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O Bacalhoeiro—Jornal da ABP—Associação Bacalhoeiros de Portugal—Distribuição Livre
O Bacalhoeiro 500 Exemplares N.º 2 | Outubro | 2016
Um documentário, em produção, sobre os mortos na pesca do Ba-calhau. Por Abel Coentrão | Pág. 5
Special, a um mar de distância
DESTAQUES
O jornal da ABP – Associação Bacalhoeiros de Portugal Distribuição Gratuita
Teotónio França Morte e o desenvolvi-
mento de toda uma empresa. Uma histó-
ria fantástica, que vale a pena ler | Pág. 6
Adélia Maria, no porto de Aveiro, em 16 de Agosto de 1987. Ricardo Matias | Pág. 8
Adélia Maria - A história de um velho guerreiro
Coimbra regressa de viagem com as 3000 garrafas de vinho. | Pág. 3
Pascoal Atlântico faz docagem no esta-leiro Navalria Drydocks para trabalhos de manutenção. | Pág. 3
Arrastão espanhol Nuevo Virgen de la
Barca passa a chamar -se Novo Virgem
da Barca com registo em Aveiro, pro-
priedade da Atlantikaromas Unipessoal
Lda. Esta empresa é subsidiária da Lar-
gispot, o mesmo armador do Santa Isabel,
Santa Mafalda, entre outros. Atualmente,
o maior armador português ainda a ope-
rar.
Vigo 2015— ©ABP
Santa Isabel, após rápida viagem à NA-
FO, faz estadia em Aveiro, em circunstân-
cias desconhecidas.
Av. dos Bacalhoeiros, 226—Apartado 8
3834-908 Gafanha da Nazaré
Telfs. 234 364 879 / 234 364 716
Fax 234 364 085
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Tel.: 234 327 597 email: [email protected]
A mudança de bandeira do navio Joana
Princesa | Pág. 2
Seminário "O Bacalhau: História e Futuro"
A 5.ª edição do Seminário Desafios do Mar Português, agendada para
21 e 22 de outubro, será dedicada ao tema “O Bacalhau: História e Fu-
turo”, tendo como parceiro a Associação dos Industriais de Bacalhau. O
tema em discussão na edição deste ano tem por objetivo a reflexão so-
bre (…) a pesca do bacalhau, nas suas dimensões de captura, transfor-
mação, comercialização e sua importância estratégica, (…), onde se tem
destacado o contributo do Museu Marítimo de Ílhavo.
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O Bacalhoeiro—Jornal da ABP—Associação Bacalhoeiros de Portugal—Distribuição Livre
234 398 421—919 011 177
Av. José Estêvão nº578
r/ chão A-Gaf. Nazaré
Editorial
Joana Princesa e a nova bandeira
O Arrastão “Joana Princesa” é registado em Havana (Cuba), após “ceder” o seu pavilhão
português ao “Novo Virgem da Bar-ca”, antigo arrastão espanhol. Nos passados meses assistimos a vá-rias mudanças na nossa frota de navi-os bacalhoeiros, sendo algo que se deveu essencialmente às mudanças
efetuadas na legislação que entrou em vigor no presente ano. O “Joana Princesa” após ser vendido para a “EPA”, foi substituído pelo “Novo Virgem da Barca”, um navio mais recente (1977), que em tempos integrou uma parelha espanhola.
Os direitos de pesca, quotas, que des-
de sempre foram atribuídos ao velho “Inácio Cunha” passam agora para o seu substituto. Posto isto, seria espec-tável o abate da construção nº 33 dos Estaleiros de S. Jacinto, sendo que não foi isso que se passou, pois o no-vo proprietário teve a audácia de con-seguir um novo registo para o navio em Havana, Cuba.
Após algum tempo em frente às ins-talações do novo armador, seguiu pa-ra a doca seca da Navalria onde per-maneceu mais de um mês em traba-lhos de manutenção, sendo que se en-contra agora a continuar os trabalhos em frente às oficinas da empresa, prevendo-se a saída para breve.
Apresentando registo em Cuba, é muito provável que possa vir a pescar na NAFO, sendo este país um dos constituintes da organização e por is-
so com cotas de pesca atribuídas.
Actualidades Bacalhoeiras As notícias que nos rodeiam.
Joana Princesa atracado de braço dado com o Praia
de Santa Cruz. Outubro de 2016—Nuno Neves
O Bacalhoeiro, nascido no seio da ABP, vem reacender a antiga chama das
publicações a preto e branco, que outrora povoaram as bancas dos quios-
ques por esse país fora. Ainda que O Bacalhoeiro não seja distribuído por
esse canal, lá chegará, a equipa envolvida no mesmo quer agradecer a todos os nos-
sos fiéis leitores, não só a dedicação com que leram a primeira edição, como também
o fulgor com que espalharam a palavra. E não há melhor publicidade que a do passa
a palavra.
Somos sinceros, no primeiro número não estávamos à espera de uma recepção tão
calorosa, o que deixou uma grande responsabilidade para este segundo número, e
para o restante trabalho que ainda falta realizar. Nenhum de nós tem experiencia na
edição de jornais, mas como acreditamos no trabalho conjunto, que a ABP nos pro-
porciona, trazemos até vocês este humilde jornal, a que ousadamente baptizámos de
O Bacalhoeiro.
