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Andre Uniga Junior
QUESTIONAMENTOS SOBRE A POSI<;:Ao DO TERAPEUTA, 0 MITODE QUiRON E A ENCARNA<;:AO DE CRISTO.
Monografia apresentada ao Curso de pos-graduayao Jato sensu da Universidade Tuiutido Parana como requisito parcial para aobtenyao do titulo de especialista emPsicologia Clinica na abordagem junguiana
Orientador: Netio Pereira da SilvaCRP 08/0016
CuritibaNovembro/2005
Sl)JIARIO
1. INTRODUI;:Ao 1
2. A RELA<;:Ao TERAPEUTAIPACIENTE E AS NECESSIDADES DOTERAPEUTA 4
2.1 0 PROBLEMA DA CONTRA TRANSFER~NCIA... . 42.2 0 "OUVIR" DO TERAPEUTA... . 9
3. 0 MITO DE QUi RON E A FUN<;:Ao DE CURA DO TERAPEUTA ••..•.•••.123.1 A ESTORIA DO CENTAURO QUIRON.. . 123.2 OS OBJETIVOS DO TERAPEUTA... . 15
4. A ENCARNA<;:Ao DE CRISTO E 0 PAPEL DO TERAPEUTA •..•.•..•......264.1 AS RAZOES PARA A ENCARNA<;:AO... . 264.20 PAPEL DO TERAPEUTA NA ENCARNA<;:AO... . 314.3 AS TRIADES.. . 33
5. CONCLUsAo 35
6. BIBLIOGRAFIA 39
Resumo
o objetivo da monografia e fazer uma assoeiayao entre tres temas quepermeiam 0 eotidiano elinieo: a relagao terapeuta/paeiente, 0 mite domedico ferido e a enearnayao de Cristo. Esses temas pontuam muito dasviveneias necessarias ao terapeuta para a realizayao dos atendimentos, 0que sera objeto de analise, 0 papel que devera desempenhar 0 terapeuta eas cuidados eontratransferenciais. 0 metodo utilizado sera 0 da psicologiaanalitiea, junta mente com 0 metodo interpretativo ou hermeneutico. Quantoaos resultados, demonstram que a trabalho de terapia pessoal do terapeutase torna necessaria para a realizagao dos atendimentos para que naoinfluencie nos conteudos do paciente. A eonclusao do trabalho aponta paraa relayao do mito do psic61ogo com 0 mito de Quiron, 0 saber "ouvir" doterapeuta e as prevengoes quanta as questoes contratransferenciais. Estassao algumas das situagoes do cotidiano do consult6rio, onde 0 terapeutadepara-se consigo mesma e com suas feridas, que podem estarpreviamente cicatrizadas ou nao.
Palavras - chaves: transferencia, Quiren, encarnagao, psicologia analitiea.
1. INTRODUCAo
Antes mesmo de comegar a escrever a monografia sabre este tema,
mesma enquanto ainda naD passava de uma ideia para urn trabalho futuro,
comentava com algumas pessoas do meio junguiano sabre 0 interesse em
escrever uma monografia sabre a relayao terapeuta/paciente, a mito de Quiren e a
encarnac;:ao de Cristo. Em praticamente todas as vezes, ouvi comentiuios de como
seria dificil relacionar estes tres temas em torna de uma questao que e a relac;:ao
terapeuta/paciente, analisando e levantando questionamentos sobre 0 ponto de
vista do terapeuta.
Meu interesse par este tema, vern do fato da importancia e a interesse que
tenho pela area clinica e suas quest6es, sendo de necessidade permanente 0
monitoramento do terapeuta para as questoes contratransferenciais e a
manuten9ao do trabalho pessoal ao qual se propoe 0 terapeuta, a atenc;:ao ao
relato do paciente e 0 continuo estudo com relac;:ao a abordagem teorica usada
como pano de fundo no atendimento clinico, por exemplo.
Sem, no mini mo, 0 conhecimento das necessidades em estar se deparando
com estas questoes no cotldiano clinico, nao e possivel ser desenvolvido um
trabalho clinico com qualidade. Mas, dentro dos assuntos que tenho como base e
que chamo de necessidades permanentes do terapeuta, como conseguir
relacionar estes tres assuntos?
A ideia surgiu enquanto ouvia uma palestra a tres anos atras, quando 0 que
era debatido, em um determinado momento da apresentac;:ao, era sobre a
encarna~o de Cristo, e comece; a assoc;ar a ideia, me deparando com a
questoes do cotidiano clinico. Tendo a mito de Quiron (au a mito do medico ferido)
como a Umita do psicologo", e relacianando com a questao terapeuta/paciente fai
questao de minutos. A leitura inicial de alguns livros, como as citadas na final da
trabalho, capacitaram-me a elabarar melhor as ideias do trabalho. A partir de
entao, foi s6 precise esperar a momenta certa para me desafiar a escrever sabre
tao dificil tematica.
Quanto propria mente a questao teorica, como ja dita anteriormente, a
rela9aO terapeutal paciente e questao de monitoramento permanente do
terapeuta, e pretendo me aprofundar neste assunto relacionando com os outros
dois temas partindo do ponta com rela<;ao a questianamentos sabre 0 papel do
terapeuta, e reafirmando algumas condutas necessarias ao terapeuta para realizar
o atendimento clinico. Questoes que rnuitas vezes percebi nao serem levadas
adiante por colegas de profissao, como por exemplo, 0 trabalho pessoal (fazer
analise ou psicoterapia), pois como ja dizia C.G.Jung: "(...) Eo que nao e possivel
levar um paciente alem do ponto em que estamos." (JUNG, 1.999, p. 75). "E ainda
e possivel citar urn trecho do livra uO Abuso do Poder na Psicoterapia", para
complementar a cita<;ao de Jung: "Nesse senti do e bastante verdade, como diz
Jung, que a analista s6 pode dar a seus pacientes aquila que possui".
(GUGGENBUHL-CRAIG, 2.004, p. 58), ou seja, nao e possivel extrair mais do
terapeuta do que 0 conhecimento e a vivencia do incansciente que ele tenha
obtido. No livre onde esta contida a cita<;ao aeirna, tambem e passivel encontrar
outra, que aborda como Jung pensa com rela~ao ao trabalho pessoal do
psicoterapeuta, e como se relaciona com 0 atendimento de seus pacientes:
MMasqual a significado desta exig~ncia? Ela signifjca simplesmeme que 0medico tambem "esta em analiseti
, tanto quanto 0 paciente. Ele e parte integrante doprocesso pslquico do tratamento, tanto quanto este ultimo, razao por que tambem estaexposlo as influencias transformadoras. Na medida em que a medico se fecha a essainfluencia, ele tambem perde sua influencia sabre 0 paciente. E, na medida em queesta influencia e apenas inconsciente, abre-se uma lacuna em seu campo deconsciencia, que 0 impedira de ver 0 paciente corretamente. Em ambos os casas, 0resultado do tralamento esla comprometido" (JUNG, 1.999, p. 69).
Quanto ao mito de Quiron (ou mito do psic6logo), esta associado com a
ideia, principalmente, do trabalho de analise ou psicoterapia pelo qual 0 terapeuta
devera passar. E par tim, a encarnac;ao de Cristo, sendo 0 terceiro assunto
relacionado, pela questao de que Cristo teria side enviado a Terra por Deus, para
que este pudesse entender como se comportavam as homens. No processo
pSicoterapeutico, associ ado com a questao da encarna~ao, como e possivel
entender 0 que se passa com 0 inconsciente dos pacientes que atendemos, se
nao sabemos 0 que ocorre, com urn conhecimento minimo, em nosso proprio
inconsciente?
Tendo como base para transcorrer sabre estes tres assuntos, a vivencia da
pratica clinica, 0 problema encontrado que e proposto para ser respond ida neste
trabalho, e se a mito de Quiron e a encarnat;:ao de Cristo estao relacionados com
a relacao terapeuta/paciente?
Parto da hip6tese de que a rela(:1io e por consequencia 0 mito de Quiron e
a encarnat;:ao de Cristo se correlacionam na relayao terapeuta/paciente, embora
seja meu trabalho apresentar as fatos que me conduziram a tal questao.
2. A RELACAo TERAPEUTA/PACIENTE E AS NECESSIDADESDO TERAPEUTA
2.10 PROBLEMA DA CONTRATRANSFERENCIA
A rela.yao terapeuta/paciente e tema de discussao e apontamentos em
varios outros trabalhos, principalmente quando levantadas quest6es quanta apostura, direitos e deveres e conteudos relatados em sessao, mas sempre
relacionando estes temas com 0 paciente.
Ve-se em varios textos e alguns livres e artigos, como par exemplo, no livra
de C.G.Jung, "A Pratica da Psicoterapia", em "A Experiencia Junguiana" de James
Hall, "A Busca do Simbolo" de Edward Whitmont, "Psicoterapia" de M.L.von Franz
e no artigo de C. Jess Groesbeck "A Imagem Arquetipica do Medico Ferido",
bastante citado neste trabalho, que questionam tambem as obrigac;oes, direitos e
deveres e necessidades do terapeuta no setting terapeutico, mas acredita-se que
proporcionalmente, questiona-se e debate-se mais a postura do paciente do que a
do terapeuta, e partindo do tato, que isto ocorra pel a hipotese de que levantar
quest5es sobre a outro seja mais facil do que olhar para si mesmo. Nao sao todos
que nao se questionam enquanto ocupam esta funC;ao, mas como em todos os
lugares ha tad os os tipos de profissionais, portanto ha tambem aqueles, na
profissao de psicologos, que ignoram a necessidade de se atentarem para suas
quest5es enquanto desempenham 0 papel de terapeuta.
