retrospectiva estadão - 2003

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Produto: ESTADO - ESPECIAL - 1 - 31/12/03 Composite H1 TR A RED - Produto: ESTADO - ESPECIAL - 1 - 31/12/03 Composite H1 TR A RED - Memória 2 0 2 0 0 Desafios Foi o ano da guerra. Os Esta- dos Unidos mostraram ao mun- do que podiam derrubar o dita- dor Saddam Hussein. Mas foi mais fácil derrubar Saddam do que administrar a situação no Iraque, onde acabou sendo víti- ma de atentado o embaixador Sergio Vieira de Mello. Atenta- dos e ataques suicidas se suce- deram em várias regiões do mundo. Bush, vitorioso no Ira- que, tentou o Mapa da Paz no Oriente Médio. Ficou na tentati- va. A guerra no Iraque mudou as relações entre os países. Só não teve o impacto que se previa na economia mundial. No Brasil, esperou-se o espetáculo do crescimento econômi- co, anunciado para o segundo semestre. Não chegou. Não falta- ram no País violência urbana e escândalos de corrupção. Juí- zes foram assassinados. Poli- ciais e um juiz foram presos. Foi um ano de luto para a ex- ploração espacial. Os Estados Unidos perderam o ônibus es- pacial Columbia, com sete as- tronautas. O Brasil perdeu o terceiro protótipo do foguete VLS e 21 técnicos altamente es- pecializados na Base de Alcân- tara. Mas o País brilhou nos espor- tes. Teve sua melhor perfor- mance em Jogos Pan-America- nos. Foi campeão mundial no vôlei e viu Daiane dos Santos ganhar a 1.ª medalha de ouro da ginástica brasileira no solo. QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 4 0 N a política, 2004 reserva um grande teste e um enorme desafio para o go- verno. O teste serão as primeiras eleições municipais com o PT no poder, cujos resultados vão balizar a avaliação desta administração. O desafio fica por conta da ques- tão social, que ainda não apresen- tou os avanços prometidos na cam- panha eleitoral. Nos últimos 12 meses, ficou evidente o contraste entre a euforia do mercado financei- ro e a dura realidade dos indicadores de desemprego e renda. O ano novo traz esperanças de que a economia real comece a viver dias melhores. No ano em que o real completará dez anos, a economia poderá crescer graças à redução dos juros e ampliação do crédito. Pode não ser um espetáculo, mas uma expansão de 3,5% ou mais significa o fim da estagna- ção. No cenário internacional, os bons ventos ajudam: o crescimen- to dos Estados Unidos pode ser quase duas vezes maior do que os 3% de 2003. Na Europa, que encer- ra o ano com expansão de apenas 0,5% – o pior resultado desde a re- cessão de 1993 – o clima também é de otimismo. Bom sinal para os produtos brasileiros de exporta- ção, especialmente os agrícolas, que viveram dias de glória no ano que se encerra. 3 Mercado eufórico com o Brasil O ESTADO DE S. PAULO Explosão do VLS em Alcântara H1 Fome: com os dias contados? E E Soldado americano em Bagdá Daiane dos Santos e a medalha E E Festa no campo: safra recorde 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR %HermesFileInfo:H-1:20031231: 7 8 9 10 11 12

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Page 1: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 1 - 31/12/03 CompositeH1 TR A RED -

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 1 - 31/12/03 CompositeH1 TR A RED -

Memória

20

20

0Desafios

Foi o ano da guerra. Os Esta-dos Unidos mostraram ao mun-do que podiam derrubar o dita-dor Saddam Hussein. Mas foimais fácil derrubar Saddam doque administrar a situação noIraque, onde acabou sendo víti-ma de atentado o embaixadorSergio Vieira de Mello. Atenta-dos e ataques suicidas se suce-deram em várias regiões domundo. Bush, vitorioso no Ira-que, tentou o Mapa da Paz no Oriente Médio. Ficou na tentati-va. A guerra no Iraque mudou as relações entre os países. Sónão teve o impacto que se previa na economia mundial.

No Brasil, esperou-se o espetáculo do crescimento econômi-co, anunciado para o segundo semestre. Não chegou. Não falta-ram no País violência urbana e escândalos de corrupção. Juí-

zes foram assassinados. Poli-ciais e um juiz foram presos.

Foi um ano de luto para a ex-ploração espacial. Os EstadosUnidos perderam o ônibus es-pacial Columbia, com sete as-tronautas. O Brasil perdeu oterceiro protótipo do fogueteVLS e 21 técnicos altamente es-pecializados na Base de Alcân-tara.

Mas o País brilhou nos espor-tes. Teve sua melhor perfor-mance em Jogos Pan-America-nos. Foi campeão mundial novôlei e viu Daiane dos Santosganhar a 1.ª medalha de ouroda ginástica brasileira no solo.

QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003

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Na política, 2004 reservaum grande teste e umenorme desafio para o go-

verno. O teste serão as primeiraseleições municipais com o PT nopoder, cujos resultados vão balizara avaliação desta administração.O desafio fica por conta da ques-tão social, que ainda não apresen-tou os avanços prometidos na cam-panha eleitoral. Nos últimos 12meses, ficou evidente o contraste entre a euforia do mercado financei-ro e a dura realidade dos indicadores de desemprego e renda.

O ano novo traz esperanças de que a economia real comece a viverdias melhores. No ano em que o real completará dez anos, a economiapoderá crescer graças à redução dos juros e ampliação do crédito.

Pode não ser um espetáculo,mas uma expansão de 3,5% oumais significa o fim da estagna-ção. No cenário internacional, osbons ventos ajudam: o crescimen-to dos Estados Unidos pode serquase duas vezes maior do que os3% de 2003. Na Europa, que encer-ra o ano com expansão de apenas0,5% – o pior resultado desde a re-cessão de 1993 – o clima também éde otimismo. Bom sinal para osprodutos brasileiros de exporta-ção, especialmente os agrícolas,que viveram dias de glória no anoque se encerra.

3Mercado eufórico com o Brasil

O ESTADO DE S. PAULO

Explosão do VLS em Alcântara

H1

Fome: com os dias contados?

E

E

Soldado americano em Bagdá

Daiane dos Santos e a medalha

E

E

Festa no campo: safra recorde

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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ANA PAULA SCINOCCA,CIDA FONTES

e ELIZABETH LOPES

Os maiores desafios políti-cos do governo Lula em2004, após a aprovação

das reformas e a consolidaçãodo ajuste fiscal, estarão fora doCongresso. A sociedade vai co-brar os resultados da tão anun-ciada recuperação da econo-mia, com crescimento e gera-ção de empregos, além de inves-timentos na área social. E o de-sempenho do segundo ano daadministração será fundamen-tal no primeiro teste eleitoraldo governo, com as eleições mu-nicipais em outubro.

A estratégia do PT é elegermais de 400 prefeitos para setornar um partido mais robustoe competitivo e se manter no po-der em 2006, nas próximas elei-ções presidenciais. Por enquan-to, na opinião do cientista políti-co e professor da UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG) Fábio WanderleyReis, o partido ainda está em fa-se de aprendizado.

Reis elogia a atuação ortodo-xa na economia, mas adverteque será preciso conciliar essapreocupação com a agenda so-cial. Essa é uma marca, lembraele, que levou o partido ao co-mando do País. “Agora, o PTtem de fazer isso (buscar resul-tados na macroeconomia) semabandonar oque deu mar-ca ao partido.O grandedesa-fio será o pró-prio PT man-ter a fidelida-de aos objeti-vos”, diz.

Enquanto oPT pretendese firmar poli-ticamente nosegundo anode governo, aoposição ten-tará mostrar que ainda é alter-nativa de poder. Acuado pelodiscurso pró-reformas que tevede assumir em 2003, o PSDBpromete sair desse embaraçopara assumir um comporta-mento mais oposicionista. En-tra o ano revigorado com a elei-

ção de JoséSerra para ocomando dopartido, justa-menteo adver-sário de Lulana sucessãopresidencial.Uma referên-cia nacional,Serra podedar novo ru-mo ao PSDB,a d o t a n d ouma conduta

mais crítica e consistente.“Mesmo com erros, o gover-

no Lula ainda é uma alternati-va melhor do que o retorno doPSDB e PFL ao poder”, diz o lí-der do governo na Câmara, Al-do Rebelo (PC do B). Ele achaque o governo conseguirá gerar

empregos e investir neste ano.Isso se reverteria em votos. “Aeconomia ainda não está commusculatura suficiente paracorrer uma maratona”, provo-ca o deputado tucano EduardoPaes (RJ), certo de que o gover-no agirá com cautela na econo-mia para não pôr em risco a ree-leição de Lula em 2006.

Para enfrentar o PSDB e oPFL nas urnas e se aproximarmais do centro político, o PTvai pegar carona no PMDB, de-tentor da mais poderosa máqui-na partidária e que a partir des-te mês deve participar do pri-meiro escalão. Poderão ocorreracordos eleitorais como uma do-bradinha PT/PMDB para a ree-leição da prefeita Marta Su-plicy, ou uma chapa do petistaPedro Wilson, prefeito de Goiâ-

nia, com o deputado Luiz Bit-tencourt, do PMDB.

Reformas – O presidente doPT, José Genoino, já está atuan-do nos bastidores para evitardisputas internas e, em segui-da, tentará ampliar a aliançacom os partidos aliados. “Sehouver guerra local, vamos evi-tar que respingue na aliança na-cional”, diz ele, ressaltando queas alianças só serão discutidasno primeiro semestre deste ano.

Paralelamente às aliançaseleitorais, o Congresso teráuma agenda menos traumáticae trabalhosa em 2004. A discus-são da reforma política estaráconcentrada na Câmara, massó entrará em vigor em 2006.“Nada será feito para pôr emrisco o que o governo consoli-

dou na sua base política”, disseo deputado Paulo Rocha (PT-SP). Um tema polêmico é a ree-leição dos presidentes da Câma-ra e Senado, que desagrada aoPT e aos demais partidos.

A data do envio das refor-mas trabalhista e sindical é ou-tro tema sem convergência.Uma idéia é cuidar da parte sin-dical neste ano, deixando os di-reitos trabalhistas para depois.Outra é deixar tudo para 2005.

Outros projetos, como o mar-co regulatório e lei de falências,têm interesses na economia,mas não geram confrontos in-ternos. “Será um ano politica-mente melhor e o governo terácondições de fazer realizações”,prevê o vice-líder do governona Câmara, Renildo Calheiros(PC do B-PE).

As eleições municipais de2004 serão uma dasmais disputadas dos últi-

mos tempos e as forças que deri-varem do pleito deverão pavi-mentar o caminho das próxi-mas eleições presidenciais. Umdos principais palcos será a capi-tal paulista. O PT joga todas asfichas para garantir a reeleiçãoda atual prefeita, Marta Su-plicy, e a oposição – capitanea-da pelo PSDB do governadorGeraldo Alckmin – aposta nasalianças para vencer no maiorcolégio eleitoral do País.

Segundo a socióloga e analis-ta de pesquisas eleitorais Fáti-ma Pacheco Jordão, apesar daimportância do pleito, só um ter-ço do eleitorado sabe hoje emquem votará para prefeito. “Oquadro está totalmente indefini-do”, afirma Fátima. De acordocom ela, uma das novidades nes-sas eleições é que, ao lado da ho-nestidade e da probidade admi-nistrativa dos candidatos, a re-novação é considerada essen-cial. “O novo terá muitas chan-ces e não assusta mais”, aposta.A seguir, a entrevista.

Estado – Qual o peso dodesempenho do governo fe-

deral no próximo pleito mu-nicipal?

Fátima Pacheco Jordão –Vai ser menor do que se pen-sa. Menor do que o PSDB temesperança que seja, em ter-mos de mau desempenho. Emesmo que vá muito bem, co-mo deseja o PT, não será tãodecisivo. O que vai decidir defato é a performance dosatuais prefeitos e a maneiracomo irão propor o futuro dacidade. Os problemas locaissão os problemas reais. E oseleitores querem soluções bas-tantes concretas para a cida-de onde residem.

Estado – Como a senhoraclassifica a proposta doatual presidente do PSDB,José Serra, de federalizar odebate das eleições munici-pais?

Fátima – Acho que não vaifuncionar. É uma estratégiaequivocada. A federalizaçãonão funciona num pleito mu-nicipal, pois os debates e os an-seios dos eleitores são muitolocalizados. O que se pode fa-zer é um background federali-zado. Ou seja, utilizar o fede-ral apenas como referência,com o objetivo de discutir osproblemas locais.

Estado – Qual a impor-tância de São Paulo nessas

eleições?Fátima – A cidade de São

Paulo é muito estratégicaporque as forças que se origi-narem desse pleito deverãopavimentar o caminho daseleições presidenciais de2006. Caso o PT consigamanter a performance daseleições municipais de 2000ou até melhorar o desempe-nho, crescem as condições dereeleição do presidente Lula.

Estado – E quais as condi-ções de o PT repetir, no anoque vem, a boa performancedas eleições de 2000?

Fátima – O PT entra com asmelhores condições possíveis.Não tenha dúvida disso. Caberáà oposição encontrar, de um la-do, as alianças necessárias a esseembate e, de outro, buscar candi-datos que tenham condições deconstruir alternativas locais. Aestratégia que o PT pretendeadotar nesse pleito – de manteras atuais prefeituras que admi-nistra e conquistar outras cida-des estratégicas – está absoluta-mente correta. Foi essa base quedeu mais estabilidade à candida-tura de Lula à Presidência.

Estado – Apesar do motelocal, qual a importância dafigura do presidente Lulanesse pleito?

Fátima – A personalidade

dele é muito forte e o Lula estámuito bem avaliado pessoal-mente nas pesquisas, mais bemavaliado do que sua própria ad-ministração, com índice de apro-vação em torno dos 70%. Comtodo esse carisma, a lógica é quefaça um tour pelo País, emapoio a seus candidatos. Apesarde os assuntos serem locais, se opresidente mantiver os mesmosíndices deaprovação, cer-tamente vai fa-vorecer seupartido.

Estado –U m a d a sapostas doPT é a reelei-ção da prefei-ta Marta Su-plicy, na ca-pital paulis-ta. Qual asua análisedo desempenho da prefeita?

Fátima – A Marta em SãoPaulo não está bem avaliada.Apesar disso, ela tem um esto-que de votos de 20% a 25%, oque lhe dá boas chances de es-tar no segundo turno da dispu-ta. Portanto, ela é uma candi-data muitíssimo forte.

Estado – O fato de o PS-DB ainda não ter um candi-dato em São Paulo pode pre-

judicar a performance dopartido?

Fátima – Se o candidatofor escolhido como no passa-do, às vésperas das eleições, is-so será uma tragédia. E podeinfluir negativamente.

Estado – A figura do gover-nador Geraldo Alckmin po-derá ter alguma influência?

Fátima –Pode ter umpeso impor-tante, sobre-tudo porqueesse governotem, na cida-de, o que mos-trar. O PSDBnão está tãod e s v a l i d o .Mas precisater cautelacom as indefi-nições e bri-gas internas.

Outros candidatos da oposi-ção também podem aparecer.Pinotti (José Aristodemo, doPFL) é um deles. Ele aparececom 5 a 6 pontos de intençãode votos nas pesquisas maisrecentes. Tuma (senador Ro-meu Tuma, também do PFL)tem cerca de 10. Erundina(Luiza Erundina, do PSB), no-me alternativo, tem entre 12 e17. O jogo não está ganho co-mo o PT pensa.

Estado – O que o eleitorespera de um candidato naseleições de 2004?

Fátima – A ética e a probi-dade administrativa aindasão imbatíveis. São qualida-des que nunca saem de pauta.O que poderá ocorrer é o focona questão da Segurança Pú-blica (mesmo as políticas dosetor sendo de responsabilida-de dos governo estadual e fe-deral).

Estado – Além dessas qua-lidades, o que mais o eleitorespera nessas eleições?

Fátima – O eleitoradoaposta na renovação. A po-pulação aprendeu muito nes-se processo e está buscandocoisas novas. O novo temchances nessas eleições e nãoassusta mais.

Estado – Com base nessaanálise, pode-se dizer que opleito municipal de 2004 es-tá totalmente indefinido?

Fátima – Sem dúvida. Pes-quisas recentes indicam queapenas um terço dos eleito-res escolhem espontanea-mente algum candidato. Emresumo, o quadro está total-mente indefinido para qual-quer candidato. Há tendên-cias, é claro, mas muita coi-sa pode acontecer até outu-bro. (A.P.S. e E.L.)

‘O que vai

decidir de fatoé a performance

dos atuaisprefeitos. Os

problemas locaissão os

problemas reais

‘O PT tem de

buscarresultados naeconomia sem

abandonar o quedeu marca ao

partidoFábio Wanderley Reis

Eleições municipais, emoutubro, vão avaliar

atuação do presidentee eficácia de seu governo

Marta comemora chegada do PT à Presidência, em 2002: reeleição da prefeita será estratégica para próxima campanha presidencial

O PRIMEIRO TESTE DO GOVERNO LULA

Tanto o governo como a opo-sição estão se preparando paraa nacionalização das campa-nhas municipais, principal-mente nas capitais e grandes ci-dades. O presidente do PSDB,José Serra, já anunciou que opartido levará para as eleiçõesos grandes temas nacionais, co-mo o desempenho da econo-mia e os investimentos do go-verno na área social.

Os líderes petistas dizem jáesperar por isso e um dos obje-tivos da campanha será fazer adefesa do governo Lula e apos-tar na recuperação econômica.O deputado Professor Luizi-nho (PT-SP), um dos vice-líde-res do governo, acha que, se osíndices sociais melhorarem, es-pera-se um bom desempenhoeleitoral do PT. “Então paranós não será ruim nacionalizara campanha”, avalia.

O presidente do PT, JoséGenoino, não gosta de falarem números, mas o objetivodo PT é eleger 16 prefeitos decapitais, duplicando a presen-ça do partido nessas cidades.Nas eleições passadas, o PTelegeu 187 prefeitos, a maio-ria nos grandes centros urba-nos, com estimativa de 12 mi-lhões de votos. Hoje, o parti-do administra 192 cidades.

Já a idéia dos tucanos éconsolidar a presença nos Es-tados governados pelo parti-do, seus principais núcleospolíticos, como São Paulo eMinas. Um dos maiores emba-tes entre tucanos e petistas se-rá em São Paulo. O comandonacional do PT investirá pesa-do para desbancar o PSDB,que, em 2000, obteve o maiornúmero de prefeituras no Es-tado: 179. Para o PT será fun-damental reeleger a prefeitada capital, Marta Suplicy.

O PSDB ainda não tem umcandidato competitivo paraenfrentar Marta. Com a recu-sa de Serra, os tucanos deve-rão sair com um nome vincu-lado ao governador GeraldoAlckmin. Além disso, devembuscar uma aliança forte jáno primeiro turno, uma estra-tégia que será adotada tam-bém no interior paulista.(C.F., A.P.S. e E.L.)

2003/2004

‘O NOVO NÃO ASSUSTA MAIS’

DESAFIO: ASCAMPANHASNACIONAIS

Para a especialistaFátima Pacheco Jordão,

o eleitor buscarárenovação em 2004

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JANEIRO1 – Luiz Inácio Lula da Silva toma possecomo o 36.º presidente da República emfesta popular que reuniu mais de 200 milpessoas em Brasília. Em seu discurso, pe-de o controle das “muitas e legítimas an-siedades sociais”, prometendo atendê-las“no momento justo”. Também tomamposse os 27 governadores.– Grupo de cientistas dos EUA e da Fran-ça mapeia o cromossomo 14, que abrigagenes relacionados a mais de 60 doenças.

3 – Lula recomenda austeridade absolutaaos 34 ministros e secretários nacionaisna primeira reunião ministerial.5 – Dois atentados com homens-bombapalestinos matam 23 pessoas em Tel-Aviv. É o primeiro ataque em Israel des-de novembro de 2001.7 – Henrique Meirelles toma posse na pre-sidência do Banco Central. Ele anunciaque seu principal objetivo será trazer a in-flação de volta à meta inicialmente previs-ta para o ano, que é de 4% com folga de2,5 pontos porcentuais (6,5%).8 – Carlos Alberto Parreira é apresentadocomo novo técnico da seleção brasileira.9 – A Agência Internacional de EnergiaAtômica (AIEA) pede ao Brasil esclareci-mento oficial sobre as declarações do mi-

nistro da Ciência e Tecnologia, RobertoAmaral, que afirmou ser favorável ao de-senvolvimento de tecnologia nuclear peloBrasil, até mesmo a da bomba atômica.– Coréia do Norte anuncia que deixa oTratado de Não-Proliferação Nuclear.– Acidente com duas composições do me-trô de Belo Horizonte deixa 77 feridos.10 – A governadora Rosinha Matheus(PSB) exonera o presidente do Conselhode Desenvolvimento Industrial do Rio,Rodrigo Silveirinha Corrêa, e afasta trêsfiscais da Receita Estadual, investigadospor extorsão, lavagem de dinheiro e re-messa de US$ 30 milhões para o exterior.11 – Entra em vigor o novo Código Civil.– Morre Júlio Botelho, ex-ponta direitada Portuguesa, Fiorentina e Palmeiras.

– Morre o comediante Jorge Lafond.– Dezesseis pessoas morrem em conse-qüência da chuva em Petrópolis, Rio.12 – Gustavo Kuerten vence o torneioATP Tour de Auckland, na Austrália.– O ex-ditador Leopoldo Galtieri morreaos 76 anos em Buenos Aires.13 – O Bradesco anuncia a compra doBBV Banco, controlado pelo grupo espa-nhol Bilbao Vizcaya, por R$ 2,63 bilhões.14 – Fiesp anuncia que a indústria paulis-ta encerrou 2002 com queda de 4,44% nonível de emprego, o que representa perdade 69.067 postos de trabalho, mais que odobro dos 32.437 extintos em 2001.– Arrecadação do governo federal so-mou, em 2002, R$ 243,005 bilhões. Consi-derando-se os efeitos da inflação, atingiu

R$ 283,2 bilhões, recorde histórico.15 – Acusado de ligação com o tráfico, odeputado Pinheiro Landim (sem partido-CE) renuncia ao mandato.16 – O processo de compras e fusões na te-lefonia é deflagrado com a confirmaçãoda aquisição da Tele Centro-Oeste Celu-lar pela Brasilcel, holding da Portugal Te-lecom e Telefônica, por R$ 1,408 bilhão.20 – Líbia é eleita para ocupar a presidên-cia da Comissão de Direitos Humanos daOrganização das Nações Unidas, sob pro-testos de ONGs, de Israel e dos EUA.– Acusado de crimes contra a humanida-de, o ex-presidente sérvio Milan Milutino-vic, de 60 anos, entrega-se ao Tribunal Pe-nal Internacional em Haia, Holanda.– Em quatro dias, chuvas provocam

44 mortes em Minas.21 – BC amplia para 8,5% o teto da infla-ção de 2003 e realiza primeira interven-ção no mercado de câmbio na gestão Mei-relles. Mas a cotação sobe 2,11%, para R$3,48 – segunda maior do ano.22 – Copom aumenta a taxa básica de ju-ros, a Selic, de 25% para 25,5% ao ano naprimeira reunião no governo Lula. É amaior taxa desde maio de 1999.– O presidente da França, Jacques Chi-rac, e o chanceler da Alemanha, GerhardSchroeder, declaram em Paris sua oposi-ção aos planos do presidente dos EstadosUnidos, George W. Bush, de iniciar umaguerra contra o Iraque sem o aval do Con-selho de Segurança da ONU.23 – Holanda ultrapassa os EUA e se

FATOSDO ANO

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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:H-2:20031231:H2 - O ESTADO DE S.PAULO NACIONAL QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003

Page 3: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 3 - 31/12/03 CompositeH3 -

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 3 - 31/12/03 CompositeH3 -

2003/2004

‘ Meu sonhoacabou.

Sonhei o sonhoerrado

Fernando Gabeira

Lula cumprimenta George Bush, no salão oval da Casa Branca

Sérgio Gomes ou ‘Sombra’ foi denunciado no caso Celso Daniel

‘Grana lavada até eu que sou boba,

quero. Eu não queroé lavar grana pra ninguém

Norma Regina Emílio Cunha

‘ Jogar uma galinha é uma ofensa.Seria como se algum homem

estivesse falando e se jogasse um veadoMárcio Thomaz Bastos

‘Lula vai demorar um poucopara notar que pode muito

menos do que pensa que podeFernando Henrique Cardoso

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Heloísa Helena chora na tribuna: ‘Sou uma mulher livre – e a liberdade ofende’

Os processos do ministro Celso de Mello: retrato de uma crise

‘É preciso saber como funciona

a caixa-preta desse Poderque se considera intocável

Luiz Inácio Lula da Silva

‘ A luta camponesa abriga hoje 23milhões de pessoas.

Do outro lado, há 27 mil fazendeiros.Essa é a disputa

João Pedro Stédile

‘Berzoinierrou um

pênalti, marcouum gol contra e

no final foiexpulso

Walter Pinheiro (PT-BA)

O presidente Fernando Henrique recebe Lula, na rampa do Palácio do Planalto, para lhe passar o cargo

No RS, fazendeiros fazem cavalagada contra desapropriações

Apesar da polêmica, Lula visitou Fidel Castro em Cuba

Em todo o País, idosos esperaram horas na fila para rever benefícios Berzoini em busca de recuperação

Contra reforma, servidor quebra vidro do Congresso

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torna o país com maior volume de in-vestimentos diretos no Brasil em 2002:US$ 3,35 bilhões.– O 3.º Fórum Social Mundial é abertoem Porto Alegre, com críticas ao FundoMonetário Internacional, ao Banco Mun-dial, à Área de Livre Comércio das Améri-cas (Alca) e à Organização Mundial doComércio (OMC). Em Davos, na abertu-ra do 33.º Fórum Econômico Mundial,analistas ortodoxos apóiam a política eco-nômica conservadora de Lula.26 – Lula propõe em Davos a criação deum fundo internacional para combater amiséria e a fome no Terceiro Mundo.27 – O jogador de vôlei Giba é suspensodepois de exame antidoping constatarconsumo de maconha.

28 – A primeira pesquisa após a posse deLula mostra índices de aprovação inédi-tos para um presidente no primeiro mêsde governo. Segundo o levantamento Sen-sus/CNT, 78,4% da população acreditaque o governo Lula será ótimo ou bom.– Desemprego na Grande São Paulo atin-giu em 2002 a segunda pior marca dos úl-timos 17 anos. A taxa média anual subiude 17,6% da População Economicamen-te Ativa (PEA), em 2001, para 19%.– O artista plástico Cícero Dias morre emParis, aos 95 anos.30 – Lula lança o programa Fome Zero.– Chuvas fortes causam mais mortes noSudeste. No Rio, sobe para 35 o númerode mortos e, em Minas, para 45.31 – Chefe da missão de inspetores de ar-

mas químicas e biológicas da ONU, HansBlix, diz que não há evidências capazesde justificar uma guerra contra o Iraque.

FEVEREIRO1 – O ônibus espacial Columbia explodeao reentrar na atmosfera, a mais de 60mil metros, matando sete tripulantes.– Sarney é eleito presidente do Senado.Tomam posse senadores e deputados.2 – Presidente da Câmara, João PauloCunha (PT-SP) defende urgência na defi-nição do “ritmo de tramitação” das refor-mas previdenciária, tributária e política.3 – Governo dá início, em Guaribas (PI),ao projeto-piloto do Fome Zero.– Venezuela começa a retomar a rotinadepois de 63 dias de greve geral.

4 – República Federal da Iugoslávia é ex-tinta. Parlamento aprova a Constituiçãodo novo Estado de Sérvia e Montenegro.5 – O secretário de Estado dos EUA, Co-lin Powell, apresenta ao Conselho de Se-gurança da ONU o que considera serem“provas irrefutáveis” de que o regime deSaddam Hussein esconde deliberadamen-te armas de destruição em massa.6 – Varig e TAM assinam o protocolo decriação de uma nova companhia aérea,que surgiria a partir da fusão das duas.7 – Governo eleva a meta de superávit pri-mário, de 3,75% do Produto Interno Bru-to (PIB) para 4,25% do PIB.8 – Morre o ex-diretor-executivo doJornal do Brasil Manoel FranciscoNascimento Brito, de 80 anos. Ele fi-

cou no comando do JB por 52 anos.10 – Lula anuncia o corte de R$ 14 bi-lhões do Orçamento da União de 2003.– Chirac e o presidente da Rússia, Vladi-mir Putin, lançam documento contra aguerra ao Iraque.– Morre aos 82 anos o ator José Lewgoy.11 – EUA anunciam suas propostas paraa formação da Alca. Sugerem que cercade 65% das exportações de bens de consu-mo e produtos industrializados da Améri-ca Latina e 56% das de produtos agríco-las fiquem isentas de taxas quando a Alcaentrar em vigor, em janeiro de 2005. Aproposta recebe críticas no Brasil.13 – O IPCA, índice que baliza o regimede metas de inflação, subiu 2,25% em ja-neiro, 0,15 ponto porcentual acima do re-

sultado de dezembro. É a maior inflaçãoem janeiro desde o início do Plano Real.14 – Hans Blix informa ao Conselho deSegurança da ONU que não encontrounenhum indício de que o Iraque possuaarmas de destruição em massa.– IBGE revela que a agroindústria brasi-leira cresceu 7,9% em 2002, o melhor de-sempenho em 11 anos. O resultado é bemsuperior ao da indústria (2,4%).– A ovelha Dolly, primeiro mamífero clo-nado, é sacrificada, seis anos depois doseu nascimento, por sofrer de uma doen-ça pulmonar incurável.17 – Em discurso na reabertura dos traba-lhos legislativos, Lula propõe ao Congres-so uma parceria para a aprovação de seisreformas estruturais: a da Previdên- E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:H-3:20031231:QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 NACIONAL O ESTADO DE S.PAULO - H3

Page 4: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 4 - 31/12/03 CompositeH4 -

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 4 - 31/12/03 CompositeH4 -

As políticas compensató-rias do governo podemajudar no combate à in-

digência, mas pobreza só se com-bate mesmo com crescimento,emprego e redução das desigual-dades. Esta é a avaliação do eco-nomista Sérgio Besserman Vian-na, que presidiu o IBGE entre1999 e 2003. Nesses quatroanos, ele acompanhou de pertoos avanços e deficiências das po-líticas públicas brasileiras e nãotem dúvida sobre qual é a maisimportante delas. “O essencial égarantir a estabilidade para queocorram o crescimento e, de-pois, os investimentos.”

De qualquer forma, ele nãoacredita que as políticas públi-cas sejam suficientes para en-frentar a pobreza. “É uma ilu-são achar que isso muda de ci-ma para baixo. É preciso mu-dar o grau de consciência, cultu-ra e mobilização do povo.”

Estado – Que falhas nas po-líticas públicas do País têm

impedido a redução da desi-gualdade social?

Sérgio Besserman – É mui-to importante distinguir comqual problema estamos queren-do lidar. E tem havido muitaconfusão. Fome é um problemalocalizado no semi-árido e emalguns bolsões de pobreza dis-persos pelo Brasil. É um proble-ma de 2 milhões a 3 milhões defamílias, no máximo. Estamosfalando de 8 a 12 milhões depessoas, talvez até menos. Indi-gência é outro problema e a po-breza, um terceiro fenômeno.Então, as políticas públicas sãonecessariamente diferentes.

Estado – Mas 8 a 12 mi-lhões de pessoas é um núme-ro muito expressivo...

Besserman – Com toda cer-teza e isso merece toda atenção.Não estou diminuindo o proble-ma, mas ele não diz respeito a50 milhões de pessoas. E temuma localização regional clara.

Estado – Essa confusão deconceitos foi inaugurada nogoverno Lula?

Besserman – Não, acho quehouve uma confusão por causada precipitação. Há excelentes

técnicos no governo que podemdefinir essas diferenças concei-tuais. Acredito que a políticapública adotada para combatera indigência é a política míni-ma mesmo. No fundo, cadas-tro, bolsa de alimentação ou bol-sa-escola são todos programasde renda mínima com exigên-cia de contrapartida. Já a pobre-za você só combate com cresci-mento, emprego e o enfrenta-mento de uma outra questãobem distinta, que é a desigual-dade. A desigualdade em si éum imenso problema para oBrasil. Ela foi gerada por sécu-los de história, é estrutural. En-tão o combate à desigualdadepassa por desconstruir seus ins-trumentos de reprodução, oque é uma tarefa muito difícil.Quem transforma essa situaçãoé o próprio povo mobilizado eorganizado. É através de umadistribuição mais igualitária deinformação e conhecimento, dademocracia, que vamos cons-truir uma sociedade mais igual.

Estado – Essa construçãonão esbarraria na ineficiênciade políticas públicas?

Besserman – As políticas pú-blicas também têm um grande

papel na questão da desigualda-de. As crianças devem estar to-das na escola, com qualidade doensino, e a cultura deve ser disse-minada, assim como o acesso aomicrocrédito. Mas não creio queessas políticas sejam suficientes.Sabemos que os recursos no Bra-sil se perdem no meio do cami-nho e acabamindo paraquem temmais. É umailusão acharque isso mudade cima parabaixo. É preci-so mudar ograu de cons-ciência, de cul-tura e de mobi-lização do po-vo. Mas nos úl-timos anos, adistribuiçãode bens e serviços melhorou bas-tante. As crianças estão na esco-la, o acesso a telefonia melho-rou. Houve melhoria na distri-buição de bens e serviços e estag-nação na distribuição de renda.

Estado – O projeto de Par-ceria Público-Privada seriauma solução?

Besserman – O caminho pas-sa obrigatoriamente por conces-são de serviço público e tentati-va de atrair a poupança privadapara os investimentos em infra-estrutura. Se o projeto é eficientepara percorrer esse caminho,não sei dizer. É preciso avançarum pouco para saber.

Estado – Eessa vincula-ção do com-bate à pobre-za ao cresci-mento e à ge-ração de em-pregos?

B e s s e r -man – A solu-ção da pobre-za passa pelageração deemprego e ren-da, ou seja,

por macroeconomia. De modogeral, acho que o rumo tomadoestá correto, do ponto de vistado ajuste fiscal. Mas o objetivode redução da vulnerabilidadeexterna tem de ser perseguidoestrategicamente. Temos denos tornar crescentementemais produtivos e mais compe-titivos para exportar mais.

Estado – Qual seria, no mo-mento, a política públicamais essencial no País?

Besserman – A mais essen-cial de todas está sendo tocada:garantir a estabilidade paraque ocorra retomada do cresci-mento e, depois, dos investi-mentos. Num segundo planopoderíamos pensar na reformada legislação trabalhista e emfrentes de trabalho urbanas pa-ra geração de empregos. Alémdisso, investimentos no setor desaneamento, com recursos pri-vados, e isso passa por desfazeros nós das concessões no setor.

Estado – Como o sr. avalia,no campo das políticas públi-cas, o primeiro ano de Lula?

Besserman – Sobre desigual-dade, nenhuma mudança em re-lação ao governo anterior. Nocaso da indigência, estamos nobom caminho, com os progra-mas de renda mínima. Nessespontos, o governo Lula come-çou com alguma confusão. A ex-pectativa geral era que a oposi-ção estivesse mais preparada pa-ra chegar executando. Mas é ab-solutamente normal que os go-vernos que chegam tenham umtempo de arrumação. (J.F.)

JACQUELINE FARID

Para não repetir em 2004os resultados modestosde 2003 no campo das

políticas públicas, o governo deLuiz Inácio Lula da Silva teráde tornar mais eficiente seusprogramas sociais, melhoran-do a destinação dos recursos pa-ra projetos como o Fome Zero.A avaliação é feita por econo-mistas e cientistas políticos,que apontam pouco ou ne-nhum avanço nessa área no pri-meiro ano de governo.

De acordo com eles, a ques-tão social no País também pas-sa por mudanças na políticaeconômica, com mais cresci-mento, geração de empregos einvestimentos na infra-estrutu-ra, beneficiando diretamente apopulação de renda mais bai-xa. “Uma das maiores dificul-dades de direcionar os gastossociais para os mais pobres é opoder de barganha daquelesque, na verdade, ficam com osrecursos”, afirma o cientista po-lítico Alberto Almeida, coorde-nador do FGV Opinião (Institu-to de Pesquisa da Fundação Ge-túlio Vargas).

Os especialistas concordamque educação, emprego, saúdee desigualdade social são desa-fios gigantescos para qualqueradministração. Eles tambémadmitem que asdificuldades naárea são anterio-res ao atual go-verno. Mesmo as-sim, acham quea situação podeser melhoradaem 2004 se fo-rem superadosobstáculos no di-recionamento derecursos.

“Já existe, nes-se governo e tam-bém no governoanterior, a clare-za de que os re-cursos podem ser muito melhoraplicados, mas o obstáculo é po-lítico”, observa Almeida. “Apressão dos mais ricos, que têmlobby poderoso, é muito forte.”Por isso, entende ele, umamaior conscientização e organi-zação dos mais pobres, que le-vem a uma exigência de me-lhor distribuição dos recursos,ajudará a mudar o quadro.

Já o professor titular de Eco-nomia da Universidade Fede-

ral do Rio de Janeiro (UFRJ),Reinaldo Gonçalves, recomen-da uma estratégia mais clarado governo nos investimentosna infra-estrutura, como trans-porte e saneamento. Só assim,considera Gonçalves, serão pos-síveis avanços no campo social.“Há uma falta de estratégia emrelação à infra-estrutura, o quetorna as coisas sem rumo e com-promete também as políticaspúblicas”, afirma ele.

Medíocres – Ainda na avalia-ção de Gonçalves, o limite paraavanços na área social em 2004estará no cenário macroeconô-mico. “Para que a política so-cial avance, é preciso renda eemprego”, anota. “Mas enquan-to não houver uma mudançasignificativa na política econô-mica, a previsão é que haveráresultados cada vez mais me-díocres nas políticas universais,como educação e saúde.”

Nesse sentido, o professor pe-de ações como uma “reduçãodrástica” dos juros e uma dimi-nuição da meta de superávitprimário, dando mais fôlego pa-ra investimentos no campo so-cial. “É tecnicamente incompa-tível imaginar políticas públi-cas com esse superávit primá-rio”, diz ele, referindo-se à me-ta de 4,5% definida pelo gover-no no início do ano.

O economistada UFRJ avaliaainda que os pro-gramas de rendamínima adminis-trados pelo go-verno, como oBolsa Família,são iniciativaspositivas, masfaz algumas res-salvas. Gonçal-ves lembra queesses projetos te-rão de ser avalia-dos ao longo dopróximo ano, pe-la sua própria ca-

racterística de longo prazo. “Osprogramas de renda mínimaainda estão começando, a parteoperacional é muito complica-da e só daqui a um ano haveráefeitos passíveis de avaliação.”

O Fome Zero também estáno grupo das iniciativas bem-in-tencionadas, na opinião deGonçalves, mas acaba esbarran-do em problemas que, para ele,são básicos. “É um projeto mui-to articulado, mas que não con-

seguiu avançar pelo volume derecursos, que é pífio, e pelo fatode que as instituições do Paísnão estão aparelhadas para efe-tivar um projeto como esse”,diz o economista. “A avaliaçãoque tenho é que este ano foi per-dido para as políticas públi-cas”, critica o professor.

Patinando – Também cético,o ex-secretário de Acompanha-mento Econômico do Ministé-

rio da Fazenda, o economista eprofessor do Instituto Brasilei-ro de Mercado de Capitais (Ib-mec), Cláudio Considera, é ou-tro que critica o Fome Zero. Se-gundo ele, o programa é uma“mera continuidade” do BolsaEscola. “Nesse caso tambémnão houve avanços e fica umasensação desagradável para apopulação de que as coisas es-tão paradas”, constata o ex-se-cretário. “O governo está pati-

nando muito nesse programa.”Por isso mesmo, o professor

demonstra pouco otimismoquanto ao resultado dessas polí-ticas em 2004. “A impressão éque eles (o governo) vão levarmuito tempo ainda para apren-der a conduzir as políticas pú-blicas”, diz Considera. Paraele, mais do que a falta de avan-ços nessa área em 2003, “houvealguns recuos importantes” noprimeiro ano do atual governo.

Em Acauã (PI), cidade incluída no Fome Zero, família percorre quilômetros para lavar suas roupas

‘Houve

melhoria nadistribuição debens e serviçose estagnação

nadistribuição

de renda

2003/2004

Benonias Cardoso/AE

Para especialistas, melhora nosíndices depende de crescimento e maisempregos, para que não se repitam os

resultados modestos de 2003

Em 2004, o Brasil finalmen-te terá mais dados sobre suaprópria pobreza. No início doano, deverá estar concluído,pelo governo, o trabalho dedefinição de uma medida ofi-cial de pobreza, segundo des-tacou o presidente do Institu-to Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), EduardoNunes.

Atualmente, a medida dapobreza brasileira está vincu-lada à renda e a chamada li-nha de pobreza está abaixode meio salário mínimo. Se-gundo Nunes, foi criado umgrupo de trabalho no primei-ro semestre de 2003, coorde-nado pela Secretaria de Segu-rança Alimentar, o IBGE e oInstituto de Pesquisa Econô-mica e Aplicada (Ipea), para“trabalhar a definição de li-nha de pobreza”.

Nunes explicou que o IB-GE já apresentou ao grupo re-sultados da última PesquisaNacional de Amostra Domici-liar (Pnad) e divulgará, até oinício do ano, os resultadosda Pesquisa de OrçamentoFamiliar (POF) 2002/2003.“De posse da POF, vamosconstruir um conjunto maisamplo, rico e detalhado dascaracterísticas da pobreza noPaís”, disse Nunes.

A tendência é que essa“versão definitiva” da linhada pobreza deixe de ser ape-nas monetária – vinculada aosalário mínimo – para incluirtambém informações maissubjetivas, já que a pesquisada POF acrescentou um ques-tionamento sobre condiçõesde vida que permitem “res-postas subjetivas”. Nunes res-salta que a medida oficial depobreza é importante como“instrumento social de con-trole das políticas públicas”.Os Estados Unidos, por exem-plo, dispõem de uma medidaoficial da pobreza há 30 anos.

Para o ex-secretário deAcompanhamento Econômi-co do Ministério da Fazenda,Cláudio Considera, está maisdo que na hora de mudar es-ses critérios. Ele acha que oatual governo não tomou ne-nhuma atitude para distri-buir melhor seus recursos.“Houve um grande sucessona política econômica, masna área social todas as expec-tativas se frustraram.” (J.F.)

AVALIAÇÃO

É QUE, PARA

AS POLÍTICAS

PÚBLICAS,

O ANO DE

2003 FOI

PERDIDO

DESAFIO É TORNAR ÁREA SOCIAL EFICAZ

Ex-presidente do IBGE,Sérgio Besserman dizque o mais importanteé garantir estabilidade

‘POBREZA SÓ SE COMBATE COM CRESCIMENTO’

EM 2004, NOSÍNDICES,

POBREZA MUDA

cia, a tributária, a trabalhista, a políti-ca, a agrária e a do sistema financeiro.– Suspeito de liderar esquema que gram-peou mais de 300 telefones na Bahia, An-tônio Carlos Magalhães (PFL-BA) renun-cia à indicação para presidir Comissão deConstituição e Justiça do Senado.– O Brasil decide se alinhar de forma cla-ra às nações que defendem o desarma-mento do Iraque de forma pacífica.18 – O MST indica 10 dos 20 novos supe-rintendentes do Instituto Nacional de Co-lonização e Reforma Agrária (Incra).– Um incêndio no metrô de Daegu, Co-réia do Sul, deixa 134 mortos e 99 desapa-recidos. O responsável foi um homemcom problemas mentais, que utilizouuma bomba de fabricação caseira.

– Governo venezuelano e a oposição fir-mam um acordo pelo fim da violência so-cial e política no país.19 – Copom decide elevar a taxa Selic de25,5% para 26,5% ao ano. É a maior taxadesde maio de 1999. Também aumenta aalíquota do depósito compulsório sobreos depósitos à vista de 45% para 60%, reti-rando R$ 8 bilhões de circulação.– O estudante marroquino Mounir el Mo-tassadeq, de 28 anos, torna-se o primeirocondenado no mundo pelos atentados de11 de setembro de 2001 nos EUA. Cortealemã sentencia o estudante a 15 anos deprisão, considerando-o culpado de apoiara célula local da rede terrorista Al-Qaeda.20 – A polícia política do governo vene-zuelano prende Carlos Fernández, presi-

dente da Fedecámaras, principal entida-de empresarial do país, um dos líderes dagreve geral de dois meses.– Pelo menos 86 pessoas morrem e maisde 160 ficam feridas em incêndio numaboate de Rhode Island (EUA).21 – A Justiça Federal decreta o seqüestrode bens do presidente da Força Sindical,Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, acusa-do de improbidade administrativa.22 – Depois de dois dias de reunião naGranja do Torto, os 27 governadores e Lu-la divulgam a Carta de Brasília, no qualse comprometem a tratar como prioritá-rias as reformas da Previdência e tributá-ria, encaminhando propostas ao Congres-so ainda no primeiro semestre.23 – A 45.ª edição do Grammy Awards

tem uma grande vencedora: Norah Jo-nes, vencedora em cinco categorias.24 – Onda de violência orquestrada pelotráfico espalha o terror em mais de 20bairros da região metropolitana do Rio.Traficantes ordenam o fechamento do co-mércio e a destruição de 24 ônibus. Bom-bas explodem diante de prédios da zonasul e policiais são atacados.– EUA, Grã-Bretanha e Espanha apre-sentam à ONU resolução que condena oIraque por “violações materiais adicio-nais” das ordens de desarmamento dopaís aprovadas no últimos 12 anos.25 – Tráfico volta a impor o terror noRio. Ônibus e carros são destruídos, ocomércio é obrigado a fechar e crimino-sos atiram num supermercado, num

shopping e num posto de gasolina.26 – Governo inicia Operação Rio Segu-ro, que mobiliza 2.500 policiais. Treze fa-velas e morros são ocupados.– O risco país e o C-Bond, principal títuloda dívida brasileira negociado no exte-rior, voltam ao nível de junho, quando co-meçou a crise pré-eleitoral.27 – Apontado como responsável pela on-da de violência no Estado, o traficanteLuiz Fernando da Costa, o FernandinhoBeira-Mar, é transferido do Rio para opresídio de Presidente Bernardes (SP).– PIB brasileiro cresceu 1,52% em 2002,desempenho ligeiramente acima do1,42% registrado em 2001.– No primeiro mês do governo Lula, o se-tor público registra superávit primário de

7,01% do PIB. É o melhor resultado já al-cançado em janeiro desde 1991.28 – O ex-deputado capixaba José CarlosGratz é detido no interior paulista. Gratzé acusado de ter comprado votos de parla-mentares para se reeleger presidente daAssembléia do Espírito Santo em 2000.

MARÇO1 – Cúpula da Liga Árabe expressa “rejei-ção a qualquer agressão ao Iraque”.– Detido Khalid Mohamed, suposto men-tor dos ataques do 11 de setembro.4 – FMI anuncia que a segunda revisãodo acordo com o Brasil foi concluída, oque abre caminho para o desembolso deuma parcela de US$ 4,6 bilhões, parte dopacote de ajuda financeira concedido E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:H-4:20031231:H4 - O ESTADO DE S.PAULO NACIONAL QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003

Page 5: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 6 - 31/12/03 CompositeH6 -

Produto: ESTADO - ESPECIAL - 6 - 31/12/03 CompositeH6 -

Terminal de carga no Porto de Santos: exportações podem cair e as importações, subir

Às compras: apoiado na melhor oferta de crédito, o consumo verificou alguma recuperação na virada do ano

Governo, economistas eempresários acham

que o caminho para ocrescimento está aberto

Analistas prevêemmenor saldo comercial

em razão da alta doconsumo interno

RITA TAVARES

Ano novo, vida nova pa-ra a economia brasi-leira Em 2004. Essa é

a expectativa compartilhadapor governo, oposição, eco-nomistas e empresários. Aqueda dos juros e as medi-das de incentivo ao consumodevem interromper o perío-do de estagnação de 2003 e oBrasil pode crescer 3,5% em2004, ou até mais que 4%, co-mo apostam alguns, o quenão ocorre desde 2000, quan-do o Produto Interno Bruto(PIB) teve alta de 4,4%.

O secretário de AssuntosInternacionais do Ministé-rio da Fazenda, OtavianoCanuto, confirma essa ex-pectativa positiva. “O anode 2004 é do investimento,que será o fermento que faráo bolo crescer”, disse, apos-tando em um crescimentode “pelo menos” 3,5%.

“O ano de 2004 vai ser me-lhor que 2000 porque os efei-tos positivos da mudança deregime cambial em direçãoao câmbio flexível já estãomaduros hoje para se expres-sarem. Tanto que temos ago-ra menor volatilidade cam-bial e melhor perfil do balan-ço de pagamentos”, avaliouCanuto, descartando riscosque possam comprometer es-sa trajetória.

“O pior já passou”, refor-ça o economista EduardoGianetti da Fonseca, aler-tando para os riscos do oti-mismo exagerado. “Se oPaís conseguir crescer de3% a 3,5% com uniformida-de, sem oscilações, não estáruim.”

A média de crescimento doProduto Interno Bruto (PIB)nos oito anos do governo deFernando Henrique Cardosofoi de 2,6%, com muitas osci-lações decorrentes de crisesexternas e internas.

Nesta virada de ano, aprodução industrial estácrescendo, estimulada pelarecuperação do consumo, es-te apoiado na melhor ofertade crédito.

Os indicadores que mos-tram essa recuperação embu-tem outra informação vital:a inflação está absolutamen-te sob controle, depois de terassustado o governo no iní-

cio de 2003. Em outubro, oÍndice de Preços ao Consu-midor Amplo (IPCA) foi de0,29%, praticamente um dé-cimo dos 2,25% de janeiro.Nas pesquisas que o BancoCentral faz semanalmentecom 80 instituições financei-ras, a expectativa é que o IP-CA de 2004 seja de 6%.

O economista-chefe dobanco HSBC, AlexandreBassoli, lembra que, se o IP-CA de 2004 corresponder de

fato às previsões atuais dosanalistas, o governo Lulaconseguirá cumprir a metade inflação fixada para oano, de 5,5%, com tolerân-cia de 2,5 pontos porcen-tuais. Será uma façanha,porque as metas inflacioná-rias dos últimos três anos es-touraram.

No novo ano, o declíniodos juros deve seguir ritmomais lento que em 2003. Noprimeiro trimestre de 2002,

os juros bateram em 26,5%para enfrentar a crise de des-confiança dos investidorespor causa daeleição do PTpara a Presi-dência da Re-pública, mas ataxa foi reduzi-da para 17% nareunião do Co-mitê de Políti-ca Monetária(Copom) de no-

vembro.

Tesoura – À medida que ogoverno Lulapropôs as refor-mas tributáriae da Previdên-cia e mostrouque faria “maisdo mesmo”,mantendo os pi-lares da políti-ca econômicad o g o v e r n o

FHC (austeridade fiscal,compromisso com inflaçãobaixa e câmbio livre), o riscoBrasil, que mede a confian-ça dos investidores, despen-cou do pico de 2.436 para500 pontos básicos. A recu-peração da credibilidade,aliada ao controle da infla-ção, permitiu os cortes dosjuros.

No fim de 2004, os analis-tas prevêem que os juros bá-sicos estarão em 14,5%, em-bora alguns mais otimistas,como o economista-chefe doBanco Credit Suisse FirstBoston, Rodrigo Azevedo,já fale em 13% e sugira aoBanco Central que continuea usar a tesoura.

Quando se discute qual se-rá o ritmo desses cortes, aLCA Consultores adverteque os rumos da economiados Estados Unidos são fun-damentais para qualquerprojeção futura.

Embora espere ajustes naeconomia norte-americana,a consultoria acredita queeles só vão aparecer em2005, para não atrapalhar oprojeto de reeleição do presi-dente George W. Bush. Seocorrer mudança brusca ouum choque externo, o gover-no pode ser obrigado a ele-var os juros.

“Teoricamente, é possívelum crescimento uniformepor alguns anos, desde queo País não sofra novos cho-ques internos e externos”,observa o economista CelsoMartone, professor de econo-mia da Universidade de SãoPaulo (USP). Do contrário,a economia voltaria a pati-nar. Ele lembra que, ao lon-go dos anos 90, a cada 18 me-ses, o Brasil enfrentou umchoque.

Para enfrentar essa fragili-dade externa, em 2004 o Bra-sil ainda contará com umacordo com o Fundo Mone-tário Internacional (FMI),que garantirá um emprésti-mo ao País caso surja umacrise.

As linhas gerais do acor-do prevêem, mais uma vez,“mais do mesmo”. Ou seja,o Brasil terá de produzir umsuperávit primário (receitasgovernamentais menos des-pesas, descontados os juros)de 4,25% em 2004, assim co-mo fez neste ano, o que limi-tará a capacidade de investi-mento e de gastos do gover-no Lula.

■ Colaborou Adriana Fernandes

2003/2004

Mauricio de Souza

DÚVIDA É SE O CRESCIMENTOVAI ABALAR AS EXPORTAÇÕES

OPlano Real vai come-morar o décimo ani-versário em 2004. Pa-

ra o Brasil, trata-se de umaproeza, já que antes de suaadoção, outras quatro moe-das saíram de circulação como fracasso e troca de planoseconômicos. Só o cruzeiro te-ve vida mais longa, com qua-se 16 anos de sobrevivência.

Mas o real já não tem a for-ça da época de seu nascimen-to. Em 1994, cada um realvalia um dólar. Nesta vira-da de ano, são precisos cercade três reais para obter umdólar. E, para parte dos em-presários nacionais, a desva-lorização do câmbio deveriaser ainda maior, o que garan-tiria exportações fortes em2004.

Um saldo comercial gordoassegura entrada de dólares,que é fundamental para umaeconomia com vulnerabilida-

de externa, como é a do Brasil.Um dos consensos do mer-

cado financeiro para as pro-jeções de 2004 é o de umaqueda do saldo da balançacomercial, em conseqüênciada recuperação da econo-mia. Com o mercado domés-tico aquecido, as importa-ções aumentariam e as em-presas privilegiariam as ven-das internas.

A maioria dasprojeções refere-se a um superá-vit de até US$ 18bilhões, antemais de US$ 23bilhões de 2003.Nesse caso, ocâmbio estariaem R$ 3,20 nofim de 2004.

O presidenteda Associação de ComércioExterior do Brasil, BenedictoFonseca Moreira, concordacom essa queda e diz que aeconomia depende de insu-mos importados. “A idéia deque as exportações cairão porcausa da retomada internanão resiste a uma análise

mais fria dos fatos”, alertauma análise do Banco Safra,que sustenta que o saldo dabalança deve superar US$ 22bilhões também em 2004.

Para o Brasil, quantomaior o saldo da balança co-mercial melhor o resultadodo balanço de conta corrente(saldo dos compromissos edespesas do País em moedaestrangeira).

Neste ano, pe-la primeira vezdesde 1993, esseresultado deveser positivo, ematé US$ 3 bi-lhões. Já no anoque vem, a ex-pectativa é deum retorno aosdéficits , emmais de US$ 4

bilhões, segundo pesquisa doBanco Central com mais de80 instituições.

Resultado muito melhor,no entanto, do que os défi-cits na faixa dos US$ 24 bi-lhões entre os anos de 1999 e2001, o que indica que oPaís está menos vulnerável

a flutuações e crises econô-micas externas.

Na avaliação do secretáriode Assuntos Internacionaisdo Ministério da Fazenda,Otaviano Canuto, os desa-fios maiores para a economiabrasileira vêm justamente dofront externo: as dificulda-des no âmbito das negocia-ções internacionais e os ris-

cos de choques inesperadosna economia mundial.

A vantagem, disse ele, éque, “felizmente”, o comér-cio exterior não depende ex-clusivamente da conclusão eda extensão das negociaçõesinternacionais. “É claro que,se o processo negociador sur-preender favoravelmente,acrescentará ainda mais

combustível”, disse o secretá-rio, ponderando, no entanto,que o desfecho das negocia-ções dependerá da atitudedo governo norte-america-no, que por sua vez está atre-lada às eleições presiden-ciais nos Estados Unidos.“Estou sendo realista. Nósnão precisamos contar. Seder certo é lucro”. (R.T.)

