Download - Operação Caixa de Pandora: O escândalo político nos sites dos jornais Correio Braziliense e Estadão
-
FACULDADE JK ANHANGUERA
DANIELLE DE CSSIA AFONSO RAMOS
OPERAO CAIXA DE PANDORA
O escndalo poltico nos sites dos jornais Correio Braziliense e Estado
Braslia 2010
-
DANIELLE DE CSSIA AFONSO RAMOS
OPERAO CAIXA DE PANDORA
O escndalo poltico nos sites dos jornais Correio Braziliense e Estado
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Comunicao Social da Faculdade JK Anhanguera, como requisito parcial obteno do ttulo de bacharel em Jornalismo.
Orientador: professor Cludio Roberto Cordovil de Oliveira.
Braslia 2010
-
DANIELLE DE CSSIA AFONSO RAMOS
OPERAO CAIXA DE PANDORA:
O ESCNDALO POLTICO NOS SITES DOS JORNAIS CORREIO BRAZILIENSE E O ESTADO
Aprovado em: ___/___/___
Nota:_________________
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________
Professor
_____________________________
Professora
_____________________________
Professora
Braslia 2010
-
DEDICATRIA
Dedico este trabalho ao meu marido Messias, sempre companheiro nas horas de atribulaes. A toda minha famlia, especialmente a minha me amiga, Maria Zlia, responsvel pela formao do meu carter e personalidade.
-
AGRADECIMENTO
Considerando esta pesquisa como resultado de muita
perseverana, esforo, dedicao e empenho, agradecer
no ser tarefa fcil e justa. Para no correr o risco da
injustia e esquecimento, agradeo a todos que fazem parte
da minha vida e contriburam para a construo de quem
sou hoje. E agradeo, particularmente, a algumas pessoas
pela contribuio direta na construo deste trabalho:
Aos professores da Instituio JK Anhanguera,
especialmente Clia Curto, Rosana Sorbille, Milena
Macdo, Larissa Ribeiro e Mariella de Oliveira.
Ao meu orientador Cludio Cordovil, pelos esclarecimentos,
insistncia e debates fervorosos acerca do tema.
Ao Orlando Pontes, pela oportunidade concedida para que
pudesse praticar tudo que aprendi.
amiga incentivadora, Estela Mendes, pela fora e carinho
que partilhamos.
s amigas Fernanda Pinheiro e Aline Dias, com quem dividi
angstias e alegrias. Ao Ivson pela torcida distncia.
Aos meus irmos Julianna, Marianna e Lucas de Carvalho,
s minhas enteadas Dbora e Las Ramos, aos meus
afilhados Julya, Igor e Caio, pela compreenso diante da
minha ausncia.
Aos meus pais Maria Zlia e Juarz Afonso que sempre
acreditaram na minha capacidade de alcanar os objetivos.
Ao meu gnio da lmpada, Messias Ramos, motivador
dessa conquista. Minha eterna gratido pela parceria na
realizao de mais esse sonho.
-
Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que
somos prolas nicas no teatro da vida e entender que
no existem pessoas de sucesso e pessoas fracassadas.
O que existem so pessoas que lutam pelos seus sonhos
ou desistem deles.
AUGUSYO CURY
-
RESUMO
A conturbada relao entre a mdia e a poltica histrica e continuamente objeto de estudo de pesquisadores. Este estudo buscou visualizar o episdio Operao Caixa de Pandora atravs do vis teatral, o espetculo, encenado pela imprensa, polticos, sociedade e membros do Poder Judicirio. Sabendo da importante relao entre a mdia e a poltica esta pesquisa analisa a cobertura realizada pelos dois sites noticiosos: www.correiobraziliense.com.br e www.estadao.com.br, sobre a Operao Caixa de Pandora, que investiga denncias de pagamento de propina a integrantes do Governo do Distrito Federal, deputados distritais e empresrios. Esse episdio causou mudanas radicais no cenrio poltico da Capital Federal, que comemorou seu cinquentenrio em 21 de abril. Embasada na anlise do enquadramento ou framing e atravs de anlises quantitativas, analisaram-se as notcias, observando a frequncia dos termos, metforas e expresses, divididas em categorias: Fato, Acusao, Defesa, Envolvidos, Consequncias. A pesquisa inferiu que os sites apesar de tratarem do mesmo assunto o enquadraram de maneira distinta. Palavras-chave: escndalo; enquadramento; mensalo; Operao Caixa de Pandora.
-
RSUM
Les relations difficiles entre les mdias et la politique est historique et est continuellement tudi par les chercheurs. Cette tude visait vue l'pisode "Opration Bote de Pandore" par le biais spectacle thtral, mis en scne par la presse, les politiciens, la socit et les membres de la magistrature. Connaissant l'importante relation entre mdias et politique de cette recherche analyse la couverture faite par les deux sites de nouvelles: www.estadao.com.br www.correiobraziliense.com.br et sur l Opration Bote Pandora's", qui enqute sur les allgations de pots-de-payer aux membres du gouvernement du District Fdperal, les dputs et le quartier des affaires. Cet pisode a provoqu des changements radicaux dans le paysage politique de la Capitale Fdrale, qui a clbr son cinquantime anniversaire en avril 21. Bas sur lanalyse de la encadrament ou encadrement et des analyses quantitatives, nous avons analys les nouvelles, notant la frquence des termes, des mtaphores et des expressions, divise en catgories,"Fait, Charge, Dfense, Impliqu, Consquences. L'tude conclut que les sites bien rpondre aux encadre mme la question diffremment. Mots-cls: Scandale; Encadrament; Mensualits; Opration Boit de Pandore.
-
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Dados divulgados pelo Ibope em 2008 ................................................. 28
TABELA 2 Incidncia de alguns coadjuvantes ...................................................... 43
TABELA 3 Incidncia de palavras e expresses da categoria Acusao ............. 49
TABELA 4 Incidncia de palavras e expresses da categoria Defesa ................. 51
TABELA 5 Incidncia de palavras e expresses da categoria Envolvidos ........... 54
TABELA 6 Incidncia de palavras e expresses da categoria Consequncias .... 55
-
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Comparativo de acesso entre 2007 e 2008 ........................................... 31
FIGURA 2 Imagem da pgina do IG ........................................................................ 32
FIGURA 3 Imagem da pgina do IG com vdeo de Arruda e Durval Barbosa ......... 32
FIGURA 4 Imagem da pgina do IG. Vdeos relacionados Operao
Caixa de Pandora .................................................................................................... 33
FIGURA 5 Grfico referente s repeties ocorridas em toda amostra ................... 42
FIGURA 6 Imagem da pgina do Correio Braziliense no dia 12.02.2010 ................ 45
FIGURA 7 Imagem da pgina do Correio Braziliense do dia 28.11.2009 ................ 46
FIGURA 8 Imagem da pgina do site Correio Braziliense no dia 11.02.2010 ......... 47
FIGURA 9 Grfico referente categoria fato ......................................................... 48
FIGURA 10 Grfico das principais termos da categoria Defesa............................. 52
FIGURA 11 Grfico comparativo entre as categorias Acusao e Defesa ........... 53
-
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Lista de recomendao para cassao em 10 de agosto de 2006 ...... 22
QUADRO 2 Lista com nomes dos 40 envolvidos no Mensalo do PT .................. 23
QUADRO 3 Lista dos papis genricos e seus rtulos dramticos ........................ 40
QUADRO 4 Lista com nomes dos coadjuvantes ................................................... 41
QUADRO 5 Lista com nomes dos figurantes ........................................................ 41
-
LISTA DE ABREVIATURAS
AC Anlise de Contedo
AD Anlise do Discurso
CLDF Cmara Legislativa do Distrito Federal
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
DEM Partido Democratas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica
MPU Ministrio Pblico da Unio
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
PF Polcia Federal
PFL Partido da Frente Liberal
PGR Procuradoria Geral da Repblica
PL Partido Liberal
PMDB Partido do Movimento Democrtico Brasileiro
PP Partido Progressista
PRB Partido Republicano Brasileiro
PSC Partido Social Cristo
PSDB /PR Partido da Social Democracia Brasileira do Estado do Paran
PT Partido dos Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
TCDF Tribunal de Contas do Distrito Federal
TSE Tribunal Superior Eleitoral
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Supremo Tribunal de Justia
-
SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................. 14
1 TEATRALIZAO DO ESCNDALO POLTICO ........................................ 16
1.1 Espetculo e drama social ....................................................................... 16
1.2 Relao mdia versus poltica e seus escndalos ................................... 18
1.2.1 Relembrando alguns escndalos polticos do pas .................................. 20
2 CONSTRUO DA NOTCIA ....................................................................... 24
2.1 Agendamento ....................................................................................... 24
2.2 Construo da Notcia ................................................................... 25
2.3 Enquadramento ....................................................................................... 26
3 CONTEXTUALIZANDO OS MEIOS E O FATO ......................................... 27
3.1 Jornal Correio Braziliense ...................................................................... 27
3.2 Jornal Estado de S. Paulo ...................................................................... 28
3.3 Internet e sites noticiosos ....................................................................... 29
3.4 Operao Caixa de Pandora ............................................................... 34
4 ANLISE EMPRICA ................................................................................... 36
4.1 Da anlise de contedo anlise do discurso ........................................ 36
4.2 Corpus da pesquisa ..................................................................................37
4.3 Interpretao dos dados quantitativos e qualitativos ............................... 39
4.4 Categorizao ...........................................................................................48
CONCLUSO................................................................................................... 57
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................ 59
-
14
INTRODUO
O Brasil um estado democrtico, composto pelos trs poderes: Legislativo,
Executivo e Judicirio. Fazendo aluso a esse conceito, surgiu a expresso, o
quarto poder, referindo-se mdia e sua capacidade de interferir na opinio pblica.
A veiculao de matrias que denunciam corrupo e escndalos polticos
corriqueira na imprensa brasileira. Exemplo disso foi o Mensalo do PT,
Nepotismo na famlia Sarney, e recentemente, aquelas que envolveram o ex-
governador do Distrito Federal, Jos Roberto Arruda, parlamentares e empresrios
da Capital.
Em 27 de novembro de 2009, a Polcia Federal deflagrou a Operao Caixa
de Pandora, que posteriormente culminou no Mensalo do DEM. Durante as
investigaes foi descoberto um suposto esquema de propina envolvendo polticos
de Braslia. O caso tomou propores inimaginveis quando o site ltimo Segundo
disponibilizou, na internet, vdeos que exibiam imagens que deixaram a sociedade
perplexa. Deputados foram flagrados guardando dinheiro nas meias, bolsas e
palets.
O governador do DF foi acusado de ser o mentor de todo esquema de
corrupo, e meses aps a deflagrao, foi detido preventivamente para no
atrapalhar as investigaes, sob fortes indcios de tentar subornar uma testemunha.
