Download - Panamby Magazine Maio 2015
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015
PARAISÓPOLIS EM EVIDÊNCIA
É hora de falar de política com as crianças
Winter Park:Charmoso roteiro
nos arredores de Orlando
As atrizes Bruna Marquezine e Tatá Werneck gravando
cena da novela i love Paraisópolis.
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Centro Comunitário de Trabalho mantido pelas obras sociais do Mosteiro são Geraldo, mantenedora do Colégio santo Américo.
DIRETORES: luiza oliva ([email protected]) e Marcelo santos ([email protected]) FOTOGRAFIA: Juliana Amorim CRIAÇÃO E ARTE: Adalton Martins e Vanessa Thomaz ATENDIMENTO AO LEITOR: Catia Gomes IMPRESSÃO: laser Press PERIODICIDADE: Mensal CIRCULAÇÃO: Condomínios de alto padrão e comércio do Panamby JORNALISTA RESPONSÁVEL: luiza oliva MTB 16.935
PANAMBY MAGAZINE é uma publicação mensal da Editora leitura Prima. PANAMBY MAGAZiNE não se responsabiliza pelos serviços, informes publicitários e produtos de empresas que anunciam neste veículo.
REDAÇÃO, PUBLICIDADE E ADMINISTRAÇÃO: Al. dos Jurupis, 1005, conj. 94 – Moema – são Paulo – sP Tel. (11) 2157-4825, 2157-4826 e 98486-3000 – [email protected] – www.leituraprima.com.brM Tecnologia e Comunicação ltda.
sUMÁrio
Foto da capa: Globo / Zé Paulo Cardeal
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CAPA Paraisópolis em evidência
14 VIAGEMWinter Park
20 PARQUE BURLE MARXMobília sustentável
ANO 2 | Nº 14 | Maio 2015
Divu
lgaçã
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uza
22 EDUCAÇÃOPolítica e nossos fi lhos
24 SOLIDARIEDADElivro do bem
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EDiToriAl
caro morador do PANAMBY
Nesta edição de Panamby Magazine, não temos
a pretensão de discutir os problemas de Parai-
sópolis, mas de mostrar o que de bom aconte-
ce dentro da comunidade. são projetos sociais, muitos
mantidos por empresas ou moradores voluntários do
Morumbi e do Panamby, que acreditam na educação, na
cultura e no esporte como forma de mudança de vida.
Enquanto a Globo coloca no ar i love Paraisópolis, sua
nova novela das sete, com as atrizes Bruna Marquezine
e Tatá Werneck vivendo moradoras da comunidade, a
União de Moradores lança a campanha Eu amo Paraisó-
polis, mobilizando a população por melhorias junto à Pre-
feitura e ao Governo do Estado. Do lado de fora de Parai-
sópolis, cidadãos continuam alarmados com os inúme-
ros casos de violência, muitas vezes com relatos de ban-
didos sendo vistos fugindo para dentro da comunidade.
Estima-se que em Paraisópolis, área de um quilô-
metro quadrado, vivam hoje 100 mil pessoas. A história
da comunidade é longa. Em 1920, a área foi fatiada em
2.200 lotes pela União Mútua Companhia Construtora e
Crédito Popular s.A., que deu o nome de Jardim Paraisó-
polis ao novo bairro. segundo informa o jornalista levi-
no Ponciano, autor do livro Bairros Paulistanos de a a Z,
da Editora senac, a infraestrutura do loteamento não
foi completamente implantada e muitos dos que adqui-
riram esses lotes nunca tomaram posse efetiva e nem
pagaram os tributos devidos. “reza uma lenda que, com
a desistência da União Mútua, o Exército brasileiro che-
gou a pensar nos anos de 1930 em instalar ali um grande
quartel. Eram os quentes tempos da revolução Consti-
tucionalista de 1932. A ideia não foi para frente e as pes-
soas foram lentamente se achegando”, diz levino.
Foto
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ção
Nos anos 1950, famílias japonesas se instalaram na
área, transformando-a em pequenas chácaras e venden-
do alguns lotes. Mas foi com a valorização imobiliária do
Morumbi que Paraisópolis foi crescendo. Nas regiões vizi-
nhas surgiram as favelas Jardim Colombo e Porto seguro.
Confi ra ainda nesta edição como um exemplar de
pau-ferro caído no Parque Burle Marx está se transfor-
mando em mobiliário sustentável para os usuários do
parque. Trazemos também uma dica de viagem para
Winter Park, agradável opção de passeio a meia hora de
orlando. Na página 22, acompanhe entrevista com o es-
critor e educador Edson Gabriel Garcia, que aborda como
e por que devemos falar de política com nossas crianças
e jovens.
