qual precisa ser reconhecida mundialmente, como o
assdio!xxx
Tendo por base os argumentos dos autores anteriores, a posio esposada por Zanetti
torna-se duvidosa e incisiva demais para um instituto que se encontra em plena evoluo.
Contudo, o que resta bvio em relao durao no tempo, que sua necessidade
dever ser verificada no enfrentamento do caso concreto.
No quesito intencionalidade tambm se encontra divergncias, contudo a tendncia
doutrinria de aceitao da inteno do assediador como elemento implcito quando na
realizao de atos atentatrios contra o trabalhador.
Marie-France Hirigoyen estabelece a inteno perversa do assediador como elemento
basilar do instituto, precipuamente porque esse distingue o assdio moral da m condio de
trabalhoxxxi. Salienta ainda que a inteno pode ser consciente ou inconsciente, devendo ento
ser avaliado o nvel de conscincia do agressor quanto aos atos praticadosxxxii.
Embora respeitvel a posio da psicloga precursora dos estudos sobre o assdio
moral, hodiernamente a importncia da inteno do assediador vem sendo relegada pela
doutrina ptria.
Soluo encontrada por Thome foi de considerar que a inteno est implcita quando
ocorre o assdio moral no trabalho, concluindo que o que deve determinar a existncia de
assdio moral nas relaes de emprego , portanto, a existncia ou no de degradao
psicolgica das condies de trabalho e no a intencionalidade do sujeito ativo.xxxiii
Da mesma forma, Alkimin pondera que mesmo quando inconsciente, qualquer pessoa
com prudncia e discernimento pode antever o resultado de sua condutaxxxiv.
Mrcia Novaes Guedes pontua o tema objetivamente, dizendo que a lei deve desprezar o
aspecto intencionalidade.xxxv
Contudo, Zanetti ope-se a excluso da inteno como elemento do assdio moral,
atribuindo vitima obrigao de comunicar ao agressor que est sentindo-se assediada, sendo
que caso no ocorra a comunicao, devido a inconscincia do agente esse estaria eximido de
culpaxxxvi.
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A premeditao tambm tratada para configurao do assdio moral, tendo significado
etimolgico de: resolver com antecipao e refletidamente, planejarxxxvii.
A razo para este elemento ser elencado como requisito de assdio moral reside na
diferena entre a agresso pontual, que decorre de um impulso, e aquela que se perpetua,
caso em que se considerar assdio moral, do contrrio no haveria o cerco, caracterstica
inerente ao instituto.xxxviii
Em oposio ao entendimento acima, Candy Florncio Thome julga que o assdio pode
ser espontneo, como normalmente ocorre com os casos de assdio moral coletivoxxxix.
A desnecessidade da premeditao como requisito para caracterizao do assdio moral
pode ser atribuda ao fato de que essa est contida no elemento de intencionalidade doagressor e sua justificativa no elemento durao, no merecendo maiores digresses.
Embora alguns autores adotem a intensidade da violncia psicolgica como condio
para configurao do assdio moral trabalhista, essa tem maior utilidade e interesse para a
fixao do quantumindenizatrio do que propriamente para a caracterizao do fatoxl.
Na tica constitucional o requisito de existncia de danos psquicos vtima irrelevante,
pois a carta magna protege no apenas a integridade psquica, mas tambm a moral.xli
A posio de Alice Monteiro de Barros, embora tenha opositores, possui embasamento
irrefutvel, tendo em vista que:
A se exigir o elemento alusivo ao dano psquico como indispensvel ao conceito de
assdio moral, ns teramos um mesmo comportamento caracterizando ou no a figura
ilcita, conforme o grau de resistncia da vtima, ficando sem punio as agresses
que no tenham conseguido dobrar psicologicamente a pessoa.xlii(Grifo nosso)
Assim, o mais razovel desprezar a intensidade como elemento configurador do assdio
moral e trat-la apropriadamente em tpico especfico sobre a fixao do quantum
indenizatrio.
Na anlise dos elementos caracterizadores do assdio moral, Maria Aparecida Alkimin
identifica ainda como caractersticas: a) os sujeitos; b) a conduta, comportamento e atos
atentatrios aos direitos de personalidade; c) a reiterao e sistematizao e; d) a conscincia
do agentexliii.
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Neste ponto a abordagem restringir-se- aos sujeitos e conduta, uma vez que as
opinies de Alkimin acerca da reiterao e sistematizao, bem como da conscincia do
agente, esto expostas ao longo do presente subttulo.
Assim, os sujeitos ativos, podem ser o empregador ou superior hierrquico, algum colega
de servio ou mesmo o subordinado, enquanto o sujeito passivo ser a vtima. Alkimin frisa que
a vtima necessariamente deve integrar a organizao do trabalho de forma permanente e
sistemtica, sendo que o trabalhador eventual em tese no poderia ser vtima do assdio
moralxliv.
Podem figurar ainda como sujeitos ativos o cliente do qual haja dependncia econmica
ou o terceiro relacionado com a empresa.xlv
Embora a conduta ensejadora do assdio moral no possa ser descrita numerus clausus,
tem-se que essa pode ser realizada:
[...] mediante qualquer conduta imprpria e insuportvel que se manifesta atravs de
comportamentos, palavras, atos, escritos, capaz de ofender a personalidade e
dignidade, com prejuzos integridade fsica e psquica do empregado, criando
condies de trabalho humilhantes e degradando o ambiente de trabalho, alm de
colocar em perigo o emprego.
xlvi
A conduta do assediante, alm de violar norma social de ordem moral, infringe normas de
ordem jurdica, pois nos termos do art. 186 do Cdigo Civil Brasileiro de 2002, Aquele que, por
ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.xlvii
Ainda em relao infrao de norma cogente, mesmo o empregador sob o argumento
de legtimo exerccio do poder diretivo, quando invade a esfera da dignidade e personalidade
de seu subordinado, comete ato ilcito, como dispe o art. 187 da CCB, in verbis Tambm
comete ato ilcito o titular de um direito que, ao exerc-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econmico ou social, pela boa-f ou pelos bons costumes.xlviii
Logo, a conduta do assediante traz implcita consigo a figura do ato ilcito.
