O TERRAMOTO DE LISBOA DE 1755:A CIÊNCIA E A RECONSTRUÇÃO
Terramoto que atingiu Lisboa em 1 de Novembro de 1755, cerca das nove e três
quartos da manhã, provocou uma destruição imensa, derrubando paredes, telhados,
edifícios inteiros, criando o pânico e provocando milhares de mortos e de feridos. Aos
primeiros abalos, antecedidos de um ruído tumultuoso vindo do interior da terra, e à poeira levantada
pelos desmoronamentos, que cobriu toda a cidade, sucedeu um tsunami e, cerca do meio dia,
deflagraram incêndios um pouco por toda a parte. As réplicas que se seguiram agravaram a situação.
Duas delas tiveram também grande magnitude e foram igualmente seguidas de tsunamis.
Lisboa era na época uma das maiores cidades europeias, e o número de mortos foi, seguramente,
muito elevado. Não é possível, no entanto, quantificar devidamente os habitantes de Lisboa e aqueles
que morreram. As estimativas iniciais eram exageradas, muito afectadas pelos horrores do sucedido e
também porque muitos dos que tinham desaparecido dos seus locais habituais não tinham na realidade
morrido mas apenas procurado refúgio noutro local.
Fig. 1 – Lisboa antes do terramoto
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O Padre João Baptista de Castro, por exemplo, no Mappa de Portugal
Antigo, e Moderno, publicado em 1763, quantificava o número de
habitantes de Lisboa, em 1754, em seiscentos mil e, sobre o número de
mortos, referia o seguinte:
Huns dizem (1) que foraõ quinze mil os mortos: outros (2) vinte quatro
mil: outros (3) setenta mil. Perda foy esta, que naõ se poderá calcular
taõ facilmente.
Pedegache4, citado pelo P.e João Baptista de Castro, quantifica o
número de mortos em 24 000. Moreira de Mendonça, na Historia
Universal dos Terremotos, quantifica os habitantes de Lisboa em perto
de 275 000 e em 5 000 o número de mortos no dia 1 de Novembro,
número que teria duplicado ou triplicado até ao fim desse mês.
O todo poderoso Secretário dos Negócios Estrangeiros de D. José,
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Conde de Oeiras e depois
Marquês de Pombal, ordenou a realização de um inquérito por todas as
paróquias do Reino para quantificar os estragos e o número de mortos.
Em 2009, Álvaro Pereira, com base na análise dos dados relativos a 37
das 39 paróquias de Lisboa de que se conhecem os registos e partindo
das Memórias Paroquiais, de 1758, e dos estudos de Alfredo de Matos
e Fernando Portugal5, e de Pereira de Sousa6, concluiu que o número de
fogos antes de 1755 era superior a 33 000 e que, após o terramoto,
ficou reduzido a cerca de 20 000.
De acordo com as estimativas deste autor, o número de habitantes seria,
antes do terramoto, de 148 339, a que acresceriam as crianças com
menos de sete anos, não baptizadas e por isso excluídas do cômputo das
paróquias, o que atiraria o número total para entre 160 000 e 200 000
habitantes. Os 148 339 ficaram reduzidos a um número estimado entre
1 P. Anton Pereir, no Comment. de Terræmot, & incend. Olisipon. pag. 9. [anotação do original].2 Pedegache Nova, e fiel Relaç. do Terremoto pag. 20. [anotação do original].3 Jofeph de Oliv. Trovaõ na sua Cart. Relator. deste successo p. 11. [anotação do original].4 Miguel Tiberio Pedegache Brandaõ Ivo, Nova e Fiel Relaçaõ do Terremoto que experimentou Lisboa e todo Portugal No 1. de Novembro de 1755, com algumas observaçoens Curiosas e a explicaçaõ das suas causas, Lisboa, 1756.5 Matos, Alfredo e Fernando Portugal, Lisboa em 1758: Memórias Paroquiais de Lisboa, Coimbra Editora, 1974.6 Sousa, F. Pereira de, O Terremoto de 1º de Novembro de 1755, Lisboa, 1931.
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104 747 e 114 391, considerando os que se fixaram nas freguesias próximas, ou a 89 782,
considerando apenas as freguesias7 de Lisboa. Deste modo, para este autor, mesmo assumindo que
15 000 a 20 000 pessoas tivessem abandonado Lisboa, e sem considerar as crianças, teria havido um
número de mortos superior a 15 000. Sabendo-se que as crianças eram cerca de um quinto da
população, o número total de mortos em Lisboa ter-se-á situado entre 20 000 e 30 000. Este estudo, no
entanto, nada diz quanto aos estrangeiros, presentes em Lisboa em grande número, ficando por
esclarecer em que grau se encontram incluídos naqueles números.
