JOSE CARDIEL: UMA VIAGEM E UM DIÁRIO
Maria Cristina Bohn Martins
Bolsista Produtividade CNPq. Profª da UNISINOS
www.unisinos.br
Resumo: Nos anos centrais do XVIII padres jesuítas estiveram envolvidos em viagens de
reconhecimento e missão nos territórios ao sul de Buenos Aires. Entre os textos que
resultaram destas incursões destaco o Diario del Viaje ao Rio del Sauce (1748) de José
Cardiel, que aqui é analisado para refletir sobre sua qualidade de portador de informações
acerca das populações nativas americanas e avaliar suas potencialidades para o trabalho de
construção de conhecimento a respeito delas.
Palavras-chave: populações indígenas, história, fontes
“Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo”
(Walter Benjamin. “Sobre o conceito de História”. In: Magia e Técnica,
arte e cultura, 1987, p. 255)
Todos os historiadores que se ocupam do estudo das sociedades indígenas
americanas admitem a enorme importância dos textos que escreveram os jesuítas, contendo
suas experiências e percepções sobre os grupos nativos que conheceram1. Esta qualidade
fica ainda mais ressaltada quando nos referimos a áreas de fronteiras, em que a presença
espanhola era parca, assim como eram escassas as informações sobre seus habitantes. Este
é o caso da região da América do Sul para onde os jesuítas voltaram sua atenção na
tentativa de erigir as chamadas “missões austrais” já em meados do século XVIII. Falo das
1 L. Karnal (1998, p. 87) chamou a atenção do papel relevante da Companhia na construção da memória brasileira. Segundo ele, “há um processo de construção da memória jesuítica com seus objetivos corporativos; há um processo correlato (...) de construção da memória historiográfica a partir dos registros jesuíticos e há uma terceira forma de constituir memória, esta mais sutil e permanente: a maneira de se conceber educação a partir do modelo jesuítico”. Por sua vez, F. Torres Londoño (2002) analisou as linhas de força que atuam sobre a produção e circulação das cartas trocadas entre os padres e os efeitos sobre a memória que produzem.
áreas que, ao sul da província de Buenos Aires, em meados dos Setecentos começavam a
sofrer a intensificação da presença dos colonizadores como resultado da renovada política
imperial espanhola. Entre os vários textos que resultaram desta iniciativa destaco o Diario
del Viaje y Misión al ao Rio del Sauce (1748) de autoria do padre José Cardiel2, o qual
analiso aqui buscando indagá-lo enquanto portador de informações sobre as populações
nativas americanas e de forma a avaliar suas potencialidades para o trabalho de construção
de um renovado conhecimento a respeito delas.
As missões austrais
O Diário de uma Viagem ao Rio Sauce foi escrito em meio às atividades do Padre
Jose Cardiel para com as “missões austrais”. Estas missões, em número de três, foram
fundadas ao sul da fronteira do Rio Salado, no atual território da Província de Buenos
Aires, e estiveram sob a jurisdição dos padres da Província Jesuítica do Paraguai. O Salado
se constituía, então, na linha de cesura que marcava a fronteira entre dois mundos: aquele
dos assentamentos hispano-crioulos e o das semi-desconhecidas sociedades indígenas do
pampa.
José Cardiel esteve entre elas como missionário, mas também se deslocou pela
região na qualidade de “viajante”, isto é, como um observador das suas características
humanas, ecológicas e geográficas. Em 1746 ele havia já participado daquela que é
considerada a primeira “expedição científica” para a Patagônia, que foi organizada pelas
autoridades metropolitanas e contou com a presença de três padres da Companhia: além de
Cardiel, participaram dela os padres Strobel e Quiroga, este último vindo da península
2 Nascido em La Guardia, Espanha, em 1704, Cardiel chegou a Buenos Aires em 1729. Dois anos depois, foi encaminhado para trabalhar nas reduções de guaranis. Também omou parte na fundação das primeiras missões junto aos mocobis e abipones e participou da catequese de charruas, pampas e serranos. Ele estava nas reduções de guaranis quando da assinatura e tentativa de execução do Tratado de Madrid, e envolveu-se diretamente nas polêmicas em curso, sofrendo, por isto, a censura do padre Visitador Lope Luis de Altamirano. Após a “Guerra Guaranítica” foi designado para restaurar a redução de San Miguel destruída pelo conflito. Cumpriu, por estes anos, atividades intimamente vinculadas às esferas de poder político e diplomático, e acompanhou o comissário espanhol encarregado de estabelecer os limites entre as jurisdições dos dois impérios. Estava no povoado de Concepción quando recebeu a notícia do decreto que expulsava os jesuítas dos reinos americanos da Espanha. Foi detido em 1768 e embarcado com outros 30 jesuítas. Chegando à Cadiz em abril de 1769, foi enviado para Faenza, onde faleceu em dezembro de 1781.
especialmente para este projeto. O grupo viajou por mar, seguindo a linha litorânea a bordo
de uma fragata, mas mesmo seus desembarques e incursões pela costa, não oportunizaram
nenhum contato com as populações nativas.
