ISSN 2176-1396
PRÁTICAS DESENVOLVIDAS POR PROFESSORES PDE-PARANÁ,
EM ESCOLAS DE CURITIBA-PR (2007-2013)
Eva Maria Colaço Rezende 1
- PUCPR
Romilda Teodora Ens2 - PUCPR
Grupo de Trabalho – Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: PIBIC / PUCPR
Resumo
O presente estudo está vinculado ao projeto de pesquisa “Representações Sociais, Trabalho
Docente e Políticas de Formação de Professores”, aprovado pelo Comitê de Ética da PUCPR,
Parecer: 554.921/2014. Esse projeto se propõe a estudar o processo de formação continuada
que se consubstancia no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE-PR), busca
conhecer práticas de professores realizadas durante os cursos PDE/PR entre os anos de 2007 a
2013, no município de Curitiba, levando em consideração o contexto do processo no decorrer
dos dois anos de duração. A partir de uma abordagem qualitativa de pesquisa, realizamos a
coleta de dados por meio de um questionário de perfil, e de nove entrevistas semiestruturadas.
As entrevistas gravadas, transcritas e sistematizadas em um corpus, foram rodadas pelo
software IRAMUTEQ, para a organização da análise de similitude e de nuvem de palavras, a
partir de cinco variáveis: sujeito, ano de ingresso e tempo na rede estadual de educação, sexo
e linha de estudo. Os dados foram analisados com o apoio da análise de conteúdo de Bardin.
Para ampliar as representações de professores, partiu-se também a uma pesquisa com
professores ainda participando do PDE-PR. Participaram da pesquisa sete professores, que
iniciaram o PDE-PR em 2007, 2008, 2009 e 2013, e dois professores que iniciaram seus
estudos em 2014, todos dos quais com mais de dezessete anos de trabalho na rede estadual.
Os dados organizados pelo uso do software possibilitaram a partir das variáveis, observar o
grau de conexidade da palavra “professor”, seguida por “projeto”. O programa PDE-PR é um
programa que viabiliza uma perspectiva de melhoria da qualidade de educação no Estado do
Paraná, porém se faz necessário uma análise e mudanças necessárias para atender a certas
exigências como abrir espaço para profissionais com um período menor de carreira do que
encontrado na média.
Palavras-chave: PDE/PR. Formação continuada. Práticas de professores.
1 Graduanda de Pedagogia (PUCPR), último período. PÌBIC, bolsista PUCPR. Professora Regente (2º Ano) da
Escola Projeto Lápis de Cor. Técnica em Contabilidade pelo Colégio Estadual Bendicto João Cordeiro. E-mail:
[email protected]. 2 Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUCSP. Professora Titular da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR). Pesquisadora Associada da Fundação Carlos Chagas, participando do CIERS-Ed
(Centro Internacional em Representações Sociais e Subjetividade – Educação. E-mail: [email protected].
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Introdução
A educação no Brasil é um tema muito discutido pelos órgãos governamentais e
educacionais devido a sua expansão, suas problemáticas, seus desafios e implicações
decorrentes das propostas de formação inicial e continuada desenvolvidas após os anos 1990,
bem como problemas identificados no interior das escolas paranaenses com o pouco
aproveitamento escolar dos estudantes frente as avaliações de larga escala que se implantaram
no Brasil. Além disso, a universalização do ensino básico somou a formação dos professores
que não estavam preparados para trabalhar com a diversidade de alunos que adentraram à
escola. Tendo como consequência o não alcance das metas estabelecidas e buscando atender
um ensino considerado defasado, o estado do Paraná vem investindo na formação continuada
dos professores da rede estadual de ensino, em busca de práticas voltadas à melhoria da escola
e da profissionalização do professor, propondo o diálogo entre os professores do ensino
superior e os da educação básica, a partir de atividades teórico-práticas orientadas, tendo
como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da
escola pública paranaense.