Nesse contexto das condutas, Heinz Leymann divide em cinco grandes grupos as aes
mais frequentes do assediador, sendo elas: 1) Ataques s possibilidades de comunicao; 2)
Ataques nas relaes sociais; 3) Consequncias para a reputao social; 4) Ataques na
qualidade da ocupao e da vida profissional e; 5) Ataques para a sade da vtima.xlix
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No mesmo sentido, Marie-France Hirigoyen apresenta uma lista exemplificativa de
atitudes hostis empregadas pelos assediadoresl, sendo oportuno relacion-las para uma
melhor compreenso:
a) deteriorao proposital das condies de trabalho, como: retirar da vtima autonomia;
no lhe transmitir mais as informaes teis para a realizao de tarefas; contestar
sistematicamente todas as suas decises; criticar seu trabalho de forma injusta ou
exagerada; priv-la do acesso aos instrumentos de trabalho; retirar o trabalho que
normalmente lhe compete; dar-lhe permanentemente novas tarefas; atribuir-lhe
proposital e sistematicamente tarefas inferiores ou superiores s suas competncias;
pression-la para que no faa valer seus direitos; agir de modo a impedir que obtenha
promoo; atribuir vtima, contra a vontade dela, trabalhos perigosos; atribuir vtimatarefas incompatveis com sua sade; causar danos em seu local de trabalho; dar-lhe
deliberadamente instrues impossveis de executar; no levar em considerao
recomendaes de ordem mdica indicadas pelo mdico do trabalho; induzir a vtima
ao erro;
b) isolamento e recusa de comunicao, sendo que: a vtima interrompida
constantemente; superiores hierrquicos ou colegas no dialogam com a vtima; a
comunicao com ela unicamente por escrito; recusam todo o contato com ela,
mesmo o visual; posta separada dos outros; ignoram sua presena, dirigindo-se
apenas aos outros; probem os colegas de lhe falar; j no a deixam falar com
ningum; a direo recusa qualquer pedido de entrevista;
c) atentado contra a dignidade, quando: utilizam insinuaes desdenhosas para qualific-
la; fazem gestos de desprezo diante dela; desacreditada diante dos colegas;
espalham rumores ao seu respeito; atribuem-lhe problemas psicolgicos; zombam desuas deficincias fsicas ou de seu aspecto fsico; imitada ou caricaturada; criticam
sua vida privada; zombam de sua origem ou nacionalidade; implicam com suas
crenas religiosas ou convices polticas; atribuem-lhe tarefas humilhantes;
injuriada com termos obscenos ou degradantes;
d) violncia verbal, fsica ou sexual, com: ameaas de violncia fsica; agridem-na
fisicamente, mesmo que de leve, empurrada, fecham-lhe a porta na cara; falam com
ela aos gritos; invadem sua vida privada com ligaes telefnicas ou cartas; seguem-
na na rua, espionada diante de sua casa; fazem estragos em seu automvel;
assediada ou agredida sexualmente; no levam em conta seus problemas de sade.
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Levantamento realizado por Hirigoyen demonstra que os maus-tratos acima elencados,
estatisticamente, tm distribuio homognea, onde 53% dos questionados relataram ter
sofrido degradao das condies do trabalho, 58% relataram que foram isolados ou houve
recusa de comunicao, 56% sofreram ataques contra a dignidade e 31% foram ameaados
verbalmente, fisicamente ou sexualmente.li
Ainda, em contribuio aos atos listados por Hirigoyen, tm-se ainda os atos decorrentes
do assdio discriminatrio, citados por Maria Aparecida Alkimin lii, e que em alguns casos
coincidem com os anteriores, como por exemplo, a discriminao:
a) em razo do sexo, raa, cor, religio, idade e estado civil;
b) em relao ao empregado que apresenta alguma caracterstica ou atributo pessoaldistintivo ou que no consegue atingir metas preestabelecidas;
c) de cargo ou salrio em funo da idade ou sexo;
d) da mulher gestante, casada ou com filhos menores;
e) de acesso a cursos de aperfeioamento destinados para homens com excluso das
mulheres;
f) do empregado sindicalizado ou lder sindical ou ainda de quem goze de qualquer
estabilidade;
g) do empregado deficiente fsico e;
h) do empregado acidentado ou deficiente fsico.
Para Candy Florncio Thom,
Na verdade, a discriminao pode ser fundamento e origem do assdio moral, mas no
se confunde com tal fenmeno, uma vez que a pessoa assediada pode ser atingida por
diversos atos que no impliquem afrontamento a algum direito das minorias [...]. liii
Independente das posies em relao aos atos praticados, o importante frisar que se
estes ocorrerem de forma repetida ou sistematizada, configurado estar o assdio trabalhista.
Por fim, retomando as caractersticas do assdio moral, pode-se elencar como essncias:os sujeitos, o dano, a conduta do agressor, a repetio, a durao no tempo (observado o caso
concreto) e, principalmente, que tudo isso ocorra no ambiente de trabalho. Propositalmente,
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exclui-se a inteno, a premeditao e a intensidade da violncia psicolgica, visto serem
majoritariamente consideradas desnecessrias para a configurao do assdio.
O rol de elementos caracterizadores apresentados e suas definies so de suma
importncia para identificao do assdio moral, contudo algumas importantes distines ainda
devem ser apontadas para evitar que se incorra em erro quando da subsuno do fato ao
conceito gerador de efeitos jurdicos.
2.4 Distino com figuras assemelhadas e com Dano Moral
A principal distino realizada pela doutrina diz respeito a figura do assdio sexual, tendo
em vista que em determinados casos h correlao entre ambos.
Contudo trata-se de institutos distintos, pois enquanto no assdio sexual a inteno
dominar a vtima sexualmente, no assdio moral o objetivo a excluso da vtima do ambiente
de trabalho pelo psicoterrorliv.
No mesmo sentido, Jos Afonso Dallegrave Neto e Andr Luiz Guedes Fontes distinguem
esses institutos pelos seus objetivos, frisando que o assdio moral visa a obteno de um
resultado empresariallv, a discriminao ou a excluso do ambiente de trabalho lvi, e
diversamente o assdio sexual tem por finalidade a obteno de favores sexuaislvii.
No entanto, muitas vezes o assdio sexual pode ser o fato desencadeador do assdio
moral, face rejeio do assediado ante as tentativas do assediantelviii.
Ainda, no h que se confundir a conotao sexual dos ataques com o assdio sexual,
pois nesse caso a conduta visa humilhar a vtima, seja por apelidos, calunias ou difamaes
acerca de sua sexualidadelix.
Outra distino reside na manifestao do assediador, que no assdio sexual evidente
ao passo que no assdio moral a violncia silenciosa, tornando-se perceptvel somente
quando instalada a degradao ao ambiente de trabalho ou sade fsica ou mental da
vtimalx.
Logo, nada impede que o assdio sexual leve ao moral, contudo relativamente
impossvel a simultaneidade entre ambos, visto que diametralmente opostos em seus objetivos.
Tal concluso encontra objeo por parte de Maria Aparecida Alkimin, que acredita
possvel ao assdio moral, por ser mais amplo, absorver o assdio sexuallxi.
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Todavia, tal entendimento no prejudica a ideia central de separao do assdio moral e
sexual em face de seus objetivos, sendo esse o cerne da questo e o mtodo mais adequado
para diferenci-los.
Sem prejuzo s demais, outras diferenas ainda so elencadas por Robson Zanetti lxii,
sendo elas:
a) No assdio moral, a regra a existncia da realizao de prticas hostis de forma
reiterada, enquanto que no assdio sexual a realizao de um nico ato poder o
caracterizar;
b) O comportamento do assediador no assdio sexual tem finalidade libidinosa, enquanto
no assdio moral no;
c) Normalmente no existe a necessidade de frequncia no assdio sexual enquanto que
no assdio moral sim;
d) No existe necessidade de durao no assdio sexual, um ato pode ser suficiente para
sua caracterizao enquanto que no assdio moral existe;
e) O assdio sexual visa uma aproximao entre as pessoas enquanto o assdio moral,
normalmente, o afastamento.
Em relao aos itens c e d, como tratado anteriormente, sua necessidade para
caracterizao do assdio moral somente poder ser auferida mediante anlise do caso
concreto.
Outro tema comumente discutido diz respeito diferenciao entre o assdio moral e o
estresse, obviamente por tratar-se de fenmeno comum ao cotidiano da ampla maioria dos
trabalhadores.
