Download - Manuel Bandeira
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MANUEL BANDEIRA
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AUTOR DO POEMA “SAPOS” QUE SE ENCONTRA NA OBRA “CARNAVAL” DE 1919.
TAL POESIA FOI DECLAMADA NA “SEMANA DE ARTE MODERNA”. TAL “PARTICIPAÇÃO” INAUGURA SUA ENTRADA NO MOVIMENTO MODERNISTA.
A POESIA DE MANUEL BANDEIRA ATRAVESSOU TODAS AS FASES DE NOSSO MODERNISMO, NUMA RARA DEMONSTRAÇÃO DE RIQUEZA HUMANA E SENSIBILIDADE ARTÍSTICA.
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NESTAS OBRAS, SEUS POEMAS POSSUEM GRANDE MATURIDADE TÉCNICA A UM LIRISMO IMPREGNADO DE DESCOBERTAS DO COTIDIANO, POETICAMENTE TRANSFIGURADAS: AMOR COMO EXPERIÊNCIA DIRETA DO CORPO, O DESEJO ERÓTICO ILUMINANDO A CARNE E TORNANDO-A SAGRADA, A TERNURA DAS COISAS MAIS SIMPLES E MENOS INTENCIONAIS, A HUMANIDADE DOS HUMILDES E DOS MARGINAIS, A EVOCAÇÃO DA INFÂNCIA E A MORTE, VELHA E CONFIDENTE.
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TERESA A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do
[corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o res-
[to do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das
águas.
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IRENE NO CÉU
Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: - Entra, Irene. Você não
precisa pedir licença.
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NAMORADOS O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: - Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com
[a sua cara. A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê [uma lagarta listada?
A moça se lembrava: - A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prossegui com muita doçura: - Antônia, você parece uma lagarta listada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: - Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
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Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: - Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar.
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Cotovia
- Alô, cotovia! Aonde voaste,Por onde andaste,Que saudades me deixaste?- Andei onde deu o vento.Onde foi meu pensamentoEm sítios, que nunca viste,De um país que não existe . . .Voltei, te trouxe a alegria.- Muito contas, cotovia!E que outras terras distantesVisitaste? Dize ao triste.- Líbia ardente, Cítia fria,Europa, França, Bahia . . .
- E esqueceste Pernambuco, Distraída?
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- Voei ao Recife, no CaisPousei na Rua da Aurora. -Aurora da minha vidaQue os anos não trazem mais!
- Os anos não, nem os dias,Que isso cabe às cotovias.Meu bico é bem pequeninoPara o bem que é deste mundo:Se enche com uma gota de água.Mas sei torcer o destino,Sei no espaço de um segundoLimpar o pesar mais fundo.Voei ao Recife, e dos longesDas distâncias, aonde alcançaSó a asa da cotovia, - Do mais remoto e peremptoDos teus dias de criançaTe trouxe a extinta esperança,Trouxe a perdida alegria.
Manuel Bandeira
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Ouro PretoOuro branco! Ouro preto! Ouro podre! De cadaRibeirão trepidante e de cada recostoDe montanha o metal rolou na cascalhadaPara o fausto Del-Rei, para a gloria do imposto.
Que resta do esplendor de outrora? Quase nada:Pedras... Templos que são fantasmas ao sol-posto.Esta agencia postal era a Casa de Entrada...Este escombro foi um solar... Cinza e desgosto!
O bandeirante decaiu – é funcionário.Ultimo sabedor da crônica estupenda,Chico Diogo escarnece o ultimo visionário.
E avulta apenas, quando a noite de mansinhoVem, na pedra-sabão, lavrada como renda,- Sombra descomunal, a mão do Aleijadinho!
MANUEL BANDEIRA