Nesse contexto, esta pesquisa tem como principal objetivo, analisar o
enquadramento da cobertura jornalstica no escndalo poltico deflagrado pela
Operao Caixa de Pandora. Sero analisados os sites de notcias dos jornais
Correio Braziliense e Estado, a fim de desvendar o posicionamento de cada um
deles, durante a veiculao de matrias sobre o escndalo.
O corpus da anlise foi coletado em trs momentos distintos. A primeira
subamostra cobre o perodo entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro de
2009, ou seja, da deflagrao da Operao da Polcia Federal at o momento em
que estudantes invadiram a Cmara Legislativa do Distrito Federal. A segunda
subamostra de 5 a 9 de janeiro de 2010, momento em houve a primeira reunio do
ano, entre governador e secretrios, at o retorno dos deputados distritais Cmara
Legislativa do Distrito Federal. A terceira subamostra retrata o perodo entre os dias
-
15
8 e 12 de fevereiro de 2010, da tentativa de suborno ao momento mais marcante, a
primeira priso de um governador em exerccio no Brasil.
Na prtica, a verdade dos fatos prevalece? Em se tratando de assuntos
polticos a polmica ainda maior. Nos Estados Unidos o tema amplamente
debatido entre os jornalistas. No livro, Os Elementos do Jornalismo, profissionais
preocupados com o futuro da profisso, que vinha perdendo a credibilidade de seu
pblico, debateram acerca do assunto e enumeraram nove pontos para melhorar a
execuo da difcil tarefa de informar:
A primeira obrigao do jornalismo com a verdade; Sua primeira lealdade com os cidados; Sua essncia a disciplina da verificao; Seus praticantes devem manter independncia daqueles a quem cobrem; O jornalismo deve ser um monitor independente do poder; O jornalismo deve abrir espao para crticas e o compromisso pblico; O jornalismo deve empenhar-se para apresentar o que significativo de forma interessante e relevante; O jornalismo deve apresentar as notcias de forma compreensvel e proporcional; Os jornalistas devem ser livres para trabalhar de acordo com a sua conscincia (KOVACH E ROSENSTIEL, 2003, p.22).
No Brasil, algumas pesquisas sobre cobertura jornalstica so encontradas,
principalmente, anlises de revistas semanais. A presente pesquisa justifica-se, pela
necessidade no campo acadmico de anlises embasadas no enquadramento,
explorado timidamente.
Antes da anlise propriamente dita, confrontou-se o escndalo poltico do DF
com o espetculo teatral de origem grega (drama social). Esta abordagem fez-se
necessria, porque de acordo com a anlise de enquadramento todo contexto
social deve ser considerado. Posteriormente, realizou-se um breve histrico dos
jornais O Estado de S. Paulo e Correio Braziliense, e descreveu-se o novo meio, a
internet, j que o corpus foi coletado nos sites noticiosos desses veculos.
Aps armazenamento do material coletado, partiu-se para o levantamento
quantitativo e qualitativo. Ao final fez-se a interpretao dos dados. Salienta-se que
toda pesquisa seguiu as normas estabelecidas no manual para elaborao de
trabalhos acadmicos estabelecidos pela Anhanguera Institucional1.
1 http://www.unianhanguera.edu.br/anhanguera/bibliotecas/normas_bibliograficas.
-
16
1 TEATRALIZAO DO ESCNDALO POLTICO
1.1 Espetculo e Drama Social
A histria aponta que o teatro oriundo das sociedades primitivas, que
realizavam cultos e danas s entidades sobrenaturais para garantir a
sobrevivncia. Com o passar do tempo, o teatro deixou a caracterstica
ritualstica e adotou uma conduta voltada para lenda dos deuses e heris. Na
Grcia Antiga, durante os festivais anuais havia apresentaes do coro
(hinos) em homenagem a Dionsio (Deus do vinho).
De acordo com os estudos de Clayton Hamilton, o teatro evolui em trs
etapas: dramaturgia da retrica (o teatro recorria arte de usar a linguagem);
dramaturgia de conversao (explorava-se o dilogo e dispunha o cenrio
para a platia) e dramaturgia da iluso de realidade ou dramaturgia do
realismo. Com o surgimento da eletricidade, a encenao comeou a se
aproximar da cotidiano. (HAMILTON, 1910, apud, Cobra, 2006).
Os principais gneros da dramaturgia so a tragdia, o melodrama, a
comdia, a farsa, a pantomima e o drama social. Cobra (2006) os conceitua:
O drama da Tragdia apresenta o espetculo de um ser humano se esfacelando contra obstculos insuperveis. A tragdia um confronto necessariamente destinado derrota do heri, porque a vontade individual humana lanada contra foras opostas maiores que ela. Diferentemente da Tragdia, o Melodrama expe apenas o que pode acontecer no o inevitvel [...] Uma comdia uma pea humorstica na qual os atores dominam a ao. A Farsa um tipo de drama escrito com o propsito de provocar riso. esttica e literariamente inferior comedia; uma pea humorstica na qual os personagens so exageradamente fracos, covardes e impotentes [...] Pantomima pea de teatro ou drama contada por meio de ao e expresso corporal, sem uso de palavras. O Drama Social o conflito inerente ao drama, a disputa que permite ao espectador tomar partido e se interessar pela representao no palco, encontrou um tema novo no sculo XIX: o poder econmico, rico e opressor, contra o qual o indivduo pobre luta em vo [...]
A encenao, historicamente, sempre tratou de assuntos que
permeavam a religio ou a poltica. Com o passar dos anos, as prticas sociais
passaram a inspirar os espetculos.
-
17
Erving Goffman, no livro A representao do eu na vida cotidiana,
descreve com riqueza de detalhes uma perspectiva sociolgica, onde se torna
possvel analisar a vida social.
A perspectiva empregada neste relato a da representao teatral. Os princpios de que parti so de carter dramatrgico. Considerarei a maneira pela qual o indivduo apresenta, em situaes comuns de trabalho, a si mesmo e as suas atividades s outras pessoas, os meios pelos quais dirige e regula a impresso que formam a seu respeito e as coisas que pode ou no fazer, enquanto realiza seu desempenho diante delas (2002, p.9).
A relao entre espetculo e mdia vem de longos anos. Em 1967, Guy
Debord, lanou o livro Sociedade do espetculo, que promoveu a inquietude
dos estudantes franceses. Sua obra defendia que a sociedade moderna no
deveria abrir mo da realidade para viver pacificamente o mundo ilusrio
oferecido pela mdia.
O espetculo o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo no exprime seno o seu desejo de dormir. O espetculo o guardio deste sono. Destituda de seu poder prtico, e permeada pelo imprio independente do espetculo, a sociedade moderna permanece atomizada e em contradio consigo mesma (DEBORD, 2003, p.21).
Estudos realizados por Sousa, em Portugal, concluram que as
caractersticas dos discursos das mdias assemelham-se aos discursos
dramticos. O autor enumera alguns contributos tericos do drama que so
identificados nos meios de comunicao. Dentre eles:
Lutar pela imposio de uma viso do mundo: Esta funo do discurso dramtico articula-se com a vocao natural dos media para imporem vises do mundo. Remitificao. O discurso dramtico, especializado na representao de situao de tenso, pode ajudar a montar um conflito que resolva definitivamente a confuso simblica dominante. Agitao poltica. Ao representar situaes de tenso e conflito entre as personagens, ao conseguir apelar s emoes e persuadir, o discurso dramtico pode constituir um veculo eficaz de agitao poltica. No por acaso que Lenine entendia como uma das tarefas do agitador "dramatizar" os pequenos fatos situando-os ao nvel da luta de classes e procurando suscitar nas massas os sentimentos de revolta e dio de classe (SOUSA, 2003). Persuaso pela unio espectador/ator. Tal era o sentido do "teatro do povo", gigantescas encenaes montadas por diversos regimes ps-revolucionrios para assinalar as datas das revolues, em que este efeito se conseguia convocando o povo para se representar a si prprio num espetculo (DORT, 1971, p.267-270, apud Sousa, 2003, p.3). Podemos encontrar estas formas de unio na comunicao meditica e polticas atuais, onde se procura frequentemente a identificao entre
-
18
jornalistas e espectadores ou entre polticos e cidados (MESQUITA 2003, p.89-106, apud, Sousa, p.3).
Partindo desta constatao, essa pesquisa visa analisar a relao entre a
mdia e o escndalo poltico. Para isso, sero observados a conduta e o
posicionamento dos meios com relao ao fato retratado.
1.2 Relao mdia versus poltica e seus escndalos
A imprensa e o meio poltico brasileiro tm uma relao marcada pelo
amor e dio. H diversos indcios de favorecimentos, intrigas, acordos,
denncias, que culminaram em escndalos.
A palavra escndalo de origem grega e significa aquilo que pode
induzir a erro, pecado ou mau procedimento. (MICHAELIS, 2008); O ato ou
fato que causa indignao (SILVA, 2004). Vera Chaia (2000) define escndalo
como aes daqueles que ferem os princpios da moralidade, tica e valores,
afetando diretamente suas reputaes e provocando uma reao em massa.
Os escndalos devem ser classificados dependendo do contexto scio-poltico. Neste sentido podemos classificar escndalos que envolvem: sexo/comportamento, financeiro/corrupo, e exerccio do poder poltico/falta de decoro parlamentar (CHAIA, 2000, p.15).
O Pas tem em sua histria a tradio de escndalos serem veiculados e
at causados pela imprensa, segundo Weltman (2006). O autor descreve que
o jornal Correio da Manh, em 1920, veiculou informaes falsas para
atrapalhar a candidatura de Artur Bernardes.
No surpreende, portanto, que uma vez inaugurado a democracia competitiva de massa no Brasil, aps a derrocada do Estado Novo em 1945, fosse inaugurada no pas tambm uma fase de escndalos polticos e envolvimento miditico na luta pelo poder (WELTMAN, 2006, p.10).
O livro Histria da Imprensa no Brasil cita em sua terceira parte, a relao
de grandes nomes do jornalismo brasileiro com a poltica nacional.
-
19
Chateaubriand apoiou o golpe militar. Tanto que, ao lado do governador de So Paulo, Ademar de Barros, organizou a Marcha da Famlia com Deus pela Liberdade [...] Quando retirou sua candidatura para presidente da Repblica em 1950, para abrir espao candidatura de Getlio Vargas, Ademar de Barros pagou CR$ 300 mil (cerca de R$ 233 mil) para os Associados por uma entrevista dele, Ademar, realizada pela estrela da casa, o reprter Samuel Wainer. Essa despesa faria parte do acordo entre os responsveis pela campanha do futuro governador Nogueira Garcez e os Dirios. Para que sassem matrias favorveis no mais completo matutino paulista, slogando do jornal, o grupo poltico pagaria CR$ 1 milho (RS 776 mil). Wainer recebeu CR$ 60 mil (R$ 46 mil) pela entrevista de Ademar, segundo revelao de suas Memrias. [...] Chat reinava absoluto no primeiro lugar do ranking dos dbitos oficiais, seguido por Samuel Wainer (ltima Hora) e, em terceiro, Roberto Marinho (O Globo), com respectivamente CR$ 106 milhes (R$ 58 milhes) e CR$ 53 milhes (R$ 29 milhes) (MARTINS e LUCA, 2008, p. 180-185).