Boa leitura e até o próximo mês.
Luiza Oliva
Editora
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www.facebook.com/panambymagazine
Núcleo santo Estevão rei, do Mosteiro são Geraldo.
Ballet Paraisópolis: projeto de sucesso.
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CAPA
Projetos sociais que atuam em Paraisópolis procuram dar melhores condições de vida à população da comunidade, além de acesso à cultura e esportes.
PArAisóPolis em evidência
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Glo
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Francisca Rodrigues / Orquestra Filarmônica de Paraisópolis
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Muitos dos projetos que encantaram os autores de i
love Paraisópolis existem pelo empenho de voluntários,
oNGs e instituições privadas que apostam na educa-
ção, na saúde, no esporte e em atividades culturais para
promover uma melhor qualidade de vida aos moradores
da população de Paraisópolis. Empresas como Hospital
Albert Einstein, Cia Porto seguro, Colégio Pio Xii, Colégio
Porto seguro, igreja Anglicana, Colégio santo Américo e
Bovespa, entre outras, atuam com projetos sociais em Pa-
raisópolis. Em 1994 foi criado o Fórum Multientidades de
Paraisópolis, que congrega as oNGs do bairro. são cerca
de 25 entidades que operam em rede, com reuniões men-
sais nas diversas organizações em sistema de rodízio. o
Fórum não tem fi liação política, religiosa ou comercial.
o entusiasmo dos autores da novela com a diversidade
de projetos sociais em atuação na comunidade se justifi -
ca. Há projetos estimulando a prática de esportes como
judô, rugby e skate, e culturais, como orquestra e ballet. Al-
guns projetos são aprovados por leis de incentivo à cultu-
ra. Um deles é o Ballet Paraisópolis, incentivado pelo Pro-
AC, da secretaria de Cultura do Estado de são Paulo, com
patrocínio TiM e pela lei rouanet, patrocinado pelo itaú.
idealizado pela coreógrafa Mônica Tarragó, com apoio da
União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, o bal-
let deu seus primeiros passos em 2012. Hoje atende 300
crianças a partir dos oito anos, que sonham em seguir car-
reira como bailarinos. os alunos estudam ballet clássico e,
a partir do quarto ano, também dança contemporânea. o
projeto é profi ssionalizante e tem a duração de oito anos.
Depois de formados poderão ser professores de ballet ou
atuar em companhias nacionais e internacionais. Mesmo
que não seguirem a carreira, saem com compostura, dis-
egunda maior comunidade de são Paulo, atrás
apenas de Heliópolis, Paraisópolis está na boca
do povo. Afi nal, a próxima novela das sete da Glo-
bo, que estreia dia 11 de maio, tem Paraisópolis como per-
sonagem principal. i love Paraisópolis conta a história das
amigas-irmãs Marizete (Bruna Marquezine) e Pandora, a
Danda (Tatá Werneck), moradoras da comunidade, e de
Benjamin (Mauricio Destri), morador do Morumbi e pre-
miado arquiteto que volta de Nova York para realizar seu
grande projeto: a reurbanização de Paraisópolis.
Para os autores Alcides Nogueira e Mario Teixeira, Pa-
raisópolis é um microcosmos de são Paulo. “É fascinante
você ter um bairro como o Morumbi colado a uma das
maiores comunidades de são Paulo, esses dois universos,
essas duas arenas separadas só por uma rua. Queríamos
ver e entender como esses dois universos interagem, não
discutir a diferença social, o interesse de classes”, dizem. o
objetivo dos autores coincide com o desejo de muitos mo-
radores do Morumbi. “o contraste social existe em toda a
cidade e aparece com mais força no Morumbi. Mas a no-
vela não deve reforçar estereótipos. o Morumbi tem mo-
radores muito unidos, que batalham por um bairro melhor
para todos. É preciso mostrar os dois lados”, aponta Va-
léria inati, moderadora da página no Facebook Moradores
do Morumbi, com quase 10 mil membros, que discutem
principalmente questões de segurança no bairro.
os autores da trama reforçam que irão mesclar ro-
mance com humor, o lado humano e também muita
aventura. “É uma comédia de costumes, baseada numa
trama realista e em personagens muito humanos”, apon-
ta Mario Teixeira. os dois frisam que lhes chamou muito a
atenção o núcleo artístico da comunidade. “Tem o Este-
vão Conceição, considerado o Gaudí brasileiro, o Berbela
que é um artista plástico que trabalha com a sucata de
carros, o ballet de Paraisópolis, a sinfônica... Eles têm um
time de rugby, é fantástico!”, surpreendem-se.
Muitos dos projetos que encantaram os autores de i
Bruna Marquezine vive Mari, moradora de Paraisópolis, na próxima novela das sete.
