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O PAPEL DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA ESCOLA Relato da experiência desenvolvida no Colégio Estadual “General Carneiro” – Lapa – PR
Autora: Vilma Lúcia Jankowski1
Orientador: Sérgio Roberto Chaves Júnior2
Resumo Considerando a imensa dimensão de saberes que os jogos e brincadeiras carregam, compreende-se que brincar e jogar por si só não são suficientes, pois inúmeras possibilidades de conhecimento poderão ser encontradas quando explorados pelo professor. Fazendo parte da cultura do aluno, os Jogos e Brincadeiras deveriam ser melhor investigados para, quando utilizados, poderem aprimorar o processo de ensino e aprendizagem, além de assegurar a melhora nas relações afetivas entre alunos e professor, que ao respeitar e valorizar a história de cada um, estará criando ambiente favorável para a introdução de novos conhecimentos. Os Jogos e as Brincadeiras são conteúdos da Disciplina de Educação Física, mas reconhece-se que são mais aproveitados no início da aula como aquecimento - como as brincadeiras de “pegar”- ou no final da aula como “volta a calma”, conteúdos usados com outros propósitos, como meios para outros fins que não os próprios, ou somente “na prática” com propostas prontas sugeridas pelo professor, desconsiderando o seu saber e as várias dimensões possíveis de serem trabalhadas. Este artigo apresenta o relato das aulas que tematizaram os Jogos e Brincadeiras, desenvolvidas na fase de implementação do Projeto de Intervenção na Escola, do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE no Colégio Estadual General Carneiro, no município da Lapa - PR.
Palavras-chave: Jogos e brincadeiras; cultura; resgate; painel;
O trabalho com os Jogos e Brincadeiras na escola
Trazidos para a escola em forma de cultura, os jogos e as brincadeiras fazem
parte da história da vida de cada criança, não desprendidos de realização e
frustração, mas imbuídos de ventura e esperança. São atividades que deveriam ser
aproveitadas em prol de um ensino/aprendizagem baseado em respeitar esta
cultura, valorizar as experiências vivenciadas, aperfeiçoar as habilidades adquiridas
1 Professora de Educação Física, licenciada na Escola de Educação Física e Desportos do Paraná,
com Especialização em Magistério de 1º e 2º Graus com concentração em Formação de Jovens e Adultos e Especialização em Ecoturismo. 2 Mestre em Educação (UFPR). Professor Assistente do Departamento de Teoria e Prática de Ensino
(UFPR).
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para buscar novos conhecimentos a partir do que já se aprendeu. Segundo Selbach
(2010, p. 33), “cultura é o conjunto de códigos e de símbolos reconhecidos por um
grupo e que acompanham a pessoa desde quando nasce”.
A cultura lúdica, para Brougére (1995, p. 59) está impregnada de tradições
diversas onde são encontradas as brincadeiras tradicionais. “A brincadeira é entre
outras coisas um meio da criança viver a cultura que a cerca, tal como ela é
verdadeiramente, e não como ela deveria ser.”
Segundo as Diretrizes Curriculares de Educação Física do Estado do Paraná,
(2008, pg. 65) “É interessante reconhecer as formas particulares que os jogos e as
brincadeiras tomam em distintos contextos históricos, de modo que cabe à escola
valorizar pedagogicamente as culturas locais e regionais que identificam
determinada sociedade”
A criança, simplesmente quer brincar e jogar, por que não permitir ao aluno a
satisfação de aprender, articulando o seu cotidiano com a vida escolar? A magia do
jogo e da brincadeira conduz a procura de novas descobertas a partir do que já foi
aprendido e expectativas que fazem do desejo em vencer, aperfeiçoar cada vez
mais suas habilidades em novas tentativas, fazendo com que o jogador se prepare
para novos desafios. (FREIRE, 2002, p.83)
Kishimoto (2002, p. 161), considera que “o brincar da criança não é apenas
um ato espontâneo de um determinado momento. Ele traz a história de cada
criança...” atividade lúdica é uma forma de revelar os conflitos interiores.
