SISTEMA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE
INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS
DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS
GERÊNCIA DE CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS
RELATÓRIO TÉCNICO PARA A CRIAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL SERRA DO
OURO BRANCO E MONUMENTO NATURAL ESTADUAL DO ITATIAIA
Elaboração e organização:
Ana Paula Papini (Comunicóloga)
Cândido de Souza Botafogo (Cartógrafo)
Fellipe Pinheiro Chagas (Biólogo)
Silvério Seabra da Rocha (Economista)
BELO HORIZONTE, MAIO DE 2009
Sumário:
1- Introdução
2- Localização
3- Metodologia do trabalho
4- Exposição de motivos e unidades propostas
5- Bibliografia consultada
1- Introdução:
Entre os instrumentos para conservar o patrimônio natural e amostras
representativas dos ecossistemas de Minas Gerais e do Brasil, a criação de áreas
protegidas, na forma de unidades de conservação, têm sido o método mais utilizado.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, instituído pela Lei
Federal 9.985 de 2000 e regulamentado pelo Decreto Federal 4.340 de 2002,
concebe dispositivos para a preservação de significativos e importantes
remanescentes dos biomas brasileiros. As chamadas unidades de conservação
constituem espaços territoriais destacados por ato do poder público, sendo que a
criação de uma nova unidade deve ser precedida de estudos técnicos e consulta
pública que permitam identificar a sua localização, dimensão e os seus limites mais
adequados, garantindo a preservação dos seus recursos naturais. (SNUC, Lei 9.985
de 2000 e decreto 4.340 de 2002).
Nesse sentido, a criação do Parque Estadual Serra do Ouro Branco e do
Monumento Natural Estadual do Itatiaia está baseada numa concepção de proteção
da flora, fauna, recursos hídricos, manejo de recursos naturais, desenvolvimento de
pesquisas científicas, manutenção do equilíbrio climático e ecológico e preservação
da biodiversidade, representando um importante instrumento para a sobrevivência
de muitas espécies, inclusive a humana. Busca-se, nesse contexto, formar um
sistema de áreas protegidas fortalecido no que diz respeito às estratégias de
proteção, gestão, fiscalização e preservação do meio ambiente.
Cabe destacar que as unidades de conservação a serem criadas
complementarão o mosaico de áreas protegidas no quadrilátero ferrífero,
contribuindo para o estabelecimento de corredores ecológicos e áreas de
conectividade. A diversidade de categorias de manejo presentes no mosaico (área
de proteção ambiental, floresta estadual, parques, estação ecológica, monumento
natural e reserva particular do patrimônio natural) confere um avanço no que diz
respeito às estratégias de gestão das áreas protegidas, pois assim busca-se atender
às especificidades locais em relação ao uso e preservação dos recursos ali
existentes.
A execução desse trabalho teve como premissa o estudo desenvolvido em
2006 pelo Instituto Terra Brasilis referente à criação de unidades de conservação na
Serra do Ouro Branco. Devido à importância da região, o estudo extrapolou os
limites do maciço da Serra do Ouro Branco, abrangendo também as Serras de Bico
de Pedra e do Itatiaia ou Chapada. Este complexo de montanhas abriga grande e
significativo patrimônio biológico e geológico, sendo ainda um museu aberto no que
diz respeito aos vários artefatos históricos da época do ciclo do ouro que ali estão
como testemunho da travessia e ocupação da Capitania das Minas Gerais. A
discussão dos temas trabalhados – meios biótico, abiótico e antrópico –
demonstraram a grande fragilidade desse sistema, ressaltando a necessidade de se
estabelecer e regulamentar a proteção da região.
