PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARÁ - 2" VARA
Processo n. 3056-88.2015.4.01.3900Classe 7100 - Ação Civil PúblicaRequerente: Ministério Público FederalRequerido: Faculdade Universo -FAUN1 - Faculdade Maurício de NassauJuíza Federal; Hind G. Kayath
D E C I S Ã O
Cuida-se de ação civil pública, com pedido liminar, em que o MPF
objetiva seja determinado à Universo Professores Associados S/C Ltda. ME,
mantenedora da Faculdade Maurício de Nassau de Belém a imediata suspensão da
cobrança de qualquer tipo de prestação pecuniária como condição para: a) segunda
chamada; b) alteração de data para pagamento de mensalidade; c) cancelamento de
matrícula; d) pedido de reembolso ou da compensação de crédito; e) troca de campo de
estágio ou atividade prática; f) inclusão de atividades complementares e de alividades
práticas; g) análise de bolsa monitoria; h) mudança de curso; i) mudança de turma; j)
mudança de turno; k) dispensa/aproveitamento de disciplinas já cursadas; 1) solicitação
de desconto de convênio/CONSUP; m) trancamento de matrícula; n) insumos e
materiais para práticas académicas. Requer, ainda, que a demandada se abstenha de
impedir a rematrícula de alunos eventualmente inadimplentes e que seja obrigada a
reduzir os valores cobrados para emissão de 2a via de documentos, a fim de que
contemplem apenas o preço de custo, indicando a composição deste custo.
Com a inicial vieram os documentos de fls. 18-86.
Juízo Federal da 2a Vara (LU
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Brevemente relatados.
Passo à decisão.
Em qualquer ação de conhecimento, a concessão de medidas liminares
ou antecipatórias da tutela apresenta-se sempre com caráter excepcional, somente
sendo cabíveis quando presentes seus requisitos autorizadores.
No caso, o MPF pretende que a Instituição de Ensino Superior particular
suspenda a cobrança de taxas referentes a serviços que, segundo entende, estão
diretamente relacionados à prestação da atividade educacional. Consoante defende, a
cobrança das referidas taxas é ilegal não apenas porque os serviços a que se referem já
estão incluídos no valor das anuidades/semestralidades/mensalidades exigidas do
corpo discente, rnas também porque os valores exigidos são fixados unilateralmente
pela IES, representando não o preço de custo, mas verdadeira remuneração que impõe
aos consumidores onerosidade excessiva.
Pois bem. É assente que o ensino universitário é atividade delegada à
iniciativa privada e, portanto, submete a requerida às normas de direito público
pertinentes ao exercício deste mister.
Como consectário primário da delegação de atividade federal, tem-se que
as IES são equiparadas à repartição pública para os fins previstos no arl. 5°, XXXIV,
"b", da Constituição Federal, que assegura, nesse caso aos discentes, o fornecimento
gratuito de atestados e certidões que se prestam para "a defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal".
Daí que eventual cobrança que recaia sobre serviços desía natureza
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Juízo Federal tl;i 2-1 Vara (LL)
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afronta diretamente à norma constitucional e não pode ser admitida,
independentemente do que venha a dispor o demais do ordenamento jurídico no
âmbito infraconstitueional.
Para além disso, sem olvidar que o ensino superior quando prestado por
instituição privada representa relação de consumo que se submete à legislação civil e,
em especial à Lei n. 8,078/90, o exercício de atividade delegada também obriga a IBS
privada ao disposto no art. 209 da Constituição Federal, vale dizer, ao cumprimento
das normas de educação nacional, segundo os parâmetros definidos pelo legislador
ordinário e a Administração Pública.