8
CONHEÇA ALGUNS PROJETOS DE PARAISÓPOLIS
CAPA
ciplina e responsabilidade para o mercado de trabalho.
segundo Mônica, há 900 crianças na fi la por uma vaga no
Ballet. “Mudamos para um novo prédio para receber me-
lhor as crianças. Mas, para abrir mais turmas precisamos
de mais patrocínio”, diz Mônica, que começou a atuar em
Paraisópolis há cinco anos como voluntária. “Acredito que
quanto mais arte, cultura e educação Paraisópolis tiver,
melhor. os projetos sociais que atuam com os moradores
vêm para modifi car a comunidade”, aponta.
Aprovada pela lei rouanet, a orquestra Filarmônica
de Paraisópolis é outra ação de sucesso na comunida-
de. Dirigida pelo maestro Paulo rydlewski, também com
apoio da União dos Moradores, a orquestra foi criada em
2010 com o objetivo de transformar a vida dos jovens por
meio da música. o projeto oferece cursos de instrumen-
tos de orquestra, teoria musical, coral, atividades cultu-
rais complementares, uniforme e apoio psicológico aos
participantes. A orquestra tem convênio com o Consula-
do de israel para intercâmbio de alunos com a Academia
de Música da orquestra Filarmônica de israel.
SAIBA MAIS
www.facebook.com/Ballet Paraisópolis
Tel: 3744-6126
www.facebook.com/orquestra Filarmônica de Paraisópolis
www.institutotiagocamilo.com.br
www.paraisopolis.org
www.rugbyparatodos.org.br
www.skatesolidario.org.br
Na unidade de Paraisópolis da Escola Antonietta e
leon Feffer (Alef), jovens têm acesso à mesma quali-
dade de ensino praticada na escola destinada à comu-
nidade judaica, situada no Jardim Paulistano. “Um dos
princípios do judaísmo é fazer um mundo melhor. Nos-
sa escola já tinha o desejo de fazer uma escola aberta
para além dos muros da comunidade judaica e o ob-
jetivo era ser um espelho perfeito de nossa escola do
Clube Hebraica”, explica o diretor da Alef, João Guedes.
Com os mesmos professores e a mesma grade curri-
cular da unidade principal, a Alef de Paraisópolis atende
100 jovens em período integral no Ensino Médio. A Alef
fornece uniformes, livros, alimentação e tablets. “Que-
remos prepará-los para a vida universitária”, completa.
Para suprir as necessidades pedagógicas dos alu-
nos, há monitoria e aulas de reforço. “Assim que abri-
mos, o primeiro pedido que recebemos dos alunos foi
fornecer um lanche à tarde e manter a escola funcio-
nando até às 20 horas. Eventualmente até nos fi nais
de semana a escola os recebe”, diz João. os monitores
são todos últimos anistas de cursos de graduação e os
professores da escola têm mestrado ou doutorado.
o único pré-requisito para se tornar aluno da Alef
é que cada integrante da família tenha renda de um
salário mínimo. A escola também procura ajudar os
alunos após a entrada na Universidade, através de
convênios com empresas para estágios. “Agora esta-
mos em busca de apoios para dar condições àqueles
que entrarem em universidades de ponta fora de são
Paulo, para que possam se manter no primeiro ano
de estudos.” No fi nal deste ano se forma a primeira
turma da Alef Paraisópolis. Mas os resultados já es-
tão aparecendo, com colocações signifi cativas dos
alunos em competições estudantis, como o segundo
lugar nacional na Febrace (Feira Brasileira de Ciências
e Engenharia). Divu
lgaçã
o
o Colégio Franciscano Pio Xii auxilia diretamente a
comunidade de Paraisópolis por meio do trabalho desen-
volvido com o asilo Casa da Fraternidade. os alunos da
Pastoral visitam regularmente os idosos, propondo ativi-
dades de acolhimento como bate-papo, jogos e música.
Além disso, o colégio ainda contribui com a doação de
alimentos, roupas, itens de higiene e de venda para o ba-
zar, e foi o responsável por construir a Praça Franciscana
da Providência de Deus, no local da instituição.
Há 16 anos, quando se mudou para o Panamby,
Adriana Jazzar se deu conta de que era vizinha de
uma enorme comunidade carente. Ela fazia parte
da diretoria da Associação Cultural e de Cidada-
nia do Panamby e começou a atuar em Paraisópo-
lis como voluntária. Geógrafa, mestre em Gestão
Ambiental na área de resíduos sólidos e diretora
da Ecoação, empresa que atua na área de gestão e
educação ambiental, logo Adriana passou a orga-
nizar ações voltadas principalmente à conscienti-
zação dos moradores quanto ao descarte do lixo.