A conturbada relao permaneceu com a volta da democracia ao Pas,
em 1984. Com o retorno da democracia, tambm os principais veculos de
comunicao, paulatinamente, aprenderam a ocupar e assumir seu lugar
privilegiado no sistema poltico brasileiro contemporneo (WELTMAN, 2006).
O episdio a que se refere o pargrafo anterior foi exatamente a primeira
eleio direta para Presidncia da Repblica, em 1989, entre os candidatos
Luiz Incio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) e Fernando
Collor de Mello do Partido da Renovao Nacional (PRN). Houve denncias
de que o Jornal Nacional (da emissora Rede Globo) teria editado o debate
entre os candidatos, beneficiando Fernando Collor. Durante seu mandato,
Collor sofreu denncias feitas pelo seu irmo Pedro Collor. A Cmara dos
Deputados instalou Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI), que constatou
irregularidades. Posteriormente, milhares de estudantes (caras-pintadas)
fizeram passeatas e a sociedade exigiu o impeachment de Collor de Mello. Em
dezembro de 1992, Collor renunciou ao mandato e teve seus direitos polticos
suspensos por oito anos. A partir da, o vice-presidente Itamar Franco assumiu
a Presidncia da Repblica.
Nos ltimos dez anos, os nmeros impressionam. Segundo dados do
Museu da Corrupo2 so mais de 80 escndalos envolvendo denncias de
corrupo.
2 www.dcomercio.com.br
-
20
1.2.1 Relembrando alguns escndalos polticos do pas:
Vale salientar, que as informaes acerca dos cargos dos envolvidos so
referentes poca de cada um dos episdios e tambm foram coletados no
site do Museu da Corrupo.
CPI dos Bingos Primeiro escndalo de grande repercusso do
governo Lula. A Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) foi instalada,
em 2005, para investigar o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz,
acusado de negociar propina. A mesma Comisso passou a investigar
diversas denncias: irregularidades na prefeitura de Ribeiro Preto,
durante administrao de Palocci; doaes de bingos para campanhas
do presidente Lula; quebra do sigilo bancrio do caseiro Francenildo,
entre outros.
Operao Castores Deflagrada em maio de 2006, envolveu os
nomes de Roberto Parquier, do gabinete do senador Valdir Raupp
(PMDB /RO), o irmo de Antnio Palocci, Adhemar Palocci, o deputado
Luiz Carlos Hauly (PSDB /PR), Luiz Geraldo Tourinho Costa, engenheiro
da Eletronorte.
Escndalo Renan Calheiros Em maio de 2007, Renan foi
denunciado por receber dinheiro do lobista Cludio Gontijo, para pagar
penso a um jornalista, com quem teve uma filha fora do casamento. Em
julho, foi suspeito de beneficiar a empresa Schincariol, evitando o
pagamento de milhes em impostos ao INSS, alm de denncias de
grilagem de terras. Para ampliar as acusaes, Calheiros foi denunciado
pelo ex-scio Joo Lyra, por adquirir ilicitamente empresas de
comunicao, em Alagoas. O senador foi acusado de pagamento de
propina, corrupo, trfico de influncias, lavagem de dinheiro,
explorao de prestgio, sonegao fiscal e formao de quadrilha,
porm perdeu apenas a presidncia do Senado, mantendo seu mandato.
-
21
Operao Aquarela Ocorreu em junho de 2007, e investigava
cerca de 920 pessoas suspeitas de cometerem crimes contra a
Administrao Pblica, fraude em licitao, peculato, lavagem de dinheiro
e formao de quadrilha. Dentre os citados esto Benjamim Roriz, primo
do ex-governador Joaquim Roriz, Tarcsio Frankin, ex-presidente do
BRB, entre outros.
Escndalo dos Cartes Corporativos CPI dos Cartes. Em
2008, o Tribunal de Contas da Unio decidiu investigar denncias de
gastos desnecessrios com cartes coorporativos. O fato envolveu
principalmente a ex-ministra Dilma Roussef, a secretria de Polticas de
Promoo da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que pediu demisso,
mas no foi expulsa do Partido dos Trabalhadores. Como era de se
esperar, a comisso foi encerrada e Dilma saiu ilesa.
Operao Satiagraha Realizada pela Polcia Federal (PF), aps
quatro anos de investigao, deflagrada em julho de 2008, prendeu
Daniel Dantas (dono do Banco Opportunity), o ex-prefeito de So Paulo,
Celso Pitta, e o empresrio Naji Nahas, acusados de terem desviado
verbas pblicas. Daniel Dantas fora objeto de investigao, tambm,
durante Operao Chacal.
Operao Sanguessugas Aconteceu em maio de 2006. A PF
descobriu uma quadrilha que desviava dinheiro pblico que serviria para
compra de ambulncias. A fraude acontecia durante processo licitatrio e
envolveu assessores de parlamentares e funcionrios do Ministrio da
Sade. A estimativa de que mais de R$ 100 milhes foram desviados.
Em junho de 2006, foi instalada a CPI das Sanguessugas, que investigou
90 parlamentares e 25 ex-parlamentares.
-
22
RECOMENDADOS PARA CASSAO Fonte: Museu da Corrupo
Agnaldo Muniz (PP) Jorge Pinheiro (PL)
Adelor Vieira (PMDB) Jos Divino (PRB)
Alceste Almeida (PTB) Jos Milito (PTB)
Almeida de Jesus (PL) Josu Bengston (PTB)
Almerinda de Carvalho (PMDB) Junior Beto (PL)
Almir Moura (PFL) Laura Carneiro (PFL)
Amauri Gasques (PL) Lino Rossi (PP)
Benedito Dias (PP) Magno Malta (PL)
Benjamin Maranho (PMDB) Marcelino Fraga (PMDB)
Cabo Jlio (PMDB) Marcondes Gadelha (PSB)
Carlos Dunga (PTB) Jorge Pinheiro (PL)
Carlos Nader (PL) Jos Divino (PRB)
Celcita Pinheiro (PFL) Jos Milito (PTB)
Csar Bandeira (PFL) Josu Bengston (PTB)
Cleonncio Fonseca (PP) Junior Beto (PL)
Cleuber Carneiro (PTB) Ney Suassuna (PMDB)
Coriolano Sales (PFL) Nilton Capixaba (PTB)
Coronel Alves (PL) Osmnio Pereira (PTB)
Edir Oliveira (PTB) Pastor Amarildo (PSC)
Edna Macedo (PTB) Paulo Baltazar (PSB)
Eduardo Seabra (PTB) Paulo Feij [1](PSDB)
Elaine Costa (PTB) Paulo Gouveia (PL)
Enivaldo Ribeiro (PP) Nilton Capixaba (PTB)
rico Ribeiro (PP) Pedro Henry (PP)
Fernando Gonalves (PTB) Raimundo Santos (PL)
Heleno Silva (PL) Reginaldo Germano(PP)
Ildeu Arajo (PP) Reinaldo Beto (PL)
Irapuan Teixeira (PP) Reinaldo Gripp (PL)
Iris Simes (PTB) Ricardo Rique (PL)
Isaas Silvestre (PSB) Pedro Henry (PP)
Joo Batista (PP) Ricarte de Freitas (PTB)
Joo Caldas (PL) Robrio Nunes (PFL)
Joo Correia (PMDB) Serys Slhessarenko (PT)
Joo Grando (PT) Vanderlei Assis (PP)
Joo Magalhes (PMDB) Vieira Reis (PRB)
Joo Mendes de Jesus (PSB) Wanderval Santos (PL)
Jonival Lucas Junior (PTB) Wellington Fagundes (PL)
Marcos Abramo (PP) Wellington Roberto (PL)
Marcos de Jesus (PFL) Ricarte de Freitas (PTB)
Maurcio Rabelo (PL) Robrio Nunes (PFL)
Neuton Lima (PTB) Serys Slhessarenko (PT)
Wellington Fagundes (PL) Vanderlei Assis (PP)
Wellington Roberto (PL) Vieira Reis (PRB)
QUADRO 1 - Lista de recomendao para cassao em 10 de agosto de 2006.
-
23
Sarney Desde 1987, a famlia tem seu nome envolvido em
escndalos de corrupo. No primeiro, foi acusada de fraude na licitao
da obra na Ferrovia Norte-Sul, enquanto Sarney ainda era presidente. No
ano passado, o senador assumiu que recebia auxlio-moradia de R$ 3,8
mil, mesmo tendo residncia em Braslia. Em ato secreto, o neto, as
sobrinhas, a ex-nora e os afilhados eram lotados no Poder Executivo;
Sarney no declarou bens ao TSE, em 2006; Fundao Sarney teria
desviado recursos de patrocnio para empresas fantasmas; Operao Boi
Barrica denuncia troca de favores com Agaciel Maia. E, no final da
histria, por nove votos a seis, os 11 pedidos de investigao foram
engavetados.
Mensalo do PT O termo mensalo foi adotado a partir deste
escndalo, que envolveu integrantes da cpula do PT e outros partidos,
alm de empresrios. O fato iniciou-se em 2005, com vdeo mostrando
negociao de propina em licitaes, envolvendo o ex-chefe de
departamento dos Correios, Maurcio Marinho. Este afirmou ter o aval do
ex-deputado Roberto Jefferson, que acabou denunciando o suposto
esquema. Segundo o ex-deputado, o PT pagava mesada a deputados
aliados, em troca de apoio poltico. Quarenta pessoas foram denunciadas
por corrupo, peculato e lavagem de dinheiro. Foi nesse episdio, que o
assessor do irmo de Jos Genono, Jos Adalberto Vieira da Silva, foi
flagrado com dinheiro na cueca.
MENSALO DO PT
Jos Genono Zilmar Fernandes
Silvio Pereira Ramon Hollerbach
Professor Luizinho Cristiano Paz
Delbio Soares Jos Roberto Salgado
Joo Paulo Cunha Ayanna Tenrio
Joo Magno Emerson Palmieri
Paulo Rocha Ktia Rabello
Jos Dirceu Simone Vasconcelos
Jos Luiz Alves Anderson Adauto
-
24
Luiz Gushken Joo Cludio Genu
Vincius Samarane Jos Borba
Geiza Dias Nivaldo Quadrado
Henrique Pizzolato Breno Fischberg
Rogrio Tolentino Anita Leocdia
Romeu Queirz Roberto Jefferson
Jos Janene Pedro Corra
Pedro Henry Bispo Rodrigues
Valdemar Costa Marcos Valrio
Duda Mendona Alberto Quaglia
Jacinto Lamas Antonio Lamas
QUADRO 2 - Lista com nomes dos 40 envolvidos no Mensalo do PT
Na maioria dos casos, a mdia tratou esses episdios como verdadeiros
espetculos, com caractersticas dramticas, ora trgicas, cmicas ou
melodramticas. Para compreender o roteiro escrito pela mdia (a notcia)
necessrio compreender o processo de construo do mesmo.