Nesse sentido, o par. 7° do art. 1° da Lei n. 9.870/99, ao tratar do
fornecimento de material escolar, define regra segundo a qual os custos diretamente
relacionados aos serviços educacionais devem sempre ser inseridos no valor das
anualidades/semestralidades pagas pelos alunos, firmando nesse ponto limitação à
autonomia privada, que veda a cobrança indiscriminada de contraprestação pela
generalidade dos serviços prestados. Confira-se a literalidade do dispositivo:
Art. !'• O valor das anuidades ou das semestralidades escolares do ensinopré-escolar, fundamental, médio e superior, será contratado, nos termosdesta Lei, no ato da matrícula ou cia sua renovação, entre oestabelecimento de ensino e o aluno, o pai do aluno ou o responsável.
§ 7" Será nula cláusula contratual que obrigue o contratante aopagamento adicional ou ao fornecimento de qualquer material escolar deuso coletivo dos estudantes ou da instituição, necessário à prestação dosserviços educacionais contratados, devendo os custos correspondentes sersempre considerados nos cáleulos do valor das anuidades ou dassemestralidades escolares, (Incluído pela Lei n° 1.2.886, de 2013')
Juízo Federal da 2LL Vara (LL)
JUSTIÇAFRDERAÍ.
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Por outro lado, no que concerne à expedição de diploma e histórico
escolar, a Portaria Normativa n, 40/2007 do Ministério da Educação veda a cobrança
de quaisquer valores para expedição destes documentos, "ressalvada a hipótese de
apresentação decorativa, com a utilização de papel ou tratamento gráfico especiais, por
opção do aluno" (art. 32, par. 4°).
Dos dispositivos em questão depreende-se que, em um primeiro
momento, é a natureza do serviço a que se relaciona a taxa cobrada o fator
determinante para reconhecer-se a licitude da cobrança, pois, nos termos da Lei n.
9.870/99 os serviços ínsitos à própria atividade educacional já são remunerados pelas
anualidades/semestralidades, não admitindo quaisquer cobranças pela sua realização.
No tocante à expedição de 1a via de diploma e histórico escolar e fornecimento de
material escolar, por óbvio, não resta dúvidas quanto à impossibilidade de cobrança.
Nesse ponto, sobreleva notar que a Resolução n. 03/89 do Conselho
Federal de Educação, já extinto e sucedido pelo Conselho Nacional de Educação,
tratava expressamente da matéria, dispondo o seguinte;
Art. 4°. Constituem encargos educacionais de responsabilidade do corpodiscente:
I - a mensalidade;
U - a taxa;
III - a contribuição.
§ 1° A mensalidade escolar constitui a contraprestação pecuniáriacorrespondente à educação ministrada c à prestação de serviços a elavineulados como matrícula, estágios obrigatórios, utilização delaboratórios e biblioteca, material de ensino de uso coletivo, materialdestinado a provas e exames, de certificados de conclusão de cursos , de
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J u ÍTO Federa l da 2a Vara ( L L . ) " — — - • • - _ -^ -. — ™ ™ . - ,„
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identidade estudantil, de boletins de notas, cronogramas de horáriosescolares, de currículos e de programas.
§2° A taxa escolar remunera, a preços de custo, os serviçosextraordinários efetivamente prestados ao corpo discente como a segundachamada de provas e exames, declarações, e de outros documentos nãoincluídos no § 1° deste artigo, atividades extracurriculares optativas, bemcomo os estudos de recuperação, adaptação e dependência prestados emhorários especiais com remuneração específica para os professores.
No que concerne à vigência deste dispositivo, um tanto controvertida na
jurisprudência, valho-me do voto do Ministro Humberto Martins, proferido no recurso
especial n. 1.091.474/DF (STJ, segunda turma, julgado em 17/11/2009, DJe
25/11/2009), que segue transcrito na parte que interessa:
''As Leis Federais n. 9.131/95 e 9.870/99 não dispuseram de
maneira diversa nem revogaram expressamente o § l° acima
transcrito.