“Fizemos a Catação Paraisópolis como parte da
Virada sustentável da cidade e mais um projeto na
Escola Miguel Arraes, com alunos e professores. o
descarte incorreto do lixo é muito sério na comu-
nidade. Mostramos que esse material causa um
grande impacto ambiental e poderia gerar empre-
go e renda para catadores. o lixo é um problema
de saúde pública e ambiental”, explica.
Informações: www.ecoacao.eco.br
Divu
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o
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Edu
Ba
rcelos
o Einstein está entre os mais
antigos projetos sociais na co-
munidade: o Programa realizado
pelo Departamento de Voluntá-
rios do hospital acaba de come-
morar 17 anos de atividades com
o lançamento do livro a Força
da esperança – O poder trans-
formador do Programa einstein
na comunidade de Paraisópolis.
Telma sobolh, presidente do De-
partamento de Voluntários do Einstein e autora do
livro, lembra que desde o início o Einstein procurou
conhecer as necessidades da população. “Fizemos
um censo e enxergamos as várias regiões de Paraisó-
polis, com o centro mais rico e o entorno muito pobre.
Mapeamos itens que interferem na qualidade de vida
e de saúde dos moradores, como coleta de lixo, doen-
ças crônicas, falta de água.”
o Programa Einstein na Comunidade começou
com atendimento de Puericultura. Hoje, conta com
ambulatório de especialidades pediátricas e atende
crianças de até 14 anos. Há atendimento de fisiote-
rapia, fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia e
terapia ocupacional.
Na parte socio-educativa, há
83 oficinas nas áreas de educa-
ção, esportes, artes e capacita-
ção profissional. Nas aulas de
música, o Programa tem parce-
ria com o maestro João Carlos
Martins. A capacitação em ma-
quiagem, manicure e design em
sobrancelhas acontece através
de parceria com a Payot. “ofere-
cemos condições para as pesso-
as se desenvolverem com os melhores materiais. os
melhores computadores, os melhores instrumentos
musicais. Temos que dar os melhores parâmetros
para a população da comunidade.”
Após tanto tempo acompanhando Paraisópolis,
Telma tem percebido avanços. Quando o PECP co-
meçou, a comunidade não contava com unidades de
saúde. Hoje, há quatro UBss, uma unidade de Assis-
tência Médica Ambulatorial e um Centro de Atenção
Psicossocial. “Mas ainda vemos barracos em situa-
ções sérias de risco e crianças convivendo com o es-
goto”, diz Telma.
Informações: Tel: 2151-3580
E-mail: [email protected]
CAPA
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12
Elizabeth Elias é superintendente das obras sociais do
Mosteiro são Geraldo de são Paulo, associação sem fi ns lu-
crativos fundada por monges beneditinos húngaros na dé-
cada de 1960. o Colégio santo Américo, também mantido
pelo Mosteiro, teve suas atividades iniciadas nos anos 1950
no bairro de santa Cecília. “Quando a comunidade monástica
chegou ao Morumbi, a instituição começou a atuar em Parai-
sópolis. Uma das unidades, o Centro Comunitário de Traba-
lho, completará 47 anos de atuação no próximo ano”, explica
Elizabeth. No Centro são atendidas crianças de zero a cinco
anos em período integral, mais crianças de 6 a 18 anos no
contraturno escolar. outro foco é a atuação sócio-educativa
com jovens, preparando-os para o mundo do trabalho. “Eles
são orientados, por exemplo, a fazer um currículo, a tirar do-
cumentos e a como se portar em uma entrevista de trabalho”,
diz. sala de corte e costura, esportes e música (com aulas de
instrumentos de orquestra) complementam o rol de serviços
oferecidos à população, entre crianças, jovens e adultos.
“Quando comecei, Paraisópolis tinha cerca de 30 mil ha-
bitantes. A comunidade cresceu e algumas regiões, como o
Grotão, melhoraram muito. Mesmo assim, ainda existe uma
população que reside em condições precárias. sem dúvida,
trata-se de um problema de governo que precisaria de
ações mais efetivas para ser solucionado totalmente”,
relata Elizabeth. Alguns dados do atendimento feito pe-
las obras sociais comprovam a carência por serviços
essenciais ainda vivida pela população de Paraisópolis:
na Educação infantil do Centro Comunitário estudam
260 crianças. “Tenho praticamente o mesmo número
aguardando por uma vaga”, diz Elizabeth. sabendo das
necessidades da região, acaba de nascer o Centro social
Dona Diva, parceria das obras sociais do Mosteiro com o
instituto Conscientização, com capacidade para atender
cerca de 350 crianças e jovens de zero a 14 anos. locali-
zado na Vila Andrade, o Dona Diva atenderá os menores,
de até 5 anos, em período integral, e os demais em dois
períodos de quatro horas, no contraturno escolar.