Pouco antes disto, em meados de 1740, havia se estabelecido a primeira das
“missões austrais”, Nuestra Señora de la Puríssima Concepción de los Pampas, localizada
ao sul da desembocadura do Rio da Prata. Mais tarde, em novembro de 1746, os Pes. Jose
Cardiel e Tomás Falkner fundariam Nuestra Señora del Pilar de los Serranos3 cerca de 16
km da atual Mar del Plata. Pouco depois, seria organizada Madre de los Desamparados4
[1749] a qual, assim como suas precedentes, seria caracterizada pela instabilidade e curta
duração.
Os portenhos até então pouca atenção haviam dado aos territórios austrais,
mantendo uma política defensiva em relação aos indígenas e realizando apenas esparsos
movimentos em sua direção. Embora os jesuítas da Província do Paraguai tivessem
permissão para evangelizar aí desde 1684, as iniciativas neste sentido somente se
concretizaram a partir de 17405, década marcada pelo acirramento das investidas indígenas
sobre aldeias e estâncias espanholas. É, pois, a partir do século XVIII que aparecem na
“pampa buenairense” algumas instituições que foram características da colonização
espanhola em zonas de fronteira: estruturas de tipo militar como fortes e milícias e missões
religiosas6. Sua instalação desenvolveu-se no âmbito de uma política de expansão das
3 Ou “Pilar del Volcon”. 4 Por vezes referida como “Nuestra Señora de los Desamparados”. 5 Segundo a Carta de Antonio Machoni, desde Córdoba ao Padre Francisco Retz, datada de janeiro de 1739, o retardamento na atenção dos jesuítas sobre estes territórios se deveu ao pouco apoio do Governador de Buenos Aires e ao fato de terem concentrado suas atenções nas sociedades chaquenhas situadas no centro da Província. Cf. Transcrição de um fragmento de la Carta de Antonio Machoni al P. Francisco Retz, Prepósito Geral da Compañía de Jesús (Roma). Apud: MARTÍNEZ MARTÍN, 1994, p. 166-167.
6 Mesmo as missões não podiam prescindir de algumas estruturas defensivas. A dos pampas, por exemplo, é descrita como um pequeno fortim. Ela tinha instalações precárias: dois ranchos de adobe para os padres e um toldo de couro que servia de capela. Os 300 ou 350 indígenas que se reduziram dispuseram suas tendas “de acordo com a usual planta jesuítica”. Um fosso foi construído para dificultar possíveis ataques (Strobel: apud: FURLONG, 1930, p. 250), e instalaram-se peças de artilharia leve fornecidas pelo Governador de Buenos Aires (BARCELOS, 2006, p. 248).
fronteiras coloniais e de reorganização das relações travadas com os grupos indígenas da
área, na medida em que os territórios por estes controlados passavam a freqüentar a órbita
de interesse da sociedade colonial platina. A constituição das três referidas missões
significava, desde o ponto de vista das autoridades coloniais, o surgimento de postos
avançados de ocupação e, simultaneamente, de um flanco defensivo contra incursões
indígenas.
Purísima Concepción teve como primeiros missionários Manuel Querini e Matias
Strobel e sua fundação relaciona-se à intensificação dos malones dos pampas às regiões
vizinhas a Buenos Aires, bem como, de outra parte, às ações de represália das autoridades
da cidade. Pouco depois Thomas Falkner e Jose Cardiel, dirigiram-se para a Sierra del
Volcán a aproximadamente 70 léguas de Buenos Aires, onde, junto aos “serranos”,
iniciaram a nova missão; Nuestra Señora de los Desamparados ficará nas proximidades
desta última. As três missões tiveram uma duração bastante curta: 1740-1753 para a
primeira delas, 1746-1751 para a segunda e 1750-1751 para a última. A primeira a ser
abandonada foi Pilar, retirando-se os missionários para Concepción de los Pampas. Esta
também veio a sucumbir em 1753. Antes disto, Madre de los Desamparados havia já sido
abandonada diante dos ataques do cacique Cangapol, conhecido entre os espanhóis como
“Bravo”.