O argumento de que o nome. do "Conselho Federal de Educação"
foi alterado para "Conselho Nacional de Educação " - e portanto,
foram revogados todos os atos administrativos expedidos pelo
"Conselho Federal de Educação" -, não pode prosperar, uma vez
que a alteração na nomenclatura de um órgão ou entidade da
Administração Pública não tem o condão de invalidar os aios
administrativos expedidos com a nomenclatura, antiga.
A revogação pressupõe a similitude deformas; logo, representa um
ato formal volitivo da retirada expressa ou por incompatibilidade
de uma norma do mundo jurídico, sendo que, no presente caso, não
aconteceu. "
5Juízo Rxlerai da 21È Vara (U..) """*™ ™" """ ——-——-» — — — — —..,,.. ™._,™™™
JUSTIÇAFFDRRAI.
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Pois bem, na ausência de norma mais recente que disponha de forma tão
elucidativa acerca do que seriam serviços diretamente vinculados à atividade
educacional e quais outros serviços (denominados extraordinários) autorizariam a
cobrança de taxas pela IES, devem mesmo prevalecer os parâmetros definidos pelo art.
4°, §§ 1° e 2°, da Resolução n. 03/88 CFE, acima reproduzida.
Nesse sentido, confira-se o precedente do Tribunal Regional Federal da
1a Região, que bem representa a jurisprudência dos tribunais federais a respeito do
tema:
PROCESSUAL CIVIL, ADMINISTRATIVO E
CONSTITUCIONAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE
ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. NULIDADE DA
DECISÃO. LITISPENDÊNCIA. ENSINO SUPERIOR.
COBRANÇA DE TAXAS REFERENTES A DIVERSOS
SERVIÇOS EDUCACIONAIS ORDINÁRIOS.
DESCABIMENTO. RETENÇÃO DE PERCENTUAL DA
MATRÍCULA EM CASO DE DESISTÊNCIA. LIMITAÇÃO.
PRELIMINARES REJEITADAS. I - O Ministério Público Federai
está legitimado para ajuizar ação civil pública na defesa de
interesses individuais homogéneos do consumidor, de relevante
interesse público-social, como no caso, que versa a respeito de
supostas cobranças abusivas de taxas pela Instituição de Ensino
Superior. II - De igual modo, não há que se falar em
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Juízo Federal da 2;1 Vara (LL)
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impossibilidade jurídica do pedido ante a nomenclatura atribuída
aos valores cobrados pelos serviços educacionais prestados pela
agravante (taxa ou tarifa), importando tão somente, para fins de
admissibilidade da demanda proposta, a existência de previsão legal
da tutela jurisdicional perseguida pela parte autora, o que se verifica
na hipótese dos autos. 111 - Ademais, apesar de a recorrente prestar
serviço de caráter público, afigura-se inaplicável à espécie dos
autos a regra do art. 2° da Lei n° 8,437/92, que condiciona a
concessão de liminar em mandado de segurança e ação civil pública
à prévia audiência do representante judicial da pessoa jurídica de
direito público. Ainda que assim não fosse, não está caracterizado
qualquer prejuízo à agravante em decorrência do exercício do
contraditório diferido, na espécie, mostrando-se desarrazoada a
invocação de nulidade processual, na espécie. IV - Na hipótese dos
autos, não merece prosperar a alegada litispendência, tendo em
vista que o objeto da presente ação é mais amplo do que o deduzido
nos autos da primeira ação civil pública, sendo que esta foi
proposta também ern desfavor da União, enquanto aquela o foi
apenas contra a ora agravante. Com efeito, a princípio, não se
verifica no caso a identidade de partes, de causa de pedir c de
pedido (CPC, art, 301, §§ 1° e 2°). V - Conforme entendimento
jurisprudência! deste egrégio Tribunal, afigura-se ilegítima a
cobrança, pela Instituição de Ensino Superior, de serviços
educacionais ordinários, que, portanto, já estão inclusos no valor
pago pelos alunos a título de mensalidade. VI - Não obstante as
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Juízo Federal d a 23 Vara (IX) Processo n".1056-88.2015.4.01.3900 "" ~ • — •
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Instituições de Ensino Superior gozem de autonomia didático-
cicntífica e administrativa e de gestão financeira e patrimonial, não
se mostra razoável a cobrança de aplicação de provas e trabalhos
substitutos, nos casos de doença, aluna gestante, falecimento de pai,
mãe, cônjuge ou filho, nem mesmo a retenção de quantia superior a
10% (dez por cento) do valor da matrícula quando haja desistência
antes do início das aulas, o que certamente é o bastanle para
remunerar eventuais despesas administrativas. VII - Agravo de
Instrumento desprovido.