Após o terramoto, a baixa da cidade não foi abandonada, embora poucas pessoas arriscassem viver nas
casas que ainda restavam de pé. Aqueles que não tinham outro local para onde ir ou posses para
construir habitações provisórias, permaneceram nas vizinhanças das suas casas e lugares de negócio
destruídos. Os religiosos, presos à crença de que o sucedido era castigo divino e à sua fé,
permaneceram junto às ruínas das suas igrejas e conventos. Mas a população tinha-se deslocado para
os arrabaldes, em grande medida, e havia agora assentamentos em espaços abertos, a leste e oeste da
área destruída e nos terrenos elevados que rodeavam a cidade.
Fig. 2 – Igreja de S. Roque Fig. 3 – Igreja de S. Paulo
As primeiras prioridades foram para o socorro aos feridos e às pessoas presas nos escombros. Foram
mobilizados os militares para manter a ordem, ajudar a combater os incêndios e enterrar os mortos.
Um pouco por todo o lado, os homens válidos que poderiam ajudar na construção foram coagidos a
regressar à parte destruída da cidade, especialmente técnicos e artesãos que poderiam ajudar no
trabalho de reconstrução, e também mestres de obras e funcionários do governo.
O aqueduto das Águas Livres, iniciado em 1728 e concluído em 1748, não sofreu muito com o
terramoto, não afectando o abastecimento de água. Este facto contribuiu para minorar o sofrimento dos
sobreviventes e a degradação das condições sanitárias.
7 Apenas de 36 paróquias.
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O Marquês de Pombal logo ordenou, por aviso de 2 de Novembro, o alargamento das áreas dos
enterramentos, a fim de evitar a peste que o grande número de cadáveres poderia produzir. As
descrições da época, salvo relativamente a umas poucas pessoas, não identificam os locais de
sepultura, à época tradicionalmente os adros e claustros das igrejas, datando de 1835 o primeiro
cemitério de Lisboa. Muitos cadáveres foram sepultados em fossas fundas perto dos lugares onde se
encontravam, ou apenas cobertos com terra e entulhos, ou queimados. Quando possível foram
sepultados próximo das igrejas. Outros foram lançados ao mar fora da barra do Tejo. Os locais de
enterramento permaneceram ignorados desde então e só em 2004 foram localizados, sob os claustros
do antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus8, os restos mortais de alguns milhares de pessoas,
identificados com este período.
Fig. 4 – Lisboa, 1755: Deslocados
esde os primeiros dias houve a preocupação de proceder à recolha e queima dos
detritos, para o que foram destinados locais por forma a não obstruir os caminhos de
circulação. Foram também organizados locais para recolher os entulhos e elementos de
construção recuperáveis que pudessem vir a ser empregues nas obras de reconstrução.
A alimentação foi outra questão de urgente resolução. Foram encomendados mantimentos de outros
locais onde os havia, e foram apreendidas as cargas dos navios que se encontravam no porto, mesmo
aquelas que se destinavam a exportação ou simplesmente estavam em trânsito para outros países.
Foram organizados centros de alimentação, com cozinhas e fornos. Foram montadas tendas para a
venda de alimentos e outros artigos de primeira necessidade, e a vida continuou. O Rossio, Terreiro do
Paço e Praça da Ribeira encheram-se de negócios e lojas provisórias.
Os aspectos médicos não foram negligenciados, apesar de o número de médicos existente em Lisboa
ser certamente muito reduzido e de não haver experiência em lidar com situações de emergência. A
preocupação imediata foi impedir o surgimento de epidemias. Para além de serem recolhidos e
8 Onde se encontra actualmente a Academia de Ciências de Lisboa.
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sepultados todos os cadáveres, humanos e de animais, era necessário proceder rapidamente à
eliminação das poças de água estagnada, que se sabiam fonte de doenças.
A maioria das pessoas atribuiu ao terramoto causas sobrenaturais, castigo de Deus, o que era assunto
da pregação nas igrejas, de que foi expoente exacerbado o Padre Gabriel Malagrida, cujos sermões
reproduziu no seu panfleto Juizo da verdadeira causa do Terremoto, que padeceu a Corte de Lisboa
no primeiro de Novembro de 1755:
“(…) Sabe pois, oh Lisboa, que os unicos destruidores de tantas casas e palacios, os assoladores de
tantos templos e conventos, homicidas de tantos de seus habitantes, os incêndios devoradores de
tantos tesouros, os que a trazem ainda tão inquieta e fora da sua natural firmeza, naõ saõ cometas,
naõ saõ estrelas, naõ saõ vapores ou exalaçoens, naõ saõ phenomenos, naõ saõ contingencias ou
causas naturais, mas saõ, unicamente, os nossos intoleraveis pecados”.