O Projeto Estruturador do Governo do Estado, “Conservação do Cerrado e
Recuperação da Mata Atlântica”, permitiu que, a partir de fevereio de 2009, as
recomendações desenvolvidas pelo estudo e diagnóstico da organização supra
mencionada pudessem ser implementadas, sobretudo a criação das unidades de
conservação estaduais. Foram propostas pelo projeto três reservas particulares do
patrimônio natural – RPPNs e um parque estadual. Das RPPNs indicadas, uma
delas já se encontra averbada, a Reserva Luis Carlos Jurovsky Tamassia da Gerdau
Açominas. A área soma 1.247 hectares de proteção que se estende do lago
Soledade à cota 1.100 metros do paredão da Serra do Ouro Branco. O perímetro
indicado para o parque estadual segue confrontante com a RPPN da Gerdau, do
paredão do maciço do Ouro Branco até os afloramentos do Bico de Pedra e do
Itatiaia, totalizando 11.082,06 hectares. Contudo, durante o trabalho de demarcação
e estudo fundiário das propriedades afetadas, optou-se por desmembrar parte da
unidade recomendada como Parque em um Monumento Natural, buscando
compatibilizar a ocupação antrópica já existente com a proteção. As áreas que estão
no monumento, estarão sujeitas à regulamentação a ser estabelecida no plano de
manejo da unidade, pois caso contrário, o Estado deverá promover a
desapropriação conforme os dispositivos legais estabelecidos. Sendo assim, temos
como proposta final o Parque Estadual Serra do Ouro Branco com 7.788, 39
hectares e o Monumento Natural do Itatiaia com 4.437,39 hectares. Fragmentos
vegetais que não haviam sido incorporados, foram incluídos tentando-se maximizar
a área de proteção atingida pelas unidades de conservação.
Os estudos dos meios biótico, abiótico e antrópico encontram-se detalhados
na Proposta de Criação de Unidades de Conservação na Região de Ouro Branco
elaborados pela Terra Brasilis, em anexo.
2- Localização:
As unidades de conservação situam-se nos municípios de Ouro Branco (ao
norte) e Ouro Preto (ao sul), abrangendo as Serras do Ouro Branco, do Bico de
Pedra e do Itatiaia. Elas são o início da cadeia montanhosa do Espinhaço, que se
estende até o sul da Bahia, abrigando áreas de grande biodiversidade e riquesas
minerais, um patrimônio declarado pela UNESCO como reserva da biosfera, devido
a sua importância. A planta de localização das áreas encontra-se a seguir. As
coordenadas geográficas são latitude 20°30’S e longitude 43°40 O.
figura 01: Proposta das unidades de conservação a serem criadas.
3- Metodologia do Trabalho:
Inicialmente, a área a ser demarcada como Parque Estadual, foi baseada no
polígono apresentado pela proposta de criação de unidades de conservação na
Serra do Ouro Branco. Foram estudados os instrumentos de proteção legal já
existentes com seus respectivos memoriais descritivos. Esta etapa proporcionou a
compreensão das diversas percepções de preservação do patrimônio ali presente,
bem como a relação dos mesmos com o perímetro proposto para as novas unidades
de conservação. Os instrumentos legais que existem são: Área de Tombamento da
Serra do Ouro Branco (Decreto Estadual n.° 19.530 de 1978); Área de Proteção
Especial do Veríssimo (Decreto Estadual n.° 22.055 de 1982), Área de Preservação
Permanente da Gruta da Igrejinha (Decreto Estadual n.° 26.420 de 1986) e Área de
Função de Preservação Paisagística, da Flora e Fauna (Lei Orgânica municipal de
1982). Cada um deles possui os objetivos claros de conservação, sendo o Veríssimo
para proteger os mananciais de abastecimento da cidade, o tombamento estadual e
a lei municipal para manter a integridade cênica e paisagistica da Serra do Ouro
Branco e da Gruta da Igrejinha relacionada ao seu patrimônio espeleológico,
guardado em mármores dolomíticos nos espelotemas em seu interior.
No estabelecimento das divisas do perímetro da unidade de conservação
utilizou-se das informações fornecidas pelos diversos atores que possuem
propriedades na região de estudo. Foram publicadas notas de convocação nos
meios de comunicação locais para a aquisição de toda e qualquer documentação
comprobatória de posse e domínio no território das unidades de conservação (figura
02).