(AG 0078953-90.2012.4.01.0000 / MG, Rei. DESEMBARGADOR
FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJFl
p.314de 10/12/2013).
Quanto às taxas objeto da pretensão liminar ora em análise, o MPF
objetiva a suspensão de cobrança relativa à(ao) a) segunda chamada; b) alteração de
data para pagamento de mensalidade; c) cancelamento de matrícula; d) pedido de
reembolso ou da compensação de crédito; e) troca de campo de estágio ou alividadc
prática; f) inclusão de atividades complementares e de atividades práticas; g) análise
de bolsa monitoria; h) mudança de curso; i) mudança de turma; j) mudança de turno; \l U
k) dispensa/aproveitamento de disciplinas já cursadas; I) solicitação de desconto de
convênio/CONSUP; m) trancamento de matrícula; n) insumos e materiais para práticas
Juí/n Federal ifa 2:1 Vara (LL) Processo a"3 056-88.2015.4.01.3900
JUSTIÇAFEDliRM,
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académicas,
Utilizando-me, portanto, dos parâmetros objetivos acima definidos,
entendo que devera ser reconhecidas como ordinários, ou seja, relacionados à
educação ministrada, os serviços referentes ao cancelamento de matrícula; troca de
campo de estágio ou atividade prática; inclusão de atividades complementares e de
atividades práticas; dispensa/aproveitamento de disciplinas já cursadas; trancamento
de matricula; mudança de turma; mudança de turno e fornecimento de insumos e
materiais para práticas académicas.
Por outro lado, em princípio, é possível a cobrança de taxas para a
realização de segunda chamada; alteração de data para pagamento de mensalidade;
pedido de reembolso ou da compensação de crédito; análise de bolsa monitoria;
mudança de curso e solicitação de desconto de convênio/CONSUP, por se tratarem de
serviços que visam atender aos interesses particulares de um ou outro discente e,
portanto, não classificáveis como prestação de serviço educacional.
Como visto, trata-se de limitação à autonomia contratual decorrente da
expressa previsão constitucional de subsunção da IES às normas gerais de educação.
Mas este não é o único aspecto a ser levado em consideração.
Como se sabe, nos termos do art. 6°, IV, da Lei n. 8.078/90, é direito
básico do consumidor, "a protccão contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços".
Quanto à abusividade das cláusulas contratuais a legislação consumerista
Juízo Federal da 2? Vara (LL) Processo nlí3056-«8.2015.4.01..T)00
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estabelece ainda o seguinte:
Ari. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuaisrelativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, quecoloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejamincompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
§ 1° Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
í - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II ~ restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza docontrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outrascircunstâncias peculiares ao caso.
Significa dizer, mesmo quanto às cobranças autorizadas, segundo
fundamentação alhures, a liberdade contratual também é limitada pela proibição do
enriquecimento sem causa, que nas relações de consumo se revela na nulidade de
cláusulas contratuais que imponham desvantagem exagerada ao consumidor.
Aplicando a regra ao caso concreto, a cobrança de taxas pelos serviços
ditos extraordinários deverá obedecer a um parâmetro de proporcionalidade em relação
ao custo do serviço realizado, sob pena de onerosidade excessiva que torna nula a
cláusula contratual. Vale dizer, não é vedado às instituições de ensino superior
particulares a cobrança de taxas pelos serviços extraordinários que prestem aos
discentes, desde que o valor exigido dos consumidores guarde relação equitativa ao
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Juízo K-dural tia 2-1"Viira (l.i.) " " ' ' ™ " "~~~
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custo da prestação e não represente fonte de lucro para a instituição.