As pessoas eruditas procuravam outras explicações, e a origem dos terramotos foi amplamente
discutida. À época do terramoto, os conceitos que as pessoas mais instruídas possuíam sobre a
composição do Universo era a concepção clássica dos quatro elementos constituintes de tudo quanto
existia — terra, água, ar e fogo — correspondentes a cada um dos estados físicos que observamos —
sólido, líquido e gasoso — mais o fogo, distinto de tudo o mais, nem sólido, nem líquido, nem gasoso,
matéria ardente geradora de calor e luz. Tudo quanto existe seria constituído por esses quatro
elementos, isoladamente ou misturados em proporções diversas, formando «mistos».
Como seria de esperar, a violência do terramoto de 1755 deu lugar a que muitos autores, em geral
pessoas com espírito científico, se pronunciassem sobre a origem dos terramotos, procurando explicá-
lo à luz desses conceitos e da sua própria observação, em discussões onde expressavam discordância
entre si, menosprezando certos aspectos e evidenciando outros, mas onde as explicações do fenómeno
apresentavam grandes semelhanças.
Sugeriam que os terramotos eram fenómenos naturais, como o eram os eclipses, trovões, chuva ou
quaisquer outros fenómenos que provocavam o medo e desastres naquilo que rodeava o homem, no
que hoje designaríamos por natureza ou meio ambiente. Assim, a questão que se colocava era procurar
identificar qual ou quais desses elementos, se não todos, e em que tempo e circunstâncias o fenómeno
se desencadeava. Para análise do sucedido e das suas causas, partiam das interpretações sobre a
origem dos terramotos dos filósofos da antiguidade clássica, cujas opiniões citavam em abono ou
desabono da sua própria interpretação.
A questão das causas dos terramotos era em geral analisada em conjunto com outra questão que com
aquela se considerava estar directamente relacionada: A origem de doenças e epidemias, que eram
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identificadas como provenientes dos terramotos. As duas questões
eram, por esse motivo, abordadas pelos médicos, que há época tinham
uma formação generalista.
As teorias sobre a causa dos terramotos assentavam na ideia de que
existiam nas profundidades da terra enormes cavernas onde se
acumulam diferentes materiais tais como enxofre, salitre, betumes,
minerais metálicos, etc., onde o elemento «terra» se encontrava ligado
com os outros elementos em diferentes proporções, sendo essas
proporções que conferiam a esses «mistos» as propriedades que se lhes
conheciam. Seria a predominância de um dado elemento nessas
cavernas que lhe determinava o comportamento e era da interacção
entre os conteúdos dessas cavernas, comunicantes entre si, que resultavam fenómenos como os
terramotos.
Em geral consideravam o fogo como o elemento indispensável para desencadear os abalos de terra,
quer por acção directa quer por inflamarem os «mistos» combustíveis, vaporizarem a água ou
expandirem o ar.
uando se deu o terramoto9, o médico Ribeiro Sanches10 publicou em Paris, o livro
Tratado da Conservaçaõ da Saude dos Povos: Obra util, e igualmente necessaria a os
Magistrados, Capitaens Generais, Capitaens de Mar, e Guerra, Prelados, Abadessas,
Medicos, e Pays de Familias11, sobre saúde pública.
Há referências a que o livro obteve a aprovação do Marquês de Pombal, o que é natural, já que o
tratado constituía um manual com aplicação prática imediata por parte das autoridades que tinham de
dar resposta à situação de emergência e simultaneamente contribuía para combater a superstição
quanto à causa do terramoto e a histeria religiosa.
9 Em carta dirigida a Sachetti Barbosa, datada de 28 de Dezembro de 1755, Ribeiro Sanches comunicava “Eu fico acabando de compôr e já principiando a imprimir, por serviço da amada patria, o livro que já insinuei a v. m. sobre a conservação da saude dos povos”.10 António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783) – Médico e filósofo, estudou direito em Coimbra e doutorou-se em medicina em Salamanca, exerceu em Benavente, Guarda e Amarante, depois estudou em Genebra, Monpellier, Bordéus, Londres, e Leiden, aqui com Boerhaave (médico dos Países Baixos, considerado o fundador do ensino clínico e do hospital académico moderno, considerado o maior professor de medicina desse tempo) e, mais tarde foi médico da czarina Ana Ivanovna na corte imperial russa, tendo depois passado a exercer em Paris.11 Embora publicado em Paris, o livro tinha em vista o mercado português, referindo no frontispício “E se vende em Lisboa, em casa de Bonardel e Du Beux, Mercadores de Livros”. Foi primeiro publicado sem indicação de autor e depois reeditado em Lisboa em 1757, sob o nome falso de Pedro Gendron. Esta última edição foi dedicada ao Duque de Lafões, Camareiro-mor e Regedor das Justiças.
