Download - Portefolio de poemas_5_6_anos
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
O Gato das Botas e o Marquês de Carabás
-Sape Gato lambareiro,
tira a mão do açucareiro!
O açúcar tem torrões,
cada torrão dez tostões!
- Ó meu amo, dez tostões
é muitíssimo dinheiro!
Se eu tivesse dez tostões
bem que podia comprar
rojões, toucinho e galinha.
Convidava para cear
as gatinhas da rainha:
a do pelo de enrolar,
a branca e a siamesa,
três prodígios de beleza,
todas três à minha mesa…
- E a mim não me convidavas?
- Ó meu amo, eis a questão:
convidava mas primeiro
havia de pôr a mão
nos torrões do açucareiro!
Violeta Figueiredo, O Gato de Pelo em Pé, Ed. Caminho, 1997
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A casa da poesia
...Na casa da poesia
há sempre uma luz acesa
e uma vela que alumia
com a intensa luz do dia
a mágoa ou a tristeza
e que convida duendes e fadas
para nos fazerem companhia
nas longas madrugadas...
...A poesia tem uma casa
como as pessoas têm,
só que é diferente,
só que tem espaço
para todos quantos
nela querem entrar
com a terna alegria
de quem a vai habitar...
« A poesia gosta de acordar cedo
para ouvir os pássaros a cantar
e os rios a correr
e os sonhos a acordar
dentro da cabeça
de quem não os quer deixar morrer.
A poesia junta os sons
com a delicadeza
das bordadeiras e dos ourives
quando querem
que aconteça beleza.»
José Jorge Letria
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Encontro
Marquei encontro
Com o sol
Esta manhã.
Em vez do sol
Veio a nuvem
Com os seus pezinhos de lã.
Pôs-se a chorar à janela
Para eu a deixar entrar,
De lágrimas fez um rio
Que vai na rua a passar.
Marquei encontro
Com o sol
Esta manhã.
Em vez do sol
Veio o vento
E pôs tudo em movimento.
Varreu as folhas do chão,
Varreu a nuvem do ar.
Entrou-me pela janela
Um raio de sol a brilhar.
Marquei encontro
Com o sol
Esta manhã.
Não vou faltar ao encontro.
Até amanhã.
Luísa Ducla Soares, A Gata Tareca e Outros, Poemas levados da Breca, Ed. Teorema,
1990
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A Nau Mentireta
Lá vem a Nau Mentireta
Que tem muito para contar,
Já passa mais de ano e dia
Que anda nas ondas do mar.
Já não tem que comer
Nem tostas nem marmelada,
Basta deitar-se uma rede.
Apanha-se uma pescada.
No outro lado do mundo
Foi à ilha do tesouro
Encontrou lá cem meninas
Todas com cabelo de ouro.
Junto da costa africana
O Gigante Adamastor
Como estava constipado
Pediu-lhe um cobertor.
Sobre um banco de coral
Cantava doce sereia.
Quando a quiseram beijar
Levaram bela tareia.
Veio um barco de piratas
Todos com perna de pau,
Dar-lhes na ponta da espada
Bolinhos de bacalhau.
Partiram para a Terra Santa,
Só viram a guerra errada,
Em nenhuma havia santos
E todas tinham pancada.
Quando apertava o calor
Foram à Índia distante.
Para fazer de chuveiro
Compraram um elefante.
Descobriram no Brasil
O Carnaval e o Samba.
De tanto que lá dançaram
Ficaram de perna bamba.
Sempre que o vento faltava
Punham-se a pedir boleia.
É fácil no alto-mar
Porque há lá tanta baleia.
Já veem terras de Espanha,
Areias de Portugal,
Três burros tocando flauta
Debaixo de um laranjal.
Maria Luísa Ducla Soares, A Nau
Mentireta, Editora Civilização
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Vem o Vento
Volta e meia
vem o vento
varrer tudo,
vassourar.
Vai-te, vento,
diz a velha
com o véu
a voltejar.
Viva o vento,
diz a erva
verde, verde
de verdade.
Viva o vento,
diz a vela.
Volte, volte,
não se atarde.
Venha o vento,
diz a Vanda
com o vestido
por secar.
Vai-te, vento,
diz a Vânia
com a saia
a levantar.
Venha o vento,
diz o Vítor
alteando o papagaio.
Vai-te, vento,
diz a uva
na videira,
senão caio.
Mas o vento
não os ouve.
Vai e vem,
não faz vontades.
Corre o mundo,
aqui, além
sobre os campos
as cidades.
É o vento
sem maldade
tão contente
de ser vento
pensamento
sentimento
em movimento.
Liberdade.
António Torrado, À Esquina da Rima
Buzina, Editorial Caminho, 2006
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
O dragão
Pela boca deito chamas,
pelas narinas também.
