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Emílio Eiji Kavamura 1
Memento Pedagógico
MÉTODOS ECONOMIA E EFICIÊNCIA NOS ESTUDOS
Aprender a aprender na Faculdade
Quem acaba de ingressar em uma faculdade precisa ser informado sobre a maneira de
tirar o máximo proveito do curso que vai fazer.
Em primeiro lugar, o calouro vai perceber que muita coisa mudou em comparação à
aquilo que estava acostumando em seus cursos de primeiro e segundo grau. E quem
não puder compreender devidamente o espírito da nova situação para adaptar-se ativa e
produtivamente a ela perderá preciosa oportunidade de integrar-se desde o início no
ritmo desta nova etapa de ascensão no saber, que se chama vida universitária.
Dizíamos que muita coisa mudou, e que é preciso entender o espírito desta mudança
propositada e necessária, com vistas à adaptação a uma organização ativa e produtiva
na vida de estudos.
No curso médio, o estudante deve estar na sala de aula no horário exato, e não pode
ausentar-se antes da saída do professor. Nos cursos universtitários não se exige esse
mesmo rigor; quem não chegar a tempo pode assistir às aulas seguintes, e quem tiver
necessidade de ausentar-se, antes do término da aula, pode fazê-lo .
NO curso médio o estudante leva para casa tarefas diárias; não acontece o mesmo na
faculdade. No curso primário os alunos, geralmente, andam uniformizados, não podem
fumar nos recintos da escola e as classes são bastante homogêneas; nos cursos
superiores nada disso acontece; as salas de aulas são mais amplas e bastante
heterogêneas; não raro, ao lado de um jovem de dezoito anos senta-se um diretor de
uma escola ou gerente de empresa. Os programas do curso médio apresentam
dificuldade igual para todos os estudantes, enquanto que na faculdade a formação
heterogênea dos alunos faz com que os programas não apresentem dificuldades iguais
para todos. No colégio, os diretores e professores dão ordens e fiscalizam o seu
cumprimento; na faculdade, os acadêmicos recebem orientações. Afinal, na faculdade,
todos são tratados como adultos e responsáveis e capazes de dirigirem a própria vida
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social, disciplinar e de estudos. Mas sempre há o perigo de uma má interpretação deste
novo clima, especialmente quando não se é, de fato, adulto e responsável.
Que pensar de acadêmico que não se preocupa com a pontualidade porque o professor
respeita o seu direito de chegar com algum atraso, por motivo que um adulto julgaria
razoáveis? O que acontecerá com o acadêmico que não organiza o seu tempo de
estudo particular para preparar aulas, para fazer revisões, só porque o professor não
estabeleceu o controle das tarefas diárias? Que se há de esperar do aluno que transcura
“orientações’ porque elas não se formalizaram como “ordens”?
Quem acaba de entra para a faculdade percebe que muita coisa mudou, e deve
perceber que também deve mudar, especialmente na responsabilidade, na auto-
disciplina e na maneira de conduzir sua vida de estudos, para tirar o maior proveito
possível da excelente oportunidade de crescimento cultural que a faculdade lhe oferece.
Muitos calouros confessam que aprenderam muita coisa, mas que nunca aprenderam a
estudar, isto é nunca aprenderam a aprender. Quem reconhece a própria carência já
deu o passo mais importante para se dispor a a tomar o remédio adequado. E sempre
haverá o que aprender para melhorar o rendimentos de nossos trabalhos e de nossos
estudos e e, desta forma, aumentar nossa satisfação pessoal de êxitos alcançados. Esta
parte introdutória e eminentemente prática de nosso trabalho deverá, pois, interessará
vivamente a todos universitários.
Quem fala que ingressar em uma faculdade sabe como deve orientar seus estudos
particulares? Save como participar ativa e produtivamente das aulas? Sabe como ler
com eficiência, fazer resumos, desenvolver temas, redigir trabalhos? Julga-se satisfeito
por que entendeu tudo ou quase tudo que o professor disse? Percebe que aprender é
principalmente analisar, assimilar, reter e ser capaz de reproduzir com inteligência?
Observe que as sabatinas, ou provas, não examinam o que se entendeu vagamente
sobre o problema apresentado; examinam sim, quanto se reteve e como se é capaz de
reproduzi-lo adequadamente.