Como Conteúdo Estruturante da Educação Física, reconhece-se que os
Jogos e Brincadeiras são mais utilizados no início da aula como aquecimento ou no
final da aula como “volta à calma”. Dessa forma, configuram-se como conteúdos
usados com outros propósitos, como meios para outros fins que não os próprios, ou
somente “na prática” com propostas prontas sugeridas pelo professor,
desconsiderando o seu saber e as várias dimensões possíveis de serem
trabalhadas.
Para o Coletivo de Autores (1992, pg. 66), citado nas Diretrizes Curriculares
do Estado do Paraná - DCEs, “Almeja-se organizar e estruturar a ação pedagógica
da Educação Física, de maneira que o jogo seja entendido, apreendido, refletido e
reconstruído como um conhecimento que constitui um acervo cultural, o qual os
alunos devem ter acesso na escola”.
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Num contexto de educação escolar, o jogo proposto como forma de ensinar
conteúdos às crianças, aproxima-se muito do trabalho. Não se trata de um jogo
qualquer. Mas sim de “um jogo transformado em instrumento pedagógico, em meio
de ensino”. (FREIRE, 1997, p. 119)
Considerando a dimensão de saberes embutido nos jogos e brincadeiras,
brincar por brincar ou jogar por jogar, por si só não são suficientes em decorrência
da riqueza das possibilidades encontradas quando são exploradas pelo professor. A
atribuição do Professor de Educação Física não está em ensinar apenas “atividade
corporal propriamente dita, mas também o raciocínio lógico e dedutivo, a capacidade
de procura e de pesquisa”. (SELBACH, 2010, p. 132).
É inegável a importância do movimento corporal das aulas práticas, que
oportunizam o professor a trabalhar os valores durante e principalmente nestas
aulas, devido as oportunidades que vão surgindo decorrentes da não limitação do
espaço físico que a carteira na sala de aula estabelece. Mas a Educação Física não
fica somente nestes saberes, os seus conteúdos proporcionam “... o
estabelecimento de saudáveis parcerias em que ambos devem participar de uma
interação cooperativa de construção e descobertas, em que o professor promove
uma visão organizada dos seus conteúdos e o aluno contribui com seu estilo
pessoal de executar e refletir e, portanto aprender a se transformar. (SELBACH,
2010, p.31)
Esportes, Dança, Ginástica e Lutas são conteúdos da Educação Física que
têm a sua característica específica e importância, devendo ser trabalhados também
na interação cooperativa como propõe Selbach. Escolhemos os Jogos e
Brincadeiras porque fazem parte da cultura lúdica do aluno, tornando-se importante
meio para aprofundar saberes baseados na vivência do aluno, contando com a sua
participação efetiva, estabelecendo parcerias que poderão ser aproveitadas quando
forem trabalhados os outros conteúdos.
Uma experiência com os saberes dos Jogos e Brincadeiras
A cultura do movimento trabalhada além da prática, numa construção coletiva
baseada na troca de experiências entre o professor e o aluno, traz maior
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oportunidade de reflexão e exploração do conteúdo, aumentando o interesse do
aluno pela atividade e conseqüentemente pelo conhecimento.
Nossa experiência deu-se durante a implementação do Projeto de
Intervenção na Escola3, sob o tema “Organização do trabalho pedagógico na
educação física escolar, através do resgate de jogos e brincadeiras da cultura dos
professores e alunos”. A proposta foi resgatar os Jogos e Brincadeiras que fazem
parte da cultura e do cotidiano dos professores4 e alunos das 5as séries5,
contextualizando-os para serem utilizados como aliados importante na conquista de
uma relação progressiva entre o professor e o aluno, visando incentivar novas
práticas pedagógicas.