Mas 0 papel (persona) que, os psicologos ocupam durante urn atendimento,
requer muita vivencia pratica, quanto ao processo psicoterapeutico de cada urn
com seu pr6pria incansciente, a estudo da abordagem te6rica escalhida e a
aten~aa dedicada a cad a paciente atendido em cansult6ria.
Mas primeiramente, deve-se pensar que, quando um paciente faz a
primeiro cantata em busca do atendimento, au quando a paciente e encaminhado
para a sessao, a trabalho terapeutico de certa forma ja esta iniciado, pOis a
expectativa, a ideia, 0 deseja e principal mente as projeyoes feitas pelo paciente
quanto ao que ele espera do terapeuta que ira atende-Io, pode, dependendo do
caso, ja ser motivo de conversa, analise e questionamento para as primeiras
sessoes. Mas a preparac;ao do terapeuta quanta a aten~ao ao receber este novo
paciente, aten~ao quanta aa ouvi-Io e observa-Ia sao importantes, mas tambem se
considera importante a terapeuta se perguntar: Porque este paciente veia ate
mim? Talvez uma pergunta que alguns fayam, mas que deve ser pensada no
processo psicoterapeutico do terapeuta au ate individualmente ap6s a realiza~aa
de cada atendimento feito, mas que nao devesse deixar de refletir, em momenta
algum! Jung em "Mem6rias, Sonhos e Reflexoes" tem uma frase para este
momenta inicial do processo psicoterapeutica: "Enquanto medico, sempre me
pergunto que mensagem traz a doente. a que significa ele para mim? Se nada
significa, naa tenha um ponto de apoio. a medico s6 age ande e tocado." S6 a
ferido cura "". (JUNG, sid, p. 123).0 mitologema gregGdo medico ferido embasa a
frase citada acima, pais s6 e passivel para a medico "curar na medida do seu
pr6prio ferimento". (JUNG, 1.999, p. 111).
Esta frase de Jung mostra a quanta deva ser questionado a chegada de urn
paciente e a que isto traz de questionamentas para a terapeuta. A ultima parte da
cita~ao acima que diz: "0 medico s6 age onde e tocadon, aponta para a
necessidade do terapeuta se conhecer como instrumento de trabalho terapeutico e
fazer a seu percurso de analise com outro profissional, para que possa se
conhecer melhor enquanto pessoa e tarnbern quanto profissional da area da
saude mental.
Em ambos as casas - tanto nas quest6es pessoais e profissionais - a
terapeuta, se bern analisado, ainda e passiveI de fazer contratransferencia de
suas quest6es, quanto mais a possibilidade sera possivel com urn terapeuta que
nao fa~a 0 seu trabalho pessoal, de fazer esta contratransferencia durante uma
sessao e nao perceber nem durante e nern ap6s a sessao a contratransferencia
feita e muito menos, sendo esta contratransferencia negativa, as conseqOencias
que este ata paden. trazer para a trabalha analitico. Partanta, a aten9ao do
terapeuta quanto as contratransferencias de seus conteudos tambem devera
existir, pois suas proje~6es ocorrem em qualquer rela'Yaoem que se vivencia,
inclusive a rela9ao com 0 paciente. 0 grafico abaixo dara uma amostra de como
as rela~6es entre terapeuta e paciente, ocorrem, levando em considera~o a
consciente e 0 inconsciente de ambos, e as atua~6es transferenciais e
contratransferenciais.
ANALISTA PACIENTE
CONSCIENTE CONSCIENTE
INCONSCIENTE INCONSCIENTE
Grafico 1: Moslra as varias foonas de ocorrer a relacao terapeutalpaciente de fonna conscientee inconscienle
Portanto, aD olhar este graficQ, podera ficar urn pouco mais nitido, as mais
variadas formas em que as relac;:5es entre analista e paciente ocorrem, sendo
assim, as conseqOencias que poderao ocorrer casa 0 analista nao realize seu
trabalho de analise/psicoterapia. e tambem, ou talvez por conseqOencia, no casa
de naD realizar este trabalho, de nao perceber as contratransferemcias que
poderao estar envolvidas nesta relac;ao.
Para que um terapeuta possa realizar um trabalho de qualidade com a
paciente em atendimento, e necessaria fazer 0 seu processo de analise. Ha uma
Irase de Jung que expressa bem esta questao:
~A elapa da Iransfonnayao baseia-se nestes fatas que, para serem reconhecidos semequivoco, tiveram que ser objeto de abrangentes experiencias praticas que se estenderam peloquarto de seculo que precedeu esse reconhecimento. 0 proprio Freud, aderindo a ele, aceitouminha exigencia de que todo 0 terapeula fosse obrigaloriamente analisado~. (JUNG, 1.999, p.69).
Quando esta regra e desrespeitada, Jung alerta para ° comprometimento
do trabalho analitico que podera ocorrer, pais tanto terapeuta quanta paciente,
estao em transforma9ao durante a processo analftico, e e de responsabilidade do
terapeuta ficar atento para as quest5es que surgem no setting terapeutico, sendo,
nao somente as questoes do paciente, mas tambem as questoes que ocorrem
consigo mesmo. Jung tem urn comentario para esta questao:
MNa reta9f1o medico-paciente existem fatores irracionais que produzemIransforma90es mUtuas. Ao final, sera decisiva a personalidade mais estavel e maisforte. Ja:vi muitos casos, em que 0 medico fei assimilado pete paciente, contrariandoloda teoria e qualquer praposta profissional e, na maiaria dos casos, mas nem sempre,em detrimento do medico." (JUNG,1.999, p. 69).
Desta forma, e evidente a importancia do monitoramento feito pelo
terapeuta de suas preprias quest5es e do cantata com seus conteudos
inconscientes, durante seu processo psicoterapeutico.
Ainda nesta questao, M.L. von Franz, faz recomenda90es quanta it aten9c3o
que devemos ter com nossas projec;oes contratransferenciais, principalmente no
setting terapeutico (temenos): "( ... ) na minha opiniao, torna absolutamente
necessaria que conscientemente percebamos mais a respeito de nossa verdadeira
natureza em vez de continuamente sobrecarregarmos as outros, de maneira
infantil, com nossas proje90es." (VON FRANZ,1.999, p. 290).
Fica nova mente reforc;a,da a hipetese da necessidade de todo terapeuta
fazer seu processo pSicoterapeutico, au seu processo de trabalho pessoal. Apes a
primeiro cantata e a reflexao sabre a cuidado do terapeuta quanta suas projec;6es
contratransferenciais, a pr6ximo passo a ser percebido pelo terapeuta e quanta a
compreensao dele com rela9ao ao que e relatado em sessao, 0 que esta no
nomeado no subtitulo abaixo.
2.20 "OUVIR" DO TERAPEUTA
Muitas vezes e possivel que 0 terapeuta possa compreender 0 que e dito
pelo paciente por viuias razoes: quando determinada situa9ao ja foi vivenciada
pelo terapeuta e, portanto, ha uma experiemcia desta vivencia, quando 0 terapeuta
ja ouviu outros relatos com 0 conteudo parecido com 0 que e relatado, mas sem
perder a questao pessoal que envolve cada caso, ou quando 0 terapeuta
consegue relacionar 0 que e narrada a algum mito ou conto ja lido, bem como,
tambem, par alguma manifesta9ao arquetipica ja estudada ou reconhecida. Em
todas essas rela90es feitas com 0 conteudo dito pelo paciente e possivel que haja
uma boa compreensao do que e dito, pelo terapeuta, au seja, a mensagem
chegou ao seu destine com a inten9ao com que foi dita. Mas e quando a
mensagem nao chega ao terapeuta da forma com que 0 paciente quis dizer? E
responsabilidade do terapeuta nao haver percebido 0 que real mente 0 paciente
quis expressar?
No livro Psiquiatria Junguiana de Heinrich Karl Fierz, ha urn comentario
quanto as questoes levantadas acima: "0 medico buscara constantemente
compreender 0 paciente, realizando observa90es e compara90es de acordo com
seu treinamento. Constantemente tentara mostrar seu entendimento e, na medida
do possivel, comunica-Io ao paciente." (FIERZ,1.997, p. 239-240).
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Portanto, Fierz determina que 0 treinamento da escuta do terapeuta podera
influenciar com relayao ao que e relatado em sessao, e a partir de entaD, quando
compreendida a mensagem, a terapeuta podera fazer uma devoluyao no sentido
de uma pontuaC;80, par exemplo, para que 0 paciente possa retletir e/au tomar
consciElncia de alguma situay30 ainda nao percebida.
Mas na frase de Fierz, ha uma mensagem que naD pode passar
despercebida que e "na medida do possivel", ou seja, que 0 terapeuta esta
prepense a nao compreender alguma mensagem que esteja sendo transmitida, ou
compreende-Ia de forma err6nea. Embora seja responsabilidade do terapeuta a
que oearre durante uma sessao analitica, a naD compreensao e urn acontecimento
perfeitamente comum, e que podera ser resolvido com uma pergunta como: "Pode
repetir 0 que voce acabou de dizer?" ou "Nao entendi 0 que voce quis dizer com
isto!", para que haja uma outra tentativa de compreensao. Este dialogo que deve
ocorrer entre terapeuta e paciente, tern de ser franco, pOis uma infla~ao de ego do
terapeuta em julgar-se "onisciente", pode ser a constelayao de um complexo. Jung
faz uma afirma~ao em seu livre "A Natureza da Psiquen, "Como, porem, tais
investiga~6es nao podiam se processar senao sob a forma de dialogo entre duas
pessoas, ao formular-se a teoria entram em considera~ao nao 56 os complexos de
um dos interlocutores, mas tambem os do outro". (JUNG, 2.000, p. 37).