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livro, publicado em 1756, incluía um apêndice, Consideraçoens sobre os Terremotos12,
onde Ribeiro Sanches, que era Judeu e tinha saído do país para fugir à Inquisição,
analisou as principais teorias científicas, antigas e modernas para a época. Para ele bem
claro que todos os que tinham reflectido sobre a questão com cuidado concluíam que os
terramotos eram fenómenos naturais, pelo que as pessoas ignorantes ou supersticiosas deviam ser
convencidas a não os considerar como acontecimentos sobrenaturais
ou como castigo pelos pecados cometidos.
Com efeito, ainda que coloque como possível a origem divina
afirmando que “Ninguém será taõ ousado sem impiedade que affirme,
que os Terremotos naõ foram já instrumentos de que se serviu a
Omnipotencia para castigar os homens; mas taõbem ninguem seria
taõ temerário que affirmasse, que todos elles succederaõ a este fim”,
logo em seguida põe essa origem em causa: “Hoje, hum eclipse da Lua
ou do Sol naõ nos atemoriza, por que sabemos a cauza; (…) Se
soubéssemos taõbem a cauza dos Terremotos, como a sabemos dos
ventos, das trovoadas, e dos trovoins, naõ teriamos, pode ser, estes
notaveis movimentos da Natureza por castigo do ceo, nem tirariamos delles prognosticos para a
nossa total ruina”.
Ribeiro Sanches explicava assim a origem dos terramotos: “Ou que no interior da terra, ou na nossa
atmosfera, as materias sulfureas, bituminosas e ferruginosas se misturem com os sais acidos e
vapores, juntamente com o calor central, ou com o da atmosfera, agitado pelos ventos, nesta agitaçaõ
produzem imensidade de Ar e de exhalações, o que faz maior ou menor abalo na terra e na atmosfera,
conforme for a resistencia que acharem (…) Se estes vapores e exhalações acharem canais
subterraneos que comuniquem com a caverna, ou cavernas, onde se geraram, mas que naõ tem saida
pela superficie da terra, entaõ correm por debaixo dela muitos espaços como vimos acima, e
principalmente neste ultimo que sentiram já três partes do mundo conhecido: nesta agitada corrente
levantam terras, montes, arruinando edificios, agitando os rios e os mares até acharem porta para se
dissiparem na atmosfera”.
utro médico, Duarte Rebello de Saldanha13, p. ex., na Illustraçaõ Medica, a que mais
adiante faremos novamente referência, pronunciava-se a esse propósito em termos
semelhantes: “Desta diversidade de massa mais ou menos sulfurea, nitroza, vitriolica,
12 Apêndice ao Consideraçoens Medicas (…): “Consideraçoens sobre os Terremotos, com a noticia dos mais consideraveis, de que faz mençaõ a Historia, e dos ultimos que se sentiraõ na Europa desde o 1 de Novembro 1755.”.13 Duarte Rebello de Saldanha era um reconhecido médico na Corte.
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bituminoza, ou metallica, que verosimilmente occupa as cavidades subterraneas, e dá o pábulo a o
fogo, rezulta tambem a diversidade dos impulsos mais, ou menos fortes, vibratorios, ou duraveis;
porque, sendo o material incluzo nas concavidades da terra, em que accende o fogo, excessivo no
enxofre, seraõ grandes as conflagrações, ainda que pouco duraveis os incendios: se tiver maior
porçaõ metallica, ha de ser mais duravel, e diuturno, ainda que menos estrondozo”.
Também Rebello de Saldanha, que nos seus argumentos invoca Newton, Boyle, Mariotte, Torricelli e
outros cientistas da mesma época, mesmo procurando explicar o terramoto como um fenómeno
natural, não excluía a hipótese de castigo divino, dedicando mesmo ao tema uma «Dialexe»: “Muitos
terremotos são cauzados por pozitiva determinaçaõ Divina”.
Esta rejeição dos conceitos teológicos, ainda que titubeante, e a procura de uma interpretação dos
factos baseada no conhecimento científico, alimentaram as discussões nos círculos intelectuais
portugueses.