Figura 02: convocações nos jornais de circulação local
O estudo da documentação e as vistorias em campo revelaram duas
realidades distintas: pequenas e médias propriedades ocupadas, algumas com
plantio de eucalipto, outras com pouco gado e cavalos, e ainda, áreas de médias e
grandes propriedades, sem processo definido de uso e ocupação sendo estas,
pertencentes a diferentes empresas. A estrutura fundiária e a ocupação estabelecida
nas áreas foram o eixo que estruturou a proposição final dos limites das unidades de
conservação. A opção foi que as áreas de ocupação definidas, com benfeitorias e
moradores, fossem incluídas no perímetro do monumento natural. Dessa maneira,
espera-se definir programas que substituam eventuais práticas impactantes por
outras compatíveis com o uso indireto dos recursos, a partir de um plano de manejo
construído de forma participativa com os atores presentes na unidade de
conservação. Incluímos ainda, a localidade do Morro do Gabriel para que o
programa de manejo forneça diretrizes e alternativas para os moradores que, de
acordo com informações locais, possuem dificuldades relacionadas à moradia,
saúde e educação (figura 03 e 04). As médias e grandes propriedades ao centro e a
oeste do perímetro inicialmente proposto para o parque estadual mantiveram-se
inseridas dentro dessa categoria de manejo, uma vez que não existem uso e
ocupação definidos, sendo que o uso deverá ser limitado.
Figura 03: Áreas de médias e grandes propriedades, sem uso e ocupação definidos,
necessárias à proteção integral e incluídas dentro dos limites do Parque Estadual da
Serra do Ouro Branco. A: ao longo da estrada de acesso ao platô da serra. B: no
extremo oeste do limite do parque estadual, próximo à Mineração Lagoa Seca.
A B
Figura 04: Áreas de pequenas e médias propriedades ocupadas (A), incluindo a
comunidade de Morro do Gabriel (B), dentro dos limites do Monumento Natural
Estadual do Itatiaia.
Os decretos minerários foram revistos com os dados disponibilizados pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral (SIGMINE) de março de 2009, bem
como as informações obtidas nas reuniões com os diferentes atores que atuam
localmente no segmento de mineração. Os polígonos encontram-se no mapa a
seguir (figura 05).
Figura 05: Decretos minerários nas unidades de conservação a serem criadas.
A B
Os processos listados estão totalmente ou parcialmente inseridos na área
proposta. Ainda assim, foram considerados os polígonos imediatamente
confrontantes aos limites do parque estadual e do monumento natural estadual. Os
processos somam ao todo 49 fases administrativas, sendo: 18 requerimentos de
pesquisa, 21 autorizações de pesquisa, 2 requerimentos de lavra, 1 em
disponibilidade e 7 concessões de lavra. Das concessões de lavra, duas delas
encontram-se em atividade (IMA e Magnesita – referentes à Mineração Lagoa
Seca), sendo totalmente excluídas do perímetro apresentado para as unidades de
conservação. Das que totalmente se inserem, uma está na Área de Preservação
Permanente da Gruta da Igrejinha (Antônio Marcello de Borges Nunes – Firma
individual para exploração de calcário), sendo inviável para exploração devido as leis
que protegem as formações espeleológicas. A outra concessão encontra-se na Área
de Proteção Especial do Veríssimo (Chaffyr Ferreira – exploração de manganês)
sem qualquer sinal de atividade e sobreposta a outros dois manifestos de lavra
(Mineração Geral do Brasil e Somifra). Os dois manifestos citados estão paralizados
há bastante tempo, parcialmente inseridos na proposta das unidades de
conservação, sendo que um deles, pertencente à Somifra Mineração, apresenta
sinais de abandono. É possível constatar na área significativo impacto antrópico,
decorrente de atividade minerária do passado, cuja lavra foi abandonada sem
qualquer medida de mitigação, ocasionando o surgimento de uma grande voçoroca
que vêm evoluindo descontroladamente, tornando o impacto difuso e de difícil
mensuração. A localização encontra-se nas coordenadas 20°27'11,85'' S e
43°41'21,53'' O. Tal situação representa um passivo ambiental, uma vez que o
sedimento erodido é transportado para a bacia do Riberão Colônia podendo causar
processos de assoreamento à jusante desse córrego, cuja rede de drenagem
deságua no Lago Soledade (vide figura 06). A concessão de lavra da Gerdau
Açominas também não está inserida na área proposta para parque que a confronta a
oeste nas proximidades da Mineração Lagoa Seca. Os dados dos processos
minerários encontram-se no quadro 01 a seguir.