Para Santos (2010, p. 23)
O educador do novo milênio deve promover novos e estimulantes
desafios, contextualizar conteúdos, outrora ministrados sem valor prático, pois, enquanto o aluno não perceber a utilidade do que aprende na escola para sua vida, sentirá os conteúdos sem significado e a escola desnecessária.
Com objetivo de recolher dados para subsidiar o Material Didático Pedagógico
foi realizada uma pesquisa com os professores, onde se pediu que elencassem os
jogos e brincadeiras do seu conhecimento. Com o resultado foi elaborada uma
listagem que serviu para basear os encontros de estudos, elaboração da Produção
Didático Pedagógica e organização do Projeto de Intervenção.
Entre os Materiais Didáticos Pedagógicos, foi elaborada a Unidade Didática,
“Brincando e Jogando com painéis”, com a proposta de resgatar os Jogos e
Brincadeiras da cultura dos alunos, utilizando o painel como material de apoio
motivador para uma prática pedagógica dinâmica, trazendo referências para o
professor e indicações de trabalho metodológico, a forma da confecção e uso do
painel, além de um módulo com cinco aulas para exemplificar a metodologia. O
3 O Projeto de Intervenção , Material Didático Pedagógico e Artigo Final são produções componente da
Proposta de Formação Continuada da SEED- PR, do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE. 4 O Projeto destinou-se aos Professores de Educação Física do Colégio Estadual “General Carneiro”
– Lapa – PR 5 Estamos utilizando ainda a nomenclatura anterior a Lei nº 10.172/2001 que institui o Ensino
Fundamental de 9 anos, por que os alunos que fizeram parte da implementação do projeto, pertenciam as 5ªs séries. Somente neste ano de 2012, é que a escola recebeu os primeiros alunos da reforma e utilizou-se a nova nomenclatura, isto é 6º ano.
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painel serviu para registrar os resultados das pesquisas, bem como categorizar,
organizar e remodelar a aula conforme a prescrição do professor.
Encaminhamentos metodológicos e resultados da experiência
Apresentamos a seqüência do trabalho, na forma de Plano de Trabalho Docente,
de acordo como foi planejado na Unidade Didática, seguido dos resultados obtidos
durante a implementação do Projeto.
Conteúdo Estruturante: Jogos e Brincadeiras
5a série “A”
Aula nº 1
Conteúdo específico: Relembrar os jogos e brincadeiras
Objetivo: Resgate dos jogos e brincadeiras do conhecimento do aluno.
Material: Painel, folhas de papel, pincel atômico ou similar e fita crepe.
Procedimentos:
Solicitar aos alunos que individualmente escrevam num papel todos os jogos
e brincadeiras que eles conhecem.
Dividir os alunos em equipes e solicitar que façam uma leitura do que cada
um escreveu e complementem a sua lista com todos os jogos e brincadeiras
que foram citados por todos os alunos da equipe;
Escolher um representante que terá a incumbência de “visitar” as outras
equipes, “colar” na sua lista outros exemplos, trazer para sua equipe, devendo
todos, complementarem as suas listas. Terminar esta fase com a leitura de
uma única lista da turma.
Separar da lista, os jogos e brincadeiras em quantidade igual para cada
equipe, distribuir papéis e pincel atômico (do kit de material) para que
escrevam os nomes dos jogos e brincadeiras (um em cada folha), e coloquem
aleatoriamente no painel;
Desafiar os alunos: Poderemos ter mais exemplos? Vamos pesquisar com os
pais, tios, irmãos e avós e aumentar nossa lista na próxima aula?
Para concluir, os alunos poderão escolher uma ou mais brincadeiras de sala
de aula para vivenciar, dependendo da disponibilidade do tempo.