Tanto Ribeiro Sanches como Rebello de Saldanha consideravam que os terramotos podiam ser
desencadeados pelo elemento ar comprimido nas profundezas, mas acreditavam que o processo se
desencadeava mais facilmente quando ao ar se juntava o fogo. Dos quatro elementos que compõem o
Universo, seriam estes os elementos a quem caberia o papel de maior relevo. A terra, devido às
«fermentações» a que está sujeita, e o ar, por si só, pela sua elasticidade, embora pudessem provocar
os abalos actuavam com maior força quando excitados pelo fogo. A água, pela natureza suave das suas
partículas, não os poderia originar.
Para além do reconhecido papel e mérito da obra de Ribeiro Sanches, releva a obra de outros médicos,
que influenciaram a prática médica e a discussão científica daquela época. João Mendes Sachetti
Barbosa, médico do Hospital Real de Elvas que se correspondia com aquele e que viveu o terramoto14,
no seu livro Consideraçoens Medicas15 ocupa-se do tratamento e profilaxia das epidemias e febres
contagiosas, que no seu entender o terramoto de 1755 potenciava. Pretendia demonstrar que as
epidemias e febres contagiosas são precedidas de fenómenos naturais, como as estações do ano,
14 “(…) E tendo eu a fortuna de escapar do numero de tantos mil infelizes, que pereceraõ debaixo das ruinas, ou entre as chammas do incendio geral, lembrou-me logo deixar as precedentes meditações, e applicar-me a escrever, e a apontar diariamente todos os terremotos” Prefacio de Consideraçoens Medicas (…).15 Barbosa, João Mendes Sachetti, Considerações Medicas Sobre o Methodo de Conhecer, Curar, e Prezervar as Epidemias, ou Febres Malignas, Podres, Pestilenciaes, Contagiozas, e Todas as Mais, Que se Compreendem no Titulo de Agudas, a Cujos Respeitos Se Trata do Uso e Abuso de Todos os Remedios Notaveis da Nossa Presente Pratica, principalmente Leites, Soros e Caldos de Frangos por ordem ao Clima de Portugal, e a Vulgar Opinião que Muitos Tem sobre o de Lisboa e os das Provincias. Aplicadas particularmente às que se Seguem nos Grandes Terremotos, como o do Primeiro de Novembro de 1755, e aos Meteoros e Fenomenos Terraqueos, Que o Precederão, Acompanharão e Se Lhe Seguirão, Parte I, Lisboa, José da Costa Coimbra, 1758. Segundo o Diccionario Bibliographico Portuguez, de Innocencio Francisco da Silva, pg. 421, esta Parte I contém as cartas primeira e segunda, faltando a terceira e o apêndice.
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terramotos, inundações, meteoros celestes, cadáveres em putrefacção ao ar livre, mudanças de hábitos
de vida e paixões deprimentes, como o susto e o terror.
médico dos Marqueses de Távora, José Álvares da Silva, no texto Precauçoes Medicas
contra algumas remotas consequencias que se podem excitar do Terremoto de
1.11.1755, considerava que o risco de infecção resultante da putrefacção dos corpos
não foi tão grave como se poderia ser pensado e que, apesar das condições em Lisboa
serem obviamente preocupantes, devia ser lembrado que o terrível fogo, consumindo, tinha
compensadoras propriedades purgativas, que tinham sido realizadas cremações sanitárias
generalizadas e, também, que um vento norte misericordiosamente persistente tinha limpo a cidade de
todos os odores nocivos. Além disso, como era inverno, os corpos haviam sido protegidos de causar
danos por refrigeração parcial, e outros tinham sido de certa maneira como que mumificados pelo
alcatrão e cinzas que se depositaram sobre eles.
Álvares da Silva, afastando os corpos em putrefacção como origem das epidemias, considerava que
podiam, no entanto, dar origem a algumas enfermidades, pelo que era extremamente importante
observar algumas regras fundamentais de higiene, particularmente aquelas que contribuíam para
manter o sangue puro. Explicava, por isso, o que é que as pessoas
sensatas deveriam fazer em matéria de regime alimentar e exercício
físico, e preconizava o uso de desinfectantes e mudanças frequentes de
roupa por outra limpa. Salientou ainda a necessidade de manter o
espírito são, sem entrar em pânico, apontando vários medicamentos
para curar sintomas que poderiam ser o início de doenças muito mais
graves.