Nesse cenário, foi criada uma proposta de formação continuada, o “Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE-PR)”, que teve sua gênese durante a elaboração do Plano
de Carreira do Magistério – Lei Complementar n° 103/2004 e implementado pelo Decreto n.
4.482/2005 (PARANÁ, 2013). Em 2010, esse Programa consolida-se como política pública
de Estado, pela Lei n. 130, de 14 de julho de 2010 que, em seu art. 1.º define:
Art. 1º - Fica regulamentado o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela Lei Complementar nº 103/2004, de 15 de março de 2004, que tem
como objetivo oferecer Formação Continuada para o Professor da Rede Pública de
Ensino do Paraná. Parágrafo único. O PDE é um Programa de Capacitação
Continuada implantado como uma política educacional de caráter permanente, que
prevê o ingresso anual de professores da Rede Pública Estadual de Ensino para a
participação em processo de formação continuada com duração de 2 (dois) anos,
tendo como meta qualitativa a melhoria do processo de ensino e aprendizagem nas
escolas públicas estaduais de Educação Básica (PARANÁ, 2010).
Esse Programa de Desenvolvimento Educacional está organizado em três períodos,
totalizando 582 horas, com duração de dois anos. São quatorze instituições de ensino superior
participantes do programa e dezoito linhas de estudo.
No primeiro ano o professor PDE-PR/PR fica totalmente afastado de suas funções, no
segundo ano seu afastamento é de 25%. Durante esta formação o professor PDE-PR participa
de encontros presenciais e a distância, de eventos e seminários na instituição de ensino, a fim
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de aprimorar e contribuir para desenvolver seu projeto (material didático), que será aplicado
na sua escola, e por fim escrever o artigo científico. Após concluir este processo o professor
PDE-PR pode avançar para o nível III da carreira (INSTRUÇÃO N.º 004/2008 –
SUED/SEED/PARANÁ).
A presente pesquisa sobre “PDE-PR-Paraná e práticas desenvolvidas por professores
de 2007 a 2013, em escolas de Curitiba-PR” tem como objetivo analisa práticas de
professores realizadas durante o curso de formação continuada (PDE/PR) nos anos de 2007 a
2013, no município de Curitiba, levando em consideração o contexto do processo no decorrer
dos dois anos de duração do curso.
Consideramos a análise da proposta de formação continuada do Estado do Paraná,
implantada desde 2004, como importante referência para a discussão de um cenário específico
de propostas para a formação de professores, pela potencial relevância desse processo para a
construção da profissionalização do professor.
A pesquisa
Para realização dessa pesquisa partimos do estudo de autores como: Perrenoud (2002,
p. 17), que destaca que “na área da educação, não se mede o suficiente o desvio astronômico
entre o que é prescrito e o que é viável nas condições efetivas do trabalho docente”; Gatti e
Barreto (2009) analisam a formação dos professores no Brasil; Gatti, Barreto e André (2011)
discutem as políticas docentes no Brasil; e Tardif e Lessard (2009) destacam aspectos do
trabalho docente. Outra análise que contribuiu para o estudo, foram algumas publicações
realizadas por professores PDE-Pr que desenvolveram seus projetos na cidade de Curitiba-Pr.,
especialmente na linha de estudo de Pedagogia. A leitura desses textos foi realizada durante e
após o levantamento do material didático, organizado/criado pelo professor e que está
disponível no item “produções PDE” (PARANÁ, 2011a, b e c; 2014a e b), disponível no
portal www.diaadia.pr.gov.br, além de documentos e ofícios que norteiam o programa.
Para esse processo, utilizou-se a análise do material didático do professor PDE-PR,
participante da pesquisa e publicado no volume II “O professor PDE e os desafios da escola
pública paranaense: produção didático pedagógica” do ano de seu ingresso no Curso
(PARANÁ, 2011a, b e c; 2014a e b).
No decorrer da pesquisa, sentimos necessidade de entrevistar professores que ainda
estão participando do PDE-PR, na busca de compreender, também os anseios e expectativas
iniciais dos professores com o programa. Essa necessidade partiu da dificuldade em localizar
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professores PDE, pois o Paraná passou por uma greve na rede estadual, com a duração de 90
dias. Assim, entrevistamos dois professores, em curso, além dos sete que haviam participado
do curso.