Assim tem decidido os tribunais federais, consoante o precedente colhido
do TRF 3;i Região, abaixo colacionado:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR.
INSTITUIÇÃO DE ENSINO. TAXAS POR SERVIÇOS
ORDINÁRIOS, COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL. LEGITIMIDADE ATIVA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
TAXAS POR SERVIÇOS EXTRAORDINÁRIOS. COBRANÇA.
POSSIBILIDADE. UNIÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA. DEVER DE
FISCALIZAÇÃO. NORMAS GERAIS. 1. A ré tem natureza jurídica de
instituição privada de ensino superior e, como tal, atua no exercício de
delegação federal, o que atrai a competência desta Justiça, a teor no
disposto no art. 109, I, da Constituição da República. Ademais, sendo a
União parte nos autos, de qualquer forma, estaria estabelecida a
competência da Justiça Federal. 2. O litígio envolve interesse colelivo,
eis que os consumidores ligam-se à instituição de ensino por intermédio
de uma relação jurídica base, nos termos do art. 81, II, da Lei n.°
8,078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Tendo cm vista a
relevância de tal interesse, intimamente relacionado ao direito
fundamental à educação, esta C. Sexta Turma tem entendido pela
legitimidade ativa ad causam do Ministério Público para tutelá-lo. 3. A
matéria trazida aos autos é de interesse da União, uma vez que se
encontra em suas competências a atribuição de fiscalizar o cumprimento
de normas gerais sobre educação. 4. Tendo em vista que a presente ação
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Juízo l-cder^ídii2 :L Vam(lT^) """""""""" ~ " " "~ """ "
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foi extinta sem julgamento do mérito, em razão da ilegitimidade atíva ad
causam do Ministério Público Federal e estando o processo em termos de
imediato julgamento, mostra-se possível a análise do mérito, com arrimo
no art. 515, § 3°, do CPC. 5. Da ilação do art. 4", parágrafos 1° a 3° c/c
art. 11 da Resolução n.° 01/83 do então Conselho Federal de Educação,
modificada pela Resolução n.° 03/89, infere-sc que os custos da
expedição da maior parte dos documentos em questão estão abrangidos
pelo valor pago a título de mensalidade. 6. Afigura-se abusiva a cobrança
de taxas específicas para as finalidades em comento, nos termos do art.
51 do CDC, sendo de rigor a restituição dos valores indevidamente pagos
a esse título, sob pena de enriquecimento sem causa. 7. Não obstante, as
taxas por compensação de ausência às aulas e solicitação de trabalhos
domiciliares, por remunerar, nos termos do § 2°, do art. 4" da resolução
supracitada, serviços extraordinários, podem ser exigidas a preço de
custo, não havendo que se falar em restituição. 8. Inaplicáveis à espécie
os prazos decadenciais a que aludem os arts. 18, § 1°, II e 26, II e § 1° do
CDC, por não se tratar de responsabilidade do fornecedor por vício no
produto ou serviço, mas de cobrança indevida. Todavia, incide na
hipótese o prazo prcscricional quinquenal, nos termos do art. 27 do
mesmo Código, contado retroativamenle a partir da propositura da ação.
9. Desacolhido o pedido de restituição em dobro, nos termos do art. 42
do CDC, pois não restou demonstrada a cobrança mediante exposição ao
ridículo, constrangimento, ameaça ou mesmo rná-fé da instituição de
ensino, sobretudo porque decorreu de interpretação equivocada da \J(}$—
legislação de regência. 10. No que concerne à União, inegável c a sua
competência para fiscalizar as instituições de ensino superior. No
entanto, não é possível condená-la a fiscalizar especificadamente
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7uí/n Federal cli i 2a Vara (U,) ' r rocc ' s so~n^056-S8.2<H5/1 .01 .3900~~ "~
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determina instituição, visto que esse tipo de determinação adentra à
esfera de compete n cias do Poder Executivo. 11. Sem condenação em
custas e honorários advocatícios, nos termos do art. 18, da Lei n.°
7.347/93. 12. Matéria preliminar rejeitada. Apelação provida para afastar
a extinção sem resolução do mérito. Pedido parcialmente procedente.