A obra Illustraçaõ Medica, de Rebello de Saldanha, que já referimos,
está construída em torno da refutação de muitas das opiniões
expressas por Sachetti Barbosa. Esta discussão centra-se na origem
das epidemias, em especial se estas eram causadas pelos terramotos,
onde Rebello de Saldanha defende que nalguns casos isso tinha sucedido, mas não era o caso do
terramoto de 1755, em que não tinham surgido epidemias em Lisboa e aquela que Barbosa invocava,
teria surgido muitos meses depois.
As condições sanitárias da Lisboa anterior ao terramoto eram deficientes, e o terramoto veio agravá-
-las bastante. Os conhecimentos médicos quanto à origem das doenças e às formas de contágio eram, à
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época, pouco mais do que inexistentes. Apesar de o microscópio16 ser utilizado há muito tempo como
instrumento de observação aplicado à biologia — Rebello de Saldanha refere as “(…) observações
Microscopicas17 de Hook18 e Levenhock19 (…)” a propósito das “febres lentas, nervozas” e do “succo
nerveo” —, a discussão centra-se em torno de serem os fenómenos naturais como os terramotos ou as
inundações os causadores das epidemias, longe de identificar as bactérias como vectores de doenças
ou certas condições ambientais como potenciadoras de vectores de transmissão.
tema principal da obra de Ribeiro Sanches era o controlo sanitário da comunidade, que
para ele dependia da observação de algumas regras e regulamentos simples que
preservassem a saúde das pessoas, regras essas que todos os responsáveis deviam
conhecer, bem como os princípios em que se baseavam, em especial quem dirigia instituições
religiosas, hospitais e prisões, os comandantes militares e navais e os pais de família, como o título do
livro bem expressa.
Ribeiro Sanches entendia também que os arquitectos deviam estudar estas matérias, para que os novos
edifícios tivessem boas condições de salubridade. Ar fresco e limpeza eram os principais requisitos.
Considerava ainda importante estudar a saúde dos marinheiros porque, através deles, Lisboa estava
exposta às doenças trazidas pelos navios das suas possessões marítimas espalhadas pelo mundo.
Ribeiro Sanches era adepto de uma cidade planeada, regulamentada e limpa para manutenção de um
ambiente saudável:“(…) Depois que nas cidades e villas mais cultas começaram os Magistrados a
reformar aqueles defeitos20, ordenando fabricar as ruas largas, e direitas que terminam em grandes
praças, depois que as mandaram cobrir de calçadas consistentes, como tambem as casas de pedra e
cal com telhados taõ firmes que resistem á chuva, e com algerozes, e aquedutos para dar saida ás
aguas, juntamente com a limpeza das ruas, corrigiu-se em muita parte a corrupçaõ do Ar das cidades,
de tal modo que depois de cento e sincoenta anos raras vezes se observou o estrago da peste na
Europa”, considerando que devia “(…) o Magistrado a ordenar um certo termo de fabricar nas
cidades ou vilas; como tambem de serem os edifícios e as ruas conformes ao plano que deve estar
depositado em cada casa do Senado, ou da Camara”. 16 Desde 1731 que a Universidade de Coimbra dispunha de um microscópio composto, construído em Inglaterra e doado por Jacob de Castro Sarmento, médico português radicado em Londres (actualmente no Museu Pombalino de Física da Faculdade de Ciências da U.C.).17 Rebello de Saldanha utiliza aqui o adjectivo “microscópico” 75 anos mais cedo do que o ano de 1836 a que o Dicionário Huaiss atribui o primeiro registo conhecido da palavra.18 Robert Hook (1635-1703) – Cientista inglês, autor da lei da elasticidade que é designada com o seu nome. Em 1665 publicou o livro Micrographia, com descrições de observações microscópicas e telescópicas e observações sobre biologia original. É atribuído a Hooke o termo "célula".19 Antonie van Leeuwenhoek – Cientista dos países baixos conhecido pelo aperfeiçoamento do microscópio e pelas suas observações no domínio da biologia celular. Foi quem primeiro observou e descreveu as fibras musculares, bactérias e o fluxo do sangue nos capilares sanguíneos dos peixes.20 Refere-se aos defeitos das cidades mais antigas, como eram as ruas estreitas, a falta de limpeza, a ausência de escoamento para águas servidas, etc.