PAÍS ENTRA NA MELHOR FASE EM 4 ANOS

DÉFICITS

DEVEM

SER

MENORES

RISCO

AINDA É UM

CHOQUE

EXTERNO

Epitacio Pessoa/AE-26/09/2003

em setembro, de US$ 30 bilhões.– Gaviões da Fiel leva o título de bicam-peã do carnaval paulistano.– Morre, aos 60 anos, a cantora CellyCampello, precursora do rock brasileiro.5 – Beija-Flor vence o carnaval do Rio.– Balança comercial registra superávit deUS$ 1,123 bilhão. É o melhor resultadopara meses de fevereiro desde 1993.6 – China manifesta apoio à declaraçãofeita pela França, Alemanha e Rússia deoposição a uma guerra contra o Iraque.– Boeing 737-200 da Air Algerie cai pou-co depois de decolar no sul da Argélia.Uma das 103 pessoas a bordo sobrevive.7 – Grã-Bretanha e Estados Unidos pro-põem à ONU que seja dado um ultimatoa Saddam para que permita inspeções in-

ternacionais até 17 de março ou enfrentea guerra. Membros do Conselho de Segu-rança rejeitam a proposta.10 – União bloqueia R$ 6 milhões das con-tas de Minas pelo não cumprimento, em2001, de metas fiscais do acordo de rene-gociação da dívida do Estado.11 – De cada grupo de 100 alunos matricu-lados no ensino fundamental, 41 deixama escola sem completá-lo, revela o docu-mento Geografia da Educação Brasileiraem 2001, do Ministério da Educação.– A carga tributária sobre o salário do bra-sileiro é de 41,7%, a segunda maior deum ranking de 26 países, conforme estu-do do Instituto Brasileiro de Planejamen-to Tributário.– Petrobrás descobre reserva gigante de

petróleo de “excelente” qualidade na cos-ta de Sergipe. É a maior descoberta feitapela estatal desde 1996.12 – O primeiro-ministro da Sérvia, Zo-ran Djindic, é assassinado. O crime é atri-buído a Mikorak Lukovic, ex-policial apa-rentemente ligado ao crime organizado.14 – Morre o ator Cyll Farney.– O juiz de execução criminal de Presiden-te Prudente, José Antonio MachadoDias, de 48 anos, é assassinado numa em-boscada. Dias era corregedor de presídiosda região – entre eles o de Presidente Ber-nardes, onde estão líderes do Primeiro Co-mando da Capital (PCC) e Beira-Mar.16 – Wen Jiabao, de 60 anos, é eleito pri-meiro-ministro da China.– Cruzeiro vence o Campeonato Mineiro.

– Acelino Popó Freitas derrota o mexica-no Juan Carlos Ramirez e mantém o títu-lo de campeão dos superpenas da Associa-ção Mundial de Boxe (AMB) e da Organi-zação Mundial de Boxe (OMB).17 – Bush, dá, pela TV, ultimato a Sa-ddam para que deixe o país em 48 horas.A recusa resultará em conflito militar.– OMS divulga comunicado classificandode ameaça global à saúde a Sars, pneumo-nia surgida na Ásia que já matou 9 pes-soas e contaminou outras 170.18 – OMC confirma a decisão que autori-za o Brasil a retaliar o Canadá em US$247,8 milhões pelos subsídios concedidosà fabricante de aviões Bombardier.– Conselho de Ética do Senado abre sindi-cância para apurar o envolvimento de

ACM com grampos telefônicos da Bahia.19 – Começa o ataque dos EUA ao Ira-que. Em pronunciamento pela TV, Bushanuncia o início da guerra e promete vitó-ria, mas alerta para o fato de que a lutapoderá ser mais difícil do que o previsto.Em três operações sucessivas, os EUAlançam cerca de 40 mísseis Tomahawk.– O primeiro-ministro britânico TonyBlair enfrenta crise política um dia de-pois de ter obtido sinal verde do Parla-mento para levar a Grã-Bretanha à guer-ra conta o Iraque. Nove membros do se-gundo escalão deixam os cargos.20 – EUA lançam a segunda bateria deataques ao Iraque, com 72 mísseis To-mahawk, ao mesmo tempo em que tro-pas vindas do Kuwait invadem o país pe-

lo sul, ocupando a cidade de Umm Qasr.21 – Chirac rejeita a proposta da Grã-Bre-tanha para que a ONU aprove uma reso-lução que permitiria ao país governar oIraque ao lado dos EUA. Confirmada amorte de dois fuzileiros navais america-nos no Iraque.22 – Corinthians conquista o título decampeão paulista com vitória de 3 a 2 so-bre o São Paulo.23 – Dez soldados americanos são mortosnuma emboscada e outros 12 são dadoscomo desaparecidos no Iraque. A TV doIraque mostra imagens de soldados mor-tos, supostamente americanos, e exibe en-trevista com cinco prisioneiros.– Chicago vence o Oscar de melhor filme.O prêmio de melhor diretor vai para E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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CHANCES DE ACORDONA ALCA SÃO LIMITADAS

Para Marcos Jank,americanos vão

impor acordos rígidosao Brasil

Brasil também negociacom a UE, mas

interesse depende deacerto com os EUA

Odiretor-presidente doInstituto de Estudosdo Comércio e Nego-

ciações Internacionais (Ico-ne) e um dos especialistasem comércio internacionalmais respeitados do País,Marcos Sawaya Jank, mos-tra grande ceticismo com asperspectivas para as negocia-ções comerciais internacio-nais nas quais o Brasil estáenvolvido. Ele não esperaavanços significativos ao lon-go de 2004 e até 2005, quan-do as conversações no âmbi-to da Área de Livre Comér-cio (Alca) e do Mercosulcom a União Européia (UE)deveriam estar concluídas.Nas Américas, segundoJank, caminha-se para umaAlca “a la carte”, na qual osEUA usarão poder para im-por acordos rígidos a partirde uma estratégia unilaterale cada um fará o que quiser.“Estamos no longo e penosocaminho dos acordos bilate-rais”, diz Jank nesta entre-vista ao Estado.

Estado – A Alca e as ne-gociações entre o Mercosul ea União Européia (UE) têmcronogramas semelhantes.Qual desses acordos o sr.acha que têm maiores chan-ces de se concretizar?

Marcos Jank - Tenho senti-do do governo um entusiasmomaior na negociação com aUnião Européia e, o fato de ha-ver uma agenda concreta paraos próximos meses, acaba ser-vindo como estímulo. Mas eu,particularmente, sou muito céti-co. Acho que até 2005 não va-mos ter absolutamente nada,em nenhuma das três esferasde negociação, que são a Alca, anegociação entre Mercosul eUE e a Organização Mundialdo Comércio (OMC). Não con-sigo ver um acordo completo eambicioso em nenhuma dessastrês frentes. Quando muito, po-de haver um acordo precário eparcial.

Estado – Essa agenda coma UE não abre maior espaçopara um acordo?

Jank – A rigor, os temasmais sensíveis também não fo-ram incluídos. A oferta euro-péia vai aparecer só em abril.Portanto, acho muito difícil che-gar a um acordo em 2005.

Estado - Alguns analistasacreditam que as negociaçõescom a UE andam a reboqueda Alca, o senhor concorda?

Jank – Essa negociação étão ambiciosa quanto a da Al-ca. Nos anos 90, ocorreramgrandes investimentos euro-peus no Mercosul. À medidaque as empresas européiassentiram que a Alca poderiaavançar mais e, com isso, per-

der o espaço conquistado naúltima década, foram atrásdo o bloco econômico sul-americano. Tenho a impres-são de que, se a Alca nãoavançar, a UE pode perderum pouco de interesse

Estado – Existe algumoutro fator para não se che-gar a uma acordo com a UE?

Jank – O aumento do nú-

mero de países integrantesda UE é um deles. Outro pro-blema é a agricultura, porqueos europeus são muito maisprotecionistas que os norte-americanos. Além disso, o ní-vel dos subsídios é três vezesmaior do que nos EUA.

Estado – Mas os EUA tam-bém se recusam a negociar ossubsídios domésticos.

Jank – Os americanos pelomenos dizemque colocaram tu-do em cima damesa de negocia-ção. A priori, elesnão retiraram ne-nhum produtoda Alca. Já os eu-ropeus elimina-ram uma série deartigos agrícolas,embora estejamsinalizando melhorar as suaspropostas. Mas com fixação delimites e adoção de quotas que,em geral, seriam muito peque-nas. Eu acredito que não vãooferecer grande coisa.

Estado – Em qual das fren-tes o Brasil ganharia mais?

Jank – Às vezes, ouço pes-soas afirmando que o Brasilvai ganhar na agricultura e

perder no setor industrial. Es-sa é uma visão errada. Primei-ro porque não existe mais essadivisão. Embora o grosso dasnossas exportações venha dosetor agroindustrial, o Brasil écompetitivo em outras áreas.Estamos negociando paraabrir mercado para têxteis, cal-çados, aço e indústria automo-bilística. Queremos melhorartambém regras para exportaraviões. Por isso, é falsa a idéia

de que os vence-dores desses pro-cessos serão osagricultores dointerior do Paíse as indústriasdas grandes cida-des estarão per-didas.

Estado – On-de seria o impac-

to maior, então?Jank – As pessoas acredi-

tam que a próxima integraçãoterá um impacto terrível sobreo setor industrial. Mas issotambém é falso. Na realidade,o grande impacto já ocorreu.A tarifa média de importaçãocaiu de 55%, em 1987, para cer-ca de 14% hoje. E foi reduzidade forma unilateral. (VladimirGoitia e Regina Cardeal)

2003/2004

VLADIMIR GOITIAe REGINA CARDEAL

OBrasil entra em 2004envolvido em duasgrandes negociações

comerciais. De um lado, aaproximação do Mercosulcom a União Européia (UE),e, de outro, a construção daÁrea de Livre Comércio dasAméricas (Alca).

As duas apontam para des-fechos significativamente dife-rentes. As conversações comos europeus passaram a terperspectivas mais positivasapós a definição, no início denovembro, em Bruxelas, deuma agenda de discussões pa-ra 2004. Ao contrário, a últi-ma reunião formal da Alca,realizada poucos dias depoisem Miami, apresentou poucosavanços e não deixou expecta-tivas promissoras para o anoque se inicia.

Mesmo assim, o Mercosultem poucas chances de estabe-lecer um canal de livre comér-cio com a União Européia an-

tes de fechar um pacto no âm-bito da Alca, acredita o presi-dente da Sociedade Brasileirade Estudos de EmpresasTransnacionais e da Globali-zação Econômica (Sobeet),Antônio Corrêa de Lacerda.Isso por conta da tradicionalpostura reativa da Europa àsiniciativas dos EUA no campodo comércio. “A União Euro-péia só negociou com o Chiledepois que este fechou umacordo comercial com osEUA”, afirma Lacerda.

O diretor-executivo do Insti-tuto de Estudos para o Desen-volvimento Industrial (Iedi),Júlio Sérgio Gomes de Almei-da, tem opinião semelhante.“A Alca é o carro-chefe”, diz.“As negociações do Mercosulcom a União Européia vierama partir da Alca e prosseguemem função dela”. Por esse ra-ciocínio, o esvaziamento da Al-

ca poderia tirar a atração domercado ampliado das Améri-cas que ajuda a manter a Euro-pa na mesa de negociaçõescom o Mercosul.

Embora as negociações noâmbito da Alca não tenhammostrado resul-tados significati-vos, tanto Go-mes de Almeidaquanto Lacerdaanalisam comuma ótica oti-mista os passosque foram da-dos na reuniãode Miami.

O diretor doIedi afirma que Miami “lim-pou os empecilhos da agenda”e deixou claro que o centrodas discussões em 2004 será aquestão do acesso aos merca-dos. “É o que realmente impor-ta para o comércio”, diz ele.

Lacerda não descarta que,dentro da proposta mais restri-tiva esboçada em Miami, sejafechado um acordo para a Al-ca no prazo previsto inicial-mente, que é janeiro de 2005.O acordo seria apenas o início

da trajetória pa-ra que todos ospaíses cheguemà tarifa zeronum prazo de15 a 20 anos, se-gundo ele.

O presidenteda Sobeet ressal-ta ainda que éimportante queo Brasil tenha

um projeto de política indus-trial e submeta as negociaçõesda Alca a este projeto, e não ocontrário.

“A política industrial nãopode ficar na dependência daAlca”, afirma Lacerda. Para

ele, é preciso que se defina an-tes o que o governo quer parao País. Ele considera um erroconduzir as negociações combase em ganhos e perdas parasetores em particular. “A Alcatem de resultar num ganhoglobal para o País”, diz.

“O destino do Brasil é ficarisolado, já que não há nenhumpaís com o porte brasileiro pa-ra contrabalançar o peso dosEUA nas negociações”, acres-centa. Segundo ele, o México eCanadá já estão integrados àesfera dos EUA e o único par-ceiro que pode ser cooptadopelo Brasil é a Argentina.

O empresário Roberto Tei-xeira da Costa avalia que fi-cou muito difícil acreditar emuma retomada das negocia-ções, mesmo que os 34 paísestenham se comprometido a rei-niciar o diálogo a partir de fe-vereiro. Ele acredita ser quase

impossível que Washington fa-ça concessões significativasnos temas mais sensíveis paraa América Latina no decorrerde 2004, ano de eleições presi-denciais nos EUA.

Ricardo Sennes, diretor exe-cutivo da Prospectiva - Con-sultoria de Assuntos Interna-cionais, acredita que o resulta-do de Miami deixou claro queserá muito difícil arrancar con-cessões dos Estados Unidos.Ele afirma, entretanto, que oBrasil perdeu poder de barga-nha ao não aceitar negociar oschamados “temas quentes”.Para ele, a janela de oportuni-dades ficou totalmente com-prometida. “O País decidiunão fazer concessões, mas tam-bém não vai se beneficiar denada”, afirma Sennes.

Qualquer um dos acordos,no entanto, será importantepara o Brasil. E os númerosmostram isso. Se a Alca vierum dia a ser concretizada, en-globará 800 milhões de pes-soas, com um PIB de aproxi-madamente US$ 13 trilhões.Já o acordo entre o Mercosule a União Européia significa-ria cerca de 650 milhões depotenciais consumidores eum PIB de pouco mais deUS$ 9 trilhões.

Marcos Jank: “Impacto no setor industrail já ocorreu”

EUA REFORÇARÃO PODER, DIZ ESPECIALISTA

Protesto contra o G-7 na reunião da OMC em Cancun: negociações comerciais mais importantes fracassaram em 2004, incluindo a do Brasil com os Estados Unidos para a formação da Alca

EMPRESÁRIO

QUER

POLÍTICA

INDUSTRIAL

Reuters

NOVOS

PAÍSES SERÃO

PROBLEMA

NA UE

Vidal Cavalcanti/AE

Roman Polanski, por O Pianista.– Vasco conquista Campeonato Carioca.24 – O juiz da 5.ª Vara de Execuções Pe-nais do Espírito Santo, Alexandre Mar-tins de Castro Filho, é executado com trêstiros em Vila Velha.25 – Polícia do Espírito Santo prende trêsacusados de participar do assassinato dojuiz. As autoridades acreditam que o cri-me foi encomendado pelo coronel da PMWalter Gomes Ferreira, preso sob acusa-ção de ser um dos líderes do crime organi-zado no Estado.– Polícia prende um dos supostos envolvi-dos no assassinato do juiz de Prudente.Todos os indícios apontam para um assas-sinato encomendado pelo PCC.26 – Crescem manifestações contra a in-

vasão do Iraque, com protestos nos EUA,Itália e França.27 – Beira-Mar é transferido para a supe-rintendência da Polícia Federal em Ma-ceió (AL).– PIB cresceu 1,52% em 2002 e chegou aR$ 1,321 trilhão, segundo o IBGE. Comisso, o País é ultrapassado pela Coréia doSul e cai para o 12.º posto no ranking dasmaiores economias do mundo.– A inflação medida pelo IGP-M fica em1,53% em março, a menor variação desdemaio de 2002.– Medida provisória de Lula libera a ven-da da safra de soja transgênica.28 – Uma semana depois de invadirem oIraque, soldados americanos estão esta-cionados a pouco mais de 100 quilôme-

tros de Bagdá. O bombardeio continua.Mercado de rua de Bagdá é atingido, cau-sando a morte de pelo menos 53 pessoas.– Rompimento de um reservatório da Ca-taguazes Indústria de Papel, em Catagua-ses, Minas, causa o vazamento de mais de20 milhões de litros de produtos químicosno Rio Pomba.29 – Quatro soldados americanos mor-rem num ataque suicida contra um postode controle perto de Najaf, centro do Ira-que. Em Basra, forças britânicas atacamedifício no qual se reuniam aliados de Sa-ddam. Duzentas pessoas morrem.30 – O médico que identificou o vírus daSars, o italiano Carlo Urbani, morre naTailândia, vítima da doença.31 – Governo decide elevar de R$ 200,00

para R$ 240,00 o valor do salário míni-mo. O ganho real, descontada a inflaçãodesde abril de 2002, é de 1,85%.

ABRIL1 – De acordo com a OMS, chega a 1.804o número de casos identificados da Sarsem 22 países, com 62 mortes.2 – Forças da coalizão anglo-americanaanunciam o rompimento do segundo cin-turão de defesa, a 30 km de Bagdá. Bom-bardeio dos EUA atinge maternidade dacidade, matando pelo menos 30 pessoas.– Governo Lula consegue a primeira vitó-ria expressiva na Câmara, com a aprova-ção em primeiro turno do Projeto deEmenda Constitucional que permite a re-gulamentação do sistema financeiro e

abre caminho para a autonomia do BC.– Às vésperas de completar 100 dias degoverno, Lula continua com a popularida-de em alta. Pesquisa do Ibope indica que51% dos brasileiros consideram o gover-no ótimo ou bom, contra 36% de regulare 7% de ruim ou péssimo.– Em iniciativa inédita, Superior Tribu-nal de Justiça decide abrir processo admi-nistrativo disciplinar contra o ministro Vi-cente Leal, acusado de vender habeas-cor-pus a traficantes, e afastá-lo do cargo.3 – Índice de Preços ao Consumidor daFundação Instituto de Pesquisas Econô-micas (IPC-Fipe) chega a 0,67% em mar-ço, na segunda queda consecutiva.4 – Exército americano toma o AeroportoInternacional Saddam Hussein.

6 – Tropas americanas atingem, por ter-ra, o centro de Bagdá.– Kimi Raikkonen (McLaren) vence oGP do Brasil. A corrida, uma das mais tu-multuadas da história, foi interrompidana 53.ª volta, após dois acidentes graves.7 – Governo federal anuncia o plano paraunificar as polícias no combate ao crime eestabelecer um modelo único de trabalhopara as Polícias Civil e Militar, com a inte-gração da PF, da Polícia Rodoviária Fede-ral, do Ministério Público e do Judiciário.8 – Mais de 100 mil servidores federais fa-zem primeiro protesto do governo Lula.9 – A era Saddam chega ao fim 21 dias de-pois do início da guerra, com a tomada deBagdá, sem resistência. O paradeiro doex-ditador é ignorado. E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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Page 7: Retrospectiva Estadão - 2003

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Produto: ESTADO - ESPECIAL - 8 - 31/12/03 CompositeH8-TR.A-RED. -

Espera-se uma grandeexpansão do PIB em

2004, mas ninguém searrisca a apostar em 2005

REALI JÚNIORCorrespondente

PARIS – A Europa respi-ra aliviada com a chega-da do fim de 2003, um

ano cujo crescimento econômi-co foi quase nulo, oscilando en-tre 0% e 0,2%, escapando pormuito pouco à recessão – mes-mo nos países tidos como as lo-comotivas euro-péias, como Ale-manha e França.2004 prometemais, graças aocomércio interna-cional. Em mé-dia, o crescimen-to do Velho Con-tinente não foi su-perior a 0,5% nes-te ano, o pior re-sultado desde a recessão de1993, a mais grave desde o fimda guerra. Apesar disso, a ex-pectativa para o novo ano ébem mais favorável e o conti-nente europeu deve reencon-trar parte de seu dinamismo an-terior, ajudado pela retomadanão só dos EUA, como de paí-ses asiáticos, China e Japão.

As previsões mais recentes,inclusive envolvendo os paísesque mais sofreram, têm sido fa-voráveis. O Instituto Nacionalde Estatística da França apostaem crescimento de 2% – o quecorresponde à média européiaem 2004 –, e acima do previstopelo governo, mais modesto ao

fixar crescimento de 1,7% nonovo ano. Essa sensível melho-ria se deve, em grande parte, aocomércio mundial, cuja acelera-ção tem permitido o aumentoconsiderável da demanda dosprodutos junto às grandes em-presas francesas, italianas, ale-mãs, holandesas e, fora da zonado euro, suíças e britânicas.

Após uma fase delicada, obri-gadas a executarplanos de reestru-turação e a redu-zir custos, as em-presas alemãssão as que maisparecem ter recu-perado competiti-vidade semelhan-te à dos anos 80,antes da reunifi-cação, quando os

custos salariais explodiram. Areunificação custou 4 milhõesde desempregados, que só ago-ra o país começará a absorver.

Quase todos os países euro-peus sofrem do mal do desem-prego. Só os italianos consegui-ram criar 200 mil empregos,graças a medida adotadas paratornar mais flexível o mercadode trabalho. Os dirigentes fran-ceses estão satisfeitos com as úl-timas estatísticas, que indicamque, graças ao relançamento daeconomia mundial, o desempre-go não vai superar o teto simbó-lico de 10% da população ativa.Nem a Suíça escapou da crise.Foi o único país cuja renda per

capita baixou nos últimos anos.O exemplo de um país que so-

freu menos com a crise tem si-do a Espanha. Seu dinamismoserá também visível em 2004,mas o crescimento ibérico se de-ve ao boom imobiliário, com asvendas ‘dopadas’ por taxas dejuros baixas, fixadas pelo Ban-co Central Europeu, de 2%.

A previsão, a médio prazo,de alta dos juros nos EUA e naEuropa, poderá estancar emparte esse boom imobiliário e opróprio dinamismo atual daeconomia espanhola. Hoje, o en-dividamento das famílias espa-nholas bate todos os recordes

europeus. O alinhamento de sa-lários sobre preços pode erodira competitividade do país. Pare-ce que chegou a hora de voltara investir. Os grupos empresa-riais, especialmente alemães efranceses, preparam-se paraagir já no início do ano. Esses in-vestimentos serão prioritáriosna renovação dos parques infor-máticos e tecnológicos, evitan-do ser distanciados pela concor-rência internacional.

Sem participar da zona doeuro, o Reino Unido prosperapelas mesmas razões da Espa-nha, mas sem a mesma vulnera-bilidade. A bolha imobiliária

perde consistência e os preçosjá não se mantêm no mesmo ní-vel dos anos 90, apesar de os ju-ros estarem num nível 3 vezesinferior. O país mantém taxade desemprego de 3% da popu-lação ativa, bem inferior aos8% e 9% da Alemanha e Fran-ça. O déficit orçamentário nãopassa de 1% do PIB, nada a vercom o que se verifica no eixo Pa-ris-Berlim, onde não mais se res-peita o pacto de estabilidade,após superado o teto de 3% fixa-do pela União Européia.

Na França, a tendência pare-ceu se inverter radicalmenteneste fim de ano. A economiaescapou à recessão e tem razõespara esperar mais de 2004. Osnúmeros são encorajadores e,mesmo que a popularidade doprimeiro-ministro Jean PierreRaffarin sofra asconseqüênciasdos maus resulta-dos de 2003, amáquina da eco-nomia gira emtorno de um cres-cimento de 2%em 2004, contra0,2% em 2003.Os francesesapostam em au-mento considerável das expor-tações, mesmo com a valoriza-ção do euro preocupando gran-des grupos exportadores. Cadaaumento de 5% do valor do eu-ro constitui um corte na expec-tativa de crescimento de 0,5%.

A reestruturação operadaem 2003 nas grandes empresasfrancesas começa a dar resulta-dos, pois estão mais rentáveis emenos endividadas – ou seja,em condições de relançar seusprojetos congelados há 3 anos.

No plano do emprego, não seespera inversão de tendênciaantes de meados de 2004. Porenquanto, os salários permane-cem sob forte controle, enquan-to esforços serão feitos para re-duzir os custos de produção.Não se espera também grandesresultados da redução de impos-tos promovida neste ano, poisela será anulada pela alta dastaxas fiscais indiretas.

Uma inflação a 2% poucoefeito terá sobre o aumento dopoder aquisitivo, estimado em1,5%. Um dilema da economia

francesa será en-contrar a fórmu-la mágica de co-brir déficits semaumentar impos-tos, missão quaseimpossível, di-zem os economis-tas. Uma saídaseria o governoaceitar o desafiode lançar um pro-

cesso de modernização do Esta-do, como fez seu vizinho ale-mão em 2002. Mas isso não se-rá fácil num ano eleitoral, quan-do o governo será testado. Épreciso ter muita coragem paraoptar por esse caminho.

PAULO SOTEROCorrespondente

WASHINGTON –Após crescer 3% em2003, segundo a mé-

dia das projeções divulgadasem meados de dezembro, a eco-nomia americana inaugura2004 dando sinais francamen-te positivos. O ConferenceBoard prevê expansão de até5,7% do PIB no novo ano. Se arealidade confirmar a expecta-tiva, 2004 trará a mais vigoro-sa expansão do PIB nos Esta-dos Unidos em duas décadas eo país acrescentará algo comoum Brasil à sua riqueza nacio-nal. Mais comedida, a Organi-zação para a Cooperação e oDesenvolvimento Econômico(OCDE) espera crescimentode 4,2%, com queda da taxa dedesemprego, de 5,9% apuradaem novembro, para 5,6% emdezembro. O recuo do desem-prego esperado pelos econo-mistas deve ser visto, no entan-to, sob a perspectiva da perdalíquida de 2 milhões de postosde trabalho nos últimos 3 anos.

As previsões otimistas ani-maram os analistas de investi-mentos a apostar na continua-ção das boas notícias no mer-cado de capitais, com ganhosadicionais no Dow Jones, quesuperou 10 mil pontos nas se-manas finais do ano pela pri-meira vez desde 2001. “Apósvárias partidas falsas nos últi-mos 2 anos, está claro agoraque a maioria, senão todos ossetores da economia, está ope-rando com todos os cilin-dros”, disse Wyane Ayers,economista-chefe do bancode investimentos FleetBostonao jornal USA Today. “Tudoestá apontando na direçãocerta”, concordou Larry Chi-merine, da Radnor Interna-tional Consulting. A exemplode outros 56 economistas,dos 60 ouvidos pelo jornal,Chimerine disse que as ten-dência da economia ajudarãoos planos de reeleição do pre-sidente George W. Bush.

Mas persistem fortes ele-mentos de incerteza no pano-rama dos próximos meses.Ninguém se arrisca, por exem-plo, a falar em crescimentosustentado em 2005 ou a fazerprevisões para os anos mais àfrente. A decisão do departa-mento da Segurança Internade elevar o alerta de risco con-tra atentados terroristas antesdo Natal pressionou o dólar eaumentou a ansiedade dos lo-jistas, que já vinham registran-do resultados desalentadoresde vendas no varejo em dezem-bro, a despeito de quatro me-

ses consecutivos de estatísti-cas indicando a volta da con-fiança dos consumidores.

Motivada por informaçõesdos serviços de inteligência so-bre planos terroristas de usaraviões de cargacomo mísseiscontra alvos nosEUA, a elevaçãodo alerta podeter refreado oânimo das pes-soas de saírem àscompras. A deci-são serviu tam-bém para recolo-

car no ar a hipótese da repeti-ção de um evento semelhanteao 11 de setembro de 2001,com todas as conseqüências ne-fastas que traria para uma eco-nomia em plena decolagem.

O panoramade médio prazo émais complica-do. Aumento degastos de defesaditados pela guer-ra ao terrorismoe pela invasão doIraque, três cor-tes de impostosem menos de

três anos e aumento de gastoscom programas sociais – comoo seguro médico federal, apro-vado pelos republicanos pormotivos eleitorais – implodi-ram a disciplina fiscal em Wa-shington. O legado de saldos fis-cais deixado pelo governo do de-mocrata Bill Clinton desapare-ceu. Em seu lugar, ressurgiramos enormes déficits estruturais.

Afastada a hipótese do au-mento dos impostos, a neces-sidade de recorrer a emprésti-mos para financiar esse bura-co negro nas contas públicas,mais o déficit comercial de

mais de US$ 600 bilhões pre-visto para 2003, trarão de vol-ta pressões inflacionárias eforçará o Federal ReserveBoard (Fed, o banco centraldos EUA) a aumentar os ju-ros em algum momento. Oconsenso entre os economis-tas é que isso acontecerá nosegundo trimestre de 2004.Eles prevêem que, no fim doano, a taxa de juros de curtoprazo do Fed, hoje de 1%(seu ponto mais baixo em 45anos), alcançará 1,75%.

O ex-secretário do TesouroRobert Rubin adverte que es-sas projeções são de pouco ounenhum valor num horizontede longo prazo. Arquiteto dapolítica de disciplina fiscal quetirou o governo americano dadisputa por capital com o setorprivado, e ajudou a impulsio-nar a prosperidade dos anos90, Rubin disse recentementeque o governo Bush e o Con-gresso republicano “colocaram(os EUA) de volta no pântanodos déficits fiscais de longo pra-zo”. O efeito adverso disso so-bre as taxas de juros e sobre aconfiança dos consumidores edos investidores começará aaparecer tão logo as empresas,animadas pelo crescimento daeconomia, voltarem em massaao mercado em busca de capi-tal para seus investimentos.

Segundo Rubin, as proje-ções econômicas disponíveisdevem ser tomadas com cau-tela. “A maioria dos que fa-zem previsões subestimou sig-nificativamente as futurascondições fiscais ao projetaras condições econômicas àfrente.” Para ele, os déficitsfiscais acumulados pela atualadministração limitará de for-ma substantiva o crescimentoda economia americana aolongo da década.

Isso ainda não apresentaum problema imediato paraBush, que está focalizado, an-tes de mais nada, em garantira reeleição em novembro. Adramática queda dos juros ba-rateou o custo financeiro dadívida pública do país. Em2002, o Tesouro gastou US$178 milhões, ou 1,7% do PIB,nessa rubrica. Isso se compa-ra a US$ 232 bilhões, ou 3%do PIB, em 1995.

Símbolo do euro em frente ao BC Europeu: juros podem subir

Velho continente passou por um período em que o crescimento econômico não superou o 0,5%, mesmo nos países mais ricos

2003/2004

Reuters

EUROPA RESPIRA E JÁ FALA EM EXPANSÃO

PANORAMA

DE MÉDIO

PRAZO AINDA

É NEBULOSO

Boas previsões para 2004 fizeram o Dow Jones superar os 10 mil pontos nas últimas semana do ano, pela primeira vez desde 2001

Reuters/John Gress

EUA VÃO CRESCER ‘UM BRASIL’

MELHORA

SE DEVE AO

COMÉRCIO

EXTERNO

SALÁRIOS

ESTÃO SOB

FORTE

CONTROLE

10 – Inflação de março medida peloIPCA, do IBGE, fica em 1,23%, 0,34 pon-to porcentual abaixo da registrada em fe-vereiro. No ano, o índice acumula 5,13%- o equivalente a 60% da meta de inflaçãode todo este ano, de 8,5%.– Um dia depois da queda de Bagdá, asprincipais cidades iraquianas são toma-das pelo caos, com saques a prédios públi-cos, casas de líderes do regime de Sa-ddam e até hospitais.– Bandidos lançam explosivos em um res-taurante e um laboratório em ruas do Le-blon, zona sul do Rio.11 – Bush declara oficialmente que o regi-me de Saddam acabou, mas a situação decaos nas cidades se intensifica.– Após julgamento sumário, três seqües-

tradores cubanos de uma balsa com 50pessoas são condenados e fuzilados.– Federação Internacional de Automobi-lismo muda resultado do GP Brasil deF-1 e dá a vitória ao italiano Giancarlo Fi-sichella, da Jordan.13 – Bush acusa a Síria de ter armas quí-micas e oferecer abrigo a terroristas e par-tidários do regime de Saddam.– Canadenses anunciam o seqüenciamen-to do código genético do coronavírus iden-tificado como causador da Sars.14 – Cientistas divulgam a seqüência com-pleta do genoma humano. O grupo já ha-via anunciado um primeiro rascunho, em2000. Quase três anos depois, o quebra-ca-beça está 99,99% concluído.16 – Lula fecha com 27 governadores as

propostas de reforma tributária e previ-denciária que serão enviadas ao Congres-so. A proposta do governo para a Previ-dência do serviço público vai além das ex-pectativas, já que prevê a cobrança de alí-quota de 11% dos inativos que ganhamacima de R$ 1.058.– O ABN Amro Real anuncia a comprado Sudameris, 18.º banco brasileiro emativos, por R$ 2,293 bilhões. Com a aquisi-ção, o ABN consolida a posição de quintomaior banco privado do País.– O astro do basquete Michael Jordan sedespede das quadras na derrota de seu ti-me, o Washington Wizards, para o Phila-delphia 76ers, por 107 a 87.18 – Milhares de pessoas tomam asruas de Bagdá para protestar contra

a “ocupação estrangeira”.19 – Onze mulheres e uma menina de 5anos morrem afogadas em Cabo Frio(RJ), quando a escuna Tona Galea ader-na, a 500 metros da praia.20 – Polícia do Espírito Santo prendeOdessi Martins da Silva Junior, o Lombri-gão, apontado como autor do disparo quematou o juiz Castro Filho.21 – A cantora americana de jazz Nina Si-mone morre aos 70 anos, na França.22 – O senador Geraldo Mesquita (PSB-AC), relator da sindicância do Conselhode Ética que apura o envolvimento deACM com grampos telefônicos, recomen-da abertura de processo de cassação porquebra de decoro parlamentar.– Blix acusa os serviços de inteligência

dos EUA e da Grã-Bretanha de terem fal-sificado documentos para ligar o Iraque àprodução de armas nucleares.– O dramaturgo, cronista e roteiristaMauro Rasi, de 54 anos, morre no Rio.24 – O número de brasileiros desocupa-dos em seis regiões metropolitanas pesqui-sadas pelo IBGE cresceu de 1,31 milhãoem fevereiro de 2002 para 2,4 milhões emfevereiro deste ano. São 1,09 milhão amais de desocupados no mercado em ape-nas um ano, um crescimento de 83%.– EUA anunciam a prisão de Tarek Aziz,vice-primeiro-ministro de Saddam.– Coréia do Norte abandona reunião comEUA e China sobre o futuro de seu pro-grama nuclear e confirma que possui ar-mas atômicas.

25 – Todos os produtos alimentares commais de 1% de organismos geneticamen-te modificados na composição devem in-dicar ao consumidor no rótulo essa infor-mação, segundo decreto publicado noDiário Oficial da União.27 – Eleição na Argentina será definidano segundo turno, entre dois peronistas: oex-presidente Carlos Menem e o governa-dor de Santa Cruz, Néstor Kirchner. Noprimeiro turno, Menem obteve 24,14%dos votos e Kirchner, 22,04%.29 – Petrobrás anuncia a descoberta damaior reserva de gás natural do País,com 70 bilhões de metros cúbicos, na ba-cia de Santos.30 – Lula sobe a rampa do Congressoe entrega os projetos de reforma E

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AMÉRICA LATINA TERRORISMO

Transformado pelo 11/9,país decide agir de modounilateral e exercer seu

poder sem páreo

UNIÃO EUROPÉIAORIENTE MÉDIO

PAULO SOTEROCorrespondente

WASHINGTON– Ao or-denar a invasão do Ira-que, em março, o presi-

dente George W. Bush confir-mou seu desprezo por preceitosque guiaram a política externados EUA durante mais de meioséculo e redefiniu as regras de en-gajamento da única superpotên-cia com o restante do mundo.

Em palavras e atos, o líderamericano deixou claro que Wa-shington não mais se sentiria limi-tada em suas decisões pela oposi-ção a seus projetos por parte depaíses amigos e de aliados tradi-cionais ou por opiniões majoritá-rias em organismos internacio-nais contrárias a seus desígnios.

A força econômica e militarsem precedentes com que o paísemergiu da guerra fria seria ago-ra posta a serviço de uma políticaexterna alicerçada no exercíciodo poder e não mais da liderançabaseada na persuasão.

Psicologicamente transforma-dos pelos devastadores eventosde 11 de setembro de 2001, osEUA zelariam por sua segurançamenos atrelados a compromissos.Nos últimos meses do ano, o resul-tado dessa ousadíssima apostaera uma incógnita. Algumas dasvozes mais respeitadas do esta-blishment não disfarçavam seualarme. “Vivemos hoje um para-doxo entre a posição e o papel dosEUA no mundo”, disse no fim deoutubro o ex-conselheiro de Segu-rança Nacional Zbigniew Brze-zinski, falcão democrata e umdos mais respeitados pensadoresda estratégia internacional dopais no último quarto de século.“O poder mundial dos EUA estáno zênite, mas o prestígio políticoglobal do país está no nadir.”

Brzezinski ofereceu duas possí-veis explicações para o fenôme-no. O choque e o pavor que o 11/9causou nos americanos levaramos mais altos funcionários do go-verno a adotar “uma visão para-nóica do mundo”, resumida naafirmação que Bush fez em dis-curso ao Congresso em janeiro de2002, “os que não estão com osEUAestão contra nós” – e, por ex-clusão, com os terroristas.

A crise de credibilidade, o isola-mento político internacional dasuperpotência e falhas de inteli-gência sem paralelo na históriado país “são compensados poruma demagogia extremista queenfatiza os piores cenários paraestimular o medo, o que, por suavez, induz uma visão dicotômicae simplista da realidade do mun-do”, explicou o ex-conselheiro doex-presidente Jimmy Carter.

Em dezembro, dois aconteci-mentos – a captura do ex-ditadoriraquiano Saddam Hussein e a de-cisão do líder da Líbia, MuamarKadafi, de desmantelar seus pro-gramas de armas nucleares, quí-micas e biológicas – pareceram re-compensar a agressiva estratégiade Bush e reforçaram a simpatiados americanos por seu presiden-te e suas políticas.

Respaldado por essas boas notí-cias e pelos sinais de uma vigoro-sa retomada da economia, Bushcomeça 2004 com motivos paraestar confiante na reeleição, possi-velmente por vitória esmagadorasobre qualquer dos dez postulan-tes da candidatura do Partido De-mocrata, nas eleições de novem-bro. As últimas sondagens de opi-nião apontavam tendência de al-ta em todos os índices de aprova-ção do líder republicano.

A determinação com que Bushlevou adiante sua revolução con-servadora da política externa dosEUA e as enormes implicaçõespotenciais da mudança já ani-mam o reexame da própria figu-ra do presidente. No livro Ameri-ca Unbound, publicado em de-zembro, Ivo H. Daalder e JamesM. Lindsay, ex-conselheiros doex-presidente Bill Clinton

hoje engajados na campanha àCasa Branca do ex-governadorde Vermont Howard Dean, aler-tam para o equívoco da imagemde líder tosco e tolo controladopor ideólogos ultraconservadoresde seu gabinete que muitos têmde Bush, dentro e fora dos EUA.

Herdeiro de uma dinastia depolíticos iniciada por seu avô, umex-senador de Connecticut, e con-solidada por seu pai, o ex-presi-dente George H. Bush, Bush tevesua rápida ascensão facilitada pe-la tendência de seus adversários asubestimar sua inteligência e ta-lento para a política.

“O homem de Midland não éuma figura de fachada de umarevolução de outros”, escrevemDaalder e Lindsay. “Ele podeter chegado à Casa Branca semsaber que general mandava noPaquistão, mas durante seusprimeiros 30 meses no podernão foi marionete, e sim quemmexeu os cordéis. Ele governouda forma como disse que fariadurante a campanha. Buscouativamente o conselho de seusmais experientes assessores e to-lerou, se não encorajou, desa-cordos vigorosos entre eles.Quando necessário, impôs-se aeles. George W. Bush liderou aprópria revolução.”

Se a situação no Iraque me-lhorar, a economia firmar-se ea taxa de desemprego conti-nuar a diminuir, essa percep-ção mais benigna sobre o líderamericano pode ajudá-lo a con-solidar-se como herdeiro políti-co não de seu pai, mas do ex-presidente Ronald Reagan, umex-ator de segunda que passoua vida sendo subestimado, masentrou para a história como umlíder que desmontou a UniãoSoviética e iniciou o mais longoperíodo de prosperidade da eco-nomia americana.

Da mesma forma, a imagemmais positiva de Bush poderá au-mentar o nível de cobrança dosamericanos e acabar funcionan-do contra ele. É, provavelmente,o que acontecerá se a captura deSaddam deixar de produzir o ar-refecimento da resistência à ocu-pação, esperado por Washing-ton. Nessas circunstâncias, a con-tinuação dos ataques contra sol-dados e a complexidade e os cus-tos da operação de estabilização ereconstrução do Iraque podemconvencer os americanos de queBush colocou o país num becocuja única saída é retirar-se oquanto antes do Iraque e deixarque a maioria xiita do sul, a mino-ria sunita da região de Bagdá quedominou o país na era Saddam eos separatistas curdos do norte seentendam. Neste cenário, os espe-cialistas prevêem que a libertaçãodo Iraque seria seguida por umadevastadora guerra civil.

O caos econômico que perma-nece nove meses depois da remo-ção da ditadura baathista pelasforças americanas e a incapacida-de demonstrada até agora pelaadministração ocupante de resta-belecer um nível mínimo de nor-malidade da vida no Iraque sãoilustrados diariamente pelas filasquilométricas nos postos de gaso-lina num país que já foi o segun-do maior produtor de petróleo domundo.

A separação física entre ocu-pantes e ocupados em Bagdá e atensão que persiste entre os doislados reforça previsões pessimis-tas sobre as chances de monta-gem de um governo iraquiano mi-nimamente legítimo e viável.

Tudo isso indica que, a médioe longo prazo, a transformaçãoque Bush completou na políticaexterna americana em 2003 au-gura menos a transformadora vi-são de democracia e paz no Ira-que, de que se fala na Casa Bran-ca e no Pentágono, do que conse-qüências potencialmente calami-tosas para o país ocupado e parao já abalado prestígio dos EUAno mundo. Considerando, po-rém, o período que falta para aeleição de 2 de novembro, que co-manda os cálculos de Bush e deseus assessores, 2004 começa co-mo um ano promissor para o lí-der americano.

Bush: se tudo der certo, pode firmar-se como herdeiro de Reagan Saddam detido: feito parece recompensar estratégia americana

A OUSADA APOSTA QUE ISOLOU OS EUALarry Downing/Reuters–15/12/2003

Atentado contra ONU em Bagdá: Vieira de Mello entre os mortos Destroços do consulado britânico em Istambul, alvo de atentado

2003/2004

O sonho de pazadiado de novo

Esfria ainda maisrelação com EUA

WASHINGTON – Se o 11de setembro de 2001 relegou aAmérica Latina ao último lugarna agenda de Washington, aoposição generalizada à guerracontra o Iraque deteriorou as re-lações e criou um mal-estar visí-vel no governo Bush. Entre ospoucos que apoiaram Washing-ton estão a Colômbia, que rece-be ajuda bilionária para comba-ter o tráfico e a guerrilha, e al-guns países da América Cen-tral que negociam um tratadode livre comércio com os EUA.

A Casa Branca se indignoucom o que qualificou de “faltade lealdade”, apesar de os fun-cionários encarregados da polí-tica americana para a AméricaLatina negarem que as relaçõesestejam deterioradas. “Pela pri-meira vez em décadas, não sevia um antiamericanismo naAmérica Latina como o de ago-ra. É importante tentar repararas relações”, disse PeterHakim, presidente do DiálogoInteramericano.

Cenas de horrornão têm trégua

WASHINGTON – A lutacontra o terrorismo lançada pe-los EUA após os atentados de11 de setembro de 2001 fez comque muitos países temessem so-frer atentados por seu apoio àCasa Branca. Mas apenas a Tur-quia e a Grã-Bretanha foram al-vos de retaliações. Quatro aten-tados a bomba – contra duas si-nagogas, um banco britânico e oconsulado da Grã-Bretanha –deixaram 61 mortos em novem-bro em Istambul.

Membros da Al-Qaeda e domovimento afegão Taleban, de-posto em 2001, intensificaramseus ataques contra as forças depaz no Afeganistão. No Iraque,são lançados ataques diárioscontra as tropas da coalizão. Noentanto, o atentado mais mar-cante foi o lançado em agostocontra o escritório da ONU emBagdá, que deixou 22 mortos,entre eles o brasileiro SérgioVieira de Mello, enviado pela or-ganização ao Iraque para aju-dar o país.

Reuters–14/12/2003

Rob Gauthier/Reuters–19/8/2003 Reuters–221/11/2003

Expandindo-se,mas com tropeços

MADRI – Reiteradas vezes sedisse que a União Européia éum “gigante econômico, masum anão político”. Esta opiniãopopular adquiriu especial rele-vância durante a guerra no Ira-que, que dividiu os atuais 15membros em dois grupos quaseirreconciliáveis: o eixo mais euro-peísta, Paris-Berlim, e a frenteeuroatlântica, representada pelotrio Londres- Roma-Madri.

A falta de consenso também fi-cou patente durante a cúpula deBruxelas, em dezembro, quandodeveria ser votada a Constitui-ção da UE, um texto necessáriopara garantir a funcionalidadeda união ampliada – mais dezmembros em 2004. Espanha ePolônia impediram a aprova-ção, ao rejeitar um novo sistemade voto no Conselho reconhecen-do o peso demográfico dos paí-ses membros. Os dois casos au-mentam a sensação de que se aUE não consegue por ordem nacasa com 15 membros, com 25 asituação será muito pior.

JERUSALÉM – Três anose meio após o início da segun-da Intifada (resistência à ocu-pação israelense dos territóriospalestinos), as duas partes seentrincheiraram politicamen-te. Apesar de terem sido lança-das novas iniciativas de paz, asparalisadas negociações entreas duas partes giram em tornodo plano internacional conhe-cido como “mapa da estrada”,cuja aplicação já está um anoatrasada. O conflito deveriaterminar, segundo previa o pla-no, com a criação de um Esta-do palestino até o fim de 2005.

Hoje Israel impulsiona aconstrução de um muro nafronteira com a Cisjordânia e,apesar de o plano de paz proi-bir novos assentamentos, fo-ram ampliadas as colônias nosterritórios ocupados. Do ladopalestino, os atentados suici-das continuam.

Desde o início desta Intifa-da, morreram 2.753 palestinose 859 israelenses.

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tributária e da Previdência.– Morre o ex-vice-presidente e ex-gover-nador de Minas Aureliano Chaves.– Mediadores apresentam às lideranças is-raelense e palestina o “roteiro para apaz”, para pôr fim a mais de 31 meses deviolência e estabelecer um Estado palesti-no. O plano, apoiado pelos EUA, é respal-dado por um raro consenso global.

MAIO1 – Bush anuncia o fim dos combates noIraque.2 – Índia e Paquistão restabelecem rela-ções diplomáticas.3 – Morre o ator Wilson Vianna, de 75anos, que viveu o Capitão Aza, persona-gem de seriado de TV nos anos 60 e 70.

5 – A Polícia Federal indicia os empresá-rios Alexandre Martins e Reinaldo Pitta,procuradores do atacante Ronaldo, porsonegação e lavagem de dinheiro no in-quérito que investiga o envio de US$ 33,4milhões por servidores para a Suíça.6 – Senado rejeita recurso que permitia aabertura de processo de cassação deACM por quebra de decoro parlamentar.– Bush nomeia o diplomata Paul Bremeradministrador civil para o Iraque.8 – Governo conclui acordo com oPMDB para ampliar base no Congresso.– Judiciário inicia lobby contra o atrela-mento dos salários dos juízes estaduaisaos rendimentos dos governadores, comoprevê a reforma da Previdência.12 – PT abre processo na sua Comissão

de Ética que pode terminar com a expul-são da senadora Heloísa Helena (AL) edos deputados João Batista Araújo, o Ba-bá (PA), e Luciana Genro (RS). Os três vo-taram contra a taxação de servidores ina-tivos na reforma da Previdência.– Quarenta e uma pessoas morrem e 110ficam feridas em ataque a alvos russos naChechênia, no qual foi utilizado cami-nhão com 1,3 tonelada de explosivos.– Acusada de seqüestrar dois bebês, entreeles Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedri-nho, e criá-los como filhos, Vilma Mar-tins Borges é presa em Goiânia.14 – Menem anuncia sua desistência dadisputa presidencial, dando a vitória aNéstor Kirchner.– O segundo atentado em 48 horas na

Chechênia deixa 14 mortos.15 – Petrobrás anuncia lucro recorde deR$ 5,545 bilhões no primeiro trimestre. Oresultado representa aumento de 540%em relação ao mesmo período de 2002.– Ministros do STF decidem abrir proces-so criminal contra ACM. A decisão aca-tou denúncia apresentada pelo Ministé-rio Público Federal, que acusa ACM decrime de injúria contra o deputado fede-ral Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).16 – Arqueólogos encontram na Holandanavio que compunha uma frota armadaromana há 18 séculos.– Respaldado por índices de aprovaçãode 65% a 70%, Bush anuncia formalmen-te sua candidatura à reeleição.18 – No dia em que João Paulo II faz 83

anos, jornal Corriere della Sera publica aconfirmação de autoridade do Vaticanode que o papa sofre do mal de Parkinson.19 – STF abre inquérito para investigar oenvolvimento de ACM nas escutas telefô-nicas ilegais feitas na Bahia.21 – Terremoto mata quase 2 mil pessoasna Argélia.– OMS aprova acordo para controle do ta-bagismo. Trata-se do primeiro tratado in-ternacional no campo da saúde, que obri-ga signatários a restringirem o comércio,propaganda e distribuição de cigarros.22 – EUA e Grã-Bretanha recebem pode-res extraordinários para dirigir o Iraquedepois que o Conselho de Segurança daONU aprova o fim a 13 anos de sançõeseconômicas contra o país.

25 – Primeiro-ministro israelense ArielSharon aprova o “Mapa da Estrada”, pla-no de paz que deve levar à criação de umEstado palestino em 2005.– Kirchner toma posse na Argentina.– Elefante, de Gus Van Sant, vence a Pal-ma de Ouro do Festival de Cannes.– O brasileiro Gil de Ferran vence as 500Milhas de Indianápolis (EUA). O Brasildominou o pódio: Hélio Castro Neves che-gou em 2.º lugar e Tony Kanaan em 3º.26 – A PF indicia o ex-presidente Fernan-do Collor, seu irmão Leopoldo e outras14 pessoas pela negociação do DossiêCayman. O documento falso acusava oex-presidente Fernando Henrique Cardo-so, seus ministros José Serra (Saúde) eSérgio Motta (Comunicações) e o ex- E

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GUERRA FAZ SURGIR MUNDO INÉDITO

E a guerra teve umefeito colateral: rachou

em duas a UniãoEuropéia

Goran Tomasevic/Reuters–9/4/2003 Reuters–9/4/2003

Mais importanteacontecimento do ano,

a invasão do Iraqueafeta todo o planeta

PARIS – Além das reaçõespsicológicas, restam algu-mas feridas muito fortes.

Os americanos se vingam, porexemplo, privando a Françados benefícios da reconstruçãoiraquiana. A França não ate-nuou em nada as suas críticascontra a Casa Branca. Ela seateve às suas teses com umaenergia ainda maior do que emoutros pontos. O governo deJacques Chirac acumula fracas-sos sobre fracassos. Apenas apolítica externa francesa temum pouco de brilho.

Mas um dos efeitos mais de-testáveis deste ano de guerra foiuma ampliação ainda maior dofosso entre a América e a Euro-pa. Aqui, não se trata apenasda França. Para muitos euro-peus, os Estados Unidos “tira-ram a máscara” e agora esta-mos descobrindo o seu rosto ver-dadeiro e inquietante: ávidos deaçambarcar todas as riquezasdo mundo (petróleo, aço, etc.),represadores do restante da hu-manidade, decididos a semeara borrasca na terra inteira, con-tanto que a hegemonia america-na seja favorecida.

Um país que inveja as glóriasda antiga Roma, quando estarealizou a “pax romana”, tendodominado todas as regiões nãobárbaras de seu tempo e con-quistado um período de tréguana história.

Para estes europeus, os Esta-dos Unidos gostariam de concre-tizar com George W. Bush filhoo sonho messiânico do Bush paidepois da primeira guerra do Ira-que: organizar esse fim da histó-ria, imaginado na época pelo filó-sofo Francis Fukuyama que, na

realidade não era bem “o fim dahistória”, mas sim o domínio dahistória por parte da América.

Com certeza, hoje em dia, dezanos depois da Guerra do Golfo,a teoria do fim da história (ge-nial, quando foi forjada em 1806pelo filosofo alemão Hegel e járançosa e surrada quando foi re-copiada por Fukuyama), está de-sacreditada em razão da ascen-são do islamismo há dez anos.Mas, como os homens sempreprecisam de uma teoria, os ame-ricanos substituíram a do fim dahistória por outra teoria: a de sa-muel Huntington sobre o “cho-que de culturas”, às vezes masca-rada como “volta da cruzada”.

Cruzada? Choque de cultu-ras? Bush e seus assessores evi-tam pronunciar essas palavras,mas seus atos pa-recem muitas ve-zes inspiradosnas opiniões deHuntington. Elesinsinuam queexiste uma vertigi-nosa divisão domundo entreuma esfera oci-dental e democrá-tica, por um ladoe, por outro, essas regiões incer-tas que vão da Síria ao Afeganis-tão e abrigam poderes teocráti-cos, monárquicos, despóticos, ar-caicos, irânicos ou sanguinários.

De acordo com Washington,os soldados americanos entra-ram no Iraque para expurgar oOriente Médio desses miasmasantidemocráticos e tirânicos. Osmembros do estreito círculo deBush (Rumsfeld, Dick Cheney,Condoleezza Rice, William Kris-tol, etc.) nos catequizaram: essa“tempestade” americana sobre oIraque iria aterrorizar todos ospovos e levá-los ao caminho reto.

Os governos asiáticos muçul-manos iriam fazer aliança coma democracia, rechaçar toda a

confusão provocada por Sa-ddam Hussein, tomar o cami-nho da felicidade traçada peloOcidente, acabar com todos ossistemas despóticos, em resumo,voltar a ser povos decentes. O“bem” é tão contagioso quantoo “mal”. Camuflada sob essaguerra do Iraque, haveria umapedagogia do “bem”. O bom mi-cróbio da democracia iria infec-tar toda a região controlada porditadores sórdidos e religiososhistéricos. Até mesmo o conflitoentre israelenses e palestinos te-ria solução pacífica.

O programa é fascinante. AEuropa foi a primeira a se inco-modar. Não é impressionanteum povo árabe seduzindo outrospovos árabes? Entretanto, muitorecentemente, pode-se constatar

que a teoria dosneoconservado-res de Washing-ton não era assimtão utópica. Umdos mais infamesterroristas dos úl-timos 20 anos, ocoronel líbio Mua-mar Kadafi nãoapenas renun-ciou às armas nu-

cleares, como também parece de-terminado a colaborar com osEUA na busca dos terroristas.Para a França, é uma piada for-midável vinda dele responder aBush e Blair. Para o mundo, é aesperança de ver a corrente dobem propagar-se.

Melhor, no entanto, não can-tar vitória antes do tempo. Emprimeiro lugar, Kadafi não éum homem confiável. Em segui-da, o terreno de onde saem osterroristas não é mais o Magrebnorte-africano faz muito tempo.É a vasta zona que vai da Ará-bia ao Paquistão. E, por enquan-to, ao menos, a argamassa dapaz no Iraque concentrou de talforma a diplomacia americana

que ela não conseguiu dar aoconflito israelense-palestino aatenção e a imparcialidade ne-cessárias.

Ariel Sharon é útil demais auma América em dificuldade pa-ra que os EUA possam reclamarcontra ele quando amontoa in-transigências e provocações. Te-ria ele podido construir um mu-ro se os EUA não estivessem hip-notizados por outras urgências?

Não se pode esquecer que opróprio Iraque, embora livre deuma tirania cruel, da tortura, edos assassinatos de Estado, nãoestava muito influenciado, sob oregime laico do tirano, pela fana-tismo religioso. Hoje, existe o re-ceio de que, nesse pútrido bura-co, nesse vazio deixado pelo de-saparecimento do déspota, des-varios religiosos mais assassinostenham instalado seu domíniono Iraque, aproveitando-se da si-tuação de calamidade e depres-são em que se encontra mergu-lhado. A todas as centrais do ter-ror (Afeganistão, Síria, ArábiaSaudita...) acrescenta-se agoraoutra inédita central: o Iraque.

