UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ARTICULAÇÃO DAS
RELAÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM PROFESSOR-ALUNO
POR: JACQUELINE PIMENTEL DA SILVA POLIDO
ORIENTADOR: PROF ª YASMIM MARIA RODRIGUES MADEIRA DA COSTA
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ARTICULAÇÃO DAS
RELAÇÕES ENSINO-APRENDIZAGEM PROFESSO-ALUNO
JACQUELINE PIMENTEL DA SILVA POLIDO
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Especialista em Administração Escolar.
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2003
AGRADECIMENTO
A Maria José Chicayban e Laís Carlson Seba,
orientadoras educacionais;
À Escola Estadual Leonor Franco Moreira e toda equipe escolar,
que muito contribuíram à minha aprendizagem no estágio de
observação, podendo assim participar de outras vivências em
minha trajetória, dispensando atenção, carinho e
profissionalismo;
A todos,
que de uma forma ou de outra contribuíram para que essa
pesquisa acontecesse pois, não vivemos sozinhos e sendo
assim ninguém produz um trabalho a duas mãos apenas.
“Nenhum homem é uma ilha!”
John Donne
DEDICATÓRIA
À Deus, aos meus familiares próximos, presentes e in
memorian, à meus pais,
que tornaram possível esta trajetória.
Ao meu marido,
pela paciência e estímulos a mim dados.
A minha Lohanne,
por um dia dizer-me que orgulhava-se de ter uma mãe
pedagoga e “guerreira”, suas palavras impulsionaram-me
adiante.
A aqueles,
que de uma forma ou de outra apoiaram esta caminhada.
Escola de Vida
O adulto é a escola que a vida mostra aos que iniciam os
seus passos na vida.
O exemplo de quem já cresceu pode ser a escada de subida
para quem está começando a crescer. Como pode, também,
ser a razão da sua queda.
Seja você como for, pai, mãe, irmão, amigo, ou
simplesmente você, tome muito cuidado em viver
dignamente, em dar bons exemplos, porque, sem que você
o perceba, uma criança está tomando a sua vida como
modelo.
“Comece o dia feliz”
J. S. Nobre
RESUMO
Como várias professoras educadoras das séries iniciais o
que experimentam é uma dissociação de esforços que
seqüência tensões e desânimo quanto ao resultado
produzido em sala de aula. Dessa forma a presente
pesquisa buscou algumas respostas para entender como
se dá a integração entre o Serviço de Orientação
Educacional (SOE), o corpo docente e discente, e a
família no processo ensino aprendizagem.
Especificamente, deseja-se descrever as atribuições do
papel do Orientador Educacional na articulação das
relações de ensino-aprendizagem professor-aluno.
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7
CAPÍTULO I – RECUPERANDO A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DAS ESCOLAS CATÓLICAS E UM
BREVE HISTÓRICO DO MESMO NO BRASIL ............................................ 10
CAPÍTULO II – COMO CAMINHA A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA? ......... 14
CAPÍTULO III – RECONHECIMENTO (OU NÃO) DO TRABALHO DE
SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (SOE) .................................. 17
CONCLUSÃO ................................................................................................ 18
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 21
ANEXOS ........................................................................................................ 23
Anexo 1 - Estudo de Caso (Casos Resolvidos) ................................ 24
Anexo 2 - Um Caso em Processo: Interpretação expressa
através de desenhos ........................................................................... 29
Anexo 3 – Dinâmica Observada no Colégio NS da Assunção
(papéis complementares) ................................................................... 41
INTRODUÇÃO
Não cremos na eficácia da força, para impor, ou exterminar idéias, para impedir que o ensino se efetue na
direção das aspirações, das correntes morais e intelectuais que preponderam em cada época no espírito
humano
Rui Barbosa
Prece do Orientador
Senhor, eu sou aquela Presença necessária à juventude, Capaz de ajudá-la a buscar a plenitude, Fazendo-a conhecer suas limitações e possibilidades. Devo descontinuar-lhe horizontes, até então desconhecidos, Levando-a perceber o ideal que deve ser atingido E a situar-se feliz, na própria realidade. Sou a voz que lhe fala, no momento da indecisão; Sou a mão que se estende, quando há incompreensão; Sou alguém que lhe acena com novas esperanças... Sou, muitas vezes, o elo que a prende à própria vida; Sou como a imagem distante da sua infância querida; Sou a própria recordação do seu riso de criança!... E assim, minha tarefa freqüentemente se me afigura, Como um murmúrio de prece entre mim e a criatura, Desconhecido do mundo, sublime no que pretende. E cada dia que passa, cada vez percebo mais Toda a responsabilidade que esta missão me traz, Buscando junto de Ti o apoio de quem depende: Senhor, possa eu ser luz para outras vidas: iluminar, Tendo a perfeita consciência até onde deve chegar, Sendo presença de Amor em cada coração. Que nunca me falta a Fé, o Ideal, a Coragem, De transformar minha vida, numa perene mensagem Que dê um real sentido à minha orientação
Autor desconhecido (SIQUEIRA, 1995, p 23)
A necessidade de um trabalho mais integrado com a família, a fim de
que se possa realizar plenamente, o ideal educativo, mobiliza os orientadores
educacionais a entender as suas responsabilidades, como professores no
sistema educativo da escola, nas questões sociais dentro do processo de
ensino aprendizagem.