Figura 06: Processo erosivo inserido no limite do parque estadual e na concessão de
lavra da Somifra Mineração, sendo que a área apresenta sinais de abandono.
NUMERO ANO PROCESSO FASE NOME SUBSTÂNCIA 831684 2001 831684/2001 MINERAÇÃO MONTE VERDE LTDA. ESTEATITO 831083 2004 831083/2004 RICARDO NORBERTO RIBEIRO MINÉRIO DE OURO 833166 2004 833166/2004 RICARDO NORBERTO RIBEIRO MINÉRIO DE OURO 833655 2004 833655/2004 Sand Do Brasil LTDA-ME MINÉRIO DE OURO 832069 2005 832069/2005 EDSON FERNANDES DOS PRAZERES MINÉRIO DE OURO 831325 2005 831325/2005 RNW MINERAÇÃO LTDA - ME MINÉRIO DE OURO 831874 2005 831874/2005 CONVAP MINERAÇÃO S.A. MINÉRIO DE FERRO 832892 2005 832892/2005 THIAGO DE CASTRO SOUSA MINÉRIO DE FERRO 831747 2006 831747/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831621 2006 831621/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831751 2006 831751/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831583 2006 831583/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831584 2006 831584/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831680 2006 831680/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 833389 2006 833389/2006 IVALDO ROSARIO DAMASCENO QUARTZO 832628 2007 832628/2007 CONSTROE LTDA MINÉRIO DE FERRO 830120 2003 830120/2003 RICARDO NORBERTO RIBEIRO MINÉRIO DE OURO 831752 2006 831752/2006 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 832382 2007 832382/2007 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 833058 2007 833058/2007 MINERAÇÃO ESTRELA DO NORTE LTDA - ME. MINÉRIO DE OURO 830542 2005 830542/2005
AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA
RICARDO NORBERTO RIBEIRO MINÉRIO DE OURO 4575 1935 4575/1935 GERDAU AÇOMINAS S.A. FERRO 2918 1936 2918/1936 MINERAÇÃO GERAL DO BRASIL LTDA. FERRO 1328 1940 1328/1940 CHAFFYR FERREIRA MANGANÊS 5886 1940 5886/1940 IMA INDÚSTRIA DE MADEIRA IMUNIZADA LTDA. CALCÁRIO
3237 1936 3237/1936 SOMIFRA SOCIEDADE COMERCIAL E INDUSTRIALDE MINERIOS REFRATARIOS SA FERRO
7436 1944 7436/1944 ANTONIO MARCELLO DE BORGES NUNES-FIRMA INDIVIDUAL CALCÁRIO 2844 1943 2844/1943
CONCESSÃO DE LAVRA
MAGNESITA S.A. CALCÁRIO 831938 2003 831938/2003 DISPONIBILIDADE CARLOS DONIZETE PAIXÃO QUARTZO 803394 1976 803394/1976 Companhia Vale do Rio Doce VANÁDIO 806794 1977 806794/1977
REQUERIMENTO DE LAVRA ISHIZO EMPREENDIMENTOPARTICIPAÇÕES LTDA GRANADA
833631 1996 833631/1996 Companhia Vale do Rio Doce MINÉRIO DE FERRO 830952 2007 830952/2007 AGENOR NARCIZO DRUMOND COSSOLOSSO MINÉRIO DE MANGANÊS 834773 2007 834773/2007 ISHIZO EMPREENDIMENTOPARTICIPAÇÕES LTDA MINÉRIO DE FERRO 830198 2008 830198/2008 BRAZMINCO LTDA MINÉRIO DE OURO 830404 2008 830404/2008 OTAVIO MARCIO PERRI DE RESENDE MINÉRIO DE FERRO 830405 2008 830405/2008 OTAVIO MARCIO PERRI DE RESENDE MINÉRIO DE FERRO 831465 2008 831465/2008 MG4 Participações e Empreendimentos S/A MINÉRIO DE FERRO 830503 2008 830503/2008 ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO 831906 2008 831906/2008 INGO GUSTAV WENDER MINÉRIO DE FERRO 833767 2008 833767/2008 BRAZMINE MINERAÇÃO, COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA