2º CICLO DE ESTUDOS
ECONOMIA E GESTÃO AMBIENTAL
Produção Extensiva de Animais: uma
ferramenta de gestão do território
Carlos Filipe Silva Correia
M 2018
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MIA
Produção Extensiva de Animais: uma ferramenta de gestão do território
Carlos Filipe Silva Correia
Dissertação
Mestrado em Economia e Gestão Ambiental
Orientado por Doutora Maria Cristina Guimarães Chaves Nome do Orientador
2018
I
Agradecimentos
Gostaria de expressar aqui o meu agradecimento para com a minha orientadora de
mestrado, a Doutora Cristina Chaves, pela discussão de ideias, ajuda na procura de
bibliografia importante para o tema e paciência na revisão minuciosa desta dissertação.
Agradeço também a ajuda da minha companheira Dominika Pezda na revisão do
texto e a toda a minha família e amigos que sempre me motivaram na busca por novo
conhecimento.
II
Resumo
Nesta dissertação pretendo explorar os serviços de ecossistema que os animais
desempenham num regime de exploração extensiva. A exploração de gado é muitas vezes
responsável por graves problemas ambientais como a desertificação e a intensificação das
emissões de metano para a atmosfera.
A gestão adaptativa surge assim como um conceito holístico de gestão do território
que apresenta uma capacidade de regenerar e fornecer uma maior resiliência aos
ecossistemas através do uso de animais.
Sabendo que Portugal apresenta um conjunto de problemas ao nível da gestão do
território, desinvestimento e pouca formação no setor agro-pecuário e um regime climático
vulnerável as alterações climáticas penso que este trabalho pode introduzir ideias
inovadoras de como a produção extensiva de animais pode contribuir para o
desenvolvimento sustentável das diversas regiões de Portugal.
Abstract
This dissertation is intended to explore the ecosystem services that the animals
perform in an extensive exploration regime. Livestock farming is often responsible for
serious environmental problems such as desertification and the intensification of methane
emissions into the atmosphere.
Adaptive management thus emerges as a holistic concept of land management that
has a capacity to regenerate and provide greater resilience to ecosystems through the use of
animals.
Knowing that Portugal presents a number of problems in terms of land management,
disinvestment and poor training in the agro-livestock sector and a climate regime that is
vulnerable to climate change, I believe that this work can introduce innovative ideas of how
extensive production of animals can contribute to the sustainable development of the
various regions of Portugal.
III
ÍNDICE
Introdução .......................................................................................................................................... 4
1.- Processos Evolutivos de Domesticação e Antropogenização da Paisagem ....................... 4
2. - Serviços de Ecossistema e a Produção Pecuária .................................................................. 13
2.1- Produção Pecuária: Impactes Ambientais e Segurança Alimentar .............................. 13
2.2- Produção Pecuária: Importância da Reciclagem de Resíduos Alimentares ................ 24
2.3- Serviços de Ecossistema das Terras de Pasto ................................................................. 27
3.- Gestão Adaptativa de Sistemas Pecuários Extensivos ......................................................... 35
3.1.- Formas de pastorícia e Degradação Ambiental ............................................................. 35
3.2.- Gestão Adaptativa .............................................................................................................. 40
3.3.- Holistic Management e Críticas ........................................................................................... 45
3.4.- Adaptação do Stock de Animais às condições Climáticas ........................................... 64
4- Produção Pecuária extensiva em Portugal .............................................................................. 69
4.1- Caracterização Climática .................................................................................................... 69
4.2- Caracterização da Produção Pecuária em Portugal ........................................................ 72
4.3- Produção Pecuária Biológica em Portugal ...................................................................... 75
5- Emissões de gases de efeito de estufa em explorações hipotéticas – uma aplicação a
Portugal do programa HOLOS ..................................................................................................... 76
5.1- Emissões de Gases de Efeito de Estufa a Nível Nacional do setor Agrícola ............ 76
5.2.- Explorações hipotéticas através do Programa HOLOS ............................................... 77
5.3- Medidas a implementar para um setor pecuário mais sustentável ............................... 84
Conclusões ................................................................................................................................... 87
Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 90
Anexos ............................................................................................................................................ 101
IV
Índice de Gráficos
Gráfico 1 - Fontes da alimentação animal a nível global .......................................................... 17
Gráfico 2 - Produção Mundial de Cereais ................................................................................... 17
Gráfico 3 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção na OCDE .................... 18
Gráfico 4 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção Fora da OCDE .......... 19
Gráfico 5- Impacte Ambiental da Produção Pecuária ............................................................... 26
Gráfico 6 - Densidade populacional de aves de acordo com o sistema de pasto.................. 58
Gráfico 7 - Mudança das condições ambientais a partir de diferentes pontos iniciais de
conservação ao longo de 30 anos ................................................................................................. 67
Gráfico 8 – Média de emissões nacionais do setor agrícola ..................................................... 77
Gráfico 9 - Tolerância ambiental de diferentes raças animais .................................................. 80
Gráfico 10 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa na Maia ................................ 82
Gráfico 11 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa em Beja ................................ 83
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Índice de conversão de energia ................................................................................. 15
Tabela 2- Valor dos serviços de ecossistema por bioma a USD constantes de 2007. .......... 29
Tabela 3 - Serviços de Ecossistema sobre diferentes esquemas de propriedade ................... 33
Tabela 4 - Média de biomassa combustível ................................................................................. 42
Tabela 5- Sistematização das experiências citadas ...................................................................... 62
Tabela 6 - Resultados da exploração bovina no Norte do México 1950-1994 ...................... 66
Tabela 7 - Evolução da produção de produtos animais em Portugal ..................................... 73
Tabela 8- Efetivo animal nacional em milhares .......................................................................... 75
Tabela 9 – Número de produtores Biológicos por região em Portugal .................................. 79
Índice de Figuras
Figura 1- Períodos e tipologia de domesticação ........................................................................... 7
Figura 2- Sistemas de Pasto e relação com a possível densidade animal ................................ 51
1
2
INTRODUÇÃO
A crescente pressão antropogénica nos ecossistemas terá no futuro consequências
negativas que poderão ameaçar a sua sustentabilidade. Torna-se urgente o
desenvolvimento de novas formas de gestão dos ecossistemas, em particular naqueles
geridos pelo Homem. A abordagem da gestão terá de ser holística de forma a englobar os
componentes económicos, sociais e ambientais.
A exploração pecuária é um exemplo perfeito dos desafios que o Homem terá de
enfrentar no futuro. A intensificação da atividade pecuária levou a um divórcio entre a
agricultura e a pecuária com consequências positivas em termos de produtividade porém
à custa da externalização do custo ambiental. Mesmo nas explorações extensivas
consideradas mais sustentáveis enfrentam hoje em dia problemas sérios a nível ambiental
devido em parte a uma gestão pouco flexível voltada apenas o mercado e em parte
devidas as alterações climáticas que desencadeiam períodos mais frequentes de stress
ambiental.
Nesta dissertação será explicado o importante papel dos animais na manutenção de
um ecossistema saudável e a sua contribuição para a segurança alimentar a nível global. O
conceito de gestão adaptativa também receberá especial atenção devido a ser uma
ferramenta essencial para sustentabilidade ambiental das explorações pecuárias em
regime extensivo.
O capítulo 1 explora a relação entre o Homem e os animais domésticos e como
essa relação influenciou os ecossistemas ao longo do tempo até aos dias de hoje. No
capítulo 2 é abordado os problemas ambientais da produção pecuária a nível global e as
suas contribuições para a segurança alimentar assim como os seus serviços de
ecossistema. Estes dois primeiros capítulos fornecem um enquadramento histórico e
contextual dos problemas e benefícios inerentes do setor pecuário. O capítulo 3 adensa a
necessidade da adopção de novas técnicas de gestão adaptativa de forma a conciliar a
atividade económica, social e ambiental nas explorações extensivas. Dentro deste
enquadramento de gestão adaptativa é apresentado o conceito de Holistic Management
sendo explorado várias experiências que demonstram as várias técnicas utilizadas e a sua
superioridade ou não face aos métodos mais convencionais de gestão. No capítulo 4 é
caracterizado o pecuário em Portugal. Este capítulo começa por expor a diversidade
climática do nosso país e a sua vulnerabilidade as alterações climáticas passando
3
posteriormente para uma caracterização do efetivo pecuário. No capítulo 5 são aplicados
os conceitos de gestão adaptativa a duas explorações nacionais hipotéticas de forma a
verificar o seu efeito na emissão de gases com efeito de estufa. No fim o capítulo 5.3
sugere medidas que poderiam ser aplicadas em Portugal de forma a melhorar a
sustentabilidade ambiental das explorações pecuárias extensivas.
4
1.- PROCESSOS EVOLUTIVOS DE DOMESTICAÇÃO E ANTROPOGENIZAÇÃO DA
PAISAGEM
De forma a perceber a evolução da paisagem ao longo do tempo e a modificação
dos seus serviços de ecossistema é primeiro necessário entender o desenvolvimento da
agricultura.
A paisagem portuguesa é por vezes descrita como profundamente
antropogenizada, ou seja, com uma grande influência humana, contudo é mais correto
afirmar que ela reflete as dinâmicas de exploração do território ao longo do tempo. Os
animais desempenharam um papel fundamental na modelação dos sistemas tradicionais
de exploração agrosilvopastoris, desde os lameiros do nordeste transmontano até aos
montados do Alentejo. Estes são apenas dois pequenos exemplos de um processo muito
maior que começou há milhares de anos e continuará a moldar a evolução do planeta.
A domesticação dos animais e das plantas foi uma etapa fundamental na história
do ser humano que em última análise permitiu a ascensão da própria civilização. Este
processo de domesticação vai alterar não só a evolução do Homem e dos animais como a
própria paisagem. A agricultura e a pastorícia permitiram ao Homem passar a ter o poder
de modificar e “criar” novos habitats de forma a suster uma população cada vez mais
numerosa.
Tendo em conta as investigações mais atuais, sabe-se hoje que grande parte do
processo de domesticação ocorreu concomitantemente ao desenvolvimento da
agricultura em três áreas principais: o crescente fértil no atual Iraque, na China central e
nos Andes. (Larson and Fuller, 2014; Hartung, 2015).
O grande salto na domesticação ocorreu durante o período Neolítico (desde 8000
a.C. até 3000 a.C.) caracterizado por uma subida da temperatura mundial marcando o fim
da última glaciação. As alterações climáticas do início do Neolítico criaram um novo
regime de precipitação mais abundante que irá permitir ao Homem a sedentarização. A
sedentarização por sua vez irá despoletar o início da agricultura (Hartung, 2015).
O processo de domesticação é algo raro no tempo e no espaço, pois o Homem e
os animais necessitam de condições especiais para que as duas espécies consigam
estabelecer uma relação de proximidade (Larson and Fuller, 2014).
Esta relação de proximidade pode ser estabelecida através de maneiras intencionais
ou não intencionais. É possível distinguir três formas distintas de domesticação: a
comensal, de predação e direta.
5
O primeiro momento de domesticação foi não intencional e seguiu por uma via
comensal, o estreitar de relações através da partilha do mesmo habitat. O primeiro animal
a ser domesticado foi o cão. Apesar de não se conseguir localizar o preciso local onde
este processo ocorreu é possível documentar a sua presença em acampamentos humanos
no final da última glaciação (14000-12000 anos). O cão nesta época desempenhava
papéis importantes na caça e proteção dos acampamentos (Hartung, 2015). A
domesticação do cão é ímpar relativamente aos outros animais pois, para além de ser a
mais antiga, ocorre ainda quando o modo de vida do Homem era nómada no estilo de
vida de caçador recoletor. Na figura 1 é possível visionar que todos os outros processos
de domesticação ocorrem após a revolução neolítica, há cerca de 12 mil anos.
Outros exemplos de animais que foram domesticados por via comensal foram o
pombo e a galinha. A domesticação do pombo ocorreu na Mesopotâmia e no Egipto
quando o Homem começou a criar as primeiras malhas urbanas. Este novo habitat
criado pelo ser humano atraiu animais, entre eles o pombo que encontrou nestas
primeiras habitações um refúgio semelhante ao seu habitat natural. O estreitar de
relações entre os povos do crescente fértil e o pombo encontram-se documentados em
motivos pictóricos nos seus monumentos (Larson and Fuller, 2014).
A domesticação da galinha segue um processo similar, tendo ocorrido no vale do
rio Indo há cerca de 4500 anos, os animais seriam atraídos as povoações humanas em
busca de alimento. Pensa-se que os patos e os gansos seguiram o mesmo processo, só
que num período mais recente na China perto de 500 a.C. (Larson and Fuller, 2014).
Os animais domesticados desta forma foram normalmente os herbívoros de
grande ou médio porte. A domesticação por via da predação foi um processo longo que
teve origem na redução da população animal devido à sua sobre-exploração por parte das
populações sedentárias. Perante a diminuição de animais de caça, o Homem criou
estratégias de controlo dos recursos cinegéticos que culminam na criação de rebanhos e
posteriormente na seleção reprodutiva dos animais (Marom and Bar-Oz, 2013).
O gado ovino, caprino e bovino terá muito provavelmente seguido por esta via de
domesticação durante o início do Neolítico no crescente fértil, um período coincidente
com o início da domesticação dos cereais e o desenvolvimento da agricultura.
A maioria dos animais domesticados por via de predação sofreram posteriormente
um processo adicional de diversificação, intitulada a “revolução de produtos
secundários” (Sherratt, 1983). Esta fase está intimamente ligada à especialização
económica desenvolvida pelas sociedades cada vez mais complexas. A seleção humana da
6
reprodução animal torna possível criar diferentes raças especializadas na produção de
carne, leite, têxteis e tração. Este momento marca a passagem de um processo de
domesticação casual para um processo cada vez mais consciente por parte do Homem.
É a partir deste momento que o Homem tem a capacidade de gerir ecossistemas
inteiros quer diretamente através do cultivo da terra fértil como a gestão das zonas
marginais improdutivas geridas pelo pastoreio de animais para os mais diversos usos,
desde a produção têxtil até à produção de alimentos. Na atualidade o ser humano
tornou-se uma espécie tão dominante no planeta que autores como Vernadsky
consideram que a humanidade tornou-se uma força planetária capaz de influenciar os
ciclos dos elementos (Janzen, 2011; Vernadsky, 1945).
A terceira forma de domesticação é designada de direta. É seguro afirmar que este
trata-se do episódio de domesticação mais recente aconteceu com mais frequência nas
periferias das regiões centrais, onde ocorreram os anteriores episódios de domesticação.
Esta forma de domesticação é a única intencional, ou seja, o Homem ativamente
deliberou um plano para atingir o estreitar de relações com os animais alvo (Larson and
Fuller, 2014). Torna-se evidente que, por esta altura, o Homem já teria dominado as
técnicas de especialização secundária dos animais refletindo-se na escolha dos animais
domesticados por via direta. Entre os exemplos de animais que foram domesticados de
forma direta encontramos o burro, o camelo, o cavalo e a abelha melífera. Podemos ligar
estes processos de domesticação à expansão do modo de vida agrícola sedentário para
fora das regiões centrais do crescente fértil.
A domesticação direta é a mais recorrente para épocas mais recentes como a
domesticação do coelho, animal nativo da Península Ibérica que só foi domesticado em
época romana. Numerosas espécies de peixes e pequenos mamíferos foram domesticadas
no último século seguindo este modelo de domesticação direta.
7
Figura 1- Períodos e tipologia de domesticação (Larson and Fuller 2014)
O processo de domesticação direta é tão recorrente na atualidade que a perceção
dos processos de domesticação iniciais foram corrompidos pelos seus preceitos, contudo
nos padrões mundiais sobre os primeiros episódios de domesticação fica clara a sua não
intencionalidade.
Ao mesmo tempo que o modo de vida sedentário se estabeleceu em torno de
locais de grande fertilidade surgia um novo modo de vida ainda mais dependente dos
8
animais, nomeadamente o nomadismo e o regime semi-nómada, conhecido como a
transumância.
O arqueólogo britânico Andrew Sherratt (1983) defende que a origem deste modo
de vida é posterior à “revolução de produtos secundários” quando o Homem começa a
selecionar conscientemente a reprodução dos seus animais de forma a potenciar uma
determinada característica. Um exemplo referenciado pelo autor é a domesticação do
cavalo ocorrida nas estepes euroasiáticas. Como é possivel visionar na figura 1 a
domesticação do cavalo começou por ter características de uma domesticação de
predação mas posteriormente evoluiu para uma via direta de domesticação onde o
homem conseguiu manipular atributos secundários dos animais.
Especula-se que o nomadismo é resultante de um processo de desertificação
ocorrido na Península do Sinai onde as outrora populações sedentárias passaram a ser
nómadas (Sherratt, 1983). Este estilo de vida assente nos diferentes produtos animais irá
permitir ao Homem adaptar-se a climas cada vez mais extremos, expandindo assim esta
prática pelo globo. Outra vertente importante dos povos nómadas foi o seu papel nas
trocas comerciais possibilitadas novamente pelo uso de animais de tração especializados.
Avançando no tempo, a influência dos animais na sociedade humana irá aumentar
assumindo papeis como símbolos religiosos, de riqueza e status.
Em época romana a produção animal era tida em grande estima. Existem
documentos de autores clássicos como Varro e Columella que discutem boas práticas de
criação de gado e a organização da propriedade rural (Hartung, 2015).
A propriedade rural romana seguia um conjunto de regras básicas de exploração
dos recursos de um determinado ambiente. O sistema agrosilvopastoril romano estava
dividido da seguinte maneira: perto da villa, a casa senhorial, encontrava-se o hortus, o
local do pomar e da horta no sentido tradicional. Numa zona mais periférica
encontravam-se os campos de cultivo em sequeiro, o designado ager. Posteriormente
encontrava-se o saltus, o local de pastagem de animais arborizada com pequenos matos e
por fim a silva, a área florestal da propriedade (Roselaar, 2010; Poux et al., 2009).
Um dos aspetos mais avançados da criação pecuária em época romana é a sua
preocupação com as condições sanitárias dos estábulos que devem ser espaçosos,
arejados, iluminados por luz natural e a existência de chãos perfurados de forma a drenar
excrementos. Todas estas preocupações visam aumentar as condições de saúde dos
animais com o intuito de reduzir a sua mortalidade. Deste modo, é fácil perceber o
grande número de animais que algumas explorações conseguiam albergar. Existem
9
registos de época romana de capoeiras com capacidade para albergar 200 galináceos. A
galinha em época romana era o animal mais valioso por quilo porque especula-se que a
sua chegada à Europa fosse, à época, ainda recente (Hartung, 2015).
Estas ideias inovadoras seriam em parte esquecidas durante a Idade Média e só no
início do século XVIII é que acontecem mudanças estruturais na produção de gado na
Europa que viram a culminar na criação de sistemas de produção mais intensivos
(Hartung, 2015).
A rotação de culturas é o grande impulsionador na mudança da estrutura
tradicional de criação de gado. Desenvolvida em Inglaterra, esta técnica agrícola consistia
no cultivo de uma espécie vegetal diferente a cada ano. Este aumento da intensidade do
uso da terra irá abrir caminho ao desenvolvimento da produção de forragens para
animais.
O sistema pecuário extensivo a partir deste ponto passa a ser uma opção em
ambientes mais ricos do ponto de vista da produção de biomassa. Nestes ambientes
torna-se possível manter os animais estabulados todo o ano, sendo alimentados através
de forragens.
A revolução agrícola em curso começa a pensar o espaço rural através do espetro
da eficiência económica. Adam Smith traduz esta preocupação “Um campo de cereais de
fertilidade moderada produz uma maior quantidade de comida do que o melhor pasto do
mesmo tamanho” (Smith, 1776, pág. 120).
A concepção moderna de produção de gado passará a ser marcada pelo aumento
da sua intensidade e especialização, sendo abandonado o pastoreio. Um dos grandes
defensores dos sistemas de produção animal intensivo no século XVIII foi o agrónomo
alemão Albercht Thaer. No seu entender este sistema oferecia várias vantagens em
relação aos sistemas extensivos, como o aumento da produtividade por hectare, a gestão
e armazenamento de fertilizantes animais, aplicação de um sistema de rotação de culturas
mantendo o campo produtivo todo o ano, maior proteção dos animais contra os
elementos e predadores (Hartung, 2015).
Outro impulsionador dos sistemas de produção intensivos foi Johann Erxleben,
considerado como um dos fundadores da medicina veterinária, que recupera a ideia dos
autores clássicos como Varro e Columella sobre as condições sanitárias do abrigo dos
animais. Johann Erxleben defende espaços de dimensão considerável, bem iluminados e
com tetos altos para permitir uma maior ventilação (Hartung, 2015). A melhoria das
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condições sanitárias dos estábulos irá permitir o aumento da sua densidade populacional
e uma diminuição da mortalidade.
Na atualidade o sistema de produção intensivo é ainda pautado pelos princípios
desenvolvidos no século XVIII de intensidade e especialização (Hartung, 2015). O
conceito de intensidade está relacionado, nos sistemas de produção pecuária, com o
elevado número de animais por hectare, a ausência de pasto durante todo o ano e
elevado grau de mecanização. A especialização reflete-se na produção de uma espécie
animal por instalação.
O objetivo principal da agricultura no início do século XX foi o aumento da
produção de forma a fornecer bens essenciais a uma população em rápido crescimento.
Este desenvolvimento produtivo foi possível graças à mecanização do setor que por sua
vez alterou a propriedade agrícola no aumento da área produtiva e na especialização da
mão-de-obra (Bjorklund et al., 1999). Reflexo disto é o aumento da produtividade dos
cereais que mais do que duplicou no século XX (Janzen, 2011).Durante o período de
1961 e 2005 o mercado de produção de carne mais do que quadruplicou (FAO, 2009). O
aumento da produtividade agrícola especificamente na produção de cereais foi
impulsionada no início do século XX graças à invenção do processo de Haber/Bosch
que permite retirar nitrogénio da atmosfera para a produção de fertilizantes químicos. A
invenção dos fertilizantes químicos permitiu a intensificação da agricultura que por sua
vez ajudou a afastar a produção animal para fora dos terrenos agrícolas, visto os animais
serem redundantes em sistemas intensivos, pois a fertilidade da terra é assegurada por
meio artificiais (Fairlie, 2010). A intensificação da agricultura contribuiu para a
intensificação da pecuária, pois parte do excedente agrícola, nomeadamente os cereais,
passaram a fazer parte da base alimentar dos animais em sistemas intensivos de
produção.
Apesar deste grande desenvolvimento do setor agrícola, pouco foi refinado no que
respeita à criação de um sistema agrícola sustentável a longo prazo. É importante referir
que os setores de atividade primários dependem de um ecossistema saudável portanto
um equilíbrio entre a produção agrícola e a provisão de serviços de ecossistema assegura
a sua sustentabilidade a longo prazo (Teague, 2015; Costanza et al., 1997).
O setor pecuário a nível global surge como um dos três setores mais poluentes a
nível global sendo que grande parte desta poluição está relacionada a sistemas intensivos
de produção (Steinfield et al., 2006).Os sistemas intensivos de produção pecuária
11
enfrentam hoje grandes desafios como a melhoria do bem-estar animal, aspetos
relacionados com segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental.
Nas regiões europeias com maior concentração de indústrias pecuárias intensivas
como o Noroeste da Alemanha, Holanda e o Norte de França os níveis de poluição são
elevados. A poluição proveniente da pecuária intensiva é multifacetada, desde maus
odores devido à elevada concentração de amónia, às emissões de microorganismos e
aerossóis que afetam negativamente a saúde humana (Hartung, 2015).
A poluição nos sistemas intensivos de produção provém de uma desarticulação
entre o território onde estão inseridos e os recursos que utilizam. Nas grandes
explorações intensivas a alimentação animal é assegurada através de cereais produzidos
em várias regiões do planeta. Uma das consequências mais negativas desta especialização
agrícola foi a criação de zonas geográficas dedicadas à produção de culturas e outras
dedicadas à produção pecuária. A desarticulação de uma produção agro-pecuária leva a
consequências negativas entre as quais a criação de deseconomias de transporte e um uso
ineficiente de nutrientes. O papel dos animais é a perpetuação da gestão do território,
sendo retirados do seu habitat os possíveis serviços de ecossistema que poderiam prestar
desaparecem. A enorme densidade animal em sistema de produção intensiva ultrapassa
hoje em muitas regiões a capacidade de assimilação do território gerando graves
problemas de poluição (Hartung, 2015, Janzen, 2011).
No que concerne ao transporte de alimento animal de zonas de produção de
culturas para as zonas de criação animal representa um aumento no custo energético,
resultando em maiores emissões de gases com efeito de estufa. O aumento do custo
energético é contudo mitigado pelo baixo preço dos combustíveis fósseis possibilitando a
manutenção deste sistema. O outro grande problema é a criação de zonas deficitárias em
nitrogénio e fósforo nomeadamente nas zonas de produção de culturas agrícolas e zonas
com excesso de nutrientes que leva a problemas de poluição nas zonas de produção
pecuária (Bjorklund et al., 1999).
Podemos tomar a Suécia como um exemplo da intensificação agrícola dos países
desenvolvidos. É possível observar o aumento da produção agrícola assim como o
aumento de inputs no sistema agrícola durante o período de 1951 até 1996. No esquema
tradicional sueco de rotação de culturas de feno, cevada e trigo o aumento de produção é
significativo, 20%, 80% e 140% respetivamente, com a introdução dos métodos
industrializados da agricultura. Contudo se considerarmos os inputs externos à
propriedade agrícola esse aumento de consumo é ainda mais significativo: 110% de
12
energia primária, 190% de nitrogénio e 460% de feno importado (Bjorklund et al., 1999).
A alteração do mosaico tradicional para as grandes monoculturas agrícolas é outra
consequência negativa do ponto de vista ambiental. O sistema de mosaico permite uma
maior biodiversidade de espécies e uma maior complexidade de habitats. Esta maior
complexidade permite uma maior capacidade de carga do ambiente e diversidade de
serviços de ecossistema. Segundo Russ et al. (2013) o conceito de capacidade de carga é
entendido como o nível de uso dos recursos tanto pelo Homem como pelos animais que
é suportado durante um longo período de tempo através da capacidade regenerativa do
ambiente.