A coleta de dados foi organizada a partir do aporte metodológico de pesquisa
qualitativa, descritos por Bogdan e Biklen (1982 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.12). A
escolha dessa abordagem está na opção em como foi encaminhada a coleta e análise de dados,
pois, nesta questão sentimos ser necessário levar em consideração a realidade e os contextos
do participante da pesquisa, tendo em vista o que orientam Bogdan e Biklen (1982 apud
LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.12) de que “a preocupação com o processo é muito maior do que
com o produto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar
como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas”.
Para realização da coleta de dados foi elaborado um questionário de perfil, com o
objetivo de caracterizar os sujeitos da pesquisa, e dois roteiros de entrevistas semiestruturadas
(QUADRO 1), com oito perguntas cada, a respeito da formação (concluída e/ou em
andamento) enquanto participantes do programa de desenvolvimento educacional do Estado
do Paraná.
Quadro 1 - Entrevista Semiestruturada professores egressos
Indique três motivos, determinantes para a participação no PDE-PR?
A escolha do tema de pesquisa, se deu pelas dificuldades encontradas no espaço escolar? Quais foram? E por quê?
Quais as suas melhores experiências durante o tempo em que participou e desenvolveu o projeto? Cite pelo menos
três.
Durante a aplicação do projeto de intervenção na escola, indique pelo menos três dificuldades e três facilidades
encontradas.
As atividades de orientação contribuíram para o aprimoramento profissional e melhoria de sua prática na rede
estadual? Como e por quê?
Durante os dois anos do programa PDE/PR foram desenvolvidas atividades em três eixos: integração teóricas-
práticas, atividades de aprofundamento teórico e atividades didático-pedagógicas com utilização de suporte
tecnológico. Essas atividades contribuíram para aprofundamento de seus conhecimentos teórico-práticos? ( ) Sim
( ) Não Justifique.
Foi possível você relacionar a teoria a prática vivenciada na escola, desenvolvendo do projeto de intervenção, com
base nas orientações e atividades desenvolvidas nas IES? Como?
Comente sua participação no GTR.
Fonte: Organizado pela pesquisadora, com base nos objetivos propostos para a pesquisa.
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas e gravadas, a partir da autorização do
participante, por meio do termo de consentimento livre e esclarecido, no qual foram
explicados os objetivos da pesquisa, a utilização do gravador, e explicação de possíveis
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dúvidas pelo entrevistador. Esse tipo de entrevista, como ressalta Triviños (1987, p. 152) “[...]
favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a
compreensão de sua totalidade [...], além de manter a presença consciente e atuante do
pesquisador no processo de coleta de informações”. A utilização das entrevistas como
ferramenta na coleta de dados, proporciona que sejam relevadas outras questões que não
estavam previamente estabelecidas no roteiro, contribuindo para o melhor entendimento e
explicação de determinado fenômeno a ser estudado.
O que diferenciou na entrevista com os dois professores ainda participantes do
programa foi o relato, destacando expectativas e experiências atuais relacionadas ao programa
e o projeto que estão desenvolvendo.
As entrevistas foram gravadas e após transcrição e preparação do corpus foram
rodadas no software IRAMUTEQ (CAMARGO; JUSTOS, 2013a e b), com base na análise de
similitudes de palavras presentes no texto. A Figura 1 mostra a partir de uma análise geral as
palavras e seus graus de conexidade.
Figura 1 - Análise de Similitude: Geral
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
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A leitura da figura 1, nos mostra as palavras que mais foram utilizadas nas falas dos
professores entrevistados e seu grau de conexidade com outras palavras, assim os traços mais
grossos indicam um grau de conexidade maior, as palavras maiores em destaque também
representam a frequência e importância delas nas falas dos professores.