Fazer um curso superior não é ouvir as aulas e adivinhar os testes, mas instrumentar-se
para o trabalho científico. Mais vale esta instrumentação na mão do que o conhecimento
de uma série de problemas ou o aumento das informações acumuladas
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assistematicamente; ou o como já se disse, mais vale uma cabeça bem feita do que uma
cabeça bem cheia ( de informações, de erudição). Neste sentido terá feito bom curso
superior não tanto aquele que for capaz de repetir o que aprendeu, mas aquele que,
diante de problemas completamente novos, tiver nível e método para empreender um
pesquisa séria e profunda. Nesse sentido, diz Mira y Lopez que aprender é aumentar o
cabedal de recursos de que dispomos para enfrentar problemas que nos apresenta a
vida cultural. 1
Não se esperem amplos desenvolvimentos de teses nem elencos de conselhos neste
trabalho estritamente elementar, ms tão-somente alguns considerações sobre temas de
real importância para a eficiência de um curso superior. Tudo será simples, como é
simples uma vacina que salva da morte. Não se confuda simplicidade, praticidade, com
inutilidade ou superficialidade. É evidente que, ao examinar-se um conceito muito
simples, se procure, de preferência, verificar se ele está sendo posto em prática, e com
resultados.
Há uma curiosidade entre jovens a respeito de discussões teóricas sobre o método
perfeitos para estudar pouco e aprender muito. Não se verifica o mesmo interesse em
adotar e pôr em prática, com empenho e perseverança, nem o método mais perfeito
nem outro método qualquer, porque, na verdade, nenhum método é perfeito a ponto de
dispensar o trabalho que não se quer ter . Mas a idéia de um método que torne mais
eficiente o trabalho é válida. Podemos e devemos conhecer a maneira mais econômica
e mais eficiente de estudar para aprender de fato, para crescer culturalmente. Não será
difícil reconhecer um bom método; não será fácil arregimentar disposição para pô-lo em
prática com perseverança. Só esta decisão garantirá bom rendimento e satisfação
pessoal nos estudos, melhorará a capacidade de compreensão e facilitará a assimilação
a retenção, desenvolverá a capacidade de síntese, aumentará progressivamente a
clareza e a profundidade dos conceitos, conferirá eficácia à comunicação, disciplinará e
exercitará a mente.
1 Mira Y Lopez, Emílio. Como estudar e como aprender, p. 30.
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Quem acaba de ingressar em uma faculdade precisa ser informado sobre a maneira de
conseguir pleno êxito no curso que vai fazer. Deve aprender a aprender na faculdade.
Deve ler e analisar as considerações exaradas neste texto.
Tempo para estudar
O progresso é, em grande parte, uma luta contra os ponteiros do relógio. Pergunte-se ao
empresário e ao industrial quanto vale o tempo, isto é, quanto vale o bom
aproveitamento do tempo como fator de produção, custo e comercialização de seus
produtos.
O primeiro passo para quem quer estudar consistem em reorganizar a vida de maneira a
abrir espaços para o estudo e planejar melhor o aproveitamento possível de seu tempo.
Há quem imagine que deva fazer um curso superior sem dispor de tempo para estudar,
ou mesmo para freqüentar as aulas das diversas disciplinas; e chega-se a imaginar que
a apresentação documentada de sua total falta de tempo será motivo nobre e suficiente
para dispensa das aulas, dos trabalhos, dos estudos, afinal, da obrigação de fazer o
curso. Como pretende estudar quem não pode estudar? É um ser curioso o aluno que
pretende conciliar o estudo com a impossibilidade de estudar.
Ninguém desconhece o sacrifício da quase totalidade do alunos, vão para a escolas
após uma jornada de oito horas de trabalho profissional. Se isso é sumamente louvável,
não o exime, por outro lado, do compromisso de estudar e, portanto, de descobrir tempo
para estudar. É preciso descobrir tempo. Tempo para freqüentar as aulas das diversas
disciplinas, e tempo para estudos particulares. Se procurarmos, o tempo aparecerá. E
lembremo-nos de que meia hora por dia representa três horas na semana, quinze horas
no mês e cento e oitenta horas por ano. E quem não conseguiria descobrir um ou mais
espaços de meia hora em sua jornada? Ou quem não conseguiria fazer aparecerem
esses espaços, se o quisesse realmente? Ou será que esses espaços não aparecem
poque nós não os procuramos, por medo de encontrá-los? Quem quer descobre tempo,
cria tempo, especialmente nós brasileiros, que somos, por assim dizer, capazes do
impossível.
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Para descobrir tempo
A maneira mais prática de descobrir ou fazer a parecer o tempo consistem e tomar uma
folha de papel, anotar os diversos dias da semana em linha horizontal e os diversos
afazeres em linha vertical; registrar depois, na coluna de cada dia da semana, as horas
plenas e os possíveis espaços ociosos, como segue:
Segunda-feira Afazeres
Início Término Tempo de duração
Levantar 7:00 7:00
Higiene 7:00 7:30 30 min.