Meios de produção mais sustentáveis como a produção extensiva dependem
menos de inputs externos sendo mais eficientes do ponto de vista energético, reduzindo a
produção de resíduos e aumentando a biodiversidade que minimiza o recurso a agro-
químicos (Teague, 2015).
Um dos problemas da adição de inputs externos a uma exploração agrícola são as
suas consequências inesperadas que podem contrabalançar o benefício esperado e
desestabilizar o ecossistema. A título de exemplo nos Estados Unidos o uso do anti
parasítico, ivermectin, um medicamento muito utilizado em gado, teve repercussões
inesperadas no meio ambiente. O efeito do medicamento não se limitou aos animais
administrados, sendo reportada a morte de invertebrados e microorganismos no solo. A
morte de escaravelhos bosteiros e da microfauna do solo é especialmente grave pois estes
animais são importantes para o ciclo de minerais que afeta diretamente o crescimento das
plantas. A morte dos escaravelhos levou a uma proliferação de fezes à superfície do solo
que por sua vez atraiu moscas que molestavam o gado reduzindo a sua performance,
menor ganho de massa corporal por mês. Muitos agricultores tiveram de recorrer a
químicos para controlar as moscas que afetavam o gado, enquanto que aqueles que
mantiveram uma população saudável de escaravelhos não o tiveram de fazer (Teague,
2015).
As práticas agrícolas contemporâneas dependentes do uso de fertilizantes
inorgânicos e pesticidas tiveram um efeito nefasto nas comunidades microbianas do solo.
Estima-se que por volta de 90% das funções do ecossistema do solo são controladas por
comunidades microbianas sendo essenciais para a manutenção de altos níveis de
produtividade do solo (Teague et al., 2016). As práticas agrícolas atuais são insustentáveis
a longo prazo e uma grande fonte de gases com efeito de estufa contribuindo assim para
um maior stress ambiental a nível global. Muitos dos problemas das práticas pecuárias e
13
agrícolas mais intensivas poderiam ser minimizados se ocorresse uma aproximação dos
dois setores de atividade através de uma gestão com objetivos ambientais em mente
(Teague et al., 2016).
A humanidade começa a enfrentar limites na disponibilidade de terra, água e
energia juntando a isso a ameaça das alterações climáticas. Várias individualidades
defendem que o planeta não consegue suportar o crescimento populacional humano
assim como o número crescente de animais (Janzen, 2011). Esta preocupação pela
sustentabilidade do planeta tem atraído cada vez mais atenção para outra forma de
produção animal considerada menos produtiva mas com menor impacte ambiental. Os
sistemas extensivos de produção animal operam na lógica da maximização dos recursos
naturais e não na maximização da produção podendo ser uma ferramenta de gestão
importante dos territórios onde se encontram inseridos.
Atualmente os sistemas de produção em regime extensivo estão relegados para
regiões com baixa produtividade agrícola, onde a aridez e a sazonalidade são uma
realidade. As vantagens deste sistema prendem-se nos serviços de ecossistema prestados
pelo pasto dos animais no território. Contudo este tipo de produção pecuária enfrenta
graves problemas com as alterações climáticas introduzindo um maior risco de
degradação ambiental em ecossistemas de si já frágeis.
Nos capítulos seguintes iremos focar-nos nos problemas e vantagens deste método
de produção e na importância de introduzir medidas de gestão adaptativa num clima em
permanente mudança.
2. - SERVIÇOS DE ECOSSISTEMA E A PRODUÇÃO PECUÁRIA
2.1- PRODUÇÃO PECUÁRIA: IMPACTES AMBIENTAIS E SEGURANÇA ALIMENTAR
As sociedades no futuro terão de enfrentar uma maior pressão na obtenção de
recursos essenciais para a manutenção da sua qualidade de vida. Especialmente
preocupante é a conjugação de uma população mundial crescente e a diminuição dos
serviços de suporte à vida.
O aumento populacional e a urbanização estão a aumentar a pressão na
necessidade de alimentos contudo a nossa habilidade de os providenciar está ameaçada
pelas alterações climáticas, desertificação, aumento do consumo de produtos animais,
desflorestação e o aumento da procura de biocombustíveis (Teague, 2015; Janzen, 2011).
A segurança alimentar no futuro poderá não ser assegurada mantendo o ritmo de
14
crescimento atual. Perante estes constrangimentos ambientais muitos questionam a
sustentabilidade do consumo de produtos animais.
A controvérsia do consumo de produtos animais e os seus derivados é um
exemplo perfeito de como posições extremadas e opiniões dogmáticas turvam o
julgamento de um problema complexo. Estima-se que em 2010 a média global de
consumo de carne atingiu os 40 kg per capita (Smil, 2014). Este número impressionante é
possível devido a uma indústria alimentar baseada na produção intensiva, contudo os
altos níveis de produtividade são acompanhados por graves problemas ambientais
O aumento da procura de produtos animais continuará a crescer nas próximas
décadas, especialmente em países em desenvolvimento. As principais causas apontadas
para este aumento prendem-se com o aumento do rendimento per capita, aumento da
população e a crescente urbanização. A procura por carne e leite, considerando as atuais
tendências de consumo, aumentará cerca de 57% e 48% respetivamente durante o
período de 2005 e 2050 (Alexandratos and Bruinsma, 2012). Este aumento caso se
verifique poria um enorme stress a nível ambiental, impactando as emissões de gases de
efeito de estufa consideravelmente.
Os alimentos de origem animal a nível global representam cerca de 18% das
calorias globais consumidas e por volta de 25% do consumo global de proteína
(FAOSTAT, 2016). A importância destes produtos para a segurança alimentar é de
especial relevo pelo fornecimento de proteínas de alto valor biológico e vários
micronutrientes, como a vitamina A, vitamina B12, riboflavina, cálcio, ferro e zinco. O
peso dos produtos animais para a segurança alimentar é maior para regiões do globo
onde seja difícil obter uma quantidade de nutrientes essenciais através do uso de
produtos vegetais como no caso de locais áridos.
A pecuária a nível global contribui positivamente para o fornecimento de macro e
micro nutrientes, inputs para o setor agrícola através da tração e fertilização e na obtenção
de rendimento quer a nível familiar quer a nível nacional. As contribuições negativas do
setor pecuário prendem-se com o desvio de alimentação apta para consumo humano
redireccionando-a para alimento animal. O maior uso de terra arável para o cultivo de
alimento animal e o baixo nível de eficiência de conversão de energia de alimento animal
para produtos animais representam o maior risco para a segurança alimentar (Mottet et
al., 2017). Os problemas mais sérios da produção animal advêm da intensificação da
produção pecuária que se traduz na intensificação da produção agrícola. A irrigação de
forragens, utilização de cereais, excesso de fertilizantes químicos, pesticidas e energia
15
resultante do transporte de forragens e animais (Hartung, 2015; Teague, 2015; Janzen et
al., 2011; Bjorklund et al., 1999).
O uso de animais para alimentação humana é muitas vezes criticado devido ao seu
baixo índice de eficiência de conversão de energia. Os índices de eficiência de conversão
de energia variam conforme a espécie animal em questão, sistema de produção em que o
animal se encontra inserido, a métrica de avaliação de calorias ou conteúdo proteico,
qualidade do alimento de país para país. Tendo em conta as várias circunstâncias acima
enumeradas que influenciam os valores da conversão de energia, não é possível assumir
grandes generalizações a nível mundial. A título de exemplo, no gado bovino o índice de
conversão de energia pode variar entre 6kg até 20kg de cereal de alimento animal para
um quilo de carne produzida (Mottet et al., 2017; Garnett, 2009). Normalmente os
valores mais elevados são verificados em sistemas de produção intensivos que
representam cerca de 13% da produção mundial (Mottet et al., 2017). Diferentes animais
e diferentes produtos animais necessitam de menos ou mais energia de forma a
produzirem os produtos necessários.
Rácio de conversão de alimento animal para alimento Humano
Produtos Animais Energ
ia Proteín
a Média
Carne de vaca 14,3 :
1 12,5 : 1
13,4 : 1
Carne de porco 4,75 :
1 5,25 : 1 5,0 : 1
Carne de frango 5,25 :
1 3,2 : 1
4,25 : 1
Total de Carne - - 7,2 :1
Ovos 5,9 : 1 4,2 : 1 5,1 : 1
Leite 4,0 : 1 4,75 : 1 4,4 : 1
Tabela 1 – Índice de conversão de energia (Fonte: CAST, 1999)
Na tabela 1 podemos visionar um rácio de conversão elaborado pela CAST (Council
for Agricultural Science and Technology), equipa norte americana que realizou um estudo
sobre a média de conversão de energia do alimento animal para produtos animais.
Podemos verificar que, a título de exemplo, um bovino necessita de 14,3 calorias de
alimento vegetal para produzir 1 caloria animal. Este rácio de conservação torna-se mais
eficiente quando se considera a produção de proteínas: no caso dos bovinos são
necessárias 12,5 gramas de proteína vegetal para produzir 1 grama de proteina animal.
16
Fica patente que os bovinos apresentam o menor índice de conversão, enquanto o
melhor desempenho em termos de conversão de proteína (input-output) é apresentado
pela carne de frango.
O professor britânico Wilkinson realizou no Reino Unido um estudo sobre a
média de conversão de energia dos animais e chegou a valores semelhantes aos
reportados pelo estudo da CAST de 1999 (Wilkinson, 2011; CAST, 2013). É possível
admitir que os valores apresentados na tabela 1 possam refletir o índice de conversão de
energia por parte dos animais nos países desenvolvidos onde as práticas veterinárias e de
alimentação animais sejam semelhantes aos Estados Unidos e ao Reino Unido.
A alimentação animal é um ponto fundamental para a sua criação e varia conforme
os sistemas de produção implementados. É estimado que no ano de 2010 o setor
pecuário a nível mundial consumiu cerca de 6 mil milhões de toneladas de matéria seca
(Mottet et al., 2017).
No gráfico 1 é possível observar que a maior porção de alimento dedicado à
alimentação animal é composta por erva e folhas representando cerca de 46%, ou seja,
2,7 mil milhões de toneladas de matéria seca. O setor seguinte com maior relevo são os
resíduos das culturas agrícolas representando 19% do total da alimentação animal a nível
mundial (Mottet et al., 2017).
O setor da alimentação animal que poderia ser utilizado para alimento humano
representa 14% sendo que 13% são cereais (gráfico 1). Contudo é importante realçar que
estes 13% do uso de cereais para ração animal representam 32% da produção mundial de
cereais em 2010, ou seja, cerca de um terço da produção (gráfico 2). Os produtos
secundários da indústria alimentar representam apenas 5% do total da alimentação
animal a nível mundial (gráfico 1). Um maior controlo sobre a gestão destes resíduos
poderá no futuro contribuir para sua maior representatividade.
É possível visionar que 86% da alimentação animal a nível mundial provém de
fontes não comestíveis para o ser humano. A nível agregado este é o panorama mundial
contudo a nível dos países e dos sistemas de produção a dieta animal varia
consideravelmente.
17
68%
32%
Produção Mundial de Cereais em 2010 (2,571 milhões de toneladas)
Cereais para consumo humano
Cereais para consumo animal
46%
8%
19%
5%
5%
3%
13% 1%
Alimentação Animal a Nível Mundial (6 mil milhões de Matéria Seca)
Folhas e Pasto
Culturas de Foragem ( Silagem,
Feno…)
Resíduos Agrícolas (Palha de trigo,
Arroz, Caules de banana…)
Bagaço de oligeanosas
Sub-Produtos ( Farelo, Poupa de
beterraba, Melaço...)
Outros Não-Comestíveis (Cereais de
segunda categoria, Resíduos de
matadouro, Resíduos da indústria
pesqueira)
Cereais
Gráfico 2 - Produção Mundial de Cereais (Fonte: Mottet et al. 2017)
Gráfico 1 - Fontes da alimentação animal a nível global (Fonte: Mottet et al. 2017)
18
5053
7404
1152
242 409 18
2259
4686
99 180
5428
Ext
ensi
vo
Mis
to
Inte
nsi
vo
Ext
ensi
vo
Mis
to
Ext
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vo
Inte
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(o
vo
s)
Inte
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vo
(ca
rne)
Ext
ensi
vo
Mis
to
Inte
nsi
vo
Bovinos e Búfalos Ovinos e Caprinos Gado de Bico Suínos
Países da OCDE
Total de Produção de Proteína (Mt/ano)
Ao analisar os diferentes sistemas de produção pecuária entre os países da OCDE
com os países fora da OCDE é possível observar diferenças significativas no peso dos
diferentes sistemas para a produção total de proteínas. Nos países da OCDE o sistema
intensivo predomina na criação de suínos e de gado de bico. A maioria do aumento da
produção pecuária atualmente ocorre em sistemas intensivos (Janzen, 2011). O sistema
extensivo e misto é apenas relevante para a criação de gado bovino com cerca de 12457
mil toneladas de proteína ao ano1 (gráfico 3).
Nos países em desenvolvimento confirma-se que os sistemas intensivos de
produção são menos representativos no setor pecuário. Ao excluir a criação de gado de
bico a produção total de proteína em sistemas intensivos nos países em desenvolvimento
é de apenas 3311 mil toneladas2 contra as 6580 mil toneladas de proteínas3 dos países da
OCDE (gráfico 3, 4). A maior porção do total de proteínas produzidas nestes países
1 Soma dos valores do gráfico 3 no setor de bovinos e búfalos dos sistemas de produção extensivo e misto. 2 Soma dos valores do gráfico 4 do setor bovino e suíno para os sistemas intensivos. 3 Soma dos valores do gráfico 3 do setor bovino e suíno para os sistemas intensivos.
Gráfico 3 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção na OCDE (Fonte: Mottet et al.2017)
19
provém do gado bovino num sistema misto de produção com cerca de 73615 mil
toneladas de proteína ao ano (gráfico 4).
Quanto aos países em desenvolvimento a maioria dos sistemas de produção
agrícola são mistos, combinando a criação animal com o cultivo de cereais e hortícolas.
Na maioria dos casos a presença animal é benéfica contudo para certos biomas isso pode
não acontecer. Um caso particularmente preocupante é a perda de habitat na floresta
Amazónica para o cultivo de soja e produção animal levando à desflorestação de grandes
áreas (Steinfeld and Wassenaar 2007; Herrero et al., 2009). Em sistemas extensivos e de
produção mista a dieta dos ruminantes consiste em cerca de 90% de alimentos com alto
teor de fibra, ou seja, não comestíveis para o ser humano como erva, resíduos agrícolas e
silagem (Mottet et al., 2017).
Gráfico 4 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção Fora da OCDE (Fonte: Mottet et al.,2017)
Apesar da baixa eficiência na conversão de energia dos sistemas extensivos de
ruminantes esta é compensada através da ingestão de proteínas vegetais não comestíveis
pelo ser humano transformando-as em proteínas animais de alto valor biológico. Para
além disso os animais em regimes mistos ou extensivos de produção providenciam
benefícios ecológicos inegáveis como a conservação das terras de pasto, a manutenção
do ciclo de nutrientes, providenciam alimentos de alta qualidade alimentar e uma série de
benefícios sociais (Teague et al., 2016; Smil, 2014; Janzen, 2011). Nos sistemas mais
intensivos o uso de cereais é mais preponderante especialmente nos países da OCDE
5881
73615
374 975 1250 942 6960 8496
3800 2441 2937
Ext
ensi
vo
Mis
to
Inte
nsi
vo
Ext
ensi
vo
Mis
to
Ext
ensi
vo
Inte
nsi
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vo
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Inte
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vo
(ca
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Ext
ensi
vo
Mis
to
Inte
nsi
vo
Bovinos e Búfalos Ovinos e Caprinos Gado de Bico Suínos
Países Fora da OCDE
Total de Produção de Proteína (Mt/ano)
20
onde os cereais representam 72% da alimentação animal. Já nos países fora da OCDE a
percentagem do uso de cereais é mais baixa, cerca de 38% (Mottet et al., 2017).
Na produção de animais monogástricos as quantidades de cereal usado para a
alimentação são maiores comparativamente com a dos ruminantes devido à sua
incapacidade de digerir alimentos com alto teor de fibra. Contudo estes animais são mais
eficientes a converter a energia do alimento em massa corporal sendo assim possível
obter um maior output de proteína animal.
O melhor desempenho de conversão de energia de animais monogástricos é
encontrado em sistemas intensivos onde a qualidade do alimento é controlada através de
parâmetros de gestão. Em países da OCDE o índice de conversão de energia varia entre
18-29 kg de matéria seca para 1 kg de proteína enquanto nos países não pertencentes à
OCDE o seu desempenho varia entre 20-27kg de matéria seca para 1 kg de proteína
(Mottet et al., 2017).
As espécies animais referidas anteriormente contribuem de forma diferenciada para
a oferta global de proteína animal. O gado bovino, incluindo os búfalos, fornece cerca de
45% da proteína animal, 31% da proteína é fornecida por galinhas, 20% pelo gado suíno
e o gado caprino e ovino apenas representa 4% (Mottet et al., 2017). Todas as espécies
combinadas consomem cerca de 80 quilos de matéria seca para produzir 1 kg de proteína
animal. Toda esta produção animal tem impactes importantes na emissão de gases com
efeito de estufa. Estima-se que a nível global o setor pecuário é responsável por 14,5%
das emissões antropogénicas globais, representando cerca de 7,1 Gt de dióxido de
carbono ao ano. Os bovinos representam a maior fonte de emissão com cerca de 9,4%
das emissões antropogénicas globais (Ripple et al., 2014).
O setor agrícola, por comparação, não fica muito atrás, com cerca de 13,7% das
emissões de CO2 equivalente de origem antropogénica. Uma análise sobre o ciclo de vida
do setor agrícola monstra este setor como sendo um grande contribuinte para a emissão
de gases de efeito de estufa (Teague et al., 2016).A aragem e fertilização química
representam a maior parte das emissões deste setor primário. Estima-se que cerca de
30% a 75% do conteúdo de carbono do solo foi perdido devido ao uso intensivo da terra
(Teague et al., 2016). A nível global a emissão de gases com efeito de estufa provenientes
da degradação do solo correspondem a 13,7% do total das emissões antropogénicas.
Destas 1,86 Gt aproximadamente 46% são causadas pela ação humana através de inputs
no setor primário como fertilizantes, combustíveis e pesticidas. A restante percentagem,
54% das emissões, advém de fatores naturais associados a processos de erosão como
21
vento, chuvas, secas, aragens da terra intensivas e o excesso de pasto (Teague et al.,
2016).
Um conjunto de medidas de gestão poderia contribuir para uma agricultura mais
eficiente quanto ao uso de recursos como a utilização de culturas perenes em conjunto
com culturas anuais, a diversificação do sistema de culturas, a utilização de fertilizantes
naturais, a redução de nitrogénio químico, a utilização de um sistema de pasto flexível e a
adoção do conceito de agricultura de precisão. Todas estas medidas ajudariam a
minimizar as emissões associadas ao setor primário.
Apesar da poluição inerente da produção pecuária o sistema de produção misto e
extensivo contribuem de forma positiva para a produção mundial de proteínas assim
como para a manutenção dos ecossistemas. A utilização de pastagens perenes permite
um sequestro de carbono constantemente, pois o solo não é arado anualmente. A longo
prazo a emissão de CO2 equivalente de um sistema extensivo será menor, mesmo que a
dieta animal seja menos eficiente. Outros fatores ligados aos serviços de ecossistema
podem influenciar um resultado ainda mais positivo (Teague, 2015). Os setores pecuários
mencionados anteriormente consumem um total de 37 milhões de toneladas de proteínas
de alimento passível de ser consumido pelo ser humano, contudo a produção de
produtos animais contribui com 41 milhões de toneladas de proteína de alto valor
biológico (Mottet et al., 2017). A produção pecuária neste exemplo contribui com um
excedente de 4 milhões de toneladas de proteína a nível mundial, cooperando assim no
sentido de uma maior segurança alimentar.
Ao nível da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental a nível mundial
um dos maiores problemas da pecuária é a produção de ração animal a partir de cereais
ou outras culturas aptas para o consumo humano. A crescente competição por terra de
cultivo torna esta prática insustentável no médio a longo prazo. A nível global 2,5 mil
milhões de hectares são usados para a produção de alimento animal. Esta área
corresponde a metade da área agrícola global (Mottet et al., 2017).
A alimentação de cereais por parte dos animais é defendida devido à sua maior
eficiência na criação animal. Como o tempo de criação é mais curto com este tipo de
base alimentar a fermentação entérica ao longo do período de vida do animal é menor,
diminuindo assim as emissões de gases com efeito de estufa. Apesar de uma dieta rica em
cereais ser mais eficiente ao nível das emissões existem outros fatores a considerar. O
ciclo de produção dos cereais não pode ser ignorado tendo de ser incluídas as emissões
associadas à aragem, irrigação, uso de fertilizantes químicos, colheita e posterior
22
transporte para a exploração intensiva de animais. Tendo em conta todos estes fatores, o
sistema de produção intensivo é menos eficiente do ponto de vista energético do que
sistemas de produção mais extensivos, mais dependentes dos recursos locais.
A produção agrícola requer uma quantidade substancial de recursos naturais: solo
fértil, água, fertilizantes e energia (Elferink et al., 2007a). Todos os inputs da produção
agrícola têm riscos de impacte ambiental como a emissão de gases com efeito de estufa,
desflorestação e contaminação química do ambiente (Smil, 2014). A rivalidade de
consumo por cereais entre a população humana e animal está a aumentar devido em
parte ao aumento da população humana no mundo e a uma alteração do consumo em
países emergentes por um estilo alimentar mais rico em produtos animais. Estas
conclusões derivam do facto de 32% da produção mundial de cereais e 68% do uso de
cereais nos países desenvolvidos serem usados para a alimentação animal (Elferink et al.,
2007a). No total, 600 milhões de quilos de cereais são utilizados para a alimentação
animal (CAST, 1999). Toda esta produção cerealífera necessita de terras férteis contudo a
percentagem de terras aptas para a agricultura é diminuta. As terras de pasto por sua vez
cobrem cerca de um terço da superfície terrestre livre de gelo, o dobro da área dedicada à
terra arável (Janzen, 2011).
O setor pecuário contudo utiliza apenas uma área de pastos que ronda 2 mil
milhões de hectares. Dentro desta categoria de uso do território é importante distinguir
entre áreas aptas para o cultivo de culturas e as áreas apenas aptas para a prática da
pastorícia. A nível global, os pastos não aptos a receberem culturas representam a maior
porção com cerca de 1,3 mil milhões de hectares enquanto que os pastos aptos para
recebem culturas representam 684 milhões de hectares. A conversão destes pastos para
terra cultivada representaria um aumento de 14% para a área agrícola a nível global. A
terceira grande ocupação de terra destinada ao setor pecuário recai no cultivo de cereais
com uma área de 210,5 milhões de hectares, cerca de 31% da produção total mundial de
cereais (Mottet et al., 2017).
A discussão sobre as áreas dedicadas para a alimentação animal é importante pois é
expetável um aumento do consumo de carne no futuro. As projeções apontam para um
aumento de 21% entre 2010 e 2025. Nos países em desenvolvimento este aumento será
ainda maior, aproximadamente 32-33% (Mottet et al., 2017).
Este aumento da produção irá refletir-se no aumento da área dedicada à produção
de alimento animal, acelerando assim os processos de desflorestação de forma a
aumentar a área de cultivo. Uma possível solução para aumentar a produção sem afetar a
23
quantidade de área agrícola necessária para alimento animal seria uma maior eficiência do
índice de conversão de energia por parte dos animais. A seleção genética, melhores
cuidados veterinários e melhoria do alimento conseguiu já nas últimas décadas melhorar
a eficiência da produção de suínos e de gado de bico (Wu et al., 2014; Wilkinson, 2011).
Para sistemas de produção extensivos a melhoria do pasto e formas de gestão mais
eficientes, especialmente em ambientes degradados, podem influenciar um aumento da
produção sem a ocupação de mais território.
A produção extensiva baseada em práticas sustentáveis como o uso de alimento
animal não comestível para o ser humano, aproveitamento das terras marginais ou
improdutíveis para a agricultura, não consegue atingir o nível de produção necessário
para a procura atual. Mesmo reorientando a produção pecuária para animais mais
eficientes a converter matéria vegetal em proteína animal como os suínos e o gado de
bico a produção conseguiria apenas atingir cerca de 70% da procura de carne em 2010,
cerca de 290 milhões de toneladas (Smil, 2014). O teto máximo de produção de proteína
de fonte animal de uma forma considerada sustentável parece rondar os 300 milhões de
toneladas. Com as projeções para 2030 e 2050 a apontar para um aumento no consumo
de carne, é expetável afirmar que a pecuária em regime extensivo não conseguira atender
à procura.
Algumas mudanças culturais nos hábitos alimentares que não incluam carne, não
terão um impacto significativo a nível mundial no futuro aumento do consumo de carne,
contudo a média global não atingirá os níveis ocidentais e é expetável que nos países
desenvolvidos o consumo médio venha a declinar (Smil, 2014).
O consumo acima da média nos países desenvolvidos tem sido possível através de
uma redução do preço da carne. A redução do preço da carne deve-se por um lado ao
contínuo processo de inovação das práticas pecuárias e veterinárias que aumentam a
produtividade em sistemas intensivos, contudo isto é possível devido à grande
disponibilidade de energia fóssil a preços acessíveis. Produzir mais 30% a 50% de carne é
possível através das práticas atuais contudo não é racional nem sustentável (Smil, 2014).
O caminho que reúne uma maior consciência ambiental, justiça social e benefícios para a
saúde humana a uma escala global seria uma convergência gradual no consumo de carne
a nível mundial, eliminando gradualmente as produções intensivas mais agressivas para o
ambiente (Smil, 2014).