8
Sendo assim o SOE, que se destina a um trabalho na linha de
consultoria individual, inserida no coletivo atua no auxilio dos professores, bem
como de toda equipe escolar.
Considera-se de suma importância analisar e compreender como se
organiza o Serviço de Orientação Educacional (SOE), para que a articulação
professor/SOE/família se realize de modo a contribuir para o desenvolvimento
integral do aluno.
A presente pesquisa tem por objetivo investigar como se organiza o
Serviço de Orientação Educacional (SOE) no interior das escolas no processo
ensino/aprendizagem e a sua relevância na atuação ao apoio do corpo docente
e estrutura escolar.
O trabalho de pesquisa se desenvolveu com entrevistas ao Serviço
de Orientação Educacional (SOE) nas escolas católicas: Colégio São Vicente
de Paulo e Colégio Nossa Senhora da Assunção, ambos de Niterói/RJ.
Quanto a análise de casos na primeira escola a orientadora Laís
Clarlson Seba justificou que só poderia repassar dados dos alunos para as
pessoas (famílias e professores da escola) que estão envolvidas no processo,
fora isso o profissional deve manter sigilo para preservar o aluno em questão.
Na segunda escola a orientadora Maria José Chicayban Bastos,
cedeu, alguns casos resolvidos e outros em processo sem identificar os alunos
em questão (Ver anexo 1 e anexo 2).
Foram realizadas leituras, a partir da bibliografia que possibilitou
compreender o Papel do Serviço de Orientação Educacional (SOE) no
processo ensino e aprendizagem.
9
As dificuldades encontradas foram inúmeras: tempo e espaço para
encontros; bibliografias atualizadas; disponibilidade das orientadoras e
mudanças no decorrer do processo de pesquisa, que muitas vezes obrigaram a
mudar o rumo e a metodologia adotada.
O relatório final do “Papel do Orientador Educacional na Articulação
do Ensino-Aprendizagem Professor/Aluno“ ficou dividido em três capítulos:
O primeiro capítulo: “Recuperando a história do SOE das escolas
católicas e um breve histórico do mesmo no Brasil”, relata o histórico do
Serviço de Orientação Educacional (SOE) das escolas católicas, sua
introdução no Brasil e a sua atuação no desenvolvimento do processo
ensino/aprendizagem.
O segundo capítulo: “Como caminha a relação família//escola?”,
relata como interage a família no sistema educacional, enfatizando que essa
cumplicidade se torna fundamental na formação do discente.
O terceiro capítulo: “Reconhecimento (ou não) do trabalho do SOE”,
relata como o Serviço de Orientação Educacional (SOE) desenvolve o papel de
integração da família/escola e os resultados obtidos nessa relação.
10
CAPÍTULO I
RECUPERANDO A HISTÓRIA DO SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL DAS ESCOLAS CATÓLICAS E UM BREVE HISTÓRICO DO
MESMO NO BRASIL
A orientação educacional, começou no Brasil vinculada a questão do
trabalho. Em São Paulo, por volta de 1931, foi criado o primeiro serviço de
seleção e orientação profissional para alunos de cursos profissionalizantes. Ao
orientador caberia selecionar, orientar, encaminhar aqueles que pretendiam
ingressar em cursos universitários e aqueles que precisavam se profissionalizar
imediatamente.
A primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil deve-se ao notável educador, recentemente desaparecido, Lourenço Filho, quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, criando o ‘Serviço de Orientação Profissional e Educacional’, em 1931. O referido ‘Serviço’ foi dirigido pela psicóloga Noemy Silveira Rudolfer. Este ‘Serviço’, interrompido em 1932 e reiniciado no mesmo ano por Fernando de Azevedo (NÉRICI, 1974, p. 15-6).
Na oportunidade a orientação educacional foi muito criticada por seu
papel conservador, à medida que sua ação limitava-se a ajustar os indivíduos,
primeiro na escola e, mais tarde, ao mundo do trabalho. Pode-se dizer que o
orientador educacional tenha contribuído para preparar futuros operários
padrão e líderes empresariais.
Sem dúvida, a orientação, como a educação, estão inseridas num
contexto sócio-cultural, político e econômico.
11
A orientação educacional chegou ao Brasil através de duas origens:
A linha de orientação educacional proveniente dos Estados Unidos (linha de
aconselhamento) e a linha de orientação recebida da França (linha da
psicologia escolar). Essa última foi a maior responsável pelo aspecto
psicológico que, durante muitas décadas, sublinhou o desenvolvimento da
orientação educacional no Brasil.
As ilustres educadoras Maria Junqueira Schimidt e Aracy Muniz
Freire, foram responsáveis pela segunda tentativa do Serviço de Orientação
Educacional, em 1934, na Escola de Comércio Amaro Cavalcanti, da Prefeitura
do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal.
Em 1940, a educadora Aracy Muniz Freire, escreveu a primeira obra
nacional acerca de Orientação Educacional, intitulada “A Orientação
Educacional Secundária”, editora Nacional.
Pode-se afirmar que a educadora Maria Junqueira foi a maior
divulgadora da Orientação Educacional no Brasil, com implantação de cursos,
conferências e escritos a respeito. Teve participação em movimentos da
CADES (Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário), do Ministério
da Educação e Cultura, organizando cursos por todo o país acerca do
respectivo assunto e incentivando a criação de “Serviços de Orientação
Educacional” em todos os estabelecimentos de ensino, bem como estimulando
alguns professores para especializar-se afim de exercerem a função de
Orientador Educacional.
Essa expressão: Orientador Educacional, designada de um serviço
auxiliar da escola, apareceu pela primeira vez, na legislação federal, no
Decreto-lei Nº 4.043, de 30/01/1942 da Lei Orgânica do Ensino Industrial,
seqüencialmente vindo o de Nº 4.424 de 09/04/1942 da Lei Orgânica do Ensino
Secundário e posteriormente o de Nº 6.141 de 18/12/1943. Até os dias atuais
foram implantadas outras leis em torno da mesma matéria.
12
O Serviço de Orientação Educacional das escolas católicas
pesquisadas, Colégio São Vicente de Paulo e Colégio Nossa Senhora da
Assunção, de um modo geral, baseiam-se nos valores cristãos de fraternidade,
justiça e igualdade, despertando as potencialidades individuais, buscando o
equilíbrio para a formação e o desenvolvimento do aluno até a sua maturidade,
respeitando o pluralismo das relações e transmitindo valores éticos para
construção da cidadania. Não havendo registros de início deste serviço,
apenas seus objetivos.
Essa equipe técnico-pedagógica tem uma abrangência significativa
no universo escolar, porque ela está sempre interagindo com todas as pessoas
que de certa forma influenciam o processo educativo.
A orientadora educacional procura processar uma ação pedagógica
através de uma metodologia ativa e dinâmica, onde erros e acertos contribuem
para a construção do saber e para formulação de hipóteses.
O favorecimento de uma ação pedagógica permite associar o
aprendizado à vida prática, estimulando a troca de opiniões e a pesquisa como
forma vital de estudo e sistematização da aprendizagem. Todo processo
baseia-se na experiência de cada aluno, mas não se limita a ela, sendo capaz
de levar o jovem a associar sua vivência ao que está aprendendo, mas não
deixa de promover o espaço para estimular a curiosidade e a vontade de
aprender sempre mais.
As sessões em grupo acontecem do ensino fundamental ao ensino
médio. É necessário um planejamento prévio, porque são abordados temas e
projetos de acordo com a faixa etária. E nesse momento que o aluno interage
com seus pares, com a orientadora educacional e com o tema que está sendo
desenvolvido.
13
O espaço do orientador educacional precisa ser ocupado por um
profissional habilitado, em conformidade com todos os aspectos legais
implicados. “No Decreto Nº 72.846, de 26/09/1973. Regulamenta a Lei 5.564,
de 21/12/1968, que provê sobre o exercício da profissão de orientador
educacional. D.O.U. (Diário Oficial da União) 27/09/1973” (SIQUEIRA, 1995, p.