Esses fanáticos, serão eles anti-gos assassinos (os de Saddam...),ou do Hezbollah, os discípulosde Bin Laden? No fundo, poucoimporta se Bin Laden está ounão no comando, se SaddamHussein não está mais em liber-dade. Isso são apenas detalhes: amáquina do terror foi montada,colocada em ação, galvanizadapela guerra dos soldados ameri-canos e ela continua por si mes-ma. Ela mata por si mesma.

Enfim, é uma outra zona quesaiu mal da aventura iraquiana.Coxa, com ferimentos generali-zados, uma venda sobre os olhose com vontade de vomitar, assimé a Europa segundo o Iraque. Aluta entre os velhos europeus eos americanos dividiu a Europa– e sua instituição, a União Euro-péia – em dois . (G.L.)

GILLES LAPOUGECorrespondente

PARIS – De tempos emtempos, termina a guer-ra do Iraque. A primeira

vez foi no dia 7 de abril, quan-do os soldados americanos to-maram Bagdá, A segunda foino dia 1.º de maio, quandoGeorge W. Bush envergou seubelo uniforme militar parapousar sobre o convés do porta-aviões Abraham Lincoln e api-tar o fim do jogo.

O terceiro fim da guerra doIraque teve lugar quando os sol-dados americanos encontraramum buraco de onde retiraramSaddam Hussein. O chato é quea guerra é estúpida. Ela não che-gou nem mesmo a entender queestava terminada. Nem mesmoa captura de Saddam lhe abriuos olhos: ela continua a celebrarsuas núpcias macabras

Uma coisa é certa: quer já te-nha acabado ou não, essa guer-ra já fez nascer um mundo iné-dito, uma geografia sem prece-dentes, uma América enigmáti-ca, uma Europa diferente, umaÁsia em ebulição. E também no-vos sistemas de relações entrenações, talvez uma transforma-ção do direito internacional.

Avaliar essas metamorfosesnão seria tarefa para um sim-ples artigo e certamente deman-daria nova revisão dentro de al-gum tempo, porque o vulcãoiraquiano continua sua erup-ção e suas lavas estão semprecandentes.

Um primeiro fato constatadoé que a guerra do Iraque é apro-vada por alguns, detestada poroutros, mas todos a descrevemcomo a “o principal aconteci-mento do ano”. “Pesquisa sobreum desastre: o Iraque” – é o títu-lo de Le Nouvel Observateur. Acapa da revista L’Express traz afoto de Bush e anuncia: “O ho-mem que estragou nosso ano.”

Mais complicado, o historia-dor Jacques Julliard escreve:“A maior vitória de Osama BinLaden não é o ataque contra astorres gêmeas de Nova York eseus 3 mil mortos. Sua maior vi-tória é o novo rumo da políticaamericana.” Todos esses vere-dictos, quer emanem dos queapóiam a guerra, quer dos que arejeitam, têm uma coisa em co-mum: a aventura de Bagdá nãointeressa a um país apenas, ou auma única zona do globo, masao mundo todo.

O que fazem os soldados ame-ricanos interessa aos EUA, à Eu-

ropa, ao Oriente Médio, mastambém à Indonésia, ao Cana-dá, à América Latina...

Nos Estados Unidos, o reina-do de Bush abala os dogmas:ele vira as costas (até agora pe-lo menos) e adota este “isola-cionismo” que outrora consti-tuía o receio dos europeus. E,então, será Bush o homem quereconhece que os EUA têm de-veres para com o mundo? Sim,com toda a certeza, mas deuma maneira inédita. Efetiva-mente, se ele se intromete, nãoé tanto para debater com os ou-tros mas para impor sua visão,a visão da América.

No caso do Iraque, sua linhaé clara: ao levar o fogo a Bag-

dá, ele é o oposto de um “isola-cionista”. Mas, ao deixar aONU fora do jogo, os países de-mocráticos e os amigos quenão o aprovam(França, Alema-nha), ele mostraque seu “inter-vencionismo” éditado apenaspela preocupa-ção em garantirou administrar a“hegemonia”dos EUA sobre omundo inteiro –um ancestral da globalização.

De acordo com sua visão,Bush retifica os sacrossantosprincípios do direito internacio-

nal, ampliando a doutrina da“ingerência humanitária” for-jada pelo francês Bernard Kou-chner (fundador dos Médicos

Sem Fronteiras).Bush acreditaque os EUA têmo “direito” de ig-norar a sobera-nia de uma na-ção quando estaestá nas garrasde um tirano.

Seria difícilnão aprovar essagenerosidade: os

países democráticos teriam evi-tado um inferno, se tivessempodido uma operação de “inge-rência humanitária” contra

Adolf Hitler.Mas logo caímos na conta de

que essa “polícia universal” éinaplicável, porque são inúme-ros esses tiranos em atividade.E, depois, quem decidirá queum país está submetido à barbá-rie? Ou que ele constitui um ris-co, uma ameaça aos outros? Anão ser que se recorra a uma en-tidade universalista, a ONU.

Sim, mas Washington blo-queou a ação da ONU porqueera preciso agir depressa: Sa-ddam tinha armas de destrui-ção em massa que poderiam serpostas em operação dentro de40 minutos. Esse foi um dia fu-nesto para a ONU.

Será que ONU reconquistará

um pouco de autoridade desdeque a tonitruante guerra deBagdá se transformou em cala-midade? De forma alguma,pois a própria ONU reduziusua presença depois do ignóbilmatança de seus representan-tes em Bagdá, incluindo a mor-te do brasileiro Sérgio Vieira deMello. Contudo, recentemente,os EUA moderaram um poucoo seu tom em relação à ONU.Eles precisaram dela para enco-rajar países democráticos a en-viar tropas ao Iraque a fim dealiviar os soldados americanos.

Será que essa atitude maisflexível de Washington teráseu efeito e a ONU reconquista-rá sua dignidade? Isso é duvido-so, principalmente tendo emvista que o sucesso de Bushcom a captura de Saddam po-derá animar os elementos neo-conservadores mais exagera-dos a voltar ao antigo desprezocontra a ONU.

O mesmo se poderia dizerem relação a aqueles que Do-nald Rumsfeld qualificou de“velhos europeus” (sobretudoa França e Alemanha).

No tocante a essas relaçõesentre os EUA e a Europa, en-contramos aqui um esquema se-melhante ao que acabamos dedescrever entre Washington ea ONU, mas com alguns traçosainda mais ásperos.

A resistência contra guerra,orquestrada por Paris, lançouos dirigentes americanos e opovo americano num verdadei-ro acesso de raiva. A intensida-de dessa raiva, como o da furio-sa reação francesa, ultrapassa-ram toda medida. Nesse pon-to, chegamos a suspeitar que aguerra do Iraque permitiu quealguns sentimentos profun-dos, mas proibidos – sentimen-tos não expressos, não confes-sados – viessem à tona.

E quais são esses sentimen-tos? Por um lado, a irritaçãoexasperada dos americanosdiante desses franceses que tu-do sabem, que são pérfidos, quedão lições de moral o tempo to-do, que não entendem nada deeconomia, são nulos em tudo econtinuam a deambular sob ossois apagados de seu século 17...

Quanto aos fraceses, eles sesentiram livres para demons-trar o seu desprezo por essescaubóis, esses americanos incul-tos e primitivos. (Essa lógicafrancesa não se sente incomo-dada pelo fato de que os ameri-canos produzem os melhoresromances há cem anos, o me-lhor cinema, a música mais di-fundida. Quando se diz isso aosfranceses, eles sacodem a cabe-ça e continuam resmungando:“os americanos são incultos eponto final!”)

2003/2004

Na seqüência, marines derrubam estátua de Saddam em Bagdá

BIN LADEN

MUDA POLÍTICA

EXTERNA

DOS EUA

Reuters–9/4/2003

MÁQUINA

DO TERROR

GALVANIZADA

POR INVASÃO

FOSSO ENTRE EUROPA E EUA FICOU MAIOR

governador Mário Covas de teremUS$ 300 milhões em contas no Caribe.– Aos 45 anos, Oscar Schmidt oficializano Rio o fim de sua carreira no basquete.27 – O secretário-geral da ONU, Kofi An-nan, nomeia o diplomata brasileiro Sér-gio Vieira de Mello para o cargo de repre-sentante especial da entidade no Iraque.28 – A Agência Nacional de Vigilância Sa-nitária (Anvisa) interdita o laboratórioEnila sob suspeita de que um de seus pro-dutos, o contraste Celobar, tenha causa-do a morte de 13 pessoas.29 – O Índice Geral de Preços do Merca-do (IGP-M) fechou maio em -0,26%, se-gundo a Fundação Getúlio Vargas. Trata-se da primeira deflação em 47 meses.– Governo e oposição assinam pacto que

abre caminho para um referendo sobre omandato de Hugo Chávez.

JUNHO2 – Carga tributária quebra novo recordehistórico. De acordo com levantamentodo Instituto Brasileiro de PlanejamentoTributário, 41,2% do PIB foram compro-metidos com o pagamento de impostosno primeiro trimestre, 5,56% a mais queno mesmo período de 2002.– Presos os empresários Alexandre Mar-tins e Reinaldo Pitta.4 – Os chefes de governo de Israel, ArielSharon, e da Autoridade Palestina (AP),Mahmud Abbas, comprometem-se, sob amediação de Bush, a pôr em marcha oMapa da Estrada.

5 – Maurício Corrêa toma posse comopresidente do Supremo e faz duras críti-cas à reforma da Previdência, que prevê aredução dos salários e o fim da aposenta-doria integral dos juízes.– Blix divulga seu último relatório semchegar a conclusões sobre a existência dearmas químicas no Iraque.11 – Na maior manifestação contra o go-verno desde a posse de Lula, 20 mil servi-dores fazem marcha em Brasília para pro-testar contra a reforma da Previdência.– Cruzeiro derrota o Flamengo por 3 a 1 econquista o título da Copa do Brasil.12 – A Câmara de Política Social decidefundir os programas de transferência derenda do governo (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Cartão-Alimentação, Pro-

grama de Erradicação do Trabalho Infan-til, Agente Jovem e Auxílio-Gás) numúnico projeto social.– Dados da Síntese de Indicadores So-ciais do IBGE mostram que 54,3% da po-pulação ocupada não contribui para aPrevidência Social.– O ator americano Gregory Peck morre,aos 87 anos, em Los Angeles.– O músico Itamar Assumpção, de 53anos, morre em São Paulo.13 – FMI aprova desembolso de US$ 9,3bilhões para o Brasil, na terceira revisãode acordo de US$ 32,4 bilhões.– Fundação Oswaldo Cruz anuncia que olote do Celobar suspeito de ter causado amorte de 22 pessoas apresenta 14% desais de bário tóxicos. O resultado indica

que o uso das substâncias foi intencional.16 – Brasil assina a Convenção Interna-cional de Controle do Tabaco.18 – Copom reduz juros básicos pela pri-meira vez na gestão Lula, cortando a taxaSelic de 26,5% para 26% ao ano. Apesarda pressão política, os juros continuamno nível mais alto desde maio de 1999.20 – Lula e Bush anunciam na Casa Bran-ca, a decisão de estreitar relações entre osdois países, “com vistas à promoção dacooperação hemisférica e global”.23 – China ocupa o primeiro lugar entreos países que mais atraíram investimen-tos estrangeiros em todo o mundo em2002, segundo a OCDE. A China recebeuUS$ 52,7 bilhões. O Brasil, com US$ 19,2bilhões, passa da 12.ª para a 9.ª posição.

– Seleção brasileira é eliminada da Copadas Confederações ao empatar com aTurquia em 2 a 2 na França.24 – Previdência registra o maior déficitda história. Em maio, as contas tiverambalanço negativo de R$ 1,7 bilhão.– Dois ataques deixam seis soldados britâ-nicos mortos e oito feridos no Iraque. É amaior baixa das forças de ocupação des-de a declaração do fim da guerra.25 – Dados do Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe) mostram que odesmatamento na Amazônia em 2002 foio maior desde 1995. A área desmatadachegou a 25.500 quilômetros quadrados.26 – FGV apurou deflação de 1% noIGP-M em junho, maior queda desdejunho de 1989, quando o índice co- E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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As denúncias de tráfico de órgãosforam confirmadas no Brasil. Emdezembro, a Polícia Federal descobriuquadrilha que aliciava pessoas noRecife para venda de rins na África do

Sul. Foram indiciadas 28 pessoas: 11foram presas. A PF acredita que maisde 30 pessoas venderam um rim por atéUS$ 10 mil. Acima, dois acusadosmostram cicatrizes da operação

O popstar Michael Jackson foi presoem 20 de novembro, acusado de abusarsexualmente de um garoto de 12 anos.Acima, a foto do registro na delegacia doCondado de Santa Bárbara, Califórnia.

Michael pagou fiança de US$ 3 milhõese foi liberado. Ele responde a noveacusações: sete por abuso sexual e duaspor “uso de agente intoxicante (álcool)com intenção de cometer delitos”

Os planos vêm desde 2001,mas este ano a Universidadede São Paulo (USP) definiu olugar onde será construídoseu campus na zona leste da ci-dade. A nova unidade no Par-que Estadual do Tietê, pertoda Rodovia Ayrton Senna, re-cebeu também uma verba ex-tra de R$ 48,3 milhões na vota-ção do Orçamento 2003.

Foram anunciados ainda es-te ano os cursos que serão ofe-recidos. Pelo estatuto da USPnão podem ser dados os mes-mos cursos em duas unidadesna mesma cidade. Não haverána zona leste, portanto, Direi-to, Medicina ou Engenharia.As cerca de 1.500 vagas serãodispersas entre áreas como Po-líticas Públicas, EnfermagemGeriátrica, Marketing, Turis-mo, Gestão Ambiental, entreoutras. As aulas serão prefe-rencialmente à noite.

As obras estão marcadas pa-ra começar no início de 2004,quando a universidade come-mora seus 70 anos. O campusleste – que deve ter ainda umcomplexo esportivo disponí-vel também para a comunida-de – vai iniciar suas ativida-des apenas em janeiro de2005. (R.C.)

Divulgação

A síndrome respiratóriaaguda severa (Sars) pôs omundo em alerta no primeirosemestre. A epidemia, causadapor um novo tipo de

coronavírus, começou naprovíncia chinesa de Cantão, nofim de 2002, e se espalhourapidamente pelo globo. Só foicontrolada em julho, depois de

deixar mais de 8 mil pessoasdoentes e causar 774 mortes emmais de 20 países. A doençacausou prejuízos gigantescos àseconomias asiáticas e obrigou

milhões de pessoas a usaremmáscaras cirúrgicas, comoforma de reduzir o contágio. NoBrasil, foram registrados apenastrês casos suspeitos. Cientistas

agora trabalham em umavacina contra o vírus, que teriapassado de animais para ohomem. Um caso suspeito foiregistrado na China, no dia 27

2003/2004

Reuters

Cicatriz do tráfico

PROVÃO CONTINUA, MAS PERDE FORÇA

Novo vírus

Jornalista deixou império de US$ 2 bilhões e 15 mil funcionários

GLOBO DIZ ADEUS A SEU PRESIDENTE

Dono da mais importan-te emissora de TV doPaís e uma das cinco

maiores do mundo, o empresá-rio Roberto Marinho morreuaos 98 anos, no dia 6 de agosto.Ele estava em casa, no CosmeVelho, zona sul do Rio, quandosofreu um edema pulmonar,provocado por trombose. Foi in-ternado no Hospital Samarita-no e morreu durante uma cirur-gia para retirada de um coágu-lo do pulmão.

“O Brasil perde um homem

que passou a vida acreditandono Brasil. Como dizia o nossoamigo Carlito Maia, tem genteque vem ao mundo a passeio,tem gente que vem ao mundo aserviço. Roberto Marinho foium homem que veio ao mundoa serviço”, declarou o presiden-te Lula, que decretou luto ofi-cial de três dias.

Cerca de 1.800 pessoas fo-ram ao velório, no salão princi-pal do Cosme Velho, incluindoartistas, políticos e empresáriosdo mais alto escalão. O sepulta-mento ocorreu no CemitérioSão João Baptista, em Botafo-go. Considerado por muitosum dos homens mais podero-sos do Brasil, Roberto Marinhocomeçou com paginador nas

oficinas do jornal A Noite, deseu pai, Irineu Marinho. Em se-te décadas de trabalho empresa-rial e jornalístico, ergueu umimpério de mais de 15 mil fun-cionários e faturamento de cer-ca de US$ 2 bilhões.

Seus herdeiros são filhos doprimeiro casamento. RobertoIrineu, que supervisionava a te-levisão, assumiu o cargo do paicomo presidente das Organiza-ções Globo. João Roberto conti-nuou como vice-presidente deRelações Institucionais e presi-dente do Conselho Editorial dogrupo. E José Roberto, como vi-ce-presidente de Responsabili-dade Social, coordenando aFundação Roberto Marinho.(Herton Escobar)

Astro preso

Rodrigo Lobo/JC Imagem

MEC ampliou sistemade avaliação do ensino

superior, no qual exameserá apenas uma parte

Kin Cheung/Reuters

USP GANHAFORMA NAZONA LESTE

Roberto Marinhomorreu em agosto, aos

98 anos, após umedema pulmonar

RENATA CAFARDO

Ele começou o ano desa-creditado, foi tão critica-do quanto defendido

exaustivamente ao longo dosmeses e no fim de 2003 o Pro-vão mudou. Por meio de medi-da provisória, o ministro daEducação, Cristovam Buarque,tirou o brilho da maior estrelada gestão Paulo Renato Souza.O sistema de avaliação do ensi-no superior continuará comprovas para os alunos, mas elasserão apenas parte de um pro-cesso amplo.

O medidor se chamará ago-ra Índice de Desenvolvimentodo Ensino Superior (Ides), queresultará da combinação dequatro indicadores: ensino,aprendizagem, capacidade ins-titucional e responsabilidadesocial. Em vez das notas de Aa E, o exame classificará cur-sos em bem avaliados, interme-diários e não-satisfatórios.

Em julho, uma comissão no-meada pelo Ministério da Edu-cação (MEC) começou a estu-dar as mudanças. Seguiram-seaudiências públicas e debates e,em setembro, a conclusão foi en-tregue ao ministro. A forma fi-nal do sistema só foi divulgadaeste mês. Agora, os cursos queforem considerados não satisfa-tórios terão de assinar um ter-mo de compromisso para corri-gir falhas. Os cursos passarãopor avaliações a cada três anos,num sistema de rodízio. A pro-va será no fim do primeiro anoe ao término do curso. Só have-rá obrigatoriedade para todosnas áreas com poucos alunos.

Mas não só o Provão chamoua atenção no MEC em 2003. Ochefe da casa acabou ganhandoo apelido de semeador de uto-pias, pela quantidade – e princi-palmente pela excessiva criativi-dade – de suas idéias. Duranteos 12 meses, Cristovam sugeriuque novelas exibissem galãs al-fabetizadores, propôs descon-tos em supermercados paramães de bons alunos e defen-deu a troca de parcelas da dívi-da externa por investimentoem educação. “Lanço muitasidéias, querendo que todas pe-guem”, disse. Para alguns edu-cadores, o falatório mostrouum ministro ainda sem rumos.

meçou a ser calculado.– Congresso aprova Lei de Diretrizes Or-çamentárias de 2003, que reafirma o com-promisso com um superávit primário de4,25% do PIB pelos próximos três anos.– Combates entre forças rebeldes e o go-verno deixam pelo menos 300 mortos naLibéria, na África.– Suprema Corte dos EUA libera, em ter-mos legais, homossexualismo nos 13 Esta-dos em que a prática ainda era proibida.– O jogador de Camarões Marc VivienFoe, de 28 anos, morre de aneurisma cere-bral após desmaiar durante a semifinalda Copa das Confederações, em Paris.27 – Morre em São Paulo, aos 74 anos, ocineasta Walter Hugo Khouri.29 – Em partida marcada pelas homena-

gens a Foe, a França derrota Camarõespor 1 a 0 e conquista o bicampeonato daCopa das Confederações.– Morre aos 96 anos a atriz Katherine He-pburn, vencedora de quatro Oscars.

JULHO1 – Por 8 votos a 4, senadores do PT afas-tam Heloísa Helena da bancada.– Pesquisa CNI/Ibope registra queda nonível de aprovação do governo Lula de75% em março para 70% em junho.2 – Em encontro histórico com os princi-pais dirigentes do MST no Planalto, Lulaadverte que a onda de saques e invasõesprejudica a reforma agrária.– O Santos é derrotado pelo Boca Juniorspor 3 a 1 na final da Copa Libertadores.

– Forças israelenses retiram-se de Belém,devolvendo o poder à Autoridade Palesti-na após sete meses.3 – O Índice de Preços ao Consumidor(IPC) da Fipe registra deflação de 0,16%em São Paulo no mês de junho, primeirataxa negativa desde 2000.– EUA oferecem recompensa de US$ 25milhões por informações que levem à pri-são de Saddam. No caso de Uday eQusay, filhos de Saddam, a recompensachega a US$ 15 milhões.4 – Morre o cantor Barry White.5 – Duas militantes chechenas matam 16pessoas ao detonar explosivos amarradosao corpo durante show em Moscou.– Boeing 737 da Sudan Airways caicom 116 pessoas a bordo. Um meni-

no de 2 anos é o único sobrevivente.7 – O Brasil foi o país que mais subiu, do69.º para o 65.º posto, no ranking do Índi-ce de Desenvolvimento Humano (IDH)da ONU. Os itens que mais contribuírampara isso foram longevidade e educação.– O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) es-colhe o Rio como candidato do País a se-de dos Jogos Olímpicos de 2012.8 – Funcionalismo federal pára em protes-to contra a reforma da Previdência. Cer-ca de 45% dos 880 mil servidores cruza-ram os braços.9 – Líderes da base aliada fecham comMaurício Corrêa e o ministro-chefe daCasa Civil, José Dirceu, acordo que visaa manter na reforma da Previdência aaposentadoria integral dos servidores pú-

blicos, proposta que atende às reivindica-ções do Judiciário.– O IPCA, que serve de base para a metade inflação do governo, registra deflaçãode 0,15% em junho. É a primeira varia-ção negativa desde novembro de 1998.– Ricardo Teixeira é reeleito para o quin-to mandato à frente da ConfederaçãoBrasileira de Futebol (CBF).11 – Bush culpa a Agência Central de Inte-ligência (CIA) por ter acusado o Iraque,em janeiro, de tentar comprar urânio doNíger para uso no seu programa nuclear.– O principal líder dos sem-terra no Pon-tal do Paranapanema, José Rainha Jú-nior, de 43 anos, é preso em Teodoro Sam-paio (SP). Ele responde a vários proces-sos por invasão de propriedades rurais.

13 – Seleção brasileira masculina conquis-ta em Madri pela terceira vez o título daLiga Mundial de Vôlei ao derrotar Sérviae Montenegro por 3 sets a 2.15 – Coréia do Norte anuncia que já templutônio suficiente para fabricar pelo me-nos seis bombas atômicas.18 – Depois de dois anos e sete meses pre-so na Polícia Federal, em São Paulo, ojuiz aposentado Nicolau dos Santos Netoconsegue no STJ direito à prisão domici-liar. Nicolau responde a processo sob acu-sação de desvio de recursos da obra do Fó-rum Trabalhista de São Paulo.19 – Cerca de mil famílias de sem-teto in-vadem terreno da Volkswagen em SãoBernardo do Campo, no ABC.– O cientista britânico David Kelly se E

E

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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Marte passou “de raspão”pela Terra em 27 de agosto. Os

dois planetas ficaram a55.758.005 quilômetros um dooutro – a maior aproximação

dos últimos 60 mil anos. Nomundo inteiro se pôde admirar

o brilho avermelhado doplaneta, facilmente perceptível

durante várias semanas. Oscientistas aproveitaram a

proximidade das órbitas paraenviar missões ao planeta

vermelho, em busca devestígios de água e vida. A

primeira a decolar, em junho,foi a sonda Beagle 2, da

Agência Espacial Européia,que chegou a Marte no dia deNatal. Depois vieram os robôsSpirit e Opportunity, da Nasa,

que deverão pousar noplaneta em janeiro.

2003/2004

Reuters/Nasa CÂMARA APROVA LEI DA MATA ATLÂNTICADestroços da nave Columbia deixaram rastros de fumaça sobre o Texas: tripulação era formada por seis americanos e um israelense

Marte nuncaesteve tão próximo Projeto seguiu para o

Senado em regime deurgência, mas votação

acabou adiada

Governo libera 2 safrasde soja modificada,

mas não definelei de biossegurança

A torre de lançamento do VLS, na Base de Alcântara: após acionamento do foguete, estrutura foi tomada por fogo de 3.000º C

TRAGÉDIA EM ALCÂNTARA: 21 MORTOSExplosão frustra

terceira tentativa delançar o foguete VLS

brasileiro

Reuters/Nasa – 1.º/2/2003

O COLUMBIAAOS PEDAÇOS

E 7 MORTESA Nasa, agência espacial

americana, sofreu sua maiortragédia desde a explosão daChallenger, em 1986. Sete astro-nautas – seis americanos e umisraelense – morreram quandoo ônibus espacial Columbia sedespedaçou sobre o Estado doTexas, em 1.º de fevereiro. Acausa não poderia parecer maissimplória: um pedaço de espu-ma que se soltou de um dos tan-ques de combustível e atingiu aborda da asa esquerda duranteo lançamento, 15 dias antes.

O impacto abriu um buraconuma das placas protetoras decerâmica da nave, permitindoque um gás superquente pene-trasse na asa durante a reentra-da da atmosfera. O Columbiaviajava a 20 mil quilômetrospor hora, a 60 mil metros de alti-tude, com 4 toneladas de experi-mentos científicos a bordo.

Os destroços foram recolhi-dos e uma comissão foi criadapara apurar o acidente. A inves-tigação, concluída em agosto,culpou a cultura de autoprote-ção da Nasa e sua relutânciaem enfrentar questões relativasà segurança. Os vôos dos trêsônibus espaciais restantes fo-ram suspensos pelo menos atésetembro de 2004. (H.E.)

Depois de 11 anos de tra-mitação, o projeto de leida mata atlântica, para

regulamentar a ocupação e apreservação da floresta, foiaprovado por unanimidade pe-los deputados. Quando tudo pa-recia resolvido, o projeto che-gou ao Senado e foi engaveta-do. O texto deveria ter sido vota-do ainda em dezembro, mas opedido de urgência foi retiradono último minuto e não houveacordo para retomar a pauta.

Segundo ambientalistas, oproblema seria a possibilidadede proprietários exigirem gran-des indenizações pela desapro-priação de terras para preserva-

ção. Já os senadores alegamque não houve tempo suficientepara estudar o tema. Os 11anos de tramitação custaramao bioma mais de 10 mil quilô-metros de desmatamentos, se-gundo a SOS Mata Atlântica eo Instituto Nacional de Pesqui-sas Espaciais (Inpe).

Reduzida a pouco mais de7% da sua cobertura original, amata atlântica é um dos ecossis-temas mais ameaçados do pla-neta. Grande parte das espéciesameaçadas de extinção incluí-das na nova lista do Ibama, di-vulgada este ano, existem ali – emuitas delas são endêmicas dobioma. No País, 70% dos verte-brados ameaçados do Brasil es-tão na mata atlântica e 37% de-les são endêmicos.

A nova relação do Ibama éuma atualização da lista de1989, considerada incompleta e

carente de embasamento cientí-fico. O levantamento, realizadoao longo de 11 meses e por maisde 200 especialistas, em parce-ria com ONGs, servirá de basepara projetos de preservação dabiodiversidade. Das 395 espé-cies consideradas ameaçadas,mais de 80 (78 delas na mataatlântica) estão “criticamenteem perigo”, o que significa quetêm 50% de chance de desapare-cer nos próximos 10 anos.

Na Amazônia, estudo doInpe indicou que, em 2002, a flo-resta perdeu 25.500 quilôme-tros quadrados – o maior índicede desmatamento desde 1995.Em novembro, o governo apre-sentou um ambicioso plano pa-ra conter a destruição na re-gião. Uma das metas é o orde-namento territorial, com cadas-tro de terras e criação de unida-des de conservação. (H.E.)

TRANSGÊNICOSE POLÊMICA NOCONGRESSO

Briga de ministros, decla-rações do Vaticano, ca-minhões barrados, pes-

quisas paralisadas e duas safrasde semente transgênica contra-bandeada autorizadas por medi-da provisória. 2003 foi o anomais polêmico dos organismosgeneticamente modificados(OGMs) no Brasil. Havia a ex-pectativa de que a questão seriaresolvida com o projeto de lei debiossegurança, enviado ao Con-gresso em outubro. Mas o regi-me de urgência, que exigia vota-ção até o fim do ano, foi retira-do no início de dezembro.

O ano foi marcado pela dispu-ta entre os Ministérios do MeioAmbiente, contrário aos trans-gênicos, e o da Agricultura, fa-vorável aos OGMs. Mesmo acriação de uma comissão inter-ministerial, em fevereiro, nãoproduziu consenso sobre ques-tões como a competência da Co-missão Técnica Nacional deBiossegurança (CTNBio). A bri-ga continuou no Tribunal Re-gional Federal de Brasília, ondecorre o processo sobre o parecerda CTNBio em favor da soja ge-neticamente modificada.

O plantio ilegal tornou-se evi-dente, principalmente no RioGrande do Sul. Com uma safrade soja transgênica avaliadaem R$ 1 bilhão, o governo edi-tou a Medida Provisória 113,autorizando sua comercializa-ção para consumo humano eanimal. Com a MP 131, repetiuo processo para a safra2003/2004. Para fins de rotula-gem, reduziu a tolerância detransgênicos nos alimentos de4% para 1% e regulamentou olicenciamento de pesquisascom OGMs, mas as regras fo-ram consideradas impraticá-veis pelos cientistas, muitos dosquais continuaram com suaspesquisas paralisadas.

Em outubro, o Paraná apro-vou lei proibindo os plantio, im-portação e comercialização detransgênicos no Estado até2006. Centenas de caminhõescom soja de outros Estados a ca-minho do Porto de Paranaguáforam barrados na fronteira pa-ra ser inspecionados. No iníciode dezembro, o Supremo Tribu-nal Federal julgou a lei inconsti-tucional.

Para apimentar a polêmica,o Vaticano fez pronunciamen-tos favoráveis aos transgênicos.Já a Monsanto, dona da paten-te sobre a soja transgênica, dis-se que assume a responsabilida-de sobre a segurança do produ-to, mas deixou claro que cobra-rá royalties sobre ele. (H.E.)

Ed Ferreira/AE – 25/8/2003

HERTON ESCOBAR

Oano foi de luto para a ex-ploração espacial. Alémda explosão do ônibus es-

pacial Columbia, nos EUA, odesastre com o terceiro protóti-po do foguete VLS, em 22 deagosto, lançou uma nuvem so-bre o programa espacial brasilei-ro. Vinte e um funcionários doInstituto de Aeronáutica e Espa-ço morreram quando um dosmotores do primeiro estágio foiacidentalmente acionado, trans-formando a torre da Base de Al-cântara, no Maranhão, em umafogueira de 3.000º C.

O acidente ocorreu três diasantes do lançamento. Seria aterceira tentativa de enviar oVeículo Lançador de Satélites(VLS) ao espaço. As duas ante-riores, em 1997 e 1999, fracassa-ram. Os foguetes apresentaramfalhas e tiveram de ser destruí-dos em pleno vôo.

Uma comissão de militares,técnicos e parentes das vítimasfoi criada para investigar o aci-dente. Tudo indica que o motorfoi acionado por uma correnteelétrica de dentro do foguete,cuja origem ainda não foi deter-minada. O relatório final, apósquatro adiamentos, deve ser di-vulgado no início do ano.

suicida e aprofunda a controvérsia so-bre a manipulação de informes de inteli-gência para justificar a guerra no Iraque.22 – Forças americanas matam os dois fi-lhos de Saddam, Uday e Qusay, na cida-de de Mossul, norte do país.23 – Copom reduz a taxa Selic de 26% pa-ra 24,5% ao ano.– Taxa de desemprego no País sobe de12,8% em maio para 13% em junho, se-gundo o IBGE. O índice é o maior desdeoutubro de 2001, quando o instituto alte-rou a forma do levantamento.– O repórter fotográfico Luiz Antônio daCosta, o La Costa, morre após ter sido ba-leado no terreno da Volks no ABC.24 – Paulo Maluf é detido em Paris e ficaquase 7 horas sob custódia da Justiça pa-

ra explicar depósitos feitos numa contaaberta em nome de sua mulher, Sylvia,no banco Crédit Agrícole no valor de €1,738 milhão (R$ 5,6 milhões).– Morre o ator Rogério Cardoso.25 – A queda do salário real dos trabalha-dores levou o INSS a registrar, no primei-ro semestre do ano, déficit de R$ 9,6 bi-lhões, o maior de sua história.27 – Morre aos 100 anos o ator Bob Hope,rei da comédia americana.28 – Lula recria a Superintendência doDesenvolvimento do Nordeste (Sudene),extinta em 2001 por causa de denúnciasde corrupção.29 – O número de máquinas paradas naindústria paulista bateu recorde em ju-nho. Segundo a Fiesp, o nível de utiliza-

ção da capacidade instalada das empre-sas ficou em 78,7%.– Principal destaque do atletismo brasilei-ro, Maurren Maggi, número 1 do rankinginternacional do salto em distância, é fla-grada no exame antidoping após provado Troféu Brasil, em junho, no Rio.30 – Rainha é condenado a 2 anos e 8 me-ses de detenção, por porte ilegal de arma.31 – Vaticano lança documento contra alegalização das uniões de homossexuais.

AGOSTO2 – Maurren Maggi é suspensa preventi-vamente pela Associação Internacionaldas Federações de Atletismo por doping.– A primeira medalha do Brasil nos Jo-gos Pan-Americanos de Santo Domingo

é de bronze, conquistada pela equipe femi-nina de ginástica artística.– Morre o violonista e compositor Pauli-nho Nogueira.6 – O empresário Roberto Marinho, presi-dente das Organizações Globo, morre,aos 98 anos, no Rio.7 – Um veículo-bomba explode em frenteda Embaixada da Jordânia em Bagdámatando 11 pessoas e ferindo 65.8 – BC reduz de 60% para 45% a alíquotado recolhimento compulsório sobre depó-sitos à vista dos bancos.10 – Popó derrota o argentino Jorge Bar-rios por nocaute no 12.º e último round emantém o título mundial.11 – O presidente da Libéria, CharlesTaylor, renuncia ao cargo.

13 – Câmara conclui votação em primei-ro turno da reforma da Previdência, de-pois que o governo faz concessões à oposi-ção. Foi fechado acordo para diminuir de50% para 30% o redutor que incidirá so-bre a parcela das pensões do funcionalis-mo que superarem o teto de R$ 2,4 mil.– A queda da renda, o desemprego e os ju-ros altos produzem estragos no setor vare-jista. Segundo o IBGE, houve queda de5,57% nas vendas no primeiro semestrena comparação com igual período de2002. É o pior desempenho desde que apesquisa teve início, em 2001.14 – Nova York é surpreendida por umblecaute que atinge também partes dosEstados de Michigan, Ohio, Pensilvânia eNew Jersey, além de Toronto e Ottawa,

no Canadá. Houve caos na cidade, commoradores assustados pensando que setratava de um atentado terrorista.– O ministro das Relações Exteriores, Cel-so Amorim, anuncia que o Brasil não acei-ta a proposta conjunta da União Euro-péia e dos EUA sobre as negociações agrí-colas com países em desenvolvimento noâmbito da OMC. Pela proposta, paísescom grande superávit comercial, como oBrasil, não teriam tratamento especial, re-servado apenas aos países mais pobres.– Governo francês já admite a morte depelo menos 3 mil pessoas em decorrênciade uma onda de calor.– Rebeldes que fazem cerco de dois mesesà capital da Libéria, Monróvia, retiram-se enquanto cerca de 200 marines dos E

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O comerciante Chan KimChang, chinês naturalizadobrasileiro, pretendia embarcarpara os EUA com US$ 30 mil,em 25 de agosto. Não declarouà Receita e foi preso no Rio.Levado ao Presídio Ary Franco,

foi encontrado ferido dois diasdepois. Em 4 de setembro,acabou morrendo. Os agentespenitenciários negaram teragredido Chang e disseram queele se machucara sozinho, num“acesso de fúria”. Parentes e

amigos protestaram. Seteagentes e o ex-diretor dopresídio foram indiciados pelocrime. A polêmica chegou àcúpula do governo e provocou asaída do secretário de DireitosHumanos João Luiz Pinaud

VIOLÊNCIA

Em três meses, a políciadescobriu e prendeu aquadrilha de sete pessoas queplanejou o assalto aoempresário José NelsonSchincariol. Ele foi morto em19 de agosto com três tiros, aoreagir a um assalto nagaragem de sua casa, em Itu.Mas antes de desvendar ocrime, a polícia cometeu umasérie de falhas na ação queincluiu a invasão da casa dogarçom Valdinei Sabino daSilva e sua prisão. A mãegarantia que estava com ofilho na hora do crime. Silvapassou 16 dias na cadeiainjustamente. Agora, espera ainvestigação sobre a tortura aque diz ter sido submetido,depois de preso

Epitácio Pessoa/AE – 19/8/2003

O executivo da Shell ZeraTodd Staheli estava no Paíshavia três meses. Vivia com amulher, Michelle, e os trêsfilhos num condomínio naBarra da Tijuca, no Rio. Em 30de novembro, Staheli foiencontrado morto, deitado nacama do casal. A mulher estavaao lado, gravemente ferida, emorreu quatro dias depois. Ummistério de repercussãointernacional que ainda intrigaa polícia. A arma do crime nãofoi encontrada e asinvestigações poucoavançaram, mais de um mêsdepois. São tantas dúvidas quechegaram a confundir osecretário da Segurança,Anthony Garotinho, e fazê-lovoltar atrás em declarações

IURI PITTA

OPaís viveu momentosem que praticamente fi-cou refém da violência

em 2003. Nas duas maiores ci-dades brasileiras, o retrato maisagressivo da falência da segu-rança pública se mostrou emondas de ataques ordenadas pe-lo crime organizado. Delega-cias e bases da Polícia Militar(PM) foram metralhadas, o co-mércio fechou em vários bair-ros do Rio e de São Paulo, ôni-bus e carros foram destruídos.

Em uma das ações mais ousa-das, criminosos assassinaramem 14 de março o juiz-correge-dor Antônio José MachadoDias, de 48 anos, responsávelpor presídios da região de Presi-dente Prudente, incluindo a uni-dade de segurança máxima dePresidente Bernardes, onde es-tão presos alguns dos bandidosmais perigosos do País. No Es-pírito Santo, outro juiz, Alexan-dre Martins de Castro Filho, foiassassinado em Vila Velha, 11dias depois, também a mandodo crime organizado.

A afronta ao Estado havia co-meçado no mês anterior. Umaonda de violência ordenada pe-lo tráfico de drogas assustou oRio. Logo no primeiro dia, 24de fevereiro, mais de 20 bairrosregistraram ocorrências e 37ônibus foram queimados ou de-predados. A polícia deteve 31suspeitos, mas as ações prosse-guiram por mais quatro dias.

O governo estadual chegou amobilizar 2.500 policiais numaoperação de emergência. O tra-

ficante Luiz Fernando da Cos-ta, o Fernandinho Beira-Mar,suspeito de ordenar os ataques,foi transferido de Bangu 1 paraPresidente Bernardes. O trafi-cante ainda “viajaria” outrasvezes: para a superintendênciada Polícia Federal em Maceió enovamente para Bernardes.

O tráfico retomou ondas deviolência no fim de março e emabril. Com isso, a governadoraRosinha Matheus trocou o se-cretário da Segurança Pública,

nomeando o marido, AnthonyGarotinho, em 24 de abril.

Em São Paulo, entre erros eacertos, policiais acabaram en-volvidos em histórias mal expli-cadas. O Estado revelou, emagosto, o sumiço de dólares fal-sos apreendidos com um trafi-cante de drogas em 1987. A Jus-tiça havia autorizado o uso doUS$ 1,85 milhão, mas o para-deiro de US$ 585 mil ainda estásob investigação.

Um dos acertos ocorreu em

fevereiro, com a prisão do se-qüestrador Pedro Ciechanovicze a libertação do empresárioJoão Bertin, 82 anos. Ele ficou155 dias em cativeiro, o maislongo seqüestro do Estado.

Entrevista – Casos assim se-guiram chocando o País. Ativi-dades corriqueiras, como to-mar um trem ou um metrô ouir à faculdade, acabaram emtragédia. No Rio, os pais de Ga-briela do Prado Ribeiro, de 14

anos, evitavam que a filha saís-se só. Na primeira vez em queela tomou o metrô sozinha, em26 de março, ocorreu o pior: Ga-briela foi atingida no peito poruma bala perdida, durante umassalto.

Dois meses depois, outra ba-la perdida feriu a universitáriaLuciana Gonçalves de Novaes,de 19 anos, no campus da Uni-versidade Estácio de Sá. Ela foiatingida em um tiroteio entrepoliciais e traficantes. A investi-

gação sobre a autoria do dispa-ro, que deixou a jovem tetraplé-gica, levou dois meses.

Em São Paulo, o caso maischocante foi o de dois rapazesobrigados a pular de uma com-posição da Companhia Paulis-ta de Trens Metropolitanos portrês skinheads. Dois estão pre-sos. Cleiton da Silva Leite, de20 anos, não resistiu aos feri-mentos e morreu. O amigo, Flá-vio Augusto de NascimentoCordeiro, de 16 anos, teve o bra-ço direito amputado.

Farsa – Não bastasse esse cli-ma de apreensão, chegou-se aoponto de o programa DomingoLegal, de Gugu Liberato, forjaruma entrevista com integrantesdo Primeiro Comando da Capi-tal (PCC). A farsa foi descober-ta e Gugu, indiciado pelo Minis-tério Público.

Em outubro, a violência che-gou perto da família do presi-dente Luiz Inácio Lula da Sil-va. Um dos seguranças do filhode Lula foi morto numa tentati-va de assalto, em Santo André.

No mês seguinte, foi a vez deSão Paulo viver sob ondas deviolência. O PCC atacou basesda PM e da Guarda Civil Muni-cipal. No primeiro dia, dois poli-ciais morreram. Para o gover-no, os ataques foram o “últimosuspiro” da facção.

Assustada, a população quersoluções. Depois do assassinatodos jovens Liana Friedenbach eFelipe Caffé, que teria sido co-mandado por um menor, foi re-tomada a polêmica sobre a re-dução da maioridade penal.Por ora, o governo sancionou oEstatuto do Desarmamento. Alei prevê um referendo popularem 2005, em que os brasileirosvão dizer se querem ou não proi-bir a venda de armas de fogo.

2003/2004

A notícia dodesaparecimento de LianaFriedenbach, de 16 anos, eFelipe Caffé, de 19, quetinham ido acampar num sítioabandonado em Embu-Guaçu,havia comovido a opiniãopública. Quando os corposforam achados, a comoção deulugar à indignação. Quatromaiores e um menorconfessaram o crime. Em 22de novembro, os pais dasvítimas organizaram umapasseata com 5 mil pessoas emque pediram a redução damaioridade penal. Um diaantes, o rabino Henry Sobeldisse ao ‘Estado’ ser a favor dapena de morte. Voltou atrás.Estava sob forte emoção

Otávio Magalhães/AE – 14/9/2003

Ônibus incendiado na Estrada Velha da Pavuna, zona norte do Rio: tráfico de drogas iniciou ações durante quatro dias de fevereiro

Liana e FelipeJ.F.Diorio/AE–22/11/2003

Chan Kim Chang

SchincariolCasal StaheliReuters

O CRIME ATACA POLÍCIA E JUÍZESPoliciais viram

alvo no Rio e emSão Paulo; dois juízes

são assassinados

Divulgação

Fabio Motta/AE – 25/2/2003

EUA chegam para apoiar força depaz composta por soldados nigerianos.– ONU aprova resolução reconhecendo oConselho de Governo Iraquiano.– Exército israelense mata MohammadSeder, líder do braço armado do grupo pa-lestino Jihad Islâmica.15 – Líbia entrega carta ao Conselho deSegurança da ONU assumindo a respon-sabilidade pelo atentado de Lockerbie(1988) e renunciando ao terrorismo.16 – Morre o poeta Haroldo de Campos.– O ex-ditador de Uganda Idi Amin Da-da, responsável pela morte de dezenas demilhares de pessoas nos anos 70, morreem um hospital da Arábia Saudita.17 – Brasil termina em 4.º lugar na classifi-cação geral da competição de Santo Do-

mingo. O País obteve 122 medalhas (28de ouro, 40 de prata e 54 de bronze), que-brando o recorde estabelecido em Winni-peg, em 1999.18 – Governo e rebeldes liberianos assi-nam acordo para pôr fim a três anos deguerra, após uma ofensiva de mais dedois meses que levou à deposição do presi-dente Charles Taylor e deixou mais demil mortos.19 – Pelo menos 20 pessoas, entre elas o di-plomata brasileiro Sérgio Vieira deMello, morrem em um ataque sem prece-dentes ao edifício-sede da ONU em Bag-dá. Cerca de cem pessoas ficaram feridas.Um militante suicida deixou um cami-nhão-bomba perto da parte do prédio on-de ficava o escritório de Vieira de Mello,

que ainda sobreviveu por algumas horassob os escombros.– Suicida palestino vestido como judeu or-todoxo detona explosivos num ônibusque voltava do Muro das Lamentações,em Jerusalém. Pelo menos 20 pessoasmorreram e mais de 100 ficaram feridas.– Preso o vice-presidente de Saddam,Taha Uassin Ramadan.– Dono da Cervejaria Schincariol, JoséNelson Schincariol, é morto em Itu (SP).20 – Copom surpreende o mercado e re-duz a taxa Selic de 24,5% para 22% aoano, a menor desde outubro de 2002.21 – Um dos principais líderes políticosdo Hamas, Ismail Abu Shanab, é mortopor israelenses em Gaza. Extremistasanunciaram o fim da frágil trégua de sete

semanas que o próprio Shanab havia con-vencido seu grupo a declarar.– EUA anunciam a prisão de Ali Hassanal-Majid, o temido primo de Saddam co-nhecido como Ali Químico.– Senado da Argentina aprova a anula-ção de duas leis que anistiaram milharesde acusados de crimes contra a humani-dade durante a ditadura militar.22 – A explosão do Veículo Lançador deSatélites (VLS) durante uma simulaçãode lançamento na Base de Alcântara, noMaranhão, provoca a morte de 21 pes-soas. O VLS estava sendo preparado pa-ra o seu terceiro vôo da base de Alcânta-ra, após duas tentativas malsucedidas.24 – Daiane dos Santos vence medalhade ouro na ginástica de solo no Campeo-

nato Mundial em Anaheim (EUA) comum salto inovador: o duplo twist carpado.25 – Vilma Borges é condenada a 8 anos e8 meses de prisão, em regime semi-aber-to, pelo seqüestro de Pedrinho, parto su-posto e falsificação de documentos.26 – Com a execução de soldado numaemboscada em Bagdá, sobe para 140 o nú-mero de militares dos EUA mortos desdeque Bush deu a guerra por encerrada.27 – Reforma da Previdência é aprovadaem segundo turno na Câmara.28 – O primeiro Orçamento feito pelo go-verno Lula mantém o aperto fiscal, com aprevisão de que a União invista R$ 7,8 bi-lhões em 2004. A proposta contém a pro-jeção de aumento de 3,5% do PIB, infla-ção de 5,5% e taxa básica de juros de

15,17%. Pelo projeto, o salário mínimo po-derá ter reajuste de até 14% em 2004.29 – América Móvil, dona da Claro, anun-cia a compra da BCP, operadora daGrande São Paulo, por US$ 625 milhões.30 – Morre o ator Charles Bronson.

SETEMBRO1 – Executiva Nacional do PT suspende,por 60 dias, oito deputados que não segui-ram a orientação do partido na votaçãoda reforma da Previdência.– Israel congela relações diplomáticascom a AP, declara guerra ao Hamas e rea-liza ataque que mata um dos líderes dogrupo, Khader al-Huseri.4 – O comerciante chinês naturalizadobrasileiro Chan Kim Chang morre no E

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IURI PITTA

Aprefeita Marta Suplicy(PT) começou a segun-da metade do mandato

desgastada. Motivos não falta-ram: taxas recém-criadas, au-mento de passagem de ônibus(o segundo da gestão) e proble-mas nos serviços de saúde. Acarta tirada da manga para re-verter a queda nos índices deaprovação não podia ter nomemais adequado. Com a inaugu-ração de 17 Centros Educacio-nais Unificados (CEUs), Martaaproveitou os holofotes paramostrar o grande feito da ges-tão e melhorar as perspectivaspara as eleições de outubro.

Além de administrar o pesode novos tributos, Marta come-çou o ano perdendo parte daequipe para o governo federal.A eleição de Luiz Inácio Lulada Silva fez a petista abrir mãode nomes que a acompanha-vam desde 2001. Ao todo, qua-tro secretários e o presidente daAnhembi trocaram o Paláciodas Indústrias por Brasília.

Outra substituição no secreta-riado, ainda em janeiro, foi inu-sitada. E justamente na pastaque Marta considera prioritá-ria. O educador Nélio Bizzo, oterceiro a ocupar a Secretariada Educação desde 2001, pediudemissão menos de uma sema-na depois de assumir o cargo.No mês seguinte,a saída de Eduar-do Jorge, da Saú-de, expôs os pro-blemas de indica-ções de vereado-res para cargosno Executivo.

Ônibus – Longedos bastidores po-líticos, o tormen-to de Marta eram as constantesgreves de motoristas de ônibuse a ineficiência do sistema. Odescontentamento era geral:trabalhadores de braços cruza-dos, empresários ameaçandoboicotar a licitação e passagei-ros insatisfeitos.

Em abril, a crise atingiu o au-

ge. A prefeita preci-sou de ajuda e o so-corro não tardou.Num evento no Me-morial da AméricaLatina, Marta viu opresidente Lula ani-má-la a “não ceder”e lançá-la candidataà reeleição. Era o se-gundo dia de maisuma greve de moto-ristas. Em discurso,Lula anunciou: “Ga-nhei tudo em 2002 equero ganhar com aMarta em 2004.”

O apoio do presi-dente deu ânimo àprefeita, mas foi em19 de maio que Mar-ta obteve a maior vi-tória nos transpor-tes. Às 7 horas daque-la segunda-feira, pri-meiro dia útil emque mudanças no sis-tema entravam emvigor, a Polícia Fede-ral (PF) dava ordemde prisão ao entãopresidente do Sindi-cato dos Motoristase Cobradores de Ôni-bus, Edivaldo Santia-go. Mais dez direto-res foram presos nomesmo dia e outros integrantesda entidade se entregaram à PFao longo da semana.

Enquanto Edivaldo ficou pre-so, os problemas no transportedeixaram de ser paralisações ese concentraram no sistema emsi. Aos poucos, foram adotadasmudanças que levarão à conso-

lidação no novomodelo, prometi-da para 2004.Em comum, a re-clamação dospassageiros defalta de informa-ções, como nainauguração doPassa-Rápidoque liga o centro,a Lapa e Piritu-

ba. Para o próximo ano, Martapromete mais substitutos dosatuais corredores exclusivos deônibus.

CEUs – No segundo semestre,a prefeita começou a deixar suamarca na Prefeitura. Com ainauguração do primeiro

CEU, em Guaiana-ses, com a presençade Lula e do ministroda Educação, Cristo-vam Buarque, Martainiciou a série degrandes eventos emcada uma das 17 uni-dades. Passaram porlá convidados ilus-tres: desde personali-dades mundiais, co-mo a presidente daFinlândia, Tarja Ha-lonen, e o prêmio No-bel de Economia Jose-ph Stiglitz, a celebri-dades nacionais, co-mo o empresário Oli-vier Anquier e a apre-sentadora AdrianeGalisteu.

Com outra festa, ados 450 anos de SãoPaulo, em 25 de janei-ro, Marta espera re-forçar sua marca.Uma série de inter-venções, principal-mente no centro, vaimarcar o aniversárioda cidade. E a festaque coroou a retoma-da de dias menos tu-multuados na gestãoveio em 20 de setem-bro: Marta se casou

com Luiz Favre, seu namoradodesde 2001.

Críticas – Nem tudo, porém, étranqüilo. No início do ano,Marta foi surpreendida váriasvezes por vaias de populares e,por vezes, de claques armadasespecialmente para isso. Masem agosto, nas comemoraçõesdo centenário da Faculdade deDireito do Largo de São Fran-cisco, sofreu a maior agressãodesde que assumiu o cargo: umjovem arremessou uma galinhapreta contra a prefeita.

Para 2004, a petista tem pelafrente a festa dos 450 anos, aaplicação propriamente dita donovo sistema de ônibus e maisquatro CEUs. Fôlego não vaifaltar. Além de contar comduas linhas de financiamentoimportantes, R$ 493 milhõesdo BNDES para transportes eUS$ 100,4 milhões do BID pa-ra o centro, Marta tem o estímu-lo que nenhum político deixade aproveitar: a avaliação dasurnas, em outubro.

A VIOLÊNCIA E ODÉFICIT HABITACIONAL

No mundo, problemaatinge 1 bilhão de

pessoas e pode dobrarem 30 anos, diz a ONU

2003/2004

Favre, Marta, Marisa e Lula na inauguração do primeiro CEU Visita do enxadrista Anatoly Karpov à unidade Cidade Tiradentes Marta no CEU Sapopemba: megaestrutura em áreas periféricas

Oproblema é secular. Assoluções tardam a che-gar e, em 2003, a falta

de moradia acabou parandonas páginas policiais. Foi numacampamento de 6 mil sem-te-to, em São Bernardo do Cam-po, que bandidos entraram etentaram levar o equipamentodo repórter fotográfico LuísAntônio da Costa. La Costa, co-mo era conhecido, morreu em23 de julho, atingido por um ti-ro no peito.

Uma semana depois do cri-me, dois homens foram pre-sos pela polícia. Um ficou in-ternado em estado grave, de-pois de ferido em tiroteio compoliciais. O outro confessou ohomicídio e contou que, apósa quadrilha roubar um postode gasolina, queria levar oequipamento dos fotógrafosque faziam reportagens sobrea ocupação, para evitar “fil-magens” do crime. A políciachegou a deter um terceiro in-tegrante, de 16 anos, mas elefoi liberado pela Justiça porfalta de provas.

O noticiário policial aca-bou desviando a atenção so-bre o déficit da habitação no

País, tão preocupante quantoo da violência. Especialistasbrasileiros e de órgãos interna-cionais são unânimes em di-zer que o problema habitacio-

nal é grave no mundo todo eviver sem o mínimo de condi-ções é uma das primeiras por-tas de entrada para o crime.

Em outubro, a Organiza-

ção das Nações Unidas(ONU) divulgou um dadoalarmante: o número de ho-mens e mulheres vivendo emcondições precárias pode do-brar em 30 anos. Hoje, 1 bi-lhão de pessoas, cerca de umsexto da população mundial,vivem em fave-las, cortiços, pa-lafitas ou submo-radias. A ONUtem desde 2000uma força-tare-fa criada paratratar exclusiva-mente do déficithabitacional nomundo, cuja me-ta é reduzi-lo em100 milhões de pessoas.

No Brasil, o Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE) registrou a existên-cia de 2,3 milhões de domicí-

lios em 16.433 favelas cadas-tradas. Ou seja, o número po-de ser maior.

Uma das táticas do gover-no para combater o déficit, es-timado em mais de 6 milhõesde casas, foi a criação do Mi-nistério das Cidades. A Caixa

Econômica Fe-deral remode-lou programasde financia-mento para be-neficiar um nú-mero maior defamílias de bai-xa renda, querepresentam amaior parte doproblema. Em

2004, o desafio será ampliar oatendimento e conseguir algu-ma redução nessa estatísticae no número de ocupações emáreas urbanas. (I.P.)