2 Construo da Notcia
Os estudos realizados atualmente sobre a influncia da mdia no
cotidiano da sociedade culminaram principalmente nessas trs teorias: a
definio dos assuntos que sero abordados naquele dia (pauta) ou agenda-
setting; a construo da notcia ou newsmaking e o enquadramento dado
informao ou framing.
2.1 Agendamento (Agenda-Setting)
De acordo com Traquina (2003, p. 18), o conceito surgiu na dcada de
70, quando os tericos americanos McCombs e Donald L. Shaw realizaram
trabalho de campo durante as eleies de 1968. No entanto, o autor relembra
que a hiptese da existncia de uma relao causal entre a agenda miditica
-
25
e a agenda pblica j tinha sido sugerida nos anos 20 no livro de Walter
Lippmann3.
Em linhas gerais, a teoria do agendamento afirma que a imprensa, no
momento em que determina os assuntos que sero pautados naquele dia,
automaticamente, deixa de fora outros que poderiam interessar a muitas
pessoas. Dessa forma, direciona a sociedade dando relevncia queles
assuntos estabelecidos.
Os mass media, descrevendo e precisando a realidade exterior, apresentam ao pblico uma lista daquilo sobre que necessrio ter uma opinio e discutir. O pressuposto fundamental do agenda-setting que a compreenso que as pessoas tm de grande parte da realidade social lhes fornecida, por emprstimo, pelos mass media. (SHAW, 1979, p.101, apud Wolf, 1999, p. 144). A imprensa pode na maior parte das vezes, no conseguir dizer s pessoas como pensar, mas tem, no entanto, uma capacidade espantosa para dizer aos prprios leitores sobre o que pensar. O mundo parece diferente a pessoas diferentes, dependendo do mapa que lhes desenhado pelos redatores, editores e diretores do jornal que lem. (COHEN, 1963, p.72, apud Traquina, 2003, p.18).
O processo do agendamento possui trs elementos. So eles: agenda
miditica, que so as questes debatidas na imprensa; agendas pblicas,
que so os assuntos levados ao conhecimento da sociedade; agenda das
polticas, aquilo que as entidades governamentais julgam importantes.
2.2 Construo da Noticiabilidade (Newsmaking)
A teoria refere-se aos valores e critrios destinados construo da
notcia. A rotina dos profissionais que as escrevem reflete-se no processo de
construo das mesmas. Os critrios bsicos para esta teoria so a
noticiabilidade e valor-notcia. De acordo com Wolf (1999, p.195), a
noticiabilidade o conjunto de elementos atravs dos quais o rgo
informativo controla e gera a quantidade e o tipo de acontecimentos, entre os
quais h que selecionar as notcias. J os valores/notcia compem a
noticiabilidade.
3 Lippmann, W. (1922). Public Opinion. New York: Free Press.
-
26
Os valores/ notcia utilizam-se de duas maneiras. So critrios de seleo dos elementos dignos de serem includos no produto final, desde o material disponvel at a redao. Em segundo lugar, funcionam como linhas-guia para a apresentao do material, sugerindo o que se deve ser realado, o que deve ser omitido, o que deve ser prioritrio na preparao das notcias a apresentar ao pblico. Os valores/notcia so, portanto, regras prticas que abrangem um corpus de conhecimentos profissionais que, implicitamente, e, muitas vezes, explicitamente, explicam e guiam os procedimentos operativos redacionais (WOLF, 1999).
2.3 Enquadramento (Framing)
O emissor, quando transmite a mensagem, consciente ou
inconscientemente, escolhe diferentes formas de emiti-la, enfatizando ou no
trechos dela. Essa tcnica conhecida como enquadramento do texto.
De acordo com Plnio Marcos Leal (2007), o conceito de framing
(enquadramento) surgiu com o socilogo Erving Goffman, em sua obra Frame
Analysis: An Essay on the Organization of Experience. Leal afirma:
O conceito de enquadramento noticioso oferece uma slida alternativa para analisar a mdia nacional, pois trata com a questo de como a mensagem organizada, ressaltando as preferncias de um determinado enquadramento em oposio a outros. A importncia desse conceito est diretamente relacionada identificao das tendncias dos meios noticiosos nacionais e anlise de comunicao com um enfoque que especfico do campo jornalstico (LEAL, p.12).
A anlise de enquadramento amplamente utilizada nas anlises de
campanhas polticas dos Estados Unidos. No Brasil, tem conquistado alguns
pesquisadores. Tem sido aplicado de forma crescente tambm nos estudos
sobre a relao entre mdia e poltica realizadas no Brasil. (Porto, 2002, apud
Leal, 2007). Observam-se, principalmente nos textos, os ttulos, subttulos,
fotos, infogrficos, caricaturas, legendas, fontes citadas, dados, lead e
chamadas. Salienta-se que o contexto histrico-social deve ser considerado
para que se compreenda o enfoque atribudo mensagem.
Esse tipo de anlise visa aferir de que maneira a mdia est evidenciando
determinado assunto. Contudo, j que o agendamento determina o que
pensar, o enquadramento nos diz como pensar.
-
27
Embora muitos estudos em agenda-setting tenham mostrado que meios de comunicao nos dizem sobre o que pensar, nenhum tem estudado sistematicamente de que forma os veculos esto nos dizendo para pensar sobre as coisas certas. Que tipos de assuntos, interpretaes causais e potenciais solues os meios esto ignorando e que no deveriam? Onde os enquadramentos se originam e como eles se difundem? Por que os reprteres adotam um dado enquadramento para um problema social e ignoram outros enquadramentos? Quais segmentos da sociedade ganham ou perdem com as decises de enquadramento dos jornalistas? Por que diferentes pblicos aceitam ou rejeitam os enquadramentos dos jornalistas? (MAHER, 2001, p.92, apud, Mesquita, 2008, p. 24).
Para realizao da pesquisa de enquadramento primordial usar anlise
mista, ou seja, qualitativa e quantitativa. De acordo com Mesquita (2008),
aplic-las confere uma viso mais completa do todo.
3 Contextualizando os meios e o fato
3.1 Correio Braziliense
O jornal Correio Braziliense foi criado por Hiplito da Costa, em 1808, e
era conhecido tambm como Armazm Literrio. Oposicionista e crtico, o
peridico era feito na Inglaterra, mas discutia os problemas da Colnia e
atravessava o oceano Atlntico para circular por aqui (MARTINS e LUCA,
2008, p. 7).
Consta nos registros histricos do Correio Braziliense e no site oficial,
que Chateaubriand desafiou Juscelino Kubitschek, que se a capital fosse
erguida na data prevista, ele relanaria o jornal. Ambos cumpriram as
promessas, e em 21 de Abril de 1960, inaugurava-se a nova Capital e era
lanado o Jornal Correio Braziliense. Ainda de acordo com informaes do site
oficial, o Correio Braziliense o jornal de maior circulao na regio Centro-
Oeste e o mais influente do Distrito Federal e Entorno.
-
28
3.2 O Estado de S. Paulo (ESP)
O jornal O Estado de S. Paulo adotou este nome em 1890, antes levara o
nome de Provncia. um dos jornais mais antigos, em circulao, na cidade de
So Paulo.
Em 1875, formando seus quadros com ex-alunos, nascia o jornal A Provncia de So Paulo, atual Estado de S. Paulo. Em todos eles, registre-se, a presena dos aprendizes do poder egressos da Academia de Direito, que se envolveram com literatura e transferiram para os escritos polticos a estetizao da palavra. MARTINS e LUCA (2008, p. 61).
Em 2000 houve a fuso entre os portais do jornal Estado de S. Paulo,
Jornal da Tarde e Agncia Estado, atualmente Estado (www.estadao.com.br).
De acordo com dados divulgados pelo Ibope, em 2008, O Estado est entre
os cinco maiores jornais em circulao no pas.
TABELA 1 Dados divulgado pelo Ibope em 2008
Ttulo Editora Circulao (dia)
Formato
Folha de S.Paulo Empresa Folha da Manh
311.287 Standard
Super Notcia Sempre Editora S/A 303.087 Tablide
Extra Infoglobo Comunicaes
287.382 Standard
O Globo Infoglobo Comunicaes
281.407 Standard
Estado de S. Paulo O Estado de S.Paulo 245.966 Standard
Ibope/2008
Justifica-se que o jornal da Folha de S. Paulo foi descartado como objeto de
estudo desta pesquisa, por possuir dois sites noticiosos, o que dificultaria a
delimitao do corpus, e tambm por limitar o contedo aos assinantes.
-
29
3.3 Internet e Sites Noticiosos
Tudo comeou em 1969, quando os americanos, criaram o Departamento
de Projetos de Pesquisa Avanada da Agncia de Defesa Americana
(DARPA), que nada mais era do que uma rede de computadores que serviria
como elo de comunicao emergencial, caso o pas fosse atacado por
inimigos. Mas em 1980, o departamento dividiu-se em Milnet e Arpanet, uma
militar e a outra cientfica, respectivamente. Com o tempo, o nome foi reduzido
a Internet e o carter militar foi perdido, tornando-se popular. A ideia de que os
microprocessadores ficariam restritos s empresas e indstrias foi descartada,
e hoje, eles fazem parte da rotina domiciliar, educacional e profissional de
milhares de pessoas.
Mesmo em seu advento sendo reconhecido, at os anos 90 havia
dificuldade de acessar o meio. Somente em 2002, quando foi criado o World
Wide Web (WWW), sistema que recupera informaes da internet, que foi
possvel o livre acesso durante a navegao.
Com isso, o cenrio da mdia se modificou. Os jornais existentes iniciou a
integrao nova mdia, repleta de recursos e facilidades, adaptando-se s
novidades tecnolgicas e democratizando a informao. Os veculos dispem
gratuitamente as matrias para um nmero cada vez maior de leitores da rede.
Pollyana Ferrari (2003, p.39) afirma que os elementos que compem o
contedo on-line vo muito alm dos tradicionalmente utilizados na cobertura
impressa textos, fotos e grficos. Na web, disponibiliza-se sequncia de
vdeos, udios, ilustraes animadas e infogrficos que so chamados de
recursos multimdia.