29)1. Transferindo para o âmbito da educação, verifica-se que não é mais
possível educar formando consciência critica, onde apenas se dispõe de
informações parciais. Daí a necessidade de caracterizar não só o orientador
educacional, mas qualquer outro educador vinculado à idéia de educação
permanente, informação atualizada e reciclagem contínua.
1 Para maiores levantamentos do Decreto nº 72.846, de 29/09/1973 tem por base o livro da professora Wilma Millan Alves Penteado: “Orientação Educacional: Fundamentos Legais”. São Paulo, Editora Edicon, 1980.
14
CAPÍTULO II
COMO CAMINHA A RELAÇÀO FAMÍLIA/ESCOLA?
Os pais e a escola devem ter princípios muito próximos para o benefício do filho/aluno.
Içami Silva, 1996
A família e a escola devem se descobrir com possibilidades de
aprender, ensinar, criar e recriar, crescendo juntas dentro de um contexto de
relacionamento equilibrado.
Pais e/ou professores que tentam conseguir resultados com gritos e
ameaças que não serão cumpridas, são ineficazes, demonstram insegurança e
inabilidade ao lidar com a autoridade. Inserindo-se aqui o papel do orientador
educacional, desenvolvendo o olhar atento, a capacidade de escuta sensível,
não só o que dizem com palavras, como também os sentimentos embutidos
e/ou camuflados.
O orientador experiente, acostumado ao trabalho permanente de
entender o outro, levará ao núcleo da questão o que de melhor existe a fim de
resgatar ou ressignificar situações que poderão gerar prejuízo à aprendizagem
ou provocar uma não promoção à série seguinte.
Aprendizagem e afetividade se entrelaçam, quer seja na família ou
na escola. Faz-se necessário ao orientador educacional desenvolver percepção
aguçada, ou seja, saber ler nas entrelinhas; alimentar a auto-estima do aluno;
dos pais e professores (por que não?); buscar o diálogo; a arte do convívio;
busca do equilíbrio entre falar e ouvir.
15
As palavras devem ter força na expressão, para convencer o outro
de que apenas corretas relações humanas nos levam a resolver conflitos, não
só triviais, mas principalmente aqueles capazes de gerar frustrações de
conseqüências imprevisíveis.
A família deverá ser co-participe no processo da maturação do
aluno, deverá estar sempre presente e quando for chamada à escola,
comparecer, porque entende-se que a educação de uma criança é um caminho
de mão dupla com a família, através do diálogo, da compreensão e da
participação.
Há pais, que por pagar uma escola, acham que esta é responsável pela educação dos filhos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos, os pais jogam a responsabilidade sobre a própria escola (TIBA, 1996, p. 169).
A conseqüência mais freqüente encontrada na família, referente ao
trabalho desenvolvido na escola é a transferência das relações que a criança
vivencia com seus parentes mais próximos. Isso ocorre principalmente nos
primeiros anos escolares. A mãe é substituída pela professora aos olhos da
criança, o mesmo ocorrendo em relação ao pai.
A persistência destas relações após algum tempo denota, via de
regra, má adaptação ao quadro escolar, cujas causas precisam ser buscadas
na própria família. A vida escolar é diferente da vida familiar.
Na escola há certo grau de homogeneidade na relação das crianças
com o adulto, sendo esta mais ou menos impregnada de afetividade, que não
pode assumir na relação pais e filhos, sem motivar sentimentos conflitantes
e/ou contraditórios.
O aluno transporta para a escola sua vivência familiar, buscando
adaptar-se à realidade escolar. A sensibilidade do professor em trabalho de
parceria com o orientador educacional, identificará cada caso, lidando com
16
compreensão e competência, envolvendo os familiares, sempre que se fizer
necessário.
Família e escola precisam adotar princípios básicos de
comunicação, baseados em afeto, respeito recíproco, funcionando como
comunidades sociais, coexistindo e integrando, necessidades individuais e
coletivas.
Escola e família precisam de cooperação, solidariedade e
responsabilidade mútua.
“Carinho cabe em qualquer lugar e deve estar presente em toda
relação em que existe amor. O carinho faz a ordem chegar ao coração” (TIBA,
1996, p. 198).