MINÉRIO DE FERRO 832299 2008 832299/2008 Inv Mineração Ltda. MINÉRIO DE FERRO 830346 2009 830346/2009 TERRATIVA MINERAIS S.A. MINÉRIO DE FERRO 832648 2007 832648/2007 OTAVIO MARCIO PERRI DE RESENDE MINÉRIO DE FERRO 832413 2007 832413/2007 CAMARGOS QUINTELLA GESTÃO EMPRESARIAL LTDA MINÉRIO DE FERRO 832413 2007 832413/2007 CAMARGOS QUINTELLA GESTÃO EMPRESARIAL LTDA MINÉRIO DE FERRO 833764 2008 833764/2008 BRAZMINE MINERAÇÃO, COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA MINÉRIO DE FERRO 834143 2008 834143/2008 RAIMUNDO RIOGA AREIA 834424 2008 834424/2008
REQUERIMENTO DE PESQUISA
ÁGUA NOVA PESQUISAS MINERAIS LTDA. MINÉRIO DE OURO
Quadro 01: Relação dos processos administrativos protocolados no Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM.
Foram realizadas reuniões com as empresas proprietárias de terrenos
inseridos nos limites das futuras unidades de conservação para a apresentação da
proposta e aquisição de dados fundiários. De maneira semelhante, os pequenos e
médios proprietários foram convidados para apresentação da documentação. Ainda
na etapa das discussões, participaram os seguintes atores: Prefeituras Municipais
de Ouro Branco e Ouro Preto por intermédio de suas respectivas Secretarias de
Meio Ambiente; Ministério Público local; Assembléia Legislativa do Estado de Minas
Gerais por meio da representação local do Deputado Padre João; representantes
da comunidade e dos empreendedores. Os dados obtidos puderam ser checados
em vistorias no campo, com posterior construção de um sistema de informações
geográficas que subsidiasse a execução do projeto para a apresentação formal em
audiências públicas.
4- Exposição de motivos e unidades propostas:
A proteção das Serras de Ouro Branco, Bico de Pedra e Itatiaia é uma ação
necessária, conforme demonstrado nas áreas temáticas trabalhadas e detalhadas
no estudo diagnóstico elaborado pela Terra Brasilis. O indicativo de PROTEÇÃO
INTEGRAL justifica-se por várias razões, podendo destacar:
• estruturas geológica e geomorfológica vulneráveis, pois quando o sistema é
submetido a pressões inadequadas de uso e ocupação o resultado são
áreas potenciais para a formação de processos erosivos que podem
assorear as planícies fluviais;
• grande potencial para a recarga hídrica dos mananciais e drenagens que
existem na serra, sendo que além da captação de água para o consumo
humano na cidade, são abastecidos dois grandes reservatórios: Lago
Soledade e Represa dos Taboões;
• área de diversidade biológica importantíssima, abriga endemismos de flora
rupestre nos afloramentos rochosos e alta relevância na cadeia do
espinhaço, demonstra ainda grande riqueza de fauna e de outros elementos
da flora;
• beleza cênica e paisagística, sítios de importância histórica e abrigo de um
acervo fantástico de artefatos do ciclo do ouro;
• vocação turística pela localização, paisagem e natureza.
Conforme exposto anteriormente, optou-se por realizar o desmembramento
do perímetro proposto para o Parque Estadual em duas unidades de
conservação: Parque Estadual da Serra de Ouro Branco e Monumento Natural
Estadual do Itatiaia.