Transporte 7:30 8:00 30 min.
Trabalho 8:00 12:00 4 h
Almoço 12:00 14:00 2 h
Etc.
É evidente que a meia hora de higiene pode ser reduzida e que se pode levantar dez
minutos mais cedo, abrindo um espaço utilíssimo logo de manhã. E não seria muito
aproveitar quinze minutos dos cento e vinte reservados para intervalo do almoço. E será
fácil o hábito de ler dez minutos antes de dormir.
Eis uma pergunta que surgirá fatalmente a esta altura: podem-se aproveitar dez minutos
apenas para cada seção de estudos?
Não será esta a duração ideal, é evidente. E quem não conhece outros detalhes sobre a
leitura, revisão, e fichamento, pouco ou nada produzirá em dez minutos. Mas, quem
souber ler, quem considerar e puser em prática nossas indicações sumariadas sobre
técnicas de leitura eficiente, de revisão, de fichamento, certamente lerá boas páginas em
dez minutos, descobrirá e assinalará a idéia principal ou central, as palavras-chave e os
pormenores importantes do contexto.
Entenda-se que não basta descobrir o tempo: é necessário desenvolver técnicas para
tornar qualquer tempo produtivo. Por ora, entretanto, nossa preocupação consistirá
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numa revisão de nossa jornada, com o propósito de descobrir ou de fazer aparecer
qualquer porção de tempo que possa ser reservada aos nossos planos de estudo.
Quanto menos tempo tivermos, mais motivados deveremos estar para aproveitá-lo ao
máximo. Há alunos de períodos noturnos que trabalham oito ou mais horas por dia, e
que conseguem resultados, em seus estudos, bem maiores que alunos de outros
períodos que não trabalham ou que só trabalham em regime de meio expediente. Isso
não se explica pelo tempo disponível, mas pelo seu melhor aproveitamento.
Aliás, não raro o estudante se esquece de considerar, como tempo para estudo, as
horas que passa nas salas de aula, como se não devesse cuidar do aproveitamento
máximo de tempo tão precioso. Entretanto, por sua particular importância, trataremos
deste item mais adiante, com maior cuidado.
Programar a utilização do tempo
Depois de reconsiderar, de lápis na mão, sua jornada, com a atenção do empresário que
luta contra os ponteiros do relógio para poder produzir mais e a menor custo, devemos
programar a utilização dos espaços de dez minutos, de meia hora, de possíveis horas
inteiras que possam ser reservadas para o estudo, sem prejuízo das horas de lazer.
Aliás, aproveitar intensamente o tempo é uma espécie de condição para se dar sentido
às horas de lazer e para desfrutá-las intensamente. Parece que a satisfação e a força
restauradora das horas de lazer são proporcionais ao bom aproveitamento e à intensa
produtividade das horas de trabalho. Quem, nas horas de lazer, se preocupa com
tarefas não cumpridas nas horas de trabalho, não descansa nunca, nem nas horas de
trabalho, nem nas horas de lazer.
Não basta determinar, ao longo de nossa jornada, espaços para estudar. É preciso que
se determine o que estudar em cada horário de maneira programática, embora, se
alterem planos em determinadas circunstâncias ou se façam remanejamentos
periódicos, ou se deixem alguns horários opcionais.
Esta exigência não deve parecer excessiva ou utópica. A programação do que fazer em
cada horário evita vacilações, indecisões, adiamentos; evita, exatamente, a perda do
tempo reservado ao estudo, ou a sua má utilização. Se não houver uma prévia
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determinação programática, não aproveitaremos o tempo, simplesmente, ou
estudaremos só o que mais nos agrada, o que é um mal muito menor.
A perseverança no cumprimento do programa é o maior problema. Geralmente, nosso
tempo é pequeno, mas o pior é que o pequeno espaço de tempo se converte em nada
pela falta de perseverança.
O horário que o aluno descobriu ou fez aparecer para dedicar ao estudo deve ser
preenchido com três atividades que perfaçam o ciclo e criem o ritmo de trabalho
eficiente, a saber: preparação para a aula, revisão da aula e revisões gerais para provas
e exames. Trataremos. Separadamente, do “grande tempo das aulas“.
Horário de preparação para a aula
O aluno deve ter a mão o programa, bem como seu material de estudo, tais como: livros
texto, bloco para anotações, um bom dicionário, apostilas ou fontes indicadas para
leitura de aprofundamento.