(AC 00079985220084036100, DESEMBARGADORA FEDERAL
CONSUELO YOSHIDA, TRF3 - SEXTA TURMA, C-DJF3 Judicial l
DATA:20/09/2013..FONTE_REPUBL1CACAO:.)-
Nesse ponto, porém, na atual fase do processo não ficou demonstrado
que as taxas autorizadas esteiam sendo cobradas em valor excessivo em relação aol •* -j
custo real da prestação, o que impede maiores ilações quanto a uma eventual
ilegalidade daí decorrente.
Por outro lado, quanto ao pedido de redução dos valores cobrados para
emissão de 2a via de documentos, observando os vaíores constantes da tabela de
requerimentos anexa ao contrato de prestação de serviços educacionais, à fl. 46,
constata-se que o valor exigido pela expedição de 2a via do Diploma de conclusão do
curso apresenta discrepância significante em relação aos demais documentos,
indicando haver uma desproporção que merece maior atenção.
Por fim, mas não menos importante, quanto à eventual negativa da
instituição de ensino em efetuar a rematricula de alunos que estejam inadimplentes
com as taxas ora crn análise, observa-se que, nos termos dos art. 5° e 6C1 da Lei n.
9.870/99, as instituições de ensino são proibidas de suspender a aplicação de provas,
reter documentos ou aplicar qualquer espécie de sanção pedagógica aos alunos que se
encontrem em situação de inadimplência quanto às anuidades escolares. Porém,
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Juízo í-cdcrat da 2 a Vara (LI,) Processo n'?>056-8K.201 SAI 1 . 3 9 0 0 ~ ™ ~ " ~
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tratando-se de inadimplentes, fica autorizada a não renovação do vínculo académico.
Ocorre que esta norma, inserida no contexto da Lei n. 9.870/99, que trata
das anuidades escolares, por ser restritiva de direitos, não pode ser interpretada
extensivamente à inadimplência decorrente de cobranças diversas das anuidades.
Corn efeito, mesmo quando a cobrança possa ser classificada como
decorrente de serviço extraordinário e praticada em preço não abusivo, portanto,
legítima, ainda assim, havendo meios próprios de cobrança previstos no ordenamento
jurídico, a eventual negativa de renovação do vínculo académico tão somente peio
inadimplemento de quaisquer destas taxas revelar-se-ia como abuso de direito,
rechaçada pela legislação civil, consoante dicção do art. 188, parágrafo único do CC.
Ante o exposto, defiro em parte o pedido de concessão liminar para
determinar à requerida que:
a) suspenda a cobrança de qualquer tipo de prestação pecuniária
como condição para: a.l) cancelamento de matrícula; a.2) troca de campo de estágio
ou atividade prática; a.3) inclusão de atividades complementares e de atividades
práticas; a.4) dispensa/aproveitamento de disciplinas já cursadas; a.5) trancamento de
matrícula; a.6) mudança de turma; a.7) mudança de turno e a.8) fornecimento de
insumos e materiais para práticas académicas.
b) abstenha-se de impedir a rematrícula de alunos eventualmente
inadimplentes.
c) na emissão de 2;i via do Diploma de Conclusão do Curso, limite-
se a cobrar apenas o valor correspondente ao custo, que deverá ser informado.
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Juízo Federal dii 2^Wara (LL) Processo n ' 3 0 5 6 - ^ . 2 ( ) i 5 . 4 7 o 7 . 3 1 ) U O " - - - - . . -