Numa época em que a pesca, e por conseguinte, os navios, parecem estar em pleno
desaparecimento, não podemos deixar de falar no que melhor se fez e se continua a
fazer não só no nosso país, como também lá fora. É nossa missão divulgar esta nossa
ligação de sangue com o Mar, que teima em não sair e também em não avançar para
algo mais evoluído e sustentado, como acontece noutros países de índole marítima.
Queremos chegar não só a quem nos lê no mundo digital, mas principalmente às
pessoas a que aceder a um computador é uma realidade um pouco distante. Acredito
que muita gente do mundo digital saiba o que é o Windows, mas poucos saberão o
significado do acto de enforcar as portas, ou até mesmo o que é o Cú do Banco.
A todos, boas leitura, e claro, tornem-se sócios! Não custa nada.
Obrigado,
Tiago Neves - Secretário da ABP
Editores/Colaboradores Principais:
Jorge Ramalheira
Nuno R. Neves
Tiago Neves
Colaboradores Permanentes:
Ana Maria Lopes
Reinaldo Delgado
Ricardo Graça Matias
Os artigos publicados n’O Bacalhoeiro e as-
sinados, refletem apenas as perspetivas dos
seus autores.
Sede: Rua Professor Francisco Corujo
N.106, Gafanha da Encarnação, 3830
email: [email protected]
http://bacalhoeirosdeportugal.org/
Joana Princesa 09/10/2016 - Tiago Neves
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Actualidades Bacalhoeiras As notícias que nos rodeiam.
R ecordando um pouco o que anti-
gamente se chamava de “vinho
da volta”, o navio Coimbra, da Em-
presa de Pesca S. Jacinto, rumou aos
mares da Terra Nova com uma carga
de 3000 garrafas de vinho. A ideia
principal assenta no facto de que o
vinho ao fim dos quase três meses de
viagem, terá envelhecido precoce-
mente, tendo perdido as arestas dos
taninos, arredondando, ficam também
mais macio.
Para que tal tivesse acontecido, guar-
dou-se o vinho nos porões abaixo da
linha de água, em zona fresca, que
com o balanço natural do navio, irá
mexer o mesmo, que aliado a uma
boa rolha, se consiga que este respire,
tornando-se único no sabor.
Esta iniciativa partiu do Clube de
Oficiais da Marinha Mercante, que
desafiou a produtora de vinhos Lua
Cheia em Vinhas Velhas. As 500 cai-
xas, com seis garrafas cada, foram
devidamente seladas pelo Instituto
dos Vinhos do Douro e Porto
(IVDP). Para esta edição foram uti-
lizados Lua Cheia Reserva Especial e
no Andreza Grande Reserva,.
Após este estágio, as características
de um vinho de topo fazem com que
cada garrafa oscile entre os 15 e 20
euros.
Coimbra regressa de viagem com 3000 garrafas de vinho
C omo é costume, de dois em dois
anos, mais coisa menos coisa,
os nossos bacalhoeiros regressam à
doca seca para trabalhos de rotina,
como é o caso de lavar o fundo com
jato de pressão de água, pintura pró-
pria para fundos (antifúngica) e colo-
cação de novos zincos ( zincos estes
que atuam através de um sistema
muito simples designado de
“proteção por sacrifício”, ou seja, em
termos simples há uma maior tendên-
cia do zinco ser oxidado em detri-
mento do aço que constitui o casco,
daí o zinco ser “sacrificado”-*). Por
vezes, também se procede ao poli-
mento/manutenção das pás da hélice.
Neste caso em particular, o Pascoal
Atlântico apresenta um peculiar siste-
ma, único entre os nossos bacalhoei-
ros. Em vez da típica pá após a tubei-
ra, este apresenta três pequenas pás
em paralelo, que funcionam em si-
multâneo, através de um sistema hi-
dráulico. Pressupõe-se que este con-
ceito permita uma maior eficácia nas
manobras em porto.
Completa-se assim mais um ciclo de
medidas de prevenção, e terminado
este processo a embarcação retoma a
sua faina habitual.
*O aço utilizado na construção de na-
vios, em contato com a água do mar,
seria muito facilmente oxidado se
não houvesse um metal de sacrifício,
por norma o zinco ou o magnésio.
Tendo isto por base, é muito mais
económico substituir periodicamente
pequenas “barras” de zinco, do que a
própria estrutura do navio. No entan-
to em navios com largos anos de vi-
da, como é o caso da maioria da nos-
sa frota, poderá ser necessária a subs-
tituição de alguma chapa estrutural.
Pascoal Atlântico regressa à Navalria.
Popa do Pascoal Atlântico na doca seca da Navalria, 23.2.2016- Nuno R. Neves
Navio Coimbra atracado em Aveiro após viagem de regresso. 2016—Tiago Neves
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Galeria Fotográfica Uma imagem vale mais que mil palavras
Cidade de Aveiro—Cais dos Bacalhoeiros, Gafanha da Nazaré, 1974, por Ana Maria Lopes
Nuno Filipe—Cais dos Bacalhoeiros, Gafanha da Nazaré a 1 de Novembro de 1987 por Ricardo Matias
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Special, a um mar de distância Um documentário, em produção, sobre os mortos na pesca do Bacalhau.