O aluno deverá ler previamente a matéria que será desenvolvida na aula, por uma série
de razões; em primeiro lugar, essa leitura será feita em poucos minutos e aumentará o
rendimento das várias horas de aula que o professor utilizará para o seu
desenvolvimento em classe. Ora, se é possível conseguir, com trabalho prévio de meia
hora, aumentar o rendimentos de várias horas de trabalho posterior, essa leitura prévia
representa economia e eficiência no trabalho. Além disso, esta leitura prévia permitirá
que se assinale à margem do texto, com simples sinal de interrogação problemas que
exigirão entendimento durante a aula. Estas anotações permitirão uma espécie de
reciclagem da atenção, pois, enquanto estão em pauta passagens de fácil entendimento,
o aluno que preparou sua aula prestará uma atenção de intensidade normal; mas à
medida que o desenvolvimento da aula caminha para passagens anotadas com um
simples interrogação, ou reformuladas à margem sob forma de problema, redobrará sua
atenção. Se tudo ficou claro agora, muito bem; caso contrário, eis o momento de
formular sua dúvida inteligente.
Quem não preparou sua aula não pode distribuir convenientemente a intensidade de sua
atenção e pode não fazer perguntas, porque nem sabe que não entendeu. E os
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problemas mais difíceis irão avolumando enormemente seu trabalho extra-sala de aula,
que se tornará anti-econômico, e reduzirá sensivelmente seu rendimento escolar e
conseqüentemente sua motivação para tal disciplina.
Outra razão para a leitura prévia do assunto a ser desenvolvido em sala de aula é a
qualidade dos apontamentos e das anotações. Os apontamentos dos alunos que vão
para a aula preparados são sóbrios, claros e localizam o essencial, enquanto que
apontamentos dos que estão tendo contato pela primeiríssima vez com o assunto da
aula são difusos, desordenados, obscuros, captam passagens secundárias e omitem o
principal. Tais apontamentos são um estorvo e não uma ajuda substancial ao trabalho
de revisão e preparação para as provas e exames.
Não deve restar dúvidas sobre a importância de se reservar no próprio horário de estudo
um espaço suficiente para a leitura prévia dos assuntos de aula. Essa leitura, que
poderá ser feita em poucos minutos, determinará melhor rendimento durante as aulas,
inteligente distribuição da atenção, ordem, clareza e perfeição nos apontamentos e
grande economia de tempo e trabalho nas revisões.
Entender isso parece fácil, não é tão difícil agir dessa forma. É preciso decidir-se a
começar, fixar o hábito e sentir de perto as vantagens de tal disciplina de trabalho. Quem
tem muito tempo pode proceder desta forma; quem nem pouco tempo tem, deve agir
deste modo, pois representa uma economia extraordinária de tempo, especialmente nas
revisões, e é fator de eficiência na vida escolar.
Horário das revisões de aulas
Não basta preparar-se para as aulas e conseguir entender tudo enquanto que o
professor desenvolve o assunto. É claro que isso é muito importante; mas não é tudo. É
necessário fazer revisões, e nestas revisões procurar questionar o assunto da aula e
responder claramente às questões ao menos mentalmente. Dizemos ao menos
mentalmente porque seria melhor reproduzir por escrito as questões e fundamentais. Às
vezes nos iludimos pensando que entendemos muito bem, mas, ao procurar formular
questões precisas sobre o assunto da aula e ao respondê-las por escrito, percebemos
que não conseguimos. E não vale a desculpa de que entendemos mas temos a
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dificuldade de expressar. Temos vocabulário e recursos suficientes para exprimir tudo
que entendemos, embora nos faltem recursos para traduzir tudo que sentimos. Ninguém
pode ter dificuldade de exprimir idéias claras e distintas; a presença da dificuldade, pois,
atesta que nossas idéias não estão tão claras e distintas. Quando o aluno se prepara
para a aula e, por isso mesmo, aproveita-a ao máximo, o trabalho de revisão torna-se
fácil e não toma muito tempo.
Devemos distinguir duas espécies de revisão, e planejar espaços para ambas em nosso
programa de horários reservados para estudo. À primeira denominamos de revisão
imediata: essa é a revisão que se faz da aula anterior, antes da aula subseqüente, ou
por ocasião da preparação dessa. Toma pouco tempo, porque o processo de
esquecimento não se desencadeou com sua ação demolidora. Para algumas matérias
seria interessante que a revisão consistisse na elaboração sumária do assunto com o
auxílio da bibliografia e dos apontamentos de classe. À segunda, revisões
globalizadoras ou integradoras. As aulas segmentam assuntos em unidades, em itens e
sub-itens, de acordo com os preceito da pedagogia e a seqüência lógica do problemas.