24
2.2- PRODUÇÃO PECUÁRIA: IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM DE RESÍDUOS
ALIMENTARES
Uma outra forma de aumentar a produção ou de diminuir o input de cereais na
alimentação animal seria uma melhor alocação dos resíduos da produção agrícola e da
indústria alimentar.
Estima-se que os resíduos agrícolas (trigo, arroz, cevada, milho e cana de açúcar)
só no continente asiático representem 750 milhões de kg de matéria seca. Em teoria esta
quantidade de alimento é suficiente para fornecer cerca de um terço da produção de
proteína animal a nível mundial (Devendra and Sevilla, 2002). Para além dos resíduos da
produção agrícola também a indústria de processamento alimentar fornece resíduos
importantes para alimentação animal 4 . Todos stes tipos de resíduos são ideais para
animais omnívoros como o porco e a galinha, devido à sua maior performance de
conversão de energia (tabela 1).
No estudo realizado por Elferink et al., (2007a) foi possível determinar que alocar
os resíduos da indústria alimentar para a produção de suínos era capaz de produzir cerca
de 81 gramas de carne de porco per capita por dia. Este valor foi obtido através da
equação 1.
(1) ∑
O símbolo , representa a quantidade (em Kg) de carne de porco per capita por dia;
a quantidade de resíduos (Kg per capita/dia); , valor nutritivo do resíduo alimentar
(EW/kg); e o fator de conversão de energia dos animais (EW/kg). O fator EW 5
representa o valor energético da alimentação animal com um fator de conversão de 4.0
EW para 1kg de carne de porco (Elferink et al., 2007a).
O estudo em questão prova que a gestão de resíduos da indústria alimentar através
do uso de animais gera impactes positivos para o ambiente ao reduzir a necessidade de
energia e terra arável para a produção pecuária.
O consumo médio de carne de porco na Holanda ronda as 150 gramas por dia, se
produzido através de uma alimentação animal derivada de cereais é necessário 2,7 MJ de
energia e por volta de 1,8 m2 de terra arável. Os requerimentos de energia e terra são
4 Um bom exemplo de reutilização de resíduos é dado pela indústria alimentar holandesa, que fornece
cerca de 70% da alimentação animal nesse país (Elferink et al., 2007a). Os resíduos industriais mais representativos são a polpa de beterraba, utilizada na produção de açúcar, resíduos da indústria de óleos vegetais e cascas de batata provenientes da indústria alimentar. 5 “Energie Waarde”
25
sempre mais elevados numa alimentação animal baseada em cereais do que uma baseada
em resíduos, onde apenas um 1,1 MJ de energia e 0.7 m2 de terra arável são necessários
para obter 150g de carne de porco (Elferink et al., 2007a). Estes resultados são no
entanto subestimados pois apenas foram contabilizados os resíduos da indústria
alimentar deixando de fora outros setores de relevo como o setor agrícola, setor da
distribuição, setor da preparação de comida (restaurantes, domicílios e cantinas públicas).
Apesar de alguns resíduos alimentares não serem permitidos para a alimentação animal,
como os resíduos domésticos e da restauração, a quantidade de resíduos existentes deixa
a crer que a quantidade de carne a ser produzida por este tipo de alimentação animal
possa ser maior do que os dados apresentados.
A proibição de usar alguns resíduos para a alimentação animal foi adoptada na
Europa após casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). A causa principal para
a ocorrência desta doença foi a incorrecta utilização de resíduos de matadouro para a
alimentação de gado bovino (Elferink et al., 2007b). Os resíduos de matadouro ainda são
permitidos em vários países fora da União Europeia e não oferecem risco de saúde
quando utilizados na alimentação de animais omnívoros com sistemas digestivos capazes
de processar proteína animal, como no caso dos suínos e gado de bico. A proibição
destes resíduos implicou tornar um recurso importante na alimentação animal num
problema de gestão de resíduos onde os matadouros pagam pela sua eliminação através
da incineração (Elferink et al., 2007a). A falta de autorização por parte da União
Europeia dita que muitos destes resíduos animais sejam utilizados para outros fins, como
a produção de energia e fertilizantes onde o seu conteúdo nutricional não consegue ser
maximizado. A acrescer ao problema muitos países recém-chegados à União Europeia
ainda não dispõem das instalações de processamento destes resíduos, sendo a sua
eliminação efetuada através do depósito em aterros sanitários. Estas deposições são
negativas para o meio ambiente devido às emissões de metano inerentes da
decomposição dos resíduos animais (Jędrejek et al., 2016). Tendo em conta que em
sistemas intensivos de criação de suínos e de gado de bico a maior parte das despesas da
exploração recai sobre a alimentação animal a reutilização de resíduos da indústria
alimentar aumentaria a eficiência economica deste tipo de explorações. Aquela imposição
limita a reutilização de resíduos do sistema e potencia uma maior importação de soja e
farinha de peixe, aumentando as emissões de CO2e relacionadas com o transporte destes
recursos.
26
Outro fator que poderia aumentar a disponibilidade de proteína animal seria o uso
de outros animais que tenham um potencial de conversão energética mais eficiente para
que o output de proteínas seja superior. Um exemplo desta situação seria o uso de gado
bovino ou de bico, que produzem produtos secundários (leite, ovos) com uma maior
eficiência de conversão de energia. Nesta situação a quantidade de proteína animal per
capita aumentaria.
Generalizando, a produção animal apresenta impacte ambiental em forma de taco
de hóquei (Gráfico 5). Na seção A-B a produção animal enquadra-se como uma atividade
auxiliar da agricultura que capitaliza na gestão e transformação de resíduos em produtos
de alto valor nutricional, nomeadamente proteína e gorduras animais. Neste
enquadramento encaixa-se a produção extensiva de animais onde se utilizam recursos
que não são comestíveis para o Homem. O ponto B determina o ponto de transição
onde se encontra o limite de resíduos e alimentos não comestíveis para o Homem. Este
ponto teórico pode variar conforme a adoção de diferentes estilos alimentares,
crescimento ou diminuição da população e disponibilidade de resíduos (Elferink et al.,
2007a).
Gráfico 5- Impacte Ambiental da Produção Pecuária (Fonte: Elferink et al., 2007a)
Para além do ponto B torna-se necessária a utilização de cereais para a alimentação
animal, para acompanhar os níveis de consumo. A utilização de cereais para alimentação
animal é rival com o consumo humano levando a um aumento do impacte ambiental da
produção pecuária. O ponto C determina o nível de consumo de produtos animais.
Uma diminuição do consumo de produtos animais leva a uma rápida diminuição
do seu impacte ambiental, apenas se a indústria adoptar menos cereais na alimentação
animal quando a procura diminui (Elferink et al., 2007a).
27
Do ponto de vista económico o nível ideal de consumo de produtos animais
deveria ser um pouco acima do ponto B. Isto deve-se a uma questão de maior segurança
alimentar e de estabilidade do preço dos cereais. A elasticidade preço da procura para a
alimentação animal é maior do que para o caso da alimentação humana podendo assim
servir como um mecanismo regulador ao absorver os excedentes da produção agrícola ou
em caso de escassez fornecer mais alimento para a população humana (Mottet et al.,
2017).
Mesmo com o aumento da eficiência, quer de gestão quer da conversão de energia
por parte dos animais, é expetável que no futuro um problema de segurança alimentar
possa surgir se o consumo de produtos animais não for reduzido (Smil, 2014). Podemos
assim afirmar que uma alimentação rica em produtos animais tem maiores impactes
ambientais do que uma alimentação baseada em produtos vegetais devido a uma maior
necessidade de recursos naturais. Contudo é importante referir que nem todos os
sistemas de produção animal são rivais com a produção de cereais. Os resíduos da
atividade agrícola, como a palha dos cereais e diferentes pastos, não são comestíveis
porque o sistema digestivo humano não consegue processar alimentos com um alto teor
de fibra. Os animais ruminantes possuem, pelo contrário, a capacidade de digerir e extrair
energia deste tipo de alimentos, devido ao seu sistema digestivo especializado. Portanto a
produção pecuária tem um papel importante para a utilização e reutilização dos recursos
impróprios para o consumo humano. Os sistemas extensivos e mistos de produção
conseguem um desempenho mais eficiente no que diz respeito ao ciclo de nutrientes.
Num futuro onde os custos de energia poderão limitar o uso de fertilizantes químicos, o
sistema extensivo e misto de produção oferece uma solução no uso e reutilização de
nutrientes.
2.3- SERVIÇOS DE ECOSSISTEMA DAS TERRAS DE PASTO
A exploração pecuária é uma fonte de poluição e representa uma parte significativa
das emissões antropogénicas de gases de efeito de estufa, contudo é importante perceber
que os animais, quando inseridos no seu habitat, providenciam serviços de ecossistema
que ajudam a regular diversas regiões do planeta.
O conceito de serviços de ecossistema captura a noção de capital natural como um
fundo de investimento que gera juros por unidade de tempo à semelhança do sistema
financeiro (Lant et al 2008). Estes juros ou serviços gerados pelo capital natural são
essenciais à regulação do planeta como o ciclo da água, ar e biomassa.
28
Os serviços de ecossistema são subdivididos em quatros categorias distintas:
(Costanza et al., 2017)
-Os serviços de provisionamento referem-se à combinação de diferentes capitais
(natural, humano, social) para a produção de bens primários como os alimentos e a
madeira.
-Os serviços de regulação reportam-se a todos os processos de estabilização do
ecossistema como a regulação da qualidade do ar, água, polonização, controlo de pragas e
controlo climático.
-Os serviços culturais dos ecossistemas derivam o seu valor através da atividade
humana originada em motivações estéticas, de identidade cultural, recreação e
investigação científica.
-Os serviços de suporte são descritos com a base dos ecossistemas realizando
processo como a formação do solo, ciclo de nutrientes e provisão de habitat.
Os bens e serviços do ecossistema representam os benefícios que a população
usufrui, direta ou indiretamente de determinado ecossistema, existindo uma relação
proporcional positiva entre a quantidade de capital natural e o bem-estar humano
(Costanza et al., 2014; Lant et al., 2008; Costanza et al., 1997). Quando o capital natural
se aproxima de zero também a qualidade de vida do Homem decai. Esta relação ocorre
pois não é possível substituir completamente o capital natural por capital manufaturado e
capital humano (Costanza et al., 1997). Contudo estes serviços ecológicos não são
propriamente contabilizados como um fator produtivo da economia constituindo assim
uma externalidade positiva do capital natural. Uma externalidade ambiental também pode
ter consequências negativas, como no caso da poluição. Neste caso uma externalidade
pode ser entendida como um custo encapotado. Segundo Epstein et al. (2011) um
externalidade ocorre quando a atividade de um agente afeta o bem-estar de um outro
agente que se encontra fora de qualquer tipo de mecanismo de mercado. A negligência da
sua importância por parte dos decisores políticos compromete a sustentabilidade do
próprio habitat humano (Schmidt et al., 2016; De Groot et al., 2012; Epstein et al., 2011,
Costanza et al.,1997).
As curvas da oferta para os serviços de ecossistema são difíceis de determinar.
Além disso os serviços de ecossistema não são influenciados a curto-prazo pelas decisões
do sistema económico e não conseguem regular a sua oferta sendo que assim a sua curva
da oferta é vertical, o que representa a sua ineslasticidade
29
Costanza et al. (1997) estimaram que, a valores constantes de 1994, a nível global
todos os serviços de ecossistema forneciam cerca de 33 biliões de dólares, numa média
de 5 mil dólares per capita a nível global. Este valor era cerca de 1,8 vezes maior do que o
PIB mundial. A maioria do valor dos serviços pertence a valores fora do sistema de
mercado como regulação de gases (1.3 biliões), regulação de distúrbios (1.8 biliões) e
ciclo de nutrientes do solo (17 biliões).
A maior parte dos serviços de ecossistema é providenciado pelos ecossistemas
marinhos que contribuem com 63% do valor total dos serviços de ecossistema a nível
global. Os ecossistemas terrestres contribuem com 38% sendo os maiores contribuidores
as florestas e os Pântanos (Costanza et al.,1997). O valor dos serviços de ecossistema em
1997 foi obtido através de uma estimativa dos serviços de ecossistema existentes num
hectare de determinado bioma. Posteriormente este valor é multiplicado pela área total
de cada bioma. O conjunto dos valores de cada bioma dá o valor final dos serviços de
ecossistema a nível global(Costanza et al.,1997).
A estimação sobre o valor dos serviços de ecossistema é apenas um valor mínimo.
É expetável que o valor real seja maior devido ao fato de ainda não se conhecer todos os
serviços de ecossistema existentes e as suas interligações. O maior stress sobre o capital
natural e nos serviços de ecossistema levará no futuro a uma maior valorização destes
serviços. Num caso hipotético extremo, se valores significativos forem ultrapassados o
seu valor pode rapidamente chegar a perto de infinito (Costanza et al.,1997).
Estimou-se que entre os anos de 1997 e 2011 os serviços de ecossistema sofreram
uma desvalorização de cerca de 20 biliões de dólares ao ano devido a alterações do uso
da terra, especialmente devido a processos de desflorestação (Kubiszeweski et al., 2017;
Costanza et al., 2014). Apesar desta desvalorização dos serviços de ecossistema, as
estimativas do seu valor total em 2011 são de 125 biliões de dólares ao ano
(Kubiszeweski et al., 2017; Costanza et al., 2014). Este valor é 2,7 vezes maior que a
estimativa de 1994 (Costanza et al., 2014). Uma outra estimativa do valor total dos
serviços de ecossistema foi realizada por De Groot et al. (2012), através do uso da base
de dados Ecosystem Services Value Datase (ESVD).
Tabela 2- Valor dos serviços de ecossistema por bioma a USD constantes de 2007. (Fonte: Própria baseada nos valores dos autores mencionados)
Autores Costanza et al., 1997 Kubiszewski et al., 2017
Bioma $ /ha/ano em 1994 $ /ha/ano em 2011 Área (ha x 106) em 2011
30
A recolha de dados envolveu cerca de 320 publicações com mais de 1350 dados
relativos a 300 localizações. Os valores expressos desta estimativa dos serviços de
ecossistema são realizados a valores constantes de 2007 de dólares internacionais com
consideração pela paridade de poder de compra entre diferentes países, numa lógica de
dólares por hectare por ano (De Groot et al., 2012).
Os valores expressos na tabela 2 refletem a valorização dos serviços de
ecossistema. É possível observar que a área agrícola assim como a área de campo, que
inclui ecossistemas selvagens e ecossistemas geridos pelo Homem, sofreram uma
valoração importante em termos de serviços de ecossistema de 1994 a 2011. Olhando
para os ecossistemas terrestres, em particular as áreas agrícolas, a sua valoração por
hectare está, em 2011, acima da média dos serviços de ecossistemas terrestres. Já os
ecossistemas de campo são os mais expressivos em termos de área e o seu valor por
hectare muito próximo da média dos ecossistemas terrestres. O valor destes serviços de
ecossistema é interconectado com a forma de exploração do território refletindo a sua
qualidade ambiental.
A valoração dos serviços de ecossistema não é algo fácil de realizar pois existem
inúmeros fatores que influenciam a variação do seu valor. Os constrangimentos para uma
valoração mais precisa sobre os serviços de ecossistema prendem-se com cinco fatores:
1)A grande variedade de localizações com diferentes componentes ecológicas e
socioeconómicas; 2)a grande variedade de métodos de avaliação usados; 3) a existência
de uma grande variedade de sub-serviços;4) a dificuldade em isolar os serviços prestados
pelo ecossistema e 5) o facto da recolha de dados refletir um ponto específico no tempo
e no espaço6 (Costanza et al., 2014 ; De Groot et al., 2012).
Comparando a estimativa de Costanza et al., (1997) com a estimativa de De Groot
et al. (2012), o valor médio por hectare é superior para a estimativa mais recente cerca de
6 De Groot et al. (2012) apresentam como um exemplo da variação de valor dos serviços prestados pelos recifes de corais que dizem ser os mais importantes a nível económico devido ao seu valor turístico, com uma média de 96300 dólares em 2007 por hectare ao ano. Contudo a sua variação de preço é enorme indo de 0,1 dólares por hectare ao ano, para recifes remotos pouco visitados, até valores superiores a 1 milhão de dólares por hectare ao ano para zonas de alta densidade turística
Marinho 796 1368 36302
Terrestre 1109 4901 14822
Campo 321 4166 4414
Área Agrícola 126 5567 1664
31
oito vezes (Costanza et al., 2014). A variação das estimativas resume-se a três razões
principais: um aumento da estimativa do valor da unidade por hectare, mudanças das
funcionalidades dos ecossistemas e a mudança do valor por hectare devido a alterações
no capital humano e no capital social (Costanza et al., 2014).
É importante referir que a expressão monetária dos serviços de ecossistema não
implica a sua privatização e comodificação para o mercado. A grande maioria destes
serviços são bens públicos puros, não rivais e não exclusivos. A quantificação do valor
destes serviços tem como finalidade informar a sua importância para que a tomada de
decisão por parte dos agentes políticos e económicos seja a mais consciente possível
(Costanza et al., 2017; Schmidt et al., 2016; Costanza et al., 2014; De Groot et al., 2012).
Apesar dos diferentes métodos de avaliação serem mais ou menos precisos, não existe
uma maneira correta de fazer essa avaliação. Existe contudo uma maneira incorrecta que
é não proceder à avaliação do valor dos serviços de ecossistema (Costanza et al., 2017).
A pouca consciência para a importância dos serviços de ecossistema leva alguns
autores a estabelecerem um paralelismo entre a clássica teoria da “tragédia dos comuns”
de Garret Hardin e a subprovisão dos serviços de ecossistema. De forma a perceber mais
a problemática é primeiro necessário esclarecer as diferenças e similitudes entre a teoria
de Hardin e os serviços de ecossistema (Lant et al., 2008).
A teoria de Hardin de 1968 defende que os processos de degradação ambiental
ocorrem em território baldios, ou seja, de livre acesso através do processo de rivalidade
do consumo onde os agentes têm o incentivo de explorar ou adicionar mais elementos
ao ecossistema exacerbando a sua capacidade de carga. Este processo leva
inevitavelmente à degradação ambiental. A busca por proveito individual resulta numa
situação negativa para todos os agentes tornando-se assim num dilema social ( Hardin,
1968).
Neste enquadramento as soluções propostas por Hardin para a regulação da
exploração dos recursos naturais são duas: a privatização ou a gestão pública central (
Hardin, 1968). Mais recentemente esta teoria tem sido criticada pela sua simplicidade
pois não reflete a complexidade do comportamento humano nem dos mecanismos
culturais e institucionais que o Homem dispõe para gerir os recursos naturais. A
administração dos recursos de base comum pode ser efetuada a nível local pelas
populações e ser tão bem gerida ou melhor do que as outras soluções. É importante
realçar a diferença entre a propriedade comum, com regras estabelecidas pelas
comunidades, e propriedade de livre acesso, sem regras estabelecidas, como descrito por
32
Hardin. Aliás experiências empíricas comprovam que tanto a administração pública e
privada dos recursos de base comum não é a solução mais eficiente para as populações
locais levando a situações de pobreza e má gestão dos recursos (Holling and Meffe, 1996;
Ostrom et al., 1999).
A maioria dos serviços de ecossistema são bens públicos, com exceção dos
serviços de provisão. A existência dos serviços de ecossistema depende de um fundo de
capital natural que se encontra sobre diversos tipos de propriedade desde a propriedade
privada, pública, comum ou mesmo de livre-acesso (Lant et al 2008). A realidade
apresenta-se muito mais complexa que a teoria de Hardin, contudo não a invalida por
completo.
Os bens privados são caracterizados pela sua rivalidade de consumo, ou seja,
quando consumidos não podem ser utilizados novamente. Outra característica inerente a
este tipo de bens é a sua exclusão pois é possível negar o acesso ao bem se não forem
atingidas determinadas condições. No caso das mercadorias, pode ser visto como fator
de exclusão o seu valor monetário (Lant et al., 2008).
Os bens públicos pelo contrário são caracterizados pela sua não rivalidade e não
exclusão. O acesso a um bem público não pode ser restringido nem o consumo do
mesmo impede outros de usufruírem do bem. Uma consequência da natureza dos bens
públicos é a sua subprovisão, visto que o produtor não é capaz de cobrar o valor total
que é produzido (Lant et al., 2008).
Os serviços de ecossistema providenciam uma externalidade positiva, contudo não
é possível cobrar um valor pelo serviço prestado pois tem uma característica de não
exclusão. A não exclusão contribui para o fenómeno de free riding pois os agentes
beneficiam do serviço sem ter de investir na sua disponibilidade a longo prazo. Numa
situação em que o capital natural se encontra sob propriedade privada, o proprietário não
recebe compensação pelo serviço prestado, retirando assim o incentivo para a
continuação da atividade (Lant et al., 2008). Neste caso em particular o proprietário pode
optar por desenvolver a sua propriedade para fornecer bens privados passíveis de
comercialização, ocorrendo esta situação mesmo que o valor para a sociedade exceda o
ganho económico para o proprietário. A tragédia dos serviços de ecossistema ocorre
quando os bens são não rivais e a propriedade é privada (tabela 3).
Um exemplo da tragédia dos serviços de ecossistema segundo Bjorklund et al.
(1999), ocorreu na Suécia durante a década de 50 e 90 do século XX: a intensificação da
agricultura através do aumento da produção de bens de consumo, ou seja bens rivais,
33
diminuiu os serviços de ecossistema providos pela paisagem agrícola. A longo prazo a
diminuição dos serviços de regulação deteriora a condição ambiental levando a uma
diminuição dos serviços de provisionamento, ou seja, os bens consumíveis
Gestão de capital natural sobre vários regimes de propriedade e regimes de uso
Tipo de propriedade
Uso rival e exclusão Uso congestionável e não exclusão
Uso não rival e não exclusão
Propriedade Privada
Bens produzidos para mercados
competitivos Subprovisão Subprovisão
Propriedade Pública (Propriedade Governamental, autoridade regulatória)
Sobre-exploração dos recursos (ex: subsídio à exploração mineira, produção de madeira em floresta nacional)
Bens públicos comuns (ex.
parques, estradas, sistema de esgoto)
Bens públicos puros
Propriedade Comum (regras sobre o uso dos recursos)
Níveis de consumo potencialmente
sustentável
Níveis de consumo potencialmente
sustentável
Níveis de consumo potencialmente
sustentável
Acesso livre (res nullus)
Insustentável: sobre-exploração
Insustentável: sobre-exploração
Uso sustentável
Tabela 3 - Serviços de Ecossistema sobre diferentes esquemas de propriedade (Fonte: Lant et al., 2008)
.
Neste enquadramento podemos comparar esta situação à “tragédia dos comuns”,
que reflete a sobre-exploração dos recursos num regime de propriedade de acesso livre à
“tragédia dos serviços de ecossistema”. Quando o bem é rival ou congestionável e onde
os agentes têm um incentivo para explorar o território ocorre uma sobre-exploração do
ambiente para além da sua capacidade de carga (tabela 3). Na “tragédia dos serviços de
ecossistema” ocorre o oposto às externalidades positivas que são subprovidenciadas
devido ao comportamento individual em busca do aumento de rendimento que
compromete o colectivo (Lant et al 2008).
34
A diferença entre os serviços de ecossistema e outros bens públicos como a
educação, abastecimento de água, saneamento e segurança é a existência de leis e
instituições públicas que garantem o aprovisionamento destes últimos. Apesar de
imperfeitos, os mecanismos de regulação pública, são essenciais para a garantia dos bens
públicos. No caso dos serviços de ecossistema esse trabalho ainda se encontra na sua fase
inicial ou ainda não existe. Soluções para este dilema social e ambiental não são fáceis de
implementar e implicam uma revisão do corpo legislativo, incentivos económicos e uma
reorganização do próprio ordenamento do território (Lant et al., 2008).
As atividades florestais, agrícolas e pecuárias são atividades que influenciam
diretamente no capital natural e consequentemente nos seus serviços de ecossistema.
Será possível produzir bens alimentares e ao mesmo tempo proteger a natureza, ao
assegurar os serviços de ecossistema? A agricultura orgânica e os sistemas extensivos de
criação de gado são a forma que mais se aproxima de uma produção que tenta valorizar o
capital natural, pois o rendimento deste tipo de sistemas depende da boa condição
ambiental do ecossistema. Neste tipo de enquadramento a produção pecuária extensiva
ou mista, como forma de apoio à agricultura, desempenha serviços importantes tanto
para o Homem como para a natureza.
Os animais para além de fornecerem alimentos também prestam serviços de
ecossistema importantes. A reciclagem de produtos não comestíveis e posteriormente a
produção de estrume são, por exemplo, essenciais para a produção agrícola. Na Europa
estima-se que 38% da contribuição de nitrogénio no solo provém ainda de estrume
animal (Mottet et al., 2017). Os animais domésticos desempenham um papel importante
em muitos países em desenvolvimento. Nestes países os animais são considerados como
uma forma de riqueza, “um banco em quatro patas”, úteis para tempos de escassez,
trocas comercias e estabelecimento de relações sociais. Os animais providenciam ainda
transporte, força para a aragem do solo, combustível e bens não comestíveis como lã e
couro (Janzen, 2011 pág. 788). A tração animal ainda continua a desempenhar um papel
importante em muitos países. No setor agrícola, no norte de África, 81% da lavra dos
campos ainda continua a ser desempenhada por tração animal (Mottet et al., 2017). A
tração animal é ainda essencial em zonas rurais em vários países em desenvolvimento
como um meio de transporte de bens e pessoas.
O gado é mais do que uma forma de produzir leite, carne e dinheiro ou produtos
para consumo. Ele é uma parte integral de ecossistemas inteiros e parte de toda a
comunidade biótica na qual todos nos inserimos (Janzen, 2011).