As missões austrais em registro escrito
As missões jesuíticas foram documentadas em variadas formas, em boa medida a
partir da iniciativa dos próprios religiosos da Companhia. Uma série de escritos assume a
forma de relatórios, cartas, informes, crônicas e memórias, registrando diferentes momentos
da colonização, a atuação dos padres nestas missões e a resposta dos nativos frente ao
contato. Estas respostas foram no mais das vezes lidas pelos historiadores a partir das
noções de recusa (de resistência, violenta ou não) ou aceitação (que teria como
conseqüência, a descaracterização da “cultura” e “identidade” nativas) pelos índios das
propostas que lhes faziam os jesuítas de passarem a viver nos pueblos. De toda sorte, o
papel reservado aos indígenas foi o de “alvo” da ação dos padres, como objetos de uma
dinâmica que lhes era exterior e que eles não controlavam. Apenas recentemente os
estudiosos desta temática passaram a analisar estes documentos a partir de outra opção
teórica, entendendo que os nativos não foram receptores passivos das inovações culturais,
mas partícipes e atores dos processos de transformação em curso (MANDRINI, 2004,
2007).
Muitos dos documentos produzidos pelos jesuítas foram essencialmente
apologéticos, justificando o trabalho da Ordem e sua presença entre os índios. Não raras
vezes, ressaltam as privações dos sacerdotes e suas “vitórias” na conquista espiritual dos
índios, devidas aos seus esforços sem medida, mas também à decisiva ajuda da
Providência Divina. Como não poderia deixar de ser, os missionários são apresentados
sempre como justos, abnegados e bondosos, enquanto os espanhóis são cruéis e
gananciosos. Sobre os indígenas, além de um repertório de atributos que são mais ou menos
extensivos aos vários grupos que conheciam (barbarismo, preguiça, etc...), uma
característica que era importante para os jesuítas dizia respeito ao serem “predispostos” ou
“reativos” à doutrina cristã.
Meu exercício de análise aqui busca explorar as informações registradas sobre os
índios destas missões, bem como refletir sobre as linhas de força que atuam sobre elas.
Como já afirmei, trata-se do Diário sobre a viagem que empreendeu Cardiel em 1748,
saindo e Buenos Aires para a Missão de Pilar nas proximidades da Sierra de las
Ventanas, e daí até o Rio del Sauce (Rio Negro). Cardiel estava determinado a encontrar
algumas tolderias, a cujos habitantes ele gostaria de levar a catequese. Mas estava
igualmente interessado em avaliar as condições da região para receber portos e missões.
Os dados consignados neste curto diário podem ser mais bem apreciados se os
avaliarmos a luz de outro texto, a Carta Relación que o missionário havia escrito um ano
antes, 7 em que ele pondera sobre os grupos indígenas da região a partir do que já havia
conhecido (e verificado) sobre eles. Esta recomendação (ou necessidade) se faz diante da
7 Publicada por Guillermo Furlon em 1953, a referida Carta foi dirigida por Cardiel em 1747 ao seu amigo P. de Catalayud a fim de proporcionar a ele um registro das atividades missionárias da Companhia na América.
exigüidade do diário e da escassez de informações que ele aporta sobre as populações da
área.
Diz ele que, depois de concluída a expedição de 1746, recebeu ordens de se dirigir a
“las Sierras del Volcán”, onde chegou “con [un] compañero a fines de agosto de 1746” (In:
FURLONG, 1953, p. 206). Ao lhe ser destinada esta incumbência, o jesuíta tinha sólida
experiência, tanto junto aos guaranis, uma sociedade agricultora, quanto junto a povos que
não eram aldeões, como mocobis e abipones . São especialmente os guaranis, contudo, que
servem de referencial e parâmetro para as comparações estabelecidas por Cardiel ao avaliar
os grupos junto aos quais se encontravam os jesuítas nesta nova oportunidade.
Sanchez Labrador8 definiu em traços bastante gerais os indígenas com os quais se
identificavam os três povoados. Purísima Concepción que se localizou ao sul do Rio
Salado estava destinada aos “pampas”, como eram conhecidos os índios que habitavam a
área de planícies nas proximidades de Buenos Aires. Pilar ficava um pouco mais distante,
numa região serrana a sudoeste de Buenos Aires, próxima a atual Mar del Plata, fundada
que foi para reunir os serranos (ou puelches, ou ainda peguenches). Finalmente, Madre de
los Desamparados deveria atender os tuelchus ou patagones, a “nação mais numerosa” que
o jesuíta dividia em “tuelchus de a caballo”, nas proximidades dos rios Negro e Colorado, e
os “tuelchus de a pie” ao sul do rio Negro em direção ao estreito de Magalhães.
