O uso de materiais locais e resíduos na ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA
“A indústria da construção civil consome 50% dos recursos
mundiais, convertendo-se em uma das atividades menos
sustentáveis do planeta. (...) A civilização contemporânea
depende de edificações para seu resguardo e sua existência,
mas nosso planeta não é capaz de continuar suprindo a atual
demanda de recursos. Evidentemente, algo deve ser mudado
nesse aspecto e os arquitetos e designers têm uma grande
responsabilidade nesse processo.” (EDWARDS, p.3)
A intensa busca pela alta tecnologia dos materiais muitas vezes
caminha na direção contrária ao desenvolvimento sustentável
da construção civil. E por vezes gera até certo preconceito não
fundamentado com relação ao emprego de materias locais
e/ou alternativos. Esse descompasso nos levou a analisar a
viabilidade dos aspectos e disponibilidades regionais em
projetos urbanos com arquitetura diferenciada, ou seja, a
análise dos materiais sendo utilizados em desenhos arrojados
e em soluções sustentáveis.
Procuramos então analisar, através de diferentes e breves
estudos de caso, o uso de materiais e técnicas não-tradicionais,
que estão disponíveis no local de cada intervenção
arquitetônica. Podemos conhecer então as possibilidades de
hibridade de materiais e possibilidades para o futuro.
Ao lado, estão apresentados quatro projetos de diferentes
naturezas e igualmente diferentes maneiras de encarar a
realidade que se apresenta. Os objetivos buscados pelos
diferentes grupos de projetos podem ser reconhecidos pela
maneira com a qual tratam do material e pelo olhar que se tem
no ambiente em que se encontram. Com um exemplo rural,
um exemplo urbano, um exemplo ecoturístico e um exemplo
conceitual, procuramos ver essas diferenças e mostrar que há
possibilidades de desenho criativo esteticamente agradável de
serem associados à sustentabilidade. Abaixo, está brevemente
resumido o processo de pesquisa de um escritório de
arquitetura do Brasil na busca de novas possibilidades de usos
dos materiais descartados.
Trata-se de uma casa construída com o intuito de melhorar a condição de
moradia de uma família residente em uma região muito pobre do
Alabama. Inicialmente houve uma relutância da família em aceitar o
projeto, mas hoje reconhecem a melhora das condições de vida geradas
pela melhora da ventilação natural, da água encanada e das dimensões
acessíveis (portas amplas, barras e luzes baixas) a cadeirante, uma vez
que a dona da casa está nessa condição.
Telhado: é feito de dois retângulos de estanho e suportado por vigas de
madeira que formam uma forte angulação, dando a impressão de asas de
borboleta, como o próprio apelido sugere. Esse formato permite também
a coleta da água das chuvas para armazenamento e reuso.
Revestimentos: As paredes internas são revestidas com madeira (pinho
coração reciclado de uma igreja de 105 anos da região) para garantir a
inércia térmica interna do edifício.
Paredes: As paredes que se voltam ao ambiente externo foram feitas para
maximizar a ventilação natural. São paredes exaustoras feitas de tiras e
grades como uma persiana, que pode ser operada manualmente nas
janelas. Para o inverno, painéis feitos de toldo cobrem as janelas altas
que ficam próximas ao telhado e um fogão a lenha mantém a casa
aquecida.
Pisos: o piso é revestido com madeira e apoiado sobre fundação de
concreto.
Anexos: há um ônibus escolar, que antes era usado como casa por outra
família, dá lugar a um espaço como uma edícula no jardim da casa.
Foi construída com o objetivo de ser uma casa temporária, mas em que
se pudessem testar materiais e técnicas para posterior construção
permanente, por isso, foi construído sobre uma plataforma de madeira
compensada especialmente para o Dia Mundial do Meio Ambiente. Foi
montado em uma praça em São Francisco, onde todos transeuntes
podiam passar e ver de uma maneira bem clara como os materiais do dia-
a-dia podem ser reutilizados para a construção.
Telhado: foi feito com velhos discos de vinil, bem como a cerca,
amarrados entre si com fitas e fios e também com telhas feitas de metais
jogados fora de apenas 2 dias de trabalho de uma usina de metal local.
Revestimentos: as paredes são feitas e revestidas com diferentes
materiais, cada parede possui um revestimento diferente, desde placas
de rua e portas de box de banheiro, passando por revestimento com
teclados de computador, batentes, listas telefônicas antigas, até
mangueiras dos bombeiros.
Paredes: quatro das paredes externas da Scraphouse foram feitas de
vidro. Temperado, com dois painéis e presos em frames de aço para
acomodar os diferentes tamanhos.
Pisos: o piso é revestido com couro usado, especialmente na parte dos
quartos onde espera-se menor movimento.