Sou o dragão das fábulas
Que não faz mal a ninguém.
Já combati guerreiros
Com armaduras de vento
E assaltei castelos,
Mas só em pensamento.
Já raptei princesas,
Filhas de reis tiranos,
E dou por mim a pensar:
Foi há tantos, tantos anos!
Os chineses acreditam
Que ainda tenho o meu lugar
Nos sonhos e nos folguedos
Que fazem para me agradar.
Para eles não sou maldito
Sequer ameaçador.
Sou pássaro e sou serpente,
Sou o dragão voador.
Já resisti a feitiços
De duendes, bruxas e fadas
E tenho lugar cativo
Nas histórias encantadas.
José Jorge Letria, Os animais
Fantásticos, Texto editores
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Viagem de ida e volta
A menina lagartixa
Toda verde e espevitada,
Meteu-se na longa bicha
De carros na autoestrada.
Já estava farta da terra,
Buscava grandes cidades,
Farta de ervas e de campos,
Queria outras novidades.
Comprou um apartamento
Num centésimo andar,
Donde só via cimento,
Chaminés a fumegar…
Era fumo e era pó,
Era tudo escuridão…
Ficou rouca, ficou muda
Com tanta poluição!
Para ver o movimento,
Foi para a rua passear…
Perdeu-se no pavimento,
Sem saber onde virar…
Eram gritos e apitos,
Tanto choque e empurrão!
Ficou tonta, ficou zonza
Com tamanha confusão!
A menina lagartixa,
Toda verde e espevitada,
Meteu-se outra vez na bicha
De carros numa autoestrada.
Quis voltar para a sua terra,
Deixar, enfim, as cidades,
Para ver bichos, ver sol,
De quem já tinha saudades…
Mariana Aguilar, Poetas de ontem e de hoje,
Lisboa, Chimpanzé intelectual, 2008
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A Triste História do zero poeta
Numa certa conta havia
um zero dado à poesia
que tinha um sonho secreto:
fugir para o alfabeto.
Sonhava tornar-se um O
nem que fosse um dia só,
ou ainda menos: só
o tempo de dizer: ”Oh!”
Nos livros e nas seletas
o que mais o comovia
eram os “Ohs!” que os poetas
metiam nas poesias!)
Um “Oh!” lírico & profundo,
um só “Oh!” lhe bastaria
para ele dizer ao mundo
o que na alma lhe ia!
E o que na alma lhe ia!
sonhos de glória, esperanças,
ânsias, melancolia,
Recordações de criança;
além de um grande vazio
de tipo existencial
e de uma caixa que um tio
lhe pedira para guardar
e ainda as chaves do carro
e uma máscara de entrudo…
Não tinha bolsos, coitado,
guardava na alma tudo!
A alma! Como queria
gritá-la num “Oh!” sincero!
Mas não passava de um zero
que oh!, não se pronuncia…
Daí que andasse doente
de grave doença poética
e em estado permanente
de ansiedade alfabética.
E se indignasse & etc.
contra o destino severo
que fizera dele um zero
com uma alma de letra!
Tanta ambição desmedida,
tanto sonho feito pó!
E aquele zero dava a vida
para poder dizer “Oh!”…
Manuel António Pina, Pequeno livro da
Desmatemática, Assírio&Alvim
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Balada da Neve
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim…
É talvez a ventania;
Mas há pouco, poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…
Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria…
-Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olhou-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro bem definidos.
-Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dás tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa,
Cai neve na natureza…
-E cai no meu coração.
Augusto Gil, in Os melhores Poemas para
Crianças, Oficina do Livro
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
O Menino Azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios
das montanhas, das flores,
- de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar
histórias bonitas,
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tem fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Rua das Casas,
Número das Portas,
Ao Menino Azul que não sabe ler.)
Cecília Meireles, «O Menino Azul»,
In Ou Isto ou Aquilo, Editora Nova Fronteira
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
As Árvores e os Livros
As árvores e os livros têm folhas
E margens lisas ou recortadas
E capas (isto é copas) e capítulos
De flores e letras de oiro nas lo0mbadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
As mais fantásticas aventuras,
Que se podem ler nas páginas,
No pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
E até há florestas especializadas,
Com faias, bétulas e um letreiro
A dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
No teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca
Basta um vazo de sardinheiras.
Jorge Sousa BRAGA, Herbário, Assírio & Alvim
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A minha casinha
Fiz uma casinha
de chocolate
tapei-a por cima
com um tomate.
Pus-lhe uma janela
de rebuçado
e mais uma porta
de pão torrado.
Pus-lhe um chupa-chupa
na chaminé;
a fazer de neve,
açúcar pilé.
A minha casinha
bem saborosa…
comi-a ao almoço.
Sou tão gulosa!