Ocorre que ao contrrio do assdio moral, tem-se o estresse como sendo o conjunto de
perturbaes biolgicas e fsicas provocadas por diversos fatores: excesso de presso no
trabalho, certos estilos de administrao, a deficincia estrutural para o cumprimento de
tarefas, condies ruins de trabalho, etc.lxiii
Como visto, o estresse pode ocorrer independente de qualquer atuao especifica de um
agente agressor, em decorrncia de fatores inerentes relao de trabalho ou ainda de
situao absolutamente distinta, como problemas financeiros ou familiares
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De fato o estresse pode ser tanto elemento catalisador quanto consequncia do assdio
moral, mas embora intimamente ligados, deve-se distingui-los, uma vez que a gravidade do
assdio moral deveras superior.lxiv
Veja-se que muitas vezes o estresse inerente a prpria profisso, pois normal que
sejam exigidas metas dos trabalhadores, desde que no afrontem dignidade e sade do
empregado.lxv
Oportunamente Zanetti expe, atravs de exemplo, uma forma de diferenciao de
situaes to intimamente ligadas, assim
Quando se fala em stress, o repouso tem a funo reparadora, fazer uma viagem de
lazer, por exemplo, ir diminuir o stress. J quando uma pessoa vtima de assdio, osentimento de culpa e a humilhao persistem por longo tempo, mesmo se este quadro
varia em funo da personalidade de cada pessoa. lxvi
Desta feita, tem-se que enquanto o estresse poderia ser solucionado com a simples
eliminao dos fatores que o geraram, os efeitos do assdio moral perdurariam mesmo aps a
eliminao de sua causa.
Ainda, as ms condies de trabalho, como pouco espao, m iluminao ou material de
trabalho escasso no podem ser interpretados como assdio moral, a no ser que somente um
empregado seja submetido a tais condieslxvii.
Outras imposies inerentes ao contrato de trabalho, como transferncias, mudanas de
funo, crticas construtivas e avaliaes de trabalho, tambm no consistem em assdio
morallxviii.
Inevitvel ainda a ocorrncia de falsas alegaes de assdio moral, seja por pessoas que
se colocam em posio de vtima ou mesmo que sofrem de alguma paranoia de perseguio,
ou at mesmo por aqueles mal intencionadoslxix.
Em relao ao dano moral, hodiernamente faz-se imensa confuso quando esse decorre
do assdio moral nas relaes trabalhistas, tendo em vista que por muitos, ambos os institutos
so tratados como se a mesma figura representassem.
Veja-se in casu, que o dano moral a consequncia de um ato lesivo aos direitos
personalssimos do individuo, os bens de foro ntimo da pessoa, como a honra, a liberdade, a
intimidade e a imagemlxx.
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Em contrapartida, o assdio moral a conduta abusiva, repetida e sistemtica, que atente
contra a dignidade ou a integridade psquica ou fsica de uma pessoa, ameaando seu
emprego ou degradando o clima de trabalho lxxi.
Observe-se que enquanto o dano moral consequncia, o assdio moral ato ou
conduta, assim o assdio moral pode levar ao dano moral, desde que comprovado o ato lesivo
e o prejuzo decorrente, acarretando a reparao por meio de indenizao pecunirialxxii.
Portanto, novamente trata-se de institutos diversos, os quais devem ser tratados
isoladamente, mesmo processualmente, onde os pedidos devem ser primeiramente de
declarao da existncia de assdio moral e subsidiariamente de condenao em indenizao
por danos morais em virtude do reconhecimento do assdio moral.
2.5 Espcies de assdio moral
O assdio moral ainda recebe tratamento especifico no que concerne aos sujeitos
envolvidos ativa e passivamente no processo de violncia no ambiente de trabalho.
Essa qualificao torna-se importante na medida em que as consequncias do assdio
variam de acordo com a identidade da vtima, sua relao com os protagonistas e com o
nmero de indivduos envolvidoslxxiii.
Para melhor compreenso das espcies de assdio moral, faz-se necessria a retomada
em relao aos sujeitos, citados quando definidas as caractersticas do assdio moral.
Assim, tem-se que o processo de assdio moral poder ser efetuado por apenas um
indivduo, ao que se chama de assdio moral simples, ou por um grupo de trabalhadores,
tambm chamado de assdio moral coletivolxxiv.
O assdio moral, tendo como agressores vrios indivduos, pode decorrer de situaes
diversas, contudo comumente ocorre na formao de alianas promovida pelo assediador,
utilizando-se dos side-mobbers, terminologia adotada por Mrcia Novaes Guedeslxxv.
Os side-mobbers so os espectadores que agem de forma conformista ativa, ou seja,
praticam o assdio ajudando o verdadeiro agressor a destruir a vtima, mas no so os
adversrios diretos do agredidolxxvi.
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Distino aos side-mobbers deve ser feita em relao aos conformistas passivos,
espectadores que presenciam os atos assediadores, sem qualquer participao e sem tomar
nenhuma providncia para evit-los, pois neste caso no h cumplicidadelxxvii.
Ainda em relao ao assdio moral exercido por vrios indivduos, h quele praticado
por uma coletividade coesa, onde no possvel destacar um assediador principal, destacado
dos demais, caso normalmente decorrente de inveja ou discriminaolxxviii.
O assdio moral no trabalho pode tambm ser efetuado por terceiros, como no caso de
relao habitual de venda, entre clientes e vendedores, ou modernamente nas relaes entre
professores e alunos, para citar dois exemplos corriqueiroslxxix.
De outra senda, Marie-France Hirigoyen no equipara a violncia causada por agenteexterior s relaes de trabalho com o assdio moral, nesse caso, por ter a agresso
procedncia externa, do dever da empresa tomar medidas para proteger seus
funcionrios.lxxx
Todavia, Candy Florncio Thom demonstra que em Estados mais adiantados em relao
ao instituto, como Frana e Blgica, so reconhecidos como consequncia de assdio moral os
atos atentatrios praticados por terceiroslxxxi.
Superada essa breve digresso acerca dos sujeitos do assdio moral, elencam-se as
espcies, sendo elas: o assdio moral vertical, ascendente ou descendente, o assdio moral
horizontal e o assdio moral misto.
O assdio moral vertical ocorre em relao sujeitos de diferentes graus hierrquicos, e
como dito antes, pode ser ascendente, quando operado de subalterno para superior
hierrquico, ou descendente, quando no sentido inverso.
O assdio moral vertical descendente provm do empregador, compreendendo-se para
tanto o empregador propriamente dito, como qualquer outro superior hierrquico que receba
delegao do poder de comandolxxxii.
Das espcies de assdio, a mais corriqueira a vertical descendente, pela relao de
poder exercida e pelas necessidades da moderna organizao do trabalho, na primazia da
lucratividade e da competitividadelxxxiii.
Nesse contexto, para a implantao dos processos inerentes a organizao do trabalho, o
empregador muitas vezes envereda para praticas autoritrias, antiticas e desumanas,
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exercendo seu poder de forma abusiva, tirando ntido proveito da deteno do poder
econmico.lxxxiv
Zanetti assevera que sua causa tem um denominador comum, qual seja, o uso do poder
de forma desmedida e arcaica pelo superior hierrquicolxxxv.
Via de regra, essa espcie de assdio tem por finalidade a eliminao do ambiente de
trabalho, daqueles empregados que representem uma ameaa ao superior, no que tange ao se
cargo ou ao desempenho do assediado, bem como do empregado doente ou debilitado e
daquele que no atende as necessidades produtivas da empresalxxxvi.
Ainda, o intuito pode ser o de reduzir a influncia de um empregado junto queles que
esto ao seu redor ou assegurar a autoridade de sua posio perante seus subordinadoslxxxvii.
Contudo, h casos em que esse assdio descendente no decorre de qualquer objetivo
pr-estabelecido, derivando da prpria m organizao da empresa ou da incompetncia ou
ingerncia dos superioreslxxxviii.