A imagem colhida no local do acontecimento outro recurso multimdia passvel de ser utilizado na webnotcia. Mas do que a cor da palavra, a verdade da imagem recolhida no local empresta notcia uma veracidade e objetividade maior do que a simples descrio do acontecimento (CANAVILHAS, 1999, p.5).
As principais caractersticas do jornalismo on-line so: hipertextualidade,
no-linearidade, instantaneidade e interatividade.
-
30
No-linearidade O leitor quem escolhe a sequncia do contedo
que vai ler. A notcia arquitetada em blocos, sendo que cada um deles
se complementam. Por isso, se o leitor deixar de acessar qualquer um
deles, no sofrer nenhum prejuzo. Nos outros meios, a notcia segue o
padro linear.
Hipertextualidade Na web o usurio quem conduz sua leitura
por isso, o hipertexto tem como principal objetivo fracionar os textos
deixando-os a disposio do leitor. Assim, o pblico no se v obrigado e
ler o que no de seu interesse. Segundo Luciana Mielniczuck (2002, p.
3), pela primeira vez, o processo de produo jornalstica no est
sujeito s limitaes de espao ou tempo, como no impresso, rdio e TV.
Instantaneidade O jornalista pode disponibilizar aos leitores
matrias que foram coletadas h poucos minutos. Elas podero ser lidas
no momento mais conveniente para o leitor, porque elas permanecero
publicadas.
Interatividade O recurso permite ao receptor se comunicar com o
emissor. Nessa ocasio, o leitor pode mandar e receber notcias,
sugestes e crticas. A ferramenta aproxima o reprter do leitor, e faz
com que este se sinta ponte do processo.
De acordo com dados do IBGE, o Brasil o quinto pas com maior
nmero de conexes internet. Em se tratando de tempo mdio de
navegao, os brasileiros so recordistas; em mdia 49 horas de navegao
por ms. (Figura 1)
-
31
Dados comparativos entre 2007 e 2008
12,2
25,3
32,934,8
13,6
30,9
38,540
17,4 15,718
2427
88,8
23,5
28,6
31,5
10,611,6
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Domiclios com computadores em 2007 Domiclios com computadores em 2008Domiclios com acesso Internet em 2007 Domiclios com acesso Internet em 2008
FIGURA 1 Comparativo de acesso entre 2007 e 2008.
O provedor Universo On-line, em 1996, lanou o primeiro jornal em
tempo real em lngua portuguesa. E, este feito explorado at hoje pelo portal.
O veculo utilizava informaes das agncias de notcias internacionais e
matrias produzidas em sua redao.
A primeira dificuldade encontrada pelos profissionais de jornalismo foi a
adaptao da linguagem para internet. Por isso, os primeiros jornais digitais
pareciam cpias dos meios impressos. O mesmo ocorreu com o surgimento da
televiso; as programaes seguiam o modelo do rdio, at que fossem feitos
os ajustes necessrios.
2000: O jornalismo on-line ganhou destaque no Brasil: apesar de as primeiras
experincias na rede terem comeado em 1995, o ltimo Segundo (IG), Folha On
Line (Grupo Folha), Estado (Grupo Estado), Veja Online (Editora Abril), entre
outros, comeam investir pesado nos noticirios on-line, com redaes especficas
para produo na web;
2001: O Estado e ltimo Segundo vencem o prmio Ibest pela Academia e pelo
-
32
Jri Popular, respectivamente, na categoria Revista. As organizaes Globo
anunciam megaportal Globonews.com. (MOHERDAUI, 2002, p.57).
Vale salientar que os vdeos, com as imagens que culminaram no
Mensalo do DEM chegaram ao conhecimento da sociedade atravs do site
noticioso ltimo Segundo-IG.
FIGURA 2 Imagem da pgina do IG.
FIGURA 3 Imagem da pgina do IG com vdeo de Arruda e Durval Barbosa.
-
33
FIGURA 4 Imagem da pgina do IG. Vdeos relacionados Operao Caixa de
Pandora.
-
34
A amostra desta pesquisa foi coletada na internet, os sites escolhidos
para anlise foram os dois jornais Correio Braziliense e Estado, que tambm
possuem a verso impressa, diferentemente do ltimo Segundo, que s existe
na rede mundial de computadores.
3.4 Operao Caixa de Pandora
A mitologia grega diz que a primeira mulher a chegar Terra chamava-se
Pandora, e que ela fora um presente de grego de Zeus a Prometeu. Ela
trouxe consigo uma caixa contendo todos os males da humanidade, e que no
deveria ser aberta nunca. Porm, Pandora consumindo-se pela curiosidade,
caracterstica tipicamente feminina, acabou por abri-la, liberando todos os
males do mundo e deixando ao fundo da mesma apenas a esperana.
Partindo desse mito, a Polcia Federal batizou a srie de investigaes
que realizou no Governo do Distrito Federal de Caixa de Pandora. A
operao, deflagrada em 27 de novembro de 2009, culminou no maior
escndalo poltico do Distrito Federal.
As investigaes envolveram autoridades do Poder Executivo, Legislativo
e do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Os policiais cumpriram mandados
de busca e apreenso no DF, Goinia e Belo Horizonte, todos autorizados pelo
Ministrio Pblico. Foram alvos da investigao: Jos Roberto Arruda, na
poca governador do DF; Jos Geraldo Maciel, ex-chefe da Casa Civil; Jos
Luiz Valente, ex-secretrio de educao; Omzio Pontes, ex-assessor de
imprensa de Arruda; Fbio Simo, ex-chefe de gabinete. Todos integrantes do
primeiro escalo do GDF. Tambm foram investigados Leonardo Prudente, ex-
presidente da Cmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF); os deputados
distritais Rogrio Ulisses, Pedro do Ovo e Eurdes Brito.
Todo o processo se iniciou em junho de 2009, quando o ento secretrio
de Relaes Institucionais, Durval Barbosa, em troca da diminuio da pena,
delatou todo esquema de propina ocorrido no governo do DF. Barbosa j
respondia a outros 32 processos revelados durante a deflagrao da Operao
Megabyte, ocorrida durante a administrao do ex-governador Joaquim Roriz.
-
35
Desde setembro de 2009, o delator era monitorado pela PF e suas
conversas gravadas atravs de escutas autorizadas. A partir da, Durval
disponibilizou diariamente vdeos na internet escandalizando o pas.
Posteriormente, estes vdeos foram mostrados tambm na televiso.
Com as festas de fim de ano e o recesso parlamentar, o escndalo que
culminou no final de novembro perdeu o flego. Em 11 de janeiro de 2010, a
Cmara Legislativa do Distrito Federal reinicia seus trabalhos. A principal
tarefa a anlise dos pedidos de impeachment contra Jos Roberto Arruda,
apontado como mandante do suposto esquema de propina. Segundo clculos
da Polcia Federal, o ato ilcito arrecadou cerca de R$ 600 mil de empresas
privadas contratadas pelo Governo.
Mas o pice da crise ocorre na primeira quinzena de fevereiro. No dia 4,
Antnio Bento, conselheiro do Metr do Distrito Federal, foi preso em flagrante
por suposta tentativa de suborno ao jornalista Edmilson Edson Sombra. Novo
vdeo mostra imagens da negociao entre eles. O acordo era para que
Sombra colocasse em dvida os vdeos divulgados pelo colega Durval
Barbosa. Mas quem Edmilson Edson Sombra? jornalista, casado com a
promotora Maria Rosynete Lima, que moveu ao civil pblica pedindo
afastamento dos oito deputados distritais citados. Alm de ser proprietrio do
semanrio, O Distrital, amigo de Durval Barbosa e o foi ele que o incentivou
a aceitar a delao premiada. Alm disso, tambm patro de Antnio Bento
no O Distrital.
Com os ltimos acontecimentos, a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) pediu Procuradoria Geral da Repblica (PGR) o afastamento do
governador Arruda ou priso preventiva, alegando que ele estaria coagindo
uma das testemunhas das investigaes. No dia 11 de fevereiro, o Supremo
Tribunal de Justia (STJ) votou o pedido de afastamento, e por 12 votos a dois,
foi decretada a priso e o afastamento de Jos Roberto Arruda. Wellington
Moraes, ex-secretrio de Comunicao do governo; Haroaldo Brasil de
Carvalho, ex-diretor da Companhia Energtica de Braslia; o deputado distrital
Geraldo Naves; Rodrigo Arantes, secretrio particular do governador, tambm
tiveram pedidos de priso preventiva acatados pelo Supremo, por suposto
envolvimento na tentativa de suborno.
-
36
4. Anlise Emprica
4.1 Da Anlise de Contedo Anlise do Discurso.
Anlise de Contedo (AC) o conjunto de mtodos ou tcnicas usadas
em pesquisas empricas das Cincias Sociais. Historicamente utilizada nas
pesquisas de comunicao, a anlise de contedo visa compreender o sentido
e o significado da informao, a partir do levantamento quantitativo dos dados
coletados.
Desde o princpio do sculo, durante cerca de quarenta anos, a anlise de contedo desenvolveu-se nos Estados Unidos. Nesta poca, o rigor cientfico invocado o da medida, e o material analisado essencialmente jornalstico. A Escola de Jornalismo de Colmbia d o pontap de sada e multiplicam-se assim os estudos quantitativos dos jornais. feito um inventrio das rubricas, segue-se a evoluo de um rgo de imprensa, mede-se o grau de sensacionalismo dos seus artigos, comparam-se os semanrios rurais e os dirios citadinos. Desencadeia-se um fascnio pela contagem e pela medida (superfcie dos artigos, tamanhos dos ttulos, localizao na pgina) (BARDIN, 2006).
A necessidade em compreender o que est implcito nas notcias
constante; por isso o uso da anlise de contedo se faz necessrio. Ainda de
acordo com Bardin (2006), os principais objetivos desse mtodo visam superar
as subjetividades e enriquecer a leitura.
Apelar para estes instrumentos de investigao laboriosa de documentos situar-se ao lado daqueles que, de Durkheim a P. Bordieu passando por Bachelard querem dizer no iluso de transparncia dos factos sociais, recusando ou tentando afastar os perigos de compreenso espontnea. igualmente tornar-se desconfiado relativamente aos pressupostos, lutar contra a evidncia do saber subjectivo, destruir a intuio em proveito do construdo, rejeitar a tentao da sociologia ingnua, que acredita poder apreender intuitivamente as significaes dos protagonistas sociais, mas que somente atinge a projeco da sua prpria subjectividade. Esta atitude de vigilncia crtica exige o rodeio metodolgico e o emprego de tcnicas de ruptura e afigura-se tanto mais til para o especialista das cincias humanas, quanto mais ele tenha sempre a impresso de familiaridade face ao seu objeto de anlise. ainda dizer no leitura simples do real, sempre sedutora, forjar conceitos operatrios, aceitar o carter provisrio de hipteses, definir planos experimentais ou de investigao [..] (BARDIN 2006).