Por Abel Coentrão
O uvira falar deles há muito. Os mortos. numa terra - Caxinas, Vila do Conde - onde ainda se morre de-
masiado no mar sempre se ouvir falar de homens que perderam a vida na Pesca do Bacalhau durante as déca-das do Estado Novo, época em que o país enviava os seus novos Vascos da Gama, aos milhares, para as águas frias do Norte em busca do “pão dos mares”. E enquanto jornalista, e diri-gente de uma associação cultural, a Bind’ó Peixe, ancorada na vontade de valorizar a o património e a identi-dade dos meus, estes pescadores dei-xados para trás sempre me pediram atenção.
Por vários acontecimentos, desses que se cruzam por vezes nas nossas vidas, acabei por me ver envolvido na produção de um documentário que, esperamos - eu como argumen-tista, e Pedro Magano, como realiza-dor - consiga honrar todos os que, em número ainda indeterminado, foram vítimas, colaterais, de um desígnio nacional, e cujas histórias, guardadas na memória de amigos e familiares, tenho vindo a pesquisar.
Tudo começou em 2014, ano em que três pessoas que se desconheciam procuravam o mesmo. Impelido por uma fotografia tremenda do meu conterrâneo Manuel Marques, que em 1967 conseguiu fotografar a cam-pa do pai, em Holsteinsborg (actual Sisimiut), na Gronelândia, eu tentava
saber mais sobre este pescador - o Zé da Ferrucha, pescador do Rio Antuã que morreu em 1962, quando o seu dory se afundou - e sobre outros ca-xineiros deixados para trás, ali e na Terra Nova.
Nesta outra ilha, e na nossa cidade abrigo, St. John’s, um canadiano, Je-an-Pierre Andrieux, angariava fundos para conseguir erguer um memorial aos portugueses sepultados no cemi-tério de Mount Carmel, depois de ter conseguido descobrir, através de um documentário de 1966, The white Ship, a localização da campa daque-le que terá sido o último pescador do bacalhau a ser ali sepultado. E Pedro Magano avançava, nessa mesma altu-ra, com um documentário sobre esse homem de Vila Praia de âncora, Dio-nísio Esteves, vítima de um acidente a bordo do Santa Maria Manuela cujo funeral fora filmado por Hector Le-mieux.
Após a publicação de uma reporta-gem minha sobre o tema no PÚBLI-CO - que podem ler na internet, ain-da, pesquisando pelo título, As Se-pulturas Esquecidas - acabamos, pouco depois, a trabalhar juntos, Pe-dro Magano e eu. Os três, aliás, por-que Jean-Pierre, com a sua homena-gem concretizada em Outubro do ano passado, numa cerimónia a que tive-mos honra de assistir, e que docu-mentamos, tornou-se uma persona-gem deste filme. Um documentário que fica pronto este ano, que a RTP
vai exibir e cujo trailer já poderão ver na internet, se procurarem pelo título Special, A Um Mar de Distância, ou consultarem a página do projecto no Facebook.
Com naturalidade, as nossas histórias juntaram-se através desse sentido co-mum dado pela força das imagens. Digo-vos, porque o penso, que a fo-tografia do meu conterrâneo e a se-quência do documentário do realiza-dor canadiano têm em si a força de uma trasladação. pois através delas, a história destes dois homens sobrevi-veu ao esquecimento, e chegou até nós. Mesmo que os corpos, como os de muitos outros, tenham sido deixa-dos longe, a um mar de distância.
Eles foram especiais: seja literalmen-te, como no caso do Zé da Ferrucha, um de vários exímios pescadores, muito bem cotados no regime de competição imposto a bordo dos na-vios, que perderam a vida; seja meta-foricamente, pelo simples facto de que, sem eles, os que morreram, e os que regressaram, essa saga a que da-mos o nome de Faina Maior não teria si-do possível.
Jornalista do Público, co-argumentista do do-
cumentário.
Filmagens do documentário, no cais sul do Porto de St. John's.
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Crónicas de Autor A cultura na sua mais pura essência
De Chefe das oficinas da EPA, a armador. Teotónio França Morte e o de-
senvolvimento de toda uma empresa.