Porem ha mensagens transmitidas pelo inconsciente do paciente, assim
como apresentadas no grafico 1, onde a percep~ao destas tambem e de
responsabilidade do terapeuta, e quanto a essa questao, Edward Whitmont faz urn
comentario em "A Busca do Simbolo":
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~Ele (Jung) alertou as lerapeutas para nunca acredilarem que podem entender 0 que estaacontecendo no interior do paciente. Eles sempre devem estar abertos para ser ensinados, paraver as coisas de outro modo e para adaptar suas pre-concept;(Oes aquila que vern ao seuencontro." (WHITMONT, 1.999, p. 262).
Portanto, a treinamento aD qual se refere Fierz, vern de encontro ao
comentario de Whitmant sabre a compreensao do que ocorre no inconsciente do
paciente, e tambem quanta ao tato deste treinamento do terapeuta, este deve
estar atento ao que e dito - lembremos 0 comentario de Jung em "Memorias,
Sonhos e Reflex6es" sabre a transformac;ao que oeorre simultaneamente entre
terapeuta e paciente durante a sessao analitica para ouvir e adaptar as pre-
concepc;oes do terapeuta aos conteudos que ha na mensagem do que e dito pelo
paciente. Acredita-se que para que possa estar atento e pronto para ouvir e se
adaptar "aquilo que vem ao seu encontro" 0 treinamento pode responder bem a
esta necessidade, mas juntamente com 0 trabalho psicoterapeutico do terapeuta
em entrar em contato com seu inconsciente, tambem venha a auxiliar neste ouvir,
e adaptar ao que e relatado durante uma sessao analitica. Este ouvir e uma
habilidade, um instrumento basico de trabalho dos psic6logos, mas que deve ser
treinado, assim como ocorre com 0 trabalho analitico, pois atraves deste ouvir, 0
terapeuta esta suscetivel a cometer enganos, como por exemplo, ouvir 0 que
deseja ouvir, e nao a que realmente 0 paciente esta dizendo, e tambem, esta
suscetivel a fazer uma observac;ao com sabedoria, se estiver atento ao que erelatado nas sessoes, estando para isso, com a seu "ouvido atento",
Para finalizar este capitulo, urn comentario de Jung sabre a
responsabilidade do terapeuta em compreender e 0 que fazer com a questao
apresentada pel a paciente, no sentido de que objetivo se deve ter quanto a cura
12
deste paciente: "Em pSicoterapia, considero ate aconselhavel que 0 medico nao
tenha abjetivos demasiado precisos, pois dificilmente ele vai saber mais do que a
pr6pria natureza ou vontade de viver do paciente." (JUNG,1.999, p. 38-39).
Esta Irase de Jung vem para apontar sobre 0 que determina e quando, 0
processo de transformaC;8o da psique do paclente, embora S8 deva pensar que 0
processo de transformac;ao esta ocorrendo em ambos, 0 que aponta novamente
pata 0 continuo monitoramento do inconsciente do terapeuta em seu processo
psicoterapeutica.
3,0 MITO DE QUiRON E A FUN<;:AO DE CURA DO TERAPEUTA
3.1. A EST6RIA DO CENTAURO QUiRON
Antes de explicar a questao do porque 0 terapeuta deve passar por um
procesSD de entendimento e sobre as objetivos do terapeuta com rela<;ao aos
seus pacientes, e importante explicar quem foi Quiron, 0 Centaura. A relayao
deste assunto com esta figura rnitol6gica, e justificada pelo tato de que e feita aanalogia do mito de Quiron com 0 mito do psic610go.
Inicialmente, de forma mais abrangente passivel sera explicado quem foi e
o que fez Quiron, 0 Centauro. Segundo 0 texto sobre Quiron, do Dicionario de
Mitologia Grega e Romana de Pierre Grimal, diz 0 seguinte:
UQuiron e 0 mais celebre, 0 mais sensato e a mais sabia dos Centauros.mho do deus Crono e de Fllira, uma filha do Oceano (...) Quiron nascera imortal (...)educou Aquiles, Jasao, Asclepio, etc. 0 proprio Apolo tera recebido licOesde Quiron. 0seu ensino constava de musica, arte marcial, caca, moral e medicina.( ...) Aquando domassacre dos Centauros, levado a cabo por Herac/es, Quiron, embora estando do ladodo heroi, foi por ere fendo sem querer (...) mas as feridas feitas pelas flechas deHeracles eram incuraveis. Quiron afastou-se, entao, para sua gruta e sentiu vonlade de
13
marrer, mas nao podia, porque era imortal. Par tim. Prometeu, que tinha nascidomortal, cedeu·lhe 0 seu direito a morte. E foi assim que Quiron pade encontrarrepouso." (GRIMAL, p. 403).
Ja no livro "Mitologia Grega", volume dois, de Junito de Souza Brandao, e
dito 0 seguinte sabre 0 centauro Quiren:
"Quirao, em grego Kheiron, nome que e, possivelmente, uma abreviatura deKheirurgos, uque trabalha ou age com as maos~, cirurgiao, pois que esse Centauro foium grande medico, que sabia muito bern compreender seus pacientes, por ser ummedico terido. Filho do deus Crono e de Fflira, pertencia a geracao divina dosOlimpicos. Pelo fata de Crono ter-se unida a Filira sob a forma de um caval0, 0Cenlauro possuia dupla natureza: eqOina e hum ana. Vivia numa gruta, no montePelion, e era urn genic benfazejo, amigo dos homens. Sabio, ensinava musica, arte daguerra e da caca, a moral, mas sohretudo, a medicina. Foi grande educador de her6is,entre outros, de Jasao, Peleu, AquiJes e Asch~pio. Quando do massacre dos Centaurospar Heracles, Quirao, que estava ao lado do her6i e era seu amigo, foi acidenlalmenteferido por uma f1echa envenenada do filho de Alcmena. 0 Centauro aplicou ungoentossabre 0 ferimenlo, mas este era incuravel. Recolhido a sua grula, Quirao desejoumorrer, mas nem isso conseguiu, por que era imortal. Por tim, Prometeu, que nasceramortal, cedeu-Ihe seu direito a morte e 0 Centauro pode entao descansar. Conta-seque Quirao subiu ao ceu sob a forma de constel~ do sagitario, uma vez que aflecha em latim sagitta a que se assimila 0 sagitario, eslabelece a sintese dinamica dohomem, voando atraves do conhecimento para sua transformayao, de ser animal emser espirilual."(BRANDAO,p.90).
E ainda, segundo 0 artigo escrito par C. Jen Groesbeck, sobre a "Imagem
Arquetipica do Medico Ferido" e publicado na Revista Junguiana volume 1, e dito
sobre 0 centauro Quiron: "A palavra Chiron e a raiz etimol6gica de cirurgia e
significa "com a mao" (do grego chirurgia "trabalho com as maos"). (GROESBECK,
p.75).
Em um texto, nao publicado, escrito pelo psic6logo junguiano Armando de
Oliveira e Silva, intitulado "As Feridas no Terapeuta a As Possibilidades Curativas
no Paciente", ele faz uma cita9ao quanto a situar quem foi Quiron:
"e. ao mesmo tempo tragico e ir6nico que Quirao tenha recebido sua fendaacidenlalmenle de Heracles. A ferida foi produzida por uma flecha que Heracles atirouem Elatos, urn outro centauro. A f1echa atingiu Quirao no joelho. Na necha haviaveneno da hidra e, em bora Heracles tenha tentado curar a ferida, ele falhou. Quiraotambem nao foi capaz de curar-se e passou a sofrer as dores de urna fenda incuraveLo cenlauro se refugiou em sua caverna, mas sendo imortal ele permaneceu em agonia,incapaz de morrer e par lermino ao seu sofrimenlo. Quirao se ofereceu para substituir
14
Prometeus (que nascera mortal), e, ao aliviar 0 sofrimento de Prometeus. Quirao morre
e desce ao Hades' (OLIVEIRA, A. S., Algumas notas sobre as feridas noterapeuta e as possibilidades curativas no paciente. In: CONFER~NCIADE PSICOLOGIA ANALiTICA, 1.992, Maringa, p.2).
E por ultimo, no livro "Jung e a Educa,ao", Claudio Saiani, diz sobre Quiren,
o Centauro:
-Quirao, cUfador e professor, encerra lodos esses significados: ele luta contraa natureza ao colocar-se contra a morte e, como educador dos herois, participa daampliayao da consciencia. Sua pr6pria figura leriom6rfica. meio cavalo, meio homem,carrega as dois opostos, natureza animal e natureza espiritual. canferme sugereBrandao (1.987). Sua ·promocao a conslela~o· (Sagitario) real~ 0 ideal deespiritualizacao. Contudo, Quirao e urn sofredor: tern uma ferida incuravel e, no enlanlonao morre. Trata·se de uma figura tragica, para quem 0 proprio fato de ser imortal
aumenla 0 solrimen!o." (SAIANI,2.002, p. 141).
Segundo pode-se perceber apos ler todas estas cita,oes, 0 que elas tern
emcomum?
Quiron era um centauro, estudioso da medicina, passando este
conhecimento para outros seguidores, e detentor tambem do conhecimento de
outras artes, dos mais variados tipos. Outro ponto comum, e a questao da ferida
incuravel de Quiron, e este e 0 fato de maior importancia neste trabalho.
Acidentalmente ferido por uma f1echa com 0 veneno da Hidra de Lerna, onde
originou-se 0 ferimento incuravel, que por conseguinte gerou urn sofrimento
interminavel, pois Quiron era imortal. Oesta mesma forma, algumas feridas nos
sao causadas e sao incuraveis, nos fazendo. tambem, ter um sofrimento
interminavel.