17
CAPÍTULO III
RECONHECIMENTO (OU NÃO) DO TRABALHO DE SERVIÇO DE
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (SOE)
Lutar para nós é um destino... é uma ponte entre a descrença e a certeza de
um mundo novo...
Agostinho Neto
Como professoras atuantes em sala de aula, experimentamos
muitas vezes o dissabor de nos confrontarmos com alunos ditos
“problemáticos” que são alvo de nossas preocupações e reflexões em nossa
prática.
Dessa forma repensando papéis, seja da escola ou da família,
buscamos no Serviço de orientação Educacional (SOE), o fio condutor entre
essas duas realidades, para procurarmos algumas respostas que poderão ou
não serem desalentadoras a nossa questão.
Se temos a ajuda de setores especializados, que tentam, como nós
professores solucionar os problemas dos nossos alunos, por que cada vez
mais se avultam esses problemas?
Não se consegue vislumbrar um ensino mais eficaz e condizente
com as formas de conduta pedagógicas e com a formação profissional de
qualidade que se busca incessantemente.
Para iniciar a busca, investigou-se junto ao Serviço de Orientação
Educacional (SOE) das escolas católicas: Colégio São Vicente de Paulo e
18
Colégio Nossa Senhora da Assunção.
As escolas católicas Evangélico Libertadoras particulares, têm por
finalidade o desenvolvimento da capacidade intelectual do aluno, agindo de
forma que educando e educador sejam capazes de sistematizar o
conhecimento produzido por ambos. Trabalhando coletivamente, através do
debate e do diálogo, valorizando o saber formal do professor e a experiência
que o aluno leva consigo para a escola, uma vez que o crescimento pessoal e
grupal surge do confronto das idéias críticas e reflexões com a realidade.
Essencial é a integração entre aprendizagem e afetividade no encadeamento
do processo de “ensinar, aprender, sentir, descobrir e criar”.
Procura-se desta forma perceber como o Serviço de Orientação
Educacional (SOE) desenvolve o papel de articular a relação família/escola.
Faz-se necessário lembrar que toda a referente pesquisa, pretende
recuperar o papel do Serviço de Orientação Educacional (SOE) como parte
integrante no processo educacional, no sentido de auxiliar o professor a
entender o processo da aprendizagem.
As dificuldades para encontrar soluções equilibradas permeiam a
educação como um todo e com certeza nem orientadores educacionais, nem
professores estarão imunes a esses problemas.
O Serviço de Orientação Educacional (SOE) se organiza de forma
participativa no projeto educativo da escola, interagindo com o corpo docente
no sentido de, diagnosticar o problema do aluno, atendendo, realizando
dinâmicas, trabalhando com a família em reuniões e também com a
coordenação pedagógica da escola.
O papel do orientador como agente de mudança é facilitar o desenvolvimento de um estilo de vida coerente com a própria pessoa, muito mais do que o ambiente em que vive. Para tanto, ensina e treina melhores níveis de funcionamento pessoal, e interfira no ambiente com vistas à
19
formação de um clima favorável à maturidade do indivíduo (SENA, 1993, p. 28).
No Colégio Nossa Senhora da Assunção, a autora participou, como
observadora, de uma dinâmica com alunos, objetivando um entrosamento nas
relações do grupo, descoberta das emoções e autoconhecimento (Veja anexo
3).
20
CONCLUSÃO
Foi percebido que no decorrer do processo da monografia “O Papel
do Orientador Educacional na Articulação das Relações Ensino-Aprendizagem
Professor/Aluno” muitos questionamentos da prática educativa, relacionada ao
Serviço de Orientação Educacional (SOE) que ganharam uma nova dimensão.
A partir da pesquisa (entrevistas, dinâmica, contatos e observações)
o olhar foi diferenciado, quanto ao papel e as responsabilidades do Serviço de
Orientação Educacional, que enfrentam dificuldades e angústias que, muitas
vezes seriam privilégios do professor.
A orientação Educacional percebe o aluno como um ser global que
deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos
fisico, mental, emocional, social, moral, estético, político, educacional e
vocacional.
Com certeza a pesquisa abre mais uma questão: O sistema
educacional precisa ser reformulado?
21
BIBLIOGRAFIA
LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a
Passarinho. 2 ed. Brasília: Brasília, [s.d.].
LUCK, Heloisa. Planejamento em orientação educacional. Petrópolis/RJ:
Vozes, 1991.