E stamos em 1965, quando Teo-tónio França Morte, antigo chefe das oficinas da EPA, dá
o seu primeiro passo e compra a “Sociedade de Pesca Miradouro” que se limitava à exploração de um arras-tão costeiro. Dotado de um espirito empreendedor extraordinário, em 1967 iniciou atividade de pesca no Cabo Branco, onde pela primeira vez em Portugal o pescado nos chegava ultracongelado. Esta situação foi ini-cialmente contrariada pelas autorida-des, todavia foi prontamente adoptada pela maioria dos armadores, marcan-do assim o inicio da frota ultraconge-ladora portuguesa. A falta de infraestruturas para acomo-dação e comercialização do pescado (ultracongelado) levou à criação em 1968, da “Friopesca Refrigeração de Aveiro”, entreposto frigorifico na Ga-fanha da Nazaré. De modo a rentabili-zar as recentes infraestruturas, em 1970 a actividade da empresa esten-deu-se aos vegetais ultracongelados. Nos anos seguintes a Miradouro ad-quiriu e construiu novas unidades de pesca. Depois do reforço da frota do Cabo Branco na Mauritânia, seguiu-se a compra do “Tropical” e do “Horizonte” para a pesca da pescada na África do Sul e Namíbia. Pouco depois junta-se o Nauticus e o Zodía-co. Nesta altura a Friopesca era já o mai-or produtor de vegetais ultracongela-dos do país. Em 1982 inicia actividade de pesca de crustáceos na Guiné-Bissau com o Equinócio, o primeiro arrastão ultra-
congelador do largo para crustáceos. Seguiu-se o Trópico e o Polo Norte em 1984. Ainda no mesmo ano foi adquirido o “Solstício” para reforço da pesca da pescada em Africa do Sul. Ainda na década de 80, a Miradouro inicia a actividade de palangre de su-perficie, tendo transformado o “Nadir” em palangreiro e a criado a participada “ndepe com 4 navios para pesca de atum nos Açores. O Phoe-nix, Altair, Mizar e Tauros. Mais tar-de foram convertidos a palangreiros os dois primeiros e abatidos os dois ultimos. Foram ainda construídos dois novos palangreiros nos ESJ, o Meridiano” e
o “Paralelo”, para substituição dos dois arrastões que pescavam em Mar-rocos. Em 1988 a Friopesca expande as suas instalações com a construção de mais um espaço fabril e de armazenamento frigorifico. Em 1990, foram construídos mais dois navios do largo, o “Hemisfério Norte” e o “Hemisfério Sul”, para pesca do bacalhau no Atlântico norte, com redes de emalhar.
Um ano mais tarde adquire a “Frina” de Lisboa, entre outras empresas. Ainda na década de 90, com a redu-ção da frota longínqua portuguesa, fo-ram obrigados a abater os navios Zo-díaco, Nauticus, Horizonte e Tropi-cal, já os Hemisférios tiveram outra sorte, e foram transformados em pa-langreiros de superfície. Após algu-mas negociações com a Empresa de Pesca da Lavadores, com sede na Praia da Barra, foi adquirido o “Lutador” e transformado o Solsticio, ambos licenciados para operar no Atlântico Norte. Em 1994 a frota volta a crescer com a aquisição dos arrastões para crustá-ceos Nauticus e Tropical e o costeiro Nadir. Um ano mais tarde o armador adquire a conhecida SNAB, com apenas 3 ar-rastões para crustáceos, o Snabmar, Snabpesca e “Vela”. Estes navios ti-nham a particularidade de serem em fibra de vidro. Já em 96 usa o Snabmar numa experiência de pesca em Moçambique. Dado o sucesso da experiência, no ano de 1998, é iniciada a exploração de crustáceos em Moçambique com a deslocação dos arrastões Trópico, Po-lo Norte e Náuticos.
No ano seguinte dá-se um importante passo para a afirmação do grupo, com a aquisição da empresa de pesca cos-teira “Pescarias Beira Litoral”, que possui uma frota de 7 recentes arras-tões costeiros. De seguida dissolve a Indepe, tendo abatidos os navios “Phoenix” e Altair, e vende o “Meridiano”. Posto isto, encomenda mais um arrastão para crustáceos, o “Ria Mar”. Continua ->
Navio Tropical— Autor Desc.
Navio Nauticus—Autor Desc.
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Crónicas de Autor A cultura na sua mais pura essência
Entretanto foi abatido o palangreiro “Paralelo”, acabando assim com esta actividade da empresa nos Açores, a frota de Moçambique é reforçada com o arrastão “Equinócio”. Em 2002 foram construídos mais 2 arrastões, o “Horizonte” e o “Indico”, para a iniciarem atividade em Mo-çambique, no entanto o segundo terá pescado por 2 anos na Guiné-Bissau. Como já nos habituamos nestes anos de história o investimento do grupo é continuou e não de restringiu à frota, toda a fábrica Norte da Friopesca foi totalmente modernizada ao longo de 4
anos. Estamos agora em 2003, quando o grupo decide terminar com a ativida-de do palangre de superfície e se des-faz-se do “Hemisfério Norte” e He-misfério Sul”. Estrategicamente, é criada a SIP, uma sociedade mista em Moçambique que passa a integrar 3 dos arrastões que já lá pescavam, e por isso passam a ter registo em Moçambique. Ainda neste ano é iniciada em Espa-nha a construção do “França Morte”