Portanto, esta e a estoria usada como base para fazer a rela980 com a
postura e os objetivos do terapeuta, e tambem, usada como base para a vivencia
do mito do medico ferido, ou para 0 "mito do psicologo".
IS
3.2. OS OBJETIVOS DO TERAPEUTA
Primeiramente, com relal):8o ao psic61ogo, este deve ter conhecimento
destas feridas, ou seja, torna-Ias conscientes atraves do processo da psicoterapia,
para que nao haja rnais sofrirnento, como quando a questao ainda estava,
plenamente, inconsciente. Mesma desta forma, naD pode-s8 dizer que se esta
livres da ferida au da sua cicatriz, 0 que faz com que possa-se viver melhor com
relav80 aquela questao elaborada, mas que esteja-se atento para
questionamentos que possam ser oriundos desta questao jei trabalhada.
Sabre este ass unto, C. Downing taz uma cita980 ande S8 refere ao livro
PSicologia da Transferencia de C.G.Jung:
"Mais tarde em a "psicorogia da Transferencia-, reafinno como e importante que 0terapeuta se rembre das vivencias dolorosas que, antes de mai5 nada, levaram-no a procurar umaterapia, e que tenha em mente que continua prepense a naves ferimentos~ (DOWNING,1.998,p.234).
Esta citac;:ao vern para reforc;:ar a atenc;:ao que 0 terapeuta deve ter com as
mensagens enviadas par seu inconsciente e a manutenc;:ao de processo
psicoterapeutico.
Portanto a mito de Quiron vem para apontar, simbolicamente, aos
psic6logos, a importancia do conhecimento de suas feridas.
C.G.Jung tambem faz citac;:ao ao centauro Quiren, mas fazendo a
correlac;:ao com 0 mito do curador ferido:
"Poderiamos dizer, sem muito exagero, que uma boa melade de cadatratamento que se aprofunda bastante consiste no auto-exame que 0 medico faz, paisapenas aquilo que eJepode corrigir em 5i mesmo pode Ihe dar a esperan~ de corrigirtambem no paciente. Nae h8 tamMm nenhum prejuizo no fato de 0 paciente ajuda-Ioou mesmo humilha-Io; e seu proprio ferimento que Ihe da a medida do seu poder de
16
curar. Este, e nenhum outro, e 0 significado do milo gre90 do medicoferido".(SAIANI,2.002, p. 111, apud Sharp, 1993, p.53).
Ainda sabre 0 curador ferido, na Grecia antiga, existiam rituals de cura,
quando S8 envolvia a figura de urn deus no papel de curador. Assim como Quiron
tentava curar suas feridas, as moradores da Gracia antiga recorriam aos deuses
em busca de cura. "Jung fala ainda da importancia de os curadores se lembrarem
que eles tambem foram feridos para se protegerem dos perigos da infta9ao, do
risco de serem reduzidos a uma identificay80 com 0 arquetipo do
curador".(Downing, 1.998, p. 234). Ou seja, desta forma Jung lembra que na ferida,
existem riquezas ou algo a ser aprendido, para que 0 terapeuta naD venha a S8
identificar com 0 arquetipo do curador. Este cuidado serve para que sempre S8
lembre de que a ferida e 0 unico caminho para a cura.
Sabre as deuses 9re905:
~ocurador tendo tambem desempenha urn papel importante na mitologiagrega. Na tradi<;flo religiosa de cura da antiga Grecia, presumia-se que 0 deus quepode curar e 0 responsavel, antes de tudo, pelo infligir de padecimentos. Nessamedida, as sofredores devem tenlar descobrir que divindade foi of end ida e que ritualdevem ser efetuados, para poderem se purificar de suas maculas. A cura ritualbaseava-se em pressupostos homeop,Micos: 0 agente do sofrimento e 0 mesmo que 0da cura. Os gregos acreditavam tambem que as proprias drvindades teriam sofrido tudoaquilo que infligiam aos oulros" (DOWNING, 1.998, p. 234 e 235).
Sendo assim, como pode 0 psicologo propor questoes que conduzam a
reflexao do paciente sobre determinada ass unto, se ele mesmo nao sofreu a sua
ferida, au nao se questionau sabre suas questoes?
WA ligat;:aa com 0 nosso tema pode ficar ainda mais evidente se nos
lembrarmas que os gregos consideravam sinonimos pecado e ferimento".
(DOWNING,1.998, p. 235).
17
Partindo da questao em trabalhar com as palavras pecado e ferimento, 0
psic6logo, assim como 0 centauro Quiron, 56 poderi~ obter a cura de seu
ferimento, a partir do momento que possa entender a causa, a origem deste
ferimento, ou seja, do "pecado" cometido para ser "punido" com esta ferimento.
Sem a compreensao da razao por ter sofrido tal puni98o, naD ha como
compreender 0 ferimento, e muito menes 0 caminho que deva S8r feito para a
obtenl'ao da cura.
Mas, porque 0 terapeuta deve ser consciente de suas feridas? Se 0
comentario acima sobre pecado e ferimento, e as varias ja citadas
"recomenda90es" da importancia do psic61ogo fazer 0 seu processo
pSicoterapeutico com Dutro psic61ogo,naD foram suficientes para a compreensao
da importfmcia de tornar consciente suas feridas, ou ainda se entao, tentar obter
uma resposta com outras perguntas: Uisto teria alguma rela9ao com 0
conhecimento e a participa~o nas feridas do paciente?" ou "porque necessita
experimenta-Ia cada vez de novo a fim de efetuar a cura?" (GROESBECK, p. 77).
Para 0 inicio de responder a estas questoes, Jung nos propoe a pensar sobre este
tema.
gPoderfamosdizer. sem grande exagero, que mais au menos, metade de cadatratamento em profundidade consisle no auto-exame do medico, porque ele soconsegue por em ordem no paciente aquilo que esta resolvido dentro de si mesmo.Nao e um engano quando se sente afelado e atingido pelo paciente:ele s6 vai curar namedida do seu proprio ferimento. Qual e 0 significado do mitologema grego do medicofendo, se nao juslamente isso?" (JUNG, 1.999, p. 111).
Ou como e feito tambem 0 mesmo questionamento e chega-se a uma
resposta muito parecida no texto do ja citado anteriormente psic6logo junguiano
Armando de Oliveira e Silva:
18
Por que e que, para que aconlet;;a a cura, a medico deve conhecer suasproprias feridas e realmente vivencia-Ias cada vez de novo? Como procuramosdemonstrar atraves de urn exame detalhado da transferimcia que ocorre no processoanalitico e em oulros relacionamentos terapeuticos, se quando 0 proprio medico ecapaz de se Jigar e experimentar suas proprias feridas e doenyas, e confrontar aspoderosas imagens de natureza arquelipica do inconsciente, e que 0 paciente por suavez, pode passar pero mesmo processo. (OLIVEIRA, A S., Algumas natassobre as feridas no terapeuta e as possibilidades curativas no paciente./n:CONFER~NC/A DE PS/COLOG/A ANALiT/CA. 1.992, Maringa., p.5)
Sendo assim, ambos afirmam que 0 terapeuta 56 podera colaborar no
processo de cura do paciente, ate onde obteve a cura para sua pr6pria ferida.
Como atrav9s do processo de cura, a individuo vern a se diferenciar no seu
processo de individuac;ao, ou seja, caminhe em busca da sua totalidade, nao e
necessario que 0 terapeuta deva passar por todas as questoes que surgirem no
seu cotidiano clinico, mas que a partir do momento em que haja consciencia da
existencia das suas feridas, e que ja tenha percorrido "par dentro delas", e que
estas feridas nao sejam rnais a/go desconhecido na vida deste terapeuta, pois ja
ten~tornado consciemciaau semi-consciencia destas quest5es, mas sim, "urn lugar
que ja nao seja mais tao escuro, e que, portanto ja tenha side percorrido, ou seja,
esclarecido", possa-se auxiliar urn paciente nas diversas questoes que
aparecerem.
Um auxilio a que 0 terapeuta podera recorrer, sera "encarnar" na questao
do paciente, ou seja, tentar colocar-se no lugar do paciente, de uma certa forma,
tentar colocar-se no lugar do seu "espirito", e em tendo 0 terapeuta vivenciando
aquela situac;ao,pensar e sentir 0 que poderia ser feito, mas este e assunto para a
pr6ximo capitulo. Vo/tando a questao de Quiron e da importancia do terapeuta
conhecer suas pr6prias feridas, ha uma citac;ao bastante curiosa no artigo de
19
Groesbeck sabre a agenda deste terapeuta e as conseqOencias de urn naD
questionamento da existencia da sua ferida.
"E importanle nolar como a agenda de certos medicos se enche de casos de urn uniee !ipo,ou somente de casas gravissimos. Nestes casas 0 medico tenta umanipular a cura"oesempennando urn papel inflado, mas no funda, buscando curar a SI mesmo; e tudo isso a uma
dislancia segura" (GROESBECK, p. 78).