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Como proceder a avaliação: Na primeira parte da aula, o professor terá
oportunidade de conhecer as experiências individuais através do resgate da cultura
do aluno. Durante a aula, observar se houve o comprometimento e envolvimento dos
alunos, se conseguiram completar as suas listas de jogos e brincadeiras, levando
em consideração a opinião do colega. Observar também se valores como respeito e
ajuda mútua foram praticados. Ao realizar a leitura dos relatórios, aproveitar para
fazer uma reflexão crítica do que foi trabalhado e aprendido, oferecendo
oportunidade para que os alunos possam se expressar sobre o que mais lhes
chamaram a atenção, e poder dar a sua opinião.
Resultados da experiência: Entre as turmas trabalhadas, escolhemos a 5ª série
“A” para apresentação dos resultados. Os alunos mostraram-se participativos,
elencando mais de trinta nomes de jogos e brincadeiras e como estava previsto, foi
catalogado esportes como jogo. Foi comentado o assunto da próxima aula, sobre as
diferenças entre jogos e brincadeiras, com tempo para realizar uma brincadeira
sugerida pelo professor de adivinhar objeto escolhido pela turma, brincadeira
utilizada para motivar e realçar o conteúdo.
Avaliação: Demonstraram ajuda aos companheiros no momento de completar a
lista, grande interesse em colocar os nomes no painel, e também em contar as suas
experiências com os jogos e brincadeiras.
Aula nº 2
Conteúdo Específico: Brincadeiras populares.
Objetivo: Entender as diferenças entre o jogo e a brincadeira e categorizar as
brincadeiras.
Materiais: Painel, pincel atômico, fita crepe, folhas de papel com os nomes dos
jogos e brincadeiras feitos pelos alunos na aula anterior.
Procedimentos:
Solicitar aos alunos a pesquisa feita com os pais, tios e avós e completar o
painel;
Questionar se os alunos sabem a diferença entre brincadeira e jogo;
OBS: Estamos evidenciando as brincadeiras e jogos porque são os objetos
dos nossos estudos. Poderão ocorrer questionamentos também sobre os
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esportes, por isso achamos conveniente apresentarmos algumas reflexões
acerca das diferenças entre brincadeira, jogo e esporte, baseados em HELAL
(1990), para poder elucidar dúvidas do Professor.
A Brincadeira é a mais lúdica das atividades, sem regras fixas que são
definidas e modificadas pelos brincantes com liberdade de ação com
espontaneidade. Nos resultados não há preocupação com recompensas sendo
que o prazer está em fazer e não no que se fez. Como exemplo: Pelé chutando a
bola contra a parede, repetidas vezes, só por diversão.
No jogo a diversão está presente em grau menor que na brincadeira e maior
que no esporte, com regras relativamente fixas, que são importantes para
acrescentar organização e motivação em jogar. Nas ações existe uma perda de
espontaneidade e os resultados apresentam jogos competitivos que aproximam
mais do esporte e não competitivos que se aproximam das brincadeiras. Como
exemplo: o Pelé e mais alguns amigos disputando quem consegue fazer mais
embaixadinhas com a bola.
No esporte, com pouca presença de diversão, aparece a influência da mídia,
da política e de aspectos financeiros com a cobrança extrema de resultados.
Com regras rígidas e universais organizadas por instância superiores,
apresentando disputa física e competição, necessitando de altos graus de
habilidades, rendimentos, especialização e treinamento. Como exemplo: Pelé
prestes a bater o pênalti para anotar o seu milésimo gol como atleta.
Todos podem ser individuais e coletivos.
Após este entendimento, organizar os alunos para que cada um participe da
arrumação do painel dividindo de um lado as brincadeiras e do outro os jogos;
Guardar os jogos nos bolsos do painel e trabalhar com as brincadeiras, Pode
ser feita a seguinte categorização: brincadeiras individuais e coletivas e com
e sem o uso de materiais, ou outro tipo de categorização. Nota-se que uma
brincadeira pode aparecer em duas ou mais colunas;
Escolher com os alunos as brincadeiras que irão vivenciar no restante do
tempo da aula.