para a pesca longínqua na NAFO, cu-ja conclusão se deu no fim de 2005. Foi uma homenagem ao fundador deste grupo, e um orgulho para os seus herdeiros, é maior e tecnologica-mente mais avançado arrastão da pe-nínsula ibérica. O “Solsticio” é abati-do à frota nacional, tendo os seus di-reitos de pesca transitado para o novo arrastão. Em 2005 através mais uma nova soci-edade mista, adquire a “Marbeira” que detêm 360 ton de cota de cama-rão de superfície, o navio “Zodíaco” e ainda diversos imóveis na cidade de Beira. Nesta sociedade foram integra-dos os navios “Nauticos” e “Tropical” que passaram a ostentar bandeira Mo-çambicana. Anos depois é modernizada a fábrica sul da Friopesca, transformando as instalações e as linhas de processa-mento de vegetais. É também adquiri-da uma nova linha para corte de pes-cado ultracongelado. Com isto iniciou-se o processo de cer-tificação da Friopesca pelas normas ISO:9001 e ISO:22000, sendo este o grau mais alto de certificação no que diz respeito a produtos alimentares ul-tracongelados. Mais uma vez foram os pioneiros nacionais neste tipo de certificação. Em 2008 é adquirida uma nova linha de escolha ótica de vegetais, mais uma vez a Friopesca na vanguarda da tecnologia. Anos depois, em 2012, o grupo sofre um processo de cisão,
tendo um dos herdeiros, o Eng. Pedro França, ficado com a frota que opera no Atlântico Norte, constituída pelo “Lutador” e o “França Morte”. Apesar de tudo, o grupo, nas mãos do Eng. Carlos Afonso Leitão, neto do fundador, continuou a crescer e me-ses depois adquire o arrastão costeiro “António Cação” após trabalhos de manutenção é batizado de “Nadir”. Em 2014, chega um arrastão costeiro espanhol, que após largos meses de transformação para congelador, deca-pagem, e um excepcional trabalho de recuperação, é registado em Portugal com o nome de “Polo Sul”. Encontra-se agora a pescar em Moçambique. Posteriormente adquire a empresa de pesca costeira “Albamar—Sociedade de Pesca, Lda”, que detêm 2 arrastões costeiros, o “Albamar” e o “Novomar”. Este último recentemente também foi alvo de severos trabalhos de manutenção e modernização, es-tando já no ativo. E desta forma, descrevo, de forma muito sucinta a formação e o cresci-mento de uma das empresas que mais admiro, pela inovação e espirito em-preendedor. Não podendo deixar de referir que seria uma grande surpresa, se alguma vez este grupo voltar à pes-ca no Atlântico Norte, e continuar as-sim a crescer, e crescer.
Navio Ria Mar—Autor Desc.
Navio Solstício—Autor Desc.
Navio França Morte—Autor Desc.
Autoria: Nuno R. Neves
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Os Bacalhoeiros A história dos nossos navios de pesca do bacalhau
Adélia Maria (1974), Aveirense (1999– Actualidade)
Por volta de 1970, a João Maria
Vilarinho já dispunha do arrastão Águas
Santas, arrastão a vapor da Pescal,
construído em 1949 e comprado na situa-
ção de imobilizado por avaria. O navio
foi reconstruído, motorizado e equipado
com congelação parcial em 1969. Tor-
nando-se um dos melhores arrastões da
frota.
Por esta época a pesca à linha es-
tava posta em causa pela sua falta de ren-
tabilidade, causada pelos custos elevados
de mão de obra, fracas pescas e teimosia
do governo em liberalizar o preço do ba-
calhau, o que só foi possível a partir de
1967.
Estava previsto em 1963 ter-se
transformado o Capitão João Vilarinho
de pesca à linha em arrastão, para o qual
estava previsto a concessão dum subsí-
dio. Mas o aumento das capturas entre
1961 a 1963 levou a adiar o investimento
e em sua substituição foi construído o
primeiro navio de pesca pela popa, o Ma-
ria Teixeira Vilarinho em 1964. Este na-
vio, foi um sucesso, mas estava longe de
ser o navio perfeito, por ter sido construí-
do numa época de aprendizagem em que
tudo era novidade.
Com a volta da escassez de baca-
lhau que se fez novamente sentir no fim
da década de 60 os navios começaram a
ser equipados com armários para conge-
lação e a terem um porão para congela-
dos na ordem das 200 toneladas. Isto
aconteceu nos navios de arrasto pela po-
pa que começaram a ser construídos e
nalguns dos arrastões pela borda existen-
tes que foram transformados. Essa capa-
cidade foi aproveitada para carregar esses
porões com peixe de outras espécies que
doutra maneira não podiam ser conserva-
dos. Isso trouxe um valor acrescentado
que não podia ser desprezado. É neste
contexto que a Empresa de pesca José
Maria Vilarinho, faz construir o Adélia
Maria, arrastão pela popa nos estaleiros
de S. Jacinto em 1974. Estes estaleiros
estavam a construir uma serie de arras-
tões quase iguais para diversos armado-
res portugueses de acordo com o projecto
do arquitecto alemão Conrad Birkhoff.
Foram construídos quase em serie, o
Santa Isabel em 1965 e o Santa Cristina
em 1966 para a EPA, o Lutador em 1967
para a Empresa de Pesca de Lavadores e
o Inácio Cunha em 1970 para a Testa &
Cunha. Depois construiu o Brites em
1971 para a Brites, Vaz & Irmão e o Co-
imbra em 1973 para a Empresa de Pesca
de Lavadores, com a ponte e alojamentos
modificados. E finalmente o Adélia Ma-
ria e o Vila do Conde em 1977 para a Ta-
vares & Mascarenhas estes com bolbo de
proa e proa lançada, logo mais compri-
dos.
O Adélia Maria, arrastão pela po-
pa, construído nos Estaleiros de S. Jacin-
to (C 100), em 1974, José Maria Vilari-
nho, Lda pelo custo de 42.500 contos.