Depois de dois anos de namoro, Marta e Favre casaram-se em um sítio no interior de São Paulo

Prisão de Edivaldo Santiago pela PF: trunfo para a petistaGreves de ônibus foram o maior problema do início do ano

MARTA INVESTE DE OLHO NAS URNASPara reverter desgaste,

prefeita petistaconstruiu escolas emudou o transporte

BRASIL TEM

2,3 MILHÕES

DE CASAS

EM FAVELASSem-teto levantam faixa de solidariedade à família de La Costa

E

Sergio Castro/AE – 1.º/8/2003 Vidal Cavalcante/AE Epitacio Pessoa/AE – 10/8/2003

FESTA DOS

450 ANOS

SERÁ UM

MARCO

Eduardo Nicolau/AE – 20/9/2003

Celso Junior/AE – 19/5/2003Celso Junior/AE – 4/2/2003

Paulo Liebert/AE – 23/7/2003

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Hospital Salgado Filho, Rio. Changfoi encontrado ferido e inconsciente nu-ma cela do presídio Ary Franco. Ele ha-via sido detido um dia antes no Aeropor-to Tom Jobim por agentes federais quan-do tentava embarcar para os EUA comUS$ 30 mil não declarados à Receita.5 – Morre o locutor Gontijo Theodoro, avoz do Repórter Esso.6 – Presos seis agentes penitenciários indi-ciados no inquérito sobre a tortura e mor-te do comerciante Chan Kim Chang.– Mahmud Abbas apresenta sua renún-cia ao presidente Yasser Arafat, depoisde semanas de crise política.7 – Seleção brasileira vence a Colômbia,em Barranquilla, por 2 a 1, na estréia dasEliminatórias da Copa do Mundo.

– O presidente do Conselho LegislativoPalestino, Ahmed Korei, é indicado o no-vo primeiro-ministro da AP.– O apresentador Gugu Liberato exibe noDomingo Legal, do SBT, entrevista comfalsos membros do PCC. Os encapuzadosentrevistados são atores que ganharamR$ 500,00 para participar do programa.10 – Um dia depois de deixar de pagaruma dívida de US$ 2,9 bilhões, Argenti-na anuncia “virtual acordo” com o FMI.– STF rejeita abertura de processo con-tra ACM, o deputado José Roberto Ar-ruda (PFL-DF) e a ex-diretora do Servi-ço de Processamento de Dados do Sena-do Regina Borges. Eles foram acusa-dos de ter violado, em 2000, o paineleletrônico do Senado na sessão na qual

foi cassado o ex-senador Luiz Estevão.– Diolinda Alves de Souza, mulher de Jo-sé Rainha, é presa em Teodoro Sampaio(SP). Ela foi condenada a 2 anos e 8 me-ses de cadeia por formação de quadrilha.11 – A ministra das Relações Exterioresda Suécia, Anna Lindh, morre um diaapós ter sido esfaqueada num shopping.12 – Conselho de Segurança das ONU le-vanta oficialmente as sanções econômi-cas impostas à Líbia por sua responsabili-dade no atentado de Lockerbie, que ma-tou 270 pessoas. O país aceitou pagarUS$ 2,7 bilhões às famílias das vítimas.– O número de celulares no País ultrapas-sa o de telefones fixos em serviço, segun-do a Agência Nacional de Telecomunica-ções (Anatel). Eram, ao fim de agosto,

40,093 milhões de telefones móveis, cercade 1 milhão acima do total de fixos.– Morre, aos 71 anos, o cantor de músicacountry Johnny Cash.14 – Seleção brasileira feminina de vôleiconquista o Campeonato Mundial.17 – Copom reduz a Selic de 22% para20% ao ano.– STF conclui que quem propaga idéiasdiscriminatórias contra judeus comete cri-me de racismo. A posição foi tomada nojulgamento de um pedido de habeas-cor-pus para o editor gaúcho SiegfriedEllwanger, acusado de divulgar livroscom conteúdo anti-semita.19 – Justiça Federal proíbe a exibição doprograma Domingo Legal, do SBT.– O furacão Isabel causa a morte de

23 pessoas nos EUA.21 – Funcionários do FMI denunciamque Arafat desviou para a Suíça US$ 900milhões de fundos públicos.22 – O representante comercial dos EUA,Robert Zoellick, culpa o Brasil pelo fra-casso das negociações na última reuniãode cúpula da OMC.23 – Em discurso na abertura da 58.ª ses-são da Assembléia-Geral da ONU, Lulapropõe a criação de um Comitê Mundialde Combate à Fome.– Dois anteprojetos de lei divulgados pelogoverno retiram poder das agências regu-ladoras e dão ao Estado o comando dasconcessões e dos contratos dos serviçospúblicos e privados.– Governo anuncia o bloqueio adicional

de R$ 319 milhões no Orçamento daUnião para se ajustar às novas previsõesde receita e reduz para 0,98% a projeçãode crescimento do PIB.– Ibama decreta alerta vermelho em qua-tro unidades de conservação por causa deincêndios: Serra da Canastra (MG), Par-que Estadual do Jalapão (TO), ParqueNacional da Chapada dos Veadeiros(GO) e Parque de Ilha Grande (PR).24 – Câmara aprova em segundo turno areforma tributária.25 – Após muita relutância, o presidenteem exercício, José Alencar, assina a medi-da provisória que libera o plantio de sojatransgênica na safra 2003/04.– STJ concede habeas-corpus a Alexan-dre Martins e Reinaldo Pitta. E

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Franco da Rocha e UAIdo Brás fizeram o setorser o mais complicado

da gestão Alckmin

UM NOVO CÓDIGO CIVIL

Foi o ano da pressão naFundação Estadual doBem-Estar do Menor (Fe-

bem). Se a palavra descreve oestado de internos sob um regi-me que obtém pouco sucesso naressocialização dos jovens, tam-bém é o motivo das principaismedidas anunciadas para o ór-gão em 2003, quase sempre pre-cedidas por uma ordem judi-cial. Por isso, o governador Ge-raldo Alckmin, ao fazer um ba-lanço do primeiro ano do atualmandato, reconheceu que a fun-dação foi o setor mais complica-do da gestão.

A fundação começou o anoem que completou três décadascom troca de presidente: saiuMaria Luiza Granado, ligadaao secretário de Segurança Pú-blica, Saulo Abreu, que já presi-diu a Febem, e entrou o promo-tor Paulo Sérgio de Oliveira eCosta. Ainda vigorava a senten-ça judicial que determinava ofechamento de Franco da Ro-cha até 18 de março e pesavamas denúncias contra funcioná-rios, acusados de abusos emaus-tratos contra internos.

No segundo dia à frente daFebem, Oliveira enfrentou a pri-meira rebelião. Em 16 de janei-ro, 34 funcionários foram afas-tados. Uma semana depois, Al-ckmin prometeu fechar o Com-plexo de Franco da Rocha an-tes de 2004 começar, promessarepetida em outras vezes, du-rante o ano.

Rebeliões – O Ministério Pú-blico Estadual (MPE), que in-

vestigava uma quadrilha de mo-nitores que incentivavam rebe-liões para receber mais horas ex-tras, também pressionou pormudanças. No começo de feve-reiro, os primeiros sete funcio-nários responsabilizados por ir-regularidades foram demitidosda fundação. Dias depois, o sis-tema interno de vídeo da unida-de 31 de Franco da Rocha fla-

grou dois funcionários abrindoas celas dos internos.

Enquanto a Febem se torna-va uma constante no noticiário,ganhou força entre os jovens aimagem de Fábio Paulino, o Ba-toré, acusado de uma série decrimes. Suspeito de liderar rebe-liões em Franco da Rocha, Ba-toré foi transferido para o Presí-dio de Taubaté, desencadeando

a primeira das várias polêmi-cas sobre o Estatuto da Criançae do Adolescente (ECA) ao lon-go do ano. Enquanto o governodefendeu medidas mais durascontra jovens infratores, espe-cialistas dizem que a Febem éque deve cumprir o ECA.

Em 13 de março, o Estadoflagrou internos fumando umcigarro que parecia de maco-

nha no complexo. Um mês de-pois, em 12 de abril, a crise che-gou ao auge: Batoré – de volta aFranco da Rocha e com quemAlckmin chegou a conversar nomês anterior, numa visita sur-presa à unidade –, Edvaldo Jo-sé de Araújo Lima, o Baiani-nho, e Weberson de Paula Li-ma, o Edinho, lideraram a fugaem massa de 121 internos, sem

fazer motins ou reféns. Dias de-pois, o complexo foi agitadopor três rebeliões em menos de24 horas e a Justiça voltou a exi-gir o seu fechamento. O Estadotransferiu 244 internos parapresídios e novamente entrouem conflito com a Justiça.

UAI – Não foi só Franco da Ro-cha – cuja construção era con-testada desde o início das obrase teve a última das unidadesproblemáticas, a 31, fechadaneste fim de ano – que enfren-tou problemas. A Unidade deAtendimento Inicial (UAI) doBrás, com capacidade para 62internos, abrigava mais de 600.Novamente, a Justiça pressio-nou o Estado a cumprir essa lo-tação. Só assim a Febem ini-ciou a transferência dos jovenspara outras unidades.

A situação na UAI era tãograve que a relatora da Organi-zações das Nações Unidas(ONU) Asma Jahangir chegoua ser proibida de visitá-la. De-pois, a Febem voltou atrás.“Horrível, horrível, horrível”,disse a paquistanesa Asma, aoterminar a inspeção na UAI.

O governo passou então abuscar parcerias com empre-sas para capacitar parte dosadolescentes. Cerca de 700 jo-vens terminaram o ano traba-lhando, fato comemorado pelosecretário da Educação, Ga-briel Chalita. Alckmin prome-teu para 2004 o início de umanova Febem, com unidades me-nores e trabalho de ressociali-zação efetivo. Para a socieda-de, pressionada pela rotina daviolência, uma solução para aFebem seria um dos primeirospassos para diminuir o proble-ma da segurança, ainda queapenas em parte. (Iuri Pitta)

PROTEÇÃO A IDOSOS

2003/2004

Cerca de 1,2 bilhão de dejetostóxicos vazaram após romper umdique da Cataguazes Indústria dePapel, no município de

Cataguases (MG), em 29 demarço. A maré tóxicacontaminou as bacias dos RiosPomba e Paraíba do Sul (foto),

matando peixes e deixando 600mil pessoas sem abastecimentoem oito municípios. Minas, Rio eEspírito Santo foram atingidos

Novo texto, queentrou em vigor emjaneiro, atualizouanterior de 1916

MAIS 365 DIAS DE CRISE NA FEBEM

Após sete anos detramitação, estatuto

entra em vigoramanhã

A irresponsabilidade levou oTona Galea, embarcação maladaptada para virar umaescuna, a adernar a 500 metros

da costa, matando 15 pessoas.O naufrágio ocorreu em 19 deabril em Cabo Frio, no litoraldo Rio. As investigações

mostraram irregularidades nareforma do barco e operaçãodo passeio, além de falta defiscalização do poder público

Cataguazes

Fabio Motta/AE – 3/4/2003

Os direitos civis no Brasilganharam uma neces-sária atualização no iní-

cio do ano. Em janeiro, come-çou a vigorar o novo CódigoCivil. O anterior era de 1916.A nova legislação pôs fim aconceitos ultrapassados – co-mo o homem poder anular ocasamento, se a mulher nãofor virgem –, permitiu mudan-ça no regime de bens duranteo casamento e determinou quemarido e mulher sejam herdei-ros em igualdade de posiçãocom os filhos. Reuniu ainda di-versas leis e jurisprudência so-bre temas do dia-a-dia, que fo-ram se transformando em prá-tica ao longo dos anos.

O texto começou a ser ela-borado em 1969 mas só foiaprovado pelo Congresso emsetembro de 2001. Como nãopodia deixar de ser, entrouem vigor cercado de críticasde juristas, que já o considera-ram ultrapassado. Em ape-nas uma semana, 88 projetosestavam em tramitação paraalterar partes da lei.

O maior efeito das mudan-ças foi sobre a família. O textoregularizou o casamento religio-so com efeito civil e aboliu a ex-pressão “filho legítimo”, pas-sando o natural e o adotivo a te-rem o mesmo tratamento. Tam-bém permitiu que o marido useo sobrenome da mulher e vice-versa, assim como a mulhermantenha o nome do ex-mari-do após a separação. E o ho-mem passa a ter direito de rece-ber pensão da ex-mulher.

Ficou faltando tratar do ca-

samento e dos direitos deunião entre homossexuais. Otema não foi abordado, frus-trando juristas e entidades ci-vis. Pelo novo código, mãe sol-teira tem de ser tratada tam-bém como chefe de família e amaioridade civil passa de 21para 18 anos.

Os juros por atraso dos con-domínios caíram de 20% pa-ra 2% ou até mesmo 1%, des-de que não haja acordo ante-rior. Além disso, as garagensdeixaram de ser exclusivaspara os moradores de um pré-dio, já que o código permiteque o condômino a alugue aterceiros. Também pune commultas de até dez vezes sobreo valor da contribuição men-sal o morador de um edifícioque perturbar seus vizinhos.Caso haja reincidência, o in-frator pode ser obrigado adeixar o imóvel.

Flagrante em Franco da Rocha: em 13 de março, a reportagem do ‘Estado’ viu internos fumando cigarro que parecia feito de maconha

Tasso Marcelo/AE – 19/4/2003

Eduardo Nicolau/AE – 13/3/2003

Aaprovação do Estatutodo Idoso, após seteanos de tramitação, foi

motivo de comemoração paraos mais velhos e de desentendi-mentos entre o presidente daRepública e o ministro da Saú-de. Sancionado em outubro, otexto estabeleceu direitos parapessoas maiores de 60 anos, as-sim como penalidades paraaqueles que as destratarem. Aspenas podem chegar a 12 anospara quem expor pessoas ido-sas a perigo de vida, submeten-do-as a condições desumanasou privando-as de cuidados in-dispensáveis. Parentes queabandonarem os idosos em asi-los poderão ser condenados a

6 meses até 3 anos de detenção.O estatuto garante atendi-

mento preferencial no SistemaÚnico de Saúde e oferta de re-médios gratuitos para a tercei-ra idade, especialmente os deuso contínuo. Para os maioresde 65 anos, ficou definida a gra-tuidade nos transportes coleti-vos públicos e desconto de pelomenos 50% nos ingressos paraeventos esportivos e culturais,além de acesso preferencial aesses locais. Além disso, quemnão conseguir garantir a subsis-tência terá direito a um saláriomínimo – direito que antes sóvalia após os 67 anos.

A grande polêmica recaiu so-bre o artigo que proíbe os pla-nos de saúde de reajustarem asmensalidades de pessoas commais de 60 anos. O limite antesera 70 anos. Às vésperas da san-ção do projeto, a mudança foicriticada pelo ministro da Saú-

de, Humberto Costa, que pe-diu o veto do presidente Lula.Ele considerou o artigo “re-dundante”, já que a Lei dosPlanos de Saúde proíbe reajus-te por mudança de faixa etáriapara quem tem mais de 60anos e seja associado há pelomenos 10 anos. “Não vou ve-tar nada”, disse depois o presi-dente. “E quem achar que nãoestá bom, que mande outroprojeto para o Congresso.”

A aprovação do artigo aca-bou criando confusão na áreada saúde, porque os planospassaram a ser subordinados aduas legislações e três regrasdiferentes para contratos anti-gos e novos. Com a redução daidade máxima para reajuste,teme-se que as mensalidadespassem a ser aumentadasmais cedo, prejudicando os as-sociados mais novos. O estatu-to entra em vigor amanhã.

Tona Galea

– Tribunal islâmico da Nigéria anulaa pena de morte imposta a Amina Lawal,de 31 anos, acusada de adultério por terdado à luz uma menina depois de se di-vorciar do segundo marido.28 – Maior apagão em dez anos na Itáliadeixa 57 milhões sem eletricidade.– O arcebispo do Rio, d. Eusébio OscarScheid, é nomeado cardeal pelo papa.– O cineasta Elia Kazan, um dos mais im-portantes e influentes diretores da histó-ria de Hollywood e da Broadway, morreem sua casa, em Nova York, aos 94 anos.29 – O Brasil multiplicou por 100 sua ri-queza e aumentou 10 vezes a populaçãono século passado, de acordo com a publi-cação Estatísticas do Século 20, lançadapelo IBGE. Em 1900, o PIB equivalia a

cerca de R$ 1 bilhão, para uma popula-ção de 17,4 milhões de pessoas. Em 2000,chegou a R$ 1 trilhão para 169,6 milhõesde brasileiros. O brasileiro passou a vivermuito mais: uma pessoa que nascia em1900 viveria, em média, 33,6 anos. Em2000, a expectativa pulou para 68,6 anos.30 – Maurren Maggi é oficialmente sus-pensa por dois anos.

OUTUBRO1 – Lula sanciona o Estatuto do Idoso.2 – Atlas do Desenvolvimento Humanomostra que a melhora da qualidade de vi-da no Brasil, na última década, foi impul-sionada pelo aumento do número de ma-trículas no ensino fundamental. Os pro-gramas sociais também tiveram papel im-

portante na redução da porcentagem depobres – pessoas de famílias cuja rendaper capita é inferior a R$ 75,50 – de40,08% em 1991 para 32,75% em 2000.– O sul-africano J.M. Coetzee vence o Prê-mio Nobel de Literatura.6 – O químico americano Paul Lauterbur,de 74 anos, e o físico britânico Peter Mans-field, de 69, são contemplados com o prê-mio Nobel de Medicina de 2003 pelo de-senvolvimento dos exames de ressonân-cia magnética.7 – Os russos Vitaly Ginzburg e AlexeiAbrikosov e o americano Anthony Leg-gett dividem o Nobel de Física por seu tra-balho na área de física quântica sobre su-percondutividade e superfluidez.8 – A Academia Real de Ciências conce-

de o Nobel de Química aos americanosPeter Agre, de 54 anos, e Roderick Ma-cKinnon, de 47. Eles explicaram como acélula regula a entrada e saída de substân-cias através de sua membrana.– O americano Robert Engle e o galês Cli-ve Granger ganham o Nobel de Econo-mia por terem criado novos métodos deanálise de séries históricas de dados eco-nômicos.9 – O recém-empossado primeiro-minis-tro da AP, Ahmed Korei, apresenta seupedido de renúncia a Arafat. A razão se-ria sua irritação com a resistência do Con-selho Legislativo em aprovar o gabinete.– Levantamento mostra que a onda de ca-lor que atingiu a Europa matou 35 milpessoas, 14 mil delas na França.

10 – O brasileiro ganha cada vez menos,segundo o IBGE. Na média nacional, orendimento em 2002 ficou 12,3% abaixodo de 1996.– A advogada iraniana Shirin Ebadi, ati-vista dos direitos humanos, conquista oPrêmio Nobel da Paz de 2003.12 – O piloto alemão Michael Schuma-cher, da Ferrari, sagra-se o maior vence-dor da história da Fórmula 1 ao conquis-tar o sexto título no Japão, superando oargentino Juan Manuel Fangio.14 – O deputado Fernando Gabeira (RJ)anuncia oficialmente da tribuna da Câ-mara sua saída do PT e faz pesadas críti-cas ao governo petista.15 – China completa com sucesso sua pri-meira missão espacial tripulada. A nave

pilotada pelo astronauta Yang Liwei, no-vo herói nacional, permaneceu 21 horasna órbita terrestre.– O aumento do número de desemprega-dos faz esgotar o dinheiro reservado parao seguro-desemprego em 2003. Os R$ 5,7bilhões autorizados pelo Orçamento sósão suficientes para pagar benefícios até oinício de novembro.16 – EUA conseguem que seu projeto deresolução para o Iraque seja aprovadopor unanimidade pelos 15 membros doConselho de Segurança da ONU. O textoreafirma a soberania e integridade territo-rial do Iraque.17 – Depois de uma semana de violen-tos distúrbios que deixaram 74 mor-tos, o presidente da Bolívia, Gon- E

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Rivaldo tirou o Brasil do sufoco, no empate de 1 a 1 com o Peru, em Lima

Eduardo Nicolau/AE–16/11/2003

OS PALESTRAS CAMPEÕES

No primeiro CampeonatoBrasileiro disputado no sistemade pontos corridos, em turno ereturno, o Cruzeiro (na origem,Palestra Itália) mostrou como aregularidade e a eficiênciapodem ser premiadas e levam àconsagração do melhor. Aequipe mineira, sob o comandodo técnico Vanderlei

Luxemburgo e com o meia Alexem forma excepcional, liderou otorneio praticamente de ponta aponta. Teve o Santos como suasombra, quase até o fim, masmanteve folga suficiente paranão se sentir ameaçado. Depoisde 46 partidas, o novo campeãobrasileiro cravou a marcahistórica de 100 pontos e

chegou a 102 gols. Emcompensação, rivaistradicionais como Vasco,Fluminense, Corinthians,Grêmio decepcionaram. Fiascomaior mesmo só o de Bahia eFortaleza, penúltimo e últimocolocados, respectivamente, erebaixados para a SegundaDivisão em 2004.

CALENDÁRIO INTENSOÀ ESPERA DO FUTEBOL

ATENAS, CENTRO DOESPORTE EM 2004

Ernesto Rodrigues/AE–10/9/2003

Foi um caminho tortuoso,no princípio cheio dedesconfianças, mas, no fim,glorioso. O Palmeiras,rebaixado para a SegundaDivisão, por ter ficado em 23.ºlugar no CampeonatoBrasileiro em 2002, começouo ano sem entusiasmar.Primeiro, ao ser eliminado no

Paulista pelo arquiinimigoCorinthians. Depois, ao levarsurra histórica do Vitória noPalestra Itália (7 a 2) que otirou da Copa do Brasil. Coma temporada em andamento, otécnico Jair Picerni mudoupraticamente todo o time, deuchance a novos jogadores eaos poucos foi encontrando o

ponto de equilíbrio na Série Bnacional. A campanha foiimpecável, tanto que terminouem 1.º lugar as três fases dacompetição. A torcida fez suaparte, ao lotar estádios muitasvezes, e viu despontar talentoscomo os de Vágner, Edmílson,Diego Souza, que podembrilhar na Série A em 2004.

2003/2004

Cruzeiro, time quase perfeito

Estádio Olímpico: palco daprimeira Olimpíada da era moderna

e local de várias finais em 2004

Kaká (E) marcou na estréia das Eliminatórias Ronaldinho Gaúcho garantiu resultado magro de 1 a 0 diante do Equador

Nos Emirados, a seleção sub-20 conquistou o tetracampeonato

Palmeiras, a volta por cima

Paulo Fonseca/AE –7/12/2003

A XXVIII edição dos JogosOlímpicos de Atenas, de 13 a29 de agosto, promete ser oprincipal fato do esporte mun-dial em 2004. Reunindo atle-tas de todo o mundo em 28 es-portes, os Jogos voltam à Gré-cia, onde surgiram. Atenas re-cebeu os primeiros Jogos daEra Moderna, em 1896, e o es-tádio Panathinaiko, usado há107 anos, será a sede das pro-vas de arco e flecha e da che-gada da maratona. O arremes-so do peso será em Olímpia, olocal dos Jogos da Antiguida-de, em 776 a.C. A Olimpíadaserá realizada numa “escalamais humana”, segundo apresidente do Comitê Organi-zador dos Jogos de Atenas(Athoc), a grega Giana Ange-lopoulos-Daskalaki.

Se Atenas é patrimônio ar-quitetônico, cultural e históri-co da Humanidade, a organi-zação grega, o cumprimentodos prazos para a conclusão

das obras das instalaçõesolímpicas, a infra-estruturade transporte são fatores quepreocupam os dirigentes inter-nacionais. O Athoc garanteque tudo estará pronto a tem-po e que funcionará bem.

O Brasil, que não ganhoumedalha de ouro nos Jogos deSydney, em 2000, ainda nãoconhece o tamanho da delega-ção que levará à Grécia. Cadamodalidade tem um processode seleção e o Comitê Olímpi-co Brasileiro fecha o grupoem maio. Alguns esportes jáasseguraram vagas e plane-jam a campanha olímpica, co-mo o basquete feminino, ohandebol e o vôlei – tanto o fe-minino como o masculino.

Dentre os esportes coleti-vos, o futebol, com subsedesem Creta, Patras, Thessaloni-ki e Volos, terá Pré-Olímpi-cos. O torneio masculino se-rá entre os dias 7 e 25 de ja-neiro, no Chile, com jogado-

res de até 23 anos, e duas va-gas para a América do Sul. Aseleção feminina disputa se-letiva entre países da Améri-ca do Sul (data e local serãodefinidos).

Também têm vagas confir-madas judô (nove pesos), ci-clismo (estrada e mountain bi-ke), ginástica artística e rítmi-ca e hipismo. Atletismo e na-

tação têm atletas com índi-ces, mas ainda podem ver asdelegações aumentadas, se ou-tros fizerem as marcas estabe-lecidas pelas federações inter-nacionais para cada prova.Há modalidades, como boxe,canoagem, esgrima, que de-pendem de ranking e seleti-vas marcadas para os primei-ros meses de 2004.

EMOÇÃO, TENSÃO E TÍTULOS

Celso Junior/AE–29/11/2003

O futebol terá calendáriocarregado para o Brasil em2004 – no âmbito doméstico eem termos internacionais. Aprogramação começa já no sá-bado, dia 3, com a aberturada Taça São Paulo de FutebolJúnior. A competição é tradi-cional e há décadas inaugurao calendário nacional com amissão de revelar talentos.

Na seqüência, vêm os cam-peonatos estaduais. Em SãoPaulo, 21 equipes duelam pe-lo título. No primeiro semes-tre, ainda, há mais dois tor-neios de peso, disputadosconcomitantemente. O pri-meiro é a Copa do Brasil, nosistema de eliminação dire-ta. O segundo é a Taça Liber-tadores da América, que teráCruzeiro, Santos, São Paulo,Coritiba e São Caetano co-mo representantes do País.O Santos ficou em segundolugar, em 2003, ao perder afinal para o Boca Juniors.

Nos primeiros meses de2004 também começa o Cam-peonato Brasileiro, com 24concorrentes e pela segundavez consecutiva em pontoscorridos, em turno e returno.Desta vez, os 4 últimos serãorebaixados, mas só 2 subi-rão. Isso significa que, em2005, haverá 22 times na Sé-rie A. No segundo semestre,12 times brasileiros estarãona 3.ª edição da Copa Sul-Americana.

Não faltarão compromis-sos para a seleção. Em janei-ro, o time sub-23 tentará ga-rantir, no Chile, o direito dedisputar o ouro Olímpico, nosJogos de Atenas. A equipeprincipal, sob o comando dotécnico Carlos Alberto Parrei-ra, terá mais partidas na ca-minhada para o a Copa de2006. Sem contar amistosos,no meio do ano o time penta-campeão do mundo joga a Co-pa América, no Peru.

Divulgação–8/1/2003

Eliana Aponte/Reuters–7/9/2003

Marcos Brindicci/Reuters - 19/12/2003

A seleção iniciou em 2003 acaminhada para a Copa da Ale-manha, em 2006. O Brasil preci-sa submeter-se à fase prévia dotorneio, porque pela primeiravez a Fifa quebrou a tradição degarantir ao último vencedor va-ga para o Mundial seguinte. Osistema de disputa para apontaros quatro representantes daAmérica do Sul prevê confron-tos de todos contra todos, em idae volta, e por contos corridos.

Para variar, a arrancada nãofoi das mais espetaculares. De-pois das vitórias iniciais sobre

Colômbia (2 a 1, em Barranquil-la) e Equador (1 a 0, em Ma-naus), o time dirigido por Car-los Alberto Parreira suou paraempatar com o Peru (1 a 1, emLima) e com o Uruguai (3 a 3,em Curitiba). Por isso, fechou oano em 3.º lugar, atrás de Para-guai (seu próximo adversário,em março) e Argentina.

O Brasil não entusiasmou tam-bém na Copa das Confedera-ções, em junho, na França. O trei-nador levou um time desfalcado,sem as principais estrelas, e nãopassou da primeira fase, ao ser

superado por Colômbia e Tur-quia. O País foi representado naCopa Ouro, na América do Nor-te, pelo time sub-23, e chegou à fi-nal, contra o México (perdeu por1 a 0, no Estádio Azteca). Aindaassim, o Brasil fechou o ano co-mo líder do ranking da Fifa.

Alegrias não faltaram nas ca-tegorias de base. A seleçãosub-17 conquistou o título mun-dial, em agosto, na Finlândia,com vitória de 1 a 0 sobre a Es-panha, na final, em Helsinque,com gol de Leonardo.

A ‘Fúria Espanhola’ esteve

no caminho do Brasil tambémna decisão do Mundial sub-20,nos Emirados Árabes Unidos.A competição inicialmente esta-va prevista para março, mas foitransferida para dezembro porconta da guerra no Iraque. Ou-tra vez, os meninos brasileirosvenceram – por 1 a 0, gol de Fer-nandinho –, conquistaram o te-tracampeonato e fizeram a fes-ta no Estádio de Abu Dabi.

No Mundial feminino, nosEUA, o Brasil chegou às quar-tas-de-final, quando perdeu pa-ra a Suécia por 2 a 1.

zalo Sánchez de Lozada, renuncia.19 – Cerca de 300 mil pessoas lotam a pra-ça de São Pedro e locais próximos para as-sistir à cerimônia de beatificação de Ma-dre Teresa de Calcutá.20 – Lula lança a unificação dos progra-mas sociais do governo, chamada de Bol-sa-Família. A meta é beneficiar 11 mi-lhões de famílias até 2006.– EUA registraram no ano fiscal de 2003,encerrado em setembro, o maior déficitorçamentário de sua história, de US$374,22 bilhões.21 – A avaliação positiva da administra-ção Lula tem a maior queda desde o iní-cio do governo, segundo pesquisa CNT/Sensus: diminui de 48,3% em agosto para41,6% em outubro.

– Irã concorda em suspender seu progra-ma de enriquecimento de urânio.22 – Copom reduz a Selic de 20% para19% ao ano.23 – A partir de 1.º de janeiro, o Brasil vaiocupar, por dois anos, uma cadeira doConselho de Segurança da ONU.24 – Três Concordes mergulham sobre oAeroporto de Heathrow, em Londres, en-cerrando de forma espetacular a era dasviagens supersônicas. Sai de cena o aviãoque foi uma maravilha tecnológica, masum fiasco comercial.26 – O subsecretário de Defesa dos EUA,Paul Wolfowitz, sai ileso de ataque come-tido contra o Hotel Al-Rashid, em Bagdá.– Gustavo Kuerten vence o torneio ATPTour de São Petersburgo.

27 – O Bank of America compra o Fleet-Boston Financial por US$ 47 bilhões,criando o segundo maior banco do mun-do, com mais de US$ 933 bilhões em ati-vos, só superado pelo Citigroup.– O governador Roberto Requião sancio-na lei que veta produtos transgênicos noParaná.28 – José Rainha tem sua prisão preventi-va revogada pelo STJ. O líder sem-terrapermanece na cadeia, em virtude de ou-tras duas condenações.30 – Economia dos EUA cresce 7,2% noterceiro trimestre, acima do esperado pe-los analistas.– PF mobiliza cem agentes e prende oitopessoas em São Paulo, entre elas um dele-gado, um agente federal, advogados e em-

presários acusados de integrar um esque-ma de venda de sentenças. Três juízes fe-derais também são denunciados, com ba-se em apurações da Operação Anaconda.31 – Silveirinha e outros 21 réus são con-denados a penas somadas de mais de 240anos de prisão no processo sobre o enviode dólares para a Suíça.

NOVEMBRO2 – Dezesseis soldados morrem e 20 ficamferidos na queda de um helicóptero ameri-cano, aparentemente atingido por mís-seis, perto da cidade iraquiana de Faluja.3 – Em menos de 30 horas, a Polícia Mili-tar e a Guarda Civil Metropolitana deSão Paulo são alvo de 10 atentados atri-buídos ao PCC. Nos ataques, em que fo-

ram disparados mais de 300 tiros, doisPMs morreram e outros seis policiais edois guardas municipais ficaram feridos.– O superávit da balança comercial acu-mulado no ano chega a US$ 20,3 bilhões,melhor resultado de todos os tempos.– Diolinda Alves de Souza tem sua prisãorevogada pela Justiça.4 – O Ministério Público Federal pede aquebra do sigilo bancário e fiscal de todosos acusados de integrar a organização cri-minosa envolvida em tráfico de influên-cia, corrupção e venda de sentenças judi-ciais em São Paulo. A devassa inclui dele-gados e agentes da Polícia Federal, advo-gados, empresários e três juízes federais.– Apesar de uma megablitz da PM naGrande São Paulo, PCC volta a atacar

carros e postos policiais. Um soldado daPM ficou ferido num dos atentados e umcriminoso foi morto ao atacar uma baseda Guarda Metropolitana.– Gugu Liberato é denunciado por crimede ameaça e por dois crimes de imprensapela falsa entrevista com dois supostos in-tegrantes do PCC. A acusação sujeita Gu-gu a pena de 1 ano e 1 mês a 5 anos de pri-são, além de multa.– Primeira mulher a entrar para Acade-mia Brasileira de Letras, a escritora cea-rense Rachel de Queiroz morre aos 93anos, vítima de enfarte do miocárdio.5 – O ministro da Fazenda, Antônio Pa-locci, anuncia os termos do novo acordodo Brasil com o FMI. O País terá direito asacar até US$ 14 bilhões. E

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Daiane dos Santos, de 1,45 me 40 quilos, ganhou a 1.ª medalhade ouro da ginástica brasileira nosolo, no Mundial de Anahein(EUA). Com salto inédito, oduplo twist carpado (dois mortaiscom o tronco próximo às pernas

e as mãos nos joelhos) e de graumáximo de dificuldade. O saltoagora se chama Dos Santos,em sua homenagem. Daianefechou 2003 com mais umamedalha de ouro, na Copa doMundo de Stuttgart.

O iatista Robert Scheidtteve um ano especial, apesarda frustração pela derrota nabriga pelo heptacampeonatoMundial. Scheidt, dono deuma medalha de ouro e umade prata (conquistadas nasOlimpíadas de 1996 e 2000,respectivamente), e de seistítulos mundiais, ganhou o100.º título na carreira em2003 – 85 deles são da classeLaser, sua especialidade. Ovelejador, tricampeãopan-americano nos Jogos deSão Domingos, chegou àmarca centenária ao vencer aSemana Pré-Olímpica deAtenas, no segundo semestre.

O campeão olímpico emundial Giovane, de 33 anos,teve ano especial na seleçãode vôlei. Recuperou o lugar detitular e terminou a Copa doMundo do Japão, emdezembro, como melhor

jogador. O Brasil foi ocampeão e se classificou paraos Jogos de Atenas. A seleçãoseguiu no topo, apesar doresultado no Pan-Americano(foi bronze, após perder paraa Venezuela na semifinal). O

time também foi o campeãoda Liga Mundial. A seleçãofeminina, com a mudança detécnico e a volta das atletas“rebeldes”, conquistou suavaga olímpica com o segundolugar na Copa do Mundo.

2003/2004

Num ano marcado porescândalos de doping em todo omundo, Maurren Higa Maggi,estrela do atletismo brasileiro,teve resultado positivo para asubstância proibida Clostebol.Especialista no salto emdistância, ela ficou fora doPan-Americano e do Mundial

de Paris e está suspensa, desdeagosto. Maurren esperajulgamento no Brasil e depoisna Associação Internacional deFederações de Atletismo (Iaaf).Ela alega que o resultadopositivo foi causado pelo uso depomada cicatrizante, depois desessão de depilação a laser.

UMA CHUVA DE MEDALHAS Michael Schumacher nãoobteve o título de campeão daFórmula 1 com a mesma folgade temporadas anteriores. Enas primeiras provas de 2003 –com o quarto lugar daAustrália, o sexto na Malásia ea batida na corrida do Brasil –parecia que o piloto alemão da

Ferrari seria ameaçado pelonovo regulamento. Mas oandamento da temporada foicolocando tudo no lugar. Aregularidade levou Schumacherao hexacampeonato e a superaro recorde do argentino JuanManoel Fangio, cinco vezescampeão do mundo.

Salto para a glória

Robert Galbraith/Reuters–24/8/2003

Helvio Romero/AE–1/8/2003

Jonne Roriz/AE–6/8/2003

Jonne Roriz/AE–15/8/2003

Jonne Roriz/AE–9/8/2003

Washington Alves/COB–5/8/2003

Issei Kato/Reuters–12/10/2003

Bruno Domingos/Reuters–6/9/2003

Ano do doping

O Brasil obteve a melhor per-formance em sua história nos Jo-gos Pan-Americanos. O País le-vou para São Domingos 429 atle-tas e trouxe 122 medalhas – 28de ouro, 40 de prata e 54 de bron-ze, que lhe valeram o 4.º lugar.Os Estados Unidos, mesmo semo time principal – temiam pro-blemas com a organização –, fo-ram os campeões (118 medalhasde ouro), seguidos por Cuba (71)e Canadá (29).

Uma enorme bandeira com oPão de Açúcar, cartão-postal doRio, foi estendida no gramadodo Estádio Olímpico, na festa deencerramento do Pan. O Rio se-

rá a sede dos Jogos de 2007.Em São Domingos, o desta-

que foi a despedida, com ouro,do tenista Fernando Meligeni.Ele venceu o chileno MarceloRios, de virada, pela primeira eúnica vez na carreira. E aindapelos dois ouros das seleções dehandebol, masculina e feminina(e a vaga olímpica), o ouro dobasquete masculino e a boa cam-panha de esportes individuaiscomo atletismo (com duplo ourode Hudson de Souza) e natação(com Gustavo Borges chegandoa 19 medalhas em quatro edi-ções do Pan). A fraca campanhado vôlei foi o ponto negativo.

Uma centenade títulos

Seis vezes campeão

No caminho olímpico

7 – O juiz federal João Carlos da Ro-cha Mattos é preso, acusado de ser men-tor de esquema de venda de sentenças re-velado na Operação Anaconda.8 – PCC realiza seis novos ataques a pos-tos e bases policiais na Grande São Paulo,Baixada Santista e no interior.– Terroristas dirigindo veículo policialroubado invadem complexo residencialem Riad, Arábia Saudita, e explodem ocarro. Dezessete pessoas morrem e 122 fi-cam feridas. Autoridades atribuem oatentado à Al-Qaeda.10 – OMC condena as sobretaxas de 8% a30% impostas pelos EUA sobre o aço ex-portado por 22 países em março do anopassado. Os EUA terão de eliminar as ta-rifas ou ficarão sujeitos a sanções de bi-

lhões de dólares. Só a UE poderá imporretaliações de US$ 2,2 bilhões. No casodo Brasil, a barreira ao aço significou pre-juízo de US$ 350 milhões.– Polícia acha corpos dos namorados Feli-pe Caffé, de 19 anos, e Liana Friedenba-ch, de 16, que tinham ido acampar em Ju-quitiba, Grande São Paulo, em 31 de ou-tubro. O mentor do crime é R.A.A.C., de16 anos. O crime reabre o debate sobre aredução da maioridade penal.12 – Caminhão-bomba explode diante debase militar no sul do Iraque, matando pe-lo menos 18 italianos e 9 iraquianos. Maisde 80 pessoas ficam feridas.– Por decisão do STF, José Rainha deixaa prisão, após 123 dias.13 – Petrobrás anuncia o maior lucro dos

seus 50 anos de história. No acumuladode janeiro a setembro, o lucro da estatalsoma R$ 14,774 bilhões – aumento de180,4% na comparação com 2002.15 – Dois carros-bomba explodem quasesimultaneamente em Istambul, matando23 pessoas e ferindo mais de 270. Um gru-po islâmico turco e a Al-Qaeda assumemresponsabilidade pelos atentados.16 – Seleção brasileira empata com o Pe-ru por 1 a 1, pelas eliminatórias da Copa.18 – O C-Bond, principal título da dívidaexterna brasileira, registra alta de 0,75%e atinge 95,25% do seu valor de face, re-corde histórico.19 – Copom reduz a taxa Selic de 19% pa-ra 17,5% ao ano.– A Federação Internacional de Ginásti-

ca batiza o salto duplo twist carpado cria-do por Daiane dos Santos. A acrobacia ga-nha o nome de Dos Santos.– O cantor Michael Jackson tem sua pri-são decretada na Califórnia por “múlti-plas acusações de abuso sexual de me-nor”. Os advogados negociam a apresen-tação à polícia de Michael.20 – Dois atentados contra interesses bri-tânicos em Istambul, na Turquia, deixam27 mortos e 400 feridos. O grupo radicalFrente dos Combatentes Islâmicos doGrande Oriente reivindica a autoria dosataques em parceria com a Al-Qaeda.– Representantes das 34 nações que vãocompor a Alca aprovam em Miami pro-posta negociada entre Brasil e EUA,que abre a possibilidade de os países do

bloco fecharem acordos bilaterais.– A 6.ª edição do Exame Nacional de En-sino Médio (Enem) mostra desempenhoregular dos estudantes. A nota média naprova objetiva foi de 49,55 e na redação,de 55,36, numa escala de zero a 100.– Michael Jackson se entrega à polícia e éposto em liberdade após pagar fiança deUS$ 3 milhões.22 – Palmeiras vence o Sport por 2 a 1 egarante o título da série B e o retorno àprimeira divisão do futebol brasileiro. OBotafogo fica com a outra vaga.23 – Pressionado por três semanas de ma-nifestações contra supostas fraudes naseleições parlamentares na Geórgia,Eduard Shevardnadze renuncia, pondofim a 12 anos de governo.

24 – O procurador-geral da República,Claudio Fonteles, denuncia no STF o de-putado Jader Barbalho (PMDB-PA) pordesvio de dinheiro público na desapro-priação de fazenda, em 1988.– Pelo menos 36 alunos morrem e 246 fi-cam feridos em conseqüência de um in-cêndio num alojamento para estudantesda Universidade Patrice Lumumba, emMoscou. O brasileiro Fernando Ivan Os-trowski escapa pulando do 5.º andar.– Rodovia Transamazônica é bloqueadapor madeireiros no Pará em protesto con-tra a fiscalização do Ibama.25 – C-Bond bate sexto recorde consecuti-vo. O título é negociado por 96,938 centa-vos por dólar. Risco país recua 0,18%.– Índia e Paquistão iniciam o primei- E

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JOTABÊ MEDEIROS

Oano que passou, alémde trazer como dadonovo na cena da políti-

ca cultural a figura do cantorGilberto Gil, como ministroda Cultura, também foi umano de ampla mobilização eativismo da classe artística.Gil, é unânime, deu visibilida-de ao ministério, valendo-sede sua notoriedade artística.

Com Gil, os artistas senti-rem-se à vontade para reivin-dicar. Reunidos em fóruns noPaís todo, do Rio Grande doSul ao Piauí, do Amazonas aSanta Catarina, os artistaspleitearam como nunca esteano e por diversas causas. Eforam razoavelmente bem-su-cedidos em quase todas elas.Mas é em 2004 que a bola po-derá entrar finalmente no gol.

Os artistas pediram maisverbas para o Ministério daCultura. Ganharam: o orça-mento do MinC vai para R$160 milhões (crescimento de70%) e as leis de incentivocrescerão 150% em 2004, che-gando a R$ 400 milhões o va-lor destinado à renúncia fis-cal. A meta, no entanto, se-gundo apregoa o próprio mi-nistro Gil, é chegar a 1% doorçamento federal (atualmen-te, está beirando 0,4%).

Pediram a não extinçãodas leis estaduais baseadasna renúncia fis-cal, que esta-vam sendo lima-das pela Refor-ma Tributária.Perderam naCâmara Fede-ral, mas tive-ram êxito no Se-nado e as leis fo-ram mantidas.

Pediram umapolítica cinema-tográfica forte ecom atenção atodos os setoresdo processo, dapré-produção àfinalização, da exibição à co-mercialização. Também tive-ram certo êxito e os concur-sos anunciados este final deano, da Secretaria das ArtesAudiovisuais e da Petrobrás,mostrando essa nova face dapolítica estatal, com seleçãodescentralizada e criteriosa.

“Estamos nos preparandopara uma primavera de lança-mentos. Serão mais de 150 tí-tulos, com a geração diretade nada menos do que 3.202empregos, a partir de um in-vestimento de R$ 20,7 mi-lhões”, prevê o ministro Gil-berto Gil. Gil fala de produ-ção, mas é fato que de 30 a40 filmes nacionais chega-rão às telas no novo ano.

O resultado dessa movi-mentação toda foi um ama-durecimento visível do setor.O futuro deverá mostrar seesse amadurecimento serámesmo traduzido em umanova relação entre o poderpúblico e a cultura no País.

“Não se trata de pediruma política pública parabeneficiar a classe artística,mas toda a sociedade”, bra-dou o dramaturgo e diretorLuiz Carlos Moreira, na As-sembléia Legislativa de SãoPaulo, em dezembro.

Moreira era o porta-voz decentenas de artistas que lota-vam as galerias da assem-bléia paulista, pedindo aaprovação imediata do Fun-

do Estadual de Cultura, siste-ma que poderá carrear R$100 milhões anuais para o se-tor. O governo do Estado nãotem uma dotação regular deverbas para a área.

Os deputados não vota-ram, o fundo não foi aprova-do, mas a mobilização foiexemplar: de Ruth Escobara Regina Duarte, de FábioAssunção a José Celso Mar-tinez Corrêa, de Jairo Mat-tos a Hugo Possolo: todos osartistas estavam lá, unidospara pedir um mecanismoadequado e realista para ofomento da cultura. Para pe-dir continuidade nas políti-cas, sem paternalismo e comuma consciência social.

Com uma característicamenos partidarizada, menosideologizada e mais pragmáti-ca, as novas frentes de açãodos artistas aproximam-se deuma conquista histórica.Acostumados à divisão nomomento das campanhas elei-torais – uns abraçam um par-tido, outros abraçam outrosno Horário Eleitoral Gratui-to –, os artistas parecem terdescoberto que sua causa é co-mum, e não tem sigla.

Não foi um ano só de deba-tes, no entanto. O anúncio,também em dezembro, dacriação do Museu Congo-nhas, em Minas Gerais, com-plexo numa área de 3,7 mil

metros quadra-dos que reuniráo Centro de Re-ferência do Bar-roco Mineiro e onúcleo de estu-dos da pedra-sa-bão, mostra quea iniciativa pri-vada tambémvoltou a inves-tir no crescimen-to cultural doPaís: um bancoe uma compa-nhia de aço in-vestiram R$ 3milhões cada

na construção do prédio, queterá projeto do premiado ar-quiteto português Álvaro Si-za e plano curatorial do mu-seólogo Emanoel Araújo.

A construção de “âncoras”urbanísticas e culturais temse mostrado um grande cami-nho para a recuperação de re-giões do País, como aconte-ceu com o centro cultural Dra-gão do Mar, em Fortaleza, oumesmo no Recife Velho e noPelourinho. Ou com a cidadede Bilbao, na Espanha, e seuMuseu Guggenheim.

“O Ministério da Culturatem clareza do principal desa-fio que a realidade brasileiraimpõe: ampliar o acesso da po-pulação brasileira à produçãoe à fruição de bens e valoresculturais, como forma de uni-versalizar o direito à expres-são cultural, que constitui umdos aspectos vitais do que cha-mamos cidadania”, diz o mi-nistro Gilberto Gil. Atenden-do a esse diagnóstico, Gil so-nha criar um Sistema Nacio-nal de Cultura, para integraras políticas de todo o País. Eamadurecer a proposta deconstruir 20 Bases de Apoioà Cultura (BACs), previstaspara serem edificadas nas pe-riferias das grandes cidades.Para que Gil tenha êxito, épreciso que uma nova menta-lidade suprapartidária surja.É o desafio da política cultu-ral no ano que começa.

O maestro alemão Kurt Masur fezsérie de concertos no Brasil, com aSinfônica Brasileira, no Rio, e aOsesp, em São Paulo, ondetambém deu curso de regência

VIERAM

MAIS VERBAS,

MAIS APOIO E

UMA MAIOR

MOBILIZAÇÃO

DA CLASSE

ARTÍSTICA

Mas sua proposição mais ambiciosa,a de ampliar o acesso da população aos

bens de consumo culturais, hoje restritos àelite, é ainda uma promessa a ser cumprida

Divulgação

Walter Craveiro/Divulgação

DESTAQUES, REVELAÇÕES, PERDASDivulgação

Paulo Liebert/AE

Otávio Magalhães/AE – 9/7/93

Maria Rita lotou as casas ondecantou, foi ao topo das paradas

com disco e DVD, projetouautores novos e, grávida,

assumiu posto de musa da MPBMichael Dalder/Reuters

2003/2004Rubinho Guimarães/AE

Vencedordo PrêmioVisa deste

ano, ocompositor

ChicoSaraiva

lançou o CD‘Trégua’,

com selo dagravadoraEldorado

Epitácio Pessoa/AE

Ernesto Rodrigues/AE

Pelo envolvimento com osmarginalizados, J.M. Coetzeefoi o segundo sul-africano a

ganhar um Nobel de Literatura

Obra deLygia Pape,destaque da4.ª Bienal doMercosul, emPorto Alegre,que tevevisitaçãorecorde, demais de ummilhão depessoas

O ministro em seu gabinete, durante entrevista exclusiva ao ‘Estado’, emsetembro: emprestando prestígio a uma pasta historicamente subestimada

A mostra ‘Guerreiros de Xi’an– Tesouros da Cidade Proibida’

despertou a curiosidade dopúblico com preciosidadesarqueológicas da China

Primeira mulher a ser eleitapara a Academia Brasileira

de Letras, Rachel de Queirozmorreu de enfarte enquanto

dormia, no dia 4 de novembro

Paraty realizou sua primeirafeira literária internacionalem julho, reunindo grandesnomes como Hanif Kureishi

GILBERTO GILDÁ VISIBILIDADEAO MINISTÉRIO

ro cessar-fogo total após 14 anos decombates na Caxemira.– Só em 2003, 5 milhões de casos de aidsforam registrados no mundo, recorde his-tórico. A infecção nunca matou tanto: sãoprevistas 3 milhões de mortes.26 – Senado aprova em primeiro turno otexto básico da reforma da Previdência.– PF prende o ex-governador de RoraimaNeudo Campos e mais 40 pessoas, entreex-deputados e servidores, acusados deenvolvimento num esquema de fraudeque desviou entre R$ 320 milhões e R$ 1bilhão da folha de pagamento do Estado.– AIEA adota resolução condenando oIrã por ter escondido nos últimos 18 anosinformações sobre seu programa nuclear.27 – Bush faz visita-surpresa ao Iraque.

29 – Daiane dos Santos conquista a inédi-ta medalha de ouro em exercícios de solona Copa do Mundo, na Alemanha.30 – Militares dos EUA matam 46 pes-soas em Samarra, norte do Iraque.– Cruzeiro é de campeão brasileiro.– Seleção masculina de vôlei vence a Co-pa do Mundo.– Alto executivo da Shell, o americano To-dd Staheli é assassinado em casa, no Rio.Sua mulher, Michelle, é internada em es-tado grave.

DEZEMBRO1 – Risco país fecha em 494 pontos, abai-xo da barreira dos 500 pontos pela pri-meira vez desde 8 de maio de 1998.C-Bond é negociado pela maior cotação

da sua história: 97,4% do valor de face.– Expectativa média de vida do brasileiroao nascer chega a 71 anos, de acordo comestimativa do IBGE.– Balança comercial fecha novembrocom superávit de US$ 1,7 bilhão. É o me-lhor resultado para o mês segundo a sériehistórica do BC, iniciada em 1959. Comisso, a balança acumula superávit de US$22,07 bilhões.– Depois de dois anos de negociações se-cretas, representantes civis da Palestina ede Israel lançam na Suíça um plano depaz alternativo para o Oriente Médio, aIniciativa de Genebra.2 – Câmara aprova projeto que prorrogaa alíquota de 27,5% do Imposto de Rendada pessoa física.

– Só 3,47% da população tem curso supe-rior, de acordo com pesquisa do IBGE.– Governo anuncia pacote de medidasque vai ampliar os desembolsos do BN-DES em R$ 7 bilhões em 2004.– Euro é negociado a US$ 1,2091, maiorcotação desde sua criação, em 1999.4 – Bush anuncia a retirada das sobreta-xas às importações de aço.– Morre Michelle Staheli.5 – Ministério Público Estadual acusa oempresário Sérgio Gomes da Silva, o So-bra, de ter sido o mandante do assassina-to do ex-prefeito de Santo André CelsoDaniel, em 2002.– Acusada de co-autoria intelectualna castração e morte de crianças noPará, Valentina de Andrade é absolvi-

da pelos sete jurados por 6 votos a 1.– Atentado a bomba em trem que seguiapara a Chechênia mata 41 pessoas.– Bomba explode nos arredores de umamesquita de Bagdá, causando a morte dedois civis e um soldado americano, umdia antes da visita ao Iraque do secretáriode Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.8 – Governo anuncia pacote contra a lava-gem de dinheiro que facilita o acesso deautoridades a dados protegidos pelos sigi-los bancário e fiscal.– Risco Brasil cai para 480 pontos, nívelmais baixo desde 1998, influenciado pelaalta do C-Bond, cotado a 98,12% do valorde face. Bovespa atinge 20.888 pontos, ní-vel mais alto desde a criação da Bolsapaulista, há 36 anos.

– População reprova desempenho de Lu-la na área social. Em pesquisa CNT/Sen-sus, 84% dos entrevistados afirmam quea violência aumentou; para 70%, o desem-prego piorou em relação a 2002; 62% acre-ditam que a pobreza cresceu no País. Mes-mo assim, o índice de aprovação do presi-dente continua alto: 69,9%.10 – PF prende 39 policiais acusados de li-berar contrabando mediante o pagamen-to de propina em Foz do Iguaçu (PR).– Senado aprova o Estatuto do Desarma-mento, tornando mais rígidas as normaspara fabricação, registro, uso e transportede armas de fogo.– Bovespa bate novo recorde, fechando opregão em 21.259 pontos11 – Justiça acata denúncia do E

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SÍLVIA HERRERA

Amagia da telona não seperdeu no 3.º milênio;ao contrário, tomou no-

vo fôlego e fez os brasileiros saí-rem de casa para conferir oslançamentos nacionais. A quali-dade dos roteiros e da tecnolo-gia conquistaram o público.Neste ano, 20 milhões de brasi-leiros foram assistir aos filmesnacionais. E, entre as 30 es-tréias brasileiras do ano, as trêsmais vistas – Carandiru, Lisbe-la e o Prisioneiro e Os Normais– são da Globo Filmes, núcleoindependente da Rede Globoque já pode ser chamada deHollywood brasileira. “Este ca-minho da colheita fantástica de2003 é resultado do investimen-to em vários projetos há quatroe cinco anos. E em 2004 aindavai haver muitos projetos destasafra”, destaca Carlos EduardoRodrigues, diretor da Globo Fil-mes. Para 2004, a empresa co-meça a investir em documentá-rios, desenhos animados e tam-bém em filmescom orçamentosmenores (madefor TV).

Os primeirossinais da retoma-da começaram aser observadosem 2000, quandoestrearam 24 fil-mes, vistos por7.207.654 pes-soas, número 25% superior aodo ano anterior. De lá para cá,os números só cresceram, emba-lados por Cidade de Deus e Ca-randiru. Neste ano o cinema na-cional só tem a comemorar. Se-gundo dados da Secretaria doAudiovisual, 20% dos lança-mentos no cinema foram brasi-leiros. Não se via nada igualdesde a época de ouro dos anos70, quando foi lançado DonaFlor e Seus Dois Maridos, ain-da o filme mais visto, com10.735.305 espectadores.

Antenada nas tendênciasmercadológicas, a Rede Globodecidiu co-produzir os projetostupiniquins e criou há cincoanos a Globo Filmes. Na época,um estudo identificou que a bi-lheteria nacional poderia do-brar em três anos. A empresaapostou no mercado futuro e co-meçou a faturar. Dos 3% departicipação no mercado dosprimeiros anos, agora a GloboFilmes detém 21%. “É uma res-ponsabilidade pesada, e é mui-

to fácil perder o mercado”, ga-rante Rodrigues.

Um dos responsáveis diretode tanto sucesso é o diretor ar-tístico Daniel Filho, que soubeescolher com quem se associar.“A virtude é ter um conjuntode projetos com temáticas dis-tintas. Não ficamos calcadosem um só tipo de filme, que foiuma evolução fundamental. Te-mos a Xuxa fazendo os mes-mos 2 milhões de sempre, Cida-de de Deus (direção de Fernan-do Meirelles) fazendo 4 milhõese pouco, e uma comédia român-tica como Lisbela (de Guel Ar-raes) fazendo 3 milhões e pou-co”, destaca Rodrigues.

Monopólio – Os filmes com ocarimbo da Globo Filmes caí-ram no gosto do público. Porcausa desse sucesso e por ser aprodutora das OrganizaçõesGlobo, alguns cineastas, comoRuy Guerra e Walter Salles, jávieram a público defender a te-se de que a Globo Filmes esta-ria criando um monopólio.