Como assevere Candy Florncio Thom, essa pratica mais comum em empresas com
metas muito rgidas de vendas ou prazos a serem cumpridos.lxxxix
Marie-France Hirigoyen relata ainda que esse tipo de assdio muito mais grave para
sade mental do trabalhador, pois a vtima se sente ainda mais isolada e com menos
recursos.xc
A espcie vertical descendente engloba ainda o assdio moral estratgico, tambm
chamado de bossing, utilizado como ttica de reduo de custos e direcionado a uma
coletividade de empregadosxci.
No bossing uma das intenes renovar o quadro de pessoal, normalmente substituindo
empregados com salrios mais altos ou com idades mais avanadas, por funcionrios jovens,
que motivados por fazer carreira submetem-se a maiores sacrifcios e a menores
remuneraesxcii.
Ainda h o emprego desse assdio estratgico para simples reduo do quadro de
pessoal ou para afastar determinados grupos, como, por exemplo, representantes sindicaisxciii.
Suas manifestaes comuns so a disseminao de um clima de insegurana no grupo
visado, a criao de listas negras onde nomes so circulados anonimamente, a retirada de
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smbolos de status oferecidos, como celular, carro, secretria pessoal, entre outros meios que
a administrao encontra para ferir a dignidade dos empregados e degradar seu ambiente de
trabalhoxciv.
O assdio moral ascendente consiste na prtica de atos agressivos realizados por uma ou
vrias pessoas de grau hierrquico inferior ao da vtimaxcv.
Embora esse tipo de assdio seja menos comum nas organizaes de trabalho, duas
formas so identificveis mais frequentemente, sendo elas as reaes de um grupo especfico
e as falsas alegaes de assdio sexualxcvi.
As formas de realizao sabiamente expostas por Hirigoyen so compreensveis, pois o
subordinado assediador no possui o poder de comando ou econmico em relao ao seusuperior, assim o subterfgio usado obrigatoriamente deve basear-se na unio, chantagem ou
atribuio de fatos desabonadores ao assediado.
Uma das razes para a ocorrncia do assdio vertical ascendente costuma ser a
promoo de um colega sem aquiescncia da equipe com quem vai trabalhar ou porque os
colegas no reconhecem os mritos do promovidoxcvii.
Ainda essa espcie de assdio pode ocorrer como contra-ataque ao assdio moral sofridopelo superior hierrquico ora assediadoxcviii. Nesse caso o excesso no uso do poder de mando
e a adoo de posturas autoritrias e arrogantes so propulsores para a reao do grupo de
subordinadosxcix.
Outro fator que pode ser determinante para a instalao do assdio ascendente diz
respeito demonstrao de insegurana ou inexperincia por parte do superior, a qual acarreta
a perda de domnio sobre a equipe, que consequentemente passa a desrespeitar ou deturpar
as ordens do assediadoc.
Questo que poder ser aventada pelos mais desavisados refere-se razo do superior
assediado manter-se silente acerca do assdio moral sofrido, pois em sua posio
aparentemente gozaria de respaldo maior para buscar auxlio da empresa.
Ocorre que nesse caso o superior/vtima v-se diante de uma situao limtrofe, pois caso
leve os fatos ao conhecimento do proprietrio, poder ser tido como incapaz para desenvolver
sua funo de chefia, com consequente ameaa a sua permanncia na empresa ou na
funoci.
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Mesma opinio quanto aos fatos desencadeadores do assdio ascendente so
esposadas por Robson Zanetti, como se depreende do trecho a seguir:
Neste caso, subordinados agridem seu superior hierrquico por que:
Eles se opem a indicao deste responsvel, como por exemplo, na substituio de
uma chefia; seja porque eles esperam a indicao de outra pessoa ou porque um deles
esperava seu lugar ou ainda simplesmente por que eles no querem um superior
responsvel por eles;
O chefe atacado geralmente em razo de seu autoritarismo, de sua arrogncia ou de
sua parcialidade. O assediado neste caso cria at certa resistncia em comunicar esta
situao ao seu superior hierrquico para no demonstrar fraqueza, perder sua
credibilidade, sua atual posio, etc.cii
Assim, no assdio moral ascendente, o(s) subordinado(s) utilizando-se de subterfgios
negativos, ataca(m) seu superior, imobilizando-o atravs de sua obrigao funcional de
comando.
A espcie de assdio moral conhecida como horizontal ou transversal, tem como agente
agressor uma ou mais pessoas do mesmo grau hierrquico da vtimaciii.
O assdio horizontal ser simples quando praticado por um trabalhador contra seu colega
ou coletivo quando um grupo de trabalhadores assedia um colegaciv.
Nos Estado Unidos essa espcie de assdio recebe o nome de bullying ou de
harassment, sendo marcada por comportamentos de agressividade fsica no confronto de
companheiros e no um fenmeno com finalidade especfica de excluir algum da empresacv,
diferente do entendimento atualmente adotado em solo ptrio.
Como nos casos anteriores, essa espcie tambm possui motivaes mais comumente
identificadas, como a discriminao do grupo em relao a alguma diferena entre a vtima e
eles, a intolerncia racial, tnica, ou de opo sexual ou ainda a rivalidade diante da
possibilidade de promoocvi.
Outros fatores desencadeadores dessa espcie de assdio so os conflitos pessoais, que
podem decorrer de atributos pessoais, profissionais, capacidade, dificuldade de
relacionamento, falta de cooperao, destaque junto chefia ou, ainda, a competitividade para
alcanar destaque ou manter o cargocvii.
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Nesta seara das motivaes para o assdio horizontal, elenca-se ainda as seguintes
possibilidades:
Um grupo se esfora de constranger uma pessoa reticente a se conformar com as regras
tomadas pela maioria;
Um ou mais indivduos escolhem como alvo uma pessoa em situao de fraqueza para
colocar em prticas seus objetivos;
A agresso ocorre pela diferena da vtima (sexo, nacionalidade, religio, aparncia
fsica, etc.);
A agresso o resultado prolongado de uma inimizade pessoal ou pelo menos de uma
insatisfao;
Ainda, a medicina do trabalho descobriu uma relao entre as perturbaes
psicossomticas e a monotonia e a repetio de tarefas. Nesse caso os agressores
escolhem algum como vtima porque no tem nada mais interessante para fazer!cviii
Candy Florncio Thome salienta tambm o assdio horizontal originado pela poltica
adotada pela empresa, citando a adoo de sistemas de pagamento de participao nos
resultados de produtividade coletiva. Nesse sistema, os empregados, no af de obterem o
maior prmio possvel pela produtividade coletiva, alm de realizarem seu trabalho com maiorafinco, passam a controlar as atividades de seus colegas, e consequentemente queles que
com produo abaixo da esperada so excludos e mesmo forados a deixarem o empregocix.
Essa poltica de competitividade incutida pela empresa aos seus funcionrios, pode gerar,
mesmo que inconscientemente, praticas individualistas e perversas entre os competidores,
prejudicando o bom relacionamento interpessoal e deteriorando o ambiente de trabalhocx.
As praticas mais frequentes no assdio moral horizontal so o isolamento da vtima, como corte das relaes sociaiscxi, as brincadeiras maldosas, gracejos, piadas, grosserias, gestos
obscenos e menosprezocxii, entre outras.
Por fim, o assdio misto configura-se pela existncia de agressores tanto nas relaes
horizontais quanto nas verticais ao mesmo tempo, caso em que imprescindvel diferenciar o
agressor principal dos side-mobbers, ou o agressor dos meros espectadores passivos, pois
disso depende a configurao do assdio moral mistocxiii.