Foi encomendado em 30 de Outubro de
1972, foi começado em 20 de Novembro
de 1972. Foi registado em Aveiro em 13
de Setembro de 1974, com o nome de
Adélia Maria, com o número A-2318-N e
com o indicativo CUFV. O navio tinha
1.995,35 toneladas de arqueação bruta e
654,97 toneladas de arqueação líquida. O
casco tem de comprimento 77,22 metros,
80,02 de comprimento fora a fora, 13,18
de boca, 7,51 de pontal e 5,90 de calado
de verão.
Está equipado com dois motores
Diesel, marca Fairbanks-Morse, Tipo 38
D1/8, de 6 cilindros, com a potência de
2x1.800 HP de 900 rpm. Com um hélice
de passo variável de 4 pás, permitindo ao
navio atingir a velocidade de 16 nós.
Tinha capacidade para 17.616
quintais de bacalhau ou seja 1.200 tone-
ladas de salgados e 300 toneladas de con-
gelados. Era tripulado por 7 oficiais e 71
tripulantes e realizou a primeira campa-
nha de 1975, capitaneado por Carlos
Santos Vieira.
Em 11 de Agosto de 1994, foram
averbadas as novas arqueações 1.990 to-
neladas de arqueação brutas e 597 tonela-
das de arqueação líquida
Em 27 de Outubro de 1999 foi re-
gistado como propriedade de Empresa de
Pesca João Maria Vilarinho, Sucrs. e
com o nome de Aveirense.
Em Abril de 2012, numa manobra
de atracção em Torshavn, na Noruega, o
Aveirense, por problemas no controlo do
passo da hélice, embateu de popa no cais.
Sofreu danos nos robaletes laterais, junto
à rampa, tendo sido limitada a avaria, e
zarpado de seguida para Aveiro.
Devido a esta acontecimento, e
por possuir ainda alguns problemas a re-
solver, ficou atracado durante alguns me-
ses, ainda na posse do antigo armador,
até em Setembro de 2012 ter sido vendi-
do à Pedro França S.A. na situação de
imobilizado.
Desde 2012, o Aveirense tem sido
alvo de reparações profundas, quer ao ní-
vel do casco, casario, estruturas, mecâni-
ca, praça do peixe etc. Tudo para que,
possivelmente ainda em 2016 volte às
pescas. Autor: Ricardo Matias
Edição: Tiago Neves
16/08/86—Ricardo Matias
07/2012—Tiago Neves
02/2016—Nuno Neves
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Artigo Técnico Para descomplicar o complicado
Proa X-BOW vs design convencional
A proa, sendo a parte mais ex-
trema da frente de navio, é a
responsável por reduzir a re-
sistência enquanto este navega cortando
as ondas. Durante séculos existiram dife-
rentes desenhos de proa, que mais recen-
temente têm sido alvo de modificações
para que se consiga melhorar a eficiência
do navio, reduzindo o consumo e melho-
rando a estabilidade. O tipo de proa esco-
lhido, depende do propósito do navio, lo-
cal de operação e das características do
mesmo.
A proa X-BOW, é um design único
que foi introduzido e desenvolvido pelo
Grupo Ulstein, na Noruega em 2006,
com o lançamento à água do Bourbon
Orca. Desde o seu desenvolvimento, que
este design tem recebido grandes aplau-
sos de todo o mundo, sendo que é agora
utilizado em bastantes navios.
Então, quais as principais diferenças
deste design para a proa dita convencio-
nal?
É do tipo invertida, isto é, projeta-se
para fora do navio e não para dentro, co-
mo se de uma barriga se tratasse. Este de-
senho melhora a eficiência do consumo
de combustível, bem como a estabilidade
em mar alto. O design projectado, com o
extremo “afiado”, permite que o navio
corte as ondas com menor resistência,
melhorando a sua estabilidade em mar al-
teroso, característico no Atlântico Norte,
onde a Ulstein posicionou os seus princi-
pais clientes.
Num design convencional, o ponto
mais extremo da proa do navio situa-se
no topo do casco, sendo que desce e
“entra” para dentro junto da linha de
água. Este desenho, por ser menos proje-
tado para frente, e menos “afiado” neces-
sita de mais energia para mover o navio,
dado que o desacelera consideravelmente
em mar picado.
Segundo estudos da Ulstein, a proa X
-BOW reduz bastante o “spray” causado
pelas ondas a embaterem no casco. Desta
forma, a energia transferida pelas ondas
ao casco é menor, reduzindo o seu im-
pacto na velocidade do navio.
Como há uma redução do movimento
longitudinal do navio, há muito menos
água no convés, um menor esforço de
recuperação de posição e forças de im-
pacto. Estas características tornam o na-
vio muito mais confortável de habitar e
de trabalhar. Em média, este design re-
duz em cerca de 20% a oscilação do na-
vio em mares bravios.