Não entendemos tudo de uma vez, nosso raciocínio é discursivo, isto é, passa de um
ponto para outro, discorre, caminha, flui. De outro lado, o todo complexo deve ser
desdobrado em partes, pela análise, para que possam ser definidos seus componentes.
Assim, são desmembrados, em aula, as partes dos vários assuntos. Restará para o
aluno o trabalho de síntese, reunificação e integração das partes no todo. Este
importantíssimo trabalho de revisão globalizadora é o mais eficiente recurso de
organização da aprendizagem, bem como a mais válida preparação de provas e
exames.
Horário das revisões para provas e exames
As provas, exames, sabatinas são exatamente, recursos pedagógicos utilizados não só
para efeito de avaliação dos alunos, mas para induzi-los a fazer revisões globalizadoras
periódicas. Pode, pois, o aluno programar suas revisões globais para a época das
provas e sabatinas.
Queremos observar que a esta altura dos ciclos de estudos bem ordenados não é hora
de entender, mas de de rever apenas. Há alunos que vão acumulando matéria pouco
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elaborada e problemas não compreendidos nem durante a preparação da aula, nem
durante a aula, nem nas revisões imediatas, que, neste caso, não estariam totalmente
sendo feitas, e que deixam tudo para as vésperas das provas. Isto é um erro de
conseqüências nefastas para a eficiência dos cursos e até para a saúde física dos
desorganizados e imprudentes, que se vêem na contingência de serem reprovados ou
de intensificarem extraordinariamente seus esforços de última hora, que trazem muitos
prejuízos para a saúde e muito poucos benefícios para o estudo. A natureza não dá
saltos; as árvores crescem lentamente, e dão fruto no tempo devido; planta que cresce
muito depressa não tem cerne forte. O estudo deve ser também um processo de
desenvolvimento lento, constante e definido para que possa dar bons frutos em tempo
oportuno.
Quem se preparou para as aulas, quem trabalhou em classe como adiante veremos,
quem fez as revisões imediatas e as revisões periódicas e globalizadoras aproveitará
muito bem o tempo de preparação para os exames e as revisões de final de curso, que
são extraordinariamente vantajosas.
O grande tempo de todo estudante
O grande tempo de todo estudante são as aulas.
Pretendemos desenvolver um pouco mais este item por julgá-lo da mais alta
importância. E nosso objetivo, como sempre, será predominantemente prático ou
comportamental, pois visamos despertar consciências e motivar atitudes a partir de
esclarecimentos teóricos que serão apenas sumariados.
O aluno que, após um dia de trabalho, ao invés de ir pra casa, toma o rumo a faculdade,
às vezes, mesmo sem tempo para uma refeição, e, contrariamente a tudo que se
poderia supor, não aproveita as aulas, é um incoerente.
O aluno que paga uma faculdade para adquirir o direito de uma carteira dura, onde
possa perder tempo durante as aulas, está clamando aos quatro ventos que lhe falta
algo de muito importante na caixa craniana.
Nunca será demasiadamente encarecido aos estudantes, especialmente aos calouros
dos cursos universitários, a importância do tempo de aula, pois não basta oferecer a
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quem quer ser pianista um belo exemplar do instrumento e a mais completa coleção de
métodos. Em geral, é indispensável a freqüência às aulas, onde terá a orientação de um
professor.
Sabemos que a causa principal da aprendizagem é o aluno, é o próprio aprendiz. De
fato, a aprendizagem, concebida como resultado do processo da educação formal
institucionalizada na escola, tem por agente principal o próprio aluno. O mestre não
reparte sua ciência entre os alunos, nem fica mais pobre de conhecimentos depois de
cada aula, porque o aluno adquiri por si mesmo a ciência sob a ajuda externa do mestre.
Quem causa os frutos é principalmente a árvore, embora o faça soba a ação do
agricultor; quem sara é o principalmente o organismo do enfermo, embora sob a ação do
médico e dos medicamentos; quem aprende, predominantemente, é o aluno embora sob
a ação do mestre. Deve haver na planta, no enfermo, e no aluno um princípio intrínseco
ativo, operante, capaz de produzir efeitos da frutificação, da cura e da aprendizagem. A
ação do agricultor, do médico e do mestre tem caráter de causa eficiente auxiliar, e
coadjuvante apenas. Quem dá os frutos ou não é a planta; quem sara ou não é o
organismo do enfermo; quem aprende ou não é o próprio aluno. Ninguém ensinará a um
cabrito o Teorema de Pitágoras; por isso o magistério já era denominado pelos antigos
ars cooperativa nature, ou seja, o magistério apenas contribui com a natureza, mas é ela
que reage ativamente à arte do magistério. É esta reação, quando existe, a causa da
aprendizagem e é por isso que ninguém pode fazer um poste dar frutos, ou curar uma
múmia, ou ensinar teoremas a cabritos.