Neste exemplo, Groesbeck Gita 0 caso de urn psic61ogo inconsciente de sua
questao, ou no caso de ja ter side detectado no seu processo psicoterapeutico a
existencia da questao e nao se acha 0 caminho para a obtenc;;ao da cura, da
compreensao. 0 exemplo da agenda, pode vir a ser urn born indicia de uma ferida
existente ou mal-analisada par este terapeuta, au simplesmente de 0 terapeuta se
questionar 0 porque desta situa9ao. Quando nenhurn destes avisos sao
"escutados", 0 terapeuta pode cair nesta ~armadilha do inconsciente" e como diz
na cita9ao, Wtenta manipular a cura", e neste caso ha um duplo engano: de
acreditar que esta curando 0 paciente e de nao se questionar sobre esta
"coincidencia" ocorrida na agenda e que pode estar apontando uma questao do
terapeuta. A atua9ao inflada deste terapeuta, que hipoteticamente, pode estar se
identificando com 0 arquetipo do curador, vern mascarar sua questao que deve ser
vivenciada em si mesmo, porem e vivenciada seguramente, contratransferenciada
no paciente.
"Da mesma forma, no medico aliva-se a seu lado inferior ferido, sua propriadoenca - psiquica, somaticas, au ambas - ainda nao resolvidas - ao enlrar em contatocom a pessoa enferma. Este outro p610 da imagem arquetipica e mais projetado sabreo paciente do que vivenciado no plano interior. (... ) Se isto de alguma forma naoocorrer, os problemas da sombra do medico podem ser ativados·. (GROESBECK,p. 77 e78).
Assim, a cita9ao acima vem a esclarecer a questao de uma nao percep9ao
do terapeuta na questao da agenda, par exemplo, ou de um conteudo onde haja
20
resist€mcia do terapeuta em trabalhar no seu pr6prio processo psicoterapeutico,
embora haja Qutras formas de S8 perceber ests tipo de "mensagem do
inconsciente", podendo ser atraves de atos falhos, sonhos au lapsos, par exemplo.
Estes tambem sao indicios da passivel presen9a de complexos atuantes e que
deverao ser explorados para que possa ser dado ao paciente urn atendimento
mais segura e com qualidade, e desta forma, havendo seguram;a inclusive para 0
terapeuta.
Mas imagine-s8 uma situayc3:o em que 0 terapeuta inicie urn processo
contratransferencial com seu paciente par naD ter percebido au ter entrada em urn
processo de resistencia sabre urn determinado complexo, e que este complexo
seja 0 mesma ativado pelo paciente durante uma sessao e apresentado ao
terapeuta para que este possa auxilia-Io no processo de cura. Existe neste caso a
possibilidade de identifica,ao do terapeuta com a paciente e muito provavelmente
o trabalho estara comprometido. Tal fato teria sua possibilidade de ocorrencia
reduzida se a terapeuta fizesse um trabalho psicoterapeutico com outro psicologo.
Toma-se, por exemplo, 0 que ocorre no livre "Neutralidade Suspeita", quando 0
terapeuta, tornado pela curiosa estoria de seu paciente, vai investigar se 0 que e
relatado em sessao e realmente verdade, e, portanto e envolvido em uma trama
que acaba por envolver outros de seus pacientes tambem. Mas este e urn caso,
que embora a principio nao seja veridico, ocorre uma questao contratransferencial
muito forte e uma rna conduta etica, e possivelmente tambem tecnica, quando
existe uma recusa em fazer supervis6es e, portanto, pelo transcorrer do caso,
agindo de forma irregular com seus pacientes.
21
Em ambos as casas, muito provavelmente, 0 terapeuta desconhecia a
existencia deste complexo. No livre, e citado que 0 terapeuta havia parada seu
processo de analise, e em supervisao, era recomendado que ele a re-iniciasse, 0
que nao e feita, ou seja, ha uma resistencia. Em ambos as casas, no exemplo da
identificac;ao, como no exemplo do livro "Neutralidade Suspeita", 0 terapeuta nao
havia S8 dado conta da existencia de sua propria ferida no inicio e mesma depois,
a desprezou colocando em risco sua pr6pria seguran<;a. Tambem, com 0 decorrer
da estoria, e contado que 0 terapeuta tambem parou com as supervis6es, 0 que,
por conseqOencia, aumentou a gravidade do casc. Portanto, e necessaria que no
minima, todD terapeuta possa e deva realizar 0 seu trabalho pessoal de
psicoterapia, para que, assim, possa estar atento aos complexos que podem estar
emergindo para a consciencia. Quanto a esta questao, Adolf Guggenbuhl-Graig,
faz uma citac;ao em seu livro "0 Abuso do Poder na Psicoterapia", com relaC;ao ao
que pode conter de desejo na alma dos analistas quanto aos seus pacientes, e
que ao mesmo tempo tambem pode servir de alerta para um interesse desmedido
par querer "resolver" as quest6es para seus pacientes a qualquer prec;o: "Em
algum canto da alma do analista existe urn bicho-papao que deseja 0 completo
dominio de seus pacientes". (GUGGENBUHL-CRAIG, 2.004, p. 56).
Mas enquanto 0 terapeuta buscar a cura para suas feridas, como ja visto,
sendo este urn fato imprescindivel, sobre os processos de cura no paciente e que
Jung faz um importante comentario: "Em psicoterapia, considero ate aconselhavel
que 0 medico nao tenha objetivos demasiados precisos, pois dificilmente ele vai
22
saber mais do que a propria natureza ou vontade de viver do paciente". (JUNG,
1.999, p.38 e39).
Quanto a esta cital'aO, 0 medico pode manifestar um desejo muito grande
em ajudar 0 seu paciente na obtenc;:ao da cura para determinada ferida, mas ate
esta iniciativa deve ser tomada com cuidado, para que nao caia no erro de
sugestionar, inftuenciar ou de resolver a questao no lugar do paciente. Afinal, a
questao, 0 espal'o (setting) e 0 momento sao do paciente, sendo 0 terapeuta pago
para realizar urn trabalho analitico naquela hora e naquele local. Se ha este desejo
grande de cura, deve 0 terapeuta se perguntar se nao pod era estar buscando
curar-se a si proprio nesta, ou ate desta mesma ferida. Neste caso, ha a
necessidade de buscar seu proprio espac;o, ou seja. seu proprio processo
psicotarapeutico. Ainda nesta situal'ao, 0 terapeuta deve ter 0 cuidado de nao "dar
sua propria vida pelo paciente", sabendo trabalhar com uma margem de
seguranya, que pode ser 0 conhecimento da existencia de suas feridas
(questoes).
"Igualmente deve-se recordar que Esculapio foi morto par Zeus por estar
trazendo muitas pessoas de volta a vida (Graves). Tornou-se urn deus exatamente
por ser urn "medico final", ou seja. par ter dado a propria vida pela vida do
paciente!" (GROESBECK, p. 85). Mas quem de nos, psicologos, quer dar sua
propria vida pelo seu paciente? Pode-se julgar que alguns, que espera-se, nao
serem muitos. embora estes devam se questionar se podem estar identificados
com 0 arquetipo do curadorl
2)
Nestes cases naD podemos esquecer da citac;:ao de Guggenbuhl, quando
S8 refere aD bicho-papao que pode existir no terapeuta, et par conseguinte, ler a
citac;:ao de Groesbeck quanta ao medico e 0 paciente interior na psique de cada
individuo: "Isto significa psicologicamente que nao somente 0 paciente tern urn
medico dentro de si mesma, mas tambem que existe urn paciente no interior do
medico." (GROESBECK, p. 77). Assim, naa h<i necessidade de nos identificarmas
com a arquetipo do curador, mas sim de estar trabalhando simultaneamente com
o curador interno do paciente e com a paciente interno existente dentro de cada
psic6logo. Esta e uma forma mais rica de trabalho, pois estara a paciente
vivenciando, a principia com 0 terapeuta, para depois poder vivenciar sDzinho,
sem auxilia, a busca para a compreensaa e para a cura de suas quest6es. Esta
pode ser uma forma eficiente, de nao tamar a paciente dependente de seu
terapeuta, precisanda estar em cantata com a terapeuta em cada passa au a cada
questaa que deva ser tamada na sua vida. "0 cantata entre a lad a individual e
caletiva, tambem padem ajudar a campreender a ferida e seu processa de cura."
(HOLLIS, p, 151).
Mesma com tuda a que fai camentada, existe terapeutas que realizam,
junta mente cam seus pacientes, pracessas de cura impressianantes, como no
casa descrita par Groesbeck e camentada par Meier:
"Meier explica porque a analista deve lidar intensivarnente com os elementosarquetipicos da Iransferencia. Oescreve lambern um caso famoso, publicado parRobert Lindner, urn analista que havia tratado urn fisico al6mico que tinha urn gravedeliria. a Iratamenlo moslrou-se ineficaz ale a momenta em que, finalrnente, Lindnerdisp6s-se a "entrar" no sistema delirante do paciente. a proprio Lindner passou aapresenlar sinlomas alarmantes, 0 que, oportunamente, liberou a paciente, que semoslrou capaz de se distanciar de seu sistema e a doen93 acabou par desaparecer.Meier descreve a conduta de Lindner como tendo "captado os conteudos do
24
inconsciente cotetivQ, desviando as efeilos do paciente para si pr6prio··(GROESBECK, p. 83).