Como o corpus compreendeu uma análise geral de todas as falas, as palavras com
maior grau de conexidade e relevância foram “projeto”, “professor”, “aluno”, “outro”. Pode-
se inferir a respeito da figura do professor e do aluno no centro do processo de formação
continuada PDE-PR, uma vez que o programa oportuniza aos professores, a possibilidade de
se desenvolver um projeto de intervenção na escola, a partir de uma situação estudada pelo
professor, sob a orientação de um professor da instituição de ensino superior e um trabalho a
ser realizado diretamente com os alunos.
As Figuras 2 a 6 apresentam a organização feita pelo software com bases nas respostas
dos entrevistados, utilizando as variáveis sujeito, tempo de atuação na rede estadual, sexo
(gênero), área (linha de estudo) e ano de ingresso respectivamente.
Figura 2 - Analise de Similitude: Sujeito de Pesquisa
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
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Figura 3 - Análise de Similitude: Tempo na Rede Estadual
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
Figura 4 - Análise de Similitude: ano de ingresso
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
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Figura 5 - Análise de Similitude: Linha de Estudo PDE-PR
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
Figura 6 - Análise de similitude: sexo
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
Em todas as variáveis a referência às palavras “Professor” e “Projeto” se mantiveram
presentes no centro do processo de análise. Sendo assim, podemos inferir que para estes
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participantes o PDE-PR é representado a partir de duas concepções: a formação do professor,
a qual possibilita um avanço na carreira e também no projeto que se possibilita desenvolver
uma prática de intervenção na escola, o projeto realizado na escola e que finaliza com um
artigo. Surge uma representação social da prática realizada, como parte do curso, que pode ser
definida ainda melhor quando a análise corresponde a primeira questão da entrevista, que se
refere ao motivo de se fazer o PDE-PR, apresentada no quadro 1 (FIGURA 7).
Figura 7 - Análise Nuvem de Palavras: Motivo
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
A análise por “nuvem de palavras” é uma análise mais simples, que trabalha com a
representação em função da frequência das palavras. Neste caso, ao ser verificado as palavras
de maior frequência ao ser abordado os motivos que levaram o grupo a ingressar no PDE-PR,
encontra-se constantemente o motivo de promoção na “carreira”, oportunidade de realizar um
novo “curso” e adquirir novas experiência. Isto fica bem evidenciado na fala da professora P-
7:
Bom, primeiramente seria adquirir novas experiências, conviver com outros professores, com outros profissionais da área, trocar experiências; segundo também
pela nossa, a gente tem uma careira, né? A gente tem um plano de carreira e
sempre quando saia curso, sempre quando teve especialização, eu fiz e daí para o
PDE, eu uni o útil com o agradável. Você vai fazer também pensando na sua
aposentadoria e também pelo trabalho da escola, as vezes tentar uma melhoria,
tentar uma coisa diferente para contribuir na aprendizagem.
As expectativas dos professores ingressos em 2013, não foram muito diferentes. A
seguir um trecho da fala de um professor, que tem seu projeto em desenvolvimento, e que
expõe um dos motivos para o ingresso no programa: “Conhecimento, troca de experiências e
promoção financeira”. (P-9).
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Prática Desenvolvidas no programa
Em relação às práticas desenvolvidas, podemos verificar que o foco maior estava
centrado no aluno (FIGURA8).
Figura 8 - Análise nuvem de palavras: escolha do tema
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
A partir desta análise de palavras evocadas, pode-se inferir que apesar dos motivos de
ingresso no programa ter sido, principalmente, para a promoção do próprio indivíduo, ao
elaborar seus projetos, os professores visaram os alunos e as dificuldades encontradas no
espaço escolar. Então com a possibilidade de articular a prática do professor que está ali dia-
a-dia na escola convivendo e enfrentando dificuldades, poder articular aos estudos e formação
das universidades, foi um fator muito positivo para o ingresso de todos os professores
entrevistados.