-
37
Esta pesquisa aplicar uma anlise mista, para chegar ao objetivo de
verificar o enquadramento da imprensa acerca do escndalo poltico. Por isso
combinar elementos quantitativos e qualitativos. Segundo Mesquita (2008),
para chegar a esse objetivo faz-se anlises dos termos, das oraes e das
repeties que constam na matria. As palavras no so os enquadramentos
em si, mas indicativos importantes das escolhas que os jornalistas utilizam
para argumentar suas posies (MILLER e RICHERT 2001, p.114, apud,
MESQUITA, 2008, p.26).
A anlise do discurso visa aferir o ato de proferir, de informar o pblico.
Manhes (2009, p.305), diz que o discurso significa em curso, em movimento.
Assim, a discursividade implica a compreenso de que a mensagem
construda no interior de uma conversa e a concretizao de um ato. A
anlise de discurso desmembra o texto para verificar como ele foi construdo.
Para a anlise de discurso, importante que sejam considerados os sujeitos, suas inscries na histria e as condies de produo da linguagem. Analisam-se, assim, segundo esse domnio de estudos, a relao estabelecida entre a lngua e os sujeitos que a empregam e as situaes em que desenvolvem o dizer. O analista do discurso busca, portanto, certas regularidades no uso da lngua em sua relao com a exterioridade (Frasson, 2007).
De acordo com Ramos (2009), os principais conceitos para anlise de
discurso crtica so o discurso e a prtica social. O discurso um modo de
ao, onde as pessoas podem agir sobre o mundo e, particularmente, sobre os
outros, tambm um modo de representao. Outro conceito importante a
intertextualidade. O conceito de intertextualidade aponta para a produtividade,
para como os textos podem transformar textos anteriores e reestruturar as
convenes existentes (gneros, discursos) para gerar novos textos
(FAIRCLOUGH, p.135, 2001, apud, Ramos, 2009, p.11).
4.2 Corpus da Pesquisa
Uma das principais caractersticas da internet o espao ilimitado para
construo das matrias. Por isso, ao constituir o corpus da pesquisa
observou-se que a quantidade de material produzido pelos sites do Correio
-
38
Braziliense e Estado era muito extensa e a disponibilidade de recursos
humanos e de tempo eram escassas.
Levando em considerao as regras de homogeneidade e pertinncia, o
material foi coletado em trs momentos. Na primeira amostragem foram
analisadas todas as matrias veiculadas entre os dias 27 de novembro a 02 de
dezembro de 2009, ou seja, da deflagrao da Operao Caixa de Pandora
at o momento da invaso da Cmara Legislativa do Distrito Federal pelos
estudantes. A segunda refere-se primeira reunio do governo e a volta dos
deputados distritais a CLDF, aps o recesso parlamentar, ocorridos entre os
dias 5 a 9 de janeiro de 2010. A terceira foi entre os dias 8 a 12 de fevereiro,
momento em que houve o suposto suborno que levou priso do governador
Jos Roberto Arruda.
Toda a amostragem foi impressa para facilitar a leitura e anlise. O
material coletado no site do Correio Braziliense corresponde a 243 pginas, e
do Estado 195 pginas impressas em formato A4.
A codificao do material seguiu as regras de enumerao, agregao e
classificao, para compreender as caractersticas de cada jornal analisado.
As unidades de registro foram todas as matrias veiculadas sobre o escndalo.
No caso do Correio Braziliense, todas as notcias foram disponibilizadas na
seo Cidades. E no Estado estavam na seo Poltica.
Quanto enumerao fez-se uso da frequncia em que determinadas
palavras foram usadas; quantidades de termos favorveis e desfavorveis, que
serviram para guiar os leitores, at mesmo com tendenciosidade.
Aps armazenar as matrias, teve-se incio a tabulao dos dados. Esse
processo foi realizado pela seleo de itens observados com um nico
objetivo: aferir o enquadramento dado s matrias. Para garantir a veracidade
e fidedignidade das informaes coletadas, fez-se necessria a transferncia
dos dados para o Microsoft Office Excel 2007, programa de planilha eletrnica
que realiza clculos.
-
39
4.3 Interpretao dos Dados Quantitativos e Qualitativos
Claro que ocorrem transgresses sem que estas se transformem em escndalos polticos. A simples suspeita de um escndalo pode desencadear um escndalo. E nesse sentido que a mdia exerce um papel importante, o de tornar pblico o escndalo, onde se expressa a desaprovao por aquela transgresso, oferecendo um campo profcuo para a articulao de um discurso moralizador e reprovador (CHAIA, 2000, p.15).
Mais uma vez a mdia tinha um prato feito. No se falava em outra coisa,
que no fosse o Panetonegate ou Mensalo do DEM. Rdios, revistas,
jornais e internet, todos numa corrida louca pelo assunto de repercusso
nacional. As comparaes com o Mensalo do PT foram inevitveis;
especulaes e muita expectativa.
A sociedade estava diante de um drama social, aquele que permite ao
espectador decidir e se interessar pela representao que a imprensa
apresentar. Para analisar o roteiro traado pela mdia, nessa arena social,
utilizarei os papis genricos propostos por Palmlund, em 1992.
A existncia de seis papis genricos na avaliao social dos riscos ligados por um conjunto complexo de elos sociais e organizacionais: os portadores de riscos (vtimas que suportam os custos diretos dos riscos); os defensores dos portadores de riscos (que lutam pelo direito das vtimas); os geradores de riscos (protagonistas primeiros dos riscos); os investigadores de risco (que agem em nome da cincia), os rbitros do risco (mediadores, tribunais, agncias reguladoras, que agem de fora do palco determinando a extenso, a responsabilidade e a forma de penalidade) e por fim, os informadores do risco (meios de comunicao, mdia em geral) (PALMLUND, 1992, apud, Azevedo, 2009, p.58, grifo nosso).
-
40
PAPIS GENRICOS RTULOS DRAMTICOS ATORES
Portadores ou Receptores
do risco
Vtimas Sociedade
Defensores ou Advogados
dos Portadores do risco
Protagonista Governador
Arruda
Gerador do risco Antagonista Durval Barbosa
Pesquisador ou Investigador
do risco
Benfeitor STJ, OAB, STF,
MPU, PGR e PF
Mediador ou rbitro do risco Deus ex machina Edson Sombra
Informadores do risco Coro ou mensageiros Imprensa
QUADRO 3 Lista dos papis genricos e seus rtulos dramticos
Os papis rotulados acima so dos principais personagens do escndalo
poltico, transformado em espetculo do gnero dramtico pela imprensa. As
vtimas so pessoas sacrificadas pelos interesses dos outros, os principais
prejudicados; o protagonista o personagem principal, responsvel por
determinadas aes; antagonista aquele que atua em sentido contrrio,
normalmente se opem ao protagonista; benfeitores so aqueles que praticam
o bem; Deus ex machina o personagem introduzido repentinamente e que
causa reviravolta na trama; o coro um grupo de pessoas responsveis pela
narrao e comentrios sobre a histria.
Alm desses personagens principais possvel visualizar a existncia
dos coadjuvantes e figurantes.
Coadjuvantes So personagens secundrios na trama. Nesse
contexto sero representados por aqueles que tiveram seus nomes
envolvidos no esquema;
Figurantes So os que no so fundamentais no espetculo.
-
41
COADJUVANTES DO ESPETCULO
Leonardo Prudente Mrcio Machado
Eurides Brito Paulo Octvio
Rogrio Ulisses Jos Geraldo Maciel
Marcos Dias ou Pedro do Ovo Jos Valente
Cristina Bonner Joaquim Roriz
Odilon Aires Jos Celso Gontijo
Bencio Tavares Luiz Frana
Roney Nemer Aylton Gomes
Omzio Pontes Alcyr Collao
Fbio Simo Jnior Brunelli
Marcelo Carvalho Antnio Bento da Silva
Jos Naves Geraldo Naves
Berinaldo Pontes Rodrigo Arantes
Benedito Domingos Luiz Henrique Ferreira
Haroaldo de Carvalho Jos Henrique Dares Cordeiro
Domingos Lamoglia Silveira Alves Moura
Gilberto Lucena Francisco do Nascimento Monteiro
QUADRO 4 Lista com nomes dos coadjuvantes.
FIGURANTES DO ESPETCULO
rika Kokay Roberto Freire
Cabo Patrcio Nerci Soares Bussamra
Paulo Tadeu Ronaldo Caiado
Antnio Reguffe Fernando Antunes
Chico Leite Augusto Carvalho
Alberto Fraga Roberto Giffoni
Rodrigo Maia Paulo Roriz
Jaqueline Roriz
QUADRO 5 Lista com nomes dos figurantes
-
42
Fez-se um levantamento quantitativo dos principais nomes citados em
cada um dos meios.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
Estado Correio
Braziliense
Arruda
Durval
Sombra
Justia
FIGURA 5 Grfico referente s repeties ocorridas em toda amostra.
O nome do governador Arruda foi citado 953 vezes pelo Estado e 876
vezes pelo Correio Braziliense; o nome de Durval 195 vezes pelo Correio
Braziliense e 84 vezes pelo Estado; Sombra teve 79 vezes menes feitas
pelo Correio Braziliense e apenas 32 vezes pelo Estado. Em relao ao nome
do governador Arruda, a diferena de incidncia entre os jornais foi pequena,
apenas 77 vezes. Mas, em relao ao Edson Sombra e o antagonista Durval, a
diferena foi maior que o dobro. Isso significa que o Estado preferiu abordar a
-
43
pessoa do governador Arruda, enquanto Durval e Sombra pouco foram citados
pelo Estado.
Referindo-se ao item Justia, os nomes contabilizados foram:
Ministrio Pblico da Unio (MPU), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
Procuradoria Geral da Unio (PGU), Supremo Tribunal Federal (STF),
delegado e agente. Todos estes nomes somados corresponderam a 700
incidncias no Correio Braziliense e 472 no Estado.
Pode-se inferir desses dados, que o Correio Braziliense preocupou-se
mais que o Estado, em enfatizar as declaraes, explicaes e justificativas
das fontes oficiais, responsveis pelas investigaes.