“Monopólio dequê?”, indagaRodrigues. Eleexplica que dos30 filmes lança-dos neste ano,apenas 10 sãoda Globo, quedetém 92% daaudiência. “Seique há mais decem projetos

rondando por aí, então não te-mos este monopólio. O proble-ma é que o público está referen-dando nossos filmes. Pode ser omonopólio do gosto do públi-co”, argumenta. E completa:“O crescimento da Globo Fil-mes não foi por um monopólio,mas por profissionalismo.”

Rodrigues explica que a Glo-bo Filmes é uma produtora enão participa do processo decaptação de filmes. Ele explicaque Fernando Meirelles conse-guiu captar cerca de 20% do to-tal do filme apenas e bancou oresto do bolso. “A Xuxa, comou sem a Globo Filmes, vende.Ela tem uma estrutura própriapara vender as cotas de patrocí-nio.” O diretor observa tam-bém que os anúncios nos inter-valos do Jornal Nacional na vés-pera das estréias são pagos pelodistribuidor, não é um brindeda Globo como muitos pensamnem é vendido a “preço de ba-nana”. “Acreditamos que se osdistribuidores investem em

massa nos EUA, por que não in-vestiriam aqui? Fazemos issopara dar uma ‘educada’ no mer-cado brasileiro.”

Segundo a Lei do Audiovi-sual, uma rede de TV pode serco-produtora do filme e deterno máximo 49% das ações doempreendimento. E Rodriguesnão vê a hora de as emissorasentrarem no mercado. “Somosuma empresa de capital nacio-

nal e não temos nenhum tipode incentivo fiscal, enquanto osdistribuidores estrangeiros têm.Acho que o governo poderia es-timular mais para que surjam aRedeTV Filmes, a Record Fil-mes, o SBT Filmes.”

Em 2002, a Globo Filmes re-cebeu um volume muito gran-de de roteiros. “Sempre leio to-dos”, afirma Daniel Filho. Mas,para aproveitar o bom momen-

to da retomada do cinema, aempresa saiu em busca de proje-tos já filmados ou em fase finalde filmagem, para exibir nesteano. “Neste lote veio Deus ÉBrasileiro, O Homem Que Co-piava e Caminho das Nuvens.Cada filme tem uma história ecada um deles tinha um atrati-vo, uma razão para participar-mos”, conta Rodrigues. Mas pa-ra 2004 a história é outra. “Nos-sa missão daquipara frente émais firme nopropósitode par-ticipar mais, va-mos entrar emfilmes em que agente de fatopossa contribuirmais porque osfilmes em queentramos de fa-to com a co-produção tiveramresultados melhores”, destacao executivo.

A Globo Filmes não quer serconfundida com a emissora deTV. “Não vamos mais nos asso-ciar a projetos que nos vejamapenas como um bureau de di-vulgação. Existem alguns dire-tores que não conhecem a nos-sa forma de trabalho. Pensamassim – ‘quero fazer o filme queeu quero fazer e usar a mídiaque eles têm para divulgar’. Is-to não é uma parceria ou um de-senvolvimento conjunto. Isto éum formato de trabalho com oqual não queremos trabalharmais”, avisa. “Se o princípiofor não trocar, deve existir nomercado alguém que trabalhedesta maneira.”

Estréias – Mas o fantasma queronda o prédio no Jardim Botâ-nico, no Rio, é o outro. “A per-gunta é: será que em 2004 va-mos repetir o sucesso de2003?”, indaga Rodrigues. “Setudo der certo,há uma probabili-dade de se che-gar perto. TemosSandy & Jr., queestreou agora,tem Xuxa e temRenato Aragão.O problema éque o Brasil tempouca salas – é re-gra fixa do jogo enão vai se resolver no curto pra-zo. Mas temos filmes parrudospara estrear, como Olga, Cazu-za e Redentor. Tem o próprioDona da História (novo filme deDaniel Filho), que deve serigual ou melhor que A Parti-lha.” Além desses, estão nos pla-nos da empresa filmar O Coro-nel e o Lobisomem, outro longana linha de Os Normais (que de-morou três anos para ficar pron-

to), mais um infantil. “Sendootimista, acho que vamos es-trear entre 15 a 20 filmes.”

Ainda para 2004 há projetospara desenhos animados, docu-mentários e make for TV. “Es-te último gênero pode ser ótimopara testar algumas idéias, tam-bém para gerar emprego e des-cobrir novos talentos.” A GloboFilmes promete olhar com cari-nho para as três possibilidades.

“O desenho ani-mado é desejo an-tigo da Globo pa-ra ajudar a desen-volver o merca-do interno, sejapara longa ou pa-ra série de TV.Até hoje não tive-mosnenhum pro-jeto concretocom os produto-

res, mas agora já posso adian-tar que estão aparecendo algu-mas propostas. O problema é otempo para produzir: enquantoum filme você realiza entre qua-tro a seis semanas, um desenhoanimado demora dois anos”,compara. Já os documentáriosviriam para fomentar o cinemaregional e o made TV, as produ-ções mais em conta.

O executivo destaca que, ape-sar do clima de otimismo, háoutros problemas que tiram osono de muitos cineastas. A es-trutura financeira é muito frá-gil, muito calcada nas distribui-doras estrangeiras e nas esta-tais. “Se um desses dois braços,por algum motivo, não funcio-nar bem, não vamos chegar aosmesmos números de 2003.”

A Globo Filmes descartaqualquer estratégia para con-quistar o mercado externo.“Saiu um quadro na Screen In-ternational (revista de cinema)mostrando que é mínima a pe-netração de filmes no mercado

externo, com ex-ceção dos ameri-canos. Acho difí-cil chegar aomercado estran-geiro, principal-mente pela dife-rença cultural, éuma luta com-plicada. A essên-cia é o seguinte:o filme tem de

fazer sucesso no seu país de ori-gem.” Ao contrário do que ocor-re nos EUA, onde as produto-ras faturam alto com o merca-do de home vídeo e exibição naTV, por aqui a receita, pelo me-nos da Globo Filmes, vem prati-camente da exibição no cine-ma. “Vem um pouco tambémdo home vídeo, que está cres-cendo, mas a TV ainda não temparticipação relevante.”

NESTE

ANO, PÚBLICO

CHEGOU A

20 MILHÕES

DESENHOS

E FILMES PARA

A TV ESTÃO

NOS PLANOS

GLOBO

FILMES REBATE

ACUSAÇÃO DE

MONOPÓLIO

Mais de cem novos projetos estãoem andamento, revitalizando o

mercado cinematográfico brasileiro,que neste ano contou com 30 estréias

TELASPERDEM

GRANDESNOMES

2003/2004

‘Carandiru’, de Hector Babenco: uma das maiores bilheterias do ano

‘Lisbela e o Prisioneiro’: diversificação de gêneros como fórmula

‘Os Normais’ na tela grande: sucesso deve levar a projetos similares

CINEMA DO BRASIL: O SUCESSO CONTINUA

Raimundo Valentim/AE Ari Vicentini/AE

Elia Kazan, morto em setembro:clássicos como ‘Sindicato de Ladrões’

Doane Gregory/Reuters Fabrizio Bensch/Reuters

Reuters

Katharine Hepburn, a grande damada sétima arte: morte em junho

País perdeu o talento de José Lewgoy em fevereiro

Bob Hope, que fez a América rir:calou-se em julho, aos 100 anos

Marlene Bergamo/Divulgação

Divulgação

Divulgação

Claudio Papi/Reuters

Alexandra Winkler/Reuters

Walter Khouri, símbolo do cinema paulista: agostoLeni Riefenstahl: em setembro, fim de tantas polêmicas

Alberto Sordi: adeus, em fevereiro,ao ícone da comédia italiana

Charles Bronson: herói de ação morreu em agosto

Larry Downing/Reuters

MPE e processa Sombra por homi-cídio triplamente qualificado no casoCelso Daniel.– Com vendas projetadas de US$ 1,85 bi-lhão em 2003, Brasil se torna o maior ex-portador mundial de frango.– STF suspende vigência da lei paranaen-se que baniu os transgênicos no Estado.12 – Sombra tem a prisão decretada e seentrega à polícia.– Governo anuncia novo modelo para osetor elétrico. Um dos objetivos é conter a“explosão tarifária”.– Senado aprova reforma da Previdência,a primeira do governo Lula. Tambémaprova, em primeira votação, texto da re-forma tributária.– Justiça alemã suspende a ordem de pri-

são do marroquino Abdelghani Mzoudi,acusado de envolvimento nos atentadosde 11 de setembro.13 – Saddam é preso na área rural de Al-Daour, a poucos quilômetros de sua cida-de natal, Tikrit. Ele estava escondido noterreno de um pequeno armazém, numburaco coberto por lixo e tijolos no qualcabia apenas uma pessoa. O ex-ditador ti-nha dois fuzis e uma pistola, mas não es-boçou resistência. Imagens divulgadas pe-los EUA mostram Saddam abatido, combarba e cabelos compridos.– Antes do anúncio da prisão do ex-dita-dor, ataque com carro-bomba a delegaciamata 21 pessoas a 80 km de Bagdá.– Diretório Nacional do PT aprova a ex-pulsão da senadora Heloísa Helena (AL)

e dos deputados João Fortes (SE), Babá(PA) e Luciana Genro (RS).– Campeonato Brasileiro termina com orebaixamento de Bahia e Fortaleza.16 – Bush diz que iraquianos vão decidirfuturo de Saddam.– FMI anuncia acordo com o País que pre-vê a concessão de linha de crédito no va-lor de US$ 6,6 bilhões.17 – Governo edita MP que substitui oProvão pelo Sistema Nacional de Avalia-ção e Progresso do Ensino Superior.18 – Copom reduz a Selic de 17,5% para16,5% ao ano. Taxa é a menor desde abrilde 2001.– EUA comemoram os 100 anos do pri-meiro vôo de avião dos irmãos Wright.19 – Lula faz balanço do primeiro

ano de governo e diz que “o tempo deincerteza passou”.– Promotor apresenta nove acusações for-mais a Michael Jackson no processo porabuso sexual.20 – Tribunal Regional Federal de SãoPaulo decide processar por formação dequadrilha os juízes João Carlos da RochaMattos, Casem e Ali Mazloum, investiga-dos na Operação Anaconda.– Pela primeira vez desde 1992 o País fe-chará o ano com superávit nas transaçõescorrentes. Até novembro, o saldo positivoé de US$ 3,8 bilhões.– Ameaças da Al-Qaeda fazem EUA en-trarem em alerta contra possibilidade denovo ataque terrorista.– Seleção brasileira de futebol sub-20 bate

Espanha e sagra-se campeã mundial.23 – Taxa de desemprego caiu de 12,9%em outubro para 12,2% em novembro, noprimeiro recuo do ano.– Justiça determina que Beira-Mar sejaretirado do regime de isolamento no presí-dio de Presidente Bernardes.– Senado aprova aumento da alíquota daContribuição para o Financiamento daSeguridade Social (Cofins) de 3% paraaté 7,6%.– Bovespa bate novo recorde histórico efecha pregão em 21.630 pontos.24 – Parmalat pede concordata na Itália,quatro dias depois da revelação de umrombo de € 3,9 bilhões no balancete.– EUA registram primeiro caso do malda vaca louca.

26 – Presidente paquistanês PervezMusharraf escapa de atentado suicidaque deixa 14 mortos e 46 feridos.– Explosão em campo de gás natural pro-voca a morte de 193 pessoas na China.– Agência Espacial Européia perde conta-to com a sonda Beagle 2, que deveria terpousado em Marte.27 – Terremoto devasta a cidade históricade Bam, no Irã. O número de mortos é es-timado em 25 mil.– Pesquisa do IBGE revela que metadeda população ganha até R$ 300,00.– Morre o ator britânico Alan Bates.29 – Justiça mantém regime de isolamen-to de Beira-Mar em Bernardes.– Saddam confessa ter US$ 40 bilhões emcontas em vários países.

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Após concordar em abrirmão de qualquer participaçãono Datanexus, instituto depesquisa de audiência no qualinvestiu mais de R$ 4 milhões,Silvio Santos viu nascer emagosto, enfim, um concorrentepara o Ibope nesse terreno.

Ainda há divergências nosargumentos que poderiamexplicar a distância entre osíndices aferidos pelos doisinstitutos, mas o primeiropasso – evitar a dependência deum único parâmetro deaudiência – está dado.

Contrariando as previsões deque os reality shows estavam comseus dias contados, o mundocontinua a prestigiar essesprogramas, agora sob a tendênciade fabricar transformações. É o

caso do ‘Queer Eye for theStraight Guy’, exibido aqui pelocanal Sony, em que cinco gaystransformam os gostos de umhetero, por meio de dicas dedecoração, figurino e culinária.

Disposta a expor osanunciantes que bancamprogramas considerados debaixa qualidade pelo público, acampanha Quem Financia aBaixaria é Contra aCidadania, da Comissão deDireitos Humanos da Câmarados Deputados, completou umano, a passos lentos. Semrecursos para promover

pesquisas e divulgar suas boasintenções, recebeu cerca de 12mil denúncias no ano todo –número modesto comparado a1 ponto de audiência, queequivale a 49 mil domicílios sóna Grande São Paulo. Anovela ‘Kubanacan’ lidera omais recente resultado doranking de queixas, que tembalanços bimestrais.

Desde 1997, quando deixou opoder executivo da Globo, onome de José Bonifácio deOliveira Sobrinho, o Boni,nunca saiu de foco. Mas foi sóem 2003 que ele voltou de fato àcena, com a inauguração de suaprópria rede de TV, aVanguarda. São duas estações,em Taubaté e São José dosCampos, que abrangem, juntas,46 municípios. Retransmitem aprogramação da Globo, mastêm mais espaço local que asdemais afiliadas para emplacarsuas próprias apostas.

2003/2004

Na dança dos índices

A TV E A ARTE DE FRAUDARCRISTINA PADIGLIONE

Não foi em 2003 que a te-levisão se descobriu ta-lentosa na arte de frau-

dar o que exibe. Mas foi a pri-meira vez que isso serviu de mo-tivo para tirar um programa doar na TV brasileira. A decisãoda juíza Leila Paiva, da 10.ª Va-ra Cível Federal de São Paulo,de suspender uma edição do Do-mingo Legal em punição à ence-nação de uma entrevista com su-postos criminosos, foi chamadapelo Ministro da Justiça, Már-cio Thomaz Bastos, de “censu-ra”. Em contrapartida, faz anosque o Ministério da Justiça dis-

cursa sobre a elaboração de umcódigo de auto-regulamentaçãopara a TV, sem êxito algum.

Foi no 7 de setembro que oDomingo Legal levou ao ar a talentrevista com supostos mem-bros da facção criminosa Pri-meiro Comando da Capital, oPCC. Encapuza-dos, dois atoresameaçaram demorte autorida-des e personalida-des públicas. Em21 de setembro, oprograma foi sus-penso – com pre-juízo comercialde R$ 1 milhão –

bem mais que a multa aplicadaao SBT pelo Ministério das Co-municações (R$ 1.792,53).

Em novembro, a juíza da 2.ªVara Criminal de Osasco, Iza-bel Islanda de Castro, mandoua polícia indiciar formalmenteGugu Liberato, que já tinha si-

do denunciadopelo MinistérioPúblico porameaça e dois cri-mes de impren-sa. Também fo-ram denuncia-dos o chefe de re-portagem, Wag-ner Maffesoli, orepórter Rogério

Casagrande, o produtor Amil-ton Tadeu dos Santos, e os ato-res Antonio Rodrigues da Silvae Vagner Faustino da Silva, quereceberam, cada um, R$ 150 pa-ra interpretar os “bandidos”.

Mas fraude na TV não foi ex-clusividade de Gugu em 2003.O mesmo cachê (R$ 150) teriasido pago a figurantes dispos-tos a fazer papel de cônjuge traí-do nos telebarracos de MárciaGoldschmidt, na Band. Assimcomo Gugu, ela sustenta quenão sabia de nada, e chegou ase desculpar no ar pelo episó-dio, falso, da mulher que diziater tido um romance com o pró-prio filho.

E A FICÇÃO SE MISTUROU À VIDA REAL

Na linha do ‘antes e depois’

Epitácio Pessoa/AE

Gugu pede desculpas ao público no sofá de Hebe Cena foi reprisada à exaustão na RedeTV!, Record e Band

Luta aos ‘raqueteiros’: Lula‘contracena’ com Helena Ranaldi e

Dan Stulbach no Palácio do Planalto

O Estatuto do Idoso ganha apoio dosatores Oswaldo Louzada e

Carmem Silva no Congresso Nacional

Vanessa Gerbelli e Tony Ramos na cena que ganhou platéia ao vivo e repercussão internacional

Morte por bala perdida da novela motivou passeata de verdadepelo desarmamento, com apoio de familiares de vítimas reais e

adesão de políticos: cenas vistas no folhetim e nos jornais

Divulgação

Monica Zarattini/AE

A televisãodo Boni

Otávio Magalhães

Difícil saber quem tirou maisproveito de quem, mas o resul-tado da vida real que virou no-vela, e vice-versa, desta feita,foi saudável. Em fevereiro, aoanunciar a estréia de MulheresApaixonadas, o autor ManoelCarlos mencionou que explora-ria o descaso dos brasileiroscom seus velhos. Este seria omerchandising social do folhe-tim. Faltou dizer que o assuntonão seria o único do gênero noenredo e que Mulheres Apaixo-nadas iria superar todas as no-velas já feitas até hoje no núme-ro de ações de cidadania.

Até o Congresso Nacional seanimou em levar adiante o Es-tatuto do Idoso, em maio, comas presenças de Oswaldo Louza-da e Carmem Silva. Orgulho-sos de seus papéis como Leopol-do e Flora na novela, os atoresaceitaram o convite vindo deBrasília para acompanhar a vo-tação do Estatuto na Comissãode Constituição e Justiça.

Em agosto, quem parou para“contracenar” com atores damesma trama foi o próprioLuiz Inácio Lula da Silva. “Mu-lheres, uni-vos contra os raque-teiros”, chegou a brincar o presi-dente, durante a cerimônia deposse do Conselho Nacionaldos Direitos das Mulheres e dolançamento do Programa deCombate à violência contra aMulher. Escoltando os atoresDan Stulbach e Helena Ranal-di, Lula se referia às surras deraquete que a personagem dela,Raquel, levava dele na ficção.

Quem não apreciou de todoo enredo de Mulheres Apaixo-nadas foi a indústria do turismodo Rio, que se manifestou con-tra o fato de Fernanda, papelde Vanessa Gerbelli, morrer co-mo vítima de bala perdida nasruas do Leblon. Argumentou-se que a cena traria danos ao tu-rismo, já que as novelas da Glo-bo são vistas no mundo todo.

O autor não cedeu. Criou atéuma passeata pelo desarma-mento. Era para ser só maisuma seqüência de ficção, mastambém ganhou proporções devida real, com a adesão de auto-ridades e do público, que ali fezfiguração voluntária. (C.P.)

O ranking das boas intenções

Sebastião Moreira/AEReproduçao SBT

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DENÚNCIAS

TAMBÉM

ATINGIRAM A

BAND

Rafael Neddermeyer/AE Ed Ferreira/AE

Tasso Marcelo/AE

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OGOVERNO

Joéd

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APRENDIZ

O ESTADO DE S. PAULO

Lula: um ano com inflação sob controle e superávit comercial, mas à custa de pesados efeitos colaterais, como queda na renda e aumento do desemprego

No poder,PT convivemal com

as críticas

Guerracontra a fome

continualonge do fim

Na economia,a dura

arrumaçãoda casa

Volta doinvestimentoé o desafio

da vez

X1

No seu primeiro ano de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silvaagradou adversários e dividiu seguidores. A política econômica conserva-dora liquidou a turbulência financeira, ao custo de recessão e desemprego.

Há, porém, sinais de retomada em 2004. Na política social, Lula não preencheu asexpectativas que historicamente carrega. Na reforma agrária, desapontou tanto oMST, aliado radical de longa data, quanto agricultores e pecuaristas. A reformatributária ficou capenga e a política externa foi polêmica. Mas o governo teve ener-gia política para aprovar uma reforma da Previdência que o PT já lutou para im-pedir. Seu compromisso, Lula deixou claro, não é com posições do passado.

UMANODELULA

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TÂNIA MONTEIRO

BRASÍLIA – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dir-ceu, é o personagem mais em-blemático do governo. Seu po-der é tanto que passou a ser in-formalmente chamado de pri-meiro-ministro. O tratamentonão é descabido: com Lula nopapel de chanceler, em cons-tantes viagens ao exterior, Dir-ceu ganhou carta branca paranegociar os acordos políticos eorientar as ações administrati-vas, num formato que lembrao sistema parlamentarista.

Embora rejeite o epíteto,Dirceu se diverte com a famade todo-poderoso. “Vou divi-dir o poder: uma parte vai fi-car com o Zé, outra com o Dir-ceu”, brincou, ao rejeitar a di-visão de tarefas no GabineteCivil proposta por parlamen-tares. Em pé de igualdade nocírculo do poder, estão apenasseu colega da Fazenda, Antô-nio Palocci, e o quase invisívelLuiz Gushiken. Costuma-seouvir nos bastidores que sóeles discutem com Dirceu: osdemais obedecem.

Os elogios de Lula, na soleni-

dade em que fez um balanço deseu primeiro ano no governo, sóreforçaram o poder de Dirceu.Lula confessou que não conhe-ce os acordos do ministro-chefeda Casa Civil que levaram àaprovação das reformas – ou se-ja, a autonomia do chefe da Ca-sa Civil é a maior de que se temnotícia na história brasileira.

“Já agradeci ao presidente alembrança que eu não mereço”,afirmou ele, assegurando quenão faz nenhum acordo contrao presidente. Durante discurso,Lula chegou a lembrar que ele éconsiderado o “homem mau dogoverno”, numa referência àsua rigidez na condução dosacordos e no controle internoexercido sobre os ministérios.

De fato, não há um assuntode governo que não passe pelocrivo do ministro. Todas as câ-maras temáticas ficam sob suacoordenação. A coordenaçãopolítica do governo, antes atri-buição da Secretaria-Geral,também é sua. Sua estruturaocupa a maioria das salas doquatro andar do Planalto. Até oministro-chefe da Casa Militar,general Jorge Armando Félix,perdeu o espaço e o poder que o

gabinete tivera na gestão ante-rior. Assuntos que eram vincu-lados ao gabinete militar passa-ram para a Casa Civil.

MP – Foi o próprio Dirceuquem tomou as providênciaspara legitimar administrativa-mente o poder que tinha politi-camente. É de-le a alteraçãoda medidaprovisória quefez a Casa Ci-vil ter prece-dência sobreos ministérios,que antes erada pasta daJustiça. Dir-ceu se sentaao lado do pre-sidente da Re-pública, auxi-liando o presi-dente em todas as reuniões, etem precedência sempre.

As nomeações de DAS (Dire-ção de Assessoramento Supe-rior) e outros cargos de impor-tância do governo, antes prerro-gativa da Secretaria-Geral, pas-saram para a Casa Civil. Dir-ceu ficou responsável até mes-

mo pelas nomeações dos prin-cipais cargos de assessoramen-to superior DAS 6, 5 e 4, queantes eram assinados pelo pre-sidente. Todas as avaliaçõesde nomeações também estãosob seu completo controle.

O gabinete de Dirceu é omais procurado do Planalto,

m e s m oquando opresidenteestá em Bra-sília. Ele de-dica duastardes da se-mana a par-lamentares echega a rece-ber 40 numdia. QuandoLula está fo-ra do País,todas as deci-sões são dire-

cionadas para o seu gabinete.Responsável por grande

parte dos acordos firmados pe-lo então candidato Lula, Dir-ceu só se viu desautorizadouma vez. Foi na primeira ver-são do acordo para inserir oPMDB no bloco governista, re-cusada por Lula.

PT faz lifting em seuprograma, mantém políticaeconômica que criticou edesanda na área social

PRÁTICA CONTRARIA DISCURSO

‘Vou dividir

o poder:uma parte

vai ficarcom o Zé,

outra com oDirceu

Ministro da Casa Civil,José Dirceu

José Dirceu: alguns acordos para aprovação de reformas foram costurados até mesmo sem o conhecimento do presidente

CENAS DO GOVERNO LULA

JOÃO BOSCO RABELLOe VERA ROSA

Ogoverno do PT vai bemonde ele é menos PT: apolítica econômica. E

vai mal onde ele é mais PT: aspolíticas sociais. Em seu primei-ro ano de mandato, Lula acer-tou onde não inovou, submeten-do-se ao receituário vigente, quehistoricamente criticou. E ondequis inovar – na área social e napolítica externa – colheu críticase insucessos.

O resultado é que se indispôscom a facção mais ortodoxa desua base – a esquerda – e colheuelogios no segmento que mais te-mia sua gestão: o mercado fi-nanceiro. O governo chega aseu primeiro aniversário comum perfil ideológico bem dife-rente daquele que projetava aotempo da posse.

Longe do espetáculo do cresci-mento previsto há seis meses, ogoverno Lula completa um anocom inflação sob controle e supe-rávit comercial, mas à custa depesados efeitos colaterais, comoqueda na renda e aumento do de-semprego. O pífio resultado doProduto Interno Bruto (PIB), aperda de postos de trabalho e astrapalhadas na área social con-trastam com o alentado progra-ma de governo petista, Um Bra-sil para Todos, que destacava avocação do País para crescer 7%ao ano, com patamar mínimo de5%. Mais: puxava o social como“eixo” do desenvolvimento.

“Não há processo sustentável eduradouro de desenvolvimento senão enfrentarmos essa questão dadistribuição de renda”, afirma oministro da Fazenda, Antônio Pa-locci Filho. Documento reservadoda Fazenda, obtido pelo Estado,garante que o governo criará, em2004, “mecanismos permanentesde monitoramento (...) dos progra-mas sociais em andamento, a fimde avaliar a eficácia do gasto pú-blico na redução da pobreza e dadesigualdade de renda”.

“Aumentar em 10% a distri-buição de renda seria equivalen-te a crescer 3% durante 25 anos.Este é o nosso maior desafio”,constata Palocci.

Uma resolução política apro-vada recentemente pela cúpulado PT propõe que o governo defi-na uma “agenda concreta” paratratar da chamada microecono-mia, gerar empregos e promovera inclusão social. Diz o texto quefalta ao Palácio do Planalto “tra-duzir”, de forma prática, o proje-to estratégico previsto em suaplataforma.

Escanteio – O ministro-chefeda Casa Civil, José Dirceu, resu-me assim a nova etapa do gover-no: “Temos de ser progressistasdentro do conservadorismo.”Em outras palavras, a equipe pe-tista não pretende jogar para es-canteio instrumentos clássicosdo ajuste, como metas de superá-vit primário e de inflação. “Masterá uma agenda de desenvolvi-mento mais ousada”, assegura opresidente do PT, José Genoino.

O Planalto comemora agora aaprovação das reformas tributá-ria e da Previdência no Congres-so, uma iniciativa que tambémfoi do governo Fernando Henri-que, frustrada pela oposição dopróprio PT. O partido jamais en-goliu o discurso de que era neces-sário taxar servidores públicosaposentados. “Mas, em política,não podemos nos referenciar emposições que defendemos no pas-sado”, alega hoje o ministro daPrevidência, Ricardo Berzoini.“O PT também pregava a estati-zação do sistema financeiro.”

Na área social, dois estandar-tes petistas – o combate à fome ea reforma agrária – ainda deixama desejar. O Fome Zero perdeu-

se nos meandros do marketing eda burocracia. Na reforma agrá-ria, Lula tenta se equilibrar entredois pólos: de um lado, seus com-promissos com os movimentos so-ciais no campo; de outro, a res-ponsabilidade de não comprome-ter um dos setores mais próspe-ros da economia, o agronegócio.

O presidente valeu-se de seucapital político pessoal para con-ter o MST. Em novembro, anun-ciou que assentará 400 mil famí-

lias até o fim do mandato, em2006, e fixou como meta conce-der crédito fundiário para outras130 mil. “Até aqui foi uma tragé-dia”, define o coordenador doMovimento dos Sem-Terra(MST), João Pedro Stédile. “Ogoverno prometeu assentar 60mil famílias neste ano e vamosterminar 2003 com 15 mil, sendometade da gestão anterior.”

O fiasco no campo social e aortodoxia na área econômica

provocaram um racha no PT.Além da expulsão de quatro par-lamentares – a senadora HeloísaHelena (AL) e os deputadosJoão Batista Araújo, o Babá(PA), Luciana Genro (RS) eJoão Fontes (SE) –, o partidoperdeu alguns intelectuais filia-dos desde a fundação, como Car-los Nélson Coutinho e Franciscode Oliveira.

Outros tantos insatisfeitos queficaram, porém, ainda reivindi-

cam o cumprimento de bandei-ras históricas empoeiradas, co-mo a que pregava “Fora FMI”.Mesmo entre os moderados hácerto desconforto com o liftingdo partido. “Quem está no gover-no e no PT não deve achar que es-tá tudo bem, mas fazer uma aná-lise crítica deste ano de aprendi-zado”, observa o senador FlávioArns (PT-PR).

No diagnóstico de Genoino, oPT vive “um momento difícil”,

até porque não tem maioria noCongresso, mas não está frag-mentado. “Quando assumimos,encontramos um buraco muitomaior do que imaginávamos. Ti-vemos de fazer algumas conces-sões, mas sem desfigurar o nossoprograma”, diz.

Na prática, no entanto, o parti-do enfrenta uma crise de identi-dade por causa da metamorfoseexibida em seus 23 anos. De umatrajetória que foi do sisudo JoãoFerrador – símbolo dos metalúr-gicos do ABC, nos anos 80 – aosorridente Lulinha Paz e Amorde 2002, o PT passou por umaverdadeira recauchutagem.Cumpriu o mesmo percurso dospartidos forjados na oposiçãoquando chegam ao poder.

Figurino – Com a bênção deseus companheiros, Lula vestiu ofigurino de centro ainda comocandidato e desbastou o discursoideológico. Depois que a esperan-ça venceu o medo, slogan da cam-panha petista, a palavra da vez épaciência para o crescimento.

No programa de governo, oPT estipulou metas ambiciosas:criar 10 milhões de empregos emquatro anos e dobrar o valor dosalário mínimo no mesmo perío-do. Para que esse objetivo come-çasse a sair do papel já em 2003,o PIB teria de crescer, em média,5% ao ano.

Mas a tesourada já desfez aaritmética eleitoral: o Plano Plu-rianual de Investimentos (PPA)agora prevê 8 milhões de empre-gos até 2007, ou seja, num prazoainda maior e após o término dogoverno Lula. Até aqui, o tão fa-lado programa Primeiro Empre-go é uma peça de marketing.

Responsável pelo cálculo dameta dos 10 milhões de empre-gos, o economista Antônio Pra-do diz que o cenário encontradofoi “totalmente adverso” para co-meçar a atender os compromis-sos de campanha logo em 2003.

“Na situação em que recebe-mos a economia não havia pos-sibilidade de promover uma po-lítica ativa de geração de empre-gos”, afirma Prado, o executivode Palocci na coordenação doprograma de Lula. “Uma coisaé querer construir uma casa eoutra é chegar lá e ver que a ca-sa pegou fogo.”

Surto – O incêndio, no caso, foiprovocado pelo surto inflacioná-rio – não previsto com ênfase nacampanha. “Quando a Carta aoPovo Brasileiro foi escrita, a preo-cupação maior era com o estran-gulamento externo e a fuga de ca-pitais”, conta Prado, numa refe-rência ao documento lançadoem junho de 2002 para tranqüili-zar o mercado financeiro. Nele,Lula se comprometia a honraros contratos e a cumprir as me-tas de superávit primário. A épo-ca era de forte turbulência naeconomia.

O PT fez o dever de casa e ago-ra tenta se livrar da recessão.“Não tem mágica: ou a econo-mia cresce ou não se combate odesemprego”, insiste o ministrodo Trabalho, Jacques Wagner.Para o economista FernandoCardim de Carvalho, professortitular da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), Lulaprecisa deixar claro que suas es-colhas são irreversíveis. “Dasduas uma: ou o presidente fazuma autocrítica e renega de umavez por todas o ideário do PT ouadota um conjunto de reformasinstitucionais, como a indepen-dência do Banco Central, paraimpedir o governo de voltaratrás em seus compromissos”, ar-gumenta Carvalho.

De qualquer forma, a autono-mia operacional do Banco Cen-tral é a próxima batalha do go-verno e também dentro do PT.Motivo: enfrenta um turbilhãode resistências em todas as fac-ções internas. “Estou disposto amarcar hora, local e armas paradiscutir esse assunto no PT”,brinca Palocci. Quem viver verá.

8 de agosto: presidente “toca” violinoem inauguração de escola municipal

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9 de agosto:Lula (centro)disputajogadadurantepelada naGranja doTorto

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DENISE CHRISPIM MARIN

BRASÍLIA – O presiden-te Luiz Inácio Lula daSilva imprimiu um rit-

mo ansioso e ambicioso à suapolítica externa e, com improvi-sos em seus discursos e giros in-ternacionais, gerou mais polê-mica interna que discussões eimpactos além das fronteirasdo Brasil. Seus críticos mais se-veros acreditam que suas inicia-tivas, com raros exemplos subs-tantivos, não passam de umaretórica ideologizada, que mes-cla elementos da política inde-pendente de Jânio Quadros edo general Ernesto Geisel. Osmais afáveis avaliam que as ati-tudes tomadas pelo Palácio doPlanalto e o Itamaraty são ex-tremamente ousadas e positi-vas. Embora considerem queainda não é possível calcular osbenefícios e os riscos dessasações, ressaltam que, na sua po-lítica internacional, o País an-da “no fio da navalha”.

Desde que tomou posse, em1.º de janeiro, Lula manteve umdiscurso enfático sobre a priori-dade de seu governo à relaçãodo Brasil com aArgentina, comobase para o forta-lecimento doMercosul. Masorientou sua polí-tica para a cons-trução do que ba-tizou de a “novageografia políti-ca e comercial pa-ra o mundo”.Apresentada pe-lo próprio Lulacomo uma via pa-ra a inclusão dospaíses subdesen-volvidos nosgrandes debatesinternacionais –não como instru-mento de con-frontação com osEstados Unidos,a União Européia e o Japão –, aidéia ressoa como o resgate dafracassada estratégia Sul-Sul,de alinhamento contra as pre-missas do Primeiro Mundo.

Com base nessa estratégia, ogoverno expandiu as ambiçõesde integração física e comercialalém das fronteiras do Merco-sul, com o objetivo de abarcaros demais países sul-america-nos em uma rede de comerciali-zação mais ativa e de criar umanteparo político para a faseconclusiva das negociações daÁrea de Livre Comércio dasAméricas (Alca). Como contra-partida, apresentou-se comouma “liderança generosa” e es-palhou promessas de linhas definanciamento do Banco Nacio-nal para o DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES)aos países da região e de respei-to às assimetrias.

Até dezembro, essa políticahavia impulsionado o acordode livre comércio entre o Merco-sul e o Peru e preparado terre-no para a possível implementa-ção dos acertos semelhantescom a Venezuela, a Colômbia eo Equador em meados de 2004.Em um segundo movimento daremoçada estratégia Sul-Sul,Lula embrenhou-se em um ro-teiro por cinco países da África,entre os quais três de língua por-tuguesa. O terceiro traço do ma-pa-múndi imaginado por Lulaseguiu na direção do OrienteMédio, onde se meteu em umapolêmica visita a cinco países,entre os quais a Síria e a Líbia.

Light – Em paralelo a essasiniciativas, o Itamaraty resol-veu construir uma aliançacom outros 21 países exporta-dores e importadores agrícolas

às vésperas da reunião ministe-rial da Organização Mundialdo Comércio (OMC), em se-tembro, em Cancún. Exitosa,a experiência tornou-se oexemplo mais concreto da cos-tura desse novo mapa-múndi.Mas ainda se mostra suscetívela escapar do plano pragmáticopara o da ideologização, avi-sam os críticos.

Da mesma forma, o Itamara-ty insistiu na queda-de-braçocom os Estados Unidos em tor-no de um novo modelo para anegociação da Alca. Ganhou aparada, com o consenso sobre oformato da “Alca Light” em no-vembro, em Miami. Mesmocom os acordos com sua vizi-nhança sul-americana, a diplo-macia não conseguiu dissipar oalto risco de o Brasil acabar iso-lado e com acesso limitado deseus bens e serviços ao merca-do americano.

Para 2004, o governo preten-de partir para a prospecção denovos aliados. A estratégia Sul-

Sul será levada pelo próprioLula à Índia, à China e, quemsabe, à Rússia, fato que poderáconsolidar sua idéia de unir es-sas economias emergentes derelevância no cenário interna-cional em um Grupo dos Cin-co (G-5). Com isso, em princí-pio, o esboço do novo mapa-múndi do presidente estariaconcluído. Lula, entretanto,igualmente recomendou à suaequipe prosseguir com todas asiniciativas adotadas em 2003 eaprofundá-las.

Nessa linha enquadra-se aproposta de realização de umareunião de cúpula esdrúxula.Envolverá os chefes de Estadoda América do Sul – região que,nas últimas duas décadas, des-dobrou-se em favor da redemo-cratização e do fortalecimentode suas instituições – e dos paí-ses árabes – na sua maioria, regi-mes ditatoriais, pouco sensíveisà prioridade que se dá, no Oci-dente, a questões de direitos hu-manos. Mesmo focada no co-

mércio e no investimento recí-proco, esse empreendimentotraz o risco de converter-se emuma sessão de loas a regimes deexceção.

“Prestigiar regimes ditato-riais é particularmente perigo-so para um país como o Brasil,que tem uma imagem no exte-rior de democra-cia consolidada egarantidora dasinstituições da re-gião”, disse o pro-fessor AlfredoValladão, da Cá-tedra Mercosuldo Instituto Na-cional de Ciên-cias Políticas(Sciences-Po), deParis. “O País perderia, comcerteza, suas chances de atuarcomo mediador de crises.”

Messiânica – Indiscutivel-mente, os diferentes tabuleirosexplorados pelo novo governobrasileiro na órbita internacio-

nal foram montados sobre umconceito de elevada auto-esti-ma – se não sobre uma visãomessiânica da contribuição queo presidente Lula pretende dei-xar para o mundo. Nessa baseestá assentada sua convicçãode que o Brasil tem de assumira liderança da América do Sul

e também do res-tante do mundosubdesenvolvidoe pobre, sem ne-nhuma modéstia“colonizada”.

A estratégiaSul-Sul está inse-rida nesse princí-pio, assim comoa atual campa-nha do governo

em favor de uma cadeira per-manente para o Brasil no Con-selho de Segurança da ONU.Também se enquadram no ce-nário os repetidos discursos deLula em favor de um fundomundial de combate à pobreza– uma transposição para o pla-

no exterior do desafio internodo governo, que ainda não an-gariou resultados práticos.

Venezuela – No início do go-verno, a premissa do protago-nismo natural do Brasil deu sus-tentação a atitudes atabalhoa-das da diplomacia presiden-cial. Antes de sua posse, Lulaensaiou uma interferência emquestões internas da vizinhan-ça ao enviar seu assessor espe-cial para Assuntos Internacio-nais, Marco Aurélio Garcia, auma Venezuela mergulhada noconflito entre o governo HugoChávez e a oposição. A confu-são acabou consertada pelo Ita-maraty, que propôs a criaçãodo Grupo de Amigos da Vene-zuela, com um perfil moderadoe subordinado ao secretariado-geral da Organização dos Esta-dos Americanos (OEA), e ain-da “convidou” os Estados Uni-dos para o integrarem.

“A intenção de manter umapolítica proativa e de esforçar-se em direção a um protagonis-mo é positiva. Também pareceboa a idéia da estratégia Sul-Sul, como um instrumento pa-ra que os países em desenvolvi-mento ganhem força e partici-pação na formulação das novasregras mundiais”, disse Valla-dão. “O nó central é saber se es-sa política traz consigo a ambi-

ção de construirum pólo de po-der de confronta-ção com o mun-do rico.”

Em sintonia, oprofessor Gilber-to Dupas, do Ins-tituto de EstudosAvançados daUniversidade deSão Paulo, acre-dita que a boa re-lação entre Bra-sil e Argentinaao longo de 2003deveu-se princi-palmente à debi-lidade da econo-mia do vizinho.Com a perspecti-va de recupera-ção argentinaem 2004 e as dú-

vidas sobre o vôo da galinha daeconomia brasileira, Dupas an-tevê o início de um novo perío-do de turbulência na célula cen-tral da política externa.

Dupas acredita que a políti-ca externa de Lula ainda nãocausou danos graves nas rela-ções do Brasil com os EUA por-que os americanos estão concen-trados no combate ao terroris-mo e no conflito com o Iraque.Nesse sentido, os discursos afia-dos do presidente contra a polí-tica externa americana e suamotivação em aliar-se, de for-ma escancarada, aos países de-senvolvidos que vêm resistindoàs ações unilaterais de Wa-shington seriam atitudes, no mí-nimo, perigosas. “O risco deapontar o dedo para o leão éperder a mão”, advertiu.

Ele ainda chama a atençãopara a seguinte dúvida: a retóri-ca de Lula servirá como instru-mento para aumentar o seu po-der de barganha ou sua políticaexterna está no limite da pru-dência? Para o professor, trata-se de uma questão difícil de res-ponder neste momento, em queo Brasil passou por várias zo-nas de risco sem avarias visí-veis – como as viagens presiden-ciais a Cuba, à Síria e à Líbia,nas quais não foi solicitada ne-nhuma moderação aos gover-nantes, e a montagem do G-20.

“Por enquanto, Lula contacom um estoque de tolerân-cia, no plano internacional.Ele ainda é visto como um lí-der que promete adotar umapolítica de combate à exclu-são social mesmo mantendo aortodoxia na sua política eco-nômica. Mantém um governopopular, mas ainda não popu-lista”, afirmou.

Por uma ‘nova geografia’em que os emergentessejam respeitados, País

dá passos ousados

DIPLOMACIADERISCO

‘Este ano foi de transição,difícil, com duas reformasessenciais. Isso nos dá a

partir de 2004 esperança dedesenvolvimento, com o

social em primeiro lugar ea cultura incluída no social

Bete Mendes,atriz

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

O chanceler Celso Amorim, empenhado em revitalizar a estratégia Sul-Sul, de alinhamento contra as premissas do Primeiro Mundo

‘Na área social, vou dar

nota 5 para o nono ano dogoverno FHC, com forte

esperança que o governo Lulacomece a cumprir no próximo

ano as promessas feitasna campanha

Siro Darlan, juiz da 1.ª Vara daInfância e Juventude do Rio

‘A política externa é

muito boa. A gente temesperança de que as coisasmelhorem no próximo ano.Não vou dar nota porque

não sou de dar notapara ninguém

Oscar Niemeyer,arquiteto

OGOVERNOAPRENDIZ

Lula com o líder da Líbia, Muammar Kadafi: para especialistas, contato perigoso Presidente, ao lado da primeira-dama, Marisa: esboço do novo mapa-múndi

Ao lado de Fidel Castro: avarias à imagem de Lula não são visíveis Na Síria, com presidente Bashar al-Assad: prioridade é comercial

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SÉRGIO GOBETTI

BRASÍLIA – O governoLula chega ao fim de seuprimeiro ano comemo-

rando a aprovação das refor-mas previdenciária e tributáriano Congresso, mas muito pou-co dessa vitória pode ser atribuí-do à plataforma ou às promes-sas de campanha do PT. Gran-de parte das mudanças promo-vidas no sistema de aposentado-ria dos servidores e do sistematributário apenas repete ou con-solida a agenda do governo Fer-nando Henrique Cardoso.

A cobrança de contribuiçãoprevidenciária dos servidorespúblicos só não foi implementa-

da antes por causa de uma deci-são do Supremo Tribunal Fede-ral contrária à medida, combati-da na época pelo PT. A atual re-forma previdenciária tambémconseguiu quebrar a paridadeentre os proventos de servido-res ativos e inativos, uma dasnormas constitucionais mais ca-ras aos sindicatos do funciona-lismo ligados à CUT.

No campo tributário, o gover-no teve de abrir mão de grandeparte das mudanças que tinhaa “cara do PT” – como a pro-gressividade dos impostos so-bre heranças e transmissão debens imóveis, além de uma re-formulação mais profunda doImposto de Renda – para conse-guir aprovar a reforma. Do tex-to enviado ao Congresso, ape-nas três medidas fiscais – a pror-rogação da CPMF e da DRU ea repartição da Cide com Esta-dos e municípios – entrarão

imediatamente em vigor.As prometidas mudanças es-

truturais, como a reformulaçãodo ICMS e o fim da guerra fis-cal, foram amenizadas pelo lob-by dos governadores e só de-vem ser concluídas em 2004, pa-ra entrar em vigor em 2005. Ainstituição do Imposto sobreValor Adicionado (IVA) foitransformada apenas em umameta a ser perseguida até 2007.

Segundo o líder do governono Senado, Aloizio Mercadante(PT-SP), a divisão da reformaem três etapas foi justamente oque viabilizou sua aprovação.“Realizamos uma grande obrapolítica, porque votar uma re-forma destas em um quadro dedebilidade fiscal como o atual éextremamente complexo.”

Outras medidas adotadas noâmbito da reforma constitucio-nal, como a desoneração das ex-portações e o fim da cumulativi-

dade da Cofins, apresentadascomo grandes incentivos ao se-tor produtivo, concluem umprocesso iniciado na gestãoFHC. E, no caso da Cofins, aproposta deadoçãoda con-tribuição so-freu intensacrítica pelosreflexos que te-ria sobre a car-ga tributária.

Receita – Asduas refor-mas devem re-forçar a recei-ta da Uniãoem R$ 13,2 bi-lhões já em2004 e propiciar uma reduçãolenta e gradual do déficit previ-denciário do setor público. Ascontas do setor privado, emcompensação, afetadas pelo fra-

co desempenho da economia epelo reajuste das aposentado-rias do INSS, deveriam encer-rar 2003 com um buraco duasvezes maior do que o de dois

anos atrás.Vários ana-

listas já apon-tam a necessi-dade de umanova reforma,capaz de con-trolar o cres-cente peso dosbenefícios pre-videnciários eassistenciais.Um estudo doMinistério daFazenda che-ga a sugerir

uma ampla reforma nos gastossociais, focalizando as despesasprioritariamente em progra-mas que atendam às classesmais baixas.

Por outro lado, a idéia de fa-zer justiça social por meio deuma reformulação profundano IR parece cada vez mais dis-tante da agenda do governo.Além de resistir à eficácia deuma alíquota de 35% sobre osgrandes salários, o comando daReceita é contrário a rever al-guns dispositivos criados na ges-tão anterior e muito criticadospelos petistas, como o direito deas empresas deduzirem do cál-culo de seu imposto o chamado“juros sobre capital próprio”.

Um dos poucos avanços emtermos de justiça tributária assi-nalados pela reforma é a redu-ção do ICMS sobre produtos dacesta básica, medicamentos eenergia elétrica de baixo consu-mo. Mas essa medida já é apli-cada por vários Estados e suauniformização ainda dependede confirmação na Câmara ede uma longa regulamentação.

UMAFAXINACOMPLICADA

‘ Realizamosuma grande

obra política.Votar a reforma

num quadrode debilidade

fiscal é complexoAloizio Mercadante

Com alma de tucano, novasregras para a Previdência e

tributária ficam muitoaquém do que se prometeu

Para dar à PF status de FBI, Bastos iniciou depuração de quadros

REFORMASCHEGAMPEDINDOOUTRAS

CENAS DO GOVERNO LULA

EDSON LUIZe FAUSTO MACEDO

Oprimeiro passo do mi-nistro Márcio Tho-maz Bastos (Justiça)

rumo à construção de uma Po-lícia Federal com jeito de FBIfoi dado à custa de ações paradepuração dos quadros da cor-poração. Quando assumiu ocargo, em 2 de janeiro, Tho-maz Bastos declarou publica-mente que pretendia fazer daPF de Lula uma polícia igualà dos americanos, uma forçainteligente, ágil, dedicada aocontribuinte e livre do fardoda corrupção que pesa sobreparte do aparelho policial.

A promessa do ministro,ele próprio reconhece, estálonge de ser cumprida. A PFpreserva estilo e limitações deoutros tempos. Thomaz Bas-tos considera, no entanto, ani-madores os primeiros resulta-dos de sua cruzada. A Ana-conda, superinvestigação so-bre suposto esquema de ven-

da de sentenças na Justiça Fe-deral em São Paulo, deixou oministro orgulhoso, segundosuas palavras. A operação man-dou um magistrado para a ca-deia – outros dois foram afasta-dos sumariamente das funções– e expôs o tamanho das trapa-lhadas na própria PF, desmas-carando agentes de graduaçãomodesta e delegados do alto es-calão que foramparar na prisão.

Anaconda àparte, o pacotecontra lavagemde dinheiro discu-tido por 60 técni-cos e autoridadesdo governo Lula,nos primeirosdias de dezem-bro, talvez seja amarca registrada do ministroda Justiça na área de seguran-ça pública. As 13 medidasanunciadas por ele vão atingirdesde as altas movimentaçõesbancárias até os servidores pú-blicos, que serão obrigados a jus-

tificar sinais exteriores de rique-za. Todo o programa será de-senvolvido em 2004.

Pesquisas – Thomaz Bastosdestaca que seu ministério mu-dou os critérios para a libera-ção de recursos destinados àárea de segurança. “Não somosuma tesouraria, para ter recur-sos é necessário apresentar pro-

jetos”, adverte oministro, que re-passou este anoUS$ 187 milhõespara Estados emunicípios, so-mapequena com-parada aos pro-blemas vividosatualmente peloPaís.

O ministrotambém se empenhou para al-cançar a unificação das açõesde combate à violência pormeio do Sistema Único de Segu-rança Pública (Susp) e os Gabi-netes de Gestão Integradas(GGI) – uma idéia de Thomaz

Bastos que acabou sendo lança-da por iniciativa dos governado-res do Sudeste. “Nunca tive-mos integração e parceria co-mo agora”, avalia.

No segundo semestre, o mi-nistro debelou ao seu estilo,com discrição e firmeza, aameaça de uma crise interna,quando descobriu que o entãosecretário nacional de Seguran-ça Pública, Luiz Eduardo Soa-

res, havia contratado a ex-mu-lher, e também a atual, paracoordenação de pesquisas daPasta da Justiça.

Concurso – Mas se os planosde combate à violência come-çam a sair do papel e dos gabi-netes do Executivo, no Congres-so as coisas andam devagar.Durante 2003, apenas três pro-jetos importantes, de autoria

do Palácio do Planalto, foramaprovados. O primeiro, rela-cionado à lavagem de dinhei-ro, cria o Cadastro Único deCorrentistas. Outro é o Estatu-to do Desarmamento, queproíbe a venda de armas e con-cessão de portes – o texto origi-nal, no entanto, recebeu vá-rias emendas que não agrada-ram ao governo.

O terceiro projeto recebeucríticas de vários setores, pelofato de criar o Regime Disci-plinar Diferenciado (RDD),que coloca prisioneiros de altapericulosidade por até umano em presídios de seguran-ça máxima.

Apesar do anúncio de ad-missão de novos policiais fede-rais, as três turmas formadasem 2003 são herança da admi-nistração Fernando HenriqueCardoso – os concursos e pro-cesso de seleção foram realiza-dos no governo anterior. O pri-meiro concurso público paraa PF, no governo Lula – comprevisão de ampliação em70% dos quadros da corpora-ção –, só será feito a partir demarço. Até lá, o Ministério daJustiça terá de encontrar bonsargumentos para sensibilizara área econômica que deixoua instituição sob pesado cons-trangimento, com o corte de li-nhas de telefone e interrupçãode abastecimento de água porfalta de pagamento.

Companheira de todas as horas, Marisa Letícia desfila elegânciadas cerimônias aos passeios informais com o marido presidente E

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OGOVERNOAPRENDIZ

Thomaz Bastos: “Para ter recursos é necessário apresentar projetos”

Deputados da base aliada comemoram, em setembro, a aprovação da reforma tributária em primeiro turno: as prometidas mudanças estruturais foram esvaziadas pelo lobby dos governadores

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UMACRISECALCULADA

JOÃO DOMINGOSe TÂNIA MONTEIRO

BRASÍLIA – Estilinguepor 22 anos, o PT atiroupedras como ninguém.

Vidraça há um ano, convivemal com as críticas. Especialis-tas na difusão de denúncias pe-la imprensa, os petistas ator-mentaram a vida dos governospassados com o vazamento deinformações as mais confiden-ciais. Calouros no trato da cor-rupção dentro de casa, passa-ram a ver um inimigo potencialem cada jornalista. Por isso, ogoverno adotou um formato decomunicação fechado, centrali-zado em alguns funcionários.

Nesse contex-to, fortaleceu aRadiobrás e privi-legiou-a comacesso exclusivoaos eventos e am-bientes que têm apresença do pre-sidente e, histori-camente, sempreforam abertos ajornalistas cre-denciados. Com isso, tenta esta-belecer um noticiário padrão,distribuindo em sua rede gratui-ta imagens e textos com enfo-que de interesse oficial.

O processo é extensivo à co-bertura de áreas e assuntos forada esfera oficial, como cultura,esporte, lazer. No início do mês,o site da Radiobrás na internet(www.radiobras.gov.br) dedi-cou espaço nobre ao polêmicoprocurador da República LuizFrancisco de Souza, que só per-

deu em tamanho para a cober-tura da viagem do presidenteLula ao Oriente Médio.

Os atritos tornaram-se corri-queiros. Até simples informa-ções – como a agenda de minis-tros e do presidente – dão moti-vo a discórdias. Ao contrário desecretários de Imprensa de go-vernos anteriores, que faziamtudo para facilitar a convivên-cia com os meios de comunica-ção credenciados no Planalto, aSecretaria de Imprensa nãotem pressa em resolver pendên-cias que surgem no dia-a-dia.

Na gestão Sarney, a sala doentão secretário de Imprensa,Fernando Cesar Mesquita, eraaberta ao público, embora fosseo primeiro governo civil após oregime militar e a estrutura ad-ministrativa ainda estivessecontaminada pela síndrome dosigilo de informação. Ana Tava-res, assessora do ex-presidente

Fernando Henri-que, não deixavatelefonema semresposta, mesmoquando o acom-panhava fora doPaís. Ana tinhacuidado especialcom os que a pro-curavam ou via-javam com o pre-sidente. Articula-

va entrevistas coletivas nas em-baixadas ou hotéis. Esclareciapontos obscuros, convidava edi-tores para almoços de trabalho.

Tapa – Avesso a celular e com-putador, o secretário de Comu-nicação, Ricardo Kotscho, cole-ciona desentendimentos. Nãoadmite que repórter credencia-do aborde o presidente, mesmoquando Lula favorece e permi-te a abordagem. Mais duro queum agente da segurança, já deu

tapa nas mãos de um repórterque, gravador em punho, “ou-sou” fazer perguntas a Lula.

No Oriente Médio, Kotschochamou duas vezes uma repór-ter do Estado de “cafajeste” emandou-a calar a boca porquecomentara com o presidente so-bre a beleza da mesquita ondeestavam. “Realmente chamei arepórter de cafajeste. A repór-ter passou pelos seguranças e seaproximou do Lula. Disse quefaria uma pergunta. Respondi

que não podia, porque aquiloera um templo. Mais tarde, elainsistiu. Eu me aproximei e dis-se: saia daqui. Você está sendocafajeste. No dia anterior, amesma repórter fora barradapor seguranças ao tentar seaproximar do presidente quan-do não podia”, diz Kotscho.

Seus auxiliares ligam para osjornalistas antes de cerimôniaspara reiterar a “regra” que proí-be perguntas. Num dia de bomhumor, Lula pegou uma câme-

ra e passou a fotografar os fotó-grafos. Um repórter perguntou-lhe como era estar do “outro la-do” da câmera. O presidenterespondeu, mas o gravador dorepórter já estava no chão apósum tranco do próprio Kotscho.

“Com relação ao tapa namão do repórter, isso aconte-ceu. Estávamos chegando debalsa a Itinga, no Vale do Jequi-tinhonha. Era um sistema de se-gurança complicado. De repen-te, no meio da multidão, surgiuuma mão com gravador. Afas-tei a mão e disse: agora não”, re-lata Kotscho. “Isso tudo queaconteceu é muito desagradá-vel. Foi um primeiro ano deuma adaptação muito difícil pa-ra a imprensa e para mim. Noano que vem espero que as coi-sas possam melhorar. Eu nãovou fazer mais isso”, promete.