O que ficou evasivo foram as respostas quanto a participação no GTR – Grupo de
Trabalho em Rede, sob a forma de cursos online, em que o professor PDE-PR desenvolve o
curso dentro da plataforma do programa a respeito do seu tema de pesquisa, mais
precisamente seu projeto que será desenvolvido na escola e o material didático, tendo como
participantes, os professores da rede estadual. Nesse momento, espera-se uma troca de
experiências e de ideais que venham a contribuir para o desenvolvimento do projeto. De
acordo com o Documento Síntese (PARANÁ, 2014, p. 9), Grupo de trabalho em rede (GTR)
é:
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Desenvolvido no terceiro período do Programa, possibilita a interação entre professores PDE e professores da Rede por meio do Ambiente Virtual da SEED. O
GTR tem o intuito de socializar as produções realizadas pelos Professor PDE
durante o Programa, a saber: Projeto de Intervenção Pedagógica, Produção Didático-
pedagógica, bem como questões específicas sobre a Implementação Pedagógica na
Escola. Essa ação visa a democratização do acesso aos conhecimentos teórico-
práticos específicos das áreas/disciplinas do Programa escolhidas pelo Professor
PDE.
Figura 9 - Analise nuvem de palavras: participação no GTR
Fonte: Criado com Software IRAMUTEQ (2015)
A proposta do GTR consiste em proporcionar espaços de formação continuada e busca
também divulgar os conhecimentos que estão sendo construídos e (re)significados em prol da
melhoria na qualidade do ensino público paranaense. Porém neste caso, como indicado pela
figura 9 e pelas interlocuções orais com os pesquisados, podemos inferir que a participação no
GTR foi apenas necessária por se estar cursando o PDE-PR, sem muito aproveitamento real
das trocas de experiências, tendo um resultado de participação inexpressivo.
Produções Didáticas Pedagógicas
As propostas desenvolvidas partindo da realidade dos professores, demonstram um
certo grau de comprometimento destes com o movimento de formação continua proposto pelo
PDE-PR, que busca melhorias nas escolas públicas paranaenses.
Ao analisar os resultados, compostos pelas entrevistas, e as produções didático-
pedagógicas (QUADRO 2), é possível vislumbrar uma proporção da relação teoria e prática,
escola e universidade, que conforme explica Ogliari (2012, p. 23) “o PDE-PR não propõe um
estudo desinteressado, um programa curricular desconectado da realidade da escola ou que
vise receitas teóricas mágicas que irão dar conta de todas as dificuldades anunciadas na
experiência da docência”.
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Quadro 2 - Produções Didático Pedagógicas: Temas
P-1 PDE-PR 2010
Título do
artigo
Meus Espaços de Vivência e a Violência na Escola
P-2 PDE-PR 2007
Título do artigo
Formação continuada de professores com ênfase em educação ambiental e a prática pedagógica na escola
P-3 PDE-PR 2012
Título do
artigo
Leitura e produção de textos opinativos do domínio jornalístico.
P-4 PDE-PR 2010
Título do
artigo
Motivação por meio de imagens.
P-5 PDE-PR 2007
Título do
artigo
Educação profissional: ampliando a oferta do curso técnico de enfermagem – modo
itinerante.
P-6 PDE-PR 2008
Título do artigo
Modelagem Matemática: Um Trabalho com Embalagens
P-7 PDE-PR 2010
Título do
artigo
O papel do pedagogo na organização e na mediação do trabalho pedagógico na escola
pública.
Fonte: Organizado pela pesquisadora, com base no levantamento de material didático (PARANÁ, 2011a, b e c; 2014a e b).
Nas falas da maioria dos entrevistados percebe-se essa preocupação, como
demonstrado a seguir:
O tema de pesquisa, eu mesmo sendo de geografia, eu foquei mais na parte da violência escolar que eu percebia muito aqui no colégio, por parte de todo o
envolvimento tanto de alunos, de professores, de funcionários, você via aluno
xingando professor, aluno xingando funcionário, funcionário xingando professor,
então era um ambiente muito terrível e a própria violência de agressão, tanto verbal
e física, então isso me instigou a procurar esse assunto. (P-1)
[...] hoje, eu percebo as dificuldades de os alunos escreverem, de forma inadequada, dentro do termo solicitado. O artigo de opinião, obviamente visa a
opinião do aluno. O aluno só pode ter uma opinião a partir do momento, que ele
tem subsídios, argumentos, tem justificativas para poder opinar. Que hoje o que nós
vemos não é a opinião, é a reprodução de falas da mídia, falas de grupos sociais.