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Na criança, as brincadeiras estimulam a imaginação e o faz de conta. É
interessante ao professor explorar esta possibilidade como mais um meio de
aprendizagem. Na idéia de simbolismo, segundo Freire (1997, p. 44), ”o brinquedo
simbólico é tão rico para o desenvolvimento da criança que uma análise superficial
nem de longe chega a apreender todas as suas possibilidades”.
Como proceder a avaliação: A indicação de que o aluno apropriou-se do
conhecimento será através das atividades de categorização das brincadeiras no
painel. As atitudes tomadas perante situações como cooperação entre os
companheiros, respeito ao colega na sua vez de ajustar o painel e organização
nestas movimentações na sala de aula, poderão ser registradas para serem
utilizadas numa reflexão no final da aula.
Resultados da experiência: Dois alunos trouxeram pesquisas sobre as
diferenças entre os jogos e as brincadeiras. Aproveitou-se para ler e discutir o
assunto.
Foi feita a separação dos jogos e brincadeiras no painel, os esportes foram
separados, colados no quadro negro ao lado e explicados que na escola os jogos
esportivos não deixam de ser jogos mas que possuem regras baseadas nos
esportes oficiais, e que por ora, iríamos trabalhar um dos conteúdos da Educação
Física: os Jogos e as Brincadeiras.
Guardados os jogos, foram categorizadas as brincadeiras: com e sem
material e separadamente individuais e coletivas. Alguns chegaram a conclusão que
a mesma atividade, como amarelinha, ora é brincadeira, ora é jogo se for um
campeonato, já andar de bicicleta é brincadeira individual e coletiva quando a
mesma oferece lugar para várias pessoas pedalarem.
Houve tempo para brincadeiras e entre as sugeridas foi escolhida pela
maioria a brincadeira de “Stop6”.
Avaliação: Notou-se que eles gostaram de arrumar as palavras no painel,
demonstraram organização e respeito aos companheiros, esperando a sua vez. Foi
feita uma comparação entre arrumar as palavras no painel e arrumar os seus
6 Na brincadeira “Stop” cada aluno organiza uma tabela numa folha de papel com nome, cor, cidade, país,
fruta e/ou outra sugestão. O professor sorteia uma letra e eles terão um tempo para escrever um exemplo,
iniciando com esta letra, em cada espaço da tabela. Quando o professor diz Stop, eles param de escrever e
procedem a contagem de pontos: 10 pontos para cada exemplo único na turma e 05 pontos para exemplo
repetido. Vence quem fizer mais pontos no final.
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brinquedos no seu quarto, separando os brinquedos e jogos, para poder encontrá-
los mais facilmente para brincar ou jogar.
Aula nº 3
Conteúdo Específico: Jogos populares
Objetivo: Categorizar os jogos.
Materiais: Painel, nomes dos jogos.
Procedimentos:
Guardar as brincadeiras que estão no painel e trabalhar com os jogos,
categorizando-os: jogos individuais e coletivos, com ou sem material ou outra
categorização que o professor desejar;
Outras formas de categorizar os jogos podem ser as seguintes7:
Jogos
de
perseguição
Jogos
de
Procura
Jogos Pré-esportivos Jogos
Espor
tivos
Jogos
de
Mesa
e de
tabulei
ro
Jogos
Eletrô
nicos
e
virtuais
Jogos de ataque e defesa
Jogos de conquista
Perseguição sem refúgio
Jogos de esconde- esconde
Jogos com
invasão de campo
Jogos de arremes
sar
Jogos esportivos coletivos
Perseguição com refúgio
Jogos de esconder objetos
Jogos sem
invasão de campo
Jogos de rebater
Jogos esportivos individuais
Jogos com troca de lugares
Jogos sem
campo definido
Jogos de lançar
Jogos de corrida
contrária
Jogos de chutar
7 Essa forma de categorizar é uma das inúmeras possibilidades de entender e estudar os diferentes
tipos de jogos. Pelos limites desse trabalho, não há pretensão em se desenvolver teorizações mais amplas sobre essa ou outra forma de categorizar os jogos. Contudo, muitos autores tem se valido dessas tentativas. Para maiores informações cf. GARGANTA (2006); MITCHELL, OSLIN e GRIFFIN (1997); SCAGLIA (2003), entre outros.