MUNIZ, Marcos Walmor de Freitas. Elementos de ética profissional do
orientador educacional. São Paulo: Salesiano Dom Bosco, 1984.
NÉRICI, Imédeo Giuseppe. Introdução à orientação educacional. São Paulo:
Atlas, 1974.
NEVES, Ilka; SIQUEIRA, Olgair. Dinâmica de orientação educacional. Porto
Alegre: Globo, 1977.
NEVES, Maria Aparecida C. Mamede (Org.). A orientação educacional:
permanência ou mudança? Petrópolis: Vozes, 1986.
PENTEADO, Wilma Millan Alves. Orientação educacional: fundamentos legais.
São Paulo: Edicon, 1980.
TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. 48 ed. São Paulo: Gente, 1996.
SENA, Maria das Graças de Castro. Orientação educacional no cotidiano das
1as séries do 1º grau. In: Coleção Espaço. 5 ed. v. 9 São Paulo: Loyola, 1993.
SIQUEIRA, Regina Aparecida Ribeiro. A orientação educacional re-visitada. In:
Coleção Universidade Aberta, v. 11. São Paulo: Arte & Cultura, 1995.
22
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina
consciente e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad, 1998.
VASCONCELOS, Geni A. Nader (Org.). Como me fiz professora. In: O Sentido
da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
23
ANEXOS
Anexo 1 - Estudo de caso (casos resolvidos).
Anexo 2 - Um caso em processo: Interpretação expressa através de
desenhos.
Anexo 3 – Dinâmica observada no Colégio NS da Assunção (papéis
complementares)
24
ANEXO 1
ESTUDO DE CASO (CASOS RESOLVIDOS)
(a) O Caso R. e T.
Há crianças que se recusam completamente a adaptar-se à escola.
É o caso de R., 15 anos, 5ª série, do Centro Comunitário João Henrique
Raeder.
A freqüência e o trabalho escolar são sinais de maturidade, o que
aspira a criança equilibrada como meio de afirmar-se. Ao contrário, a criança
que deseja a regressão, que se recusa a crescer, que se satisfaz numa
situação infantil, atinge, primeiramente, o trabalho escolar, tornando-se um mau
aluno.
R., aos 8 anos, após o nascimento de uma irmã, começou a praticar
a “anorexia intelectual”, na tentativa de reivindicar a atenção da mãe, antes
somente voltada para ela, agora totalmente envolvida com o bebê. Sentia-se
excluída no ambiente familiar e, apesar de dizer que estudava as lições - o que
realmente fazia, dizia que, na hora das provas, de nada lembrava. Tentava
reivindicar a atenção da mãe, através de seu fracasso escolar.
É um caso típico. As causas desse bloqueio são de ordem afetiva
familiar e o desejo de regressão é quase sempre fruto de um complexo de
desmame ou, de um modo mais geral, de um sentimento de exclusão. A
criança pratica a anorexia intelectual, como poderia praticar a anorexia física ou
enurese, por reivindicação.
25
T., 17 anos, está sempre atormentada por sentimentos de
incapacidade. Ainda que busque motivações e estímulos não consegue
interessar-se por qualquer assunto ou atividade pertinente a escola, só a
freqüentando por insistência de seus pais.
Sua lembrança mais remota data dos primeiros anos, períodos da
educação infantil, quando encontrava-se matriculada na mesma escola onde
sua mãe lecionava.
Sem ter participado de uma boa adaptação da filha ao universo
escolar, sua mãe costumava trancar à chave a porta de sua sala para não se
perturbada quando T, sentindo-se sem o amparo necessário, chorava do lado
de fora.
A dor de T., jamais foi aceita por seus pais, que decidiram transferi-
la para outra escola.
A atitude dos pais pode ser a causa, como também o nascimento de
um irmão mais novo. É assim que uma queda de rendimento escolar pode ser
o efeito de um nascimento que, pelo ciúme que faz irromper, reaviva a
lembrança e o gosto da situação infantil em que a mãe estava toda à sua
disposição. O fracasso escolar, que, primitivamente, é o simples efeito de um
desejo mais ou menos consciente de regressão, toma-se bem cedo um meio
consciente de reivindicação.
A maioria dos pais reage ao insucesso escolar, procurando o
professor, falando da criança aos amigos ou levando-a ao médico. A criança
descobre, deslumbrada, que o fracasso escolar pode constituir um meio de
chamar a atenção, de tomar-se, novamente, o centro das preocupações e de
reconquistar a afeição materna. Essa afeição reconquistada, por outro lado, faz
com que o aluno perca, rapidamente, todo o interesse na reivindicação escolar.