TABELA 2 Incidncia de alguns coadjuvantes
Palavras Estado Correio Braziliense
Leonardo Prudente 94 131
Eurides Brito 5 31
Rogrio Ulisses 1 5
Marcos Dias (Pedro do Ovo) 2 13
Odilon Aires 2 5
Bencio Tavares 1 7
Roney Nemer 1 6
Omzio Pontes 2 15
Fbio Simo 6 16
Marcelo Carvalho 9 8
Jos Naves 2 0
Berinaldo Pontes 1 2
Benedito Domingos 4 16
Mrcio Machado 8 4
Paulo Octvio 99 149
Jos Geraldo Maciel 8 26
Jos Valente 5 21
Joaquim Roriz 46 101
Jos Celso Gontijo 5 3
-
44
Luiz Frana 2 3
Aylton Gomes 1 5
Alcyr Collao 7 1
Junior Brunelli 10 38
Antnio Bento 19 49
Geraldo Naves 36 30
Rodrigo Arantes 9 18
Luiz Henrique Ferreira 8 1
Jos Henrique Dares 6 6
Silveira Moura 9 8
Francisco Monteiro 5 3
Haroaldo Carvalho 11 12
Gilberto Lucena 2 8
Domingos Lamoglia 3 6
Abaixo, seguem-se trechos da matria veiculada no site do Estado, um
dia aps a priso do governador Jos Roberto Arruda. Destacaram-se os
termos que enfatizaram o enquadramento:
No seu devido lugar: A priso preventiva do governador do Distrito Federal, Jos Roberto Arruda, no foi apenas um evento sem precedentes no Brasil democrtico [...] [...] Roberto Gurgel, e a sua colega Raquel Dodge sustentavam que Arruda e os seus paus-mandados se empenhavam em descarrilar as investigaes [...] Nada menos de 12 deles votaram a favor do pedido de priso do governador e outros cinco cmplices para impedir que a organizao criminosa instalada no governo do Distrito Federal continuasse a tentar apagar os vestgios dos crimes cometidos [...] O lodaal no Distrito Federal [...] as mfias do dinheiro e do poder se aliam ou se digladiam com uma desenvoltura explicvel apenas pela impunidade de seus capi e capangas. A exposio dos podres de Arruda resultou da sua ambio de se tornar o herdeiro prematuro do chefo a quem servia o arquipopulista Joaquim Roriz, duas vezes governador e aspirante a um novo mandato este ano. Saudou-se a priso de Arruda porque a Justia fez o que era necessrio. Em sentido literal e figurado, ps um malfeitor poltico no seu devido lugar. Se tivesse agido assim antes, certamente Arruda no teria ousado o que ousou (ESTADO 12/02/2010 Grifo nosso).
-
45
FIGURA 6 Imagem da matria citada pelo site do Estado no dia 12.02.2010.
Em contrapartida, o Correio Braziliense fez questo de destinar espao
para o histrico de Durval Barbosa. Seguem abaixo trechos de matria que
comprova o que foi dito. Os vocbulos que o enquadram foram grifados:
Durval Barbosa, o personagem principal da Operao Caixa de Pandora, sempre foi conhecido como um homem-bomba, de temperamento explosivo e com personalidade para cometer loucuras [...] Na administrao de Joaquim Roriz, Durval comandava todo o funcionamento do sistema de informtica com controles feitos sem licitao por meio do Instituto Candango de Solidariedade (ICS). Por causa desse vnculo considerado criminoso pelo Ministrio Pblico do Distrito Federal (MPDFT), Durval responde a 12 aes penais, cinco de responsabilidade civil, duas aes populares, seis de improbidade administrativa e 12 civis pblicas [...] os processos na Justia Comum permanecem. Num dos casos, a acusao de compra de urnas eletrnicas falsas para orientar o eleitor a votar em Roriz. [...] Acostumado com investigaes policiais, Durval sempre foi apontado no meio poltico como autor de escutas telefnicas e de gravaes ambientais, sem autorizao judicial, que supostamente fazia
-
46
de interlocutores e guardava para ter nas mos candidatos a quem ajudava em campanhas eleitorais [...] Nas denncias, ele acusado de lavagem de dinheiro, corrupo passiva e ativa, formao de quadrilha e fraude em licitao [...] (CORREIO BRAZILIENSE 28/11/2009 - Grifo nosso).
FIGURA 7 Imagem da pgina do site do Correio Braziliense no dia
28.11.2009.
Com Edson Sombra no foi diferente. No dia 11 de fevereiro, o Correio
Braziliense (figura 13) veiculou uma vasta matria sobre ele, incluindo vdeo
como recurso multimdia. O vdeo mostra o momento exato da negociao com
o ex-conselheiro do Metr Antnio Bento, preso em flagrante por tentativa de
suborno.
-
47
FIGURA 8 Imagem da pgina do site Correio Braziliense no dia 11.02.2010.
Abaixo trechos da matria mostrada na figura anterior, onde o Correio
Braziliense explica quem Edson Sombra e destaca nomes e funes
detalhadas de pessoas pblicas que tambm frequentavam a casa dele.
Termos referentes ao Edson Sombra foram destacados:
No dia em que negociava suposto acordo com Arruda, o jornalista Edson Sombra -
tido como pea-chave no inqurito contra o governador - recebeu em sua casa
Eliana Pedrosa, Eri Varela e Mauro Czar Lima. Orbita ao redor do homem considerado a principal testemunha do inqurito contra o governador Jos Roberto Arruda, o jornalista Edson Sombra, uma rede de deputados, advogados e personalidades que transitam entre grupos polticos de diferentes correntes. Mentor da delao premiada do ex-secretrio de Relaes Institucionais do DF Durval Barbosa, Sombra o cabea das denncias que culminaram na crise que abalou o Executivo e o Legislativo no Distrito Federal. Mas ele no age sozinho. Num dos vdeos gravados pelo prprio jornalista durante suposta negociao com o consultor do Metr - DF Antnio Bento, preso na semana passada pela Polcia Federal (PF) por suposta tentativa de suborno, o prprio Sombra cita quem so algumas das pessoas de sua relao [...] Sombra recebia em sua casa a deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM), o advogado Eri Varela e o delegado Mauro Czar Lima, presidente do Sindicato dos Delegados da Polcia Civil do DF(Sindepo-DF) [...] Sombra contou a vrias pessoas que estava sendo assediado para ajudar a atenuar a crise do governo Arruda. Ele chegou a mostrar o bilhete com a letra de Arruda que recebeu do ex-deputado distrital Geraldo Naves (DEM) a autoridades que estiveram em sua casa, como o deputado distrital Alrio Neto [...] (CORREIO BRAZILIENSE 11/02/2010 - Grifo nosso).
-
48
4.4 Categorizao
O processo de categorizao serviu para transformar todo o montante de
informaes em dados compreensveis. As categorias aqui empregadas so:
Fato, Acusao, Defesa, Caracterizao dos Envolvidos e
Consequncias.
Categoria Fato Como a mdia classificou o suposto esquema de
propina delatado por Durval Barbosa e investigado pela Polcia Federal.
Nessa etapa foram contabilizados oito subitens (mensalo, esquema,
Operao Caixa de Pandora, escndalo, fraude, investigao e caixa
dois).
186
160
1
104
92
3
63
22
182
10
175
63
0
58
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Estado Correio
Braziliense
Mensalo
Esquema
Fraude
Oper. Caixa dePandoraEscndalo
Caixa dois
Investigao
FIGURA 9 Grfico referente categoria fato
-
49
Observando a figura 14, nota-se que o Estado preferiu usar a metfora
mensalo (186). Essa palavra entrou no vocabulrio da imprensa a partir do
escndalo poltico envolvendo integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT),
em 2005. Faz referncia ao pagamento oferecido mensalmente aos
envolvidos, como os valores das mesadas eram elevados, a palavra foi para o
aumentativo. A diferena dos dois veculos nesse vocbulo extraordinria, o
Correio Braziliense recorreu a essa palavra apenas 22 vezes.
O Correio Braziliense preferiu enquadrar o episdio como esquema,
que no sentido literal quer dizer planejamento, partes fundamentais do
original, mas nesse contexto faz insinuao da existncia de atos ilegais.
A palavra ou expresso em que ambos fizeram uso equivalente foi
quela atribuda pela Polcia Federal, Operao Caixa de Pandora, onde o
Estado usou 104 vezes e o Correio Braziliense 182. Seguida das palavras
como escndalo (92 - Estado e 63 - Correio Braziliense) e investigao (63
- Estado e 58 - Correio Braziliense).
Categoria Acusao Esse aspecto analisou as palavras usadas
para evidenciar, elucidar, qualificar e comprovar as denncias feitas pelo
delator.
TABELA 3 Incidncia de palavras e expresses da categoria Acusao
Palavras
Estado
Correio Braziliense
Arrecadao 25 13
Ameaa 18 2
Corrupo 175 167
Divulgao 41 80
Delao premiada 8 19
Distribuio 51 37
Denncias 91 206
Determinao 28 42
Escutas 21 39
Evidncias 3 9
-
50
Obstruo 11 6
Irregularidades 12 26
Indcios 23 13
Processo 106 161
Provas 14 94
Pagamentos 69 84
Repasse 2 16
Suposto 55 141
Violao 9 11
Vdeos 116 151
889 1323
Nessa categoria o Estado deu preferncia palavra corrupo, que de
acordo com Houaiss (2004) significa ao ou efeito de corromper, deteriorar,
putrefao, depravao de hbitos e costumes. J o Correio Braziliense
usou o vocbulo denncias que diz respeito ato ilegal, revelao de
segredo e manifestao de algo oculto.
Destaca-se que o Correio Braziliense foi mais ponderado no momento
das acusaes, e preferiu salientar que os indcios estavam em processo de
anlise e investigao da Polcia Federal, enquanto o Estado que pr-julgou e
informou que o ocorrido se tratava de atos irregulares.
O vocbulo vdeos foi citado diversas vezes pelo Correio Braziliense
(151) e Estado (116), mas nesta categoria foi considerado neutro, porque seu
uso foi empregado para enfatizar a usabilidade da internet.
Categoria de Defesa Na prtica jornalstica devem-se ouvir
todos os lados dos fatos apontados, por isso necessrio dar direito
defesa a todos os citados. Nessa fase observaram-se quais termos foram
usados para demonstrar que os citados tiveram espao para defender-se.
-
51
TABELA 4 Incidncia de palavras e expresses da categoria Defesa
Palavras
Estado
Correio Braziliense
Apurao 50 52
Coletiva 7 5
Em nota 25 7
Esclarecimentos 6 24
Explicaes 44 38
Iseno 4 7
Inocente 3 3
Inocncia 9 5
Justificativa 5 2
Pronunciamento 5 24
179 210
Infere-se dos dados que, na maioria das vezes, os principais
denunciados na Operao Caixa de Pandora recorreram ao termo apurao
(50 vezes Estado; 52 vezes Correio Braziliense), seguido da palavra
explicaes (44 vezes Estado; 38 vezes Correio Braziliense). Enquanto o
Estado usou em nota (25), Correio Braziliense utilizou pronunciamento
(24). Essa diferena pode ter ocorrido pela sede do Correio Braziliense ser na
Capital e a proximidade ter facilitado o acesso direto s declaraes dos
envolvidos. Enquanto o Estado, com sede em So Paulo, preferiu publicar
informaes remetidas atravs de notas oficiais.