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Escolher com os alunos os jogos que irão vivenciar no restante do tempo da
aula.
Como proceder a avaliação: Semelhante a aula anterior, o conhecimento será
avaliado através das atividades de categorização dos jogos. As atitudes tomadas
perante situações como cooperação entre os companheiros, respeito ao colega na
sua vez de ajustar o painel e organização nas movimentações na sala de aula,
poderão ser registradas para serem utilizadas numa reflexão no final da aula.
Resultados da experiência: No início da aula, foi retomado o assunto das
diferenças entre jogo e brincadeira,. Após retiradas as brincadeiras do painel, foi
feita categorização dos jogos em individuais e coletivos, alguns alunos sugeriram
colocar uma coluna no meio, com os jogos que podem ser jogados tanto
individualmente como em equipes. Na categorização de com e sem material, não
foram encontrados jogos sem materiais.
Para o restante da aula, os alunos escolheram jogar queimada, demonstrando
organização na escolha dos times e também companheirismo até com os mais
fracos, pois quando recuperavam a bola, esta era distribuída uma vez para cada um,
para todos terem oportunidade de jogar.
Avaliação: Houve muita participação no momento de categorizar os jogos, todos
queriam dar sua opinião. Apresentaram respeito com as diferenças individuais
principalmente na hora da prática, quando entrou a organização do jogo para que
todos pudessem “pegar na bola”, atitude muito natural para eles que já estavam
acostumados sem a interferência do professor.
Aula nº 4
Conteúdo específico: Regras tradicionais ou mudanças de regras.
Objetivo: Discutir como são as regras de determinados jogos e mudá-las se for
necessário.
Baseados nas DCEs (2008, pg. 66)
Torna-se importante, então, que os alunos participem na reconstrução das regras, segundo as necessidades e desafios estabelecidos. Para que os princípios de sobrepujança sejam relativizados, os próprios alunos decidem como equilibrar as forças dos times, sem a preocupação central na mensuração do desempenho.
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Materiais: Painel, nomes dos jogos, papel e pincel atômico.
Procedimentos:
Escolher entre os jogos pesquisados anteriormente, aqueles em que a maioria
deseja vivenciar. Colocá-los no painel.
Discutir como são as regras, escrevê-las e colocá-las ao lado do jogo, para
não esquecer quando for praticar. Estas atividades poderão ser feitas em
equipes ou em discussões com a turma.
Fazer isto com todos os jogos escolhidos. As regras poderão ser adaptadas as
condições da escola.
Vivenciar os jogos na prática.
Como proceder a avaliação: Através de situações problema, estimular os
alunos a pensarem. Observar se o aluno envolveu-se nas atividades de recriação
dos jogos e regras. Atitudes deverão ser tomadas perante situações como
cooperação, inclusão, questões de gênero e ética, na medida em que forem se
apresentando, tanto em sala de aula como no momento de vivenciar os jogos.
Resultados da experiência: Novamente eles escolheram a queimada para
trabalhar o conteúdo específico. Na nossa escola a queimada é jogada com os
alunos separados em dois times, iniciando com uma base no final do campo oposto
a seu time, com uma bonificação de três vidas. O objetivo é queimar os adversários,
arremessando a bola com a mão. Os meninos sugeriram jogar queimada com os
pés, foi feita a votação na sala e a maioria não aceitou esta sugestão, principalmente
as meninas, porque a bola viria com muita força e poderia machucá-las. Não
conformados, solicitaram chutar a bola apenas para devolver para a sua equipe, não
valeria “matar” e foi aceito para que pudessem treinar o chute na mão dos
companheiros. Decidiram que a base deveria ter somente uma vida e sem troca de
lugar com os jogadores “já mortos”. Foram até o pátio para colocar na prática as
mudanças que foram aceitas pela maioria.