(b) O Caso B.
26
Os pais de B., eram notadamente críticos, careciam de empatia e
calor humano quando descreviam as experiências familiares vividas. Além de
ignorarem, negarem e banalizarem qualquer fato positivo referente ao filho,
costumavam repreendê-lo, desaprovando-o antes de estarem certos de sua
responsabilidade e envolvimento. Em casa e na escola B., sempre era o
“culpado”, sendo castigado severamente, o que o deixava muito irritado (“esse
menino não tem jeito mesmo!”).
Nestas circunstância tomou-se um adolescente inseguro, instável
(“gordinho, feioso e cheio de espinhas”), aluno “medíocre”, alcançando apenas
o mínimo exigido no rendimento escolar, sempre as voltas com comunicados
que especificavam sua conduta indisciplinada, cada vez mais reforçada pelos
professores, bem como a baixa auto estima experimentada.
Para seus pais e irmãos B., era o “único problema da família”, uma
vez que sempre acontecia algo que tomava praticamente impossível qualquer
tentativa de mudança afinal, “B. não tem jeito mesmo!”.
O sentimento dos pais em relação a B estava tão comprometido com
menos-valia que foi objeto de surpresa quando este apresentou sua melhor
amiga da escola, uma atraente e graciosa adolescente (“como pode uma jovem
tão linda interessar-se por um garoto sem jeito como você?”).
B., trouxe o relato do episódio para a escola, expressando o quanto
havia ficado humilhado, sentindo-se inseguro em manter o mesmo padrão de
amizade e relacionamento com a colega.
Sua professora percebeu a oportunidade de se aproximar do aluno e
ensiná-lo a buscar soluções para seus problemas; estavam dando aí o passo
mais importante para legitimar a rejeição expressa pelos pais e a possibilidade
de reverter o sentimento de menos valia. Pela primeira vez ele foi ouvido com
empatia.
27
O que a professora fez foi mais que reunir dados: usou o olhar para
perceber as nuances da emoção expressa pela tristeza, usou a imaginação,
para ver a situação da perspectiva do aluno. Usou palavras cariciosas para
exprimir de forma tranquilizadora e acrítica o que ouvia e nomeava cada uma
das emoções, qualificando-as. Mas o mais importante: usou o coração para
sentir verdadeiramente o que seu aluno relatava.
Decidiram de comum acordo, que os pais seriam convidados a uma
entrevista para que, juntos, pudessem definir objetivos a fim de solucionar os
problemas levantados.
A conversa transcorreu pautada em relatos autênticos da parte dos
pais que, com simplicidade, reconheceram “rejeitar” as características do filho.
Orientados para legitimar os sentimentos experimentados pelo filho, a
reconhecer e valorizar seus pontos positivos e qualidades, e, mais importante,
a demonstrarem sua afeição, não mais o considerando um “problema sem
solução.
Por sua vez, a professora buscou também construir um novo
universo escolar, onde B., era reconhecido e qualificado de forma afetiva,
carinhosa e construtiva, críticas e recriminações foram sendo trocadas por
elogios, afagos, e o resultado não demorou a se revelar. Passados 2 anos B.,
pode, finalmente, levar para casa, ao término do ano letivo, uma avaliação
onde o sucesso de sua transformação ficava assim registrado.
Uma etapa significativa desse trabalho foi a preparação emocional,
ajudando B., a reconhecer e nomear suas emoções, demonstrando carinho e
empatia todas as vezes que trabalharam juntos em sala de aula, quando ele
correspondia na dinâmica do processo educacional, assumindo
responsavelmente o papel que lhe cabia. Reconhecido e valorizado, na escola
e na família. B., venceu uma etapa importante de sua infância e continua
triunfando. É um jovem alegre, comunicativo, de bem com a vida, consciente
28
de seu compromisso social, uma vez que já cursa o Ensino Médio e se prepara
para uma escolha de profissão.
À primeira vista, o caso pode parecer tão simples quanto irreal, mas
a prática foi complicada, e perturbadora, muitos sentimentos contraditórios
foram experienciados, dores e feridas antigas precisaram ser tratadas e
curadas, mas alcançou-se o objetivo e o resultado foi amplamente satisfatório.
Acredita-se que, como Rubem Alves, “o único objetivo de tudo que a gente faz
é muito simples: há um dia, que o fruto será colhido”.