Inegavelmente e urn risco muito grande para 0 terapeuta passar par urn
processo destes, mas S8 ja houver sido feito urn 6timo trabalho psicoterapeutico
tendo como paciente 0 pSicoterapeuta e houver 0 conhecimento e a viVEmcia de
suas proprias feridas, e passivel, como no casa acima, a obtenc;:ao de uma "cura"
par tais metodos,
Outre case interessante cnde e apresentado sabre 0 curador e 0 paciente
interna na psique de cada urn, e no case de Jung e seu medico, quando Jung
passou por problemas cardiacos:
"( ... ) 0 medico pessoal de Jung, que 0 tralou de urn ataque do coracao, passoupar uma grande dificuldade por causa disso. Jung tinha lido urn alaque cardiaco;permaneceu inconscienle e leve uma serie de vis6es. Senlia com toda certeza queestava prestes a morrer; isso porque atingira a "forma primordial", urn estado deextrema exalta~o e ~di5ponibilidade para experimentar de tudo". Viu entao 0 seumedico, Dr. H. personificado tambern numa "forma primal" como urn "basileus (rei) deKos". Quer dizer, estava personificado como uma figura curadora associada ao templode Esculapio em Kos (0 medico fendo). Trazia da Terra a mensagem de que ainda naoera 0 momento de Jung morrer. Jung ficou zangado, sentindo que ja estava pronto parapartir. Oepois de muila lula finalmente Jung foi Irazido de volta e comeyou a serecobrar da doenca. Passou entao a temer pela vida do Dr. H., como se este devessemorrer em seu lugar, uma vez que na visao aparecera tambem sob uma "fonna pnmal",estado de completa prepa~ para a morte. No dia em que Jung deixou 0 leita, 0 Dr.H. caiu enfenno e nunca mais se recuperou! Jung tentara advertir 0 Dr. H., mas pareceque este nao admitiu discussao nenhuma a respeito. No caso, 0 medico-fendoarqueUpico tinha estado pronto para interceder por Jung e salvar-4hea vida. Poderia aDr. H. ter-se identificado tao profundamente com a necessidade de curar Jung e traze-10de voila a vida? Na visao, 0 Dr. H. e literalmente 0 medico Esculapio, rei de Kos.Esta de tal fonna identfficado com esta "T erceira Figura, a arqueUpica", que nao sepede diferenciar entre as figuras pessoal e transpessoal: (GROESBECK, p, 84 e85).
Para finalizar este capitulo, eo apresentada uma citaC;8o de Jung: "E
finalmente ele mesmo e 0 sujeito, ou melhor, 0 objeto do processo da
transforma9iio alquimista. Assim torna-se "maduro", ista e, evaluida." (JUNG,
1.991, p.17).
25
Quante ao processo de cura que ocorria na caverna de Ouiran, e bem
descrito par Downing:
MApessoa executava 0 ritual sozinha; n<30se tralava de urn evento comunitario,como nos rilas associados aos QuIros deuses. Havia Ires dias de prepare ritual: jejum,banho e oferendas sacrificiais a Esculapio, a Apolo, a Mnem6sina (a mae das novemusas; lalvez as preces a ela dirigidas expressassem a esperanca do suplicante de serrecolhido) e a Tique (a Fortuna). Depois, vestida com rcupas comuns, a pessoa eraconduzida por urn therapaute a urna pequena camara de pedra, em que nao havia maisdo que urna plataforma de pedra onde dormir a kline (origem de nossa palavra clinica),espaco em que a pessoa poderia ser visitada de dia, durante 0 periodo da preparacao.o therapeute entao se retirava, deixando 0 paciente a s6s com seus sonhos e com 0deus. Oepois de oferecer uma prece a Temis (a ordem divina), a pessoa deitava-separa oormir, na esperanya de que 0 proprio deus Ihe aparecesse em sonhos:
(DOWNING, 1.998, p. 238).
Em outra citayao de Downing, ainda sobre os rituais de Esculapio: "No ritual
de Esculitpio, a epifania, 0 aparecimento do deus num sonho, era 0 proprio evento
curativo. Sua vinda assinalava a transi~o da doentya para 0 resgate da saude."
(DOWNING, 1.998, p. 238).
Desta forma, em outras culturas, como a babilonica, par exemplo, os rituais
de cura existiam de uma forma um pouco diferenciada do que na caverna de
Quiran, mas com 0 mesmo fundamento, de que quem praporciona a ferida e ao
mesmo tempo quem cura.
Quanta ao processo de cura do terapeuta, a ferida de Quiron e os rituais
ern sua caverna e os casos citados, mostra-se que hit uma diferenciac;ao, ou seja,
que carninhou em direc;ao da busca da sua compreensao interior, de sua
totalidade.
26
4. A ENCARNACAo DE CRISTO E 0 PAPEL DO TERAPEUTA
4.1 AS RAZOES PARA A ENCARNA<;:Ao
Mas qual seria a verdadeira razao para ocerrer esta encarna-;;:ao, enquanto
evento hist6rico? A passivel resposta encontrada por Jung esta neste trecho
retirado do livro Resposta a J6, das Obras Coletadas de C.G.Jung:
"Para responder a esta pergunta, devemos alongar-nos urn pouco rnais. Como\limos anleriormente, pareee que Jave tern certa aversilrlo a recorfer ao seuconhecimento absolute, no confronto com a dinamica de sua onipolencia. Talvez aexemplo mais instrutivo a esle respeito e sua relacao com Satanas: e tal como ascoisas se apresentam, parece que Jave nao teve conhecimento das inteny6es de seufilho. Islo se deve ao fato de que Ele nao leva em consideracao a propria onisciencia. Epossivel explicar urn tata desta natureza porque Jave se achava de lal modo fascinadoe ocupado com os atos sucessivos de sua criacyao, que se esqueceu de que era
oniscienle" (JUNG, 2.001, p. 45).
Esta verdadeira razao para encarnayao, e sob 0 pento de vista de evento
est6rico, questiona a postura de Jave quanto a este evento. Sendo relacionado
este questionamento na relayao terapeuta/paciente, percebe-se que anecessidade do terapeuta em estar se reciclando em seus estudos, para que
exista uma maior possibilidade de estar preparado para as quest6es a serem
relacionadas com 0 que e relato em sessilo, e nao somente crer que seu
conhecimento ja existente baste para realizar qualquer tipo de atendimento. Mas,
alem disto, aponta ainda para 0 eterno questionamento ja tanto apontado neste
trabalho, que e a vigilancia do terapeuta com relac;ao ao seu inconsciente.
No livro A Interpreta9ao Psicol6gica do Dogma da Trindade, Jung comenta
sobre a encarnaC;ao vista no cristianismo primitiv~, como uma intuiyao do homem
em tentar compreender a sua estrutura total, que e um dos focos do processo
psicoterapeutico; "Ja no cristianismo primitive a ideia da Encarnayao derivara da
27
concepc;ao do Christus in nobis. Assim, a totalidade inconsciente irrompera no
dominic psiquico da experiEmcia interior e conferira ao homem uma intuiC;80 de
sua estrutura total." (JUNG, 1.999, p. 283). Tornar 0 individuo mais proximo de se
conscientizar de sua totalidade e parte do processo de individuac;:ao.
Existem tambem outras razces para a encarnac;ao. Uma del as, Jung diz:
aSe Deus se revela e se converte num ser detenninado, isla e, numdeterminado Homem, entao as seus contrarios deveriam dissociar-se: de um lado 0Bern e do outro 0 Mal. Desnzeram-se asslm as oposlC;;oestatemes na OlVlnaaae quanooa Filho foi gerado, para manisfestarem-se depois na oposic;;ao Cristo - Diabo.K (JUNG,1.999, p. 63),
Dutra cita~o de Jung e ;~Por isso Lucifer foi quem melhor entendeu e quem melhor realizou a vontade
de Deus, rebelando-se contra Deus e tornando-se assim 0 principio de uma criaturaque se contrap5e a Deus, querendo 0 contrario. Porque assim 0 quis, Deus dotou 0homem, segundo G~nesis 3, da capacidade de querer 0 inverso do que Ele manda, Seassim nao fosse, Ele 0;30 teria criado mais do que uma maquina, e neste case aEncarnaCao e a RedenCao do mundo eslariam inleiramente fora de cogitac;:aoe aTrindade nao se teria revelado, pois todas as coisas continuariam sendo apenas 0Uno." (JUNG, 1.999, p. 85),
sendo aqui adicionada a questao de que a independemcia e 0 conhecimento de
sua propria psique, depende do paciente em seu trabalho analitico.
Par ultimo, uma outra razao e pelo tato da salvalYao do proprio Deus, como
diz Jung em "Interpretayao Psicologia do Dogma da Trindade"·
~Depoisde passar pelos sofrimentos do mundo, fazendo-se homem, Deus nosdeixou um Consolador, a terceira Pessoa da Trindade, a fim de que habitasse emmuitos individuos, precisamente naqueles que de nenhum modo gozavam daprerrogativa e da possibilidade de nao pecar. Por isso e que, no Paraclito, Deus seaproxima muito mais do homem real e de suas trevas do que no Filho. 0 Deusluminoso caminha pelo homem - ponte, a partir do lado diurno, enquanto a sombra deDeus 0 faz do lade notuma. Neste terrivel dilema, que am~ explodir 0 pobrerecipiente corn uma embriaguez e tremores inauditos, quem decidira? Provavelmente arevela~o de um Espirita Santo. vinda do prOpriohomem. Da mesma forma que arevelacao do homem se fez, outrara, a partir de Deus, assim tambem e passive! que,no momento em que 0 anel se fechar, Deus se revele a 5i proprio a partir do homem:(JUNG, 1.999, p. 67).
.,.. --......
(i';'~.) ..~
28
Uma outra situa~o que tambem poderia ser razao para a encarnac;ao de
Cristo, est" contida no Antigo Testamento. Segundo 0 Antigo Testamento, a
encarna~o ja ocorria, mas de Qutras formas que naD atraves das personificac;oes
que eram, por exemplo, como cita 0 livra ~O Catecismo Holandes", a encarna~o
atraves da Palavra e da Sabedoria de Deus, como mostra uma frase ja conhecida:
"0 verbo se fez carne e habitou entre n6s..." (BiBLIA. Portugues. Biblia sagrada.