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O assdio moral horizontal, na maioria das vezes resulta no assdio misto, pois o decurso
do tempo gera a conivncia do superior hierrquico, configurando assim o assdio moral
vertical descendentecxiv.
Tambm, em qualquer das espcies anteriores, seja vertical ou horizontal, quando
utilizado como meio de assediar a tcnica do isolamento, ao final de um determinado perodo
de tempo ter-se-, com grande probabilidade, configurado o assdio mistocxv.
Quanto aos atos praticados pelo agressor nessa espcie de assdio, podem-se elencar
todos aqueles enumerados anteriormente, individual ou conjuntamente.
Estatisticamente, segundo levantamento realizado porMarie-France Hirigoyen, em 58%
dos casos o assdio moral vem da hierarquia, em 29% dos casos o assdio vem de diversaspessoas, incluindo chefia e colegas, em 12% dos casos vem de colegas e em 1% dos casos o
assdio vem de um subordinado.cxvi
Veja-se que, a esmagadora maioria dos casos de assdio moral ocorre nas espcies
vertical descendente e mista, sendo nfima a ocorrncia da espcie vertical ascendente.
Desta feita, possvel vislumbrar as espcies de assdio moral nas relaes trabalhistas
hodiernamente tratadas pela doutrina jurdica e mesmo pela psicologia, o que permite mais umponto de avaliao acerca da gravidade do assdio e principalmente uma noo geral de como
ele ocorre no ambiente de trabalho.
Sem a pretenso de esgotar o tema acerca do assdio moral nas relaes do trabalho,
mesmo porque o instituto se encontra em plena evoluo doutrinria, espera-se que a
abordagem realizada nesse captulo possibilite a identificao do que e do que no assdio
moral nas relaes do trabalho, como o mesmo se caracteriza e quais as espcies existentes
em relao aos sujeitos envolvidos.
Nesta senda, observa-se ainda que no Brasil no h legislao federal especfica que
regule o assdio moral nas relaes do trabalho, o que no significa que o mesmo no receba
proteo legal, tema que ser desenvolvido no captulo seguinte.
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3 TUTELA JURDICA DO ASSDIO MORAL
O assdio moral inicialmente foi abordado exclusivamente pela psiquiatria e recentemente
foi recebido e passou a receber tratamento jurdico, tal como demonstrado anteriormente.
Ocorre que a proteo legal de qualquer instituto jurdico, principalmente em pases que
adotam o sistema legal positivista, depende da criao legislativa de normas especficas ou da
aplicao de normas gerais que resguarde o direito tutelvel.
Assim, nesse captulo incursionar-se- pelos fundamentos utilizados para aplicao do
assdio moral, iniciando-se pelo direito comparado e pelas organizaes internacionais,
prosseguindo ento com a aplicao no Brasil atravs da principiologia constitucional e prpria
do direito trabalhista e, por fim, da legislao trabalhista e esparsa, alm da verificao dos
projetos de lei e jurisprudncia sobre o tema.
3.1 Assdio Moral no Direito Comparado
No mbito legislativo internacional j existe a proteo s vtimas do assdio moral em
diversos pases, principalmente europeus, sendo que mesmo nos que no possuem legislao
especifica sobre o tema, em muitos j existem projetos de lei e outras formas encontradas para
proteger o empregado do assdio moral sofrido no ambiente de trabalho.cxvii
Nesse contexto de estudos e pesquisas realizadas nas ltimas dcadas, o assdio moral
tem galgado importantes espaos na discusso legal em todo o mundo, tendo, em setembro de
2001, levado o Parlamento Europeu a aprovar uma Resoluo chamando a ateno para o
fenmeno.cxviii
Contudo, anteriormente a Unio Europeia j havia publicada a Diretiva do Conselho
2000/78/CE, estabelecendo o conceito do assdio moral somente em relao quele
decorrente de atos discriminatrios, sendo omissa aos demais casos.cxix
Ento, em 2001 a mesma Unio Europeia adotou a resoluo 2339/2001 sobre assdio
moral no trabalho, recomendando a adoo de definio uniforme do assdio moral, com troca
de experincias e envolvimento dos atores sociais na busca da preveno e soluo do
problema, desenvolvendo a formao e informao dos envolvidos.cxx
Em 2002 a Unio Europeia emendou sua diretiva de 1976, que trata do direito de
igualdade no acesso ao emprego, incluindo um artigo sobre os assdios moral e sexual.cxxi
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Estas resolues trazem digresses sobre o tema, apresentando diferentes aspectos do
assdio, como a conduta agressiva atentatria contra a dignidade e a integridade do
trabalhador, a violncia verbal e fsica, a marginalizao do assediado, bem como uma srie de
manifestaes difusas que dificultam sua identificao.cxxii
Todavia, devido dificuldade encontrada pelo Parlamento Europeu para tipificar o
assdio moral, permanece a recomendao para que os Estados membros lutem contra o
assdio no local de trabalho atravs da criao de legislaes especficas e uniformes, com
procedimentos que visem preveno e soluo do problema, tal como visto na resoluo.cxxiii
Tem-se assim, como frisa Cludio Armando Couce de Menezes, que:
As naes escandinavas, Frana, Blgica, Portugal e Inglaterra, s para citar algunspases, aps inmeros estudos e debates, editaram diplomas legislativos sobre o
assdio. Sendo certo que seus tribunais vm, de algum tempo, independente de norma
positivada, reconhecendo o fenmeno, com as suas consequncias sociais e
jurdicas.cxxiv
Como poder se observar na exposio do tratamento legislativo adotado por alguns
pases referenciais, alm de sanes, os legisladores procuram conceituar, mesmo que de
forma geral, o assdio moral nas relaes de trabalho, o que certamente favorece aidentificao do fenmeno.cxxv
Relatados esses contornos gerais delineados pela Unio Europeia, d-se lugar a breves
consideraes sobre as legislaes de pases passiveis de serem adotados como referenciais
no combate ao assdio moral.
Inicialmente, dar-se- foco Frana, onde o fenmeno conhecido como harclement
moral,e embora j existissem preceitos legais capazes de coibir a pratica de assdio moral,
em especial os constitucionais, em janeiro de 2002 foi acrescentado em seu Cdigo do
Trabalho tratamento especfico ao tema.cxxvi
Esse tratamento foi implementado pela Lei francesa de modernizao social n 2002-73,
de 17 de janeiro de 2002, contendo um captulo intitulado luta contra o assdio moral, que
inseriu, no captulo II do Ttulo II do Livro primeiro do Cdigo de Trabalho, a Sesso 8.