35
Como mencionado anteriormente, o tipo de propriedade influencia a provisão de
serviços de ecossistema, contudo o comportamento humano e os seus objetivos de
determinado território também podem condicionar os serviços de ecossistema
providenciados. A razão da posse de uma propriedade rural reflete-se na terra em si
assim como na sua gestão (Sorice et al., 2014). Atualmente nos países desenvolvidos as
razões para o uso da terra estão a mudar de uma preferência de produção agrícola para
outras mais relacionadas com amenidades naturais e culturais (Sorice et al., 2014). Estas
mudanças terão necessariamente um impacte na composição dos ecossistemas que se irá
refletir no tipo de serviços prestados pelos ecossistemas7 (Collins et al., 2011).
Tradicionalmente os agricultores e produtores pecuários baseiam a sua atividade na
produção de bens de consumo tendendo a ser mais dependentes dos recursos locais.
Esta atividade confere aos agricultores um conhecimento mais íntimo das condições
locais e quais as melhores técnicas de gestão da terra. Por outro lado, proprietários
orientados para outros fins como lazer, conservação da natureza e atividades culturais
poderão ter uma maior consciência ambiental e maior disponibilidade financeira para
contribuir na gestão da terra, contudo falta-lhes a experiência de gestão do território
(Sorice et al., 2014).
A questão de maior relevância que se levanta é saber qual o impacto que o uso da
propriedade rural tem na oferta de serviços de ecossistema. Perceber se esta mudança no
uso da terra é positiva ou negativa é complexo. Por um lado, a falta de adoção das
melhores práticas de gestão do território por parte dos proprietários orientados para
amenidades culturais e naturais, como a gestão do pasto ou das áreas ripícolas, tornam o
território menos produtivo e resiliente, por outro a menor pressão produtiva
contrabalança o resultado. Os maiores problemas residem na fragmentação da
propriedade e na proliferação de habitações pela paisagem que cria problemas associados
a zonas de maior densidade populacional aumentando assim o consumo de recursos
(Sorice et al., 2014).
3.- GESTÃO ADAPTATIVA DE SISTEMAS PECUÁRIOS EXTENSIVOS
3.1.- FORMAS DE PASTORÍCIA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
7 No caso em particular do estado do Texas esta mudança de comportamento foi notória entre 1997 e 2007, o número de propriedades agrícolas com menos de 40 hectares aumentou 22%. No mesmo período de tempo o valor da terra aumentou 140% e mais de 849 mil hectares de terras agrícolas foram convertidos em florestas ou outros usos (Sorice et al., 2014; Lund et al., 2017).
36
Os ecossistemas de pasto são o resultado de um longo processo evolutivo entre as
comunidades vegetais, animais e a ação do fogo (Teague et al., 2016; Teague et al., 2009;
Frank et al., 1998). O início deste processo teve as suas raízes no período geológico do
Mesozóico tardio. Hoje em dia as áreas de pasto são ecossistemas seminaturais que
ocupam grandes porções de território na África, Asia, Austrália e nas Américas. Estes
ecossistemas providenciam um conjunto de serviços importantes para a regulação do
planeta. Dentro desses serviços podemos enumerar a manutenção de solos estáveis e
produtivos, de água potável, a preservação de comunidades de plantas e de animais que
são a base da economia das comunidades locais (Teague et al., 2009). A Austrália é uma
região do globo excepcional devido à ausência de ungulados nativos. A coevolução de
animais e plantas não se registou até um período mais recente. Comparando a Austrália a
outras regiões do mundo como as savanas africanas ou as pradarias norte americanas
verificamos solos mais áridos e pobres em matéria orgânica. A quando da colonização
europeia da Austrália a introdução de ungulados, oligoquetas e espécies vegetais
fixadoras de nitrogénio, leguminosas em geral, iniciou o processo de formação de solo
rico em carbono em regiões onde a quantidade de precipitação o permitiu (Teague et al.,
2016). Os animais desempenham um papel de regulação da vegetação perpetuando um
equilíbrio e interdependência dentro do ecossistema.
Os grandes ecossistemas de pasto anteriores à domesticação da paisagem eram
caracterizados por um grande número de herbívoros que reagiram constantemente a um
conjunto de mudanças na disponibilidade de vegetação. Nestes ecossistemas os
herbívoros desenvolveram padrões de migração em massa em busca de alimento. Este
comportamento surgiu devido a diversas razões, desde a topografia, variabilidade
climática e a ação predatória de outros animais (Teague et al., 2011). O pasto dos animais
era concentrado, contudo existiam longos períodos de recuperação que permitia a
regeneração da vegetação. A domesticação dos animais veio alterar os seus padrões de
pasto passando a ser o Homem a decidir onde e por quanto tempo dura o pasto em
determinado território.
A gestão do gado é essencial para a manutenção da qualidade ambiental. Uma
gestão mal cuidada pode facilmente esgotar os recursos de um território contudo uma
gestão criteriosa é capaz de manter e melhorar os recursos disponíveis. De forma a
compreendermos a importância de uma gestão adaptativa para uma exploração em
37
regime extensivo, primeiro temos de perceber como evoluem os processos que estão na
origem da desertificação, de forma a evitá-la.
O conceito de desertificação é definido como a redução do potencial de
produtividade da terra afetando as atividades económicas envolventes e a biodiversidade
(Reynolds, 2001). O processo de desertificação é complexo, sendo a sua causa uma
interação de vários componentes climáticos, ecológicos e socioeconómicos. O processo
de desertificação é pautado pela existência de fenómenos de degradação do solo, através
da erosão por ação do vento e de água. O aumento da salinidade do solo, a redução da
capacidade de retenção de humidade e o decrescimento da área de vegetação e
produtividade dos solos são fenómenos associados ao processo de desertificação (Costa
et al., 2012). O clima é um dos fatores mais importantes no processo de desertificação
pelos seus impactes na hidrologia dos locais, influenciando o tipo e quantidade de
vegetação presente. Em última análise, o clima dita o próprio uso da terra efetuado pelo
Homem. As atividades humanas insustentáveis exacerbam o problema em ecossistemas
fragilizados como a agricultura intensiva repetitiva, a excessiva recolha de material
lenhoso, desflorestação, excesso de pasto e técnicas de irrigação desadequadas (Reynolds,
2001).
Especula-se que oscilações climáticas no passado tenham dado origem a novas
formas de pastorícia como a transumância e o nomadismo que são formas de adaptação
a um clima mais instável. A migração temporária para um determinado local permitia a
regeneração vegetativa evitando assim a exaustão de recursos.
As sociedades tradicionais que vivem da pastorícia têm um conjunto de saber
empírico essencial de como gerir o seu rebanho em relação aos pastos, a saúde dos
animais, a predação, as condições climatéricas e as determinantes culturais em que estão
inseridos. As regiões áridas e semiáridas onde predomina a pecuária extensiva são
dominadas por espécies herbáceas e arbustivas. As únicas ferramentas de gestão destas
grandes áreas são o fogo e os animais. Nestes ambientes o fator determinante é a falta de
água que varia bastante tanto espacialmente como temporalmente (Weber and Horst,
2011).
Uma forma de repor o potencial de produtividade da terra é efetuar um período de
descanso. Este período pode ter denominações diferentes para designar diversos níveis
temporais: pousio, recuperação e abandono. Estas formas de evitar a desertificação vão
depender das condições bioclimáticas das regiões (Briske et al., 2008).
38
O pousio da terra é essencial para garantir a sua produtividade, todavia períodos
demasiado curtos ou longos podem acelerar o processo de desertificação (Weber and
Horst, 2011). Para períodos demasiado longos de descanso a acumulação de matéria
orgânica morta acima do solo impede o desenvolvimento de uma nova camada de pasto
enquanto períodos demasiado curtos de descanso não garantem a regeneração vegetativa.
De forma a garantir um período de recuperação do solo, muitas das sociedades
tradicionais são nómadas ou seminómadas com rotas de pasto de forma a maximizar a
produção animal. Os animais domesticados, em especial o gado ovino, caprino e bovino
constituem a base de muitas culturas pastorícias. A sua cultura e costumes dependem
intrinsecamente dos animais, tendo prosperado por séculos (Teague et al., 2016; Herrero
and Thorton, 2013). Podemos considerar que estas sociedades evoluíram para um estilo
de vida muito além da economia de subsistência tendo padrões complexos de gestão do
território, dos animais e de interações sociais (Weber and Horst, 2011).
Portanto podemos afirmar que as técnicas de gestão destas sociedades, como o
controlo do movimento dos animais, mesmo que rudimentares, são de alguma forma
adaptativas às condicionantes ambientais, permitindo um maior desempenho ambiental e
económico do território.
Segundo Khazanov (1994) muitas das sociedades nómadas estão a substituir o seu
sistema tradicional de pastoreio por um mais sedentário. A exposição mais prolongada
do território à pressão animal contribui para a sua desertificação. Daí verifica-se uma
maior degradação dos ecossistemas associados à produção de gado em regime extensivo
em regiões áridas e semiáridas do mundo durante todo o século XX.
A sedentarização de muitas culturas e a pressão económica para o aumento da
produção de animais ditou o início de um longo processo de degradação em várias
regiões do mundo que culminou na sua desertificação. O pasto excessivo foi uma das
principais causas deste processo de degradação do ambiente devido ao aumento do
número de animais por hectare e à falta de planos de gestão do pasto. Esta situação
afetou negativamente a regeneração vegetativa levando a um processo acelerado de
erosão. O solo exposto e pobre em matéria orgânica perde a sua capacidade hidrológica
aumentando a aridez e impossibilitando o crescimento da flora, perpetuando assim o
ciclo de degradação ambiental (Teague et al., 2009).
Um estudo interessante que demonstra como a intensidade de pasto pode ter um
impacte determinante para o processo de desertificação mesmo em climas temperados
foi realizado no Canadá, mais propriamente na região oeste, caracterizada por grandes
39
planícies de pasto onde predomina a espécie festuca campestres. Este ecossistema é gerido
através do pastoreio extensivo de gado bovino. O local foi escolhido para estudar a
relação entre a intensidade de pasto com a capacidade de carga do ambiente a longo
prazo. A recolha de dados começou em 1949 por parte da instituição Canadiana,
Agriculture and Agri-Food Canada.
O local de estudo localiza-se mais concretamente no sudeste de Alberta, 80 km a
noroeste de Lethbridge. A topografia do local varia entre os 1280 e 1420 metros de
altitude relativos ao nível do mar. O Clima é classificado como sub-húmido com uma
média anual de precipitação de 550 mm (Dormaar and Willms, 1998). A área de estudo
foi dividida em várias cercas de forma a influenciar a intensidade de pasto. Cada cerca
contava com 13 vacas adultas e a sua descendência, contudo o tamanho de cada cerca
diferenciava de 65, 32 e 16 ha correspondendo a uma pressão de pasto baixa, alta e muito
alta. O período de pasto em cada cerca tinha a duração de meados de Maio até meados
de Novembro (Dormaar and Willms, 1998).
Em 1992 recolhas de amostras do solo comprovaram que as cercas com altas
intensidades de pasto modificaram a composição do solo. A coloração do solo em
particular na cerca com uma intensidade de pasto muito alta apresentou modificações na
coloração da terra de preto para castanho, modificação do ph de 5,7 para 6,2, perdas de
matéria orgânica no solo, redução da quantidade de fósforo e diminuição da humidade
do solo. Estes indicadores demonstram que a pressão alta de pasto teve impactos
significativos no solo transformando-o num solo típico de um microclima mais árido
(Dormaar and Willms, 1998). A quantidade de solo exposto sem alguma vegetação
registou um aumento de 0 % para 15% no tratamento de alta intensidade de pasto.
Extrapolando esta situação para climas mais áridos e sazonais é expetável que o efeito da
alta intensidade de pasto por períodos prolongados tenha efeitos ainda mais negativos do
que os apresentados nas pradarias canadianas.
A solução encontrada no início do século XX para reverter o processo de
desertificação foi a remoção por completo dos animais a médio e longo prazo destes
ecossistemas, de forma a providenciar um tempo de recuperação. Esta solução, contudo,
teve consequências indesejáveis, como a perda de biodiversidade e a capacidade de
circulação de nutrientes no solo. Os animais são essenciais para a manutenção da
qualidade ambiental em ecossistemas de pasto e a sua ausência prolongada prejudica a
capacidade regenerativa do território. É amplamente reconhecido que para manter a
funcionalidade ecológica e o fluxo de serviços de ecossistema os proprietários de
40
explorações extensivas devem evitar qualquer tipo de degradação ecológica (Wessels et
al., 2007; Holechek et al., 2006; Walker, 1995; Milchunas and Lauenroth, 1993;
Oesterheld et al., 1992).
Na maioria dos ecossistemas de pasto, a proliferação de plantas lenhosas causa
problemas no crescimento das plantas herbáceas reduzindo a produção primária e
secundária. Muitos gestores optam pelo fogo como uma forma barata de controlar o seu
crescimento. O uso repetitivo do fogo causa também problemas graves a nível ambiental
desde a degradação do solo, emissões de gases com efeito de estufa e o perigo de
descontrolo, pondo em risco bens e pessoas. O uso correto de uma elevada pressão de
pasto por um curto espaço de tempo poderia controlar na maior parte o problema do
crescimento da vegetação indesejada. O stock ideal de animais ao longo do ano influencia
diretamente a quantidade de vegetação, integridade do solo, os lucros da exploração e a
qualidade do habitat para a vida selvagem (Díaz-Solís et al., 2016; Teague et al., 2009;
Walker, 1995; White and McGinty, 1992).
Fica evidente que o problema em ecossistemas de pasto não são os animais em si
mas as técnicas de gestão que o Homem aplica no território. A sedentarização levou à
perda de práticas nómadas ou seminómadas que apesar de rudimentares serviam como
controlo da pressão de pasto. Sendo estas práticas cada vez menos usadas outras terão de
as substituir de forma a controlar a pressão de pasto, o seu grau de controlo e precisão
sobre as variáveis ambientais também terão de ser maiores, pois a deslocação para outras
áreas não é opção. No próximo subcapítulo iremos analisar novas formas de gestão que
permitem a regeneração e valorização do capital natural dos ecossistemas de pasto.
3.2.- GESTÃO ADAPTATIVA
A gestão adaptativa é um conceito abrangente que designa um conjunto de práticas
que têm em conta vários indicadores ambientais de forma a minimizar riscos e potenciar
a condição ambiental dos ecossistemas. A gestão adaptativa é regida por 5 princípios
fundamentais: 1) Providenciar um pasto de qualidade e quantidade adequada à dieta dos
animais; 2) gerir o pasto de forma a fornecer uma dieta variada, diminuindo assim o
impacto nas plantas mais desejadas; 3) limitar o pasto excessivo da parte aérea das
plantas, de forma a facilitar a retenção e infiltração de água no solo e assim facilitar a
regeneração das plantas; 4) permitir um período de recuperação adequado, que permita a
manutenção do vigor das plantas e 5) planear um programa de pasto de forma a
controlar a pressão animal sobre o ambiente no tempo e no espaço. Estes princípios
41
estão interligados a ações operativas no terreno sendo necessário a ação humana para as
regular como providenciar uma recuperação vegetativa adequada, modificar a
distribuição animal, regular a intensidade do pasto e modificar a nutrição e o
comportamento seletivo de alimentação por parte dos animais. É a partir deste quadro de
referência que a atividade pecuária em regime extensivo se deve desenvolver.
Quando o ecossistema em questão é um bem público onde existem várias partes
interessadas é necessário identificar três pontos essenciais de forma a implementar a
gestão adaptativa. Em primeiro lugar é necessário identificar quais os objetivos
partilhados para a gestão do território. O passo seguinte passa por confirmar se a
estratégia de gestão adaptativa tem bases científicas e é aplicável no terreno. Por último, é
necessário desenhar, implementar e monitorizar coletivamente as práticas de gestão
(Briske et al., 2011). A gestão adaptativa colaborativa ou individual não é uma solução
universal para todos os problemas ecológicos, contudo é um mecanismo essencial para
uma maior comunicação entre as partes envolvidas de forma a desenvolverem uma
estratégia de gestão do ecossistema (Ostrom et al., 2007).
Em todo o mundo existem grupos e culturas inteiras que dependem da pastorícia.
A sua sustentabilidade a longo prazo depende da manutenção da boa condição dos
ecossistemas que habitam de modo a manter a sua capacidade produtiva. A produção
extensiva de gado é atrativa para os grandes produtores, pois a relação entre os custos de
mão-de-obra e a área de terra gerida é baixa. De forma a ser viável economicamente, a
produção extensiva necessita de manter ou melhorar as funções biofísicas e os processos
necessários de forma a manter o ecossistema saudável e resiliente (Teague, 2015).
Existe consenso científico que um ecossistema saudável é mais produtivo, estável,
resiliente e oferece mais serviços de ecossistema do que outro que se encontre
desequilibrado. (Teague et al., 2013, 2011; Wessels et al.,, 2007; Milchunas and
Lauenroth, 1993). Os animais para além de serem a base de rendimento das explorações
extensivas desempenham um papel importante no ecossistema. Os serviços de
ecossistema que estes prestam, afetam tanto a paisagem como o próprio bem-estar
humano. Talvez o serviço de ecossistema mais conhecido desempenhado pela pastorícia
dos animais é a gestão da vegetação. A gestão da vegetação através do uso de animais é
uma forma eficaz e barata de controlar o seu crescimento. No caso de países com
elevado risco de incêndio florestal, está provado que o pasto de animais nas faixas de
gestão de material combustível, uma técnica comum de combater a extensão de fogos
42
florestais, é uma forma barata e eficaz de limpeza, ajudando assim a prevenir a
propagação de fogos florestais.
A pesquisa realizada por Pardini et al., (2007) comprova que animais são uma
forma eficaz de gerir o crescimento da vegetação. Este estudo decorreu em Nugola na
Toscânia, região central de Itália. A temperatura média anual é de 14,7 C e precipitação
anual média de 958mm e o período estival de Junho a Setembro é propenso ao risco de
incêndio (Pardini et al., 2007). Em 2000 foi criada uma faixa de combustível que se
estende por volta de 2400 m2 numa floresta de carvalhos. Os dados recolhidos do local
de estudo reportam-se ao período de Janeiro de 2001 até Dezembro de 2004. A faixa foi
subdividida em locais de 20x30 metros uns com pasto de animais e locais sem pasto de
animais. O período de pasto dos animais (cavalos) ocorreu por 5 dias de cada mês de
Abril até Agosto de forma a reduzir a matéria orgânica nos períodos críticos do verão.
Foi possível observar uma distinção na quantidade de biomassa entre os locais com
pasto e sem pasto registando-se uma diferença de 32% (tabela 4). A quantidade de
biomassa combustível foi significativamente menor nos locais de pasto assim como a
altura das plantas comprovando a eficiência do uso de animais no controlo da vegetação.
Ao longo dos anos espécies nativas invadiram a faixa de combustíveis aumentando a
média de altura das plantas na faixa de combustível.
Na redução do risco de incêndio os resultados deste estudo foram positivos. O
pasto permitiu reduzir a biomassa da faixa de combustíveis nos períodos críticos de
verão. Durante os quatro anos da experiência não foram encontradas diferenças na
biodiversidade de plantas entre os locais de pasto e de não pasto, contudo é expetável
que no decurso dos anos espécies arbustivas possam invadir os locais onde a pressão
animal é menor (Pardini et al., 2007).
Média de Biomassa Combustível (t /ha/ano) 2001-2004
Primavera Verão Outono Inverno
Cercas com pasto 0,26 0,23 1,45 (sem pasto) 0,99 (sem pasto)
Cercas sem pasto 2,01 0,67 1,63 1,23
Tabela 4 - Média de biomassa combustível (Fonte: Pardini et al., 2007)
O baixo nível de matéria combustível após pasto é explicado não apenas pela
desfoliação das plantas mas também pelo incremento de produção de novas folhas que
43
se mantêm verdes por vários meses (Pardini et al., 2007). A intervenção dos animais
nesta experiência pode ser classificada como “pastoreio táctico” devido ao baixo stock e
densidade de animais. Por consequência os animais não conseguem desempenhar um
controlo total do crescimento das plantas nem da invasão de arbustos na faixa de
combustíveis. Para isso acontecer o pasto deveria ser mais intensivo e frequente.
Para além do controlo da vegetação em territórios extensos ou de difícil acesso, a
produção de gado em regime extensivo pode ainda assumir um valor cultural importante
sendo mesmo identitário para algumas sociedades.
De forma a garantir a sustentabilidade da atividade pecuária extensiva a
manutenção de um ecossistema equilibrado é uma prioridade. Para atingir este objetivo é
necessário ter uma visão a longo prazo e definir metas. A gestão adequada dos recursos
tem necessariamente de ser adaptativa para lidar com as dinâmicas ecológicas, sociais e
económicas em constante mutação (Teague et al., 2013; Holling and Meffe, 1996 ).
Uma prática de gestão que tenha uma visão a curto prazo poderá não ter em
atenção as pequenas alterações ambientais que a longo prazo poderão afetar a
sustentabilidade da exploração pecuária (Teague et al., 2013; Knight et al., 1990).
Portanto num regime de produção extensivo, o respeito pelas condições ambientais do
ecossistema em que está inserido é fundamental para o seu sucesso.
A gestão adaptativa necessita de uma base de conhecimentos alargados,
especialmente de campos como a biologia, economia e gestão de forma a responder
adequadamente às condicionantes ambientais, económicas e socias. A prática pecuária
em regime extensivo é desafiante pois os ecossistemas de pastos são heterogéneos
quanto à sua produtividade, quer a nível espacial como temporal, dependendo de um
regime de chuvas variável.
Um bom gestor de uma exploração deve melhorar a condição ambiental da sua
propriedade, pois é dela que dependem os lucros da sua atividade. O melhor uso do solo,
água e das plantas potencia os serviços de ecossistema da exploração, trazendo assim
melhorias para a sociedade como um todo (Teague et al., 2013; Holling and Meffe, 1996).
Para atingir este objetivo é necessário juntar princípios científicos e empíricos, adquiridos
através de anos de experiência no setor, para chegar a uma forma de gestão adaptativa
que potencia a melhoria das condições ambientais através do uso dos animais8.
8 Experiências de longo prazo e grande escala no norte do Texas demonstram que quando as explorações extensivas adotam medidas de gestão adaptativa ocorre uma melhoria das condições biofísicas do ecossistema, traduzida num aumento da produção herbácea de 8,5% e um aumento da cobertura vegetal de 27% (Briske et al., 2011; Teague et al., 2010). Estes resultados comprovam que o estabelecimento de
44
Outro aspeto importante da gestão adaptativa é a adequação das práticas e das
espécies animais ou vegetais ao território em questão. A diversidade de espécies num
pasto promove a estabilidade da comunidade vegetal e permite uma maior quantidade de
forragem ao longo do ano. A complexidade da flora potencia a utilização mais eficiente
de recurso porque diferentes plantas necessitam de espaço, luz, água e minerais
diferenciadamente (Schellenberg et al., 2012).
Schellenberg et al., (2012) realizou uma experiência em Saskatchewan no Canadá
durante 2001 e 2004, de forma a determinar que mistura de pasto traria melhores
resultados. Duas misturas de pasto foram predeterminadas. Uma mistura de 7 espécies de
gramíneas nativas adaptadas a climas frios foi selecionada para ser semeada em 8 campos
de 2,1 ha. Em outros 8 campos de tamanho similar foi semeada uma mistura de 14
espécies de gramíneas nativas com espécies adaptadas ao clima frio e espécies adaptadas
a climas mais quentes.
A mistura de 7 espécies produziu mais forragem do que a mistura de 14 espécies
ao longo dos quatro anos (Schellenberg et al., 2012). As espécies adaptadas a climas mais
quentes apenas representavam 7% da cobertura vegetal total da área designada à mistura
das 14 espécies (7 de adaptadas a climas frios e 7 adaptadas a climas quentes). O tempo
de crescimento para estas plantas é muito limitado, restringindo-se aos meses de Agosto
e Setembro. Por essa altura a comunidade de plantas adaptadas a um clima mais frio já se
encontra em pleno desenvolvimento, limitando o crescimento das plantas adaptadas a
um clima mais quente.
Este estudo demonstra a importância da diversidade de espécies assim como a sua
adequação ao regime climático em que se insere. Ao comparar a utilização de espécies
nativas com espécies comerciais de sementes fica demonstrado que as espécies nativas
possuem um maior potencial sustentabilidade a longo prazo (Schellenberg et al., 2012).
A gestão adaptativa é uma ferramenta para a gestão do território todavia não
consegue garantir sucesso, isto porque a gestão de ecossistemas implica invariavelmente
escolhas. A inclusão de animais num ecossistema pode melhorar o conteúdo orgânico do
solo e melhorar a sua qualidade em geral, contudo levará a um aumento das emissões de
gases com efeito de estufa. Os animais poderão aumentar o valor estético e económico
contudo poderá acontecer um decréscimo na disponibilidade de água. As escolhas
efetuadas irão depender dos valores que cada um dá a determinada variável, alguns desses
objetivos e a gestão do território determinam o sistema de gestão de pasto a implementar e não o contrário.
45
valores não são necessariamente quantitativos. Estas escolhas não são inteiramente
científicas mas antes uma escolha social baseada nos valores da sociedade e idealmente
instruída pelo conhecimento científico (Janzen, 2011).
3.3.- HOLISTIC MANAGEMENT E CRÍTICAS
As pesquisas sobre o processo de desertificação no início do século XX indicavam
que este problema era provocado pelo excesso de animais no ecossistema. A solução
sugerida era a exclusão de animais dos ecossistemas de pasto, de forma a providenciar
uma recuperação da vegetação através de um descanso da terra prolongado. Na década
de 60 do século XX, Allan Savory um biólogo zimbabuano com funções de gestão do
território africano pretendia compreender quais os fatores que contribuíam para a
degradação e desertificação das áreas naturais em África (Nordborg and Röös, 2016). As
suas conclusões contrariavam a tese que o pasto de animais era a principal causa da
desertificação. Era antes de opinião que este processo ocorria pela falta de animais no
ecossistema em questão, a savana africana.