Tradu930 DOS ORIGINAlS mediante a versao dos Monges de Maredsous
(Belgica). 100 ed. Sao Paulo: Ave Maria, 1.995. Cap. 1, vers. 14 Evangelho de
Joao.), de forma que "sua manifestac;ao na Terra constitui a verdadeiro apogeu da
revela9ao divina". (Comissao central da CNBB, 1.969, p, 98).
Que Dutra razao haveria de ter para a encarna~o, senaa a forma
encontrada par Deus de poder estar presente fisicamente entre os homens? Das
mais variadas formas atrav8S dos tempos, Deus tentou S8 tazer presente na vida
do homem na Terra com a encarnac;;8o. Mas esta atitude divina teve
conseqOencias: "Quem Deus e, 0 que Deus e como Deus e e age: nos 0
descobrimos em Jesus" (Comissao central da CNBB, 1.969, p. 100); estas formas
divinas foram reveladas aos olhos humanos, na figura de Jesus. Talvez possa ser
esta a real razao para a encarnayao, revelar aos homens a dimensao de Deus na
forma humana e assim, nao deixar que 0 espirito divino ou cristao deixe-se
sucumbir par outras formas de religiao.
A encarnayao de Cristo, segundo a visaa religiosa, ocorreu na necessidade
de "Deus andar pel a Terra na "aparencia" de homem." (Comissao central da
CNBB, 1.969, p. 100). Segundo 0 Concllio de Calcedonia, em 451 D.C., fica
29
definido que Deus e Jesus eram a mesma pessoa: "( ... ) na una e (mica pessoa de
Cristo, naD existe tao-somente a natureza divina completa, senao tambem a
natureza humana total".(Comissao central da CNBB, 1.969, p. 100).
Mas antes, fcram realizados dais Concilios anteriores para que S8
chegasse a esta conclusao. Niceia (325 D.C.) e Eleso (431 D.C.), nao Icram
suficientes para S8 dar uma definiyao exata desta questao.
E importante fazer 8sta referencia ao Cancilia de Calced6nia com 0 intuito
de deixar esclarecida a questao da encarnaC;8o, ja que hit duas personifica90es
distintas no conceito analitica (terapeuta/paciente), 0 que representa os papeis
diferentes em que Deus S8 apresenta ao homem. No contexte analitico, na psi que
de tanto terapeuta como de paciente, esta contido seu oposto, ou seja, hit urn
terapeuta interne no paciente, assim como ha um paciente interno no terapeuta, a
que ja foi discutido anteriarmente. Portanto, quanta ao que foi definido no Concilio
de Calced6nia e a exemplo dado, usando duas personifica90es diferentes
(terapeuta/paciente), ha uma diferen9a, mas usa este Concilio par ser a ultimo
realizado e ser 0 que define quanta Deus e Jesus serem a mesma pessoa.
A enCarna9aO e sua rela9ao no processo pSicoterapeutico, esta no fato de
que nao ha como nao haver um envolvimento do profissional com a que e relatado
em sessao pelo paciente, como se "realmente tivesse de encarnar" no que esta
sendo dito, buscando vivenciar este conteudo no momenta do relata, mas a
inconsciente e a consciente do terapeuta devem estar aptos a receber estas
infarma<;oes e poder trabalhar com elas, no sentido de articula-Ias e transforma-Ias
em quest6es a serem devolvidas para a paciente. Todo este cui dado e com a
30
intuito de evitar contratransferemcias negativas que venham a influenciar e
prejudicar 0 processo psicoterapeutico.
o terapeuta serve de guia do paciente nos caminhos pelo inconsciente do
proprio paciente. Portanto para que nao haja confusao entre as inconscientes do
terapeuta e paciente. 0 terapeuta devera conhecer urna boa parte do seu pr6prio
inconsciente, ou seja, ja devera ter feito a entrada ou a "encarnaC;8o" no seu
proprio inconsciente para poder "encarnar" no inconsciente do paciente e guia-Io a
caminho de suas respostas de forma a naD influenciar nas decis6es, desde que
esteja visando a bern - estar e a integridade fisica e mental de quem esta sendo
atendido.
Mas retornando ao aspecto dinico da encarnaC;8o, e necessaria citar
tambem a que e passivel ocorrer quando a terapeuta nao desenvolve este
trabalho pessoal da sua analise ou terapia. Ja citado anteriormente, 0 exemplo
encontrado no livro "Neutralidade Suspeita", pode servir de exemplo ao que sera
exposto. A citayao e do livro "0 Abuso do Poder na Psicoterapia":
·Outra modalidade da sombra de charlatao do terapeuta e a ~vivencia vicariaft
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Sob 0 pretexto de cura, muitas vezes 0 paciente e sugado e exaurido. Os pacientescontam muitas coisas, permitindo que 0 analista participe do drama. das tragedias ealegrias da vida deJes. E grande parte do que experimentam nao pode serexperimentado pelo analista de modo direto. Um jovem tala de seus namoros, umamulher de meia·idade das dificuldades e prazeres que sente com os filhos. Tomadasem conjunto, as experiencias dos pacientes de certos analistas constituem urn rico efascinante espectro da vida humana. Talvez 0 analista se absorva per completo notrabalho com seus pacientes, 0 que a primeira vista parece 6timo. Sua propria vidaprivada fica em segundo plano diante dos problemas e dificuldades das pessoas comquem trabalha. Mas isso pede levar a urn ponto em que os pacientes, par assim dizer,passam de fato a viver pelo analista, que espera que estes preencham 0 vazio criadopor sua perda de contata com a calor e a dinamisma da vida. 0 analista ja nao ternmais seus pr6prios amigos: as amizades e inimizades dos pacientes sao como quetambem was. Sua vida sexual pede ficar raquitica, encontrando substituto nosproblemas sexuais des pacientes. Tendo escolhido profissao tao exigente. ve-seimpedido de atingir uma posi{::aapoIitica influente; sua energia e investida tada naslutas pelo peder de urn paciente politico. Desse modo, a analista pouco a pouco deixa
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de viver uma vida propria, passando a contentar-se com a de seus pacientes'-(GUGGENBUHL-CRAIG, 2.004, p. 56-57).
Portanto, a vivencia vicaria, pode ser uma forma de urn efeito negativo
que esta encarnaC;Elo pode ter na vida de urn terapeuta que naD tenha
trabalhado suas quest6es em terapia au analise e, par conseqOencia, ser
atingido, diretamente, pelos conteudos que sao pertencentes ao seu paciente.
4.20 PAPEL DO TERAPEUTA NA ENCARNAt;AO
Como foi dito na introduyao sabre a encarnac;:ao de Cristo, ests assunto tern
o intuito de questionar a terapeuta, 0 quanta ele esta pronto para ouvir e buscar
compreender a relata do paciente durante a sessao.
Para que seja passive I manter esta postura, e recomendado que 0
terapeuta tenha feito 0 seu trabalho de analise pessoal para que possa diferenciar
o que e conteudo inconsciente do paciente e a que sao as conteudos
inconscientes do terapeuta, para que a possibilidade de contratransferencia seja
reduzida.
Na relac;:ao psicoterapeutica, 0 medico necessita compreender a situa9ao
vivida pelo paciente. Uma das formas de "encarna9ao" nesta rela9ao e quando 0
medico ja vivenciou, seja par idade ou par circunstancias da vida, aquilo que 0
paciente relata. Desta forma ha um p""-julgamento de que 0 medico compreenda
simbolicarnente a experiemcia de seu paciente. Mas, se for urn paciente de
sessenta anos e 0 medico tiver trinta anos, como fica a questao da encarna9aO?
Atraves de idade nao ha como "encarnar" e se ainda for situa9ao nao vivid a pelo
terapeuta? Nao pode perder 0 foco de que 0 atendimento psicoterapeutico da
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abordagem junguiana tern por principio analisar e interpretar 0 simb6lico, ou seja,
nao ha.a necessidade do terapeuta ter vivenciado a questao, ou ter uma idade
mais avan9ada que seu paciente para que possa assim encarnar na experiencia
vivenciada pelo paciente, sendo assim possivel fazer suas pontua96es, amllises e
interpreta90es, ou em uma segunda hip6tese, guiar 0 paciente por urn caminho
que aparentemente nao conhece. Oiz-se aparentemente, pois de inicio pode-se
usar do suporte da teoria para auxilia-Io, e a partir dar, poder chegar a urn "ponto
de luz", ou seja, um momenta que 0 terapeuta e paciente, juntos, tenham a
certeza de que algumas das situa96es iniciais de maior dificuldade do paciente
foram compreendidas, vivenciadas e internalizadas de forma a aprender com elas.
Portanto 0 "ponto de luz" e 0 momenta onde 0 terapeuta ja sente que nao caminha
mais no escuro com seu paciente.
Portanto, e necessario deixar claro que a encarna9ao na rela9ao
pSicoterapeutica e possivel, desde que haja dois principios: 0 trabalho pessoal de
terapia/analise do terapeuta e a transferencia. Estes dois principios tambem
somente se tornam validos se a encarnaryao do medico for pelo campo do
simb6lico, pois como diz Jung:
"Na relayao medico.paciente existem fatores irracionais que produzemtransforma90es mutuas, Ao final, sera decisiva a personalidade mais estlflvel e maisforte. JIfIvi muitos casos, em que 0 medico fei assimilado pelo paciente, contrariandotacla teoria e qualquer proposta profissional e, na maioria dos casas, mas nem sempre,em detrimento do medico." (JUNG, 1.999, p. 69),
ou seja, como ja citado anteriormente, e nao sem razao no capitulo referente a
relayao terapeuta/paciente, esta encarna9ao nao sendo feita pela via do simb61ico
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podera acarretar em grandes dificuldades, podendo ser em detrimento do
terapeuta.