É acima de tudo uma casa conceito que pode ser reproduzida em vários
andares. O grande foco da Casa Alimento é criar um ambiente sustentável
paradoxal, construído a partir do grande ícone do consumismo: a garrafa
PET.
As paredes, em boa parte ocas, permitem que as instalações sejam feitas
de maneira a não lesionar a estrutura. O plástico garante também uma
boa inércia térmica e não acumulam umidade.
Telhas: são recicladas de Tetrapak e resíduos plásticos, formando fibras
resistentes.
Revestimentos: uma tela com alvéolos hexagonais prende as garrafas
pelo gargalo, dando coesão à parede. Internamente há uma tela lisa feita
a partir de reciclado de PET que é rebitada na tampinha das próprias
garrafas.
Paredes: garrafas PET empilhadas substituem a alvenaria tradicional.
Cheias d'água (clorada para evitar a contaminação por bactérias e reduzir
o risco de incêndio), elas são coladas com uma espécie de resina feita a
partir de borras de plástico picado.
Pisos: o material do piso é basicamente plástico, juntando plásticos de
diversos tipos que passam por um processo de preparação (máquina
extrusora, assentadas e prensadas sobre o contrapiso de resíduo sólido
mineral reaproveitado). Desse material são feitas vigas em T que são
lixadas e não necessitam de cera de acabamento.
fonte: http://www.scraphouse.org
fonte: http://www.cadc.auburn.edu/rural-studio
fonte: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/144/imprime22115.asp
A amima, arquitetura de mínimo impacto sobre o meio ambiente, é um escritório de São Paulo que aborda o desenvolvimento sustentável sob o aspecto da indústria da construção civil através da realização de projetos arquitetônicos e design utilizando novas tecnologias que proporcionem a redução da geração de resíduos, através da sua reciclagem e da sua aplicação de forma não-convencional. Alguns dos resíduos já empregados: pallets de madeira, EPS, pó de serra, palha de arroz, jornal, garrafas, latas de alumínio, vidros de automóveis, pneus, rodas de arado, bombonas de PVC, latões de 200 litros, entre outros.
Em 2004, iniciou o Projeto de Habitação Popular Urbana a ser apresentada para a Caixa Econômica Federal. Mas infelizmente, devido a obstáculos burocráticos não chegou a ser executado. O projeto consiste em habitação de interesse social. A necessidade de reduzir os custos das unidades aliou-se à intenção de diminuir os impactos ambientais e levaram o escritório a buscar formas de reutilização de resíduos gerados no mais diversos lugares: feiras variadas, Ceasa, ferros velhos, caçambas, cenários de teatro e de cinema, indústrias, entre outros.
Buscando tanto resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados quanto resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros. O levantamento em todos esses focos da região é uma fase muito importante da elaboração do projeto arquitetônico, uma vez que o desenho das unidades habitacionais depende dos materiais disponíveis que serão empregados no projeto. E este foi realizado em diversos pontos da região (no mapa acima foram localizados alguns desses pontos para ilustrar a logística do levantamento).
O resultado da pesquisa está esquematizado através da tabela e fotos ao lado.
Esse é um exemplo de como é feito a pesquisa sobre a disponibilidade de materiais locais, sejam de origem natural ou residual.A partir dos dados sobre a disponibilidade desses, o projeto é concebido buscando o seu melhor aproveitamento.(Dados obtidos através de uma conversa com a arquiteta Leiko Motomura, da amima)
fonte: Google Earth
BUTTERFLY HOUSE | RURAL STUDIO (Alabama - Estados Unidos – 1996/7)
SCRAPHOUSE | PUBLIC ARCHITECTURE (Califórnia - Estados Unidos - 2005)
CASA ALIMENTO | SÉRGIO PRADO
CENTRO DE CULTURA MAX FEFFER | AMIMA (Pardinho, São Paulo – Brasil, 2008)Foi realizado pela ONG Instituto Jatobás para as atividades culturais do
“Projeto Pardinho” e possui diversos equipamentos e programa para
disseminação e incentivo do desenvolvimento social local. A proposta
principal, dentro dos itens de sustentabilidade, foi o uso do bambu
numa construção de grande porte.
Teve cuidados para alcançar índices de conforto ambiental com
soluções de baixa tecnologia. Suas estratégias de projeto abrangem
também a escolha dos materiais, a redução do consumo de energia e a
reutilização da água cinza.
Telhado: a cobertura é composta por fibras vegetais e sua estrutura,
por fibras vegetais de bambu e eucalipto.
Revestimento: placas de concreto celular.
Paredes: alvenaria aparente composta por tijolos de solo-cimento e
tijolos de demolição.
Caixilhos: madeira de demolição.