A teoria de Savory recupera a ideia de André Voisin um bioquímico francês, que
em 1959 referiu a importância do movimento dos animais pois a degradação do pasto
ocorre não pelo número de animais mas sim pelo tempo a que a vegetação é exposta ao
pasto. O mecanismo de tempo de pasto como um fator importante é assim citado pela
primeira vez por André Voisin. Allan Savory desenvolve a ideia de Holistic Management um
método de gestão adaptativa específico que dá enfase à elaboração de um plano de
decisão e dum sistema de pasto rotacional de múltiplas cercas flexível e adaptável ao
meio que tenta imitar os padrões naturais dos animais ruminantes (Nordborg and Röös,
2016, Fairlie, 2010). Para além de oferecer uma compreensão dos processos ecológicos
em ação nos ecossistemas de pasto o trabalho de Savory foca a sua atenção no gestor
destes territórios de forma a providenciar um conjunto de ferramentas como o
estabelecimento de objetivos, plano de decisão e um plano financeiro. Deste modo,
capacita e melhora as qualidades de gestão dos indivíduos, famílias e sociedades que
dependem destes ecossistemas (Briske et al., 2011).
O método de sistema de pasto rotacional por múltiplas cercas proposto por Savory
foi adoptado em várias regiões do mundo desde a América do Norte, América do Sul,
África e Ásia, especialmente em ecossistemas degradados com um historial de processos
de desertificação. Os resultados empíricos demonstram o seu sucesso, tendo o número
46
de praticantes deste método aumentado. Porém, a nível académico várias experiências de
campo tiveram resultados ambíguos.
O argumento principal da imperatividade da presença de animais de pasto em
ambientes desta natureza é a sua interdependência evolutiva (Nordborg and Röös, 2016).
A desertificação pode ocorrer pela falta de animais em ambientes áridos e semiáridos
porque a vegetação sem a ação dos herbívoros apenas se decompõe através da oxidação,
tornando assim mais difícil a regeneração vegetativa no ano posterior, devido à existência
de uma camada de vegetação morta.
Segundo a teoria de Savory, na natureza os animais deslocam-se pelo território em
grandes manadas de forma a se protegerem de predadores. A sua presença num
determinado tempo é de curta duração mas de grande número de indivíduos por hectare.
Esta alta densidade e curto espaço de tempo é o ponto essencial que deve ser replicado
pelo gestor, de modo a tirar o máximo partido deste sistema de gestão (Nordborg and
Röös, 2016).
A alta densidade de animais vai permitir que o pasto seja quebrado e compactado
permitindo que a matéria orgânica aérea se decomponha biologicamente no solo. Permite
ainda uma fertilização do solo e a quebra do solo ressequido o que permitirá uma maior
aeração do solo e uma maior penetração de água na época húmida.
O curto espaço de tempo que os animais permanecem em determinado local é um
ponto essencial para evitar uma desfoliação excessiva, que exponha o solo a fatores que o
possam deteriorar como o vento e escorrências excessivas em caso de precipitação
(Teague et al., 2013).
A nível do ecossistema, os animais desempenham um papel importante na
distribuição de nutrientes e minerais no solo. A maior disponibilidade de nutrientes irá
fomentar a atividade microbiana e rizomática das plantas, aumentando desta maneira a
nutrição e a atividade fotossintética das plantas que contribuirá para um aumento da sua
produção (Teague et al., 2013; Briske et al., 2008; Hamilton and Frank, 2001).
Para além de ser um sistema de controlo do pasto, Holistic Management tenta dar aos
gestores de explorações extensivas um método de decisão onde aspetos ambientais,
sociais e económicos são tidos em conta. Um fator a destacar é o modo de vida das
populações que dependem do pastoreio onde existem dinâmicas diferentes de exploração
dos recursos quanto ao seu grau de mobilidade. A título de exemplo, existem várias
formas de adaptação ao meio passando por comunidades sedentárias, transumantes e
47
nómadas. Cada uma terá uma forma de exploração do território e de gestão do gado de
acordo com a sua situação específica.
A crítica mais preponderante à teoria de Savory foi realizada no trabalho de Briske
et al. (2008). O grupo de investigadores reviu cerca de 28 estudos e chegaram à conclusão
que o sistema de pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional por múltiplas cercas, não
apresentam diferenças estatísticas relevantes9. Os estudos no artigo em questão sobre os
sistemas de pasto reportam normalmente três variáveis quantitativas: a produção vegetal,
a produção animal e a biomassa área das culturas. É reportado que 89% das experiências
de campo (17 de 19) não encontraram diferenças em termos de produção vegetal e de
biomassa aérea entre o sistema de pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional com
um nível de densidade do stock semelhantes. Ainda de referir que 57% das experiências
(16 de 28) não verificaram diferenças na produção animal por hectare entre o sistema de
pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional (Briske et al., 2008).
Os resultados destas experiências levam a crer que não existe um sistema
claramente superior ao outro em termos de produção vegetal e animal. A necessidade de
um sistema adaptativo que consiga gerir as dinâmicas climáticas, densidade animal e
crescimento das plantas parece ter um maior peso na conservação das áreas de pasto
(Briske et al., 2008).
Teague et al. (2013) critica as conclusões apontadas por Briske et al. (2008)
argumentando que uma investigação científica para ter significado para um gestor de uma
exploração extensiva deve ter em conta várias variáveis de estudo como o solo, a
vegetação, os animais e o fator humano ao longo de um período de tempo considerável.
Uma limitação apontada na maioria dos estudos que analisam os sistemas de pasto é a
escala. As explorações extensivas operam normalmente a uma grande escala, portanto
experiências em pequenas áreas e por curto espaço de tempo não representam processos
ecológicos da paisagem (Teague et al., 2013).
O princípio do debate sobre a eficácia dos diferentes sistemas de pasto pode ser
traçado até a década de 50 do século XX com o simpósio sobre o pasto rotacional na
América do Norte encabeçado por Arthur Sampson (Briske et al., 2011). Estes primeiros
pioneiros das ciências agrónomas baseavam os seus trabalhos num paradigma
Clementsiano, ou seja, a sucessão natural das plantas é conduzida invariavelmente para o
seu clímax após um período de descanso. Os primeiros trabalhos sobre o tema do
sistema de pasto rotacional tinham assim uma base de teoria científica sem
9 Anexos Gráfico I
48
experimentação de campo sistemática. O debate sobre os sistemas de pasto adensou-se
com a abordagem inovadora de Allan Savory e o seu método de gestão Holístico. Ao
contrário do paradigma Clementsiano em que o foco era o descanso da terra, na teoria de
Savory o papel principal é dado as manadas de herbívoros na recuperação e manutenção
dos ecossistemas.
De forma a determinar qual o melhor sistema de pasto a adoptar é preciso
considerar a grande complexidade da tarefa onde inúmeras variáveis tornam o problema
difícil de resolver. A variabilidade sazonal das condições climáticas intra e inter anual
assim como o histórico da propriedade em termos de uso da terra e a sua composição
passando pelas características genéticas dos animais influenciam os resultados obtidos
(Briske et al., 2008). A determinação da capacidade de carga do ambiente é um ponto
fundamental. Saber qual a quantidade de forragem produzida e quantos animais esta
pode alimentar é essencial contudo este é apenas um fator a ter em consideração. A
distribuição animal, movimentação, período de recuperação após pasto e diminuição do
pasto seletivo são outros fatores que influenciam a condição ecológica de uma
exploração (Teague et al., 2011; Provenza, 2008).
Tudo isto é necessário, porque a vegetação reage de maneira diferenciada
conforme a intensidade do pasto e o stock animal. O pasto intensivo crónico é prejudicial
para crescimento das plantas e em casos mais severos coloca em causa a sua
sobrevivência. Uma redução significativa da parte aérea da planta A composição de
espécies vegetais pode ser manipulada através da intensidade, frequência e a sazonalidade
do pasto.
A qualidade do pasto pode variar devido a vários fatores como a idade dos tecidos
vegetais, tipo de tecido, espécie da planta e a presença de agentes agressivos para a
digestão animal como lignina, sílica, celulose. Plantas com um maior rácio entre
substâncias solúveis para componentes estruturais são as preferidas dos animais. A
preferência animal por certas plantas mais palatáveis é manifestada no pasto sucessivo de
certas zonas em detrimento de outras. Esta situação acontece mesmo que a quantidade
de biomassa seja significativamente inferior nas zonas preferidas, todavia em termos
energéticos o animal é mais eficiente na sua digestão (Briske et al., 2008). O
comportamento seletivo por parte dos animais irá influenciar a degradação das espécies
vegetais mais nutritivas e deixar determinadas áreas do território com o solo exposto,
enquanto outras zonas terão pouca ou nenhuma utilização (Coughenour, 1991). Os
padrões de alimentação dos animais são ainda influenciados por diversos fatores como a
49
variação topográfica, distribuição de água, disponibilidade de sais minerais e as interações
sociais entre os herbívoros (Teague et al., 2013; Coughenour,1991).
Desta forma um fator a ter em conta quando se desenha um plano de pastoreio é o
comportamento animal. Os animais são seletivos no seu consumo de plantas preferindo
consumir plantas com maior valor nutricional (Bailey and Provenza 2008; Müller et al.,
2007). A heterogeneidade vegetativa é algo normal num ecossistema de pasto, sendo esta
diversidade determinada por diferenças na escala da exploração, na topografia, solo e a
presença de corpos de água. O problema da pastagem seletiva por parte dos animais é
pouco significativa para explorações pecuárias de pequenas dimensões, contudo para
explorações de grande escala a maior heterogeneidade da comunidade vegetativa ditará
um comportamento mais seletivo dos animais (WallisdeVries et al., 1999). O padrão de
pasto em grandes superfícies é fortemente influenciada pela topografia, acessibilidade de
água e as interações entre as comunidades animais (Coughenour, 1991). A degradação da
condição do ecossistema através do pasto seletivo reduz o seu output de serviços de
ecossistema afetando assim a sustentabilidade económica e social.
Um sistema contínuo de pasto não consegue controlar o comportamento seletivo
animal, portanto a longo prazo provoca um desequilíbrio das condições ambientais entre
determinadas zonas da exploração, reduzindo assim a capacidade de carga do ambiente
em explorações de grandes dimensões. Pelo contrário o uso do sistema rotativo de
múltiplas cercas permite a maximização da área de exploração. A subdivisão da
propriedade facilita a gestão do movimento dos animais podendo assim gerir o local e a
duração do pasto. Torna-se assim possível gerir áreas da exploração que anteriormente
eram pouco utilizadas. Esta técnica permite limitar o comportamento seletivo de
alimentação dos animais permitindo assim um pasto mais uniforme sobre o território.
A diminuição da pressão animal nas zonas preferidas e o aumento dessa pressão
em zonas pouco usadas irá permitir que os animais encontrem mais forragem levando
assim a um aumento da capacidade de carga do ambiente. As diferenças no
comportamento de alimentação nas diferentes técnicas de pasto podem ser caracterizadas
como “eat the best leave the rest” para pasto contínuo e “mix the best with the rest” para as
técnicas de múltiplas cercas (Teague et al., 2013 pág. 704; Shaw et al., 2006).
O grau de controlo das variáveis do ecossistema é proporcional ao número de
cercas. Quanto maior o seu número, mais facilmente será controlar a quantidade de
forragem produzida versus a necessidade de alimentação dos animais. A grande limitação
do uso do método de múltiplas cercas prende-se com a intensidade de gestão necessária.
50
O aumento do número de cercas e de rebanhos a circular dentro do sistema rapidamente
atinge graus de complexidade elevados (Teague et al., 2013). A falta de experiência ou
conhecimento de todos os processos envolvidos à escala da paisagem dificulta a
implementação deste tipo de sistema. A variabilidade dos ecossistemas é outro fator que
vai ditar a complexidade do sistema e quais as ferramentas a aplicar de forma a retirar o
maior proveito ambiental, económico e social da exploração.
Briske et al., (2011), críticos dos sistemas rotacionais de pasto admitem que a
maioria dos dados que utilizaram no seu trabalho de 2008 são deliberadamente
estandardizados, portanto sendo o pasto rotativo um sistema adaptativo e flexível, não se
consegue capturar todas as variáveis em jogo.
Tendo em conta as limitações das investigações científicas realizadas sobre os
diferentes sistemas de pasto e as experiências empíricas positivas de vários gestores de
explorações pecuárias extensivas em todo o mundo com sistemas rotacionais de pasto,
são necessários mais estudos de longo prazo realizados ao nível de escala da paisagem10
para determinar a sua eficiência (tabela 5). Uma das razões para o afastamento das
experiências científicas e das experiências empíricas positivas reportadas pelos gestores
prende-se com os objetivos a atingir. Enquanto que nas experiências científicas o
objetivo é segregar variáveis de forma a compreender a sua relação com o meio, nas
explorações comerciais que adoptam praticas de gestão em linha com o Holistic
Management o sistema de pasto tem como objetivo obter o melhor resultado possível a
nível ambiental e consequentemente económico (Teague, 2015; Teague et al., 2013). A
acrescentar ao problema, algumas mudanças de gestão só são refletidas passados vários
anos ou mesmo décadas como é o caso do conteúdo orgânico do solo. Um sistema de
pasto pensado em aumentar o conteúdo orgânico do seu solo só terá uma diferença
expressiva passado uma década. Este longo espaço de tempo torna difícil a
experimentação científica sendo que o tempo normal para experiências de campo ronda
os 2 a 3 anos (Teague, 2015).
De forma a capturar as formas de gestão praticadas em explorações pecuárias
comerciais, as experiências científicas devem implementar o sistema rotacional de cercas
múltiplas numa escala ao nível da paisagem, onde o movimento dos animais é planeado
de forma a gerar o melhor resultado em termos de produtividade vegetal e animal. A
gestão adaptativa dos recursos neste quadro potenciará os serviços de ecossistema, os
10 Escala da paisagem refere-se a uma grande extensão de território que engloba parte ou totalmente a paisagem onde se insere, a exploração pecuária neste caso em particular.
51
proveitos económicos e bem-estar social no longo prazo (Teague et al., 2013). Só neste
enquadramento uma comparação entre os vários sistemas de pasto com os mesmos
objetivos fará sentido, de forma a obter uma comparação significativa. Uma forma de
tentar minimizar a distância entre as experiências científicas e o conhecimento local seria
uma colaboração mais estreita na adoção de práticas de gestão que reflitam as práticas de
cada exploração (Teague, 2015, Janzen, 2011).
Uma experiência de campo que tenta aproximar a prática empírica das explorações
extensivas com o conhecimento académico foi realizada por Teague et al., (2011) no
Norte do Texas11. Nesta experiência foram comparados diferentes sistemas de gestão do
pasto: o sistema rotativo de múltiplas cercas de alta densidade, o sistema contínuo de alta
densidade de pasto, o sistema contínuo de baixa densidade de pasto e uma área de
exclusão (figura 2).
Figura 2- Sistemas de Pasto e relação com a possível densidade animal (Fonte: Elaboração Própria)
O estudo foi realizado em três locais diferentes para cada um dos sistemas de pasto
sendo que a prática de gestão do pasto já era aplicada 9 anos antes da realização da
11 A região do Norte do Texas é caracterizada por um clima continental com uma média 220 dias sem formação de geada. A média de temperatura anual é de 18,1ºC e a precipitação anual é de 820mm. A altitude varia entre os 300 e 330 metros. A paisagem corresponde a uma pradaria norte americana típica. A vegetação é composta maioritariamente por espécies herbáceas altas e alguma vegetação lenhosa junto dos cursos de água. O solo na região é demasiado fino para suportar a agricultura, sendo dominado por
vegetação nativa utilizada para a alimentação animal (Teague et al., 2011).
Sistemas de Pasto
Rotacional (existência
simultâneas de áreas de pasto e de
pousio)
Baixa Alta
Exclusão (não ocorre pasto)
apenas ocorre em períodos
excepcionais
Contínuo (não existe pousio)
Baixa
Densidade Animal (stock)
Alta
52
amostragem. Todas as explorações visadas tinham uma dimensão que variava entre os
1200 ha e os 4000 ha estando dentro dos parâmetros da região em questão (Teague et al.,
2011). De forma a manter o máximo de homogeneidade possível, as explorações em
cada região eram vizinhas, excepto para duas que distavam 15 km e 10 km das
propriedades mais próximas.
A gestão do pasto utilizando o sistema rotacional de múltiplas cercas foi adaptativa
utilizando uma intensidade de pasto baixa a moderada dependendo das condições
ecológicas12. Em cada exploração, duas amostras de solo foram retiradas, os sítios de
amostragem foram selecionados pelos especialistas do instituto Natural Resource
Conservation Service do Texas. Todas as amostras tiveram uma distância do ponto de água
mais próximo de 200-400 metros de forma a identificar a média da intensidade do pasto.
A distância do ponto de água é importante pois está comprovado que a intensidade de
pasto diminui acentuadamente para distâncias maiores que 1 km (Teague et al., 2011).
Nas amostras de solo foram ainda realizadas medições para determinar a densidade do
solo, resistência à penetração, estabilidade do agregado, condutividade hidráulica e
filtração de água de forma a determinar o impacto do sistema de pasto no solo.
Os resultados da amostragem demonstraram que a humidade no solo na primeira
camada até aos 300 mm de profundidade era menor nas explorações que utilizavam o
sistema de pasto contínuo de alta densidade. A perda de solo através de lixiviação foi
menor no sistema de pasto contínuo de baixa densidade enquanto que a estratégia com
maior perda de sedimentos foi o sistema de pasto contínuo de alta densidade.
O sistema rotacional de múltiplas cercas demonstrou juntamente com os terrenos
em exclusão de pasto ter mais matéria orgânica no solo na primeira camada de solo até
aos 300 mm de profundidade. Em profundidades mais pronunciadas não foram
encontradas diferenças entre as explorações. O total de biomassa bacterial do solo entre
os diferentes sistemas de pasto não registou diferenças contudo a biomassa fúngica
registou diferenças significativas tendo, no sistema rotacional de múltiplas cercas,
registado o maior valor. O menor valor de atividade fúngica foi registado no sistema de
pasto contínuo de alta densidade (Teague et al., 2011). A quantidade de solo exposto foi
semelhante entre as explorações que usam um dos sistemas de pasto, cerca de 0,05 %.
Todavia os valores mais elevados foram detetados nos sistemas de pasto contínuo. O
12
Normalmente o período de pasto numa determinada cerca demorava de 1 a 3 dias, seguindo-se um período de descanso de 30 a 50 dias. Ao longo do ano a mesma cerca era desfoliada 2 vezes durante a época de crescimento vegetativo antes da fase reprodutiva das plantas. No inverno o pasto foi mais intensivo de forma a remover através do pisotear da vegetação para que no início da primavera não existisse vegetação morta a bloquear a luz solar (Teague et al., 2011).
53
sistema de múltiplas cercas e de exclusão de pasto apresentaram os valores mais baixos
de solo exposto e não registaram grandes diferenças entre si.
Os diferentes sistemas de pasto produziram efeitos interessantes na composição da
vegetação. No sistema contínuo de alta densidade, a vegetação é maioritariamente
composta por espécies herbáceas curtas e arbustos perenes. A vegetação no sistema
contínuo de baixa densidade é, na sua maioria, composto por comunidades herbáceas
curtas e longas. No sistema rotacional existe uma predominância significativa de
herbáceas longas com baixa prevalência de arbustos perenes à semelhança do sistema de
exclusão do pasto (Teague et al., 2011). Os níveis totais de biomassa são mais elevados
no sistema rotacional de pasto e exclusão seguidos pelo sistema contínuo de baixa
densidade e por último o sistema contínuo de alta densidade. É provável que as
diferenças no solo demonstradas no sistema rotacional de pasto e na exclusão de pasto se
devam à presença de comunidades herbáceas altas, dado que o seu sistema radicular mais
profundo permite a esta planta aceder a mais nutriente e água, e por sua vez, a maior
quantidade de matéria orgânica favorece a retenção de água e o ciclo de nutrientes
(Teague et al., 2011).
É possível afirmar que o sistema rotacional de múltiplas cercas foi o sistema mais
produtivo do ponto de vista ambiental e económico. Este sistema conseguiu uma maior
produção de biomassa disponível para o consumo animal do que o sistema contínuo de
baixa densidade, mesmo utilizando uma maior densidade de animais por hectare, 27 para
14 respetivamente. Parte deste resultado positivo deve-se ao maior controlo do
comportamento seletivo dos animais sendo possível gerir melhor a desfoliação e o tempo
de descanso do pasto permitindo ainda reagir melhor a qualquer stress ambiental que
possa ocorrer. O pasto pouco frequente e a deposição de matéria orgânica providenciada
pelos animais é importante na formação de um solo mais rico. A presença de matéria
orgânica no solo e uma comunidade vegetal estabelecida promove a atividade microbiana
no solo melhorando o ciclo de nutrientes contribuindo assim para o desempenho
superior do sistema de pasto rotacional.
Um outro aspeto pouco abordado pelos estudos científicos é a abordagem dos
gestores e como as suas preocupações ou falta delas impactam o meio ambiente. Os
trabalhos de Arguello et al. (2010) e Fergunson et al. (2013) demonstram como uma
maior preocupação ambiental influencia o desempenho das explorações extensivas. Estes
54
estudos tiveram por base o mesmo local de estudo e produtores pecuários13. De forma a
conhecer as práticas de gestão dos produtores realizaram-se inquéritos a 25 produtores
de gado com o intuito de conhecer as diferenças entre as práticas convencionais das
práticas dos produtores que aplicam os métodos holísticos. O estudo contou com a
participação de 18 produtores extensivos convencionais e 7 produtores que aplicam as
práticas de Holistic Management. De forma a controlar a variação de propriedade apenas
foram tidas em conta propriedades com áreas semelhantes. Dos dois grupos foram
apenas selecionados 7 produtores holísticos e 7 produtores convencionais (Ferguson et
al., 2013; Arguello et al., 2010). As explorações holísticas tendem a ser maiores com
maior diversidade na composição do pasto e dedicam uma maior área para a cobertura
florestal. Em termos de gestão os proprietários holísticos empregam o uso de vedações
elétricas, tem maior número de subdivisões, aplicam maior pressão de pasto e tempo de
recuperação, usam menos pesticidas, o recurso ao fogo é menos frequente e a
mortalidade animal é menor (Ferguson et al., 2013). Nas propriedades holísticas o
número médio de divisões do terreno é 7 vezes superior aos proprietários com sistemas
convencionais.
Ambos os estudos recolheram amostragens do solo e do pasto tendo decorrido
durante o período de Maio a Agosto de 2007, os primeiros meses da estação das chuvas
de forma a obter o máximo de matéria orgânica possível. Realizaram-se ainda inquéritos
que decorram em 2007, reportando-se a dados relativos ao ano anterior sobre a
produtividade e as práticas de gestão das operações pecuárias (Ferguson et al., 2013;
Arguello et al., 2010).
No estudo de Arguello et al., (2010) a forma usada para determinar qual o sistema
de produção mais eficiente em termos de produtividade, sustentabilidade e impacte
ambiental foi através do índice: Emergy Sustainability Index (ESI). Este índice tem em conta
todos os tipos de energia utilizados num ecossistema, ou seja, desde a energia solar,
energia fóssil utilizadas nas propriedades, energia da matéria orgânica e dos próprios
13
O sistema extensivo de criação de gado na América Latina desenvolve-se normalmente em grandes monoculturas de espécies herbáceas, um modelo de produção pouco adaptativo para a região que experiencia secas sazonais. Estes pastos não nativos são frágeis exibindo uma baixa produtividade e são suscetíveis a degradação do solo por uma alta intensidade de pasto assim como uma baixa intensidade de pasto (Ferguson et al., 2013). O local de estudos decorreu na zona de Frailesca mais concretamente em Chiapas no sul do México. O clima é descrito como quente e húmido mas é pautado por uma época seca. A temperatura anual ronda os 24,9ºC e a precipitação anual é de 1168 mm ao ano. A área da propriedade dos selecionados varia entre os 6 hectares e os 170 hectares sendo que 63% a 100% da propriedade é composta por pasto (Arguello et al., 2010). Em todas as propriedades o gado pasta durante 6 horas e recebe alimento suplementar na época seca. A maioria das explorações típicas na região produzem tanto carne como leite e as explorações visadas no estudo demonstram esta tendência, contudo as diferenças de gestão entre os dois grupos variam.
55
processos naturais de transformação de energia (Arguello et al., 2010). A avaliação da
sustentabilidade através do conceito de emergia é realizada a partir da emergia solar (sej
joules equivalentes solares). Aplicando este conceito à gestão de uma exploração
pecuária, aquela que utilizar menos joules equivalentes solares de forma a produzir os
bens desejados é a mais eficiente e sustentável. Os produtos ou serviços são calculados
por unidades multiplicadoras de energia e pelos rácios de conversão, as transformidades.
Posteriormente este valor de emergia de determinado produto e serviço é multiplicado
pela sua massa e por unidades monetárias. Um exemplo hipotético seria, 100 mil sej são
necessários para produzir 2kg de carne que tem um valor no mercado de 5 unidades
monetárias.
Os resultados demonstram que os sistemas holísticos têm uma média de ESI duas
vezes maior que os produtores convencionais. A emergia relativa à produtividade
também se revelou superior para os produtores holísticos rondando os 30%. A menor
dependência de inputs externos nas propriedades holísticas pode explicar a sua maior
eficiência a nível da emergia. A mortalidade de bezerros em sistemas holísticos também
se revelou mais baixa do que os reportados pelos produtores convencionais, cerca de
66% (Arguello et al., 2010).
Já no trabalho de Ferguson et al., (2013) a forma utilizada para determinar quais as
explorações que detinham as práticas mais sustentáveis foi realizada através do indicador,
Organic Conversion Index (OCI). Este indicador combina 10 variáveis diferentes, passando
pela qualidade do alimento dos animais, gestão do pasto, controlo de infestantes,
controlo de pestes até à qualidade de vida dos animais. O indicador OCI é baseado em
standards internacionais de produção orgânica (UE, 1991; IFOAM, 2014).