O Comitê de Imprensa doPlanalto, criado para o diálogoformal com a Se-cretaria de Im-prensa, autodis-solveu-se por serinútil. Na linhaadotada em todaa estrutura do go-verno, de concen-tração das infor-mações, a secre-taria foi amplia-da. Criou uma re-dação que mantém o site www.info.planalto.gov.br e reproduza agenda oficial do presidente.

Todas as assessorias de co-municação foram enquadradasna orientação central. A Secre-taria de Comunicação e GestãoEstratégica criou o Serviço dePronta Resposta, para que todainformação de jornais conside-rada infundada seja rebatidana hora. Existe até um manualpara orientar funcionários a co-mo responder a jornais. Diz o

manual que as cartas de gover-nantes aos jornais devem ter co-mo objetivo corrigir um erro deinformação ou responder a críti-ca ou infâmia: “Erros de infor-mação sempre devem ser corri-gidos, mesmo os de pequena im-portância. Críticas nascidas dediscordâncias ideológicas oudoutrinárias ou de mera vonta-de de agredir não devem sercontestadas.” Patrulhamento einterferência numa opinião ja-mais devem ocorrer.

Briefings – Outro problema éo porta-voz da Presidência, An-dré Singer. Nos governos passa-dos e no início deste o porta-vozfalava quase diariamente comjornalistas. Em janeiro, Singerfalou 14 vezes com a imprensa.No mês passado, apenas 6. A ex-plicação foi que Lula não teveespaço na agenda para conver-sar com seu porta-voz.

Já foram fei-tas várias tentati-vas para melho-rar a relação en-tre governo e im-prensa. Três me-ses depois do iní-cio do governo, orelacionamentojá era tão ruimque o Sindicatodos Jornalistas

do Distrito Federal enviou à Se-cretaria de Imprensa um abai-xo-assinado, “Manifesto pelaLiberdade de Informar”. Apon-tava sérios entraves de setoresdo governo à liberdade de infor-mação, afirmava que ministrosproibiam a divulgação de suasagendas e havia nos ministériose palácios bloqueio de informa-ções até a respeito de encon-tros, debates e processos quesempre foram acompanhadossem problemas pela imprensa.

MARIÂNGELA GALLUCCIe EDSON LUIZ

BRASÍLIA – Ao custo deuma crise política calcu-lada, o presidente Luiz

Inácio Lula da Silva abriu cami-nho a fórceps para a reformado Poder Judiciário, ao acusá-lo de manter uma “caixa-pre-ta” e instalar no Ministério daJustiça uma secretaria de Refor-ma do Judiciário. A reação foitão barulhenta quanto inútil: opresidente do Supremo Tribu-nal Federal (STF), MaurícioCorrêa, termina seu mandatono começo de 2004 sem conse-guir evitar seu desgaste pessoale do Poder Judiciário, apesardo apoio de toda a corporação.A crise começou em abril, comas declaraçõesde Lula, agra-vou-se com osescândalos re-gistrados noâmbito do Ju-diciário ao lon-go do ano e sófoi atenuadaem novembroquando o pre-sidente da Re-pública con-cordou em en-c o n t r a r - s ecom o presi-dente do STF, reunião aindapor acontecer.

A criação da secretaria da re-forma do Judiciário, em maio,foi recebida pelos juízes comouma interferência na soberaniado Poder Judiciário. Chegou-sea alegar que a medida poderiaser comparada à instituição deum órgão semelhante no Judi-

ciário com oobjetivo de re-formar o Exe-cutivo. A res-posta a essanova provoca-

ção veio no mês seguinte. Nodiscurso de posse de Corrêa napresidência do STF, Lula tevede escutar calado uma série decríticas ao projeto de reformaprevidenciária que propunhamudanças no Judiciário. A par-tir daí, o relacionamento tor-nou-se mais azedo.

Diante de prováveis perdas

com a reforma previdenciária,associações de juízes e de pro-motores aprovaram a convoca-ção de uma greve inédita deuma semana em agosto paraprotestar. Pressionado, o gover-no resolveu ceder em algunspontos, garantindo, por exem-plo, aposentadoria integral pa-ra os atuais servidores. A grevefoi cancelada e a popularidadede Corrêa subiu na magistratu-ra, depois de representar um pa-pel em que mesclou discursosde juiz e de sindicalista.

Nos meses seguintes, o fosso

entre Lula e Corrêa aumentou,criando dificuldades institucio-nais para os dois Poderes. Nodesfile de 7 de Setembro, porexemplo, os dois dividiram omesmo palanque e não se cum-primentaram, mas já tinhamsido colocados estrategicamen-te à distância pelo cerimonialda Presidência.

Em outubro, tentando que-brar o gelo, Corrêa convidouLula para discutir no STF a re-forma do Judiciário e dos códi-gos de processo. O presidentedisse que não podia compare-

cer no dia indicado e outra dataficou de ser marcada. Até hoje,não houve uma reunião formal.Mas no fim de novembro o cli-ma tenso entre Executivo e Ju-diciário começou a dissipar. Foidurante uma cerimônia de cria-ção de varas trabalhistas e fede-rais que os presidentes dos doisPoderes voltaram a se falar.

Por causa dos problemas derelacionamento e da troca decomando no STF, marcada pa-ra maio, o governo tem optadopor dialogar com o futuro presi-dente do Supremo, Nelson Jo-

bim. Ex-deputado federal peloPMDB gaúcho, ministro daJustiça no governo de Fernan-do Henrique Cardoso e amigode vários integrantes do primei-ro escalão do governo, Jobim éfavorável à criação de um ór-gão de controle externo do Judi-ciário, integrado, inclusive, porcidadãos. A expectativa é deque ele não deverá oferecer re-sistências aos projetos do gover-no Lula para o Judiciário. O Pa-lácio do Planalto também seaproxima do ministro EdsonVidigal, que em 2004 irá presi-dir o Superior Tribunal de Jus-tiça (STJ), e que defende asmesmas posições de Jobim.

Bombeiro – O governo preten-de fazer a reforma do Judiciá-rio nos quatro anos de Lula. Pa-ra isso, atua como bombeiro du-rante as crises o ministro da Jus-tiça, Márcio Thomaz Bastos,que também tem o papel de arti-culador das reformas dentro doExecutivo. “Precisamos deuma reforma radical do Judi-ciário. Há divergências, mas is-so faz parte do ciclo da demo-cracia”, afirmou o ministro,pouco depois de sua posse,quando anunciou que a refor-ma seria o carro-forte de suapasta. “Temos uma relaçãoamigável com todos e não que-remos ferir a autonomia do Ju-diciário. Longe disso.”

A idéia é relacionar todos ospontos convergentes entre osPoderes para levar a reforma omais rápido ao Congresso. “Oque for divergência, deve serdiscutido depois”, avalia Vidi-gal, acompanhando o mesmopensamento de Bastos, quecriou a secretaria de reformado Judiciário para colher infor-mações e sugestões que possamser encaixadas no pacote prepa-rado pelo Executivo para ser le-vado ao Legislativo.

‘Dou nota 10 ao primeiro

ano do governo Lula,porque ele é maravilhoso,

torço muito por ele e desejoque 2004 seja um ano de

muitas realizações paraele e todos nós

Emilinha Borba,cantora

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

Partido convive malcom críticas e denúncias

e criou um esquemafechado de comunicação

‘Superou as

expectativas. Foi bom esurpreendente,tranqüilizando

o mercado, com ocontrole da inflação,

do câmbioCarlos Alberto Parreira, técnico da

seleção brasileira de futebol

‘ Nota zero, porque nãoexiste menos 1, pela

política econômica e asreformas. Mas dou nota 3 pelaboa intenção que há na alma

e no coração de algumaspersonalidades do governo

Heloísa Helena,senadora

Com acusações de faltade transparência, Lulaforçou caminho para areforma da Judiciário

APRENDENDOASERVIDRAÇA

Lula tira foto de fotógrafos no Itamaraty: vida difícil para jornalistas

OGOVERNOAPRENDIZ

NOTA

0NOTA

10

‘Temos uma

relaçãoamigável comtodos e não

queremos ferira autonomiado Judiciário

Márcio Thomaz Bastos

Corrêa e Lula: crise entre os dois começou em abril, quando o presidente acusou o Judiciário de manter uma caixa-preta

COMITÊ DE

IMPRENSA DO

PLANALTO FOI

DISSOLVIDO

KOTSCHO

NÃO ADMITE

QUE REPÓRTER

ABORDE LULA

Joéd

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NOTA

8

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2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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OPOSIÇÃOLIGHTCOMDIASCONTADOS

EUGÊNIA LOPES

BRASÍLIA – As eleiçõesmunicipais de 2004 vãopôr um ponto final na

lua-de-mel de parte da oposi-ção com o governo de Luiz Iná-cio Lula da Silva. Pelo menos éo que apostam líderes dos prin-cipais partidos de oposição: oPSDB e o PFL. Os tucanos e ospefelistas, que este ano tinhamcompromissos com as reformasda Previdência e tributária eajudaram o Palácio do Planal-to, prometem agora fazer umaoposição mais aguerrida ao go-verno de Lula no ano que vem.Afinal, seus candidatos serãoconcorrentes diretos na disputacom o PT pelas mais de cincomil prefeituras do País.

“A eleiçãomunicipal se-rá um miracu-loso bálsamoporque ficaráclaro que oPT é nosso ad-versário em to-da parte. E aío fígado vai fa-lar mais alto eo namoro departe do PFLcom o PT ter-minará comas eleições”,diz o líder doPFL no Senado, José AgripinoMaia (RN).

“A tendência é a oposição sermais dura em 2004 e a tendên-cia é que fique mais acirradacom as eleições. Todos os defei-tos do governo virão à tonacom eleições”, observa o ex-go-vernador e senador Tasso Je-reissati (PSDB-CE). “O PSDBvai ter menos momentos emque votará com o governo noano que vem”, afirma o líder tu-cano no Senado, Arthur Virgí-lio Neto (AM).

O PFL, que passa por um sé-rio racha interno, deverá ficarmais unido no ano que vem. A

tendência é que as alas coman-dadas pelo presidente do parti-do, senador Jorge Bornhausen(SC), e pelo senador AntonioCarlos Magalhães (PFL-BA)acabem unificando o discurso,em 2004, contra o governo porcausa das eleições municipais.Ambos têm como inimigos emseus Estados o PT e, opor-se aoPlanalto, será uma questão desobrevivência política.

Divisão – Situação bem dife-rente da deste ano quando oPFL expôs claramente sua divi-são interna na votação das re-formas da Previdência e tributá-ria. A corrente de Bornhausenficou em franca oposição ao Pla-nalto, votando contra o gover-no. Na reforma tributária, mes-

mo depois deum amploacordo entretodos os parti-dos, três sena-dores do PFL– Marco Ma-ciel (PE), JoséJorge (PE),além de Bor-nhausen – in-sistiram em sep o s i c i o n a rcontra a pro-posta.

Já a ala doPFL liderada

por ACM esteve praticamentetodo o tempo ao lado do governoLula. Ajudou o governo com vo-tos e articulações políticas.“Acho que o PFL vai esticar acorda o ano que vem e continua-rá nesse posicionamento de sercontra tudo”, aposta a senadoraRoseana Sarney (PFL-MA), alia-da do presidente Lula desde aseleições de 2002. “Mas em tudoaquilo que for para ajudar o Bra-sil nós vamos estar juntos com ogoverno”, completa a senadora,que também terá de enfrentar oPT no Maranhão na disputa mu-nicipal do ano que vem.

O PSDB também acabou se

dividindo este ano durante a vo-tação das reformas. Mas a divi-são foi mais por conta da conve-niência dos governadores que,desde o início, apoiaram as re-

formas de Lula. De um lado, fi-caram os parlamentares liga-dos aos governadores, que vota-ram a favor das reformas. Deoutro, os tucanos sem muitos

compromissos com os governa-dores, que se posicionaram con-tra o Planalto. “Alguns dizemque a oposição é pouco combati-va. Mas isso não é verdade. Na

realidade, ela não é irresponsá-vel”, afirma Virgílio.

Com a aprovação das refor-mas, o compromisso dos tuca-nos com o Planalto acaba. Essaliberdade coincide com a eleiçãodo ex-senador José Serra paracomandar o PSDB. Candidatoderrotado à Presidência, Serrajá assumiu a direção do partidofazendo críticas contundentesao governo Lula, principalmen-te na condução da economia.

Construtiva – Apesar de ga-rantirem que farão uma oposi-ção mais aguerrida ao governo,tanto pefelistas quanto tucanosprometem se comportar de for-ma responsável. Querem dei-xar claro que são bem diferen-tes do PT, que não ajudou o go-verno de Fernando HenriqueCardoso a aprovar projetos e re-formas constitucionais. “Nãoserá uma oposição destrutiva,mas será uma oposição fiscali-zadora”, resume AgripinoMaia. Segundo ele, o PFL vai sededicar em 2004 a mostrar à so-ciedade que o governo não cum-pre suas promessas, como aca-bar com o desemprego e melho-rar a segurança pública. Tam-bém fará “uma vigilância per-manente” no campo da ética,cobrando ações rápidas e efica-zes do governo e do PT para ex-plicar episódios como o da mi-nistra da Assistência e Promo-ção Social, Benedita da Silva,que viajou para o exterior comrecursos públicos para partici-par de um culto evangélico.

Cobranças semelhantes se-rão feitas pelos tucanos, quetambém prometem não deixarem paz o governo quando o as-sunto for ética e emprego. “Aopinião pública deu este ano degraça para o governo e o PT.Houve até complacência”, dizTasso. “No ano que vem, o go-verno não terá desculpas paranão deslanchar seus projetos. Aoposição vai recrudescer na me-dida em que os governo terámais erros. Temos muito a criti-car neste governo”, afirma Vir-gílio, que no início do ano, ao as-sumir o mandato de senador,prometeu dar “o pior” de si pa-ra combater o governo.

SILVIO BRESSAN

Para alguns petistas, de-siludidos com os ru-mos do governo Lula,

2003 foi o primeiro e últimoano no poder. Na definiçãousada pelo deputado Fernan-do Gabeira, em outubro, aosair do partido, este foi o anoem que o sonho acabou. Em-polgados com o que conside-ravam uma oportunidade his-tórica para o partido pôr emprática seus discursos na opo-sição, eles ficaram decepcio-nados com as semelhançasentre o governo Lula e o deFernando Henrique Cardo-so. A continuidade da políti-ca econômica, a agenda de re-formas e a falta de resultadosna área social, além das ares-tas abertas no meio ambientee nos direitos humanos, fo-ram completadas com a ex-pulsão, em dezembro, dosparlamentares radicais.“Acabou”, resumiu o ex-de-putado Milton Temer (RJ),um dos que resolveram aban-donar o partido após as ex-pulsões. “No PT, não há ou-tro sonho a ser sonhado.”

É o que já achava Gabeira,quando subiu na tribuna da

Câmara para pronunciar o dis-curso do sonho perdido. Hoje,ele admite que o governo atéevoluiu um pouco na políticaexterna, mas no geral, ressaltao deputado, o balanço conti-nua o mesmo de outubro.“Nas políticas sociais, no sa-neamento, na educação, nomeio ambiente, não se acres-centou nada”, afirma o ex-pe-tista. A saída dos radicais, noseu entender, foi outro erro.“São atitudes baseadas no cen-tralismo democrático soviéticodo início do século”, compara.

Já na avaliação de MiltonTemer, o equívoco maior dos“sonhadores” foi achar que Lu-la quisesse reproduzir um no-vo modelo desocial ismo.“Mas concluíque, no fun-do, Lula que-ria copiar o(Jacques) Chi-rac”, afirma.“É um gover-no de políticaexterna avan-çada e de polí-tica econômi-ca neoliberal, um modelo queo próprio Chirac não hesitaem qualificar de direita.” A úl-tima esperança, diz o ex-parla-mentar, foi liquidada com a de-cisão do diretório em expulsaros radicais e o discurso que oministro da Fazenda, AntônioPalocci, fez nesse mesmo en-

contro, defen-dendo o supe-rávit primá-rio de 4,25%e a autono-mia para oBanco Cen-tral. “Com es-sa perspecti-va, qualquersonho fica li-quidado.”

A política econômica e a ex-pulsão dos dissidentes tam-bém deixou o filósofo EmirSader, diretor do Laboratóriode PolíticaS Públicas da Uerje petista de carteirinha, ain-da mais cético quanto ao futu-ro do governo Lula. “No míni-mo, trata-se de um governo

contraditório entre a políticaeconômica conservadora, apolítica externa soberana e asdemandas sociais não atendi-das”, resume.

Também sem tantos sonhos,o jornalista e historiador JacobGorender não deixa de criticaro primeiro ano do governo Lu-la. Autor do consagrado Com-bate nas Trevas, que conta ahistória e o drama dos gruposguerrilheiros durante a ditadu-ra militar, Gorender se diz umcético sobre o comportamentodo governo na área dos direi-tos humanos. “Acho que o go-verno Lula está ganhando tem-po e não acho que vá fazerqualquer coisa, porque querevitar atritos com a área mili-

tar”, afirma.Outro eleitor cético de Lula é

o presidente do Tribunal Supe-rior do Trabalho (TST), Fran-cisco Fausto, que em julho, noauge da crise entre Executivo eJudiciário, admitiu ter votadonele: “Fui vítima de um estelio-nato eleitoral.” Embora hoje semostre menos enfático, Faustovê grandes mudanças entre aspromessas de Lula e seu desem-penho até agora. “Houve umamudança muito radical”, afir-ma. “Mas ainda acho que esta-mos na fase de plantar.” E o so-nho dos petistas? O juiz achamelhor esperar pela fase da co-lheita. “Não sei se ela vai che-gar mesmo, mas quem sabe2003 não foi só um pesadelo?”

‘A eleição seráum miraculoso

bálsamo porqueficará claro que o

PT é nossoadversário. E aí ofígado vai falar

mais altoJosé Agripino Maia

‘Acabou.

No PT, nãohá outro

sonho a sersonhadoMilton Temer

POUCOSFALAMEM

DEIXAROPT

AOSDESILUDIDOS,APORTADESAÍDA

Tucanos e pefelistas, que ajudaramPlanalto a aprovar as reformas daPrevidência e tributária, prometem

jogo duro daqui para a frente

Da empolgação àdecepção foi questão de

meses, e muitos petistas jáentram 2004 fora do PT

MarisaLetíciafaz carinhoem Lula:elogios àmulher sãofreqüentesnosdiscursos dopresidente

CENAS DO GOVERNO LULA

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Babá, Heloísa Helena, Luciana Genro e João Fontes: dor de cabeça no Congresso

OGOVERNOAPRENDIZ

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Bornhausen, Virgílio e Agripino: com aprovação das reformas, compromisso com Planalto acaba

Gabeira, na saída do Planalto: “Não adianta querer sonhar o mesmo sonho em outro partido”

Joéd

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Se o sonho é ruim, a realida-de pode ser pior. Apesar de to-das as críticas ao governo,poucos falam em sair do PT,um partido organizado e cadavez mais poderoso. Mesmo osdescontentes, como o filósofoEmir Sader, e até alguns quejá saíram, a exemplo do depu-tado Fernando Gabeira, consi-deram que este pode não ser omelhor caminho. “O melhorlugar para mudar o País e oPT ainda é dentro do parti-do”, avalia Sader, que não pre-tende rasgar sua carteirinhatão cedo. “Não adianta querersonhar o mesmo sonho em ou-tro partido”, diz Gabeira.

Por isso mesmo, Sader insis-te em permanecer na trinchei-ra. “Ainda temos muita lutapela frente.”

Na opinião de Gabeira, queainda está sem legenda, os pe-tistas precisam primeiro com-preender tudo o que houvecom o partido em seus 24anos de existência. “É precisoreavaliar tudo e pensar para afrente, em como se faz um par-tido novo compatível com a so-ciedade atual”, afirma. “Nãoadianta mais reproduzir algoque já ficou lá atrás.” (S.B.)

Dida Sampaio/AE

Benedita,com Lula:gastos em

três viagenscomplicam

vida daministra da

Assistência ePromoção

Social

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LUCIANA NUNES LEAL

RIO – Às vésperas do se-gundo turno da campa-nha, o então candidato

do PT, Luiz Inácio Lula da Sil-va, anunciava: “Meu primeiroano de governo terá o selo so-cial do combate à fome. A úni-ca guerra que pretendo travar écontra a fome e em favor do em-prego.” Elegeu-se e, no dia daposse, conclamou o País a fazerda erradicaçãoda fome “umacausa nacional”.

Foi o presiden-te quem transfor-mou a área so-cial na maior ex-pectativa de seugoverno. Ao fimde um ano, po-rém, ela virou agrande promessapara 2004. Umpasso importan-te foi dado em ou-tubro, com o lan-çamento do Bol-sa-Família, queunifica quatroprogramas detransferência derenda e tem R$5,3 bilhões reser-vados para 2004.Esta é a grandeaposta do gover-no, embora ain-da tenha proble-mas sérios, comoo cadastro dos be-neficiários. O fes-tejado programaFome Zero tam-bém tem anun-ciado avanços, depois de um co-meço cheio de desencontros.

“Na área social, o primeirosemestre foi muito confuso”,avalia a economista Sônia Ro-cha, coordenadora de projetosdo Instituto Brasileiro de Eco-nomia, da Fundação GetúlioVargas (FGV). “Foi lançado oFome Zero, mas a populaçãosão sabia o que era política pú-blica e o que era mobilização dasociedade. As pessoas começa-ram a doar coisas que não se sa-bia para onde iam”, conta. En-quanto isso, a parte de transfe-rência direta de renda começounas pequenas cidades do semi-árido sem formato definido.

Hoje, as transferências derenda estão a cargo do Bolsa-Família, coordenado pela soció-loga Ana Fonseca e ligado dire-tamente à Presidência. O FomeZero, do Ministério Extraordi-nário da Segurança Alimentar,é responsável por dez ações,que vão da agricultura familiarà construção de cisternas e par-ceria com empresas privadas.

Novo – Para outro pesquisadorda pobreza na FGV, MarceloNéri, não se deve esperar de-mais do Fome Zero. “O progra-ma tem algumas vantagens, sedeixar que faça o que é sua voca-ção, mobilizar a sociedade. Esteé um dado novo”, diz. “Este la-do participativo tem um genede Josué de Castro, de Betinho,contando com um excelente ho-mem de marketing que é o Du-da Mendonça e um garoto-pro-paganda que é o próprio Lula.”

Néri elogia o governo, inde-pendentemente das polêmicas,por ter começado com as aten-ções voltadas para o social. “Agrande vantagem de Lula foinão perder tempo”, avalia. “Ogoverno Fernando Henriquelançou o programa Alvoradaem 2001 e 2002. Foi um poucotardio.” Ele explica que a idéiaera iniciar o Bolsa-Família emabril e só foi possível fazê-lo emoutubro. “Mas foi melhor fazercom mais calma. É injusto criti-car o governo neste ponto.”

Já Sônia acha que não é o mo-mento de estender benefícios afamílias sem crianças. Na ges-tão FHC, os principais progra-mas eram ligados à matrículade filhos na escola ou à freqüên-cia aos postos de saúde. O Bol-sa-Família prevê R$ 50 por fa-mília. Para cada filho são acres-cidos R$ 15, no limite de R$ 45.

“O ideal seria continuar comas famílias com crianças atéque todas estivessem atendi-das”, afirma Sônia. “Ter a esco-la como ancoragem, com os pro-fessores como facilitadores, fa-zendo o cadastro, é importante,o acompanhamento é mais fá-cil.” Pesquisa feita por ela esti-ma em 54,4 milhões os pobres,

ou 35% da população, e indicaque a faixa etária mais atingidaé a de zero a 4 anos: 54% do to-tal de crianças nessa faixa deidade são pobres. Dos 5 aos 9anos, são 50%. De 10 a 14, 45%.

Desigualdade – Uma consta-tação comum aos pesquisado-res da pobreza é que a transfe-

rência de renda é crucial pararesolver a emergência, mas tempouco efeito sobre um dos maio-res males do País: a desigualda-de, com extrema concentraçãode renda. Estudo de Sônia so-bre efeitos do Plano Real mos-tra que houve redução nos po-bres, de 44% para 35% da popu-lação, mas a desigualdade conti-

nuou praticamente igual. “Oefeito da transferência de rendasobre a família é aumento dobem-estar, pois há mais recur-sos, mas não muda estrutural-mente logo. O que muda mes-mo, no futuro, é a criança seeducar melhor”, diz Sônia, quese confessa cética em relação aofuturo. “Sou pessimista porqueo crescimento espontâneo daeconomia também é concentra-dor de renda. Gera empregos,mas muito qualificados.”

Para ela, o problema dos pro-gramas sociais não é a falta derecursos, mas como fazê-loschegar aos mais pobres. O ca-dastramento, por exemplo, “é

uma complica-ção”, mas não háoutra forma defocalizar o aten-dimento aos po-bres. “A concep-ção geral é sim-ples, mas o fimda linha é compli-cado. O governochega e diz quedescobriu a pól-vora sem fuma-ça, mas vê que osproblemas são osmesmos”, diz.

O ministro Jo-sé Graziano (Se-gurança Alimen-tar) concordaque a questão docadastramento écomplicada. Eleestima que meta-de das famíliasmiseráveis doPaís não está nocadastro do go-verno e, portan-to, não é benefi-ciária de progra-mas de transfe-rência de renda.Ele faz um “ba-

lanço extremamente favorá-vel” da área social neste primei-ro ano, mesmo apontando co-mo ponto fraco as dificuldadesde registro dos pobres, “uma he-rança” de governos anteriores.

“Tem muita gente extrema-mente pobre fora do cadastro,especialmente nas grandes cida-des. Herdamos isso. Nossa prio-ridade não foi fazer recadastra-mento ou ampliação de cadas-tro, mas unificar os vários ca-dastros que já havia”, afirmouo ministro. “Estamos terminan-do o ano com uma grande con-quista, que é a unificação dosprogramas de transferência derenda. Vai dar ao governo umcontrole e uma amplitude ja-mais vistos e, frente à dispersãodos programas que nós tínha-mos, é uma grande vitória.”

Ações – Em 2004, ele terá R$400 milhões para o Fome Zero.“No total, temos um leque de50 ações dispersas por 15 minis-térios. Nosso papel sempre foide articular, coordenar e depoisdevolver a ação para seu lugardevido”, diz Graziano, negan-do que sua pasta tenha sido es-vaziada pelo Bolsa-Família.“Havia uma grande expectati-va com o Fome Zero, as pes-soas queriam participar e essedesejo de participação não erabem cobrança. Mas foi lida porsetores da imprensa e da oposi-ção como uma cobrança.”

Com 2 mil comitês funcio-nando em todo o País, Grazia-no espera que em 2004 o poderpúblico seja capaz de enfren-tar a burocracia e tornar as ini-ciativas sociais mais ágeis. Em2003, o Bolsa-Família chegoua 3,6 milhões de famílias. Atéo fim do governo Lula, preten-de alcançar 11 milhões. “Umprimeiro ano é mais difícil pe-la falta de infra-estrutura, gen-te capacitada, treinada. De-pois de um ano em contatocom a máquina, aprendemosmuito”, diz Graziano. “Va-mos encontrar caminhos parafazer que as ações andem maisdepressa.”

ÂNGELA LACERDA

RECIFE – NadjaíraClaudino da Silva, 43anos, três filhos, mo-

rou durante 13 anos em umapalafita no bairro de BrasíliaTeimosa, na Praia do Pina, noRecife. O medo a acompa-nhou durante todo esse perío-do, e sua moradia de madeiracedeu três vezes à ressaca domar. Ela também teve televi-são, bujão, rádio e objetos pes-soais roubados por causa davulnerabilidade do barracosuspenso. Convivia com ni-nhos de ratos, baratas e escor-piões, não tinha água encana-da e a área era usada comoabrigo de vendedores de maco-nha e marginais. “Eu já nemsabia mais o que era dormir di-reito”, afirmou ela, contentepor ter, há três meses, deixadoessa realidade para trás, comoutras 560 famílias que vi-viam nas palafitas, ocupando1.300 metros de praia.

As habitações foram des-truídas. A maior parte dosseus moradores, como Nadjaí-ra, ainda está vivendo em Bra-sília Teimosa, em vãos aluga-dos com o auxílio-moradia deR$151 mensais patrocinados

pela prefeitura. Daqui a umano, todos irão para suas casasde alvenaria, com dois quartos,sala e cozinha, que serão cons-truídas no Cordeiro, na zonaoeste da cidade.

A mudança é resultado docompromisso assumido pelopresidente Luiz Inácio Lula daSilva, que visitou o local no dia10 de janeiro, acompanhado detodo o seu ministério para queos auxiliares diretos conheces-sem a miséria e a tivessem co-mo referência para o seu traba-lho. Lula encampou o projeto“Recife sem Palafitas”, do pre-feito João Paulo (PT), compro-metendo-se a financiar a cons-trução das novas moradias. Aprefeitura é responsável pelareurbanização da orla. O proje-to inclui recuperação de murode contenção do mar, engordada praia, avenida beira-marcom ciclovia, pista de skate,playground, equipamentos pa-ra a prática de ginástica e ba-nheiros públicos.

A intervenção pública vai im-pedir que as palafitas voltem ase instalar no local, para alíviodos 36 mil habitantes do bairroque já atestam a redução da in-segurança e da marginalidadena área. “Tinha tiroteio e bocade fumo, por conta da gente defora que se abrigava debaixodas palafitas”, afirmou a lídercomunitária Tânia Cristina Ri-beiro, contando que esta foi aquarta vez que a orla foi invadi-

da pelas construções. “Das ou-tras vezes nada era feito naárea, que voltava a ser invadidapelas palafitas.”

Longe do ideal – Mesmo li-vres dos problemas enfrentadosnas palafitas e com a perspecti-va da casa própria, muitos de-monstram insatisfação. Uns re-clamam que R$ 151 é pouco pa-ra pagar um aluguel. Muitos es-tão frustradosporque irão mo-rar longe de Bra-sília Teimosa, on-de construíramsuas vidas. Ro-sângela da SilvaLeite, de 20 anos,não sabe como se-rá quando se mu-dar com o mari-do André, que épescador. “Elevai perder dinhei-ro com transpor-te e tempo paravir para cá.”

Marise de Oli-veira Santana, 31 anos, cinco fi-lhos, marido desempregado,alugou um vão por R$ 100 paraque sobrasse um pouco de di-nheiro para o sustento. Acostu-mada ao desconforto, não sequeixa. Ela não esconde, po-rém, o temor de se mudar paralonge. Ela nasceu em BrasíliaTeimosa, comunidade que sur-giu em 1957 e resistiu a inúme-ras tentativas de despejo, conso-

lidando-se como área de resis-tência popular.

José Francisco Figueiredode Fontes, de 41 anos, soltei-ro, destacou que em BrasíliaTeimosa tem amigos que oajudam nas necessidades e omar: “Quando a coisa aperta,a gente pesca um peixe, ummarisco, dá para ir levando.”Ele ainda reclama do valor doauxílio-moradia. Alugou uma

moradia dedois vãos porR$ 150, maspassou a pagarágua e luz, oque não aconte-cia na palafita.“Lá a gente pu-xava uma gam-biarra de umposte.”

Com as no-vas despesas, opouco dinheiroc o n s e g u i d ocom um biscatetornou-se ain-da mais insufi-

ciente. Ele admite, porém,que está mais tranqüilo. “Nãocorro mais o risco de acordarcom o barraco arriando e aquinão vou ser roubado como napalafita.”

“Mesmo ruim, é bom”, resu-me Nadjaíra, definindo a mu-dança. “Ter a casa própria vaivaler a pena os sacrifícios quea gente vai ter pela frente”,completa Marise.

Lula conclamou Paíspara tentar vencer afome, mas resultadosem 2003 foram fracos

ADEUSÀSPALAFITAS

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

UMA GUERRA AINDA LONGE DO FIM

Brasília Teimosa, ondeLula levou os ministrospara mostrar a miséria,

começa a mudar

‘Não gostei do aperto da

classe média.Com os impostos quetivemos que pagar,

ninguém teve dinheiro parainvestir e o trabalho

ficou escassoNana Caymmi,

cantora

‘O governo Lula tem feitoesforço para preparar o

futuro. Mas a Segurançaficou de fora. Desestabilizou

a Secretaria Nacional deSegurança ao demitir Luiz

Eduardo SoaresCarlos Santiago, pai de Gabriela Maia,morta aos 14 anos num assalto ao metrô

‘O primeiro ano do

governo foi mil vezesmelhor do que eu esperava.

Ele é um homem verdadeiro,passa confiança. Só espero

que consiga implementar oFome Zero com força total

Carmen Mayrink Veiga,socialite

Marise Santana: sem queixas, a não ser o medo de morar longe

OGOVERNOAPRENDIZ

AUXÍLIO DE

R$ 151 É

POUCO,

RECLAMAM

MUITAS DAS

560 FAMÍLIAS

BENEFICIADAS

José de Fontes: “Aqui não vou ser roubado como na palafita”

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Brasília Teimosa, de onde foram tiradas as palafitas: daqui a cerca de um ano, moradores deverão ter suas casas de alvenaria

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O presidente da CNBB, car-deal Geraldo Majella Agnelo,cobra pressa de Lula na con-dução das reformas, especial-mente a agrária. “É a mais im-portante reforma que o gover-no pode fazer, porque atingeas raízes da injustiça social.”Arcebispo de Salvador e pri-maz do Brasil, ele elogia nestaentrevista ao Estado o empe-nho do governo em combatera corrupção e manifesta a es-perança de que em 2004 Lulaleve adiante suas reformas.

Estado – Como o sr. avaliao desempenho de Lula?

Geraldo Majella Agnelo –Lula continua gozando deenorme prestígio popular. Is-so significa que está correspon-dendo à expectativa do eleito-rado. É preciso considerar quesua biografia é emblemática ea novidade de um operário noPlanalto está carregada degrande poder simbólico. Mes-mo que muita gente não enten-da as decisões do governo, con-fia em Lula por causa de seupassado. Por isso, espera quemude os rumos políticos doBrasil assim que as condiçõeseconômicas forem favoráveis.

Estado – As ações do go-verno para enfrentar proble-mas sociais são suficientes?

Agnelo – Não há dúvida deque Lula enfatiza, em seu pro-grama de governo e nos dis-cursos, a prioridade à soluçãodos problemas sociais. Penso,

contudo, que suas ações aindanão têm sido tão fortes quantoseus propósitos. Já poderia terrealizado bem mais no campodas políticas sociais, se tivessecontido com mais rigor a voraci-dade dos credores e renegocia-do as condições de pagamentodos juros da dívida. A “dívidasocial” tem prioridade sobrequalquer dívida financeira.

Estado – Como analisa o de-sempenho do governo em rela-ção à reforma agrária?

Agnelo – A reforma agráriaé, a meu ver, a mais importanteque este governo pode fazer,porque é a que mais fundo atin-ge as raízes da injustiça socialem nosso país. Ela precisa serampla e capaz de quebrar a es-pinha dorsal dessa estrutura in-justa, que é a concentração dapropriedade fundiária. Não setrata de intensificar a políticade assentamentos, mas de mu-dar prioridades: o agronegóciopara exportação deve ser o com-plemento natural da agricultu-ra familiar, e não o carro-chefeda política agrícola. O MSTtem posição firme em defesa doPrograma Nacional de Refor-ma Agrária, e merece respeito.

Estado – O governo faz obastante contra a corrupção?

Agnelo – É um dos pontosmais positivos do governo Lula.A atuação do Ministério da Jus-tiça, a nomeação do novo procu-rador-geral da República e a fir-meza do Ministério Público na

investigação de qualquer suspei-ta de ações danosas ao bem pú-blico estão trazendo maior den-sidade ética para a sociedade.

Estado – Qual é a avaliaçãoda Igreja sobre o Fome Zero?

Agnelo – À Igreja cabe a mo-bilização das pessoas e grupos,sensibilizando a sociedade parao problema e debatendo os me-lhores caminhos para sua solu-ção. Ao Estado cabem a formu-lação e a execução de políticaspúblicas que assegurem a todocidadão e cida-dã a seguran-ça alimentar enutricional.Nem um nemoutro pode sec o n t e n t a rcom distribui-ção de alimen-tos. O gover-no deve ultra-passar logo afase das açõesemergenciaise implemen-tar os progra-mas previstos no Fome Zero.

Estado – O governo cami-nhou bem nas reformas?

Agnelo – Não. Sem entrar nomérito das reformas, critico seuritmo de urgência. A sociedadedeveria ter tido mais condiçõesde debater as questões, a partirde um leque de informações se-guras, de modo a formar umaverdadeira opinião pública. Ogoverno usou o marketing que

simplifica os diagnósticos e sómostra a solução que propõe.

Estado – O governo omi-tiu-se em alguma área queexige urgência ou demora aatacar algum problema?

Agnelo – Sim, em duasáreas muito sensíveis. A refor-ma agrária, que a meu vertem prioridade maior do queas da Previdência e tributária,e a promoção de um debatenacional sobre como encami-nhar uma negociação sobera-

na da dívidapública, queprecisará serfeita.

Estado –O que o sr.espera dogoverno?

Agnelo –Nossa expec-tativa é queLula, fiel àsua origempobre e à bio-grafia mar-

cada pela “nobre luta pela jus-tiça social”, assuma corajosa-mente o programa de refor-mas que tire o Brasil de sua po-sição subalterna diante do ca-pital financeiro, e realize o de-sejo popular que o conduziu àPresidência: um governo detransição para outro modelosocioeconômico, com base nodesenvolvimento sustentável,na democracia e na redistri-buição da riqueza. (J.M.M.)

JOSÉ MARIA MAYRINK

Ainda impressionadoscom a boa performancedo presidente em Itaici,

onde falou sobre seu programana assembléia geral do episco-pado, na noite de 1.º de maio,os bispos são unânimes em elo-giar a conduta e as boas inten-ções de Luiz Inácio Lula da Sil-va. Mas, feita essa ressalva, to-dos cobram medidas mais con-cretas do governo, pois achamque está na hora de ele cumpriras promessas de campanha.

A cobrança começa por domGeraldo Majella Agnelo, presi-dente da Conferência Nacionaldos Bispos do Brasil (CNBB)(leia entrevista ao lado), que exi-ge pressa nas reformas, com ên-fase para a agrária. A questãoda terra, a fome, o desempregoe a violência são os principaisproblemas que, na opinião dosbispos, independentemente detendência ideológica, vão desa-fiar o governo em 2004.

“Lula perderá credibilidade,se não retomar o crescimentoeconômico, que foi inexpressivoem 2003”, adverte dom Demé-trio Valentini, bispo de Jales(SP) e membro da ComissãoEpiscopal de Pastoral para oServiço da Caridade, da Justi-ça e da Paz, da CNBB. DomDemétrio ressalta a seriedade ea transparência como qualida-des “inegáveis” do governo, elo-gia a política externa e diz com-preender que Lula tenha opta-do inicialmente pelo choque decredibilidade, para recuperar ocontrole monetário e de despe-sas. Mas lamenta que a conten-ção tenha sido feita com prejuí-zo de programas sociais.

É essa também a opinião dobispo de São Félix (MT), domPedro Casaldáliga, um repre-sentante da esquerda no episco-pado. “Entende-se que houves-se necessidade de Lula se voltarpara o exterior, pela preocupa-ção de salvar a situação econô-mica do País, mas no segundoano é preciso olhar para dentroe enfrentar questões como a re-forma agrária, o desemprego ea renda interna”, diz. Para ele,a violência no campo é fruto deproblemas não resolvidos. “Areforma agrária é uma dívidade cinco séculos”, adverte.

Para o bispo de Jundiaí (SP),dom Amaury Castanho, os re-sultados do primeiro ano de go-verno não correspondem às ex-pectativas criadas por projetosque, em sua opinião, coincidemcom as propostas da CNBB.“O crescimento quase zero doProduto Interno Bruto (PIB) eo desemprego são problemas sé-rios que Lula enfrenta no planodoméstico”, observa domAmaury, um representante dalinha mais moderada do episco-pado que não esconde o entu-siasmo provo-cado pela visi-ta do presiden-te a Itaici.

Guinada –Amigo de Lu-la, que consi-dera sincero ecapaz, domPaulo Evaris-to Arns, arce-bispo emérito(aposentado)de São Paulo,é duro na ava-liação do governo. “Foi um anoindiferente, pois o governo nãoprogrediu nem regrediu em na-da”, avalia o cardeal, acrescen-tando que, como confia em Lu-la, espera que em 2004 ele sejamais realista e não apenas umhomem de discurso. “Talvez asituação tenha piorado paramuita gente, em relação às pro-

messas feitasno dia da pos-se”, observa.

“ E s p e r oque haja umaguinada em2004, pois opovo não po-de mais espe-rar”, reforça obispo de Blu-menau (SC),dom AngélicoSândalo Ber-nardino, ba-

tendo nas mesmas teclas – refor-ma agrária, emprego e poderaquisitivo. “Não estou propon-do radicalismo, mas alertandopara o contraste entre opulên-cia e miséria”, diz. Ele aplaudea política externa, mas critica a“subserviência” do País aosbanqueiros internacionais.

Para o bispo de Petrópolis,

dom José Carlos de Lima Vaz,a Igreja deve reconhecer o esfor-ço do governo em combater acorrupção e o empenho de Lulaem enfrentar o problema da fo-me. Mas adverte que a soluçãodefinitiva é o emprego. “O pro-grama Fome Zero é pontual,não é mudança de estrutura.”

“O povo continua a ter espe-rança no presidente, um ho-mem digno, correto e idealista,mas, por enquanto, temos vistomuito pouco na Amazônia”,diz o arcebispo de Belém (PA),dom Vicente Zico. Sem respon-sabilizar diretamente Lula, poisacha que o problema é tambémestadual e municipal, ele adver-te para o agravamento da vio-lência nas cidades e no campo.

“Fome Zero? Se está funcio-nando em outras regiões, aquiainda estamos esperando peloprograma”, queixa-se dom Vi-

cente. Outro problema no Paráé a precariedade das rodoviasfederais. “Estão uma vergonha,mas ninguém parece se preocu-par com as estradas.”

Positivo – Outro arcebispo daAmazônia, dom Moacyr Gre-chi, de Porto Velho (RO), fazum balanço positivo. “Lula mesurpreendeu pela capacidadede ser presidente e, no contatocom países e organismos inter-nacionais, sabe por onde cami-nhar.” Ele não espera demaisdo governo, mas aposta em al-guns pontos. A começar pela re-forma agrária, que “deveria seracelerada”. Também aponta odesemprego e as reformas polí-ticas como principais desafios.

O arcebispo da Paraíba, domMarcelo Pinto Carvalheira, quetrabalha há mais de 30 anos naregião, prefere não falar sobre a

política para o Nordeste. “Nãoquero atrapalhar a caminhadade ninguém”, diz, alegando queprecisa ter conhecimento maisprofundo da situação para opi-nar. “Sou muito ligado ao Lulae me encontro com ele de vezem quando, mas não é em tudoque a gente concorda.” DomMarcelo tem divergências sobreos rumos da Superintendênciapara o Desenvolvimento doNordeste, a extinta Sudene queo governo promete reativar.

No campo moral, a Igreja dis-corda da política de combate àaids. “A questão em torno dapropaganda de preservativos seoriginou num setor do Ministé-rio da Saúde, sem envolver o go-verno enquanto tal”, ressalvadom Agnelo. A CNBB protes-tou em dezembro contra a di-vulgação de um vídeo sobre ouso da camisinha.

‘ Talvez asituação tenhapiorado para

muita gente, emrelação às

promessas feitasno dia da posse

D. Paulo Evaristo Arns

Igreja espera que,em 2004, governosaia do discursopara a prática

BISPOSELOGIAM,MASCOBRAM

‘A reformaagrária é a

mais importante,porque é a que

mais fundo atingeas raízes da

injustiça socialD. Geraldo Majella Agnelo

O presidente Lula, em momentos deinformalidade: de astro de rock a skatista

CENAS DO GOVERNO LULA

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Há quatro anos as torneirasestão secas na pequena Caetés,onde Lula nasceu, quando a ci-dade pertencia ao município deGaranhuns, no sertão pernam-bucano. Como faz tempo quenão chove forte e o reservatóriosecou, o abastecimento depen-de de caminhões-pipa.

“O povo achou que, apesarda seca, ia ter água com a elei-ção de um conterrâneo parapresidente, mas nada mudouaté agora”, disse o bispo de Ga-ranhuns, dom Irineu RoqueScherer, apreensivo com as con-seqüências da seca na região.

Nas visitas pastorais a Cae-tés, uma das 25 paróquias dadiocese, dom Irineu fica admi-rado com a fé e a esperança dopovo – 5.508 habitantes naárea urbana e 18.629 no cam-po, segundo o censo de 2000.“Apesar de todo o sofrimentoda seca, as pessoas ainda con-fiam em Lula e o PT continuaem alta”, afirma o bispo. Gaú-cho de Cerro Largo, com passa-gem pelo Paraná, ele chegouao Nordeste em 1998.

“A situação está muito gra-ve, porque a água acabou devez, após 4 anos de racionamen-to”, informa o secretário muni-cipal de Agricultura, LuciválterSantana Bernardo, confirman-do a situação de calamidade deCaetés, que é administrada pe-lo PT. Com a seca prolongada,os agricultores perderam 90%da produção de milho, feijão emandioca, calcula o secretário.

Confiança – Apesar de tudo,diz dom Irineu, Lula inspiraconfiança, porque “sabe des-complicar a linguagem e falarde uma maneira que o povo en-tende”. O problema, é que ele“tem um discurso bonito, queencanta e convence, mas o PTnão engrena”. Conseqüência: ogoverno promete, mas as coisasnão acontecem. “O programaFome Zero, por exemplo, deve-ria ser mais arrojado”, diz o bis-po, após criticar a distribuiçãode bolsas-alimentação de R$50. Caetés, onde a renda fami-liar per capita é de R$ 55,8, dis-tribui 337 bolsas. “A Igreja temcolaborado em nível nacional,mas acho que não é essa a solu-ção definitiva, pois quem rece-be o dinheiro na mão perde ogosto de plantar e colher.”

Para mostrar que essa ajudapode aquecer a economia local,mas é pouca diante da penúriageral, ele falou de Itaíba, tam-bém em sua diocese, onde 2 milfamílias se cadastraram e só444 recebem bolsa. “O povo pas-sa fome, mas fica feliz quandovem o caminhão-pipa”, disse.

Violência – Garanhuns e Ca-ruaru, as cidades maiores da re-gião, têm problemas de violên-cia, com homicídios e tráfico dedrogas. “São conseqüência deuma situação de pobreza quedeve ser enfrentada, mesmo sa-bendo que a seca não acaba.”

Dom Irineu atribui à “indús-tria da seca, que explora os po-bres”, o sofrimento do Nordeste.“Garanhuns tem 40 poços aber-tos com dinheiro do governo queestão desativados, e a água conti-nua sendo distribuída em cami-nhões-pipa.” Por que não abrirmais poços artesianos, se a terrasó precisa de irrigação para pro-duzir? O bispo lembra a colabo-ração da Igreja, por meio da Ca-ritas, entidade internacional desolidariedade, que financia a ins-talação de 1 milhão de cisternasno sertão. (J.M.M.)

Lula, na assembléia geral do episcopado, em maio: para a CNBB, está na hora de o presidente cumprir as promessas de campanha

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ROLDÃO ARRUDA

Aquestão da reformaagrária voltou à cena po-lítica com mais força em

2003. E não podia ser diferente.Luiz Inácio Lula da Silva sem-pre foi entusiasta da redistribui-ção de terras e sua ascensão aocargo de presidente da Repúbli-ca reacendeu tanto as esperan-ças do Movimento dos Sem-Terra (MST) quanto os temoresde quem discorda dos métodosdessa organização.

De acordo com o principalpensador e estrategista doMST, João Pedro Stédile, a vitó-ria de Lula abriu uma oportuni-dade histórica de redemocrati-zação da terra. Ele repetiu du-rante o ano todo que a socieda-de brasileira não pode virar ascostas para essa janela no tem-po, como já teria feito em ou-tras três ocasiões – no fim do pe-ríodo escravocrata, no início daindustrialização nos anos 30 ena crise política que resultou nogolpe militar de 1964.

Animados por essa crença, oMST e outras organizações so-ciais intensificaram suas açõese elevaram o tom da reivindica-ção desde o dia da posse de Lu-la. Há tempos não se via tantosconflitos no campo como em2003, de acordo com levanta-mentos da Comissão Pastoralda Terra (CPT), que desde1985 coleta números sobre as-sassinatos, invasões, despejos,acampamentos, confrontos.Em São Paulo, o número deacampados saltou de 4 mil nofim de 2002 para 13 mil em no-vembro deste ano, conforme oInstituto Nacional de Coloniza-ção e Reforma Agrária (Incra).No País todo seriam 219 mil.

Ironia – Mas a animação doMST esbarrou numa espécie deironia histórica. A tão esperadavitória do presidente favorávelà reforma agrária coincidiucom um momento de ouro domodelo agrícola que os sem-ter-ra criticam. O chamado agrone-gócio, a face mais visível dessemodelo, é uma peça fundamen-tal na política econômica do go-verno Lula – assim como foi nogoverno anterior. É um dosprincipais responsáveis pelo su-cesso da balança comercial doPaís, o que significa mais divi-sas, mais dólares em caixa,mais confiança no exterior.

De tudo que se exportou nes-te ano, 42% saiu do agronegó-cio, num total de quase US$ 30bilhões, de acordo com o Institu-to de Pesquisas EconômicasAplicadas (Ipea). Do total debrasileiros em-p r e g a d o s ,37% estão liga-dos ao agrone-gócio.

Para ondequer que seapontem os in-dicadores, osnúmeros sur-p r e e n d e m .No dia 10, aofalar sobre oagronegóciona Comissãode Política Ru-ral da Câmara dos Deputados,o ministro Roberto Rodrigues,da Agricultura, disse que a pro-dução de grãos na safra2003-2004 deve chegar a 127,7

milhões de toneladas – o que re-presenta um salto de 120,9%em relação ao que se produziano início da década passada.

No meio dessas estatísticas,há dois pontos que chamam a

atenção. A pri-meira é que osalto na pro-d u ç ã o d egrãos se devesobretudo àmelhoria daprodutivida-de. Ainda deacordo comnúmeros cita-dos por Rodri-gues, enquan-to a área plan-t a d a c o mgrãos passou

de 37,8 milhões de hectares em1990-1991 para 45,2 milhõesem 2003-2004, numa variaçãode 19,6%, a produtividade nomesmo período passou de 1,5

tonelada por hectare para 2,83t/ha, numa variação de 88,3%.

Frangos – O outro ponto a des-tacar é que o agronegócio noBrasil não é só uma atividadede grandes produtores. Em re-cente entrevista ao Estado, opesquisador Ricardo Abramo-vay, professor titular da Facul-dade de Economia e Adminis-tração da USP (FEA-USP), es-tudioso da agricultura familiar,lembrou que as exportações defrango, um dos ramos mais

bem-sucedidos do agronegócio,são sustentados pela agricultu-ra familiar. “No Brasil não háoposição entre agricultura fami-liar e agronegócio”, disse ele.

Essas informações batem defrente com a idéia bem assenta-da entre os defensores da refor-ma de que o modelo agrícolabrasileiro é caracterizado peloatraso. Hoje, além de empurrarnegócios no exterior, o campotem condições de abastecer dealimentos a mesa de todos osbrasileiros. Mesmo se houver

aumento da demanda, ele pode-rá dar conta do recado, segun-do Rodrigues.

Todas essas informações fo-ram alardeadas durante o anoe esquentaram o debate com aseguinte questão: por que inves-tir na reforma, como querem ossem-terra, quando o atual mo-delo está dando certo?

Instável – O MST tem uma res-posta pronta para rebater cadaargumento a favor do agronegó-cio. Fala-se que os bons núme-ros devem ser creditados maisaos investimentos públicos, ge-nerosamente despejados nasmãos de grandes produtoresdesde os anos 70, do que às ini-ciativas dos empresários agríco-las; que no País ainda convi-vem lado a lado propriedadesmodernas e latifúndios atrasa-dos e improdutivos; que o mode-lo baseado na exportação degrãos é frágil, porque dependede cotações instáveis no merca-do internacional; e que a produ-ção de alimentos consumidosno mercado interno, como o fei-jão, avança num ritmo lento einferior ao do crescimento dapopulação.

De maneira geral o MST nãose deteve tanto na crítica diretaao agronegócio e ao atraso nocampo. Seus líderes e outros de-fensores da mudança do mode-lo, como o ex-deputado federalPlínio de Arruda Sampaio, con-vidado por Lula para elaboraro Plano Nacional de ReformaAgrária, preferiram empurrara discussão para outro eixo, in-sistindo na tese de que a refor-ma é a solução mais barata, rá-pida e eficiente para um proble-ma que vai além do campo – oda grande massa de desempre-gados urbanos.

Essas idéias provocam arre-pios do outro lado. Na opiniãode Xico Graziano, estudioso daquestão agrária, ex-presidentedo Incra e destacado porta-vozdo ponto de vista dos ruralistas,fazer reforma com desemprega-dos que não conhecem os ofí-cios da vida no campo é a mes-ma coisa que jogar fora dinhei-ro público.

O debate deve adentrar 2004com a temperatura ainda maisalta, uma vez que o governo pre-tende pôr em execução o PlanoNacional de Reforma. Emborajá tenha sido desbastado (a pro-posta original de Sampaio pre-via o assentamento de 1 milhãode famílias e o governo baixoupara 400 mil) o texto do docu-mento não pára de provocar po-lêmicas desde que veio a públi-co, em novembro.

O comportamento do presi-dente Luiz Inácio Lula da Sil-va diante do debate da refor-ma foi ambíguo. Em discur-sos, ele reafirmou sempre opropósito de uma reforma am-pla e ao mesmo tempo de qua-lidade – numa constante críti-ca ao seu antecessor, que teriase preocupado apenas em dis-tribuir lotes.

No início de julho, ao rece-ber no Planalto os 27 coorde-nadores nacionais do MST,mostrou-se muito à vontade,como se estivesse entre velhosamigos. Foi quando pôs na ca-beça por alguns instantes o bo-né vermelho domovimento – fa-to que empol-gou os sem-ter-ra e provocouprotestos dosruralistas, teme-rosos de que ogesto servissede estímulo pa-ra atos ilegaiscomo a invasãode propriedades.

Para além do discurso e dosatos simbólicos, porém, a prá-tica do governo, não foi entu-siasmante para os sem-terra.Em primeiro lugar, Lula re-cuou do propósito reafirmado

várias vezes pelo PT de derru-bar a medida provisória que coí-be as invasões de terras no País.Em segundo, fez tão poucos as-sentamentos que o programade campanha, que prometia“medidas de alcance profun-do” diante da existência de “4milhões de famílias de trabalha-dores rurais sem-terra”, ficouparecendo peça de retórica.

No primeiro semestre o go-verno prometeu que seriam as-sentadas 60 mil famílias em2003 – um número muito bai-xo, segundo o MST, que deseja-va uma solução imediata paraas 180 mil famílias que esta-

riam acampadasno País. No se-gundo semestrea meta baixou pa-ra 30 mil e em no-vembro o Incrapatinava paraatingir a marcade 25 mil.

O descompas-so entre intençãoe gesto também

apareceu na análise dos gastos.Do total disposto no Orçamen-to de 2003 para a reforma, o go-verno só usou 25% até a primei-ra quinzena de dezembro.

Outro sinal de que o governonão andaria rápido foi a demis-

são do presidente do Incra,Marcelo Rezende. Origináriodos quadros da CPT e simpáti-co ao MST, de onde tirou no-mes para dirigir superintendên-cias regionais do Incra, ele che-gou ao poder com um discursode tom mais radical que o dese-jado. E caiu.

Recursos – O MST, porém,não ficou totalmente na berlin-da. Ao mesmo tempo em quemanteve a MP contra invasões,o governo pôs abaixo as restri-ções impostas por FernandoHenrique Cardoso para o repas-se de recursos públicos para aAssociação Nacional de Coope-ração Agrícola (Anca) e a Con-federação das Cooperativas deReforma Agrária do Brasil(Concrab), as duas principais

entidades do aparato legal doMST – que não existe oficial-mente. Também melhorou ofornecimento de cestas bási-cas para os acampados – oque favorece o recrutamentode novas pessoas.