Também Cardiel, logo na abertura de seu Diário, anota quais eram os grupos
indígenas que se encontravam nas áreas que iria percorrer. Sua informação, embora de
primeira mão, é ainda mais exígua do que aquela feita por Sanchez Labrador e, como a
deste, indica as parcialidades indígenas a partir do local em que elas poderiam ser
encontradas:
8 Sanchez Labrador não trabalhou nestas missões e retira suas impressões da leitura do que escreveram seus colegas. Ele foi um erudito em vários campos das ciências naturais, assim como contribuiu para o conhecimento da geografia, das línguas e da etnografia de várias sociedades americanas. Natural da província de Toledo em setembro de 1717, ingressou na Companhia em 1732 e foi enviado para o Rio da Prata , em 1734. Foi professor de Teologia no Colégio Máximo de Buenos Aires e entre 1747 e 1757 esteve em diversas missões guaranis. Atuou também com os índios tobas, antes de ver-se obrigado a abandonar América em agosto de 1767, no momento em que retorna de uma longa viagem para as missões de chiquitos.
“Este grande espacio de tierra de 400 leguas desde Buenos as al Estrecho de
Magallanes, ocupaban primeramte los Indios Pampas que vivian entre los
Espanoles en las Estancias de ganados de Buenos as . Despues de estos vive una
parcialidad de los que en Buenos as llaman Cerranos, en la Sierra del Bolcal
como 100 legaus de esta Ciudad, dejando el espacio intermedio de cerca de 100
leguas vacio, y solo poblado de fieras y Yeguas Cerriles, ó vaguales como acá
dicen” (In: FURLONG, 1953, p. 245-246).
Além destes, Cardiel refere-se, também, aos Aucaes, que habitariam “en la misma
Cordillera en sus valles” (In: FURLONG, 1953, p. 247). Embora aparentemente variado,
este panorama etnográfico, certamente não faz jus a multiplicidade e singularidade dos
grupos presentes na área. Sobre isto devemos destacar o problema das designações
impostas aos grupos indígenas, as quais atendem a uma necessidade prática de “identificar
al otro y ordenar las relaciones que surgen de la situación de contato” (IRURTIA, 2008, p.
203). É preciso lembrar sobre isto que o XVIII foi a “época das classificações”, dos
esforços por impor uma taxionomia que ordenasse o mundo natural (PRATT 1999,
MANDRINI, 2007). No caso dos jesuítas, esta necessidade se apresentava fortemente, uma
vez que se encontravam diante do que se lhes parecia um confuso mosaico étnico.
“Conocer ese mundo y esas realidades implicaba pues describirlo y ordenarlo,
determinar cuáles eran sus componentes - naturales y humanos – y las relaciones entre
ellos, fijarlos en el espacio y en el tiempo” (MANDRINI, 2007, p. 28). Os primeiros
etnólogos, contudo, tomaram tais descrições como se fossem reflexos da realidade, e não
como parte do esforço de ordená-la, de compreendê-la e apropriar-se dela. Apenas
recentemente, dotados de novos aparatos de crítica, os historiadores passam a revisar e
reorganizar estas informações.
De modo geral, a terminologia empregada é confusa, mesclando critérios e
produzindo uma pluralidade de nomes que podem dizer respeito a extensos grupos étnicos,
tanto quanto se referir a pequenas parcialidades. Um mesmo termo pode designar distintos
grupos ou contrariamente, pode ser aplicado a um mesmo grupo distintos nomes. Além
disto, suas observações apenas reforçam definições generalizantes e tributárias de
preconceitos que já de longa data tinham se constituído. Cardiel por exemplo, entende que
muitos dos índios que visitavam Buenos Aires com alguma freqüência e se comunicavam
em língua espanhola: “con ella han aprendido todas las malas costumbres de la gente de
servicios, negros, mestizos, mulatos é indios com quien mas tratan”. Submetidos a tal
influência, eles acabariam se tornando inconvertíveis (In: FURLONG, 1953, p. 247). Sobre
os serranos de Ntra Sra del Pilar del Volcán ele recorda:
Llegué allí con mi compañero a fines de agosto de 1746 (...) Hallé en ellas como
300 indios de los que en Buenos Aires llaman Serranos. Declaré el fin de mi
venida. Llevárosla a bien, y vinieron todos al paraje que yo senalé. Comencé a
acariciarlos con los medios que dije tratando de los Abipones. Mostraban gusto
que les formásemos pueblo, auque algunos se mostraban adversos a la
cristianidad, diciendo que ser cristiano ser esclavo, y otros disparates a este
modo. Este primer viaje era solo para ganarles la voluntad y tentar el vado, para
volver después viendole vadeable, con todo lo necesario para formarles pueblo
(...) (In: FURLONG, 1953, p. 206).