Assdio.cxxvii
Conforme Mrcia Novaes Guedes, a verso definitiva da referida lei define o assdio
moral nas relaes trabalhistas da seguinte forma:
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Nenhum trabalhador deve sofre atos repetidos de assdio moral que tenham por objeto
ou por efeito a degradao das condies de trabalho, suscetvel de lesar os direitos e a
dignidade do trabalhador, de alterar a sade fsica ou mental, ou de comprometer o seu
futuro profissional. Nenhum trabalhador pode ser sancionado, despedido ou tornar-se
objeto de medidas discriminatrias, diretas ou indiretas, em particular no modo deremunerao, de promoo profissional, de transferncia ou renovao do contrato por
ter sofrido ou rejeitado sofrer os comportamentos definidos no pargrafo antecedente ou
por haver testemunhado sobre tais comportamentos ou hav-los relatado. cxxviii
Tal disposio encontra-se no art. 122-48 da lei, e em suma, define o assdio moral como
atos repetidos que tenham por objetivo ou efeito a degradao das condies de trabalho,
passiveis de causar prejuzos aos direitos ou a dignidade do trabalhador, bem como afetar sua
sade fsica ou mental, ou ainda comprometer seu futuro profissional.cxxix
Thom, com muita propriedade elenca uma srie de protees implementadas pela
referida lei, tais como:
[...] mecanismos para coibir o assdio moral, dentre eles, a possibilidade de aplicao de
sano disciplinar ao empregado assediador (arts. 122-50 e 122-51), a possibilidade de
o empregado se afastar de qualquer situao de trabalho que possa causar um perigo
grave e iminente para sua vida ou sua sade (art. 321-8), obrigatoriedade de
reformulao dos regimentos internos das empresas para constar a proibio de atosque configurem o assdio moral (art. 122-34), direito de expresso, exercido de forma
direta e coletiva, para informar os problemas no ambiente de trabalho (art. 461-1) e
direito de alerta, mediante uma advertncia verbal ou escrita ao empregador (art. 231-
8).cxxx
Como pode se observar, a ateno despendida pela Frana contra a prtica do assdio
moral nas relaes trabalhistas latente, sendo prdiga em garantias para o assediado,
dispondo inclusive que nenhum assalariado poder ser punido, despedido ou discriminado, de
forma direta ou indireta, [...] pelo fato de ter sofrido ou se insurgido contra o assdio moral,
testemunhado ou relatado estas situaescxxxi, tal como pode se observar da definio exposta
por Guedes e relatada anteriormente.
Frise-se que existem ainda sanes para o trabalhador que praticar assdio moral contra
outro, bem como o Cdigo Penal prev pena de um ano de priso e multa de quinze mil Euros
para o assediadorcxxxii, e o assdio moral, em todas as circunstncias, acarreta punio
disciplinar do empregado que o pratica.cxxxiii
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Alm da pena de priso e multa, o tribunal poder ordenar, custa da pessoa condenada,
a insero do julgado, integral ou resumido, em jornais designados pelo magistrado.cxxxiv
Ainda, o assdio gerador de ruptura contratual sancionado com a nulidade absoluta da
resciso, como dispe o art. L. 122-49.cxxxv
Na questo probatria, sua legislao considera suficiente que o empregado apresente os
elementos do fato, competindo ao empregador provar que suas decises so justificadas e no
se coadunam com elementos do assdio.cxxxvi
Com a amplitude oferecida pela legislao francesa, notada mesmo pelas breves
consideraes ora expostas, ntido que a construo de qualquer diploma legal sobre o
assdio moral deve minimamente espelhar-se nos seus elementos de proteo, preveno erepresso contra o assdio.
A Sucia considerada a pioneira na edio de normas sobre o tema, com a publicao
em 1993 de uma ordenao, com clara definio do assdio moral,cxxxviie complementada com
uma recomendao de anlise dos fatores coletivos ligados organizao do trabalho.cxxxviii
A lei sueca define mobbingcomo sendo a pratica de aes repetidas, repreensveis ou
claramente negativas, dirigidas contra trabalhadores individuais, de forma ofensiva, quepossam ter por resultado o isolamento do trabalhador da comunidade do local de trabalho.cxxxix
Como refere Candy Florncio Thom:
[...] essa lei determina que as condies de trabalho devam ser adaptadas s diferentes
capacidades fsicas e mentais das pessoas e que as tecnologias, organizao e a
substncia do trabalho devero ser arranjadas de forma a no causar estresse aos
trabalhadores e causar doenas ou acidentes.cxl
Ainda, uma resoluo administrativa do Ministrio da Sade e Segurana sueco que
entrou em vigor em maro de 1994, estabelece uma srie de regras de comportamento para a
gesto das relaes trabalhistas.cxli
Embora trate-se de norma administrativa, possui efeito erga omnes e responsabiliza o
empregador pela preveno e represso do assdio moral, observadas as seguintes regras: os
trabalhadores devem ser informados que o assdio moral intolervel; deve haver
procedimentos idneos pr-estabelecidos para individualizar imediatamente sintomas de
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condies propcias ao surgimento da perseguio moral e; deve ser combatido qualquer
assdio moral constatado e eliminadas suas causas, com ajuda imediata vtima.cxlii
Assim, como pode se observar e frisado por Barros, a Ordenao Sueca focaliza o
assdio como risco laboral e apresenta um carter essencialmente tcnico preventivo.cxliii
A Blgica, em junho de 2002 publicou legislao objetivando combater a violncia no
trabalho, na qual foi inclusa o assdio moral decorrente da relao trabalhistacxliv.
Essa lei de 11 de junho de 2002 visa proteo dos trabalhadores contra a violncia
fsica, psquica ou sexual, decorrentes do assdio moral e do assdio sexual no trabalho, tendo
como intuito a represso e a preveno dessa violncia.cxlv
O art. 6, item 2, da mesma lei, obriga o empregador a participar positivamente na poltica
de preveno do assdio moral e a abster-se de todo ato que possa configur-lo, bem como o
art. 32 obriga a todas as pessoas que entrem em contato com os trabalhadores da mesma
absteno de atos que os assediem moralmente.cxlvi
O primordial na lei belga sobre o assdio moral sua definio, que extrapola os limites
da empresa, determinando o assdio moral no trabalho como:
[...] as condutas abusivas e repetidas de qualquer origem, sejam externas ou internas
empresa ou instituio, que se manifestem, precipuamente, por comportamentos,
palavras, intimidaes, atos, gestos, escritos unilaterais, tendo por objetivo ou por efeito
o ataque personalidade, dignidade ou integridade fsica ou psquica de um
trabalhador ou de pessoa a que se apliquem as normas do captulo que regulamenta o
assdio e a violncia, quando da execuo de seu trabalho, ou tendo por objetivo
colocar em perigo seu emprego ou criar um ambiente intimidante, hostil, degradante,
humilhante ou ofensivo.cxlvii
Veja-se que a lei belga traz todos os elementos do conceito de Hirigoyen, acrescentando
claramente a origem interna ou externa do assdio praticado, tal como no conceito de Marcelo
Rodrigues Prata, exposto no captulo 1, ttulo 2.2.
Ainda, a mesma lei incumbe o empregador de adotar medidas preventivas, educativas e
informativas, alm de manter um conselheiro para a soluo de conflitos. Sendo constatado o
assdio moral, exige-se tambm a adoo de procedimentos que preservem o ambiente de
trabalhocxlviii.
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Assim, o empregado pode buscar proteo tanto administrativamente quanto
judicialmente, sendo que no ltimo caso poder ajuizar a ao tanto pessoalmente quanto por
meio de seu sindicatocxlix.