Enfim, Lula ainda não dei-xou claro até onde irá. Ao mes-mo tempo em que reafirma oslaços com o MST, mostra en-tusiasmo com o agronegócio.Dias atrás, ao fazer o balançodo primeiro ano de governo,elogiou o ministro da Agricul-tura, Roberto Rodrigues, cha-mando-o de de “mascate agrí-cola”, numa referência a seusesforços para ampliar a pautade exportações. Miguel Ros-setto, do DesenvolvimentoAgrário, responsável pela re-forma, foi esquecido. (R.A.)

‘ No Brasilnão há

oposição entreagriculturafamiliar e

agronegócioRicardo Abromavay,professor da FEA-USP

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

Agronegócio, alvo decríticas do PT e do MST,

vira peça fundamental parapolítica econômica de Lula

‘Entendo pouco de política,mas creio que a situação

está melhorando. O povo temmuitas necessidades e estoucerto de que o governo vai

fazer de tudo para ajudara resolver os problemas

Ronaldo,jogador da seleção brasileira

ENTRE O PRAGMATISMO E O SONHO

‘Dou 7, mais pelo esforço

do Lula do que pelogoverno. O projeto, as idéias e

a vontade do Lula sãograndes demais, mas alguns

auxiliares não executam,empurram com a barriga

Frei Chico,irmão

‘Ele (Lula) só fez arar aterra. Dou nota 6. Em2003 vivemos muitas

frustrações.Acredito que, em 2004,

Lula vai fazer o plantiopara começar a colher

Francisco Fausto,presidente do TST

OGOVERNOAPRENDIZ

SOBOBONÉ,AMBIGÜIDADES

Integrantes do MST, na chegada a Brasília, após marcha em novembro: de acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra, há tempos não se via tantos conflitos no campo como em 2003

NOTA

6NOTA

7

Lula põe na cabeça 2 bonés de movimentos de sem-terra: polêmica

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%HermesFileInfo:X-9:20031231:QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 ESPECIAL O ESTADO DE S.PAULO - X9

Page 29: Retrospectiva Estadão - 2003

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PAULO SOTEROCorrespondente

WASHINGTON – Umano depois de deixaro poder, o ex-presi-

dente Fernando Henrique Car-doso se dispôs a fazer sua pri-meira análise detalhada do go-verno do sucessor. Em entrevis-ta ao Estado, na véspera de em-barcar com Ruth para São Pau-lo, para os feriados de fim deano, ele avaliou vários aspectosdo governo petista e deixou im-plícita uma crítica que provavel-mente surpreenderá muitosdos que celebraram a ascensãode Luiz Inácio Lula da Silva co-mo um triunfo da esquerda.

Para FHC, a marca do novogoverno tem sido a da continui-dade. Mas, nas áreas em quetem tentado mudar, as políticaspropostas não representam umavanço, mas uma volta ao pas-sado do “desenvolvimentismoestatal” que o regime direitistados militares aplicou, com os re-sultados conhecidos. “Há a vol-ta de um sentimento parecidocom o tipo de política que foiproposta na época do generalGeisel, a valorização de um mo-delo que põe mais ênfase no Es-tado do que na sociedade.”

Ruth e Fernando Henriquealugam desde outubro um apar-tamento em Washington, de on-de vão com freqüência ao JohnW. Hughes Center, na Bibliote-ca do Congresso. Ele trabalhanum livro sobre seu governo.Em fevereiro, pretende voltarpara São Paulo, para cuidar doInstituto Fernando HenriqueCardoso. “Acho que um ex-pre-sidente com aminha expe-riência podeter uma vidaativa de inte-lectual e de ci-dadão”, expli-cou. Os princi-pais trechosda entrevista:

Estado – Osr. disse quevêcontinuida-de no gover-no Lula. Parao PSDB, o primeiro ano doPT foi um fracasso.

Fernando Henrique Cardo-so – Todos os governos fazemmudanças. A profundidade va-ria, e depende de momentos his-tóricos. Getúlio Vargas criouuma base que expressou ummomento. No governo de Jusce-lino Kubitschek, o Brasil se de-mocratizou e começou a ter liga-ção com a globalização. Os mili-tares, sobretudo no período Gei-sel, montaram outro modelo.Penso que o Plano Real marcouo início de um novo momento.Quando falo em continuidade,é a isso que me refiro. Não es-tou falando sobre a continuida-de do que eu, como presidente,fiz. Algumas pessoas, inclusiveno próprio PT, achavam queeles tinham um modelo novo.Eu não vi até agora esse mode-lo. O que estou dizendo, ao fa-lar em continuidade, é que nãohouve uma ruptura. E nãoacho isso mau. Não falo em con-tinuidade no sentido de que es-tão fazendo as mesmas coisas,da mesma maneira. Acho queem alguns setores estão até pio-rando. Portanto, não há incom-patibilidade entre o que eu dis-se e o que meu partido diz.

Estado – Por que sua cons-tatação de que há continuida-de provoca reação do PT?

FHC – Não vejo razão paraisso. É falta de maturidade his-tórica. Não estou criticando, es-tou dizendo que não houve rup-tura. Vou dizer com mais clare-

za o que penso. O que está ha-vendo de novo é antigo. Há avolta de um sentimento pareci-do com o tipo de política que foiproposta na época do generalGeisel, a valorização de um mo-delo que põe mais ênfase no Es-tado do que na sociedade. Dife-rente da tendência anterior doPT, que tinha visão mais inter-nacionalista e de esquerda. Oque vemos é uma tendência devolta ao passado, a um desen-

volvimentis-mo estatal. Is-so é diferentedo que eu esta-va fazendo.

Estado – Osr. acha queo governo es-tá empenha-do na volta àpolítica deEstado forte?

F H C –Não, até por-que não conse-

guiria. Essas idéias de Estadoforte não são mais plenamenterealizáveis, porque o contextonão permite. Agora, a tentativade ir por esse caminho é diferen-te do que eu estava fazendo.Não estou dizendo se é melhorou pior. Isso, a história dirá.Mas digo que existe no governouma visão do que foi, no Brasil,uma prática nacional estatista,muito mais do que uma visãodo sonho socialista que inspi-rou o PT. As questões chama-das de esquerda não estão colo-cadas. As que estão postas gi-ram no eixo do nacional-estatis-mo, inclusive algumas que lem-bram o Brasil Grande, que vemdos regimes militares.

Estado – Para fazer o con-traste com seu governo, usa-se o argumento de que o deLula quer o desenvolvimento.

FHC – Mas qual é o governoque não quer o desenvolvimen-to? O problema não é de querer,é de como fazer. Isso não depen-de apenas da vontade do gover-no, mas de circunstâncias. O go-verno Lula pegou um quadro in-ternacional mais favorável doque o do meu período. As crisesfinanceiras diminuíram. O Bra-sil vive um boom exportador,que é o resultado da mudançacambial. A reversão das contasexternas aconteceu há doisanos. A expansão da agricultu-ra também foi montada há al-gum tempo. O que estamos ven-do são os resultados. Aí tam-bém não vejo ruptura.

Estado – Parece haver con-tinuidade também na relaçãocom os EUA, no qual o sr. in-vestiu bastante. Para surpre-sa de muitos, George Bush,que é talvez o presidente maisdireitista que os EUA já teve,e Lula, que é o mais esquerdis-ta da história do Brasil, esta-beleceram diálogo cordial.

FHC – Uma coisa são as rela-ções pessoais, podem ser melho-res ou piores. Aparentemente,há uma química boa entre Lulae Bush, como havia entre mime Clinton. Não sei qual é o grauefetivo dessa química. Isso sóLula e Bush podem dizer.

Estado – A política dos EUAem relação ao Brasil mudou?

FHC – Não. Na transição, ogoverno americano apoiou o go-verno Lula. O Fundo Monetá-rio Internacional, no qual osEUA têm grande influência, te-ve atitude absolutamente positi-va. Também aí não houve mu-dança. Eu tive mais dificulda-des com o FMI, no começo, doque Lula. Não por causa do Lu-la ou de mim, mas por causa dasituação. Nós construímos umasituação boa.A herança éboa. É tão boaque essas orga-nizações to-das ficaramcontentes denão ter havi-do mudanças.

Estado –As negocia-ções da Alcasão o grandedesafio do re-lacionamen-to entre osdois países.O sr. as teriaconduzido deforma dife-rente do go-verno Lula?

FHC – Difi-cilmente. Osamericanosnãoquerem fa-zer duas coi-sas que eu con-siderei condi-ções necessárias à nossa partici-pação: mudar a maneira comousam o antidumping e mexerna questão dos subsídios à agri-cultura. Diante do impasse, de-ram, agora, uma volta por cimae resolveram fazer um cardápiocom múltiplas escolhas. Aí nãohá enfrentamento. A decisãoque Brasil e EUA tomaram em

Miami foi dizer: não vamos bri-gar. Houve uma acomodaçãoconveniente para os dois lados.

Estado – O sr. vê risco, parao Brasil, nessa acomodação?

FHC – O risco que vejo éque, se os EUA forem avançan-do em negociações bilateraiscom outros países, com base nocardápio, vamos ficar isolados.E poderemos ter os EUA comonosso concorrente na Américado Sul. O Brasil é hoje um ex-portador de manufaturas –50% das nossas exportaçõessão de manufaturados, basica-mente para a América Latina eos EUA. Se os nossos vizinhosderem vantagens de acesso aosEUA, vamos competir com osmanufaturados americanos. Es-sas negociações não são fáceis.

Estado – Há riscos na estra-tégia de comércio exterior?

FHC – Precisamos pergun-tar quais serão nossos parceirosdaqui a 20, 30 anos. Será quenão estamos nos arriscando a jo-gar uma carta de isolamento?Isso não é um jogo de respostasfáceis. Decisões que estão se to-

mando agoraterão efeitosmais tarde. Éuma discus-são de interes-se nacionalque nunca ti-vemos. Con-vém a nós ounão a aliançamais profun-da com osEUA? É preci-so que o Brasilpense mais so-bre o queacon-tecerá daqui a20, 30 anos.

Estado – Oque dificultao exame daidéia de apro-fundamentocom os EUA?É o medo? Éo antiameri-canismo?

FHC – É omedo. O antia-

mericanismo, no Brasil, não éforte. Existe nas elites econômi-cas e intelectuais. Na popula-ção não, porque é uma realida-de muito distante. O medo é ofator mais forte. E os EUA sãotão fortes e têm agido nesses úl-timos anos de uma forma tãounilateral, tão arrogante, que sejustifica o medo. Gostamos de

um lado dos EUA, o da prospe-ridade. Mas não gostamos do es-pírito americano, como o consi-deramos. E ultimamente a polí-tica americana acentuou o ladonegativo. O Brasil gostaria deser mais europeu. Na verdade,não seremos nem europeusnem americanos. Temos identi-dade nacional e força própria.

Estado –Lula procla-ma a lideran-ça do Brasilna Américado Sul, mascríticos di-zem que o de-bate da Alcadeixará claroque o País po-de acabarsem ter aquem liderar.

FHC – Dis-se e repito: nosso maior risco ho-je é o de isolamento. Não em pa-lavras. Palavra é fácil. Em coi-sas concretas. Preocupa-me abaixa taxa de investimentos.Nós conseguimos aumentar ataxa de investimentos de 13%para 18%, 19% do PIB. Agoracaiu e está em 13%, 14%. 2003foi muito ruim. E há queda doinvestimento interno. Atrair in-vestimentos não se resolve sócom confiança. É preciso ter po-líticas práticas, o que significacriar condição de continuidade.

Estado – Lula está sendocriticado pelo que ele e outroscriticaram no sr.: a freqüên-cia das viagens ao exterior.

FHC – No mundo de hoje, ospresidentes são obrigados a via-jar. Primeiro, há muitos encon-tros de cúpula que viraram roti-na. O errado foi eles (PT) teremme atacado tanto sem ter no-ção disso. Outro dia o assessorinternacional do Lula (MarcoAurélio Garcia) disse que a dife-rença é que eu fazia viagens pa-ra ter vantagem pessoal e nasviagens do Lula a vantagem épara o Brasil. Relacionamentointernacional, como pessoa, eujá tinha antes de ser presidente.

Estado – Como avalia o de-sempenho dos programas so-ciais, como o Fome Zero?

FHC – Não tenho os dados.Achei, desde o início, que haviaum apelo forte no Fome Zero,mas faltava conteúdo ao apelo.

Estado – Houve mais baru-lho do que execução efetiva?

FHC – Não gosto de progra-

mas de impacto. É coisa de regi-me militar. Tenho medo de queo Fome Zero seja mais impactodo que realidade. Acho que hou-ve certa descontinuidade, porcausa da imensa quantidade denovos programas anunciados.Mas ainda é cedo para julgar.Acho correto terem feito o ca-dastro único. Já tínhamos co-meçado, com o cartão magnéti-co. É bom que haja um controleunificado. Mas acho que o Bra-sil não tem alternativa a não serfortalecer as instituições locais.

Estado – Qual é o efeito dadescontinuidade na execuçãode programas sociais?

FHC – É a perda de velocida-de. Demora para ganhar o im-pulso necessário para esses pro-gramas mostrarem efeito. Porexemplo, está aparecendo ago-ra, com mais clareza, o que fize-mos em educação. Acusavammeu governo de não fazer nadae só olhar para o mercado. Ou-tro dia vi o ministro Palocci di-zer que a diferença do atual go-verno em relação ao meu é que,agora, estão cortando despesaspara valer. Ele disse isso comalegria. Eu diria com tristeza.

Estado – Na educação, o go-verno quer esvaziar o provão.

FHC – Sou contra. O provãofoi uma luta importante, que asociedade comprou.

Estado – Há diferenças en-tre a sua política de reformaagrária e a de Lula?

FHC – O problema agráriono Brasil foi muito politizado.O MST e o PT convenceram asociedade de que o Brasil depen-dia da reforma agrária, isso nomomento em que estava haven-

do uma revo-lução agríco-la, em que oagronegócioestava se ex-pandindo. Ofuturo do Bra-sil não depen-dia da refor-ma agrária,mas o futurode muita gen-te dependiade ter terra. Éuma questãosocial impor-

tante. Não havia e nós criamosum programa para financiar apequena agricultura. Tenho asensação de que o contingentede pessoas que precisa de terrae sabe trabalhar na terra está es-gotado. Começa a haver outroproblema: é gente pobre em bus-ca da terra como um bem, umapropriedade, um valor.

Estado – O novo governopode inovar nessa área?

FHC – O que há a fazer é con-solidar o que existe. Fui força-do, pelo momento político, pelapressão, a assentar muito de-pressa, para evitar o aumentodas invasões e o caos no campo.Imagino que as invasões, ago-ra, tenham diminuído.

Estado – O senhor temmantido contato com Lula?

FHC – Estivemos juntos al-gumas vezes. Tenho uma rela-ção sincera de amizade, admira-ção pelo Lula. Torço por ele.Acho que Lula tem feito das tri-pas coração nas circunstâncias,para fazer frente às promessase expectativas que ele e seu par-tido criaram. Acho que tem agi-do com responsabilidade nasquestões nacionais. Querem mejogar contra o Lula. Não quero,mas não vou deixar de me pro-nunciar e dizer o que, como pes-soa, cidadão, como homem doPSDB, tenho o direito e até o de-ver de dizer. Acho que chegou aépoca de maturidade. Não pre-cisam mais ficar nervosos quan-do digo que não houve ruptura.Nem devem querer que a gentecale a boca. Maturidade impli-ca respeitar a opinião do outro.

‘Algumaspessoas,

inclusive no PT,achavam que eles

tinham ummodelo novo. Não

vi até agoraesse modelo

‘Não gosto deprogramas de

impacto. É coisade regime militar.Tenho medo de

que o Fome Zeroseja mais

impacto querealidade

FHC critica volta domodelo Geisel, que

enfatiza mais o Estadoque a sociedade

‘OQUEESTÁHAVENDODENOVOÉANTIGO’

‘Existe uma

visão do que foiuma prática

nacional estatista,muito mais do quea visão do sonho

socialista queinspirou o PT

CENAS DO GOVERNO LULA

15 de julho: um guarda real esquece a primeira-dama, Marisa Letícia, no Rolls-Royce, em Madri; o rei Juan Carlos vai resgatá-la

OGOVERNOAPRENDIZ

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FHC: “Eu tive mais dificuldades com o FMI, no começo, do que Lula. Não por causa do Lula ou de mim, mas por causa da situação”

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MUNDOAJUDOUEM2003FERNANDO DANTAS

Ao final do primeiro anodo governo Luiz InácioLula da Silva, o temor,

vivido em 2002, de que o presi-dente petista fizesse uma ges-tão econômica populista e ir-responsável, e levasse o Paísao colapso, está tão enterradoque parece quase surreal. Noentanto, há menos de um anoe meio, quando o dólar bateuem R$ 4 e o risco Brasil supe-rou 2.400 pontos, era exata-mente aquele medo que moviaos mercados e premiava a es-perteza dos especuladores.

A política macroeconômicade Lula controlou a crise, bai-xando o risco Brasil para me-nos de 500, e estabilizando odólar em torno de R$ 2,90. Emreação ao fim da turbulência,e à possibilidade de a econo-mia voltar a crescer em 2004,o índice da Bolsa de São Paulo(Ibovespa) atingiu nível recor-de no final do ano, subindomais de 150% desde o pior mo-mento, em outubro de 2002.

Apesar dos indicadores fi-nanceiros positivos, houveuma profunda decepção porparte daqueles que esperavamque Lula, dando conseqüênciaa anos de pregação do PT con-tra o neoliberalismo, o arrochomonetário e a visão fiscalistada economia, fosse baixar osjuros, retomar os gastos e in-vestimentos públicos e (supon-do que funcionasse) botar aeconomia para crescer imedia-tamente.

Na verdade, Henrique Mei-relles, presidente do BancoCentral (BC), elevou inicial-mente os juros básicos (Selic)de 25% ao ano para 26,5%, e oministro da Fazenda, AntonioPalocci, ampliou o superávitprimário (exclui pagamentode juros) de 3,9% para 4,25%do PIB. 2003 acabou sendoum ano duríssimo para a eco-nomia, e vai fechar com cresci-mento próximo a zero, alto de-semprego e forte queda na ren-da real dos trabalhadores.

“Do ponto de vista da políti-ca econômica, este primeiroano foi de continuidade, comdesemprego em alta e salárioem baixa”, diz Paulo Pereirada Silva, o Paulinho, presiden-te da ForçaSindical.

P a r a o smuitos defen-sores de Pa-locci, porém,o desempe-nho pífio daeconomia em2003 foi o pre-ço a ser pagopara debelara turbulênciainiciada em2002, que pro-vocou um cor-te abruptodos fluxos ex-ternos de capi-tal e temoresde um caloteda dívida pú-blica e cam-bial do País.A crise em2002 foi atri-buída pormuitos ao fa-voritismo doPT na eleiçãopresidencial,combinadocom o históri-co do partidode contesta-ção à políticaeconômica ortodoxa. Isto, éclaro, numa situação de vulne-rabilidade do País, causada pe-la grande dívida pública e peloendividamento externo do go-

verno e do setor privado.Na visão favorável ao Lula

presidente, o sacrifício dos ju-ros altos foi um mal necessáriopara combater o surto inflacio-

nário causado pela alta do dó-lar. Já a política fiscal aperta-da foi considerada crucial pa-ra restabelecer a confiança dosinvestidores externos e inter-

nos na solvênciado setor público.O crescimentoda relação entrea dívida públicae o PIB foi maisou menos estan-cado em 2003,embora perma-neça em nívelmuito alto.

Juros – A recu-peração da con-fiança, combina-da com o nívelmais desvalori-zado do real( c o m p a r a d ocom o períodoanterior à crisede 2002), levouà estabilizaçãodo dólar e à que-da do risco Bra-sil. Assim, foicriado o ambien-te propício à re-dução da Selicde 26,5% para16,5%, de junhoa dezembro, an-tecipada pelaqueda dos jurosde mercado. Fiel

à ortodoxia, o governo reno-vou o acordo com o Fundo Mo-netário Internacional (FMI).

Os admiradores de Palocciacham que Lula não só mante-

ve aspectos positivos da políti-ca econômica do governo ante-rior, como os aprofundou. “Oimportante no governo Lulafoi não só o cuidado com aquestão fiscal do curto prazo,mas também com equilíbriono longo prazo”, diz o econo-mista José Alexandre Scheink-man, da Universidade de Prin-ceton, referindo-se à reformada Previdência do setor públi-co. Também foram elogiadasa manutenção do superávit pri-mário de 4,25%do PIB para2004 e 2005, e asua obtenção,em 2003, via cor-te de despesas, enão de aumentode impostos.

No último tri-mestre do anopassado, com ainflação sob con-trole e o setor externo em equi-líbrio, puxado pelo surpreen-dente crescimento das exporta-ções e do saldo comercial, co-meçou a ser vislumbrada a pos-sibilidade de uma queda dosjuros reais para níveis jamaisexperimentados no períodoposterior ao Plano Real. O cha-mado “juro real” é o piso dosjuros de mercado descontadosda inflação, acima do qual semovem todas as taxas efetiva-mente pagas pela massa de em-

presas e consumidores.O piso dos juros reais, que

iniciou 2003 na faixa de 18%ao ano, caiu para menos de9,5% em dezembro. Em 2000,quando a economia cresceu4,4%, o piso não caiu jamaisabaixo de 10%. Agora, já seprevê que ele chegue a 8% aolongo de 2004, ou a até menos.É a perspectiva desta quedainédita dos juros reais, combi-nada com diversos indicado-res da recuperação da ativida-

de econômicano fim de 2003,que alimenta ootimismo em re-lação a 2004.

A animaçãocomeça a chegaràs empresas, de-pois da durezade 2003. “O acer-to macroeconô-mico tem efeito

direto e imediato na nossa ati-vidade”, observa Paul Altit, vi-ce-presidente de Finanças eRelações com Investidores daBrasken, o maior grupo petro-químico da América Latina.

Por outro lado, muitos de-fensores da gestão macroeco-nômica de Lula têm críticas àsditas questões “microeconômi-cas”, como regulação, infra-es-trutura, modelo energético, es-tímulo aos investimentos etc.(ver páginas 15 e 17).

Economia não cresceuem 2003: mal necessário,para defensores de Lula;decepção, para os críticos

AARRUMAÇÃODACASA

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

‘Este primeiro ano foi de

continuidade. Esperamosque o Lula passeie menosno próximo ano e cuide

mais de fazer o País voltara crescer e ter

empregosPaulo Pereira da Silva,

presidente da Força Sindical

‘Foi só parte de uma

longa caminhada, mastrouxe ânimo e

credibilidade paraavançarmos em direção à

recuperação dosindicadores sociais

Marcio Cypriano,presidente do Bradesco

‘O governo Lula

surpreendeu. Afastoua inflação e diminuiu o

risco Brasil. Foipragmático e

determinado. Masexcedeu-se nos ajustes

Horácio Lafer Piva,presidente da Fiesp

OGOVERNOAPRENDIZ

BM&F, em São Paulo: apesar da retração econômica, risco Brasil em queda e estabilização levaram euforia ao mercado financeiro

SINAIS DE CONFIANÇADesempenho de alguns indicadores de mercado, em 2003

Fonte: mercado

Risco país (em número de pontos)

1.328

1.1781.044

822 799801 788

705694

60931/Jan.

28/ Fev.

31/Mar.

30/Abr.

30/Mai.

30/Jun.

31/Jul.

29/Ago.

30/Set.

31/Out.

28/Nov.

1.44631/12/02

529

Bovespa (em número de pontos)

31/Jan.

28/Fev.

31/Mar.

30/Abr.

30/Mai.

30/Jun.

31/Jul.

29/Ago.

30/Set.

31/Out.

28/Nov.

10.941

10.28011.273

12.55613.421

13.29113.571

15.17416.010

17.982

11.26831/12/02

20.183Inflação (IPCA) – em %

Dólar (em R$)

3/Fev.

5/Mar.

1/Abr.

2/Mai.

2/Jun.

1/Jul.

1/Ago.

1/Set.

1/Out.

3/Nov.

3,5153,553

3,313

2,9652,980

2,837

3,0302,986

2,9052,850

1/Dez.

2/Jan.

3,530

2,926

30/Dez.

468

30/Dez.

22.236

30/Dez.

2,903

1,461,37 1,38

0,99

-0,06

0,040,18

0,82

0,390

Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.Jan.

0,37

2,47

NOTA

4

O mundo ajudou o presi-dente Luiz Inácio Lula daSilva no seu primeiro ano demandato. Mesmo não cres-cendo, a economia brasileirase estabilizou, e, para isto, acontribuição do cenário in-ternacional favorável foi fun-damental.

Os Estados Unidos volta-ram a crescer, injetando âni-mo e demanda na economiaglobal, o que estimulou as ex-portações do Brasil. Por ou-tro lado, a retomada ameri-cana não foi explosiva a pon-to de levar o Federal Reser-ve (Fed, banco central dopaís) a subir os baixíssimosjuros básicos, de 1% ao ano.

Neste ambiente de baixosjuros internacionais, os capi-tais globais buscam mais re-torno, e fluem para investi-mentos mais arriscados erentáveis nos países emer-gentes, como o Brasil. O Paístambém está sendo beneficia-do pelo crescimento espeta-cular da China e de outraseconomias asiáticas, que es-tá puxando as exportaçõesbrasileiras de ferro, aço, pro-dutos agropecuários e maté-rias-primas em geral.

O cenário internacional ró-seo, porém, tem bases frá-geis, por causa dos enormesdéficits fiscal e externo dosEstados Unidos. A grandemaioria das previsões para2004 é positiva, mas os ana-listas frisam que há riscos eincertezas pairando sobre aeconomia global. “Pareceque estamos voltando a umperíodo de calma mundial,mas a situação está no míni-mo esquisita”, comenta An-drei Spacov, economista-che-fe do Unibanco.

E, além dos Estados Uni-dos, há outras incertezas nocenário: a sustentabilidadedo ritmo vertiginoso de cres-cimento da China, o perenemarasmo das economias ja-ponesa e européia, o risco degrandes atentados terroris-tas e turbulências geopolíti-cas, uma eventual disparadados preços do petróleo etc.(F.D.)

JURO REAL

ESTÁ CAINDO

PARA NÍVEIS

INÉDITOS

Ed

uard

oN

icol

au/A

E

NOTA

7NOTA

7,5

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:X-11:20031231:QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 ESPECIAL O ESTADO DE S.PAULO - X11

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Produto: ESTADO - BR - 12 - 31/12/03 CompositeX12 -

Produto: ESTADO - BR - 12 - 31/12/03 CompositeX12 -

LU AIKO OTTA

BRASÍLIA – O Partidodos Trabalhadores, quedurante anos pregou a

ruptura com o Fundo Monetá-rio Internacional (FMI), termi-nou seu primeiro ano no co-mando do País fechando umnovo acordo com a satanizadainstituição, no valor de US$ 14bilhões, que valerá para o anode 2004. É fato que o acordonão foi assinado para socorrerum país à beira do abismo, co-mo nas experiências passadas.No entanto, o arrocho nos gas-tos públicos, principal alvo dascríticas aos programas com oFMI, continuará. Não por im-

posição do Fundo, mas por deci-são do próprio governo de LuizInácio Lula da Silva.

Mudou o Fundo ou mudou oPT? “Mudou o Brasil”, respon-deu o presidente nacional doPT, José Genoíno. A mesma ava-liação é feita pelo ex-ministro daFazenda Mailson da Nóbrega,sócio da Tendências Consulto-ria Integrada. “O PT mudoumuito, para sorte deles e do Bra-sil.”

Mailson acha que a decisão derenovar com o FMI viria do go-verno do PT ou de qualquer ou-tro nas atuais circunstâncias.Mais do que uma decisão progra-mática, o novo acordo com oFundo é, acredita ele, resultadode um processo de amadureci-mento institucional em torno dapolítica econômica nacional.“Gerou-se uma rotina de infor-mações, o Brasil se integrou aomundo globalizado, houve uma

sofisticação da imprensa e domercado financeiro”, disse. “Seo governo fizer alguma besteira,isso se reflete nos prêmios de ris-co, na taxa de câmbio, nas expec-tativas dos agentes econômicos enas manchetes dos jornais.”

Então, o governo do PT foi aoFundo. “Tínhamos um progra-ma de US$ 30 bilhões e não sepode sair de um acordo desse ta-manho sem um certo colchão pa-ra, diante de uma turbulência ex-terna, não ameaçar a nova fasede crescimento”, justificou Ge-noíno, repetindo um argumentodo ministro da Fazenda, Antô-nio Palocci. “É uma espécie deseguro, que é bom que não seuse.”

O presidente do PT afirmaque não há nenhum desconfortocom isso. O ministro Palocci lem-bra que o relacionamento doBrasil com o FMI é o de sócio eindepende de partidos. O mes-

mo diz a vice-diretora gerentedo FMI, Anne Krueger: o FMItem acordo com diversos paísesgovernados por partidos de cen-tro-esquerda.

Isso não im-pediu, porém,que o temaFMI provocas-se ruído den-tro do governona hora de tor-nar oficial a de-cisão de nego-ciar um pro-grama para2004. No finalda manhã dodia 4 de no-vembro, Paloc-ci chegou aoMinistério da Fazenda, vindo deuma reunião do Planalto, e avi-sou aos repórteres que estavamna porta: “Daqui uns 20 minu-tos, o Joaquim desce para con-

versar com vocês”. Bem mais de20 minutos depois, o secretáriodo Tesouro Nacional, JoaquimLevy, acompanhado pelo chefeda missão do FMI que se encon-

trava no País,Jorge Már-quez-Ruarte,parou no tér-reo para infor-mar à impren-sa oficialmen-te, pela primei-ra vez, que oBrasil ia simrenovar seup r o g r a m acom o FMI. Al-gumas horasdepois, o presi-dente Lula,

que se encontrava na África doSul, desautorizou a informação,dizendo que nada seria decididona sua ausência do País.

No entanto, já no dia seguin-

te, o formato do novo progra-ma foi anunciado. Nos dias se-guintes, interlocutores da áreapolítica se dedicaram a espa-lhar a versão de que Levy teriaanunciado a renovação porconta própria, atropelando atéo presidente. Intencionalmen-te ou não, criou-se uma blinda-gem para as autoridades petis-tas do governo. Para o registroda história, fica que a renova-ção do acordo foi anunciadapor Levy, um técnico herdadodo governo passado.

Desde janeiro, quando per-guntado sobre a relação do Bra-sil com o FMI, Palocci tomavao cuidado de manter aberta aporta para um novo programa,mas dava a entender que, noque dependesse de sua vonta-de, o acordo não seria prorroga-do. “É cumprir o contrato (en-tão em vigor) e boa noite, obri-gado”, disse ele, em janeiro.

Desafio em 2004será combinar contas

externas saudáveis comPIB em alta

OANODAVIRADAEXTERNA

‘ (O acordo) éuma espéciede seguro,que é bomque não

se useJosé Genoíno,

presidente do PT

No primeiro ano degoverno, Lula acertou um

acordo ‘preventivo’ deUS$ 14 bi com o Fundo

Com a ajuda de produtos agropecuários, como a soja, as exportações brasileiras cresceram mais de 20% em 2003, para US$ 73 bilhões

PATRÍCIA CAMPOS MELLO

OBrasil prepara-se paraenfrentar um grande de-safio – combinar ajuste

externo com economia em cresci-mento. Em 2003, o País debeloua vulnerabilidade externa e deveencerrar o ano com um superá-vit de cerca de US$ 3,8 bilhõesna conta corrente, seu melhor re-sultado desde 1992. As glóriasdo desempenho vão para o sur-preendente resultado da balan-ça comercial, que termina o anocom superávit acima de 24,5 bi-lhões. Trata-se, porém, de um su-perávit que dependeu de impor-tações praticamente no mesmonível de 2002, o que em parte foicausado pelo crescimento quasenulo da economia em 2003.

No ano que vem, o Produto In-terno Bruto (PIB) volta aos ei-xos e deve crescer, segundo amaior parte da projeções, de 3%a 4%, elevando também as im-portações. Será que com isso oPaís voltará a seu ciclo de “stop-and-go”, com aumento da vulne-rabilidade externa obrigando ogoverno a, mais uma vez, elevara taxa de juros e brecar a ativida-de econômica?

“O ajuste que fizemos vai dei-xar o crescimento potencial me-nos dependente do balanço depagamentos”, aposta AndreiSpacov, economista do Uniban-co. O País saiu de um déficit (emconta corrente) de US$ 24 bi-lhões em 2000 para um superá-vit de US$ 3,8 bi-lhões. No passa-do, explica Spa-cov, todas as ve-zes que o Brasilcomeçava a cres-cer, batia emum problemade balanço depagamentos. Aeconomia se ex-pandia, e aí vi-nha uma explo-são nas importa-ções, que torna-va o País vulne-rável de novo.

Além disso,toda vez que ogoverno redu-zia os juros, aeconomia sereaquecia, masaí o câmbio sedesvalorizava –para enfrentara fuga de capi-tais externos pa-ra outros paísesmais rentáveis,

desencadeada pelos juros maisbaixos. Com o dólar em alta, ainflação subia de novo e o gover-no era obrigado a elevar os ju-ros, brecando a economia. Daío “stop-and-go”. “Mas agora édiferente, o BC vem reduzindoos juros e a moeda não está sedesvalorizando. Pelo contrário,o real está em alta”, diz Spacov.

“Não se pode comparar o Bra-sil superavitário com o País detrês anos atrás, quando tinhadéficits em conta corrente demais de US$ 20 bilhões. Hojepodemos reduzir os juros semtemer desvalorização cambialtão grande.”

Com a volta do crescimento,analistas prevêem aumento nas

importações de 10% a 20%. Oque é saudável, uma vez que in-sumos importados são necessá-rios para aumentar a capacida-de de produção e também paragarantir as exportações.

Mas o equilíbrio é tênue e nãose pode sacrificar o superávit co-mercial dos últimos dois anos.Conseguir aumentar a corrente

de comércio – importações maisexportações – é a fórmula paramanter o ajuste em uma econo-mia aquecida. “No ano que vem,acredito que conseguiremos terum aumento na corrente de co-mércio com crescimento de 19%nas importações e 10% nas ex-portações”, diz Ricardo Amo-rim, chefe de Pesquisa para a

América Latina da consultoriaIdea Global. Em 2003, as impor-tações cresceram, mas menos de2%. O valor é baixo porque ascompras externas vinham deuma base muito deprimida – caí-ram 15% em 2002, em relaçãoao ano anterior.

Para que o saldo comercialnão encolha com o salto das im-portações, é importante incenti-var as exportações. As vendas ex-ternas vão encerrar 2003 com

crescimento demais de 20% emrelação ao anopassado. Novosmercados, moe-da competitiva,boom do agrone-gócio, valoriza-ção das commodi-ties e aumento daparticipação daChina foram al-

guns dos fatores que colabora-ram para o crescimento. Mas es-se ritmo será difícil de manter.Analistas prevêem aumento de3% a 9% nas exportações.

O Brasil deve voltar a ter défi-cit em conta corrente no ano quevem, projetado em US$ 4,6 bi-lhões pelo Banco Central. O su-perávit das transações correntesdeste ano foi uma adaptação for-çada que o País teve de fazer à es-cassez de financiamento exter-no, que secou depois dos atenta-dos de 11 de setembro e durantea transição política.

Neste ano, com os juros inter-nacionais muito baixos e o au-mento da liquidez, houve umavolta dos empréstimos externos.Mas os investimentos estrangei-ros diretos, de US$ 16 bilhõesem 2002, neste ano minguaram

para cerca deUS$ 9 bilhões.

“A turbulên-cia de 2002 ba-teu no fluxo deinvestimentosdeste ano”, dizAntônio Corrêade Lacerda, pre-sidente da So-beet. Ele prevêum fluxo deUS$ 13 bilhõesem 2004.

Mesmo as-sim, o Brasilnão vai poderabrir mão depolpudos supe-rávits comer-ciais e maisuma vez ceder àtentação de de-pender da pou-pança externa.“Estamos con-denados a gerarsuperávits deUS$ 20 b i -lhões”, diz ele.

OPTSERENDEAOFMI

CENAS DO GOVERNO LULA

OGOVERNOAPRENDIZ

Rob

son

Fern

and

jes/

AE

Ed

Ferr

eira

/AE

Reu

ters

Lula e o governador Geraldo Alckminna festa dos 50 anos da VW no Brasil

Lula,com ogovernadorZeca do PT(MS), dirigecolheitadeiranumassentamentoem PontaPorã

É PRECISO

AUMENTAR

CORRENTE DE

COMÉRCIO

Ed Ferreira/AE

PresidenteLula visita

modelode casa

popular emRondonópolis

(MT), como governador

BlairoMaggi

Fonte: Banco Central

CORREÇÃO DE RUMOS

10,7

Saldo da conta-corrente(em US$ bilhões)

Saldo da balança comercial(em US$ bilhões)

90 92 94 96 98 00 02 03*04*0191 93 95 97 99

-10

-5

0

5

10

15

20

25

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

90 92 94 96 98 00 02 03*04*0191 93 95 97 99

13,4

-8,4

13,5

24,5

19,0

-3,8

-0,6

-24,4

-34,9

3,8

-4,6

Os fatores que impulsionaramas exportações

As vendas para a Argentinase recuperaram, crescendo90%

A China se tornou osegundo parceiro comercialdo Brasil

O País conquistou novosmercados, como OrienteMédio e Leste Europeu

O preço internacional decommodities como soja e açosubiu

A safra agrícola foi recorde

O superávit gigante

*Previsão

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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Page 32: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - BR - 13 - 31/12/03 CompositeX13 -

Produto: ESTADO - BR - 13 - 31/12/03 CompositeX13 -

‘O primeiro ano do

governo foipragmático: ele deixou o

discurso eleitoral eoperou bem a política e a

economia. Isso é ofundamental

Heron do Carmo,economista da Fipe

RECORDEPARAESQUECERMÁRCIA DE CHIARA

Aestabilização da econo-mia em 2003 custou ca-ro para os brasileiros,

com férias coletivas fora de horanas indústrias, níveis recordesde desemprego e queda na ren-da real.

Os números do Produto Inter-no Bruto (PIB) do primeiro se-mestre, apurados pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), confirmaram o quetecnicamente se configura umarecessão. Por dois trimestresconsecutivos o indicador fechouem queda na comparação com operíodo imediatamente ante-rior. No primeiro trimestre des-te ano, o PIB recuou 0,8% anteo último de 2002 e, no segundotrimestre, a retração foi de 1,2%ante o primeiro trimestre. Al-gum alívio ocor-reu no terceiro tri-mestre com cres-cimento do PIBde 0,4%.

Apesar de oPIB, a medida detodas as riquezasproduzidas noPaís, ter ficadopraticamente es-tagnado em2003, a políticamonetária aperta-da e o ajuste nascontas públicassão consideradosfundamentais pa-ra o arranque da atividade.“2003 não foi perdido, foi umano de ajuste”, afirma o coorde-nador do Núcleo de Bancos deDados Especiais do InstitutoBrasileiro de Economia (Ibre)da Fundação Getúlio Vargas,Aloísio Campelo Jr. Ele observaque a credibilidade do País foi re-cuperada com o controle da in-flação e das contas públicas.

Para Campelo Jr. ainda não épossível afirmar se a tímida re-cuperação da atividade esboça-da nos indicadores, neste finalde ano, é sustentável ou se se tra-ta apenas de uma bolha. “A pa-lavra-chave daqui para frente éo aumento do investimento”,ele diz. Mantido o lento ritmo derecuperação, ele acredita que

não haverá gargalos para essaexpansão da atividade, ao me-nos no primeiro semestre de2004. Após esse período, no en-tanto, as restrições na capacida-de produtiva, compensadas viaaumento de preço ou de impor-tação, podem aparecer, a menosque se estimule investimento.

Para muitos empresários eanalistas, a retomada sustentá-vel do crescimento da econono-mia em 2004 está nas mãos dopróprio governo. Nesta visão, odeslanche da economia de for-ma consistente no próximo anodependerá da concretização dasreformas tributária e previden-ciária, além do estímulo ao in-vestimento por meio da conti-nuidade da queda dos juros e deregras mais claras, especialmen-te no setor de infra-estrutura.

O empresário Abílio Diniz,presidente doConselho de Ad-ministração doGrupo Pão deAçúcar, diz que arecuperação daeconomia não se-rá uma bolha namedida em queos juros conti-nuem caindo eque a venda a cré-dito cresça.

Já o presidenteda Federação doComércio do Es-tado de São Pau-lo (Fecomercio

SP), Abram Szajman, vincula ocrescimento sustentado ao inves-timento, tanto privado como pú-blico. Por enquanto, ele diz, nãohá evidências de que os investi-mentos estejam ocorrendo.

O presidente da CâmaraAmericana de Comércio de SãoPaulo (Amcham-SP) e do Con-selho de Administração da Di-xie-Toga, a maior indústria deembalagens plásticas da Améri-ca Latina, Sérgio Haberfeld,acha que a retomada consisten-te está começando, e acreditaque esse movimento deverá sermantido no ano que vem. “Co-mo 2004 será um ano eleitoral eo partido do governo quer ga-nhar mil prefeituras, ele deveráacelerar a economia para ga-

nhar eleições.”“A retomada só será ‘vôo da

galinha’ (curto e baixo) se o go-verno não der a partida para es-timular o investimento”, diz oeconomista-chefe da LCA Con-sultores, Luís Suzigan. Ele pon-dera que a retomada está sendomais lenta do que a esperadapor causa do baque na rendareal, que acumula perda de 20%em relação a três anos atrás.

Para Suzigan, dois dos três in-gredientes que sustentam a eco-nomia estão com desempenhogarantido em 2004. As exporta-ções vão continuar indo bemgraças ao crescimento da econo-mia mundial e à conquista denovos mercados. O consumotambém deve melhorar por con-

ta da recuperação da renda real,estimada entre 5% e 6%, espe-cialmente por causa da reposi-ção da inflação passada por índi-ce bem superior à perspectivade inflação futura. O pilar quecontinua fragilizado é o do inves-timento.

Neste aspecto, o pesquisadorda Fundação Instituto de Pes-quisas Econômicas (Fipe), He-ron do Carmo, acredita que ha-ja espaço para que o governo se-ja o indutor do investimento.“Existe a possibilidade de que ogoverno reduza o custeio e invis-ta esses recursos.” Ele ressaltaque a continuidade na quedados juros e a ampliação do crédi-to poderão garantir o crescimen-to entre 3,5% e 5%.

Custo foi alto para o brasileiro comum,mas empresários vêem oportunidade deretomada, se governo fizer o seu papel

para estimular os investimentos

MARCELO REHDER

O desemprego promete ba-ter todos os recordes no pri-meiro ano do governo Lula.Na Região Metropolitana deSão Paulo, a taxa médiaanual, pesquisada pela Funda-ção Sistema Estadual de Aná-lise de Dados (Seade) e o De-partamento Intersindical deEstatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), deve su-perar até a de 1999, ano dadesvalorização do real. De ja-neiro a outubro de 2003, a mé-dia estava em 20,1% da Popu-lação Economicamente Ativa(PEA). Em 1999, o índice mé-dio foi de 19,3% – o maior des-de 1985, quando se iniciou apesquisa (ver tabela).

“O ano está sendo um de-sastre para o mercado de tra-balho”, diz o ex-diretor-técni-co do Dieese Sérgio Mendon-ça, que acaba de assumir a Se-cretaria de Recursos Huma-nos do Ministé-rio do Planeja-mento. Ele dizque o baixo cres-cimento da eco-nomia limita ageração de pos-tos de trabalhoa um nível insu-ficiente paraderrubar o de-semprego. Há 2milhões de desocupados naRegião Metropolitana de SãoPaulo – 1 em cada 5 trabalha-dores.

Nas média das 6 regiões me-tropolitanas pesquisadas peloInstituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) – Reci-fe, Salvador, Rio de Janeiro,São Paulo, Belo Horizonte ePorto Alegre –, o desempregose manteve em torno do nívelrecorde de 13% desde agosto,só caindo um pouco, para12,2%, em novembro. O rendi-mento real médio dos traba-lhadores caiu 13% entre no-vembro de 2002 e 2003.

“É como uma bola de ne-ve”, compara Cimar Azeredo

Pereira, gerente da pesquisamensal de emprego do IBGE.Explica-se: a queda na rendae o aumento do desemprego le-vam mais pessoas de umamesma família a procurar tra-balho, para reforçar a rendafamiliar. Isto aumenta a taxade desemprego, porque repre-senta mais desocupados em re-lação à PEA. Como essas pes-soas geralmente só obtêm ocu-pação no mercado informal,de baixíssima remuneração, orendimento médio volta acair, num círculo vicioso. Me-tade dos trabalhadores nãotem carteira assinada.

As prioridades de políticaeconômica no primeiro anode governo passaram longe deações para a retomada do em-prego e da renda. Medidas al-tamente recessivas foram to-madas em boa parte de 2003,para evitar uma explosão in-flacionária. O PIB no ano pra-ticamente não deve crescer.

A reação daeconomia esbo-çada neste fimde ano abre es-paço para a re-dução do de-semprego, masesse processo sódeverá ganharfôlego dentrode seis meses.“Normalmen-

te, há uma defasagem entre oreaquecimento e a decisão decontratar”, diz Antônio Car-los Borges, diretor da Federa-ção do Comércio do Estadode São Paulo. Ganhos de efi-ciência e produtividade duran-te a retração podem atrasar ascontratações, até a certeza deque a retomada não é bolha.

Para Mendonça, o mercadode trabalho pode dar sinal demelhora a partir de maio, aofim da fase sazonalmenteruim para o emprego: “O pro-cesso pode ser mais intenso sediminuir o ritmo de queda darenda, porque isto abre umajanela para a retomada do em-prego no setor de serviços”.

RECESSÃO, AOUTRA FACE DO AJUSTE

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

‘ O governo construiu umasólida base para o

desenvolvimento.Reconquistamos nossa

credibilidade, controlamos ainflação. Empresário não

deve dar nota ao governoAbílio Diniz, presidente do conselho de

administração do Pão de Açúcar

NOTA

8‘

O Brasil era um aviãoque estava caindo.

Conseguiram estabilizaro vôo, porém em baixaaltitude. Por isso, está

consumindo tantocombustível, imposto

Guilherme Afif Domingos,presidente da Associação Comercial de SP

OGOVERNOAPRENDIZ

PARA

ABÍLIO DINIZ,

RETOMADA

NÃO SERÁ

BOLHA, SE

JURO SEGUIR

CAINDO

Com o desemprego nas alturas, um concurso público para a vaga de gari no Rio de Janeiro atraiu mais de 15 mil candidatos, provocou tumulto e a polícia precisou ser chamada

NOTA

5

Fáb

ioM

otta

/AE

Crescimento em relação ao ano anterior (em %)

0,79

4,36

1,311,93

0,17

3,62

-0,65

6,64

1,582,45

-0,47

4,31

DESEMPREGO X RENDIMENTO

PIB X PRODUÇÃO INDUSTRIAL

*Expectativa média do mercado, coletada pelo Banco Central

Em %

0

1999 2000 2001 2002 2003* 2004*

Produção industrialPIB

980,00

960,00

940,00

920,00

900,00

880,00

860,00

840,00

820,00800,0010,5

11,0

11,5

12,0

12,5

13,0

10,9

10,5

12,1

13,0 12,9

12,2

2002 2003

Taxa de desemprego**Rendimento médio real*

*Habitual das pessoas ocupadas**Nas regiões metropolitantas de SP, RJ, BH, PA, Salvador e Recife/IBGE

Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.

NOTA

-

RENDA

MÉDIA CAIU

13% ATÉ

NOVEMBRO

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:X-13:20031231:QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 ESPECIAL O ESTADO DE S.PAULO - X13

Page 33: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - BR - 14 - 31/12/03 CompositeX14 -

Produto: ESTADO - BR - 14 - 31/12/03 CompositeX14 -

Aperto fiscal e monetáriosem precedentes rende ao

ministro as glórias e ascríticas pelo ajuste

ARECEITADODOUTORPALOCCILU AIKO OTTA

BRASÍLIA – Olhar a si-tuação da economia aofinal de 2003 e compa-

rá-la com o quadro de doze me-ses atrás confirma: o ataquede nervos pré-eleitoral foi de-belado, à custa de doses maci-ças de ortodoxia econômicaprescritas pelo doutor Anto-nio Palocci Filho. Ao aplicar otratamento, ele recebeu elo-gios de inimigos históricos daesquerda brasileira, como oempresariado e o Fundo Mone-tário Internacional. Pela mes-ma razão, foi alvo de uma sa-raivada de críticas principal-mente de seus companheirosde partido e de seus colegas degoverno. A opção do presiden-te Luiz Inácio Lula da Silva,porém, foi clara.

O ministro da Fazenda, An-tonio Palocci, termina o anotendo consolidada sua posiçãona tríade de homens fortes dogoverno, ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, José Dir-ceu, e do ministro-chefe da Se-cretaria de Comunicação deGoverno e Ges-tão Estratégica,Luiz Gushiken.Melhor aindaque o posto dedestaque é po-der afirmar,com todas as le-tras: “ 2004 seráum ano de cresci-mento e geraçãode emprego, emque se abre uma oportunidadehistórica nova.” É o que Paloc-ci vem repetindo nas últimassemanas.

Chegar a esse ponto, porém,exigiu o máximo de tranqüili-dade e bom humor que ele foi

capaz. O esto-que, garantemseus assessores,é inacreditavel-mente grande.Diz seu secretá-rio de AssuntosInternacionais,Otaviano Canu-to: “É a pessoacom maior taxa

de inteligência emocional queconheço.”

No final de 2002, quando as-sumiu o posto de coordenadorda transição, Palocci encon-trou a economia num estadomais grave do que o esperado.

Discutiu-se, então, no chama-do núcleo duro do governo, oque fazer: um ajuste profundoe de curta duração ou um tra-tamento mais brando que de-mandaria mais tempo.

Venceu a opção pela dure-za, e o que se seguiu todos sa-bem: aperto brutal nos gastose taxas de juros persistente-mente elevadas. A atividadeeconômica mergulhou e o de-semprego cresceu. De tão pare-cido com seu antecessor, Pe-dro Malan, Palocci passou aser chamado de “Malocci”.Pior que a piada foram os ata-ques dos colegas de partido e

de governo. Em tempos deguerra no Iraque, ficou popu-lar também em Brasília a ex-pressão “fogo amigo”, aqueleque causa baixas dentro daspróprias linhas.

O vice-presidente, JoséAlencar, não deixou escaparnenhuma oportunidade paracriticar as altas taxas de juros.Ataques ao aperto monetáriotambém partiram do Ministé-rio do Planejamento. Tampou-co foi poupado outro pilar damacroeconomia brasileira, ocâmbio flutuante. Quando odólar estacionou na cotaçãoperto de R$ 3,00, o ministro

do Desenvolvi-mento, Luiz Fer-nando Furlan,expressou preo-cupações quan-to ao desempe-nho das exporta-ções. O líder dogoverno no Sena-do, Aloízio Mer-cadante (PT-SP) foi mais longe: ameaçoudar “declarações bombásti-cas” para fazer o dólar subir.“É meu instrumento heterodo-xo.”

Os descontentes com a polí-tica econômica passaram a es-

palhar boatos sobre um “Pla-no B”, que marcaria a adoçãode políticas mais agressivas pa-ra o crescimento. Mais recente-mente, o presidente do Sena-do, José Sarney (PMDB-AP),defendeu que o Brasil deveriapagar menos juros sobre a dívi-da externa. O fantasma do ca-lote voltou a assombrar osagentes de mercado. Com umrecado de Palocci, o assuntomorreu.

No geral, o tiroteio não pro-duziu nada além de barulho.No início do ano, Palocci rece-beu em seu gabinete um grupode empresários assustadoscom as declarações desencon-tradas. “É bom ir se acostu-mando”, avisou. “O PT é puraemoção.”

Em alguns momentos, po-rém, o clima realmente pesou.Palocci saiu do sério quandoseu colega das Comunicações,Miro Teixeira, pôs em dúvidao cumprimento dos contratosdas concessionárias de telefo-nia fixa. Miro achou o reajusteexagerado e ameaçou levar aquestão à Justiça. Para umPaís que lutava para recupe-rar sua credibilidade diante doinvestidor externo, a atitudede Miro ia na direção oposta.

O pior momento, porém,ocorreu em agosto. Pela pri-

meira vez, circu-laram boatos so-bre a demissãode Palocci, queestaria envolvi-do numa dispu-ta de espaçocom José Dir-ceu. O chefe daCasa Civil esta-ria pressionan-do pela flexibili-

zação da política econômica.Ao final do primeiro ano do go-verno Lula, queria ter algomais a mostrar além da estabi-lização macroeconômica. Osrumores foram negados e o as-sunto morreu.

FERNANDO DANTAS

RIO – A escolha de Hen-rique Meirelles, ex-al-to dirigente global do

BankBoston, para a presidên-cia do Banco Central (BC),confirmou a idéia de que exe-cutivos de destaque são sujei-tos que sabem tomar decisõesarriscadas em momentos difí-ceis, e sair-se bem. Meirellesacabara de se eleger deputa-do federal por Goiás, pelo PS-DB, e teve de renunciar à Câ-mara para assumir o BC.

No início da sua gestão, ele-vou a Selic, o juro básico, de25% para 26,5%, nível manti-do até junho, em uma políticaduríssima para conter a dispa-rada das expectativas inflacio-nárias, na esteira da megades-valorização cambial de 2002.

No segundosemestre, Mei-relles reduziu ra-pidamente a Se-lic, até 16,5%, eo ano fechoucom inflaçãocontrolada e oti-mismo quantoao crescimentoem 2004.

A nomeaçãode Meirelles, em dezembro de2002, pôs fim a um dos impas-ses mais aflitivos da transiçãode governo. Com a rejeição fi-nal do presidente eleito, Luiz

Inácio Lula daSilva, à hipóte-se da manter nocargo o presti-giado ArmínioFraga, últimopresidente doBC de Fernan-do Henrique,era preciso ar-ranjar um subs-

tituto à altura. Antônio Paloc-ci, já indicado ministro da Fa-zenda, e defensor interno deFraga, deixou claro que o no-vo nome teria de ser de abso-

luta confiança do mercado fi-nanceiro e dos investidores in-ternacionais.

A tentativa de convencerPedro Bodin, amigo e ex-cole-ga de BC de Fraga, a aceitaro convite (nunca tornado pú-blico) para a presidência doBC fracassou. Outras sonda-gens do PT junto a banquei-ros e economistas ortodoxosforam elegantemente escan-teadas. A solução acabou vin-do do senador Aloísio Merca-dante (PT-SP), que conven-ceu o amigo Meirelles e o go-

verno de que o casamento en-tre os dois seria feliz.

Na presidência do BC, Mei-relles pegou pela proa o piorrepique inflacionário desde1995, com o IPCA anualiza-do do último trimestre de2002 batendo em 29%. Suanomeação desagradou tantoaos petistas tradicionais, inco-modados com a presença deum banqueiro internacionaltucano na equipe econômica,quanto a parte do mercado,que via em Meirelles um polí-tico sem o conhecimento ma-

croeconômico específico paratocar a política monetária.

Com total apoio de Paloccie colaboração de Fraga, Mei-relles herdou a antiga cúpulado BC, e, seguro no exercícioda liderança, soube fazê-latrabalhar com afinco para re-verter a difícil situação queele encontrara. Aos poucos,substituiu os diretores herda-dos por técnicos de perfil pa-recido: sólida formação eco-nômica e matemática, orienta-ção ortodoxa e sintonia com omercado financeiro.

Meirelles não ganhou a au-tonomia operacional do BC,prometida por Palocci, em2003, e talvez não a obtenhaem 2004. Na prática, porém,trabalhou com independên-cia informal, garantida porPalocci. Outro mérito da suagestão foi melhorar o perfilda dívida pública, reduzindoa dolarização. Na conta depontos duvidosos, está a dure-za talvez excessiva da políticamonetária em 2003: o PIB de-ve fechar o ano com cresci-mento próximo a zero.