Avaliação: Demonstraram interesse na composição e aceitação das novas
regras bem como em vivenciá-las na prática.
Aula nº 5
Conteúdos específicos: Circuito de Jogos e brincadeiras.
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Objetivo: Vivenciar os jogos e as brincadeiras.
Material: Painel, nomes dos jogos e materiais para o circuito.
Procedimentos:
Arrumar no painel, junto com os alunos, um circuito de jogos e/ou brincadeiras
para serem vivenciadas. Combina-se o tempo para mudar de estação.
Levar o painel no pátio e juntamente com os alunos montar o circuito.
Participam no circuito grupos com 4 ou 5 alunos, podendo iniciar em qualquer
estação desde que sigam sempre a ordem crescente e passem por todas
elas.
Importante será o aluno participar sempre das decisões e organização da aula,
fazendo com que esta se torne mais interessante e significativa para ele. O professor
irá perceber imediatamente o retorno positivo à sua proposta com maior
aproveitamento no aprendizado, comparando com aulas expositivas por exemplo.
Como proceder a avaliação: Considerar o envolvimento dos alunos na
organização e na participação do circuito. Saber fazer, reproduzir e modificar são
critérios que poderão ser utilizados no momento de vivenciar as atividades, bem
como valores, ajuda mútua e cooperação observados nas atitudes dos alunos.
Resultados da experiência: As brincadeiras e os jogos escolhidos pelos alunos
e organizados pelo professor foram : 1- Pular corda, 2- Búlica, 3 - Pular carniça, 4 –
Arremesso a cesta, 5 – Mãe cola ou pega-pega, 6 – amarelinha e 7 – chute ao gol.
As brincadeiras de chute ao gol e arremesso a cesta não estavam no painel mas
foram sugeridas pelo professor como brincadeira realizada sem competição, para
fixar as diferenças entre jogos e brincadeiras e aproveitar a quadra de esportes onde
foi realizado o circuito.
Avaliação: Foi excelente a participação dos alunos na montagem do circuito,
eles ajudaram a colocar as atividades do painel no local das estações. Notou-se que
estavam se divertindo e que o circuito agradou muito.
Comentários dos alunos nas avaliações escritas
Foi solicitada aos alunos uma avaliação escrita do que aprenderam durante estas
aulas. A maioria escreveu sobre o conteúdo trabalhado com algum ponto que
gostaram mais e aproveitaram para dizer que gostaram das aulas e gostariam de
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mais aulas como estas, não apresentando número significativo de erros de
ortografia.
• Relato nº 1 de aluna: “Eu gostei muito de ter aula com a professora. Ela nos
ensinou várias coisas, aprendemos a diferenciar o que é jogo e o que é brincadeira,
também aprendemos a separar jogos coletivos de jogos individuais. Eu adorei as
aulas com ela porque aprendemos muita coisa diferente e legal. Também fizemos
regras diferentes para a queimada, como: pode chutar a bola mas não vai queimar,
porque foi jogada pelo pé...”
• Relato nº 2 de aluna: “Eu aprendi a diferença de jogos e brincadeiras. Mas
também a importância das regras. Na primeira aula cada um escreveu em um papel
os jogos e brincadeiras que conhecia e depois escrevemos um nome de um jogo ou
brincadeira num pedaço de papel, eu escrevi mímica. Na segunda aula, nós
separamos qual a diferença entre jogos e brincadeiras. Na terceira aula nós
inventamos novas regras para a queimada meninos contra as meninas. Na quarta
aula separamos os jogos coletivos e individuais. Na quinta aula nós participamos de
um circuito de jogos e brincadeiras foram 7: búlica, pula carniça, pega-pega,
basquete, amarelinha, pula corda e chute ao gol. Eu adorei esta experiência foi
muito bom. Obrigada por tudo isso.”