Em outro espaço das obras sociais, o Núcleo san-
to Estevão rei, 120 crianças são atendidas no período
noturno. “Das 17:30h às 23:30h abrimos espaço para
crianças cujas mães trabalham ou estudam à noite. É
um projeto inédito em são Paulo que começamos há 11
anos.” Há desde bebês até jovens de 13 anos no serviço
noturno. As crianças jantam e fazem mais um lanche
antes de irem embora. Há atividades como teatro, ofi -
cinas e recreação.
Nos sete núcleos que as obras sociais mantêm no
Morumbi, é grande a presença de voluntários. Há vá-
rias formas de ajudar, como doar cartuchos usados de
impressora, medicamentos, roupas, ou a modalidade
Adote uma criança na creche (doação mensal feita
em dinheiro através de boleto bancário). Para Eliza-
beth, há uma relação ambígua, porém pacífi ca, entre
moradores do Morumbi e de Paraisópolis: “Há um viés
preconceituoso de ambos os lados. Mas o importante
é que cada um enxergue o outro e que tenha um olhar
benevolente para ajudar. A comunidade também tem
uma população que se sente entrincheirada e insegu-
ra. Nossa função é respeitá-los, prestando um serviço
em prol da comunidade”, sustenta.
informações sobre as obras sociais do Mosteiro
são Geraldo: www.obrassociais.org.br.
CAPA
Centro social Dona Diva.
o casal Monica e Helvio Mation começou a atu-
ar como voluntário em Paraisópolis há 20 anos, pro-
movendo uma feira semanal gratuita de legumes e
verduras trazidos do Ceasa. o trabalho cresceu e se
transformou na Casa da Amizade, hoje instalada pró-
ximo à Av. Hebe Camargo. “Funcionamos como um
centro comunitário. Buscamos a melhoria da quali-
dade de vida das famílias que moram em Paraisópo-
lis, particularmente na região denominada Grotão, a
mais pobre da comunidade”, diz Monica.
o foco principal da casa é a educação de crianças e
jovens de 6 a 17 anos, com aulas de reforço escolar três
vezes por semana para 60 crianças no contraturno da
jornada das escolas públicas da vizinhança. “A Casa da
Amizade oferece também aulas de danças populares
e atividades esportivas em nossa pequena quadra,
sem intenção de formar campeões e atletas mas prio-
rizando as práticas de jogos cooperativos”, diz Monica.
A cada dois meses as crianças mais assíduas par-
ticipam de um passeio externo. Esse tipo de ação foi
expandida para as mães, como uma forma de come-
morar o Dia das Mães. Doações são muito bem vin-
das e a instituição está aberta também a voluntários.
“Entendo que o voluntariado que dá certo é o que
está perto de casa. Estamos vizinhos ao Panamby.
Para quem se interessar, podemos marcar encontro
na fl oricultura em frente ao Cemitério do Morumbi.”
Nas manhãs de sábado é possível colaborar como
monitor em ofi cinas com as crianças. “Acreditamos
que será uma experiência muito enriquecedora para
o voluntário”, fi naliza.
Mais informações sobre a Casa da Amizade:
www.casadaamizade.org.br.
14
ViAGEM
Uma charmosa cidade nos arredores de Orlando
WiNTEr PArk
Texto e fotos: Mônica Souza
15
Antigamente viajar para a Flórida era basi-
camente visitar parques temáticos e fazer
compras em cidades como Miami e or-
lando. Não que isso tenha mudado, é uma realidade
cada vez mais frequente e sem dúvida uma paixão
dos brasileiros. Mas o estado tem muito mais coisas
esperando para serem descobertas.
Winter Park é uma destas agradáveis surpresas.
Distante cerca de meia hora de orlando, a charmosa
cidade é um lugar gostoso para passar um dia todo ou
até mais, dependendo do tempo disponível. Já tinha
ouvido falar muito de lá e estava curiosa para saber o
porquê de tanto brasileiro estar se apaixonando pela
região e fui conferir.
Mansões milionárias: vista do passeio pelos lagos.
16
ViAGEM
Fundada por magnatas da Nova inglaterra no fi nal
do século XiX, Winter Park originalmente era um refú-
gio do inverno rigoroso do norte do país, o que justifi ca
o seu nome. A chegada da ferrovia e a instalação da
primeira universidade da Flórida trouxeram desenvol-
vimento para a cidade, que ganhou hotéis, restauran-
tes e passou a contar com atividades culturais como
concertos ao ar livre e festivais de música, arte e ci-
nema. Assim foi se popularizando e hoje mantém o
clima de cidade pequena com ótimas opções de lazer
e cultura.