Cardiel se refere aqui, à insistência com que os nativos solicitavam presentes e até
condicionavam tais “ofertas” a acolhida que davam aos padres. Ele levava consigo, entre
outros itens, “seis docenas de cuchillos de cabo ligero, tres frenos, dos palas, cinco clavos”,
e ainda “cuentas de cristal y vainilla”, para obter a boa vontade dos índios que contatasse9
Pode-se perceber a partir daí, que avaliações correntes sobre as demandas dos índios para
que se constituíssem missões, como forma de se protegerem das entradas das milícias de
hispano-crioulos, devem ser relativizadas e complementadas. As missões poderiam ser
vistas como um refúgio contra as agressões dos brancos, mas também como local onde se
teria acesso a alguns itens que prestigiavam. As três missões a que estou me referindo,
inclusive guardavam a característica de manterem uma população indígena pouco estável:
os grupos permaneciam algumas temporadas e deixavam-nas em seguidas oportunidades e
de acordo com sua conveniência. Parece até que eles manobram o empenho dos padres em
reduzi-los de forma a obter artigos que cobiçavam e, assim, tirar vantagens da situação.
9 Razon y memória de lo que el Pe Joseph Cardiel de la Comp.a de jhs lleva pa la Mision de la Sierr, assi lo que se há comprado com plata, que para esse intento se le habia dado, como lo que el Pueblo de los Pampas há dado (Apud: FURLONG, 1939, p. 34).
Sobre os “serranos”, Cardiel informa que viveriam nas imediações das nascentes do
Rio Sauce, próximos da Cordilheira. O número de adultos (em condições de “tomar
armas”) não passava de 200, mas eram capazes de estabelecer alianças com os peguenches
e puelches de quem entendiam a língua. Sua presença nas proximidades da Sierra del
Volcón, aí onde os encontrou, se devia aos deslocamentos que faziam em busca de éguas e
cavalos que caçavam nestas paragens. Eles também se dirigiam para Buenos Aires onde,
em troca de ponchos, compravam aguardente e guizos que usavam em suas festas. O
sacerdote está informado que os serranos não fabricavam os ponchos, mas os obtinham com
os aucaes10 em troca de cavalos que buscavam na região do pampa.
Podemos ver que, como tem confirmado a historiografia, a “fronteira” entre as
sociedades nativas e os colonos hispano-americanos não era um espaço que se constituísse
unicamente em torno de conflitos e exclusão. Ao contrário, ela evidencia uma porosidade
que permitiu que os indígenas desta região estabelecessem uma complexa rede comercial
que conectava grupos de regiões diferentes e distantes. Da mesma forma, é possível
apreciar as enormes transformações operadas nas estruturas internas destes grupos que se
fizeram caçadores de gado selvagem primeiro, saqueadores depois e, mais tarde, pastores
de rebanhos (MANDRINI, 2004). Também se percebe que os índios podiam organizar
circuitos comerciais de forma atender seus interesses e demandas, assim como o faziam os
criollos11.
Efetivamente, um dos aspectos sobressalentes das transformações pelas quais
passaram as sociedades indígenas em contato com a hispano-crioula diz respeito à sua
economia e se manifestou, por exemplo, na adoção de bens de origem européia. Embora os
cavalos fossem os itens mais prestigiados pelos indígenas que os utilizavam com destreza,
vacas, ovelhas, mulas e cabras eram igualmente apreciadas. Além disto, os índios
incorporaram à sua dieta açúcar, erva vinda das missões do Paraguai e farinhas feitas de
cereais europeus. Também os instrumentos de ferro, as roupas européias e aguardente eram
10 “… los Aucaes los hacen en sus tierras, en donde tienen ovejas con más larga lana que las de otras partes”. (In: FURLONG, 1953, p. 207). 11 Os ponchos “…son la vestidura que sirbe aquí de capa a la gente labradora…” (In: FURLONG, 1953, p. 207).
almejados12. Os índios eram, por outro lado, fornecedores de sal ou ponchos para os
povoadores brancos.