O Comandante do navio sísmico WG
Magellan conta-nos que numa situação
enquanto trabalhava junto com um navio
de proa convencional, devido ao mau
tempo o navio oscilava tanto que o heli-
cóptero não foi capaz de aterrar. Contu-
do, conseguiu fazê-lo no WG Magellan
sem qualquer problema. Outra situação
de notar, aconteceu a bordo do Oceanic
Veja, onde numa viagem transatlântica
da Noruega para os Estados Unidos, tive-
ram de atravessar o furação Igor. As on-
das eram de apróx. 8-9 metros, sendo que
o Oceanic Veja conseguiu manter uma
velocidade de 12 nós sem qualquer pro-
blema. Algo bastante notável com mar
deste género.
Inicialmente este desenho foi desen-
volvido para aumentar a velocidade de
navegação, bem como reduzir as vibra-
ções nas estruturas do navio em condi-
ções adversas. Contudo, segundo os seus
criadores, as vantagens em relação ao
design convencional são tantas, que já se
aplicam em diversos tipos de navios, co-
mo por exemplo navios de pesca.
O armador islandês HB Grandi tem
encomendados até 2017 3 navios de pes-
ca por arrasto com este tipo de proa, sen-
do até que um deles encontra-se já em fa-
se final de preparação, o Engey RE. A
construção dos mesmos está a ser realiza-
da na Turquia, país preferencial da Noru-
ega/Islândia para a renovação da sua fro-
ta de pesca.
Autor: Tiago Neves
Texto original: http://www.mar ineinsight.com/
http://www.shippipedia.com/ | Fotografias: Ulstein
e Çeliktrans Shipyard
ESTE ESPAÇO PODE SER SEU.
CONTACTE-NOS PARA SABER COMO.
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O Bacalhoeiro—Jornal da ABP—Associação Bacalhoeiros de Portugal—Distribuição Livre
Lobos do Mar Entrevistas aos guerreiros da Faina Maior
João David Marques - Uma Memória Viva Somos primos em segundo grau,
ambos bisnetos da arraisa Caloa e des-
cendentes de famílias do mar. O meu
avô materno, Capitão Manuel Simões
da Barbeira (o Pisco) era irmão, como
sabe, da sua avó Nazaré Correia, casa-
da com o Capitão António Marques.
Dados estes antecedentes, teremos gos-
tos em comum.
Fale-nos um pouco do seu início
nesta dura vida do Mar.
- Acabei o curso da Escola Náutica, em
1972, com 18 anos, e embarquei no arras-
tão popa Santa Mafalda, com o saudoso
Capitão Adriano Nordeste. Depois fui
cerca de um ano para a Marinha de Co-
mércio e regressei à pesca do bacalhau, a
bordo do arrastão popa Lutador, onde fiz
duas viagens como piloto e nove de ime-
diato, com os capitães Manuel Mendes e
Arménio Figueiredo. Em 1980/1981, fiz
o curso Complementar e ainda em 1981
embarquei como capitão no arrastão late-
ral Bissaya Barreto até 1983. De 1983 a
1989 fui capitão do arrastão clássico con-
gelador Praia do Restelo e dos arrastões
popas congeladores Almourol, Ilhavense
e Nova Fé, a operarem na pesca da pesca-
da, no mar da Namíbia, na África do Sul.
Terminei, aqui, a minha carreira na pesca,
em 1989.
Fui para a Secil Marítima de Angola, on-
de comandei o Secil Dande, o Secil Ben-
go e o Secil Namíbia.
A Secil Marítima estava para fechar por-
tas e mudei-me para outra companhia an-
golana, a Mar Marítima de Serviços, on-
de durante seis anos e meio, até esta tam-
bém acabar, comandei os navios Cuíto
Cuanavale e Dina, que era o navio portu-
guês Eco Guadiana.
Com a Marinha de Comércio praticamen-
te acabada e a Pesca quase a não existir, e
já sem vontade, nem paciência para reco-
meçar tudo de novo, e a voltar a ser 3º ou
2º Piloto num qualquer navio com ban-
deira de conveniência, fui dar aulas a cur-
sos de formação profissional de constru-
ção naval em madeira (componente teóri-
ca) durante 3 anos. Entretanto reformei-
me.
Pela idade que tem, nascido em 1953,
não teve nenhuma experiência de pesca
à linha, penso. No entanto, considero-o,
pelo que sei, muito conhecedor do as-
sunto. Como justifica?
Nunca fiz uma campanha na pesca à li-
nha, pois quando estava praticamente
acabada, eu estava a começar a minha vi-
da profissional. Guardo na memória uma
emposta que o Santa Mafalda fez em
Agosto ou Setembro de 1972, a pesquei-
ros arrastáveis, perto do Virgin Rocks e
ter visto, todos alinhados e fundeados
perto dos leijos o Conceição Vilarinho, o
Luiza Ribau, o Creoula, o Novos Mares e
o São Jorge. Foi uma modalidade de pes-
ca que sempre me despertou curiosidade,
pois fui nascido e criado a ouvir falar da
pesca à linha, das suas tripulações, dos
seus navios, dos seus usos e costumes e
até dos seus armadores.
O meu avô, o meu pai e o meu tio, fize-
ram a sua vida como capitães dos navios
de pesca à linha. As minhas férias do Na-
tal e Páscoa eram passadas a bordo dos
navios de pesca à linha, como no Capitão
Ferreira, Inácio Cunha, ou no São Jorge e
também a outros que me levavam. Se as
férias da Páscoa coincidissem com a ida
do navio para Setúbal ou Lisboa, lá ia eu
com o meu pai, todo contente.