Os resultados do indicador OCI relativo aos produtores holísticos ficaram nos
81,8% enquanto os produtores convencionais ficaram pelos 32,1% (Ferguson et al.,
2013). A análise efetuada demonstrou que os produtores holísticos tiveram resultados
mais elevados e menos variáveis. Um fator a destacar é a composição da comunidade
vegetal que entre os dois grupos difere consideravelmente. Enquanto os produtores
convencionais baseiam a sua produção em monoculturas, os produtores holísticos
praticam policultura com leguminosas. A nutrição animal nas explorações convencionais
é suplementada com a compra de rações. Já no caso dos produtores holísticos a
suplementação é efetuada com os recursos da própria exploração como resíduos
agrícolas e grãos de soja plantados nas explorações. A composição química do solo
também não apresentou diferenças, contudo a presença microbiana e de invertebrados,
56
mais especificamente oligoquetas, foi significativamente mais elevada no grupo dos
produtores holísticos.
Apesar do indicador OCI demonstrar que em termos de sustentabilidade a
produção holística supera a produção convencional, os resultados devem ser tomados
com precaução. Existem variáveis, como a maior área das explorações holísticas
relativamente as explorações convencionais, que distorcem o resultado. O nível de
instrução no grupo holístico é maior, em média 2,5 anos superior em termos de educação
formal. Outro fator a ter em consideração é a existência de contactos no grupo holístico
com o poder político (Ferguson et al., 2013). As condicionantes apresentadas podem
influenciar o resultado final mas dificilmente o alteram na sua essência.
Relativamente aos inquéritos as diferentes práticas de gestão tornaram-se
evidentes. Os produtores holísticos reportaram maiores preocupações com a
biodiversidade tanto de animais como de plantas nas suas propriedades. Aqueles
produtores praticantes de Holistic Management com área florestal demonstraram interesse
no uso produtivo da mesma. É importante ressalvar que estas observações são apenas as
reportadas pelos produtores de gado portanto estes resultados demonstram a sua
consciência para a importância da biodiversidade. Ambos os grupos utilizam espécies
animais adaptadas à região, não existindo diferenças significativas (Ferguson et al., 2013;
Arguello et al., 2010).
A conversão de um sistema convencional para um sistema holístico teria um
impacto positivo a nível ambiental sem prejudicar na maioria os níveis de produção de
gado e leite, contudo para propriedades de menor dimensão com menos de 15 hectares
sem o uso de agro-químicos e fertilizantes os níveis de produção declinariam (Arguello et
al., 2010).
Os sistemas de pasto podem ainda contribuir para a reabilitação de solos
previamente exauridos e degradados. Uma experiência realizada por Chaplot et al. (2016)
analisou o potencial de diferentes sistemas de pasto e de descanso na reabilitação do
solo 14 . A experiência utilizou uma parcela de terreno declivoso de 30x50 m2 com
propriedades do solo semelhantes mas com diversos níveis de conservação,
negativamente relacionados com a altitude da encosta.
14 A experiência teve lugar Potshini, uma localidade a 10 km de Bergville na província de KwaZulu-Natal na África do Sul O regime climático da região é caracterizado por verões quentes e húmidos e invernos frios e secos. A média anual de precipitação é de 684mm e a média de temperatura de 13ºC, classificando-se como um clima árido de savana. A topografia do local pode ser descrita como um planalto que varia de 1080 a 1455m com um gradiente de 8%. O tipo de solo predominante é arenoso e argiloso. A presença vegetal é caracterizada pelas espécies Hyparrhenia hirta e Sporobolus africanu.
57
O estudo contou com diferentes ocupações da terra como o pasto contínuo, pasto
rotacional, exclusão, exclusão com arragem, exclusão com fertilização e pasto contínuo
com queima anual (Figura 2). De referir que durante o período de 2011-2013, no qual
decorreu este estudo. a média de precipitação ficou 57% abaixo da média impactando
negativamente a produção de biomassa.
O sistema de pasto rotacional e a exclusão com fertilização provaram ter os
melhores resultados na reabilitação de solos degradados. A adição de nutrientes no solo é
o principal fator da reabilitação de ecossistemas como solos exauridos (Chaplot et al.,
2016). O sistema rotacional de pasto teve os melhores resultados em solos
intermediamente degradados enquanto que a exclusão com fertilização teve os melhores
desempenhos em solos muito degradados. Uma explicação para os fracos resultados de
sistema rotacional em solos muito degradados é o comportamento animal que tenta
evitar solos sem vegetação e muito compactados (Chaplot et al., 2016). O aumento da
produção de biomassa induz o aumento de sequestro de carbono por parte do solo
contribuindo para a mitigação ambiental a nível global.
O impacte dos diferentes sistemas de pasto na vida selvagem é ainda pouco
conhecido e muitos dos estudos realizados apenas incidem numa espécie concreta
providenciando assim uma imagem incompleta do ecossistema (Golding and Dreitz,
2017).
O estudo de Golding and Dreitz, (2017) compara as diferentes comunidades de
aves existentes em dois sistemas de pasto a fim de perceber a importância dos diferentes
sistemas de pasto para a vida selvagem foram selecionados dois esquemas de pasto
diferentes15.
O sistema rotativo nesta experiência envolveu um grande período de descanso
entre pastagem, 15-18 meses de descanso e apenas 2-3 meses de pasto. O outro esquema
de pasto é mais intensivo sendo o pasto utilizado anualmente de Maio a Novembro de
forma contínua (Golding and Dreitz, 2017). Foram selecionadas 8 espécies de aves
representantes das várias especializações em relação ao uso das espécies vegetais (gráfico
6). Fica comprovado neste estudo que a abundância de determinadas espécies de aves
varia conforme o sistema de pasto utilizado. A divergência pode ser explicada pela
relação próxima entre determinadas espécies de aves e de plantas. O pasto mais
15 O estudo realizou-se em Golden Valley e Musselshell em Montana, Estados Unidos da América. A área de estudo é árida com uma precipitação anual de 360 mm com uma temperatura média de -11ºC em Janeiro e 30ºC em Julho. A área selecionada é importante do ponto de vista ambiental pois é o habitat de uma espécie de arbusto nativo dos EUA, a Artemisia tridentata, determinante na nidificação das aves
58
frequente não permite o desenvolvimento de grandes áreas de arbusto, impactando a
diversidade faunística. Do ponto de vista da conservação da natureza de forma a obter
uma comunidade saudável de aves, a implementação de um sistema misto em mosaico
(áreas de pasto contínuo e áreas de pasto rotacional) parece oferecer os melhores
resultados em termos de biodiversidade de aves no ecossistema em questão (Golding and
Dreitz, 2017).
O uso criterioso de um sistema de pasto para além de permitir uma melhoria das
condições ambientais condiciona as emissões de dióxido de carbono por parte dos
animais.
Gráfico 6 - Densidade populacional de aves de acordo com o sistema de pasto (Fonte: Golding and Dreitz, 2017).
59
No estudo de Alemu et al. (2017) é avaliado o impacto de diferentes sistemas de
pasto na intensidade de emissão de gases de efeito de estufa (Kg CO2e Kg/Animal) nas
pradarias Canadianas16.
A avaliação da emissão de gases ocorreu através de uma análise do ciclo de vida
durante um período de 8 anos, o necessário para a substituição dos animais em idade
reprodutiva pela sua descendência, numa quinta hipotética com stock de animais de 120
vacas, 4 touros e a sua descendência. As quatro variáveis de gestão em estudo são as
seguintes: pasto contínuo de baixa densidade (LC), pasto contínuo de alta densidade
(HC), pasto contínuo baixa densidade para progenitoras-crias e rotação a uma densidade
média para os restantes animais (LCMR) e por último pasto contínuo pesado para
progenitoras-crias e rotação a uma densidade média para os restantes (HCMR) (figura 2).
Dentro da análise do ciclo de vida da quinta hipotética foram consideradas todas as
emissões relacionadas com a produção de alimento para os animais assim como as
emissões dos próprios. Contudo todas a emissões relacionadas com o transporte dos
animais para o matadouro e posterior transporte para o consumidor foram excluídas,
assim como emissões relacionadas com o fabrico de maquinaria e construção de edifícios
(Alemu et al., 2017).
Os dados relativos à produção de gado foram baseados em estudos de longa
duração estabelecidos em 1949 pelas autoridades Canadianas em Stavely, Alberta, Canadá.
Baseando-se nestes estudos a capacidade de carga do ambiente considerada para as
pradarias canadianas varia entre 1-1,6 animais por hectare.
A estimativa da emissão de gases com efeito de estufa foi realizada através do
modelo Holos Research. O programa HOLOS é um modelo empírico baseado na
metodologia do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) modificado
para representar o sistema de produção Canadiano.
Verificou-se que as emissões totais de gases de efeito de estufa foram superiores
para as operações com sistemas de pasto leve comparativamente aos valores com formas
de gestão onde o pasto é mais intensivo. As emissões foram 10,2% maiores em sistemas
de pasto contínuo leve do que em sistemas de pasto contínuo pesado. Nos esquemas
onde existe rotação, a diferença entre os sistemas de pasto leve e pesado ficou por 7,5%
(Alemu et al.,2017). A diferença entre os sistemas com e sem rotação não é expressiva
sendo menor que 3% na emissão de gases com efeito de estufa. As principais fontes de
16
Concretamente em Vulcan County no sudoeste de Alberta. O clima da região caracteriza-se como temperado subhumído com verões suaves e invernos rigorosos, a precipitação anual é de 502 mm e a temperatura média na época de pasto varia entre os 11,6ºC e os 5,5 ºC.
60
emissão de gases com efeito de estufa, independente do esquema de pasto, são, em
primeiro lugar, a fermentação entérica com 67-68% do total das emissões. Em segundo
lugar, aparecem emissões relacionadas com a decomposição do estrume animal
contabilizando 14-16% para o óxido nitroso e 9-10% para metano (Alemu et al.,2017).
Comparando os sistemas de pasto com maior densidade animal com os sistemas de
pasto com menor densidade animal é reportado que as emissões de metano são 7-15%
mais baixas nos sistemas de alta densidade animal. A razão para isso prende-se com a
maior qualidade e digestibilidade do pasto observado em sistemas de pasto pesado
(Alemu et al.,2017).
Estes resultados mostram a importância da qualidade da alimentação animal na
redução das emissões de gases associados ao setor pecuário.
Os requerimentos de terra também apontam para um uso mais eficiente de
esquemas de pasto mais pesado. O cenário de pasto contínuo leve requer mais 35% de
terra de pasto do que o esquema contínuo pesado para produzir a mesma quantidade de
carne. No caso dos esquemas rotacionais o sistema de pasto leve requer mais 26% de
terra (Alemu et al., 2017). Este uso mais eficiente a longo prazo pode não se registar pois
o uso mais intensivo da terra sem uma monitorização adequada pode facilmente levar a
processos de degradação do ecossistema.
Ao introduzir a sequestro de carbono do solo as emissões totais de gases com
efeito de estufa diminuíram 12-25% por cabeça de gado. A maior redução foi observada
nos sistemas de pasto leve e leve com rotação com uma redução de 22% e 24%. O
sequestro de carbono é superior nestes sistemas devido a dois fatores: a maior
disponibilidade de terra e uma maior eficiência do solo em sequestrar carbono.
Apesar das vantagens demonstradas do sistema rotacional na limitação do
comportamento seletivo dos animais e na recuperação de solos exauridos o debate
científico sobre qual sistema é superior continua. O enraizamento do debate sobre os
sistemas de pasto em particular o esquema rotacional advém da discrepância entre as
diversas experiências empíricas de gestão do território sobre este sistema com resultados
positivos e as experiências científicas com resultados ambíguos. A ambiguidade dos
resultados poderá ser explicada pelos ambientes variáveis em que são realizados as
experiências e a exclusão da componente humana.
As experiências de campo de forma a isolar fatores ecológicos são intrinsecamente
protocolos rígidos e não permitem a variedade de ações que podem ser implementadas
num contexto de variação do ecossistema. Assim as experiências científicas podem
61
excluir a componente humana da gestão de ecossistemas complexos retirando o
conhecimento, interpretação e capacidade de decisão sobre qual a melhor estratégia a
tomar num determinado momento. A ação do Homem na gestão dos ecossistemas de
pasto não é totalmente antecipada pelas experiências cientificas, daí ser possível existir
uma dicotomia entre o conhecimento empírico dos gestores de gado e do conhecimento
académico.
Autor Localização Anos de Estudo Escala Dados
Climáticos Resultados
Teague et al. (2011)
EUA, Texas 9 1200 - 4000 ha Temperatura média anual:
18,1ºC
O sistema rotacional de múltiplas cercas foi o
sistema mais produtivo do ponto de vista
ambiental e económico.
Arguello et al.
(2010)
México, Chiapas
1 6 - 170 ha
Temperatura média anual:
24,9ºC Precipitação
anual: 1168 mm
O sistema rotacional foi mais eficiente em termos de emergia
Fergunson et al.
(2013)
México, Chiapas
1 6 - 170 ha
Temperatura média anual:
24,9ºC Precipitação
anual: 1168 mm
Em termos de sustentabilidade a produção holística supera a produção
convencional
Chaplot et al. (2016)
África do Sul,
KwaZulu-Natal
2 1500 m2
Temperatura média anual:
13ºC Precipitação
anual: 684 mm
O sistema de pasto rotacional e a exclusão
com fertilização provaram ter os
melhores resultados na reabilitação de solos
degradados
Golding and
Dreitz, (2017)
EUA, Montana
2 Amostras de
25 ha
Temperatura média anual:
15,4ºC Precipitação
anual: 360 mm
Do ponto de vista da conservação da natureza
um sistema misto em mosaico os melhores
resultados
Alemu et al. (2017)
Canadá, Alberta
8 441 - 463 ha hipotéticos
Temperatura média anual:
15,4ºC Precipitação
anual: 360 mm
Comparando os sistemas de pasto com maior densidade animal
com os sistemas de pasto com menor densidade animal é reportado que as
emissões de metano são 7-15% mais baixas nos
sistemas de alta densidade animal
62
Tabela 5- Sistematização das experiências de campo citadas ao longo do Capítulo
(Fonte: Elaboração própria)
A discussão sobre os sistemas de pasto revela um problema de fundo da prática
científica atual no que respeita a problemas complexos com várias variáveis. A aplicação
de um modelo rígido a um problema complexo com a gestão de um ecossistema não só é
reducionista como tende a exagerar a força das estimativas do modelo em questão
(Briske et al., 2011). Mesmo na presença de um grande conhecimento sobre as funções
ecológicas de um determinado local este apenas representa uma parte do conhecimento
necessário para a gestão eficiente do território.
Um estudo que documenta a importância do plano de decisão da gestão holística
em período de crise é o estudo de McLachlan et al. (2008) sobre a adaptação dos
produtores canadianos ao surto de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Em 2003
foi documentado o surto, dois anos mais tarde os custos totais com o controlo da doença
ultrapassaram os 7 mil milhões de dólares canadianos. Durante o período de crise
verificou-se uma queda de 33% no rendimento das produções pecuárias de bovinos
(Mitura and Di Pietro, 2004).
O estudo de McLachlan et al., (2008) pretendeu descobrir as diferenças entre
produtores convencionais e produtores holísticos e qual dos sistemas era mais vulnerável
perante os desafios que a EEB apresentou para o setor pecuário. A vulnerabilidade é
definida como a sensibilidade a uma exposição adversa, o sistema mais eficaz seria aquele
mais resiliente, capaz de se adaptar e recuperar dessa condição.
A recolha de dados envolveu a realização de inquéritos efetuados em Fevereiro de
200617. Os participantes foram divididos em dois grupos produtores convencionais e
produtores holísticos sendo questionados em tópicos diversos que incluíam questões
ambientais, sociais e económicas. O estudo contou com 315 questionários completos de
produtores holísticos e 1470 de produtores convencionais, totalizando com 1785
questionários. A taxa de resposta ao questionário rondou os 33% (McLachlan et al.,
2008).
17 O estudo abrangeu as províncias de Manitoba, Saskatchewan e Alberta. O clima destas regiões é
caracterizado por invernos rigorosos com médias mínimas de -9.4ºC e verões curtos com médias máximas
de 16.1ºC. A precipitação média varia regionalmente entre os 250mm e os 700mm (McLachlan et al.,
2008).
63
Ambos os grupos concordam que o risco de saúde pública apresentado pela EEB é
baixo e que esta doença continuará a apresentar desafios no futuro (McLachlan et al.,
2008). O grupo de produtores convencionais demonstrou mais apreensão sobre o futuro
e os potenciais impactos negativos na sociedade. Os níveis de ansiedade do grupo
holístico revelaram-se menores refletindo o sistema de planeamento que permite uma
maior adaptabilidade a variáveis em constante mudança. Revelador desta menor
ansiedade é o questionário do grupo praticante de Holistic Management nº199 que refere
“A definição de objetivos e a frequente monitorização permite-nos questionar com mais
confiança ideias prévias e realizar as mudanças necessárias de forma a adaptar
rapidamente. Agora conseguimos agir mais do que simplesmente reagir” (McLachlan et
al., 2008, pág. 310).
Existem diferenças em termos de adaptação entre indivíduos de ambos os grupos,
aqueles com maior sentido de comunidade tem uma maior resiliência aos desafios
apresentados pela EEB (McLachlan et al., 2008). Dentro do grupo de produtores
holísticos existem quatro variáveis que explicam o sucesso da sua adaptabilidade: ser
membro de um clube de produtores holísticos, a dimensão da propriedade, diversidade
de culturas agrícolas e a idade do produtor (McLachlan et al., 2008).
O clube de produtores é de grande importância pois permite aos seus membros
partilhar e discutir novas formas de gestão e procurar soluções para os problemas em
conjunto. A dimensão da propriedade é outra variável que influencia o sucesso da
exploração. Quanto maior o território, maior a facilidade de gestão, pois o controlo da
intensidade não necessita de ser tão rigorosa.
A produção holística apresenta uma maior resiliência em momentos de crise sendo
uma resposta para as comunidades rurais. No futuro apoios no sentido de implementar e
aumentar a escala destas operações para mais regiões contribuiria positivamente para
uma maior resiliência da população rural e do meio ambiente.
Numa análise final ainda existe ambiguidade científica quanto às vantagens do
sistema rotacional de pasto defendido pelo Holistic Management em termos de produção de
biomassa, contudo a gestão do sistema de pasto é apenas uma vertente deste sistema de
gestão adaptativa. O papel do gestor em ecossistemas complexos é de grande
importância. O seu modelo mental das várias variáveis em jogo influencia positivamente
ou negativamente a exploração. As vantagens do sistema rotacional de pasto podem
nesta perspectiva derivar do aumento da intensidade de gestão (Briske et al., 2011). O
sistema rotacional de pasto é intensivo do ponto de vista da sua gestão pois é necessário
64
um plano prévio de definição da subdivisão da propriedade em parcelas de pasto,
elaboração de vários pontos de água e um plano de movimentação dos animais que
necessita de ajustamentos conforme as condições bioclimáticas ao longo das estações.
O aumento da intensidade de gestão cria um novo modelo mental no gestor mais
versátil conseguindo adaptar-se a diferentes características e contrariedades dos
ecossistemas. Torna-se assim possível o aumento da produção sem necessariamente
aumentar a produção ecológica do ecossistema. Novamente a aparente contradição entre
a literatura científica e a experiência empírica pode ser explicada através da necessidade
de uma gestão adaptativa do ecossistema.
3.4.- ADAPTAÇÃO DO STOCK DE ANIMAIS ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
A estimação da capacidade de carga do ambiente é um elemento essencial para
uma gestão sustentável num sistema de produção extensivo. A capacidade de carga do
ambiente determina o stock máximo de animais no território antes de ocorrer uma
degradação ambiental.
Segundo os autores White and McGinty (1992) um regra básica para o gestor
conseguir um stock de animais sustentável é a regra do take half, leave half, ou seja, os
animais devem utilizar metade da capacidade produtiva do território durante o período
de pasto. A determinação da capacidade produtiva de biomassa é essencial para
determinar o stock aplicado pois a eficiência de pasto é apenas de 25%. Imaginando que a
produção de biomassa num hectare é de 3000kg segundo a regra do take half, leave half
apenas 1500kg seriam utilizados. Dos 1500kg de biomassa utilizada apenas metade seria
consumida pelos animais, o resto é perdido devido ao pisotear dos animais ou a
intempéries.
A tecnologia de satélite desenvolvida nos anos 70 do século XX começa a ser
usada para medir e identificar a quantidade de vegetação acima do solo de forma eficaz
(Villa-Herrera et al., 2014). Esta tecnologia funciona através do contraste entre luz
vermelha e infravermelha, permitindo identificar a vegetação dos demais objetos
terrestres18.
18 Experiências realizadas no México usando o indicador IVPN (normalized slopes vegetation índex), em
24 amostras de terreno com 225 ha, demonstraram uma eficácia da tecnologia ao determinar com uma baixa margem de erro a capacidade de carga do ambiente ajudando a determinar o stock de animais a utilizar (Villa-Herrera et al., 2014).
65
Os ecossistemas de pasto são caracterizados pela sua variabilidade climática que
afeta diretamente a produção primária de biomassa, portanto o stock de animais deve ser
gerido para não ultrapassar a capacidade de carga do ambiente e provocar uma perda de
rendimento a longo prazo.
O estudo de Díaz-Solís et al. (2016) comprovou que a adoção de estratégia de
gestão adaptativa em relação ao stock de animais promove a melhoria dos indicadores
ambientais e a sustentabilidade económica das explorações pecuárias.
Dada a variabilidade do regime de precipitação na região de estudo, no norte do
México, a fixação de um stock constante de animais é pouco visado todavia é uma
estratégia comum onde é introduzida alimentação suplementar para os animais em
períodos de seca (Díaz-Solís et al., 2016). A prática de suplementação alimentar em
períodos de crise pode exacerbar o problema ambiental pois é permitida uma densidade
animal muito superior à capacidade de carga do ambiente, tornando a vegetação escassa e
o solo exposto aos elementos erosivos.
As estratégias fixas têm desvantagem a curto e longo prazo. A curto prazo o
aumento pela competição de pasto pelos animais provoca uma menor ingestão de
matéria orgânica por cabeça de gado. A longo prazo o risco de exploração excessiva do
pasto coloca-o em risco de desertificação pois a produtividade da terra reduz-se
significativamente (Díaz-Solís et al., 2016).
No estudo que compreende um período de 44 anos de recolha de dados foi
utilizado o modelo SESS (Simple Ecological Sustainability Simulator). Este modelo usa uma
equação de recorrência que estipula uma relação entre a ANPP (aboveground net primary
production), ou seja, os quilos de matéria orgânica produzida por hectare ao ano com a
precipitação em mm ao ano. Considera-se que quanto maior ANPP melhor será a
condição da terra. O sequestro de carbono é calculado através da quantidade de matéria
seca acima e abaixo do solo. Abaixo do solo a matéria orgânica é considerada ser 2,8
vezes o valor da matéria orgânica aérea.
O modelo usou raças de gado como Angus, Charolais, Hereford. A época de
reprodução durava três meses (Abril a Junho). A extensão das propriedades usadas no
modelo foi de 5 mil hectares. Quanto a estratégias de gestão, a estratégia de controlo
representa as práticas locais com um stock de animais mais elevado constante, prática da
suplementação alimentar em períodos de stress ambiental e manutenção das fêmeas não
gestantes. A estratégia de baixo stock é igual à primeira estratégia mencionada só que com
um baixo stock de animais ao longo do ano. A estratégia REPLA-PPT (gestão do
66
número de animais em relação à média anual de precipitação) não pratica suplementação
alimentar e elimina as fêmeas que não estão em gestação em períodos de seca (Díaz-Solís
et al., 2016).
A estratégia REPLA-PPT é a mais bem-sucedida pois é capaz de se adaptar as
condições climáticas mesmo em períodos críticos nunca ultrapassando a capacidade de
carga do ambiente. Esta estratégia adaptativa apresentou os melhores indicadores em
termos de sequestro de carbono, emissões de metano, performance animal e receita
líquida (tabela 6). Estes resultados demonstram a necessidade de uma gestão adaptativa
em climas variáveis.
Simulação de três estratégias de gestão
Variáveis Unidades Controlo Baixo
Stock
REPLA-
PPT
Stock de Animais AUY (animal unit year) 250 150 150
Sequestro de carbono Mg CO2 eq. 389 248 496 052 551 580
Emissões de metano Mg CO2 eq. 9945 6671 5887
Mortalidade %/Ano 45.87 28.88 9.42
Ganho de massa
corporal Kg/há/ano 1.3 1.94 2.68
Lucros USD x 106 -4.79 -0.39 1.97
Tabela 6 - Resultados da exploração bovina no Norte do México 1950-1994 (Fonte: Díaz-Solís et al., 2016)
Outro estudo revelador sobre a necessidade de gerir o stock de animais conforme as
limitações ambientais foi realizado por Teague et al., (2009). Este estudo desenvolve um
modelo que simula a gestão de uma quinta hipotética19 e quais os stocks de animais a
manter por 100 hectares de forma a obter diferentes objetivos ao longo de 30 anos.
Foram criados 3 cenários representantes dos vários objetivos de gestão: a manutenção da
condição ambiental, maximização do lucro e o melhoramento da condição ambiental.
19 O simulador SESS (Simple Ecological Sustainability Simulator) utilizou dados relativos à produção
primária, clima e de gestão do gado baseados numa experiência conduzida em Rolling Plains no Texas desde 1955 (Teague et al., 2009). Esta simulação em particular utilizou os dados de 1970 a 2000. O perfil climático dos dados recolhidos inserem-se num clima temperado seco com uma média anual de precipitação de 648 mm e temperaturas que variam em média de 3,9 ºC em Janeiro até 36,4 ºC em Julho.
67
A exploração pecuária extensiva no Texas é normalmente considerada marginal e a
recomendação mais comum para o aumento dos lucros da atividade é a redução dos
custos de produção em vez da melhoria das condições ambientais da exploração (Teague
et al., 2009). O principal produto explorado na região é a carne de bovino.