Observando todos os termos e expresses empregadas, e considerando
o contexto em que foram empregados, conclui-se que os acusados decidiram
apresentar suas justificativas somente quando tivessem acesso ao inqurito,
para que pudessem conhecer o teor das acusaes. Isso porque a Polcia
Federal ainda no havia concludo as investigaes sobre as denncias.
-
52
Incidncia de termos da "Defesa"
42%
12%
34%
12%
Apurao Esclarecimentos Explicaes Pronunciamento
FIGURA 10 Grfico demonstrativo dos principais termos da categoria Defesa
As diferenas numricas entre os enquadramentos dados a acusao e a
defesa so extremamente ntidas, o Correio Braziliense usou palavras e
expresses de acusaes 1323 vezes e para defesa foram apenas 210
aparies, essa diferena chega a ser mais que o sxtuplo. O Estado acusou
889 vezes e defendeu 179 vezes, nesse caso a diferena foi quase o
quntuplo. Infere-se que tanto o Estado quanto o Correio Braziliense destinou
maior espao s denncias e acusaes do que s justificativas de defesa.
-
53
179
889
210
1323
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Estado Correio
Brasziliense
Termos de "Acusao" e "Defesa"
Defesa
Acusao
FIGURA 11 Grfico comparativo entre as categorias Acusao e Defesa
Categoria Caracterizao dos Envolvidos Essa parte da
pesquisa visa identificar como a imprensa referiu-se aos eventuais
envolvidos. Em algumas situaes foram usadas palavras como meias,
referindo-se ao deputado distrital Leonardo Prudente, e bolsa ao
enquadrar a deputada distrital Eurides Brito. Outra forma utilizada para
referir-se a Leonardo Prudente e Jnior Brunelli foi o uso do vocbulo
orao ou reza da propina, para comentar cena de vdeo onde os
deputados distritais aparecem abraados ao delator Durval Barbosa em
orao de agradecimento.
-
54
TABELA 5 Incidncia da categoria Envolvidos
Palavras
Estado
Correio Braziliense
Acusado 148 14
Aliado 48 39
Articulador 4 2
Afastado 14 61
Base aliada 33 49
Beneficiado 1 6
Bolsa 19 7
Cmplice 3 0
Coautores 1 0
Foragidos 37 3
Investigado 30 38
Meias 45 31
Orao 27 28
Quadrilha 4 8
Reza 6 11
Suspeito 4 10
437 307
Nessa categoria os enquadramentos foram diferenciados. Enquanto o
Estado usou a palavra acusados, o Correio Braziliense preferiu afastados.
Outra palavra que demonstra enquadramentos distintos entre os meios foi
foragido, usada pelo Estado 37 vezes para referir-se a Wellington Moraes,
ex-secretrio de comunicao do governo; Haroaldo Brasil de Carvalho, ex-
diretor da Companhia Energtica de Braslia (CEB); deputado distrital Geraldo
Naves e Rodrigo Arantes, secretrio particular do governador. Enquanto o
Correio Braziliense preferiu o uso da palavra suspeito (10), atenuando a
integridade dos envolvidos no escndalo. Em nenhum momento o Correio
Braziliense usou os termos cmplices ou coautores. Infere-se que o
Estado foi mais incisivo no quesito culpabilidade, a partir dos termos
empregados.
Categoria Consequncias do Episdio Em se tratando de
denncias envolvendo o alto escalo do Governo do Distrito Federal, era
de se esperar que a imprensa premeditasse o desfecho do ocorrido. Da
-
55
a contagem dos vocbulos que remetiam as consequncias das
denncias e da tentativa de suborno.
TABELA 6 Incidncia da categoria Consequncias
Palavras
Estado
Correio Braziliense
CPI 35 117
Condenao 10 7
Cassao 13 6
Carceragem 12 0
Desfiliao 7 14
Desligamento 11 12
Expulso 38 2
Exonerao 13 29
Inqurito 114 160
Impeachment /impedimento 147 168
Interveno 68 39
Priso 179 149
Preso 67 52
724 755
O site do Estado enfatizou em suas matrias o momento da priso do
governador Arruda e o site do Correio Braziliense preferiu tratar da
possibilidade de impeachment /impedimento (168) e das investigaes em
torno da concluso do inqurito (160).
Enquanto o Estado prioriza uma punio mais severa aos envolvidos,
deduz-se que o Correio Braziliense enquadra as consequncias com cuidado,
deixando claro que as denncias permanecem sob investigaes e a Polcia
Federal ainda colhe os depoimentos de pessoas citadas na Operao Caixa
de Pandora. Plcido e Silva (2004) explica claramente o significado da
palavra inqurito:
Derivado do verbo latino quartitare, quer exprimir o ato e efeito de investigar ou sindicar a respeito de certos fatos que se desejam esclarecer. Tecnicamente, entende-se o processo promovido com o objetivo de apurar a existncia de certos fatos ou de se ter informao exata a respeito dos fatos. Nele, para execuo e cumprimento do objetivo, promovem-se todas as medidas e diligncias indispensveis verificao ou sindicncia pretendida, ou seja, inquiries, percias ou exames periciais de qualquer
-
56
natureza. Culmina o inqurito por um relatrio, em que se anotam as concluses obtidas acerca dos fatos sindicados. Em matria de crime, o inqurito, que se diz policial, constitui a pea inicial para o procedimento de ao penal. Para que se lhe d validade, no se mostrando pea impugnvel no sumrio penal, costume faz-lo assistido pelo rgo do Ministrio Pblico. E, dessa forma, desde que no se tenha fundado em violncia ou coao por parte das autoridades policiais, tem valor probante a respeito dos fatos nele esclarecidos. O inqurito tambm se diz administrativo, quando aberto por ordem de autoridade administrativa, para evidncia de fatos irregulares ocorridos na repartio e para que com ele se apure a verdade sobre os mesmos e a responsabilidade da pessoa que lhes tenha dado causa. Nem sempre, porm, tem o inqurito a funo de esclarecer a ocorrncia a respeito de fatos, indicados como delituosos ou faltosos. Assim, tambm promovido para que, se obtenha uma informao precisa a respeito de fatos de ordem social, econmica, poltica, financeira, a fim de que, pelos resultados obtidos, se orientem as autoridades para a imposio ou instituio de novas regras ou novas medidas. SILVA (2004, p.755 Grifo nosso).
Como citado anteriormente, o corpus desta pesquisa, foi formado em trs
momentos distintos. O primeiro momento foi a deflagrao da Operao Caixa de
Pandora (27/11/2009 a 02/12/2009); o segundo foi no incio de 2010 (05/01/2010 a
09/01/2010); a tentativa de suborno e priso do governador (08/02/2010 a
12/02/2010) como o terceiro instante. Isso porque at a data da elaborao do
projeto de Trabalho de Concluso de Curso, esses trs instantes foram os mais
destacados pela imprensa.
At a data de concluso desta pesquisa o inqurito 6504 j possua nove
volumes e 87 apensos, cada um com 200 pginas, em mdia, segundo informaes
do Supremo Tribunal de Justia (STJ). Atualmente o documento est em posse do
Ministrio Pblico Federal, e posteriormente ser encaminhado ao STJ, para o
relator do processo, ministro Fernando Gonalves.
Jos Roberto Arruda, agora ex-governador do Distrito Federal, encontra-se
em liberdade desde o dia 12 de abril de 2010, quando o Supremo Tribunal de
Justia, por oito votos a cinco, decidiu revogar o pedido de priso preventiva. A
deciso beneficiou tambm Haroaldo de Carvalho, Geraldo Naves, Wellington
Moraes, Rodrigo Arantes e Antnio Bento, que estavam no Presdio da Papuda, no
Distrito Federal.
4 O inqurito 650 investiga as denncias ocorridas durante a deflagrao da Operao Caixa de
Pandora.
-
57
CONCLUSO
Em lugar de correr para acrescentar contexto e interpretao, a imprensa precisa se concentrar na sntese e na verificao. Que tire fora o rumor, a insinuao, o insignificante e engraadinho e se concentre no que verdadeiro e importante de uma histria [...] As pessoas precisam de uma resposta para a pergunta: No que posso acreditar?. O papel da imprensa ento, nesta nova era, trabalhar para responder a outra pergunta: Onde est o bom material?. Verificao e sntese se tornam a espinha dorsal do novo papel de guardio do jornalismo (KOVACH E ROSENSTIEL, 2003, p. 77).
A tarefa primordial do jornalista, em todo mundo, fornecer informao s
pessoas com intuito de despertar o senso crtico e a capacidade de serem livres. No
Brasil, os profissionais so regidos pelo Cdigo de tica dos Jornalistas, composto
por 19 artigos que tratam do direito informao, conduta profissional,
responsabilidades, e relaes profissionais.
Nesta pesquisa, verificou-se que a teoria de que o jornalista retrata a
realidade pautada pela imparcialidade e iseno so mitos. O princpio de lealdade
para com o cidado e de ter liberdade para redigir conforme sua conscincia foi
deturpado pelo compromisso que visa o lucro, distanciando-se do comprometimento
do que de interesse pblico.
Isso no significa que os assuntos deixaram de ser pautados, eles so
simplesmente denunciados. A corrida pela audincia ou pelo furo jornalstico faz
com que indcios tornem-se provas contundentes contra algum.
Lembrando que as prises de Jos Roberto Arruda, Wellington Moraes,
Rodrigo Arantes, Haroaldo de Carvalho, Geraldo Naves e Antnio Bento ocorreram
nica e exclusivamente pela tentativa de coao a uma das testemunhas que faz
parte das investigaes Operao Caixa de Pandora, e no pelas denncias feitas
pelo ex-secretrio Durval Barbosa.
Como j havia o inqurito das denncias feitas por Durval Barbosa, a
Procuradoria Geral da Unio pediu a priso preventiva, que prevista em lei. Isso
significa que os supostos delitos provenientes das imagens feitas por Durval
permanecem sob anlise do Ministrio Pblico, e posteriormente seguiro para o
julgamento. Este processo pode levar anos, visto que at hoje nada aconteceu com
relao ao Mensalo do Partido dos Trabalhadores (PT), ocorrido em 2005.
Analisando a cobertura dada ao escndalo poltico do DEM, percebeu-se que
cada um dos veculos construiu suas verses do mesmo episdio. Em nenhum
-
58
momento nem as imagens e nem os vestgios foram contestados.
Em ambos os jornais, observaram-se que as demais personagens da trama
caram no esquecimento logo aps a priso do ex-governador Jos Roberto Arruda.
Outro fator importante a ser lembrado a ausncia de termos positivos em todas as
categorias, observa-se que os termos escolhidos eram em sua maioria negativos ou
pejorativos, e s vezes neutros.
O Estado foi incisivo em condenar, previamente, aqueles que at o momento
so investigados pelos rgos competentes, e fez uso de termos ofensivos para
referir-se a ele