Dor Neuropática:
Neuralgia do nervo trigêmeo
Letícia Bueno Campi, DDS, MSc
• O que é neuralgia do trigêmeo?
De acordo com a Associação Internacional para o Estudo
da Dor , a neuralgia do trigêmeo pode ser definida como
“Episódios de dor recorrente, perfurante, breve, severa,
geralmente unilateral e repentina, localizada na distribuição
de um ou mais ramos do V nervo craniano”.
Já a Classificação Internacional das Cefaleias (The
International Classification of Headache Disorders, 3rd
edition) usa a seguinte definição: “Desordem caracterizada
por dores recorrentes unilaterais breves, do tipo choque
elétrico, de início e término repentino, limitado à distribuição
de uma ou mais divisões do nervo trigêmeo e desencadeada
por estímulos inócuos. Pode desenvolver-se sem causa
aparente ou ser resultado de um outro transtorno
diagnosticado”.
• Epidemiologia:
1. Acomete cerca de 4 pessoas para cada 100.000
indivíduos por ano;
2. Sua taxa de acometimento homem/mulher é de 2 para 3;
3. Tende a surgir após os 40 anos de idade (90% dos
casos);
4. Maior incidência entre os 50 e 70 anos de idade.
• Aspectos fisiopatológicos
O nervo trigêmeo (V par craniano) é considerado nervo
misto, contendo fibras sensitivas (aferentes) e motoras
(eferentes), sendo as primeiras de interesse ao quadro
nevrálgico, responsáveis pela sensibilidade propioceptiva
(pressão profunda e cinestesia) além de exteroceptiva (tato,
dor e temperatura) da face e parte do crânio, inervando,
ainda, os músculos responsáveis pela mastigação. Ao gânglio
de Gasser, chegam as fibras sensitivas relacionadas ao
estiramento e à propiocepção. Tais fibras chegam ao gânglio a
partir das três ramificações do nervo (maxilar, mandibular e
oftálmico) que possuem áreas específicas de inervação de
cada lado da face (figura 1)4.
O ramo oftálmico de Wills (V1) é acometido com pouca
freqüência. O ramo maxilar (V2) atravessa o forame redondo e
carreia sensibilidade da pele e tecido subcutâneo do lábio
superior, asa do nariz, bochecha, pálpebra inferior, região
temporal, mucosa do véu do palato, abóbada palatina,
amígdala, seio maxilar, fossa nasal, gengiva, polpas dentárias
superiores, periósteo da órbita e dura-máter da fossa cerebral
média4.
O ramo mandibular (V3) emerge pelo forame oval e
permite a inervação sensitiva da fossa temporal, mento,
mandíbula, porção anterior do pavilhão auricular (exceto
lóbulo), porção ântero-superior do conduto auditivo externo e
membrana timpânica, inervando, também, os dois terços
anteriores da língua, soalho da boca, mastóide, polpas
dentárias inferiores, gengiva, articulação têmporo-mandibular
e dura-máter da fossa posterior. A porção sensitiva do nervo
soma-se à raiz motora que supre os músculos mastigatórios4.
!!!!!!!!!!!!!Figura 1. Distribuição do nervo trigêmeo (V par craniano).
A crise dolorosa é deflagrada em muitos casos, quando o
indivíduo toca ou manipula determinadas áreas da face
(toque, mastigação, fonação, deglutição, escovar os dentes,
barbear, frio, tabagismo, maquiagem), situadas
ipsilateralmente à dor, geralmente ao redor do nariz e
próximas aos lábios, denominadas zona-de-gatilho5. Os
ataques estimulam freqüentemente respostas, como
salivação, ruborização da face, lacrimejamento, ou mesmo,
rinorréia5 (figura 2).
Figura 2. Frequência relativa de comprometimento dos ramos
trigeminais por neuralgia.
• Etiologia:
! Primária: Fonte de compressão mecânica (veias ou
artérias) entre a ponte e o gânglio trigeminal;
! Secundária: esclerose múltipla, neoplasmas, cistos, sífilis
e aneurismas.
• Diagnóstico:
! Relato do paciente (sensação de choque elétrico ou
queimação e comportamento temporal dos sintomas);
! Presença de áreas de gatilho;
! Exames complementares (ressonância magnética,
tomografia computadorizada)
• Tratamento:
! Anticonvulsivantes (Carbamazepina, fenitoína,
gabapentina, topiramato);
! Amitriptilina e clonazepam;
! Tratamento cirúrgico (descompressão microvascular,
gangliólise, neurectomia, bloqueio com anestésico).
Referências:
1. The International Classification of Headache Disorders,
3rd edition;
2. Francisco Guedes P. Alencar Jr, et al. Conceitos Atuais
de Oclusão e Ajuste Oclusal. In: Oclusão, Dores
Orofaciais e Cefaleia. 6ª edição. São Paulo: Santos, 2005;
Cap 12.
3. Love S, Coakham HB (2001) Trigeminal neuralgia:
pathology and pathogenesis. Brain 124:2347–2360;
4. Bennetto L, Patel NK, Fuller G (2007) Trigeminal
neuralgia and its management. BMJ 334:201–205 ;
5. Carpenter, M. B. Neuroanatomia Humana. 7. ed. Rio de
Janeiro: Editora Interamericana, 1978. p.331-341.
6. Galassi, C.; Blasi, G.; Galassi, G.; Serra, M. & Faverio, A.
Nevralgie trigeminali ed altre algie del capo. Parodont. e
Stomatol. (Nuova), v.2, p.45-160, 1985.