29
ANEXO 2
UM CASO EM PROCESSO:
INTERPRETAÇÃO EXPRESSA ATRAVÉS DE DESENHOS
· Desenhos: por que não?
As crianças, desde a mais tenra idade, mostram uma tendência ao
que poderíamos chamar compulsão a desenhar, trabalho de traçar o mundo
como o vêem e sentem.
Faço questão de precisar, contudo, que o que me interessa antes de
mais nada não é a representação infantil, remetida a um processo de análise
psicológica mas, essencialmente o sentimento expresso, o vínculo
estabelecido, o prazer do afeto, ou aversão, o desagrado na relação vivida.
Assim, no que concerne aos desenhos elaborados, parece natural
que constituam uma via privilegiada de acesso ao sentimento experimentado
na relação aluno-professor. O que está, com efeito, em questão é o valor para
a criança do tipo de relação que experimentam, o recurso do desenho como
modo de restabelecer a comunicação bloqueada (na infância, criança desenha
mais o que sente, pois demonstrar os sentimentos com palavras é difícil).
O desenho n0 1 feito por M., 11 anos, pode ser considerado como
produção manifesta do que a professora de Português lhe inspira, mostra a
consideração dos sentimentos suscitados, da expressão livre da agressividade
(boca exalando fumaça, olhos vazados, mãos voltadas para dentro, “trama” de
rede no lugar da saia).
30
Na escola construtivista, onde há maior liberdade e aproximação
entre professor e aluno, o desenho revela-se agressivo ou irônico, trazendo à
tona sentimentos negativos. O de número 2, por exemplo, retrata à professora
de Matemática. A aluna utilizou o desenho como forma de ataque, criando uma
figura bizarra.
Ato de domínio, ato de desembaralhar o fio que a liga ao outro, ato
complexo de produção enigmáticas, os desenhos 3, 4 e 5, refletem o conflito
experimentado por diferentes crianças em relação a mesma pessoa adulta,
vista ora como figura feminina com traços masculinizantes, ora como figura
absolutamente masculina. Nítida ambivalência sexual, conflito com a figura
autoritária da retratada. Importa aqui o distanciamento afetivo evidenciado, do
professor que resiste a compreender que se relaciona com seres singulares,
estando aprisionado num esquema que reduz seu corpo a representações
dúbias, confirmando o relacionamento frio, ausente de ternura afetividade.
Sem dúvida alguma o cérebro necessita do afeto para seu
desenvolvimento e as mais importantes estruturas cognitivas dependem deste
alimento afetivo para alcançar um adequado nível de competência. Sem matriz
afetiva, o cérebro não poderá alcançar seus mais altos picos na aventura do
conhecimento. Nos desenhos 6, 7, 8, 9 e 10 podemos observar os braços
abertos, atitude acolhedora, grau de espontaneidade de diferentes professoras
desenhadas por diferentes alunos, mas multiplicadas na imagem protetora,
cariciosa, reveladora da reciprocidade de um mesmo código de afeto.
Remontando a Platão, época na qual se subentendia que “a
educação corre paralela a uma certa disciplina erótica que obriga a sublimar a
relação de sedução que se estabelece entre o mestre e o aluno, para levar o
último à identificação apaixonada com o mesmo modelo”.
Assim, reivindica-se a afetividade como componente essencial da
ação pedagógica.
41
ANEXO 3
DINÂMICA OBSERVADA NO COLÉGIO NS DA ASSUNÇÃO
(PAPÉIS COMPLEMENTARES)
Preparação:
Espaço onde os alunos possam ficar sentados em círculo. Papel e
lápis para todos os participantes. (Esta dinâmica foi realizada na biblioteca da
escola).
Utilização:
O professor deverá escrever em tiras de papel o nome de um
profissional e, em outra tira de papel, seu complemento ou o nome de um
personagem social e sua complementação. Foi utilizado nessa atividade :
Policial x delinqüente / mãe x filho / juiz x réu / professor x aluno.
Preparar tantas tiras de papel quantas duplas formar. Os alunos
apanham uma tira de papel sem identificar previamente seu conteúdo. Através
de mímica, cada integrante deverá dramatizar o papel sorteado e, após,
procurar seu complemento, formando duplas. Feitas as identificações, é
possível que as duplas criem uma cena para que todo grupo possa identificá-
los.
Concluída essa atividade, a orientadora procedeu com discussões
dos elementos emocionais projetados.