Lembramos esta indiscutível verdade não para diminuir a importância da ação do
mestre, mas para acentuar a responsabilidade do aluno.
Quem ensina exerce uma ação exterior e auxiliar apenas, é verdade, mas esta ação é
importantíssima no complexo processo de aprendizagem, como se pode depreender das
considerações que se seguem.
O mestre é necessário tanto para ensinar como para aprender. O mestre é necessário
para justificar por que aprender e por que estudar isso antes daquilo. O mestre é
necessário para organizar e ordenar o que aprender. O mestre é necessário para a
seleção de recursos, de instrumentos adequados ao trabalho do estudante, bem como
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para iluminar com sua ciência objetos que a mente do aluno não veria fora desta luz. O
mestre é necessário como mediador entre o programa e o aluno.
A ação do mestre é uma arte ‘sui generis’, porque ele trabalha com um material que se
molda a si mesmo. Formar não significa, em educação, prensar numa matriz para dar a
um material a forma que se deseja. Quem trabalha material passivo são os escultores,
por exemplo, não os mestres.
A vantagem do mestre é que ele já conhece o caminho certo os desvios perigosos;
conhece o aluno como o médico conhece seu paciente e o agricultor sua lavoura.
Há quem se ilude imaginando que aproveitaria melhor o seu tempo ficando a estudar em
casa ao invés de ir às aulas. Isto pode ser até verdade em alguns casos, em alguns
dias, quando já se está orientado para determinados estudos. Mas tomando-se o curso
como um todo, pensar que se aproveita mais ficando em casa, sem orientação, sem
ajuda que as aluas lhe prestam no complexo fenômeno da aprendizagem metódica, é
uma grande ilusão. Fosse isso verdade, seria muito mais econômico aos cofres públicos
dar uma biblioteca básica para cada família do que manter a gigantesca rede oficial de
ensino.
Cremos ter acentuado a decisiva e principal importância do aluno no processo da
aprendizagem, bem como a importância decisiva, embora apenas auxiliar, do professor.
Examinaremos a seguir como o aluno deve proceder em aula, para que se beneficie ao
máximo do precioso tempo que passa na faculdade.
Como aproveitar o tempo das aulas
Na maioria dos casos, acreditamos que o tempo que o aluno passa nas salas de aula
constitua a maior parte do tempo que dedica aos estudos. E não se justificaria o esforço
de encontrar ou fazer aparecer pequenos espaços para os estudos dentro da jornada de
trabalho, se não se procurasse, principalmente, aproveitar o máximo o tempo, dilatado,
por mais de três horas, que o aluno passa diariamente na sala de aula. Aliás, ninguém
compreenderia o aluno empenhado nos estudos fora da aula, surdo aos convites da
televisão, dos jogos de computador e dos amigos, que, por outro lado, fosse
desinteressado pelo rendimento de seu tempo durante as aulas.
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O aluno que não aproveita o tempo das aulas com empenho já está julgado: não leva a sério sua vida de estudos.
Em primeiro lugar, para aproveitar o tempo das aulas, é preciso frequentá-las. E é muito
importante que se esteja em sala desde o início das aulas, primeiro porque aquele que
chega depois do início da aula tem dificuldade de apanhar o raciocínio e, em segundo
lugar, porque geralmente quem chega atrasado causa certa perturbação e prejudica o
andamento da aula. Quando não houver outra opção senão a de chegar atrasado, seja
discreto e sente-se logo, sem chamar muito a atenção. Há tipos que batem à porta,
pedem licença, cumprimentam o professor e colegas, justificam-se do atraso e
caminham lentamente até a última carteira, parando de quando em quando para
murmurar aos ouvidos deste ou daquele colega, sentando-se finalmente, após alinhar
melhor sua carteira com uma razoável notoriedade. E quando alguns estão prontos para
tudo que represente uma perda de tempo se voltam para vê-lo, o ridículo, o
desequilibrado e mentecapto está sorrindo de felicidade por ter sido objeto de alguma
consideração.