PASSEIO POR LAGOS E RUAS ARBORIZADAS
Para desvendar a região, uma boa escolha é começar
pelo scenic Boat Tour, um passeio de barco que per-
corre três dos sete lagos locais e dois de seus estrei-
tos canais. Em meio à exuberante paisagem formada
por ciprestes, palmeiras, carvalhos, samambaias e
muitas fl ores fi cam centenas de mansões milionárias.
No trajeto se avistam pássaros e animais aquáticos
em um cenário ainda bem preservado. Guias atencio-
sos garantem boas histórias e curiosidades do local. É
lá, por exemplo, que está a casa alugada para as fi lma-
gens de “From the Earth to the Moon”, com Tom Hanks.
Depois do relaxante passeio, o ideal é curtir a ci-
dade sem pressa, caminhando por suas ruas arboriza-
das e pacatas. A Park Avenue é a principal via. sofi stica-
da, reúne lojas, butiques, cafés, restaurantes, museus e
uma linda praça.
OS ENCANTOS DO MUSEU
Um dos destaques é o Charles Hosmer Morse Museum, que exibe
o mais abrangente conjunto de obras do norte-americano louis
Comfort Tiffany (herdeiro da famosa joalheria Tiffany & Co). são
joias, cerâmicas, pinturas, vitrais e suas premiadas luminárias. Am-
bientes da laurelton Hall, que foi a residência de louis em long
island, também foram recriados no museu, com móveis e objetos
originais da mansão do artista.
Passeio de barco percorre três dos sete lagos locais.
Museu reúne coleção de herdeiro da joalheria Tiffany.
18
ViAGEM
Apesar de o acervo ser basicamente focado em seus
trabalhos, há contribuições de outros nomes que ajudam
a montar uma interessante coleção de arte decorativa
americana do fi nal do século XiX e início do século XX.
isso inclui cerâmicas, esculturas, pinturas e gravuras,
uma mais bonita que a outra. Tudo bem identifi cado,
com divisão por salas temáticas, com muita informação.
UMA FESTA GASTRONÔMICA
lugares para um almoço ou jantar não faltam, o difícil é
escolher, já que são diversas opções para todos os gos-
tos e bolsos. Há desde pequenas lanchonetes aos mais
refi nados restaurantes, com sabores regionais e de várias
partes do mundo. Um verdadeiro festival da gastronomia.
E para fechar a visita, uma alternativa interessante
pode ser um happy hour na The Wine room, uma moder-
Saiba mais no site ofi cial da cidade: www.cityofwinterpark.org
SERVIÇO: Scenic Boat Tour
www.scenicboattours.com
Morse Museum of American ArtFechado às segundas
www.morsemuseum.org
The Wine Roomwww.thewineroomonline.com
na adega que conta com um sistema do tipo self-service
para degustação de vinhos. o cliente adquire um cartão
magnético e carrega com créditos para se servir direta-
mente nas máquinas. Com uma taça na mão, é possível
escolher os vinhos para provar, em três quantidades di-
ferentes. os preços das doses começam em U$ 1 e caso
queira é possível comprar uma garrafa.
The Wine room: self-service de vinhos.
Vitrais e luminárias: destaques do Charles Hosmer Morse Museum.
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Uma árvore da espécie pau-ferro pode viver até
150 anos. o nome faz alusão justamente ao
peso e à alta densidade da madeira, com seu
cerne escuro e duro. Condições climáticas, má formação
de raízes e da copa, peso e idade podem infl uenciar no
seu tempo de vida.
Um dos exemplares de pau-ferro do Parque Burle
Marx, com idade estimada em 90 anos, caiu na noite do
dia 6 de fevereiro passado, danifi cando bancos e postes
de iluminação do parque. Mas, mesmo caída a árvore
continuará contribuindo com os visitantes do Burle Marx.
Thiago santos, gestor ambiental do parque, explica
que a árvore irá gerar vários bancos simples, sepos para
servir como banquinhos, poltronas com encostos e até
um confortável sofá. “Usaremos os galhos menores nas
trilhas como corrimãos e cercas para canteiros. Estamos
trabalhando com o reaproveitamento do material lenho-
so dessa árvore para transformá-la em mobiliário público
do parque. Ao mesmo tempo em que é arte, também é
útil, mobília e sustentável”, explica Thiago. “Costumamos
dizer que a árvore cumpriu sua função. Gerou sombras,
multiplicou sementes, serviu de habitats para aves e in-
setos, e agora com sua queda, nos gerará madeira e re-
cursos”, fi naliza.
mobília sUsTENTÁVEl
PArQUE BUrlE MArX
Reaproveitamento de madeira de pau-ferro caído gera mobiliário
para o Parque.