Meirelles: Senador Mercadante foi padrinho da sua indicação

Otimismo no discurso do ministro: ‘2004 será um ano de crescimento e geração de emprego, em que se abre uma oportunidade histórica’

Palocci e o presidente da Fiesp,Horácio Piva: apoio com restrições

CENAS DO GOVERNO LULA

MEIRELLES E ASDECISÕES ARRISCADAS

OGOVERNOAPRENDIZ

Seb

astiã

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orei

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E

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amp

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AE

PROMESSA

DE

AUTONOMIA

FOI ADIADA

Môn

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i/AE

Presidente do BCenfrenta resistências àsua nomeação e impõepolítica monetária dura

JUROS E

CÂMBIO NA

MIRA DO

‘FOGO AMIGO’

PALOCCI A

EMPRESÁRIOS:

‘O PT É PURA

EMOÇÃO’

Palocci como presidenteda Bovespa,RaymundoMaglianoFilho:confiança eadesão dosetorfinanceiro

14

16

18

20

22

24

26

28

30

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

25,5025,64

26,00

24,50

22,00

20,00

19,0017,50

16,50

15,84

29,12 29,19

25,54

24,10 23,54

21,01

21,84

19,00

17,9017,69

16,00

26,50

Juros de 1 ano – evolução semanal (% ao ano)Taxa Selic (% ao ano)

25,00

LADEIRA ABAIXO

J.F. Diório/AE

Pau

loP

into

/AE

Palocci coma diretora-

gerentedo FMI,

AnneKrueger:elogios e

aval à gestãoeconômica

do PT

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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FERNANDO DANTAS

Uma das condições cru-ciais para a retomadasustentável do cresci-

mento econômico em ritmomais forte no Brasil é o aumen-to dos investimentos. Desde oinício da década de 90, a taxade investimentos brasileira têmgirado em torno de 20% doPIB, e em 2003 deve cair paraalgo em torno de18%. Para mui-tos economistas, a taxa de inves-timentos tem de subir uns cincopontos porcentuais do PIB, nomínimo, se o Brasil quiser sus-tentar um crescimento mais ro-busto no longo prazo.

“Para que o Brasil cresça 6%ou 7%, num ano bom, em vezde crescer 3% ou 4%, e paraque cresça 2% num ano ruim,em vez de zero, a taxa de investi-mentos tem de subir para 25%do PIB”, diz José AlexandreScheinkman, economista daUniversidade de Princeton.

Outra preocupação é com aqueda dos investimentos dire-tos estrangeiros, que desaba-ram de US$ 30 bilhões anuais,em 1999 e 2000, para poucomais de US$ 9,2 bilhões em2003. As projeções do mercadonão superam US$ 15 bilhões aoano até pelo menos 2006.

Para uma corrente de econo-mistas, a recupe-ração dos investi-mentos dependeda chamada“agenda microe-conômica”, refe-rente a temas co-mo regulação,mercado de tra-balho, sistema ju-rídico etc. A listade pendênciasmicroeconômi-cas é longa: Justi-ça inoperante eprotelatória, in-certeza sobre con-tratos, excesso deburocracia paraabrir empresas,confusão regula-tória nos setores de infra-estru-tura, encargos trabalhistas mui-to altos, número gigantesco deações na Justiça do Trabalho,dificuldade para executar ga-rantias de crédito etc.

Nesta área, ao contrário dagestão macroeconômica, o go-verno Lula colheu mais críticasdo que aplausos no seu primei-ro ano, por parte dos setores li-berais e pró-mercado. O minis-tro da Fazenda, Antonio Paloc-ci, vem dizendo que quer priori-zar agora os temas microeconô-micos. O fato, porém, é que es-tas questões transcendem o nú-cleo de poder da Fazenda, emuitas das críticas dirigem-sejustamente a problemas surgi-dos em outros ministérios.

O projeto de mudar as agên-cias reguladoras foi visto comouma tentativa de enfraquecer asua autonomia. O ministro dasTelecomunicações, Miro Teixei-ra, estimulou os usuários a con-testar na Justiça um aumentodas tarifas de te-lefonia fixa. O ín-dice previsto noscontratos foi tro-cado liminarmen-te, por outro me-nor. FernandoXavier, presiden-te da Telefônica– um dos gruposexternos quemais investiramno Brasil nos últimos anos –,disse que a empresa deixou defaturar cerca de R$ 300 mi-lhões pela troca de índices.

Outro alvo de críticas foi aministra de Minas e Energia,Dilma Roussef. Ela demorouum ano para gestar um novo

modelo energéti-co, que está sen-do questionadocomo estatizantee centralizador, e

porque esvaziaria as atribui-ções da Agência Nacional deEnergia Elétrica (Aneel).

A política científica e tecnoló-gica é considerada pífia pormuitos observadores. Scheink-man, em crítica direta a Rober-to Amaral, ministro da Ciência

e Tecnologia, diz: “Nada doque escutei nesta área me dei-xou animado; além daquele ba-rulho bobo sobre a bomba atô-mica, houve a questão mais sé-ria da proposta de descentrali-zação da ciência e tecnologia,quando é sabido que todos ospaíses que se tornaram impor-tantes nesta área o fizeram atra-vés da formação de centros deexcelência”.

A reforma tributária se tor-

nou alvo de críticas por empre-sas do setor de serviços, ao ele-var de 3% para 7,6% a alíquotada Cofins, contribuição trans-formada em tributo sobre o va-lor agregado a partir de 2004.“Esta mudança vai reduzir nos-sa lucratividade em 40%, e nãovamos poder manter o ritmo deinvestimentos”, diz StephaneEngelhard, diretor-financeirodo grupo Accor no Brasil, queatua no setor hoteleiro e de tí-

quetes de refeição, e emprega27 mil pessoas.

Num dos poucos avanços daagenda microeconômica em2003, o governo avançou na tra-mitação da nova Lei de Falên-cias no Congresso, que reforçaos direitos dos credores e agili-za a recuperação ou liquidaçãode empresas em dificuldade.

Apesar de todo o falatórioem torno de da agenda microe-conômica, alguns economistas

sustentam que o principal fatorde inibição dos investimentosno Brasil é o nível altíssimo dosjuros reais. Se isto for verdade,é uma boa notícia, já que os ju-ros reais estão caindo, e em2004 podem descer a níveis iné-ditos após o Plano Real.

“A principal causa do investi-mento baixo é o juro real eleva-do, assim como no passado eraa hiperinflação. Se o juro realcair para 8%, vai haver uma re-tomada do investimento”, dizAndrei Spacov, economista-chefe do Unibanco.

De fato, as empresas, na ho-ra de investir, parecem basica-mente preocupadas com o au-mento da demanda por seusprodutos. Em setores exporta-dores, como celulose e siderur-gia, há investimentos pesados.A Klabin, fabricante de papel,tem seus planos de investimen-tos voltados à exportação, em-bora venda bem mais no Brasil.

Para os negócios direciona-dos ao mercado brasileiro, ocrescimento da economia é omotor fundamental. Paul Altit,vice-presidente da petroquími-ca Braskem, nota que a empre-sa tem um programa de investi-mentos entre US$ 100 milhõese US$ 150 milhões por ano, em2003 e 2004, e que “a partir de2005 deve subir”. A retomadada economia, segundo Altit, é amotivação básica para investir.

Jáder Piccin, diretor da Boa-vistense, empresa de balas econfeitos de Erechim (RS), dizque a decisão sobre um novo in-vestimento de R$ 6 milhões de-pende de “uma sinalizaçãomais forte de crescimento inter-no da economia”.

‘ O governo Lula, nesteprimeiro ano,

foi um governo médio,com a cabeça

no freezer eos pés no forno

David Zylbersztajn,consultor e ex-diretor da Agência

Nacional do Petróleo

Receita para crescer nolongo prazo: agenda

‘microeconômica’, quedade juros reais, ou os dois?

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

‘Minha avaliação épositiva na política

internacional e nocontrole da situação

econômica. Mas ficamoscom o desemprego e a

queda de rendaLuiz Marinho,presidente da CUT

INVESTIMENTO, O DESAFIO DA VEZ

‘O governo conseguiu

conter a inflação,que é o pior câncer. E a

redução dos juros está sendofeita com o pé no chão,

para não prejudicaressa conquista

Walter Wieland,presidente da GM do Brasil

NOTA

6,5

Rob

son

Fern

and

jes/

AE

Fábrica da Ford no ABC: queda contínua dos juros reais pode deflagrar novo ciclo de consumo e investimentos

OGOVERNOAPRENDIZ

Taxa de investimentos(% do PIB)

Investimentos estrangeiros diretos(Líquidos/em US$ bilhões)

19,4

18,7

18,4

18,8

2001* 2002* 2003** 2004**

*Dados do Ipea **Projeções do Ipea ***Média das projeções do mercado, coletada pelo Banco Central

30,5

2001 2002 2003*** 2004*** 2005*** 2006***

TORNEIRA FECHADA

2000

24,7

14,19,2

12,114,2 14,8

NOTA

7,5

‘A mudança na Cofins vai reduzirem 40% nossa lucratividade; nãopoderemos manter o ritmo de

investimentosStephane Engelhard, do grupo hoteleiro Accor

Fábrica de papel da Klabin no Paraná: como muitas empresas, planos de investimentos estão ligados à exportação, por causa do baixo crescimento do mercado interno

NOTA

10

‘Para que o Brasil cresça 6% ou

7%, num ano bom, em vez decrescer 3% ou 4%, a taxa deinvestimentos tem de subir

para 25% do PIBJosé A. Sheinkman, economista de Princeton

EM 2003,

INVESTIMENTO

CAIU PARA

PERTO DE 18%

Ag

liber

toLi

ma/

AE

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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MARIANA BARBOSA

Após uma dolorosa cirur-gia e um longo ano deconvalescença, a econo-

mia brasileira terá alta em2004. Porém, sem um ambientefavorável aos investimentos esem resolver questões estrutu-rais como o déficit do setor pú-blico, o País estará condenado aum crescimento medíocre, de4% ao ano no máximo. Assimacredita o economista EduardoGiannetti da Fonseca. PhD pe-la Universidade de Cambridgee professor do Ibmec, ele elogiaa ortodoxia macroeconômicado governo Lula, mas é céticoquanto a sua manutenção aolongo do mandato. “A tenta-ção de acelerar o crescimentopara maximizar as chancesde reeleição será forte.” A se-guir, os principais trechos daentrevista.

Estado – Como o senhoravalia a política econômicano 1º ano do governo?

Eduardo Giannetti daFonseca – Na política econô-mica estrito senso (políticamonetária e fiscal de curtoprazo), o veredicto é clara-mente favorável. O governovenceu ao conter a ameaçade aceleração inflacionária ereverter o jogo das expectati-vas. Se alguma crítica puderser feita é de excesso de pru-dência, um pequeno erro dedosagem, mas isso é naturalpara um governo que precisa-va construir credibilidade.

Estado – E qual a sua ava-liação sobre as reformas es-truturais aprovadas?

Giannetti – A proposta dereforma da previdência foiousada e sobreviveu à nego-ciação. Traz um ganho impor-tante nas finanças públicasque pode chegar a 0,5% doPIB. Já a tributária foi umfracasso. O que era para seruma reforma para melhorara eficiência e diminuir a infor-malidade acabou se tornandomais uma rodada na disputaentre União, Estados e muni-cípios e que deverá resultarem aumento da carga tributá-ria. Isso pode comprometer ameta de superávit primário.Sem resolver o nó fiscal, nos-so potencial de crescimento fi-cará muito limitado.

Estado – O fato de o PTter ganho em poucos Esta-dos na última eleição podeexplicar a dificuldade emaprovar a reforma tributá-ria?

Giannetti – Não. Creioque é porque não tinhamuma proposta e não soube-ram como fazer. A reformaera tecnica-mente ruim epoliticamen-te mal resolvi-da. Mas essatentativa fra-cassada de re-forma tribu-tária reveloucomo a ques-tão fiscal, nofundo, é umproblema dedisputa porreceitas entreUnião, Esta-dos e municípios. Temos umfederalismo truncado em quenão há uma clara definiçãodas atribuições e competên-cias tributárias dos três níveisde governo.

Estado – O País está pre-parado para crescer?

Giannetti – A economiafoi para a UTI no final doano passado: estresse total,risco, câmbio, tudo à beira doprecipício. Fizeram uma ci-rurgia dolorosa e o País pas-sou 2003 em convalescença.Em 2004, o paciente terá alta

e voltará à vi-da normal.No início vaiser gostoso.Mas ele irá sedeparar comuma vida me-díocre, comum cresci-mento desa-pontador.

Estado –Não haveráespetáculo?

Giannetti– Não teremos um processode crescimento continuo quedê ânimo e alento. Passada arecuperação cíclica, tenho a im-pressão de que o governo imagi-na que vai construir as condi-

ções objetivas para que o País te-nha um crescimento acelerado,com queda do desemprego e alí-vio das tensões sociais. Aí vaichegar a hora da verdade doPT. Na segunda metade domandato, o estímulo da reelei-ção vai estar funcionandonos hormônios dos governan-tes. A tentação de artificial-mente acelerar o crescimentopara maximizar as chancesde reeleição será forte. Nãodescarto uma guinada popu-lista.

Estado – O senhor não es-tá convencido da ortodoxiadeste governo?

Giannetti – A conversãopara a ortodoxia é muito re-cente. Assim como o PT mu-dou o discurso a seis mesesda eleição para chegar ao po-der, com o mesmo desprendi-mento pode mudar para semanter no poder. Em qual-quer país democrático existeo ciclo econômico eleitoral epolíticos tendem a manipularinstrumentos para permane-cerem mais tempo no poder.Fernando Henrique fez isso

com o câmbio, deixando adesvalorização para depoisda reeleição.

Estado – A redução dos ju-ros não será suficiente paraa retomada?

Giannetti – Política mone-tária não gera crescimento,mas ciclos. Há um limite pa-ra o estímulo da demandaque é a capacidade instalada.Se a demanda atropelar aoferta, teremos ou inflaçãoou desequilíbrio no balançode pagamentos. Aí o cresci-mento é interrompido.

Estado – Temos margempara crescer 4%, 4,5% em2004?

Giannetti – Nos primeirostrimestres de 2004 a econo-mia vai simplesmente voltara normalidade. Vai parecerformidável. O cenário que sedesenha para 2004 é muitoparecido com 2000. Cresce-mos 4,5%, a relação dívida/PIB ficou estável, o câmbionão se depreciou e a meta deinflação foi cumprida. Mui-tas empresas investiram em

expansão apostando que a se-gunda metade do segundomandato de FHC iria repetiro padrão de 2000. Aí tivemoso apagão, que comprometeuum ano de crescimento.

Estado –Quais são osentraves pa-ra o cresci-mento sus-tentado?

Giannetti– A poupan-ça do setorprivado estásendo gastapara finan-ciar o gastodo setor pú-blico. Esta-mos falando de um Estadoque arrecada 37% do PIB,gasta 5% do PIB a mais doque arrecada e cuja capacida-de de investimento é mínima.Isso prejudica em carátermuito profundo o potencialde crescimento da economia.Os recursos das empresas edas famílias, que poderiam es-tar sendo investidos em má-

quinas, treinamento e tecnolo-gia, estão financiando o go-verno. Se tudo correr bem, te-remos um crescimento mode-rado de 3% a 4% ao ano. Semresolver as questões mais pro-fundas, o potencial de cresci-mento é muito baixo.

Estado – É mais do que oPaís cresceu ao ano, em mé-dia, na última década.

Giannetti – É melhor doque a média do real para cá,que foi de 2,4%, mais vai sermuito desapontador desco-brir que, no melhor cenário,sem nenhuma turbulência, opaís cresce apenas moderada-mente. Com a população cres-cendo 1,5%, 4% é baixo.

Estado – Insuficiente pararesolver o desemprego.

Giannetti – A falta de cresci-mento é apenas parte do proble-ma. O desemprego no Brasil,em qualquer momento do cicloeconômico, não seria tão alto setivéssemos um mercado de tra-balho mais flexível e mais con-fiável. Os países mais protegi-dos da Europa despedem me-nos na recessão, mas tambémcontratam menos na alta. Nóstemos uma combinação perver-sa do modelo europeu com oamericano, que é mais flexível.Na informalidade, não temosdireitos nem proteção. Na eco-nomia formal, que está cadavez menor, temos uma estrutu-ra ossificada e senil.

Estado – A reforma traba-lhista poderia minimizar o im-pacto do baixo crescimento?

Giannetti – A reforma podeter um impacto positivo no cur-to prazo. A incerteza que pairahoje sobre o contrato de traba-lho é o pior inimigo do trabalha-dor brasileiro. Somos recordis-ta mundial em ações trabalhis-tas. Os empresários relutam oquanto podem antes de abrirum flanco que pode lhes custarcaro depois.

Estado – O que precisa pa-ra ter crescimento alto e sus-tentado?

Giannetti – Precisa aumen-tar os investimentos em capitalfísico e humano, em pesquisa edesenvolvimento. Para isso, osetor privado precisa poderusar o que poupa para investirna sua própria capacidade deprodução. É preciso tambémuma ação contundente do Esta-do para gerar conhecimento esuas aplicações técnicas. Preci-samos ainda de um ambienteinstitucional favorável ao em-preendedorismo. No Brasil, umempreendedor pode ver seu ne-gócio suceder ou naufragar porcausa de uma mudança na le-gislação tributária.

Estado –Como as re-centes mu-danças nosmarcos regu-latórios po-dem afetaros investi-mentos?

Giannetti– N ã o h áuma defini-ção sobre omarco regula-tório do setorelétrico, está

tudo ainda muito vago, nemsobre o papel das agências re-guladoras. A impressão quese tem é de que o governoquer preservar um poder dis-cricionário muito grande emrelação a todos os setores deinfra-estrutura. Isso não aju-da a criar um ambiente ade-quado para atrair investimen-tos.

‘Assim como oPT mudou o

discurso a 6 mesesda eleição para

chegar ao poder,pode mudar

para se manterno poder

‘O desempregono Brasil não

seria tão altose tivéssemosum mercadode trabalho

maisflexível

‘CRESCIMENTOSERÁDESAPONTADOR’

Sem resolver o déficit dosetor público, País estácondenado a uma vida

medíocre, diz Giannetti

CENAS DO GOVERNO LULA

OGOVERNOAPRENDIZ

Eve

lson

de

Frei

tas/

AE

Mar

cio

Fern

and

es/A

E

De volta à fábrica: presidentecumprimenta operários em Mauá, SP

Agradospara todos:Lula visitafeira depecuária emCampoGrande, noMatoGrosso doSul

Para o economista Eduardo Giannetti, incertezas nos marcos regulatórios dos setores de infra-estrutura inibem investimentos

Dida Sampaio/AE

Lula eAécioNeves

andam debalsa em

Itinga,Minas:

vendendoo Fome

Zero

Eve

lson

de

Frei

tas/

AE

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:X-16:20031231:X16 - O ESTADO DE S.PAULO ESPECIAL QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003

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Produto: ESTADO - BR - 17 - 31/12/03 CompositeX17 -

IRANY TEREZAe RENATO CRUZ

Houve pouco avanço nosetor de infra-estrutu-ra durante o primeiro

ano de governo. A falta de in-vestimentos em energia e trans-porte pode ser um gargalo à re-tomada do crescimento econô-mico. No setor elétrico, houvesuspensão de todos os novosprojetos. O modelo regulatório,inicialmente previsto para ju-nho, foi adiado sucessivamenteaté sair por Medida Provisóriaem dezembro, sob uma saraiva-da de críticas, e ainda dependede aprovação do Congresso.

Nas telecomunicações, os de-sentendimentos entre o Minis-tério das Comunicações e aAgência Nacional de Teleco-municações (Anatel) deixaramos investidores preocupados.No saneamento, área de infra-estrutura mais carente de inves-timento, o chamado marco re-gulatório ainda está para serdefinido. Precisam ser criadasas regras para a participaçãoda iniciativa privada, com o ob-jetivo de fazer frente a uma ne-cessidade de investimento deR$ 178 bilhões até 2020.

Em outubro, o ministro doPlanejamento, Guido Mante-ga, apresentou o projeto do go-verno para as parcerias públi-co-privadas em investimentosdo setor público, mas a comple-xidade do assunto e váriasdúvi-das dos investidores indicamque o esquema pode demorar adecolar.

O setor de eletricidade nãoespera grandes investimentosem 2004, apontado como “deadaptação”. A retomada, namelhor das hipóteses, virá so-mente em 2005. A Câmara Bra-sileira de Investidores de Ener-gia Elétrica (CBIEE), órgãoque congrega os 15 principaisinvestidores privados no País,nacionais e estrangeiros, calcu-la em R$ 20 bilhões anuais a ne-cessidade de aplicação de re-cursos em geração, transmis-são e distribuição de energia pa-ra garantir um crescimento de3,4% do Produto Interno Bru-to (PIB) ao ano. Pelo menos R$11 bilhões viriam da iniciativaprivada, que este ano se restrin-giu a iniciativas marginais.

Paralisação – “O agravamen-to da insegurança regulatóriaprovocou uma paralisia genera-lizada”, diz Claudio Sales, pre-sidente do CBIEE. Ele não ar-risca uma cifra para os investi-mentos de 2003 ainda, mas as-segura que asempresas “li-mitaram-se arealizar o mí-nimo, em pro-jetos já em an-damento eque não po-diam ser inter-rompidos”. Aorganizaçãorepresenta osgrupos res-ponsáveis por61% da distri-buição deenergia de todo o País e 28%da geração, como AES, Iber-drola, EDF, VBC, entre ou-tros.

A chefe do Centro de Ener-gia do Ibre, da Fundação Getú-lio Vargas, Goret Paulo, con-corda com a avaliação de que2003 foi um ano perdido em re-lação aos empreendimentosem energia elétrica: “Este foium ano de total paralisaçãodas decisões de investimentos.Novos projetos foram adiadosou mesmo cancelados e os gas-tos se resumiram à manuten-ção do sistema.”

Para ela, a retomada ficaráadiada em dois anos. O setor,intensivo em capital, somenteno longo prazo dá retorno ao in-vestimento. E não há como ga-rantir que os empreendedoresafugentados este ano retornemno próximo, quando as novasnormas estão ainda em análisee com possibilidade de mudan-ça.

Goret argumenta que as in-certezas para 2004 não se resu-mem aos investidores mas,principalmente, aos financiado-res dos projetos. “A grande per-

gunta é: o se-tor será capazde atrair fi-nanciamen-to? O contra-to de comprae venda deenergia terápeso suficien-te para servirde garan-tia?”, indaga.Ela lembraque o setor elé-trico vem ad-ministrando

graves crises desde 1993, quan-do era totalmente estatal e rece-beu aporte de US$ 28 bilhõesdo Tesouro para cobrir a ciran-da de inadimplência que se es-palhou por todas as compa-nhias.

Ao contrário das telecomuni-cações, regidas por uma lei es-pecífica, o modelo elétrico lan-çado há dez dias pelo governose reporta a mais de 50 leis dife-rentes e a mais de 500 resolu-ções da Agência Nacional deEnergia Elétrica (Aneel), comochama a atenção a analista.

“Na parte relativa à infra-es-

trutura, o de-sempenho dogoverno esteano certamen-te foi decep-cionante”, re-sume JúlioSérgio Gomesde Almeida,diretor-execu-tivo do Institu-to de Estudospara o Desen-volvimento In-dustrial (Ie-di), organiza-ção empresa-rial que temcontribuídocom órgãosdo governono forneci-mento de estu-dos e diagnós-ticos do setor.

Destacan-do a baixa ta-xa de investi-m e n t o d oPaís, que esteano deve serpouco supe-rior a 17%, Al-meida apontacomo princi-pal motivo pa-ra uma aplica-ção de recur-sos tão fraca ainfra-estrutura. “É um proble-ma qualitativo e quantitativo.Para um crescimento sustentá-vel, necessitaríamos de uma ta-xa de investimento entre 22% e25%. Mas o País, que tem em-presas ultramodernas, perdecompetitividade em logística.”

Desentendimento – Nas tele-

comunicações, o ano foi marca-do por uma série de conflitosentre o governo e a Anatel. Noprincipal deles, em julho, o mi-nistro das Comunicações, MiroTeixeira, discordou do reajustede telefonia fixa homologadopela Anatel e incentivou os con-sumidores a questioná-lo naJustiça, que ainda não deu

uma decisão definitiva sobre oassunto.

O destaque, tanto em cresci-mento quanto em investimen-tos, foi a telefonia móvel. O nú-mero de celulares ultrapassouo total de linhas fixas em servi-ço. A base de telefones fixos fi-cou praticamente estagnada,apesar de existirem cerca de 10

milhões de linhas em estoque.A universalização do serviçofoi barrada pela má distribui-ção de renda.

Em outubro, o diretor-geralda Telefônica São Paulo, Ma-noel Amorim, criticou a ausên-cia de uma política pública pa-ra telecomunicações. “Nãoexiste uma visão precisa de fu-turo, que esteja à altura dos re-cursos que existem para sereminvestidos”, explicou Amorim.“Existem recursos abundantesno mundo para onde tem vi-são. Estamos ficando paratrás.”

Para a analista JulianaAbreu, da Pyramid Research,as divergências entre o ministé-rio e a Anatel tiveram um im-pacto negativo no mercado,pois aumentaram a incertezano cenário regulatório. Segun-do ela, o governo precisaria de-senhar um plano para o setornos próximos cinco anos, comofoi feito à época da privatiza-ção.

“É necessário articular umplano, sinalizando como o mer-cado vai crescer e se expandir”,explicou Juliana. Ela destacou,porém, que as metas precisamser realistas. O grande desafiopara a política de telecomuni-cações seria ampliar a universa-lização, levando telefonia paraconsumidores de baixa renda,e, ao mesmo tempo, propor ser-viços que sejam viáveis do pon-to de vista das operadoras.

Saúde – No saneamento, exis-te muito a ser feito. Apesar de oInstituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) terapontado que 68,1% das resi-dências brasileiras tinham sa-neamento no ano passado, seforem levadas em conta as liga-ções à rede geral de esgoto, oporcentual cai para 46,4%, me-nos que a telefonia.

“É um problema de saúdepública”, disse o diretor do De-partamento de Meio Ambientee Energia do Instituto de Enge-nharia, João Eduardo Caval-canti. “Existem estudos apon-tando que, a cada R$ 1 investi-do em saneamento, o governoeconomizaria R$ 4 na saúde.”

O próprio Mi-nistério das Cida-des calcula que osetor precisariade investimentosde R$ 9 bilhõespor ano. Mesmoassim, o orça-mento deste anodestinou somen-te R$ 350 mi-lhões para o sa-neamento, soma-dos a R$ 1,4 bi-lhão da CaixaEconômica Fede-ral, recursos libe-rados somenteem novembro.“O investimentoem saneamentopoderia criar mi-lhões de empre-gos, principal-mente para mão-de-obra poucoqualificada”, des-tacou Cavalcan-ti.

Existem vá-rios projetos delei no Congressocom o objetivo re-gularizar o sa-neamento. O en-viado pelo gover-no prevê parce-rias entre o po-der público e ainiciativa priva-

da, com contratos de conces-são de 20 a 30 anos, e uso debancos oficiais e instituições in-ternacionais. Nesta discussão,a maior polêmica diz respeito àtitularidade: se o responsávelpelo setor é o município ou o go-verno estadual. O marco regu-latório para o setor ficou para oano que vem.

Investimento paralisadoe falta de estabilidade naregulamentação podem

impedir retomada

NA INFRA-ESTRUTURA, INCERTEZAS

‘Na parterelativa à

infra-estrutura, odesempenho do

governo foidecepcionanteJúlio Sérgio Gomes de

Almeida, diretor-executivodo Iedi

‘No que teve de

continuação do governoanterior, foi até mais à frente,como no ajuste fiscal. Ondecriou expectativa de que ia

inovar, como na áreasocial, ficou devendo

Salomão Quadros,economista da FGV

‘Na política econômica,

o governo Lulaacertou no atacado,

mas lamentavelmenteo consumo

no varejofoi esquecido

Arthur Sendas,presidente do Grupo Sendas

Demora do governo na definição das regras para o setor de energia levou à paralisação dos investimentos em novos projetos

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

‘Está sendo feito

exatamente o que foiproposto no programa

governamental. O governosuperou a situação de crise do

início do ano. Mas euprefiro não dar nota

Roberto Setubal,presidente do Banco Itaú

NOTA

8

OGOVERNOAPRENDIZ

Pau

loLi

eber

t/AE

NOTA

6

Setor

Regulamentação

Necessidade anualde investimento

Deficiências

População atendida

GARGALOS DO CRESCIMENTOSituação dos setores de infra-estrutura

Energia Telecomunicações Saneamento

Vários projetos delei no Congresso

R$ 9bilhões

É preciso definirregras para oinvestimento

privado

68,1%

* Previsão para 2004 Fontes: Empresas, IBGE e Abinee

Evolução dos telefonesmóveis e fixos em serviço(em milhões)

MAIS CELULARES

1998 1999 2000 2001 2002 2003*7,4

15,0

23,228,7

34,9

46,0

20,3

24,930,9

37,4 38,8

39,3

Fixo CelularesTALK END

1 2 3

4 5 6

7 8 9

* 0 #

Medida Provisória144 (2003)

R$ 20bilhões

Para os investidores, ogoverno tem excesso depoder e falta segurançapara projetos de longo

prazo

96%

Lei Geral deTelecomunicações (1997)

R$ 8,9bilhões*

Questionamento dogoverno ao modelopreocupa investidor

61,6%

*Previsão

Fonte: Anatel

NOTA

-

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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Page 37: Retrospectiva Estadão - 2003

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CARLOS FRANCO

Opresidente da Compa-nhia Vale do Rio Doce(CVRD), Roger Ag-

nelli, passa 12 horas por diafazendo contas e tomando de-cisões com impacto nos resul-tados da companhia. A Valefaturou, entre janeiro e setem-bro, R$ 7,4 bilhões, com lucrolíquido de R$ 3,7 bilhões noperíodo, ante R$ 502 milhõesde janeiro a setembro de2002. Na ponta do lápis, esseeconomista formado pelaFundação Armando ÁlvaresPenteado em 1981, que, an-tes, passou pelas cadeiras dotradicional Colégio Rio Bran-co, diz que o saldo do primei-ro ano do governo petista deLuiz Inácio Lula da Silva épositivo, tanto quanto o dacompanhia.

Na sua avaliação, o gover-no Lula encerra 2003 “comum enorme ganho de credibi-lidade ao executar políticasinterna e externa que irãoabrir caminho para o desen-volvimento e o crescimentode forma sustentada”.

Na conta favorável ao go-verno, Agnelli destaca a apro-vação das reformas da Previ-dência e tributária, a estabili-dade das regras cambiais, aredução das taxas de juros e ocontrole da inflação. E o em-prego e os compromissos so-ciais de Lula em campanha?“Sem uma política rigorosade combate à inflação e con-trole dos gastos, qualquer ga-nho correria o risco de se per-der rapidamente”, diz, apos-tando que, a partir de agora,o emprego poderá surgir deforma sustentada, assim co-mo o crescimento. “Apostoem crescimento de 3% a 4%do PIB (Produto Interno Bru-to) em 2004. É um ano que po-de surpreender, favoravel-mente.”

O economista, de 44 anos,entrou para os quadros doBradesco ao concluir a facul-dade e assumiu o comandoda Vale em maio de 2000, em-presa na qual a Bradesco Par-ticipações (Bradespar) é omaior acionista individual.Palmeirense, Agnelli fez car-reira no Bradesco, onde Láza-ro Brandão o apelidou de“menino do café”, por partici-par de reu-niões de dire-toria do ban-co quandoainda eramuito joveme ter se torna-do o mais no-vo diretor dainstituição fi-nanceira se-diada na Ci-d a d e d eD e u s , e mOsasco, aos38 anos.

Para Ag-nelli, os inves-timentos da Vale de janeiro asetembro, totalizando US$1,5 bilhão, e as exportações,somando US$ 2,7 bilhões, sãoo melhor exemplo de que “Lu-la trouxe confiança a investi-dores e ao mercado”. Ele pre-vê encerrar o ano com investi-mento de US$ 2 bilhões, quedeve se repetir em 2004 e2005. Na semana do Natal,ele comemorava o fato de aVale estar cotada nas Bolsasa US$ 21 bilhões, a cotaçãomais alta em 61 anos de histó-ria da empresa que nasceu es-tatal na era Vargas e foi priva-tizada no governo FernandoHenrique Cardoso.

Estado – Como o senhoravalia o primeiro ano do go-verno de Luiz Inácio Lulada Silva? Ele o surpreen-deu?

Roger Agnelli – Se olhar-mos o que significa a eleiçãode Lula, veremos o quanto foipositiva. A democracia estáfortalecida. A Constituição,respeitada. O novo governorespeita as leis e os contratos.Há ainda muito a fazer, falta

regulamentações. Há contra-dições. Mas ninguém pareceter dúvidas de que o governoLula foi uma surpresa positi-va. Por isso, os mercados rea-giram rápida e positivamentea seus atos de governo, todospautados no respeito à lei eaos contratos. Se olharmospara trás e virmos o Lula e oPT, muitos poderiam nãoacreditar no que estão vendohoje. Havia quem imaginava

que o Brasilfosse acabar.Que os con-tratos nãofossem serrespeitados,que a dívidainterna e ex-terna não fos-se honrada.O Brasil, noentanto, nãoacabou. Me-lhorou. Hoje,eu diria semmedo de er-rar, que hámuito mais

credibilidade e confiança noar. Melhor ainda: há uma for-te expectativa de que podere-mos e vamos crescer nos pró-ximos anos. Eu não tenhotambém a menor dúvida deque o clima de confiança con-tinuará sustentando o cresci-mento no próximo e nos pró-ximos anos.

Estado – A que o senhoratribui esta confiança?

Agnelli – Há um clima deresponsabilidade fiscal e polí-tica. Há uma preocupaçãopor parte do governo de bus-car o acerto em todas asáreas. Há mais ainda, em rela-ção ao passado: a grande van-tagem do diálogo. O presiden-te Lula sabe ouvir. Ele é sensí-vel aos pleitos da sociedade, efala com clareza o que pensae o que acha. Não há, ao con-trário do que muitos temiam,surpresa. As reformas da Pre-vidência e tributária, porexemplo, foram apresentadapelo governo com rapidez evotadas pelo Congresso nomesmo ano. E outras refor-mas deverão vir, o que ajuda

a manter esse clima de otimis-mo. Elas (as reformas) abremcaminho para a continuidadedesse ambiente positivo. E tu-do isso se completa com a re-dução dos juros em funçãojustamente desse clima deconfiança no governo, dassuas atitudes firmes na con-dução macroeconômica.Além disso, o governo Lulasoube dar a importância devi-da e ter o cuidado necessáriopara que a inflação não reto-masse o fôlego. Ela já foi do-mada. É isso que motiva os in-vestimentos e cria essa climade confiança.

Estado – A Vale investiuquanto este ano?

Agnelli – De janeiro a se-tembro, foram US$ 1,5 bilhãoe vamos en-cerrar o anocom investi-m e n t o d eU S $ 2 b i -lhões, que vaise manter em2004 e em2005, dentrodo nosso pro-jeto de globa-lização, demaior presen-ça no merca-do mundial.Este é maisum sinal deque Lula trouxe confiança ainvestidores e ao mercadoporque temos tido boa aceita-ção no mercado externo, nãohá desconfiança em relaçãoao Brasil. É certo que corre-mos um risco enorme em in-vestir naquele momento deinício de um novo governo,mas hoje podemos encerrar oano com a certeza de que osinvestimentos foram corretose estão dando resultado. Ou-tras empresas estão investin-do e vão investir ainda maisdaqui para frente porque o cli-ma de credibilidade deve con-tinuar a existir. A Vale, porexemplo, continuará investin-do, apostando no seu cresci-mento e no do País.

Estado – Isso quer dizerque a Vale continuará a in-

vestir?Agnelli – O projeto da Va-

le, que deve investir US$ 6 bi-lhões nos próximos quatroanos, é chegar em 2010 ao se-leto grupo das três maioresempresas diversificadas demineração do mundo, ao la-do de BHP Billington e An-glo American. Hoje, estamosentre as cinco maiores mine-radoras e continuaremos in-vestindo para sermos umaempresa brasileira e glo-bal.

Estado – O senhor estáno comando de uma dasmaiores empresas de mine-ração do mundo e está felize surpreso positivamentecom o governo Lula. Mas se-rá que ele não frustrou

aqueles tra-balhadoresa quem pro-meteu cresci-mento e em-prego nestep r i m e i r oano de gover-no, durantea campanhaeleitoral?

Agnelli –Sem uma po-lítica rigoro-sa de contro-le da inflaçãoe dos gastos,

qualquer ganho em crescimen-to e emprego correria o riscode se perder rapidamente.Não se sustentaria, como vi-mos acontecer várias vezes nopassado. Nós estamos muitomelhores que estávamos há12 meses. Temos que aplau-dir o governo Lula, que foi demuita responsabilidade, mui-to rigor neste primeiro ano.Foi certamente um ano duroporque foi exigida uma atitu-de dura. O País estava numasituação muito complicada.Você tinha que optar: ou olha-va para o longo prazo ou olha-va para o curto prazo. A visãode longo prazo exigia a estabi-lidade das regras, do câmbioflutuante, o respeito e manu-tenção dos contratos. Resulta-do: a parte macroeconômicaestá muito bem. Os fundamen-

tos são sólidos. Por isso, os in-vestimentos externos estãovoltando, os juros caindo. To-do o empresariado tem umaperspectiva muito boa para2004. Se para alguns Lula erao fim do Brasil, isso não teracontecido já é um ganhoenorme para o País e para asociedade. Ninguém duvidaque o emprego é um desafio, emuitos esperam um empregonas filas, mas sem uma estru-tura macroeconômica defini-da, forte, você não teria comocriar condições para a criaçãode empregos de forma susten-tada. Seria o mesmo que em-pregar hoje para demitir ama-nhã. Não tenho dúvidas deque este é um problema a serenfrentado, de preferênciacom urgência. Mas é precisoentender que, hoje, estamosmuito melhores e muito maisconfiantes no futuro do que es-távamos no final do ano pas-sado, antes da posse de Lula.

Estado – Apesar desse oti-mismo, o senhor mesmo dizque ainda há problemas aserem enfrentados.

Agnelli –Existem al-guns proble-mas de regu-lamentação,ajustes quedevem ser fei-tos. A vanta-gem, repito,é que esse go-verno escu-ta. Acho quea sociedade,incluindo ase m p r e s a s ,tem partici-pado maisdo que no passado. E o gover-no tem ciência dos proble-mas a serem enfrentados emáreas como meio ambiente,energia e transporte. A áreade transportes, por exemplo,estava completamente aban-donada. Existe hoje um défi-cit enorme em transporte e oPaís para crescer precisa re-solver esse problema. No ca-so da energia, os problemasnão são menos graves. É pre-ciso solucionar de forma

mais rápida e eficaz as ques-tões ambientais. Mas achonormal que o governo leveum certo tempo para discu-tir estas questões. Elas sãocomplexas e há muitos pon-tos e interesses contraditó-rios. A demora, porém, pas-sa a ser positiva quando setem a certeza de que o gover-no está tentando acertar enão criar novos proble-mas.

Estado – A Vale tem proje-tos na área de energia. Omodelo do setor elétrico foimotivo de polêmica, o se-nhor o aprova?

Agnelli – O mais importan-te é que, agora, temos um mo-delo. Um ponto de partida pa-ra discutir, o que antes nãohavia. É natural que ocorramcríticas, mas o mais importan-te é que agora temos um mar-co, um ponto de partida atépara avaliar as críticas e osacertos, procurando contri-buir para que o governo acer-te ao regulamentar o setor.

Estado – E as reformas?O que falta para manter es-se clima de otimismo, dequeda do risco Brasil?

Agnelli – Passou a reformada Previdência, a tributária,agora a trabalhista está vindoaí e já se começa a falar da re-forma política. O importanteé que o governo está encaran-do os problemas de frente,não está jogando esses proble-mas para debaixo do tapete.Eles estão aí. É com a refor-ma trabalhista que você terácomo criar novos empregos.É com a reforma política quevocê consolidará ainda maisa democracia. No conjunto,todas são essenciais para apercepção do Brasil, tantoaqui como no exterior. Ago-ra, não há dúvidas de que oemprego é um desafio enor-me, a ser enfrentado commais velocidade, assim comoos investimentos em infra-es-trutura.

Estado – Os projetos deParcerias Público-Privadas(PPP) seriam uma alternati-va para criar novos empre-gos e, ao mesmo tempo, so-lucionar problemas de infra-estrutura?

Agnelli – As parcerias sãouma alternativa. Mas é preci-so ter projetos. O custo de ca-pital é fundamental, masnão é o essencial. O que setem que ter para que os inves-timentos em infra-estruturasaiam do papel é estabilida-de de regras. É a visão de lon-go prazo que faz com que osinvestimentos nessa áreasocorram. É preciso tambémque o governo tire rapida-mente todos os entraves dafrente para que esses proje-tos venham a se realizar. Sevocê tiver bons projetos,num ambiente macroeconô-mico estável, com regras está-veis, o dinheiro rende. Os em-

pregos sãocriados e, de-pois, manti-dos. O pro-b l e m a e mmuitos casosnão é de di-nheiro, masde estabilida-de de regras.Precisamoster simplifi-cação nas re-gras. O pro-b l e m a d aenergia, pore x e m p l o ,

não afeta apenas o setor demineração, mas diversas e di-ferentes cadeias produtivas.O governo precisa atacar aquestão do meio ambiente,senão teremos problemas embreve, já enfrentamos umapagão. A sorte é que, tenhocerteza, o governo Lula estámuito consciente e determi-nado a corrigir esses proble-mas. Até porque sabe que is-so irá se traduzir em empre-gos, em crescimento.

‘VANTAGEMDELULAÉSABEROUVIR’

CENAS DO GOVERNO LULA

‘A democracia

estáfortalecida. AConstituição,respeitada. Onovo governo

respeitaas leis

e os contratos ‘ Temos deaplaudir o

governo Lula,que foi de muitaresponsabilidade,

muito rigorneste

primeiro ano ‘ O problemaem muitoscasos

não é dedinheiro,

mas deestabilidade

de regras

Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce: governo encerra seu primeiro ano com um enorme ganho de credibilidade

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Lula oferece brinde de chopp emdesfile na Oktoberfest, em Blumenau

OGOVERNOAPRENDIZ

Presente dosbrasileirosno Líbano, obolo écortado porLula comuma espada,num hotelem SãoPaulo

Dida Sampaio/AE

O presidenteinspeciona

um leitãoassado em

feiraagrícola

emChapecó,

SantaCatarina

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No balanço do presidente da Vale, Roger Agnelli,1.º ano do governo Lula é uma surpresa positiva

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FERNANDO DANTAS

RIO – A maior exceçãoà continuidade da polí-tica econômica, entre

o governo de Fernando Henri-que Cardoso e o de Luiz Iná-cio Lula da Silva, foi o BancoNacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BN-DES). O novo presidente doBNDES, Carlos Lessa, iniciouuma mudança drástica na ins-tituição, e sua atuação ao lon-go de 2003 foi um foco cons-tante de polêmicas dentro e fo-ra do governo.

Dois casos, particularmen-te, jogaram o BNDES nos ho-lofotes da mídia e do públicodurante 2003. O primeiro foi ainadimplência, junto ao BN-DES, da empresa de energianorte-americana AES, que ha-via, no governo anterior, toma-do um crédito de US$ 1,3 bi-lhão para comprar a Eletro-paulo (o acordo final entre obanco e a AES só foi fechadona última sexta-feira). O se-gundo caso foi a aquisição pe-lo BNDES, em novembro, de8,5% do capital da Valepar,controladora da Vale do RioDoce, por R$ 1,5 bilhão. Aoperação foi criticada como es-

tatizante. Também chamou aatenção a disposição da nova di-reção do banco de financiar em-presas de países vizinhos, comoVenezuela e Argentina.

Na verdade, porém, algumasdas medidas de maior impactotomadas por Lessa estão liga-das ao funcionamento internodo BNDES. Um dos seus princi-pais objetivos foi o de desativaras características de ‘banco deinvestimentos’ assumidas pelainstituição du-rante a déca-da de 90. Na-quela feição,que acompa-nhou a partici-pação do BN-DES na priva-tização, o ban-co procuravaalocar seusempréstimossubsidiados para os projetosmais seguros e rentáveis. E, aomesmo tempo, abstinha-se deum papel ativo de planejar o de-senvolvimento nacional.

No lugar do banco de investi-mentos, Lessa está tentando re-criar o ‘banco de desenvolvi-mento’, caracterizado pela in-terferência na estratégia dasempresas, numa ótica desenvol-

vimentista e de política indus-trial setorial. Uma das medidasmais polêmicas de Lessa foi amudança das políticas operacio-nais do BNDES, que flexibilizoua relação entre o risco da empre-sa cliente e o custo do crédito,uniformizando o chamado‘spread de risco’. “É um incenti-vo às empresas de maior risco, eum desincentivo às menos arris-

cadas”, criticou o consultor Gus-tavo Loyola, ex-presidente doBanco Central (BC).

Os efeitos das mudanças deLessa, até agora, têm sido confu-sos. Por um lado, a visão de polí-tica industrial do novo BNDESnão se encaixa com a orientaçãogeral de Lula (ver reportagemacima). Por outro, o estilo abrup-to e agressivo de Lessa e seus au-xiliares funciona como um am-plificador de conflitos.

A primeira grande iniciativade Lessa foi uma reforma admi-nistrativa, em março, para des-fazer as mudanças introduzidaspelo ex-presidente do banco,Francisco Gros, em 2001. Na re-forma de 2003, o número deáreas do BNDES foi reduzidode 25 para 12. “Peguei uma es-

trutura burocrática excessiva-mente inchada e a recompactei.Fiz isso em seis semanas e semgastar um tostão. A reforma an-terior custou R$ 8 milhões aoBNDES”, afirmou Lessa ao Es-tado, em março.

Maurício Borges Lemos,atual diretor de Planejamento,explicou na época que a refor-ma de Gros tinha estabelecidoduas análises de risco para asdemandas de crédito: no mo-mento em que o pedido entravano banco, e, posteriormente,nas áreas de produtos do banco:“Agora a análise é feita de umasó vez, na entrada”.

Apesar da aparente simplifi-cação, o BNDES andou emmarcha lenta nas aprovações eliberações de empréstimos até

meados do segundo semestre.Os críticos atribuíram a desa-celeração dos financiamentosà turbulência que as constan-tes mudanças nas chefias e naestrutura de cargos teria pro-vocado. A atual diretoria de-fende-se apontando a retoma-da do ritmo de liberações no fi-nal do ano, e observando quea estagnação do PIB em 2003reduziu a demanda por finan-ciamentos.

Outro foco de polêmica foia queda de braço entre o BN-DES e o Tesouro nacional so-bre uma possível capitaliza-ção do banco. A solução finalforam alterações contábeisque permitirão ao BNDES au-mentar sua capacidade de fi-nanciamento em 2004.

SUELY CALDAS

RIO – Quem apostou queo governo Lula agisseem radical oposição à

falta de ação do governo FHCe praticasse uma política indus-trial intervencionista, detalha-da e abrangente, com incenti-vos previamente definidos ecrédito abundante, perdeuaposta e esperança. Em seu pri-meiro ano de gestão, o governodo PT conseguiu produzir ape-nas duas iniciativas: uma práti-ca – a polêmica redução do Im-posto sobre Produtos Industria-lizados (IPI) para a indústriaautomobilística, que dividiu ogoverno – e outra teórica – o do-cumento “Diretrizes de políti-ca industrial, tecnológica e decomércio exterior”, divulgadoem novembro, depois de suces-sivos adiamentos.

A não ser medidas pontuaispara atrair o investimento edesfazer gargalos, sobretudonos quatro setores eleitos comoprioritários (bens de capital,fármacos e medicamentos, se-micondutorese software), osindustr ia i sb r a s i l e i r o snão devem es-perar por ins-trumentos depolítica, comoproteção tari-fária, créditofavorecido ourenúncia fis-cal, vistos pe-la equipe deLula como“benesses dopassado”. Tampouco devemcontar com intervenções doBanco Central para socorrer odólar e as exportações, comopropõem alguns economistas,

entre eles o tu-cano José Ser-ra e o senadorpetista Aloi-zio Mercadan-te. Não tive-ram em 2003,não terão em2004, nem nodecorrer dogoverno intei-ro. A receita éinvestir emtecnologia, ga-nhar eficiên-

cia e aumentar produtividadepara garantir bons lucros. É oque aconselham o ministro daFazenda, Antonio Palocci, e onúcleo técnico que concebe e

planeja a política industrial dogoverno Lula.

O que será – “Tem gente espe-rando que o Estado abra a tor-neirinha do dinheiro. Isto é po-lítica do passado e não vai acon-tecer neste governo. Não have-rá incentivo irrestrito. A políti-ca industrial será pragmática,seletiva e sem preconceitos”,responde o presidente do Insti-tuto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea), Glauco Arbix,a decepcionados empresários eeconomistas que esperavamações concretas e viram no do-cumento sobre diretrizes “umtímido guia de intenções”. Se-gundo Arbix, haverá pragma-

tismo nas ações de governo, se-letividade na escolha dos seto-res industriais e não preconcei-to na adoção de incentivos –sempre pontuais e temporários– quando o governo julgar ne-cessário, como aconteceu como acordo automotivo.

Antigo companheiro de Pa-locci no grupo radical de es-querda Liberdade e Luta (Libe-lu) e hoje coordenador da políti-ca industrial de Lula, o sociólo-go Glauco Arbix afirma que ogoverno vai ajudar no cresci-mento da produção industrialem 2004 desfazendo gargalosna exportação e no marco regu-latório, com programas de cré-dito para estimular a moderni-

zação de máquinas e equipa-mentos nos setores agrícola(Moderfrota) e industrial (Mo-dermaq) e medidas para atrairempresas estrangeiras paraproduzirem no Brasil. Novasações podem ser decididas,mas o governo não vai estenderpolíticas públicas para todos ossetores industriais, como ocor-reu nos governos militares.

“Depois de 20 anos sem polí-tica industrial, o Estado não po-de ser o único responsável. Sóempresários de cultura atrasa-da querem o Estado mandan-do em tudo. Não é nossa inten-ção. A política industrial temde ser definida em debate públi-co com a sociedade. Se assim

não for, nossa margem de erronas escolhas será enorme”, res-ponde Arbix aos que acusam ogoverno de lentidão.

Abertura – Aumentar ou redu-zir o grau de abertura comer-cial não está nos planos do go-verno Lula. Se no governo pas-sado, Pedro Malan e ArmínioFraga defendiam a idéia deabrir mais a economia e redu-zir tarifas de importação comoinstrumento de política, o go-verno Lula admite interven-ções pontuais, como a reduçãotarifária para bens de capital.Mas medidas genéricas nessadireção só no âmbito dos paísesdo Mercosul, o que não está naordem do dia hoje. Prioridadedecidida há em relação à açõesde incentivo à ciência, pesquisae desenvolvimento tecnológico.“Em inovação tecnológica sim,há incentivos e linhas de crédi-to para projetos. E não só parauniversidades, também paraempresas”, avisa Arbix.

Com exceção da condutaagressiva do ministro do Desen-volvimento, Luiz FernandoFurlan, viajando pelo exteriorem missões comerciais, poucoou nada aconteceu de novo nocomércio exterior. Em 2003 asexportações foram impulsiona-das muito mais pela recessãoda economia e o cambio favorá-vel do que por novas medidasde incentivo. Não é propósitodo governo Lula fazer do Ban-co Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BN-DES) um Eximbank, para prio-rizar o crédito para exporta-ções, como queria o ex-minis-tro Sérgio Amaral. Na políticacambial prevaleceu a posiçãodo Ministério da Fazenda e doBanco Central de não forçardesvalorizações do real paraajudar as vendas externas. E amelhor prova de que isto teriasido desnecessário é o megasu-perávit da balança comercialde 2003, que vai fechar o anoacima de US$ 24,5 bilhões.

‘Peguei uma estrutura

burocrática einchada e recompactei,

sem gastarum tostão

Carlos Lessa, presidente do BNDES

‘ Tem genteesperando que oEstado abra atorneirinha dodinheiro. Isto

não vai acontecerGlauco Arbix,

presidente do Ipea

Setor vai contar apenascom medidas específicaspara desfazer gargalos e

atrair investimentos

‘Foi um ano de

recomposição deexpectativas: arrumaram

a casa, recuperaram acredibilidade. Agora

começa a fase defavorecer o crescimento

Abram Szajman,presidente da Federação do Comércio de SP

A INDÚSTRIAÀESPERADEPOLÍTICA

‘Foi uma boa surpresa

a conduçãoda política econômica,

mas me preocupocom o lado

executivoda presidência

Manoel Horácio da Silva,presidente do Banco Fator

‘Pelo equilíbrio

macroeconômico, ogoverno merece nota 8,

mas foi um anoperdido para

o setor de energiaAdriano Pires,

consultor da área de energia

Nova diretoria, chefiada por Lessa, pretendeu simplificar a máquina, mas operações desaceleraram

AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA

Documento divulgado pelo governo elegeu como prioritários os setores de bens de capital, fármacos, semicondutores e software

NOTA

7

Raf

aelN

edd

erm

eyer

/AE

ONOVOEPOLÊMIC0

BNDES

OGOVERNOAPRENDIZ

Ep

itáci

oP

esso

a/A

E

‘Novas regrasincentivamempresasde maiorrisco e

desincentivamas de menor

Gustavo Loyola,ex-presidente do BC

‘Agora, aanálise é

feita de uma sóvez, na entrada(do pedido de

crédito)Maurício Borges Lemos,

diretor do BNDES

Lessa compra brigas ao tentar trazerde volta o desenvolvimentismo

NOTA

7NOTA

6

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

%HermesFileInfo:X-19:20031231:QUARTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2003 ESPECIAL O ESTADO DE S.PAULO - X19

Page 39: Retrospectiva Estadão - 2003

Produto: ESTADO - BR - 20 - 31/12/03 CompositeX20 -

Produto: ESTADO - BR - 20 - 31/12/03 CompositeX20 -

ESPELHO,ESPELHOMEU

‘Deito a cabeça no

travesseiro e durmo osono justo, daqueles quetêm a consciência limpa

do dever cumprido.Não fizemos mais

porque não tínhamoscondições defazer mais

‘Eu acho que nós já

conseguimos,em seis meses, doponto de vista de

política internacional,aquilo que muitosestudaram a vida

inteira e nãoconseguiram fazer

‘Nós estamos

construindo, nesses11 meses, um Brasil

em que o preconceitonão está sendo jogado

embaixo do tapete,mas está sendo

extirpado da nossasociedade

‘Eu acho quepoucas vezesos homens

públicos destepaís

trabalharamcom tanta

dedicação ecom tantavontade de

fazero melhor

‘Temos

trabalhadoaqui comojamais setrabalhou

nestaRepública,

nem naRepública

Velha, nemna República

Nova

‘Nossa política externa,

soberana, ativa e criativa,está à altura dos maiores

valores do Brasil.As linhas de créditointernacionais foram

inteiramente restabelecidas.O real se fortaleceu.

Reduzimos e dominamosa inflação

‘Nós estamos emum porto seguro.

O iceberg do Titanicjá foi afastado e,

pelo fato de opresidente sermetalúrgico,

a gente soldou bemtodos os buracos poronde entrava água

‘As coisas

estavam tãodifíceis que o povo

falou: estáprecisando deum presidentepernambucanopara tomar a

Presidência daRepública

OGOVERNOAPRENDIZ

194leis sancionadas

236discursos e

pronunciamentos

56medidas provisórias

editadas (4,6 por mês)

26projetos de lei enviados

2propostas de emenda

constitucional enviadas

4visitas ao Congresso

185dias fora de Brasília:

68 no exterior, 70 em

São Paulo e 47 em

outras cidades51

viagens nacionais20

viagens internacionais7

participações ementerros e velórios

6reuniões ministeriais 5

autoridades contundidas

3.100cisternas construídas

no semi-árido

10churrascos para

ministros

1.227municípios atendidospelo ProgramaFome Zero

57bonés ganhos

3.500presentes recebidos

até novembro89.000

cartas recebidas noPlanalto até novembro

1.500livros recebidosaté novembro

800CDs recebidos aténovembro

22Estados visitados

OS NÚMEROS DE LULA LÁ

ArtEstado/Carlinhos/Glauco Lara

22chefes de Estado

visitaram o País

3,6 milhões

famílias atendidas pelo

Programa Bolsa-Família

945.351empregos criados

no mercado formal(até novembro)

2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 85% 90% 95% 98% 100% COR

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