Luísa Ducla SOARES,
Poemas da Mentira e da Verdade
Livros Horizonte
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Canção de Garoa1
Em cima do meu telhado.
Pirulin lulin lulin,
Um anjo todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
E chove sem saber porquê…
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin…
Mário QUINTANA, Poesias,
Ed. Globo
1 Garoa: palavra que se usa no Português do Brasil para designar a chuva miudinha e persistente;
morrinha.
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Veio de Longe…
Veio de longe muito longe
Numa bicicleta preta
E trazia na mão uma flor
Que era também uma caneta
Desceu da bicicleta e escreveu
Numa parede no meio da cidade
Com a caneta que era uma flor
A palavra amizade.
António José FORTE, Uma Rosa na Tromba
De um Elefante, Cabra.Cega
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A cigarra e a formiga
Tendo a cigarra em cantigas
Passado todo o Verão
Achou-se em extrema penúria
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
foi valer-se da formiga
que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
pois tinha riqueza e brio,
algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso estio.
«Amiga (diz a cigarra),
Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos antes d’Agosto
Os juros e o principal.»
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso ajunta.
«No verão, em que lidavas?»
À pedinte ela pergunta.
Bocage, “A cigarra e a formiga””, Sophia de Mello Breyner Andresen, Primeiro livro
de poesia – poemas em língua portuguesa parra a infância e adolescência, Lisboa,
Caminho 1999, pp.28-29
Responde a outra: «Eu
cantava
Noite e dia, a toda a hora.»
«Ah! bravo! (torna a
formiga)
— Cantavas? Pois dança
agora.»
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
As Estações
O Inverno
Sou a estação do frio;
O céu está sombrio,
E o sol não tem calor.
Que vento nos caminhos!
Tragos a tristeza aos ninhos,
E trago a morte à flor.
Há nevoa no horizonte,
No campo e sobre o monte,
No vale e sobre o mar.
Os pássaros se encolhem,
Os velhos se recolhem
À casa a tiritar.
Porém fora a tristeza!
Em breve a Natureza
Dá Flores ao jardim:
Abramos a janela!
Outra estação mais bela
Já vem depois de mim.
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da Natureza!
Olavo Bilac, “As Estações”, in Poesias Infantis, Studio Nobel
(texto com supressões)
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
As Estações
A Primavera
Eu sou a primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu !
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a primavera,
A flor das estações!
Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza!
Já nos voltou a alegria!
Olavo Bilac, “As Estações”, in Poesias Infantis, Studio Nobel
(texto com supressões)
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
As Estações
O Verão
Sou o Verão ardente,
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
O fogo das queimadas
Começa a se acender.
Tudo de luz se cobre ...
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do provido Verão.
Sou o Verão fecundo!
Nasce no céu profundo
Mais rútilo o arrebol ...
A vida se levanta ...
A Natureza canta ...
Sou a estação do Sol!
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra d'estas mangueiras
Olavo Bilac, “As Estações”, in Poesias Infantis, Studio Nobel
(texto com supressões)
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
As Estações
O Outono
Sou a estação mais rica:
A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a Criação,
Concede a Natureza
O premio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador.
Vede como o galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai...
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!
Coro das quatro estações:
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs! Enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
Olavo Bilac, “As Estações”, in Poesias Infantis, Studio Nobel
(texto com supressões)
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Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Loas à Chuva e ao Vento
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...
Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...
Muito de mansinho
Em meu coração.
Já não tenho lenha,
Nem tenho carvão...
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...
Que canto tão frio
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto do Inverno...
Pingue...
Matilde Rosa Araújo,
In Livro da Tila, Livros Horizonte
Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento,
O canto do Inverno...
Vu...
E os pássaros cantam
E as nuvens levantam!
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“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Brinquedo
Foi um sonho que tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ía subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel,
E o menino ao vê- la assim, sorriu
E cortou- lhe o cordel.
Miguel Torga, Poesia Completa, Dom Quixote
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Ou Isto ou Aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Cecilia Meireles, Ou Isto ou Aquilo, Editora Nova Fronteira
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, Papagaio, pião.
Só que
bola, Papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não;
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
José Paulo Paes, in Olha o Bicho, Ática
1ª Edição do Concurso Concelhio de Leitura
“Odemira aLer+”
Poemas 5º e 6º Anos
2012/ 2013
A Moleirinha
Pela estrada plana, toque, toque, toque,
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque,
A velhinha atrás, o jumentito adiante!...
Toque, toque, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque, toque, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.
Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, a moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.
Toque, toque, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toque, toque, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...
Toque, toque, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d’astros o luar sem véu,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que mói estas farinhas d’oiro
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!
Guerra Junqueiro, “A Moleirinha” (com supressões), in Os Simples, Lello Editores