Devemos reter aí outra consideração importante. Diferentemente da visão
consagrada pela historiografia chilena e argentina que, assentada na metodologia positivista
e no ideário romântico-liberal, definiu as relações entre as sociedades originárias e
ocidentais unicamente a partir do binômio guerra e conflito, esta não foi uma situação
única ou permanente. Sem dúvida a violência se constituiu em um forte componente da
vida nas áreas de fronteiras, mas não foi exclusivo, fazendo parte de um complexo conjunto
de relações que envolviam outras possibilidades.
Sobre os serranos, pareceu a Cardiel que eram um alvo importante para a
continuidade dos trabalhos apostólicos da Companhia. “No eran pedigüeños, ni
enfadadizos, mostraban humildad, y mucho agradecimiento a lo que se les daba, y aflicción
a las cosas de la cristianidad que se les decía” (In: FURLONG, 1953, p. 207). Vê-se que a
“chave de leitura” pela qual os padres percebiam os índios, isto é, sua predisposição para o
Evangelho, está presente na observação do jesuíta, que agrega a ela as qualidades de não se
entediarem facilmente, nem se apresentarem excessivamente motivados por presentes.
Cardiel negociou com estes serranos uma viagem que o levasse até as terras de onde
eles eram procedentes (“sus tolderias del Sauce”). Estes, no entanto, mesmo depois de
verem atendidas suas exigências13 desistiram de escoltá-lo. Um dos motivos apontados era
que tinham notícia de que os padres acabariam por escravizá-los. Outro era de que a
viagem poderia levar o jesuíta a um encontro perigoso com os “aucáes malos” pelo que
eles temiam ser responsabilizados, bem como pelo rompimento das relações de paz
momentaneamente estabelecidas. O que parece importante não é determinar o que motivou
a conduta dos índios, mas sua capacidade de fazer uma “leitura” da situação e optar pela
política que pareceu mais vantajosa.
12 A importância quase exclusiva que já se deu ao chamado “complexo eqüestre” como mobilizador dos desejos e demandas de produtos ocidentais pelos índios vem sendo relativizada há algum tempo. Ver: MADNRINI, 2004. 13 “Vino en ello, diles lo que pidieron de pano, cascabeles grandes y vainillas de laton” (In: FURLONG, 1953, p. 208).
Ao mesmo tempo em que reitera sua confiança sobre as qualidades daqueles que
viviam afastados do mau exemplo dos espanhóis 14, Cardiel reputa aos demais índios uma
série de atributos negativos15. São “pedigüeños”, soberbos e pouco agradecidos. São ainda
interesseiros e condicionam sua atenção às prédicas do padre a generosidade deste em
presenteá-los. Finalmente, são negociantes astutos e prontos a enganar os incautos:
Si les queremos comprar algún caballo o poncho para el uso y paga de nuestros
peones, son tan caros, tan rateros, tan regateadores, y tal la vileza de su trato, que
a más de traer siempre lo peor, el peor caballo, cojo o manco o viejo etc. y el
peor poncho, cuesta una insoportable molestia el ajustar el trato, porque es
menester sacarle toda la tienda de cascabeles, vainilla o cuenta de vidrio para
escoger; y uno a uno los va tentando, registrando, sonando, desechando éste por
de mal color, el otro por de mal sonido o mal soldado, la otra por delgada, etc
(In: FURLONG, 1953, p. 208).
Lendo as queixas de Cardiel a “contrapelo”16, podemos entender que os índios
agiam de forma a não facilitar a presença dos jesuítas e que manejavam a situação para
criar dificuldades aos padres, sem se oporem diretamente a eles: “y dado que me lleasen,
me guiarian a sola una tolderia donde estan sus parientes, y me volverian por el mismo
camino, sin querer hacer mas, por q. como infieles y barbaros no tienen obediencia ni
respecto (In: CARDIEL, 1930, p.253).
14 “Estos Tuelchús del Sauce y de más allá, vuelvo a decir, son los que me robaban el corazón, por verlos libres de aquellas falsas aprehensiones de los que comunican con los Españoles, y por las demás buenas calidades que dejo dichas…” (In: FURLONG, 1953, p. 208). 15 “Además de esto, son notablemente pedigueños: vienen a pedir con sobierba, como si todo se les debiese de justicia: se enojan fácilmente en no dándole cuanto piden, y luego dicen: como quieres que me haga cristino, si no me das todo lo que pido? No agradecen lo que se les da, antes bien, continuamente están murmurando que no se les da de nada, por más que se les dé” (In: FURLONG, 1953, p. 208).