Não basta ir às aulas e chegar antes do seu início. É preciso levar consigo material
adequado para os trabalhos do dia. Quem só leva o jornal ou alguma revista ilustrada
carrega consigo estímulos à distração própria e à dos companheiros. É preciso levar os
livros recomendados pelo mestre, o texto que serviu para preparação da aula, bem
como o material para apontamentos.
É muito importante guarda silencio exterior para não distrair os outros e silencio interior
para se distrair. O silêncio interior consistem em deixar fora da sala todo problema que
nada tem a ver com a aula. É este silêncio interior que permite uma concentração mais
profunda e menos cansativa. O silêncio exterior cria o clima necessário para o bom
andamento da aula. O barulho e as conversas em paralelo distraem os demais e
refletem no próprio ânimo do professor. Não é fácil manter-se em ritmo de trabalho, de
dedicação e concentração diante de um público barulhento e conversador. Querem os
alunos que a aula seja boa? Comecem a oferecer ao professor condições mínimas de
trabalho.
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Em aula, não adianta ficar sonhando com problemas domésticos, profissionais, ou
financeiros. Só vale a pena pensar naquilo que está sendo desenvolvido no momento.
Cada um deve criar seu silêncio interior e concentrar-se suave e ativamente no assunto
em exame.
O silêncio exterior e o interior não devem ser entendidos como uma imposição externa,
mas como autodisciplina de alunos conscientes de sua necessidade. Que se diria de um
grupo de jovens que ao irem a um cinema, pagassem os ingressos e ficassem a
conversar alheios ao desenrolar do filme? Não incomodaria aos demais presentes? Não
estariam se depreciando ante a crítica de todos?
Quando reina silêncio interior e exterior, quando a fantasia repousa e a boca se fecha, o
espírito se abre e a inteligência atua em melhores condições.
Neste clima e nesta atitude favorável ao trabalho o aluno acompanha a exposição do
mestre, participa ativamente dos debates, toma apontamentos e, principalmente, não
deixa sem esclarecimento nenhum ponto obscuro ou duvidoso. É muito importante não
levar dúvidas ou pontos obscuros para casa; debata-os até seu razoável e desejável
esclarecimento. Às vezes, determinado assunto constitui ponto de particular interesse
deste ou daquele aluno, mas não interessa aos demais. Em casos semelhantes, o
mestre poderia ser procurado em particular, dentro de sua disponibilidade de tempo, fora
do horário de aula.
Devemos ainda lembrar que todos, professores e alunos, devem empenhar-se no
sentido de manter um clima cordial de relacionamento. O trabalho em sala de aula é
cansativo tanto para os alunos compara os professores, mas o peso normal do trabalho
ficará agradável, e chegará, por vezes, a se tornar insuportável se não houver
cordialidade. Quando se instalam e se avolumam certas barreiras de desafeto mútuo, a
aula torna-se desgastante ao extremo. Trabalhar com aluno atento, empenhado,
participante e cordial causa uma satisfação íntima que, de certa forma, diminui ou
compensa o trabalho e os alunos irão se beneficiar, pois um professor animado com sua
sala produz muito mais; este aspecto também concorre para o crescimento da
cordialidade em sala. Neste sentido, podemos dizer que cada classe tem a aula que
merece.
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E se surgir um problema entre alunos e professor? Caso isso ocorra, o problema deve
ser enfrentado com elegância e correção. Nem se deve fugir dele, nem se deve
ultrapassar os limites da moderação. Em primeiro lugar, o representante da classe
poderá abordar o professor e dialogar com ele em particular, caso o problema seja de
toda a classe. A segunda instância poderá ser a exposição objetiva do problema ao
coordenador do curso, que deverá falar com o professor e, eventualmente, com a
classe. Em terceiro lugar, o assunto poderia chegar ao diretor pedagógico, ou ao diretor
administrativo, e assim por diante, até o Ministro da Educação. O que não se deve é
levar o problema diretamente ao diretor da faculdade ou ao Presidente da República.
Normalmente, o assunto ficará encerrado no primeiro contato com o mestre. Da mesma
forma o professor deverá, em primeiro lugar, entender-se com o representante de classe
ou com a classe toda, em diálogo franco ou comedido; sua segunda instância será o
coordenador do curso, e assim por diante. A experiência ensina que um diálogo franco,
honesto e comedido entre professor e alunos, ou seu representante, não só resolve os
problemas, mas estreita os laços de respeito e de cordialidade mútuos.