Considerações finais
O resgate da cultura do aluno é fator importante para o estabelecimento de
relações progressivas e afetivas entre professor e aluno, pois é notória a satisfação
que o aluno tem em relatar suas experiências, oportunizando maior interação entre
eles.
O uso do painel como material de apoio agradou aos professores que fizeram
parte da implementação do projeto, possível de ser usado no cotidiano de sala de
aula. Outras idéias foram surgindo para utilização do painel como mapa conceitual,
distinguindo os jogos e brincadeiras com cores diferentes, com o conteúdo da
dança, elencando várias danças e pesquisando com os pais, enfim, a criatividade do
professor pode contribuir para explorar muito bem este material de apoio.
Quanto a exploração dos saberes embutidos nos Jogos e brincadeiras,
concluímos que são conteúdos considerados simples porém com uma imensa
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bagagem de conhecimentos que deveriam ser aproveitados em todas as disciplinas
pois têm competência para tanto e quando contextualizados oferecem oportunidade
para discussões, debates e reflexões.
A apropriação do conhecimento foi averiguada na avaliação escrita dos
alunos, foi importante saber o quanto eles aprenderam do conteúdo e demonstraram
isto nestas avaliações pois a maioria citou as diferenças e a categorização dos jogos
e brincadeiras, as mudanças de regras e as estações do circuito, demonstrando que
os saberes cognitivos foram apreendidos.
Nos momentos de reflexões e discussões, foi demonstrado grande interesse
em participar, demonstrado também a organização na sala de aula, esperando a sua
vez de colar as palavras no painel e transportar para a prática jogos e o circuito.
Os valores como cooperação, inclusão, respeito e ajuda mútua entre os
companheiros observados nas situações vivenciadas, revelam que quando existe
interesse e importância em determinado conteúdo, o envolvimento sobrepuja
atitudes negativas que poderão ocorrer quando não há o comprometimento do aluno
e do professor.
A implementação do Projeto trouxe oportunidade de maior aproximação com
os Professores de Educação Física, fortalecendo as relações sociais no trabalho,
pois ao discutirmos assuntos referentes ao Projeto, tornavam-se também momentos
de comparações de como eram as brincadeiras no nosso tempo de criança,
reflexões sobre sociedade antiga e atual, os problemas econômicos e políticos que
refletem nas condições do nosso aluno, enfim, com crescimento no sentido
pedagógico e afetivo.
Oportunidade também de explorar outros conhecimentos com relação ao
conteúdo, descobrindo o sabor da pesquisa, olhar com outros olhos valores
incrustados pelo tempo e formação tecnicista, perceber que podemos ir além do que
estávamos acostumados, desafiando a nós mesmos a fazer o diferente e aceitar que
colegas de trabalho e alunos pensam e agem diferentes de nós, pois trazem na sua
bagagem pessoal de conhecimento, a realidade de suas vidas, suas perdas e
ganhos, deixando diferente cada indivíduo e que é preciso ser respeitado.
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Referências
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KISHIMOTO, T. M. ( Org.). O brincar e suas teorias, São Paulo: Pioneira, 2002. MITCHELL, S.; OSLIN, J.; GRIFFIN, L. Teaching sport concepts and skills: a tactical games approach. Kent, Ohio: Human Kinetics, 1997. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares de educação física para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio. Curitiba: SEED, 2008. SANTOS, S. M. P. dos, O brincar na escola: metodologia lúdico-vivencial, coletânea de jogos, brinquedos e dinâmicas, Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
SCAGLIA, A. J. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés: todos semelhantes, todos diferentes. Doutorado em Educação Física – Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física. Campinas, 2003.
SELBACH, S. , (Superv.) Educação física e didática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010