(P-3)
A professora P-3 realmente demonstrou muita paixão ao declarar a intervenção que
realizou em sua escola a partir do projeto desenvolvido na IES.
[...] a teoria do Bakhtin é fantástica, e por mais que eu tenha um determinado conhecimento você não tem o mesmo e tem outro e aí ocorre que se nós tivermos a
humildade nós trocamos, ou não. Então é sempre no outro que nós nos vemos, quem
nós somos de verdade, porque nós fazemos uma ideia do que nós somos, mas o
outro pode dizer, se ele for autentico, se ele for sem melindre, ele pode falar que é
você, e vice-versa. E eu me vi com os alunos, porque eu tive retorno das produções
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dos alunos, leitura dos alunos, o debate dos alunos. Então educar é fantástico,
trabalhar com a educação é fantástico, porque realmente é o ensino e
aprendizagem, é a chave, você ensinar e aprender, você aprender e ensinar.
Com intuito de tornar seu projeto mais significativo, aos alunos, a referida professora
declarou ter utilizado de textos opinativos produzidos pelo jornal do bairro, dando base para
oficinas pedagógicas e debates. Nestes debates, a turma era dividida em dois grupos, sendo
um a favor e outro contra um determinado assunto, então, cada qual, deveria defender ou
refutar suas opiniões, com argumentos sólidos, dos quais deveriam estudar, pesquisar, ler.
Tudo isso porque eram textos que falam sobre a comunidade em que estavam
inseridos. A professora elencou três textos/temas centrais: um texto fala sobre a educação,
outro texto fala sobre segurança pública e outro tema fala sobre a saúde.
Um aspecto evidenciado nas falas dos professores, é que ao mesmo tempo, em que
eles corroboram em que o programa foi ou é agregador na formação profissional, a
implementação do projeto de intervenção muitas vezes é ofuscada pela falta de estrutura das
escolas ou da colaboração de colegas.
A primeira dificuldade que eu encontrei quando voltei foi que a direção não abriu muito espaço para a aplicação, a instituição aqui ficou difícil, aí os espaços eram
reduzidos para chegar no aluno, que a intenção era procurar nas turmas e os
alunos, mas mesmo assim eu consegui fazer mesmo com dificuldade, até porque eu
tinha que fazer um levantamento de qual era a visão deles aqui do bairro, tipo
aquelas entrevistas, passar os questionários, fazer toda uma montagem, então ficou
assim não vou dizer ficou 100%. Eu consegui fazer, mas foi com dificuldade. (P-1)
[ ...] Ah! Uma das dificuldades foi o financeiro, tudo que eu fiz com os alunos foi
dinheiro do meu bolso mesmo, o governo não liberou e a escola também não tinha.
(P-4)
O professor P-1, abordou um tema muito frequente e que, é de grande desafio às
escolas de modo geral, a violência escolar, o trabalho articulou a percepção de pedagogos e de
alunos do ensino médio, tocante às mediações de conflitos. Foi um trabalho em que
possibilitou estreitar os laços entre escola e família, buscando alternativas para superar as
adversidades encontradas.
Analisando as entrevistas e as produções didáticas, percebe-se que o programa
oportunizou o desenvolvimento de novas práticas, nas escolas, e que durante o projeto de
intervenção teve significado, no entanto na maioria das vezes, tornou-se insignificante à
própria instituição de ensino que recebeu o projeto, não havendo uma continuidade.
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Considerações Finais
Ao tratar sobre a formação dos professores Freire (2007, p. 137) declarou:
A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição deste
saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável
que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. E ao
saber teórico desta influência teríamos que juntar o saber teórico-prático da
realidade concreta em que os professores trabalham.