O Parque Estadual da Serra de Ouro Branco abriga todo o paredão, as
bacias dos Ribeirões Colônia, do Bule, do Charco e parte das cabeceiras dos
córregos da Lavrinha, do Garcia e da Água Limpa. A estrutura fundiária é
composta principalmente por grandes propriedades sem uso e ocupação
definidos. A manutenção da cobertura vegetal existente é fundamental para
assegurar a qualidade dos recursos hídricos dessas bacias, bem como evitar os
processos erosivos no solo da região. Portanto, deve-se manter a cobertura
natural e promover a proteção efetiva dos campos rupestres existentes na Serra
do Ouro Branco, por serem ambientes de alta importância biológica e de grande
fragilidade. As áreas inseridas no parque deverão ser desapropriadas pelo
poder público conforme os dispositivos legais.
Sem dúvida alguma, é inegável a necessidade de se estabelecer corredores
ecológicos e áreas de conectividade entre a Serra do Ouro Branco e as Serras
do Bico de Pedra e Itatiaia. Estas áreas proporcionam o fluxo gênico das
espécies da flora, são refúgios para o deslocamento da fauna e mantêem a
qualidade das águas nos córregos, tanto por facilitar a recarga hídrica local
quanto por proteger o solo, impedindo o carreamento de sedimentos para os
cursos d’água.
Dessa maneira, buscando o envolvimento na preservação e conservação
ambiental da área pelos moradores que existem no centro da região
inicialmente sugerida para o parque e, também, na expectativa de não se criar
conflitos fundiários, estruturou-se um monumento natural. Porém, é necessária
a compreensão do poder público e da sociedade local de que a ocupação
existente deverá ter seu uso restrito e adequado à proteção integral dos
recursos naturais. A execução desse projeto é um grande desafio que
dependerá do esforço de ambos os atores, consolidado num plano de gestão
para a área.
O Monumento Natural do Itatiaia abriga as Serras do Itatiaia e do Bico de
Pedra. Nele se inserem parte das bacias dos Córregos da Lavrinha, da Ponte,
da Cachoeira, do Falcão e da Caveira. Os afloramentos rochosos das Serras
são sítios de grande beleza e importância nos contextos naturais e histórico da
região. De acordo com o estudo para a criação de unidades de conservação na
Serra de Itatiaia foi encontrada uma espécie de Sempre Viva, ameaçada de
extinção, em excelente estado de conservação. No monumento é imprescindível
a elaboração de um plano adequado de manejo nas propriedades que ficaram
no seu território. É certo que muitas atividades poderão ser proibidas ou se
tornarem restritas. As reservas legais deverão ser averbadas e mantidas, as
áreas de preservação permanente respeitadas e, quando for o caso,
recuperadas.
Os nomes PARQUE ESTADUAL SERRA DO OURO BRANCO e
MONUMENTO NATURAL ESTADUAL DO ITATIAIA estão intimamente ligados
as denominações locais para estas serras que são identidade visual e cultural
no contexto regional.
A proposta das unidades de conservação perfazem ao todo, 12.225,78 ha
que somados à RPPN da Gerdau Açominas teremos 13.472 ha de áreas
protegidas.
5- Bibliografia consultada:
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de Classe Mundial. Belo Horizonte: SEGRAC, 2007.
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Sustentável. Resolução SEMAD n.º 244 de 2004.
SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA –
SNUC, Lei Nº. 9985, de 18 de julho de 2000; Decreto Nº. 4340, de 22 de agosto de
2002. 5.e. Brasília: MMA/SBF, 56p.
SCOLFORO, J.R.; CARVALHO, Luis Marcelo Tavares de (Eds.). Mapeamento e
Inventário da Flora Nativa e Reflorestamentos de Minas Gerais. Lavras: UFLA,
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VERÍSSIMO, A.; PALMIERI, R.; FERAZ, M. Guia de Consultas Públicas para
Unidades de Conservação. Piracicaba: Imaflora; Belém: Imazon, 2005. 88p.