Importante frisar que, mesmo antes da edio da lei ora tratada, a Blgica j possua
mecanismos capazes de coibir o assdio moral, atravs da lei de 4 de agosto de 1996, sobre
bem-estar no trabalho, com tratamento da carga psicossocial no trabalho.cl
Na Noruega, h previso para proteo contra o assdio moral no art. 12 de seu Cdigo
do Trabalho, o qual estipula no item 1 regras sobre as condies de trabalho, coibindo a
exposio do trabalhador efeitos fsicos ou mentais adversos, em decorrncia da atividade
laboral ou sua remunerao, com vistas a garantir o exerccio da atividade e as condies de
segurana.cli
Mesmo no tratando especificamente do assdio moral, merece ateno o item 2 do
mesmo artigo, que estabelece norma de orientao para que as empresas evitem atribuir
atividades repetitivas ou comandadas por mquinas de correia ou transporte ao trabalhador,
espcies de trabalho que geralmente ocasionam estresse e que, por via de consequncia
podem levar ao assdio moral.clii
Embora genrico o direito que tutela o assdio moral na Noruega, Guedes salienta que o
mesmo decorre de precisa escolha legislativa, tendo em vista que dessa forma garante-se
proteo ao trabalhador em todos os campos no local de trabalho.cliii
Na Espanha, a proteo legal especfica ao assdio moral somente ocorre em relao ao
discriminatrio, que recebe amparo das leis n 51/2003 e 62/2003, sem, contudo, regulamentar
o assdio moral no trabalho que tenha fundamento diverso da discriminao.cliv
Essas leis definem o assdio como todas as condutas relacionadas com a deficincia de
uma pessoa, a origem racial ou tnica, a religio ou convices, a idade ou a orientao
sexual, e que tenham como objetivo ou consequncia atentar contra sua dignidade ou criar um
ambiente intimidatrio, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo.clv
No Estatuto dos Trabalhadores o assdio, como definido acima, tem por consequncia a
despedida do empregado que assediar o empresrio ou as pessoas que trabalham na
empresa, revelando assim outra caracterstica interessante, uma vez que visivelmente a leiconsidera como sujeito passivo do assdio moral discriminatrio tambm o empresrio e
admite expressamente a existncia de assdio moral discriminatrio horizontal.clvi
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No que concerne a lei especfica sobre o tema, tramita no legislativo espanhol o Projeto
de Lei n 122/000157, intitulado Dodireito a no sofrer acoso moral no trabalho, o qual impe
medidas preventivas e repressivas contra o assdio moral, e define-o como:
[...] toda conduta abusiva ou de violncia psicolgica que se realize de forma sistemticacontra uma pessoa no ambiente de trabalho, que se manifesta particularmente atravs
de comportamentos reiterados, palavras e atos lesivos da dignidade e integridade
psquica do trabalhador, colocando em perigo ou degradando as suas condies de
trabalho.clvii
Importante salientar que, apesar de no haver lei especfica que coba o assdio moral
no discriminatrio, a jurisprudncia encontrou meios de tutelar a pratica do assdio, alicerada
em garantias fundamentais de proteo dignidade da pessoa humana e em leis de defesados trabalhadores.
A Itlia denomina o assdio moral como mobbing, e demonstra sua preocupao
legislativa com o mesmo atravs da Lei n 16 de 11/07/2002, aprovada na regio de Lazio, que
apresenta definio do instituto e define os objetivos de preveno, informao e combate ao
assdio.clviii
Contudo, a referida lei foi considerada inconstitucional em razo da incompetncia paralegislar, sendo importante salientar que a Itlia, mesmo sem lei especifica, possui vasta
doutrina e jurisprudncia sobre o tema.clix
Nesse sentido, conforme Mrcia Novaes Guedes, no direito italiano se encontra a melhor
e mais original sistematizao jurdica dos direitos da personalidade e, embora no haja lei
especfica sobre o assdio moral trabalhista, h clara tendncia para enquadrar algumas
condutas do assdio no mbito do Cdigo Civil italiano.clx
Segundo o direito italiano, o empregador responsabilizado objetivamente quanto tutela
dos direitos da personalidade do empregado, nos termos do art. 2087 do Cdigo Civil. Esse
artigo acompanhado de orientao jurisprudencial, que obriga o empregador a adotar, alm
das medidas impostas legalmente, todas as necessrias garantia da tutela psicofsica do
empregado.clxi
Ademais, o Cdigo Civil italiano oferece tutela da personalidade moral do empregado,
abrangendo a proteo contra o assdio moral e obrigando o empregador a garantir um meioambiente de trabalho sadio e livre de constrangimentos e humilhaes.clxii
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Assim, a carncia de legislao que trate especificamente do tema vem sido suprida pelos
tribunais, que tutelam o assdio moral atravs de mecanismos constitucionais e oriundos da
legislao civil.
Outro Estado sem legislao especfica, mas com projeto de lei Portugal, onde tramita o
projeto de lei n 252, VIII, da Assembleia da Repblica cujo ttulo Proteo Laboral contra o
Terrorismo Psicolgico ou Assdio Moral.
O referido projeto equipara o assdio moral a ato discriminatrio passvel de
anulabilidade, prevendo regime sancionatrio atravs da pena de priso e, alternativamente,
pena de multa.clxiii
Por enquanto, Portugal tem tutelado o assdio moral discriminatrio com base no art. 24do seu Cdigo de Trabalho e o assdio moral trabalhista em geral atravs da interpretao
legal, principalmente do art. 18 do Cdigo de Trabalho, o qual cobe atentados integridade
fsica e moral do trabalhadorclxiv, combinado com o Cdigo Civil no que concerne reserva
quanto intimidade da vida privada de outrem e com a Constituio Portuguesa,
especialmente o captulo sobre defesa dos direitos humanos.clxv
A Alemanha, mesmo no possuindo legislao especfica sobre o assdio moral nas
relaes de trabalho, tem farta doutrina e jurisprudncia sobre o assunto.clxvi
Atualmente a tutela alem do assdio se d atravs da aplicao de normas gerais que
garantem a sade e segurana no trabalho, tendo destaque normas constitucionais sobre
direitos fundamentais e no cdigo civil o art. 618 que obriga o empregador a adotar medidas
que garantam a segurana e a incolumidade do empregado em seu local de trabalho.clxvii
Ainda, nos textos do Betriebsverfassungsgesetz, HessischesPersonalvertretungsgesetze
Bundes Personalvertretungsgesetz, o mobbing recebe ateno quanto a sua preveno e
represso.clxviii
Entre outros assuntos relacionados, os instrumentos acima dispem sobre: a obrigao
de promoo da livre expresso da personalidade dos empregados; a obrigatoriedade de
realizao de reunies mensais entre empregados e empresa para conciliao de conflitos; a
obrigao do empregador em adotar as medidas propostas pelo Conselho de empresa, que
visem atender a comunidade e a prpria empresa; o direito dos trabalhadores de recorrerem aoempregador contra atos de assdio; a concesso de amplo poder ao empregador, para que
vigie e interrogue os empregados sobre comportamentos relacionados ao assdio moral; a
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concesso ao Conselho de autoridade para a dispensa de trabalhador que tenha causado
distrbio paz da empresa, repetida e voluntariamente; etc.clxix
Assim, como visto em outras naes, a Alemanha encontrou mtodos legais para suprir a
falta de uma legislao especfica sobre o tema, fato comum no mundo e especialmente no
Brasil, onde o assdio moral nas relaes trabalhistas tutelado por princpios constitucionais
e trabalhistas, pela Consolidao das Leis do Trabalho e por leis esparsas, como ser visto a
seguir.