Ao analisar as práticas de professores realizadas durante o curso de formação
continuada PDE-PR, verificou-se que os professores egressos constituintes deste estudo
participaram de atividades teóricas e práticas que lhes proporcionaram uma articulação da
Escola Básica com a Educação Superior na busca de alternativas de mudanças para o ensino
público.
Aspecto esse, corroborado por Ogliari (2012, p.40) ao dizer:
Por esse motivo a proposta do PDE investe em formação considerada rigorosa na
universidade, que propicie aos professores fundamentos teóricos e metodológicos
para realizar reflexão sobre a prática pedagógica e compreendê-la na sua totalidade
desde a origem da questão, rompendo com perspectivas de investigação que limitam
apenas àquilo que lhes é apresentado de imediato.
Ao buscar a interlocução com a universidade, o programa objetiva proporcionar o
conhecimento das diferentes correntes pedagógicas em suas diversas formas de pensar o
conhecimento e a aprendizagem.
No processo investigativo, viu-se a relevância que os professores deram a questão da
promoção de carreira ofertada pelo curso, mas também na possibilidade de voltar à academia,
de ter um tempo para se dedicar aos estudos, pesquisas e principalmente atender às
necessidades dos educandos.
Nos resultados decorrentes, as entrevistas que foram rodados no software
IRAMUTEQ, a palavra “professor”, assim como a palavra “projeto”, aparecem com forte
grau de conexidade, revelando algumas questões como a valorização do professor no centro
do processo de formação e ao desenvolvimento de um projeto que vise a melhoria da prática
docente, voltado a uma melhoria da educação paranaense, corroborando assim como afirmado
no documento Síntese (PARANÁ, 2014).
Ampliar a pesquisa para professores que estão participando no programa foi um fator
agregador, à pesquisa, pela possibilidade de estabelecer correlação entre as expectativas dos
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participantes do PDE-PR em diferentes contextos e situações, contribuindo para analisar as
mudanças que ocorreram antes e após a aplicação ao projeto de intervenção pedagógica.
Enfim, o estudo ainda apresentou que os entrevistados do programa, são profissionais,
com no mínimo 17 anos de experiência na carreira docente, que buscam além de uma
formação continuada, a promoção na carreira. Vale ressaltar neste sentido de que não se dá
uma oportunidade de formação a professores em início de carreira. Pois, eles não podem
ingressar no programa, antes de 14 anos como efetivo na carreira do magistério público
estadual do Paraná. Além disso, na análise dos resultados ficou evidenciado que apesar de ser
uma proposta muito promissora ainda há muito que se avançar no sentido de fazer com que as
práticas desenvolvidas no PDE-PR tenham continuidade nas escolas, e que os professores,
após término do programa permaneçam desenvolvendo essas práticas e quem sabe, novas
práticas que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem e melhoria na qualidade do
ensino público paranaense. O lema é realmente uma formação contínua, densa, havendo a
necessidade de que os docentes reflitam sobre sua prática, no sentido da construção de novas
práxis.
REFERÊNCIAS
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<http://www.iramuteq.org.>. Acesso em: 15 set. 2014.
CAMARGO, B. V.; JUSTUS, A. M. IRAMUTEQ: tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. Florianópolis, SC: 2013b.
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GATTI, Bernadete A. (Coord.); BARRETO, Elba de Sá. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009.
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LUDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagem Qualitativa. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária LTDA E.P. U., 1986.
31749
OGLIARI, Cassiano Roberto Nascimento. O nível de exigência conceitual das produções
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PARANÁ. Lei Complementar 103, de 15 de março de 2004. Institui e dispõe sobre o Plano de
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PARANÁ. Lei Complementar 130, de 14 de julho de 2010. Regulamenta o Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, instituído pela Lei Complementar nº 103/2004, que
tem como objetivo oferecer Formação Continuada para o Professor da Rede Pública de
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