16 Sua opinião sobre os pampas reduzidos em Pilar e já catequizados também não é favorável: “y como tampoco hay escolta de indios cristianos con quienes se pudiera ir, por q. aun q. los Pampas lo son ya, son muy pocos como 400 familias solamente, y además de esto tan interesados aun en lo que necesitamos sus Padres espirituales, como los mismos infieles y además de este interés no muestran amor y cariño a los Padres, como los muestran las demás naciones del norte aun en los principios de su conversión”. (CARDIEL, 1930, p. 253 - 254).
Outra nota feita sobre a qualidade das informações obtidas de seus informantes
permite uma reflexão que se desdobra em mais de uma possível compreensão. Segundo
Cardiel:
… un Misionero para poder formar Pueblo necesita ver y rexistrar quanto
numero de gente hay en todo el contorno, pues por el solo dho de los indios no
se puede formar concepto que Bosques, que montes y selvas para leña y fabricas,
que tierra, pastos y rinconadas para cementeras, ganado mayor y menor, que
rios, que aguas, y si algo forma puerto para embarcaciones y comunicación por
mar, y para todo esto es necesario deternerse y caminar arriba y abajo por varias
partes...” (CARDIEL, 1930, p.253).
A afirmação pode ser mostra da opinião corrente sobre o “pouco entendimento” dos
índios, e de que eles não teriam condições intelectuais de avaliar corretamente as
necessidades envolvidas. Ou podemos estar diante da evidência que os nativos davam aos
padres as informações que eram convenientes para si mesmos São estes indígenas pouco
confiáveis que determinam, pela deserção de seus guias, que a viagem terminasse antes do
previsto:
El día 21 estando ya cargadas las cabalgaduras, salieron el baqueano o guía, y el
intérprete, diciendo que se querían volver, que hacia mucho frío y que estaba
lexos. Ya las noches antecedentes habían hablado mucho de esto, a que añadían
que los infieles que buscábamos eran muy bárbaros y sangrientos, que nos
habían de matar… Volvieronse a galope dejándonos solos, viéndome sin guía ni
lengua imposibilitado no tanto a caminar adelante, cuanto a hablar y declarar a
los indios mi venida, me fue preciso volver atrás ... . (In: FURLONG, , 1930:
261).
Em casos como o desta viagem, com escasso planejamento e pouco apoio
institucional, a capacidade de improvisação e as estratégias que vão sendo construídas na
prática pelos missionários eram fundamentais. Seus deslocamentos dependeram da
informação e da ajuda oferecidas pelas populações das áreas percorridas. A falta ou
interrupção desta ajuda, como no caso descrito, significava o ponto final da iniciativa.
Depois, portanto, de reconhecer o caminho da Serra do Vulcão até o arroio de
Claromecó17, e tendo que abandonar o projeto de chegar ao Sauce, Cardiel regressa para
Buenos Aires. Seu relato e informações eram importantes para as autoridades e para a
sociedade portenha, num momento em que aumentava o nível de conflitividade com as
sociedades indígenas.
Um Diário e os fragmentos do passado.
O Diário escrito pelo jesuíta durante a viagem dista muito do tipo de escrita que
costuma estar ligada à iniciativa dos padres. É um texto sóbrio, “econômico” e que não se
aproxima da literatura edificante tantas vezes a eles associada. Ele também é escasso em
informações sobre as sociedades indígenas que circulavam pela área visitada. Entre as
temáticas que retiveram a atenção de Cardiel se encontram, em primeiro lugar, as
características geográficas. Mesmo estando próximos de Buenos Aires, os missionários
eram aí desafiados por problemas importantes, sendo esta região muito diferente daquela
em que tinham acumulado experiência anterior, com as aldeias de guaranis aparecendo
como assentamentos estáveis e onde era possível obterem-se alimentos. As áreas
atravessadas agora, ao contrário, eram percorridas por grupos com forte mobilidade18 sendo
difícil a provisão de alimentos e os deslocamentos perigosos.