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As preocupações com a salubridade são manifestas nas suas recomendações: “Ninguém duvidará da
necessidade que tem ainda a menor villa de cloacas e de canos que dêem êxito a toda a sorte de aguas
(…) de tal modo que a sua abertura fique sempre mais alta, do que os rios, mar, ou vales onde se
esvaziarem: porque de outro modo, refluiraõ as immundicies, e causaraõ nos condutos a maior
corrupçaõ (…) Seria proibido lançar pelas janelas de dia ou de noite agua mesmo limpa ou imunda,
cisco, ou qualquer outra materia: (…) Mas demos que pela agitação das marés aquelas matérias
excrementicias naõ entupam o fundo do porto: demos que naõ corrompam a atmosphera, o que é
positivamente falso: não é força que tanta materia saia nas prayas, e que ou alague campos
cultivados ou que converta os incultos em paules, e em charcos venenozos? Não seria mais util que as
immundicies de uma cidade servissem a aplanar o terreno á roda e fertilizar os campos com ellas?
utra preocupação era o abastecimento de água sugerindo a preferência por “(…) aguas
das fontes, as aguas dos rios, dos poços, e das cisternas, contanto que naçaõ junto dos
sitios levantados, em terreno aspero, ou de areia; que sejam aguas vivas, correntes,
claras, que cozidas naõ fique nos lados dos vasos onde ferveram por muitos tempos,
nem sarro branco, nem de qualquer outra cor: que fervidas nao fique pé no fundo; que naõ tenham
gosto, nem sabor, nem cheiro; sem cor, sem tez na superficie: que nela naõ nasçam insectos,
sanguessugas, nem raizes, nem ervas: (…).
Os padrões urbanísticos de Ribeiro Sanches evidenciavam preocupações higienistas que visavam
proporcionar aos habitantes da cidade maior segurança e saúde e melhores condições de vida, e
antecipam a identificação de problemas e soluções ambientais como os conhecemos hoje. São
abordadas, com efeito, questões tais como a qualidade do ar e da água, salubridade e resíduos urbanos,
problemas causados pelos efluentes dos esgotos, etc. etc.
Marquês de Pombal encarregou da reconstrução da cidade o engenheiro-mor do Reino,
Manuel da Maia. Este, nos estudos que desenvolveu, considerou várias hipóteses de
desenvolvimento futuro que iam desde a reconstrução da cidade no mesmo local, tal
qual como existente antes do terramoto, até à construção de uma nova cidade, que localizava na zona
de Belém, onde os efeitos dos abalos tinham sido sentidos com menos intensidade.
A opção prosseguida foi a de reedificar a zona central da cidade, no mesmo local, a partir de um plano
inteiramente novo, com ruas largas e limitação da altura dos edifícios. Ao optar por manter a cidade
numa zona que se tinha constatado vulnerável, seria perigoso permitir a reconstrução livre da cidade
sem restringir a altura, pois entendia-se que cedo todos esqueceriam os horrores dos desmoronamentos
e iriam construir tão alto quanto conseguissem.
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Fig. 5 – Planta de Lisboa antes do terramoto (1650)
Construir em novas ruas, mais largas e segundo um plano novo impunha uma alteração radical da
divisão da propriedade. Para isso foi feito um levantamento rigoroso dos limites das propriedades e
dos proprietários, que permitiu o posterior acerto das parcelas, só possível com permutas, cedências e
compras. Esta solução foi imposta por uma sucessão de medidas, estabelecidas por decreto, que
começaram com a imposição da demolição das casas destruídas, logo em 29 de Novembro de 1755, a
delimitação da cidade, em 3 de Dezembro, a proibição de construir fora da cidade ou em desacordo
com o estipulado, em 31 de Dezembro. Por Alvará Régio de 12 de Maio de 1758 foi aprovado e
imposto o novo plano da cidade.
plano aprovado foi da autoria de Eugénio dos Santos, e foi depois prosseguido, após a
sua morte em 1760, por Carlos Mardel. O plano de Eugénio dos Santos impunha uma
uniformização dos edifícios, com idêntico tratamento das fachadas, em acordo com a
hierarquia definida para as ruas, e a limitação do número de pisos. As lojas e oficinas dos pisos térreos
foram distribuídas em função dos diferentes ofícios. A arquitectura ficou, assim, subordinada ao novo
urbanismo.
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Fig. 6 – Planta de Lisboa reconstruída (1785)
Desde os estudos iniciais de Manuel da Maia que foi prevista a construção de colectores de esgoto,
“cloacas”, no meio das ruas principais, onde vão ligar tubagens com origem nos edifícios, melhorando
as condições sanitárias da cidade. Para melhor escoamento das águas foram utilizados escombros para
executar aterros, subindo a cota da baixa e deixando uma ligeira pendente na direcção do Tejo. Pela
primeira vez, as ruas são largas e dispõem de passeios laterais para separar o trânsito de peões dos
animais e carruagens. Previa-se que as empenas fossem prolongadas acima dos telhados, constituindo
guarda-fogos.