Como aproveitar o tempo em reuniões de grupo
Difunde-se cada vez mais a prática do estudo em grupos em meio universitário. Para
uma classe nova de alunos que não estejam familiarizados com esta forma de atividade,
tais reuniões podem representar apreciável perda de tempo, podem angustiar alunos e
gerar frustrações. Vamos, pois, neste pequeno texto dedicado aos que acabam de
ingressar em um curso do 3o grau, considerar este problema em seus aspectos mais
práticos e gerais. Saiba que o estudo em equipe é muito proveitoso sob todos os
aspectos, quando todos os componentes assumem sua parcela de responsabilidade e
se dispõem a trabalhar, contribuir e a participar ativamente. Todos devem trabalhar, não
só estes ou aqueles, por serem julgados mais inteligentes ou menos ocupados.
Logo no início do semestre, a classe deve distribuir-se em grupos de sete ou oito
participantes, aproximadamente, e é aconselhável que cada grupo escolha um
coordenador. Incumbiria ao coordenador de entrar em contato com os professores
quando for conveniente, tratar de interesses do grupo junto com o representante da sala,
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presidir e coordenar reuniões, organizar e distribuir funções, anotar e cobrar a
colaboração de cada um do grupo.
A primeira exigência para que cada grupo funcione e atinja com suas reuniões os
objetivos previstos por esta estratégia de trabalho consiste exatamente na organização
prévia do grupo, que deve reunir alunos que tenha facilidade de se comunicar e de se
encontrar fora da escola também. Vamos enumerar outras exigências ou normas
necessárias para o bom andamento dos trabalhos dos grupos para que haja bom
aproveitamento do tempo consagrado a reuniões:
1. Ao receber um tema para o trabalho, o grupo deve reunir-se o mais rápido
possível para programar suas atividades e estabelecer a distribuição de tarefas
para a primeira sessão de trabalho. Se o tema já estiver definido e a bibliografia já
tiver sido apresentada pela disciplina, o primeiro trabalho consistirá na busca de
fontes ; cada participante se responsabilizará pela por providenciar determinado
texto, como também deverá lê-lo e esclarecer suas dificuldades antes da reunião
da equipe. O coordenador anotará estes compromissos e os solicitará
ordenadamente na reunião seguinte. Esta primeira reunião não deverá encerrar-
se sem que estejam esclarecidos o local, a data e o horário do próximo encontro.
2. todos deverão providenciar textos pelos quais se responsabilizaram, e deverão
estudá-los conforme será explicado em nosso texto. Sempre que se tratar de
pesquisa bibliográfica, como geralmente acontece, o primeiro passo é
providenciar a bibliografia, os livros e os textos. Isto é evidente. Entretanto, há
grupos que se reúnem sem material conveniente ou, quando há material, fazem a
primeira leitura durante a reunião da equipe. A leitura prévia é necessária para o
bom andamento do trabalho.
3. há uma ordem para que os participantes apresentem os textos pelos quais se
responsabilizaram e comuniquem brevemente o seu conteúdo. Em primeiro lugar,
o coordenador passará a palavra àquele que se encarregou de pesquisar
generalidades em dicionários, enciclopédias, manuais didáticos. Em seguida,
solicitará a contribuição daqueles que se responsabilizaram pela análise prévia de
segmentos do texto básico.
Emílio Eiji Kavamura 17
4. não se deve alongar nos debates antes que se chegue ao final de uma primeira
apresentação de generalidades da leitura de textos básicos. Só depois deste
passo é que se deve voltar ao início para um contato mais intimo com o texto para
levantar seu esquema, para discutir suas idéias principais, para avaliar a
coerência interna das idéias, para ponderar o vigor dos argumentos, a perfeição
da análise, e assim por diante.
5. de acordo com o nível do grupo ou de sua familiaridade com o assunto em pauta,
espera-se que os debates, ao final, ultrapassem o texto, ou seja, caminhem além
do texto numa reinterpretação crítica de sua tese e de seus argumentos.
6. nenhuma reunião de equipe funcionará se seus componentes não providenciarem
o material necessário, ou não comparecerem preparados para contribuírem e
participarem ativamente. Como debater em um grupo de estudos se não se
estudou previamente a parte pela qual cada um se responsabilizou? Por outro
lado, se o grupo se organizou convenientemente, se escolheu seu coordenador,
se programou seu trabalho e distribuiu previamente atribuições limitadas,
específicas a cada participante, a experiência tem demonstrado que as reuniões
de grupo de estudos são de extraordinária eficiência quer para desenvolver itens
do programa em seminários quer para elaboração de monografias de caráter
didático-pedagógicas, quer para revisões gerais para exames e avaliações. Tudo
quanto apresentamos neste texto condensadamente tem caráter prático e
genérico. A classe deverá estar atenta especificações particulares que cada
disciplina solicita e exige dos estudos em grupo.