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NATAL DE SOMBRAS Passeio sozinha por uma rua cheia de luz Observo pessoas que entram e saem de lojas Transportam sacos nas mãos, cheios de caixas embrulhadas com papel colorido e laços Esperam ansiosas pelo momento em que as entregam e observam os olhos curiosos de quem as abre. Não sei, na realidade, o que faço aqui. Sinto nos meus bolsos o vazio da falta de dinheiro, A ausência da vontade de voltar para casa Não tenho sacos nas mãos e o coração, esse há muito que se esvaziou. Há muito que o Natal ganhou um significado insignificante Imagino, porém, uma noite feliz e tento, contudo, torná-‐la nisso tento dar-‐lhe alguma luz, algum brilho, um pouco de magia. Observo as pessoas, agora sentada num banco frio, calada acompanhada pela solidão e, enquanto passa gente iluminada, sinto uma sombra negra mergulhada na solidão ao meu redor, à minha volta. E lembro a minha infância e sinto falta Sinto falta, não das prendas ou da fartura da ceia De que a minha mesa continua cheia Mas da união e do amor Sinto falta de ter todos à minha volta De ter todos presentes, desse imenso calor! Quando relembro, não lembro a riqueza Mas os momentos de convívio Em que o meu pai lançava as suas piadas As minhas primas brincavam As minhas avós e a minha mãe na cozinha cozinhavam e fritavam sonhos. Agora tudo não passa disso, Um meio sonho Acalentado por uma pessoa ingénua. Essa sou eu... E vou continuar nesta rua da Baixa A olhar as luzes e as pessoas, À espera que volte a vontade de voltar para casa.
Maria Magalhães