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22
Liza G
ab
riel
EDUCAÇÃo
Discutir política e conceitos como ética e o exercí-
cio da cidadania com as crianças e adolescentes
é cada vez mais urgente no atual cenário nacio-
nal. Para o escritor Edson Gabriel Garcia, falar sobre Políti-
ca (“sempre com ‘P’ maiúsculo”, diz) é difícil para qualquer
um, não importa a idade. “Fomos acostumados – ideolo-
gicamente – a pensar política (com “p” minúsculo) como
algo chato, menor... e Política não é nada disso. Basta
olhar: ela está em todo lugar, ao mesmo tempo, plena em
nossas vidas. E aí está a facilidade de levar este tema para
crianças e jovens”, diz Edson, que há 13 anos iniciou a pu-
blicação dos livros da coleção Conversas sobre Cidadania,
editada pela FTD, com títulos como Uma conversa de mui-
ta gente – a participação na comunidade, vivemos juntos
– Os direitos e deveres na vida em sociedade, de olhos bem
abertos – a formação da consciência política e dinheiro pú-
blico – O que é, de onde vem, para onde vai.
Nos livros, Edson mistura histórias de ficção com a in-
trodução de conceitos, história e legislação. “Tudo bem
lúdico e verossímil.” Edson acredita que tanto nas escolas
como nas famílias o assunto política não está enraizado
no cotidiano. Para os pais, ele orienta: “Educar politica-
mente ou para o exercício da política pressupõe muita
conversa, muita discussão, diálogo, participação, nego-
ciação de posturas. E isso nem sempre é fácil, agradável,
gostoso, algo que se queira fazer ao final de mais um dia.
Mas, há que ser feito.” Acompanhe a entrevista que Ed-
son Gabriel concedeu à Panamby Magazine.
Por que devemos discutir política em casa com os fi-
lhos ou na escola com os alunos?
Penso que a Política é a essência do relacionamento hu-
mano. Quanto mais nossa sociedade – e nossas vidas –
se torna mais complexa, mais nos metemos de cabeça
na Política. Entender a dinâmica da vida, nossos rela-
cionamentos, nossos caminhos, sonhos, projetos, nossa
identidade, tudo isso se vincula à atividade política, aqui
entendida como a arte suprema da busca do bem estar
coletivo. Fazer Política, nesse sentido, será sempre pen-
sar na nossa relação com os outros, no bem estar
da maioria. isso deve estar presente e
orientar o currículo escolar e a vida
social de toda família.
Aqui vale uma observação pontual,
mas importantíssima: quando falamos
de Política não estamos falando obriga-
toriamente de partidos políticos. Estes
são uma das formas de se fazer Política.
Há outras, muitas outras.
O que mudará se as crianças e os jovens
estiverem mais ligados ao assunto?
É muito difícil responder de forma taxativa
sobre isso. As mudanças em uma socieda-
de não passam apenas por crianças e jovens.
É mais do que hora de conversar sobre política com as crianças.
PolíTiCA e nossos filhos
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são mais amplas. Do ponto de vista dessas
crianças e jovens, creio que elas mudarão o
foco do seu olhar e do seu comportamen-
to, lidando com mais atenção e sabedoria
com as coisas da vida. E, cá entre nós, isso
já é bastante. se discutirem nas escolas um
pouco mais sobre política partidária, no mí-
nimo, votarão com mais sabedoria e apren-
derão a controlar e cobrar os nossos políti-
cos partidários. Minimamente.
Como as escolas hoje lidam com o assunto?
Acho que a maioria (imensa maioria) das escolas não lida
bem com isso. Algumas sequer lidam. Há várias razões (ne-
nhuma aceitável) que explica isso, mas a maior de todas
elas é o medo ideológico que foi incutido nos educadores de
que Política faz mal aos alunos, de que Política não é assun-
to para a escola, de que Política e Educação não combinam.
se Política é vida, Educação e Política têm tudo a ver. As
que lidam, o fazem de forma indireta, através das institui-
ções de apoio à gestão, do tipo Conselho de Escola, Grêmio
Estudantil e APM. Aqui e ali, algumas adoções de livros que
tratam do assunto. Fora isso, está tudo muito por se fazer.
Tem histórias interessantes de seus encontros com os
alunos em escolas?