Os registros do religioso ajudam a compreender as questões envolvidas na expansão
das missões que passam a ser estimuladas agora que os territórios austrais assumem nova
importância, econômica e estratégica. Como afirma Cardiel: “Además de ganar estas almas
para Dios, se hizo un bien impoderable a la República, quedando los caminos seguros, el
17 “Quedose pues sabido para todos, que este camino (...) es no solo de cavalgaduras sino también de carretas, sin pantano alguno, con pasos por los rios aun por los grandes de las barrancas, con lama para pasar, porque aunque en algunas partes hay muy poça, se puede cargar en las que la hay, con abundancia de agua, de manera que casi siempre se puede hacer medio día en un arroyo, y noche en otro, camino de tierra adentro, y de la orilla de los arenales”( FURLONG CARDIFF, 1930: 35 ) 18 Atualmente os especialistas no tema não mais aceitam as categorizações de “nomadismo” para as populações pampeanas. Contrariamente a isto, se entende que eles estariam assentados em locais em que a presença de pastos, lenha e água, tornavam possível a sobrevivência. Reconhece-se sim, uma alta mobilidade empregada por estes grupos, seja por questões de abastecimento, seja para participar de rituais coletivos, por exemplo. Para algumas regiões específicas seria possível falar de um “seminomadismo estacional”, determinado pela necessidade de remover rebanhos em determinadas épocas do ano.
comercio libre, las sisas y alcabalas reales que a trechos se pagaban, corrientes; y los pobres
españoles contentos y sin susto en sus tierras y casas” (Apud: FURLONG, 1939: 41).
Pode-se concluir que a constante e intensa atenção que os jesuítas emprestaram ao
reconhecimento das características das sociedades indígenas, nem sempre resultou em
descrições de um mesmo padrão. Além das diferenças que certamente se estabelecem a
partir dos autores considerados e suas idiossincrasias, outras linhas de força se interpõem
entre o visto e o narrado. Nem sempre seus escritos especularam sobre temas teológicos ou
de moral, preocupando-se mais com as necessidades práticas da inserção dos nativos nas
formas de uma vida “política e cristã”. Também nem sempre eles resultaram em textos
diretamente portadores de informações sobre as sociedades indígenas.
Para os leitores modernos do Diário, não há como seguir o curso das seleções de
memória e de inteligência que operaram a reconstrução do que “havia se passado”, isto é,
do tempo da viagem propriamente dita, e da confecção final do texto. O que ficou dela é
um relato sóbrio e contido, apresentando uma descrição bastante objetiva da região
percorrida19, de suas características e das dificuldades que impunham aos que passassem
por ali. Poder-se-ia dizer que é um “diário de campo”, com as características que então
eram apresentadas por este tipo de texto. Embora Cardiel não dispusesse do aparato que a
ciência já colocara à disposição de alguns de seus viajantes (teodolito, relógio, bússola,
barômetro, por exemplo), ele procurou máximo rigor que as circunstâncias lhe permitiam.
Além da precariedade dos meios técnicos de que dispunha, outro elemento marca uma
diferença substancial entre a viagem de Cardiel e aquelas que, como lembra Pratt (1999),
tinham a pretensão de constituir-se em um gênero narrativo característico: a literatura de
sobrevivência, que começara a ser tornar popular no século XVIII. Até mesmo na descrição
das dificuldades enfrentadas, o jesuíta é econômico com as palavras.
Finalmente, podemos apontar uma outra distância muito clara entre o Diário e
outras obras que eram resultado de expedições de exploração deste século, em que
19 “Quedose pues sabido para todos, que este camino (...) es no solo de cavalgaduras sino también de carretas, sin pantano alguno, con pasos por los rios aun por los grandes de las barrancas, con lama para pasar, porque aunque en algunas partes hay muy poça, se puede cargar en las que la hay, con abundancia de agua, de manera que casi siempre se puede hacer medio día en un arroyo, y noche en otro, camino de tierra adentro, y de la orilla de los arenales”( FURLONG CARDIFF, 1930: 35 )
estudiosos europeus percorreram o interior dos continentes para “inventariar o mundo”
(RAMINELLI, 1998: 157). Nestes textos Mary Louise Pratt encontrou um cuidadoso
empenho dos cientistas em “naturalizar sua presença” (1999: 61) naqueles espaços que
percorriam. Cardiel não se vale deste expediente. O conhecimento a ser alcançado não é
para ele “desinteressado”, obtido em “favor da ciência”, Ao contrário, ele um propósito
muito claro, o de possibilitar a expansão da autoridade da monarquia espanhola e das
missões da Companhia de Jesus na área. É assinalando esta convicção que ele termina seu
registro dizendo: “Esta es la historia de este viaje: quiera el Señor que se prosiga para
sacar de las garras del Diablo à tantos Índios” (In: FURLONG, 1930, p. 287).
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