Mas este e 0 principie da psicologia com relac;ao ao seu conceito de
contratransferencia pel a via negativa, na relac;ao terapeuta/paciente. Mas e quanta
aos aspectos religiosos, 0 quanta eles podem estar relacionados com a psicologia
e quanta eles podem contribuir em conhecimento para a area de estudo do
comportamento humano?
As respostas sao encontradas em dais livros das Obras Coletadas de
C.G.Jung e em urn livro chamado "0 Novo Catecismo: 0 Catecismo Holandes", e
neste poder basear as informac;oes dos livros junguianos, segundo as Concilios
realizados, e principalmente no Cancilia de Calcedonia em 471 D.C .. Mas antes,
sera citado sabre as triades religiosas ja existentes em outras civilizac;oes, para
servir de introdw;:ao apresenta9ao religiasa a questaa da encarna9ao.
4.3. AS TRiADES
Antes de relatar a Trindade - fato usado como base para explicar 0
processo de encarna9ao simb61ica feita pelo terapeuta -, e necessaria ir urn pouco
antes, na origem, que e na triade babil6nica. Jung cita:
"Parece Que Hamurabi 56 venera uma diade: Anu e Bel. mas ele proprio seassocia a eles na qualidade de soberano divino, ou seja, como 0 "mensageiro de Anu eBel-, e isto precisamente numa epoca em que 0 culto de Marduk seguiaaceleradamente para 0 seu apogeu. Hamurabi considera-se como 0 deus de urn novoeon. isla e. a eon da idade de Aries que entao se iniclava. e e justfficada a suspeita deque houve entao uma triade Anu - Bel - Hamurabi, pelo menos como sousentendue[subentendida[." (JUNG, 1.999, p. 3).
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Esta e a primeira triade reli9i05a, que serviu como referencia para a
lorma~ao da Trindade, lormada por Pai - Filho - Espirito Santo. As triades, ja sao
umas formas de personificac;ao humana ao Deus Supremo, e nao ocorre diferente
na Trindade crista.
Portanto, esta personifica~ao tern uma inten~ao de Deus para ser leita.
Deus tern a necessidade de encarnar, pois hi! Sua necessidade de entender 0 que
S8 passa com 0 homem. Em Qutras tentativas ja feitas, atraves de Adao (que nao
haveria de dar certo, pois tambem era pai, da humanidade), e Abel (que solreu de
fratricidio) e, portanto morreu jovem. Mesma com a onisciencia, Deus naa
compreende a criatura, e a melhor compreensao que pode ter e vivenciando-Ia.
Ou seja, diante de outras tentativas de encarna~ao ja leitas e quanto aonisciencia que aparentemente Deus nao se permite confiar, mesma assim e feita
uma terceira tentativa, sendo em forma de personificac;ao. Mas em Memorias,
Sonhos e Reflexoes, Jung laz urn comentario interessante quanto a possibilidade
da encarnac;ao divina:
-~3ra esse Deus lomar-se homem e InOlsoensavel uma tonmdavel kenosis(esvaziamento) que reduza a totalidade divina a escala infinitesimal do homem; emesmo que isso aconteca. e dificil compreender como 0 homem nao explodiriadespedacado pela encarnacao. Por isso, a especulacao dogmalica precisou dolar 0Cristo de qualldades que 0 $tuam alem da condi~ humana habitual. Fafta-4he,antesde mais nada, a macula peccati (a mancha do pecado) e islo ja 0 faz urn homem -Deus ou um semi - Deus. A imagem crista de Deus nao pode, sem contradic;6es.encamar·se no homern empirico, abstracao feita de que 0 homem exterior parecepouco apIa para iOmece-ra representacao adequada de urn deus. (JUNG, sid, p.291-292).
Portanto, esta encarnayao parece impossivel, mas nao e 0 que ocorre com
a vinda de Cristo para a Terra.
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Fazendo uma relaC;2Io com a pSicologia junguiana. e como dizer que naD hit
sess5es terapeuticas sem as vivencias internas do terapeuta, serem usadas de
forma correta (nao - contratransferenciais) durante as sessoes, sendo impassivel
tazer uma sessa a psicoterapeutica 56 com a tearia. E 0 humane lidando com 0
humano, mas com 0 carater divino permeancto esta relayao, que e a presenc;a do
inconseiente.
5, CONCLUsAo
Agora que essas quest6es estao expostas e argumentadas pelas citac;6es
leitas de textos e palavras de C.G.Jung e p6s-junguianos,proponho-me a
apresentar a relal(80 entre as tres temas.
Qual a necessidade do terapeuta entender e vivenciar 0 processo de
encarnat;:ao? E 0 mito de Quiron, pode ser usado em que momenta? Qual a
necessidade do terapeuta em tazer terapia, baseado nos dais questionamentos
anteriores?
Pais bern, responderei as tres perguntas com 0 intuito de fazer a condusao
deste trabalho. A vivencia do processo de encarnaC;ao vern para apontar a quanta
do terapeuta ha no paciente e tambem 0 quanta hi! de paciente no terapeuta,
send a assim nao ha como separar-se demasiadamente. Protegendo-se com urn
escudo, de todas as informac;6es do que e relatado, a terapeuta jil tera vivenciado
ou estara vivenciando au podera despertar para comeC;ar a se questionar sobre as
temas relatadas pelo paciente, e que atinja a terapeuta como uma bomba, ou seja,
que este seja possuido e tornado par urn complexo, de forma a passar a fazer
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quest6es contratransferenciais com a paciente em atendimento, sendo neste casa,
passivel apontar tambem 0 quanta ha de terapeuta no paciente tambem. Oesta
forma, a encarnac;:ao e par "entrar no relata" e nas demais vivencias que 0 papel
de terapeuta recomende, como par exemplo, com urn sonho com urn paciente e
como este poderia auxiliar no casa, tudo com 0 intuito de melhor compreende-Io.
"Entrar no relata" e ouvir com atenc;ao, estar preparado para ser conduzido aD
inconsciente deste paciente para "dar ouvidos" as manifestac;:5es de seus
complexos, estar atento as suas imagens arquetipicas que podem emergir do
inconsciente. Imaginando a que acabei de escrever, e para que possa ficar mais
claro qual a ideia que quere transmitir sobre a encarnaC;ao, e muito parecido 0
papel realizado pelo terapeuta quando conduz 0 paciente que esta sendo atendido
pelo inconsciente deste, sendo possivel fazer uma analogia com a "viagem de
Virgilio e Dante Alighieri pelo Inferno, Purgatorio e Paraiso", na Divina Comedia.
Virgilio, nestes momentos, servia como guia de Dante par caminhos
desconhecidos por ele, Dante. Novamente se faz presente a necessidade do
terapeuta de conhecer "estes caminhos", apontado aqui de forma simbolizada.
Nao e a toa, que Dante escolhe por Virgilio, exatamente por ser urn poeta
conhecido e que tinha conhecimento dos mais variados assuntos, al8m de que era
alguem que Dante confiava para acompanha-Io, ou seja, havia uma "transferencia"
nesta relac;ao.
E necessario 0 terapeuta ter a prudencia necessaria para nao se deixar
levar pelas manifestac;oes contratransferenciais negativas, afinal 0 contato e a
vivencia entre terapeuta e paciente e muito proxima. 0 mito de Quiren auxilia
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quando a terapeuta tern que vivenciar suas pr6prias feridas para que possa ser
passivel servir de guia ou auxiliar 0 paciente da melhor forma na vivencia de suas
pr6prias feridas. Como jil disse, este pode ser considerado a "mito do psic6[ogo" I
e, portanto estar atento as questoes, mesmo ja tendo trabalhado em terapia ou
analise as quest6es mais dificeis, e necessaria, pois a inconseiente tern das
melhores e das rnais doloridas formas para S8 manifestar, com 0 intuito de revelar
quest6es ate entao naD percebidas.
Em ambos as casas, na encarnac;ao e no mito, sao apontados de forma
demasiada a necessidade do terapeuta em fazer sua analise e/au psicoterapia
para a vivencia e esclarecimento de suas quest6es inconscientes, atinal para
servir de guia do seu paciente pelo inconsciente dele e estar atento as suas
quest6es pessoais, ao meu entender, em se falando de psicoterapeuta, analista,
etc ... , so e possivel a partir do momento em que ha um questionamento e um
trabalho para vivenciar seu proprio inconsciente, na psicoterapia e/ou na analise.
Remeto-me a questao apontada anteriormente sobre a vivencia vicaria, onde 0
terapeuta, demasiadamente tomado pelas quest6es do paciente deixa de vivenciar
suas proprias. Vejo que esta seria uma forma de contratransferencia negativa,
pois as vivencias de uma pessoa pertencem a ela mesma e fazem parte do
momento psiquico, que pontuado pelo terapeuta, pod era ser muito litil quando de
momentos futuros que esta pessoa venha a enfrentar. 0 mito de Quiron torna 0
exemplo da vivencia vicari a ainda mais interessante, pais como e possivel
vivenciar sua propria ferida se a ferida do outro e que e vivid a?
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Portanto, tenho a expectativa de que tenha deixado da melhor forma
passivel, qual a rela~o que vejo nos tres temas - ja que a relac;a,o
terapeuta/paciente esta explicita no apontamento do terapeuta em tazer
terapialaniliise - e que este trabalho nao seja somente algo para ser lido ou
discutido, mas que possa ser aplicado na vivencia cotidiana do consultorio de
pSicoterapeutas e analistas das mais diversas linhas psicol6gicas, sendo este
consult6rio onde estes psicoterapeutas e analistas fayam as vezes de psicologos
ou pacientes.
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