Tenho boas lembranças dos trabalhos que encontrei de-
senvolvidos pelas escolas que trabalharam com os meus
livros. Aliás, boas lembranças também da época em que
fui diretor de escola e tive oportunidade de vivenciar muito
daquilo que hoje escrevo. Uma das boas lembranças que
tenho – esta bem recente – foi da minha conversa com
os meninos e meninas dos quartos anos do Colégio Porto
seguro, após terem lido o livro no mundo do consumo, da
Coleção Conversas sobre Cidadania. Quando, ao encerrar
a conversa, eu perguntava a eles se o livro tinha mudado
alguma coisa em sua vida, eles respondiam majoritaria-
mente que sim. Quer história melhor do que essa?
O quanto ética e cidadania estão ligados com o assun-
to política?
Eu arriscaria a dizer, sem prestar atenção na etimologia
dessas palavras, que é muito próxima, que há uma sinto-
nia total entre esses conceitos. Política e cidadania pra-
ticamente têm o mesmo significado etimológico: cidade,
a vida em conjunto, viver com os outros. Ética seria a dis-
ciplina que busca os valores amplos que norteiam a ação
dos diferentes grupos humanos. É como
se a Ética fosse a condição de reflexão
que nos orienta para vivermos em socie-
dade, juntos, respeitosamente, em bus-
ca do bem estar coletivo. Talvez porque
nos dias atuais tenhamos tanta dificul-
dade de vivermos juntos é que se fala
tanto em ética, cidadania e política.
Edson Gabriel Garcia é educador e escritor.
Foi professor, coordenador de ensino e
diretor de escolas da Secretaria Municipal
de Educação de São Paulo. Entre 1983 e
1985, coordenou a equipe do maior e mais
longevo programa de leitura em redes oficiais,
ainda hoje em prática: Programa de Salas de
Leitura das Escolas Municipais de São Paulo.
Palestrante e consultor sobre currículo de
Língua Portuguesa, sobre incentivo à leitura e
criação de programas de incentivo à leitura.
www.escritoredsongabriel.com.br
“Educar politicamente
ou para o exercício da
política pressupõe
muita conversa,
muita discussão,
diálogo, participação,
negociação de
posturas.”
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soliDAriEDADE
silvana santos, moradora do Morumbi, é voluntá-
ria na Abre-Te (Associação Brasileira de síndrome
de rett) desde 1991. Devota de Nossa senhora
das Graças, silvana é a compiladora do livro de arte ave,
maria!, livro-álbum de arte sacra elaborado para auxiliar a
Abre-Te a acolher, dar suporte e orientação a mais de 500
famílias que têm fi lhas com a síndrome de rett.
o livro chega a sua segunda edição, revisada e am-
pliada, e reúne cerca de 200 das mais belas imagens de
Maria retratadas na pintura, na escultura e na devoção
popular, além de dezenas de títulos atribuídos a Maria
pela Humanidade, acompanhados das histórias que lhes
deram origem e de orações à Nossa senhora.
Além de ajudar fi nanceiramente a Abre-Te, o objetivo
do livro é também reduzir o preconceito social que ainda
envolve crianças especiais, atrelando o que é belo a me-
ninas com defi ciências múltiplas severas. A síndrome de
rett é um transtorno neurológico do desenvolvimento de
origem genética, que afeta uma em cada 10.000 meninas.
A criança nasce aparentemente normal, e algumas
delas chegam a aprender a falar e a andar. Por volta dos
18 a 24 meses, a doença se manifesta: primeiro, a crian-
ça perde o interesse em brincar e nas pessoas (uma fase
rápida em que são confundidas com crianças autistas) e
passa a chorar muito, de forma inconsolável. Numa etapa
seguinte, perde o uso prático das mãos, desenvolve este-
reotipias manuais incessantes, deixa de falar e, boa parte
delas, deixa de andar (algumas nem chegam a desenvol-
ver a marcha). Associada a isso, uma série de condições
neurofi siológicas começam a aparecer, como problemas
gastrointestinais, ortopédicos, respiratórios e epilepsia.
Mediante tantas agressões, acredita-se que desenvol-
vam defi ciência intelectual severa. Mas, segundo silvana,
não há como avaliar essa condição, vista a enorme proble-
mática motora que as meninas apresentam. são crianças
completamente dependentes por toda a vida. Ainda as-
sim, essas meninas atingem, em média, 40 a 45 anos de
vida, ou mais. Estima-se que, no Brasil, haja três mil meni-
nas, moças e mulheres com a síndrome de rett.
Livro de arte pretende auxiliar Associação Brasileira de Síndrome
de Rett, além de homenagear mães de meninas com o grave
transtorno neurológico.
O livro Ave, Maria! pode ser adquirido em livrarias e pelas lojas virtuais da Abre-Te: www.abrete.org.br – e da Editora Memnon – www.memnon.com.br – informações pelos telefones 5083-0292 ou 5575-8444
Livro do BEM
Foto
s: Divu
lgaçã
o
imagens do livro ave, maria!
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