E já agora, como explica o atraso da
nossa frota, relativamente a outras fro-
tas estrangeiras—prolongamento no
tempo de uma pesca tão árdua e rude,
a pesca à linha até 1974?
- É indiscutível que a vida do pescador à
linha era inquestionavelmente, dura, rude
e desumana. Só encontro uma única ex-
plicação para o prolongamento da sua
existência até tão tarde—A Guerra Colo-
nial. O Estado Novo, também na pesca do
bacalhau tirou partido da guerra colonial,
para angariar e garantir mão-de-obra ba-
rata e qualificada. Os pescadores que fi-
zessem sete campanhas à pesca do baca-
lhau livravam à tropa. Não iam, portanto,
para o Ultramar. Um pescador ao fim de
cinco campanhas era um profissional
competente, que sabia da sua arte e por
mais duas viagens assegurava o bom de-
sempenho do navio. Quando acabava a
sétima, estava livre da tropa e desembar-
cava. (…) Com o fim da guerra colonial,
este esquema deixou de existir e a mão-
de-obra barata também acabou.
Sei que teve um blogue, que apagou,
que tem uma grande memória relativa
a estes assuntos e que também pesquisa
bastante. Avista-se algo de novo, no ho-
rizonte?
- De momento, pesquisa-se, descobrem-
se muitas coisas que não sabia sobre na-
vios da pesca à linha e as suas tripula-
ções, mas sobretudo vão-se tirando notas
e apontamentos. Agora o horizonte ainda
está empoalhado, vamos lá ver se o sol
descobre para se fazer a recta da manhã.
Acha que o CIEMAR, com o material
que disponibiliza aos investigadores,
satisfaz um estudioso como é o João
David?
- Penso que chamar-me estudioso será
um pouco exagerado. Curioso e interessa-
do sobre certos temas sou, com toda a
certeza. O CIEMAR tem muito, mas
mesmo muito material, com grande rele-
vo para se trabalhar. Quanto mais se pro-
cura, mais se encontra. Parece um poço
sem fundo. Só é preciso ter gosto e muita
paciência.
O que pensa do futuro da pesca longín-
qua, cingindo-nos, aqui, ao dito porto
bacalhoeiro na Gafanha da Nazaré?
- Nem é bom pensar, o que existe e nada
é quase a mesma coisa.
Se fosse possível fazer, nos dias de hoje,
uma campanha à Terra Nova como se fa-
zia nos anos sessenta ou setenta, seria di-
fícil encontrar uma tripulação. O saber e
os conhecimentos foram-se perdendo, a
escola deixou de existir. Talvez a minha
geração seja a última a saber fazer as ma-
nobras de largar e virar a rede num arras-
tão clássico ou lateral.
Saibamos aproveitar a história passada,
para melhorarmos o nosso futuro e o mar
é, certamente, um dos caminhos.
Entrevista por: Ana Maria Lopes (Blog
Marintimidades)
Edição: Tiago Neves
Nota: Um especial agradecimento ao
Cap. João David, pelo tempo dedicado e
pela simpatia. É realmente fascinante
conhecer alguém que de memória, tem
tantas histórias/factos para partilhar
connosco.
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O Bacalhoeiro—Jornal da ABP—Associação Bacalhoeiros de Portugal—Distribuição Livre
ABP Atividades da nossa associação
Realizadas:
19/03/16—Foi realizado no Lar da Gafa-
nha da Gafanha da Nazaré uma visualiza-
ção do filme “Nos Mares da Terra Nova”.
Decorreu da melhor forma, sendo que
pudemos ter o prazer de proporcionar um
regresso no tempo para algumas das pes-
soas que lá se encontravam. Foi a primei-
ra do género, que queremos voltar a repe-
tir.
05/04/2016 - Realizou-se uma reunião
com Jean Pierre Andrieux para a discutir
o estado da tradução do seu livro “White
Fleet” para português. Há já alguns meses
que a nossa associação está a desenvolver
esforços neste sentido, sendo até que
grande parte do livro já se encontra tradu-
zida pelo por um dos nossos associados.
Esperemos até ao final do ano ter novida-
des neste sentido.
05/04/16—Estabeleceu-se um proto-
colo de colaboração com a Junta de Fre-
guesia de S. Salvador, onde esta gentil-
mente nos cedeu 100€ para a realização
de várias atividades da associação. Que-
remos agradecer este ato, que nos vai
ajudar bastante a realizar parte dos nossos
objetivos para este ano, como é o caso
d’O Bacalhoeiro.
10/09/2016—Realizou-se no Jardim
Oudinot mais um convívio dos bacalhoei-
ros, com grande sucesso e aderência dos
nossos sócios.
A nossa frota
ESTE ESPAÇO PODE SER SEU.
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Passatempos Todo o guerreiro merece o seu descanso
Adivinhe que navio é:
SOPA DE LETRAS
Navio da edição anterior: Martereza— Fotografia de Hernâni Amaral
Como ser sócio. Na última edição, a página final do nosso jornal possuía uma ficha de inscrição. Por falta de espaço, e porque queremos que nes-
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