Como é possível visionar no gráfico 7 o modelo informático assume 4 estados de
conservação das terras, representando a sua capacidade produtiva, a escala utilizada varia
entre 1,25 sendo considerado excelente nível de conservação passando por 1,0 (Bom),
0,75 (razoável) e 0,50 (mau). Este modelo tem em conta presença de plantas lenhosas e
não palativas estando programado para decrescer a condição de conservação mediante a
sua presença (Teague et al., 2009).
Ao nível da gestão dos animais a simulação tomou em consideração os seguintes
dados: os nascimentos de bezerros acontecem em Fevereiro e Março, a mortalidade dos
bezerros ocorre a cada mês em função do peso corporal, fêmeas adultas mortas ou que
Gráfico 7 - Mudança das condições ambientais a partir de diferentes pontos iniciais de conservação ao longo de 30 anos
IRC – Inicial Range Condition (estado de
conservação ambiental inicial)
a – Objetivo de manutenção da
condição ambiental.
b – Objetivo de maximização do
lucro.
C – Objetivo de melhoria das condições (Fonte: Teague et al. 2009).
68
não tenham dado à luz no ano anterior são substituídas em Novembro e o uso do fogo é
prescrito a cada 8 anos para impedir a proliferação de cactos e plantas lenhosas (Teague
et al., 2009).
Para cada estado de conservação (excelente, bom, razoável e mau) quando geridas
com o objetivo de maximizar o lucro foi registado um declínio da condição de
conservação ao longo do período de trinta anos. O declínio mais acentuado verifica-se
no grupo de estado de conservação excelente, 1,25, a maior abundância de matéria
orgânica comestível dita um maior número de animais por hectare. O maior stock de
animais dita uma maior pressão animal levando a uma degradação da condição ambiental
mais rápida do que nos outros três casos. Este caso exemplifica a necessidade que existe
de monitorizar regularmente e fazer ajustes no stock de animais de modo a não perpetuar
práticas que prejudiquem a sustentabilidade do pasto a longo prazo (Teague et al., 2009).
De forma a melhorar a condição ambiental do pasto é necessário uma redução do
stock animal. Esta decisão tem impactos económicos a curto prazo negativos, contudo a
redução do stock deve ser encarada como um investimento no capital natural do sistema
de produção de forma a aumentar a capacidade de produção primária. Os dividendos
deste aumento na capacidade produtiva do ambiente poderão ser convertidos em lucro
num ponto mais distante no tempo através do aumento do stock de animais. O ponto
principal para manter e alcançar uma condição ambiental excelente do pasto é usar
apenas os dividendos do sistema de produção sem consumir o seu capital natural
(Teague et al., 2009). Apesar destas evidências, muita da prática continua a ter uma visão
de maximização dos lucros a curto prazo enquanto se externaliza os custos da
degradação ambiental.
Os níveis de produtividade e por conseguinte os lucros associados variam
consideravelmente dependendo da condição ambiental da terra. Na simulação em
questão a média anual de peso por hectare de bezerros num pasto em pobre condição
ambiental é de 45 kg contrastando com os 150 kg de um pasto em excelente condição
ambiental. (Teague et al., 2009). Estas diferenças na produtividade determinam um maior
lucro das explorações que conseguem manter ou melhorar as suas condições ambientais.
Os lucros totais para uma gestão de manutenção da condição ambiental durante os
30 anos de simulação variam entre os 238.000 USD e os 990,000 USD para terras
consideradas pobres e excelentes respetivamente (Teague et al., 2009).
Para manter a condição ambiental do pasto em condições de “excelente” o stock
máximo de animais não deve ultrapassar os 32 por 100 hectares ao ano. De forma a
69
recuperar a condição ambiental do pasto para excelente a densidade animal deve ser de
15 animais por 100 hectares ao ano para terras consideradas em bom estado de
conservação, 8 animais por 100 hectares ao ano para terras consideradas razoáveis e 1
animal por 100 hectares ao ano para terras consideradas pobres (Teague et al., 2009).
Quanto pior for a condição de conservação do pasto, menor deve ser a densidade animal
aplicada de forma a evitar a sua deterioração.
Um ponto fundamental na produção pecuária extensiva é a obtenção de lucro,
contudo são poucos os produtores que prestam devida atenção à monitorização da sua
produção primária ou a mudança na gestão do pasto que influenciem a condição
ambiental do território. Exemplo disto é a manutenção de stock de animais ao longo do
ano em climas variáveis e suscetíveis a secas. Quando estes períodos de stress ambiental
acontecem é normalmente usado alimento suplementar de forma a manter o elevado
stock de animais. Esta prática causa problemas de degradação do solo, pois a capacidade
de carga do ambiente em períodos de stress é menor (Díaz-Solís et al., 2016; Teague et al.,
2009).
Outra prática comum que pode descompensar o equilíbrio do ecossistema é a
procura de animais de maiores dimensões de forma a obter maiores lucros, contudo está
comprovado que raças de animais de menores dimensões mais adaptadas às condições
climáticas locais são capazes de produzir mais massa corporal por ano comparadas com
raças de maiores dimensões (Tisdell, 2015; Teague et al., 2009).
Neste estudo fica patente a importância de um estudo de longo para perceber quais
as melhores práticas de gestão em explorações extensivas. Caso este estudo fosse
realizado para apenas alguns anos, como a maioria dos estudos publicados, não existiria
evidência de redução da condição ambiental em resposta aos diferentes níveis de
densidade animal e a maximização do lucro seria a estratégia mais lógica a seguir que
causaria no futuro problemas de degradação do solo. Assim como no caso do estudo de
Alemu et al. (2017) o sistema pasto contínuo intensivo a curto prazo é o mais eficiente
quanto às emissões de gases de efeito de estufa contudo o cenário a longo prazo poderá
ser diferente devido à maior tendência a fenómenos de degradação ambiental associados
a este sistema de pasto.
4- PRODUÇÃO PECUÁRIA EXTENSIVA EM PORTUGAL
4.1- CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA
70
Ao longo da História a prática da pecuária extensiva desempenhou um papel
importante para a economia rural de Portugal. A diversidade climática originou uma
diversidade de ecossistemas que se reflete na diversidade das práticas pecuárias e na
diversidade biológica das raças autóctones portuguesas.
A nível climático, Portugal localiza-se no limite sul das zonas temperadas do
Hemisfério Norte. Apesar da sua pequena dimensão geográfica, Portugal apresenta uma
grande variedade climática. Esta variedade é explicada pela circulação atmosférica de
diferentes massas de ar e pela orografia do país (Alcoforado, 1991).
As massas de ar são normalmente classificadas quanto à sua temperatura, quentes e
frias, e quanto à sua humidade, secas ou húmidas. Portugal é influenciado por quatro
massas de ar distintas: a massa de ar polar, caracterizada por ser fria e húmida, a massa de
ar polar continental fria e seca, a massa de ar tropical continental quente e seca e a massa
de ar tropical marítima quente e húmida. Outros fatores importantes para a variação
climática em Portugal relacionam-se com a proximidade ou afastamento do Oceano
Atlântico assim como a concordância da orografia com a linha de costa. Em termos
gerais o clima em Portugal é considerado mediterrânico contudo existem quatro
subconjuntos explicados pelos fatores acima mencionados. No Norte Litoral o clima é
caracterizado como mediterrânico com influência marítima, o Norte Interior como
mediterrânico com influência continental, no Sul como mediterrânico e as zonas
montanhosas exibem um clima próprio condicionado pela altitude.
A precipitação é determinante na criação destes subconjuntos climáticos de uma
forma geral a distribuição da precipitação em Portugal é assimétrica. O noroeste do país é
a região que mais precipitação recebe, ultrapassando os 2500 mm em média por ano,
contudo algumas das serras noroeste e do maciço central superam os 3000 mm devido
ao efeito da altitude. Para além da altitude a forma da orografia determina a quantidade
de precipitação (Alcoforado, 1991). Exemplo disto é a baixa precipitação registada em
certas zonas de Trás-os-Montes onde a existência de vales encaixados condiciona a
pluviosidade enquanto no litoral a concordância da orografia facilita a condensação do ar.
A região central de Portugal apresenta uma gradual diminuição da precipitação tendo o
maciço central um papel importante na baixa pluviosidade do interior. A Beira Baixa em
termos climáticos é mais parecida com o clima Algarvio e Alentejano. A região a sul do
rio Tejo é caracterizada por verões, quentes e secos, prolongados de 5 a 6 meses. Os
invernos são amenos e pouco chuvosos. A precipitação anual nesta região varia entre os
71
500 mm e os 700 mm com a exceção das serras de São Mamede e de Monchique com
uma média superior de 1200mm (Alcoforado, 1991).
O regime de precipitação no sul da Península Ibérica é caracterizado pela sua
irregularidade interanual. É normal a ocorrência de anos abaixo da média de precipitação
histórica sendo seguidos por anos com valores acima da média. Para além da variação
interanual também a variação intraanual do regime de precipitação é uma realidade
presente podendo acontecer que apenas alguns meses recebam grande parte da
percentagem da precipitação anual (García-Barrón et al., 2011).
A exploração pecuária, como atividade primária. Encontra-se muito dependente
dos recursos naturais disponíveis. A gestão do território em locais com um ecossistema
mais frágil e com fatores de risco, como a variabilidade do regime de precipitação, deve
ser mais criteriosa de forma a não impactar negativamente o equilíbrio ambiental. As
regiões a sul do Tejo encontram-se numa posição relativamente frágil e as projeções para
o futuro são de um agravamento desta situação.
A ameaça das alterações climáticas provocadas pela ação antropogénica poderão
no futuro acelerar o processo de desertificação. Os modelos climáticos prevêem um
aumento dos períodos de seca e um aumento da aridez do solo em várias regiões do
mundo, em particular na região do mediterrâneo (Costa and Soares, 2012). A existência
do anticiclone dos Açores é determinante para a ocorrência de períodos de seca nos
meses de inverno em Portugal. No sul e interior de Portugal é onde a sua influência é
mais sentida levando a que estas áreas sejam mais suscetíveis à ocorrência de fenómenos
de seca prolongada, prevendo-se um aumento da sua ocorrência e severidade no futuro
(Costa and Soares, 2012).
Nas últimas três décadas do século XX registou-se no sul de Portugal um aumento
da intervariabilidade anual da precipitação (García-Barrón et al., 2011). A severidade das
condições de seca durante o verão também se intensificou especialmente na região do
Alentejo. No Algarve a ocorrência de fenómenos de precipitação intensa aumentou
constituindo um risco para a aceleração da erosão do solo contribuindo assim para o
processo de desertificação a médio e longo prazo (Costa and Soares, 2012).
O processo de desertificação que afeta Portugal é caracterizado por uma falta de
recursos hídricos, especialmente nos meses de verão, solos pobres e vegetação
subdesenvolvida. No sul de Portugal, especialmente no Baixo Alentejo, o processo de
desertificação intensificou-se no século XX devido à campanha dos cereais promovida
pelo Estado-Novo. A cultura extensiva de cereais exaustou o solo e anos sucessivos de
72
exposição aos elementos sem a vegetação natural para que o protegessem, aumentou o
processo de erosão. Em anos mais recentes, o êxodo rural para as grandes cidades
provocou um abandono da agricultura deixando os solos ainda degradados sem qualquer
tipo de gestão (Costa and Soares, 2012).
O Alentejo sendo a região do país considerada com maior potencial agrícola é
também a região mais suscetível ao processo de desertificação, torna-se urgente a tomada
de medidas que assegurem a disponibilidade de água e reduzam processos de degradação
do solo. A adoção de novas técnicas de gestão adaptativa na exploração extensiva
pecuária poderia ser uma solução de forma a mitigar os efeitos das alterações climáticas
especialmente na degradação do solo.
4.2- CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO PECUÁRIA EM PORTUGAL
O setor pecuário em Portugal representa uma fatia importante da produção
agrícola do país. Estima-se que por volta de 37,3% do valor total do ramo agrícola, ou
seja 2627 milhões de euros, é referente à produção animal no ano de 2005 (MADRP,
2007).
O setor pecuário com maior peso económico em 2005 foi a produção de leite que
representou cerca de 28% do valor total da produção de produtos animais. Outros
setores com peso na pecuária nacional são a produção de carne de bovino com 25%, a
carne de suíno representando 20,7% e a carne de aves de capoeira com 12,5%. A carne
de ovinos, caprinos, coelho e equídeos representa apenas uma pequena parte da
produção pecuária nacional contribuindo apenas com 10% para o total do valor
económico (MADRP, 2007).
O panorama de 2005 para os últimos dados sobre a produção animal de 2017
indicam uma mudança na produção pecuária afetando assim o peso económico dos seus
subsetores. Em termos globais a produção de carnes aumentou 9,44% de 2005 para
2017(tabela 7). Este crescimento contudo foi assimétrico tendo-se assistido a uma
diminuição da produção de carne de bovinos, ovinos e caprinos na ordem dos 15% a
28%(tabela 7). A carne de suíno foi a única das carnes vermelhas a registar um aumento
da produção de 7,04%. O subsetor que registou um grande crescimento no período de
73
análise foram as carnes de aves de capoeira que registaram um aumento de 32,07%. A
produção de leite também registou uma queda na ordem dos 7,8% (INE, 2018a).
Produção de Produtos Animais em Portugal (toneladas)
2005 2017 %
Carnes
Total 812687 889402 9,44%
Bovinos 119019 91187 -23,38%
Ovinos 21990 15803 -28,14%
Caprinos 1364 1148 -15,84%
Suínos 352998 377866 7,04%
Aves de Capoeira
294368 388773 32,07%
Leite
Total 2195210 2023930 -7,80%
Tabela 7 - Evolução da produção de produtos animais em Portugal (Elaboração Própria, Fontes: MADRP, 2007; INE, 2018a)
Estes aumentos e quedas na produção de produtos animais influenciam a
representatividade dos subsetores sendo expetável um aumento significativo do peso
económico da produção de aves de capoeira e um aumento moderado da produção de
suínos, tendo os restantes subsetores perdido importância. Quanto à distribuição
geográfica das diferentes populações animais destaca-se a região do Alentejo pela sua
grande concentração de animais. Relativamente aos bovinos, é possível verificar na tabela
8 que em 2017 cerca de 41,5% do efetivo nacional encontra-se no Alentejo, 18,9% no
Norte de Portugal, 16,6% na Região Autónoma dos Açores e 12,8% na região de Lisboa
e Vale do Tejo (INE, 2018b). A produção pecuária de bovinos encontra-se subdividida
em duas formas distintas mas complementares de exploração. A exploração de vitelos e
as explorações de engorda de novilhos e sua distribuição geográfica é distinta. A maioria
das explorações de vitelos encontra-se maioritariamente concentrada no Alentejo, cerca
de 72%, em sistemas extensivos com um número médio de cabeças de gado a rondar os
50 animais. As explorações de engorda de novilhos estão distribuídas pelo Entre Douro e
Minho com 33% da produção, Ribatejo e Oeste com 23% e o Alentejo com 25%
(MADRP 2007). Os sistemas de exploração são predominantemente intensivos para
produção e engorda de novilhos no Entre Douro e Minho e no Ribatejo e Oeste; em
contraste, no Alentejo, o sistema de exploração extensivo é o mais expressivo.
74
A exploração pecuária de caprinos em Portugal é maioritariamente voltada para a
produção leiteira, estando disseminada um pouco por todo o território nacional. O
sistema de produção de caprinos é quase sempre extensivo, devido à capacidade destes
animais em retirar nutrientes de uma grande variedade de plantas e arbustos (MADRP,
2007). Os caprinos têm um papel importante na gestão de territórios com terras pobres,
zonas arbustivas e florestais. Em Portugal as regiões com maiores efetivos caprinos são o
Alentejo, Beira Interior e Trás-os-Montes, áreas do país com baixa densidade
populacional e de zonas montanhosas com terras pobres para a agricultura. Apesar dos
benefícios ecológicos e económicos desempenhados pelos rebanhos de caprinos, o seu
efetivo tem vindo a declinar mas últimas décadas. Uma das explicações para o declínio da
exploração pecuária de caprinos prende-se com a exigência de mão-de-obra na gestão
tradicional destes animais.
A produção ovina tem várias semelhanças à exploração caprina podendo mesmo
existir rebanhos mistos. A produção de ovino ocorre maioritariamente em sistemas
extensivos. Os ovinos são explorados tanto pela sua carne como pelo leite (MADRP,
2007). A exploração de carne de ovino ocorre principalmente no Alentejo onde se
concentra 59,5% do efetivo nacional. A produção de leite de ovino encontra-se
distribuída pelo norte e centro do país tendo como zonas de maior produção a Beira
Interior e Trás-os-Montes (MADRP, 2007).
No que diz respeito à produção de suínos é possível verificar que dentro do setor
existem diferentes abordagens. A forma tradicional de criação de suínos é considerado
um regime de exploração complementar à atividade agrícola estando normalmente
associado ao autoconsumo e/ou a uma atividade complementar (MADRP, 2007). Em
contraste, temos as explorações industriais de suínos voltadas para o mercado e que
representam a maior parte da produção nacional, com uma densidade populacional
média por exploração rondando as 100 cabeças. As explorações extensivas de suínos,
como o caso da raça autóctone do porco preto alentejano, apesar de registarem um
crescimento significativo nas últimas décadas, continuam a representar um contributo
ainda pouco significativo para a produção global de suínos .
A distribuição de suínos pelo território nacional é dispersa encontrando-se um
pouco por todo o país, porém as grandes indústrias de suinicultura encontram-se
concentradas em três polos: a zona de Leiria, Alto Alentejo e o Litoral Alentejano
(MADRP, 2007). Os dados sobre o efetivo de suínos de 2017 confirmam esta
75
concentração de animais na região do Alentejo e do Centro que em conjunto
representam 84,6% do efetivo nacional (tabela 8).
Efetivo Animal em 2017 por localização Geográfica (NUTS- 2001)
Efetivo
Bovino
Efetivo
Caprino
Efetivo
Ovino
Efetivo
Suíno
Portugal 1670 340 2225 2165
Continente 1388 326 2218 2131
Norte 315 81 297 61
Centro 157 112 506 886
Lisboa e Vale do Tejo 214 9 45 221
Alentejo 693 108 1324 947
Algarve 10 16 47 17
Região Autónoma da
Madeira 4 7 3 4
Região Autónoma dos
Açores 278 7 3 30
Tabela 8- Efetivo animal nacional em milhares (Fonte: INE, 2018b)
A exploração de aves de capoeira em Portugal é subdividada em duas categorias: as
explorações industriais intensivas e a produção doméstica. A produção doméstica
encontra-se disseminada por todo o território contudo não apresenta importância no
mercado. A avicultura industrial por seu lado é a mais expressiva tanto na produção
como no peso económico da atividade. Segundo dados do INE em 2017 o efetivo
animal de aves fêmeas em aviculturas industriais ultrapassa os 10 milhões de animais
(INE, 2018c). A distribuição dos sistemas intensivos de criação de aves é concentrada em
duas zonas do país, a Beira Litoral com 50% e o Ribatejo e Oeste com 36% da produção
de aves (MADRP, 2007).
4.3- PRODUÇÃO PECUÁRIA BIOLÓGICA EM PORTUGAL
Um outro aspeto da produção de produtos animais que tem vindo a ganhar
representatividade de mercado é a produção biológica. Em termos gerais a agricultura
biológica cresceu em Portugal consideravelmente nos últimos 20 anos. Os primeiros
registos da superfície de agricultura biológica em Portugal datam de 1994 onde contavam
76
7183 hectares. Os dados mais recentes do ano de 2015 indicam que a superfície agrícola
em agricultura biológica aumentou para 239864 hectares (DGADR, 2016). Esta nova
forma de agricultura mais focada na produção de produtos com elevada qualidade
alimentar com baixo impacte ambiental tem vindo a dinamizar as explorações pecuárias
em regime extensivo.
Ao analisar a superfície em agricultura biológica constatamos que cerca de 78% é
relativa a pastagens sendo de longe o setor mais representativo. Em segundo lugar
aparece o olival com apenas 9%. A distribuição da superfície em agricultura biológica
pelo território nacional reflete a predominância das pastagens como o seu componente
principal sendo o Alentejo, a Beira Interior e Trás-os-Montes as regiões mais
significativas, com 63,8%, 18,6% e 7,2% respetivamente (DGADR, 2016). A nível
nacional as pastagens biológicas representam aproximadamente 9,7% do total de
pastagem e prados existentes em 2016 (INE, 2017).
O efetivo animal em produção biológica em 2015 mais significativo são os bovinos
com cerca de 97 mil cabeças, os ovinos com cerca 108 mil cabeças e aves de capoeira
com cerca de 61 mil bicos (DGADR, 2016). Os efetivos de suínos, caprinos e equídeos
não apresentam relevância numérica no global. Tendo em conta o número de animais e a
sua massa corporal verifica-se que o efetivo bovino é o mais importante em produção
biológica. O número de produtores também confirma a importância dos bovinos para a
produção biológica tendo o maior número de produtores seguido dos produtores de
ovinos.
5- EMISSÕES DE GASES DE EFEITO DE ESTUFA EM EXPLORAÇÕES HIPOTÉTICAS –
UMA APLICAÇÃO A PORTUGAL DO PROGRAMA HOLOS
5.1- EMISSÕES DE GASES DE EFEITO DE ESTUFA A NÍVEL NACIONAL DO SETOR
AGRÍCOLA
Tendo verificado a importância da pecuária para a economia, mais concretamente
para o setor agrícola é importante perceber o seu impacte ambiental ao nível das
emissões de gases com efeito de estufa a nível nacional. No ano de 2012 as emissões de
CO2e do setor agrícola representaram 10,5 % das emissões totais de Portugal (INE,
2014). Os dados mais recentes sobre a poluição inerente ao setor agrícola reportam-se ao
ano de 2016 com um valor de 6,48 milhões de toneladas de carbono equivalente
(FAOSTAT, 2018). Ao discriminar as fontes mais poluentes do setor agrícola durante o
77
período de 1990 a 2016 verificamos que a fermentação entérica é a maior fonte de
emissões, com cerca de 41,8% do total de emissões (gráfico 8). A exploração pecuária
assume um papel importante na emissão de gases com efeito de estufa. Para além da
fermentação entérica a gestão do estrume animal é outro setor com uma grande
percentagem de emissão de gases com efeito de estufa. Tendo em conta a caracterização
do efetivo animal podemos afirmar que os ruminantes, em especial os bovinos, são os
maiores contribuidores para a poluição atmosférica. Quanto à poluição proveniente da
gestão do estrume, o segundo setor mais poluente, os animais em sistemas intensivos são
provavelemte a principal causa com especial destaque para os suínos e o gado de bico.
Apesar destes dados darem uma ideia geral das fontes de poluição do setor agrícola
não é possível discriminar quais os sistemas de produção mais poluentes. A quantificação
da poluição dos sistemas intensivos e extensivos é dado essencial de forma a informar e
consciencializar produtores e consumidores.
Gráfico 8 – Média de emissões nacionais do setor agrícola (Fonte: FAOSTAT, 2018)
5.2.- EXPLORAÇÕES HIPOTÉTICAS ATRAVÉS DO PROGRAMA HOLOS
De forma a determinar as emissões totais de gases de efeito de estufa ao nível da
uma exploração pecuária extensiva média em Portugal foi utilizado o programa
informático HOLOS. O programa HOLOS é um modelo empírico baseado na
0,90% 1,40%
41,80%
9,20%
9,70%
20,10%
4,30% 11,70%
0,90%
Emissões por Setor Agrícola (1990-2016)
Queimadas
Resíduos de Culturas
Fermentação Entérica
Aplicação de Estrume no Solo
Aplicação de Estrume no Pasto
Gestão de Estrume
Cultivo de Arroz
Fertilizantes Sintéticos
Outras Fontes
78
metodologia do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) modificado
para representar o sistema de produção Canadiano utilizado com sucesso nos trabalhos
de Alemu et al. (2017), Hünerberg et al., (2014), McGeough et al., (2012) e Beauchemin
et al., (2011).
O modelo informático funciona à escala da exploração pecuária ou agrária e
contabiliza todas as possíveis fontes de emissão de gases com efeito de estufa. O modelo
conta ainda com potenciais sequestrações de carbono induzidas por mudanças no uso da
terra, plantação de árvores e de culturas anuais. No final da introdução de um ano das
variáveis da exploração agrícola é possível examinar qual a quantidade e o tipo de gases
que mais contribuíram para o total de emissões.
Para efeitos práticos desta tese foram criadas duas explorações pecuárias de
bovinos hipotéticas, uma na região do Entre-Douro e Minho (exploração A), mais
concretamente na Maia, e outra no Alentejo, em Beja (exploração B). O foco da
produção das explorações é a carne de bovino biológico de forma a assegurar a adoção
do sistema de produção extensivo com objetivos ambientais. A escolha destas regiões
não foi aleatória, ambas possuem um efetivo de gado bovino considerável em 2015. O
efetivo bovino biológico distribui-se maioritariamente na região do Alentejo, com cerca
de 69% do total, na Beira Interior com 18%, no Ribatejo e Oeste com 6% e no Entre-
Douro e Minho com 5% (DGADR, 2016). O contraste climático marcado é outro fator
importante de forma a espelhar a diversidade climática em Portugal.
O primeiro passo da criação das explorações pecuárias foi a determinação da sua
área. Tendo em conta que a exploração pecuária no Entre-Douro e Minho é
caracterizada por um sistema de produção intensivo e pela propriedade pulverizada, o
minifúndio, a escolha pela agricultura biológica nesta região parece oferecer o cenário
mais próximo da realidade, isto porque a dimensão média das propriedades biológicas é 5
vezes maior que as propriedades em produção convencional, evidenciando o caracter
extensivo da agricultura biológica em particular a pecuária. A dimensão média das
propriedades em produção biológica em 2015 ronda os 63 hectares contudo a variação
da dimensão da propriedade entre regiões é elevada sendo Alentejo e a Beira Interior as
regiões de maior área média (tabela 9).
Levando em consideração os dados do relatório da Direção-Geral de Agricultura e
Desenvolvimento Rural (DGADR) de 2016 a dimensão assumida para as explorações
foram de 18 hectares para a exploração da Maia e 160 hectares para a exploração de Beja
(tabela 9).