Para além das condições sanitárias e urbanísticas, foram as próprias condições da estabilidade dos
edifícios em caso de sismo que reuniram as maiores preocupações na reconstrução. Foi estudada a
maneira de prevenir o colapso dos edifícios, com a realização de experiências em modelos em escala
real, utilizando soldados em marcha para simular a acção das forças sísmicas. Estes ensaios podem ser
considerados os primeiros ensaios dinâmicos de estruturas. Foi destas experiências que resultou a
estrutura de madeira em “gaiola”, técnica construtiva nova, que a memória da catástrofe fez aceitar e
então se generalizou na cidade.
O conhecimento sobre os sismos melhorou: O inquérito realizado às paróquias foi a primeira iniciativa
de recolha alargada de dados objectivos sobre a acção de um grande sismo, e o seu tratamento ainda
hoje é objecto de estudos científicos.
O dia 1 de Novembro de 1755 ficou marcado para sempre na nossa memória. Não só pela horrenda
tragédia que nesse dia se abateu sobre Lisboa, mas também pelo profundo impacto que o
acontecimento teve em muitos aspectos da vida colectiva. O esforço realizado para a reconstrução não
teve precedentes entre nós e constituiu uma oportunidade para o desenvolvimento de novas soluções
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urbanísticas e arquitectónicas para a cidade. O terramoto tudo atingiu e muitas mudanças sucederam
na cidade, na política, na economia, nas ciências, nas relações sociais, nas crenças, na própria atitude
face à morte e à religião.
Em conclusão, as repercussões não se circunscreveram a Portugal, o terramoto foi um acontecimento
europeu, e mesmo além dos Pirinéus intelectuais como Voltaire, Kant, Rousseau, Goethe, e muitos
outros, fizeram dessa tragédia tema das suas reflexões. O impacto do terramoto não foi limitado e
local, foi extenso, internacional, e prolongou-se no tempo.
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BIBLIOGRAFIA:
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Social, vol. XXXIV (151-152), 1999 (2.º-3.º), 615-633.
2. Barbosa, Joaõ Mendes Sachetti, Consideraçoens Medicas Sobre o Methodo de Conhecer, Curar
e Prezervar as Epidemias, ou Febres Malignas, Podres, Pestilenciaes, Contagiozas, e Todas as
Mais, Que se Compreendem no Titulo de Agudas, a Cujos Respeitos Se Trata do Uso e Abuso
de Todos os Remedios Notaveis da Nossa Presente Pratica, principalmente Leites, Soros e
Caldos de Frangos por ordem ao Clima de Portugal, e a Vulgar Opiniaõ que Muitos Tem sobre
o de Lisboa e os das Provincias. Aplicadas particularmente às que se Seguem nos Grandes
Terremotos, como o do Primeiro de Novembro de 1755, e aos Meteoros e Fenomenos
Terraqueos, Que o Precederaõ, Acompanharaõ e Se Lhe Seguiraõ, Lisboa, 1758.
3. Carvalho, Rómulo de, As interpretações dadas, na época, às causas do terramoto de 1 de
Novembro de 1755, in Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Tomo XXVIII (1987), p.
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9. Mendonça, Joachim Joseph Moreira de, Historia Universal dos Terremotos Que Tem Havido no
Mundo de Que Ha Noticia, Desde a Sua Creação Ate o Seculo Presente: Com Huma
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10. M. T. P (Miguel Tiberio Pedegache Brandaõ Ivo), Nova e Fiel Relaçaõ do Terremoto que
experimentou Lisboa e todo Portugal No 1. de Novembro de 1755, com algumas observaçoens
Curiosas e a explicaçaõ das suas causas, Lisboa, 1756.
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12. Saldanha, Duarte Rebello de, Illustraçaõ Medica, ethico-politica, historico-systematica,
sceptico-eclectica, physico-analytica, e theorico-practica, ou reflexaõ critica A’s
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Consideraçoens Medicas; sobre o methodo de conhecer, curar e prezervar as Epidemias, ou
Febres malignas, podres, pestilenciaes, contagiozas, et cet. Tomo I. Lisboa, Reg. Offic. Silviana,
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util, e igualmente necessaria a os Magistrados, Capitaens Generais, Capitaens de Mar, e
Guerra, Prelados, Abbadessas, Medicos, e Pays de Familias”, Paris, 1761.
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15. Sousa, Francisco Luís Pereira de, O Terremoto de 1º de Novembro de 1755 e um Estudo
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16. Kendrick, T.D., The Lisbon Earthquake, London, Methuen & Co., 1955
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