Gradil: reuso de descarte de peças de ônibus.
Divisórias: feita de reuso de resíduo industrial.
Mobiliário: bancos feitos com reuso de resíduos de construções
(bambu e louças sanitárias), bebedouros feitos a partir de reuso de
equipamentos agrícolas.fonte: escritório amima
BIBLIOGRAFIA:EDWARDS, Brian, HYETT, Paul (colab.) O guia básico para a sustentabilidade. Barcelona: Gustavo Gili, 2008.ROGERS, Richard, GUMUCHDJIAN, Philip (ed.). Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.SJÖSTRÖM, Ch. Durability and sustainable use of building materiais. In: Sustainable use of materiais. J.W. Llewellyn & H. Davies editors. London: BRE/RILEM, 1992.GARCIA, Paula Helena da Costa. Acupuntura ecoturística em área de proteção ambiental: o caso de Guaraqueçaba (PR). Dissetação de Mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, 2010.WILLOUGHBY, K.W. Technology Choice, A Critique of the Appropriate Technology Movement. Intermediate Technology Publications, London, 1990.DEAN, Andrea Oppenheimer; HURSLEY, Timothy. Rural Studio: Samuel Mockbee and an Architecture of Decency. New York Princeton Architectural Press, 2002.JOHN, Vanderley M. Texto técnico: desenvolvimento sustentável, construção civil, reciclagem e trabalho multidisciplinar. Disponível em: <http://www.reciclagem.pcc.usp.br/des_sustentavel.htm> NAKAMURA, Juliana. Construção plástico-orgânica com estrutura em taipa e parede constituída por garrafas pet de onde irão brotar plantas comestíveis, casa em sítio no litoral paulista serve como um protótipo de solução proposta para habitação popular.Disponível em: <http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/144/imprime22115.asp>http://www.scraphouse.org/Documentary
http://www.publicarchitecture.org/design/ScrapHouse.htm
AUT 221 - Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento SustentávelProfessora: Denise Duarte
Maricy Miki Hisamoto | 5914905Melissa P. S. Benito | 5915211
INTRODUÇÃO
PROJETO DE HABITAÇÃO POPULAR URBANA | AMIMA (processo de pesquisa e levantamento)
fonte: escritório amima
M A T E R I A L A P L I C A Ç Ã O F O N T E
1 PNEU Fundações
2 BAMBU (VERGALHÕES) Fundações
3 ENTULHO Alvenaria Resíduo de obra civil
4 PALLET Contra-marco / Forro Resíduo de fábricas
5 CAIBROS Estrutura do telhado Demolidoras
6 TELHAS Cobertura Demolidoras
7 RESÍDUO DE QUARTZOLIT Reboco de paredes Quartzolit
8 TINTA Acabamento (+ barato) Bonetti
9 LATAS REDONDAS DE BISCOITO Ventilação Natural / Luminárias Ceasa
10 JANELAS DE ÔNIBUS Janelas Desmanche de ônibus
11 GARRAFAS Janelas Central de coleta seletiva
12 PORTAS DE MADEIRA INTERNAS Portas internas e externas Demolidoras
13 BLOCOS FURADOS Ventilação Natural
14 INTERRUPTORES DE SOBREPOR Interruptores
15 TREPADEIRAS FRUTÍFERAS Jardim coletivo
16 LAVATÓRIO / BACIA SANITÁRIA Louças sanitárias Demolidoras
17 ESTACAS DE EUCALIPTO Divisa do quintal das casas Demolidoras
18 PLÁSTICO PRETO Impermeabilização das fundações Demolidoras
19 PIA COZINHA (fabricada no local) Pia Cozinha Bonetti
20 RESÍDUO DE ISOL. TÉRMICO A.C. Subcobertura Obralimpa (gerenciam. resíd.)
21 CASCA CERÂMICA (siliconita) Paisagismo nas paredes externas Resíduo de fábricas
22 ÓLEO (não tóxico) Tratamento de madeira (checar) Resíduo de fábricas
23 GRANITO (retalhos) Desenho de piso externo Resíduo de marmorarias
24 SERRAGEM Agregado para piso Resíduo de serraria
25 TELA METÁLICA (porta) Abrigo de água Demolidoras
26 ILUMIN.O E VENTIL. NATURAIS Todos os ambientes
27 JARDIM (no fundo) Lazer; retardamento da descarga
de águas pluvias
A R Q U I T E T U R A
M A T E R I A L A P L I C A Ç Ã O F O N T E
1 CARPETES Acabamento de piso interno Rede Globo
2 RESTOS DE MADEIRA Mobiliário Rede Globo
3 PEDAÇOS DE CENÁRIO Mobiliário Rede Globo
I N T E R I O R E S
fonte: escritório amima