3.2 Tutela Constitucional
A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 supervalorizou o ser humano,
fato perceptvel pela esquematizao do texto constitucional, que dispe acerca dos Direitos eGarantias Fundamentais antes da prpria Organizao do Estado.clxx
Ainda, prova dessa mudana de eixo com priorizao do ser humano est no art. 1 da
Constituio de 1988, que consagrou o Estado Democrtico de Direito, fundado em cinco
pilares, dentre os quais a cidadania a par da dignidade da pessoa humana e a valorizao do
trabalho.clxxi
Nesse contexto constitucional, a matria trabalhista recebeu especial ateno, sendoabordada em vrios artigos, como no captulo II que trata dos Direitos Sociais e relaciona
exclusivamente matria trabalhista, no ttulo VII que dispe sobre a Ordem Econmica e
Financeira e no ttulo VIII que aborda a Ordem Social.clxxii
Assim, diversas normas constitucionais podem ser elencadas para a proteo da vtima
do assdio moral, tais como: o art. 5 que garante a inviolabilidade do direito vida, nela
compreendida sade e o direito a igualdade que visa a reduo de desigualdades numa
mesma sociedade; o art. 6 que determina como direito social o trabalho; o art. 7, que dispe
sobre o direito da melhoria da condio social do trabalho, com a reduo de riscos e
estabelecimento de normas de sade, higiene e segurana, alm da responsabilidade do
empregador em indenizar acidentes quando incorrer com culpa ou dolo; o art. 170, que
determina a valorizao do trabalho humano, com observncia ao princpio da defesa do meio
ambiente; o art. 193, que reza que a ordem social tem por base o primados no trabalho e como
objetivo o bem estar e a justia social; o art. 196, que assegura a sade como direito de todos;
o art. 200, VII, que atribui ao SUS dever de colaborar na proteo do meio ambiente,
compreendido o do trabalho e; o art. 225, 1, V, que garante um meio ambiente equilibrado,
obrigando todos na sua proteo e preservao.clxxiii
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Veja-se que, embora no exista norma especifica para tutela do assdio moral nas
relaes do trabalho, a prtica do mesmo afronta o ordenamento jurdico ptrio,
primordialmente no que concerne dignidade da pessoa humanaclxxive igualdade.
Contudo, mesmo diante de uma razovel proteo normativa, o assdio moral
ocorrncia frequente nas relaes de trabalho, tendo seu principal amparo em dois princpios
constitucionais, o da dignidade da pessoa humana e o da igualdade, e o direito fundamental
integridade do ambiente de trabalho, razo pela qual recebero tratamento especfico.
3.2.1 Principio da Dignidade da Pessoa Humana
Esse princpio tem origem na religio, que primeiramente o reconheceu ao estabelecer o
amor ao prximo, como premissa de convivncia, e reconhecer todo o ser humano como filhode Deus.clxxv
Immanuel Kant escreve sobre a dignidade da pessoa humana, traando as seguintes
consideraes:
Um ser humano considerado como uma pessoa, isto , como sujeito de uma razo
moralmente prtica, guindado acima de qualquer preo, pois como pessoa (homo
noumenom) no para ser valorado meramente como um meio para o fim de outros ou
mesmo para seus prprios fins, mas como um fim em si mesmo, isto , ele possui uma
dignidade (um valor interno absoluto) por meio do qual cobra respeito por si mesmo de
todos os outros seres racionais do mundo. Pode avaliar a si mesmo conjuntamente a
todos os outros seres desta espcie e valorar-se em p de igualdade com eles.clxxvi
No mundo jurdico, a dignidade encontra respaldo inclusive na Declarao Universal dos
Direitos Humanos, que em seu art. 1 estabelece que todas as pessoas nascem iguais em
dignidade.
Da tem-se que basta existir para ser sujeito de dignidade e ver-se respeitado por toda a
humanidade, razo pela qual a dignidade da pessoa humana tida como uma referncia
constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais.clxxvii
Assim, a dignidade est posta como fundamento da Repblica Federativa do Brasil, pois
somos a nossa dignidade e esta a fonte de todos os demais valores para proteo do ser
humano.clxxviii
Mas importante frisar que a dignidade exposta na Constituio no mera norma
programtica, uma garantia a todas as pessoas sem excees, protegendo a integridade
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pessoal, o respeito autodeterminao, identidade pessoal, ao bom nome, imagem,
reputao, ao direito de expresso e intimidade.clxxix
No mesmo sentido do exposto sobre a dignidade, Alexandre de Moraes traz, de forma
sucinta, a seguinte concepo sobre a dignidade da pessoa humana, dispondo que essa:
Concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerente s
personalidade humanas. Esse fundamento afasta a ideia de predomnio das concepes
transpessoalistas de Estado e Nao, em detrimento da liberdade individual. A dignidade
um valor espiritual e moral inerente pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminao consciente e responsvel da prpria vida e que traz consigo a
pretenso ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mnimo
invulnervel que todo estatuto jurdico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente possam ser feitas limitaes ao exerccio dos direitos fundamentais,
mas sempre sem menosprezar a necessria estima que merecem todas as pessoas
enquanto seres humanos.clxxx
Observe-se que em decorrncia desse tratamento, a dignidade da pessoa humana um
direito de personalidade, caracterizando-se como um direito absoluto, erga omnes,
indisponvel, intransmissvel, irrenuncivel, de difcil estimao, imprescritvel, necessrio,
vitalcio, impenhorvel, extrapatrimonial e nunca est no comrcio jurdico.clxxxi
Na relao trabalhista a dignidade tem fundamental importncia, visto que um dos pilares
do amor prprio a independncia econmica, obtida atravs do trabalho remunerado e que
tem por objetivo a manuteno prpria e da famlia.clxxxii
Sendo sujeitos de dignidade todas as pessoas, o trabalhador no haveria que restar
excludo, e desta feita merece a mesma considerao pretendida pelo empresrio, no sendo
ele mera mercadoria ou mecanismo de produo.clxxxiii
Mas alm da contraprestao financeira, imprescindvel que as relaes no ambiente de
trabalho sejam respeitosas e cordiais, sendo inclusive limitado o poder de direo do
empregador pelo princpio da dignidade da pessoa humana.clxxxiv
Assim, tem-se que para o assdio moral o presente princpio tem importncia inestimvel,
tendo em vista que o assediador utiliza-se de prticas que diminuem a vtima, tratando-a como
objeto descartvel e agredindo sua honra, em afronta sua dignidade.clxxxv
Contudo, deve-se frisar que nenhum princpio ou direito fundamental absoluto em si
mesmo, devendo ser sempre interpretado com o todo constitucional, de modo que inclusive o
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princpio da dignidade da pessoa humana pode sofrer limitaes ante a outros princpios e
fundamentos constitucionais, como o direito liberdade, os direitos de terceiros e os interesses
coletivos.clxxxvi
3.2.2 Princpio da Igualdade
A Constituio de 1988 adotou o princpio da igualdade em seu art. 5, sendo que essa
igualdade deve ser analisada sob a tica formal e material.
A igualdade legal, prevista no art. 5 da CF/88 compreendida pela doutrina como uma
igualdade formalclxxxvii, tendo em vista que o tratamento desigual para os caso desiguais uma
exigncia do prprio conceito de justia.clxxxviii
Nessa seara, a igualdade tem por escopo vedar diferenciaes arbitrrias e
discriminaes absurdas, sendo que dessa forma somente se estar lesando o principio da
igualdade quando o elemento discriminador no se encontrar a servio de uma finalidade
acolhida pelo direito.clxxxix
Assim, para que as diferenciaes legais possam ser consideradas no discriminatrias,
deve haver uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado.cxc
Ainda, o princpio da igualdade instrumento de limitao: 1) do legislador na criao de
leis que produzam discriminaes sem fins justificveis; 2) do intrprete e da autoridade pblica
na aplicao das leis e; 3) do particular que dever abster-se de prticas discriminatrias,
preconceituosas ou racistas, sob pena de responsabilizao civil e penal.cxci
De outra senda, a igualdade material extrapola a jurdico-formal, sendo um princpio
norteador do estado democrtico adotado pelo Brasil, que atravs de polticas pblicas e aes
concretas deve pautar-se pela incessante busca dess