79
Tabela 9 – Número de produtores Biológicos por região em Portugal
(Fonte: DGADR, 2016)
Outro fator muito importante para a atividade agrícola é o clima da região que
influencia tanto a produção como as emissões de gases de efeito de estufa. Os dados
climáticos utilizados para a simulação das explorações foram as médias de temperatura e
precipitação para cada um dos meses do ano. A precipitação anual para a região da Maia
é elevada com 1217 mm existindo apenas dois meses com pouca precipitação - Julho e
Agosto. Em Beja a precipitação anual é mais baixa, típica de um clima mediterrânico
atingindo apenas os 581 mm anuais com meses com pouca precipitação desde Maio até
Setembro. Quanto à temperatura a variação anual é mais acentuada em Beja tendo uma
média de temperatura em Janeiro de 9,6ºC e de 23,8ºC em Agosto. As variações de
temperatura são menos intensas na Maia sendo a temperatura média de Janeiro de 9,1ºC
e de 19,5ºC em Agosto20.
Portugal apresenta uma grande variedade de condições climáticas que favorecem a
biodiversidade. As raças de animais autóctones portuguesas evoluíram ao longo do
tempo através de um longo processo de seleção empírica do Homem e seleção natural.
Apesar de algumas raças se terem perdido, hoje em dia Portugal conta com cerca de 53
raças autóctones constituindo um património genético importante (MADRP, 2007). Esta
riqueza genética leva a FAO a considerar que Portugal constitui um “Hot Spot” de
biodiversidade21. Outra vantagem do uso de raças autóctones é a sua adaptação ao clima
e vegetação presentes no seu habitat, contribuindo assim para uma maior segurança
20 www.climate-date.org 21 www.sprega.com.pt
Regiões Área Produtores Área Média
ha Nº ha
Continente 239863 3820 63
Entre-Douro e
Minho 8799 476 18
Trás-os-Montes 17176 966 18
Beira Litoral 2279 244 9
Beira Interior 44547 716 62
Ribatejo e Oeste 11276 360 31
Alentejo 152969 956 160
Algarve 2818 99 28
80
económica para o produtor em climas suscetíveis a período previsíveis ou impressíveis de
stress ambiental.
A diferença na produção de animais adaptados a um determinado clima versus
uma raça que apresenta maior produção mas que não é apta a determinado clima é
explicado pelo economista australiano Clement Tisdell. O desenvolvimento de raças mais
produtivas, ou seja com um crescimento mais rápido e maior massa corporal, tende a
torná-las mais dependentes de um ambiente rico em calorias. Estas qualidades de maior
produção são apelativas para os produtores e tendem a ser adotadas (Tisdell, 2015).
Contudo a dependência destas raças em ambientes ricos pode ser uma desvantagem em
climas que experienciam mudanças e stress ambiental. As raças adaptadas a determinado
ambiente toleram um leque mais alargado de condições ambientais mantendo a sua
produção.
Gráfico 9 - Tolerância ambiental de diferentes raças animais (Fonte: Tisdell, 2015)
No gráfico 9 a raça I é típica das raças de animais produtivos mas que necessitam
de um ambiente controlado para atingir o máximo da produção neste caso x1. Qualquer
alteração ambiental que altere esse ponto óptimo revela-se numa queda acentuada da
produção animal. Em x0 e x2 a produção iguala a produção de uma raça adaptada ao seu
meio ambiente e para lá destes pontos a performance animal é ainda inferior.
81
No caso das explorações hipotéticas (A e B) com um sistema de produção
extensivo biológico apresentam uma maior susceptibilidade às variações climáticas, por
esta razão foram selecionadas raças autóctones portuguesas adaptadas a cada uma da
região em questão. No caso da exploração da Maia (A) foi seleccionado a raça Barrosã
típica do Nordeste de Portugal que hoje em dia se encontra em perigo de extinção
devido ao baixo número de efetivos de cerca de 9163 fêmeas e 331 machos distribuídos
por 1823 criadores no ano de 201722 (MADRP, 2007). A raça Barrosã tem um porte
médio de 124 cm no garrote nas fêmeas, podendo atingir os 418 kg de peso. Os machos
são de maior porte atingindo os 136 cm de altura no garrote e os 701 kg de peso23. O
peso médio ao nascimento dos bezerros é de apenas 26,6 kg (DGAV, 2013). Todos os
dados sobre o peso dos animais foram tidos em conta para a simulação das emissões
totais anuais.
O efetivo animal assumido para o modelo foi composto por 28 vacas e 20 vitelos
durante o ano de estudo, traduzindo-se em 2 unidades animais ao ano. O stock de animais
ao ano teve em consideração o clima, precipitação, tamanho dos animais e seguindo as
regras estabelecidas pelo regulamento nº 889/2008 da União Europeia que define as
normas de produção, rotulagem e controlo da produção biológica. Segundo o
regulamento em questão o número máximo de animais por hectare é equivalente a 170
kg de nitrogénio por hectare ao ano, traduzindo-se em duas vacas adulta por hectare ao
ano e 5 vitelos por hectare ao ano (UE, 2008).
Para a região do Alentejo (B) a raça bovina selecionada foi a raça alentejana. A raça
alentejana é caracterizada pelo seu grande porte. O peso médio da fêmeas adultas varia
ente os 600kg a 700kg, os machos adultos desta raça podem atingir os 1000 kg de peso.
Os vitelos ao nascimento pesam em média 31kg24. O stock de animais assumido para a
simulação foi de 120 vacas adultas e 100 vitelos, traduzindo-se em 1 unidade animal ao
ano. O stock animal teve em conta o clima mais árido e variável dos montados
alentejanos. Comparando dados sobre a precipitação em outra zonas do globo com
valores semelhantes ao Alentejo é possível observar que a capacidade de carga em
ambientes semiáridos varia entre 1 a 1,6 animais por hectare ao ano (Alemu et al., 2017;
Dormaar and Willms, 1998). O sistema de pasto utilizado em ambos os cenários foi o
pasto de múltiplas cercas com rotação.
22 www.sprega.com.pt 23 www.amiba.pt 24 www.bovinoalentejano.pt e www.sprega.com.pt
82
Após aplicação do programa Holos, os resultados demonstram que em ambos os
cenários a fermentação entérica dos bovinos representa a maior fonte de emissões
poluentes das explorações. A fermentação entérica foi mais representativa no caso de
Beja com uma emissão anual de 571 Mg CO2e, ou seja, 76,6%.
No cenário da Maia a percentagem de emissões provenientes da fermentação
entérica rondam os 67,3% equivalentes a 70 Mg CO2e durante o período de um ano. A
segunda fonte de emissões mais significativas das explorações foi o óxido nitroso direto
com 26 Mg CO2e para a Maia e 133 Mg CO2e e para Beja. O óxido nitroso é um gás
produzido através da ação de microorganismos que decompõem a matéria orgânica em
especial compostos ricos em nitrogénio. A ação dos microorganismos ocorre dentro do
organismo dos bovinos assim como no solo fazendo-se assim a distinção entre emissões
diretas ou indiretas.
Gráfico 10 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa na Maia (Fonte: Elaboração Própria)
0
20
40
60
80
100
120
Mg CO2e
Emissões Anuais - Maia
83
Gráfico 11 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa em Beja (Fonte: Elaboração Própria)
A exploração localizada na Maia registou o maior número de emissões por hectare
durante o ano de simulação cerca de 5,7 Mg CO2e enquanto a exploração de Beja
registou 4,7 Mg CO2e por hectare ao ano (gráficos 10 e 11). Estes resultados são
interessantes quando comparados com o stock animal das duas localizações. A exploração
na Maia teve um stock de dois animais por hectare ao ano por sua vez em Beja o stock
animal por hectare ao ano foi de apenas metade contudo as emissões de gases de efeito
de estufa por hectare só registam um diminuição de 18,3%. Esta diferença é notada
também no trabalho de Alemu et al., (2017) onde ficou demonstrado que stocks mais
elevados de animais são mais eficientes relativamente as emissões de gases com efeito de
estufa. Uma variável importante para uma possível explicação desta diferença é o
tamanho e massa corporal dos animais em questão que é mais elevada para a raça
alentejana. Ao analisar os requerimentos alimentares das duas raças a explicação fica
reforçada sendo que a raça alentejana precisa em média de 21,46 kg de matéria seca por
dia enquanto a raça barrosã necessita apenas de uma média de 11,20 Kg de matéria seca
por dia. O maior processamento de matéria orgânica reflete-se numa maior produção de
gases com efeito de estufa por hectare.
Outro fator a ter em consideração nesta simulação que influencia o total de
emissões é o sistema de pasto escolhido. O sistema utilizado na elaboração dos gráficos
10 e 11 foi o sistema de múltiplas cercas contudo quando escolhido outro sistema de
pasto como o confinamento em estábulo ocorre uma diminuição de cerca de 12% em
0100200300400500600700800
Mg CO2e
Emissões Anuais - Beja
84
ambas as explorações. Já no caso do pasto contínuo regista-se um aumento das emissões
na ordem dos 10,5% em ambas as explorações. As diferenças no total de emissões
relativamente ao sistema de pasto podem ser explicadas pelos diferentes níveis de
atividade física exigida aos animais que se reflete na maior ou menor ingestão de
alimento.
Relativamente ao uso de energia o resultado é nulo porque não foi introduzido na
simulação qualquer tipo de atividade agrícola que necessite o uso de energia fóssil. O
sequestro de carbono também equivale a zero pois não existe nenhuma plantação de
árvores nas explorações e o uso no passado das terras simuladas não teve uma mudança
de uso. O sequestro de carbono por parte das terras de pasto é um fator importante no
abatimento de emissões do setor pecuário extensivo contudo o programa informático
não assume nenhum valor para a sequestro de carbono por parte do pasto sem que
ocorra uma alteração do uso da terra ou utilização de culturas agrícolas.
Um outro ponto que a simulação não consegue determinar são os serviços de
ecossistema prestados pelos animais. De forma a perceber o impacto do pasto no
território é necessário observação direta algo que uma simulação não consegue refletir. O
mesmo pode ser dito da aplicação da gestão adaptativa que implica o cruzamento de
dados climáticos com a observação direta de forma a maximizar a condição ambiental do
território. O objetivo de gestão de uma exploração pecuária extensiva é extremamente
importante para o seu desempenho ambiental. Por exemplo uma exploração orientada
para a criação de um solo fértil a sequestro de carbono ocorrida no solo é capaz de
mitigar as emissões entéricas produzida pelo sistema digestivo dos animais (Teague et al.,
2016; Janzen, 2011).
5.3- MEDIDAS A IMPLEMENTAR PARA UM SETOR PECUÁRIO MAIS SUSTENTÁVEL
Os recursos naturais são o fim de um longo processo de interação em permanente
evolução ente o Homem e a natureza (Ploeg et al., 2006). As atividades de produção
primária são aquelas mais dependentes desta interação e as que mais sofrem com um
desequilíbrio nessa interação.
O desenvolvimento agrícola e a exploração pecuária ao longo da Historia
partilharam uma relação de proximidade sendo em muitos casos complementares
ajudando a formar as paisagens que hoje conhecemos. A separação dois setores através
de sistemas intensivos de produção colocaram uma enorme pressão ambiental sobre os
85
recursos naturais verificando-se a sua degradação (Teague et al., 2016; Janzen, 2011;
Bjorklund et al., 1999). Um primeiro passo para um setor primário mais eficiente em
termos energético e de ciclagem dos nutrientes é uma aproximação do setor agrícola e
pecuário.
É necessário que os governos promovam legislação que incentive e promova a
adoção de práticas ambientalmente responsáveis no setor primário e que desincentive
práticas que necessitem de grandes inputs de energia, irrigação e fertilizantes químicos que
fragilizam o solo e a biodiversidade. A aplicação de uma taxa ambiental gradual para as
produções intensivas mais poluentes, especialmente explorações intensivas de bovinos,
seria uma tomada de posição importante para a internalização do custo ambiental deste
tipo de explorações. A contabilização das emissões de determinada exploração deveria
ter em conta o ciclo de vida dos alimentos destinados para a alimentação animal. Estima-
se que 32% da produção mundial de cereais é usada para a alimentação de gado sendo
bastante representativos na alimentação de animais em sistemas intensivos (Mottet et al.,
2017). A aplicação da taxa ambiental sobre as explorações pecuárias mais poluentes
levaria estes agentes a ponderar o uso de cereais na alimentação animal. Uma redução do
uso de cereais para a alimentação animal teria impactes positivos importantes não só
ambientais como também para a segurança alimentar global ao aumentar o número de
calorias disponíveis para consumo humano (Tisdell, 2015).
Para além de medidas pecuniárias um estímulo à reutilização de resíduos da
indústria alimentar para o setor pecuário seria uma medida importante de forma a reduzir
o peso do uso de cereais na alimentação animal. Um entrave na reutilização de resíduos
alimentares para a alimentação animal advém da própria União Europeia que proíbe a
utilização de resíduos de origem doméstica e de matadouro (Elferink et al., 2007ª;
Jędrejek et al., 2016). A lei comunitária restrita surgiu após os casos de encefalopatia
espongiforme bovina (EEB) nos anos 90 onde ficou provado a utilização incorrecta de
resíduos de origem animal para a alimentação de bovinos. Contudo a utilização de
animais omnívoros para a reciclagem de resíduos de origem animal sempre ocorreu e
ainda é efetuada em vários países na Ásia e América Latina sem consequências adversas
para a saúde humana (Fairlie, 2010). Uma revisão do tipo de resíduos que são admissíveis
para a alimentação animal e que animais os podem consumir, ajudaria os países da União
Europeia a pouparem nos custos de eliminação destes resíduos e ao mesmo tempo
transformá-los em produtos animais contribuindo assim positivamente para a sua
soberania alimentar.
86
Uma forma interessante de como os governos e os produtores agrícolas podem
acordar na resolução de problemas de carácter ambiental foi desenvolvida na Holanda no
final do século XX com a criação das primeiras cooperativas ambientais. Este conceito
inovador à época pretendia criar um estreitar de relações entre o poder estatal e as
associações agrícolas de forma a atingirem metas ambientais negociadas em vez de
impostas. As cooperativas comprometeram-se a uma redução na fuga de efluentes
danosos para o ambiente como o nitrogénio, cerca de 180kg de nitrogénio ao ano por
hectare. O estado por sua vez não impos qualquer norma de gestão deixando espaço de
manobra para cada exploração desenvolver as suas estratégias de redução de nitrogénio
(Ploeg et al., 2006).
É importante referir que o nitrogénio é essencial ao desenvolvimento das plantas
mas apenas uma fração do nitrogénio adicionado na fertilização da terra acaba
diretamente nas plantas pretendidas, uma grande parte é perdida para a água e para o ar.
No ecossistema o nitrogénio degrada-se em diferentes moléculas, como a amônia e
nitratos, cada uma destas diferentes moléculas causa impactes significativos no ambiente
(Janzen, 2011).
A maioria das explorações agrícolas na Holanda são legalmente obrigadas a um
conjunto de tecnologia e técnicas de gestão prescritas pelo estado. Esta pressão externa e
sancionamento tende a condicionar a adoção de técnicas alternativas. A vantagem das
cooperativas ambientais prende-se com o espaço de manobra negociado para atender às
necessidades do território e não às necessidades da lei (Ploeg et al., 2006).
As cooperativas agrícolas ambientais conseguiram resultados interessantes no que
diz respeito à redução de nitrogénio proveniente do estrume da produção leiteira na
Holanda. Ao contrário das estipulações da lei holandesa a gestão do estrume nestas
explorações foi realizado através da sua deposição à superfície em vez da injecção no
solo. Registou-se uma menor emissão de amónia e um aumento da produção de pasto.
Outra inovação introduzida na produção agrícola foi a alteração da dieta dos animais,
uma dieta mais rica em fibra e pobre em proteína demonstrou ser capaz de produzir
estrume com um rácio de alto carbono para baixo nitrogénio (Ploeg et al., 2006).
A ideia de estreitar relações e da flexibilidade de soluções encontradas nas
associações de produtores ambientais para resolver os problemas de poluição vai de
encontro com os ideais da gestão adaptativa.
A gestão adaptativa é talvez a medida mais importante a longo prazo de forma a
preservar os ecossistemas rurais e os seus serviços de ecossistema. No que diz respeito à
87
produção animal em sistemas extensivos as novas técnicas de gestão como a técnica de
múltiplas cercas têm dado provas da sua capacidade de regenerar o solo e atingir níveis
de produção iguais ou superiores aos convencionais (Díaz-Solís et al., 2016; Ferguson et
al., 2013; Arguello et al., 2010; Teague et al., 2009). Todo o enquadramento da gestão
adaptativa tem em conta a flexibilidade necessária a adaptar o sistema de exploração de
forma a potenciar as condições ambientais que ao mesmo tempo potencia a sua
rentabilidade. As próprias estratégias a aplicar poderão ser diferentes conforme as
diversas condicionantes ambientais e regiões do globo sendo assim necessário um
diálogo mais profundo entre produtores e decisores políticos de forma a adequar técnicas
e metas a atingir para determinados ecossistemas.
Em Portugal com uma posição geográfica vulnerável às alterações climáticas e um
setor pecuário representativo dentro do setor primário, torna-se urgente tomar medidas
de forma a proteger os sistemas extensivos de produção, ou seja, os próprios
ecossistemas únicos criados pelo Homem ao longo do tempo e todo o seu património
natural, cultural e histórico inerente.
CONCLUSÕES
A disponibilidade dos recursos naturais encontra-se ameaçada por uma série de
fatores naturais e antropogénicos. As alterações climáticas e a gestão descuidada dos
recursos naturais quando conjugada com a crescente população mundial deixam a crer
que uma possível crise ambiental venha a afetar as sociedades a nível global num futuro
próximo.
A produção pecuária tem sido alvo de um debate sério e justificado sobre a sua
sustentabilidade a longo prazo e quais as suas contribuições para a segurança alimentar a
nível global. Por um lado as contribuições para a disponibilidade de proteínas são
88
positivas por outro as emissões de gases com efeito de estufa associadas ao setor e o seu
consumo rival de alimentos, em especial os cereais, tornam a questão mais complexa.
Uma distinção importante que consegue esclarecer os impactes do setor pecuário é
uma análise dos sistemas de produção. O sistema intensivo é mais prevalente nos países
da OCDE apesar da maior eficiência de produção este apresenta graves problemas de
poluição. Por oposição os sistemas extensivos e mistos são mais prevalentes em países
menos desenvolvidos apesar da sua baixa produtividade são uma ferramenta importante
na manutenção das funções dos ecossistemas onde se inserem.
No futuro um novo olhar sobre estes sistemas de produção poderia fazer diminuir
o risco ambiental do setor e contribuir para a manutenção de ecossistemas mais
funcionais. Apesar da contribuição importante dos sistemas extensivos e mistos com
preocupações ambientais os atuais níveis de consumo são superiores aos possíveis níveis
de produção, nas melhores das hipóteses os estudos apontam para um valor a rondar os
70%. Sendo expetável que no futuro se registe um aumento do consumo de carne e
populacional as sociedades devem começar a debater seriamente quais são os níveis de
consumo que respeitam a nutrição humana e a sustentabilidade ambiental.
No que concerne aos sistemas de extensivos de produção verifica-se que desde o
início século XX que várias áreas do globo apresentam um processo de degradação
ambiental no qual o mais gravoso é a desertificação. Em resposta à grande variedade de
ecossistemas e climas que a atividade pecuária extensiva enfrentada surge o conceito de
gestão adaptativa. A gestão adaptativa pretende que a atividade económica promova e se
adapte à capacidade de carga do ambiente contribuindo assim para a sua sustentabilidade
a longo prazo. Dentro deste enquadramento, Allan Savory desenvolve a sua proposta de
gestão adaptativa, o Holistic Management. O debate sobre o sistema de pasto rotacional,
defendido por Savory, e os métodos mais convencionais ainda contínua em aberto tendo
a exploração da bibliografia demonstrado uma ligeira superioridade do pasto rotacional.
Quanto à necessidade de gestão do stock de animais em função das condições climáticas a
bibliografia é mais clara em demonstrar que uma gestão adaptativa consegue melhores
resultadas a nível económico e ambiental.
Analisando o setor pecuário extensivo em Portugal verificamos que é fortemente
influenciado pelas condicionantes ambientais. A diversidade climática contribui para a
diversidade natural refletida no extenso património genético oferecido pelas raças
autóctones portuguesas. As áreas mais importantes para a pecuária em Portugal inserem-
se em territórios de baixa densidade populacional como o Alentejo, Beira Interior e Trás-
89
os-Montes sendo essenciais para a economias locais. A aplicação do conceito de gestão
adaptativa daria aos gestores de explorações extensivas mais ferramentas de forma a gerir
o território contribuindo para a manutenção do fluxo de serviços de ecossistema. A
exploração pecuária extensiva gerida de forma adaptativa poderia fornecer um serviço de
ecossistemas com imensas mais valias para o nosso país nomeadamente no controlo da
vegetação. Portugal estando localizado na região do mediterrâneo ocidental experiência
uma alternância elevada entre períodos ou anos chuvosos e com períodos ou anos de
seca. Este fato torna o nosso país vulnerável a incêndios rurais. A utilização de animais
no controlo da vegetação já se encontra documentada em países mediterrânicos com
experiências de sucesso representando um benefício duplo para a sociedade.
Quanto às explorações hipotéticas realizadas nesta dissertação ficou patente que as
emissões de gases com efeito de estufa com maior peso no setor pecuário, em especial
nos bovinos, é a fermentação entérica e o óxido nitroso ambos ligados aos processos
químicos ocorridos no sistema digestivo dos animais. Fica também expresso a
necessidade de adequar a raça dos animais ao ambiente de forma a ter níveis de produção
mesmo em períodos de stress ambiental.
Uma das limitações desta dissertação reporta-se à falta de bibliografia sobre a
problemática dos sistemas de pasto em território europeu. A maioria da bibliografia
disponível é confinada ao continente Norte Americano, com especial destaque para os
Estados Unidos, Canadá e México respectivamente. Existe ainda estudos realizados em
África embora em menor quantidade. Outra das limitações prende-se ao modelo
informático HOLOS que não consegue estimar o sequestro de carbono efetuado pelo
pasto sobrestimando assim as emissões.
Num cômputo geral este trabalho representa uma mais-valia para o conhecimento
científico porque introduz uma ideia relativamente recente na discussão da gestão dos
ecossistemas de pasto e na protecção dos seus serviços de ecossistema. Apesar do
modelo informático não capturar todas as variáveis em jogo na gestão de uma exploração
agrícola ou pecuária não invalida a sua utilidade constituindo uma ferramenta importante
para perceber em termos quantitativos quais os subsetores da atividade na exploração
que mais contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa.
90
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101
ANEXOS
Experiências de Campo incluídas no trabalho de Briske et al. (2008) comparando o sistema de pasto rotacional e contínuo com o mesmo stock de animais
Autores Localização Anos de Estudo
Número de Cercas
Tamanho das cercas (experiências/explorações) %
Dias de Recuperação
Dias de Pasto
Gestão Adaptativa ou Fixa
McCollum et al., 1999 Oklahoma
5 8 10% 32 - 38 3 - 6 Fixa
Gillen et al., 1998 Oklahoma
5 8 10% 30 - 35 2 - 5 Fixa
Cassels et al., 1995 Oklahoma
5 8 10% 21 - 49 3 - 7 Fixa
Owensby et al., 1973 Kansas
17 26 10% 60 300 Fixa
Wood and Blackburn, 1984
5 4 100% 119 17 Fixa
Kothmann et al., 1971 Texas
8 4 100% 120 365 Fixa
Merrill, 1954 Texas 4 4 10% 120 365 Fixa
Fisher and Marion, 1951 Texas
8 5 2% 60 30 Fixa
McIlvain and Savage, 1951 Oklahoma
9 3 5% 60 30 Fixa
Derner and Hart, 2007a Wyoming
25 8 15% 16 - 49 2 - 7 Fixa
Manley et al., 1997 Wyoming
13 4 - 8 15% 21 - 49 3 - 7 Fixa
Biondini and Manske, 1996 N. Dakota
6 6 10% 45 15 - 30 Fixa
Hart et al., 1993a Wyoming
5 8 30% 21 - 49 3 - 7 Fixa
Hepworth et al., 1991 Wyoming
4 4 - 8 1% 21 - 49 3 - 7 Fixa
Hart et al., 1988 Wyoming
6 4 - 8 15% 21 - 49 3 - 7 Fixa
Rogler, 1951 N. Dakota 25 3 5% 120 365 Fixa
Derner and Hart, 2007b Colorado
9 7 Fixa
Smoliak, 1960 Alberta 9
2 20% não
disponível não
disponível Fixa
Hubbard, 1951 Alberta 6
3 10% não
disponível não
disponível Fixa
Laycock and Conrad, 1981 Utah
7 3 50% - 100% 365 45 Fixa
Hyder and Sawyer, 1951 Oregon
11 3 100%
não disponível
não disponível Fixa
102
Holechek et al., 1987 Oregon
5 2 10%
não disponível 90 - 365 Fixa
Martin and Severson, 1988 Idaho
13 3 50% - 100% 120 - 365
não disponível Adaptativa
Martin and Ward, 1976 Arizona
7 24 1% 120 - 240
não disponível Fixa
Ratliff, 1986 California 8
3 25% não
disponível não
disponível Fixa
Heady, 1961 California 5
3 1% não
disponível não
disponível Fixa
Barnes and Denny, 1991 Zimbabwe
6 4 - 8 1% 30 10 Fixa
Fourie and Engels, 1986
África do Sul
4 6 20% 35 7 Fixa
Fourie and Engels, 1985
África do Sul
4 6 20% 35 7 Fixa
Kreuter et al., 1984
África do Sul
8 6 5% 35 7 Fixa
Médias 8,4 6,4 21% 93 129
Gráfico I – Experiências de Campo (Fonte: Elaboração baseada em Teague et al. 2013)